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Universidade de Brasília – UnB

Instituto de Ciências Sociais – ICS


Departamento de Sociologia – Sol
Tópico Especial em Sociologia 8 - Reforma Trabalhista
Docente: Prof. Dr. Sadi Dal Rosso
Discente:
Everton de Quadros Araújo (13/0063533)
Julia Kristina Borges Ferreira (16/0010551)
Ludmila Oliveira Matos Brasil Fernandes (14/0026517)
Talita Zorieuq (14/0179348)

Reforma Trabalhista e Imposto Sindical:

“A morte de uma organização acontece quando os de baixo já não querem e


os de cima já não podem. ”
-Lênin

Brasília, 05 de Julho de 2018.


O Sindicalismo e a história do Brasil
Os sindicatos, são importantes instituições no processo de acesso e defesa dos
direitos trabalhistas na história do Brasil. Exercendo atividades que vão desde a atuação
junto ao cenário político brasileiro, até a representação, constituição e instrução de seus
sindicalizados. O processo de sindicalização teve sua massificação junto ao avanço do
período da industrialização e consolidação do sistema capitalista na Europa, no século
XVIII, período da Revolução Industrial, época marcada pelas condições de vida e
trabalho insalubres que grande parte da população mundial, era obrigada a suporta na
busca do mínimo de condições de vida.
Nesse período, as relações sociais tinham forte caráter de polarização, com as
convivências sociais fortemente divididas entre proletariado e burguesia, e assim, fica
evidente o antagonismo de interesses e objetivos de vida e sociedade entre eles. Nesse
período, os trabalhadores passaram a se organizar como modo de enfrentar as injustiças
e violências cometidas por seus empregadores. Os primeiros sinais de manifestação e
resistência dessas organizações apareceram com máquinas fabris quebradas, um
movimento conhecido como ludismo.
Mais a frente, o parlamento inglês aprovou uma lei entendendo a livre
associação entre operários, algo que antes, era permitido apenas entre classes sociais
dominantes, essas organizações à época, foram nomeadas como trade unions. Essas
organizações funcionavam exatamente como os sindicatos, negociando em nome do
conjunto de trabalhadores, unificando as pautas e lutas, na busca por maiores direitos
trabalhistas, a ideia central, sempre foi evitar que os empregadores exercerem pressão e
violência sobre trabalhadores individualmente.
Já no Brasil, a história de mobilização trabalhista é influenciada pela imigração
trabalhista vinda do continente Europeu em busca de trabalho nas novas terras. No final
do século XIX, a economia brasileira sofreu uma grande transformação, marcada pela
abolição tardia da escravatura no país e também a Proclamação da República. Nesse
momento, o processo de urbanização faz com que as atividades manufatureiras
passassem a se concentrar e a criar grandes centros urbanos e litorais brasileiros (esse
último devido a facilidade para escoar a produção pelo mar).
O trabalho assalariado, em alta pelo acontecimento justo da abolição da
escravatura, atrai um grande número de trabalhadores imigrando da Europa, e que, ao
chegar no país, se depararam com uma sociedade com pouquíssimos direitos para os
trabalhadores, e que ainda se constituía à sombra do sistema escravocrata. Esses
trabalhadores possuíam experiência de trabalho assalariado e relativos direitos
trabalhistas já conquistados em seu antigo país. Assim, rapidamente essas pessoas
começaram a formar organizações.
As primeiras formas de organização foram as sociedades de auxílio-mútuo e de
socorro, que objetivavam auxiliar materialmente os operários em períodos mais difíceis.
Em seguida, são criadas as Uniões Operárias, que com o advento da indústria passam a
se organizar de acordo com seus diferentes ramos de atividade. Surgia assim o
movimento sindical no Brasil.
Em um determinado momento, o sindicalismo no Brasil era ditado por
iniciativas dos próprios trabalhadores ou de pequenos grupos com perfis políticos e
ideológicos definidos, e posteriormente, se organizariam em partidos políticos. De
forma geral, essas iniciativas eram tomadas pelos trabalhadores em sua
heterogeneidade, concebido por uma inspiração autônoma.
Essa dinâmica se altera com a ascensão de Getúlio Vargas á presidência nos
anos 30, quando o presidente submete os sindicatos ao “controle” do Estado. E, ainda
com esse intuito, Vargas cria o Ministério do Trabalho em conjunto com uma série de
normas (como o decreto 19.770/1931).
Durante seu governo, Getúlio Vargas foi responsável por várias medidas
relacionadas à vida dos trabalhadores, foi no regime varguista que ocorreu a criação e
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e dos vários Institutos de Previdência Social.
Mesmo assim, o período Getulista foi marcado por intensas greves e pela crescente luta
sindical, Já nos anos, o movimento volta a ganhar forças, mesmo em meio a leis
restritivas impostas pelo Governo Federal com Vargas e que tiveram vigência até o fim
do Estado Novo em 1945.
Mas é durante os anos 1960 que a luta sindical atinge seu ápice, com imensas
manifestações grevistas e a realização do III Congresso Sindical Nacional, quando foi
criado o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). No campo, as lutas também se
intensificaram com a criação das ligas camponesas, onde aos poucos cresciam os
sindicatos rurais.
Esse crescimento é interrompido com o acontecimento da Ditadura Civil-Militar
de 1964, quando a perseguição aos movimentos sociais volta a acontecer, com o Estado
exigindo total controle sob os sindicatos. Passado isso, o movimento sindical volta a
ganhar impulso no fim dos anos 1970, quando retomam o poder sobre suas
mobilizações e greves em diversas fábricas fabris no Estado de São Paulo.
A jornada de luta nos anos 1970 inseriu o movimento operário no cenário
político, econômico e social brasileiro, levando a criação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT), que passaram a organizar
diversas greves gerais nos anos 1980 e desempenharam importante papel em
movimentos políticos como as Diretas Já.
Já em 1988, com a criação da Constituição Federal, criada no período da
redemocratização, possibilitou mais liberdade para as ações do movimento sindical,
findando com regras como a necessidade de autorização do Ministério do Trabalho para
funcionamento de um sindicato e possibilitando a sindicalização de servidores públicos.
Contudo, muitas das heranças do período varguista continuaram a aparecer,
como o imposto obrigatório e a unicidade sindical. Essas estruturas continuam em
debate até hoje, já que muitos questionam se elas beneficiam os trabalhadores e se
haveria necessidade de uma reforma sindical. Hoje, existem mais de 17 mil sindicatos
no país, e o ritmo de criação de novos sindicatos é forte. Entre 2005 e 2013 surgiram
cerca de 2 mil entidades para defesa dos trabalhadores. A grande quantidade leva a
críticas sobre o sindicalismo brasileiro hoje, pois boa parte dos sindicatos seria, na visão
de críticos, não representativa – ou pior, apenas mais uma forma de receber dinheiro
público.
Aspectos políticos e jurídicos do imposto sindical antes da reforma

A contribuição sindical, mais conhecida como imposto sindical, era compulsória


descontada da remuneração dos trabalhadores em março de todo ano e era referente a um dia de
salário, mas agora não é mais assim.

Foi criada na década de 1940, como imposto, com previsão nos artigos 578 a 610 da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), cobrada dos trabalhadores que pertencem a uma
determinada categoria econômica ou profissional, mesmo que não sindicalizados.

Teve sua nomenclatura mudada para contribuição sindical, em 1967 com o Decreto-lei
229, inclusive ela foi endossada na constituição federal de 1988 e agora fora extinta pela
reforma trabalhista, em vigor a partir de novembro de 2017. Tendo em vista estes dados
preliminares passaremos a examinar o assunto em detalhes nas próximas páginas.

É importante primeiramente diferenciar a contribuição sindical, da contribuição


confederativa, tal como fez a constituição, a primeira era aquela tratada como imposto e que foi
modificada com a reforma trabalhista, já esta continua sendo obrigatória, contudo apenas aos
que se filiam ao sindicato, logo é facultativa por depender de prévia adesão.

Além do mais estas não se confundem com a contribuição associativa, também chamada
de estatutária, devida todo mês pelos associados que desejem desfrutar de outros benefícios tais
como clubes e festas; nem muito menos com a contribuição assistencial, que se presta a cobrir
custos e benefícios de negociações coletivas.

De uma total obrigatoriedade em 1943, para uma flexibilização do pagamento da


contribuição confederativa em 1969 com o Decreto-lei nº 925 e, por fim, a discricionariedade do
trabalhador em contribuir com o sindicato ou não, em 2017 com a lei 13.467, foi finalmente
extinto o imposto que já apresentava sinais de que assim seria.

A flexibilização de 1969 consiste em tornar as contribuições sindicais, tais como a


confederativa e a assistencial que não eram consideradas imposto, em opcionais, passando elas a
serem pendentes de autorização do trabalhador, ao invés de serem impostas por meio da mera
notificação pelo sindicato e do posterior desconto em folha, ou seja, era como se a contribuição
confederativa fosse obrigatória a todos os trabalhadores independentemente de filiação.

Curiosamente apesar de a reforma trabalhista ter “extinguido” o imposto sindical como


cobrança obrigatória, ela não retirou este como forma de constituição do patrimônio dos
sindicatos sem a supressão da alínea “a” do artigo 548 da CLT. Logo, apesar da legislação de
1967 ter alterado a nomenclatura do objeto de análise; em algumas partes da legislação ele
continuava a se chamar imposto, como é o caso da alínea supracitada.

Continuando, em 2008, o então presidente Lula sanciona a lei nº 11.648 que ratifica os
artigos 578 a 610 da CLT e dispõe que eles “vigorarão até que a lei venha a disciplinar a
contribuição negocial, vinculada ao exercício efetivo da negociação coletiva e à aprovação em
assembleia geral da categoria. ”

Vale esclarecer como é organizado o sistema sindical brasileiro, temos na base o próprio
sindicato, numa segunda instância representativa a encontra-se a federação que é formada por
no mínimo 5 sindicatos e como terceira instância a confederação que por sua vez é formada por
no mínimo 3 federações, contudo esta formação é o que muitos autores chamam de “estrutura
sindical de estado”, melhor abordada a frente.

Já as centrais sindicais são objeto de muita discussão uns dizem ser órgãos de cúpula
das três entidades anteriores, outros dizem ser uma quarta instância de representação. Por ora,
basta saber que, embora estas não representem juridicamente os trabalhadores, elas possuem
grande influência política no país e também recebem boa parcela das contribuições sindicais.

Ainda na CLT percebemos que a Comissão do Imposto Sindical que se encontrava na


seção III do título sobre o Imposto Sindical, foi completamente revogada ainda em 1946, era
provavelmente um meio de controlar ainda mais os sindicatos, estabelecer por parte do governo
em conjunto com aqueles o imposto que seria cobrado.

Portanto, temos um cenário em que havia uma comissão para estabelecer o imposto
sindical, sindicatos que dependiam do aval do Ministério do Trabalho para serem criados, um
não reconhecimento de negociações e/ou acordos coletivos de sindicatos com empregadores,
além de uma hierarquização dos sindicatos a qual afasta os mobimentos de trabalhadores do
poder político, ou seja, o estado se afasta da base e negocia somente com sindicalistas de
carreira.

Somados a estes pontos o imposto sindical coroava um sistema que não atendia aos
interesses dos trabalhadores, pelo contrário servia para sufocar os movimentos.Tendo em vista
que obtinham um dinheiro pelo qual não precisavam se quer representar e defender interesses de
sua base.

Contra esse sentido, movimentos iniciados na década de 70 inspiraram o que chamavam


de “novo sindicalismo” ou “sindicalismo autêntico”, encabeçados por partidos como PCB e PC
do B, bem como pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC; este novo formato de luta pelos
trabalhadores visava acabar com o imposto sindical, mobilizar os trabalhadores politicamente e
acabar com o princípio da “unicidade sindical”.

Apesar de ter demorado a surtir efeito a luta que começou a 4 décadas atrás ainda não
está acabada, em verdade, o que observamos é que este pequeno avanço na legislação apoiado
por diversas diplomas internacionais - tais como o acordo 87 da OIT e a Declaração
Sociolaboral do Mercosul - venho junto a uma enorme flexibilização dos direitos do
trabalhador.

A contribuição sindical segundo a reforma trabalhista


A Constituição Federal, em seu artigo 8º, IV, ao cuidar da receita sindical
estabelecida pela assembleia geral do sindicato, ressalva a legalidade da contribuição
sindical prevista em lei. E na redação anterior à reforma trabalhista de 2017, o artigo
579 da Consolidação das Leis do Trabalho dizia que a contribuição era devida por todos
aqueles que participassem de uma determinada categoria profissional ou econômica, ou
profissão liberal, em favor do sindicato respectivo. Isto é, era obrigatória.

Originariamente, era denominada imposto sindical, e depois teve sua


denominação modificada para contribuição sindical, mas sempre manteve seu caráter de
pagamento obrigatório para empregados, empresas e profissionais liberais pertencentes
a categorias representadas por sindicatos.

A contribuição sindical é consequência da adoção pelo legislador brasileiro do


sistema da unicidade sindical, que significa a existência de apenas um sindicato por
categoria em cada localidade. Distingue-se a unicidade da pluralidade sindical e
também da unidade sindical, que é a existência de um só sindicato por grupo, mas por
decisão dos interessados, e não por imposição legal, o que caracteriza a unicidade.
Assim, não só sindicatos grandes e combativos podem sobreviver, mas também todos os
demais, pois têm direito ao recebimento da contribuição, que no caso dos empregados
corresponde ao salário de um dia de trabalho por ano, independentemente de sua ação
efetiva em prol da categoria.

A Lei 13.467, de 13/7/2017, denominada de reforma trabalhista, altera o artigo


579 da Consolidação das Leis do Trabalho, onde antes versava:

“Art. 579 – A contribuição sindical  é devida por todos aquêles


que participarem de uma determinada categoria econômica ou
profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato
representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo êste, na
conformidade do disposto no art. 591.

Art. 580. A contribuição sindical será recolhida, de uma só


vez, anualmente, e consistirá: 

I – Na importância correspondente à remuneração de um dia de


trabalho, para os empregados, qualquer que seja a forma da referida
remuneração; 

Il – para os agentes ou trabalhadores autônomos e para os


profissionais liberais, numa importância correspondente a 30% (trinta
por cento) do maior valor-de-referência fixado pelo Poder Executivo,
vigente à época em que é devida a contribuição sindical, arredondada
para Cr$ 1,00 (um cruzeiro) a fração porventura existente;   

III – para os empregadores, numa importância proporcional ao


capital social  da firma ou empresa, registrado nas respectivas Juntas
Comerciais ou órgãos equivalentes, mediante a aplicação de alíquotas,
conforme a seguinte tabela progressiva […];”

Após a Reforma Trabalhista, atualmente, versa:

“Art. 579.  O desconto da  contribuição


sindical  está  condicionado à autorização prévia e expressados que
participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional,
ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da
mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do
disposto no art. 591 desta Consolidação.” (NR)  

“Art. 582.  Os empregadores são obrigados a descontar da folha de


pagamento de seus empregados relativa ao mês de março de cada ano a
contribuição sindical dos empregados que autorizaram prévia e
expressamente  o seu recolhimento aos respectivos sindicatos.

………………………………………………………………..” (NR) 

“Art. 583.  O recolhimento da contribuição sindical referente aos


empregados e trabalhadores avulsos será efetuado no mês de abril de
cada ano, e o relativo aos agentes ou trabalhadores autônomos e
profissionais liberais realizar-se-á no mês de fevereiro, observada a
exigência de autorização prévia e expressa prevista no art. 579 desta
Consolidação.

………………………………………………………………..” (NR) 

“Art. 587.  Os empregadores que optarem pelo recolhimento da


contribuição sindical deverão fazê-lo no mês de janeiro de cada ano,
ou, para os que venham a se estabelecer após o referido mês, na ocasião
em que requererem às repartições o registro ou a licença para o
exercício da respectiva atividade.” (NR)  

“Art. 602.   Os empregados que não estiverem trabalhando no


mês destinado ao desconto da contribuição sindical e que venham a
autorizar prévia e expressamente o recolhimento serão descontados no
primeiro mês subsequente ao do reinício do trabalho.

Como se vê, trata-se de sensível mudança, transformando a contribuição sindical


de valor obrigatório em facultativo, dependente de autorização expressa e prévia do
destinatário, o que causa uma mudança profunda na receita sindical. Valores devidos
por toda a categoria só poderão ser cobrados se houver concordância efetiva dos
integrantes da categoria que escolherem construir determinado sindicato.

Todos sabemos que o tema da obrigatoriedade da contribuição sindical é


polêmico, desagradando o atual sistema a maioria dos contribuintes, os empresários e
inclusive boa parte do setor sindical profissional, mormente os maiores e mais
representativos sindicatos.

Sob o a ótica do Direito Internacional do Trabalho, a existência da contribuição


obrigatória constitui fundamento do regime do sindicato único, o que colide com a
Convenção de 87 da Organização Internacional do Trabalho, que preconiza a liberdade
e a autonomia sindical, o que só se alcança com a liberdade de filiação e representação
da entidade não somente em relação aos seus filiados, como toda entidade civil, ou seja,
o modelo organizacional sindical brasileiro divergia do disposto pela Organização
Internacional do Trabalho tanto à estrutura e organização quanto á dinâmica de
contribuição sindical. Agora, pós reforma trabalhista, diverge somente em estrutura e
organização.

Uma questão a realçar neste tema é que a estrutura administrativa e a atuação


dos vários sindicatos profissionais e patronais são bastante complexas, e seus
compromissos financeiros são proporcionais a suas receitas, o que ocorre há muitas
décadas. Desse modo, a retirada da contribuição sindical obrigatória de imediato tanto
num grande sindicato quanto numa entidade de tamanho e representação menores, pode
causar, àquelas organizações que não tem em sua base uma forte fidelização e
organização, sérios problemas financeiros.

De acordo com dados reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego,


existem hoje no Brasil cerca de 11 mil sindicatos de trabalhadores e pouco mais de 5
mil sindicatos de empresas, o que permite estimar o expressivo número de pessoas que
dependem da receita financeira dos sindicatos para sua remuneração, quer como
dirigentes sindicais afastados de suas funções na empresa, quer como prestadores de
serviços ao sindicato, na condição de médicos, advogados, dentistas, empregados em
escritório, motoristas, pessoal de apoio, exemplificativamente, para demonstrar o
considerável encargo que possui cada entidade sindical.

A extinção da obrigatoriedade da contribuição sindical afetará, sem dúvida, os


compromissos financeiros que hoje têm as entidades sindicais, permitindo supor, pela
mudança brusca, considerável número de desempregados, diante da inexistência de
recursos para pagamento de salários.

Eis aí um aspecto da retirada da obrigatoriedade da contribuição sindical que nos


preocupa: a mudança abrupta, sem o necessário amadurecimento das ideias. Assim,
como tantos, acreditamos na necessidade de evolução da legislação, dadas as
modificações que a sociedade experimentou ao longo da vigência da Consolidação das
Leis do Trabalho.

A propósito da contribuição de que ora tratamos, a imprensa noticia que os


sindicalistas já buscam entendimentos com o Poder Executivo (O Estado de S. Paulo,
21/7/2017), no sentido da edição de medida legal que busque adequar a mudança às
necessidades dos sindicatos.

Em entrevista com o então Presidente da CUT-DF, Rodrigo Brito, fica claro que
a retirada da obrigatoriedade da contribuição sindical nem de longe agradou a todos,
mas que, seria uma medida que diferenciaria os sindicatos com real trabalho de base. Há
alguns, a medida desestruturou o movimentou sindical, o que de modo geral, é uma
verdade. Nenhuma organização sindical estava preparada para perder tamanha quantia,
porém, com a fidelização de suas bases, bases reais, os grandes sindicatos
representativos conseguiram se manter, com a contribuição sindical voluntaria e se
aproximando um pouco mais, do que é colocado pela Organização Internacional do
Trabalho.

As consequências do fim da obrigatoriedade do Imposto Sindical para os sindicatos


Muitos sindicalistas alegam que, por estar no pacote da reforma trabalhista, o
fim do imposto sindical divide opiniões dentro o movimento sindical.

Até a vigência da Lei 13.467, 70% da renda dos sindicatos trabalhistas vem do
imposto sindical. Os sindicatos patronais, que apoiaram o fim do imposto sindical, por
sua vez, têm sua maior renda oriunda do Sistema S, que são entidades de direito
privado, sendo assim chamadas de paraestatais (Sesi, Senai, Sesc, Senac, Sebrae, Senar,
Sescoop, Sest, Senat). Essas entidades oferecem serviços educacionais e culturais, de
saúde. Em 2016, a renda do Sistema S foi de R$ 16 bilhões, o equivalente a quatro
vezes o valor do imposto sindical. Em 2017 o total foi de 2,7 bilhões foi seis vezes mais
O recurso é arrecadado pela Receita Federal mediante folha de pagamento das empresas
e repassado integralmente ao Sistema S. Essa receita é parafiscal, cuja despesa deva ter
atender a conotação social ou de interesse público. Questiona-se muito o Sistema S por
falta de transparência e pouca gratuidade dos serviços oferecidos.

Talvez o sistema S possa influenciar os sindicatos dos trabalhadores no sentido


de oferecer serviços de interesse público nas áreas de educação, saúde e educação.
Entretanto, quanto à educação, há o fato de que as indústrias, no mundo todo, capacitam
seus funcionários. Pode-se falar em coerência no fato de os sindicatos patronais darem
capacitações para os trabalhadores, mas não os sindicatos dos trabalhadores.

Ademais, com menor receita, os sindicatos falam em fazer cortes, unificar


departamentos, promover fusão de sindicatos de profissões correlatas. Os sindicatos
terão de se promover, vender seu peixe para o trabalhador, focar em publicidade em
relação à importância do sindicato. Fazer com que somente sindicalizados possam
receber benefícios decorrentes de acordos coletivos é um ponto crucial para os
sindicatos de trabalhadores após a reforma trabalhista. Assim, o juiz Eduardo
Rockenbach Pires, da 30ª Vara do Trabalho de São Paulo, julgou que somente terá
direito de receber benefícios provenientes de acordo coletivo o trabalhador que
contribuir com o sindicato. Essa decisão geraria jurisprudência, e de fato é mais justo
que somente o trabalhador contribuinte tivesse direito aos benefícios, uma vez que
sindicatos têm gastos e são instituições que precisam ser fortalecidas para
consequentemente o trabalhador ser fortalecido. Entretanto a Constituição Federal não
possibilita essa interpretação, fazendo-se necessária aprovação de uma Proposta de
Ementa à Constituição (PEC).

Caberia aos sindicatos igualmente lutar para que a Lei nº 11.648/2008 — que
dispõe sobre o reconhecimento formal das centrais sindicais — seja regulamentada.
Essa lei altera a CLT, conforme seu art. 7º:

Art. 7º Os arts. 578 a 610 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,


aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, vigorarão até
que a lei venha a disciplinar a contribuição negocial, vinculada ao exercício
efetivo da negociação coletiva e à aprovação em assembleia geral da
categoria.
O legislador já previa o fim do imposto sindical desde 2008, que deveria ser
substituído pela contribuição negocial. Essa lei foi aprovada por influencia da CUT e
outras centrais sindicais junto ao governo do PT. Ou seja, na verdade, o fim do imposto
já estava previsto lei, foi defendido pelas centrais sindicais, entretanto, questiona-se não
ter sido dada nenhuma alternativa ao fim do imposto, mesmo com uma lei com previsão
para tal. Dessa maneira, faz-se necessário que os sindicatos se mobilizem para
aprovação de decreto que regulamente a Lei nº 11.648/2008.

Em relação ao judiciário, as consequências do fim do imposto obrigatório seriam


menos ações trabalhistas, caso os sindicatos não consigam recompor sua arrecadação.
Esse cenário beneficia os empregadores/empresários, que alegam amiúde que justiça do
trabalho é uma característica do Brasil, que não há justiça trabalhista em outros países.

Outra possível consequência, com a diminuição das ações, seria a própria


diminuição da estrutura da Justiça do Trabalho, e com o tempo e com um parlamento
composto por grandes empresários e pecuaristas seu eventual fim e julgamento de
causas trabalhistas em outros tribunais.
Referências

BRASIL. LEI Nº 11.648, DE 31 MARÇO DE 2008. Dispõe sobre o


reconhecimento formal das centrais sindicais para os fins que especifica, altera a
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de
1o de maio de 1943, e dá outras  providências. Brasília,DF, mar 2008.

GAZETA DO POVO. O que é imposto sindical. Disponível em:


https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/oque-e-imposto-sindical-
cblzaue0y2zuq1gokee2bet41. Acesso em: 19 jun 2018.
GAZETA DO POVO. Defensores da reforma trabalhista, sindicatos
patronais demitem para sobreviver. Disponível em:
https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/defensores-da-reforma-trabalhista-
sindicatos-patronais-demitem-para-sobreviver-cx30usjziu6jii7qp24iup5zl. Acesso em:
19 jun 2018.
LANDIM. Raquel. Sistema S ajuda sindicato patronal a viver sem imposto
sindical. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1880554-
sistema-s-ajuda-sindicato-patronal-a-viver-sem-imposto-sindical.shtml. Acesso em: 20
jun 2018.
LUPION, Bruno. O que é o Sistema S, quanto custa e a quem beneficia.
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/02/18/O-que-%C3%A9-
o-Sistema-S-quanto-custa-e-a-quem-beneficia. Acesso em: 20 jun 2018.
MARTINES, Fernando. Sindicatos tentam driblar fim da contribuição
excluindo trabalhadores. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-dez-
20/sindicatos-tentam-driblar-fim-contribuicao-excluindo-trabalhadores. Acesso em: 5
jul 2018.
PEREIRA, Renée. Sindicatos demitem para sobreviver à reforma
trabalhista. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,sindicatos-
patronais-demitem-para-sobreviver-a-reforma-trabalhista,70002212374. Acesso em: 19
jun 2018.
SINDICATO NACIONAL D,OS AEROVIÁRIOS. Cartilha da Deforma
Trabalhista. Rio de Janeiro: [ 2018 ]  Disponível:
http://sna.org.br/admin/uploads/sna/2017/cartilha/cartilha_deforma_trabalhista.pdf.
Acesso em: 19 jun 2018.
TRISOTTO, Fernanda. Sistema S vê arrecadação subir enquanto sindicatos
quebram sem verba de imposto. Disponível:
https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/sistema-s-ve-arrecadacao-subir-
enquanto-sindicatos-quebram-sem-verba-de-imposto-548f9ujzwy6bfnx16luww7b16.
Acesso em: 05 jul 2018.

Andrade, Luiz Gustavo de; Pavelski, Ana Paula. REFLEXOS DA REFORMA


TRABALHISTA NA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL: TRIBUTO QUE PERSISTE
COM CARÁTER OBRIGATÓRIO. novembro de 2017. 12 f. Revista eletrônica do
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região : Vol. 7, n. 63.

Martins,  Sergio Pinto. ALGUNS ASPECTOS SINDICAIS DA REFORMA


TRABALHISTA. outubro/dezembro de 2017. 11 f. Revista eletrônica do Tribunal
Superior do Trabalho, São Paulo, vol. 83, no 4.

Freitas, Cláudio Victor de Castro. SINDICATO EM TEMPO DA REFORMA


TRABALHISTA DE 2017 O fim da contribuição sindical obrigatória e a eficácia
erga omnes da negociação coletiva. 2017. 111 f. Dissertação de mestrado do Programa
de Pós-graduação em Sociologia e Direito (PPGSD) da Universidade Federal
Fluminense, Niterói, RJ.

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