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Tabile AF & Jacometo MCD
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Fatores influenciadores no processo de aprendizagem
estágio é muito conhecido como o estágio da Sabe-se que apenas com a institucionalização
Inteligência Simbólica. Contudo, Macedo4 lem- da escola é que o conceito de infância começa
bra que a atividade do sensório-motor não está lentamente a ser alterado ao conhecemos hoje
esquecida ou abandonada, mas refinada e mais como infância, por meio da escolarização das
sofisticada. Verifica-se que ocorre uma crescente crianças. Podemos, então, a partir do desenvolvi-
melhoria na sua aprendizagem, permitindo me- mento de uma pedagogia para as crianças, falar
lhor exploração do ambiente, com utilização de em uma construção social da infância.
movimentos e percepções mais sofisticados. A A construção social da infância se concretiza
criança deste estágio é egocêntrica, centrada em pelo estabelecimento de valores morais e ex-
si mesma, pela ausência de possibilidade de se pectativas de conduta para ela. Podemos falar
colocar no lugar do outro. Além disso, não aceita de uma invenção social da infância a partir do
a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação século XVIII, em que há uma fundação de um
(é fase dos “por quês”), pois possui percepção estatuto para essa faixa etária, assim como a
global sem discriminar detalhes. invenção da adolescência no fim do século XIX.
No estágio operatório-concreto, conforme Em nosso tempo, as gerações vivem segmenta-
Nitzke et al.5, a criança desenvolve noções de das em espaços exclusivos. Na sociedade con-
tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, temporânea facilmente constatamos a separação
sendo então capaz de relacionar diferentes as- das faixas de idade8.
pectos e abstrair dados da realidade. Um impor- Assim, entende-se que a criança, neste sé-
tante conceito desta fase é o desenvolvimento da culo, viu-se integrada em uma noção de desen-
reversibilidade, ou seja, a capacidade da repre- volvimento, a qual passou a mostrá-la como um
sentação de uma ação no sentido inverso de uma
ser cujo crescimento é um desdobrar-se dentro
anterior, anulando a transformação observada.
de processos biológicos, sociais, intelectuais,
No último estágio, o operatório-formal, se-
psicológicos e emocionais9.
gundo Wadsworth6, as estruturas cognitivas da
criança alcançam seu nível mais elevado de
Alfabetização
desenvolvimento. A representação agora permite
à criança uma abstração total, não se limitando A alfabetização liberta as crianças da res-
mais à representação imediata e nem às relações trição da comunicação face a face dando-lhes
previamente existentes. Agora, a criança é ca- a possibilidade de acessar as ideias e a ima-
paz de pensar logicamente, formular hipóteses ginação de pessoas em terras distantes e em
e buscar soluções, sem depender mais só da períodos passados. A partir do momento em que
observação da realidade. as crianças conseguem ler e escrever podem
A partir disso, entende-se a importância traduzir os sinais de uma página em um padrão
de compreender a infância para estudar os de sons e significados, desenvolver estratégias
processos da aprendizagem. O conceito de in progressivas e sofisticadas para entender o que
fância representa tanto um conceito cultural leem e usar a palavra escrita para expressar
quanto biológico. Na maior parte da história, pensamentos e sentimentos10.
crianças com mais de 7 anos foram tratadas De acordo com Batista11, a alfabetização de-
como pequenos adultos. Para Narodowski7, a signa, na leitura, a capacidade de decodificar
infância é um fenômeno histórico e não mera- os sinais gráficos, transformando-os em sons,
mente natural, e as características da mesma e, na escrita, a capacidade de codificar os sons
no ocidente moderno podem ser esquemati- da língua, transformando-os em sinais gráficos.
camente delineadas a partir da heteronomia, Entretanto, esse conceito de alfabetização foi
da dependência e da obediência ao adulto em sendo progressivamente ampliado em função
troca de proteção. das necessidades sociais e políticas, sendo que
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hoje já não se considera alfabetizado quem ape- considerada tradicional e chamada de aborda-
nas codifica ou decodifica os sinais gráficos. Essa gem com ênfase no código ou fonética10.
ampliação no conceito de alfabetização resultou O segundo método é chamado de abordagem
em um novo conceito, o de letramento, o qual global da linguagem e enfatiza pela retenção
pode ser definido como o processo de inserção baseada na visualização: a criança simples-
e participação na cultura escrita. mente vê a palavra e a retém, ou seja, focaliza a
Trata-se de um processo que tem início quan- recuperação visual e o uso de dicas contextuais.
do a criança começa a conviver com as diferentes Baseia-se na crença de que as crianças podem
manifestações da escrita na sociedade (placas, aprender a ler e a escrever naturalmente, tanto
rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) quanto aprendem a falar. Desse modo, alega-se
e se prolonga por toda a vida, com a crescente que a leitura propicia melhor compreensão e
possibilidade de participação nas práticas sociais mais prazer ao experimentar a linguagem escrita
que envolvem a língua escrita, como a leitura desde o princípio, como modo de aumentar a
e redação de contratos, de livros científicos, de informação e de expressar ideias e sentimentos,
obras literárias, por exemplo12. e não um sistema de sons e sílabas isolados a
A alfabetização, como etapa inicial da esco- ser aprendido por memorização e treino10.
lariação, é entendida como o processo pelo qual Baseado nisso, sabe-se que, a partir da dé-
a liguagem adquire significados, contituindo-se cada de 1980, o ensino da leitura e da escrita
um meio para a criança ampliar o seu universo centrado no desenvolvimento das referidas ha-
de conhecimento13. Nessa perpectiva, a alfabe- bilidades, desenvolvido com o apoio de material
tização pretende contribuir para que os alunos pedagógico que priorizava a memorização de
entendam a ciência e a tecnologia como ele- sílabas e/ou palavras e/ou frases soltas, passou
mentos integrantes do seu mundo, sendo capa- a ser amplamente criticado15. Nesse período,
zes de utilizá-los para o entendimento crítico pesquisadores de diferentes campos – Psicologia,
do meio social em que vivem. Esse processo História, Sociologia, Pedagogia, etc. – tomaram
corresponde a uma construção a ser desen- como temática e objeto de estudo a leitura e seu
volvida ao longo de toda a vida, por meio de ensino, buscando redefini-los.
sujeitos e contextos diversos, sendo essencial a Após intensas discussões, os Parâmetros Cur
sua sistematização desde a entrada da criança riculares Nacionais (PCN) se adequaram ao con-
no ambiente escolar13. senso dos debates conteporâneos e hoje reforçam
A alfabetização considerada como o ensino o abandono de práticas pedagógicas tradicionais
das habilidades de “codificação” e “decodifica- alicerçadas na memorização e fragmentação dos
ção” foi transposta para a sala de aula, no final conhecimentos. Atualmente, os PCN defedem
do século XIX, mediante a criação de diferentes uma proposta de ensino de ciências contextuali-
métodos de alfabetização – métodos sintéti zada e interdisciplinar, que favoreça a aquisição
cos (silábicos ou fônicos) x métodos analíticos de conhecimentos e capacidades necessárias ao
(global) –, que padronizaram a aprendizagem exercício da cidadania16.
da leitura e da escrita14.
Esse modo de ensinar se baseou em uma das Aprendizagem
suas formas que as crianças podem identificar Na conceituação do processo de aprendi-
uma palavra impressa. Uma é chamada de de- zagem Skinner17 diz que um sujeito aprende
codificação: ela “ouve” a palavra e converte de quando produz modificações no ambiente. Isto
escrita em fala antes de ir buscá-la na memória significa que algo de novo lhe foi ensinado de
de longo prazo. Para fazer isso, a criança tem de forma a se tornar mais adaptativo, passando en-
dominar o código fonético que associa o alfabeto tão a ser emitido um novo comportamento pelo
impresso aos sons falados. Essa abordagem é indivíduo. Referindo-se também ao conceito de
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aprendizagem, Oliveira18 o coloca, como defi- tralidade das ações da criança no ambiente e
nição de Vygotsky, como sendo o processo de seu processamento cognitivo das experiências19.
aquisição de conhecimentos ou ações a partir da Para Vygotsky, a aprendizagem passa por um
interação com o meio ambiente e com o social. processo de internalização de conceitos. Esta
O processo de aprendizagem acontece a par- consiste na reconstrução interna de uma opera-
tir da aquisição de conhecimentos, habilidades, ção externa20. Sabe-se que, em todo seu trabalho,
valores e atitudes através do estudo, do ensino Vygotsky utilizou conceitos como: cognição, pro-
ou da experiência. A construção de conheci- cessos internos, funções psicológicas superiores
mentos em sala de aula deve se constituir de e processo intrapessoal enquanto estado mental
forma gradativa adequando-se a cada estágio do para explicar a aquisição da aprendizagem.
desenvolvimento da criança. O professor deve Ao longo de todo o processo de aprendiza-
oportunizar situações de aprendizagem em que gem, ocorrem vários níveis de desenvolvimentos
o aluno participe ativamente desse processo, reais e potenciais21. O intervalo (distância) entre
ainda que a fonte desse conhecimento possa o nível de desenvolvimento real e o potencial foi
estar tanto no exterior (meio físico, social) como denominado por ele como zona de desenvolvi-
no seu interior1. mento proximal. O professor deve atuar nesta
Com respeito e cuidado com o processo de zona e contribuir para o processo de aprendiza-
maturação de cada fase, o professor pode ofe- gem do aluno21.
recer atividades e estímulos adequados que O professor também pode ajudar na siste-
possibilitem o desenvolvimento cognitivo. Se- matização dessa aprendizagem, não anulando
gundo Pilleti & Rossato1, ensinar é provocar o os conceitos espontâneos, mas utilizando-os
desequilíbrio da mente do estudante para que como base na aquisição e compreensão dos con-
ele busque o reequilíbrio, numa reconstrução ceitos científicos. De acordo com Vygotsky21, os
de novos esquemas, ou seja, que ele aprenda. processos de aprendizagem e desenvolvimento
Sabe-se que as teorias do desenvolvimento são intimamente relacionados e passam, ne-
explicam como ocorre o desenvolvimento do ser cessariamente, pela mediação. Ambos somente
humano a partir de afirmações que propõem são possíveis por meio das interações sociais de
princípios gerais para isso, incluindo a apren- produção, nas quais a linguagem desempenha
dizagem, e assim se dividem em correntes: (1) um papel essencial.
teorias psicanalíticas: de Freud e de Erikson, A aprendizagem e o desenvolvimento acon-
(2) teorias cognitivas: de Piaget e Vygotsky, e tecem do plano social para o individual. Nesse
(3) teorias da aprendizagem: o modelo do con- processo, os sujeitos mais experientes de uma
dicionamento clássico de Pavlov, o modelo de cultura auxiliam os menos experientes, tornando
condicionamento operante de Skinner e a teoria possível que eles se apropriem das significações
sociocognitica de Bandura19. culturais. Assim, entende-se que a construção
Os teóricos psicanalíticos acreditam que de conhecimentos é uma atividade comparti-
o comportamento é governado por processos lhada, trazendo implicações importantes para
inconscientes e conscientes. Consideram o de- a educação20.
senvolvimento como fundamentalmente cons- Nas teorias da aprendizagem há a represen-
tituído por estágios, com cada estágio centrado tação de uma tradição teórica na qual se conside-
em uma forma particular de tensão ou em uma ra o comportamento humano enormemente plás-
determinada tarefa19. tico, moldado por processos de aprendizagem
As teorias cognitivo-desenvolvimentais en- previsíveis. Por isso, há três teorias da aprendi-
fatizam primariamente mais o desenvolvimento zagem, as quais explicam o desenvolvimento de
cognitivo do que a personalidade, e invertem experiências de aprendizagem acumuladas, não
essa ordem de importância, enfatizando a cen- divididas por estágios ou fases19.
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de aprendizagem na família e a própria criança, sua prática educacional dentro da sala de aula”.
já que as alternativas mais selecionadas foram O professor precisa ser virtuoso, inclusive no
investigar a família e conversar mais com o alu- momento de reconhecer seus erros. Precisa ter
no. A partir disso, percebe-se que o professor e uma atitude de compromisso permanente, estar
a direção não são tão culpabilizados, apesar de por perto, ser vigilante e respeitoso.
haver um entendimento da parcela de respon- Embora se perceba que os professores ainda
sabilidade da escola nesse contexto. são adeptos da prática de um modelo histórico
Na mesma linha desse estudo, encontrou-se e linear do processo de aprendizagem e desen-
a pesquisa de Nunes (2013) a qual constatou volvimento da criança/aluno, os professores vêm
que os professores entrevistados relataram li adotando esse pensamento de educação global e
dar com as dificuldades de aprendizagem com envolvimento dos pais juntamente na educação
estratégias pedagógicas; cerca de 80% das do- formal do seu filho. Essa participação dos pais
centes da escola pública têm como estratégia gera uma união entre as famílias e a escola e
pedagógica o trabalho individual seguida pelo beneficia o aluno, pois os pais não responsabi-
reforço pedagógico (60%). Já na escola privada, lizam a escola de forma agressiva e autoritária e
60% das professoras utilizam como estratégia o a criança respeita a instituição e os professores,
encaminhamento para a orientação pedagógi- beneficiando o seu próprio desenvolvimento e
ca, seguido pelo encaminhamento psicológico aprendizagem33.
(40%). Segundo Proença32, o despreparo pro- As estratégias pedagógicas são, segundo
fissional do professor é fruto de uma política Struchiner & Giannella34, instrumentos para
educacional que não dá a devida atenção à a efetiva consolidação da proposta curricular
formação profissional, contribuindo para que o explicitada no perfil e competências a serem
professor fique perplexo diante das dificuldades desenvolvidas nos alunos, tanto na dimensão
para aprender de seus alunos. operacional quanto na dimensão pedagógica.
Sabe-se o quanto é imprescindível o profes- Estas estratégias, se utilizadas, permitem envol-
sor conhecer a dificuldade de aprendizagem de ver as experiências dos alunos, estimulando o
seu aluno, buscando verificar, através de obser- desenvolvimento de uma aprendizagem ativa e
vações constantes em sala de aula, entrevistas autônoma. Um bom educador infunde confiança
com os pais e relatório de outros profissionais, em seus alunos e converte a aprendizagem numa
se há efetivamente um problema na aprendiza- tarefa interessante23.
gem, para que a criança não seja rotulada nem
estigmatizada como portadora de uma dificul- CONSIDERAÇÕES FINAIS
dade de aprendizagem31. Por isso, entende-se a A partir do estudo realizado, concluiu-se que
importância de o professor rever sua prática e o perfil dos professores da rede pública e privada
sua forma de analisar aquele aluno, bem como difere em alguns aspectos e são muito semelhan-
conversar com a direção da escola e com os pais. tes em outros, sendo que houve identificação da
Somente investigando a fundo o problema será visão dos professores em relação aos fatores que
possível levantar o verdadeiro motivo dessa não influenciam na aprendizagem.
aprendizagem e buscar a sua solução. Constataram-se algumas divergências no
Segundo Hernández23, não existe melhor pe perfil dos professores da rede pública e privada.
dagogia do que aquela que parte da experiência Nas escolas públicas, os professores são, majo-
de vida. Em seu livro, relata que o educador ritariamente, do sexo feminino, enquanto que,
precisa buscar permanentemente a coerência e em escolas privadas, todas são mulheres. Além
saiba reconhecer as falhas explicáveis e naturais disso, os professores da rede privada possuem
de qualquer ser humano. Isso também corrobora maior faixa etária e escolaridade que os da rede
o pensamento de alguns professores de “rever pública.
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SUMMARY
Factors influencing the learning process: a case study
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