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8º RUEPSY
4º RED INFEIES
3º PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO DE MINAS
18 a 20 de novembro de 2019
Ouro Preto - MG
Centro de Convenções de Ouro Preto
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Organização:
REALIZAÇÃO
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ORGANIZAÇÃO DO EVENTO
COMISSÃO ORGANIZADORA
COMISSÃO CIENTÍFICA
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Prof. Dra. Simone Bicas - UFRGS
Profa. Dra. Roselene Gurski – UFRGS
Profa. Dra. Sandra Francesca de Almeida – UnB
Profa. Dra. Sébastien Ponnou – Univ. Rouen, França
Prof. Dr. Segundo Moyano – UOC, Espanha
Profa. Dra. Simone Moschen – UFRGS
Profa. Dra. Thais Sarmanho Paulo – UniCEUB
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CENTRO DE CONVENÇÕES DE OURO PRETO – 18 A 20/11/2019
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PROGRAMAÇÃO
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Por que a psicanálise na universidade e na Teatro Ouro Preto
educação hoje? O laboratório que teremos depois
Espaço 6
de 21 anos.
Convidados(as): Rinaldo Voltolini, USP; Mônica Rahme, 1º andar
UFMG; Marcelo Ricardo, UFMG
Coordenação: Maralice Neves, UFMG
Autor(a): Adriana Doyle Portugal - CEFET/RJ - Centro Fed. de Ed. Tec. Celso Suckow da Fonseca
Título: Contribuições da Psicanálise para o Materialismo Histórico: o Sujeito, a ôntica humana e a
vida na polis.
Autor(a): André Luís de Souza Lima – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Título: Educação especial, método psicanalítico e o paradigma indiciário
Autor(a): Marcelo Fonseca Gomes de Souza - UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Título: Objetividade e objetalidade: encontros e desencontros entre a psicanálise e a ciência
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Autor(a): Márcio Rimet Nobre – UFMG – Universidade federal de Minas Gerais
Título: Entre algoritmos e matemas: o sujeito, do desejo ao gozo
Autor(a): Maria Ludmila Antunes de Oliveira Mourão – USP – Universidade de São Paulo
Título: Em defesa de uma certa autoridade
Autor(a): Maria Nogueira Scarambone Zaú – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Pontos de encontro entre a psicanálise e a ciência: por uma transmissão rigorosa e
democrática
Autor(a): Alana Araujo Corrêa Simões – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo
Título: Tempo e Subjetividade: Pistas para a construção de uma clínica no contemporâneo
Autor(a): Ana Carolina Bicca Bragança – UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
Título: Cidade e Subjetividade: a criação de um dispositivo de escuta na rua
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Autor(a): Jaime Carlos Vidarte Gaspary – UFRS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Título: Curso de vida e trajetória delinquencial: Diálogos possíveis (e impossíveis) no encontro da
psicanálise com diferentes disciplinas em uma pesquisa
Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Federal de Minas Gerais
Título: De sem a cem palavras entre o dizer o o dito
Autor(a): Larissa Costa Beber Scherer – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: A patologização do mal-estar na escola
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Autor(a): Lígia de Almeida Hernandes – UNIB – Universidade Ibirapuera
Título: Morte, luto e testemunho - Let me try again
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Autor(a): Milânia Dos Santos Gomez – UVA – Universidade Veiga de Almeida
Título: Burnout: precisamos falar sobre o estresse ocupacional do professor!
Autor(a): Vanderlice dos Santos Andrade Sól – UFOP – Univ. Federal Ouro Preto
Título: Angústia no discurso docente: problematizando a relação sujeito-língua estrangeira-
identidade
Autor(a): Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda – UFES – Univ. Fed. Espirito Santo
Título: A supervisão clínica como aposta de transmissão da psicanálise na Universidade
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Fórum 7 - Psicanálise, infância e adolescência – sala 3
Autor(a): Adriana Silva Campos Cardoso – UFF – Universidade Federal Fluminense
Título: Escola e tendência antissocial pelo prisma da psicanálise winnicottianna
Autor(a): Dayanna Pereira dos Santos - IFG – Inst. Fed. de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Título: Infância, Autismos e estruturação psíquica: uma leitura psicanalítica
Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: O diagnóstico de autismo: a clínica ampliada e a psicanálise
Autor(a): Marlene Maria Machado da Silva – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: "Eu não sei!" É preciso falar do não saber na alfabetização.
Autor(a): Monica Garrafiel de Carvalho – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Título: O problema é quando falta gás! Reflexões sobre a interludicidade na escola infantil
Autor(a): Yara Porto de Paula Lima – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Rodas de conversa: sofrimento psíquico na universidade
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Título: Adolescência e a prática da automutilação: pesquisa em escolas públicas do Distrito Federal
Autor(a): Isabela Alessandra Silva Tomaz – UEMG – Universidade do Estado de Minas gerais
Título: Rasuras corporais: Adolescência e automutilação em psicanálise
Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: Algumas reflexões sobre a articulação da psicanálise com a adolescência, a educação e as
instituições de ensino.
Autor(a): Stéphanie Strzykalski e Silva – UFRGS – Univ. Fed. Do Rio Grande do Sul
Título: Viver pouco como um rei ou muito como um zé?: a violência como um modo de “fazer nome”
Autor(a): Aline Martins Disconsi - IFRS – Inst. Fed. de Ed., Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
Título: Entre o sonho e o despertar, por uma poética da escuta no cotidiano da política de assistência
estudantil
Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Grupo de Pais: um trabalho de escuta orientado pela psicanálise
Autor(a): Ariadne Messalina Batista Meira – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: Escutar os autistas: o que suas autobiografias dizem sobre inclusão na educação?
Autor(a): Eric Ferdinando Kanai Passone – UNICID – Universidade da Cidade de São Paulo
Título: A invisibilidade dos alunos de inclusão: paradoxos de uma política pública de educação
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Autor(a): Frizete de Oliveira - UNB
Título: Sujeito-criança na educação infantil: desafios à formação e atuação docente
Autor(a): Mariana María de Luján Scrinzi – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: El estatuto del lazo social en el autismo. la problemática de la inclusión escolar.
Autor(a): Telma Maria Duarte Rodrigues – UMESP – Universidade Metodista de São Paulo
Título: Homeschooling e Autismo: a família e o fracasso escolar - uma revisão sistemática
Autor(a): Rafaela Amaral Cunha do Nascimento – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Psicose, segregação e educação: impasses e possibilidades frente ao laço social
Autor(a): Diego Andres Barrios Díaz - Associação Pró Educação Vivendo e Aprendendo
Título: Inclusão, infância e política: uma perspectiva psicanalítica para a coordenação pedagógica
Autor(a): Juliana Viveiros Barbosa Konig dos Santos – UNEB – Universidade do Estado da Bahia
Título: Entre lugar do acompanhamento terapêutico escolar: efeitos da linguagem e giros discursivos
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Autor(a): Maria da Conceição Aparecida Andrade – UFOP – Univ. Federal de Ouro Preto
Título: Educação Inclusiva e alfabetização: um olhar sobre a prática docente nos anos iniciais do
ensino fundamental (1º ao 3º ano)
Autor(a): Yudi Esmeralda Pardo Murcia – FaE/UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: Caminos en construcción por una educación inclusiva
OFICINA 1 – Auditório 8
"Construindo Redes Internacionais" - Caroline Le Roy e Patrick Geffard (França)
Colocar em trabalho, no seio de redes internacionais, questões educacionais aclaradas pela
psicanálise, no sentido de identificar as maneiras pelas quais essas questões são formuladas
nos vários contextos culturais, institucionais, semânticos e conceituais. Mesmo que sejam
construídas em dimensões transversais, essas questões não são necessariamente designadas
pelos mesmos significantes. Falamos nós sempre a mesma coisa? Como os encontros
internacionais e o registro de alteridade que eles portam ajudam a requalificar os fenômenos
estudados para produzir apreensões singulares e/ou comuns? Alguns aspectos deste debate
serão introduzidos a partir de nossas experiências atuais – Parceria Europeia e criação de
uma rede de 'Educação e Psicanálise' específica – que desejamos dialogar com as
proposições deste Colóquio. A oficina faz parte de uma lógica de fortalecimento dos vínculos
América Latina-Europa e, de maneira mais ampla, do questionamento da presença da
psicanálise no campo da educação e formação.
OFICINA 2 – Auditório 9
"A Psicanálise e a teoria social face à segregação: práticas em espaços escolares e não escolares" -
Pedro Teixeira Castilho
A proposta da oficina será apresentarmos, a partir do pensamento freudiano, os impasses e
avanços em torno do debate envolvendo Sujeito, Política e Cultura. Procuraremos seguir um
itinerário que discuta os elementos críticos e fundantes dos textos sociais e políticos de
Freud. Pretendemos pensar como a Psicanálise constitui o campo transdisciplinar da teoria
social contemporânea influenciada pela Psicanálise. A articulação da Psicanálise, da teoria
política e da social contemporâneas se faz necessária, pois pretendemos investigar os novos
campos de reflexão diante dos impasses da segregação social. Pretendemos compreender as
formas contemporâneas da segregação produzidas pelo afeto do ódio diante da violência às
minorias, extermínio de grupos sociais e racismos. E, ao mesmo tempo, formas de
resistências: movimentos sociais, coletivos, testemunhos e direitos humanos. Pretendemos,
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também, apresentar práticas de resistências diante do discurso da segregação que levam em
consideração a arte, a política e a educação em espaços escolares e não escolares a partir do
sociodrama e das conversações.
OFICINA 3 – sala 1
"Subjetividades e racismo" - Adelina Malvina Barbosa Nunes e Thalita Rodrigues
A proposta da oficina é promover reflexões acerca da compreensão dos sinais do racismo na
constituição dos sujeitos que vivem em uma sociedade racializada. Partimos da premissa que
a branquitude é uma identidade de um grupo, historicamente situada, que compartilham
aspectos culturais, valores comuns, mas também é um lugar simbólico de poder, tornando
sua “invisibilidade” um mecanismo eficiente de manutenção de posições fixas dos sujeitos na
dialética “Eu e Outro”.
OFICINA 7 – sala 3
Quem conta uma história expressa uma vitória: os alunos em situação de Inclusão escolar e a
construção do conhecimento por meio da literatura - Martha Goyatá e Rita de Cássia
A proposta dessa oficina é de socializar prática de intervenção pedagógica no contexto da
Sala de Recursos, e de refletir sobre os fenômenos educativos a partir do uso do desenho e
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da história, tendo como base a literatura infantil. No primeiro momento compartilhar com os
participantes os desenhos e a coletânea de textos construídos na escola, e no segundo
momento, convida-los a repetir essa experiência, a partir de material didático disponível. Os
impasses de aprendizagem, e os deslocamentos subjetivos observados nas crianças e
adolescentes durante as atividades, permitiram uma mediação docente capaz de reconhecer
a voz do sujeito, que, de acordo com os princípios da Psicanálise, é capaz de fazer algo com
sua própria narrativa. Os registros dos alunos exteriorizaram elementos cognitivos e afetivos
em uma linguagem singular, culminando na proposta da escrita de um livro com tema
escolhido pelo grupo. Consideramos vitoriosa essa produção como um saber novo, saber
esse demonstrado pelo grupo na implicação em seu processo de escolarização. Para a
inclusão dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais propõe-se um novo olhar do
professor, que não se detenha apenas nos parâmetros legais e curriculares, mas que possa se
orientar na perspectiva da noção de subjetividade na escola atual.
OFICINA 8 – sala 4
"Oficina ‘Encontro com o desconhecido’" - Maria Eugênia Nabuco e Mônica Rahme
A oficina visa o gesto experimental na invenção de pequenos livros elaborados a partir do
encontro com o desconhecido nas ruas de Ouro Preto. Entrevistas, fotos, desenhos, objetos
colhidos nas ruas irão compor a narrativa. Uma conversação será realizada para pensarmos
as supostas afinidades entre a educação, a psicanálise e a arte na construção de oficinas e
práticas institucionais. Tanto a educação como a psicanálise, tema do Lepsi 2019, são
encontros com o desconhecido e a oficina introduz a arte como uma possível mediação desse
encontro. A arte nos leva ao novo, ao rompimento do estabelecido, ao estilhaçamento das
fronteiras, a recriação do habitual. Caminhos tão necessários a educação e a existência da
psicanálise.
OFICINA 10 – sala 5
"O fenômeno da repetição ligada à pulsão de morte em situações de evasão escolar. Estudos de
caso" - Jean-Marie Weber (Luxemburgo)
O fenômeno da repetição aparece sistematicamente entre os alunos evadidos que
participam de uma pesquisa sobre evasão escolar (Universidade de Luxemburgo). A maioria
dos jovens pesquisados, cujo desejo de saber e a relação com a escola estão fortemente em
pane, manifesta dificuldades em subjetivar seus percursos de formação, fechado em uma
monotonia quase mórbida e tomado de repetição de comportamentos, atos e fracassos.
Qual é o motor psíquico dessa repetição que leva esses alunos a recomeçar o mesmo
caminho ano após ano? Como eles estão indo em alguns casos? Graças a uma abordagem
psicanalítica, analisamos as entrevistas biográficas recolhidas. São três entrevistas do tipo
narrativa de uma dezena de jovens que viveram alguma evasão escolar. Descobrimos que,
após várias repetições de fracasso, experiências de vida insatisfatórias, alguns viveram um
evento traumático que marcou uma torção. Assim, simbolizavam esse real traumático por
sua inscrição na cadeia significante, subjetivando-o. Isso parece ter sido possível graças aos
seus fracassos repetitivos que os levaram a assumir uma posição ativa em vez de
simplesmente serem passivamente submetidos ao traumatismo. Por meio desta Oficina,
queremos mostrar que a pulsão de morte pode ser um conceito heurístico que permite
melhor compreender e fazer com a evasão escolar como repetição de um fracasso.
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Acreditamos que o conceito de pulsão de morte permite significar uma reação destrutiva,
mas visando muitas vezes a cura de algo que está inscrito no corpo e que se descobre através
da repetição de experiências de vida, de sintomas que fazem o sujeito sofrer, como "a
vontade de outra coisa" que "põe em questão tudo o que existe", mas que pode acabar se
descobrindo também como "vontade de criação a partir do nada" (Lacan, 1986, p. 251). Esse
conceito nos permitiu pensar na evasão escolar como uma possível solução última do sujeito
para que ele encontre seu modo de vida. Por fim, o conceito de pulsão de morte traz outra
luz e uma lembrança essencial de que a busca do ser humano pelo prazer é enigmática, e por
vezes paradoxal. A questão que se coloca é como a escola pode acompanhar os jovens na
ruptura desse "círculo vicioso", e refazer o laço e o desenlace com a escola? Quais são as
experiências que detectamos através de nossas entrevistas com alunos e professores? E o
que podemos dizer do ponto de vista psicanalítico?
OFICINA 11 – sala 6
"Psicanalise, instituição, educação e inclusão" - Cristina Abranches
A oficina pretende abordar o tema do atendimento de pessoas com deficiência intelectual e
autismo em uma instituição, desenvolvido por uma equipe composta por diferentes
formações e pautada nas premissas da psicanálise. Contempla a articulação da psicanálise e
o atendimento educacional especializado (AEE) e os preceitos da inclusão escolar e social. A
experiência do CAIS, Centro de Atendimento e Inclusão Social, sua metodologia, produções
dos atendidos e casos clínicos servem como pano de fundo para a oficina.
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RESUMO DOS TRABALHOS POR AUTOR
Autor(a): Adriana Doyle Portugal - CEFET/RJ - Centro Fed. de Ed. Tec. Celso Suckow da Fonseca
Contato: adrianaportugal.cefet@gmail.com
Título: Contribuições da Psicanálise para o Materialismo Histórico: o Sujeito, a ôntica humana e a
vida na polis.
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Este trabalho tem como objetivo central apresentar algumas contribuições da Psicanálise
para a compreensão do Sujeito no interior do Materialismo Histórico e, portanto, para a assim
chamada Ciência da História. Considerando o legado teórico-histórico do Materialismo Histórico na
construção de uma ôntica humana, cujo fundamento encontra-se na categoria de trabalho, o
presente texto vem afirmar a importância da Psicanálise para a ampliação da compreensão teórica
desta ôntica e, como consequência, da dinâmica desta relação na materialidade histórica. Dentro do
Materialismo Histórico, a categoria fundante do Homem é o trabalho: o que desde o início distingue
o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que primeiro tem a colmeia em sua mente antes de
construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado que já estava
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presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um resultado que já
existia idealmente (MARX, 2013, p. 255-256). O Sujeito, aqui, é opus: produz, pela potência humana
criativa e pela transformação da Natureza, o que projeta. A centralidade está nas funções racionais
desta atividade ontológica e universal. Quando a Psicanálise surge no interior do marxismo,
especialmente com as contribuições de “Freud e Lacan” (1964) e “Marx e Freud” (1976) de Louis
Althusser, afirmando-se como ciência particular, cujo objeto é o Inconsciente, iniciava-se um novo
programa científico de unidade destas duas ciências, unidade a partir da qual podemos pensar um
novo Sujeito. A Psicanálise apresenta ao Marxismo este novo Sujeito, o sujeito do Inconsciente. É,
portanto, a partir deste território teórico que este trabalho se situa: na busca de uma retomada da
construção de uma ôntica humana determinada pela relação entre a dinâmica psíquica e a
materialidade histórica. Significa, em primeiro lugar, afirmar a racionalidade humana como função
dentro da dinâmica contraditória entre Ego, Superego e Inconsciente, ou seja, a racionalidade se
organiza como função deste sujeito do Inconsciente, fundando uma nova ôntica, a ôntica do desejo.
O sujeito que projeta a partir das funções racionais é uma instância de um Outro, desejante-
desejado, no interior da dialética psíquica. Quais são as contribuições da formulação deste novo
Sujeito para o Materialismo Histórico? Em primeiro lugar, nos diz sobre a relação de
sobredeterminação que as escolhas humanas mantêm com a dinâmica psíquica, ou seja, as escolhas
do sujeito não são organizadas pela racionalidade humana, mas por sua relação na dinâmica Ego-
Superego-Inconsciente. Em segundo lugar, significa afirmar que as escolhas humanas são
sobredeterminadas, em última instância, pelo Inconsciente, com o qual a consciência mantém uma
relação dialética, ou seja, as relações imaginárias que os sujeitos mantêm entre si não se explicam
pela ideologia, mas, sobretudo, pela relação psíquica que esta dinâmica mantém com a ideologia.
Neste sentido, a organização da polis – espaço onde se reúnem os cidadãos, direta ou indiretamente,
para organizar os assuntos públicos – constitui-se, também, como uma expressão desta relação
dialética, âmbito conflitante e contraditório no qual esta ôntica se organiza materialmente,
escolhendo, decidindo e dialogando sobre seus assuntos comuns e de interesse público.
Considerando a dimensão psicanalítica da polis, a Psicanálise nos indica pistas valiosas a respeito da
natureza psíquica das escolhas políticas. Assim, a hipótese central que orienta este trabalho é a de
que a Psicanálise, ao trazer uma nova ôntica humana através do sujeito do Inconsciente, nos indica a
necessidade de ampliar a compreensão do Sujeito no interior do Materialismo Histórico, construindo
um território científico que contribui para o conhecimento da dinâmica social e política para além de
seu aspecto racional, no sentido de uma Psicanálise da polis, a partir da qual podemos conhecer mais
ampla e profundamente a dinâmica das relações sociais e políticas humanas.
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ausência de espaços de escuta nas escolas, o processo de idealização dos alunos, a separação entre o
“eu profissional” e o “eu pessoal”, as imensas diferenças entre os alunos presentes nas escolas,
dentre outros fatores. Chama-se a atenção para o sentido mercantilista que a educação tem tomado
na contemporaneidade, ressaltando-se o mal-estar presente nas unidades escolares. Destaca-se que
essa sensação de desprazer tende a aumentar, já que há um imenso fosso entre os desejos,
necessidades e interesses dos alunos e aquilo que é exigido e oferecido pelas escolas. Dejours (2004)
ajuda a compreender que o sofrimento se revela como um ponto de partida na relação de trabalho
(entre o real e o prescrito) e é, justamente, nesta relação que está a dimensão subjetiva. Na
perspectiva da psicanálise, esse processo se dá a partir das pulsões e seus destinos, que também são
estudados neste artigo. Considerando as relações entre sofrimento, angústia, pulsões e seus
destinos, retoma-se a discussão acerca dos laços entre trabalho e subjetividade, situando-os na
contemporaneidade e na lógica capitalista, marcadas pelo questionamento acerca do lugar que é
dado por cada trabalhador/professor à vida no exercício do trabalho. Facas (2013) ajuda a
compreender a lógica que impera nos dias atuais a qual trabalha em prol do sacrifício da
subjetividade em detrimento da produtividade, da competitividade e da rentabilidade. Considera-se,
ainda, relevante entender a relação entre o mal-estar e o desejo do professor de trabalhar, o prazer
que o seu ofício lhe propicia, bem como as situações em que lhe falta motivação para o exercício da
sua função. Retoma-se que a noção de desejo está situada, de acordo com a psicanálise, entre a
necessidade (fisiológica) e a demanda (de amor). Aborda-se, ainda, a questão da escolha profissional
como ponto de diferenciação entre aquele que se entrega ao sofrimento, como algo negativo e
mórbido, levando por vezes à desistência profissional; e aquele que se propõe a conviver com as
fragilidades e limitações da realidade. Finalmente, destaca-se o pensamento de Mrech (2003) para
afirmar que a educação sempre esteve voltada para situações idealizadas, fantasiosas, nas quais a
presença humana foi severamente ignorada. Aponta-se, então, para uma possibilidade de se (re)
significar o ato educativo, no sentido de perceber os diversos processos que envolvem o educativo,
incluindo os relativos à sexualidade, apregoada por Freud (1905) e recorre-se a Lajonquière (1999)
que destaca para a necessidade de o educador renunciar a esse ideal de completude narcísica
imaginária e também à ilusão de que é possível gestar, por obra dos ideais e normas educativas, pelo
menos um adulto do futuro a quem nada falta (p.40); ou seja, ao ideal de completude que paira nos
ambientes escolares.
Autor(a): Alana Araujo Corrêa Simões – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo
Contato: alanaacsimoes@gmail.com
Título: Tempo e Subjetividade: Pistas para a construção de uma clínica no contemporâneo
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: O presente trabalho pretende explorar a relação entre tempo e subjetividade na
psicanálise freudiana em primeiro plano. Acreditando de antemão na produção de tempo enquanto
uma ficção que construímos principalmente, em trabalho analítico. Desse modo, entendemos o
tempo enquanto constitutivo e modulador das formações subjetivas. Constitutivo porque é condição
para a emergência do sujeito do inconsciente, e modulador porque é na subjetividade que ocorre o
relançamento de novas formas de temporalidade pelo outro (BIRMAN, 2000). Embora Freud nunca
tenha se comprometido a definir o conceito de tempo, tal conceito e sua relação essencial com a
formação do aparelho psíquico, a subjetividade e o funcionamento inconsciente, aparecem
esparsamente ao longo de sua obra. Em “Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos”
(FREUD, 1893), Freud afirma que a reminiscência é a fonte do sofrimento histérico, e alguns anos
depois, na carta 52 a Fliess (1896), propõe o inconsciente como uma máquina de memória, uma
memória que não se faz presente de uma vez, mas desdobra-se em vários tempos, registrada de
diversas formas, num processo de estratificação. Também a esse inconsciente, sistematizado em “A
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interpretação dos sonhos” (FREUD, 1900), cabe operar a espera de satisfação constituinte do sujeito.
É no artigo metapsicológico “O Inconsciente” (1915) que o estatuto da intemporalidade do
inconsciente emerge diretamente como problemática. Freud afirma que os processos desse sistema
não perecem, não são modificados pelo tempo e não podem ser ordenados cronologicamente.
Coloca-se uma diferenciação entre o tempo do inconsciente e o tempo da consciência. É no texto
“Nota sobre o bloco mágico” (1925) que encontramos outra perspectiva sobre o aparelho psíquico,
em que Freud atribui a descontinuidade do funcionamento perceptivo ao envio e à retirada de
impulsos do inconsciente. Freud entendendo o inconsciente como um sistema com o funcionamento
cerrado coloca a existência de um único tempo psíquico, o Nachträglich, utilizando-o para sugerir o
regime próprio de causalidade e temporalidade do inconsciente. Para Freud é o acontecimento
posterior que desencadeia a produção do sintoma, enquanto a cena traumática não produz efeito
sobre o sujeito. Logo, o acontecimento passado não está em jogo sozinho, mas a conexão entre duas
representações. Se na dimensão consciente o tempo é cronológico, a própria dimensão inconsciente
é produzida pelo tempo. Nessa temporalidade lógica singular, o sentido do passado é dado a partir
do presente. O passado é registrado, passa, mas subsiste enquanto presente, de modo que não
permita uma diferenciação cronológica, apenas os reconhecemos como desiguais. Apesar de possuir
uma lógica própria, as representações inconscientes não estão dadas a priori, o mote dessas
representações está relacionado ao esquema pulsional que inscreve “[...] um vazio em torno do qual
as diversas representações se articulam” (PIMENTA, 2014). É a partir da clínica que Freud percebe
que a enunciação das interpretações e das ligações representacionais não interrompiam uma
repetição geradora de sofrimento. Assim, Freud se depara que as temporalidades do inconsciente,
distante de uma determinação ontológica e de um suposto equilíbrio, mas múltiplas. Notamos que as
formulações freudianas sobre o tempo e a subjetividade nos conduzem a uma prática clínica longe
de uma linha investigativa cronológica, registrado como memória de maneira estática e fiel, para um
tempo descontínuo e não reconciliado. Assim, nos afastamos de uma perspectiva em que o
desenvolvimento subjetivo é dividido em fases, e a interrupção de seu tempo contínuo e
permanente configure atraso ou algum transtorno, para considerar um processo de subjetivação em
que o passado coabita no presente. Com isso, podemos pensar a clínica como uma prática que lida
com temporalidades, sendo que estranhar e promover novos regimes de tempo emerge como uma
pista importante para essa prática no contemporâneo.
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com que aquilo que é proposto pelo DSM atravesse a clínica psicanalítica de uma forma ou outra. A
partir dessa pesquisa, foi possível constatar que, entre o DSM-IV-TR e o DSM-5, há uma mudança no
modelo de avaliação clínica: do modelo axial passa-se para o modelo dimensional, o que torna
possível incluir muito mais pessoas, com características clínicas bastante distintas, dentro de uma
mesma categoria diagnóstica. As mudanças no manual mostram não ser apenas do último número
romano (fato que consideramos simbólico), mas de toda uma lógica discursiva que, até então, tinha
como finalidade apenas uma categorização dos transtornos mentais. Essa nova proposta facilitaria,
inclusive, o estabelecimento do diagnóstico por não médicos, como os profissionais da escola, por
exemplo. De acordo com um dos formuladores do DSM-IV-TR, há uma clara associação entre a APA
(American Psychiatric Association), responsável pela elaboração dos DSMs, e, ao que parece, a última
versão do manual tem o objetivo de servir a uma grande indústria neoliberal que se beneficiaria com
uma epidemia diagnóstica que provocaria, por fim, uma epidemia psicofarmacológica. O TEA surge
como mais um reflexo de uma sociedade que adoece para vender a cura e, assim, obter lucro; uma
sociedade que transforma o sujeito em objeto de uma ciência que propõe esgotar, a partir de uma
etiologia neuroquímica, todo o saber sobre autistas e, até mesmo, “neurotípicos”. Os maiores
afetados passam a ser aqueles marcados, desde a infância, com essa “medicalização da existência.
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partir da perda de um objeto. Sendo possível que este sujeito não administre bem este objeto
perdido, o tenha como prejuízo, e se ressinta diante de um quadro de inércia sobre o qual está
imerso, retirando a condição narcísica do sujeito-professor e o elevando para uma condição de mal-
estar, sob o hipotético contexto de ressentimento.
Autor(a): Aline Martins Disconsi - IFRS – Inst. Fed. de Ed., Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
Coautor(a): Roselene Ricachenevsky Gurski
Contato: amdisconsi@yahoo.com.br, roselenegurski@terra.com.br
Título: Entre o sonho e o despertar, por uma poética da escuta no cotidiano da política de assistência
estudantil
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este estudo trata da experiência de escuta de uma psicóloga em uma instituição de
educação profissional e tecnológica no município de Porto Alegre. Amparada por uma escrita
testemunhal, problematiza a dimensão paradoxal que cerceia as propostas educacionais inclusivas –
a inclusão comporta em si a exclusão. Plaisance (2010) alerta sobre os riscos do emprego irrestrito,
sem referências à história das ideias, do vocábulo inclusão. Isso porque a inclusão pode comportar
variadas acepções sobre o dispositivo de incluir, dentre elas a de manter enclausurados os que se
encontram no interior das estruturas materiais e simbólicas dos ambientes educacionais. Assim, para
o sociólogo francês, faz-se necessária uma permanente análise crítica sobre o conceito de inclusão
em sua intrínseca relação com o seu par conceitual de oposição, nomeado como exclusão. Em outros
termos, para o autor é fundamental esclarecer os sentidos das palavras para então esclarecer os
sentidos das suas ações. Em face desta premissa, revisita-se a construção da política de assistência
estudantil, desviando das certezas que fundamentam os dados quantitativos e/ou técnico-
burocráticos da história e, em outra direção, percorre os rastros, inscritos nas cenas-memória, dos
escritos do inconsciente, através da análise de um sonho. Isto porque, no cotidiano da assistência
estudantil, preponderam imagens de editais, regulamentos, processos, planilhas, números e
documentos. Imagens secas que impedem o desabrochar de desassossegos criativos, de criações
utópicas, instaurando um território do mesmo, de reiteração de circuitos repetitivos, da manutenção
da ordem e da forma estabelecida (Sousa, 2008). Ali, parece não haver espaço para uma poética da
escuta. É como se as políticas sociais, como é o caso da assistência estudantil, fossem instauradas no
território da educação para viabilizar condições mínimas anteriormente recusadas aos sujeitos
excluídos. Entretanto, a ausência de aparato do Estado não cessa de se inscrever; não apenas,
importante assinalarmos, do lado de fora, mas dentro da instituição de ensino. Não por acaso nos
deparamos com uma política educacional inclusiva que parece reproduzir justamente a exclusão que
tenta combater. Deste modo, no desenrolar da discussão, o estudo propõe a escuta das significações
que acompanham a narrativa do sonho produzido pela psicóloga-pesquisadora como paradigma
metodológico da pesquisa. Para tanto, sustenta o entendimento de que o mundo onírico extrapola a
vivência individual e traz elementos da experiência coletiva. Um pouco mais de um século atrás,
Freud ([1912] 2010) já havia alertado para o fato de que, no campo da psicanálise, é justamente a
posição frente ao enigma que conduz o processo de investigação. Sucedido por imagens, Freud
identifica o sonho como rébus – uma escrita em imagens. Imagens essas que não podem ser lidas por
seu valor exclusivo de imagem, mas por meio da longa cadeia de associações que elas suscitam.
Somente o sonhador pode vir a revelá-las. De maneira análoga, Benjamim recorreu à potência do
sonho como testemunho histórico-político. Ou seja, ainda que as imagens oníricas sejam produções
singulares, elas não estão apartadas da realidade em que o sonhador está inserido. Vivido no exílio
da própria consciência, ele é uma experiência intervalar entre o público e o privado, entre o subjetivo
e o coletivo (Dunker, 2017). Nesse sentido, a partir dos desdobramentos oníricos, como dispositivo
de pesquisa-intervenção, o estudo aponta para a necessidade de uma escuta testemunhal no
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cotidiano educacional a fim de que um processo inclusivo desejante esteja presente. Sem ela, sem o
engajamento subjetivo de todos os envolvidos, a educação inclusiva não deixa de ser tão somente
"uma resposta burocrática das instituições às exigências igualmente burocráticas do sistema
gestionário" (Voltolini, 2019, p. 12).
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parte dos docentes quanto dos estudantes. Compreendemos, por fim, que a educação não pode
prescindir de seu papel de manutenção do pacto civilizatório e que tamponar a segregação diante
das diferenças é uma forma de esgarçar, mais ainda, o tecido social.
Autor(a): Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda – UFES – Univ. Fed. Espirito Santo
Contato: anamiranda.psi@gmail.com
Título: A supervisão clínica como aposta de transmissão da psicanálise na Universidade
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A questão do ensino da psicanálise nas Universidades surge com Freud em 1919 e segue
viva, após exatos cem anos. A profusão de produções acadêmicas em psicanálise, no ensino,
pesquisa e extensão, na graduação e pós-graduação, bem como estudos psicanalíticos externos à
academia sobre o tema indica sua importância tanto para a psicanálise quanto para a Universidade.
Pensar a psicanálise nas Universidades é parte do trabalho de pensar sua incidência no mundo. Na
“Proposição de 09 de outubro de 1967”, Lacan enfatiza que a psicanálise “em intensão”, isto é, a
clínica da psicanálise, fornece as bases e as diretrizes éticas para seus desdobramentos na cultura.
Ele se refere aqui às Escolas de psicanálise. A relação da clínica com as Escolas é necessária e não
contingente, nas dimensões lógica e ética. A Escola produz uma borda simbólica em torno do real
inapreensível da clínica permitindo a transmissão. Depreende-se do enlaçamento moebiano entre
intensão e extensão que onde quer que a psicanálise se faça presente ela levará potencialmente o
real “na sola dos sapatos”. Assim, cremos poder estender a relação “intensão” e “extensão” a outras
formas da presença da psicanálise além da clínica e das Escolas, como é o caso das Universidades.
Com isso, queremos dizer que quando alguém atravessado por uma formação analítica fala de
psicanálise, há a possibilidade, e não a garantia, de uma transmissão. Isso pode se aplicar até mesmo
às disciplinas teóricas, mas nos referiremos, sobretudo, àquelas atividades acadêmicas nas quais a
clínica se faz presente. A clínica na Universidade é o elemento que consideramos fundamental para a
transmissão, pois o real aí surge. Entretanto, a mera confrontação com a experiência clínica não é,
em si mesma, formadora. A clínica pode levar o aluno, ao se deparar com os pontos cegos de sua
própria constituição subjetiva, a empreender a busca por uma análise e por uma formação, mas
também pode, por exemplo, afastá-lo dos espaços em que a clínica se faça presente, quando lhe é
dada essa opção. Freud (1919 [1918]) indica que a formação do analista pode prescindir totalmente
da Universidade, mas que a inclusão da psicanálise na Universidade permite que o estudante
aprenda algo sobre a psicanálise e algo a partir da psicanálise. Certamente, a Universidade não forma
analistas. Os parâmetros das formações universitária e analítica são totalmente distintos e mesmo
excludentes. Quando o sujeito parte de sua própria divisão, abandona a referência a um saber pré-
estabelecido, ou seja, abandona o conhecimento e pode vir a produzir um saber. É como funciona
uma análise. Assim, a psicanálise é avessa à universalização dos saberes, o que faz Freud afirmar que
a formação do psicanalista se dá, a princípio, na sua própria análise. É nela que ele terá acesso à
lógica do saber inconsciente, à singularidade do sujeito. Portanto, a psicanálise só pode se transmitir
na presença do analista. A clínica supervisionada, um dos dispositivos da formação, não é a análise,
nem na Universidade, nem fora dela, mas pode também ser um campo privilegiado de acesso ao
inconsciente, tanto para o supervisor quanto para o supervisionado. Uma das questões que se
apresentam é que, na relação acadêmica, não se está em posição de recolher os efeitos do real da
experiência clínica sobre o aluno como ocorreria em uma análise. Por outro lado, há uma indubitável
aproximação entre a supervisão na Universidade e na formação do analista. Em ambos os casos,
pode-se estar diante da emergência de um sujeito que, ao tomar a palavra para dizer de sua prática,
experimenta sua divisão. A Universidade pode, portanto, ser um caminho profícuo para que se
enseje a busca de formação, através do contato com a clínica. É o que temos testemunhado. Através
da proposta lacaniana dos quatro discursos e do estudo do dispositivo da supervisão, além do
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exercício dessa prática ao longo de vários anos, pretende-se refletir sobre seus entraves e
possibilidades.
Autor(a): Ana Carolina Bicca Bragança – UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
Coautor(a): Gabriela Oliveira Guerra, Vitória Rosa Cougo
Contato: ana-carolina.b@hotmail.com, gabrielaoliveiraguerra@gmail.com,
vitoriapsico13@yahoo.com.br
Título: Cidade e Subjetividade: a criação de um dispositivo de escuta na rua
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
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Resumo: Intencionando pensar nas práticas que atravessam a psicanálise dentro e fora da clínica
que concebemos como tradicional, pretendemos fazer a interface da psicanálise e suas
possibilidades na cidade, levando em consideração o diverso conjunto de trabalhos, áreas e saberes
que suscitam pensar psicanálise e o espaço público urbano, tal como se propõe o eixo cinco deste
evento. Com isto, iniciamos dando notícias de uma construção de um dispositivo clínico-político que
vem tomando forma na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Através da contínua aproximação
da psicanálise com a cultura e a pólis, é notório o crescimento da apropriação, pela psicanálise, dos
espaços que fazem circular a palavra, sejam eles onde e como forem, reconhece-se a importância de
um fazer que opera encontros potentes e criativos, que permitam o enlace e a convergência para
pensar o sujeito e a cidade. O grupo formou-se através do acompanhamento das atividades das
clínicas abertas em São Paulo e Porto Alegre, onde dialogando com as mesmas, viu-se a possibilidade
de formar grupos de estudos e encontros a céu aberto para discutir as vicissitudes de uma clínica de
psicanálise na rua em Santa Maria. Hoje, somos um grupo de cinco Psicólogos, concluindo uma
especialização em Clínica Psicanalítica e compartilhando momentos de troca, grupos de estudos e
supervisão clínica na praça. Trabalhamos como um grupo que é produtor de momentos, momentos
estes que foram nos dando forma e conteúdo para pensar a cidade, nossos instrumentos de
intervenção e convite para que as pessoas que ali passam possam falar, até chegar neste projeto de
estar com o corpo no centro da cidade, criando este dispositivo de escuta. Algo que nos inquieta é o
constante trabalho de pensar o psíquico da e na cidade, a dimensão psíquica do urbano, apostando
na proposta central que é aspirar questões da subjetividade no cenário urbano. Pois a clínica que
conhecemos, agora, opera a céu aberto e sem o pagamento, atributo tão caro para a psicanálise, que
nesta situação encontra-se justamente na quebra da privacidade - por vezes cômoda - que há entre
paredes. Dentre as reflexões e os aportes teóricos e práticos que tem nos guiado, encontramos em
trabalhos de Jorge Broide, Emília Estivalet Broide, Tales Ab’Saber e no livro “Psicanálise nas tramas
da cidade”, organizado por Bernardo Tanis e Magda Khouri, enlaces possíveis para nossa prática, que
teve como referências primeiras a Clínica Aberta Casa do Povo, Clínica Aberta Praça Roosevelt e
Psicanálise na Praça, que acontece na praça da Alfândega em Porto Alegre. É importante que
salientemos que nada há de inovador nesta prática, pois Freud (1918) já colocara que se a Psicanálise
é capaz de fornecer ajuda para quem sofre em sua luta para o atendimento das demandas
civilizatórias, este auxílio também deveria ser acessível a quem não pudesse remunerar um analista
por seu trabalho. Freud defendia a criação de centros psicanalíticos de atendimento público e
gratuito, o que nos leva a outro impasse relacionado para as Clínicas Abertas, que é o seu lugar, que
não pretende de modo algum ocupar espaço de política pública ou retirar quaisquer dever estatal
referente à Saúde Mental, apoiando os avanços que existiram, politicamente, num passado recente
de fortalecimento de políticas públicas. Reiterando que a Clínica Aberta, e Projetos como o
“Psicanálise na Rua”, são um dispositivo que pretende aproximar e apropriar a Psicanálise aos
espaços públicos e as vias de circulação das pessoas, podendo estarmos atentos aos movimentos
cotidianos e experenciando suas tramas intrínsecas, mas que regem a cultura de um lugar, dizendo
sobre ele e sobre os sujeitos. A Clínica de Rua é um encontro criativo com o outro, uma possibilidade
em uma selva de pedra, onde a psicanálise respira e adverte que está viva nos emaranhados da
cidade.
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Resumo: En el año 2017 me incorporé desde la materia Adolescencia y educación secundaria
(materia perteneciente al trayecto pedagógico de los profesorados universitarios de la UNGS), a una
investigación en curso, titulada “Variaciones del formato escolar y modalidades del vínculo
educativo: Invenciones destinadas a la inclusión educativa de jóvenes y adolescentes” a partir de lo
que es mi interés personal, a saber: los efectos que un determinado dispositivo (fundado en el
psicoanálisis en diálogo con otras disciplinas) opera sobre la posición subjetiva profesional de lxs
futurxs docentes. Al estar trabajando en una materia que presenta un dispositivo particular de
trabajo, me interesaba muy especialmente poder dar cuenta de los efectos que el mismo generaba
en lxs estudiantes/futurxs docentes, habida cuenta de que entiendo que entre estos efectos está la
posibilidad de muñirse de una concepción particular de sujeto (la que aporta el psicoanálisis) que
necesariamente tendrá consecuencias en los modos en que se posicionarán en la práctica, por lo que
a través de ella se puede aportar a la inclusión educativa, además de dar una posible respuesta a la
preocupación de los docentes por “no haber sido preparados para eso. En esta ocasión, describiré el
dispositivo de intervención que consta de un programa de formación y un dispositivo de “escritura
intervenida”, fundados ambos en las advertencias freudianas respecto de la necesidad de que los
educadores reciban formación psicoanalítica y se sometan ellos mismos a un proceso de análisis,
tomando el dispositivo de escritura intervenida, leído a partir de la conceptualización que en el arte
se realiza sobre el happening como acontecimiento. Presentaré el avance de esta investigación aún
en curso, que lee los efectos que dicho programa produce en los sujetos de la educación, candidatos
a profesores de enseñanza secundaria y superior a partir de algunas viñetas extraídas del salón de
clase y/o de los exámenes finales,pasibles de leerse apelando al concepto de rectificación subjetiva
entre otros, que permiten verificar ciertas hipótesis.
Autor(a): André Luís de Souza Lima – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Contato: andre.lima@ufrgs.br
Título: Educação especial, método psicanalítico e o paradigma indiciário
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Nas escolas comuns, no atendimento educacional especializado e em cursos de formação
para professores(as) emergem relatos que referem um sentimento de angústia, desamparo e, por
vezes, paralisação ante o(a) aluno(a) considerado(a) com deficiência, ou “de inclusão”. Com
frequência, tal sentimento enuncia-se por meio da alegação predominante de despreparo, a qual se
traduz na busca incessante por formação ou, no pior dos casos, na declaração de que não se está
apto, por sua formação inicial, a trabalhar com esses sujeitos. Partimos do reconhecimento desse
mal-estar como experiência que evidencia impasses éticos, políticos e, também, epistemológicos.
Compreendemos que muito da dor, da angústia, da queixa, do sofrimento de estar em sala de aula
com os alunos da inclusão coloca em evidência demandas por uma ação pedagógica naturalista e
reducionista. Segundo esse entendimento, os esforços almejam a adaptação e a normalização,
havendo certeza sobre quem é o público-alvo da educação especial, quais suas possibilidades e
limites educacionais. O impacto dessa forma de conhecer pode ser observado por intermédio da
perspectiva objetivista, da compreensão da deficiência a partir da determinação biologicista ou
psicologicista, bem como das práticas behavioristas, alienantes das posições subjetivas de ser aluno
ou professor. Em razão disso, percebemos a necessidade de aprofundar a pergunta filosófica pela
justificação do conhecimento em educação especial e, concomitante, de reconhecer a resistência
como forma do sujeito-professor/a manter-se ainda presente na cena escolar. A resistência pode
indicar a efetividade de um desejo de escapar da fragmentação, do reducionismo e de ser
reconhecido desde um saber-fazer-com o aluno. Escapar ao reducionismo do pensamento
naturalista, do qual participa o ideal médico, muito preeminente na área, pode passar por outra
forma de construir conhecimento em educação e pelo fortalecimento da figura do professor,
37
reafirmando seu protagonismo em assuntos pedagógicos e tomando o espaço educacional como
manifesto na complexidade da vida e da linguagem ordinárias, incluindo suas manifestações ilógicas.
A pesquisa de doutorado em curso faz, portanto, uma aposta na psicanálise — tomada enquanto
campo, ética e estilo investigativo — como alternativa ao modelo epistemológico das ciências
naturais em busca de discutir os fundamentos das formas de conhecimento e modelos de formação.
Nesse sentido, o trabalho de Carlo Ginzburg (1989), no ensaio Sinais: raízes de um paradigma
indiciário, nos oferece uma argumentação que parece potente em relação a essa outra justificativa
epistemológica para um tipo de trabalho que não se fundamenta apenas no conhecimento do
universal, mas considera inferências a partir de indícios (sinais, sintomas). O surgimento da
psicanálise, nesse contexto, corresponderia ao exercício de um modo de investigação com certa
tradição em formas de conhecimento divergentes das ciências naturais e exatas. Ao alinhar, por
aproximação morfológica, mas também documental, o historiador da arte Giovanni Morelli, o
escritor Arthur Conan Doyle e Freud como representantes no uso desse modelo ou paradigma,
evidencia-se a força de um conhecimento que se dá a partir, não de generalizações totalizantes, mas
da observação atenta do pormenor revelador, do evento episódico, do mínimo tomado como
ordinário. São diferentes posições enunciativas que imprimem percursos escolares também diversos,
cifrando destinos distintos para o conhecimento produzido, bem como para alunos, escolas e
professores.
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psíquicas do tipo psicótica, com características da passagem ao ato. Corporalmente Lia é avantajada
e esbanja sexualidade própria de moça de sua idade, no entanto, nota-se pouco cuidado e
consciência de si. Esse corpo, sede das pulsões e da libido, se evidencia tanto no jogo da
transferência, quanto no tema ocasional do delírio. A noção de foraclusão do “Nome-do pai”, daquilo
que daria a possibilidade de amarração do real e de laço simbólico, e ainda o modo como Lia vivencia
o Complexo de Édipo e a castração, também são pontos relevantes a serem suscitados. A partir do
caso em tela, uma das contribuições da psicanálise para o entendimento das psicoses na
adolescência consiste na elucidação dos fatores de base desencadeantes. Exemplo disso é a
verificação de intensas crise de identificações, vivenciadas nessa fase, com os fenômenos de rupturas
com o real e fragmentação do eu. As crises apontam para trocas de identificação no nível do eu ou
ideal do eu, no qual o sujeito é convocado a comparecer como sujeito castrado e de desejo frente ao
real, através de uma ordem simbólica, que nomeia e dá sentido, e que às vezes falha. Sob a base
desses fenômenos está a própria estrutura do sujeito, o modo singular de se constituir frente a um
outro e de responder às exigências da realidade.
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já terem passado pelas instituições educacionais. O espaço público dos Museus parece fornecer um
campo simbólico compartilhado por onde a função de escuta desses jovens pode se estabelecer e
com isso restituir minimamente as condições necessárias para a transferência na suposição de uma
realidade comum.
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tributária de um sonho de nação que funciona como extrato fiel da balança. Em que pese o contexto
situado, nos cabe uma pergunta: Qual sonho de nação que nos anima e quais atos esse sonho
carrega virtualmente?
Autor(a): Ariadne Messalina Batista Meira – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Ângela Maria Resende Vorcaro
Contato: ariadne.messalina@gmail.com
Título: Escutar os autistas: o que suas autobiografias dizem sobre inclusão na educação?
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: As últimas décadas têm assistido a um aumento nos debates sobre inclusão social, pondo
em questão o lugar da diferença na sociedade e mobilizando o poder público a tomar medidas em
relação ao assunto. Inserida na trama civilizatória como parte fundamental desta, a escola é um dos
principais palcos desses debates. O número crescente de diagnósticos de autismo tem fomentado
ainda mais o questionamento sobre o papel social da escola na superação das lógicas excludentes e a
variabilidade de casos dentro do espectro do autismo e de suas severidades têm apontado furos aos
saberes das mais diversas áreas. Somado a esse cenário, vive-se hoje um período permeado pelo
discurso científico hegemônico, que acredita na causalidade mecânica do ser humano, acarretando
na ambição de educa-lo. A psicanálise, na contramão desse discurso, baliza sua prática pela escuta da
singularidade, sustentando que ao operar essa redução a conhecimentos objetivos e standard,
perde-se de vista o sujeito. Tendo em vista as produções autobiográficas que diversos autistas tem
lançado mão, na busca por romper barreiras, não devemos tomar partido por escutá-los? A literatura
autobiográfica de autistas tem revelado a riqueza de seu mundo e enfatizado a impossibilidade de
toma-los todos como iguais. Dentro de cada vivência, falam do que acontece em seu corpo e mente,
e apontam também suas trajetórias escolares. As diferentes datas e localidades de cada
autobiografia não deixam de exprimir as dificuldades enfrentadas nesse percurso, trazendo à tona o
despreparo de instituições e profissionais que atravessaram suas trajetórias. Destacamos no
presente trabalho as narrativas de dois autistas não verbais, que se comunicam por meio da escrita:
Carly Fleischmann e Ido Kedar.
No livro escrito com seu pai, Arthur, são evidenciadas as dificuldades enfrentadas por ela na busca de
entrar na escola regular, após passar por várias instituições especiais. Carly reivindica essa vontade,
deixando clara sua dificuldade de se adequar à modelos e agir como outras crianças, quando seu
corpo é incontrolável. Sustenta que o fato de apresentar agitação corporal não significa que não está
aprendendo e fala que a escola é o lugar para educar mentes jovens, pedindo a ajuda necessária para
preencher sua mente com conhecimento. Ido Kedar, por sua vez, passou por instituições nas quais
aponta o despreparo dos educadores e a falta de aposta nos autistas não verbais, vistos como sem
inteligência. Dirige uma crítica contundente a tomada de decisões dos pais e educadores com base
na performance externa e descreve o descompasso entre uma oferta de educação lenta e sua
aprendizagem rápida, apontando que era como estar na pré-escola. Passa por experiências distintas
em escolas regulares que o levam a escrever severas críticas aos educadores especiais que têm foco
nos problemas de comportamento ao invés das suas habilidades e conquistas, e aponta que há uma
cegueira nesse modo de ver o autismo. Tendo em vista a educação enquanto tarefa impossível,
porém necessária, tem a psicanálise algo a contribuir para pensar o lugar do sujeito autista nas
práticas educativas? Acreditamos que sim. A psicanálise lacaniana se debruça sob a singularidade,
direcionando uma educação esvaziada do saber do mestre para que seja dado espaço e lugar às
invenções do outro. Na contramão do discurso hegemônico, sua orientação conduz a não ceder
diante do que faz furo ao lugar de saber, sendo possivelmente ao sustentar e manejar uma posição
de não-saber, algo tão difícil aos educadores, que se pode implicar o sujeito autista no trabalho,
permitindo sua marca e que ele conduza ao seu possível. Com isso, o presente trabalho objetiva
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(re)pensar as práticas educativas a partir dos relatos autobiográficos de Ido e Carly, colocando em
foco seus testemunhos e problematizações, à luz da psicanálise lacaniana e da posição de não-saber
enquanto orientação de trabalho possível ao campo educacional.
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terapêuticas pré-fabricadas e que valorizam um cuidado que considere a diferença, o tempo e o lugar
da palavra.
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Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: Olhares (Im)possíveis é um trabalho de produção teórico/prático que pretende a
elaboração (constante) de uma metodologia de intervenção, por meio de oficinas realizadas em
escolas públicas da região dos Inconfidentes. Este trabalho pretende lançar um olhar sobre os
desdobramentos de uma intervenção através de encontros presenciais com crianças e jovens na/da
periferia de Ouro Preto desde 2017 (inicialmente com a pesquisa de mestrado orientada por
Margareth Diniz e Marta Maia, defendida no Programa de Pós-graduação em educação da UFOP em
2018 e atualmente na pesquisa de doutorado no PPGCine/UFF orientado por Cezar Migliorin). O
objetivo inicial foi o desenvolvimento e a aplicação de uma metodologia audiovisual para a escuta do
indizível, do testemunho. Tal metodologia qualitativa, ancorada no paradigma indiciário de Carlo
Ginzburg (1989), entrevê que os indícios dos dados possam fazer lampejar um “saber-vagalume”, a
partir da luz de Georges Didi-Huberman (2011). O trabalho de ancora na experimentação do vídeo
como proposta de dispositivo processual para a escuta de estudantes é o afastamento da ideia de
produto (filme). A linguagem audiovisual aqui é pretexto para o encontro, para a partilha, mas
também pré-texto para as conversações com os/as estudantes. Nesse sentido, a ideia de dispositivo
(Migliorin, 2016), como aquilo que coloca em crise a articulação entre um comando fechado e ao
mesmo tempo aberto à inventividade, foi apropriada na articulação de três momentos que garantem
a emergência das imagens-sintoma produzidas pelos/as envolvidos/as. Por focar no processo e seus
possíveis laços, o ponto central de sucesso da prática é o espaço de partilha do sensível que se cria
com as crianças. A hipótese é que essa metodologia resgate infâncias perdidas e que seu
desdobramento em 2019: um grupo de cinema que está cuidando da horta escolar, esteja
produzindo contra-monumentos nessa cidade colonial. Olhares (Im)Possíveis é uma experiência
corpo(sintoma)-imagem(linguagem)-cidade(espaço). Apresentarei alguns resultados do trabalho que
indiciam a confirmação das hipóteses e legitimam os processos artísticos com o método clínico como
uma potente estratégia política. Apostamos na escuta como um dispositivo de cuidado e
entendemos o afeto como prática política.
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Mariana. Dessa forma, busca-se compreender a seguinte questão: de que forma os jovens
estudantes e as escolas - Escola de Bento e de Paracatu - enfrentam questões de adversidades
produzidas por uma tragédia no contexto sócio-histórico-político-econômico do rompimento da
barragem de Fundão?
Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa a ser realizada é compreender como a tragédia impactou
a vida escolar dos estudantes atingidos. Com especificidade, objetiva-se: identificar as concepções de
pertencimento e identidade dos(as) estudantes atingidos(as); investigar a importância da educação
escolar no contexto dos distritos atingidos; realizar o levantamento de políticas públicas voltadas
para a educação, no que tange a vida dos sujeitos, após o rompimento da barragem de Fundão;
apontar possíveis alterações nas relações desenvolvidas pela comunidade escolar e a população
atingida após o rompimento da barragem de Fundão. Esta pesquisa terá como base a investigação de
cunho qualitativo ao problematizar as trajetórias escolares dos jovens atingidos. Para além da
necessária revisão bibliográfica e análise documental, a investigação propõe utilizar, como
instrumento de coleta de dados, questionário socioeconômico, observação participante e entrevista
semi-estruturada com os sujeitos da pesquisa. A proposta de escuta dos estudantes como sujeitos
centrais da análise parte do interesse em adentrar no universo juvenil, em um espaço de conversas e
diálogos para compreensão de como esses jovens organizam os modos de pensar e de agir, vivem
sua cultura, exercem a sociabilidade e o pertencimento dentro do mundo escolar e, dessa forma,
como interpretam o acontecimento traumático e ressignificam a tragédia em suas vidas. A relação do
jovem com a instituição escolar vivencia novas formas de tensões, na qual intervêm tanto os fatores
externos, quanto os internos à escola, em um processo cada vez mais complexo. Os jovens estão,
cada vez mais, transpondo os seus muros, trazendo suas experiências, conflitos e novos desafios para
o interior das instituições escolares. É nesse sentido que se pontua a relevância da investigação, na
discussão em como a instituição escolar tem se desenvolvido conforme os diversos desafios trazidos
pela modernidade, em específico a inauguração de novos modos de desastres. Acredito que é
possível que essas escolas ultrapassem os muros sociais estabelecidos; compreendo que, com certas
limitações, a escola ainda consegue cumprir seu papel social, fortalecendo o sentimento de
pertencimento e reinventando as formas de socialização, principalmente em contextos de
desigualdades.
Autor(a): Barbara Pinto Pereira Bittar – Sec. Mun. Da Cidade do Rio de Janeiro
Contato: barbarabittar@gmail.com
Título: O que pode a escola frente ao fenômeno da automutilição na adolescência?
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo:
Atuando há mais de 10 anos nas Unidades Escolares do Município do Rio de Janeiro, temos
observado uma elevação no número de demandas para o nosso setor de atuação, que faz parte da
Secretaria Municipal de Educação, de questões envolvendo a prática de automutilação entre os
alunos dessa Rede de Ensino. Diante desse crescente fenômeno tivemos a iniciativa de organizar um
material intitulado ”Automutilação: recomendações para o cuidado de alunos”, destinado aos
Profissionais da Educação, a fim de instrumentalizá-los no manejo dessas situações no que tange ao
cuidado possível a essa questão pela escola. Como organizadoras desse material, produzido por um
setor inserido numa Política Pública de Educação, destinado a outros profissionais que também
compõem e atuam nessa política, pretendemos pensar modos de lidar com a questão da
automutilação entre os jovens, entendida por nós como um fenômeno contemporâneo no que
concerne não só ao modo como os adolescentes hoje lidam com suas angústias e sofrimentos, bem
como um meio de expressão e identificação entre esses jovens. Se tomarmos ainda esse fenômeno
como condutas de riscos na adolescência, como aponta Lacadée (2011) circusncrevendo-os como
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“comportamentos cujo traço comum é a exposição a uma probabilidade considerável de se
machucar ou de morrer; de prejudicar o futuro pessoal ou pôr a saúde em perigo”(p.57), mas que na
verdade são solicitações simbólicas da morte na busca de limites, numa tentativa desajeitada e
dolorosa de se situar no mundo, de ritualizar a passagem à idade adulta e de marcar o momento em
que o agir ultrapassa a dimensão do sentido, podendo ser entendidas como tentativas de existir mais
do que de morrer. A partir dessa lógica o ato de se autoagredir pode ser lida como empuxo a vida e
não a morte. Sendo assim, o que pode então a escola diante desse fenômeno? Afirmamos nas
Recomendações emanadas por esse material, o que Freud nos aponta em “Contribuições para um a
discussão acerca do Suicídio”, que além do conhecimento e saber que a escola deve transmitir ao
aluno, Freud concede a escola o dever de oferecer o desejo de viver, dando aos adolescentes “apoio
e amparo numa época da vida em que as condições de seu desenvolvimento os compelem a afrouxar
seus vínculos com a casa dos pais e com a família” (Freud, 1910, p. 243). Para além da articulação
intersetorial com equipamentos de saúde que alguns casos de violência autoprovocada exigem, é
preciso que a escola esteja aberta a esses alunos, no seu fazer pedagógico cotidiano, podendo
oferecer espaços de expressão e invenção para esses jovens, em atividades que lhe são inerentes,
como espaços culturais, artísticos e representativos. A escola tem seu lugar na possibilidade de
manejo desse fenômeno como instituição onde o aluno constrói alguns de seus principais
referenciais de aprendizagem, afetividade, sociabilidade e confiança.
Este material, “Automutilação: Recomendações para o cuidado de alunos” foi elaborado por muitas
mãos, psicólogos, assistentes sociais e professores com a aposta de ser um dispositivo de amparo e
direção para bussolar professores e profissionais da educação no manejo diário com seus alunos que
deixam aparecer na escola seus sofrimentos numa tentativa paradoxal de pedir ajuda e de expressão
do seu status de sujeito. O material citado encontra-se disponível no endereço eletrônico:
https://docs.wixstatic.comugd/e6172f_58ea1eb456604d71bfe30a495bb6489e.pdf Referências
Bibliográficas: Freud, S. Contribuições para uma discussão acerca do suicídio. In Lições de psicanálise,
Leonardo da Vinci e outros trabalhos. Volume XI, 1910. Rio de Janeiro, Imago, 1996.
Lacadée, P. O Despertar e o Exílio. Ensinamentos psicanalíticos da mais delicada das transições, a
adolescência. Rio de Janeiro, Contra Capa, 2011.
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desejos próprios - ou por uma ideia tutelada de participação que imperou ao longo das políticas para
a infância no Brasil.
Apesar da importância reconhecida legalmente do olhar para a participação e do protagonismo,
observamos que as práticas ainda se encontram carregadas da visão do jovem, semelhante àquela de
‘outro’ presente desde a filosofia da representação (GALLO, 2008); não como alteridade, dissenso,
mas como representação, conceito, supostamente conhecido e estável. É do lugar de consenso pré
concebido que muitos dos principais projetos e programas que trazem como prerrogativa o
protagonismo estudantil, utilizam como base a ideia de “dar voz aos alunos”. Na contramão desta
visada, traremos reflexões a partir de duas ações desenvolvidas em 2018 e 2019 na SME-RJ, quais
sejam, as ações de mobilização a acompanhamento dos grêmios estudantis e um projeto de pesquisa
intervenção desenvolvido em duas escolas na rede municipal de ensino do Rio de janeiro, com a
utilização do método cartográfico como estratégias para “dar ouvidos” aos estudantes. Pretendemos
aqui questionar coletivamente se as práticas que estamos constituindo contribuem de fato para a
substituição do legado menorista baseado na tutela, para a perspectiva da proteção integral, com
foco em dispositivos de escuta e reverberação da fala dos jovens. Trazer nossas ações para o debate
é um exercício de diálogo junto a outros interlocutores sobre nossa indagação cotidiana de trabalho,
qual seja: nossas práticas podem ser consideradas efetivamente promotoras da liberdade de
reflexão, expressão e criação dos jovens?
47
que lhes é oferecido, que está ali para ser moldado por elas. A forma de registro utilizada foi um
diário de campo com registro reflexivo de cada sessão. Com base nos registros desenvolvi o estudo
do caso Lúcio, no qual analisei os movimentos na escolha dos brinquedos, buscando compreender
seus possíveis significados. O espaço do brincar permitiu que Lúcio vivenciasse o lugar de sujeito, a
relação comigo e com os colegas de grupo, sua autoria de pensamento, o cultivo de seu saber. Lúcio
foi capaz de fortalecer sua posição subjetiva e de mobilizar seu desejo de aprender, ampliando seus
interesses e perspectivas. O acompanhamento à mãe contribuiu para que mãe e filho pudessem
vivenciar novos modos de se relacionar. Lúcio pôde se mostrar para ela para além dos sintomas, das
queixas, do diagnóstico. Nesse sentido, as contribuições da psicanálise e da psicopedagogia
mostraram-se potentes para a compreensão dos fenômenos de subjetivação envolvidos no brincar e
no conhecer.
Referências bibliográficas: FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando
autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. _______. Psicopedagogia em
psicodrama: morando no brincar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. FREUD, Sigmund. Além do princípio de
prazer. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, vol. XVIII. Rio
de Janeiro: Imago, 1996. MANNONI, Maud. A Criança, sua Doença e os Outros. São Paulo: Via
Lettera, 1999.
WINNICOTT, Donald W. O brincar & a realidade. Rio de Janeiro: Imago,1975.
48
que as crianças teriam outro tipo de laço com a escola e com o saber, devido ao seu processo de
adoecimento, que formulamos o projeto, bem recebido pela instituição. Apesar de sabermos que a
demanda não vinha dos sujeitos e que éramos nós a oferecer uma escuta, acreditávamos na
possibilidade de algo poder aparecer a partir desse encontro inusitado. Ao longo do desenvolvimento
do projeto nos deparamos com situações inesperadas, que subverteram os propósitos iniciais do
trabalho e nos levaram a repensar os caminhos de uma atividade de acompanhamento escolar com
crianças com leucemia. A mais relevante foi tomar conhecimento de que, em função do avanço no
tratamento da leucemia, as crianças não se ausentam muito da escola. Elas pouco vão ao hospital.
Tanto a quimioterapia quanto as outras medicações não obrigam os pacientes a permanecer muito
tempo no hospital. Por isso, as crianças estavam frequentando regularmente a escola e sem maiores
dificuldades. E, em consequência, para a maioria das crianças com quem estivemos, as idas ao
hospital eram rápidas e bastante espaçadas. Apesar de sabermos que a demanda não vinha dos
sujeitos e que éramos nós que oferecíamos uma escuta, acreditávamos na possibilidade de algo
poder aparecer a partir deste encontro inusitado. Segundo Moura e Souza (2007), “para saber os
limites e possibilidades de uma práxis (...) é necessário estar lá”. Ao final do projeto chegamos a mais
perguntas. Por que não houve uma demanda par parte das famílias e dos pacientes? Se é somente a
partir do surgimento de uma demanda que podemos pensar em um trabalho possível para o analista,
a constatação da ausência de demanda revela o que?
49
em torno de situações difíceis nas quais o cantor é compelido a matar ou a morrer para acabar com a
sua dor. Em ambas as situações, parece não haver lugar para a alteridade, já que a relação com o
outro/Outro, é ao mesmo tempo desejada e ameaçadora (Fortes, 2017). Frente à impossibilidade de
o ambiente escolar ou familiar acolher o sofrimento e dar sentido à dor do adolescente, a terapia
parece ser o único espaço que Bernardo tem para falar o que sente através da música. O recurso à
palavra é sempre muito difícil. No transcorrer das sessões, o adolescente fala da vontade que tem de
bater e matar as pessoas. Diz que não tem amigos. A escola parece não ser um lugar de saúde. A casa
igualmente parece não ter espaço para Bernardo, cujo sofrimento ninguém percebe e a letra que
mais repete das canções é: “você nunca vai ganhar essa luta”, sendo esta a luta da vida. A frequente
tendência ao agir (Lesourd, 2004), na clínica com adolescentes hoje expressa as dificuldades em
narrar o sofrimento, configurando-se como um apelo diante dos impasses vivenciados na busca de
novos modos de se inscrever no campo social. Assim, aquilo que do infantil não pôde ser elaborado
retorna com uma nova potência: a do corpo que cresceu e se encontra submetido aos excessos
pulsionais. Os atos, em função dos quais os adolescentes são levados aos serviços de saúde mental,
revelam importantes impasses em seu processo de constituição ainda em curso, remetendo a
diferentes posições em que o sujeito se situa frente ao Outro (Jucá & Vorcaro, 2018).
50
fora do serviço, um rearranjo na situação de estudo ou algum procedimento institucional. O primeiro
contato com o programa se dá via indicação de professores ou coordenadores, ao identificarem
alunos com algum tipo de dificuldade ou o próprio aluno busca diretamente o serviço por meio
eletrônico. Em situações de maior gravidade, por vezes, colegas de um aluno, preocupados com a
situação, fazem o contato inicial. A partir daí, ocorre uma entrevista com o coordenador do
programa ou com uma profissional mulher da equipe e, em seguida, pode se dar o encaminhamento
e aí ou para os analistas da equipe ou diretamente para uma análise fora do programa, conforme o
caso. Quando encaminhados para o atendimento do programa, alguém da equipe recebe o aluno em
seu consultório particular. A equipe, composta por dois psicólogos e um psiquiatra, tem formação
psicanalítica e experiência de trabalho em instituições. Nessa práxis, orientada pela psicanálise e de
curta duração, notamos que estabelecer um espaço de escuta e reflexão, tem tido efeitos
interessantes para os alunos, para a instituição e para a própria equipe, o que pretendemos discutir a
partir de vinhetas clínicas. Outro ponto que buscaremos considerar são os efeitos da possibilidade de
escolher ser recebido por uma mulher desde o contato inicial, condição proposta recentemente em
função de demandas relativas às questões de gênero e seus cuidados, promovidas por alunos e seus
coletivos.
51
científicas as quais possibilitariam ao professor saber qual o “problema” de seu aluno, aliadas a
técnicas que seriam suficientes para ensinar a todos. Como a cada momento surge uma síndrome ou
uma especificidade no campo das questões psíquicas e/ou das deficiências, a formação de
professores é interminável, tendo um caráter de formação continuada e permanente. Assim, esse
discurso para o qual não há saída, gera uma legião de profissionais consumidores à espera de uma
solução para suas questões de sala de aula, jogando-os ao mesmo tempo na incerteza de não saber o
que fazer, já que a ciência tem sempre uma descoberta nova a apresentar.
52
possíveis trabalhos com aquele, abre uma nova perspectiva para o sofrimento e cuidado deste.
Freud, S. (2006). Inibições, sintomas e angústia. In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v. XX. Rio de Janeiro: Imago, pp. 95-201. Lacan, J. (2004) O
seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Lacan, J. (2001). O lugar da psicanálise na
medicina. Opção Lacaniana, volume 32, pp. 8-14.
Lacan, J. (1998) A ciência e a verdade. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, pp. 869-893.
54
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Na atualidade, os cursos de formação docente são concebidos como a solução para todos
os males que assolam a educação. No entanto, apesar dos inúmeros e diferentes cursos, o resultado
esperado não se concretiza, pois, as características que embasam os cursos estão fundamentalmente
pautadas pelo princípio compensatório e reparatório da formação. Na época atual, o fracasso escolar
tem sido um dos argumentos, senão o mais relevante, para sustentar a crescente importância
atribuída à formação docente. Esse argumento baseia-se na necessidade de reparar a baixa
qualidade da educação no Brasil e usa como justificativa a ideia de haver uma insuficiência da
formação inicial dos professores, incapaz de atender às necessidades de aprendizagem dos alunos. É
dessa forma que se estabelece a indispensabilidade de melhorar sua competência, tendo a formação
continuada como compensação de algo que falta. Nessa perspectiva, o campo da formação docente
continuada vem sendo reconhecido pelas políticas educacionais como parte importante para o bom
exercício da docência e para a boa qualidade da educação. Essas políticas, desenvolvidas sobretudo a
partir da década de 90, fundamentalmente para a escola pública, concebem o professor como parte
crucial para suas concretizações. Entretanto, se por um lado esse profissional passa a ser colocado no
centro do debate educacional, por outro, sua formação sofre um processo de aceleração,
fragmentação e esvaziamento de conteúdo, lógica que atende a sociedade contemporânea pela
vertente do consumo e que tem como objetivo o tamponamento da falta que é estrutural do ser
humano. Na tentativa de resolver o que supostamente falta para o bom desempenho de sua
atividade cotidiana, o professor é levado a buscar em fontes exteriores, tais como agentes
formadores ou no próprio Estado, a figura de alguém que possua uma espécie de prescrição, que
saiba como proceder e orientá-lo por meio dos mais diversos cursos, palestras e abordagens, ou seja,
um expert. Cria-se uma espécie de subordinação dos que não sabem aos que sabem, como forma de
instrumentalizá-los e tirá-los da condição de desamparo. Essa concepção de formação tem
acarretado um esvaziamento do lugar do professor e de seu saber construído ao longo de sua
experiência cotidiana, pois ele passa a ser visto apenas como um mediador, sem subjetividade. A
compreensão do professor como mero executor de tarefas técnicas não contempla as exigências
implícitas dessa atividade, uma vez que não considera a complexidade e as particularidades
existentes no cotidiano escolar. Os cursos de formação continuada são, então, oferecidos com a
promessa de suprir a defasagem de um “saber-fazer” existente nos professores.
Diante desse quadro, nosso interesse foi encontrar uma experiência no campo da educação pública
com potencial de rompimento com o ideário predominante de formação, que busca compensar a
falta de um saber do professor. Assim, nosso trabalho apresenta uma experiência no campo da
formação de professores, em uma escola pública, no município de São Paulo, na periferia da região
leste dessa cidade, que carrega indicativos de ruptura com o modelo estabelecido de formação por
um especialista. Encontrou-se, no projeto desenvolvido por um grupo de professores, indícios de
uma ruptura ao modelo hegemônico. A pesquisa está fundamentada a partir de estudiosos do campo
da formação docente, como Antônio Nóvoa, Maurice Tardif e Philippe Perrenoud. De forma a indagar
o ideário predominante de formação docente, buscou-se o aporte teórico na psicanálise, a partir de
autores como Sigmund Freud, Jacques Lacan e Rinaldo Voltolini. Concluiu-se que o projeto elaborado
por esses professores levou ao engajamento desses profissionais com sua formação, de modo a se
responsabilizarem como sujeitos de saber para o ato educativo.
55
Resumo: O movimento da inclusão no Brasil conquistou avanços importantes nos últimos anos,
tanto em termos legais (Lei Brasileira de Inclusão), como em práticas inclusivas que se consolidaram
na rede de ensino. Escolas públicas e privadas construindo seus projetos, formando equipes e
acolhendo alunos sujeito até então excluídos do sistema regular. Ou seja, um projeto ambicioso,
ancorado na ética democrática e nos direitos humanos, em pleno curso. Porém, o cenário político
brasileiro sofreu rupturas importantes que culminaram na eleição de Jair Bolsonaro com discurso de
ultra-direita, colocando em cheque as ações dos direitos humanos, da ciência e da educação. Depois
de eleito, o atual presidente intensificou seu discurso contra pessoas, grupos e instituições que
discordam dele, questionando a credibilidade de órgãos consagrados a partir de factoides
(questionou os dados do IPEA sobre o aumento do desemprego; a pesquisa do INPE demonstrando
aumento do desmatamento na Amazônia; diz que as escolas querem promover a “ideologia de
gênero” etc.). Seu objetivo parece ser de desmantelar qualquer instituição de referência que não
corrobore com o que quer ou acredita.
Essa mudança discursiva parece ter promovido a perda de referências simbólicas em muitos campos.
Com a inclusão não é diferente. Sem as referências simbólicas que organizam a rede discursiva em
que nos pautamos, ficamos vulneráveis sobre como nos posicionar; especialmente diante das
sensações de abandono e de desespero. Vemos um enfraquecimento das instituições de ensino e
pesquisa, dos movimentos sociais consistentes que lutam por inclusão e das referências que até
então pautavam a implementação desse projeto. Voltam com força discursos já superados que
confundem inclusão com assistencialismo, voluntariado, treinamento de professores. Parecia
superada a ideia de que a inclusão poderia ser feita por pais de crianças com deficiência atuando no
lugar de profissionais, desrespeitando o saber da educação, guiados sobretudo por sentimentos e
com pouco ou nenhum embasamento teórico e prático. Essas iniciativas, que sempre existiram,
agora estão ganhando espaço dentro das escolas e das instituições de formação de professores de
São Paulo. O que estaria provocando essa mudança? Por que estão agora ganhando espaço e
enfrentando pouca ou nenhuma resistência?
Se antes o discurso ideológico pró social era sedutor, hoje, quem está à frente é quem melhor
produzir fake News ou quem puder vender melhor seu produto. Não se trata de ter o melhor
produto e sim de saber como vender qualquer coisa, ainda que sem a menor consistência, como
promessa de que ali haverá uma solução satisfatória para as desilusões vividas. Mas, a que preço?
56
experiência na função docente é esvaziada, obliterando a figura que aqui propomos chamar de
professor-narrador: um professor a quem revela-se possível transmitir e narrar aquilo que se situa
essencialmente na ordem da experiência e da tradição - entendida enquanto solo comum entre
diferentes gerações; um professor a quem é possível deixar marcas que o singularizam e historicizam
através do ensino. Do aparente não-lugar reservado ao professor e da percepção da educação como
processo semelhante à fabricação de um objeto de uso, decorrem uma série de implicações para o
ato educativo e os sujeitos nele envolvidos. Questionamo-nos neste ponto se estaria o chamado mal-
estar docente – suas queixas, seus adoecimentos, sentimentos de desvalorização e desautorização –
vinculado a este esvaziamento do lugar docente e à sua impossibilidade de enunciação.
57
série de instâncias complementares e às vezes antagônicas para a produção artística dentro da
Escola, na qual se considera as relações transferencial e contratransferencial, as estruturas fálicas e
para além delas, juntamente às polaridades superegóicas da Escola e Id dos alunos adolescentes.
Para tal, percebe-se que o processo criativo em sala de aula perpassa pela instauração simultânea da
segurança e da falta, mais que isso, que é seguro lidar com a falta. Com isso, assumir a postura de
Mestre não-todo, ora disfarçado de Todo através das funções paterna e materna, possibilita a
instauração de segurança de que estão amparados por um mestre capaz de orientá-los nesse
processo enquanto se reconhecem como sujeitos inerentemente faltantes. Dessa forma, sob uma
perspectiva socrática do aprendizado através da maiêutica, possibilita-se uma relação transferencial
erótica a favor do aprendizado e da criação. Analisa-se também o próprio fazer artístico, que se
mantém como enigma na medida em que é um processo sublimatório baseado em técnicas e teorias,
mas atravessa pelo vazio inconsciente do feminino arcaico. No entanto, sua expressão em sala de
aula não possui necessariamente uma origem pulsional, e sim uma demanda advinda de outro com
base em conhecimentos teóricos e práticos apreendidos através de outro. Assim, o processo criativo
em sala de aula engloba o conflito de um ato criativo e subjetivo que necessariamente passará por
uma avaliação dentro do sistema de menções do ensino público. Por fim, a dimensão ética da
responsabilidade do professor sobre os alunos prevalece como caminho primordial para
reconhecimento dos alunos como sujeitos e possíveis criadores a fim de que os mesmos se permitam
essa expressão subjetiva em sala de aula.
58
análises fundamentadas na articulação Psicanálise e Educação é possível no campo da Universidade
cooperar para que na formação do educador que atua na primeira infância por meio das
possiblidades de pensar a própria prática possa encontrar-se consigo mesma e fortalecer os vínculos
a partir da articulação teoria e pratica. Nesse sentido, podemos inferir que na proposta de formação
continuada a partir da Universidade para além de enquadrar os professores no “furor pedagógico”,
que nos adverte Lajonquière(2001), pensamos que será possível possibilitar aos professores em
formação repensar sua prática, expressar-se via EaD, mediados pelo Ambientes Virtual de
Aprendizagem, e encontros presenciais, por meio da linguagem que estão permeadas por sentidos
de subjetividades, que se desvelam dos laços sociais construídos com seus pares de profissão, e
também ao recordarem, repetirem e elaborarem as relações estabelecidas com seus bebês no
contexto da Educação Infantil. Reviveram a experiência de ser e tornar-se professor de bebês, no
momento da escrita de Memória educativa e compartilhamento nos fóruns, de modo a trazer para
sua formação o pensar a cultura dos bebês que é acessada cotidianamente quando os professores
acessam suas linguagem ao falar, cantar, ler e permitir percebê-los que [...] são também sujeitos da
linguagem e da cultura. Recebem um nome, transformam a vida daqueles que os acolhem, afetam a
realidade em torno deles e são afetados pela vida emocional e social da mãe e da família. (BRASIL,
2016, p. 49) e dos professores da creche.
60
como fundantes à implementação de dispositivos de coleta centrados na escuta e pesquisa de
orientação clínica.
Referências: ANDRÉ, Marli et al. O papel da pesquisa na formação e na prática dos
professores.Campinas, SP: Papirus, 2001. LACAN, Jacques. O seminário 10. A angústia. Rio de Janeiro.
Ed, Zahar, 2005. KUPFER, Maria Cristina. Afetividade e cognição: uma dicotomia em discussão. São
Paulo, USP, 1997. ORNELLAS, Maria de Lourdes Soares. Afetos manifestos na sala de aula. São Paulo:
Ananablume, 2005.
61
modo a oferecer abertura para subversão, visto que pressupomos que há um sujeito do inconsciente
que ali se impõe à revelia de métodos pedagógicos e de arranjos familiares. Portanto, a psicanálise
nos aponta a importância de escutar os sujeitos envolvidos no processo de educar e considerar seus
questionamentos.
Autor(a): Dayanna Pereira dos Santos - IFG – Inst. Fed. de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Contato: dayannagyn@hotmail.com
Título: Infância, Autismos e estruturação psíquica: uma leitura psicanalítica
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Esta pesquisa investiga o processo de elaboração psíquica do que se denomina comumente
como passagem do infans ao falante, considerada, sob o ponto de vista desta tese, uma operação de
estruturação, em que há um initium subjetivo dependente da função da fala. A análise parte dos
textos iniciais de Freud e da teoria dos nós no final do ensino lacaniano com o intuito de tratar da
estruturação subjetiva e, assim, adentrar nas particularidades dos autismos. Esse exercício
investigativo traz os conceitos de pulsão, traço unário, lalangue, Real, Simbólico e Imaginário com
vistas a explicitar que o organismo do bebê sofre a incidência da marca gerada pelos cuidados
maternos. Nessas condições, para que o infans saia da categoria de puro organismo e se humanize, é
preciso que ele se aliene aos significantes vindos do Outro. A par dessa questão, apresentamos a
estruturação subjetiva suportada pelo trançamento entre Real, Simbólico e Imaginário cuja
incidência de lapsos em sua estruturação é capaz de produzir efeitos como os autismos. Para
investigar essa complexa elaboração, partimos dos seguintes questionamentos: O efeito da fala do
outro sobre o corpo da criança pode resultar em uma fala à deriva? É possível a criança autista estar
na linguagem, mesmo sem a função da fala? Nesse contexto, abordamos a constituição subjetiva sob
a lógica do nó borromeano e da trança RSI, evidenciando a estrutura sincrônica da constituição
subjetiva e a necessidade de um quarto elo para sua amarração. Tendo em vista que os autistas são
reveladores de tais impasses, tecemos algumas considerações acerca do entendimento de que as
falhas do nó apenas serão diferenciadas depois do reparo de seus lapsos com o quarto elo. Tal
proposição enfatiza uma não-fixação da estrutura
psíquica na infância. Defendemos, por fim, que a criança autista está na linguagem,
assujeita-se a ela, mesmo que o significante seja apagado em relação ao signo. Logo, considerando o
aporte conceitual de Vorcaro (2014), o autismo foi tomado, para além das proposições
psicopatológicas, como a maneira pela qual a criança se engendra no mundo da linguagem e como
ela se posiciona na relação com o Outro. Assim, na recusa da criança autista em fazer laço social,
mantendo-se na borda do campo do Outro, há um modo singular de as crianças autistas se
posicionarem frente à linguagem.
62
especializados” (p. 226). Numa postura investigativa, empenhamos esforços na tentativa de propor
uma torção da ideia de prática para o agir pedagógico, não desconsiderando a prática, mas propondo
um fazer que a transcende. Para tanto, a partir da noção de construção do caso, que nos chega pela
via da psicanálise, propomo-nos pensar o agir, como verbo infinitivo, que remete a portas abertas, à
movimento que busca afrouxar os nós do tecnicismo/cientificismo e dar voz ao sujeito, num esforço
de escutá-lo, de acolhê-lo na cena pedagógica. Como método, a construção do caso tem-se mostrado
potente no desdobramento de nossas hipóteses de trabalho. Uma experiência semelhante, também
balizada pelo método da construção do caso, já foi proposta anteriormente pelo grupo de
pesquisadores do NUPPEC. Tal experiência foi publicada em 2017 no livro Psicanálise, Educação
Especial e Formação de Professores: construções em rasuras, organizado por Vasques e Moschen. O
livro apresenta um trabalho de formação de professores realizado ao longo de três anos, no qual o
processo de leitura e escrita foi tomado como dispositivo principal. O curso de formação desdobrou-
se por meio da escrita dos professores endereçada a leitores (NUPPEC) vigilantes aos modos
singulares com que se apresentavam os impasses da educação de crianças, consideradas com
transtorno global do desenvolvimento. No caso desta pesquisa, o escrito que serviu de base para a
construção do caso foi apresentado como carta aos pesquisadores do NUPPEC. A carta escrita por
uma professora, trouxe a narrativa de uma experiência, sucedida no AEE, numa escola regular de
educação básica com um aluno considerado público alvo da educação especial. Integrantes do
NUPEC, eixo 1, colaboraram como leitores da experiência narrada e nomeada como Caso Mateus.
Mateus é um estudante que coloca em questão as técnicas pedagógicas e convida seus professores a
conhecer outras vias possíveis. Ele tem uma forma singular de ler e de interagir com os materiais que
lhe chegam prontos. Mateus é cego e há um momento de sua escolarização no qual se põe a ler o
braile da direita para à esquerda. Mateus também propõe uma desconstrução dos materiais táteis e
adaptados que lhes são apresentados por sua professora do AEE. Diante das impossibilidades de dar
um segmento ao trabalho pedagógico através do uso das técnicas e dos recursos, a professora
consegue fazer um deslocamento pedagógico através da escuta do estudante e passa a utilizar a via
da desconstrução de objetos para auxiliar o estudante a compreender conceitos em sua vida escolar,
como por exemplo, o conceito de onomatopeia. A escuta é um dos conceitos que pretendemos
destacar como parte do agir pedagógico. A hipótese que tem se sustentado até o momento atual da
investigação é de que esse agir pode incidir na construção de experiências educativas capazes de
permitir a singularização dos processos escolares e de afrouxar os nós do tecnicismo/cientificismo,
dando voz ao sujeito num esforço de escutá-lo e acolhê-lo na cena pedagógica. REFERÊNCIAS:
MICHELS, Maria Helena. O que Há de Novo na Formação de Professores para a Educação Especial?
Educação Especial, Santa Maria, v. 24, n. 40, p. 219-232, maio/ago. 2011. Disponível em:
ttps://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/2668/2440 Acesso em: 17 mai 2019.
VASQUES, C. K.; MOSCHEN, S. Z. (org.). Psicanálise, educação especial e formação de professores:
construções em rasuras [recurso eletrônico] SEAD/UFRGS. – Dados eletrônicos. – 2. ed. – Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2017.
63
mal-estar que necessitará de significações do sujeito e, no caso do infans, fundamentalmente do
outro para a sua compreensão e auxílio. O objetivo central da teoria psicossomática de orientação
psicanalítica é de que o corpo e a mente compõem uma unidade de funcionamento, e as
representações psíquicas exercem um papel indispensável no processo de somatização (LEAL, 2012).
Outros autores também buscaram apresentar os modos como concebem as articulações entre a
mente e o corpo e as influências de um sobre o outro. De acordo com Campos (2010) o corpo como
meio de comunicação e de defesa parece ser o mecanismo básico do fenômeno psicossomático. Para
Zimerman (2001), o processo de somatização é uma das respostas mais comuns do ser humano,
agindo como um mecanismo de defesa e reagindo de modo primitivo ao lidar com um ambiente
hostil ou prejudicial, caso o conflito ou a dor psíquica sejam insuportáveis para a psique (LEAL, 2012).
Para o trabalho que buscaremos desenvolver no presente texto, podemos pensar que, se para o
adulto tal mecanismo possa ser considerado primitivo, para a criança e, mais precisamente para o
infans, parece-nos ser um mecanismo primordial de manifestação psíquica, seu corpo no lugar da
palavra. Pesquisadores na área da medicina têm também constatado que muitas doenças na infância
têm origem desconhecida e podem estar ligadas a fatores emocionais, impulsionando o campo da
Medicina Psicossomática. A asma, principalmente a infantil, é uma doença de etiologia multifatorial
em que há interação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos, ambientais, gestacionais,
socioeconômicos e outros (SILVA; SCHNEIDER; STEIN, 2009). Contudo, sua etiologia específica ainda é
desconhecida, considerando-se a psicogênese da doença assim como o desencadeamento de crises
perante um agravante alergênico típico (PIRES, 1963). Winnicott (1967/71), por sua vez, constatou
que a congestão nasal e para-nasal em crianças podem ser, frequentemente, expressões de estados
de ansiedade. Para ele, esta é uma das maneiras da criança expressar sua raiva, em casos onde não
lhe é permitido demonstrar especialmente estes sentimentos, assim como sua intensidade,
associando-os a estados de congestão nasal. Winnicott (2005) atribui o desenvolvimento emocional
do indivíduo como fator determinante nos problemas psicossomáticos, relacionando-os com
dificuldades no processo de integração e falhas no cuidado parental e ambiental. Para este autor, os
sintomas podem ser interpretados como sendo respostas a certos estados emocionais ou como uma
forma da psique pedir ajuda (LEAL, 2012). No estudo de Roque (2015) foi apontado que o suporte
emocional materno e, provavelmente, dificuldades no exercício da função materna, são fatores
importantes para o agravamento da asma. De acordo com seus dados, a gravidade da asma infantil é
aparentemente influenciada pelo entrecruzamento entre práticas parentais e estilos psicológicos da
criança. Scalco e Donelli (2014) afirmam também que nos fenômenos psicossomáticos não há relação
de causalidade linear de seus desencadeamentos, mas, sim, de um processo dinâmico, que age no
sujeito de acordo com sua capacidade subjetiva de lidar com as adversidades da vida. A
compreensão da complexidade dos quadros de adoecimento em bebês e crianças exige uma
compreensão interdisciplinar, como tem buscado os estudos e pesquisas em Psicossomática
Psicanalítica. Espera-se que esses estudos possam transmitir a importância da relação entre a psique
e o soma em bebês e crianças, possam auxiliar iniciativas em prol do desenvolvimento e da
subjetivação na primeira infância.
64
atenção e agitação em sala de aula. Após estas avaliações profissionais, as crianças são rotuladas na
grande maioria das vezes, com os diagnósticos de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção,
Hiperatividade) , TOD (Transtorno opositivo desafiador) e autismo. A partir disso, acompanhamos
crescer de forma assustadora, o número de crianças de várias faixas etárias sendo medicadas com o
Metilfenidato, também conhecido como Ritalina ou a “droga da obediência”. O Brasil é o segundo
maior consumidor deste medicamento no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. De
acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no Brasil “o consumo do medicamento
metilfenidato, utilizado no tratamento do Transtorno de Déficit de atenção e Hiperatividade (TDAH),
aumentou 75% em crianças com idade de 6 a 16 anos” (ANVISA, 2013). Segundo Ortega et al.: A
fabricação mundial declarada de metilfenidato passou de 2,8 toneladas, em1990, para 19,1
toneladas em 1999, o que representa um aumento de mais de 580%. Este aumento é devido ao uso
do metilfenidato para o tratamento de TDAH, divulgado mais amplamente na década de 1990. No
ano de 2000, esta produção caiu para 16 toneladas. Mesmo com a queda em alguns anos, a
tendência foi de crescimento, chegando a 33,4 toneladas em 2004, 28,8 tonelada em 2005, e quase
38 toneladas produzidas em 2006. Destas 38 toneladas, 34,6 foram produzidas pelos EUA, que são
não somente os maiores fabricantes, mas também os maiores consumidores. A maior parte do que
os EUA produzem é para uso interno. O consumo nos EUA vem crescendo a cada ano, e hoje
representa 82,2% de todo metilfenidato consumido no mundo. (ORTEGA et al., 2010). O problema se
torna ainda mais grave, quando analisamos os efeitos colaterais que a medicação pode provocar nas
crianças que dela fazem uso. De acordo com o laboratório Novartis com relação ao medicamento
Ritalina, o mesmo pode provocar os seguintes efeitos colaterais: “náusea, boca seca, dor abdominal,
vômito, dor de dente, função hepática anormal, erupção cutânea, urticária, febre, queda de cabelo,
sentir-se nervoso e retardo do crescimento durante o uso prolongado em crianças” (NOVARTIS,
2015). Além disso, “essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de
ação da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um narcótico
(GARDENAL, 2013). Assim, tendo em vista os números apontados e a crescente queixa apresentada
principalmente pelas escolas, de que as crianças não aprendem o conteúdo proposto ou possuem
comportamentos agitados que fazem com que as mesmas percam a atenção em sala de aula, um
enigma se instala: por que a medicina com todo o seu aparato medicamentoso tem sido convocada a
responder aos problemas existentes dentro das escolas.
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Federal. O trabalho foi fundamentado na perspectiva da teoria psicanalítica. Esse aporte teórico
norteou a reflexão referente a possibilidade de aproximação dos campos da psicanálise e educação
inclusiva, mais especificamente no que se refere à importância do campo da ética do sujeito no
processo de inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo. A construção e
análise dos dados demonstrou que independentemente do formato em que inclusão escolar se
apresente dentro do contexto educacional, em classes especiais ou em turmas regulares, a criança
com TEA somente poderá ser beneficiada se for vista como um sujeito que possui um lugar na escola.
A escola, por sua vez, apenas se tornará, verdadeiramente inclusiva, à medida em que se deixar
atravessar por reflexões baseadas no campo da ética do sujeito, na alteridade, responsabilidade e
respeito às diferenças, direitos, limitações e possibilidade de cada sujeito que compõem o dia-a-dia
da escola. A escola tem como função transmitir o conhecimento que é um patrimônio histórico e
cultural de todos nós. Essa função também lhe cabe junto à criança com TEA. Assim, é função da
escola lhe proporcionar a descoberta de um mundo diferente ao que está habituada no seu convívio
familiar, oportunizando experiências de interação com os pares e com a diversidade do espaço
escolar, possibilitando, assim, a construção de laços por meio da sua inserção no campo da
linguagem. Nesse sentido, a escola tem como função primordial, garantir a circulação e a
participação de todos os alunos nos espaços e propostas pedagógicas da instituição, necessitam
considerar a singularidade de cada criança. O caso em questão apontou um processo de inclusão
escolar efetivo. Efetividade que provocou mudanças significativas na criança, a qual antes de
frequentar essa escola, passou por experiências acentuadamente excludentes em outras escolas
públicas da região em que reside. Por se tratar de uma instituição onde circula bem a palavra entre
professores, equipe gestora e demais profissionais, a escola é inclusiva. Apesar da professora do
Estudo de Caso ser uma profissional experiente, engajada no contexto educacional e ter uma postura
ética junto aos alunos com diversas diferenças a pesquisa mostrou, de forma clara, a importância do
coletivo institucional para ocorrer o processo de inclusão escolar das crianças com TEA.
66
esse autor, a partir dessa constituição subjetiva, o indivíduo terá uma capacidade de superar o
imediato, dirigindo-se a realização de seus próprios projetos. Freud, em sua obra "Psicologia das
massas e análise do eu" (1920-21), nos mostra que todos os processos histórico-sociais, grupais
acontecem no interior do sujeito e que na vida anímica aparece sempre, efetivamente, "o outro".
Dessa forma uma construção do sujeito que é de um lado consciente e do outro inconsciente, abre
uma brecha para trabalharmos os impasses na contemporaneidade em relação a dinâmica das
singularidades psíquicas produzidas num contexto histórico, social e grupal, nesse caso, mais
especificamente, as identificações que marcam as construções subjetivas que levam os sujeitos a
fazerem suas escolhas. É a partir dessa premissa que se deu essa pesquisa que teve como mote as
marcas de identificação presentes em estudantes universitários que se declaram conservadores ou
progressistas para fazerem suas escolhas filosófico/políticas. A pesquisa de natureza qualitativa, foi
realizada através de um estudo de campo e na qual se utilizou como recurso entrevistas
semiestruturadas, contando com a participação de 10 pessoas, sendo 5 do gênero feminino e 5 do
gênero masculino. Os dados coletados foram analisados a partir da Análise do Discurso. Foi possível
elucidar por meio da pesquisa e no diálogo com os conceitos de identificação e subjetivação
propostos pela Psicanálise, quais os processos envolvidos nesse fenômeno, indicando a partir desta,
que as relações de poder, modos de subjetivação e o processo histórico/social presente na vida dos
sujeitos faz com que se produza modos de subjetividade plurais, sem os quais não podemos nos
orientar. Mesmo sendo atravessados por um sujeito do inconsciente não deixamos de ter marcas da
dimensão social uma vez que nos espelhamos nela, como possibilidade de existência, que produz em
cada sujeito um desejo social que orienta a nossa subjetivação, marcada por dimensões simbólicas,
imaginárias e reais. REFERÊNCIAS: FREUD. S. (1920-21). Psicologia das massas e análise do ego, In:
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud SE. Rio de Janeiro: Imago, v. XVII, p. 77-154, 1976.
GONZÁLEZ-REY, Fernando. Sujeito e subjetividade. São Paulo: Thomson, 2003. VALLEJO, A.;
MAGALHÃES, L. C. Lacan: Operadores da leitura. São Paulo: Perspectiva. 1991.
Autor(a): Diego Andres Barrios Díaz - Associação Pró Educação Vivendo e Aprendendo
Coautor(a): Vinícius Armiliato
Contato: dub.diego@gmail.com, vinicius.arm@gmail.com
Título: Inclusão, infância e política: uma perspectiva psicanalítica para a coordenação pedagógica
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Na presente comunicação nos indagamos sobre o que poderia ser entendido como uma
atuação política de coordenação pedagógica no âmbito da inclusão escolar. Para responder a tal
questão, faremos um relato de experiência bem como uma leitura das perspectivas pedagógicas de
uma instituição de Educação Infantil de Brasília-DF, a Associação Pró-Educação Vivendo e
Aprendendo. Tal instituição foi reconhecida em 2017 pelo Ministério da Educação como uma
experiência escolar inovadora, em referência às suas práticas pedagógicas e modelo de gestão. A
partir da experiência dos autores na instituição, apresentaremos elementos desta que impactam
positivamente no processo inclusivo, os quais serão lidos a partir de operadores teóricos da
psicanálise. Entendemos que a psicanálise, ao admitir a singularidade e radicalidade do desejo dos
sujeitos, estabelecendo uma leitura específica dos comportamentos emancipada de um modelo ideal
de natureza humana, pode fazer notar quais os movimentos institucionais que mantém modos de
existência padronizados em detrimento da ações da instituição que valorizem os atos singulares
manifestados pelos sujeitos. No caso da inclusão, nota-se que as crianças com necessidades
educativas especiais fazem notar vários processos de massificação, uma vez que a criança incluída
parece "resistir" às atividades pedagógicas dirigidas ao grupo e à coletividade. Além disso, tais
crianças fazem a equipe pedagógica ter que rever seus modelos de ensino, planos de trabalho e
67
sistemas avaliativos que agrupam os indivíduos por idade e aptidões mentais, independentemente
de suas condições psíquicas. Entendemos que a valorização da singularidade, bem como o fomento a
práticas pedagógicas que garantam sua expressão, são estratégias institucionais e de coordenação de
caráter político. Na Vivendo e Aprendendo, a circulação da palavra entre profissionais, família e
coordenação, o trabalho com Projetos Pedagógicos junto às crianças, a construção e desconstrução
incessante de combinados, o dar voz às crianças e a mediação das relações entre elas, mostram-se
como dispositivos que fazem pensar o caso a caso dentro da instituição. Nesse sentido, em sua
dinâmica institucional a pauta inclusiva também ganha escopo político, notadamente quando
problematiza o termo “incluir”, a ideia de normalidade, bem como quando propõe um distinto
entendimento de infância. Entendimento que valoriza não só a capacidade criativa da criança cujo
devir não cessa de apresentar novas formas de existência, mas também seus atos de ruptura e suas
proposições de novas formas de ler o mundo dos adultos. Assim nos parece razoável que à
coordenação cabe dar suporte à equipe pedagógica na ação de acolhimento da radicalidade do
singular apresentada pelas crianças, algo que nos parece ser um ato psicanalítico e ao mesmo tempo
político.
68
psicanálise na instituição? Como manter a alteridade necessária à escuta em contextos que
convocam o gozo e a repetição do traumático? Dar continuidade ao trabalho da escuta-flânerie é
uma tentativa de oferecer condições de abertura de sentidos e de novas significações através da
escuta a esses profissionais que se veem imersos em um cotidiano duro e árido. Importa lembrar que
escutar o sofrimento desses sujeitos é diferente de submergir nos afetos que o contexto produz,
especialmente pela própria precariedade material e simbólica que se apresenta. O horror da
socioeducação tantas vezes narrado pelos próprios meninos e agentes, assusta e impele qualquer
um, analista ou não, à vontade de reparação e/ou salvação dessas pessoas. Estes impasses
transferenciais e outros nos fazem retomar, neste momento, os desafios no trabalho com a escuta-
flânerie no âmbito da socioeducação. REFERÊNCIAS: GURSKI, Rose. Quando a Psicanálise encontra a
Socioeducação: a escuta-flânerie como efeito ético-metodológico. No prelo. GURSKI, Rose; PIRES,
Luísa. A psicanálise na socioeducação: uma metodologia nomeada escuta-flanerie. No prelo. PIRES, L.
P (2018). A Construção da Escuta-flânerie - uma Pesquisa Psicanalítica com Agentes Socioeducadores
que Atendem adolescentes em Conflito com a Lei. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
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geral, são excluídas ou alvo de penalizações, mas que parecem extremamente positivas para ofertar
aos estudantes a possibilidade de uma relação outra com a própria escrita.
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Autor(a): Eduardo Gomes de Oliveira - UNIFAA
Coautor(a): Andréa Di Pietro Lewkovitch
Contato: eduardogomes0910@gmail.com, andrea.dipietro@faa.edu.br
Título: A Clínica Psicanalítica em um centro de atendimento ao aluno no ensino superior: efeitos de
inclusão
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: A psicanálise em extensão (LACAN, 1964) ou psicanálise aplicada (MILLER & MILLER, 2003)
em instituições exige sempre uma invenção do lado analista. Não há modelo prévio a ser seguido,
mas uma ética pela qual se orientar. O presente trabalho foi produzido a partir da experiência dos
dois autores da apresentação no Centro de Apoio Pedagógico e Psicológico (CAPP) do Centro
Universitário de Valença (UNIFAA), localizado no sul do estado do Rio de Janeiro. Um dos autores
coordena o CAPP e atua diretamente no atendimento aos estudantes da instituição, enquanto o
segundo exerce a função de supervisor de equipe deste serviço. Temos como objetivo cernir, a partir
de nossa experiência em tal serviço e orientados pela obra de Freud e o ensino de Lacan, o estatuto
desse trabalho no que diz respeito ao acolhimento de sujeitos psicóticos e/ou em grave sofrimento
psíquico. Nossa experiência demonstrou que o atendimento a esses casos produz efeitos de inclusão,
isto é, possibilitou a permanência no ensino superior de sujeitos malgrado sua estrutura psíquica. Os
resultados demonstraram, ainda, que não apenas o trabalho orientado pela psicanálise permitiu que
estes sujeitos dessem continuidade à sua formação, mas que a rotina acadêmica e sua inserção em
uma instituição de ensino podem produzir efeitos de organização e apaziguamento dos sintomas.
Desta forma, acompanhamos nos casos, principalmente nas psicoses, uma função que a instituição
pode produzir colocando o sujeito em trabalho a partir do dispositivo da escuta. Nesta direção, a
instituição, como nos demonstra Veras (2005), “deixa de ter que encarnar um lugar a serviço da
restauração do sentido como exigência terapêutica para ocupar o lugar onde é possível encontrar os
signos para a entrada na matriz do discurso”. Os efeitos de inclusão possibilitados pela escuta
analítica, incluem a instituição como possibilidade de articulação do sujeito em uma malha
discursiva. Neste ponto, o significante aluno situa um sujeito para uma instituição, assim como
aponta para a possibilidade que o sujeito foracluído das modalidades discursivas, aceda a uma
suplência do laço social.
71
outro? Parafraseando Ana Costa (2014) é preciso considerar que existem ações do recalcado em
cada momento social, que terão impactos na constituição subjetiva. Na perspectiva psicanalítica
lacaniana, o sujeito se constitui a partir do Outro. O sujeito é anterior ao seu nascimento, devido a
linguagem. O mal-estar que se presentifica a todos diz do esforço para se manter no laço social, em
partes, o sofrimento humano decorre dessa relação. Diante do exposto, abre-se a seguinte
indagação, o que ocorre subjetivamente com adolescentes que se automutilam? Evidentemente, que
não se trata de apresentar respostas padronizadas para essa questão, mas conjeturar se no
momento de reelaboração do corpo púbere, da queda do ideal dos pais, sentiriam alguns
adolescentes, de uma forma mais intensa a ausência de um outro que concedessem esteio ao seu
corpo. Pode-se pressupor que na ausência desses sustentáculos faltassem um lugar em que o
adolescente liberasse sua angústia, e seu retorno fosse investido, perfurando seu corpo. Para Jean
Bergés, o corpo é antes de tudo, um receptáculo. No processo de constituição subjetiva, o corpo é
recoberto por palavras, olhares, e por cuidados permeados pelo Outro. Esse corpo também revela a
linhagem familiar do sujeito, os ditos que são anteriores a seu nascimento. Nesse sentido, esse corpo
deixa de ser uma integração fisiológica e orgânica para exibir em cada postura, gesto corporais
inscrições psíquicas e os traços familiares. Pressupõe-se que que a angústia estaria trazendo à tona o
recalque de registro no corpo, por alguns adolescentes. Conforme corrobora Ana Costa (2014), a
angústia marca o limite da imagem corporal e das identificações, independentemente da forma de
sua manifestação. As automutilações seriam forma de esvaziar a angústia, tal como na sensação de
um ataque de pânico, o que estaria em questão é que a fantasia de morte, na verdade, mostra os
contornos do corpo, em um rebaixamento ao puro corpo, que pode mostrar a necessidade de
reconstituir bordas que apresenta tanto uma relação com a erotização e com a carência de amparo
no Outro. Essas bordas são fundantes para nossa relação com o ambiente, com o outro e com a
realidade. Há o apontamento para uma desesperança para uma redução do corpo, de não sentirem
mais seus corpos serem contornados, de perderem sua imagem diante do espelho, pela falta do
Outro social, que parece se acentuar, considerando a resolução do narcisismo do estágio do espelho,
e a castração na saída do Édipo. Como essa pesquisa encontra-se em andamento, ressalta-se que a
leitura e releitura dos relatos dos adolescentes nas entrevistas está na tentativa de buscar ir além do
que se apresenta cotidianamente no espaço escolar “eu me corto para aliviar minha dor”, dor essa
psíquica.
72
promove à conscientização, a educação crítica, não alienante só poderá acontecer se esta ocorrer em
uma relação dialógica, entre educador-educando. Para Freud a “libertação” ocorre pelo “acesso” ao
inconsciente, colocado em palavras que para ambos poderá transformar a vida de cada sujeito. Para
uma abordagem progressista educacional, como nos apresenta Paulo Freire e uma leitura Freudiana
e Pós-freudiana nos impulsionam a pensar em uma subversão dos conceitos cristalizados, para isso,
traremos Coimbra, Bocco, Nascimento (2005) que nos traz o termo juventude, termo que melhor
corresponde ao potencial dos adolescentes trabalhos em grupo. Daí é preciso promover, e acreditar
na possibilidade de interface entre conhecimentos e saberes, entre Educação-Psicanálise,
Psicanálise- Educação que poderá vir propiciar o entendimento desses sujeitos em suas questões
objetivas e subjetivas, abrindo-se um espaço de escuta à palavra desses sujeitos em questão. Nossos
resultados parciais indicam a partir dos encontros com os grupos de adolescentes da pesquisa, nas
rodas de conversas, a utilização do termo juventude torna-se a melhor forma para apresentá-los em
sua intensidade juvenil, potência criativa, na construção de suas próprias narrativas, sendo assim, já
não cabe o conceito de adolescência, por já não mais defini-los, passam a se apresentar e
representar-se como sujeitos de suas próprias histórias, representados pela força constituinte ao
invés das formas com que se tenta defini-los. O ser humano ao apropriar-se da palavra, de forma
singular e única, nos apresenta sua narrativa. REFERÊNCIAS: ARIÈS, P. Lénfant et la vie familiale sous
l’Ancien Régime. Paris: Plon, 1960. FREUD, Sigmund. Obras Completas Volume 18. O Mal-Estar na
Civilização, Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise e Outros Textos (1930- 1936). São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. CARNEIRO, Cristina; RIBEIRO, Leila Maria Amaral; IPPOLITO, Rita.
Adolescência, Modernidade e a Cultura dos Direitos. Disponível em:
<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5156825> Acesso em: 08 ago.2019. COIMBRA, C.
C.; BOCCO, F.; NASCIMENTO, M. L. Subvertendo o conceito de adolescência. Arquivos Brasileiros de
Psicologia, v. 57, n. 1, p. 2-11, 2005. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v57n1/v57n1a02.pdf> Acesso em: 30 ago.2019 FREIRE, Paulo.
Pedagogia do Oprimido. 67 eds. Rio de Janeiro / São Paulo: Paz e Terra, 2019. ______ Pedagogia da
Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 41ª reimpressão. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
SAGGESE, Edson. Adolescência e Psicose: transformações sociais e os desafios da clínica. Rio de
Janeiro: Companhia das Letras, 2001.
Autor(a): Eric Ferdinando Kanai Passone – UNICID – Universidade da Cidade de São Paulo
Contato: ericpassone@yahoo.com.br
Título: A invisibilidade dos alunos de inclusão: paradoxos de uma política pública de educação
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este trabalho apresenta certo paradoxo à inclusão escolar presente na política de avaliação
educacional da educação básica do estado do Ceará, ente proeminente entre os sistemas estaduais
de ensino do país em termos de indicadores educacionais relacionados à proficiência de alunos das
séries iniciais do ensino fundamental, mas que possui no interior de seu próprio dispositivo de
avaliação externa um mecanismo de regulamentação que deduz do cálculo e da mensuração de
resultados das avaliações externas o desempenho dos alunos com algum tipo de deficiência, vindo a
criar uma espécie de “exclusão interna” ao sistema educacional. A partir da discussão acerca das
políticas de avaliação como mecanismo de gestão educacional (PASSONE, 2014; 2015), no contexto
nacional, e da observação de estudos que apontam à tendência excludente dos dispositivos de
avaliação em larga escala em relação aos alunos com deficiência (VOLTOLINI, 2019; SOUZA, 2019),
aborda-se o dispositivo administrativo previsto na Portaria nº 998 de 2013 cuja norma promove a
exclusão de alunos da educação especial do cálculo dos resultados provenientes das avaliações do
Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece). Constata-se, assim, a
produção da (in)visibilidade de alunos com deficiência no processo de avaliação do sistema de ensino
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do estado do Ceará, enquanto efeito do dispositivo avaliativo atrelado a gestão escolar. A
experiência do Ceará pode ser considerada um exemplo dessa realidade, um dos entes federados
pioneiros na implantação da accountability política que, desde o início dos anos 1990, vem
consolidando a cultura de avaliação e gestão por resultados a fim de obter um maior monitoramento
e controle das políticas educacionais locais. Nos estudos de políticas públicas, no que se refere aos
regimes democráticos, a noção “accountability” implica o dever dos mandatários de “prestar contas”
de suas atividades à sociedade (O’DONNEL, 1998). Concorda-se que a relação entre ética e
accountability nem sempre é óbvia, embora a mesma retrate um movimento de transição às
sociedades democráticas ou novas poliarquias. Porém, no caso brasileiro, quando se trata de
políticas públicas de educação, tal noção ganhou certos contornos empresariais ao ser inscrito como
dispositivo de “responsabilização” (PASSONE, 2014). Como esclarece Agamben, a noção de
dispositivo revela os meios pelos quais o saber e o poder inscrevem-se nas subjetividades, de tal
forma que “todo dispositivo implica um processo de subjetivação, sem o qual o dispositivo não pode
funcionar como dispositivo de governo, mas se reduz a um mero exercício de violência”. Em suma,
uma máquina administrativa, na medida em que o “dispositivo é, antes de tudo, uma máquina que
produz subjetivações e somente enquanto tal é também uma máquina de governo” (AGAMBEN,
2009, p. 46). A partir da compreensão de regulamentação exposta em que se insere a política de
responsabilização escolar representada pelo Prêmio Escola Nota Dez atrelado ao dispositivo de
avaliação, parte-se para o escopo central deste escrito: o paradoxo da inclusão escolar declarada em
termos do discurso político e o tema da (in)visibilidade dos estudantes com deficiência na política de
avaliação de resultados educacionais decorrente da não contabilização dos resultados dos mesmos,
como prerrogativa de que as escolas teriam condições mais justas de concorrerem à premiação
escolar, excluindo-os.
74
responsabilidade supõe a tomada da palavra a partir das exigências que a assunção à ordem do
discurso acadêmico-universitário demanda. Em sendo assim, problematizar aspectos desse processo
de constituição no e pelo discurso acadêmico que propiciem condições, ou não, para a apropriação
de uma escrit(ur)a acadêmica singular pode contribuir para a entrada de um universitário nesse
processo. Para explicitar e problematizar questões que envolvem o que se postula, aqui, proponho
analisar uma produção escrita de um jovem universitário, licenciando em Língua Inglesa, às voltas
com o processo de apropriação da escrita acadêmica. Sob a perspectiva da Análise de Discurso
pecheutiana, em sua interface com conceitos da psicanálise lacaniana, abordo a trajetória desse
aluno em sua relação com o professor formador, relação que pode ser decisiva em (im)possíveis
construções de laços sociais na e para a formação, concernentes à entrada do universitário na ordem
do discurso acadêmico. A possibilidade de uma escrita acadêmica singular, que proporcione uma
responsabilidade enunciativa no espaço universitário está atravessada, dessa forma, pela figura de
um outro, o professor formador. Configura-se, aí, portanto, um espaço de formação em que os
conflitos e impasses no processo de apropriação da escrita acadêmica podem se evidenciar.
75
uma forma de pensamento paralisada pelo dogmatismo de seu saber e pela autoridade cômoda dos
êxitos primeiros de sua experiência? Nosso interesse não está nas discussões epistemológicas acerca
do estatuto científico da psicanálise, como já feito por diversos autores, mas em adentrar a
magnitude de uma possível relação da epistemologia com a clínica. Sendo assim, faz-se importante
ressaltar que nosso interesse não é o de sugerir que os conceitos de obstáculo epistemológico e
resistência sejam dois nomes distintos para uma mesma concepção, e sim, pensar o que há de
próximo entre os dois conceitos e até mesmo, o que em potência os distingue. É possível
compreender o embate de moções pulsionais relacionadas à resistência do sujeito de forma
homóloga aos obstáculos epistemológicos que entravam a produção de conhecimento? Quais seriam
as potenciais contribuições para o campo da educação de uma rigorosa exploração desta homologia?
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as práticas educativas. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, 2003, p. 137-150.
VOLTOLINI, Rinaldo. Psicanálise e formação de professores: antiformação docente. 1.ed. São Paulo:
Zagodoni, 2018.
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Autor(a): Fernanda Arantes - Feusp
Contato: fe.arantes@uol.com.br
Título: O lugar do discurso pedagógico na educação inclusiva: percurso, entrecruzamentos e
deslocamentos.
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Muito tem-se discutido sobre o discurso pedagógico hegemônico e a sua “fantasia” ou
“ilusão” de que, para uma educação plena, é necessário que se conheça o aluno integralmente, seu
histórico desde o nascimento, sua natureza íntima, bem como suas necessidades para que se possa,
enfim, exercer o ato de educar. Segundo Silva (2014), nesse contexto parece se impor a ideia de que
existiria uma perfeita adequação entre o suposto conhecimento integral do aluno e a prática
educativa, como se ao conhecer (e, por que não?, apreender) o aluno em sua totalidade, o educador
teria em mãos “o caminho das pedras” para o seu melhor ensinar. Contudo, a experiência escolar e
pedagógica vem dando pistas de que esse ideal, quando posto em prática, mostra-se de solução não
tão simples ou imediata. Parece que quanto mais se tenta conhecer o aluno, mais dúvidas surgem e
menos certezas se tem sobre como ensiná-lo. Esse descompasso torna-se mais evidente quando o
tema recai sobre a educação inclusiva, ou seja, quando a escola se vê envolvida com os processos
educacionais de alunos em situação de inclusão na rede regular de ensino. O presente trabalho, fruto
do projeto de pesquisa de doutorado, sob a orientação do Prof Rinaldo Voltolini, propõe uma
tematização a respeito do lugar do discurso pedagógico na educação inclusiva. Tal proposição,
oriunda de inquietações levantadas a partir de falas de professores que revelam a impossibilidade de
se colocar em prática ações e estratégias inclusivas para seus alunos sem que se tenha um total
conhecimento acerca de suas necessidades especiais, busca recuperar o surgimento do discurso da
educação inclusiva que, apesar de se fazer presente com força de lei no território brasileiro, possui
sua etiologia nos consensos acerca dos direitos humanos e da pessoa com deficiência. O caminho
traçado tenta identificar e refletir sobre os nós discursivos que se formam no campo pedagógico e
que obstacularizam o fazer educativo. A tematização pretende levantar questões sobre o modelo
idealizado, o qual traz a perspectiva de que incluir na escola significa apreender o outro em sua
totalidade, definir seu espaço, suas ações e designar-lhe um nome. O aluno dito "incluído" torna-se,
idealmente, compreensível graças ao aprisionamento de sua singularidade por um discurso
especialista, mas dado ao fracasso do empreendimento ilusório, retorna-se à impossibilidade da
inclusão e, consequentemente, à desvalorização do discurso pedagógico. Levar isso em consideração
é entender que os nós discursivos — da pedagogia e dos especialistas — que se dão no campo
escolar tem uma série de implicações que requerem uma análise cuidadosa, que leve em conta as
contradições intrínsecas do contexto que se pretende discutir.
78
transmissão da Lei e de marcas simbólicas dos mais velhos aos recém-chegados no que se refere à
constituição do humano e suas relações (LAJONQUIÈRE,2010). Já o segundo, diz respeito aos
dispositivos de controle do processo educativo a partir do saber especializado. Destaca-se que,
diferente do segundo campo, o primeiro reconhece o mal-estar estruturante do sujeito e da
civilização (FREUD,1929).
Historicamente, a educação é responsável pela transmissão da Lei que possibilita a vida em conjunto,
bem como, constitui o humano enquanto sujeito de fal(t)a e desejo. Por meio da psicanálise é
possível compreender que todo ato educativo está envolvido por um impossível, visto que a
transmissão e o controle são sempre não-todo. Isso significa que diante do que se pretende fazer na
educação de uma criança os resultados serão sempre insuficientes e imprevisíveis (VOLTOLINI,2011).
O laço social contemporâneo aparece marcado pelo discurso da tecnociência, este define o sujeito
exclusivamente enquanto ser de razão e comportamento, constrói um modelo ideal ao qual todos
devem se referenciar e considera sintomas relacionais somente a partir de soluções técnicas e
biológicas. No que tange ao tempo de infância percebe-se o surgimento dA-Criança, modelo
constituído sobre categorias fictícias, a-históricas e naturalizadas (LAJONQUIÈRE,2010). Acontece que
esta demanda impossível de encarnar A-Criança deixa à margem todas as crianças de carne e osso, o
que dificulta o reconhecimento da criança-sujeito e caracteriza suas manifestações enquanto
desvio/anormal. Desta maneira, a sustentação dA-Criança ideal acaba por impedir que os pais e
outros adultos realizem o luto dA-Criança maravilhosa (LECLAIR,1977). O que se constata no
cotidiano da clínica psicanalítica com crianças é a sensação de paralisia dos pais diante de seus filhos.
Percebe-se que há uma insuportabilidade dos pais em lidar com o estranhamento que a criança
causa quando esta demonstra também ser marcada pelo registro da falta e da incompletude. Isso
que os pais estranham nela aparece em forma de queixa comportamental que, com frequência,
conduz à patologização da criança quando esta não corresponde às expectativas e ideais que lhe são
endereçados.
Neste contexto, percebe-se a importância da ética psicanalítica ao se posicionar contra a
naturalização da criança-sujeito, ao mesmo tempo que possibilita aos adultos a realização do luto
dA-Criança. O que cria condições para que a criança real possa ser familiarizada pelo Outro, e este,
ao se descolar do saber especializado, possa reconhecer o valor do seu saber singular a ser
transmitido. Desta maneira, a morte dA-Criança ideal possibilita que o ato educacional não seja
sentido pelos adultos como impotência. Freud, S. (1996/1929). O mal-estar na civilização. S. Freud,
Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol.
21, 73-148). Rio de Janeiro: Imago. Lajonquière, L. de (2010). Figuras do infantil: a psicanálise na vida
cotidiana com as crianças. Petrópolis, RJ: Vozes. Leclair, S. (1977). Mata-se uma criança - Um estudo
sobre o narcisismo primário e a pulsão de morte. Rio de Janeiro, RJ: Zahar Editores. Voltolini, R.
(2011). Educação e psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. Voltolini, R. (2017). 1 vídeo (20min 31seg).
Psicanálise, educação e transmissão. Publicado no Youtube pelo canal Os Psicanalistas e suas
Análises.
79
na faixa etária de 5 e 6 anos, em uma escola pública do Distrito Federal. A professora observou por
alguns minutos o desenrolar da brincadeira entre duas meninas. Uma delas, com características do
grupo étnico negro (pele, olhos e cabelos pretos e crespos) pegou uma coroa de brinquedo e a
colocou na cabeça, preparando-se para desfilar, dizendo ser uma miss. Imediatamente, foi
interrompida por outra colega de pele, cabelos e olhos claros, que afirmava categoricamente que
não existia “miss preta”. Ao perceber a cena, a professora interveio, também indagando o motivo de
não poder existir “miss preta”. A menina de pele clara, justificou dizendo que “não fica bonito o
batom, o gloss não combina, é feio e não dá pra ver a cor do batom”. Ao utilizarmos a Psicanálise
como metodologia e análise em pesquisa, traçamos uma forma singular de compreender e conceber
a racionalidade humana, a produção de conhecimentos e a própria Ciência. Sigmund Freud (1856-
1939), criador da Psicanálise, buscou apreender e denotar o funcionamento da mente (psique),
descobrindo que há uma força motriz que nos impulsiona à ação (libido) na busca pela satisfação dos
nossos anseios (desejos), como forma de suprirmos a sensação de desamparo existencial que nos
assola desde o nascimento, resultado também, das sinapses ainda abertas, quando bebês. Pontuou
que, na maioria das vezes, não é a consciência ou a lógica cartesiana que dirigem nossas ações. Em
grande parte, agimos por impulsos e desejos inconscientes. Como essa constatação pode impactar o
processo ensino-aprendizagem, a formação e atuação docente? Sob a perspectiva da Psicanálise, nos
tornamos humanos ao sermos inseridos numa cultura e grupo social que nos imprime uma marca,
um desejo. As expectativas criadas por nossos genitores antes mesmo de nosso nascimento nos
influenciam, desde a escolha do nosso nome, as projeções de atividades que iremos exercer no
futuro, aspectos físicos e emocionais dentre outros. Freud (1995) em seus apontamentos “Algumas
reflexões sobre a psicologia escolar”, afirma que as atitudes emocionais dos sujeitos entre si,
exercem grande importância e são referência de comportamentos posteriores que vão sendo
inscritas na psique, numa idade muito precoce. A criança vai construindo seu repertório emocional a
depender dos modelos que lhes forem apresentados, já com seus primeiros cuidadores. Ao sair do
seio familiar, os primeiros contatos aos quais as crianças são submetidas estão nos ambientes de
creches e escolas, sendo os professores seus principais interlocutores e, por vezes, cuidadores e
substitutos das funções materna e paterna. É inegável a importância que nossos professores
exerceram (e talvez ainda exerçam) na constituição do nosso aparato psicológico. Neste sentido,
pontuamos que a ação pedagógica pode desempenhar relevante papel no repertório, ou mesmo em
bloqueios psíquicos em relação aos conhecimentos, conceitos e habilidades a depender das
experiências vivenciadas neste contexto. Desta forma, o processo ensino-aprendizagem é concebido
em seu caráter singular e complexo, multifacetado, construído a partir das interações sociais
compartilhadas e vivenciadas por todos os sujeitos envolvidos nesta relação. A escola, desta forma,
pode intervir duplamente: na subjetividade individual e coletiva, quando este sujeito se submete aos
anseios grupal aos quais se filia. Mais que um apanhado de leis que preconizem o respeito e a
inclusão do sujeito, precisamos refletir sobre como nossas ações impactam o outro em sua
subjetividade. Quais as matrizes e referenciais nos constituem e nos faz sermos o que somos.
80
Resumo: Com esse trabalho pretendemos estudar as diversas condutas adotadas por estudantes do
curso de graduação em Física da UFOP, procurando entender, em particular, as motivações e
interesses, conscientes e inconscientes que eles demonstram durante todo o curso, bem como os
motivos que levam os mesmos ao abandono do curso e/ou disciplinas procurando entender como se
dá esse processo e eventualmente, implementar soluções para tais problemas. Para isso, vamos
utilizar alguns conceitos fundamentados na Psicanálise de orientação lacaniana, desenvolvidos
dentro da linha de pesquisa que investiga a utilização da Psicanálise, para entender os problemas de
ensino e aprendizado em Ciências. A utilização de ideias oriundas da Psicanálise na interpretação de
dados relativos ao ensino e aprendizado de Ciências, apesar de ser uma linha de pesquisa
relativamente recente, tem apresentado, desde que foi criada, uma produção regular constituída por
diversas contribuições interessantes. O pressuposto fundamental dessa linha de pesquisa assume
que no processo de aprendizagem de conceitos científicos, mais do que uma mudança estritamente
conceitual, o que está em jogo, fundamentalmente, é uma mudança na relação do aprendiz com o
conhecimento. Ou seja, poderíamos dizer que a aprendizagem, do ponto de vista construtivista, vai
além do estabelecimento de relações significativas: é preciso que haja motivação, ou do ponto de
vista da Psicanálise, desejo de investir no processo. Trata-se, portanto, mais do que construir
significados, de perseguí-los. A metodologia se dará, num primeiro momento, por meio do
levantamento de dados na Seção de Ensino da Universidade Federal de Ouro Preto, sobre os índices
de evasão dos alunos do curso de Física (Bacharelado e Licenciatura). Depois, por meio de entrevistas
com alguns alunos matriculados no curso, em diferentes períodos, serão levantadas possíveis
hipóteses sobre os motivos que os levam à desistência e/ou ao abandono e também sobre a
continuação dos mesmos dentro da Universidade.
82
reflexão sobre outros modos de pensar e viver a escola, nosso foco no presente trabalho incidirá
sobre as experiências que burlam o modelo hegemônico, buscando brechas, fissuras, promovendo
desterritorializações no interior mesmo do território (GALLO, 2010). Considerando a diversidade de
experiências contra-hegemônicas existentes, nos dedicaremos de modo mais específico a análise das
chamadas Escolas Democráticas. A história das Escolas Democráticas atravessa todo o século XX e
adentra XXI, tendo instituições escolares que se classificam dessa forma emergido nos cinco
continentes do mundo durante esse período. A partir dos anos 1980, algumas dessas escolas
começam a se organizar em redes internacionais, articulando mais de 500 instituições (AVELLAR &
FERNANDES, 2018). No Brasil, segundo levantamento que fizemos levando em conta as escolas que
participam de redes internacionais bem como aquelas que se autodeclaram dessa forma (ALMEIDA,
2014), existem 22 Escolas Democráticas, distribuídas em 6 estados da federação. No contexto do
presente trabalho, nos interessa saber: de que modo as Escolas Democráticas se diferenciam do
modelo hegemônico no que se refere às concepções de escola e sujeito que mobilizam em seus
fazeres educacionais? Através de pesquisa bibliográfica, análise dos sites, entrevistas, dentre outras
fontes, procuraremos responder à
essa pergunta, fazendo uso das ferramentas conceituais foucaultianas. Dialogamos especialmente
com os conceitos de subjetivação, disciplina e cuidado de si, em busca de possibilidades “de
singularização no interior do próprio sistema escolar, no processo institucional mesmo” (GALLO,
2010. p.241). Se a escola hegemônica vem sendo um espaço de serialização e normalização das
condutas dos sujeitos que as habitam, pretendemos com nossa pesquisa dar visibilidade às
instituições que produzem buracos no espaço estriado do sistema educativo, aproveitando-se de
suas brechas e falhas para produzir escapes e novos sentidos à experiência escolar. Referências:
ALMEIDA, Gabriela. Para onde caminham as escolas? 2014. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília. AVELLAR, Simone Aleixo; FERNANDES,
Cláudia de O. As Escolas Democráticas como possibilidade de construção de uma educação outra.
Revista Aleph, Rio de Janeiro/RJ, n.30, p.9-25, 2018. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da
violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1991. GALLO, Sílvio. Educação: entre a subjetivação e a
singularidade. Revista Educação, Santa Maria/RS, v.35, n.2, p.229-244, 2010. GUATTARI, F; ROLNIK, S.
Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986. SAVIANI, Demerval. Teorias
Pedagógicas contra-hegemônicas no Brasil. Ideação, Foz do Iguaçu/PR, v.10, n.2, p.11-28, 2008.
TACCA, Maria Carmem Vilela Rosa; González Rey, Fernando Luis. Produção de sentido subjetivo: as
singularidades dos alunos no processo de aprender. Psicologia, Ciência e Profissão, Brasília/DF, v.28.
n.1, p.138-161, 2008.
83
aumentar ainda mais esse sentimento. Os encaminhamentos das escolas ao Conselho Tutelar, são
feitos predominantemente em virtude de “conflitos”, “agressividade” e “falta de interesse no teor
pedagógico”. São realizados através de notificações ou pareceres solicitando que o adolescente seja
assistido pela instituição e destinado para a rede de apoio, ou seja, para o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centro de
Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi), Núcleo de Atendimento Psicopedagógico da Educação
Municipal (NAPEM) e outros, caso necessário. Gurski e Strzykalski (2018) lançam caminhos que nos
levam a pensar que “dentre as marcas que revelam as nuances do mal-estar contemporâneo [...]
situamos os inúmeros casos envolvendo o protagonismo juvenil em atos infracionais ou o uso de
violência”. (p.74). Dessa forma, assim como pontuam a marginalização juvenil tem se apresentado
em diversos âmbitos, mas em particular na escola, pois é ali em que esses jovens/adolescentes
passam a maior parte do seu tempo e nem sempre se sentem pertencentes ao espaço. Para a
psicanálise, o sujeito se constitui no campo do Outro, e isso é reeditado na adolescência, quando se
dá a passagem da referência ao discurso familiar para os discursos sociais (Lesourd, 2004). Portanto,
tanto a escola quanto a instituição jurídica tomam parte nesse processo, mas muitas vezes não são
capazes de acolher o sujeito que ali se apresenta e comparecem apenas com discursos avaliativos e
práticas burocratizantes de encaminhamentos da questão, que nos remetem ao reenvio das
impotências trabalhado por Zelmanovich (2014). Recorrendo à psicanálise, este projeto busca alargar
a compreensão do mal-estar instalado entre a escola e o conselho tutelar diante dos adolescentes
que não respondem da forma esperada. Na contramão de propostas universalizantes, que visam à
adaptação e ao condicionamento de comportamentos em relação a uma norma, propõe-se aqui
operar uma escuta a fim de verificar a que e a quem esses atos cometidos dentro da escola estão
respondendo, o que poderia modificar o olhar sobre a atuação do psicólogo no Conselho Tutelar e
sobre as práticas desta instituição. A proposta desta pesquisa-intervenção, orientada pelos
pressupostos da psicanálise (Poli, 2005), é acompanhar alguns casos de adolescentes encaminhados
pela escola ao Conselho Tutelar através de entrevistas com o adolescente e os familiares, visitas à
escola e reuniões com a equipe pedagógica. Assim, privilegiaremos um olhar mais ampliado sobre a
questão dos encaminhamentos frequentes da escola ao CT, de forma que todos os envolvidos sejam
ouvidos a respeito dos entraves apresentados. Isso convoca um diálogo entre vários campos do
saber, educação, ciências sociais/ políticas e o campo jurídico.
84
da menina com a mãe torna-se central para esta elaboração, na medida em que considera o desejo
de ser possuída passivamente como a constituição da mulher em sua condição feminina, de sujeição
ao masculino e ao seu próprio desejo de ser objeto. A retomada desta formulação freudiana por
Lacan será emblemática para um novo desenvolvimento do significado da mulher no interior da
Psicanálise: o não-todo-fálico e suas formas de gozo. A vertente da castração ocupa lugar central,
segundo Lacan, nesta formulação originária de Freud. Daí em diante, a mulher mais-além-do-falo,
este não-todo, passa a ser puro devir. Este não-falo e para além dele constitui-se como vasto campo
de possibilidades.
Por outro lado, o lugar de representação histórica da mulher na Historiografia tradicional tem sido,
historicamente, marginalizado. As análises de estudo conceitual da História, hegemônicas, não
interagem com as questões do feminino. A ética e a metodologia da pesquisa histórica ignoraram a
experiência coletiva de mais da metade da população da humanidade. É um paradoxo entender o
processo pedagógico quando o pensamento educacional na História Brasileira é inflexivelmente
machista e patriarcal. As questões de gênero aparecem, sobretudo, quando a menina aprende sua
identidade sexolinguística para imediatamente renunciar a ela. Por outro lado, as desigualdades
sociais construídas e desconstruídas nos embates do poder, no caso do Feminismo, reforçam os
estereótipos de gênero, constituindo-se como afirmação da supremacia masculina dentro do
território ideológico do binarismo de gênero. Resgatar os estudos de gênero, dentro da tradição de
uma Historiografia Feminista, no sentido de considerar a desconstrução do sexismo, do binarismo de
gênero e da tradição histórica deste legado, consiste em tarefa central para pensar o novo estatuto
da Mulher e do Feminino para o contemporâneo. Neste sentido, este projeto de estudo coletivo – de
mulheres de variadas formações, dores e desconstruções ao longo da vida –, procura buscar, estudar
e pesquisar as contribuições de uma Historiografia Feminista e dos Estudos de Gênero para um
diálogo conceitual com a Psicanálise, no sentido de relacionar a pertinência teórica lacaniana da
dialética falo X não-falo e do significado da objetificação da mulher perante o desejo de ser possuída
pela dinâmica da relação entre falo-poder e pênis-masculino, relação esta de sobredeterminação das
estruturas de poder sociais na sexualidade. Significa dizer que o pênis ocupa o lugar de falo porque o
macho ocupa o lugar de poder nas relações patriarcais, sendo o pênis o seu símbolo na sexualidade.
Isso quer dizer que a fundamentação desta objetificação e sujeição da mulher ao desejo do outro
fálico requer a compreensão das estruturas sociais de poder que incidem sobre a sexualidade.
85
precisava ser disciplinado para a reprodução do Capital. Freud nasceu na era do panoptismo,
ilustração arquitetônica do poder disciplinar, que visa a docilidade dos corpos necessária para o
trabalho industrial típico do século XIX e início do XX. Freud escreve a aversão ao trabalho de sua
época como natural na época do fordismo/taylorismo, na qual o investimento do corpo pelo poder
era rígido e denso e o corpo deveria ser docilizado através do exercício do poder disciplinar. Foucault
já nota que, após a década de 1960, surge não um poder que se exerce por um controle-repressão
(sobre o corpo), mas por controle-estimulação. Byung-Chul Han leva mais adiante tal percepção,
rompendo com o modelo da biopolítica ao propor sua substituição no neoliberalismo (nascido na
década de 1970) pela psicopolítica: o primeiro ainda está dominado pela negatividade, pela
repressão, pelo corpo; o segundo é marcado pela positividade, pela produtividade, visando a alma. A
Ananke que Freud cita como um dos pais da cultura foi substituída pelas necessidades do Capital,
que representa uma nova forma de transcendência – hoje o Capital é efetivamente o grande Outro
que estrutura o campo social. O sujeito neoliberal da psicopolítica é o empresário de si mesmo, ele
padece do ideal de superação de si e da obrigação de ter cada vez mais desempenho. A psicopolítica
funciona com estímulos positivos, não negativos. A partir daí, procuramos retomar o tema do
trabalho pela psicanálise: muitas formas de trabalho precário contemporâneas funcionam tendo
como base o ideal empresarial de si neoliberal. Aplicativos de “carro particular”, de delivery de
compras, comidas, aluguel de apartamentos e outras formas de sharing economy operam
explicitamente a partir do ideal empresarial de si, um novo dispositivo disciplinar que consegue
superar a dicotomia civilização versus pulsão estabelecida por Freud ao possibilitar que a própria
insubordinação polimórfica da pulsão seja incorporada na exploração neoliberal do trabalho. Seja
seu próprio patrão! é a propaganda do Uber que ilustra bem essa nova configuração subjetiva na
qual não há mais um Supereu repressivo, mas o Supereu marcado pelo imperativo do gozo de que
Lacan tanto nos fala.
86
de autoridade; problema biológico? Com isso, ressaltamos a questão “de se saber se o discurso
analítico pode gerar uma outra resposta discursiva, ao propor uma prática que vai na contracorrente
do corolário evidente desse tipo de diagnóstico, que é o confinamento da subjetividade ao mais
absoluto silêncio” (SANTIAGO, A.L. 2005). Afinal, a lógica científica de conferir o estatuto de verdade
segundo parâmetros objetiváveis de investigação, tende a foracluir o sujeito de sua dimensão
particular, do caso-a-caso.
Pontuamos com Freud que a educação figura entre os ofícios impossíveis - ao lado de psicanalisar e
governar; o fracasso constitui e até mesmo justifica a prática pedagógica, já que a excelência de uma
metodologia de ensino não exclui o insucesso do que se aprende. O saber-fazer almejado pelas
práticas de ensino convivem, afinal, com a dimensão pulsional do sujeito; ou seja, há sempre uma
porção ineducável com que o educador lida no exercício do seu ofício. Ainda sobre as profissões
impossíveis: “eminentemente marcadas pela presença da palavra, colocariam em evidência sua
função de reguladora do gozo, seja do gozo referente ao próprio corpo, seja do que desse gozo
peculiar estaria presente na relação com o outro” (RAHME, M. 2012). A dimensão do impossível nos
remete a algo que escapa, algo que não se consegue obter. Diante de um aluno que nos convoca ao
não saber, estamos diante de algo que talvez não possa ser respondido nem objetiva, nem
prontamente. Isso nos remete à uma outra cena do cotidiano escolar. Ao falar de um aluno, a
professora faz um apelo: "esse menino precisa de um laudo, ele está prestes a explodir! Precisamos
saber o que ele tem!” O aluno era Paulo, do 2º ano do EF – de modo geral exigente com a qualidade
de suas tarefas, participativo (costumava contribuir com o ambiente de ensino-aprendizagem). À
época, Paulo e a professora atravessavam um período de conflitos entre eles: Paulo exaltou-se pela
primeira vez quando a professora quis tomar dele um desenho cujo tempo de realização havia se
esgotado; ele ficou nervoso, empurrou a mesa, gritou, chorou. O que chegou como afirmação na fala
da professora, torna-se uma importante questão: o que esse menino precisava, era mesmo um
laudo?
Autor(a): Isabela Alessandra Silva Tomaz – UEMG – Universidade do Estado de Minas gerais
Coautor(a): Priscila Aparecida de Sousa
Contato: belatomaz09@yahoo.com.br, priscila-aparecida2012@hotmail.com
Título: Rasuras corporais: Adolescência e automutilação em psicanálise
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O presente trabalho objetiva investigar a problemática da automutilação na adolescência a
partir do conceito de corpo na perspectiva psicanalítica. Atualmente, nota-se que diversas questões
presentes na clínica apontam para uma alta incidência de quadros cuja principal via de expressão são
as marcas corporais (CARDOSO; DEMONTOVA; MAIA, 2016). Sabe-se que a automutilação na
adolescência é um dos enquadres clínicos crescentes e com o qual se depara com frequência nos
atendimentos psicológicos contemporâneos. Diante das experiências realizadas no período de
estágio em psicologia, tornou-se evidente o impacto social do estudo acerca da automutilação neste
período do desenvolvimento ao se observar a quantidade de demanda por atendimento psicológico
do público infanto-juvenil devido à prática do cutting nas instituições de atendimento e paróquias do
centro-oeste mineiro. Os atos de corte na superfície corporal provocam questionamentos sobre os
impactos internos que incidem na relação entre o corpo e o psíquico dos jovens. Neste contexto,
busca-se realizar uma análise da relação do adolescente com as marcas corporais inscritas em seu
corpo tendo como instrumento a pesquisa e levantamento bibliográfico sobre a temática. De acordo
com Le Breton (2010), para o adolescente, o corpo, representa a sua relação com o mundo e nos
espaços em que as palavras falham, o corpo fala para descobrir marcas, e assim, restaurar uma
fronteira em relação ao mundo externo. Assim, pode-se compreender que o corpo é utilizado como
vínculo de expressão, em que a dor é colocada enquanto modo de manifestar o sofrimento daquele
87
sujeito. Portanto, torna-se imprescindível para a prática do psicólogo analisar as relações
estabelecidas diante do limite do simbólico inscrito na pele do adolescente a fim de possibilitar uma
escuta diferenciada diante daquilo que se apresenta em forma de “rasura” corporal e tem como
possibilidade coletivizar e singularizar. Para esta investigação deve-se considerar a relação entre este
sujeito e Outro, bem como o endereçamento da mutilação ao olhar deste para enfrentar o desafio da
prática com o público jovem nos diversos contextos em que a psicanálise se insere, deixando que o
que há particular apareça nessa forma de comunicação do adolescente.
88
aparelho psíquico. É se servindo da negação que os sujeitos podem falar de si para o outro, “de
maneira a apresentar seu ser sob o modo do não ser” (Hyppolite, 1954 in Lacan, 1998).
Referências: APA. (2014). DSM-5. Porto Alegre, RS: Artmed. Caponi, S. (2018). Dispositivos de
segurança, psiquiatria e prevenção da criminalidade: o TOD e a noção de criança perigosa. Saúde e
Sociedade, v. 27, n. 2, p.298-310. Freud, S. (2014). A negação. SP: Cosac Naify. Lacan, J. (1998).
Escritos. RJ: Zahar.
89
segregação que vêm aumentando em todo o mundo. Ao agir assim, descuidam do caráter político
intrínseco à instituição, o que é uma flagrante negligência a esse sintoma social. A escola age como
se o sucesso de cada um dependesse somente do seu empenho individual, sem a implicância das
coordenadas institucionais, sociais e políticas. Tal fato interfere no ato educativo, impossibilitando a
inclusão daquele que comparece como vulnerável. Portanto, escola, não tem cumprido a sua função
social na vida desses sujeitos. Considerando esse fato, para que sejam construídas estratégias de
inclusão, os professores precisam refletir sobre esse vazio que a educação não conseguiu ocupar na
vida dos jovens.
90
e a constituição do sujeito, haverá no fazer do educador algo que faca correspondência aos
indicadores operantes na função materna? A aposta é positiva, na medida em que o desejo do
professor possa se sustentar a partir da sublimação de sua pulsão com direção à finalidade de uma
realização profissional e, assim, investir falicamente nas crianças que estão aos seus cuidados. Na
medida em que não há laço de filiação e de sexualidade na relação educador e criança, o exercício da
função materna a partir de seu desejo se localizará junto à criança nesse campo de ideais
profissionais. Nesse sentido, a possibilidade de enlace com a psicanálise se encontra na manutenção
da dimensão educativa ao lado da aposta sustentada na suposição de sujeitos em constituição.
Assim, em uma visão positiva de saúde, este pequenino virá a se constituir psiquicamente também
sustentado pelo desejo desse cuidador/educador que se torna essencial.
Autor(a): Jaime Carlos Vidarte Gaspary – UFRS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Coautor(a): Roselene Ricachenevsky Gurski
Contato: jc.vigas2017@gmail.com, roselenegurski@terra.com.br
Título: Curso de vida e trajetória delinquencial: Diálogos possíveis (e impossíveis) no encontro da
psicanálise com diferentes disciplinas em uma pesquisa
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: Este trabalho surge a partir da experiência com o projeto Curso de vida e trajetória
delinquencial: um estudo exploratório dos eventos e narrativas de jovens em situação de
vulnerabilidade, cujo objetivo é estudar o percurso de vida de jovens reincidentes do sistema de
socioeducação em POA durante o ano de 2015, a fim de contribuir com a construção de políticas
públicas neste campo, tratando-se de um trabalho realizado em parceria com professores do curso
de Psicologia e Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No Rio Grande do Sul, a
pesquisa ficou sob responsabilidade do grupo que integro: o Núcleo de Pesquisa em Psicanálise,
Educação e Cultura (NUPPEC - Eixo 3 Psicanálise,Educação, Adolescência e Socioeducação). O Projeto
se divide em duas etapas. Em 2018, realizou-se a 1ª etapa em Porto Alegre, a saber, a coleta e análise
preliminar de 96 Planos Individuais de Atendimento (PIA) através de registro das informações que
serão posteriormente estudadas pela sociologia da UFMG. A 2ª etapa será realizada ao longo de
2019 através de entrevistas individuais com aplicação de um questionário com 30% desta
selecionada amostra de jovens reincidentes. No início de 2019, quando passei a integrar o NUPPEC -
Eixo 3, o grupo já vinha adensando suas discussões metodológicas acerca das potências e impasses
que surgem quando, desde a psicanálise, nos colocamos em diálogo com outros campos e saberes,
tais como o encontro com a sociologia, criminologia, socioeducação, dentre outros. Nas discussões
do grupo, temos pensado que a maneira como se dá a formulação de uma pergunta de pesquisa
interfere diretamente na construção do objeto a ser estudado. Assim, enquanto bolsista-pesquisador
iniciante, inquietou-me alguns pressupostos trazidos no Projeto (desde a sociologia e criminologia)
que se aproximam de um certo não reconhecimento de diferentes modos de vida em cenários
marginais da cidade; assim como construções que davam um tom determinista à vida daqueles em
situação de vulnerabilidade. Sobre os aspectos metodológicos, salientamos que a posição do
bolsista-pesquisador é orientada pela ética psicanalítica (LACAN, 1959-60/1992), isto é, pela não
antecipação à experiência com o campo. Tal premissa significa dizer que o pesquisador psicanalítico
é o primeiro sujeito de sua pesquisa (...) assim ele está também implicado como um participante
importantíssimo na investigação realizada. (IRIBARRY, 2003, pg. 122). Ora, sabendo que cada teórico
parte de premissas historicamente construídas em seu campo, sendo atravessado por implicações
diversas e distintas (portanto, culminando em diferentes paradigmas) o encontro entre dois ou mais
campos acaba por, de uma forma ou outra, produzir efeitos e torções de forma recíproca. Assim, o
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objetivo deste escrito é, justamente, tecer considerações preliminares sobre as possibilidades e
limitações do diálogo/colaboração entre psicanálise e outros campos de saber a partir da experiência
na pesquisa Curso de vida e trajetória delinquencial. Desde essa posição, serão analisados os
seguintes materiais: (a) o projeto de pesquisa, mais especificamente, seus pressupostos e
instrumentos metodológicos; (b) as elaborações surgidas nas reuniões do grupo de pesquisa e nos
momentos de orientação; (c) as construções que decantam do estudo teórico de textos pertinentes à
temática para problematizar o encontro entre os saberes e campos na pesquisa supracitada.
92
nesta problemática: a primeira é discussão sobre políticas públicas e a segunda é o acompanhamento
do cotidiano escolar, atravessado por questões que surgem na escolarização de crianças imigrantes.
O acompanhamento do cotidiano escolar é uma tarefa que exige reflexão, uma vez que a inserção de
psicanalistas nessas instituições não é a priori parte do quadro dos profissionais das escolas, além de,
em nosso caso, se tratar de uma demanda específica para intervir numa situação que relacionava
dificuldades em lidar com um estudante e o fato dele ser filho de pais imigrantes. Apesar de ser um
pedido que poderia ter como estratégia de intervenção a realização de um acompanhamento
terapêutico, nosso caminho partia das práticas psicanalíticas clínico-políticas, que, em linhas gerais,
partem do princípio de que a escuta, em contextos de vulnerabilidade social, implica que o
psicanalista, necessariamente, lance mão de estratégias clínicas não convencionais, promovendo
uma psicanálise implicada, pois atenta à complexidade histórica e social de sua formulação (Rosa,
2016). Logo de início a língua se destacou como um fator peculiar desse trabalho, pois é identificada
como o grande gerador de “mal-entendidos”: os professores se queixam de não entender os
estudantes e seus pais, os pais estrangeiros falam que não compreendem os professores, professores
e coordenadores orientam as famílias a falarem somente em português com as crianças.
Sublinhamos que a língua é, também, o sintoma que faz com que as escolas percebam esses alunos
como problema: crianças que não falam nenhuma língua e que são encaminhadas para passarem por
processos psicodiagnósticos, na maioria das vezes, já com suspeita de estarem dentro do Transtorno
do Espectro Autista (TEA). Compondo esse quadro, causou impacto o grande número de crianças e
adolescentes imigrantes ou filhos de imigrantes encaminhados, pelas escolas, para os CAPs da região,
evidenciando o tratamento recebido quando de questões relacionadas à linguagem: invariavelmente,
no caso da pessoa imigrante, dificuldades de aprendizagem ou comunicação são pensadas e tratadas
como transtornos mentais. O obstáculo da língua aparece como sintoma social eminente. Situação
complexa, que apontava acerca dos mal-entendidos da língua e, sobretudo, da condição de
estrangeiro. Dessa forma, propor uma metodologia de intervenção nesta e, posteriormente, em
outras unidades escolares da mesma região que solicitaram o trabalho, precisava levar em conta
esses atravessamentos e, ao mesmo tempo, estar aberta para construir um percurso conjunto com
os profissionais das escolas. Partimos, portanto, das portas de entrada que nos foram dadas pelas
instituições: o acompanhamento de alunos difíceis-imigrantes que mobilizam toda a instituição,
conversas periódicas com a coordenação e conversas periódicas com os professores. Ao longo do
percurso, fomos ocupando os lugares que nos foram demandados para podermos produzir questões
e indagar a demanda por psicólogos. Orientados pela escuta psicanalítica, fomos produzindo este
não-lugar nas escolas, instituições carregadas de signos próprios e de um fazer específico. Tendo
como pressuposto de que o método é um caminho provisório para entender uma determinada
questão, pretendemos discutir, em nossa apresentação, fragmentos de nossas intervenções, com o
objetivo de investigar a metodologia que fomos propondo, esta que sustenta que a escuta
psicanalítica pode mobilizar as instituições escolares para que estas façam enigmas de suas certezas.
93
sujeito para além do diagnóstico? Esta questão perpassa o acompanhamento e são renovadas a cada
momento marcante da escolarização: A resistência da família acerca da hipótese diagnóstica; A
avaliação de forma multidisciplinar, envolvendo Psicologia e Terapia Ocupacional Educacionais, CAPS
Infantil e neurologia; Inserção nos serviços de atendimento educacional especializado, em Sala
Recursos Multifuncional e disponibilização de professora apoio; A troca destas professoras a cada
reinício de ano letivo. O elemento amarração para a condução do trabalho pela pedagogia e a
psicologia é a escuta clínica de orientação psicanalítica. Trata-se de uma aposta feita pelos
profissionais no sentido de acolher as angústias da criança, família e professoras e, ao mesmo tempo,
ofertar espaços de fala e valorização das produções singulares. A escuta clínica institui um espaço em
que o sujeito aprendente, o educador e a família se tornam corresponsáveis pelo processo de
reelaboração do conhecimento, tanto acadêmico quanto de si mesmos. É também um lugar de
angústia, pois, a cada nova elaboração faz-se necessária a desconstrução de um conhecimento antes
instaurado. No caso apresentado, o referido aluno não apresenta entraves em sua estrutura
cognitiva que o impeçam de construir o conhecimento. Por outro lado, grande dificuldade em lidar
com situações de aprendizagem que o levam a questionar o lugar que tem ocupado, além das
vivências corriqueiras do cotidiano escolar que remetem a conflitos pessoais e produz reações
diversas, nem sempre entendidas pelo educador. Os pais demonstraram grande resistência quanto a
hipótese e à avaliação diagnóstica. A escuta, em primeiro lugar, favoreceu que pudessem lidar com
as expectativas criadas em torno da criança e que pareciam ser frustradas com a suspeita sobre o
autismo. A partir de então, o trato com as especificidades da criança no processo ensino-
aprendizagem. Os educadores ocupam um lugar de proporcionar condições ao aluno para que este
possa construir o conhecimento. O educando é um ser social e de desejo e ainda traz alguns conflitos
pessoais, os quais muitas vezes esbarram em políticas institucionais que acabam por agravar estes
conflitos e/ou propiciar outros. Escutar as professoras representa tanto o acolhimento e elaboração
de suas angústias quanto o suporte para que elas mesmas possam oferecer sua escuta ao aluno. O
trabalho das professoras é diário. Como orientá-las quanto ao que fazer ou não em sala? A conhecer
as regularidades e também lidar com a imprevisibilidade o aluno? Escutar essas profissionais é
indispensável. Onde prevaleciam queixas de impotência e demandas de “o que fazer?”, passou-se a
identificar e pontuar as saídas produzidas por elas mesmas. Mesmo sem saber, o que faziam para
chegar a estas saídas era também colocar a escuta a disposição daquele sujeito, a despeito de
qualquer recomendação de manual que já conheciam e que parecia não funcionar. O presente caso,
ainda em evolução, mostra-nos o quanto a parceria entre a pedagogia e a psicologia nas discussões
do caso, bem como nas intervenções, e principalmente na escuta dos sujeitos, é de suma
importância para que o processo de inclusão ocorra de forma eficaz. Para além dos mecanismos
administrativos de acesso e dos pedagógicos de adaptação, é indispensável a inclusão da
subjetividade. Esta que se apresenta nas idiossincrasias, nas queixas, nas resistências, nos
comportamentos disruptivos, pode se manifestar também e, fundamentalmente, pela palavra.
Devemos escutá-la.
94
em diversas facetas visando controlar para que os efeitos estejam de acordo com as expectativas.
A insistência das respostas em se desviar das expectativas seja no que diz respeito aos padrões
cognitivos ou emocionais lança a criança no campo das patologias. Os transtornos passam a compor
um novo substantivo do sujeito e aquilo que é efeito de uma rede discursiva é visto como ponto de
partida, levando à ideia de inclusão como respeito às diferenças. Ou seja, as diferenças que se
manifestam no nível da resposta passam a ser tomadas como características intrínsecas. Criam-se,
então, não apenas uma, mas tantas “trajetórias evolutivas desejáveis” quantos transtornos sejam
classificáveis. A ideia de “trajetória evolutiva desejável” decorre de um padrão de desenvolvimento
como ideal que baliza o endereçamento do adulto à criança. De que ideal se trata? O ser humano
emerge como ser de linguagem a partir de sua inscrição no mundo simbólico, pressupondo,
portanto, que haja sobre ele um conjunto de expectativas. Contudo, para que se constitua um sujeito
da enunciação é preciso que se produza a partir dessas expectativas um efeito de diferença. Assim,
nos parece pertinente perguntar, a partir da ideia de “expectativa desejável”: onde localizar o desejo
em causa na expectativa? Para desdobrar essa questão, a dialética estabelecida por Lacan entre
demanda e desejo surge como um caminho possível. Pode-se dizer que a expectativa funciona como
normatividade. Ao estabelecê-la como uma estrutura de linguagem, Lacan sustenta que essa
possibilita, paradoxalmente, a emergência do sujeito como efeito de diferença. Lacan rompe com a
ideia de estrutura como totalidade na medida em que assume o desafio de sustentar o estatuto de
um sujeito da enunciação frente à determinação estrutural de sua existência a partir da ideia de uma
ordem estrutural paradoxal porque centrada numa incompletude, num furo que impede a
totalização da estrutura, seu fechamento. Para isso, concebe tal estrutura como aquela do
significante, em que um significante convoca outro para produzir um efeito de significação. Assim, o
sujeito não pode ser representado por um significante senão para outro e, portanto, ele não pode
ser significado senão ao preço de uma perda, de um resto, aquilo que falta à representação para ser
toda. É precisamente esse resto que retorna como causa do funcionamento estrutural. Quando um
adulto dirige a atenção a uma criança munido de expectativas, de ideais, sustenta uma
normatividade na qual a criança precisará se situar de alguma maneira. Ocorre que, ao se dirigir à
criança visando educa-la – e não apenas observá-la para depreender dessa observação uma suposta
adequação natural da criança às expectativas sobre ela colocadas – o adulto lhe endereça uma
palavra. A palavra é aquela que aponta para o paradoxo estrutural, possibilitando que o sujeito
emerja como diferença na estrutura da linguagem. Assim, o endereçamento da palavra coloca em
operação a dialética da demanda e do desejo. Se, por um lado, educa em nome de um vir-a-ser como
o ideal, por outro lado, na medida em que fala a partir de uma posição discursiva em que há o
reconhecimento do desejo, a expectativa carrega algo de enigmático, algo que aponta para outra
coisa, para a diferença, portanto. É ao desdobrar esse enigma, ao percorrer um certo percurso em
torno da infindável pergunta sobre o que anima aquele que dirige à criança uma demanda educativa,
que a diferença pode surgir como efeito, e não como ponto de partida.
95
(Agencia de prevención del consumo de drogas y tratamiento integral de las adicciones).
El objetivo de este trabajo se enlaza al propósito ético de la elucidación crítica para volver pensables
los haceres de la práctica profesional. La implementación de dos dispositivos: Por un lado talleres
enfocados a la reducción de riesgos y daños asociados al consumo para jóvenes, y por el otro, charlas
de sensibilización sobre la problemática para adultos, fueron produciendo preguntas y poniendo en
tensión los conceptos con los que se venía pensado. Darse el tiempo de ensayar en y con la escritura
sobre lo que se hace nos posibilita la elucidación, verbo que es retomado de la obra de Graciela
Frigerio, quien a su vez lo toma de Cornelius Castoriadis: consiste en pensar lo que se hace y saber lo
que se piensa. Para ir tejiendo y sosteniendo conceptualmente algunos emergentes de la práctica, se
toman referencias teóricas del psicoanálisis con las que problematizar el malestar en la cultura, la
conflictiva intrapsíquica, y el lugar que toma el conflicto en la producción de síntomas. Se toman en
consideración los marcos legales que regulan y dan fundamento a estas prácticas, tanto la Ley N°
26657 de Salud Mental de Argentina, sancionada en el año 2006, como la Ley N° 26934 Plan IACOP
(Plan Integral para el abordaje de los Consumos Problemáticos), del año 2014. Así como algunos
documentos públicos elaborados por el gobierno provincial o nacional, que dan cuenta del
paradigma desde el cual se construye en este caso la política pública. Algunas de las preguntas que
insisten son: ¿Qué son las drogas? ¿Qué son los consumos problemáticos de sustancias? ¿Alcanza
con brindar información para reducir riesgos y daños? ¿Qué es cuidar? ¿Qué prevención es posible?
¿Cuál es la especificidad del oficio del Psicólogo y qué puede aportar el psicoanálisis al trabajo en
estas temáticas? En salud mental, ante la encrucijada del malestar en la cultura, cultura que al
tiempo que nos cercena, también nos cuida y nos protege, entendemos que lo que previene es lo
que hace lazo. Se propone pensar al oficio del Psicólogo como un oficio del lazo. En el campo de la
salud mental es frecuente encontrar más preguntas que respuestas. En este caso se busca sostener
las preguntas como interrogantes, sin dejar de ensayar algunas respuestas, siempre parciales,
siempre incompletas. Respuestas que nos posibilitan construir hipótesis, llevar adelante políticas
públicas para la prevención en salud mental que piensen los problemas en su dimensión de conflicto,
para no quedar entrampados en encerronas, sosteniendo, desde la especificidad del oficio del
psicólogo, la atención al caso a caso, siempre singular.
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não por uma especialização dos professores em práticas pedagógicas inclusivas, mas principalmente
por suas disponibilidades e sensibilidades. Por outro lado, ainda que se valham desse saber
inconsciente, as intervenções cotidianas dos professores nem sempre têm efeito de enlaçamento.
Acompanhamos, inclusive, intervenções que parecem desorganizar esses alunos. Nessas cenas, nos
surge uma questão: uma leitura estrutural da posição dessas crianças na linguagem balizaria o fazer
cotidiano dos educadores? Articulamos nossa questão a partir de duas vinhetas: a) quando um aluno
autista reage a uma demanda do adulto derrubando tudo no chão, sua professora faz a leitura de
que ele só faz o que quer e que se continua a bagunçar a sala quando ela intervém, é para desafiá-la.
Então insiste na intervenção moralizante de que se ele derrubasse, teria que recolher, mas o efeito é
mais bagunça por parte da criança; b) na classe de um aluno psicótico muito rígido com os horários, a
professora pune a turma pela bagunça que estavam fazendo retirando-lhes cinco minutos de recreio,
o que faz com que esse aluno se desorganize no mesmo instante. A professora tenta explicar a ele
um tempo que é variável, mas sua desorganização permanece e ela acaba o deixando ir para o
recreio antes dos colegas. Situações como essas parecem-nos dizer de tentativas de enlaçar, educar,
negociar, punir, etc., que desconsideram que nem todos os alunos assimilam essas relações da
mesma forma, e que alguns sequer as assimilam. Apostamos em um espaço de reflexão a posteriori
das situações cotidianas para promover um olhar para os efeitos das intervenções e inspirar
questionamentos e, assim, outros manejos possíveis. Com isso, poderíamos compor uma parceria de
trabalho com o professor e a instituição para uma leitura estrutural dessas crianças ditas de inclusão
considerando as singularidades que constituem o ser/estar no mundo delas, em uma parceria que
não atravesse a relação professor-aluno e o saber do educador sobre a criança? É a discussão que
pretendemos trazer para este Colóquio, apoiados em uma leitura do livro Psicanálise e formação de
professores: antiformação docente, de Rinaldo Voltolini (2018). *Coutinho, A., & Aversa, P. (2005).
Sobre a experimentação da loucura no campo escolar. In: Colli, F., & Machado Kupfer, M. (Orgs.),
Travessias: Inclusão Escolar ** Machado Kupfer, M., Pesaro, M., Marisa Bernardino, L., Keiko de
Merletti, C., & Voltolini, R. (2017). Princípios orientadores de práticas inclusivas. In: Machado Kupfer,
M., Souza Patto, M., & Voltolini, R. (Orgs.), Práticas inclusivas em escolas transformadoras:
acolhendo o aluno-sujeito.
Autor(a): Juliana Viveiros Barbosa Konig dos Santos – UNEB – Universidade do Estado da Bahia
Coautor(a): Maria de Lourdes Soares Ornellas
Contato: juliana.viveiros.bks@gmail.com, danielelima.lima@gmail.com
Título: Entre lugar do acompanhamento terapêutico escolar: efeitos da linguagem e giros discursivos
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este estudo é fruto de uma pesquisa em andamento num programa de Pós-graduação em
Educação e Contemporaneidade referenciada no enlace da psicanálise e educação, a partir da escuta
de acompanhantes terapêuticos escolares (ATE). Que se mobiliza através das questões: Em que lugar
discursivo se estabelece no livre falar de acompanhantes terapêuticos escolares? Em que trama
“linguageira” o seu fazer se efetua discursivamente na inclusão escolar de crianças com impasses na
sua estruturação subjetiva? Lacan (1992) reconhece o sujeito como efeito do discurso e formula
quatro modos de laço social. Para Gutierra (2003, p.89) “essas estruturas discursivas formalizadas
por Lacan são os quatro modos possíveis de relação com o “resto”, com o impossível de gozo,
resultado do processo de constituição do sujeito”. A psicanálise também se formula como um modo
de laço social que faz efeito no mundo. Fink (1998) indica que “em qualquer práxis e praticamente
em qualquer campo, há discursos diferentes ajustados para momentos diferentes, e em contextos
históricos, sociais, políticos, econômicos e religiosos diferentes” (Fink, 1998 p. 175). A psicanálise na
instituição escolar permite a escuta do singular, na possível superação do ideal adaptador a partir do
acolhimento das questões subjetivas que se efetivam nas relações educativas. O ATE que impulsiona
97
o seu fazer em direção ao discurso do analista, também tem uma práxis sob efeito da linguagem.
Este que tem o terapêutico marcado pela psicanálise finca a escuta no mover discursivo entre
domínios distintos, em uma dialética que se estabelece por “giros” sem pontos de “parada”. Nessa
construção é possível indicar que a psicanálise aplicada pelo ATE o coloca em um lugar do entre:
entre o discurso da criança e o discurso escolar, entre a dimensão educativa e terapêutica, em uma
operação discursiva que impõe movimento (Fráguas e Berlinck, 2001). Práxis discursiva que talvez
possa propiciar sobre a escola o que Di Ciaccia (2007) cita como “várias instituições”, em uma
flexibilização na estrutura discursiva escolar em que a singularidade possa ter ancoragem. Por esta
possibilidade discursiva que a escuta ao ATE- Sujeito mobiliza este estudo, em apreender os efeitos
singulares que este sujeito formula ao ocupar o entre lugar, em que a linguagem é tomada como
condição do próprio inconsciente e o inconsciente como condição da própria linguagem (LACAN,
1992). A escuta se dará através de dois dispositivos: a entrevista em vista de apreender as
idiossincrasias e significantes do ATE- Sujeito sobre seu fazer (ORNELLAS, 2011) e a observação
participante em supervisões de orientação psicanalítica a acompanhantes. A análise interpretativa
será realizada pela via da análise psicanalítica do discurso em que “a noção de discurso em Lacan
deve ser compreendida sempre como heterogeneidade, entre fala e língua entre significação e valor,
entre enunciação e enunciado, entre dizer e dito” (Dunker et al 2016 p. 147). Heterogeneidade que
avulta no conceito de discurso, como pista ao se dirigir a escuta do ATE, em sua posição discursiva
que que se efetua entre discursos distintos que estruturam o processo escolar de crianças com
impasses constitutivo. A aposta é a partir da escuta a ATEs e de seus giros discursivos, depreender
novidades no enlace entre a psicanálise e educação a partir de sua práxis.
98
ter atuado como subcomandante/vice-diretora da instituição em questão no período que
compreende o ano de 2015 a 2018, a qual se transforma aqui em objeto de estudo. A pesquisa de
campo será realizada, com base em estudo de caso, através de entrevistas e formulários com alguns
profissionais que lidam diariamente com os alunos autistas neste universo educacional. No âmbito
escolar, a pesquisa será realizada através de um sucinto questionário voltado às crianças que
convivem com algum colega autista, bem como a observação das crianças com autismo em especial,
sobretudo, durante as aulas e no convívio com os demais colegas. Concomitantemente, deve-se
considerar de extrema relevância, saber quais as principais necessidades do professor, inclusive se
estes profissionais e crianças recebem acompanhamento com psicólogos, fins auxiliá-los a elaborar
métodos para suprir dificuldades peculiares a cada um, qualificando o trabalho dos professores e
daqueles que podem um dia, receber em sua turma um aluno com autismo, de forma a orienta-los a
lidar e acolher estas crianças propiciando-lhes o bem estar. E é pensando nessa prática
psicopedagógica dos professores, que a pesquisa tem como limiar, analisar como este profissional
realiza o atendimento à alunos com autismo, evidenciando seus conhecimentos prévios, habilidades,
necessidades e dificuldades. Quanto aos objetivos específicos, buscou-se identificar iniciativas que
demonstram a compreensão da educação inclusiva na PECIT, isto é, se o professor recebe alguma
formação para atuar em classes com alunos com autismo; os métodos e/ou atividades que o
professor utiliza nos dias atuais, levantar dados acerca das principais dificuldades enfrentadas no
cotidiano escolar, e se possuem mediadores disponíveis pelo Estado ou Município, para atuarem
diretamente com tais alunos, facilitando o desempenho em sala de aula, entre o mediador e o
professor no que se refere ao desenvolvimento psicossocial da criança. Diante do exposto, a pesquisa
apresenta fundamentação teórica com base em dados bibliográficos de cunho qualitativo, o qual
apresenta o conceito de autismo, aborda ainda questões acerca da educação inclusiva, apresenta as
leis e diretrizes que surgiram para apoiar o direito de todos ao acesso a uma educação de qualidade,
além de dissertar sobre o papel do professor e mediadores, além dos métodos que possam ser
utilizados em sala de aula.
99
psicanálise na universidade e na educação hoje? Ensino, transmissão, resistência. Assim também
interrogamos como pensar a formação docente hoje, tema complexo e ao mesmo tempo urgente
que deve suscitar reflexões capazes de gerar conhecimentos de (im)pacto, não apenas no mero
estudo comparativo de avaliações, mas no campo das experiências (re)ignificativas e instigantes. O
processo da alfabetização de alunos nos anos iniciais de escolarização precisa ser acolhido com
responsabilidade, por docentes, gestores das políticas públicas e instituições formadoras como
imperativo ético indispensável à construção de uma educação efetivamente democrática e
socialmente justa (PNAIC,2017). Pensando nesse pressuposto, a presente pesquisa propõe-se
desenvolver uma leitura reflexiva e análise crítica da Proposta do Governo Federal do Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), tendo em vista seus desdobramentos e implicações na
práxis do professor referenciada na teoria psicanalítica.
Algumas políticas públicas surgem buscando melhorar os índices de avaliação obtidos na educação
do país, em especial, nos anos iniciais de escolarização. A grande questão são os entraves estruturais
que disseminam os tão requisitados modelos pedagógicos sem considerar na maioria das vezes a
dimensão da constituição subjetiva docente. Importante ressaltar que compreendemos subjetividade
a partir do “sujeito psíquico freudiano” que constitui o humano: o que nos permite apontar ser o
possível fruto do mal-estar na alfabetização. A perspectiva metodológica será de abordagem
qualitativa, com ancoragem teórica na psicanálise, em especial, advinda dos saberes freudianos.
Considerando a trajetória do PNAIC e sua configuração optamos pela escolha de sete professores
que participaram de lugares diferentes da formação, sendo assim, deverão escrever incialmente sua
memória educativa, complementando-a pela entrevista e grupos de discussão. A partir da análise,
acreditamos ser possível a criação de eixos emergentes para interpretação e discussão dos dados de
investigação da memória do vivido a respeito da alfabetização, processo que refere à infância de
cada um e a experiência formativa do PNAIC, que implica o sujeito em tempos modernos. Com essa
perspectiva, compreendemos que no processo de ressignificação do ser professor, a memória,
histórias de vida, vivências corroboram com a afirmação de Freud (1919/2006), segundo o qual o
estranho é, antes de tudo, algo que se tornou estranho por ter sido antes familiar.
100
afetivo pode estar associado a situações de estresse ou então ao evitamento de memórias
desagradáveis desencadeadas por eventos traumáticos. Neste sentido, o psiquismo funciona como
um mecanismo de defesa da pessoa em resposta à hiperestimulação fisiológica e emocional
vivenciada no decorrer do trauma O caso clínico está estruturado na história de vida de Marcos, nos
atendimentos realizados e na integração e discussão do caso. A análise do caso clínico permitiu
verificar que as manifestações de solidão e angústia estavam associadas a questões de autorização,
sobrecarga do trabalho e reconhecimento do paciente, que colocavam Marcos em um movimento de
fuga das relações interpessoais (exercida pelos amigos, e por parceiras amorosas). Assim, a
representação de amigo em que o terapeuta se manteve durante os atendimentos, e o progresso
com suas afetações, fez com que a diminuição da sintomatologia clínica acontecesse por um tempo.
Até que ponto existe um nível de responsabilidade das instituições de nível superior para com seus
colaboradores? O caso de Marcos seria diferente se o auxílio pedagógico institucional tivesse sido
capaz de rastrear o seu sofrimento? Essas e outras questões foram levantas durante a escrita desse
artigo, que no mais só caberiam possíveis respostas com um trabalho mais aprofundado na dinâmica
institucional.
101
relação intersubjetiva. Na maior parte do tempo, o prazer era autoengendrado, mas não
compartilhado. A respeito da direção do tratamento, Crespin (2010, p. 163, grifos meus) salienta que,
inicialmente, “trata-se de ir ao encontro da criança utilizando o registro sensorial que a criança por si
mesma privilegia: deambulação, manipulações de objetos, tapinhas ou gritos”. A partir disso, faz-se
necessário introduzir-se nesse espaço, ou seja, “forçar nossa entrada enquanto companheiro de
brincadeiras, aceitando a atividade da criança como se ela nos fosse dirigida”. Após dois anos de
trabalho com Tiago, suas primeiras vocalizações deram lugar a frases. A brincadeira solitária com os
objetos e a constante esquiva ao outro transformaram-se em demanda. Atualmente, coloca seu
desejo em palavras, seja para pedir ajuda para colher uma fruta no pé de pitanga do centro de
atendimento, seja para pedir para ir ao banheiro. Caminha pelos corredores da instituição,
cumprimentando e conversando com algumas pessoas. Diante de crianças que pouco demandam e,
de forma insistente, evitam o encontro com o outro, a escolha pelo trabalho em equipe faz parte da
estratégia terapêutica. Privilegiam-se os encontros entre diferentes crianças, terapeutas e familiares.
Afinal, a diversidade é terapêutica (KUPFER; VOLTOLINI; PINTO, 2010).
102
(VORCARO, 1999). Para essas crianças que já possuem dificuldades de se encontrar diante do desejo
do Outro, a exclusão da categoria da psicose infantil vem contribuindo para um não olhar à essa
maneira de sofrimento. Não descartando o diagnóstico psiquiátrico e a prescrição medicamentosa
quando necessária, entendemos que propiciar à criança com psicopatologia grave um lugar de escuta
diferenciada pode possibilitar outro destino ao sujeito (VANOLI & BERNARDINO, 2008). TOUATI, B;
MERCIER, A; TOUIL, L. Autismo, uma pesquisa. Da necessidade de reprecisar o campo do autismo e
aqueles dos TID não autístico. In: Distinção clínica e teórica entre autismo e psicose na infância. São
Paulo: Instituto Langage, 2016. p. 57-87. BERNARDINO, L-F. Mais além do autismo: A psicose infantil
e seu não lugar na atual nosografia psiquiátrica. Psicologia Argumento, [S.l.], v. 28, n. 61, nov. 2017.
VANOLI, E-N; BERNARDINO, L-F. Psicose infantil: uma reflexão sobre a relevância da intervenção
psicanalítica. Estilos clin., São Paulo, v. 13, n. 25, p. 250-267, dez. 2008. VORCARO, A. Da holófrase e
seus destinos. In: Crianças na psicanálise: clínica, instituição, laço social. Rio de Janeiro: Companhia
de Freud, 1999. p. 19-58.
Autor(a): Larissa Costa Beber Scherer – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Cristiana Carneiro
Contato: larissascherer70@gmail.com, cristianacarneiro13@gmail.com
Título: A patologização do mal-estar na escola
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Ao acompanhar professores no contexto escolar frequentemente escutamos sobre alunos
que não se concentram, não tem interesse pelo aprendizado e/ou não aprendem. Tais comentários
evocam o mal-estar produzido. A busca por compreender tais situações seguidamente conduz o
docente a suposições da presença de dificuldades ou transtornos, possivelmente causadores dos
comportamentos destoantes. Esse fenômeno tem resultado em inúmeros encaminhamentos para
especialistas. "Agora fico tranquila já que a M. está sendo acompanhada por fonoaudiólogo"; "Dava
para perceber que o J. tinha algum transtorno"; "O D. tem que ter algum problema... Não consegue
parar sentado e não realiza as atividades". A fim de compreender esse contexto, interrogamos: Qual
a responsabilidade do professor/escola nesse processo? O que tem conduzido os professores a
atribuir o processo educativo aos especialistas? Freud ([1930] 1987) denomina mal-estar na
civilização o ingresso do sujeito no laço social, pois para isso é necessário abrir mão de boa cota da
satisfação das pulsões. Afirma que esse mal-estar é inerente à condição humana. Se transpusermos
essa análise para o campo da educação, poderíamos pensar que essa tensão, entre o pulsional e a
cultura, na maioria das vezes não é bem-vinda, podendo produzir impotência. Na tentativa de ocultar
a desordem pulsional, um dos caminhos conduz o educador aos saberes dos especialistas. Teorias
determinadas por classificações e diagnósticos baseadas no saber médico em que é predominante
“[...] o valor dado ao diagnóstico como identificação, caracterização e descrição da falta que nomeia
a anormalidade, os déficits” (POSSA; NAUJORKS; RIOS, 2012, p. 474). Saberes que desconsideram a
criança como um sujeito em constituição – estados capazes de ser transformados pela experiência
escolar e familiar. Carneiro e Coutinho (2016), neste mesmo sentido, indicam como a medicalização
produz um novo modo de lidar com o fracasso escolar. De acordo com essa perspectiva, crianças
passam a sofrer de “patologias” que justificam a não aprendizagem e a inadequação à escola, onde
os transtornos se proliferam concomitantemente à oferta variada de substâncias químicas para curá-
los. Esta perspectiva surge como possibilidade de aplacar o mal-estar docente. Com isso, o lugar da
doença é reafirmado, confirmando uma trajetória escolar de possíveis fracassos atribuídos à
patologia. A escola permanece alheia ao processo que lhe é próprio: ocupar-se da educação relativa
a todos os alunos. Referências: COUTINHO, Luciana G.; CARNEIRO, Cristiana. Infância, adolescência e
mal-estar na escolarização: interlocuções entre a psicanálise e a educação. Psicol. clin., Rio de
Janeiro, v. 28, n. 2, p. 109-129, 2016. Disponível em
103
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010356652016000200007&lng=pt&n
rm=iso>. Acesso em 28 ago. 2019. FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. XXI.Rio de Janeiro: Imago, 1987
(original de 1930). POSSA, L. B.; NAUJORKS, M. I.; RIOS, G. M. S. Matizes do discurso sobre avaliação
na formação de professores da Educação Especial. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 25, n.
44, p. 465-482, set./dez., 2012. Disponível em http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial. Acesso
em 28 de ago. 2019.
104
vacila, há uma abertura para novas interrogações: o que eu tenho a ver com isso do qual me queixo?
Propomos pensar que, assim como ocorre nas entrevistas preliminares, o grupo de formação de
professores pode promover a passagem da queixa às interrogações. Partindo de uma narrativa, o
professor pode questionar-se sobre aquilo que manca em seu saber e que simultaneamente opera
como um saber inconsciente. Seria isso tocar no saber do professor?
105
partir de tais modalidades, podemos compreender que a transmissão de saber é cara à educação,
pois é a partir dela que esta efetivamente pode acontecer. Desse modo, é uma operação
fundamental da vida social, uma vez que é impossível que, no laço social, ela não compareça.
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Autor(a): Libéria Rodrigues Neves – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Coautor(a): Lorena Fernandes e Bárbara Oliveira
Contato: liberianeves@gmail.com
Título: “O saber na cena” Oficina De Jogos Teatrais e Conversações Cênicas
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O que os jovens têm a dizer? E como podem dizer? O presente trabalho refere-se aos
resultados parciais do Projeto de Pesquisa e Extensão desenvolvido junto ao Programa Brota:
Juventude e Cultura, em parceria com a UFMG, o Centro de Referência da Juventude de MG e a
Secretaria Municipal de Educação de BH. O Programa tem como público alvo adolescentes
estudantes das escolas municipais localizadas nas periferias de BH. O Projeto consiste na Oficina de
Jogos Teatrais e Conversações Cênicas, a qual, pela via do Jogo Teatral, aposta na expressão estética
daquilo que possivelmente o sujeito não consegue organizar pela via da palavra endereçada. Os
jogos provocam a coletividade, a concentração e a escuta; o reconhecimento e apropriação do corpo,
que ocupa o espaço denunciando as relações já construídas, cristalizadas, cheias de bloqueios e
sensibilidade; e a criatividade provocada sobretudo pelas propostas de improvisação que, não raro,
culminam em partituras ou cenas que abordam o universo adolescente na relação com o território,
com a sexualidade e com o saber. Não se joga sozinho; portanto, a Oficina fomenta uma troca e uma
negociação com o que vem do outro, além da demarcação simbólica do limite entre os corpos. Nesse
sentido, por vezes um excesso de gozo desdobra-se em um enxame de palavras que encontram
caminho numa resposta melodramática para uma disputa afetiva; ou um gesto tímido acaba por ser
expandido de modo a expressar-se como solução cênica diante do conflito. Pode-se dizer, uma
resposta simbólica aparece como demanda no jogo do real, a partir da comunhão entre o lúdico –
que resgata o brincar como elemento do teatro – e o desafio. Resposta esta que busca recursos no
repertório do imaginário diante do desejo, não só de encenar, mas também falar da encenação
cotidiana em suas vidas. São recorrentes temas como as relações familiares, machismo, feminismo,
homofobia, “situações problemas” na escola, fronteiras entre a diversidade e o respeito. Muitas
vezes denunciando a posição que estes sujeitos ocupam nos ambientes e na sociedade de uma forma
geral, expondo construções feitas a partir do discurso que se tece sobre eles. A primeira experiência
da Oficina teve duração de dois semestres letivos (2018), organizados em dois módulos
independentes, que contaram com a participação de muitos jovens de modo “flutuante” e cerca de
15 específicos que se dedicaram à frequência sistemática aos encontros. Cada encontro, conduzido
por uma estudante de Pedagogia/Teatro, bolsista do Programa de Extensão, e auxiliados por uma
estudante de Pedagogia voluntária, transcorreu ao longo de noventa minutos, dos quais, boa parte
foi utilizada pelos jovens em formato de roda de conversa para dizerem daquilo que, de modo geral,
aparece nos jogos ou nas cenas de forma condensado. Notoriamente, esta conversação acaba por
diminuir o tumulto e separar aquilo que se quer dizer daquilo que se precisa dizer; e o resultado
podemos nomear de Teatro.
Embora os significados e sentidos atribuídos às experiências sejam essencialmente peculiares a cada
sujeito, os sentimentos compartilhados na roda se conectaram na relação com a produção de um
saber no e do grupo. E por outra via, a vivência da linguagem teatral, oferecida pela Oficina,
promoveu o trabalho essencialmente coletivo, a partir do qual cada um acabou por elaborar recursos
para o enfrentamento de suas questões reais e subjetivas. Ao final desse primeiro ciclo, um grupo
que participou da Oficina no módulo do 1º semestre concluiu o trabalho apresentando uma
improvisação cênica para os demais colegas, na qual trataram do autoritarismo docente, do
desinteresse pelas aulas, além de questões referentes à sexualidade e o suicídio. Já os jovens do 2º
módulo concluíram a Oficina em roda de conversa, onde, por meio de algumas palavras, sintetizaram
suas experiências. Dentre elas: “novidade”, “aprendizagem”, “oportunidade”, “escolha”, “fala” e
“escuta”.
107
Autor(a): Lígia de Almeida Hernandes – UNIB – Universidade Ibirapuera
Coautor(a): Cristina Keiko Inafuku de Merletti
Contato: ligiadealmeida@hotmail.com, crisinafuku@yahoo.com.br
Título: Morte, luto e testemunho - Let me try again
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre o adoecimento, a morte e o luto na
vertente psicanalítica da psicossomática. As articulações teóricas serão realizadas a partir do
contexto de um caso clínico atendido em enfermaria por equipe multidisciplinar, paciente em estado
terminal e ciente de sua condição. Pretende-se ressaltar os efeitos que a perspectiva da
psicossomática psicanalítica no ambiente hospitalar pode proporcionar ao considerar o sofrimento
psíquico de um sujeito (nesse caso o enfrentamento da morte) em ambiente no qual o adoecimento
é predominantemente considerado na dimensão orgânica de um corpo. Os estudos da
psicossomática tiveram sua origem nas considerações psicanalíticas acerca do corpo mas,
fundamentalmente, das significações que o sujeito constrói sobre o que o acomete. Psique e soma
podem, portanto, reencontrar-se no campo médico e na saúde mental, na medida em que as
significações de um mal-estar e de um sofrimento possam superar a noção de doença situada no
corpo e em suas capacidades funcionais. Freud, médico neurologista de formação, considerou a
importante relação entre a mente e o corpo, propondo o conceito de pulsão para teorizar esta
relação e o trânsito entre eles. A presença do inconsciente freudiano teria como uma de suas
primordiais manifestações as somatizações. O ato inconsciente exerceria, assim, sobre os processos
somáticos, uma ação plástica complexa que o ato consciente nunca alcançaria em sua totalidade.
Maesso (2017) ressalta que, contrariando a concepcão freudiana a respeito do processo psíquico
interno do sujeito diante da perda e da morte – o solitário e narcísico “trabalho do luto” - Allouch
(2004) formula que tal trabalho implica no “sacrifício de um pequeno pedaço de si” e que essa
operação só seria possibilitada por meio de um ato público, que consistiria na realização de um
testemunho sobre o luto e que, para tanto, seria preciso existir um público acolhedor das
manifestação do luto, das expressões de dor e de desespero do enlutado. Esse autor, pautado na
teoria lacaniana, afirma ainda que o tempo do trabalho do luto não poderia ser determinado por um
período cronológico esperado ou determinado por normas sociais impostas (para considera-lo
saudável ou patológico), mas incluiria um tempo lógico, da relação do sujeito em sua dimensão de
linguagem e de endereçamento necessitando, como suporte para esse processo, um grupo, uma
comunidade, um outro interlocutor, aquele que acolha as significações possíveis de seu singular
sofrimento. Os diferentes campos de criação humana tratarão de buscar incessantemente
significações para os enigmas da vida humana, como a morte, seja por meio da religião, evitando-a,
seja por meio da ciência, rejeitando-a ou por meio da arte, contornando-a (LACAN, 1959-60/1997, p.
150-162). O atravessamento do luto, assim como o encontro com a morte, em suas distintas versões
implicaria, por isso, em experiências humanas distintas, a quais exigiriam trabalho e tempo bastante
singulares a cada sujeito para elaborar simbolicamente sua própria dor e sofrimento, tendo no outro
o suporte da escuta e da acolhida para suas significações.
108
Resumo: O presente trabalho pretende discutir a formação de professores no campo da psicanálise
e educação. Nesta perspectiva, a inclusão escolar aparece como uma proposta baseada no princípio
de que “a inclusão é para todos e para cada um” (KUPFER, PATTO, VOLTOLINI, 2017), tendo em vista
também que a inclusão sempre será não-toda. Ao longo de quase duas décadas, a educação dita
inclusiva tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões escolares, em especial no que tange à
formação dos professores que nela atuam, já que seriam eles os principais agentes na
implementação das mudanças de base que garantiriam uma educação para além da proposta da
educação especial. Cobrados dentro de uma lógica positivista, os professores se veem envoltos cada
vez mais no chamado “mal-estar docente”, conceito que, baseado nos escritos de Freud sobre o mal-
estar da civilização (FREUD, 1930), remete às diversas questões relacionadas à angústia desse
profissional que se sente constantemente despreparado para lidar com seu próprio ofício. Nos anos
finais do Ensino Fundamental (BNCC, 2017), conhecido também como Ensino Fundamental II, há uma
particularidade que é a figura do professor especialista. Segundo GATTI (2010), parte desta
particularidade está arraigada nas diferenças entre a atuação docente do bacharel com licenciatura
(o professor especialista) e o pedagogo, o que levaria a implicações para a sala de aula. Esse
profissional que leciona um componente curricular específico em um curto período semanal,
considera-se pouco preparado para ensinar e educar crianças dentro do que se convencionou
chamar de alunos em situação de inclusão, levando muitos dos docentes que se enquadram nessa
condição a buscar formações continuadas ou simplesmente se queixar por não terem o que
consideram aparato fundamental para lidar com essas crianças em sala de aula. Baseado no conceito
de alunos com Entraves Estruturais na Constituição Psíquica (KUPFER, PATTO, VOLTOLINI, 2017),
propõe-se considerar alunos com entraves psíquicos todos aqueles que apresentam alguma questão
relacionada à constituição do sujeito, seja dentro das psicoses, autismos ou neuroses. Considerando
esse panorama, uma proposta de formação de professores com olhar psicanalítico vem sendo
realizada com um grupo de professores de Ensino Fundamental II em encontros que ocorrem nos
horários de ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo) em uma escola estadual no município de
Guarulhos. O objetivo desses encontros é produzir efeitos nesse laço entre professor e aluno com
entraves psíquicos, além de possibilitar ao professor condições de manejo por meio do seu saber
inconsciente. No trabalho são discutidos diferentes aspectos implicados no desenvolvimento dessa
proposta de formação continuada de professores.
109
contemporaneidade - as crianças youtubers - que cada vez mais vem ganhando popularidade com a
propagação da internet e das redes sociais. Os “youtubers-mirins”, com o avanço da popularidade
nas redes, passaram a ser patrocinados por empresas de brinquedos para que “brinquem” com
determinados produtos nos vídeos que protagonizam, se tornando um negócio altamente lucrativo e
que nos permite ponderar sobre o lugar da infância no contemporâneo, e ainda, os atravessamentos
do mercado no brincar e no que é ser criança. Este estudo, portanto, discute a importância do
brincar, a partir da psicanálise, na constituição subjetiva, nos processos de sociabilidade e de
apreensão da realidade para problematizar suas consequências, ao ser atravessado pelo consumo e
pelo discurso neoliberal, assim como o papel da criança nesse novo contexto. Para isso, a partir de
diferentes experiências sobre o brincar, essa pesquisa se sustentará na psicanálise e nas teorias
sociais, para refletir sobre o discurso do neoliberalismo e o brincar, e também os ideais de infância
na contemporaneidade, no desafio de articular essas perspectivas.
110
cultura da imagem, estejamos passando “de uma técnica relacionada à imagem [...] para uma
tecnologia da imagem, onde o processo é bem mais impessoal” (MIRANDA, 2007, p. 28), produzindo
a degradação da imaginação e a “industrialização da visão”, trabalhamos numa perspectiva que tenta
romper com o imediatismo contemporâneo. A fotografia é tomada como uma narrativa construída e
mediada pela subjetividade do jovem fotógrafo. Nesse sentido, por meio do seu compartilhamento
no encontro com os pares, o gesto fotográfico surge-nos como um resgate da experiência
(BENJAMIN, 1994), que enlaça os jovens na narrativa coletiva construída a partir dos impasses e
travessias por eles empreendidos no cotidiano escolar, podendo produzir novas formas de encontro
com o saber. BADIOU, A. (2016), La vraie vie. Librairie Arthème Fayard. BENJAMIN, W. (1994).
Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense. FREUD, S. (1910).
Contribuições para uma discussão acerca do suicídio. In: Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de S. Freud. V. XI. Rio de Janeiro: Imago, 2006. MIRANDA, L. (2007). A cultura
da imagem e uma nova produção subjetiva. Psicol. clin. 19(1).
111
torno da ordem da inclusão? Quais ferramentas conceituais da psicanálise promovem movimentos
na posição profissional que lhes permite deixar de queixar-se e abrir a construção com os outros?
Vou me concentrar na leitura de três escritos para desenvolver como as ideias dos sintomas, dos
quatro discursos e da transferência pagam pelos movimentos na posição profissional.
112
problematizar o ideal da excelência escolar quanto a sua relação com o ideal do eu e supereu, e as
implicações do afastamento entre esses ideais para a história singular do estudante.
Na tentativa de adaptação à escola, o sujeito pode encontrar mais dificuldade ou mais facilidade em
assumir os padrões referentes ao ideal de excelência educacional. Entretanto, nesse caminho de
problematização, questionamo-nos: quais são os alunos que mais sofrem no contexto escolar, devido
às exigências desse espaço? Podemos inferir que a dificuldade em assumir determinados padrões
escolares também passa por questões socioeconômicas, ou seja, os estudantes de classes populares
encontrariam mais obstáculos para essa adaptação? E o que isso pode trazer como consequências
para a aprendizagem? Principalmente, o que isso pode trazer como consequências para a
subjetividade do aluno de classes populares na busca pelo ideal da excelência escolar? E assim, em
que medida os sujeitos que não dialogam com determinados ideais vêm sendo silenciados,
principalmente no interior de escolas de alto rendimento? Como isso se daria? Percebemos uma
expressiva dualidade no sistema educacional brasileiro, com escolas reconhecidas como sendo de
prestígio e escolas à margem dos índices de excelência (apresentando baixos resultados em algumas
avaliações que ainda pesam sobre o destino de muitos alunos, como o IDEB - Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica e o ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio, por exemplo). A
vertente de problematização da excelência escolar poderia seguir vieses de cunho mais geral,
considerando as implicações históricas da dualidade na educação: entre ricos e pobres, como a
excelência escolar foi se definindo? Mas, nossa escolha se situa na busca de olhar singular para a
posição do sujeito desfavorecido nesses espaços destinados ao alto rendimento estudantil. Não
desconsiderando as questões contextuais, buscamos enfocar como o aluno pobre vem produzindo
sua subjetividade diante do ideal da excelência escolar. Neste sentido, entre os esforços de
adaptação à escola ou a resistência aos modelos impostos, interessa-nos ponderar, antes, porque as
“coisas são como são” e o “peso” desse ideal para a formação subjetiva do estudante. E, com esse
questionamento, pensar em possibilidades de desconstrução do ideal de excelência escolar e da
escola. Nesse caminho, o campo psicanalítico permite pensar de maneira aprofundada os processos
de idealização subjetiva envolvidos na produção de uma subjetividade subalternizada. Priorizamos a
vivência desses estudantes, aqueles que podem estar em posição inferiorizada, tendo como hipótese
que estes podem não atender, ou encontrar mais dificuldades com as exigências dos ideais culturais
e normativos que estão presentes em uma instituição de elite, talvez, por se verem distanciados do
conhecimento que ali circula e do modo como se operam, comumente, as práticas pedagógicas
nesses espaços. E, por fim, é inevitável ponderar que, diante das “coisas como são”, - e o sofrimento
psíquico que essas exigências podem gerar àqueles que mais se veem afastados dos ideais almejados
por todos, - como elas poderiam ser transformadas em tentativas de reinvenção? Esta proposta de
interlocução visa, portanto, a compreensão subjetiva das instâncias ideias – eu ideal, ideal do eu e
supereu – no discurso desses jovens em instituições de alto rendimento. Contudo, problematizar o
que seria a excelência escolar tem a ver não somente com tentar expandi-la para todos, mas antes,
com repensar o que pretendemos por educação, conhecimento e, assim, aprendizagem
especificamente escolar.
113
filosófica com produção de resenha sobre o assunto ao fim de 21 a 30 dias. Neste projeto, o objetivo
se imbrica com a proposta metodológica: promover a circulação da palavra para discutir problemas
humanos estimulados pela leitura e discussão de textos literários. Nas sessões realizam-se rodas de
leitura e discussão de textos literários, iniciando-se pelo contato e vínculo com os participantes para
apresentar as atividades do dia, com variada preparação: discussão temática em torno de uma
situação problema, observação e análise de imagens, discussão de contextos já vividos pelos alunos.
A literatura possibilita diversas formas de abordagem os problemas da alma humana; personagens e
enredos oferecem pontos de identificação sobre os quais os alunos se apoiam para a elaboração das
próprias questões. Reflete-se sobre a sociedade e busca-se uma compreensão ética da vida, junto
com estudo de gênero e recursos estilísticos literários. A liberdade de expor o que se pensa, de ser
confrontado e questionado sobre essa forma de pensar é o aspecto central da metodologia.
Durante as discussões, as ambivalências vêm à tona, os participantes tratam de si, de suas
dificuldades e experiências. É quando a escuta psicanalítica deve alcançar o trato pedagógico, no
lugar de professor. O saber das pessoas é valorizado por ser potencialmente questionável,
possibilitar o contraponto desequilibrante e poder produzir novas formas de perceber a si próprio.
Sendo-se realmente questionado, promove-se o estímulo à fala e a reflexão mais aprofundada sobre
as formas de pensamento. A postura clínica do professor é o que permite lidar com o inusitado
contido na palavra do outro. Uma postura-ação do professor que considere intuição, improvisações,
representações figurativas e formais, tradições normais e desviantes, conflitos epistemológicos,
surpresas, previsões, conteúdos históricos, inovações precisa partir da perspectiva humana,
vulnerável, conflituosa e incerta, apta a acolher a frustração e possibilitar com a reflexão sobre a
ação novas concepções sobre si mesmo, sobre os educandos, sobre o processo de ensinar-aprender.
Ouvir dos educandos suas visões de mundo dota de alteridade uma relação historicamente
impregnada de autoridade, por vezes, de um autoritarismo extrínseco que espolia tanto educando
quanto educador de assenhorear-se dos conteúdos críticos de que ambos dispõem para rever as suas
e as posições dos outros. Propostas reflexivas propiciam compreender que tratamos do infinito ao
nos relacionarmos entre pessoas. Abordagens clínicas podem nos tentar a crer que poderemos
capturar infinitos universos que navegam no contexto-tempo chamado educação, conquanto
confrontem a relação Eu-Outro com a falta e a incompletude. E, professores, SUPORTEMOS isso! Sem
precisar elaborar e reelaborar a perda, suportemos por compreensão de que a falta é intrínseca ao
sujeito de desejo, razão e vontade. Uma forma de substituir o sofrimento gerado na dor da
impotência pela certeza de que a pessoa se transforma na ação educativa. Apesar da dor da certeza
de ser-se impotente para transformar o Outro e ainda assim agir, dialogar, refletir, sentir, construir
uma ponte que liga o Eu ao Outro, não abandonar a existência ou a educação. Aceitar os educandos
do Projeto de Leitura com suas ambiguidades, perceber que a palavra livre, única liberdade a eles é
possível neste momento, nos iguala e nos humaniza numa dimensão em que vibram possibilidades
educativas é dar resistência e firmeza ao eixo que sustenta o incompleto e contínuo processo de
pensar-se, no presente, antes e depois da perda da liberdade; contribuições que a psicanálise traz à
educação.
114
em suas palavras, parecem excessivamente “sem limites”. Esse cenário nos joga a nos perguntarmos
a respeito do lugar que ocupa o professor para que, em alguns casos, seja tão difícil fazer valer sua
posição de adulto e colocar em marcha uma transmissão que inclui o atravessamento pela castração.
Nossa hipótese é de que se trata de uma dificuldade em autorizar-se a tal ato, de ocupar um lugar de
autoridade frente às crianças em um tempo no qual essa posição é enfraquecida pelo discurso
pedagógico. Em nosso ver, tomando como ponto de partida o que nos diz Hannah Arendt, a
autoridade pode ser entendida como uma posição que se relaciona com aquela de representação do
Outro, sendo uma figura carregada do estofo simbólico necessário para introduzir uma criança no
mundo humano, na vida junto aos outros. Tal posição, pressupõe que o encontro geracional possa
ocorrer diante de uma assimetria fundamental que se sustenta não pelo poder, como faz o
autoritário, mas pelo saber do adulto, que assim pode pilotar uma educação não em nome da
satisfação de seus caprichos, mas em nome do pacto social, do Outro. No entanto, temos motivos
para crer que o discurso pedagógico contemporâneo, legitimamente preocupado em combater o
problemático professor autoritário de outrora, acaba tendo como um sério efeito colateral a
confusão entre autoridade e autoritarismo. Nesse cenário, o medo do professor de ao sustentar seu
lugar de representante da Cultura estar sendo autoritário, pode acabar por desautorizá-lo a fazer sua
função educativa. O estado de confusão no qual, por vezes, parece cair o professor diante das
contradições entre determinadas ideias pedagógicas e o que ele sabe sobre o encontro geracional,
parece ser um bom indicativo da importância dessa reflexão.
115
laço mãe-bebê e na constituição do sujeito. Demarcando o lugar do analista na intervenção precoce
como aquele que vai fazer circular a palavra, possibilitando a produção de outros nomes para o
sujeito. Para sustentar essa discussão à luz da psicanálise irei dialogar com os textos de Lacan, Miller,
Laznik, Vorcaro e Lucero.
116
Autor(a): Marcelo Fonseca Gomes de Souza - UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Contato: marcelofgsouza@gmail.com
Título: Objetividade e objetalidade: encontros e desencontros entre a psicanálise e a ciência
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Lacan, no Seminário livro 10: a angústia, a partir do discernimento de dois diferentes
termos – a objetividade e a objetalidade – propõe uma interessante discussão a respeito do modo
disjunto como a ciência e a psicanálise refletem sobre a natureza da causalidade. A objetividade, diz
ele, “apenas para reunir estas oposições em formulações rápidas”, pode ser definida como “o termo
supremo do pensamento científico ocidental, o correlato de uma razão pura que, no final das contas,
traduz-se (...) num formalismo lógico” (Lacan 1962-63/2005, p. 236). A objetalidade, por sua vez –
termo promovido para cernir a natureza do objeto a –, é o correlato de um pathos de corte” (Idem,
p. 237). O objetivo do presente trabalho é retomar esta diferenciação a partir da centralidade que a
noção de objeto a assume neste instante da obra lacaniana e percorrê-la por meio do discernimento
referente ao modo como a psicanálise e a ciência operam com as seguintes relações: (a) a causa e a
lei; (b) o saber e a verdade e (c) o real e o simbólico. (a) O objeto a indica a presença de uma lacuna
entre a causa e a lei. Isso porque, por um lado, trata-se de um suporte lógico que aponta para aquilo
que é extraído do corpo devido à intervenção do Outro, tornando-se, por isso, estranho às leis da
biologia. Por outro lado, trata-se, também, do que resta da operação mortificante do significante
sobre as vicissitudes do corpo pulsional, permanecendo, por esse fato mesmo, êxtimo e insubmisso
ao campo de determinação da lei simbólica. O estatuto do objeto como causa é, portanto,
duplamente problemático, haja vista que ele não se deixa subsumir completamente nem pelas leis
da natureza e nem pelas leis da linguagem. (b) Em segundo lugar, o objeto a implica a demarcação de
um limite do saber diante da verdade. Se, para a ciência, a verdade pode ser reduzida à causa formal,
ou seja, à subordinação do empírico à letra matemática, que surge como garantia de sua
universalidade e transmissibilidade; a psicanálise, por sua vez, interessa-se pela verdade na
dimensão da causa material, o que quer dizer que ela se ocupa com os efeitos que o significante
produz na realidade subjetiva. Ora, é próprio ao simbólico, para além de sua força de determinação,
a existência de um vazio de referencialidade para significar o sexual. O objeto a, pensado por Lacan
como o objeto da pulsão, demarca um corte que surge como barreira ou limite à capacidade sintética
do formalismo lógico e que se apresenta, no nosso campo, como uma verdade não redutível ao
universo do saber.
(c) Em terceiro lugar, enfim, o objeto a indica a irredutibilidade do real ao simbólico. Se o desejo da
ciência é produzir uma formalização sem restos do seu objeto, foracluindo de seu domínio o próprio
sujeito de sua experiência; a psicanálise, por seu turno, opera, no conjunto de sua prática clínica,
justamente com este sujeito elidido dos procedimentos científicos. A teoria do objeto a tem, nesse
sentido, um valor operatório central. Por um lado, ela reforça o que já era indicado pela teoria do
significante, a saber: que o sujeito não é causa de si mesmo, dado que ele encontra sua
determinação alhures, ou seja, no campo do Outro. Por outro lado, aponta para uma novidade ainda
mais radical: o suporte daquilo que causa o desejo não pode ser delimitado nem pelo imaginário e
nem pelo simbólico. Ao percorrer com mais minúcia cada uma das relações acima, nosso trabalho
também objetiva expor que a teoria do objeto a convoca à necessidade do psicanalista pensar sobre
o engendramento ético de um dispositivo clínico de tratamento que reconheça a potência de
indeterminação das pulsões e, por conseguinte, permita modificar a natureza da fantasia a partir de
uma transformação de seu sentido. O que, segundo propõe Safatle (2012), nos faria passar da
fantasia como defesa narcísica contra a angústia à fantasia como modo de abertura à experiência de
desidentidade (p. 213).
117
Autor(a): Márcio Rimet Nobre – UFMG – Universidade federal de Minas Gerais
Coautor(a): Nádia Laguárdia de Lima
Contato: marcionobre205@hotmail.com, nadia.laguardia@gmail.com
Título: Entre algoritmos e matemas: o sujeito, do desejo ao gozo
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: O percurso da noção de algoritmo desde a concepção do sujeito na psicanálise até seus
efeitos para esse mesmo sujeito já imerso na cultura digital são o foco do presente trabalho.
Articulando uma abordagem psicanalítica com autores de linhagem foucaultiana, investigamos o
novo modo de governamentalidade resultante do algoritmo digital. Interessa-nos refletir sobre os
modos como a subjetividade, seduzida de forma crescente pela cultura hegemônica da informação,
deixa-se enredar pelo discurso que subjaz ao dispositivo algorítmico, ou seja, o discurso capitalista
(Lacan, 1978). Consideramos as consequências desse processo para nossa relação com o saber,
noção inicialmente atrelada por Lacan ao não saber inconsciente, mas que é articulada ao gozo a
partir do Seminário 17 (1992), com a introdução do objeto a na estrutura discursiva. Assim,
estabelecemos três momentos em que a teoria de Jacques Lacan nos instiga a compreender os
efeitos de tal dispositivo para o sujeito imerso na rede virtual: 1º) A teoria do algoritmo da linguagem
inconsciente, que põe em destaque a emergência do sujeito desejante, em sua singularidade,
resultado da relação entre os significantes que pressupõe um movimento dialético com a alteridade;
2º) A proposição do matema dos quatro discursos, em que a estrutura dá lugar ao gozo e traz a
marca da impossibilidade – portanto, do real –, que impede o fechamento de circuito entre os
significantes e garante que o sujeito e o Outro se articulem nas diferentes modalidades do laço
social; 3º) A formulação do discurso capitalista que, ao abolir a impossibilidade, altera a dinâmica do
matema e o status dos significantes, em que o saber aparece sob nova feição – a informação – e o
sujeito é levado a ocupar, de modo ilusório, o posto de agente. Nesse ponto vislumbramos a entrada
em ação do algoritmo digital como decorrência do discurso capitalista, que passa a operar via gozo,
implementando uma lógica de excessos e de personalização (Rouvroy & Berns, 2015). Essa lógica
busca erodir a dimensão desejante do sujeito, ao suplementar o gozo com a informação, trazendo
consequências para a dialética do laço social. Na medida em que o usuário disponibiliza na rede os
dados a serem manejados pelo big data, o retorno lhe vem na forma de produtos, já que ele próprio
fornece ao mestre-mercado o saber-informação sobre si. Nessa operação que o retém na teia da
web, movimentam-se, por um lado, a economia psíquica do usuário e, por outro, a economia do
mercado, inaugurando vasto campo a ser explorado pelo grande capital e pelos controles
governamentais, como antevisto por Gilles Deleuze (1992). Para Rouvroy e Berns (2015), o big data é
a evidência da posição de assujeitamento “do consumidor” ao mercado, sendo a mineração e
transformação de dados em perfis produzidos algoritmicamente o ponto que permite a previsão de
trajetórias e comportamentos individuais e coletivos na rede. Assim, são desprezados os significados
advindos da subjetividade, emancipando os significantes a serem atrelados a outros significados,
estes concernentes ao real que importa à governamentalidade algorítmica, o real digital. Essa visada
difere fundamentalmente da perspectiva lacaniana que, ao isolar o significante, destaca-o como
condição para que o sujeito possa advir, ele próprio, no nível da significação, cujo potencial se realiza
no laço social. Referências: Deleuze, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In:
Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226.
Lacan, J. Discours de Jacques Lacan à l’Université de Milan le 12 mai 1972: Lacan in Italia 1953-1978.
Milan, Italie: Salamandra, 1978, p. 32-55. Lacan, J. O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise
(1969-1970). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. Rouvroy, A.; Berns, T. Governamentalidade
algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação?
Revista Eco Pós, Tecnopolíticas e vigilância, v. 18, n. 2, p. 36- 56, 2015.
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Autor(a): Marcos Venancio Mendes – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Coautor(a): Mônica Rahme
Contato: marcosmendes.psi@hotmail.com, monicarahme@hotmail.com
Título: Educação Escolar e Segregação: o que dizem os adolescentes sobre isso?
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa em desenvolvimento no Mestrado de
Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Universidade Federal de Minas Gerais que tem como
objetivo investigar o processo de segregação de alunos adolescentes nas instituições de ensino. Para
isso, foi feita uma revisão da literatura no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e da Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações a fim de conhecer os estudos que trabalham com esta
temática na interface Psicanálise e Educação. Além disso, este trabalho discute a adolescência e os
dilemas que os sujeitos enfrentam durante a sua passagem para a vida adulta, bem como, a noção de
segregação a partir do viés psicanalítico. Assim sendo, apesar de ser algo constituinte e estruturante
das relações humanas, é preciso chamar atenção para os efeitos que a prática da segregação possui
na vida dos sujeitos, especificamente, no que se refere ao aluno adolescente, uma vez que quanto
mais se caminha para o universal e/ou para o discurso da universalização, introduzido na civilização
pela ciência, mais se segrega as singularidades. No contexto escolar, por exemplo, com a apropriação
do discurso da universalização dentro das escolas, as mesmas reclamam não estarem preparadas
para lidar com a diversidade dos seus alunos, o que tem gerado processos de segregação dentro da
própria instituição. Ou seja, o sujeito que antes era excluído por não ter acesso ao ensino, hoje é
segregado por se caracterizar como um desafio para o processo de ensino-aprendizagem. Ademais,
este discurso universalizante e homogeneizante que atravessa a sociedade e se reproduz no interior
da escola, criando perfis ideais e tentando, cada vez mais, padronizar os sujeitos, pode gerar diversos
efeitos na sua constituição psíquica, uma vez que este se vê em um processo de esvaziamento
subjetivo na medida em que se comporta de acordo com a classificação e categoria que lhe foi dada.
Assim, os estudantes que apresentam alguma particularidade que não se encaixa nesse ideal,
acabam causando incômodo na equipe pedagógica escolar que, por não conseguir lidar com a
diversidade de alunos presentes em seu âmbito, passa a adotar práticas e mecanismos escolares que
têm como efeito o distanciamento do aluno do processo escolar, podendo deixá-los à margem ou
invisibilizar suas questões. Essas práticas são compreendidas, no contexto da presente pesquisa,
como práticas de segregação, decorrentes do discurso científico universal que tenta, a todo custo,
agrupar as pessoas em um modelo homogeneizador, suprimindo suas diferenças. Deste modo,
aquele que se desvia desse modelo é posto à parte, à margem da convivência. Nessa perspectiva, é
fundamental compreender como esses processos são produzidos dentro das instituições de ensino,
indagando sobre a presença-ausência do aluno adolescente dentro desses espaços. A psicanálise
pode intervir nesse contexto, ofertando a circulação da palavra e a escuta aos sujeitos envolvidos no
contexto escolar, para que as suas singularidades possam se inscrever nesse cenário e a escuta
analítica possa funcionar como um dispositivo que nos ajude a captar as entrelinhas do processo de
segregação, como propõe este estudo. FOMENTO: Esta pesquisa tem a concessão de Bolsa pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). REFERÊNCIAS: BOAVENTURA
JR., Márcio; PEREIRA, Marcelo Ricardo. Lá fora...Na rua é diferente – Adolescência, escola e recusa. 1
ed. Curitiba: Appris, 123p, 2015. LACADÉE, P. O despertar e o exílio: ensinamentos psicanalíticos da
mais delicada das transições, a adolescência. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2011. LACAN, J.
Pequeno discurso aos psiquiatras. 1967. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/270116905/Discurso-Aos-Psiquiatras. (Acesso em 03/04/2019).
SOLLER, C. (1998). Sobre a segregação. In L. Bentes, & R. Gomes (Orgs.), O brilho da infelicidade. Rio
de Janeiro: Contra Capa.
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Autor(a): Maria Creusa Mota – Secretaria de Educação
Contato: creusamota@gmail.com
Título: A importância de espaços de escuta como forma de subjetivação do adolescente
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Introdução - O presente trabalho é um recorte de uma monografia de Psicologia de uma
instituição de ensino particular em Brasília. O tema desenvolvido foi a escuta de adolescentes de
uma escola de ensino médio da rede pública de Brasília. 2- Desenvolvimento - A adolescência para a
Psicanálise é uma fase do desenvolvimento e este se dá através de uma reorganização psíquica onde
o adolescente terá que que se a ver com mudanças físicas, emocionais e relacionais, as quais
provocam muitas inquietações e sofrimento que ele nem sequer consegue nomear, resultando
assim, em grande dor que pode manifestar-se através de atos impulsivos e perigosos, isolamento,
depressão e até suicídio (Nasio, 2011 ; Jerunsalinsk 2010). A adolescência configura-se também como
um processo de luto, onde o adolescente tem que renunciar ao corpo, à identidade infantil e aos pais
da infância, passando por um processo doloroso de maturação e desenvolvimento a fim de tornar-se
um sujeito adulto (Aberastury, 1981). O objetivo do trabalho era desenvolver, dentro da escola, um
espaço de escuta e acolhimento da fala do sujeito adolescente por meio de uma roda de conversa
onde ele pudesse expressar seus sentimentos, inquietações, dúvidas e conflitos relacionais
vivenciados nessa fase tanto dentro como fora da escola. 3- Conclusão - Ao criarmos o espaço onde o
adolescente pôde sentir-se seguro o suficiente para manifestar-se por meio da fala, o dispositivo
tornou-se exitoso lidando com as demandas próprias dessa fase do desenvolvimento marcada por
tantos revezes para os adolescentes, pais e educadores. Dessa forma, concluiu-se que a Psicanálise
pôde contribuir perfeitamente para o campo da educação, uma vez que aquela, ao possibilitar a
liberação de emoções aprisionadas, liberou, por sua vez, espaço para o desejo de aprender,
contribuindo para o campo da educação. Ou seja, é preciso criar espaços de escuta, onde o “avesso”
do adolescente manifeste-se por meio da palavra, a qual, traduz-se na anunciação do próprio sujeito.
Autor(a): Maria da Conceição Aparecida Andrade – UFOP – Univ. Federal de Ouro Preto
Coautor(a): Carla Mercês da Rocha Jatobá Ferreira
Contato: saoandrade30@hotmail.com, carlajatobaferreira@gmail.com
Título: Educação Inclusiva e alfabetização: um olhar sobre a prática docente nos anos iniciais do
ensino fundamental (1º ao 3º ano)
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Considerando que documentos oficiais, tais como: Parecer CNE/CEB nº 11/2010, Base
Nacional Curricular Comum/2018, Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, orientam que todas
as crianças devem concluir os três anos iniciais do ensino fundamental alfabetizadas, surge o
interesse de compreender como tem acontecido esse processo em escolas públicas de uma cidade
de Minas Gerais no que tange ao público-alvo da educação especial inclusiva. Tendo em vista que
essas crianças são matriculadas atualmente nas classes de ensino regular, por meio de garantias
legais. Necessitam, portanto, de uma ação pedagógica própria, individualizada, com adaptações
curriculares, diferentes formas de avaliação (oral, escrita, por meio de observação, trabalhos,
interação com os pares), planejamento flexível, consolidação de plano de desenvolvimento
individual, (PDI), dilação do tempo, etc; e embasada no sujeito, nas suas potencialidades,
habilidades. Porém, observa-se ainda que são variadas as indagações e dúvidas que emergem
quando o professor/professora recebe em sua sala de aula o aluno com necessidades educacionais
especiais. Atuando profissionalmente em escolas públicas, desde 2002, pude inferir que os
profissionais demonstram angústia e impotência, ao receberem esses alunos em situação de
deficiência. Os apoios externos à sala de aula são escassos, as turmas geralmente cheias, o trabalho
120
individualizado que deveria acontecer não se concretiza, e em muitos casos crianças vão passando
pelas cadeiras escolares sem se apropriarem da alfabetização e do conhecimento. Não raras vezes
são culpabilizadas junto com suas famílias por não conseguirem avançar. Através do estudo propõe-
se conhecer como vem se concretizando o processo de alfabetização e inclusão de crianças
matriculadas de (1º ao 3º ano) anos iniciais do ensino fundamental em duas escolas públicas (uma da
rede municipal e outra da rede estadual) situadas em uma cidade mineira; analisar como tem
ocorrido o processo de desenvolvimento de novas habilidades por parte das professoras e
professor/professora no que tange à inclusão e como esses profissionais têm se posicionado diante
dessa realidade que está posta nas instituições escolares, por meios de decretos, leis, legislações
diversas de cunho, internacional, federal, estadual e municipal; explicitar como acontece o
desenvolvimento do trabalho pedagógico visando à alfabetização das crianças com necessidades
educacionais especiais, matriculadas nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 3º ano),
observando se as diretrizes que o norteiam são diariamente consultadas; sondar se as crianças com
necessidades educacionais especiais tem sido alfabetizadas nos três anos iniciais do ensino
fundamental, compreendendo as ações e estratégias adotadas para efetivação dessa competência;
elencar os apoios externos à sala de aula que tem sido oferecidos ao professor/professora para
colaborar com o exercício de uma prática docente inclusiva. A pesquisa acontecerá em duas escolas
públicas, será considerada de cunho qualitativo, acontecerá através da realização de uma entrevista
semi-estruturada, análise documental e pesquisa bibliográfica. Serão entrevistados (as) 8 professores
e professoras, sendo (4) da rede pública municipal e (4) da rede pública estadual, que trabalham com
alunos com necessidades educacionais especiais, matriculados nos anos iniciais do ensino
fundamental. Todos os cuidados éticos serão criteriosamente observados.
Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Federal de Minas Gerais
Coautor(a): Maralice de Souza Neves
Contato: mcmpinheiro@yahoo.com.br, maraliceneves@gmail.com
Título: De sem a cem palavras entre o dizer o o dito
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: O desinteresse pela aprendizagem escolar têm levado muitos adolescentes ao abandono
da escola, e está relacionado não apenas a fatores subjetivos, mas também familiares, escolares,
sociais e/ou econômicos, já que a maior parte desses jovens provém de família de baixa renda, mora
na periferia em condições precárias, e encontra-se portanto, em situação de vulnerabilidade social.
Logo, a ruptura com a escola pode significar para eles um risco à exposição e ao envolvimento com
atos infracionais. Nesse sentido entendemos e reiteramos ser necessário um trabalho de construção
e fortalecimento do laço desse adolescente com a escola, a partir da escuta e da investigação dos
fatores que estariam favorecendo o desenlace. Esse é o foco das ações e pesquisas do Programa de
Extensão da UFMG em parceria com a UEMG, BROTA: juventude, educação e cultura, que se propôs
a promover a construção de metodologias de intervenção, apostando sobretudo no saber desses
jovens, e nos recursos de que dispõem para refazer e ressignificar suas escolhas. O programa tem
como eixo teórico a psicanálise, por acreditar que não há uma solução universal para aplacar o mal-
estar que envolve a educação, e propõe também um diálogo com a arte, a educação, a saúde, a
filosofia e a sociologia, numa perspectiva transdisciplinar, articulando ensino, pesquisa e extensão.
Destacaremos nessa apresentação o trabalho desenvolvido pela oficina “Arte s/cem palavras”, que
junto com outras seis integram o programa. Trata-se de um espaço onde os jovens são convidados a
se expressar subjetivamente, valendo-se de diversas formas de linguagem verbal, como meio de se
constituir e se sustentar como sujeito de desejo, ou seja, sujeito do inconsciente como efeito do
significante que o representa para outro significante, apostando na linguagem como um dispositivo
de emergência subjetiva. O objetivo é a valorização das singularidades no contexto coletivo, onde o
121
desejo de cada jovem possa ser escutado e sustentado, possibilitando a ele a construção de um
projeto de vida. Sabemos que aposta na escrita como meio de expressão já é corroborada como
parte do cotidiano dos jovens. Assim, um dos nossos objetivos é utilizar as facilidades que a
contemporaneidade oferece, tais como, os diversos meios virtuais- chats em whatsapp, blogs, redes
sociais, ou mesmo os meios tradicionais, como o papel, nos quais a multimodalidade, a
multisemiótica, a escrita híbrida, que mesclam múltiplas formas de linguagem - oral, visual e escrita,
visando a estimular também a produção literária e artística desses jovens. Albuquerque (2019)
ressalta que é na fala endereçada ao outro, numa continuidade intersubjetiva, que se fundamenta o
método psicanalítico (LACAN, 1953). É o Outro que pode nos ensinar o que temos a dizer, é do Outro
que apreendemos aquilo que somos (MILLER, 1988), num esforço contínuo ao longo da vida entre
nossos outros. É da voz do Outro que sabemos o que nos espera, o que será de nós, enfim, o indizível
daquilo que somos (MILLER, 2013). Albuquerque (2019) também afirma, com base em Lacan (1972-
1973), que de todos os efeitos da linguagem, a escrita é aquele efeito que se articula a algo a partir
da letra. A letra é um efeito de discurso que demonstra como a linguagem se aperfeiçoa ao jogar
com a escrita. A escrita escava um vazio, sempre pronto a acolher o gozo, ressalta a autora.
Desejamos apresentar, portanto, os efeitos das significações resultantes do trabalho produzido pelos
participantes do Projeto Arte em s/cem palavras, bem como pelos colaboradores que aí
empenharam seu desejo.
Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Martha Célia Vilaça Goyatá
Contato: mcmpinheiro@yahoo.com.br, mcgoyata@yahoo.com.br
Título: Algumas reflexões sobre a articulação da psicanálise com a adolescência, a educação e as
instituições de ensino.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Sabemos que a educação não deixa de ser afetada pelo contexto de sua época, tanto no
âmbito político, quanto econômico, social e cultural. Lacan (1953/1988) nos adverte que deve
desistir de praticar a psicanálise “quem não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de
sua época. Pois como poderia fazer de seu ser o eixo de tantas vidas, quem nada soubesse da
dialética que o compromete com essas vidas num movimento simbólico (p. 322). Logo não há como
excluir também os educadores desse compromisso, ou seja, desconsiderar o fato de que o sujeito
reflete, por meio de sintomas e demais formações do inconsciente, as forças do campo simbólico
que o atravessa.
A proposta, portanto, é de pensar a educação a partir do contexto contemporâneo, entendendo
evidentemente, que educar nunca foi tarefa fácil, trata-se antes, como diria Freud, de uma tarefa
impossível. Estamos diante de um desafio, precisamos prosseguir e, nesse sentido a psicanálise pode
trazer algumas contribuições relevantes para pensar os impasses inerentes a esse campo, não
propondo “soluções imediatas”, como se de fato elas existissem, mas trazendo sobretudo a oferta de
um espaço de escuta e reflexão, que possam ajudar tanto os professores quanto os alunos a lidar
com o mal-estar presente nas várias formas de laço social, e mais especificamente no ambiente
escolar, nos dias de hoje, como nos interessa investigar. Para Rahme (2014) a função da instituição
seria atualizar para o sujeito, como aluno, exposto a todos os desdobramentos da convivência com o
outro, as medidas e desmedidas do mal-estar presentes no pacto civilizatório. Sendo assim é preciso
considerar a necessidade de se pensar o lugar ocupado pelo professor nas instituições de ensino,
qual a importância conferida a elas, e também procurar entender melhor os modos de subjetivação
por que passam os adolescentes na atualidade. A psicanálise pode sem dúvida contribuir ao abrir
espaço para que se considere os problemas inerentes ao campo do ensino e da aprendizagem, para
além das questões meramente cognitivas e operacionais. Referências bibliográficas: Lacan, J. (1953).
122
Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. Em Escritos (pp. 238-324). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998. Rahme, M. M. F. Laço Social e Educação: um estudo sobre os efeitos do encontro
com o outro no contexto escolar. Belo Horizonte, Fino Traço, 2014.
123
família, sobre a educação que é, ao mesmo tempo, incompleto e que barra o saber do outro. Esta é
uma das possibilidades do que uma escola pode fazer pela outra.
Autor(a): Maria Ludmila Antunes de Oliveira Mourão – USP – Universidade de São Paulo
124
Contato: m_lud@hotmail.com
Título: Em defesa de uma certa autoridade
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Vejo nos dias de hoje o conceito de autoridade sendo amplamente rechaçado e distorcido,
especialmente no campo da educação, o que me parece não ser sem consequências. Tentarei trilhar
o caminho desse rechaço sob a perspectiva da distinção entre ética e moral: por onde ele passa?
Onde se apóia? Onde está a autoridade hoje? Cabe aqui esclarecermos a diferença então dos termos
autoritarismo e autoridade. O autoritarismo diz respeito a algo arbitrário, caprichoso, tirânico,
reduzido às suas próprias leis, sem a consideração do outro. A autoridade, por sua vez, pode ser
definida no dicionário por “influência ou prestígio; pessoa que tem competência no assunto” (Bueno,
1991). Do latim Auctus, Augere, que significa fazer crescer, aumentar. É interessante ressaltar o
caráter de referência e influência, que parece permear a relação educativa, aqui podendo ser
equiparada à constituição psíquica, onde é preciso que um outro faça uma função, ocupe um lugar,
tome a palavra, se dirija ao sujeito em questão. A autoridade coloca limites, contornos, transmite
valores e normas, introduzindo a ordem simbólica. Assim, a lei limita a liberdade ao mesmo tempo
que é condição para a existência dela. Poder dizer que “não”, é um limite para a angústia, apazigua.
Duplo limite: ao gozo da criança e ao gozo dos pais. Paradoxalmente, acredita-se hoje que é a
autoridade que angustia, o que leva a uma isenção dessa função, desse ato, e, por que não dizer,
dessa responsabilidade de ajudar a criança a suportar o adiamento da satisfação. Assim, limita os
gozos, logo, supõe uma renúncia dos pais e/ou adultos ao seu narcisismo, ou seja, não é qualquer
“não”, é um “não” de difícil enunciação, na medida que inclui uma perda. A autoridade hoje é
discutida de forma reducionista, tomada como autoritarismo e logo excluída. Assim as práticas
pedagógicas apoiadas na coação e persuasão da criança, seja pela via motivacional, pela sedução ou
pelo convencimento não estão no eixo da autoridade. Para Arendt (2009) a autoridade tem a ver
com a responsabilização do mundo pelos adultos, exigindo destes uma tomada de posição frente às
questões do mundo. Chama a atenção para uma transferência dessa autoridade para as crianças no
mundo moderno. À exemplo disso temos hoje a politização da infância. Verticalidade versus
horizontalidade. Sabemos que com a passagem do mundo moderno para o mundo pós-moderno
alterou-se os modos de subjetivação e relações sociais. O enfraquecimento das referências
simbólicas, pela queda da tradição e dos ideais é o que Lacan (2008) nomeou como o “declínio da
imago paterna”. A partir de então o laço social passa a se fazer não mais pela verticalidade das
relações, mas pela horizontalidade, sem hierarquia. Mas o que isso quer dizer? Freud (1913) se
opondo à uma perspectiva desenvolvimentista, que ele mesmo por um tempo sustentou, vai
também estremecer o paradigma adulto-maturidade e criança-imaturidade, porém para revelar que
essa oposição não se dá pela via do desenvolvimento de uma maturidade, mas somente pela via do
efeito do recalque. A maturidade do adulto é colocada em cheque e com isso o paradigma criança-
imaturidade e adulto-maturidade não se sustenta. Se a diferença de um adulto para com uma criança
não se dá pela sua suposta maturidade e, portanto, “superioridade”, estariam estes no mesmo
patamar? Pergunta central desse trabalho. Restaria lugar para a autoridade do adulto? Autoridade
do adulto ou na relação do adulto com uma criança? Hierarquia versus assimetria. O paradigma
adulto/criança não é mais sustentado pelo jogo de forças ou poder próprios da hierarquia, mas tão
somente pela assimetria própria de suas condições. No entanto, essa contraposição à hierarquia
parece ser rapidamente tomada pela ideia de uma simetria entre os sujeitos, respondendo à um
princípio de igualdade: já que não somos inferiores ou superiores, logo, somos iguais. Podemos
localizar o declínio da autoridade na importante confusão ao se tentar superar a hierarquia pela
simetria.
Autor(a): Maria Nogueira Scarambone Zaú – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
125
Contato: mariazau15@gmail.com
Título: Pontos de encontro entre a psicanálise e a ciência: por uma transmissão rigorosa e
democrática
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: A discussão entre os campos da epistemologia e da psicanálise se estende desde o
surgimento deste segundo até os dias atuais. Nesse percurso, vemos inúmeros impasses, junto a
conclusões muitas vezes opostas por parte dos psicanalistas que se propõem a se questionar quanto
a esse tema tão controverso. O corte produzido pela Revolução Científica no século XVII tem como
consequência uma reviravolta determinante na visão de mundo moderna e, em cadeia, na forma de
se relacionar com o saber e a verdade. A exigência de cientificidade se coloca diante dos campos de
conhecimento que se pretendem legítimos e permanece, mesmo que por meio de outras facetas,
ainda hoje como uma questão imprescindível. Freud, ao longo do percurso de fundação e
estabelecimento de seu campo de trabalho, trata de forma profunda a relação da psicanálise com a
ciência. Assim, marca, em 1933, uma aproximação entre esses dois campos em termos de uma
'Weltanschaaung' incompleta e parcial. No decorrer de sua obra, podemos encontrar pistas que
apontam para o esforço de Freud em legitimar a psicanálise como campo de pesquisa e clínica, ao
fundamentar sua teoria a partir de conceitos da biologia - campo científico privilegiado de seu
tempo. Além disso, não à toa, em 1926, discorre acerca da laicidade da psicanálise na tentativa de
localizá-la no âmbito distinto do dogmatismo religioso, bem como do saber médico. A análise, como
Freud aponta, deve ser não apenas leiga, mas laica. Lacan, ainda que sob um novo solo
epistemológico, coloca como imprescindível, durante seu ensino, o diálogo da psicanálise com o
campo científico e, para tanto, apresenta A. Koyré como seu guia. Em 1975, localiza seu campo
teórico como constituído a partir das balizas da topologia, lógica, linguística e antifilosofia. Ao tratar
sobre seu ensino, assinala que o psicanalista deve se inteirar acerca do lugar e das bases que
constituem seu campo de atuação. O presente trabalho busca trazer um recorte acerca da
aproximação entre os campos da psicanálise e da ciência - tomada a partir de autores da
epistemologia com os quais Lacan dialoga, em especial A. Koyré e G. Bachelard. Não é nosso objetivo
aqui discorrer sobre a cientificidade da psicanálise, mas evidenciar a importância de tal diálogo. Em
tempos nos quais o rechaço ao ensino e à pesquisa fundamentados na razão e na lógica se evidencia
em prol da defesa de um saber dogmático e, por que não, autoritário, entendemos ser ainda mais
urgente uma pesquisa que trave um percurso rigoroso na busca pela transmissão e discussão
acadêmica que sejam de fato democráticas.
126
com as dificuldades inerentes do movimento de saída do universo infantil, no processo de
subjetivação que acontece na adolescência, e que pode ser experimentado com muita angústia.
Objetivamos investigar de que forma tais impasses se traduzem psiquicamente e podem se articular
com o ato do suicídio na adolescência.
A metodologia utilizada para realização deste estudo é a de pesquisa em psicanálise, pautada nos
princípios éticos que norteiam a sua clínica, tal como o desejo do analista e a fala sob transferência
(Alberti & Elia, 2000). O material extraído dos casos não terá a função de demonstrar considerações
teóricas, mas sim de levantar reflexões a partir deste. Um caso específico nos chamou muito a
atenção desde o início. Um jovem de 16 anos que chega até o ambulatório através da queixa inicial
familiar de que ele não queria mais ir à escola. Segundo ele, não havia motivos para estar na escola e
não tinha intenção de seguir alguma carreira convencional, visto que desejava seguir um percurso
como jogador profissional de um jogo online. Relata que além de não entender o sentido de
frequentar a escola, estar no ambiente escolar representava grande desconforto e mal-estar para
ele, pois sentia muita dificuldade de conversar, fazer amigos, além de se sentir “diferente e
inapropriado”. A mãe deste jovem demonstrava não tomar a recusa do mesmo em frequentar a
escola como uma questão, muito menos se implicava em dar um encaminhamento a ela. Foi
necessária uma intervenção do Conselho Tutelar junto à escola para que ele retornasse aos estudos
de forma obrigatória. O pai deste jovem se encontrava preso, e aparecia no discurso do adolescente
como uma figura ausente na maior parte de sua história. Com o tempo, e um lento processo de
criação de uma transferência, o paciente pode expor e elaborar algumas questões a respeito das
dificuldades que sentia para falar, se posicionar diante do Outro e construir laços sociais/ afetivos.
Após um ano em atendimento, no contexto de alguns acontecimentos marcantes na vida deste
jovem, o mesmo realizou uma tentativa de suicídio, que resultou em uma internação involuntária. A
adolescência é tomada como reedição edípica e narcísica (Coutinho, 2009), momento de um novo
encontro com o Outro (Alberti, 2004), com efeitos nos modos do sujeito se enlaçar no social. Por
conta disso, há um fundo de desamparo e angústia frente ao excesso pulsional da adolescência,
justamente por conta de uma desestabilização das identificações e das referências fálicas da infância,
que agora tem de ser reconfiguradas e restituídas para servir de base para o sintoma. A análise deste
caso em supervisão abriu a escuta da transferência deste paciente e a elaboração de um primeiro
esboço sobre a relação do paciente com a construção do seu sintoma.
Autor(a): Mariana María de Luján Scrinzi – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Diana Wolkowicz, Julia Tassara, Melina Soledad Molina
Contato: marianascrinzi@hotmail.com, dianawolkowicz@yahoo.com.ar,julia.tassara@gmail.com,
melina.s.molina@gmail.com
Título: El estatuto del lazo social en el autismo. la problemática de la inclusión escolar.
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Sobre la investigación “El estatuto del lazo social en el autismo. Principales planteos
teóricos desde el psicoanálisis”, se expondrá la exploración bibliográfica realizada atendiendo
específicamente a la constitución del sujeto autista donde encontramos el drama del goce
desenganchado del Otro. La inclusión del sujeto autista en la escuela hoy es una problemática muy
actual teniendo en cuenta las últimas estadísticas de los Centros de Prevención y Control de
Enfermedades, Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Estados Unidos, año 2016, indican
que actualmente los Trastornos del Espectro Autista (TEA) se le diagnostica a uno de cada 68 niños,
afectando siempre más a los varones que a las nenas, a razón de cuatro a uno. Hablar de lazo social y
autismo parece un oxímoron, en tanto hay una insondable decisión del ser de rechazo al Otro.
¿Cómo pensar el lazo al Otro si el objeto no puede extraerse, cuando no hay cesión de los objetos
pulsionales, cuando el circuito de la demanda no se pone en juego? En estos casos el objeto está
127
positivizado, tal como se presentifica con el murmullo de la lalengua. Los sujetos autistas inscriben el
significante S1 sólo, como pura inscripción primaria del goce sin encontrar un punto de capitón, no
pudiendo leer esa marca articulada a un saber. La tendencia a la inmutabilidad que el sujeto autista
busca, es un recurso para defenderse de las manifestaciones del Otro. Sin embargo, la casuística
muestra que el lazo del sujeto al Otro se establece y que los psicoanalistas encuentran modos sutiles
de acercamiento, no invasivos, ni amenazantes, posibilitadores de la instalación de una transferencia
amorosa, que permite conmover la defensa construida. De aquí se desprende otra pregunta: ¿Cómo
intervenir en la escuela? ¿Cómo incluir lo que no se incluye? La escuela es el lugar que posibilita que
el lazo social que se construye en el mundo familiar se amplíe y pase de un régimen privado, familiar
a lo público, ¿Cómo hace la escuela, que se caracteriza por ampliar los lazos, cuando acoge a un niño
autista, donde justamente el lazo se ve obstaculizado? Si bien hay leyes que avalan y regulan la
inclusión escolar, estas requieren que nos planteemos en cada caso hasta qué punto es conveniente
la inclusión. Cuáles son los costos y cuáles los beneficios para el sujeto. Es paradójico observar que
hasta hace 10 o 15 años atrás era muy difícil encontrar un lugar en la escuela común para un niño
autista; en la actualidad es necesario interceder para que se pueda hacer otro trayecto educativo.
Esto no tiene que ver específicamente con las leyes que si bien como toda ley son el marco de un
“para todos”, incluyen en ellas mismas la singularidad de “cada caso”. El problema es que la ley entra
en contradicción con algunas resoluciones ministeriales y con la práctica. Sostiene Wolkowicz A. Sin
embargo, encontramos resoluciones que entran en contradicción con el marco legal que contempla
la singularidad de cada caso. Ejemplo de esto es la Resolución 311/16 del Consejo Federal de
Educación que reglamenta la inclusión de niños autistas en las mismas condiciones actuales de la
educación formal previstas para la totalidad de los niños, sin considerar el caso por caso, generando
diversas dificultades para docentes, padres y niños. Estas problemáticas son las que interesan
conversar junto a viñetas clínicas que ilustran el tema propuesto. El objetivo general del proyecto de
investigación es indagar la especificidad del lazo social en el autismo. El diseño metodológico del
proyecto que se presenta recurre al ensayo como procedimiento para ensayar conjeturas vinculadas
por un lado con una toma de posición teórica, pero al mismo tiempo con la experiencia clínica (Kuri,
2001; Adorno, 2003). Al tratarse en psicoanálisis de conceptos con un valor conjetural, la forma de
abordar los problemas del método será acorde a esta toma de posición, recurriendo al ensayo en
tanto forma y procedimiento a la vez.
128
e de outras disciplinas afins, rumando para uma racionalidade biologista, cujas premissas baseiam-se
na concepção da existência de uma “sabedoria” natural - criando tautologicamente uma
normalidade/normatividade - a ser objetivada através do processo educativo. numa visão ontológica
de Homem Natural. Seja religioso, como antigamente, moral, naturalista ou médico-científico como
hoje, a pedagogia tendeu a ser um campo cujas premissas dependem de um justificacionismo
qualquer (Lajonquière, 2017). Onde todo ato educativo tem de ser justificado e embasado numa
causalidade externa. Na contramão desse pensamento, a psicanálise irá afirmar que a função da
educação está para além de um raciocínio pedagógico – que tem sua importância sobretudo na
escola. Para Freud (1927), para não permanecer criança, o ser humano deve sair ao encontro da vida
hostil. Ele chama a isso: educação para a realidade.
Ideia que é retomada por Mannoni (1973), pois ressalta do processo educativo a possibilidade de um
adulto e uma criança serem confrontados com o impossível inerente à toda educação. Um impossível
que diz, simplesmente, da impossibilidade de traçar, prever ou estabelecer garantias prévias em uma
relação mediada apenas pela palavra. Garantias que muitas pedagogias procuram “vender”, não à
toa dominam o universo privado de ensino. Dessa forma, não se trata aqui de não reconhecer a
importância da pedagogia num ambiente de ensino, porém, coube à psicanálise lembrar os riscos de
tomar toda a educação a partir de premissas naturalistas – que pressupõe o desenvolvimento e a
aprendizagem como um continuum natural, gerando uma aposta por vezes maior nas metodologias
de ensino e menor na palavra/autoridade do educador e no desejo de saber da criança. Impedindo,
por sua vez a dialética do reconhecimento: Reconhecer o desejo no outro e o próprio desejo em
causa no ato educativo. E o que estamos em condição de destacar neste momento trata do fato de
que essa forma de colocar os objetivos educativos/pedagógicos “na frente” da criança - como um
anteparo entre ela e o adulto - obstrui a relação de ambos com o próprio desejo e acabam por
obnubilar uma interrogação ou vontade de saber sobre si mesmo (Lajonquière, 2017), além do
reconhecimento do outro como sujeito de desejo, algo inerente a toda possibilidade educativa
(Kupfer, 2007; Lajonquière 2009).
129
efeitos iatrogênicos provocados pelo diagnóstico médico, de modo a restituir o saber dos pais sobre
seus filhos e possibilitar um desvelamento de sentidos que permita mudanças de posição da criança,
tais como: escuta psicanalítica mãe-criança, intervenções em momentos de encontro dos pais em
grupo (que aproveitem o que uma mãe ou pai pode fazer pelo outro) e nomeação, em momento de
escuta individual dos pais, de um saber a partir de outra lógica diagnóstica que leve em consideração
o sujeito e sua posição subjetiva. Em relação a esse último aspecto, o uso de instrumentos como o
IRDI (Indicadores de Risco do Desenvolvimento Infantil) (Kupfer e Bernardino, 2018) e o APEGI
(Avaliação Psicanalítica em Escolas, Grupos e Instituições) (Kupfer, Bernardino e Pesaro, 2018), para
apresentar às famílias nosso saber e metodologia de trabalho, tem funcionado como forma possível
de se sustentar uma diagnóstica que marca uma diferença em relação ao diagnóstico psiquiátrico
precoce. Espera-se com este trabalho transmitir a importância de se sustentar com as famílias e com
as escolas uma hipótese diagnóstica aberta, em constante revisão pela equipe de tratamento,
enquanto posicionamento ético para com o sujeito na primeira infância. Referências Bibliográficas:
Kupfer, M. C., Bernardino, L. M., & Pesaro, M. E. (2018). Validação do instrumento
"Acompanhamento Psicanalítico de Crianças em Escolas, Grupos e Instituições (APEGI)". Estilos Da
Clinica, 23(3), 558-573. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v23i3p558-573. Kupfer, M. C. M., &
Bernardino, L. M. F.. (2018). IRDI: um instrumento que leva a psicanálise à polis. Estilos da Clínica,
23(1), 62-82. https://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v23i1p62-82
130
psicanálise na universidade à luz da teoria dos quatro discursos discutida por Lacan (1969-70/1992)
enquanto modalidades de laço social, localizando diferentes lugares ocupados pelo saber. Enquanto
o discurso científico se a ciência se alinha ao discurso do mestre, cabe ressaltar que o discurso do
analista expõe a impossibilidade que a ciência busca suturar com tentativas incessantes de dar conta
do real (SGARIONI & D’AGORD, 2013), de forma que o discurso do analista virá justamente a
sustentar a falta de sentido instaurada pelo mal-entendido da linguagem, dando lugar à
impossibilidade traçada pelo real. BIRMAN, J. A problemática da verdade na psicanálise e na
genealogia In: Tempo Psicanalítico, Rio de Janeiro, v.42.1, 2010, p.183-202
FERNANDES, A. O ensino e a transmissão da psicanálise. In: Stylus Revista de Psicanálise Rio de
Janeiro no. 34 p.93-102. 2017. LACAN, J. O seminário livro 17: o avesso da psicanálise. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar. (1969-70/1992). SANADA, E. A "verdade" da ciência a partir de uma leitura psicanalítica.
In: Psicologia USP, 2004, 15(1/2), 183-194. SGARIONI, M., D’AGORD, M. Ciência, Verdade e Saber na
Sociedade Moderna: Uma Perspectiva Lacaniana. In: Clínica & Cultura v.II, n.I, jan-jun 2013, p.3-15.
TORRES, R. Do ato psicanalítico ao discurso do analista: estrutura do campo lacaniano. Tese
(Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) –
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 2013 p.2-68
131
para jovens que se cortam, via familiares e escola. E passaram a se perguntar se todos esses jovens
precisariam, necessariamente, de atendimento individual para poder dar outros destinos para o seu
mal-estar, evitando, principalmente, a medicalização e um início precoce na carreira de “doentes
mentais”. Assim, a direção de trabalho adotada foi voltar-se para o território, sendo a primeira
aposta uma roda de conversa entre a saúde mental e os docentes. No que diz respeito às tentativas
de construção deste trabalho articulado com as escolas, surpreendeu-nos que, apesar dos pedidos
de ajuda à saúde, os representantes das escolas não ocuparam os locais de discussão destinados a
tratar desta problemática. Como uma segunda estratégia, as autoras propuseram uma intervenção
em uma escola, com dois grupos de jovens e também com os professores, separadamente. O que se
desvela desta ação é que há uma fragilidade nos laços que desconecta o sujeito do campo do Outro,
que dificulta que algum saber se produza sobre o sofrimento e que torna insuportável, para alguns,
poder acolher sem necessariamente responder. A proposta de colocar em discurso o sofrimento, de
fazer circular a palavra, reconhecer e legitimar o que jovens e professores trazem como questões,
permite que um saber inédito se construa e inaugure possibilidades para aquilo que se apresentava
insuportável e sem saída para alguns, levando apenas à evitação e mais sofrimento.
Autor(a): Marlene Maria Machado da Silva – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Contato: marlenemachadosilva2015@gmail.com
Título: "Eu não sei!" É preciso falar do não saber na alfabetização.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Após mais de um século de produções científicas, tentando explicar as possíveis relações
entre o sujeito e sua dificuldade para aprender, ainda persiste um grupo significativo de alunos com
dificuldade na alfabetização. Assim, o objetivo deste trabalho, fruto do doutorado, é apresentar o
que o aluno, como sujeito, tem a dizer sobre sua alfabetização. Analisando as tentativas de respostas
sobre o porquê da não aprendizagem, constata-se vários entrelaçamentos de ideias e intervenções,
de diferentes perspectivas, optando-se pelo entrelaçamento de estudos da Educação e da
Psicanálise, na construção de respostas sobre o porquê de muitos não aprenderem. Escutando
alunos em situação de fracasso na alfabetização e analisando o que tinham a dizer sobre seus
impasses, constatou-se o entrelaçamento do processo de alfabetização e a subjetividade por meio do
nome próprio. Nesse caso, ocorreria a primazia do subjetivo sobre o pedagógico e o aluno, mesmo
tendo a capacidade intelectual preservada, estaria impedido de ter acesso ao conhecimento ou
inibido de apresentar o que já foi capaz de aprender. O nome próprio, como primeiro texto escrito
carrega as marcas de uma língua e de uma cultura e, em suas entrelinhas, a dimensão subjetiva que
compõe a existência do sujeito. Mas qual seria a origem deste entrelaçamento? Escutando crianças
no início da alfabetização, verificamos que elas queriam aprender e não apresentavam qualquer
dificuldade que sugerisse haver algo da ordem de um sintoma (Silva, 2008). Entretanto, “eu não sei”
marcava constantemente suas respostas. Ao serem questionados, não sabiam dizer o que não
sabiam. No decorrer dos encontros, as questões relacionadas aos enigmas do sexual foram surgindo,
enquanto respondiam as atividades de leitura e escrita, corroborando com a afirmação de Freud
sobre “a pulsão de saber é atraída, de maneira insuspeitadamente precoce e inesperadamente
intensa, pelos problemas sexuais, e talvez seja até despertada por eles” (1905, p. 183). Aos 6 anos,
concomitantemente ao momento de descoberta de uma teoria que responda aos enigmas sexuais,
os alunos necessitam compreender a função da escrita. A cada atividade de escrita que tinham que
resolver, o enunciado “não sei” ganhava contornos de curiosidade, pois queriam saber. É neste
momento que, caso não consigam elaborar respostas suficientes, o sintoma poderá se ancorar na
escrita do nome próprio, enquanto o sujeito busca uma resposta para a própria existência. Assim, ao
escutar estas crianças constatou-se que não há impasses com relação ao nome, mas questões que
envolvem a própria constituição do sujeito. Constatou-se que, a resolução de uma atividade escrita,
132
suscita o entrelaçamento de elementos subjetivos e pedagógicos na busca de respostas para suas
dúvidas. Neste processo, alguns alunos precisam que lhes seja possibilitado dizerem suas questões,
bem como talvez necessitem de um adulto que possa esclarecê-las, para que esse entrelaçamento
circule sem a produção de um sintoma. Diferentemente dos entrelaçamentos apresentados acima, o
do pedagógico com subjetivo ocorre como um processo contínuo e natural, sem a primazia de um
sobre o outro, e sem impedir o aluno de avançar em suas elaborações cognitivas e subjetivas, num
movimento como nos sugere a banda Möebius. Apesar de serem dois processos distintos:
alfabetização e sexualidade, em seus dizeres os alunos demonstraram que não há como pensar em
um sem envolver a dimensão do outro. Assim, concluiu-se que não havia um impasse ou problema
para ser diagnosticado sobre a dificuldade de alfabetização destes alunos, mas um processo a ser
(re)conhecido a partir do que eles tinham a dizer. Os alunos ensinaram que não há nada que os
impeça de aprender, mas que, aos seis anos, necessitam de outros saberes, para além da escrita.
133
Produzidos e Produzindo Fazeres Pedagógicos em Situações de Inclusão.IN: RAHME, M.M.F.;
FRANCO, M. A. M.; DULCI, L. M. C. (Orgs). Formação e Políticas Públicas na Educação: tecnologias,
Aprendizagem, Diversidade e Inclusão. Jundiaí/SP, Paco editorial:2014, P.257-279. MOYSÉS, M. A.
A.A; COLLARES, C. A. L. A medicalização na Infância na educação infantil e no ensino fundamental e
as políticas de formação docente. A medicalização do não-aprender-na-escola e a invenção da
infância anormal.31 Reunião Anual da Anped– Sessões especiais – outubro/2008. NABUCO, Maria
Eugênia. Práticas Institucionais e Inclusão Escolar. In: Cadernos de Pesquisa. v.40, n.139, p.63-74,
jan./abr., 2010
UNESCO. Declaração de Salamanca, 1994.
134
¿Qué intervenciones posibles en la construcción de proyectos futuros? Estos serán algunos de los
interrogantes que desplegaré para abrir al diálogo entre las categorías teóricas y la praxis.
Autor(a): Monica Garrafiel de Carvalho – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Coautor(a): Andrea Gabriela Ferrari
Contato: mgarrafiel@gmail.com, ferrari.ag@hotmail.com
Título: O problema é quando falta gás! Reflexões sobre a interludicidade na escola infantil
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Uma das pesquisas do grupo chamado Núcleo de Estudos em Psicanálise e Infâncias
(NEPIs) tem como campo a escola infantil, em especial as turmas de berçário 1 e 2. Os olhares dos
pesquisadores focam na relação entre educador e bebê e seus ecos na constituição psíquica dos
bebês. No presente trabalho vamos focar a interludicidade - um dos indicadores de
intersubjetividade proposto por Vitor Guerra (2014). Os indicadores de intersubjetividade marcam
um conjunto de interações entre o bebê e o adulto, os quais são constitutivas do mundo simbólico da
criança. A interludicidade destaca a importância da maleabilidade lúdica materna, que toma o estar
junto e os jogos conjuntos com o bebê como capazes de tornar os desejos expostos, de integrar
experiências entre mente e corpo e elaborar vivências angustiantes do bebê. A complexidade
observada na rotina da escola infantil, por vezes paralisou qualquer reflexão sobre a possibilidade de
construções conjuntas entre educador e bebê, mas pensando na importância do adulto na
constituição psíquica da criança e o longo período que os bebês ficam diariamente nesta instituição,
135
se faz necessário este trabalho de articulação entre Educação infantil e Psicanálise. No
acompanhamento semanal à escola, tínhamos a proposta de conversar com as educadoras sobre seu
cotidiano para entender as suas dificuldades e saber suas percepções sobres os bebês, as famílias e a
instituição. A escuta das educadoras foi delineando questões sobre como elas faziam a leitura das
expressões dos bebês e como respondiam aos pedidos deles. Percebemos a não reflexão sobre a
forma de expressão singular dos bebês e o incômodo de não saber decifrar este formato
diferenciado de demonstração de desejos e angústias, que inclui códigos de comunicação não verbal,
ritmo, tom de voz, imitação e as brincadeiras. Estes desencontros nos apontaram alertas de risco
nesta relação, pois é fundamental para a constituição psíquica do bebê que ele possa sentir-se
acompanhado e com suporte para agregar suas experiências.
Neste processo de escuta, a fala de uma educadora chama nossa atenção quando refere sobre um
acontecimento problemático na instituição: “O problema é quando falta gás!”. Nesta frase ela se
referia ao momento que falta gás de cozinha na escola e o almoço atrasa, devido este atraso as
tarefas saem do cronograma esperado e se abre um vazio, e a questão que se instala é o que fazer
com as crianças neste intervalo. Entre tarefas de cuidado com corpo dos bebês e atividades
institucionais, percebemos que para as educadoras o brincar em conjunto com as crianças tomava
um pequeno espaço e alguns dias não ocorreria. A demanda de cumprir atividades pré-estabelecidas
as ocupava demasiadamente e os espaços vazios pouco apareciam. Será que não apareciam pela
quantidade de funções ou por que era difícil aproximar-se do bebê para interagir na linguagem dos
bebês?
Os bebês acompanhados buscavam a interação, pegavam a mão do adulto para mostrar brinquedos,
sentavam no colo para ler histórias e penduravam-se no corpo instalando uma brincadeira. No
entanto, a educadora comunica a dificuldade de usar o espaço vazio, de criar algo que julgue
adequado para promover naquele tempo de interação com os bebês. Qual o gás necessário para o
adulto criar trocas lúdicas na escola infantil?
136
da matemática, por observar que uma criança bem pequena apreende a ideia de número com as
mãos e, somente mais tarde, os aprende graficamente. Da mesma maneira, a criança realiza
operações matemáticas usando as mãos inicialmente, recurso usado por um longo tempo. Desta
forma, pensou-se em uma forma de alfabetização que começasse inicialmente pelo corpo,
aprendendo as letras, em seguida o processo de formação de sílabas e, finalmente, a construção de
palavras. Só então passaria à apresentação gráfica. Apesar de ter sido realizado com apenas uma
criança, percebeu-se que houve um progresso rápido na capacidade de assimilar o conceito de
método silábico. Como o alfabeto em Libras é bastante simples de ser aprendido por uma criança,
não houve nenhuma dificuldade na reprodução das letras com as mãos. É durante a primeiríssima
infância o momento onde o sujeito se constitui, a partir de uma demanda, sendo essa uma
necessidade que passa pelo significante dirigido ao Outro. Já o desejo, como furo, buraco, vazio é o
que permite a entrada do sujeito na linguagem. Muitas vezes, todo esse processo acontece
concomitantemente à aquisição da escrita, uma linguagem nova, dentre as várias linguagens da
infância.
137
que variavam entre brincadeiras, artesanato, culinária e contação de histórias, não se apoiavam em
intervenções pedagógicas. Observou-se alguns períodos em que a criança se manteve, à sua maneira
pouco interativa e afastada, integrada às atividades, próxima às outras crianças. Em vários
momentos, as trocas de olhares eram possíveis, inclusive com algumas palavras de despedida. A
ideia da prática dos vários pareceu, a nós, algo possível também em instituições não formalizadas
como terapêuticas, sendo uma forma de receber crianças autistas/psicóticas nas várias formas de
atividades e cursos livres. Voltando ao título de trabalho e pensando no inconsciente à céu aberto
nas psicoses, pensamos uma comparação com a linha retilínea que pode ser observada no horizonte,
onde sabemos (mas não vemos) que a Terra é uma esfera. O raio extremamente grande da
circunferência da Terra nos ilude e nos faz ver uma linha reta no horizonte. Da mesma maneira,
existe algo no todo que se for olhado apenas a uma pequena distância, dará uma ideia errônea
daquela realidade. É preciso expandir a noção de todo para que o pensamento se curve e a palavra
se flexibilize. Desta forma, à distância, abrindo mão de uma proximidade, o tratamento do Outro se
tornaria mais possível.
138
inclusão nas produções coletivas e pertencimento ao grupo de alunos. As reflexões são feitas a partir
das contribuições da Psicanálise em uma discussão que coloca na cena educativa a noção de sujeito e
sua posição discursiva.
139
processo terapêutico no campo da loucura. Diante disso, o acompanhamento terapêutico (AT) com
psicóticos tem ganhado, no cenário da reforma psiquiátrica brasileira, uma inserção cada vez maior
nos diferentes dispositivos das políticas públicas de saúde mental. Tal prática surge como um fazer
que possibilita novas construções subjetivas que implique uma experiência de inclusão por parte do
usuário do serviço de saúde mental desconstruindo práticas de segregação historicamente
enraizadas nos diversos espaços sociais. Assim, esse trabalho tem como objetivo apresentar um
relato de experiência de estágio como AT no serviço substitutivo de saúde mental, a saber, a
Residência Terapêutica, com o intuito de apontar possibilidades de territorialização da loucura junto
ao usuário do serviço, bem como a prática de AT como um dispositivo clínico facilitador do trabalho
de inserção social. Verifica-se que tal campo traz consigo os desafios promovidos pela reinserção do
louco na lógica comunitária, convocando uma articulação com as demais políticas públicas e setores
privados. A prática desenvolvida no serviço junto ao sujeito morador da residência terapêutica é
orientada pelos pressupostos teóricos da reforma psiquiátrica e psicanálise, com vias a pensar as
políticas de cuidado em saúde mental. Sendo assim, os conceitos de reabilitação psicossocial, clínica
e atenção em saúde mental, em diálogo com a psicanálise, foram importantes para possibilitar um
olhar para a loucura como experiência não limitadora das potencialidades do sujeito. Nesse ponto,
destaca-se as contribuições que a psicanálise pode fornecer rumo a uma clínica que intervém junto
aos mal-estares da cultura, uma vez que, como assinala Viganò, não há como dissociar clínica e
reabilitação. A investigação para sistematização desse trabalho consistiu em revisão bibliográfica e
relato da experiência profissional em uma Residência Terapêutica localizada no município de Belo
Horizonte, que tinha como estratégia de ação promover a reintegração social, com atuação do AT,
estimulando a autonomia dos moradores. A atuação do AT está ancorada nos preceitos que
organizam política e clinicamente o campo da Saúde Mental, articulando as redes assistenciais de
diferentes dispositivos abertos. As práticas desenvolvidas nos serviços substitutivos em saúde mental
produzem um campo bastante específico de produção de subjetividade, pois entende-se que se trata
de um espaço com ênfase na dimensão territorial e de práticas de subjetivação que colocam a
possibilidade de emergência de uma clínica que suporta a rua e o caminhar do louco na cidade,
apesar de suas violentas relações de desigualdade e exclusão. Nessa direção, a experiência
desenvolvida na residência terapêutica aponta que atividades cotidianas (como ir à padaria, fazer
uma compra no sacolão, pagar pelos serviços e conferir se o troco está correto, andar de ônibus e
outras) autorizam a construção do inédito, possibilidades de deslocamentos que lançam alternativas
à institucionalização da loucura com as quais o psicótico à sua maneira, com auxílio do AT, tenta se
haver para estar na vida da melhor maneira que lhe for possível. Ademais, como uma aposta em
diálogo com a psicanálise, a experiencia como AT possibilitou perceber a necessidade de uma escuta
ao dito desse sujeito, bem como uma valorização do seu saber/fazer, acompanhando e acreditando
na capacidade humana de ressurgir e criar.
140
educadores e educadoras a possibilidade de empreender uma escuta e uma posição aberta ao
afloramento dos significantes conscientes e inconscientes, que investem libidinalmente os Projetos
de Trabalho e os tornam a falta-a-ser do setting educativo. O texto não se propõe a eleger os
Projetos de Trabalho como panaceia para uma educação emancipadora, ou como instrumento que
garante a emergência e enredamento dos desejos, mas analisa o seu potencial como pivô das redes
desejantes que compõe a trama educativa. O desejo institucional, com seus objetivos educativos
histórico-culturais e curriculares, enlaçados pelos objetivos de um país e de uma comunidade; o
desejo de educar das famílias; o desejo de ensinar de educadoras e educadores e o desejo de saber
das crianças, nos Projetos de Trabalho, podem se entrelaçar, abrindo um campo para uma polissemia
de significados educativos, potencialmente propício a emergência do novo e de um processo de
ensino-aprendizagem significativo. Ao longo do texto, os conceitos Psicanalíticos, atrelados a
narrativas que ilustram o funcionamento da prática educativa Projetos de Trabalho, buscam elucidar
a posição desejante que cada integrante da escola ocupa, aventando possibilidades de postura,
escuta e intervenção, diante da emergência dos sujeitos desejantes e epistêmicos. Quando investidos
da paixão pela ignorância, pelo não sabido, cada qual em sua posição, coordenadores, famílias,
educadoras e educadores, funcionárias e crianças podem investir libidinalmente a experiência
polissêmica educativa, desejosos pelo surgimento da descoberta, do novo e da aprendizagem.
142
em: rodas de conversa com estudantes de duas escolas da rede estadual e com estudantes
universitários da UFF; rodas de conversa com professores das duas mesmas escolas; estudo de casos
clínicos de adolescentes em atendimento no Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ. Neste trabalho,
nos deteremos especificamente na primeira etapa da pesquisa de campo nas duas escolas estaduais,
onde foram realizadas atividades em grupo baseadas em uma proposta da FLACSO/UERJ como
disparadoras de conversas a respeito dos laços sociais na escola com as turmas do 9º ano do ensino
fundamental ao 3º ano do ensino médio. A partir da leitura dos diários de campo e da realização de
estudos teóricos sobre psicanálise e adolescência, pretendemos discutir impasses nos modos de
inserção do sujeito adolescente no laço social e como a escola participa disso. Referências
bibliográficas: BRASIL. Ministério da Saúde. Suicídio. Saber, agir, prevenir. Boletim epidemiológico.
Brasília, v. 48, n. 30, 2016. JUCÁ, V. & VORCARO, A. Adolescência em atos e adolescentes em ato na
clínica psicanalítica. Revista Psicologia/USP, volume 29 I número 2, 246-252, 2018. LESOURD, S. A
Construção Adolescente no Laço Social. Petrópolis, Vozes: 2004.
ROSA, Miriam Debieux; DOMINGUES, Eliane. O método na pesquisa psicanalítica de fenômenos
sociais e políticos: a utilização da entrevista e da observação. Psicologia & Sociedade, 22(1), 180-188,
2010.
143
Autor(a): Pedro Cavalcante de Miranda – UNB – Universidade de Brasília
Coautor(a): Inês Maria Almeida
Contato: pedrocavalcantedemiranda@gmail.com, almeida@unb.br
Título: Memória Educativa: da constituição à atuação docente.
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Este trabalho refere-se à pesquisa em andamento no Mestrado em Educação PPGE/UNB
(Universidade de Brasília) na linha de pesquisa: Escola, Aprendizagem, Ação Pedagógica e
Subjetividade na Educação (EAPS) a partir do diálogo entre pensadores da área educacional e
conhecedores do campo psicanalítico com viés na perspectiva da constituição e da atuação docente.
Este estudo terá como objetivo geral: compreender como a constituição subjetiva do professor se
manifesta na atuação docente a partir da escrita da sua memória educativa. Visando investigar
aspectos de idealização desse profissional, entender as dimensões da constituição subjetiva do Ser
Professor a partir da sua prática pedagógica. O aporte teórico utilizado será a Psicanálise com o
intuito de compreender o sujeito-professor a partir da escrita da sua memória educativa. Por tratar
de uma abordagem qualitativa, neste trabalho a pesquisa narrativa será a estratégia utilizada para
conhecer a atuação de dois professores da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal atuantes no
ensino fundamental. A escrita da memória educativa, a observação do trabalho pedagógico, a
entrevista e a sistematização da análise desses dados, obtidos com os professores, serão fundantes
para a problematização do objetivo proposto. RESUMO DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. Para tratar
da constituição do Ser Professor, é importante compreender o seu processo formativo e apresentar
possíveis aspectos que contribuíram para a idealização desse profissional na atualidade.
Na comunidade acadêmico-científica, é válido citar que Tanis (1995), Lajonquiére (1999) e Almeida
(2012) já realizaram estudos sobre a importância da memória na constituição do sujeito. A partir
desses estudos, é possível compreender que a constituição do Ser professor, relaciona as
experiências vividas com a sua atuação profissional, além de entender as frustrações desse ofício e o
mal-estar docente. Diante disso, esta pesquisa vem para retomar este enfoque de estudo, porém
com um olhar sobre a idealização que é construída para esta profissão. Os diversos e diários
questionamentos do “Ser Professor” podem ser frutos de insatisfações; de negações do seu desejo;
de sonhos não conquistados; de habilidades não adquiridas, mas exigidas pelas demandas atuais do
campo docente; de um esforço realizado, mas não recompensado. O professor, ao deparar-se com
tais desafios, pode passar de uma configuração heróica para uma condição de frustração, e,
consequentemente, posicionar-se em um estágio de ressentimento, procurando algo ou alguém para
justificar as mazelas de sua vida. A memória educativa, nesse contexto, será utilizada como
dispositivo de pesquisa para a leitura da dimensão afetiva das experiências vividas pelo professor, a
fim de identificar os condicionantes de suas ações no fazer pedagógico. Nessa perspectiva, a atuação
do professor será o locus primordial de pesquisa, com um olhar em sua condição subjetiva frente às
idealizações construídas em seu trabalho a partir da elaboração da sua memória educativa. Tecendo
como possibilidade a ressignificação de sua atuação; um professor constituído como um sujeito de
desejo, em cujas ações e intenções conscientes desencadeiam do sujeito do inconsciente que
comparece e embaraça as “certezas ditas pedagógicas”. (In) CONCLUSÕES PRELIMINARES. Uma
idealização do Ser professor foi construída historicamente e soa como parâmetro de uma atuação
profissional contínua. Contudo, as vicissitudes da vida reforçam a condição de seres faltantes,
incompletos e em que, mesmo diante de um aparente desejo de alcançar a excelência, a virtude
heroica depara-se com a sua fragilidade existencial. Essas necessidades, aparentemente demandadas
por questões externas, evocam mecanismos oriundos do inconsciente. Assim, aproximar a
Psicanálise do campo educacional trará implicações significativas na constituição do ser e,
consequentemente, na compreensão da escolha e da atuação do professor.
144
Autor(a): Pedro Teixeira Castilho - UFMG
Contato: contatocastilho@gmail.com
Título: Os impasses das adolescências na contemporaneidade e os novos sintomas
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A adolescência é sempre um período da vida que delineia a infância e a adultez. O termo
adolescência, no sentido moderno, foi utilizado pela primeira vez no livro O Emílio de Jean-Jacques
Rousseau que descreve uma serie de estratégias para manter Emilio longe da sexualidade, até que se
forme uma sólida formação moral e racional. A palavra adolescência vem de origem indoeuropeia al,
“nutrir”, “crescer”, que ocorreu uma inflexão “alere” – alescere – aumentar. Surgindo assim o verbo
adolescere – crescer (Ernout, A. & Meillet, A. (1967). Com a psicanálise, entendemos que Sigmund
Freud nunca utilizou o termo adolescência, ele faz referência apenas ao conceito de puberdade.
Em seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade de 1909, Freud escreve seu terceiro ensaio
intitulado: Umgestaltung der pubertat, podendo ser traduzido como: As metamorfoses da
puberdade. Se a Gestalt, palavra do título original, se traduz como forma, podemos dizer que a
puberdade convoca a adolescência a se apresentar como uma “nova forma” no que concerne a
dimensão pulsional. As referências de Freud são o momento de latência das pulsões que se
deslocam para o momento de manifestação da sexualidade. No século XXI, surgem outros
referenciais e modos de subjetivação que são bem distintos. Como podemos compreender, os
fenômenos dos novos modos de subjetivação à luz do declínio das identificações verticais? Se a
psicologia individual é indissociável da psicologia social cabe sabermos os destinos da adolescência
na contemporaneidade. Assim sendo, como poderíamos pensar os adolescentes se levarmos em
consideração o contemporâneo? Na sociedade contemporânea, a pulsão revela ainda mais sua face
mortífera, como modo de gozo presente tanto nos novos sintomas quanto na violência. O declínio da
função paterna e a falência dos ideais na atualidade trazem a tona um sujeito sem responsabilidades
para com seu desejo e o Outro. Torna-se um sujeito tomado pelo imperativo de gozo da civilização
técnico-científica e da política de um mercado globalizado. A família patriarcal que institui a lei e a
moral orientada pela figura paterna não está mais em evidência. Nos tempos atuais, a concepção de
família se pluralizou e novos modelos começaram a aparecer. O pai da tradição e da lei caducaram e
surgiu uma paternidade contratual, negociada e desprovida da assimetria que lhe dava a autoridade,
ainda que a paternidade definida por normas variáveis resulte afinada com as novas disposições das
famílias (LAURENT, 2006). Encontramos, na atualidade, novos laços e ficções familiares: casais
homoparentais, reprodução assistida, barriga de aluguel, família monoparental e famílias
reconstituídas. Com o avanço da ciência e de suas novas parcerias, sobretudo com o capitalismo, a
função paterna perdendo seu lugar de hegemonia e foi sendo reconsiderada. O declínio da função
paterna é um signo de uma época. O que este declínio revela é que não se crê mais no pai. A
descrença é o que se revela na contemporaneidade. Cada vez mais encontramos sujeitos em conflito
com a ordem pública e com a passagem ao ato. O declínio da função paterna traz à tona um sujeito
que não se orienta mais a partir do Nome-do-Pai. Pretendemos fazer uma articulação entre os novos
sintomas: anorexia, bulimia e toxicomania e os novos efeitos de subjetivação na contemporaneidade,
levando em consideração a adolescência como efeito de estrutura e a questão social presente nas
formações dos novos sintomas.
145
dificuldades que a criança encontra frente ao segundo momento deste processo, o qual podemos
chamar de alfabetização. Para tanto, observaremos como alguns elementos presentes na poética
oferecem vias interessantes de enfrentamento dos entraves que se apresentam. Partindo do
referencial psicanalítico, especialmente da noção de letra e conceito de lalangue para o psicanalista
Jacques Lacan, buscaremos nos aprofundar no estudo dos encontros e diferenças entre estes dois
momentos do letramento, no intuito de contemplar a dimensão subjetiva presente no processo de
alfabetização, e abordarmos as dificuldades das crianças no domínio da língua escrita durante o
período de escolarização. Ao pensarmos a língua como uma estrutura aberta e admitirmos a
linguagem como não-toda, deparamo-nos com a problemática que a inserção em um código
alfabético, restrito, e que visa a comunicação e o laço social, pode apresentar ao sujeito desde a
escolarização. Assim, o fazer poético revela sua importância ao apresentar a possibilidade de quebra
da univocidade de sentido. Como possibilidade de demonstração do encontro proposto, traremos
como recorte a obra do poeta matogrossense Manoel de Barros. Em seu artigo denominado A
matéria de poesia em Manoel de Barros, Luiz Henrique Barbosa reflete a respeito do movimento de
despir as palavras até que elas percam sua significação usual, característico do fazer poético de
Manoel de Barros: "Barros irá transformar o signo em matéria bruta, em palavra insignificante, em
restolho. Irá desfiar as imagens das palavras e descascar suas roupagens até que elas possam
alcançar o seu estado inicial, seu estado de antes da significação [...] Como encaminhar tal projeto?
Como se utilizar da linguagem para se aproximar de uma pré-linguagem, de uma assimbolia? É
preciso aprender a errar a língua, a fazer gags com as palavras, a fazer pequenas loucuras para que
possamos ser pegos de surpresa por elas [...] Barros irá modificar o regime dos verbos, mutilar a
sintaxe e encadear significantes que possam promover sentidos ainda não veiculados pela língua"
Para brincar com as palavras, além da metalinguagem, o poeta lança mão de neologismos. Estes
aparecem no texto atribuindo novo sentido a palavras existentes, ou na criação de novos termos,
ausentes no dicionário; ou por meio da subversão das normas gramaticais (por exemplo
transformando substantivos em verbos). Essas ferramentas empregadas por Manoel de Barros em
seus poemas permitem uma renovação lexical, reiterando a idéia de uma recusa da palavra em seu
sentido único. A função poética oferece uma importante contribuição à discussão dos impasses dos
sujeitos frente aos processos de aquisição de leitura e escrita contidos na escolarização, na medida
em que reconhece --a cada verso de sua obra-- o furo de sentido que a palavra comporta. Frente a
aprendizagem (no encontro com o código alfabético), o sujeito esbarra com impossibilidade radical
do sentido pleno, e, ao mesmo tempo, com a potência de significação. Com a poesia é possível
recuperar a brincadeira com a língua, perdida na escolarização, por meio da busca incessante: ora
pelo esvaziamento de sentido das palavras, ora por seu cúmulo. A partir daí, deste saber fazer com a
língua, preserva-se o lugar de invenção, o caráter ficcional do habitar a linguagem. Dessa forma, a
linguagem poética explora a produção de equívocos gerados pelo contato do sujeito com a palavra
escrita. Assim, esta pesquisa aposta na consideração desses aspectos, reconhecendo na experiência
singular de escolarização de cada sujeito a estrutura furada que é o saber. Como escreve Barros em
Uma didática da invenção: Desaprender oito horas por dia ensina os princípios.
Autor(a): Rafaela Amaral Cunha do Nascimento – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Contato: nascmnto.r@gmail.com
Título: Psicose, segregação e educação: impasses e possibilidades frente ao laço social
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Busca-se demonstrar como o trabalho clínico com as psicoses, guiado pelo referencial
psicanalítico, pode contribuir na discussão sobre a inclusão desses sujeitos no campo da educação
regular. Compreende-se que ocorreram mudanças recentes no programa educacional, que apesar
de importantes, geraram novos impasses e questionamentos na transmissão do saber e na inclusão
146
de jovens psicóticos nas redes regulares de ensino. Mais especificamente com o movimento de
inclusão escolar, visando as alterações pautadas pelo movimento antimanicomial, percebemos como
pauta uma tentativa de ir contra a segregação na busca da inserção de todos os jovens na rede de
ensino regular, porém, ressalta-se que o significante todos também se apresenta como um
imperativo a ser cumprido, e por muitas vezes acaba não levando em consideração todas condições
subjetivas envolvidas numa tentativa de inclusão. Pensando nessa problemática com o referencial
psicanalítico, temos a partir das contribuições teóricas de Lacan (1967/2003), que no gozo algo se
apresenta na ordem do insuportável, o que traz a questão da segregação como um fator que sempre
se colocará de maneira iminente para cada sujeito na estrutura social. Mais especificamente para o
sujeito psicótico, o significante Nome-do-Pai, que insere a lei simbólica e o desejo ao sujeito
ordenando o gozo, não se inscreve estando foracluído (LACAN, 1955-1956/1985). Como
consequência a operação de castração que não se produz, o psicótico fica no lugar de objeto do gozo
de um Outro invasivo, necessitando de outra baliza que o localize frente à alteridade. Entretanto,
podemos localizar na clínica com as psicoses um trabalho com possibilidades para o laço social onde,
apesar de seus impasses, visualizamos com esses sujeitos à construção de alternativas que trazem a
marca de sua singularidade, realizando um trabalho que permite alguma abertura ao laço social.
Nesse sentido, o presente trabalho busca discutir que apesar da foraclusão do Nome do Pai, o laço
social para a psicose não resulta, necessariamente, em uma impossibilidade, mas sim um trabalho
com impasses e possibilidades, visto que o sujeito pode lançar mão de outros significantes e
invenções como ferramentas próprias de inclusão, permitindo certa abertura ao laço social.
Portanto, busca-se discutir de que maneira é possível pensar a inserção desses jovens dentro do
campo da educação, tendo a clínica como uma ferramenta que possibilite essa articulação.
147
inumeráveis e com contribuições em distintas áreas do saber que vão da filosofia até a física
quântica, passando pelas artes, a música e a psicologia. Uma coisa é certa: uma grande defasagem
entre as mentalidades dos atores e as necessidades internas de desenvolvimento de um tipo de
sociedade, sempre acompanha a queda de uma civilização. Tudo ocorre como se os conhecimentos e
os saberes que uma civilização não para de acumular não pudessem ser integrados no interior
daqueles que compõem esta civilização. Ora, afinal é o ser humano que se encontra ou deveria se
encontrar no centro de qualquer civilização digna deste nome (NICOLESCU, 1999, p. 14). assim,
vivemos no paradoxo de mais e mais desenvolvimento, em uma civilização cheia de conhecimentos,
mas que continua sem saber, à deriva. Perante esse contexto, surge a possibilidade de integrar os
conhecimentos à procura de um saber. Para integrar os conhecimentos, a proposta da integração das
disciplinas parece a mais acertada, com a finalidade de oferecer um saber mais integral e humano.
Todavia, são diferentes os tipos de integração, que vão desde o estudo de um mesmo tema por
várias disciplinas, o caso da pluridisciplinaridade; até a “transferência de métodos de uma disciplina
para outra” (NICOLESCU, 1999), no caso da interdisciplinaridade. Tentaremos apresentar o que
supõe esse diálogo em uma pesquisa específica sobre trajetórias de adolescentes em conflito com a
lei, do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) em parceria com o Centro de Estudos
de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (CRISP), intitulada: Curso de vida e Trajetória
delinquencial: um estudo exploratório dos eventos e narrativas de jovens em situação de
vulnerabilidade (2017-2019).
148
com a criação, em 1997, dos PCN, não apenas descolava a educação sexual de um saber estritamente
biológico, como a instituía como um tema curricular transversal. O avanço dos estudos de gênero no
Brasil ao longo das últimas décadas gerou uma amplificação do debate sobre a diversidade sexual
que, para além da pauta feminista, passou também a contemplar as questões relativas às diferentes
expressões de identidade de gênero e de orientação sexual. Embora a educação sexual escolar no
país tenha avançado bastante nesta última fase, o que se constatava era um movimento ainda tímido
e bastante heterogêneo de abordagem e tratamento destas novas questões em nosso território.
Atualmente, temos vivido uma nova fase, marcada, como já foi dito, por uma forte reação
conservadora aos avanços que vinham sendo implementados. Nosso objetivo, com este trabalho,
para além de avaliar a novidade histórica desse período, caracterizada pelo fortalecimento dos
movimentos neopentecostais e por uma verdadeira cruzada política produzida por eles, é,
sobretudo, o de pensar como, a partir da psicanálise lacaniana, é possível interpretar este fenômeno
social e refletir sobre seus efeitos no interior das escolas. Para tanto, partiremos da hipótese de que
a queda do falocentrismo, antes de ser pensada como resultado de uma insuficiência estrutural do
saber para dar conta do que, no domínio do sexual, aparece como impossível, é experimentada, por
certos setores da população, como um momento contingente e histórico que pode e deve
obrigatoriamente ser remediado. Disso resulta, entre outras coisas, o refluxo conservador das atuais
políticas educacionais, que pretendem reestabelecer, a ferro e fogo, uma educação sexual calcada
numa espécie de naturalismo teológico, que, como tal, recusa a confrontação com a diversidade,
com a plasticidade e com a opacidade inerentes ao sexual.
150
Existe sempre algo de “não sei o que me acontece” e “não sei o que posso fazer” quando a
experiência está envolvida. Exatamente por esses aspectos não é possível formular a experiência na
linguagem do que já sabemos dizer. A vida, como experiência, é relação: com o mundo, com a
linguagem, com o pensamento, com os outros, com nós mesmos, com o que se diz e o que se pensa,
com o que dizemos e o que pensamos, com o que somos e o que fazemos, com o que já estamos
deixando de ser. (LARROSA, 2017 p. 74). A noção de sujeito é de extrema relevância para nossas
pesquisas, sobretudo as pesquisas que envolvam outros sujeitos. É importante que nós
pesquisadores/as entendamos de qual pressuposto estamos partindo ao lidar com o sujeito nas
pesquisas. O sujeito da experiência com qual tenho operado é, sobretudo, aquele sujeito que afeta e
se deixa ser afetado, é aquele sujeito em que as subjetividades veem à tona e não são ignoradas, é o
sujeito que se permite e é permitido. Referências: DINIZ, Margareth. A polissemia do conceito de
sujeito. Revista do Nete. Vol. 22. 2007. Fae – UFMG. LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre
experiência. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
151
circuito pulsional que deve então se dar, o que torna fundamental que esse sujeito tenha um ouvinte
ou um lugar de endereçamento. Segundo Coutinho (2019), a escola e as instituições possuem papel
fundamental na medida que se constituem como espaços potentes para reconfigurar a rede
simbólica durante a adolescência, propiciando novos encontros com o Outro e com os outros.
Entretanto, quando pais e educadores se retiram e renunciam a ocupar esse lugar atualmente
incômodo de referência simbólica, que se intensifica na experiência com os adolescentes, o que
prevalece é a anomia no laço educativo, deixando aberto, o espaço para um discurso social
legitimado pela ciência e pela racionalidade instrumental que estigmatiza, segrega, e/ou vitimiza
crianças e jovens (Rosa & Vicentin, 2013). Com o desenrolar dos atendimentos, é notória a ansiedade
na narrativa de Amanda, que percebe falar muito com a analista e verbaliza que o espaço de análise
é o único momento que tem para falar e ser ouvida durante sua exaustiva semana. A adolescente
demonstra a necessidade de um interlocutor para falar de sua dor e vivencia na arte do encontro
(analítico) a descoberta de um espaço de escuta onde há alguém que aposta nela enquanto sujeito.
152
trazem proteção e benefício, necessariamente. Constata-se, assim, que a cultura é a responsável por
uma parcela de infelicidade. De fato, para o desenvolvimento da civilização, é necessário que haja
restrições à liberdade dos indivíduos, a civilização impõe sacrifícios ao homem. Assim, é possível
compreender porque é difícil ser totalmente feliz na civilização. Afora as restrições impostas, é
necessária a renúncia à satisfação de pulsões poderosas, como as sexuais e as agressivas (Freud,
1930/29 [1996]), por exemplo. E essa renúncia deixa como resto um sentimento de mal-estar. Nessa
perspectiva, portanto, a psicanálise acredita que é possível ao sujeito se reposicionar diante do
comparecimento do mal-estar. A aposta é que, através da fala, o sujeito ressignifique partes de sua
história a fim de que algo novo possa ser feito na relação com o mundo externo e no laço social com
os outros homens. FREUD, S. (1926/25). Inibições, sintomas e angústia, In: O.C., VXX. Rio de Janeiro:
Imago, 1996. ________. (1930/29) O mal-estar na civilização. In: O.C., V.XXI. Rio de Janeiro: Imago,
1996. PEREIRA, Marcelo R. De que hoje padecem os professores da Ed. Básica? Educ. rev., Curitiba, n.
64, p. 71-87, jun. 2017.
153
Título: O estranho na escolarização de crianças com entraves estruturais na constituição psíquica:
implicações para a formação docente.
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, e as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001), seguindo as orientações da
Declaração de Salamanca (1994), apontam a formação docente como parte fundamental da
efetivação da inclusão escolar. Ambas convergem quanto a um modelo formativo que objetiva a
aquisição técnica e teórica, ficando de fora a dimensão subjetiva do encontro professor-aluno e seus
efeitos para a escolarização, destacada por Freud (1914/2006). Ao associar a figura do mestre à
imago paterna, ele situa a escola como lugar onde se atualizam resquícios de “complexos familiares”
(LACAN, 1938/2003) das crianças. Em função disso, a posição docente opera além do ensino de
conteúdos programáticos. Destarte, há na educação um caráter estruturante, pois, assim como a
psicanálise, ela está referida ao sujeito do desejo e, assim, “[...] educar é colocar em circulação
marcas simbólicas, significantes que possibilitem à criança que os apreende o usufruto de um lugar a
partir do qual o desejo seja possível” (LAJONQUIÈRE, 2010, p.149). Há, ainda, uma relação de
inevitável desigualdade, consequência de uma distância geracional insolúvel entre “pequeno” e
“velho”, o que provoca, neste último, estranheza e, ao mesmo tempo, familiaridade. Para que a
educação não se torne algo “de difícil acontecimento” (p. 214), é fundamental que ao educador seja
viável o desdobramento desse (des)encontro, mas desdobrá-lo não é uma decisão de um todo
consciente e, segundo Millot (1987), o inconsciente dos educadores é mais determinante no
desenrolar do processo educacional que a ação pedagógica planejada. Em se tratando de alunos
inadaptados à escola, soma-se a isso a inquietação gerada denunciarem a incompletude da
instituição. Aqui propomos um recorte específico sobre alunos com entraves estruturais na
constituição psíquica: “[...] crianças em risco de evolução em direção às psicopatologias graves da
infância, tais como as psicoses infantis e o autismo” (KUPFER et al, 2017, p. 17). Para efetuá-lo, nos
valemos das considerações de Freud (1919/2006) sobre o estranhamento quanto às “expressões do
insano”. Essas manifestações soam como automatismos que atuam sob a dinâmica psíquica de quem
assim se apresenta, gerando uma “incerteza intelectual” (FREUD, 1919/2006, p. 239) que por si só
não causa estranhamento. O fenômeno torna-se estranho e gera angústia porque remete à ameaça
de castração e seu caráter indizível acarreta uma apreensão imediata “pelo registro do Imaginário”
(VANIER, 2005, p. 21). O observador é capturado pelo instante de ver e, então, apressa-se em
concluir sem que haja um tempo de compreender (LACAN, 1945/1998). Assim, o trabalho com esses
alunos demanda uma formação que não se limita à lógica conteudista, posto que trata-se de uma
“disponibilidade interna”, da exigência de uma “[...] suspensão das certezas que ampliam na nossa
própria subjetividade a capacidade de vibração” (COUTINHO; AVERSA, 2005, p. 40) em relação ao
que não se conforma às nossas idealizações. Para a psicanálise, o meio pelo qual se faz possível
enxugar essas miragens é a palavra: a partir de um falar-se e escutar-se. É através da linguagem que
se pode superar a angústia e fundamentar-se no tempo dela para que, então, o desejo se constitua
(LACAN, 1962-1963/2005). Entretanto, a burocratização da formação docente sinaliza um
funcionamento institucional que põe as medidas administrativas à frente do progresso de
conhecimentos reais, suplantando as produções subjetivas de seus membros, protegendo-se da
“palavra livre” (MANNONI, 1977). Assim, cabe a pergunta: como, nesse enquadre, docentes
reordenarão, no discurso, o estranhamento causado pelo “(des)encontro” com essas crianças?
Diante da impossibilidade de fazermos uma reforma de enormes proporções (KUPFER, 2000) ou de
reinventarmos a vida (MANNONI, 1977) de imediato, é importante que comecemos pelas
instituições: escutando seus membros.
154
Coautor(a): Cristina Keiko Inafuku de Merletti
Contato: recste@gmail.com, crisinafuku@yahoo.com.br
Título: O sonho da ciência e o sonho em Freud: o que a teoria psicanalítica pode ensinar a quem
ensina?
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: A partir de seu fundador, a psicanálise poderia ser considerada, em sua origem, uma meta-
medicina, uma meta-religião, uma meta-filosofia? Em que medida a origem da psicanálise com
Freud, em sua busca de cientificidade, inaugurou outro modo de conhecimento sobre o pensamento
humano? Essas serão algumas das questões que nortearão o presente trabalho para refletirmos
sobre a ética que rege as pesquisas atuais sobre o desenvolvimento e os modos de saber dos
sujeitos. Questões que tornar-se pertinentes também ao campo da educação. Freud buscou superar
os saberes científicos da medicina, adquiridos em sua época, desafiando os preceitos de sua criação
religiosa e aproximando-se da fronteira da razão humana, percurso que tantos filósofos percorreram,
mas, encontrando de outro lado, com o irracional e o inconsciente presente na vida mental dos
sujeitos. Talvez seja este mesmo o legado dos estudos psicanalíticos ao adentrar os estudos na
Universidade, a permanência da dúvida e, por isso a criação constante de novas perguntas sobre a
existência e os modos de criação humana. Na Filosofia, de forma genérica, o sonho é comumente
tratado de forma secundária, sem muito valor como objeto de reflexão para pensar o humano e seu
lugar na polis, uma vez que a Filosofia teve como um de seus fundamentos a verificação da
capacidade de pensamento e da razão humana, focadas na consciência do homem. Mesmo nas
ciências, houve alguns ensaios de estudiosos que propunham formas de interpretar e buscar
compreender o fenômeno do sonho, como experiência onírica, assim como seu funcionamento e sua
função na vida humana. Esse foi o caso de Freud, médico neurologista de formação que, partindo da
lógica de pensamento das ciências biológicas de sua época, construiu uma nova trajetória para
marcar uma diferença fundamental em sua forma e método de investigação sobre os sonhos,
inaugurando o método psicanalítico e fazendo descobertas sobre o adoecimento corporal e o
sofrimento interno do sujeito. Em seus estudos sobre a mente humana, Freud descreverá um modo
de compreender seu funcionamento, descrevendo um aparelho psíquico e suas instâncias. As
emoções humanas seriam aquelas que revestiriam, por vezes, os sentidos, e estes, sofrendo os
efeitos de um recobrimento pelo pensamento racional e pelo o que se denomina na
contemporaneidade de cognição. Ao longo dos anos, os pensadores foram desistindo da análise da
psique e do conceito de alma para estudar o fenômeno do sonho e dos estados oníricos como sendo
uma das fontes do mal estar dos homens “... a maioria dos autores seguiu a tendência de reduzir ao
mínimo a participação psíquica da incitação do sonho, visto que é difícil de chegar a ela...” (Freud
1900, p.67). Freud não recuou diante dos estudos sobre a formação dos sonhos e de sua recordação
ou esquecimento, buscando compreender sua função nas fronteiras da medicina. A pesquisa
freudiana sobre os sonhos e sua descoberta dos processos inconscientes pautados no desejo
humano, poderão inspirar modos de conceber a construção de saber no campo da Educação? Em
que medida a transmissão sobre um saber sobre a Psicanálise poderá resgatar no campo educativo a
função do desejo nas relações de ensino e aprendizagem e na relação do educando com a busca do
conhecimento na construção de um saber? Este será o convite o presente trabalho fará ao leitor.
155
Resumo: Em nosso contexto brasileiro atual, constatamos o crescente engajamento das equipes de
saúde mental no campo político-ideológico da reinserção social, a forte valoração de indicativos de
gestão administrativa e a presença hegemônica da terapêutica medicamentosa, dominando e
submetendo a leitura dos tratamentos ao foco dos desajustes comportamentais e a consequente
prescrição de substâncias. Fomos levados a constatar, nesse cenário, um efeito inquietante e
preocupante: a redução do lugar e importância da palavra em transferência para as equipes.
Do encontro de Freud com seu mestre Charcot, e Lacan com seu mestre Clérambault, encontramos o
dispositivo da Apresentação de Pacientes presente em momentos cruciais da história da psicanálise.
Se Freud criou as condições primeiras para a transmissão da nascente psicanálise, Lacan a recebe das
gerações seguintes, a partir de sua sólida formação psiquiátrica, o que o levou a manter no Hospital
de Sainte-Anne, em Paris, a prática de Apresentações de Pacientes. No entanto, transformou este
que foi um clássico procedimento de interrogatório psiquiátrico, pautado na demonstração e
classificação das patologias dos doentes, em um encontro com um analista, no qual a fala do
paciente ganha toda a importância. Lacan sustentava sua função de ensino, de construção
diagnóstica e de direção do tratamento com a equipe do hospital, no entanto, fazia-o com os
conceitos psicanalíticos e com uma atitude nas entrevistas diferente daquela dos psiquiatras até
então. Constituiu-se desse modo como um dispositivo de transmissão da psicanálise em meio
psiquiátrico (CZERMAK, [1980] 2017).
Investigamos a partir da prática de Apresentação de Pacientes, renovada por Lacan, a construção e a
discussão dos casos clínicos conduzida atualmente por psicanalistas no Hospital Psiquiátrico de
Jurujuba, em Niterói-RJ. Analisamos sua relevância como uma via de retomada da disciplina clínica, e
sua função no ensino. Temos o intuito de discutir, avaliar e interrogar seu efeito de transmissão da
ética analítica no contexto da formação profissional em saúde mental. Desenhou-se assim, em nosso
trabalho, um viés de pesquisa de campo através da retomada do dispositivo de discussões clínicas no
Hospital de Jurujuba, incluindo as entrevistas com pacientes. Da posição de pesquisador-
participante, colocou-se em ação o reestabelecimento de um lugar de discussões clínicas, retomando
discussões sobre os tratamentos com a presença de psicanalistas entre os diversos trabalhadores de
saúde mental que se ocupam dos pacientes. Examinamos, desse modo, a experiência da
Apresentação de Pacientes como ocorre atualmente no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba em sua
função de transmissão da psicanálise em ato no campo da saúde mental.
Autor(a): Stéphanie Strzykalski e Silva – UFRGS – Univ. Fed. Do Rio Grande do Sul
Coautor(a): Roselene Ricachenevsky Gurski
Contato: stephanie.strzykalski@hotmail.com, roselenegurski@terra.com.br
Título: Viver pouco como um rei ou muito como um zé?: a violência como um modo de “fazer nome”
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Inserido nas investigações do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura
(NUPPEC/UFRGS), o presente trabalho parte de uma experiência de pesquisa-extensão com jovens
em privação de liberdade. Através do dispositivo que temos nomeado de Rodas de R.A.P. (Gurski &
Strzykalski, 2018a, 2018b), ofertamos aos meninos um espaço de circulação da palavra em
conjugação com narrativas musicais dentro da instituição socioeducativa em que estavam
acautelados. Nas Rodas, passou a nos inquietar falas como: “tem gente que mata pra fazer nome! Aí
tu vai em um lugar e, mesmo sem conhecer ninguém, todo mundo sabe quem tu é, ninguém mexe
contigo”. Eles relatavam ainda que, ao matar os rivais de outras facções, para além de territórios,
drogas e dinheiro, conquistavam fama, autoridade e respeito. Tais narrativas nos fizeram questionar:
o que tem levado esses sujeitos a tentar produzir um nome no laço social majoritariamente pela via
de atos violentos e pela entrada no “mundo do crime”, sobretudo no tráfico? Analisando as altas
taxas de reincidência da socioeducação, sabe-se que muitos jovens saem do período de internação e
156
voltam a trabalhar no tráfico. Em uma primeira mirada, tal situação poderia ser explicada
unicamente pelo fato de que se ganha muito melhor na boca de fumo do que na boca do caixa de um
supermercado qualquer. Contudo, temos pensado que essa escolha vai muito além do fator
econômico em si. O que vale mais? O subemprego com horários rígidos, que oferece um parco
salário e pouco ou até mesmo nenhum reconhecimento social, ainda que proporcione certa
segurança... ou investir em fazer carreira no tráfico, sem dúvida uma opção mais arriscada, mas que
garante uma posição de prestígio e poder frente ao olhar do Outro? Nas palavras de Mano Brown, do
grupo Racionais MC’s (2002), esse impasse pode ser traduzido pela interrogação: “viver pouco como
um rei ou muito como um zé?”. Ora, se eles têm “escolhido” ser reis, talvez nos reste interrogar o
que o laço social tem a ver com essa “escolha”. REFERÊNCIAS. Gurski, R. & Strzykalski, S. (2018a). A
escuta psicanalítica de adolescentes em conflito com a lei - que ética pode sustentar esta
intervenção?. Revista Tempo Psicanalítico, 50, 72-98. Gurski, R. & Strzykalski, S. (2018b). A
'Invencionática' na pesquisa em psicanálise com adolescentes em contextos de violência e
vulnerabilidade: narrando uma trajetória de pesquisa. In Tarouquella, K., Conte, S. & Drieu, D.
(Orgs.). Proteção à infância e à adolescência: intervenções clínicas, educativas e socioculturais (pp.
127-139). 1ed. Brasília: Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade. Racionais MC’s. (2002).
Vida loka (parte 2). In: Racionais MC’s. Nada como um dia após o outro dia. Letra disponível em:
https://www.letras.mus.br/racionais-mcs/64917/
157
realidade das deficiências e, por isso, podemos inferir, apoiam-se nos modelos médicos em seu fazer
pedagógico, os quais normalmente são mais disponibilizados em cursos de formação
continuada ofertados a esses docentes pela Secretaria da Educação do DF e tendem a seguir um
padrão normatizador. Como sabemos, o tipo de abordagem teórica e intervenção
pedagógica dela derivada estão intrinsecamente relacionados e marcam o olhar destes educadores
sobre padrões de normalidade/anormalidade e esse olhar não é sem consequências para
as crianças e seu núcleo familiar. A educação precoce é uma modalidade educativa pública, gratuita,
relativamente nova e existente apenas no Distrito Federal e são inegáveis suas contribuições no
processo de inclusão dos alunos na educação infantil. Sua importância nos leva a almejar a
ampliação de pesquisas que possam fortalecer essa ação educativa/inclusiva, como também nos
coloca a tarefa de pensar, sob o prisma da psicanálise, contribuições para esse programa que
possam alcançar as crianças com diversos tipos de diferenças, seus pais e docentes que
nele atuam, para além dos discursos hegemônicos cientificistas e normatizadores sobre
deficiência e inclusão.
158
Desta forma, repensar o bullying à luz da psicanálise poderia contribuir para o rompimento com um
olhar estigmatizador e punitivo sobre os sujeitos envolvidos em situações de disputa, rivalidade,
desavenças entre crianças e jovens, e em vez disso, permitir uma escuta sensível a estes alunos, com
vista a superar estes comportamentos.
OBJETIVOS: O objetivo deste estudo é demonstrar a possibilidade da discussão sobre o fenômeno
bullying, a partir da psicanálise. Permitir a reflexão sobre questões como: em que medida, alguns
conceitos psicanalíticos, em especial, a noção de identificação narcísica ou processos identificatórios
poderiam contribuir para ampliar ou desconstruir o conceito de bullying? Ou ainda, como a
psicanálise poderia provocar um rompimento com a perspectiva que rotula e enquadra os sujeitos?
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por ser um fenômeno amplamente discutido na atualidade e produzir
demandas constantes tanto em suas formas de prevenção quanto intervenção, é necessário nos
questionarmos e refletirmos sobre novas alternativas de se pensar a proliferação do discurso sobre o
fenômeno bullying na escola. Visando um projeto de tese, pensamos que a psicanálise pode nos
encaminhar para ampliar o conhecimento sobre as questões que envolvem a agressividade e
rivalidade de adolescentes e jovens nas escolas.
Autor(a): Telma Maria Duarte Rodrigues – UMESP – Universidade Metodista de São Paulo
Contato: telmaduarterodrigues@gmail.com
Título: Homeschooling e Autismo: a família e o fracasso escolar - uma revisão sistemática
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A legislação brasileira garante a inclusão de pessoas com deficiência em processos
educacionais. Mesmo assim, atualmente é possível observar um aumento das famílias que educam
seus filhos em casa não frequentando a escola, devido as dificuldades vivenciadas no processo de
inclusão da criança no social e na escola. Tal fenômeno teve sua origem nos Estados Unidos e se
tornou um programa conhecido como Homeschooling. Homeschooling é uma denominação para a
educação que ocorre no ambiente privado, podendo ser em casa, com professores contratados ou o
próprio familiar que estabelece uma relação de educador diante do filho. Dados estáticos nos E.U.A
apontam que desde 1999, há um crescimento nesse programa de 850.000 famílias para 4,6 milhões
de famílias. Já no Brasil, estima-se que 7 mil crianças se encontrem inseridas nesse programa pelo
país, embora ainda não regulamentada devido a omissões, lacunas ou interpretações diversas, que
são mais afeitas à experiências educacionais permitidas ou à possibilidade de certificação de estudos
supletivos presentes nas leis educação. Diante dessas considerações, questiona-se a eficácia desse
retorno ao ensino domiciliar para as crianças, especialmente aquelas com diagnóstico de autismo.
Atualmente, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tomou um lugar relevante nas clínicas, escolas e
sociedade, devido a um crescente número de diagnóstico proporcionado pela necessidade
prevenção e intervenção precoce aos indicadores de risco ao TEA, em crianças até os 18 meses. O
TEA é identificado na infância, principalmente antes dos 5 anos de idade e pode permanecer na
adolescência e vida adulta. Os sintomas se apresentam por graus: leve, moderado e grave. É
relevante refletir também acerca dos procedimentos cínicos, uma vez que deve ser considerada a
singularidade desses sujeitos, sua história, forma de estar no mundo, e/ou se deixa ou não enlaçar
pelo outro. Desta forma, o objetivo desse estudo foi descrever e analisar a efetividade do programa
homeschooling para pessoas com TEA sendo que, nesse transtorno, apresenta fenômenos como o
isolamento e a exclusão social. O delineamento utilizado foi a pesquisa qualitativo com revisão
bibliográfica sistemática, adotando-se a estratégia metodológica PRISMA, com levantamento de
artigos nas bases de dados: BVS, Scielo, Periods.Capes e ERIC, relacionando os seguintes descritores:
Transtorno do Espectro Autista (Autism Spectrum Disorders), Homeschool e adaptação (sinônimo de
estratégia). Os resultados indicaram como busca inicial 47 artigos, nas bases de dados referidos. Após
os critérios de exclusão e inclusão, finalizando com quatro artigos, porém um não foi recuperado,
159
sendo analisados para esses estudos 03 artigos. O material analisado apontou que os familiares das
crianças apresentam o homeschooling como uma escolha de vida a partir do fracasso escolar e da
inclusão social, sendo ainda mais acentuada nos casos de crianças com TEA. Esse estudo permitiu
identificar que, além de ser uma escolha dos familiares para a vida das crianças, a estratégia
homeschooling envolve falta de conteúdos e de ações escolares, prejuízo nas relações familiares,
apontando a necessidade de subsídios científicos visando a proposição de políticas públicas nesse
âmbito.
Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Cristiana Carneiro
Contato: Thaysasantos.1991@gmail.com, cristianacarneiro13@gmail.com
Título: O diagnóstico de autismo: a clínica ampliada e a psicanálise
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O presente trabalho deriva-se das discussões de minha pesquisa de mestrado, que se
originou a partir de uma experiência profissional no âmbito do projeto Brinquedoteca. A
Brinquedoteca era uma iniciativa da Organização Social Viva Rio em parceria com a prefeitura do Rio
de Janeiro e tinha por objetivo o desenvolvimento de crianças em um espaço lúdico, mostrando a
160
importância do brincar. No entanto, embora as crianças autistas não fossem o público alvo do
projeto, a maioria das crianças lá recebidas possuíam esse diagnóstico. Dito isso, com base na
crescente literatura sobre o autismo e na experiência vivida no contexto da brinquedoteca, o
presente trabalho, pensa acerca do aumento de casos diagnosticados como autismo (MAS, 2018),
que chegam para tratamento cada vez mais cedo. Tal movimentação torna-se importante, por
possibilitar uma intervenção precoce, proporcionando assim maiores chances de resultados clínicos.
Diante disso, esta pesquisa se questiona como é realizado o diagnóstico psicanalítico de autismo no
contexto ampliado? Ou seja, fora de um consultório em que a psicanálise se dá em stricto sensu,
como é o caso da brinquedoteca. Existiria algo que pudesse auxiliar o psicanalista nesse fazer?
Poderiam, sob uma possível transferência nos casos de autismo, os eixos teóricos construídos na
pesquisa multicêntrica de indicadores clínicos para o desenvolvimento infantil (IRDI e AP3) servirem
de guias para a realização desses diagnósticos? Além de tais questões, sabemos ainda que para o
analista, para que alguma coisa possa ser realizada com essas crianças é importante supor algo de
uma subjetividade. Mas como sustentar isso teoricamente? Segundo Lacan (1955) a constituição do
sujeito se dá na relação com o Outro. Lacan nos explica que existe uma rede de significantes que vai
preceder a existência de todos os sujeitos, isso significa que a criança nasce imersa em uma história,
onde uma cadeia de gerações irá influenciar em seus desejos inconscientes, que serão passados
através da relação com o Outro. A criança que aceita esses significantes e se aliena, tem a
oportunidade de deixar de ser uma simples massa de carne viva, para se tornar um sujeito da
linguagem. Para Lacan (1964) é na alienação que ocorre o estabelecimento do primeiro significante
(S1). O que acontece no autismo segundo Vorcaro(1999) é que a criança entra na alienação e em
seguida para, não consegue passar ao segundo tempo, no qual o S1 remete ao S2 e esta articulação
forma a cadeia de significantes. Pois no autismo ocorreria o que Lacan (1964) chama de holófrase,
que seria uma solidificação entre o primeiro casal de significantes. Para responder os
questionamentos oriundos desta pesquisa, também foram realizadas seis entrevistas com
psicanalistas que trabalham com o autismo na psicanálise em extensão, sendo três delas com
psicanalistas que se utilizam ou já utilizaram os indicadores em seus percursos e as outras três com
psicanalistas do contexto ampliado que não se utilizam nem do IRDI e nem da AP3. O objetivo destas
entrevistas foi escutar sobre a articulação teórico-prática. Está pesquisa se encontra em fase de
desenvolvimento, por conta disso, a análise das entrevistas ainda não foi concluída. Portanto, ainda
que não possamos falar propriamente em resultados, esperamos através dela possibilitar a
emergência de caminhos alternativos para trabalhar com essas crianças.
Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Nicole Melo dos Santos Eroles
Contato: Thaysasantos.1991@gmail.com, nicolemse@gmail.com
Título: Grupo de Pais: um trabalho de escuta orientado pela psicanálise
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O Grupo de Pais da oficina “Ponto de encontro” integra o projeto “Circulando e traçando
laços e parcerias: atendimento para jovens autistas e psicóticos - do circuito pulsional ao laço social",
do Programa de Teoria Psicanalítica, do Instituto de Psicologia da UFRJ, financiado pela FAPERJ e
CNPq. O projeto é coordenado pelos professores Fábio Malcher e Ana Beatriz Freire, além de ser
formado por um grupo de trabalho composto por psicanalistas, graduandos e mestrandos em
Psicologia da UFRJ, com parcerias com a Faculdade de Artes cênicas da UNIRIO, os CAPSIs Maurício
de Sousa e CARIM e o CPRJ, na interface com o campo da cultura, da arte e da saúde mental na
perspectiva da intersetorialidade. Atuamos através de um dispositivo clínico ampliado, orientado
pela psicanálise.
Dentre os diferentes dispositivos de atendimento oferecidos pelo projeto encontra-se a oficina
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“Ponto de Encontro” que tem por finalidade proporcionar um espaço de interação entre os
participantes, no qual as invenções desses jovens possam ser compartilhadas no coletivo, visando à
construção de um laço social. Foi a partir do Ponto de Encontro que o Grupo de Pais foi e está sendo
construído. Com o objetivo de realizar um trabalho com pais dos jovens e adultos frequentadores
“do Ponto”, essa oficina visa possibilitar para esses pais um lugar no qual eles possam emergir como
sujeitos. Embora o trabalho realizado não seja um tratamento analítico stricto sensu, a psicanálise é
o referencial teórico que embasa a escuta no grupo de pais, cujas intervenções ocorrem no campo
transferencial. Durante esses encontros, não raro, notamos no discurso desses pais queixas
relacionadas à intensa rotina que estabelecem para a realização dos cuidados para com seus filhos.
Essa posição de sacrifício exercida pelos cuidadores, além de geradora de queixas - por demandar um
cuidado excessivo de seus filhos -, também os coloca em uma posição que representam tudo para
seus filhos. Dessa maneira, como resultado, por vezes emerge uma dificuldade em delegar
responsabilidades, não existindo, portanto, espaço para se construir outro lugar além daquele que
ocupam. Tal posição, além de ser sentida como excessiva por seus filhos, é também vivida como um
gerador de sofrimento psíquico para esses pais. Nesse sentido, segundo Oliveira (1996), a existência
de um lugar de escuta para esses pais possibilita o esvaziamento dessa função ocupada por eles, na
qual precisam dar conta de tudo. O Grupo de pais proporciona, pois, uma subjetivação e abre espaço
para que eles ocupem outros lugares e para que outras pessoas possam se responsabilizar também
por esse cuidado para com seus filhos. Desse modo, por meio desses encontros, buscamos
proporcionar que a fala circule entre os participantes com o intuito de possibilitar um espaço no qual
eles dividam suas dificuldades, além de perceberem que outros pais passam por questões similares e
que podem existir caminhos outros para suas questões. A partir desses encontros, notamos que a
potência da oficina está justamente no fato de viabilizar algum deslocamento do lugar que até então
ocupavam, dando espaço para a emergência de novos e outros lugares, muitas vezes promovendo
uma retificação na posição dos pais em relação aos filhos. Por se tratar de uma oficina com pouco
mais de um ano de existência, os resultados ainda são preliminares. Contudo, já percebemos que as
adversidades relativas a ser mãe/pai de um filho com diferentes formas de subjetividade, apesar de
ainda ser uma pauta importante para eles durante o encontro, em suas falas, nos últimos meses, as
questões trazidas para o grupo começam a se diversificar.
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criança recém-chegada ao mundo é reservado um lugar simbólico, que lhe permite então ser falada
pela linguagem, sendo determinada pelo discurso e, assim, fazendo laço. Fazendo uma articulação
sobre o que Arendt e Francis Imbert nos dizem sobre a moral e a ética, faremos uma discussão sobre
as práticas sociais que remetem o indivíduo ao universal, e o constituem como mais um entre iguais.
Há uma intersecção aqui, portanto, entre a discussão sobre a inclusão escolar e a função
socializadora da escola em um sentido republicano. Trata-se de definir uma dimensão em que a ação,
ou ato, ganha caráter normativo por estabelecer perante aos outros um juízo compartilhável e que
ganha sentido porque é feito em sociedade. Além disso, junto com Canguilhem, aprofundaremos a
distinção entre a norma moralizante—cujo fim é a manutenção da própria regra—e aquilo que
Imbert qualifica como o terreno da ética. Finalmente, trazendo alguns breves exemplos de casos de
alunos de Fundamental 2, e da maneira como sua escola acolhe suas diferenças, pretendemos
complexificar a discussão e relançar a questão: a inclusão bem-sucedida é aquela em que o aluno
suporta e ganha em liberdade ao se constituir como "só mais um"? Enquanto há casos em que essa
possibilidade esteja tão distante que a questão nem mesmo seja pertinente, há situações em que
esta pergunta pode ser fundamental para guiar a maneira como a escola planeja seu trabalho com
certos alunos.
Autor(a): Vanderlice dos Santos Andrade Sól – UFOP – Univ. Federal Ouro Preto
Contato: vanderlicesolufop@gmail.com
Título: Angústia no discurso docente: problematizando a relação sujeito-língua estrangeira-
identidade
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard desenvolveu um inusitado olhar sobre angústia
na obra “O conceito de Angústia” (KIERKEGAARD, 1968). No existencialismo kierkegaardiano a vida
coloca o sujeito diante das escolhas, e é esse estado em que o sujeito se encontra diante dos
momentos de decisão que é discutido pelo filósofo. A angústia possui as seguintes características: é
inerente a existência humana; está ligada ao nada, ao vazio; é ambígua; é vista como possibilidade de
liberdade e causa no sujeito repulsa e atração ao mesmo tempo. Outros filósofos existencialistas
como Heidegger e Sartre, também discutem o tema da angústia. Heidegger (1998) diferencia a
angústia do sentimento de medo, pois esse possui objeto determinado. E o angustiado não sabe de
fato o que o angustia e nem de onde vem a angústia. Heidegger diz que a angústia vem do estar-no-
mundo, sendo, portanto, uma determinante existencial. Sartre (1987) relaciona a angústia à
responsabilidade do sujeito sobre suas ações e escolhas e dessa relação na qual o sujeito tem a
possibilidade de escolha, nasce a angústia. Nesse sentido, continua significativo e atual trazer à baila
as reflexões sobre a angústia na perspectiva existencialista e articulá-la com os conceitos
psicanalíticos, para problematizar a formação docente (SÓL, 2014). Lembramos que angústia é
considerada um afeto, porque é o que está à deriva (LACAN, 2005). Para Lacan ([1962-1963] 2005) a
angústia é um afeto, não é sentimento. Afeta o corpo. Sendo assim, o angustiado é afetado por esse
enigma, essa falta, ou resto, o objeto a, do qual não sabe de fato o que é e nem de onde vem. A
angústia nasce quando o sujeito se vê diante da responsabilidade sobre suas ações e escolhas,
sempre na relação com o desejo do Outro. Este trabalho se constitui em uma pesquisa que
estabelece a relação intra e interdiscursiva, cuja modalidade seguirá uma abordagem metodológica
que privilegia diferentes possibilidades de interpretação sobre o material discursivo a ser analisado.
A trajetória teórico-metodológica deste estudo está ancorada no atravessamento das perspectivas
discursiva (PÊCHEUX, 1988; ORLANDI, 2005); AUTHIER-REVUZ, 1998 e outros), psicanalítica freudo-
lacaninana (FREUD, [1901] 1996); LACAN, 1998 e outros) e desconstrutivista derridiana (DERRIDA
([1972] 2001, 2004, 2005, 2009). Os participantes foram 07 professoras de Língua Inglesa (LI) da rede
pública de Minas Gerais egressas de um projeto de educação continuada (EC). O corpus foi formado
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por meio de questionários abertos, entrevistas semiestruturadas, narrativas, filmagens de aulas e
notas de campo. Os gestos de interpretação apontam para a presença dos indícios de angústia no
discurso pedagógico das professoras. O que as professoras localizam e nomeiam ao mesmo tempo é
e não é. “O que aí se joga é da ordem do que o sujeito não “vê”, não sabe, mas num lugar em que
alguma coisa pode aparecer” (COLUCCI, 2006, p. 237). Assim, problematizar a forma como essa
angústia se materializa na sala de aula e na subjetividade do professor pode trazer contribuições para
vários fenômenos que ocorrem na aula de línguas, por exemplo, a recusa e a (in)disciplina. O estudo
permitiu problematizar e compreender as tomadas de posição das professoras, e seus modos de
relacionamento com a EC e em relação ao ensino e aprendizagem de LI. Percebe-se que o imaginário
das professoras é atravessado pelo discurso científico da Linguística Aplicada no que tange a noção
de fluência, bem como pela instabilidade dessa noção. A partir dessa rede de discursos sobre o
professor de LE ideal o professor vai construindo suas representações e (des)construindo sua
identidade. É essa indefinível falta de fluência que instaura um mal-estar e angústia. E é o desejo de
completude que permeia esses dizeres como se fosse possível tudo saber.
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Contato: vaninadias@gmail.com, vialvim@hotmail.com
Título: Psicanálise e educação em tempos de cultura digital: velhos laços, novos tempos.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Vivemos sob o domínio da cultura digital. Os recursos digitais têm se mostrado como
ferramentas fundamentais para o compartilhamento de informação e de conhecimento. Esta nova
forma de comunicação possibilita a circulação da informação, aproximando o distante e criando uma
vastidão de possibilidades. No entanto, essa nova gama de possibilidades não é sem impasses e
desafios que se apresentam em diversos âmbitos, dentre eles, o campo da educação.
Os avanços tecnológicos se interpõem às práticas pedagógicas de forma acelerada. As mudanças
decorrentes desses avanços não são as únicas a provocar transformações na cultura escolar. A
aquisição do saber acadêmico, que exige renúncia, esforço e adiamento da satisfação, é
desvalorizada nessa cultura imediatista, que busca o conhecimento transitório, fluido e superficial,
adquirido de forma instantânea pelas tecnologias de comunicação e informação. Observamos o
declínio da figura da autoridade representada pelos governantes, líderes religiosos, pais e
professores. Essa precarização da autoridade acarreta uma maior fragilidade no modelo de adulto e
vemos mestres e pais inseguros de ocupar os seus papéis. Há uma substituição da verticalização pela
horizontalização das relações sociais e do acesso ao conhecimento e uma desvalorização das
instituições sociais tradicionais, como a família, a Igreja, o Estado e a Escola. Nesse novo contexto, a
escola não consegue permanecer no lugar de detentora do conhecimento, que passa a ser buscado
de forma direta através da internet. Os professores se sentem despreparados para lidar com essa
nova configuração das relações sociais, e ao mesmo tempo, pressionados pelas políticas públicas
educacionais a mostrar resultados, a cumprir metas, segundo modelos normatizantes que não
consideram as particularidades regionais e sociais. A prática docente parece distante dos saberes
adquiridos em sua formação, o que gera angústia e um sentimento de serem desvalorizados em sua
profissão. Desrespeitados pelo Estado, pelos alunos e suas famílias, os professores estão, cada vez
mais, desinvestidos e angustiados. Na pesquisa Educação, subjetividade e cultura digital
desenvolvida de forma interdisciplinar por pesquisadores da FAE/UEMG e PPG Psicologia/UFMG nos
perguntamos sobre o lugar da escola na cultura digital. Nessa pesquisa nos debruçamos sobre o lugar
do professor nesse novo contexto educacional. Para tanto, remeter-nos-emos às entrevistas
realizadas com professores da rede pública de Belo Horizonte. Fica evidente nas entrevistas que não
basta a disposição dos recursos, mas as formas de usos das tecnologias por alunos e professores é
que define o potencial das mesmas. As inovações que essas tecnologias trazem para a educação
refletem sobre conceitos fundamentais da educação e em sua reconstrução. Os novos ambientes de
aprendizagem e os ambientes virtuais viabilizados pelos sistemas tecnológicos na rede mundial de
computadores reúnem professores e alunos no ciberespaço e possuem características inéditas,
evidenciando as “potencialidades pedagógicas das tecnologias de informação e comunicação – TIC”
(Almeida, 2010b, p. 5). Além de inserir as TDIC nas escolas, é necessária sua integração com a cultura
digital, ou seja, oportunizar a todos que atuam na escola a participação na cultura digital.
Buscamos compreender, a partir da teoria psicanalítica e das entrevistas realizadas, alguns possíveis
impactos da cultura digital na relação transferencial entre professor e aluno e as relações com o
saber. Referências: Almeida, M. E. B (2010). Integração de currículo e tecnologias: a emergência de
web currículo. Freud, S. (1914/1996). Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar. In Edição
Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 13. Rio de Janeiro: Imago.
Lacan, J. (1960/61) O seminário – livro 8: a transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
Miller, J.A. (1998). Percurso de Lacan: uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
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Contato: vitoriapsico13@yahoo.com.br, gabrielaoliveiraguerra@gmail.com
ana-carolina.b@hotmail.com
Título: A postura ética do pesquisador em psicanálise frente ao contexto carcerário Brasileiro
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Desde os constructos Freudianos, a psicanálise vem produzindo um discurso que tensiona
a relação do sujeito com a cultura de diferentes épocas históricas. As perguntas que a mesma
formula, longe de serem extraordinárias, pretendem desconformar o sujeito com o que lhe é
estranhamente familiar. Acreditando-se na potência de tais questionamentos, compreende-se que as
discussões da psicanálise devem ultrapassar o setting clínico e atravessar as discussões extramuros,
veiculando um método de interpretação da realidade de cunho ético-político (Rosa, 2015). Para
ilustrar tal concepção, este trabalho pretende discorrer, brevemente, acerca de pretensões para uma
pesquisa em psicanálise em uma instituição carcerária, localizada em uma cidade no interior da
região centro-oeste do estado do Rio Grande do Sul. Sabe-se que o contexto carcerário brasileiro
perfaz um cenário de extrema vulnerabilidade, precariedade e seletividade, tornando-se uma
instituição que pouco problematiza as condições em que o crime é criminalizado e penalizado e, da
mesma forma, se abstém de produzir espaços de reflexão e escuta aos sujeitos que por estes espaços
perpassam (Duek- Marques, 2009). Compreendendo que existe uma mortificação do sujeito nestas
instituições, acredita-se que vislumbrar espaços de encontro com os presos aonde eles possam se
expressar de maneira livre, sustentados pela posição ética que o pesquisador em psicanálise se
apoia, podem ancorar uma experiência relacional no presídio que não seja marcada apenas pela via
da violência, julgamento e assujeitamento. Associa-se tais questões às reflexões da filósofa Judith
Butler (2017), a qual compreende a importância de a distinção entre a capacidade do sujeito realizar
uma narrativa e um relato sobre si. Posto que a narrativa propõe uma reflexão ética e o relato indica
um compromisso puramente moral, executado para um outro que se encontra em posição de
julgamento. Desta forma, propor um espaço de escuta e produção de sentido em grupo com sujeitos
marginalizados pelo sistema vigente que resguarde a singularidade de cada sujeito na passagem pelo
cumprimento da pena, propondo uma experiência de espelhamento ético em contraponto à posição
da escuta moralizante, configura-se como uma intervenção subversiva e potente - características
próprias da psicanálise. Assim, o pesquisador que pretende desenvolver uma pesquisa em psicanálise
promove uma ‘abertura de sentidos’, de forma que ao permitir-se percorrer o caminho da pesquisa
com o mínimo de certezas e verdades possíveis irradia condições para que os sujeitos da pesquisa
possam expressar verdades singulares (Rose & Strzykalski, 2018). Esse processo pode viabilizar uma
relação de interdependência entre pesquisador e pesquisado, forjando uma experiência de
implicação e reconhecimento do outro para ambos, processo este que parece encontrar-se
fragilizado nos contextos criminais e prisionais. Assim, conclui-se que esta perspectiva de pesquisa
intervenção, que se apoia na epistemologia psicanalítica, oferece e busca legitimar uma prática no
contexto acadêmico e cientifico que viabiliza reconhecimento e escuta à sujeitos que são
compreendidos, em parte, como responsáveis pela produção do mal-estar no âmbito social,
proporcionando movimentações políticas e culturais.
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influenciam a prática educacional? Muitas são as questões levantadas por este trabalho. De início, o
aumento alarmante da incidência de diagnósticos, da medicalização e da patologização do cotidiano
ao mesmo tempo em que, frequentemente, são lançados projetos de lei, editais e programas tentam
excluir a Psicanálise dos métodos possíveis de tratamento (e até mesmo a Psicologia das
possibilidades diagnósticas). É cada vez mais comum a substituição dos nomes próprios das crianças
por rótulos diagnósticos (cujo poder tende a ser decisivo e classificatório), modulando; e até mesmo
fixando transtornos mentais, nas instituições escolares (públicas e privadas). O testemunho dos
educadores, na maioria das vezes desesperado e angustiado, pautado no próprio despreparo diante
das (im)possiblidades de entendimento e manejo dos diagnósticos de seus alunos, retratam o
crescente mal-estar docente frente a um corpo inabitado, um corpo cujo sujeito foi despejado de seu
lar para abrigar um novo habitante, definido como um conjunto de sintomas que parecem exigir um
conhecimento aquém dos profissionais da Educação. A imagem corporal está assentada no interjogo
da recepção dos fluxos sensoriais e seu processamento. Nisso, reside o papel maturacional do
sistema nervoso central, mas também as formas como o Outro filtra, modela e modula o ambiente e
seus fluxos, no sentido da habituação; diante da estimulação sensorial que é simultânea, excessiva e
constante, o organismo se faz corpo, situando cada um diante do Outro e do mundo.
Continuamente, o organismo humano recebe informações sensoriais e, para selecionar as que
precisam de resposta, já como corpo, é preciso não prestar atenção em todas, mas conhecê-las
integradas umas às outras, em ideias e categorias. Esta integração sensorial é fundamental ao
funcionamento articulado do psiquismo no corpo e para o ambiente. Na mesma via, a representação
que o Outro tem da criança converge tanto para o investimento quanto para o desempenho de sua
função para com ela; pelos investimentos narcísicos, pelos modelos de identificação que apresenta.
O discurso da ciência, cuja eficácia está pautada na sutura da subjetividade, através da remissão dos
sintomas, é, curiosamente, convidado para dentro da escola como pré-requisito de garantia de
inclusão. Assim, com reflexões pontuais e relatos de experiência da clínica psicanalítica articulada à
proposta bullingeriana, este trabalho versará sobre os efeitos do diagnóstico no campo do Outro, na
constituição psíquica das crianças em risco e em como os resíduos desse embate têm impacto no
corpo, incapaz de organizar, modular e filtrar os diferentes estímulos oriundos de seu entorno. Quais
seriam os efeitos dessa pedagogia dita científica ao lado de uma psicologia aparentemente
adaptativa? O que a Psicanálise tem a dizer?
Autor(a): Yara Porto de Paula Lima – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Luciana Gageiro Coutinho, Cláudia Braga de Andrade
Contato: yaraportolima@yahoo.com.br, yaraportolima@yahoo.com.br, lugageiro@uol.com.br,
claudiabragaandrade@gmail.com
Título: Rodas de conversa: sofrimento psíquico na universidade
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O presente trabalho é baseado em um projeto de pesquisa em desenvolvimento na
Universidade Federal Fluminense intitulado Educação para a vida: adolescência, suicídio e
vulnerabilidades sociais. Considerando o aumento crescente nos índices de suicídio na adolescência e
a partir da constatação do impacto que essa problemática traz para as instituições educativas e de
saúde, a pesquisa objetiva investigar de que forma tais impasses se traduzem psiquicamente e
podem se articular com uma discussão sobre a participação das instituições educativas nos mesmos
bem como no seu enfrentamento. A partir da demanda da Faculdade de Educação da Universidade
Federal Fluminense (UFF) referente aos conflitos psíquicos vivenciados por parte de seus alunos,
iniciamos a realização de rodas de conversa mensais na universidade, abertas a alunos de todos os
cursos. Este dispositivo foi proposto para investigar o sofrimento psíquico na adolescência
contemporânea (incluindo-se aí o suicídio), para o qual crescem as demandas de atendimentos e
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requer uma escuta atenta aos impasses nos laços sociais através da viabilização de espaços de
endereçamento e de construção de novos possíveis laços. Entendemos o trabalho psíquico dos
adolescentes a partir do paradigma da produção de subjetividades, não como uma fase natural do
desenvolvimento psicológico, mas sim levando-se em conta a relação entre subjetividade e práticas
discursivas como processos de produção recíproca (Birman, 2009). Experiência subjetiva que
remonta aos tempos modernos, a adolescência como um dos tempos da constituição do sujeito em
que há uma reedição edípica e narcísica (Coutinho, 2009), momento de um novo encontro com o
Outro que produzem efeitos nos modos do sujeito se enlaçar no social. Nesse sentido, entendemos
que a escuta de jovens universitários nos permitirá trazer aportes para a discussão sobre o suicídio e
a situação do laço social atual que impacta na adolescência. Em consonância com o paradigma da
pesquisa em psicanálise, considerando que o inconsciente está presente nas variadas manifestações
humanas, culturais e sociais, nossa pesquisa busca instaurar a possibilidade de uma fala na qual o
sujeito tenha lugar, considerando a dimensão política do sofrimento produzido nas e pelas relações
sociais. Para tal, as rodas de conversas se constituem como uma modalidade de intervenção que
apostam na circulação da palavra como condição de inscrição de uma distância capaz de,
paradoxalmente, aproximar e produzir um laço com o outro. Apostando, desta forma, em novas
formas discursivas que possam repensar as bases do pacto social vigente (Rosa, 2016). Através do
dispositivo de rodas de conversa visamos oferecer um espaço de fala/escuta, uma experiência
compartilhada que promova a historicização do sujeito, bem como novas ações no cotidiano
universitário (Andrade; Diniz; Jatobá, 2015). Nesta comunicação, discutiremos os temas evidenciados
nos primeiros encontros de rodas de conversa sobre o sofrimento psíquico. BIRMAN, J. “Juventude e
condição adolescente na contemporaneidade”. In: BOCAYUVA, H. & NUNES, S.A. Juventudes,
subjetivações e violência. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009. ANDRADE, B. C., DINIZ, M, JATOBA, C.
Sou mais juventude: uma experiência política no contexto universitário. In: Juventudes e o mal-estar
na contemporaneidade. Belo Horizonte: Paco Editora, 2015. COUTINHO, Luciana Gageiro.
Adolescência e Errância: Destinos do laço Social Contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Nau, 2009.
ROSA, Miriam Debieux. A Clínica Psicanalítica em Face da Dimensão Sociopolítica do Sofrimento. São
Paulo, Escuta, 2016.
Autor(a): Yudi Esmeralda Pardo Murcia – FaE/UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Mônica Rahme, Marcelo Ricardo Pereira
Contato: pardoyudi@gmail.com, monicarahme@hotmail.com, marcelorip@hotmail.com
Título: Caminos en construcción por una educación inclusiva
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: El presente escrito pretende dialogar sobre la educación inclusiva en la escuela dentro del
aula regular. Pensar en una educación inclusiva, es pensar en el derecho que tienen todos los niños,
niñas y adolescentes, en el sistema educativo, independientemente si tiene o no alguna
discapacidad. Si bien se ha sustentado en en normatividades y actuaciones de organismos
internacionales, es una realidad que sus derechos son vulnerados y por tanto su educación también.
Sin embargo no se puede desconocer el camino que en los últimos años las instituciones educativas
intentan labrar, este trabajo específicamente contará la importancia de las posibilidades que pueden
generar los docente de aula regular desde su convicción, generando ambientes posibles para los
aprendizajes diversos. Abriendo caminos y possibilidades. En ese caminar por la educación inclusiva,
se visualizan las diferentes reformas educativas encaminadas a eliminar las barreras de exclusión
hacia los niños, niñas y jóvenes de la escuela, sin embargo es importante enfatizar que existen un
amplio conjunto de procesos interdependientes que inciden en la escuela desde fuera de ella, como
los procesos de exclusión social que vivencian los diferentes estudiantes en situación de desventaja.
(ECHEITA, 2007). A pesar de ello, se puede cambiar este conjunto de realidades, una de ellas es al
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interior de la escuela, interactuando de la mejor manera posible para reducir la exclusión educativa
en el proceso hacía políticas, culturas y prácticas educativas más inclusivas. (ECHEITA, 2013). Es así
que al interior de la escuela en el aula regular debe ser un lugar donde se creen y recreen actitudes y
comportamientos de inclusión como lo afirma Ferreira (2007), siendo un lugar propio donde el
docente donde inventen y reinventen el vínculo educativo y así crear posibilidades de entretejer sus
marcas en esa oferta educativa. (TIZIO, 2003). Circulando la palabra, posibilidades en ese caminhar.
Es a través de la palabra que se da el surgimiento dialecto donde fluye la participación, disponiendo
diferentes posibilidades en relación al valor colectivo que se da en estos espacios, en logar visualizar
las diferentes miradas y experiencias del saber no sabido, donde se puede reflexionar y tener la
posibilidad de dejar marcas de esa experiencia (GURSKI, 2015). Por lo tanto las ruedas de conversa,
posibilita cambios, nuevas palabras, nuevos posicionamientos generando nuevas formas de
subjetivación, encontrando formas diferentes de concebir y desarrollar su quehacer docente
(PEREIRA, 2012). BIBLIOGRAFÍA: ECHEITA, G Y SANDOVAL, M. Educación inclusiva o educación sin
exclusiones. Revista educación, no. 327, 2002. ECHEITA, G. Inclusión y exclusión educativa. de
nuevo1 “voz y quebranto”. Revista Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación,
v11, n 2, 2013. FERREIRA, M. O enigma da inclusão: das intenções às práticas pedagógicas. Educação
e Pesquisa. São Paulo. Volumen 33. Número 3. 2007. TIZIO, H. La posición de los profesionales en los
aparatos de gestión del síntom. In TIZIO, H (org). Reinventar el vínculo educativo. Gedisa editorial.
España, 2003. GURSKI, R. Psicoanalises, educação especial e formação de profesores: construções em
rasuras. Porto Alegre: Editora Evangraf Ltda, 2015. PEREIRA, A. psicoanálise escuta a educação 10
anos depois. Fino Traço editora. Belo Horizonte, 2012.
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