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O conceito de delinquência pode então ser definido em função de critérios

jurídico-legais, assim como se pode confundir com o conceito de comportamento anti-


social. No conceito jurídico-legal, delinquente é o indivíduo que efectuou actos dos
quais resultou uma condenação por parte dos tribunais. O conceito de comportamento
anti-social refere-se a uma grande diversidade de actividades praticadas como os actos
agressivos, furto, vandalismo, fugas a outros comportamentos que representem, de um
modo genérico, uma violação de normas ou de expectativas estabelecidas pela
sociedade (Negreiros, 2001).

Segundo Clarke e Cornish (1985), a delinquência é um comportamento


intencional que serve para satisfazer necessidades correntes de dinheiro, status e sexo,
que implicam tomar decisões.

FACTORES QUE LEVAM AO INICIO DA DELINQUÊNCIA

Desde cedo que a tentativa de compreensão da delinquência juvenil tem sido


ponto fulcral de diversas discussões. De notar é que, efectivamente não tem sido tarefa
fácil abordar a questão. Cada vez mais se torna importante intervir junto dos jovens de
modo a tentar evitar a delinquência juvenil ou diminuir os seus efeitos na sociedade. De
acordo com alguns estudos, o problema da delinquência e da criminalidade é atribuído a
diferenças individuais estáveis, estabelecidas no início da vida (Gottfredson e Hirschi,
1990, citados por Moffitt, 1993).

Segundo esta teoria, considera-se a possibilidade da existência de trajectórias


que podem ser originadas por diversos factores que podem dever-se a alterações de vida
e podem ser modificados pelo comportamento corrente (White, Bates e Buyske, 2001).

Um baixo envolvimento dos pais nos cuidados dos filhos, institucionalização na


infância, envolvimento com grupos de pares violentos, fragilidade ou a ausência da
figura paterna e o uso de práticas educativas assentes na violência são factores
preditores da delinquência juvenil (Assis e Constantino, 2001; Loeber e Dishion, 1983;
Scaramella, Conger, Spoth e Simons 2002).

Um contexto familiar e social caracterizado pela violência, associado às


características de temperamento e à procura de status social, motiva os adolescentes a
envolverem-se em grupos de pares com comportamentos violentos. Em muitos casos,
para se inserir num gang, o jovem é encorajado a envolver-se em comportamentos
ilícitos e em actividades delinquentes (Salzinger, Feldman, Stockhammer e Hood 2002).

Loeber e Dishion (1983) reconhecem entre outros factores preditores do


comportamento delinquente, o comportamento anti-social de algum membro da família.
Factores como as relações familiares, relação com os colegas e a escola desempenham
um papel crucial na delinquência juvenil (Davis, Tang e Ko, 2004).

A delinquência relaciona-se com factores de risco individual como


impulsividade, coeficiente intelectual e personalidade (Browning e Loeber, 1999).

Perturbações internas tais como nervosismo, preocupação e ansiedade e


problemas psicológicos como hiperactividade podem desencadear o aparecimento dos
comportamentos delituosos nos jovens (Farrington, 1992).

Problemas ou dificuldades de concentração, comportamentos hostis ou violentos


e baixo nível de inteligência podem ser despoletadores da delinquência (Browning e
Loeber, 1999; Farrington, 1992; Farrington, 1997).

Perturbações e carências da personalidade podem afectar o bom


desenvolvimento da personalidade dos jovens, criando crianças e jovens imaturos,
egoístas, egocêntricos, impulsivos ou agressivos, todos estes comportamentos
fortemente associados à delinquência juvenil (González, 2003).

Lerner e Galambos (1998) argumentam que, tendo em conta as condições


individuais e contextuais, existem factores centrais básicos na génese e no
desenvolvimento dos comportamentos de risco da criminalidade, sobre os quais se pode
intervir de modo a acautelar a delinquência. Estes factores estão divididos em factores
individuais e contextuais.

Como factores individuais destacam-se:

 Idade (início precoce de comportamentos de risco na adolescência);


 Expectativas sobre a escola e as classificações escolares;
 Comportamentos em geral, assim como acções inadequadas.
 Como factores contextuais destacam-se:
 Observar influências anti-sociais, já que muitas vezes além dos factores
individuais são os factores contextuais que levam ao desenvolvimento de
comportamentos de risco;
 Influências dos pais, especialmente o seu estilo autoritário ou permissivo;
 Influências dos vizinhos.

Segundo Farrington (1986), os delitos produzem-se mediante processos de


interacção entre o indivíduo e o ambiente, que se dividem em quatro etapas: A primeira
etapa sugere que a motivação e o desejo de bens materiais, de prestígio social e de
procura de excitação produzem actos delituosos.

A segunda etapa sugere a procura através de métodos legais e ilegais de


satisfazer os desejos. A relativa incapacidade dos jovens pobres em alcançarem metas
ou objectivos mediante métodos legítimos pode-se dever, em parte, à tendência a faltar
à escola e por conseguinte, encontram empregos de baixo nível.

Na terceira etapa, a motivação para cometer actos delinquentes aumenta ou


diminui devido às crenças e atitudes interiorizadas acerca do significado de infringir a
lei, desenvolvidas a partir do historial de reforços e castigos.

A quarta etapa supõe que os factores situacionais (custos e benefícios) serão os


que levam a cometer os delitos.

Farrington (1986) refere que, a delinquência alcança o seu máximo entre os 14 e


os 20 anos, pois, os jovens (de nível social baixo que abandonam a escola) manifestam
fortes desejos de excitação, bens materiais e status, contudo, têm poucas possibilidades
de satisfazer esses desejos. Ao invés, depois dos 20 anos os desejos atenuam-se ou
tornam-se realistas, diminuindo os comportamentos delinquentes.

FACTORES GENÉTICOS

De acordo com Moffitt (1993), também são considerados como factores


relevantes para a delinquência os factores genéticos e neuropsicológicos. Contudo, são
poucos os estudos que indicam os factores genéticos como factores iniciadores da
delinquência juvenil.
Constata-se que os factores genéticos quando associados ao baixo nível
socioeconómico têm relativa influência na delinquência e na criminalidade. Esta
questão torna-se mais pertinente quando a isto está associado algum problema funcional
ou neuropsicológico do próprio jovem (Hoeve et al., 2008).

O comportamento criminal é efeito dos genes e do ambiente em que se está


inserido. Torna-se correcto falar de efeitos multi-factoriais, de interacção entre genética
e ambiente. Existe uma predisposição constitucional influenciada pelos parâmetros
sociais (Raine, 1993).

A condição genética prevalece sobre a influência do ambiente familiar no


universo particular dos crimes graves (Cloninger, Sigvardsson, Bohman e von Knorring,
1982).

FACTORES SOCIAIS/CULTURAIS

Variáveis relacionadas com o contexto em que vive a família e que estão


associadas ao aparecimento e desenvolvimento da conduta delinquente são, o baixo
nível socioeconómico, o desemprego, o baixo nível ocupacional, a pobreza, as
condições de habitabilidade e a sobrelotação das habitações (Farrington, 1992; Wells e
Rankin, 1991).

Segundo autores como Rokeach (1973) e Schwartz (1994), os factores que


inicialmente contribuem para a delinquência juvenil são os valores centrais e os valores
sociais, ou seja, os valores pessoais dos jovens. Dentro dos valores pessoais considera-
se que o jovem assume o comportamento delinquente de modo a obter vantagens e/ou
lucros.

O jovem valoriza os seus interesses e benefícios sem ter em conta uma


referência particular. Tendo em conta o seu papel psicossocial o jovem começa a
delinquir de modo a apreciar novos estímulos para enfrentar situações arriscadas. O
risco que corre e o facto de ser bem sucedido aumenta a sua satisfação e estimula a
continuação do processo delinquente.

Por outro lado, os valores centrais indicam o carácter central ou adjacente destes
valores, é um misto das relações sociais com as pessoais, servem interesses mistos, isto
é, tanto individuais como colectivos. Neste caso o jovem inicia a sua carreira
delinquente para sobreviver ou para ter estabilidade pessoal. Por norma, estes jovens são
oriundos de ambientes mais pobres. Conforme afirma o autor Formiga (s/d).

Factores que levam os jovens a manter os comportamentos delinquentes

Os comportamentos delinquentes têm sido alvo de diversos esforços na tentativa


de se conseguir explicar todo o processo que envolve a temática.

Em determinadas alturas da vida a persistência dos comportamentos anti-sociais


da adolescência encontram-se favorecidos.

Segundo os autores Bordin e Offord (2000), isto acontece quando a alteração de


comportamento se inicia precocemente, quando são vários os tipos de comportamentos
anti-sociais, incluindo os comportamentos violentos e os agressivos, quando são
frequentes os comportamentos anti-sociais e ainda quando estes são observados em
diversos ambientes e situações.

Outros factores que levam à continuação do delinquir são o intenso desejo de


bens materiais ou de prestígio social, ânsias de estímulos, um grande nível de stress e o
possível consumo de álcool e drogas (Moffitt, 1993).

A falta de recursos económicos, um baixo coeficiente intelectual e débeis laços


paternais serão causas de maior risco para a iniciação da delinquência. Pais, irmãos e
amigos delinquentes, desempenharão uma grande influência na continuidade das
actividades delinquentes (Farrington, 1992; Farrington, 1997).

Esta fase de persistência da delinquência e regresso à mesma conduz à definitiva


solidificação das pautas anti-sociais por meio de um alongado e eficaz decurso de
aprendizagem (White, Bates e Buyske, 2001).

O que se coloca muitas vezes para tentar explicar o porquê de se enveredar pelo
mundo da delinquência e o porquê de se manterem estes tipos de comportamentos
delinquentes são questões relacionadas com características pessoais dos jovens que
continuam a manter comportamentos delinquentes (Brezina e Piquero, 2007).

Os jovens delinquentes são catalogados em dois grupos essencialmente


(Brezina e Piquero, 2007):
1. O primeiro grupo representa uma percentagem mais reduzida e nele configuram-
se os jovens que mantém comportamentos delinquentes ao longo da vida, são pessoas
com características anti-sociais (Brezina e Piquero, 2007).
2. O segundo grupo é formado por jovens que iniciam o percurso delinquente na
adolescência mas que acabam por desistir desta marginalidade ao fim de pouco tempo.
São jovens que enveredam por este meio, pois, aos seus olhos, deste modo podem
tornar-se adultos mais rapidamente e fazer tarefas que julgam que já podem realizar
como o consumo de drogas, álcool, iniciar a vida sexual entre outras. Estes jovens
acabam por experimentar o mundo da delinquência mas não permanecem nele, de um
modo geral este comportamento termina quando termina a adolescência.

Estes jovens são atraídos pelo poder da independência e simboliza para eles a
transição para a idade adulta (Brezina e Piquero, 2007).

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