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A Lei em Antígona:
X Salão de
a escolha de viver sob o direito
Iniciação Científica
PUCRS

Cibele Almeida Nunes¹, Prof. Dr. Luis Fernando Barzotto¹ (prof. orientador)
1
Faculdade de Direito, UFRGS

Resumo

O presente trabalho tem por proposta analisar a tragédia grega Antígona a partir do
significado de viver sob o Direito, explorando as leis escolhidas por cada personagem para
serem seguidas. A pesquisa não visa à mera descrição dos atos e decisões da peça teatral, mas
sim a entender e questionar valores e conceitos sobre a questão ética e a submissão às normas.
A tensão entre obediência e transgressão, qualquer seja a natureza da regra (jurídica,
moral, cultural) existe desde a formação da sociedade – e também do Direito. Basilar para a
distinção do justo, a lei entra em conflitos com decisões políticas e tradições, por vezes até
contrariando o próprio princípio que a criou. No entanto, este conflito toma novas
configurações na era pós-moderna: liquidez e velocidade das ações, individuais e coletivas,
contrastam com a lenta marcha do Judiciário e Governo nas suas respostas sociais. A
obediência encontra é questionada não só pelo conteúdo da regra, mas também pela demora
da solução.

Introdução

A história do dramaturgo Sófocles remonta à época de governo de Péricles, apogeu da


cultura helênica. Antígona deseja enterrar o irmão Polinice, que atacou a cidade de Tebas;
mas Creonte, então tirano da polis, promulgou uma lei impedindo o enterro daqueles que
houvesse atentado contra a cidade – uma grande ofensa para o morto e sua família, pois a
alma não faria a transição adequada ao mundo dos mortos. Antígona vai contra a lei da cidade
e enterra o irmão, por isso sendo capturada e levada até Creonte. Este a sentencia a ser
enterrada viva, de acordo com a lei. Hemom, filho de Creonte e noivo de Antígona, tenta

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persuadi-lo a revogar a condenação, sob ameaça de também matar-se. Creonte não ouve os
apelos, ocasionando a morte de Antígona, do filho e também de sua esposa, que comete
suicídio ao saber da morte do filho.
A justificativa para o tema está na nova interpretação que pode ser trazida a esta
tragédia, tantas vezes lida como simples entrechoque de opostos. A visão aqui pretendida para
Antígona e Creonte, longe de apenas oposição entre direito natural e direito positivo, refere-se
a ambos como uma busca desequilibrada por certeza e justiça. No entanto, feita a escolha pela
obediência, qual é a Lei certa, a Lei justa para ser seguida? É possível viver com ética e ser
submisso às normas?

Metodologia

A pesquisa divide-se em duas fases principais. A primeira com o estudo de Antígona e


também de outras obras sobre o tema, relacionando os aspectos da tragédia como as escolas
jurídicas jusnaturalista e positivista. A segunda fase do projeto volta-se para a pós-
modernidade: como Antígona está refletida nos problemas contemporâneos, envolvendo a
experiência jurídica e manifestações artísticas (cinema, teatro, literatura).
Sendo assim, a metodologia a ser empregada difere de acordo com as fases da
pesquisa. Na primeira fase, a metodologia será a analítica, uma vez que a proposta para os
primeiro semestre é explorar a tragédia em seus detalhes, perspectivas e valores, relativos ao
contexto histórico da época. Já em relação à segunda fase, com os primeiros resultados
elaborados, será utilizada a dialética entre as visões de Direito e Lei representadas por cada
personagem, bem como entre o significado da tragédia na Antigüidade e no mundo Pós-
contemporâneo.
Para a interpretação da tragédia, o trabalho tem como obra principal o livro de Zenon
Bánkowski, Vivendo plenamente a Lei, e como obra acessória os livros The fragility of
goodness: luck and ethics in Greek tragedy and philosophy, de Martha Nussbaum, e Sófocles
e Antígona, de Kathrin Rosenfield. Além da bibliografia relacionada, posteriormente serão
usados materiais provindos de outras áreas do conhecimento como as Artes (filmes, teatro,
obras literárias), complementando o olhar jurídico.

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Resultados

O objetivo geral da pesquisa está em avaliar a questão de obediência e transgressão da


Lei e do Direito, levantando como questionamento principal limites e valores empregados
para tal escolha. Será levantado também o diálogo entre jusnaturalismo e positivismo quanto à
separação entre Direito e Moral.
Como o trabalho encontra-se em estágio inicial, os resultados são parciais, mas
apontam a direção de um equilíbrio entre obediência e transgressão, estes mediados pela
justiça da lei e pela ética do ser humano.

Conclusão

Como conclusão, entende-se que o pensamento clássico é em fonte segura para a


compreensão do presente, uma vez que as tragédias fornecem rico material para o estudo do
homem. E a tragédia de Antígona mostra-se como exemplo brilhante de compreensão da
conduta humana, instigando, simultaneamente, perguntas e respostas para os conflitos
universais.

Referências

ALVEZ, Marcelo. Antígona e o Direito. Curitiba: Juara Editora, 2007. 100 p.

ARENDT, Hanna. A condição humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2004.
352 p.

BÁNKOWSKI, Zenon. Vivendo plenamente a lei. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 328 p.

FINNIS, John Mitchell. Lei natural e direitos naturais. São Leopoldo: UNISINOS, 2006. 403
p.

JAVIER, Hervada. O que é o direito?: a resposta moderna do realismo jurídico; uma


introdução ao direito. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2006. 176 p.

HART, Herbert L. A. O conceito de direito. 2 ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994.

NUSSBAUM, Martha Craven. The fragility of goodness: luck and ethics in Greek tragedy
and philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. XVII, 544 p.

ROSENFIELD, Kathrin Holzermayr. Sófocles e Antígona. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
76 p.

SÓFOCLES. A trilogia tebana. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 262 p.

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