Pesquisar com crianças é tarefa que exige da pessoa pesquisadora
criatividade, maleabilidade e atenção para que o processo investigativo respeite os direitos, o espaço, o tempo, os saberes e o desenvolvimento etário de cada criança. Dessa maneira, a escolha do método adequado para o acesso, identificação, verificação, descrição, acompanhamento ou análise do fenômeno estudado nas infâncias é passo importante no movimento para conhecê-la (GREENE,2005; LeVINE,2007; MAUTHNER, 1997; PROFICE, PINHEIRO; 2009). A lista livre, amplamente utilizada com jovens e adultos é uma ferramenta metodológica que visa através de entrevista individual solicitar que o participante liste o maior número possível de itens dentro de uma categoria ou domínio a partir de determinado tema. Podemos citar como exemplos: nomes de plantas medicinais, nomes de jogos de tabuleiros, nomes espécies caçadas para consumo (RYAN,2000; BORGATTI, 1998; WELLER,1988). Durante a formulação da lista livre algumas estratégias podem ser adotadas para incremento do inventário. Como, por exemplo, a solicitação por parte do entrevistador de que o entrevistado tente se lembrar de mais algum item. Alternativamente, a lista pode ser relida pelo entrevistador para estimular a lembrança do entrevistado, ou por fim, podem ser oferecidas pistas alfabéticas ou semânticas que possam ampliar o número de menções (BREWER, 2002; BREWER, et al.2002). Esses artifícios são utilizados para maximizar o aparecimento de unidades nos domínios estabelecidos, já que é comum o esquecimento de itens por parte do entrevistado. A partir da análise da lista produzida, podem ser levantados elementos importantes para um grupo social, sua cultura e seus conhecimentos sobre determinando tema. Essas verificações podem ser são feitas a partir dos itens citados nas primeiras posições, assim como dos itens citados em maior frequência. A lista livre tem sido utilizada em diversas áreas do conhecimento, sobretudo nas etnociências. No entanto, como indicamos acima, a maioria dos estudos se volta para investigação com adultos. Contudo, os estudos acerca dos conhecimentos das crianças seguem crescentes apesar do reconhecimento tardio da infância como produtora legítima de percepções e saberes próprios de sua etapa desenvolvimental, que alimentam e contribuem na manutenção e transmissão dos aspectos culturais de um grupo social. Ativos observadores e participantes, as crianças têm a capacidade de remodelar, resignificar, reproduzir e transmitir conhecimentos, valores e atitudes do mundo adulto (PATRICK, 2011; ZARGER, 2004; BEAZLEY,2009; EYSSARTIER,2017;CHRISTENSEN, 2004,2008; FARGAS- MALET,2010; GALLOIS,2017; MANOLI, 2007). Dessa maneira o presente artigo tem como objetivo acessar por meio de lista livre os elementos citados por 11 crianças de 8 a 10 anos de idade acerca do que existe na Natureza e na Roça. Como objetivos específicos visa apontar cuidados que podem maximizar a qualidade da coleta de dados associado ao bem-estar da criança, demonstrar como um instrumento de pesquisa pode ser incorporado ao universo infantil por meio da brincadeira e analisar os efeitos de estratégias facilitadoras para o aumento do número de citações por parte das crianças entrevistadas.