Você está na página 1de 3

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/12907/passo-a-passo-para-planejar-suas-aulas

Publicado em NOVA ESCOLA 29 de Outubro | 2018

Como ensinar

Como planejar aulas de Educação


Física alinhadas à Base
Confira sugestões práticas para aplicar as mudanças que a Base Nacional
Comum Curricular orienta para a Educação Física

Especialista: desafios podem ajudar alunos a se tornarem agentes de


transformação. Ilustração: Rita Mayumi/Nova Escola

Com a Base, a proposta para as aulas de Educação Física passa a ser tematizar lutas, danças, jogos e
brincadeiras, práticas corporais de aventura, ginásticas e esportes. Colocar isso em prática é um
desafio para os professores, ainda mais para os que lidam com a escassez de recursos e de espaços
dentro das escolas públicas. A constatação das dificuldades, contudo, não deve ser um impeditivo para
que atividades diversificadas sejam realizadas, para possibilitar que os alunos acessem um amplo
repertório cultural.

“A diversidade que caracteriza as escolas, em diferentes contextos, em relação a espaços e materiais, é


evidente. Mas é perfeitamente possível fazer adaptações e, inclusive, envolver os alunos nessas ações”,
afirma o professor de Educação Física na Rede Pública de Ensino da Prefeitura de São Roque (SP)
Marcos Noggerini, pós-graduado em Gestão Escolar.

O professor Marcos defende que vivenciar essa realidade pode funcionar como um incentivo para que
o estudante faça o mesmo processo em casa ou em outros lugares, ampliando as possibilidades de
prática fora da sala de aula: “Dividir os desafios com os alunos, apoiando-os na solução de problemas
práticos, faz com que atuem como sujeitos, ampliem o comprometimento e se transformem em
agentes de transformação”. A seguir, ele e o professor de Educação Física da rede estadual e municipal
de São Paulo, Miguel Feth, dão algumas orientações sobre como conduzir esse processo em sala de
aula.
PASSO A PASSO

1. Selecione os conteúdos: Reconhecendo a necessidade de tratar uma gama mais ampla de


possibilidades de prática, a BNCC propõe a inclusão de outros conteúdos que não apareciam em
documentos anteriores para o componente - e que, em geral, privilegiavam os esportes mais
populares. À primeira vista, isso pode representar um aumento significativo de conteúdos a serem
abordados.

Para contornar o desafio, um caminho é agrupar as experiências que dialogam entre si


“Ao categorizar os esportes de acordo com algumas de suas características, a BNCC possibilita a análise
de um número maior de práticas, que mesmo presentes em diferentes contextos, não eram tratadas
na escola. Ao classificar, considerando aspectos invariantes em relação a alguns tipos de esportes, o
documento possibilita uma análise conjunta, o que pode significar um menor número de aulas
necessário”, explica Noggerini.

Exemplo
Ao tratar a temática "esportes de precisão", várias práticas podem ser apresentadas em um mesmo
projeto ou sequência didática, algumas de forma mais aprofundada, pela facilidade ou relevância no
contexto, e outras de maneira mais rápida. Também é importante que o professor tenha em mente, no
momento de selecionar e planejar os conteúdos a serem tratados em sala de aula, as curiosidades dos
alunos, o que acontece na comunidade em que eles estão inseridos e nas famílias, em relação às
brincadeiras, jogos e danças.
Além disso, vale saber que é possível deslocar os conteúdos. “A BNCC foi escrita para que se garanta
um mínimo de conhecimentos aos alunos e isso pode acontecer através de alguma prática corporal
que não é contemplada no ano previsto pela Base. O importante é que o professor fique atento para
que essa prática seja apresentada ao aluno em algum momento do Ensino Fundamental”, diz Feth.

2. Planeje as vivências, focando na ampliação do repertório: Outro ponto que precisa ser
considerado é o das dimensões do conhecimento, pois ainda existe o entendimento de que o
conteúdo, para ser incluído nos programas de Educação Física, precisa ser praticado na escola. “No
entanto, ao ampliar as dimensões do conhecimento, a BNCC enfatiza que a experimentação, a vivência
e a prática, dentro do possível, são enriquecedoras, mas também que muitos dos conteúdos podem
ser tratados na dimensão fruição, por exemplo, que considera a habilidade de apreciar uma prática”,
comenta Noggerini.

Nessa perspectiva, há diversas opções possíveis para proporcionar vivências variadas aos
alunos, mesmo as que são pouco conhecidas dos professores:
1. Uma delas é estimular os estudantes a pesquisarem temas novos e a trazerem seus achados para
uma discussão com a turma.
2. Outra é convidar pessoas da comunidade para contribuir, abrindo também a possibilidade da
participação de outros professores e funcionários, além das famílias, desde que tenham conhecimento
das temáticas que serão apresentadas aos alunos. “A escola é lugar de aprendizagem, e isso vale tanto
para os alunos quanto para os professores”, ressalta Feth.
3. Também é possível recorrer às diferentes fontes de informação midiáticas disponíveis. Filmes, por
exemplo, podem ser utilizados para tratar de temas como danças e lutas. Billy Elliot, sobre a paixão de
um garoto pela dança; Vem Dançar (2005), a história de um professor voluntário que dá aulas de dança
para alunos rebeldes; Esporte Sangrento (1993), em que um professor, também voluntário, ensina
capoeira a alguns alunos envolvidos em conflitos, são sugestões dos especialistas. “Esses filmes
também podem fornecer ao professor (mas até mesmo aos alunos, de acordo com os níveis de ensino)
subsídios para superar preconceitos em relação às mais diversas práticas”, diz Noggerini.
4. Em paralelo, o professor pode ampliar seu nível de conhecimentos com formação continuada,
participação em grupos ou mesmo visitando locais onde práticas que ele desconhece ocorrem. “Ao
ampliar as formas de tratamento e as dimensões de conhecimento esperadas, os professores podem
variar e enriquecer suas aulas de diversas formas”, tece Noggerini.

3. Adapte os espaços: Nem todas as escolas oferecem ambientes adequados para a vivência de tantas
práticas, e embora seja necessário buscar sempre melhorias, também deve haver um olhar do
professor para a possibilidade de adaptar os espaços disponíveis. Em algumas práticas, a própria sala
de aula pode ser o local da vivência, dependendo da dinâmica da atividade e do tamanho da turma.
Espaços abertos como pátios, estacionamentos e até praças próximas podem ser aproveitados, desde
que a segurança dos alunos seja preservada. “Mesmo alguns locais acidentados e com obstáculos
oferecem oportunidades, pois esses elementos podem ser incorporados às atividades. As paredes, as
árvores e os muros podem servir de suporte para diversas atividades. Dá para desenhar com giz, ou
mesmo pintar alguns locais para jogos, brincadeiras ou práticas específicas”, sugere Noggerini.

Lutas e danças, ao contrário do que se pensa, são práticas corporais que não requerem tantos
recursos especiais. O boxe, o kung fu, o caratê e a capoeira, por exemplo, podem ser praticados em
qualquer espaço, com materiais simples ou mesmo sem material nenhum. “Uma breve pesquisa em
qualquer site relacionado, e até mesmo no YouTube, é uma importante fonte para o planejamento das
aulas. As práticas de dança podem ser realizadas até mesmo dentro da sala de aula, ao som de um
celular”, diz Feth.

4. Mapeie os recursos materiais: Quanto aos materiais, além dos tradicionais comprados, inúmeros
podem ser adaptados ou confeccionados. Eis algumas ideias:
1. Garrafas pet com um pouco de areia na base podem servir de cones, ou delimitadores de espaços,
além de alvos ou balizas.
2. Paredes e muros podem virar alvos e gols, se tiverem a marcação adequada.
3. Cestos, como aqueles utilizados na origem do basquete, se colocados em diferentes alturas e
distâncias, proporcionam vivências variadas.
4. Bambolês podem servir de alvos colocados em posições horizontais, verticais ou mesmo em
movimento, além de serem utilizados como argolas a serem lançadas, tendo cones ou garrafas pet
como alvos.
5. Em um ambiente de terra batida, basta cavar e deixar um quadrado com terra ou areia para fazer
uma caixa de saltos (triplo ou a distância).
6. Um tronco grande caído ou mesmo um banco pode ser usado para atividades que envolvam o
desenvolvimento do equilíbrio.
7. Cordas comuns, se amarradas em um travessão ou em um galho mais alto, podem render uma
estação para escalada.
8. Jornais podem ser espadas, para a prática de esgrima.
9. Fitas de pano permitem realizar gestos expressivos na temática de danças, bem como barbantes.
10. Caixas de papelão podem ser o veículo para a realização de descidas em rampas de grama.
11. Cones e cordas ajudam a aproximar os alunos da prática de parkour (saltos e rolamentos).
12. Jornal e fita-crepe funcionam bem para a confecção de bolas de diferentes tamanhos.
13. Pneus servem como piques para brincadeiras de pegar.
14. Elásticos possibilitam planejar inúmeras brincadeiras de saltar.
15. Cabos de vassoura funcionam como recurso para uma adaptação da brincadeira de pega vareta.

5. Estimule a participação dos alunos em todo o processo: A escuta atenta para as necessidades e
demandas vindas dos alunos é um ótimo ponto de partida para o professor iniciar os seus projetos
educativos, mas a participação dos estudantes não precisa parar por aí. No processo de adaptação de
espaços e de materiais, eles podem interagir ativamente, planejando com o professor as atividades e
ajudando a implementar as soluções encontradas.

Você também pode gostar