O velho papel dos juristas na nova política " Baixar
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história política brasileira. Na realidade, o discurso anti-sistêmico de denúncia da política enquanto
essencialmente corrupta, com a pretensão de consertá-la a partir da ação de sujeitos autodeclarados não- políticos [outsideres], alegadamente capazes de interpretar os verdadeiros anseios populares sem qualquer espécie de mediação, ocasionalmente já serviu para disfarçar pretensões autoritárias ao longo da história. Isso não significa, no entanto, que o fenômeno da “nova política” seja apenas a repetição da velha tendência autoritária das elites nacionais², visto que a história não propriamente se repete. Nesse sentido, apesar das reminiscências, é inegável que os tempos autoritários de hoje são marcados por inovações, como veremos oportunamente. O objetivo desse trabalho é esboçar o papel desempenhado pelas elites jurídicas na legitimação da dita nova ordem, mas antes, é necessário diagnosticar o tempo vivido. O que assistimos no Brasil, pelo menos desde 2014, é manifestação de um paradoxo de muitos níveis: (i) a chegada ao poder de políticos auto-proclamados não-políticos, (ii) a eleição desses líderes pelas vias democráticas, mas professando plataformas abertamente antidemocráticas, (iii) a existência de um significativo apoio popular a esses movimentos, mas por grupos que celebram uma correção moral [ocidental-cristã], ao mesmo tempo em que praticam a barbárie civil [como no episódio em que a placa de Mariele Franco foi rasgada por um sujeito que posteriormente seria eleito Deputado Federal], (iv) a celebração da autoridade em meio a manifestações cotidianas de agressão a ordem (justiçamentos, injúrias raciais etc.). De fato, trata-se de algo tão distante do racionalismo que temos dificuldade até mesmo de nomear o