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Aspectos Miofuncionais
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO................................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1
ORGÃOS FONOARTICULATÓRIOS E ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS............................................ 9
CAPÍTULO 2
ORTODONTIA E IMPLICAÇÕES DE FALA E MOTRICIDADE.......................................................... 34
UNIDADE II
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO.................................................................................................................. 63
CAPÍTULO 1
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DE FALA DE ORIGEM FONÉTICA.......................... 63
CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DE FALA DE ORIGEM MECÂNICA...................... 128
CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DE FALA DE ORIGEM NEUROLÓGICA................ 144
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 157
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
7
Objetivos
»» Compreender a importância do conhecimento da fala na MO.
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SISTEMA UNIDADE I
ESTOMATOGNÁTICO
CAPÍTULO 1
Orgãos fonoarticulatórios e alterações
miofuncionais
Carvalho (2003) apud BRUM (2010) diz que a integridade funcional e muscular do
sistema estomatognático, irá permitir um desenvolvimento e crescimento correto das
estruturas dentofaciais, podendo, então, funcionar em harmonia, produzindo saúde
para o indivíduo em geral.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Estrutura geral
O sistema estomatognático é constituído por tecidos e órgãos que compreendem
estruturas ósseas, dentes, músculos, articulações, glândulas e sistemas vasculares
linfáticos e nervosos, todos associados e podendo ser divididos do ponto de vista
funcional.
São representas por dois ossos bases: um superior fixo chamado maxilar e outro móvel
denominado mandíbula, os quais se relacionam entre si através das ATMs, assim
como por seus respectivos arcos dentários.
Aos componentes ósseo-articulares temos que adicionar o osso hioide e certos ossos
craniais, que correspondem em conjunto a estruturas sem motricidade própria.
Estruturas anexas
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
embrionária, assim como distintas funções. No entanto, mais importante que considerar
o funcionamento isolado de cada componente ou estrutura, é o enfoque integrativo
de todo o sistema, que constitui uma unidade morfofuncional bem organizada e
sincronizada. Esta ação de integração está a cargo do sistema nervoso mediante suas
complexas vias e mecanismos de integração e controle.
O sistema estomatognático cumpre uma série de funções, entre as quais se podem citar
quatro principais: mastigação, deglutição, respiração e fonoarticulação.
A mandíbula é capaz de realizar uma série de movimentos, que são produtos da atividade
sinérgica de diferentes fascículos musculares mandibulares, regulados e coordenados
pelo sistema nervoso central. Estes movimentos, não obstante, são guiados pelas
articulações temporomadibulares com seus ligamentos, as aponeuroses musculares, os
tendões, a tonicidade dos músculos inseridos na mandíbula e os contatos entre as peças
dentárias (oclusão) com seus respectivos ligamentos periodontais. (MENEZES, 2014).
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Ossos temporais
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Osso esfenoide
Maxila
A maxila é composta pelo processo frontal (unido ao osso nasal pela sutura nasomaxilar),
pela espinha nasal anterior, pelos processos alveolares com suas eminências, pelo
forame infraorbital, pela fossa canina e pelo processo zigomático. Originam-se na
maxila os músculos: nasal, prócero, levantador do ângulo da boca, levantador do lábio
superior e da asa do nariz, orbicular da boca e do olho, bucinador e pterigoideo medial.
(MADEIRA, 2008).
Mandíbula
A mandíbula é composta, em sua borda superior (ramo da mandíbula), por uma curva
(incisura da mandíbula) que se divide pelos processos coronoide (onde há a inserção
do músculo temporal) e condilar (colo e côndilo), pela fóvea pterigóidea; na
borda inferior, pela linha oblíqua, pela tuberosidade massetérica; na borda
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Hioide
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Dentes
Mucosas
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Ainda de acordo com os autores, no ato da contração muscular (realizada pela porção
do ventre muscular), há a necessidade que os músculos estejam dentro de uma bainha
elástica de contenção, ou seja, pela fáscia muscular, que também facilita o deslizamento
dos músculos entre si.
Os músculos da face localizam-se logo abaixo da pele e são denominados por cuticulares.
Formam uma camada quase única, pois há, muitas vezes, fusão de feixes de músculos
entre si, principalmente nos seus locais de inserção e, por este motivo, são tidos como
os músculos mais fracos e delicados do corpo humano; ao se contraírem formam uma
depressão/linha perpendicular em direção à fibra dos músculos que, com o passar do
tempo, formam pregas e rugas. (MADEIRA, 2008).
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
O músculo orbicular da boca apresenta alguns feixes com inserção na espinha nasal
anterior e nas fóveas incisivas (da maxila e da mandíbula), estendendo-se do nariz ao
lábio inferior, no sulco labiomentoniano. Age no ato de preensão dos alimentos, para
assobiar, para manter lábios fechados, para produzir fonemas bilabiais plosivos, para
comprimir o lábio entre os dentes, para protrair o lábio entre outras funções.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
O músculo nasal divide-se em duas partes: a transversa, que tem a função de contrair
as narinas, e outra, a alar, com função de dilatá-las. Origina-se na incisura da maxila e
insere-se no tegumento da ponta do nariz septo nasal.
Funções clássicas
Mastigação
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
lábios vedados, MADEIRA, 2008), bem como o bom funcionamento do nervo facial
(VII par craniano), para que não haja, segundo Corbin-Lewis, Liss e Sciortino (2009),
impactação do alimento e possibilidades de engasgos. Para que o alimento seja mais
bem triturado e para não fadigar a musculatura, é importante que seja triturado ora
de um lado, ora de outro. Além de a língua, o músculo pterigoideo lateral auxilia o
movimento de protração, lateralização e depressão mandibular. (TASCA, 2002).
Douglas (2006) acrescentou que “(...) as diversas fases da função mastigatória são
facilitadas ou sustentadas por contração tônica da musculatura cervical, que determina
postura adequada da cabeça para a função mastigatória” (p. 348).
O masseter superficial e o temporal são músculos que podem ser palpados, enquanto
os pterigoideos (medial e lateral) e o masseter (feixe profundo) por serem profundos
e devido à inacessibilidade (como o pterigoídeo medial, que fica na superfície interna
da mandíbula) não. Todos têm origem no crânio e inserção na mandíbula e sua
característica principal está na atuação em conjunto, muito mais do que na ação isolada.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
O músculo masseter é potente e é recoberto por uma fáscia (fáscia massetérica), que se
insere no arco zigomático e nas bordas do ramo da mandíbula (2/3 inferiores da face
lateral do ramo). Este músculo cobre praticamente todo o ramo mandibular, com exceção
de sua cabeça, o côndilo. Divide-se em duas partes: superficial (do arco zigomático, parte
inferior e atrás, até a metade do arco, até o ramo mandibular), que é maior, fica localizada
mais anteriormente e possui fibras mais inclinadas e a profunda (parte inferior da metade
do arco zigomático até o limite da eminência articular), que é menor, localizada mais
posteriormente, apresenta fibras verticais e se entrelaça (no arco zigomático) com feixes
superficiais do músculo temporal, sendo que a porção mais anterior do masseter apresenta
fusão de suas porções (superficial e profunda). Tem a função de elevar a mandíbula, sendo
que sua porção superficial, por apresentar fibras inclinadas, ao ser contraída também
movimenta a mandíbula ligeiramente para frente, permitindo a oclusão dentária e a
porção profunda. Além de auxiliar na elevação mandibular, auxilia na manutenção da
oclusão forçada por mais tempo. (MADEIRA, 2008).
O músculo temporal, que apresenta formato de leque, é coberto pela fáscia do temporal
e fixa-se na margem superior do processo frontal do osso zigomático, abraçando a
margem superior do osso zigomático tanto em sua porção anterior quanto posterior,
pois divide-se em duas folhas neste local, estendendo-se até a face medial do processo
coronoide da mandíbula e da região retromolar. Sua origem é no assoalho da fossa
temporal e tem a função de elevar a mandíbula (com maior contração de suas fibras
anteriores), e sua porção posterior realiza movimentos retrusores mandibulares.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Deglutição
Furkim, Mattana (2004) e Padovan (2004) acrescentaram uma fase, que denominaram
antecipatória, que corresponderia à entrada do alimento na cavidade oral, no qual
decidimos o tipo, a velocidade, o volume do alimento a ser deglutido e o ambiente da
refeição.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Na última fase, a esofágica, o bolo alimentar (ou saliva) é levado para o estômago sob
a ação dos movimentos peristálticos (PADOVAN, 2004), a partir do relaxamento do
esfíncter esofágico superior (FURKIM; MATTANA, 2004; CORBIN-LEWIS; LISS;
SCIORTINO, 2009). Douglas (2006) ressaltou que, no terço superior do esôfago, a
musculatura é esquelética, seu terço médio apresenta uma gradação de musculatura
esquelética e lisa (permitindo o movimento peristáltico supracitado), no terço inferior,
a musculatura é lisa e controlada pelo nervo vago.
Na última fase, o fluxo aéreo é direcionado para as vias aéreas superiores, eliminando-
se a apneia citada anteriormente. (FURKIM; MATTANA, 2004).
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
A língua, revestida pela mucosa lingual, encontra-se fixada, no assoalho da boca (pelo
músculo genioglosso), ao osso hioide (pelo músculo hioglosso), ao processo estiloide
(pelo músculo estiloglosso) e ao palato (pelo músculo palatoglosso) e, internamente,
apresenta músculos intrínsecos, que se apresentam por fibras longitudinais (músculos
longitudinais superior e inferior) – dispostas antero posteriormente, transversais
(músculo transverso) e verticais (músculo vertical), segundo Madeira (2008). Tem
importância na mastigação, na deglutição, na higienização da cavidade oral, na gustação
e na fala (DANGELO; FATTINI, 2004) e alguns autores comentam que é formada por
17 músculos.
Pode ser ainda dividida em duas metades no sentido ântero-posterior, sendo que o
sulco central é quem possibilita esta divisão da superfície da língua. (CORBIN- LEWIS;
LISS; SCIORTINO, 2009).
A região sublingual, ou seja, a face inferior da língua é revestida por uma mucosa
fina, sendo possível visualizar a veia profunda da língua. Na parte superior da região
sublingual, está a mucosa e, na parte inferior, o músculo milo-hioide.
Nesta região, encontra-se a glândula submandibular que possui vários ductos que
desembocam diretamente na mucosa. Perto da extremidade anterior do frênulo da
língua, há uma prega recortada irregularmente que pode ser seguida em ambos os lados,
lateral e posterior, na superfície inferior da língua, denominadas por pregas fimbriadas
ou franjeadas.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
O músculo milo-hioídeo forma o assoalho da cavidade oral de cada lado e une-se por uma
rafe milo-hioídea (cordão tendíneo que vai da mandíbula ao osso hioide). Origina-se
na linha milo-hioídea e suas fibras posteriores inserem-se no corpo do osso hioide. É
inervada pelo nervo milo-hioide, ramo do nervo mandibular (parte motora do nervo
trigêmeo – V par craniano). De acordo com o Comitê de MO (2007) e Madeira (2008),
tem a função de elevar o assoalho da boca e, com ele, a língua e o osso hioide durante
a deglutição e a fala. Quando fixado, auxilia o digástrico na retrusão e no abaixamento
da mandíbula.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
O músculo hioglosso fica parcialmente coberto pelo músculo milo- hioideo e alcança
a língua por baixo e pelo lado. Origina-se na parte da borda superior do corno maior
e no corpo do osso hioide. O músculo hioglosso é o depressor da língua (abaixando e
retraindo – segundo o COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL, 2007 e MADEIRA,
2008), principalmente se estiver fora da boca, e é inervado pelo nervo hipoglosso.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
O músculo levantador do véu palatino (Figura 20) estende-se da base do crânio (parte
petrosa do osso temporal) diretamente ao palato mole, na superfície superior da
aponeurose palatina. Sua função é elevar o palato mole durante a emissão de sons orais
e durante a deglutição e a sucção (MADEIRA, 2008). Também auxilia na elevação da
faringe e no contato com a parede posterior da faringe, separando, nestas situações, a
cavidade oral da nasal. (COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL, 2007).
O músculo da úvula (Figura 20) sai da espinha nasal posterior para inserir-se na
mucosa da úvula e, desta forma, encurtá-la ou alargá-la. (COMITÊ DE MOTRICIDADE
OROFACIAL, 2007; MADEIRA, 2008).
Os músculos supra-hioídeos são compostos por músculos pares que unem o osso
hioide ao crânio sendo que, com exceção do estilo-hioídeo (que se origina no processo
estiloide do osso temporal), todos se ligam na mandíbula. São músculos supra-hioídeos:
digástrico, milo- hióídeo, gênio- hioídeo e estilo- hioídeo. No conjunto são considerados
como músculos abaixadores e retrusores da mandíbula, antagonistas aos músculos
da mastigação, mas colaborando nesse processo (MADEIRA, 2008). Auxiliam no
processo de deglutição e de sucção (nos três a quatro primeiros meses de vida, quando a
mandíbula faz movimentos associados com a língua, principalmente em sua retrusão).
O músculo digástrico apresenta dois ventres musculares e, por este motivo, tem dois
locais de origem, unindo-se por um tendão em comum. Seu ventre anterior encontra-se
no corpo da mandíbula (é inervado pelo trigêmeo) e seu ventre posterior (inervado pelo
facial) tem origem na incisura mastoídea e desce em direção ao osso hioide, encontrando
o tendão e unindo-se ao ventre anterior. Sua função é tracionar a mandíbula para
trás, favorecendo seu abaixamento (com sinergismo do pterigoideo lateral), segundo
Madeira (2007). De acordo com o Comitê de MO (2007), também auxilia na elevação
do hioide e o fixa durante a deglutição e a fala.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
hioide, sendo que, ao ser contraído, leva o respectivo osso para trás e para cima, podendo
fixá-lo quando atua em conjunto com os músculos infra-hioídeos (MADEIRA, 2007).
O Comitê de MO (2007) acrescentou que este músculo também alonga o assoalho da
boca. Este músculo é inervado pelo nervo facial.
Conclusão
Com a necessidade de interagir, o homem adaptou seus órgãos para tão nobre função
e, de acordo com o Comitê de Motricidade Orofacial (2001), entre os conhecimentos e
habilidades necessárias para atuação na área, está o conhecimento da anatomia e da
fisiologia pertinentes às estruturas orofaciais e cervicais.
Músculo occiptofrontal
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Músculo prócero
ORIGEM – parte inferior do osso nasal e parte superior da cartilagem nasal (mais
lateralmente) / INSERÇÃO – parte inferior da testa entre os supercílios / AÇÃO –
traciona a pele do nariz para cima, formando rugas transversais sobre a ponta do
nariz; ajuda a corrugar o supercílio
Músculo risório
Músculo platisma
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
OBS.: Pode se citar que origina e insere nos processos alveolares das maxilas
Músculo bucinador
Músculo mentual
Músculo masseter
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Músculo temporal
Músculos digástricos
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Músculo estilo-hioídeo
Músculo esternocleidomastoídeo
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CAPÍTULO 2
Ortodontia e implicações de fala e
motricidade
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Largo (2003) ressalta que a ação terapêutica será mais eficiente se possibilitar a
autorregulação do sistema, isto é, busca do equilíbrio: ser versus ambiente. Para
alcançar seus objetivos, a Ortodontia e Ortopedia buscam a cura de uma anormalidade
com a consciência do que se está tratando com os mecanismos corretos disponíveis
para o tratamento. O foco precisa ser o sistema estomatognático como um todo e não
somente com a má posição dentária.
Oclusão
Há uma colocação comumente aceita em Fisiologia segundo a qual o normal não é o
único ponto, mas, sim, uma variação. Uma oclusão atraente, equilibrada, estável e sã
pode ser considerada normal, ainda que existam posições ligeiramente incorretas.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Classe I: quando há uma boa relação de crescimento entre maxila, mandíbula e base
craniana, ou seja, quando a cúspide mésio-vestibular do 1o molar superior estiver
articulando com o sulco vestibular do 1o molar inferior. As anomalias encontradas nessa
classe são referentes à posição, à forma e ao número de dentes.
Classe II: quando a mandíbula está mais para trás em relação à maxila e à base
craniana, o 1o molar superior encontra-se em topo com o molar inferior e, muitas vezes,
uma cúspide à frente do molar inferior, sendo que o ideal é que esteja uma cúspide
atrás. Essa classe apresenta duas divisões:
Divisão 1a: além dos molares estarem em classe II, os incisivos superiores estão
inclinados para vestibular – em direção aos lábios.
Divisão 2a: os molares estão em relação de classe II, os incisivos centrais superiores
estão inclinados lingualmente e os incisivos laterais superiores encontram-se em
lábio- versão.
Nessa classe ainda temos a subdivisão, quando a Classe II ocorre apenas de um dos
lados da arcada – unilateralmente.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Desequilíbrio oclusal
Galvão (1996) apud Goldenberg (1998) afirma que o desequilíbrio oclusal nem
sempre é o resultado de um determinado fator etiológico. São vários os fatores que
podem interferir na oclusão normal. Podemos agrupá-los segundo sua origem como
hereditários, congênitos ou adquiridos.
Hereditários: caracteres patológicos que são passados dos pais para os filhos. Por
exemplo, mordidas abertas esqueletais, micro e macrognatia, problemas relativos ao
número e tamanho dos dentes etc.
Adquiridos: diversas alterações dentofaciais que surgem pela ação de fatores locais
ou gerais, após o nascimento.
Entre os fatores, os adquiridos são os que podem ser detectados clinicamente pelo
fonoaudiólogo e, devido à sua abrangência, abordaremos dois importantes.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
O uso da chupeta até os 3,5 anos de idade não produz, em geral, efeitos danosos à
oclusão. Para que efeitos prejudiciais venham a produzir-se, com respeito aos hábitos
em geral e à sucção em particular, é necessária a combinação de três fatores, como
duração, frequência e intensidade.
Outros hábitos importantes que podem originar má-oclusões são as pressões com os
lábios e a língua e a onicofagia. A interposição da língua entre os dentes e o hábito
de morder os lábios e roer unhas, geralmente, provocam desequilíbrio funcional e
consequente má-oclusão.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
A etiologia dos hábitos orais é diversificada, podendo estar relacionada, entre outras
causas, a fatores psicológicos ou à repetição contínua de um ato.
Graber (1974) afirma que não há dúvidas que os hábitos orais estão associados às má-
oclusões, mas, sim, se são fatores etiológicos ou apenas estão relacionados, sendo a
etiologia desconhecida; porém é necessária a associação de três fatores que modificam
o hábito: duração, frequência e intensidade. Menciona ainda que os hábitos não podem
ser vistos isoladamente, principalmente sem considerarmos os fatores genéticos, e
que não costumam causar danos definitivos se abandonados até os 3 anos de idade;
eles normalmente agravam as má-oclusões inerentes aos padrões faciais herdados.
Pizarro; Honorato (1981) consideram que há um equilíbrio entre as forças intra e
extrabucais em repouso e, quando se instalam os maus-hábitos orais, rompe-se esse
equilíbrio e se produzem diversos graus de transtornos dentomaxilares. Consideram
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Silva Filho et al. (1986 a, b) considera como hábitos bucais deletérios as funções bucais
que constituem fatores etiológicos em potencial na deteriorização da oclusão e na
alteração do padrão normal de crescimento facial, como a respiração bucal, as funções
anormais da língua durante a deglutição, a fonação e postura, os hábitos prolongados
de sucção de dedo e/ou chupeta, entre outros. Ressaltam, entretanto, que tais hábitos
até a idade de 3 a 3,5 anos são considerados plenamente normais, fazendo parte do
desenvolvimento emocional da criança, não trazendo consequências prejudiciais
permanentes para a oclusão, pois até essa idade há uma forte tendência para a
autocorreção da má-oclusão, apesar de essa correção espontânea ser dependente de
vários fatores, tais como a competência da musculatura perioral e o padrão respiratório.
Moyers (1991) afirma que a sucção do polegar, bem como de outros dedos,a interposição
de língua, a onicofagia, a mordedura e a sucção dos lábios são as causas mais comuns
que alteram a oclusão. Entretanto parece importante citar deglutição atípica, respiração
bucal e hábitos de postura, uma vez que estes constituem frequentes causas de problemas
ortodônticos. Por outro lado, hábitos como o bruxismo, extremamente envolvido nos
quadros de disfunção temporomandibular, devem ser conhecidos para que se possa
interpretar alterações musculares sem causa aparente.
Lino (1993) afirma que os hábitos são fatores etiológicos das má- oclusões e sugere que
sejam retirados o mais cedo possível, como manobra ortodôntica preventiva.
Oclusão e respiração
Entre os hábitos deletérios, a respiração bucal foi citada por todos os autores discutidos
e, por isso, a importância de discuti-la mais especificamente. Guardo (1982) afirma que
a respiração bucal acarreta má-oclusões, pois, ao ser rompido o equilíbrio fisiológico no
qual está embasado todo o desenvolvimento dentomaxilofacial, produz-se mudanças
41
UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
anormais nos tecidos, tanto ósseos quanto musculares. Afirma, também, que quanto
mais precocemente se instale a respiração bucal, maiores serão as alterações bucais,
uma vez que ossos jovens, não suficientemente mineralizados, são facilmente moldáveis.
Bruer (1989) considera que uma criança que apresenta respiração bucal pode apresentar
alterações oclusais, mas que estas dependerão sempre da frequência e da intensidade da
mesma, bem como da disposição genética do paciente para sofrer em maior ou menor
grau as influências desse tipo anormal de respiração.
Articulação e oclusão
Silva (1983), após o estudo das funções estomatognáticas, tece relações detalhadas sobre
a classificação de Angle e a produção de fonemas. A autora acredita que as má-oclusões
causam alterações articulatórias, como, por exemplo, a mordida aberta anterior pode
interferir na articulação dos fonemas (t, d, n, l, r) e a mordida aberta lateral nos fonemas
sibilantes (s, z, ch, j).
Douglas (1988) afirma que a má-oclusão é uma causa de alteração na fala, assim, 80%
dos indivíduos com má-oclusão apresentam. Ele relaciona, ainda, a mordida aberta
anterior severa e o prognatismo com distorções dos fonemas /f/ e /v/ e a retrusão
mandibular com distorções dos fonemas /p/, /b/, /m/, /s/ e /z/.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Evidentemente que para compreender as alterações da fala temos que estudar a fisiologia
da produção da mesma, assim como a anatomia das estruturas que a produzem. Não é o
propósito deste capítulo desenvolver com profundidade esses aspectos, mas queremos,
aqui, levantar alguns pontos mostrando a importância deste tópico.
Quando dois ou mais órgãos se combinam de forma a mostrar-se como uma unidade
funcional, eles são chamados de “sistema”. Por exemplo, temos os sistemas: esqueletal,
articular, muscular, digestivo, vascular, nervoso e respiratório, entre outros.
Evidentemente nenhum destes sistemas é independente dos outros. Para o mecanismo
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
da fala usamos mais uns, do que outros desses sistemas, embora todos eles sejam
necessários para a correta produção da fala. Os sistemas mais utilizados para a produção
da fala são: esqueletal, muscular, nervoso e respiratório. Quando encontramos alguma
alteração na fala, evidentemente todos os sistemas devem ser verificados, pois um deles,
mais provavelmente, é o causador da alteração encontrada. Assim, o clínico deve ter um
bom protocolo de avaliação, o qual inclua os vários aspectos que poderão interferir na
produção da fala.
Uma alteração de fala, cuja causa é decorrente de alterações do sistema nervoso, pode
resultar em disartria ou dispraxia. Estas alterações são, em geral, consequências de
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
lesões neurológicas. Apesar de a causa ser a mesma, os sintomas de cada uma destas
alterações são bem diferentes e já foram bem descritos na literatura.
Disartria
O termo disartria vem do grego dys + arthroun que significa inabilidade para pronunciar
claramente. A disartria é definida como articulação imperfeita da fala causada por uma
lesão no sistema nervoso central ou periférico. Normalmente os distúrbios causados
pela perda do controle muscular dos mecanismos da fala são fraqueza, paralisia do
aparelho fonador ou incoordenação da musculatura da fala. As características mais
comuns da disartria são a imprecisão na articulação das consoantes, assim como a
velocidade lenta da fala. Existem vários tipos de disartrias e elas se diferenciam por
diferentes características de fala e de voz. As disartrias mais citadas na literatura são:
flácida, espástica, hipocinética, hipercinética, atáxica e mista. Os principais quadros
neurológicos onde as disartrias costumam ocorrer são nas alterações: do neurônio
motor superior – córtex e trato piramidal; extrapiramidais; cerebelares; de danos de
localização desconhecida e da junção mioneural.
Para avaliar as alterações que ocorrem nas alterações motoras da fala é fundamental
que saibamos a etiologia da disartria, já que algumas ocorrem após traumas encefálicos
e outras são devido a doenças neurológicas degenerativas. Precisamos avaliar aspectos
como força, amplitude e velocidade de cada um dos movimentos envolvidos na fala. A
avaliação constará de aspectos objetivos e subjetivos. Deverá ser realizada a avaliação
dos aspectos vocais e da articulação da fala.
Outros autores sugerem que a terapia deva estar baseada na fisiologia de funcionamento
das estruturas envolvidas na alteração, propondo então a análise de cada um dos
componentes da fala. Considerar os processos básicos da fala – respiração, fonação,
ressonância, articulação e prosódia – pode ser o ponto de partida para a avaliação e o
tratamento.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Dispraxia
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
combinando o uso de expressões verbais com gestos, com escrita, com comunicação
alternativa; ensinar habilidades de auto controle e auto monitoramento; usar técnicas
de tratamento de alterações articulatórias e de alterações fonológicas.
Existem influências na produção da fala que não têm como causa os processos
cognitivo- linguísticos ou as alterações neuromotoras. Em algumas alterações, fica
muito claro que não há comprometimento do sistema nervoso. Em outras alterações,
as causas são difíceis de serem detectadas, mas sabemos que não são alterações, nem
neuromotoras, nem especificamente cognitivo-linguísticas. Estas são as alterações de
fala cuja origem pode estar nas alterações dos músculos, das cartilagens ou dos ossos
e são chamadas de alterações de fala de origem músculo- esqueletais. Temos, como
exemplo clássico destas alterações, a fala dos indivíduos com fissuras de lábio e/ou
palato. Podemos considerar ainda os laringectomizados, os indivíduos que sofreram
fraturas nos ossos da face, as variações anormais na forma e no tamanho da cavidade
oral, as alterações dentárias, as cirurgias que levam a lesões de forma ou do tecido
e assim por diante. A integridade de músculos, ossos e cartilagens é crucial para se
obter uma fala normal. Lesões, ferimentos, doenças, alterações congênitas, cirurgias,
modificações que ocorrem com a idade, poucos cuidados com os dentes, por exemplo,
são fatores a serem considerados nas alterações de fala. Outras influências físicas, tais
como variações anormais no tamanho e na forma das estruturas da fala ou o efeito de
doenças sistêmicas também podem alterar a fala.
As possíveis causas das alterações de fala de origem muscular podem ser por: paresias,
fibroses, atrofia muscular, perda da mobilidade, fasciculações, alterações de tamanho
ou forma.
48
SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
As alterações de fala de origem esqueletal podem ser por: alterações nos ossos ou na
conformação da face. A ausência de dentes, as próteses, a má-oclusão, por exemplo,
podem afetar a fala. Os sons mais afetados nas alterações músculo-esqueletais, em
geral pelas más condições das estruturas orais, principalmente as oclusais, são as
sibilantes, /s/.
Tonsilas hipertróficas
Quando há aumento das tonsilas, da faríngea e ou das palatinas, observamos que a
passagem para o ar fica diminuída ou mesmo totalmente obstruída. Quando isto ocorre
a boca se entreabre e a língua toma uma posição mais baixa. Como consequência deste
posicionamento inadequado de lábios e língua, podemos ter: flacidez da língua e dos
lábios, principalmente do inferior; retração do lábio superior; possível atresia do arco
maxilar; possíveis alterações oclusais, sendo que as que mais interferem com a fala são
as mordidas abertas ou cruzadas unilaterais. As funções de mastigar e deglutir também
podem, como consequência do aumento das tonsilas, estarem alteradas. É ainda previsto
acúmulo de saliva na cavidade oral, uma vez que o número de vezes que o paciente passa
a deglutir se torna menor. Com este quadro de alterações ósseas, dentárias, musculares
e funcionais, poderemos ter alterações nos fonemas sibilantes que podem estar sendo
produzidos de forma distorcida, principalmente por causa do posicionamento da
língua. Além da distorção, pode ocorrer imprecisão, já que a flacidez da língua dificulta
que os pontos de contato sejam corretos. Em alguns casos, a parte média da língua
fica elevada facilitando o aparecimento do ceceio lateral. Se ocorrer mordida aberta
anterior, também poderemos ter o ceceio anterior. Os indivíduos que respiram pela
boca, não importando a causa, quase sempre terão a língua posicionada no assoalho
da boca, com possíveis alterações musculares, ósseas e até oclusais, conforme vimos.
A respiração oral favorece o aparecimento do ceceio anterior ou lateral, e a imprecisão
articulatória da fala. Isto pode ocorrer pela flacidez dos órgãos fono-articulatórios e
também pelo acúmulo da saliva na boca.
Dentes
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Oclusão e mordida
Na Classe III de Angle, podemos observar a mudança do ponto articulatório das fricativas
/f/ e /v/, onde a produção das mesmas fica invertida, ou seja, o lábio superior se articula
com os dentes inferiores para produzir estes sons. Observamos ainda maior uso do lábio
superior nos plosivos e maior participação da parte média da língua durante a fala.
Disfunção temporomandibular
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Movimentos mandibulares
Saliva
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Próteses
As próteses dentárias causam problemas para que se possa articular com perfeição os
sons da fala quando não são bem construídas e/ou adaptadas. As próteses também
podem ser confeccionadas para a melhora da fala, como se usa com frequência nos
indivíduos com fissuras labiopalatinas ou nos indivíduos com doenças neurológicas
evolutivas as quais podem causar perda da mobilidade do palato mole. Em geral, a
prótese dentária, quando não está bem adaptada, traz problemas do tipo falar com a
boca mais fechada para não perder a estabilidade da prótese e isto acaba por causar
imprecisão articulatória. A diminuição dos movimentos mandibulares também fica
evidente, assim como aparecem movimentos alterados de mandíbula e de lábios numa
tentativa de manter a prótese mais firme e de compensar ou melhorar a precisão da fala.
Frênulo lingual
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Piercing
A inserção de objetos de metal na boca, como o piercing, parece ser moda principalmente
entre os jovens, no entanto esta nova mania pode trazer numerosas complicações orais e
dentais, mas nem sempre são observadas alterações de fala, mastigação e deglutição em
quem usa este adorno. Os piercings utilizados na língua são os que mais frequentemente
podem interferir na articulação da fala. É fundamental que os jovens, assim como seus
pais, sejam alertados para as possíveis interferências que podem ocorrer pelo uso
deste adorno. A simples retirada do objeto em geral, já é suficiente para que qualquer
alteração das funções orais desapareçam.
Por sua vez, quem fala errado também apresenta sentimentos ou reações que podem
gerar alterações no convívio social como: ansiedade, autoestima baixa, sentimento de
exclusão, desconforto, insegurança e frustração.
Crianças que falam com erros tendem a ser mais tímidas e menos falantes do que outras,
e adultos que cometem erros ao falar se sentem inseguros para buscar empregos ou
novas posições no emprego já existente. Às vezes, a fala é apontada até como causa de
dificuldade para novos relacionamentos, principalmente os amorosos.
Ao conversarmos com adultos que sempre falaram errado e que foram excluídos ou se
auto excluíram dos grupos a quem pertenciam, podemos ter uma ideia mais precisa do
que é falar errado, mesmo quando a alteração parece ser pequena para nossos ouvidos.
Relatos desses pacientes nos mostram a importância da correção o mais precoce
possível. Dificuldades de encontrar emprego, não por falta de competência, mas acima
de tudo pela sensação de serem menos, já é um bom ponto de partida para que se preste
a máxima atenção até nos pequenos desvios encontrados na fala. Muitas vezes, estamos
acostumados a nos preocupar apenas com as omissões ou substituições, pois estas
parecem ser mais perceptíveis dos que as distorções e imprecisões articulatórias. Mas,
são as distorções e as imprecisões que mais interferem no dia a dia do sujeito. Quando
existe uma omissão ou substituição, em geral, é mais simples a resolução do problema,
mas quando aparecem sons distorcidos, é um sinal de que o indivíduo percebeu que o
som não estava sendo produzido adequadamente, tentou uma aproximação do correto,
num esforço provavelmente grande, no entanto, por mais que tentasse não conseguiu
atingir a produção correta do som. As imprecisões são piores, pois elas normalmente
53
UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
não atingem um som ou um grupo de sons. Elas prejudicam a fala como um todo.
Independente da alteração encontrada, a correção deve ser realizada o mais cedo
possível, para que padrões errados não sejam fixados, dificultando não só a correção e
a instalação de um novo padrão, mas, acima de tudo, dificultando a automatização da
maneira correta de falar.
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
r ou lh, a distorção desses fonemas, que serão produzidos em local de medial a posterior
na cavidade oral, em geral produzidos com o dorso médio da língua contra o palato
duro. Ainda há a possibilidade de haver apoio de lábio inferior, tornando a produção de
um /l/ ou /r/ como uma semivogal. Também haverá casos em que, embora a alteração
do frênulo esteja presente, há uma perfeita compensação, fazendo que somente testes
mais sensíveis consigam captar e registrar o que, ao ouvido humano, soará como
normalidade. E, nesse sentido, não há o que ser tratado. A colaboração dessa discussão
para a clínica fonoaudiológica é a compreensão de que o mais importante é considerar
e entender essas diferenças. Nesse sentido, a reflexão nos faz pensar que, cada vez mais,
é necessário que nós, fonoaudiólogos, passemos a considerar, durante a avaliação,
que há características muito peculiares a cada tipo facial e estruturas que compõem o
sistema estomatognático. Além disso, é importante que cada vez mais nos apossemos
e contribuamos com dados e pesquisa para tornar nossa prática mais fidedigna.
Identificar cada subtipo de alteração de fala, validar as estratégias terapêuticas e seus
efeitos parece ser o caminho a percorrer.
Estudos indicam que problemas de articulação são as alterações mais frequentes nos
distúrbios de comunicação em adultos (MARCHESAN 2005 ; OLIVEIRA et al. 2005).
Porém, a prática clínica mostra que poucos adultos buscam tratamento para fala por
conta própria e os que o fazem, são encaminhados por outros profissionais da área de
saúde. (MARCHESAN, 2005).
O que se tem observado na prática clínica é que os indivíduos parecem não perceber
a distorção na fala, o que poderia explicar o reduzido número de adultos que buscam
terapia fonoaudiológica. Este dado traz a tona alguns questionamentos, tais como:
Teriam esses indivíduos alguma dificuldade na autopercepção do problema? Até
que ponto este problema interfere na vida social e profissional destes indivíduos?.
(ZACKIEWCTZ et al., 1998, OLIVEIRA et al., 2005).
Para Shriberg (1997) , Kwiatkowski (1982) e Ruscello (2003), transtornos de fala que
persistem para além do período esperado de aquisição e desenvolvimento desta função
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Para Van Borsel et al. (2007), na vida adulta, a persistência do ceceio pode causar
desconforto ou constrangimento. Marchesan (2004) concorda que indivíduos que
têm problemas de fala, independente da causa que leva a esta alteração, experimenta
muitas vezes sensações desagradáveis ao tentar se comunicar. O ouvinte pode ser
impaciente, rejeitar o falante, ter pena, satirizar ou imitar de forma jocosa, além
de outros comportamentos, o que leva o falante a se sentir ansioso, embaraçado,
desconfortável, excluído, inseguro, frustrado, ocasionando diminuição da autoestima
e da autoconfiança.
Entretanto Van Borsel et al. (2007) relata que existem alguns adultos que não querem
fazer terapia, como também existem pessoas que são conhecidas na sua vida pública
por sua alteração de fala, passando desta forma o ceceio a ser sua marca registrada e
parte da sua imagem.
Avaliação cefalométrica
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Sugere-se que para a análise facial ser considerada confiável é necessário que os seguintes
aspectos sejam aferidos na posição frontal e de perfil: rosto, feições, simetria, harmonia
e proporções faciais; tendência a qual tipo de face; altura e largura facial; terços faciais,
em especial o inferior; largura bizi gomática; contorno e grau de curvatura do perfil;
formato do crânio e da cabeça; linha do cabelo; testa; olhos; sobrancelhas; orelhas;
maxila, forma e altura da mandíbula, largura bigoníaca, contorno do queixo; lábios,
língua, boca, dentes, linha média, posição do filtro, oclusão e sorriso; bochechas; nariz,
ângulo nasolabial, base e projeção nasal; linha queixo-pescoço; músculos, expressões
faciais e marcas de expressão. Nesse tipo de análise, deve-se levar em conta que a
face é uma particularidade de cada um e não existe uma exatamente igual à outra. A
análise deve considerar o sexo, os traços familiares, a tipologia facial, a raça e a etnia.
O fonoaudiólogo é um dos profissionais que realiza a análise facial em seus pacientes
ao avaliar suas estruturas orofaciais, em que se abordam os aspectos morfológicos,
posturais e funcionais. Além disso, acredita-se que geralmente faz parte da avaliação
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SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
Quanto às medidas antropométricas orofaciais: altura do lábio superior (do subnasal ao
estômio); altura do lábio inferior (do estômio ao gnático); altura do filtro (do subnasal
ao labial superior); altura do terço superior da face (do trichio à glabela); altura do terço
médio da face (da glabela ao subnasal); altura do terço inferior da face (do subnasal ao
gnatico); distância entre o canto externo do olho e o cheilion no lado direito ou lado
direito da face (ex-ch).
O segmento consonantal /s/ é classificado como fricativa alveolar. Para um segmento ser
classificado como fricativo, a área de abertura do conduto vocal deve ser suficientemente
pequena para causar uma fricção audível (LAVER, 1994). Essa fricção, ou turbulência
das moléculas no fluxo aéreo, pode ocorrer no local da constrição ou pode ser causada
pelo direcionamento do jato de ar para um obstáculo, como, por exemplo, os dentes
(STEVENS, 1998). Por este motivo, o critério para classificar um segmento como fricativo
inclui fatores acústicos/auditivos, aerodinâmicos e articulatórios. Assim, a estrutura
do conduto vocal é de grande importância na produção desses sons, pois deve haver
um canal, com uma forma bem precisa, para que a turbulência na corrente aérea seja
produzida. Santos (1987) mostrou, em seus estudos, que os fonemas fricativos /s,z/ são
os mais agudos. Para Casaes (1990), nas consoantes fricativas ocorre um estreitamento
da passagem de ar pela cavidade oral, produzindo um ruído de fricção, sibilo ou chiado,
sendo por isso os fonemas /s,z/ classificados como fricativos sibilantes.
Hanson e Barret (1995) afirmam que os fonemas /s/ e /z/ são produzidos elevando-se
as laterais da língua contra o palato duro, impedindo o escape lateral do ar.
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UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Tabain (2001) comparou a produção das fricativas sibilantes /s/ e /z/ com as dos fonemas
dentais /f/ e /v/ e relatou que as alveolares /s/ e /z/ apresentaram pontos articulatórios
mais estáveis, não permitindo várias trajetórias para atingir o mesmo objetivo sonoro.
Esse dado reforça a afirmação da extrema precisão dos eventos ocorridos na cavidade
oral referentes à produção do /s/ e também destaca o fato de desvios desta consoante
serem tão frequentes, pois pequenas variações no formato e na localização da língua
alteram a produção final deste fonema.
As distorções na fala seriam, então, segundo Wertzner (2003), Britto Pereira et al.
(2003) e Leite et al. (2008), classificadas como alterações fonéticas, uma vez que a
distorção de um som pode ser definida como a substituição de um som padrão por um
som não padrão, onde o contraste entre o som distorcido e os demais sons da língua
é mantido, diferente da substituição onde uma classe de sons é substituída por outra.
Segundo Kocjancic (2004) a distorção está presente nos adultos, porém, por não
afetar diretamente a compreensão da palavra, ela é aceita no meio social e não causa
ininteligibilidade da fala. (WERTZNER, 2003).
Para Casarin et al. (2006) e Marchesan (2004), as possíveis causas de uma distorção
são as alterações anatômicas da face, da boca e de suas estruturas e o posicionamento
inadequado dos órgãos fonoarticulatórios, principalmente de língua, lábios e dentes. Os
indivíduos que distorcem estão buscando ajustes ou compensações para uma fala mais
inelegível. As distorções ocorrem mais frequentemente nos sibilantes e no /r/ brando.
Leite et al. (2008) refere-se ao ceceio como a incorreta produção dos fricativos
linguoalveolares.
Powers (1971) define o ceceio como a má articulação de uma ou mais consoantes
sibilantes, sendo a maior ocorrência observada nos fonemas [s] e [z] e o classifica como:
central, lateral e nasal, levando em consideração a alteração da posição da língua na
cavidade oral e direção do sopro respiratório.
60
SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO │ UNIDADE I
anteriores inferiores, sem, contudo haver interposição da língua entre estes. Em alguns
casos, a língua toca os incisivos superiores, prejudicando a fricção do ar, ficando, desta
forma, o som distorcido, similar a um fone oclusivo. É comum observarmos hipofunção
da musculatura labial na emissão do [s] ou até mesmo um movimento de protrusão dos
mesmos como para compensar a posição inadequada da língua. A função articulatória
de lábios e língua parece ser enfraquecida. Já o ceceio interdental anterior caracteriza-se
quando se observa a interposição anterior da língua nos incisivos centrais, fazendo com
que a fricção ocorra entre os dentes e a língua e não entre o palato e a língua.
No ceceio lateral, observa-se escape lateral de ar, que provoca a distorção sonora,
podendo-se, em algumas vezes, observar até interposição lateral da língua na parte
posterior das arcadas dentárias.
Van Borsel et al. (2007) realizaram estudo em que foi pesquisada a prevalência de
ceceio em jovens adultos. Os participantes foram 748 estudantes, sendo 374 mulheres
e 374 homens falantes do Holandês. A análise da amostra revelou um índice de
prevalência de 23%. Significativamente menos participantes da área de Ciências
Humanas apresentaram ceceio do que os das Ciências Naturais ou Sociais. Houve uma
pequena, mas não significativa prevalência maior de ceceio em mulheres do que em
homens, que foi interpretada como se os familiares aceitassem mais estas alterações
em mulheres. Ficou determinado que esta elevada prevalência do ceceio em adultos
parecia representar uma tendência recente ou que a permanência do padrão de fala
com ceceio em adultos parecia estar sendo considerada como normal.
As razões para esta prevalência elevada não está totalmente clara para o pesquisador
quanto este padrão é um fenômeno novo. Uma possibilidade é que esta prevalência
elevada de articulação dental ou interdental realmente seja de origem recente e que
este achado reflita uma mudança de atitude sobre a articulação em geral e em relação
ao ceceio em particular. Outra hipótese é que hoje em dia haja uma tolerância maior
para as imprecisões articulatórias, fazendo parte de um estilo de fala mais casual. Na
ausência de algum dado sobre prevalência de ceceio em gerações mais velhas para
comparação, esta hipótese torna-se de difícil verificação. Van Borsel et al. (2007)
acreditam que esta hipótese está alinhada com os achados de sua pesquisa a qual
mostrou que 87.4% dos indivíduos diagnosticados com ceceio nunca receberam
qualquer observação sobre sua fala.
61
UNIDADE I │ SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO
Distorção do /r/
No entanto, Vuletic (1987 apud KOCJANCIC, 2004) classifica a distorção do /r/ de duas
formas, de acordo com o ponto de articulação: distorção anterior e distorção posterior.
No rotacismo bilabial, o /r/ é produzido pela vibração dos lábios e no rotacismo lateral
ele é resultante de uma atividade assimétrica da língua. Esses casos são mais difíceis
de correção, pois são de difícil identificação, sendo frequentemente encontrados nos
adultos.
No rotacismo dorsal, o /r/ é produzido com a parte anterior do “velum” vibrando contra
a língua.
No rotacismo uvular, o /r/ é articulado na mesma área, com a diferença que a úvula
vibra contra a parte posterior da língua.
No rotacismo laríngeo, a produção do /r/ ocorre entre a parte anterior da faringe e a raiz
da língua, as vibrações são mais lentas que as outras já mencionadas. Além desses tipos
de rotacismo, existem outros que são descritos, mas não classificados nessas categorias.
62
AVALIAÇÃO E UNIDADE II
TRATAMENTO
CAPÍTULO 1
Avaliação e tratamento dos distúrbios
de fala de origem fonética
63
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
a documentação a ser realizada, envolvendo tanto foto quanto filmagem, para análise
posterior. Finalmente, tem-se um resumo dos aspectos avaliados e os escores esperados
e alcançados.
Ao avaliarmos o Sistema Estomatognático, não podemos nos esquecer que ele é composto
por partes duras e moles, ou seja, ossos e músculos. Portanto não adianta conhecer
apenas as partes moles, como lábios, língua e bochechas, tendo como justificativa o
fato de que somos fonoaudiólogos, assim como não se justifica que o dentista conheça
somente as partes duras, como ossos e dentes.
A avaliação deverá ser completa. Não só examinaremos todas as estruturas que compõe
este sistema, como deveremos, acima de tudo, relacioná-las entre si, já prevendo
o que será possível ocorrer. Um bom clínico, ao fazer a anamnese, já poderá estar
examinando seu paciente. Comportamentos, posturas, hábitos e funções podem ser
observadas durante as perguntas da anamnese, sejam estas feitas para os pais ou para
o próprio paciente. Para que isto ocorra, é claro que a pessoa a ser examinada deverá
estar presente durante a anamnese. Os terapeutas podem escolher se querem fazer a
anamnese diretamente com o paciente, só com os pais ou com os pais e o paciente.
As três maneiras de colher os dados podem ser adequadas, se bem utilizadas, e todas
apresentarão aspectos positivos e negativos. Cada terapeuta deverá encontrar para si
ou para cada caso a melhor maneira de conhecer a problemática dos pacientes que o
procuram.
64
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
para a avaliação. Devemos ter sempre em mente que nossas estruturas, em um processo
normal de desenvolvimento, se modificam constantemente.
Faremos, a seguir, um roteiro didático para que possamos nos orientar na anamnese
e no exame de nossos clientes. Somente a partir da coleta destes dados poderemos
pensar no planejamento terapêutico.
Anamnese
O que usar: roteiros prontos, folhas em branco, perguntas semidirigidas? Ou será que
é melhor deixar os pais falarem sem perguntarmos nada? Temos visto que os jovens
fonoaudiólogos se perdem inicialmente a respeito do que fazer ao estarem pela primeira
vez com um paciente. Não é importante que um questionário formal exista. Na verdade,
tanto faz a forma como iremos abordar a família para descobrir o que queremos saber: se
vamos dirigi-los ou simplesmente deixar que contem livremente o que entendem como
importante para aquele momento. O essencial é que saibamos manejar e compreender
a técnica escolhida para a primeira entrevista. Devemos ressaltar que ambas as formas,
entrevistar sem roteiros e fazer perguntas pré- estabelecidas, são maneiras interessantes
e muitas vezes fundamentais. Às vezes, é mais uma questão de rotina ou de como
aprendemos a colher dados.
65
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
Devemos, no entanto, ter claro que nenhum modelo será suficientemente bom quando o
estamos utilizando apenas porque o temos em mãos, sem compreendermos exatamente
o que o autor daquele tipo de anamnese queria quando a elaborou. Os autores de
anamneses e exames, quando fazem seus roteiros, têm em sua mente um conceito do
que é o problema em questão e as possíveis causas que levaram a ele. Assim, irão tentar,
por meio de perguntas e técnicas de exame, comprovar suas hipóteses chegando às
causas do problema. Conhecer o que aquele instrumento específico pretende, ou seja,
o que o autor daquele questionário ou forma de entrevistar ou examinar tinha como
princípio teórico é o mais importante. Até porque, desta maneira, saberemos se estes
princípios são os mesmos que queremos adotar, que acreditamos.
Em relação às perguntas específicas para cada caso, podemos dizer que serão inúteis
se não estiverem ligadas a um conhecimento que justifique a questão. Exemplo disto
seria perguntarmos para uma mãe com quantos centímetros e com que peso seu filho
nasceu e não sabermos os parâmetros de normalidade. Outro bom exemplo seria o de
uma criança de 6 anos que tem como queixa, simplesmente, a troca do fonema /k/ por
/t/, e perguntamos se a mãe fez abortos, quantos e em que condição. Estas perguntas
não são significativas para o caso, com certeza. Tampouco nos levam a um raciocínio
clínico acerca das possíveis causas da troca do /k/ pelo /t/ que era a queixa inicial.
Muitas vezes, recorremos a um roteiro pré- determinado em que existem questões as
quais não sabemos o que querem dizer, qual o parâmetro de normalidade e, até mesmo,
como utilizar tais dados no futuro. Essas perguntas e respostas acabam se tornando um
monte de papel arquivado sem significado.
O primeiro contato com o paciente deve servir, entre uma série de razões, para
criar vínculos entre terapeuta e família, criar hipóteses diagnósticas, levantar novas
questões e possíveis encaminhamentos. Como se pode perceber, fazer entrevistas
e/ ou anamneses não é algo fácil. Fundamentação teórica, raciocínio inferencial e
alguma perspicácia são elementos necessários para que se obtenha com sucesso aquilo
que se pretende. Um conhecimento mínimo da patologia é condição básica para nos
orientarmos na anamnese. Só desta maneira podemos, ao final, interpretar de forma
adequada o que colhemos. Agindo desta maneira, os próximos encontros passarão a
ser uma continuidade do primeiro, não havendo a quebra entre a anamnese, o exame
e a terapia. Devemos evitar que cada bloco se torne estanque e sem vínculo com o
seguinte. A anamnese, o exame e a terapia devem ter os mesmos princípios e também
uma continuidade entre eles.
66
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
Primeira parte
Se estamos confusos por onde começar, sugiro iniciarmos pela coleta de dados que irá
identificar o paciente, perguntando dados como nome, data de nascimento, nome dos
pais, profissão, endereço, escolaridade etc. Podemos terminar esta parte com a queixa,
ou seja, com a razão que levou o paciente a nos procurar. Este momento é essencial,
pois os pais ou o paciente podem falar livremente sobre as razões que os trouxeram até
nós, quem os encaminhou, quais suas expectativas de tratamento. Eles podem, enfim,
contar sua história sem que sejam interrompidos.
Segunda parte
A partir da primeira coleta de dados, iremos dirigir nossas questões de acordo com a
queixa apresentada na primeira parte. Temos observado que as questões das anamneses
são direcionadas basicamente na busca de causas para o problema.
Desenvolvimento global
Partir da idade atual e retornar ao passado, caso seja necessário. Quando partimos
do momento atual, é mais fácil para os pais ou para o próprio paciente relatar, com
precisão, o que queremos saber. Podemos, a partir do relato deles, perguntar se sempre
foi assim ou se antes existiam estas ou outras dificuldades e em que nível.
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UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
Alimentação
Escolaridade
Sono
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
respiratória. Posições adotadas para dormir também são de fundamental interesse para
verificarmos possíveis interferências no crescimento ou na má- oclusão.
Questões finais
A pergunta final sempre deverá retornar para a queixa inicial. De modo geral, devemos
encerrar perguntando se há alguma coisa a mais que o paciente e/ ou os pais gostariam
de nos informar. Se existem outras colocações que não foram feitas durante a queixa
inicial e que podem ser feitas neste momento, caso os pais acreditem ter importância
para o caso. Deixá-los falar livremente neste momento pode nos dar outra visão da
queixa inicial ou sabermos o que, de fato, eles esperam do tratamento.
Terminada a anamnese, devemos dar início ao exame. Durante o exame podemos estar
retomando as questões respondidas na anamnese. Ao examinarmos, podemos observar
que determinada informação não corresponde ao que estamos vendo e, por isto, devemos
voltar a fazer perguntas sobre o que não está fazendo sentido. Às vezes, percebemos,
durante o exame, que faltou perguntar algo essencial. Outras vezes, os próprios pais
ou o paciente se lembram de alguma informação que lhes parece pertinente frente ao
que estamos examinando. Esta é a razão pela qual devemos entender que anamnese e
exame não devem ser separados e devem vir sequencialmente. Mesmo assim, sabemos
que muitas questões não serão discutidas naquele momento, pois ficam esquecidas
ou, simplesmente, não há, ainda, um vínculo para que sejam ditas, motivo pelo qual
sempre aparecem novas informações durante as sessões seguintes, na medida em que
os pais e/ou o paciente adquirem confiança no terapeuta. Estes processos de colher
dados e examinar, no sentido de compreender o problema, não se esgotam no primeiro
encontro. Na verdade, até o último dia estaremos fazendo novas considerações sobre
o caso. É absolutamente dinâmico e interligado o processo de avaliação e tratamento.
I. Postura corporal
A postura corporal é o primeiro item a ser avaliado. Grande parte dos problemas
encontrados nas funções orais são devido à postura corporal inadequada. Devemos
examinar o paciente em pé, de frente, de costas e de lado. Nestas posições, observar
o corpo todo e avaliar posturas inadequadas e assimetrias. Depois, com o paciente
sentado, devemos observar a cabeça em relação ao tronco. Por último, observar
as assimetrias faciais. Fotografar o paciente nas diversas posições, principalmente
se houver alterações será o ideal, pois somente desta maneira poderemos obter, no
final do tratamento, comparações entre o antes e o depois. As filmagens são amostras
69
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
dinâmicas do exame, enquanto as fotos são estáticas. Ambas são importantes e devem,
na medida do possível, ser realizadas.
Ossos e maxila: lembrar que são duas, portanto, um lado pode estar diferente
do outro. Alterações de palato duro dificultarão ou modificarão o posicionamento
da língua e suas funções. O estreitamento da maxila, muitas vezes, é decorrente da
respiração bucal. Outras causas também devem ser pesquisadas como hereditariedade
e/ou má- oclusão. É importante saber que expansões realizadas em maxilas atrésicas,
quando ocorrem após o crescimento crânio facial, são apenas dentárias e não estão de
fato interferindo com o osso. Um palato atresiado interferirá na respiração pelo nariz,
pois estará diminuindo o espaço aéreo superior. Todos estes dados são importantes,
pois nos ajudarão a compor o quadro do paciente, não só na avaliação, mas também,
principalmente, no prognóstico da terapia.
70
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
mandíbula com exercícios de anteriorização. Devemos investir ainda mais nos exercícios
mastigatórios.
Dentes: ao examinarmos os dentes, devemos nos lembrar de que eles iniciam sua
erupção em torno dos 6 meses de idade. A dentição descídua completa-se por volta dos
2 anos e meio,com vinte dentes na boca. Há diastemas naturais entre os dentes,que
garantirão a correta erupção dos dentes definitivos. Dos 20 dentes, 8 incisivos e 4
caninos servirão para o corte do alimento e os 8 molares restantes farão o trabalho,
propriamente dito, de mastigação. A falta de um bom relacionamento entre os dentes,
cáries, ausência de algum elemento e a presença de extranumerários, são algumas das
causas que podem alterar as funções de mastigar e/ ou deglutir. Portanto, conhecer a
estrutura dentária é fundamental para podermos avaliar as funções estomatognáticas e
compreendermos melhor algumas de suas alterações. Em caso de dúvida, não devemos
deixar de consultar um dentista para esclarecermos o problema.
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UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
exemplo específico do lábio superior, verificamos, por exemplo, que o lado direito
do lábio é mais fino e de menor tamanho. Em seguida, observamos que a bochecha
do mesmo lado é mais alta e tem maior consistência ao toque, além de maior força.
Observamos, ainda, que os dentes do mesmo lado têm melhor oclusão do que do outro
e, finalmente, lembramos de que, na anamnese, o cliente disse que preferia mastigar
deste lado.
Há uma coerência entre os dados do exame e os da anamnese. É o que devemos buscar
o tempo todo, ou seja, coerência entre aquilo que vemos e aquilo que ouvimos quando
a história nos foi relatada. Agindo assim, estaremos não só descrevendo, mas também
compreendendo as causas daquilo que está ocorrendo com o paciente. Mantendo o
mesmo exemplo, se o paciente durante a anamnese não sabia de que lado mastiga,
ao encontrarmos os dados anteriormente citados com relação a lábios e bochechas,
podemos deduzir que ele mastiga do lado direito. Este dado vai nos deixar mais atentos
durante o exame da função mastigatória. Poder prever como se realiza uma função a
partir das estruturas envolvidas facilita nosso exame e ajuda a explicar para o paciente
as razões de possíveis disfunções.
Voltemos, então, ao tamanho do lábio superior. Medir partes moles é bastante difícil, pois
uma simples contração no momento da mensuração já trará diferenças sensíveis. Usar
um bom instrumento para tomar as medidas também é importante. Os paquímetros de
metal, apesar de mais caros, são de melhor qualidade do que os de plástico. Saber usar
o tipo de instrumento é fundamental. Comparar o tamanho do lábio com o tamanho
do osso que ele deve cobrir é o nosso objetivo para sabermos se o lábio é curto ou
não. Na verdade, não há um tamanho normal para o lábio superior. Dizemos que há
normalidade quando são encontradas proporções adequadas entre partes moles e
partes duras. Ao tomarmos a medida do lábio superior em milímitros, observamos que,
muitas vezes, este lábio que nos parece extremamente curto, na medida em que expõe
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
os incisivos superiores é, na verdade, mais longo do que o lábio superior de outras
pessoas que não ficam com os incisivos expostos. Outro detalhe importante diz respeito
a verificar com atenção o ângulo naso-labial. Quando ele está muito aberto, em geral a
ponta do nariz está arrebitada e os dentes ficam mais expostos. Isto pode significar que
o lábio, por causa do nariz estar arrebitado, está posicionado fora do lugar, nos dando
a impressão de ser curto. Estes exemplos são amostras de como devemos estar sempre
atentos e preocupados em fazer considerações e relações entre o que estamos vendo, e
não apenas anotar, pura e simplesmente, o que foi visto.
Imagino que você possa, neste exato momento, estar confuso. Afinal devemos ou não
nos preocupar com dados de normalidade? A fonoaudiologia, ao avaliar problemas de
motricidade oral, teve, no passado, um único padrão de normal e é desta noção fixa
de normalidade que devemos nos afastar. Existem vários normais. Normal é o que
funciona bem, em suas possibilidades. Tudo fica dependente das relações existentes
entre as partes duras e moles. Regra que deve valer para todas as estruturas avaliadas.
Língua. Ao avaliarmos esta estrutura, vamos procurar vê-la dentro da boca, e não
fora. Ao encontrarmos marcas de dentes sobre ela em suas laterais, nem sempre isto
significa algo importante para o clínico. Por exemplo, podemos, por estresse, estar com
a língua marcada por apertamento temporário. Por outro lado, estas marcas podem
existir há muitos anos, e não ter nada a ver com o problema que estamos avaliando.
No entanto, as marcas podem significar que a língua, realmente, está apertada. Esta
pressão sobre a língua pode estar ocorrendo porque a boca é pequena para a língua
, porque a língua é grande para a boca ou, ainda, porque os dentes estão inclinados
lingualmente, diminuindo o espaço intraoral. Dizer apenas que existem marcas não
elucida nada. Novamente, os dados só terão valor quando comparados entre si ou
quando levantarmos hipóteses das possíveis causas daquilo que foi encontrado.
73
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
tem sido encontrada, com frequência, nos Classes II de Angle. A força da língua tem
sido associada ao tipo de alimentação. Comidas mais pastosas exigem menor força de
mastigação e, consequentemente, menor movimentação da língua. As características
genéticas, no entanto, determinam fortemente tais padrões de força e de tamanho
enquanto que as condições ambientais contribuem para melhorar ou piorá-los.
Embora sejam várias as funções que as partes moles e duras dos órgãos fono- articulatórios
podem realizar, nos limitaremos a abordar a respiração, a mastigação, a deglutição e o ato
de fala.
Respiração
Os seres humanos nascem respirando pelo nariz e, a não ser que ocorram impedimentos
mecânicos, assim continuará até a morte. Isto significa que, ao encontrarmos um
paciente com respiração bucal, devemos buscar compreender o motivo dele não estar
realizando esta função de forma normal. Devemos nos lembrar de que, a maior parte das
vezes, a respiração não é puramente bucal, mas, sim, mista, isto é, dá-se pelo nariz e pela
boca. As causas mais frequentes de uma respiração inadequada referem-se a problemas
mecânicos. Eles podem estar em nível da nasofaringe, da adenoide, da orofaringe,
das amígdalas ou do próprio nariz, como um desvio de septo ou, mais comumente, as
hipertrofias de conchas que impedem ou diminuem a entrada do ar.
Para conhecermos de forma correta qual a razão da respiração estar ocorrendo por via
inadequada, uma consulta ao otorrinolaringologista é fundamental, sendo que a mesma
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
deve acontecer antes de iniciarmos nosso tratamento. Caso o médico nos informe que, do
ponto de vista clínico, não existem problemas, devemos ainda considerar se o paciente
tem possibilidade de oclusão labial, para que a respiração possa ocorrer pelo nariz. Se
existir uma tipologia desfavorável ou mesmo uma oclusão que não permita o correto
selamento, outra indicação, agora para a ortodontia, será necessária antes do nosso
tratamento. Verificar que nosso paciente não respira pelo nariz é muito fácil. Descobrir
as possíveis causas, encaminhá-lo corretamente e tratá-lo no momento adequado é
mais difícil e precisa de um conhecimento maior do que o óbvio comentário de que
ele não respira pela via correta. Como sempre, precisamos nos preparar para inferir
causas, estabelecer relações e prioridades de tratamento.
Mastigação
Filmar o exame também é aconselhável para que seja possível fazer comparação
posteriores com maior objetividade. Lembrar-se de que os limites de mastigação
impostos pela oclusão só serão resolvidos após o tratamento da oclusão. Como prova
específica, podemos sugerir que o paciente coma o pão normalmente, como está
acostumado. Após duas ou três dentadas, perguntamos onde está mastigando melhor,
ou seja, qual é o lado de preferência mastigatória e por que prefere este lado. Caso
o paciente não saiba identificar, devemos sugerir-lhe que coma mais alguns pedaços,
para observar como ele sente a mastigação acontecendo. Em seguida, devemos pedir
que mastigue apenas de um lado e observe relatando, em seguida, como foi. Depois,
repetimos a mesma prova, usando o outro lado da boca. Por fim, sugerimos que volte a
mastigar como o faz normalmente.
Após cada prova, devemos pedir ao próprio paciente que descreva como se sentiu,
se foi fácil e quais foram as dificuldades encontradas. Esta forma de avaliar faz com
que possamos ter a nossa visão e também a do próprio paciente sobre como está se
processando sua função mastigatória. Mesmo que o paciente não saiba nada ou só tenha
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UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
uma visão parcial daquilo que ocorre, isto não é importante. Agindo, assim, podemos
saber o que o paciente percebe e já o estaremos ajudando a ficar mais atento, deste
momento para a frente, em relação à sua mastigação.
Deglutição
Esta função dá continuidade ao processo de mastigação e, como tal, não pode e nem
deve ser avaliada em separado. Ao observarmos a mastigação também observaremos o
paciente deglutindo, pois esta sequência é natural. Nada mais lógico do que olharmos,
ao mesmo tempo, as duas funções. Assim, como não vamos pedir para que o paciente
faça um bolo alimentar e nos mostre antes de deglutir, não pediremos que abra os
lábios, a fim de olharmos dentro da sua boca enquanto deglute. Estas duas formas de
avaliar levam a atipias alterando, evidentemente, o processo natural.
Assim como esta atipia, muitas outras são provocadas pelos examinadores. Até o dentista,
quando pede para que o paciente degluta com os lábios entreabertos, numa posição em
que o corpo está reclinado, dificultando a deglutição, também causa uma atipia. Sugiro
ao leitor atento experimentar deglutir nessas circunstâncias, não se esquecendo de
um babador. Sabemos que os sujeitos Classes II de Angle, com grandes desproporções
maxilo-mandibulares, deglutem com os lábios separados e, mesmo assim, procuram
fazer um selamento compensatório, que é o do lábio inferior com os dentes superiores.
O selamento anterior é necessário para manter uma pressão negativa no interior da
boca e todas as pessoas procuram obtê-la de alguma maneira.
Às vezes, vamos ter, de fato, a projeção anterior da língua no momento da deglutição.
Ao invés de apenas apontar tal fato tentaremos compreender suas razões. Pode haver
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
uma mordida aberta anterior; pode existir amígdalas hipertrofiadas, trazendo a língua
para frente para criar um espaço posterior de passagem; outras vezes, em função
da respiração bucal, encontramos a língua posicionada embaixo e com sua força
diminuída, ou seja, sempre há ou houve, no passado, uma razão para que a deglutição
não se processasse de forma normal.
Ninguém deglute errado porque assim o quer. Em geral, deglutimos da maneira que
nos é possível. O nosso papel é mais do que repetir o diagnóstico pobre de “deglutição
atípica”. Devemos descobrir qual é a causa da inadequação deste modo de deglutir e,
mais do que a causa, tentar verificar quais são as possibilidades que o paciente tem de
deglutir de outra maneira que não aquela por nós encontrada.
Fala
Avaliar a fala, em geral, requer procedimentos mais simples. Podemos verificar como
o paciente fala e que tipos de troca apresenta, apenas conversando com ele. Em geral,
os pais sabem quais os fonemas que os filhos omitem ou trocam. Muitas vezes, já na
ananmnese, podemos ficar conhecendo, com certa margem de segurança, quais são os
problemas de fala existentes.
No entanto, para uma avaliação mais precisa é importante não só sabermos quais são
as trocas ou omissões, mas, mais uma vez, tentar compreender a razão das trocas e
quais as possibilidades de correção. Com muita frequência, encontramos problemas de
fala que fazem parte de problemas de linguagem. Infelizmente, muitas vezes, acabamos
simplificando e realizando análises somente parciais, reduzindo problemas de
desenvolvimento de linguagem em meras trocas ou omissões de fonemas. As distorções,
por sua vez, podem estar relacionadas a problemas de forma, ou seja, a características
anatômicas das estruturas que produzem fala.
Terapia
O grande momento chegou. Muito provavelmente alguns de vocês vieram direto a esta
parte sem ter lido as demais páginas que antecederam este ponto. É uma pena. Talvez
seja por isto que a Fonoaudiologia tem caminhado tão lentamente. Buscamos, durante
muitos anos, soluções prontas e isto não nos leva a raciocinar. Porém, se me enganei,
e você já leu o restante, já percebeu que não há uma regra única, nem para avaliar e,
muito menos, para a terapia. Podemos falar, talvez, de princípios terapêuticos e também
pensarmos no que inviabilizaria a terapia.
Após a avaliação, isto é, a anamnese e o exame, indicaremos outros profissionais e/ou
exames, caso sejam necessários, para um melhor diagnóstico. Antes de a família deixar
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UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
nossa sala, já neste primeiro encontro, devemos dar a ela e ao paciente um prognóstico
e um tempo aproximado de terapia. Sempre que vamos ao médico procuramos saber
qual remédio devemos tomar, quais os efeitos colaterais e, o mais importante de tudo,
em quanto tempo vamos ficar “curados”. A expectativa de nosso paciente não é diferente
da nossa quando estamos no papel de paciente. Eles também querem saber em quanto
tempo o problema estará resolvido e se a terapia vai dar resultado. Alguns chegam a nos
perguntar se não existe nenhum remédio para ajudar na terapia.
Nem sempre, quando encerramos a consulta, temos respostas precisas para tudo o que
o paciente gostaria de saber. Desta forma, faremos prognósticos próximos daquilo que
imaginamos que vá ocorrer. É recomendável propormos reavaliações de dois em dois
meses, quando o problema parece ser mais simples, e de três em três, ou quatro em
quatro meses, caso o problema nos pareça mais complicado. Assim, teremos um tempo
maior de trabalho para que possamos emitir uma opinião mais precisa. Nas reavaliações
sistemáticas, devemos explicar de forma clara para os pais e para o paciente o problema
em questão e como o estamos conduzindo. Agindo assim poderemos fazer com que
todos tenham uma visão do percurso terapêutico em seus detalhes, e não somente
do início e do fim do trabalho. Em geral, os pais imaginam que o terapeuta consegue
fazer tudo sozinho. Acredita-se que, como num milagre de transformação, o terapeuta
toma o paciente e o devolve novinho em folha. Com as reavaliações periódicas, pode-se
mostrar que as melhoras são progressivas e dependem da participação de todos.
Respiração
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
que nos casos com pacientes alérgicos. Mesmo que o paciente tenha um impedimento
mecânico, como hipertrofia de adenoide, será válido trabalharmos com ele, pois as
tentativas seguidas de respiração, via nariz, podem ajudar na desobstrução ou mesmo
no tratamento médico.
Mastigação
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UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
que o paciente está conosco poucas horas por dia. Devemos trabalhar com exercícios
de força, quando houver necessidade, solicitando que os mesmos sejam realizados uma
vez por dia, durante alguns minutos. É mais importante a realização diária, com pouco
tempo de duração, porém sistemática, do que por um tempo prolongado, mas que não
seja realizada rotineiramente.
Se existem problemas com a oclusão dentária, o ideal é que o paciente seja primeiro
tratado com o odontólogo, para depois fazer terapia, caso seja necessário. Se o paciente
não necessitar de tratamento odontológico, iremos trabalhar da mesma maneira,
apenas respeitando as possibilidades que ele apresenta para realizar a mastigação. A
forma de mastigar encontrada pode ser melhorada, mesmo que não fique “perfeita”.
Trabalhamos explicando o que é uma mastigação ideal e como é que ele, paciente, está
realizando tal função. Mostramos que, apesar de sua forma oclusal não ser a melhor, é
a condição que ele efetivamente tem, e que sempre existe algo que pode ser melhorado.
Ele será o agente de suas mudanças e estará informando ao terapeuta sobre o que
ocorre, quais as tentativas que faz para mudar e como está percebendo e sentindo as
mudanças que estão se processando.
Deglutição
Observamos que quando o paciente pode respirar pelo nariz, quando tem uma boa
oclusão, quando mantém os lábios ocluídos, quando o espaço interno é compatível
com o tamanho da língua e que, quando ele mastiga adequadamente, também pode
deglutir corretamente. Os demais pacientes, que não apresentam tais características
terão que adaptar seu modo de deglutir às condições existentes. O nosso paciente
mais “típico” é aquele que, apesar das boas condições de forma e de respiração,
deglute com projeção anterior. Verificar a postura, o tônus, os hábitos alimentares
e modificá-los, caso seja necessário, é bastante importante para que ele consiga uma
melhor deglutição. Os exercícios para aumentar a força da língua e para melhorar a
propriocepção são fundamentais para a obtenção de um melhor posicionamento da
língua na cavidade oral.
O trabalho com alterações da motricidade oral é vasto e exige, de maneira geral, que o
diagnóstico tenha sido bem feito. Quando está claro para ambos, paciente e terapeuta,
quais são os limites possíveis e a importância do trabalho a ser realizado, o investimento
de todos é maior e os resultados mais favoráveis.
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
Outros comentários
Hanson e Barrett (1995) apud FOLHA (2010) descreveram que o exame detalhado das
estruturas orofaciais deve preceder o das funções, e a avaliação das estruturas externas
deve preceder a da cavidade oral.
Hanson e Barrett (1995) destacaram, ainda, que o miologista orofacial trata quatro
funções envolvidas com estas estruturas e, para tanto, devemos saber avaliá-las. Trata-se da
postura de repouso das estruturas anteriormente citadas; da respiração, se esta ocorre
pelo nariz ou pela boca e se há ruídos; da mastigação; da deglutição, avaliada com
sólidos e líquidos; e da fala espontânea ou contagem até 20, observando-se a presença
de sigmatismo ou dentalização dos sons liguo-alveolares.
Bianchini (2000) apud FOLHA (2010) destacou que numa avaliação fonoaudiológica
completa não basta constatar a presença de distúrbios miofuncionais. É necessário estar
atento a todas as possíveis relações desencadeantes do problema funcional observado.
Além disso, analisar os possíveis efeitos das atividades miofuncionais em relação à
patologia que o indivíduo apresenta e a possibilidade de ajuda do fonoaudiólogo, no
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fala. A autora conclui que a avaliação detalhada e multidisciplinar de cada paciente se faz
necessária para assim se definir o diagnóstico e as interferências determinantes. Após
isso, deve se estabelecer a hierarquia dos trabalhos ou trabalhos em conjunto. A autora
destacou também a eficácia da terapia miofuncional quando devidamente direcionada
aos distúrbios miofuncionais orofaciais, adequando às funções estomatognáticas,
restabelecendo o padrão muscular e, consequentemente, modificando a forma se não
houver impedimentos, podendo o trabalho fonoaudiológico ser realizado antes ou após
o tratamento do paciente por outros profissionais, dependendo do caso.
Protocolos
Protocolo MBGR
Ele é extenso, porém de fácil aplicação e mantém o mesmo padrão dos protocolos de
motricidade orofacial geral, existentes até o momento. Por ser um protocolo da MO
de caráter mais global, quando for necessário, devem ser utilizados outros protocolos
mais específicos para problemas pontuais, como é o caso das disfunções da articulação
temporomandibular, paralisia facial, problemas de fala de origem neurológica, fissura
labiopalatina e disfunção velofaríngea, entre outros.
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Protocolo AMIOFE
O protocolo MBGR de Genaro et al. (2009) contém escalas numéricas mais amplas,
permitindo identificar a normalidade, os desvios e distúrbios, no entanto o protocolo
não foi validado até o momento.
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Para a análise do AMIOFE ,os seguintes critérios foram adotados (FELÍCIO, 2009)
apud FOLHA (2010).
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Na prova de deglutição, é solicitado ao sujeito que leve à boca o copo d’água e depois
de dar um gole, abaixe o copo, para que a toda a face possa ser visualizada, e engula de
modo habitual. São realizadas pelo menos duas repetições. Posteriormente, é explicado
ao sujeito que ele deverá proceder como na prova anterior, mas que o examinador
colocará o dedo indicador sob seu queixo e o polegar abaixo do seu lábio inferior
(região do músculo mentual) e que seus lábios serão afastados imediatamente após
a deglutição. Assim, o examinador separará os lábios para permitir a visualização dos
dentes e da língua em caso de interposição da língua.
Para a deglutição, para os lábios uma escala de 4 pontos é adotada, atribuindo-se escore
4 quando os lábios vedarem a cavidade oral, mas apresentarem contração além do
normal; é atribuído o escore 3 para contração leve e o escore 2 para contração severa;
o escore 1 foi atribuído quando os lábios não vedarem a cavidade oral. Para a língua, é
considerado padrão normal e atribuído o escore 4, quando o sujeito apresentar a língua
contida na cavidade oral e o vedamento anterior da cavidade oral sem esforço; se ocorrer
alguma alteração da deglutição, adaptação ou atipia é registrado em quais músculos e/
ou ações, assim, o escore 2 é atribuído se a houver interposição leve da língua entre os
arcos dentários por adaptação ou disfunção; e o escore 1 é atribuído se a língua apresentar
interposição aos arcos dentários em excesso, ou seja, se estiver ultrapassando a face
incisal dos dentes incisivos e/ou as cúspides vestibulares dos dentes posteriores. Para
outros sinais de alteração como movimentação da cabeça, tensão dos músculos faciais
e escape do alimento, quando presentes, é atribuído, individualmente, o escore 1, ou,
se ausentes, o escore 2. Além disso, a eficiência da deglutição, considerada neste caso
como a capacidade de impelir o bolo da cavidade oral para a orofaringe, é avaliada tanto
para a deglutição do bolo sólido quanto para o bolo líquido, sendo que para cada uma
dessas consistências é atribuído o escore 3, caso não houver mais de uma repetição da
deglutição do mesmo bolo; o escore 2 caso houver mais de uma deglutição, ou o escore
1 para o caso de deglutições múltiplas.
Para a mastigação, uma escala de 3 pontos é atribuída à trituração, o escore 4 se esta for
bilateral alternada; 3 se for bilateral simultânea; 2 se houver preferência mastigatória
unilateral, 66% de um mesmo lado; 1 se for unilateral crônica, 95% do tempo de um
mesmo lado da cavidade oral ou ainda, se for anterior ou houver ausência da função. O
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Avaliação
PACIENTE
IDADE
AVALIAÇÃO DE FALA
Distorção
Omissão
Substituição
Adição
Imprecisão
Ceceio anterior
Ceceio lateral
Travamento
Olheira
Lábios ressecados
DENTIÇÃO OCLUSÃO
Classificação da oclusão
CLI
CLII – div. 1
CLII – div. 2
CLIII
Classificação da dentição
Sobressaliência
Sobremordida
Mordida aberta
Biprotusão
Cruzamento
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A observação visual do roteiro ROF deve ser feita utilizando velocidade normal, slow
motion e congelamento de imagem.
Fonte: REHDER, M.I,; FERREIRA, L.B.; SILVA JR. Proposta de avaliação em vídeo
na clínica multidisciplinar: fonoaudiológica, ortodôntica e reabilitadora. Anais do VI
Congresso Internacional de Fonoaudiologia. São Paulo, 1999.
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O frênulo da língua é uma prega mediana de túnica mucosa que conecta a língua ao
assoalho da boca, permitindo a parte anterior desse órgão mover-se livremente. Por
não ser um músculo, não tem origem nem inserção.
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Fonte: BRAGA, Lívia Augusta dos Santos et al. Prevalência de alteração no frênulo lingual e suas implicações na fala de
escolares. Revista CEFAC, v. 11, n. 3, p. 378-390, 2009.
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Avaliar o frênulo para caracterizá-lo como normal ou alterado por meio da inspeção
visual, baseando-se no seguinte critério: a) frênulo normal: fixação vai da metade
da face inferior da língua (face sublingual) até o assoalho da boca; b) frênulo curto:
fixação em local correto e com tamanho pequeno; c) fixação anteriorizada: apresenta
tamanho adequado e fixa-se em qualquer ponto na face inferior da língua, do meio para
frente ou próximo ao ápice, o que dificulta e/ou impede a elevação do terço anterior; d)
frêmulo curto com fixação anteriorizada: apresenta tamanho menor com fixação
à frente da metade da face inferior da língua, ou seja, este frênulo é misto dos dois
anteriores.
Após a coleta das medidas com o paquímetro, aplica-se a regra de três relacionando
a abertura máxima de boca sem e com a língua na papila, no qual o valor da segunda
medida é multiplicado por 100 e dividido pelo valor obtido na primeira medida. De
acordo com a porcentagem obtida o resultado menor que 50% indica frênulo alterado,
entre 51% e 59%, alterado ou normal, e maior que 60%, normal.
116
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
Abstract: This study aims at presenting a review, from the methodological point of
view, of procedures and demands related to the phonetic approach of clinical data.
The possibility of taking into account the interface between speech perception and
production may be productive when analyzing data collected from clinical settings or
developing researches in which the central questions arose from the clinical practice. The
dynamics aspects of speech are considered. The series of studies reported reinforces the
indication of a highly integrated and cooperative approach among the several research
areas concerned on speech production and perception. The capability of producing
speech under disorders caused by damages in phonatory and auditory systems can
stimulate researchers to develop approaches that could influence theoretical models,
rehabilitation tools and speech technologies development.
Introdução
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UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
Tal concepção permite superar outras dicotomias, tais como fala x voz e fonética x
fonologia. Entender a manifestação em si e orientar o falante quanto às possibilidades
e às limitações presentes parece ser a solução mais indicada. (MARCHESAN, 2004,
2004a). Além disso, a adoção de modelos de o termo sinal de fala como o resultado dos
complexos processos nos planos linguístico, fisiológico, acústico e perceptivo, em que
são congregados os elementos segmentares e prosódicos. Sendo a qualidade vocal um
elemento prosódico, os aspectos clínicos da voz também estão comtemplados no termo
sinal da fala. Para corresponder às questões de abordagem clínica nas especialidades na
atuação fonoaudiológica, mencionaremos fala no sentido de conjugar fala e voz do ponto
de vista clínico, o que equivaleria ao sinal de fala-voz. Os aspectos tradicionalmente
enfocados como “articulatórios” na clínica fonoaudiológica (nas especialidades de
motricidade orofacial e de linguagem) corresponderiam aos elementos segmentares,
enquanto aqueles da atuação em especialidades de voz e na linguagem, e, particularmente,
na área de fluência, corresponderiam ao enfoque dos elementos prosódicos. Não se
pretende estabelecer uma divisão entre estes elementos, mas valorizar sua possibilidade
de interação, conforme indicado em Albano et al. (1997). Adotamos uma perspectiva de
associação de informações de natureza perceptiva, acústica e fisiológica, na busca pela
descrição integrada do sinal de fala. (STEVENS, 1989/1998; JOHNSON, 2003).
118
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
Neste ponto, surge a questão central de nossa exploração neste artigo: de que forma os
preceitos fonético-acústicos permitem-nos analisar dados de fala de forma a não nos
atermos à abordagem dicotomizante entre normalidade e alteração? Tais desafios nos
são postos a cada tentativa de enfoque de dados de alteração de fala (em suas vertentes
da percepção e da produção), uma vez que uma primeira possibilidade reside na adoção
de dados de um grupo-controle, ou de um indivíduo-referência, para se estimar o nível
de alteração.
119
UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
Tal exploração inicial nos motivou a prosseguir pela análise de alterações do aparelho
fonador, como no caso das incompetências glóticas, tendo como base descrições da
percepção (qualidade vocal e reconhecimento de fala), suas correspondências acústicas
(de curto e de longo termo) e fisiológicas – eletroglotografia, videolaringoestroboscopia
e videoquimografia.(CAMARGO, 2002).
120
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
Em termos do corpus, num momento em que maioria dos estudos ainda enfocava,
quase que exclusivamente, a emissão de vogais sustentadas, a análise de longo termo
poderia ser comprometida pela inexistência de material padronizado para tal finalidade
em nossa língua. Optamos por compor texto que resumisse várias das necessidades
de nosso grupo de estudos, como uma primeira etapa de concepção de instrumentos
a serem utilizados em pesquisas subsequentes no campo da Fonética Perceptiva e
Acústica.
Partimos para elaboração de estímulo para leitura: texto com presença de sons orais,
nasais, vozeados e não vozeados (total de 209 palavras), com duração mínima prevista
de 90 segundos (quando em leitura em taxa de elocução elevada). O avanço das
tecnologias de análise acústica ainda não nos permitia, com facilidade, a seleção apenas
do segmentos vozeados, como hoje se faz, de maneira que elaboramos um segundo
texto, com predomínio de sons vozeados (145 palavras). As medidas acústicas de longo
termo de três repetições de leituras de ambos os textos foram comparadas em um dos
falantes (disfônicos) do grupo estudado, por meio da análise de componentes principais
e construção de clusters, de forma a revelar similaridade de achados para as leituras
dos dois textos elaborados. (CAMARGO, 2002).
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Tais achados nos conduziram à reflexão de que a exploração da qualidade vocal enquanto
um traço recorrente da característica da emissão do falante deveria ser cuidadosamente
dimensionada, no sentido de se traduzir em abordagens mais fidedignas de avaliação,
a revelarem os fatores subjacentes que caracterizam o sofrimento dos indivíduos
disfônicos. Tal aspecto inclui a demanda por estabelecimento de consistente treinamento
auditivo na formação do fonoaudiólogo e das possibilidades de atuação em avaliação
e assistência terapêutica, com importantes contribuições aos campos experimental e
clínico e, inclusive, para adaptação da formação do profissional fonoaudiólogo.
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A partir do trabalho com o referido instrumento, além das novas demandas advindas
desta etapa de trabalhos, passamos a trabalhar no sentido de estruturação de banco
de dados de qualidades vocais (CAMARGO, MADUREIRA, 2008), de forma a
gradativamente explorar as possibilidades de correlações de dados perceptivos e
acústicos (BLAJ et al., 2008; RUSILO et al., 2011; CAMARGO, MADUREIRA, 2012),
inclusive quanto à revisão crítica do corpus desenvolvido (CAMARGO et al., 2011) e a
particularidades entre gêneros (CAMARGO et al., 2012).
Certamente, ao lidarmos com dados de falantes com e sem alterações de fala, buscamos
alternativas de análise que contemplem as demandas da população e dos estudos em
questão, especialmente com destaque àqueles que não nos permitem retroceder a uma
abordagem dicotomizante.
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
Neste constante empenho por caracterização das alterações sem meras comparações
com a normalidade, encontramos no modelo fonético um respaldo para enfoque de
ajustes de qualidade vocal que foi recentemente adotado pelo grupo, na medida em
que o banco de dados começa a ter um conjunto de amostras suficientes para cobrir a
descrição de várias manifestações de ajustes possíveis ao aparelho fonador.
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O enfoque da percepção em nosso grupo não se ateve aos aspectos de qualidade vocal,
detalhados por ser linha de pesquisa da autora. Em termos da percepção da fala alterada,
outra possibilidade de abordagem que merece destaque refere-se à avaliação da fala
por indivíduos com e sem alteração. Neste particular, o falante com alteração da fala
também passa a exercer o papel de juiz de suas produções e daquelas do(s) falante(s)
sem alaterações. (BARZAGHI-FICKER, 2003).
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Considerações finais
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CAPÍTULO 2
Avaliação e tratamento dos distúrbios
de fala de origem mecânica
A projeção, o toque e o fluxo aéreo podem ocorrer na região anterior ou lateral e ocorre,
principalmente, na produção dos fonemas fricatives /s/ e /z/, dando aos sons semelhança
de “x” (ex.: “s(x)apo que eu não s(x)ei?”). Pode estar relacionada ao tônus reduzido da
língua, alteração na sensibilidade tátil e proprioceptiva da cavidade oral, geralmente
decorrente de maus hábitos orais na infância, como: sucção digital ou uso prolongado
de chupeta e/ou mamadeira e alimentação em consistência que não estimule o bom
desenvolvimento das estruturas orais. Pode estar relacionada a problemas ortodônticos
ou respiratório e à alteração das funções orais, especialmente mastigação e deglutição.
Respiradores orais, por exemplo, desenvolvem postura incorreta da língua, alargada
no assoalho da boca e anteriorizada, e dos lábios sempre abertos e com lábio inferior
evertido e superior encurtado. A flacidez dos músculos aliada à postura incorreta da
língua e dos lábios facilitam a projeção da língua durante a deglutição e a pronúncia
dos fonemas.
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
O trabalho aborado deve ser praticado pelo paciente todos os dias de maneira intensiva,
uma vez que, para modificarmos ajustes, posturas e engramas é necessário exercitar a
musculatura e realizar o novo plano motor sistematicamente. A dedicação do paciente
é fator fundamental para que o tratamento tenha resultado, já que os exercícios
melhorarão a força da musculatura e a posição da língua.
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CAPÍTULO 3
Avaliação e tratamento dos distúrbios
de fala de origem neurológica
Endereço para correspondência: Karin Zazo Ortiz. R. Cunha, 111, cjto 73, Vila Clementino,
São Paulo – SP, CEP 04037-030. E-mail: karinortiz.fono@epm.br. Recebido em:
22/10/2007. Aceito em: 30/8/2008.
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A disartria pode ser definida como uma alteração na expressão oral causada por um
acometimento no controle muscular dos mecanismos da fala em decorrência de uma
lesão no Sistema Nervoso Central (SNC) ou Periférico (SNP). Nas disartrias, há a
diminuição ou perda da faculdade de unir os sons, o que acarreta na emissão imprecisa
de sílabas.
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
Disartria flácida
Disartria espástica
A lesão unilateral está localizada em cada córtex motor ou cápsula interna, sendo
manifestada alteração nos lábios e parte inferior do rosto. Entretanto, a disartria
espástica persistente ou bilateral é causada por uma interrupção bilateral dos neurônios
motores superiores que inervam os músculos dos nervos cranianos bulbares.
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Disartria atáxica
O estudo das lesões cerebelares e de seus efeitos permite findar que o cerebelo regula a
força, a velocidade, a duração e a direção dos movimentos originados em outros sistemas
motores. Lesões no cerebelo ou em suas conexões levam à ataxia, em que os movimentos
se tornam descoordenados. Se esta ataxia afetar os músculos do mecanismo da fala, a
sua produção se torna alterada. O cerebelo está anatomicamente localizado na porção
posterior do tronco cerebral, onde ocupa a maior parte da fossa craniana posterior. Este
órgão é separado dos lobos occipital e temporal do cérebro pelo tentório cerebelar.
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língua, porém ela permanece estática no assoalho bucal, o que impossibilita a adequada
realização da função de deglutição, uma vez que a saliva escorre pelas comissuras
labiais. Na fonação, os lábios parecem paralisados, mas apresentam mobilidade nas
funções involuntárias.
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Contribuição fonoaudiológica
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Fonte: <http://books.google.com.br/books?id=Glun0U_iKYkC&pg=PA744&lpg=PA744&dq=disartrias&source=bl&ots=3kcG6RZ
2Jk&sig=__qAKqfExqfejLWrmfwLLgDrNMg&hl=ptBR&sa=X&ei=XRJjU9fyFMuOyATPoYLQCw&ved=0CHwQ6AEwCTgK#v=onepage
&q=disartrias&f=false>
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Avaliação
Terapia
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO │ UNIDADE II
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estomatognatico.pdf>
<http://ucpviseu.files.wordpress.com/2009/12/aula-8-musculos-no-sistema-
estomatognatico.pdf>
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UNIDADE II │ AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
“Se os seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, pois eles estão no lugar
certo.
(Shakespeare)
156
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