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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
VLM
Nº 70084143213 (Nº CNJ: 0052680-54.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

SUSPENSÃO DE LIMINAR. TUTELA CAUTELAR


EM CARÁTER ANTECEDENTE CONCEDIDA EM
SEDE DE AGRAVO DE INSTRUMENTO.
INCOMPETÊNCIA DESTE ÓRGÃO PARA ANÁLISE
DO PEDIDO.

Ao Presidente desta Corte compete analisar pedido de


suspensão de medidas liminares concedidas por Juízes de
primeiro grau (art. 56, XXXI e XXXII, do RITJRGS).

No caso em foco, contudo, a medida cautelar atacada foi


deferida no âmbito do segundo grau de jurisdição, em sede
de agravo de instrumento, o que inaugura a competência das
Cortes Superiores para apreciação do pedido. Precedentes do
STF e STJ.

SUSPENSÃO DE LIMINAR NÃO CONHECIDA.

SUSPENSÃO DE LIMINAR OU ÓRGÃO ESPECIAL


ANTECIPACAO DE TUTELA

Nº 70084143213 (Nº CNJ: 0052680- COMARCA DE PORTO ALEGRE


54.2020.8.21.7000)

MUNICIPIO DE SANTA CRUZ DO SUL REQUERENTE

JUIZ DE DIREITO DA 3 VARA CIVEL DE REQUERIDO


SANTA CRUZ DO SUL

JORGE P HELFER ME INTERESSADO

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos.

Trata-se de pedido de suspensão de liminar interposto pelo MUNICÍPIO DE


SANTA CRUZ DO SUL, em relação à demanda movida por JORGE P HELFER,
inconformado com a decisão proferida nos autos do Agravo de Instrumento nº 5012026-
37.2020.8.21.7000/RS. Em suas razões o Município refere que se trata de Mandado de

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Segurança impetrado por Loja de Produtos Naturais em face do Prefeito do Município de


Santa Cruz do Sul tido por autoridade coatora à luz da edição do Decreto Municipal nº
10.565, de 19 de março de 2020. Sustenta o Impetrante haver violação às disposições
contidas no Decreto Estadual nº 55.154, de 1º de abril de 2020 e pleiteou o deferimento da
liminar pleiteada, para o fim de que fosse determinada a desinterdição e autorizado o
funcionamento regular da impetrante. A liminar fora indeferida pelo Juízo de primeiro grau
e, em sede de Agravo de Instrumento, sobreveio decisão da superior instância deferindo o
efeito suspensivo ativo postulado, concedendo a liminar para que a impetrante possa exercer
suas atividades, tidas como essenciais.

Assevera o Município que a referida empresa encontra-se operando


normalmente de portas abertas em cumprimento à decisão liminar. Destaca que, no entanto,
o Município de Santa Cruz do Sul, em ato normativo posterior ao ajuizamento da demanda,
incluiu referida atividade como sendo serviço essencial regulamentando a forma de
funcionamento da mesma, ou seja, que o atendimento ao público deverá ocorrer através de
“delivery” e “drive thru”. Aduz que, neste contexto, procedeu à nova fiscalização expedindo
Notificação nº COVID-19/823/2020/SESA/DVS para o fim de que referida empresa
observasse as normas municipais quanto à forma de atendimento aos clientes. Irresignada, a
empresa apresentou requerimento diretamente ao Juízo de origem postulando o cumprimento
da liminar por parte do Município sob pena de cominação de multa. O ente municipal partiu
da análise de que referida decisão tão somente enquadrou a atividade exercida pela
Impetrante como sendo serviço essencial autorizando seu exercício e opôs Embargos de
Declaração nos Autos do Agravo de Instrumento 5012026-37.2020.8.21.7000, sobrevindo
manifestação no sentido de que a expedição da notificação nº 823/2020, noticiada pelo
próprio embargante, configura descumprimento da decisão judicial, ora impugnada, visto
que a respectiva decisão afirmou ser ilegal qualquer restrição ao desempenho das atividades
da impetrante, desacolhendo os embargos de declaração. Aduz que a regulamentação quanto
ao funcionamento da atividade “lojas de produtos naturais” é “fato novo”, introduzido pelo
Decreto nº 10.584, de 05/04/2020, posterior ao ajuizamento da demanda. Refere que não se
está restringindo seu funcionamento, mas sim regulamentando medidas de prevenção.

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Requer seja suspenso o cumprimento da decisão proferida liminarmente no


Agravo de Instrumento nº 5012026-37.2020.8.21.7000, para o fim de determinar que a
Impetrante tenha de observar as formas de funcionamento para o atendimento ao público na
modalidade de“delivery” e “drive thru”, nos termos do Decreto Municipal nº Decreto nº
10.584, de 05/04/2020.

É o relatório.

Decido.

O pedido não merece ser conhecido.

Com efeito, segundo dispõe o art. 56, XXXI e XXXII 1, do RITJRGS,


compete ao Presidente deste Tribunal de Justiça a análise de pedido de suspensão de medidas
liminares concedidas por Juízes de primeiro grau. Também o art. 15 2, caput, da Lei do
Mandado de Segurança (Lei nº. 12.016/2009) prevê a suspensão contra decisão liminar ou
sentença proferida pelo juiz de 1º grau.

No caso em foco, contudo, a medida cautelar atacada foi deferida no âmbito


do segundo grau de jurisdição, em sede de agravo de instrumento, distribuído sob n°
5012026-37.2020.8.21.7000, junto à Primeira Câmara Cível deste Tribunal, o que inaugura a
competência das Cortes Superiores para apreciação do pedido, já que a Presidência não

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Art. 56. Ao Presidente do Tribunal de Justiça, além da atribuição de representar o Poder Judiciário, de exercer a
suprema inspeção da atividade de seus pares, de supervisionar todos os serviços do segundo grau, de
desempenhar outras atribuições que lhes sejam conferidas em lei e neste Regimento, compete:
[...]
XXXI - suspender as medidas liminares e a execução das sentenças dos Juízes de primeiro grau, nos casos
previstos em lei;
XXXII - suspender a execução de liminar concedida pelos Juízes de primeiro grau em ação civil pública.
(grifou-se)

2
Art. 15.  Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou do Ministério Público e
para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual
couber o conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar e da
sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a
julgamento na sessão seguinte à sua interposição. 
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constitui instância revisora de decisões proferidas por membro ou órgão fracionário da Corte
na qual atua.

Tal entendimento se alinha, ao fim e ao cabo, ao preconizado pelo Ministro


Teori Albino Zavascki, quando ─ no âmbito da Corte Especial do Superior Tribunal de
Justiça, ao acompanhar a divergência inaugurada pelo e. Ministro Nilson Naves, no
julgamento do EDcl no AgRg no AgRg na Suspensão de Liminar Nº 26 – DF
(2003/0137991-2), no qual se afirmou a competência daquela Corte para apreciar pedido de
suspensão de liminar concedida em sede de agravo de instrumento ─ assentou que “das
decisões liminares, quanto ao Poder Público, cabem dois meios, duas medidas: a via
recursal para reformar e a via de suspensão. Quando a liminar é deferida pelo 1º Grau,
tanto a via recursal como a via de suspensão são do 2º Grau; quando a liminar é concedida
pelo 2º Grau, a via de suspensão é do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal
Federal. Não há previsão e nem se pode admitir duplicidade de via de suspensão. Nesse
caso, a liminar foi concedida pelo 2º Grau; portanto, embora caiba uma via recursal ao
tribunal local, a via de suspensão é apenas do Superior Tribunal de Justiça. Não existe
jurisdição do tribunal local para suspender. É diferente da situação em que a liminar é
concedida pelo 1º Grau e a jurisdição de suspensão é do 2º Grau, caso em que essa deve ser
esgotada (...)”.

A matéria em tela já foi objeto de apreciação tanto pelo Supremo Tribunal


Federal quanto pelo Superior Tribunal de Justiça, v.g.:

QUARTO AGRAVO INTERNO EM SUSPENSÃO DE TUTELA


ANTECIPADA. DEFERIMENTO DE LIMINAR, EM SEDE
DE AGRAVO DE INSTRUMENTO EM PROCESSO DE
EXECUÇÃO, PARA EXPEDIÇÃO DE PRECATÓRIO.
SUPERVENIENTE DECRETAÇÃO DE NULIDADE DA
LIQUIDAÇÃO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
EM RECURSO ESPECIAL. INSUBSISTÊNCIA DO PROCESSO
DE EXECUÇÃO EM QUE PROFERIDA A DECISÃO
ANTECIPATÓRIA. REVOGAÇÃO PELO TRIBUNAL DE
ORIGEM DA DECISÃO ANTECIPATÓRIA, COM
CANCELAMENTO DOS PRECATÓRIOS RELACIONADOS
AO PEDIDO DE CONTRACAUTELA. PERDA DE OBJETO
DA SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPADA.
COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE PARA
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PROCESSO E JULGAMENTO DA MEDIDA DE


CONTRACAUTELA. EXISTÊNCIA DE FUNDAMENTO
CONSTITUCIONAL NA DEMANDA SUBJACENTE.
ALEGAÇÃO DE AFRONTA AOS ARTIGOS 5º, XXXVI, E 100
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO DA REGRA
DOS ARTIGOS 4º DA LEI 8.437/1992 E 25 DA LEI 8.038/1990.
DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE DECISÃO LIMINAR
REVOGADA. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL.
REEXAME DE DECISÕES DE INSTÂNCIAS A QUO EM
SEDE DE AGRAVO INTERNO EM PEDIDO DE SUSPENSÃO
DE TUTELA ANTECIPADA. DESCABIMENTO. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO.
(STA 122 AgR-quarto, Relator(a):  Min. LUIZ FUX (Vice-
Presidente), Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-108 DIVULG 22-05-2019 PUBLIC 23-05-
2019) (grifou-se)

RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA


CONFIGURADA. PEDIDO DE SUSPENSÃO CONTRA
DECISÃO DE RELATOR EM AGRAVO DE INSTRUMENTO
NO ÂMBITO DE TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU.
COMPETÊNCIA DA PRESIDÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DESNECESSIDADE DO
ESGOTAMENTO DE INSTÂNCIA. CAUSA DE PEDIR DA
AÇÃO ORDINÁRIA. MATÉRIA DE NATUREZA
INFRACONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL PARA EXAME DO PEDIDO SUSPENSIVO.
RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. AGRAVO
INTERNO PREJUDICADO. 1. É do Presidente do Superior
Tribunal de Justiça a competência para o exame da medida
de contracautela manejada contra decisão monocrática de
Relator no agravo de instrumento no âmbito de tribunal
de segundo grau, sendo dispensável o exaurimento da via
recursal. Precedentes do STJ e do STF. 2. Possuindo a ação
ordinária causa de pedir de natureza eminentemente
infraconstitucional, por tratar da manutenção do equilíbrio
econômico-financeiro da concessão, previsto no art. 9.º da Lei
n.º 8.987/95 e nos arts. 40, inciso XI, e 41 da Lei n.º 8.666/93, é
de ser reconhecida a competência desta Corte Superior de Justiça
para o exame do pedido suspensivo. 3. Reclamação a que se julga
procedente. Agravo interno do Município de Manaus/AM
prejudicado. (Rcl 31.503/AM, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
CORTE ESPECIAL, julgado em 07/12/2016, DJe 15/12/2016)
(grifou-se)

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. Liminar deferida em agravo de


instrumento. Necessidade de exaurimento de instância.
Inexigibilidade. Agravo regimental improvido. Liminar
concedida em agravo de instrumento inaugura competência do
Presidente do Supremo Tribunal Federal para julgamento de
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suspensão de segurança relativa às questões constitucionais. 2.


SERVIDOR PÚBLICO. Ativo e inativo. Teto salarial. Percepção
de vencimentos e proventos acima dos limites constitucionais.
Ordem concedida. Diversas ações idênticas pendentes. Efeito
multiplicador. Caracterização. Suspensão de segurança deferida.
Agravo regimental improvido. O chamado efeito multiplicador,
que provoca lesão à economia pública, é fundamento suficiente
para deferimento de pedido de suspensão de segurança e
caracteriza-se pela pendência de ações idênticas. (SS 4265 AgR,
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO (Presidente), Tribunal Pleno,
julgado em 09/12/2010, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-028
DIVULG 10-02-2011 PUBLIC 11-02-2011) (grifou-se)

Nessa mesma linha, segue a jurisprudência desta Corte, v.g.:

SUSPENSÃO DE LIMINAR. PAGAMENTO DE DÉCIMO


TERCEIRO. LIMINAR CONCEDIDA EM SEDE
DE AGRAVO DE INSTRUMENTO.
Ao Presidente compete analisar tão somente as decisões de
primeira instância. A liminar deferida em
sede Agravo de Instrumento interposto neste E. Tribunal inaugura
a competência das Cortes Superiores. Precedentes do STF e STJ.
SUSPENSÃO DE LIMINAR NÃO CONHECIDA.
(SL 70076547751, Tribunal Pleno/TJRS, rel. Des. Luiz Felipe
Silveira Difini, j. 31/01/2018). (grifou-se)

PEDIDO DE SUSPENSÃO LIMINAR. AGRAVO DE INSTR
UMENTO. NÃO CONHECIMENTO.
1. A suspensão liminar não possui natureza recursal, tampouco
detém a prerrogativa de reformar ou invalidar a decisão proferida
pelo julgador a quo.
2. É medida destinada à suspensão das decisões proferidas pelos
magistrados de primeiro grau, que possam causar prejuízos aos
entes públicos e prestadores de servidores públicos, em razão da
repercussão na paz social, ordem pública, economia, entre outros.
3. Deferimento da medida liminar em sede
de Agravo de Instrumento inaugura a competência das Cortes
Superiores para análise do pleito.
4. Ao presidente compete analisar tão somente as decisões de
primeira instância. Precedentes do E. STJ e E. STF. 
PEDIDO DE SUSPENSÃO DE LIMINAR NÃO
CONHECIDO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA.
(SL 70074236068, Tribunal Pleno/TJRS, rel. Des. Luiz Felipe
Silveira Difini, j. 27/6/2017). (grifou-se)

AGRAVO. PEDIDO DE SUSPENSÃO DE LIMINAR NÃO


CONHECIDO.
1. Antecipação de tutela concedida em sede
de Agravo de Instrumento. Competência da Presidência das
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Cortes Superiores (STF e STJ) para apreciar pedido de


suspensão da eficácia da decisão.
2. Ausência de elemento fático novo. 
AGRAVO DESPROVIDO. UNÂNIME.
(Ag 70052221785, Tribunal Pleno/TJRS, rel. Des. Marcelo
Bandeira Pereira, j. 28/01/2013). (grifou-se)

<DIANTE DO EXPOSTO, não conheço do pedido de suspensão de liminar


formulado pelo Município de Sant Cruz do Sul>

Intimem-se.

Porto Alegre, 17 de abril de 2020.

DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES,


Relator.

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