Tenho evitado me pronunciar nesses tempos de rotulagem política, míope e rasteira, em que
as opiniões têm que ser classificadas, numa visão maniqueísta e estúpida, como de esquerda e
revanchista, ou de direita e fascista. Mas não dá para ficar omisso nesse período de pandemia,
com crises e incertezas. Por isso, peço humildemente que, por favor, leiam esse texto sem
paixões ideológicas ou partidárias, pois acredito não ser o momento adequado para
divisionismos.
A universidade brasileira passa a sensação de estar sendo omissa diante dessa crise que está
sendo gestada pela pandemia do COVID-19. UnB inclusa. Os diferentes cenários elaborados
por diversos especialistas, indicam que os meses de abril e maio serão críticos para o nosso
país, independente de raça, credo, ideologia partidária ou time de futebol. Observando os
países que já estão nessa situação de crise instalada, há uma certeza: é impossível agir com a
normalidade pré-estabelecida. A ADUnB e o DCE já se posicionaram pela suspensão das aulas.
E aí vem a grande questão:
Vamos fingir que essa realidade não nos afetará? Que não ultrapassará os muros da academia?
Será que a ação de transformar as aulas presenciais em EaD é a melhor e única resposta que a
UnB pode dar nesse momento? Alguns pontos devem ser considerados para responder essas
questões.
O primeiro, que tenho ouvido de vários colegas da UnB, refere-se à qualidade do ensino. A
UnB (infraestrutura e pessoal) não estaria preparada para oferecer seus cursos,
majoritariamente, historicamente e oficialmente presenciais, na modalidade EaD. Há um
consenso de que haverá alguma perda de qualidade no ensino, com variação de visões mais
pessimistas e mais otimistas nesse aspecto. Vale lembrar que já ficamos na UnB em greves por
mais de 4 meses (algumas delas sem sentido...) e recuperamos o semestre letivo em, no
máximo, 18 meses. Por que não podemos parar por 2 meses e retomar o primeiro semestre
letivo de 2020 em junho? E o segundo em novembro?
Outro ponto diz respeito à comunidade acadêmica: professores, técnicos e estudantes. Somos
em torno de 50 mil. Muitos estão no auto-isolamento de seus lares, em uma rotina
relativamente nova, cuidando dos afazeres domésticos, dos filhos pequenos e dos pais idosos.
A cidade está efetivamente parada, então qualquer atividade cotidiana que era simples,
atualmente tem algum nível de complexidade e requer um planejamento mínimo para uma
execução que reduza riscos de contaminação.
Aí vem o terceiro ponto. Apesar dos nossos esforços na área da extensão, por anos temos sido
criticados por sermos uma “ilha”, isolada da realidade que nos cerca. A mesma realidade que
atingirá nossa comunidade acadêmica universitária de 50 mil pessoas, atingirá também a
comunidade que nos cerca, da população de 3 milhões de habitantes do Distrito Federal. As
mesmas angústias que nos afligirão, também afligirão os moradores do DF.
O QUE A UNB TEM A OFERECER À SUA COMUNIDADE? QUAL O NOSSO “ACERVO” QUE
PODEMOS DISPONIBILIZAR?
E aí, vem as questões do título desse texto: Alienação gera Omissão? Ou Omissão gera
Alienação?
Alguns acreditam que deveríamos ser a elite intelectual do país, mas cabe a pergunta: CADÊ?
Ouvi tantas ideias geniais e criativas de colegas, e tenho certeza de que há muitas outras
aguardando somente um pequeno incentivo para sair da inércia... A maioria dos nossos
docentes e técnicos é recém chegada à UnB e não conhece bem os “caminhos” institucionais,
por sinal com alguns deles sendo muito burocráticos e outros bem arcaicos...
Qual setor da UnB pode atuar na solução para fabricação de álcool gel que está faltando? E na
fabricação de máscaras? E na manutenção de ventiladores de hospitais?
Qual setor/departamento poderia organizar visitas virtuais aos museus do mundo, com guias-
tutores à distância?
Quem pode criar atividades com alguma orientação didático-pedagógica para apoiar os pais
que estão com crianças pequenas em casa? Conteúdos próprios somados a conteúdos
externos?
Como organizar grupos de leitura para discussão de textos (e de filmes) selecionados que, de
alguma forma, pudessem ajudar nesse momento? Listas de livros e filmes organizados numa
lógica que favorecesse a discussão sobre humanismo, solidariedade, religiosidade, a própria
existência e outros temas fundamentais nesse momento.
Quem pode atuar no apoio psicológico aos que estão angustiados com familiares doentes ou
que já vieram a óbito? Grupos com reuniões periódicas nas plataformas digitais?
E na orientação dos profissionais que não podem parar de trabalhar presencialmente e estão
mais expostos ao vírus, como os dos setores de saúde, segurança, saneamento e logística da
cadeia de alimentos.
Realmente, não sei o que está faltando para que a Universidade Brasileira assuma um papel de
protagonista neste período de incertezas, angústias, medos e tristezas. Temos muito a
oferecer, que não seja só “manter o calendário acadêmico”.
Não acredito que haja no seio da UnB pessoas que estejam querendo utilizar esse período
conturbado como catalisador político, no plano federal para “derrubar o Bolsonaro”, ou na
esfera local para “eleger a nova reitoria”. Por favor, guardem essas pautas e agendas para
depois!
Temos que estar preparados para atuar internamente e deveríamos estar preparados para
atuar externamente!