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Este artigo faz uma análise das práticas portuárias empregadas no comércio de africanos na cidade do Rio de Janeiro durante
as duas primeiras décadas do século dezenove. A partir da diferenciação conceitual entre desembarque e descarga final das
arqueações de cativos, novos dados obtidos em fontes primárias inéditas foram confrontados com relatos de cronistas e com
fontes documentais tradicionalmente conhecidas. Sob essa perspectiva, o texto apresenta um panorama sólido e plausível
sobre o processo de importação de escravizados, resgatando a importância do papel da alfândega do Rio de Janeiro
como primeiro local de desembarque, e deslocando para o litoral da Saúde, no antigo bairro do Valongo, o local de descarga
final das arqueações de africanos. Trata-se, portanto, de um cenário divergente da teoria corrente, segundo a qual o Cais do
Valongo, localizado na enseada do Valonguinho, teria sido a porta de entrada dos milhares de cativos africanos que chegaram
ao Rio de Janeiro.
Palavras-chave: diáspora africana, alfândega, Valongo, mercado de escravos, Rio de Janeiro
In this article, we analyze the practices employed at the ports of Rio de Janeiro pertaining to the African slave trade during the
two first decades of the nineteenth century. Based on the conceptual differences between disembarkation and final discharge of
the enslaved, we compare new data obtained from unpublished primary sources with chroniclers’ accounts and previously
known historical documents. From this perspective, the text presents a consistent and plausible vision of
the slave importation process, revealing the importance of the Customs House of Rio de Janeiro as the first landing place,
and moving to the littoral of Saúde, in the old neighborhood of Valongo, the site of final discharge of African captives.
This is in contrast to the current theory that the Valongo Wharf, located on the Valonguinho Cove, would have been the gateway
for the thousands of African captives who arrived in Rio de Janeiro.
Keywords: African diaspora, customs department, Valongo, slave market, Rio de Janeiro
O
comércio de cativos africanos no Brasil atendia à província do Rio de Janeiro e às provín-
ocorreu por um período bastante longo, cias de Minas Gerais e São Paulo (Fragoso
cuja estimativa é de que tenha superado 1992). Era formado por associações entre pode-
a marca de quatro séculos. A impossibilidade de rosos comerciantes de “grosso trato”, que
se mensurar formalmente tamanha indignidade comandavam os negócios negreiros internacio-
humana ocorre em função da regionalização do nalmente, desde o embarque nos portos da
tráfico em um país de dimensões continentais; África, passando pelas operações de venda e dis-
e também em função da impossibilidade de se tribuição, a partir do porto do Rio de Janeiro, e
contabilizar com precisão o número de cativos por pequenos mercadores varejistas submetidos
importados, haja vista as subnotações, as cargas economicamente aos primeiros através do con-
provenientes do contrabando, e a não preserva- trole do crédito, e em função de poderes políti-
ção de boa parte dos registros alfandegários. cos, sociais e comerciais (Florentino 1995).
O mercado de escravos na cidade do Rio de Na cidade do Rio de Janeiro, no antigo bairro
Janeiro tinha alcance local e regional, pois do Valongo (atuais bairros da Gamboa e Saúde;
Reinaldo Bernardes Tavares, Claudia Rodrigues-Carvalho e Andrea Lessa (lessa.mn@gmail.com, autor para contato) ▪
Programa de Pós-graduação em Arqueologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quinta da Boa Vista s/n,
São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ - CEP: 20940-040, Brasil
Latin American Antiquity 31(2), 2020, pp. 342–359
Copyright © 2020 by the Society for American Archaeology
doi:10.1017/laq.2020.23
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 343
Figura 1) encontrava-se instalado o complexo são mais fidedignas, uma vez que as normas de
escravista conhecido localmente por Mercado contabilidade alfandegária e as regras de arquea-
de Escravos do Valongo, dotado de lazareto, ção estavam sob o controle direto do estado por-
cemitério e lojas para venda de cativos (Pereira tuguês. Segundo pesquisas realizadas em
2007). Com o advento da chegada da Corte Por- arquivos do escritório da alfândega do Rio de
tuguesa em 1808, o mercado do Valongo se torna Janeiro, estima-se que cerca de 600 mil cativos
“grande centro redistribuidor de escravos para a africanos entraram no Rio de Janeiro apenas
Região Sudeste do Brasil” (Soares 2007:40), entre os anos de 1811 e 1843 (Karash 2000).
principalmente nas duas primeiras décadas do Manolo Florentino (1995), através de pesquisa
século dezenove. No Brasil, estima-se que em no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro em jor-
1800 já havia quase um milhão de escravos, nais, periódicos e documentos de entrada de
dos quais 10% estavam concentrados nas zonas navios, estima que de 1790 até 1830 tenham
urbanas, e o restante trabalhava na agricultura, entrado pelo porto do Rio de Janeiro 706.870
pesca, transporte e mineração (Luna e Klein cativos africanos. Os dados de Florentino são
2010). No início do século dezenove, em face bem organizados e, portanto, valiosos para dis-
da necessidade de abastecimento do “braço cussões sobre demografia. Quando quantificados
escravo” para o estabelecimento da Corte Joa- anualmente para o período entre 1801 e 1830
nina e, posteriormente, Imperial, o número de observa-se uma estimativa de 564.345 para as
cativos do sexo masculino em muito superou o primeiras décadas do século dezenove (Floren-
de mulheres e crianças, criando novas dinâmicas tino 1995). No levantamento realizado pela
na vida escrava e na prática mercadológica (Góes equipe do “Voyage: Trans-Atlantic Slave
1993). Voyage Trade Database” para o período de
Com a proibição do tráfico de escravos na 1801 até 1825 (Eltis e Richardson 2008), a esti-
década de 30 do século dezenove, garantida por mativa de desembarque para o sudeste brasileiro,
acordo bilateral entre a Grã-Bretanha e o Império em sua quase totalidade para o Rio de Janeiro, é
do Brasil, o comércio retalhista de escravos do de 449.566 cativos africanos. Somando-se os
Rio de Janeiro se reorganizou em escritórios e dados para os períodos entre 1801 e 1850,
casas de negócios variados, levando à desarticu- estima-se que 714.909 cativos tiveram como des-
lação do complexo do Valongo. Nesse contexto, tino essa mesma região (Eltis e Richardson 2008:
foram realizados negócios sorrateiros através de slavevoyages.org/assessment/estimates).
transações comerciais rentáveis que aceitavam Comparando-se o levantamento de Florentino
dinheiro, escravos, mercadorias e demais objetos (1995) com o de Eltis e Richardson (2008)
de valor, visando burlar a proibição estatal (Soa- para o período entre 1801 e 1825, observa-se
res 2007:43-44). No entanto, não foi apenas o 378.345 indivíduos contra 449.566, respectiva-
complexo que sentiu as mudanças com o pro- mente. A diferença de 71.221 cativos entre
cesso de ilegalidade, os próprios comerciantes ambos se explica pela maior abrangência territo-
de escravos, que antes eram vistos como exemplo rial dos dados utilizados pelo segundo trabalho.
de empreendedorismo e sucesso, foram então Assim, embora não sejam os únicos, existem
equiparados aos gananciosos piratas, uma vez pelo menos três conjuntos de dados mais robus-
que passaram a ser de fato contrabandistas. Con- tos relativos ao comércio de africanos para o Rio
tribuiu para esta situação a inércia do Estado, o de Janeiro, os quais até o momento proporciona-
qual não estava preparado para ações de repres- ram um panorama convergente. São eles resul-
são ao “infame comércio”, tão lucrativo e ampla- tantes da pesquisa de Karash (2000) sobre
mente espalhado pelo vasto litoral brasileiro dados alfandegários, ou seja, em fonte estatal, a
(Rodrigues 2000). qual fornece uma boa amostra inicial; da pes-
Os dados demográficos da escravidão na quisa de Florentino (1995), que se aproxima bas-
cidade do Rio de Janeiro se tornam mais precisos tante dos números estimados em estudos mais
para o período entre 1811 e 1831 em função da recentes; e os dados coletados e organizados
conjuntura histórica associada à presença da Eltis e Richardson (2008), mais acurados e
Corte Joanina. Para esse período, as estimativas abrangentes, os quais demonstram a magnitude
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Figura 1. Mapa com indicação da cidade do Rio de Janeiro e do atual bairro da Gamboa, parte do antigo bairro do
Valongo, endereço do complexo escravista do Valongo. Desenho de Reinaldo Bernardes Tavares.
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 345
Figura 2. Desenho representando o antigo bairro do Valongo com as localidades Gamboa e Saúde, além das principais
unidades que formavam o complexo do Valongo (Cais do Valongo, Cemitério dos Pretos Novos e Lazareto da Gamboa).
Os bairros adjacentes estão representados para melhor localização da região do Valongo. O desenho apresenta retifi-
cação do litoral uma vez que foi baseado em carta cadastral atual. Desenho de Reinaldo Bernardes Tavares.
colaboradores (1987), em seu livro de 2005 “De 2013 com as pesquisas de Lima (2013a,
Costa a Costa: escravos, marinheiros e interme- 2013b) e Soares (2017).
diários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Assim, percebe-se que há uma confusão
janeiro (1780–1860)”, inaugura a teoria do gerada pelo desconhecimento de duas práticas
desembarque direto no Cais do Valongo: distintas de desembaraço de mercadorias que
chegam a um porto, a saber: o desembarque e a
Localizado a noroeste da cidade, na enseada
ação de descarga. Em um primeiro momento
entre o outeiro da Saúde e o Morro do Livra-
ocorre o desembarque, que se configura como
mento, na Freguesia de Santa Rita, o cais do
trâmite de controle alfandegário; e em um
Valongo dava acesso ao mercado de escravos
segundo momento são realizadas as ações de
homônimo. Entre 1780 e 1831, aproximada-
descarregamento da mercadoria, ou descarga,
mente, quando da primeira proibição do trá-
que é parte da logística de importação. O descon-
fico no Brasil, aquele foi o local por onde os
hecimento desse detalhe, por um lado, minimiza
africanos legalmente importados desembar-
o importante papel da alfândega do porto do Rio
caram no Rio de Janeiro [Rodrigues
de Janeiro, uma vez que causa a falsa impressão
2005:299].
de que há no século dezenove o “desembarque
A associação das ideias de protagonismo e de direto” de levas de africanos em um cais exclu-
desembarque direto no cais torna-se o foco da sivo para o tráfico negreiro. Esse é sem dúvida
investigação histórica e arqueológica que ocorre- um aspecto muito relevante para a historiografia
ria na busca pelo Cais do Valongo a partir de no que se refere ao processo de importação
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humana desde a África. Por outro lado, desde a contavam-nos por sexo e anotavam o número
obra de Cardoso e colaboradores (1987) e, de crias que acompanhavam mães. Depois
principalmente, a partir da sua escavação em que os importadores pagassem os impostos
2011 no âmbito do projeto Porto Maravilha sobre todos os escravos acima de três anos
para revitalização da Zona Portuária, o Cais do de idade, os africanos eram levados em gru-
Valongo vem ganhando grande notoriedade pos para o local do leilão. Se houvesse com-
nacional e mundial. Além de receber o título de pradores suficientes, eram imediatamente
Patrimônio Mundial da UNESCO, passou a ser leiloados perto da alfândega e seus destinos
reconhecido, inclusive por movimentos eram determinados logo após o desembar-
socioculturais de lideranças afrodescendentes, que. Os que não fossem vendidos naquele
como o local sagrado do desembarque de ances- dia eram então conduzidos para casas a fim
trais africanos. de restaurarem a saúde e serem preparados
Atualmente, o Cais do Valongo é conhecido para venda.
no meio acadêmico (Lima et al. 2016; Soares [. . .] Embora estivessem estabelecidos no
2017) e entre o grande público como sendo o distrito comercial havia catorze anos, os
local onde desembarcaram centenas de milhares negociantes de escravos foram proibidos
de cativos africanos que seriam vendidos no em 1824 de ali vender novos africanos,
mercado do Valongo ou encaminhados para sendo obrigados a mudar seus negócios
outras praças. Será que após tantas décadas de para o Valongo. Porém, os africanos ainda
silêncio a história finalmente trouxe à luz o eco tinham de desembarcar e ser contados na
das primeiras experiências dos africanos no alfândega antes de atravessar as ruas do Rio
novo continente em sua terrível jornada rumo até o Valongo, onde eram guardados em
ao cativeiro? casas ou armazéns para esperar a venda.
A fim de discutir essa questão analisaremos no Em 1830, quando o tráfico de escravos foi
presente texto o processo de importação de cati- declarado ilegal, a parada intermediária na
vos africanos para o Rio de Janeiro, partindo do alfândega foi eliminada [Karasch
menosprezado papel da alfândega na historiogra- 2000:73-74; grifo nosso].
fia da escravidão brasileira, para então apresentar-
Foi a partir da pesquisa de Karasch, portanto,
mos a questão da descarga final das arqueações
que houve uma melhor compreensão sobre os
sob uma nova perspectiva historiográfica.
trâmites alfandegários e as distintas etapas do
processo de importação dos cativos para o Rio
Alfândega do Rio de Janeiro: O local da de Janeiro. Essa primeira aproximação ao tema,
chegada dos cativos africanos no entanto, ficou mais restrita ao momento da
chegada dos africanos, não existindo a preocupa-
A alfândega do Rio de Janeiro ganhou destaque
ção em se discutir a logística relacionada ao pro-
na história associada à diáspora africana a partir
cesso de descarga final das arqueações de
da pesquisa de Mary C. Karasch, apresentada
africanos provenientes dos navios negreiros que
na obra seminal “A vida dos escravos no Rio
aportavam no Rio de Janeiro. Com a análise
de Janeiro (1808–1850)”, publicada em 2000:
dos documentos primários, apresentados abaixo,
As primeiras impressões dependiam, no esperamos contribuir para a diminuição dessa
entanto, do período. Antes de 1824, os lacuna observada na produção historiográfica
navios negreiros entravam livremente no recente, que se tornou base para pesquisas
porto para descarregar suas “cargas” no cen- arqueológicas e mesmo para a elaboração de
tro do Rio. Depois de ancorar ao largo e pas- um dossiê de candidatura a Patrimônio da Huma-
sar por formalidades oficiais, as tripulações nidade (UNESCO). Entendemos ser necessário o
dos navios tinham permissão para transferir aprofundamento das pesquisas, a fim de se esta-
os africanos para barcaças a remo menores belecer bases mais sólidas e argumentações mais
e levá-los para a alfândega, no distrito consistentes para um entendimento do processo
comercial. As autoridades alfandegárias de chegada, venda e interiorização dos grupos
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 347
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que os vem comprar de todas as minas, assim magros, com outros defeitos, que por baratos
gerais, como São Paulo, Goytacases, e se sujeitam a tratar delas, afim de os vende-
Cuiabá e pela falta da sua entrada nelas expe- rem com alguma utilidade, em remuneração
rimentam um notável prejuízo todos reais do seu trabalho, isto mesmo podem fazer os
precedidos tudo da limitada pena, a que se interessados na conta que o Senado da
estende a postura deste Senado contra os atra- Câmara na presença de sua Majestade.’ –
vessadores, como consta da cópia número Ultimamente Excelentíssimo Senhor nessa
primeiro, e quando o mesmo Senado ver se cidade sempre há abundância de escravos, e
podia remediar mal tão grande, e pernicioso por falta de satisfação no tempo estipulado,
mandou publicar há anos o edital, que consta e fiados no privilégios (aquele que o tem)
da cópia número segundo, e tendo se fixado de não ser obrigado se não pela terceira
algumas vezes no decurso dos anos passados, parte do rendimento de suas fazendas:
não for bastante para cessar o mal expressado. Além disto entendo como entram anual-
A vista do qual recorre este Senado a mente de oito até dez mil escravos é impossí-
Vossa Majestade para que com a sua clemên- vel conservando-se o comércio deles
cia evite um dano, que ameaça a perdição de sentir-se a falta ponderada, nos quintos e
todo este continente, proibindo-se não atra- dízimos Reais, ao mesmo tempo que não
vessem negros, e contra os que violarem a duvidamos se diminua a entrada de escravos
ordem de Vossa Majestade, sejam punidos com detrimento do mesmo, pondo-se em
com a severa pena de perderem não só os prática o que por esta ordem se pretende. –
ditos negros que tiverem comprado, Temos exposto o que alcançamos neste par-
aplicando-se o seu produto, uma parte para ticular sobre o qual Vossa Excelência deter-
o conselho, outra para que sejam desterrados minará o que for servido. Rio de Janeiro a
para Angola os transgressores, que os atra- vinte e sete de julho de mil setecentos e ses-
vessarem nomeando Vossa majestade Minis- senta e dois anos. Manoel Roiz Ferreira –
tro Reto, que privativamente conheça os Antonio Pinto de Miranda, João Hopmam –
ditos atravessadores, havendo devassa aberta Francisco Ferreira Guimarães – Manoel dos
para que prontamente se dê execução à dila- Santos Pinto – Manoel Barboza dos Santos
tação, e que está verificada contra qualquer – Manoel Ferreira Gomes [sic; grifo nosso].
atravessador com número de três testemun-
(AGCRJ, Archivo do Districto Federal –
has se lhe imponham Câmara que Sua Majes-
Revista de documentos para a história da
tade determine-se proceda contra essa
Cidade do Rio de Janeiro, 4° ano – maio de
qualidade de compradores, como atravessa-
1897, f. 26.)
dores a fim dos comerciantes dos escravos,
os vendem somente aos senhores de O texto esclarece que há um interstício de oito
engenho, lavradores, mineiros e moradores dias entre o momento de entrada no porto, quando
que deles carecem facultando-se lhe para a carga era despachada na alfândega, e sua libera-
isso a demora de oito dias, depois da sua ção para venda: “Facultando-lhe para isso a demora
entrada, e despacho da Alfândega, sem aten- de oito dias, depois da sua entrada e despacho na
derem (ainda que pareça pouco tempo) as Alfândega” [. . .] “proibindo-se lhe a liberdade de
conseqüências que disto mesmo se segue cada um os vender logo que chegam, ou quando
em prejuízo gravíssimo deste comércio, proi- puder pelo risco da vida que estão sujeitos”.
bindo se lhes a liberdade de cada um os ven- Esse documento, datado de 1762, faz referên-
dem logo que chegam, ou quando puder pelo cia a um período histórico anterior à transferên-
risco da vinda a que estão sujeitas, quanto cia do Mercado de Escravos, mandada proceder
mais: - ‘estas chamadas atravessadores não pelo Segundo Marquês do Lavradio – D. Luiz
são os que compram todos os escravos que de Almeida Portugal Soares D’Eça Alarcão
estão nessa cidade, nem tão pouco, os conso- Melo Silva Mascarenhas (décimo terceiro Vice-
mem em si antes como pobres só compram rei entre 1769 e 1779), – quando houve um
aqueles os mais não querem, por doentes, forte arrocho econômico da metrópole sobre a
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 349
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Tal como discutido acima, essa questão foi A primeira fonte que vamos analisar é uma
recentemente trazida à tona após a escavação carta do Intendente Geral da Polícia da Corte, o
do Cais do Valongo em 2011 (Lima 2013a, desembargador Paulo Fernandes Viana, datada
2013b; Lima et al. 2016), o qual foi considerado de vinte e sete de maio de 1808. Nesse docu-
o local de “desembarque” no Rio de Janeiro de mento fica determinado que fosse feita a separa-
milhares de africanos escravizados. Na busca ção dos escravos doentes de bexigas ou
por documentos primários que pudessem subsi- escorbuto, dos sãos. Os primeiros deveriam ser
diar uma discussão mais robusta sobre essa ques- levados para a Ilha das Enxadas, enquanto “os
tão, nos deparamos, na verdade, com a ausência Saons desembarquem para o lugar que está
de documentos que indicassem de forma clara a por detras do trapiche da saúde” (sic) (Figura
enseada do Valonguinho, onde estava localizado 3). E, ainda, “Aqueles que estiverem no primeiro
o referido cais, como destino final das arquea- caso deverão vir ancorar mesmo de fronte do
ções de cativos. Trapiche da Saúde, para dali fazerem o
Ao contrário, identificamos textos primários desembarque”.
inéditos com indicações precisas da descarga Notamos que à época Paulo Fernandes Viana
das arqueações em outra região do antigo bairro não fez distinção nominal entre as operações de
do Valongo. É possível que a interpretação de desembarque e descarga, denominando o pro-
Lima e colaboradores (2016) e Soares (2017) cesso de descarga de sãos e doentes como
tenha se baseado em uma concepção enviesada “desembarque”. Esse detalhe não é contraditó-
do termo Valongo, conforme discutiremos abaixo. rio, mas demonstra que a palavra desembarque
Assim, à luz de documentos inéditos, discuti- foi utilizada em sentido prático, direto, de sair
remos em seguida uma nova perspectiva histó- de qualquer embarcação. Da mesma forma, os
rica para a segunda etapa do processo de demais documentos da época fazem uso apenas
importação dos africanos para o Rio de Janeiro, do termo “desembarque”, sendo ignorada a ter-
a qual, assim como a primeira, era de cunho obri- minologia técnica para os processos em questão.
gatório. As etapas referidas são as de desembar- O texto dá ainda outras orientações sobre as car-
que aos “pés da alfândega”, mediante rígido gas de cativos infectados: “dará parte sem lhe
controle sanitário e recolhimento de direitos permitir o desembarque, nem que possa navegar
aduaneiros; e de descarga, quando os cativos para a cidade”.
eram finalmente entregues ao destinatário comer- Registro da Carta do Intendente Geral da
cial assim que eram lavados e vestidos no Laza- Polícia desta Corte dirigida ao Doutor Juiz
reto (Figura 2) ou após a quarentena no mesmo de Fora Presidente da Câmara da mesma
local. em 27 de maio de 1808.
A breve permanência dos cativos na alfân- Não permitindo já o estado em que se
dega, como referido anteriormente, tinha como acha esta Corte que os escravos vindos da
objetivo resguardar os interesses do Real Erário, Costa d’África desembarquem para o
já que era necessário manter o rígido controle das Valongo, e ali se vendam fará V.M. [Vossa
entradas evitando o contrabando negreiro. Os Mercê] desde já intimar o Vereador que
africanos apenas pisavam em terra firme e logo serve de Provedor da Saúde, que além de
eram reembarcados e encaminhados para outro fazer esta visita, com a maior possível cir-
ponto do litoral. Na etapa posterior, eles eram cunspecção não dispensando jamais de ir a
descarregados e ocorria a sua interiorização atra- ela todas as pessoas que para isso estão depu-
vés da distribuição e venda direta em mercados e tadas; logo que achar doentes de bexigas, ou
através do tráfico retalhista. Tratando-se do escorbutados, ordenará que estes vão para a
período joanino, representativo de um contexto Ilha das Enxadas, e que os sãos desembar-
histórico diferenciado no qual a monarquia portu- quem para o lugar que está por detrás do Tra-
guesa estava em exílio no Brasil, totalmente desca- piche da Saúde, e ali mesmo serão expostos a
pitalizada e dependente da proteção inglesa, o vendagem, sem que possam vir para os
ordenamento das entradas das arqueações de cati- Armazéns do Valongo, e que chame a sua
vos era regulado pela Intendência Geral de Polícia. presença desde já todas as pessoas que
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 351
Figura 3. Desenho representando a rota de entrada de cativos africanos para a Alfândega, rotas marítimas para as ilhas
de quarentena com posterior descarga final na região do Morro da Saúde, e rota terrestre da Alfândega até o Valongo,
utilizada até a transferência do mercado de escravos para aquela região. Desenho de Reinaldo Bernardes Tavares.
costumam traficar neste negócio, para que deverão vir ancorar mesmo defronte do Tra-
certos dessa providência procurem com piche da Saúde, para da li fazerem o desem-
tempo dispor ali mais acomodações para barque. Essa providência deve ser registrada
este fim. No caso porém de vir alguma conta- na Câmara, para o escrivão dela a fazer ler a
giada dará parte sem lhe permitir o desem- qualquer vereador, que para o futuro houver
barque, nem que possa navegar pela cidade. de servir de Provedor da Saúde. Deus guarde
Aqueles que estiverem no primeiro caso a Vossa Mercê. Rio de Janeiro, 27 de maio de
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352 LATIN AMERICAN ANTIQUITY [Vol. 31, No. 2, 2020
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 353
qual constrangerá os donos a praticar estas de 1810 – “Marca os emolumentos que devem
providências; e no caso em que tenham omis- perceber os empregados das Provedorias Móres
são nas primeiras 24 horas, o mandará fazer à de Saúde deste Estado”. No documento, precisa-
custa deles e para pagamento das despesas mente no artigo XI está assim descrito:
requererá as minhas justiças mandatos exe-
cutivos, para penhorar e fazer arrematar XI – Constando das averiguações a que pro-
bens que bastem para o mencionado paga- cedeu o Provedor Mór da Saúde, que a Ilha
mento, e para as custas respectivas [sic; de Jesus era mui distante desta Cidade, e
grifo nosso]. com passagem de mar, e por estas razões
(Câmara dos Deputados [CD], Alvará que menos própria para a quarentena que
dá regimento ao Provedor Mor da Saúde, 22 devem fazer os escravos novos; e attendendo,
jan 1810) que não é esta rigorosamente necessária para
os que chegam sem suspeita de epidemias:
No mesmo alvará o Príncipe Regente D. João determino, em declaração dos §§V. e VI.
VI determina que a utilidade dos lazaretos seja a do Regimento que o logar da quarentena
de proporcionar o local para o desembarque de seja adiante do sitio da Saúde, designando
cativos africanos, agasalho dos mesmos e aco- pelo Provedor Mor; e que desembarcados
modações em terra antes de entrarem nas povoa- nelle os escravos que chegarem sãos, sendo
ções, conforme abaixo: lavados, envoltos em roupas novas, se entre-
guem logo a seus donos para os poderem
XXVII. Em cada uma das referidas terras os vender nos seus armazéns, ficando de qua-
Governadores, ouvindo ao Ouvidor da rentena os doentes ou empestados pelo
Comarca e ao Guarda-Mor respectivo, desti- tempo que julgar necessário [sic; grifo
narão o sítio e lugar proporcionado para ser- nosso].
vir de lazareto para os negros, e mandarão (CD, Alvará que marca os emolumentos que
fazer as acomodações precisas para o seu devem perceber os empregados dos Provedo-
desembarque e agasalho em terra, onde res Móres de Saúde desse Estado. 28 jul
deverá praticar o que se ordena neste Regi- 1810)
mento, antes de entrarem nas povoações,
pagando-se as despesas pelo cofre das comu- O terceiro texto, anteriormente publicado por
nicações que ficam declaradas, cujas somas Honorato (2011), é um fragmento da representa-
se poderão adiantar pela minha Real ção dos proprietários, consignatários e armado-
Fazenda. E os Guardas-mores assistirão no res de resgate de escravos apresentada a sua
sítio conveniente que pelos sobreditos lhes Alteza Real D. João, de 1810, reclamando do
for determinado, assim como os mais Ofi- alto valor pago pelo aluguel dos galpões destina-
ciais da Saúde, para com promptidão cumpri- dos ao “desembarque” e venda de escravos.
rem com as suas obrigações; e executarão o
que neste Regimento se lhes determina, [. . .] os proprietários são obrigados pela
dando as partes, e remetendo ex-ofício os visita da saúde a desembarcarem as armações
processos ao Magistrado que servir de inteiras em um armazém da Gamboa a título
Provedor-Mor [sic; grifo nosso]. de Lazareto para se pagarem aos proprietários
(CD., Alvará que dá regimento ao Provedor do dito armazém, quatrocentos reis por cada
Mor da Saúde, 22 jan 1810) um por entrarem nele, serem lavados, e vesti-
dos de novo para saírem para os outros do
Outro documento, ainda mais relevante do Valongo, lugar destinado a venda deles [. . .]
que o anterior, que vem também direto do Prín- [grifo nosso].
cipe Regente D. João, vai apontar a região da (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,
Gamboa, “adiante do sítio da Saúde”, ou seja, manuscrito II-34,26,019, documento 65,
por detrás do Morro da Saúde, como o local de Representação dos Proprietários, Consignatá-
quarentena e “descarga” das arqueações para a rios e Armadores de Resgate de Escravos a
região do Valongo. É o alvará de 28 de julho Sua Alteza Real, [?] jul 1810)
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354 LATIN AMERICAN ANTIQUITY [Vol. 31, No. 2, 2020
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 355
Figura 4. Desenho mostrando a região do Morro da Saúde no antigo bairro do Valongo, baseada em cartografia de
época (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro - 1808, Imprensa
Régia, cartografia 233504, 1812).
somente o pequeno vale entre os morros da Con- O Valongo tem que ser entendido através da
ceição e do Livramento, conhecido naquele tre- visão de quem vem do mar [. . .]. Não pode-
cho, à época, como morro do Valongo. mos esquecer que antes mesmo de ter voca-
ção portuária, era local de pescadores e de
pequenos construtores navais, que batizaram
O Valongo a partir da experiência náutica
o litoral através de uma visão típica do
Segundo o arqueólogo Nelson Mendonça Junior homem do mar, que é muito diferente da
(2017): visão do terráqueo.
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356 LATIN AMERICAN ANTIQUITY [Vol. 31, No. 2, 2020
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Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 357
Figura 5. Desenho representando as praias e as enseadas do Valonguinho e Valongo, o Cais do Valongo e o mercado do
Valongo, localizados no antigo bairro do Valongo, baseado em cartografia de época (Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, iconografia 393054. 1820 ca.). Desenho de Reinaldo Bernardes Tavares.
Não seria, portanto, uma boa estratégia fugas e rebeliões; todos esses contratempos
comercial “desembarcar” africanos recém chega- seriam, assim, minimizados.
dos da África no Cais do Valongo, ponto central
do mercado. Normalmente encontravam-se em Considerações finais
condições deploráveis, doentes (muitas vezes
com doenças infecto-contagiosas), alguns extre- A análise e a interpretação de fontes escritas pri-
mamente debilitados, imundos, e semi-nus ou márias, em sua maioria inéditas, nos permitiram
mesmo nus. A circulação dessa carga em meio discutir a entrada, o desembarque e a descarga de
a centenas de pessoas, além de representar um navios negreiros no Rio de Janeiro a partir de
grave problema de saúde pública, naturalmente uma nova perspectiva histórica. Como resultado,
não favoreceria as vendas. observamos que a teoria que reconhece o prota-
Considerando-se que tanto o Lazareto quanto gonismo do Cais do Valongo nesse processo,
o cemitério (Figura 2), lugares obrigatórios para até então apontado como local de “desembar-
a recepção dos escravos novos, estavam localiza- que” obrigatório das arqueações negreiras, não
dos nas faldas do morro da Saúde, o desembar- encontra respaldo nos documentos e demais fon-
que nesse litoral resultaria em uma logística tes históricas acima apresentadas. A partir da
muito mais eficiente. A necessidade de escolta nossa análise propomos o desdobramento do
de centenas de cativos até o Lazareto, do lado processo de entrada dos cativos no Rio de Janeiro
oposto do morro da Saúde; o carregamento de em duas etapas, bem como o deslocamento da
doentes, moribundos e mortos; os riscos de operação de descarga final para outra área no
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358 LATIN AMERICAN ANTIQUITY [Vol. 31, No. 2, 2020
bairro do Valongo. Em um primeiro momento, Figura Suplementar 3. Voo de Pássaro sobre o relevo do
os desembarques ocorreriam no pátio da alfân- Valongo – detalhe da fotografia de maquete do relevo da
região do Valongo. Confecção de R. B. Tavares.
dega do Rio de Janeiro, atual casa França-Brasil;
e em um segundo momento, a partir de 1808, a
descargas ocorreriam por detrás do morro da Referências citadas
Saúde (atual bairro da Gamboa). Cardoso, Elizabeth D., Lilian F. Vaz, Maria Paula Albernaz,
A identificação dessa área de descarga das Mario Aizen e Roberto M. Pechman
arqueações, na extremidade mais distante e remota 1987 História dos bairros: Saúde, Gamboa e Santo Cristo.
João Fortes Engenharia, Editora Index, Rio de Janeiro.
do bairro do Valongo, amplia em muito a área con- Soares, Luiz Carlos
hecida para o complexo escravista do Valongo, um 2007 O “Povo de Cam” na capital do Brasil: A escravi-
dos mais importantes do Brasil e talvez das Amé- dão urbana no Rio de Janeiro do Século XIX. Editora
7Letras, Rio de Janeiro.
ricas à epoca, servindo como relevante informação Diener, Pablo e Maria de Fátima Costa (editor)
para novas e futuras pesquisas. O conjunto arqui- 1979 Rugendas e o Brasil: Obra completa (1822–1825).
tetônico Cais do Valongo/Cais da Imperatriz, por Editora Capivara Ltda, Cuiabá, Brasil.
Eltis, David e David Richardson
sua vez, continua imbuído de seu valor simbólico, 2008 Voyages: The Trans-Atlantic Slave Trade Database.
uma vez que marca o ponto central do comércio Documento electrónico, http://www.slavevoyages.org,
negreiro no antigo complexo escravista. As pedras acessado em 20 de dezembro de 2019.
Florentino, Manolo
do cais, no entanto, foram tão somente protagonis- 1995 Em Costas Negras: Uma história do tráfico Atlân-
tas secundários dessa cruel história. Os principais tico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro
atores sociais foram as milhares de pessoas trazi- (séculos XVIII e XIX). Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.
Fragoso, João Luis R.
das à força de sua terra natal para no Brasil servi- 1992 Homens de grossa aventura: Acumulação e hierar-
rem de escravos. quia na Praça Mercantil do Rio de Janeiro, 1790–1830.
Finalmente, enfatizamos que a pesquisa aqui Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.
Góes, José Roberto
apresentada não pretendeu desqualificar os tra- 1993 O cativeiro imperfeito: Um estudo sobre a escravi-
balhos anteriormente realizados sobre o Cais dão no Rio de Janeiro da primeira metade do século
do Valongo, os quais certamente trouxeram inú- XIX. Lineart, Vitória, Brasil.
Honorato, Cláudio de Paula
meras contribuições para a arqueologia da diás- 2011 O mercado do Valongo e o comércio de escravos
pora africana e para a arqueologia urbana. africanos – RJ (1758–1831). Em Escravidão africana
Estamos todos caminhando no mesmo sentido, no Recôncavo da Guanabara, editado por Mariza de
Carvalho Soares e Nielson Rosa Bezerra, pp. 138–
afinal, reconhecer, respeitar e identificar locais 165. Editora da UFF, Rio de Janeiro.
entendidos como sagrados por afrodescendentes Karasch, Mary
e pela população em geral, por onde passaram os 2000 A vida dos dos escravos no Rio de Janeiro, 1808–
1850. Companhia das Letras, São Paulo, Brasil.
ancestrais de milhares de brasileiros, é sem Lima, Tania A.
dúvida um resgate histórico obrigatório e um 2013a Cais do Valongo e Cais da Imperatriz – séc
meio eficaz de preservação da memória nacional. XIX. Relatório de pesquisa. Museu Nacional, Rio de
Janeiro.
Agradecimentos. Agradecemos as sugestões dos revisores 2013b Arqueologia como ação sociopolítica: P caso do
Valongo, Rio de Janeiro, Século XIX. Vestígios –
anônimos.
Revista Latino-americana de Arqueologia histórica 7
(1):179–207.
Declaração de disponibilidade dos dados. As fontes primá- Lima, Tania A., Marcos André T. de Souza e Glacia M. Sene
rias citadas no texto foram pesquisadas no Arquivo Geral da 2016 Em busca do Cais do Valongo: Rio de Janeiro, séc
Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ), na Câmara dos Deputados XIX. Anais do Museu Paulista 24(1):299–391.
(CD) e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Luna, Francisco V. e Herbert S. Klein
2010 Escravismo no Brasil. EDUSP, São Paulo, Brasil.
Material suplementar. Para acessar o material suplementar Mendonça, Nelson, Jr.
que acompanha esse artigo, visite: https://doi.org/10.1017/ 2017 O Valongo visto do Mar. Palestra proferida em
laq.2020.23. evento de divulgação científica realizado no Instituto
Figura Suplementar 1. Valongo observado do mar – de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos, Gamboa /
RJ em 21 de junho de 2017.
Detalhe da fotografia de maquete do relevo da região do
Pereira, Júlio César da Silva
Valongo. Confecção de R. B. Tavares. 2007 À Flor da Terra: O cemitério dos pretos novos no
Figura Suplementar 2. Valonguinho observado do mar – Rio de Janeiro. Garamond, Rio de Janeiro.
Detalhe da fotografia de maquete do relevo da região do Rodrigues, Jaime
Valongo. Confecção de R. B. Tavares. 2000 O infame comércio: Propostas e experiências no
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https://www.cambridge.org/core/terms. https://doi.org/10.1017/laq.2020.23
Tavares et al.] DA ALFÂNDEGA AO VALONGO 359
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