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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade I
Parte Geral.......................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
Parte introdutória................................................................................................................ 9
Capítulo 2
Capítulo 3
Competência....................................................................................................................... 47
Capítulo 4
Unidade iI
Capítulo 1
Capítulo 2
Audiência............................................................................................................................. 96
Capítulo 4
Capítulo 5
Provas................................................................................................................................ 119
Capítulo 6
Sentença............................................................................................................................ 131
Unidade iII
Capítulo 1
Capítulo 3
Modalidades recursais.................................................................................................... 171
Unidade iV
Processo de Execução................................................................................................................ 205
Capítulo 1
Considerações preliminares e princípios aplicáveis ao processo de execução
trabalhista.......................................................................................................................... 205
Unidade V
Tutela Provisória............................................................................................................................ 228
Capítulo 1
Considerações gerais e tutelas em espécie................................................................... 228
Referências................................................................................................................................. 237
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
O objetivo do presente trabalho é instrumentalizar o aluno sobre o conhecimento
teórico (saber-saber) e prático (saber-fazer) das principais regras, princípios, institutos
e instituições do Direito Processual do Trabalho, já atualizado com as inovações
apresentadas pela Lei no 13.105/2015 (Novo Código de Processo Civil), à luz da leitura
da Instrução Normativa no 39/16 do Tribunal Superior do Trabalho.
A abordagem dos temas será feita de forma objetiva e resumida, a partir da perspectiva
de que o presente material é de apoio, sem prejuízo do necessário estudo complementar
para aprofundamento da matéria. Apesar disso, será feita sempre análise crítica a
respeito das normas aplicáveis ao Processo do Trabalho, sem descuidar que, diante da
precocidade da vigência do novo Código de Processual Civil, muitos institutos ainda
não foram testados, sendo ainda prematura indicar de forma peremptória quais e em
que medida serão aplicados.
Objetivos
»» Proporcionar imersão do aluno, de forma objetiva e crítica, sobre as
regras, princípios, institutos e instituições de direito processual do
trabalho.
8
Parte Geral Unidade I
CAPÍTULO 1
Parte introdutória
Parte introdutória
O que?
Uma boa forma de tentar iniciar o estudo de determinada matéria é buscar delimitar seu
conteúdo (o que é?), as causas e motivos (por que?) que determinaram seu surgimento
e, finalmente, a importância de se compreender o seu alcance e aplicação (para que?).
1 PINTO, José Augusto Rodrigues. Processo trabalhista de conhecimento. 6. ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 32
2 ALMEIDA, Cléber Lúcio de. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 13
9
UNIDADE I │ Parte Geral
Para não alongarmos muito com conceitos que refletem a mesma noção, parece adequado
sugerir que Direito Processual do Trabalho é o ramo do direito que compreende (a) o
conjunto de princípios, regras e instituições (b) destinados a regular a atividade dos
órgãos jurisdicionais do Estado (c) e a atuação das partes (d) na solução de dissídios
individuais ou coletivos (e) decorrentes da relação de trabalho (f), imprimindo
efetividade às normas laborais (g).
10
Parte Geral │ UNIDADE I
Por que?
Existem muitas formas de os conflitos trabalhistas serem resolvidos, algumas com o
envolvimento exclusivo das próprias partes (com ou sem uso da força) e outras com a
participação de terceiros (com ou sem poder decisório).
5 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011.
6 Exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345) e exercício arbitrário de poder (CP, art. 350)
7 Por exemplo, direito de retenção (CC, arts. 437, 1219, 1433 e 1434); desforço imediato no esbulho possessório (CC, art. 1210);
penhor legal (CC, art. 1467); direito de corte de raízes e ramos de árvores limítrofes que ultrapassem os limites do prédio (CC,
art. 1283); e legítima defesa ou estado de necessidade (CP, arts. 24-25 e CC/16, arts. 188)
8 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011
11
UNIDADE I │ Parte Geral
9 Ibidem.
10 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 60
12
Parte Geral │ UNIDADE I
das aplicações dos princípios e regras de direito (arbitragem de direito). Via de regra,
a arbitragem tem sido admitida na esfera coletiva, mas não para a solução de conflitos
individuais do trabalho, pois o artigo 1o da Lei de Arbitragem (Lei no 9.307) não autoriza
seu uso quando envolvidos direitos patrimoniais indisponíveis.
a. Ato pelo qual o Estado, porque a jurisdição traduz uma das funções do
Estado, juntamente com a administrativa e a legislativa. É bom lembrar
que a jurisdição é um poder-dever do Estado. Poder, porque somente
o Estado, em princípio, detém a potestade de solucionar conflitos de
interesses, sejam individuais sejam coletivos. Sob essa perspectiva política,
a jurisdição se apresenta como uma emanação da própria soberania
estatal, como expressão do poder do Estado que é ontologicamente uno.
Dever, porque no momento em que o Estado, pelos motivos já expostos,
tornou proibida a realização da Justiça pelas próprias mãos, assumiu,
perante os indivíduos, o indeclinável compromisso histórico e, acima de
tudo, moral de resolver, com justiça e presteza, as lides submetidas à sua
apreciação.
13
UNIDADE I │ Parte Geral
Para que?
14
Parte Geral │ UNIDADE I
Thomas Piketty, em sua obra O Capital no século XXI, demonstrou que o acesso a
recursos financeiros da maior parte da população economicamente ativa provém das
parcelas recebidas por meio do trabalho. 14 Nesse contexto, o trabalho se revela essencial
na criação dos espaços necessários à realização dos projetos de cada indivíduo, família
e comunidade, pois por meio dos recursos financeiros obtidos pelo trabalho é que
podemos custear as despensas necessárias a uma existência digna.
Não se pode esquecer que o direito material tutelado (Direito do Trabalho) pelo
Processo do Trabalho se funda em premissa fático-jurídica diversa, qual seja, a
desigualdade entre os sujeitos contratuais. É natural que, diante dessas circunstâncias,
as especificidades do direito material se irradiem ao direito processual, concebido para
materializar aquele. Não por outro motivo, os trabalhadores, via de regra, por ocasião
da litigação judicial, encontram-se em situação financeira desfavorável em relação
ao empregador, o que conduz a concepção de mecanismos próprios que favoreçam o
acesso à jurisdição, sem obstáculos econômicos ou barreiras territoriais, impeditivas
ao exercício do direito de ação. Por exemplo, os institutos da gratuidade das custas
processuais, jus postulando, ausência de honorários de sucumbência, ajuizamento
no local da prestação de serviços, simplificação do sistema recursal trabalhista foram
pensados justamente para favorecer ao mesmo tempo o amplo acesso à jurisdição e
uma solução simples e célere da prestação jurisdicional.
15
UNIDADE I │ Parte Geral
É, por isso, que Mauro Schiavi, com propriedade, identificou os principais objetivos
do Direito Processual do Trabalho: “a) assegurar o acesso do trabalhador à Justiça
do Trabalho; b) impulsionar o cumprimento da legislação trabalhista e da social; c)
dirimir, com justiça, o conflito trabalhista”.15
A palavra fonte tem sua referência no latim fons, significando nascente, manancial.
Popularmente, quando nos referirmos à fonte imediatamente nos vêm à mente a ideia
de uma nascente de água onde de qualquer lugar, natural ou construído, brota água.
Figuradamente, o vocábulo tem sido utilizado para identificar a origem de alguma coisa,
como, por exemplo, a fonte de uma informação, tão importante para credibilidade dos
meios de imprensa17.
15 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: Ltr, 2016. p. 119
16 CHAVES, Luciano Athayde organizador. Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 46.
17 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 29
18 SÜSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. 20. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 150
16
Parte Geral │ UNIDADE I
Fontes materiais
Alguns defendem que as fontes materiais devem ser objeto de estudo tão-somente
da sociologia jurídica, por dependerem da investigação das causas sociais que
influenciaram a edição da norma jurídica.21 Nada obstante, não se pode esquecer que o
conhecimento sobre a evolução histórica dos fatores que desencadearam a elaboração
de uma norma é relevante para compreensão do sentido e alcance do ordenamento
jurídico e, consequentemente, das possibilidades de aplicação das normas aos casos
concretos (interpretação histórica).
19 CHAVES, Luciano Athayde organizador. Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 65
20 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 61
21 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 30
17
UNIDADE I │ Parte Geral
Fontes formais
As fontes formais são as formas de exteriorização do Direito, ou seja, aquelas que se
encontram positivadas no ordenamento jurídico22.
Há certa divergência doutrina sobre as modalidades que podem ser consideradas como
fontes formais de direito.
Os costumes, por sua vez, são atos repetidos habitualmente por certo espaço de
tempo, de modo geral e espontâneo, por determinada coletividade abrangente e que
adquirem força obrigatória, caso não violarem o ordenamento jurídico e os bons
costumes. No âmbito processual, os costumes não podem ser considerados uma fonte
22 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 61
23 Como bem advertido por Carlos Henrique Bezerra Leite, “na prática, porém, os Tribunais acabam criando normas regimentais,
além de Resoluções, Instruções Normativas e Atos Normativos que dispõem sobre normas processuais em suspeitável ofensa
ao art. 22, I, da CF” (Op. cit., p. 63)
18
Parte Geral │ UNIDADE I
O consenso doutrinário sobre quais modalidades podem ser consideradas como fontes
formais de direito se esvai em relação à doutrina e à jurisprudência.
Para Sergio Pinto Martins, a jurisprudência, em que pese exercer importante papel para
o processo do trabalho, não poderia ser considerada fonte, visto que ela não se configura
como uma regra obrigatória, mas apenas caminho predominante dos tribunais25:
De outro lado, Carlos Henrique Bezerra Leite defende que a súmula vinculante seria um
exemplo de fonte formal de direito:
19
UNIDADE I │ Parte Geral
métodos integrativos (princípios, costumes etc – CLT, art. 8o), que não raro acabam por
resultar em decisão que inova o ordenamento jurídico. Ademais, não se pode esquecer
que muitas decisões possuem efeito vinculante (CPC/2015, arts. 489, §1o, VI, 926 e 927),
existindo parco espaço no caso concreto para o afastamento da diretriz jurisprudencial
consolidada pelos Tribunais.
Como solução para o preenchimento deste vazio normativo, o artigo 769 da CLT
possibilita, em caso de omissão da legislação celetista, a aplicação subsidiária do processo
civil desde que haja compatibilidade com as normas e princípios do direito processual
do trabalho. Em sentido semelhante, o artigo 889 da CLT prevê a possibilidade de
aplicação subsidiária da Lei de Execução Fiscal (Lei no 6.830/1990) aos trâmites e
incidentes da execução trabalhista.
Com isso, o Direito Processual do Trabalho ganha corpo normativo adequado e suficiente
para o enfrentamento de diversas e complexas situações a serem reguladas no contexto
da relação processual trabalhista.
20
Parte Geral │ UNIDADE I
Com a vigência do novo Código de Processo Civil (Lei no 13.105, de 17/3/2015), a partir de
18 de março de 2016,26 surgiu dúvida quanto à possibilidade de o artigo 15 ter revogado
o artigo 769 da CLT (e também o artigo 889 da CLT), pois, enquanto aquele primeiro
(CPC/2015, art. 15) dispunha sobre a aplicação supletiva27 e subsidiária do NCPC ao
processo de trabalho estabelecendo supostamente apenas uma condição ─ omissão
das normas do processo do trabalho, o dispositivo celetista (art. 769) não tratava da
aplicação supletiva (somente da subsidiária), além de indicar outra condição além da
omissão: a compatibilidade da regra importada do CPC ao processo do trabalho.
21
UNIDADE I │ Parte Geral
A meu ver, a iniciativa é louvável, pois, por óbvio, diante de novo marco processual
regulatório instaura-se natural ambiente de incertezas, dúvidas e inseguranças,
não apenas advindas dos magistrados, mas também em detrimento a todos que se
relacionam com o sistema jurisdicional, tais como, servidores, advogados, membros da
Defensoria Pública e do Ministério Público, partes, peritos etc.
Se é verdade que a decisão do TST em favor de uma instrução normativa sobre o NCPC
é elogiável, importante reconhecer que as indicações aprovadas pelo TST não são
exaustivas, tampouco imodificáveis.
Na verdade, trata-se de documento feito por Comissão de Ministros, que embora muito
bem capacitada e respaldada pelo Pleno do TST (já que o texto foi submetido à votação),
se empenhou em realizar trabalho de interpretação - de cima para baixo - em momento
em que os institutos e inovações do NCPC ainda não foram assimilados e amadurecidos,
inclusive jurisprudencialmente, pelas instâncias inferiores. Há, portanto, especialmente
em razão da precocidade do trabalho realizado, possibilidades de adaptações, mudanças
29 Há questionamento na ADI 5516 quanto à constitucionalidade da IN 39/2016 pela Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho – ANAMATRA - ao argumento de que o Tribunal Superior do Trabalho usurpou competência da União
para legislar sobre processo do trabalho (CF, art. 22, I), violando as garantias constitucionais da reserva legal (art. 5o, II) e da
independência funcional da magistratura (art. 95). A ideia é que se reconheça que o texto não tenha caráter normativo ou seja
vinculante, mas meramente orientador.
22
Parte Geral │ UNIDADE I
Dito isso, sugere-se o recebimento da instrução normativa da seguinte forma: (I) não
é um texto vinculativo, exaustivo ou imodificável30, mas, sem sombra de dúvidas, com
significativa autoridade e que certamente servirá de guia inicial para muitos operadores
jurídicos, já que exprime uma primeira sinalização do TST sobre a aplicabilidade
ou inaplicabilidade de dispositivos do novo CPC, adaptando procedimentos às
particularidades do processo do trabalho; (II) é um texto claramente inspirado na
necessidade de transmissão de segurança jurídica e prevenção de nulidades, sendo
alicerçado pela aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC nas hipóteses omissivas à
luz do necessário teste de compatibilidade entre regra processual ordinária importada
e os princípios, regras e particularidades do processo do trabalho, conforme pode se
depreender dos artigos 769 e 889 da CLT c/c artigo 1046, §2o, do NCPC
30 Não é vinculativo, pois falece ao TST capacidade legiferante (CF; art. 22, I); não é exaustivo, pois não trata de todos os
dispositivos do NCPC, devendo o silêncio da IN 39 ser compreendido como ou falta de consenso ou, o que é mais provável, falta
de análise do dispositivo pela Comissão em razão do grande universo de disposições do NCPC e do pouco tempo que tiveram
para a análise; não é imodificável, pois, por mais capacitados que são a Comissão e o Pleno, não houve tempo o suficiente
para amadurecer e assimilar todos os dipositivos, sendo certo que muitos deles não foram submetidos à prova nas instâncias
inferiores. Apenas a título de exemplo, o texto já possui algumas incoerências, como por exemplo, o artigo 4o, §2o, do NCPC que
diz que não é surpresa decisão sobre questões processuais e o artigo 10 que diz que se aplica o artigo 932, parágrafo único, do
NCPC.
23
UNIDADE I │ Parte Geral
31 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
24
Parte Geral │ UNIDADE I
32 ALMEIDA, Cléber Lúcio de. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 20.
25
UNIDADE I │ Parte Geral
Princípios
Conceito e funções
26
Parte Geral │ UNIDADE I
Há, como bem lembrado por Sergio Pinto Martins,34 uma variação significativa de
diferentes modelos de princípios do Processo do Trabalho oferecidos pela doutrina,
muito provavelmente causada pela tentativa de se buscar a já mencionada autonomia
processual em relação ao Processo Civil. Na busca desta autonomia, muitos autores
“criam” princípios próprios ao Processo do Trabalho que ainda não se consolidaram
ao ponto de serem considerados proposições básicas estruturantes. Basta conferir os
diversos manuais de Processo do Trabalho para perceber que não existe harmonia
terminológica entre os doutrinadores, tampouco consenso entre quais são os princípios
do Processo do Trabalho, gerando dificuldades de assimilação e consolidação dos
próprios conteúdos normativos.
Para não se correr o mesmo risco, não será proposta nova classificação, sendo, ao revés e
sem qualquer intenção de esgotamento do tema, indicados alguns princípios aplicáveis
ao Processo do Trabalho, normalmente admitidos na doutrina, independentemente de
sua origem normativa.
34 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 40.
27
UNIDADE I │ Parte Geral
Princípio da Proteção
Via de regra, existe uma diferença social e/ou econômica entre trabalhadores e
tomadores de serviços que pode impactar a capacidade de litigação das partes.
Não basta, portanto, que a ação constitua, entre nós, um direito público
subjetivo assegurado constitucionalmente (CF, art. 5o, XXXV), de nada
adiantaria ao trabalhador invocar a prestação da tutela jurisdicional se
não possuísse um mínimo de condições indispensáveis para contender,
em situação de igualdade técnica, com o empregador. Temos, por isso,
advertido que o simples facilita mento do acesso à justiça (como dever
estatal) embora tenha o mérito de ensejar aos indivíduos em geral e ao
trabalhador em particular a oportunidade de ingressar em juízo, não
assegura a este, em especial, as necessárias condições para superar a
sua desigualdade econômica, e, por esse modo, alcançar a igualdade
processual com o réu.
35 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: Ltr, 2016. p. 82
36 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 94.
28
Parte Geral │ UNIDADE I
29
UNIDADE I │ Parte Geral
Sob o enfoque de sua função social, o processo atinge sua finalidade na medida em que
seja capaz de servir concreta e eficazmente ao direito material tutelado.
A almejada simplificação é medida de coerência, pois para ter amplo acesso à jurisdição
permitiu-se o exercício do jus postulandi das partes, necessário para que se autorizem
atos processuais simplificados, sem solenidades e formalidades desnecessárias, aptos
a serem realizados por quem não tem conhecimento ou formação jurídica. Da mesma
maneira, busca-se uma solução jurisdicional rápida em razão da natureza alimentar
das parcelas normalmente discutidas em juízo, parece lógico talhar um rito processual
simplificado, sem muitas armadilhas, bifurcações e caminhos que possam atrasar
a entrega da prestação jurisdicional. A lógica, aqui defendida, é um pouco diversa
daquela que inspira o processo penal. Enquanto o processo do trabalho é marcado pela
simplificação das formas para se buscar um resultado rápido e adequado; o processo do
trabalho, em razão de envolver controvérsias que repercutem na liberdade das pessoas,
deve ser marcado por uma maior segurança jurídica que impõe cautela mais intensa e
maior possibilidade de dilação probatória e rediscussão das decisões já tomadas por
meio de recursos.
São por esses motivos que se verificam intensas oralidade e concentração processuais, as
quais conduzem a um dinamismo maior na realização dos atos processuais. A outorga de
jus postulandi às partes, a comunicação postal dos atos processuais sem necessidade de
notificação pessoal, a preferência legal a audiências unas, a possibilidade de realização
oral da petição inicial e das modalidades de defesa, a irrecorribilidade imediata das
decisões interlocutórias e a simplificação do sistema recursal são alguns, dos vários
exemplos, de simplificação processual.
38 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016.
30
Parte Geral │ UNIDADE I
Não é que não existam formalidades no Processo do Trabalho, mas há uma preocupação
em se buscar simplicidade e ultrapassar amarras burocráticas que podem conduzir ao
nefasto encravamento do funcionamento do processo39.
Princípio da Conciliação
A conciliação que não foi imposta, mas alcançada pela convicção de seus benefícios,
resulta em uma série de vantagens para o Estado e para as partes.
39 BEBBER, Júlio César. Princípios do processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1997. p. 132.
40 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016
31
UNIDADE I │ Parte Geral
32
Parte Geral │ UNIDADE I
Hermenêutica
A origem do termo hermenêutica é atribuída ao deus grego Hermes, o qual realizava
a função de mensageiro dos deuses, atribuição que demandava explicar as mensagens
enviadas aos mortais44.
43 Para aprofundamento dos estudos relacionados a Princípios do Processo do Trabalho recomenda-se a leitura das seguintes
obras: NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo na constituição. 10. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010;
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016; CHAVES, Luciano Athayde
organizador. Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2012; TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito
processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009; SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São
Paulo: LTr, 2016.
44 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 117
33
UNIDADE I │ Parte Geral
Interpretação
Integração
Por mais criativo que seja o legislador, não é possível (tampouco desejável) elaborar
leis sobre todos os fatos que ocorrem no contexto das relações sociais. Não bastasse
a velocidade das transformações sociais dos últimos anos, é impossível prever com
antecedência todas as ações humanas para, a partir daí, conceber normas destinadas a
regulá-las.
35
UNIDADE I │ Parte Geral
Eficácia
Salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar em todo país 45 dias depois de
oficialmente aplicada (LINDB, art. 1o, §1o). Entretanto, no caso das leis processuais, é
costume se identificar, na própria lei, a data de sua vigência, normalmente coincidente
com sua publicação.
A lei processual nova não atinge atos processuais já praticados. Na verdade, os atos
praticados são válidos (ato jurídico perfeito – CF, art. 5o, XXXVI), produzindo de forma
inquestionável os efeitos jurídicos objetivados pela norma processual anterior. Em
nosso modelo processual, conforme se percebe nos artigos 14 e 1046, §2o do CPC/2015
e 912 da CLT, foi adotada a teoria do isolamento dos atos processuais, segundo a qual
a lei nova se aplica imediatamente aos atos processuais a praticar, sem limitações
relativas às chamadas fases processuais (tempus regit actum).
Tratando-se a jurisdição de ato estatal que regula a atuação dos órgãos jurisdicionais, a lei
processual se aplica em todo território brasileiro, independentemente da nacionalidade
dos litigantes (CPC/2015, art. 16).
Não seria concebível lei processual estrangeira regular a atuação de órgãos estatais
brasileiros.
36
Parte Geral │ UNIDADE I
O procedimento comum pode ser ordinário (CLT, arts. 837 a 852) para causas
acima de 40 salários mínimos; sumaríssimo (CLT, arts. 852-A a 852-I) para causas
até 40 salários mínimos; e sumário (Lei no 5.584/1970) para causas até 2 salários
mínimos.
37
Capítulo 2
Organização da Justiça do Trabalho e
Ministério Público do Trabalho
Embora o poder estatal seja uno e indivisível, ganhou importância nos estados
modernos a teoria da tripartição de poderes em que as funções legislativas, executivas
e judiciárias do Estado são exercidas por órgãos independentes e harmônicos entre si,
em relação de equilíbrio, alcançado pelo sistema de pesos e contrapesos (“check and
balances”).
38
Parte Geral │ UNIDADE I
Apesar de instituída pela Constituição Federal de 1934, apenas com a Carta Magna de
1946 a Justiça do Trabalho passou a integrar o Poder Judiciário.
Em 2004, por meio da Emenda Constitucional 45, foram criados o Conselho Superior da
Justiça do Trabalho – CSJT (CF, art. 111-A, §2o, II), a Escola Nacional da Magistratura
do Trabalho – ENAMAT (CF, art. 111-A, §2o), além de abolida a regra de um Tribunal
Regional por estado da federação (CF, art. 112) e franqueada a possibilidade de
surgimento da Justiça Itinerante (para favorecer a prestação jurisdicional móvel, fora
das sedes das Varas - CF, art. 115, §1o) e de Turmas Regionais (fora da sede do Tribunal
– CF, art. 115, §2o).
O Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CF, art. 111-A, §2o, II – CJST), com
sede na capital federal (atualmente no prédio do TST), é integrado pelo Presidente,
Vice-Presidente, Corregedor e outros 3 ministros, todos do Tribunal Superior do
Trabalho, além de 5 Presidentes de Tribunais Regionais do Trabalho de cada região
geográfica do Brasil (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste) e tem a função
principal de promover supervisão administrativa, orçamentária e financeira da Justiça
do Trabalho, como órgão central do sistema, por meio de decisões de efeito vinculante
relacionadas à (I) fiscalização e expedição de normas gerais relacionadas aos sistemas de
informática, recursos humanos, planejamento, orçamento e administração financeira,
material e patrimonial dos órgãos de primeiro e segundo graus; (II) apreciação de ofício
ou a requerimento de decisões administrativas dos Tribunais que contrariarem normas
legais ou expedidas pelo Conselho; (III) encaminhamento de propostas de criação
de cargos e órgãos da Justiça do Trabalho; (IV) encaminhamento de propostas de
natureza orçamentária; (V) realização de auditorias nos sistemas contábil, financeiro,
patrimonial, de execução orçamentária, de pessoal e demais sistemas administrativos
dos Órgãos da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus; entre outros.
A Escola Nacional dos Magistrados do Trabalho (CF, art. 111-A, §2o, I - ENAMAT),
também com sede na capital federal (mais especificamente no prédio do TST), tem
como objetivo principal promover a capacitação de formação e aperfeiçoamento dos
magistrados do trabalho por meio dos seguintes cursos, eventos e atividades: (I) cursos
de formação inicial dos juízes do trabalho substitutos recém-empossados; (II) cursos
de formação continuada, presenciais ou a distância, a todos os magistrados trabalhistas
39
UNIDADE I │ Parte Geral
Em relação aos órgãos próprios, a Justiça do Trabalho está estruturada em três níveis
de jurisdição: os Juízes do Trabalho, os Tribunais Regionais e Tribunal Superior do
Trabalho (CF, art. 111).
Juízes do Trabalho
40
Parte Geral │ UNIDADE I
São deveres do juiz manter perfeita conduta pública e privada, abster-se de emitir
opinião sobre os feitos que estejam ou possam vir a estar sujeitos à sua apreciação,
despachar dentro dos prazos legais os requerimentos e petições submetidos à sua
decisão e residir dentro dos limites do território sob sua jurisdição, não podendo dele
se ausentar sem licença do presidente do Tribunal Regional.
41
UNIDADE I │ Parte Geral
42
Parte Geral │ UNIDADE I
A escolha de ministros que são magistrados de carreira é feita de forma simples, sem a
adoção de critérios alternados de antiguidade e merecimento. O TST indica livremente
os nomes de três desembargadores ao Presidente da República que escolhe, também
livremente, um deles para ser submetido ao escrutínio do Senado e nomeado após
aprovação por maioria absoluta deste.
O TST funciona em sua composição plena (Tribunal Pleno), em seções (Órgão Especial,
Seção de Dissídios Individuais, Subseção de Dissídios Individuais I, Subseção de
Dissídios Individuais II e Seção de Dissídios Coletivos) ou em 8 turmas (formadas por
três ministros cada).
43
UNIDADE I │ Parte Geral
Órgãos auxiliares
44
Parte Geral │ UNIDADE I
Ministério Público
A atuação judicial do Ministério Público do Trabalho está prevista nos artigos 127 e 129
da Constituição da República e no artigo 83 da Lei Complementar no 75/1993, restando
derrogados, por incompatibilidade, os artigos 736 a 754 da CLT.
46
Capítulo 3
Competência
Conforme bem lembrado por Carlos Henrique Bezerra Leite46, “a jurisdição tem íntima
relação com a competência”, pois esta, além de se traduzir em medida daquela, é quem
legitima o exercício do poder jurisdicional.
Competência material
Até a Emenda Constitucional 45/2004 (antiga redação do artigo 114 da Constituição da
República), a Justiça do Trabalho tinha competência para conciliar e julgar controvérsias
entre empregado e empregador decorrentes da relação de emprego (CLT, arts. 2o e 3o) e
outras derivadas da relação de trabalho, desde que houvesse previsão legal expressa, o
que ocorreria, por exemplo, em relação ao artífice, pequeno empreiteiro e trabalhador
avulso (CLT, art. 653, III).
45 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 218.
46 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 218
47
UNIDADE I │ Parte Geral
Da mesma forma, ações de natureza coletiva (ação civil coletiva e ação civil pública, por
exemplo) que se fundem em direitos metaindividuais relacionados ao emprego são da
competência da Justiça do Trabalho.
Não faz qualquer sentido autorizar a Justiça Comum a analisar uma controvérsia em
que o trabalhador requereu o reconhecimento do vínculo empregatício, especialmente
porquanto, se decidida favoravelmente a prejudicial ao trabalhador, faleceria o referido
órgão competência para apreciar os demais pedidos, todos decorrentes de direitos
tipicamente reconhecidos a empregados (assinatura da CTPS, 13o salário, férias
acrescidas de 1/3, FGTS entre outros).
49
UNIDADE I │ Parte Geral
A discussão relacionada aos entes de direito público externo está mais pautada na
existência de imunidade de jurisdição e imunidade de execução.
50
Parte Geral │ UNIDADE I
51
UNIDADE I │ Parte Geral
Ações indenizatórias
52
Parte Geral │ UNIDADE I
Com a EC 45/2004, foi introduzido o inciso VI, do artigo 114, que expressamente previu
a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações de indenização
por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de emprego.
53
UNIDADE I │ Parte Geral
54
Parte Geral │ UNIDADE I
55
UNIDADE I │ Parte Geral
PIS/PASEP
Como bem alertado por Mauro Schiavi, “até o final de 2012, a jurisprudência, salvo
alguns pronunciamentos em sentido contrário, já estava sedimentada no sentido da
competência material da Justiça do Trabalho para complementação de aposentadoria,
basicamente, pelos seguintes argumentos: a) trata de direito que se origina da relação
de emprego; b) o benefício é custeado com parte do salário do empregado; c) se trata,
indiscutivelmente, de controvérsia decorrente da relação de trabalho, restando aplicável
à hipótese os incisos I e IX do art. 114 da Constituição Federal”48.
48 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 282.
56
Parte Geral │ UNIDADE I
57
UNIDADE I │ Parte Geral
58
Parte Geral │ UNIDADE I
59
UNIDADE I │ Parte Geral
Seguro-desemprego
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação ajuizada por empregado
em face do empregador que tenha, por objeto, a indenização pelo não fornecimento das
guias de seguro-desemprego (Súmula 389 do TST).
60
Parte Geral │ UNIDADE I
greve nos contratos de trabalho, como, por exemplo, sobre discussões relacionadas à
suspensão contratual ou até ao cometimento de falta grave.
Também era a Justiça do Trabalho quem tinha competência para apreciar o dissídio de
greve (CF, art. 114), inclusive para determinar sua legalidade ou ilegalidade (Súmula
189 do TST).
61
UNIDADE I │ Parte Geral
Pela redação original do artigo 114 da Constituição Federal, a Justiça do Trabalho não
tinha competência para apreciar conflitos entre sindicatos, remanescendo competência
apenas para apreciar ações ajuizadas por sindicato, na condição de substituto processual
ou representante processual, na defesa dos direitos de trabalhadores (CF, art. 8o, III).
49 Há interpretação restritiva, baseada na literalidade do artigo 114, III, da Constituição da República de que a Justiça do Trabalho
teria apenas competência para questões alusivas à representação sindical.
50 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 310.
62
Parte Geral │ UNIDADE I
63
UNIDADE I │ Parte Geral
Há, entretanto, outros entendimentos que, por uma questão de coerência com o
entendimento preconizado no julgamento da ADI 3.395-MC/DF, defendem a
competência da Justiça comum.
64
Parte Geral │ UNIDADE I
Também são raras as situações que determinam a impetração de habeas data, à luz
dos critérios autorizativos do artigo 8o da Lei no 9.507/1997. De todo modo, é possível
que um empregado, por exemplo, apresente habeas data em face da sonegação de
informações, tanto em relação a seu cadastro funcional como também sobre processo
administrativo de apuração de ato infracional para fins de cominação de penalidade
administrativa.
Penalidades Administrativas
Assim, ações que têm por objeto a nulidade do auto de infração ou ações de natureza
executiva (cobrança da multa imposta pelos órgãos de fiscalização do trabalho) são da
competência da Justiça do Trabalho.
65
UNIDADE I │ Parte Geral
trabalhadores avulsos (CLT, art. 643, §3o e CF, art. 7o, XXXIV), pequenos empreiteiros
e artífices (CLT, art. 652, alínea a, inciso III).
A nova redação do artigo 114 da Carta Magna, dada pela EC 45/2004, determinou que
a Justiça do Trabalho seria competente para conflitos oriundos da relação de trabalho,
sem estabelecer qualquer exigência expressa sobre a necessidade de previsão legal
específica.
Passados alguns anos da EC 45/2004, ao que tudo indica, a terceira corrente ganhou
mais prestígio ao admitir controvérsias decorrentes da relação de trabalho, excluídas
aquelas que são oriundas de relação de consumo.
Assim, poder-se-ia cogitar, à luz do artigo 114, inciso I, da Carta Magna, a competência da
Justiça do Trabalho para controvérsias decorrentes das seguintes relações de trabalho:
b. trabalho avulso, inclusive sobre questões sindicais (CLT, art. 643, §3o e
CF, art. 114, III);
66
Parte Geral │ UNIDADE I
d. trabalho voluntário;
No que se refere ao último tipo (trabalho que não se constitua relação de consumo),
convenientes esclarecimentos.
Segundo o artigo 2o, do CDC, consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final. Por sua vez, à luz do artigo 3o do CDC,
é “a pessoa física ou jurídica que desenvolve atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços”.
Assim, sob a perspectiva da terceira corrente, todas as vezes que o tomador de serviços
for considerado destinatário final, estaria afastada a competência da Justiça do Trabalho.
Por exemplo, embora na relação entre médico e paciente haja a prestação de serviços
e, portanto, uma atividade intelectual e física com finalidade produtiva (conceito de
trabalho), é certo que o paciente é destinatário final dessa atividade, razão pela qual
também haveria uma relação de consumo que afastaria a competência da Justiça do
Trabalho. Aliás, o próprio STJ, por meio da Súmula 363, firmou o entendimento de
que “compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por
profissional liberal contra cliente”.
Competência executória
Apesar de não constar de forma explícita na nova redação do artigo 114 da Constituição
da República, é certo que a Justiça do Trabalho tem competência para executar suas
próprias decisões.
67
UNIDADE I │ Parte Geral
68
Parte Geral │ UNIDADE I
69
UNIDADE I │ Parte Geral
(...)
70
Parte Geral │ UNIDADE I
53 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009.
71
UNIDADE I │ Parte Geral
A incompetência territorial é de ordem relativa, razão pela qual não pode ser arguida
de ofício pelo juízo (Súmula 33 do STJ e OJ 149 da SBDI-II do TST), demandando o
oferecimento pela parte Ré, no prazo de defesa (no caso trabalhista, até a audiência
inaugural), sob pena de prorrogação da competência.
Ações individuais
Regra geral
72
Parte Geral │ UNIDADE I
73
UNIDADE I │ Parte Geral
O artigo 651, §1o, da CLT, estabelece que o agente ou viajante comercial deverá ajuizar
ação trabalhista na localidade em que a empresa tenha agência ou filial a que esteja
vinculado (domicílio do réu) e, na falta de vinculação a um estabelecimento específico,
na localidade em que o empregado tiver domicílio (domicílio do autor) ou na localidade
mais próxima (a seu domicílio).
74
Parte Geral │ UNIDADE I
Quanto à Vara do Trabalho, parece lógico reconhecer que seria aquela do local da
contratação antes de o empregado se transferir para o estrangeiro e/ou da sede ou filial
da empresa no Brasil, se existir.
Finalmente, o artigo 651, §3o, da CLT, dispõe que “em se tratando de empregador que
promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao
empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação
dos respectivos serviços”.
Como visto, em item anterior deste capítulo, o Tribunal Superior do Trabalho adotou
a segunda corrente. Assim, independentemente do caráter provisório e precário da
prestação de serviços de uma empresa em determinada localidade, se o empregado
foi contratado em um lugar (trabalhando ou não durante um determinado período
neste lugar), sendo transferido para outra localidade com mudança de domicílio, o
foro competente é concorrente, podendo o autor da ação optar por qualquer local:
contratação ou prestação de serviços.
75
UNIDADE I │ Parte Geral
Ações metaindividuais
À luz da OJ 130, da SBDI-II, do TST, a competência territorial relacionada a ações civis
públicas depende da extensão do dano, consoante artigos 2o da Lei no 7.347/1985 e 93
do Código de Defesa do Consumidor:
O item IV, da OJ 130, esclarece que “estará prevento o juízo a que a primeira ação
houver sido distribuída”.
Modificações de competência
A competência dos órgãos da Justiça do Trabalho poderá ser modificada nas hipóteses
de prorrogação, conexão, continência ou prevenção.
Finalmente, ocorre prevenção quando, correndo duas ou mais ações conexas perante
juízes de mesma competência territorial, será competente (e prevento) aquele que
primeiro despachar (CPC/2015, art. 59). Como no processo do trabalho não há despacho
saneador, tem-se considerado prevento o juízo em que ajuizada a primeira ação, à luz
da data registrada de protocolo.
À luz do artigo 286, do CPC/2015, serão distribuídas por dependência as causas que
a) se relacionarem, por conexão ou continência, com oura já ajuizada; b) sucederam
àquela idêntica (mesmas partes, ainda que ampliado o litisconsórcio, causa de pedir e
pedido) que foi extinta sem julgamento de mérito; e c) tiverem risco de gerar decisões
conflitantes ou contraditórias se decididas separadamente, ainda que sem conexão
entre elas.
77
UNIDADE I │ Parte Geral
Conflitos de competência
O conflito de competência, também conhecido na CLT como conflito de jurisdição,
é um incidente processual, arguido pelos juízos e tribunais, Ministério Público do
Trabalho ou pelas partes interessadas (CLT, art. 805), em que se busca a definição de
competência em hipóteses em que dois órgãos judiciais se proclamam competentes
(conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo).
78
Capítulo 4
Teoria Geral do Processo
Para que o Estado não ficasse fomentando desnecessariamente conflitos que pudessem
ser legítima e naturalmente resolvidos ou assimilados pelas próprias partes, a atividade
jurisdicional, à luz do princípio da inércia, somente é exercida quando provocada pela
parte interessada.
Em sentido similar, Manoel Antônio Teixeira Filho conceitua ação como “direito
subjetivo público autônomo, de natureza constitucional, mediante o qual o autor,
satisfeitos os requisitos legais, pede um pronunciamento jurisdicional do Estado a
respeito de um interesse manifestado, sem que o adversário possa impedir a invocação
dessa tutela”55.
54 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 376
55 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 484.
79
UNIDADE I │ Parte Geral
O direito de ação não é absoluto, pois para ser validamente exercido é necessário que o
Autor satisfaça algumas condições:
Seguindo a revisão proposta pelo ilustre jurista italiano Enrico Tulio Liebman, o novo
Código de Processo Civil, por meio dos artigos 17 e 485 do NCPC, não mais prevê
como condição da ação a impossibilidade jurídica do pedido. Tal posicionamento se
baseia na ideia de que é de mérito a discussão sobre a existência de alguma vedação no
ordenamento jurídico ao pedido deduzido em juízo.
Para a moderna teoria geral do processo, o direito público subjetivo de provocar a tutela
jurisdicional do Estado é autônomo e abstrato, não se vinculando à procedência do
direito material perseguido em juízo. As condições da ação, portanto, merecem exame
segundo juízo hipotético e provisório de veracidade, à vista do afirmado na peça de
ingresso (teoria da asserção).
80
Parte Geral │ UNIDADE I
»» Mandado de Segurança.
56 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 175
81
UNIDADE I │ Parte Geral
»» Ação Rescisória.
»» Ação Cautelar.
a. jurisdição;partes; e
b. ação.
57 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 187
82
Fase de
Conhecimento Unidade iI
de Primeiro Grau
Capítulo 1
Petição inicial
Considerações preliminares
A petição inicial é a peça inaugural (ou instrumento) do processo em que o Autor exerce
o direito de ação a partir da provocação da tutela jurisdicional do Estado58.
Manoel Antônio Teixeira Filho conceitua petição inicial como “o ato pelo qual se
provoca a ativação do poder-dever jurisdicional do Estado e se pede um provimento,
cujos efeitos estarão vinculados ao direito material que se esteja procurando ver
reconhecido ou protegido (conquanto o exercício do direito de ação não pressuponha,
necessariamente, a existência do direito material, como sabemos)”59.
A reclamação trabalhista, no processo do trabalho, pode ser escrita ou oral (CLT, art.
840, caput).
58 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a
Lei no 13.256/16. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 291.
59 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 639
60 PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 3. ed. São Paulo, Saraiva, 2014. p. 407
83
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
De todo modo, caso, excepcionalmente, o empregado queira ajuizar ação oral, os artigos
786 e 731 da CLT determinam a obrigação de se retornar para redução a termo da
pretensão no prazo de 5 dias, sob pena de perda do direito de reclamar perante a Justiça
do Trabalho por seis meses (perempção provisória). A bem da verdade, o artigo 731, da
CLT, caiu em desuso, não apenas pelas poucas ações orais hoje em dia deduzidas, mas
especialmente porquanto, quando escolhida tal via, a redução a termo é feita na hora,
no exato momento em que o autor comparece para fazer a ação oral, sem necessidade
de retornar ao foro ou distribuição para a providência de colocar no papel o pedido.
Oportuno ainda destacar que, com o processo judicial eletrônico (PJe), as reclamações
orais se tornaram mais incomuns ainda, pois é necessário inserir a petição inicial no
sistema. De todo modo, para que o PJe não seja instrumento de impedir a aplicação da
via oral prevista no artigo 840 da CLT, haverá uma unidade Judiciária em cada foro
ou tribunal destinada à redução a termo das petições em casos de jus postulandi e ato
urgente em que o usuário externo não possua certificado digital (Resolução no 153/2014
do CSJT, art. 23).
À luz do artigo 840 da CLT, a petição inicial trabalhista deve ser veiculada em
quantidade suficiente ao número de reclamados, mais uma via para ser acostada ao
autos do processo. Assim, se são 2 Réus, o reclamante deve disponibilizar, no momento
do protocolo da reclamação, três vias, sendo duas para acompanhar as respectivas
citações e uma para ser juntada aos autos.
Providências preparatórias
Antes de elaborar a petição inicial, é necessário o subscritor adotar algumas providências
necessárias:
84
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
Requisitos
A regularidade da petição inicial é pressuposto processual necessário não apenas para
que o juiz tenha a dimensão dos limites subjetivos e objetivos da pretensão deduzida
em juízo, mas também para propiciar o exercício da ampla defesa pelo Réu.
Os elementos objetivos da petição inicial trabalhista podem ser encontrados nos artigos
840 da CLT e 319 do CPC/2015, supletivamente aplicável ao processo do trabalho, à luz
dos artigos 15 do CPC/2015 e 769 da CLT:
61 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. Vol. I. São Paulo: LTr, 2009. p. 642
85
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
86
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
Os nomes, prenomes, o estado civil, a existência de Qualificação do reclamante Proposições similares: aplica-se o artigo 840, § 1o, da
união estável, a profissão, o número de Cadastro de e do reclamado. CLT, observando a orientação do art. 282, II, do CPC.
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a
residência do autor e do réu*.
Os fatos e fundamentos jurídicos do pedido. Uma breve exposição dos Atualmente, tem-se entendido pela necessidade de
fatos. fundamentação jurídica.
A opção do autor pela realização ou não de audiência -------------0------------ Pelo princípio da simplicidade, tal exigência é
de conciliação ou de mediação. dispensável.
87
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
À luz dos artigos 787 da CLT e 320 do CPC/2015, a petição inicial deverá vir
acompanhada dos documentos necessários à comprovação dos fatos alegados,
sendo excepcionalmente permitida a juntada posterior de outros documentos
quando a) destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados, b) para
contrapô-los aos que foram produzidos nos autos ou em razão de justo impedimento
de juntada anterior nas hipóteses de desconhecimento, inacessibilidade ou
indisponibilidade documental (CPC/2015, art. 435).
Alguns juízes defendem que, por força do artigo 845 da CLT, é possível a juntada
posterior de documentos, ainda que disponíveis e acessíveis anteriormente, ou seja,
fora das hipóteses do artigo 435 do CPC/2015. O argumento é que o processo do
trabalho é marcado pela simplicidade e que, muitas vezes, é difícil a reunião de todos os
documentos por ocasião do ajuizamento da ação, razão pela qual, em prestígio à busca
da verdade real dos fatos, é possível a produção posterior de outras provas, prerrogativa
expressamente autorizada pelo artigo 845 da CLT.
Por sua vez, na ação rescisória a juntada da certidão de trânsito em julgado da decisão
rescindenda é obrigatória (Súmula 299, I, do TST).
Segundo o artigo 830 da CLT, os documentos podem ser juntados nos originais ou
em cópias autenticadas ou declaradas autênticas pelo advogado, sob pena de sua
responsabilidade pessoal.
88
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
Acumulação de ações
O artigo 842 da CLT permite a cumulação subjetiva de ações, ou seja, a formação de
litisconsórcio ativo facultativo de empregados na hipótese de existir identidade de
matéria e se tratar do mesmo empregador.
Muitos juízes têm entendimento não ser possível a referida cumulação por ausência
de identidade de matéria quando, a despeito da coincidência das parcelas trabalhistas
postuladas, os aspectos fáticos próprios do contrato de trabalho de um empregado são
diferentes daqueles do outro trabalhador.
64 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Comentários ao novo código de processo civil sob a perspectiva do processo do trabalho.
São Paulo: Ltr, 2015. p. 372.
89
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
A petição inicial também pode ser alterada por determinação judicial (e nos limites
desta) em razão de defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento do
mérito ou o exercício da ampla defesa (CPC, arts. 321 e 330, I, §1o). Nesse caso, o juiz
determina que o autor emende a petição inicial, no prazo de 15 dias, nos termos do
artigo 321 do CPC/2015.
Embora seja conveniente que a determinação seja feita o quanto antes para evitar
atrasos desnecessários, em princípio, a determinação de emenda pode ser realizada a
qualquer tempo, já que a regularidade da petição inicial é pressuposto processual.
Desistência
A renúncia (CPC, art. 487, III, c), a despeito de censurada no processo do trabalho em
razão da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, não depende do consentimento do
Réu, pois atinge o direito material em que se funda a ação (res in iudicio deducta).
I - for inepta;
90
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
91
Capítulo 2
Atos intermediários de órgãos auxiliares
92
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
a intimação pessoal quando se trata de Vara única da localidade e esta já informa o dia
da audiência no momento do protocolo da ação em secretaria (CLT, arts. 783 e 837).
A notificação do reclamado tem natureza dúplice, pois, ao mesmo tempo que o comunica
sobre a existência de uma ação em face de seus interesses (citação), informa sobre a
designação da audiência (intimação).
A União e o Ministério Público são exceções a este princípio, pois precisam ser notificados
pessoalmente (LC 75/93, art. 84, IV e Lei no 11.419/2006, art. 9o).
Caso o aviso de recebimento não tenha sido juntado aos autos e a reclamada não
compareça à audiência inaugural ou una, boa parte dos magistrados tem optado por,
ao invés de reconhecer a presunção da Súmula 16 do TST, determinar nova citação,
evitando-se, assim, nulidades processuais futuras decorrentes da revelia da reclamada,
provavelmente causada por extravio da notificação postal.
93
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
94
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
95
Capítulo 3
Audiência
Considerações preliminares
O vocábulo audiência tem sua origem no latim, audientia, que significa ato de escutar, de
atender. Com efeito, a audiência consiste na sessão pública, realizada sob a presidência
do juiz, com a participação das partes, advogados, testemunhas e demais auxiliares da
Justiça, que propiciam interação pessoal entre os sujeitos processuais com a finalidade
de ouvir, debater a causa, possibilitar conciliação entre as partes, produzir provas entre
outros atos processuais.
À luz do artigo 849 da CLT, as audiências trabalhistas são unas e contínuas. Enquanto
a unidade deriva da concentração dos atos processuais, a continuidade consiste na
pretensão de a audiência não ser fracionada, iniciando e encerrando-se no mesmo
dia. Entretanto, não sendo possível conclui-la no mesmo dia, o juiz tem a faculdade de
marcar sua continuação em momento posterior.
96
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
rígida quanto aos limites temporais legalmente impostos, sendo comum audiências
ultrapassarem às 18h00min, sem que se argua qualquer nulidade em razão da ausência
de prejuízo (CLT, art. 794). Ademais, a lei admite que, havendo necessidade, poderão ser
convocadas audiências extraordinárias, desde que avisadas as partes com antecedência
mínima de 24 horas (CLT, art. 813, § 2o).
Por ser ato solene que concretiza o exercício de poder-dever do Estado na solução de
conflitos, ao Juiz é garantida autoridade para que possa dirigir a audiência, inspirado
pela ordem, tranquilidade, respeito e urbanidade. Assim, para o bom andamento da
sessão, os juízes são investidos de poder de polícia, podendo ordenar todas as medidas
necessárias à manutenção e à condução da audiência, inclusive, quando for o caso,
determinar a suspensão ou interrupção dos trabalhos, requisitar auxílio policial, emitir
ordens de retirada da sala daqueles que não se comportam adequadamente e, em último
caso, de prisão quando cometido algum crime, inclusive o de desacato (CLT, art. 816,
CPC, arts. 445 e 446).
Conquanto o art. 817 da CLT determine que “o registro das audiências será feito em livro
próprio, constando de cada registro os processos apreciados e a respectiva solução, bem
como as ocorrências eventuais”, atualmente os registros são informatizados, estando as
informações relevantes inseridas no sistema de acompanhamento processual.
Presenças obrigatórias
De acordo com o artigo 814 da CLT, deverá estar presente à audiência o escrivão ou
o chefe de secretaria (atualmente, diretores de secretaria). Na prática, a exigência
refere-se a servidor encarregado de secretariar a audiência, procedendo ao registro na
ata de todas as ocorrências importantes determinadas pelo juiz.
Por sua vez, o artigo 815 da CLT impõe a presença obrigatória do Juiz, sem a qual não
poderá ser sequer aberta a audiência.
97
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
Dada tal obrigatoriedade e tendo em vista que é o juiz responsável pela direção e
condução da audiência, sendo o fiador da imparcialidade no tratamento das partes, a
prática de atos processuais em audiência (como, por exemplo, a tomada de depoimentos),
sem a presença do magistrado, é, em princípio, fator de nulidade processual.
Não há previsão legal específica de atraso das partes e advogados, razão pela qual o juiz
não se encontra obrigado a aguardar, podendo reconhecer os efeitos da ausência, caso
não haja motivo juridicamente adequado.
A presença das partes e dos advogados é relevante exclusivamente para fins da defesa
dos interesses alegados, não sendo requisito para a abertura e realização da audiência.
98
Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
No caso de doença ou “motivo poderoso”, o artigo 843, §2o da CLT, afirma que o
empregado poderá se fazer representar por outro empregado de mesma profissão
ou pelo sindicato. Entretanto, tem-se entendimento que “a presença de um colega
de profissão ou de alguém do sindicato, no lugar do Reclamante, não é tecnicamente
representação, estas pessoas não são mandatárias do Reclamante, não tendo poderes
para atuar em nome do próprio, comparecendo tão só para evitar o arquivamento”65.
A jurisprudência, contudo, tem exigido, à luz da Súmula 377 do TST, que o preposto
seja empregado do empregador, evitando-se assim uma espécie de profissionalização
da condição de preposto, normalmente, prejudicial à busca da verdade real dos fatos.
Primeiro, porque o preposto não empregado não tinha conhecimento do dia a dia da
empresa, mas apenas de informações prestadas dentro da estratégia estabelecida na
linha de autuação do empregador. Segundo, porquanto as empresas constituíam como
prepostos advogados ou contadores acostumados em não confessar, neutralizando a
principal função do depoimento pessoal.
65 MOURA, Marcelo. Consolidação das leis do trabalho para concursos. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 1004.
99
UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
»» revelia para a Reclamada, uma vez que, não comparecendo, não pode
apresentar sua defesa.
Com a revelia, os fatos tornam-se incontroversos, razão pela qual, à luz do artigo 374,
III, do CPC/2015, não haverá nulidade se o juiz indeferir a dilação probatória requerida,
por exemplo, pelo advogado da reclamada que se encontra presente à audiência.
66 As vezes, a audiência de instrução é adiada ou remarcada, sendo certo que os efeitos da ausência ocorrem sempre que a parte
tiver sido intimada para prestar depoimento, independentemente do número de vezes.
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Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
Como não existe penalidade sem previsão legal, a ausência da parte à audiência de
encerramento de instrução, exceto se expressamente intimada para prestar depoimento
pessoal (CPC, art. 385, §1o), não acarreta efeitos jurídicos relevantes, apenas a perda
processual da prática de atos processuais previstos naquela audiência, tais como razões
finais.
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UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
RECLAMANTE
TIPO DE AUDIÊNCIA CONSEQUÊNCIA FUNDAMENTO LEGAL
Primeira Audiência Arquivamento CLT, art. 844
(Inaugural ou Una)
Instrução Confissão ficta CPC/2015, art. 385, §1o e
Súmula 74/TST
Encerramento de Normalmente CPC/2015, art. 385, §1o e
instrução nenhum Súmula 74/TST
Julgamento Nenhum (mera Súmula 197 do TST
contagem do prazo
recursal, caso tenha
sido intimado)
RECLAMADA
TIPO DE AUDIÊNCIA CONSEQUÊNCIA FUNDAMENTO LEGAL
Inaugural ou Una Revelia CLT, art. 844
Instrução Confissão ficta CPC/2015, art. 385, §1o
Encerramento de Normalmente CPC/2015, art. 385, §1o
instrução nenhum
Julgamento Nenhum (mera Súmula 197 do TST
contagem do prazo
recursal, caso tenha
sido intimado)
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Embora o artigo 844 da CLT não trate especificamente sobre atrasos, a OJ 245 da
SBDI-I do TST, conforme já registrado, uniformizou a jurisprudência no sentido de
inexistir tolerância a atrasos das partes. A prática forense tem demonstrado a ocorrência
de diferentes procedimentos em relação a atrasos das partes. Há juízes que, uma vez
registrada a respectiva ausência da parte na ata de audiência, já arquivam, pronunciam
a revelia ou confissão ficta, a depender da audiência, ainda que a parte chegue atrasada
durante a audiência. Há juízes que afastam esses efeitos quando a parte chegou antes
de sua assinatura na ata da audiência ou antes de imprimir a ata (o que ocorria quando
os autos eram físicos).
Por óbvio, há situações de ausências e atrasos justificados (prisão, batida de carro, mal
súbito da parte...), que precisam ser analisadas com cautela pelo juiz, podendo, caso a
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Fase de Conhecimento de Primeiro Grau │ UNIDADE II
Para ter o direito subjetivo de exigir a intimação judicial na forma do artigo 825 da CLT,
a tendência é observar a exigência do artigo 455 do CPC/2015, aplicável supletivamente
ao processo do trabalho. Assim, antes de exigir a intimação judicial, três condições
legais são exigidas: a) intimação da testemunha providenciada pela própria parte por
meio de carta com aviso de recebimento; b) não comparecimento da testemunha à
audiência de instrução; c) imprescindibilidade da testemunha para comprovação dos
fatos articulados pela parte (CPC/2015, art. 370, parágrafo único).
Aliás, esse é justamente o procedimento que já havia sendo adotado no rito sumaríssimo,
conforme estabelecido no artigo 852-H, §3o, da CLT.
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UNIDADE II │ Fase de Conhecimento de Primeiro Grau
Conciliação
Pelas vantagens relacionadas à celeridade e efetividade da solução compositiva, o
legislador estabeleceu o dever legal do juiz enveredar todos os esforços para que as partes
alcancem a conciliação (CLT, art. 764). Embora tal compromisso com a via compositiva
possa ser buscado em qualquer momento e grau de jurisdição, o ordenamento jurídico
estabeleceu tentativas obrigatórias de conciliação a serem realizadas pelo juiz durante
a audiência:
»» rito sumaríssimo: uma tentativa, assim que aberta a audiência (CLT, art.
852-E);