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João Nunes de Souza

A Primeira Aventura de
BELISCA no MUNDO da LÓGICA

Desenvolvendo o Raciocínio com


os Fundamentos da Lógica

CONECTIVOS DA LÓGICA

Projeto de Extensão em
Ensino de Lógica para Iniciantes
FACOM: Faculdade de Computação,
UFU: Universidade Federal de Uberlândia

2 de junho de 2009
Sumário

0.1 A Lógica e seu contexto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7


0.2 Para quem a série: "Belisca no mundo da Lógica" é indicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
0.3 Metodologia de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
0.4 Nota sobre o autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
0.5 Carta aos pais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1 O professor fala sobre as proposições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17


1.1 Belita é linda, cheirosa e lamerosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.2 Pororoca fala com Belita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.3 As saias plissadas de tia Dagmar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.4 São lindas as saias de tia Dagmar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.5 Faltava consenso sobre as saias de tia Dagmar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.6 O tecido da lua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.7 A perguntinha que não podia faltar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.8 A lua não é redonda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.9 Seu Virgílio era um cara legal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.10 Afinal, quem venceu: o cruzeiro ou o atlético? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.11 O fogo, diante da probabilidade, escureceu o silêncio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.12 As linguagens do livro de Belisca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.13 O super-homem e as convenções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Prefácio

Este prefácio apresenta a análise de algumas razões para estudar Lógica, sendo destinado aos
instrutores e leitores adultos.

0.1 A Lógica e seu contexto

A Lógica é um tema fascinante. Mas o que é Lógica? Qual a sua definição? Ao iniciar esse estudo,
seria possível apresentar inúmeras definições. Algumas delas poderiam ser [Chauí, 2002]:

• estudo do raciocínio;
• estudo do pensamento correto e verdadeiro;
• regras para demonstração científica verdadeira;
• regras para pensamentos não-científicos;
• regras sobre o modo de expor o conhecimento;
• regras para verificação da verdade ou falsidade de um pensamento.

Tais definições são muito gerais e sintéticas. Não é fácil definir de forma precisa o que é Lógica, um
tema tão amplo. É por isso que, para nós, basta, por enquanto, a pequena lista anterior. Talvez,
ao final da última aventura de Belisca o leitor já tenha consigo uma boa definição de Lógica.
E por que estudar Lógica? Há inúmeras razões! Uma delas (a que eu prefiro) é porque
estamos iniciando a era pós-industrial, na qual os principais produtos da mente humana são as
idéias.
Conforme De Masi, [DeMasi, 2001], [DeMasi, 2002], "estas idéias são frutos da criatividade,
que é a capacidade do gênero humano dar saltos a lugares onde nunca ninguém esteve. Uma idéia
criativa significa ver ou fazer antes dos outros, fazer ver aos outros um produto marcado pela
originalidade, unidade e qualidade rara. Lá no lugar onde tal criatividade se exprime, segredos são
revelados ou destruídos e o homem se libera das escolhas habituais e obrigatórias." Saber usar as
idéias, ser criativo, é muito mais que ser inteligente. O uso das idéias é uma função múltipla na
qual intervêm inúmeras capacidades mentais. Entre tais capacidades, uma de destaque é aquela
que trata da habilidade lógica de argumentação. E geralmente, após o surgimento de uma grande
idéia, seus fundamentos serão criticados e analisados logicamente.
Ainda conforme De Masi, [DeMasi, 2001], [DeMasi, 2002], "fundamentalmente a criativi-
dade, que representa o ápice do uso e realização de idéias, é determinada pela síntese de duas
habilidades: fantasia e concretude. Fantasiar, sonhar, idealizar e ter a capacidade de transformar a
causalidade e a disparidade em uma estrutura organizada são pontos de partida para a produção
de idéias." Não existe criatividade sem a capacidade de sonhar de olhos abertos e sem aquele
impulso emotivo. Mas também não existe criatividade sem a capacidade de saber administrar os
sonhos, as emoções e seus frutos ideais. É a capacidade de racionalizar ou concretizar que obriga
a transformação de idéias sem contornos em projetos bons, que originam produtos criativos. No
6 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

nível racional, essa transformação ocorre utilizando potencialidades do género humano que são
estudadas pela Lógica, como por exemplo o raciocínio, o pensamento correto e verdadeiro, as re-
gras para demonstração científica, etc. Portanto, uma das razões para se estudar Lógica é que ela
nos confere capacidade crítica aos argumentos mentais utilizados na organização das idéias, nos
processos criativos. Ao estudar Lógica, o indivíduo toma consciência dos elementos fundamentais
à capacidade de argumentar e expor suas idéias. Obtendo essa habilidade, essa consciência, esse
meta conhecimento, o indivíduo se torna mais capaz na racionalização e organização de suas idéias.
Em suma, para saber raciocinar adequadamente e concretizar os sonhos, o primeiro passo é ter
consciência da natureza do raciocínio, o que pode ser obtido estudando Lógica.
Nesses últimos decénio, alguns sonhos da humanidade estão se concretizando. "Os sonhos
que mais deram certo são aqueles relacionados ao progresso científico e tecnológico. São os cria-
tivos trabalhando na produção de idéias, na ciência e no desenvolvimento tecnológico. Nesse novo
contexto, da era pós-industrial, o que mais conta é a produção e detenção de conhecimento. É
mais importante produzir e deter a informação, o royalty e a difusão da mídia, que as linhas de
montagem repetitivas no interior das fábricas. A prova disso é que os países do primeiro mundo
estão transferindo suas linhas de montagem para países periféricos, mas continuam produzindo e
detendo o conhecimento e os royalties." [DeMasi, 2002] Isso significa, que mesmo industrializando-
se, países como o Brasil continuarão mais pobres que os países do primeiro mundo, onde ocorre a
produção de idéias. O grande desafio posto aos brasileiros é o desenvolvimento de uma sociedade
pós-industrial e daí obter vantagens competitivas no mundo globalizado. Felizmente, a história
mostra que, para uma sociedade se tornar pós-industrial, ela não necessariamente tem que pas-
sar pela fase industrial. Isso é um alento às aspirações de países como o Brasil, onde o processo
industrial ainda não está concluído.
Nesse contexto, um dos grandes desafios da sociedade brasileira, representada pelas insti-
tuições de ensino e pesquisa, tem sido o desenvolvimento de ações que proporcionem a inserção do
país na era pós-industrial. Uma dessas ações é a melhoria da qualidade do ensino, que é funda-
mental para capacitar os indivíduos à produção de idéias. Além disso, ela contribui também para
a inserção dos indivíduos em seu contexto social e para o resgate da cidadania dos excluídos. A
sociedade exige dos educadores a adoção de novos paradigmas de ensino. Na era pós-industrial, os
indivíduos devem ter posturas bem diferentes daquelas consideradas há até pouco tempo. A era
da produção e implementação de idéias está se iniciando e cada vez mais os agentes da sociedade
devem ter comportamentos próprios de um empreendedor. Eles devem ser visionários, saber tomar
decisões, saber planejar, ser criativos e saber como aprender o novo. Todas essas características são
próprias daqueles que aprenderam a aprender, daqueles que sabem raciocinar bem, daqueles que
produzem idéias; enfim, daqueles que são criativos. Nesse novo ambiente, terão vantagens aqueles
que têm raciocínio lógico e sabem conferir concretude ao processo criativo.
Mas o que deve ser feito para aprender a raciocinar bem? É necessário estudar, por exem-
plo, a natureza do raciocínio e isso é realizado estudando Lógica, [Haak, 1998], [Hurley, 2000],
[Salmon, 1984], [Mortari, 2001], [Souza, 2001]. A inclusão do novo paradigma, representado pelo
ensino de Lógica, significa uma melhor preparação dos indivíduos para os desafios da nova sociedade
da era pós-industrial.
Saber raciocinar é importante, tanto para os jovens como também para adultos. No caso
de alunos adultos, além da alfabetização, reciclagem e outros programas de inserção social, é
também necessário aprender a raciocinar. Dessa forma, eles terão maiores oportunidades no novo
mercado de trabalho, o mercado das idéias, dos produtos da criatividade. Assim, após programas
de alfabetização e reciclagens, é também pertinente o ensino de Lógica.
Se não é fácil definir Lógica, também não é fácil justificá-la, muito menos ensina-la. Princi-
palmente quando consideramos crianças, adolescente e adultos que não têm formação matemática.
O tema até pode ser o mesmo que é ensinado na Universidade, Lógica, mas o foco é diferente.
Crianças e adolescentes são mais exigentes que as pessoas habituadas às definições matemáticas.
Para a apresentação dos conceitos, não bastam apenas formalizações de natureza matemática. É
necessário muito mais que isso. O contexto deve ser fundamentalmente lúdico, o que é interessante
também para os adultos.
Esse é o desafio das aventuras de Belisca no mundo da Lógica. Ensinar Lógica e Argumen-
tação Lógica passo a passo. Apresentar seus principais fundamentos de forma agradável e lúdica,

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Capítulo 0 7

utilizando uma linguagem simples e acessível. Os livros da série: "Belisca no mundo da Lógica" não
requerem nenhum pré-requisito, nem mesmo maturidade matemática. Eles se destinam ao leitor
de qualquer formação ou idade.
Esta série de livros pode ser utilizada como texto em disciplinas da escola básica, secundária
e em cursos de reciclagem. Ela começou a ser escrita a partir de notas de aulas apresentadas a tais
alunos, na Escola de Ensino Básico da Universidade Federal de Uberlândia e na Escola Colibri.
Foi a partir dessas experiências e das observações de colegas que o utilizaram para ensinar Lógica
a seus filhos, que os livros estão tomando sua forma definitiva.
Belisca no Mundo da Lógica conta as aventuras de garotos do interior do Brasil. Em suas
aventuras, Belisca e seus amigos se deparam com situações em que aparecem problemas da Lógica.
Para resolvê-los, Belisca, garoto inteligente, raciocina logicamente todo o tempo. Certamente o
leitor se identificará no mundo das aventuras de Belisca. É esse mundo lúdico que o livro utiliza
para apresentar os fundamentos da Lógica.

0.2 Para quem a série: "Belisca no mundo da Lógica" é indicada

Se todo livro contém algum conhecimento, e se estamos a procura de conhecimento, então, a


princípio, todo livro pode ser indicado para qualquer pessoa. Mas, se um livro é indicado a alguém,
isso não significa que agradará tal pessoa.
Temos, então, a seguinte questão: quais os tipos de pessoas que a série "Belisca no mundo
da Lógica" pode, com maior chance, agradar e, portanto, ser indicada?
Para falar sobre isso, imagine o seguinte cenário: você andando em um shopping no final de
semana.
Você vai ao shopping domingo à tarde. Afinal, não há mesmo nada melhor para fazer. A
programação da TV, que você deixou em casa, é horrível, ninguém aguenta. Você anda pelo corredor
do shopping, vendo tudo, sem observar nada.
De repente, ah!, oh!, uma bolsa na vitrine, ou melhor: a vitrine da bolsa de dois mil reais.
A mulher ao seu lado pensa: a bolsa e eu passando, nos duas juntinhas, em frente minhas amigas;
isso seria importante; eu seria importante. Você pensa: o importante é ser inteligente; alguém fez
a vitrine para a bolsa e agora todos percebem a bolsa; ela tem uma marca; ela é importante, ou
melhor, ter a bolsa é valor de importância. E então, um pedacinho sintético que vale uns cinqüenta
está sendo vendido por dois mil.
O corredor do sopping continua e você entra na livraria. Lá, não há a vitrine do livro, mas
um monte deles nas prateleiras e também na vitrine. É informação por todos os lados. Você folheia
alguns livros, o jornal do dia e mais algumas revistas. É bom e é de graça. Mas onde está o livro
que ensina vender bolsa de cinqüenta por dois mil? Você não consegue encontrá-lo, ele não existe.
Na prateleira ao lado, um sujeito fala para seu companheiro: é livro de Lógica. Isso ajuda
a desenvolver o raciocínio. Você levanta suas pálpebras, enruga a testa. Raciocínio esperto pode
significar vender o barato caro, entender as pessoas e a si próprio, e muito mais. Você vê à sua
frente este livro, este livro que você está lendo, onde um certo "você" fala para você. Não fique
encabulado, querendo saber qual "você" é você? Isso não tem importância. Você dá uma folheada
no livro e decide ler, utilizar e conviver com ele por algum tempo. No prefácio você lê algumas
coisas como:

• idéia criativa significa ver ou fazer antes dos outros;


• ser criativo é mais que ser inteligente;
• a criatividade é determinada pela síntese de duas habilidades: fantasia e concretude;
• concretude significa ter a capacidade de transformar a causalidade e a disparidade em uma
estrutura organizada;
• concretude é a capacidade de racionalizar;

7
8 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

• para desenvolver a capacidade de racionalizar é necessário estudar a natureza e a crítica do


raciocínio;
• estudar Lógica confere capacidade crítica aos argumentos mentais;
• estudar Lógica confere capacidade crítica à organização das idéias;
• ao estudar Lógica, o indivíduo toma consciência dos elementos fundamentais à capacidade de
argumentar e expor suas idéias;
• obtendo essa habilidade, essa consciência, esse meta conhecimento, o indivíduo se torna mais
capaz na racionalização e organização de suas idéias.

Você continua lendo o livro e chega à seção: "Para quem a série: "Belisca no mundo da
Lógica" é indicada". Mas esta é a seção que você está lendo e que diz que você está lendo. Afinal,
onde você está? quem é você? Temos uma auto-referência. Esqueça tudo! Provavelmente, você ainda
está na livraria do shopping, querendo saber que tipo de pessoa deve ler este livro, (e também os
outros livros da série: "Belisca no mundo da Lógica")? Afinal, como este livro pode ser lido? ser
utilizado? ser vivido? Seguem algumas dicas:

• você é adolescente. Legal, este livro foi escrito para você;


• você não é adolescente. Este livro também foi escrito para você, pois é muito bom ler um livro
para adolescente, sentindo um deles;
• você tem filhos na faixa: dos oito aos dezoito anos. ótimo, este livro foi escrito para você e seus
filhos. Aprenda Lógica junto com eles. Uma idéia: sente em um sofá macio, junto com seus
filhos, e leia este livro. Nesse clima, sua família aprenderá muito mais que Lógica;
• você é professor ou coordenador de um programa de ensino para alunos do sexto ao nono anos.
Excelente, adote este livro em seu programa. Veja porquê adotá-lo:
– este livro pode ser adotado a partir do sexto ano;
– seu conteúdo é multi-disciplinar, tendo aplicações em matemática, português, literatura,
filosofia, ética, artes e é claro: na análise crítica dos argumentos;
– ele ensina Lógica com ênfase em Argumentação Lógica. Os conceitos de Lógica são apre-
sentados ao longo de uma história. A idéia é que o aluno leia a história e, "por acaso",
aprenda Lógica;
– ele apresenta conceitos éticos morais a serem discutidos pelos alunos. Ao longo da história,
são apresentados pequenos textos que tratam de valores morais, e outros, estimulando a
discussão;
– ele incentiva o gosto literário e análise de problemas sintáticos e semânticos de linguagens.
São apresentados vários estilos literários, que devem ser percebidos e analisados pelo aluno;
– ele estimula a criatividade, solicitando a ilustração e o desenvolvimento da história apresen-
tada.

Agora que você já sabe para quem este livro é indicado; segue uma pergunta: qual a melhor
forma de lê-lo? É claro que não há resposta definitiva para tal questão. Depende de cada pessoa,
a melhor forma de aprender o que está escrito no livro. Mas, uma sugestão pode ser bem vinda.

• Você pode ler este livro sozinho. Certamente, você aprenderá muito, pois sua leitura é acessível
e não exige nenhum pré-requisito.
• Mas se você ler este livro sozinho, perderá as discussões e troca de idéias propostas. São elas
que tornarão vivos os conceitos apresentados.
• Faça um grupo de discussão sobre os temas considerados no livro.
• Ao fim de cada seção, há uma "criatividade" onde é proposto algum problema ou a análise de
algum tema. Apresente ao seu grupo, a solução ou análise encontrada por você.

8
Capítulo 0 9

• Muitas "criatividades" supõe o confronto de idéias. É desse confronto de idéias que os conceitos
se internalizarão e poderão ser usados por você automaticamente.

Praticar os conceitos é importante. Veja o que foi dito por Confuncius:1 "I hear and I forget.
I see and I remember. I do and I understand." Em português: "Se ouço, esqueço. Se vejo, lembro.
Se faço, entendo, aprendo".
Afinal, você,2 que ainda está no shopping, tem agora um novo amigo: este livro. Com ele
você vai para casa, pensando melhorar seu raciocínio e sua capacidade de análise crítica. Pensa
também num belo argumento que conquiste sua pessoa amada; ou num método para vender seu
fusquinha que vale mil, por dez mil.

0.3 Metodologia de ensino

A série: "Belisca no mundo da Lógica" é composta de quatro volumes. O primeiro pode ser adotado
por alunos do sexto ano; o segundo, por alunos do sétimo ano, e assim por diante, até os alunos
do nono ano. Ao longo de sua utilização, essa série de livros e sua metodologia têm como objetivo
principal o desenvolvimento da capacidade crítica e raciocínio dos alunos.
O desenvolvimento do raciocínio, da inteligência, é um tema cujo aprendizado requer, dos
estudantes, um pensar adequado, um fazer com prazer, e uma forma positiva de ver os fatos a sua
volta. É por isso, que seu desenvolvimento envolve, pelo menos, três elementos principais:

• raciocínio abstrato;
• atitude crítica e
• prática.

Raciocínio abstrato. Em geral, as pessoas se diferem quanto à sua capacidade e talento


cognitivo. Algumas até podem se distinguir das demais em algumas áreas, mas não se distinguirão
em todas as áreas. Nesse sentido, sem especificar ou se referir a um determinado campo do conhe-
cimento, é difícil dizer se alguém é inteligente ou é mais inteligente, ou se um raciocínio é bom ou
não. Isso ocorre porque há várias formas ou áreas de inteligência. Além disso, porque o talento, ou
habilidade das pessoas para resolver problemas, não segue um único paradigma.
Mas, mesmo sendo difícil entender, e avaliar, como as pessoas elaboram um bom raciocínio,
compreender suas limitações e princípios, analisá-lo criticamente, são passos importantes para
melhorar nossa capacidade cognitiva. E para obter essa compreensão, essa capacidade de análise,
este livro propõe um passo a ser dado: estudar Lógica e Argumentação Lógica.
E desse estudo, melhorar a capacidade de raciocínio lógico abstrato.
Atitude crítico. Não basta apenas raciocínio abstrato. Como quase toda atividade, o de-
senvolvimento da capacidade cognitiva do indivíduo depende, fundamentalmente, de sua atitude
crítica em relação à vida.
É a sua atitude crítica que pode colocá-lo de forma ativa frente os problemas. É ela que
pode fazê-lo ver e agir adequadademente, ou não, quando seu raciocínio é desafiado.
E para aprender a raciocinar, é fundamental ter uma atitude crítica, aprender a resolver
problemas, refletir sobre questões postas e combinar as partes.
As atitudes a seguir, que são comuns, são algumas que não ajudam a desenvolver o raciocínio.

• Eu prefiro pessoas que dizem o que devo fazer, que me dão ordens.
• Não gosto de pensar, de antemão, qual estratégia deveria seguir para resolver algum problema.
Simplesmente eu o resolvo.
1
Do original, em Inglês.
2
O emprego do pronome "você", como apresentado no texto, é muito bem trabalhado por Silviano
Santiago, no conto "Days of wine and roses". [Moriconi, 2000].

9
10 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

• Não penso sobre as decisões que tomo.


• Nunca questiono as regras.
• Não gosto de pensar sobre meus erros.
• Não gosto de coisas vagas.
• Não gosto de ser criticado.
• Se tenho alguma opinião, nunca imagino tendo uma outra opinião que a contradiga.
• Não gosto de ambigüidades.
• Não gosto de brincar.

Para melhorar nossa capacidade cognitiva, devemos acreditar na importância de refletir sobre as
razões de nossas crenças e ações. Devemos querer o debate, permitir os erros, quebrar os paradig-
mas, saber lidar com as ambiguidades e aprender conceitos abstratos.
Prática. Não bastam apenas saber os princípios que distinguem o bom raciocínio de um
outro inadequado. E também não basta ter apenas atitude crítica.
Em um jogo de futebol, não basta apenas saber as regras e analisá-las criticamente, é
necessário saber jogar bem.
Analogamente, para aprender a raciocinar bem e ter atitude crítica, não basta apenas apren-
der Lógica.
É necessário desenvolver habilidades que internalizem os conceitos adqüiridos, bem como
a capacidade de aplicá-los no dia-dia. Os conceitos aprendidos devem ser aplicados em contextos
realistas, sendo essa aplicação, a partida para um aprendizado com qualidade.
Belisca no mundo da Lógica. A metodologia a ser seguida para o ensino dos três con-
ceitos básicos: raciocínio, prática e atitude, segue fundamentalmente a adoção dos livros da série:
"Aventuras de Belisca no Mundo da Lógica." São livros utilizam várias linguagens, sendo que cada
uma delas utiliza diferentes estilos e formas de letras.
Quando falamos sobre o narrador da história de Belisca, ou sobre o livro, a
linguagem utiliza letras maiúsculas pequenas e grandes (como estamos escrevendo
agora). É uma linguagem que fala sobre o livro, sobre sua forma e estilo de escrita,
uma autoreferência. Ela expressa as opiniões de um crítico do livro.
Quando o narrador narra sua história, o texto que representa sua linguagem é escrito no
estilo usual, como o estilo deste parágrafo.
Quando os personagens da história falam, conversam entre si, utilizamos outro estilo. A linguagem
da fala dos personagens é escrita utilizando o estilo deste parágrafo.
Se o objetivo é explicar conceitos da Lógica e Argumentação Lógica, a linguagem utiliza a
forma itálica. Portanto, o professor de Lógica escreve usando letras na forma itálica, como neste
parágrafo.
Há ainda um outro tipo de linguagem, que utiliza a forma negrito. Os textos em
negrito não são diálogos de personagens, descrições do narrador, explicações sobre o
livro e nem sobre Lógica. Este estilo é utilizado em textos nos quais são considerados
conceitos gerais que não fazem parte da história de Belisca e nem são explicações
de fundamentos de Lógica. Eles são os textos escritos pelo Pensador, que fala sobre
conceitos éticos, valores morais, fundamentos das ciências em geral, etc. É o pensador
quem considera o desenvolvimento de uma atitude adequada.
Portanto, o livro texto: "Aventuras de Belisca no mundo da Lógica" possui quatro tipos de
personagens: o narrador, os indivíduos que compõem a história contada pelo narrador, o professor
de Lógica, o pensador e o crítico do livro. Nesse contexto, cada tipo de personagem tem sua função:

• narrador:conta a história de Belisca e seus amigos, de forma lúdica e agradável, utilizando


uma linguagem próxima àquela utilizada pelos jovens. Seu objetivo é motivar o leitor, contanto
uma história, que bem poderia ser a história do leitor.

10
Capítulo 0 11

• Belisca e seu amigos. Belisca é um garoto inteligente que sabe Lógica e argumentação Lógica.
Ele vive no interior de Minas Gerais e, como muitos jovens, gosta de aventuras, tem uma
linguagem própria e vive situações que o identifica com maioria dos leitores;
• professor de Lógica: é o professor de Lógica quem explica os conceitos de Lógica e de Argu-
mentação Lógica. A explicação segue, na maioria dos casos, as situações vividas por Belisca e
seus amigos. Dessa forma, lendo a história, o leitor aprende também conceitos de Lógica e de
argumentação Lógica. O raciocínio, o primeiro dos três principais elementos da metodologia,
é considerado pelo professor de Lógica. É seu objetivo o ensino dos fundamentos formais e a
análise dos argumentos Lógicos;
• pensador: conceitos éticos e de fundamentos das ciências em geral são colocados pelo pensador,
propiciando a discussão e reflexão desses temas. É objetivo do pensador estimular o leitor a
refletir sobre o terceiro elemento dessa metodologia: a atitude. Ele motiva o leitor a atitudes
que o levam ao desenvolvimento de seu raciocínio;
• crítico: o crítico do livro faz uma análise de todo o processo. Ele executa uma auto-referência,
uma auto-avaliação, um olhar para si. Vendo a si próprio, ele também estimula o leitor a ter
atitudes que o levam a desenvolver seu raciocínio.

Além do jogo dos personagens, ao final de cada seção, são propostas as "criatividades," onde o
leitor deve resolver problemas, refletir e discutir temas introduzidos ao longo do livro. Nesse caso,
são as "criatividades" que consideram a prática dos conceitos apresentados.
Ensino multidisciplinar. Como é visto anteriormente, temos uma metodologia de ensino
multi-disciplinar, onde se relacionam disciplinas usuais como: Matemática, Português, História,
Filosofia, Artes, Computação, etc. Mas sendo assim, em qual disciplina deveremos alocar o tema
pretendido? Há várias opções. Certamente, a melhor seria uma disciplina própria para esse tema.
E os resultados esperados? São ambiciosos os resultados esperados:

• estudantes um pouco, um pouquinho mais inteligentes;


• com alguns dons criativos
• e que percebam como é importante possuir; praticar e viver valores éticos;
e também, raciocinar e ter atitudes adequadas a uma sociedade mais justa e fraterna.

As correções e sugestões para melhorar o livro são muito bem vindas. Entre em contato:
logica@facom.ufu.br ou nunes@facom.ufu.br.

João Nunes de Souza.


Uberlândia, 2 de junho de 2009.

11
12 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

0.4 Nota sobre o autor

João Nunes de Souza é professor titular da Faculdade de Computação da Universidade Federal


de Uberlândia, onde leciona Lógica para alunos de graduação e pós-graduação há mais de quinze
anos. Graduou-se em Matemática e em Engenharia Elétrica pela UFMG. Concluiu o mestrado em
Matemática, na área de Análise Matemática, também pela UFMG. Seu doutorado foi realizado
na UNICAMP, em Engenharia Elétrica, na área de Inteligência Artificial. Foi um dos fundadores
da pós-graduação em Ciência da Computação na Universidade Federal de Uberlândia. Suas áreas
acadêmicas de interesse, atualmente, são: ensino de Lógica, Criptografia e Recuperação de Infor-
mação, nas quais tem tido a satisfação de orientar vários alunos de pós-graduação.

12
Capítulo 0 13

0.5 Carta aos pais

Senhores pais.
Estamos apresentando-lhes um livro da série: As Aventuras de Belisca no Mundo da Lógica.
Nosso objetivo é ensinar Lógica e algo mais a seu filho. E esse "algo a mais" é tão grande e
importante como a Lógica. É ele que falará, entre outras coisas, de conceitos éticos e morais a seu
filho.
Por isso, é essencial que voces leiam o livro juntamente com o seu filho. Formem o hábito
da leitura, da reflexão e aprendizado em conjunto. Estabeleçam um relacionamento baseado em
interesses comuns, em idéias comuns e, mais importante, adquiram valores comuns.
E como todo bom relacionamento, a sua relação com este livro deverá ser para sempre.
Há nele um conteúdo que vale a pena ser lido e relido várias vezes. Principalmente, os escritos
filosóficos que falam de princípios de vida. Dependendo da maturidade de seu filho, ele somente
aprenderá o significado desses princípios após várias leituras.
Nessa primeira leitura, estamos dando o primeiro passo em uma longa estrada, na qual
certamente continuaremos juntos.

João Nunes de Souza.


Uberlândia, 2 de junho de 2009.

13
1

O professor fala sobre as proposições

1.1 Belita é linda, cheirosa e lamerosa

Adoro estórias! São elas que nos fazem sonhar. Se é estória ou história, não importa.
Se é estória porque não aconteceu, agora, que está sendo escrita, já faz história.
Rubem Alves escreveu um pouco diferente: "Se esta vida não houve, agora, porque
escrevi, está havendo" [Alves, 2005].
Estamos começando a estória de Belisca, que é um pouco da história de todos nós.
Mas quem é Belisca? Garoto sonhador, vivia em Patrocínio, no interior de Minas Gerais.
Frequentava a quarta série na Escola Honorato Borges, onde era aluno brilhante de tia Dagmar.
Na verdade, ele não compreendia, mas sabia muito bem porquê sempre tivera boas notas. Tudo
era muito fácil, ele raciocinava e argumentava logicamente todo o tempo.
Certamente essa era uma das causas de seu desempenho. Mas por que foi ele agraciado com esse
dom? Talvez porque essa é a sua história.
Seu melhor amigo era Pororoca, cujo raciocínio lógico não era tão brilhante, mas tinha uma incrível
inteligência inter-pessoal.
A sabedoria popular deu a Pororoca o melhor apelido, para alguém que sentava no meio da sala
de aula e participava de todas as galeras: dos alunos da frente e a do fundo, da turma do futebol,
da turma do rock sepultura e até da turma das Patricinhas.
Pororoca conversava o tempo todo, cricava os colegas e era o grande problema de tia Dagmar. Um
doce problema, pois sabia como conquistar pessoas.
Além das flores, colhidas na praça em frente à escola, que a cada dia ele trazia para tia Dagmar,
havia sempre um elogio inédito, criativo e sincero.
Belisca e Pororoca eram também muito prestativos e gostavam de ajudar tia Dagmar.
E, dado seu apreço por tia Dagmar, costumavam ir ao mercado municipal, aos sábados, para
ajudá-la em suas compras.
Certo sábado, Belisca e Pororoca esperavam por ela no mercado e apareceu a linda Belita, a grande
paixão de Pororoca.
Instantaneamente, Pororoca sentiu uma revolução na barriga, começou a suar frio, perdeu o fôlego,
o coração disparou, apareceram coceiras na cabeça, ficou confuso e suspirou.
_ Haaaaa, que princesa, que boneca! Ela é linda! Ela é cheirosa! Ela é lamerosa! Ohhhh Bel, trupica
e caia nos meus braços.
Belisca, ouvindo todas aquelas declarações, perguntou.
_ O que significa lamerosa?
_ Sei lá! Respondeu Pororoca.
16 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Belisca não perguntou o significado de "trupicar", pois sabia muito bem como as palavras eram
modificadas pelo pessoal do interior. "Trupicar" era apenas a forma evoluída de tropeçar.
Quando as pessoas se comunicam, elas exprimem idéias através de sentenças declarativas. Como
o próprio nome está dizendo, tais sentenças declaram alguma coisa.
Quando Pororoca viu Belita, ele exprimiu várias sentenças declarativas.

Bel é linda.
Bel é cheirosa.
Bel é lamerosa.

Na matemática também expressamos vários tipos de declarações. Veja alguns exemplos:

O conjunto dos números naturais é dado por: {0, 1, 2, 3, 4, 5, . . .}.


O número 9 é antecessor do número 10.
O número 10 é sucessor do número 9.
10 = 10.
12 > 8.
8 < 12.

Criatividade: Defina 4 novas sentenças declarativas, que declaram fatos sobre pessoas que você
conhece.
Aviso. Este é um importante aviso. Observe que o texto anterior está escrito
utilizando vários tipos ou estilos de letras.
Criatividade: Tente responder por que estamos utilizando vários estilos para
escrever?
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.2 Pororoca fala com Belita

Após ver Belita no mercado, todo emocionado, Pororoca engoliu seco e foi conversar com ela. Ele
olhou para o céu e disse:
_ A lua está bela! Ela é redonda e emite uma linda luz amarelada como da cor de seus olhos.
Belita olhou para Pororoca, olhar gélido de super indiferença. E no mais alto grau de desprezo, foi
logo dizendo.
_ Primeiro, não há lua no céu! Observe que agora são 10 horas. Segundo, os meus olhos não são
amarelos.
Pororoca ficou ainda mais confuso, abaixou os ombros, diminuindo no mínimo doze centímetros.
Ele percebeu a furada em que se metera. Naquele momento, tia Dagmar entrou pela porta do
mercado. Foi sua salvação.
_ Até breve Bel! Tenho que ajudar tia Dagmar.
E Belisca, que estava ali por perto pensou:
_ O Pororoca patinou na maionese.
Isso, porque patinar significa escorregar.
E se é na maionese, é em algo escorregadio.
E escorregar em uma coisa escorregadia é mais que deslisar: é deslisar sem controle.
E deslisar sem controle significa falar o que não devia.
Foi difícil para Pororoca se aproximar de Belita.
Não é fácil encarar as pessoas, principalmente aquelas que julgamos especiais e que
ainda não conhecemos.

16
Capítulo 1 17

A aproximação é um ato de desafio, de coragem, que tudo modifica, nós e o mundo


em nossa volta.
Em geral, não conseguimos ir muito longe na tentativa de conquistar o que vemos,
sem simultaneamente modificar o que somos.
Antes, em nós, devemos construir nossos princípios, nossos paradigmas.
Serão eles as lentes que usaremos para ver e conquistar o mundo.
Foi difícil para Pororoca se aproximar de Belita, quem ele julgava estar amando.
Isso não é fácil, pois, em geral, temos medo de amar.
A canção de Beto Guedes: "O medo de amar é o medo de ser livre" fala um pouco
sobre esse medo.

O medo de amar é o medo de ser


livre para o que der e vier ...

O medo de amar é o medo de ter


de a todo momento escolher
com acerto e precisão
a melhor direção ...
Quando Pororoca conversou com Bel, ele exprimiu várias declarações.

A lua está bela.


A lua é redonda.
A lua emite uma linda luz amarelada.
Bel tem olhos amarelos.

As sentenças declarativas anteriores podem ser interpretadas como verdadeiras ou falsas.

A lua está bela.

Essa sentença é verdadeira ou falsa? Isso depende do gosto estético de cada pessoa.

Bel é linda.

Essa sentença pode ser verdadeira hoje, mas poderá ser falsa daqui a sessenta anos.
Quando a sentença declarativa pode ser interpretada como verdadeira ou falsa, ela é denominada
proposição

• Conclusão importante:

As proposições são sentenças declarativas que podem ser interpretadas como


verdadeiras ou falsas.

Observe que cada uma das proposições anteriores é uma declaração que pode ser interpretada como
verdadeira ou falsa.
Portanto, uma proposição é um enunciado ou sentença declarativa que pode ser interpretada como
verdadeira ou falsa.
Algumas proposições verdadeiras da matemática são:

XC é o número 90 escrito no sistema de numeração romano.


XXV I é o número 26 escrito no sistema de numeração romano.
Os símbolos utilizados no sistema de numeração romano são: I, V, X, L, C, D, M .
Os símbolos utilizados no sistema de numeração indo-arábico: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9.
O numeral 124 representa uma centena, duas dezenas e 4 unidades.

17
18 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Por outro lado, algumas proposições falsas da matemática são:

No numeral 1.285.216 temos apenas as classes das unidades simples e dos milhares.
A classe dos bilhões representa numerais menores que a classe dos milhões.
10 = 12.
8 > 12.
12 < 8.

Criatividade: Defina 5 novas proposições, verdadeiras ou falsas, que declaram fatos sobre sua
sala de aula.
Criatividade: Vá à Internet e procure a música "Medo de amar é o medo de ser livre"
de Beto Guedes. Peça ao seu professor de Português para ajudá-lo a interpretar sua
letra. E, para não ter tanto medo de amar, cante-a.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.3 As saias plissadas de tia Dagmar

No dia seguinte, após a história do mercado, Pororoca ainda continuava com aquele olhar distante,
a testa franzida e com dificuldades para respirar.
Belita agia como um furacão em sua vida.
Durante a aula, Belisca, que sentava ao lado de Pororoca, percebeu a situação.
É até engraçado, pensou Belisca.
_ Há gente pra todo gosto: triste, alegre, concentrada e murcha como o Pororoca.
Dado o contexto de sua sala, Belisca observou: de um lado Pororoca, todo murcho, e lá na frente,
toda altiva, tia Dagmar.
E olhando dessa forma, a sala de aula parecia uma moeda de muitas faces. Numa dessas faces
estava tia Dagmar com seu interessante estilo próprio: moça conservadora, nunca se casara, na
casa dos 55 anos, mas cuja verdadeira idade era segredo de Estado.
Para animar Pororoca e aliviar seus pensamentos apaixonados, Belisca lhe chamou, dizendo:
_ Pororoca! Faça aquela perguntinha que não pode faltar.
_ Que pergunta? Respondeu Pororoca, ainda em estado alfa.
_ Pergunte à tia Dagmar qual é a sua idade?
Pororoca sempre perguntava à tia Dagmar se ela tinha 25 ou 26 anos e ainda acrescentava dizendo
que ela estava linda, mesmo repetindo um visual igual todos os dias: cabelos cuidadosamente pen-
teados para trás, terminando como um pequeno coque perto da nuca, Pororoca dizia que aquilo
parecia uma ameixa negra; baton vermelho; blusa branca sufocando o pescoço, as mangas compri-
das; e saias plissadas azuis ou creme escondendo os joelhos.1
E não eram quaisquer sais plissadas. Eram feitas sob medida, com tecido de primeira e sempre
estavam novinhas. Era coisa para todo mundo notar.
Belisca até imaginava como as saias plissadas de tia Dagmar foram feitas. Elas eram perfeitas e o
tecido nunca se amarrotava.
Dado aquele visual conservador de tia Dagmar, que nunca variava, uma brincadeira era adivinhar
como ela estava, olhando para os fundos da sala. Era fácil acertar. Bastava formular as proposições.

Tia Dagmar usa baton vermelho.


Tia Dagmar usa blusa branca.
1
A descrição de tia Dagmar é um pouco da descrição de Marimá, do conto: A morte de D.J. em Paris,
de Roberto Drummond.

18
Capítulo 1 19

Tia Dagmar usa saias plissadas azuis ou creme.

Tia Dagmar se apresentava como uma pessoa conservadora.


Mas será que somos o que apresentamos ser?
Nossa vida seria muito mais fácil, e sem graça, se fosse assim.
As pessoas seriam classificadas simplesmente pelas aparências e descobrir um amigo
se resumiria encontrar um visual.
Felizmente, descobrir um amigo exige de nós mais esforço, mais raciocínio.
É necessário ir além das aparências, descobrir gostos, jeitos, trejeitos e sentimentos.
E por ser difícil de encontrar, é que um bom amigo tem seu grande valor.
Dê uma olhada em sua volta, observe as pessoas, seus amigos, as paredes, as portas, as janelas
e tudo mais que está próximo de você. Várias proposições podem ser formuladas observando esse
ambiente. Talvez você se surpreenda com sua atenção e observe que:

Há uma teia de aranha, com uma aranha, que arranha, no teto da minha sala.

Afinal, a proposição anterior é verdadeira ou falsa? Depende dos seres vivos presentes onde você
está.
Lembre que toda proposição pode ser interpretada como verdadeira ou falsa.
Em geral, na Matemática, procuramos por proposições verdadeiras. E as proposições verdadeiras
que estabelecem resultados gerais são tão importantes na Matemática, que são denominadas "pro-
priedades".
Indicamos a seguir algumas propriedades da Matemática, que são representadas por proposições
verdadeiras.

• Propriedade associativa da adição: Para quaisquer números a, b e c, temos: (a + b) + c =


a + (b + c).
• Propriedade da existência do elemento neutro da adição: O zero é o elemento neutro
da adição, ou seja, para qualquer número a temos: a + 0 = 0 + a = a.
• Propriedade comutativa da adição: Para quaisquer números a e b, temos: a + b = b + a.

Criatividade: Defina 5 novas proposições, verdadeiras ou falsas, que declaram fatos sobre sua
sala de aula.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.4 São lindas as saias de tia Dagmar?

Se alguém buscasse consenso sobre sobre o visual conservador de tia Dagmar, não encontraria em
nenhum lugar.
Para as Patricinhas, que sentavam na primeira fila da sala, o visual era terrível. Elas achavam
aquelas saias plissadas um horror.
Mas para Belisca e Pororoca não eram tão ruins, eram bacaninhas.
Na verdade, o que eles mais gostariam de entender, era como foram feitos aqueles vincos perfeitos
e por que as saias nunca se amarrotavam.
Pode não haver consenso sobre a interpretação da proposição

As saias de tia Dagmar são lindas.

19
20 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Essa proposição é interpretada como verdadeira ou falsa? Depende do gosto de cada um. As Pa-
tricinhas interpretavam como falsa, mas Belisca interpretava como verdadeira.

Frango com quiabo é delicioso.

A interpretação dessa proposição também depende do gosto de cada um. Há pessoas que adoram
frango com quiabo e outras que detestam.
Quando olhamos o mundo, o vemos por diferentes lentes: as lentes de nossos paradig-
mas, de nossos princípios.
São elas que definem as janelas por onde vemos o mundo. Tendo lentes diferentes,
usando diferentes janelas, alguém religioso vê o mundo por janelas diferentes das de
um ateu.
A mesma paisagem tem cores diferentes para eles.
Pode ser paisagem verde para um e vermelha para o outro. O que vemos e percebemos
do mundo depende, pelo menos, de duas coisas: do objeto que estamos observando e
dos princípios que temos.
Dá pra concluir que os princípios das Patricinhas eram diferentes dos de Belisca.
Eles percebiam as saias de tia Dagmar de forma diferente. Dado os diferentes princípios
e gostos, Belisca via detalhes não considerados pelas Patricinhas e vice-versa.
Há inúmeras proposições que têm a mesma natureza. Não há consenso sobre as suas interpretações.
As pessoas interpretam tais proposições de forma diferente. Considere as proposições.

Estar com . . . é bom.


Ficar com . . . é bom.
Namorar a . . . é bom.
Beijar . . . é bom.

• Conclusão importante:

Nem sempre há consenso sobre a interpretação das proposições.

Uma importante questão é saber se temos, na Matemática, proposições que podem ser interpretadas
como verdadeiras ou como falsas.
Ou seja, se temos sentenças declarativas da Matemática sobre as quais não temos um consenso
sobre suas interpretações.
Podemos questionar algo mais profundo ainda. Se temos, na Matemática, sentenças que não podem
ser demonstradas como verdadeiras ou como falsas.
A princípio, parece obvio que na Matemática toda proposição deve ser verdadeira ou falsa.
Entretanto, não é isso que ocorre. A análise da verdade matemática é muito mais sutil do que
pensamos, sendo esse um importante tema de pesquisa em Lógica Matemática.
Criatividade: Defina 5 novas proposições que podem ser interpretadas como verdadeiras ou falsas.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.5 Faltava consenso sobre as saias de tia Dagmar

Sobre a qualidade do visual das saias de tia Dagmar não havia consenso. Isso era uma certeza que
todos percebiam, dado o debate, entre os alunos, sobre a beleza estética dos vincos perfeitos das
sais plissadas.
Mas, se não havia consenso sobre as saias, isso não significava, necessariamente, a inexistência de
algum consenso sobre alguma outra faceta de tia Dagmar.

20
Capítulo 1 21

E a existência desse consenso existia, pois todos concordavam que ela era uma ótima professora e
amada por todos os alunos.
É engraçado dizer que existência de um consenso existe. Ou seja, dizer que existên-
cia existe. Ou, ainda, que é verdade a existência de algo que existe.
Neste livro, ainda estudaremos, do ponto de vista da Lógica, várias sentenças desse
tipo.
Mas, o que significava ser uma ótima professora e amada por todos?
Certamente, significava muitas coisas como, por exemplo: dizer não quando necessário, cobrar a
melhoria do desempenho dos alunos e retribuí-los com carinhos de mãe.
Tendo qualquer problema, mesmo fora da sala de aula, a meninada sempre pensava em tia Dagmar.
E até contavam que ela foi solicitada para elaborar as regras e a tabela do campeonato de futebol
da escola. Só assim, as regras e a tabela foram aceitas por todos.
_ Pororoca, essa tia Dagmar é muito pessoa.
_ E é mesmo. Acho incrível como ela, tão delicada, pequetita e com pouca força física, consegue
dominar todos.
_ Basta um olhar sorrindo e ela ganha a meninada. Você já pensou sobre isso Pororoca? Um olhar
sorrindo.
_ Isso é um dom de graça divina. Isso é carisma. E aqueles que conseguem sorrir carisma, não precisam
da força para conquistar.
_ Você foi ao ponto, Pororoca. Tia Dagmar é carismática. Ela domina, sendo amada. E é por isso que
há consenso sobre a interpretação das regras que ela determina.
A interpretação de uma proposição pode ser verdadeira ou falsa. Isso acontece com a maioria das
proposições. Mas pode haver também as proposições sobre as quais há consenso na interpretação.
Uma paisagem física, concreta se apresenta objetivamente da mesma forma a todos.
Ela está lá, ela é um objeto concreto. Mas mesmo sendo ela única, cada um de nós a
percebe de forma diferente.
Cada um a interpreta de forma diferente.
Como as paisagens, também as proposições são percebidas e interpretadas de forma
diferente.
Como então obter um consenso sobre a interpretação das proposições?
Esse é um dos grandes desafios da humanidade: a busca do consenso entre os homens,
pelo menos sobre alguns princípios éticos e morais.
Ainda estamos longe de consegui-lo, mas vale a pena lutar.
Também vale a pena continuar brincando. Todas as pessoas normais interpretam como verdadeiras
as proposições a seguir.

Tia Dagmar é uma ótima professora.


A lua é redonda.
O sol é quente.
Todo homem é mortal.

Mas, nem sempre há consenso sobre a interpretação das proposições:

Para adicionar dois números, é mais fácil utilizar a forma usual, que a forma por decomposição.
Para subtrair dois números, é mais fácil utilizar a decomposição, que a forma usual.

Um consenso ocorre sobre a veracidade da propriedade matemática a seguir:

21
22 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

• Propriedade fundamental da subtração: Para quaisquer números a, b e c, temos:


se a + b = c, então a = c − b.
• Propriedade fundamental da subtração: Para quaisquer números a, b e c, temos:
se a + b = c, então b = c − a.
• Propriedade fundamental da subtração: Se a soma de duas partes é o todo, então o todo
menos uma parte é igual a outra parte.

As definições de sentença, proposição, e suas interpretações, consideradas neste capítulo, é um


difícil objeto de estudo da Lógica e da Filosofia. O que parecem definições simples, são na verdade
conceitos difíceis de serem entendidos e, portanto, definidos, [Haak, 1998], [Mortari, 2001]. As
definições, aqui apresentadas, seguem informalmente [Epstein, 1999].
Criatividade: Defina 5 novas proposições que são interpretadas por todas as pessoas normais
como verdadeiras.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.6 O tecido da lua

Não desistir nunca, era o lema de Belisca quando estava à procura de respostas para as grandes
questões de sua vida.
As saias de tia Dagmar, que nunca amarrotavam, eram um desses problemas. Mas devemos deixar
claro que não eram as saias em si, mas o processo físico-químico e todo o estragagema de sua
confecção.
E tal problema andava com Belisca, a espera de uma resposta, a qual ele quase encontrou quando
andava pela avenida Rui Barbosa, numa daquelas tardes preguiçosas do interior.
Primeiro, passaram em frente a um sebo de livros usados. Belisca teve uma irresistível vontade de
entrar, mas não entrou.
Mas, por que Belisca não entrou no sebo?
Apenas deu uma olhada no seu interior e sentiu que ali havia muita coisa que certamente era
importante para a sua vida.
Algo lhe dizia que ele o sebo já eram velhos conhecidos.
_ Puxa! que lugar interessante. Disse Belisca.
_ Não vejo nada de interessante. Apenas uma porta, a entrada de um cômodo escuro, onde parece
haver milhões de livros velhos e empoeirados. Completou Pororoca.
_ Não sei porque e nem consigo explicar porque não sei o porquê. Mas, este sebo é o lugar mais
interessante desta avenida.
E naquele momento, parado em frente o sebo, Belisca percebeu uma velhinha em seu interior,
acenando-lhe um suave sorriso.
Mas, não era um sorriso qualquer, era aceno de quem já o conhecia há muito tempo.
De quem se mostrava estar a uma pequena distância.
Pensando nisso, Belisca arrepiou-se!
Pois, "um sorriso é a distância mais curta entre duas pessoas"2 .
_ Se não sei o que está me acontecendo, a melhor estratégia é cair fora, ficar um pouco mais longe.
E Belisca passou reto ao longo da calçada em frente o sebo, mesmo tendo aquela grande vontade
de conhecê-lo.
2
Essa frase foi dita por Victor Borge.

22
Capítulo 1 23

Belisca e Pororoca continuaram caminhando e perceberam, do outro lado da avenida, dois homens,
tipo hippie 1970, vestidos com túnicas brancas e cada um carregando uma placa.
Perguntaram aos transeuntes que viram por ali. Homem forte ou fraco, mulher bonita ou feia, de-
sempregado ou trabalhador, menino esperto ou bobo, ninguém sabia donde vieram aqueles homens,
certas figuras brancas.
_ O que está escrito naquelas placas, que aqueles homens estão carregando? _ Perguntou Belisca.
Eles atravessaram a avenida e estacionaram bem perto dos dois estranhos. Os homens estavam
parados, como duas estátuas brancas, em frente a uma porta, também branca, que estava fechada.
_ Acho que essa porta branca deve ser de alguma loja desativada.
_ Por que você acha que é de uma loja desativada, Pororoca?
_ Dê uma olhada acima da porta e você verá o nome da antiga loja.
_ Nem imagino que tipo de comércio deveria ser, pois acima da porta está escrito:

CONHECIMENTO

Os homens, parados em frente à loja "CONHECIMENTO", eram gêmeos idênticos, com roupas
iguais e carregando placas iguais na forma.
Mas os dizeres das placas eram completamente diferentes. Numa delas estava escrito:

EU NÃO ACREDITO EM NADA

Belisca olhou aquela placa e falou:


_ Como alguém pode dizer que não acredita em nada? No mínimo, ele deve acreditar na frase escrita
na placa.
_ Mas, se ele acredita no que está escrito na placa, então ele acredita em alguma coisa.
Ou seja, ele acredita na placa.
Logo, é falso que ele não acredita em nada.
Portanto, ele não pode acreditar no que está escrito na placa. _ Completou Pororoca.
O que estava escrito na placa é problemático porque ela fazia uma auto-referência.
E sempre que temos auto-referências, podemos ter problemas, como ainda será
analisado ao longo deste livro.
_ É muito estranho. Olha a outra placa, Pororoca. Nela está escrito:

DEU Ss UNIVERSO DE SABEDORIA

_ Veja, Belisca. Essa placa contém a palavra "DEU Ss ". O que significa o pequeno "s" após a
palavra "DEU S"?
_ Não faço a menor idéia.
Um pouco mais a frente, após a porta branca, havia outro comércio, indicado pela placa acima da
vitrine, na qual estava escrito:

COSTURAS EM GERAL

Era o atelier de dona Elvira: a mais famosa costureira da região. Até a alta sociedade da capital
solicitava a última moda criada por dona Elvira.
_ É incrível! _ Disse Belisca. _ Como dona Elvira, com mais de 100 quilos, consegue costurar tão
bem?
Dona Elvira era uma verdadeira dama, fina e recatada, com movimentos suaves, voz mansa e um
andar leve. Ela transpirava etiqueta.

23
24 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Apesar de seus 100 quilos, diziam que ela não andava, mas sim, flutuava.
A única coisa que a tirava do sério era quando alguém a chamava de costureira. Imediatamente ela
corrigia. "Costureira não! Designer!".
Ao olharem pela vitrine do atelier, Belisca e Pororoca descobriram que era ali onde as saias de tia
Dagmar eram feitas.
Belisca sempre quisera saber que processo físico-químico era utilizado para fazer saias com vincos
tão perfeitos e que não amarrotavam.
A estética do mundo da moda não era o seu principal interesse. Chamava-lhe a atenção saber o
processo de fabricação de várias coisas, até mesmo das saias de tia Dagmar.
Ele não teve dúvida, entrou pelo atelier e foi logo perguntando a dona Elvira:
_ Dona costureira! Como é possível fazer uma saia como a de tia Dagmar? Ela tem vincos perfeitos e
não amarrotam nunca!
Dona Elvira ficou irritada com o "dona costureira" dito por aquele moleque.
Ocorreu entre dona Elvira e Belisca o que se pode chamar de aversão à primeira vista. Incompa-
tibilidade total entre a dama e o pirralho. Um meninote calçando chinelas gastas, calças surradas,
daquelas que ao serem tiradas poderiam ficar em pé sozinhas, e uma camiseta básica com um belo
furo nas costas.
Dona Elvira foi logo dizendo:
_ O tecido das saias de senhorita Dagmar é importado da lua. Outra coisa! Não encoste nas criações
de moda. Suas mãos estão sujas.
Belisca saiu logo do atelier e ficou pensando na proposição dita por dona Elvira:

O tecido das saias de tia Dagmar é importado da lua.

Como há proposições que sempre são interpretadas como verdadeiras, há também aquelas que sem-
pre são interpretadas como falsas.
Todas as pessoas normais, interpretam como falsas as proposições a seguir.

O tecido das saias de tia Dagmar é importado da lua.


A água é mais densa que o ferro.
O sol é menor que a lua.
Os homens não bebem água.

Mas, por que as pessoas interpretam assim tais sentenças. Talvez, porque elas utilizam o senso
comum.
E o que é esse tal senso comum?
Não é simples dizer o que é senso comum, o que significa interpretar alguma coisa e mesmo dizer
que uma sentença é, ou não, declarativa.
E para não complicar muito, vamos simplesmente utilizar nosso senso comum e aceitar algumas
verdades.
Belisca entrou no atelier de dona Elvira, que ficou irritada. Foi relacionamento nervoso,
difícil, talvez perdido.
Digo "talvez", pois mesmo naquele embalo, Belisca aprendeu algo.
Ele aprendeu, por exemplo, que dona Elvira era muito diferente dele.
E também que é necessário relacionar com aqueles que nos são diferentes.
E que são essas diferenças que fazem os relacionamentos mais difíceis e incertos.
Mas, apesar de tudo, são os nossos relacionamentos que nos permitem prosperar,
apesar de todas as nossas limitações.

24
Capítulo 1 25

Temos uma vida cujo fundamento são os amigos, os nem tanto amigos (dona Elvira)
e aqueles que amamos.
É vida vivendo fundamentais relacionamentos, pois não é possível viver só; só de
incertezas, esperanças e sonhos.
Vale a pena lembrar: entre todos os objetivos que temos, para mim, o mais importante
é

estabelecer relacionamentos.

E, devido a eles, meu maior desafio é

mantê-los.

Algo muito importante acaba de ser apresentado neste livro. Preste atenção!

O grande objetivo das pessoas é estabelecer relacionamentos.


Mas é um enorme desafio, mantê-los.

Criatividade: Defina 4 novas proposições que são sempre interpretadas como falsas.
Aviso. Este é um importante aviso. Observe que o texto continua sendo apresen-
tado utilizando vários tipos ou estilos de letras. As frases ditas pelos personagens
de nossa história são escritas como: "_ O tecido das saias ... " O narrador conta a
história utilizando o estilo: "Belisca não desistia nunca ... ".
Criatividade: Qual tipo de letra está sendo utilizada no texto para explicar
conceitos de Lógica?
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.7 A perguntinha que não podia faltar

Belisca e seu amigo Pororoca continuaram seu passeio pela avenida Rui Barbosa. E, de repente,
não mais que de repente, Pororoca fez a Belisca a perguntinha que não podia faltar.
_ E aí, Belisca! Existem mesmo, proposições que são interpretadas como verdadeiras por todo mundo?
Sabemos que a lua é redonda.
Mas o professor Silvestre, que é astrónomo, me disse que se a lua for observada com mais cuidado,
poderemos ver que ela é um pouco oval.
Portanto, o resultado de uma interpretação pode depender de como analisamos a proposição.
Belisca olhou de lado e pensou feliz.
_ Puxa! Meu amigo está aprendendo lógica. Essa é realmente uma boa pergunta. _ Em seguida, ele
completou dizendo:
_ É claro que existem proposições que são sempre verdadeiras!
_ Me dê um exemplo! _ Respondeu Pororoca.
_ Considere a proposição:

A lua é redonda ou não é redonda.

_ Que esse tipo de proposição é sempre verdadeira, eu concordo. Mas, por que estamos considerando
que proposições como

Tia Dagmar é uma ótima professora.

é interpretada sempre como sendo verdadeira? _ Continuou questionando Pororoca.

25
26 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

_ É porque isso é uma ordem do cara lá de cima! _ Respondeu Belisca.


_ De Deus?
_ Não, do narrador que está contando essa história. É ele que imagina a história e deseja que todos
concordem sobre as qualidades de tia Dagmar.
Obter o consenso não é fácil e essa dificuldade sempre esteve presente na história do
homem.
Na Europa da Idade Média, por exemplo, o certo e o errado, o verdadeiro e o falso,
eram determinados pela autoridade religiosa.
Era a Igreja quem determinava o que deveria ser certo e o que deveria ser errado.
Esse era o conhecimento por autoridade.
Felizmente, agora não é mais assim.
Não é a opinião de uma autoridade que determina o que é verdadeiro ou falso.
Se achamos que algo é verdadeiro, temos que argumentar logicamente, em bases sóli-
das, para convencer os outros a aceitar nossa posição.
É nesse jogo da argumentação lógica que estamos dando nossos primeiros passos.
Para simplificar a vida do narrador deste livro, o consenso sobre a veracidade da
proposição "Tia Dagmar é uma ótima professora" é obtido por imposição. É a autoridade
deste narrador que diz que todos devem interpretá-la como verdadeira.
Em matemática, são as convenções que nos impõem a autoridade para dizer como os símbolos
devem ser interpretados. E, a partir dessas convenções, temos, por autoridade, o resultado da
interpretação das proposições.
Considere, por exemplo, a proposição matemática

8 + 8 = 4.

A maioria absoluta das pessoas interpreta essa proposição como falsa. As pessoas a interpretam
como falsa porque consideram que o símbolo 8 representa o número oito, o símbolo + representa a
adição e o símbolo 4 representa o número quatro.
Em outras palavras, 8+8 = 4 é falsa porque 8 é interpretado como o número oito, + como a adição
e 4 como o número quatro.
Mas, tais interpretações podem ser modificadas. Dê uma olhada para um relógio de ponteiros.
Coloque os ponteiros do relógio marcando oito horas. Isto é, suponha que agora sejam oito horas.
Daqui oito horas, que horas o relógio marcará?
Em outras palavras, se agora são oito horas, então oito horas, mais oito horas, será igual a quantas
horas no relógio?
Daqui oito horas o relógio marcará quatro horas.
Portanto, no relógio, oito horas mais oito horas é igual a quatro horas. Isso significa se a adição
+ for a adição de horas em um relógio de ponteiros, então a proposição

8+8=4

é verdadeira.

• Conclusão importante:

Cuidado com aquilo que você diz ser verdadeiro ou falso.

Uma questão importante é entender porque as propriedades matemáticas são verdadeiras? Quando
dizemos que

26
Capítulo 1 27

• Para quaisquer números a, b e c, temos: se a + b = c, então a = c − b,

estamos supondo interpretações convencionais para os números, a adição + e a igualdade =. A


propriedade matemática é verdadeira porque partimos de suposições sobre as interpretações do
números e das operações consideradas.
Criatividade: Pesquise, com a ajuda de seu professor de História, a influência da Igreja
na sociedade, na Idade Média.
Criatividade: Defina 5 novas proposições. Veja se há consenso sobre suas interpretações.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.8 A lua não é redonda

Essa é uma história engraçada pois Belisca fala do narrador, que conta sua própria
história. E, é este narrador que tem a palavra final sobre a veracidade de algumas
proposições. Em alguns casos, há pouca controvérsia, como, por exemplo:

Tia Dagmar é uma ótima professora.

Dona Elvira disse que o tecido das saias de tia Dagmar é importado da lua. Pororoca foi logo
dizendo que tal fato é falso. Belisca concordou e nem foi preciso a opinião do narrador.
Belisca acrescentou.
_ A proposição dita por dona Elvira é falsa! Mas sua negação é verdadeira.
_ E a negação da negação é falsa. Completou Pororoca.
_ E é muito legal pensar sobre o que é comum, como as sais de tia Dagmar, de forma tão incomum.
_ Isso, Belisca, faz-me lembrar um ditado popular:
"As inteligências pouco capazes interessam-se pelo extraordinário; as inteligências
poderosas, pelas coisas comuns"3
Se todos interpretam a proposição

O tecido das saias de tia Dagmar é importado da lua.

como falsa, então todos também interpretam a proposição

O tecido das saias de tia Dagmar não é importado da lua.

como sendo verdadeira. Da mesma forma, se todos interpretam a proposição

A lua é redonda.

como verdadeira, a sua negação

A lua não é redonda.

é interpretada como falsa. Observe que a proposição

A lua não é redonda.

é a negação da proposição

A lua é redonda.
3
Escrito por Elbert Hubbard.

27
28 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

• Conclusão importante:

As proposições que são interpretadas como verdadeiras, têm suas respectivas


negações interpretadas como falsas.
Por outro lado, as proposições que são interpretadas como falsas, têm suas
respectivas negações interpretadas como verdadeiras.

Mas o mundo não é tão simples como o mundo da Lógica, Quando negamos, devemos ter cuidado
com nossas interpretações.
Nem sempre é falso, a negação daquilo que é. Como também, nem sempre é verdadeiro a negação
daquilo que não é. Considere, por exemplo, a proposição:

Alguém que mede 210 centímetros é alto.

Em geral, as pessoas consideram essa proposição verdadeira. Mas, se ela é verdadeira, então sua
negação deveria ser falsa. Ou seja, a declaração a seguir é falsa.

Alguém que não mede 210 centímetros é alto.

Entretanto, nada podemos concluir sobre a falsidade, ou veracidade, dessa declaração, pois alguém
que não mede 210 centímetros pode medir 212 centímetros ou 150 centímetros, ser alto ou baixo.
Como estamos falando de altos e baixos, para identificá-los, podemos utilizar o conceito matemático
de arredondamento ou estimativa.
Todos concordam que alguém que mede 210 centímetros é alto. Uma pessoa que mede 210 é tão
alto, que se ela fosse um centímetro mais baixa, também seria alta. Em outras palavras, alguém
que mede 209 centímetros é alto.
Da mesma forma, podemos diminuir outro centímetro e concluir que alguém que mede 208 cen-
tímetros também é alto.
Seguindo esse raciocínio, também concluímos que a veracidade das proposições:

Alguém que mede 207 centímetros é alto.


Alguém que mede 206 centímetros é alto.
Alguém que mede 205 centímetros é alto.
Alguém que não mede 204 centímetros é alto.
Alguém que mede 203 centímetros é alto.

Temos um problema, quando continuamos com esse raciocínio, pois podemos concluir que a
proposição a seguir é verdadeira.

Alguém que mede 150 centímetros é alto.

Mas, afinal, onde está o nosso problema?


A retirada de um centímetro na altura de uma pessoa pode ou não mudar sua classe.
E para entender isso, basta arredondar as alturas para a unidade de dezena mais próxima. Dessa
forma, temos a Tabela 1.1.
Considerando os arredondamentos, fica mais fácil falar sobre a veracidade de proposições que
tratam de altura. Nesse caso, a proposição a seguir é verdadeira e sua negação é falsa.

Alguém cuja altura é arredondada, na dezena mais próxima, para 190 centímetros ou mais é alto.

Conforme Habermans,4 [Medina, 2007], quando comunicamos, falamos a uma outra


pessoa, nós solicitamos do ouvinte a aceitação da validade daquilo que estamos
dizendo. Quando falamos, solicitamos pela validade daquilo que queremos comunicar.
4
Habermans foi um importante filósofo.

28
Capítulo 1 29

altura arredondamento para dezena mais próxima


212 210
211 210
210 210
209 210
206 210
198 200
192 190
186 190
178 180
156 160

Tabela 1.1. Tabela de arredondamentos de alturas.

Se você diz a seu amigo "Tia Dagmar é uma ótima professora", você faz uma
demanda de verdade, ou seja, que tia Dagmar é realmente uma boa professora e que
a representação que você tem dela é verdadeira.
Além de tudo disso, quando você diz algo sobre a tia Dagmar, você solicita a seu
ouvinte que ele acredite em você. Ou seja, você espera que seu amigo, que lhe ouve,
acredite na autenticidade daquilo que você fala, que você é sincero ao emitir sua
opinião sobre tia Dagmar.
Mas, infelizmente, na comunicação cotidiana, a maioria das solicitações sobre a vali-
dade do que falamos não é completa, justificada e bem explicada.
É frequente observar que as razões que justificam ou refutam um ato de fala são
simplesmente assumidas.
Quando ouvimos alguém dizer, por exemplo, que "Tia Dagmar é uma ótima profes-
sora" nós simplesmente assumimos a validade de tal fato.
No final desta seção, explicamos algumas coisas que ocorrem quando as pessoas se
comunicam. Preste atenção! Estamos falando de comunicação. E no mundo atual,
isso é tão importante quanto se alimentar. Pense apenas um pouco mais sobre a im-
portância da comunicação. Durante um dia, com quantas pessoas você se comunica?
Quantas mensagens você recebe pela TV, pelo rádio, pelas placas de propaganda
nas ruas?
Criatividade: O teste da comunicação. Peça ao seu professor para falar uma
proposição, no ouvido do aluno sentado na primeira fila, da direita, em sua sala de
aula. Cada aluno, a partir do primeiro, falará a proposição que ouviu, no ouvido
do aluno de traz, até o último aluno da fila. O último aluno falará ao aluno da
fila da esquerda e esse ao aluno da frente, até chegar ao primeiro aluno da fila.
Esse processo continua até percorrer todos os alunos da sala. Qual é a proposição
ouvida pelo último aluno? A comunicação foi perfeita? O que você pode concluir
a partir desse experimento?
Criatividade: Quando alguém lhe fala alguma coisa, quando um amigo lhe conta, por
exemplo, uma história, você checa a validade de todas as afirmações ditas? Comente
sua resposta.
Criatividade: Escreva as negações de cinco proposições definidas nas seções anteriores.
Aviso. Este é um importante aviso. No início desta seção, o texto está escrito
em um estilo, onde todas as letras são maiúsculas. "Essa é uma história engraçada
...". Quando o texto tem este estilo, temos um comentário a respeito do livro. No
início desta seção, estamos falando da história contada pelo narrador, a história
de Belisca.
Criatividade: Qual tipo de letra está sendo utilizada no texto para explicar
conceitos de Lógica? Dê uma conferida ao longo das seções anteriores.

29
30 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Criatividade: Compare sua resposta com as de seus colegas.

1.9 Seu Virgílio era um cara legal

Andar no centro da cidade não era simples ato de movimento.


Era mais que caminhar. Era ver o sebo e sentir um turbilhão de perguntas sem respostas, ver
placas e donos de placas estranhos, e também passar pelo atelier com dona Elvira dentro.
E para esquecer as aventuras no tal atelier, Belisca e Pororoca andaram mais um pouco pela
avenida Rui Barbosa.
Imagine só, avenida principal de cidade pequena, uns 50.000 habitantes. Havia de tudo por ali.
Uma padaria com incríveis guloseimas era um sonho para o nariz de Belisca. E só de pensar
naquelas delícias, Pororoca dizia que sua língua se afogava em salivas.
Alguns cafés e lanchonetes completavam o equipamento urbano em matéria de casas públicas de
consumação e conversa, não falando no espantoso número de botequins, consolo de pobre.5
As ruas do centro eram ocupadas por um comércio de decadentes armarinhos do tipo: cliente de um
lado, balcão no meio e comerciante do outro; e também de modernos comércios que utilizavam toda
sorte de reluzentes parafernálias eletrônicas, que seduziam mais pelo brilho do que pela qualidade.
E também havia farmácia pra todo lado, na avenida e nas ruas que cortavam a avenida. Era até
difícil imaginar tanto doente para tanta farmácia.
Mas, no centro da aglomeração social, na Praça Santa Luzia, impondo-se pelas seduções que ema-
navam de cartazes coloridos, que pareciam rutilantes e gigantescos, e beneficiando-se à noite, estava
o cinema.
Prestem atenção! Um cinema na Praça Santa Luzia.
Para lá convergiam bonecas de todos os tipos. Mas entre todas, algumas mereciam toda a atenção e
foco dos olhares de Belisca e Pororoca. Havia garotas lindas, que também se pareciam inteligentes.
Isso, facilmente reconhecível pelo apuro do vestuário e pela distinção e superioridade naturais da
atitude.
Para relaxar, esquecer dona Elvira, Belisca imaginou aquele astral de lindas garotas no cinema. E
a conclusão foi óbvia: seria ótimo ir ao cinema e sonhar por algumas horas.
O problema era que Belisca e Pororoca não tinham dinheiro para o ingresso. Como entrar no
cinema se não tinham dinheiro para o ingresso? Essa é uma bela questão lógica e Belisca começou
a pensar.
_ Se não temos dinheiro, poderíamos conseguir os ingressos de outra forma, sem pagar, ganhando os
ingressos de alguém. Mas como?
Naquele momento Pororoca teve uma boa idéia.
Ele era um mestre nas relações com as pessoas. Sabia como conquistar a amizade de todos, até
mesmo de seu Virgílio, o gerente do cinema.
De repente, Pororoca saiu na direção oposta à do cinema, puxando Belisca consigo.
_ Mas, Pororoca! Nós não vamos ao cinema?
_ Vamos sim! _ Vamos sim, respondeu Pororca.
Chegando à casa de seu Virgílio, Pororoca tocou à porta. Apareceu seu Virgílio, um senhor amável
com uma barriga enorme e barbas brancas.
Ele parece um pouco com papai noel, pensou Belisca, aliviado. Pororoca já conhecia seu Virgílio
há muito tempo e foi logo perguntando.
5
Este e os parágrafos que seguem são adaptações livres do início do conto "O Sorvete" de Carlos
Drummond de Andrade, [Sales, 1999].

30
Capítulo 1 31

_ Olá seu Virgílio! Como está o nosso time, o Cruzeirão? O senhor está precisando de alguma ajuda
hoje?
Seu Virgílio olhou para as crianças e abriu um amável sorriso.
_ Foi ótimo vocês aparecerem por aqui. Gostaria que limpassem o jardim. _ E ainda completou.
_ Vocês assistiram ontem à noite? Venceu o Cruzeiro o Atlético!
Belisca e Pororoca, que não tinham assistido o jogo, trataram logo da limpeza do jardim, tarefa
que lhes rendeu os ingressos para o filme daquela noite.
E tudo foi mais uma prova da inteligência inter-pessoal de Pororoca.

Para receber, doe primeiro,

era o que Pororoca sempre dizia.


Para Belisca, era claro que essa sentença é uma proposição. Entretanto, nem toda sentença é uma
proposição. Isso ocorre porque nem toda sentença é uma declaração que pode ser interpretada como
verdadeira ou falsa. A sentença

O senhor está precisando de minha ajuda hoje?

não é uma proposição. Ela é uma pergunta, cuja resposta é sim ou não.
Frequentemente, temos que ficar atento à notação das sentenças matemáticas para identificar quais
proposição elas expressão. Considere a declaração:

6÷3×2=4

Afinal, quando escrevemos


6÷3×2
que operação deve ser executada primeiro: a divisão ou a multiplicação? Caso seja a divisão, a
proposição
6÷3×2=4
é verdadeira. Mas, se for a multiplicação, então a proposição é falsa. E, finalmente, se não temos
nenhuma convenção para dizer qual operação deve ser executada primeiro, então a declaração não
é uma proposição.
Para evitar tais confusões, e fazer com que a declaração

6÷3×2=4

seja uma proposição, convencionam, na Matemática, que a operação da esquerda, a divisão, deve
ser executada primeiro. Caso seja multiplicação, a operação a ser executada primeiro, então utili-
zamos parênteses para expressar tal fato. Nesse caso temos:

6 ÷ (3 × 2) = 4

que é uma proposição falsa. Observe, ainda, que há uma outra convenção implícita nessa proposição:
inicialmente executamos as operações de divisão e multiplicação e somente após obter os resultados
é que comparamos os dois lados da igualdade.

• Conclusão importante:

Para possibilitar a interpretação de declarações na Matemática utilizamos


inúmeras convenções sobre as operações matemáticas.
As convenções matemáticas possibilitam a transformação de declarações
matemáticas em proposições.

31
32 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Entre nossos objetivos, um dos maiores é o de estabelecer relacionamentos.


E entre nossos maiores desafios, é o de mantê-los [Furrow, 2005].
E Pororoca sabia muito bem disso.
Como um jogo de prazer, cultivava conhecidos, amigos e pessoas amadas. Construía
sua rede de relacionamentos.6
Criatividade: Por que é importante construir uma rede de relacionamentos?
Criatividade: Defina 5 sentenças que não são proposições.
Criatividade: Vá à Internet e pesquise a vida do escritor Carlos Drummond de Andrade.
Aproveite e leia o conto: "O Sorvete".
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.10 Afinal, quem venceu: o cruzeiro ou o atlético?

Há vários tipos de sentenças que não são proposições. Uma dessas sentenças foi dita por Belisca.
Tudo começou quando ele limpava o jardim de seu Virgílio e machucou a perna.
Para proteger a ferida, Pororoca, muito inteligente, colocou a super fita adesiva marca "Prega
Tudo" por cima.
Uma semana depois, Belisca estava com um enorme problema. Como retirar a super fita adesiva
"Prega Tudo" de sua perna?
Devagarinho, com uma pinça, arrancando cabelinho por cabelinho, ou esperar um pouco mais até
que a fita se deteriorasse.
Como aquelas operações seriam muito lentas, Pororoca preferiu o método automático. Chamou
Belisca e disse.
_ Olhe para cima! Não olhe para sua perna!
Pororoca prendeu a super fita adesiva "Prega Tudo" pela ponta e, de um golpe só, a arrancou.
Foi mortal e Belisca expressou a sentença.
_ aiiiiiug − ∗ + s̆f n∞♦♣z§
A sentença anterior não é uma proposição. Ninguém consegue interpretá-la como verdadeira ou
falsa. Há também algumas sentenças engraçadas. Seu Virgílio disse para as crianças que "Venceu
o Cruzeiro o Atlético". Essa sentença também não é uma proposição. Ela é uma sentença dúbia
pois tem duas interpretações.

Ganhou o Cruzeiro do Atlético.


Ganhou do Cruzeiro o Atlético.

Quando expressamos uma propriedade matemática, ela tem que ser escrita de forma precisa. Não
pode haver mais de uma interpretação. Caso contrário, não teremos uma proposição, mas sim,
uma declaração dúbia.
Considere, por exemplo, a propriedade associativa da multiplicação:

• Propriedade associativa da multiplicação: Para quaisquer números a, b e c, temos:

(a × b) × c = a × (b × c).

Uma forma dúbia de escrever essa propriedade é a seguinte:


6
O conceito "Rede de relacionamentos" é muito importante em Empreendedorismo.

32
Capítulo 1 33

• Propriedade associativa da multiplicação (forma dúbia): Temos:

(a × b) × c = a × (b × c).

Essa forma é dúbia porque não dissemos quem são os símbolos a, b e c. Não dissemos que eles
são números e também não dissemos que são números quaisquer. Dado que tais fatos não estão
escritos de forma explicita na propriedade, então ela poderia ser interpretada, de forma errada,
como:

• Propriedade associativa da multiplicação (forma incorreta): Para quaisquer pessoas


a, b e c, temos:
(a × b) × c = a × (b × c).

• Propriedade associativa da subtração (forma incorreta): Existem números a, b e c, tais


que:
(a × b) × c = a × (b × c).

Seguindo esse raciocínio, as propriedades da existência do elemento neutro da multiplicação, dis-


tributiva e comutativa devem ser escritas na forma:

• Propriedade da existência do elemento neutro da multiplicação: Para qualquer número


a, temos:
a × 1 = 1 × a.

• Propriedade distributiva da multiplicação: Para quaisquer números a, b e c, temos:

a × (b + c) = (a × b) + (a × c).

• Propriedade comutativa da multiplicação: Para quaisquer números a e b, temos:

(a × b) = (b × a).

E para que todas essas propriedades não sejam ambíguas ou dúbias, estamos considerando as
interpretações usuais dos operadores de multiplicação e adição. Além disso, 1 é o numeral que
representa o número um.
As sentenças ambíguas são difíceis de serem interpretadas.
Por isso, alguém poderia pensar que elas não têm valor. Muito pelo contrário.
As ambiguidades são uma ótima fonte de inspiração para a Criatividade.
Elas nos fazem pensar de formas diferentes e ver o mesmo contexto, a mesma paisagem
sob vários ângulos.
A maioria dos humoristas, por exemplo, são ambíguos, o que os faz engraçados.
Quando alguém conta uma piada, o pensamento segue uma direção. De repente, a
ambiguidade da situação é percebida e o humorista dá o seu toque final.
O caipira disse: "Meu pai é um cabra lutador!". E seu amigo respondeu: "Puxa!
Então seu pai deve ser muito trabalhador e enfrenta a vida com resignação". O
Caipira respondeu: "Não! Meu pai é brigão mesmo, dá pernada em todo mundo".
As ambiguidades nos fazem pensar: Perguntaram ao pato por que ele não fez nada
quando viu a galinha apanhando do galo. Ele respondeu imediatamente: pato não tem
"pena" de galinha. Olhe, ainda, as ambiguidades paradoxais e de uso popular:

A arte é uma mentira que faz a gente captar a verdade. (Picasso)


Você só consegue empréstimo no banco se provar que não precisa dele.
O pouco que sei, devo à minha ignorância.
Se o malandro soubesse como é bom ser honesto, ele o seria, apenas por
malandragem.

33
34 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Conclusão! Não evite ambiguidades e nem paradoxos. Tire vantagens deles. Cultive
suas fontes de ambiguidades e seja criativo. Tente dar interpretações diferentes para
tudo que encontrar.
Criatividade: Defina 5 sentenças vagas que são de difícil interpretação e que não são proposições.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.11 O fogo, diante da probabilidade, escureceu o silêncio

E à cata de sensações amáveis, que poderiam fazer o coração balançar, Belisca e Pororoca foram
ao cinema.
E o filme? Qual era mesmo o filme que foram assistir?
Talvez isso não fosse o mais importante. Queriam primeiro ver o panorama pré-sessão do cinema,
o encontro da galera antes do início do filme.
E a cada menina que passava, Pororoca inspirava com força, enchendo seus pulmões.
_ O que é isso, Pororoca? Você está passando mal?
_ Eu! Eu estou é cheirando muito bem. Cheirinho de perfume francês, holandês, sueco e russo.
_ Puxa, você entende mesmo de perfume.
_ Não! Eu não entendo de perfume. Eu entendo de boneca perfumada. E sei que cada uma tem um
cheirinho diferente. Ora mais doce, ora mais suave e ora mais quero mais.
E as meninas perfumadas entraram para o cinema. E Belisca e Pororoca foram na sequência.
Lá dentro, se esborracharam nas poltronas macias sob o ar fresco do ar condicionado. Era muito
conforto, ao qual não estavam acostumados.
_ E o filme? Qual é mesmo o filme que vamos assistir?
_ Não se preocupe, Belisca. Isso é apenas um detalhe.
De repente, um certo comandante que estava lá na tela do cinema, fazendo parte do filme, gritou:
_ É fogo!
E Belisca e Pororoca se arrumaram nas poltronas, acordaram e começaram a assistir o filme.
Algumas sentenças declarativas são vagas. Elas declaram fatos vagos ou confusos, sendo muito
difícil ou mesmo impossível interpretá-las como verdadeiras ou falsas.
A declaração expressa pelo comandante é verdadeira ou falsa? Afinal, ele estava falando sobre
algum incêndio na nave, ou sobre o duro trabalho de comandar seus soldados, ou, ainda, sobre
coisas vermelhas que estavam se aproximando.
Quando a dificuldade de interpretação é muito grande, tais sentenças não são consideradas
proposições. Considere os exemplos de sentenças vagas.

As crianças de hoje em dia são mais inteligentes.

Para interpretar essa sentença é necessário definir o conceito de inteligência e isso é muito difícil.

A liberdade é a maior conquista de um povo.

Para interpretar essa sentença é necessário definir os conceitos de liberdade e conquista de um


povo. Considere ainda a sentença estranha,

O fogo, diante da probabilidade, escureceu o silêncio.

Essa sentença declarativa é de difícil interpretação. É razoável considerá-la como uma proposição?
Claro que não! Tente interpretar a sentença:

34
Capítulo 1 35

É possível ganhar muito dinheiro jogando bingo.

O conceito "muito dinheiro" é diferente para diferentes pessoas. Para um deputado, muito dinheiro
significa alguns milhões de reais. Para um trabalhador que ganha um salário mínimo, muito dinheiro
é algo como R$166.666, 66, que era mais ou menos o custo mensal de um deputado em 2006.
Portanto, para interpretar essa sentença é necessário definir o que significa muito dinheiro.
E por falar em políticos, por que há tanto descrédito e desconfiança em relação à
maioria deles?
Nas eleições, quase todos nos falam apenas ambiguidades e sentenças vagas de difícil
interpretação.
O objetivo é ganhar votos. Depois de eleitos, ganhando muito dinheiro e tendo várias
regalias, passam a viver uma realidade distinta daquela que a maioria das pessoas
vivem.
E, nesse modo de viver, não conseguem interpretar as necessidades dos homens co-
muns, como se fosse um deles.
Nesse momento, já não mais representam ninguém, são apenas ganhadores de salários
e defensores de interesses próprios.
Certamente, uma boa leitura para eles seria [Furrow, 2005], [Vásquez, 2005].
É também frequente a utilização de conceitos matemáticos na formulação de sentenças ambíguas.
Observe a sentença:

Para multiplicar, primeiro devemos dividir.

Certamente, nesse caso, não estamos falando das operações aritméticas. Isso, porque para multi-
plicar, utilizamos os algoritmos da multiplicação. E tanto na forma usual, como por decomposição,
os algoritmos da multiplicação não utilizam a divisão.
Portanto, se dizemos que para multiplicar é necessário dividir, estamos falando de outras forma
de multiplicação e de divisão. Logo, para que a sentença não seja ambígua, devemos esclarecer que
significado queremos dar, nesse caso, aos conceitos de multiplicação e de divisão.
Uma possibilidade para tais conceitos é aquela que considera o cuidado, a amizade e
o afeto que recebemos de outras pessoas.
Para multiplicá-los, devemos, inicialmente, dividí-los.
Em outras palavras, para multiplicar o cuidado que recebemos, devemos dividir nosso
cuidado, oferecer nossa amizade e afeto àqueles que nos são valorosos.
Criatividade: Defina 5 sentenças vagas que são de difícil interpretação e que não são proposições.
Responda se exclamações como: "Não fumar!", "Legal!" são ou não proposições.
Criatividade: Certamente, você já tem uma boa idéia sobre quem era Belisca e seu
amigo Pororoca. Com a ajuda de seu professor de Artes, faça algumas ilustrações
desses personagens.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.12 As linguagens do livro de Belisca

Este livro está sendo apresentado utilizando várias linguagens, sendo que cada
uma delas utiliza diferentes estilos e formas de letras. Quando estamos falando
sobre o narrador da história de Belisca, ou sobre o livro, nossa linguagem utiliza
letras maiúsculas pequenas e grandes (como estamos escrevendo agora). Este é um
parágrafo que fala sobre o livro, sobre sua forma e estilo de escrita. Ele expressa
as opiniões de um crítico do livro. Em computação, essa forma utilizada pelo crítico
do livro é denominada "Small caps shape", [Lamport, 1994].

35
36 A Primeira Aventura de Belisca no Mundo da Lógica

Quando o narrador narra sua história, o texto que representa sua linguagem é
escrito no estilo usual, como indicado a seguir. Em computação, esse é o estilo
"Roman family" [Lamport, 1994].
Belisca e Pororoca foram ao cinema e assistiram a "Jornadas nas Estrelas". Pororoca vibrou
com as espadas coloridas, super máquinas e planetas estranhos; e Belisca com a inteligência dos
computadores. . . .
Quando os personagens de nossa história falam, utilizamos outro estilo. A lin-
guagem da fala dos personagens é escrita utilizando o estilo "Sans serif family",
[Lamport, 1994], como indicado a seguir (frase dita por Pororoca).
_ Olhe para cima! Não olhe para sua perna!
Se o objetivo é explicar conceitos da Lógica, a linguagem utiliza a forma itálica,
que em computação é denominada "Italic shape", [Lamport, 1994]. Portanto, o
professor de Lógica escreve usando letras na forma itálica. Observe a explicação
do conceito de sentença.
Quando as pessoas se comunicam, elas exprimem idéias através de sentenças declarativas. Como
o próprio nome está dizendo, tais sentenças declaram alguma coisa.
Há ainda um outro tipo de linguagem na qual usamos a forma negrito, que em
computação é denominada "Boldface shape" [Lamport, 1994]. Os textos em negrito
não são diálogos de personagens, descrições do narrador, explicações sobre o livro
e nem sobre a Lógica. Esse estilo é utilizado em textos nos quais são considerados
conceitos gerais que não fazem parte da história de Belisca e nem são explicações
de fundamentos da Lógica. Digamos que esses são os textos escritos pelo Pensador.
Observe, por exemplo, o texto:
E por falar em políticos, por que há tanto descrédito e desconfiança em relação à
maioria deles? Nas eleições . . .
Temos, nesse caso, um comentário sobre os políticos.
Criatividade: Por que a seção anterior foi quase toda escrita utilizando letras
maiúsculas pequenas e grandes?
Criatividade: Por que há neste livro palavras "Criatividade" escritas utilizando
letras em itálico?
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

1.13 O super-homem e as convenções

Nas relações cotidianas entre os indivíduos surgem continuamente vários tipos de


problemas.
E para minimizá-los são admitidas convenções, regras, valores e princípios.
Uma importante questão é saber se tudo isso ajuda ou atrapalha.
É bom ou não seguir todas as convenções que nos são apresentadas?
A resposta é sim e não. Pode ser bom, dependendo da situação. Mas também pode
ser ruim.
Um super-homem (como definido por Nietzsche [Nietzsche, 1983]) é aquele que é
livre, totalmente livre, e consegue um pensar e agir sem as restrições de valores e
princípios.
O super-homem até consegue pensar e agir dessa forma, mas isso não significa que o
faça todo o tempo.
Quase sempre, são as convenções nossas aliadas. Logo, por que não utilizá-las, quando
são aliadas?

36
Capítulo 1 37

Imagine a leitura de um livro sem um conjunto mínimo de convenções sobre a lin-


guagem utilizada.
Nesse caso, as convenções da língua portuguesa são nossas aliadas.

linguagem tipo ou forma da letra exemplo


narrador roman family foram ao cinema
fala dos personagens sans serif family Olhe para cima!
crítico do livro small caps shape Esse livro é bom!
Pensador boldface shape super-homem é livre
professor de Lógica italic shape uma proposição é uma sentença
Lógica matemática

Tabela 1.2. Tabela de convenções das linguagens.

São também nossas aliadas, as convenções que estamos seguindo para escrever as
diferentes linguagens apresentadas neste livro. Temos vários tipos de linguagens,
como é resumido na Tabela 1.2.
Além das várias linguagens utilizadas neste livro, a tabela anterior, Tabela 1.2,
inclui também uma linguagem especial. A linguagem da Lógica.
A linguagem da Lógica é uma linguagem que utiliza símbolos matemáticos. Um dos principais
objetivos deste livro é o estudo da Lógica e, portanto, dessa linguagem.
Aguarde um pouco, pois os símbolos dessa linguagem serão apresentados a partir
do próximo capítulo.
Criatividade: Escreva, pelo menos, 5 símbolos utilizados na linguagem matemática.
Criatividade: Compare suas respostas com as de seus colegas.

37
Referências

[Adams, 1986] J. L. Adams, Conceptual Blockbusting, A Guide to Better Ideas, Addison-Wesley Publishing
Company, 1986.
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