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Conceitos e Práticas
Sociais Relacionados
à Educação Física
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Prof.ª Ms. Fernanda Moreto Impolcetto
Prof. Ms. Edson Renato Nardi
1. OBJETIVOS
• Estudar, conhecer e compreender conceitos básicos im-
portantes para a área da Educação Física e Motricidade
Humana.
• Estudar o processo histórico de formação e desenvolvi-
mento destes conceitos na área.
• Reconhecer as diferenças entre algumas práticas sociais
relacionadas à Educação Física.
2. CONTEÚDOS
• Trabalho, tempo livre, lazer e recreação.
• Brincadeira.
90 © História e Teoria da Educação Física
• Jogo.
• Esporte.
• Dança.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na primeira unidade estudamos o processo da formação e
desenvolvimento das atividades físicas ao longo das diferentes fa-
ses da história da humanidade. Nesta unidade estudaremos con-
ceitos básicos fundamentais para a Educação Física e prática so-
ciais relacionadas a área. O conteúdo está voltado basicamente
© U2 - Conceitos e Práticas Sociais Relacionados à Educação Física 91
Lazer e recreação
Para iniciar nossos estudos sobre o lazer e a recreação, pri-
meiro, é preciso ter claro que todos os assuntos ligados a esses
termos são bastante polêmicos. Muitos autores utilizam os termos
"recreação" e "lazer" como sinônimos, ou seja, para designar as
mesmas atividades. No entanto, para alguns deles, há diferenças
claras entre esses conceitos, e, além disso, a questão da ocorrên-
cia histórica do lazer também é bastante discutida.
De acordo com Marcellino (2006), alguns autores conside-
ram que, se os homens sempre trabalharam, também paravam de
trabalhar, havendo, assim, um tempo de não-trabalho, o qual era
ocupado por atividades de lazer. Para outros autores, porém, o la-
zer é fruto da sociedade moderno-urbano-industrial.
Ainda para Marcellino (2006), na verdade, não há um caráter
de rejeição entre as duas correntes, mas, sim, enfoques diferentes,
pois uma aborda a "necessidade de lazer", sempre presente na
história da humanidade, e a outra se detém nas características que
essa necessidade assume na sociedade moderna.
No caso da sociedade brasileira, é a partir do momento que
marca a transição do estágio tradicional para o moderno que se
verifica a ruptura entre a vida e o lazer. Temos, assim, dois estágios
que representam estilos de vida diferentes.
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não? Ou a que horas ela vai para o local de trabalho? Para a maio-
ria da população este grau de liberdade não existe, a opção em
deixar de ir ao trabalho pode acarretar sérias consequências, dife-
rente da liberdade que se tem para fazer outras atividades como
uma caminhada ou encontrar os amigos para uma conversa.
De acordo com esta quarta definição, a recreação é uma fun-
ção do lazer, responsável pela diversão durante a atividade reali-
zada, além das funções de descanso e desenvolvimento, que tam-
bém são a ele atribuídas.
Dumazedier (1975) apresenta ainda quatro conceituações
de tempo que tem relação com o lazer:
1) Tempo ocioso: corresponde a ausências de trabalho e é
escolhido pelo indivíduo.
2) Tempo desocupado: é o tempo da pessoa desemprega-
da, geralmente em virtude da situação econômica do
meio social em que vive, que não dá conta de manter
todos os cidadãos empregados.
3) Tempo liberado: tempo resultante do trabalho produti-
vo, quando o processo de produção é maior e o tempo
dedicado a ele é menor.
4) Tempo livre: resulta do tempo liberado.
Concluímos que para Dumazedier (1975) o lazer acontece
justamente no tempo livre, ou seja, no tempo liberado em virtude
do trabalho cumprido e pressupõe ainda a ausência das obriga-
ções domésticas, sócio-políticas e religiosas.
Vale a pena ressaltar que optamos por apresentar as defini-
ções de lazer de um autor reconhecido na área pelos estudos que
desenvolveu. No entanto, não significa que todos concordem e que
estas sejam verdades absolutas. Você pode adotar outro tipo de
concepção em relação a este conceito concordando parcialmente
com as ideias aqui apresentadas ou não. No entanto, para efeito
de formação profissional é necessário que estes conhecimentos
sejam compreendidos, pois são reconhecidamente relevantes.
Atividades de lazer
Consideremos as seguintes situações: uma caminhada a pé
no parque, um jogo de futebol com os amigos, assistir uma pales-
tra sobre um tema de interesse pessoal, cuidar do animal de esti-
mação, lavar o carro, ir a um ginásio assistir um jogo de basquete,
viajar no final se semana.
Quais características estas atividades tem em comum que
permitem classificá-las como atividades de lazer?
Para Camargo (1986) qualquer atividade de lazer possui as
seguintes características: escolha pessoal, gratuidade, prazer e li-
beração.
Na verdade, em relação a primeira característica já podemos
questionar: as atividades de lazer são totalmente voluntárias? Pois
sabemos que mesmo indiretamente existe influência da mídia,
além de pressão cultural, social e das possibilidades econômicas.
Ir a um bar tomar chope com os amigos pode ser sugestão de um
comercial de tevê ou pressão dos próprios amigos. Assistir a uma
exposição badalada pode ser uma imposição, clara ou velada, de
cultura do meio social em que se vive. Ou falta de dinheiro para
alugar um iate (CAMARGO, 1986, p. 10).
6. BRINCADEIRA E JOGO
Existem diversos autores que conceituam as práticas de brin-
cadeira e jogo, e por isso, é possível encontrar muitas definições,
mas poucos consensos.
Deste modo optamos pelas definições da Sociologia do
Esporte (HELAL, 1990) por acreditarmos que elas indicam as ca-
racterísticas mais marcantes destas práticas, ainda que não seja
possível esgotar as suas possibilidades. O mais importante é que
você entenda o que é uma brincadeira ou jogo, seja capaz de citar
exemplos destas atividades e identificá-las nos diversos ambientes
em que ocorrem ou podem ser desenvolvidas.
A Sociologia do Esporte faz uma clara distinção entre brin-
cadeira, jogo e esporte, atividades que de certo modo se asseme-
lham e inter-relacionam. A brincadeira é caracterizada como uma
atividade:
1) Espontânea.
2) Voluntária.
3) Que não possui regras fixas.
4) Busca prazer e diversão.
5) Completa em si mesma.
Já o jogo:
1) Possui regras fixas.
2) É menos espontâneo.
3) Busca prazer e diversão.
4) É completo em si mesmo.
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Características do jogo
Além da conceituação da Sociologia do Esporte vista ante-
riormente, estudaremos as características do jogo de acordo com
outros autores. Dois deles, Huizinga e Caillois, apesar de não se-
rem da área da Educação Física, realizaram estudos sobre o jogo
que são utilizados em diversas áreas.
Johann Huizinga (1980) na obra Homo Ludens apresenta um
inventário das características do jogo, por ele selecionadas.
O autor aponta como primeira característica do jogo o fato
de ser uma atividade voluntária e livre, que se sujeita a ordens,
deixa de ser jogo, pois perde a liberdade. De acordo com Huizinga
(1980), para o indivíduo adulto e responsável, o jogo é uma ativi-
dade que poderia ser facilmente dispensada, por ser algo supér-
fluo. Porém, o prazer por ele provocado é que o transforma numa
necessidade. Por não possuir um caráter de obrigatoriedade nem
imposição por necessidade física ou dever moral, é possível que
seja adiado ou suspenso em qualquer momento, sendo sempre
praticado nos momentos livres ou nas "horas de ócio".
Deste modo, Freire (2002) conclui que seria sem efeito a ta-
refa de tentar compreender o jogo afirmando cada um de seus
componentes: o jogo é voluntário, é livre, limitado em tempo e
espaço etc. Da mesma maneira seria, se fosse negado por partes:
o jogo não é trabalho, não é sério e assim por diante. Em qualquer
uma dessas direções estaríamos reduzindo o jogo às suas particu-
laridades, deixando de considerar, portanto, sua essência real, ou
seja, uma unidade complexa. Nas palavras do próprio autor:
Resta, portanto, buscar o significado do jogo, não mais na carac-
terização infindável de partes que o compõem, mas sim na iden-
tificação dos contextos em que ocorre. Seguramente há um nicho
ecológico que acolhe o jogo e lhe permite manifestar-se, o único ao
qual ele se adapta. É nesse ambiente que temos que penetrar para
tentar compreender o fenômeno do jogo (FREIRE, 2002, p. 58).
7. ESPORTE
Os conceitos de jogo e esporte se confundem na concepção
de muitos autores, não havendo muitas vezes, consenso quanto à
diferença existente entre os termos. No entanto, para a Sociologia
do Esporte (HELAL, 1990), jogo e esporte são conceitos diferentes
com características específicas.
O esporte moderno, ou seja, as modalidades esportivas que
conhecemos atualmente e que tiveram suas regras organizadas e
institucionalizadas pelos ingleses no século 19, incorpora elemen-
tos do jogo e vai além, pois possui outras características que não
são encontradas no jogo. De acordo com Helal (1990) o esporte
está subordinado a uma organização mais ampla e burocrática,
que extrapola os interesses e controle dos participantes ativos da
ação e, além disso, trata-se de atividades de envolvem competição
e incluem uma medida importante de habilidade física.
Em relação à primeira e segunda características não há muito
o que discordar, pois as disputas esportivas possuem caráter compe-
Secularização e racionalização
Entende-se por secularização o processo pelo qual realidades
pertencentes ao domínio religioso ou sagrado, passam a pertencer
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8. DANÇA
A dança é considerada como uma das formas mais antigas
de manifestação da expressão corporal, que surgiu e se desenvol-
vimento à medida que o ser humano sentiu necessidade de se co-
municar e expressar.
De acordo com Mendes (1985) a dança é basicamente movi-
mento e gestos com ritmo, que se desenvolvem no espaço e num
tempo determinados. Já o ritmo está relacionado a um período
de tempo dividido em determinados intervalos e pode ser exter-
no, como a música, ou interno, como os batimentos cardíacos. Por
meio de gestos e movimentos a dança traduz emoções, acompa-
nhada ou não de música, do canto ou de ritmos peculiares.
São do período Pré-histórico os primeiros registros de dan-
ças com o objetivo de representação para alcançar algo deseja-
do, como por exemplo, abater um animal. Além disso, a dança era
realizada com caráter lúdico e em cerimônias de adoração e culto
aos espíritos. A dança de caráter ritualístico era executada pelos
magos e sacerdotes.
Já estudamos na história das atividades físicas deste período, que
a sensação causada pelo exercício corporal realizado durante a dança
conduzia os homens a estados alterados de consciência e por isso, eles
acreditavam estar entrando em contato com o poder dos deuses.
Na Antiguidade as danças continuaram a ser praticadas basi-
camente como atividade ritualística, relacionada às cerimônias re-
ligiosas, rituais de iniciação etc. e atividade profana, ou seja, ligada
aos divertimentos públicos e populares.
Na Grécia a dança sempre integrou os rituais religiosos, pro-
piciados especialmente pela grande quantidade de deuses que
eram venerados. Depois passou a fazer parte das manifestações
de teatro (drama), além do papel que desempenhavam na educa-
ção e nos divertimentos.
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Procure responder, discutir e comentar as questões a seguir
que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, ou seja, os
conceitos e práticas sociais relacionados à Educação Física. Se você
encontrar dificuldade em respondê-las, procure revisar os conteú-
dos estudados para saná-las. Este é um momento ímpar para você
fazer uma revisão desta unidade. Lembre-se de que no ensino à
distância a construção do conhecimento se dá de forma coopera-
tiva e colaborativa, portanto, compartilhe com seus colegas suas
descobertas.
1) Quais são as principais diferenças entre recreação e lazer? Qual destes con-
ceitos é mais amplo e por quê?
10. CONSIDERAÇÕES
Com o estudo desta unidade alguns conceitos novos foram
estudados e outros aprofundados, como a brincadeira, o jogo e o
esporte. Cabe destacar que esses são conceitos importantes para
a área e por isso transformaram-se em objeto de estudo de di-
versos autores, por isso, apresentamos as concepções de apenas
alguns deles e sugerimos que a procura de outras fontes biblio-
gráficas para entender como esses fenômenos são conceituados e
caracterizados por outros pesquisadores.
O curso de graduação não é chamado de formação inicial
por acaso, é importante que tenhamos em mente que um profis-
sional de educação física precisa de constantes leituras e atualiza-
ções durante toda a carreira profissional.
11. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 O trabalho no campo. Disponível em: <http://www.champagnat.org/images/
comic/024.gif>. Acesso em: 16 maio 2012.
Figura 2 O trabalho na indústria. Disponível em; <http://raperalta.files.wordpress.
com/2009/01/tempos-modernos2.jpg>. Acesso em: 16 maio 2012.
Figura 3 Assistir televisão - lazer ativo ou passivo? Disponível em: <http://intra.vila.com.
br/sites_2002a/urbana/rafael%20tosta/minhas_imagens/menino%20em%20pe.jpg>.
Acesso em: 16 maio 2012.