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PRINCÍPIO E FUNDAMENTO

Porta de entrada dos Exercícios no qual Santo Inácio ressalta a atitude fundamental
que espera do exercitante e sem o qual não se pode iniciar o processo. A experiência do
Princípio e Fundamento nos leva ao encontro com Deus numa atitude de disponibilidade, de
generosidade e de entrega livre à ação de seu Espírito; nos revela o Deus de Jesus Cristo, o
Deus que está presente em nós, providente, que sustenta a história de cada um e sustenta a
criação toda, que está realizando o seu projeto em cada momento de nossa vida.
O Princípio e Fundamento é, de fato, o espírito fundamental que anima todo o
itinerário dos Exercícios, ou seja, o exercitante permanece constantemente sob sua influência;
ele contém em si o germe de todos os Exercícios; ao mesmo tempo, cada exercício implica
uma recordação da experiência do Princípio de Fundamento. Também o processo de
cada “semana” não fará outra coisa que dar conteúdo, inspiração e força àquilo que fora
experimentado na consideração do Princípio e Fundamento. Por isso mesmo ele é a chave dos
Exercícios e a síntese de uma experiência que se explicará ao longo de todo o processo; com
ele, o retiro põe-se em movimento.
O Princípio e Fundamento provoca, em cada exercitante, uma nova e original
experiência espiritual. Porém, não se trata de uma instrução, nem de um resumo de fé, e,
muito menos, de uma reflexão fria e racional. Ao despertar a inteligência e ao estimular a
generosidade, num ambiente de oração, de amor, de louvor, o Princípio e Fundamento
introduz o homem na experiência de fé vivida em toda sua radicalidade: busca constante de
Deus que o chama e entrega confiada à sua vontade; purificação das imagens do Deus em que
crê; pobreza e disponibilidade total para em tudo amá-lo e servi-lo etc... Aqui não é lugar para
uma teoria sobre Deus Criador e o homem criatura, mas “encontrar-se” com Deus, conhecer e
experimentar a Deus e sentir que “o mesmo Criador e Senhor se comunica à alma devota,
abrasando-a em seu amor e louvor e dispondo-a para o caminho em que melhor poderá servi-
lo depois” (EE 15).
Diante dessa realidade do Absoluto de Deus que ele experimenta, sua atitude deve ser
a de louvor, reverência e serviço, ou seja, reconhecimento consciente, livre de sua
dependência total ao Deus Criador.
Como consequência desta descoberta do Amor Primeiro, supõe-se da parte do homem
uma liberdade diante das “coisas” e uma disponibilidade total a Deus; Inácio chama esta
atitude de indiferença, que não significa falta de iniciativa, insensibilidade ou apatia,
mas “atitude livre perante as coisas”, distância afetiva das coisas para eleger bem, libertação
interior afetiva aberta a Deus... Trata-se de ser livre de, para ser livre para.

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