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Aula 2 – Brasil pós-1964: domínio sem hegemonia

 Os usos que o Fernando Henrique faz dos conceitos de Gramsci


 Álvaro Bianchi não menciona o Fernando Henrique no seu texto.
De fato, o Fernando Henrique não tem uma obra de diálogo direto e contínuo com Gramsci, ele
não é gramsciano em sentido restrito. Muito embora a presença de Gramsci não seja sistemática
em seu pensamento, ela é muito importante.

 Diferenças entre os dois textos


No texto de 67 ele está ainda preso na ideia de que não há saída, que o fracasso é eminente. Já
no texto de 74 ele fala em “modernização conservadora”, algo similar a uma “modernização
passiva”, apesar de ele não usar esse termo.

 Texto “Cultura política” de Roberto Schwarz


1. A hegemonia que ele persegue não é a hegemonia burguesa, mas sim a hegemonia da esquerda,
ou seja, a hegemonia cultural
2. Dizem que ele faz uma apologia a luta armada nesse texto.

 A chegada do conceito de “hegemonia” no Brasil não é via Gramsci. Ele adquire um contorno
gramsciano nos anos 1960. (É nesse momento também que ocorre a virada na linha política do
PCB)
Quando esse conceito começa a ser utilizado do ponto de vista gramsciano, ele tem a função
justamente de contestar a tradição do movimento comunista até então. É a crítica do que o FHC
chama no texto dele de aliança nacional-desenvolvimentista.

 FHC não está falando da hegemonia da classe operária, ele está falando da ausência de
hegemonia da burguesia nacional. Uma coisa não leva necessariamente a outra.

 Quando o FHC escreve o Hegemonia burguesa, ele está contrapondo uma expectativa
nacionalista e comunista que se deslocou da via revolucionária para a ideia de que a burguesia
nacional, na aliança desenvolvimentista, é capaz de se opor ao capitalismo internacional. Ele
demonstra como essa ideia é frágil.
 No caso do FHC, os usos que ele faz de Gramsci são muito mais “livres”.
 Qual a hipótese do Fernando Henrique neste texto da Hegemonia burguesa?
1. A ideia dele é que a oposição entre o que é arcaico e o que é moderno no Brasil só existe
enquanto as classes dominantes representantes de cada um desses polos consegue transferir o
ônus para os outros grupos.
2. Havia uma expectativa de que a burguesia nacional se afastaria dos setores arcaicos para
impulsionar o desenvolvimento nacional. Há uma aposta dos setores comunistas de que esse
caminho é de fato viável, pois a formação clássica dos estados nacionais modernos confirma
isso. O processo europeu e norte-americano confirma a vocação da burguesia para a hegemonia.
3. Porém, não é bem assim que acontece. O objetivo do FHC é justamente explicar porque a
hegemonia da burguesia no Brasil não é uma hegemonia do tipo clássico e porque não há uma
hegemonia da aliança desenvolvimentista, já que há dentro dessa aliança interesses antagônicos.
Essa acomodação de interesses opostos na aliança desenvolvimentista é completamente
instável.
4. Um primeiro erro da análise nacionalista está em considerar que as classes médias tecnocráticas
brasileiras podem ser comparadas com aquelas que surgiram da industrialização. O modelo
brasileiro não pode ser comparado nem com o caso americano nem com o caso europeu.
5. Por que a burguesia brasileira não poderia tomar pra si a função de compor uma base social para
um tipo de domínio moderno?
FHC vai olhar a formação dessa burguesia para identificar se há bases para um domínio político
e uma autonomia econômica em relação ao capital estrangeiro. A resposta para as duas questões
é negativa.
6. Ele mostra que a burguesia brasileira é extremamente frágil e fluida.

 O conceito de hegemonia é construído pelo Fernando Henrique com base na capacidade de


convencimento, de direção de um setor sobre outro. Essa é uma base importante retirada do
Gramsci.
1. A hegemonia não é um fenômeno de direção e sim de domínio. O próprio exercício da
hegemonia cria um sistema que legitima a dominação, não é “dizer o que o outro deve fazer”, é
“fazer com que o outro faça sem você precisar dizer”. Não é apenas consenso, é coerção,
determinação de práticas e valores.
 O papel do Estado no Brasil – texto de 74
1. FHC vai discutir a ideia de “anéis burocráticos”.
2. Quem exerce de fato a hegemonia então?
A capacidade real de atuação está no Estado. Os partidos só existem formalmente, eles não
cumprem um papel político real. Eles servem pra legitimar um sistema que opera em outras
arenas, que ele chama de anéis burocráticos.
3. Esses anéis funcionam com a presença de membros das classes dominantes, tecnocrátas e
eventualmente uma ou outra liderança da sociedade civil.

Parênteses
 Em Gramsci o princípio moderno tem duas dimensões
1. Histórica – o terreno clássico da hegemonia burguesa é o parlamento. Nesse ponto de vista, o
Partido é o sujeito político do parlamento. O Partido é portanto o Príncipe moderno. (Q13)
2. Analítica – o Estado moderno é absorvente de todas as iniciativas autônomas da sociedade civil.

 Nesse texto, a hegemonia é exercida envolvendo 4 sujeitos (pag. 196)


1. Setores dirigentes
2. Setores dirigidos (beneficiados)
3. Setores subalternos – não são beneficiados mas podem ter eventualmente uma ou outra
demanda atendida
4. Excluídos – a razão pela qual a ditadura existe
Entre dirigentes e dirigidos, há um certo nível de consenso na relação estabelecida (isso não quer dizer
que não haja conflitos nesse nível também). Já em relação aos subalternos e excluídos, se exerce o
domínio.

 Ele entende que esse regime vai começar a sofrer uma crise de autoridade (entre direção e
dirigidos) além de novos focos de dissenção que vem “de baixo”. Há uma pressão por
participação que está ligada justamente a consolidação de uma sociedade industrial de massas
no Brasil.
1. Caso o regime fosse totalitário, ele poderia absorver essa pressão.
Totalitário diz respeito a um regime mobilizador, algo que a ditadura nunca foi. Por isso que ela
não era fascista, ela não mobilizava as massas.

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