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RESUMO
A educação concebida por Theodor Adorno
FERNANDA LOPES DE SÁ
Theodor Adorno é categórico ao apontar a primeira afirmação de toda a
educação: que uma das maiores barbáries da história - "onde milhões foram
sistematicamente exterminados" - não deve ser repetida. A urgência desta
demanda não se dá apenas pela natureza potencial de tal perigo, mas
precisamente pelo fato de que Auschwitz “já foi”: o ser humano demonstrou que
é capaz de agir com extrema violência. E essa demanda adquire mais força se
reconhecermos que a essência dessa barbárie se repetiu várias vezes na
posteriormente na história.
“No começo as pessoas desse tipo se tornam por assim dizer iguais a coisas. Em
seguida, na medida em que o conseguem, tornam os outros iguais a coisas.”
Essa característica principal é o que torna possível lidar com os humanos como
se fossem meras coisas. Esse tipo de tratamento permite uma ação ilimitada
sobre os outros, como se fossem simples objetos. Portanto, a porta para todos
os tipos de violência está completamente aberta.
Mas o que leva a essa reificação da consciência? Adorno aponta pelo menos
dois aspectos fundamentais. O primeiro, a identificação irrefletida dos indivíduos
com os movimentos de massa das coletividades:
“O único poder efetivo contra o princípio de Auschwitz seria autonomia, para usar a
expressão kantiana; o poder para a reflexão, a autodeterminação, a não-participação.”
Para cumprir essas tarefas educacionais, Adorno atribui maior importância que
elas sejam realizadas desde o início da infância, pois é lá que se afirmam os
traços básicos de caráter. Paralelamente, promover ao máximo uma ilustração
generalizada da sociedade “que estabelece um clima espiritual, cultural e social
que não permite a repetição de Auschwitz”.
Enfim, diante da barbárie e das tendências sociais que ainda podem produzi-la,
é preciso combatê-la por meio de uma educação que resista a ela. Esta
educação é essencialmente uma tentativa de que as pessoas não se tornem
“indiferentes ao que acontece aos outros”, que não as tratem como meras coisas,
mas como seres humanos. Para isso, a autonomia protege contra movimentos
de massa alienantes e a afetividade contra a barbárie dá a força correspondente
para se opor prontamente quando ela surge. Para Adorno, se esses traços
tivessem sido promovidos no passado - ao contrário da frieza que realmente
prevalecia - "Auschwitz não teria sido possível" porque simplesmente "os
homens não o teriam tolerado".