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DANE RUDHYAR

RITMO DO ZODÍACO
- O PULSAR DA VIDA

Tradução:
Adriana Figueiredo

Alhambra
1985
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Título do original inglês:
Astrological Signs The Pulse of Life
Produção gráfica e capa: Maria Luíza Campelo

Tipo Editor Ltda. Editorial Alhambra


Rua das Marrecas, 36/701 Rio de Janeiro - RJ
CEP 20031 Tel.: 240-1650
Rio de Janeiro, 1985 - 1986

SUMÁRIO
PREFÁCIO 4
APRESENTAÇÃO 6
INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1
O ZODIACO COMO UM PROCESSO DINÂMICO 11
Dois enfoques para a vida 14
A natureza do Zodíaco 18
A Força-do-Dia e a Força-da-Noite 23

CAPÍTULO 2
AS DOZE FASES DA EXPERIÊNCIA HUMANA
Áries 26
Touro 31
Gêmeos 36
Câncer 41
Leão 45
Virgem 50
Libra 56
Escorpião 60
Sagitário 65
Capricórnio 70
Aquário 75
Peixes 80

CAPÍTULO 3
A LIBERAÇÃO CRIATIVA DO ESPÍRITO 85

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PREFÁCIO

Veio de Adriana Figueiredo o pedido para que eu prefaciasse esta tradução da obra de
Dane Rudhyar, no Brasil.
Tarefa difícil e prazerosa ao mesmo tempo. Primeiro porque falar sobre Dane Rudhyar
é ousar, afinal ele é um dos astrólogos de maior postura e respeitabilidade deste século.
Segundo, pela alegria de ver traduzido o Ritmo do Zodíaco para o público brasileiro ávido de
enriquecer-se com a Astrologia, riqueza que nos foi legada por povos da Antiguidade -
sumerianos, incas, astecas, hindus, chineses, egípcios, gregos etc. -, época em que o pensar
filosófico, matemático, geométrico e artístico faziam parte de um todo universal.
Neste livro, Rudhyar aborda cada signo com a largueza dos homens que refletem e
bebem na fonte da vida.
Acompanhei Adriana Figueiredo, estudiosa em Astrologia, na tarefa de preocupar-se
em ser fiel às ideias de seu amigo e mestre. Adriana manteve na tradução o clima do autor,
filtrando suas percepções sensíveis com esmerada atenção.
Não é fácil traduzir obra repleta de carga filosófica, poética e psicológica apreendida
num conceito de totalidade.
Os editores da Alhambra ganham muito em ter uma conhecedora do assunto para
traduzir trabalho tecido em linguagem simbólica e expressões específicas como é o saber
astrológico.
A Astrologia é um processo de autoconhecimento e de transformação. Processo de
depuração alquímica em que as polaridades ativas e luminosas se complementam às
receptivas e sombrias. Exercício de elaboração dos "metais" interiores. Elaboração pessoal
e essencial na obra da criação - tentativa de libertar o ser humano das tramas da fatalidade
e do determinismo, conduzindo-o a níveis de consciência mais elevados.
Neste conceito de cosmicidade, temos um pensar convergente. Dane Rudhyar ocupou
até à sua morte, em 1985, um espaço dignificante e altamente qualificado por sua postura,
concebendo a natureza humana como um todo, base essencial no processo de
autoconhecimento e ponto de partida para o trabalho de depuração.
Rudhyar convida a humanidade, homens e mulheres, à saída para planos mais altos e
transcendentes. Toda a sua obra é uma constante preocupação em formar a pessoa
humana para uma compreensão da totalidade.
Ele consegue interligar o pensar oriental e com o ocidental por ser um autor universal.
Ele fala em sua obra da tentativa de integração e totalidade enriquecidas pelas forças
dinâmicas e interdependentes que são os elementos Fogo, Terra, Ar e Água. Quaternidade
que compõe o próprio corpo humano em constante processo de transformação, e para a
evolução, em todos os níveis.
Por ser a Astrologia uma linguagem simbólica, os planetas que a compõem exercem
funções de caráter genérico e não específico. Dane Rudhyar deixa isso muito claro no
conjunto de seu pensamento. O Sol poderá simbolizar uma infinidade de leituras - a
consciência, o dia, o masculino, a vitalidade, o prazer, o autoritarismo, prepotência,
asperezas e alegrias do coração, assim como o ódio e o amor à vida. ,
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O simbolismo astrológico, com as características gerais dos signos, nos possibilita uma
tomada de consciência de nossa natureza íntima em que Eros e Psique se confrontam para
a interação do si mesmo, isto é, de nossa unicidade.
Dane Rudhyar, em Ritmo do Zodíaco; nos convida à visão desta unicidade.

Martha Pires Ferreira


Rio, 1985

Martha é astróloga, filósofa e artista plástica

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APRESENTAÇÃO

Conheci Dane Rudhyar pessoalmente em 1979, em San Francisco, num congresso de


astrologia - Astrology and the Healing Arts. Nesta época, eu já estudava astrologia e tinha
grande interesse e admiração pelo seu trabalho, que conhecia através de alguns de seus
livros. Eu ficara especialmente sensibilizada pela forma de ele usar a astrologia como um
meio de compreender a vida como um processo cíclico e de constante transforção - usando-
se o mapa natal para as pessoas se conscientizarem melhor dos ciclos que estão
constantemente se manifestando e interpenetrando na vida de cada um, sempre como um
processo de transformação e de harmonia.
Quando me encontrei com Rudhyar - fui falar com ele depois de sua palestra -, me deu
a impressão de já o conhecer há muitos anos. Ele foi muito caloroso e afetivo. Eu me
apresentei e disse que gostava muito do trabalho dele. Ele me disse que seria bom se seus
livros fossem traduzidos e publicados também no Brasil. Eu concordei e ele me perguntou
então se eu não queria traduzi-los.
Foi assim que começou o processo de produção deste livro para o Brasil.
Dane Rudhyar nasceu em 23 de março de 1895, em Paris, França.
Em 1916 foi para os Estados Unidos - país que escolheu para viver. Nesta época ele se
dedicava à música, compunha música de vanguarda. No ano seguinte passou a estudar
avidamente a filosofia oriental. Em 1920 passou a interessar-se pela astrologia,
combinando este interesse com os estudos de filosofia oriental e da psicologia de Carl G.
Jung.
Rudhyar desenvolveu a Astrologia Humanista, onde se busca a "integração da
personalidade" - ou seja, cada um ser uma pessoa por inteiro, uma totalidade, através da
harmonia dos vários aspectos e funções representados pelos símbolos (planetas, casas,
signos zodiacais etc.) do mapa natal.
Mais tarde, ampliando o enfoque humanista para uma visão mais transpessoal, a
consagração ao Todo Maior através de uma ação transformadora e objetiva, passa a ser
mais importante do que a satisfação e a plenitude apenas no nível da personalidade.
Dane Rudhyar, além de astrólogo, era filósofo, poeta, músico, romancista e pintor.
Inspirou vários astrólogos, alguns bastante conhecidos (como Stephen Arroyo, Michael
Meyer, Alexander Ruperti, Liz Greene, Donna Cunningham, Alan Oken) e também autores
de diversos livros, alguns já traduzidos para a língua portuguesa.
Sem dúvida um dos maiores astrólogos do nosso tempo, Rudhyar morreu,
recentemente, dia 13 de setembro de 1985, em sua casa em San Francisco, aos 90 anos de
idade. Uma das últimas coisas que ele deixou dito* foi que talvez depois de sua morte os
pensamentos e ideias que ele trouxe para foco através de sua personalidade pudessem ser
melhor disseminados e absorvidos.
Fico feliz de finalmente o público brasileiro poder conhecer um pouco mais da obra de
Rudhyar em nossa língua. Procurei fazer uma tradução o mais fiel possível ao original,
mantendo seu espírito e sua linguagem.

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O título original do livro, Pulse of Life , foi modificado visando uma melhor definição do
seu conteúdo, por própria sugestão do autor, passando assim para Ritmo do Zodíaco.
Aqui está portanto uma das primeiras, que eu espero seja, de uma série de
publicações da obra de Dane Rudhyar na nossa língua.

Adriana Figueiredo
Rio, 1985

A tradutora é astróloga e atriz de teatro, cinema e televisão.

*No encerramento da conferência do Rudhyar Institute for Transpcrsonal Activity - RITA -


em março de 1985, quando comemorava seu 90º aniversário.

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INTRODUÇÃO

É importante que o leitor brasileiro compreenda que a interpretação que dou ao


Zodíaco e ao significado básico dos signos zodiacais resulta da atividade das estações do
ano no Hemisfério Norte. Quando se vivencia a primavera nos Estados Unidos da América e
na Europa, é outono ao sul do Equador e, portanto na maior parte do Brasil. Este fato é
indiscutível e traz problemas de interpretação astrológica difíceis de serem resolvidos.
Inevitavelmente levantam-se questões sobre o que o Zodíaco simboliza na astrologia e,
mais amplamente, qual o fundamento e o significado essencial dessa astrologia usada hoje
nos países que aceitaram a cultura euro-asiática como base para seus valores ético-sociais e
para seu enfoque consciente da vida.
Podemos abordar a astrologia sob dois pontos de vista. Para entendermos essas duas
abordagens, devemos primeiro compreender que a astrologia deriva do fato - comum a
todas as sociedades humanas que conhecemos - de que mudanças periódicas nitidamente
observadas na natureza correspondem a mudanças periódicas nas posições do Sol, da Lua e
das estrelas. Os corpos celestes estão constante e periodicamente em movimentos que
podem ser calculados. Para o astrólogo, os movimentos regulares e rítmicos dos corpos
celestes correspondem às mudanças que os seres humanos sofrem em suas próprias vidas.
O problema é como definir a palavra correspondência. Para o cientista, colocar uma
chaleira de água ao fogo e observar sua fervura constitui uma sequencia de dois eventos
causalmente relacionados pelas leis físicas. O calor inevitavelmente "causa" a fervura da
água. Mas o resultado não é previsível quando duas pessoas assistem a uma cerimônia
imponente e tradicional, seja ela religiosa ou política - uma delas pode sentir-se fortemente
tocada, disso resultando profunda mudança de vida; já a outra, frente à mesma cerimônia,
pode entediar-se, pois as palavras e os símbolos usados não representam nada para sua
consciência, não lhe despertando portanto resposta alguma.
No caso da aplicação de calor na água, nós lidamos com o que chamamos fatos. A
grande maioria das pessoas concordam hoje que palavras, imagens e movimentos usados
num ritual religioso -- ou mesmo numa cerimônia política ou militar - são símbolos. Estes
símbolos têm significado e, na maioria dos casos, exercem poder apenas sobre aquelas
pessoas nascidas e educadas na mesma cultura e/ou região onde estes símbolos são
tradicionalmente empregados. Eles têm significado e poder emocionais, porque, de alguma
forma, se tornaram canais através dos quais a "psique" coletiva de um vasto grupo de seres
humanos - mais até de seus mortos que de seus vivos - é direcionada e levada a agir. Melhor
ainda, estes símbolos são como lentes que trazem para foco nítido os sentimentos, os
pensamentos e especialmente as experiências de muitas gerações de membros de uma
comunidade, tribo, ou instituição religiosa, do mesmo modo que uma lente trás para foco as
radiações difusas do Sol.
Cada vez que exista correspondência entre dois grupos de fatores, estes estão de
alguma forma conectados. A ciência moderna aceita que conexões existam apenas pela
intermediação de forças fisicamente definíveis e mensuráveis ou através de algum tipo de
partículas atômicas ou subatômicas. Mas quando estamos lidando com o poder que os
símbolos exercem sobre a consciência e as emoções das pessoas, a conexão - seja por
8
exemplo, de uma cruz com o sentimento de um ser divino sofrendo - tem um poder psíquico
ou psicológico. Receber um sacramento pode levar um fervoroso católico a uma experiência
de intensa exaltação, mas poucas pessoas acreditam que uma energia fisicamente
determinável e calculável seja transmitida pelas palavras e atos do padre que pratica o
sacramento. O que mais provavelmente acontece é que o ser psíquico da pessoa que recebe
este sacramento - ou seja, a natureza dos sentimentos, a imaginação, a memória integrada
do que lhe foi ensinado e aprendido desde o nascimento - repercute nas implicações dos
atos simbólicos nos quais a pessoa participa. As crenças básicas, tradicionais em toda a
comunidade, sedimentadas desde muitos séculos, são postas em foco no sacramento. Cada
palavra pode se tornar uma lente capaz de focalizar esta energia psíquica, cultural-religiosa
e coletiva.
Se tentarmos então definir os dois pontos-de-vista mencionados acima, diremos que,
sob um deles, a astrologia é o estudo da conexão entre os movimentos dos corpos celestes e
dos acontecimentos que ocorrem na biosfera da Terra e particularmente na vida dos seres
humanos.
Sob o outro ponto de vista, a astrologia lida com um grupo complexo-dinâmico de
símbolos formados da experiência comum da humanidade, conforme os seres humanos
buscam entender, avaliar e facilitar as incessantes mudanças com as quais eles são
confrontados. Quanto melhor e mais objetivamente estas mudanças forem compreendidas,
mais segura e bem sucedida será a vida humana, tanto no nível individual como no coletivo.
Estas duas abordagens da astrologia podem ser chamadas de "empírica" e "simbólica':
Cada abordagem vê o Zodíaco sob luz diferente. Neste livro, como em todos meus
trabalhos, a abordagem é simbólica, e enfatiza o poder da cultura sobre o indivíduo e sobre
sua maneira de pensar, sentir e se comportar.
Quando falo do signo de Áries como incorporado da qualidade da primavera - ou seja,
o renascimento da vida e da vegetação depois do inverno - estou falando em termos de
símbolos carregados do poder psíquico de incontáveis gerações de seres humanos que
viveram no Hemisfério Norte, onde a astrologia usada na Ásia e na Europa nasceu como um
sistema de símbolos baseados nas experiências típicas dos povos norte-hemisféricos.
A astrologia do mundo ocidental é "norte-hemisférica", Ela interpreta as séries rítmicas
de signos astrológicos, em termos das experiências das estações do ano vividas pelas
coletividades norte-hemisféricas portanto, em termos de culturas norte-hemisféricas. A
origem destas culturas - pelo menos até onde nossa astrologia euro-americana está
envolvida - deve ser investigada presumivelmente na antiga cultura caldéica que se
desenvolveu há, pelo menos, cinco mil anos atrás, e que talvez tivesse raízes ainda mais
antigas, como pensam alguns, até mesmo na lendária Atlântida. Mas qualquer que tenha
sido o local de nascimento da astrologia - seja na Grécia ou na Roma antigas, depois ela foi
herdada pela Europa e a América -, ela sempre se desenvolveu no Hemisfério Norte. A
cultura europeia se espalhou por todo o globo, através das conquistas, invenções e
expansão econômico-industrial. Onde quer que esta cultura tenha dominado povos e terras,
onde a linguagem, os símbolos e as tradições europeias formaram a mentalidade coletiva e
a imaginação das pessoas, também os símbolos astrológicos se implantaram na psique
coletiva dos seres humanos - como fez a religião cristã e outras religiões cujos fundadores
também se originaram no Hemisfério Norte. Portanto, Áries é também o símbolo da
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primavera na astrologia dos povos abaixo do Equador, onde, na realidade, o outono
começa quando o Sol entra neste signo.
Eu destaquei a palavra "realidade". Mas o que significa afinal uma palavra? Significa
que a cultura que rege a mente de um povo determina o que ela deva significar. O leitor que
não aceitar como válida esta afirmação, terá que tentar explicar o significado e a validade
já tão comprovada, de uma astrologia baseada no conceito do poder simbólico, em termos
do que ele possa considerar como fato científico (fatos que possam ser medidos com
exatidão e explicados estatisticamente em termos da influência real exercida pelos planetas
através de forças que a ciência moderna ainda não descobriu). Garanto que tal tentativa
não terá êxito, a não ser que esta pessoa que a contestar trapaceie intelectualmente em
palavras e conceitos. Conexões reais relacionando os planetas (incluindo o Sol e a Lua) a
padrões de acontecimentos na biosfera, ou a grupos de características biopsicológicas nos
seres humanos, podem ser apenas considerados como "estatisticamente significativos". Tais
correspondências podem ser aceitas até certo ponto na orientação dos comportamentos
individuais e grupais. Porém, esta orientação só poderá ter valor estatístico. Podemos dizer,
por exemplo, que sob certo aspecto interplanetário especifico, um tipo específico de atitude
será bem sucedido em 70 dos casos. Mas este tipo de orientação é ilusório, porque ninguém
pode estar seguro de que esta atitude funcionará em seu caso particular. E, mesmo que
funcionasse, é para isto que serve a astrologia?
O trabalho que venho desenvolvendo durante os últimos cinquenta anos, nos vinte ou
mais livros, e aproximadamente nos mil artigos que escrevi desde 1930, têm a intenção de
apresentar um quadro mostrando o valor da astrologia como uma "técnica de
entendimento" e um "caminho de sabedoria ", em vez de ser uma coleção de fórmulas feitas
para agir sob tais e tais circunstâncias. Alguns astrólogos, sem dúvida, preferem ver na
astrologia um misterioso tipo de tecnologia pessoal e/ou social que os habilita a fazer
previsões, cuja grande maioria não se justifica pelos fatos consequentes. E mesmo que se
justificassem, qual o valor real e o significado desta correspondência? As previsões podem
ser gratificantes - especialmente talvez aquelas terríveis, que levam ao medo e à
insegurança.
Neste livro sobre o ritmo do Zodíaco, vemos o Zodíaco como o poderoso símbolo da
sequencia das fases envolvidas na complementação dos ciclos verdadeiramente
importantes da vida, da existência - no sentido mais abrangente desta palavra.
A existência é cíclica pela sua natureza e seu ritmo deriva da constante interação de
duas forças cósmicas ou espirituais, iguais e de polaridades opostas. O que este livro
pretende mostrar, é o significado e o poder, e também a beleza e a harmonia, da existência.
Ele formula uma ampla estrutura de referência, ampla e universal, para todas as
experiências humanas. Para que lutas, sofrimentos e alegrias possam ser vistas à luz de uma
sabedoria que é uma incessante afirmação da existência. E nesta afirmação só pode haver
paz, paz profunda, paz eterna.

Dane Rudhyar
9 de abril, 1981
Palo Alto, Califórnia
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CAPÍTULO I

O ZODÍACO COMO UM PROCESSO DINÂMICO

Vivemos numa época em que todas as entidades estabelecidas e até mesmo o mais
material dos objetos parecem dissolver-se na fluência dinâmica do novo mundo evocado
pela magia das revelações científicas. Desde a mais comum das cadeiras, em que
costumávamos sentar sem pensar nas ondas eletromagnéticas que atuam em sua massa,
até o domínio da personalidade humana, complicadamente analisada em termos de
impulsos e complexos, onde quer que nossa mente procure conhecer a realidade, encontra
sempre a ênfase moderna em atividades rítmicas, movimentos de ondas e interações
eletromagnéticas de energias de polaridades opostas. Enquanto nossos ancestrais viviam
num confortável universo estático, onde tudo tinha um nome bem definido e de
tranquilizante racionalidade, uma forma, e um grupo permanente de características, hoje
encontramos mudanças por toda parte. Nenhum momento é demasiado pequeno para que
não possa ser decomposto nas fases e eventos que o constituem; e nenhum objeto é
demasiado minúsculo para escapar de fragmentação e resolução em coisas misteriosas que
com frequência se revelam como impulsos elétricos empenhados num estranho jogo de
esconde-esconde.
A percepção de que a vida é um processo dinâmico de transformação, do qual
nenhuma entidade escapa, é agora apoiada por todo o complexo de pesquisas e teorias
científicas, em oposição aos conceitos clássicos de permanência e identidade. Sobre as
ruínas do mundo do pensamento, exaltado dogmaticamente pelas mentes do século XIX,
assistimos ao reaparecimento de antigos conceitos que, durante milênios, foram as bases
do conhecimento humano. O universo deve ser visto, mais uma vez, como um oceano de
energias no qual se podem distinguir duas vastas correntes complementares. Por toda
parte aparece um dualismo elétrico e dinâmico sobre o qual se apoia toda a realidade.
Estamos, na verdade, muito próximos dos antigos conceitos de fluxo e refluxo da Vida
universal, de inspiração e expiração do Brahma universal. Voltamos praticamente aos
mesmos fundamentos dos Sábios da China que descreveram em seu grande "Livro das
Mutações", o I Ching, o movimento cíclico, crescente e minguante, das duas forças
universais, de polaridades opostas: Yin e Yang. Do mesmo modo, o pensamento moderno
está surpreendentemente próximo a alguns dos conceitos mais fundamentais da astrologia
antiga; pelo menos, já não vemos esses conceitos à luz de uma mentalidade clássica
europeia, e sim em termos de uma filosofia que é ao mesmo tempo de mutação dinâmica e
também experiência humana. E sendo uma filosofia da experiência humana, ela terá que
ser uma filosofia de mutação dinâmica, pois tudo que o ser humano vivencia é uma
sequência de transformações delimitadas pelo nascimento e pela morte.
Como podemos considerar a astrologia uma técnica notável para o entendimento do
processo vital de mutação em tantos domínios - teoricamente, em todos os campos - seu
renascimento no mundo ocidental, durante as duas últimas décadas, é particularmente
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importante como um sinal dos tempos. Esta importância está condicionada, porém, a uma
compreensão da astrologia que seja verdadeiramente moderna. Enfoques do século XIX e
preconceitos clássicos ou medievais devem ser descartados à luz da nova compreensão da
física e, acima de tudo, da psicologia do século XX - tanto na astrologia como em qualquer
domínio do pensamento. A ênfase deve ser, mais uma vez, dada à experiência humana, e
de modo algum às categorias transcendentes e às entidades mitológicas, que pertencem a
uma ideologia que hoje está, em sua maior parte, obsoleta.
A astrologia nasceu da experiência da ordem que se patenteava no céu para o homem
primitivo, imerso na selva e perplexo ante o caos da vida na prolífera e selvagem superfície
deste planeta. A busca de ordem é um dos impulsos básicos do ser humano. Num estágio
mais avançado da evolução, essa busca se intelectualizou em ciência; no entanto, tem
profundas raízes orgânicas e instintivas.
O instinto é uma adaptação à ordem periódica dos fenômenos naturais e expressão
dela. Baseia-se numa expectativa inconsciente; e quando essa expectativa normal é
violentamente perturbada, o animal enlouquece - como quando um psicólogo conduz
experiências com ratos brancos e cobaias. O animal é incapaz de suportar a pressão da
desordem externa sobre a ordem interna de suas funções biológicas, que então se
desordenam.
O constante esforço da civilização pode ser interpretado como uma tentativa de levar
a compreensão que o homem tem de suas experiências sensoriais ao ponto em que a
mesma qualidade básica de ordem que ele sente em seu organismo seja vista efetivamente
atuando no que, para ele, se apresenta como o mundo externo. Esta tentativa pode ser
chamada pelo pensador moderno de ilusão antropomórfica; mas se isso é ou não a verdade
jamais poderá ser provado, porque o ser humano não pode saber de nada além de sua
própria experiência (individual e coletiva).
A experiência humana é originalmente dual. A pessoa sente internamente uma ordem
orgânica tão absoluta que a mais ligeira perturbação no seu organismo causa uma aguda
sensação de dor. Porém, o ser humano também vivencia o que lhe parece um caos externo.
E toda sorte de nomes já foram dados a esse caos; seja para justificá-lo (por exemplo: a luta
pela vida, a sobrevivência dos mais aptos etc., de Darwin), seja para transfigurá-lo em
algum tipo dc ordem orgânica (filosofias vitalistas), seja para interpretá-lo como polo de
uma totalidade cujo outro polo é um mundo numenal de arquétipos, ideias perfeitas e
coisas do gênero (neste caso: maya, para os hindus). Todo sistema filosófico, toda religião,
toda ciência, toda ação e todo modelo de organização social são apenas uma coisa: a
tentativa de explicar a desordem e reconciliá-la com a ordem orgânica interna do ser
humano.
A astrologia também é uma dessas tentativas, a mais antiga talvez, ou pelo menos a
que manteve por mais tempo sua vitalidade intacta; pois a dualidade entre a ordem celeste
e a desordem terrestre é um fato universal e essencial na experiência humana. No céu
todos os acontecimentos são regulares, periódicos e esperados dentro de uma margem
muito pequena de irregularidades. Na superfície da Terra (seja nas selvas primordiais, seja
no campo das eras medievais, seja nas cidades modernas), há um relativo caos, emoções
imprevisíveis, conflitos irracionais, crises inesperadas, guerras e pestes. A astrologia é um
método que usa o sistema ordenado de luz nos céus para provar a existência de uma
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ordem oculta, porém real, em tudo o que diz respeito à experiência humana na face da
Terra.
Ela não só prova a existência de uma ordem, relacionando os tipos, categorias e
sequências de acontecimentos aos períodos dos corpos celestes (como pontos de luz em
movimento - e nada mais), como mostra também de que maneira, podem ser previstos, e
como essa previsão pode ser aplicada a assuntos sociais e pessoais. A previsão é o poder de
construir uma civilização a partir do caos aparente dos fenômenos terrestres. Toda ciência
é baseada em previsibilidade. A astrologia é a mãe de todas as ciências, a mãe da civilização
- por ter sido a primeira e mais universal tentativa do ser humano em encontrar a ordem
oculta por trás, ou por dentro, da confusão da selva terrestre - seja a selva física, seja a
selva psicológica.

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Dois Enfoques para a Vida

Existem duas maneiras essenciais de interpretar o dualismo entre a ordem celeste e a


selva terrestre em termos de significado e propósito.
A primeira - a mais simples e ainda a mais popular - é considerar o reino celeste como
o dos poderes positivos; inerentemente ordenados, energizantes e, finalmente, controlador
de Poderes que exercem constante influência sobre o reino passivo, receptivo, inerte e
inerentemente caótico (separativo) das atividades, impulsos, desejos e paixões terrestres.
O céu passa a ser então o "mundo das Ideias" ou, como os filósofos medievais o
chamaram,Natura naturans, natureza ativa, em contraposição a Natura naturata, natureza
passiva e terrestre. A "Natureza Humana", em tal concepção, quase inevitavelmente
adquire um significado pejorativo. Ela é vista como pervertida pelo "pecado original",
necessitando, portanto, ser controlada pela vontade dos Poderes celestes e pela razão das
Inteligências divinas, ou ser redimida pelo sacrifício e pela compaixão de um ser iluminado -
um "filho de Deus".
A maioria das filosofias religiosas, e também das filosofias clássicas, baseou-se nessa
interpretação, que parte de um quase absoluto dualismo entre bom e ruim, espírito e
matéria, Deus e natureza, razões e emoções, "superiores" e "inferiores". O atual estado
catastrófico da humanidade ocidental é o resultado dessa interpretação, que por séculos
dividiu a experiência humana em duas partes fundamentalmente irreconciliáveis, apesar
dos esforços da vontade humana e do sacrifício do amor divino.
Uma outra forma de interpretação é possível, e tem sido por vezes tentada.
Pensadores modernos, desde psicólogos até físicos, mais do que nunca esforçam-se para
construí-la com bases sólidas. Mas como é necessária uma mentalidade mais madura para
se atingir todas as suas implicações, ela ainda não se tornou popular - nem mesmo entre
exímios pensadores, mergulhados na velha tradição da filosofia dualista e em suas fugas
transcendentes para o idealismo e monismo absoluto.
De acordo com esta "nova" interpretação, não há oposição entre o reino da ordem
celeste e o caos terrestre, porque o caos terrestre é meramente uma aparência ou ficção.
Há ordem em toda parte, mas o ser humano não consegue percebê-la enquanto passa de
um tipo de ordem para o tipo seguinte e mais abrangente. O que ele sente como caos na
Terra é resultado de sua visão incompleta. Quando a pessoa não está apta para apreender
a totalidade de uma situação, ela a vê como caótica - como um quebra-cabeça cujas peças
estão amontoadas em blocos incoerentes. A imagem total não poderá ser vista enquanto
esta situação prevalecer. E a aparência de caos é inevitável, a não ser que todas as peças se
encaixem umas nas outras na relação determinada pela "Imagem do Todo".
Considerado como um organismo fisiológico, o ser humano é uma totalidade
ordenada. O que chamamos de "ordem interna" é a ordem dentro do espaço fechado do
corpo - ou da natureza genérica: a pessoa como um membro do gênero Homo sapiens. Este
é o "todo menor", o espaço menor da existência, e enquanto ele não for
fundamentalmente perturbado pelo impulso de identificação com um "todo maior" ou um

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espaço maior da existência, haverá ordem e integração orgânica.
Porém este estado de menor integração e estreita abrangência nunca está
completamente tranquilo. O "todo menor" age constantemente dentro de um "todo maior"
e, portanto, há uma incessante interação entre os dois. Para o "todo menor" essa interação
se apresenta como desordem e é sentida como dor. É vista pelo "todo maior" como
atividade cíclica criativa e é sentida como sacrifício. O que nós chamamos de "vida" é essa
constante interação e interpenetração de "todos menores" com o "todo maior". É a
substância da experiência humana; e essa experiência tem que ser dupla ou dual, porque
ela é em parte a experiência de um indivíduo e em parte a experiência de uma coletividade.
O indivíduo sente dor. Entretanto, quando tenta explicá-la para si próprio ou para
algum amigo, ele usa palavras. Seu sentimento é individual; mas suas palavras (e o
pensamento que lhes condicionou a formação e o. uso padronizado delas) são coletivas. A
dor é individual como uma experiência imediata; mas a tragédia é social, porque envolve
uma referência a valores coletivos. Em todas as fases da experiência humana, fatores
individuais e coletivos se interpenetram. Essa "co-penetração" é a própria vida. É a
realidade.
Em vez de dois reinos fundamentalmente separados - um celeste, ordenado e bom; e
outro terrestre, caótico e obscurecido pelo pecado - estamos agora lidando com a
experiência humana como um todo e decompondo-a em duas fases. A pessoa vivencia o
que lhe parece um caos selvagem e o que lhe parece ordem celeste. No primeiro caso,
temos experiências humanas condicionadas pela dor que é sentida pelo "todo menor"
quando este se relaciona em proximidade e intimidade com outros "todos menores", no
vagaroso processo de identificar sua consciência com a totalidade do "todo maior" - o
Universo. No segundo caso, temos a experiência humana quando a pessoa se relaciona à
distância, e através de observações coletivas formuladas em leis, com o "todo maior" - ou
com o máximo que a pessoa possa abranger dele.
Nos dois casos, a experiência é una e fundamentalmente indivisível. Nós a dividimos
estabelecendo dois quadros de referência; isto é, agrupando em uma categoria todas as
experiências dolorosas, próximas e centralizadas no indivíduo; e em outra categoria, todas
as experiências inspiradoras, remotas e coletivamente integradas. Temos então duas
categorias ou classes. Cada classe se refere a uma direção da experiência; contudo, ambas
lidam com a experiência humana como um todo.
Toda a experiência humana é bipolar. Ela é impulsionada pelo fator individual e pelo
fator coletivo. Esses dois impulsos têm forças relativas variadas. Por exemplo: a Educação
(um fator coletivo) dá mais força ao aspecto coletivo da experiência; assim, uma pessoa
educada, sob a tensão de um distúrbio emocional, talvez não se torne tão violenta quanto
uma pessoa não educada, que vai matar caso o ciúme se aposse dela. Porém, um artista
fortemente individualizado poderá perder seu equilíbrio emocional com maior rapidez que
um homem de negócios que está embebido em respeitabilidade social. Assim, para um
artista romântico o mundo pode se apresentar como uma grandiosa tragédia; já o
cavalheiro inglês, ao contrário, beberá seu chá enquanto o Império desaba, mantendo-se
indiferente ao impacto do caos até o último instante.
Do ponto de vista descrito nos parágrafos acima, a substância e o fundamento de tudo
é a experiência humana. Todas as avaliações referem-se a ela. Todos os dualismos estão
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contidos dentro dela. O céu é um aspecto da experiência humana; a selva, outro. O Sábio,
cuja vida é ordenada e em paz pacífica e cujo amor inclui todas as formas de
relacionamento possíveis para o ser humano (como ele é constituído hoje), é um "todo
menor" que atingiu um tipo de integração sustentada e medida pela ordem orgânica do
"todo maior". Ele está em paz consigo mesmo, porque a paz do "todo maior" está dentro
dele. Está em paz com os outros seres humanos porque, na sua mente, seus
relacionamentos com eles são expressões do seu relacionamento com o "todo maior" e
estão contidos nele. Encaixam-se na imagem universal. Cada peça do quebra-cabeça está
no lugar. A imagem do todo está clara. Não há mais espaço para a existência do caos.
O caos é o caminho para uma totalidade maior de vida e de consciência: um caminho,
uma transição, um processo. O Sábio é aquele que, antes de tudo, entende esse processo,
sente seu ritmo e compreende o significado de suas atrações e repulsões de polaridades. É
a pessoa que vê toda a natureza como uma interação cíclica de energias entre os "todos
menores" e os "todos maiores". Ele testemunha, tanto interna quanto externamente, a dor
individual transformar-se em paz coletiva; e a satisfação coletiva sacrificar-se em inspiração
e orientação - que podem ser então doadas pelos que já se identificaram com o "todo
maior" aos "todos menores" que ainda estão lutando com os problemas de suas relações
dolorosas e atomísticas.
Interação cíclica de energias polares. Nesta frase encontra-se a chave para uma
interpretação da experiência humana que nem produz o dualismo irreconciliável nem a
possibilidade sempre presente de esquizofrenia e de guerras nacionalistas ou de classes. A
Vida é uma interação cíclica de energias de polaridades opostas. Todos os fatores da
experiência estão sempre presentes, mas se manifestam num grau de intensidade sempre
variado. O minguar da energia de um polo dentro da totalidade da experiência está sempre
associado ao crescimento da força do outro polo. As duas forças estão sempre ativas. Todo
tipo concebível de atividade está sempre presente em qualquer totalidade orgânica; porém
alguns tipos dominam enquanto outros são tão pouco ativos que chegam a parecer
completamente inexistentes. Porém a não-existência é uma ficção do nosso ponto de vista.
Deveria, na verdade, ser chamada latência. Nenhuma característica presente no universo
está inteiramente ausente da experiência de uma totalidade - ela está apenas latente. A
latência é ainda, de certa forma, um tipo de atividade. Ela é um tipo negativo e introvertido
de atividade.
Esta visão filosófica do problema da experiência dá à astrologia um significado e um
valor que poucos pensadores contemporâneos suspeitam que ela contenha. A astrologia
pode ser vista, à luz dessa filosofia, como um instrumento notável para a compreensão da
experiência humana, considerada como o campo para uma interação cíclica de energias ou
comportamentos de polaridades opostas. A astrologia é um meio de ver a experiência
humana como um todo orgânico, é uma técnica de interpretação, uma "álgebra da vida".
Utiliza o movimento ordenado dos planetas (e, numa extensão menor, das estrelas) como
um símbolo para o que pode acontecer a quem vê a vida como uma totalidade. Cada
acontecimento na vida dessa pessoa é parte de uma sequência ordenada, assim como cada
peça de um· quebra-cabeça é parte da figura completa - e por isso cada acontecimento
ganha um significado.
Não é que os planetas "influenciem" diretamente uma pessoa em particular, lançando
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um tipo especial de raio que a torna feliz ou faz com que quebre a perna. Os ciclos dos
planetas e seus interrelacionamentos representam para o ser humano a realidade num
estado ordenado e com referência ao "todo maior" que nós conhecemos como o sistema
solar. Os seres humanos são "todos menores" dentro desse "todo maior". Só podem
encontrar paz e integração duradoura quando se relacionam conscientemente com o "todo
maior", quando identificam seus próprios ciclos de experiência com os ciclos de atividade
do "todo maior" , e quando podem associar seus encontros com os outros seres humanos à
imagem total que só pode ser revelada pela percepção desse "todo maior". Cada ser
humano é uma totalidade - um indivíduo. Mas ser um indivíduo só tem significado em
referência à sociedade humana, ou, em extremo, ao universo. Um ser humano que vive
numa ilha deserta, sem qualquer possibilidade de um dia se relacionar com outros seres
humanos não é um indivíduo, mas simplesmente um organismo solitário sem significação
em termos de humanidade. Um indivíduo é uma expressão individualizada da natureza
humana coletiva (ou genérica). O que recebe do coletivo que existiu antes, tem que
devolver ao coletivo que virá depois. Nenhum indivíduo existe no vácuo. Não existe
nenhuma entidade orgânica que não esteja contida num "todo maior" e que não contenha
"todos menores". Ser um indivíduo é um status social. Todo ser humano é, em latência, um
ser universal - ou como disseram os chineses: um "Celestial". A meta do ser humano é
transformar o que está latente em realidade, é transfigurar seu espaço terrestre com a luz,
os ritmos e a harmonia integrada do "todo maior", que são devidamente mostrados pelos
movimentos dos corpos celestes.
A astrologia nos abre um livro de imagens universais. Cada imagem nasce da ordem e
tem um significado. Todo mapa astrológico é uma assinatura do cosmo - ou de Deus. É a
imagem do quebra-cabeça completo. O ser humano, ao compreender estas imagens, pode
realizar melhor sua experiência, porque pode vê-la objetiva e estruturalmente como uma
totalidade orgânica. Ele a vê como uma totalidade, e a vê também integrada no processo
cíclico de mutação universal - que está revelado claramente nas estrelas e nos planetas, e
confusamente na proximidade dos seus contatos terrestres. Nada é estático e nenhuma
vida está completamente dividida. A vida é um processo, e todo processo é cíclico - isso, se
nós confiarmos na nossa experiência, em vez de impor sobre ela categorias intelectuais e
dualismos éticos. A astrologia é um estudo dos processos cíclicos.

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A Natureza do Zodíaco

Toda a astrologia baseia-se no Zodíaco. Todos os fatores usados na astrologia - o Sol, a


Lua, os planetas, os cúspides das casas, os nódulos, as estrelas fixas, etc. - estão associados
ao Zodíaco. Porém, o Zodíaco não deve ser considerado uma coisa misteriosa, remota e
oculta. Do ponto de vista descrito acima, o Zodíaco é simplesmente o produto da nossa
percepção de que a experiência humana é um processo cíclico; e, antes de tudo, de que
cada manifestação da vida orgânica obedece à lei de alternação rítmica - ora ela é impelida
à atividade por um princípio diretivo, ora por sua polaridade oposta.
O ser humano começa a adquirir esse sentido de alternação rítmica, refletindo sobre
sua experiência diária, que lhe apresenta uma sequência regular de dias e noites, luz e
trevas. No entanto, a vida e a consciência humana estão de tal forma próximas a essa
sequência que ela só pode assemelhar-se a uma espécie de fatalidade. Isso ocorre porque
normalmente o ser humano não se mantém consciente durante todo o ciclo de dias-e-
noites. Ele se confronta com um dualismo que lhe parece absoluto, porque não é apenas de
luz e trevas, mas é um dualismo que, do ponto de vista da consciência, opõe ser a não-ser.
Por isso, o ser humano é levado a usar esse ciclo de dias-e-noites como um símbolo para
interpretar o mistério, ainda maior, da vida e da morte. O conceito de reencarnação nada
mais é que uma extensão simbólica da experiência original da alternação regular de dias e
noites, comum a todos os seres humanos. E assim é a antiga ideia hindu dos "Dias e Noites
de Brahma", de períodos cósmicos de manifestação, seguidos por períodos de não-
manifestação - manvantaras e pralayas.
Já o ciclo do ano, que se manifesta particularmente na vegetação dos climas
temperados através das estações do ano, traz para nossa consideração um tipo
inteiramente diferente de sequência regular. Nesse caso, a ideia da não-existência absoluta
não está associada a uma metade do ciclo. O ser humano permanece ativo durante todo o
ciclo. Devido a isso, esse ciclo pode ser realmente interpretado como um "ciclo de
experiência", o que não ocorre com o ciclo de dias-e-noites, porque durante grande parte
dele (noite) o ser humano deixa de participar conscientemente da experiência.
O Zodíaco é a representação simbólica do ciclo do ano, e especialmente nas regiões
temperadas do Hemisfério Norte, onde nasceu a astrologia. O simbolismo do Zodíaco é o
produto da experiência das raças humanas que viveram nessas regiões: experiência com as
estações do ano; com as atividades da natureza e do ser humano através das mudanças no
panorama da vegetação - que é a base da vida animal e humana na Terra. Como essas raças
foram durante os últimos milênios o fator ativo na evolução da consciência humana, suas
experiências vieram a adquirir uma validade universal na determinação dos significados
cósmicos e dos objetivos da humanidade. A civilização, como a conhecemos hoje, está,
portanto, centrada num tipo de consciência setentrional e de clima temperado. Pode ser
que no futuro isto venha a se modificar, mas no momento atual é assim; e, deste modo,
nossa astrologia atual interpreta com precisão a evolução cíclica da civilização.
O Zodíaco usado na nossa astrologia tem muito pouco, ou nada, a ver com estrelas

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distantes como entidades isoladas. O Zodíaco é um antigo registro das séries cíclicas de
transformações efetivamente vivenciadas pelo ser humano durante o ano; um registro
escrito em linguagem simbólica, que usa as estrelas como uma forma gráfica, por mera
conveniência, para formar imagens simbólicas atraentes à imaginação de uma
humanidade, bastante infantil para se impressionar mais por figuras do que por processos
abstratos e generalizados do pensamento. O que o Zodíaco tem de essencial não são os
hieróglifos desenhados nos mapas celestes, nem as histórias simbólicas desenvolvidas em
torno de temas mitológicos gregos - por mais significativos que estes sejam. É, sim, a
experiência humana da mutação. E para uma humanidade que vivia muito próxima da
terra, as séries de "humores" da natureza durante todo o ano era a representação mais
forte da mutação; porque as mudanças internas, emocionais e biológicas, da natureza
humana correspondiam muito intimamente às mudanças externas da vegetação.
A humanidade, porém, veio evoluindo desde os primeiros dias da Caldéia e do Egito.
Essa evolução significou basicamente apenas uma coisa: a translação, ou transferência, da
capacidade do ser humano de vivenciar a vida do nível biológico para o nível psíquico-
mental. De início, a humanidade extraiu todos os seus símbolos, e também a estrutura de
seus significados, da experiência biológica. O ser humano, que sentia a vida e a mutação
essencialmente como um organismo físico, procurava expressar sua consciência dos
propósitos e significados em função da experiência física. Esses termos eram o único
denominador comum sobre o qual as civilizações poderiam ser construídas. Até os
chamados ensinamentos "espirituais" (por exemplo, as primeiras formas de Ioga ou Tantra
na Índia) davam ênfase a símbolos sexuais, e, em geral, símbolos "vitalistas" - e às suas
práticas correspondentes.
Progressivamente, porém, os líderes procuraram centralizar sua experiência e a de
seus seguidores em torno de uma nova estrutura de integração humana: o ego individual.
Surgiu, então, a necessidade de traduzir todas as técnicas antigas de integração, e seus
símbolos, para a nova linguagem do ego - uma linguagem intelectual e psicológica. Foi
devido a esta necessidade que a astrologia caiu em relativo descrédito, sendo substituída
pela ciência grega, a lógica e a psicologia, que passaram a dominar a civilização ocidental. A
linguagem do ego mostra conexões racionalistas e análise; e em sua ânsia de desenvolver a
nova função de "pensamento exato", a humanidade ocidental tentou de todos os modos
repudiar ou desvalorizar todas as experiências orgânicas e as técnicas que possibilitaram a
seus ancestrais dar um significado cíclico às suas vidas, e lidar com as situações da vida
como totalidades. O idealismo transcendente dividiu em duas partes a experiência humana,
criando a mistificadora oposição entre corpo e alma.
Entretanto, uma tradição "oculta" se manteve viva durante todo o ciclo da civilização
europeia. Tentou reinterpretar em nível psicológico o simbolismo da astrologia e de
técnicas similares de integração humana. A Alquimia e o Rosa-crucianismo foram exemplos
importantes deste esforço, que teve que ser secretamente encoberto devido à oposição da
Igreja. Um tipo biopsicológico de astrologia desenvolveu-se por meios obscuros; nele,
quatro funções da psique humana correspondem às quatro estações do ano, e o
simbolismo do Evangelho mistura-se com o simbolismo do saber "pagão". E por todo esse
tempo as antigas formas tradicionais da astrologia, codificadas por Ptolomeu mantiveram-
se em uso, mas principalmente como meio de satisfazer a curiosidade de pessoas e a
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ambição de príncipes e reis.
Hoje em dia, o extraordinário interesse do público pela psicologia moderna oferece
aos astrólogos uma oportunidade de reformular completamente a astrologia e seus
símbolos. A astrologia pode ser transformada numa linguagem, não do ego individual, mas
sim de toda a personalidade humana. E, num mundo dividido por conflitos e que perdeu o
sentido devido à paixão por análises e diferenciações a todo custo, a astrologia pode mais
uma vez surgir como uma técnica que possibilita ao ser humano compreender o significado
de sua experiência como um todo: a experiência fisiológica e a psicológica, o corpo e a
mente, o coletivo e o individual. Livre do medo das perseguições - espera-se! - a astrologia
moderna pode utilizar então os velhos símbolos vitalistas da astrologia antiga, as imagens
derivadas das mudanças periódicas da vegetação durante o ano e das experiências do ser
humano com os poderes latentes da sua natureza física e genérica.
Estas imagens estão repletas de significados de sentimentos e sensações comuns a
todos os seres humanos desde o despertar da civilização na Terra. Estão impregnadas de
sabedoria coletiva e instinto orgânico. Fazem parte da natureza fundamental do ser
humano, da "humanidade comum do ser humano", da base sobre a qual se construíram as
mais atuais realizações individuais de uma humanidade racional e excessivamente
intelectualizada. Sem o poder de sustentação dessa base-Raiz, o ser humano estará sempre
por se desmoronar e desintegrar. E é este espetáculo de colapso e desintegração que está
diante de nossos olhos, nestes dias negros da humanidade - dias, porém, fecundados pela
semente de uma nova integração da experiência humana.
O objetivo deste livro é integrar de maneira breve e sugestiva, em vez de exaustiva e
didática, o antigo simbolismo do Zodíaco com as imagens e conceitos básicos que foram
criados há pouco tempo, especialmente por psicólogos progressistas. Esperamos, desta
forma, ajudar as pessoas a viver com mais consciência, e integralmente, a experiência
nascida da nossa estressante civilização. Isto pode ser conseguido especialmente se
pararmos de pensar em termos de categorias estáticas e sistemas estabelecidos, em função
de entidades sendo uma coisa ou outra; e passarmos a ver o universo das nossas
experiências com as outras pessoas e com todos os seres vivos como um "todo maior" no
qual estamos prontos para participar; se conseguirmos visualizar um propósito de evolução
integral e integrador, onde possamos ajustar nossas vidas ainda recortadas pela ambição
sem sentido de ser diferente a todo custo.
O que o estudo do Zodíaco vai nos ensinar, em primeiro lugar, é que embora haja
sempre duas forças atuando em todas as situações e experiências, o entendimento e a
decisão não são nunca um caso de "isto-ou-aquilo", mas sim de "mais-ou-menos". Existe o
dualismo, mas o dualismo de um processo dinâmico no qual os dois opostos
constantemente se interpenetram e se transformam. Por isso, nenhuma entidade e
nenhuma experiência é boa ou má, construtiva ou destrutiva, clara ou escura. Tudo é tudo.
O que muda é a proporção em que a combinação ocorre.
Para compreendermos o que é essa combinação e sermos capazes de lhe dar um
significado válido, os vários componentes de cada experiência devem ser medidos. Podem
ser medidos em termos de sua posição relativa dentro dos limites do todo. Podem ser
medidos em termos de sua intensidade relativa; e a intensidade de qualquer fator depende
principalmente do momento do ciclo em que este fator se manifesta. Por exemplo: se o
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momento representa a "primavera" ou o "inverno" desse ciclo, se ele é jovem ou velho, se
está na fase crescente ou minguante, etc.
Tomando-se o conceito de "mais-ou-menos" no lugar de "isto-ou-aquilo", a pessoa
pode renovar completamente sua atitude diante da vida. Uma experiência que, na mente
da pessoa que a vivencia, é boa e não é ruim, leva apenas a conflitos e dependência. Porém,
se ela for compreendida como uma combinação de mais luz do que trevas, poderemos então
associá-la a todo o ciclo no qual as duas torças, luz e trevas, estão constantemente
interagindo. O ciclo total poderá ser visto no âmago da experiência parcial; e o ser humano
poderá tornar-se criador de significados - porque o significado reside no todo e não em
partes isoladas.
Cada fase do processo zodiacal - cada Signo do Zodíaco - representa um estado da
experiência humana, no qual duas forças básicas estão mais ou menos ativas. Uma
infinidade de nomes poderiam ser dados a estas duas forças proteicas e universais. Aqui, no
entanto, devido a nossa tentativa de reformular a astrologia, colocando-a em termos do
mais simples denominador comum da experiência humana, vamos nos referir a essas duas
forças cósmicas que estão em constante interação por todo o ciclo do ano, como "Força-do-
Dia" e "Força-da-Noite". Estes nomes não apenas estão de acordo com a mais antiga
terminologia da astrologia, como são também expressões naturais e lógicas do fato de que,
durante uma metade do ano, os dias aumentam e as noites diminuem, ocorrendo o
processo inverso durante a outra metade do ano. Assim, quando os dias crescem, a Força-
do-Dia, fluxo positivo da energia solar, está em ascensão; ao passo que quando os dias se
encurtam e as noites se alongam, a Força-da-Noite torna-se mais poderosa, e a Força-do-
Dia decresce seu poder.
Sempre que há duas forças crescendo e minguando alternadamente, quatro
momentos críticos básicos são encontrados. Assim:
1. No solstício de inverno (Natal), a Força-do-Dia está no seu ponto mais fraco e a
Força-da-Noite no seu ponto mais forte. Este é o início do Signo zodiacal: Capricórnio.
2. No equinócio da primavera (por volta de 21 de março), a Força-do-Dia, que cresceu
em intensidade, e a Força-da-Noite, que decresceu se igualam. Signo zodiacal: Áries.
3. No solstício de verão (por volta de 21 de junho), a Força-do-Dia atinge sua energia
máxima e a Força-da-Noite o seu fluxo mais baixo. Signo zodiacal: Câncer.
4. No equinócio do outono (por volta de 21 de setembro), as duas forças estão
novamente igualadas, a Força-da-Noite tendo crescido desde o inicio do verão, Signo
zodiacal: Libra.
No estudo de um processo cíclico, a primeira dificuldade encontrada é determinar o
ponto inicial do ciclo. Em última análise filosófica, não existe um ponto inicial. Porém, por
uma questão prática, a mente precisa selecionar um começo para poder interpretar o
processo em relação à experiência humana. Esta escolha de um ponto de partida
estabelece um "quadro de referência"; e esta escolha não deve ser considerada, de modo
algum, uma escolha aleatória. Ela se impõe naturalmente pelo significado que a pessoa dá à sua
experiência do processo cíclico.
Do ponto de vista da experiência física com a natureza - "humana" ou outra qualquer -
considerando-se o Zodíaco como um processo dinâmico de mutação, é claro que um dos
pontos críticos definidos acima deve ser selecionado como o início do ciclo. Além disso,
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numa filosófica que não dá um valor fundamental maior a uma fase da experiência, em
detrimento da fase oposta e complementar, é também óbvio que o momento mais
adequado para se iniciar o ciclo seja quando as duas forças, que alternadamente crescem e
mínguam, estejam com intensidades iguais, portanto, num dos equinócios. O equinócio da
primavera foi selecionado como o início do Zodíaco, porque naturalmente identificamos
nossa experiência primeiro com o reino das coisas que crescem e da luz do Sol; e somente
mais tarde com o reino mais oculto dos valores simbolizados pela semente e pelo inverno.
O equinócio da primavera, nas regiões temperadas do Hemisfério Norte, é o que os
astrólogos chamam "primeiro ponto de Áries" - e já vimos que as raízes da nossa civilização
são encontradas nessas regiões, que são também o berço da nossa astrologia.

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A Força-do-Dia e a Força-da-Noite

Para se compreender o início de um ciclo é necessário conhecer o sentido geral de


todo o ciclo. Pela própria definição do termo "ciclo", o início de um ciclo determina também
o fim do ciclo precedente. O início é condicionado pelo fim, assim como a nova vegetação é
condicionada pelas sementes que do produto da vegetação do ano anterior. Conhecer o
significado geral de um ciclo é conhecer a natureza das duas forças básicas que atuam
durante seu curso. Portanto, é necessário definir em primeiro lugar as características da
Força-do-Dia e da Força-da-Noite; e nossas definições se centralizarão em conceitos de
natureza psicológica, pois o objetivo deste livro é estabelecer fatores astrológicos no novo
nível em que o ser humano moderno opera consciente e deliberadamente: o nível psíquico-
mental.
A Força-do-Dia é uma energia personalizante. Ela transforma ideias, entidades
espirituais e abstrações em realidades exatas e concretas. Energiza a "descida do espírito
para um corpo" - usando-se aí uma terminologia familiar, embora perigosa. Ela começa a
crescer em intensidade no Natal, símbolo da Encarnação espiritual; mas só se torna
claramente visível em Áries, símbolo da germinação - e da adolescência no ser humano.
Alcança a plenitude em Câncer, símbolo da "idade madura" e da realização pessoal através
do casamento e das responsabilidades do lar. O resultado natural da ação da Força-do-Dia é
a ênfase da singularidade individual do ser humano, conhecida como "personalidade".
A Força-da-Noite é uma energia unificadora. Ela reúne as personalidades. Primeiro, em
Câncer (o lar), integra o homem e a mulher; em Leão, adiciona a criança; em Virgem, os
empregados, governantas, educadores. Mas a integração só se torna pública em Libra,
símbolo da atividade social, da atividade grupal para a construção de uma comunidade
cultural e espiritual. Com Escorpião, afloram negócios e empreendimentos políticos; em
Sagitário, filosofia, publicações, longas viagens. A Força-da-Noite atinge seu ápice de poder
em Capricórnio, símbolo do Estado - o todo social organizado. O resultado natural da ação
da Força-da-Noite é a ênfase de todos os valores relacionados com "sociedade".
Personalidade e Sociedade - estas são, de fato; as duas polaridades da experiência dos
seres humanos, desde quando é possível traçar o nosso desenvolvimento histórico. Os dois
termos acima são as manifestações concretas, em nível psicológico contemporâneo, dos dois
conceitos ainda mais gerais de "individual" e "coletivo". Em toda experiência humana esses
dois fatores estão presentes com forças relativas variadas. Isto não deve ser jamais
esquecido! Nenhuma pessoa age e sente exclusivamente como uma personalidade
individualizada ou como um ser social. Nunca é uma questão de "isto-ou-aquilo" e sim de
"mais-ou-menos". Uma questão de ponto de vista.
De um modo bastante análogo, podemos falar do nosso Sol como um "sol" ou como
uma "estrela". Ele é um sol se for considerado como o centro de um organismo cósmico
(um sistema solar) individualizado e separado; mas é uma estrela se for considerado
participante do ser coletivo da Galáxia. No primeiro caso, está sozinho no seu trono; no
segundo, está constantemente relacionando-se com as estrelas companheiras dentro dos

23
limites do "todo maior", a Galáxia. O ser humano vivencia durante o dia o sol, como o
doador de luz - como um "sol". À noite, percebe que esse doador de luz, esse Pai todo-
poderoso, é apenas uma "estrela" na coletividade da Galáxia. Dominados pela luz e o calor,
veneramos o "sol" com devoção. No silêncio e na paz da noite, comungamos com a
irmandade das "estrelas". A realidade é sempre a mesma, nós é que mudamos nosso ponto
de vista - a realidade única se divide então em duas fases de experiência, e depois em
muitas outras. O limite de divisibilidade da nossa experiência é, unicamente, nossa
capacidade de permanecer como pessoas integradas durante esse processo de
diferenciação - a nossa capacidade de permanecer sãos; ou seja: de dar um sentido integral
à nossa experiência como personalidade social.
O dualismo entre personalidade e sociedade, num sentido mais estritamente
psicológico, transforma-se no dualismo de "ego consciente" e "Inconsciente Coletivo". O
reino da consciência individualizada é o reino do dia, o reino do "sol". O reino do
Inconsciente Coletivo é o reino da noite, o reino das "estrelas". A compreensão desses dois
reinos é necessária para se entender como o crescer e o minguar das duas forças cíclicas se
manifestam psicologicamente.
Dizer simplesmente que a Força-do-Dia começa a minguar depois do solstício de
verão, não fornece um quadro psicológico exato do que acontece dentro da pessoa. O fato
de uma força minguar não quer dizer apenas que ela se torna menos forte. Este minguar
significa que essa força ativa e positiva está-se afastando cada vez mais do campo da
objetividade. Ela se torna cada vez mais subjetiva e introvertida, e também mais
transcendente. Ela passa a se manifestar mais a partir de motivações inconscientes do que
de motivações conscientes.
A experiência humana não deve ser associada apenas à consciência e ao ego
individual; caso contrário, teremos que dar avaliações éticas para muitas de nossas
experiências, dividindo então nosso ser total em duas entidades conflitantes. Sendo assim,
alguns de nossos atos terão que ser explicados como provas de nossa personalidade má e
outros como manifestações de nossa individualidade heroica ou santa; e eles terão que ser
interpretados dessa forma se estiverem associados apenas ao ego consciente. Porém, se
compreendermos que nossas ações são em parte resultados de intenções conscientes e em
parte produtos de motivações que emergem de um inconsciente que não é "nosso" (num
sentido individualizado), mas que é um oceano de energias raciais e sociais indiferentes às
estruturas do ego, a éticas e à razão - então poderemos explicar as ações humanas de outra
maneira; e o ser humano poderá conhecer-se integral (e não dividido), como um centro da
Vida universal em seu processo de mutação cíclica.
Desse ponto privilegiado, a pessoa poderá observar a consciência constantemente
interpenetrando a inconsciência, a racionalidade ritmicamente se relacionando com a
irracionalidade - e não irá se perturbar ou se esforçar para ser o que não é. A experiência
humana é sempre o resultado dessa interação de consciência e inconsciência, de individual
e coletivo. A Vida cíclica pulsa através de cada ação, sentimento ou pensamento humanos.
A realidade tem um coração rítmico. A sístole e a diástole desse coração criam estes
compassos de transformação, que são nascimento e morte, inverno e verão, aumento de
luz e aumento de trevas. Gloriosamente, a dança da nossa experiência vai evoluindo
através do ciclo da natureza. O Sábio observa, embora cada fase dessa dança pulse em sua
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consciência. Ele é espectador, embora seja também parceiro de todos os protagonistas
nessa dança universal. Todos os amantes o conhecem como o ser amado, e sua mente
sente a palpitação de todos os corações humanos. Sua visão abrange todos os nascimentos
e mortes. Ele atribui um Significado a todas as coisas nascidas do pulsar e da dança da Vida
cíclica. E nessa atribuição de Significados, o Ser Humano, total e livre, cria a realidade.

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CAPÍTULO 2

AS DOZE FASES DA EXPERIÊNCIA HUMANA

ÁRIES

Rompendo a crosta do solo que foi amaciado pela neve derretida, brota a semente,
impulsionando sua vida para a luz do sol. A ardente chegada da primavera produz o milagre
da germinação. A Força-do-Dia equilibra-se agora em intensidade com a Força-da-Noite. O
ator que deixa o palco em breve será apenas uma lembrança, por mais forte que seja, nos
recessos da psique humana. A nova estrela assume seu lugar diante das luzes no palco da
consciência humana. Daqui para a frente o show é dela. Entretanto, sua voz ainda não está
segura; e sua fisionomia revela medos escondidos nas suas demonstrações de coragem. Em
Áries, a personalidade vivencia sua fase de adolescência.
Até a puberdade chegar para a criança em crescimento, o horizonte da personalidade
é delineado pelas paredes de uma matriz fechada. Primeiro, o útero materno; depois, o
espaço mais diversificado da família, que dentro de suas paredes seguras contém conflitos
crescentes. Mas, quer confinada por invólucros físicos, confinadas por invólucros
psicológicos, a personalidade da criança ainda está em seu estágio pré-natal. Está envolta
pela natureza coletiva, e luta para emergir. Adolescência é esta imersão - a admiração por
ela e o medo dela. O adolescente nasce como uma pessoa individualizada num mundo que
lhe parece hostil ou estranho; que deve ser conquistado; e não deve ser temido.
Medo misturado com uma ávida expectativa, embaraço e confusão emocional: este é
o adolescente. Ele avança com vontade e recua rapidamente ao menor ferimento. Ele é
corajoso, de um modo engraçado. Compelido por uma necessidade interior a ir em frente,
ele se afirma com estardalhaço e ousadia; porém, ele gostaria de poder recolher-se na
segurança da mãe-terra. O menor sopro do destino faz retrair e sofrer este "cordeiro" de
coração, que se lança de cabeça como um "aríete".
Esta descrição psicológica da adolescência caracteriza a natureza básica da pessoa de
Áries: sua instabilidade emocional e seu desejo desordenado; sua aguçada sensibilidade
que se disfarça numa atitude temerária; sua pura instintividade e sua auto-afirmação
frequentemente bombástica - que não é egocentrismo, mas sim o resultado de uma
compulsão biopsicológica vivenciada profundamente. A pessoa de Áries é compelida
interiormente a obter uma identidade a qualquer custo, a forçar sua remota alma individual
a assumir o fardo da encarnação. Ela não busca um poder para sua satisfação pessoal, mas
sim para demonstrar-se a si mesma - ela busca o poder necessário para se tornar uma
personalidade. E, se parece cobiçar amor e fama, "mulheres, vinho e música", é porque se
sente internamente fraca ou insegura e precisa de constante encorajamento e apoio
externo.
Como em Áries a Força-do-Dia mal supera a Força-da-Noite, a pessoa tem que projetar
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intensamente, às vezes quase com desespero, seu ego consciente na sua vontade de viver -
e geralmente exagera nisso. Sua nostalgia é tão grande quanto sua impaciência; seu
sentimentalismo é tão romântico quanto sua paixão é aguda e direta - porém, de vida curta
e sujeita a crises de recuo. Mais do que qualquer outro tipo de personalidade zodiacal, este
ama mais a sua necessidade de amor do que uma pessoa em particular. E precisa de amor,
por ser fundamentalmente uma pessoa sozinha e com medo do mundo; mas que, ao
mesmo tempo, teme a dependência contida numa união ou associação permanente,
porque precisa se manter sempre crescendo e ampliando sua personalidade que aflora - e é
necessário evitar de qualquer modo a inércia, pois isto logo significaria uma recaída no
passado. Seu instinto pioneiro é o medo disfarçado da rotina e da influência da tradição. A
pessoa de Áries tem que se manter em crescimento; e mudando de parceiro, horizontes e
ligações, tem pelo menos a sensação de estar avançando, a ilusão de crescimento.
O ariano comum negaria violentamente, é claro, estas origens ocultas de suas ações.
Ele não consegue deter seu avanço para tentar compreender a si mesmo. Ele não está
construindo consciência, mas sim personalidade. Não é fundamentalmente um pensador;
mas sim um construtor. Ele precisa manifestar sua premência de viver. A Força-do-Dia
cresce dentro dele com intensidade fálica. Não importa o quê nem onde construa. Ele
precisa sentir-se no movimento do destino. Precisa sentir-se influenciado por energias
maiores.
Uma personalidade já formada pode agir devagar, calmamente e deliberadamente;
porque age com uma base de identidade individual relativamente estabelecida. Porém, a
pessoa de Áries está constantemente em processo de autoformação. O ariano não tem
nenhuma noção de individualidade, nenhuma noção de limites estabelecidos. Está sempre
aberto para o influxo da Vida universal não-personificada. Ele não é nunca um produto
acabado, e pouco se preocupa em finalizar o que começou. É tomado pelo ato de criar, não
por suas criações. Por isso, precisa sentir mais e mais Energia, mais e mais Vida,
compelindo-o a criar. Tudo o que ele quer é conceder esta Energia aos outros, é fecundar
os campos virgens com este poder - seguindo então com entusiasmo para a fecundação de
"novos" campos, ainda mais vastos.
Nesse sentido ele é uma "pessoa impessoal". Ele é um doador - mas não de coisas
"suas". É um doador de pura energia, da energia da Força-doDia que borbulha dentro dele.
"Possuir" alguma coisa é difícil para Áries. Porém, se isso acontece, ele se apega a essa tal
coisa (pelo menos por algum tempo) com paixão - uma paixão nascida do medo e da
solidão; porque, de repente, essa coisa torna-se para ele símbolo da sua própria
personalidade - que é realmente a única coisa que ele deseja "possuir", mas da qual ele
nunca está seguro, porque ela não pode ser nunca "finalizada".
Como em Áries a Força-do-Dia e a Força-da-Noite estão em equilíbrio, a pessoa de
Áries está sempre num estado de equilíbrio instável, dividida internamente por opostos; e
por isso agitada, impaciente, nervosa e muitas vezes neurótica. Mas suas neuroses são
neuroses de ação, nascidas de uma sensação de falha que se deve a obstáculos
insuperáveis, à exaustão diante do esforço, ou à falta de interesse pessoal nas ações - no
desempenho das quais ela parece jogar uma grande energia ou paixão o tempo todo. Essa
energia, na verdade, não é' "dela". A pessoa de Áries não está nesta energia. Está
constantemente buscando se satisfazer como personalidade, mas essa meta é sempre
27
evasiva - sempre além e além. E assim, ela continua agindo, desejando, emocionando-se e
criando - mal conseguindo encobrir, com o excesso de atividade, o vazio e o medo de uma
adolescência eterna,
Pode ser que entre as pessoas que o cercam ninguém saiba disso. O ariano não é
apenas totalmente tomado por ações, ele é também um ator. Interpreta personagens, e
adora a sensação de ser dirigido nos seus papéis por um Dramaturgo invisível; porque isso
lhe dá uma sensação de segurança em relação a seu destino. Ele pode facilmente tornar-se
um grande devoto, simplesmente porque não é seguro de sua própria personalidade. Ele
tem, simbolicamente, "paixões adolescentes" por algum "Professor" em quem projeta a sua
paixão por uma personalidade. Em vez de demonstrar uma personalidade fraca, mas pelo
menos autêntica, absorve-se na devoção a um grande Personagem - que, de preferência,
seja ideal e esteja remoto, ausente. Essa absorção é sempre uma "projeção psicológica" dos
seus próprios anseios por uma personalidade. Se ele não consegue desempenhar o papel
de uma personalidade, demonstrando criatividade e fecundidade, então projeta esta
ansiedade, transformando-a numa intensa (mas frequentemente espasmódica) devoção a
uma Figura idealizada, ou a uma "grande Causa".
Em Áries, a personalidade ainda não está totalmente separada da ação. Ela está contida
nas imediações diretas de uma atividade causada por uma força irracional, que em um nível
é "instinto" e em outro é "Deus".
A ação aqui é direta, franca; mas como um sentimento de insegurança interna tende a
vergar ao solo o arbusto adolescente, já tão golpeado por tempestades sociais, esta ação
necessita frequentemente de um suporte. No entanto; a pessoa de Áries precisa glorificar
este suporte necessário; precisa torná-lo impessoal, para que sua própria personalidade
não seja enfraquecida diante dos outros - ou de si própria. Na verdade, ela sabe
subconscientemente, se não conscientemente, o que lhe falta. Sabe que até agora sua
personalidade ainda não é um fato concreto; está apenas emergindo do estado subjetivo.
Mas isto também significa que sua personalidade ainda está enraizada nas imensidões da
vida coletiva e que está cheia de potencialidades - cheia de élan vital, cheia da força da
evolução universal que avança e cria ... chamada por muitos "Deus".

O ariano sente o "pulsar da vida" - o Sopro criativo, que passa, precipita-se


repentinamente - e se vai. O poder de Áries é o poder do raio que irrompe das trevas do
Inconsciente Coletivo. E o poder da revelação: o poder do Destino liberado, que queima e
fecunda. Este poder, em qualquer nível que se manifeste, descendo por correntes
incandescentes, dá às ações do ariano uma força pioneira, impessoal e talvez cósmica e
predestinada. Na verdade, dentro e através da mais nobre expressão do poder de Áries, não
é uma pessoa em particular que está atuando, e sim a humanidade - o Ser Humano. Em
níveis menos exaltados, um grupo social ou religioso, uma nação, uma raça pode expressar
suas necessidades e expor soluções para elas através da pessoa de Áries - que não é
inteiramente uma personalidade consciente, embora seja bem mais que um indivíduo.
Quando esta pessoa percebe o significado do destino, que através dela está se
tornando ação, pode ser que o orgulho ruja em seu ego. Ela pode tornar-se arrogante. Pode
fazer exigências à sociedade, como se todos os privilégios fossem dela "por direito divino".
Frequentemente, porém, seu orgulho é bastante adolescente e se combina com humildade
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e um sentimento de insegurança que lhe é peculiar; porque ela sabe interiormente que não
possui a fonte do poder que lhe causa esse orgulho, e que poderia perder o contato a
qualquer momento - e então tornar-se vazia. Isso diferencia o orgulho de Áries do orgulho
típico de Leão. Em Leão, o orgulho está centralizado na personalidade e enraizado num "Eu
sou" em busca de glória. Já Áries vai frisar mais o "sou" do que o "Eu". O orgulho está no
que ele faz, no que é feito através dele, nessa grande força que está a seu comando, na
poderosa masculinidade do seu organismo. Seu orgulho não está essencialmente no que
ele é como pessoa; porque ele nunca está inteiramente seguro do que ele é.
Áries é o alvorecer da personalidade como um fato objetivo e consciente no ciclo do
desenvolvimento humano. Nesse alvorecer a luz da consciência estende-se gradualmente
pelo céu oriental, despertando todas as forças que pertencem ao reino do Dia. Mas ainda
há trevas a Oeste. O poder da Noite ainda está dominando vastas regiões da psique
humana. Daqui para frente este poder controlará a memória e tomará posse das regiões
abaixo-do-horizonte. Estas regiões que formam o Inconsciente.
Despertando, o ser humano encontra seus sonhos - a memória crepuscular do estado
noturno da psique. A irracionalidade dos sonhos frequenta seu despertar. E como a atração
da Força-da-Noite é forte e insistente, o ariano se apega com intensidade dogmática ou
cheia de devoção a "ideias", razão e "lógica". Estes são os testemunhos do triunfo da Força-
do-Dia sobre os fantasmas irracionais do reino da Noite. São as proteções da forma e da
consistência, contra o caos e os medos pré-natais. Mas se o ariano deixar o consciente e se
retirar para o seu interior, ela se encontrará quase que submergida pela fantasia prolífica
do seu inconsciente.
Passando o ponto crucial do equinócio da primavera, a Força-da-Noite, superada pela
crescente intensidade da Força-do-Dia, deixa o palco do consciente; mas apenas para se
tornar introvertida, subconsciente ou transcendente. Já mostramos como a Força-da-Noite
atinge sua plenitude em Capricórnio, na realização do ideal sócio-cultural comunitário - o
Estado. Nos dois signos seguintes, Aquário e Peixes, este ímpeto de formação de grupo, que
construirá um "todo maior", coletivo e permanente, a partir de uma multidão de
personalidades, torna-se espiritualizado, mais-do-que-físico e mais-do-que-social. Portanto,
Aquário simboliza idealismo, reforma e transformação sociais, sob a influencia de Urano. E
em Peixes atingimos a concepção da "Comunidade invisível" e da "Igreja triunfante" - no
Paraíso; a "Comunhão dos Santos", simbolizada por Netuno.
A Força-da-Noite em Áries manifesta-se de maneira ainda mais transcendente. Seu
símbolo é o "Cordeiro morto pela redenção do mundo" - em outras palavras: martírio. No
martírio, a pessoa de Áries realiza um tipo transcendente de ação, que é impelido pela
grande necessidade que ela tem de viver e atingir a imortalidade como um indivíduo;
porque ser mártir é se tornar, diante da sociedade, o símbolo imortal de uma Causa. É
realizar-se como uma personalidade, na morte.
Esta é a imortalidade da semente, que morre como semente para que haja, mais uma
vez, vida e vegetação. É a eterna Crucificação daquilo que foi semeado em Libra. A semente
morre pela nova vida, como a noite e as estrelas desaparecem na luz do amanhecer. E essa
morte da noite e das estrelas, essa morte da semente acha-se presente no subconsciente
da pessoa de Áries, que não está totalmente absorvida por atividades frenéticas e
fecundações dispersas. Portanto, além dos limites do consciente, Áries busca a semente,
29
que é, para ele, a Mãe. Enquanto que em sua natureza consciente ele age em direção ao
futuro, subconscientemente ele sonha com o passado.
O equilíbrio entre consciente e inconsciente é muito sutil em Áries - como também em
Libra. Estes dois signos são de equilíbrio, nos quais a Força-do-Dia e a Força-da-Noite têm
intensidades quase idênticas. "Quase" idênticas apenas; porque em Áries a Força-do-Dia
tem impulso para fora, o que assegura seu domínio - mas um domínio que tem que pagar
tributo ao passado, à Força-da-Noite.
De certo modo, pelo menos, o ariano é obrigado a sacrificar seu passado, a queimá-lo
no altar de sua devoção à nova vida. Este sacrifício poderia ser um ato agradável ou sereno;
mas o poder da Força-da-Noite no subconsciente faz desse sacrifício, frequentemente, um
martírio dramático. Por isso é tão comum encontrar o sentimento de autopiedade em
pessoas de Áries. Essa autopiedade é produzida pela Força-da-Noite, agora em vasante, que
ainda se apega à sua hegemonia. Essa é uma característica negativa de Áries. Autopiedade,
exaustão diante de uma iniciativa, a sensação de "de que adianta?", a sensação de ser uma
"vítima-de-sacrifício" do destino - tudo isso são aspectos negativos deste signo. Eles só
podem ser superados se o ego consciente conseguir "assimilar o conteúdo do Inconsciente"
(na terminologia de C. G. Jung), se todas as energias de Áries forem deliberadamente e
conscientemente incorporadas num trabalho e num destino, se forem conscientemente
aceitas e liberadas.
Aí está Áries: sua força e suas fraquezas; seu destino. A canção de Áries é uma canção
de "exaltação" solar, porque neste signo, e através dele, o Sol - "exaltado" em Áries - sente
pela primeira vez que a vitória foi alcançada. Esta vitória sobre a Noite é celebrada no
décimo-nono grau de Áries, o ponto de "êxtase" da força solar. É o dia simbólico da
Ressurreição, a Páscoa. Mais tarde, em Leão, o ego solar consciente se realizará
completamente na alegria de sua expressão criativa; mas aos 190 de Áries, a Força-do-Dia
triunfa com a explosão do primeiro amor da adolescência. A Vida se derrama
exuberantemente no jovem que se sente expandido no universo. Essa é, na verdade, a
canção de regozijo da Páscoa - o primeiro florir das árvores, antes de aparecerem as folhas
verdes de Touro.

30
TOURO

Depois de triunfar sobre a Força-da-Noite no equinócio, a Força-do-Dia que, durante


Áries, avançava com o desejo adolescente de uma manifestação pessoal, torna-se agora,
em Touro, mais firme e mais persistente. Ela para de lutar (quase sempre contra fantasmas
e moinhos-de-vento imaginários) devido ao privilégio de poder exteriorizar sua energia
como uma personalidade. Ela procura firmar-se de forma tangível. Exige resultados, e
aprende que estes são ganhos através da repetição, de movimentos determinados, de uma
insistência obstinada e de esforços constantes. Aprende também que só o contacto íntimo
com a substância da Terra pode produzir estes resultados concretos, cujo fruto é a
personalidade humana. Em Touro, portanto, vemos a Força-do-Dia atuando sobre a base
substancial de todos os organismos, estimulando o solo da humanidade para a frutificação.
Touro é a reação que segue à ação de Áries. Depois da insegurança interna
característica de Áries, que o ariano torna frequentemente em desafio e virtude, Touro nos
traz uma ênfase na segurança. O instinto pioneiro dá lugar à capacidade de organização do
colonizador. A energia, como pura capacidade de movimento, encontra agora um material
resistente contra o qual mover-se. O puro movimento de Áries transforma-se, em Touro,
numa emoção estimulada por objetivos. Em Áries, a Vida universal jorra através de um ego
adolescente ansioso por uma identidade individual. Em Touro, as forças da tradição, do
hábito e da inércia material misturam-se a este jorro de energia semiconsciente e sem
identidade, produzindo um movimento rotativo, do qual surgirá uma noção definida de
personalidade, de um destino limitado.
Áries age em linha reta, Touro em movimento circular - Gêmeos vai ligar os dois
através da espiral. Uma linha reta pode ser sempre vista, em geometria, como tangente a
um círculo. A tangente mostra a ação de uma força que escapa das algemas do movimento
circular. Da mesma forma, a germinação rompe a unidade globular fechada que é a
semente. Áries (o broto germinado) é, portanto, liberado por um movimento tangencial; e
Touro curva depois a tangente de volta a uma órbita circular, detendo aquilo que, caso
contrário, seria um constante e exaustivo fluxo de energia em direção ao espaço: uma
explosão.
Áries e Touro são complementares. Mas não da mesma forma que Áries e Libra são
complementares e também polaridades. Áries é fundamentalmente oposto a Libra. As
direções de suas atividades são opostas. Áries se move em direção ao máximo da Força-do-
Dia, e Libra em direção ao máximo da Força-da-Noite. Por outro lado, tanto Áries como
Touro caracterizam-se pelo crescimento da Força-do-Dia. Mas em Áries, a Força-do-Dia é
uma ação direta, porque seu principal problema é superar definitivamente a Força-da-
Noite. Mas depois que esta é definitivamente superada, surge uma nova necessidade: a
necessidade de uma estabilização e de uma restrição voluntária. Este é o trabalho de Touro.
Em Áries, busca-se a ação pelo simples prazer de agir. Há desejo de liberdade, medo de
dependência, identificação com a pura movimentação, e há também a falta de
sistematização que se tem numa primeira conquista. Isto, obviamente, leva à dispersão e a
uma sensação de inutilidade, de que a vida escorre como areia por entre os dedos abertos.
31
Surge então a necessidade de uma ação aglutinadora. Touro satisfaz esta necessidade sem
se opor essencialmente à direção da Força-do-Dia de Áries, mas simplesmente modificando
esta força através da realização de um novo propósito.
A diferença entre a energia de Áries e a de Touro é a diferença de propósitos. As duas
energias têm a mesma direção. São na verdade, a mesma energia, que depois de atingir um
certo objetivo em Áries vai realizar uma nova etapa do seu desenvolvimento em Touro. O
propósito de Áries é dinâmico; o de Touro é orgânico.
A corrosão do metal por um ácido, em algum lugar da superfície da terra, é uma
atividade desintegradora, dinâmica. Mas a ação do ácido hidroclórico sobre as proteínas,
no estômago de uma pessoa, é uma função orgânica. Em outras palavras: o ácido no
estômago desempenha uma função em relação à necessidade de um todo orgânico, o corpo
humano; e suas atividades são controladas mais ou menos rigidamente por esta
necessidade. Por outro lado, o ácido livre vai corroer tudo o que encontrar. Ele não tem um
objetivo funcional específico em relação a algum todo orgânico definido.
Áries age; e esta ação se justifica por si mesma. Por trás dela existe uma compulsão do
Destino, mas a pessoa de Áries é indiferente a isso e sua consciência se satisfaz com o
simples fato de agir. Já para o taurino esta ação não tem nenhum sentido se não tiver um
propósito. Ela tem que estar relacionada a alguma coisa. Em Touro há uma compulsão de
relacionamento; em Áries, uma compulsão de atividade. Em Touro a atividade tem que ser
funcional ao organismo, ao propósito a que ela serve.
O sexo, por exemplo, para o ariano, é quase simplesmente uma forma de liberação. O
sexo se justifica por si só, como uma excitação da atividade, da força propulsora. Mas para
o taurino, o sexo é um meio de produzir um resultado definido: normalmente, uma criança.
"Produção" é uma palavra-chave para Touro. Tudo que Touro toca tem que ser
produtivo, para que possa ser considerado significativo. Mas a produção depende do
controle das energias básicas da natureza humana ou da natureza terrestre. Áries quer
apenas liberar energia; Touro insiste em fazer dessa energia uma energia produtiva. Ele põe
em uso a energia de Áries. Energia produtiva - energia que está controlada e formada -
torna- se poder, força. Portanto, Touro é um signo zodiacal de força. É um dos quatro
grandes momentos do ciclo anual, durante os quais a vida se manifesta de modo definido e
criador em termos de força e de propósito. O décimo-quinto grau de Touro é, em relação à
cruz formada pelos equinócios e solstícios, um ponto de quarenta e cinco graus do círculo -
os outros pontos são 15° Leão, 15° Escorpião e 15° Aquário. Estes pontos são aberturas pelas
quais força (energia) e propósito são liberados e vivenciados. Eles são pontos "alquímicos",
e na Bíblia são simbolizados respectivamente pelo Touro, pelo Leão, pela Águia e pelo Anjo.
Touro é a "boa terra", a generosa Grande Mãe; e pode ser considerado um signo
feminino. Mas, curiosamente, é representado no simbolismo astrológico pelo Touro, um
macho, e não por uma fêmea. Por isso deve-se tomar cuidado para não exacerbar as
características passivas e receptivas deste signo. Não é só um signo de forte ascendência da
Força-do-Dia e símbolo de uma determinação objetiva. Representa aquela força genuína
que surge das profundezas da matéria-prima e busca constantemente atingir o nível mais
elevado, onde atua a consciência básica de todos os organismos naturais. Ele é a "boa
terra"; que constitui apenas a camada fina da superfície da terra, capaz de produzir safras
de plantas e árvores. É o solo negro e rico (talvez de alguns centímetros de profundidade)
32
sem o qual não poderia haver nenhuma vida na Terra.
Esta camada da superfície da Terra é o ponto de encontro das vibrações terrestres
com as radiações solares. É aí que ocorre a fecundação da terra pela energia solar e nascem
os organismos vivos - seja nas águas rasas do mar ou no humo que forma a fina camada da
superfície do solo. Na verdade, toda a vida no nosso planeta é apenas "superficial". Do
mesmo modo, todas as nossas experiências com o mundo externo são adquiridas através da
pele e de partes especiais da sua superfície: os sentidos. O reino consciente é também a
camada mais superficial do vasto Inconsciente e, do mesmo modo, as faculdades racionais
e analíticas, abrangidas pelo termo "intelecto", são os últimos e mais superficiais
desenvolvimentos da consciência humana. O intelecto - a nata das faculdades conscientes
que, por sua vez, são a nata da inteligência ou da mente humana - não revelará suas
verdadeiras possibilidades até que Gêmeos seja alcançado. Entretanto, esta safra
geminiana da primavera está amplamente condicionada pelo solo de Touro, de onde ela se
desenvolve; e também pelo poder fecundador de Áries, que torna este solo frutífero.
Touro é a fase da vida e da experiência humana, onde o crescente impulso da evolução
encontra sua expressão mais concentrada e mais vocal. Touro é a superfície da Terra,
considerando-se esta superfície como o nível mais alto alcançado pelo élan vital - e desta
superfície as plantas crescem em direção ao sol, para realizar a alquimia da luz. A terra se
expande através de suas árvores cuja clorofila capta as radiações solares, e a energia do sol
é então quimicamente fixada tornando-se utilizável para maiores evoluções neste planeta. Os
animais comem as folhas. Os troncos das árvores se decompõem e se transformam em
carvão. As árvores condensam a umidade do ar, colaborando para a precipitação de chuvas
fertilizantes; e as chuvas formam rios e cachoeiras, dos quais é extraída a energia elétrica.
Toda energia na terra tem sua base substancial na ação química das - plantas verdes e
de sua clorofila que é quase idêntica, em natureza química, às células vermelhas do sangue.
Verde e vermelho: duas polaridades - Touro e Áries. O primeiro dá energia aos seres vivos;
o segundo, depois de um processo alquímico, produz no ser humano o pensamento
consciente - porque não pode haver pensamento consciente na Terra se não houver o
sangue vermelho. Áries é a Visitação divina, a descida da energia. Entretanto, a substância
de cada novo progresso evolutivo pertence a Touro, porque ele é o símbolo dessa força que
eternamente produz novos organismos. O termo-chave de Touro é: realização evolutiva
feita das profundezas para cima.
Em Touro todas as energias vitais nascem em direção à superfície; o taurino, atraído
pela força de vontade e pelo desejo do Sol, encontra a fonte do seu poder nas profundezas
raciais do seu inconsciente. Portanto, o taurino se identifica pela raiz, com a raça que o
gerou, enquanto luta constantemente para harmonizar o seu sentido consciente de
propósito com esta vontade superior que o conduz para o próximo estágio de sua evolução.
As manifestações externas desta vontade superior impessoal, instintiva ou cósmica podem
ser retardadas; mas dificilmente serão interrompidas.
Vêm daí a determinação, a teimosia e a rigidez de propósitos de Touro. E estas
características frequentemente levam a um sentimento de possessividade. A
possessividade resulta de uma necessidade interior que precisa ser satisfeita. Tudo que
satisfizer esta necessidade vai adquirir tal valor, que parece urgente à pessoa assegurar sua
posse. O taurino pensa essencialmente na utilidade que uma pessoa, situação ou
33
relacionamento, terá para ele. Porém isso pode não ser egoísmo, mas sim o resultado da
compreensão vital de que um fator da experiência só pode ter significado se satisfizer um
propósito definido. Onde quer que uma coisa satisfaça a um objetivo prático, aí é seu lugar
e aí deve permanecer.
No estágio de Touro, a personalidade ainda não está firmada. Porém a noção de
utilidade e de propósito é a base sobre a qual se construirá uma personalidade sólida, pois
personalidade é um conceito- orgânico. A autossuficiência, pelo menos relativa, é a base da
personalidade. Touro dá condições para o auto-sustento, a partir do qual a autossuficiência
poderá desenvolver-se. Daí a ligação entre Câncer, signo regido pela lua, e Touro, signo
onde a Lua está "exaltada". O propósito de procriar (Touro) leva à construção do lar
(Câncer). O que é preciso, porém, antes do lar ser construído, é forçar a energia criativa
(Áries) a aceitar este propósito. Este será o trabalho de Gêmeos, o tecelão de padrões de
relacionamento e de ideais - essas redes nas quais a liberdade de Áries será capturada.
Em Touro, a Força-da-Noite também se manifesta, mas de uma maneira ainda mais
remota do que em Áries. A·firmeza de propósito da pessoa de Touro, que recolhe sustento
exterior para concretizar e efetivar a construção de uma personalidade ou de um lar, deixa
pouco espaço na consciência para a já reduzida Força-da-Noite. Mas esta força ainda está
bem presente no subconsciente ou na relação de Touro com o vasto panorama do
Inconsciente Coletivo. Esta força se manifesta como uma intoxicação que tem como base o
sentimento, irracional ou suprarracional, de identificação com um propósito místico, a
sensação de estar tomado pelo poder de uma comunidade invisível. Por isso, a impressão
de ser um Profeta, um Messias, um Redentor, um Avatar; um porta-voz da Divindade.
Isso pode se manifestar de várias pequenas formas ou de uma forma maior. Pode ser
um delírio. Pode ser uma realidade. Apenas os frutos (o resultado) poderão provar qual das
duas hipóteses é a verdadeira. Touro é o signo em que ocorre o Pentecostes simbólico. Os
seres humanos são tomados por um poder transcendente, supraconsciente, irracional. O
"dom das línguas" é um símbolo da irracionalidade, ou melhor, da super-racionalidade
deste poder - uma linguagem particular é sempre considerada o símbolo perfeito da
manifestação da faculdade racional.
De acordo com a tradição, seja ela simbólica ou um fato literal, Gautama, o Buda,
nasceu, atingiu a liberação e morreu na Lua Cheia de maio, durante a fase Touro da
experiência humana. O significado disso é que Gautama pode ser considerado - do ponto
de vista da sabedoria ocultista - como o verdadeiro "sumo" da evolução humana e o
primeiro exemplo do tipo de consciência mais elevado capaz de ser alcançado por um ser
humano nascido desta terra. Pode ser que Manifestações Divinas, antes ou depois do Buda,
tenham sido Personagens ainda mais grandiosos; mas se assim for, é porque eram
encarnações do poder divino e não clímaxes da consciência humana, como foi o caso de
Gautama, o Buda.
Como foi ensinado por Gautama, na Índia, a constelação das Plêiades se encontrava no
final do signo zodiacal Áries. Muitos videntes e astrólogos do passado afirmam que as
Plêiades são o centro do nosso universo. Se assim for, deste centro brotam constantemente
a Energia e o Amor que vivificam e integram todo o ciclo da nossa evolução. Áries é a
nascente simbólica da vida manifestada; e Touro, energizado pelas Plêiades desde os dias
de Cristo, é o rio constante que flui e cuja substância alimenta multidões com suas "águas'
34
vivas". Em suas barragens, grandes cidades são construídas, a Civilização cresce e
amadurece, e os seres humanos buscam o Mistério que está além das mutações - e que
sustenta e ilumina todo o Universo.

35
GÊMEOS
Com Gêmeos, chegamos à última fase da primavera. A Força-do-Dia que vimos
avançar e borbulhar com a impetuosidade adolescente de um rio de montanha (em Áries)
atingiu em Touro o nível mais tranquilo das planícies, fertilizadas pelo trabalho humano. A
energia dinâmica da natureza transformou-se então em força orgânica - em energia
canalizada para o uso e induzida a assumir uma função na economia da vida. O adolescente
viveu seus primeiros romances. Aprendeu a identificar o seu caminho e a se firmar como
uma entidade individual entre seus familiares. Aprendeu a dar uma expressão
relativamente organizada às forças ancestrais que emergem da sua tradição. Agora, sua
tarefa é ampliar a capacidade de relacionamentos humanos - e na verdade, de todos os
tipos de relacionamentos: internos e externos. Todo seu ser almeja por uma expansão
vívida do campo de experiência. Talvez a vida universitária lhe dê grandes oportunidades de
encontrar novos colegas, de pesquisar novas formas de pensamento e de vivenciar novas
facetas de si mesmo, distribuindo assim a energia de seus sentimentos entre uma
variedade maior de objetos e personalidades que não lhe são familiares.
A Força-da-Noite, no estágio geminiano, atinge seu fluxo mais baixo. Representa o
poder do seio familiar, das tradições coletivas, de todos os hábitos e vínculos sutis que
estão apegados ao jovem que anseia por emergir de todo e qualquer tipo de
aprisionamento ao passado, onde ele, porém, tem suas raízes. Em geral, o jovem recusa-se
a admitir tal aprisionamento, mas seu sentimento juvenil e pretensioso de independência
é, antes de mais nada, uma reação negativa ao que ainda o prende às profundezas do seu
inconsciente. Ele alcança uma liberdade ilusória contra a coletividade ancestral, enquanto a
verdadeira liberdade vem de algo que foi conscientemente realizado, e portanto
desobrigado como dependência, embora fique retido como sustento substancial. A energia
da Força-da-Noite é quase totalmente negativa em Gêmeos. Ela está invertida; energiza
complexos psicológicos bastante sutis, que o jovem, sem percebera existência deles, vai
involuntariamente projetar sobre o filme sensível de sua futura vida doméstica.
Mas o jovem não tem tempo para se preocupar com complexos ou analisar a maneira
como se manifesta seu ávido desejo de emergir dos relacionamentos estabelecidos de sua
vida familiar. O que ele quer é ampliar para novos campos todos os meios que tem de
associar o seu sentido de personalidade, ainda inseguro, com uma multiplicidade de fatores
novos Em nível puramente biológico, as matérias-primas da atividade associadora são as
impressões, as sensações nervosas e as reações imediatas a impactos que atinjam os
sentidos e a consciência. Em nível mental, a lembrança, a comparação, a análise e a
formação de imagens mentais para serem expressas por meio de palavras são as fases de
uma atividade que desenvolve o intelecto através do uso da linguagem. Este
desenvolvimento do intelecto está a princípio contido no ambiente imediato, com o qual a
pessoa está constantemente se relacionando, e através do qual entra em contato com um
número sempre crescente de facetas da natureza humana.
Em Gêmeos, vemos a linguagem no seu estágio incipiente, a mente nascendo com o
fervor criativo da Força-do-Dia na primavera. Vemos o poeta, o artista das palavras
expressar-se pelo puro prazer de construir sua própria personalidade, através da ampliação
36
e da memorização de suas experiências nos relacionamentos. Vemos o poeta, não ainda o
filósofo. Ele usa palavras que estão mais enraizadas nas imagens da vida e na experiência
pessoal do que na busca de símbolos universais que são condicionados pela experiência
social (Sagitário).
Em Sagitário, a Força-da-Noite atua com grande intensidade e, como sempre,
manifesta-se como uma tendência a unir muitos fatores distantes através da generalização.
Em Gêmeos, porém, a Força-do-Dia, tão fortemente ativa, faz com que o impulso básico
seja em direção à particularização e à personalização. Desta forma, o processo de vívida
expansão, representado por Gêmeos, lida com a expansão em termos de particularidades,
de experiências concretas; e a meta desta expansão é a construção de uma personalidade e
de uma base para a manifestação desta personalidade: o lar (Câncer).
Em níveis mais complexos de desenvolvimento mental, encontramos a força de
Gêmeos manifestar-se como a necessidade de classificação, de enumeração ordenada e de
lógica; isto é, de modelos estruturais de associação. Um indivíduo cheio da energia da
Força-do-Dia tende a ser dominado pela complexidade da sua experiência pessoal. Muita
coisa é percebida, tocada e obscuramente sentida. O mundo tem tantas flores, as noites
são tão luminosas e o fogo da individualidade flameja formando desenhos tão, intrincados,
que alguma ordem definida precisa ser desenvolvida, para que a personalidade que aflora
não seja desintegrada pela intensidade desta, "expansão existencial".
Por isso, Gêmeos tem necessidade de classificar, de forçar em categorias estabelecidas
a multiplicidade das coisas percebidas, produzir palavras para ajudar a memorizar a
fragrância das experiências rápidas e impor padrões lógicos às evasões dos contactos
humanos. Precisa encontrar linhas mestras de referência, uma estrutura para suas
atividades. Descobre então as polaridades opostas, o bem e o mal, o certo e o errado, como
pontos da bússola pelos quais poderá dirigir o seu caminho. Simboliza os sentimentos
pessoais em entidades cósmicas. É preciso exteriorizar. E atenção! O mundo está sendo
povoado por deuses e elementais, por demônios e "Mestres". Isto são palavras; são
projeções das experiências devidamente classificadas e às quais foram dados nomes.
Nomes que servem como escudos para defender a personalidade imatura do choque com
as experiências e metamorfoses inesperadas. Nomes que são formas práticas de, fazer a
pessoa sentir-se segura num campo familiar; e servem de escoras para a vida.
Esta busca por uma segurança pessoal e intelectual em meio a um fluxo de
experiências, constantemente em mutação, deu origem à lógica grega, ao silogismo e à
ciência europeia clássica como foi concebida por Descartes. Quando o ser humano
começou a desenvolver formas mais autônomas e menos instintivas de pensar, viu-se num
estranho reino de complexidades psicológicas e transformações mentais rápidas como um
raio. Quem conseguiria reter os pensamentos que se esvaem? Quem não temeria as
estranhas peças que a mente nos prega; esta mente, cujas perigosas incertezas levaram-na
a ser chamada a "assassina do Real"?
A lógica foi construída, assim como "o bem e o mal", para dar mais segurança às
pessoas em meio ao desnorteante fluxo de experiências, evocado pela Força-do-Dia com
sua avidez por coisas novas, novas sensações, novos sentimentos, novas emoções e novos
sonhos. Foram construídos, primeiro, para os indivíduos que desbravaram os reinos,
recentemente abertos, da experiência psicológica pessoal; reinos que em breve estarão
37
repletos de defesas e de tabus para o desprecavido ou para o fraco. Deuses e silogismos,
Mestres e álgebras, foram e ainda são proteções necessárias para as pessoas que estão a
tal ponto inseguras de sua própria identidade individual, tão fechadas no ventre racial-
biológico dos instintos coletivos e que são tão facilmente influenciadas, que o perigo de um
"colapso da personalidade" fica sempre à espreita nas sombrias trevas da psique.
Muitos sistemas e técnicas originam-se desta necessidade que deu origem também a
todas as mitologias. O nascimento de uma Personalidade individual total e livre é um
acontecimento tão importante no processo evolutivo do universo que cada fase precisa ser
preparada cuidadosamente. As palavras são esquemas de segurança, transformam o que é
estranho numa normalidade coletiva. Para a pessoa extremamente audaciosa, os sistemas
éticos e a lógica estabelecem limites além dos quais há ameaça constante de uma
catástrofe. Todas essas estruturas só se desenvolverão plenamente, como fatores sociais,
durante a fase Sagitário do ciclo; mas, em Gêmeos, o indivíduo precisa inicialmente criá-las.
Ele as cria a partir de sua necessidade pessoal e vital, usando toda a vivacidade de uma
imaginação estimulada por relacionamentos novos, que só poderão ser confrontados e
relacionados às experiências passadas se lhes forem dados nomes. Gêmeos cria essas
estruturas como poeta. E, a princípio, todo poeta é um "mágico".
O geminiano é o nomeador; portanto, é o mágico que pode controlar as forças da
natureza pronunciando seus "verdadeiros nomes". Palavras de poder, encantamentos e
fórmulas mágicas são as primeiras formas de poesia; consequentemente, toda cultura
deriva desta primeira tentativa de encontrar, com segurança e positividade, o
desconhecido e as misteriosas entidades da noite. Em Gêmeos, a pessoa já sente o impulso
que chega da Força-da-Noite. Ela sabe que terá que enfrentá-lo. Ela se prepara para
construir um lar para o encontro com o desconhecido - que também é o Ser Amado. A
personalidade só poderá se realizar com plenitude a partir deste encontro. E há tantas
possibilidades perigosas para a individualidade neste confronto, que ela tem que se cercar
e se proteger com mais nomes e mais tabus. Por isso o casamento, o lar, a monogamia e
todos os regulamentos ético-sociais que cercam este encontro do eu com o outro.
Entretanto, a insegurança sentida em Gêmeos é diferente em qualidade daquela do
período de Áries. Ela não é um medo indefinido de ser puxado de volta para o passado, e
sim a compreensão bastante concreta de que é preciso formar estruturas e formulações
estáveis para que o que está sendo vivenciado não se perca totalmente ou para que não
haja desintegração da personalidade numa multiplicidade de reações incoerentes a cada
nova experiência.
Uma compreensão plena do que está implícito na atividade do ser humano durante a
fase Gêmeos de sua experiência depende do reconhecimento dos dois tipos básicos de
relacionamento orgânico. Durante esta fase do ciclo, existe para cada pessoa a
possibilidade de transferir o centro de sua consciência de um nível para outro, e por isso
surgem os problemas psicológicos característicos de Gêmeos.
O primeiro tipo de relacionamento pertence ao reino de Touro. É o relacionamento
através da terra, simbolizado pelo fato de que todas as plantas que crescem na superfície
de nosso planeta estão enraizadas no mesmo solo. Como existe unicamente uma superfície
contínua de terra (contínua até mesmo sob os oceanos), todas as plantas se relacionam
entre si através de suas raízes. Tanto o freixo nas Montanhas Rochosas quanto o pinheiro
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na Geórgia ou o carvalho nas montanhas europeias, emergem da mesma superfície sólida e
compacta da Terra. Esse tipo de conexão caracteriza essencialmente todos os
relacionamentos que vêm sob o signo de Touro: o relacionamento através das "raízes" por
ser (o contacto físico, a comida, o sexo etc.) - relacionamentos definidos por um vínculo
comum à terra, e em geral ao fator "fecundidade" - em todos os níveis concebíveis.
Um outro tipo de relacionamento unificador é o relacionamento através do ar, o ar
que todos os organismos vivos respiram - sejam eles plantas, animais ou seres humanos.
Estamos todos, real e concretamente, unidos a todos os organismos que respiram. Por mais
que sejamos distantes e orgulhosos, cheios de sentimento de superioridade e dignidade,
andando pela Park Avenue, queiramos ou não, recebemos nas mais íntimas profundezas do
nosso ser (pulmões e sangue), exatamente o mesmo ar que momentos antes foi respirado
por um mascate bem sujo, uma prostituta ou um criminoso das favelas. Podemos nunca ter
pensado em estar num mesmo espaço com estas pessoas; porém, o ar que foi por elas
respirado está agora nos nossos pulmões. Não podemos escapar deste relacionamento -
pois isto significaria uma morte imediata. Desta forma, o estreito campo dos nossos
relacionamentos conscientes com os outros seres humanos é expandido, contra a nossa
vontade, pelo ar que respiramos.
O ar nos une também pela nossa forma básica de expressão: a fala - porque o som
desloca-se através de ondas no ar. As ondas do ar nos relacionam em casa com o avião que
voa uma milha acima de nós, no momento em que ouvimos o som do seu motor. O ar
transporta o pólen que nos traz a febre do feno. Por mais grossas que sejam as muralhas do
castelo fortificado que construímos em torno do nosso precioso ego, e por mais orgulhoso
e egoísta que seja o nosso "isolacionismo", o ar zomba dessas nossas fantasias infantis e
nos compele a uma integração com as coisas de que desejamos escapar. Portanto, o ar é
justamente o elemento através do qual o ser humano pode viver a experiência de uma
"expansão de relacionamentos" fundamental. E Gêmeos é o primeiro dos "signos de ar" do
Zodíaco.
Uma expansão vívida da existência através de uma busca constante de
relacionamentos sempre novos: esta é a essência da experiência humana em Gêmeos. Esta
expansão começou em nível biológico, quando a mão humana emergiu como um novo
fator evolutivo no reino dos organismos vivos. Na verdade, a mão - "regida" por Gêmeos - é
o símbolo primordial do reino humano em nível orgânico. Pelo uso da mão, o ser humano
tornou-se um fabricante de instrumentos. A variedade de suas experiências cresceu
enormemente quando esses instrumentos lhe deram capacidade de controlar e mudar seu
meio ambiente. Novas associações levaram a novos tipos de relacionamentos e ao
refinamento progressivo das reações e sensibilidades nervosas. Das mãos para os nervos e,
então, para o cérebro - este é o processo de desenvolvimento da personalidade, controlado
por Gêmeos. Durante o seu curso nasce o ser pensador - descendente do ser fabricante de
instrumentos.
Em Áries, o ser humano não vivencia o pensamento como um processo associativo
baseado nas matérias-primas da sua experiência pessoal. Ele vivencia "ideias" - que lhe
descem à mente, ou germinam dentro dele como sementes do passado, sementes que
pertencem à fase do ciclo anterior, quando a Força-da-Noite era dominante. Em Touro,
estas ideias ou revelações inspiradas penetram na substância dos sentimentos humanos e
39
das reações orgânicas. Mas só em Gêmeos o pensamento acontece realmente como um
processo consistente e funcional de comportamento orgânico, sob a direção da Força-do-
Dia.
O pensamento controlado pela energia da Força-da-Dia é bem diferente do
pensamento dominado pela Força-da-Noite, em Sagitário. O pensamento de Gêmeos está,
por um lado, relacionado às necessidades da personalidade e, por outro lado, é alguma
coisa absorvida do meio-ambiente. É aprendido. Em qualquer nível que seja, o pensamento
geminiano é um pensamento transmitido. É o pensamento que traz para uma expressão
concreta os impulsos e inspirações vivenciados durante o período de Áries. Ele é o
pensamento verbal condicionado pela linguagem. O pensador geminiano seleciona, entre
os tesouros das civilizações passadas, palavras e conceitos como um meio para crescer
como personalidade. Ele pensa psicologicamente, enquanto o sagitariano típico pensa
socialmente. E é por isso que Gêmeos é poeta em vez de filósofo. Ele constrói com palavras,
como as mãos constroem com barro, pedras e madeira. E ele constrói porque precisa
crescer pessoalmente através desta experiência, porque enquanto constrói ele se treina a
funcionar como uma personalidade autônoma e consistente.

...anos universitários; anos de aprendizado, anos em que percorremos novos mundos,


nos sentimos atraídos e repelidos por contatos e sorrisos, profundamente inseguros
embora agressivamente convictos; quanto mais nossa personalidade se firma, menos
parece possível medir o fluxo da vida com as mãos e o cérebro; projetamos símbolos,
imagens e palavras para assegurar a nós mesmos que somos conhecedores e mestres - esta
é a fase de Gêmeos: a entrada para o vasto mundo da sociedade humana, os portais para a
grande experiência de união com o Ser Amado.

40
CÂNCER

Com o solstício de Verão, alcançamos um ponto culminante do ciclo anual. O dia mais
longo encontra a noite mais curta; e a triunfante Força-do-Dia, se irradiando do sol do
meio-dia, começa a minguar diante do poder ascendente da Força-da-Noite. Chegou o
verão e, com ele, a glória dos prazeres. Porém, prazer e satisfação geram novas tarefas e
novas realizações. Da "união" nasce o dever de dirigir o processo de formação e
crescimento dos resultados desta união; e, em primeiro lugar, nasce a necessidade de
limitar a expansão, para trazer estas forças de formação e crescimento ao foco mais nítido
possível.
O signo zodiacal Câncer representa o princípio que focaliza as energias vitais, com o
objetivo de produzir uma imagem ou impressão mais definida e permanente possível.
Câncer, portanto, nos traz uma reversão no processo de vívida expansão iniciado em
Gêmeos. Assim como Touro repolariza a direção da Força-do-Dia em Áries, Câncer dá nova
direção às energias de Gêmeos. Touro e Câncer são considerados signos "femininos". A
"terra" de Touro é necessária para apreender e completar o "fogo" de Áries. E a "água" de
Câncer condensa a expansão "aérea" e a penetração total de Gêmeos.
Gêmeos espalha sua busca por novos relacionamentos através de todo o campo da
experiência; mesmo que seja construindo palavras, sentenças e sistemas intelectuais, isto é
feito com uma característica despreocupação e falta de interesse nos resultados finais.
Tudo que o geminiano quer conquistar ao fazer contactos sempre novos, é a segurança
pessoal. Ele busca um controle intelectual temporário através da formulação verbal. E
preocupa-se em permanecer sempre dentro de estruturas conhecidas enquanto se
expande. Por isso, nunca se descarta de sua própria ótica; pelo contrário, leva-a a todos os
lugares e situações possíveis. E não se importa com o fato de alguém já ter usado esta
mesma ótica; em todo caso, sendo conhecido como criador de um tipo especialmente bom
de ótica, lhe será mais fácil estabelecer com vantagem novos contactos.
Nos assuntos do amor, por exemplo, Gêmeos vai tomar cuidado para que sua
aproximação do sexo oposto esteja bem definida em sua mente, evitando assim o choque
de ser dominado por um amor de poder elementar. O geminiano classifica suas relações e
seus tipos de amantes, enquanto expande sua curiosidade e ânsia de amor em direção a
novos horizontes. E se a pessoa de Gêmeos gosta de ser conhecida como um Don Juan, é
porque tal reputação pode trazer uma "expansão mais vívida" no campo dos seus contatos.
O geminiano pode ficar completamente atado por suas formulações e categorias, por sua
lógica e suas expectativas. Mas fica atado apenas pessoalmente. Não insiste em que as
outras pessoas fiquem atadas da mesma forma. Portanto, pode ser tolerante e aprecia o
jogo limpo, embora não consiga realmente alcançar o ponto de vista da outra pessoa.
Ele é tolerante, mas não tem uma compreensão real, ao passo que Sagitário pode
compreender, mesmo quando é mais intolerante, porque percebe complacentemente
como uma situação social produziu uma certa atitude numa pessoa, e não vai culpar essa
pessoa por isto. Porém, se ele não aprovar a situação e a atitude, certamente agirá com
extrema intolerância em relação às ideias implicadas - ainda que possa compreender e
41
simpatizar com a pessoa que traz as ideias.
Em Câncer, observamos um corte súbito da ânsia de expansão de Gêmeos. Alcançam-
se limites; a curiosidade por novos relacionamentos é absorvida por um acontecimento que
leva a uma reversão completa de movimento. O sol para no céu do norte e os poentes
começam a inclinar-se para o sul. Há uma breve pausa, e todas as coisas trocam de
polaridade. A Força-do-Dia atinge sua intensidade máxima. Ela agora deverá
vagarosamente se deixar substituir pelo poder matriarcal da Força-da-Noite. Seja qual for a
extensão alcançada, limites definidos serão estabelecidos. Se estes limites ainda tiverem
que ser afastados para mais longe, isto será feito a partir de uma nova base de atividade;
uma base social e mental, em vez de psicológica e pessoal.
O que realmente aconteceu para causar esta reversão? Apenas isto: o ser individual,
não sendo mais capaz de resistir à pressão da força universal, teve que se abrir para o
universo e a sociedade. Esta abertura poderia ocorrer, teoricamente, da forma mais
adequada às necessidades do indivíduo. E assim ocorre, livremente e a cada instante, para a
pessoa que atingiu um certo nível de integração e liberdade - a pessoa que se tornou livre
das consequências de frustrações e repressões impostas sobre seu crescimento por seus
pais e seus ancestrais, pelo passado de sua raça e - se acreditarmos em reencarnação pelo
passado - de sua Alma; para a pessoa livre das memórias subconscientes e também das
conscientes.
Mas no ser humano comum de hoje, estas memórias, frustrações e falhas estão fortes.
Medos subconscientes surgiram em Áries; inércia biológico-racial e possessividade, em
Touro; e formulações intelectualmente cristalizadas, em Gêmeos. Portanto, quando o
indivíduo enfrenta, em Câncer, a reversão da sua força vital, e é inundado pela vida
universal, ou confrontado pela necessidade de participar na sociedade ao "atingir a
maioridade", esse confronto é altamente perturbador. Forças irracionais, biológicas,
emocionais e de devoção se precipitam do inconsciente e tendem a dominar o consciente.
Portanto, o indivíduo precisa estar protegido; esta investida do inconsciente tem de ser
canalizada. E esta necessidade é a razão do "casamento" - e também do que os ocultistas
chamam "Iniciação". O companheiro e o Iniciador - a vida como um todo poderia ser o
companheiro ou o Iniciador, se o indivíduo tivesse uma força integradora suficiente para
não se deixar oprimir pelos constantes confrontos que as mudanças da vida lhe
apresentam, se ele fosse consciente o bastante para ser, a qualquer momento e sob
qualquer condição, um ponto de foco para a vida universal - para Deus. Então não haveria a
necessidade de um cônjuge ou de filhos para fazê-lo compreender de uma forma específica
- e desta única forma, que sua meta e sua realização se encontram, na verdade, no
cumprimento de sua responsabilidade para com a vida, na vontade consciente de ser um
foco, dentro e através do qual a Vida ou Deus possa "falar".
Deus poderia falar através do indivíduo em miríades de vozes, uma para a necessidade
de cada momento. Mas como o indivíduo cresceu sob a influência da configuração
defeituosa do medo, da inércia e da cristalização mental, a pedra humana não é um cristal
claro. Precisa ser polida. O indivíduo precisa amar e sofrer, voltar-se para tarefas
domésticas e passar privações, abrir mão de uma alegria transitória e "abandonar o seu eu"
para encontrar a "Vida eterna". Porém, na essência e na realidade, a plenitude é aqui e
agora. Não há nada que deva ser "abandonado", a não ser as falácias. Tudo o que é
42
necessário para que a pessoa se torne uma lente capaz de focalizar a divindade é estar
consciente do que ela (a pessoa) inerentemente é, e o ser claramente, com beleza e
verdade.
Uma lente para focalizar a vida. Para o indivíduo comum, no atual estágio da evolução
humana, vida significa "humanidade"; poderia significar, e um dia significará, "divindade". A
casa e o casamento estão condicionados pelos fatores "humanidade" e "sociedade", pela
educação recebida pela criança na escola e pelas frustrações dos pais. O desenvolvimento
anormal, na infância e na adolescência, faz o jovem apegar-se à Força-do-Dia, querendo que
ela cresça mais e mais através de uma fase geminiana eterna. Ele deveria voluntária e
complacentemente abrir-se para a ascendência da Força-da-Noite. Esta é a lição do solstício
de Verão, de Câncer. Precisa haver repolarização; porém a humanidade atualmente precisa
ser compelida a se repolarizar. Precisa ser compelida a se abrir para a Forçada-Noite, para o
Mistério do Espaço e para a Irmandade das Estrelas; porque ela não o fará
voluntariamente, seja como indivíduos ou como nações. E este é, hoje, o nosso problema
mundial.
Qual é a natureza desta compulsão? Um despertar repentino das forças irracionais,
instintivas e biológicas, enraizadas no sangue; um despertar repentino de "sentimentos" e
de visões psíquicas também. Chamamos a isso "paixão"; e, hoje em dia, no âmbito social,
também chamamos a isso devoção em massa a ditadores que exaltam o "apelo do sangue"
- ou devoção a Profetas que trazem de uma forma específica (daí vem o dogmatismo) a
Revelação de Deus. Estes são vários aspectos do mesmo processo no indivíduo e na
humanidade - este processo é a mudança de Gêmeos para Câncer, essa "conversão" que
reverte a direção da força-vital.
Vamos nos conscientizar, porém de que esta "conversão" não precisa ser violenta,
fanática e passional. A necessidade emocional-biológica ou religiosa não precisa sobrepujar
a consciência; mas ela irá sobrepujá-la, por uma necessidade, onde a consciência estiver
presa a cristalizações do ego, inflexível, ou embebida em "complexos" e deslumbramentos.
O que significa: em quase todas as situações! E por esta razão, organizamos e
estabelecemos em todos os sentidos o totalitarismo - unidade forçada - talvez como uma
inevitável proteção contra a desintegração total: a desintegração moral nos indivíduos e a
anarquia na sociedade humana.
Muito poucas pessoas compreendem o mistério do símbolo de Câncer, o Caranguejo!
Uma criatura da água, cujos movimentos são regressivos ou para o lado, e cuja evolução foi
levada para um beco sem saída, que é constituído pelo uso de uma casca dura que reveste
a vida; porém não devemos esquecer que essa casca é trocada periodicamente a cada novo
ciclo! Uma criatura do mar! e o mar sempre simboliza o coletivo, ou melhor, o Inconsciente
genérico, a Matriz universal da vida.
Aqui nós temos um tipo de simbolização tão negativo quanto o que encontramos em
Escorpião. Mais um passo à frente, encontramos a conexão entre Câncer e a doença mortal
do mesmo nome. Mas por que esta ênfase tão negativa? Porque os antigos que
construíram este simbolismo zodiacal bem sabiam que o significado real e positivo da
liberação divina no solstício de verão dificilmente seria revelado. No mundo ocidental
temos que ir à Bíblia cristã para encontrar referências mais completas ao solstício de verão,
tais como o "Casamento do Céu e da Terra", de Cristo com a Noiva, a humanidade: Cristo
43
enfocado como a Encarnação mística no ser humano. Porém, na Índia, se compreendemos
o significado real do conceito Avatar, das ideias que presumivelmente o grande
Sankaracharya ensinou - ele que nasceu com o Sol em Câncer - alcançamos o significado
real deste nascimento do verão. Isso deveria nos ajudar a compreender nosso próprio país,
os Estados Unidos, e o potencial do nosso destino mundial, porque nós também nascemos
nacionalmente sob o signo de Câncer. E não é de fato significativo que nossa doença mais
atemorizante hoje em dia seja também chamada câncer?
Seria o destino mais elevado do canceriano formar um lar convencional e rígido? Ou,
mais provavelmente, servir como foco para uma nova manifestação de Deus? Estarão os
Estados Unidos satisfeitos com um limitado nacionalismo, com lares fragmentados devido a
um individualismo cristalizado e com os consequentes divórcios? Ou, numa época em que a
maior parte das nações tem-se "apaixonado" por ditadores e totalitarismos enraizados no
sangue e de exaltação nacionalista, o nosso destino mundial é ser um ponto de foco para
uma nova força-de-Avatar ou força-de-Cristo? Câncer vem nove meses antes do futuro
Áries. Câncer é o símbolo da fecundação - mas será esta uma fecundação divina ou uma
fecundação estritamente humana? Câncer é o ser humano fecundado por Deus; é um Lugar
Sagrado no qual Deus desceu.
Na prática usual da astrologia, o tipo de personalidade caracterizado por Câncer é
frequentemente representado como dominado por humores variados e por dons psíquicos.
Mas o que nem sempre se compreende é que estas manifestações psíquicas são o
resultado de uma invasão da força universal na consciência individualizada que, por esta
razão, se desorganiza. Esta invasão pode significar um grande número de coisas: do êxtase
característico do amor passional aos distúrbios das primeiras semanas de gravidez; das
alucinações psíquicas ao vidente inspirado em Deus; de mentiras glamurosas ao
avatarismo. E não podemos esquecer o retrocesso a partir desta invasão da Força-da-Noite,
o apego a uma forma específica, a um lar específico, a um sentimento específico, os ciúmes
e as possessividades que são as sombras da integração de um homem e uma mulher - tudo
isso nascido do medo, do terrível medo do que poderia acontecer caso houvesse uma
"mudança de foco".
O canceriano contém tudo isso. Ele pode ser o mais desamparado ou o mais
determinado, de uma forma estranha e silenciosa. Está relacionado a um período do ano
em que o Sol se move muito lentamente; para. Há pausa ao mesmo tempo em que há a
possibilidade de intensa luz. É o momento em que os dias são mais longos; porém a
astrologia faz Câncer ser regido pela Lua, esperando por mais um signo, Leão, para glorificar
a radiação criativa do Sol.
Isto porque todos os grandes sacramentos acontecem quando há pausa, silêncio e
tremor. A pessoa, possuída por Deus, ou pelo Ser Amado, é primeiro dominada pela união.
Tudo deve ser reconsiderado, todos os movimentos e motivações revertidos. Nestas noites
curtas e intensas, quando é celebrada a festa de São João, pode ser que haja tumulto no
mundo externo, mas há tranquilidade no Lugar Sagrado, onde a noite abraça o Dia e a Vida
é reconhecida.

44
LEÃO

Durante a fase da experiência humana representada por Câncer, duas necessidades


básicas são imprimidas na personalidade em evolução. Uma é a necessidade da focalização
definida (uma limitação) das energias da Força-do-Dia, cuja intensidade se tornou
dominante. A outra é a necessidade de assumir responsabilidades em relação aos
companheiros e participar de forma consciente na vida de um todo social.
Enquanto que a Força-do-Dia pode ser definida como uma "energia de
personalização", que força padrões abstratos, ideias e entidades espirituais a serem
realidades específicas e concretas, a Força-da-Noite é uma "energia unificadora", que une
as personalidades no processo de construção de grupos sociais. A base deste processo
social, pelo menos em nossa atual fase do desenvolvimento humano, são o lar e a família.
Câncer é o símbolo dessa base, é o manancial da Força-da-Noite - que vai, a partir daí,
estender-se em força e influência até que o solstício de inverno seja alcançado em
Capricórnio (o símbolo da vida social completamente organizada: o Estado todo-poderoso).
O signo zodiacal Leão representa a segunda fase deste processo social. Em Leão, a
força que antes compelia o homem e a mulher a se limitar, estabilizar e aprofundar um ao
outro dentro do padrão social básico que é o lar, passa a estimulá-los agora a criar uma
prole. Assim, eles são levados a assumir uma nova responsabilidade social. Abre-se um
novo campo de integração: a integração dos pais com os filhos, de gerações mais velhas
com gerações mais jovens. A partir daí verdadeiros problemas sociais surgirão; problemas de
relacionamento que não podem ser facilmente resolvidos, porque envolvem a
responsabilidade do "presente" (que constantemente se torna "passado") para com o
"futuro". E desta forma o tempo começa a pesar sobre a consciência do indivíduo.
O tempo é um fator muito poderoso em todas as atividades criativas e em todos os
relacionamentos sociais. Podemos dizer que o tempo quase nada significa na adolescência,
e que praticamente se perde na mania de amor da lua-de-mel. Porém, quando uma criança
(e todas as atividades criativas) traz para os pais uma nova carga de responsabilidades, o
tempo começa a ser uma realidade presente e, quase sempre, dolorosa. A mulher descobre
o tempo pela primeira vez, e no íntimo do seu ser, durante os nove meses de gravidez. O
homem começa a vivenciar o tempo, através da disciplina de um "horário de trabalho",
quando passa a se confrontar com suas responsabilidades e atividades sociais. Ele vive esta
experiência como pai, em casa, e como executivo ou administrador, no seu ambiente de
trabalho, mesmo que "administre" apenas suas próprias tarefas.
Quando escrevemos acima "pela primeira vez" e "começa a vivenciar", obviamente
nos referíamos às condições de vida que predominavam nas sociedades arcaicas, baseadas
no ritmo normal do crescimento biológico; sociedades como, por exemplo, as que
predominavam na Índia nos tempos antigos. As sociedades modernas, por outro lado, são
transitórias, caóticas e não-organizadas; e por isso o ritmo biopsicológico normal do
desenvolvimento humano, simbolizado com precisão pelo Zodíaco, não se manifesta mais
com clareza e exatidão. Porém o Zodíaco continua a ser um símbolo poderoso de um
processo natural, que algum dia servirá novamente de base para uma organização da
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sociedade e mesmo da própria personalidade. Será um tipo de organização que abrangerá
muito mais do que era abrangido pelas antigas civilizações, uma organização nos vários
níveis da atividade humana; mas será, ainda assim, uma organização, e esta será através
dos caminhos naturais, visíveis na representação simbólica do Sol, da Lua e das estrelas.
Leão é o reino das emoções, contrastando com Câncer, o reino dos "sentimentos".
Estes dois termos, sentimento e emoção, devem ser claramente distinguidos um do outro.
"Sentimento" é um estado orgânico interno pelo qual a personalidade como um todo (ou,
em nível estritamente biológico, o corpo humano como um todo) julga o que é construtivo
ou destrutivo, bom ou ruim, para todo o ser. "Sentir" é reagir, como uma totalidade
orgânica, a uma situação ou pessoa; e isso significa simplesmente reagir a favor ou contra à
situação, ou à entidade com a qual se está em confronto.
Como resultado desse "sentimento" ou em sincronia com ele, uma série de coisas
acontece. Músculos se contraem. A pressão sanguínea sobe ou desce, o pulso se acelera ou
retarda, por mais imperceptível que seja. As glândulas endócrinas também reagem a esse
"sentimento", secretando maior ou menor quantidade de seus produtos no sangue. A
química orgânica está portanto sempre levemente alterada. Todas essas mudanças orgânicas
constituem, psicologicamente, o "afeto" ou a emoção. E a emoção pode transformar-se em
ação (como beijar ou fugir, por exemplo), ou pode não se manifestar exteriormente numa
ação muscular visível. As emoções, portanto, seguem os sentimentos; mas os dois precisam
estar claramente diferenciados. Os sentimentos pertencem ao reino de Câncer; as
emoções, ao reino de Leão.
Existe também o que pode ser chamado "sentimentos internos". Uma pessoa se sente
bem ou se sente mal. Esses sentimentos são as manifestações diretas de como o organismo
está operando como um todo. No momento em que uma das funções do seu organismo
enfraquece ou se inibe, a pessoa sente que há algo de errado. Num sentido localizado e
agudo, o sentimento de um distúrbio orgânico é a "dor". Através de sentimentos internos e
externos e, acima de tudo, através da dor, a pessoa vai progressivamente sentindo que é
uma unidade separada, que é de algum modo diferente dos outros organismos
semelhantes. O ser humano aprende a dizer "eu". Aprende a dizer isso, primeiro, através da
dor e da frustração, isto é, não tendo o que o seu organismo necessita ou deseja. Ele
aprende então a funcionar como um "ego individual", que é diferente dos outros egos
individuais, porque "sente" de um jeito diferente. A individualização começa através da dor
e do exercício dos sentimentos. Desenvolve-se através das tentativas de expressão pessoal
(Leão). E se firma através do exercício da capacidade de discriminação e de análise
intelectual (Virgem).
Em Câncer, o ser humano torna-se no nível biológico um organismo com um tempo de
vida e um ritmo de crescimento definidos; no nível psicológico, uma pessoa - um organismo
de sentimentos centralizados ao redor de um ego; no nível social, o proprietário de um lar
que definirá o seu status social. Em cada nível, o que é construído em Câncer é a
capacidade básica de receber, como uma totalidade integrada (um organismo), o impacto
com as outras entidades e estabelecer uma base a partir da qual se possa atuar
criativamente na sociedade. Em Leão, o ser humano vai adiante; e com uma determinação
ainda um tanto insegura para ser um ser "social", ele "sai" pelo mundo brandindo seu "sim"
e seu "não" como uma-espada flamejante. Em Câncer, a pessoa é como um quadrado ou
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um cubo - uma base. Em Leão, ela é um ego que exagera o seu glorioso "Eu sou", como
uma bandeira que a levará à vitória.
Leão é interpretado frequentemente como o signo mais individualista do Zodíaco; mas
isto só é assim se definirmos o termo "individualista" em relação a relacionamentos sociais
e à vida cotidiana em grupo. Em Leão, o indivíduo, que começa a sentir responsabilidade
em relação ao ser amado, e aos filhos, é impelido a participar de algum tipo de atividade
social; não mais como um adolescente, mas como uma personalidade independente, tendo
que determinar o rumo das suas ações e ser responsável por suas próprias falhas. O
resultado desta situação é que a personalidade na fase Leão da sua experiência exagera em
tudo. Ela quer impressionar a sociedade, assim como uma criança de sete anos quer
chamar a atenção de seus familiares. O indivíduo sente que é "o tal"; e que, é óbvio, todos
rapidamente perceberão o quanto ele é importante para a sociedade, e se curvarão diante
de suas habilidades raras, concedendo-lhe riquezas e poder - que ele necessita não apenas
para sustentar sua família, mas, principalmente, para ostentar.
Portanto, o termo-chave de Leão é: exteriorização dramática da personalidade, com o
objetivo de ser reconhecido socialmente e alcançar maior autoconfiança como uma unidade
social. O leonino pode não ter capacidade para ser um líder; mas, mesmo assim, ele tentará
blefar e se impor com grandes gestos teatrais, fogos de artifício emocionais e muitas
jogadas, mesmo que o faça em pequena escala, porque com a mesma intensidade com que
gosta de comandar, a pessoa de Leão gosta também de se arriscar. Porém, assim como a
tão falada "agressividade" de Áries é resultado do seu sentimento de insegurança pessoal,
também as investidas dramáticas em busca de liderança e a generosidade de Leão são uma
compensação psicológica para o seu doloroso sentimento de insegurança social - um
sentimento não admitido e, muito provavelmente, inconsciente.
Mussolini, cujas fotografias da juventude traem o seu já antigo sentimento de
inferioridade social e o seu caráter neurótico, é um excelente exemplo do caminho que um
verdadeiro leonino seguirá ou tenderá a seguir. Se ele se encontrar entre pessoas confusas
e desencorajadas, imediatamente aproveitará a oportunidade para dar o máximo de si. O
poder fará que ele cresça de forma espantosa e ele brilhará, assim como geralmente
acontece com um "menino prodígio" quando é adulado - e, da mesma forma, ele poderá
descambar para a obscuridade, quando a onda do sucesso passar e a fase Virgem, de
autocrítica e automortificação, começar a atuar. O orgulhoso Leão então poderá
surpreender a todos com grandes gestos públicos de auto-humilhação. Assumirá todas as
culpas. Não haverá penitente mais convincente. Rapidamente, porém, poderá esquecer-se
de tudo e começar outro ciclo de auto-engrandecimento social.
Esta dependência a gestos sociais e jogadas é um sinal óbvio de que a pessoa não está
segura, e, na verdade, está cheia de temores sociais. Não sabe atuar em equipe; portanto,
precisa comandar as outras pessoas. Liderança, à moda dos ditadores, é projetar-se
forçosamente sobre materiais receptivos. Os artistas criativos também agem dessa mesma
forma. Seja qual for a sua área de criação, o artista encontra uma resistência da parte dos
materiais sobre os quais ele projeta sua visão e sua intensidade emocional; porém esta
resistência pode ser superada através de meios impiedosos. O instrumento musical pode
ser forçado a ressoar; e se usarmos de bastante obstinação o óleo poderá ser espalhado
sobre a tela. Não se trata, no caso, de uma cooperação com os materiais e, sim, de uma
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manipulação habilidosa e de um conhecimento instintivo (ou adquirido) de como os
materiais vão reagir ao toque. Do mesmo modo, os ditadores são adeptos da psicologia de
massa. Usam a propaganda e a autodramatização. Esta é a técnica da liderança.
A verdadeira consciência social é algo completamente diferente. O leonino típico tem
muito pouco dessa consciência em sua composição - mesmo que possa dar a impressão de
tê-la. Ele fala em termos de generalidades. Agita multidões com palavras e sonhos.
Hipnotiza as pessoas através da intensidade de sua projeção pessoal. Porém seu cônjuge o
conhece melhor, porque as gesticulações dramáticas precisam de palco e distância para
serem realmente eficazes.
Em todo caso, há algo de fascinante e atraente quando um verdadeiro leonino exibe
sua radiação solar para grandes grupos.
Podemos ficar completamente dominados e oprimidos, como ficamos com o brilho e o
calor dos dias de verão; porém, se encontrarmos uma árvore em cuja sombra possamos nos
proteger, será um espetáculo magnífico. O sol é realmente o grande Autocrata do sistema
solar. Será assim porquê ele é ,uma estrela pequena? E, segundo alguns livros de ocultismo,
“uma estrela perdida"? Em todo caso, ele generosamente se entrega e dá vida à tudo o que
é atraído para dentro de sua órbita de radiação, embora possa também matar e causar
danos, a não ser que nuvens e chuvas intervenham para proteger aqueles que o grande
Autocrata iria glorificar até a morte.
Na fase Leão do ciclo zodiacal, a Força-do-Dia está minguando. E o fato de ela minguar,
em termos de uma manifestação efetiva, significa também que há uma interiorização e
uma atividade subconsciente. A Força-do-Dia começou a mover-se para dentro do
subconsciente humano; exatamente como fez a Força-da-Noite durante o inverno e a
primavera. A Força-do-Dia ainda atua, mas de forma introvertida e subjetiva. Ela adquire
características transcendentes - e em alguns casos, características negativas.
A personalidade que foi finalizada, em seu aspecto físico e natural, no solstício de
verão, e durante todo o signo de Câncer, adquire em Leão uma nova dimensão. Nasce a
arte, geralmente como um refúgio para as naturezas mais sensíveis e como uma fuga das
realidades sociais diárias; mas também como uma projeção transcendente e simbólica da
personalidade que normalmente está focalizada e integrada. A pessoa que não consegue
ser um autocrata - ou, modificando esta necessidade de poder, o professor de crianças ou
adultos receptivos - pode obter prestígio e utilidade social através de uma atividade
artística. Neste tipo de atividade, encontramos combinados um individualismo inflexível, a
necessidade de estar só e concentrado em si mesmo, e a necessidade de se imprimir na
sociedade:
A expressão artística criativa, na medida em que use materiais tradicionais e
socialmente aceitos, e na medida em que exija fama e talvez sustento financeiro, é uma
atividade condicionada pelo social. Mas ela é também um meio de expandir a
individualidade interiormente e para além das limitações do tempo. É um meio de alcançar
a imortalidade pessoal através de uma fama que fica perpetuada de geração a geração; e,
assim, negar ou superar o tempo. E é também um método pelo qual a pessoa pode
expandir sua própria consciência; pode ensinar a si mesma.
O grande artista realiza uma espécie de ioga enquanto cria. Não só fica intensamente
concentrado, como os símbolos que pinta ou as energias que estimula através dos sons, são
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geralmente mensagens reais de sua Identidade mais profunda. Durante a criação, o eu
exterior (concentrado e dedicado a uma tarefa) se torna uma superfície receptiva; tão
receptiva quanto a tela ou o piano. Pode então ser moldado pelo que brotar do seu
interior; pelo seu Mestre Interior.
A principal manifestação negativa da Força-do-Dia quando atua internamente em Leão
é a extrema sensibilidade a tudo que pareça atingir a dignidade e o orgulho pessoal. A
Força-do-Dia esta minguando e por isso ela não mais constrói a personalidade diretamente.
A personalidade ainda se expande, porém sobre uma base social; ou seja: em função do
apoio e da aprovação social. Tudo que tender a diminuir esse suporte social parece desafiar
o próprio direito de viver da personalidade, e causa grande dor e ressentimento. Por isso, a
extrema sensibilidade dos artistas e dos ditadores em relação às críticas e à perda de
benefícios públicos. Vem daí a disposição do leonino em usar de qualquer meio para
manter ou recuperar tais benefícios, inclusive exageros dramáticos, mentiras e suborno.
O leonino é o indivíduo na sua primeira tentativa de ser uma personalidade social. E,
como em qualquer primeira tentativa, geralmente falha; ou, então, por medo de falhar,
exagera e dramatiza excessivamente as situações. Ainda não-aprendeu a não querer ser um
senhor de escravos, devido à sua absoluta certeza de que jamais conseguirá se tornar um
escravo. Na verdade, luta instintivamente contra seus medos subconscientes de que a
sociedade possa absorvê-lo e escraviza-lo. Daí suas atitudes exageradas e a intensidade das
suas projeções. E, por sentir intensamente o poder do universo e do tempo sobre seu ego,
que não está socialmente integrado, ele precisa criar. E imprime seu ego no mundo que ele
também deseja organizar à sua própria semelhança, para não se perder na multidão.

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VIRGEM

Em Virgem, a consciência em evolução ocupa-se principalmente em analisar, reagir


contra ou desenvolver tudo o que ocorreu durante o período de Leão. Na fase anterior
(Leão), a Força-da-Noite, ainda hesitante e insegura em suas adaptações sociais,
frequentemente leva o indivíduo a enfatizar suas projeções emocionais. Havendo
encontrado uma base em seu lar e "criado raízes", o indivíduo confronta-se com as
responsabilidades sociais. Deve participar da sociedade, tendo como base sua casa e sua
independência pessoal. Simbolicamente atingiu a maioridade no solstício de verão. Agora
deve desempenhar seu papel na sociedade. Deve produzir, gerar e criar. Está
dolorosamente ciente - mesmo que não esteja claramente consciente - desse "dever". Ele
se esforça. Assume a responsabilidade do comando. Estabelece regulamentos. Está cheio
de si, radiante com sua paternidade - mas ainda não está acostumado a agir em função de
uma responsabilidade social. Suas aventuras frequentemente levam a falhas; e seu
convencimento, a graves erros. Ele se machuca; e fere o seu orgulho. Ele se esgota tanto
que seu corpo sente o desgaste da sobrecarga de trabalho e do excesso de emotividade -
talvez de excessos de todos os tipos. E se o leonino for uma mulher, o fato de dar à luz uma
criança e suas consequentes obrigações podem levar a um violento desgaste físico e à
exaustão psíquica.
Portanto, o cumprimento das responsabilidades domésticas e sociais pode ter deixado
marcas muito profundas. A procriação e as atividades criativas, os trabalhos e os
divertimentos excessivos podem ter criado sérios problemas. Resumindo: nada vai bem. E o
que pode ser feito em relação a isso? Perguntas sem fim surgem na mente confusa. Quem
poderá dar as respostas adequadas? A pessoa tem de continuar trabalhando, produzindo,
ensinando, investindo e criando. Essa é a própria essência da vida social. Mas como pode
alguém ir em frente se a força e a fé estão desaparecendo? Quem poderá ensinar a técnica
de uma atividade com tranquilidade e de um trabalho sem tensão?
Neste estágio começa a fase Virgem do desenvolvimento da consciência. Ela começa
com um ponto de interrogação. Ela pode terminar com a verdadeira iluminação no
equinócio do outono, quando começa libra. Ela deveria terminar com uma compreensão
maior do significado do processo social, da natureza da Força-da-Noite. Deveria terminar
com beleza e paz, ou, pelo menos, com uma integração social.
A atividade produtiva baseada num estreito individualismo e numa expressão
emocional nos apresenta um enigma. Como evitar a exaustão física e nervosa, a tragédia
emocional e a desilusão? Esta é, na essência, a eterna pergunta que o ser humano faz à
Esfinge; e existe uma tradição adequada que diz que o ponto do Zodíaco onde termina Leão
e começa Virgem traz o símbolo da Esfinge. Esta criatura mítica, que ainda hoje contempla
as areias do Egito, com corpo de leão e cabeça de virgem - é realmente o ponto do
encontro de Leão com Virgem. Simboliza a resposta para a eterna pergunta que acabamos
de mencionar. E qual é a resposta?
A resposta é dupla; porém seus dois lados deveriam estar integrados e esta
integração, difícil na prática embora simples na teoria, é o próprio segredo da Esfinge: dois
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seres em um. Um lado da resposta se refere ao desgaste produzido por uma atividade
impulsiva e estressante, e pelas atitudes dramáticas. Este lado pode se resumir numa
palavra: Técnica. O outro lado da resposta é a repolarização da natureza emocional. A
técnica e a repolarização emocional são as duas chaves para o segredo da Esfinge.
Técnica é um método baseado em princípios básicos, cuja aplicação nos torna capazes
de realizar nosso trabalho com tranquilidade, com o mínimo de desgaste, desperdício ou
tensão destrutiva, e no menor tempo possível. A pessoa que compreende a fundo as bases
de um método e que tem a capacidade de aplicá-lo na estrutura do seu comportamento
mental, nervoso e muscular domina a técnica.
A técnica tem que ser aprendida. E com exceção de casos extremamente raros, deve
ser aprendida com alguém que seja um "mestre da técnica". Portanto, quem quiser
aprender o segredo de um desempenho sereno, fácil e extremamente efetivo, tem que
tornar-se um aprendiz. Deve ser objetivo com relação às suas formas de comportamento.
Deve analisá-las e não fechar os olhos a seus próprios defeitos. Deve ser absolutamente
honesto e não ter deslumbramentos na avaliação de qualquer desempenho, seu ou dos
outros. Deve aprender a criticar imparcialmente e sem preconceitos. Deve ser preciso nas
discriminações. Deve ser e estar "puro".
Pureza é um termo muito mal compreendido, e geralmente carregado de imagens
éticas e tradicionais confusas. Para a água ser "pura", ela deve ser apenas água, sem
nenhum sedimento, sujeira ou substâncias orgânicas tais como micróbios, etc. Não deve ser
nada além do que é descrito pela fórmula química H₂O. Do mesmo modo, para uma pessoa
ser "pura", não deve ser "nada além" do que ela é, inerentemente e por direito do seu
próprio destino individual.
Quando uma pessoa contém em sua natureza elementos e desejos que "não
pertencem" ao seu caráter essencial e ao seu destino, estes fatores agem como
"impurezas", causando conflitos e colapsos psicológicos. Se houver partículas de sujeira ou
água na gasolina, o desempenho do motor do carro será irregular. Isso causará desgaste no
motor. Da mesma forma, a pessoa tende a colecionar, durante a infância e a adolescência,
todos os tipos de "sujeira" ou de substâncias estranhas à sua verdadeira natureza
individual. O amálgama de seu caráter conterá impurezas que destruirão a suavidade do
seu desempenho vital. Complexos, nascidos de frustrações juvenis e ressentimentos ou
medos, agem como água na gasolina. Diminuem as energias. Rompem os ajustes delicados
do "carburador" mental e psicológico. A pessoa então se "desregula" e suas forças são
desperdiçadas com esforços inúteis e gastos improdutivos de energia.
A técnica é um método de eliminar todas as impurezas que levam ao desperdício de
energia, um método de tornar o trabalhador um agente de produção "puro", sem conflitos,
complexos ou medos. O mestre da técnica está inteiramente seguro de si, porque sabe que
dentro dele não existe nada para inibir, confundir ou perturbar seu desempenho - nada nos
seus mecanismos físico e psicológico, nada no fluxo da sua energia, desde sua origem até o
ponto de distribuição efetiva. Suas mãos estão firmes porque sua natureza psicológica está
clara, ela não está sobrecarregada com resíduos ou com cristalizações que se originam do
medo.
A técnica, portanto, baseia-se na "pureza". Ela depende também do potencial e da
habilidade. Ter potencial significa que o realizador não nasceu com órgãos debilitados, e
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que, através deles, a força vital universal pode fluir com bastante potência; mais ainda,
significa que esse potencial vital não está esgotado. Daí vem o simbolismo da "Virgem" - que
é "pura" e "potente", porque não está poluída e está cheia de energias ainda não usadas.
A habilidade, nascida de um treinamento adequado, vem por último. De certo modo, o
treinamento não seria tão necessário, ou pelo menos sua duração poderia ser
consideravelmente reduzida, se o aprendiz estivesse realmente puro e potente; porque a
força vital fluiria então em sua intensidade máxima e sem corrupções e teria a capacidade de
ajustar-se rapidamente a qualquer nova situação. Infelizmente, hoje em dia as pessoas se
esquecem desse fato. Toda a ênfase é colocada nos treinamentos mecânicos; contudo, se
todos os obstáculos pessoais fossem removidos e o indivíduo tivesse verdadeiro potencial,
o mais complicado dos mecanismos poderia ser dominado com uma quantidade mínima de
experiência prática. Vida é inteligência. As pessoas obstruíram esta inteligência inerente,
com falácias pessoais e sociais; portanto, elas têm que substituí-la com tediosos
treinamentos. Mas, se dermos à vida uma verdadeira chance, através de duas ou mais
gerações, milagres poderão acontecer.
Essa afirmação, obviamente, não pretende diminuir o valor do treinamento, mas
apenas mostrar que pelo menos metade da tarefa do aprendiz é livrar-se dos obstáculos; o
resto é realmente fácil. Portanto, a autopurificação é o meio essencial para o aprendizado
técnico. O ser humano deve tornar-se novamente "virgem". O passado deve ser esquecido,
erradicado, permanecendo apenas como "essência da experiência" e dando profundidade à
consciência; sem afetar as estruturas da mente, das emoções e do corpo, com memórias
cristalizadas, que sempre significam bloqueios e, portanto, desperdício e ineficiência. Como
resultado disso vem a auto-revitalização e a reabertura do manancial profundo, de onde a
energia poderá mais uma vez fluir por canais renovados de liberação. E então e familiaridade
com os novos mecanismos, de onde a habilidade vai se desenvolver quase que
automaticamente. A habilidade verdadeira, portanto, não se baseia em hábitos e regras
memorizadas, mas sim na capacidade de uma adaptação imediata a qualquer situação, e às
exigências de qualquer mecanismo.
Toda a análise precedente lida com o fator técnica. O estudante de astrologia
facilmente reconhecerá nessas afirmações as diversas características que os livros de
astrologia atribuem, com base numa autoridade tradicional, ao signo zodiacal Virgem:
análise, discriminação, crítica, rotina de trabalho, pureza, integridade pessoal, cuidados
com o corpo, higiene, treinamento, etc. Mas Virgem oferece também uma outra resposta a
quem busca a autoperfeição; à alma contrariada, ferida e amargurada que depois de haver
investido na expressão emocional, em Leão , se encontra agora vazia e desolada; também
aos pais cuja prole tornou-se ingrata, aos artistas criativos cujas obras não despertaram
respostas sociais e aos líderes cujos seguidores desertaram.
A resposta da Esfinge é repolarização emocional. "Qual foi a causa da sua desilusão
emocional e da sua amargura?", pergunta a Esfinge. E olhando nos olhos profundos da
figura de pedra, que se transformam em espelhos, refletindo o mais íntimo das nossas
profundezas, compreendemos finalmente que nossos fracassos emocionais se deram
principalmente devido à nossa falta de "sentido social". Não levamos em conta o significado
da Força-da-Noite; esse poder cósmico que reúne todas as unidades em organismos
maiores, estabelecendo imparcialmente e não emocionalmente padrões complexos de
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relacionamento, nos quais todas as coisas podem-se encaixar. Insistimos em que a nossa
forma de projetar as emoções era a única válida, que tínhamos o direito de exigir tudo ou
nada, de impor nossas condições sobre a vida. E a Força-da-Noite se tornou então
destrutiva; ficamos perdidos nas trevas e atemorizados pelos ecos fragmentados dos
nossos próprios desejos.
"Olhe para mim", diz a Esfinge, "torne-se semelhante a mim. Minhas paixões leoninas
são fortes. Sou um imenso felino em cujas virilhas se encontra um poder ardente. Mas
minha cabeça é de virgem. Espero, tranquila, aquilo que virá. Contemplo as estrelas. Espero
meu momento, conforme está escrito. Em mim não há orgulho nem pressa. Em mim, a
força e a pureza estão polarizadas em direção à realização de um propósito e de um
destino."
A Força-da-Noite tem um propósito mais que individuai. É ela o ventre da
individualidade maior, de organizações de vida mais amplas. Ela reúne as pequenas
individualidades à espera do "Eu Maior", que virá no devido momento. Portanto, a
mensagem de Virgem a quem sofre é: "Olhe para além de si mesmo. Reorganize seus
desejos, repolarize suas emoções, reoriente seus impulsos. Suas energias não são suas; elas
pertencem à vida. Você as possui para servir ao bem da humanidade. Tenha certeza de que
elas servem a um propósito bem maior do que a sua "pequenez", maior ainda do que o lar
e a família. Consagre-as ao Todo Maior".
Virgem é, portanto, num de seus aspectos, o reino da devoção e da disciplina
espiritual. É o reino da subserviência do indivíduo a um propósito coletivo e a uma
disciplina coletiva; é o reino do serviço e da auto-imolação, do sacrifício voluntário - como o
da semente que vira pão para alimentar a quem tem fome. É o reino do Exército, porque,
através da disciplina e do sacrifício da guerra, o ser humano é obrigado a aprender a
participar de um Todo Maior: a nação. Virgem é também o campo da obediência às Leis
estruturais do universo, das espécies humanas e da comunidade. O ser humano aprende
que aquele que perde a alma encontra a divindade. Quando aprende isto, ele está pronto
para chegar aos portões do Templo. Pronto para enfrentar a grande metamorfose que
aguarda àquele que, tendo se integrado com a Esfinge, entra na Pirâmide para a Iniciação.
Tantas coisas têm sido escritas ultimamente sobre "Iniciação"! Mas há sempre mais
para ser dito porque, como em qualquer crise vital de transformação, cada um que
enfrenta seus desafios e seus problemas, deve necessariamente resolvê-los baseado em
suas próprias experiências de vida, que são relativamente únicas. Mais do que isso,
Iniciação significa coisas diferentes para as diferentes partes da personalidade humana. Em
termos de técnica, ela pode ser representada pela concessão do diploma da "Universidade"
em que se formou o "mestre da técnica". Em termos de repolarização emocional e do
relacionamento com um Todo Maior, no qual a pessoa está pronta para participar, Iniciação
significa o fim de estar só - se não o fim de sentir-se solitário,
O leão é o rei do deserto porque, simbolicamente, é capaz de absorver ou comandar
todas as criaturas menores. E ao fazer isso, fica só no deserto. O ego também está só,
porque ele se vê em relação aos outros como um senhor de escravos ou como um virtuoso
atuando para uma plateia receptiva. Está, portanto, sozinho no palco, separado de tudo
pelo proscênio do seu orgulho da sua missão auto-imposta - ou pela pompa da sua posição
real. A Virgem, por definição, também está só; esta, porém, é uma forma bem diferente de
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estar só. A Virgem está só - e aguardando. Ela aguarda a realização de um Mistério que
destruirá sua solidão e sua virgindade. Ela pode temer o Desconhecido. Ela pode ficar,
como a Esfinge, a fitar as noites do deserto; mas no seu coração e no seu ventre ela sabe
que Ele virá. E esta vinda fará do deserto um vale frutífero. Um povo nascerá.
Virá Libra: a comunhão dos seres humanos, a sociedade, a promessa de uma
civilização, a "irmandade mística", cuja realidade é revelada como fato concreto na câmara
profunda da Pirâmide.
Quando a jovem é fecundada pelo ser amado, isso não significa apenas que está-se
unindo a um homem em particular. Ela se abre para toda a vida humana. Todo o passado
da raça humana inunda sua expectativa, e ela se torna a promessa de uma futura
civilização. Da mesma forma, o Inconsciente Coletivo se precipita para o limiar da
consciência do ser humano que está sendo "iniciado". O Ser Humano entra num ser
humano. Libra entra em Virgem. E Virgem é a espera deste advento, Virgem é a sua longa e
árdua preparação.
Antes de tudo, porém, esta espera precisa ser despertada. Em Leão, ela ainda não
existe. A Esfinge é a expressão simbólica da crise que deve vir em certo estágio da evolução,
para que a solidão criativa, autoprojetiva e dramática do ego humano (Leão) se transforme
num estar só expectante e potencialmente frutífero da alma humana (Virgem). O termo
"alma" é um tanto infeliz, porque tem muitos significados diferentes e vagos. Com alma,
nos referimos aqui à condição da psique humana (mente e sentimentos humanos) quando
esta começa a compreender que o universo não gira em torno dela, que ela participa de
uma totalidade maior de existência, cuja infinidade aparente inspira respeito, mas é
também atraente.
O Fogo criativo que se precipita como um redemoinho, do centro da personalidade
humana para fora, é Leão. Vagarosamente, este Fogo toma consciência de todo o Espaço à
sua volta. Ele se depara com o frio do Espaço. Ele é forçado a diminuir sua intensidade
vibratória. Os átomos radiantes, em estados ionizados dentro dos Sóis, aprendem a operar
como estruturas químicas mais estáveis. A energia transforma-se em substância. A força, no
lombo do Leão, transforma-se em razão e discriminação, na cabeça da Virgem.
Dramatizações emocionais e criativas transformam-se em compreensão reflexiva e
analítica. Há um constante processo de resfriamento. O Espaço supera o Fogo. Os Muitos
superam o Um. O relacionamento triunfa sobre a radiação pessoal. A percepção do
Desconhecido Maior faz com que todas as glórias conhecidas e todas as excitações
emocionais dos fantasmas do ego adquiram valor questionável. Nasce a expectativa
d'Aquilo que deverá trazer o Desconhecido para a alma. Não importa como este Algo
misterioso seja concebido. O Leão já virou Virgem: o eterno ponto de interrogação.
Quem é este eterno Desconhecido que responderá ao "Por Quê?" da Virgem? É
Aquele que, por não ter nome, controla o poder do Significado e "concede os nomes". Ele é
o Iniciador que sempre dá a resposta ao enigma da personalidade e da vida consciente; Ele
possui em Sua mente o segredo da "Medida do Ser Humano". Mas, para encontrá-lo, o ego
individual deve tornar-se voluntariamente um neófito. Deve viver a experiência dos
treinamentos e das provas, da repolarização emocional e da redenção de sua trágica,
porém cultivada, posição de estar só. Deve acolher e compreender o passado, para que o
futuro possa ser criado com sabedoria. Deve enfrentar o silêncio na Câmara do Rei da
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Pirâmide - e não ter medo. Ele deve morrer; e renascer.
A paz sempre desce sobre a alma que busca, e silenciosamente contempla, as
constelações distantes na encantadora noite do deserto. A Esfinge ainda se mantém
contemplando, embora, hoje em dia, os discípulos não sejam mais iniciados na Pirâmide,
profanada, e bombas causem mortes sem sentido nas cidades próximas. Entretanto, a
realidade da Esfinge permanece viva. A Humanidade se transformou na Esfinge. Ela faz a
eterna pergunta. Através da crise global de nossos dias, a humanidade busca o caminho
para a nova Pirâmide e para a nova Iniciação - o caminho para a "Plenitude do Ser
Humano".

55
LIBRA

Nossa jornada simbólica ao longo do Zodíaco levou-nos a passar pela atemorizante


figura da Esfinge e também pelas disciplinas que devem ser aprendidas durante o período
de Virgem. Agora nos colocamos face a face com a misteriosa estrutura que todos
conhecem como A Grande Pirâmide. Nesta estrutura se encontra estampado o significado
da realidade cósmica do signo zodiacal Libra: o significado do equinócio de outono e da
ascensão da Força-da-Noite, agora vitoriosa sobre a Força-do-Dia. Em Libra, a auto-
afirmação de Leão e a autocritica de Virgem se reconciliam e são superadas através da
autoconsagração para a Humanidade. Nessa consagração a individualidade permanece;
porém não mais como mestre, nem como crítico ou servente. Ela permanece como uma
lente enfocada, através da qual a luz do Todo se manifesta, levando todos os seres
humanos a participarem do organismo da Humanidade. Um participante: uma pessoa de
ação que trabalha conscientemente a favor do triunfo da Vontade universal sobre o
limitado poder dos egos individuais.
Libra é o nascimento da unidade individual no Todo Maior, onde ela deve, a partir de
então, atuar como uma célula. O equinócio do outono marca o triunfo decisivo da ação
conjunta e da cooperação social sobre a expressão individualista e a autocentralização
emocional. Ainda não se trata de uma vitória final, assim como o equinócio da primavera
não simboliza a fase final da construção da personalidade. Mas, depois de Libra, o objetivo
que se tem à frente torna-se claro. A visão e o entendimento são alcançados por todos
aqueles que verdadeiramente os procuram. Novas energias vão sendo despertadas,
energias que são produtos da cooperação-de-grupo e do intercâmbio social. Novas
perspectivas se revelam e novas metas são delineadas. Os muros da fortaleza do ego são -
pelo menos teoricamente - quebrados. A vida que estes muros continham deverá ser capaz
de se combinar livremente com a vida dos companheiros, que comem do mesmo pão da
consagração ao bem-estar do Todo, e que também estão preparados para se integrarem a
um modelo hierárquico de organização grupal.
As três fases do processo que vai do equinócio de outono ao solstício de inverno são
paralelas à sequência simbolizada pelos signos zodiacais Áries, Touro e Gêmeos porém,
agora, não se trata mais de um processo de construção da personalidade, e sim de um
processo dedicado ao crescimento da sociedade. Forças socializadoras vão surgindo com um
ímpeto sempre crescente. As pessoas que permanecem dispersas são arrastadas por esta
corrente. O objetivo é tornar mais válida, verdadeira e tangível a realidade do intercâmbio
humano, da comunidade e da vida em conjunto dentro de uma estrutura de
comportamento orgânica, estável e permanente (Libra). A partir desta vida em conjunto, a
energia nascida dos sentimentos e das realizações comunitárias (Escorpião) e a visão
nascida do pensamento comunitário (Sagitário), vão emergir progressivamente, até chegar
ao organismo social completo, o Estado perfeito (Capricórnio).
Libra é um signo cardinal, portanto, nele se enfatizam os valores da atividade ou do
comportamento. O ímpeto do processo social dinamiza a consciência do libriano. Existe
uma grande avidez pelo social e um sentimento vital de dependência a valores da
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sociedade. Não é uma dependência de fama ou de aplausos, como é o caso da dependência
de leonino, que nasce de uma insegurança social não admitida e se transforma em
provocação. O libriano desenvolve, pela primeira vez na sequência zodiacal, um verdadeiro
sentido do valor social. Mas como os valores sociais são tão reais e importantes para o
nativo de Libra, e como seus sentimentos e emoções ainda são fortemente condicionados
pelo individualismo da Força-do-Dia, ele tem tendência a exagerar na importância dos
fatores sociais. Assim como o ariano se torna agressivo e arrogante na sua avidez para
firmar-se como uma personalidade integrada, também o libriano sai do seu rumo para
provar, mais do que é necessário, o seu sentimento social. Ele vai preferir sacrificar-se - ou
pelo menos agirá como se assim o fizesse - do que sentir-se negligente nas suas obrigações
grupais ou sociais. O impulso socializador o persegue, assim como o impulso personalizante
persegue o ariano. O libriano ainda não está realmente seguro de si dentro de atividades
sociais ou grupais. Sente que, de alguma forma, poderia voltar facilmente a desejos
individualistas, e que precisa então encobrir esta possibilidade, disfarçá-la inventando
histórias e encenando atitudes, para garantir aos companheiros - e a si próprio! - que
pertence ao grupo e que o grupo atua através dele.
Dizem que é oportunista, inconstante e não-confiável. Mas estas são apenas
características superficiais. A razão verdadeira - porque é a razão psicológica - para estes
traços, é que o libriano quer fazer qualquer coisa para adaptar-se ao que um grupo ou a
coletividade espera dele; ao que ide pensa que o grupo espera dele. Isso vai fazer que esta
pessoa seja inconstante e não confiável em decisões superficiais. Isso lhe dá, às vezes, a
aparência de um camaleão - o símbolo dos oportunistas - que muda de cor para se adequar
a uma situação e, melhor ainda, para fundir-se nas situações. Esta "fusão nas situações" é, na
verdade, a essência do comportamento de Libra. Porém, por trás disto existe grande
orgulho individual e suscetibilidade, um sentimento às vezes angustiante de não ter
capacidade de desempenhar adequadamente a tarefa que ela mesma determinou para si -
quer seja em relação à sua família ou à vida social.
Libra e Áries são signos de um equilíbrio instável. Neles, a Força-do-Dia e a Força-da-
Noite estão quase em equilíbrio. Por isso, há tendência à inquietação, ao nervosismo e a
um comportamento geralmente neurótico. Em Libra, a pessoa quer conscientemente ser
social, impessoal, espiritual e rica nos procedimentos com seus associados; embora
subconscientemente pareça não alcançar a meta que estabeleceu como objetivo, e esse
objetivo pareça sempre evasivo. Por isso, ela facilmente cai em crises de desespero,
seguidas por um excesso de zelo no trabalho social e na participação grupal. Ela está
sempre à procura do grupo ideal, da forma ideal de cooperação. Todos os relacionamentos
humanos lhe parecem solenes e extremamente sérios. Mas ela se joga tão intensamente
neles que pode perder a noção da realidade, devido a tanto esforço para alcançar o ideal.
Pode esmagar as árvores no seu amor passional pela integridade da floresta.
Porém, no seu melhor lado, o libriano é um excelente administrador de atividades
grupais, um maravilhoso harmonizador e integrador - e quanto mais o é, talvez mais se
sinta inseguro da sua própria integração. A harmonia grupal, a alegria e o idealismo nos
relacionamentos humanos são casos de vida ou morte para ele. Controvérsias e brigas nos
grupos e nos relacionamentos perturbam seu equilíbrio nervoso a ponto de levá-lo a um
total esgotamento psíquico. Ele ainda não chegou ao ponto em que se consegue ter êxito
57
com intrigas diplomáticas e esquemas políticos, como é o caso do capricorniano. Em
Capricórnio o sentimento social está tão estabelecido e firme quanto a personalidade está
estabelecida em Câncer. Porém em Libra e Áries, nada está estabelecido ainda. A sociedade
e a personalidade ainda estão em formação. As coisas estão apenas tomando forma;
portanto, dificilmente poderá haver uma tranquilidade total - simplesmente porque as
inadequações e as reversões para atitudes do passado parecem aterrorizantes tragédias.
Por isso, sempre que a pessoa de Libra evoluiu o suficiente para ser, de fato,
consciente do processo social, existe a necessidade de um poderoso idealismo. Portanto,
assim como o ariano busca um Super-Homem ou Mestre em quem ele possa·colocar o
fardo, às vezes insuperável, da sua personalidade, até então insegura, o libriano também
busca um grupo ideal ou um modelo ideal de sociedade para poder ter segurança em seus
empreendimentos sociais. Daí a atração que o conceito teosófico do "White Lodge" - o
grupo perfeito - exerceu sobre inúmeras personalidades ávidas de Libra, tais como Annie
Besant, B. P. Wadia e outros. Por isso também o elevado idealismo social de Gandhi, com
seu Sol em Libra.
Por outro lado, os librianos menos evoluídos atuam no nível onde os relacionamentos
humanos são mais facilmente formados - o nível da atração física. Outros encontram seu
campo de atividade nas artes. O signo Libra é regido pelo planeta Vênus, proporcionando
traços bonitos e grande charme. É um símbolo de cultura e refinamento estético. Libra atua
onde quer que o fator forma se manifeste, como um meio de trazer elementos dispersos
para padrões coesos de ordem e de beleza.
O fator "forma" é geralmente pouco compreendido. Qualquer tipo de organização
social, inclusive administrações industriais, está baseado no princípio da forma. Qualquer
relacionamento de certa duração entre duas ou mais unidades significa que uma forma ou
um modelo foi constituído. A Força-da-Noite depende da forma. Não pode haver "união"
sem haver forma. Toda obra de arte é uma reunião formal e uma organização de unidades
separadas, quer sejam pigmentos, linhas, sons ou materiais físicos; e assim é com um grupo
social. Libra é o artista que sonha com formas ideais. Capricórnio vai fazer com que estas
formas ideais se tornem concretas e tangíveis entre os seres humanos. O sonho do artista
frequentemente inspira a política do homem de estado; isso está bem testemunhado pela
influência de Wagner sobre Hitler, que inclusive tinha ascendente em Libra e era mais um
artista do que um homem de estado - mas tinha o poder de inspirar hábeis homens de
estado.
Além da "forma", um outro fator predomina nas atividades e reações do libriano. Este
fator é a avaliação. Isto nos faz associar o símbolo da Balança com Libra. Não se deve tomar
literalmente este símbolo e concluir que os nativos de Libra são "equilibrados". Podem ser
equilibrados ocasionalmente; mas com mesma frequência poderão ser extremistas em
assuntos de máxima importância, mesmo que pareçam preparados para ceder em prol da
harmonia social.
O símbolo do Equilíbrio, na verdade, tem um significado diferente. A balança é usada
para pesar coisas. Pesar uma coisa é comparar sua massa com a massa do peso-padrão
socialmente aceito. É, portanto, medir e avaliar o caráter fundamental de uma coisa - sua
massa ou seu peso - em relação ao valor social. A massa é fundamental, porque ela avalia
um objeto em termos de sua relação com o Planeta como um todo, em termos da força da
58
gravidade; e porque também todos os valores são calculados com referência ao peso do
ouro. A Balança, portanto, simboliza a avaliação da característica mais fundamental de
qualquer objeto. O que ela enfatiza não é o "equilíbrio" - um meio para atingir um fim - mas
sim a avaliação, a medida e (baseado nisto) o julgamento.
O libriano típico é, em essência, uma pessoa que avalia as coisas, as pessoas e os
eventos, relacionando-os a padrões sociais fixos, sejam eles padrões tradicionais ou ideais.
Ele avalia, e enquanto não consegue se sentir suficientemente seguro da sua posição social
para fazer os julgamentos "em nome da sociedade" - como fará um sagitariano, sem
remorsos - ele pesa as evidências e habilmente acomoda as coisas no lugar a que, sob seu
ponto de vista, elas pertencem. Os principais critérios que o libriano usa para fazer suas
avaliações são a utilidade social e a capacidade de participar harmoniosamente nos grupos.
Ele usa padrões sociais e também estéticos. E o libriano geralmente atua no campo da arte,
porque é mais fácil organizar notas numa pauta, ou luzes e sombras num desenho, do que
trazer as personalidades humanas para um modelo estável de organização.
Devemos repetir, porém, que o libriano ainda não é um mestre do processo social. Ele
acabou de emergir do estágio de autodisciplina e autocrítica enfatizado em Virgem. Ele
teve, talvez, a Visão da "sociedade ideal", da "Nova Jerusalém" - a Cidade ou Estado
perfeito. Mas ainda atravessará mais estágios de evolução até adquirir o poder pata
construir este Estado com os seres humanos. Assim, o libriano sonha, avalia, busca e irradia
o amor que deverá, por fim, construir o novo grupo e a nova sociedade. Mas fez tudo isso
mais como artista do que como político - mesmo que possa ser um excelente
administrador. Ele é mais visionário e harmonizador que construtor.
Em outro sentido, Libra simboliza a semente. Isto porque, na semente, todas as
energias vitais da planta que morre estão unidas dentro de uma forma rígida de
organização. A semente é o símbolo da irmandade mística. E também o símbolo do auto-
sacrifício. Por isso, o primeiro grau de Libra tem como símbolo a "borboleta atravessada
pela flecha da sabedoria". O estágio do casulo foi em Virgem. Virgem prepara, em todos os
"sentidos, o terreno para Libra. Em Libra começa a "nova vida"; como participante na vida
da sociedade, na vida de qualquer Todo Maior - seja a Igreja ou o "White Lodge". Libra é o
Iniciado que surge do sarcófago místico da câmara do Rei na Pirâmide. Ele teve a Visão.
Reconheceu o seu lugar e a sua função no seu grupo mais próximo e em todo o universo.
Agora abre-se diante da pessoa o caminho do trabalho para o grupo; mas este
trabalho será de pouco valor, se a realidade deste todo maior não for inteiramente
vivenciada por cada parte da pessoa. Portanto, em Escorpião esta realidade tem que
impregnar e revivificar os sentimentos e as emoções, a própria substância da
personalidade; e, em Sagitário, transfigurar sua mente. A visão de Libra deve tornar-se
substância em Escorpião e ser formulada mentalmente em Sagitário. E quando ocorre o
solstício de inverno, o Cristo-criança nasce: Deus, ou a Humanidade, se torna um ser
humano.

59
ESCORPIÃO

O desenvolvimento da fase Escorpião na Terra e na natureza humana tem sido


curiosamente mal compreendido. Como resultado, qualidades particularmente negativas
foram atribuídas a este signo. Isso porque os intérpretes deixaram de associar Escorpião a
todo o ciclo da Força-do-Dia e da Força-da-Noite; deram maior ênfase às reações da pessoa
comum durante este estágio da evolução social, em vez de acentuar a essência positiva do
signo; e também porque, com Escorpião, se torna evidente a chegada dos dias de inverno,
com suas longas noites, e o ser humano primitivo se ressente desta aproximação da
escuridão física. Ele se ressente porque está enraizado ao solo e é como a vegetação e a
vida animal. Escorpião é precursor da hibernação; as suas geadas selam o destino das folhas
vermelhas e douradas. Ele se tornou portanto o símbolo da morte. Apenas para poucos
pôde simbolizar "regeneração"; e mesmo estes poucos, em geral, não compreenderam
realisticamente o significado desta regeneração.
Enquanto estudávamos o simbolismo de Libra, frisamos o fato de que os três signos
zodiacais do período de outono são passos no crescimento da sociedade e da consciência
social. Nesta estação do ano, forças socializadoras avançam com um ímpeto sempre
crescente, seguindo o aumento do poder da Força-da-Noite, desde o equinócio. Em Libra,
realidade do intercâmbio humano, da vida em conjunto dentro da estrutura orgânica,
estável e permanente de uma comunidade, foi visualizada como uma necessidade e um
ideal de comportamento. Em Escorpião, esta realidade deve ser vitalizada, deve tornar-se
pungente e dramática, inescapável. Ela deve penetrar na carne e nas glândulas dos seres
humanos: nas suas profundezas e na sua alma; na substância da "personalidade". Deve
transformar-se numa força de impulsão. Essa força de impulsão é o sexo nos seus aspectos
sociais, o sexo como um construtor de civilização.
A condenação imposta sobre Escorpião, "o signo maldito", é paralela à identificação de
sexo com pecado, o que tanto condicionou nossa civilização ocidental cristã. Este assunto
foi invadido por "complexos" e atitudes estabelecidas que não são facilmente
transformados, nem pela análise mais profunda. Porém, com base numa compreensão
ampla de todo o ciclo da Força-do-Dia e da Força-da-Noite, muito pode ser dito para trazer
luz a muitos cantos obscuros.
O sexo tem dois aspectos básicos: o procriador e o não-procriador ou social. O
primeiro corresponde a Touro, o segundo a Escorpião. É curioso que esta distinção não
tenha sido feita por astrólogos e filósofos ocidentais, pois a correlação entre Escorpião e
toda a atividade sexual é muito estranha, considerando-se que Escorpião é apenas um dos
últimos signos do Zodíaco e está associado ao outono, um período em que a força vital se
torna sonolenta na natureza. O sexo, como um fator estritamente biológico, é uma função
primária de todos os organismos e, obviamente, deve estar associado à estação de
acasalamento animal e ao crescimento das flores. Ele é simbolizado por Touro - um
hieróglifo de fertilidade e de força masculina.
Touro é um signo do acasalamento puramente fisiológico e procriador. É uma fase do
processo de construção da personalidade. Representa o final da adolescência - seu instinto
60
de procriação inconsciente, sua necessidade não-social de desenvolvimento pessoal através
de fecundar e de ser fecundado, ou seja, através da pura experiência emocional. Ele
testemunha a máxima expressão emocional da Força-do-Dia e da personalidade, fora de
qualquer contexto social. É o desejo puro, sem mente ou consciência, sem distorção ou
diferenciação entre indivíduo e sociedade: é uma força genérica universal que não tem um
"significado" em si mesma. Ela é, como a vida é.
O signo Escorpião é o polo oposto de Touro. Isso significa que, na metade do ciclo
voltada para a construção da sociedade, quando está em ascensão a Força-da-Noite, ele
ocupa o mesmo lugar que é ocupado por Touro, na metade do ciclo voltada para a
construção da personalidade, quando é a Força-do-Dia que está em ascensão. Então, para a
necessidade taurina de acasalamento, surge uma outra necessidade correspondente que é
a característica essencial de Escorpião; ou seja: a necessidade do individuo em fundir-se
numa união total com os outros indivíduos, para, juntos, construírem um todo orgânico
maior.
Em Libra, esta necessidade é reconhecida como motivo para uma conduta social e um
comportamento grupal; porém, no mais profundo dos sentimentos do libriano ainda existe
muito individualismo. A Força-do-Dia está muito intensa para permitir que a personalidade
se deixe levar completamente por uma união irreversível com as outras personalidades.
Libra é a fase de equilíbrio instável entre o individualismo minguante e o coletivismo
crescente. Mas, em Escorpião, o desejo de ser um indivíduo separado vai sendo esmagado,
com uma intensidade dramática, pela necessidade de ser mais do que uma só pessoa; pela
necessidade de fluir nos outros, assim como os pequenos córregos se fundem nos rios e os
rios no mar. Esta necessidade é o aspecto transcendente e social do sexo. Ela representa
não o sexo procriador do final da adolescência, que quer construir, mas o não-procriador, o
social e - sim - o sexo místico da maturidade, que é uma aspiração à auto-entrega e à união,
através do outro, com um todo maior, e até com "Deus" - como foi bem compreendido no
Oriente e na maioria das "tradições secretas".
O sexo como um portal para a "consciência cósmica" tem sido conhecido no decorrer
das eras. Criaram-se rituais para canalizar esta necessidade transcendente e conduzida a
determinadas metas. Os tantras hindus e algumas formas de ioga enfatizam esses rituais.
Todos os templos da Antiguidade foram testemunhas desses rituais e muitas sociedades
ocidentais ensinaram secretamente práticas que levariam a esta fusão de energias num
reservatório de forças mais amplo. Desde o advento do Cristianismo o assunto ficou
envolvido em mistério, e este não é o lugar para discutirmos a essência do "ocultismo
prático". Porém a realidade do signo zodiacal Escorpião não poderá jamais ser entendida
enquanto não compreendermos que a força sexual de Escorpião não é uma força de
construção de prole; "mas sim um meio de se alcançar a liberação dos estreitos limites da
individualidade, um meio de alcançar o êxtase, no qual o indivíduo se torna mais do que ele
mesmo.
O que significa realmente este "mais"? O primeiro conceito que este êxtase de união
desperta na consciência é o do "casamento de almas": o Um e o Outro fundidos numa
união transcendente "determinada pela Vida, ou por Deus, desde que começou a Criação".
Este é o ideal de união da era Romântica - um ideal que não pertence a Touro, nem ao
acasalamento para a formação de uma prole, mas um ideal que queima através de
61
Escorpião. Este ideal se torna totalmente transcendente com os místicos, que voam para a
união com o "Ser Amado" -- Vida, Deus, o Mestre; ou seja qual for o nome dado a esse
"Outro" místico, com quem, e em quem, a individualidade perde seus limites e a
consciência cósmica é alcançada.
Este é, no entanto, somente um dos aspectos desse processo de fusão no Todo Maior.
O outro é simbolizado no Cristianismo pela união do devoto com a Igreja, a noiva mística.
Neste caso, temos a fusão do indivíduo com a unidade glorificada; uma fusão tão
pungentemente íntima e emocionalmente ardente quanto a mais perfeita união de corpos
e sentimentos. Saber que a comunidade existe e estar ávido para trabalhar para ela é uma
realização de Libra. Mas em Escorpião deve haver identificação. Escorpião é um símbolo do
sexo como uma identificação psíquica, sem nenhum pensamento voltado para a prole física
- e em geral isto vai a tal ponto que exclui a possibilidade de resultados procriadores. Nesta
identificação psíquica, a Força-da-Noite triunfa - e a realidade espiritual da civilização nasce.
O lar (Câncer) é construído sobre o sexo procriador de Touro; mas a civilização
(Capricórnio) origina-se de transformação social do sexo de Escorpião, via as generalizações
mentais e os entusiasmos sociais de Sagitário. E aqui tocamos num assunto muito discutido:
cultura versus civilização. A cultura está enraizada nas energias liberadas em Touro e na
Força-do-Dia; a civilização, nas energias liberadas em Escorpião e na Força-da-Noite. A
cultura lida com particularidades; a civilização com universalidades. A cultura está baseada
em tradições que são condicionadas pelo clima, pela geografia e pela herança de fatores
biológicos, transmitidos de geração a geração. A civilização é o resultado do trabalho de
gênios e líderes criativos que fecundaram as mentes de inúmeros seres humanos com sua
visão e seu entendimento. A civilização se desenvolve na fase Sagitário do ciclo vital, mas
tem suas raízes em Escorpião. Tem as raízes na necessidade, forte em todos os líderes, de
verterem-se incessantemente na vasta matriz da humanidade.
Essa força civilizadora é um dos aspectos do tipo de sexo de Escorpião, porque ela
nasce do desejo que tem a pessoa de identificar-se com o Todo Maior, a humanidade, e de
transcender a si própria, fecundando a sociedade... e sendo fecundada pela divindade. Esta
atividade sexual transcendente gera uma prole, mas uma prole social, uma prole do espírito
ou da mente. E a Força-da-Noite se manifesta nesta atividade transcendente; assim como
em Touro a Força-do-Dia se manifesta através do acasalamento fértil dos corpos.
Existe porém o lado negativo desta liberação de energia em Escorpião. Este lado é
provido pela Força-do-Dia minguante, que se tornou mais introvertida, subjetiva e, talvez,
mais subconscientemente em suas ações. É o lado de trevas da civilização: a ganância pelo
poder social e a cobiça. Esta ganância aparece no indivíduo que, em vez de fundir-se no
todo maior, dirige-se para si mesmo as energias produzidas pela vida em conjunto, pelo
intercâmbio de valores e pelo comércio - que são as bases da sociedade. O comércio, que
nasce - ou que pelo menos fica permanentemente estabelecido - em Libra, gera
abundantes frutos em Escorpião. Se estes frutos forem monopolizados pela ganância,
acontece então o pecado social. Todas as pessoas que abusam dos produtos de intercâmbio
social, cometem um pecado contra a sociedade. Todas as grandes empresas que estão
baseadas na ganância, todos os políticos que barganham usando sua autoridade pública,
todos os escroques e gangsters, e todos os líderes que jogam com o medo e as paixões das
massas, cometem o pecado de Escorpião. Eles cobiçam o poder social - em vez de fecundar
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a sociedade como verdadeiros civilizadores e de identificarem seus destinos com o destino
do seu povo.
O mesmo acontece com indivíduos que buscam eternamente prazeres sexuais e
satisfação pessoal. Nessas situações apenas se vê o aspecto negativo de Escorpião. A Força-
do-Dia que está negativa traz de volta para seu próprio uso as energias novas produzidas
pela crescente intensidade da Força-da-Noite. Ela sonha, onde não pode mais agir. Ela cria
imagens e tentações; exacerba o desejo. Produz neuroses sexuais onde o anseio pela fusão
numa corrente maior de energia através de outro ser humano - ou de grupos - foi frustrado.
A cobiça vem geralmente de um sentimento de fracasso, como acontece com os
criminosos, que são geralmente "pessoas de ação" frustradas que tiveram este sentimento
de fracasso em sua índole para fecundar a sociedade.
Escorpião não é um "signo maldito", e pecado ou miséria só surgem quando a grande
força criativa é distorcida e pervertida por medos e complexos nascidos de um
tradicionalismo disfarçado de virtude, ou então surgem como resultado de condições
sociais viciosoas e caóticas. Se não houve uma livre circulação de energia em Touro, a
personalidade insatisfeita, ao confrontar-se com seu novo nascimento como participante
na vida da sociedade, recua do estágio representado pelo Escorpião positivo. Em vez da
exaltante união com os outros, através da qual viria a regeneração, prevalece então um
sentimento de frustração, que torna o indivíduo incapaz para este estágio. Prevalece um
ressentimento contra a sociedade ou contra a vida. E este ressentimento, esta violência
subconsciente, que destrói o verdadeiro caminho para a libertação num estado maior, deve
ser simbolizado pelo Escorpião venenoso que dá ferroadas e cuja cauda contém morte
social e individual.
Não é que o escorpião deva se regenerar na águia, como costumam dizer os
simbolistas. O escorpião é uma degeneração. Não é o produto natural de uma evolução
saudável. A águia, e melhor ainda, a fênix, é um símbolo mais adequado para a realidade
desta fase. A fênix simboliza o nascimento da vida em um novo nível, através da queima de
todas as limitações no fogo. Este fogo é o verdadeiro símbolo da energia que queima no ser
que atingiu a oitava fase de sua jornada pelo Zodíaco. Ele é o fogo que destrói formas
menores e evoca formas superiores para serem desenvolvidas durante o período de
Sagitário. Este fogo é o aspecto transcendente e oculto do sexo - que é muito diferente da
necessidade procriadora instintiva, liberada em Touro como uma energia puramente
terrestre e frutífera.
Muito tem sido dito sobre a radicalidade, a ambição, a crueldade, o ciúme e a paixão
de pessoas em cujo mapa natal Escorpião é fator dominante. Mas é marcante a quantidade
de pessoas que não são de Escorpião e que possuem tais características. E como é comum
que os próprios nativos deste signo não as tenham! Na maioria, estes traços negativos em
personalidades históricas ou vivas são resultado direto de um estado social arcaico. A pessoa
de Escorpião se identifica constantemente com a sociedade, e as paixões da sociedade são
também as suas paixões. O êxtase e glória da sociedade seriam também o seu êxtase e a
sua glória. Ele é uma pessoa em quem a energia do processo social flui com enorme
intensidade. Se esta energia se voltar para a destruição, a pessoa se tornará Um soberbo
destruidor; um comandante cruel ou um criminoso. Quando a humanidade tiver aprendido
a viver como um todo orgânico, equilibrada, harmoniosa e saudável, então seus nativos de
63
Escorpião abrirão asas e comungarão com o Sol, como águias de verdade.
Escorpião é uma das quatro aberturas simbólicas pelas quais nascem avatares: seres
humanos que são porta-vozes do Pai genérico de toda a humanidade, que é chamado
"Deus", Escorpião simboliza o poder de Deus como o supremo Civilizador de uma
humanidade unida; e é bastante significativo que uma pessoa que milhões chamaram
"Avatar" e "Manifestação de Deus" tenha nascido em Escorpião: Baha'u'llah, o grande
profeta persa que, há menos de cem mil anos, proclamou a Unidade da raça humana
através de uma nova Ordem Mundial, e anunciou a grande era de uma humanidade
orgânica, que está para alvorecer.

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SAGITÁRIO

Com Sagitário, a Força-da-Noite, que veio aumentando em intensidade desde o


solstício de verão, aproxima-se de seu ponto mais alto. A energia, que em Libra e Escorpião
lutou para expandir os horizontes e os sentimentos do ser humano, agora atua quase sem
conflitos em direção oposta à Força-do-Dia, que no momento está em seu fluxo mais baixo.
O coletivo domina o individual. A sociedade domina a personalidade. O distante domina o
próximo.
Esta é a era das grandes aventuras nas vastas regiões inexploradas das generalizações,
da religião e da filosofia, da abstração e da metafísica. É o tempo das Cruzadas e das
peregrinações que ardem com a intensidade da busca por Deus, da busca por valores
eternos, válidos em qualquer lugar e a qualquer momento, da busca por absolutos. É a era
de movimentos sociais, de fanatismo, de martírio e de intolerância; a era em que os seres
humanos perdem o sentido da terra, perdem os limitados sentimentos de autopreservação
e de segurança, perdem a vontade de uma alegria pessoal - e voam nas asas da auto-
abnegação, rumo a ideais sociais ou místicos distantes, pelos quais são capazes de morrer
felizes.
O processo de desenvolvimento da consciência social, que se firmou através do
comportamento de Libra e das emoções de Escorpião, leva agora o ser humano para novos
horizontes mentais, em Sagitário. Enquanto que em Gêmeos (o signo oposto) estávamos
avidamente tentando construir uma rede concisa de conexões próximas - ou seja, um
sistema nervoso, um sistema intelectual de lógica, uma técnica de experimentos para
satisfazer nossa curiosidade sobre os fenômenos que nos rodeiam -, em Sagitário,
completamente absorvidos por fatores sociais ou místicos, buscamos conexões distantes.
Estas conexões servirão como "sistema nervoso" do organismo social, a cuja realização
estamos agora nos dedicando. Estas conexões serão, por exemplo, uma rede de linhas
telefônicas e telegráficas; e de modo mais abstrato ainda, um sistema de leis, ordens e
regulamentos que darão condições ao complexo organismo da sociedade - à vida de uma
cidade ou nação - para operar satisfatoriamente.
As conexões, próximas ou distantes, significam inteligência e atividade mental.
Portanto, Gêmeos e Sagitário são signos "mentais". O primeiro representa a mente
funcionando dentro do espaço menor: a personalidade; o segundo, a mente funcionando
dentro do espaço maior: a sociedade. Nos dois casos, as atividades mentais são diretas e
construtivas. Em Virgem (e veremos mais tarde, em Peixes), ao contrário, a mente age de
maneira destrutiva, crítica e, se tudo correr bem, regeneradora.
A mente como fase final da ascensão da Força-do-Dia ou da Força-da-Noite é uma
mente construtora. Ela sintetiza, amplia e traz para o auge e máxima radiação as energias
das correntes zodiacais do Dia e da Noite. Esta é a mente nos signos que são
imediatamente anteriores aos solstícios. Todavia, a mente nos signos zodiacais que
precedem os equinócios é um tipo de energia inteiramente diferente. É uma energia que
clarifica o estágio para um novo tipo de atividade; ela rejeita, limpa e constantemente diz:

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"Isso não! Isso não!" É a mente que mostra o que deve ser esquecido, deixado para trás,
superado e transcendido. Em Virgem, o emocionalismo pessoal e a auto-indulgência
dramática de Leão devem ser restringidas pela autodisciplina, higiene e auto-imolação a um
Professor. Em Peixes, é a excitação social, o idealismo exagerado, as fantasias místicas e os
delírios místicos de Aquário que devem ser resolvidos. A ilusão da "glória" de Deus deve ser
transcendida para que o silêncio e a simples realidade da Presença de Deus (que os
verdadeiros místicos chamam "pobreza" de Deus), possam ser verdadeiramente
vivenciados pela personalidade.
Em Sagitário, o ser humano procura colocar numa ordem prática o que ele vivenciou
com grande profundidade de sentimentos em Escorpião. Durante o estágio anterior da sua
jornada zodiacal, o indivíduo procurou fundir-se com os outros numa união real, íntima e
pungente, onde deveria tornar-se mais do que ele mesmo e identificar-se com a vida
pulsante de algum organismo maior. Um organismo maior pode significar, em primeiro
lugar, a realização do "Dois-em-Um", produzida pelo êxtase da satisfação sexual sem
qualquer pensamento voltado para a prole e para a reprodução. Mas o "organismo maior"
típico é o grupo social (ou o oculto Lodge), com cuja vida a pessoa de Escorpião se identifica
nos sentimentos, e torna-se frequentemente seu porta-voz inconsciente - destrutivo ou
construtivo, dependendo do propósito e da natureza das energias que ativam este grupo.
Escorpião é um signo de força e de poder, e o poder sempre busca um nível mais alto
de onde possa nutrir-se, para então fluir para um nível mais baixo onde atuará como
fecundador e regente. Em Sagitário, o poder já está formado. O ser humano alcançou a
identificação com o grupo - com a sociedade ou qualquer outro tipo de vida orgânica maior
do que a sua própria. Ele tem um poder que pode ser usado. Com esse poder, pode
construir. E aproveitando-o, pode também viajar para todas as partes.
No simbolismo antigo, vemos Sagitário representado pelo Centauro, a criatura mítica
metade-cavalo e metade-homem que atira suas flechas em direção ao céu. Dizer que este
símbolo descreve a luta entre a natureza animal e a natureza humana é dizer pouco - pois a
luta entre energias opostas acontece em todo o Zodíaco. O verdadeiro significado deste
símbolo é mais profundo e mais preciso. Em todas as terras, o cavalo representa a força
viril; esta força é de um tipo especial, uma força com a qual o ser humano pode se
identificar, pode: montar e, com a ajuda da qual, pode expandir seu campo de atividade.
Isto ele não pode fazer com a força do Touro, que é inconsciente, indomável e puro instinto
- é a força do Desejo cósmico, a qual o ser humano pode matar pela espada (nas touradas),
mas nunca usá-la conscientemente para seu próprio desenvolvimento. O signo de Touro é
portanto a força sexual cósmica. O ser humano é seu instrumento, até que ele a mate pelo
ascetismo (o símbolo budista do domínio da energia).
Com o tipo sagitariano de sexo não é assim. Este tipo de força pode ser domado e
usado. Ele é simbolizado pelo Cavalo. Beber o leite da égua dá grande vitalidade - e é usado
com esse propósito na Rússia e na Ásia. Identificar-se com a força do cavalo-reprodutor é
um símbolo universal de recarregar-se com uma energia para ser usada - seja para um uso
destrutivo (como as "Hordas Douradas" de Gengiscã, cavalgando em seus selvagens cavalos
mongóis), seja para um uso construtivo. O sagitariano, portanto, está identificado com esta
força - uma força que queima nas "virilhas" e que está centralizada, na ioga, na região do
plexo solar; um fato que o psicanalista reconhece quando interpreta sonhos com cavalos de
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várias cores. Uma metade de Sagitário é força, a outra metade é aquele que usa esta força,
isto é, a mente consciente do ser humano. O terceiro atributo (o arco e a flecha) se refere à
direção e ao propósito. O Centauro atira para cima, num ângulo de 450, o símbolo da
mobilização máxima das energias.
Os Centauros eram filhos de Gaia, a Terra. Em outras palavras, eram os produtos de
uma identificação com as energias desse organismo maior - o Planeta. Em Sagitário, a
pessoa, tendo se identificado com a energia - o poder - gerado pela sociedade e pelo
complexo intercâmbio entre os seres humanos (sexo, negócios, comércio, arte,
propaganda, etc.), torna-se então "poderosa". Seu problema é dirigir essa energia para os
canais apropriados. O problema de Sagitário não é causado, essencialmente, pela luta entre
duas naturezas, mas pela escolha das direções para o poder que foi formado em suas
"virilhas". E o simbolismo do Centauro indica qual é a direção correta pelo ângulo em que
ele atira suas flechas.
O sagitariano ocupa-se principalmente com a "eficiência prática" e a direção. Ele é o
típico administrador de energias; o agente do poder. O administrador é a pessoa que vai
dirigir e organizar a liberação de energia visando alcançar uma eficiência máxima e um
desperdício mínimo, e também maior velocidade e maior alcance. Entretanto, o executivo
típico desenvolve-se essencialmente em Capricórnio, porque o executivo é o símbolo da
organização prática como um todo, em sua relação com a sociedade como um todo. O
executivo é o centro e o símbolo do Estado. Sagitário é o Primeiro-Ministro, Capricórnio é o
Rei ou o Imperador - e Aquário, o Reformador.
O sagitariano tem um tipo de mentalidade muito coerente e coesiva - por isso suas
características de obstinação e inflexibilidade. Vê tudo em termos de "esquemas de
funcionamento" ou de leis. É também, num outro nível, completamente obcecado por
éticas; mas a ética como forma de um sistema prático de relacionamento humano e não
como um sonho de idealista. O sagitariano não é primeiramente um idealista. Quer ampliar
aquilo que é; quer organizá-lo e fazê-lo funcionar, encontrando todas as conexões possíveis
entre todas as partes do todo e vendo-as operar adequadamente. Ele é mais um intérprete
do que um inventor de novas metas. Ele codifica. Descobre novos significados e novas
dimensões do pensamento. Ilumina pontos obscuros. Atravessa véu após véu. Mas não se
perde, como acontece com o nativo de Escorpião e, mais ainda, com o de Aquário, nas suas
identificações desenfreadas com energias ilimitadas ou com realizações místicas. Ele jamais
renuncia ao sentido de limites, de forma, e a um ritmo definido de atuação. Ele não é Águia;
é Cavalo. Sua força se origina da realidade do já-conhecido e já-vivenciado. Pode atirar
flechas para as estrelas, mas os seus pés se mantêm na terra, a que ama porque ela é a sua
fonte de energia.
Sim, a terra é sua fonte de energia; mas ele não está preso a ela. Ele a usa. Ele
administra seu poder. Ele cuida bem da terra, assim como um guerreiro mongol ou um
nômade cuida bem de seus cavalos; simplesmente porque ele sabe que é dependente da
terra para uma eficiência máxima, e na verdade para sua própria vida. Por isso, o
sagitariano se dedica a exercitar seu corpo e seus músculos, em sentir o solo sob seus pés;
se dedica também ao trabalho com as pessoas e a captar o sentimento da sociedade; e se
desespera e se irrita quando está só ou (no tipo menos mental) confinado num ambiente
restrito. Ele precisa de espaço aberto, de salas amplas. Ele adora organizar a vida das outras
67
pessoas - geralmente com resultados desagradáveis! Ele adora lidar com o poder. E adora
avançar velozmente.
Na vida moderna, o automóvel e o tanque de guerra estão tomando o lugar do cavalo.
E qual é a fonte de energia deles? O petróleo - profundo nas "entranhas da Terra". E assim,
líderes como Churchill e o general De Gaulle, que foram os primeiros a reconhecer o valor
do tanque nas operações de guerra, são de Sagitário. Da mesma forma, o mapa natal dos
Estados Unidos, a terra dos automóveis, dos outdoors e dos esportes, tem provavelmente
Sagitário no ascendente.
Num nível mais elevado, encontramos Sagitário associado à religião; mas só a religião
e aos rituais organizados. A religião, como força social organizada, nasce do anseio do
indivíduo por uma identificação psíquica com a totalidade da vida da comunidade. E é um
empreendimento comunitário que recebe energia dos anseios dos seres humanos para
sentirem-se coletivamente unidos. Padres e teocratas são os administradores desta energia
comunitária. O Profeta dá forma a ela. Ele cria "imagens de salvação", símbolos de
unificação. Ele se projeta como tal símbolo. Torna-se um Personagem mítico, um Herói
Solar. Ele é a alma da comunidade. É a humanidade condensada n'Um Ser Humano
Perfeito; na projeção da própria Paternidade de Deus.
Assim ocorre com o filósofo e o metafísico - também um produto da atividade
sagitariana - que estabelece ordens práticas em meio à complexidade desnorteante dos
fenômenos sociais e naturais. Ele consegue isso reconhecendo todos os tipos de conexões e
correlações ocultas entre os acontecimentos, interpretando e formulando generalizações
em termos de leis. Ele viaja no "reino das Ideias". Mas viaja utilizando a energia que foi
liberada quando ele se identificou com a necessidade do seu grupo, Para o sagitariano mais
elevado, nada tem maior importância do que a "necessidade dos Tempos", a necessidade
da comunidade a que ele pertence. Compreender essa necessidade e identificar-se com ela
constitui a própria fonte do seu poder como pensador, visionário e formulador. Ele é esta
necessidade que tomou forma e nome. Ele é o intérprete, o leitor de presságios e de "sinais
dos tempos", o planejador, o profeta e o visionário. Mas o que ele "vê" é o que tem uma
necessidade social de ser visto por ele. O sagitariano é o servo da comunidade.
No seu lado negativo, encontramos o sagitariano como fanático e como puritano (e o
background puritano da tradição americana dá novamente ênfase a um ascendente
Sagitário para os Estados Unidos). E exatamente porque a energia da Força-do-Dia está em
seu fluxo mais baixo em Sagitário, o nativo deste signo tem muito pouca consideração pelos
indivíduos. Ele sacrifica voluntariamente qualquer coisa pessoal e individual no altar do
"bem da comunidade". A Inquisição espanhola é um produto sagitariano típico (a Espanha é
regida por Sagitário), pois ela torturava a personalidade individual para salvar a alma. Ela
sacrificava o próximo em favor do distante. Frustrações de Escorpião podem também levar
ao fanatismo sagitariano, que se torna então mais violento e cruel através de características
sádicas. Dessa maneira, a comunidade não tem somente o direito de salvar às custas dos
sofrimentos e das mortes de seus indivíduos; a pessoa que reivindica o direito de
administrar esse poder social-religioso encontra uma perversa exaltação na tortura. Por
esta razão, o ascetismo pessoal (deliberado ou imposto) leva à crueldade.
Para o sagitariano o sentido de individualismo, como uma coisa positiva e objetiva, é
tão vago, e ao mesmo tempo, o sentido social é tão dominante, que às vezes ele precisa
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recorrer a subterfúgios subconscientes e à excitação da violência para sentir novamente a
sua própria personalidade. Em geral, o sagitariano age assim com bastante frequência,
especialmente quando o caos da sociedade medieval e moderna sobrecarrega-o com
energias destrutivas. Portanto, o sagitariano pode parecer superficialmente um indivíduo
violento e de personalidade arrogante. Isto se deve à sua rendição a forças não
individualistas. A Força-do-Dia, agora em seu ponto mais baixo de energia, tem que se
esforçar para dar a si mesma uma ilusão de poder. Ela precisa de "carne forte" para ser
estimulada. E quando é estimulada, age às vezes de maneira arcaica e compulsiva, tão
desagradável quanto as características negativas de Escorpião, e talvez seja ainda mais
perigosa porque mais afiada por mecanismos intelectuais. Então a compaixão jupiteriana se
torna um sadismo mais ou menos inconsciente.
Sagitário é o prelúdio do Natal. Como a neve, ele absorve tudo o que é pequeno no
vasto ventre do silêncio, de onde o novo nascimento da Força-do-Dia vai emergir. A mente
que une toda a vida em modelos cósmicos de relacionamento torna-se a "mãe do Deus
Vivo". O sagitariano tem todo o heroísmo, a auto-abnegação e a tirania do amor das mães,
Ele fecha uma era e abre outra. Ele está "grávido" da divindade.

69
CAPRICÓRNIO

O solstício de inverno chega abrindo os Portais de Capricórnio. Os dias, mais do que


nunca, diminuem sua duração. As longas noites de inverno absorvem em seu repouso a
natureza, assim como a neve cobre a última desintegração das coisas vivas, com sua vasta
extensão de paz e sossego. A morte parece governar, suprema, o universo visível. Porém,
em algum lugar, e eternamente, um novo Cristo nasce. A vida brota mais uma vez com o Sol
que vem de sua declinação sul. O Sol se move agora para o norte e, a cada dia,
vagarosamente, seu arco de luz vai-se tornando mais longo e mais radiante. A promessa da
primavera se espalha como um fogo místico sobre a terra, para dizer aos "homens de boa
vontade" que a Nova Vida começa a vencer a morte.
O que é essa nova vida, simbolizada pela bela história de Cristo, cujas raízes atingem
profundamente o solo das mais antigas mitologias? Quem é o eterno Cristo, cujo significado
se conserva eternamente verdadeiro e vital, quer se acredite ou não no Cristo histórico e
religioso? Ele é a Força-do-Dia; esse aspecto da força vital bipolar que, como uma energia
personalizante, transforma os restos dispersos e desintegrados de um ciclo anterior num
todo orgânico novo. Um todo orgânico integral, porque é definido por limites; e criativo,
porque é consciente. Na espécie humana, esse todo orgânico novo crescerá, no devido
tempo, tornando-se uma personalidade plena, isto é, um ser humano consciente de sua
característica única, centralizado no seu "eu sou", num ego. O Cristo é esta força universal,
que leva os seres humanos à "individualização". É o fundamento sobre o qual estão
baseados todos os conceitos de igualdade e de democracia, do valor abstrato do indivíduo;
de dignidade e de intangibilidade da personalidade humana. É o fundamento das "verdades
evidentes" da Declaração da Independência dos Estados Unidos, é o Centro dos Direitos do
Ser Humano.
O Cristo é a energia universal da Força-do-Dia durante seu período de ascensão
através do inverno e da primavera. Esta força "nasce" no solstício de inverno, porque, desse
dia em diante, ela aumenta em oposição a seu pólo oposto, a Força-da-Noite, que começa a
declinar. A Força-da-Noite é uma energia de união, coletivizante. Ela expande a
personalidade na sociedade através da magia dos relacionamentos humanos. Começa com
a construção da família, no simbólico solstício de verão, em Câncer, o signo do lar. Expande
progressivamente os arredores desta família, através das fases zodiacais de Virgem e de
Libra. Exalta a participação da pessoa em todos os grupos sociais e também a
responsabilidade para com sua prole. Impele o indivíduo a buscar uma identificação mais
profunda com coletividades cada vez mais amplas. Traz para o ser humano as
generalizações e as descobertas da civilização, cujo desenvolvimento une geração a
geração, grupo racial a grupo racial, realizações individuais a realizações individuais - até
que as personalidades descubram que não são nada mais do que células relativamente
insignificantes no vasto organismo da sociedade humana. Grupos tribais e pequenas
nações, por fim, desaparecem. Chega o momento do império. O Estado governa, supremo,
e seu símbolo de poder, César, se multiplica em efígie, através do poder ubíquo e
totalmente corruptor do dinheiro.
70
César e Cristo: ambos se manifestam através do campo zodiacal de Capricórnio. César
está no ápice do seu poder; Cristo é apenas um bebê perseguido. Porém, o império de
César brevemente ruirá e o poder do Cristo crescerá cada vez mais forte, através de
Aquário e Peixes, até raiar como um irresistível desafio de vida e de personalidade, com a
chegada da primavera e a ascensão da Força-do-Dia, em Áries.
Em Capricórnio, o poder individual da personalidade humana está à procura de sua
liberação, lutando por baixo do grande peso do Estado. A Força-da-Noite triunfa. A
sociedade é vista como o ponto máximo desse vasto organismo coletivo - o Estado - que
domina até mesmo seus líderes. Os grandes voos da civilização, que durante Sagitário
sobrevoavam nas asas da mente filosófica, científica e social, atingem agora um ponto de
cristalização. Os que percebem além são substituídos por organizadores de impérios. As
fronteiras distantes e em constante movimento têm que ser vigiadas e fortificadas por
exércitos e administradores. A autoridade central tem que estabelecer padrões rígidos de
governo, para manter sob seu comando impessoal muitas raças diferentes, muitas
correntes de pensamento e muitas tradições.
A Roma imperial dos Cesares não é mais a cidadela original dos romanos, nem é mais a
forte e vigorosa Roma de outrora. Ela é a metrópole que se espalha, uma cidade universal.
Da mesma forma, quando uma pessoa atravessa com êxito os períodos de evolução
representados por Escorpião e Sagitário, ela não é mais o ego direto e agressivo que
esconde suas inseguranças sociais sob grandes gestos dramáticos. O ego se expande
através dos grupos sociais, das associações de todos os tipos e da identificação com as
estranhas e maravilhosas energias que surgem de todas as coletividades, do antigo passado
delas, deste reservatório de energias insondáveis que é chamado Inconsciente Coletivo.
Este Inconsciente Coletivo veio continuamente inundando o ego pessoal com poderes
intoxicantes liberados pelo sexo-não-procriador e pela civilização. Ou a personalidade
humana se tornou instrumento destes poderes, submetendo-se passivamente à luxúria e
ao ritmo agitado da vida da cidade, ou então ela os dominou. Tornou-se adepta em
Escorpião e filósofa em Sagitário, Em vez de expandir-se numa monstruosa ganância de
poder, querendo sempre mais luxúria, ou mais conhecimento, ou mais dinheiro, seu ego
passou por uma metamorfose básica. Entregou suas energias a um centro maior de
organização e de consciência; este centro é o seu Eu Maior - centro do campo consciente e
do vasto Inconsciente a seu redor.
Centralizado em seu ego, o ser humano é apenas um estreito e limitado organismo de
vida e de consciência. Ele é, simbolicamente, uma pequena tribo, um pequeno estado. Está
separado de todas as outras personalidades. Seu orgulho leonino é um perpétuo cativeiro.
Seus gestos criativos estão enraizados apenas no pequeno campo da sua experiência
pessoal e de seus arredores geográficos. Quando, porém, a pessoa deixa de relacionar
todos os sentimentos, avaliações e pensamentos com o centro de seu limitado ser; quando
através dos intercâmbios sociais, do amor, da educação e da compreensão universal,
através do comércio, de viagens e de contatos universais, ela consegue assimilar os vastos
conteúdos do mundo civilizado do seu tempo - então é hora de descobrir um outro centro
de referência; ela deve aceitar uma outra estrutura de consciência para manter tudo o que
obteve. O "castelo fortificado" do seu ego fica para trás, e ela vai morar na "metrópole" do
seu Eu Maior. Entretanto, pode acontecer também que, nessa mudança para longe do seu
71
pequeno centro de força, ela se torne apenas um mero servidor na corte de algum
poderoso imperador, um participante passivo na grandiosidade e glória do império.
O crescimento de uma pequena tribo, até tornar-se um grande Império, como o
Romano, faz um paralelo exato ao desenvolvimento de uma personalidade, do seu sentido
mais limitado de ego e do seu orgulho individual, até a condição em que se torna o senhor
de uma vida maior ou um participante passivo em algum grupo poderoso, do qual ela
absorve conhecimento, sustento e poder, numa glória refletida.
Capricórnio simboliza, portanto, qualquer organização de Estado típica que abranja
territórios amplos e vários grupos raciais, e tudo que se englobe numa organização como
esta: especialmente a política e o jogo do poder. Ele simboliza também, no indivíduo,
aquele misterioso estágio de vida e de consciência, cuja mais característica representação é
o perfeito Yogui oriental: ou seja, a pessoa que, embora viva só, faz de sua personalidade
um grande cosmo, sobre o qual exerce um tipo especial de controle; e mesmo que seja um
mendigo, possui a riqueza de toda a sociedade e é um participante no poder e na glória da
Hóstia transcendente. Entretanto, Capricórnio tanto representa o cortesão que adula algum
potentado e recebe migalhas de poder, como também o político (ou burocrata) moderno,
que é uma pequena peça numa grande engrenagem que drena a vitalidade do Estado, ao
qual deveria servir.
Em Câncer, a personalidade encontra a consumação do seu ser, completando-se com
um parceiro permanente e estabelecendo-se definitivamente num lar; porém, nesta
consumação está contida a semente do que irá, mais tarde, superar o ego individual. O
triunfo da sociedade sobre a personalidade está oculto no abraço conjugal, que, no
momento, nos parece nada mais do que uma exaltação da individualidade e de seus
poderes.
Da mesma forma, em Capricórnio, a sociedade e todas as formas coletivizantes da vida
parecem triunfar na instituição do poderoso Estado. O indivíduo que assumiu uma
profissão e uma função social particular, parece ter-se consolidado para sempre nessa
função. Porém estas realizações capricornianas possuem dentro de si o próprio germe de
sua destruição. Por trás de qualquer Estado perfeito existe uma Revolução iminente e
inevitável. Nenhuma realização profissional é estável, porque a sociedade não é uma
entidade estática; e, do fluxo constante dos relacionamentos sociais e das oportunidades
sociais; deverão surgir desafios a qualquer ordem estabelecida, provocados pelas novas
gerações, pelas novas invenções e pelos novos materiais conquistados, mas não
assimilados.
O Estado capricorniano não pode estabelecer-se porque; por definição, ele se baseia
em fatores distantes, que se encontram em eterna expansão, baseia-se em crédito e
comércio, especulações metafísicas que não são suscetíveis de provas concretas, e em
organizações religiosas que têm que ser destruídas pelos próprios indivíduos que tomam
suas crenças mais fundo no coração e as incorporam em suas vidas: os místicos e os santos.
Um pequeno organismo tribal pode durar por milênios, porque é muito concreto; o valor
de seus regulamentos é evidente e sua unidade sanguínea, indiscutível. Porém, um império
deve manter suas fronteiras em movimento, políticos devem assumir compromissos e fazer
barganhas com aqueles que, estimulados pelo gosto do poder, sempre querem mais e
destroem seus líderes. Os ricos, para aumentar suas riquezas, precisam educar as massas,
72
para que estas se tornem, ao mesmo tempo, técnicos para manejarem as máquinas e
consumidores para absorverem os produtos destas máquinas. E as massas, então educadas,
se rebelarão. A civilização - o deus capricorniano - deve destruir-se constantemente,
enquanto amplia seus poderes e seu campo de ação. Seus filhos mais nobres são
exatamente os líderes desta destruição: são os reformistas e os sonhadores, essas mentes
que nenhuma realização pode satisfazer. Eles levam em suas almas a assinatura de Aquário.
Mas por que estes reformistas aquarianos sentem-se tão profundamente insatisfeitos
com o status quo, tão ávidos por transformações e revoluções? Porque nas profundezas de
seu ser, ainda inconsciente, a Força-do-Dia, recentemente despertada, se agita. E essa
destruição do velho, a qual eles devem engendrar, nada mais é do que a ação da "espada"
que Cristo nos disse que veio trazer: "não a paz, mas uma espada". O reformista aquariano
segue a liderança do visionário capricorniano. O que ele aclama é, na verdade, o poder de
um novo ser humano que nasce nas profundezas inconscientes do Império, o poder das
classes submergidas que, tendo sido despertadas por seus mestres para a consciência ou
para a ganância, estão destina-Ias a se rebelarem.
Este novo ser humano é o Cristo, nascido no solstício de inverno na "manjedoura" -
nas profundezas embalantes de uma humanidade inconsciente, pouco mais consciente do
que a animalidade. É um novo tipo de personalidade e um novo tipo de lar. Ambos só serão
finalizados no próximo período de Câncer, porém eles começam a tomar forma na paz
maternal da neve, que cobre o vasto potencial-semente da terra. Assim como a sociedade
se transforma no Estado imperial, que se tornou semente no abraço conjugal, a
personalidade individual na sua plenitude pode ser delineada pela semente que foi
semeada no ápice de um grande Império "entre as ovelhas e as cabras": a semente do
Cristo. Essa semente é a origem da Força-do-Dia. Ela é a nascente das "águas vivas" - essas
"águas vivas" que serão derramadas abundantemente da urna de Aquário, o Aguadeiro.
Em Capricórnio, a semente do Cristo está quase totalmente imperceptível, como
também o renascimento da Força-do-Dia está completamente dominado pela ampla
estrutura construída pela Força-da-Noite. A Força-do-Dia é, vista apenas no coração do
Yogui ou do Visionário capricorniano; do Eremita recluso; do Vagabundo solitário nas
alturas dos picos cobertos de neve; do Indivíduo, que depois de ter assimilado dentro da
forte estrutura de sua individualidade os conteúdos totais do Inconsciente Coletivo, tornou-
se "ventre da totalidade humana". Nesse "ventre", que representa a realização de um ciclo
inteiro da expansão humana, aquele que se tornou um ser humano-semente recebe em
total consagração a Nova Vida que vem das alturas. Nove meses se passaram desde que a
natureza prolífica foi fecundada pelo Sol em Touro. A natureza está portanto pronta para o
nascimento do Novo Ser.
Este é o mistério que vive dentro do inconsciente profundo dos mais nobres dos
nativos de Capricórnio. Eles levam dentro de si uma semente viva, embora não conheçam
ainda o significado dela. E no desespero da solidão e da frustração, buscam esquecimentos
em atividades, pecados e intoxicações sociais. Almejam o poder, porém este poder não os
satisfaz - e eles sabem disso. Então, para aplacar o vazio que sentem, buscam luxúrias e
excentricidades. Eles são chamados de "egoístas", porque usam uma máscara. E não ousam
tirar essa máscara, por medo de serem obrigados a ver o seu status social e as suas
ambições sucumbirem enquanto cultuam o novo bebê em suas almas.
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Um capricorniano típico foi Woodrow Wilson - identificado por intuitivos como o
antigo Faraó Akh-na-ton, que foi o primeiro a promulgar no mundo ocidental um
monoteísmo transcendente, a nova religião do Deus único, que ele impôs a seu povo
relutante, e depois de sua morte esta nova religião foi destruída. Da mesma forma, Wilson
tentou forçar sobre seu povo o seu grandioso idealismo internacional, sua visão de uma
humanidade unida. No Egito do século XIV a.C., o monoteísmo religioso representava o
Novo Tipo de consciência humana. Hoje, a Federação da Humanidade é a promessa e a
base para um novo Ser Humano. E um nobre capricorniano, com todas as falhas e a solidão
típicos de um capricorniano, tentou trazer para as pessoas a percepção deste novo
nascimento da Realidade - e falhou, porque seu povo não conseguia ver além de sua inércia
e de seus políticos. Agora um aquariano está assumindo a responsabilidade da Nova Vida.
No momento certo, a Nova Vida sempre vence. O novo ser humano atravessa a crosta
da matéria decadente, do que foi uma vez o poderoso Estado erguido por César, assim
como a primavera leva as sementes a germinarem, após o dilúvio pisciano das tempestades
do equinócio. O Cristo sempre vence César. A Federação da Humanidade tem que vencer as
máquinas imperialistas, construídas por grupos de poder que usam energias sagitarianas -
máquinas e propaganda, tanques e fanatismo - para cristalizarem suas ambições. O ciclo da
vida não permite realizações estáticas. Tudo se transforma no seu oposto. A roda gira
eternamente, e a Força-do-Dia interage com a Força-da-Noite, num drama sempre
renovado, que é a própria vida.

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AQUÁRIO

Com Aquário, alcançamos o último dos "signos fixos" - signos através dos quais força é
liberada. Força é a energia pronta para ser usada objetivamente através dos instrumentos
para isto preparados. A natureza da força vai depender do tipo de energia que é usada;
portanto, os signos "fixos" seguem os signos "cardinais". E assim como existem dois tipos
básicos de signos cardinais, os que começam com os equinócios (Áries e Libra) e os que
começam com os solstícios (Câncer e Capricórnio), existem também dois tipos básicos de
signos fixos.
Podemos então falar de força equinocial (Touro e Escorpião) e de força solsticial (Leão
e Aquário). A força equinocial é condicionada pelo intenso dinamismo dos signos
equinociais (Áries e Libra) - signos de máxima velocidade do movimento solar de
declinação, signos nos quais a Força-do-Dia e a Força-da-Noite estão mais equilibradas. A
força solsticial é o resultado de um tipo concreto e forte de atividade, que ocorre durante
os períodos solsticiais (Câncer e Capricórnio), que começam quando o movimento solar de
declinação está reduzido a uma velocidade mínima, períodos em que a Força-do-Dia e a
Força-da-Noite, respectivamente, triunfam.
Onde o signo cardinal apresenta um intenso dinamismo e instabilidade, o signo fixo
sucedente deve reter esta atividade dinâmica e limitá-la. Portanto, Touro põe a serviço de
um objetivo orgânico e dentro de propósitos concretos a energia impetuosa e universalista
de Áries; e Escorpião leva a avidez social, geralmente difusa, de Libra, a um estado de
obstinada identificação com um propósito específico ou com uma pessoa em particular (daí
a origem do ciúme, da crueldade, etc.). Por outro lado, quando o signo cardinal focaliza
uma personalidade (Câncer) ou uma forma particular de sociedade (Capricórnio), a força
demonstrada pelo signo fixo seguinte se manifesta como uma liberação ou como uma
explosão de energia.
Esta liberação de energia pode expandir e glorificar o que foi construído e focalizado
no signo cardinal, ou então pode destruí-lo e transcendê-lo. Portanto, uma liberação de
energia em Leão pode significar o rompimento de um lar e da integridade pessoal, devido a
aventuras amorosas, jogos e atitudes de intemperança; como pode significar também a
procriação que vai consolidar o lar. Da mesma forma, Aquário poderá ver o
desenvolvimento construtivo do Estado e da civilização, através de invenções, de melhorias
e da glorificação de certas virtudes sociais; mas pode significar também uma completa
revolução e transformação do Estado e da civilização, pelo poder de um novo ser humano e
de novos ideais que o Estado existente se recusa cegamente a tolerar, ou contra os quais o
Estado precisa lutar porque provavelmente não consegue assimilá-los.
Esta distinção entre características equinociais e solsticiais é da maior importância
para que o significado mais vital do Zodíaco seja compreendido. A terminologia tradicional
estabelece que os signos cardinais equinociais (Áries e Libra) são signos "masculinos" e os
signos fixos sucedentes (Touro e Escorpião) são "femininos", enquanto que os signos
cardinais solsticiais (Câncer e Capricórnio) são "femininos" e os signos fixos sucedentes

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(Leão e Aquário) são "masculinos". Os signos de força (fixos) femininos concentram e
focalizam a atividade dos signos cardinais masculinos. Assim, Touro é a energia solar que
fecunda a terra, e Escorpião é a energia do relacionamento humano e das parcerias sociais,
que se fixa através da identificação sexual e de negócios ou trustes. Por outro lado, os
signos de força masculinos liberam o que se tornou concreto e se cristalizou nos signos de
atividade femininos. Assim, Leão simboliza a força criadora e procriadora liberada pela
personalidade já formada e pelo lar estabelecido, e Aquário representa a civilização
espandindo-se ou reformando-se através de seus visionários, inventores e revolucionários.
Em Capricórnio, o indivíduo pode ser um político, um autômato social, ou um eremita
esforçando-se por uma nova visão. Em Aquário, ele pode ser um rebelde ou um verdadeiro
reformador: um excêntrico que tenta insistentemente disseminar seu esquema pessoal de
melhorias para a sociedade ou o devoto de uma nova religião com o poder de renovar
grandes grupos. Ele pode ir ao martírio social com a mesma obstinação passional que tem o
leonino quando se apega às suas emoções teatrais ou quando é tomada por violento
orgulho pessoal em suas criações. Ele é o ser social que tenta apaixonadamente deixar de
ser uma mera criatura do Estado e despejar seu inextirpável sentimento de servidão à
tradição, num grupo social especializado e consagrado à reforma - a qualquer reforma. Ele
é o "homem do Partido", que nunca é tão fiel a seu partido como quando este é atacado
por conservadores ou perseguido pelo Estado. Ele é o fanático que não tem uma direção
individual para ajudá-lo a conduzir racionalmente seu fanatismo. Mas ele é também o
Edison, que colabora com a ordem social através de seu gênio inventivo, e o Libertador, que
salva um povo de sua escravidão e renova a civilização sem destruir sua estrutura básica.
Ele pode despejar vinho novo em odres velhos ou, por falta de recipientes adequados,
quebrar os odres velhos e derramar o vinho.
Nos dias de hoje, é moda tecer elogios ao nobre aquariano. Isto é compreensível
porque a humanidade está passando por um período de rápida transição e de repolarização
social. As estruturas burguesas e feudais da civilização europeia estão desmoronando. As
pessoas sentem necessidade de uma mudança, mesmo que em suas mentes conscientes
resistam desesperadamente a ela. Que o conservadorismo capricorniano está condenado,
qualquer pessoa em perfeito juízo o sabe; porém as classes privilegiadas e os guardiães das
tradições religiosas não conseguem abrir mão desta ordem, porque isto significaria a sua
própria destruição e traria um caos temporário. Na Europa, a guerra está alcançando o que
a revolução iniciou*; porém, na América, o problema entre reforma e revolução parece
ainda estar em aberto. Reforma, nas mãos dos americanos mais refinados, significará um
retorno à amplitude de visão da América sagitariana, ao seu sentido moral e à sua saudável
avidez por grandes aventuras e por sonhos religiosos. Revolução significará que os valores
sagitarianos na América se cristalizaram tanto nas mãos de capricornianos negativos; que
nada, a não ser a destruição dessas conchas, poderá nos levar a descobrir a "pequena voz"
do Cristo, da Nova Vida.
* Este livro foi escrito em 1943, portanto durante a II Guerra Mundial. Seus princípios
permanecem espantosamente atuais.
Por que valores "sagitarianos"? Porque é em Sagitário que os Princípios universais e os
Ideais sociais e religiosos são visualizados pela mente que voa para além do campo pessoal,
racial e geográfico e atinge o espaço das conexões e generalizações mais distantes. E o que
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é a Democracia e o princípio de uma Irmandade universal entre os seres humanos senão a
mais extrema generalização que se pode fazer em termos de relacionamentos? A Lei Tribal
- mesmo em seu sentido expandido nazista - baseia-se em conexões próximas, em
experiências pessoais e emocionais. Mas a Lei Democrática violenta os nossos instintos
arcaicos, que estão enraizados em exclusivismo de sangue e orgulho cultural.
Não é de estranhar então que, assim como o ideal moderno sagitariano de Democracia
se cristaliza em políticas capricornianas, a maioria dos velhos rancores ancestrais e dos
preconceitos de classe tenda a recuperar o espaço que ocuparam por séculos. Com a
Democracia (e tudo o que ela implica fundamentalmente em termos de relacionamentos
humanos, mais do que superficialmente em termos de sistema parlamentar), a mente
sagitariana supera o nível anterior mais elevado das generalizações, representado pela
Ordem Católica Universal. Catolicismo significa, etimologicamente, universalismo. O
Cristianismo fundou-se na generalização suprema de que todos os seres humanos são
potencialmente "filhos de Deus". Essa generalização, porém, foi restringida e cristalizada
numa Igreja que estabelece limites para a salvação espiritual e proporciona fogos do
Inferno para os não-crédulos. Estes limites capricornianos foram simbolizados pelo Papado
e pela Igreja Romana medieval - que finalmente atraíram reformadores e rebeldes para os
destruírem.
Democracia, no sentido maior e mais profundo do termo, é uma generalização ainda
mais ampla, porque não se limita pelo campo religioso ou ético. Engloba todos os valores
do comportamento humano e os repolariza até que todas as distinções de sangue, todo o
emocionalismo nos relacionamentos e toda a possessividade, baseados em conotações
ancestrais, sejam eliminados. A Democracia, como um ideal, precisa concretizar-se como
um sistema aplicado de organização político-social. Quando isto ocorre, porém, os valores
sagitarianos são substituídos ou dominados pela técnica capricorniana. A Democracia ideal
se transforma em federalismo aplicado. O que os Estados Unidos têm demonstrado
durante seus 170 anos de existência é um sentido hesitante e falível de Democracia e uma
teimosa dependência dos mecanismos, quase sempre distorcidos e pervertidos, do
Federalismo. Tomamos como certo que parlamentarismo significa Democracia, que o
respeito pelas decisões da maioria em qualquer grupo de representantes eleito prova que
está havendo Democracia. Isto é obviamente ingênuo, porque tudo depende de como as
eleições são conduzidas e se pressões financeiras, sociais e psicológicas são ou não
aplicadas para forçar uma decisão do eleitorado.
Com Capricórnio, vemos, portanto, o triunfo das máquinas políticas, o triunfo da
ditadura pessoal com técnicas especiais de controle da opinião pública. Vemos a
personalidade humana, que se desenvolveu durante o ciclo de ascensão da Força-do-Dia,
tornar-se agora um "indivíduo esquecido": um ser humano com um voto que pode ser
comprado ou comandado por comoventes apelos de massa. Em Aquário, vemos, por um
lado, a liberação construtiva e destrutiva de todas as energias que a vida urbana moderna
pode produzir, seja no que diz respeito a conforto material e tecnologia, seja no que se
refere a confusão mental, poluição moral e desintegração fisiológica. E, por outro lado,
vemos as muitas tentativas do cidadão "urbanizado" de restabelecer seu sentido individual
de valores e sua integridade pessoal por meio de pequenas ou grandes rebeliões,
excentricidades, fanatismos emocionais unilaterais e também por meio de fidelidade a
77
cultos e grupos especializados. Em nome da "volta" à "Lei da Natureza" (vegetarianismo,
comidas cruas, nudismo etc.) ou à "Lei da Democracia Individualista" (ideologias
anarquistas de um ou outro tipo) ou à "Lei da Irmandade Universal" (grupos esotéricos
espirituais), e "cidadão urbanizado" busca reavivar a visão sagitariana, que foi traída pelas
metrópoles capricornianas e pelos grupos de poder capricornianos. Esta é a razão da ânsia
do aquariano pelo desconhecido e pelo estranho, pelas mais novas manias ou pelos
movimentos supostos de reavivar e restaurar o "verdadeiro" fundamento da Democracia e
da liberdade humana.
Em todas essas tentativas para se libertar da máquina social, do domínio do dinheiro e
do domínio de grupos de poder, o aquariano apresenta, com muita frequência, uma curiosa
dependência das mesmas forças sociais que ele condena. Isso, porque tudo que ele
realmente conhece é ação social e organização social. Sua noção de personalidade ainda é
muito vaga ou negativa. Em Aquário, a energia "personalizante" da Força-do-Dia está ainda
muito fraca e mal consegue se manifestai. No melhor dos casos, ela se manifesta
espasmodicamente e, quase sempre, através de uma reação contra as outras
personalidades que são parte de uma situação social.
Assim como o leonino usa grandes atitudes sociais para camuflar seu sentimento,
profundamente escondido, de insegurança social ou seu "complexo de inferioridade", da
mesma forma o aquariano usa grandes atitudes pessoais para esconder seu sentimento,
geralmente não admitido, de insegurança pessoal e seu medo de qualquer personalidade
forte. O medo, sob circunstâncias favoráveis, é claro, se transforma em devoção; porém, na
sombra desta devoção não pode haver nenhum ressentimento escondido, nem uma
pequena esperança em provar, de alguma maneira, que se é superior ao objeto da
devoção.
O aquariano sente no mais íntimo de seu ser a presença de uma Nova Vida; porém, ele
está sempre atemorizado pelas implicações desta presença; porque ela poderia forçá-lo a
abrir mão de sua dependência das bases sociais. Poderia compeli-lo a ser verdadeiramente
um indivíduo, e a provar isto para si mesmo através de uma paz que nada tem de
emocional, que está enraizada apenas naquela "pequena voz" que ainda não passa de um
pressentimento e de uma perturbante promessa. E, na verdade, o aquariano não quer abrir
mão da dependência de sua base social e ancestral - exceto quando faz exibições teatrais
de "modernismo", que servem apenas para aumentar seu prestígio com os amigos. Além do
mais, o mergulho nas profundezas de sua personalidade é um risco amedrontador porque a
identidade individual, no que diz respeito à segurança, significa muito pouco para ele. O
ideal de ser uma pessoa segura de sua individualidade evoca, em geral, apenas uma
aprovação intelectual. Fundamentalmente, o aquariano tem tanto medo de ser ele mesmo,
independente de todos os suportes sociais e culturais, quanto o líder leonino teme ser
apenas um "ser social", sem a privilegiada posição pessoal de liderar aqueles com quem
esteja sendo "social".
Lincoln definiu o verdadeiro democrata como aquele que "se recusa a ser um senhor
de escravos". Mas o leonino quer ser o líder do seu grupo social, porque teme atuar
socialmente em outra posição e, acima de tudo, teme ser um igual entre iguais. O
aquariano típico pode atuar como um igual entre iguais, porque ele se sente à vontade na
sociedade; ele pode também usar livremente qualquer poder social que possua devido a
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tradições ancestrais e à permissão social. Mas ele realmente depende de um status social e
de um status legal (ou ficticiamente legal) para sentir que a sociedade necessita dele.
Precisa sentir que é um "homem do destino" para aqueles a quem vai liderar; enquanto
que o governante leonino se envaidece simplesmente com o fato de ser um governante,
porque ele quer governar, e governando sente que está sendo útil à sociedade. Um
aquariano pode renunciar sinceramente ao poder e, se necessário for, abdicar. O leonino só
tomará uma atitude destas se achar que, fazendo tão nobre gesto, vai ganhar mais prestígio
social do que mantendo-se num trono que lhe parece inseguro.
Quando a coletividade organizada de Capricórnio está próxima de ser uma sociedade
ideal, o aquariano emerge dela como representante de sua totalidade orgânica perfeita.
Nesse caso, ele se torna o plenipotenciário do grupo, ou a semente que, deixando o
organismo paterno realizado, representa a incorporação de todos os seus poderes vitais.
Em Aquário, a energia da semente de Cristo é liberada num novo solo virgem; esta semente
vai germinar, no devido momento, e se perderá como semente para que a nova planta
possa existir.
Desse mesmo modo, os grandes indivíduos que assimilaram em suas personalidades
os rumos mais progressistas da cultura europeia e vieram para o "Novo Mundo",
identificando-se com sua civilização e apresentando para a América os talentos de sua
sabedoria e personalidade europeias, agiram como seres humanos-sementes e,
simbolicamente falando, como verdadeiros "aquarianos". O Capricórnio ideal é a "Cidade
Branca" ou "White Lodge", cujo "aniversário" é celebrado no início de janeiro, no polo
oposto à data da Independência dos Estados Unidos; um símbolo realmente significativo. E
os "aquarianos" de Espírito são aqueles misteriosos Personagens que ciclicamente saem da
"Cidade Branca" - o Pleroma de Deus - para liberar as "Águas Vivas" da Nova Vida.
Daí o simbolismo aquariano do Aguadeiro, que traz no ombro uma "urna" de onde flui
um córrego de água para a Terra. Esta urna é símbolo do saco de sementes místico que
libera a substância de uma nova humanidade. Ela é também símbolo da nuvem de
tempestade carregada de chuvas abundantes que vão regar a plantação e liberar o raio -
que os antigos arianos divinizaram com o nome de Rudra. O raio não é somente uma força
destruidora, ele é o caminho para a precipitação no ar do precioso nitrogênio, necessário
para os processos vitais.
A energia sempre flui de um potencial mais alto para um potencial mais baixo, do já
realizado para o que está ainda incompleto ou o que aguarda. A força, em Aquário, talvez
possa ser, mais do que em qualquer outro signo fixo do Zodíaco, a Força de Deus. Por isso
alguns esperam que a Manifestação Divina para a "Era de Aquário" seja o mais poderoso
extravasamento do Espírito criativo. Talvez esse extravasamento já esteja inundando o
reino humano. Talvez o Ser Humano Arquetípico já tenha incorporado em carne e sangue, e
as mentes humanas estejam brevemente a contemplar a plenitude e a glória da Revelação,
que deverá concretizar-se através dos muitos que virão da "Cidade Branca" celestial,
servindo de semente para a nova humanidade.
Esta é a promessa de Aquário, cujas "águas vivas" fluem das alturas celestiais para
fecundar o reino humano, em sua totalidade, para o novo nascimento da Personalidade
para o nascimento do “Ser Humano em Plenitude" nos nossos filhos e nos filhos dos nossos
filhos.
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PEIXES

Com Peixes, alcançamos o último estágio da jornada do Sol pelo Zodíaco. Neste
estágio, a Força-do-Dia prepara-se para igualar-se em intensidade com a Força-da-Noite e
superá-la. A semente do Cristo, ativada durante o solstício de inverno nas profundezas
ocultas de um mundo totalmente dominado pelo comportamento social e pelo conceito do
Estado, se revela agora a tal ponto que tem que ser reconhecida pela sociedade que rui sob
o peso de suas próprias cristalizações. O antes poderoso império é agora atacado, de todos
os lados, por ondas de energia destrutiva, pela correnteza das invasões bárbaras. Novo
sangue flui nas velhas classes governantes, transformando-as totalmente. Os
"isolacionistas" orgulhosos são eliminados quando se negam a unir ao pico ascendente da
futura primavera, assim como os icebergs de inverno são condenados a mortes líquidas
pelas tempestades equinociais, que se enfurecem no período de Peixes.
Peixes é uma era de tempestades e de desintegração geral. Contudo, os sopros
piscianos do destino podem levar pessoas de visão e de coragem a descobrir diversos
"novos mundos", como podem também destruir ou sufocar os muitos que teimosamente
resistem a mudanças. Peixes é uma era de repolarização geralmente aguçada e violenta. É
uma era de purgação e de limpeza. A tradição fez do mês que precede o equinócio vernal
um período de abstensão e arrependimento. A partir da Quarta-feira de Cinzas, o devoto da
Nova Vida deve aprender a identificar-se voluntariamente com a morte de todas as
estruturas estabelecidas. Deve enfrentar a condição de casulo para o bem da futura
borboleta. Peixes é o Dilúvio mítico, é a era da dissolução universal. O ser humano deve
aceitar a dissolução das estruturas sob o insidioso poder de Netuno, regente de Peixes. Não
deve apegar-se a nenhuma estabilidade ou grandeza do passado. A "não-segurança" é a
única segurança possível. Ele precisa aprender a agir de acordo com a Força-do-Dia que
está crescente, e manter-se imóvel enquanto as estruturas construídas pela Força-da-Noite
vão-se arruinando à sua volta.
No signo oposto, Virgem, o indivíduo, que em Leão orgulhosamente liberou as
energias da sua personalidade, confronta-se com os resultados de tais liberações. Sua prole
precisa de atenções. Sua saúde talvez tenha sido afetada por excessos passionais, e seu
patrimônio pode ter sido prejudicado por especulações inúteis. Em Virgem, o indivíduo se
defronta com a necessidade de repolarizar sua atitude emocional e de aperfeiçoar sua
técnica de comportamento. Autocrítica, estudo, higiene e disciplina e um "mestre da
técnica" são, portanto, suas necessidades. Satisfazendo-as, ele começa a obter uma nova
perspectiva em relação aos relacionamentos humanos. Ele aprende a servir, a ter paciência,
a prestar atenção, a meditar e a criticar os impulsos mais básicos da sua personalidade. Se
não aprende voluntariamente, talvez venha a ser compelido, por uma doença ou servidão,
a abrir-se para a verdadeira vida dos relacionamentos humanos, e então tornar-se, em
Libra, um ser "social".
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Com Peixes, encontramos os ventos do destino virados para o ponto oposto da
bússola. Agora é o ser "social" que deve aprender a abrir mão de sua confortável, e até
mesmo trágica, confiança na estrutura da sociedade. Ele deve aprender a estar só e a
contar apenas com sua Voz interior. Deve estar pronto para "fechar contas" e enfrentar o
desconhecido com simples fé; deve retomar ao útero da natureza, deixando para trás as
belas miragens da vida civilizada de Aquário e preparar-se para a vida num reino maior,
para longas viagens a um mundo novo. Deve aprender a desaprender e a abrir mão
inclusive de seus ideais fixos e de suas posses. Deve aprender, como fazem os místicos, a
atravessar o maravilhoso círculo da "glória de Deus" e procurar, destemido, através das
trevas da consciência humana; a "pobreza de Deus" - esse estado escondido no silêncio e
no nada, de onde, porém, todas as coisas que têm forma e nome emanam na quietude do
Mistério supremo.
Em Virgem, a personalidade orgulhosa deve tornar-se aprendiz e servir a um mestre.
Em Peixes, o ser social que conta com máquinas e fórmulas - acumuladas por séculos de
cultura - para realizar suas tarefas diárias percebe que suas ligações com o progresso social
e o aprendizado intelectual não irão salvá-lo. Servir a um ideal social não tem sentido numa
crise de vida-ou-morte. O dever de Peixes é servir a Deus, servir ao que não pode ser
perturbado por nenhuma revolução, embora seja também a causa e a raison d'être de todas
as revoluções.
Transcendência, superação, destruição de ilusões e de falsas seguranças, rompimento
de laços sociais, embarque na grande aventura com total fé e na simplicidade de uma
existência despojada - todas estas coisas devem ser aprendidas em Peixes. Aqui o ser
humano está frente a frente consigo mesmo e com o Eu Maior, que ele chama Deus. Ele
pode recusar este confronto; pode apegar-se a cidades opressivas e decadentes, pode
abrigar-se com os refugiados e lastimar-se eternamente diante do Muro das Lamentações,
proporcionado por religiões moribundas e por "salvadores" sociais inflados. Mas, neste
caso, ele será utilizado, como estrume, para as semeações da primavera.
Renúncia e transcendência representam um tipo de crítica mental. A mente, nos
Signos que precedem os equinócios (Virgem e Peixes), é a crítica constante que corta as
cristalizações ou falácias do passado, com a intenção de limpar o campo para um novo tipo
de vida e de realização. É a mente que diz o que deve ser esquecido, podado, regenerado e
transcendido. Em Peixes, cabe eliminar as ilusões sociais, o idealismo exagerado, as noções
excêntricas, os fetiches revolucionários, o materialismo científico e as monstruosidades
civilizadas, que fervilham durante o período de Aquário. Aqui o ser humano se despoja de
suas vestimentas sociais e fica nu diante de seu Deus interior - isto é: diante do Cristo, a
responsabilidade do seu futuro Destino. Na verdade, ele deve despojar-se de algo mais
além das vestimentas sociais; pois os fatores sociais, agora que a Força-da-Noite míngua,
não estão apenas se tornando negativos, mas também subjetivos. O social passa a ser o
psíquico. Os sonhos sociais se transformam em fantasmas psíquicos; as frustrações sociais,
em complexos subconscientes.
Peixes, em seu aspecto negativo ou subjetivo, representa o reino do subconsciente
(Freud) ou o inconsciente pessoal (Jung). Este inconsciente pessoal é o produto final de
todas as falhas do indivíduo na adaptação no seu meio ambiente - da família até a
sociedade organizada, de Câncer até Capricórnio. Os conteúdos do inconsciente pessoal são
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negativos, porque foram produzidos por um derrotismo subjetivo que leva à autopiedade e
nutre os múltiplos medos que constituem a energia psíquica invertida. Os complexos são
medos cristalizados. Neles, a energia está "amarrada. em nós" e não circula mais. Devido a
eles, a poderosa substância da psique torna-se destrutiva, ou, pelo menos, distorcida. O
complexo é, às vezes, como um espelho côncavo ou convexo que deforma as imagens da
vida. É um astigmatismo psíquico. Outras vezes, o complexo é vingativo e canceroso: um
crescimento que engole a substância psíquico-mental da consciência e produz
esquizofrenias e os vários tipos de manias.
Em Peixes, estes complexos devem ser enfrentados. O confronto pode ser feito
através da compreensão, através da introspecção dirigida (análise psicológica com um
analista treinado) e através das muitas técnicas criadas por gurus orientais. Porém, na
maioria dos casos, ela implica não apenas um esforço individual, como, também, um
despertar coletivo, como acontece numa onda de fervor religioso. Isto é assim porque as
cristalizações com as quais temos que lidar não são causadas apenas por falhas do
indivíduo, mas principalmente pelas falaciosas e atrofiantes tradições da família, da religião
e da sociedade, que impõem à criança, desde seu nascimento, uma coleção de obstáculos,
geralmente ridículos (alguns porém inevitáveis e no todo construtivos), diante do fluxo
espontâneo e natural das suas energias.
Por isso é dito que os "pecados dos pais" permanecem durante sete gerações. Nossas
neuroses modernas podem ser também reportadas às portas da era vitoriana que, por sua
vez, meramente revelava as pressões e falácias impostas por séculos sobre a humanidade
cristã europeia, da qual apenas uma base aristocrática da sociedade manteve seus homens,
mulheres e crianças livres da contaminação. Tendo esta base desmoronado, o sistema
individualista da burguesia, exacerbado pela liberação de amplos poderes através da
tecnologia, libertou todos os monstros do subconsciente. Daí os nossos muitos complexos e
manias; como a Idade Média (herdeira da decadência dos Impérios Celta e Romano) que
teve seus súcubos e íncubos, seus demônios e suas bruxas.
O ser humano deve enfrentar não apenas seu inconsciente pessoal mas também o
inconsciente coletivo de sua raça e de sua cultura. O nascimento em Áries, significa que a
pessoa passou por este ilusório e obscuro reino de memórias raciais, chamado pelos
ocultistas de "mundo astral" ou "luz astral mais baixa". Para a personalidade madura, o
renascimento em Áries significa ter enfrentado o "Guardião do Umbral" (cujas
aterrorizações estão descritas no famoso romance Zanoni, de Bulwer Lytton) e ter vencido o
combate. Num sentido positivo, cada nascimento representa a assimilação do sangue da
mãe. O futuro sempre alimenta-se da substância do passado. Este passado é Maria, a
eterna mãe, que significa etimologicamente, o "mar", de onde brota a vida, seja para o
nascimento, seja para o renascimento.
Nada de vitalmente novo é produzido que não surja do "mar", e o "mar" é Peixes,
regido por Netuno. O tridente de Netuno tem três pontas e o hieróglifo zodiacal de Peixes
tem também três linhas. Por esta razão, o simbolismo do Evangelho fala das três Marias:
Maria, a Mãe; Maria, a portadora do amor; e Maria, a serva, o nascimento, o renascimento
e a vida diária numa atividade consagrada. Em Peixes, o ser humano tem que passar pelo
Eterno Feminino. O eterno Casulo, que é como o nada, embora contenha todo o potencial
para a renovação. É o reino da metamorfose e do glamour psíquico, é o mundo do êxtase e
82
da eterna névoa; a abertura para Deus e a mediunidade para os fantasmas de um passado
decadente; é o sacrifício do mártir e a terrível Inquisição que alimenta frustrações sádicas
sob a máscara de um trabalho religioso.
Peixes não deve ser considerado apenas um signo de abertura social ou mística, com
um significado subjacente de passividade. Em suas profundezas marítimas há violência e
tempestade. O corte, ou separação, é feito pela espada. O fanatismo é impiedoso e o retiro
do monge no deserto, onde, na solidão, pode ver melhor o seu passado e todas as
memórias das raças humanas, é uma prova de coragem e de força elástica. Por esta razão,
muitos generais e heróis trouxeram em suas individualidades a marca de Peixes. Eles
sabiam como segurar e como desdobrar suas energias, como ser impiedosos consigo
mesmos e com os outros. Peixes é as profundezas acionadas e não há nada mais
devastador do que uma onda violenta causada por um terremoto ou por um furacão
nascido do mar.
Em Peixes existe sempre algo de finalização, mas também algo de expectativa. Mesmo
a delicadeza tem matizes de mistério. Há transições escondidas por todos os cantos da
existência. Há geralmente indiferença pessoal e uma distante nobreza, como se as
situações fossem muito grandes ou por demais absolutas para envolverem a mera
personalidade. Há uma sensação de ser possuído pela inquietação eterna, na qual todas as
coisas firmes parecem temporárias e inúteis. E se esta disposição prevalece na
personalidade, um tipo fatal de introversão vagarosamente esvazia a consciência de seus
conteúdos vitais. Os seres humanos retornam então para o mundo fantasmagórico do
inconsciente - talvez como os Estoicos romanos, que viviam numa nobre indiferença
enquanto seu mundo era destruído; talvez como os sonhadores que traduzem todas as
memórias em fantasias; e, se temerosos das fantasias psíquicas, como sonhadores que
constroem sistemas intelectuais rígidos e álgebras inúteis para emoldurar seu vazio com
elegantes arabescos.
Em seu aspecto mais alto e mais espiritual, Peixes se revela como pura compaixão.
Vemos então o Grande Personagem, cujo ser transborda em plenitude, pois absorveu a
totalidade da experiência de sua raça. Nesta plenitude, a sociedade está espelhada e
dotada do mais completo significado. E como não se pode ir mais além, exceto se elevar-se
a Nirvanas transcendentes e sem forma, é-lhe apresentada a grande escolha: uma
satisfação solitária ou a compaixão. O primeiro é a meta do "egoísmo espiritual", procurado
sob a grande ilusão de que pode haver uma salvação individual. Porém o Ser Compassivo
compreende que, realmente e verdadeiramente, não pode haver salvação individual.
Pessoa alguma pode despertar para uma Realidade vital e significativa, se não levar consigo
o passado de onde veio. O indivíduo só pode ser "salvo" no dia em que toda a humanidade
tiver alcançado a plenitude. O isolacionismo é o único pecado que a vida não pode perdoar,
porque aquele que, por conveniência esquece os degraus que o ajudaram a atingir o pico,
deixa uma marca na vida que nada nem ninguém poderá erradicar, a não ser ele mesmo.
A compaixão é a Lei absoluta de um universo onde há ordem e harmonia. A compaixão
é o coração da realidade, porque a realidade está baseada na experiência da totalidade
orgânica, e aquele que vivencia verdadeiramente todas as coisas como totalidades
orgânicas, não pode deixar de considerar-se parte de algum Todo Maior - por maior que
tenha sido a totalidade por ele alcançada. Em Peixes, portanto, o "Mensageiro da Cidade
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Branca" encontra os seres humanos, aos quais vai ensinar e fecundar com os Felizes Laços
da Nova Vida. Esta é a sua missão. Se ele se retrair com desânimo diante da imagem de
decadência e materialismo que uma civilização em desintegração apresenta, irá contra o
seu verdadeiro destino.
O dever de Peixes é não retrair-se diante de nada, por mais baixo e horrível que seja,
baseando-se em sua própria pureza e excelência; é mover-se em direção às planícies
comuns, com os braços e a alma imbuídos do significado e da glória das colinas "de onde
vem a salvação". O "Cedro do Líbano" deve voluntariamente deixar-se cortar para que
casas sejam construídas para os desabrigados, embarcações possam navegar para terras de
riqueza, e "Templos de Salomão" possam se tornar de fato a moradia de Deus entre os
seres humanos.
Em Peixes, a "Cidade Branca", que está remota e distante, pode ser erguida, como
realidade e com seu significado pleno, entre os seres humanos. Este é o fim do ciclo que
traz em suas profundezas vitais as origens da Nova Vida. A Força-do-Dia e a Força-da-Noite
atingem mais uma vez o ponto de equilíbrio. O que vai ser "iniciado" agora não é mais o ser
individual, como foi no início de Libra; e sim a Humanidade, como uma totalidade orgânica.
E esta é a última bênção do ciclo que se fecha, a eterna promessa de toda a consumação
cíclica: que a constante dualidade da vida, sempre em mutação, possa ser integrada em
totalidades orgânicas cada vez mais abrangentes, através do comportamento criativo de
Personalidades cada vez mais compassivas e mais profundamente integradas; que o Dia e a
Noite possam ser concebidas como dois polos complementares da vida e da consciência,
em momentos de percepção tão lúcidos e tão ricos de conteúdos universais que estes
momentos iluminados permanecem como faróis para servirem de guia e prazer para
investidas ainda maiores na vida. Esta é a promessa do renascimento eterno que não deixa
nada sem redenção e não exclui ninguém; a promessa da eterna e infinita Presença de Deus
no ser humano que acolhe plenamente a integração de tudo o que o levou à sua presente
consumação.neste ser é realizada a síntese de passado e futuro, na plenitude e glória dos
momentos que são o "eterno Agora".

84
CAPÍTULO 3

A LIBERAÇÃO CRIATIVA DO ESPÍRITO

Expandindo e contraindo, bate o coração da realidade. Expandindo e contraindo, a


Força-do-Dia e a Força-da-Noite entrelaçam ritmicamente suas formas de relacionamento
orgânico. Porém o ser humano não é sístole nem diástole, não é o trabalho do dia nem o
ato de sonhar da noite. O ser humano é o campo de batalha onde estas duas forças de
energia prosseguem na incessante alternação de vitórias e derrotas; ou é um todo
integrado e criativo, no qual as duas polaridades da experiência humana, em equilíbrio
numa harmonia dinâmica, contribuem constantemente para a manifestação de sua
totalidade criativa.
Na primeira possibilidade, o ser humano atua como um ser condicionado pela
natureza, e sua vida e experiência oscilam constantemente entre consciência e
inconsciência, individual e coletivo, vida e morte, renascimento e mais uma vez morte. Na
segunda possibilidade, o ser humano é um ser condicionado pelo Espírito, uma expressão
do destino, e está profundamente enraizado no silêncio. Está posicionado numa harmonia
de opostos que tanto transcende como inclui todas as manifestações desses opostos.
A expressão "condicionado pela natureza" pode referir-se a uma personalidade que
atua no nível dos instintos e num estado de preponderância da atividade inconsciente; ou
pode também indicar uma pessoa com grandes poderes intelectuais, orgulhosa de que seu
comportamento é regido por padrões racionais e éticos, deliberadamente aceitos e
aplicados. No entanto, em ambos os casos, o ser humano será considerado um ser
"condicionado pela natureza", porque ele está, na realidade, condicionado pela alternação
de negativo e positivo, de mais e menos - seus humores, seus sentimentos, seus
pensamentos e seus interesses crescem e minguam, atraídos de um lado para outro pela
interação rítmica das duas grandes forças da natureza.
Se o ser humano viver de acordo com seus instintos, seu ritmo de mutação seguirá o
ritmo dos fenômenos vitais da Terra; ele agirá então como uma criatura de "estações". Se
atuar predominantemente como uma pessoa civilizada e intelectualmente consciente, os
ritmos básicos da natureza serão sobrecarregados por contra-ritmos produzidos por regras
de comportamento social, exigências da vida urbana e por suas próprias reações -
conscientes e inconscientes - aos impulsos que lhe influenciam o organismo físico e
psicológico. Entretanto, opor-se ao ritmo da natureza é também viver sob sua influência,
pois a pessoa está tão ligada aquilo contra que se rebela quanto aquilo a que é
subserviente.
Até a tentativa intencional de controlar as grandes forças cósmicas e de estabelecer

85
padrões deliberados para suas manifestações na personalidade humana é uma marca de
subordinação a estes poderes que se desejam canalizar e amestrar. As energias que forem
controladas em uma direção por determinado tempo tenderão sempre a retornar com
força ainda maior em outra direção, num outro momento. E aquele que, por uma mera
determinação consciente, se tornar um poema de pura luz, vai liberar forças que, na
direção oposta, congregarão a seu redor uma manifestação de igualmente "pura"
escuridão. O dualismo será intensificado e não resolvido. A intensificação pode ser uma
fase necessária para o alcance global da vida espiritual - pois diz-se que o estado "morno"
representa o mais baixo da existência -, porém a qualidade de uma vida "condicionada pelo
Espírito" não é verdadeiramente alcançada pela enfatização máxima de uma das
polaridades da vida. Ela não é produzida pelo triunfo das características de uma das duas
forças, dando a estas características a qualificação de "bom".
O primeiro requisito a ser cumprido por uma pessoa que queira alcançar o estado de
uma atividade "condicionada pelo Espírito" é incluir e aceitar, com consciência e
compreensão, todas as manifestações da Força-do-Dia e da Força-da-Noite - das
polaridades, individual e coletiva, da vida. Mantendo-se constantemente esta atitude,
chega um momento em que as duas forças, periodicamente crescendo e minguando,
atingem um ponto de equilíbrio dentro do seu ciclo de vida. Nesse momento, a pessoa que
vinha sendo polarizada, a cada instante, pela força então dominante encontra-se
igualmente influenciada pelas duas forças. A atração de uma força neutraliza a da outra. A
pessoa, em sua totalidade, se tranquiliza. Nesse momento, inacreditavelmente breve, de
paz e "silêncio", o todo pode expressar-se plenamente, sem estar sendo controlado pela
natureza de uma das duas forças. Neste instante, é revelada a totalidade de tudo o que
ocorre durante o ciclo numa síntese de vida que transcende as qualidades produzidas pela
preponderância, sempre em mutação, da Força-do-Dia ou da Força-da-Noite. A natureza é
transcendida. O Espírito se revela.
O Espírito é a totalidade da atividade cíclica. Esta totalidade é imparcial e constante
em sua qualidade de vida porque contém as energias complementares num estado de
equilíbrio. Esse "estado de equilíbrio" ocorre, no ciclo anual da Força-do-Dia e da Força-da-
Noite, durante os equinócios. Portanto, estes dois pontos do ciclo anual são os símbolos
arquetípicos dos momentos que, em qualquer ciclo vital, o Espírito pode ser revelado.
Em qualquer ciclo vital, seja ele maior ou menor, estes dois pontos equinociais são os
"portais da Iniciação". Marcam a entrada no reino da vida "condicionada pelo Espírito".
Esse reino pode ser penetrado pelo lado da particularizante Força-do-Dia ou pelo lado da
universalizante Força-da-Noite. No entanto, no equinócio da primavera, a vivência do
Espírito não pode ser normalmente mantida na consciência, pois só a estrutura da
personalidade, que ainda não está formada, poderia apreendê-la. Já no equinócio do
outono, é a personalidade individual que toma o passo iniciático, numa auto-redenção
consciente à Força-da-Noite. E, em compensação a esta redenção, ela é capaz de reter a
memória estrutural do evento; pode ganhar a imortalidade pessoal no Espírito e, daí para a
frente, manifestar-se como um ser "condicionado pelo Espírito".
A primeira condição necessária para alguém estar preparado para este confronto
equinocial é a compreensão da natureza cíclica de todas as experiências. Nenhuma
experiência pode ter significado espiritual a não ser que esteja relacionada à totalidade do
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ciclo no qual ocorre. A "relação" pode ser instintiva ou intuitiva, abaixo ou acima do nível
de consciência normal. Mas como toda experiência começa no reino da mutação, e,
portanto, no reino do tempo, para que haja a espiritualização de uma experiência é
necessário que todo o ciclo seja inteiramente visto e sentido nessa experiência particular. A
totalidade do ciclo deve ser concebida durante a experiência "equinocial" - que pode
tornar-se então foco para a expressão de todo o ciclo.
Nos pontos "equinociais" de qualquer ciclo, as duas forças - cuja interação é a
substância do ciclo - estão equilibradas e neutralizadas. Portanto já a totalidade do ciclo
pode tornar-se ativa. Esta atividade é essencialmente diferente da atividade condicionada
pela preponderância da Força-do-Dia ou da Força-da-Noite, do individual ou do coletivo. Ela
é uma atividade "condicionada pelo Espírito": uma atividade criativa. O poder criativo do
Espírito se irradia em potencial do centro de equilíbrio das duas forças. É um poder que
torna novas todas as coisas. É a originalidade pura. É o elemento incalculável que perturba
previsões baseadas em sequências de causa e efeito. Este poder, embora seja liberado num
determinado momento do ciclo, produz uma atividade que não é condicionada por
casualidade ou por relação de tempo. É uma atividade que cria o tempo e inicia uma nova
sequência causal. É uma atividade livre.
O que está implícito no texto precedente nada mais é que uma técnica para nos
familiarizarmos com o ritmo das manifestações do Espírito criativo; e também para nos
prepararmos conscientemente para encontrar estes momentos de equilíbrio, durante os
quais está presente a possibilidade de uma atividade "condicionada pelo Espírito". Uma
possibilidade, não uma certeza. Momentos de equilíbrio instável e dinâmico vêm de acordo
com a lei da mutação cíclica de polaridades; porém estes momentos não perduram. E, caso
a pessoa não esteja com sua consciência despertada, não haverá para ela nenhuma
experiência de atividade "condicionada pelo Espírito". Os "portais" se abrem, mas aquele
que adormece enquanto passa em frente aos portais não vivenda a visão que eles revelam;
pois para vivenciar é necessário certo tipo de consciência numa pessoa mais ou menos
individualizada.
O Espírito pode agir - e age - haja consciência ou não. Mas onde ainda não existe uma
estrutura de personalidade formada para vivenciar o Espírito conscientemente, sua
atividade se manifesta na escuridão do reino das Raízes, onde a luz do sol não alcança. O
Espírito se manifesta então através dos instintos, através dos canais de expressão direta,
porém, inconscientes - e este é, simbolicamente, o equinócio da primavera, Áries. Por outro
lado, onde uma personalidade formada e consciente já foi formada (através do processo
simbólico dos seis meses que vão de Áries ao final de Virgem), a atividade criativa do
Espírito manifesta-se em termos de realizações conscientes dentro do organismo humano
total e receptivo. Esta atividade libera, então, Significado. Ela se manifesta, simbolicamente
falando, como Semente no equinócio do outono - libra.
A função mais elevada da astrologia, conhecida por místicos de todas as idades e
raças, é revelar para a personalidade em evolução os momentos-Sementes de seu ciclo de
experiência: os momentos equinociais durante os quais o Espírito pode agir dentro da alma
humana em termos de novos impulsos cósmicos ou de significado criativo. Estes momentos
são revelados de inúmeras maneiras. Num sentido humano universal, eles são os
momentos cruciais das estações do ano, quando o Sol, concretamente, atravessa os portais
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de Áries e de Libra. Nestes momentos, o todo da natureza - terrestre e humana - recebe
uma Visitação do Espírito criativo. Estes são os dias de potencialidade máxima - para
nascimento ou para renascimento, para liberações emocionais ou para oferendas
individuais consagradas à comunidade, para a construção ou para a transfiguração das
formas da nossa experiência humana. Estas aberturas espirituais eram celebradas por
rituais nas antigas civilizações, que viviam próximas do pulsar da vida das estações.
Existem, porém, outros tipos de ciclos astrológicos que podem revelar-nos a existência
de momentos semelhantes de liberação do Espírito; ciclos produzidos pelos movimentos
periódicos de dois corpos celestes em relação a quem vive sua experiência na Terra. Destes
ciclos, o principal é o ciclo lunar. Este ciclo está relacionado à sequência regular de Luas
Novas e Luas Cheias. Neste ciclo, dois fatores - Sol e Lua - são também vistos em sua
interação periódica e sempre em mutação. Quatro momentos básicos sobressaem como os
pontos culminantes deste ciclo; estes pontos são as quatro fases da Lua.
No caso destes ciclos, o que é medido é o grau de relacionamento dos dois corpos em
movimento. Este relacionamento, com referência ao observado na Terra, tem um valor
máximo na Lua Nova e na Lua Cheia, e um valor menor no Quarto Crescente e no Quarto
Minguante. Resumindo, a Lua Nova (o ponto de conjunção) corresponde ao equinócio da
primavera; e a Lua Cheia (o ponto de oposição), ao equinócio de outono - porque os
equinócios são também os momentos do ciclo anual nos quais a Força-do-Dia e a Força-da-
Noite estão mais proximamente associadas dentro da experiência humana. A Lua Nova é,
portanto, o ponto onde o Espírito criativo é liberado como instinto ou energia de
construção de forma. E, na Lua Cheia, o ser humano pode atingir a consciência máxima do
significado das experiências da vida. Por isso, este é o período consagrado ao Buda em
meditação.
Sempre que o movimento de dois astros é considerado em relação a um observador
na Terra, podemos definir um ciclo semelhante ao ciclo lunar. Os quatro momentos
culminantes ou "cruciais" do ciclo são os períodos de conjunção, oposição e quadraturas.
Aqui, mais uma vez, a conjunção é o ponto-Raiz, no qual o novo impulso cíclico é liberado, e
a oposição é o ponto-Semente, no qual o significado do relacionamento cíclico pode ser
alcançado pela consciência ativamente preparada para receber a iluminação do Espírito.
Estes ciclos de relacionamento planetário são especialmente significativos quando os
dois planetas associados são "polaridades opostas". Os pares de opostos planetários são:
Marte (positivo) e Vênus (negativo), Júpiter e Mercúrio, Saturno e Lua - e, ao menos num
sentido, Urano e o Sol. Portanto, sempre que Marte e Vênus estão em oposição no céu, as
pessoas devem procurar aprofundar o significado de sua natureza emocional. Quando a Lua
está em oposição a Saturno, a cada mês, o momento é propício para um esforço consciente
visando à liberação do Karma (sequência causal) de acontecimentos passados. Nos
momentos de conjunção, todo o organismo deve estar alinhado para receber um novo
impulso de ação. Portanto, uma conjunção de Júpiter e Mercúrio é um ótimo momento
para estabelecer-se uma nova base de atividade mental.
Estes ciclos têm efeito na vida de todos os seres humanos. Além deles, podem ser
analisados também ciclos relacionados às "posições progredidas" dos planetas num mapa
individual. O mesmo significado é dado a estes ciclos, porém, de uma forma estritamente
pessoal. Por exemplo: as oposições da Lua progredida com o Saturno progredido (ou natal)
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são indicações muito importantes de períodos na vida da pessoa, em que ela pode sair do
"ciclo de necessidade". De uma forma menos definida, os ciclos de dois planetas quaisquer
podem ser também considerados; pois onde quer que haja oscilação periódica e ritmo,
onde quer que o pulsar da vida seja sentido, haverá momentos, dentro do ritmo desta
alternação cíclica de ênfases positivas e negativas, em que será alcançado um equilíbrio
instável entre positivo e negativo. Estes são os momentos da liberação d'Aquilo que não só
transcende a eterna interação dos opostos como também transcende os domínios do
tempo e da mutação.
No entanto, esta transcendência não é absoluta. Não postulamos aqui um eterno
reino do Espírito, completamente distinto do reino das mutações cíclicas. O Espírito é
transcendente apenas no sentido de que a totalidade é transcendente à natureza das
partes deste todo. Onde quer que haja mutação cíclica, apenas as partes mudam. A
totalidade do todo é constante - no que poderíamos chamar de outra dimensão de vida. É
apenas no reino das partes que ocorre a interação cíclica do "individual" e "coletivo".
A mutação ocorre dentro do todo. Há momentos em que a força da individualização
(ou personalização) puxa cada parte do todo para longe das outras e tende a dar a cada
uma delas a característica de um todo - uma característica que, obviamente, nunca será
totalmente adquirida. E há momentos em que a força de coletivização (ou de integração-
grupal) une todas as partes, enfatizando assim, em cada uma, o sentido de sua igualdade de
existência e também a vontade de sacrificar suas vidas em benefício do todo. Mas existem
também dois momentos em todos os ciclos - por menor que seja o ciclo - onde as duas
forças se igualam.
Na maioria dos casos, nada acontece quando este estado de igualdade ocorre, pois o
equilíbrio alcançado dura apenas uma fração de segundo e o ímpeto das duas forças leva-as
para além do ponto de equilíbrio. Porém, em poucas ocasiões, uma estrutura de
consciência, já previamente formada, capta o flash que é liberado no instante exato do
equilíbrio. Neste flash a totalidade age sobre a parte que já tinha a estrutura de consciência
necessária pronta para servir como base para a ação da totalidade. Esta ação é a
manifestação do Espírito. É o fator criativo.
O individual e o coletivo estão em constante interação no reino das partes. E essa
interação produz um tipo de atividade, no qual existe inevitabilidade e destino compulsivo,
devido à sequencia causal de ação e reação. Entretanto, na atividade em que a totalidade
do todo se manifesta como Espírito criativo, há imprevisibilidade e originalidade; e dela flui
um sentido de liberdade.
Esta atividade criativa do Espírito se manifesta em todo ser humano que tenha
construído um instrumental através do qual ela possa manifestar-se. E ela se manifesta
através de uma pessoa, embora não pertença a esta pessoa. Sua origem é a totalidade
deste todo, no qual os organismos humanos "vivem e têm suas vidas"; este todo é a
Humanidade. Todo ser humano movimenta-se dentro da esfera da Humanidade; em parte
como um exemplar de traços genéricos e coletivamente humanos, e em parte como uma
pessoa que luta pelo estado de uma personalidade individualizada. As correntes
complementares de individualismo e coletivismo estão sempre influenciando as miríades
de seres humanos que, tanto em suas origens-Raízes como em suas uniões-Sementes,
constituem o "todo maior": a Humanidade. E a totalidade desse todo é o "Ser Humano".
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Onde quer que o pulsar da vida seja sentido, há desequilíbrio, conflito, tensão e a
experiência do sofrimento. Existem, porém aqueles que se tornaram, através de seus
próprios esforços, "construtores de personalidade" e, através de sua compreensão do ritmo
cíclico, veículos para a ação criativa do "Ser Humano", pois souberam aproveitar os
momentos de equilíbrio cíclico, porque estavam acordados e preparados quando os
portões equinociais se abriram - eles se identificaram então com o "Ser Humano".
Assim como existem ciclos que levam milhões de anos para sua complementação,
existem também ciclos que duram apenas segundos de tempo e até muito menos que um
segundo. Para quem pode sentir o ritmo desses ciclos infinitesimalmente pequenos, há
sempre e eternamente equinócios. Nele, e através dele, o Espírito é liberado como uma
corrente elétrica alternativa, que é Raiz e Semente - que constrói universos de forma e
libera significados conscientes, de onde, mais uma vez, deverão nascer novas formas. Ele é
Raiz e Semente, e tão rapidamente ambos, que o tempo não existe mais. Ele se transforma
de uma só vez nos dois equinócios. Torna-se de uma só vez todo o Zodíaco. Ele está livre. A
totalidade do Todo está sempre criando através deles num eterno ato de Encarnação.

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