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Direito Processual do Trabalho

Brasília-DF.
Elaboração

Cristiano Siqueira de Abreu

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I

Parte Geral.......................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1

Parte introdutória................................................................................................................ 9

Capítulo 2

Organização da Justiça do Trabalho e Ministério Público do Trabalho................... 38

Capítulo 3

Competência....................................................................................................................... 47

Capítulo 4

Teoria Geral do Processo................................................................................................ 79

Unidade iI

Fase de Conhecimento de Primeiro Grau .................................................................................... 83

Capítulo 1

Petição inicial .................................................................................................................... 83

Capítulo 2

Atos intermediários de órgãos auxiliares....................................................................... 92

Audiência............................................................................................................................. 96

Capítulo 4

Modalidades de Resposta................................................................................................. 108

Capítulo 5

Provas................................................................................................................................ 119

Capítulo 6

Sentença............................................................................................................................ 131

Unidade iII

Fase recursal.................................................................................................................................. 136

Capítulo 1

Teoria geral dos recursos trabalhistas........................................................................ 136


Capítulo 2
Pressupostos de admissibilidade...................................................................................... 159

Capítulo 3
Modalidades recursais.................................................................................................... 171

Unidade iV
Processo de Execução................................................................................................................ 205

Capítulo 1
Considerações preliminares e princípios aplicáveis ao processo de execução
trabalhista.......................................................................................................................... 205

Unidade V
Tutela Provisória............................................................................................................................ 228

Capítulo 1
Considerações gerais e tutelas em espécie................................................................... 228

Referências................................................................................................................................. 237
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
O objetivo do presente trabalho é instrumentalizar o aluno sobre o conhecimento
teórico (saber-saber) e prático (saber-fazer) das principais regras, princípios, institutos
e instituições do Direito Processual do Trabalho, já atualizado com as inovações
apresentadas pela Lei no 13.105/2015 (Novo Código de Processo Civil), à luz da leitura
da Instrução Normativa no 39/16 do Tribunal Superior do Trabalho.

A abordagem dos temas será feita de forma objetiva e resumida, a partir da perspectiva
de que o presente material é de apoio, sem prejuízo do necessário estudo complementar
para aprofundamento da matéria. Apesar disso, será feita sempre análise crítica a
respeito das normas aplicáveis ao Processo do Trabalho, sem descuidar que, diante da
precocidade da vigência do novo Código de Processual Civil, muitos institutos ainda
não foram testados, sendo ainda prematura indicar de forma peremptória quais e em
que medida serão aplicados.

A relevância social do tema emerge da necessidade de compreender o Processo do


Trabalho como um importante mecanismo auxiliar de satisfação do direito material de
trabalho que não foi respeitado voluntariamente por um dos sujeitos processuais.

A metodologia empregada envolverá a pesquisa bibliográfica e jurisprudencial.

Em síntese, serão abordados, especificamente, diversos temas pertinentes à parte


introdutória e às fases cognitiva de primeiro grau, recursal e de satisfação da sentença.

Objetivos
»» Proporcionar imersão do aluno, de forma objetiva e crítica, sobre as
regras, princípios, institutos e instituições de direito processual do
trabalho.

»» Fomentar reflexão dos institutos de direito processual do trabalho sobre


as tensões entre o plano jurídico-normativo e a aplicabilidade no plano
das relações jurídicas.

»» Capacitar o discente sobre o uso prático das ferramentas processuais


trabalhistas.

»» Despertar o interesse no discente para o aprofundamento da matéria.

8
Parte Geral Unidade I

CAPÍTULO 1
Parte introdutória

Parte introdutória

O que, por que e para que?

O que?

Uma boa forma de tentar iniciar o estudo de determinada matéria é buscar delimitar seu
conteúdo (o que é?), as causas e motivos (por que?) que determinaram seu surgimento
e, finalmente, a importância de se compreender o seu alcance e aplicação (para que?).

A doutrina é criativa e generosa ao oferecer conceitos sobre o Direito Processual do


Trabalho.

No entender de José Augusto Rodrigues Pinto, construído em momento anterior à EC


45/2004 que determinou a ampliação da competência da Justiça do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho seria o “conjunto de princípios, doutrina e normas jurídicos
destinados a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais do Estado na solução de
dissídios, individuais ou coletivos, entre empregadores e empregados”.1

Consoante às lições de Cleber Lúcio:2

O direito processual do trabalho é, assim, o conjunto de normas e princípios


que organizam e disciplinam a solução judicial dos conflitos de interesses de
natureza trabalhista (entendendo-se como tais os que decorrem de uma relação
de trabalho ou que sejam convexos à relação de emprego)

1 PINTO, José Augusto Rodrigues. Processo trabalhista de conhecimento. 6. ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 32
2 ALMEIDA, Cléber Lúcio de. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 13

9
UNIDADE I │ Parte Geral

Já Sergio Pinto Martins ensina que o “Direito Processual do Trabalho é o conjunto de


princípios, regras e instituições destinados a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais
na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, pertinentes à relação de trabalho”3.

Para Mauro Schiavi, “Direito Processual do Trabalho conceitua-se como o conjunto de


princípios, normas e instituições que regem a atividade da Justiça do Trabalho, com
o objetivo de dar efetividade à legislação trabalhista e social e assegurar o acesso do
trabalho à Justiça”.4

Para não alongarmos muito com conceitos que refletem a mesma noção, parece adequado
sugerir que Direito Processual do Trabalho é o ramo do direito que compreende (a) o
conjunto de princípios, regras e instituições (b) destinados a regular a atividade dos
órgãos jurisdicionais do Estado (c) e a atuação das partes (d) na solução de dissídios
individuais ou coletivos (e) decorrentes da relação de trabalho (f), imprimindo
efetividade às normas laborais (g).

a. Consiste no ramo do direito que compreende, porque o direito


processual do trabalho possui dupla acepção, já que reflete tanto a
disciplina acadêmica como o sistema processual laborista autônomo.

b. o conjunto de princípios, regras e instituições, porque o Direito


Processual do Trabalho contém princípios, regras e instituições próprias
especializados para solução dos dissídios entre trabalhadores e tomadores
de serviços, especialmente empregados e empregadores.

c. destinados a regular os órgãos jurisdicionais do Estado, porque


as normas processuais trabalhistas disciplinam a atuação e os limites da
função jurisdicional do Estado.

d. e a atuação das partes, porque, além da regulação dos órgãos


jurisdicionais, as normas processuais trabalhistas disciplinam a atuação
processual das partes.

e. na solução de dissídios individuais ou coletivos, porque os


conflitos a serem resolvidos pela Justiça do Trabalho não se limitam aos
dissídios individuais decorrentes da relação de trabalho, mas também
compreendem conflitos coletivos entre sindicatos ou entre sindicatos de
empregados e o empregador.

f. decorrentes da relação de trabalho, porque as controvérsias,


aptas a serem processadas e julgadas pela Justiça do Trabalho, não se
3 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 18
4 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: Ltr, 2016. p. 75

10
Parte Geral │ UNIDADE I

limitam àquelas próprias da relação de emprego, pois também podem


derivar de outras relações de trabalho, como pequenos empreiteiros,
operários ou artífices, trabalhadores avulsos, cooperativados, estagiários,
trabalhadores voluntários entre outros (CF, art. 114).

g. imprimindo efetividade às normas laborais, porque, como visto,


as normas processuais trabalhistas auxiliam ao exercício efetivo dos
direitos assegurados aos trabalhadores, não respeitados pelo tomador
de serviços, sendo o processo meio de solução dos conflitos com vistas a
garantir efetividade ao direito material.

Nesse contexto, no Direito Processual do Trabalho serão estudadas desde questões


referentes ao conceito, autonomia, interpretação, integração, finalidade do direito
processual do trabalho, competência da Justiça do Trabalho aos procedimentos próprios
das fases cognitiva de primeiro grau, recursal e de satisfação da sentença.

Por que?
Existem muitas formas de os conflitos trabalhistas serem resolvidos, algumas com o
envolvimento exclusivo das próprias partes (com ou sem uso da força) e outras com a
participação de terceiros (com ou sem poder decisório).

A autotutela, também conhecida como autodefesa, por exemplo, é mecanismo de


solução de conflitos em que o próprio sujeito busca afirmar, unilateralmente, seu
interesse, impondo-o (e impondo-se) à parte contestante e à própria comunidade que o
cerca.5 Normalmente, a autotutela é proibida nos Estados modernos,6 já que a solução
empreendida não se alicerça na razão e/ou direito, mas no emprego de
força, o que não raro conduz a situações injustas, arbitrárias e egoístas.
Excepcionalmente, é autorizado, como último recurso, o emprego de força
como possibilidade de defesa pelo titular do direito.7 No direito do trabalho,
a autotutela tem sido reconhecida como direito fundamental do trabalho (CF, art. 9o
e Lei no 7.783/1990) na hipótese de greve dos trabalhadores, compreendida como a
“paralisação coletiva provisória, parcial ou total, das atividades dos trabalhadores
em face de seus empregadores ou tomadores de serviços, com o objetivo de
exercer-lhes pressão visando à defesa ou conquista de interesses coletivos, ou com
objetivos sociais mais amplos.8 Por outro lado, é proibido (Lei no 7.783/1989, art. 17),

5 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011.
6 Exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345) e exercício arbitrário de poder (CP, art. 350)
7 Por exemplo, direito de retenção (CC, arts. 437, 1219, 1433 e 1434); desforço imediato no esbulho possessório (CC, art. 1210);
penhor legal (CC, art. 1467); direito de corte de raízes e ramos de árvores limítrofes que ultrapassem os limites do prédio (CC,
art. 1283); e legítima defesa ou estado de necessidade (CP, arts. 24-25 e CC/16, arts. 188)
8 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011

11
UNIDADE I │ Parte Geral

por ser desproporcional, desnecessário e conspirar contra o equilíbrio das relações de


trabalho, o locaute (lockout), compreendido como a paralisação das atividades da
empresa, estabelecimento ou setor, determinada por ato do empregador, com o objetivo
de frustrar o atendimento das reinvindicações coletivas obreiras.9

A autocomposição ocorre quando o conflito é solucionado pelos próprios sujeitos


envolvidos, sem a intervenção de terceiros no processo de pacificação do conflito, e sem
o exercício de coerção. A autocomposição pode ser alcançada por renúncia, aceitação
ou transação. Haverá renúncia quando o titular de um direito dele se despoja por ato
unilateral seu em favor de outrem. A aceitação se verifica nas hipóteses em que um
dos sujeitos envolvidos reconhece o direito do outro, passando a se comportar em
consonância com tal reconhecimento. Finalmente, a transação se configura por meio
de concessões recíprocas dos sujeitos envolvidos, levando-se à solução da controvérsia.
Em princípio, a autocomposição tende a ser limitada como mecanismo de solução
de conflitos trabalhistas na esfera estritamente privada, pois, via de regra, as normas
trabalhistas são imperativas, não podendo as vantagens e proteções asseguradas pela
ordem jurídica ser afastadas pela simples manifestação de vontade das partes. Assim,
eventuais acordos extrajudiciais firmados exclusivamente pelas partes podem ter sua
validade questionada, se contrários às leis trabalhistas. Na seara coletiva, em que se
pressupõe equivalência de empoderamento dos contratantes coletivo (entidades
sindicais e empresas), tem-se admitido a forma autocompositiva dos acordos e
convenções coletivas (CF, arts. 7o, XXVI e 8o, III e IV)

Nos mecanismos de heterecomposição, há a intervenção de terceiro, estranho à


relação conflituosa original, que buscará aproximar as partes na solução do conflito
(mediação e conciliação) ou resolverá a controvérsia por meio de decisão que substituirá
a vontade das partes (arbitragem ou jurisdição).

Na mediação e conciliação, um terceiro, sem caráter decisório, buscará auxiliar


as partes, apresentando as vantagens da solução compositiva. No campo laboral, a
mediação tem sido prestigiada na esfera coletiva, como proposta alternativa à deflagração
de greve (autotutela) e de ajuizamento de dissídio coletivo (jurisdição), quando há
recusa à espontânea negociação coletiva (CLT, art. 616). Por sua vez, a conciliação tem
sido admitida de forma extrajudicial nas hipóteses de Comissão de Conciliação Prévia
(CLT, art. 625-A a 625-H) e judicialmente (CLT, arts. 764, 846 e 850).

Já a arbitragem “é uma forma de solução de um conflito, feita por um terceiro


estranho à relação das partes, que é escolhido por estas, impondo a solução do litígio”10
por meio de mecanismo que se mire na justiça (arbitragem de equidade) ou por meio

9 Ibidem.
10 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 60

12
Parte Geral │ UNIDADE I

das aplicações dos princípios e regras de direito (arbitragem de direito). Via de regra,
a arbitragem tem sido admitida na esfera coletiva, mas não para a solução de conflitos
individuais do trabalho, pois o artigo 1o da Lei de Arbitragem (Lei no 9.307) não autoriza
seu uso quando envolvidos direitos patrimoniais indisponíveis.

A jurisdição, o mecanismo mais utilizado no caso das controvérsias trabalhistas, em


especial em razão de aspectos culturais da realidade brasileira tendentes a reforçar
a confiança das partes na autoridade do juiz, seria “o ato pelo qual o Estado, por
intermédio do Poder Judiciário, soluciona, mediante a provocação do interessado e
em caráter substitutivo, os conflitos de interesses estabelecidos entre as pessoas em
geral”.11

a. Ato pelo qual o Estado, porque a jurisdição traduz uma das funções do
Estado, juntamente com a administrativa e a legislativa. É bom lembrar
que a jurisdição é um poder-dever do Estado. Poder, porque somente
o Estado, em princípio, detém a potestade de solucionar conflitos de
interesses, sejam individuais sejam coletivos. Sob essa perspectiva política,
a jurisdição se apresenta como uma emanação da própria soberania
estatal, como expressão do poder do Estado que é ontologicamente uno.
Dever, porque no momento em que o Estado, pelos motivos já expostos,
tornou proibida a realização da Justiça pelas próprias mãos, assumiu,
perante os indivíduos, o indeclinável compromisso histórico e, acima de
tudo, moral de resolver, com justiça e presteza, as lides submetidas à sua
apreciação.

b. por intermédio do Poder Judiciário, soluciona, porque é o Poder


Judiciário o titular da jurisdição.

c. mediante provocação do interessado, porque seria, fora de


qualquer dúvida razoável, perturbadora da estabilidade das relações
sociais intersubjetivas eventual possibilidade de o juiz dedicar-se, por
sua iniciativa, vale dizer, sem provocação do interessado (ou até mesmo
contra a vontade das partes), à solução de conflitos de interesses.

d. em caráter substitutivo, porquanto o Estado, ao tornar vedada


a realização de justiça pelas próprias mãos, passou de certa forma, no
exercício das funções jurisdicionais que lhe são inerentes, a substituir
indivíduos, no que toca à satisfação de suas pretensões resistidas por
outrem.

11 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio.

13
UNIDADE I │ Parte Geral

e. os conflitos de interesses, porque a atividade jurisdicional pressupõe


a existência de um antagonismo de interesses, de uma lide, enfim. A
ausência de conflito caracteriza a ausência do interesse de agir, uma
das condições da ação. Nesse particular, é bom lembrar que a jurisdição
voluntária rigorosamente não pode ser considerada jurisdição. Na
verdade, trata-se de mera administração pública de interesses privados.

f. estabelecidos entre as pessoas em geral, pois para efeito de tutela


jurisdicional é irrelevante que o conflito envolva pessoas físicas ou
jurídicas, pessoas jurídicas de direito público ou privado.

O Direito Processual do Trabalho, portanto, surge como uma resposta à necessidade


de o Estado, quando provocado, solucionar as controvérsias decorrentes da relação de
trabalho de maneira célere, eficiente e justa. Afinal, muitos direitos trabalhistas não
são devidamente respeitados durante determinada relação de trabalho. Como, em
princípio, a solução do conflito pelo emprego da força (autodefesa) é proibida pelo
ordenamento jurídico, o Estado assumiu o dever de conceber aparato, formado por
normas e instituições, talhado para solucionar com justiça, presteza e eficiência as lides
submetidas à sua apreciação, reestabelecendo a paz social.

Para que?

Como sabido, o processo não é um fim em si mesmo, sendo, ao revés, instrumento de


Justiça, devendo estar a serviço do direito material tutelado (e não o contrário).12

Seu papel funcional, portanto, é nitidamente instrumental na medida em que se traduz


em um método, formado por um sistema de princípios, regras e institutos, destinado à
solução de conflitos intersubjetivos de interesses submetidos ao Poder Judiciário, com
objetivo de concretizar o direito material não respeitado espontaneamente por uma das
partes, restabelecendo a paz social de maneira justa, rápida e eficiente.

Cléber Lúcio de Almeida ensina que:13

O processo ganha valor na medida em que seja apto a realizar concretamente


o direito material deduzido em juízo ou, dito de outra forma, na exata medida
em que seja capaz de assegurar à parte que merece a tutela jurisdicional tudo
aquilo que lhe assegura a ordem jurídica, isto é, o seu direito em toda plenitude.

A importância de se criar uma Justiça Especializada do Trabalho, com atuação regulada


por princípios e regras específicos, decorreu de circunstâncias especiais de se buscar uma
12 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 85
13 ALMEIDA, Cléber Lúcio de. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 22

14
Parte Geral │ UNIDADE I

solução diferenciada, mais rápida e acessível ao jurisdicionado, já que a controvérsia


trabalhista, em sua essência, possuía características próprias que reclamavam esquema
e mecanismos alternativos àqueles oferecidos pelo direito processual comum.

Os direitos trabalhistas, normalmente discutidos nas ações judiciais, envolvem, na


maior parte das vezes, parcelas de natureza alimentar, pois destinadas ao custeio das
necessidades básicas do trabalhador relacionadas à alimentação, moradia, saúde,
educação, lazer entre outras imprescindíveis a uma existência digna.

Thomas Piketty, em sua obra O Capital no século XXI, demonstrou que o acesso a
recursos financeiros da maior parte da população economicamente ativa provém das
parcelas recebidas por meio do trabalho. 14 Nesse contexto, o trabalho se revela essencial
na criação dos espaços necessários à realização dos projetos de cada indivíduo, família
e comunidade, pois por meio dos recursos financeiros obtidos pelo trabalho é que
podemos custear as despensas necessárias a uma existência digna.

Justamente pela importância do trabalho na construção de uma sociedade


verdadeiramente livre, justa e solidária (CF, art. 3o, inciso I) é que se revelou importante
a concepção de um mecanismo estatal especial de solução de conflitos que pudesse
entregar a prestação jurisdicional de forma justa, adequada e rápida. Realmente, a
arquitetura do sistema processual do trabalho foi desenhada com vistas a permitir
soluções céleres ante o evidente prejuízo da demora na entrega da prestação jurisdicional
que, em caso de retardo, tem o potencial de desnaturar a finalidade alimentar das
parcelas trabalhistas.

Não se pode esquecer que o direito material tutelado (Direito do Trabalho) pelo
Processo do Trabalho se funda em premissa fático-jurídica diversa, qual seja, a
desigualdade entre os sujeitos contratuais. É natural que, diante dessas circunstâncias,
as especificidades do direito material se irradiem ao direito processual, concebido para
materializar aquele. Não por outro motivo, os trabalhadores, via de regra, por ocasião
da litigação judicial, encontram-se em situação financeira desfavorável em relação
ao empregador, o que conduz a concepção de mecanismos próprios que favoreçam o
acesso à jurisdição, sem obstáculos econômicos ou barreiras territoriais, impeditivas
ao exercício do direito de ação. Por exemplo, os institutos da gratuidade das custas
processuais, jus postulando, ausência de honorários de sucumbência, ajuizamento
no local da prestação de serviços, simplificação do sistema recursal trabalhista foram
pensados justamente para favorecer ao mesmo tempo o amplo acesso à jurisdição e
uma solução simples e célere da prestação jurisdicional.

14 PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

15
UNIDADE I │ Parte Geral

É, por isso, que Mauro Schiavi, com propriedade, identificou os principais objetivos
do Direito Processual do Trabalho: “a) assegurar o acesso do trabalhador à Justiça
do Trabalho; b) impulsionar o cumprimento da legislação trabalhista e da social; c)
dirimir, com justiça, o conflito trabalhista”.15

Daí a necessidade de o processualista, em especial o do trabalho, buscar na atividade


interpretativa alternativas, dentro da dimensão permitida pelo devido processo
legal, que garantam a efetividade da tutela jurisdicional, não caindo na tentação de
invocar obstáculos processuais superáveis em desfavor do próprio direito material e
em desprestígio ao princípio da instrumentalidade. Luciano Athayde Chaves com
propriedade ensina que:16

A atividade do processualista deve ter em mira uma visão de


interpretação e aplicação dos institutos processuais de modo a garantir
sua efetividade em torno da tutela material invocada, enxergando
por trás de cada conflito, de cada processo, a existência de dramas e
de carências que, se não podem ser inteiramente eliminados pela
atuação do Estado-Juiz, certamente por este não atende aos anseios da
população, nem aos valores mais elevados do Direito.

Por essa razão, postulados como o acesso à justiça e, mais


recentemente, a duração razoável do processo (art. 5o, LXXVIII, CF,
acrescido pela Emenda Constitucional no 45/2004) são preceitos
constitucionais que precisam ocupar papel de prestígio no exame da
ordem jurídico-processual.

As fontes do Direito Processual do Trabalho

A palavra fonte tem sua referência no latim fons, significando nascente, manancial.
Popularmente, quando nos referirmos à fonte imediatamente nos vêm à mente a ideia
de uma nascente de água onde de qualquer lugar, natural ou construído, brota água.
Figuradamente, o vocábulo tem sido utilizado para identificar a origem de alguma coisa,
como, por exemplo, a fonte de uma informação, tão importante para credibilidade dos
meios de imprensa17.

Como sublinha Délio Maranhão18, a terminologia jurídica utiliza apropriadamente


metáfora na expressão “fontes do direito” para se referir à origem, o manancial de onde
provém o direito.

15 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: Ltr, 2016. p. 119
16 CHAVES, Luciano Athayde organizador. Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 46.
17 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 29
18 SÜSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. 20. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 150

16
Parte Geral │ UNIDADE I

A importância em se estudar as fontes do Direito Processo do Trabalho advém não


apenas da necessidade de se compreender o contexto de criação das
normas jurídicas (fontes materiais), mas especialmente da imprescindibilidade
de se identificarem os instrumentos pelos quais “o intérprete pode extrair os substratos
normativos que o auxiliem a concretizar e a realizar a tutela jurisdicional” (fontes
formais).19 Essa investigação normativa é essencial, pois o juiz não pode se recusar a
exercer a jurisdição sob o argumento de que desconheceria a lei ou instrumento jurídico
necessário à solução do conflito (CPC/2015, art. 140).

Quais são as fontes disponíveis no ordenamento jurídico ao intérprete e aplicador do


Processo do Trabalho?

Fontes materiais

As fontes materiais são fontes potenciais do direito e compreendem o conjunto


dos fenômenos sociais que contribuem para a formação da norma jurídica, ou seja, o
complexo de fatores históricos, sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos e morais
que servem de matéria-prima para a criação do sistema jurídico20.

A bem compreender a dimensão das fontes materiais, é oportuno mencionar que,


no auge do neoliberalismo do governo Fernando Henrique Cardoso (fator político,
econômico e filosófico), muitos setores empoderados da sociedade defendiam a extinção
da Justiça do Trabalho como sistema especializado de solução de conflitos trabalhistas.
Como reação a essas demandas que questionavam a efetividade funcional da Justiça do
Trabalho no desenvolvimento econômico do país, várias medidas foram tomadas para
ampliar a qualidade e a celeridade da prestação jurisdicional das cortes trabalhistas,
como, por exemplo, a implementação do rito sumaríssimo no processo do trabalho pela
Lei 9958/2000.

Alguns defendem que as fontes materiais devem ser objeto de estudo tão-somente
da sociologia jurídica, por dependerem da investigação das causas sociais que
influenciaram a edição da norma jurídica.21 Nada obstante, não se pode esquecer que o
conhecimento sobre a evolução histórica dos fatores que desencadearam a elaboração
de uma norma é relevante para compreensão do sentido e alcance do ordenamento
jurídico e, consequentemente, das possibilidades de aplicação das normas aos casos
concretos (interpretação histórica).

19 CHAVES, Luciano Athayde organizador. Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 65
20 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 61
21 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 30

17
UNIDADE I │ Parte Geral

Fontes formais
As fontes formais são as formas de exteriorização do Direito, ou seja, aquelas que se
encontram positivadas no ordenamento jurídico22.

Há certa divergência doutrina sobre as modalidades que podem ser consideradas como
fontes formais de direito.

Em regra, consolidou-se relativa uniformidade, entre os vários autores, no sentido de


se reconhecer a lei em sentido lato e os costumes como fontes materiais de direito.

A lei em sentido genérico seriam os atos normativos e administrativos editados pelo


Poder Público, de incidência, via de regra, cogente, independentemente da vontade dos
interessados. No Processo do Trabalho, os três principais estatutos que regulam a relação
processual são: a) Constituição Federal, em especial os princípios fundamentais
(arts. 1o a 4o); direitos e garantias fundamentais (arts. 5o a 11), Poder Judiciário (arts.
93 e ss., notadamente os arts. 111 a 114); b) Consolidação das Leis do Trabalho
(Título X – Processo Judiciário do Trabalho); e c) Código de Processo Civil (ante
a possibilidade de aplicação subsidiária e supletiva nos casos omissos e desde que haja
compatibilidade, conforme autorizado nos arts. 15 do CPC e 769 e 889 da CLT, tema
que será melhor estudado a seguir). Existe ainda, no patamar infraconstitucional, uma
série de leis esparsas que são aplicáveis ao processo do trabalho, constituindo-se rico
arsenal ao operador jurídico para a solução dos conflitos trabalhistas. Destacam-se
deste rol, entre outros atos normativos, aqui não relacionados: (I) Lei no 5584/1970
(que estabelece algumas normas procedimentais, tais como, valor de alçada, unificação
de prazos, assistência judiciária gratuita etc.); (II) Lei no 6.830/1990 (que regula a
execução fiscal, cujas normas podem ser aplicadas subsidiariamente ao processo de
execução trabalhista nos termos do artigo 889 da CLT); (III) Lei no 7.701/1988 (que
dispõe sobre a organização dos Tribunais, bem como o julgamento de recursos); (IV)
Lei Complementar no 75/1993 e Leis nos 7347/1985, 8078/1990, 8069/1990
e 7853/1989 (tutela de direitos metaindividuais trabalhistas); (V) Decreto-lei
779/1969 (que versa sobre prerrogativas processuais da Fazenda Pública); e (e)
Regimentos Internos dos Tribunais (em razão da autorização prevista no artigo
96, I, a, da Constituição Federal)23.

Os costumes, por sua vez, são atos repetidos habitualmente por certo espaço de
tempo, de modo geral e espontâneo, por determinada coletividade abrangente e que
adquirem força obrigatória, caso não violarem o ordenamento jurídico e os bons
costumes. No âmbito processual, os costumes não podem ser considerados uma fonte
22 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 61
23 Como bem advertido por Carlos Henrique Bezerra Leite, “na prática, porém, os Tribunais acabam criando normas regimentais,
além de Resoluções, Instruções Normativas e Atos Normativos que dispõem sobre normas processuais em suspeitável ofensa
ao art. 22, I, da CF” (Op. cit., p. 63)

18
Parte Geral │ UNIDADE I

abundante do direito, uma vez que a matéria processual é normalmente coberta de


forma minuciosa por normas elaboradas pelo próprio Estado. Entretanto, há algumas
situações específicas que podem ser consideradas, como é o caso da carta de preposição
(CLT, art. 843, parágrafos primeiro e segundo) e da entrega da defesa escrita, a despeito
da exigência da modalidade oral (CLT, art. 847).

O consenso doutrinário sobre quais modalidades podem ser consideradas como fontes
formais de direito se esvai em relação à doutrina e à jurisprudência.

De acordo com Miguel Real, jurisprudência “é a forma de revelação do direito que se


processa através do exercício da jurisdição, em virtude de uma sucessão harmônica de
decisões dos tribunais”24.

Para Sergio Pinto Martins, a jurisprudência, em que pese exercer importante papel para
o processo do trabalho, não poderia ser considerada fonte, visto que ela não se configura
como uma regra obrigatória, mas apenas caminho predominante dos tribunais25:

A doutrina e a jurisprudência também exercem importante papel, ao


analisar as disposições processuais trabalhistas, mas a verdadeira fonte
é a legislação. A jurisprudência não pode ser considerada como fonte
do Direito Processual do Trabalho. Ela não se configura como regra
obrigatória, mas apenas o caminho predominante em que os tribunais
entendem de aplicar a lei, suprimindo, inclusive, eventuais lacunas
desta última.

De outro lado, Carlos Henrique Bezerra Leite defende que a súmula vinculante seria um
exemplo de fonte formal de direito:

No que tange à chamada “súmula vinculante”, introduzida pela EC no 45/2004,


que acrescentou o art. 103-A à CF, salta aos olhos que ela passa a ser fonte
formal direta, à medida em que o STF “ poderá, de ofício ou por provocação,
mediante decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões
sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na
imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas Federal,
estadual e municipal, voo como proceder a sua revisão ou cancelamento, na
forma prevista inglês em lei.”

Coerente à posição de Bezerra Leite, pois, parece-se adequado reconhecer que, na


atividade jurisdicional, há função criadora, na medida em que, em muitos casos, diante
de determinada lacuna normativa, o juiz deve julgar o caso concreto por meio de
24 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 167.
25 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 31.

19
UNIDADE I │ Parte Geral

métodos integrativos (princípios, costumes etc – CLT, art. 8o), que não raro acabam por
resultar em decisão que inova o ordenamento jurídico. Ademais, não se pode esquecer
que muitas decisões possuem efeito vinculante (CPC/2015, arts. 489, §1o, VI, 926 e 927),
existindo parco espaço no caso concreto para o afastamento da diretriz jurisprudencial
consolidada pelos Tribunais.

A despeito da divergência doutrinária revelada, é inegável admitir que as Súmulas e


as Orientações Jurisprudenciais aprovadas pelas cortes trabalhistas, em especial o
Tribunal Superior do Trabalho, revelam-se importantes mecanismos de divulgação da
interpretação uniformizada da aplicação da lei a determinado caso concreto, inclusive
em relação a questões processuais.

Já em relação à doutrina, apesar de se constituir valioso instrumento para análise e


compreensão das normas jurídicas, não se revela, em princípio, possível enquadrá-la
como fonte de direito, pois, além da inegável variação de entendimentos, a importância
é consultiva na medida em que não há obrigação de observação dos textos doutrinários
nas decisões judiciais.

A aplicação supletiva e subsidiária do direito


processual comum ao Processo do Trabalho

Apesar da eficiência do processo do trabalho enquanto instrumento de regulação das


relações processuais trabalhistas, é inevitável reconhecer sua incompletude normativa
quando examinado exclusivamente o aspecto qualitativo e quantitativo de normas
processuais trabalhistas específicas. Apenas para se ter dimensão desta afirmação, se
formos examinar o título X da CLT chega-se à constatação de que existem 157 artigos
específicos sobre processo do trabalho, o que se mostra naturalmente insuficiente para se
regular integralmente a atuação das partes e o funcionamento dos órgãos jurisdicionais
na solução de conflitos individuais ou coletivos do trabalho.

Como solução para o preenchimento deste vazio normativo, o artigo 769 da CLT
possibilita, em caso de omissão da legislação celetista, a aplicação subsidiária do processo
civil desde que haja compatibilidade com as normas e princípios do direito processual
do trabalho. Em sentido semelhante, o artigo 889 da CLT prevê a possibilidade de
aplicação subsidiária da Lei de Execução Fiscal (Lei no 6.830/1990) aos trâmites e
incidentes da execução trabalhista.

Com isso, o Direito Processual do Trabalho ganha corpo normativo adequado e suficiente
para o enfrentamento de diversas e complexas situações a serem reguladas no contexto
da relação processual trabalhista.

20
Parte Geral │ UNIDADE I

Com a vigência do novo Código de Processo Civil (Lei no 13.105, de 17/3/2015), a partir de
18 de março de 2016,26 surgiu dúvida quanto à possibilidade de o artigo 15 ter revogado
o artigo 769 da CLT (e também o artigo 889 da CLT), pois, enquanto aquele primeiro
(CPC/2015, art. 15) dispunha sobre a aplicação supletiva27 e subsidiária do NCPC ao
processo de trabalho estabelecendo supostamente apenas uma condição ─ omissão
das normas do processo do trabalho, o dispositivo celetista (art. 769) não tratava da
aplicação supletiva (somente da subsidiária), além de indicar outra condição além da
omissão: a compatibilidade da regra importada do CPC ao processo do trabalho.

Apesar do curto tempo de vigência do Código de Processo Civil, a doutrina e a


jurisprudência caminham no sentido de se reconhecer que o artigo 15 do CPC não
revogou os artigos 769 e 889 da CLT. A tendência é que se admita a existência de diversas
fontes jurídicas (CLT, NCPC, LEF etc) que alimentarão o leito do Processo do Trabalho,
em verdadeiro “diálogo das fontes”, por meio da convivência harmoniosa dos artigos
15 do NCPC, 769 da CLT e 889 da CLT, desde que a legislação processual específica
seja omissa, e a norma processual “importada” seja compatível e não represente um
retrocesso ao panorama processual trabalhista.28 Em cada caso concreto será necessário
fazer teste de aplicação do dispositivo do processo civil ao Direito Processual do
Trabalho (separação do joio do trigo), sempre levando-se em conta que o processo de
integração deve resultar em uma melhora de eficiência do processo do trabalho (e não
um retrocesso ao sistema anterior à vigência do NCPC).

A linha argumentativa autorizativa da aplicação harmônica dos artigos 15 do CPC/2015,


769 e 889 da CLT deriva de três razões básicas. Em primeiro lugar, o artigo 1046, §2o,
do próprio CPC/2015 determina que permanecem em vigor as disposições especiais de
procedimentos regulados por outras leis. Ora, a Consolidação das Leis do Trabalho é lei
que regulamenta procedimentos diversos e especiais, razão pela qual suas disposições
não podem ser revogadas pelas regras dispostas no novo Código de Processo Civil.
Em segundo lugar, o artigo 2o, §2o, da Lei de Introdução ao Código Civil – manual
interpretativo para qualquer norma -, há muito dispõe que a lei nova geral não revoga
ou modifica a lei anterior especial. Finalmente, a harmonização entre o artigo 15 do
CPC/2015 e os artigos 769 e 889 da CLT é medida necessária para a preservação da
arquitetura do processo do trabalho, concebida para a prestação jurisdicional acessível,
célere e eficiente, não apenas em razão da desigualdade socioeconômica entre as partes

26 Considerandos da IN 39/2016 do Tribunal Superior do Trabalho (Resolução no 203, de 15 de março de 2016)


27 Na aplicação supletiva, é possível utilizar a norma de processo comum apenas para complementar norma de processo do
trabalho incompleta. Assim, ainda que não haja total omissão de norma específicas do processo do trabalho, essas poderão ser
complementadas pela adição de regras do processo comum.
28 A esse respeito, o artigo 1o da Instrução Normativa 39/2016 do Tribunal Superior do Trabalho que estabelece: “aplica-se
o Código de Processo Civil, subsidiária e supletivamente, ao Processo do Trabalho, em caso de omissão e desde que haja
compatibilidade com as normas e princípios do Direito Processual do Trabalho, na forma dos arts. 769 e 889 da CLT e do art.
15 da Lei no 13.105, de 17/3/2015”.

21
UNIDADE I │ Parte Geral

(empregado e empregador), mas principalmente em razão da natureza alimentar das


parcelas perseguidas em juízo.

Instrução Normativa no 39/2016: primeiras


impressões

Embora seja prematuro indicar conclusões definitivas sobre os propósitos que


determinaram a edição da IN 39/2016 do Tribunal Superior do Trabalho, por meio da
Resolução 203/16 do Tribunal Pleno,29 parece possível sugerir de antemão, a partir da
exposição de motivos e dos “considerandos” apresentados no texto que a acompanha,
que o TST, preocupado com os impactos do novo Código de Processo Civil (Lei no
13105/2015) ao Processo do Trabalho, buscou, dentro do que foi possível, chegar a
um consenso para indicar a aplicação integral, aplicação em parte ou inaplicação de
dispositivos e institutos do NCPC. O propósito principal foi promover a segurança
jurídica aos jurisdicionados e aos órgãos da Justiça do Trabalho, evitando-se futuras
declarações de nulidades que certamente causariam tumulto processual e retardariam
o desfecho do processo, em franco prejuízo à economia processual e à celeridade.
O sétimo “considerando” da IN 39/2016 deixa clara essa intenção: “considerando a
exigência de transmitir segurança jurídica aos jurisdicionados e aos órgãos da Justiça
trabalho, bem assim mesmo o escopo de prevenir nulidades processuais em detrimento
da desejável celeridade”.

A meu ver, a iniciativa é louvável, pois, por óbvio, diante de novo marco processual
regulatório instaura-se natural ambiente de incertezas, dúvidas e inseguranças,
não apenas advindas dos magistrados, mas também em detrimento a todos que se
relacionam com o sistema jurisdicional, tais como, servidores, advogados, membros da
Defensoria Pública e do Ministério Público, partes, peritos etc.

Se é verdade que a decisão do TST em favor de uma instrução normativa sobre o NCPC
é elogiável, importante reconhecer que as indicações aprovadas pelo TST não são
exaustivas, tampouco imodificáveis.

Na verdade, trata-se de documento feito por Comissão de Ministros, que embora muito
bem capacitada e respaldada pelo Pleno do TST (já que o texto foi submetido à votação),
se empenhou em realizar trabalho de interpretação - de cima para baixo - em momento
em que os institutos e inovações do NCPC ainda não foram assimilados e amadurecidos,
inclusive jurisprudencialmente, pelas instâncias inferiores. Há, portanto, especialmente
em razão da precocidade do trabalho realizado, possibilidades de adaptações, mudanças

29 Há questionamento na ADI 5516 quanto à constitucionalidade da IN 39/2016 pela Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho – ANAMATRA - ao argumento de que o Tribunal Superior do Trabalho usurpou competência da União
para legislar sobre processo do trabalho (CF, art. 22, I), violando as garantias constitucionais da reserva legal (art. 5o, II) e da
independência funcional da magistratura (art. 95). A ideia é que se reconheça que o texto não tenha caráter normativo ou seja
vinculante, mas meramente orientador.

22
Parte Geral │ UNIDADE I

e superações futuras. Embora inegável a autoridade da IN 39, como instrumento que


oferece uma primeira luz à aplicação do NCPC ao processo do trabalho, não se parece ─
até por não ser norma em sentido estrito e por falecer ao TST legitimidade legiferante
(CF, art. 22, I) ─ que deva ser aceito como texto vinculativo, mas, ao revés, meramente
instrutivo e orientativo. Uma outra observação é que a ausência de tratamento sobre
determinado dispositivo não significa necessariamente a rejeição de sua aplicabilidade
pelo TST. Por óbvio, o resultado da IN 39 é fruto daquilo que foi possível se chegar
a consenso. Além disso, pelo universo vastíssimo de dispositivos do NCPC, é viável
imaginar que não foi possível discutir sobre todos os temas, institutos e inovações,
ficando muitos deles preteridos para uma outra rodada ou possivelmente para análise
objetiva em cada processo.

Dito isso, sugere-se o recebimento da instrução normativa da seguinte forma: (I) não
é um texto vinculativo, exaustivo ou imodificável30, mas, sem sombra de dúvidas, com
significativa autoridade e que certamente servirá de guia inicial para muitos operadores
jurídicos, já que exprime uma primeira sinalização do TST sobre a aplicabilidade
ou inaplicabilidade de dispositivos do novo CPC, adaptando procedimentos às
particularidades do processo do trabalho; (II) é um texto claramente inspirado na
necessidade de transmissão de segurança jurídica e prevenção de nulidades, sendo
alicerçado pela aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC nas hipóteses omissivas à
luz do necessário teste de compatibilidade entre regra processual ordinária importada
e os princípios, regras e particularidades do processo do trabalho, conforme pode se
depreender dos artigos 769 e 889 da CLT c/c artigo 1046, §2o, do NCPC

Autonomia do Direito Processual do Trabalho


A incompletude do Direito Processual do Trabalho e a constante necessidade de extrair
do processo comum regras e princípios para preenchimento das lacunas do ordenamento
jurídico (CLT, arts. 769 e 889; e CPC/2015, art. 15) faz surgir questionamentos quando
à sua autonomia. O Direito Processual do Trabalho é um ramo jurídico autônomo do
Direito Processual Comum?

Há visível divergência entre os processualistas brasileiros que se filiam basicamente a


duas teorias: monista e dualista.

30 Não é vinculativo, pois falece ao TST capacidade legiferante (CF; art. 22, I); não é exaustivo, pois não trata de todos os
dispositivos do NCPC, devendo o silêncio da IN 39 ser compreendido como ou falta de consenso ou, o que é mais provável, falta
de análise do dispositivo pela Comissão em razão do grande universo de disposições do NCPC e do pouco tempo que tiveram
para a análise; não é imodificável, pois, por mais capacitados que são a Comissão e o Pleno, não houve tempo o suficiente
para amadurecer e assimilar todos os dipositivos, sendo certo que muitos deles não foram submetidos à prova nas instâncias
inferiores. Apenas a título de exemplo, o texto já possui algumas incoerências, como por exemplo, o artigo 4o, §2o, do NCPC que
diz que não é surpresa decisão sobre questões processuais e o artigo 10 que diz que se aplica o artigo 932, parágrafo único, do
NCPC.

23
UNIDADE I │ Parte Geral

A teoria monista sustenta que o Direito Processual é um só, não se capilarizando em


outros ramos jurídicos. O Direito Processual do Trabalho não seria regido por leis
próprias ou estruturado de modo específico, sendo tão somente uma extensão do direito
processual comum.

Já para os defensores da teoria dualista, a despeito da aplicação supletiva e subsidiária


do processo civil ao processo do trabalho nas hipóteses permitidas em lei (CLT, arts.
769 e 889; e CPC/2015, art. 15), o Direito Processual do Trabalho, por ser instrumento
de concretização do Direito do Trabalho, estruturado a partir de premissa diversa do
Direito Civil (desigualdade X igualdade entre as partes) também possui princípios,
regras e institutos próprios condutores à uma autonomia em relação ao Processo Civil.

Nessa linha, Sergio Pinto Martins defende a autonomia do Direito Processual do


Trabalho, sob a perspectiva do desenvolvimento legal, doutrinário, didático e sob o
aspecto jurisdicional e científico31.

O Direito Processual do Trabalho alcançou considerável desenvolvimento legal, pois


possui princípios e regras próprios que não se aplicam ao Processo Civil. A aplicação
supletiva e subsidiária do processo civil, autorizada pelos artigos 15 do CPC/2015 e
769 da CLT, não lhe retira a autonomia, pois as normas processuais comuns ao serem
introduzidas ao Processo do Trabalho recebem roupagem nova, em consonância
às características específicas deste ramo especializado. Ademais, em que pese vozes
em sentido contrário, que entendem por autonomia legal relativa do Processo do
Trabalho a simples inexistência de um Código de Processo Laboral, não descaracteriza
a autonomia ora defendida, a exemplo do que ocorre com o próprio Direito do Trabalho
que também não dispõe de código específico. Até porque, a própria Consolidação das
Leis do Trabalho, na prática, funciona como um código, não havendo na interpretação
e aplicação das normas trabalhistas aos casos concretos qualquer diferença.

Notável ainda o desenvolvimento doutrinário, estando os brasileiros dentre aqueles


que mais publicam estudos sobre Direito Processual do Trabalho. A autonomia também
se verifica ao se constatar que, na maioria dos casos, os doutrinadores são especializados
em processo do trabalho, podendo ser relacionados a título de exemplificação Carlos
Henrique Bezerra Leite, Mauro Schiavi, Luciano Athayde Chaves, Manoel Antônio
Teixeira Filho, Cleber Lúcio de Almeida, Sergio Pinto Martins, entre outros.

31 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

24
Parte Geral │ UNIDADE I

Inegável o desenvolvimento didático, estando a disciplina Direito Processual do


Trabalho nos cursos de bacharelado no país.

Não há como se desprezar ainda o desenvolvimento jurisdicional, propiciado por


uma Justiça do Trabalho Especializada que favorece a construção de jurisprudência
específica ao mundo do trabalho.

Finalmente, reconhece-se um desenvolvimento científico, visto que, considerando


as características do direito material tutelado que ele instrumentaliza, o Processo do
Trabalho possui método próprio e uma forma de se estruturar diferente daquela vista
no processo civil.

A bem da verdade, as discussões alusivas à autonomia do processo do trabalho são


influenciadas por certo grau de idealismo e também pela noção de independência de
cada um. Não são debates inocentes, pois, a depender da posição adotado, a ausência
do reconhecimento de autonomia pode justificar uma aplicação subsidiária e supletiva
mais intensa do Direito Processual Comum.

Posição Enciclopédica do Direito Processual do


Trabalho

A importância de se determinar a posição enciclopédica do Direito Processual do


Trabalho é de se definir se as normas são de natureza cogente e dispositiva. Afinal,
tratando-se de ramo do direito privado, em que prevalecente o interesse disponível
privado, há maior flexibilidade para ajustes estabelecidos pelos próprios interessados.
De outro lado, sendo de Direito Público, as normas são obrigatórias, indisponíveis, com
pouco espaço para negociações tendentes a modificá-las, flexibilizá-las ou afastá-las.

O processo regula a atuação entre Estado e seus súditos na solução de conflitos de


interesses intersubjetivos. Nesse papel, o Estado se encontra invariavelmente no
exercício de seu poder de império. Conforme bem lembrado, por Cléber Lúcio de
Almeida,32 “o Direito Processual do Trabalho organiza e disciplina o exercício de uma
atividade estatal (a jurisdição), sendo, por tal razão, um direito público”.

Como pertence ao ramo da família do Direito Público, o Processo do Trabalho possui,


via de regra, normas de natureza cogente, portanto, obrigatórias e indisponíveis.

É verdade que os obstáculos à negociação processual foram bastante reduzidos a partir


da vigência do artigo 190 do CPC/2015.

32 ALMEIDA, Cléber Lúcio de. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 20.

25
UNIDADE I │ Parte Geral

Oportuno assinalar que o negócio jurídico processual, previsto no artigo 190 do


CPC/2015, que autoriza “as partes plenamente capazes de estipularem mudanças no
procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa”, tudo mediante o controle,
de ofício ou a requerimento, do juiz que controlará a validade das convenções
firmadas. Entretanto, a expectativa, lançada pelo artigo 2o da IN 39/2016 do TST, é
que tal dispositivo não se aplique ao processo do trabalho. De fato, a negociação
processual, prevista no artigo 190 do CPC/2015, pode interferir na própria autonomia
e independência do julgador, já que direta ou indiretamente afeta a relação entre o
Estado-juiz e as partes. Ora, muito da preservação da autonomia do Judiciário e da
segurança jurídica de suas decisões depende da observância do devido processo legal,
cuja arquitetura se encontra prevista nas normas processuais estabelecidas pelo Estado
que garantem a toda e qualquer pessoa a observância dos mesmos procedimentos
processuais.

Princípios

Conceito e funções

Em sua acepção ampla, princípio significa o início, a origem, o começo de algo.


Embora essa noção tenha importância no mundo jurídico para refletir a ideia de
que os princípios constituem a base do ordenamento jurídico, faz-se necessário
compreendê-los em acepção mais técnica.

Para Manoel Antônio Teixeira Filho, os princípios “são formulações genéricas, de


caráter normativo, destinados não apenas a tornar logicamente compreensível a
ordem jurídica e a justificar ideologicamente essa mesma ordem, como também a
servir de fundamento para a interpretação ou para a própria criação de normas
legais próprias”33.

Os princípios cumprem uma tríplice função: informadora, normativa e interpretativa.


Informadora, pois os princípios inspiram o legislador na criação de novas normas.
Afinal, se os princípios são os alicerces do ordenamento jurídico, é natural que seus
conteúdos de natureza mais genérica e abstrata serviam de substrato (matéria-prima)
na atividade criativa de elaboração de novas leis. Interpretativa, porquanto os
princípios atuam como critério orientador (bússola e farol) do intérprete na aplicação
de determinada regra ao caso concreto (subsunção). Mais uma vez, se os princípios
constituem a base do ordenamento jurídico que condicionam as estruturações jurídicas
subsequentes e se é verdade que muitas regras derivam da mesma “matéria-prima”
dos princípios, é compreensível que o intérprete, ao interpretar determinada norma,
33 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 32

26
Parte Geral │ UNIDADE I

busque extrair o sentido e o alcance do correspondente conteúdo da referida regra de


forma harmônica às proposições básicas (princípios) que lhe sustentam (interpretação
sistemática). Finalmente, normativa, pois, a exemplo das regras, os princípios são
normas, de observância obrigatória, apenas possuindo caráter mais genérico e abstrato.

Dependendo do critério metodológico que venha a se perfilhar, pode se classificar os


princípios em diversas formas.

Espécies de princípios aplicáveis ao processo do


trabalho

A depender da metodologia, os princípios podem ser classificados de diversas formas:


quanto à positivação (não positivados e positivados); quanto à origem normativa
(constitucionais e infraconstitucionais); quanto à especificidade (gerais e específicos),
entre outros.

Embora as classificações sejam importantes para o agrupamento de espécies à luz de


características comuns, é conveniente advertir, desde o início, que para o Processo do
Trabalho existirão princípios consagrados expressamente no ordenamento jurídico
(positivados), outros não (não positivados); previstos na Constituição Federal; outros no
ordenamento infraconstitucional; e próprios exclusivamente ao Processo do Trabalho
(específicos); outros, aplicáveis a outros ramos do processo (gerais).

Há, como bem lembrado por Sergio Pinto Martins,34 uma variação significativa de
diferentes modelos de princípios do Processo do Trabalho oferecidos pela doutrina,
muito provavelmente causada pela tentativa de se buscar a já mencionada autonomia
processual em relação ao Processo Civil. Na busca desta autonomia, muitos autores
“criam” princípios próprios ao Processo do Trabalho que ainda não se consolidaram
ao ponto de serem considerados proposições básicas estruturantes. Basta conferir os
diversos manuais de Processo do Trabalho para perceber que não existe harmonia
terminológica entre os doutrinadores, tampouco consenso entre quais são os princípios
do Processo do Trabalho, gerando dificuldades de assimilação e consolidação dos
próprios conteúdos normativos.

Para não se correr o mesmo risco, não será proposta nova classificação, sendo, ao revés e
sem qualquer intenção de esgotamento do tema, indicados alguns princípios aplicáveis
ao Processo do Trabalho, normalmente admitidos na doutrina, independentemente de
sua origem normativa.

34 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 40.

27
UNIDADE I │ Parte Geral

Princípio da Proteção

Pelo princípio da proteção, aplicável ao processo do trabalho, há uma teia de princípios,


regras e institutos destinados a corrigir as desigualdades na capacidade de litigação,
reequilibrando as forças entre as partes para permitir iguais condições jurídicas de
acesso à ordem jurídica justa, de manutenção na litigação e de produção de provas.

Via de regra, existe uma diferença social e/ou econômica entre trabalhadores e
tomadores de serviços que pode impactar a capacidade de litigação das partes.

Mauro Schiavi afirma:35

Não se trata do mesmo princípio da proteção do Direito Material do


Trabalho, e sim uma intensidade protetiva ao trabalhador a fim de lhe
assegurar algumas prerrogativas processuais para compensar eventuais
entraves que enfrenta ao procurar a Justiça do Trabalho, devido à sua
hipossuficiência econômica e, muitas vezes, da dificuldade em provar
suas alegações, pois, via de regra, os documentos da relação de emprego
ficam na pose do empregador.

Como bem lembrado por Manoel Antônio Teixeira Filho:36

Tal e qual se dá no plano do direito material, a lei deve subministrar


ao trabalhador, quando em juízo, meios técnicos que lhe permitam
demandar em igualdade de condições com o adversário. Dessa maneira,
também no campo processual é indispensável a intervenção do Estado,
a fim de propiciar ao trabalhador meios de promover a efetiva defesa
dos seus direitos e interesses manifestados em causa”.

Não basta, portanto, que a ação constitua, entre nós, um direito público
subjetivo assegurado constitucionalmente (CF, art. 5o, XXXV), de nada
adiantaria ao trabalhador invocar a prestação da tutela jurisdicional se
não possuísse um mínimo de condições indispensáveis para contender,
em situação de igualdade técnica, com o empregador. Temos, por isso,
advertido que o simples facilita mento do acesso à justiça (como dever
estatal) embora tenha o mérito de ensejar aos indivíduos em geral e ao
trabalhador em particular a oportunidade de ingressar em juízo, não
assegura a este, em especial, as necessárias condições para superar a
sua desigualdade econômica, e, por esse modo, alcançar a igualdade
processual com o réu.

35 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: Ltr, 2016. p. 82
36 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 94.

28
Parte Geral │ UNIDADE I

Sem essa proteção estatal, destinada a corrigir a inferioridade ontológica


do trabalhador, este seria presa fácil para o adversário que teria, no
processo, um conveniente aparato legal à sua disposição para conseguir
eximir-se da obrigação de reparar as lesões cometidas nos direitos
daquele.

Este mesmo autor sublinha que a inferioridade processual do empregado decorre de


dois fatores: um de natureza econômica e outro de natureza técnica.

O de natureza econômica se baseia na percepção de que qualquer pretensão tem um custo


econômico às partes, circunstância que pode dificultar o acesso à jurisdição. Ademais,
se não houvesse mecanismos instituídos para atenuar os custos processuais, a duração
do processo poderia conspirar contra os interesses daquele que se encontra em situação
financeira desfavorável, pois, além de pressioná-lo a buscar soluções alternativas mais
rápidas, inclusive, por meio de acordo em condições desvantajosas, poderia servir de
empecilho para continuidade de sua condição de litigante ante a impossibilidade de
arcar com os custos da demanda. Não por outro motivo que o legislador se preocupou
em deferir prerrogativas que buscassem neutralizar o custo processual, tais como:
concessão de benefícios da Justiça gratuita em procedimento probatório sumário; jus
postulandi, assistência judiciária pelo sindicato, inclusive em relação a empregado não
filiado; ajuizamento de ações no local da prestação de serviços (e não no domicílio do
empregador); atuação ex officio na fase executiva e quando a parte estiver no exercício
do jus postulandi (Lei no 5.584/1970) entre outros.

O segundo fator tem natureza técnica e se refere à produção de provas. As dificuldades


em produzir provas são maiores aos empregados, visto que são os empregadores, que,
em regra, possuem os documentos que formalizam as condições de trabalho (recibos,
atestados, controles de frequência, fichas de registros diversos). Ademais, há uma
facilidade prática maior de arrolarem testemunhas, pois, em sua grande maioria, ainda
continuam submetidas ao poder diretivo dos empregados, com pouca capacidade de
resistência ao pedido patronal de se depor em juízo. De acordo com MATF, “a fórmula
pela qual o legislador deve anular essa inferioridade do trabalhador será deslocando,
cada vez mais, o ônus da prova para o empregador, pelas razões já exaradas, ao
mesmo tempo em que deve semear considerável quantidade de presunções em benefício
daquele”.37 A jurisprudência tem revelado que, de fato, há grande sensibilidade para se
inverter o ônus da prova em hipóteses em que o empregador tem maior capacidade
probatória. Exemplo claro é o da Súmula 338, I, do TST, em que há presunção de
veracidade da jornada indicada na exordial quando o empregador não junta as folhas
de ponto aos autos na hipótese de possuir mais de 10 empregados no estabelecimento
ou quando as apresenta com registros de horários invariáveis.
37 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. pp. 96/97.

29
UNIDADE I │ Parte Geral

Oportuno advertir que o princípio da proteção, quando aplicado ao Processo do


Trabalho, não autoriza o juiz a agir de forma parcial,38 já que o tratamento processual
isonômico é garantia assegurada a qualquer cidadão para uma solução jurisdicional
justa (CF, art. 5o, caput e LIV e CPC/2015, art. 139, I). Na verdade, o princípio da
proteção tem um papel mais significativo na inspiração ao legislador para criação de
normas que possam assegurar igualdade jurídica às partes que, em um plano fático,
encontram-se em situações distintas.

Princípio da simplificação das formas e procedimentos

Sob o enfoque de sua função social, o processo atinge sua finalidade na medida em que
seja capaz de servir concreta e eficazmente ao direito material tutelado.

Considerando as necessidades de o Processo do Trabalho permitir amplo acesso à


jurisdição e suas particularidades, que determinam solução jurisdicional célere dada
natureza alimentar das parcelas postuladas em juízo, infere-se uma predominância de
formas e procedimentos simplificados no Processo do Trabalho.

A almejada simplificação é medida de coerência, pois para ter amplo acesso à jurisdição
permitiu-se o exercício do jus postulandi das partes, necessário para que se autorizem
atos processuais simplificados, sem solenidades e formalidades desnecessárias, aptos
a serem realizados por quem não tem conhecimento ou formação jurídica. Da mesma
maneira, busca-se uma solução jurisdicional rápida em razão da natureza alimentar
das parcelas normalmente discutidas em juízo, parece lógico talhar um rito processual
simplificado, sem muitas armadilhas, bifurcações e caminhos que possam atrasar
a entrega da prestação jurisdicional. A lógica, aqui defendida, é um pouco diversa
daquela que inspira o processo penal. Enquanto o processo do trabalho é marcado pela
simplificação das formas para se buscar um resultado rápido e adequado; o processo do
trabalho, em razão de envolver controvérsias que repercutem na liberdade das pessoas,
deve ser marcado por uma maior segurança jurídica que impõe cautela mais intensa e
maior possibilidade de dilação probatória e rediscussão das decisões já tomadas por
meio de recursos.

São por esses motivos que se verificam intensas oralidade e concentração processuais, as
quais conduzem a um dinamismo maior na realização dos atos processuais. A outorga de
jus postulandi às partes, a comunicação postal dos atos processuais sem necessidade de
notificação pessoal, a preferência legal a audiências unas, a possibilidade de realização
oral da petição inicial e das modalidades de defesa, a irrecorribilidade imediata das
decisões interlocutórias e a simplificação do sistema recursal são alguns, dos vários
exemplos, de simplificação processual.
38 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016.

30
Parte Geral │ UNIDADE I

Não é que não existam formalidades no Processo do Trabalho, mas há uma preocupação
em se buscar simplicidade e ultrapassar amarras burocráticas que podem conduzir ao
nefasto encravamento do funcionamento do processo39.

O princípio da instrumentalidade das formas, positivado no artigo 276 do CPC/2015,


ganha grande importância no Processo do Trabalho, pois, diante da simplicidade dos
procedimentos, constrói-se cultura processual de aproveitamento dos atos praticados
sem observância da forma prescrita em lei quando alcançada a finalidade processual
correspondente. Aliás, quando não causado qualquer prejuízo processual por ato
praticado em desconformidade com a forma, não há nulidade a ser reconhecida à luz
ao artigo 794 da CLT.

Princípio da Conciliação

O princípio da conciliação consiste em uma série de regras destinadas a prestigiar


a solução compositiva na controvérsia. Seu fundamento é encontrado no próprio
texto celetista que estabelece o dever de todo juiz trabalhista enveredar os esforços
necessários à solução conciliatória (CLT, arts. 764 e 831), existindo nas audiências,
tanto no procedimento sumaríssimo como no ordinário, a obrigação para se tentar a
composição (CLT, art. 846, 850 e 852-E).

Embora o princípio da conciliação não seja exclusivo do Processo do Trabalho, sendo


também prestigiado no Processo Civil (CPC/2015, art. 3o, §§2o e 3o), é certo que aqui
ele se mostra mais visível e evidente em razão da realidade econômica das partes e a
necessidade de uma solução mais célere40.

A conciliação que não foi imposta, mas alcançada pela convicção de seus benefícios,
resulta em uma série de vantagens para o Estado e para as partes.

Em relação às partes, a conciliação, por ser pautada em concessões recíprocas, minimiza


os riscos de perda recíprocos, além de importar em procedimento mais célere e com
maior garantia de cumprimento ante o compromisso estabelecido e a possibilidade
de imposição de multas por inadimplência. Além disso, quando fruto da vontade
livre e espontânea das partes, tende a ter uma maior capacidade de pacificação social,
resolvendo de forma definitiva (ou quase definitiva) a controvérsia que deu causa ao
ajuizamento da ação. Por outro lado, a sentença, compreendida como o ato pelo qual
o juiz decide o conflito, substituindo a vontade das partes – pode desagradar uma das
partes, as duas e, não raro, o próprio juiz que decidiu não a partir do alcance da verdade
real, mas à luz de técnicas processuais (ônus probatório ou revelia, por exemplo).

39 BEBBER, Júlio César. Princípios do processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1997. p. 132.
40 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016

31
UNIDADE I │ Parte Geral

Para o Estado, a conciliação também é vantajosa, pois, além de permitir pacificação


social mais eficiente, revela-se, via de regra, uma solução mais rápida e simples e menos
onerosa, permitindo uma melhor distribuição de recursos humanos e financeiros em
favor daquelas controvérsias que inconciliáveis.

É bem verdade que, infelizmente, muitos empregadores se utilizam da possibilidade


de conciliação judicial futura para frustrar intencionalmente direitos trabalhistas
durante a vigência do vínculo empregatício, pois alcançam vantagem econômica
com o desrespeito da legislação trabalhista em troca da expectativa de o empregado
não ajuizar ação trabalhista na busca de seus direitos ou realizar acordo por fração
insignificante daquilo que tinha direito. Daí, a importância de o juiz trabalhista, no
momento de dirigir as tratativas compositivas, não pressionar quaisquer das partes à
efetivação da conciliação.

Princípio da Supletividade e Subsidiariedade

Pelo princípio da supletividade e subsidiariedade, o Direito Processual Comum será


aplicado subsidiária e supletivamente ao Processo do Trabalho em caso de omissão e
desde que seja compatível com os princípios e regras deste último.

Princípio da Jurisdição Normativa

O princípio da jurisdição normativa consiste na delegação de poderes à Justiça do


Trabalho para, quando provocada por meio de dissídio coletivo, criar normas e
condições gerais e abstratas de trabalho, com eficácia ultra partes, que repercutam nos
contratos individuais de trabalho dos integrantes das categorias representadas pelos
sujeitos coletivos que litigam.

A sentença normativa, resultado do exercício do poder normativo da Justiça do Trabalho,


tem natureza híbrida, pois possui corpo de decisão judicial (tecnicamente, acórdão),
mas alma de lei, já que, a exemplo dos atos normativos, é aplicável, de maneira geral e
abstrata, ao universo das categorias litigantes41.

O artigo 114, §2o, da Constituição Federal positiva o poder normativo da Justiça do


Trabalho que, como bem lembrado por Bezerra Leite, não é absoluto, já que encontra
seus limites na própria Constituição, nos direitos indisponíveis dos trabalhadores e nas
cláusulas coletivas anteriores42.
41 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009.
42 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 111

32
Parte Geral │ UNIDADE I

Outros princípios aplicáveis


Sem desconsiderar a indicação de outros específicos do Processo do Trabalho pelos
autores, existem importantes princípios do processo comum que também se aplicam
ao Processo do Trabalho.

Com natureza constitucional, destacam-se os princípios devido processo legal


(CF, art. 5o, LIV); inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5o, XXXV); igualdade de
tratamento (CF, art. 5o, caput); Juiz Natural (CF, art. 5o, XXXVII); contraditório
(CF, art. 5o, LV); ampla defesa (CF, art. 5o, LV); publicidade (CF, arts. 5o); liceidade
dos meios de prova (CF, arts. 5o, LVI); fundamentação das decisões (CF, art. 93,
IX); e duração razoável do processo.

Há ainda os de origem infraconstitucional: demanda ou do dispositivo (CLT,


art. 878 e CLT, art. 876); impulso oficial (CPC/2015, art. 2o e CPC/2015, art. 2o);
estabilidade da lide (CPC/2015, arts. 329 e 342); impugnação específica
(CPC/2015, art. 341); eventualidade (CPC/2015, art. 336); preclusão (CPC/2015,
art. 278); economia processual (CPC/2015, art. 515, §4o); instrumentalidade
(CPC/2015, arts. 180 e 277); concentração (CLT, arts. 843 a 852 e CPC/2015,
arts. 334, 357 e 358); imediatidade ou da imediação (CPC, arts. 139, VIII e
481); livre investigação das provas (CPC/2015, art. 370 e CLT, art. 765); livre
convencimento motivado (CPC/2015, art. 371 e CLT, art. 765); vedação da
decisão surpresa (CPC/2015, art. 10); princípio da cooperação e colaboração
(CPC/2015, art. 6o); lealdade processual (CPC/2015, arts. 5o e 77)43.

Hermenêutica
A origem do termo hermenêutica é atribuída ao deus grego Hermes, o qual realizava
a função de mensageiro dos deuses, atribuição que demandava explicar as mensagens
enviadas aos mortais44.

A hermenêutica jurídica objetiva o estudo e sistematização dos processos aplicáveis


ao alcance dos sentidos das normas (interpretação), preenchimento das lacunas do
ordenamento jurídico (integração) e à eficácia da normal processual no tempo e espaço.

43 Para aprofundamento dos estudos relacionados a Princípios do Processo do Trabalho recomenda-se a leitura das seguintes
obras: NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo na constituição. 10. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010;
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016; CHAVES, Luciano Athayde
organizador. Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2012; TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito
processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009; SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São
Paulo: LTr, 2016.
44 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 117

33
UNIDADE I │ Parte Geral

Interpretação

Etimologicamente, interpretar provém da palavra latina interpres, que designa o


adivinho que descobria o futuro por meio da análise das entranhas das vítimas.

Transportando tal ideia, interpretar pressupõe o processo de tradução do verdadeiro


sentido da lei, por meio da investigação, não apenas do significado do conteúdo
normativo mas também do contexto, causas e finalidades de sua elaboração.

Várias são as formas de interpretação. Sem o propósito de esgotar o conteúdo do tema


estudado, são propostos alguns planos metodológicos.

Em relação à origem, têm-se as interpretações: a) doutrinária: conferida por quem


detém autoridade acadêmica; b) legislativa (ou autêntica): realizada pelo próprio
órgão que editou a norma, que irá declarar seu sentido, alcance e conteúdo, por meio de
outra norma jurídica; e c) jurisdicional: é a interpretação conferida pelos tribunais
e exteriorizada por meio das decisões ou atos instrutivos de natureza normativa, como
por exemplo, as Instruções Normativas do Tribunal Superior do Trabalho.

Quanto aos meios, são reconhecidas as interpretações a) gramatical, ponto de


partida do intérprete, que parte da literalidade do texto normativo; b) teleológica, em
que se busca o fim colimado pelo legislador; c) sistemática, em que a interpretação
é alcançada a partir da coerência e harmonia da norma com os demais dispositivos
existentes no ordenamento jurídico, em especial a Constituição da República
(interpretação conforme); d) sistêmica, a partir da localização do dispositivo no
instrumental legal que a introduziu no ordenamento jurídico; e) histórica, a partir
da compreensão do contexto social, político, econômico e cultural da época em que a
norma foi elaborada, através da análise da exposição de motivos, mensagens, emendas,
discussões parlamentares; e f) sociológica, condutora obre os fins sociais que
determinaram a elaboração e aplicação da lei (LICC, art. 5).

Quantos aos fins, normalmente se admitem as interpretações a) extensiva (ou


ampliativa) em que se confere um sentido mais amplo à norma do que aquele que
advém de sua literalidade e b) restritiva (ou limitativa), em que, ao revés, chega-se a
um sentido mais restrito àquele sugerido pela literalidade da norma.

A adoção de um método não exclui a de outro, de modo que, em determinado caso


concreto, será possível se combinar mais de um modelo interpretativo para se chegar
ao sentido da norma pretendida dentro de uma ordem jurídica justa.
34
Parte Geral │ UNIDADE I

Integração

Por mais criativo que seja o legislador, não é possível (tampouco desejável) elaborar
leis sobre todos os fatos que ocorrem no contexto das relações sociais. Não bastasse
a velocidade das transformações sociais dos últimos anos, é impossível prever com
antecedência todas as ações humanas para, a partir daí, conceber normas destinadas a
regulá-las.

O ordenamento jurídico, portanto, é caracterizado por uma série de lacunas e poros


que correspondem a verdadeiros vazios normativos. Sucede que a jurisdição não se
constitui apenas em um poder do Estado, mas senão genuíno dever que lhe impõe a
resolução dos conflitos intersubjetivos que lhe são submetidos. Nesse contexto, não é
permitido ao juiz se recusar a entregar a prestação jurisdicional sob o argumento de que
inexiste lei específica para o caso concreto (CPC/2015, art. 140).

Ciente de tal obrigação, o legislador previu métodos integrativos, destinados a completar


e preencher os eventuais vazios normativos.

A artigo 4o da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei no


4.657/1942) estabelece que o juiz deve julgar de acordo com a analogia, costumes,
princípios gerais de direito quando a lei for omissa.

No contexto laboral, inclusive processual, o intérprete também está autorizado a suprir


a carência normativa por meio das técnicas jurídicas consagradas no artigo 8o da CLT:

»» jurisprudência: resultado uniformizado da interpretação e aplicação


das leis pelos Tribunais em um determinado sentido. A rigor, não é
considerada técnica de integração, pois fruto da interpretação de normas
pré-existentes no ordenamento jurídico;

»» analogia: operação lógica pela qual se aplica norma jurídica semelhante;


equidade: visa à prestação jurisdicional mais razoável, benigna, igual e
equilibrada, suprindo imperfeição da lei ou tornando-a mais branda de
modo a moldá-la à realidade. No processo civil, a equidade somente pode
ser aplicada nas hipóteses autorizadas em lei (CPC/2015, art. 140). No
processo do trabalho, na lacuna da lei (CLT, art. 8). No rito sumaríssimo,
há controvérsia, entendendo alguns que a equidade norteará o julgador
em qualquer hipótese, podendo, inclusive, haver julgamento contra leem.

»» princípios e normas gerais de direito: princípios e normas aceitos e


adotados universalmente. A rigor, não devem ser aplicados apenas como
mecanismos integrativos, pois já dotados de força normativa.

35
UNIDADE I │ Parte Geral

»» usos e costumes: atos e práticas repetidos habitualmente por


determinado espaço de tempo e com aceitação social a ponto de adquirem
força de lei, desde que não contrários às normas positivas.

»» direito comparado: fonte normativa de outro país.

Como visto, o meio mais comum de integração do ordenamento processual trabalhista


é por meio da aplicação supletiva e subsidiária das normas de processo comum, desde
que satisfeitos os pressupostos da lacuna normativa e da compatibilidade (CPC/2015,
art. 15; CLT, arts. 769 e 889).

Eficácia

Eficácia da norma processual no tempo

Salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar em todo país 45 dias depois de
oficialmente aplicada (LINDB, art. 1o, §1o). Entretanto, no caso das leis processuais, é
costume se identificar, na própria lei, a data de sua vigência, normalmente coincidente
com sua publicação.

A lei processual nova não atinge atos processuais já praticados. Na verdade, os atos
praticados são válidos (ato jurídico perfeito – CF, art. 5o, XXXVI), produzindo de forma
inquestionável os efeitos jurídicos objetivados pela norma processual anterior. Em
nosso modelo processual, conforme se percebe nos artigos 14 e 1046, §2o do CPC/2015
e 912 da CLT, foi adotada a teoria do isolamento dos atos processuais, segundo a qual
a lei nova se aplica imediatamente aos atos processuais a praticar, sem limitações
relativas às chamadas fases processuais (tempus regit actum).

Eficácia da norma processual no espaço

Tratando-se a jurisdição de ato estatal que regula a atuação dos órgãos jurisdicionais, a lei
processual se aplica em todo território brasileiro, independentemente da nacionalidade
dos litigantes (CPC/2015, art. 16).

Não seria concebível lei processual estrangeira regular a atuação de órgãos estatais
brasileiros.

Procedimentos do Processo do Trabalho


O Processo do Trabalho é constituído por diferentes tipos de procedimentos.

36
Parte Geral │ UNIDADE I

Para fins didáticos, os procedimentos serão divididos em comum e especiais.

O procedimento comum pode ser ordinário (CLT, arts. 837 a 852) para causas
acima de 40 salários mínimos; sumaríssimo (CLT, arts. 852-A a 852-I) para causas
até 40 salários mínimos; e sumário (Lei no 5.584/1970) para causas até 2 salários
mínimos.

Já os procedimentos especiais são aqueles que possuem algumas particularidades


adicionais ou diferentes em relação ao procedimento comum, podem ser específicos
do processo do trabalho [Inquérito Judicial para Apuração de Falta Grave (CLT, art.
853 e seguintes), Dissídio Coletivo (CLT, art. 856 e seguintes) e Ação de Cumprimento
(CLT, art. 872)] ou comuns a outros ramos processuais (Mandado de Segurança,
Habeas Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação
em Pagamento).

37
Capítulo 2
Organização da Justiça do Trabalho e
Ministério Público do Trabalho

Embora o poder estatal seja uno e indivisível, ganhou importância nos estados
modernos a teoria da tripartição de poderes em que as funções legislativas, executivas
e judiciárias do Estado são exercidas por órgãos independentes e harmônicos entre si,
em relação de equilíbrio, alcançado pelo sistema de pesos e contrapesos (“check and
balances”).

Nesse contexto, o poder é implementado por três conjuntos de órgãos distintos,


independentes, mas harmônicos entre si: Poder Legislativo, Executivo e Judiciário.

O Poder Judiciário é formado por órgãos jurisdicionais e auxiliares destinados à solução


de conflitos intersubjetivos apresentados ao Estado, sendo integrado, à luz do artigo 92
da Constituição Federal, pelo Supremo Tribunal Federal, Conselho Nacional de Justiça,
Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os
Tribunais e Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes
Militares, os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e os Territórios.

O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores


têm sede na Capital Federal (CF, art. 92, §1o)

O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo território


nacional.

Organização da Justiça do Trabalho


A criação da Justiça do Trabalho foi lenta e marcada por avanços e retrocessos.

Inicialmente, a natureza dos órgãos destinados a resolver as questões trabalhistas


era administrativa, pois inserida no âmbito do Poder Executivo, mais precisamente
do Ministério do Trabalho, o que bem explica alguns termos até hoje adotados, como
reclamação (ao invés de ação) e arquivamento (ao invés de extinção do processo, sem
resolução de mérito).

A organização da Justiça do Trabalho brasileira sofreu influências do sistema paritário


da Carta del Lavoro, adotada na Itália fascista, que mantinha uma justiça especializada

38
Parte Geral │ UNIDADE I

para as causas trabalhistas, formada por representantes do Estado (juízes togados), da


classe empresarial e da classe trabalhadora (juízes classistas).

Apesar de instituída pela Constituição Federal de 1934, apenas com a Carta Magna de
1946 a Justiça do Trabalho passou a integrar o Poder Judiciário.

Embora a representação classista tenha sido abandonada pela Itália no pós-guerra,


apenas em 1999, com a Emenda Constitucional 24, é que o sistema paritário foi extinto
na Justiça do Trabalho que passou a contar exclusivamente com juízes togados.

Em 2004, por meio da Emenda Constitucional 45, foram criados o Conselho Superior da
Justiça do Trabalho – CSJT (CF, art. 111-A, §2o, II), a Escola Nacional da Magistratura
do Trabalho – ENAMAT (CF, art. 111-A, §2o), além de abolida a regra de um Tribunal
Regional por estado da federação (CF, art. 112) e franqueada a possibilidade de
surgimento da Justiça Itinerante (para favorecer a prestação jurisdicional móvel, fora
das sedes das Varas - CF, art. 115, §1o) e de Turmas Regionais (fora da sede do Tribunal
– CF, art. 115, §2o).

O Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CF, art. 111-A, §2o, II – CJST), com
sede na capital federal (atualmente no prédio do TST), é integrado pelo Presidente,
Vice-Presidente, Corregedor e outros 3 ministros, todos do Tribunal Superior do
Trabalho, além de 5 Presidentes de Tribunais Regionais do Trabalho de cada região
geográfica do Brasil (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste) e tem a função
principal de promover supervisão administrativa, orçamentária e financeira da Justiça
do Trabalho, como órgão central do sistema, por meio de decisões de efeito vinculante
relacionadas à (I) fiscalização e expedição de normas gerais relacionadas aos sistemas de
informática, recursos humanos, planejamento, orçamento e administração financeira,
material e patrimonial dos órgãos de primeiro e segundo graus; (II) apreciação de ofício
ou a requerimento de decisões administrativas dos Tribunais que contrariarem normas
legais ou expedidas pelo Conselho; (III) encaminhamento de propostas de criação
de cargos e órgãos da Justiça do Trabalho; (IV) encaminhamento de propostas de
natureza orçamentária; (V) realização de auditorias nos sistemas contábil, financeiro,
patrimonial, de execução orçamentária, de pessoal e demais sistemas administrativos
dos Órgãos da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus; entre outros.

A Escola Nacional dos Magistrados do Trabalho (CF, art. 111-A, §2o, I - ENAMAT),
também com sede na capital federal (mais especificamente no prédio do TST), tem
como objetivo principal promover a capacitação de formação e aperfeiçoamento dos
magistrados do trabalho por meio dos seguintes cursos, eventos e atividades: (I) cursos
de formação inicial dos juízes do trabalho substitutos recém-empossados; (II) cursos
de formação continuada, presenciais ou a distância, a todos os magistrados trabalhistas

39
UNIDADE I │ Parte Geral

em exercício, de qualquer grau de jurisdição; (III) cursos de formação de magistrados


formadores para a qualificação de instrutores no âmbito regional; (IV) outros eventos
de estudo e pesquisa para o aperfeiçoamento da prestação jurisdicional direto ou por
meio de convênios com outras instituições nacionais ou estrangeiras; (V) coordenação
nacional das atividades de formação promovidas pelas escolas regionais voltadas à
qualificação do magistrado.

Em relação aos órgãos próprios, a Justiça do Trabalho está estruturada em três níveis
de jurisdição: os Juízes do Trabalho, os Tribunais Regionais e Tribunal Superior do
Trabalho (CF, art. 111).

Juízes do Trabalho

Com a extinção da representação classista na Justiça do Trabalho (EC 24/1999), o


órgão de primeiro grau da jurisdição trabalhista que antes era a Junta de Conciliação
e Julgamento (formada por um juiz togado e por dois juízes leigos, representantes
das categorias e denominados classistas) passou a ser a Vara do Trabalho,
competente, por intermédio do juiz singular togado, para processar (conciliar e
julgar) os dissídios individuais e ações de natureza coletiva decorrentes da relação
de trabalho (CF, art. 114).

As Varas do Trabalho são compostas de um Juiz do Trabalho, investido no cargo inicial


de Juiz Substituto (CF, art. 116), mediante concurso público de títulos e provas, com
participação da OAB, em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo,
três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações que serão realizadas
pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho, à ordem de classificação (CF, art. 93,
I e Resolução 75/2009 do CNJ).

Para assegurar sua independência e imparcialidade, o Juiz do Trabalho,


independentemente do nível na carreira (juiz do trabalho substituto, juiz do
trabalho titular, desembargador ou ministro) goza das garantias constitucionais de
inamovibilidade, vitaliciedade, irredutibilidade de vencimentos (CF, art. 95). Pelos
mesmos motivos, também possuem vedações constitucionais: impossibilidade de
cumulação de cargos, salvo uma de magistério, impossibilidade de recebimento de
custas processuais ou de qualquer vantagem decorrente de sua atuação no processo,
e impossibilidade de dedicação a atividades político-partidárias, receber, a qualquer
título, auxílio ou vantagens de pessoas jurídicas ou físicas, exercer a advocacia no
tribunal do qual se afastou por três anos (CF, art. 95).

40
Parte Geral │ UNIDADE I

Em razão das dimensões continentais do Brasil, em muitas localidades não existem


Varas do Trabalho. Nesse caso, os juízos de direito desses locais podem vir a ser
designados para a rede jurisdicional trabalhista no grau inferior, sendo a competência
destes idêntica a das Varas do Trabalho (CLT, art. 669; CF, art. 112 e Súmula 10 do STJ).
Nas localidades em que houver mais de um juiz de direito, a competência é determinada
entre os juízes cíveis, por distribuição ou por divisão judiciária local, na conformidade
da lei de organização local (CLT, art. 669, § 1o).

Como mais uma garantia de acesso ao ordenamento jurídico justo, a Emenda


Constitucional n° 45/04 (CF, art. 115, §1o) previu a possibilidade de Varas do Trabalho
itinerantes, que funcionam como unidades móveis para realização das atividades
jurisdicionais em locais distantes da sede do juízo, por meio da estrutura física estatal
local (escolas públicas, prefeituras etc).

São atribuições privativas do Juiz do Trabalho dirigir as audiências, proferir decisões


nas ações ajuizadas pelas partes, executar as decisões, despachar petições e recursos e
praticar todos os atos inerentes ao exercício de suas funções, inclusive aqueles referentes
à jurisdição voluntária: homologação de pedidos de demissão, de recibos de quitação e
de acordos para rescisão do contrato de trabalhadores estáveis.

São deveres do juiz manter perfeita conduta pública e privada, abster-se de emitir
opinião sobre os feitos que estejam ou possam vir a estar sujeitos à sua apreciação,
despachar dentro dos prazos legais os requerimentos e petições submetidos à sua
decisão e residir dentro dos limites do território sob sua jurisdição, não podendo dele
se ausentar sem licença do presidente do Tribunal Regional.

Tribunais Regionais do Trabalho

Os Tribunais Regionais do Trabalho são os órgãos de segundo grau da Justiça do


Trabalho, possuindo competência derivada (recursal, a partir dos recursos interpostos
em face das decisões do Juiz de Primeiro Grau) e competência originária (ações
ajuizadas diretamente, como, por exemplo, ações rescisórias, mandados de segurança
e dissídios coletivos).

O artigo 112 da Constituição de 1988 previa, em sua redação original, a existência


de pelo menos um Tribunal Regional do Trabalho em cada Estado da Federação e
no Distrito Federal. Essa determinação foi muito questionada sob a perspectiva do
custo econômico, em especial para estados que possuíam reduzido número anual de
movimentação processual: Amapá (8o Região), Roraima (11a Região), Acre (14a. Região)
e Tocantins (10a Região). Nesse contexto, a exigência caiu com a EC no 45/2004.

41
UNIDADE I │ Parte Geral

Em compensação, para não se comprometer o acesso à jurisdição em todas as fases do


processo, garantia constitucional (CF, art. 5o, XXXV), a própria EC 45/2004 previu a
possibilidade de implantação de Câmaras Regionais do Trabalho (CF, art. 115, § 2o),
segundo critérios de conveniência e oportunidade: distância em relação à sede do
tribunal, volume processual, número de habitantes atendidos, entre outros.

Os Tribunais Regionais compõem-se, no mínimo, de sete juízes, recrutados, quando


possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República, dentre
brasileiros com trinta e menos de sessenta e cinco anos (CF, art. 115), sendo:

a. 1/5 dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade


profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de
dez anos de efetivo exercício, observados os requisitos previstos no artigo
94 da Constituição da Republica, de notório saber jurídico e reputação
ilibada; (a OAB e o MPT local indicam lista sêxtupla, o tribunal escolhe
a lista tríplice e encaminha para o Presidente da República que nomeia).

b. 4/5, mediante promoção de juízes do trabalho, por antiguidade e


merecimento, alternadamente (formação de lista tríplice no tribunal,
com escolha e nomeação pelo Presidente da República).

Na escolha da lista tríplice da antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz


mais antigo pelo voto de dois terços de seus membros (CF, art. 93, II), sendo obrigatória
a promoção de juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas na lista de
merecimento (CF, art. 93, II, a). A promoção por merecimento pressupõe dois anos de
exercício devendo o juiz integrar a primeira quinta parte da lista de antiguidade.

A organização, competência dos diversos órgãos integramente e funcionamento interno


do Tribunal serão determinados pelos Regimentos Internos (CF, artigo 96, I, a).

Tribunal Superior do Trabalho

O Tribunal Superior do Trabalho é o órgão de cúpula da Justiça do Trabalho, com


sede na capital federal (CF, art. 92, parágrafo único), tendo a função principal de, em
competência recursal e originária, uniformizar a jurisprudência trabalhista e servir de
mecanismo de correção de ofensas ao ordenamento jurídico (violações à lei).

Atualmente, a composição do TST é de vinte e sete ministros, escolhidos, dentre os


brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos, nomeados pelo presidente da república,
após aprovação por maioria absoluta pelo Senado Federal, sendo que 1/5 de seus

42
Parte Geral │ UNIDADE I

membros são advogados ou oriundos do Ministério Público do Trabalho, de notório


saber jurídico e reputação ilibada, com mais de dez anos de efetivo exercício.

A escolha do ministro da vaga de advogado ou do Ministério Público é feita mediante


a participação da OAB e do MPT, que formam lista sêxtupla, reduzida para uma lista
tríplice pelo TST que a encaminha para escolha do Presidente da República, sendo
posteriormente o escolhido submetido à sabatina e aprovação do Senado por maioria
absoluta.

A escolha de ministros que são magistrados de carreira é feita de forma simples, sem a
adoção de critérios alternados de antiguidade e merecimento. O TST indica livremente
os nomes de três desembargadores ao Presidente da República que escolhe, também
livremente, um deles para ser submetido ao escrutínio do Senado e nomeado após
aprovação por maioria absoluta deste.

O TST funciona em sua composição plena (Tribunal Pleno), em seções (Órgão Especial,
Seção de Dissídios Individuais, Subseção de Dissídios Individuais I, Subseção de
Dissídios Individuais II e Seção de Dissídios Coletivos) ou em 8 turmas (formadas por
três ministros cada).

Resumidamente, as turmas possuem competência recursal, pois são


destinadas ao julgamento dos recursos de revista (CLT, art. 896), agravos
para destroncamento dos recursos de revistas (CLT, art. 897) e demais
recursos decorrentes e de suas próprias decisões (agravos internos e
embargos declaratórios). A Subseção de Dissídios Individuais I também
possui competência recursal, visto que criada para o julgamento dos recursos
de embargos e demais recursos decorrentes de suas próprias decisões. A
Subseção de Dissídios Individuais II e a Seção de Dissídios Coletivos possuem
competência recursal e originária, já que julga não apenas os recursos
decorrentes das ações originárias ajuizadas no âmbito das Cortes Regionais,
mas também ações ajuizadas originariamente no próprio TST.

Os julgamentos desenvolvem-se observadas as regras do Regimento e que, em linhas


gerais, são as seguintes: a) pregão, que é a chamada das pautas; b) exposição do relator,
que faz um resumo oral do processo e antecipa seu voto aos demais juízes do órgão;
c) sustentação oral por dez minutos para cada advogado inscrito das partes, sendo
o primeiro o advogado do recorrente, depois o do recorrido e, nos casos de recursos
de ambas as partes, primeiro o advogado do autor; d) parecer oral do procurador do
trabalho, caso pretenda fazê-lo; e) voto dos demais ministros; f) em caso de empate, o
presidente proferirá o voto decisivo.

43
UNIDADE I │ Parte Geral

Funcionam junto ao TST o Conselho Superior da Justiça do Trabalho e a Escola Nacional


da Magistratura Trabalhista, cujas atribuições já foram indicadas anteriormente.

A organização, competência dos diversos órgãos integralmente e funcionamento interno


do Tribunal Superior do Trabalho será determinado pelo respectivo Regimento Interno
(CF, artigo 96, I, a).

Órgãos auxiliares

Os órgãos auxiliares (secretarias, oficiais de justiça, contadoria, órgão distribuidor, além


de outros incorporados à estrutura administrativa e judicial das cortes trabalhistas)
são o braço executivo da jurisdição, pois emprestam efetividade ao seu exercício,
funcionando como estrutura de apoio dos órgãos jurisdicionais em todos os níveis.

As secretarias, conhecidas na Justiça Comum como cartórios, são responsáveis pelo


recebimento e autuação de petições, guarda de autos físicos, publicação de atos judiciais,
secretariamento de audiências, fornecimento de certidões, prestação de informações
às partes interessadas, além de qualquer serviço determinado pelo juiz, especialmente
de apoio na minutação de despachos de mero expediente e decisões judiciais. Os atos
meramente ordinatórios do processo, como a juntada e a vista obrigatória, independem
de despacho do juiz, podem ser praticados de ofício pelo servidor e revistos por aquele
quando necessário (CPC/1973, art. 162, § 4o). Os Tribunais Regionais também possuem
secretarias, com funções semelhantes às das varas. Com o processo judicial eletrônico, as
atividades da secretaria se modificam qualitativamente, pois muitas tarefas burocráticas
necessárias para o processamento de autos físicos não mais serão necessárias.

Os oficiais de justiça cumprem os mandados determinados pelo juiz da Vara,


geralmente citações das partes, intimações de testemunhas, penhora e avaliação de
bens, determinação de reintegrações de emprego e de averiguação de situações.

Existindo mais de um órgão jurisdicional de mesma competência na localidade, haverá


órgão (distribuidor) destinado à distribuição dos mesmos processos para não apenas
propiciar a distribuição equitativa de trabalho entre os órgãos, mas, especialmente,
para garantir a imparcialidade no julgamento por meio da observância do princípio do
Juiz Natural.

Finalmente, ante a necessidade de promoção de decisões líquidas relacionadas aos


provimentos de caráter condenatório, há a contadoria, destinada à promoção de
cálculos das parcelas trabalhistas e tributos a elas incidentes, juros e correção monetária.
A contadoria é inserida ou na própria estrutura de cada Vara do Trabalho ou como
órgão auxiliar autônomo.

44
Parte Geral │ UNIDADE I

Ministério Público
A atuação judicial do Ministério Público do Trabalho está prevista nos artigos 127 e 129
da Constituição da República e no artigo 83 da Lei Complementar no 75/1993, restando
derrogados, por incompatibilidade, os artigos 736 a 754 da CLT.

Em suma, a principal função do Ministério Público do Trabalho é promover a defesa da


ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis
(CF, art. 127) na esfera extrajudicial ou judicial.

Na atuação extrajudicial, a principal atribuição do Ministério Público é promover o


inquérito civil e o termo de ajustamento de conduta. O inquérito civil, previsto nos
artigos 8o, §1o, da Lei de Ação Civil Pública e 84, II, da LC 75/1993, tem como finalidade
coletar elementos para o ajuizamento de ação civil pública fundada no convencimento
do Procurador do Trabalho acerca de violações a direitos metaindividuais (interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos) no contexto laboral. O termo de
ajustamento de conduta, que pode ser firmado por qualquer órgão público
legitimado para a promoção da ação civil pública (Lei no 7.347/1985, art. 5o, §6o),
inclusive o Ministério Público, é mecanismo que substitui o ajuizamento desta ação,
tendo por objeto o compromisso do ofensor ao direito metaindividual de adequar
sua conduta aos ditames legais, compensando e/ou reparando os danos causados à
coletividade atingida, sob pena de imposição de multa.

Já na atuação judicial, o Ministério Público pode agir na condição de parte (LC


75/1993, art. 83, I, III, IV, V, VIII e X) ou custos legis (LC 75/1993, art. 83, XIII). Na
condição de parte, o Ministério Público do Trabalho ajuíza (I) ação civil pública para
a defesa dos interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos),
(II) ação anulatória de cláusulas de contrato, acordo ou convenção coletiva que violem
as liberdades individuais ou direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores, (III)
ação rescisória (CPC/1973, art. 487, III), (IV) dissídio coletivo em caso de greve em
atividades essenciais ou que atentem contra a ordem jurídica ou interesse público (CF,
art. 114, §3o). Na condição de custos legis, o Ministério Público do Trabalho age como
órgão interveniente, sendo, pois, fiscal da lei, por meio da: (I) emissão de pareceres; (II)
recorribilidade de decisões; (III) manifestação verbal nas sessões, (IV) manifestação
em dissídios de paralisação de serviços; (V) requisição de diligências em processo de
que não é parte.

O MPT tem priorizado as seguintes áreas de atuação institucional: a) erradicação


do trabalho infantil e regularização do trabalho do adolescente; b) combate a todas
as formas de discriminação no trabalho, em especial, as de raça e gênero, sendo
também implementada a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho;
45
UNIDADE I │ Parte Geral

c) erradicação do trabalho escravo ou forçado e regularização do trabalho indígena;


d) regularização das relações de trabalho, por meio de audiências públicas que visam
orientar a sociedade e os administradores públicos para inúmeras temáticas, como
o verdadeiro cooperativismo, a fraude na terceirização e a exigência constitucional
de concurso público; e) defesa do meio ambiente do trabalho, mormente na área de
segurança e medicina do trabalho; f) mediação e arbitragem de conflitos coletivos de
trabalho.

46
Capítulo 3
Competência

A jurisdição, como já visto, é o poder-dever do Estado de não apenas dizer o direito,


mas de efetivá-lo por meio da entrega de serviço público essencial que permita o acesso
à ordem jurídica justa, assegurando a todos o direito à tutela jurisdicional dos direitos
ou interesses individuais ou metaindividuais45.

Conforme bem lembrado por Carlos Henrique Bezerra Leite46, “a jurisdição tem íntima
relação com a competência”, pois esta, além de se traduzir em medida daquela, é quem
legitima o exercício do poder jurisdicional.

Tradicionalmente, a competência no Processo do Trabalho tem sido analisada com


base em dois grandes grupos: competência absoluta (material, em razão da pessoa e
funcional) e competência relativa (territorial).

Competência material
Até a Emenda Constitucional 45/2004 (antiga redação do artigo 114 da Constituição da
República), a Justiça do Trabalho tinha competência para conciliar e julgar controvérsias
entre empregado e empregador decorrentes da relação de emprego (CLT, arts. 2o e 3o) e
outras derivadas da relação de trabalho, desde que houvesse previsão legal expressa, o
que ocorreria, por exemplo, em relação ao artífice, pequeno empreiteiro e trabalhador
avulso (CLT, art. 653, III).

Com a nova redação do artigo 114, da Constituição da República, alterada pela EC


45/2004, houve significativa ampliação, pois, independentemente de quem são as
partes, a competência da Justiça do Trabalho é para ações que decorram da relação de
trabalho.

A principal mudança do artigo 114 reside na ampliação da competência para as relações


de trabalho (emprego e outras atividades laborais) ainda que não haja previsão legal
expressa, como exigido pela redação antiga. Outras também foram percebidas, como
a ausência de referência às pessoas do trabalhador e empregador, o que sugere que a
Justiça do Trabalho tem competência para apreciar conflitos entre empregados, entre
empregadores ou envolvendo terceiros, desde que decorrentes da relação de emprego.

45 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 218.
46 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 218

47
UNIDADE I │ Parte Geral

A seguir, o conteúdo da competência material da Justiça do Trabalho à luz da nova


redação do artigo 114 da Constituição Federal.

Ações oriundas da relação de emprego:


competência material original

A controvérsia material original (ou originária) da Justiça do Trabalho é para processar


e julgar conflitos individuais ou coletivos da relação de emprego, independentemente
da categoria de empregado: empregado privado, empregado público, empregado
terceirizado, empregado doméstico, empregado rural, aprendiz, terceirizados,
temporários e provisórios. Em termos quantitativos, o tipo de ação mais comum na
Justiça do Trabalho é aquela ajuizada por um empregado em face de seu empregador
decorrente da relação de emprego.

O que firma a competência é a causa de pedir e o pedido. Assim, se a controvérsia


reside na discussão sobre violação a uma lei ou cláusula de contrato que interfira nas
obrigações e deveres próprios à relação de emprego, a competência será da Justiça do
Trabalho, sendo a resolução desse tipo de conflito, de natureza individual ou coletiva,
sua vocação originária.

Nesse contexto, são muito comuns controvérsias que envolvem o reconhecimento


do vínculo empregatício (emprego não formalizado e o consequente adimplemento
das obrigações decorrentes da existência do liame empregatício), modalidades
rescisórias (justa causa, pedido de demissão e rescisão indireta) e adimplemento das
obrigações rescisórias (pagamento de verbas rescisórias, entrega de guias necessárias
à movimentação da conta fundiária e habilitação ao seguro-desemprego, baixa na
CTPS, entre outras), jornada trabalho (horas extras pela extrapolação da jornada diária
ou semanal, domingos e feriados, intervalo intrajornada, intervalo interjornada),
remuneração (desvio e acúmulo de função, equiparação salarial, salário “por fora”,
parcelas salariais dissimuladas, adicionais de insalubridade, periculosidade, noturno),
indenização por danos materiais ou morais (ofensas físicas e morais, assédio moral e
sexual, acidente de trabalho), entre outras questões próprias ao mundo do trabalho.

Da mesma forma, ações de natureza coletiva (ação civil coletiva e ação civil pública, por
exemplo) que se fundem em direitos metaindividuais relacionados ao emprego são da
competência da Justiça do Trabalho.

Controvérsias trabalhistas entre empregados

Com a nova redação do artigo 114 da Constituição da República a partir da EC 45/2004,


a competência da Justiça do Trabalho não se resume a controvérsias entre empregado
48
Parte Geral │ UNIDADE I

e empregador, podendo, desde que oriundas da relação de emprego, serem firmadas


entre empregados.

Normalmente, as ações indenizatórias são ajuizadas em face do empregador em razão


de sua responsabilidade solidária no que se refere aos atos praticados por seus prepostos
(CC, art. 932, III) e de sua capacidade financeira em suportar os efeitos econômicos da
sentença, normalmente superior à envergadura financeira do ofensor. Entretanto, não
há nenhum obstáculo jurídico que impeça o empregado de ajuizar a ação diretamente
em desfavor do colega de trabalho que lhe causou o prejuízo, já que, à luz do artigo
114 da Constituição da República, a competência da Justiça do Trabalho, excluídas
as questões criminais, é para qualquer conflito derivante da relação de trabalho,
independentemente das pessoas envolvidas.

Ações de reconhecimento de vínculo empregatício

Independentemente da condição formal do Autor (trabalhador autônomo,


cooperativado, estagiário, diarista), ações em que o trabalhador requer o vínculo
empregatício (e, portanto, na perspectiva da petição inicial, se diz empregado) são da
competência da Justiça do Trabalho, pois o que firma a competência é a causa de pedir
e o pedido.

Não faz qualquer sentido autorizar a Justiça Comum a analisar uma controvérsia em
que o trabalhador requereu o reconhecimento do vínculo empregatício, especialmente
porquanto, se decidida favoravelmente a prejudicial ao trabalhador, faleceria o referido
órgão competência para apreciar os demais pedidos, todos decorrentes de direitos
tipicamente reconhecidos a empregados (assinatura da CTPS, 13o salário, férias
acrescidas de 1/3, FGTS entre outros).

Infelizmente, no que se refere a servidores públicos, ingressos na Administração


Direta, autárquica e fundacional, sem concurso público, o Excelso Supremo Tribunal
Federal, aparentemente excepcionalmente, entendeu que faleceria competência
à Justiça do Trabalho, ainda que os pedidos sejam de reconhecimento de vínculo
empregatício e de pagamento de diversos direitos tipicamente celetistas.

Aliás, a jurisprudência do STF se firmou no sentido de que ações ajuizadas em face de


ente público por servidores públicos a ele vinculados por relação jurídico-estatutário
são da competência da Justiça Comum: estadual (se servidores municipais, estaduais
ou distritais) ou federal (se federais).

Nesse sentido, o leading case do STF:

Inconstitucionalidade. Ação direta. Competência. Justiça do Trabalho.


Incompetência reconhecida. Causas entre o Poder Público e seus

49
UNIDADE I │ Parte Geral

servidores estatutários. Ações que não se reputam oriundas da relação


de trabalho. Conceito estrito desta relação, Feitos da competência da
Justiça Comum. Interpretação do art. 114, inciso I, da CF, introduzido
pela EC 45/2004. Precedentes. Liminar deferida para excluir outra
interpretação. O disposto no art. 114, I, da Constituição da República,
não abrange as causas que instauradas entre o Poder Público e servidor
que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária. (STF, Tribunal
Pleno, ADI 3.395-MC/DF, Relator: Min. Cezar Peluso, in DJU de
10/11/2006)

Ações com entes de direito público externo

O artigo 114, inciso I, da Constituição Federal, é claro ao atribuir a competência da


Justiça do Trabalho a qualquer causa trabalhista, abrangidos os entes de direito público
externo (Estados estrangeiros e organismos internacionais).

A discussão relacionada aos entes de direito público externo está mais pautada na
existência de imunidade de jurisdição e imunidade de execução.

Resumidamente, a jurisprudência se firmou no sentido de se diferenciar a situação dos


Estados estrangeiros e dos Organismos Internacionais (OJ 416 da SBDI-I do TST).

Em relação aos Estados estrangeiros, tem-se entendido que, ao contratar um empregado,


equipara-se a qualquer empregador privado, pois pratica típico ato de gestão, não
podendo ser protegido por imunidade na fase cognitiva processual, na medida em que
não executado ato de exercício de soberania (ato de império). Em outras palavras, não
há qualquer obstáculo jurídico em se ajuizar uma ação em face de Estado estrangeiro,
devendo-se apenas observar as particularidades de cautela relacionadas ao costume
internacional de envio de notificações por intermédio do Ministério das Relações
Exteriores.

Nesse sentido, o acórdão proferido nos autos do AI 139671:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - ESTADO ESTRANGEIRO


- RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA POR
EMPREGADOS DE EMBAIXADA - IMUNIDADE DE
JURISDIÇÃO - CARÁTER RELATIVO - RECONHECIMENTO
DA JURISDIÇÃO DOMESTICA DOS JUIZES E TRIBUNAIS
BRASILEIROS - AGRAVO IMPROVIDO. IMUNIDADE
DE JURISDIÇÃO. CONTROVERSIA DE NATUREZA
TRABALHISTA. COMPETÊNCIA JURISDICIONAL DOS

50
Parte Geral │ UNIDADE I

TRIBUNAIS BRASILEIROS. - A imunidade de jurisdição do Estado


estrangeiro, quando se tratar de litígios trabalhistas, revestir-se-á de
caráter meramente relativo e, em consequência, não impedira que os
juízes e Tribunais brasileiros conheçam de tais controvérsias e sobre
elas exerçam o poder jurisdicional que lhes é inerente. ATUAÇÃO DO
ESTADO ESTRANGEIRO EM MATÉRIA DE ORDEM PRIVADA.
INCIDENCIA DA TEORIA DA IMUNIDADE JURISDICIONAL
RELATIVA OU LIMITADA. - O novo quadro normativo que se
delineou no plano do direito internacional, e também no âmbito do direito
comparado, permitiu - ante a realidade do sistema de direito positivo
dele emergente - que se construísse a teoria da imunidade jurisdicional
relativa dos Estados soberanos, tendo-se presente, para esse específico
efeito, a natureza do ato motivador da instauração da causa em juízo,
de tal modo que deixa de prevalecer, ainda que excepcionalmente, a
prerrogativa institucional da imunidade de jurisdição, sempre que o
Estado estrangeiro, atuando em matéria de ordem estritamente privada,
intervier em domínio estranho aquele em que se praticam os atos jure
imperii. Doutrina. Legislação comparada. Precedente do STF. A teoria
da imunidade limitada ou restrita objetiva institucionalizar solução
jurídica que concilie o postulado básico da imunidade jurisdicional do
Estado estrangeiro com a necessidade de fazer prevalecer, por decisão
do Tribunal do foro, o legítimo direito do particular ao ressarcimento
dos prejuízos que venha a sofrer em decorrência de comportamento
imputável a agentes diplomáticos, que, agindo ilicitamente, tenham
atuado more privatorum em nome do País que representam perante
o Estado acreditado (o Brasil, no caso). Não se revela viável impor aos
súditos brasileiros, ou a pessoas com domicílio no território nacional,
o ônus de litigarem, em torno de questões meramente laborais,
mercantis, empresariais ou civis, perante tribunais alienígenas, desde
que o fato gerador da controvérsia judicial - necessariamente estranho
ao especifico domínio dos acta jure imperii - tenha decorrido da estrita
atuação more privatorum do Estado estrangeiro. OS ESTADOS
UNIDOS DA AMERICA E A DOUTRINA DA IMUNIDADE DE
JURISDIÇÃO RELATIVA OU LIMITADA. Os Estados Unidos
da América - parte ora agravante - já repudiaram a teoria clássica da
imunidade absoluta naquelas questões em que o Estado estrangeiro
intervém em domínio essencialmente privado. Os Estados Unidos da
América - abandonando a posição dogmática que se refletia na doutrina
consagrada por sua Corte Suprema em Schooner Exchang v. McFaddon

51
UNIDADE I │ Parte Geral

(1812) - fizeram prevalecer, já no início da década de 1950, em típica


declaração unilateral de caráter diplomático, e com fundamento nas
premissas expostas na Tate Letter, a conclusão de que “tal imunidade,
em certos tipos de caso, não devera continuar sendo concedida”. O
Congresso americano, em tempos mais recentes, institucionalizou essa
orientação que consagra a tese da imunidade relativa de jurisdição,
fazendo-a prevalecer, no que concerne a questões de índole meramente
privada, no Foreign Sovereign Immunities Act (1976). (AI 139671
AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma,
julgado em 20/6/1995, DJ 29/3/1996 PP-09348 EMENT
VOL-01822-02 PP-00375)

Dificuldade existe na fase executiva (satisfação da sentença), pois os bens da


representação consular são gravados por cláusula de impenhorabilidade (Convenção
de Viena 1961, art. 22, §3o). Embora tecnicamente não se possa falar em imunidade
de execução, pois não há óbice jurídico para se instaurar a fase executiva, na prática,
sem a concordância do Estado estrangeiro, não se pode promover atos de constrição
judicial (penhora) em relação aos seus bens, restando, diante da frustração da
execução, o caminho da via diplomática ou da expedição de carta rogatória executória,
procedimentos muitas vezes inacessíveis ao trabalhador exequente.

No que se refere aos organismos internacionais, haverá, via de regra, imunidade de


jurisdição, inclusive, na fase cognitiva, prevalecendo o entendimento da OJ 415 da
SBDI-I do TST, segundo a qual “gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando
amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro,
não se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos
praticados. Excepcionalmente, prevalecerá a jurisdição brasileira na hipótese de
renúncia expressa à cláusula de imunidade jurisdicional”.

Ações indenizatórias

A competência da Justiça do Trabalho em relação às ações ajuizadas por empregado


em face do empregador relativa a reparações e compensações decorrentes de prejuízo
ocorrido no contexto laboral poderia ser tecnicamente justificada no artigo 114, I, da
Constituição da República. Entretanto, há dispositivo específico que garante a referida
competência (CF, art. 114, VI), muito provavelmente para dissipar qualquer tipo de
cizânia jurisprudencial e doutrinária ocorrida no passado.

52
Parte Geral │ UNIDADE I

Ações indenizatórias gerais (não acidentárias)

Durante muito tempo se discutiu a competência da Justiça do Trabalho para apreciar


pretensões indenizatórias oriundas da relação de trabalho. Em geral, a jurisprudência
firmada no âmbito dos órgãos da Justiça comum entendia que, por se tratar de
questão relacionada à responsabilidade civil, regulada no Código Civil, a controvérsia
indenizatória era de competência da Justiça Estadual, ainda que envolvessem prejuízos
materiais e morais suportados no contexto laboral. Em sentido oposto, o Tribunal
Superior do Trabalho sustentava a competência da Justiça do Trabalho para julgar
ações indenizatórias oriundas da relação de emprego, tendo, inclusive, aprovado a
Súmula 392 do TST, específica para danos morais.

O Supremo Tribunal Federal resolveu o impasse jurisprudencial em favor do


entendimento consagrado na Justiça do Trabalho (CJ no 6959.6) ao fundamento de
que a competência não é firmada com base na origem normativa do direito tutelado
(no caso, regras de responsabilidade civil previstas no Código Civil), mas a partir da
natureza da relação jurídica discutida em juízo, no caso, trabalhista.

Ações indenizatórias acidentárias

Incoerentemente, a mesma Suprema Corte, com base no artigo 109, I, da Constituição


Federal, afastava a competência da Justiça do Trabalho para hipóteses em que a
pretensão indenizatória decorria de acidente de trabalho (RE no 438.639).

Com a EC 45/2004, foi introduzido o inciso VI, do artigo 114, que expressamente previu
a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações de indenização
por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de emprego.

Conquanto a EC 45/05 apenas explicitou competência que a Justiça do Trabalho sempre


teve com base em sua competência material original presente já na antiga redação do
artigo 114 da Constituição da República, é certo que a modificação reforçou mais ainda
a competência da Justiça do Trabalho para julgar qualquer ação trabalhista, inclusive
de natureza indenizatória decorrente de acidente de trabalho, conforme se depreende
do seguinte acórdão do Conflito Negativo de Competência no 7.204:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA JUDICANTE EM


RAZÃO DA MATÉRIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DO
TRABALHO, PROPOSTA PELO EMPREGADO EM FACE DE SEU
(EX-)EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
ART. 114 DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO ANTERIOR E POSTERIOR

53
UNIDADE I │ Parte Geral

À EMENDA CONSTITUCIONAL No 45/2004. EVOLUÇÃO DA


JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
PROCESSOS EM CURSO NA JUSTIÇA COMUM DOS ESTADOS.
IMPERATIVO DE POLÍTICA JUDICIÁRIA.

1. Numa primeira interpretação do inciso I do art. 109 da Carta de Outubro,


o Supremo Tribunal Federal entendeu que as ações de indenização por
danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho, ainda
que movidas pelo empregado contra seu (ex)empregador, eram da
competência da Justiça comum dos Estados-Membros.

2. Revisando a matéria, porém, o Plenário concluiu que a Lei Republicana


de 1988 conferiu tal competência à Justiça do Trabalho. Seja porque o
art. 114, já em sua redação originária, assim deixava transparecer, seja
porque aquela primeira interpretação do mencionado inciso I do art.
109 estava, em boa verdade, influenciada pela jurisprudência que se
firmou na Corte sob a égide das Constituições anteriores.

3. Nada obstante, como imperativo de política judiciária – haja vista


o significativo número de ações que já tramitaram e ainda tramitam
nas instâncias ordinárias, bem como o relevante interesse social
em causa –, o Plenário decidiu, por maioria, que o marco temporal
da competência da Justiça trabalhista é o advento da EC 45/2004.
Emenda que explicitou a competência da Justiça Laboral na matéria
em apreço. 4. A nova orientação alcança os processos em trâmite
pela Justiça comum estadual, desde que pendentes de julgamento
de mérito. É dizer: as ações que tramitam perante a Justiça comum
dos Estados, com sentença de mérito anterior à promulgação da EC
45/2004, lá continuam até o trânsito em julgado e correspondente
execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi apreciado, hão de
ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se encontram,
com total aproveitamento dos atos praticados até então. A medida se
impõe, em razão das características que distinguem a Justiça comum
estadual e a Justiça do Trabalho, cujos sistemas recursais, órgãos e
instâncias não guardam exata correlação.

5. O Supremo Tribunal Federal, guardião-mor da Constituição


Republicana, pode e deve, em prol da segurança jurídica, atribuir
eficácia prospectiva às suas decisões, com a delimitação precisa dos
respectivos efeitos, toda vez que proceder a revisões de jurisprudência
definidora de competência ex ratione materiae. O escopo é preservar

54
Parte Geral │ UNIDADE I

os jurisdicionados de alterações jurisprudenciais que ocorram sem


mudança formal do Magno Texto.

6. Aplicação do precedente consubstanciado no julgamento do Inquérito


687, Sessão Plenária de 25/8/1999, ocasião em que foi cancelada a
Súmula 394 do STF, por incompatível com a Constituição de 1988,
ressalvadas as decisões proferidas na vigência do verbete.

7. Conflito de competência que se resolve, no caso, com o retorno dos


autos ao Tribunal Superior do Trabalho. (STF – Tribunal Pleno –
CC 7204/MG; Relator: Ministro Carlos Ayres Britto; in DEJT
de 9/12/2005)

Para bem consolidar a jurisprudência, o Supremo Tribunal Federal aprovou a Súmula


Vinculante 22 no sentido de reconhecer a competência da Justiça do Trabalho para
processar e julgar ações de indenização de danos morais e materiais decorrentes de
acidente de trabalho ajuizadas por empregado em face do empregador.

É importante advertir, entretanto, que, quando se trata de ações acidentárias, são


admissíveis três tipos de competências distintas: a) Justiça do Trabalho para a ação
ajuizada pelo empregado para condenação do empregador ao pagamento de danos
morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho (CF, art. 114); b) Justiça
Estadual para julgar ação ajuizada pelo empregado em face do INSS, cujo objeto seja
a discussão sobre algum benefício previdenciário (auxílio-doença, auxílio acidente,
aposentadoria por invalidez) (CF, art. 109, I); e c) Justiça Federal para julgar ação
regressiva do Estado em face do empregador que tenha causado prejuízo ao erário em
razão do acidente de trabalho (CF, art. 7o, XXVIII).

Questão interessante também é a do dano moral por ricochete, que envolve


familiares ou parentes do trabalhador que ajuízam ação, em nome próprio, para
compensação dos danos sofridos com o infortúnio do ente querido. O Supremo Tribunal
Federal, nos autos do EDRE 482792/SP) consignou ser “irrelevante para definição da
competência jurisdicional da Justiça do Trabalho que a ação de indenização não tenha
sido proposta pelo empregado, mas por seus sucessores”47.

Questões pré e pós-contratuais

Desde que decorrente a controvérsia da relação de emprego, a competência da Justiça


do Trabalho ocorre tanto em relação à fase contratual como no que se refere aos períodos
pré e pós-contratual.

47 O entendimento do STF determinou o cancelamento da Súmula 366 do STJ.

55
UNIDADE I │ Parte Geral

Assim, questões relacionadas ao processo de admissão (preterição da ordem de


classificação em concurso público, promessas de contratação não cumpridas, submissão
a procedimentos vexatórios e discriminatórios durante processo seletivo) são da
competência da Justiça do Trabalho.

Da mesma forma, controvérsias pautadas em fatos que surgiram após a extinção do


contrato de trabalho são da competência da Justiça do Trabalho. Exemplo ilustrativo é a
pretensão condenatória indenizatória em hipótese em que o antigo empregador fornece
referências negativas em processo seletivo a que foi submetido o antigo empregado.

PIS/PASEP

É da competência da Justiça do Trabalho processar e julgar as ações ajuizadas por


empregados em face dos empregadores alusivas ao cadastramento do Programa de
Integração Social - PIS (Súmula 300 do TST). Afinal, é do empregador a responsabilidade
pelo cadastramento do trabalho no PIS (LC 7/1970), devendo responder por qualquer
prejuízo causado ao empregado, como, por exemplo, não percebimento do abono (CF,
art. 239, §3o), em razão do não cumprimento da obrigação de cadastramento.

Por coerência, a Justiça do Trabalho também é competente para as ações ajuizadas


pelos servidores públicos celetistas em face dos empregados relativas ao cadastramento
do Programa de Assistência ao Servidor Público – PASEP.

Complementação de aposentadoria, pensão e


previdência privada

Como bem alertado por Mauro Schiavi, “até o final de 2012, a jurisprudência, salvo
alguns pronunciamentos em sentido contrário, já estava sedimentada no sentido da
competência material da Justiça do Trabalho para complementação de aposentadoria,
basicamente, pelos seguintes argumentos: a) trata de direito que se origina da relação
de emprego; b) o benefício é custeado com parte do salário do empregado; c) se trata,
indiscutivelmente, de controvérsia decorrente da relação de trabalho, restando aplicável
à hipótese os incisos I e IX do art. 114 da Constituição Federal”48.

Entretanto, no início de 2013, o Supremo Tribunal Federal, em acórdãos com


repercussão geral (RE 586453/SE e 583050/RS), fixou seu entendimento no sentido
da competência da Justiça Comum para as ações ajuizadas em face das entidades
de previdência complementar, a partir das seguintes perspectivas: a) o Direito
Previdenciário é autônomo em relação ao Direito do Trabalho (CF, art. 202, §2o); b)

48 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 282.

56
Parte Geral │ UNIDADE I

modulados os efeitos da decisão para se manterem na Justiça do Trabalho os processos


que já tiverem tido sentença de mérito até o julgamento do STF (20/2/2013).

Apesar de as Cortes Trabalhistas estarem seguindo a presente diretriz do Supremo


Tribunal Federal (RR-2828-22.2011.5.12.0002), tem-se reconhecido a competência da
Justiça do Trabalho para julgar ações em que não se discute obrigação da entidade de
previdência complementar, mas exclusivamente àquelas do empregador decorrentes do
contrato de trabalho, ainda que seus efeitos repercutam na previdência complementar:

I - AGRAVO EM EMBARGOS EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


EM RECURSO DE REVISTA COM AGRAVO. PEDIDO DE
CONDENAÇÃO DO EMPREGADOR AO PAGAMENTO/
RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES POR ELE DEVIDAS À
ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR. DISCUSSÃO
SOBRE A COMPETÊNCIA OU NÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO
PARA APRECIAR E JULGAR A PRETENSÃO. A questão de ser ou
não específica a divergência jurisprudencial capaz de possibilitar o
cabimento do recurso de embargos depende da verificação do pedido: se
é de diferenças de complementação de aposentadoria ou de condenação
do empregador a recolher as contribuições por ele devidas à entidade de
previdência complementar. Do acórdão regional, transcrito no acórdão
da c. Turma, verifica-se que a matéria foi apreciada pelo TRT sob o
prisma do pedido de reflexos de horas extras sobre as contribuições
para a Previ. Não obstante essa peculiaridade e mesmo com a oposição
de embargos de declaração pela empregada para seu exame específico,
a c. Turma, sem rechaçar esse pedido, manteve seu entendimento de
que a Justiça do Trabalho é incompetente para apreciar a pretensão de
diferenças de complementação de aposentadoria em relação a sentenças
proferidas após a data limite estabelecida pelo STF (20/2/2013).
Na hipótese dos autos a obrigação de o empregador recolher as
contribuições para a entidade de previdência não se confunde com
a responsabilidade pelo pagamento da própria complementação de
aposentadoria. Constatado que o pedido específico de recolhimento das
contribuições do empregador para a entidade de previdência privada
foi examinado pela c. Turma, verifica-se que no recurso de embargos
há aresto divergente que registra expressamente a competência da
Justiça do Trabalho para pedido de condenação ao recolhimento das
contribuições a favor da PREVI, entendendo que essa hipótese não
se enquadra naquelas em que o STF reconheceu a incompetência da
Justiça do Trabalho. Agravo conhecido e provido. II - EMBARGOS EM

57
UNIDADE I │ Parte Geral

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO DE REVISTA COM


AGRAVO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. PEDIDO DE
INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES DO REGIME DE PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR GERIDO POR ENTIDADE FECHADA SOBRE
HORAS EXTRAS DEFERIDAS NA RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. 1.
Recurso de embargos interposto pela Reclamante, em que se discute
a competência da Justiça do Trabalho para apreciar demanda acerca
de contribuição social do empregador (patrocinador) para entidade
de previdência complementar fechada como reflexo da condenação
em horas extras imposta nesta mesma reclamação trabalhista. Não
se discute repercussão da condenação em horas extras em eventual
complementação de aposentadoria. 2. A previdência social orienta-se
pelo princípio contributivo em todos os seus regimes: regime geral,
regime do servidor público e regime complementar privado. No caso
da previdência complementar gerida por entidade fechada, embora o
ingresso em tal regime seja facultativo, uma vez inserto o participante/
associado e seu patrocinador/instituidor, o custeio se torna compulsório
por meio do recolhimento das contribuições sociais, conforme se extrai
do art. 202, § 2o, da Constituição Federal e do art. 6o da Lei Complementar
no 108/2001. Portanto, em relação ao aspecto contributivo, o regime
complementar de entidade fechada em nada difere do Regime Geral da
Previdência Social (RGPS), de modo que deve ser aplicada a ambos os
regimes a mesma ratio decidendi acerca da competência para dirimir
lides envolvendo as contribuições sociais de um ou de outro regime, o que
não alcança a competência para apreciar querelas sobre os benefícios,
porque, no ponto, os sistemas diferem sobremaneira. O STF, ao decidir
sobre a competência para apreciar lides acerca das contribuições
sociais do RGPS, sedimentou jurisprudência nos termos da Súmula
Vinculante no 53, segundo a qual, compete à Justiça do Trabalho a
execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto
das condenações constante das sentenças que proferir. Conquanto
os fundamentos que animaram a edição da Súmula Vinculante no
53 estivessem examinando as contribuições sociais do RPGS, deve
ser aplicada a mesma ratio decidendi para as lides envolvendo as
contribuições sociais do regime complementar de previdência de
entidade fechada, porque os regimes se equiparam quanto ao aspecto
contributivo. Assim, mutatis mutandis do que foi assentado pelo STF
na Súmula Vinculante no 53 do TST, impõe-se a competência da Justiça
do Trabalho para dirimir controvérsia em torno das contribuições

58
Parte Geral │ UNIDADE I

sociais devidas por participantes (empregados) e patrocinadores


(empregadores) a entidades fechadas de previdência complementar
em relação ao objeto da condenação constante das sentenças que
proferir e acordos por ela homologados, na forma do art. 114, IX, da
Constituição Federal, corroborado pelo art. 876, parágrafo único, da
CLT, o qual estabelece a execução das contribuições sociais pela Justiça
do Trabalho, sem distinção entre o RGPS e o regime de previdência
complementar de entidade fechada. Ressalte-se que tal entendimento
em nada conflita com a jurisprudência firmada pelo STF no julgamento
dos Recursos Extraordinários no 586.453 e 583.050. Primeiro, porque
tal orientação se destina claramente a definir competência para
apreciar conflito em relações jurídicas discutindo benefícios, ou seja,
acerca da própria complementação de aposentadoria em si, não sobre
contribuições previdenciárias. Segundo, porque o critério eleito pelo
Pretório Excelso foi a busca pela “maior efetividade e racionalidade
do sistema”, o que, no caso das contribuições previdenciárias,
diversamente da situação dos benefícios, é alcançada pela fixação da
competência da Justiça do Trabalho quanto ao objeto das condenações
por ela proferidas, conforme entendimento firmado pelo próprio STF
no RE no 569.056-3, que culminou na edição da Súmula Vinculante no
53. Recurso de embargos conhecido por divergência jurisprudencial
e provido. ( E-ED-ARR - 2177-42.2012.5.03.0022 , Relator Ministro:
Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data de Julgamento: 18/8/2016,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação:
DEJT 26/8/2016)

RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA.


INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA PAGA
DIRETAMENTE PELO EX-EMPREGADOR. Decisão embargada
em harmonia com a jurisprudência prevalente no âmbito desta
Corte, no sentido de que a competência para julgar as controvérsias
relativas à complementação de aposentadoria paga diretamente
pelo ex-empregador, sem a intermediação de uma entidade de
previdência privada, é da Justiça do Trabalho, restando inaplicável o
entendimento exarado pelo Supremo Tribunal Federal ao julgamento
do RE 586.453. Precedente desta Subseção. Recurso de embargos
conhecido e desprovido, no tema. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

59
UNIDADE I │ Parte Geral

DO TRABALHO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA


INSTITUÍDA MEDIANTE LEI ESTADUAL. AUSÊNCIA DO
NECESSÁRIO PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 297/TST.
O Colegiado Turmário não se manifestou acerca de eventual instituição
da complementação de aposentadoria mediante lei estadual, restando
inviável o exame da questão relativa à competência, ou não, da Justiça do
Trabalho sob tal viés, porquanto ausente o necessário prequestionamento.
Aplicação da Súmula 297 do TST. Recurso de embargos não conhecido,
no tema. (E-RR - 1918-90.2012.5.02.0049, Relator Ministro:
Hugo Carlos Scheuermann, Data de Julgamento: 18/8/2016,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de
Publicação: DEJT 26/8/2016)

Seguro-desemprego
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação ajuizada por empregado
em face do empregador que tenha, por objeto, a indenização pelo não fornecimento das
guias de seguro-desemprego (Súmula 389 do TST).

A ação do empregado em face da União Federal para a concessão do seguro-desemprego


se inscreve na competência da Justiça Federal (CF, art. 109, I).

Ações possessórias e interdito proibitório

Inscrevem-se na competência da Justiça do Trabalho as ações possessórias que tenham


origem na relação de emprego.

Vários são os exemplos de conflitos possessórios de natureza trabalhista que poderiam


ser dados: a) empregador reivindica a posse de imóvel fornecido ao empregado em
razão do contrato do trabalho; b) empregador retém a posse de instrumentos ou
equipamentos de propriedade do empregado; c) embargos de terceiro com finalidade de
livrar bens de terceiro de constrição judicial; d) garantia de livre acesso de empregados
a local de trabalho no caso de greve.

Aliás, o STF editou a Súmula Vinculante 23 que confirma a competência da Justiça do


Trabalho para processar e julgar ação possessória em virtude do direito de greve.

Ações que envolvam o exercício do direito de


greve
A Justiça do Trabalho sempre teve competência para processar ações trabalhistas
ajuizadas pelo empregado em face do empregador que tratavam da repercussão da

60
Parte Geral │ UNIDADE I

greve nos contratos de trabalho, como, por exemplo, sobre discussões relacionadas à
suspensão contratual ou até ao cometimento de falta grave.

Também era a Justiça do Trabalho quem tinha competência para apreciar o dissídio de
greve (CF, art. 114), inclusive para determinar sua legalidade ou ilegalidade (Súmula
189 do TST).

Entretanto, com a EC 45/2004, não há dúvidas de que qualquer ação relacionada à


greve de empregados é da competência da Justiça do trabalho, por força do artigo 114,
II, da Constituição Federal, inclusive sobre questões periféricas, ações possessórias
(Súmula Vinculante 23 do STF) e indenizatórias decorrentes do movimento paredista.

Dúvida surge em relação à greve de servidores públicos estatutários, já que o STF


entendeu pela competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar ações em face
de entes públicos, ajuizadas por servidores, vinculados por relação jurídica-estatutária
(ADI 3.395-MC/DF).

Por uma questão de coerência, parece-se mais adequado afastar a competência da


Justiça do Trabalho, conforme restou determinado no seguinte julgado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


SERVIDOR PÚBLICO ESTATUTÁRIO. DIREITO DE GREVE.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Agravo de
instrumento a que se dá provimento, para determinar o processamento
do recurso de revista, uma vez que foi demonstrada possível violação
do art. 114, I, da Constituição Federal. RECURSO DE REVISTA.
SERVIDOR PÚBLICO ESTATUTÁRIO. DIREITO DE GREVE.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Em se tratando
de servidores vinculados por típica relação de ordem estatutária
(situação dos servidores da Junta Comercial do Distrito Federal)
ou de caráter jurídico-administrativo, o STF (por meio da ADIN no
3.395-MC/DF), suspendeu, cautelarmente, qualquer interpretação
do art. 114, I, da Constituição Federal, que incluísse, na competência
da Justiça do Trabalho, a apreciação de causas concernentes ao poder
público e seus servidores. Registre-se que, até a presente data, não foi
julgado, pelo STF, o mérito da mencionada ADIN. Assim, extingui-se
o feito, sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC.
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. ( RR
- 55141-69.2006.5.10.0008 , Relator Ministro: Pedro Paulo
Manus, Data de Julgamento: 9/11/2011, 7ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 18/11/2011)

61
UNIDADE I │ Parte Geral

Também o STF reconheceu a competência da Justiça Comum para deliberar sobre a


legalidade e qualquer controvérsia decorrente de movimentos grevistas de servidores
públicos estatutários (MI nos 708/DF, 712/PA e 670/ES), sendo do Superior Tribunal
de Justiça, em âmbito nacional.

Ações sobre representação sindical

Pela redação original do artigo 114 da Constituição Federal, a Justiça do Trabalho não
tinha competência para apreciar conflitos entre sindicatos, remanescendo competência
apenas para apreciar ações ajuizadas por sindicato, na condição de substituto processual
ou representante processual, na defesa dos direitos de trabalhadores (CF, art. 8o, III).

A partir da EC 45/2004, a Justiça do Trabalho, à luz de interpretação ampliativa49


do artigo 114, II, da Constituição Federal, passou a ter competência para apreciar
controvérsias sindicais sob quatro perspectivas de conflitos:

»» intersindicais (entre entidades sindicais): discussões


sobre a) registro sindical (obtenção de carta sindical no MTE), b)
representatividade sindical; c) declaração de vínculo jurídico entre
entidades sindicais (sindicato/federação e federação/confederação), c)
fusão e desmembramento de entidades sindicais, d) tutelas de urgências
para suspender efeitos de determinada convenção coletiva;

»» intrasindicais (interna corporis): questões sobre a) direitos do


dirigente sindicalizado; b) anulação de eleição, c) formação da chapa, d)
anulação de assembleia; e) legalidade de criação de sindicato;

»» cobrança das contribuições sindicais, assistenciais e confederativas;

»» representação judicial e assistência judiciária (por exemplo,


danos morais decorrentes da atuação inadequada do sindicato como
substituto processual (CC 124.930-MG, STJ).

Mais uma vez, discute-se a competência em relação às ações sobre representação de


sindicato de servidores públicos estatutários. Bezerra Leite defende a competência da
Justiça do Trabalho, pois não haveria controvérsia sobre relação jurídico-estatutária,
mas sim sobre questões sindicais entre entidades de natureza privada50.

49 Há interpretação restritiva, baseada na literalidade do artigo 114, III, da Constituição da República de que a Justiça do Trabalho
teria apenas competência para questões alusivas à representação sindical.
50 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 310.

62
Parte Geral │ UNIDADE I

Também adota tal corrente a Eg. Terceira Turma do TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO DO MUNICÍPIO DE SÃO SEBASTIÃO


BARROS. RECURSO DE REVISTA. REPRESENTAÇÃO SINDICAL
DE SERVIDORES DO MUNICÍPIO DE SÃO SEBASTIÃO BARROS.
CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA DO TRABALHO. O Pleno do STF referendou liminar
concedida pelo Ministro Nelson Jobim no julgamento da Medida
Cautelar na ADI 3.395-6/DF, no sentido de que, mesmo após a EC no
45/2004, a Justiça do Trabalho não tem competência para processar
e julgar causas instauradas entre o Poder Público e o servidor que a
ele seja vinculado por relação jurídico-administrativa. A decisão do
STF restringiu-se ao inciso I do art. 114 da CF/1988 e não se estende
à competência fixada no inciso III do mesmo preceito constitucional:
“ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos
e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores”. Isso porque os
incisos são elementos discriminativos do caput do artigo, que contém
a norma geral. Os incisos são independentes entre si e enumeram
hipóteses ou itens da regra inscrita no caput. Em decorrência dessa regra
de técnica legislativa, não se há falar que a suspensão da competência
definida no inciso I do art. 114 da CF pelo Supremo Tribunal Federal
tenha afetado aquela estabelecida no inciso III, que trata de lides
intersindicais, entre sindicatos e trabalhadores e entre sindicatos e
empregadores. Observe-se que o inciso III fez expressa diferenciação
entre demandas envolvendo sindicatos e trabalhadores e sindicatos
e empregadores. Ao utilizar o termo genérico “trabalhadores”, o
legislador inseriu na competência da Justiça do Trabalho não apenas
os empregados - termo específico. Por isso, não se pode acolher o
argumento de que esta Justiça Especializada é incompetente para
julgar lide entre sindicatos representantes de servidores vinculados
ao Poder Público por relação jurídico-administrativa. O art. 114 da
CF/1998 não trouxe essa exceção, tampouco a decisão do STF. O inciso
III, portanto, deve ser interpretado de forma extensiva, inclusive em
consonância com o objetivo da Emenda Constitucional no 45/2004 de
conferir ao Poder Judiciário Trabalhista a competência para as causas
dos trabalhadores. Entende-se, nessa linha, que a competência desta
Justiça Especializada mantém-se preservada nas ações em que se
discutem questões sindicais - por serem lides autônomas, desvinculadas
da relação jurídica trabalhista mantida pelo obreiro. Precedentes do

63
UNIDADE I │ Parte Geral

STF e desta Dt. 3ª Turma. Agravo de instrumento desprovido. AGRAVO


DE INSTRUMENTO DA FEDERAÇÃO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
DO ESTADO DO PIAUÍ. RECURSO DE REVISTA. CONTRIBUIÇÃO
SINDICAL OBRIGATÓRIA. SERVIDOR PÚBLICO ESTATUTÁRIO.
NATUREZA PARAFISCAL EXIGIBILIDADE. Demonstrado no agravo
de instrumento que o recurso de revista preenchia os requisitos do art.
896 da CLT, dá-se provimento ao agravo de instrumento, para melhor
análise da arguição de violação do art. 8o, IV, da CF, suscitada no recurso
de revista. Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA.
CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA. SERVIDOR PÚBLICO
ESTATUTÁRIO. NATUREZA PARAFISCAL EXIGIBILIDADE. A
contribuição sindical, prevista no art. 8o, IV, parte final, da CF, e
minuciosamente regulamentada pelos arts. 578 a 610 da CLT, constitui
receita derivada de lei e recolhida uma única vez, anualmente, em favor
do sistema sindical, quer se trate de empregado, profissional liberal
ou empregador. Tendo natureza parafiscal, deve tal contribuição ser
exigida de todos os trabalhadores da categoria pertinente, incluindo-se,
nesse grupo, portanto, os servidores públicos, sejam estes celetistas ou
estatutários. Precedentes do colendo STJ. Recurso de revista conhecido
e provido. (ARR - 621-22.2012.5.22.0104, Relator Ministro: Mauricio
Godinho Delgado, Data de Julgamento: 11/03/2015, 3ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 13/3/2015)

Há, entretanto, outros entendimentos que, por uma questão de coerência com o
entendimento preconizado no julgamento da ADI 3.395-MC/DF, defendem a
competência da Justiça comum.

Ações que envolvam o julgamento de mandados


de segurança, habeas corpus e habeas data
A Justiça do Trabalho tem competência material para processar e julgar mandados de
segurança, habeas corpus e habeas data que envolver matéria sujeita à sua jurisdição
(CF, art. 114, IV).

Embora raras as hipóteses na Justiça do Trabalho, é possível a impetração de habeas


corpus, cujo processamento e julgamento ficarão a cargo da própria Justiça do Trabalho,
em face de:

»» ordens judiciais emitidas pelo Juiz do Trabalho para


cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer ou de depositário
infiel;

64
Parte Geral │ UNIDADE I

»» restrição de liberdade de locomoção do empregado pelo


empregador ou tomador de serviços.

É importante mencionar que o número de habeas corpus na Justiça do Trabalho caiu


muito, desde que se firmou o entendimento de não ser possível a prisão civil do depósito
infiel à luz da Convenção Americana de Direitos Humanos (STF - HC 87585/TO).

Também são raras as situações que determinam a impetração de habeas data, à luz
dos critérios autorizativos do artigo 8o da Lei no 9.507/1997. De todo modo, é possível
que um empregado, por exemplo, apresente habeas data em face da sonegação de
informações, tanto em relação a seu cadastro funcional como também sobre processo
administrativo de apuração de ato infracional para fins de cominação de penalidade
administrativa.

Penalidades Administrativas

Antes da EC 45/2004, era da Justiça Federal a competência para processar e julgar as


ações concernentes às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos
auditores fiscais do trabalho (CF, art. 109, I).

Com a EC 45/2004, a competência passou a ser da Justiça do Trabalho, conforme se


infere do artigo 114, VII, da Constituição da República.

Assim, ações que têm por objeto a nulidade do auto de infração ou ações de natureza
executiva (cobrança da multa imposta pelos órgãos de fiscalização do trabalho) são da
competência da Justiça do Trabalho.

Outras ações oriundas da relação de trabalho


Pela antiga redação do artigo 114 da Constituição da República, a competência da
Justiça do Trabalho era precipuamente para ações individuais e coletivas ajuizadas pelo
empregado em face do empregador decorrente de relação de emprego (competência
material original), o que abrangeria qualquer tipo de empregado: comuns (CLT, arts.
3o da CLT), públicos (celetistas) temporários (Lei no 6.019/1974, art. 2o), doméstico (Lei
no 11.324/2006), rural (Lei no 5.589/1973), aprendiz (CLT, art. 428, caput).

Excepcionalmente, o próprio artigo 114 determinava a competência da Justiça


do Trabalho para outras relações de trabalho, desde que houvesse previsão legal
(competência material derivada). Além dos empregados, as únicas categorias
que possuíam lei específica reconhecendo a competência da Justiça do Trabalho eram

65
UNIDADE I │ Parte Geral

trabalhadores avulsos (CLT, art. 643, §3o e CF, art. 7o, XXXIV), pequenos empreiteiros
e artífices (CLT, art. 652, alínea a, inciso III).

A nova redação do artigo 114 da Carta Magna, dada pela EC 45/2004, determinou que
a Justiça do Trabalho seria competente para conflitos oriundos da relação de trabalho,
sem estabelecer qualquer exigência expressa sobre a necessidade de previsão legal
específica.

Relação de trabalho é gênero da qual a relação de emprego, serviço estatutário, trabalho


eventual, autônomo, voluntário entre outros são espécies.

Assim, com a EC 45/2004 questionou-se se a Justiça do Trabalho passaria a ter


competência para qualquer relação de trabalho.

Em linhas gerais, três correntes surgiram:

»» a primeira (restritiva) entendia que não teria ocorrido nenhuma


mudança substancial no artigo 114 da Constituição da República,
especialmente em razão do inciso IX, razão pela qual a Justiça do
Trabalho continuava competente para as ações decorrente da relação de
emprego e, na forma da lei, para outras relações de trabalho; a segunda
(ampliativa) defendia que a Justiça do Trabalho seria competente para
qualquer relação de trabalho;

»» a terceira (moderada) advogava que a Justiça do Trabalho seria


prioritariamente competente para dissídios oriundos da relação de
emprego e alguns que envolviam relação de trabalho, ainda que não
houvesse previsão infraconstitucional nesse sentido.

Passados alguns anos da EC 45/2004, ao que tudo indica, a terceira corrente ganhou
mais prestígio ao admitir controvérsias decorrentes da relação de trabalho, excluídas
aquelas que são oriundas de relação de consumo.

Assim, poder-se-ia cogitar, à luz do artigo 114, inciso I, da Carta Magna, a competência da
Justiça do Trabalho para controvérsias decorrentes das seguintes relações de trabalho:

a. emprego (CLT, arts. 2o e 3o);

b. trabalho avulso, inclusive sobre questões sindicais (CLT, art. 643, §3o e
CF, art. 114, III);

c. trabalho autônomo de pequeno empreiteiro e artífice (CLT; art. 652, III);

66
Parte Geral │ UNIDADE I

d. trabalho voluntário;

e. estágio e residência médica (desde que relacionada à questão trabalhista


e não à educacional)51;

f. trabalho que não se constitua relação de consumo.

No que se refere ao último tipo (trabalho que não se constitua relação de consumo),
convenientes esclarecimentos.

Segundo o artigo 2o, do CDC, consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final. Por sua vez, à luz do artigo 3o do CDC,
é “a pessoa física ou jurídica que desenvolve atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços”.

Assim, sob a perspectiva da terceira corrente, todas as vezes que o tomador de serviços
for considerado destinatário final, estaria afastada a competência da Justiça do Trabalho.
Por exemplo, embora na relação entre médico e paciente haja a prestação de serviços
e, portanto, uma atividade intelectual e física com finalidade produtiva (conceito de
trabalho), é certo que o paciente é destinatário final dessa atividade, razão pela qual
também haveria uma relação de consumo que afastaria a competência da Justiça do
Trabalho. Aliás, o próprio STJ, por meio da Súmula 363, firmou o entendimento de
que “compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por
profissional liberal contra cliente”.

Entretanto, na relação entre médico (ainda que trabalhador autônomo) e hospital,


a referida instituição de saúde não seria destinatária final dos serviços daquele
profissional, razão pela qual a competência para apreciar a controvérsia decorrente da
relação de trabalho seria da Justiça do Trabalho.

Competência executória

Competência para executar suas próprias decisões

Apesar de não constar de forma explícita na nova redação do artigo 114 da Constituição
da República, é certo que a Justiça do Trabalho tem competência para executar suas
próprias decisões.

51 Decisões em que prevaleceu a competência da Justiça do Trabalho direta ou indiretamente (- RR-197500-59.2001.5.15.0014;


AIRR377-30.2013.5.04.0017; AIRR140900-13.2009.5.04.0121; AIRR1228-87.2013.5.04.0011; AIRR-957-39.2013.5.04.0024;
AIRR 141540-49.2005.5.03.0132)

67
UNIDADE I │ Parte Geral

Mesmo na hipótese de criação de Vara do Trabalho, quando a jurisdição trabalhista


estava sendo exercida pelo Juiz de Direito (CF, art. 112), a Justiça do Trabalho, para
ser competente na execução das sentenças proferidas pelo Juiz de Direito em matéria
trabalhista, deve estar consoante à diretriz compendiada na Súmula 10 do STJ.

Competência para falência e recuperação judicial

Se a execução tiver que ser direcionada à empresa em recuperação judicial ou em


falência, a competência deixa de ser da Justiça do Trabalho, conforme jurisprudência
pacífica (TST-E-RR-507.991/1998.0 e STF-RE 583955/RJ):

FALÊNCIA. CRÉDITO TRABALHISTA. EXECUÇÃO.


COMPETÊNCIA. LEI 11.101/2005. As ações trabalhistas serão
processadas na Justiça do Trabalho até a apuração do respectivo crédito
para posterior habilitação no juízo universal da falência (art. 83 da Lei
11.101/2005), pois não obstante o crédito trabalhista tenha precedência
na ordem de classificação dos créditos na falência, está sujeito a rateio
com os demais créditos trabalhistas. Recurso de Embargos a que se
nega provimento. (E-RR - 507991-55.1998.5.03.5555 , Relator
Ministro: João Batista Brito Pereira, Data de Julgamento:
13/6/2005, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Data de Publicação: DJ 24/6/2005)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO


DE CRÉDITOS TRABALHISTAS EM PROCESSOS DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL COMUM, COM EXCLUSÃO DA JUSTIÇA
DO TRABALHO. INTERPRETAÇÃO DO DISPOSTO NA
LEI 11.101/05, EM FACE DO ART. 114 DA CF. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO. I - A
questão central debatida no presente recurso consiste em saber qual
o juízo competente para processar e julgar a execução dos créditos
trabalhistas no caso de empresa em fase de recuperação judicial. II -
Na vigência do Decreto-lei 7.661/1945 consolidou-se o entendimento
de que a competência para executar os créditos ora discutidos é da
Justiça Estadual Comum, sendo essa também a regra adotada pela
Lei 11.101/2005. III - O inc. IX do art. 114 da Constituição Federal
apenas outorgou ao legislador ordinário a faculdade de submeter à
competência da Justiça Laboral outras controvérsias, além daquelas
taxativamente estabelecidas nos incisos anteriores, desde que

68
Parte Geral │ UNIDADE I

decorrentes da relação de trabalho. IV - O texto constitucional não o


obrigou a fazê-lo, deixando ao seu alvedrio a avaliação das hipóteses
em que se afigure conveniente o julgamento pela Justiça do Trabalho, à
luz das peculiaridades das situações que pretende regrar. V - A opção do
legislador infraconstitucional foi manter o regime anterior de execução
dos créditos trabalhistas pelo juízo universal da falência, sem prejuízo
da competência da Justiça Laboral quanto ao julgamento do processo
de conhecimento. VI - Recurso extraordinário conhecido e improvido.
(STF-RE 583955/RJ, Tribunal Pleno; Relator: Ministro
Ricardo Lewandowski; in DJE de 27/8/2009)

Entretanto, mesmo com a decretação de falência ou recuperação judicial, é possível


a execução continuar na Justiça do Trabalho desde que em desfavor dos sócios da
empresa (AIRR 761/2005-035-03-40.6), outra empresa do grupo econômico (AIRR
86900-65.2008.5.10.0013) ou sucessor da empresa.

Competência para executar contribuições


previdenciárias e fiscais
A partir da EC 20/1998, a Justiça do Trabalho passou a ter competência para executar
de ofício as contribuições previdenciárias incidentes sobre as parcelas salariais que são
objeto de acordo ou decisão judicial.

A EC 45/2008 manteve a referida competência ex officio no artigo 114, VIII, da


Constituição da República.

Conforme apontado por Bezerra Leite, “a execução previdenciária ex officio engloba


os atos de quantificação da dívida, intimação para pagar no prazo, constrição (arresto,
penhora), expropriação (hasta pública) e satisfação do exequente”.52

Oportuno mencionar que a referida competência executória somente incide sobre as


parcelas salariais que foram objeto de acordo ou sentença, não atingindo aquelas
contribuições previdenciárias que devem recair sobre salários já pagos durante o
vínculo empregatício (e que não foram objeto de ato judicial), ainda que este tenha sido
declarado em juízo.

Nesse sentido, a Súmula 383, inciso I, do TST:

Súmula 383 do TST (...)

I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento


das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto
à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças
52 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 324.

69
UNIDADE I │ Parte Geral

condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo


homologado, que integrem o salário de contribuição.

(...)

Também nesse sentido, a Súmula Vinculante 53 do STF:

A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da


Constituição Federal alcança a execução de ofício das contribuições
previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das
sentenças que proferir e acordos por ela homologados.

A competência executória da Justiça do Trabalho, prevista no artigo 114, VIII, da Carta


Magna, englobaria também as contribuições previdenciárias referentes ao seguro
acidente de trabalho, consoante consagrado na Súmula 454 do TST:

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. EXECUÇÃO DE


OFÍCIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL REFERENTE AO SEGURO DE
ACIDENTE DE TRABALHO (SAT). ARTS. 114, VIII, E 195, I, “A”, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Compete à Justiça do Trabalho a
execução, de ofício, da contribuição referente ao Seguro de Acidente de
Trabalho (SAT), que tem natureza de contribuição para a seguridade
social (arts. 114, VIII, e 195, I, “a”, da CF), pois se destina ao financiamento
de benefícios relativos à incapacidade do empregado decorrente de
infortúnio no trabalho (arts. 11 e 22 da Lei no 8.212/1991).

Entretanto, no que se refere às contribuições sociais destinadas a terceiros,


como àquelas destinadas ao sistema “S” e salário-educação, tem-se entendido pela
incompetência da Justiça do Trabalho, com suporte no artigo 114, §3o, da CLT, que
supostamente limitar-se-ia às contribuições do artigo 195, I, alínea a e inciso II, da
Constituição da República. A esse respeito:

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007.


INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS DESTINADAS A TERCEIROS. O
artigo 114, inciso VIII, da Constituição Federal estabelece a competência
da Justiça do Trabalho para executar, de ofício, as contribuições
sociais previstas no art. 195, I, a, e II, cujos dispositivos se referem aos
empregadores e equiparados e aos trabalhadores e demais segurados
da previdência social. O art. 240 da Constituição Federal, por outro
lado, exclui as contribuições sociais destinadas às entidades privadas de
serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical.

70
Parte Geral │ UNIDADE I

A leitura dos mencionados preceitos constitucionais não permite concluir


pela competência desta Justiça para executar as contribuições sociais
devidas a terceiros, pois restringem a competência da Justiça do Trabalho
à execução das quotas das contribuições previdenciárias devidas pelo
empregador e pelo empregado, não alcançando as contribuições sociais
devidas a terceiros. Assim tem se posicionado reiteradamente esta
Corte, à exceção das contribuições referentes ao SAT e às decorrentes
da celebração de acordo perante Comissão de Conciliação Prévia, em
relação às quais esta Justiça do Trabalho é competente para promover
a execução. Recurso de embargos conhecido e provido. (E-ED-RR -
1107100-51.2004.5.09.0011 , Relator Ministro: Augusto César
Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 18/10/2012, Subseção
I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação:
DEJT 26/10/2012)

Competência normativa da Justiça do


Trabalho

O Poder Normativo da Justiça do Trabalho consiste na atribuição deste ramo


especializado do Poder Judiciário de criar normas e condições gerais e abstratas de
trabalho, com eficácia ultra partes, que repercutem nos contratos individuais de trabalho
de integrantes das categorias representadas pelos sujeitos coletivos que litigam.

Como já mencionado anteriormente, o fruto do Poder Normativo é a sentença normativa


com natureza híbrida, pois possui corpo de decisão judicial (tecnicamente, acórdão),
mas alma de lei, já que, a exemplo dos atos normativos, aplicável, de maneira geral e
abstrata, ao universo das categorias litigantes53.

O artigo 114, §2o, da Constituição da República, estabelece que “Recusando-se qualquer


das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum
acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho
decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho,
como as convencionadas anteriormente”.

Em outras palavras, o constituinte impôs limites ao poder normativo da Justiça do


Trabalho, ao determinar que se respeitem as normas coletivas firmadas anteriormente
pelas categorias, assim como os patamares mínimos estabelecidos em lei.

53 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009.

71
UNIDADE I │ Parte Geral

De todo modo, a competência funcional varia à luz da abrangência do dissídio:

»» entidades sindicais litigantes de âmbito regional: Tribunal


Regional respectivo (CLT, art. 678, I, a e Lei no 7.701/1988, art. 6o);

»» entidades sindicais litigantes de âmbito suprarregional (que


abrangem mais de um TRT) ou nacional: Tribunal Superior do
Trabalho (CLT, art. 702, I, b e Lei no 7.701/1988, art. 2o, I, a).

Competência relativa: territorial

A incompetência territorial é de ordem relativa, razão pela qual não pode ser arguida
de ofício pelo juízo (Súmula 33 do STJ e OJ 149 da SBDI-II do TST), demandando o
oferecimento pela parte Ré, no prazo de defesa (no caso trabalhista, até a audiência
inaugural), sob pena de prorrogação da competência.

Ações individuais

Regra geral

Diferentemente do que ocorre no processo civil, em que a regra geral é de que a


competência territorial seja o local do domicílio do réu, na Justiça do Trabalho a regra é
de que a competência do foro, para qualquer trabalhador, brasileiro ou estrangeiro, seja
o local da prestação dos serviços (lex loci executionis), conforme se depreende
do artigo 651, caput, da CLT.

A diferença é baseada nas particularidades do processo do trabalho, especialmente


no que se refere ao acesso à jurisdição e à conveniência na produção das
provas (acesso-celeridade-economia). Com efeito, o local da prestação de serviços é
presumidamente o de fácil acesso às partes e onde, supostamente, seria mais conveniente
a produção de provas, especial à testemunhal e à pericial.

Se o empregado tiver sido contratado em um local para prestar serviços em outra


localidade ou se tiver trabalhado em mais de um município em razão de transferências
do local de trabalho ocorridas durante a vigência do contrato de trabalho,
tem-se entendido, com base no artigo 651, §3o, da CLT e em prestígio ao livre acesso à
jurisdição, que se pode ajuizar ação trabalhista no local da contratação ou em quaisquer
das localidades de prestação de serviços.

72
Parte Geral │ UNIDADE I

Nesse sentido, o entendimento do Eg. Tribunal Superior do Trabalho:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA DO TRABALHO.


COMPETÊNCIA TERRITORIAL. BANCÁRIOS. ART. 651, § 3o,
DA CLT 1. Conflito negativo de competência para o julgamento de ação
trabalhista proposta por bancário submetido a diversas transferências no
decurso do contrato de trabalho. 2. Ao empregado bancário submetido a
sucessivas transferências e que, portanto, ora trabalhou aqui, ora acolá,
é lícito demandar em desfavor do empregador no local da contratação
ou em quaisquer dos locais de prestação dos serviços. Inteligência do
art. 651, § 3o, da CLT. 3. Conflito de competência acolhido para declarar
a competência da Vara do Trabalho de Juazeiro/BA. (CC - 734467-
95.2001.5.55.5555, Relator Ministro: João Oreste Dalazen,
Data de Julgamento: 3/4/2001, Subseção II Especializada em
Dissídios Individuais, Data de Publicação: DJ 4/5/2001)

Excepcionalmente, o Tribunal Superior do Trabalho vem relativizando a regra


do artigo 651, caput, da CLT que vincula a competência territorial ao local da
prestação de serviços para, com suporte no princípio constitucional do livre
acesso à jurisdição, permitir o ajuizamento da ação no foro do domicílio do
empregado quando este não tiver acesso ao local da prestação de serviços:

RECURSO DE EMBARGOS. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA


EM RAZÃO DO LUGAR - APRESENTAÇÃO DA RECLAMAÇÃO
TRABALHISTA EM FORO DIVERSO DAQUELE ONDE O
RECLAMANTE FOI CONTRATADO E PRESTOU SERVIÇO. Não
se nega que o critério de fixação da competência da Justiça do
Trabalho tem a clara diretriz de proteção ao hipossuficiente, como
se observa do artigo 651 da Consolidação das Leis do Trabalho. Em
atendimento a este primado, a CLT faculta ao empregado optar
entre apresentar reclamação trabalhista no foro da celebração do
contrato ou no local da prestação de serviços, nas situações em
que o empregador realiza atividades fora do lugar do contrato
de trabalho (art. 651, §3o). No caso, contudo, a hipótese é outra:
o reclamante foi contratado e prestou serviços na cidade de
Brusque/SC, local diverso do seu atual domicílio, Pelotas/RS,
aonde ajuizou a presente reclamatória. Assim, a situação atrai
a aplicação da regra geral da competência territorial do foro da
prestação dos serviços. Até porque, a competência territorial, nas
hipóteses em que há oposição de exceção nos moldes do disposto
supracitado, deve ser fixada de maneira objetiva, obedecendo
aos critérios estritos previstos no artigo 651 da Consolidação

73
UNIDADE I │ Parte Geral

das Leis do Trabalho. Todavia, nos termos da jurisprudência do


TST, em observância ao princípio constitucional do amplo acesso
à jurisdição (art. 5o, XXXV), é competente para o julgamento da
demanda trabalhista o foro do domicílio do empregado, quando
lhe for mais favorável que a regra do art. 651 da CLT, nos casos
em que ficar inconteste que a empresa reclamada regularmente
presta serviços em diversas localidades do território nacional.
Essa interpretação, repita-se, na hipótese de tratar-se de empresa
de grande porte, prestadora de serviços em distintas localidades
do país, além de não cercear o direito de defesa da demandada
dado o seu vasto âmbito de atuação, mostra-se consonante ao
princípio da proteção, ínsito ao Direito do Trabalho, atendendo
ao objetivo da facilitação do acesso do hipossuficiente à justiça.
Tratando-se, pois, de empresa de âmbito nacional, que realiza
contratação e presta serviços em localidades distintas do
país, é possível a aplicação ampliativa do § 3o do artigo 651 da
CLT, permitindo ao reclamante o ajuizamento da reclamação
trabalhista no local do seu domicílio, se mais favorável. Em tal
situação o reconhecimento da competência da Vara do Trabalho
com jurisdição no local do domicílio do reclamante atende de
forma harmônica aos fins sociais do artigo 651 da CLT e do já
citado art. 5o, inciso XXXV, da Carta Constitucional, que garante o
livre acesso ao Judiciário. No caso, não há notícia nos autos que
a empresa demandada preste serviços em diferentes localidades
do país. Nesse contexto, não há que se cogitar na aplicação da
exceção firmada por esta Corte em relação ao artigo 651 da CLT.
Precedentes da SDI12 e de Turmas do TST. Recurso de embargos
conhecido e desprovido. (E-RR - 420-37.2012.5.04.0102 , Relator
Ministro: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento:
19/2/2015, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Data de Publicação: DEJT 6/3/2015)

Empregado agente ou viajante comercial

O artigo 651, §1o, da CLT, estabelece que o agente ou viajante comercial deverá ajuizar
ação trabalhista na localidade em que a empresa tenha agência ou filial a que esteja
vinculado (domicílio do réu) e, na falta de vinculação a um estabelecimento específico,
na localidade em que o empregado tiver domicílio (domicílio do autor) ou na localidade
mais próxima (a seu domicílio).

74
Parte Geral │ UNIDADE I

Empregado brasileiro que trabalha no estrangeiro

Empregado brasileiro – nato ou naturalizado - que tenha trabalhado em agência ou filial


no exterior poderá ajuizar ação trabalhista perante a Justiça do Trabalho brasileiro,
desde que não exista tratado internacional fixando outro critério de competência, à luz
do artigo 651, §2o, da CLT.

Quanto à Vara do Trabalho, parece lógico reconhecer que seria aquela do local da
contratação antes de o empregado se transferir para o estrangeiro e/ou da sede ou filial
da empresa no Brasil, se existir.

Empresa que promove atividade fora do lugar da


celebração do contrato

Finalmente, o artigo 651, §3o, da CLT, dispõe que “em se tratando de empregador que
promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao
empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação
dos respectivos serviços”.

Sobre tal dispositivo, há duas interpretações:

a. Restritiva: considera apenas os empregadores que desenvolvem suas


atividades em lugares incertos, transitórios ou eventuais, tais como
empresas circenses, construtoras com sede em uma localidade e prestação
de serviços em outras.

b. Ampliativa: considera qualquer situação em que a contratação foi feita


em um lugar e a prestação de serviços realizada em outros ou outras
localidades.

Como visto, em item anterior deste capítulo, o Tribunal Superior do Trabalho adotou
a segunda corrente. Assim, independentemente do caráter provisório e precário da
prestação de serviços de uma empresa em determinada localidade, se o empregado
foi contratado em um lugar (trabalhando ou não durante um determinado período
neste lugar), sendo transferido para outra localidade com mudança de domicílio, o
foro competente é concorrente, podendo o autor da ação optar por qualquer local:
contratação ou prestação de serviços.

Segue outro julgado para fixação:

COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR - POSSIBILIDADE DE


ELEIÇÃO DO FORO PELO EMPREGADO - LOCAL DA CONTRATAÇÃO

75
UNIDADE I │ Parte Geral

OU DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS - INTERPRETAÇÃO DO ART.


651, § 3o, DA CLT. 1. A competência para o ajuizamento de reclamação
trabalhista, em geral, é a da localidade em que o empregado presta os
serviços (CLT, art. 651, -caput-). No entanto, os parágrafos do art. 651
Consolidado dispõem a respeito das exceções a essa regra e, dentre elas,
avulta a exceção do § 3o, que possibilita a apresentação da reclamação
na localidade da prestação dos serviços ou na da celebração do contrato,
hipótese em que a lei estabelece como condição apenas a promoção
pelo empregador de realização de atividades fora do lugar do contrato
de trabalho, sem nenhuma referência à imprescindibilidade de se tratar
de atividades geograficamente transitórias. 2. Diante das premissas
fáticas lançadas no acórdão recorrido, de que o Reclamante teve o seu
contrato de trabalho celebrado em Brasília(DF) - sede da Reclamada
- tendo prestado serviços exclusivamente no Rio de Janeiro(RJ),
verifica-se que o Empregado realmente se enquadrava na situação
descrita no § 3o do art. 651 da CLT, qual seja, da possibilidade de escolha
do local para ajuizamento da ação, entre o lugar da prestação de serviços
e o lugar da contratação. 3. Por outro lado, esta Corte Superior já se
posicionou no sentido de que o art. 651, § 3o, da CLT faculta ao Obreiro
a eleição do foro, desde que o empregador promova a realização das
atividades fora do lugar do contrato de trabalho, como -in casu-, pois
o dispositivo consolidado enseja interpretação que vise à garantia de
todos os princípios protetivos do Direito do Trabalho e de acesso ao
Poder Judiciário prevista no art. 5o, XXXV, da Constituição Federal.
4. Assim, o acórdão regional merece reforma para que seja afastada
a exceção de incompetência territorial, com o consequente retorno
dos autos à 15ª Vara do Trabalho de Brasília(DF). Recurso de revista
conhecido e provido. (Processo: RR - 108600-57.2009.5.10.0015 Data
de Julgamento: 27/4/2011, Relatora Juíza Convocada: Maria Doralice
Novaes, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 6/5/2011).

Ações metaindividuais
À luz da OJ 130, da SBDI-II, do TST, a competência territorial relacionada a ações civis
públicas depende da extensão do dano, consoante artigos 2o da Lei no 7.347/1985 e 93
do Código de Defesa do Consumidor:

»» Dano de extensão regional: Vara do Trabalho da localidade do dano.


Se o dano atingir mais de uma cidade, Vara do Trabalho de qualquer
localidade atingida, ainda que vinculadas a Tribunais Regionais distintos.
76
Parte Geral │ UNIDADE I

»» Dano de abrangência suprarregional ou nacional: Varas do


Trabalho das sedes dos Tribunais Regionais.

O item IV, da OJ 130, esclarece que “estará prevento o juízo a que a primeira ação
houver sido distribuída”.

Modificações de competência
A competência dos órgãos da Justiça do Trabalho poderá ser modificada nas hipóteses
de prorrogação, conexão, continência ou prevenção.

Poderá ser prorrogada quando o Reclamado não apresentar exceção de incompetência


territorial (CPC/2015, art. 65). Nesse caso, o juízo, originariamente incompetente sob
o prisma territorial, passa a ser competente em razão da preclusão em se discutir a
incompetência relativa (prorrogação) (CLT, art. 795, §1o).

Em prestígio à celeridade e economia processual, a competência relativa (no caso


trabalhista, territorial) também poderá ser modificada por conexão, ou seja, a
coincidência entre duas ou mais ações da causa de pedir ou pedido (CPC/2015, arts.
54 e 55), para propiciar o julgamento pelo mesmo juízo, evitando-se não apenas a
maximização dos recursos humanos e financeiros dos órgãos da Justiça do Trabalho,
mas também decisões contraditórias que abalam a confiança da sociedade na segurança
jurídica do Poder Judiciário.

Já a continência, outra hipótese de modificação de competência, ocorre quando duas


ou mais ações possuem identidade de partes, causa de pedir mais o pedido de uma é
mais amplo e abrangente dos demais (CPC/2015, art. 56)

Finalmente, ocorre prevenção quando, correndo duas ou mais ações conexas perante
juízes de mesma competência territorial, será competente (e prevento) aquele que
primeiro despachar (CPC/2015, art. 59). Como no processo do trabalho não há despacho
saneador, tem-se considerado prevento o juízo em que ajuizada a primeira ação, à luz
da data registrada de protocolo.

À luz do artigo 286, do CPC/2015, serão distribuídas por dependência as causas que
a) se relacionarem, por conexão ou continência, com oura já ajuizada; b) sucederam
àquela idêntica (mesmas partes, ainda que ampliado o litisconsórcio, causa de pedir e
pedido) que foi extinta sem julgamento de mérito; e c) tiverem risco de gerar decisões
conflitantes ou contraditórias se decididas separadamente, ainda que sem conexão
entre elas.

77
UNIDADE I │ Parte Geral

Conflitos de competência
O conflito de competência, também conhecido na CLT como conflito de jurisdição,
é um incidente processual, arguido pelos juízos e tribunais, Ministério Público do
Trabalho ou pelas partes interessadas (CLT, art. 805), em que se busca a definição de
competência em hipóteses em que dois órgãos judiciais se proclamam competentes
(conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo).

De acordo com o artigo 808, da CLT, os conflitos de competência serão dirimidos: a)


pelo respectivo Tribunal Regional quando suscitados entre Juízes de Trabalho (ou
juízes de direito investidos da jurisdição trabalhista) de mesma região; b) pelo Tribunal
Superior do Trabalho, quando suscitados entre Tribunais Regionais ou entre Juízes do
Trabalho e Juízes de Direito sujeitos à jurisdição de regionais distintos. O artigo 102,
inciso I, alínea o, da Constituição Federal, prevê a competência do Superior Tribunal
de Justiça para dirimir conflitos de competência entre juízes vinculados a Justiças
diversas (Justiça Federal X Justiça do Trabalho), entre Tribunais Superiores e entre
estes Tribunais Superiores e quaisquer outros Tribunais.

O processamento do conflito de competência será regulado pelos artigos 809 e 810 da


CLT, quando for decidido por algum órgão jurisdicional trabalhista.

78
Capítulo 4
Teoria Geral do Processo

Ação e condições da ação


O emprego de violência ou qualquer mecanismo autoritário para solução de
controvérsias é prática, via de regra, vedada pelos Estados modernos, pois normalmente
nesses casos, além do arbítrio e da instabilidade social gerada, a superação dos
conflitos não é determinada pela razão, justiça ou direito, mas em favor de quem tem
mais força ou maior capacidade de resistência. Assim, a partir da decisão de vivermos
em sociedade (contrato social), foi necessário conceber um sistema adequado e efetivo
de solução de conflitos pelo Estado, concebido para garantir segurança e justiça às
relações sociais por meio de mecanismos de prevenção e reparação das lesões aos
direitos das pessoas.

Para que o Estado não ficasse fomentando desnecessariamente conflitos que pudessem
ser legítima e naturalmente resolvidos ou assimilados pelas próprias partes, a atividade
jurisdicional, à luz do princípio da inércia, somente é exercida quando provocada pela
parte interessada.

A forma de se manifestar a vontade quando ao interesse de exigir do Estado a tutela


jurisdicional adequada e efetiva se dá por meio do exercício do direito de ação (CF, art.
5o, XXXV), compreendido por Carlos Henrique Bezerra Leite54 como:

um direito público, humano e fundamental, autônomo e abstrato,


constitucionalmente assegurado à pessoa, natural ou jurídica, e a
alguns entes coletivos, para invocar a prestação jurisdicional do Estado,
objetivando a tutela de direitos materiais individuais ou metaindividuais.

Em sentido similar, Manoel Antônio Teixeira Filho conceitua ação como “direito
subjetivo público autônomo, de natureza constitucional, mediante o qual o autor,
satisfeitos os requisitos legais, pede um pronunciamento jurisdicional do Estado a
respeito de um interesse manifestado, sem que o adversário possa impedir a invocação
dessa tutela”55.

Os elementos da ação são as partes (pessoas jurídicas ou físicas ou entes


despersonalizados que figuram na relação jurídica processual), a causa de pedir
(razões fáticas e jurídicas que informam a pretensão deduzida em juízo) e o pedido
(imediato: solicitação da prestação jurisdicional; mediato: bem da vida solicitado).

54 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 376
55 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 484.

79
UNIDADE I │ Parte Geral

Tradicionalmente, as ações são classificadas como:

»» de conhecimento: em que se busca um pronunciamento acerca do


mérito para solução do conflito de interesses;

»» executivas: em que se pretende que o Estado torne efetiva a determinação


contida no título judicial;

»» cautelares: que possuem a finalidade de assegurar a eficácia prática


do provimento definitivo, ou seja, o resultado útil do processo principal
(caráter instrumental).

O direito de ação não é absoluto, pois para ser validamente exercido é necessário que o
Autor satisfaça algumas condições:

»» legitimidade das partes (ad causam): pertinência subjetiva da


ação, ou seja, identidade entre quem propôs a ação (ativa) e em face da
qual a ação é proposta (passiva) e, na perspectiva apontada na inicial, a
titularidade do direito e da obrigação deduzida em juízo;

»» interesse de agir: necessidade-utilidade-adequação, compreendido


pela percepção de utilidade do exercício do direito da ação como
mecanismo necessário à obtenção do bem da vida a partir da
relação de adequação entre a via processual escolhida, a situação
narrada e o provimento jurisdicional pretendido.

Seguindo a revisão proposta pelo ilustre jurista italiano Enrico Tulio Liebman, o novo
Código de Processo Civil, por meio dos artigos 17 e 485 do NCPC, não mais prevê
como condição da ação a impossibilidade jurídica do pedido. Tal posicionamento se
baseia na ideia de que é de mérito a discussão sobre a existência de alguma vedação no
ordenamento jurídico ao pedido deduzido em juízo.

Para a moderna teoria geral do processo, o direito público subjetivo de provocar a tutela
jurisdicional do Estado é autônomo e abstrato, não se vinculando à procedência do
direito material perseguido em juízo. As condições da ação, portanto, merecem exame
segundo juízo hipotético e provisório de veracidade, à vista do afirmado na peça de
ingresso (teoria da asserção).

Processo e pressupostos processuais


O vocábulo processo provém do latim processos, o qual dá a ideia de seguir adiante ou
caminhar para frente. Juridicamente, “processo é o método, a técnica, o instrumento de

80
Parte Geral │ UNIDADE I

que se utiliza o Estado para, no exercício do seu poder-dever jurisdicional monopólico,


solucionar os conflitos de interesses, individuais ou coletivos, que tenham por objeto
um bem ou uma utilidade da vida”.56 Modernamente, o processo tem sido dividido em
a) de conhecimento, b) de execução, c) cautelar e d) mandamental.

Processo e procedimento não se confundem, pois enquanto o primeiro se revela um


conjunto de atos processuais coordenados para se chegar à solução jurisdicional
(dimensão substancial), o segundo é o aspecto exterior do processo, a forma como
os atos processuais se desenvolvem dentro da relação jurídica processual (dimensão
formal).

Do ponto de vista prático, a diferenciação não é inútil, pois as competências legiferantes


se diferenciam em se tratar de norma de direito processual ou procedimental. Enquanto
a União tem competência privativa para legislar sobre processo (CF, art. 22, I), há
competência concorrente entre União, Estados e Distrito Federal para legislar sobre
procedimento.

O procedimento é classificado como comum ou especial, sendo que aquele primeiro


é subdivido em ordinário, sumário ou sumaríssimo.

No processo do trabalho, o procedimento comum pode ser:

»» ordinário (CLT, arts. 837 a 852) para causas acima de 40 salários


mínimos;

»» sumaríssimo (CLT, arts. 852-A a 852-I) para causas até 40 salários


mínimos; e

»» sumário (Lei no 5.584/1970) para causas até 2 salários mínimos.

Já os procedimentos especiais são aqueles que possuem particularidades impostas


pela lei distintas das regras previstas para procedimento comum, como, por exemplo,
aqueles alusivos às seguintes ações:

»» Inquérito Judicial para Apuração de Falta Grave (CLT, art. 853 e


seguintes).

»» Dissídio Coletivo (CLT, art. 856 e seguintes).

»» Ação de Cumprimento (CLT, art. 872).

»» Mandado de Segurança.

56 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 175

81
UNIDADE I │ Parte Geral

»» Habeas Corpus, Habeas Data.

»» Ação Rescisória.

»» Ação Cautelar.

»» Ação de Consignação em Pagamento.

O ordenamento jurídico estabelece requisitos indispensáveis à existência e à


validade da relação jurídica (CPC/2015, art. 485)57.

1. Pressupostos de existência do processo:

a. jurisdição;partes; e

b. ação.

2. Pressupostos de validade do processo:

a. inexistência de incompetência absoluta;

b. inexistência de inépcia da petição inicial;

c. inexistência de perempção;inexistência de litispendência;

d. inexistência de coisa julgada; inexistência de conexão;

e. inexistência de incapacidade de parte, defeito de representação ou falta


de autorização, inexistência de causas suspensivas ou extintivas do
processo.

57 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 187

82
Fase de
Conhecimento Unidade iI
de Primeiro Grau

Capítulo 1
Petição inicial

Considerações preliminares
A petição inicial é a peça inaugural (ou instrumento) do processo em que o Autor exerce
o direito de ação a partir da provocação da tutela jurisdicional do Estado58.

Manoel Antônio Teixeira Filho conceitua petição inicial como “o ato pelo qual se
provoca a ativação do poder-dever jurisdicional do Estado e se pede um provimento,
cujos efeitos estarão vinculados ao direito material que se esteja procurando ver
reconhecido ou protegido (conquanto o exercício do direito de ação não pressuponha,
necessariamente, a existência do direito material, como sabemos)”59.

A petição inicial tem as seguintes características:60

»» peça formal, pois para propiciar sua exata compreensão pelo


Estado-juiz e propiciar o exercício de ampla defesa pelo Réu é necessário
o atendimento de alguns requisitos estabelecidos em lei (CLT, art. 840 e
CPC/2015, art. 319);

»» define os limites subjetivos e objetivos da lide, pois identifica os


sujeitos da relação processual e a causa de pedir;

»» quebra a inércia do Poder Judiciário.

A reclamação trabalhista, no processo do trabalho, pode ser escrita ou oral (CLT, art.
840, caput).

58 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a
Lei no 13.256/16. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 291.
59 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 639
60 PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 3. ed. São Paulo, Saraiva, 2014. p. 407

83
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

A possibilidade de ajuizamento de reclamação trabalhista oral foi prevista com base


no jus postulandi e princípios da simplicidade, informalidade, oralidade e economia
processual, justamente para não se impor barreiras linguísticas e econômica ao
empregado – normalmente hipossuficiente – no acesso à ordem jurídica justa e
adequada. Entretanto, é cada vez menos comum a apresentação de reclamação oral,
pois o mercado se ajustou no sentido de contratação de advogados por empregados
mediante o ajuste de percebimento de honorários advocatícios ad exitum, em forma de
porcentagem daquilo que se ganha ao final, o que obviamente evita ou reduz custos no
momento do ajuizamento da ação.

De todo modo, caso, excepcionalmente, o empregado queira ajuizar ação oral, os artigos
786 e 731 da CLT determinam a obrigação de se retornar para redução a termo da
pretensão no prazo de 5 dias, sob pena de perda do direito de reclamar perante a Justiça
do Trabalho por seis meses (perempção provisória). A bem da verdade, o artigo 731, da
CLT, caiu em desuso, não apenas pelas poucas ações orais hoje em dia deduzidas, mas
especialmente porquanto, quando escolhida tal via, a redução a termo é feita na hora,
no exato momento em que o autor comparece para fazer a ação oral, sem necessidade
de retornar ao foro ou distribuição para a providência de colocar no papel o pedido.

Oportuno ainda destacar que, com o processo judicial eletrônico (PJe), as reclamações
orais se tornaram mais incomuns ainda, pois é necessário inserir a petição inicial no
sistema. De todo modo, para que o PJe não seja instrumento de impedir a aplicação da
via oral prevista no artigo 840 da CLT, haverá uma unidade Judiciária em cada foro
ou tribunal destinada à redução a termo das petições em casos de jus postulandi e ato
urgente em que o usuário externo não possua certificado digital (Resolução no 153/2014
do CSJT, art. 23).

De todo modo, independentemente de se tratar de autos físicos ou eletrônicos, existem


algumas ações que, em razão do rito especial, somente podem ser veiculadas por petição
escrita: inquérito para apuração de falta grave (CLT, art. 853), dissídio coletivo (CLT,
art. 856), mandado de segurança, ação cautelar, ação rescisória, ação civil pública.

À luz do artigo 840 da CLT, a petição inicial trabalhista deve ser veiculada em
quantidade suficiente ao número de reclamados, mais uma via para ser acostada ao
autos do processo. Assim, se são 2 Réus, o reclamante deve disponibilizar, no momento
do protocolo da reclamação, três vias, sendo duas para acompanhar as respectivas
citações e uma para ser juntada aos autos.

Providências preparatórias
Antes de elaborar a petição inicial, é necessário o subscritor adotar algumas providências
necessárias:

84
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

»» reunião de informações sobre a pretensão, normalmente realizada


mediante dados obtidos por meio de documentos, com a própria parte ou
terceiros, geralmente através de entrevista pessoal ou por qualquer meio
telemático;

»» passagem pela Comissão de Conciliação Prévia: antes considerada


etapa obrigatória, atualmente a provocação da Comissão de Conciliação
Prévia é faculdade atribuída à parte, caso queira tentar solução compositiva
em órgão extrajudicial (CLT, art. 625-D e ADINs nos 2139 e 2160);

»» cadastramento da ação no PJe (Res. 153/14, art. 26): não


necessário na hipótese de ajuizamento de ação em autos físicos.

Requisitos
A regularidade da petição inicial é pressuposto processual necessário não apenas para
que o juiz tenha a dimensão dos limites subjetivos e objetivos da pretensão deduzida
em juízo, mas também para propiciar o exercício da ampla defesa pelo Réu.

Existem elementos subjetivos e objetivos imprescindíveis à regularidade da petição


inicial.

São subjetivos, os seguintes elementos:61

»» precisão: descrição dos fatos relevantes ao deslinde da controvérsia


pautada na exatidão e determinação, evitando-se informações vagas;

»» clareza: inteligibilidade das ideias no relato exordial, por meio de


articulação direta que permita a exata compreensão da mensagem
transmitida;

»» concisão: objetividade na exposição dos motivos fáticos e jurídicos que


alicerçam a pretensão, devendo ser evitada a indicação de fatos que não
contribuem ao deslinde da controvérsia.

Os elementos objetivos da petição inicial trabalhista podem ser encontrados nos artigos
840 da CLT e 319 do CPC/2015, supletivamente aplicável ao processo do trabalho, à luz
dos artigos 15 do CPC/2015 e 769 da CLT:

61 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 642

85
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

»» endereçamento da petição inicial: com indicação do juízo (Vara ou


Tribunal) para o qual a petição inicial é dirigida (CLT, art. 840 e CPC, art.
319, I);

»» qualificação das partes: nomes, prenomes, o estado civil, a existência


de união estável, a profissão, o número de Cadastro de Pessoas Físicas ou no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio
e a residência do autor e do réu. Dada a falta de informação, o empregado
muitas vezes não possui muitos elementos sobre o empregador. Nesse
caso, se a citação do Reclamado foi possível com os dados informados na
exordial, ainda que incompletos, o juiz deve aproveitar a petição inicial, à
luz do princípio da informalidade, mandando anotar no sistema os dados
cadastrais obtidos a posteriori;

»» causa de pedir: conquanto o artigo 840 da CLT exija apenas um


“breve relato dos fatos”, a doutrina majoritária tem adotado a teoria da
substanciação prevista no artigo 319, III, do CPC/2015, em que é exigida
não apenas a descrição fática (causa de pedir próxima), mas também
os fundamentos jurídicos que alicerçam a pretensão (causa de pedir
remota)62;

»» pedidos e suas especificações: pedido de tutela jurisdicional (pedido


imediato) e pedido do bem da vida pretendido (pedido mediato). Os
pedidos precisam ser certos e determinados (CPC, arts. 322 e 324) e, no
rito sumaríssimo, líquidos (CLT, art. 852-B, II);

»» valor da causa: a despeito de não existir referência do valor da causa


no artigo 840 da CLT, tem-se entendido que tal elemento é essencial
no processo do trabalho (CPC/2015, art. 291) para63: a) estabelecer o
procedimento (ordinário, sumaríssimo e sumário); b) definir restrições
recursais (sumaríssimo e sumário); c) calcular valor das custas em
hipóteses de extinção sem resolução de mérito e improcedência dos
pedidos da ação; d) calcular o valor de multa por litigância de má-fé ou
recurso protelatório;data e assinatura: conquanto o CPC seja omisso,
é imprescindível a assinatura do advogado ou da parte no exercício do jus
postulandi, sob pena de ato inexistente. A data, com o devido respeito,
não se parece elemento essencial, pois, independentemente do registro
feito na exordial, haverá a data de protocolo, essa sim é essencial para
62 Alguns autores defendem que, em razão do jus postulandi e da simplicidade do processo do trabalho, não seria necessária a
apresenção da causa de pedir remota, bastando a simples exposição fática.
63 Existe entendimento minoritário que sustenta que, a despeito de todo ação ter que tem um valor (CLT/15, art. 291), o valor da
causa, embora seja elemento recomendável, não é requisito essencial à petição inicial trabalhista (CLT, art.
840), pois o juiz deverá suprir omissão na forma do artigo 2o, da Lei 5.584/1970.

86
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

interrupção do prazo prescricional, incidência de juros de mora, análise


de eventual prevenção etc.

Oportuno mencionar que o artigo 334 do CPC/2015, que estabelece a audiência de


conciliação e mediação, não se aplica ao processo do trabalho, à luz do artigo 2o, IV, da
IN 39/2016, pois, além de existirem regras próprias para a realização das audiências
trabalhistas, a referida providência, por possibilitar a realização da audiência apenas
pelos advogados e mediador, violaria os princípios da celeridade, imediatidade, jus
postulandi e presença obrigatória das partes à audiência. Assim, não é elemento da
petição inicial trabalhista a opção do autor pela realização ou não de audiência de
conciliação ou de mediação (CPC, art. 319, VII).

A indicação das provas a serem utilizadas e o requerimento de citação do Réu, elementos


previstos no antigo artigo 282 do CPC/1973, além de não terem sido repetidos no artigo
319 do CPC/2015, já não eram elementos essenciais à petição inicial trabalhista.

ART. 319 DO CPC/2015 ART. 840 DA CLT CONCLUSÃO

Juízo a que é dirigida. Designação do presidente Proposições similares.


da Vara, ou do juiz de
Direito, a quem for dirigida.

Os nomes, prenomes, o estado civil, a existência de Qualificação do reclamante Proposições similares: aplica-se o artigo 840, § 1o, da
união estável, a profissão, o número de Cadastro de e do reclamado. CLT, observando a orientação do art. 282, II, do CPC.
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a
residência do autor e do réu*.

Os fatos e fundamentos jurídicos do pedido. Uma breve exposição dos Atualmente, tem-se entendido pela necessidade de
fatos. fundamentação jurídica.

O pedido e suas especificações. O pedido. Proposições similares.

O valor da causa. -------------0------------ A maior parte da doutrina entende ser elemento


essencial, especialmente para firmar o rito. Entretanto,
há quem defenda que valor da causa, embora seja
elemento recomendável, não é requisito essencial à
petição inicial, pois o juiz poderá suprir a omissão na
forma do artigo 2o, da Lei 5.584/1970.

A opção do autor pela realização ou não de audiência -------------0------------ Pelo princípio da simplicidade, tal exigência é
de conciliação ou de mediação. dispensável.

--------------------------0--------------------------- Data e Assinatura. A despeito da omissão do CPC, é necessária a


assinatura do subscritor da petição inicial.

Fonte: Elaborado pelo autor.

No rito sumaríssimo, a petição inicial precisa indicar corretamente o nome


e o endereço das partes, além de conter pedidos líquidos que expressem o
respectivo valor em unidades monetárias (reais), sob pena de arquivamento,
sem possibilidade de emenda da petição inicial (CLT, art. 852-B, I e II, §1o).

87
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

Documentos que devem acompanhar a


petição inicial

À luz dos artigos 787 da CLT e 320 do CPC/2015, a petição inicial deverá vir
acompanhada dos documentos necessários à comprovação dos fatos alegados,
sendo excepcionalmente permitida a juntada posterior de outros documentos
quando a) destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados, b) para
contrapô-los aos que foram produzidos nos autos ou em razão de justo impedimento
de juntada anterior nas hipóteses de desconhecimento, inacessibilidade ou
indisponibilidade documental (CPC/2015, art. 435).

Os tipos de documentos que devem acompanhar a petição inicial dependem muito


da pretensão deduzida em juízo, pois são aqueles necessários a reforçar as alegações
apresentadas na exordial. Normalmente, a petição inicial é instruída com cópia da
página de registro da CTPS, contrato de emprego e ajustes acessórios (acordo de
compensação de jornada, por exemplo), contracheques, folhas de ponto, extrato de
FGTS entre outros. Entretanto, é possível que o empregado não disponha de qualquer
documentação, especialmente quando a relação jurídica, a despeito da presença dos
elementos do vínculo empregatício (CLT, arts. 2o e 3o), não foi regularmente formalizada.

Alguns juízes defendem que, por força do artigo 845 da CLT, é possível a juntada
posterior de documentos, ainda que disponíveis e acessíveis anteriormente, ou seja,
fora das hipóteses do artigo 435 do CPC/2015. O argumento é que o processo do
trabalho é marcado pela simplicidade e que, muitas vezes, é difícil a reunião de todos os
documentos por ocasião do ajuizamento da ação, razão pela qual, em prestígio à busca
da verdade real dos fatos, é possível a produção posterior de outras provas, prerrogativa
expressamente autorizada pelo artigo 845 da CLT.

Oportuno mencionar que, no mandado de segurança, a inicial deve necessariamente


estar acompanhada dos documentos necessários à comprovação da prática do ato da
autoridade pública que resultou em lesão ao direito líquido e certo do impetrante (Lei
no 12.016/2009, art. 6o, caput).

Por sua vez, na ação rescisória a juntada da certidão de trânsito em julgado da decisão
rescindenda é obrigatória (Súmula 299, I, do TST).

Segundo o artigo 830 da CLT, os documentos podem ser juntados nos originais ou
em cópias autenticadas ou declaradas autênticas pelo advogado, sob pena de sua
responsabilidade pessoal.

88
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

No PJe, os documentos deverão ser digitalizados, classificados e organizados


por quem os juntar para facilitar o exame dos autos eletrônicos (Resolução CSJT
136/2014, art. 22)

Acumulação de ações
O artigo 842 da CLT permite a cumulação subjetiva de ações, ou seja, a formação de
litisconsórcio ativo facultativo de empregados na hipótese de existir identidade de
matéria e se tratar do mesmo empregador.

Muitos juízes têm entendimento não ser possível a referida cumulação por ausência
de identidade de matéria quando, a despeito da coincidência das parcelas trabalhistas
postuladas, os aspectos fáticos próprios do contrato de trabalho de um empregado são
diferentes daqueles do outro trabalhador.

É importante mencionar que o mesmo empregado não se encontra autorizado a ajuizar,


em uma mesma ação, pedidos alusivos a dois contratos de trabalho mantidos com dois
empregados que não mantenham entre si qualquer vinculação jurídica.

Modificação da petição inicial

A petição inicial pode ser modificada voluntariamente pelo Autor ou por


determinação judicial.

No caso de ato de vontade do Autor, a modificação da petição inicial é possível, sem ou


com consentimento do Réu, a depender da fase processual:

»» Antes da citação: a modificação pode ser feita unilateralmente


(CPC/2015, art. 329, I). Alguns autores, como Manoel Antônio Teixeira
Filho, entendem que, no processo do trabalho, considerando que a defesa
é entregue apenas em audiência, a modificação da petição inicial, sem
concordância do Réu, pode ser feita até a entrega da petição inicial64.

»» Entre a citação e a entrega da defesa pelo Réu: apenas com o


consentimento do réu (CPC/2015, art. 329, §1o), lembrando que no
processo do trabalho não há despacho saneador. Depois da entrega
da defesa do Réu: não é possível, via de regra, modificação em face da
estabilização da lide.

64 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Comentários ao novo código de processo civil sob a perspectiva do processo do trabalho.
São Paulo: Ltr, 2015. p. 372.

89
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

A petição inicial também pode ser alterada por determinação judicial (e nos limites
desta) em razão de defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento do
mérito ou o exercício da ampla defesa (CPC, arts. 321 e 330, I, §1o). Nesse caso, o juiz
determina que o autor emende a petição inicial, no prazo de 15 dias, nos termos do
artigo 321 do CPC/2015.

Embora seja conveniente que a determinação seja feita o quanto antes para evitar
atrasos desnecessários, em princípio, a determinação de emenda pode ser realizada a
qualquer tempo, já que a regularidade da petição inicial é pressuposto processual.

Em princípio, a determinação de emenda somente pode ser realizada no rito ordinário,


já que o rito sumaríssimo não comporta tal dilação, por aplicação analógica do artigo
852-B, §1o, da CLT.

Desistência

O reclamante pode, unilateralmente, desistir da ação até antes da defesa. A partir da


entrega da defesa, a desistência dependerá do consentimento do Réu (CPC, art. 485,
VIII, §4o).

A renúncia (CPC, art. 487, III, c), a despeito de censurada no processo do trabalho em
razão da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, não depende do consentimento do
Réu, pois atinge o direito material em que se funda a ação (res in iudicio deducta).

Indeferimento da petição inicial

O artigo 330 do CPC dispõe sobre as hipóteses de indeferimento da petição inicial:

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:

I - for inepta;

II - a parte for manifestamente ilegítima;

III - o autor carecer de interesse processual;

IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.

§ 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:

90
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;

II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que


se permite o pedido genérico;

III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

V - contiver pedidos incompatíveis entre si.

§ 2o Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente


de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor
terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as
obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de
quantificar o valor incontroverso do débito.

§ 3o Na hipótese do § 2o, o valor incontroverso deverá continuar a ser


pago no tempo e modo contratados.

Sobre os casos em que o indeferimento da petição inicial deve ser precedido de


oportunidade para se sanar o vício, o TST publicou a Súmula 263:

PETIÇÃO INICIAL. INDEFERIMENTO. INSTRUÇÃO


OBRIGATÓRIA DEFICIENTE. Salvo nas hipóteses do art. 330 do
CPC de 2015 (art. 295 do CPC de 1973), o indeferimento da petição
inicial, por encontrar-se desacompanhada de documento indispensável
à propositura da ação ou não preencher outro requisito legal, somente é
cabível se, após intimada para suprir a irregularidade em 15 (quinze) dias,
mediante indicação precisa do que deve ser corrigido ou completado, a
parte não o fizer (art. 321 do CPC de 2015).

91
Capítulo 2
Atos intermediários de órgãos auxiliares

Após o ajuizamento da ação trabalhista, é realizada uma série de atos intermediários


entre o protocolo e a designação de audiência.

Antes da implantação do PJe

Assim, a ação é autuada (recebe um número próprio).

Se na localidade existir apenas uma Vara do Trabalho, a ação será apresentada


diretamente à secretaria do órgão (CLT, arts. 783 e 837). Entretanto, nas localidades
de mais de uma Vara, a reclamação será submetida à distribuição (CLT, art. 838) para,
não apenas propiciar uma distribuição equânime de trabalho, mas especialmente para
respeitar os princípios do juiz natural e da imparcialidade, por meio de uma escolha
aleatória entre os diversos juízos, sem direcionamento a um determinado juízo de
preferência da parte autora.

Em seguida, é feito o cadastramento e registrada a reclamação, no passado em livro


próprio e, atualmente, no próprio sistema de acompanhamento processual de cada
tribunal (CLT, art. 784).

Findos tais procedimentos, a reclamação é remetida ao juízo competente (CLT, art.


788).

Chegando os autos à Vara do Trabalho, deverão, no prazo de 48 horas, serem realizadas


as seguintes providências previstas no artigo 841 da CLT: a) designação da audiência que
deverá ser marcada de modo a observar interstício de pelo menos 5 dias (20 dias para a
Fazenda Pública, quando esta for Ré, que tem prazo em quádruplo para contestar – DL
779/69) entre o recebimento da citação do Réu e a realização da audiência; b) notificação
da reclamante para comparecer à audiência (inaugural ou uma); e c) notificação da
reclamada para apresentar sua modalidade de resposta na audiência designada.

A notificação do reclamante, representado por advogado, é feita, segundo a


praxe forense, por publicação em diário de justiça, procedimento mais barato, fácil e
simples. Entretanto, pode ser feita ainda por comunicação postal (CLT, art. 841, §2o),
especialmente nas hipóteses em que estiver no exercício do jus postulandi, o que tem
se demonstrado bastante raro ultimamente. Embora também seja incomum, verifica-se

92
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

a intimação pessoal quando se trata de Vara única da localidade e esta já informa o dia
da audiência no momento do protocolo da ação em secretaria (CLT, arts. 783 e 837).

A notificação do reclamado normalmente é feita de forma postal, mediante aviso


de recebimento, entregue pelo carteiro da Empresa de Correios e Telégrafos (CLT, art.
841, §1o). Em caso de embaraço (recusa no recebimento da notificação ou reclamado
não encontrado por se encontrar ausente, por exemplo), o artigo 841, §1o, da CLT, já
determina a citação por edital. Entretanto, como o edital normalmente não é lido pelos
reclamados, se constituindo em mera regularização formal da citação, muitos juízes
têm determinado, nesses casos, a citação por oficial de justiça, expediente mais seguro
e efetivo. Se ainda não restar frutífera a diligência, não há outra alternativa que não a
citação por edital.

A notificação do reclamado tem natureza dúplice, pois, ao mesmo tempo que o comunica
sobre a existência de uma ação em face de seus interesses (citação), informa sobre a
designação da audiência (intimação).

Informa as notificações trabalhistas o princípio da impessoalidade, segundo o qual


não é necessário, via de regra, que a comunicação postal seja entregue pessoalmente
às pessoas das partes ou de seus representantes legais. Basta que a notificação postal
seja recebida no endereço da parte para se considerar presumidamente entregue ao
destinatário final. Se ficar evidenciado que a notificação não foi entregue à parte, pois
esta se encontrava em viagem, tal fato deverá ser comprovado para restar configurada
nulidade de citação.

A União e o Ministério Público são exceções a este princípio, pois precisam ser notificados
pessoalmente (LC 75/93, art. 84, IV e Lei no 11.419/2006, art. 9o).

A Súmula 16, do TST, orienta no sentido de se considerar presumidamente recebida a


notificação 48 horas depois de sua postagem, sendo ônus do destinatário comprovar o
recebimento após o decurso deste prazo. Considerando que as notificações postais são
realizadas mediante aviso de recebimento (recibo da pessoa que recebeu a comunicação
judicial no endereço do destinatário), documento que é juntado aos autos justamente
para se controlar, não apenas a efetiva entrega, mas também o interstício de 5 dias
entre a entrega e a audiência (quinquídio legal – CLT, art 841), eventual irregularidade
de citação fica fácil de ser demonstrada.

Caso o aviso de recebimento não tenha sido juntado aos autos e a reclamada não
compareça à audiência inaugural ou una, boa parte dos magistrados tem optado por,
ao invés de reconhecer a presunção da Súmula 16 do TST, determinar nova citação,
evitando-se, assim, nulidades processuais futuras decorrentes da revelia da reclamada,
provavelmente causada por extravio da notificação postal.
93
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

De todo modo, caso haja irregularidade na citação, mas o reclamado espontaneamente


entregue a defesa na audiência una ou inaugural, cuja realização tomou ciência por
outras fontes, não haverá nulidade a ser pronunciada, pois é ausente o prejuízo (CLT,
art. 794 e CPC/2015, art. 239, §1o).

Depois da implantação do PJe

Com o PJE, os serviços de autuação, geração do número do processo e distribuição são


automáticos por meio das informações e diretrizes indicadas pelo próprio advogado
credenciado (Resolução CSJT 153/14, art. 26, §2o).

Se houver a autorização do Juiz da Vara do Trabalho, a designação da audiência


inaugural é automática, do contrário, a ação trabalhista será distribuída para marcação
da audiência pela própria Vara do Trabalho Resolução CSJT 153/14, art. 26, §2o).

As citações, intimações e notificações, em princípio, serão feitas eletronicamente


(Resolução 153/14, art. 23).

Havendo algum obstáculo, material ou técnico, para realização de notificação eletrônica,


será possível se fazer a comunicação dos atos processuais segundo as regras ordinárias,
via postal ou por oficial de justiça. Assim, como ainda não há advogado cadastrado para a
Reclamada, normalmente a primeira notificação (citação) é feita pelas regras ordinárias
(CLT, art. 841 – postal e, sucessivamente, oficial de justiça e/ou edital). Neste primeiro
momento, como já cadastrados os respectivos advogados/procuradores, na prática
apenas a Fazenda Pública (União, Estados, Municípios e DF) tem sido normalmente
citada eletronicamente.

Ausência de despacho saneador

Não há, no processo do trabalho, em razão de seu dinamismo, previsão específica da


realização de despacho saneador, ao contrário do que ocorre no processo civil (CPC/2015,
art. 357). Assim, via de regra, o primeiro contato que o juiz tem com o processo é na
audiência inaugural e/ou una, especialmente porquanto os atos intermediários são
realizados eletronicamente (no caso de PJe) ou por servidores públicos.

É claro que, se necessário, o Juiz determinará providências saneadoras em audiência


(como, por exemplo, determinar a emenda da petição inicial) e resolverá incidentes e
questões processuais pendentes (litispendência, por exemplo).

A despeito da ausência de previsão específica, na CLT, de saneamento prévio do processo,


alguns juízes trabalhistas entendem conveniente analisar a regularidade da petição

94
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

inicial antes da audiência e resolver questões processuais pendentes, determinando


providências saneadoras necessárias de imediato, a exemplo do previsto no artigo 357
do CPC/2015.

95
Capítulo 3
Audiência

Considerações preliminares
O vocábulo audiência tem sua origem no latim, audientia, que significa ato de escutar, de
atender. Com efeito, a audiência consiste na sessão pública, realizada sob a presidência
do juiz, com a participação das partes, advogados, testemunhas e demais auxiliares da
Justiça, que propiciam interação pessoal entre os sujeitos processuais com a finalidade
de ouvir, debater a causa, possibilitar conciliação entre as partes, produzir provas entre
outros atos processuais.

No processo do trabalho, marcado por significativa oralidade, a audiência é momento


de extrema importância processual, pois, além de concentrar diversos atos relevantes e
determinantes ao deslinde da controvérsia, como propostas conciliatórias, apresentação
das respostas do Réu e produção de provas orais, é a oportunidade que as partes têm
de falarem e ouvirem sobre a causa (day of the court), oportunidade que não raro é
utilizada pelo juiz para ter suas impressões sobre a veracidade das versões apresentadas.

À luz do artigo 849 da CLT, as audiências trabalhistas são unas e contínuas. Enquanto
a unidade deriva da concentração dos atos processuais, a continuidade consiste na
pretensão de a audiência não ser fracionada, iniciando e encerrando-se no mesmo
dia. Entretanto, não sendo possível conclui-la no mesmo dia, o juiz tem a faculdade de
marcar sua continuação em momento posterior.

As audiências trabalhistas contam com a participação obrigatória do juiz e do secretário


de audiência (CLT, arts. 813 e 814). Embora não seja condição legal para realização
da audiência a presença de partes e advogados, a participação deles é bem comum,
especialmente quando a ausência pode acarretar em consequências processuais não
desejáveis (CLT, art. 844 e CPC/1973, art. 343, §2o).

A depender do caso e da necessidade de dilação probatória, ainda podem participar, por


determinação judicial de ofício ou a requerimento, testemunhas, peritos e intérpretes.

As audiências trabalhistas ocorrem em dias úteis previamente informados às partes,


entre 8 e 18 horas, não podendo ultrapassar cinco horas seguidas, para evitar o cansaço
das partes e do magistrado, cujo desgaste pode prejudicar qualitativamente o resultado
do ato. É importante advertir, contudo, que a praxe forense não tem se mostrado

96
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

rígida quanto aos limites temporais legalmente impostos, sendo comum audiências
ultrapassarem às 18h00min, sem que se argua qualquer nulidade em razão da ausência
de prejuízo (CLT, art. 794). Ademais, a lei admite que, havendo necessidade, poderão ser
convocadas audiências extraordinárias, desde que avisadas as partes com antecedência
mínima de 24 horas (CLT, art. 813, § 2o).

No processo do trabalho, as audiências são, via de regra, públicas (exceto se o processo


tramitar sob segredo de justiça) e realizadas na sede do juízo ou do tribunal, podendo
ser designado outro local, caso avisada a parte com antecedência de 24 horas (CLT, art.
813, §1o).

Por ser ato solene que concretiza o exercício de poder-dever do Estado na solução de
conflitos, ao Juiz é garantida autoridade para que possa dirigir a audiência, inspirado
pela ordem, tranquilidade, respeito e urbanidade. Assim, para o bom andamento da
sessão, os juízes são investidos de poder de polícia, podendo ordenar todas as medidas
necessárias à manutenção e à condução da audiência, inclusive, quando for o caso,
determinar a suspensão ou interrupção dos trabalhos, requisitar auxílio policial, emitir
ordens de retirada da sala daqueles que não se comportam adequadamente e, em último
caso, de prisão quando cometido algum crime, inclusive o de desacato (CLT, art. 816,
CPC, arts. 445 e 446).

Conquanto o art. 817 da CLT determine que “o registro das audiências será feito em livro
próprio, constando de cada registro os processos apreciados e a respectiva solução, bem
como as ocorrências eventuais”, atualmente os registros são informatizados, estando as
informações relevantes inseridas no sistema de acompanhamento processual.

Presença dos sujeitos processuais

Presenças obrigatórias

De acordo com o artigo 814 da CLT, deverá estar presente à audiência o escrivão ou
o chefe de secretaria (atualmente, diretores de secretaria). Na prática, a exigência
refere-se a servidor encarregado de secretariar a audiência, procedendo ao registro na
ata de todas as ocorrências importantes determinadas pelo juiz.

A configuração de nulidade pela ausência do secretário dependerá da ocorrência de


prejuízo, devidamente comprovada pela parte interessada (CLT, art. 794).

Por sua vez, o artigo 815 da CLT impõe a presença obrigatória do Juiz, sem a qual não
poderá ser sequer aberta a audiência.

97
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

Dada tal obrigatoriedade e tendo em vista que é o juiz responsável pela direção e
condução da audiência, sendo o fiador da imparcialidade no tratamento das partes, a
prática de atos processuais em audiência (como, por exemplo, a tomada de depoimentos),
sem a presença do magistrado, é, em princípio, fator de nulidade processual.

A previsão legal de tolerância de atraso do juiz em 15 minutos, findos os quais as partes


poderão ir embora, devendo antes requerer certidão em secretaria que estiveram
presentes em certidão (CLT, art. 815, parágrafo único). A referida tolerância é exclusiva
para o juiz, quando este não se encontra no foro. Assim, as partes não se encontram
autorizadas a saírem, caso o juiz esteja no foro realizando audiência anterior da pauta.
Segundo o Tribunal Superior do Trabalho, não se aplica ao processo do trabalho (IN
39/2016, art. 2, VI) o adiamento da audiência por atraso injustificado de seu início em
tempo superior a 30 minutos do horário marcado (CPC/2015, art. 362, II).

Não há previsão legal específica de atraso das partes e advogados, razão pela qual o juiz
não se encontra obrigado a aguardar, podendo reconhecer os efeitos da ausência, caso
não haja motivo juridicamente adequado.

A esse respeito, a OJ 245 da SBDI-I do TST:

245. REVELIA. ATRASO. Inexiste previsão legal tolerando atraso


no horário de comparecimento da parte na audiência.

Na verdade, as hipóteses que permitem o adiamento da audiência no processo do


trabalho encontram-se previstas nos dois primeiros incisos do artigo 362 do CPC/2015:
(I) por convenção das partes e (II) caso alguma pessoa (parte, advogado ou testemunha)
que deva participar não puder comparecer por motivo justificado.

Presença das partes e advogados

A presença das partes e dos advogados é relevante exclusivamente para fins da defesa
dos interesses alegados, não sendo requisito para a abertura e realização da audiência.

Em regra, o empregado, por se tratar de pessoa física, deve comparecer pessoalmente,


não podendo se fazer substituir por prepostos ou pelo advogado. Há uma exceção à
regra: tratando-se de reclamação plúrima, os empregados poderão se fazer representar
por representante do sindicato da categoria (CLT, art. 843).

Nas ações de cumprimento, em que o artigo 843 da CLT sugere a possibilidade de


representação dos empregados por representante sindical, na verdade, não se trata de
preposição propriamente dita, mas de substituição processual, pois o sindicato ajuíza a
ação, em nome próprio, em relação a direito alheio.

98
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

No caso de doença ou “motivo poderoso”, o artigo 843, §2o da CLT, afirma que o
empregado poderá se fazer representar por outro empregado de mesma profissão
ou pelo sindicato. Entretanto, tem-se entendimento que “a presença de um colega
de profissão ou de alguém do sindicato, no lugar do Reclamante, não é tecnicamente
representação, estas pessoas não são mandatárias do Reclamante, não tendo poderes
para atuar em nome do próprio, comparecendo tão só para evitar o arquivamento”65.

Por sua vez, o empregador pode comparecer pessoalmente ou, na hipótese de


pessoa jurídica, por meio de preposto. Há alguma condição para ser preposto de
empregador? O artigo 843, §1o, da CLT, indica que o preposto deve ter conhecimento
dos fatos. Na verdade, o conhecimento sobre os pontos relevantes do contrato de
trabalho não é condição para ser preposto, mas mera qualidade desejável. Afinal, se o
preposto do empregador não for conhecedor dos fatos articulados na litiscontestati,
a consequência não será a irregularidade da preposição, mas apenas a possibilidade
de, em depoimento pessoal, seu desconhecimento conduzir à confissão ficta, tratada
no artigo 385, §1o, do CPC.

A jurisprudência, contudo, tem exigido, à luz da Súmula 377 do TST, que o preposto
seja empregado do empregador, evitando-se assim uma espécie de profissionalização
da condição de preposto, normalmente, prejudicial à busca da verdade real dos fatos.
Primeiro, porque o preposto não empregado não tinha conhecimento do dia a dia da
empresa, mas apenas de informações prestadas dentro da estratégia estabelecida na
linha de autuação do empregador. Segundo, porquanto as empresas constituíam como
prepostos advogados ou contadores acostumados em não confessar, neutralizando a
principal função do depoimento pessoal.

Duas exceções são admissíveis à exigência da condição de empregado do preposto do


empregador: (I) empregador doméstico (Súmula 377 do TST) e (II) microempresas e
empresas de pequeno porte (LC 123/2006, art. 54).

Ausência das partes

A ausência das partes pode acarretar consequências jurídicas relevantes a depender do


tipo de audiência e de quem faltou.

O artigo 844 da CLT dispõe que “o não comparecimento do reclamante à audiência


importa o arquivamento da reclamação, e o não comparecimento do reclamado importa
revelia, além de confissão quanto à matéria de fato”.

65 MOURA, Marcelo. Consolidação das leis do trabalho para concursos. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 1004.

99
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

Infere-se, portanto, que a ausência injustificada das partes à primeira audiência


(inaugural, conciliação ou una) tem efeitos distintos segundo o artigo 844 da CLT:

»» arquivamento para o Reclamante, sob a lógica de que a ausência é


demonstração efetiva da perda de interesse na continuidade da ação;

»» revelia para a Reclamada, uma vez que, não comparecendo, não pode
apresentar sua defesa.

O arquivamento nada mais representa que a extinção do processo sem resolução


de mérito. Os artigos 731 e 732 da CLT impõem sanção processual, conhecida como
perempção provisória, de perda da possibilidade de ajuizamento de ação trabalhista
por seis meses na hipótese de dois arquivamentos consecutivos em razão da ausência
do autor à audiência (CLT, art. 844).

Apesar de representar uma extinção sem resolução de mérito, o arquivamento não


interfere na interrupção da prescrição pelo simples ajuizamento da ação trabalhista (CC,
art. 202, I). Entretanto, convém advertir que a interrupção se refere apenas a pedidos
idênticos, como bem delineado na Súmula 268 do TST: “ação trabalhista, ainda que
arquivada, interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos idênticos”.

Já a revelia, consagrada no artigo 844 da CLT, constitui a ausência de defesa, pois é


em audiência que a reclamada pode apresentar as possíveis respostas à pretensão do
reclamante. Apesar do interesse público, a ausência do representante de ente público
à primeira audiência conduz à respectiva revelia, consoante diretriz consagrada na OJ
152 da SBDI-I do TST.

A presença de advogado da reclamada, munido de defesa e procuração, não afasta a


revelia, pois o artigo 844 da CLT é claro ao determinar a exigência do comparecimento
da própria parte (Súmula 122 do TST).

Com a revelia, os fatos tornam-se incontroversos, razão pela qual, à luz do artigo 374,
III, do CPC/2015, não haverá nulidade se o juiz indeferir a dilação probatória requerida,
por exemplo, pelo advogado da reclamada que se encontra presente à audiência.

Por sua vez, a ausência injustificada de qualquer parte – empregado ou empregador – à


audiência de instrução66 em que foi expressamente intimada para prestar depoimento
pessoal conduz à confissão ficta do ausente (e, com isso, a presunção de veracidade
dos fatos articulados pela parte adversária), pois tal conduta se equipara à recusa a
depor.

66 As vezes, a audiência de instrução é adiada ou remarcada, sendo certo que os efeitos da ausência ocorrem sempre que a parte
tiver sido intimada para prestar depoimento, independentemente do número de vezes.

100
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

Com efeito, o artigo 385, §1o, do CPC/2015, aplicável subsidiariamente ao processo do


trabalho, estabelece que “se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoimento
pessoal e advertida da pensa de confesso, não comparecer ou, comparecendo, se
recusar a depor, o juiz aplicar-lhe-á a pena”. Assim, será reconhecida a confissão da
parte reclamante ou reclamado - que, a despeito de intimada para prestar depoimento
pessoal, não comparecer injustificadamente à audiência de instrução.

Sobre a confissão ficta, o TST aprovou a Súmula 74:

Súmula 74 do TST - CONFISSÃO.

I - Aplica-se a confissão à parte que, expressamente intimada com


aquela cominação, não comparecer à audiência em prosseguimento, na
qual deveria depor. (ex-Súmula no 74 - RA 69/1978, DJ 26/9/1978)

II - A prova pré-constituída nos autos pode ser levada em conta para


confronto com a confissão ficta (arts. 442 e 443, do CPC de 2015 - art.
400, I, do CPC de 1973), não implicando cerceamento de defesa o
indeferimento de provas posteriores. (ex-OJ no 184 da SBDI-1 - inserida
em 8/11/2000)

III- A vedação à produção de prova posterior pela parte confessa


somente a ela se aplica, não afetando o exercício, pelo magistrado, do
poder/dever de conduzir o processo.

Oportuno registrar, portanto, que a ausência do Reclamante à audiência de instrução


não gera o arquivamento, consoante Súmula 9 do TST, mas confissão ficta, à luz da
Súmula 74 do TST e do artigo 385, §1o, do CPC/2015. Pelos mesmos motivos, a ausência
da Reclamada à audiência de instrução não implica revelia, pois já contestada a ação,
mas também confissão ficta.

Como não existe penalidade sem previsão legal, a ausência da parte à audiência de
encerramento de instrução, exceto se expressamente intimada para prestar depoimento
pessoal (CPC, art. 385, §1o), não acarreta efeitos jurídicos relevantes, apenas a perda
processual da prática de atos processuais previstos naquela audiência, tais como razões
finais.

Da mesma forma, a ausência à audiência de julgamento também não acarreta efeitos


jurídicos relevantes. Entretanto, se a parte tiver sido intimada para tal audiência que,
a rigor não acontece, sendo apenas o momento destinado à inserção da sentença aos
autos, o prazo recursal se iniciará no primeiro dia útil subsequente, à luz da Súmula 197
do TST.

101
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

Segue quadro ilustrativo para fixação, iniciando-se primeiramente com o Reclamante.

RECLAMANTE
TIPO DE AUDIÊNCIA CONSEQUÊNCIA FUNDAMENTO LEGAL
Primeira Audiência Arquivamento CLT, art. 844
(Inaugural ou Una)
Instrução Confissão ficta CPC/2015, art. 385, §1o e
Súmula 74/TST
Encerramento de Normalmente CPC/2015, art. 385, §1o e
instrução nenhum Súmula 74/TST
Julgamento Nenhum (mera Súmula 197 do TST
contagem do prazo
recursal, caso tenha
sido intimado)

RECLAMADA
TIPO DE AUDIÊNCIA CONSEQUÊNCIA FUNDAMENTO LEGAL
Inaugural ou Una Revelia CLT, art. 844
Instrução Confissão ficta CPC/2015, art. 385, §1o
Encerramento de Normalmente CPC/2015, art. 385, §1o
instrução nenhum
Julgamento Nenhum (mera Súmula 197 do TST
contagem do prazo
recursal, caso tenha
sido intimado)
Fonte: Elaborado pelo Autor.

Atrasos, ausências justificadas e adiamentos

Embora o artigo 844 da CLT não trate especificamente sobre atrasos, a OJ 245 da
SBDI-I do TST, conforme já registrado, uniformizou a jurisprudência no sentido de
inexistir tolerância a atrasos das partes. A prática forense tem demonstrado a ocorrência
de diferentes procedimentos em relação a atrasos das partes. Há juízes que, uma vez
registrada a respectiva ausência da parte na ata de audiência, já arquivam, pronunciam
a revelia ou confissão ficta, a depender da audiência, ainda que a parte chegue atrasada
durante a audiência. Há juízes que afastam esses efeitos quando a parte chegou antes
de sua assinatura na ata da audiência ou antes de imprimir a ata (o que ocorria quando
os autos eram físicos).

Como o processo se traduz em uma sequência de atos concatenados em direção a


determinado fim, a rigor, após registrada a ausência da parte na ata de audiência, não
seria possível retroagir no tempo para registro daquele que chegou atrasado como
se estivesse presente desde o início da audiência, especialmente quando inexistente
tolerância legal de atraso (OJ 245 da SBDI-I do TST)

Por óbvio, há situações de ausências e atrasos justificados (prisão, batida de carro, mal
súbito da parte...), que precisam ser analisadas com cautela pelo juiz, podendo, caso a

102
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II

justificativa seja razoável, implicar o adiamento e determinação de nova designação de


audiência, conforme artigo 362, II, do CPC/2015.

Na hipótese de o motivo ser relacionado à saúde da parte, o TST já sedimentou sobre a


necessidade de juntada de atestado médico que indique expressamente a impossibilidade
de locomoção durante o horário da audiência, o que, na prática, importa na concessão
de licença médica que abranja a data em que a audiência foi marcada.

Eventos particulares marcados após a designação da audiência (reuniões de trabalho,


viagens etc), em princípio, não são motivos suficientes para o adiamento de audiência
previamente marcada. Entretanto, ainda que o interesse no adiamento seja particular,
as partes poderão convencionar o adiamento, na forma do artigo 362, inciso I, do
CPC/2015.

Comparecimento das Testemunhas

O artigo 845 da CLT estabelece que as partes comparecerão à audiência acompanhados


das suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas. Por sua vez,
o artigo 825 da CLT dispõe que as testemunhas comparecerão espontaneamente
à audiência, independentemente de notificação ou intimação. Apenas na hipótese
de se recusarem a comparecer, elas poderão ser intimadas pelo juiz ex officio ou a
requerimento das partes, ficando sujeitas à condução coercitiva, além das penalidades
do artigo 730, caso, sem motivo justificado, não atendam à intimação.

Tendo em vista a obrigação de comparecimento espontâneo, não há necessidade de


apresentação de rol de testemunhas na petição inicial, não se aplicando ao processo do
trabalho o artigo 357, §3o, do CPC/2015.

Para ter o direito subjetivo de exigir a intimação judicial na forma do artigo 825 da CLT,
a tendência é observar a exigência do artigo 455 do CPC/2015, aplicável supletivamente
ao processo do trabalho. Assim, antes de exigir a intimação judicial, três condições
legais são exigidas: a) intimação da testemunha providenciada pela própria parte por
meio de carta com aviso de recebimento; b) não comparecimento da testemunha à
audiência de instrução; c) imprescindibilidade da testemunha para comprovação dos
fatos articulados pela parte (CPC/2015, art. 370, parágrafo único).

Aliás, esse é justamente o procedimento que já havia sendo adotado no rito sumaríssimo,
conforme estabelecido no artigo 852-H, §3o, da CLT.

103
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau

Conciliação
Pelas vantagens relacionadas à celeridade e efetividade da solução compositiva, o
legislador estabeleceu o dever legal do juiz enveredar todos os esforços para que as partes
alcancem a conciliação (CLT, art. 764). Embora tal compromisso com a via compositiva
possa ser buscado em qualquer momento e grau de jurisdição, o ordenamento jurídico
estabeleceu tentativas obrigatórias de conciliação a serem realizadas pelo juiz durante
a audiência:

»» rito sumaríssimo: uma tentativa, assim que aberta a audiência (CLT, art.
852-E);

»» rito ordinário: duas tentativas: a) primeira: assim que aberta a audiência


(CLT, art.