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RITMO DO ZODÍACO
- O PULSAR DA VIDA
Tradução:
Adriana Figueiredo
Alhambra
1985
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Título do original inglês:
Astrological Signs The Pulse of Life
Produção gráfica e capa: Maria Luíza Campelo
SUMÁRIO
PREFÁCIO 4
APRESENTAÇÃO 6
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1
O ZODIACO COMO UM PROCESSO DINÂMICO 11
Dois enfoques para a vida 14
A natureza do Zodíaco 18
A Força-do-Dia e a Força-da-Noite 23
CAPÍTULO 2
AS DOZE FASES DA EXPERIÊNCIA HUMANA
Áries 26
Touro 31
Gêmeos 36
Câncer 41
Leão 45
Virgem 50
Libra 56
Escorpião 60
Sagitário 65
Capricórnio 70
Aquário 75
Peixes 80
CAPÍTULO 3
A LIBERAÇÃO CRIATIVA DO ESPÍRITO 85
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PREFÁCIO
Veio de Adriana Figueiredo o pedido para que eu prefaciasse esta tradução da obra de
Dane Rudhyar, no Brasil.
Tarefa difícil e prazerosa ao mesmo tempo. Primeiro porque falar sobre Dane Rudhyar
é ousar, afinal ele é um dos astrólogos de maior postura e respeitabilidade deste século.
Segundo, pela alegria de ver traduzido o Ritmo do Zodíaco para o público brasileiro ávido de
enriquecer-se com a Astrologia, riqueza que nos foi legada por povos da Antiguidade -
sumerianos, incas, astecas, hindus, chineses, egípcios, gregos etc. -, época em que o pensar
filosófico, matemático, geométrico e artístico faziam parte de um todo universal.
Neste livro, Rudhyar aborda cada signo com a largueza dos homens que refletem e
bebem na fonte da vida.
Acompanhei Adriana Figueiredo, estudiosa em Astrologia, na tarefa de preocupar-se
em ser fiel às ideias de seu amigo e mestre. Adriana manteve na tradução o clima do autor,
filtrando suas percepções sensíveis com esmerada atenção.
Não é fácil traduzir obra repleta de carga filosófica, poética e psicológica apreendida
num conceito de totalidade.
Os editores da Alhambra ganham muito em ter uma conhecedora do assunto para
traduzir trabalho tecido em linguagem simbólica e expressões específicas como é o saber
astrológico.
A Astrologia é um processo de autoconhecimento e de transformação. Processo de
depuração alquímica em que as polaridades ativas e luminosas se complementam às
receptivas e sombrias. Exercício de elaboração dos "metais" interiores. Elaboração pessoal
e essencial na obra da criação - tentativa de libertar o ser humano das tramas da fatalidade
e do determinismo, conduzindo-o a níveis de consciência mais elevados.
Neste conceito de cosmicidade, temos um pensar convergente. Dane Rudhyar ocupou
até à sua morte, em 1985, um espaço dignificante e altamente qualificado por sua postura,
concebendo a natureza humana como um todo, base essencial no processo de
autoconhecimento e ponto de partida para o trabalho de depuração.
Rudhyar convida a humanidade, homens e mulheres, à saída para planos mais altos e
transcendentes. Toda a sua obra é uma constante preocupação em formar a pessoa
humana para uma compreensão da totalidade.
Ele consegue interligar o pensar oriental e com o ocidental por ser um autor universal.
Ele fala em sua obra da tentativa de integração e totalidade enriquecidas pelas forças
dinâmicas e interdependentes que são os elementos Fogo, Terra, Ar e Água. Quaternidade
que compõe o próprio corpo humano em constante processo de transformação, e para a
evolução, em todos os níveis.
Por ser a Astrologia uma linguagem simbólica, os planetas que a compõem exercem
funções de caráter genérico e não específico. Dane Rudhyar deixa isso muito claro no
conjunto de seu pensamento. O Sol poderá simbolizar uma infinidade de leituras - a
consciência, o dia, o masculino, a vitalidade, o prazer, o autoritarismo, prepotência,
asperezas e alegrias do coração, assim como o ódio e o amor à vida. ,
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O simbolismo astrológico, com as características gerais dos signos, nos possibilita uma
tomada de consciência de nossa natureza íntima em que Eros e Psique se confrontam para
a interação do si mesmo, isto é, de nossa unicidade.
Dane Rudhyar, em Ritmo do Zodíaco; nos convida à visão desta unicidade.
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APRESENTAÇÃO
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O título original do livro, Pulse of Life , foi modificado visando uma melhor definição do
seu conteúdo, por própria sugestão do autor, passando assim para Ritmo do Zodíaco.
Aqui está portanto uma das primeiras, que eu espero seja, de uma série de
publicações da obra de Dane Rudhyar na nossa língua.
Adriana Figueiredo
Rio, 1985
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INTRODUÇÃO
Dane Rudhyar
9 de abril, 1981
Palo Alto, Califórnia
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CAPÍTULO I
Vivemos numa época em que todas as entidades estabelecidas e até mesmo o mais
material dos objetos parecem dissolver-se na fluência dinâmica do novo mundo evocado
pela magia das revelações científicas. Desde a mais comum das cadeiras, em que
costumávamos sentar sem pensar nas ondas eletromagnéticas que atuam em sua massa,
até o domínio da personalidade humana, complicadamente analisada em termos de
impulsos e complexos, onde quer que nossa mente procure conhecer a realidade, encontra
sempre a ênfase moderna em atividades rítmicas, movimentos de ondas e interações
eletromagnéticas de energias de polaridades opostas. Enquanto nossos ancestrais viviam
num confortável universo estático, onde tudo tinha um nome bem definido e de
tranquilizante racionalidade, uma forma, e um grupo permanente de características, hoje
encontramos mudanças por toda parte. Nenhum momento é demasiado pequeno para que
não possa ser decomposto nas fases e eventos que o constituem; e nenhum objeto é
demasiado minúsculo para escapar de fragmentação e resolução em coisas misteriosas que
com frequência se revelam como impulsos elétricos empenhados num estranho jogo de
esconde-esconde.
A percepção de que a vida é um processo dinâmico de transformação, do qual
nenhuma entidade escapa, é agora apoiada por todo o complexo de pesquisas e teorias
científicas, em oposição aos conceitos clássicos de permanência e identidade. Sobre as
ruínas do mundo do pensamento, exaltado dogmaticamente pelas mentes do século XIX,
assistimos ao reaparecimento de antigos conceitos que, durante milênios, foram as bases
do conhecimento humano. O universo deve ser visto, mais uma vez, como um oceano de
energias no qual se podem distinguir duas vastas correntes complementares. Por toda
parte aparece um dualismo elétrico e dinâmico sobre o qual se apoia toda a realidade.
Estamos, na verdade, muito próximos dos antigos conceitos de fluxo e refluxo da Vida
universal, de inspiração e expiração do Brahma universal. Voltamos praticamente aos
mesmos fundamentos dos Sábios da China que descreveram em seu grande "Livro das
Mutações", o I Ching, o movimento cíclico, crescente e minguante, das duas forças
universais, de polaridades opostas: Yin e Yang. Do mesmo modo, o pensamento moderno
está surpreendentemente próximo a alguns dos conceitos mais fundamentais da astrologia
antiga; pelo menos, já não vemos esses conceitos à luz de uma mentalidade clássica
europeia, e sim em termos de uma filosofia que é ao mesmo tempo de mutação dinâmica e
também experiência humana. E sendo uma filosofia da experiência humana, ela terá que
ser uma filosofia de mutação dinâmica, pois tudo que o ser humano vivencia é uma
sequência de transformações delimitadas pelo nascimento e pela morte.
Como podemos considerar a astrologia uma técnica notável para o entendimento do
processo vital de mutação em tantos domínios - teoricamente, em todos os campos - seu
renascimento no mundo ocidental, durante as duas últimas décadas, é particularmente
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importante como um sinal dos tempos. Esta importância está condicionada, porém, a uma
compreensão da astrologia que seja verdadeiramente moderna. Enfoques do século XIX e
preconceitos clássicos ou medievais devem ser descartados à luz da nova compreensão da
física e, acima de tudo, da psicologia do século XX - tanto na astrologia como em qualquer
domínio do pensamento. A ênfase deve ser, mais uma vez, dada à experiência humana, e
de modo algum às categorias transcendentes e às entidades mitológicas, que pertencem a
uma ideologia que hoje está, em sua maior parte, obsoleta.
A astrologia nasceu da experiência da ordem que se patenteava no céu para o homem
primitivo, imerso na selva e perplexo ante o caos da vida na prolífera e selvagem superfície
deste planeta. A busca de ordem é um dos impulsos básicos do ser humano. Num estágio
mais avançado da evolução, essa busca se intelectualizou em ciência; no entanto, tem
profundas raízes orgânicas e instintivas.
O instinto é uma adaptação à ordem periódica dos fenômenos naturais e expressão
dela. Baseia-se numa expectativa inconsciente; e quando essa expectativa normal é
violentamente perturbada, o animal enlouquece - como quando um psicólogo conduz
experiências com ratos brancos e cobaias. O animal é incapaz de suportar a pressão da
desordem externa sobre a ordem interna de suas funções biológicas, que então se
desordenam.
O constante esforço da civilização pode ser interpretado como uma tentativa de levar
a compreensão que o homem tem de suas experiências sensoriais ao ponto em que a
mesma qualidade básica de ordem que ele sente em seu organismo seja vista efetivamente
atuando no que, para ele, se apresenta como o mundo externo. Esta tentativa pode ser
chamada pelo pensador moderno de ilusão antropomórfica; mas se isso é ou não a verdade
jamais poderá ser provado, porque o ser humano não pode saber de nada além de sua
própria experiência (individual e coletiva).
A experiência humana é originalmente dual. A pessoa sente internamente uma ordem
orgânica tão absoluta que a mais ligeira perturbação no seu organismo causa uma aguda
sensação de dor. Porém, o ser humano também vivencia o que lhe parece um caos externo.
E toda sorte de nomes já foram dados a esse caos; seja para justificá-lo (por exemplo: a luta
pela vida, a sobrevivência dos mais aptos etc., de Darwin), seja para transfigurá-lo em
algum tipo dc ordem orgânica (filosofias vitalistas), seja para interpretá-lo como polo de
uma totalidade cujo outro polo é um mundo numenal de arquétipos, ideias perfeitas e
coisas do gênero (neste caso: maya, para os hindus). Todo sistema filosófico, toda religião,
toda ciência, toda ação e todo modelo de organização social são apenas uma coisa: a
tentativa de explicar a desordem e reconciliá-la com a ordem orgânica interna do ser
humano.
A astrologia também é uma dessas tentativas, a mais antiga talvez, ou pelo menos a
que manteve por mais tempo sua vitalidade intacta; pois a dualidade entre a ordem celeste
e a desordem terrestre é um fato universal e essencial na experiência humana. No céu
todos os acontecimentos são regulares, periódicos e esperados dentro de uma margem
muito pequena de irregularidades. Na superfície da Terra (seja nas selvas primordiais, seja
no campo das eras medievais, seja nas cidades modernas), há um relativo caos, emoções
imprevisíveis, conflitos irracionais, crises inesperadas, guerras e pestes. A astrologia é um
método que usa o sistema ordenado de luz nos céus para provar a existência de uma
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ordem oculta, porém real, em tudo o que diz respeito à experiência humana na face da
Terra.
Ela não só prova a existência de uma ordem, relacionando os tipos, categorias e
sequências de acontecimentos aos períodos dos corpos celestes (como pontos de luz em
movimento - e nada mais), como mostra também de que maneira, podem ser previstos, e
como essa previsão pode ser aplicada a assuntos sociais e pessoais. A previsão é o poder de
construir uma civilização a partir do caos aparente dos fenômenos terrestres. Toda ciência
é baseada em previsibilidade. A astrologia é a mãe de todas as ciências, a mãe da civilização
- por ter sido a primeira e mais universal tentativa do ser humano em encontrar a ordem
oculta por trás, ou por dentro, da confusão da selva terrestre - seja a selva física, seja a
selva psicológica.
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Dois Enfoques para a Vida
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espaço maior da existência, haverá ordem e integração orgânica.
Porém este estado de menor integração e estreita abrangência nunca está
completamente tranquilo. O "todo menor" age constantemente dentro de um "todo maior"
e, portanto, há uma incessante interação entre os dois. Para o "todo menor" essa interação
se apresenta como desordem e é sentida como dor. É vista pelo "todo maior" como
atividade cíclica criativa e é sentida como sacrifício. O que nós chamamos de "vida" é essa
constante interação e interpenetração de "todos menores" com o "todo maior". É a
substância da experiência humana; e essa experiência tem que ser dupla ou dual, porque
ela é em parte a experiência de um indivíduo e em parte a experiência de uma coletividade.
O indivíduo sente dor. Entretanto, quando tenta explicá-la para si próprio ou para
algum amigo, ele usa palavras. Seu sentimento é individual; mas suas palavras (e o
pensamento que lhes condicionou a formação e o. uso padronizado delas) são coletivas. A
dor é individual como uma experiência imediata; mas a tragédia é social, porque envolve
uma referência a valores coletivos. Em todas as fases da experiência humana, fatores
individuais e coletivos se interpenetram. Essa "co-penetração" é a própria vida. É a
realidade.
Em vez de dois reinos fundamentalmente separados - um celeste, ordenado e bom; e
outro terrestre, caótico e obscurecido pelo pecado - estamos agora lidando com a
experiência humana como um todo e decompondo-a em duas fases. A pessoa vivencia o
que lhe parece um caos selvagem e o que lhe parece ordem celeste. No primeiro caso,
temos experiências humanas condicionadas pela dor que é sentida pelo "todo menor"
quando este se relaciona em proximidade e intimidade com outros "todos menores", no
vagaroso processo de identificar sua consciência com a totalidade do "todo maior" - o
Universo. No segundo caso, temos a experiência humana quando a pessoa se relaciona à
distância, e através de observações coletivas formuladas em leis, com o "todo maior" - ou
com o máximo que a pessoa possa abranger dele.
Nos dois casos, a experiência é una e fundamentalmente indivisível. Nós a dividimos
estabelecendo dois quadros de referência; isto é, agrupando em uma categoria todas as
experiências dolorosas, próximas e centralizadas no indivíduo; e em outra categoria, todas
as experiências inspiradoras, remotas e coletivamente integradas. Temos então duas
categorias ou classes. Cada classe se refere a uma direção da experiência; contudo, ambas
lidam com a experiência humana como um todo.
Toda a experiência humana é bipolar. Ela é impulsionada pelo fator individual e pelo
fator coletivo. Esses dois impulsos têm forças relativas variadas. Por exemplo: a Educação
(um fator coletivo) dá mais força ao aspecto coletivo da experiência; assim, uma pessoa
educada, sob a tensão de um distúrbio emocional, talvez não se torne tão violenta quanto
uma pessoa não educada, que vai matar caso o ciúme se aposse dela. Porém, um artista
fortemente individualizado poderá perder seu equilíbrio emocional com maior rapidez que
um homem de negócios que está embebido em respeitabilidade social. Assim, para um
artista romântico o mundo pode se apresentar como uma grandiosa tragédia; já o
cavalheiro inglês, ao contrário, beberá seu chá enquanto o Império desaba, mantendo-se
indiferente ao impacto do caos até o último instante.
Do ponto de vista descrito nos parágrafos acima, a substância e o fundamento de tudo
é a experiência humana. Todas as avaliações referem-se a ela. Todos os dualismos estão
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contidos dentro dela. O céu é um aspecto da experiência humana; a selva, outro. O Sábio,
cuja vida é ordenada e em paz pacífica e cujo amor inclui todas as formas de
relacionamento possíveis para o ser humano (como ele é constituído hoje), é um "todo
menor" que atingiu um tipo de integração sustentada e medida pela ordem orgânica do
"todo maior". Ele está em paz consigo mesmo, porque a paz do "todo maior" está dentro
dele. Está em paz com os outros seres humanos porque, na sua mente, seus
relacionamentos com eles são expressões do seu relacionamento com o "todo maior" e
estão contidos nele. Encaixam-se na imagem universal. Cada peça do quebra-cabeça está
no lugar. A imagem do todo está clara. Não há mais espaço para a existência do caos.
O caos é o caminho para uma totalidade maior de vida e de consciência: um caminho,
uma transição, um processo. O Sábio é aquele que, antes de tudo, entende esse processo,
sente seu ritmo e compreende o significado de suas atrações e repulsões de polaridades. É
a pessoa que vê toda a natureza como uma interação cíclica de energias entre os "todos
menores" e os "todos maiores". Ele testemunha, tanto interna quanto externamente, a dor
individual transformar-se em paz coletiva; e a satisfação coletiva sacrificar-se em inspiração
e orientação - que podem ser então doadas pelos que já se identificaram com o "todo
maior" aos "todos menores" que ainda estão lutando com os problemas de suas relações
dolorosas e atomísticas.
Interação cíclica de energias polares. Nesta frase encontra-se a chave para uma
interpretação da experiência humana que nem produz o dualismo irreconciliável nem a
possibilidade sempre presente de esquizofrenia e de guerras nacionalistas ou de classes. A
Vida é uma interação cíclica de energias de polaridades opostas. Todos os fatores da
experiência estão sempre presentes, mas se manifestam num grau de intensidade sempre
variado. O minguar da energia de um polo dentro da totalidade da experiência está sempre
associado ao crescimento da força do outro polo. As duas forças estão sempre ativas. Todo
tipo concebível de atividade está sempre presente em qualquer totalidade orgânica; porém
alguns tipos dominam enquanto outros são tão pouco ativos que chegam a parecer
completamente inexistentes. Porém a não-existência é uma ficção do nosso ponto de vista.
Deveria, na verdade, ser chamada latência. Nenhuma característica presente no universo
está inteiramente ausente da experiência de uma totalidade - ela está apenas latente. A
latência é ainda, de certa forma, um tipo de atividade. Ela é um tipo negativo e introvertido
de atividade.
Esta visão filosófica do problema da experiência dá à astrologia um significado e um
valor que poucos pensadores contemporâneos suspeitam que ela contenha. A astrologia
pode ser vista, à luz dessa filosofia, como um instrumento notável para a compreensão da
experiência humana, considerada como o campo para uma interação cíclica de energias ou
comportamentos de polaridades opostas. A astrologia é um meio de ver a experiência
humana como um todo orgânico, é uma técnica de interpretação, uma "álgebra da vida".
Utiliza o movimento ordenado dos planetas (e, numa extensão menor, das estrelas) como
um símbolo para o que pode acontecer a quem vê a vida como uma totalidade. Cada
acontecimento na vida dessa pessoa é parte de uma sequência ordenada, assim como cada
peça de um· quebra-cabeça é parte da figura completa - e por isso cada acontecimento
ganha um significado.
Não é que os planetas "influenciem" diretamente uma pessoa em particular, lançando
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um tipo especial de raio que a torna feliz ou faz com que quebre a perna. Os ciclos dos
planetas e seus interrelacionamentos representam para o ser humano a realidade num
estado ordenado e com referência ao "todo maior" que nós conhecemos como o sistema
solar. Os seres humanos são "todos menores" dentro desse "todo maior". Só podem
encontrar paz e integração duradoura quando se relacionam conscientemente com o "todo
maior", quando identificam seus próprios ciclos de experiência com os ciclos de atividade
do "todo maior" , e quando podem associar seus encontros com os outros seres humanos à
imagem total que só pode ser revelada pela percepção desse "todo maior". Cada ser
humano é uma totalidade - um indivíduo. Mas ser um indivíduo só tem significado em
referência à sociedade humana, ou, em extremo, ao universo. Um ser humano que vive
numa ilha deserta, sem qualquer possibilidade de um dia se relacionar com outros seres
humanos não é um indivíduo, mas simplesmente um organismo solitário sem significação
em termos de humanidade. Um indivíduo é uma expressão individualizada da natureza
humana coletiva (ou genérica). O que recebe do coletivo que existiu antes, tem que
devolver ao coletivo que virá depois. Nenhum indivíduo existe no vácuo. Não existe
nenhuma entidade orgânica que não esteja contida num "todo maior" e que não contenha
"todos menores". Ser um indivíduo é um status social. Todo ser humano é, em latência, um
ser universal - ou como disseram os chineses: um "Celestial". A meta do ser humano é
transformar o que está latente em realidade, é transfigurar seu espaço terrestre com a luz,
os ritmos e a harmonia integrada do "todo maior", que são devidamente mostrados pelos
movimentos dos corpos celestes.
A astrologia nos abre um livro de imagens universais. Cada imagem nasce da ordem e
tem um significado. Todo mapa astrológico é uma assinatura do cosmo - ou de Deus. É a
imagem do quebra-cabeça completo. O ser humano, ao compreender estas imagens, pode
realizar melhor sua experiência, porque pode vê-la objetiva e estruturalmente como uma
totalidade orgânica. Ele a vê como uma totalidade, e a vê também integrada no processo
cíclico de mutação universal - que está revelado claramente nas estrelas e nos planetas, e
confusamente na proximidade dos seus contatos terrestres. Nada é estático e nenhuma
vida está completamente dividida. A vida é um processo, e todo processo é cíclico - isso, se
nós confiarmos na nossa experiência, em vez de impor sobre ela categorias intelectuais e
dualismos éticos. A astrologia é um estudo dos processos cíclicos.
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A Natureza do Zodíaco
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distantes como entidades isoladas. O Zodíaco é um antigo registro das séries cíclicas de
transformações efetivamente vivenciadas pelo ser humano durante o ano; um registro
escrito em linguagem simbólica, que usa as estrelas como uma forma gráfica, por mera
conveniência, para formar imagens simbólicas atraentes à imaginação de uma
humanidade, bastante infantil para se impressionar mais por figuras do que por processos
abstratos e generalizados do pensamento. O que o Zodíaco tem de essencial não são os
hieróglifos desenhados nos mapas celestes, nem as histórias simbólicas desenvolvidas em
torno de temas mitológicos gregos - por mais significativos que estes sejam. É, sim, a
experiência humana da mutação. E para uma humanidade que vivia muito próxima da
terra, as séries de "humores" da natureza durante todo o ano era a representação mais
forte da mutação; porque as mudanças internas, emocionais e biológicas, da natureza
humana correspondiam muito intimamente às mudanças externas da vegetação.
A humanidade, porém, veio evoluindo desde os primeiros dias da Caldéia e do Egito.
Essa evolução significou basicamente apenas uma coisa: a translação, ou transferência, da
capacidade do ser humano de vivenciar a vida do nível biológico para o nível psíquico-
mental. De início, a humanidade extraiu todos os seus símbolos, e também a estrutura de
seus significados, da experiência biológica. O ser humano, que sentia a vida e a mutação
essencialmente como um organismo físico, procurava expressar sua consciência dos
propósitos e significados em função da experiência física. Esses termos eram o único
denominador comum sobre o qual as civilizações poderiam ser construídas. Até os
chamados ensinamentos "espirituais" (por exemplo, as primeiras formas de Ioga ou Tantra
na Índia) davam ênfase a símbolos sexuais, e, em geral, símbolos "vitalistas" - e às suas
práticas correspondentes.
Progressivamente, porém, os líderes procuraram centralizar sua experiência e a de
seus seguidores em torno de uma nova estrutura de integração humana: o ego individual.
Surgiu, então, a necessidade de traduzir todas as técnicas antigas de integração, e seus
símbolos, para a nova linguagem do ego - uma linguagem intelectual e psicológica. Foi
devido a esta necessidade que a astrologia caiu em relativo descrédito, sendo substituída
pela ciência grega, a lógica e a psicologia, que passaram a dominar a civilização ocidental. A
linguagem do ego mostra conexões racionalistas e análise; e em sua ânsia de desenvolver a
nova função de "pensamento exato", a humanidade ocidental tentou de todos os modos
repudiar ou desvalorizar todas as experiências orgânicas e as técnicas que possibilitaram a
seus ancestrais dar um significado cíclico às suas vidas, e lidar com as situações da vida
como totalidades. O idealismo transcendente dividiu em duas partes a experiência humana,
criando a mistificadora oposição entre corpo e alma.
Entretanto, uma tradição "oculta" se manteve viva durante todo o ciclo da civilização
europeia. Tentou reinterpretar em nível psicológico o simbolismo da astrologia e de
técnicas similares de integração humana. A Alquimia e o Rosa-crucianismo foram exemplos
importantes deste esforço, que teve que ser secretamente encoberto devido à oposição da
Igreja. Um tipo biopsicológico de astrologia desenvolveu-se por meios obscuros; nele,
quatro funções da psique humana correspondem às quatro estações do ano, e o
simbolismo do Evangelho mistura-se com o simbolismo do saber "pagão". E por todo esse
tempo as antigas formas tradicionais da astrologia, codificadas por Ptolomeu mantiveram-
se em uso, mas principalmente como meio de satisfazer a curiosidade de pessoas e a
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ambição de príncipes e reis.
Hoje em dia, o extraordinário interesse do público pela psicologia moderna oferece
aos astrólogos uma oportunidade de reformular completamente a astrologia e seus
símbolos. A astrologia pode ser transformada numa linguagem, não do ego individual, mas
sim de toda a personalidade humana. E, num mundo dividido por conflitos e que perdeu o
sentido devido à paixão por análises e diferenciações a todo custo, a astrologia pode mais
uma vez surgir como uma técnica que possibilita ao ser humano compreender o significado
de sua experiência como um todo: a experiência fisiológica e a psicológica, o corpo e a
mente, o coletivo e o individual. Livre do medo das perseguições - espera-se! - a astrologia
moderna pode utilizar então os velhos símbolos vitalistas da astrologia antiga, as imagens
derivadas das mudanças periódicas da vegetação durante o ano e das experiências do ser
humano com os poderes latentes da sua natureza física e genérica.
Estas imagens estão repletas de significados de sentimentos e sensações comuns a
todos os seres humanos desde o despertar da civilização na Terra. Estão impregnadas de
sabedoria coletiva e instinto orgânico. Fazem parte da natureza fundamental do ser
humano, da "humanidade comum do ser humano", da base sobre a qual se construíram as
mais atuais realizações individuais de uma humanidade racional e excessivamente
intelectualizada. Sem o poder de sustentação dessa base-Raiz, o ser humano estará sempre
por se desmoronar e desintegrar. E é este espetáculo de colapso e desintegração que está
diante de nossos olhos, nestes dias negros da humanidade - dias, porém, fecundados pela
semente de uma nova integração da experiência humana.
O objetivo deste livro é integrar de maneira breve e sugestiva, em vez de exaustiva e
didática, o antigo simbolismo do Zodíaco com as imagens e conceitos básicos que foram
criados há pouco tempo, especialmente por psicólogos progressistas. Esperamos, desta
forma, ajudar as pessoas a viver com mais consciência, e integralmente, a experiência
nascida da nossa estressante civilização. Isto pode ser conseguido especialmente se
pararmos de pensar em termos de categorias estáticas e sistemas estabelecidos, em função
de entidades sendo uma coisa ou outra; e passarmos a ver o universo das nossas
experiências com as outras pessoas e com todos os seres vivos como um "todo maior" no
qual estamos prontos para participar; se conseguirmos visualizar um propósito de evolução
integral e integrador, onde possamos ajustar nossas vidas ainda recortadas pela ambição
sem sentido de ser diferente a todo custo.
O que o estudo do Zodíaco vai nos ensinar, em primeiro lugar, é que embora haja
sempre duas forças atuando em todas as situações e experiências, o entendimento e a
decisão não são nunca um caso de "isto-ou-aquilo", mas sim de "mais-ou-menos". Existe o
dualismo, mas o dualismo de um processo dinâmico no qual os dois opostos
constantemente se interpenetram e se transformam. Por isso, nenhuma entidade e
nenhuma experiência é boa ou má, construtiva ou destrutiva, clara ou escura. Tudo é tudo.
O que muda é a proporção em que a combinação ocorre.
Para compreendermos o que é essa combinação e sermos capazes de lhe dar um
significado válido, os vários componentes de cada experiência devem ser medidos. Podem
ser medidos em termos de sua posição relativa dentro dos limites do todo. Podem ser
medidos em termos de sua intensidade relativa; e a intensidade de qualquer fator depende
principalmente do momento do ciclo em que este fator se manifesta. Por exemplo: se o
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momento representa a "primavera" ou o "inverno" desse ciclo, se ele é jovem ou velho, se
está na fase crescente ou minguante, etc.
Tomando-se o conceito de "mais-ou-menos" no lugar de "isto-ou-aquilo", a pessoa
pode renovar completamente sua atitude diante da vida. Uma experiência que, na mente
da pessoa que a vivencia, é boa e não é ruim, leva apenas a conflitos e dependência. Porém,
se ela for compreendida como uma combinação de mais luz do que trevas, poderemos então
associá-la a todo o ciclo no qual as duas torças, luz e trevas, estão constantemente
interagindo. O ciclo total poderá ser visto no âmago da experiência parcial; e o ser humano
poderá tornar-se criador de significados - porque o significado reside no todo e não em
partes isoladas.
Cada fase do processo zodiacal - cada Signo do Zodíaco - representa um estado da
experiência humana, no qual duas forças básicas estão mais ou menos ativas. Uma
infinidade de nomes poderiam ser dados a estas duas forças proteicas e universais. Aqui, no
entanto, devido a nossa tentativa de reformular a astrologia, colocando-a em termos do
mais simples denominador comum da experiência humana, vamos nos referir a essas duas
forças cósmicas que estão em constante interação por todo o ciclo do ano, como "Força-do-
Dia" e "Força-da-Noite". Estes nomes não apenas estão de acordo com a mais antiga
terminologia da astrologia, como são também expressões naturais e lógicas do fato de que,
durante uma metade do ano, os dias aumentam e as noites diminuem, ocorrendo o
processo inverso durante a outra metade do ano. Assim, quando os dias crescem, a Força-
do-Dia, fluxo positivo da energia solar, está em ascensão; ao passo que quando os dias se
encurtam e as noites se alongam, a Força-da-Noite torna-se mais poderosa, e a Força-do-
Dia decresce seu poder.
Sempre que há duas forças crescendo e minguando alternadamente, quatro
momentos críticos básicos são encontrados. Assim:
1. No solstício de inverno (Natal), a Força-do-Dia está no seu ponto mais fraco e a
Força-da-Noite no seu ponto mais forte. Este é o início do Signo zodiacal: Capricórnio.
2. No equinócio da primavera (por volta de 21 de março), a Força-do-Dia, que cresceu
em intensidade, e a Força-da-Noite, que decresceu se igualam. Signo zodiacal: Áries.
3. No solstício de verão (por volta de 21 de junho), a Força-do-Dia atinge sua energia
máxima e a Força-da-Noite o seu fluxo mais baixo. Signo zodiacal: Câncer.
4. No equinócio do outono (por volta de 21 de setembro), as duas forças estão
novamente igualadas, a Força-da-Noite tendo crescido desde o inicio do verão, Signo
zodiacal: Libra.
No estudo de um processo cíclico, a primeira dificuldade encontrada é determinar o
ponto inicial do ciclo. Em última análise filosófica, não existe um ponto inicial. Porém, por
uma questão prática, a mente precisa selecionar um começo para poder interpretar o
processo em relação à experiência humana. Esta escolha de um ponto de partida
estabelece um "quadro de referência"; e esta escolha não deve ser considerada, de modo
algum, uma escolha aleatória. Ela se impõe naturalmente pelo significado que a pessoa dá à sua
experiência do processo cíclico.
Do ponto de vista da experiência física com a natureza - "humana" ou outra qualquer -
considerando-se o Zodíaco como um processo dinâmico de mutação, é claro que um dos
pontos críticos definidos acima deve ser selecionado como o início do ciclo. Além disso,
21
numa filosófica que não dá um valor fundamental maior a uma fase da experiência, em
detrimento da fase oposta e complementar, é também óbvio que o momento mais
adequado para se iniciar o ciclo seja quando as duas forças, que alternadamente crescem e
mínguam, estejam com intensidades iguais, portanto, num dos equinócios. O equinócio da
primavera foi selecionado como o início do Zodíaco, porque naturalmente identificamos
nossa experiência primeiro com o reino das coisas que crescem e da luz do Sol; e somente
mais tarde com o reino mais oculto dos valores simbolizados pela semente e pelo inverno.
O equinócio da primavera, nas regiões temperadas do Hemisfério Norte, é o que os
astrólogos chamam "primeiro ponto de Áries" - e já vimos que as raízes da nossa civilização
são encontradas nessas regiões, que são também o berço da nossa astrologia.
22
A Força-do-Dia e a Força-da-Noite
23
limites do "todo maior", a Galáxia. O ser humano vivencia durante o dia o sol, como o
doador de luz - como um "sol". À noite, percebe que esse doador de luz, esse Pai todo-
poderoso, é apenas uma "estrela" na coletividade da Galáxia. Dominados pela luz e o calor,
veneramos o "sol" com devoção. No silêncio e na paz da noite, comungamos com a
irmandade das "estrelas". A realidade é sempre a mesma, nós é que mudamos nosso ponto
de vista - a realidade única se divide então em duas fases de experiência, e depois em
muitas outras. O limite de divisibilidade da nossa experiência é, unicamente, nossa
capacidade de permanecer como pessoas integradas durante esse processo de
diferenciação - a nossa capacidade de permanecer sãos; ou seja: de dar um sentido integral
à nossa experiência como personalidade social.
O dualismo entre personalidade e sociedade, num sentido mais estritamente
psicológico, transforma-se no dualismo de "ego consciente" e "Inconsciente Coletivo". O
reino da consciência individualizada é o reino do dia, o reino do "sol". O reino do
Inconsciente Coletivo é o reino da noite, o reino das "estrelas". A compreensão desses dois
reinos é necessária para se entender como o crescer e o minguar das duas forças cíclicas se
manifestam psicologicamente.
Dizer simplesmente que a Força-do-Dia começa a minguar depois do solstício de
verão, não fornece um quadro psicológico exato do que acontece dentro da pessoa. O fato
de uma força minguar não quer dizer apenas que ela se torna menos forte. Este minguar
significa que essa força ativa e positiva está-se afastando cada vez mais do campo da
objetividade. Ela se torna cada vez mais subjetiva e introvertida, e também mais
transcendente. Ela passa a se manifestar mais a partir de motivações inconscientes do que
de motivações conscientes.
A experiência humana não deve ser associada apenas à consciência e ao ego
individual; caso contrário, teremos que dar avaliações éticas para muitas de nossas
experiências, dividindo então nosso ser total em duas entidades conflitantes. Sendo assim,
alguns de nossos atos terão que ser explicados como provas de nossa personalidade má e
outros como manifestações de nossa individualidade heroica ou santa; e eles terão que ser
interpretados dessa forma se estiverem associados apenas ao ego consciente. Porém, se
compreendermos que nossas ações são em parte resultados de intenções conscientes e em
parte produtos de motivações que emergem de um inconsciente que não é "nosso" (num
sentido individualizado), mas que é um oceano de energias raciais e sociais indiferentes às
estruturas do ego, a éticas e à razão - então poderemos explicar as ações humanas de outra
maneira; e o ser humano poderá conhecer-se integral (e não dividido), como um centro da
Vida universal em seu processo de mutação cíclica.
Desse ponto privilegiado, a pessoa poderá observar a consciência constantemente
interpenetrando a inconsciência, a racionalidade ritmicamente se relacionando com a
irracionalidade - e não irá se perturbar ou se esforçar para ser o que não é. A experiência
humana é sempre o resultado dessa interação de consciência e inconsciência, de individual
e coletivo. A Vida cíclica pulsa através de cada ação, sentimento ou pensamento humanos.
A realidade tem um coração rítmico. A sístole e a diástole desse coração criam estes
compassos de transformação, que são nascimento e morte, inverno e verão, aumento de
luz e aumento de trevas. Gloriosamente, a dança da nossa experiência vai evoluindo
através do ciclo da natureza. O Sábio observa, embora cada fase dessa dança pulse em sua
24
consciência. Ele é espectador, embora seja também parceiro de todos os protagonistas
nessa dança universal. Todos os amantes o conhecem como o ser amado, e sua mente
sente a palpitação de todos os corações humanos. Sua visão abrange todos os nascimentos
e mortes. Ele atribui um Significado a todas as coisas nascidas do pulsar e da dança da Vida
cíclica. E nessa atribuição de Significados, o Ser Humano, total e livre, cria a realidade.
25
CAPÍTULO 2
ÁRIES
Rompendo a crosta do solo que foi amaciado pela neve derretida, brota a semente,
impulsionando sua vida para a luz do sol. A ardente chegada da primavera produz o milagre
da germinação. A Força-do-Dia equilibra-se agora em intensidade com a Força-da-Noite. O
ator que deixa o palco em breve será apenas uma lembrança, por mais forte que seja, nos
recessos da psique humana. A nova estrela assume seu lugar diante das luzes no palco da
consciência humana. Daqui para a frente o show é dela. Entretanto, sua voz ainda não está
segura; e sua fisionomia revela medos escondidos nas suas demonstrações de coragem. Em
Áries, a personalidade vivencia sua fase de adolescência.
Até a puberdade chegar para a criança em crescimento, o horizonte da personalidade
é delineado pelas paredes de uma matriz fechada. Primeiro, o útero materno; depois, o
espaço mais diversificado da família, que dentro de suas paredes seguras contém conflitos
crescentes. Mas, quer confinada por invólucros físicos, confinadas por invólucros
psicológicos, a personalidade da criança ainda está em seu estágio pré-natal. Está envolta
pela natureza coletiva, e luta para emergir. Adolescência é esta imersão - a admiração por
ela e o medo dela. O adolescente nasce como uma pessoa individualizada num mundo que
lhe parece hostil ou estranho; que deve ser conquistado; e não deve ser temido.
Medo misturado com uma ávida expectativa, embaraço e confusão emocional: este é
o adolescente. Ele avança com vontade e recua rapidamente ao menor ferimento. Ele é
corajoso, de um modo engraçado. Compelido por uma necessidade interior a ir em frente,
ele se afirma com estardalhaço e ousadia; porém, ele gostaria de poder recolher-se na
segurança da mãe-terra. O menor sopro do destino faz retrair e sofrer este "cordeiro" de
coração, que se lança de cabeça como um "aríete".
Esta descrição psicológica da adolescência caracteriza a natureza básica da pessoa de
Áries: sua instabilidade emocional e seu desejo desordenado; sua aguçada sensibilidade
que se disfarça numa atitude temerária; sua pura instintividade e sua auto-afirmação
frequentemente bombástica - que não é egocentrismo, mas sim o resultado de uma
compulsão biopsicológica vivenciada profundamente. A pessoa de Áries é compelida
interiormente a obter uma identidade a qualquer custo, a forçar sua remota alma individual
a assumir o fardo da encarnação. Ela não busca um poder para sua satisfação pessoal, mas
sim para demonstrar-se a si mesma - ela busca o poder necessário para se tornar uma
personalidade. E, se parece cobiçar amor e fama, "mulheres, vinho e música", é porque se
sente internamente fraca ou insegura e precisa de constante encorajamento e apoio
externo.
Como em Áries a Força-do-Dia mal supera a Força-da-Noite, a pessoa tem que projetar
26
intensamente, às vezes quase com desespero, seu ego consciente na sua vontade de viver -
e geralmente exagera nisso. Sua nostalgia é tão grande quanto sua impaciência; seu
sentimentalismo é tão romântico quanto sua paixão é aguda e direta - porém, de vida curta
e sujeita a crises de recuo. Mais do que qualquer outro tipo de personalidade zodiacal, este
ama mais a sua necessidade de amor do que uma pessoa em particular. E precisa de amor,
por ser fundamentalmente uma pessoa sozinha e com medo do mundo; mas que, ao
mesmo tempo, teme a dependência contida numa união ou associação permanente,
porque precisa se manter sempre crescendo e ampliando sua personalidade que aflora - e é
necessário evitar de qualquer modo a inércia, pois isto logo significaria uma recaída no
passado. Seu instinto pioneiro é o medo disfarçado da rotina e da influência da tradição. A
pessoa de Áries tem que se manter em crescimento; e mudando de parceiro, horizontes e
ligações, tem pelo menos a sensação de estar avançando, a ilusão de crescimento.
O ariano comum negaria violentamente, é claro, estas origens ocultas de suas ações.
Ele não consegue deter seu avanço para tentar compreender a si mesmo. Ele não está
construindo consciência, mas sim personalidade. Não é fundamentalmente um pensador;
mas sim um construtor. Ele precisa manifestar sua premência de viver. A Força-do-Dia
cresce dentro dele com intensidade fálica. Não importa o quê nem onde construa. Ele
precisa sentir-se no movimento do destino. Precisa sentir-se influenciado por energias
maiores.
Uma personalidade já formada pode agir devagar, calmamente e deliberadamente;
porque age com uma base de identidade individual relativamente estabelecida. Porém, a
pessoa de Áries está constantemente em processo de autoformação. O ariano não tem
nenhuma noção de individualidade, nenhuma noção de limites estabelecidos. Está sempre
aberto para o influxo da Vida universal não-personificada. Ele não é nunca um produto
acabado, e pouco se preocupa em finalizar o que começou. É tomado pelo ato de criar, não
por suas criações. Por isso, precisa sentir mais e mais Energia, mais e mais Vida,
compelindo-o a criar. Tudo o que ele quer é conceder esta Energia aos outros, é fecundar
os campos virgens com este poder - seguindo então com entusiasmo para a fecundação de
"novos" campos, ainda mais vastos.
Nesse sentido ele é uma "pessoa impessoal". Ele é um doador - mas não de coisas
"suas". É um doador de pura energia, da energia da Força-doDia que borbulha dentro dele.
"Possuir" alguma coisa é difícil para Áries. Porém, se isso acontece, ele se apega a essa tal
coisa (pelo menos por algum tempo) com paixão - uma paixão nascida do medo e da
solidão; porque, de repente, essa coisa torna-se para ele símbolo da sua própria
personalidade - que é realmente a única coisa que ele deseja "possuir", mas da qual ele
nunca está seguro, porque ela não pode ser nunca "finalizada".
Como em Áries a Força-do-Dia e a Força-da-Noite estão em equilíbrio, a pessoa de
Áries está sempre num estado de equilíbrio instável, dividida internamente por opostos; e
por isso agitada, impaciente, nervosa e muitas vezes neurótica. Mas suas neuroses são
neuroses de ação, nascidas de uma sensação de falha que se deve a obstáculos
insuperáveis, à exaustão diante do esforço, ou à falta de interesse pessoal nas ações - no
desempenho das quais ela parece jogar uma grande energia ou paixão o tempo todo. Essa
energia, na verdade, não é' "dela". A pessoa de Áries não está nesta energia. Está
constantemente buscando se satisfazer como personalidade, mas essa meta é sempre
27
evasiva - sempre além e além. E assim, ela continua agindo, desejando, emocionando-se e
criando - mal conseguindo encobrir, com o excesso de atividade, o vazio e o medo de uma
adolescência eterna,
Pode ser que entre as pessoas que o cercam ninguém saiba disso. O ariano não é
apenas totalmente tomado por ações, ele é também um ator. Interpreta personagens, e
adora a sensação de ser dirigido nos seus papéis por um Dramaturgo invisível; porque isso
lhe dá uma sensação de segurança em relação a seu destino. Ele pode facilmente tornar-se
um grande devoto, simplesmente porque não é seguro de sua própria personalidade. Ele
tem, simbolicamente, "paixões adolescentes" por algum "Professor" em quem projeta a sua
paixão por uma personalidade. Em vez de demonstrar uma personalidade fraca, mas pelo
menos autêntica, absorve-se na devoção a um grande Personagem - que, de preferência,
seja ideal e esteja remoto, ausente. Essa absorção é sempre uma "projeção psicológica" dos
seus próprios anseios por uma personalidade. Se ele não consegue desempenhar o papel
de uma personalidade, demonstrando criatividade e fecundidade, então projeta esta
ansiedade, transformando-a numa intensa (mas frequentemente espasmódica) devoção a
uma Figura idealizada, ou a uma "grande Causa".
Em Áries, a personalidade ainda não está totalmente separada da ação. Ela está contida
nas imediações diretas de uma atividade causada por uma força irracional, que em um nível
é "instinto" e em outro é "Deus".
A ação aqui é direta, franca; mas como um sentimento de insegurança interna tende a
vergar ao solo o arbusto adolescente, já tão golpeado por tempestades sociais, esta ação
necessita frequentemente de um suporte. No entanto; a pessoa de Áries precisa glorificar
este suporte necessário; precisa torná-lo impessoal, para que sua própria personalidade
não seja enfraquecida diante dos outros - ou de si própria. Na verdade, ela sabe
subconscientemente, se não conscientemente, o que lhe falta. Sabe que até agora sua
personalidade ainda não é um fato concreto; está apenas emergindo do estado subjetivo.
Mas isto também significa que sua personalidade ainda está enraizada nas imensidões da
vida coletiva e que está cheia de potencialidades - cheia de élan vital, cheia da força da
evolução universal que avança e cria ... chamada por muitos "Deus".
30
TOURO
35
GÊMEOS
Com Gêmeos, chegamos à última fase da primavera. A Força-do-Dia que vimos
avançar e borbulhar com a impetuosidade adolescente de um rio de montanha (em Áries)
atingiu em Touro o nível mais tranquilo das planícies, fertilizadas pelo trabalho humano. A
energia dinâmica da natureza transformou-se então em força orgânica - em energia
canalizada para o uso e induzida a assumir uma função na economia da vida. O adolescente
viveu seus primeiros romances. Aprendeu a identificar o seu caminho e a se firmar como
uma entidade individual entre seus familiares. Aprendeu a dar uma expressão
relativamente organizada às forças ancestrais que emergem da sua tradição. Agora, sua
tarefa é ampliar a capacidade de relacionamentos humanos - e na verdade, de todos os
tipos de relacionamentos: internos e externos. Todo seu ser almeja por uma expansão
vívida do campo de experiência. Talvez a vida universitária lhe dê grandes oportunidades de
encontrar novos colegas, de pesquisar novas formas de pensamento e de vivenciar novas
facetas de si mesmo, distribuindo assim a energia de seus sentimentos entre uma
variedade maior de objetos e personalidades que não lhe são familiares.
A Força-da-Noite, no estágio geminiano, atinge seu fluxo mais baixo. Representa o
poder do seio familiar, das tradições coletivas, de todos os hábitos e vínculos sutis que
estão apegados ao jovem que anseia por emergir de todo e qualquer tipo de
aprisionamento ao passado, onde ele, porém, tem suas raízes. Em geral, o jovem recusa-se
a admitir tal aprisionamento, mas seu sentimento juvenil e pretensioso de independência
é, antes de mais nada, uma reação negativa ao que ainda o prende às profundezas do seu
inconsciente. Ele alcança uma liberdade ilusória contra a coletividade ancestral, enquanto a
verdadeira liberdade vem de algo que foi conscientemente realizado, e portanto
desobrigado como dependência, embora fique retido como sustento substancial. A energia
da Força-da-Noite é quase totalmente negativa em Gêmeos. Ela está invertida; energiza
complexos psicológicos bastante sutis, que o jovem, sem percebera existência deles, vai
involuntariamente projetar sobre o filme sensível de sua futura vida doméstica.
Mas o jovem não tem tempo para se preocupar com complexos ou analisar a maneira
como se manifesta seu ávido desejo de emergir dos relacionamentos estabelecidos de sua
vida familiar. O que ele quer é ampliar para novos campos todos os meios que tem de
associar o seu sentido de personalidade, ainda inseguro, com uma multiplicidade de fatores
novos Em nível puramente biológico, as matérias-primas da atividade associadora são as
impressões, as sensações nervosas e as reações imediatas a impactos que atinjam os
sentidos e a consciência. Em nível mental, a lembrança, a comparação, a análise e a
formação de imagens mentais para serem expressas por meio de palavras são as fases de
uma atividade que desenvolve o intelecto através do uso da linguagem. Este
desenvolvimento do intelecto está a princípio contido no ambiente imediato, com o qual a
pessoa está constantemente se relacionando, e através do qual entra em contato com um
número sempre crescente de facetas da natureza humana.
Em Gêmeos, vemos a linguagem no seu estágio incipiente, a mente nascendo com o
fervor criativo da Força-do-Dia na primavera. Vemos o poeta, o artista das palavras
expressar-se pelo puro prazer de construir sua própria personalidade, através da ampliação
36
e da memorização de suas experiências nos relacionamentos. Vemos o poeta, não ainda o
filósofo. Ele usa palavras que estão mais enraizadas nas imagens da vida e na experiência
pessoal do que na busca de símbolos universais que são condicionados pela experiência
social (Sagitário).
Em Sagitário, a Força-da-Noite atua com grande intensidade e, como sempre,
manifesta-se como uma tendência a unir muitos fatores distantes através da generalização.
Em Gêmeos, porém, a Força-do-Dia, tão fortemente ativa, faz com que o impulso básico
seja em direção à particularização e à personalização. Desta forma, o processo de vívida
expansão, representado por Gêmeos, lida com a expansão em termos de particularidades,
de experiências concretas; e a meta desta expansão é a construção de uma personalidade e
de uma base para a manifestação desta personalidade: o lar (Câncer).
Em níveis mais complexos de desenvolvimento mental, encontramos a força de
Gêmeos manifestar-se como a necessidade de classificação, de enumeração ordenada e de
lógica; isto é, de modelos estruturais de associação. Um indivíduo cheio da energia da
Força-do-Dia tende a ser dominado pela complexidade da sua experiência pessoal. Muita
coisa é percebida, tocada e obscuramente sentida. O mundo tem tantas flores, as noites
são tão luminosas e o fogo da individualidade flameja formando desenhos tão, intrincados,
que alguma ordem definida precisa ser desenvolvida, para que a personalidade que aflora
não seja desintegrada pela intensidade desta, "expansão existencial".
Por isso, Gêmeos tem necessidade de classificar, de forçar em categorias estabelecidas
a multiplicidade das coisas percebidas, produzir palavras para ajudar a memorizar a
fragrância das experiências rápidas e impor padrões lógicos às evasões dos contactos
humanos. Precisa encontrar linhas mestras de referência, uma estrutura para suas
atividades. Descobre então as polaridades opostas, o bem e o mal, o certo e o errado, como
pontos da bússola pelos quais poderá dirigir o seu caminho. Simboliza os sentimentos
pessoais em entidades cósmicas. É preciso exteriorizar. E atenção! O mundo está sendo
povoado por deuses e elementais, por demônios e "Mestres". Isto são palavras; são
projeções das experiências devidamente classificadas e às quais foram dados nomes.
Nomes que servem como escudos para defender a personalidade imatura do choque com
as experiências e metamorfoses inesperadas. Nomes que são formas práticas de, fazer a
pessoa sentir-se segura num campo familiar; e servem de escoras para a vida.
Esta busca por uma segurança pessoal e intelectual em meio a um fluxo de
experiências, constantemente em mutação, deu origem à lógica grega, ao silogismo e à
ciência europeia clássica como foi concebida por Descartes. Quando o ser humano
começou a desenvolver formas mais autônomas e menos instintivas de pensar, viu-se num
estranho reino de complexidades psicológicas e transformações mentais rápidas como um
raio. Quem conseguiria reter os pensamentos que se esvaem? Quem não temeria as
estranhas peças que a mente nos prega; esta mente, cujas perigosas incertezas levaram-na
a ser chamada a "assassina do Real"?
A lógica foi construída, assim como "o bem e o mal", para dar mais segurança às
pessoas em meio ao desnorteante fluxo de experiências, evocado pela Força-do-Dia com
sua avidez por coisas novas, novas sensações, novos sentimentos, novas emoções e novos
sonhos. Foram construídos, primeiro, para os indivíduos que desbravaram os reinos,
recentemente abertos, da experiência psicológica pessoal; reinos que em breve estarão
37
repletos de defesas e de tabus para o desprecavido ou para o fraco. Deuses e silogismos,
Mestres e álgebras, foram e ainda são proteções necessárias para as pessoas que estão a
tal ponto inseguras de sua própria identidade individual, tão fechadas no ventre racial-
biológico dos instintos coletivos e que são tão facilmente influenciadas, que o perigo de um
"colapso da personalidade" fica sempre à espreita nas sombrias trevas da psique.
Muitos sistemas e técnicas originam-se desta necessidade que deu origem também a
todas as mitologias. O nascimento de uma Personalidade individual total e livre é um
acontecimento tão importante no processo evolutivo do universo que cada fase precisa ser
preparada cuidadosamente. As palavras são esquemas de segurança, transformam o que é
estranho numa normalidade coletiva. Para a pessoa extremamente audaciosa, os sistemas
éticos e a lógica estabelecem limites além dos quais há ameaça constante de uma
catástrofe. Todas essas estruturas só se desenvolverão plenamente, como fatores sociais,
durante a fase Sagitário do ciclo; mas, em Gêmeos, o indivíduo precisa inicialmente criá-las.
Ele as cria a partir de sua necessidade pessoal e vital, usando toda a vivacidade de uma
imaginação estimulada por relacionamentos novos, que só poderão ser confrontados e
relacionados às experiências passadas se lhes forem dados nomes. Gêmeos cria essas
estruturas como poeta. E, a princípio, todo poeta é um "mágico".
O geminiano é o nomeador; portanto, é o mágico que pode controlar as forças da
natureza pronunciando seus "verdadeiros nomes". Palavras de poder, encantamentos e
fórmulas mágicas são as primeiras formas de poesia; consequentemente, toda cultura
deriva desta primeira tentativa de encontrar, com segurança e positividade, o
desconhecido e as misteriosas entidades da noite. Em Gêmeos, a pessoa já sente o impulso
que chega da Força-da-Noite. Ela sabe que terá que enfrentá-lo. Ela se prepara para
construir um lar para o encontro com o desconhecido - que também é o Ser Amado. A
personalidade só poderá se realizar com plenitude a partir deste encontro. E há tantas
possibilidades perigosas para a individualidade neste confronto, que ela tem que se cercar
e se proteger com mais nomes e mais tabus. Por isso o casamento, o lar, a monogamia e
todos os regulamentos ético-sociais que cercam este encontro do eu com o outro.
Entretanto, a insegurança sentida em Gêmeos é diferente em qualidade daquela do
período de Áries. Ela não é um medo indefinido de ser puxado de volta para o passado, e
sim a compreensão bastante concreta de que é preciso formar estruturas e formulações
estáveis para que o que está sendo vivenciado não se perca totalmente ou para que não
haja desintegração da personalidade numa multiplicidade de reações incoerentes a cada
nova experiência.
Uma compreensão plena do que está implícito na atividade do ser humano durante a
fase Gêmeos de sua experiência depende do reconhecimento dos dois tipos básicos de
relacionamento orgânico. Durante esta fase do ciclo, existe para cada pessoa a
possibilidade de transferir o centro de sua consciência de um nível para outro, e por isso
surgem os problemas psicológicos característicos de Gêmeos.
O primeiro tipo de relacionamento pertence ao reino de Touro. É o relacionamento
através da terra, simbolizado pelo fato de que todas as plantas que crescem na superfície
de nosso planeta estão enraizadas no mesmo solo. Como existe unicamente uma superfície
contínua de terra (contínua até mesmo sob os oceanos), todas as plantas se relacionam
entre si através de suas raízes. Tanto o freixo nas Montanhas Rochosas quanto o pinheiro
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na Geórgia ou o carvalho nas montanhas europeias, emergem da mesma superfície sólida e
compacta da Terra. Esse tipo de conexão caracteriza essencialmente todos os
relacionamentos que vêm sob o signo de Touro: o relacionamento através das "raízes" por
ser (o contacto físico, a comida, o sexo etc.) - relacionamentos definidos por um vínculo
comum à terra, e em geral ao fator "fecundidade" - em todos os níveis concebíveis.
Um outro tipo de relacionamento unificador é o relacionamento através do ar, o ar
que todos os organismos vivos respiram - sejam eles plantas, animais ou seres humanos.
Estamos todos, real e concretamente, unidos a todos os organismos que respiram. Por mais
que sejamos distantes e orgulhosos, cheios de sentimento de superioridade e dignidade,
andando pela Park Avenue, queiramos ou não, recebemos nas mais íntimas profundezas do
nosso ser (pulmões e sangue), exatamente o mesmo ar que momentos antes foi respirado
por um mascate bem sujo, uma prostituta ou um criminoso das favelas. Podemos nunca ter
pensado em estar num mesmo espaço com estas pessoas; porém, o ar que foi por elas
respirado está agora nos nossos pulmões. Não podemos escapar deste relacionamento -
pois isto significaria uma morte imediata. Desta forma, o estreito campo dos nossos
relacionamentos conscientes com os outros seres humanos é expandido, contra a nossa
vontade, pelo ar que respiramos.
O ar nos une também pela nossa forma básica de expressão: a fala - porque o som
desloca-se através de ondas no ar. As ondas do ar nos relacionam em casa com o avião que
voa uma milha acima de nós, no momento em que ouvimos o som do seu motor. O ar
transporta o pólen que nos traz a febre do feno. Por mais grossas que sejam as muralhas do
castelo fortificado que construímos em torno do nosso precioso ego, e por mais orgulhoso
e egoísta que seja o nosso "isolacionismo", o ar zomba dessas nossas fantasias infantis e
nos compele a uma integração com as coisas de que desejamos escapar. Portanto, o ar é
justamente o elemento através do qual o ser humano pode viver a experiência de uma
"expansão de relacionamentos" fundamental. E Gêmeos é o primeiro dos "signos de ar" do
Zodíaco.
Uma expansão vívida da existência através de uma busca constante de
relacionamentos sempre novos: esta é a essência da experiência humana em Gêmeos. Esta
expansão começou em nível biológico, quando a mão humana emergiu como um novo
fator evolutivo no reino dos organismos vivos. Na verdade, a mão - "regida" por Gêmeos - é
o símbolo primordial do reino humano em nível orgânico. Pelo uso da mão, o ser humano
tornou-se um fabricante de instrumentos. A variedade de suas experiências cresceu
enormemente quando esses instrumentos lhe deram capacidade de controlar e mudar seu
meio ambiente. Novas associações levaram a novos tipos de relacionamentos e ao
refinamento progressivo das reações e sensibilidades nervosas. Das mãos para os nervos e,
então, para o cérebro - este é o processo de desenvolvimento da personalidade, controlado
por Gêmeos. Durante o seu curso nasce o ser pensador - descendente do ser fabricante de
instrumentos.
Em Áries, o ser humano não vivencia o pensamento como um processo associativo
baseado nas matérias-primas da sua experiência pessoal. Ele vivencia "ideias" - que lhe
descem à mente, ou germinam dentro dele como sementes do passado, sementes que
pertencem à fase do ciclo anterior, quando a Força-da-Noite era dominante. Em Touro,
estas ideias ou revelações inspiradas penetram na substância dos sentimentos humanos e
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das reações orgânicas. Mas só em Gêmeos o pensamento acontece realmente como um
processo consistente e funcional de comportamento orgânico, sob a direção da Força-do-
Dia.
O pensamento controlado pela energia da Força-da-Dia é bem diferente do
pensamento dominado pela Força-da-Noite, em Sagitário. O pensamento de Gêmeos está,
por um lado, relacionado às necessidades da personalidade e, por outro lado, é alguma
coisa absorvida do meio-ambiente. É aprendido. Em qualquer nível que seja, o pensamento
geminiano é um pensamento transmitido. É o pensamento que traz para uma expressão
concreta os impulsos e inspirações vivenciados durante o período de Áries. Ele é o
pensamento verbal condicionado pela linguagem. O pensador geminiano seleciona, entre
os tesouros das civilizações passadas, palavras e conceitos como um meio para crescer
como personalidade. Ele pensa psicologicamente, enquanto o sagitariano típico pensa
socialmente. E é por isso que Gêmeos é poeta em vez de filósofo. Ele constrói com palavras,
como as mãos constroem com barro, pedras e madeira. E ele constrói porque precisa
crescer pessoalmente através desta experiência, porque enquanto constrói ele se treina a
funcionar como uma personalidade autônoma e consistente.
40
CÂNCER
Com o solstício de Verão, alcançamos um ponto culminante do ciclo anual. O dia mais
longo encontra a noite mais curta; e a triunfante Força-do-Dia, se irradiando do sol do
meio-dia, começa a minguar diante do poder ascendente da Força-da-Noite. Chegou o
verão e, com ele, a glória dos prazeres. Porém, prazer e satisfação geram novas tarefas e
novas realizações. Da "união" nasce o dever de dirigir o processo de formação e
crescimento dos resultados desta união; e, em primeiro lugar, nasce a necessidade de
limitar a expansão, para trazer estas forças de formação e crescimento ao foco mais nítido
possível.
O signo zodiacal Câncer representa o princípio que focaliza as energias vitais, com o
objetivo de produzir uma imagem ou impressão mais definida e permanente possível.
Câncer, portanto, nos traz uma reversão no processo de vívida expansão iniciado em
Gêmeos. Assim como Touro repolariza a direção da Força-do-Dia em Áries, Câncer dá nova
direção às energias de Gêmeos. Touro e Câncer são considerados signos "femininos". A
"terra" de Touro é necessária para apreender e completar o "fogo" de Áries. E a "água" de
Câncer condensa a expansão "aérea" e a penetração total de Gêmeos.
Gêmeos espalha sua busca por novos relacionamentos através de todo o campo da
experiência; mesmo que seja construindo palavras, sentenças e sistemas intelectuais, isto é
feito com uma característica despreocupação e falta de interesse nos resultados finais.
Tudo que o geminiano quer conquistar ao fazer contactos sempre novos, é a segurança
pessoal. Ele busca um controle intelectual temporário através da formulação verbal. E
preocupa-se em permanecer sempre dentro de estruturas conhecidas enquanto se
expande. Por isso, nunca se descarta de sua própria ótica; pelo contrário, leva-a a todos os
lugares e situações possíveis. E não se importa com o fato de alguém já ter usado esta
mesma ótica; em todo caso, sendo conhecido como criador de um tipo especialmente bom
de ótica, lhe será mais fácil estabelecer com vantagem novos contactos.
Nos assuntos do amor, por exemplo, Gêmeos vai tomar cuidado para que sua
aproximação do sexo oposto esteja bem definida em sua mente, evitando assim o choque
de ser dominado por um amor de poder elementar. O geminiano classifica suas relações e
seus tipos de amantes, enquanto expande sua curiosidade e ânsia de amor em direção a
novos horizontes. E se a pessoa de Gêmeos gosta de ser conhecida como um Don Juan, é
porque tal reputação pode trazer uma "expansão mais vívida" no campo dos seus contatos.
O geminiano pode ficar completamente atado por suas formulações e categorias, por sua
lógica e suas expectativas. Mas fica atado apenas pessoalmente. Não insiste em que as
outras pessoas fiquem atadas da mesma forma. Portanto, pode ser tolerante e aprecia o
jogo limpo, embora não consiga realmente alcançar o ponto de vista da outra pessoa.
Ele é tolerante, mas não tem uma compreensão real, ao passo que Sagitário pode
compreender, mesmo quando é mais intolerante, porque percebe complacentemente
como uma situação social produziu uma certa atitude numa pessoa, e não vai culpar essa
pessoa por isto. Porém, se ele não aprovar a situação e a atitude, certamente agirá com
extrema intolerância em relação às ideias implicadas - ainda que possa compreender e
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simpatizar com a pessoa que traz as ideias.
Em Câncer, observamos um corte súbito da ânsia de expansão de Gêmeos. Alcançam-
se limites; a curiosidade por novos relacionamentos é absorvida por um acontecimento que
leva a uma reversão completa de movimento. O sol para no céu do norte e os poentes
começam a inclinar-se para o sul. Há uma breve pausa, e todas as coisas trocam de
polaridade. A Força-do-Dia atinge sua intensidade máxima. Ela agora deverá
vagarosamente se deixar substituir pelo poder matriarcal da Força-da-Noite. Seja qual for a
extensão alcançada, limites definidos serão estabelecidos. Se estes limites ainda tiverem
que ser afastados para mais longe, isto será feito a partir de uma nova base de atividade;
uma base social e mental, em vez de psicológica e pessoal.
O que realmente aconteceu para causar esta reversão? Apenas isto: o ser individual,
não sendo mais capaz de resistir à pressão da força universal, teve que se abrir para o
universo e a sociedade. Esta abertura poderia ocorrer, teoricamente, da forma mais
adequada às necessidades do indivíduo. E assim ocorre, livremente e a cada instante, para a
pessoa que atingiu um certo nível de integração e liberdade - a pessoa que se tornou livre
das consequências de frustrações e repressões impostas sobre seu crescimento por seus
pais e seus ancestrais, pelo passado de sua raça e - se acreditarmos em reencarnação pelo
passado - de sua Alma; para a pessoa livre das memórias subconscientes e também das
conscientes.
Mas no ser humano comum de hoje, estas memórias, frustrações e falhas estão fortes.
Medos subconscientes surgiram em Áries; inércia biológico-racial e possessividade, em
Touro; e formulações intelectualmente cristalizadas, em Gêmeos. Portanto, quando o
indivíduo enfrenta, em Câncer, a reversão da sua força vital, e é inundado pela vida
universal, ou confrontado pela necessidade de participar na sociedade ao "atingir a
maioridade", esse confronto é altamente perturbador. Forças irracionais, biológicas,
emocionais e de devoção se precipitam do inconsciente e tendem a dominar o consciente.
Portanto, o indivíduo precisa estar protegido; esta investida do inconsciente tem de ser
canalizada. E esta necessidade é a razão do "casamento" - e também do que os ocultistas
chamam "Iniciação". O companheiro e o Iniciador - a vida como um todo poderia ser o
companheiro ou o Iniciador, se o indivíduo tivesse uma força integradora suficiente para
não se deixar oprimir pelos constantes confrontos que as mudanças da vida lhe
apresentam, se ele fosse consciente o bastante para ser, a qualquer momento e sob
qualquer condição, um ponto de foco para a vida universal - para Deus. Então não haveria a
necessidade de um cônjuge ou de filhos para fazê-lo compreender de uma forma específica
- e desta única forma, que sua meta e sua realização se encontram, na verdade, no
cumprimento de sua responsabilidade para com a vida, na vontade consciente de ser um
foco, dentro e através do qual a Vida ou Deus possa "falar".
Deus poderia falar através do indivíduo em miríades de vozes, uma para a necessidade
de cada momento. Mas como o indivíduo cresceu sob a influência da configuração
defeituosa do medo, da inércia e da cristalização mental, a pedra humana não é um cristal
claro. Precisa ser polida. O indivíduo precisa amar e sofrer, voltar-se para tarefas
domésticas e passar privações, abrir mão de uma alegria transitória e "abandonar o seu eu"
para encontrar a "Vida eterna". Porém, na essência e na realidade, a plenitude é aqui e
agora. Não há nada que deva ser "abandonado", a não ser as falácias. Tudo o que é
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necessário para que a pessoa se torne uma lente capaz de focalizar a divindade é estar
consciente do que ela (a pessoa) inerentemente é, e o ser claramente, com beleza e
verdade.
Uma lente para focalizar a vida. Para o indivíduo comum, no atual estágio da evolução
humana, vida significa "humanidade"; poderia significar, e um dia significará, "divindade". A
casa e o casamento estão condicionados pelos fatores "humanidade" e "sociedade", pela
educação recebida pela criança na escola e pelas frustrações dos pais. O desenvolvimento
anormal, na infância e na adolescência, faz o jovem apegar-se à Força-do-Dia, querendo que
ela cresça mais e mais através de uma fase geminiana eterna. Ele deveria voluntária e
complacentemente abrir-se para a ascendência da Força-da-Noite. Esta é a lição do solstício
de Verão, de Câncer. Precisa haver repolarização; porém a humanidade atualmente precisa
ser compelida a se repolarizar. Precisa ser compelida a se abrir para a Forçada-Noite, para o
Mistério do Espaço e para a Irmandade das Estrelas; porque ela não o fará
voluntariamente, seja como indivíduos ou como nações. E este é, hoje, o nosso problema
mundial.
Qual é a natureza desta compulsão? Um despertar repentino das forças irracionais,
instintivas e biológicas, enraizadas no sangue; um despertar repentino de "sentimentos" e
de visões psíquicas também. Chamamos a isso "paixão"; e, hoje em dia, no âmbito social,
também chamamos a isso devoção em massa a ditadores que exaltam o "apelo do sangue"
- ou devoção a Profetas que trazem de uma forma específica (daí vem o dogmatismo) a
Revelação de Deus. Estes são vários aspectos do mesmo processo no indivíduo e na
humanidade - este processo é a mudança de Gêmeos para Câncer, essa "conversão" que
reverte a direção da força-vital.
Vamos nos conscientizar, porém de que esta "conversão" não precisa ser violenta,
fanática e passional. A necessidade emocional-biológica ou religiosa não precisa sobrepujar
a consciência; mas ela irá sobrepujá-la, por uma necessidade, onde a consciência estiver
presa a cristalizações do ego, inflexível, ou embebida em "complexos" e deslumbramentos.
O que significa: em quase todas as situações! E por esta razão, organizamos e
estabelecemos em todos os sentidos o totalitarismo - unidade forçada - talvez como uma
inevitável proteção contra a desintegração total: a desintegração moral nos indivíduos e a
anarquia na sociedade humana.
Muito poucas pessoas compreendem o mistério do símbolo de Câncer, o Caranguejo!
Uma criatura da água, cujos movimentos são regressivos ou para o lado, e cuja evolução foi
levada para um beco sem saída, que é constituído pelo uso de uma casca dura que reveste
a vida; porém não devemos esquecer que essa casca é trocada periodicamente a cada novo
ciclo! Uma criatura do mar! e o mar sempre simboliza o coletivo, ou melhor, o Inconsciente
genérico, a Matriz universal da vida.
Aqui nós temos um tipo de simbolização tão negativo quanto o que encontramos em
Escorpião. Mais um passo à frente, encontramos a conexão entre Câncer e a doença mortal
do mesmo nome. Mas por que esta ênfase tão negativa? Porque os antigos que
construíram este simbolismo zodiacal bem sabiam que o significado real e positivo da
liberação divina no solstício de verão dificilmente seria revelado. No mundo ocidental
temos que ir à Bíblia cristã para encontrar referências mais completas ao solstício de verão,
tais como o "Casamento do Céu e da Terra", de Cristo com a Noiva, a humanidade: Cristo
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enfocado como a Encarnação mística no ser humano. Porém, na Índia, se compreendemos
o significado real do conceito Avatar, das ideias que presumivelmente o grande
Sankaracharya ensinou - ele que nasceu com o Sol em Câncer - alcançamos o significado
real deste nascimento do verão. Isso deveria nos ajudar a compreender nosso próprio país,
os Estados Unidos, e o potencial do nosso destino mundial, porque nós também nascemos
nacionalmente sob o signo de Câncer. E não é de fato significativo que nossa doença mais
atemorizante hoje em dia seja também chamada câncer?
Seria o destino mais elevado do canceriano formar um lar convencional e rígido? Ou,
mais provavelmente, servir como foco para uma nova manifestação de Deus? Estarão os
Estados Unidos satisfeitos com um limitado nacionalismo, com lares fragmentados devido a
um individualismo cristalizado e com os consequentes divórcios? Ou, numa época em que a
maior parte das nações tem-se "apaixonado" por ditadores e totalitarismos enraizados no
sangue e de exaltação nacionalista, o nosso destino mundial é ser um ponto de foco para
uma nova força-de-Avatar ou força-de-Cristo? Câncer vem nove meses antes do futuro
Áries. Câncer é o símbolo da fecundação - mas será esta uma fecundação divina ou uma
fecundação estritamente humana? Câncer é o ser humano fecundado por Deus; é um Lugar
Sagrado no qual Deus desceu.
Na prática usual da astrologia, o tipo de personalidade caracterizado por Câncer é
frequentemente representado como dominado por humores variados e por dons psíquicos.
Mas o que nem sempre se compreende é que estas manifestações psíquicas são o
resultado de uma invasão da força universal na consciência individualizada que, por esta
razão, se desorganiza. Esta invasão pode significar um grande número de coisas: do êxtase
característico do amor passional aos distúrbios das primeiras semanas de gravidez; das
alucinações psíquicas ao vidente inspirado em Deus; de mentiras glamurosas ao
avatarismo. E não podemos esquecer o retrocesso a partir desta invasão da Força-da-Noite,
o apego a uma forma específica, a um lar específico, a um sentimento específico, os ciúmes
e as possessividades que são as sombras da integração de um homem e uma mulher - tudo
isso nascido do medo, do terrível medo do que poderia acontecer caso houvesse uma
"mudança de foco".
O canceriano contém tudo isso. Ele pode ser o mais desamparado ou o mais
determinado, de uma forma estranha e silenciosa. Está relacionado a um período do ano
em que o Sol se move muito lentamente; para. Há pausa ao mesmo tempo em que há a
possibilidade de intensa luz. É o momento em que os dias são mais longos; porém a
astrologia faz Câncer ser regido pela Lua, esperando por mais um signo, Leão, para glorificar
a radiação criativa do Sol.
Isto porque todos os grandes sacramentos acontecem quando há pausa, silêncio e
tremor. A pessoa, possuída por Deus, ou pelo Ser Amado, é primeiro dominada pela união.
Tudo deve ser reconsiderado, todos os movimentos e motivações revertidos. Nestas noites
curtas e intensas, quando é celebrada a festa de São João, pode ser que haja tumulto no
mundo externo, mas há tranquilidade no Lugar Sagrado, onde a noite abraça o Dia e a Vida
é reconhecida.
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LEÃO
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VIRGEM
55
LIBRA
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ESCORPIÃO
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SAGITÁRIO
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"Isso não! Isso não!" É a mente que mostra o que deve ser esquecido, deixado para trás,
superado e transcendido. Em Virgem, o emocionalismo pessoal e a auto-indulgência
dramática de Leão devem ser restringidas pela autodisciplina, higiene e auto-imolação a um
Professor. Em Peixes, é a excitação social, o idealismo exagerado, as fantasias místicas e os
delírios místicos de Aquário que devem ser resolvidos. A ilusão da "glória" de Deus deve ser
transcendida para que o silêncio e a simples realidade da Presença de Deus (que os
verdadeiros místicos chamam "pobreza" de Deus), possam ser verdadeiramente
vivenciados pela personalidade.
Em Sagitário, o ser humano procura colocar numa ordem prática o que ele vivenciou
com grande profundidade de sentimentos em Escorpião. Durante o estágio anterior da sua
jornada zodiacal, o indivíduo procurou fundir-se com os outros numa união real, íntima e
pungente, onde deveria tornar-se mais do que ele mesmo e identificar-se com a vida
pulsante de algum organismo maior. Um organismo maior pode significar, em primeiro
lugar, a realização do "Dois-em-Um", produzida pelo êxtase da satisfação sexual sem
qualquer pensamento voltado para a prole e para a reprodução. Mas o "organismo maior"
típico é o grupo social (ou o oculto Lodge), com cuja vida a pessoa de Escorpião se identifica
nos sentimentos, e torna-se frequentemente seu porta-voz inconsciente - destrutivo ou
construtivo, dependendo do propósito e da natureza das energias que ativam este grupo.
Escorpião é um signo de força e de poder, e o poder sempre busca um nível mais alto
de onde possa nutrir-se, para então fluir para um nível mais baixo onde atuará como
fecundador e regente. Em Sagitário, o poder já está formado. O ser humano alcançou a
identificação com o grupo - com a sociedade ou qualquer outro tipo de vida orgânica maior
do que a sua própria. Ele tem um poder que pode ser usado. Com esse poder, pode
construir. E aproveitando-o, pode também viajar para todas as partes.
No simbolismo antigo, vemos Sagitário representado pelo Centauro, a criatura mítica
metade-cavalo e metade-homem que atira suas flechas em direção ao céu. Dizer que este
símbolo descreve a luta entre a natureza animal e a natureza humana é dizer pouco - pois a
luta entre energias opostas acontece em todo o Zodíaco. O verdadeiro significado deste
símbolo é mais profundo e mais preciso. Em todas as terras, o cavalo representa a força
viril; esta força é de um tipo especial, uma força com a qual o ser humano pode se
identificar, pode: montar e, com a ajuda da qual, pode expandir seu campo de atividade.
Isto ele não pode fazer com a força do Touro, que é inconsciente, indomável e puro instinto
- é a força do Desejo cósmico, a qual o ser humano pode matar pela espada (nas touradas),
mas nunca usá-la conscientemente para seu próprio desenvolvimento. O signo de Touro é
portanto a força sexual cósmica. O ser humano é seu instrumento, até que ele a mate pelo
ascetismo (o símbolo budista do domínio da energia).
Com o tipo sagitariano de sexo não é assim. Este tipo de força pode ser domado e
usado. Ele é simbolizado pelo Cavalo. Beber o leite da égua dá grande vitalidade - e é usado
com esse propósito na Rússia e na Ásia. Identificar-se com a força do cavalo-reprodutor é
um símbolo universal de recarregar-se com uma energia para ser usada - seja para um uso
destrutivo (como as "Hordas Douradas" de Gengiscã, cavalgando em seus selvagens cavalos
mongóis), seja para um uso construtivo. O sagitariano, portanto, está identificado com esta
força - uma força que queima nas "virilhas" e que está centralizada, na ioga, na região do
plexo solar; um fato que o psicanalista reconhece quando interpreta sonhos com cavalos de
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várias cores. Uma metade de Sagitário é força, a outra metade é aquele que usa esta força,
isto é, a mente consciente do ser humano. O terceiro atributo (o arco e a flecha) se refere à
direção e ao propósito. O Centauro atira para cima, num ângulo de 450, o símbolo da
mobilização máxima das energias.
Os Centauros eram filhos de Gaia, a Terra. Em outras palavras, eram os produtos de
uma identificação com as energias desse organismo maior - o Planeta. Em Sagitário, a
pessoa, tendo se identificado com a energia - o poder - gerado pela sociedade e pelo
complexo intercâmbio entre os seres humanos (sexo, negócios, comércio, arte,
propaganda, etc.), torna-se então "poderosa". Seu problema é dirigir essa energia para os
canais apropriados. O problema de Sagitário não é causado, essencialmente, pela luta entre
duas naturezas, mas pela escolha das direções para o poder que foi formado em suas
"virilhas". E o simbolismo do Centauro indica qual é a direção correta pelo ângulo em que
ele atira suas flechas.
O sagitariano ocupa-se principalmente com a "eficiência prática" e a direção. Ele é o
típico administrador de energias; o agente do poder. O administrador é a pessoa que vai
dirigir e organizar a liberação de energia visando alcançar uma eficiência máxima e um
desperdício mínimo, e também maior velocidade e maior alcance. Entretanto, o executivo
típico desenvolve-se essencialmente em Capricórnio, porque o executivo é o símbolo da
organização prática como um todo, em sua relação com a sociedade como um todo. O
executivo é o centro e o símbolo do Estado. Sagitário é o Primeiro-Ministro, Capricórnio é o
Rei ou o Imperador - e Aquário, o Reformador.
O sagitariano tem um tipo de mentalidade muito coerente e coesiva - por isso suas
características de obstinação e inflexibilidade. Vê tudo em termos de "esquemas de
funcionamento" ou de leis. É também, num outro nível, completamente obcecado por
éticas; mas a ética como forma de um sistema prático de relacionamento humano e não
como um sonho de idealista. O sagitariano não é primeiramente um idealista. Quer ampliar
aquilo que é; quer organizá-lo e fazê-lo funcionar, encontrando todas as conexões possíveis
entre todas as partes do todo e vendo-as operar adequadamente. Ele é mais um intérprete
do que um inventor de novas metas. Ele codifica. Descobre novos significados e novas
dimensões do pensamento. Ilumina pontos obscuros. Atravessa véu após véu. Mas não se
perde, como acontece com o nativo de Escorpião e, mais ainda, com o de Aquário, nas suas
identificações desenfreadas com energias ilimitadas ou com realizações místicas. Ele jamais
renuncia ao sentido de limites, de forma, e a um ritmo definido de atuação. Ele não é Águia;
é Cavalo. Sua força se origina da realidade do já-conhecido e já-vivenciado. Pode atirar
flechas para as estrelas, mas os seus pés se mantêm na terra, a que ama porque ela é a sua
fonte de energia.
Sim, a terra é sua fonte de energia; mas ele não está preso a ela. Ele a usa. Ele
administra seu poder. Ele cuida bem da terra, assim como um guerreiro mongol ou um
nômade cuida bem de seus cavalos; simplesmente porque ele sabe que é dependente da
terra para uma eficiência máxima, e na verdade para sua própria vida. Por isso, o
sagitariano se dedica a exercitar seu corpo e seus músculos, em sentir o solo sob seus pés;
se dedica também ao trabalho com as pessoas e a captar o sentimento da sociedade; e se
desespera e se irrita quando está só ou (no tipo menos mental) confinado num ambiente
restrito. Ele precisa de espaço aberto, de salas amplas. Ele adora organizar a vida das outras
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pessoas - geralmente com resultados desagradáveis! Ele adora lidar com o poder. E adora
avançar velozmente.
Na vida moderna, o automóvel e o tanque de guerra estão tomando o lugar do cavalo.
E qual é a fonte de energia deles? O petróleo - profundo nas "entranhas da Terra". E assim,
líderes como Churchill e o general De Gaulle, que foram os primeiros a reconhecer o valor
do tanque nas operações de guerra, são de Sagitário. Da mesma forma, o mapa natal dos
Estados Unidos, a terra dos automóveis, dos outdoors e dos esportes, tem provavelmente
Sagitário no ascendente.
Num nível mais elevado, encontramos Sagitário associado à religião; mas só a religião
e aos rituais organizados. A religião, como força social organizada, nasce do anseio do
indivíduo por uma identificação psíquica com a totalidade da vida da comunidade. E é um
empreendimento comunitário que recebe energia dos anseios dos seres humanos para
sentirem-se coletivamente unidos. Padres e teocratas são os administradores desta energia
comunitária. O Profeta dá forma a ela. Ele cria "imagens de salvação", símbolos de
unificação. Ele se projeta como tal símbolo. Torna-se um Personagem mítico, um Herói
Solar. Ele é a alma da comunidade. É a humanidade condensada n'Um Ser Humano
Perfeito; na projeção da própria Paternidade de Deus.
Assim ocorre com o filósofo e o metafísico - também um produto da atividade
sagitariana - que estabelece ordens práticas em meio à complexidade desnorteante dos
fenômenos sociais e naturais. Ele consegue isso reconhecendo todos os tipos de conexões e
correlações ocultas entre os acontecimentos, interpretando e formulando generalizações
em termos de leis. Ele viaja no "reino das Ideias". Mas viaja utilizando a energia que foi
liberada quando ele se identificou com a necessidade do seu grupo, Para o sagitariano mais
elevado, nada tem maior importância do que a "necessidade dos Tempos", a necessidade
da comunidade a que ele pertence. Compreender essa necessidade e identificar-se com ela
constitui a própria fonte do seu poder como pensador, visionário e formulador. Ele é esta
necessidade que tomou forma e nome. Ele é o intérprete, o leitor de presságios e de "sinais
dos tempos", o planejador, o profeta e o visionário. Mas o que ele "vê" é o que tem uma
necessidade social de ser visto por ele. O sagitariano é o servo da comunidade.
No seu lado negativo, encontramos o sagitariano como fanático e como puritano (e o
background puritano da tradição americana dá novamente ênfase a um ascendente
Sagitário para os Estados Unidos). E exatamente porque a energia da Força-do-Dia está em
seu fluxo mais baixo em Sagitário, o nativo deste signo tem muito pouca consideração pelos
indivíduos. Ele sacrifica voluntariamente qualquer coisa pessoal e individual no altar do
"bem da comunidade". A Inquisição espanhola é um produto sagitariano típico (a Espanha é
regida por Sagitário), pois ela torturava a personalidade individual para salvar a alma. Ela
sacrificava o próximo em favor do distante. Frustrações de Escorpião podem também levar
ao fanatismo sagitariano, que se torna então mais violento e cruel através de características
sádicas. Dessa maneira, a comunidade não tem somente o direito de salvar às custas dos
sofrimentos e das mortes de seus indivíduos; a pessoa que reivindica o direito de
administrar esse poder social-religioso encontra uma perversa exaltação na tortura. Por
esta razão, o ascetismo pessoal (deliberado ou imposto) leva à crueldade.
Para o sagitariano o sentido de individualismo, como uma coisa positiva e objetiva, é
tão vago, e ao mesmo tempo, o sentido social é tão dominante, que às vezes ele precisa
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recorrer a subterfúgios subconscientes e à excitação da violência para sentir novamente a
sua própria personalidade. Em geral, o sagitariano age assim com bastante frequência,
especialmente quando o caos da sociedade medieval e moderna sobrecarrega-o com
energias destrutivas. Portanto, o sagitariano pode parecer superficialmente um indivíduo
violento e de personalidade arrogante. Isto se deve à sua rendição a forças não
individualistas. A Força-do-Dia, agora em seu ponto mais baixo de energia, tem que se
esforçar para dar a si mesma uma ilusão de poder. Ela precisa de "carne forte" para ser
estimulada. E quando é estimulada, age às vezes de maneira arcaica e compulsiva, tão
desagradável quanto as características negativas de Escorpião, e talvez seja ainda mais
perigosa porque mais afiada por mecanismos intelectuais. Então a compaixão jupiteriana se
torna um sadismo mais ou menos inconsciente.
Sagitário é o prelúdio do Natal. Como a neve, ele absorve tudo o que é pequeno no
vasto ventre do silêncio, de onde o novo nascimento da Força-do-Dia vai emergir. A mente
que une toda a vida em modelos cósmicos de relacionamento torna-se a "mãe do Deus
Vivo". O sagitariano tem todo o heroísmo, a auto-abnegação e a tirania do amor das mães,
Ele fecha uma era e abre outra. Ele está "grávido" da divindade.
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CAPRICÓRNIO
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AQUÁRIO
Com Aquário, alcançamos o último dos "signos fixos" - signos através dos quais força é
liberada. Força é a energia pronta para ser usada objetivamente através dos instrumentos
para isto preparados. A natureza da força vai depender do tipo de energia que é usada;
portanto, os signos "fixos" seguem os signos "cardinais". E assim como existem dois tipos
básicos de signos cardinais, os que começam com os equinócios (Áries e Libra) e os que
começam com os solstícios (Câncer e Capricórnio), existem também dois tipos básicos de
signos fixos.
Podemos então falar de força equinocial (Touro e Escorpião) e de força solsticial (Leão
e Aquário). A força equinocial é condicionada pelo intenso dinamismo dos signos
equinociais (Áries e Libra) - signos de máxima velocidade do movimento solar de
declinação, signos nos quais a Força-do-Dia e a Força-da-Noite estão mais equilibradas. A
força solsticial é o resultado de um tipo concreto e forte de atividade, que ocorre durante
os períodos solsticiais (Câncer e Capricórnio), que começam quando o movimento solar de
declinação está reduzido a uma velocidade mínima, períodos em que a Força-do-Dia e a
Força-da-Noite, respectivamente, triunfam.
Onde o signo cardinal apresenta um intenso dinamismo e instabilidade, o signo fixo
sucedente deve reter esta atividade dinâmica e limitá-la. Portanto, Touro põe a serviço de
um objetivo orgânico e dentro de propósitos concretos a energia impetuosa e universalista
de Áries; e Escorpião leva a avidez social, geralmente difusa, de Libra, a um estado de
obstinada identificação com um propósito específico ou com uma pessoa em particular (daí
a origem do ciúme, da crueldade, etc.). Por outro lado, quando o signo cardinal focaliza
uma personalidade (Câncer) ou uma forma particular de sociedade (Capricórnio), a força
demonstrada pelo signo fixo seguinte se manifesta como uma liberação ou como uma
explosão de energia.
Esta liberação de energia pode expandir e glorificar o que foi construído e focalizado
no signo cardinal, ou então pode destruí-lo e transcendê-lo. Portanto, uma liberação de
energia em Leão pode significar o rompimento de um lar e da integridade pessoal, devido a
aventuras amorosas, jogos e atitudes de intemperança; como pode significar também a
procriação que vai consolidar o lar. Da mesma forma, Aquário poderá ver o
desenvolvimento construtivo do Estado e da civilização, através de invenções, de melhorias
e da glorificação de certas virtudes sociais; mas pode significar também uma completa
revolução e transformação do Estado e da civilização, pelo poder de um novo ser humano e
de novos ideais que o Estado existente se recusa cegamente a tolerar, ou contra os quais o
Estado precisa lutar porque provavelmente não consegue assimilá-los.
Esta distinção entre características equinociais e solsticiais é da maior importância
para que o significado mais vital do Zodíaco seja compreendido. A terminologia tradicional
estabelece que os signos cardinais equinociais (Áries e Libra) são signos "masculinos" e os
signos fixos sucedentes (Touro e Escorpião) são "femininos", enquanto que os signos
cardinais solsticiais (Câncer e Capricórnio) são "femininos" e os signos fixos sucedentes
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(Leão e Aquário) são "masculinos". Os signos de força (fixos) femininos concentram e
focalizam a atividade dos signos cardinais masculinos. Assim, Touro é a energia solar que
fecunda a terra, e Escorpião é a energia do relacionamento humano e das parcerias sociais,
que se fixa através da identificação sexual e de negócios ou trustes. Por outro lado, os
signos de força masculinos liberam o que se tornou concreto e se cristalizou nos signos de
atividade femininos. Assim, Leão simboliza a força criadora e procriadora liberada pela
personalidade já formada e pelo lar estabelecido, e Aquário representa a civilização
espandindo-se ou reformando-se através de seus visionários, inventores e revolucionários.
Em Capricórnio, o indivíduo pode ser um político, um autômato social, ou um eremita
esforçando-se por uma nova visão. Em Aquário, ele pode ser um rebelde ou um verdadeiro
reformador: um excêntrico que tenta insistentemente disseminar seu esquema pessoal de
melhorias para a sociedade ou o devoto de uma nova religião com o poder de renovar
grandes grupos. Ele pode ir ao martírio social com a mesma obstinação passional que tem o
leonino quando se apega às suas emoções teatrais ou quando é tomada por violento
orgulho pessoal em suas criações. Ele é o ser social que tenta apaixonadamente deixar de
ser uma mera criatura do Estado e despejar seu inextirpável sentimento de servidão à
tradição, num grupo social especializado e consagrado à reforma - a qualquer reforma. Ele
é o "homem do Partido", que nunca é tão fiel a seu partido como quando este é atacado
por conservadores ou perseguido pelo Estado. Ele é o fanático que não tem uma direção
individual para ajudá-lo a conduzir racionalmente seu fanatismo. Mas ele é também o
Edison, que colabora com a ordem social através de seu gênio inventivo, e o Libertador, que
salva um povo de sua escravidão e renova a civilização sem destruir sua estrutura básica.
Ele pode despejar vinho novo em odres velhos ou, por falta de recipientes adequados,
quebrar os odres velhos e derramar o vinho.
Nos dias de hoje, é moda tecer elogios ao nobre aquariano. Isto é compreensível
porque a humanidade está passando por um período de rápida transição e de repolarização
social. As estruturas burguesas e feudais da civilização europeia estão desmoronando. As
pessoas sentem necessidade de uma mudança, mesmo que em suas mentes conscientes
resistam desesperadamente a ela. Que o conservadorismo capricorniano está condenado,
qualquer pessoa em perfeito juízo o sabe; porém as classes privilegiadas e os guardiães das
tradições religiosas não conseguem abrir mão desta ordem, porque isto significaria a sua
própria destruição e traria um caos temporário. Na Europa, a guerra está alcançando o que
a revolução iniciou*; porém, na América, o problema entre reforma e revolução parece
ainda estar em aberto. Reforma, nas mãos dos americanos mais refinados, significará um
retorno à amplitude de visão da América sagitariana, ao seu sentido moral e à sua saudável
avidez por grandes aventuras e por sonhos religiosos. Revolução significará que os valores
sagitarianos na América se cristalizaram tanto nas mãos de capricornianos negativos; que
nada, a não ser a destruição dessas conchas, poderá nos levar a descobrir a "pequena voz"
do Cristo, da Nova Vida.
* Este livro foi escrito em 1943, portanto durante a II Guerra Mundial. Seus princípios
permanecem espantosamente atuais.
Por que valores "sagitarianos"? Porque é em Sagitário que os Princípios universais e os
Ideais sociais e religiosos são visualizados pela mente que voa para além do campo pessoal,
racial e geográfico e atinge o espaço das conexões e generalizações mais distantes. E o que
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é a Democracia e o princípio de uma Irmandade universal entre os seres humanos senão a
mais extrema generalização que se pode fazer em termos de relacionamentos? A Lei Tribal
- mesmo em seu sentido expandido nazista - baseia-se em conexões próximas, em
experiências pessoais e emocionais. Mas a Lei Democrática violenta os nossos instintos
arcaicos, que estão enraizados em exclusivismo de sangue e orgulho cultural.
Não é de estranhar então que, assim como o ideal moderno sagitariano de Democracia
se cristaliza em políticas capricornianas, a maioria dos velhos rancores ancestrais e dos
preconceitos de classe tenda a recuperar o espaço que ocuparam por séculos. Com a
Democracia (e tudo o que ela implica fundamentalmente em termos de relacionamentos
humanos, mais do que superficialmente em termos de sistema parlamentar), a mente
sagitariana supera o nível anterior mais elevado das generalizações, representado pela
Ordem Católica Universal. Catolicismo significa, etimologicamente, universalismo. O
Cristianismo fundou-se na generalização suprema de que todos os seres humanos são
potencialmente "filhos de Deus". Essa generalização, porém, foi restringida e cristalizada
numa Igreja que estabelece limites para a salvação espiritual e proporciona fogos do
Inferno para os não-crédulos. Estes limites capricornianos foram simbolizados pelo Papado
e pela Igreja Romana medieval - que finalmente atraíram reformadores e rebeldes para os
destruírem.
Democracia, no sentido maior e mais profundo do termo, é uma generalização ainda
mais ampla, porque não se limita pelo campo religioso ou ético. Engloba todos os valores
do comportamento humano e os repolariza até que todas as distinções de sangue, todo o
emocionalismo nos relacionamentos e toda a possessividade, baseados em conotações
ancestrais, sejam eliminados. A Democracia, como um ideal, precisa concretizar-se como
um sistema aplicado de organização político-social. Quando isto ocorre, porém, os valores
sagitarianos são substituídos ou dominados pela técnica capricorniana. A Democracia ideal
se transforma em federalismo aplicado. O que os Estados Unidos têm demonstrado
durante seus 170 anos de existência é um sentido hesitante e falível de Democracia e uma
teimosa dependência dos mecanismos, quase sempre distorcidos e pervertidos, do
Federalismo. Tomamos como certo que parlamentarismo significa Democracia, que o
respeito pelas decisões da maioria em qualquer grupo de representantes eleito prova que
está havendo Democracia. Isto é obviamente ingênuo, porque tudo depende de como as
eleições são conduzidas e se pressões financeiras, sociais e psicológicas são ou não
aplicadas para forçar uma decisão do eleitorado.
Com Capricórnio, vemos, portanto, o triunfo das máquinas políticas, o triunfo da
ditadura pessoal com técnicas especiais de controle da opinião pública. Vemos a
personalidade humana, que se desenvolveu durante o ciclo de ascensão da Força-do-Dia,
tornar-se agora um "indivíduo esquecido": um ser humano com um voto que pode ser
comprado ou comandado por comoventes apelos de massa. Em Aquário, vemos, por um
lado, a liberação construtiva e destrutiva de todas as energias que a vida urbana moderna
pode produzir, seja no que diz respeito a conforto material e tecnologia, seja no que se
refere a confusão mental, poluição moral e desintegração fisiológica. E, por outro lado,
vemos as muitas tentativas do cidadão "urbanizado" de restabelecer seu sentido individual
de valores e sua integridade pessoal por meio de pequenas ou grandes rebeliões,
excentricidades, fanatismos emocionais unilaterais e também por meio de fidelidade a
77
cultos e grupos especializados. Em nome da "volta" à "Lei da Natureza" (vegetarianismo,
comidas cruas, nudismo etc.) ou à "Lei da Democracia Individualista" (ideologias
anarquistas de um ou outro tipo) ou à "Lei da Irmandade Universal" (grupos esotéricos
espirituais), e "cidadão urbanizado" busca reavivar a visão sagitariana, que foi traída pelas
metrópoles capricornianas e pelos grupos de poder capricornianos. Esta é a razão da ânsia
do aquariano pelo desconhecido e pelo estranho, pelas mais novas manias ou pelos
movimentos supostos de reavivar e restaurar o "verdadeiro" fundamento da Democracia e
da liberdade humana.
Em todas essas tentativas para se libertar da máquina social, do domínio do dinheiro e
do domínio de grupos de poder, o aquariano apresenta, com muita frequência, uma curiosa
dependência das mesmas forças sociais que ele condena. Isso, porque tudo que ele
realmente conhece é ação social e organização social. Sua noção de personalidade ainda é
muito vaga ou negativa. Em Aquário, a energia "personalizante" da Força-do-Dia está ainda
muito fraca e mal consegue se manifestai. No melhor dos casos, ela se manifesta
espasmodicamente e, quase sempre, através de uma reação contra as outras
personalidades que são parte de uma situação social.
Assim como o leonino usa grandes atitudes sociais para camuflar seu sentimento,
profundamente escondido, de insegurança social ou seu "complexo de inferioridade", da
mesma forma o aquariano usa grandes atitudes pessoais para esconder seu sentimento,
geralmente não admitido, de insegurança pessoal e seu medo de qualquer personalidade
forte. O medo, sob circunstâncias favoráveis, é claro, se transforma em devoção; porém, na
sombra desta devoção não pode haver nenhum ressentimento escondido, nem uma
pequena esperança em provar, de alguma maneira, que se é superior ao objeto da
devoção.
O aquariano sente no mais íntimo de seu ser a presença de uma Nova Vida; porém, ele
está sempre atemorizado pelas implicações desta presença; porque ela poderia forçá-lo a
abrir mão de sua dependência das bases sociais. Poderia compeli-lo a ser verdadeiramente
um indivíduo, e a provar isto para si mesmo através de uma paz que nada tem de
emocional, que está enraizada apenas naquela "pequena voz" que ainda não passa de um
pressentimento e de uma perturbante promessa. E, na verdade, o aquariano não quer abrir
mão da dependência de sua base social e ancestral - exceto quando faz exibições teatrais
de "modernismo", que servem apenas para aumentar seu prestígio com os amigos. Além do
mais, o mergulho nas profundezas de sua personalidade é um risco amedrontador porque a
identidade individual, no que diz respeito à segurança, significa muito pouco para ele. O
ideal de ser uma pessoa segura de sua individualidade evoca, em geral, apenas uma
aprovação intelectual. Fundamentalmente, o aquariano tem tanto medo de ser ele mesmo,
independente de todos os suportes sociais e culturais, quanto o líder leonino teme ser
apenas um "ser social", sem a privilegiada posição pessoal de liderar aqueles com quem
esteja sendo "social".
Lincoln definiu o verdadeiro democrata como aquele que "se recusa a ser um senhor
de escravos". Mas o leonino quer ser o líder do seu grupo social, porque teme atuar
socialmente em outra posição e, acima de tudo, teme ser um igual entre iguais. O
aquariano típico pode atuar como um igual entre iguais, porque ele se sente à vontade na
sociedade; ele pode também usar livremente qualquer poder social que possua devido a
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tradições ancestrais e à permissão social. Mas ele realmente depende de um status social e
de um status legal (ou ficticiamente legal) para sentir que a sociedade necessita dele.
Precisa sentir que é um "homem do destino" para aqueles a quem vai liderar; enquanto
que o governante leonino se envaidece simplesmente com o fato de ser um governante,
porque ele quer governar, e governando sente que está sendo útil à sociedade. Um
aquariano pode renunciar sinceramente ao poder e, se necessário for, abdicar. O leonino só
tomará uma atitude destas se achar que, fazendo tão nobre gesto, vai ganhar mais prestígio
social do que mantendo-se num trono que lhe parece inseguro.
Quando a coletividade organizada de Capricórnio está próxima de ser uma sociedade
ideal, o aquariano emerge dela como representante de sua totalidade orgânica perfeita.
Nesse caso, ele se torna o plenipotenciário do grupo, ou a semente que, deixando o
organismo paterno realizado, representa a incorporação de todos os seus poderes vitais.
Em Aquário, a energia da semente de Cristo é liberada num novo solo virgem; esta semente
vai germinar, no devido momento, e se perderá como semente para que a nova planta
possa existir.
Desse mesmo modo, os grandes indivíduos que assimilaram em suas personalidades
os rumos mais progressistas da cultura europeia e vieram para o "Novo Mundo",
identificando-se com sua civilização e apresentando para a América os talentos de sua
sabedoria e personalidade europeias, agiram como seres humanos-sementes e,
simbolicamente falando, como verdadeiros "aquarianos". O Capricórnio ideal é a "Cidade
Branca" ou "White Lodge", cujo "aniversário" é celebrado no início de janeiro, no polo
oposto à data da Independência dos Estados Unidos; um símbolo realmente significativo. E
os "aquarianos" de Espírito são aqueles misteriosos Personagens que ciclicamente saem da
"Cidade Branca" - o Pleroma de Deus - para liberar as "Águas Vivas" da Nova Vida.
Daí o simbolismo aquariano do Aguadeiro, que traz no ombro uma "urna" de onde flui
um córrego de água para a Terra. Esta urna é símbolo do saco de sementes místico que
libera a substância de uma nova humanidade. Ela é também símbolo da nuvem de
tempestade carregada de chuvas abundantes que vão regar a plantação e liberar o raio -
que os antigos arianos divinizaram com o nome de Rudra. O raio não é somente uma força
destruidora, ele é o caminho para a precipitação no ar do precioso nitrogênio, necessário
para os processos vitais.
A energia sempre flui de um potencial mais alto para um potencial mais baixo, do já
realizado para o que está ainda incompleto ou o que aguarda. A força, em Aquário, talvez
possa ser, mais do que em qualquer outro signo fixo do Zodíaco, a Força de Deus. Por isso
alguns esperam que a Manifestação Divina para a "Era de Aquário" seja o mais poderoso
extravasamento do Espírito criativo. Talvez esse extravasamento já esteja inundando o
reino humano. Talvez o Ser Humano Arquetípico já tenha incorporado em carne e sangue, e
as mentes humanas estejam brevemente a contemplar a plenitude e a glória da Revelação,
que deverá concretizar-se através dos muitos que virão da "Cidade Branca" celestial,
servindo de semente para a nova humanidade.
Esta é a promessa de Aquário, cujas "águas vivas" fluem das alturas celestiais para
fecundar o reino humano, em sua totalidade, para o novo nascimento da Personalidade
para o nascimento do “Ser Humano em Plenitude" nos nossos filhos e nos filhos dos nossos
filhos.
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PEIXES
Com Peixes, alcançamos o último estágio da jornada do Sol pelo Zodíaco. Neste
estágio, a Força-do-Dia prepara-se para igualar-se em intensidade com a Força-da-Noite e
superá-la. A semente do Cristo, ativada durante o solstício de inverno nas profundezas
ocultas de um mundo totalmente dominado pelo comportamento social e pelo conceito do
Estado, se revela agora a tal ponto que tem que ser reconhecida pela sociedade que rui sob
o peso de suas próprias cristalizações. O antes poderoso império é agora atacado, de todos
os lados, por ondas de energia destrutiva, pela correnteza das invasões bárbaras. Novo
sangue flui nas velhas classes governantes, transformando-as totalmente. Os
"isolacionistas" orgulhosos são eliminados quando se negam a unir ao pico ascendente da
futura primavera, assim como os icebergs de inverno são condenados a mortes líquidas
pelas tempestades equinociais, que se enfurecem no período de Peixes.
Peixes é uma era de tempestades e de desintegração geral. Contudo, os sopros
piscianos do destino podem levar pessoas de visão e de coragem a descobrir diversos
"novos mundos", como podem também destruir ou sufocar os muitos que teimosamente
resistem a mudanças. Peixes é uma era de repolarização geralmente aguçada e violenta. É
uma era de purgação e de limpeza. A tradição fez do mês que precede o equinócio vernal
um período de abstensão e arrependimento. A partir da Quarta-feira de Cinzas, o devoto da
Nova Vida deve aprender a identificar-se voluntariamente com a morte de todas as
estruturas estabelecidas. Deve enfrentar a condição de casulo para o bem da futura
borboleta. Peixes é o Dilúvio mítico, é a era da dissolução universal. O ser humano deve
aceitar a dissolução das estruturas sob o insidioso poder de Netuno, regente de Peixes. Não
deve apegar-se a nenhuma estabilidade ou grandeza do passado. A "não-segurança" é a
única segurança possível. Ele precisa aprender a agir de acordo com a Força-do-Dia que
está crescente, e manter-se imóvel enquanto as estruturas construídas pela Força-da-Noite
vão-se arruinando à sua volta.
No signo oposto, Virgem, o indivíduo, que em Leão orgulhosamente liberou as
energias da sua personalidade, confronta-se com os resultados de tais liberações. Sua prole
precisa de atenções. Sua saúde talvez tenha sido afetada por excessos passionais, e seu
patrimônio pode ter sido prejudicado por especulações inúteis. Em Virgem, o indivíduo se
defronta com a necessidade de repolarizar sua atitude emocional e de aperfeiçoar sua
técnica de comportamento. Autocrítica, estudo, higiene e disciplina e um "mestre da
técnica" são, portanto, suas necessidades. Satisfazendo-as, ele começa a obter uma nova
perspectiva em relação aos relacionamentos humanos. Ele aprende a servir, a ter paciência,
a prestar atenção, a meditar e a criticar os impulsos mais básicos da sua personalidade. Se
não aprende voluntariamente, talvez venha a ser compelido, por uma doença ou servidão,
a abrir-se para a verdadeira vida dos relacionamentos humanos, e então tornar-se, em
Libra, um ser "social".
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Com Peixes, encontramos os ventos do destino virados para o ponto oposto da
bússola. Agora é o ser "social" que deve aprender a abrir mão de sua confortável, e até
mesmo trágica, confiança na estrutura da sociedade. Ele deve aprender a estar só e a
contar apenas com sua Voz interior. Deve estar pronto para "fechar contas" e enfrentar o
desconhecido com simples fé; deve retomar ao útero da natureza, deixando para trás as
belas miragens da vida civilizada de Aquário e preparar-se para a vida num reino maior,
para longas viagens a um mundo novo. Deve aprender a desaprender e a abrir mão
inclusive de seus ideais fixos e de suas posses. Deve aprender, como fazem os místicos, a
atravessar o maravilhoso círculo da "glória de Deus" e procurar, destemido, através das
trevas da consciência humana; a "pobreza de Deus" - esse estado escondido no silêncio e
no nada, de onde, porém, todas as coisas que têm forma e nome emanam na quietude do
Mistério supremo.
Em Virgem, a personalidade orgulhosa deve tornar-se aprendiz e servir a um mestre.
Em Peixes, o ser social que conta com máquinas e fórmulas - acumuladas por séculos de
cultura - para realizar suas tarefas diárias percebe que suas ligações com o progresso social
e o aprendizado intelectual não irão salvá-lo. Servir a um ideal social não tem sentido numa
crise de vida-ou-morte. O dever de Peixes é servir a Deus, servir ao que não pode ser
perturbado por nenhuma revolução, embora seja também a causa e a raison d'être de todas
as revoluções.
Transcendência, superação, destruição de ilusões e de falsas seguranças, rompimento
de laços sociais, embarque na grande aventura com total fé e na simplicidade de uma
existência despojada - todas estas coisas devem ser aprendidas em Peixes. Aqui o ser
humano está frente a frente consigo mesmo e com o Eu Maior, que ele chama Deus. Ele
pode recusar este confronto; pode apegar-se a cidades opressivas e decadentes, pode
abrigar-se com os refugiados e lastimar-se eternamente diante do Muro das Lamentações,
proporcionado por religiões moribundas e por "salvadores" sociais inflados. Mas, neste
caso, ele será utilizado, como estrume, para as semeações da primavera.
Renúncia e transcendência representam um tipo de crítica mental. A mente, nos
Signos que precedem os equinócios (Virgem e Peixes), é a crítica constante que corta as
cristalizações ou falácias do passado, com a intenção de limpar o campo para um novo tipo
de vida e de realização. É a mente que diz o que deve ser esquecido, podado, regenerado e
transcendido. Em Peixes, cabe eliminar as ilusões sociais, o idealismo exagerado, as noções
excêntricas, os fetiches revolucionários, o materialismo científico e as monstruosidades
civilizadas, que fervilham durante o período de Aquário. Aqui o ser humano se despoja de
suas vestimentas sociais e fica nu diante de seu Deus interior - isto é: diante do Cristo, a
responsabilidade do seu futuro Destino. Na verdade, ele deve despojar-se de algo mais
além das vestimentas sociais; pois os fatores sociais, agora que a Força-da-Noite míngua,
não estão apenas se tornando negativos, mas também subjetivos. O social passa a ser o
psíquico. Os sonhos sociais se transformam em fantasmas psíquicos; as frustrações sociais,
em complexos subconscientes.
Peixes, em seu aspecto negativo ou subjetivo, representa o reino do subconsciente
(Freud) ou o inconsciente pessoal (Jung). Este inconsciente pessoal é o produto final de
todas as falhas do indivíduo na adaptação no seu meio ambiente - da família até a
sociedade organizada, de Câncer até Capricórnio. Os conteúdos do inconsciente pessoal são
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negativos, porque foram produzidos por um derrotismo subjetivo que leva à autopiedade e
nutre os múltiplos medos que constituem a energia psíquica invertida. Os complexos são
medos cristalizados. Neles, a energia está "amarrada. em nós" e não circula mais. Devido a
eles, a poderosa substância da psique torna-se destrutiva, ou, pelo menos, distorcida. O
complexo é, às vezes, como um espelho côncavo ou convexo que deforma as imagens da
vida. É um astigmatismo psíquico. Outras vezes, o complexo é vingativo e canceroso: um
crescimento que engole a substância psíquico-mental da consciência e produz
esquizofrenias e os vários tipos de manias.
Em Peixes, estes complexos devem ser enfrentados. O confronto pode ser feito
através da compreensão, através da introspecção dirigida (análise psicológica com um
analista treinado) e através das muitas técnicas criadas por gurus orientais. Porém, na
maioria dos casos, ela implica não apenas um esforço individual, como, também, um
despertar coletivo, como acontece numa onda de fervor religioso. Isto é assim porque as
cristalizações com as quais temos que lidar não são causadas apenas por falhas do
indivíduo, mas principalmente pelas falaciosas e atrofiantes tradições da família, da religião
e da sociedade, que impõem à criança, desde seu nascimento, uma coleção de obstáculos,
geralmente ridículos (alguns porém inevitáveis e no todo construtivos), diante do fluxo
espontâneo e natural das suas energias.
Por isso é dito que os "pecados dos pais" permanecem durante sete gerações. Nossas
neuroses modernas podem ser também reportadas às portas da era vitoriana que, por sua
vez, meramente revelava as pressões e falácias impostas por séculos sobre a humanidade
cristã europeia, da qual apenas uma base aristocrática da sociedade manteve seus homens,
mulheres e crianças livres da contaminação. Tendo esta base desmoronado, o sistema
individualista da burguesia, exacerbado pela liberação de amplos poderes através da
tecnologia, libertou todos os monstros do subconsciente. Daí os nossos muitos complexos e
manias; como a Idade Média (herdeira da decadência dos Impérios Celta e Romano) que
teve seus súcubos e íncubos, seus demônios e suas bruxas.
O ser humano deve enfrentar não apenas seu inconsciente pessoal mas também o
inconsciente coletivo de sua raça e de sua cultura. O nascimento em Áries, significa que a
pessoa passou por este ilusório e obscuro reino de memórias raciais, chamado pelos
ocultistas de "mundo astral" ou "luz astral mais baixa". Para a personalidade madura, o
renascimento em Áries significa ter enfrentado o "Guardião do Umbral" (cujas
aterrorizações estão descritas no famoso romance Zanoni, de Bulwer Lytton) e ter vencido o
combate. Num sentido positivo, cada nascimento representa a assimilação do sangue da
mãe. O futuro sempre alimenta-se da substância do passado. Este passado é Maria, a
eterna mãe, que significa etimologicamente, o "mar", de onde brota a vida, seja para o
nascimento, seja para o renascimento.
Nada de vitalmente novo é produzido que não surja do "mar", e o "mar" é Peixes,
regido por Netuno. O tridente de Netuno tem três pontas e o hieróglifo zodiacal de Peixes
tem também três linhas. Por esta razão, o simbolismo do Evangelho fala das três Marias:
Maria, a Mãe; Maria, a portadora do amor; e Maria, a serva, o nascimento, o renascimento
e a vida diária numa atividade consagrada. Em Peixes, o ser humano tem que passar pelo
Eterno Feminino. O eterno Casulo, que é como o nada, embora contenha todo o potencial
para a renovação. É o reino da metamorfose e do glamour psíquico, é o mundo do êxtase e
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da eterna névoa; a abertura para Deus e a mediunidade para os fantasmas de um passado
decadente; é o sacrifício do mártir e a terrível Inquisição que alimenta frustrações sádicas
sob a máscara de um trabalho religioso.
Peixes não deve ser considerado apenas um signo de abertura social ou mística, com
um significado subjacente de passividade. Em suas profundezas marítimas há violência e
tempestade. O corte, ou separação, é feito pela espada. O fanatismo é impiedoso e o retiro
do monge no deserto, onde, na solidão, pode ver melhor o seu passado e todas as
memórias das raças humanas, é uma prova de coragem e de força elástica. Por esta razão,
muitos generais e heróis trouxeram em suas individualidades a marca de Peixes. Eles
sabiam como segurar e como desdobrar suas energias, como ser impiedosos consigo
mesmos e com os outros. Peixes é as profundezas acionadas e não há nada mais
devastador do que uma onda violenta causada por um terremoto ou por um furacão
nascido do mar.
Em Peixes existe sempre algo de finalização, mas também algo de expectativa. Mesmo
a delicadeza tem matizes de mistério. Há transições escondidas por todos os cantos da
existência. Há geralmente indiferença pessoal e uma distante nobreza, como se as
situações fossem muito grandes ou por demais absolutas para envolverem a mera
personalidade. Há uma sensação de ser possuído pela inquietação eterna, na qual todas as
coisas firmes parecem temporárias e inúteis. E se esta disposição prevalece na
personalidade, um tipo fatal de introversão vagarosamente esvazia a consciência de seus
conteúdos vitais. Os seres humanos retornam então para o mundo fantasmagórico do
inconsciente - talvez como os Estoicos romanos, que viviam numa nobre indiferença
enquanto seu mundo era destruído; talvez como os sonhadores que traduzem todas as
memórias em fantasias; e, se temerosos das fantasias psíquicas, como sonhadores que
constroem sistemas intelectuais rígidos e álgebras inúteis para emoldurar seu vazio com
elegantes arabescos.
Em seu aspecto mais alto e mais espiritual, Peixes se revela como pura compaixão.
Vemos então o Grande Personagem, cujo ser transborda em plenitude, pois absorveu a
totalidade da experiência de sua raça. Nesta plenitude, a sociedade está espelhada e
dotada do mais completo significado. E como não se pode ir mais além, exceto se elevar-se
a Nirvanas transcendentes e sem forma, é-lhe apresentada a grande escolha: uma
satisfação solitária ou a compaixão. O primeiro é a meta do "egoísmo espiritual", procurado
sob a grande ilusão de que pode haver uma salvação individual. Porém o Ser Compassivo
compreende que, realmente e verdadeiramente, não pode haver salvação individual.
Pessoa alguma pode despertar para uma Realidade vital e significativa, se não levar consigo
o passado de onde veio. O indivíduo só pode ser "salvo" no dia em que toda a humanidade
tiver alcançado a plenitude. O isolacionismo é o único pecado que a vida não pode perdoar,
porque aquele que, por conveniência esquece os degraus que o ajudaram a atingir o pico,
deixa uma marca na vida que nada nem ninguém poderá erradicar, a não ser ele mesmo.
A compaixão é a Lei absoluta de um universo onde há ordem e harmonia. A compaixão
é o coração da realidade, porque a realidade está baseada na experiência da totalidade
orgânica, e aquele que vivencia verdadeiramente todas as coisas como totalidades
orgânicas, não pode deixar de considerar-se parte de algum Todo Maior - por maior que
tenha sido a totalidade por ele alcançada. Em Peixes, portanto, o "Mensageiro da Cidade
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Branca" encontra os seres humanos, aos quais vai ensinar e fecundar com os Felizes Laços
da Nova Vida. Esta é a sua missão. Se ele se retrair com desânimo diante da imagem de
decadência e materialismo que uma civilização em desintegração apresenta, irá contra o
seu verdadeiro destino.
O dever de Peixes é não retrair-se diante de nada, por mais baixo e horrível que seja,
baseando-se em sua própria pureza e excelência; é mover-se em direção às planícies
comuns, com os braços e a alma imbuídos do significado e da glória das colinas "de onde
vem a salvação". O "Cedro do Líbano" deve voluntariamente deixar-se cortar para que
casas sejam construídas para os desabrigados, embarcações possam navegar para terras de
riqueza, e "Templos de Salomão" possam se tornar de fato a moradia de Deus entre os
seres humanos.
Em Peixes, a "Cidade Branca", que está remota e distante, pode ser erguida, como
realidade e com seu significado pleno, entre os seres humanos. Este é o fim do ciclo que
traz em suas profundezas vitais as origens da Nova Vida. A Força-do-Dia e a Força-da-Noite
atingem mais uma vez o ponto de equilíbrio. O que vai ser "iniciado" agora não é mais o ser
individual, como foi no início de Libra; e sim a Humanidade, como uma totalidade orgânica.
E esta é a última bênção do ciclo que se fecha, a eterna promessa de toda a consumação
cíclica: que a constante dualidade da vida, sempre em mutação, possa ser integrada em
totalidades orgânicas cada vez mais abrangentes, através do comportamento criativo de
Personalidades cada vez mais compassivas e mais profundamente integradas; que o Dia e a
Noite possam ser concebidas como dois polos complementares da vida e da consciência,
em momentos de percepção tão lúcidos e tão ricos de conteúdos universais que estes
momentos iluminados permanecem como faróis para servirem de guia e prazer para
investidas ainda maiores na vida. Esta é a promessa do renascimento eterno que não deixa
nada sem redenção e não exclui ninguém; a promessa da eterna e infinita Presença de Deus
no ser humano que acolhe plenamente a integração de tudo o que o levou à sua presente
consumação.neste ser é realizada a síntese de passado e futuro, na plenitude e glória dos
momentos que são o "eterno Agora".
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CAPÍTULO 3
85
padrões deliberados para suas manifestações na personalidade humana é uma marca de
subordinação a estes poderes que se desejam canalizar e amestrar. As energias que forem
controladas em uma direção por determinado tempo tenderão sempre a retornar com
força ainda maior em outra direção, num outro momento. E aquele que, por uma mera
determinação consciente, se tornar um poema de pura luz, vai liberar forças que, na
direção oposta, congregarão a seu redor uma manifestação de igualmente "pura"
escuridão. O dualismo será intensificado e não resolvido. A intensificação pode ser uma
fase necessária para o alcance global da vida espiritual - pois diz-se que o estado "morno"
representa o mais baixo da existência -, porém a qualidade de uma vida "condicionada pelo
Espírito" não é verdadeiramente alcançada pela enfatização máxima de uma das
polaridades da vida. Ela não é produzida pelo triunfo das características de uma das duas
forças, dando a estas características a qualificação de "bom".
O primeiro requisito a ser cumprido por uma pessoa que queira alcançar o estado de
uma atividade "condicionada pelo Espírito" é incluir e aceitar, com consciência e
compreensão, todas as manifestações da Força-do-Dia e da Força-da-Noite - das
polaridades, individual e coletiva, da vida. Mantendo-se constantemente esta atitude,
chega um momento em que as duas forças, periodicamente crescendo e minguando,
atingem um ponto de equilíbrio dentro do seu ciclo de vida. Nesse momento, a pessoa que
vinha sendo polarizada, a cada instante, pela força então dominante encontra-se
igualmente influenciada pelas duas forças. A atração de uma força neutraliza a da outra. A
pessoa, em sua totalidade, se tranquiliza. Nesse momento, inacreditavelmente breve, de
paz e "silêncio", o todo pode expressar-se plenamente, sem estar sendo controlado pela
natureza de uma das duas forças. Neste instante, é revelada a totalidade de tudo o que
ocorre durante o ciclo numa síntese de vida que transcende as qualidades produzidas pela
preponderância, sempre em mutação, da Força-do-Dia ou da Força-da-Noite. A natureza é
transcendida. O Espírito se revela.
O Espírito é a totalidade da atividade cíclica. Esta totalidade é imparcial e constante
em sua qualidade de vida porque contém as energias complementares num estado de
equilíbrio. Esse "estado de equilíbrio" ocorre, no ciclo anual da Força-do-Dia e da Força-da-
Noite, durante os equinócios. Portanto, estes dois pontos do ciclo anual são os símbolos
arquetípicos dos momentos que, em qualquer ciclo vital, o Espírito pode ser revelado.
Em qualquer ciclo vital, seja ele maior ou menor, estes dois pontos equinociais são os
"portais da Iniciação". Marcam a entrada no reino da vida "condicionada pelo Espírito".
Esse reino pode ser penetrado pelo lado da particularizante Força-do-Dia ou pelo lado da
universalizante Força-da-Noite. No entanto, no equinócio da primavera, a vivência do
Espírito não pode ser normalmente mantida na consciência, pois só a estrutura da
personalidade, que ainda não está formada, poderia apreendê-la. Já no equinócio do
outono, é a personalidade individual que toma o passo iniciático, numa auto-redenção
consciente à Força-da-Noite. E, em compensação a esta redenção, ela é capaz de reter a
memória estrutural do evento; pode ganhar a imortalidade pessoal no Espírito e, daí para a
frente, manifestar-se como um ser "condicionado pelo Espírito".
A primeira condição necessária para alguém estar preparado para este confronto
equinocial é a compreensão da natureza cíclica de todas as experiências. Nenhuma
experiência pode ter significado espiritual a não ser que esteja relacionada à totalidade do
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ciclo no qual ocorre. A "relação" pode ser instintiva ou intuitiva, abaixo ou acima do nível
de consciência normal. Mas como toda experiência começa no reino da mutação, e,
portanto, no reino do tempo, para que haja a espiritualização de uma experiência é
necessário que todo o ciclo seja inteiramente visto e sentido nessa experiência particular. A
totalidade do ciclo deve ser concebida durante a experiência "equinocial" - que pode
tornar-se então foco para a expressão de todo o ciclo.
Nos pontos "equinociais" de qualquer ciclo, as duas forças - cuja interação é a
substância do ciclo - estão equilibradas e neutralizadas. Portanto já a totalidade do ciclo
pode tornar-se ativa. Esta atividade é essencialmente diferente da atividade condicionada
pela preponderância da Força-do-Dia ou da Força-da-Noite, do individual ou do coletivo. Ela
é uma atividade "condicionada pelo Espírito": uma atividade criativa. O poder criativo do
Espírito se irradia em potencial do centro de equilíbrio das duas forças. É um poder que
torna novas todas as coisas. É a originalidade pura. É o elemento incalculável que perturba
previsões baseadas em sequências de causa e efeito. Este poder, embora seja liberado num
determinado momento do ciclo, produz uma atividade que não é condicionada por
casualidade ou por relação de tempo. É uma atividade que cria o tempo e inicia uma nova
sequência causal. É uma atividade livre.
O que está implícito no texto precedente nada mais é que uma técnica para nos
familiarizarmos com o ritmo das manifestações do Espírito criativo; e também para nos
prepararmos conscientemente para encontrar estes momentos de equilíbrio, durante os
quais está presente a possibilidade de uma atividade "condicionada pelo Espírito". Uma
possibilidade, não uma certeza. Momentos de equilíbrio instável e dinâmico vêm de acordo
com a lei da mutação cíclica de polaridades; porém estes momentos não perduram. E, caso
a pessoa não esteja com sua consciência despertada, não haverá para ela nenhuma
experiência de atividade "condicionada pelo Espírito". Os "portais" se abrem, mas aquele
que adormece enquanto passa em frente aos portais não vivenda a visão que eles revelam;
pois para vivenciar é necessário certo tipo de consciência numa pessoa mais ou menos
individualizada.
O Espírito pode agir - e age - haja consciência ou não. Mas onde ainda não existe uma
estrutura de personalidade formada para vivenciar o Espírito conscientemente, sua
atividade se manifesta na escuridão do reino das Raízes, onde a luz do sol não alcança. O
Espírito se manifesta então através dos instintos, através dos canais de expressão direta,
porém, inconscientes - e este é, simbolicamente, o equinócio da primavera, Áries. Por outro
lado, onde uma personalidade formada e consciente já foi formada (através do processo
simbólico dos seis meses que vão de Áries ao final de Virgem), a atividade criativa do
Espírito manifesta-se em termos de realizações conscientes dentro do organismo humano
total e receptivo. Esta atividade libera, então, Significado. Ela se manifesta, simbolicamente
falando, como Semente no equinócio do outono - libra.
A função mais elevada da astrologia, conhecida por místicos de todas as idades e
raças, é revelar para a personalidade em evolução os momentos-Sementes de seu ciclo de
experiência: os momentos equinociais durante os quais o Espírito pode agir dentro da alma
humana em termos de novos impulsos cósmicos ou de significado criativo. Estes momentos
são revelados de inúmeras maneiras. Num sentido humano universal, eles são os
momentos cruciais das estações do ano, quando o Sol, concretamente, atravessa os portais
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de Áries e de Libra. Nestes momentos, o todo da natureza - terrestre e humana - recebe
uma Visitação do Espírito criativo. Estes são os dias de potencialidade máxima - para
nascimento ou para renascimento, para liberações emocionais ou para oferendas
individuais consagradas à comunidade, para a construção ou para a transfiguração das
formas da nossa experiência humana. Estas aberturas espirituais eram celebradas por
rituais nas antigas civilizações, que viviam próximas do pulsar da vida das estações.
Existem, porém, outros tipos de ciclos astrológicos que podem revelar-nos a existência
de momentos semelhantes de liberação do Espírito; ciclos produzidos pelos movimentos
periódicos de dois corpos celestes em relação a quem vive sua experiência na Terra. Destes
ciclos, o principal é o ciclo lunar. Este ciclo está relacionado à sequência regular de Luas
Novas e Luas Cheias. Neste ciclo, dois fatores - Sol e Lua - são também vistos em sua
interação periódica e sempre em mutação. Quatro momentos básicos sobressaem como os
pontos culminantes deste ciclo; estes pontos são as quatro fases da Lua.
No caso destes ciclos, o que é medido é o grau de relacionamento dos dois corpos em
movimento. Este relacionamento, com referência ao observado na Terra, tem um valor
máximo na Lua Nova e na Lua Cheia, e um valor menor no Quarto Crescente e no Quarto
Minguante. Resumindo, a Lua Nova (o ponto de conjunção) corresponde ao equinócio da
primavera; e a Lua Cheia (o ponto de oposição), ao equinócio de outono - porque os
equinócios são também os momentos do ciclo anual nos quais a Força-do-Dia e a Força-da-
Noite estão mais proximamente associadas dentro da experiência humana. A Lua Nova é,
portanto, o ponto onde o Espírito criativo é liberado como instinto ou energia de
construção de forma. E, na Lua Cheia, o ser humano pode atingir a consciência máxima do
significado das experiências da vida. Por isso, este é o período consagrado ao Buda em
meditação.
Sempre que o movimento de dois astros é considerado em relação a um observador
na Terra, podemos definir um ciclo semelhante ao ciclo lunar. Os quatro momentos
culminantes ou "cruciais" do ciclo são os períodos de conjunção, oposição e quadraturas.
Aqui, mais uma vez, a conjunção é o ponto-Raiz, no qual o novo impulso cíclico é liberado, e
a oposição é o ponto-Semente, no qual o significado do relacionamento cíclico pode ser
alcançado pela consciência ativamente preparada para receber a iluminação do Espírito.
Estes ciclos de relacionamento planetário são especialmente significativos quando os
dois planetas associados são "polaridades opostas". Os pares de opostos planetários são:
Marte (positivo) e Vênus (negativo), Júpiter e Mercúrio, Saturno e Lua - e, ao menos num
sentido, Urano e o Sol. Portanto, sempre que Marte e Vênus estão em oposição no céu, as
pessoas devem procurar aprofundar o significado de sua natureza emocional. Quando a Lua
está em oposição a Saturno, a cada mês, o momento é propício para um esforço consciente
visando à liberação do Karma (sequência causal) de acontecimentos passados. Nos
momentos de conjunção, todo o organismo deve estar alinhado para receber um novo
impulso de ação. Portanto, uma conjunção de Júpiter e Mercúrio é um ótimo momento
para estabelecer-se uma nova base de atividade mental.
Estes ciclos têm efeito na vida de todos os seres humanos. Além deles, podem ser
analisados também ciclos relacionados às "posições progredidas" dos planetas num mapa
individual. O mesmo significado é dado a estes ciclos, porém, de uma forma estritamente
pessoal. Por exemplo: as oposições da Lua progredida com o Saturno progredido (ou natal)
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são indicações muito importantes de períodos na vida da pessoa, em que ela pode sair do
"ciclo de necessidade". De uma forma menos definida, os ciclos de dois planetas quaisquer
podem ser também considerados; pois onde quer que haja oscilação periódica e ritmo,
onde quer que o pulsar da vida seja sentido, haverá momentos, dentro do ritmo desta
alternação cíclica de ênfases positivas e negativas, em que será alcançado um equilíbrio
instável entre positivo e negativo. Estes são os momentos da liberação d'Aquilo que não só
transcende a eterna interação dos opostos como também transcende os domínios do
tempo e da mutação.
No entanto, esta transcendência não é absoluta. Não postulamos aqui um eterno
reino do Espírito, completamente distinto do reino das mutações cíclicas. O Espírito é
transcendente apenas no sentido de que a totalidade é transcendente à natureza das
partes deste todo. Onde quer que haja mutação cíclica, apenas as partes mudam. A
totalidade do todo é constante - no que poderíamos chamar de outra dimensão de vida. É
apenas no reino das partes que ocorre a interação cíclica do "individual" e "coletivo".
A mutação ocorre dentro do todo. Há momentos em que a força da individualização
(ou personalização) puxa cada parte do todo para longe das outras e tende a dar a cada
uma delas a característica de um todo - uma característica que, obviamente, nunca será
totalmente adquirida. E há momentos em que a força de coletivização (ou de integração-
grupal) une todas as partes, enfatizando assim, em cada uma, o sentido de sua igualdade de
existência e também a vontade de sacrificar suas vidas em benefício do todo. Mas existem
também dois momentos em todos os ciclos - por menor que seja o ciclo - onde as duas
forças se igualam.
Na maioria dos casos, nada acontece quando este estado de igualdade ocorre, pois o
equilíbrio alcançado dura apenas uma fração de segundo e o ímpeto das duas forças leva-as
para além do ponto de equilíbrio. Porém, em poucas ocasiões, uma estrutura de
consciência, já previamente formada, capta o flash que é liberado no instante exato do
equilíbrio. Neste flash a totalidade age sobre a parte que já tinha a estrutura de consciência
necessária pronta para servir como base para a ação da totalidade. Esta ação é a
manifestação do Espírito. É o fator criativo.
O individual e o coletivo estão em constante interação no reino das partes. E essa
interação produz um tipo de atividade, no qual existe inevitabilidade e destino compulsivo,
devido à sequencia causal de ação e reação. Entretanto, na atividade em que a totalidade
do todo se manifesta como Espírito criativo, há imprevisibilidade e originalidade; e dela flui
um sentido de liberdade.
Esta atividade criativa do Espírito se manifesta em todo ser humano que tenha
construído um instrumental através do qual ela possa manifestar-se. E ela se manifesta
através de uma pessoa, embora não pertença a esta pessoa. Sua origem é a totalidade
deste todo, no qual os organismos humanos "vivem e têm suas vidas"; este todo é a
Humanidade. Todo ser humano movimenta-se dentro da esfera da Humanidade; em parte
como um exemplar de traços genéricos e coletivamente humanos, e em parte como uma
pessoa que luta pelo estado de uma personalidade individualizada. As correntes
complementares de individualismo e coletivismo estão sempre influenciando as miríades
de seres humanos que, tanto em suas origens-Raízes como em suas uniões-Sementes,
constituem o "todo maior": a Humanidade. E a totalidade desse todo é o "Ser Humano".
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Onde quer que o pulsar da vida seja sentido, há desequilíbrio, conflito, tensão e a
experiência do sofrimento. Existem, porém aqueles que se tornaram, através de seus
próprios esforços, "construtores de personalidade" e, através de sua compreensão do ritmo
cíclico, veículos para a ação criativa do "Ser Humano", pois souberam aproveitar os
momentos de equilíbrio cíclico, porque estavam acordados e preparados quando os
portões equinociais se abriram - eles se identificaram então com o "Ser Humano".
Assim como existem ciclos que levam milhões de anos para sua complementação,
existem também ciclos que duram apenas segundos de tempo e até muito menos que um
segundo. Para quem pode sentir o ritmo desses ciclos infinitesimalmente pequenos, há
sempre e eternamente equinócios. Nele, e através dele, o Espírito é liberado como uma
corrente elétrica alternativa, que é Raiz e Semente - que constrói universos de forma e
libera significados conscientes, de onde, mais uma vez, deverão nascer novas formas. Ele é
Raiz e Semente, e tão rapidamente ambos, que o tempo não existe mais. Ele se transforma
de uma só vez nos dois equinócios. Torna-se de uma só vez todo o Zodíaco. Ele está livre. A
totalidade do Todo está sempre criando através deles num eterno ato de Encarnação.
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