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DISCIPLINA: História Geral PROFESSORES: Ana Carolina, Diogo Alchorne e Fabrício Sampaio
Data: 18 / 08 / 2020
A Formação das Monarquias Nacionais: A Solução para a Crise do Mundo Feudal e o Início
da Era Moderna
A atuação desse grupo foi determinante para a formação das monarquias nacionais.
A concentração do poder pelos monarcas nos Estados modernos tornou possível a
centralização política dos territórios, a unificação de moedas, a padronização de
unidades de pesos e medidas e a uniformização das leis.
A situação dos nobres, por exemplo, não era nada confortável. Muitos deles foram lutar nas
Cruzadas e contraíram dívidas ao organizar exércitos para combater os muçulmanos. Muitos dos
que voltaram encontraram o feudo numa situação de abandono em razão das fugas e das
revoltas camponesas. Além disso, geralmente os exércitos dos nobres voltavam com poucos
homens, que não tinham condições de controlar as rebeliões. Desse modo, os integrantes da
nobreza viram no poder real um meio de preservar suas terras e alguns privilégios, ainda que
tivessem de se adequar a novas funções sociais, como a de cortesão do rei ou a de funcionário
do Estado.
Para a burguesia a centralização política era interessante, pois garantiria a unificação das leis, da
moeda e dos padrões de pesos e medidas, muito importantes para a produção e o comércio de
mercadorias. Além disso, acabaria com a cobrança de taxas senhoriais dos burgueses toda vez
que entrassem em um feudo – o tributo seria pago apenas ao rei.
O rei, por sua vez, fortalecido pela injeção de dinheiro da burguesia e pela dependência da
nobreza, reuniria as condições necessárias para consolidar seu poder. Dessa forma, entre os
séculos XII e XV, várias monarquias consolidaram-se na Europa.
Como vimos no capítulo anterior, os muçulmanos conquistaram a Península Ibérica no século VIII
e só foram expulsos definitivamente da região no século XV. Até o século XI, cristãos e
muçulmanos conviveram na península alternando períodos de paz e conflito, quando, nesse
século, os cristãos iniciaram as lutas que culminaram na expulsão dos muçulmanos do território.
Essas lutas, chamadas Reconquista, foram empreendidas com o objetivo principal de retomar
para os cristãos os territórios ocupados pelos muçulmanos, reproduzindo na Península Ibérica o
espírito cruzadista que movia as batalhas pela Terra Santa. Em Portugal, os territórios
reconquistados durante esse processo eram administrados por condes; daí a denominação
condados. Na Espanha, eles deram origem a vários reinos.
Portugal formou-se em 1096 a partir de uma faixa de terra retomada por cristãos sob o comando
do rei Afonso VI de Leão e Castela, que passou sua administração ao nobre francês Henrique de
Borgonha, em reconhecimento por seu empenho na luta contra os muçulmanos. O território
recebeu o nome de Condado Portucalense e permaneceu nessa condição até 1139, quando o
filho de Henrique de Borgonha, Afonso Henriques, e o grupo político que o apoiava conquistaram
a independência do condado, dando origem ao Reino de Portugal.
O Reino de Leão e Castela e o Reino de Aragão, por exemplo, foram unificados por meio do
casamento de Fernando, herdeiro do trono de Aragão, com Isabel, irmã do rei de Leão e Castela,
consolidando o domínio sobre quase todo o território que hoje corresponde à Espanha.
Monarquia na Inglaterra
Antes de tornar-se uma monarquia centralizada, as Ilhas Britânicas estavam divididas em quatro
reinos (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda). A centralização ocorreu no século XII com o
rei Henrique II, que unificou a Inglaterra, Gales e a Irlanda.
O sucessor de Henrique II, Ricardo I (também chamado Ricardo Coração de Leão), passou a
maior parte de seu reinado lutando nas Cruzadas ou combatendo os franceses.
A ausência do rei e os altos custos militares geraram insatisfação entre os nobres
da ilha britânica, que se organizaram para limitar o poder do monarca. Para isso, redigiram
a Magna Carta, assinada em 1215 pelo rei João I (ou João Sem Terra), irmão e sucessor
de Ricardo Coração de Leão.
A Magna Carta estabelecia os limites do poder real, fixando os direitos e deveres da monarquia e
de seus súditos. Os reis não poderiam aumentar impostos ou alterar as leis sem a aprovação do
Grande Conselho, instituição composta do clero e da nobreza que, no século XIII, daria origem ao
Parlamento.
O Parlamento inglês era bicameral, ou seja, era constituído por duas Câmaras: a dos Lordes, que
reunia membros da alta nobreza e do alto clero da Igreja, escolhidos pelo rei, e a dos Comuns,
formada por elementos da baixa nobreza (gentry), eleitos por voto censitário. Ambas passaram a
exercer funções legislativas e a controlar a cobrança dos tributos do Estado.
Unificação na França
No início da Baixa Idade Média, o território da França estava tão fragmentado que alguns nobres
eram mais poderosos que o próprio rei. Porém, as disputas com a Inglaterra pelo controle da
região de Flandres (região que compreendia partes das atuais França, Bélgica e Holanda) e pela
sucessão do trono francês – que resultaram na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) –
possibilitaram aos reis franceses criar mecanismos que fortaleceram seu poder, como as alianças
com setores da nobreza, enfraquecidos pela guerra, e a formação de um exército profissional.
A vitória francesa sobre os ingleses na Guerra dos Cem Anos foi fundamental para o início da
consolidação da monarquia e a unificação do território francês. Em 1661, o rei Luís XIV, que ficou
conhecido como o Rei Sol, passou a exercer o poder absoluto na França. Nesse momento, a
França era o maior e mais populoso reino da Europa Ocidental, com a monarquia mais
fortalecida.
Absolutismo monárquico
À medida que os territórios eram unificados e subordinados à autoridade dos reis, estes
assumiam o papel anteriormente representado pela nobreza feudal na formulação de leis,
na cobrança de tributos e nas funções militares. Durante o processo de centralização política, os
monarcas formaram exércitos profissionais e permanentes. Além disso, criaram e instituíram
impostos e uma burocracia ligada à administração do Estado, preenchida em grande parte por
membros da nobreza, que tinham vários privilégios, como isenções fiscais, um conjunto de leis
que valiam apenas para eles e o acesso exclusivo aos postos elevados do exército.
Entre os séculos XVI e XVIII, em vários Estados da Europa Ocidental, foi adotado como sistema
de governo o absolutismo monárquico. Nesse sistema, o poder real era hereditário – ou seja,
era passado de pai para filho – e o rei era considerado o representante de Deus na Terra. O
apogeu do absolutismo ocorreu na França, durante o reinado de Luís XIV, entre 1643 e 1715.
Teóricos do absolutismo
A partir do século XVI, foram formuladas teorias filosóficas para justificar o poder absoluto dos
reis. Os pensadores que se dedicaram à questão refletiram sobre o Estado e a política, em busca
de uma conclusão a respeito do modelo ideal de governo.
Nicolau Maquiavel
Maquiavel definia virtù também como a vontade política de uma pessoa, ou seja, sua
ação política. Num personagem político concreto (o rei, por exemplo), era a capacidade
de escolher a melhor estratégia de ação para o seu governo. Para alcançar a plenitude
na política, de acordo com Maquiavel, os reis não poderiam estar submetidos a nenhuma
instituição, nem mesmo à Igreja Católica.
Thomas Hobbes
O inglês Thomas Hobbes (1588-1679), autor da obra Leviatã, foi outro importante teórico do
absolutismo. Ele defendia a ideia de que os seres humanos, vivendo em estado de natureza, se
autodestruiriam, promovendo uma guerra de todos contra todos. Para que isso não ocorresse, a
sociedade civil precisaria organizar-se politicamente.
De acordo com Hobbes, sem um governo forte e capacitado, os indivíduos não respeitariam os
limites necessários a uma boa convivência social. Por isso, deveriam abdicar de seus direitos em
nome do rei, figura capaz de manter a ordem social e a segurança nacional.
“A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões
dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente
para que [...] possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a
um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades [...] a
uma só vontade. [...] Isto [...] é uma verdadeira unidade de todos eles, [...] realizada por um pacto
de cada homem com todos os homens [...]. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se
chama Estado, em latim civitas.”
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 105. (Coleção Os Pensadores)
“Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por
Ele estabelecidos como seus representantes para governar os outros homens, é necessário
lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a
obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe
soberano despreza a Deus, do qual é a imagem na terra.”
BODIN, Jean. Seis livros da República. In: CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias. 8. ed.
Rio de Janeiro: Agir, 1999. p. 62.
“Três razões fazem ver que este governo [o da monarquia hereditária] é o melhor. A primeira é
que é o mais natural e se perpetua por si próprio [...] A segunda razão [...] é que esse governo é o
que interessa mais na conservação do Estado e dos poderes que o constituem: o príncipe, que
trabalha para o seu Estado, trabalha para seus filhos, e o amor que tem pelo seu reino,
confundido com o que tem pela sua família, torna-se-lhe natural [...] A terceira razão tira-se da
dignidade das casas reais [...] A inveja, que se tem naturalmente daqueles que estão acima
de nós, torna-se aqui em amor e respeito; os próprios grandes obedecem sem repugnância a
uma família que sempre viram como superior [...] O trono real não é o trono de um homem, mas o
trono do próprio Deus [...] Os reis [...] são deuses e participam de alguma maneira da
independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê melhor,
e deve obedecer-se-lhe sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição.”
BOSSUET, Jacques-Bénigne. A política tirada da Sagrada Escritura. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa:
Plátano, 1976. p. 201.
Mercantilismo
Práticas mercantilistas:
Expansão marítima
Quando falamos de expansão ultramarina europeia, devemos pensar nos motivos que levaram os
europeus a realizar esse empreendimento. O medo do desconhecido – como o de imaginários
monstros marinhos e de abismos em chamas ao sul da linha do Equador –, dos desafios dos
oceanos e das doenças que acometiam as tripulações não impediu o processo de expansão
marítima europeia. O desejo de conhecer as “maravilhas” narradas pelas poucas pessoas que
puderam viajar para o Oriente naquela época, o sonho de riqueza e a missão cruzadista eram
mais apelativos que os temores diante do desconhecido.
Os mitos que cercavam o homem moderno e que estiveram presentes na expansão ultramarina
tinham suas origens na mentalidade medieval, que relacionava a busca pelo Paraíso aos
objetivos de cristianização de povos longínquos e à procura de riquezas. Essa tradição mítica
medieval foi fertilizada na modernidade pelo imaginário que cercava a aventura do além-mar.
O conhecimento cartográfico passou a significar poder e múltiplas vantagens para reinos como o
de Portugal, que no final do século XV liderava a confecção de mapas. Esse domínio se manteve
até o momento em que navegadores e cartógrafos portugueses começaram a ser contratados por
reinos e companhias de navegação rivais.
Expansionismo ibérico
Pioneirismo português
O aumento dos preços das especiarias motivou os europeus a buscar esses produtos nos locais
de origem. Dessa forma, eles se esquivariam do monopólio exercido pelos turcos otomanos e
pelos comerciantes das cidades de Gênova e Veneza sobre o Mediterrâneo. Isso motivou
portugueses e espanhóis a buscar novas rotas para as Índias, nome que davam às terras do
Oriente, o que lhes permitiria eliminar os intermediários e aumentaria seus lucros no comércio de
artigos orientais.
Os portugueses foram os primeiros a chegar à Ásia navegando pelo Oceano Atlântico. Esse
pioneirismo pode ser explicado pelos seguintes fatores:
O projeto português de exploração marítima recebeu novo impulso no reinado de Dom João II
(1455-1495). Em 1482, Diogo Cão chegou à foz do Rio Congo e, nos anos seguintes, conduziu
seus navios mais para o sul. Depois foi a vez de Bartolomeu Dias, que, entre 1487 e 1488,
alcançou o extremo sul do continente africano, que passou a ser chamado Cabo da Boa
Esperança.
Na tentativa de descobrir uma rota marítima para alcançar as Índias, os espanhóis optaram por
navegar para o Ocidente, evitando contornar a África, território que já contava com muitas
expedições portuguesas. Ao explorar novos mares, Cristóvão Colombo, genovês financiado
pela Coroa espanhola, chegou à América em 1492. As expedições que posteriormente foram
enviadas ao Novo Mundo acirraram as disputas entre Espanha e Portugal.
Em 1497, Vasco da Gama partiu de Portugal à frente de uma expedição que, no ano seguinte,
atingiu Calicute, descobrindo o caminho marítimo para as Índias.
Em 1500, o nobre português Pedro Álvares Cabral foi nomeado pelo rei Dom Manuel (1469-
1521) para o comando de uma expedição com treze embarcações e 1.500 homens com o
objetivo de alcançar as Índias. Após uma mudança de rota, Cabral aportou na Ilha de Vera Cruz,
primeiro nome dado pelos portugueses ao Brasil, e depois seguiu viagem até a Índia.
A rota ocidental para o Oriente foi retomada em 1519, com a expedição de Fernão de
Magalhães, navegador português financiado pela Espanha. Com cinco navios, Magalhães dirigiu-
se ao Atlântico Sul, atingiu o Oceano Pacífico utilizando a passagem hoje conhecida como
Estreito de Magalhães, seguiu viagem e, em 1521, chegou às Filipinas, onde foi morto em um
conflito com os nativos. A viagem prosseguiu e, no ano seguinte, sobreviventes da tripulação
retornaram à Espanha, concluindo a primeira viagem de circum-navegação.
Outros Estados, como Inglaterra e França, seguiram os passos dos ibéricos. Assim, foi a serviço
da Inglaterra que o italiano João Caboto realizou duas viagens ao território correspondente ao
hoje ocupado pelo Canadá, em 1497 e 1498.
Em meados do século XVII, os habitantes desses países já haviam tido contato com a América de
alguma forma. Essas viagens modificaram profundamente o conhecimento que os europeus
tinham do mundo e de si mesmos, abrindo caminho para novos interesses e maneiras de pensar.
Pela Bula Inter Coetera, assinado em 4 de maio de 1493, intermediado pelo papa
espanhol Alexandre VI, um meridiano imaginário deveria cortar o Atlântico a 100 léguas a oeste
das ilhas de Cabo Verde. Todas as terras descobertas e por descobrir que ficassem a oeste
pertenceriam à Espanha. Terras a leste pertenceriam a Portugal.
O governo português não aceitou essa divisão, e por isso foi assinado, em 1494, o Tratado
de Tordesilhas, na cidade espanhola de Tordesilhas, pelo qual o meridiano imaginário foi
deslocado para 370 léguas a oeste de Cabo Verde. No Brasil, a linha de Tordesilhas passaria em
Belém (Pará) e Laguna (Santa Catarina). Essa atitude demonstra que Portugal provavelmente
sabia da existência de terras a oeste.
O Tratado de Tordesilhas foi assinado em 1494, seis anos antes da chegada dos portugueses ao
Brasil. Colombo realizou mais três viagens à América, pensando sempre que se tratava das
Índias. Só mais tarde é que outro navegador, Américo Vespúcio, percebeu o engano, e em sua
homenagem, o continente recebeu o nome de América.
Inglaterra e França tiveram uma movimentação tardia, por conta de fatores internos, tais
como estruturação política e social.