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O autor foi membro da equipe central do CEI-ITAICI até o ano passado. Bom
conhecedor da metodologia inaciana, é um ardoroso defensor da prioridade da
experiência pessoal sobre o conteúdo doutrinal dos Exercícios. Nesta revista
publicou, entre outros trabalhos, “Revivendo a caminhada (à luz das anotações)”,
Itaici 19, 31-36. Agora, torna a tratar do tema, de uma maneira mais sistemática,
mas sempre baseando-se na experiência.
"EE para vencer a si mesmo e ordenar sua vida, sem se determinar por nenhuma
afeição desordenada" (EE 21). Toda pessoa humana participa da desordem
acontecida no Adão pecador. Participa, igualmente, na amorosa e misericordiosa
vontade divina comunicando novamente a vida através de Cristo. Toda pessoa está
comprometida, mais ou menos conscientemente, neste mistério de vida, de
liberdade, de amor misericordioso, concretizado na pessoa de Jesus Cristo! Os EE
levam a pessoa a participar, livre e conscientemente, de modo mais pleno, no
mistério da vida humana. O amor de Deus, em Cristo, cria e reconduz os homens
para o Pai. A iniciativa de vida de Deus. Os EE nos levam a constatar que não
caminhamos sozinhos. Através deles, somos convidados a perceber e eliminar
nossos desvios. Preparamo-nos, assim, para acolher o Cristo Salvador e aderir,
resolutamente, a Ele. Os EE são uma escola do seguimento de Jesus Cristo.
Depois de uma procura, mais ou menos, longa, ao encontrar tão grande mistério,
surge naturalmente o maior respeito. "Ao falarmos ... com Deus nosso Senhor ...
requer-se, de nossa parte, maior reverência do que ao usarmos o entendimento
para compreender" (EE 3).
Cada pessoa leva consigo sua maneira de ser e sua história. Nada deixa de fora ou
para ser resolvido depois. Os ritmos do encontro com o Senhor da História são
diferentes. E devem ser respeitados. "Alguns são mais lentos para encontrar o que
buscam, ... Assim também, alguns são mais diligentes que outros, mais agitados ou
provados por diversos espíritos. Torna-se, portanto, necessário, algumas vezes,
abreviar a semana, outras vezes, alongá-la", ... "buscando as coisas conforme a
disposição das pessoas"1 (EE 4). Máximo respeito para as circunstâncias de lugar,
tempo e pessoas !
Certos de que estamos caminhando ao encontro de Alguém maior do que nós e que
nos ama desmesuradamente, não vamos carregados de projetos, nem reservamos
forças para o futuro. Tudo oferecido "com grande ânimo e liberalidade, para que sua
divina Majestade se sirva, conforme Sua santíssima vontade, tanto de sua pessoa
como de tudo o que tem" (EE 5).
Só não percebe o drama quem não estiver fazendo os EE devidamente. Aquele que
se deixa levar pela superfície dos acontecimentos mundanos. Quem dá os EE deve
interrogar muito quem os faz sobre os exercícios de oração, meditação ou
contemplação, se os faz, nas horas determinadas, e de que maneira, “Igualmente
sobre as adições2, se as faz com diligência, inquirindo minuciosamente sobre cada
um destes pontos." (EE 6).
A pessoa que faz os exercícios pode se encontrar muito desolada. Seja porque não
está se dedicando corretamente a eles, seja porque Deus lhe retirou as graças e
favores abundantes que a deixavam consolada. Nesta situação quem dá os EE "não
se mostre duro nem áspero para com ela, mas brando e suave, dando-lhe ânimo e
forças para ir adiante. Descubra-lhe as astúcias do inimigo da natureza humana,
preparando-a e dispondo-a para a consolação que virá" (EE 7).
Também quem dá os exercícios não domina o processo. Nem é senhor de quem faz
os exercícios. Nem doador de dons. Quem dá os exercícios procure garantir o
processo. Denuncie os desvios. Testemunhe, admirado, os acertos. Contemple o
Criador abraçando sua criatura "em seu amor e louvor e dispondo-a para o caminho
em que melhor poderá servi-lo depois. Assim, aquele que dá os exercícios não opte
nem se incline a uma parte ou a outra, mas, ficando no meio, como o fiel de uma
balança, deixe imediatamente o Criador agir com a criatura e a criatura com seu
Criador e Senhor" (EE 15).
Quem faz os exercícios, embora se veja livre das influências externas provindas de
quem lhe dá os exercícios, poderá sentir seus instintos egoístas interpondo-se e
impedindo o diálogo franco e transparente com seu Criador e Senhor. Neste caso,
deve agir com toda sua força no sentido contrário para que seus afetos e desejos
voltem ao equilíbrio, como o fiel da balança. "Se a pessoa estiver
desordenadamente afeiçoada e inclinada a alguma coisa, é muito conveniente
empenhar-se, com todas as suas forças, em chegar ao contrário daquilo a que está
mal afeiçoada" (EE 16).
Os EE devem ser dados "conforme à disposição das pessoas que desejem fazê-
los". Nem todas são chamadas ao discernimento contínuo, descobrindo sempre
novos caminhos. Muitos desejam somente "chegar a certo grau de satisfação
espiritual". Preferem ter logo as coisas claras e os caminhos definidos. Estas
pessoas, "de pouca resistência", não suportariam, sem demasiada fadiga, o trabalho
de perceber os consensos na ação dos diversos espíritos, movendo e atraindo para
determinada direção. Às pessoas assim dispostas "dê-se o exame particular, depois
o exame geral juntamente, de manhã, por meia hora, o modo de orar sobre os
mandamentos, sobre os pecados capitais, etc..." (EE 18).
Quem puder se isole e se dedique totalmente aos EE. "Neles, ordinariamente, tanto
mais se aproveitará, quanto mais se afastar de todos os amigos e conhecidos e de
toda preocupação terrena. Mudando-se, por exemplo, da casa onde mora,
passando a outra casa ou quarto para ali habitar o mais retirado que puder" (EE 20).
A pessoa humana assim afastada "usa mais livremente de suas potências naturais,
para procurar com diligência o que tanto deseja" (EE 20).
"Quanto mais se acha a pessoa a sós e afastada, mais apta se torna para se
aproximar e chegar a seu Criador e Senhor. Quanto mais assim se achega, tanto
mais se dispõe para receber graças e dons de sua divina e suma bondade" (EE 20)
NOTAS:
1
“Conforme a disposição das pessoas” é tradução própria do autor. O original
espanhol diz: “según matéria subyecta”, isto é, “según la materia de que se trate”
(Dalmases). A “versio prima” (tradução latina dos EE) inclue também as pessoas:
“iuxta personarum et subiectae materiae exigentiam” = “segundo a exigência das
pessoas e da materia proposta” (Nota da redação).
2
Sobre as “adições”, cf. neste número da nossa revista e no seguinte o trabalho do
Pe. Álvaro Barreiro (N. da r)