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e Escrita
Linguagem Oral Fernando Wolff Mendonça
e Escrita
Edição revisada
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
__________________________________________________________________________________
M494L
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-2864-1
Referências..............................................................................................................................75
N
o momento em que você põe os olhos num texto, você o lê. Por que você leu? Que proprie-
dade é esta que as palavras tem de fazer com que você retire delas formas constantes de um
repertório de imagens e significados? Placas, sinais, ruas, filmes, livros, bilhetes, todas essas
manifestações só existem porque existe linguagem.
Agora, lembre-se de sua infância, mais precisamente de sua época de aluno alfabetizan-
do ou de um fato ocorrido neste período. Como você o fez? Percebeu o papel deste discurso
interno ou interior? Ele possibilitou a busca de eventos na sua memória à medida que você
conversou e falou consigo. Lembre-se da novela, da emoção representada pela ação da vilã,
pelo beijo apaixonado do par romântico. Sim, além de possibilitar uma convivência social, a
linguagem cria e desperta emoções, sentimentos e memórias.
Já que estamos abordando a memória, lembramos que o estudo da história do homem é
dividido em período pré-histórico (o homem sem a escrita) e a história (após a invenção da es-
crita). Ou seja, o homem, gradativamente, enquanto agia sobre o mundo natural, foi criando um
poderoso instrumento que lhe permitiu agir não só com o meio natural, mas com o meio social.
Como consequência, transformou e continua transformando as pessoas à proporção que este ins-
trumento evolui socialmente. Um bom exemplo disto, atualmente, está na substituição do apagar
pelo deletar, contingência da era da informática na linguagem cotidiana.
Como você percebe, a linguagem é um instrumento poderoso para que a nossa mente pos-
sa operar, ela está viva na nossa mente. Mas, ao pensarmos assim, uma grande dúvida sempre
nos vem à cabeça: como a linguagem chegou até a minha mente? Ela é uma apropriação? Ou
ela é um dom da espécie? Por que cada uma das culturas possui idiomas característicos à sua
comunidade? Por que a nossa linguagem se transforma quando frequentamos lugares diferen-
tes em nosso país? Ao conseguirmos falar e nos comunicar com diferentes grupos culturais
dentro e fora de nossa cultura, será que entendemos como a linguagem inicial, ou a língua
materna, chegou à nossa mente? Que contribuições a Linguística e a Psicolinguística têm para
nos ajudar no entendimento do processo de uso e da aquisição da linguagem?
A proposta de abordagem deste tema está relacionada à linguagem enquanto prática social.
Vê-se nesta perspectiva uma linguagem viva e dinâmica, que se transforma socialmente e que os
sujeitos de interação com esta linguagem devem apropriar-se para estar participando ativamente da
realidade social na qual estão inseridos. Afinal, nos humanizamos à medida que nos apropriamos do
uso e da forma da linguagem e, como educadores, somos os elementos mediadores da apropriação
deste instrumento pelas crianças em seu processo de humanização.
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As diferentes linguagens da linguagem
As abordagens da linguagem
Na literatura existem diferentes formas de se abordar a linguagem, mas,
basicamente, estas diferentes abordagens emergem de três grandes vertentes. A
primeira vertente é aquela que busca entender a linguagem como algo externo ao
indivíduo. A segunda vertente é a que crê que a linguagem é um fenômeno inter-
no, do cérebro humano e está vinculada à natureza inata do ser. E uma terceira
proposição é a da natureza social, na qual vemos a linguagem como uma constru-
ção inteligente do homem e que, pela prática dialógica, vai sendo ressignificada de
sujeito para sujeito à medida que homens e sociedade evoluem.
Na primeira situação, a da linguagem como algo externo ao sujeito, ela é um
produto da comunicação entre os seres e é constituída de um conjunto de regras e
formas com o qual os sujeitos devem fazer uso no momento necessário. A lingua-
gem é vista como um código, algo que está posto e seu conjunto está estruturado
de forma fonológica, sintática e semântica e, para tornarmos sujeitos que fazem
uso da linguagem, devemos usá-la com todas as suas características estruturais.
Ela pode ser representada pelo diagrama a seguir:
MENSAGEM
EMISSOR RECEPTOR
CÓDIGO
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As diferentes linguagens da linguagem
1. Converse com seu colega de turma e pergunte se ele já vivenciou situações em que uma falha de
comunicação levou-o ao engano, se ele conhece alguma pessoa que após uma doença perdeu a
linguagem, ou se ele já viu cartazes/propagandas com falhas, mensagens confusas ou linguajar
popular.
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As diferentes linguagens da linguagem
2. Identifique em seu grupo social pessoas de outras localidades e culturas e analise as dife-
rentes manifestações da linguagem presentes na fala destes indivíduos. Elabore uma amos-
tra e converse com o grupo.
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As linguagens
e as relações sociais
Linguagem, cultura e cognição
É interessante percebermos as diferenças que surgem em um diálogo entre duas pessoas. Se você
imaginar a situação a seguir podemos entender melhor do que se trata.
Imagine que você foi ao Fórum de sua cidade, acompanhando um colega que tem uma audi-
ência judicial. Uma pessoa, aparentando péssimas condições de vida social e cultural, entra, aborda
seu amigo e lhe pede um auxílio. Seu amigo, preocupado e nervoso porque está a ponto de entrar na
audiência, responde bruscamente a esta pessoa, mas ao chegar à antessala do julgamento encontra seu
advogado e conversa com ele de maneira muito educada e firme. Imediatamente seu amigo é chamado
à sala de julgamento e então, em um tom de voz diferenciado, humilde e submisso busca explicar os
acontecimentos ao juiz.
Como você analisaria este caso? Que relações existem em cada uma destas situações? Que as-
pectos da linguagem se encontram presentes nesses diferentes momentos?
O que aconteceu nessas situações reflete as diferentes manifestações que a linguagem assume
em nossa sociedade. Usamos a linguagem como elemento de posicionamento social e cognitivo. No
ambiente em que vivemos, ter acesso ao conhecimento e às formas de sua produção nos colocam de
forma diferenciada em relação aos que não os têm. Assim, a linguagem faz com que possamos assu-
mir papéis sociais, autoafirmarmos sobre quem somos ou deixamos de ser, e ela manifesta o interior
dos pensamentos da pessoa que fala.
Regionalismos
Então, se a linguagem representa um universo social e um universo in-
dividual, ao conversamos com as pessoas podemos entender que, ao se expressa-
rem, elas trazem a região, a cultura e as formas de ver e compreender o mundo.
Assim, percebemos que na fala do nordestino brasileiro, no gaúcho, no mineiro,
seu linguajar traz uma quantidade variada e interessante de costumes, crenças e
conceitos que não encontramos mais em regiões do litoral do Sudeste. O regiona-
lismo de um país com dimensões tão grandes ou de culturas tão distintas, como
o Brasil, reflete sua história, hábitos e costumes. Assim, devido aos fluxos migra-
tórios de uma sociedade em busca de oportunidade, não é raro você encontrar em
uma sala de aula pessoas com diferentes formas de ver o mundo e concebê-lo.
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As linguagens e as relações sociais
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As linguagens e as relações sociais
força simbólicas através dos meios simbólicos. Dessa forma, segundo o referido autor, “não se
deve esquecer que as trocas linguísticas – relações de comunicação por excelência – são tam-
bém relações de poder simbólico onde se atualizam as relações de força entre os locutores ou
seus respectivos grupos” (p. 24).
Conforme Bourdieu, o modelo de produção e circulação linguística é uma relação entre
os habitus linguísticos (as disposições, socialmente modeladas) e os mercados linguísticos nos
quais eles oferecem seus produtos. A sua análise da economia das trocas linguísticas oferece
instrumentos para se compreender fenômenos relativos à produção, distribuição e consumo da
linguagem inscritos nas relações sociais, entre elas, a escolar.
Muitas crianças, para não correrem o risco de serem criticadas por falar errado, prefe-
rem calar a boca e reduzir o que tiverem de escrever ao mínimo possível, para não se expor às
observações do tipo pobreza de vocabulário, falta de sentido, erro ortográfico etc. Segundo a
perspectiva de Bourdieu, as palavras são bens que são trocados, na escola. O falante (o aluno)
coloca seus produtos nesse mercado linguístico que é:
Estritamente sujeito aos veredictos dos guardiões da cultura legítima, o mercado escolar encontra-se estri-
tamente dominado pelos produtos linguísticos da classe dominante e tende a sancionar as diferenças de ca-
pital preexistentes. O efeito acumulado de um fraco capital escolar e de uma fraca propensão a aumentá-lo
através do investimento escolar que lhe é inerente condena as classes mais destituídas às sanções negativas
do mercado escolar, ou seja, à eliminação ou à autoeliminação precoce acarretada por um êxito apagado.
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As linguagens e as relações sociais
Os desvios iniciais tendem, portanto, a se reproduzir, pelo fato de que a duração da inculcação tende a variar
tanto quanto seu rendimento, fazendo com que os menos inclinados e menos aptos a aceitar e a adotar a lin-
guagem escolar sejam também os que se expõem menos tempo a essa linguagem, bem como aos controles
e sansões escolares. (BOURDIEU, 1998, p. 50)
Com efeito, Bourdieu reflete sobre a relação professor-aluno, mostrando-a como tensa e
não instaurada sobre a singularidade dos alunos. Caminhando nessa mesma direção de análise,
Alkmin afirma que é necessário muito mais
[...] pensar a realidade social do que a realidade linguística. Sabemos que a utilização da língua é regida por
um conjunto de regras sociais que regulam a pertinência ou não, a adequação ou não dos comportamentos
linguísticos. Ou seja, tanto para a escrita como para a fala, existem restrições e assentimentos quanto ao
seu uso: há punições previstas para quem infringe essas regras que vão desde estar exposto à galhofa até
não ser aceito em empregos, por exemplo. Não podemos perder de vista que a hierarquização das formas
linguísticas é calçada em valores que refletem a estrutura de uma sociedade, no caso da nossa, a de uma
sociedade de classes.
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As linguagens e as relações sociais
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As linguagens e as relações sociais
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As linguagens e as relações sociais
1. Organize grupos com os seus colegas de curso, nos quais sejam utilizados como exemplo situações
onde haja a necessidade de se pedir um aumento de salário para o chefe autoritário, uma conversa
com o delegado onde você foi vítima de um roubo e a professora que conversa com um aluno que
está com dificuldades escolares. Compare as propostas com as demais pessoas e perceba, com a
ajuda do texto, as diferentes maneiras de usar a linguagem.
2. Analise, depois da atividade anterior, que papel teve o seu planejamento mental para a realiza-
ção da tarefa e discuta com os demais.
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A história do homem
é a história da linguagem
Aspectos biológicos do surgimento da linguagem
E
ntender a linguagem como uma prática social implica em entender o homem como um ser so-
cial. Para entendermos o homem desta forma é preciso conhecer as grandes transformações que
ele sofreu ao longo de sua existência.
A estação em pé, a liberação da mão e a configuração da face fizeram do hominídeo um ser
diferente dos demais seres biológicos. Em primeiro lugar pelo desenvolvimento do próprio cérebro,
que passa de 800cm3 nos primeiros hominídeos para aproximadamente 1 500cm3 no homem atual.
Estas transformações causaram grande impacto na vida humana à medida que, por estar em pé,
ele muda seu centro de gravidade e, por consequência, sofre as influências de uma nova postura na
prole, que começa a nascer prematura devido a esta nova posição. Esta condição obriga ao homem
formar grupos fixos de convivência, ou grupos sociais, pois as grandes saídas levavam à morte dos
descendentes imaturos. Ao fixar residência, o homem então precisa criar meios de sobrevivência.
Assim, segundo Pino (1993), “tais transformações estão na origem da atividade produtora do ho-
mem. Esta atividade se manifesta, de forma particular, na produção de instrumentos – com os quais o
homem transforma a natureza, imprimindo-lhe sua marca”. Desta forma começa a transformação do
meio natural pelo homem, que cria condições para sua sobrevivência por modificar a condição natural
das coisas.
Uma vez a mão liberada, ela assume papel multifuncional, pois com ela o homem transforma as
coisas naturais em artificiais, dando a estas uma função instrumental ou mediadora da intervenção do
homem sobre a natureza. Por outro lado, esta mesma mão criadora, ao associar-se ao instrumento cria
a técnica e o gesto, formas de expressão da maneira pela qual o homem modificou o ambiente.
O mico tem mãos desajeitadas porque todos os seus dedos se movem de uma só vez. Os
dedos das mãos de outros macacos movem-se melhor, mas somente o polegar do chimpan-
zé e do homem é capaz de encostar nos outros dedos e segurar até mesmo uma bolinha.
Observe o desenho:
Pela nova configuração da face, o reposicionamento da laringe, mais abaixo do que quando o
homem apoiava as mãos no chão, permite o surgimento do som. Esta possibilidade associada ao que
foi proporcionado pela mão faz com que técnica e movimento criem o gesto e a comunicação, fatores
característicos da linguagem.
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A história do homem é a história da linguagem
A necessidade de manter-se em
grupo para sobreviver
Analisando estas características no âmbito de um grupo social, podemos
perceber a emergência de um conjunto de modos de representação comum a
este grupo. Afinal, quando um grupo usa os mesmos sistemas de representação
e de simbolização, estão valendo-se de características de uma língua como ins-
trumento de comunicação de um povo.
Assim, o homem passou a criar uma ação diferenciada dos demais seres. Uma
ação ativa pois, segundo Pino, porque “está marcada pela atividade produtora que a
transforma de acordo com os projetos elaborados em função de determinados objeti-
vos”, e também uma ação dialética pois “ao transformar a natureza, o homem trans-
forma-se desenvolvendo funções mentais e suas habilidades técnicas” (1993, p. 10).
Levando em conta que desde a criação destas habilidades e instrumentos
culturais o homem vem produzindo cultura, percebemos que a história do homem
é transmitida dentro da própria escola. Então, estudamos o homem desde a sua
pré-história, e quando analisamos os instrumentos produzidos pelo mesmo vemos
que quando ele vai transformando a natureza, vai elaborando instrumentos mais
sofisticados e técnicas mais elaboradas para a sua produção.
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A história do homem é a história da linguagem
1. Pense na frase: “Parece que a cada dia que passa as crianças estão aprendendo cada dia mais
cedo”. Explique o papel que a tecnologia pode causar no desenvolvimento da linguagem da
criança atualmente.
2. Defina a palavra ecologia. Explique qual é a correlação entre ecologia, domínio da natureza e o
impacto social sobre o desenvolvimento humano.
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A história do homem é a história da linguagem
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Os estudos científicos
da linguagem
O
estudo da linguagem ocorre desde o surgimento da própria ciência. Buscar para ela uma
origem já fez parte dos mais diferentes estudos ao longo da própria evolução social e cien-
tífica. Os debates entre os papéis do ambiente ou do organismo na constituição dela esta até
mesmo nos clássicos filosóficos pré-socráticos.
Porém, à medida que a ciência vem evoluindo ao longo das civilizações e principalmente a par-
tir dos princípios cartesianos de ciência, os debates sobre se a linguagem era uma questão biológica
ou social acirrou-se criando entre os pesquisadores diferenças que os têm separado até mesmo nos
dias de hoje. O ponto de vista biológico e o ponto de vista ambiental estiveram presentes nos estudos
da Medicina, da Psicologia, da Linguística e da Filosofia.
Aspectos comportamentais
Com o avanço dos estudos e as descobertas do início do século XX sobre o papel do cérebro
na linguagem, devido às áreas cerebrais e do ambiente, mediante a imitação ou condicionamento,
esta questão aumenta ainda mais de importância. Assim, é muito comum que este debate sobre a
origem social ou biológica venha a ser representado, ainda hoje, de diferentes maneiras. Afinal, a base
do estudo que se busca ainda exerce influência determinante sobre o ponto de vista daquele que fala
sobre linguagem.
Para quem trabalha com a educação, esta temática se reveste de importância na medida em que
cada dia mais cedo a criança está institucionalizada em escolas, e que o professor terá um papel ainda
mais importante no desenvolvimento da linguagem.
Portanto, é importante identificarmos como os cientistas construíram suas perspectivas sobre a
linguagem e sua aquisição. Levaremos em conta as perspectivas que analisam o ambiente, a aptidão,
os aspectos cognitivos e as que trazem a interação entre eles.
Em primeiro lugar, podemos definir os estudos por aqueles que descrevem a linguagem como
um comportamento social aprendido por imitação direta ou por condicionamento. Esta escola
conhecida por comportamentalista, defendida principalmente pelas ideias de B. F. Skinner. Este autor
defende que a linguagem é produto da natureza humana e que a criança aprende esta linguagem por
causa do ambiente a que estão expostas.
Para tal, foram propostos dois mecanismos para esta aprendizagem: a imitação e o condiciona-
mento. Por imitação defende-se que a criança vai moldando seu linguajar de acordo com a fala pro-
duzida pelos adultos, ela repete as falas que eles produzem e à medida que ela realiza acertos destas
falas, passa a fazer uso destas em seu repertório comportamental comum.
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Os estudos científicos da linguagem
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Os estudos científicos da linguagem
Contribuição à Linguística
Syntactic Structures foi uma destilação do livro Logical Structure of Linguistic Theory
(1955), no qual Chomsky apresenta sua ideia da gramática gerativa. Ele apresentou sua teoria
de que as oralizações ou discursos (quaisquer palavras, frases ou sentenças emitidas por uma
pessoa) correspondem a estruturas superficiais abstratas, as quais, por sua vez, correspondem
a estruturas profundas ainda mais abstratas (esta difícil distinção entre estruturas de superfí-
cie e estruturas profundas não está mais presente nas versões atuais de sua teoria). Na teoria
de Chomsky, regras transformacionais (juntamente com regras de estrutura de frases e outros
princípios estruturais) governam ao mesmo tempo a criação e a interpretação das oralizações.
Com um limitado conjunto de regras gramaticais e um conjunto finito de palavras, o ser huma-
no é capaz de gerar um infinito número de sentenças, a incluir sentenças que ninguém ainda
disse antes. Desta maneira, Chomsky concluiu que a capacidade para estruturar as oralizações é
inata ao ser humano (isto é, é parte do patrimônio genético dos seres humanos) e que Chomsky
chamou de gramática universal. Segundo Chomsky, nós não temos consciência desses princí-
pios estruturais assim como somos não temos consciência da maioria das nossas outras proprie-
dades biológicas e cognitivas.
As recentes teorias de Chomsky (como o seu Programa Minimalista) são fortes reivindicações
sobre esta gramática universal. Entre outras afirmações, Chomsky diz que os princípios gramaticais
subjacentes às linguagens são completamente fixos e inatos e que as diferenças entre as várias lín-
guas usadas pelos seres humanos através do mundo podem ser caracterizadas em termos de con-
juntos de parâmetros cerebrais (como o parâmetro pro-drop, que indica se um sujeito explícito
sempre é exigido, como no caso da Língua Inglesa, ou se pode ser opcionalmente deixado de
lado, como no caso do Espanhol).
Esses parâmetros são frequentemente assemelhados a interruptores (como os que acen-
dem e apagam uma lâmpada). Daí o nome principles and parameters, frequentemente dado a
este conceito. Nesta abordagem, uma criança que está a aprender uma língua precisa adquirir
apenas e tão somente os itens léxicos necessários (isto é, as palavras) e os morfemas, para de-
terminar os conjuntos apropriados de parâmetros.
Este é um trabalho que ela pode realizar com base em apenas alguns exemplos primor-
diais. Esta abordagem baseia-se na rapidez espantosa com a qual as crianças aprendem línguas,
pelos passos semelhantes dados por todas as crianças quando estão a aprender línguas e pelo
fato que as crianças realizam certos erros característicos quando elas aprendem sua língua-mãe,
enquanto que outros tipos de erros aparentemente lógicos nunca ocorrem. Isto deve acontecer,
segundo Chomsky, porque as crianças estão a empregar um mecanismo puramente geral (isto
é, baseado em sua mente) e não específico (isto é, não baseado na língua que está sendo apren-
dida).
As ideias de Chomsky influenciaram fortemente alguns pesquisadores que investigavam
a aquisição de linguagem pelas crianças, muito embora a maioria de pesquisadores que traba-
lham nesta área atualmente não apoia suas teorias. Frequentemente, alguns deles preferem
teorias emergentistas ou teorias conexionistas que se baseiam em mecanismos de processamento
geral no cérebro.
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Os estudos científicos da linguagem
1. Por muitas vezes ouvimos de diferentes pessoas e profissionais, quando falam de uma criança
que ainda não fala, que devemos aguardar um período de tempo para que ela fique pronta e pos-
sa falar. Com base nesse comportamento, podemos identificar se essa pessoa acredita em uma
linguagem aprendida por comportamento ou em uma linguagem inata? Explique os motivos
que levam você a afirmar sua resposta.
2. Em outras circunstâncias, costumamos achar bonito quando uma criança faz uma troca tipo bola –
boínha (como em: “Mãe! Cê viu minha boínha di futibói!”) e rimos achando engraçadinho, ou até
fazemos cafunés pelo erro de ingenuidade da criança. Essa atitude pode ser considerada um
reforçamento? A criança pode continuar a falar errado só porque rimos e a afagamos? Como
deve ser a nossa atitude? Discuta.
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As perspectivas
interacionistas de linguagem
O
estudo científico tem buscado compreender a linguagem a partir de perspectivas de estado
em que ora são privilegiados os aspectos pertinentes ao corpo, ao inato a capacidade gené-
tica do indivíduo, ora ao caráter ambiental, comportamental, imitativo ou condicionado de
sua manifestação.
Porém, desde o momento em que estas perspectivas encontraram dificuldades para explicar o todo,
ou seja, o fenômeno da linguagem em seus múltiplos aspectos, outros autores buscaram superar estas
perspectivas ao proporem novas formas de entender esta manifestação cognitiva e socialmente humana.
Dentro destas proposições, manifestam-se e destacam-se as perspectivas interacionistas, en-
tendidas como aquelas nas quais o biológico e o ambiental assumem papel ativo na constituição do
sujeito, ou seja, que não existe fator preponderante, mas as influências são corresponsáveis. Os repre-
sentantes desta visão de sujeito são Piaget, com sua proposta de epistemologia genética, e Vygotsky,
com a perspectiva sociocultural.
Para entendermos como estas perspectivas veem a linguagem, temos de analisar alguns dos
fundamentos colocados por elas para explicar o desenvolvimento humano.
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As perspectivas interacionistas de linguagem
A perspectiva de Vygotsky
Para Vygotsky, nascemos imersos em um mundo em que os sistemas de
relações estão constituídos ao longo de um processo histórico, ou seja, nascemos
em grupos sociais que, por necessidade de sobrevivência, criaram códigos que
servem para comunicar os conhecimentos adquiridos pelos mesmos aos demais
integrantes e àqueles que estão iniciando na vida social, ou como nas palavras de
Leontiev (1977, p. 267):
Podemos dizer que cada homem aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando
nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe preciso ainda entrar em relação com
os fenômenos do mundo circundante, através de outros homens, isto é, num processo de
comunicação com eles.
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As perspectivas interacionistas de linguagem
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As perspectivas interacionistas de linguagem
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As perspectivas interacionistas de linguagem
pois, para Vygotsky, o desenvolvimento evolui da fala social para egocêntrica, uma vez que a
“a função primordial da fala, tanto nas crianças quanto nos adultos, é a comunicação, o contato
social. A fala mais primitiva da criança é, portanto, essencialmente social” (1998, p. 23). Em
outras palavras, o que Vygotsky descreve em suas pesquisas é que o desenvolvimento do pen-
samento vai do social para o individual. Porém, segundo a interpretação de Vygotsky, os seus
resultados divergem tanto do esquema de Piaget quanto do esquema behaviorista, pois, segundo
Vygotsky, no esquema de Piaget o desenvolvimento do pensamento na criança “parte do pensa-
mento autístico não verbal à fala socializada e ao pensamento lógico, por meio do pensamento
e da fala egocêntricos” (1998, p. 24). Já no esquema behaviorista, o desenvolvimento parte da
fala oral após utilizar o sussurro para chegar à fala interior.
Para finalizar, o que se percebe ao analisar o texto é que Vygotsky considera as pesquisas
de Piaget como fundamentais para a psicologia, porém, há divergências fundamentais nos re-
sultados encontrados pelos dois autores. Entretanto, como foi dito anteriormente, as críticas de
Vygotsky devem ser aceitas exclusivamente para as duas obras que ele analisou – o próprio Pia-
get quando teve acesso ao texto escrito por Vygotsky concordou com as suas críticas. Por outro
lado, ao se analisar as demais pesquisas desenvolvidas por Piaget, percebe-se que as críticas de
Vygotsky não teriam mais fundamento.
(PASQUALOTTI, Adriano. A Teoria de Piaget sobre a Linguagem e o Pensamento da Criança. Disponível em:
<http://vitoria.upf.br/~pasqualotti/Vygotsky.htm>.)
1. Com base nas aulas, fica claro que, para Piaget, o pensamento da criança precede o desenvol-
vimento da linguagem. Procure no texto em que situações isso fica claro e dê um exemplo,
levando em consideração sua experiência de vida.
2. Para Vygotsky, nascemos imersos em um mundo de linguagem, ou seja, uma sociedade falante
e simbólica da qual a criança já faz parte desde sua mais tenra idade. Esse fato, analisado den-
tro da perspectiva dele, é motivo suficiente para entendermos que a criança será estimulada à
apropriação da linguagem por interagir com sujeitos e significados dos falantes da comunidade
em que ela está inserida, ou seja, a apropriação da linguagem será concomitante e estimuladora
do pensamento infantil. Do seu ponto de vista, isto está coerente com o desenvolvimento da
criança? Discuta com seus colegas.
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A linguagem
e o cérebro humano
O
entendimento dos processos que são subjacentes à linguagem e sua manifestação tem sido,
ao longo dos anos, uma área de intenso debate dentro da psicologia. As questões pertinentes
aos fatores educacionais e naturais da sua aquisição têm levado uma grande quantidade
de teóricos a exporem diferentes tipos de posicionamento sobre esta categoria do comportamento
humano.
Linguagem mente
pensamento
Mundo emoção
cultural vontade
z a do operações mentais
Mundo aprendi
natural
percepção sincronização
cérebro
Luria, a partir das vítimas que enfrentavam as mazelas e sequelas da Segunda Guerra Mundial,
desenvolveu sua abordagem sobre a mente humana. Nela, Luria (1973) propõe os sistemas funcionais,
de composição extremamente complexa, como forma de entendermos o funcionamento da base ce-
rebral do processamento da linguagem. Nela acredita-se “na interação da linguagem com todos os
processos psíquicos superiores, sobre sua localização dinâmica e sistêmica no cérebro e de seu papel
organizador na formação e desenvolvimento destes processos” (svietkova, 1985).
A neuropsicologia, disciplina que estuda as funções cognitivas mediante a análise de pacientes
que apresentam lesão cerebral e, com base nestes sujeitos, segundo Eysenck e Keane (1994) “estabe-
lece conclusões sobre o processo cognitivo normal a partir dos padrões das capacidades ilesas e com
déficits observadas”. Por isto, seus estudos sobre a linguagem acabam por contribuir significativa-
mente para o entendimento do processamento dela. Nos últimos anos, os estudos sobre esta função
cognitiva têm levado a muitas publicações sobre as suas mais diferentes questões.
Luria (1987, p. 11) ao desenvolver seus estudos neuropsicológicos dentro da abordagem sócio-
-histórica, fundamentada nas ideias de Vygotsky, realiza um abrangente estudo com sujeitos afásicos,
construindo um grande referencial sobre as funções da linguagem interna e sobre o processo enun-
ciativo. Ele nos diz:
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A linguagem e o cérebro humano
Desta forma, ele nos esclarece que se buscamos a análise das características
humanas de comportamento devemos buscar algo mais que a experiência imediata
e sensível, ele nos cita Vygotsky, quando este diz que “devemos buscar as origens
desta vida consciente e do comportamento ‘categorial’, não nas profundidades do
cérebro, mas nas condições externas da vida e, em primeiro lugar na vida social,
nas formas histórico-sociais da existência do homem” (luria, 1987, p. 21).
Assim, ao abordar as questões pertinentes ao processamento neuropsicoló-
gico da linguagem, parte-se da análise dos processos imediatos, ou seja, aqueles
determinados pela referência modular do processamento da informação e, poste-
riormente, estabeleceremos a análise do pensamento categorial descrito por Luria,
buscando as formas complexas de linguagem.
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A linguagem e o cérebro humano
As informações contidas nas palavras articuladas tendem a ser ambíguas, e que o padrão
de som para qualquer fonema dado não é constante, a compreensão da fala envolve com
frequência o uso de processos do tipo top-down, (das funções de decisão para as funções
executoras) que são baseadas em informações contextuais relevantes.
1. Podemos entender pelo texto que existem duas formas de organização da informação na mente
humana: a perceptível e a categorial. Pesquise com seus colegas as diferentes conceituações que
essas palavras assumem no contexto da linguagem.
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A linguagem e o cérebro humano
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Como aprendemos a falar
N
ão nos damos conta de como a construção da habilidade de utilizar a linguagem incorpora
uma série de fenômenos interacionais complexos e abrangentes. Sempre que partimos do
estudo interacionista sobre a linguagem surge a questão: é o cognitivo que impulsiona a lin-
guagem ou é a linguagem que puxa o desenvolvimento cognitivo?
Normalmente, essa questão é ressaltada por diferentes enfoques teóricos que, por diversas
vezes, despertam a curiosidade no profissional que atua com a linguagem no seu dia a dia.
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Como aprendemos a falar
O papel da interação e da
imitação na apropriação da linguagem
Ao lermos o quadro anterior, buscamos entender a relação existente entre
as partes que proporcionam o surgimento das formas complexas de comunicação
humana. A relação inicial entre mãe e criança na qual as relações de afeto e de
língua materna vão se entrelaçando em um processo interacional em que o adulto
assume o papel de dar formas sociais ao comportamento da criança, interpretando
seus atos e gestos tratando-a como um ser social.
Com isto, a criança passa a prestar atenção ao jogo de interação que se
estabelece e vai respondendo com as características de resposta pertinentes a sua
imaturidade cerebral. Afinal, sua laringe está se posicionado e permitindo a ex-
periência de emitir sons que serão interpretados pelo adulto neste jogo de papéis
atribuídos. Desta forma, a criança – pela imitação e aceitação do jogo – passa
a perceber as formas de elocução da mãe e a responder com jogos vocais que,
interpretados pelo adulto, serão redirecionados para uma etapa da palavra que a
criança ainda não produz.
Um exemplo desta situação encontra-se quando a criança, experimentando
a vocalização, emite sons como /aaaa/ e os interrompe com os lábios, produzindo
o /ma/ que, interpretado pela mãe, assume um /ma/ de /mãe/, o que faz com a mãe
produza para a criança automaticamente a palavra mamãe, criando um avanço em
relação à fala anterior da a criança. Desta forma, o jogo de percepção sonora passa
a um nível silábico acrescendo um momento mais elaborado ao desenvolvimento
da linguagem da criança. Este jogo vai se requintando até atingir formas léxicas e
sígnicas de vocalização à medida que os objetos vão se tornando parte integrante
de jogo.
Este jogo vai dando forma à consciência que a criança faz do mundo, das
pessoas e dos objetos que a cercam. Ela vai construindo um referencial, com a
ajuda dos outros e dos objetos, em relação ao universo de pessoas e de situações, e
percebendo o papel que a comunicação exerce sobre ela e as pessoas. Ao perceber
que isto a ajuda a aceitar e a ser aceita como igual, ela vai aprender a refletir sobre
suas produções, estruturando pela imitação uma forma cada vez mais parecida
de comunicar-se e de fazer uso da linguagem. Assim, a criança vai construindo
internamente a sua representação de ser humano, dos seus modos, usos e formas
de estabelecer relações e a imitação assume um papel importante na construção
deste referencial.
Como esta apropriação é individual e ela usa as relações com o outro para
estabelecer os seus modelos, a criança os constrói de modo muito particular e
pessoal, longe das formas convencionais do comportamento social. Assim, suas
falas e comportamentos refletem sua maneira de interpretar o mundo e isto ela faz
de modo muito peculiar.
Dessa forma ela constrói para si a sua concepção de linguagem e de co-
municação, tornando-se ser produtor de discursos na medida em que internaliza,
interpreta e produz o seu contexto interacional.
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Como aprendemos a falar
1. Dê três exemplos de situações de interação entre pais e filhos no primeiro ano de vida de uma
criança, nos quais os modelos dos pais são apropriados pela criança e utilizados por ela.
2. Podemos entender que quando a criança imita os pais e falantes que a circundam está apro-
priando-se da linguagem. Porém, existe um momento em que a criança passa a fazer uso dela
empregando gestos e palavras-frase. Identifique algumas dessas situações e debata com os seus
colegas de turma sobre o papel do gesto e da fala nesse comportamento.
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Como aprendemos a falar
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A produção do
discurso pela criança
U
ma das características mais marcantes do processo de aquisição da linguagem pela criança
ocorre quando ela entende o processo enunciativo da linguagem oral. Quando analisamos a
aprendizagem da fala, percebemos o papel que os objetos têm, bem como os adultos, em mos-
trar e indicar para ela o nome e características que os objetos possuem e assim ela pode falar deles.
Neste primeiro momento do seu desenvolvimento linguístico, a repetição e a mão, com o dedo
indicador em sinal de apontar, indicam a curiosidade e o interesse da criança em saber o nome e o
funcionamento das coisas. Com esta preocupação, ela vai formando um estoque de palavras e de
objetos que, a partir de um determinado momento, ela poderá utilizar como parte integrante de seu
repertório próprio de enunciado.
Este é um dos momentos mais importantes do desenvolvimento infantil e, na perspectiva social
e histórica, fica marcada na fala de Vygotsky quando ele diz: “o momento de maior significação no
decurso do desenvolvimento intelectual da criança, que dá formas à característica tipicamente huma-
na de comportamento, está quando fala e atividade prática, então duas linhas diferentes do desenvol-
vimento infantil, convergem” (1986). Este momento caracteriza-se pela criança conseguir articular o
seu pensamento com o repertório de palavras constituídas ao longo de sua história. Com este recurso
disponível, a criança começa a produzir, mediante a função da linguagem interior e da fala expressiva,
o seu próprio discurso.
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A produção do discurso pela criança
2. Você já deve ter tomado consciência de seu discurso interior e de que esta fala interna está pre-
sente em todas as suas ações antes da execução delas. Porém, a criança não a possui ao nasci-
mento, vindo a incorporá-la durante a apropriação da linguagem. Seria esse um dos motivos de
a criança utilizar a fala para conversar com ela mesma? Estaria ela organizando o pensamento?
Que implicações pedagógicas decorrem daí?
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A produção do discurso pela criança
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A linguagem oral e os
seus desvios de manifestação
A
criança vai construindo sua linguagem à medida em que ela participa de diversas interações
ao longo de seu desenvolvimento, e esta construção implica em apropriar-se de sons, palavras,
sentidos e também de articulá-los de modo que outras pessoas possam participar com ela de
uma prática dialógica.
Os desvios da fala
Assim como este processo é constituído, existem muitos obstáculos que podem dificultar a
apropriação da linguagem. Estes obstáculos podem vir a ser de ordem biológica, de ordem psicoló-
gica ou de ordem sociocultural. A diferença entre eles é que as interações com estes sujeitos devem
ser bem trabalhadas para que haja uma ressignificação de seu desvio e a criança produza diálogos de
modo a poder entender e expressar sua visão de mundo.
Podemos esperar que uma criança, sem nenhum problema de saúde mais grave que acometa seu
sistema nervoso imaturo, deva estar falando suas primeiras palavras próximo ao seu primeiro ano de
vida, bem como andando e pegando objetos com a sua mão em forma de pinça. Outra característica
esperada é que, em torno dos dois anos de idade, ela faça uso da linguagem pessoal, primeira pessoa
do singular, construa frases interrogativas e negativas usando a primeira pessoa. E, que até os quatro
anos de idade, ela consiga produzir foneticamente todos os sons pertinentes a sua língua (Luque;
Vila apud Coll; Marchesi; PalÁcios, 1995).
Principais fatores
Vamos analisar as características dos desvios e sua implicações para a linguagem. Em primeiro
lugar os de etiologia biológica, pois estes obstáculos levam a uma dificuldade específica e sistemática
da apropriação. Sabemos que desde o nascer a criança precisa estimular sua boca e ouvidos para
chegar a construir a linguagem, logo problemas que acometem a criança no período perinatal podem
levar à dificuldades neurocognitivo e musculares que vão afetar a fala da criança. Desde os reflexos de
sugar a mama da mãe até a produção sonora podem estar com sua mobilidade e resposta neurológica
alterada em função de problemas relativos à afetação do cérebro imaturo da criança ao nascimento.
Da mesma forma, a audição poderá comprometer a recepção e seleção dos estímulos sonoros
que farão com que ela tome consciência do mundo sonoro e das palavras. Este tipo de perturbação
pode prejudicar o desenvolvimento da linguagem oral fazendo com que a criança demore a falar, mes-
mo que bem estimulada a isto pelos agentes de interação. Deixamos claro que estes tipos de dificulda-
de levam a um desenvolvimento neuropsicomotor alterado em suas características globais, atrasando
outras etapas tais como andar, pegar etc.
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A linguagem oral e os seus desvios de manifestação
Neste primeiro ano de vida, a criança estará pelo ouvir e repetir tentando
imitar as produções sonoras emitidas pelo seu agente de interação, no sentido de
sentir-se aceita e participar das trocas proporcionadas pela comunicação social.
As alterações citadas acima poderão levar a criança a ter estas interações com-
prometidas e todos os jogos de interações decorrentes destes processos estarem
alterados.
Sabe-se também que o outro exerce papel fundamental na estimulação
precoce de crianças com as alterações citadas anteriormente. Porém, existem
muitos agentes de interação que, devido à forma em que os agentes etiológicos
foram produzidos, alteram significativamente seu modo de agir e estimular a
criança. Estas alterações do comportamento do agente de interação por muitas
vezes podem gerar obstáculos de desenvolvimento da linguagem, visto que a
alteração do quadro de relacionamento pode refletir na forma com que a criança
será apresentada ao mundo físico e social.
Devemos ter claro que nas interações a criança apropria-se dos modos de
relação de seu agente, por isto situações de superproteção, agressividade, abandono,
falta de condições socioculturais podem fazer com que a linguagem da criança
altere. Um exemplo claro disto é a gagueira, pois a disfluência causada na fala,
por muitas vezes, está correlacionada a padrões superexigentes de comunicação,
repressão e punição aos erros que a criança comete de forma a buscar a maneira
mais adequada de falar.
Outros fatores que podem causar dificuldades na produção da fala estão
correlacionados ao uso de instrumentos como chupetas, bicos e dedos no período
no qual a criança está fazendo a aquisição de sua capacidade articulatória. Desta
forma, os usos destes instrumentos podem levar a desvios fonológicos em sons
com /t/,/l/,/r/, encontros consonantais entre outros.
É muito importante o educador falar corretamente e pedir que a criança
olhe para sua boca ao falar, para que ela perceba a forma do movimento, o som
pertinente e a qual objeto ou situação se faz referência. Esta aproximação deve
passar segurança à criança, pois dessa forma ela saberá que o agente educativo
é uma fonte segura e confiável de representação correta da palavra a ser falada.
Assim, devemos evitar punições ou arremedos e brincadeiras desnecessárias com
a fala da criança. A segurança dela e confiança no modelo é fator de apropriação
adequada.
Devemos ter bem claro que, por muitas vezes, as pessoas que se apresentam
como interlocutores para as crianças em momentos de apropriação trazem consigo
marcas de sua própria história. O aculturamento como já falamos pode trazer mar-
cas regionais ou até formas de falar que estão relacionados às manifestações de uma
determinada região. Um exemplo disto encontramos na produção da palavra pro-
blema, que em algumas regiões pronuncia-se /pobrema/. Esta não pode ser levada
em conta como uma troca, mas sim como uma variante da linguagem regional.
Outra situação é quando a criança convive com um adulto que possui al-
terações, ou até mesmo com uma criança mais velha que realiza trocas na fala e
ela acaba buscando estas pessoas como modelo de interação e apropriação da sua
linguagem.
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A linguagem oral e os seus desvios de manifestação
Entrevista
Andrea Racy e Patricia Vieira entrevistam Maria Thereza Mazorra dos Santos
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A linguagem oral e os seus desvios de manifestação
Você poderia sugerir bibliografia, nesta área, que possa auxiliar o trabalho do psicopeda-
gogo?
SANTOS, M. J. M.; NAVAS, A. L. G. P. Distúrbios de Leitura e Escrita: teoria e prática.
São Paulo: Manole, 2002.
(Disponível em: <www.abpp.com.br/entrevista12.htm>.)
1. Na fala de uma criança, quais diferenças podemos encontrar entre as trocas de origem cultural,
nas quais estão presentes marcas da linguagem regional, e as trocas decorrentes de alterações
funcionais da audição? Pesquise e discuta.
2. Quando a criança aprende a usar a linguagem ela também passa a organizar seu pensamento.
Assim, além de fazer uso da fala como comunicação, também faz uso da linguagem como pla-
nejamento mental. Quando está nessa fase é comum apresentar certas disfluências (gagueiras).
Qual deve ser nossa atitude frente a elas? Que papel tem a repressão? Discuta.
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A apropriação de instrumentos
culturais de representação
E
ntender a criança como um ser ativo e transformador implica em observar a forma como ela age so-
bre o meio natural e social. Se lembrarmos que a criança nasce tendo dificuldade para sustentar-se
sobre duas pernas e notarmos como a sua mão lhe auxilia para poder estar nesta condição, vemos
o quanto a colaboração entre seu corpo e o meio pode estimular o desenvolvimento infantil. Também
não podemos deixar de perceber o papel que os olhos assumem no processo de objetivação desta ação,
quando ela fixa-se nos objetos e busca soluções intencionais e planejadas para atingir este objeto.
Assim, o que a criança vem construindo para si desde o nascimento é a possibilidade dela co-
ordenar estas ações e buscar os objetos para poder usá-los do modo em que a sociedade faz uso deles.
Vygotsky deixa claro quando diz que “a criança soluciona suas atividades com a ajuda da fala, dos
olhos e das mãos”(1986); com esta fala define-se a característica geral do desenvolvimento infantil,
que é apropriar-se dos instrumentos culturais produzidos e, enquanto apropria-se, transforma-os de
acordo com aquilo que ela concebe ser o uso.
O registro da atividade
mental e a fala como guia
As descobertas sucessivas que a criança está fazendo do ato de registrar
estão relacionadas ao crescimento da sua experiência com a linguagem oral e o
domínio das formas de pensar a sua atividade. Ou seja, ela terá de descobrir que
seus rabiscos podem estar relacionados a uma forma de registro que lhe permita
retomar esta experiência significativa posteriormente. Luria (1988) fala de um
“auxílio funcional na recordação”, um signo auxiliar como fator para que ela pos-
sa estabelecer uma relação sígnica entre o traço e a ideia, utilizando-se do registro
como um meio de evocar experiências sígnicas já representadas mentalmente.
Com a possibilidade do registro, utilização das mãos e dos olhos e mediante
a fala do outro e da sua própria fala, a criança vai, mediante a atividade, compre-
endendo a possibilidade de deixar marcas que representem aquilo de que se fala
ou que se pensa. O desenho dos objetos vai aparecendo e sendo mediado pela ação
constante de um sujeito mais experiente; a criança descobre que pode deixar mar-
cas significativas ou até mesmo representar os objetos já experimentados por ela.
Dessa forma, a criança pode ir registrando aquilo que observa, tentando
estabelecer um plano mais abrangente ao colocar a casa e a pessoas que estão
perto da casa no mesmo desenho, criando quadros representativos. Coordenando
olhos, palavra e mão, ela percebe que as marcas deixadas no mundo podem ser
interpretadas pelas pessoas. Esta possibilidade de interagir mediante os registros
e de deixar marcas interpretativas faz com que ela crie formas diferenciadas de
registro e esteja estimulada a criar diferentes registros daquilo que imaginou. Um
exemplo é perceptível quando após desenhar algo a criança busca o apoio e a acei-
tação do adulto e entrega-lhe seu trabalho como forma de manifestar o que pensou
ou sentiu. Este registro de algo que se imaginou é fundamental para que a criança
venha a aprender o que é a escrita.
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A apropriação de instrumentos culturais de representação
1. Analise o papel que os brinquedos exercem sobre as tarefas que a criança realiza com a ajuda dos
olhos, mão e fala. São esses instrumentos culturais auxiliares no desenvolvimento cognitivo?
2. A ideia de signo auxiliar está presente na ação da criança quando ela desenha, ou seja, ela re-
presenta o que a sua mente imaginou. É certo ou errado afirmar isso? Por quê?
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A apropriação de instrumentos culturais de representação
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A apropriação
da linguagem escrita
A
criança que participa das interações sociais constrói para si um repertório de conceitos
e significados e consegue desta forma interagir de modo mais efetivo. Apropria-se de
diferentes ferramentas sociais que possibilitam uma outra manifestação da linguagem
humana – a linguagem escrita. Luria (1988, p. 43) comenta esta apropriação quando diz que:
As origens deste processo remontam a muito antes, ainda na pré-história do desenvolvimento das formas superio-
res do comportamento infantil; podemos até dizer que quando uma criança entra na escola ela já adquiriu um pa-
trimônio de habilidades e destrezas que a habilitará e a aprender a escrever em um tempo relativamente curto.
Assim, no momento em que a criança está adquirindo os conceitos da oralidade, ela está adqui-
rindo habilidades instrumentais e sígnicas que lhe permitirão construir registros da sua oralidade de
forma a registrar seu pensamento mediante o uso da escrita.
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A apropriação da linguagem escrita
modelo para pensar sobre a fala e a linguagem [...] alteram a cognição e a consci-
ência” (p. 91). Isto se faz presente quando a criança, ao escrever, começa a falar
com ela mesma, fazendo uso da linguagem interior verbalizada. Desta forma, ela
pensa na palavra articulada e compara com as possibilidades do registro que ela
está efetuando no momento em que está escrevendo.
A linguagem, enquanto criação do próprio ser humano, reorganiza a atividade
cognitiva e a linguagem escrita; pela sua forma estruturada representa um pensa-
mento muito mais organizado, ou seja, um pensar sobre a oralidade. Busca-se com
ela a compreensão do discurso, a reflexão e a crítica da fala como forma de entender
os processos relacionados à vida social e às interações. Esta forma de agir fará que
ela reflita sobre a forma com que ela registra, comparando com os textos que ela lê,
ela reestrutura sua linguagem escrita e por consequência fala, tornado-a mais orga-
nizada e pertinente aos padrões sociais onde a comunicação é construída.
Assim, crianças que já se apropriaram da linguagem escrita e já fazem
uso dela como ferramenta de comunicação e planejamento de uma atividade
textual atingiram um nível de representação mais elaborado que o simbolismo
inicial da linguagem; chegaram a um nível de representação de “segunda ordem”
(Vygotsky, 1998). Isto as torna crianças que estão em condições de participar
das interações sociais mediadas pela escola e que necessitam de uma interação
significativa para se constituírem sujeitos sociais.
O significado que a escrita tem é assegurado por McLane (apud Moll, 2002,
p. 297) quando relata que:
As crianças descobriram que a escrita poderia ser usada para ampliar e elaborar muitas
funções comunicativas já atendidas pela fala, e que ela poderia tornar meio efetivo e po-
deroso de expressão e autoafirmação, um meio para agradar, brincar e se exibir, mostrar
competência, provocar, ofender e desculpar.
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A apropriação da linguagem escrita
1. Discuta a frase com seus colegas: “a escrita assume papel fundamental na humanização da
criança e serve de elemento mediador entre os conhecimentos obtidos por ela na atividade prá-
tica em busca da formação de suas funções mentais superiores”.
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A apropriação da linguagem escrita
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A linguagem escrita:
letramento
A aquisição da linguagem escrita
como um processo de letramento
C
omo temos visto, apropriar-se da leitura e da escrita é uma atividade complexa, constituída nas
interações sociais nas quais professor e aluno, em uma prática de mediada pelos signos, trocam
experiências sobre os registros, atividade instrumental e seus significados (atividade mental su-
perior). A apropriação deste instrumento permite a criança refletir sobre seu discurso organizando-o
de forma a tornar claro seu pensamento para que outro sujeito possa se apropriar de sua experiência
social.
O que é letramento?
Magda Soares (2001) vai definir letramento como sendo o estado em que vive o indivíduo que
sabe ler e escrever e exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que
vive: ler jornais, revistas, livros, saber ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua carteira de
trabalho, suas contas de água, luz, telefone, saber escrever e escrever cartas, bilhetes, telegramas sem
dificuldade, saber preencher um formulário, redigir um ofício, um requerimento etc. A alfabetização
e o letramento se somam, são complementos. Enquanto que “alfabetizar significa orientar a criança
para o domínio da tecnologia da escrita, e letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de
leitura e de escrita”. O importante é criar hábitos e desenvolver habilidades, sentir prazer de ler e es-
crever diferentes gêneros de textos. O letramento é um processo que se estende por toda a vida. E em
todas as áreas de conhecimento e em todas as disciplinas aprendemos por meio de práticas de leitura
e de escrita.
Letrar é função e obrigação de todos os professores, mesmo porque cada área do conhecimento
tem uma linguagem específica tanto no campo da informação, dos conceitos e dos princípios. Assim,
como uma prática educacional, é nela que o professor poderá trazer para o aprendiz as condições de
pensar e formular conceitos sobre as mais diferentes áreas do conhecimento, tendo por mediador a
linguagem escrita em suas manifestações sociais.
Para realizar este processo, o professor deve ter claro que a criança precisa ter a compreensão
dos motivos que levaram o homem a produzir textos. Não deve ser um ato mecânico, instrumental,
no qual a língua parece um objeto morto e inanimado. Diferente desta posição, a linguagem escrita
reflete o poder criador do homem, que nas mais diferentes situações e contextos encontra meios de se
comunicar com o outro, deixando marcas sígnicas de sua representação do fenômeno.
que se o sujeito compreende o que está em sua volta é porque, ao longo dos tem-
pos, foram criados registros conceituais que permitiram que a palavra os repre-
sentasse.
Como já citado, Olson (1998) confirma ao argumentar que “as crianças
aprendem com a escrita um modelo para pensar sobre a fala e a linguagem, [...] al-
teram a cognição e a consciência”. Portanto, esta construção coletiva, que reflete a
conquista de um grupo social, permite que a criança avance em suas relações com
o mundo social. Tendo ela se apropriado desta forma de expressão tipicamente
humana, ela pode inteirar-se dos mais diferentes assuntos e conhecimentos, que
irão impulsionar seu desenvolvimento social.
Mediante este instrumento, a criança pode entender os fenômenos sociais
em suas mais diversas áreas: política, social, econômica etc. Com este conheci-
mento ela, mediante o ato de ler e escrever, estará construindo a sua consciência
social, abrangendo o conhecimento de sua situação em relação a eles e ao mundo
como um todo, tornando-se assim um sujeito social.
O enfoque está no aluno que constrói seu conhecimento sobre a língua escrita e
não no professor que ensina. Na escola, a criança deve prosseguir a construção do
conhecimento iniciada em casa e interagir constantemente com os usos sociais da
escrita. O importante não é simplesmente codificar e decodificar, mas ler e escre-
ver textos significativos.
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A linguagem escrita: letramento
Por quê?
A preocupação com um analfabetismo funcional [terminologia que a Unesco recomendara
nos anos 1970, e que o Brasil passou usar somente a partir de 1990, segundo a qual a pessoa ape-
nas sabe ler e escrever, sem saber fazer uso da leitura e da escrita], ou com o iletrismo, que seria
o contrário de letramento, é um fenômeno contemporâneo, presente até no Primeiro Mundo.
E como isso ocorre?
É que as sociedades, no mundo inteiro, tornaram-se cada vez mais centradas na escrita.
A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na
chamada cultura do papel, mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos, que,
ao contrário do que se costuma pensar, utilizam-se fundamentalmente da escrita, são novos su-
portes da escrita. Assim, nas sociedades letradas, ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar
plenamente a cultura escrita e responder às demandas de hoje.
Qual tem sido a reação a esse fenômeno lá fora?
Nos Estados Unidos e na Inglaterra, há grande preocupação com o que consideram um
baixo nível de letramento da população, e, periodicamente, realizam-se testes nacionais para
avaliar as habilidades de leitura e de escrita da população adulta, e orientar políticas de su-
peração do problema. Outro exemplo é a França. Os franceses diferenciam muito claramente
illettrisme de analphabétisme. Este último é considerado problema já vencido, com exceção
para imigrantes analfabetos em língua francesa. Já illettrisme surge como problema recente da
população francesa. Basta dizer que a palavra illettrisme só entrou no dicionário, na França, nos
anos 1980. Em Portugal é recente a preocupação com a questão do letramento, que lá ganhou a
denominação de literacia, numa tradução mais ao pé da letra do inglês literacy.
O que explica o aparecimento do conceito de letramento entre nós?
Não se trata propriamente do aparecimento de um novo conceito, mas do reconhecimento
de um fenômeno que, por não ter, até então, significado social, permanecia submerso. Desde os
tempos do Brasil Colônia, e até muito recentemente, o problema que enfrentávamos em relação
à cultura escrita era o analfabetismo, o grande número de pessoas que não sabiam ler e escrever.
Assim, a palavra de ordem era alfabetizar. Esse problema foi, nas últimas décadas, relativamente
superado, vencido de forma pelo menos razoável. Mas a preocupação com o letramento passou
a ter grande presença na escola, ainda que sem o reconhecimento e o uso da palavra, traduzido
em ações pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar.
Como o conceito de letramento, mesmo sem que se utilize este termo, vem sendo
levado à prática?
No início dos anos 1990, começaram a surgir os ciclos básicos de alfabetização, em vários
estados; mais recentemente, a própria lei [Lei de Diretrizes e Bases de 1996] criou os ciclos na
organização do ensino. Isso significa que, pelo menos no que se refere ao ciclo inicial, o siste-
ma de ensino e as escolas passaram a reconhecer que alfabetização, entendida apenas como a
aprendizagem da mecânica do ler e do escrever e que se pretendia que fosse feita em um ano
de escolaridade, nas chamadas classes de alfabetização, é insuficiente. Além de aprender a ler
e a escrever, a criança deve ser levada ao domínio das práticas sociais de leitura e de escrita.
Também os procedimentos didáticos de alfabetização acompanham essa nova concepção: os
antigos métodos e as antigas cartilhas, baseados no ensino de uma mecânica transposição da
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A linguagem escrita: letramento
forma sonora da fala à forma gráfica da escrita, são substituídos por procedimentos que levam
as crianças a conviver, experimentar e dominar as práticas de leitura e de escrita que circulam
na nossa sociedade tão centrada na escrita.
Como se poderia, então, definir letramento?
Letramento é, de certa forma, o contrário de analfabetismo. Aliás, houve um momento em
que as palavras letramento e alfabetismo se alternavam, para nomear o mesmo conceito. Ainda
hoje, há quem prefira a palavra alfabetismo à palavra letramento – eu mesma acho alfabetismo
uma palavra mais vernácula que letramento, que é uma tentativa de tradução da palavra ingle-
sa literacy, mas curvo-me ao poder das tendências linguísticas, que estão dando preferência a
letramento. Analfabetismo é definido como o estado de quem não sabe ler e escrever; seu con-
trário, alfabetismo ou letramento, é o estado de quem sabe ler e escrever. Ou seja: letramento é
o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais
de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: sabe ler e lê jornais, revistas, livros;
sabe ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua carteira de trabalho, suas contas de
água, luz, telefone; sabe escrever e escreve cartas, bilhetes, telegramas sem dificuldade, sabe
preencher um formulário, sabe redigir um ofício, um requerimento. São exemplos das práticas
mais comuns e cotidianas de leitura e escrita; muitas outras poderiam ser citadas.
Ler e escrever puramente tem algum valor, afinal?
Alfabetização e letramento se somam. Ou melhor, a alfabetização é um componente do
letramento. Considero que é um risco o que se vinha fazendo, ou se vem fazendo, repetindo-
-se que alfabetização não é apenas ensinar a ler e a escrever, desmerecendo assim, de certa
forma, a importância de ensinar a ler e a escrever. É verdade que esta é uma maneira de reco-
nhecer que não basta saber ler e escrever, mas, ao mesmo tempo, pode levar também a per-
der-se a especificidade do processo de aprender a ler e a escrever, entendido como aquisição
do sistema de codificação de fonemas e decodificação de grafemas, apropriação do sistema
alfabético e ortográfico da língua, aquisição que é necessária, mais que isso, é imprescindí-
vel para a entrada no mundo da escrita. Um processo complexo, difícil de ensinar e difícil
de aprender, por isso é importante que seja considerado em sua especificidade. Mas isso não
quer dizer que os dois processos, alfabetização e letramento, sejam processos distintos; na
verdade, não se distinguem, deve-se alfabetizar letrando.
De que forma?
Se alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar sig-
nifica levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita. Uma criança alfabetizada
é uma criança que sabe ler e escrever; uma criança letrada (tomando este adjetivo no campo se-
mântico de letramento e de letrar, e não com o sentido que tem tradicionalmente na língua, este
dicionarizado) é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer de leitura e de
escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em diferentes con-
textos e circunstâncias. Se a criança não sabe ler, mas pede que leiam histórias para ela, ou finge
estar lendo um livro, se não sabe escrever, mas faz rabiscos dizendo que aquilo é uma carta que
escreveu para alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e tenta exercer, no limite de
suas possibilidades, práticas de leitura e de escrita. Alfabetizar letrando significa orientar a criança
para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita:
substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, pelo
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A linguagem escrita: letramento
material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que tornem necessá-
rias e significativas práticas de produção de textos.
O processo de letramento ocorre, então, mesmo entre crianças bem pequenas...
Pode-se dizer que o processo começa bem antes de seu processo de alfabetização: a
criança começa a “letrar-se” a partir do momento em que nasce numa sociedade letrada. Ro-
deada de material escrito e de pessoas que usam a leitura e a escrita – e isto tanto vale para
a criança das camadas favorecidas como para a das camadas populares, pois a escrita está
presente no contexto de ambas –, as crianças, desde cedo, vão conhecendo e reconhecendo prá-
ticas de leitura e de escrita. Nesse processo, vão também conhecendo e reconhecendo o sistema
de escrita, diferenciando-o de outros sistemas gráficos (de sistemas icônicos, por exemplo), des-
cobrindo o sistema alfabético, o sistema ortográfico. Quando chega à escola, cabe à educação
formal orientar metodicamente esses processos, e, nesse sentido, a Educação Infantil é apenas
o momento inicial dessa orientação.
O processo de letramento ocorre durante toda a vida escolar?
A alfabetização, no sentido que atribuí a essa palavra, é que se concentra nos primeiros
anos de escolaridade. Concentra-se aí, mas não ocorre só aí: por toda a vida escolar os alunos
estão avançando em seu domínio do sistema ortográfico. Aliás, um adulto escolarizado, quando
vai ao dicionário resolver dúvida sobre a escrita de uma palavra, está retomando seu processo
de alfabetização. Mas esses procedimentos de alfabetização tardia são esporádicos e eventuais,
ao contrário do letramento, que é um processo que se estende por todos os anos de escolaridade
e, mais que isso, por toda a vida. Eu diria mesmo que o processo de escolarização é, fundamen-
talmente, um processo de letramento.
Em qualquer disciplina?
Em todas as áreas de conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem por meio
de práticas de leitura e de escrita: em História, em Geografia, em Ciências, mesmo na Mate-
mática, enfim, em todas as disciplinas, os alunos aprendem lendo e escrevendo. É um engano
pensar que o processo de letramento é um problema apenas do professor de Português: letrar
é função e obrigação de todos os professores. Mesmo porque, em cada área de conhecimento,
a escrita tem peculiaridades, que os professores que nela atuam é que conhecem e dominam.
A quantidade de informações, conceitos, princípios, em cada área de conhecimento, no mundo
atual, e a velocidade com que essas informações, conceitos, princípios são ampliados, reformu-
lados, substituídos, faz com que o estudo e a aprendizagem devam ser, fundamentalmente, a
identificação de ferramentas de busca de informação e de habilidades de usá-las, através de lei-
tura, interpretação, relacionamento de conhecimentos. E isso é letramento, atribuição, portanto,
de todos os professores, de toda a escola.
Mas seria maior a responsabilidade do professor de Português?
É claro que o professor de Português tem uma responsabilidade bem mais específica com
relação ao letramento: enquanto este é um instrumento de aprendizagem para os professores das
outras áreas, para o professor de Português ele é o próprio objeto de aprendizagem, o conteúdo
mesmo de seu ensino.
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A linguagem escrita: letramento
Muitos pais reclamam do fato de, hoje, os grandes textos de literatura, nos livros di-
dáticos, darem lugar à letras de música, rótulos de produtos, bulas de remédio. O que essa
ênfase nos textos do dia a dia tem de positivo e o que teria de negativo?
É verdade que o conceito de letramento, bem como a nova concepção de alfabetização que
decorre dele e também das teorias do construtivismo que chegaram ao campo da educação e do
ensino nos anos 80, trouxeram um certo exagero na utilização de diferentes gêneros e diferentes
portadores de texto na sala de aula. É realmente lamentável que os textos literários, até pouco
tempo atrás exclusivos nas aulas de Português, tenham perdido espaço. É preciso não esque-
cer que, exatamente porque a literatura tem, lamentavelmente, no contexto brasileiro, pouca
presença na vida cotidiana dos alunos, cabe à escola dar a eles a oportunidade de conhecê-la e
dela usufruir. Por outro lado, tem talvez faltado critério na seleção dos gêneros. Por exemplo:
parece-me equivocado o trabalho com letras de música, que perdem grande parte de seu signi-
ficado e valor se desvinculadas da melodia: é difícil apreciar plenamente uma canção de Chico
Buarque ou de Caetano Veloso lendo a letra da canção como se fosse um poema, desligada
ela da música que é quem lhe dá o verdadeiro sentido e a plena expressividade. Parece óbvio
que devem ser priorizados, para as atividades de leitura, os gêneros que mais frequentemente
ou mais necessariamente são lidos, nas práticas sociais, e, para as atividades de produção de
texto, os gêneros mais frequentes ou mais necessários nas práticas sociais de escrita. Estes não
coincidem inteiramente com aqueles, já que há gêneros que as pessoas leem, mas nunca ou rara-
mente escrevem, e há gêneros que as pessoas não só leem, mas também escrevem. Por exemplo:
rótulos de produtos são textos que devemos aprender a ler, mas certamente não precisaremos
aprender a escrever. Assim, a adoção de critérios bem fundamentados para selecionar quais gê-
neros devem ser trabalhados em sala de aula, para a leitura e para a produção de textos, afastará
os aspectos negativos que uma invasão excessiva e indiscriminada de gêneros e portadores sem
dúvida tem.
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A linguagem escrita: letramento
Como deve ser a preparação do professor para que ele “letre”? Em que esse preparo
difere daquele que o professor recebe hoje?
Entendendo a função do professor, de qualquer nível de escolaridade, da Educação In-
fantil à educação pós-graduada, como uma função de letramento dos alunos em sua área
específica, o professor precisa, em primeiro lugar, ser ele mesmo letrado na sua área de
conhecimento: precisa dominar a produção escrita de sua área, as ferramentas de busca de
informação em sua área, e ser um bom leitor e um bom produtor de textos na sua área. Isso
se refere mais particularmente à formação que o professor deve ter no conteúdo da área de
conhecimento que elegeu. Mas é preciso, para completar uma formação que o torne capaz
de letrar seus alunos, que conheça o processo de letramento, que reconheça as características
e peculiaridades dos gêneros de escrita próprios de sua área de conhecimento. Penso que os
cursos de formação de professores, em qualquer área de conhecimento, deveriam centrar seus
esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto naquela área, e na formação
de indivíduos capazes de formar bons leitores e bons produtores de textos naquela área.
(Jornal do Brasil, 26 nov. 2000.)
1. “Alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa
levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita” (SOARES, 2001). Analise estas
diferenças e as discuta.
2. Discuta de que maneira os modos de ensino influenciam o modo da criança ver o mundo?
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O que é normal e patológico
na linguagem escrita
U
ma das reclamações mais frequentes de pais que possuem filhos em idade escolar é a de que
as instituições de ensino, públicas ou privadas, populares ou burguesas, não têm dado uma
resposta adequada e em tempo hábil às crianças que sofrem com as dificuldades de leitura e
de escrita no Ensino Fundamental. As dificuldades lectoescritoras atingem ricos e pobres, brancos ou
negros, europeus ou latinos, que estão nos bancos escolares.
A escola ainda não responde, eficazmente, ao desafio de trabalhar com as necessidades educa-
cionais das crianças especiais, especialmente às relacionadas com as dificuldades de linguagem como
dislexia, disgrafia e disortografia.
A dislexia ocorre quando uma criança não lê bem ou não encontra sentido diante do texto es-
crito. A disgrafia e a disortografia se manifestam quando há dificuldade no plano da escrita ou do ato
de escrever.
São os distúrbios de letras (déficits) que preocupam os pais porque sabem que o sucesso escolar
de seus filhos depende, e muito, da aprendizagem eficiente da leitura, escrita e ortografia.
Para entendermos este processo, temos que ter a noção que a linguagem escrita é uma aquisição
tardia, ou seja, aprendida quando a criança apresenta um desenvolvimento neurológico normal e que
já possui uma série de habilidades cognitivas desenvolvidas. Vygotsky e Luria, então pesquisadores
numa sociedade em construção, propõem uma alternativa às posições localizacionistas e globalistas
vigentes. Em seus estudos, Vygotsky considera as funções corticais superiores em três princípios
centrais:
relacionamentos interfuncionais, plásticos e modificáveis;
sistemas funcionais dinâmicos como resultantes da integração de funções elementares;
a reflexão da realidade sobre a mente humana (In: LURIA, 1981, p. 55-58; HÉCAEN e ALBERT,
1978 In: KRISTENSEN, ALMEIDA, GOMES, 2001; DAMASCENO, B. e GUEREIRO, M.
2000). Estas são as bases de estudo da neuropsicologia sócio-histórica.
Damasceno e Guereiro (2000) descrevem com clareza a concepção neuropsicológica de Luria,
em suas três unidades funcionais e interdependentes quando descrevem como sendo:
a unidade que regula a vigília e os estados afetivos (tronco cerebral e diencéfalo);
a unidade que recebe, processa e armazena informações do mundo externo (região temporo-
-parieto-occipital);
a unidade que programa, regula e verifica a atividade mental (lobos frontais). Estas unidades
dão a estrutura funcional do cérebro, e ele explica que estas relações são desenvolvidas da
unidade um para unidade três.
Ressalta também o papel da unidade I como responsável pela atividade de manutenção do tônus aten-
cional que permite a passagem de informações para os níveis II e III. Na unidade II está a captação, o proces-
samento e o registro das informações ambientais, sendo característicos os inputs auditivos, visuais e táteis-
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O que é normal e patológico na linguagem escrita
1. Discuta a diferença das dificuldades de aprendizagem da escrita dentro do que poderíamos cha-
mar de problemas educacionais e problemas de saúde.
2. A afirmativa de que a escrita é uma função ensinada leva a crer que grande parte das dificulda-
des das apropriações estão relacionadas mais a problemas de interação professor/aluno e do uso
de procedimentos pedagógicos do que a disfunções cognitivas da criança. Para o seu grupo, isto
é plausível?
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O que é normal e patológico na linguagem escrita
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Aspectos cognitivos
da leitura e da escrita
Como se dá a cognição
da linguagem, da leitura e da escrita
O
s estudos contemporâneos sobre as funções mentais humanas nos levam a uma série de
conhecimentos muito úteis no momento de entendermos como a criança vai constituindo
para si a linguagem e como ela, a partir deste processo, vai construindo sucessivamente os
diferentes processos cognitivos da leitura e da escrita.
Estes estudos buscam, com a nova ciência da mente, entender os módulos de processamento
da linguagem na mente humana a partir de estudos sobre as funções cognitivas básicas. Estes pro-
cessos de construção da fala dependem das estruturas sensíveis do cérebro humano, e suas alterações
podem vir a contribuir para que indivíduos com alteração do processamento apresentem uma série
de características de expressão da linguagem, porém sem alterações no nível da inteligência geral
(chermak; musiek, 1992).
De fato, o processamento da linguagem tem papel fundamental na constituição do sujeito pen-
sante, a sua maneira de construir os significados da fala dependem da forma com a qual o sujeito
estará construindo seus conceitos. Porém, se o indivíduo constitui estes conceitos quando tem ex-
periências contextuais, à medida que este mantém interações e, portanto, consegue fazer uso da lin-
guagem, ele poderá construir um referencial conceitual que lhe permitirá integrar-se a outras pessoas
para aprender. Assim, a linguagem, vinda das relações sociais, permitirá a construção de conceitos e
de sentidos que agregarão valor simbólico às suas interações.
Como a fala consiste, dentro da abordagem do processamento da informação, em uma
série de eventos acústicos codificados em termos de frequência, intensidade e duração (Davis;
McCroskey apud Capovilla, 2004), a possibilidade do sujeito que aprende a falar e passa
a perceber as construções temporais torna-se fundamental para o conhecimento da palavra e sua
unidade fonética. Assim, os sujeitos apresentariam inabilidades de atentar, discriminar, reconhecer,
recordar ou compreender informações auditivas. Estes também, segundo Cruz e Pereira (apud
Capovilla, 2004, p. 119), apresentam dificuldades relacionadas à memória auditiva, à apreensão
do sentido principal e enunciados, e à interpretação de palavras, frases e metáforas.
Vamos analisar estes processos tomando por base o desenvolvimento da linguagem oral, da
compreensão do som até a fala:
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Aspectos cognitivos da leitura e da escrita
Fala
1. Ao analisarmos os gráficos presentes no texto, podemos afirmar que existe a base da linguagem
oral para a constituição da escrita? Por quê?
2. Ao escrever em sua fase inicial de alfabetização, a criança habitualmente fala em voz alta consi-
go mesma como suporte para sua escrita. Ela faz isso para organizar o pensamento? Que atitude
deve ter o professor frente a essa situação: incentivar ou pedir silêncio?
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Aspectos cognitivos da leitura e da escrita
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Sucesso, fracasso
e leitura escrita
A
sociedade brasileira e mundial vive um constante processo de evolução. A cada momento a
tecnologia e a criatividade humana elaboram novos conhecimentos para que possamos buscar
novas e melhores formas de viver.
Ler e escrever a
realidade social e individual
Desta forma, a linguagem torna-se uma ferramenta da construção da cons-
ciência e mediadora das relações sociais. Com esta função social ela poderá ser
utilizada como instrumento de participação social dos sujeitos que, pela sua expe-
riência educacional, foram se apropriando desta ferramenta como forma de pensar
e conceber as suas vidas. Tendo domínio da linguagem poderão estar nas mais
diferentes situações sociais, nas quais pensarão e construirão sua participação
pela compreensão que a linguagem traz do mundo social e cultural.
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Sucesso, fracasso e leitura escrita
2. Como podemos entender o papel do professor dentro dessa realidade? Ele deve ser uma pessoa
com domínio técnico ou deve ser, antes de tudo, uma pessoa com uma leitura social da alfabe-
tização?
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Sucesso, fracasso e leitura escrita
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Linguagem Oral
e Escrita
Linguagem Oral Fernando Wolff Mendonça
e Escrita