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PE: Mas dizer que arquitetura nã o pode apresentar suas necessidades internas fora
de cada uso ou mau uso das convençõ es da arte é , eu penso, uma visã o estreita de
arquitetura que apresenta a possibilidade de realizaçã o de suas necessidades
internas precisamente por que em arquitetura a aglutinaçã o de partes como salas e
corredores e a necessidade de uso e abrigo sã o elementos necessá rios. Estas
necessidades, as quais nã o existem em escultura, é o que para mim significa “site”.
Para mim, a transformaçã o de um site (lugar)é superar as limitaçõ es inerentes em
acumular partes juntas de acordo de usar e produzir uma necessidade interna do
que está fora de uso. Ambos arquitetura e escultura tentam apresentar suas
necessidades internas: como cada um alcança isso em escultura e arquitetura sã o
raciocínios muito diversos. Por isso eu sou arquiteto e nã o escultor.
PE: Você disse que seu House of Cards é um exemplo de necessidade internalizada
em escultura, e ainda que isto é uma metafó rica alusã o a algo muito frá gil, inclusive
auto critico. A frase house of cards é tradicionalmente usada para implicar uma idéia
negativa.
Meus primeiros projetos chamavam-se “house of cards” precisamente por que eles
eram auto-críticos. Há uma idéia de auto critica intencional de sua parte?
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RS: Nã o, o titulo da peça é One-Ton Prop, eu escrevi House of Cards” entre
parêntesis. No meu trabalho naquele momento, eu tinha elementos de chumbo
apoiados contra a parede. Inclusive naquelas peças apoiadas na parede é fá cil
entender que o como é definido pelo o que. Mas aquelas peças eram ainda
relacionadas ao plano pictó rico da parede. Quando eu decidi construir um trabalho
auto sustentado usando o mesmo princípio de centro de gravidade e compressã o, eu
queria definir um espaço, conter um espaço.
RS: Eu nã o queria dizer que o espaço é um suporte. Ele nunca é um suporte. Suporte
ou pedestal sã o velhas soluçõ es para velhos problemas.
RS: Como eu disse eu estou interessado em o “como” pode ser definido pelo “o que”.
Eu nã o acredito em mistificaçõ es como processo criativo. Eu logo quero ter o
trabalho envolvido disponível para qualquer um como parte do seu conteú do. Nada
disso é o conteú do, mas pode ser discernível por qualquer um querendo lidar com
aspectos do meu trabalho.
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RS: Alusã o é diferente de ilusã o. Se algo tem um potencial de decadência, isto pode
ser uma alusã o. A Buried Woodshed de Smithson e sua tendência ao colapso é um
exemplo de alusã o. SITE altera o conceito de Smithson de uma alusã o para uma
ilusã o.
PE: Eu gostaria de pensar que SITE altera o conceito de Smithson de ilusã o para algo
muito literal. Falando-se em esculturas de grande escala outras além daquelas de
Smithson _ as de Noguchi ou Calder, por exemplo- você diz que elas se reduzem a
nada mais do que modelos ampliados. Isto de grandes escalas em seu trabalho é
arbitrá rio. Você está sugerindo que inerente ao conceito da escultura há uma noçã o
específica de escala que nã o é antropomó rfica, nã o relacionada com o homem, mas
relacionada intrinsecamente ao ser da escultura?
PE: Você quer que a arquitetura seja no fundo neutra. Quando arquitetura sai da
parede e do pedestal, você parece querer um objeto discreto, mantendo sua
neutralidade. Quando arquitetura se torna ambos figura e contexto, isto o preocupa
por que deixa pouco espaço para o escultor atuar.
Você diz que os arquitetos – e especialmente Robert Venture – reivindica estar
lidando com o contexto, embora nã o de uma forma critica. Em outras palavras, o
“site-specifc” dos arquitetos sã o simples objetos colocados em um lugar ou tentando
se colocar em um lugar. Isto é o que em arquitetura se chama “contextulizar”. Eu
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vejo uma diferença entre o que você entende por “site-specifc” no seu trabalho e o
que Venturi ou contextualistas entendem por site-specific” em sua arquitetura.
RS: Nostalgia e a boa vontade para ampliar a linguagem existente. No meu trabalho
eu analiso o lugar e o redefino de acordo com a escultura, nã o de acordo com a
aparência existente. Eu nã o tenho necessidade de aumentar o contexto da
linguagem existente. Eu nã o estou interessado em afirmar.
PE: Poderia ser um site-specific para arquitetura o que é critico, que tenta algo mais
do que afirmar o fato de que o que pré existe naquele lugar é bom. As recriaçõ es de
Piranesi e os redesenhos de Palladio foram invençõ es e nã o muito relativas ao que
hoje poderia se chamar um site. O que me interessa em seu trabalho é que nã o é
nem afirmaçã o nem negaçã o. Muitos arquitetos de fato dizem que quem quer que
tenha colocado a primeira pedra constituiu o contexto. Você nã o disse isso. Você
tenta analisar o contexto no sentido de remover a primeira pedra.
RS: Exato.
RS: Todas as minhas peças se mantém a si pró prias se elas sã o colocadas no solo e a
terra é firme. A razã o de fixaçõ es e fundaçõ es é satisfazer a previsã o de có digos de
engenharia de cidades, burocracia federal e tudo mais. . Por exemplo Rotary Arc
requereu uma fundaçã o de acordo com os có digos da cidade, embora seja evidente
que um semi arco de 100 toneladas pode se auto sustentar onde for.
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PE: Eu poderia chamar seu trabalho de “estruturalista” no sentido de ver a estrutura
como inerente a um texto. É a questã o de buscar a estrutura nã o tanto no significado
do texto, mas na capacidade de estruturaçã o do texto. O que é uma necessidade
interna, a percepçã o interior que você mencionou? O que é outra coisa senã o a
pró pria estrutura do trabalho? O que é identidade escultó rica que estas coisas
revelam?
PE: Eu estou tentando tomar a noçã o de estrutura como condiçã o inefá vel de um
objeto. A presença da estrutura em si mesma nã o é garantia de arte. O que faz ser
arte fora da estrutura? Parece que é com isto que você concorda.
PE: Mas você nã o está interessado nas seleçõ es deles mais do que a sua seleçã o
deles? Você nã o faz uma seleçã o arbitrá ria; eles selecionam eles mesmos com o
alcance de possíveis arqueologias.
PE: Já existia conceitualmente. E possível conceituá -lo antes dele vir a ser. A
inerência do que constantemente você se refere como a inerência da escultura, a
inerência da paisagem, a inerência de um objeto – você nã o pensa que preexistem e
que seu trabalho lhes dê substâ ncia?
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RS: Eu nã o acredito que os meus conceitos escultó ricos sejam pensados como
objetos. Eles sã o invençõ es. Naturalmente eles estã o relacionados com a histó ria da
escultura, mas eles sã o ainda invençõ es.
PE: Eu quero perguntar a você sobre ideologia. Parece para mim que a noçã o por
trá s das peças na paisagem que você faz é anti ideoló gico no sentido literal de
Ideologia. Eu acredito que as peças urbanas sã o anti ideoló gicas, mas que sua anti
ideologia se torna ideoló gica.
RS: Arte é sempre ideoló gica, se carrega uma evidente mensagem política , ou é arte
sobre arte mesmo e baseada em uma atitude de indiferença. Arte sempre, seja
explícita ou implicitamente, manifesta julgamento de valores sobre o largo contexto
socioló gico do qual faz parte. Arte endossa ou nega, abraça ou rejeita interesses de
classe. O Monumento à 3ª Internacional do Tatlin nã o é mais ideoló gica do que uma
das pinturas negras de Ad Reinhardt. Expressã o ideoló gica nã o se limita a uma
expressã o de poder ou viés político. Respondendo sua pergunta sobre o conteú do
ideoló gico do meu trabalho, nã o há diferença no grau de conteú do ideoló gico nos
trabalhos urbanos ou na paisagem.
PE: Eu argumentaria que seu trabalho é nã o ideoló gico no sentido de que eles nã o
falam do sentido da condiçã o do homem hoje vis-a -vis à natureza e o mundo físico.
O Homem desencadeou forças físicas que podem destruí-lo em um grau maior do
que nunca antes. Esta idéia tem mudado a forma do homem se relacionar com Deus
e com o mundo natural. Modernismo sempre fala do futuro, mas agora nó s estamos
no que chamo um presente sem futuro, uma condiçã o de imanência, na qual nos
confrontamos com a extinçã o bioló gica da civilizaçã o inteira. A relaçã o dos homens
com Deus e a natureza tem tradicionalmente se refletido na arquitetura. Mas eu nã o
acredito que você se dirige a isso no seu trabalho, nem a maioria dos arquitetos. O
que fica enfatizado para mim é que o retorno à histó ria pelos arquitetos pó s
modernos, é sua realizaçã o intuitiva que a condiçã o pó s nuclear do homem revoga
sua responsabilidade e voltar à histó ria é como se fossem avestruzes enfiando suas
cabeças na areia.
RS: Você nã o pode construir uma relaçã o entre o medo da extinçã o bioló gica e
arquitetura pó s modernista manuseando livros de histó ria. É o enterro da filosofia.
Verdade, arquitetos modernos acreditavam em um futuro melhor; eles
desenvolveram utopias para cidades planejadas assim como soluçõ es pragmá ticas
para habitaçõ es de trabalhadores. Mas os pó s modernos também acreditam no
futuro : o futuro da AT&T e a America das Corporaçõ es.