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CIRCUITO DO LIVRO: a prática da leitura e além dos limites da sala de aula

Daniel Aldo Soares 1


Maria Aparecida Rodrigues2

Resumo: Este texto propõe refletir sobre a prática de leitura (literatura) no ambiente escolar, a partir do relato
de experiências vividas numa escola pública federal na cidade de Inhumas, interior do estado de Goiás. Essa
reflexão busca o debate sobre a importância de se criar um espaço além da sala de aula para o estabelecimento
de um diálogo entre a Literatura, a Filosofia e a Pedagogia; compreendendo que: a leitura e compreensão do
texto devem ultrapassar o estudo e análise de aspectos estilísticos e filosóficos do texto e considerar a leitura do
si (do indivíduo). Dessa forma, tornam-se relevantes ações que envolvam outros ambientes da escola para a
promoção da motivação da prática de leitura. Assim, a prática pedagógica do professor de literatura (leitura) em
conjunto com a biblioteca da escola assume o papel de mediador e motivador de práticas de leitura extraclasse.
Nesses termos, esse texto relata num primeiro a constatação da necessidade de se criar um ambiente de leitura
além da sala de aula. Em seguida, é apresentada uma breve descrição desse projeto (Circuito do Livro),
considerando de três aspectos, ditos pelos alunos, como reais motivadores e responsáveis pela participação
desses no projeto; a saber, esses pontos tratam: da construção de uma comunidade de aprendizes, da utilização
de dinâmicas de grupo para leitura e discussão dos textos literários, e finalmente, da oportunidade de mostrar o
trabalho final (sarau de leitura) para a comunidade escolar.
Palavras-chave: Leitura; literatura; comunidade; dinâmica de grupo; sarau de leitura.

Abstract: This text proposes the reflection on reading practices in school environment, reporting experiences
lived inside a federal public school in Inhumas, Goiás, Brazil. This reflection debates the importance of
creating room beyond classrooms to establish a dialogue between Literature, Philosophy and Pedagogy;
comprehending that: reading and text comprehension must go beyond the study and analysis of linguistic and
philosophic aspect of the text and consider reading a process of understanding the self. This way, actions to
achieve reading motivation in different schools environment became relevant. The pedagogical practice of the
literature and reading teacher along with the school library plays a role of motivation of reading practices
outside the class room. Through the understanding of this relevancy, this text firstly shows the need schools
have to create this kind of environment; secondly, it describes the project Circuito do Livro (Book Circuit)
considering the construction of a learning community, the utilization of group dynamics and the discussion of
literary texts, and finally, it talks about the opportunity to show the work to the community by reading
performances.
Key-words: Reading; literature; community; group dynamics; reading performances.

A proposta deste texto tange a necessidade de cauterizar a angústia que muitos educadores
e profissionais da educação sofrem devido ao não interesse pela leitura pelos alunos, que é como
síndrome na grande maioria dos adolescentes e jovens na escola de hoje. Como professor de
Literatura e Leitura, também sou atingido por essa angústia. Frente a esse mal, sonho com um
quadro menos dantesco em nossas escolas lutando para a reversão dessa realidade.
Observando os alunos de nossa escola e conversando com a coordenação e bibliotecária
do IFG/Campus Inhumas, propusemos no ano passado (2008) a criação de um projeto que
pudesse diminuir o desinteresse de nossos alunos e outros membros de nossa comunidade pela
leitura. Essa conversa inicial alimentou o sonho de formar um grupo de leitores e aprendizes; um
espaço em que todos eram alunos e professores; um ambiente livre das grades curriculares, da

1
Prof. Esp. Língua Portuguesa e Língua Inglesa – Instituto Federal de Goiás/Campus Inhumas.
2
Bibliotecária do Instituto Federal de Goiás/Campus Inhumas.

1
exigência de se cumprir um programa, da obrigatoriedade de se finalizar uma tarefa; e que
pudesse representar um momento de prazer. Como observou Freire (2007) ao falar que “o papel
fundamental do educador é entrar em diálogo com o aprendiz em situações concretas e
simplesmente oferecê-lo instrumentos com os quais ele, o educando, possa aprender por si só a
ler e escrever”. Freire (2007) ainda completa seu pensamento afirmando que “o ensino não deve
ser de cima para baixo, mas sim de dentro para fora, oriundo do próprio educando, numa
colaboração de igualdade com o educador”. Desse sonho surgiu o Circuito do Livro, que em sua
essência é um ambiente de democratização da leitura e escrita. Acontecendo fora da sala de aula
o Circuito do Livro permite a integração do trabalho do professor, coordenação e biblioteca,
além de possibilitar um espaço em que docentes, discentes, outros funcionários da escola e
comunidade em geral possam trabalhar leitura e escrita em conjunto.
O observar do desinteresse de nossos alunos e o confirmar com várias pesquisas que
apontam que a grande maioria dos brasileiros não gosta de ler (texto escrito) e apresentam sérias
limitações nessa atividade, acelerou a iniciação de nosso projeto e estudo sobre motivação e
formação de leitores. Essa realidade de desinteresse pela leitura, estende-se ao contexto da cidade
de Inhumas, que de modo geral, tem uma população que apresenta dificuldades de leitura e
escrita. Dessa forma, a ‘transformação’ dessa população decodificadora de textos em sujeito-
leitor-interlecutor torna-se objetivo central na construção de projetos de leitura promovidos por
escolas e bibliotecas.

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Sendo um local privilegiado, a escola é em si, um espaço legítimo de formação de
leitores. Contudo, a prática pedagógica imersa em problemas e fracassos concernentes à leitura é
uma variável constante no contexto escolar. Assim, o delineamento de concepções de linguagem
e leitura torna-se relevante para a viabilização de qualquer projeto de leitura adotado por uma
unidade escolar.
Tais concepções não podem desconsiderar que o ato de ler abrange desde inferências em
textos literários, compreensão de equações físicas ou matemáticas, reflexões históricas,
filosóficas, sociais, bem como o entendimento de textos digitais à leitura do mundo em que vive
o leitor. Assim vale lembrar Bakhtin (1979) que afirma que “ a palavra está presente em todos os
atos de compreensão e em todos os atos de interpretação”, e também Paulo Freire (1981) “a
leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da
leitura daquele.” Portanto, uma prática pedagógica comprometida com a leitura não deve centrar-
se no rendimento escolar ou vencimento das páginas de livros, mas procurar viabilizar a produção
de conhecimento concomitantemente com a plena participação social.
Esses conceitos auxiliaram a delimitar os objetivos do Circuito do Livro, que procuram
garantir a liberdade de escolha de textos a serem lidos e estudados. Essa escolha é feita
semestralmente pela equipe que compõe o circuito. Dessa forma, estabelece-se um cronograma
de atividades e leitura a partir do interesse do grupo e não pela obrigatoriedade do seguimento ou
cumprimento da grade escolar ou currículo disciplinar. Cada um apresenta suas sugestões e estas
são analisadas em conjunto, escolhidas em votação e organizadas num cronograma direcionador
dos encontros.
Vale ressaltar que a leitura mecânica do texto, como mera leitura de quantidade exaustiva
de páginas para a formação científica sem o adentramento nos textos a serem compreendidos gera
leitores deficientes e traumatizados. A urgência de ler da página X a 50 X gera a idéia de que
quantidade determina qualidade. Essa obrigatoriedade de se atingir metas pode levar o fracasso,
uma vez que o processamento de informação é variável de indivíduo para indivíduo, e uma vez
instaurado o sentimento de não conseguir executar uma tarefa gera a desmotivação. Tal mal tem
atingido leitores em potencial e neoleitores, levando-os à decisão de: não gostar de ler e
consequentemente, não ler. Para Paulo Freire (1981), essa visão urge ser superada pois

A insistência, enquanto professores e professoras, em que os estudantes ‘leiam’, num semestre,


um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do
ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens

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estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais
“devoradas” do que realmente lidas ou estudadas. (FREIRE, 1981, p.17)

E ainda afirma que a urgência da superação de tal visão dá-se pela necessidade que temos,
de alguma maneira possamos

ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma certa forma de escrevê-lo ou de reescrevê-lo através de nossa prática consciente.
(FREIRE, 1981, p.20)

Entende-se, então, que um sujeito leitor habituado aos textos, capaz de inferir-lhes sentido
e com eles dialogar, pode criar, recriar e produzir outro texto a partir do que é lido. E essas
habilidades são essenciais para a própria condição humana, já que a leitura constitui uma adição à
experiência de vida e a escrita inscreve o ser humano em sua própria história.
A complexidade do processo de leitura permite-nos a compreensão de não ser tarefa
exclusiva da escola a formação de leitores, destacando que apenas o trabalho de sala de aula é
insuficiente: é preciso criar uma cultura de leitura na escola envolvendo os diferentes atores do
processo educativo. Para tanto, é necessário desenvolver uma política de formação de leitores e
mediadores de leitura, elaborada como uma meta do trabalho educativo da escola na sociedade.
Acima de tudo, a escola e comunidade precisam ser leitoras, produzir leitura e mediar as relações
que dela decorrem.

To acquire literacy is more than to psychologically and mechanically dominate reading and
writing techniques. It is to dominate these techniques in terms of consciousness; to understand
what one reads and to write what one understands; it is to communicate graphically. Acquiring
literacy does not involve memorizing sentences, words, or syllables – lifeless objects
unconnected to an existential universe – but rather an attitude of creation and re-creation, a self
transformation producing a stance of intervention in one’s context. (FREIRE, 2007, p.42)

Insiste-se, nesse sentido, que se faz jus a implementação de um projeto de leitura na


escola e em outros espaços na cidade que tenha a responsabilidade de eliminar pontos-de-vista e
equívocos cristalizados sobre a constituição do ato de ler bem como proporcionar aos estudantes
e população em geral, em diferentes níveis, o acesso ao prazer da leitura. Prazer que, embora
resulte de um trabalho intelectual árduo, permite o sujeito-leitor tomar sua própria palavra e
tornar a condição humana e a sociedade menos indecifráveis.

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Partindo dessa ótica, a escola, como instituição encarregada pela formação educacional,
exerce um papel de suma importância na preparação de leitores maduros e críticos, com
competência suficiente para lidar com as múltiplas exigências do mundo. A formação de leitores
é uma prática complexa e está relacionada com o próprio significado de educação como uma
experiência especificamente humana ou centrada na condição humana. Isso porque se admite
que:

Pensar a leitura como formação implica pensá-la como uma atividade que tem a ver com a
subjetividade do leitor: não somente com aquilo que o leitor sabe mas também com aquilo que
ele é. Trata-se de pensar a leitura como algo que nos forma (ou nos deforma ou nos
transforma), como algo que nos constitui ou nos põe em questão frente àquilo que somos (...)
como algo que tem a ver com aquilo que nos faz ser o que somos. (LAROSSA, 1996, p.16)

Pensando, então, a questão da leitura como uma forma de desvelar o mundo e seus
significados, a criação do Circuito do Livro no IFG, permite a constituição da pluralidade e da
interlocução texto-leitor-autor-contexto, conferindo à escola como um todo, a tarefa de alargar,
via leitura, os limites do próprio processo de produção de conhecimento. O Circuito do Livro se
torna aqui, um local em que professores, alunos/as, textos e leituras podem interagir todo o tempo
de forma organizada, partilhada e democrática.
A compreensão da necessidade de partilhar e democratizar a leitura fez com que o
Circuito do Livro, tornasse uma ação conjunta entre professores, coordenadores e biblioteca da
escola. Uma vez que compete também aos bibliotecários estimular o uso e manuseio das fontes
informacionais, por meio de projetos de fomento à leitura, o Circuito do Livro possibilitou à
biblioteca fornecer oportunidades dinâmicas, e não estáticas, de ampliar a aprendizagem
interligada ao prazer da leitura de textos, em livros ou em outros suportes.
Como sendo o desenvolvimento da criticidade nos participantes uma das prioridades do
projeto, este se aplica em formas diversificadas de encontros, grupos de discussão, rodas
literárias, debates de filmes, entre outros que priorizem o tema leitura. A formação de leitores
capazes de serem eles mesmos agentes de leitura e de formação é meta final do projeto.
A postura da biblioteca como espaço educacional ultrapassando sua caricatura
tradicional de armazenadores de informação para assumir uma postura centrada no processo de
comunicação (CARVALHO; KANISKI, 2000), vem de encontro à necessidade de garantir o
direito do cidadão, independente da raça, gênero, idade ou posição social, ao acesso à leitura e ao
bem cultural, fundamentado tanto nos instrumentos legais do Direito Internacional quanto nos
textos legais vigentes no Brasil. A base comum a esses documentos, que assinala um

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compromisso social por parte das instituições educacionais, é a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (ONU, 1948). Nossa Carta Magna estipula, no Art. 205, que “a educação é
direito de todos e dever dos espaços educacionais promovê-la, visando o preparo das pessoas para
o exercício da cidadania”. Assim, possibilitar o acesso à informação à comunidade em geral deve
ser uma meta efetivada pela escola, tanto por estar em consonância com as políticas públicas
(leis, decretos e normas), e pelo respeito à dignidade humana das pessoas, dignidade expressa
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
Desse modo a efetivação do Circuito do Livro torna-se um mecanismo de ação cultural e
educacional possibilitando ao cidadão maior aproximação com a literatura e acesso à informação.
Sua implantação permite, assim, a efetivação das Diretrizes para as bibliotecas escolares
entregues à comunidade bibliotecária em 1999 pela Unesco/Ifla que é um documento referencial
para elaboração da missão da biblioteca escolar. Ele aponta diretrizes para o trabalho social, com
o objetivo de propiciar informações e idéias fundamentais aos cidadãos para dominarem
conhecimentos e desenvolverem habilidades e atitudes de que necessitam para crescerem como
cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seus direitos e deveres.
O acesso à leitura proporcionado pela biblioteca escolar, conforme princípios
estabelecidos pelo Manifesto Unesco/Ifla (2008) deve orientar-se nos preceitos da Declaração
Universal do Homem (1948), das Nações Unidas, que completou 60 anos, e não deve estar
sujeito a nenhuma forma de censura ideológica, política, religiosa, ou a pressões comerciais. Em
consonância com esses princípios é que formamos um acervo eclético, onde é permitido ler
qualquer tipo de literatura.
Com base nessa reflexão, a efetiva participação da biblioteca do IFG Campus Inhumas, na
criação e promoção do Circuito do Livro proclama e pratica o conceito de liberdade intelectual e
o acesso à informação, ponto fundamental à formação de cidadania e ao exercício da democracia
que são propósitos do projeto.
Nesse sentido, ressaltamos que a implementação de programas e atividades que ampliem a
ação educativa da biblioteca e que lhe permita trabalhar em conjunto com professores, servidores
administrativos, alunos e comunidade, faz desse espaço, tradicionalmente estático, ativo no
processo educativo. Segundo Neves (2004), a biblioteca, tem como ação educativa no Circuito
do Livro, por “atuar como espaço de recepção e produção de idéias, de fatos e de outras
manifestações culturais, entendendo, complementando... outros espaços ou momentos de ensino e
de aprendizagem formal e/ou informal” (p. 221).

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Como bem afirma Campello (2002), há muito tempo a biblioteca deixou de ser um local
de preservação de livros e informações e passou a ser espaço de construção do conhecimento. E o
Circuito do Livro vem afirmar isso pela sua ação educativa, em multiplicar os número de
leitores e facilitadores de leituras.
Assim, o ato de ler “na” biblioteca transcende, portanto, ao processo de leitura de sinais
gráficos. Envolve a leitura de mundo (FREIRE, 1981). Constitui-se em ação multidimensional
que, no momento de sua realização, aciona, no cidadão, que a pratica, uma gama de processos
mentais que lhe permitirão aprender, rememorar, associar, compreender, interpretar e assimilar,
para, em sequência, reelaborar, de uma ou várias formas, seqüencial ou simultaneamente, a
mensagem que se lhe apresenta.
Com o Projeto Circuito do Livro a biblioteca assume o compromisso de se colocar ao
lado de, junto ou, ainda, entre uma pessoa e o objeto que vai ser lido, tendo em vista realizar o
acompanhamento e a orientação recomendáveis ao desenvolvimento do saber ler e do gostar de
ler, ocorrendo assim o processo de mediação da leitura (NEVES, 2004).
O Circuito se esquadra no modelo de pesquisa de Kuhlthau (2004), que mostra o
processo de busca de informação como uma estratégia de aprendizagem que possibilita ao aluno
desenvolver uma série de habilidades, tais como tomar decisões (ao escolher o livro a ser lido),
utilizar recursos para clarear suas idéias (ao elaborar seu discurso) e finalmente expor o texto lido
ao grupo (ao dialogar com os demais participantes). É um processo complexo e rico de
oportunidades de aprendizagem, mas que só será concretizado em todo seu potencial se os
participantes forem motivados ao longo dos encontros, isto é, que ocorra a intervenção e
mediação dos coordenadores do projeto de forma adequada a cada encontro.
O interessante do projeto é a forma como é trabalhado o ato de ler, não reduzindo a uma
simples atividade mecânica de ler para avaliar, mas sim para compartilhar, envolvendo outras
estratégias individuais de leitura, como seleção do material, antecipação, do conteúdo, inferência
de leituras e verificação do que seria um texto. O encontro do participante com os textos tem a
finalidade, dentre outras, fornecer-lhe modelos para outros estilos de texto literários. Assim, a
biblioteca do IFG Campus de Inhumas, permite extrapolar o uso exclusivo para leitura escolar, e
passa atender às necessidades de uma aprendizagem baseada em textos diversificados.
O projeto pressupõe, também, um processo de aprendizagem gradual, onde a habilidade
de leitura é desenvolvida apoiando-se em experiências anteriores do leitor (SOUZA; SOUZA,
2007), respeitando-se o ritmo e a individualidade do mesmo. E a promoção da prática da leitura e

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escrita realizadas em ambientes diversos ao da sala de aula, aponta o profissional da biblioteca
como um importante mediador da leitura escolar.
Conjugados com os ideais de Kuhlthau (2004), o exercício da cidadania só é possível se
se garante à pessoa o acesso aos saberes elaborados socialmente. Esses saberes constituem
instrumentos para o desenvolvimento da socialização e, consequentemente, da cidadania
democrática; assim, o acesso a eles é uma preocupação dos Direitos Universais do Homem
(1948).
A partir dessas reflexões, podemos dizer que, não se justifica o oferecimento, apenas, de
um espaço físico e algumas coleções. O que é desejável e esperado da equipe da biblioteca pode
ser caracterizado como uma dinâmica de serviços que busca neoleitores; que estimule o
compartilhamento de experiências de leitura e de escrita, por meio da promoção do uso de
diferentes fontes de informação, e atividades diversificadas de ensino-aprendizagem. Enfim, que
a biblioteca em conjunto com o docente promovam e disseminem a informação, extrapolando os
muros tradicionais da sala de aula.

Descrição das ações do Circuito do Livro

O Circuito do Livro é uma reunião quinzenal que acontece na biblioteca do IFG -


Campus Inhumas. As reuniões são abertas à comunidade da instituição e demais interessadas.
Em cada encontro há a leitura de um texto pré-agendado. Esses textos são selecionados
pela comissão organizadora do Circuito (professores, bibliotecários e alunos), e distribuídos
antecipadamente para os participantes dos encontros. Os textos são lidos em casa e re-lidos
durante as reuniões, e cada participante tem o direito de falar sobre o texto e apresentar sua
leitura ou leituras para o grupo.
Esses comentários permitem a construção de um ambiente de estudo e discussão da obra
em questão. Os participantes são livres para ‘navegarem’ nas palavras dos textos e trazerem suas
interpretações a partir de suas experiências.
O Circuito não se preocupa com volume de páginas lidas, mas sim com a intensidade que
se lê um texto. Mesmo com uma programação estabelecida, não há um engessamento ao
cronograma, podendo o leitor, sempre, revisitar uma obra anteriormente lida. A duração de cada
encontro é de aproximadamente 80 minutos e é sustentada com debates e exposições voluntárias.
O Circuito, em adição ao programa de leitura, oferece oficina de criação literária.
Os participantes têm a oportunidade de voltarem ao espaço da biblioteca em um outro momento
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para participarem do Circuito da Escrita. Essa variação é o incentivo do circuito na produção
literária escrita. Assim, pela inspiração da leitura de textos de autores já conhecidos e renomados,
escreve-se o novo texto, que na maioria das vezes chega ao público por: sarais de poesia, mural
de textos (produzidos na oficina), cordel de literatura e mostra cultural. A oficina também tem
como objetivo formar leitores que sejam capazes de serem agentes de leitura. A Oficina de leitura
e produção também produz materiais de leitura com distribuição gratuita para crianças, jovens,
adultos e idosos.
O Circuito também promove intercâmbio entre ambientes educacionais oferecendo
suporte às outras escolas da região. Esse suporte consiste em oficinas literárias (leitura), sarais,
cordéis, círculos de leitura (com um texto específico), grupos de debate, sarau de leitura e cordéis
em ambientes públicos, seminários e publicação de material produzido pelo próprio circuito. Esse
intercâmbio é mediado não somente pelos professores e bibliotecários envolvidos no circuito,
mas também por alunos participantes do evento. Assim, a comunidade escolar, como um todo,
passa a ser agente de motivação de leitura.
O calendário do Circuito obedece ao escolar permitindo ao grupo a organização de
eventos de abertura e fechamento de atividades. Esses eventos geralmente atingem um número
maior de participantes que não só ouvem, mas lêem textos literários renomados ou produzidos
pelos participantes do Circuito.
Assim, nesse contexto, o Circuito do Livro propõe, no âmbito do IFG Campus de
Inhumas e em outras instituições públicas, filantrópicas e privadas, um trabalho intensificado e
interdisciplinar com a leitura, na tentativa de transformar “o ler como obrigação puramente
escolar para o ler que busca compreender a realidade e situar-se na vida social”, como bem
defende Silva (1993).

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