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11
1
O trovador pede à sua senhora formosa que tenha dele compaixão, já que a ama mais do que a si próprio. Sendo
certo que ela lhe quer o pior dos males, garante-lhe que o seu amor é bem maior do que o de dois célebres heróis de
romances de cavalaria: o de Flores por Brancaflor e o de Tristão por Isolda.
1
22
E em [e]sta folha adeante se començam as cantigas d'amigo que o mui nobre Dom Denis Rei
de Portugal fez
2
Dirigindo-se ao seu amigo, com quem não se tinha podido encontrar num dia anterior, a donzela garante-lhe que a
tristeza que ele sentiu não se pode comparar com a dela. Pedindo-lhe para voltar, explica ainda o motivo pelo qual o
seu sofrimento foi maior: é que ele conseguiu escondê-lo e ela não, Como indica a rubrica, esta é a primeira cantiga
de amigo de D. Dinis transcrita pelos apógrafos italianos.
2
20 que nom fui o vosso pesar
que s'ao meu podess'iguar.
33
3
A donzela confessa à mãe o seu desespero: tendo combinado encontrar-se com o seu amigo naquele dia, ele não
apareceu (ainda?). De resto, se mentiu, o prejuízo será dele. A voz da donzela nesta cantiga não deixa de ter
semelhanças com a que ouvimos em duas outras composições de D. Dinis, uma delas a célebre "Ai flores, ai flores
flores do verde pino", e a outra, a "pastorela do papagaio".
3
Por que mentiu o perjurado,
pesa-mi, pois mentiu per seu grado;
ai madre, moiro d'amor!
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4
Esta é, seguramente, a mais conhecida cantiga de D. Dinis, e uma das mais célebres da Lírica Galego-Portuguesa.
Com inteira justiça, poderemos dizer, já que se trata de uma composição que exemplifica, de forma notável, o modo
como a arte trovadoresca é, por vezes, capaz de alcançar uma extraordinária profundidade de campo através da sábia
conjugação dos recursos (aparentemente) mais simples e elementares. Não sendo este o espaço para uma análise
aprofundada da riqueza e complexidade da cantiga, apontam-se apenas algumas das linhas que poderão
eventualmente ajudar a esse entendimento:- a cantiga pode dividir-se em dois momentos exatamente simétricos: a
fala da donzela e a resposta das "flores do verde pino" - o diálogo da donzela com estas (inusitadas) "flores" é
exemplo único (na Lírica Galego-Portuguesa) de personificação da Natureza (apenas na "Pastorela do Papagaio"
(também de D. Dinis, encontramos um caso semelhante, mas aí de uma ave a falar). - o cenário (idílico mas isolado)
onde a donzela se encontra decorre implicitamente deste diálogo (como implícito é o motivo da sua presença ali:
decerto à espera do amigo) - a técnica do paralelismo implica aqui, não uma repetição e amplificação do que é dito
nas estrofes iniciais (como acontece frequentemente neste género de cantigas), mas uma verdadeira intensificação
narrativa: o tempo passa, o seu amigo não vem, a donzela inquieta-se. Na sua fala inicial, por exemplo, ela passa
rapidamente do simples pedido de notícias à hipótese de ele a ter enganado (o mentiroso!). - na sua resposta, as
flores sossegam-na. Note-se, no entanto, que esta resposta, no seu segmento inicial (o seu amigo está vivo e de
saúde) não incide nas perguntas explícitas da donzela, mas antes na pergunta que ela não ousa formular: teria o seu
amigo morrido? - finalmente, no segmento final da resposta (ele virá antes de passar a hora combinada), percebemos
que essa hora ainda não passou, ou seja, que a donzela chegou muito antes e que toda a sua inquietação não passa
disso mesmo: inquietação de uma jovem apaixonada, sozinha num pinhal e insegura (e note-se como o refrão,
inalterado, para isso contribui).
4
10 Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?
55
5
Uma amiga descreve à donzela o estado desesperado em que encontrou o seu amigo, quase morto de amor, e
intercede por ele, transmitindo-lhe ainda o pedido que ele lhe fez: que ela pedisse à donzela para ter piedade dele.
5
por Deus, que haja mercee de mi."