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A chegada do conceito de “hegemonia” no Brasil não é via Gramsci. Ele adquire um contorno
gramsciano nos anos 1960. (É nesse momento também que ocorre a virada na linha política do
PCB)
Quando esse conceito começa a ser utilizado do ponto de vista gramsciano, ele tem a função
justamente de contestar a tradição do movimento comunista até então. É a crítica do que o FHC
chama no texto dele de aliança nacional-desenvolvimentista.
FHC não está falando da hegemonia da classe operária, ele está falando da ausência de
hegemonia da burguesia nacional. Uma coisa não leva necessariamente a outra.
Quando o FHC escreve o Hegemonia burguesa, ele está contrapondo uma expectativa
nacionalista e comunista que se deslocou da via revolucionária para a ideia de que a burguesia
nacional, na aliança desenvolvimentista, é capaz de se opor ao capitalismo internacional. Ele
demonstra como essa ideia é frágil.
No caso do FHC, os usos que ele faz de Gramsci são muito mais “livres”.
Qual a hipótese do Fernando Henrique neste texto da Hegemonia burguesa?
1. A ideia dele é que a oposição entre o que é arcaico e o que é moderno no Brasil só existe
enquanto as classes dominantes representantes de cada um desses polos consegue transferir o
ônus para os outros grupos.
2. Havia uma expectativa de que a burguesia nacional se afastaria dos setores arcaicos para
impulsionar o desenvolvimento nacional. Há uma aposta dos setores comunistas de que esse
caminho é de fato viável, pois a formação clássica dos estados nacionais modernos confirma
isso. O processo europeu e norte-americano confirma a vocação da burguesia para a hegemonia.
3. Porém, não é bem assim que acontece. O objetivo do FHC é justamente explicar porque a
hegemonia da burguesia no Brasil não é uma hegemonia do tipo clássico e porque não há uma
hegemonia da aliança desenvolvimentista, já que há dentro dessa aliança interesses antagônicos.
Essa acomodação de interesses opostos na aliança desenvolvimentista é completamente
instável.
4. Um primeiro erro da análise nacionalista está em considerar que as classes médias tecnocráticas
brasileiras podem ser comparadas com aquelas que surgiram da industrialização. O modelo
brasileiro não pode ser comparado nem com o caso americano nem com o caso europeu.
5. Por que a burguesia brasileira não poderia tomar pra si a função de compor uma base social para
um tipo de domínio moderno?
FHC vai olhar a formação dessa burguesia para identificar se há bases para um domínio político
e uma autonomia econômica em relação ao capital estrangeiro. A resposta para as duas questões
é negativa.
6. Ele mostra que a burguesia brasileira é extremamente frágil e fluida.
Parênteses
Em Gramsci o princípio moderno tem duas dimensões
1. Histórica – o terreno clássico da hegemonia burguesa é o parlamento. Nesse ponto de vista, o
Partido é o sujeito político do parlamento. O Partido é portanto o Príncipe moderno. (Q13)
2. Analítica – o Estado moderno é absorvente de todas as iniciativas autônomas da sociedade civil.
Ele entende que esse regime vai começar a sofrer uma crise de autoridade (entre direção e
dirigidos) além de novos focos de dissenção que vem “de baixo”. Há uma pressão por
participação que está ligada justamente a consolidação de uma sociedade industrial de massas
no Brasil.
1. Caso o regime fosse totalitário, ele poderia absorver essa pressão.
Totalitário diz respeito a um regime mobilizador, algo que a ditadura nunca foi. Por isso que ela
não era fascista, ela não mobilizava as massas.