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[Allen e motivos para o pioneirismo da Inglaterra]

Na análise econômica em perspectiva histórica, a qual esse curso tem como objeto de estudo,
deve-se atentar para as diferentes metodologias e ferramentas epistemológicas que são
utilizadas para que se tenham conclusões coerentes e que tais conclusões possam justificar
acontecimentos e princípios que muitas vezes possam ser comparáveis com a atualidade. Por
exemplo, quando Deidre McCloskey comparou as economias modernas com as medievais,
num vídeo para o canal Serious Science, a base que utilizou para comparar os salários se baseia
não apenas em uma transposição simplória de valores, mas sim em um resultado de exaustiva
pesquisa comparando diversos fatores institucionais, ambientais, entre outros. Essa análise
pode acabar por levar a diferentes conclusões entre os estudiosos em um assunto, dadas as
diferentes metodologias em que se baseiam. Um grande exemplo de uma desconformidade se
dá na arguição dos motivos que levaram ao pioneirismo da Inglaterra na Revolução Industrial.
Observe que existiam países com diversas variáveis econômicas semelhantes aos da Inglaterra,
sendo o maior exemplo a Holanda, e ainda vale destacar a China, cujas muitas colaborações
foram importantes até mesmo para o desenvolvimento pré-industrial na Inglaterra, e que já
tinha utilizado o carvão mineral durante as Dinastias Song e Ming.

Robert Allen apresenta em 2009(The British Industrial Revolution in Global Perspective) uma
interessante explicação para o fenômeno: Segundo ele, a Revolução teve uma base científica
que apenas seria possível graças a um mecanismo de incentivo ao desenvolvimento de
tecnologias inovadoras, e assim apenas a Inglaterra teria essas condições. Ou seja,
historicamente a Inglaterra teria tido uma certa prosperidade comercial, devido ao seu caráter
mercantil provocado por questões históricas e institucionais, associada a uma vantagem
geográfica que lhe proporcionara controle marítimo, e a prosperidade causada por esse
destaque comercial teria levado a um aumento na urbanização da Inglaterra, que teria
causado um aumento na especialização da mão de obra. Sendo assim, a mão de obra mais cara
teria tornado a mecanização mais atrativa, dado que a Inglaterra possuía grandes reservas de
carvão mineral, e assim teria os preços relativos mais baratos que em outros países. Assim,
isso implicaria que em um primeiro momento apenas a Inglaterra estivesse disposta a investir
nesse tipo de adaptação no trabalho, enquanto que ao passo que as tecnologias fossem
ficando mais eficientes, então outros países passassem a adotá-la. Esse argumento num
primeiro momento parece convincente, já que a eolípila já havia sido inventada milhares de
anos antes, mostrando que o homem já conhecia a possibilidade da conversão de calor em
energia mecânica, mas faltava motivos para avanços nesse sentido.

Essa teoria, segundo J.Mokyr, apresenta alguns furos. Isso porque a variável econômica preço
é endógena numa economia, dependendo de um equilíbrio tanto na oferta quanto na
demanda. Assim, apenas o fato de possuir grandes reservas não implicaria ter preços baixos,
pois para isso também era necessário um baixo custo na extração e transporte, e ainda faltou a
Allen estipular um contabilização da motivação das patentes criadas na época. Outra crítica de
Allen é vinda de McCloskey, que afirma que os baixos preços relativos não é condição
suficiente para o estímulo à redução dos preços que são relativamente mais caros. Ou seja, é
possível que mesmo com preços mais baratos a economia se impulsione de forma a barateá-
los ainda mais, e a professora dá exemplos de como que mesmo na Inglaterra eram
empregadas formas de poupar energia, como cavalos e rodas d’água. Além disso, McCloskey
argumenta que a Bélgica e Holanda se encontravam em situação parecida.

Aproveitando para explicar sobre J.Mokyr, o autor afirma que não foi durante a Revolução
Industrial que houve o maior progresso tecnológico e contínuo sustentado, e que se for
observado o bem estar nas cidades, as condições precárias de trabalho e a urbanização
desenfreada fez com que se reduzisse. Além disso, ele afirma que os maiores ganhadores de
excedente não foram os empreendedores, mas sim os grandes proprietários de terras. E
quanto ao pioneirismo da Inglaterra, ele aponta para fatores culturais, institucionais e
geográficos, além do que chama de “Iluminismo Industrial”, que segundo ele a grande
quantidade de livros e enciclopédias difundidos pela Inglaterra, associados a uma população
bem alimentada teria produzido grandes cientistas dispostos a desenvolverem as máquinas.

+Acemoglu e Robinson

Acemoglu e Robinson acreditam que a Revolução Gloriosa, junto com a “Declaration of Rights”
teve um papel destaque no cenário pré-Revolução Industrial; ao impor controle político do
parlamento em detrimento da nobreza, as instituições políticas teriam oferecido maior
garantia de direitos de propriedade privada, bem como de propriedade intelectual, além de
terem possibilitado destinar recursos voltados à infraestrutura, e essa base teria fornecidos
todos os incentivos necessários para a Revolução Industrial propriamente dita. Entretanto, o
problema nessa linha de argumentação, segundo Peer Vries se dá pelo fato que os direitos de
propriedade não necessariamente influenciavam positivamente os incentivos à inovação, uma
vez que esse poder de mercado poderia dificultar a entrada de novas tecnologias. Além do
mais, as instituições políticas não eram de todo republicanas, uma vez que frequentemente
usavam das verbas de forma patrimonialista, ou seja, de forma a proteger interesses
oligárquicos. Assim, falta na teoria de Ac/Robinson a consideração de fatores geográficos e um
contra exemplo é o fato de a Rússia ter tido crescimento econômico mesmo sendo uma
autocracia. Segundo Ogilvie&Carus, instituições públicas não necessárias para o
desenvolvimento de mercados, porém o parlamentarismo não necessariamente implica nisso,
e nem mesmo os direitos de propriedades garantem o desenvolvimento econômico.

[OPINIÃO]

Acredito que seja impossível atribuir condições suficientes a qualquer fenômeno histórico.
Assim sendo, não é possível responder a pergunta “por que tal evento ocorreu”, mas apenas
possível “quais foram as condições necessárias para que tal evento ocorresse”. Isso decorre da
própria forma com que o conhecimento se acumula, segundo K. Popper, de forma que a
informação é temporariamente aceita como verdade até que seja reformulada. Imagine se por
absurdo fosse possível atribuir condições suficientes a um evento mais recente, assim seria
possível simplesmente replicar essas condições para obter um desempenho parecido(que
justificaria grandes sacrifícios para atingí-las). O papel de um economista e historiador é
apenas avaliar as condições mínimas para que um evento ocorra, para aplicá-las de forma
eficiente, e não tecnocrata.

[Grande Divergencia]

A Grande Divergência é o termo usado para designar a milagre econômico que ocorreu no
Século XVIII na Europa Ocidental e América, cujo crescimento foi muito superior a outras
economias, como da Ásia. Como citado na minha outra prova, ocorreu uma onda revisionista
na análise histórica pela “new left”, a partir dos anos 70 que repercutiu também no estudo da
Revolução Industrial. O grande exemplo dessa revisão foi o posicionamento mais sionofílico de
K. Pomeranz em sua obra “The Great Divergence: China, Europe, and the Making of the
Modern World Economy”, que busca destacar as contribuições tecnológicas provindas do
Oriente, em conjunto com uma análise reflexiva sobre os impactos no meio ambiente. De fato,
essas contribuições tecnológicas tornavam a China parecida em vários aspectos econômicos
com a Europa. Um posicionamento mais conservador que vale menção é o contemporâneo de
Weber, D. Landes, que coloca as diferenças religiosas e culturais como um dos principais
fatores para esse atraso dos países asiáticos. Assim, segundo Landes, a China possuía
características políticas que tornavam a mão de obra ociosa, sem garantia de direitos de
propriedade, e características culturais que dificultava a absorção de conhecimento europeu.

Citando mais detalhes sobre a situação chinesa nessa época, pode-se observar que o
crescimento populacional era bastante elevado, e a mão de obra não era bem absorvida pela
agricultura, tornando a mão de obra ociosa. De Vries se posiciona contra a posição revisionista
de Pomeranz, argumentando que a vantagem da Inglaterra ter tido colônias apenas fortaleceu
uma vantagem já existente, conquistada por uma economia avançada (herdada da Pequena
Divergência), e que graças a essa economia organizada mesmo se a China tivesse os mesmos
recursos não seria capaz de liderar a Revolução Industrial. Os detalhes dessa economia
avançada foram discutidos por Broadberry, e vale destacar Goldstone, que afirma que ao invés
de a diferença cultural que garantiu a vantagem do ocidente estar enraizada em costumes já
muito antigos, se deu pelo caráter inovativo do iluminismo.

Segundo McCloskey, o que causou um enriquecimento em todo o mundo foi a reestruturação


de classes sociais, em especial a burguesia

[MENCIONAR ARTIGO DIREITOS DE PROPRIEDADE TORNAM MAIS PRODUTIVOS]


[Atraso Relativo]

Um dos fenômenos estudados no desenvolvimento econômico é a facilidade como que a


informação é transmitida uma vez que é alcançada, possibilitando a países com um atraso
tecnológico alcançarem os países lideres ao obterem a informação e o capital que necessitam,
o que é chamado de “catching up ”. Então, assim que a Inglaterra desenvolveu motores a
vapor mais sofisticados, como o de Watt, bastou para outros países mimetizarem a tecnologia
e aproveitarem o crescimento. Nos Estados Unidos, no começo do sécXIX, devido à baixa
densidade populacional, os retornos na agricultura eram elevados, fazendo com que boa parte
da mão de obra fosse agrária, e ao mesmo tempo isso tornava a construção de ferrovias e
balsas rentáveis, causando a “Revolução do Transporte”. Os americanos não foram impedidos
pelo tradicionalismo, já que mostravam forte interesse nas novidades desenvolvidas na
Europa, porém era ilegal exportar as patentes da Inglaterra, que retardou a absorção dessas
ideias. Mas quando Samuel Slater levou algumas das técnicas de industrialização para os
Estados Unidos, o que se observou foi uma rápida transição da mão de obra para centros
urbanos como Nova York e Chicago, e a industrialização principalmente no setor
têxtil(aquecido pela Inglaterra) garantia altos retornos para empreendedores. A partir de 1850,
os Estados Unidos passaram a desenvolver a própria tecnologia, que eventualmente levou a 2ª
Revolução Industrial nos Estados Unidos. Obseva-se que o papel do governo americano nesse
período foi de relativa proteção do mercado interno, representada pelo Pacto do Centeio, e
políticas Antitruste(ex. Sherman Act). Com os eventos da Guerra Civil, houve maior integração
dos mercados, e um aumento no salário real dos trabalhadores, e durante essa guerra houve
uma absorção de trabalho não especializado no setor industrial para a produção de armas, por
exemplo.

O atraso relativo na Alemanha se deu pela falta de uma unicidade monetária e política, que foi
eventualmente resolvida, com posterior forte estímulo à integração de redes de transporte. As
grandes minas de carvão foram descobertas a partir de 1750, mas se tornaram viáveis apenas
em 1815, e a Alemanha já possuía antes de sua industrialização grande dotação de capital
humano, com sistema educacional de referência, mão de obra capacitada e ética no trabalho.

Para ser mais detalhista, essa falta de integração era causada por uma sucessão de eventos,
como a Guerra dos 30 anos e as guerras contra a França e a Áustria, que levaram a uma divisão
em cerca de 39 províncias, com barreiras alfandegárias e burocracia entre elas. Por outro lado,
esses acontecimentos também causaram importantes mudanças institucionais na Alemanha,
que reduziram o poder das guildas e das estruturas herdadas do feudalismo, instaurando
novas leis de comércio. Uma diferença importante entre essas potências emergentes era que o
governo dos Estados Unidos tentava fortemente impedir a formação de cartéis, enquanto o
alemão tinha uma certa permissividade(por exemplo, assinar contratos de cartel era
legalizado). Isso acontecia porque, segundo Geiss(2013), havia forte tradicionalismo na
Alemanha, com instituições como a igreja, as aristocracias rurais e o próprio governo, que
formavam uma burocracia que desestimulava a entrada de novos empreendedores.

Durante 1830 e 1840 houve uma reorganização rural, que por causa principalmente da batata,
possibilitou um maior excedente alimentar e possibilitou uma maior urbanização.
Isso é refletido na tabela a seguir, retirada de Pfsister(2008):

Note o aumento entre 1800 e 1850 da produtividade rural.

Nota-se também que na Alemanha havia uma facilidade maior em tomar empréstimos em
comparação com a Inglaterra, e possuía programas assistencialistas do governo- alguns dizem
que os bancos foram os causadores do milagre econômico alemão(esses bancos de
investimentos, “D-Banken” concediam empréstimos no longo prazo para a industrialização).
Nos Estados Unidos, houve uma tentativa em 1790 do congresso em impor aos bancos que
eles cedessem empréstimos com o objetivo de fomentar a industrialização, porém essa
imposição era vista como inconstitucional e só durou até 1811.

[Para explicar o crescimento econômico aqui, nada melhor que usar o modelo de Solow]

Y = f( AL,K,T) Diz que o produto depende das dotações de ideias, capital físico,
produtividade do trabalho

Kt = Kt-1 + It - δ Kt-1 A quantidade de capital é a diferença entre o capital investido e o


capital depreciado

I = sY O investimento em capital é uma fração do produto

O modelo de Solow é utilizado para calcular o crescimento econômico quando o país está
longe da fronteira de conhecimento em tecnologia, ou seja, o desenvolvimento de tecnologias
é dado como exógeno no modelo. Um motivo para se usar esse modelo ao invés de um
modelo endógeno é que no estudo de Crafts(1995), que tentou aplicar modelos exógenos ao
crescimento da Inglaterra, porém concluiu que não é uma tarefa fácil extrair dados
satisfatórios com os dados empíricos disponíveis. Além disso é o modelo utilizado pelos
acadêmicos como Allen e Van Zanden para explicar os padrões de crescimento na Inglaterra.
Esse modelo fornece dados sobre o crescimento quando o processo produtivo é possibilitado
pelas instituições(segundo Cowen/Tabarrok).
Utilizando-se das informações de PDB em milhões dólares da Wikipedia, aproveitei para plotar
o gráfico de 1830 a 1900 abaixo:

Assim, observe até 1860 a variação taxa de crescimento da Inglaterra é mais acentuada,
enquanto que essa variação se torna maior para a Alemanhaaté 1890, que até 1910 parece ter
se estabilizado, atingindo o estado de crescimento estacionário(pois a taxa decrescimento não
cresce). Portanto, a velocidade de convergência da Alemanha a partir de meados do sec XIX
parece ter sido maior. . Tivemos então a Alemanha como uma economia emergente com alta
velocidade de convergência, possibilitado pelos mecanismos de flexibilização que começaram
a partir dos tratados de Zollverein.

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