--~-- Nacional
As editoras que integram o GEN, das mais respeitadas no mercado editorial, construíram
catálogos inigualáveis, com obras decisivas para a formação acadêmica e o aperfeiçoamento
de várias gerações de profissionais e estudantes, tendo se tornado sinônimo de qualidade
e seriedade.
A missão do GEN e dos núcleos de conteúdo que o compõem é prover a melhor informa-
ção científica e distribuí-la de maneira flexível e conveniente, a preços justos, gerando
benefícios e servindo a autores, docentes, livreiros, funcionários, colaboradores e acionistas.
Revisão Técnica
Fern anda J. Medeiros
Doutora em Morfologia pela U ERJ. Mestre em Nutrição Humana
pela UFRJ. Professora Associada da Escola de Nutrição da Unirio.
Celia Coh en
Nutricionista. Doutora e Mestre em C iências (Medicina - Clínica Médica)
pela FMRP/ USP. Professora Substituta do Instituto de Nut1~ção da UERJ.
Tradução
Carlos Henrique de A. Cosendey
Segunda edição
~
GUANABARA
KOOGAN
■As autoras deste livro e a EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. empenharam seus melhores esforços para assegurar que as
informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram
atualizados pelas autoras até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as
mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e reações adversas a
fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificarem de que as
informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora.
■As autoras e a editora envidaram todos os esforços no sentido de se certificarem de que a escolha e a posologia dos medicamentos apresentados
neste compêndio estivessem em conformidade com as recomendações atuais e com a prática em vigor na época da publicação. Entretanto, em
vista da pesquisa constante, das modificações nas normas governamentais e do fluxo contínuo de informações em relação à terapia e às reações
medicamentosas, o leitor é aconselhado a checar a bula de cada fármaco para qualquer alteração nas indicações e posologias, assim como para
maiores cuidados e precauções. Isso é particularmente importante quando o agente recomendado é novo ou utilizado com pouca frequência.
■As autoras e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer
material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles
tenha sido omitida.
■Traduzido de:
THE ESSENTIAL POCKET GUIDE FOR CLINICAL NUTRITION, SECOND EDITION
Copyright © 2018 Wolters Kluwer.
Copyright © 2009 Wolters Kluwer Health/Lippincott Williams & Wilkins.
All rights reserved.
2001 Market Street
Philadelphia, PA 19103 USA
LWW.com
Published by arrangement with Lippincott Williams & Wilkins, Inc., USA.
Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health did not participate in the translation of this title.
ISBN: 978-1-4963-3916-4
■Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer
meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da EDITORA GUANABARA
KOOGAN LTDA.
■Ficha catalográfica
W635m
2. ed.
Width, Mary
Manual de sobrevivência para nutrição clínica / Mary Width, Tonia Reinhard ; tradução Carlos Henrique de A. Cosendey. - 2. ed. - Rio de
Janeiro : Guanabara Koogan, 2018.
: il.
“Este livro é dedicado ao clã Reinhard – John Francis, Faye e Jeff, Brendan e Karen – e aos próximos membros, Claire, Zoe, Gea
e Anthony.”
Tonia Reinhard
Colaboradores
Lindsey Battistelli, RDN
Metabolic and Bariatric Surgery Program Coordinator
Henry Ford Wyandotte Hospital
Wyandotte, Michigan
Sheri Betz, RD
Clinical Dietitian
St. John Hospital and Medical Center
Detroit, Michigan
Katherine Hilbrecht, RD
Renal Dietitian
DaVita HealthCare Partners Inc.
Dearborn, Michigan
Lynn Kuligowski, RD
WIC Program Coordinator
Downriver Community Services North Macomb WIC
Mt. Clemens, Michigan
Maria Segovia, MD
Medical Director
Intestine and Multivisceral Transplant Program
Henry Ford Hospital
Detroit, Michigan
Capítulo 4Idosos
Capítulo 5Terapia Nutricional
Ingestão energética excessiva (P) relacionada com consumo frequente de refeições volumosas ricas em gorduras (E), evidenciada por:
1.Ingestão energética diária excedendo 500 kcal da DRI (S)
2.Ganho ponderal de 5,5 kg nos últimos 18 meses (S)
DRI, ingestão dietética de referência.
Os termos do diagnóstico nutricional são classificados de acordo com os três domínios e subclasses seguintes:
1.Ingestão: balanço energético-calórico, ingestão oral ou terapia nutricional, ingestão de líquidos, ingestão de substâncias
bioativas, ingestão de nutrientes.
2.Estado clínico: estados funcional e bioquímico, peso, distúrbios nutricionais.
3.Comportamental/ambiental: conhecimento e crenças, atividade física e função, segurança alimentar e acesso ao alimento.
A intervenção nutricional é a terceira etapa do PCN. As intervenções são planejadas de forma a alterar favoravelmente um
comportamento nutricional, uma condição ambiental ou um aspecto do estado de saúde do paciente/cliente. As intervenções
devem contemplar os problemas identificados com base na avaliação nutricional, que foi elaborada na forma de um ou mais
diagnósticos nutricionais. A intervenção quase sempre é voltada para a etiologia do diagnóstico/problema nutricional identificado
pela descrição PES. Em casos mais raros, a intervenção nutricional é dirigida aos sinais e sintomas para atenuar seu impacto.1 A
etapa de intervenção inclui dois componentes inter-relacionados: planejamento e execução. O planejamento consiste em priorizar
os diagnósticos nutricionais de acordo com a gravidade ou importância de cada problema e realizar intervenções baseadas em
evidências e usar diretrizes práticas para definir os resultados esperados para cada diagnóstico nutricional do paciente. A
execução da intervenção nutricional é a fase de ação, que inclui implementar e comunicar o plano de cuidados ao paciente/cliente,
cuidadores e outros profissionais da equipe de saúde; continuar o processo de coleta de dados; e revisar a estratégia de
intervenção nutricional com base nas respostas do paciente/cliente. A terminologia da intervenção nutricional é organizada em
quatro domínios:
1.Fornecimento de alimentos e/ou nutrientes.
2.Educação nutricional.
3.Aconselhamento nutricional.
4.Coordenação do cuidado nutricional por um nutricionista.
A última etapa do PCN é o monitoramento e reavaliação. Esse é um componente fundamental do processo, porque identifica
medidas importantes relativas aos resultados obtidos pelo paciente/cliente em relação com cada diagnóstico e intervenção
nutricional relevante, além de descrever a melhor forma de medir e reavaliar estes resultados. Durante essa etapa, o estado do
paciente é reavaliado obtendo-se novos dados (monitoramento) e comparando-os com seu estado anterior, com os resultados
esperados e com os padrões estabelecidos (reavaliação). Essa quarta etapa ajuda a determinar se o paciente/cliente está
alcançando as metas da intervenção nutricional ou os resultados desejados. Os domínios e a terminologia usada no
monitoramento/reavaliação são os mesmos aplicáveis à avaliação nutricional, com exceção da história do cliente (que não é
incluída neste domínio, porque não existem resultados nutricionais aplicáveis à história do cliente).
AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA
Existem várias medidas antropométricas úteis na prática clínica. As medidas como peso, estatura e composição corporal podem
ser usadas pelo clínico para avaliar o estado nutricional.
Estimativa da estatura
Uma estimativa da estatura é necessária aos pacientes confinados ao leito ou a uma cadeira de rodas, que apresentam curvatura
anormal da coluna vertebral ou contraturas, ou que por alguma razão não conseguem ficar de pé para fazer a medição precisa da
estatura.2
Altura do joelho
•A altura do joelho é medida utilizando-se um estadiômetro deslizante de lâminas grandes (disponível comercialmente na
página http://weighandmeasure.com)
•O paciente deve estar na posição supina e a perna esquerda deve ser medida preferencialmente
•Com os dois joelhos e tornozelos formando ângulos de 90°, o clínico coloca uma lâmina do estadiômetro sob o calcanhar do
pé e a outra na superfície anterior da coxa
•A haste do estadiômetro é mantida em paralelo com o eixo longitudinal da perna e o clínico aplica pressão para comprimir os
tecidos
•A estatura (em cm) é calculada com base nas seguintes fórmulas:
Mulheres: Estatura em cm = 84,88 – (0,24 × idade em anos) + (1,83 × altura do joelho em cm)
Homens: Estatura em cm = 64,19 – (0,04 × idade em anos) + (2,02 × altura do joelho em cm)
Nos indivíduos com compleição corporal leve ou pequena, o PI baseado nesse método pode ser reduzido em 10%, enquanto nos
indivíduos com compleição corporal pesada ou grande, o PI pode ser aumentado em 10%. Veja como determinar a constituição
física nas seções subsequentes.
Circunferência do punho
•O clínico deve medir a circunferência do punho em uma posição ligeiramente distal ao processo estiloide da dobra do punho
esquerdo (originalmente em polegadas, mas adaptada para centímetros neste texto) usando uma fita métrica. Em seguida, ele
pode comparar a medida com os valores descritos na Tabela 1.1.
Tabela 1.1 Estimativa da compleição corporal com base na circunferência do punho (adaptada em cm).
Medidas do punho de mulheres
Estatura < 157,5 Estatura de 157,5 a 165,0 Estatura > 165,0
Pequena < 14 < 15,25 < 15,87
Intermediária 14 a 14,6 15,25 a 15,87 15,87 a 16,5
Grande > 14,6 > 15,87 > 16,5
Medidas do punho de homens
Estatura > 165,0
Pequena 14 a 16,5
Intermediária 16,5 a 19
Grande > 19
Dados de U.S. National Library of Medicine (NLM). Calculating body frame size. Disponível
em: http://nlm.nih.gov/medlineplus/ency/imagepages/17182.htm. Acessada em 10 de dezembro de 2015.
Largura do cotovelo
•O indivíduo deve estar de pé (se for possível) e estender o braço para frente, de forma que fique no plano horizontal em
paralelo com o piso
•Virar a palma da mão para cima e dobrar o cotovelo, de forma que o antebraço forme um ângulo de 90° com o piso
•Medir a distância entre os dois ossos proeminentes em cada lado do cotovelo (os epicôndilos do úmero). Essa medida pode
ser efetuada com uma régua ou fita métrica, mas é preferível utilizar paquímetros disponíveis no mercado
•Comparar a medida com os valores ilustrados na Tabela 1.2.
Dados de Zeman FJ, Ney DM. Applications in Medical Nutrition Therapy. 2nd ed. Upper Saddle River, NJ: Merrill-Prentice Hall; 1996.
Dados de Osterkamp LK. Current perspective on assessment of human body proportions of relevance to amputees. J Am Diet
Assoc 1995;95:215–218.
Tabela 1.8 Fatores de atividade e estresse para determinar o gasto energético total.
Condição Fator
Fatores de atividade
Confinado ao leito 1,2
Ambulatorial 1,3
Fatores de estresse
Queimaduras
≤ 20% da superfície corporal 1,5
20 a 40% da superfície corporal 1,8
> 40% da superfície corporal (usar no máximo 60% da SCT) 1,8 a 2,0
Infecção
Leve 1,2
Moderada 1,4
Grave 1,8
Inanição 0,85
Intervenção cirúrgica
Pequeno porte 1,1
Grande porte 1,2
Traumatismo
Esquelético 1,2
Fechado 1,35
Craniano fechado 1,4
SCT, superfície corporal total.
Em que: GET, gasto energético total; P, peso atual em quilogramas; E, estatura em centímetros; I, idade em anos.
Equação de Harris-Benedict
Em que: P, peso em quilogramas (o clínico deve usar o peso atual em vez do peso ideal ou ajustado);* E, estatura em
centímetros; I, idade em anos.
Tabela 1.9 Necessidades energéticas ba sea das na razão de quilocalorias por quilograma de peso corporal.
Condição Necessidade energética (kcal/kg)
Eutrofia 25 a 30
Obeso (IMC > 30), estado crítico 11 a 14 (peso atual) ou
22 a 25 (peso ideal)
Estresse
Leve 30 a 35
Moderado a grave 35 a 45
Dados de (i) Escott-Stump S. Nutrition and Diagnosis-Related Care. 8th ed. Philadelphia, PA: Wolters Kluwer; 2015, e (ii) McClave SA,
Martindale RG, Vanek VW, et al. Guidelines for the provision and assessment of nutrition support therapy in the adult critically ill patient: Society
of Critical Care Medicine and American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (A.S.P.E.N.). JPEN J Parenter Enteral Nutr 2009;33:277–
316.
Em que: VE, ventilação expirada por minuto; Tmáx, temperatura corporal máxima nas últimas 24 horas em graus Celsius.
O cálculo das necessidades energéticas dos pacientes não dependentes do respirador em estado crítico depende do protocolo
de cada instituição e discernimento clínico. Um método utilizado é a MSJE modificada por um fator de 1,25, embora os índices
de precisão desta equação variem em torno de 50% apenas.11
A Tabela 1.9 descreve as recomendações da American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN) e da Society for
Critical Care Medicine (SCCM) quanto às necessidades energéticas (em kcal/kg) dos pacientes críticos obesos.
Necessidades de proteína
A Tabela 1.10 descreve as recomendações de proteínas para pacientes com vários distúrbios gerais. As necessidades de proteínas
em condições específicas podem ser encontradas nos capítulos correspondentes.
Necessidades de líquidos
Nos casos típicos, os métodos usados para estimar as necessidades de líquidos dos indivíduos eutróficos estão baseados na
ingestão energética, no peso corporal ou na superfície corporal (SC). O método da ingestão energética usa 1 mℓ/kcal para os
adultos e 1,5 mℓ/kg para os lactentes. O método da SC usa 1.500 mℓ/m2/dia × SC (ver como calcular a SC na Tabela
3.7).6 A Tabela 1.11 descreve outros métodos usados para estimar as necessidades de líquidos baseadas no peso corporal. As
necessidades de líquidos também dependem da condição clínica do paciente, com acréscimo ou redução do volume necessário em
algumas situações. Os capítulos dedicados às doenças específicas podem listar as necessidades de líquidos em situações
específicas.
Tabela 1.11 Estimativa das necessidades de líquidos com base no peso corporal.
Método 1 (adultos)
Peso corporal Necessidade de líquidos
Adultos jovens: 18 a 54 anos 30 a 35 mℓ/kg
Adultos: 55 a 65 anos 30 mℓ/kg
Idosos: > 65 anos 25 mℓ/kg
Método 2 (usado comumente nas populações pediátricas)
Peso corporal Necessidade de líquidos
1 a 10 kg 100 mℓ/kg
11 a 20 kg 1.000 mℓ + 50 mℓ/kg para cada kg acima de 10 kg
> 20 kg 1.500 mℓ + 20 mℓ/kg para cada kg acima de 20 kg
Dados de Academy of Nutrition and Dietetics. Nutrition Care Manual. Disponível em: www.nutritioncaremanual.org. Acessada em 16 de
dezembro de 2015.
DADOS BIOQUÍMICOS
A finalidade de obter dados laboratoriais como parte da avaliação nutricional é determinar as condições internas do organismo.
Amostras de sangue e urina podem ser usadas para dosar diretamente um nutriente ou metabólito afetado por este nutriente. Cada
teste tem sensibilidade e especificidade bem definidas. A sensibilidade indica o grau de precisão de um teste para determinar a
quantidade de um componente em determinada amostra. A especificidade descreve o quão específico um teste é para avaliar
determinada função ou diagnóstico, por exemplo, qual é a especificidade da ureia sanguínea na avaliação da função renal.
Os conceitos básicos da interpretação dos resultados laboratoriais são os seguintes: nenhum teste estabelece um diagnóstico
isoladamente; as amostras repetidas são mais válidas; podem ocorrer variações diurnas com alguns testes; e alguns componentes
podem ser afetados por outros distúrbios ou doenças coexistentes e fármacos usados simultaneamente.
Estado proteico
No passado, o estado proteico (compartimentos de proteínas somáticas e viscerais) era um elemento importante da avaliação
nutricional em diversos contextos, inclusive situações agudas. As três proteínas hepáticas principais usadas para avaliar as
proteínas viscerais são albumina, transferrina e pré-albumina (Tabela 1.12). Contudo, essas proteínas hepáticas também refletem a
resposta fisiológica a lesões, estresse, infecção, cirurgia e traumatismo.6 Elas são proteínas negativas da fase aguda, porque seus
níveis diminuem durante as reações fisiológicas ao estresse, quando o fígado redefine as prioridades da síntese de proteínas
viscerais para proteínas reagentes da fase aguda. A inflamação sistêmica – uma marca característica da resposta ao estresse – não
apenas reduz a síntese de albumina, como também pode aumentar sua degradação e provocar extravasamento transcapilar de
albumina.12 Por essas razões, os marcadores do estado proteico (inclusive albumina e pré-albumina) têm pouca utilidade na
avaliação ou monitoramento do estado nutricional dos pacientes em condições agudas. Em vez disso, eles podem ser usados em
combinação com as proteínas positivas da fase aguda (p. ex., proteína C reativa, ou PCR) para identificar os pacientes que
poderiam estar em risco nutricional como consequência de doenças agudas ou crônicas, que podem contribuir para a inflamação.
Além disso, a hipoalbuminemia foi detalhadamente estudada em subgrupos de pacientes como queimados, portadores de úlceras
de pressão, sepse grave, câncer, doença renal e pacientes cirúrgicos e mostrou-se um preditor importante de morbimortalidade.13-
16
O uso dos indicadores prognósticos multifatoriais pode ser útil em algumas situações para predizer o risco nutricional (Tabela
1.13).
Tabela 1.12 Parâmetros das proteínas viscerais.
Proteína Faixa de referência Implicações e considerações
Albumina 3,5 a 5,0 g/dℓ Reduzida quando as proteínas viscerais estão depletadas; meia-vida de 17 a 20 dias; os níveis diminuem
com doença hepática, síndromes de má absorção, nefropatias perdedoras de proteínas, ascite,
queimaduras, hidratação excessiva, inflamação; aumentam quando há desidratação
Fibronectina 220 a 400 mg/dℓ Reduzida quando as proteínas viscerais estão depletadas; meia-vida de 15 h; os níveis diminuem quando
há inflamação ou lesão; os níveis são alterados pelos fatores de coagulação
Pré-albumina 15 a 36 mg/dℓ Reduzida quando as proteínas viscerais estão depletadas; meia-vida de 1,9 dia; os níveis diminuem com
doença hepática, queimaduras, inflamação; aumentam na síndrome nefrótica, doença renal crônica,
gestação e linfoma de Hodgkin
Proteína ligadora 3 a 6 mg/dℓ Reduzida quando as proteínas viscerais estão depletadas; meia-vida de 12 h; os níveis diminuem na
do retinol pancreatite crônica ou carcinoma, fibrose cística, má absorção intestinal, doenças hepáticas crônicas,
deficiência de vitamina A; os níveis aumentam na insuficiência renal
Transferrina 188 a 341 mg/dℓ Reduzida quando as proteínas viscerais estão depletadas (apenas quando os níveis de ferro estão
normais); meia-vida de 8 a 10 dias; os níveis diminuem na infecção crônica, câncer; aumentam no final da
gestação, com o uso de anticoncepcionais orais e nas hepatites virais
Dados de Pagana KD. Mosby’s Manual of Diagnostic and Laboratory Tests. 5th ed. St. Louis, MO: Elsevier: Mosby; 2014.
A contagem total de linfócitos (CTL) reflete o estado das proteínas viscerais; como está relacionada com a função imune, esta
variável não tem precisão em algumas situações (Tabela 1.14).
Tabela 1.15 Uso do balanço nitrogenado para avaliar as proteínas corporais totais.
1.Monitorar a ingestão dietética de proteínas (PTN) em 24 h
2.Converter a ingestão proteica dietética em ingestão de nitrogênio:
O compartimento proteico somático é avaliado com base em medidas antropométricas e parâmetros bioquímicos (i. e.,
excreção de creatinina e balanço nitrogenado). A creatinina é um produto catabólico do fosfato de creatina, que é um componente
necessário à contração muscular. A creatinina é excretada a uma taxa diária constante proporcional à massa muscular. Doenças
renais e ingestão exacerbada de carnes podem aumentar os níveis de creatinina. A Tabela 1.16 fornece uma fórmula para calcular
o índice creatinina-altura e padrões comparativos para determinar a gravidade da deficiência de proteínas.
A avaliação bioquímica também inclui uma revisão dos parâmetros hematológicos, porque podem ser indicadores de anemia
de causa nutricional (Tabela 1.17). Muitos desses parâmetros também podem ser afetados pelo comprometimento do estado das
proteínas viscerais.
HISTÓRICO DO PACIENTE
A avaliação nutricional abrangente inclui alguns elementos da história clínica do paciente. Os tipos principais de histórico são: histórico de saúde ou médico, fármacos usados, histórico
pessoal e alimentos e nutrição. As fontes de informação do histórico são os prontuários médicos, o próprio paciente e outras pessoas significativas.
O histórico de saúde ou médico identifica os fatores que afetam as necessidades nutricionais ou de educação nutricional, ou que colocam o cliente em risco nutricional. Um
componente importante é a relevância nutricional do diagnóstico atual (Tabela 1.21). O diagnóstico pode acarretar um nível de risco específico baseado no seu potencial de afetar
negativamente o estado nutricional. Além do potencial da doença de alterar o estado nutricional, o grau de risco imposto a determinado paciente depende de vários fatores, inclusive sua
duração e gravidade, coexistência de outros fatores de estresse fisiológico e aspectos individuais (genética, idade e estado nutricional). Algumas doenças são nutricionalmente relevantes,
em razão da probabilidade de que os pacientes necessitem de intervenção nutricional.
Tabela 1.19 Exame físico para avaliação do estado nutricional: avaliação para desnutrição.
Área de tecido adíposo Referência Leve a moderada Grave
Região orbital – ao redor dos olhos (retenção de Coxins de gordura ligeiramente abaulados Círculos ligeiramente mais escuros; olhos ligeiramente Círculos escuros; olhos “encovados”; depressão; pele frouxa
líquidos pode mascarar a perda) “encovados”
Região do braço – triceps/bíceps Espaço amplo entre os dedos ao realizar Alguma profundidade ao realizar pinçamento, mas sem espaço Pouquíssimo espaço entre as dobras; os dedos se tocam
pinçamento amplo; os dedos quase se tocam
Regiões torácica e lombar – costelas, região Tórax largo; costelas inaparentes; pouca ou Costelas aparentes; depressões intercostais menos Depressões muito evidentes entre as costelas; crista ilíaca muito proeminente
lombar baixa, linha hemiaxilar nenhuma protrusão da crista ilíaca pronunciadas; crista ilíaca ligeiramente proeminente
Área muscular Referência Leve a moderada Grave
Região temporal – músculo temporal O músculo bem definido pode ser visto ou palpado Depressão discreta Deprimido; depressão escavada
Região da clavícula e do acrômio – músculo Curvas arredondadas no braço/ombro/pescoço Processo acromial ligeiramente saliente A articulação do ombro com o braço parece quadrada; ossos proeminentes;
deltoide protrusão acromial muito saliente
Região da clavícula – músculos peitoral maior, Não é visível nos homens; visível, mas não Visível nos homens; alguma protrusão nas mulheres Osso saliente e proeminente
deltoide, trapézio proeminente nas mulheres
Região escapular – músculos trapézio, Ossos não proeminentes; nenhuma depressão Depressão suave ou osso ligeiramente saliente Ossos proeminentes e visíveis; depressões entre as costelas/escápula ou
supraespinhoso e infraespinhoso significativa ombro/coluna vertebral
Dorso da mão – músculo interósseo As saliências musculares podem ser planas em Ligeiramente deprimido Área deprimida entre os dedos polegar e indicador
alguns indivíduos bem nutridos
Região patelar – músculo quadriceps Músculos salientes; ossos não proeminentes Patela menos proeminente; mais arredondada Ossos proeminentes; pequeno sinal do músculo ao redor do joelho
Região anterior da coxa – músculos quadriceps Bem arredondada; nenhuma depressão Depressão suave na face interna da coxa Depressão/linha na coxa; evidentemente afinada
Região posterior da panturrilha – músculo Massa muscular bem desenvolvida Massa muscular pouco desenvolvida Fina; pouca ou nenhuma definição dos músculos
gastrocnêmio
Edema Nenhum Leve a moderado Grave
Edema – excluir causas; paciente em peso seco Nenhum sinal de acúmulo de líquidos Cacifo leve a moderado; edema discreto dos membros; a Cacifo profundo a muito profundo; a depressão persiste por tempo moderado
depressão desaparece rapidamente (0 a 30 s) (31a 60 s); os membros parecem edemaciados (3 a 4+)
Adaptada com autorização de TouchPoint Support Services. Atlanta, GA. Disponível em: www.iamtouchpoint.com/pages/home.aspx.
Tabela 1.20 Exame físico para avaliação do estado nutricional: detecção de deficiên cias nutricionais.
Alterações detectadas
Parte do corpo Referência Anormal Implicações
Cabelos e pelos Brilhantes, distribuição normal Finos, opacos, secos, quebradiços, retorcidos Quimioterapia, deficiência de proteína ou biotina, deficiência
de vitamina C
Olhos Conjuntiva brilhante, límpida, rosada Olhos encovados, conjuntiva opaca, pálida e seca, fotofobia, xerose Deficiência de vitamina A, zinco ou riboflavina
Lábios Úmidos, corados Edemaciados, secos, vermelhos e rachados Deficiências de riboflavina, piridoxina e niacina
Gengivas Rosadas e firmes Feridas, esponjosas, vermelhas, edemaciadas, sangram facilmente Deficiência de vitamina C
Língua Rosada, papilas evidentes Roxa, com cobertura branca ou cinzenta, lisa, sem papilas evidentes Deficiências de riboflavina, piridoxina, ácido fólico, niacina,
vitamina B12, ferro
Dentes Limpos, intactos, todos presentes Dentaduras, dentes faltando, perda do esmalte dentário Deficiência de cálcio, dieta inadequada
Pescoço Sem edema Presença de nódulo(s), bócio Excesso ou deficiência de iodo
Pele Lisa, ligeiramente úmida, corada Pálida, seca, descamada, equimoses formadas facilmente, úlceras de pressão, dermatite Deficiências de ferro, vitaminas A ou C, zinco, ácidos graxos
essenciais, proteína; excesso de niacina
Pernas Bem formadas, musculatura firme, sem Hipersensibilidade na pantur-rilha, músculos flácidos, dor, edema, raquitismo, dor óssea ou articular Deficiências de proteínas, vitaminas A, C ou D e cálcio
dor óssea ou articular
Abdome Sem edema ou dor Ligeiramente edemaciado, diarréia, ascite Deficiências de proteínas, niacina e zinco
Mãos/unhas Lisas Unhas quebradiças, músculos finos e atrofiados, unhas em forma de colher (coiloníquia) Deficiências de proteínas e ferro
Musculoesquelético, Desenvolvimento normal dos ossos, Hipersensibilidade das panturri-lhas, perda de gordura subcutânea, aspecto edemaciado, dor, redução Deficiências de proteínas, tiamina, vitamina C; déficit
adiposo músculos e tecido adiposo da força de preensão palmar, bochechas deprimidas, fraturas, osteoporose energético ou de líquidos
Sistema neurológico Reflexos normais AVE, reflexos deprimidos, desorientação, paralisia, convulsões, demência Deficiências de tiamina, niacina, vitamina B6 ou B12, ácido
fólico, iodo, fósforo, cálcio e magnésio
AVE, acidente vascular encefálico.
Dados de Escott-Stump S. Nutrition and Diagnosis-Related Care. 8th ed. Philadelphia, PA: Wolters Kluwer; 2015.
O histórico dos fármacos usados identifica as substâncias que podem afetar as necessidades nutricionais ou alterar o estado nutricional. Isso inclui fármacos prescritos, fármacos usados
sem prescrição (OTC, ou over-the-counter, em inglês) e suplementos dietéticos (ver Apêndice B). O histórico pessoal inclui vários aspectos psicossociais e padrões de estilo de vida, que
podem afetar as necessidades nutricionais, influenciar as escolhas alimentares ou limitar as opções terapêuticas. O histórico alimentar e da nutrição identifica os padrões de consumo
alimentar, a ingestão e os desequilíbrios de nutrientes específicos, as razões dos problemas nutricionais potenciais e os fatores dietéticos importantes à elaboração de um plano de
cuidados nutricionais. A Tabela 1.22 contém informações gerais referidas a todos os tipos de histórico, além de informações
específicas que devem ser obtidas do paciente ou do seu prontuário médico.
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18.Jeejeebhoy K. Subjective global assessment. Available at: http://subjectiveglobalassessment.com/. Accessed December 16,
2015.
*O EAL demonstrou que a equação de Harris-Benedict foi mais exata quando usou o peso atual.10
2
Gestação
Lynn Kuligowski, RD
A gestação é um estágio de vida vulnerável no que se refere ao estado nutricional da mulher. Além disso, a ingestão dietética
e o estado nutricional da mulher antes e durante a gravidez afetam profundamente o desenvolvimento fetal e, por sua vez, o
desfecho gestacional. Em 2006, o CDC americano (Centers for Disease Control and Prevention) publicou recomendações
especiais para melhorar os cuidados e a saúde pré-concepcionais (Boxe 2.1).1-3 Outros estudos também demonstraram o impacto
profundo do estado nutricional materno e da ingestão nutricional materna no risco de o bebê desenvolver várias doenças crônicas
(p. ex., hipertensão arterial sistêmica e diabetes melito) na idade adulta, em grande parte devido ao peso ao nascer.4 Diversas
complicações gestacionais também podem afetar negativamente o estado nutricional. Por essas razões, a avaliação nutricional é
fundamental para ajudar a assegurar um desfecho gestacional ideal.
O peso corporal é um dos principais aspectos da gestação. O peso pré-gestacional e o ganho ponderal gestacional influenciam
de forma significativa o desfecho gestacional.5 Assim, mulheres com excesso ou baixo peso corporal antes da gestação possuem
risco aumentado de pior desfecho. Além disso, o ganho ponderal durante a gestação, especificamente a quantidade total e a taxa
de ganho, está relacionado com o peso ao nascer, o que, por sua vez, está associado à mortalidade infantil.6
Também existem recomendações provisórias para gestações gemelares, que instruem as mulheres com IMC pré-gestacional
normal (IMC de 18,5 a 24,9 kg/m2) a ganhar 16,75 a 24,5 kg; as mulheres com sobrepeso (IMC de 25,0 a 29,9 kg/m2) a ganhar
14,0 a 22,5 kg; e as mulheres obesas (IMC ≥ 30 kg/m2) a ganhar 11,3 a 19,0 kg. Alguns estudos mostraram a inexistência de
dados suficientes quanto às recomendações de ganho ponderal em outras gestações multifetais (Tabela 2.2).6 Como essas
gestações geralmente resultam em índices mais altos de bebês de baixo peso ao nascer, é necessário assegurar um ganho ponderal
adequado.
Tabela 2.3 Porcentagens de aumento da ingestão dietética recomendada em comparação com mulheres que não estão grávidas.
Mulher, 14 a 18 Gestante, 14 a 18 Mulher, 19 a 30 Gestante, 19 a 30 Mulher, 31 a 50 Gestante, 31 a 50
anos anos Aumento (%) anos anos Aumento (%) anos anos Aumento (%)
Macronutrientes
Carboidratos 130 g 175 g 35 130 g 175 g 35 130 g 175 g 35
a
Proteínas 0,85 g/kg 1,1 g/kg 30 0,8 g/kg 1,1 g/kg 38 0,8 g/kg 1,1 g/kg 38
Fibras 26 g 28 g 8 25 g 28 g 12 25 g 28 g 12
Vitaminas
Vitamina A 700 μg 750 μg 7 700 μg 770 μg 10 700 μg 770 μg 10
Vitamina D 600 UI 600 UI 0 600 UI 600 UI 0 600 UI 600 UI 0
Vitamina C 65 mg 80 mg 24 75 mg 85 mg 13 75 mg 85 mg 13
Vitamina E 15 mg 15 mg 0 15 mg 15 mg 0 15 mg 15 mg 0
Vitamina K 75 μg 75 μg 0 90 μg 90 μg 0 90 μg 90 μg 0
Tiamina 1,0 mg 1,4 mg 40 1,1 mg 1,4 mg 28 1,1 mg 1,4 mg 28
Riboflavina 1,0 mg 1,4 mg 40 1,1 mg 1,4 mg 28 1,1 mg 1,4 mg 28
Niacina 14 mg 18 mg 29 14 mg 18 mg 29 14 mg 18 mg 29
Vitamina B6 1,2 mg 1,9 mg 59 1,3 mg 1,9 mg 46 1,3 mg 1,9 mg 46
Vitamina B12 2,4 μg 2,6 μg 8 2,4 μg 2,6 μg 8 2,4 μg 2,6 μg 8
Folato 400 μg 600 μg 50 400 μg 600 μg 50 400 μg 600 μg 50
Ácido pantotênico 5 mg 6 mg 20 5 mg 6 mg 20 5 mg 6 mg 20
Biotina 25 μg 30 μg 20 30 μg 30 μg 0 30 μg 30 μg 0
Colina 400 mg 450 mg 12,5 425 mg 450 mg 6 425 mg 450 mg 6
Minerais
Cálcio 1.300 mg 1.300 mg 0 1.000 mg 1.000 mg 0 1.000 mg 1.000 mg 0
Flúor 3 mg 3 mg 0 3 mg 3 mg 0 3 mg 3 mg 0
Iodo 150 μg 220 μg 47 150 μg 220 μg 47 150 μg 220 μg 47
Ferro 15 mg 27 mg 80 18 mg 27 mg 50 18 mg 27 mg 50
Magnésio 360 mg 400 mg 11 310 mg 350 mg 13 320 mg 360 mg 13
Fósforo 1.250 mg 1.250 mg 0 700 mg 700 mg 0 700 mg 700 mg 0
Selênio 55 μg 60 μg 9 55 μg 60 μg 9 55 μg 60 μg 9
Zinco 9 mg 12 mg 34 8 mg 11 mg 38 8 mg 11 mg 38
a o o
No 2 e no 3 trimestre.
Dados de (i) Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes: The Essential Guide to Nutrient Requirements. Washington, DC: National Academies Press; 2009; e (ii) Institute of Medicine. Committee to
Review Dietary Reference Intakes for Vitamin D and Calcium. In: Ross AC, Taylor CL, Yaktine AL, et al, eds. Dietary Reference Intakes for Calcium and Vitamin D. Washington, DC: National Academies
Press; 2011. doi:10.17226/13050.
No 2o e no 3o trimestre.
a
Dados de Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes: The Essential Guide to Nutrient Requirements. Washington, DC: National Academies Press; 2009.
Dados de USDA Food and Nutrition Service. Tips for Pregnant Moms [fact sheet]. FNS-457. 2013. Disponível
em: www.gchd.us/clinic_services/wic/docs/PregnancyFactSheettipspg.pdf. Acessada em 15 de outubro de 2015.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
A avaliação nutricional inicial é crucial na gestação, considerando a relação entre estado nutricional materno e desfecho gestacional. Além dos tipos tradicionais de avaliação nutricional,
é importante considerar os fatores de risco principais, que podem estar presentes antes da gestação ou podem surgir durante o pré-natal (Boxe 2.2).10,13
Boxe 2.2 Avaliação nutricional e de fatores de risco na gestação.
Idade: ≥ 35 anos ou ≤ 16 anos
Peso pré-concepcional: > 120% ou < 85% do IMC recomendado para a idade
Doença crônica (p. ex., diabetes melito, doença cardiovascular, distúrbios gastrintestinais)
Gestação múltipla (gêmeos, trigêmeos etc.)
Uso de álcool e/ou drogas ilícitas
Tabagismo
Multiparidade; intervalo interpartal curto
Gestação anterior com bebê de baixo peso ao nascer
Pica (desejo intenso ou ingestão de alimentos incomuns ou de itens não alimentares)
Dieta vegetariana/vegana mal controlada
História de abstenção alimentar (pode ser atribuída a alergia/intolerância, crenças religiosas/culturais, restrições dietéticas autoimpostas)
Transtornos alimentares (anorexia/bulimia) ou hábitos alimentares inadequados
Fazer uma dieta de redução do peso, ou ter restrições dietéticas impostas
História de cirurgia bariátrica
Hábitos alimentares inadequados
Início tardio do pré-natal
Perda ponderal durante a gravidez
Hiperêmese gravídica com perda de peso
Risco de anemia
Risco de pré-eclâmpsia/eclâmpsia
Dificuldades socioeconômicas (baixa renda, falta de apoio familiar ou social, desabrigada ou sem teto, incapacidade de preparar as refeições)
História de problemas ginecológicos ou obstétricos
História de desfecho gestacional desfavorável (baixo peso ao nascer, prematuridade, anomalias congênitas, morte do bebê ou natimorto com
menos de 20 semanas, bebê pequeno para a idade gestacional (PIG), trabalho de parto prematuro ou abortamento)
Dados de (i) Academy of Nutrition and Dietetics. Nutrition Care Manual. Disponível em: www.nutritioncaremanual.org. Acessada em 16 de
novembro de 2015; e (ii) Escott-Stump S. Nutrition and Diagnosis-Related Care. 8th ed. Philadelphia, PA: Wolters Kluwer; 2015.
Antropometria
Como um tipo de avaliação nutricional, as medidas antropométricas talvez sejam as mais importantes em razão da relação entre
ganho ponderal pré-natal e desfecho gestacional. A adoção das recomendações de ganho ponderal do IOM, que estão baseadas no
peso pré-concepcional e no número de fetos de cada gestação, permite estabelecer metas de ganho ponderal. O registro do ganho
ponderal pré-natal em um gráfico para monitorar o ganho ponderal é importante para assegurar que seja alcançado o peso final
total almejado e a taxa de ganho ponderal adequada.6
As variações das metas de ganho ponderal (ganho total ou taxa de aumento) requerem uma investigação mais detalhada para
determinar se a causa é fisiopatológica ou está relacionada com a ingestão dietética inadequada. A retenção de líquidos pode
causar um aumento súbito do peso depois da 20a semana gestacional e isso pode indicar o desenvolvimento de pré-eclâmpsia.
História pessoal
Na gravidez, o componente da avaliação referido à história é vital à detecção de problemas e fatores de risco relacionados com a
ingestão dietética e o estilo de vida, dos quais alguns afetam significativamente o desfecho gestacional. Os seguintes elementos
relevantes da história fornecem descrições detalhadas desses fatores.
II.Distúrbios fisiológicos
1.Náuseas, vômitos e diarreia
2.Constipação intestinal
3.Refluxo gastresofágico
4.Alteração recente do peso
IV.Problemas médicos
1.Doença crônica
2.Fármacos
3.Saúde oral/dentária
V.Contaminantes/outras substâncias
1.Peixes (mercúrio/contaminantes: verificar recomendações dos órgãos de saúde locais)
2.Pica
3.Ingestão excessiva de cafeína (> 2 xícaras de café/dia)
4.Álcool
5.Tabagismo
6.Patógenos transmitidos por alimentos (Listeria monocytogenes, Toxoplasma gondii)
Dados de (i) Academy of Nutrition and Dietetics. Nutrition Care Manual. Disponível em: www.nutritioncaremanual.org. Acessada em 16 de
novembro de 2015; e (ii) Escott-Stump S. Nutrition and Diagnosis-Related Care. 8th ed. Philadelphia, PA: Wolters Kluwer; 2015.
Boxe 2.4 Fármacos e suplementos dietéticos que devem ser evitados na gestação.
Fármacos vendidos com prescrição
Suplementos dietéticos
Fitoterápicos e outras substâncias Cimicífuga (Actaea), Caulophylum, Vitex agnus-castus, Echinacea, éfedra, tanaceto (Tanacetum
parthenium), hidraste (Hydrastis), junípero, artemísia, óleo de prímula, arruda, erva-de-são-joão (hipérico)
a o
No 3 trimestre.
b o
No 1 trimestre.
ECA, enzima conversora de angiotensina; MAO, monoaminoxidase.
Dados de (i) March of Dimes [Internet]. Prescription drugs, over-the-counter drugs, supplements and herbal products; c 2015 [Revisado em julho
de 2015; citado em 28 de novembro de 2015]. Disponível em: www.marchofdimes.org/pregnancy/prescription-drugs-over-the-counter-drugs-
supplements-and-herbal-products.aspx. Acessada em 12 de novembro de 2015, (ii) Servey J, Chang J. Over-the-counter medications in
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Gynecol 2015;126(3):687–688. doi:10.1097/AOG.0000000000001048.
Avaliação
•IMC e peso pré-concepcionais, perda ponderal
•Frequência/gravidade das náuseas e dos vômitos
•Uso de suplementos fitoterápicos para tratar náuseas; adesão à suplementação de vitaminas pré-natais prescritas
•Ingestão dietética, padrão das refeições (ingerir apenas uma refeição volumosa por dia ao anoitecer, quando os alimentos são mais
bem tolerados)
Diagnóstico nutricional
•Ingestão oral inadequada de alimentos e líquidos, relacionada com náuseas e vômitos da gravidez, evidenciada pelo emagrecimento
de 900 g em 9 semanas
•Ingestão inadequada de vitaminas/minerais, relacionada com náuseas e vômitos da gestação, evidenciada pela incapacidade de
consumir o suplemento nutricional prescrito
•Aumento das necessidades nutricionais, relacionado com a gestação, evidenciado pela história dietética de baixa ingestão e perda
ponderal
•Práticas nutricionais perigosas, relacionadas com o uso de suplementos fitoterápicos vendidos sem prescrição, evidenciado pela
história dietética de usar suplementos dietéticos perigosos
Intervenção
•Aconselhamento nutricional para aumentar o fracionamento e reduzir o volume das refeições com quantidades adequadas de proteínas
e evitar alimentos gordurosos
•Aconselhamento nutricional quanto às alternativas seguras para os suplementos fitoterápicos vendidos sem prescrição (i. e., gengibre,
B6 ou fármacos prescritos)
•Aconselhamento nutricional quanto à ingestão adequada de líquidos entre as refeições em vez de durante as refeições
•Recomendar alternativas temporárias às vitaminas pré-natais, inclusive vitaminas pediátricas em forma de solução ou comprimidos
mastigáveis
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal
•Ingestão oral (alimentos e líquidos)
•Tolerância/uso do suplemento de vitaminas/minerais
•Intensidade das náuseas e dos vômitos
•Uso de suplementos fitoterápicos não aprovados pela FDA
Diabetes melito
Nos EUA, o diabetes melito acomete cerca de 4,6 a 9,2% de todas as gestações.24 As mulheres podem engravidar com diabetes
melito preexistente (tipo 1 ou 2) ou desenvolver diabetes melito gestacional durante a gestação. Todos os tipos de diabetes melito
durante a gestação aumentam o risco de desfechos desfavoráveis ao feto e à mãe. Esses riscos incluem anomalias congênitas,
macrossomia (peso ao nascer igual ou superior a 4 kg), distocia de ombro, hipoglicemia pós-parto, hiperinsulinemia neonatal e
cesariana.25 Contudo, o controle dos níveis glicêmicos por meio do automonitoramento diário da glicemia (AMDG), atividade
física, dietoterapia e/ou fármacos reduz significativamente esses riscos e melhora o prognóstico fetal.26
a
O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) recomenda um limite inferior de 135 mg/dℓ (7,5 mmol/ℓ) para as minorias étnicas
em risco alto e prevalência elevada de DMG; alguns especialistas também recomendam o limite de 130 mg/dℓ (7,2 mmol/ℓ).
NDDG, National Diabetes Data Group.
Dados de American Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes – 2014. Diabetes Care 2014;37(Suppl 1):S14–S80.
Contudo, a restrição calórica deve ser recomendada com cautela, porque existe alguma evidência de que o aporte mínimo
deva ser de 1.800 kcal/dia, em razão do risco de cetonúria e cetonemia. Na tentativa de padronizar o tratamento nutricional das
gestantes com DMG, a Academy of Nutrition and Dietetics elaborou recomendações nutricionais baseadas em evidências.29 Os
três componentes fundamentais são tratamento médico-nutricional (TMN); modificações dietéticas, inclusive ajustes da ingestão
de carboidratos; e atividade física. Além disso, esse órgão desenvolveu diretrizes de monitoramento e reavaliação nutricionais
(Boxe 2.7).
Triagem/referenciamento
Avaliação nutricional
Intervenção nutricional
1.Recomendar a ingestão energética suficiente para promover ganho ponderal das mulheres com eutrofia ou baixo peso (usar DRI).
2.Recomendar ganho ponderal lento e restrição calórica leve para mulheres com sobrepeso/obesidade (24 kcal/kg/dia com sobrepeso e
12 kcal/kg/dia com obesidade).
3.Recomendar a ingestão mínima de carboidratos de 175 g/dia e < 45% do valor energético total.
4.Ingerir quantidades adequadas de proteínas e lipídios com base na DRI.
5.Prevenir deficiências nutricionais recomendando o uso de um suplemento de polivitaminas/minerais quando a ingestão oral não
atender à DRI.
6.Praticar atividade física 3 dias por semana ou mais, por no mínimo 30 min, a menos que exista alguma contraindicação.
7.Realizar automonitoramento diário da glicemia (AMDG): em jejum e 1 a 2 h depois das refeições.
8.Usar com moderação apenas os adoçantes não nutritivos aprovados pela FDA.
9.Estimular a amamentação.
10.Evitar ingestão de álcool, mesmo quando usado na preparação dos alimentos.
11.Recomendar o início do tratamento farmacológico (insulina) quando o TMN não for eficaz.
12.Recomendar teste para cetonas nas mulheres com emagrecimento ou ingestão insuficiente de calorias/carboidratos.
Depois do parto, recomendar que a paciente perca peso por meio de modificações dietéticas e atividade física se ela tiver
sobrepeso/obesidade ou tiver ganho ponderal superior ao recomendado durante a gestação.
As medidas dietéticas específicas estão descritas no Boxe 2.8 e, quando elas não conseguem controlar os níveis glicêmicos, é
necessário administrar insulina exógena, como ocorre com 15% das mulheres portadores de DMG.29 Os agentes antidiabéticos
orais usados atualmente na gestação “sem indicação oficial” (off-label, em inglês) (glibenclamida e metformina) não foram
aprovados pela FDA e podem não ser seguros nas gestantes. Os estudos que avaliaram a possibilidade de controlar a glicemia
com fármacos e seu risco potencial de complicações gestacionais produziram resultados variados.30
Limitar a ingestão de carboidratos a 33 a 40% do valor energético total (no mínimo: 175 g):
•10 a 35% das calorias na forma de proteínas
•20 a 35% das calorias na forma de lipídios (< 10% de ácidos graxos saturados)
Reduzir a ingestão de carboidratos a 15 a 30 g nas refeições matutinas.
Intercalar regularmente a ingestão de carboidratos ao longo de todo o dia (em vez das primeiras refeições da manhã).
Consumir várias refeições e lanches leves, em vez de refeições volumosas sem lanches.
Avaliação
•IMC e peso pré-concepcionais; peso atual
•Resultados do TTOG
•História pregressa de DMG ou bebê grande para a idade gestacional
•Acesso a transporte e apoio social
•Ingestão dietética, atividade física
Diagnóstico nutricional
•Ingestão excessiva de alimentos/bebidas, relacionada com déficit de conhecimentos sobre nutrição e inatividade, evidenciada pelo IMC
2
pré-concepcional de 30 kg/m e ganho ponderal de 9 kg com 28 semanas de gestação
•Ingestão excessiva de carboidratos, relacionada com déficit de conhecimentos e falta de apoio social, evidenciada pelo resultado do
TTOG de 1 h sem jejum de 150 mg/dℓ
•Acesso limitado aos alimentos, relacionado com falta de transporte e apoio social, evidenciado pela ingestão de guloseimas/fast foods
de alta densidade energética
•Inatividade física, relacionada com a falta de um ambiente seguro, evidenciada pelo estilo de vida sedentário relatado
Intervenção
•Fornecer informações nutricionais quanto às recomendações de ganho ponderal do IOM
•Fornecer informações nutricionais quanto a uma dieta com controle de carboidratos (< 45% do valor energético total, no mínimo 175
g/dia e 12/kcal/kg/dia)
•Assegurar a ingestão de um suplemento de polivitamínico/minerais para evitar deficiências nutricionais
•Instruir quanto à prática de exercícios dentro de casa por 30 min, no mínimo 3 dias por semana, com consentimento médico
•Referenciar à Assistência Social e aos Programas de Saúde Materno-Infantis para obter ajuda para comprar alimentos e acesso a
transporte
•Referenciar a um Educador Habilitado em Diabetes Melito para aprender a realizar automonitoramento da glicemia
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal
•Ingestão oral
•Registros do AMDG (níveis glicêmicos – jejum e pós-prandiais)
•Diários da prática de exercícios
•Confirmação da participação nos programas de apoio social
•Comparecimento às consultas de pré-natal
Dados de English FA, Kenny LC, McCarthy FP. Risk factors and effective management of preeclampsia. Integr Blood Press Control 2015;8:7–
12.
No passado, a prática convencional consistia em restringir a ingestão de sódio, mas as recomendações atuais da OMS são que
as práticas dietéticas saudáveis devam ser promovidas e uma prática dietética considerada saudável é evitar a ingestão excessiva
de sal dietético.34 Por essa razão, a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) pode ser útil (Tabela 2.10).35 Nas
populações nas quais a ingestão de cálcio é baixa ou insuficiente, recomenda-se administrar suplementos de 1,5 a 2,0 g/dia para
prevenir a pré-eclâmpsia, especialmente nas mulheres em risco elevado. A OMS não encontrou evidências suficientes para
recomendar a suplementação das vitaminas C, D e E.34
O tratamento clínico da pré-eclâmpsia inclui o uso de ácido acetilsalicílico em doses baixas (antes da 12a semana até a
36a semana gestacional) para reduzir o risco de desenvolver essa complicação gestacional nas mulheres em risco elevado. Os anti-
hipertensivos orais (p. ex., labetalol ou metildopa) são usados comumente para controlar a hipertensão arterial gestacional. O
nascimento do bebê é a única cura definitiva da pré-eclâmpsia, mas as mulheres com hipertensão arterial sistêmica crônica devem
manter seu tratamento recomendado depois do parto.33
Tabela 2.10 Dieta DASH na gestação (ba sea da em uma dieta de 2.000 kcal).
Nutrientes Aporte dietético
Carboidratos 45 a 55% do valor energético total
Proteínas 15 a 20% do valor energético total
Lipídios 25 a 30% do valor energético total
Sódio 2a3g
Alimentos Porções/dia
Frutas 4a5
Vegetais 4a5
Grãos (de preferência integrais) 6a8
Laticínios (teor reduzido de gordura ou desnatados) 3 ou mais
Carnes magras/aves/peixes 6 ou menos
Oleaginosas, sementes e legumes 4 a 5 por semana
Gorduras e óleos 2a3
Doces e açúcares de adição 5 ou menos por semana
DASH, Dietary Approaches to Stop Hypertension (Abordagens Dietéticas para Erradicar a Hipertensão Arterial Sistêmica, em tradução livre).
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Accessed November 18, 2015.
3
Avaliação de Pacientes Pediátricos
A avaliação nutricional do paciente pediátrico é singular sob vários aspectos. Em todos os contextos de atenção à saúde, a
triagem nutricional é muito útil à identificação dos lactentes, crianças e adolescentes de alto risco. O Boxe 3.1 descreve alguns
“sinais de alerta” que justificam intervenção nutricional nas unidades hospitalares, nas clínicas ambulatoriais ou no atendimento à
comunidade. O Boxe 3.2 apresenta algumas classificações usadas comumente para avaliar lactentes.
Idade gestacional ≤ 37 semanas Relação peso-comprimento < P10, ou IMC < P10
Peso muito baixo ao nascer Relação peso-comprimento > P95, ou IMC > P95
Ganho ponderal insuficiente Ganho ou perda ponderal significativa
Fórmula não padronizada Alimentação enteral ou parenteral
Fórmula concentrada a uma diluição não padronizada Dieta especial
Alergias/intolerâncias alimentares Alergias/intolerâncias alimentares
Ingestão insuficiente/inadequada Transtorno alimentar
Desnutrição ou risco de desnutrição em consequência de Desnutrição ou risco de desnutrição em consequência de diagnósticos
diagnósticos médicos, comorbidades, condições econômicas ou médicos, comorbidades, condições econômicas ou sociais etc.
sociais etc.
Erros inatos do metabolismo Omissão de alimentos por motivos religiosos
Gestação na adolescência
Idade cronológica ou tempo de vida Tempo decorrido desde o nascimento (dias, semanas, meses)
Idade gestacional Tempo estimado desde a concepção ou idade pós-concepcional
Idade corrigida Idade ajustada para prematuridade
Lactente prematuro < 37 semanas de gestação
Lactente a termo 37 a 42 semanas de gestação
Lactente pós-termo > 42 semanas de gestação
Peso baixo ao nascer < 2.500 g
Peso muito baixo ao nascer < 1.500 g
Peso extremamente baixo ao nascer < 1.000 g
Pequeno para a idade gestacional Peso < P10
Adequado para a idade gestacional Peso ≥ P10 e ≤ P90
Grande para a idade gestacional Peso > P90
Dados de (i) Nevin-Folino N, ed. Pediatric Manual of Clinical Dietetics. 2nd ed. Chicago, IL: American Dietetic Association; 2003, e (ii) Davis
A. Pediatrics: Contemporary Nutrition Support Practice. Philadelphia, PA: Saunders; 1998:356.
AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA
A avaliação do crescimento é essencial à avaliação do estado de saúde e das condições nutricionais do paciente pediátrico. As
aferições sequenciais são mais apropriadas para medir o crescimento e são mais conclusivas que as medições isoladas. A seguir,
estão listadas as medidas antropométricas recomendadas com base na faixa etária:
•0 a 24 meses
°Peso corporal
°Comprimento na posição de decúbito
°Perímetro cefálico
°Relação peso-comprimento
•2 a 18 anos
°Peso corporal
°Estatura
°Circunferência da cintura
°Índice de massa corporal (IMC).
Peso
O peso deve ser aferido assegurando-se a consistência da técnica e da balança. Os bebês devem estar sem roupas e fraldas. As
crianças e os adolescentes devem usar roupas mínimas. O peso deve ser arredondado para o mais próximo de 100 g.
Comprimento
O comprimento é medido do alto da cabeça ao calcanhar. O comprimento na posição de decúbito deve ser medido utilizando-se o
infantômetro para crianças de 0 a 24 meses. Para essa aferição, podem ser necessárias duas pessoas. Usando um estadiômetro
perpendicular, a estatura de pé deve ser medida nas crianças com idade igual ou superior a 24 meses, desde que possam ficar de
pé. A medição deve ser arredondada para o mais próximo de 0,5 cm. A medida joelho/calcanhar pode ser usada nos pacientes
mais velhos que não consigam ficar de pé (Tabela 3.1).
Perímetro cefálico
O perímetro cefálico é aferido na dimensão fronto-occipital mais larga. Esta é uma medida útil até cerca de 3 anos de vida,
quando o crescimento do crânio diminui acentuadamente. A medição deve ser arredondada para o mais próximo de 0,5 cm.
Tabela 3.1 Equações para cálculo da estatura com uso da distância joelho/calcanhar.
Estatura = (2,69 × altura do joelho) + 24,2
Método de Stevenson Com base em dados obtidos de crianças com paralisia cerebral menores de 12 anos
Método de Chumlea Sexo masculino: Estatura = 64,19 – (0,04 × idade) + (2,02 × altura do joelho)
Sexo feminino: Estatura = 84,88 – (0,24 × idade) + (1,83 × altura do joelho)
Equações derivadas da altura do joelho de indivíduos idosos
Dados de Bunting KD, Mills J, Ramsey E, et al. Texas Children’s Hospital Pediatric Nutrition Reference Guide. 10th ed. Houston, TX: Texas
Children’s Hospital; 2013.
Índice de massa corporal
O IMC das crianças e dos adolescentes é singular e seus valores não podem ser interpretados com base nas categorias de IMC do
adulto. O IMC por idade (IMC/I) deve ser interpretado utilizando-se gráficos de crescimento para comparar percentis específicos
por idade e sexo (ver “Páginas de internet referentes aos gráficos de crescimento”, adiante).
Circunferência da cintura
A circunferência da cintura é medida a meia distância entre o alto da crista ilíaca e a parte inferior do gradil costal. Para isso,
deve-se utilizar uma fita métrica não distensível. Essa medida é mais exata quando o paciente não ingeriu recentemente uma
refeição volumosa e expira normalmente (o abdome não é “puxado para dentro”).
Circunferência do braço
A circunferência do braço (CB) é uma medida útil à avaliação dos pacientes pediátricos porque, ao contrário dos outros
indicadores, ela pode ser usada como um recurso independente na avaliação antropométrica, na medida em que os valores de
referência mudam pouco ao longo dos primeiros anos. As medidas podem ser comparadas com padrões elaborados pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), ou podem ser realizadas aferições sequenciais para monitorar as alterações utilizando o
paciente como seu próprio controle. Os padrões da OMS podem ser acessados na
página www.who.int/childgrowth/standards/ac_for_age/en.
AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO
As medidas devem ser colocadas em um gráfico de crescimento e as tendências, monitoradas. Em 2010, o CDC americano
(Centers for Disease Control and Prevention) adotou os gráficos de crescimento para crianças com menos de 24 meses propostos
pela OMS. Os gráficos de crescimento da OMS estão baseados em uma amostra internacional de crianças saudáveis, que viviam
em condições de saúde ideais para promover o crescimento (nascimento de feto único, aleitamento materno, ambiente livre de
tabagismo etc.). Por essa razão, os gráficos de crescimento da OMS devem ser considerados curvas padrões (ou prescritivas) em
vez de referência (ou descritivas), como acontece com as curvas CDC 2000. Desse modo, deve-se utilizar um gráfico apropriado à
idade e ao sexo. Além dos gráficos de crescimento padronizados, existem gráficos de crescimento especializados para algumas
condições especiais. As Tabelas 3.2 e 3.3descrevem as interpretações dos percentis dos gráficos de crescimento.
Quando se utiliza um gráfico de crescimento padronizado com um lactente prematuro, a idade pós-natal (idade do bebê
calculada em semanas desde o nascimento) precisa ser corrigida pela idade gestacional (idade do bebê calculada em semanas a
partir da data da concepção com base no exame de ultrassonografia), até 24 meses de vida no mínimo.1 O Boxe 3.3 ilustra um
exemplo de como calcular a idade ajustada pelo tempo de gestação.
Tabela 3.2 Interpretação dos índices A/I e P/I nos gráficos de crescimento padronizado pelo CDC.
a
Percentil Interpretação
P50 Média por idade
P10 a P90 Saudável para a maioria dos pacientes pediátricos
P3 a P10 ou P90 a P97 É necessária uma investigação mais detalhada
< P3 ou > P97 Inadequado, até que se prove o contrário
a
Quando o paciente está em posição acima ou abaixo do que se esperaria de seu potencial, ou quando há alterações significativas das
medidas, fatores nutricionais ou patológicos devem ser considerados. A avaliação subsequente pode incluir consideração das estaturas dos
pais, velocidade de crescimento, idade óssea, estado puberal e desenvolvimento.
A/I, altura por idade; P/I, peso por idade.
Tabela 3.3 Interpretação do índice IMC/I nos gráficos de crescimento padronizado pelo CDC.
Percentil Interpretação
< P5 Baixo peso
≥ P5 e < P85 Eutrofia
≥ P85 e < P95 Risco de sobrepeso
≥ P95 Sobrepeso
IMC/I, índice de massa corporal por idade.
Dados de BMI – Body Mass Index: About BMI for Children and Teens. Disponível
em: www.cdc.gov/nccdphp/dnpa/bmi/childrens_BMI/about_childrens_BMI.htm. Acessada em 16 de dezembro de 2006.
Boxe 3.3 Idade dos lactentes prematuros ajustada pelo tempo de gestação.
Ajuste para prematuridade = 40 semanas (a termo) – idade gestacional ao nascer (em semanas)
Ajuste para idade gestacional = idade pós-natal – ajuste para prematuridade
Exemplo: Miguel nasceu em 1o de março de 2006. Sua idade gestacional ao nascer foi calculada em 30 semanas com base no exame de
ultrassonografia.
Na época de sua internação hospitalar, em 24 de maio de 2006, sua idade pós-natal era de 12 semanas. Com base nas equações anteriores,
qual é sua idade ajustada pelo tempo de gestação?
Ajuste para prematuridade = 40 semanas – 30 semanas = 10 semanas
Ajuste para idade gestacional = 12 semanas – 10 semanas = 2 semanas
Se esses dados fossem colocados em um gráfico de crescimento padronizado da OMS, as medidas antropométricas poderiam ser colocadas
no gráfico de um bebê de 2 semanas.
Como o tipo de alimentação (aleitamento materno versus alimentação com fórmulas) afeta as tendências, é importante notar
que os bebês alimentados com fórmulas ficam em posições diferentes nos gráficos da OMS. Enquanto os bebês amamentados têm
velocidade de crescimento maior nos primeiros 3 meses de vida, um número maior de bebês alimentados com fórmulas poderia
ser identificado como baixo peso para a idade neste período. Depois disso, há um aumento mais lento do peso e, deste modo,
menos crianças de 6 a 23 meses poderiam ser classificadas como baixo peso. As diferenças de comprimento por idade são
pequenas e, por isto, não se espera encontrar diferenças clínicas significativas.2
Peso usual
O peso usual(PU) é útil para acompanhar alterações do peso:
VELOCIDADE DE CRESCIMENTO
A velocidade de crescimento em estatura ou peso mede as alterações dessas medidas ao longo do tempo. Alterações da velocidade
de crescimento indicam a necessidade de uma investigação adicional.
Exemplo: Em sua consulta rotineira de 4 meses, Stephanie pesava 5,8 kg e media 60 cm de comprimento. Na consulta de rotina
com 6 meses, ela pesava 6,5 kg e media 64 cm. Com base nessa equação, qual é a velocidade de crescimento e ganho ponderal
dessa criança?
Nota: É melhor usar a idade real em dias para calcular a velocidade de ganho ponderal, mas, quando esse dado não está
prontamente disponível, é possível estimar qual é a idade da criança (em dias) utilizando o padrão de 30 dias/mês.
De acordo com a Tabela 3.4, as velocidades de ganho ponderal e crescimento estão dentro da faixa ideal de crescimento médio
entre as idades de 3 e 6 meses (a Tabela 3.5 descreve as velocidades de crescimento de padrão para crianças de 2 a 10 anos).
Exemplo: João pesa 15 kg. Usando a equação da Tabela 3.7, qual é sua superfície corporal em m2?
Com base na superfície corporal calculada, quais são as necessidades de líquidos dessa criança?
O uso do metabolismo energético basal ajuda a estimar as necessidades energéticas dos lactentes e das crianças doentes.
Ver equações para estimar a taxa metabólica basal (TMB) e os fatores de atividade e estresse comuns nas Tabelas 3.10 a 3.12.
Tabela 3.10 Método de Schofield para estimar a taxa metabólica basal (TMB).
Idade (anos) Meninos Meninas
0a3 (0,167 × peso) + (15,174 × comprimento) – 617,6 (16,252 × peso) + (10,23 × comprimento) – 413,5
3 a 10 (19,59 × peso) + (1,303 × estatura) – 414,9 (16,969 × peso) + (1,618 × estatura) + 371,2
10 a 18 (16,25 × peso) + (1,372 × estatura) + 515,5 (8,365 × peso) + (4,65 × estatura) + 200
> 18 (15,057 × peso) – (1,004 × estatura) + 705,8 (13,623 × peso) + (2,83 × estatura) + 98,2
Dados de Bunting KD, Mills J, Ramsey E, et al. Texas Children’s Hospital Pediatric Nutrition Reference Guide. 10th ed. Houston, TX: Texas
Children’s Hospital; 2013.
Em que PI é peso ideal, P/I é peso por idade e DRI é ingestão dietética de referência.
Exemplo: Andrea tem 5 anos e 6 meses de vida. Ela pesa 13 kg (< P5) e mede 106 cm de estatura (entre o P10 e P25). Usando o
gráfico de crescimento padronizado do CDC, qual é o peso ideal de Andrea com base em sua estatura?
Utilizando a equação geral para recuperação do crescimento, quantas quilocalorias por quilograma por dia Andrea necessita?
Exemplo: Andrea tem 5 anos e 6 meses de vida. Ela pesa 13 kg (< P5) e mede 106 cm de estatura (entre o P10 e P25). Usando o
gráfico de crescimento padronizado do CDC, qual é o peso ideal de Andrea com base na estatura?
Usando a equação de MacLean para recuperação do crescimento, de quantas quilocalorias por quilograma por dia Andrea
necessita?
De quantas quilocalorias totais por dia Andrea necessita?
Tabela 3.13 Estimativa das necessidades energéticas das crianças com anomalias do desenvolvimento
Diagnóstico Necessidades energéticas
Paralisia cerebral (5 a 11 anos)
Atividade leve a moderada 13,9 kcal/cm de estatura
Limitações físicas graves 11,1 kcal/cm de estatura
Paralisia cerebral atetoide Até 6.000 kcal/dia
Síndrome de Down (5 a 12 anos)
Meninos 16,1 kcal/cm de estatura
Meninas 14,3 kcal/cm de estatura
Mielomeningocele (espinha bífida)
Necessidades para manutenção do peso 9 a 11 kcal/cm de estatura
Necessidades para perda ponderal 7 kcal/cm
> 1 ano de vida Cerca de 50% da DRI/RDA para a idade
Síndrome de Prader-Willi
Necessidades para manutenção do peso 10 a 11 kcal/cm de estatura
Necessidades para perda ponderal 8,5 kcal/cm de estatura
DRI, ingestão dietética de referência; RDA, ingestão dietética recomendada.
Dados de (i) Ekvall S, Bandini L, Ekvall V. Pediatric Nutrition in Chronic Disease and Developmental Disorders. Oxford, UK: Oxford University
Press; 2005:140, e (ii) Davis A. Pediatrics: Contemporary Nutrition Support Practice. Philadelphia, PA: Saunders; 1998:356.
Vitaminas e minerais
Alguns micronutrientes essenciais requerem atenção na avaliação da população pediátrica:
•Ferro: a combinação de crescimento rápido e ingestão relativamente baixa de ferro coloca as crianças em risco de
desenvolver anemia ferropriva. As jovens adolescentes e os que praticam atividade física em níveis altos também se
encontram em risco. Esse tipo de anemia pode ser evitado com escolhas alimentares apropriadas. Quando há suspeita de
deficiência de ferro, isto deve ser confirmado por exames laboratoriais. Os seguintes valores laboratoriais devem ser
considerados: hemoglobina, hematócrito, volume corpuscular médio, ferritina, ferro sérico e capacidade total de ligação do
ferro sérico
•Vitamina D: os bebês amamentados exclusivamente com leite materno devem receber um suplemento de vitamina D na dose
de 400 unidades internacionais (UI) por dia nos primeiros dias de vida. As crianças e os adolescentes que não têm exposição
regular à luz solar também podem necessitar dessa suplementação, e podem ser necessárias quantidades acima da ingestão
dietética recomendada (RDA), que é de 600 UI
•Zinco: alguns estudos demonstraram que os lactentes e as crianças estão em risco de desenvolver deficiência de zinco, em
razão da absorção alterada deste nutriente. É importante avaliar a ingestão dietética de fontes de zinco, inclusive carnes de
vaca, ovos, legumes e grãos integrais
•Flúor: o flúor é necessário à redução das cáries dentárias. A água engarrafada pode ou não conter flúor; por esta razão, é
preciso analisar os rótulos de cada produto. As recomendações de suplementação dependem da avaliação da ingestão diária
total de flúor da criança com base em suas fontes de líquidos. Do nascimento até 6 meses de vida, a suplementação não se faz
necessária. Após os 6 meses, a quantidade a ser suplementada deve ser baseada na exposição total de flúor da criança
•Cálcio: em todas as crianças e adolescentes, a ingestão adequada de cálcio é necessária ao crescimento ideal e à prevenção de
anormalidades esqueléticas futuras e de enfraquecimento dos ossos. Os laticínios e outras fontes não lácteas de cálcio devem
ser avaliados. Para as crianças com ingestão insuficiente, deve-se fornecer instruções acerca das fontes adequadas de cálcio. A
suplementação pode ser indicada com base na avaliação clínica.
Suplementação
A suplementação rotineira de vitaminas e minerais não é necessária às crianças saudáveis com mais de 1 ano de vida. A seguir, há
uma lista com os grupos de risco. A suplementação deve ser considerada nesses casos (Tabela 3.14).
•Lactentes com má absorção e doença hepática ou pancreática
•Crianças e adolescentes de famílias carentes, ou crianças que sofrem negligência ou abuso infantil
•Crianças e adolescentes com anorexia ou distúrbios do apetite
•Crianças com doença crônica
•Crianças que fazem regimes dietéticos para perder peso
•Adolescentes gestantes
•Crianças ou adolescentes que omitem qualquer um dos grupos alimentares de sua alimentação.
Fibras
A Tabela 3.15 descreve as recomendações de ingestão de fibras para crianças e adolescentes.
Tabela 3.15 Necessidades de fibras para crianças e adolescentes.
Idade (anos) Fibras (g)/dia
1a3 19
4a8 25
Meninas, 9 a 13 26
Meninos, 9 a 13 31
Meninas, 14 a 18 26
Meninos, 14 a 18 38
Dados de Bunting KD, Mills J, Ramsey E, et al. Texas Children’s Hospital Pediatric Nutrition Reference Guide. 10th ed. Houston, TX: Texas
Children’s Hospital; 2013.
RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES
As Tabelas 3.16 e 3.17 descrevem as recomendações alimentares para lactentes, pré-escolares e escolares até a adolescência.
Tabela 3.16 Recomendações alimentares para crianças de 0 a 12 meses.
Leite materno e/ou fórmula
infantil enriquecida Cereais, pães, grãos e amidos Frutas e vegetais Carnes e outros alimentos ricos em proteínas
Até 4 meses 8 a 12 mamadas Nenhum Nenhum Nenhum
55 a 170 g/mamada
(500 a 900 g/dia)
4 a 6 meses 4 a 6 mamadas Nenhum Nenhum Nenhum
110 a 170 g/mamada
(760 a 1.300 g/dia)
6 a 8 meses 3 a 5 mamadas 2 a 3 porções de cereais infantis enriquecidos com Introduzir frutas e vegetais crus, cozidos, coados ou em forma de purê. Começar a oferecer carnes simples, cozidas ou em forma de
170 a 225 g/mamada ferro, pães assados macios e amidos (porção = 1 a 2 Evitar refeições contendo carne. Uma xícara com 55 a 115 g de suco de purê. Evitar combinações de pratos
(680 a 900 g/dia) cds) frutas a 100%
8 a 10 meses 3 a 4 refeições 2 a 3 porções de cereais infantis enriquecidos com 2 a 3 porções de frutas e vegetais macios, cortados e amassados (porção Oferecer carnes simples bem cozidas, macias, cortadas em
200 a 225 g/refeição ferro, pães macios e amidos (porção = 1 a 2 cds) = 1 a 2 cds). Uma xícara com 85 a 110 g de suco de frutas a 100% tiras finas ou em forma de purê, queijos e ensopados
(680 a 900 g/dia)
10 a 12 meses 680 a 900 g/dia 4 porções de cereais infantis enriquecidos com ferro, 4 porções de frutas e vegetais macios, cortados e amassados (porção = 1 30 a 56 g de carnes macias, cortadas em tiras finas ou
pães assados macios e amidos (porção = 1 a 2 cds) a 2 cds). Uma xícara com 85 a 110 g de suco de frutas a 100% cozidas, ou outros alimentos ricos em proteínas
cds, colher de sopa.
Dados de (i) Bunting KD, Mills J, Ramsey E, et al. Texas Children’s Hospital Pediatric Nutrition Reference Guide. 10th ed. Houston, TX: Texas Children’s Hospital; 2013, e (ii) Becker PJ, Carney LN, Corkins MR, et al. Consensus
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Diet 2014;114:1988–2000.
ALEITAMENTO MATERNO
A American Academy of Pediatrics recomenda o aleitamento materno para todos os lactentes, inclusive recém-nascidos prematuros (Boxe 3.4). O aleitamento materno é recomendado
durante o primeiro ano de vida, ou enquanto for desejado ou exequível. O aleitamento materno exclusivo fornece nutrição adequada até cerca de 6 meses de vida. Esse é ponto no qual
devem ser oferecidos alimentos complementares.
a
Consultar a referência farmacêutica para determinar a segurança dos fármacos maternos durante o aleitamento materno.
O leite materno contém cerca de 20 kcal/30 g. Se ficar demonstrado que o lactente não está obtendo quantidades suficientes de energia com o leite materno, o leite pode ser enriquecido a
uma densidade energética maior usando um suplemento ou uma fórmula convencional em pó (Tabela 3.18).
Tabela 3.18 Como aumentar a densidade energetica do leite materno (acrescentando formula em po a 100 mĆ de leite materno ordenhado).
Concentração energética desejada (kcal/30 g) Similac Advance® em pó (g) Enfamil Infant® em pó (g) Similac NeoSure Advance® em pó (g) Enfamil EnfaCare® em pó (g)
22 1,3 1,3 1,3 1,4
24 2,5 2,6 2,6 2,7
27 4,4 4,5 4,6 4,7
30 6,3 6,4 6,5 6,8
Tabela 3.20 Preparação das fórmulas padronizadas de 19 a 20 kcal/30 g (a quantidade de energia varia de acordo com a marca, mas o preparo não varia com a
marca).
Concentrada Pó Pronta para uso
385 mℓ do concentrado (1 lata) + 385 mℓ de água = total de 740 mℓ de fórmula 1 medida de pó + 60 mℓ de água = 60 mℓ de fórmula Não é necessário acrescentar água
Quando a avaliação nutricional indica a necessidade de usar uma fórmula com densidade energética maior, o modo de preparo da fórmula pode ser modificado para concentrar mais
energia na mesma quantidade total de fórmula. Quando as fórmulas são concentradas, os lactentes podem ter sintomas de intolerância em consequência das maiores osmolalidade e
carga de soluto renal. A Tabela 3.21 descreve como aumentar a densidade energética das fórmulas. As metas definidas para o paciente devem ser consideradas antes de efetuar
quaisquer alterações em uma fórmula. Quando as fórmulas são concentradas a mais de 20 kcal/30 g, todos os nutrientes também são concentrados, a menos que se acrescente um
suplemento modular.
Tabela 3.21 Como aumentar a densidade energética de uma fórmula com base nas metas definidas para o paciente.
Meta Ajuste da fórmula
Aumentar a densidade de nutrientes totais (mais comum) Concentrar e/ou acrescentar módulos de carboidratos ou lipídios
Aumentar apenas a densidade de energia Acrescentar módulos de carboidratos e/ou lipídios
Aumentar apenas a densidade de proteínas Acrescentar módulos de proteína
FÓRMULAS PEDIÁTRICAS
Existem várias fórmulas desenvolvidas para atender às necessidades das crianças com mais de 1 ano de vida (Tabela 3.22). Alguns produtos podem ser usados em alimentação enteral e
suplementação oral, conforme a necessidade.
É importante ressaltar que é preferível aumentar a ingestão energética com alimentos comuns ricos em nutrientes, em vez de recorrer à suplementação com fórmulas (p. ex., enriquecer
as refeições da criança com manteiga de amendoim, abacate, óleos, leite integral, creme chantili e acréscimo de leite em pó aos ensopados e sopas). Esse método reforça as práticas
alimentares saudáveis, reduz os custos e melhora o paladar.
Tabela 3.23 Valores laboratoriais de referênciaa para avaliação nutricional bioquí mica em pediatria.
Medida Faixa de referência
Albumina (sérica), g/dℓ
Lactentes 2,9 a 5,5
Crianças maiores 3,7 a 5,5
Cálcio
Cálcio sérico total, mg/dℓ 6 a 10
Lactentes prematuros 7 a 12
Lactentes a termo 8 a 10,5
Crianças maiores 4,48 a 4,92
Cálcio ionizado sérico, mg/dℓ
Folato (sérico), ng/mℓ >6a7
Hemoglobina (sangue), g/dℓ
Recém-nascidos ≥ 14,0
Crianças de 12 a 35 meses ≥ 11,0
Crianças de 3 a 4,9 anos ≥ 11,0
Crianças de 5 a 7,9 anos ≥ 11,5
Crianças de 8 a 11,9 anos ≥ 11,9
Meninos de 12 a 15 anos ≥ 12,5
Meninas de 12 a 15 anos ≥ 11,8
Meninos > 15 anos ≥ 13,0
Meninas > 15 anos ≥ 12,0
Ferro (sérico), mg/dℓ
Recém-nascidos > 30
Lactentes > 40
Crianças < 4 anos > 50
Crianças maiores > 60
Fósforo (sérico), mg/dℓ
Recém-nascidos 4,0 a 8,0
1 ano 3,8 a 6,2
Crianças de 2 a 5 anos 3,5 a 6,8
Crianças maiores 2,9 a 5,6
Pré-albumina (sérica), mg/dℓ
Lactentes prematuros 4 a 14
Lactentes a termo 4 a 20
Crianças de 6 a 12 meses 8 a 24
Crianças de 1 a 6 anos 17 a 30
Crianças maiores 17 a 42
Ureia sanguínea, mg/dℓ 7 a 22
Transferrina, mg/dℓ 170 a 440
Vitamina A (retinol plasmático), μg/dℓ
Lactentes 13 a 50
Crianças maiores 20 a 72
Vitamina D
25-hidroxivitamina-D, ng/mℓ (preferível) 20 a 30
1,25-OH-D3, ng/mℓ 15 a 60
Vitamina E
Alfatocoferol (plasmático), mg/dℓ 0,5 a 3,5
Lactentes prematuros 0,7 a 10
Crianças maiores 10
Teste de hemólise das hemácias, %
Vitamina K
Tempo de protrombina, segundos 11 a 15
PIVKA-II, ng/mℓ ≤3
Tiamina
Atividade de transcetolase eritrocitária, % < 15
Vitamina B12, pg/mℓ 200 a 900
Teste de absorção Excreção de mais de 7,5% da dose ingerida de vitamina B12 marcada
Vitamina C (plasmática), mg/dℓ 0,2 a 2,0
Magnésio (sérico), mEq/ℓ 1,5 a 2,0
Zinco (sérico), μg/dℓ 60 a 120
Anemia
A deficiência de ferro é a carência nutricional mais prevalente nas crianças americanas. Como foi mencionado antes, a anemia ferropriva verdadeira deve ser detectada de forma que possa
ser tratada adequadamente. Uma dieta rica em ferro pode ser recomendada aos lactentes, às crianças e aos adolescentes em risco de desenvolver anemia ferropriva.
Constipação intestinal
A intervenção nutricional está indicada nos pacientes que sentem dor ao evacuar, têm fezes duras ou não conseguem evacuar no mínimo 3 vezes/semana. Dor ao evacuar,
independentemente da frequência, também pode ser considerada constipação intestinal. As causas principais são ingestão insuficiente de água e fibras, tônus muscular anormal, distúrbios
motores, fármacos ou doenças debilitantes. O tratamento das crianças de 1 ano ou mais inclui modificações da ingestão de fibras e líquidos e do nível de atividade física.
Refluxo gastresofágico
O refluxo gastresofágico (RGE) é comum nos lactentes. Nos casos típicos, o problema desaparece em torno da idade de 18 meses e raramente requer correção cirúrgica. O tratamento
médico-nutricional para RGE geralmente é combinado com fármacos. As recomendações devem ser individualizadas com base na idade e no nível de desenvolvimento da criança. Existem
fórmulas espessadas preparadas comercialmente e os alimentos espessados com cereais para lactentes ainda são usados comumente, além das técnicas de posicionamento e da abstenção de
alimentos reconhecidamente irritantes.
Retardo de crescimento
O retardo de crescimento é um termo obsoleto usado para descrever uma criança cujo crescimento é significativamente menor que o de uma criança do mesmo sexo e idade. Hoje em dia,
está demonstrado que desnutrição é a causa direta de natureza orgânica (coexistência de alguma causa médica) ou inorgânica (causa psicológica, social ou econômica). As metas do
tratamento médico-nutricional estão centradas na avaliação e na reversão da desnutrição.
Desnutrição
Nos casos típicos, a desnutrição pediátrica é avaliada quanto a sua cronicidade, gravidade e etiologia. A desnutrição crônica é diagnosticada com base na definição do National Center for
Health Statistics (NCHS) de uma doença crônica com duração de 3 meses ou mais. O retardo do crescimento (redução da velocidade de crescimento) é o sinal característico da desnutrição
crônica, enquanto o peso geralmente é alterado durante os períodos agudos de desnutrição. O uso dos escores-z (comparações dos desvios padrões) das medidas de crescimento substituiu
os critérios utilizados antes, inclusive a Classificação de Gomez, os critérios de Waterlow ou os critérios de McClaren para definir a gravidade do problema. Existem vários
recursos online para determinar facilmente os escores-z (Tabelas 3.24 a 3.26).
Dados de Fenton TR, Kim JH. A systematic review and meta-analysis to revise the Fenton growth chart for preterm infants. BMC Pediatr 2013;13:59.
Dados de Fenton TR, Kim JH. A systematic review and meta-analysis to revise the Fenton growth chart for preterm infants. BMC Pediatr 2013;13:59.
Obesidade
A intervenção para controle do peso deve ser realizada nas crianças cujo IMC está acima do P85 para idade e têm comorbidades e/ou complicações, assim como nas crianças cujo IMC está
acima do P95 para a idade. A estrutura básica da intervenção deve incluir educação nutricional, programa de exercícios e modificações comportamentais (Tabela 3.27).
Tabela 3.27 Estágios de intervenção do painel de especialistas com base na idade e nos percentis de IMC por idade (IMC/I).
Idade Percentil de Existência de risco à
Estágio do aconselhamento (anos) IMC/I saúde Meta da intervenção
Estágio 1 < 18 < P94 Não Manutenção do peso até que o IMC/I seja < P85, ou a taxa de ganho ponderal seja mais lenta
Estágios 1 a 2 2 a 18 P85 a P94 Sim Manutenção do peso até que o IMC/I seja < P85, ou a taxa de ganho ponderal seja mais lenta
Estágios 1 a 2 6 a 18 P95 a P98 Sim Manutenção do peso até que o IMC/I seja < P85, ou haja perda progressiva de peso (0,5 kg/mês)
Estágios 1 a 3 2a5 P95 a P98 Sim Manutenção do peso até que o IMC/I seja < P85, ou a taxa de ganho ponderal seja mais lenta; a perda
de peso deve ser < 0,5 kg/mês
Estágios 1 a 3 2a5 ≥ P99 Sim Emagrecimento gradativo de ≤ 0,5 kg/mês
Estágios 1 a 3 6 a 11 > P99 Sim Perda de peso de 1 kg/mês
Estágios 1 a 4 12 a 18 > P95 Sim Perda de peso ≤ 1 kg/mês, até que o IMC/I seja < P85
Dados de (i) Mehta NM, Corkins MR, Malon A, et al. Defining pediatric malnutrition: A paradigm shift towards etiology-related definitions. JPEN J Parenter Enteral Nutr 2013;37:460–481, e
(ii) Barlow SE; Expert Committee. Expert Committee recommendations regarding the prevention, assessment and treatment of child and adolescent overweight and obesity: Summary
report. Pediatrics 2007;120(Suppl 4):S164–S192.
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4.Engorn B, Flerlage J. Harriet Lane Handbook. 20th ed. Philadelphia, PA: Saunders; 2014.
*N.R.T.: Recentemente, um projeto multicêntrico estabeleceu gráficos e curvas de crescimento para prematuros com dados de diversos países, inclusive do Brasil. Esses dados e maiores informações estão
disponíveis na página https://intergrowth21.tghn.org.
*Lembre-se de que as necessidades de proteínas para a recuperação do crescimento são calculadas usando a mesma fórmula, embora substituindo-se a DRI em kcal (kcal/kg/dia) pela DRI de proteína
(g/kg/dia).
4
Idosos
O envelhecimento causa diversas alterações físicas e fisiológicas que, por sua vez, modificam as necessidades nutricionais e afetam o estado nutricional (Boxe 4.1). A presença de
doenças crônicas e/ou uso de vários fármacos (polifarmácia) podem acentuar as discrepâncias potenciais entre necessidades e ingestão de nutrientes, resultando em desnutrição. Na
verdade, existem estudos sugerindo que desnutrição seja um problema comum na população idosa, com prevalência entre 12 e 50% dos pacientes hospitalizados e 23 a 60% dos idosos
mantidos em instituições de longa permanência.1,2 A anorexia é um indicador fundamental de desnutrição dos idosos. Conhecida comumente como anorexia do envelhecimento, a
ingestão alimentar e o apetite geralmente declinam nos idosos em comparação com os adultos mais jovens, como consequência de fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais.3
Composição corporal Aumento da gordura corporal, especialmente intra-abdominal; redução da Risco aumentado de obesidade, doença cardiovascular e diabetes melito
massa muscular (sarcopenia); perda óssea (inclusive dos dentes)
Função Redução da elasticidade dos vasos sanguíneos, resistência periférica Maior risco de hipertensão arterial sistêmica e outras doenças cardiovasculares
cardiovascular aumentada e diminuição do fluxo sanguíneo para o coração
Função gastrintestinal Redução das secreções, especialmente ácido, acloridria ou hipocloridria Prejuízo na digestão e absorção (ferro, B12, zinco, folato, biotina, cálcio); a GA
(uma consequência da gastrite atrófica [GA], que acomete 33% dos causa inflamação e redução do fator intrínseco, que pode causar deficiência de B12;
idosos) além disso, a GA pode causar deficiência de B6, disfagia e constipação intestinal
Imunocompetência Função reduzida, especialmente do componente de células T Quando somada ao estado nutricional precário, aumenta a suscetibilidade às
infecções
Saúde bucal Redução da saliva, resultando em ressecamento da boca (xerostomia); Problemas de mastigação e deglutição
queda dos dentes
Função neurológica Redução da síntese de neurotransmissores; condução neural menos A depressão pode causar perda do apetite e reduzir a ingestão alimentar,
eficiente; as alterações do sistema nervoso central (SNC) causam resultando em desnutrição
distúrbios do equilíbrio/coordenação, depressão, demência
Metabolismo dos Síntese reduzida de colecalciferol na pele e ativação renal reduzida; Deficiência de vitamina D; o acúmulo de vitamina A pode ser tóxico, quando são
nutrientes aumento da retenção de vitamina A em consequência da eliminação administradas doses altas de suplementos dessa vitamina
reduzida
Função renal Redução da quantidade de néfrons (portanto, a taxa de filtração Distúrbios do equilíbrio hídrico e acidobásico; o metabolismo dos suplementos
glomerular [TFG] e a função renal global diminuem) nutricionais pode ser alterado
Perdas sensoriais Diminuição das sensibilidades gustativa (disgeusia), olfatória (hiposmia), A disgeusia e a hiposmia causam perda do apetite e redução da ingestão dietética e
visual, auditiva e tátil também aumentam o risco de doenças transmitidas por alimentos
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Triagem do risco nutricional na população idosa
A avaliação nutricional dos pacientes idosos consiste nos parâmetros da avaliação nutricional típica (ver Capítulo 1), com ênfase especial nos fatores de risco dessa população. A
Nutrition Screening Initiative (Iniciativa de Triagem Nutricional) foi um esforço colaborativo de vários órgãos importantes, cujo objetivo era identificar e tratar os problemas
nutricionais do idoso.4 Ferramentas de triagem simples originadas desse projeto e de outros que enfatizaram todos os aspectos da saúde do idoso, inclusive fatores psicossociais e
ambientais, foram desenvolvidas (Determine e Meals-on-Wheels, ou Refeições sobre Rodas, em tradução livre)4,5 e ainda são usadas pelos profissionais de saúde que trabalham com
idosos (Boxes 4.2 e 4.3).
Boxe 4.2 Determine: lista de verificação para avaliar sua nutrição e saúde.
D Existência de doença ou distúrbio crônico
E Ingestão alimentar (eating, em inglês) insatisfatória: dieta insuficiente ou de má qualidade
T Queda dos dentes (teeth, em inglês) ou dor oral
E Dificuldade econômica
R Contato social reduzido
M Fármacos múltiplos
I Aumento ou perda involuntária de peso
N Necessidade de ajuda para realizar autocuidado
E Idade avançada (elder years, em inglês); acima de 80 anos
Medidas antropométricas
Entre os adultos com mais de 65 anos, o risco de mortalidade aumenta nos indivíduos com índice de massa corporal (IMC) inferior a 23 kg/m2.6 Além disso, independentemente do peso
usual, um dos fatores de risco antropométricos mais significativos na população idosa é perda de peso involuntária ou não intencional. Por essa razão, o uso do peso ideal não é
necessariamente apropriado, embora ainda seja amplamente utilizado. Conforme está descrito no Capítulo 1, o peso usual e a porcentagem de peso perdido são dois parâmetros mais
confiáveis.
História do paciente
A história do paciente é um componente significativo da avaliação dos pacientes idosos, porque uma alteração das diversas capacidades funcionais está relacionada com a
morbimortalidade. As funções diárias comuns são descritas como atividades da vida diária (AVD) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD) (Boxe 4.4). Os profissionais de
saúde devem fazer perguntas sobre qualquer alteração das AVD e AIVD do paciente, tanto a ele próprio como às outras pessoas significativas. Além disso, os fatores de risco da história
do paciente incluem declínio cognitivo, depressão, doença neurológica, desidratação, coexistência de infecção e/ou úlceras de pressão e internação hospitalar recente.
Boxe 4.4 Atividades da vida diária (AVD) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD).
AVD AIVD
Boxe 4.5 Problemas psicossociais e socioeconômicos que afetam a ingestão dietética com o envelhecimento.
Problema Abordagem
Renda reduzida 1.Comprar alimentos mais baratos, inclusive feijões/ervilhas secas, arroz e massas
2.Usar vale-compras de alimentos e ficar atento às promoções semanais para comprar alimentos mais baratos
3.Comprar alimentos da mesma marca do supermercado
4.Verificar junto às instituições religiosas locais se elas oferecem refeições de baixo custo ou grátis
a
5.Participar dos programas nutricionais de idosos, que são oferecidos em locais de reunião de idosos, ou refeições entregues na residência
a
6.Verificar a elegibilidade ao Food Stamp Program
a
7.Entrar em contato com os “bancos de alimentos” locais, ou programa de emergência alimentar
Incapacidade de ir ao 1.Pedir a um amigo ou parente para fazer as compras de mercado
mercado fazer compras 2.Entrar em contato com o mercado local para entregar as compras em sua residência
3.Entrar em contato com empresas que entregam alimentos
4.Verificar junto às instituições religiosas locais ou centro de convivência de idosos se há algum voluntário disponível para fazer suas compras
5.Entrar em contato com um profissional de saúde domiciliar (procurar na lista telefônica em “Serviços de Saúde Domiciliares”)
Incapacidade de preparar os 1.Usar um forno de micro-ondas para preparar refeições e alimentos congelados
alimentos 2.Comprar alimentos nutritivos de fácil preparo (frutas frescas, pães integrais, manteiga de amendoim, atum enlatado)
3.Participar dos programas de nutrição do idoso da localidade,a que são oferecidos em locais de reunião de idosos, ou refeições entregues na
residência
4.Entrar em contato com um profissional de saúde domiciliar (procurar na lista telefônica em “Serviços de Saúde Domiciliares”) para preparar as
refeições (também refeições pré-cozidas, que podem ser congeladas)
Alterações psíquicas que 1.As seguintes condições podem causar perda do apetite: viver sozinho, morte do cônjuge, depressão – participar dos programas de refeições de
diminuem o apetite idosos, convidar familiares ou amigos para compartilhar uma refeição, verificar com o médico se a depressão persiste
2.Se você cozinha apenas para uma pessoa, você pode não sentir prazer em preparar refeições; convide familiares ou amigos para uma refeição
3.Os alimentos podem não parecer muito saborosos em razão de fatores psicológicos e fisiológicos, ou uso de fármacos; nesses casos, pode ser
útil:
a.Comer com a família ou amigos, ou participar dos programas de refeições para idosos
b.Perguntar ao médico se algum fármaco pode estar alterando seu apetite ou paladar
c.Melhorar o sabor dos alimentos, acrescentando condimentos e ervas
a
Nos EUA, os programas estão listados na seção “Governo Municipal” das páginas azuis da lista telefônica; localizador de cuidados para idosos: (800) 677-1116.
Dados de Bernstein M, Munoz N. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: Food and nutrition for older adults: Promoting health and wellness. J Acad Nutr
Diet 2012;112(8):1255–1277.
Os resultados de estudos populacionais de grande porte indicaram que até 6% dos indivíduos com mais de 60 anos têm deficiência de B12 (vitamina B12sérica: 148 pmol/ℓ) e 20% têm
depleção limítrofe (vitamina B12 sérica: 148 a 221 pmol/ℓ).13 Uma razão é que a má absorção dos alimentos frequentemente resulta da redução da produção de ácido clorídrico
(acloridria), que está associada à gastrite atrófica – um problema comum na população idosa. Além disso, os fármacos que reduzem a produção de ácido clorídrico, especialmente os
inibidores da bomba de prótons (IBP) – cujo uso aumentou significativamente, com 14,9 milhões de pacientes recebendo 157 milhões de prescrições em 2012 – podem reduzir
expressivamente a absorção de vitamina B12.14 O uso de IBP por 2 anos ou mais foi associado a um risco 65% maior de desenvolver deficiência de B12.14 Esses fármacos também foram
associados ao aumento do risco de fraturas.15 A deficiência de vitamina D é mais provável à medida que o indivíduo envelhece, em razão da exposição reduzida à luz solar, ao declínio
das funções orgânicas, à má absorção associada às doenças crônicas (p. ex., doença inflamatória intestinal) e à ingestão dietética insuficiente. Em razão da preocupação com as fraturas,
o Institute of Medicine revisou a DRI desse nutriente em 2011 (ver Tabela 4.2).
Tabela 4.1 Ingestão dietética de referência (DRI) dos macronutrientes para idosos.
Nutrientes/unidades Homens, 51 anos ou mais Mulheres, 51 anos ou mais
Energia, kcal 2.204; RDA de 1989 1.978; RDA de 1989
Carboidratos, g 130 130
Proteínas, g 56 46
Lipídios totais, g ND; RDA de 1989: 20 a 35% ND; RDA de 1989: 20 a 35%
Ácido linoleico, g 14 11
Ácido a-linolênico, g 1,6 1,1
Ácidos graxos A menor quantidade possível com ingestão de uma dieta nutricionalmente A menor quantidade possível com ingestão de uma dieta nutricionalmente
saturados, g adequada; RDA de 1989: < 10% adequada; RDA de 1989: < 10%
Colesterol, mg A menor quantidade possível com ingestão de uma dieta nutricionalmente A menor quantidade possível com ingestão de uma dieta nutricionalmente
adequada; RDA de 1989: < 300 adequada; RDA de 1989: < 300
Fibras, g 30 21
ND, não determinado; RDA, ingestão dietética recomendada.
Disfagia
Fisiopatologia
A disfagia é um sintoma e uma doença, que afeta um ou todos os estágios do processo de deglutição, tornando difícil esse processo.16 Existem diversas causas possíveis (Boxe 4.6), e os
sintomas podem ser variados (Boxe 4.7). Dependendo da causa, a disfagia pode ser um distúrbio agudo autolimitante, ou pode ser crônico. O diagnóstico precoce e a intervenção
imediata são essenciais, não apenas em razão do seu efeito na qualidade de vida, mas também porque a disfagia pode ter consequências graves, inclusive pneumonia por aspiração e
desnutrição.
Emagrecimento
Úlceras de pressão
Fisiopatologia
As úlceras de pressão (também conhecidas como úlceras de decúbito ou feridas do leito) são lesões da pele causadas pelo contato contínuo com alguma superfície como leito ou cadeira
de rodas. Nos EUA, as úlceras de pressão ou, mais propriamente, suas complicações, são responsáveis por cerca de 60.000 mortes por ano a um custo anual de US$ 11 bilhões.19 Uma
consideração especialmente significativa para os profissionais de saúde é a estatística de que 9% dos pacientes hospitalizados desenvolvem úlcera de pressão, e um aspecto
particularmente importante é o fato de que a desnutrição é superada apenas pela compressão dos tecidos como causa das úlceras de pressão.20
Nível 1: purês
Moderada a Fase oral prejudicada; Purês, alimentos homogêneos e coesivos; nenhuma textura definida; nenhum Supervisão direta ou absoluta
grave capacidade reduzida de alimento cru (frutas, vegetais, nozes); quaisquer alimentos que requeiram mastigação
proteção das vias ou formação do bolo alimentar são excluídos
respiratórias
Nível 3: avançada
Leve Oral e/ou faríngea (menos Textura praticamente homogênea, com exceção de alimentos muito duros, pegajosos Avaliar a tolerância do paciente aos alimentos
grave que o nível 2) ou crocantes; os alimentos ainda precisam ser úmidos e cortados em pedaços com texturas mistas; espera-se que o paciente
pequenos; o paciente deve ter dentição e mastigação adequadas tolere alguns alimentos com texturas variadas
Dados de National Dysphagia Diet Task Force. National Dysphagia Diet – Standardization for Optimal Care. Chicago, IL: American Dietetic Association; 2002:17–19.
Dados de National Pressure Ulcer Advisory Panel. 2014 Prevention and Treatment of Pressure Ulcers: Clinical Practice Guideline. Disponível
em: www.npuap.org/resources/educational-and-clinical-resources/prevention-and-treatment-of-pressure-ulcers-clinical-practice-guideline. Acessada em 18 de novembro de 2015.
1.Fornecer energia suficiente para manter ou recuperar o peso perdido: 30 a 35 kcal/kg/dia, aumentando para 35 a 40 kcal/kg/dia para pacientes desnutridos ou que estejam
perdendo peso.
2.Fornecer proteínas suficientes para manter um balanço nitrogenado positivo e conservar energia: 1,5 a 2,0 g/kg/dia.
3.Nos casos suspeitos ou confirmados de deficiências de vitaminas e minerais, fornecer um suplemento de polivitaminas/minerais que contemple a DRI dos micronutrientes
necessários à cicatrização da ferida.
4.A suplementação rotineira de zinco quando não há deficiência provável ou confirmada não é recomendada.
5.A administração de arginina, glutamina e HMB (β-hidroxi-β-metilbutirato) ainda requer mais estudos, antes que possam ser estabelecidas conclusões definitivas.17
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5
Terapia Nutricional
O s pacientes que não conseguem atender às suas necessidades nutricionais com uma dieta oral convencional e devem passar por tratamentos agressivos necessitam de métodos
alternativos de nutrição. Os métodos nutricionais alternativos são nutrição enteral e nutrição parenteral.
NUTRIÇÃO ENTERAL
Indicações e seleção dos pacientes
A nutrição enteral (NE) é a via preferível quando a função intestinal está preservada, porque ocorrem menos complicações, os custos são menores e os resultados são mais favoráveis.
Entre os benefícios da NE estão: melhor utilização dos nutrientes, manutenção do pH e da microbiota intestinais normais, inibição da proliferação excessiva de bactérias oportunistas e
reforço da função de barreira imune da mucosa intestinal, que pode reduzir o risco de sepse associada a translocação bacteriana do intestino. Exemplos de condições clínicas nas quais a
ingestão oral é considerada insegura, insuficiente ou impossível são pacientes com estado mental alterado, disfagia grave, perda do apetite e insuficiência respiratória com necessidade
de ventilação por tubo endotraqueal.1,2 O Boxe 5.1descreve as indicações e as contraindicações da NE.
Dados de (i) Merritt R. The A.S.P.E.N. Nutrition Support Practice Manual. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2005, (ii) Mueller CM. The
A.S.P.E.N. Adult Nutrition Support Core Curriculum. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2012, (iii) McClave SA, Taylor BE, Martindale RG,
et al. Guidelines for the provision and assessment of nutrition support therapy in the adult critically ill patient: Society of Critical Care Medicine (SCCM) and American Society for
Parenteral and Enteral Nutrition (A.S.P.E.N.). JPEN J Parenter Enter Nutr 2016;40(2):159–211, e (iv) Koseniecki M, Fritzshall R. Enteral nutrition for adults in the hospital setting. Nutr
Clin Pract 2015;30(5):634–651.
Boxe 5.2 Exemplos de cálculos para determinar o volume almejado e o método de administração da nutrição enteral.
Com base na avaliação nutricional, as necessidades diárias do paciente são de 80 g de proteína, 2.000 kcal e 2.000 mℓ de líquidos.
Uma fórmula polimérica convencional fornece 1,2 kcal/mℓ, 55,5 g de proteína/ℓ, 820 mℓ de H2O livre/ℓ e atende a 100% da RDI de vitaminas e minerais em 1.000 mℓ de fórmula.
•2.000 kcal necessárias/1,2 kcal por ml = 1.667 ml da fórmula necessária (1,7 ℓ)
•1,7 ℓ × 55,5 g de proteína/ℓ = 94 g de proteína fornecidos pela fórmula
•1,7 ℓ × 820 = 1.394 mℓ de H2O livre fornecidos pela fórmula
•2.000 ml de necessidades diárias de líquidos – H2O fornecida pela fórmula = 606 mℓ de H2O adicional necessários
Se a fórmula for infundida continuamente por uma bomba infusora, divida o volume total necessário da fórmula pela duração desejada do tratamento: 1.667 ml de fórmula/24 h = 69,5 ml/h, que podem ser
arredondados para 70 ml/h/dia (ao longo das 24 h), mais 200 ml adicionais de H2O nas irrigações realizadas 3 vezes/dia para atingir as necessidades diárias. As interrupções frequentes da alimentação
enteral no contexto hospitalar têm resultado na administração de 50 a 60% do volume diário de fórmula enteral prescrita; isso tem levado algumas instituições a prescrever a fórmula com base nas
4,9
necessidades totais de volume, em vez de na taxa de infusão por hora. Um exemplo seria a infusão da fórmula enteral a 70 a 80 mℓ/h, até alcançar o volume desejado de 1.667 mℓ/dia.
Se a fórmula for infundida pelo método em bolus ou intermitente, divida o volume necessário da fórmula pelo número desejado de refeições diárias: 1.667 mℓ da fórmula/4 refeições por dia = 417
mℓ por refeição. Para atender às necessidades diárias de líquidos, é necessário administrar irrigações com 75 mℓ de H2O antes e depois de cada refeição. Determine a duração de cada refeição entre 15 e
45 min, dependendo da tolerância do paciente.
Cíclica
•Administração por bomba infusora
•Pode ser usada no contexto de cuidados agudos ou domiciliares, especialmente como transição à dieta oral
•As vantagens são as seguintes: permite absorção máxima dos nutrientes; permite repouso intestinal; permite mais mobilidade e tempos mais longos desligado da bomba infusora
•As desvantagens são as seguintes: requer taxas de infusão altas, geralmente na faixa de 50 a 250 mℓ/h ao longo de 8 a 20 horas por dia, de forma a atingir as necessidades de
nutrientes e líquidos; isso pode não ser bem tolerado por alguns pacientes
•Administração: nos casos típicos, a infusão é administrada por 8 a 20 horas por dia, seja durante o dia ou a noite. A taxa de infusão pode ser iniciada em 10 a 40 mℓ/h, com
aumentos de 10 a 20 mℓ/h a cada 8 a 12 horas, na medida da tolerância, até que seja alcançada a meta estabelecida
•A alimentação cíclica por via jejunal pode ser limitada a ≤ 90 a 100 mℓ/h, dependendo da tolerância do paciente.
Contínua
•Administração por bomba infusora
•Pode ser usada para administrar alimentação gástrica e transpilórica
•Usada comumente nos pacientes que não conseguem tolerar alimentação em bolus ou intermitente; que necessitam de ventilação mecânica; e que se encontram em estado crítico
•As vantagens são as seguintes: menor risco de distensão abdominal em comparação com a infusão em bolus ou intermitente
•As desvantagens são as seguintes: requer administração por bomba infusora, que é mais dispendiosa e limita a mobilidade do paciente
•Administração: infundida ao longo das 24 horas, comumente referida como “ATC” ou “around the clock” (24 h/dia). Pode ser iniciada com 10 a 40 mℓ/h e aumentada em 10 a 20
mℓ/h a cada 8 a 12 horas, conforme a tolerância, até alcançar a meta desejada.
Resíduo gástrico
Tradicionalmente, o monitoramento do volume residual gástrico (VRG) é realizado para avaliar a tolerância à NE e o risco de aspiração. O resíduo gástrico é determinado aspirando-se
e medindo-se o volume de líquidos e fórmula com uma seringa por cateter nasogástrico (CNG) ou cateter de gastrostomia. As secreções gástricas normais variam de 3.000 a 4.000
mℓ/dia, enquanto resíduos de 400 a 500 mℓ são considerados toleráveis para que não ocorra aspiração.5 A prática recomendada é evitar suspender a NE quando o VRG é ≤ 500 mℓ,
contanto que não haja outros sinais e sintomas de intolerância.3 O esvaziamento gástrico retardado pode ser causado por fármacos como narcóticos ou agentes paralisantes, e, nesses
casos, pode ter benefício introduzir um fármaco que melhore a motilidade, inclusive metoclopramida ou eritromicina. A manutenção da cabeceira do leito elevada a mais de 30 a 45
graus também pode melhorar a tolerância à alimentação enteral. Quando o resíduo volumoso persistir, pode ser necessário verificar a posição do cateter. As seringas de aspiração devem
ter no mínimo 50 mℓ para aspirar cateteres finos (12F ou menos), em razão da pressão com a qual o cateter pode sofrer colapso. O resíduo não precisa ser determinado quando a
alimentação é administrada por via jejunal.
Complicações gastrintestinais
A intolerância GI ou à alimentação por cateter pode ser sugerida por distensão abdominal, plenitude pós-prandial e dor ou cólicas abdominais. Reduzir a taxa de infusão, assegurar que a
fórmula esteja à temperatura ambiente, verificar a posição do cateter e determinar a osmolaridade da fórmula são medidas que podem ajudar a aumentar a tolerância. Quando o paciente
tem esvaziamento gástrico retardado ou usa fármacos que reduzem a peristalse, as fórmulas ricas em fibras e/ou lipídios podem não ser toleradas e devem ser ajustadas. Náuseas e
vômito podem indicar a migração do cateter, como ocorre quando o balão de uma gastrostomia causa obstrução do trato de saída do estômago.1 Diarreia pode ser definida por mais de 3
evacuações diárias, ou volume fecal > 200 mℓ/dia. As causas possíveis de diarreia são fármacos, impactações, bactérias patogênicas, insuficiência pancreática, síndrome do intestino
curto, atrofia intestinal e doença inflamatória intestinal. Depois de excluir causas como doenças, fármacos ou infecções por patógenos, o uso de fibras solúveis ou fármacos
antimotilidade pode ser benéfico. As fórmulas enterais elementares facilitam a absorção de nutrientes.
NUTRIÇÃO PARENTERAL
Indicações e seleção dos pacientes
A nutrição parenteral (NP) é um método de terapia nutricional no qual o aporte de macronutrientes, micronutrientes e alguns fármacos são infundidos diretamente na corrente sanguínea
por uma veia central ou periférica. A NP está indicada quando os pacientes não conseguem atender às suas necessidades nutricionais por via enteral, seja por ingestão oral ou
alimentação por cateter enteral, porque a função do sistema digestório está comprometida. O Boxe 5.3relaciona as indicações/contraindicações da NP.
A seleção dos pacientes que podem ser beneficiados pela NP baseia-se na avaliação nutricional detalhada, determinação do estado nutricional e condição clínica geral e prognóstico
do paciente. Os efeitos benéficos da NP devem ser maiores que os riscos. Nos pacientes gravemente desnutridos, a NP está indicada quando há alguma disfunção do sistema digestório.
Os pacientes que não se encontram gravemente desnutridos podem tolerar um período de até 7 a 10 dias sem nutrição sem afetar desfavoravelmente seu prognóstico.2 Os pacientes em
pós-operatório que recebem NP por mais de 7 a 10 dias são os mais beneficiados.2 A NP está associada a alguns fatores de risco. A infusão intravenosa de glicose, lipídios e
aminoácidos oferece condições ideais às infecções bacterianas e/ou fúngicas. Além disso, os pacientes estão sujeitos a desenvolver infecções e complicações associadas aos cateteres.
Distúrbios dos macronutrientes, eletrólitos, minerais e líquidos são fatores de risco, assim como hiperglicemia, esteatose hepática e disfunção renal.
Dados de (i) Merritt R. The A.S.P.E.N. Nutrition Support Practice Manual. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2005, (ii)
Mueller CM. The A.S.P.E.N. Adult Nutrition Support Core Curriculum. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition, 2012.
a
A osmolaridade dos nutrientes pode variar ligeiramente em cada instituição.
A glicose é a fonte de carboidratos utilizada na NP e fornece 3,4 kcal/g. A concentração das soluções de glicose de estoque (soluções básicas) varia de 5 a 70%. A concentração
percentual de glicose é em gramas de soluto por 100 mℓ de solução. Uma solução de glicose a 10% contém 10 g de glicose por 100 mℓ de solução e, desse modo, fornece 100 g de
glicose/ℓ.
Proteínas
A proteína da NP é fornecida na forma de uma solução cristalina de aminoácidos, cujas soluções padronizadas contêm uma mistura fisiológica de aminoácidos essenciais e não
essenciais. As formulações de aminoácidos especiais devem ser reservadas aos pacientes com previsão de serem beneficiados clinicamente com seu uso; existem pouquíssimas
indicações para usar essas formulações.2 Exemplos de soluções para doenças específicas são NephrAmine® para doença renal e HepatAmine® para doença hepática. Os aminoácidos da
NP são necessários para reduzir as perdas de massa magra, promover a reparação tecidual e manter a pressão oncótica do plasma sanguíneo. As necessidades de proteínas variam de 1,2
a 2,0 g/kg/dia nos pacientes críticos e 0,8 a 1,0 g/kg/dia nos pacientes estáveis. As necessidades de proteínas podem passar de 2,0 g/kg quando há perdas extremas, inclusive feridas com
secreções ou queimaduras de grandes áreas do corpo. Os aminoácidos fornecem 4 kcal/g, e as concentrações das soluções de estoque (ou soluções básicas) variam de 3 a 20%.
Lipídios
As emulsões lipídicas intravenosas (ELIV), especialmente as que contêm ácidos graxos de cadeia longa (AGCL), são necessárias para evitar deficiências de ácidos graxos essenciais,
que podem ocorrer dentro de 1 a 3 semanas de administração de nutrição parenteral sem lipídios. Hoje em dia, os AGCL são a única formulação de ELIV disponível nos EUA e são
fornecidos nas concentrações de 10, 20 e 30%. As ELIV contêm fosfolipídios do ovo como emulsificante e glicerol como estabilizante. Uma ELIV com concentração de 10% fornece
1,1 kcal/mℓ, enquanto uma solução com concentração de 20% fornece 2,0 kcal/mℓ ou 10 kcal/g. Os países da Europa têm ácidos graxos de cadeia média (AGCM) e misturas de AGCL,
que não estão disponíveis nos EUA. As necessidades mínimas de AGCL variam de 3 a 4% do valor energético total, com DRI em torno de 10% das calorias totais. Os riscos da infusão
excessiva ou muito rápida de lipídios intravenosos incluem depuração mais lenta e disfunção do sistema imune ou reticuloendotelial. Desse modo, recomenda-se que a infusão
intravenosa (IV) de lipídios seja limitada a 1 g/kg/dia, ou 30% das necessidades energéticas totais. Os lipídios IV da NP podem ser aumentados e são tolerados quando os triglicerídios
séricos são ≤ 400 mg/dℓ.
Estimativa da TBW
TBW = 0,6 × peso (kg) dos homens; 0,5 × peso dos homens ≥ 80 anos
TBW = 0,5 × peso (kg) das mulheres; 0,4 × peso das mulheres ≥ 80 anos
Subtraia 10% para os obesos e 20% para os muito obesos
Dados de (i) Mueller CM. The A.S.P.E.N. Adult Nutrition Support Core Curriculum. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2012, e (ii) Kingley
J. Fluid and electrolyte management in parenteral nutrition. Support Line 2005;27(6):13–22.
Dados de (i) Merritt R. The A.S.P.E.N. Nutrition Support Practice Manual. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2005, (ii)
Mueller CM. The A.S.P.E.N. Adult Nutrition Support Core Curriculum. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2012.
Outros aditivos
Outros aditivos acrescentados à formulação de NP também podem incluir octreotida, insulina, famotidina (profilaxia de lesões GI) e heparina. A insulina regular pode ser acrescentada
na dose inicial de 0,1 unidade (U) por grama de glicose por litro da solução de NP. Quando a hiperglicemia persiste, pode-se aumentar a dose de insulina em 0,05 U por grama de
glicose por dia, até que seja alcançada a dose de 0,25 U por grama de glicose.1,2 Nem toda a insulina fornecida pela solução de NP é usada, porque parte fica aderida à bolsa e ao tubo de
plástico. Em geral, a heparina é acrescentada à NPP na dose de 1 U/mℓ como profilaxia de tromboflebite venosa periférica.
Monitoramento
O monitoramento da tolerância à NP é necessário para alcançar as metas proteico-energéticas e evitar complicações metabólicas. A Tabela 5.8 descreve a frequência apropriada do
monitoramento laboratorial.2. Hipertrigliceridemia (> 400 mg/dℓ) ou aumento ≥ 50 mg/dℓ indica depuração reduzida e, nesses casos, a infusão deve ser interrompida temporariamente,
ou a taxa de infusão de ELIV, reduzida. A interrupção da infusão da ELIV é recomendada quando os níveis dos triglicerídios são > 500 mg/dℓ. A administração tópica de ácido linoleico
na forma de óleo de soja ou cártamo pode ser uma abordagem alternativa para evitar deficiência de ácidos graxos essenciais, sem agravar a hipertrigliceridemia.
Provas de função hepática elevadas ou crescentes em comparação com os níveis basais podem indicar esteatose hepática e, nesses casos, deve-se reavaliar o fornecimento de
glicose. A infusão contínua ou excessiva de glicose pode comprometer a função hepática. A redução da quantidade de glicose infundida pode assegurar que a taxa de utilização máxima
do CHO não seja excedida. A ciclagem da NP também é recomendável para deixar o fígado “descansar”. Essa modalidade de NP consiste em infundir 50% da meta na primeira e na
última hora da infusão. A NP pode ser reduzida inicialmente a uma infusão de 18 a 20 horas e depois abreviada ainda mais para uma infusão de 12 horas, contanto que o controle da
glicemia seja adequado. A glicose plasmática deve ser monitorada antes, durante e depois do ciclo de NP, até que a tolerância à glicose esteja estabelecida.
Interrupção da NP
A descontinuação da NP é a meta final, à medida que os pacientes consigam tolerar uma dieta oral ou NE. Os indivíduos que se encontravam bem nutridos antes de iniciar a NP, que
não têm câncer, não estão debilitados ou não têm ingestão oral há menos de 2 semanas podem ter a NP interrompida logo que a tolerância à dieta oral esteja estabelecida.1. O
“desmame” transicional da NP é necessário aos pacientes em maior risco de intolerância à dieta oral ou à NE, ou que têm ingestão nutricional abaixo do ideal. A infusão da NP pode
suprimir o apetite quando fornece mais de 25% das necessidades energéticas. A NP pode começar a ser reduzida em quantidades comparáveis logo que os pacientes estejam ingerindo
500 kcal por dia e pode ser interrompida por completo quando o aporte oral ou enteral for igual ou maior que 60% das necessidades nutricionais. A estimativa energética pode ser útil
para calcular a ingestão com exatidão. A terapia enteral deve ser considerada quando a ingestão oral não for suficiente para atender às necessidades nutricionais ao longo de alguns dias.
A transição da NP para a terapia enteral deve ser realizada gradativamente. Por exemplo, quando a NE é tolerada e fornece cerca de 50% das necessidades diárias estimadas, o
tratamento com NP pode ser reduzido em 50%. Quando a NE fornece mais de 75% das necessidades do paciente, a NP pode ser interrompida. O paciente pode apresentar hipoglicemia
de rebote quando a NP é interrompida subitamente; por essa razão, recomenda-se reduzir a taxa de infusão em 50% por 1 a 2 horas, antes de interromper por completo. Os níveis
sanguíneos de glicose podem ser dosados a cada 30 a 60 minutos depois da interrupção da NP central, quando o paciente está em risco ou apresenta sinais de hipoglicemia.
Avaliação
•Exames na internação e HPP pertinente, dieta domiciliar ou esquema de NE PTA e quais nutrientes a NE estava fornecendo, ingestão com dieta oral
•Se estiver em NE, acesso e patência do cateter
•Fármacos (suplementos de vitaminas/minerais, antieméticos, agentes pró-cinéticos, fármacos em preparação líquida ou comprimido triturável)
•Exames laboratoriais (eletrólitos, albumina, pré-albumina, PCR, hemoglobina glicada)
•Função intestinal (última evacuação, constipação intestinal R/O, diarreia, íleo paralítico ou obstrução)
•Sinais físicos: edema, integridade da pele (úlceras de pressão, pele ao redor do acesso do cateter de alimentação), resultados do EFFN (perda de massa muscular/reservas de
gordura); sinais vitais, estado funcional
•Dados antropométricos (variações de peso, IMC)
Diagnóstico Nutricional
•Infusão inadequada da NE, relacionada com deslocamento do cateter de alimentação por gastrostomia, evidenciada por NE suspensa por 2 dias, com plano de estabelecer um
acesso novo nas próximas 24 a 48 h
•Infusão inadequada da NE, relacionada com necessidades nutricionais aumentadas em razão da sepse e das lesões de pele, evidenciada por NE atual atendendo a 80% das
necessidades energéticas estimadas e 60% das necessidades proteicas estimadas
•Dificuldade de deglutir relacionada com disfagia orofaríngea s/p AVE, evidenciada por S/S+ de aspiração com todas as consistências dos alimentos por avaliação do
fonoaudiólogo e recomendação de acesso para NE de longa duração
Intervenção
•Descrever as necessidades diárias de nutrientes estimadas
•Recomendações da NE
•Acrescentar polivitamínicos e minerais
•Controle dos fármacos relacionados com a nutrição (fibra modular, probióticos, agentes pró-cinéticos, antieméticos)
•Instruir quanto à técnica de administração e necessidades da NE
•Comunicar-se com as diversas especialidades da área de saúde (fonoaudiólogo, patologia, assistente social, médicos e setor de planejamento da alta)
Monitoramento e reavaliação
•O paciente consegue tolerar 100% das necessidades estimadas de NE nos primeiros 3 a 5 dias
•Nenhum sinal de síndrome de realimentação
•PC compatível, sem distensão abdominal, constipação intestinal ou diarreia
•O cateter enteral funciona adequadamente
•Ganho gradativo de peso (225 a 450 g/semana), IMC crescente
•Resultados laboratoriais retornaram aos limites de referência
•Cicatrização da ferida
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.Merritt R. The A.S.P.E.N. Nutrition Support Practice Manual. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2005.
2.Mueller CM. The A.S.P.E.N. Adult Nutrition Support Core Curriculum. 2nd ed. Silver Spring, MD: American Society of Parenteral and Enteral Nutrition; 2012.
3.McClave SA, Taylor BE, Martindale RG, et al; Guidelines for the provision and assessment of nutrition support therapy in the adult critically ill patient: Society of Critical Care
Medicine (SCCM) and American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (A.S.P.E.N.). JPEN J Parenter Enter Nutr2016;40(2):159–211.
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Care Med 2013;41:2743–2753.
6
Cirurgia Bariátrica
A American Medical Association reconheceu a obesidade como uma doença, não apenas um problema de ingestão
alimentar excessiva e falta de controle. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Institute of Medicine dos EUA, assim
como outras organizações científicas, reconhecem as consequências metabólicas da obesidade nos pacientes de alto risco, nos
quais podem ser fatais, dependendo do grau de obesidade. Em vista das evidências de que uma porcentagem alta dos indivíduos
que perdem peso por métodos convencionais readquire o que perdeu, a cirurgia bariátrica é considerada a opção terapêutica
mais eficaz para a redução e a manutenção do peso em pacientes de alto risco.1
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS
Todos os candidatos em potencial à cirurgia bariátrica devem passar por uma avaliação pré-operatória realizada por uma equipe
multiprofissional, que inclui um clínico, cirurgião bariátrico, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta. O Boxe 6.1 descreve
uma checklist pré-operatória para cirurgia bariátrica.
Dados baseados nos procedimentos cirúrgicos bariátricos. Página da American Society for Metabolic and Bariatric Surgery, disponível em
http://asmbs.org/patients/bariatric-surgery-procedures. Acessada em 20 de janeiro de 2016.
Reproduzido de Mechanick JI, Youdim A, Jones DB, et al. Clinical practice guidelines for the perioperative nutritional, metabolic, and nonsurgical support of the bariatric surgery patient
– 2013 update: Cosponsored by American Association of Clinical Endocrinologists, The Obesity Society, and American Society for Metabolic & Bariatric Surgery. Surg Obes Relat
Dis 2013;9(2):159–191, Copyright (2013), com autorização da Elsevier.
A correção de quaisquer níveis de micronutrientes deficientes ou insuficientes deve ser uma intervenção primária antes da cirurgia bariátrica, porque a obesidade é um fator de risco
para deficiências nutricionais, especialmente:5
•Ferro
•Vitamina B12
•Zinco
•Vitamina D.
A fórmula de Mifflin-St. Jeor para estimar a taxa metabólica basal (TMB) é recomendada para calcular a necessidade energética de pacientes com obesidade com base no peso
atual.6
Homens: TMB (kcal/dia) = 10 × peso (kg) + 6,25 × altura (cm) – 5 × idade (anos) + 5
Mulheres: TMB (kcal/dia) = 10 × peso (kg) + 6,25 × altura (cm) – 5 × idade (anos) – 161
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
Período pós-operatório imediato (até 3 meses após a cirurgia)
O período pós-operatório imediato – geralmente imediatamente após a cirurgia até 3 meses depois – é uma fase crucial ao atendimento das necessidades nutricionais, que resultam do
estresse cirúrgico e do processo de cicatrização envolvido (Boxe 6.2). As necessidades proteicas devem ser atendidas para facilitar a cicatrização da cirurgia gástrica e evitar perda de
massa magra. Alguns pacientes podem necessitar de terapia e orientação personalizadas durante a progressão da dieta, e as reavaliações nutricionais frequentes são essenciais à perda
ponderal saudável. A duração e a variação da progressão da dieta pós-operatória dependem das preferências do cirurgião e do nutricionista, mas geralmente seguem a transição descrita
na Tabela 6.2.
Boxe 6.2 Checklist dos cuidados pós-operatórios imediatos.
•Telemetria monitorada, no mínimo por 24 h, se houver elevado risco de complicação cardiopulmonar
•Progressão dietética programada baseada no protocolo do serviço de alimentação e nutrição supervisionada pelo nutricionista
•Educação alimentar pelo nutricionista
•Polivitamínico e multimineral (no de comprimidos para atendimento das necessidades mínimas)
•Citrato de cálcio, 1.200 a 1.500 mg/dia
•Vitamina D, no mínimo 3.000 unidades/dia; titular a dose até manter níveis > 30 ng/mℓ
•Vitamina B12 conforme a necessidade para manter os níveis na faixa de referência
•Manter hidratação adequada (geralmente superior a 1,5 ℓ/dia VO)
•Monitorar glicemia se houver sintomas de diabetes melito ou hipoglicemia
•Fisioterapia respiratória, espirometria, profilaxia para trombose venosa profunda (TVP) e deambulação precoce
•Se houver instabilidade hemodinâmica, considerar a possibilidade de embolia pulmonar (EP) ou extravasamento intestinal (EI)
•Se houver suspeita de rabdomiólise, dosar o nível de creatinofosfoquinase (CPK)
Adaptado de Mechanick JI, Youdim A, Jones DB, et al. Clinical practice guidelines for the perioperative nutritional, metabolic, and nonsurgical support of the bariatric surgery patient –
2013 update: Cosponsored by American Association of Clinical Endocrinologists, The Obesity Society, and American Society for Metabolic & Bariatric Surgery. Surg Obes Relat
Dis 2013;9(2):159–191, Copyright (2013), com autorização da Elsevier.
Tabela 6.3 Alimentos que devem ser evitados ou postergados durante a reintrodução da dieta.
Tipo de alimento Recomendação
Açúcar, alimentos contendo açúcar, açúcares concentrados Evitar
Bebidas gaseificadas Evitar/postergara
Sucos de frutas Evitar
Gordura saturada, alimentos fritos Evitar
Pão tipo brioche ou de cachorro-quente, massas, arroz Evitar/postergara
Carnes vermelhas duras e secas Evitar/postergara
a
Nozes, pipoca e outros alimentos fibrosos Postergar
Cafeína Evitar/postergara com moderação
Álcool Evitar
a
Alimentos que devem ser postergados por no mínimo 6 semanas, mas sua reintrodução varia de acordo com o protocolo da
instituição.
Reproduzida de Aills L, Blankenship J, Buffington C, et al. ASMBS Allied Health Nutritional Guidelines for the surgical weight
loss patient. Surg Obes Relat Dis 2008;4(5):S73–S108, com autorização de Elsevier.
Proteínas
A ingestão proteica deve ser individualizada e avaliada pelo nutricionista com base na idade, sexo e peso corporal do
paciente.3. A ingestão de 1,5 g de proteína/kg de peso ideal por dia (no mínimo, 60 g/dia) deve fornecer quantidade suficiente
de proteínas. Em razão das dimensões reduzidas do estômago no período pós-operatório imediato, as necessidades proteicas
devem ser fracionadas ao longo de todo o dia, com média de 15 a 30 g de proteína por porção, de forma a assegurar a digestão e
a absorção adequadas. Os suplementos proteicos líquidos são administrados no período pós-operatório imediato para atender às
necessidades proteicas, e o paciente deve ser encorajado a ingerir lentamente seus suplementos proteicos. Devem ser utilizados
suplementos proteicos completos contendo todos os nove aminoácidos essenciais. Antes do procedimento cirúrgico, os pacientes
devem receber instruções quanto aos tipos de suplementos proteicos com elevada biodisponibilidade de proteínas que devem
comprar, inclusive produtos à base de proteína de soro de leite, caseína, clara de ovo, leite e soja.
À medida que a dieta progride, parte dos suplementos proteicos líquidos pode ser substituída por alimentos ricos em
proteínas, inclusive carnes de aves, peixes, carnes vermelhas, laticínios com teor baixo de gordura e soja. A quantidade tolerada
a cada ingestão pode ser de 30 a 60 g, e os alimentos proteicos devem ser ingeridos lentamente e bem mastigados. Também é
importante conversar sobre as modificações comportamentais que favorecem a ingestão alimentar lenta, porque a ingestão
excessiva ou muito rápida, ou a falta de mastigação adequada, pode causar náuseas e vômitos. Carnes suculentas, macias e
úmidas são recomendadas em vez das carnes com textura mais seca, densa ou elástica. Os pacientes devem ser instruídos quanto
às técnicas adequadas de preparo e cozimento dos alimentos, de forma a evitar texturas secas e emborrachadas. Além disso, os
pacientes devem ser estimulados a ingerir proteínas em refeições leves, pequenas e frequentes, junto com um suplemento
nutricional, de forma a atender plenamente às necessidades proteicas diárias.
Álcool e tabagismo
A ingestão de álcool está contraindicada depois de um procedimento bariátrico. Os pacientes devem evitar a ingestão de álcool e
manter a abstinência por no mínimo 1 ano depois da cirurgia, em razão do seu elevado teor calórico e seu baixo valor
nutricional. O álcool também pode aumentar o risco de úlceras e dependência, porque a tolerância do paciente ao álcool é
alterada. Os pacientes também não devem fumar depois de um procedimento cirúrgico bariátrico em vista do risco elevado de
úlceras anastomóticas e de prejuízo da cicatrização da ferida cirúrgica.
Micronutrientes
Inicialmente, os pacientes devem ingerir suplementos de vitaminas e sais minerais na forma de líquido ou comprimidos
mastigáveis para facilitar a digestão e absorção máximas no período pós-operatório imediato. Em geral, o uso diário de
polivitamínicos na forma de solução ou comprimidos mastigáveis pode ser iniciado depois que as náuseas ou os vômitos pós-
operatórios tiverem regredido.3. A ingestão dos suplementos geralmente é recomendada junto com os alimentos, porque suas
Tabela 6.4 Suplementação vitamínica pós-operatória sugerida.
Suplemento AGB RYGB e SG BPD-DS Comentários
Suplementos de polivitaminas e poliminerais 100% do VD 200% do VD 200% do VD Começar no 1o dia após a alta
•Alta potência contendo no mínimo 100% do valor diário (VD) para 2/3 dos nutrientes e 18 mg de ferro, hospitalar
400 μg de ácido fólico e selênio e zinco em cada dose
•Iniciar com solução oral ou comprimido mastigável e progredir para comprimido inteiro/cápsula de
acordo com a tolerância
•Evitar preparações pediátricas, que não são completas
•As doses podem ser separadas
•A tolerância GI pode melhorar quando são ingeridos junto com as refeições
•Não misturar polivitamínicos contendo ferro com cálcio; tomar com 2 h de intervalo
Suplemento de cobalamina (B12) Nenhum 350 a 500 μg/dia (VO) Nenhum Começar entre 0 e 3 meses
•Comprimidos sublinguais, solução oral, spray oral ou gel/spray nasal (VO) 1.000 μg/mês (IM) após a cirurgia
•Injeção intramuscular
•Pode ser necessária suplementação depois de AGB e BPD-DS
Suplemento de cálcio elementar 1.500 mg/dia 1.500 a 2.000 mg/dia 1.800 a 2.400 mg/dia Pode começar no 1o dia após
o
•Citrato de cálcio e vitamina D3 a alta hospitalar, ou no 1 mês
•Dividir em doses de 500 a 600 mg; ficar atento à dose por comprimido no rótulo do suplemento pós-operatório
•Sugerir uma preparação que contenha magnésio, especialmente depois de BPD-DS
•Não combinar cálcio com ferro
•Estimular a ingestão de bebidas lácteas e/ou alimentos que contenham quantidades significativas de
cálcio dietético, além do suplemento recomendado (até 3 porções/dia)
•Para evitar perda óssea durante a fase de emagrecimento rápido, pode ser necessário combinar a
ingestão de suplementos e alimentos contendo cálcio acima de 1.700 mg/dia
Suplemento de ferro elementar (acima da quantidade fornecida pelo polivitamínico) Nenhum Acrescentar no mínimo Acrescentar no mínimo Começar no 1o dia após a alta
•Recomendar às mulheres que menstruam e aos pacientes em risco de anemia (ingestão total 18 a 27 mg/dia de ferro 18 a 27 mg/dia de ferro hospitalar
almejada = 50 a 100 mg de ferro elementar/dia) elementar elementar
•Preparação sem revestimento entérico
•Evitar ingestão excessiva de chás, em razão da interação com tanino
•Recomendar alimentos ricos em ferro heme
•A vitamina C pode aumentar a absorção de fontes de ferro não heme
Vitaminas lipossolúveis Nenhuma Nenhuma 10.000 UI de vitamina A Pode começar 2 a 4 semanas
•Com todos os procedimentos, podem ser necessárias doses mais altas de manutenção para os 2.000 UI de vitamina D após a cirurgia
pacientes com história de deficiência 300 μg de vitamina K
•Existem preparações hidrossolúveis de vitaminas lipossolúveis
•As fontes de retinol (vitamina A) devem ser usadas para calcular as doses
•A maioria dos suplementos contém porcentagem alta de betacaroteno, que não contribui para a
toxicidade da vitamina A
•A ingestão de 2.000 UI de vitamina D3 pode ser assegurada com a seleção cuidadosa dos
suplementos de polivitaminas e cálcio
•A vitamina K1 (fitonadiona ou filoquinona) não causa qualquer efeito tóxico conhecido
•A necessidade de vitamina K varia com as fontes alimentares e a produção no intestino grosso
•É recomendável cuidado com a suplementação de vitamina K nos pacientes tratados com
anticoagulante
•Existem relatos de deficiência de vitamina E, mas ela não é prevalente nos estudos publicados
Complexo B (opcional) 1 dose/dia 1 dose/dia 1 dose/dia Pode começar no 1o dia após
Dose diária a alta hospitalar
•Existe preparação em solução
•Evitar comprimidos de liberação prolongada
•Nenhum risco conhecido de efeitos tóxicos
•Pode ser usado como profilaxia adicional para evitar deficiências de vitamina do complexo B (inclusive
tiamina), especialmente com procedimentos de BPD-DS, porque as vitaminas hidrossolúveis são
absorvidas no jejuno proximal
•Nota: A deficiência de vitamina B12 pode ser mascarada pelo uso de doses superiores a 1.000 mg de
ácido fólico suplementar fornecido em combinação com polivitamínicos
AGB, banda gástrica ajustável; BPD-DS, derivação biliopancreática com ou sem exclusão duodenal; RYGB, bypass gástrico em Y de Roux; SG, gastrectomia vertical; IM, via intramuscular; VO, via oral.
Reproduzida de Aills L, Blankenship J, Buffington C, et al. ASMBS Allied Health Nutritional Guidelines for the surgical weight loss patient. Surg Obes Relat Dis 2008;4(5):S73–S108, com autorização de
Elsevier.
Náuseas e vômitos Avaliar ingestão oral de forma a detectar possíveis fatores contribuintes; intercalar a ingestão de
alimentos e líquidos; reduzir o tamanho das porções; aumentar o fracionamento; sentar-se durante a
ingestão de alimentos/líquidos e ingerir lentamente quantidades pequenas (alimentos e líquidos);
limitar a ingestão de gorduras, açúcares e alimentos muito ácidos; evitar extremos de temperatura;
eliminar alimentos que provoquem os sintomas; regredir a progressão da dieta, conforme a tolerância
Disfagia Avaliar a ingestão oral de forma a detectar possíveis fatores contribuintes, inclusive alimentos secos,
ásperos, elásticos, massudos ou pegajosos; avaliar as técnicas de preparação dos alimentos e
regredir a progressão da dieta, conforme a tolerância
Diarreia Avaliar a ingestão oral de forma a detectar possíveis fatores contribuintes, inclusive lactose e
concentrado de proteína do soro do leite; alimentos ricos em gorduras e açúcares
Flatulência Avaliar a ingestão oral de forma a detectar possíveis fatores contribuintes, inclusive lactose,
concentrado de proteína do soro do leite; bebidas gaseificadas e uso de canudos
Síndrome de dumping Avaliar a ingestão oral quanto às quantidades de açúcares concentrados, bebidas adoçadas e
ingestão de alimentos e líquidos ao mesmo tempo.
Intolerância alimentar à Avaliar a ingestão oral quanto às quantidades de lactose, alimentos gordurosos e alimentos contendo
lactose gás. Interromper o uso de alimentos que provoquem sintomas e aguardar até reintroduzi-los mais
tarde. Regredir a progressão da dieta conforme a tolerância
Alopecia Avaliar a ingestão oral quanto às quantidades de proteínas, líquidos, vitaminas e minerais; determinar
o número de meses transcorridos, de forma a definir a queda como eflúvio telógeno
Dados de Cummings S, Ison K. Pocket Guide to Bariatric Surgery, 2nd ed. Chicago, IL: Academy of Nutrition and Dietetics; 2015.
Dados de Mechanick JI, Youdim A, Jones DB, et al. Clinical Practice guidelines for the perioperative nutritional, metabolic, and
nonsurgical support of the bariatric surgery patient – 2013 update. Surg Obes Relat Dis 2013;(9):159–191.
A alopecia associada a uma deficiência nutricional pós-cirúrgica geralmente ocorre após pelo menos 6 meses do
procedimento. Deficiências nutricionais também podem contribuir para o eflúvio telógeno. Os pacientes cuja ingestão oral não
atende às necessidades, ou que apresentam perda ponderal superior à esperada, têm risco mais alto de apresentar alopecia
associada às deficiências nutricionais. Ferro, zinco e proteínas são os nutrientes relacionados mais comumente com a alopecia, e
seus níveis devem ser avaliados (Tabela 6.6).
Depois do período pós-operatório imediato, recomenda-se o monitoramento bioquímico periódico para determinar os níveis
de micronutrientes do paciente. Isso também permite que o médico determine se a suplementação atual atende às necessidades
do paciente e se é necessário administrar suplementos adicionais. A Tabela 6.7 sugere alguns recursos de monitoramento
bioquímico do estado nutricional dos pacientes de cirurgia bariátrica. Alguns nutrientes podem ser especialmente problemáticos
se não for dedicada atenção especial de forma a garantir sua ingestão adequada, inclusive tiamina, vitamina B12, ferro, cálcio e
vitamina D.
Tabela 6.7 Monitoramento bioquímico do estado nutricional dos pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.
Faixa de Deficiência pós-
Vitamina/mineralTriagem Outros índices laboratoriais referência Faixa crítica operatória Comentário
Tiamina (B1) Tiamina sérica ↓ Transcetolase eritrocitária ↑ 10 a 64 ng/mℓ Atividade de 15 a 29% mais O nível sérico de tiamina responde à
Piruvato transcetolase comum nos AA e suplementação dietética, mas não é um
> 20% Piruvato > 1 hispânicos; indicador seguro das reservas corporais totais
mg/dℓ comumente
associada
à hidratação
deficiente
Piridoxina (B6) PLP Transaminase glutâmico- 5 a 24 ng/mℓ <3 Desconhecida Considerar quando há anemia persistente;
oxalacética pirúvica diabetes melito pode alterar os valores
Cobalamina B12 sérica ↑ Níveis séricos e urinários de 200 a 1.000 < 200 10 a 13% dos Quando há sintomas e o nível de B12 está entre
(B12) MMA ↑ Nível sérico de tHcy pg/mℓ casos podem 200 e 250 pg/mℓ, as dosagens de MMA e tHcy
ocorrer em idosos e são esclarecedoras; a dosagem de B12 pode
em pacientes não diagnosticar 25 a 30% dos casos de
tratados com deficiência
bloqueadores de
H2 e PPIs
Folato Folato eritrocitário, folato FIGLU urinário Níveis séricos e 280 a 791 ng/mℓ < 305 nmol/ℓ Incomum O folato sérico reflete mais a ingestão dietética
sérico urinários de MMA dentro da faixa recente que o nível de folato; o folato
de referência ↑ Nível sérico de eritrocitário é um marcador mais sensível; a
tHcy suplementação excessiva pode mascarar a
deficiência de B12 no hemograma; os sintomas
neurológicos persistem nesses casos
Ferro Ferritina ↓ Ferro sérico ↑ TIBC Homens: 15 a < 20 9 a 16% das Níveis baixos de Hb e Hct são compatíveis com
200 mulheres adultas anemia ferropriva no estágio 3 ou 4; ferritina é
ng/mℓ Mulheres: da população em uma proteína de fase aguda e está aumentada
12 a 150 ng/mℓ geral têm quando há doença e/ou inflamação; os
deficiência anticoncepcionais orais reduzem a perda de
sangue nas mulheres que menstruam
Vitamina A Retinol plasmático RBP 20 a 80 μg/dℓ < 10 Incomum; até 7% Anormalidades oculares podem sugerir esse
em alguns estudos diagnóstico
Vitamina D 25(OH)D ↓ Fósforo sérico ↑ Fosfatase 25 a 40 ng/mℓ <20 Comum; 60 a 70% Quando há deficiência, o cálcio sérico pode
alcalina ↑ PTH sérico ↓ Cálcio estar baixo ou normal; o fósforo sérico pode
urinário diminuir e a fosfatase alcalina sérica pode
aumentar; nível alto de PTH
Vitamina E Alfatocoferol plasmático Lipídios plasmáticos 5 a 20 μg/mℓ <5 Incomum O nível plasmático reduzido de alfatocoferol em
relação com os lipídios plasmáticos (0,8 mg/g
de lipídios totais) deve ser usado quando há
hiperlipidemia
Vitamina K PT ↑ DCP ↓ Filoquinona plasmática 10 a 13 Variável Incomum O PT não é um indicador sensível do nível de
segundos vitamina K
Zinco Zinco plasmático ↓ Zinco eritrocitário 60 a 130 μg/dℓ < 70 Incomum, mas a Monitorar os níveis de albumina e interpretar a
obesidade dosagem do zinco de acordo; albumina é a
aumenta o risco proteína de ligação principal do zinco; não há
de ter níveis um método confiável para determinar o nível de
baixos zinco; o método do
zinco plasmático geralmente é usado; os
estudos citados neste relatório não descreveram
adequadamente o método usado para analisar o
nível de zinco
Proteínas Albumina séricaProteínas ↓ Pré-albumina (transtirretina) 4 a 6 g/dℓ <3 Incomum A meia-vida da pré-albu-mina é de 2 a 4 dias e
totais séricas sérica 6 a 8 g/dℓ < 20 mg/dℓ reflete mais rapidamente as alterações do
estado nutricional que a albumina sérica – uma
proteína carreadora inespecífica com meia-vida
de 22 dias
AA, afro-americanos; DCP desgamacarboxiprotrombina; PLP fosfato de piridoxal; FIGLU, ácido forminoglutâmico; Hb, hemoglobina; Hct, hema-
tócrito; MMA, ácido metilmalônico; PT, tempo de protrombina; PTH, paratormônio; RBP proteína ligadora de retinol; tHcy, homocisteína total em
jejum; TIBC, capacidade total de ligação do ferro.
Reproduzida de Aills L, Blankenship J, Buffington C, et al. ASMBS Allied Health Nutritional Guidelines for the surgical weight loss patient. Surg
Obes Relat Dis 2008;4(5):S73-S108, com autorização de Elsevier.
Ferro
•Considerar sua inclusão na preparação de polivitaminas e recomendar o uso de outros suplementos à base de ferro para
pacientes de alto risco
•Fontes dietéticas: carne bovina, sardinhas, carne de peru, mexilhões, ostras (ferro heme), lentilhas, feijões e vegetais
folhosos verdes (ferro não heme)
•Interações farmacológicas: tetraciclina, hormônio tireoidiano, bifosfonatos, levodopa, metildopa, fluoroquinolonas,
penicilamina. A absorção de ferro diminui com o uso de fármacos que reduzem a acidez gástrica, preparações contendo
cálcio e alguns suplementos de fibras. Com o uso de doses altas de ferro, considerar também a absorção de cobre, zinco,
selênio e vitamina A
•Deficiência: deficiência de ferro, anemia ferropriva
•Fatores de risco: mulheres que menstruam e gestantes. A área preferencial de absorção é excluída pelos procedimentos de
RNYGB e DS (duodeno proximal). A absorção também depende das reservas de ferro. Hidrólise reduzida no estômago
•Sinais/sintomas: fadiga, cãibras nas pernas, pagofagia, pica, alopecia, dispneia, palidez, irritabilidade, dificuldade de
deglutição, anorexia, língua dolorida/edemaciada, queilite angular, unhas quebradiças, coiloníquia, cefaleia, pulso acelerado,
taquicardia, dificuldade de concentração, extremidades frias e imunodepressão
•Tratamento: reposição oral com 100 a 200 mg de ferro elementar por dia em doses fracionadas. Estudos mostraram que a
vitamina C afeta favoravelmente a absorção de ferro. Não incluir suplemento de cálcio com ferro; esperar no mínimo 2
horas, em razão da competição pelo mesmo sítio de absorção. Ferrodextrana também pode ser administrada por via
intravenosa, mas é muito importante monitorar a ocorrência de reação alérgica.
Cálcio
•De forma a administrar doses suficientes, os suplementos devem ser separados
•Fontes dietéticas: laticínios, vegetais folhosos verdes, soja, salmão, sardinhas e alimentos enriquecidos com cálcio
•Interações farmacológicas: antibióticos, hormônios tireoidianos e fármacos de ação cardiovascular. Outras interações
ocorrem com magnésio, fitato, oxalato, grandes quantidades de sódio e proteína, ferro, fósforo e grandes quantidades de
cafeína
•Deficiência: hipocalcemia, doença óssea metabólica (osteoporose, osteomalacia, hiperparatireoidismo)
•Fatores de risco: ingestão baixa, níveis baixos de proteínas, má absorção, hipocloridria ou acloridria, hipomagnesemia,
deficiência de vitamina D e esteatorreia
•Sinais/sintomas: parestesia, dormência, cãibras musculares, perda de sensibilidade ao redor da boca, cólicas GI
inexplicáveis
•Tratamento: dose oral de 1.000 a 1.500 mg de cálcio elementar em doses fracionadas com vitamina D com finalidade
profilática e de manutenção; pode ser necessário acrescentar magnésio. Até 2.000 mg/dia para tratar hipocalcemia leve ou
crônica. Os níveis baixos de proteínas devem ser corrigidos. O citrato de cálcio é preferível como profilaxia e tratamento.
Osso, dolomita e produtos à base de conchas marinhas devem ser evitados porque podem estar contaminados por chumbo
ou alumínio.
Vitamina D
•Incluir no suplemento de cálcio. No período pré-operatório, 62% dos pacientes têm deficiência dessa vitamina11
•As fontes alimentares não são consideradas necessárias quando há exposição adequada à luz solar. As fontes alimentares
incluem sardinhas e laticínios
•Interações farmacológicas: verapamil, cimetidina, orlistate, sequestradores de ácidos biliares e corticoides
•Fatores de risco: má absorção de gordura após os procedimentos de RNYGB e DS
•Sinais/sintomas: a maioria está relacionada com a deficiência de cálcio subsequente: transpiração excessiva na cabeça,
ardência na boca, dismenorreia, transtorno afetivo sazonal (SAD), arritmias cardíacas, crises convulsivas, fadiga, perda de
equilíbrio/queda, hipertensão arterial e imunodepressão
•Tratamento: a dose típica de vitamina D2 para tratamento é de 50.000 UI. O suplemento deve ser usado diariamente por até
2 a 3 semanas nos pacientes com níveis < 8 ng/mℓ e quando há hipocalcemia.
Avaliação
História de várias tentativas infrutíferas com dietas para perder peso; sobrepeso por toda a vida. Pula refeições e come
excessivamente antes de deitar (HS). Relata que não pratica atividade física regularmente e tem emprego sedentário, no qual
trabalha muitas horas. Altura: 1,62 cm, peso: 172 kg.
Diagnóstico nutricional
Ingestão energética excessiva associada a tentativas infrutíferas de reduzir a ingestão alimentar, conforme se evidencia por
IMC de 57 kg/m2.
Intervenção
•Ajustar a frequência da ingestão alimentar a um padrão de ingestão regulada e estruturada com três refeições e um a
dois lanches
•Evitar pular refeições. Aumentar atividade física, incluindo um plano de exercícios de rotina, por no mínimo 3 dias por
semana (45 min por sessão), e aumentar o número total de passos caminhados por dia, incluindo pausas regulares das
atividades profissionais para caminhar (8.000 a 10.000 passos/dia).
Monitoramento e reavaliação
Acompanhamento regular a intervalos de 2 semanas com nutricionista para reavaliar a adesão às recomendações, relatar a
ingestão oral e pesar-se periodicamente. Monitorar os seguintes parâmetros:
•Aporte energético: ingestão calórica a partir de alimentos e bebidas: alimentos escolhidos e porções ingeridas
•Gasto energético: gasto energético com atividade física em geral (caminhadas) e exercícios regulares: dias por semana
em que praticou exercícios físicos e passos caminhados por dia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2.Pentin PL. What are the indications for bariatric surgery. J Fam Pract 2005;54(7):633–634.
3.Mechanick JI, Youdim A, Jones DB, et al. Clinical practice guidelines for the perioperative nutritional, metabolic, and
nonsurgical support of the bariatric surgery patient – 2013 update: Cosponsored by American Association of Clinical
Endocrinologists, The Obesity Society, and American Society for Metabolic & Bariatric Surgery. Surg Obes Relat
Dis 2013;9(2):159–191.
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patient. Surg Obes Relat Dis2008;4(5):S73–S108.
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Guidelines. Available at: http://www.andevidencelibrary.com. Accessed January 7, 2016.
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en-y gastric bypass. Obes Surg2003;13(1):66–72.
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9.Papamargaritis D, Koukoulis G, Sioka E, et al. Dumping symptoms and incidence of hypoglycemia after provocation test
at 6 and 12 months after laparoscopic sleeve gastrectomy. Obes Surg 2012;(10):1600–1606.
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11.Buffington C, Walker B, Cowan GS Jr, et al. Vitamin D deficiency in the morbidly obese. Obes Surg 1993;3(4):421–
424.
7
Câncer
A Anualmente em todo o mundo, estima-se que 14 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com câncer e 8 milhões morram
em consequência da doença.1.Até 2030, espera-se que esses dados mundiais aumentem para 21,7 milhões de casos novos de
câncer e 13 milhões de mortes causadas pela doença, simplesmente em razão do crescimento e envelhecimento
populacionais.2. A nutrição é importante, porque está associada à etiologia de alguns cânceres e ao seu tratamento. Nos EUA,
cerca de 33% das mortes anuais por câncer são atribuídas à nutrição e ao estilo de vida.3,4 Além disso, a desnutrição proteico-
energética é o diagnóstico secundário mais comum entre os pacientes com câncer diagnosticado, que tem como causa a ingestão
inadequada de carboidratos, proteínas e lipídios para atender às demandas metabólicas e/ou absorção reduzida de
macronutrientes.5
FISIOPATOLOGIA
Câncer não é apenas uma doença; pelo contrário, este termo abrange mais de 100 doenças. As características comuns a todos os
cânceres são proliferação celular descontrolada e capacidade das células de produzir metástases (ou migrar) do sítio original e
espalhar-se para áreas distantes dispersas por todo o organismo.
O estadiamento do câncer é um sistema usado pelos médicos e outros profissionais da área de saúde para descrever a extensão
ou a gravidade do câncer de um indivíduo. O estadiamento baseia-se na extensão do tumor primário e das lesões metastáticas. O
estadiamento é importante quando se estabelece o diagnóstico do câncer, porque ajuda o médico a planejar o tratamento, estimar o
prognóstico do paciente e identificar quaisquer intervenções clínicas experimentais que possam ser apropriadas ao caso em
questão.6. Além disso, o estadiamento é importante para os registros da doença e para os pesquisadores, porque fornece uma
terminologia comum para a notificação da doença e a avaliação e comparação dos resultados dos estudos clínicos. O
conhecimento do sistema de estadiamento do câncer facilita o trabalho com pacientes oncológicos, porque o estádio da doença do
paciente pode correlacionar-se com o estado nutricional e fornecer indícios quanto às possíveis intervenções nutricionais.
Os sistemas de estadiamento do câncer evoluem constantemente, à medida que os cientistas aprendem mais sobre a doença.
Hoje em dia, existem muitos sistemas de estadiamento em uso. Alguns abrangem diversos tipos de câncer, enquanto outros são
específicos para determinado tipo. Os elementos comuns da maioria dos sistemas de estadiamento são os seguintes:
•Localização do tumor primário
•Tamanho do tumor e quantidade de tumores
•Invasão dos linfonodos
•Tipo celular e grau do tumor
•Existência ou inexistência de metástases.
Um exemplo de estadiamento do câncer de cólon com base no sistema TNM seria T3 N0 M0. Isso significaria um tumor
volumoso localizado apenas no cólon, sem disseminação aos linfonodos ou qualquer outra parte do corpo.
Quimioterapia
Muitos agentes quimioterápicos são usados em combinações (conhecidas comumente como protocolos ou “coquetéis”) para tratar
cânceres específicos. A Tabela 7.3 relaciona alguns antineoplásicos usados comumente e suas consequências nutricionais.
Efeitos colaterais nutricionais da quimioterapia (os efeitos dependem dos fármacos administrados)8,9
•Anorexia
•Náuseas e vômito
•Mucosite (estomatite, esofagite, enterite, gastrite e proctite)
•Diarreia
•Constipação intestinal
•Emagrecimento
•Distúrbios da gustação (ageusia – nenhum paladar; hipogeusia – paladar reduzido; disgeusia – paladar distorcido)
•Gosto metálico na boca
•Xerostomia (boca seca)
•Intolerância à lactose
•Monilíase
•Fadiga.
Radioterapia
Os efeitos colaterais da radiação podem ser agudos ou crônicos e dependem da área do corpo que foi irradiada. As alterações da
gustação ou da saliva causadas pela irradiação da cabeça ou do pescoço demoram meses para melhorar e, em alguns casos, nunca
voltam aos níveis basais.8
Efeitos colaterais nutricionais da radioterapia
•Gerais – anorexia, fadiga
•Cérebro – náuseas
•Orofaríngeos
∘Distúrbios da gustação (ageusia – nenhum paladar; hipogeusia; disgeusia)
∘Mucosite (estomatite, esofagite)
∘Disfagia, odinofagia (deglutição dolorosa)
∘Xerostomia, saliva espessa
∘Cáries dentárias
∘Queda dos dentes
∘Inflamação e hipersensibilidade na gengiva
∘Alteração ou perda do olfato
∘Trismo (restrição ou incapacidade de abrir a boca)
•Esôfago/tórax
∘Esofagite
∘Disfagia
∘Estenose esofágica
•Abdome/pelve
∘Náuseas, vômito
∘Diarreia, esteatorreia
∘Colite e enterite agudas
∘Fístulas
∘Má digestão, má absorção
∘Perfurações.
Tabela 7.3 Quimioterápicos.
Quimioterápico: nome genérico (nome comercial) Náuseas e vômito Diarreia Xerostomia Estomatite e esofagite Anorexia Distúrbios da gustação
®
Anastrozol (Arimidex ) Brandos Não Não Não Não Não
®
Bleomicina (Blenoxane ) Brandos a moderados Não Sim Sim Sim Não
®
Bussulfano (Myleran ) Brandos Não Não Não Sim Não
®
Capecitabina (Xeloda ) Brandos Sim Não Não Não Não
®
Carboplatina (Paraplatin ) Moderados Sim Não Não Não Não
®
Carmustina (BCNU ) Moderados Não Não Sim Sim Não
®
Cisplatina (Platinol ) Graves Sim Não Não Sim Gosto metálico
Ciclofosfamida (Cytoxan®) Graves Não Sim Sim Sim Não
®
Citarabina (ARA-C ) Graves Sim Não Sim Sim Não
®
Dacarbazina (DTIC-Dome ) Graves Sim Não Sim Não Gosto metálico
®
Dactinomicina (Cosmegen ) Graves Sim Sim Sim Não Sim
®
Daunorrubicina (Cerubidine ) Moderados Sim Sim Sim Sim Sim
®
Docetaxel (Taxotere ) Brandos Não Não Não Não Não
®
Doxorrubicina (Adriamycin ) Moderados Sim Sim Sim Sim Não
®
Epirrubicina HCL (Ellence ) Moderados Sim Não Sim Não Não
®
Etoposídeo (Etopophos ) Brandos a moderados Sim Não Sim Sim Não
®
Floxuridina (FUDR ) Brandos Sim Não Sim Sim Não
®
5-fluoruracila (Carac ) Moderados Sim Não Sim Não Sim
®
Gencitabina (Gemzar ) Brandos Sim Não Sim Não Não
®
Hidroxiureia (Hydrea ) Brandos a moderados Sim Não Sim Sim Não
®
Irinotecano (Camptosar ) Graves Sim Não Não Sim Não
®
L-asparaginase (Elspar ) Moderados Não Não Sim Sim Não
®
Mecloretamina (Mustargen ) Graves Sim Não Não Sim Gosto metálico
®
Metotrexato (Otrexup ) Brandos a moderados Sim Não Sim Sim Sim
Mitomicina (Mitosol®) Moderados Sim Não Sim Sim Não
® a
Oxaliplatina (Eloxatin ) Moderados Sim Não Não Não Não
®
Paclitaxel (Taxol ) Brandos Não Não Sim Não Não
® b
Procarbazina (Natulan ) Graves Sim Não Sim Sim Não
®
Estreptozocina (Zanosar ) Graves Sim Não Não Não Não
®
Tamoxifeno (Nolvadex ) Brandos Não Não Não Sim Não
®
Temozolamida (Temodar ) Moderados Não Não Não Sim Não
Topotecana (Hycamtin®) Brandos Sim Não Não Sim Não
®
Vimblastina (Velban ) Moderados Sim Não Sim Não Não
®
Vincristina (Marquibo Kit ) Brandos Sim Não Sim Sim Não
®
Vinorrelbina (Navelbine ) Brandos Não Não Não Sim Não
Para evitar crise hipertensiva, o paciente deve fazer uma dieta pobre em tiramina enquanto está em tratamento com cloridrato de procarbazina e 4 semanas após a
b
última dose.
Os dados foram obtidos das bulas dos produtos.
Distúrbios da gustação
•Eliminar odores desagradáveis e afastar os alimentos do campo de visão
•Ingerir suplementos nutricionais com um canudo (colocado na parte posterior da boca) em um recipiente tampado para reduzir os odores e o contato com as papilas gustativas
•Os sabores amargo e ácido geralmente são bem tolerados quando não há estomatite/esofagite (vinagre, alimentos condimentados, molhos de salada à base de vinagre, molho
agridoce, suco de limão, mostarda, ketchup, molho barbecue)
•Beber líquidos junto com as refeições e repetidamente ao longo de todo o dia para umidificar a mucosa oral
•Melhorar a gustação acrescentando condimentos e aromatizantes como açúcar, limão, ervas e vinho
•Servir alimentos atrativos com cores e texturas equilibradas
•Usar talheres de plástico se o gosto metálico for um problema
•Usar extremos de temperatura (quente e frio) para estimular o paladar
•Comer pedaços de abacaxi gelado entre os alimentos para alterar e estimular a sensação gustativa
•Tomar sorvete de limão para limpar o palato entre os alimentos
•Se os alimentos forem muito doces:
∘O chá da erva Gymnema sylvestre é usado comumente pelos degustadores profissionais de vinho e “adormece” as papilas gustativas, que perdem sua sensibilidade aos sabores
doces por cerca de 20 minutos. A solução deve ser mantida na boca por cerca de 5 minutos antes das refeições
∘Acrescentar algumas gotas de bebidas amargas (angostura, vendida nos mercados) às bebidas para atenuar o sabor doce.6
Xerostomia
•Tomar vários goles de água antes de engolir
•Lavar a boca a cada 2 a 4 horas
•Beber 2 a 3 ℓ de líquidos por dia
•Chupar balas sem açúcar – pastilhas de limão
•Aplicar vaselina ou manteiga de cacau para manter os lábios úmidos
•Evitar frutas cítricas e alimentos secos
•Usar molhos e caldos nos alimentos para aumentar a umidade
•Usar substitutos da saliva.
Náuseas
•Fazer refeições leves e frequentes
•Os alimentos devem estar gelados ou à temperatura ambiente e devem ser macios, salgados e não gordurosos ou ricos em gordura
•Intercalar líquidos e alimentos sólidos no mínimo com 1 hora
•Os líquidos devem estar frios
•Experimentar ginger ale ou outros alimentos com gengibre
•Ficar na posição ereta por 1 a 2 horas depois das refeições e manter a cabeceira do leito elevada.
Diarreia
•Ingerir refeições leves e frequentes, que estejam mornas ou à temperatura ambiente
•Evitar alimentos gordurosos (bacon, queijos, óleos) e flatulentos (brócolis, feijões)
•Evitar sucos e frutas cítricos
•Ingerir alimentos ricos em fibras solúveis (aveia, cevada, banana, molho de maçã)
•Evitar alimentos ricos em fibras insolúveis (grãos integrais, legumes, repolho, brócolis, frutas e vegetais fibrosos com sementes, películas ou cascas)
•Evitar álcool e cafeína
•Comer arroz branco cozido, tapioca, creme de cereais com arroz, banana e batatas sem casca
•Usar laticínios com pouca lactose, inclusive iogurte e queijos curtidos, em vez de leite e sorvete.
Constipação intestinal
•Ingerir quantidades adequadas de líquidos
•Aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras (grãos integrais, cereais ricos em fibras, farelo de trigo, frutas e vegetais, legumes e pipoca)
•Ingerir as refeições a intervalos regulares ao longo do dia
•Tomar uma bebida quente de manhã para estimular a peristalse
•Aumentar a atividade física, se o médico permitir.
Avaliação
•Dieta, apetite, tolerância aos alimentos, distúrbios da gustação, padrão de ingestão alimentar
•Fármacos (quimioterápicos, suplementos de vitaminas/minerais, substitutos da saliva, antieméticos)
•Exames laboratoriais (proteína C reativa, marcadores tumorais, contagens de leucócitos)
•Resultados do exame físico: sintomas GI (especialmente úlceras orais, monilíase, xerostomia, mucosite, disfagia, trismo), N&V, diarreia, constipação intestinal); resultados do
exame físico para avaliação do estado nutricional (perda de massa muscular/reservas de gordura, edema); sinais vitais e estado funcional
•Dados antropométricos (peso/variação do peso, IMC)
Diagnóstico nutricional
•Ingestão energética prevista abaixo do ideal, relacionada com alterações do paladar e apetite; aumento das necessidades nutricionais em razão da doença catabólica crônica,
evidenciado por tratamento programado, que possivelmente reduz a capacidade de ingerir energia ou nutrientes suficientes; efeitos colaterais do tratamento; e náuseas/vômitos
•Ingestão proteico-energética insuficiente, relacionada com capacidade reduzida de ingerir proteínas e energia suficientes; e intervenção cirúrgica, evidenciada por
emagrecimento > 5% em 1 mês; IMC < 18 kg/m2; ressecção intestinal; dieta zero por 3 dias; e diagnóstico recente para câncer de cólon
•Dificuldade de engolir, relacionada com tumor faríngeo/esofágico, esofagite causada pela radioterapia; evidenciada por mucosas ressecadas; dor ao deglutir; redução da
ingestão alimentar (ingere menos de 50% das refeições); e incapacidade de deglutir alimentos sólidos
Intervenção
•Acrescentar lanches e suplementos nutricionais
•Recomendações de terapia enteral ou parenteral
•Acrescentar vitaminas e minerais
•Medidas para facilitar a ingestão alimentar
•Controlar os fármacos relacionados com a nutrição (estimulantes do apetite, substitutos da saliva)
•Fornecer instruções dietéticas (ingestão proteico-energética alta, controle dos sintomas GI – N&V, ressecamento da boca/faringe)
•Estabelecer contato com fonoaudiologia, serviço social e equipe multiprofissional
Monitoramento e reavaliação
•O paciente consegue atender a mais de 75% das necessidades proteico-energéticas por ingestão oral
•A ingestão do paciente atende a 100% das suas necessidades estimadas
•A nutrição enteral foi iniciada
•O paciente segue as recomendações referentes aos fármacos
•O IMC aumenta
•O paciente não continua a emagrecer e alcança a meta de ganho ponderal
•Os resultados dos exames laboratoriais voltam aos limites de referência
•Os sintomas ou distúrbios GI melhoram
•As feridas cicatrizam
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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research-highlights. Accessed November 24, 2015.
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8
Doença Cardiovascular
O sistema cardiovascular consiste em coração e vasos sanguíneos que o comunicam com os outros sistemas para facilitar as funções metabólicas, o transporte de nutrientes e gases,
a estabilização da temperatura e do pH, a manutenção da homeostase e a ativação dos mecanismos de defesa. As doenças que afetam o coração (doença arterial coronariana, que causa
infarto agudo do miocárdio [IAM]) e o sistema circulatório (que causam acidente vascular encefálico, ou AVE) são descritas coletivamente como doenças cardiovasculares (DCV). As
taxas de mortalidade associadas à DCV diminuíram em 30,8% entre 2001 e 2011, mas a doença arterial coronariana (47,7%) e o AVE (16,4%) ainda são as causas principais de
mortalidade nos EUA,1,2 com discrepâncias raciais significativas relacionadas com os fatores de risco para DCV (Boxe 8.1). O tratamento médico-nutricional (TMN) é um componente
crucial da intervenção baseada em alterações específicas da dieta para controlar os sinais e sintomas de DCV, principalmente no controle da hipertensão arterial sistêmica e para tratar as
dislipidemias, assim como as complicações potenciais da doença (Figura 8.1).
Boxe 8.1 Discrepâncias raciais e sexuais dos fatores de risco para doença cardiovascular (DCV).
•Entre os homens, a maior prevalência de obesidade (29,7%) ocorria nos mexicanos naturalizados americanos com nível superior. As mulheres afro-americanas com ou sem
educação superior tinham maior prevalência de obesidade (48,4%)
•A prevalência de hipertensão arterial sistêmica era maior entre os afro-americanos (41,2%), independentemente do sexo ou nível educacional
•A prevalência de hipercolesterolemia era maior entre homens e mulheres caucasianos e mexicanos naturalizados americanos, independentemente do nível educacional
•Em todas as faixas etárias, a mortalidade por DCV era maior entre os afro-americanos
Dados de Mozaffarian D, Benjamin EJ, Go AS, et al. Heart disease and stroke statistics – 2015 update: A report from the American Heart Association. Circulation 2015;131:e29–e322.
Figura 8.1 Doença cardiovascular e alvos da intervenção nutricional. Os campos com fundo preto indicam doença; o texto em cinza significa consequências da disfunção de órgãos/sistemas.
ICC, insuficiência cardíaca congestiva; AVE, acidente vascular encefálico; IAM, infarto agudo do miocárdio.
O evento central da disfunção endotelial é a retenção de partículas de LDL no espaço subendotelial, que depois passam por oxidação progressiva iniciada pelos radicais livres
originados da íntima vascular.3. As LDL oxidadas ou modificadas desencadeiam reações inflamatórias, que causam lesões da íntima, ampliam o recrutamento e a adesão dos monócitos
e linfócitos T ao ateroma e facilitam a penetração dos monócitos na camada íntima dos vasos.6. Os monócitos transformam-se em macrófagos e captam prontamente as LDL oxidadas e
depois se transformam em células espumosas que, por fim, formam o núcleo lipídico da placa aterosclerótica.7. As LDL oxidadas agravam a lesão endotelial, resultando na liberação do
fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) que, por sua vez, estimula a proliferação e a migração das células musculares lisas para dentro da íntima; por fim, estas células
captam as LDL oxidadas e formam as células espumosas.8
A placa ateromatosa rica em lipídios e colesterol tende a romperse, porque a lesão não é estável. A placa gordurosa rompida fica exposta ao fluxo sanguíneo e facilita a deposição de
partículas pequenas e densas de LDL que, em seguida, resultam na formação de trombos e ativação das plaquetas. A deposição e o acúmulo contínuos de LDL e células espumosas
obstruem progressivamente o lúmen vascular e lentamente provocam trombose – uma causa direta de DCV que, dependendo da localização das lesões, pode causar angina pectoris,
cardiopatia isquêmica ou IAM.5. As partículas de lipoproteínas variam quanto ao tamanho, mas existem indícios de que as partículas de LDL pequenas e densas sejam mais
aterogênicas que as partículas de LDL com dimensões normais ou maiores; estas partículas de LDL são consideradas um fator de risco independente para DCV (Tabela 8.1).9
As diretrizes antigas da American Heart Association (AHA) recomendavam tratar os pacientes utilizando como alvo principal do tratamento as metas de risco associado à LDL.
Contudo, as diretrizes do Adult Treatment Panel IV (ATP IV) de 2013 – desenvolvidas conjuntamente pelo American College of Cardiology (ACC) e AHA – não definiram metas
primárias específicas de tratamento com base no LDL-colesterol (LDL-C).10. Em vez disso, as diretrizes atuais da ACC/AHA enfatizam o tratamento com estatinas para quatro grupos
específicos de pacientes, que são definidos da seguinte forma: portadores de DCV aterosclerótica (DCVA) diagnosticada; diabéticos; LDL-C > 190 mg/dℓ sem tratamento; e risco
estimado de DCVA em 10 anos > 7,5%.
Boxe 8.2 Etapas do cálculo do risco estimado de doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) detectável clinicamente em 10 anos.
1a etapa – Primeiramente, é preciso determinar o log natural para idade, colesterol total, HDL-C e pressão arterial sistólica (nível com ou sem tratamento).
2a etapa – Os termos de interação do log natural para idade são multiplicados pelos valores do colesterol total, HDL-C e pressão arterial sistólica (nível com ou sem tratamento).
3a etapa – Em seguida, os valores calculados são multiplicados pelos coefi-cientes originados dos parâmetros da equação (coluna “Coeficientes”) para o grupo de raça-sexo específico
do indivíduo, que são derivados das equações de coortes acumuladas para estimativa do risco de DCVA em 10 anos.a
4a etapa – O cálculo “Coeficiente × Valor” fornece os resultados da multiplicação do perfil de risco de cada parâmetro.
5a etapa – Em seguida, a soma da coluna “Coeficiente × Valor” é calculada para o indivíduo, conforme demonstrado em “Soma Individual” para cada grupo de raça-sexo.
6a Etapa – O risco estimado em 10 anosa de um primeiro episódio de DCVA detectável clinicamente é calculado formalmente como 1 menos índice de sobrevivência em 10 anos
(“Sobrevivência Basal”) elevado à potência do expoente da soma “Coeficiente × Valor” menos a soma de “Coeficiente × Valor” global específico para o sexo e a raça; ou na forma da
equação: 1 – S10(IndX’B – MédiaX’B).
a
Uma planilha que permite estimar os riscos de DCVA em 10 anos e por toda a vida e uma calculadora online estão disponíveis nas páginas
http://my.americanheart.org/cvriskcalculator e www.cardiosource.org/science-and-quality/practice-guidelines-and-quality-standards/2013-prevention-guideline-tools.aspx.
Dados de Goff DC, Lloyd-Jones DM, Bennett G, et al. 2013 ACC/AHA guideline on the assessment of cardiovascular risk – A report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation 2014;129(Suppl 2):S49–S73.
Além disso, o Grupo-Tarefa da ACC/AHA optou por não usar o algoritmo de Escore de Risco de Framingham (FRS) de 10 anos, porque este algoritmo foi derivado exclusivamente
de uma amostra populacional caucasiana e seu alcance estava limitado apenas à determinação do prognóstico relacionado com DAC. Em seu lugar, o Grupo-Tarefa derivou equações de
risco estimado de DCVA em 10 anos > 7,5% com base em coortes acumuladas representativas da população americana de caucasianos e afro-americanos (Boxe 8.2).10. O Grupo-
Tarefa enfatizou a estimativa dos primeiros episódios clinicamente detectáveis de DCVA (definidos como primeira ocorrência de IAM não fatal, morte por DCV ou AVE fatal ou não
fatal) como parâmetro prognóstico almejado. O Estimador de Riscodeve ser usado nos indivíduos sem DCVA e com nível de LDL-C < 190 mg/dℓ. As informações necessárias para
estimar o risco de DCVA são idade, sexo, raça, colesterol total, colesterol lipoproteína de alta densidade (HDL-C), pressão arterial sistólica, uso de fármacos anti-hipertensivos, diabetes
melito (diagnosticado ou não) e tabagismo.
Tabela 8.2 Metas de LDL-colesterol para iniciar tratamento com estatinas combinado com modificação do estilo de vida.
Grupos de pacientes Tratamento com estatinas Modificação intensiva do estilo de vida
Indivíduos com 40 a 75 anos, sem DCVA detectável clinicamente Esse grupo não precisa fazer tratamento com Hábitos saudáveis que promovem a saúde do coração são fundamentais à profilaxia da
ou diabetes melito e com LDL-C de 70 a 189 mg/dℓ (recalcular o fármacos redutores do colesterol DCVA
risco estimado de DCVAa em 10 anos a cada 4 a 6 anos)
Indivíduos com > 21 anos e DCVA detectável clinicamente Idade ≤ 75 anos Estatina em doses Ensinar hábitos saudáveis intensivos de promoção da saúde:
altas (estatina em doses moderadas, se não for •Monitorar regularmente a adesão à modificação do estilo de vida
candidato ao uso de estatina em dose alta) •Reforçar um estilo de vida saudável durante as consultas de seguimento por 3 a 12
meses
•As causas secundárias de elevações graves do LDL-C ≥ 190 Idade > 75 anos, ou se não for candidato ao Avaliar a dieta como causa secundária da hiperlipidemia:
mg/dℓ e triglicerídios ≥ 500 mg/dℓ devem ser avaliadas e tratamento com estatina em dose alta Estatina •LDL-C alto – gorduras trans ou saturadas, aumento do peso, anorexia
corrigidas adequadamente em doses moderadas •TG alto – aumento do peso, dietas hipolipídicas, ingestão alta de carboidratos
refinados, ingestão excessiva de álcool
Indivíduos > 21 anos com elevações primárias do LDL-C ≥ 190 Estatina em doses altas (estatina em doses Todos os indivíduos tratados com estatinas devem ser orientados quanto aos hábitos de
mg/dℓ moderadas, se não for candidato ao uso de um estilo de vida saudável
estatina em dose alta)
Indivíduos de 40 a 75 anos com diabetes melito e LDL-C de 70 a Estatina em doses moderadas Se um indivíduo tratado com estatina desenvolver diabetes melito, ele deve ser instruído a
189 mg/dℓ Estatina em doses altas se risco estimado de seguir um padrão dietético saudável para o coração, praticar atividade física, alcançar e
DCVA em 10 anos ≥ 7,5%
a
manter um peso corporal saudável, parar de fumar e usar estatina para reduzir seu risco
de episódios de DCVA
Indivíduos sem DCVA detectável clinicamente ou diabetes melito, Estatina em doses moderadas a altas As estatinas aumentam moderadamente o risco excessivo de desenvolver diabetes melito
com 40 a 75 anos e LDL-C de 70 a 189 mg/dℓ e risco estimado de tipo 2 nos indivíduos com fatores de risco para diabetes melito
DCVA em 10 anos ≥ 7,5%
a
O objetivo dessa abordagem é alcançar “saúde cardiovascular ideal” e baseia-se em sete parâmetros para avaliar os comportamentos de saúde individuais e comunitários na faixa
etária de 40 a 75 anos e de crianças sem DCVA detectável clinicamente ou diabetes melito e com LDL-C < 190 mg/dℓ (Boxe 8.3). Para alcançar esse objetivo, as intervenções no estilo
de vida são voltadas para escolas e locais de trabalho das comunidades de todo o país, oferecendo orientações de saúde no nível comunitário para crianças e adultos sobre dieta
específica e alterações do estilo de vida (Boxe 8.4). Para os adultos de 40 a 75 anos com ou sem DCVA ou diabetes melito e LDL-C > 190 mg/dℓ, o Grupo-Tarefa elaborou
recomendações dietéticas para reduzir o LDL-C e estabeleceu níveis de evidência para cada recomendação (Boxe 8.5). Além disso, ACC/AHA propuseram padrões dietéticos para
promover dietas saudáveis para indivíduos e comunidades, de forma a alterar os fatores de risco modificáveis de DCV, como pressão arterial e lipídios (Boxe 8.6).12
Boxe 8.3 Saúde cardiovascular ideal: 7 parâmetros para avaliar comportamentos populacionais.
•Tabagismo na atualidade
•IMC
•Atividade física
•Escore de Dieta Saudável (Healthy Diet Score)
•Colesterol total
•Pressão arterial
•Glicose plasmática de jejum
“Os parâmetros com maior potencial de melhora são comportamentos saudáveis, inclusive qualidade da dieta, atividade física e peso corporal.”
Boxe 8.4 Recomendação de AHA/ACC 2013 quanto à dieta e ao estilo de vida: recomendações essenciais do grupo-tarefa de AHA/ACC para modificação
do estilo de vida.
Dieta saudável Atividade física
Crianças e adultos Crianças
No contexto do padrão dietético DASH, alcançar no mínimo quatro dos cinco componentes Ideal: ≥ 60 min de atividade física moderada a intensa por dia
essenciais de uma dieta saudável: Intermediário: 1 a 59 min de atividade física moderada a intensa por dia
1.Frutas e vegetais: > 4,5 xícaras/dia Insatisfatório: Nenhuma atividade física
2.Peixes: mais de 2 porções de 100 g/semana (de preferência, peixe oleoso)
3.Grãos integrais ricos em fibras (> 1,1 g de fibra por 10 g de carboidratos): três porções
equivalentes a 30 g/dia
4.Sódio: < 1.500 mg/dia
5.Bebidas adoçadas: < 450 kcal (1.000 mℓ)/semana
Crianças e adultos Adultos
•Ideal: Escore de Dieta Saudável de 4 a 5 Ideal: no mínimo150 min de atividade física moderada ou 75 min de atividade física
•Intermediário: Escore de Dieta Saudável de 2 a 3 intensa por semana
•Insatisfatório: Escore de Dieta Saudável de 0 a 1 Intermediário: 1 a 149 min/semana de atividade física moderada, ou 1 a 74
min/semana de atividade física intensa
Insatisfatório: nenhuma atividade física
Dados de Eckel RH, Jakicic JM, Ard JD, et al. 2013 AHA/ACC guideline on lifestyle management to reduce cardiovascular risk: A report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation 2013;129(2):S76–S99.
Para adultos de 40 a 75 anos com ou sem DCVA ou diabetes melito e LDL-C > 190 mg/dℓ.
NHLBI, The National Heart, Lung, and Blood Institute; USDA, Departamento de Agricultura dos EUA; CR, classe da recomendação; NE, nível de evidência.
Dados de Eckel RH, Jakicic JM, Ard JD, et al. 2013 AHA/ACC guideline on lifestyle management to reduce cardiovascular risk: A report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation 2013;129(2):S76–S99.
Boxe 8.6 Padrões dietéticos saudáveis para reduzir a pressão arterial (PA) e o LDL-colesterol.
Tipo de dieta Descrição Metas clínicas
Padrão MED •Quantidades maiores de frutas (principalmente frescas), vegetais (com •Pode facilitar o controle da PA
preferência por raízes e folhas verdes), grãos integrais (cereais, pães, arroz e •Nenhum efeito consistente nos níveis plasmáticos de
massa), peixes gordurosos (ricos em ácidos graxos ômega-3) LDL-C, HDL-C e TG
•Reduzir carne vermelha (e enfatizar carnes magras)
•Substituir laticínios ricos em lipídios por laticínios desnatados ou com teores
reduzidos de lipídios
•Usar óleos (oliva ou canola), nozes (nozes, amêndoas ou avelãs) ou margarina
misturada com óleo de cártamo ou linhaça em vez de manteiga e outras gorduras
•Em geral, quantidades moderadas de lipídios totais (32 a 35% do valor energético
total), relativamente baixa gordura saturada (9 a 10% do valor energético total),
rica em fibras (27 a 37 g/dia) e ácidos graxos poli-insaturados (especialmente
ômega-3)
Padrão dietético DASH •Rico em vegetais, frutas, laticínios desnatados, grãos integrais, aves, peixes e •Evidência clara de redução da PA em geral e nos
nozes subgrupos (homens e mulheres, afro-americanos e
•Pobre em açúcar, bebidas adoçadas e carnes vermelhas outros grupos, adultos hipertensos e não hipertensos)
•Pobre em gordura saturada, gorduras totais e colesterol •Evidência clara de redução do LDL-C e HDL em
•Rico em potássio, magnésio e cálcio, além de proteínas e fibras geral e efeitos semelhantes em todos os subgrupos
•Nenhuma alteração dos TG
Variações da dieta DASH/índice Duas variações do padrão dietético DASH: substituição de 10% do valor energético •Pode melhorar o controle da PA
glicêmico/abordagens dietéticas de total na forma de carboidratos por proteína ou gordura insaturada •Pode reduzir os níveis de LDL-C e TG, com
carga aumentos limítrofes do HDL-C
TG, triglicerídios.
Dados de Eckel RH, Jakicic JM, Ard JD, et al. 2013 AHA/ACC guideline on lifestyle management to reduce cardiovascular risk: A report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation 2013;129(2):S76–S99.
Fisiopatologia
O sangue é bombeado ao corpo pelo ventrículo esquerdo do coração e gera uma pressão, que é contrabalançada pela resistência dos vasos sanguíneos nos quais ele circula. O equilíbrio
dessas duas forças opostas gera a PA, que aumenta e diminui à medida que o coração contrai e relaxa. O pico (quando o coração contrai) é conhecido como pressão sistólica, enquanto o
mínimo (quando o coração relaxa) corresponde à pressão diastólica. A regulação homeostática da PA pelos rins e pelo sistema nervoso simpático (SNS) também ajuda a controlar
perifericamente a PA.15,16 A manutenção da PA dentro de certos limites permite que quantidades adequadas de sangue circulem no cérebro e outros tecidos. As anormalidades das
pressões sistólica e diastólica são responsáveis pelo desenvolvimento da HAS idiopática (ou essencial) e suas complicações.17
A resistência dos vasos sanguíneos aumenta quando o diâmetro das artérias diminui em consequência da aterosclerose progressiva. A falência dos mecanismos de regulação de um
SNS ou sistema renina-angiotensina hiperativados também contribui para a vasoconstrição e a HAS. A curto prazo, a PA elevada danifica o revestimento endotelial das artérias,
permitindo que quantidades maiores de LDL-C entrem em suas paredes. A longo prazo, o enrijecimento das artérias e a doença renal terminal ocorrem nos pacientes com HAS não
tratada. Com o tempo, o paciente desenvolve hipertrofia do ventrículo esquerdo em razão da PA persistentemente alta, que causa insuficiência cardíaca (também conhecida como
insuficiência cardíaca congestiva). A obstrução dos vasos sanguíneos do coração pode causar IAM, retinopatia ou AVE.
A AHA tornou a hipertensão arterial sistêmica uma área de foco primário de seu plano estratégico, que procura reduzir a taxa de mortalidade por DCV e AVE em 20% até
2020.18. Do mesmo modo, a iniciativa Million Hearts liderada pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) dos EUA para evitar um milhão de ataques cardíacos e AVE até
2017 tem enfatizado ações para melhorar e alcançar o controle da HAS.19. A AHA identificou que a PA é um dos sete parâmetros da saúde cardiovascular.14. Em razão da elevada
prevalência de indivíduos não diagnosticados como portadores de HAS, a detecção e o diagnóstico são um passo primordial ao controle da HAS. O Eighth Joint National Committee
(JNC 8) definiu PA desejável como nível sistólico < 120 mmHg e nível diastólico < 80 mmHg e o diagnóstico de HAS está baseado nos níveis de PA em três estágios: pré-HAS, HAS
em estágio 1 e HAS em estágio 2 (Boxe 8.7).20
Boxe 8.9 Modificação do estilo de vida dos adultos que podem ser beneficiados pela redução da pressão arterial (PA).
Meta Recomendações para reduzir a PA Grau de evidência
1.Ação comunitária para adotar Manter um padrão dietético que enfatize a ingestão de vegetais, frutas e grãos integrais; incluir laticínios Grau NHLBI:
comportamentos saudáveis desnatados, aves, peixes, legumes, óleos de vegetais não tropicais e nozes; e limitar a ingestão de açúcares, A (forte); ACC/AHA CR: I;
•Educação em saúde para bebidas adoçadas e carnes vermelhas NE: A
modificar as dietas •Adaptar esse padrão dietético às necessidades energéticas apropriadas, às preferências alimentares
individuais e culturais e ao tratamento nutricional de outros distúrbios médicos (inclusive diabetes melito)
•Alcançar esse padrão seguindo planos como o padrão dietético DASH, o USDA Food Pattern ou a Dieta da
AHA
2.Ação comunitária para adotar Reduzir a ingestão de sódio Grau NHLBI: A (forte);
comportamentos saudáveis ACC/AHA CR: I; NE: A
•Educação em saúde para
ler os rótulos dos
alimentos
•Conhecer as opções de
alimentos
frescos versusprocessados
3.Manutenção da saúde individual a.Ingerir menos de 2.400 mg/dia de sódio Grau NHLBI: B (moderada);
a a
•Afro-americanos b.Reduzir ainda mais a ingestão de sódio a 1.500 mg/dia se for necessário, porque isso foi associado ACC/AHA CR: IIa; NE: B
à redução ainda mais acentuada da PA
c.Diminuir a ingestão de sódio a no mínimo 1.000 mg/dia, porque isso reduz a PA, mesmo que a
ingestão diária de sódio desejada ainda não tenha sido alcançada
4.Estratégia de saúde individual Combinar o padrão dietético DASH com ingestão reduzida de sódio Grau NHLBI: A (forte);
ACC/AHA CR: I; NE: A
5.Estratégia de saúde individual Em geral, recomendar que os adultos pratiquem atividade física aeróbica para reduzir a PA: 3 a 4 sessões por Grau NHLBI: B (moderada);
semana, com duração média de 40 min por sessão, incluindo atividade física de intensidade moderada a intensa ACC/AHA CR: IIa; NE: A
NHLBI, The National Heart, Lung, and Blood Institute; USDA, Departamento de Agricultura dos EUA; CR, classe da recomendação; NE, nível de evidência.
Dados de Go AS, Bauman MA, Coleman King SM, et al. An effective approach to high blood pressure control: A science advisory from the American Heart Association, the American
College of Cardiology and the Centers for Disease Control and Prevention. Hypertension 2014;63:878–885.
Estudos demonstraram que o plano dietético DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension, ou Abordagens Dietéticas para Controlar a Hipertensão Arterial Sistêmica, em
tradução livre) reduz a PA quando é adotado pelos pacientes com HAS (Tabela 8.3).21. O plano alimentar DASH pode ser acrescentado a qualquer dieta, inclusive para pacientes
diabéticos. Em comparação com outros padrões dietéticos, o DASH enfatiza um plano alimentar para reduzir o teor de sódio e também de gorduras saturadas, colesterol e lipídios totais
e aumentar a ingestão de frutas, vegetais e laticínios desnatados. O aumento da ingestão de potássio por meio do consumo de quantidades maiores de frutas e vegetais também pode
ajudar a reduzir a PA. A redução do sal (ou cloreto de sódio) é fundamental à MIEV e a educação nutricional tem como alvos várias abordagens para manter comportamentos saudáveis
(Boxe 8.11).22,23
ADIME 8.1 Resumo de caso clínico: doença arterial coronariana e hipertensão arterial sistêmica.
Avaliação
•IMC ≥ 25 kg/m2, ganho ponderal recente, circunferência abdominal > 94 cm nos homens e > 80 cm nas mulheres*
•Estilo de vida sedentário
•Ingestão energética excessiva, gorduras trans e ácidos graxos saturados, alimentos pró-inflamatórios, sal/sódio e álcool
•Ingestão dietética inadequada de frutas e vegetais – alimentos anti-inflamatórios e antioxidantes
•Níveis de PA, TG, LDL-C, HDL-C, marcadores inflamatórios
•Diabetes melito, história de um episódio de DCV no passado
•Falta de conhecimento sobre alimentos e nutrição, crenças/atitudes, ou práticas de ingestão alimentar e nutrição
Diagnóstico nutricional
•Sobrepeso, relacionado com estilo de vida sedentário, evidenciado por IMC de 27 kg/m2. e ganho ponderal recente de 10% em 1 ano
•Obesidade grau I, relacionada com ingestão energética excessiva, evidenciada por IMC de 31 kg/m2. e história de ingestão de uma dieta com 2.600 kcal/dia
•Consumo de AGS/AGT elevado, relacionado com déficit de conhecimento, evidenciado por história dietética e LDL-C alto (190 mg/dℓ)
•Ingestão de AGPI incompatível com as necessidades, relacionada com escolhas alimentares indesejáveis, evidenciada por LDL-C de 190 mg/dℓ
•Ingestão excessiva de sódio, relacionada com déficit de conhecimento, evidenciada por história dietética e PA elevada
•Ingestão inadequada de potássio, relacionada com escolhas alimentares indesejáveis, evidenciada por história dietética de baixa ingestão de frutas/vegetais
•Baixa adesão às recomendações, relacionada com pouco interesse em mudar, evidenciada por história dietética de baixa adesão
Intervenção
•Reduzir a ingestão energética (1.800 kcal) e aumentar atividade física (20 min, 3 vezes/semana)
•Reduzir AGS/AGT a < 6% do valor energético total e aumentar AGPI/AGMI para 15% do valor energético total
•Reduzir a ingestão de sódio a 1.500 mg/dia
•Aumentar a ingestão de potássio para 3 a 5 g/dia adotando o padrão dietético DASH
•Referenciar o paciente para aconselhamento nutricional de forma a reduzir AGS/energia e aumentar AGPI
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal
•Ingestão dietética
•PA, lipídios sanguíneos, marcadores inflamatórios (se estiverem disponíveis)
*N.R.T.: Pontos de corte baseados na 7a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL et al. 7a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq
Bras Cardiol. 2016; 107(3 Supl. 3):1-83.
Na fase aguda, o TMN enfatiza a redução do estresse imposto ao coração e a prevenção de arritmias (Boxe 8.12).26. À medida que o paciente avança para a próxima fase e de
acordo com sua tolerância, pode-se progredir da dieta líquida para alimentos macios de fácil digestão oferecidos em refeições leves e frequentes, com abstenção de estimulantes
potenciais (p. ex., cafeína) para reduzir a possibilidade de arritmias. Além disso, servir alimentos à temperatura ambiente também pode ajudar nesse sentido. Antes da alta, a educação
do paciente deve incluir as recomendações do ACC/AHA para modificação da dieta e instruções para que o paciente siga um programa de reabilitação cardíaca e receba aconselhamento
nutricional ambulatorial.12. O Boxe 8.13 descreve as implicações nutricionais potenciais dos fármacos usados no tratamento do IAM e outras complicações agudas da DCV.
Boxe 8.12 Estratégias de tratamento médico-nutricional (TMN) para infarto agudo do miocárdio (IAM).
Fase do tratamento Abordagem de TMN Avaliar e monitorar
Fase crítica/pós-IAM Reduzir o estresse cardíaco: Gráficos de balanço hídrico, LDH, CPK, PA, ureia, Pco2, Po2,
Repousar para reduzir o estresse •Oferecer dieta líquida ou de líquidos claros triglicerídios, PT
cardíaco •Refeições com pequeno volume •Aspiração
•Vômitos
Prevenir arritmias Para evitar arritmias: •Distensão abdominal
•Os alimentos devem ser servidos à temperatura corporal •Flatulência
•Excluir estimulantes como café •Constipação intestinal
Fase aguda/recuperação •Progredir da dieta líquida para alimentos macios de fácil digestão •Distensão abdominal
•Refeições pequenas e frequentes •Constipação intestinal
•Excluir alimentos flatulentos
•Excluir estimulantes para atenuar as arritmias
Convalescença fase estável Seguir dieta do Mediterrâneo ou DASH, conforme as diretrizes de •Otimizar o peso seguindo um plano de ingestão energética
ACC/AHA •Controlar a ingestão de sódio
Boxe 8.13 Implicações nutricionais dos fármacos usados nos eventos agudos de doença cardiovascular (DCV).
Avaliação
•Ingestão oral
•Alterações da digestão, absorção ou eliminação (verificar se há constipação intestinal, flatulência ou distensão abdominal)
•Trânsito reduzido ou dificultado dos alimentos e líquidos da cavidade oral até o estômago (avaliar a capacidade de deglutição, vômitos, engasgo/asfixia, aspiração)
Diagnóstico nutricional
•Função GI alterada, relacionada com fármacos, evidenciada por distensão abdominal e constipação intestinal
•Dificuldade de deglutir, relacionada com trânsito reduzido de alimentos/líquidos, evidenciado por vômitos e aspiração
Intervenção
•Dieta líquida, progredir na medida da tolerância de uma dieta líquida ou de líquidos claros para alimentos macios
•Refeições pouco volumosas e frequentes
•Excluir alimentos flatulentos
•Referenciar para aconselhamento nutricional ambulatorial
Monitoramento e reavaliação
•Ingestão e perdas
•Ingestão oral (alimentos, líquidos)
•Deglutição, distensão abdominal
a
Ver doença arterial coronariana (DAC) e hipertensão arterial sistêmica (HAS) para ADIME pós-IAM/alta.
Insuficiência cardíaca
Fisiopatologia e intervenção nutricional
A insuficiência cardíaca (ou insuficiência cardíaca congestiva, ICC) ocorre quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue eficazmente nos ventrículos inferiores. Em geral,
essa falha originase do estreitamento das artérias resultante de doença arterial coronariana, HAS, doença pulmonar crônica ou lesão cardíaca causada por um IAM pregresso, tornando o
coração progressivamente muito fraco ou rígido para encher e bombear eficientemente. Estima-se que 5,7 milhões de americanos tenham ICC e as projeções indicam que a prevalência
aumentará em 46% até 2030, resultando em mais de 8 milhões de pacientes portadores desta doença com idade ≥ 18 anos.14,24,27 A ICC do lado direito causa edema com cacifo em todos
os membros, enquanto a ICC do lado esquerdo causa edema pulmonar, estertores e dispneia. A redução do fluxo sanguíneo renal aumenta o nível de ureia sanguínea, e os pacientes com
ICC avançada têm caquexia cardíaca.
O tratamento pode melhorar os sinais e sintomas da ICC e prolongar a sobrevida. As medidas terapêuticas a curto prazo têm como foco reduzir o edema e evitar caquexia, enquanto
o tratamento a longo prazo enfatiza alterações do estilo de vida, inclusive restrição de sal dietético, emagrecimento (se for necessário) e atividade física (Boxe 8.14).28-31
Boxe 8.14 Estratégias de tratamento médico-nutricional (TMN) para insuficiência cardíaca congestiva (ICC).
Fase do tratamento Estratégia de TMN Avaliar e monitorar
Recuperação da estabilidade Dieta zero com líquidos IV nas primeiras 24 h •Monitorar: gráficos de balanço hídrico, eletrólitos, PA, ureia, oligúria, Pco2, Po2,
hemodinâmica triglicerídios, PT, albumina, pré-albumina
•Evitar hidratação excessiva
Eliminação ou redução do Restrição de sódio: < 1.000 mg se for grave, ou 2.000 a 3.000 se •Gráficos de balanço hídrico diários
edema for menos grave •Monitoramento diário do peso
Restrição de líquidos: 500 a 1.000 mℓ, dependendo da gravidade •Plano de hidratação: 75% nas refeições, 25% na infusão de fármacos e goles ao
da ICC longo do dia
Distensão e elevação do Refeições pequenas e frequentes •Anorexia
diafragma Repouso antes e depois das refeições •Realimentação excessiva
Dieta hipercalórica: é necessário usar suplementos de pouco •Aspiração
volume •Íleo gástrico
Indicações para alimentação por cateter: preferencialmente
posicionado no intestino delgado
Prevenção da caquexia cardíaca Refeições pequenas e frequentes •Anorexia
Repouso antes e depois das refeições •Fadiga
Dieta hipercalórica e hiperproteica: é necessário usar •Depleção muscular
suplementos com pouco volume •Aspiração
Indicações para alimentação por cateter (intestino delgado) ou
nutrição parenteral
Prevenção das úlceras de Otimização da energia e proteínas para promover a cicatrização •Ampliar a mobilidade do paciente acamado
pressão das feridas •Melhorar a circulação
•Otimizar o peso
Metas de longo prazo Avaliar o estado funcional •A otimização da ingestão proteico-energética é essencial
Alcançar o peso ideal para reduzir as demandas de O2 •É importante monitorar perda ou ganho ponderal
Recuperar massa corporal magra •Ingestão adequada de fibras ou suplementação se for necessário para evitar
Reduzir estimulantes cardíacos constipação intestinal
Alcançar as metas de líquidos e sódio
Praticar atividade aeróbica moderada
Avaliação
•IMC, emagrecimento, perda do apetite e ingestão alimentar
•Atrofia da musculatura, perda de tecido adiposo
•PA, dispneia, edema com cacifo, oligúria
•Ingestão excessiva de sódio dietético
Diagnóstico nutricional
•Ingestão oral inadequada, relacionada com perda do apetite, evidenciada por emagrecimento recente de 5% em 3 semanas, ingestão oral insatisfatória de 40% das
necessidades
•Perda ponderal involuntária, relacionada com ingestão oral inadequada, evidenciada por emagrecimento de 5% em 3 semanas, ingestão oral insatisfatória de 40% das
necessidades
•Desnutrição associada à doença crônica, relacionada com a ICC, evidenciada por emagrecimento de 5% em 3 semanas, ingestão oral insatisfatória de 40% das necessidades
e atrofia muscular
•Ingestão excessiva de sódio, relacionada com déficit de conhecimento, evidenciado por piora do edema e história dietética
Intervenção
•Refeições pequenas e frequentes
•Fornecimento de suplementos industrializados
•Posicionamento de um cateter de alimentação enteral
•Ajuda para alimentar-se
•Referenciamento ao Home Delivered Meals Program (Programa de Refeições Entregues em Casa, em tradução livre)
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal
•Ingestão oral (alimentos e líquidos)
•Hidratação, ureia, edema
Boxe 8.15 Estratégias de tratamento médico-nutricional (TMN) para acidente vascular encefálico (AVE).
Fase do tratamento Estratégia de TMN Avaliar e monitorar
Inicial Dieta zero com líquidos IV nas primeiras 24 horas •Monitorar: gráficos de balanço hídrico, eletrólitos, PA, ureia,
triglicerídios, PT
•Evitar hidratação excessiva
Se o paciente estiver em coma Progredir de dieta zero para dieta líquida •Elevação da cabeceira para evitar aspiração
A alimentação por cateter é necessária (nasogástrica, •Monitorar o resíduo gástrico
gastrostomia ou jejunostomia)
Se o paciente não estiver em coma, é Pode ser necessário alimentação por canudo ou cateter, •Prevenção de aspiração
necessário avaliar disfagia. Nos pacientes dependendo das necessidades de curto ou longo prazo •Adequação da hidratação
com disfagia leve, avaliar a secreção salivar Para os pacientes que não necessitam de líquidos, pode •Úlceras de pressão aumentam as necessidades nutricionais
progredir para dieta semilíquida ou pastosa •Ingerir alimentos lentamente
•Oferecer alimentos fáceis de mastigar
•Identificar os alimentos que provocam asfixia (secos) ou tosse
(ácidos) ou baba (doces)
Fase estável, metas de longo prazo Quando a disfagia for irreversível, o paciente pode ficar parcial ou •Reinternação hospitalar se houver pneumonia por aspiração
•Avaliar estado funcional totalmente dependente de suplementos enterais ou alimentos •6 a 8 xícaras de líquidos para evitar desidratação
com texturas modificadas •A otimização da ingestão proteico-energética é essencial
•Usar espessante para modificar a textura de líquidos (sopas, •A ingestão adequada de fibras com alimentos ou suplementos é
bebidas, sucos e shakes) necessária para evitar constipação. Considerar suco de ameixas
•Seringa ou xícaras adaptadas podem ser úteis como emoliente fecal (acrescentar ao cateter de alimentação)
Para os pacientes com seu primeiro AVE e déficits brandos com •É necessário monitorar ganho ou perda ponderal
possibilidade de recuperar qualidade de vida, uma abordagem
preventiva para evitar um segundo AVE é fundamental
•Duas medidas importantes são modificar o etilo de vida
enfatizando a adesão ao padrão dietético DASH e adotar o
limite de ingestão de 1.500 mg de sal por dia
Avaliação
•IMC, emagrecimento involuntário, reduções do apetite e da ingestão alimentar, desidratação
•Disfagia
•Capacidade de alimentar-se independentemente
•Capacidade de preparar refeições/alimentos
Diagnóstico nutricional
•Disfagia, relacionada com AVE, evidenciada por tosse e asfixia, ingestão oral insatisfatória de 60% das necessidades
•Ingestão inadequada de líquidos, relacionada com AVE, evidenciada por uremia, osmolalidade sérica alta, hipernatremia, sede
•Ingestão proteico-energética inadequada, relacionada com AVE e redução do apetite, evidenciada por perda involuntária de peso de 6% em 3 semanas, ingestão oral
insatisfatória de 60% das necessidades
•Dificuldade de alimentar-se independentemente, relacionada com AVE, evidenciada por queda dos talheres da mão e ingestão oral insatisfatória de 60% das necessidades
•Emagrecimento involuntário, relacionado com AVE, disfagia e emagrecimento de 6% em 3 semanas, evidenciado por perda involuntária de peso de 6% em 3 semanas
•Dificuldade para preparar refeições/alimentos, relacionada com AVE recente, evidenciada por limitações da mobilidade
Intervenção
•Fornecimento de suplementos nutricionais industrializados
•Dieta líquida
•Dieta para disfagia/consistência líquida – líquidos espessados tipo néctar
•Ajudar o paciente a alimentar-se
•Referenciar ao Home Delivered Meals Program (Programa de Refeições Entregues em Casa, em tradução livre)
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal, ureia, osmolalidade sérica
•Ingestão oral (alimentos e líquidos)
•Deglutição, capacidade de alimentar-se independentemente
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9
Diabetes Melito
D iabetes melito é uma doença conhecida deste a Antiguidade e foi citada por gregos e egípcios a partir do ano 1500 a.C. Em
suas diversas formas, o diabetes melito acomete anualmente mais de 29 milhões de americanos e outros 86 milhões têm pré-
diabetes. Essa doença é a sétima causa mais frequente de mortes e a causa mais importante de complicações como cardiopatia,
doença renal, cegueira e amputações.
Crianças
Em razão do aumento notável do diabetes melito tipo 2 entre as crianças, a ADA recomenda a triagem das crianças em alto risco de
ter diabetes melito tipo 2 e pré-diabetes.3 O Boxe 9.2 descreve os critérios para solicitação dos testes para diabetes melito tipo 2 e
pré-diabetes para crianças assintomáticas.
Boxe 9.1 Triagem para diabetes melito ou pré-diabetes nos adultos assintomáticos.
1.Os testes devem ser considerados para todos os indivíduos de 45 anos ou mais, principalmente quando têm sobrepeso ou
obesidade (índice de massa corporal [IMC] ≥ 25 kg/m2 ou ≥ 23 kg/m nos asiáticos naturalizados americanos)
2
2.Os testes devem ser considerados antes da idade de 45 anos para indivíduos com sobrepeso (IMC ≥ 25 kg/m2 ou ≥ 23
kg/m2 nos asiáticos naturalizados americanos) e outros fatores de risco:
•Inatividade física
•Parente de primeiro grau com diabetes melito
•Membros de um grupo étnico de alto risco (afro-americanos, americanos asiáticos, latinos, índios americanos,
habitantes das ilhas do Pacífico)
•Mulheres que deram à luz bebês > 4,5 kg ou que tiveram o diagnóstico de DMG
•Hipertensos (≥ 140/90 mmHg em tratamento para hipertensão arterial sistêmica)
•Nível de HDL-colesterol < 35 mg/dℓ, ou triglicerídios > 250 mg/dℓ
•Mulheres com síndrome do ovário policístico
•Hemoglobina A1C > 5,7%, intolerância a glicose (IGT ou IFG) nos testes anteriores
•História de doença vascular
•Coexistência de outras condições clínicas associadas à resistência à insulina (obesidade grave, acantose nigricans)
3.Se os resultados dos testes estiverem dentro dos valores de referência, eles devem ser repetidos a cada 3 anos, embora
possam ser considerados a intervalos menores, dependendo dos resultados iniciais (p. ex., indivíduos pré-diabéticos devem ser
testados anualmente) e dos fatores de risco
Dados de American Diabetes Association. Classification and Diagnosis of diabetes mellitus. Diabetes Care 2015;38(Suppl 1):S8–
S16.
Gestantes
A ADA recomenda que todas as gestantes com fatores de risco para diabetes melito tipo 2 façam uma triagem na primeira consulta
de pré-natal utilizando os critérios diagnósticos padronizados. As mulheres que apresentam diabetes melito no primeiro trimestre
devem ser classificadas como portadoras de diabetes melito tipo 2, em vez de diabetes melito gestacional (DMG). O DMG é a
doença diagnosticada no segundo ou terceiro trimestre da gestação, que não se evidencia por manifestações clínicas típicas do
diabetes melito. As recomendações atuais de triagem para DMG estão baseadas na U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF),
que recomendou que todas as gestantes assintomáticas com mais de 24 semanas de gestação façam testes para diabetes
melito.4 O Boxe 9.3descreve os fatores de risco que aumentam as chances de que uma gestante desenvolva DMG. O Capítulo
2 deste livro apresenta mais informações sobre diabetes melito na gestação.
Boxe 9.2 Triagem para diabetes melito tipo 2 ou pré-diabetes para crianças assintomáticas (idade ≤ 18 anos).
Idade de início: 10 anos ou no início da puberdade quando ocorre antes da idade de 10 anos
Frequência: a cada 3 anos
Critérios: sobrepeso (IMC/I > P85o para o sexo, P/E > P85o, ou P/E > 120% do ideal)
Mais quaisquer dois outros fatores de risco relacionados a seguir:
•História familiar de diabetes melito tipo 2 em parentes de 1o ou 2o grau
•Raça/etnia (afro-americano, americanos asiáticos, latinos, índios americanos, habitante das ilhas do Pacífico)
•Sinais de resistência à insulina ou anormalidades associadas à resistência à insulina (acantose nigricans, dislipidemia,
hipertensão arterial sistêmica ou síndrome do ovário policístico, ou peso ao nascer pequeno para a idade gestacional)
•História materna de diabetes melito ou DMG durante a gestação da criança
IMC, índice de massa corporal; DMG, diabetes melito gestacional; IMC/I, indicador IMC para idade; P/E, indicador peso para
estatura.
Dados de (i) American Diabetes Association. Diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care 2014;37(Suppl
1):S81–S90, e (ii) American Diabetes Association. Classification and diagnosis of diabetes. Diabetes Care 2015; 38(Suppl 1):S8–
S16.
Pré-diabetes
Estudos identificaram um grupo intermediário de indivíduos, cujos níveis de glicose não atendem aos critérios para diabetes melito,
mas que são muito altos para que possam ser considerados normais.1,2 Os indivíduos que fazem parte desse grupo têm glicose de
jejum alterada (IFG) e/ou tolerância à glicose alterada (IGT) e são classificados como pré-diabéticos. Esse grupo é considerado em
risco de desenvolver diabetes melito e doença cardiovascular no futuro.2 A IFG e a IGT estão associadas à obesidade
(especialmente obesidade abdominal ou visceral), à dislipidemia com hipertrigliceridemia e/ou aos níveis baixos de HDL-C
(lipoproteína de alta densidade) e hipertensão arterial sistêmica. A Tabela 9.2 descreve os critérios diagnósticos para diabetes
melito tipos 1 e 2 e pré-diabetes utilizando os três critérios diagnósticos mencionados antes.
TRATAMENTO MÉDICO-NUTRICIONAL
O tratamento médico-nutricional (TMN) é um componente essencial à prevenção, ao tratamento e ao autocontrole do diabetes
melito.4 As recomendações da ADA para o TMN do diabetes melito estão baseadas em parte nas recomendações dietéticas e na
ingestão dietética recomendada (RDA) do Institute of Medicine da National Academy of Sciences.
•Fornecer instruções e recomendações individualizadas e periódicas para planejamento das refeições, de preferência por um
nutricionista especializado no TMN do diabetes melito
•Manter um peso razoável por meio de alterações terapêuticas do estilo de vida, inclusive redução da ingestão energética e
aumento da atividade física. Perder 2 a 8 kg pode trazer benefícios clínicos aos pacientes com diabetes melito tipo 2,
especialmente nos estágios iniciais da doença
•Evidências sugerem que não existam porcentagens ideais de energia na forma de carboidratos, proteínas e lipídios para todos
os pacientes diabéticos. Por essa razão, a distribuição dos macronutrientes deve ser baseada na avaliação individual dos padrões
alimentares atuais, das preferências alimentares e das metas metabólicas
•Estudos demonstraram que vários padrões alimentares são eficazes para controlar o diabetes melito, inclusive dieta do
Mediterrâneo, DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension [Abordagens Dietéticas para Controlar Hipertensão, em
tradução livre]), dietas à base de vegetais (vegana ou vegetariana) e dietas hipolipídicas e hipoglicídicas
•O monitoramento da ingestão de carboidratos, seja por contagem direta ou estimativa baseada na experiência, ainda é essencial
ao controle da glicemia
•As quantidades de gordura saturada, colesterol e gorduras trans recomendadas para os pacientes diabéticos são as mesmas da
população em geral
•A recomendação para que a população em geral reduza a ingestão de sódio a menos de 2.300 mg/dia também se aplica aos
pacientes diabéticos. Para os indivíduos com diabetes melito e hipertensão arterial sistêmica, a redução adicional do sódio deve
ser ajustada individualmente.
Contagem de carboidratos
A contagem de carboidratos é uma estratégia usada para planejar as refeições dos pacientes diabéticos, que enfatiza a distribuição
equilibrada dos alimentos ricos em carboidratos ao longo de todo o dia. Essa abordagem também enfatiza a quantidade total de
carboidratos consumidos, em vez da fonte ou do tipo de carboidratos ingeridos, e está baseada em dois conceitos:
1.Seja na forma de açúcares ou amidos, os carboidratos causam mais impacto nos níveis de glicemia pós-prandial, em
comparação com as proteínas e lipídios.
2.A ingestão de quantidades equivalentes de açúcar, amido ou leite eleva a glicemia no mesmo nível.
A contagem dos carboidratos pode ser realizada em dois níveis: básico e avançado.
Avaliação
•Estatura, peso, IMC
•Laboratório: pressão arterial, glicose plasmática de jejum, hemoglobina glicada A1C (a cada 3 meses), perfil lipídico,
creatinina sérica, ureia, TFG, microalbuminúria (anual)
•Diário de automonitoramento da glicemia, história/diário alimentar, uso de suplementos de vitaminas/minerais
Diagnóstico nutricional
•Alterações dos resultados dos exames laboratoriais nutricionais para glicemia, relacionadas com administração inadequada
ou insuficiente de insulina, evidenciadas por hemoglobina glicada A1C de 7,5% e hiperglicemia pré-prandial compatível com
os diários da glicemia, apesar dos hábitos alimentares adequados
Intervenção
•Rever com o paciente o esquema de insulina e os horários da ingestão alimentar
•Recalcular a razão insulina-carboidratos (RIC) e o fator de sensibilidade (FS)
•Consultar o médico acerca da adequação da prescrição atual de insulina
Monitoramento e reavaliação
•Melhorar os níveis glicêmicos; pedir ao paciente para enviar os resultados das glicemias semanalmente
•Reavaliar o nível de hemoglobina glicada A1C em 3 meses; meta: < 7%
•Quando se utiliza insulina de ação rápida (i. e., Humalog® ou Novolog®), utiliza-se a Regra dos 500. Quando se utiliza
insulina de ação curta (regular) (i. e., Humulin R® ou Novolin R®), utiliza-se a Regra dos 450
•Dividir 450 ou 500 pela dose diária total (DDT) de insulina.
Exemplo: um homem usa insulina Humalog® na dose de 50 U por dia. Sua RIC seria de 1:10 com base na seguinte equação:
500/50 U (DDT) de insulina = 10 g de carboidratos cobertos por 1 U de insulina, ou RIC de 1:10
Dados de (i) American Diabetes Association. Getting started with an insulin pump. Disponível em: www.diabetes.org/living-with-
diabetes/treatment-and-care/medication/insulin/getting-started.html. Acessada em 16 de fevereiro de 2016, e (ii) BD Worldwide.
The diabetes learning center. How to calculate in insulin-to-carb ratio. Disponível
em: www.bd.com/us/diabetes/page.aspx?cat=7001&id=7303. Acessada em 18 de fevereiro de 2016.
Quando o nível glicêmico de um paciente é inesperadamente alto, pode-se aplicar uma dose de insulina em bolus para corrigi-
lo até o nível basal. Esse valor de correção é referido como fator de sensibilidade à insulina (também pode ser referido como fator
de correção). A regra 1.500/1.800 é a fórmula utilizada comumente para estimar a redução da glicemia do paciente por unidade de
insulina de ação curta ou rápida (Boxe 9.6).7 Conhecer seu FS pode ajudar o paciente com diabetes melito tipo 1 a determinar a
dose certa de insulina em bolus para corrigir a hiperglicemia.
Boxe 9.6 Cálculo da sensibilidade à insulina utilizando a regra 1.500/1.800 para corrigir a glicemia.
•Empregar a regra dos 1.500 para pacientes que utilizam insulina de ação curta (regular) (i. e., Humulin R® ou Novolin R®).
Empregar a Regra dos 1800 para os indivíduos que utilizam insulina de ação rápida (i. e., Humalog® ou Novolog®)
•Determinar a dose diária total (DDT) de insulina basal e todas as doses aplicadas em bolus
•Dividir 1.500 ou 1.800 pela DDT para encontrar o FS
•Exemplo: 1.800 divididos por 50 U (DDT) de insulina = 36. Desse modo, a estimativa seria que 1 U de insulina de ação
rápida poderia reduzir a glicemia em 36 mg/dℓ
•Essa regra funciona com maior precisão quando a dose de insulina basal representa cerca de 50% da DDT
•O FS pode variar entre os indivíduos e no mesmo indivíduo em horas diferentes do dia, dependendo de sua atividade
física, necessidades de insulina, peso corporal, alterações hormonais e outras variáveis. Como sempre, o
automonitoramento da glicemia é fundamental
Dados de (i) American Diabetes Association. Getting started with an insulin pump. Disponível em: www.diabetes.org/living-with-
diabetes/treatment-and-care/medication/insulin/getting-started.html. Acessada em 16 de fevereiro de 2016, e (ii) BD Worldwide.
The diabetes learning center. How to calculate in insulin-to-carb ratio. Disponível
em: www.bd.com/us/diabetes/page.aspx?cat=7001&id=7303. Acessada em 18 de fevereiro de 2016.
Os cálculos da RIC e do FS devem ser monitorados e ajustados frequentemente com base nos níveis glicêmicos do paciente,
porque seus valores podem mudar em razão de fatores como alterações hormonais, atividade física, peso corporal e outras
variáveis.7
Listas de substituição
As listas de substituição para planejamento das refeições (Tabela 9.3) foram os primeiros sistema de planejamento das refeições
usados para ajudar os pacientes diabéticos a controlar seus níveis glicêmicos. Esse sistema separa os alimentos em seis grupos (ou
listas) baseados em seu teor de macronutrientes. Dependendo do nível energético, um padrão de substituição consiste em um
conjunto de trocas em cada grupo. Dentro de cada lista, os alimentos podem ser substituídos, mas o tamanho das porções pode
variar.
Avaliação
•Estatura, peso, IMC, circunferência abdominal
•Laboratório: pressão arterial, glicose plasmática de jejum, hemoglobina glicada A1C (a cada 3 meses), perfil lipídico,
creatinina sérica, ureia, TFG, microalbuminúria (anual)
•Diário de automonitoramento da glicemia, história/diário alimentar, uso de suplementos de vitamina/minerais
Diagnóstico nutricional
•Ingestão inconsistente de carboidratos, relacionada com falta de conhecimento e confusão acerca da contagem dos
carboidratos e dos tamanhos das porções, evidenciada por diários alimentares com opções excessivas de carboidratos nas
refeições/lanches e níveis glicêmicos pós-prandiais acima das metas desejadas
Intervenção
•Prescrição nutricional: 18 opções de carboidratos com 3 ou 4 opções por refeição e 2 a 3 opções por lanche
•Revisar os alimentos fontes de carboidratos e os tamanhos adequados das porções, principalmente quando o paciente
alimenta-se fora de casa
•Rever como ler os rótulos dos alimentos e planejar as refeições
Monitoramento e reavaliação
•Melhorar os níveis glicêmicos; pedir ao paciente para enviar os resultados do monitoramento diário da glicemia
semanalmente
•Diários de ingestão alimentar para demonstrar ingestão mais consistente de carboidratos nas refeições e nos lanches;
pedir ao paciente para enviar os resultados do monitoramento semanalmente
Embora a maioria dos profissionais de saúde prefira usar a contagem de carboidratos como método preferido para controlar a
glicemia porque ela é fácil de usar, alguns pacientes ainda recorrem ao sistema de substituições para ajudar a manter seu diabetes
sob controle. Além disso, como alguns pacientes com diabetes melito tipo 2 podem se beneficiar mesmo com uma perda ponderal
modesta, as listas de substituições podem ser recursos úteis para o nutricionista planejar um regime de emagrecimento. Esse
sistema pode ser usado para planejar um padrão alimentar mais semelhante ao estilo Mediterrâneo que, de acordo com alguns
estudos, não apenas ajuda a perder peso, como também ajuda os pacientes diabéticos a melhorar seu perfil lipídico e reduzir seu
risco de desenvolver doença cardiovascular.8 Outros estudos também mostraram que a dieta do Mediterrâneo reduz a incidência de
diabetes melito tipo 2 e isto pode ser útil à população com pré-diabetes.9
Antidiabéticos orais
Veja uma lista dos fármacos orais usados para tratar diabetes melito na Tabela 9.4.
nsulina
Veja uma relação das insulinas, seus análogos e seus mecanismos de ação na Tabela 9.5.
Análogos da amilina
Os análogos da amilina podem reproduzir as ações da amilina, um hormônio secretado simultaneamente com a insulina, que ajuda
a retardar o esvaziamento gástrico e reduz os níveis pós-prandiais de glucagon. Assim como a insulina, a amilina está ausente ou
deficiente nos pacientes diabéticos. Quando são administrados com insulina, os análogos da amilina podem ajudar os pacientes a
controlar seus níveis glicêmicos.10 Ver na Tabela 9.6 uma lista dos fármacos injetáveis não insulínicos usados para controlar
diabetes melito.
•Realizar a dosagem de hemoglobina glicada A1C ao menos duas vezes por ano nos pacientes que alcançam as metas
terapêuticas e têm controle glicêmico estável
•Realizar a dosagem de hemoglobina glicada A1C a cada 3 meses nos pacientes que mudaram seu tratamento ou que não
conseguem alcançar as metas glicêmicas
•A meta de hemoglobina glicada A1C dos pacientes em geral é < 7%
•Os médicos podem recomendar sensatamente metas mais estritas de hemoglobina glicada A1C (p. ex., < 6,5%) para
determinados pacientes, se isto puder ser alcançado sem hipoglicemia significativa ou outros efeitos adversos do tratamento.
As dosagens de glicose pré e pós-prandiais são um dos componentes importantes do controle do diabetes melito. A Tabela
9.8 descreve as recomendações atuais do controle glicêmico.
Tabela 9.8 Recomendações para o controle glicêmico de adultos diabéticos (exceto gestantes).
Controle glicêmico
Metas da ADA Metas da AACEa
Hemoglobina glicada A1C < 7% ≤ 6,5%
Glicose plasmática pré-prandial 80 a 130 mg/dℓ 110 mg/dℓ
b
Glicose plasmática pós-prandial de pico < 180 mg/dℓ 140 mg/dℓ
Metas mais ou menos rigorosas podem ser apropriadas para determinados pacientes, contanto que possam ser alcançadas sem
hipoglicemia ou efeitos adversos significativos. Os alvos são individualizados com base em:
•Idade/expectativa de vida
•Comorbidades associadas
•Tempo de diagnóstico do diabetes melito
•Ocorrência de hipoglicemia
•Considerações específicas do paciente
•DCV/complicações microvasculares avançadas diagnosticadas
American Association of Clinical Endocrinologists.
a
As dosagens da glicose pós-prandial devem ser realizadas 1 a 2 horas depois de iniciar uma refeição.
b
Tabela 9.9 Metas da AACE para pressão arterial e lipídios para pacientes com diabetes melito tipo 2.
Pacientes de alto risco (DM2, mas sem outros Pacientes de altíssimo risco (DM2 e mais de um fator de
Lipídios fatores de risco e/ou idade < 40 anos) risco para DCVAa ou DCVA diagnosticada)
LDL-colesterol < 100 < 70
(mg/dℓ)
Colesterol não HDL < 130 < 100
(mg/dℓ)
Triglicerídios (mg/dℓ) < 150 < 150
Colesterol total/
HDL-colesterol < 3,5 < 3,0
Apo B (mg/dℓ) < 90 < 80
Partículas de LDL < 1.200 < 1.000
Pressão arterial < 130/80 mmHg
a
Hipertensão arterial sistêmica, história familiar de DCVA, baixo HDL-C e tabagismo. LDL, lipoproteína de baixa densidade; HDL,
lipoproteína de alta densidade; DCVA, doença cardiovascular aterosclerótica.
Dados de Garber AJ, Abrahamson MJ, Barzilay JI, et al. Consensus statement by the American Association of Clinical
Endocrinologists and American College of Endocrinology on the comprehensive type 2 diabetes management algorithm – 2016
executive summary. Endocr Pract 2016;22(1):84–113.
Boxe 9.7 Alimentos recomendados para o período de enfermidade coexistente (todos contêm cerca de 15 g de
carboidratos).
½ xícara (120 g) de suco de frutas 2 colheres de sopa de uvas-passas
a
1 xícara (240 mℓ) de Gatorade® ou bebidas esportivas 1 xícara (240 mℓ) de leite (desnatado)
½ xícara de molho de maçã sem ½ xícara (120 mℓ) de refrigerante comum (não diet)
açúcar 3 biscoitos crackers integrais
1 fatia de torrada 1 xícara de sopa
½ xícara de gelatina comum 6 biscoitos salgados
½ xícara de aveia 1 picolé (simples)
1/3 de xícara de arroz ou massa ½ xícara de sorvete
½ xícara de sorvete de frutas ½ xícara de iogurte congelado
3 comprimidos de glicose 8 pastilhas Lifesavers®
a
Evitar alimentos hiperlipídicos, porque eles podem retardar o esvaziamento gástrico e a absorção dos carboidratos.
Tabela 9.10 Comparação entre cetoacidose diabética (CAD) e estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH).
CAD EHH
Idade Menos de 40 anos Mais de 60 anos
Características •Mais comum nos pacientes com diabetes melito tipo 1 •Mais comum nos pacientes com diabetes melito tipo 2
principais •Cetoacidose, cetonúria, acidose metabólica, desidratação •Glicemia extremamente alta, hiperosmolaridade, desidratação grave,
sem cetose significativa
Sinais e sintomas Poliúria, polidipsia, hiperventilação, desidratação, odor de cetonas (odor de frutas), Fadiga, visão turva, boca seca, alterações do estado mental, coma
fadiga, visão turva, fraqueza, dor abdominal, náuseas e vômitos, desorientação,
confusão mental
Causas Deficiência absoluta ou relativa de insulina, geralmente causada por infecção Doença ou infecção coexistente, falta de adesão ao tratamento e diabetes
coexiste, interrupção do tratamento com insulina ou diabetes melito de início recente melito até então não diagnosticado são os fatores desencadeantes mais
comuns
Glicose plasmática 250 a 600 mg/dℓ 600 a 2.000 mg/dℓ
Cetonas 4+ < 2+
pH arterial Baixo (< 7,3) Normal
Osmolalidade sérica < 320 mOsm/kg > 320 mOsm/kg
Concentração de Baixa Normal
bicarbonato
Tratamento Injeção de insulina, reposição de líquidos, correção dos distúrbios eletrolíticos, Reposição de líquidos e eletrólitos e administração de insulina
monitoramento das complicações do tratamento
Dados de (i) Mahan LK, Scott-Stump S, Raymond JL. Krause’s Food and the Nutrition Care Process, 13th ed. St. Louis, MO: Elsevier Saunders; 2012:703–704, (ii) Hemphill R.
Hyperosmolar hyperglycemic state. Disponível em: http://emedicine.medscape.com/article/1914705-overview#4. Acessada em 19 de fevereiro de 2016, e (iii) Hamdy O. Diabetic
ketoacidosis. Disponível em: http://emedicine.medscape.com/article/118361-overview#a4. Acessada em 19 de fevereiro de 2016.
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10
Doença Gastrintestinal
C onsiderando a importância das funções desempenhadas pelo sistema digestório na manutenção da vida e da saúde, fica
evidente a gravidade com que as doenças gastrintestinais podem afetar o estado nutricional e, por fim, a saúde em geral. Os
distúrbios nutricionais podem ser devidos às doenças do sistema digestório superior ou inferior. Esses problemas podem ser
causados por processo patológico subjacente, sintomas da doença, intervenções e/ou restrições dietéticas impostas pelo próprio
paciente. Por essas razões, a avaliação nutricional abrangente é essencial, com ênfase na história dietética detalhada, assim como
nas intervenções altamente individualizadas.
Boxe 10.1 Fatores que afetam a pressão do esfíncter esofágico inferior na doença do refluxo gastresofágico.
Nível hormonal
•Progesterona (gestação, fase final do ciclo menstrual)
Fármacos
•Anticolinérgicos: atropina, dicicloverina, glicopirrolato, escopolamina
•Broncodilatadores: salbutamol, orciprenalina, montelucaste, terbutalina, teofilina, zafirlucaste
Proteína
Fármacos
•Betanecol
•Metoclopramida
Uma causa comum de DRGE é hérnia de hiato, principalmente do tipo 1 (deslizamento), que representa 95% de todas as
hérnias hiatais; alguns estudos relataram que mais da metade dos casos diagnosticados de DRGE estavam associados às hérnias
de hiato.2 Outra causa potencial de DRGE é a esofagite eosinofílica, uma inflamação resultante de alergia (principalmente alergia
alimentar) diagnosticada em até 20% dos pacientes com DRGE.3 Nos casos de acalasia – um distúrbio neurológico do terço
inferior do esôfago, no qual o EEI não consegue relaxar e causa disfagia (ver Capítulo 4), o processo patológico propriamente dito
e seus tratamentos também podem causar DRGE.4
Fármacos
Opiáceos/opioides
Alfentanila, buprenorfina, codeína, dezocina, propoxifeno, meperidina, hidromorfona, metadona, levorfanol, nalbufina, oxicodona,
fentanila, pentazocina, remifentanila
Antidepressivos tricíclicos
Clomipramina, doxepina, nortriptilina, imipramina, protriptilina, desipramina
Outras substâncias
Álcool
Maconha
Tabaco
•Ingerir refeições pequenas e frequentes, evitar •Não se deitar depois de •Evitar alimentos ácidos (frutas cítricas,
refeições volumosas comer (esperar 3 h) tomates)
•Evitar refeições gordurosas isoladas •Elevar a cabeceira do leito, •Evitar alimentos condimentados
•Ingerir refeições com pouco lipídio e muita proteína • se necessário (pimenta-doreino e malagueta)
Limitar a ingestão de álcool •Reduzir ou evitar fumo •Ingerir uma dieta branda e suave
•Evitar alimentos que reduzem a pressão do •Usar antiácidos para reduzir •Ingerir refeições pequenas e frequentes
a
EEI: chocolate, café, menta, alho, cebola, canela a acidez gástrica
•Evitar ingerir líquidos durante as refeições; beber entre •Perder peso, se houver
as refeições indicação
•Usar roupas largas
a
Com base na experiência pessoal dos autores.
EEI, esfíncter esofágico inferior
Avaliação
•IMC alto/circunferência abdominal aumentada
•Dor epigástrica, erosões/úlceras, sangramento digestivo superior
•História dietética; padrão das refeições, ingestão alta de lipídios ou álcool
•Laboratório: hemoglobina, hematócrito; se estiver em uso prolongado de IBP, dosar B12, folato, Ca, Mg
Diagnóstico nutricional
•Interação fármacos-nutrientes por ação de IBP usado há 3 anos e B12, relacionada com tratamento para DRGE,
evidenciada por nível sérico baixo de vitamina B12
•Obesidade grau I, relacionada com ingestão excessiva e estilo de vida sedentário, evidenciada por IMC de 32 kg/m2 e
história dietética
Intervenção
•Refeições pequenas e frequentes; evitar refeições copiosas, especialmente alimentos gordurosos
•Máximo de 30% de lipídios, aumentar a ingestão de proteínas (especialmente se houve sangramento GI)
•Limitar álcool, fumo, alimentos que diminuem a pressão do EEI (cafeína, chocolate, óleos de hortelã)
•Emagrecimento modesto, se houver indicação
•Suplementação dos nutrientes citados, se usar IBP
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal, circunferência abdominal
•Resultados dos exames laboratoriais
•Controle dos sintomas GI
Úlcera péptica
Fisiopatologia
A úlcera péptica (UP) é o termo coletivo usado para descrever úlceras, ou seja, áreas de erosão dos tecidos do estômago ou do
duodeno. As erosões são causadas pelo ácido e pela pepsina secretados pelo próprio estômago e, na maioria dos casos, são
desencadeadas pela infecção por Helicobacter pylori (H. pylori), que secreta proteínas e toxinas que atraem macrófagos e causam
irritação e inflamação das células epiteliais do estômago.8,9 Outra causa importante de UP é o tratamento crônico com fármacos
que irritam a mucosa, especialmente AINE e corticoides, que estão associados a um risco relativo igual a 4.7 de sangramento e
perfuração.10 O estresse das doenças ou do traumatismo grave pode causar úlceras (conhecidas como úlceras de estresse); esta é a
razão do uso profilático de fármacos para reduzir acidez em alguns pacientes em estado agudo.
No que se refere à nutrição, a UP comumente resulta em restrição dietética autoimposta e redução concomitante dos
nutrientes essenciais. Além disso, a dor e os outros sintomas GI podem afetar a ingestão nutricional e comprometer o estado
nutricional. A UP pode causar complicações potencialmente fatais, inclusive perfuração, sangramento e obstrução.
Metas
1.Otimizar a ingestão nutricional para corrigir quaisquer deficiências (ferro e B12 são as mais comuns) e atender às
necessidades nutricionais
2.Adotar medidas dietéticas e relacionadas com o estilo de vida para atenuar os sintomas e a dor e promover a
cicatrização
Intervenção nutricional
1.Evitar alimentos que aumentem a secreção ácida do estômago ou irritem a mucosa gástrica: álcool, pimentas, produtos
contendo cafeína (energéticos, refrigerantes), chá e café (inclusive descafeinado), chocolate
2.Evitar ingerir alimentos no mínimo duas horas antes de deitar
3.Excluir da dieta quaisquer alimentos que não sejam tolerados
4.Evitar refeições volumosas (distendem o estômago); refeições pequenas e frequentes podem ser úteis
5.Assegurar a ingestão adequada de proteínas e vitamina C para promover a cicatrização
Outras recomendações
1.Evitar tabagismo
2.Evitar AINE
Outros componentes do tratamento são vários fármacos para alcançar a meta de erradicar o H. pylori (quando presente),
reduzir a secreção ácida e a acidez gástrica e promover a cicatrização da úlcera (Boxe 10.5). Em alguns casos, é necessário
realizar cirurgia gástrica em razão das complicações como perfuração, obstrução ou câncer. Depois do tratamento cirúrgico,
podem ocorrer complicações nutricionais como má absorção de nutrientes, ingestão alimentar deficiente e emagrecimento,
dependendo do tipo e da extensão do procedimento cirúrgico (Boxe 10.6). A complicação mais comum da cirurgia gástrica é
síndrome de dumping, que frequentemente causa alguns desses problemas nutricionais.
Avaliação
•IMC baixo, emagrecimento involuntário, anorexia/redução do apetite e da ingestão alimentar
•Dor abdominal, fadiga, náuseas e vômitos
•Dor epigástrica, sangramento do sistema digestório superior
•Laboratório: hemoglobina, hematócrito; se houver uso prolongado de IBP, dosar B12, folato, Ca e Mg
Diagnóstico nutricional
•Ingestão oral inadequada, relacionada com redução do apetite em consequência da dor abdominal e das náuseas
causadas pela UP, evidenciada por emagrecimento involuntário recente de 6% em 2 meses e ingestão oral < 50% das
necessidades
Intervenção
•Proteínas: 1,0 a 1,2 g/kg para reposição
•SNG, individualizar de acordo com a tolerância
•Evitar comer 2 h antes de deitar
•Evitar refeições volumosas
•Suplementação dos nutrientes citados, se o paciente usar IBP
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal
•Valores laboratoriais dos nutrientes específicos
•Controle dos sintomas GI
Síndrome de dumping
Fisiopatologia
A síndrome de dumping (uma importante complicação nutricional) constitui um grupo de sinais e sintomas resultantes do rápido
esvaziamento dos alimentos não digeridos provenientes do estômago dentro do jejuno; a síndrome de dumping é subdividida em
fases inicial, intermediária e tardia.12 Alguns pacientes têm apenas a fase inicial da síndrome, enquanto outros apresentam as fases
inicial e tardia. O trânsito rápido do bolo alimentar hiperosmolar para dentro do intestino delgado atrai líquidos do compartimento
vascular para dentro do intestino e isto causa sintomas gastrintestinais e vasomotores como dor, náuseas, tontura, sudorese e
taquicardia. Esses sintomas ocorrem nos primeiros 10 a 20 minutos depois da refeição e são referidos como fase inicial da
síndrome de dumping. Dentro de 20 a 30 minutos depois da refeição, o alimento não digerido entra no intestino grosso e os
sintomas são flatulência, cólicas, gases e diarreia, também referidos como fase intermediária.
Os pacientes que apresentam a fase tardia da síndrome de dumping têm sintomas dentro de 1 a 3 horas depois das refeições. A
fase tardia é causada pela hipoglicemia reativa, que se origina da secreção excessiva de insulina em resposta à elevada
concentração de carboidratos no intestino e à absorção rápida da glicose para a circulação. Isso causa sinais e sintomas como
sudorese, tremores, fraqueza e confusão mental.
1.Ingerir 50 a 60% do valor energético total na forma de carboidratos complexos e menos de 15% na forma de açúcares
simples
2.Ingerir 20% do valor energético total em proteínas na forma de alto valor biológico durante todas as refeições
3.Ingerir cerca de 30% do valor energético total na forma de lipídios; se necessário, usar um produto que contenha
triglicerídios de cadeia média (TCM) e enzimas pancreáticas para atenuar a má absorção de lipídios
4.Ingerir quantidades moderadas de sódio dietético (3 g de sódio ou menos por dia)
5.Evitar doces concentrados
6.Evitar alimentos que contenham lactose
Avaliação
•IMC baixo, emagrecimento involuntário, anorexia/redução do apetite e da ingestão alimentar
•Dor abdominal, náuseas e vômitos, esteatorreia
•Laboratório: hemoglobina, hematócrito; B12
Diagnóstico nutricional
•Emagrecimento involuntário, relacionado com síndrome de dumping depois de gastrectomia parcial seguida de má
absorção, evidenciado por perda involuntária recente de 7% do peso em 1 mês, esteatorreia
Intervenção
•Proteínas: 1,0 a 1,2 g/kg
•Limitar a ingestão de açúcares simples a < 15% do valor energético total
•Limitar lipídios a 30%; TCM e reposição de enzimas pancreáticas para má absorção de lipídios
•Refeições pequenas e frequentes
•Evitar lactose
•Suplementar B12, Fe e outros nutrientes, conforme a necessidade
Monitoramento e reavaliação
•Peso corporal
•Resultados laboratoriais das dosagens de nutrientes específicos
•Controle dos sintomas GI
1.Aumento gradativo da ingestão diária de fibras até o nível de ingestão dietética de referência (DRI) (14 g/1.000 calorias)
2.Assegurar a ingestão diária adequada de líquidos no período de aumento concomitante das fibras dietéticas
3.O uso de probióticos pode ser benéfico, embora os estudos não sejam conclusivos
Avaliação
•Redução do apetite e da ingestão alimentar
•Dor abdominal, náuseas e vômitos, febre
•História dietética (ingestão de fibras)
•Laboratório: hemoglobina, hematócrito
Diagnóstico nutricional
•Falta de conhecimentos sobre alimentos e nutrição, relacionada com um diagnóstico recente, evidenciada por história
dietética
Intervenção
•Progredir de dieta zero para uma dieta pobre em fibras
•Depois da alta, aumentar gradativamente a ingestão de fibras até a DRI
•Ingestão adequada de líquidos
•Considerar suplementação com probióticos
Monitoramento e reavaliação
•Ingestão de fibras
•Resultados laboratoriais das dosagens de nutrientes específicos
•Controle dos sintomas GI
1.Normalizar o padrão alimentar, alimentar-se em um local tranquilo nos mesmos horários, ingerir refeições pequenas e
frequentes e assegurar a ingestão de quantidades suficientes de todos os nutrientes
2.Ajustar a dieta de acordo com as alergias e intolerâncias alimentares existentes; alimentos que comumente causam
problemas são trigo, levedo e ovos
3.Reduzir a ingestão de lactose (se houver intolerância à lactose)
4.Dieta pobre em FODMAP (evitar alimentos ricos em frutose, sorbitol, xilitol e manitol e alimentos formadores de gases)
5.Usar prebióticos e probióticos
6.Progredir lentamente para uma dieta com quantidades adequadas de fibras (25 a 35 g/dia)
7.Assegurar a ingestão adequada de água (1,8 a 2,8 ℓ/dia)
8.Alimentos que devem ser evitados: álcool, pimenta-do-reino, cafeína, pimenta em pó, cacau/chocolate, café,
refrigerantes à base de cola, alho, pimenta-malagueta, alimentos condimentados, açúcares
9.Evitar ingestão de lipídios em excesso
10.Administrar suplementos com vitaminas do complexo B, cálcio, vitamina D e riboflavina (se houver intolerância à
lactose)
11.A suplementação diária com 1 colher de sopa de fibra (p. ex., Metamucil®) pode ser útil; evitar suplementos à base de
farelo de trigo, porque podem ser irritantes
O American College of Gastroenterology revisou diversos tratamentos usados para controlar a SII e fez uma avaliação
abrangente dos estudos com graduação da qualidade das evidências usando o sistema GRADE (Grading of Recommendations
Assessment, Development, and Evaluation). A qualidade da evidência foi classificada em muito baixa, baixa, média e alta,
enquanto a força da recomendação foi graduada em fraca ou forte.28 Nenhuma das recomendações típicas referentes à nutrição e
ao estilo de vida para pacientes com SII foi graduada acima de “moderada” quanto à qualidade da evidência e todas foram
classificadas como “fracas” quanto à força da recomendação (Tabela 10.2). Contudo, considerando a ampla variação dos sintomas
na maioria dos pacientes com SII, pode ser útil adotar individualmente essas alterações. As recomendações básicas devem incluir
a ingestão de refeições pequenas e frequentes em horários regulares; assegurar a ingestão adequada de líquidos; e evitar quaisquer
alimentos que pareçam causar problemas. Além de uma dieta de eliminação para identificar os alimentos que causam problemas,
o paciente com SII pode fazer um diário alimentar para registrar sua ingestão de alimentos e líquidos e verificar se as
exacerbações estão associadas a determinados itens.6
Tabela 10.2 Evidência e grau de recomendação dos tratamentos para síndrome do intestino irritável,
segundo o American College of Gastroenterology.
Intervenção Qualidade da evidência Recomendação
Dietas especializadas Baixíssima Fraca
Fibras Moderada Fraca
Psyllium (exceto farelo de trigo) Moderada Fraca
Prebióticos/simbióticos Baixíssima Fraca
Probióticos Baixa Fraca
Óleo de hortelã (menta) Moderada Fraca
Dados de Ford AC, Moayyedi P, Lacy BE, et al. American College of Gastroenterology Monograph on the management of irritable bowel
syndrome and chronic idiopathic constipation. Am J Gastroenterol2014;109:S2–S26.
Avaliação
•Dor abdominal, náuseas, diarreia, constipação intestinal, fezes anormais, flatulência excessiva
•História dietética (intolerâncias e hipersensibilidade alimentares), uso crônico de laxantes, evitar alimentos específicos
•Laboratório: nutrientes específicos quando o paciente tem SII com predomínio de diarreia e/ou evita alimentos específicos
Diagnóstico nutricional
•Função GI alterada, relacionada com diagnóstico de SII, evidenciada por diarreia/constipação intestinal alternadas com
eliminação subsequente de alimentos específicos
Intervenção
•Refeições pequenas e frequentes; assegurar ingestão adequada de todos os nutrientes
•Ajustar a dieta para alergias/intolerâncias alimentares; evitar lactose (se houver intolerância à lactose)
•Dieta pobre em FODMAP
•Suplementar com prebióticos e probióticos
•Aumento gradativo da ingestão de fibras em quantidades suficientes e líquidos em volumes adequados
•Evitar ingestão excessiva de lipídios
•Suplementar com vitaminas do complexo B, cálcio, vitamina D e riboflavina se houver intolerância à lactose
•Considerar suplementação diária com 1 colher de sopa de fibra
Monitoramento e reavaliação
•Padrão das refeições: alterações das fezes (frequência, consistência)
•Ingestão de fibras e líquidos
•Resultados laboratoriais das dosagens de nutrientes específicos
•Controle dos sintomas GI
Os fármacos recomendados geralmente focam um sintoma específico, por exemplo, antidiarreicos, anticolinérgicos e
antiespasmódicos; antidepressivos (tricíclicos ou inibidores seletivos da recaptação de serotonina [ISRS]); e antibióticos
(rifaximina) para pacientes com diagnóstico de proliferação bacteriana excessiva. Além desses, existem dois fármacos
desenvolvidos especificamente para tratar SII: alosetrona e lubiprostona.35
Doença de Crohn
A DC também é conhecida como enterite regional, ileíte granulomatosa e ileocolite. A doença pode afetar qualquer segmento do
sistema digestório, mas tem predileção pelo íleo terminal. Em contraste com a RCU, na qual apenas a mucosa e a submucosa são
afetadas, todas as camadas de tecidos da parede intestinal podem ser afetadas pela DC.38 As complicações são obstrução, fissuras e
fístulas, que aumentam o risco de morte. Os problemas nutricionais associados à DC são potencialmente mais graves, em
comparação com os que são causados pela RCU, porque o intestino delgado geralmente é afetado (ver Boxe 10.11).
Outra preocupação nutricional é a possibilidade de diarreia grave (em geral, esteatorreia causada pela má absorção de
lipídios) nos casos de acometimento ileal. Além da má absorção direta dos nutrientes, os pacientes com DC têm dor e outros
sintomas gastrintestinais, que afetam negativamente o apetite e pioram depois da ingestão alimentar; esta última queixa pode
resultar em medo de alimentar-se e reduzir ainda mais a ingestão de nutrientes e agravar a desnutrição.
Boxe 10.12 Implicações nutricionais dos fármacos usados para tratar doença inflamatória intestinal.
Classe farmacêutica Fármacos Problemas nutricionais potenciais
Derivados do ácido 5- Mesalazina retal, mesalazina, Náuseas, vômitos, refluxo ácido, diarreia e deficiência de folato
aminossalicílico sulfassalazina e balsalazida orais
Corticoides Prednisona, metilprednisolona, Retenção de líquidos, aumento do apetite, elevação da glicemia, náuseas,
budesonida, hidrocortisona, aumento do peso; pode ser necessário reduzir a ingestão de sódio e aumentar a
prednisolona ingestão de proteínas, potássio e cálcio
Imunossupressores Mercaptopurina, metotrexato, Anorexia, náuseas, vômitos e úlceras orais
tacrolimo
Anticorpos monoclonais Infliximabe, adalimumabe, Dor abdominal, náuseas, vômitos, irritação da boca ou língua
certolizumabe pegol
Inibidores de integrina Natalizumabe, vedolizumabe Diarreia, dor epigástrica
alfa-4
Antibióticos Metronidazol, ciprofloxacino Anorexia, náuseas e vômitos
Antidiarreicos Loperamida, difenoxilato-atropina Anorexia, distensão abdominal, constipação intestinal, dor estomacal epigástrica
com náuseas e vômitos
Sequestradores de ácidos Colestiramina, colestipol Refluxo ácido, constipação intestinal, náuseas e vômitos, dor epigástrica
biliares
Anticolinérgicos Diciclomina, hiosciamina, propantelina Boca seca, náuseas
Na fase de remissão
1.Ingerir dieta rica em nutrientes com quantidades adequadas de proteínas e energia
2.Aumentar progressivamente a quantidade de fibras dietéticas até alcançar o nível recomendado; frutas e vegetais
podem conferir proteção
3.Evitar alimentos ricos em oxalato (ver Boxe 10.16, adiante)
4.Evitar lactose, trigo e glúten (se houver intolerância)
5.Aumentar a ingestão de alimentos ricos em antioxidantes
6.Considerar suplementação com ácidos graxos poli-insaturados n-3 e glutamina
7.Considerar o uso de probióticos/misturas de probióticos conforme a necessidade e prebióticos
Retocolite ulcerativa
Fisiopatologia
Embora os sintomas sejam semelhantes aos da DC, a RCU geralmente afeta o cólon sigmoide com acometimento extensivo do
reto. A RCU frequentemente se espalha por todo o intestino grosso, de forma que todo o órgão pode ser afetado, mas nunca
acomete o intestino delgado. As complicações da RCU são tão graves quanto as da DC, inclusive colite tóxica, na qual o intestino
grosso começa a dilatar. A dilatação pode desenvolver-se em algumas horas ou dias e, nos casos graves, é descrita
como megacólon tóxico, que pode causar perfuração. Sangramento retal é um problema comum, que frequentemente causa
anemia ferropriva. Outros distúrbios nutricionalmente importantes são perdas de proteínas, distúrbios eletrolíticos, desidratação,
anorexia e perda ponderal. Em contraste com a DC, a maioria dos problemas nutricionais não é causada diretamente pela má
absorção (ver Boxe 10.11). O diagnóstico é confirmado por sigmoidoscopia e este exame também avalia a gravidade da RCU.
Diagnóstico nutricional
•Ingestão oral inadequada, relacionada com dor abdominal associada à RCU, evidenciada por perda involuntária de 7%
do peso em 2 meses e história dietética
•Utilização reduzida dos nutrientes, relacionada com má absorção (DC), evidenciada por esteatorreia e perda involuntária
de 7% do peso em 2 meses
Intervenção
Fase aguda:
•Nutrição enteral (glutamina e ácidos graxos de cadeia curta) ou nutrição parenteral (casos graves)
•Progredir para uma dieta hipercalórica (se o paciente tiver emagrecido), hiperproteica e pobre em lipídios e fibras, com
refeições pequenas e frequentes, de acordo com a tolerância
•Evitar nozes, sementes, legumes, grãos ásperos; lactose, trigo e glúten (se houver intolerância)
•Suplementos de vitaminas D e B12, folato, Fe, Zn, Ca e Mg
•Limitar a ingestão de sódio se usar corticoides
•Se for DC, considerar o uso de TCM
Monitoramento e reavaliação
•Peso
•Diarreia, esteatorreia
•Ingestão oral (principalmente proteínas)
•Resultados laboratoriais das dosagens de nutrientes específicos
•Controle dos sintomas GI
Doença celíaca
Fisiopatologia
A doença celíaca, também conhecida como espru não tropical, espru induzido pelo glúten, enteropatia induzida pelo glúten e
enteropatia sensível ao glúten, é causada por uma resposta imune anormal mediada pelos linfócitos T a diversos compostos das
proteínas de grãos específicos nos indivíduos geneticamente sensíveis; esta reação imune causa inflamação e lesão das células da
mucosa do intestino delgado proximal.44 No trigo, o composto responsável é gliadina, um dos dois componentes proteicos da
proteína principal do glúten, mas existem compostos semelhantes em outros grãos, inclusive hordeína da cevada e secalina do
centeio.45
Além da predisposição genética, os fatores de risco são síndrome de Down, diabetes melito tipo 1, artrite crônica da infância e
outras doenças autoimunes.44,46 A manifestação clínica da doença é muito variada, principalmente nas diversas faixas etárias, com
sinais e sintomas de distúrbios gastrintestinais, neurológicos, hormonais e cutâneos. Os sintomas gastrintestinais podem ser
distensão abdominal, dor abdominal, diarreia, constipação intestinal; as crianças com SII são quatro vezes mais suscetíveis a ter
doença celíaca.47 A doença caracteriza-se por má absorção de nutrientes com diversos distúrbios nutricionais, inclusive perda
ponderal, anemia, doença óssea e déficit de crescimento em crianças.
O teste de anticorpo usando anticorpo IgA antitransglutaminase tecidual (IgA TTG) é o primeiro exame recomendado para
diagnosticar doença celíaca, mas o padrão diagnóstico confirmatório é a endoscopia digestiva alta com no mínimo seis biopsias
do duodeno.48
Diagnóstico inicial
1.Corrigir quaisquer deficiências nutricionais (atenção especial ao folato, vitamina D, cálcio e ferro)
2.A ingestão proteica deve ser de 1 a 2 g/kg de peso corporal nos adultos
3.A ingestão energética deve ser aumentada nos casos de emagrecimento ou déficits de crescimento em crianças
4.Reduzir inicialmente a ingestão de fibras dietéticas e aumentar gradativamente na medida da tolerância
5.Evitar lactose e determinar se a intolerância persiste
6.Se houver má absorção de lipídios, o uso dos triglicerídios de cadeia média pode ser útil
Leite/laticínios
•Leite maltado, Ovomaltine®, leite achocolatado com aditivos de cereais
•Algumas coalhadas e iogurtes, alguns cremes não lácteos
•Produtos contendo lactose, se houver intolerância à lactose
Carnes de vaca/peixes/aves
•Carnes preparadas com trigo, centeio ou cevada (mortadela, calabresa, salsicha, embutidos e pastas para sanduíches)
•Patês, produtos contendo pão ou empanados (i. e., croquetes, rocambole e bolo de carne)
•Carnes injetadas com proteína vegetal hidrolisada
•Atum em caldos de vegetais, carnes ou substitutos da carne contendo estabilizantes de glúten
•Ovos em molhos com glúten
Frutas e vegetais
•Vegetais empanados ou cobertos com cremes, ou vegetais em molhos
•Alguns feijões cozidos e enlatados
•Alguns vegetais e saladas preparados comercialmente
•Frutas espessadas ou preparadas, alguns recheios de tortas
Gorduras/óleos e doces
•Alguns molhos para saladas preparados comercialmente
•Alguns doces industrializados, nozes cobertas de chocolate
•Bolos, biscoitos, tortas e roscas preparadas comercialmente com trigo, centeio ou cevada
•Misturas preparadas para sobremesas, inclusive biscoitos e bolos
•Pudins espessados com farinha de trigo
•Sorvetes com estabilizadores de glúten; sorvetes contendo biscoitos, farelos ou cheesecake; casquinhas de sorvete
Álcool
•Cerveja, gim, uísques, vodcas destiladas de grãos
Diversos
•Chás de ervas com cevada maltada ou outros grãos com glúten (ver lista de Pães, cereais e grãos)
•A maioria das sopas enlatadas, caldos cremosos e misturas para sopas, caldos de carne
•Curry em pó, misturas de temperos secos, molhos de carnes, ketchup, mostarda, rábano-bastardo, molho de soja, chip
dips, gomas de mascar, vinagre branco destilado, extrato de cereais, bebidas de cereais (Postum®), cerveja sem álcool,
extrato de levedura, xarope de malte, vinagre de malte e refeições para bebês com espessantes de farinha disponíveis no
mercado
•Alguns pacientes podem ter intolerância ao corante caramelo e ao glutamato monossódico (MSG)
O paciente deve evitar todas as fontes de glúten da dieta, dentre as quais as mais evidentes são alimentos que contêm trigo,
centeio e cevada. No passado, as aveias também foram eliminadas da dieta e, embora isto não seja mais necessário hoje, os
produtos de aveia industrializada podem ser contaminados por trigo durante seu processamento. Por essa razão, depois do
diagnóstico inicial da doença celíaca, pode ser recomendável evitar aveias e introduzi-las gradativamente na dieta observando se
há sinais de intolerância. Além dos alimentos que obviamente contêm trigo, centeio ou cevada, o paciente também precisa
aprender a ler os rótulos dos alimentos para detectar ingredientes preparados a partir dos componentes de um dos grãos, inclusive
cereais, amido, farinhas, agentes espessantes, emulsificantes, estabilizantes, proteínas vegetais hidrolisadas, corante caramelo e
glutamato monossódico (ver Boxe 10.14).6
Avaliação
•Perda de peso involuntária, redução do apetite e da ingestão alimentar
•Dor abdominal, náuseas, diarreia, esteatorreia
•História dietética, alimentos específicos evitados
•Laboratório: anticorpos anti-TTG, IgA, IgG, proteínas séricas, hemoglobina/hematócrito, nutrientes específicos
Diagnóstico nutricional
•Utilização prejudicada dos nutrientes, relacionada com má absorção (doença celíaca), evidenciada por esteatorreia e
perda involuntária de 7% do peso corporal em 2 meses
Intervenção
•Proteínas: 1,0 a 2,0 g/kg; energia suficiente para recuperar/ganhar o peso perdido
•Corrigir deficiências (especialmente folato, vitamina D, Ca e Fe)
•Depois da redução inicial, aumentar gradativamente a ingestão de fibras, conforme a tolerância
•Evitar lactose, se houver intolerância à lactose
•TCM, se houver má absorção de lipídios
•Instruções quanto à dieta sem glúten
Monitoramento e reavaliação
•Peso
•Diarreia, esteatorreia
•Ingestão oral (especialmente proteínas)
•Resultados laboratoriais das dosagens de nutrientes específicos
•Controle dos sintomas GI
Avaliação
•Perda involuntária de peso, redução do apetite e da ingestão alimentar
•Dor abdominal, náuseas, diarreia e esteatorreia
•História dietética, alimentos específicos evitados
•Laboratório: proteínas séricas, hemoglobina/hematócrito, nutrientes específicos (especialmente B12)
Diagnóstico nutricional
•Função GI alterada, relacionada com ileostomia, evidenciada por diarreia
•Utilização prejudicada dos nutrientes (B12), relacionada com má absorção causada pela ileostomia, evidenciada por nível
sérico baixo de B12
Intervenção
•Dieta líquida restrita depois da operação
•Progredir para uma dieta branda pobre em fibras, hipercalórica e hiperproteica (1,5 g/kg)
•Reduzir a ingestão de fibras por 4 semanas com fontes de pectina
•Suplementar vitaminas C e B12, folato, Ca, Mg e Fe
•Líquidos suficientes, possivelmente com suplementos de Na e K conforme a necessidade, especialmente no clima quente
•Evitar ingerir alimentos antes da hora de deitar
•Dieta pobre em FODMAP, se flatulência for um problema
•Dieta pobre em oxalato
Monitoramento e reavaliação
•Peso
•Diarreia, esteatorreia
•Ingestão oral (especialmente proteínas)
•Resultados laboratoriais das dosagens de nutrientes específicos
•Controle dos sintomas GI
Modificações dietéticas/comportamentais
•Estabelecer horários fixos para as refeições
•Comer lentamente e mastigar cuidadosamente com a boca fechada
•Evitar goma de mascar ou beber com canudos para evitar excesso de gases
•Usar suco de toranja, iogurte, soro de leite e salsa e espinafre frescos (na medida da tolerância, em quantidades
pequenas) como desodorizantes naturais
•Usar produtos como Bean-O® (alfagalactosidase) para reduzir gases
•Se um alimento tiver sido excluído da dieta porque causa diarreia, constipação intestinal, odor ou flatulência, reavaliar a
tolerância depois de 2 a 3 semanas
Os problemas nutricionais mais significativos associados à SIC são atribuídos à má absorção (Boxe 10.18). Embora o índice
de sobrevivência diminua à medida que segmentos maiores do intestino são retirados, quando o íleo e a válvula ileocecal são
mantidos, o paciente pode tolerar ressecções de até 80%.53Inicialmente, as ressecções jejunais causam má absorção significativa,
porque a maioria dos nutrientes é absorvida e digerida nos primeiros 100 centímetros do intestino delgado. Contudo, depois de um
período de adaptação, o íleo assume essa função à medida que o intestino remanescente aumenta em comprimento, diâmetro e
espessura.
Em vista de sua importância para a sobrevivência em longo prazo e do fato de que essa é a única variável controlável,
aumentar a capacidade adaptativa do intestino é o foco do tratamento. A nutrição é essencial à recuperação e à ampliação da
capacidade adaptativa do intestino. A razão é que alguns dos sintomas típicos do paciente com SIC são nutricionalmente
relevantes: diarreia, esteatorreia, perda ponderal, depleção da musculatura, doença óssea e má absorção de vários nutrientes.
Outro problema nutricionalmente importante é a proliferação bacteriana excessiva, que parece ser comum nos pacientes com
SIC.54
A ocorrência da proliferação bacteriana excessiva pode afetar favoravelmente a extração de energia dos carboidratos;
entretanto, também causa várias consequências nutricionais desfavoráveis. A proliferação bacteriana excessiva pode causar
inflamação e alterações atróficas, que acarretam má absorção dos nutrientes. Além disso, o excesso de bactérias desconjuga os
ácidos biliares, causa má absorção de lipídios e compete pela vitamina B12, aumentando a possibilidade de deficiência dessa
vitamina. Outros sintomas gastrintestinais resultantes da proliferação bacteriana exacerbada também agravam a diarreia, que pode
afetar negativamente a ingestão alimentar e aumentar o risco de doença hepática associada à insuficiência intestinal – uma
complicação grave que pode causar colestase, esteatose e fibrose com cirrose terminal.55
ADIME 10.9 Resumo de caso clínico: síndrome do intestino curto (e transplante intestinal).
Avaliação
•Ingestão oral ou regime de terapia nutricional atual
•Comprimento e localização do intestino funcional restante
•Sintomas GI, inclusive vômitos e diarreia
•Débito da ostomia e estado de hidratação
•Resultados dos exames laboratoriais
•Níveis basais de vitaminas (vitaminas A, D, E, B1, B2, B6, B12 e C e ácido fólico) e minerais (cromo, cobre, manganês,
selênio e zinco)4
Diagnóstico nutricional
•Dependente de NPT em razão da má absorção, relacionada com síndrome do intestino curto ou distúrbio da motilidade
intestinal
•Complicações da NPT, relacionadas com colestase hepática, trombose venosa central, sepse associada ao cateter ou
desidratação grave
Intervenção
•Curto prazo
∘1o e 2o DPO: iniciar NP
∘3o ao 7o DPO: iniciar nutrição enteral e reduzir NP à medida que aumenta a NE
∘2 semanas: introduzir dieta líquida restrita por via oral e progredir conforme tolerância para uma dieta regular;
reduzir a nutrição enteral à medida que a ingestão oral aumenta
•Longo prazo:
∘Refeições pequenas e frequentes com suplementos e solução de reidratação oral
∘Pouca fibra com carboidratos complexos
∘Limitar ingestão de lactose, açúcares concentrados e oxalato
∘Limitar ingestão de lipídios se houver ascite quilosa
Monitoramento e reavaliação
•Ingestão oral e tolerância com base em diários alimentares
•Peso, estado proteico
•Balanço hídrico (débito da ostomia, hidratação)
•Balanço eletrolítico
•Resultados laboratoriais:
∘Mensalmente: zinco
∘A cada 6 meses: vitaminas D, B12 e B6, dosagens do ferro, lipidograma
∘Anualmente: vitaminas A e C, selênio, cobre, manganês e cromo6
Transplante intestinal
Thomas Pietrowsky, MS, RD; Maria Segovia, MD
O transplante intestinal é uma opção para os pacientes com insuficiência intestinal e complicações graves causadas pela
dependência da nutrição parenteral total (NPT). A definição de insuficiência intestinal é a perda da capacidade absortiva do
intestino delgado como consequência de doença GI grave ou síndrome do intestino curto induzida cirurgicamente.59 O número
total de transplantes intestinais realizados anualmente nos EUA aumentou para 139 em 2014.60 Os resultados dos transplantes e os
índices de sobrevivência dos pacientes em 1, 3 e 5 anos melhoraram na última década.59