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Michelangelo - pt.

Juventude

Michelangelo não terminou seu aprendizado com os Ghirlandaio. Um ano depois


deixou o atelier e entrou na proteção de Lourenço II de Médici. Os autores divergem sobre
as circunstâncias desse evento. Talvez por seu temperamento rebelde ele tenha se
tornado uma presença irritante para os seus mestres, também ele aparentemente não
apreciava tanto a pintura como a escultura; Barbara Somervill disse que seu pai,
confiando na força de um parentesco distante com os Médici e na disposição de Lourenço
em ajudar seus familiares pobres, apelou para que ele o aceitasse como aprendiz; Vasari
e Condivi alegam que foi por solicitação direta de Lourenço a Lodovico. Seja como for,
com quinze anos de fato ele passou a viver no palácio dos Medici. Lourenço era o chefe
de sua ilustre família, então a mais rica da Itália, governava de facto Florença embora não
tivesse cargo oficial, e reunira em torno de si uma brilhante corte de humanistas e artistas,
sendo ele próprio um poeta e intelectual. Foi uma circunstância afortunada para
Michelangelo, pois recebia o atraente salário de cinco ducados por semana, e pôde
desfrutar da amizade pessoal com o mecenas, comendo em sua mesa, e da atmosfera
erudita do seu círculo, do qual participavam Angelo Poliziano, Pico della Mirandola e
Marsilio Ficino, reforçando sua educação precária e entrando em contato com o
Neoplatonismo. Fez amigos também entre os filhos da casa, que mais tarde se tornaram
seus patronos, e mais importante para sua carreira foi poder frequentar o célebre Jardim
de Esculturas que Lourenço organizara com uma importante coleção de fragmentos da
Antiguidade clássica, de cujo estudo retirou substancial informação para desenvolver seu
estilo pessoal na escultura.
Para administrar esse jardim, Lourenço contratara o escultor Bertoldo di Giovanni,
que havia sido aluno de Donatello, e com ele Michelangelo teve algo que se aproximou de
um professor de escultura, embora aparentemente não tenha seguido seus métodos. Sua
primeira obra para Lourenço parece ter sido uma cabeça de fauno, que não sobreviveu,
mas segundo consta foi tão bem realizada que com ela Lourenço definitivamente se
rendeu ao talento do jovem. Outras obras dessa fase foram um crucifixo para o prior do
Hospital do Santo Espírito, que lhe permitia dissecar cadáveres para estudar sua
anatomia, um baixo-relevo hoje conhecido como a Madonna da Escada, à maneira de
Donatello, e o alto-relevo da Centauromaquia, criado sob o conselho de Poliziano e
possivelmente inspirado em um motivo encontrado em um sarcófago romano, que
despertou a admiração, até das gerações seguintes, como uma obra já madura, ainda
que tenha sido deixado inconcluso.
Pouco depois, em 8 de abril de 1492, Lourenço faleceu, deixando o governo para
seu filho Pedro de Médici (Piero), de apenas vinte e um anos de idade. Segundo Condivi,
para Michelangelo a morte de seu patrono foi um grande choque, tendo permanecido dias
em funda tristeza, incapaz de qualquer ação. Retirou-se para a casa de seu pai, onde
esculpiu um Hércules de grandes dimensões, que foi vendido para Francisco I da França,
mas do qual não se conhece o paradeiro. Sucedeu então que caísse uma grande nevasca
sobre Florença, e então Pedro lembrou-se do amigo. Intimou que ele acorresse ao seu
palácio para fazer um boneco de neve, e renovou o convite para que o artista vivesse no
palácio Medici a fim de que as coisas continuassem da maneira que eram antes da morte
de Lourenço. O convite foi aceito e Michelangelo novamente se tornou um favorito, mas
Pedro carecia de toda a sabedoria política de seu pai, era tirânico e completamente inepto
para a sua função. Tanto que atraiu a condenação de Savonarola e o descontentamento
popular cresceu rápido. Percebendo o rumo fatal que os acontecimentos tomavam, e por
causa de sua íntima associação com Pedro, Michelangelo fugiu secretamente primeiro
para Bolonha, e depois seguindo para Veneza, poucas semanas antes de Florença ser
invadida por Carlos VIII de França e Pedro ser derrubado e expulso de lá junto com toda a
sua família.
Não conseguindo trabalho em Veneza, voltou para Bolonha, onde encontrou um
novo patrono em Gianfrancesco Aldovrandi, em cuja casa permaneceu por um ano. Por
sua sugestão produziu figuras para a tumba inacabada de São Domingos, um Anjo
segurando um candelabro, um São Proclo e um São Petrônio, além de entreter seu
mecenas com leituras de Dante, Petrarca e Boccaccio, apreciadas por seu dialeto toscano
ser o mesmo em que haviam sido escritas. Entretanto, conheceu obras classicistas de
Jacopo della Quercia, que exerceram significativa influência em seu estilo. No inverno de
1495 voltou brevemente a Florença. Condivi e Vasari relataram que Michelangelo
encontrou-se com Lorenzo di Pierfrancesco de' Medici, que o encorajou a esculpir um São
João, e depois um Cupido adormecido, induzindo o artista a patiná-lo para que pudesse
ser vendido como uma antiguidade por um bom preço no mercado romano. Michelangelo
o teria enviado para Roma em 1496 e sido adquirido pelo Cardeal Raffaele Riario, mas
Clacment alega que a história é muito duvidosa.

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