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ARBITRAGEM – ANÁLISE DE CASOS

1. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ARBITRAGEM. PRETENSÃO DE


INVALIDAÇÃO DO COMPROMISSO ARBITRAL. INADMISSIBILIDADE DE
JUDICIALIZAÇÃO PREMATURA DO TEMA. Nos termos do artigo 8º, parágrafo
único, da Lei de Arbitragem, a alegação de nulidade da cláusula arbitral, bem como, do
contrato que a contém, deve ser submetida, em primeiro lugar, à decisão arbitral, sendo
inviável a pretensão da parte de ver declarada a nulidade da convenção de arbitragem
antes de sua instituição, vindo ao Poder Judicial sustentar defeitos de cláusula
livremente pactuada pela qual, se comprometeu a aceitar a via arbitral, de modo que
inadmissível a prematura judicialização estatal da questão. Recurso especiais
improvidos. REsp 1.355.831-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3ª T, DJe 22.04.2013.

2. Arbitragem – Constitucionalidade – Contrato de agência contendo cláusula que


impõe a resolução dos conflitos no juízo arbitral, segundo o direito francês – Validade –
Inteligência do art. 2º da Lei 9.307/1996 – Incidência do princípio da autonomia da
vontade. (...). Pela mesma razão não se vislumbra vício em haver previsão de que seja
com base no direito francês que os árbitros venham a resolver a pendenga. Embora o
contrato de agência, ou representação comercial, seja regulado por lei especial, isso não
significa que não pudesse a relação aqui questionada ser alvo de disposição pelas partes
contratantes, uma vez que o direito ali agitado é disponível para ambas as partes e,
portanto, não vem revestido da característica da irrenunciabilidade. (...) Dessa sorte,
sobre ele incide naturalmente o princípio da autonomia da vontade, podendo, assim, as
partes transigir livremente, inclusive no que concerne à forma de solução de suas
diferenças” (1º TACSP, AI 1.111.659-0, 7ª Câmara, Rel. Juiz de Alçada Souza José, j.
24.09.2002).

3. Arbitragem – Determinação pelo árbitro de realização de perícia contábil na empresa


do recorrente – Possibilidade – Partes que elegeram o Tribunal Arbitral de São Paulo
para solução do litígio que versa sobre a revisão de partilha de bens em separação
judicial. A instituição da arbitragem deve ser respeitada pela jurisdição estatal como
qualquer convenção privada. Evidente que não se afasta do controle do Poder Judiciário
a apreciação da regularidade do processo de arbitragem, que, como todo ato jurídico,
está sujeito a ser invalidado. Providência requerida que deverá ser postulada no órgão
perante o qual se processa a arbitragem. Decisão mantida. Agravo não provido (TJSP,
AI 501.512-4/4-00, rel. Des. Élcio Trujillo, j. 30.05.2007).

4. Arbitragem – Implantação de Câmara Arbitral no mesmo local do exercício da


advocacia. Vedação – Captação de clientela e concorrência desleal. Vedação do uso da
expressão ‘tribunal de arbitragem’ – Impossibilidade de exercício da advocacia com
outra atividade. A Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996, admite a arbitragem para
dirimir litígios de direitos patrimoniais disponíveis e faculta às partes escolherem
livremente as regras de direito aplicáveis, desde que não violem os bons costumes e a
ordem pública. De certo modo é uma forma alternativa de composição entre as partes,
por meio da intervenção de terceiro indicado por elas e gozando da absoluta confiança
de ambas. Tal lei se aplica somente aos chamados direitos patrimoniais disponíveis, isto
é, às questões que se refiram a bens de valor econômico e monetário quantificados, e
que possam ser comercializados livremente. São questões que se originam de um
contrato que, para dirimir, se escolhe terceiros isentos de interesses escusos ou protetor
de qualquer das partes. A instalação de uma Câmara de Arbitragem nas dependências de
escritório de advocacia caminha no sentido oposto ao que dispõe a Lei 9.307/1996, pois
possibilita a captação de clientela e concorrência desleal, não legalizando o ato
pretendido. Agindo na forma da lei e dentro de seus limites, fica vedada a expressão
‘Tribunal Arbitral’, evitando confusão com o Poder Judiciário e, em qualquer situação,
vedado o exercício da advocacia conjuntamente com outra atividade. (OAB-SP,
Processo 3.447/2007, rel. Dr. Carlos Roberto F. Mateucci, j. 19.04.2007).

5. Medida cautelar. Juízo arbitral. Inexistência de óbice a que a parte interessada utilize
as vias judiciais quando a necessidade da providência cautelar surgir antes da
instauração do procedimento arbitral. Medida cautelar. Juízo arbitral. Determinado o
prosseguimento da ação cautelar até instalação do juízo arbitral. Liminar. Pleiteada
liminar para que as instituições financeiras mencionadas na inicial, ainda que
notificadas pela requerida, abstenham-se de efetuar qualquer desembolso de valor em
seu favor, concernente aos contratos de fiança bancária, até o julgamento da ação
cautelar. Cabimento. (TJSP, Apelação 0130332-32.2012.8.26.0100, Rel. José Marcos
Marrone, São Paulo, 23ª Câmara de Direito Privado, j. 17.10.2012, Registro:
19.10.2012.

6. Superior Tribunal de Justiça. Direito Processual Civil. Arbitragem. Medida cautelar.


Competência. Juízo arbitral não constituído. 1. O Tribunal Arbitral é competente para
processar e julgar pedido cautelar formulado pelas partes, limitando-se, porém, ao
deferimento da tutela, estando impedido de dar cumprimento às medidas de natureza
coercitiva, as quais, havendo resistência da parte em acolher a determinação do(s)
árbitro(s), deverão ser executadas pelo Poder Judiciário, a quem se reserva o poder de
imperium. 2. Na pendência da constituição do Tribunal Arbitral, admite-se que a parte
se socorra do Poder Judiciário, por intermédio de medida de natureza cautelar, para
assegurar o resultado útil da arbitragem. 3. Superadas as circunstâncias temporárias que
justificavam a intervenção contingencial do Poder Judiciário e considerando que a
celebração do compromisso arbitral implica, como regra, a derrogação da jurisdição
estatal, os autos devem ser prontamente encaminhados ao juízo arbitral, para que este
assuma o processamento da ação e, se for o caso, reaprecie a tutela conferida, mantendo,
alterando ou revogando a respectiva decisão. 4. Em situações nas quais o juízo arbitral
esteja momentaneamente impedido de se manifestar, desatende-se provisoriamente as
regras de competência, submetendo-se o pedido de tutela cautelar ao juízo estatal; mas
essa competência é precária e não se prorroga, subsistindo apenas para a análise do
pedido liminar. (REsp 1.297.974/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j.
12.06.2012, DJe 19.06.2012).

7. “A existência de ação anulatória da sentença arbitral estrangeira em trâmite nos


tribunais pátrios não constitui impedimento à homologação da sentença alienígena”,
justificando que “não é possível que a parte ré discuta questões que vão além dos
requisitos indispensáveis à homologação, regra que permanece quando a defesa pautar-
se nas disposições contidas no art. 38 da Lei 9.307/1996” (Corte Especial, SEC 611/EX,
rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23.11.2006, DJ 11.12.2006, p. 291).

8. Sentença arbitral estrangeira – Convenção de arbitragem – Inexistência –


Competência não demonstrada – Homologação – Impossibilidade. 1. O requerimento de
homologação de sentença arbitral estrangeira deve ser instruído com a convenção de
arbitragem, sem a qual não se pode aferir a competência do juízo prolator da decisão
(arts. 37, II, e 39, II, da Lei 9.307; art. 217, I, do RISTF). 2. Contrato de compra e venda
não assinado pela parte compradora e cujos termos não induzem a conclusão de que
houve pactuação de cláusula compromissória, ausentes, ainda, quaisquer outros
documentos escritos nesse sentido. Falta de prova quanto a manifesta declaração
autônoma de vontade da requerida de renunciar à jurisdição estatal em favor da
particular. 3. Não demonstrada a competência do juízo que proferiu a sentença
estrangeira, resta inviabilizada sua homologação pelo Supremo Tribunal Federal.
Pedido indeferido” (Pleno, SEC 6.753/UK, rel. Min. Maurício Corrêa, DJU
04.10.2002).

9. O controle judicial da homologação da sentença arbitral estrangeira está limitado aos


aspectos previstos nos arts. 38 e 39 da Lei 9.307/1996, não podendo ser apreciado o
mérito da relação de direito material afeto ao objeto da sentença homologanda” (Corte
Especial, SEC 507/EX, rel. Min. Gilson Dipp, j. 18.10.2006, DJ 13.11.2006, p. 204).

10. No âmbito do cumprimento de sentença arbitral condenatória de prestação


pecuniária, a multa de 10% (dez por cento) do artigo 475-J do CPC deverá incidir se o
executado não proceder ao pagamento espontâneo no prazo de 15 (quinze) dias
contados da juntada do mandado de citação devidamente cumprido aos autos (em caso
de título executivo contendo quantia líquida) ou da intimação do devedor, na pessoa de
seu advogado, mediante publicação na imprensa oficial (em havendo prévia liquidação
da obrigação certificada pelo juízo arbitral). O afastamento da incidência da referida
sanção no âmbito do cumprimento de sentença arbitral de prestação pecuniária
representaria um desprestígio ao procedimento da arbitragem, olvidando-se de seu
principal atrativo, qual seja, a expectativa de célere desfecho na solução do conflito.
STJ. Recurso Repetitivo. Corte Especial. REsp 1102460 / RJ. Rel. Ministro MARCO
BUZZI. DJe 23/09/2015

11. RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA.


INADIMPLEMENTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO. CONTRATO COM
CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. INSTAURAÇÃO PRÉVIA DO JUÍZO
ARBITRAL. A pactuação de convenção de arbitragem possui força vinculante, mas não
afasta, em definitivo, a jurisdição estatal, pois é perfeitamente admissível a convivência
harmônica das duas jurisdições, desde que respeitadas as competências correspondentes.
A existência de cláusula compromissória não afeta a executividade do título de crédito
inadimplido e não impede a deflagração do procedimento falimentar, fundamentado no
art. 94, I, da Lei 11.101/2005. Logo, é de se reconhecer o direito do credor que só pode
ser exercitado mediante provocação estatal, já que o árbitro não possui poderes de
natureza executiva. REsp 1733685 / SP, Rel. Min. RAUL ARAÚJO. 4ª T. DJe
12/11/2018.

12. Recurso especial. Ação de dissolução parcial de sociedade em virtude da morte de


sócio e ausência de affectio societatis entre o sócio remanescente e os sucessores da
participação societária. Estabelecimento, no contrato social, de cláusula
compromissória arbitral. 1. Alegação de impossibilidade de se arbitrar direitos
indisponíveis (direito à sucessão). Insubsistência. Questão exclusivamente societária,
passível de ser Submetida à arbitragem 2. Cláusula compromissória arbitral inserta no
contrato social por ocasião da constituição da sociedade. Pretensão de dissolução parcial
da sociedade. Repercussão direta no pacto social. Verificação. Competência do
juízo arbitral. 3. Extensão dos efeitos do compromisso arbitral. Vinculação da
sociedade, dos sócios, atuais e futuros, assim como dos sucessores da participação
societária, até que ingressem na sociedade na condição de sócio ou até que efetivem, em
definitivo, a exclusão de sua quota social. 4. Recurso especial Improvido. REsp
1727979 / MG, Rel. Min MARCO AURÉLIO BELLIZZE. 3ª T. DJe 19/06/2018

13. AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO


CONSUMIDOR. CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM. LEGALIDADE.
PROCESSUAL CIVIL. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS E DE
PROVA. 1. A legislação consumerista impede a adoção prévia e compulsória da
arbitragem, no momento da celebração do contrato, mas não proíbe que, posteriormente,
em face de eventual litígio, havendo consenso entre as partes (em especial a
aquiescência do consumidor), seja instaurado o procedimento arbitral. AgInt no AREsp
1152469 / GO. Rel. Min. ISABEL GALLOTTI. 4ª T. DJe 18/05/2018.

14. Com a promulgação da Lei de Arbitragem, passaram a conviver, em harmonia, três


regramentos de diferentes graus de especificidade: (i) a regra geral, que obriga a
observância da arbitragem quando pactuada pelas partes, com derrogação da jurisdição
estatal; (ii) a regra específica, contida no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 e aplicável a
contratos de adesão genéricos, que restringe a eficácia da cláusula compromissória; e
(iii) a regra ainda mais específica, contida no art. 51, VII, do CDC, incidente sobre
contratos derivados de relação de consumo, sejam eles de adesão ou não, impondo a
nulidade de cláusula que determine a utilização compulsória da arbitragem, ainda
que satisfeitos os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. O art. 51, VII, do CDC
limita-se a vedar a adoção prévia e compulsória da arbitragem, no momento da
celebração do contrato, mas não impede que, posteriormente, diante de eventual litígio,
havendo consenso entre as partes (em especial a aquiescência do consumidor), seja
instaurado o procedimento arbitral. Na hipótese sob julgamento, a atitude da recorrente
(consumidora) de promover o ajuizamento da ação principal perante o juízo estatal
evidencia, ainda que de forma implícita, a sua discordância em submeter-se ao
procedimento arbitral, não podendo, pois, nos termos do art. 51, VII, do CDC,
prevalecer a cláusula que impõe a sua utilização, visto ter-se dado de forma
compulsória. REsp 1628819 / MG. Rel. Min. NANCY ANDRIGHI. 3ª T. DJe
15/03/2018.

15. SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA.


INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS
LEGAIS E REGIMENTAIS. O propósito da ação é obter homologação de sentença
arbitral estrangeira que condenou a requerida ao pagamento de valores concernentes ao
inadimplemento de negócio jurídico mediante o qual esta havia se obrigado a prestar
serviços e fornecer equipamentos para a construção de uma usina de biodiesel na
Colômbia. Este Tribunal exerce juízo meramente delibatório nas hipóteses de
homologação de sentença estrangeira, incumbindo ao STJ, apenas, verificar se a
pretensão atende aos requisitos previstos no RISTJ, na LINDB e, tratando-se de
sentença arbitral, na Lei 9.307/96. Hipótese concreta em que foram atendidos os
requisitos formais previstos na Lei da Arbitragem e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ,
tendo-se constatado a ausência de ofensa à soberania nacional ou à ordem pública.
Pedido de homologação de sentença arbitral estrangeira deferido. SEC 16208-EX.
SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA 2016/0281131-9. Rel. Min. NANCY
ANDRIGHI. DJe 05/12/2017.

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