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Sobre a Mônada Mineral

Helena Petrovna Blavatsky

(Publicado originalmente em “Five Years of Theosophy”, 1885, pp. 273-78, depois nos
“Collected Writings” de Helena Blavatsky - VOLUME V, pag. 171-175. Este artigo foi citado e
parcialmente traduzido em “A Doutrina Secreta”, de Helena Blavatsky, vol. 1, pg. 219 a 221)

Qualquer expressão (nas línguas ocidentais) que traduza corretamente a idéia dada (sobre a
mônada) é “autorizada pelos Adeptos”. Por que não? O termo Mônada aplica-se à vida latente
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no mineral, tanto quanto em relação à vida no vegetal e no animal. O monogenista poderia
enxergar uma exceção no termo e especialmente na idéia, enquanto o poligenista, a não ser
que seja corporalista, não. Quanto à outra classe de cientistas, eles poderiam opor-se à idéia,
mesmo à da Mônada humana, e chamá-la de “anti-científica”. Que relação tem a Mônada com
o átomo? A Mônada não tem nenhuma relação com o átomo ou a molécula, no sentido em que
a ciência atualmente os conceitua. Nem pode ser comparada com os organismos
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microscópicos, outrora classificados como infusórios poligástricos , e hoje considerados como
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vegetais, na classe das algas, nem ser comparada com a monas dos Peripatéticos. É claro
que, física ou constitucionalmente a Mônada mineral é diferente da Mônada humana, que não
é física, possuindo uma estrutura que não pode ser representada por símbolos e elementos
químicos. Em resumo, a Mônada mineral é uma – já as mônadas dos animais superiores e dos
humanos são incontáveis. Caso contrário, como se poderia contar e explicar matematicamente
o progresso evolutivo e em espiral dos quatros reinos - uma dificuldade salientada de forma
excelente pelo chela S.T.K. *** Chary (no jornal “Teosofista”, de junho de 1883, pg. 232 e 233)?
A Mônada é a combinação dos dois últimos Princípios no homem, o sexto e o sétimo, e,
propriamente falando, o termo “mônada humana” aplica-se somente à Alma Espiritual, não ao
mais elevado Princípio espiritual vivificante, Atma. Mas separada do último (Atma), a Alma
Espiritual não pode ter existência, ou modo algum de ser, que possa chamar-se assim. A
composição (tal palavra, que chocaria um asiático, parece ser necessária para ajudar a
concepção européia) de Buddhi, ou o sexto princípio, é feita da essência do que se poderia
chamar de matéria (ou talvez um centro de Força Espiritual) em sua sexta ou sétima condição
ou estado; o Atma que anima, sendo parte da VIDA UNA ou Parabrahman. Assim sendo, a
Essência (se tal palavra for permitida) Monádica no mineral, no vegetal e no animal, embora
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seja a mesma em toda a série dos ciclos, desde o elemental mais ínfimo até o reino dos
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Devas , difere, contudo, na escala de progressão.
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(1) O Monogenismo é uma teoria que defende que a humanidade constitui uma única espécie,
descendente de um ancestral comum. Já o Poligenismo é outra teoria que defende que a
humanidade não tem uma origem comum, isto é, que diversos grupos humanos pré-históricos
e as raças humanas atuais descendem de espécies distintas. (Nota do tradutor)

(2) Infusório - Zoófito microscópico, de consistência gelatinosa, que vive nos líquidos;
Poligástrico - Que tem muitos estômagos. (Nota do tradutor)

(3) monas dos Peripatéticos - "monas" é sinônimo de mônada; "Peripatético" é a palavra grega
para 'ambulante' ou 'itinerante'. Peripatéticos, ou 'os que passeiam', eram discípulos de
Aristóteles, em razão do hábito do filósofo de ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e
dava preleções, por sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como ‘perípatoi’, ou sob as
árvores que o cercavam. (Nota do tradutor)

(4) Elemental – “As criaturas inferiores na escala dos seres são as criaturas invisíveis que os
cabalistas chamam de "elementares". Existem três classes distintas de seres elementares."
("Ísis sem Véu", HPB, vol. 2, pg. 23) (Nota do tradutor)

(5) Devas – “Os Dhyân Chohans são chamados Devas (Deuses) na Índia — ou Poderes
Conscientes e Inteligentes da Natureza. A essa hierarquia correspondem os tipos atuais em
que a Humanidade pode ser dividida; porque a Humanidade, como um todo, é a expressão
materializada, embora imperfeita, daquela hierarquia”. (“A Doutrina Secreta”, Helena P.
Blavatsky, vol. 1, pg. 146) (Nota do tradutor)
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1
Seria de todo errôneo imaginar a Mônada como uma entidade separada, a percorrer
lentamente uma determinada senda, através dos reinos inferiores, para florescer em um ser
humano após uma série incalculável de transmigrações; em resumo, supor que a Mônada de
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um Humboldt , por exemplo, proviesse da de um átomo de hornblenda . Em vez de se dizer
“mônada mineral”, expressão que seria mais correta na ciência física, que diferencia cada
átomo, - diríamos com mais propriedade “A Mônada em manifestação naquela forma de
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Prakriti chamada reino mineral”. Cada átomo ou molécula, tal como se conceitua nas
hipóteses científicas correntes, não é uma partícula de alguma coisa, animada por algo
psíquico, destinada a florescer como um homem, após o transcurso de evos. Mas é a
manifestação concreta da Energia Universal, ainda não individualizada: uma manifestação
seqüencial da única Monas Universal. O Oceano da matéria não se divide em gotas potenciais
e constituintes antes que a onda do impulso de vida alcance o estágio evolutivo humano. A
tendência para a segregação em Mônadas individuais é gradativa, e quase chega a esse ponto
nos animais superiores. Os Peripatéticos aplicavam a palavra Monas a todo o Cosmos, no
(9)
sentido panteísta ; os Ocultistas, por uma questão de comodidade, aceitam essa idéia, mas
distinguem os estágios progressivos de evolução do Concreto a partir do Abstrato, usando
termos tais como a “Mônada mineral” é una. A expressão significa simplesmente que a onda de
evolução espiritual está passando por aquele arco de seu circuito. A “essência Monádica”
começa imperceptivelmente a diferenciar-se no reino vegetal. Como as Mônadas são coisas
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não-compostas, como corretamente definidas por Leibnitz , a essência espiritual que as
vivifica em seus diversos graus de diferenciação, é que constitui propriamente a Mônada – e
não a agregação atômica, que é só o veículo e a substância através dos quais vibram os graus
inferiores e superiores da inteligência. E ainda, como mostrado pelas plantas conhecidas como
sensitivas, existem algumas entre elas que podem ser consideradas como possuindo uma
percepção consciente, que é chamada por Leibnitz de apercepção, enquanto as restantes são
dotadas de uma atividade interna, que pode ser chamada de sensação-nervosa vegetal
(chamar de percepção seria incorreto) – mas mesmo a mônada vegetal é ainda a Mônada em
seu segundo estágio do despertar das sensações. Leibnitz chegou, várias vezes, muito perto
da verdade, mas definiu a evolução monádica incorretamente e frequentemente cometeu
grandes enganos.
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(6) Alexander von Humboldt (1769-1859) foi um cientista alemão de rara polivalência, tendo
especializado-se em diversas áreas: foi etnógrafo, antropólogo, físico, geógrafo, geólogo,
mineralogista, botânico, vulcanólogo e humanista, tendo lançado as bases de ciências como a
Geografia, Geologia, Climatologia e Oceanografia. (Nota do tradutor)

(7) A hornblenda ou greda é a designação dada a um grupo de minerais monoclínicos, também


denominadas anfibólios, que podem ser formadas em rochas ígneas (hornblenda comum,
arfvedsonita) e também encontradas em rochas metamórficas (actinolita, glaucofana, antofilita).
A hornblenda é um dos principais constituinte dos granitos. (Nota do tradutor)

(8) Prakriti significa materia plástica, natureza. “Na Filosofia Sânkhya alude-se a Purusha
(Espírito) como algo que só pode atuar quando apoiado sobre os ombros de Prakriti (Matéria),
sendo esta última, por sua vez, inerte e insensível quando abandonada a si mesma. Na
Filosofia Secreta, porém, ambos são havidos como separados por gradações. Espírito e
Matéria... têm cada qual o seu processo evolutivo, uma vez que se acham no plano da
diferenciação, processo que segue direções contrárias: o Espírito caindo gradualmente na
matéria, e esta subindo progressivamente à sua condição original, a de Substância espiritual e
pura.” (“A Doutrina Secreta”, Helena P. Blavatsky, vol. 1, pg. 280-281) (Nota do tradutor)

(9) O panteísmo é a crença de que absolutamente tudo e todos compõem um Deus abrangente
e imanente, ou que o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos. Sendo assim, os adeptos
dessa posição, os panteístas, não acreditam num deus pessoal, antropomórfico ou criador. A
palavra é derivada do grego pan ("tudo") e theos ("deus"). Embora existam divergências dentro
do panteísmo, as ideias centrais dizem que deus é encontrado em todo o Cosmos como uma
unidade abrangente. (Nota do tradutor)

(10) Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646 — 1716) - foi um filósofo, cientista, matemático, diplomata
e bibliotecário alemão. A contribuição mais importante de Leibnitz para a metafísica é a sua
teoria sobre as mônadas, expostas em sua obra “Monadologia”. (Nota do tradutor)
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2
Existem sete reinos. O primeiro grupo compreende três graus de elementais, ou centros
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nascentes de forças – desde o primeiro estágio de diferenciação de Mulaprakriti até o terceiro
estágio -, isto é, de uma completa inconsciência até uma semi-percepção; o segundo grupo,
mais elevado, inclui os reinos que vão do vegetal até o homem; o reino mineral forma, deste
modo, o ponto central ou ponto de inflexão nos graus da “Essência Monádica” - considerada
como uma Energia em Evolução. Três fases no lado elemental; o reino mineral; três fases no
lado objetivo físico; esses são os sete elos da cadeia evolutiva. A descida do espírito na
matéria é equivalente à ascensão no processo evolutivo físico; o reerguimento, desde os mais
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profundos abismos da matéria (o reino mineral) em direção ao status quo ante , com uma
dissipação correspondente de organismos concretos até o Nirvana – o ponto de
desaparecimento da matéria diferenciada. Talvez um simples diagrama possa nos ajudar:

A linha (vertical) A-D representa o obscurecimento gradual do espírito enquanto passa para
dentro da matéria concreta; o ponto D indica a posição evolutiva do reino mineral desde que
começou (d) até sua solidificação máxima (a); a, b, c, no lado esquerdo da figura, são os três
estágios da evolução elemental; isto é, as três fases sucessivas atravessadas pelo impulso
espiritual (através dos elementais - a respeito dos quais pouco é permitido dizer), antes de
serem aprisionados na forma mais concreta de matéria; e c, b e a, do lado direito, são os três
estágios da vida orgânica, vegetal, animal e humana. O que é obscurecimento total do espírito
é perfeição completa de sua antítese polar - a matéria; e essa idéia é transmitida pelas linhas
A-D e D-A. As setas mostram as linhas da viagem do impulso evolutivo, entrando em seu
vórtice e expandindo-se novamente dentro da subjetividade do ABSOLUTO. A linha central
mais grossa d-d é o Reino Mineral.
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(9) Por oposição ao universo manifestado da matéria, o termo Mûlaprakriti (de Mûla, a raiz, e
prakriti, natureza), ou a matéria primordial não manifestada — a que os alquimistas ocidentais
deram o nome de Terra de Adão — é aplicado pelos Vedantinos a Parabrahman. A matéria é
dual na metafísica religiosa, e sétupla nos ensinamentos esotéricos, como todas as coisas no
universo. Como Mûlaprakriti, é não diferenciada e eterna; como Vyakta, vem a ser diferenciada
e condicionada, segundo o Sbvetâshvatâra Upanishad, I, 8, e o Devi Ehâgavata Purâna. O
autor das quatro conferências sobre o Bhagavad Gîtâ (T. Subba Row) diz, referindo-se a
Mûlaprakriti: "Do ponto de vista objetivo (do Logos), Parabrahman aparece no Logos como
Mûlaprakriti... Naturalmente que este Mûlaprakriti para ele é material, como todo objeto material
o é para nós... Parabrahman é uma realidade incondicionada e absoluta, e Mûlaprakriti uma
espécie de véu lançado sobre ele." (The Theosophist, vol. VIII, pg. 304). (Nota do tradutor)

(10) “status quo ante” significa “estado anterior” ou “situação anterior”, ou seja, que as coisas
voltam ao estado em que eram antes. (Nota do tradutor)
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3
Os monogenistas tiveram seu dia de glória. Mesmo aqueles que acreditam em um Deus
pessoal, como o Professor Agassiz, ensinam agora que "... há um progresso evidente na
sucessão dos seres sobre a superfície da terra. Este progresso consiste na similaridade
crescente entre a fauna existente e os vertebrados, especialmente em sua semelhança
crescente com o homem.... “O homem é o fim em direção ao qual toda criação animal caminha,
desde o primeiro aparecimento dos primeiros peixes Paleozóicos" (Princípios de Zoologia, pg.
205-6). A “mônada” mineral não é uma individualidade latente, mas uma Força que a tudo
permeia e que tem, como seu veículo atual, matéria em seu mais baixo e mais concreto estado
terrestre; no homem a mônada está totalmente desenvolvida, em potencial, e absolutamente
passiva ou ativa, de acordo com o seu veículo, os cinco princípios humanos inferiores mais
físicos. No reino Deva ela é totalmente liberada e está em seu estado mais elevado - mas um
grau menor do que a Vida UNA Universal.

(Tradução: Marcelo Luz – Membro da Loja Teosófica Brasília)

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