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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR


PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE GOIÁS

.... -.-.
 Feito: Habeas Corpus Liberatório.
 Rito: Sumário.
 Origem: Comarca de Padre Bernardo/GO.
 Autos: 5376235-04.2020.8.09.0168
 Paciente: CLÁUDIO HENRIQUE DO NASCIMENTO.
 Impetrantes: ÉRICO ALBERT PAYÃO + outro.
 Data: Brasília, 26 de agosto de 2020.

ÉRICO ALBERT PAYÃO, brasileiro, advogado, CPF 942.275.867-

04, inscrito na OAB/DF sob a numeração 12647, e WILCK GONTIJO

COSTA, brasileiro, advogado, CPF 005.529.961-06, inscrito na OAB/DF sob


a numeração 28894, com escritório profissional sito na QNG 34 – lote 01 –
sala 102 – Taguatinga – Distrito Federal – Tel. (61) 9 8120-0911, endereço

eletrônico: ih-melo@ih-melo.adv.br, vêm respeitosamente à presença de

Vossa Excelência para impetrar, com amparo no art. 5º, inciso LXVIII, da

Constituição Federal, e no art. 648, inciso I, do Código de Processo Penal, o

seguinte:

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO


HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO PACIENTE CLÁUDIO HENRIQUE DO NASCIMENTO DOC. DIGITALIZADO NRB 0024-2020
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em razão de CLÁUDIO HENRIQUE DO NASCIMENTO sofrer manifesto

constrangimento ilegal advindo da ausência de justa causa para

conversão da prisão em flagrante na preventiva, face o cerceamento

completo de sua liberdade de ir, vir e permanecer, no território

nacional, para todos os efeitos.

I – DO PACIENTE.

Trata-se da pessoa custodiada: CLÁUDIO HENRIQUE DO

NASCIMENTO, brasileiro, convivente em união estável com GEYSIANE

DE SOUZA SANTOS, tem profissão de pedreiro, 42 anos de idade, filho de


MARIA FIRMINO DO NASCIMENTO e de FRANCISCO HENRIQUE DO

NASCIMENTO, natural de Brasília – Distrito Federal, nascido aos 3-outubro-

1977, 2ª feira, portador do RG 1.731.580 SSP/DF, CPF 766.566.913-15, com


domicílio fixo que passará a residir na Rua 32 – Vila Novos Rumos – Setor
Leste – Quadra 15 – lote 16 – Município de Padre Bernardo – Estado de Goiás

– CEP 73.700-000, para todos os efeitos.

II – DO CABIMENTO.

Toda vez que o ser social estiver sofrendo coação, violência ou


constrangimento ilegais, com previsão no artigo 5º, inciso LXVIII, da
Constituição Federal, e outros elencados no artigo 648 e seus incisos do
Código de Processo Penal, pois caberá o remédio jurídico certo: a
impetração de Habeas Corpus.

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III - DA AUTORIDADE IMPETRADA.

Nesta súplica, indica-se a Autoridade Judiciária impetrada:

Meritíssimo Juiz de Direito do Plantão Judiciário – 6ª Região – 2ª Sub-

região – Comarcas de Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas de

Goiás, Padre Bernardo e Alexânia – Estado de Goiás, na forma da lei.

IV – PACIENTE SOB CUSTÓDIA.

O paciente se encontra preso e recolhido na carceragem da

Unidade Prisional de Padre Bernardo, Estado de Goiás, por uma única

ordem de prisão extraída da decisão manifestamente ilegal proferida nos

autos do processo criminal nº 5376235-04.2020.8.09.0168, em 01-agosto-

2020, sábado, conforme se comprova por certidão carcerária expedida

pelo estabelecimento prisional. Segue anexo o documento comprobatório.

V – HISTÓRICO. PROCEDIMENTOS.

Nas primeiras horas do dia 1º de agosto do corrente ano, sábado, o

ora paciente e a vítima foram conduzidos por Policiais Militares, que servem

na 36ª Companhia de Polícia Militar Independente (36ª CPMI – Padre

Bernardo), para a 1ª Delegacia de Polícia Civil de Águas Lindas de Goiás.

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Houve lavratura do auto de prisão em flagrante nº 693/2020 pelo

Senhor Delegado de Polícia Civil Plantonista. Imputou apenas ao paciente

a prática dos crimes tipificados nos art. 129, §9º e art. 147, ambos do

Código Penal, consumados no âmbito doméstico e familiar sob a regular

incidência da Lei Federal nº 11.340/2006 (LEI DA MARIA DA PENHA).

Em circunstância familiar, houve desentendimentos, brigas,


xingamentos e agressões entre os companheiros (agressor / vítima).

Os conviventes estavam tomados pelo efeito da ingestão alcóolica.

Relatório médico de Cláudio Henrique, descreve-o embriagado. Por outro lado, a própria
vítima confessa no seu depoimento que fizera uso de bebida alcoólica.

Na sequência, foram tomados os procedimentos:

1 – A feitura do auto de prisão em flagrante / nota de culpa.

2 – A lavratura do boletim de ocorrência policial.

3 - Realizou-se a oitiva dos Policiais Militares MAURÍCIO DE JESUS e LUIZ


CLÁUDIO DA SILVA ROCHA, da vítima GEYSIANE DE SOUZA SANTOS e
do conduzido CLÁUDIO HENRIQUE DO NASCIMENTO.

4 – Firmação do termo de representação / requerimento de medidas protetivas.

5 – Juntada dos relatórios médicos da vítima e conduzido.

6 – e outros apontamentos previstos em lei.

VI – ARBITRAMENTO DE FIANÇA.

Na finalização do procedimento inquisitorial, a própria Autoridade


Policial Plantonista proferiu despacho concessivo de fiança arbitrada

em R$ 4.000,00 (quatro mil reais) diante das seguintes condições fáticas:

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CONTEXTUALIZAÇÃO.

“CONSIDERANDO a natureza da infração, sendo o delito apenado


com Reclusão e Pena máxima de 04 anos;

CONSIDERANDO que até a presente data inexiste causa impeditiva


para concessão de fiança;

CONSIDERANDO que a condição pecuniária do autuado é satisfatória


para sua mantença, pois ele é PEDREIRO e aufere R$1.200,00 (um mil e
duzentos reais);

CONSIDERANDO que até a presente data não há nada que desabone


a vida pregressa do autuado;

CONSIDERANDO as circunstâncias em que o delito foi praticado;

CONSIDERANDO que o autuado não pode ser classificado como


pessoa de alta periculosidade, apesar da prática deste delito;

CONSIDERANDO, por fim, as prováveis custas do processo, concedo


de ofício, ao autuado fiança, arbitrando-a no valor de R$4.000,00 (quatro
mil reais), e levando em consideração que não há instituições financeiras
para recebê-la no dia de hoje, determino que a quantia estipulada seja
depositada ao Escrivão de polícia, (...)”

VII – A PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA.

Para conhecimento do Habeas Corpus se exige prova pré-

constituída do direito alegado, deve o impetrante demonstrar e comprovar

de maneira inequívoca a pretensão deduzida e a existência do evidente

constrangimento ilegal sofrido pelo paciente.

A prova incide sobre o fato e não sobre o direito!

Neste ensejo, apresentam-se os documentos comprobatórios:

A. Cópias necessárias dos documentos de referência pessoal do paciente.

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B. Cópias necessárias e integrais das peças processuais do feito criminal


nº 5376235-04.2020.8.09.0168.

C. Certidões de arestos do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

VIII – DA DECISÃO IMPUGNADA.

Trata-se de uma decisão interlocutória (com carga decisória) que


convertera a prisão a prisão em flagrante delito em preventiva do ora

paciente, enunciada na tarde de 1º de agosto de 2020, sábado, autos de


nº 5376235-04.2020.8.09.0168, onde figura apenas como autuado, CLÁUDIO
HENRIQUE DO NASCIMENTO. Vejamos:

TRECHOS DA DECISÃO QUE CONSUBSTANCIAM A PRISÃO


MANIFESTAMENTE ILEGAL E ABUSIVA DO PACIENTE.

“Portanto, verifico que o flagrante encontra-se íntegro sob o aspecto da


legalidade (formalidade), contando com todos os seus requisitos.

Noutro vértice, da análise dos autos, denota-se a imprescindibilidade da


manutenção da prisão provisória, não sendo possível, portanto, a concessão
da liberdade provisória, com ou sem fiança, ou a aplicação de outra medida
cautelar substitutiva.

Considerando os parâmetros estabelecidos pelo artigo 282, do Código de


Processo Penal; considerando, ainda, os ditames da necessidade e da
adequação (princípio da proporcionalidade), tenho que no caso dos autos a
reincidência justifica a prisão cautelar (CPP, artigo 313, inciso II), não
sendo possível a liberdade provisória cumulada com a aplicação de
outras medidas cautelares diversas da prisão, estabelecidas pelo artigo
319, do Código de Processo Penal.

Tais medidas cautelares não seriam suficientes, ao menos segundo os


elementos existentes até agora nos autos, para resguardar a instrução
criminal e a ordem pública.

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A liberdade do flagrado poderá colocar em risco a ordem social em razão da


possibilidade de manutenção da conduta criminosa.

Vale ressaltar que o flagrado, pelo que consta dos autos, foi surpreendido em
situação de flagrância por ter praticado, em tese, os crimes descritos nos
artigos 129, §9º e 147, ambos do Código Penal, no âmbito da violência
doméstica. Ademais, conforme demonstram as certidões de antecedentes
criminais (evento 13), o flagrado é reincidente (condenação por homicídio
qualificado), sendo que ainda não houve o cumprimento de sua pena.

Noutro giro, da análise do caso submetido a exame, é possível perceber que


há provas acerca da materialidade e indícios suficientes de autoria (fumus
comissi delicti), conforme demonstram os depoimentos colhidos na Delegacia
de Polícia e o Relatório Médico da Vítima.

Além disso, vale registrar que o Superior Tribunal de Justiça já firmou


entendimento de que a prisão cautelar pode ser decretada para garantia da
ordem pública potencialmente ofendida, especialmente nos casos de:
reiteração delitiva, participação em organizações criminosas, gravidade em
concreto da conduta, periculosidade social do agente ou, ainda, pelas
circunstâncias em que praticado o delito (modus operandi).

Portanto, da análise que é possível em sede de recebimento do flagrante – a


qual pela própria natureza é superficial ante a ausência de mais elementos de
convicção –, tenho que a segregação cautelar é a medida necessária e
conveniente para garantia da ordem pública e também para resguardar a
instrução criminal, conforme prevê o artigo 312, do Código de Processo
Penal.

Da representação por medidas protetivas.

No tocante à representação da vítima Geysiane de Souza dos Santos (fl. 11,


do anexo 01, do evento 01) por medidas protetivas, verifico a necessidade de
aplicar as medidas urgentes de caráter preventivo em favor da ofendida,
com o intuito de inibir qualquer tipo de violência física, psicológica, patrimonial
e moral.

Deste modo, entendo, por enquanto, que merece guarida o requerimento


formulado pela vítima (fl. 11, do anexo 01, do evento 01), principalmente porque
ambos residem no mesmo endereço.

Neste particular, saliento que não é difícil imaginar que o agressor, ainda mais
revoltado com o ato da vítima de o denunciar à autoridade policial, venha a
concluir seu intento delituoso, o que demostra a urgência na concessão das
medidas que ora se pleiteia.
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Assim, emergem dos autos o fumus boni iuris e o periculum in mora, requisitos
necessários para a concessão da medida de urgência.

Ante o exposto, ACOLHO a manifestação ministerial (evento 16) e, de


conseguinte, HOMOLOGO o auto de prisão em flagrante lavrado em
desfavor de Claudio Henrique do Nascimento, qualificado nos autos, bem
como CONVERTO A PRISÃO EM FLAGRANTE EM PREVENTIVA, com
fulcro no inciso II, do artigo 310 c/c o artigo 312 e o inciso II, do artigo 313
(reincidência), todos do CPP, para o fim de garantir a ordem pública e
assegurar a aplicação da lei penal.

IX - FUNDAMENTOS DA IMPETRAÇÃO.

A irresignação dos impetrantes reside no seguinte ponto: na

ordenação de uma prisão preventiva com fundamentação

manifestamente inidônea, abusiva, divorciada do contexto fático.

Converteu-se na prisão preventiva de CLÁUDIO HENRIQUE com as

finalidades: receio de perigo à ordem pública e à garantia da instrução

processual.

A Constituição Federal não distinguiu, ao estabelecer que ninguém

poderá ser considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença


penal condenatória, entre crimes graves ou não, tampouco estabeleceu

graus em tal presunção.

A necessidade de fundamentação decorre do fato de que, em se

tratando de restringir uma garantia constitucional, é preciso que se

conheça dos motivos que a justificam. É nesse contexto que se afirma

que, a prisão cautelar não pode existir ex legis, mas deve resultar de ato
motivado do Magistrado.

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1ª PARTE.

A INVERSÃO DE ORDEM (ENTROPIA).


PRIMEIRO, A DECRETAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR EXTREMA,
DEPOIS, A FIXAÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA.

De fato e verdadeiro, inicialmente, constata-se a conversão da

prisão em flagrante na prisão preventiva do ora paciente e, depois, a

decretação de medidas protetivas de urgência: afastamento imediato do

lar de convivência, permanecer a uma distância mínima de 500


(quinhentos) metros da ofendida, não manter contato com a vítima,

proibição de procurar a vítima e outras providências. Senão vejamos a


decisão vergastada:

PRIMEIRO. DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. Denota-se a imprescindibilidade


da manutenção da prisão provisória, não sendo possível, portanto, a concessão da liberdade
provisória, com ou sem fiança, ou a aplicação de outra medida cautelar substitutiva.

SEGUNDO. FIXAÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA. Verifico a necessidade


de aplicar as medidas urgentes de caráter preventivo em favor da ofendida, com o intuito de
inibir qualquer tipo de violência física, psicológica, patrimonial e moral.

Vale ressaltar que todos os cidadãos, sem exceções nem privilégios,

têm a favor de si a presunção de inocência como princípio constitucional

fundamental, de forma a assegurar-lhes o direito de aguardar em liberdade

eventual formação da culpa. Excepcionalmente, admite-se a decretação da

prisão processual, se for demonstrada a imprescindibilidade dessa medida

cautelar extrema, que somente pode ser decretada como ultima ratio,

nos termos inflexíveis previstos na Lei Processual Penal – repita-se, para

acautelar o meio social e⁄ou econômico, resguardar a instrução criminal e


assegurar a aplicação da lei penal.

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Em se tratando de crimes praticados no âmbito de violência

doméstica e familiar contra a mulher, constitui constrangimento ilegal a

decretação de prisão preventiva antes da imposição de medidas

protetivas de urgência, disciplinadas no artigo 22 e seguintes, da Lei no

11.340/2016, na exegese do artigo 313, inciso III, do Código de Processo

Penal.

Neste sentido, os impetrantes suscitam a seguinte tese defensiva:

configura-se ilegalidade a conversão da prisão em flagrante em

preventiva por crimes, cujo somatório não ultrapassa 4 (quatro) anos

de prisão, que envolvem violência doméstica e familiar contra a


mulher sem o descumprimento das medidas de proteção,

concomitantemente aplicadas, eis que aquela providência deve ser

tomada para garantir a execução destas.

Colacionam-se precedentes jurisprudenciais do Tribunal de Justiça

do Estado de Goiás que corroboram a tese suscitada. Confiram:

HABEAS CORPUS Nº 5007149.38.2020.8.09.0000


HABEAS CORPUS Nº 5577377.15.2019.8.09.0000

HABEAS CORPUS Nº 5445372.29.2019.8.09.0000

HABEAS CORPUS Nº 5219127.62.2019.8.09.0000


HABEAS CORPUS Nº 5141185.51.2019.8.09.0000

HABEAS CORPUS Nº 5132735.22.2019.8.09.0000

HABEAS CORPUS Nº 5130100.68.2019.8.09.0000


HABEAS CORPUS Nº 5559381.38.2018.8.09.0000

HABEAS CORPUS Nº 5011072.09.2019.8.09.0000

HABEAS CORPUS Nº 5019695.62.2019.8.09.0000


HABEAS CORPUS Nº 5565776.46.2018.8.09.0000

HABEAS CORPUS Nº 5598389.85.2019.8.09.0000

Seguem em anexo certidões dos arestos supracitados.

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2ª PARTE.

DESCRIÇÃO MERAMENTE GENÉRICA: REINCIDÊNCIA.

Consta como fundamento da decisão vergastada, a reincidência:

“Considerando os parâmetros estabelecidos pelo artigo 282, do Código de Processo Penal;


considerando, ainda, os ditames da necessidade e da adequação (princípio da
proporcionalidade), tenho que no caso dos autos a reincidência justifica a prisão cautelar
(CPP, artigo 313, inciso II), não sendo possível a liberdade provisória cumulada com a aplicação
de outras medidas cautelares diversas da prisão (...)”

A necessidade da prisão não está demonstrada na decisão que


determinou a prisão cautelar, já que a mencionada danosidade social não
se coaduna com as circunstâncias que, em tese, o delito foi cometido.

De fato, a decisão impugnada [acima transcrita] faz alusão à

gravidade do crime em abstrato, sem indicar a real periculosidade do

paciente, extraída de elementos do auto de prisão em flagrante e anexos.

Ocorre que os antecedentes criminais do paciente CLÁUDIO


HENRIQUE, ou mesmo a reincidência, não são por si só elementos
suficientes para impedir a liberdade provisória, salvo se houver
demonstrado pelo Magistrado de 1º Grau por dados concretos que existiria
algum risco atual, iminente de reiteração criminosa.

Observe que a data da distribuição do processo criminal é 06-09-


2005, portanto, há 15 (quinze) anos atrás, e a sentença de pronúncia em
01-02-2010.

No caso em questão, a douta Autoridade Judiciária impetrada não


cuidou de apontar os motivos atuais e concretos, pelos quais a medida
extrema prisão do paciente se fazia necessária e útil.

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Não é outro o entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça é


que a mera reincidência, por si só, não é motivo suficiente para a
decretação da prisão preventiva (PExt no HC 270.158/SP, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 3/2/2015, DJe 23/2/2015).

Colaciono memoráveis arestos do Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO.


PRISÃO EM FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA INDEFERIDA. FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO. VEDAÇÃO
DO ART. 44 DA LEI Nº 11.343/2006. ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
REQUISITOS NÃO DEMONSTRADOS. REINCIDÊNCIA. FUNDAMENTO
INSUFICIENTE. ORDEM CONCEDIDA.
1. É pacífica na Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça a compressão de que se
exige concreta motivação para a manutenção de qualquer prisão cautelar, inclusive
nas hipóteses de crimes hediondos e de tráfico de drogas, sendo de rigor a
demonstração da presença dos requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo
Penal.
2. ............................................................................................................................. ..
3. A reincidência, por si só, também não é fundamento válido para justificar a segregação
cautelar, conforme entendimento pacificado nesta Corte.
4. Ordem concedida para garantir aos pacientes o direito de aguardar em liberdade o
trânsito em julgado da condenação, mediante assinatura de termo de compromisso de
comparecimento a todos os atos do processo, devendo ser expedido alvará de soltura
clausulado.
(HC 115.580/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 20/10/2009, DJe 09/11/2009).
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO
PREVENTIVA E DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. PEDIDO DE EXTENSÃO.
SIMILITUDE DE SITUAÇÃO PROCESSUAL. INEXISTÊNCIA DE EMPECILHO INERENTE
A CIRCUNSTÂNCIA DE CARÁTER EXCLUSIVAMENTE PESSOAL. APLICAÇÃO DO ART.
580 DO CPP. POSSIBILIDADE. PEDIDO DEFERIDO.

1. A prisão preventiva, quando cabível, requer decisão devidamente fundamentada, com base em
dados concretos, a indicarem a real necessidade da medida excepcional, o que, na espécie, não
aconteceu.

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2. Demonstrada a similitude da situação processual do requerente com a do paciente, deve-se


estender a ordem, uma vez que não se verifica a existência de nenhuma circunstância de caráter
exclusivamente pessoal que a obstaculize, sendo aplicável, pois, o art. 580 do Código de Processo
Penal.

3. Embora o requerente seja reincidente, ao contrário do paciente, tal circunstância não foi utilizada
pelo Juízo de piso para justificar sua constrição cautelar. Ademais, a reincidência, por si só, não é
fundamento válido para justificar a segregação cautelar.

4. Pedido de extensão deferido, a fim de revogar a prisão preventiva do requerente, se por outro
motivo não estiver preso, ressalvada, inclusive, a possibilidade de decretação de nova prisão, caso
demonstrada sua necessidade.

PExt no HABEAS CORPUS Nº 270.158 - SP (2013/0142387-6) RELATOR: MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR IMPETRANTE :
JOSÉ CHIACHIRI NETO ADVOGADO : JOSÉ CHIACHIRI NETO IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : EDUARDO SANTOS FERREIRA (PRESO) CORRÉU : JOSÉ ALEXANDRE SOARES FERREIRA ADVOGADO : MÁRCIO DE
FREITAS CUNHA.

3ª PARTE.

FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA: NÃO CUMPRIMENTO DE PENA.

Para converter a prisão em flagrante na preventiva, a douta


Autoridade Judiciária impetrada apresentou fundamentação
manifestamente inidônea: ainda não houve o cumprimento da pena.

“(...) que o flagrado, pelo que consta dos autos, foi surpreendido em situação
de flagrância por ter praticado, em tese, os crimes descritos nos artigos 129,
§9º e 147, ambos do Código Penal, no âmbito da violência doméstica. Ademais,
conforme demonstram as certidões de antecedentes criminais (evento 13), o
flagrado é reincidente (condenação por homicídio
qualificado), sendo que ainda não houve o cumprimento de sua pena.”

De fato e verdadeiro, houvera condenação de 14 anos de 6 (seis)


meses pela prática do crime de homicídio em 25-07-2012, o ora paciente
deu início ao cumprimento da pena no regime fechado em 27-07-2012, e
se encontra no cumprimento final de sua pena - regime prisional aberto
desde 13-01-2017, conforme relatório da situação processual executória.
Segue em anexo tal documento comprobatório.

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4ª PARTE.

PRISÃO, SEM BASE EMPÍRICA, É ILEGAL.


PARA RESGUARDAR A INSTRUÇÃO PROCESSUAL.

Na decisão impugnada, não existe indicação fática alguma quanto

ao resguardo da instrução criminal, porém mencionou que um dos motivos


seria para resguardar a instrução criminal.

Portanto, da análise que é possível em sede de recebimento do flagrante – a


qual pela própria natureza é superficial ante a ausência de mais elementos de
convicção –, tenho que a segregação cautelar é a medida necessária e
conveniente para garantia da ordem pública e também para resguardar a
instrução criminal, conforme prevê o artigo 312, do Código de Processo
Penal.

De fato, o suplicante jamais influenciou alguma testemunha e nem

mesmo a intimidou.

De fato, o paciente não alterou e nem modificou algum indício e/ou


vestígio dos supostos delitos que estão sendo imputados.

De fato, o paciente não obstaculizou qualquer ato de investigação,

coleta de indícios, realizadas normalmente pela Polícia Judiciária, durante

a fase inquisitorial. Nenhuma interferência do paciente nas apurações


da Polícia Civil.

Verifica-se dos autos que inexiste qualquer indício de que a liberdade

do paciente colocaria em risco a ordem pública, a instrução criminal, bem

como a aplicação da lei penal, não havendo, portanto, motivos para a


custódia cautelar

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X – REFERÊNCIAS PESSOAIS.

É verdade que, a presença de primariedade, bons antecedentes,


trabalho lícito e residência fixa não autorizam, por si só, a concessão de

liberdade provisória. No entanto, in casu, constata-se que as condições


favoráveis do paciente, atreladas ao modus operandi genericamente

descrito no decreto de prisão preventiva, não evidenciam a sua

periculosidade, circunstância esta que afasta a necessidade de

segregação cautelar.

O paciente tem profissão lícita, tem domicílio fixo e certo no Município

de Padre Bernardo/GO, tem família constituída, vivia e sustentava


honestamente seus familiares.

O paciente, antes de ter sido preso, com seus recursos financeiros


sempre sustentou sua família [convivente GEYSIANE DE SOUZA SANTOS e

seu filho menor ENZO GABRIEL HENRIQUE DE SOUZA, 1 ano de idade

conforme se prova pelos documentos anexos.

Cumpre destacar, no ponto, que a prisão cautelar deve ser

considerada exceção, já que, por meio desta medida, priva-se o réu de seu

jus libertatis antes do pronunciamento condenatório definitivo,

consubstanciado na sentença transitada em julgado. É por isso que tal

medida constritiva só se justifica caso demonstrada sua real

indispensabilidade para assegurar a ordem pública.

A prisão preventiva, portanto, enquanto medida de natureza cautelar,

não deve ser utilizada como instrumento de punição antecipada do

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indiciado ou do réu, nem permite complementação de sua fundamentação

pelas instâncias superiores.

A regra é a liberdade, a exceção a prisão.

XI - NÃO HÁ PEDIDO DE CONCESSÃO DE


MEDIDA LIMINAR.

Por entender que cabe ao Colegiado da Câmara Criminal do TJGO

deliberar sobre mérito do mandamus, os impetrantes deixam de formular

pedido de concessão de medida liminar no presente Habeas Corpus


Liberatório, nos termos do Regimento Interno.

Art. 15. Compete às Câmaras Criminais:

I - processar e julgar:

a) as exceções de suspeição e de impedimento opostas a juízes de direito ou substitutos, concernentes


à sua atuação em processos criminais;

b) os habeas corpus quando a coação for atribuída a Juiz de direito ou substituto, ao Procurador-Geral
de Justiça, ao Conselho Superior do Ministério Público, aos Tribunais de Contas, ao Conselho ou ao
Auditor da Justiça Militar e aos Secretários de Estado;

XII - RAZÕES RELEVANTES DE DIREITO.

1ª CONSIDERAÇÃO.

Não há proposição ou questão sobre a autoria e/ou materialidade delitivas


neste HC.

Na via sumária de condução do Habeas Corpus, não se procura reexame


aprofundado de prova (s) e/ou indício do crime.

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2ª CONSIDERAÇÃO.

No caso do paciente CLÁUDIO HENRIQUE DO NASCIMENTO se extrai:

1. Não alcançou nenhuma repercussão social;

2. Nada alterou a credibilidade da justiça e do sistema penal; e

3. Por fim, o §2º do art. 313 do CPP atualizado traz mais uma novidade

ao prever que: “não será admitida a decretação da prisão preventiva com a


finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como
decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou
recebimento da denúncia”.

XI - REQUERIMENTOS E PEDIDO.

Isto posto, os impetrantes formulam objetivamente a Vossa


Excelência os seguintes requerimentos e o pedido principal, a saber:

A) Requer a distribuição e o recebimento do presente Habeas Corpus,


na forma do CPP e do Regimento do TJGO.

B) Não há requerimento de concessão de medida liminar no presente

Habeas Corpus Liberatório.

C) Requer a notificação da douta Autoridade Judiciária impetrada


para prestar informações no prazo legal.

D) Requer que se oficie a douta Procuradoria de Justiça do Ministério

Público do Estado de Goiás para se manifestar acerca desta impetração

de Habeas Corpus.

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E) Solicita análise pormenorizada das provas lícitas e legítimas pré-

constituídas para comprovação e demonstração das verídicas

alegações constantes desta petição exordial.

F) Desde já, requer a Vossa Excelência que determine a prévia

comunicação aos impetrantes, no sentido de informar a data e o horário

da sessão de julgamento deste Habeas Corpus, pois haverá sustentação

oral das razões e fundamentos jurídicos. Neste sentido, precedentes


jurisprudenciais do Supremo Tribunal Federal nos Habeas Corpus n°s

67.556, 76.275, 96.958 e 103.867.

G) Ao final, formula a Vossa Excelência o pedido para que seja julgado

procedente o presente Habeas Corpus para permitir que o paciente

CLÁUDIO HENRIQUE DO NASCIMENTO aguarde em liberdade o

julgamento final do feito acusatório, mediante fixação de medidas

cautelares diversas da prisão, nos termos do art. 319 do CPP: I–

comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para

informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou frequência a determinados


lugares quando, por circunstancias relacionadas ao fato, deve o indiciado ou
acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de nova infração; III -
proibição de manter contato com pessoas determinadas quando, por circunstancias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV -

proibição de ausentar-se da comarca de seu domicílio quando a permanência seja

conveniente ou necessária para investigação ou instrução; e V - recolhimento


domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado

tenha residência e trabalho fixos.

Nestes termos, pugna pela concessão da ordem.

Brasília-DF, 26 de agosto de 2020, 4ª feira.

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ÉRICO ALBERT PAYÃO WILCK GONTIJO COSTA


OAB/DF 12.647 OAB/DF 28.894

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