Você está na página 1de 5

Memorial Circunstanciado

PAULO ALVES JUNIOR

Paul Klee“AngelusNovus” (1920)

2019

1
APRESENTAÇÃO

O presente memorial visa destacar fatos e aspectos significativos de minha trajetória pessoal
e acadêmico-profissional, no intuito de iniciar processo de redistribuição para a Universidade
Federal de São Paulo, campus Baixada Santista, (UNIFESP-BS), junto ao curso de Serviço Social.
O período destacado, denota o esforço de constituir-me enquanto profissional qualificado teórica e
metodologicamente, desde sempre, interessado em compreender a amplitude das relações que
constituíram a sociedade brasileira no âmbito de sua organização política, econômica e cultural.
Professor da educação básica desde 1997, ingressei como docente no Ensino Superior, no ano de
2006, atuando sobretudo no curso de Serviço Social da Faculdade de Mauá e das Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU), por um período de dez anos.
Ao longo desse período, concentrei meu desenvolvimento profissional, pós-graduação e
atuação como docente, nas áreas de Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas, especialmente
em Ciência Política, Sociologia e História. Minha trajetória demonstra um vivo interesse pela
atividade docente, vinculada às atividades de produção do conhecimento nas Ciências Humanas
(pesquisa); em articulação com a comunidade (extensão). A possibilidade de potencializar os
saberes que tenho acumulado ao longo desses anos de vida acadêmica e docente (elaboração de
propostas de cursos e planos de aula, atividades de extensão, pesquisa acadêmica entre outros), me
leva a submeter pedido de redistribuição junto ao Departamento de Serviço Social da UNIFESP-BS,
espaço de ensino que vem ao encontro de meus anseios acadêmicos e pessoais.

TRAJETÓRIA

Sou paulistano, nascido no bairro do Bom Retiro, oriundo de família de classe média baixa,
filho de mãe paraibana e pai paranaense, nenhum deles com curso superior. Minha mãe estudou
apenas até a segunda série primária, e desde sempre trabalhou como operária na indústria têxtil.
Meu pai, trabalhador da área administrativa, teve uma vida marcada pela instabilidade profissional,
alternando longos períodos desempregado até o seu falecimento precoce em 1999, aos 50 anos.
Residente por 45 anos em área periférica da cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, iniciei
minha militância política e social na União da Juventude Socialista (UJS), como estudante
secundarista.
Nos idos de 1989, ainda aluno do antigo colegial (hoje ensino médio), disputava com outros
colegas a liderança do centro acadêmico da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau “Dona
Brasília Castanho de Oliveira”, espaço onde vivenciei um momento peculiar na recente história do
Brasil: as eleições de 1989. Comecei a trabalhar em 1986, aos 14 anos de idade e a trajetória
2
daquele operário, retirante nordestino, como minha mãe, além de marcar profundamente minha vida
pessoal, levou boa parte dos jovens daquele período a tomarem gosto e interesse pela política.
Minha trajetória acadêmica teve início alguns anos depois, em 1994, com o meu ingresso no
Curso de História da Faculdade de Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP). Durante o segundo ano de graduação, com bolsa fornecida pelo CNPQ, realizei
pesquisa de Iniciação Cientifica, sob a orientação da ProfªDrª Vera Lúcia Vieira. Nessa pesquisa
tive a oportunidade de analisar a concepção de trabalhador de Luiz Carlos Prestes durante a sua
ação frente ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Tal experiência me possibilitou compreender a
correlação de forças existentes entre as lideranças de uma instituição partidária e o papel do Estado
como agente regulador das relações que correspondem à condição da classe trabalhadora. Essa
vivência me estimulou a pesquisar, mais densamente, as relações entre “Política e História” e as
particularidades da formação do Estado numa sociedade como a brasileira.
Ainda durante o período de graduação exerci a função de monitor junto aos professores da
instituição, além da professora Vera Lúcia Vieira, os professores Antonio Rago Filho e Antonio
Pedro Tota, despertaram em mim a vontade de ampliar os meus conhecimentos sobre a teoria
marxista. Essa proximidade também me estimulou ao exercício da docência. Minha monografia
para a obtenção do título de bacharel em História, sob a orientação da ProfªDrª Heloísa Faria Cruz,
versou sobre a repercussão das ideias de contracultura no Brasil a partir do jornal “O Pasquim”. E
assim, com a conclusão dos créditos, a defesa da monografia e a experiência docente iniciada na
educação básica, conclui o curso de História no ano de 1998, consolidando o meu interesse pela
formação política, social e econômica do país.
Face ao trabalho desenvolvido durante a iniciação científica, assim como ao processo de
elaboração e defesa da monografia, fui motivado pelos professores a participar do processo seletivo
para o mestrado em História Social, no qual ingressei no ano de 2000. Centrei meus estudos na
análise da produção cultural do período de abertura do Regime Militar, mais especificamente à
ausência de teor político nas composições teatrais entre os anos de 1977-1982, em franca
contraposição ao momento histórico que antecedeu ao golpe militar de 1964.
No primeiro ano do mestrado obtive fomento do CNPQ, e, durante o curso, tive a
oportunidade de frequentar as disciplinadas ministradas pelo Professor José Paulo Netto no
Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Serviço Social da PUC/SP. Acompanhar o
curso “método em Marx” e as reuniões do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Aprofundamentos
Marxistas (NEAM), que contava com a professora Beatriz Abramides, foram decisivos para o meu
aprimoramento intelectual.
Em 2004 defendi o título de mestre com a dissertação: “Asdrúbal Trouxe o Trombone –
Leões que rugem mas nem tanto: a encenação de Trata-me Leão no período de abertura do Regime
3
Militar (1977-1982)”. A pesquisa manteve um viés acentuadamente político que me acompanhava
desde a graduação, na ocasião da defesa, fui incentivado por meu então orientador, o Prof. Dr.
Antonio Pedro Tota, a pesquisar a temática do engajamento político e a retomar os estudos a
respeito do pensamento social e político no Brasil. Desta feita, decidi então recuperar o legado do
intelectual carioca José Honório Rodrigues, estudioso da política praticada no país, na intenção de
compreender as suas concepções acerca do “pensamento social e político brasileiro”.
Com uma franca tendência para a área das Ciências Sociais, e no escopo de arejar a minha
formação, ingressei no ano de 2006 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de
Ciências e Letras da UNESP/Araraquara. Nesse novo espaço acadêmico, alinhei meu projeto de
pesquisa à vertente teórica do programa e, além da arguta orientação do Prof. Dr. José Antonio
Segatto, contei com o fundamental apoio das discussões empreendidas nas leituras do Grupo de
Trabalho sobre o Pensamento Social e Político no Brasil, coordenado à época pelo prof. Dr. Milton
Lahuerta.
Em suma, frequentar instituições de ensino como a PUC/SP e a UNESP/Araraquara, além de
possibilitar o acesso a congressos, seminários, colóquios em espaços acadêmicos renomados, me
possibilitou uma formação profundamente familiarizada com as abordagens clássicas das Ciências
Sociais, quais sejam: positivismo, funcionalismo, estruturalismo, sociologia compreensiva e o
materialismo histórico dialético, bem como me inseriram nos debates em torno da chamada “crise
dos paradigmas” e “pós-modernidade”. Durante a graduação e pós-graduação, estudei autores
clássicos da literatura internacional como: Thomas Hobbes, John Locke, J.J. Rousseau, Edmund
Burke, Alexis de Tocqueville, Karl Marx, Emile Durkheim, Max Weber, autores da Escola de
Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Benjamim e Marcuse), Levi Strauss, Gramsci, Lukacs, entre
outros.
Autores com colaboração no século XX no campo das Ciências Sociais, como: N. Polantzas,
ClaussOffe, Alan Touraine, Boaventura de Souza Santos, Norberto Bobbio, Hannah Arendt e
Francis Fukuyama. Para discutir questões referentes ao contexto brasileiro os clássicos foram
fundamentais, entre os quais: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior,
Raymundo Faoro, Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Mauricio Tragtemberg, Francisco de
Oliveira, Luiz Werneck Vianna, entre outros.
A partir do primeiro ano do doutoramento, iniciei-me como docente no Ensino Superior.
Ingressei, em 2006, na Faculdade de Mauá (FAMA), atuando junto ao curso de Pedagogia e Serviço
Social. Nessa faculdade colaborei com a elaboração da proposta pedagógica institucional e
especialmente com o projeto político-pedagógico do curso. Nesta instituição, atuei como professor
de Sociologia (Introdução), Teoria Política e Formação Sócio Histórica e Política Brasileira. Em
2008, ingressei nas Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos,
4
junto ao curso de História, local em que ministrei aulas de Teoria da História e História Moderna,
além de orientar trabalhos de conclusão de curso (TCC). A partir do primeiro semestre de 2010,
lecionei nos cursos de Ciências Sociais e Serviço Social das Faculdades Metropolitanas Unidas
(FMU), sendo coordenador de dois grupos de pesquisa: “Questão Social na América Latina” e
“Relações Políticas e Econômicas entre Brasil e Moçambique”.
De 2014, até meu desligamento da instituição, em dezembro de 2015, fui coordenador do
Curso de Ciências Sociais. O trabalho realizado nestes últimos anos na FMU, bem como a
coordenação destes dois grupos de pesquisa, direcionaram cada vez mais o meu foco de interesse na
área de ensino e pesquisa para as relações político-sociais entre o Brasil e os países da América
Latina, e, mais recentemente, com as economias emergentes dos países africanos. Acredito que o
estreitamento dessas relações deva ser analisado à luz dos estudos pós-coloniais, e oferecem
importantes subsídios para a compreensão das particularidades dessas regiões, principalmente no
que diz respeito ao cenário sócio-político e econômico.
Finalmente, em 2018 tomei posse como professor Adjunto na Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB/Campus dos Malês), junto ao Instituto de
Humanidades e Letras. Como professor de uma instituição pública federal, tive a oportunidade de
ampliar minha formação com a pesquisa, e, nesse sentido, o grupo de estudos "História econômica:
desenvolvimento e integração dos países de língua oficial portuguesa (PALOP)", vem
desenvolvendo pesquisas que abrangem o campo da economia, história, desenvolvimento social,
integração econômica e política entre outros. No âmbito do curso de Serviço Social da UNIFESP-
BS, acredito que esse projeto possa ser ampliado e potencializado, considerando-se a realidade do
entorno da universidade e as características específicas de seu Projeto Político Pedagógico.

Você também pode gostar