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13º COLÓQUIO INTERNACIONAL DO LEPSI

8º RUEPSY
4º RED INFEIES
3º PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO DE MINAS

Por que a psicanálise na universidade e na educação hoje?


Ensino, transmissão, resistência

18 a 20 de novembro de 2019
Ouro Preto - MG
Centro de Convenções de Ouro Preto

Prefixo Editorial: 98601


Número ISBN: 978-85-98601-84-7
Título: LEPSI 2019: por que a psicanálise na universidade e na educação hoje?
ensino, transmissão, resistência

Tipo de Suporte: Publicação digitalizada


Formato Ebook: PDF

1
Organização:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - MG


REITORA: Profª. Cláudia Aparecida Marliére de Lima
VICE-REITOR: Prof. Hermínio Arias Nalini Júnior
Site: http://www.ufop.br/
E-mail: secretaria.reitoria@ufop.edu.br
Telefone: (31) 3559-1218
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – ICHS - UFOP
Diretor: Prof. Dr. Luciano Campos da Silva
Vice-diretora: Profa. Dra. Helena Miranda Mollo
Site: http://ichs.ufop.br/
E-mail: diretoria.ichs@ufop.edu.br
Telefone: (31) 3557-9402 / 3557-9430
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – ICHS – UFOP
Chefe de Departamento – Dr. Jacks Richard de Paulo
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO E DOUTORADO EM EDUCAÇÃO – PPGE – UFOP
Coordenação: Profa. Dra. Regina Magna Bonifácio de Araújo
Vice-coordenação: Profa. Dra. Rosa da Exautação Coutrim

Profa. Dra. Margareth Diniz – UFOP, Coordenadora Geral


Prof. Dr. Marcelo Ricardo Pereira – UFMG, Coordenador Adjunto
Organização do caderno de resumos: Marlene Machado - PBH

REALIZAÇÃO

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ORGANIZAÇÃO DO EVENTO

COMISSÃO ORGANIZADORA

Profa. Dra. Margareth Diniz – UFOP, Coordenadora Geral


Prof. Dr. Marcelo Ricardo Pereira – UFMG, Coordenador Adjunto
Profa. Dra. Carla Mercês da Rocha Jatobá – UFOP
Profa. Dra. Daniela Dutra Viola – UEMG
Profa. Dra. Libéria Rodrigues Neves – UFMG
Profa. Dra. Maralice de Souza Neves – UFMG
Profa. Dra. Michele Ueno Guimarães – UFOP
Profa. Dra. Mônica Maria Farid Rahme – UFMG
Prof. Dr. Pedro Teixeira Castilho – UFMG
Doutorando Gilmar Moura da Silva – UFMG
Doutorando Isael de Jesus Senna – UFMG/Univ. Paris 8
Doutoranda Mariana Scrinzi – UFMG/UNRosario
Doutoranda Yudi Pardo – UFMG
Doutorando Arthur Medrado - UFF
Doutoranda Cláudia Itaborahy – UFMG
Doutoranda Catarina Dallapicula - UFOP
Profa. Mestre Martha Goyatá - UFMG
Mestre Luanna Burgos – UFOP
Mestre Felipe Nolasco Pedrosa – UFOP
Mestre Olga Ferreira e Penna – UFOP
Mestre Ludmilla Camilloto – UFOP
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Mestrando Ramón Eduardo Lara Mollon – UFMG
Mestrando Fábio Henrique Silva - UFMG
Mestranda Felícia Maria Pereira dos Santos - UFMG
Mestrando Marcos Venancio Mendes - UFMG
Mestranda Adelina Nunes – UFOP
Mestranda Raquel Salazar – UFOP
Mestranda Victória Taglialegna Salles - UFOP
Mestranda Andreza Dezza – UFOP
Munike Romano – Casa Ateliê –Ouro Preto
Mariana Fontoura Terra Bento – Casa Ateliê – Ouro Preto

COMISSÃO CIENTÍFICA

Prof. Dr. Alexandre Costa Val – UFOP


Profa. Dra. Ana Maria Moraes Fontes – UFJF
Profa. Dra. Andréa Maris Campos Guerra – UFMG
Profa. Dra. Ângela Maria Resende Vorcaro – UFMG
Profa. Dra. Anna Carolina Lo Bianco Clementino – UFRJ
Profa. Dra. Carla Mercês da Rocha Jatobá – UFOP
Profa. Dra. Carla Karnoppi Vasques – UFRGS
Prof. Dr. Cássio Eduardo Miranda – UFP
Profa. Dra. Claudia Maria Perrone – UFSM
Profa. Dra. Cristiana Carneiro – UFRJ
Prof. Dra. Cristina Keiko Inafuku de Merletti – Univ. Ibirapuera
Prof. Dr. Cristóvão Giovani Burgarelli – UFG
Profa. Dra. Cynthia Medeiros – UFRN
Prof. Dr. Daniel Revah – UNIFESP
Profa. Dra. Daniela Dutra Viola – UEMG
Prof. Dr. Diego Fernando Bolaños – USB, Colômbia
Profa. Dra. Eliane Marta Teixeira Lopes – UFMG/UFOP
Profa. Dra. Ilaria Pirone – Univ. Paris 8, França
Profa. Dra. Jacqueline de Oliveira Moreira – PUC-Minas
Profa. Dra. Katia Cristina Tarouquella Rodrigues Brasil – UCB
Prof. Dr. Leandro de Lajonquière – USP/Univ. Paris 8, França
Profa. Dra. Libéria Rodrigues Neves – UFMG
Profa. Dra. Luciana Gageiro Coutinho – UFF
Profa. Dra. Maralice de Souza Neves – UFMG
Prof. Dr. Marcelo Ricardo Pereira – UFMG
Prof. Dr. Marco Antônio Torres – UFOP
Profa. Dra. Margareth Diniz – UFOP
Profa. Dra. Maria Celina Peixoto Lima – UNIFOR
Profa. Dra. Marise Bartolozzi Bastos – Univ. Ibirapuera
Profa. Mestre Martha Célia Vilaça Goyatá - UFMG
Prof. Dr. Matheus Zica – UFPB
Profa. Dra. Mercedes Minnicelli – UNMdP, Argentina
Profa. Dra. Michele Ueno Guimarães – UFOP
Profa. Dra. Mônica Maria Farid Rahme – UFMG
Profa. Dra. Nádia Laguárdia de Lima – UFMG
Profa. Dra. Oneli Teixeira Gonçalves – UEPA
Prof. Dr. Pedro Teixeira Castilho – UFMG
Profa. Dra. Perla Zemanovich – FLACSO, Argentina
Prof. Dr. Rinaldo Voltolini – USP

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Prof. Dra. Simone Bicas - UFRGS
Profa. Dra. Roselene Gurski – UFRGS
Profa. Dra. Sandra Francesca de Almeida – UnB
Profa. Dra. Sébastien Ponnou – Univ. Rouen, França
Prof. Dr. Segundo Moyano – UOC, Espanha
Profa. Dra. Simone Moschen – UFRGS
Profa. Dra. Thais Sarmanho Paulo – UniCEUB

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CENTRO DE CONVENÇÕES DE OURO PRETO – 18 A 20/11/2019

MAPA CENTRO DE CONVENÇÕES DE OURO PRETO

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PROGRAMAÇÃO

Data Horário Evento Local


8h. Credenciamento Hall de entrada
Espaço 1
Abertura: Boas-vindas
Reitoria da UFOP; Direção do ICHS; Coordenadora do
Teatro Ouro Preto
Evento: Margareth Diniz - UFOP; Coordenador-Adjunto:
9h. Marcelo Ricardo Pereira - UFMG. Espaço 6
1º andar
18/11 MESA 1: RED INFEIEs
Por que a Psicanálise na universidade e na
educação hoje? Infâncias, Adolescências e
10h. Instituições. Teatro Ouro Preto
Convidados(as): Mercedes Minnicelli, UNMdP; Perla
Espaço 6
Zelmanovich, Flacso; Segundo Moyano, UOC –
Coordenação: Marcelo Ricardo, UFMG. 1º andar

11h30 Almoço Livre


MESA 2: RIPPEP/NUPPEC
Por que a psicanálise na universidade e na
13h30. Teatro Ouro Preto
educação hoje? Inclusão e Políticas.
Convidadas: Simone Bicca, UFRGS; Libéria Neves, Espaço 6
UFMG; Carla Jatobá, UFOP – Coordenação: Maria
1º andar
Eugênia Nabuco, Hosp. Seine-et-Marne

15h. ENTREVISTA 1: com Anna Carolina Lo Bianco, UFRJ


Que psicanálise se ensina na universidade?
Saguão Sabará
Entrevistadores: Jacqueline Moreira, PUC-Minas;
Marlene Machado, PBH; Rinaldo Voltolini, USP. Espaço 7
2º andar
16h Salão Diamantina
Cafezinho Mineiro.
Espaço 4 e 5
1º andar
16h30. MESA 3: COLETIVO AMARRAÇÕES
Por que a psicanálise na universidade e na
Teatro Ouro Preto
educação hoje? Políticas com juventudes.
Convidados(as): Rose Gurski, UFRGS; Jacqueline Espaço 6
Moreira, PUC-Minas; Pedro Castilho, UFMG
1º andar
Coordenação: Nádia Laguárdia, UFMG.

18h Saguão Congonhas e


Confraternização, livros e arte.
Salão Diamantina
Espaço 4, 5 e 6
1º andar
7
8h Credenciamento Hall de entrada
Espaço 1
19/11 FÓRUNS DE COMUNICAÇÃO LIVRE: 1º TEMPO – QUESTÕES
2º andar
Fórum 1 - Formação de professores em um curso à Sala 7
distância e Pesquisa em psicanálise
Fórum 2 - Psicanálise, epistemologia e ciência Auditório 8
Fórum 3 - Psicanálise, cidade e outros campos do saber Sala 1
Fórum 4 - Psicanálise, corpo e saúde mental Auditório 9
Fórum 5 - Psicanálise, mal-estar docente e formação Sala 8

9h Fórum 6 - Psicanálise, mal-estar docente e formação Sala 2


Fórum 7 - Psicanálise, infância e adolescência Sala 3
Fórum 8 - Psicanálise, infância e adolescência Sala 4
Fórum 9 - Psicanálise, infância e adolescência Sala 5
19/11 Fórum 10 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade Sala 6
Fórum 11 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade Salão Mariana
Fórum 12 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade Salão Mariana

9h Reunião: GT PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO – ANPEPP Saguão Sabará


(restrito a membros)
Espaço 7
2º andar
ENTREVISTA 2: com Cristina Kupfer, USP: Saguão Sabará
Psicanálise na universidade, quais resistências?
11h. Espaço 7
Entrevistadores: Pedro Castilho, UFMG; Michele Ueno,
UFOP; Margareth Diniz, UFOP, Martha Goyatá, UFMG. 2º andar
12h Almoço Livre
MESA 4a: RUEPSY A RELANÇAR
Por que a psicanálise na universidade e na
13h30 Teatro Ouro Preto
educação hoje? Intervenções na cidade.
Convidados(as): Sébastien Ponnou, Rouen; Ilaria Pirone, Espaço 6
Paris 8; Dominique Méloni, UPJV –
1º andar
Coordenação: Marcelo Ricardo, UFMG. (tradução
simultânea FR-PT).

MESA 4b: RUEPSY A RELANÇAR


Por que a psicanálise na universidade e na
15h. Teatro Ouro Preto
educação hoje? A psicanálise em meios
institucionais. Espaço 6
Leandro de Lajonquière, Paris 8; Susana Brignoni,
1º andar
Barcelona – Coordena: Margareth Diniz, UFOP.

OFICINAS DE INTERLOCUÇÃO DE SABERES


2º andar
Oficina 1 – Construindo Redes Internacionais Auditório 8
8
Oficina 2 – A psicanálise e a teoria social face à
segregação: práticas em espaços escolares e não
Auditório 9
escolares
16:30 h- Oficina 3 – Subjetividade e Racismo Sala 1
19h Oficina 4 – Olhares (im)possíveis: Corpo, vídeo e cidade Sala 2
– produzindo vídeos manifestos.
Oficina 5 – CineCasa – Corpo em Trânsito: Psicanálise e Casa Ateliê
Educação pelos meios da diferença
Oficina 6 – Cartões de Guignard para Amalita Museu Guignard
Oficina 7 – Quem conta uma história expressa sua
vitória: os alunos em situação de inclusão escolar e a
19/11 Sala 3
construção do conhecimento por meio da literatura
Oficina 8 – Encontro com o desconhecido Sala 4
Oficina 9 – Dança e diferença Salão Mariana

16:30 h- Oficina 10 – (Jean Marie) Sala 5

19h Oficina 11 – Psicanálise, instituição, educação e inclusão Sala 6


Oficina 12 – O Tratamento psicanalítico de crianças Teatro Ouro Preto
autistas: premissas
Oficina 13 – Teatro-conversação como recurso de Salão Mariana
pesquisa e intervenção na educação

FÓRUNS DE COMUNICAÇÃO LIVRE: 2º TEMPO – PROPOSIÇÕES


2º andar
Fórum 1 - Formação de professores em um curso à Sala 7
distância e Pesquisa em psicanálise
Fórum 2 - Psicanálise, epistemologia e ciência Auditório 8
9h ÀS
Fórum 3 - Psicanálise, cidade e outros campos do saber Sala 1
11 H Fórum 4 - Psicanálise, corpo e saúde mental Auditório 9
Fórum 5 - Psicanálise, mal-estar docente e formação Sala 8
Fórum 6 - Psicanálise, mal-estar docente e formação Sala 2
Fórum 7 - Psicanálise, infância e adolescência Sala 3
Fórum 8 - Psicanálise, infância e adolescência Sala 4
Fórum 9 - Psicanálise, infância e adolescência Sala 5
Fórum 10 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade Sala 6
Fórum 11 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade Salão Mariana
Fórum 12 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade Salão Mariana

9h ÀS Reunião: RUEPSY (restrito a membros e convidados) Teatro Ouro Preto


11 H
11h. ENTREVISTA 3: com Ângela Vorcaro, UFMG Saguão Sabará
Como transmitir uma prática clínica na
20/11 Espaço 7
universidade?
Entrevistadores: Luciana Gageiro, UFF; Daniela Viola, 2º andar
Uemg; Cláudia Itaborahy, UFOP

12h Almoço livre

13h30 MESA 5: LEPSI

9
Por que a psicanálise na universidade e na Teatro Ouro Preto
educação hoje? O laboratório que teremos depois
Espaço 6
de 21 anos.
Convidados(as): Rinaldo Voltolini, USP; Mônica Rahme, 1º andar
UFMG; Marcelo Ricardo, UFMG
Coordenação: Maralice Neves, UFMG

15h. MESA FINAL


Dia de Zumbi: diferença, diversidade, segregação.
Teatro Ouro Preto
Convidados(as): Éric Plaisance, Paris 5; Alexandre Costa
Val, UFOP; Marise Bastos, UNIB Espaço 6
Coordenação: Margareth Diniz, UFOP.
1º andar
16h30. Encerramento. Teatro Ouro Preto
20/11
Espaço 6
1º andar
17h. Cafezinho Mineiro de despedida. Saguão Congonhas e
Salão Diamantina
Espaços 4, 5 e 6
1º andar

ORGANIZAÇÃO DOS FORÚNS

Fórum 1 - Formação de professores em um curso à distância e Pesquisa em Psicanálise –


sala 7

Autor(a): Ana Beatriz Coutinho – LEPSI USP – Universidade de São Paulo


Título: Entrevistas psicanalíticas em escolas e instituições: o que é preciso escutar?

Autor(a): Diêgo Alves Fernandes – FCV – Faculdade Ciências da Vida


Título: Processos de Identificação em Estudantes Universitários e suas Perspectivas
Filosófico/Políticas

Autor(a): Dieine Mércia de Oliveira – UFRGS


Título: Uma experiência de pesquisa com agentes socioeducadores: reflexões sobre a relação
transferencial no trabalho da escuta-flânerie

Autor(a): Helena Niemeyer Teixeira


Título: Diálogos e contribuições do Feminismo e da Psicanálise para a compreensão do estatuto da
mulher no contemporâneo: um projeto de estudo coletivo.

Autor(a): Munyke Paulo Rodrigues Romano - CasAteliê


Título: A linha curva do horizonte: limite do céu aberto

Autor(a): Ramon Mogollon – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais


Título: A transdisciplinaridade na prática. O que supõe uma pesquisa interdisciplinar?
10
Autor(a): Raquel Salazar Ribeiro e Souza – UFOP
Título: A polissemia do conceito de sujeito e o “sujeito da experiência” nas pesquisas

Autor(a): Sebastião Renato Stefanuto – UNIB – Universidade Ibirapuera


Título: O sonho da ciência e o sonho em Freud: o que a teoria psicanalítica pode ensinar a quem
ensina?

Autor(a): Vanessa Cardoso Cezário - Feusp


Título: A escola como uma instituição sob o desígnio da contemporaneidade

Autor(a): Vitória Rosa Cougo – UFSM – Universidade Federal de Santa Maria


Título: A postura ética do pesquisador em psicanálise frente ao contexto carcerário Brasileiro

Autor(a): Cleonice Pereira do Nascimento Bittencourt – UNB


Título: Formação de Professores em um curso a distância e as relações dos sujeitos no campo
educativo

Fórum 2 - Psicanálise, epistemologia e ciência – Auditório 8

Autor(a): Adriana Doyle Portugal - CEFET/RJ - Centro Fed. de Ed. Tec. Celso Suckow da Fonseca
Título: Contribuições da Psicanálise para o Materialismo Histórico: o Sujeito, a ôntica humana e a
vida na polis.

Autor(a): André Luís de Souza Lima – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Título: Educação especial, método psicanalítico e o paradigma indiciário

Autor(a): Carina de Mello Souza dos Santos - UFRJ


Título: Reflexões em torno da constituição do sujeito frente a "cientifização" de tratamentos

Autor(a): Fabio Malcher Martins de Oliveira - UFRJ


Título: Obstáculo epistemológico e resistência: uma homologia possível?

Autor(a): Felipe Cordeiro Alves – UFMG


Título: Fake News e conspiracionismo diante da ciência: Impasses na transmissão e a instanciação do
sujeito

Autor(a): Gabriel Luiz de Carvalho - UFOP


Título: O processo de evasão no curso de graduação em Física: fatores influenciadores.

Autor(a): Jorge Florentino Botelho – Prefeitura Municipal de Itabira


Título: A escuta clínica na inclusão dos sujeitos

Autor(a): Lia Silva Fonteles Serra – USP – Universidade de São Paulo


Título: Educação e Transmissão de Saber

Autor(a): Lia Silva Fonteles Serra – USP – Universidade de São Paulo


Título: TRANSMITIR X APRENDER: o dilema da educação contemporânea

Autor(a): Marcelo Fonseca Gomes de Souza - UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Título: Objetividade e objetalidade: encontros e desencontros entre a psicanálise e a ciência

11
Autor(a): Márcio Rimet Nobre – UFMG – Universidade federal de Minas Gerais
Título: Entre algoritmos e matemas: o sujeito, do desejo ao gozo

Autor(a): Maria Ludmila Antunes de Oliveira Mourão – USP – Universidade de São Paulo
Título: Em defesa de uma certa autoridade

Autor(a): Maria Nogueira Scarambone Zaú – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Pontos de encontro entre a psicanálise e a ciência: por uma transmissão rigorosa e
democrática

Autor(a): Mariana Sica - Feusp


Título: Pisicanálise entre Pedagogia e Educação

Autor(a): Marina Bezerra Werneck – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo


Título: O lugar do saber na ciência e o discurso do analista: questões acerca da transmissão da
psicanálise na universidade

Autor(a): Patrícia Lavinas Santos – UNIFOR – Universidade Federal de Fortaleza


Título: Cem anos de psicanálise: o que há por detrás de tantos anos de pesquisa?

Fórum 3 – Psicanálise, cidade e outros campos do saber – sala 1

Autor(a): Alana Araujo Corrêa Simões – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo
Título: Tempo e Subjetividade: Pistas para a construção de uma clínica no contemporâneo

Autor(a): Ana Carolina Bicca Bragança – UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
Título: Cidade e Subjetividade: a criação de um dispositivo de escuta na rua

Autor(a): Andrea Martello – UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro


Título: A socioeducação e a cidade: uma pedagogia do espaço público

Autor(a): Aricélia Soares Barros – Professor de Educação Básica


Título: Doutores e outras artes de curar: higiene, educação e lazer no Piauí (1889-1930).

Autor(a): Arthur Medrado Soares Araujo – UFF – Universidade Federal Fluminense


Título: Olhares (Im)Possíveis: experiências corpo-imagem-cidade com crianças e jovens da periferia
de Ouro Preto

Autor(a): Beatriz Coelho Paz – Sec. Mun. Do Rio de Janeiro


Título: “Dar voz ao aluno”: sobre os paradoxos do convite à participação e autonomia para crianças e
adolescentes no exercício da educação na/para a diversidade. Ou, sobre a importância de “dar
ouvidos”.

Autor(a): Carolina Cardoso Tiussi – UAM – Universidade Anhembi Morumbi


Título: Uma leitura do cenário político atual e seus efeitos para a inclusão: a que preço?

Autor(a): Gabriela Pereira da Cunha Lima


Título: Pensando práticas educativas como possibilidades de emergência do singular: a
experiência das Escolas Democráticas

Autor(a): Ian Menezes de Lacerda - UFRJ


Título: Economia compartilhada, trabalho e imperativo de gozo

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Autor(a): Jaime Carlos Vidarte Gaspary – UFRS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Título: Curso de vida e trajetória delinquencial: Diálogos possíveis (e impossíveis) no encontro da
psicanálise com diferentes disciplinas em uma pesquisa

Autor(a): Janaina Klinko – FE


Título: Os movimentos anti-escola e a recusa da pluralidade

Autor(a): Luciane Maria Ribeiro da Cruz Santos – PUC Minas


Título: Contribuições da psicanálise para a circulação da palavra na experiência do Projeto de Leitura
Palavras Livres em um Presídio

Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Federal de Minas Gerais
Título: De sem a cem palavras entre o dizer o o dito

Autor(a): Priscila Nobre David – USP – Universidade de São Paulo


Título: Letramento e o trabalho poético de Manoel de Barros: um passeio pela infância da língua

Fórum 4 - Psicanálise, corpo e saúde mental – Auditório 9

Autor(a): Adriana Pereira Bomfim – UNEB


Título: Trabalho Docente e Psicanálise: prazer, sofrimento, desejo?

Autor(a): Andressa Mattos Salgado Sampaio – USP – Universidade de São Paulo


Título: O que faz um professor? Do imponderável no professar e o seu lugar nos sonhos da nação.

Autor(a): Débora Souza de Santana – UNIB – Universidade Ibirapuera


Título: Adoecimentos na infância: quando o corpo fala do sofrimento psíquico

Autor(a): Débora Thyara Ferreira – UNOPAR


Título: Medicalização da educação: o saber médico como resposta ao mal-estar presente no processo
de aprendizagem

Autor(a): Eduardo Gomes de Oliveira - UNIFAA


Título: A Clínica Psicanalítica em um centro de atendimento ao aluno no ensino superior: efeitos de
inclusão

Autor(a): Gabriela Oliveira Guerra – UFSM


Título: Expressões contemporâneas do mal-estar na universidade: a escrita da experiência como
dispositivo de intervenção clínico-política

Autor(a): Izabella Paiva Monteiro de Barros – UFPA – Universidade Federal do Pará


Título: Função materna e imagem do corpo: qual a relação do campo da educação com a constituição
psíquica?

Autor(a): Julia Tassara – UNR


Título: Elucidaciones sobre una práctica. La prevención en salud mental como política pública y los
aportes del psicoanálisis

Autor(a): Larissa Costa Beber Scherer – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: A patologização do mal-estar na escola

13
Autor(a): Lígia de Almeida Hernandes – UNIB – Universidade Ibirapuera
Título: Morte, luto e testemunho - Let me try again

Autor(a): Luciana de Carvalho Pieri - UFRJ


Título: Uma discussão acerca da prevenção do suicídio: contornos e limites dos campos das políticas
públicas de saúde e da psicanálise

Autor(a): Maria Sossai Varnier – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Título: O encontro analítico na adolescência

Autor(a): Marina Pereira Vieira Espinoza – UNIVERSO – Universidade Salgado de Oliveira


Título: Conversas de sala de aula: uma aposta em novos destinos para o sofrimento no corpo

Autor(a): Roberta Corrêa Lanzetta - IPUB


Título: A aluna diamante: dos cortes à construção de uma narrativa possível

Autor(a): Sérgio Ricardo Bezz – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Título: Uma experiência de transmissão da psicanálise na formação profissional em saúde mental

Autor(a): Wericson Miguel Martins – Prefeitura Municipal de Poços de Caldas


Título: Diagnosticar para cuidar ou cuidar para não (precisar) diagnosticar: o que a Psicanálise tem a
dizer?

Fórum 5 - Psicanálise, mal-estar docente e formação – sala 8

Autor(a): Carmen Lucia Rodrigues Alves – SME/SP


Título: A Forma(ação) docente na contemporaneidade

Autor(a): Caroline Fanizzi - Feusp


Título: O professor nos tempos da técnica: a docência entre a ação e a fabricação

Autor(a): Daniele Lima da Silva – UNEB – Universidade federal do estado da Bahia


Título: Escuta (im)possível? Desejo do professor-pesquisador na escola contemporânea

Autor(a): Ernesto Sérgio Bertoldo – UFU – Universidade Federal de Uberlândia


Título: O professor-formador no processo de constituição de licenciandos pela escrita acadêmica:
(im)possibilidades de construção de laços sociais.

Autor(a): Katilen Machado Vicente Squarisi – UNB – Universidade de Brasília


Título: Memória educativa de professores do PNAIC: uma leitura psicanalítica do mal-estar na
alfabetização

Autor(a): Kauan de Freitas Teixeira – UNIT – Universidade Tiradentes


Título: Um estudo de caso clínico sobre o embotamento afetivo: a saúde mental dos professores de
ensino superior

Autor(a): Lenara Spedo Spagnuolo – Psicanalista


Título: De que saber se trata na formação de professores?

Autor(a): Maria Eugênia Pesaro


Título: Projeto Escolas Protagonistas: o efeito formativo do encontro entre escolas

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Autor(a): Milânia Dos Santos Gomez – UVA – Universidade Veiga de Almeida
Título: Burnout: precisamos falar sobre o estresse ocupacional do professor!

Autor(a): Nana Corrêa Navarro – USP - Universidade de São Paulo


Título: Formação de professores e psicanálise: desafios da inclusão escolar

Autor(a): Vanderlice dos Santos Andrade Sól – UFOP – Univ. Federal Ouro Preto
Título: Angústia no discurso docente: problematizando a relação sujeito-língua estrangeira-
identidade

Fórum 6 - Psicanálise, mal-estar docente e formação – sala 2

Autor(a): Alessandro Campos Piantino – UNB – Universidade federal de Brasília


Título: Professor "morto": memória educativa como dispositivo de escuta.

Autor(a): Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda – UFES – Univ. Fed. Espirito Santo
Título: A supervisão clínica como aposta de transmissão da psicanálise na Universidade

Autor(a): Ana Carolina Ferreyra – FLACSO


Título: Efectos del psicoanálisis en un dispositivo de formación docente en “Adolescencia y educación
secundaria” - UNGS

Autor(a): Bianca Wandepol Azevedo – Secretaria de Estado de Minas Gerais


Título: Reflexões em torno de uma oferta de trabalho em um hospital

Autor(a): Felícia Maria Pereira dos Santos - UFMG


Título: Saber e Formação de Professores: uma experiência de mediadores de alunos com deficiência

Autor(a): Géssica Alves da Silva


Título: Destinos do agir adolescente na escola: repensando o diálogo com o Conselho Tutelar

Autor(a): Luisa Bottiglieri Moscalcoff – Feusp


Título: Autoridade do professor e transmissão, reflexões psicanalíticas acerca dos desafios frente ao
discurso pedagógico contemporâneo

Autor(a): Maria Gabriela Guidugli Pedreira – USP – Universidade de São Paulo


Título: Transmissão em psicanálise e o professor na sociedade do conhecimento

Autor(a): Pedro Cavalcante de Miranda – UNB – Universidade de Brasília


Título: Memória Educativa: da constituição à atuação docente.

Autor(a): Roberta Duarte dos Santos – UFRJ


Título: Mal-Estar Docente: A Fragilidade da autoridade de professores na atualidade.

Autor(a): Sâmara Gurgel Aguiar – UECE – Universidade Estadual do Ceará


Título: O estranho na escolarização de crianças com entraves estruturais na constituição psíquica:
implicações para a formação docente.

Autor(a): Thales do Rosário de Oliveira – UNB – Universidade de Brasília


Título: Psicanálise na formação de professores

15
Fórum 7 - Psicanálise, infância e adolescência – sala 3
Autor(a): Adriana Silva Campos Cardoso – UFF – Universidade Federal Fluminense
Título: Escola e tendência antissocial pelo prisma da psicanálise winnicottianna

Autor(a): Ariana Lucero – UFES – Universidade Federal do Espírito Santo


Título: O grupo como lugar da diferença

Autor(a): Bety Ribeiro Corrêa – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Título: O brincar e o conhecer: o lugar do sujeito

Autor(a): Carla Renata Braga de Souza – UNICAT


Título: Inquietações diante dos efeitos do diagnóstico no tratamento de crianças em sofrimento
psíquico grave

Autor(a): Dayanna Pereira dos Santos - IFG – Inst. Fed. de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Título: Infância, Autismos e estruturação psíquica: uma leitura psicanalítica

Autor(a): Flávia Tridapalli Buechler - UNIFEBE - Centro Universitário de Brusque


Título: Ressonâncias do Discurso da Tecnociência na Clínica com Crianças

Autor(a): Isabela Maciel Cerqueira de Souza – UFES


Título: Importância da oposição e do desafio na constituição do sujeito e a epidemia diagnóstica de
TOD

Autor(a): Lara Batista Belfi – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo


Título: A psicose infantil diante da profusão de diagnósticos de autismo.

Autor(a): Maiara Borlini Vescovi – UFES – Universidade Federal do Espírito Santo


Título: O diagnóstico precoce e as (im)possibilidades no laço mãe-bebê.

Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: O diagnóstico de autismo: a clínica ampliada e a psicanálise

Autor(a): Marina Belém Lavrador – USP _ Universidade de São Paulo


Título: Diagnósticos psiquiátricos selados na primeira infância: efeitos no percurso de subjetivação

Autor(a): Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly – NEPE


Título: Autismo: doença do milênio ou milênio das doenças?

Fórum 8 - Psicanálise, infância e adolescência – sala 4

Autor(a): Clarissa Pimentel Portugal - UNB


Título: Reflexões psicanalíticas sobre o processo criativo em sala de aula

Autor(a): Cristina Mariel Ronchese


Título: Entre tendencias a la objetivación y a la subjetivación, se despliega el desafío de las prácticas
docentes en la escuela.

Autor(a): Diogo Gomes Novaes – UFU – Universidade Federal de Uberlância


Título: Reflexões sobre a produção de textos no espaço escolar sob a perspectiva da psicanálise

Autor(a): Iris Ramos Lacava Ferraz - UFRJ


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Título: Orientação educacional e psicanálise: de um impossível a outro

Autor(a): Kelly Cristina Brandão da Silva – UNICAMP – Universidade de Campinas


Título: Intervenção a tempo e com tempo para a construção de narrativas

Autor(a): Ligia Rufine Nolasco – USP – Universidade de São Paulo


Título: Infância (s) no neoliberalismo: o que o brincar nos conta da nossa época?

Autor(a): Marlene Maria Machado da Silva – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: "Eu não sei!" É preciso falar do não saber na alfabetização.

Autor(a): Martha Célia Vilaça Goyatá – Secretaria de Estado da Educação


Título: Outro olhar sobre o sujeito com diagnóstico na escola inclusiva: contribuições da psicanálise

Autor(a): Melina Soledad Molina – UNR


Título: La joven niña entre la incomodidad y el gesto. La revolución, rebelión y subversión en
Psicoanálisis

Autor(a): Monica Garrafiel de Carvalho – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Título: O problema é quando falta gás! Reflexões sobre a interludicidade na escola infantil

Autor(a): Pablo Martins Carneiro – Associação Pró Educação Vivendo e Aprendendo


Título: Projetos de trabalho no campo dos desejos: aprendizagem e processos subjetivos

Autor(a): Paula Fontana Fonseca – Lepsi IP/Feusp


Título: Uma reflexão psicanalítica acerca da função do brinquedo e do brincar na Educação na Infantil

Autor(a): Camille Apolinario Gavioli


Título: Um tempo de intervenção clínica: sobre o dispositivo de atendimento de curta duração a
jovens graduandos II

Autor(a): Vanina Costa Dias – FCV – Faculdade Ciências da Vida


Título: Psicanálise e educação em tempos de cultura digital: velhos laços, novos tempos.

Autor(a): Yara Porto de Paula Lima – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Rodas de conversa: sofrimento psíquico na universidade

Fórum 9 - Psicanálise, infância e adolescência – sala 5


Autor(a): Barbara Pinto Pereira Bittar – Sec. Mun. Da Cidade do Rio de Janeiro
Título: O que pode a escola frente ao fenômeno da automutilição na adolescência?

Autor(a): Bruna de Sousa Madureira - SPIA/IPUB/UFRJ


Título: Matar ou morrer: respostas de um adolescente para o desamparo

Autor(a): Cássio Eduardo Soares Miranda – UFPI – Universidade federal do Piauí


Título: O que pode uma psicanálise frente ao abuso sexual contra adolescentes no ambiente escolar
e nas parcerias íntimas?

Autor(a): Dayana Coelho Souza - USP


Título: Os laços de famílias e escola: o que os adolescentes nos dizem?

Autor(a): Elen Alves dos Santos – UNB – Universidade de Brasilia

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Título: Adolescência e a prática da automutilação: pesquisa em escolas públicas do Distrito Federal

Autor(a): Emília Naura Santos Bouzada – UFF – Universidade Federal Fluminense


Título: Adolescências: Formas plurais de ser e estar no mundo

Autor(a): Isabela Alessandra Silva Tomaz – UEMG – Universidade do Estado de Minas gerais
Título: Rasuras corporais: Adolescência e automutilação em psicanálise

Autor(a): Ismênia Pinto Coelho - UNB


Título: Rap e poesia na adolescência privada de liberdade: Uma proposta de deslocamento da
posição de vida abjeta

Autor(a): Lorenna Pinheiro Rocha – UNIFOR – Universidade Federal de Fortaleza


Título: Da fotografia como tecnologia à experiência do gesto fotográfico: o fio de uma metodologia
de pesquisa-intervenção no contexto escolar

Autor(a): Marcella Bueno Brandão Siniscalchi - UFRJ


Título: Fazendo história: o processo de escrita na elaboração de luto do adolescente

Autor(a): Maria Creusa Mota – Secretaria de Educação


Título: A importância de espaços de escuta como forma de subjetivação do adolescente

Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: Algumas reflexões sobre a articulação da psicanálise com a adolescência, a educação e as
instituições de ensino.

Autor(a): Paula Fonseca Regufe – UFF – Universidade Federal Fluminense


Título: Educação para a vida: adolescência, suicídio e vulnerabilidades sociais

Autor(a): Pedro Teixeira Castilho - UFMG


Título: Os impasses das adolescências na contemporaneidade e os novos sintomas

Autor(a): Stéphanie Strzykalski e Silva – UFRGS – Univ. Fed. Do Rio Grande do Sul
Título: Viver pouco como um rei ou muito como um zé?: a violência como um modo de “fazer nome”

Fórum 10 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade – sala 6


Autor(a): Adelina Malvina Barbosa Nunes – UFOP
Título: Branquitude: as políticas afirmativas e seus limites frente à subjetividade

Autor(a): Adriana de Souza Medeiros Batista - UFMG


Título: Dicotomia na ação docente: dos propósitos pedagógicos às lutas de classe

Autor(a): Aline Martins Disconsi - IFRS – Inst. Fed. de Ed., Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
Título: Entre o sonho e o despertar, por uma poética da escuta no cotidiano da política de assistência
estudantil

Autor(a): Amanda Araujo Neves – UNB – Universidade Federal de Brasília


Título: Desalienação discursiva como elemento de inclusão da diversidade

Autor(a): Bárbara de Oliveira – UFOP – Universidade Federal Ouro Preto


Título: Trajetória escolar das juventudes atingidas no contexto do rompimento da barragem de
Fundão, em Mariana (MG).
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Autor(a): Carla Nunes Vieira Tavares – UFU - Universidade Federal de Uberlândia
Título: (Des)acomodando o velho: aprendizagem e identidade

Autor(a): Edissônias Cordeiro Moraes – SEEDF


Título: A relação da escola com as famílias empobrecidas

Autor(a): Joana Sampaio Primo – USP – Universidade de São Paulo


Título: Por uma metodologia de intervenção na escolarização de crianças imigrantes

Autor(a): Libéria Rodrigues Neves – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais


Título: “O saber na cena” Oficina De Jogos Teatrais e Conversações Cênicas

Autor(a): Luciana Andrea Ramos - FLACSO


Título: A clínica socioeducacional: movimentos na posição profissional a partir da psicanálise

Autor(a): Natália Fernandes Gonçalves – Centro Universitário Belo Horizonte


Título: Práticas cotidianas de uma clínica territorial com usuários do serviço de saúde mental

Autor(a): Raquel Cabral de Mesquita – Faculdade Pitágoras Divinópolis


Título: Os destinos atuais da educação sexual escolar no Brasil: uma reflexão a partir da psicanálise

Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Grupo de Pais: um trabalho de escuta orientado pela psicanálise

Autor(a): Welber de Barros Pinheiro – CEC UFSCAR


Título: Espaço de fala com professores em um cursinho popular: contribuições do método de
orientação clínica em Psicanálise

Fórum 11 - Fórum 10 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade – Salão Mariana


Autor(a): Alef Alves Lemos – UNIT – Universidade Tiradentes
Título: Do autismo ao TEA: as mudanças propostas pelo DSM-5, suas motivações e efeitos sobre os
sujeitos

Autor(a): Andréa Garcia da Rocha – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Título: A contribuição da psicanálise para o entendimento das psicoses na adolescência e para a
questão da inclusão escolar do sujeito psicótico

Autor(a): Ariadne Messalina Batista Meira – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: Escutar os autistas: o que suas autobiografias dizem sobre inclusão na educação?

Autor(a): Deibia Sousa Rodrigues Teixeira – SEEDF


Título: Lucas, PRESENTE! Por uma inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro do
Autismo que ultrapasse o prescrito nas Políticas Públicas

Autor(a): Eric Ferdinando Kanai Passone – UNICID – Universidade da Cidade de São Paulo
Título: A invisibilidade dos alunos de inclusão: paradoxos de uma política pública de educação

Autor(a): Fernanda Arantes - Feusp


Título: O lugar do discurso pedagógico na educação inclusiva: percurso, entrecruzamentos e
deslocamentos.

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Autor(a): Frizete de Oliveira - UNB
Título: Sujeito-criança na educação infantil: desafios à formação e atuação docente

Autor(a): Kamila Alkmim Nascimento – Polícia Militar do Estado de Minas Gerais


Título: Autismo, mediação escolar, formação docente e família participativa: um olhar voltado para
as políticas públicas quanto à inclusão na educação infantil.

Autor(a): Débora Scherer de Escobar – UFRGS


Título: Atendimento educacional especializado (AEE), agir pedagógico e psicanálise: notas
introdutórias

Autor(a): Mariana María de Luján Scrinzi – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: El estatuto del lazo social en el autismo. la problemática de la inclusión escolar.

Autor(a): Telma Maria Duarte Rodrigues – UMESP – Universidade Metodista de São Paulo
Título: Homeschooling e Autismo: a família e o fracasso escolar - uma revisão sistemática

Autor(a): Rafaela Amaral Cunha do Nascimento – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Título: Psicose, segregação e educação: impasses e possibilidades frente ao laço social

Autor(a): Raquel Muniz Dos Santos Palheta - PROFESS


Título: A contribuição da psicanálise no processo de aprendizagem da criança autista

Autor(a): Tatiana Studart Rodrigues Marques – UNB – Universidade de Brasília


Título: Inclusão e constituição subjetiva na primeira infância: um outro olhar para a diferença na
Educação Precoce

Fórum 12 - Fórum 10 - Psicanálise, inclusão, diferença e diversidade – Salão Mariana


Autor(a): Candice Marques de Lima – UNIFESP
Título: Inclusão escolar, formação de professores e contemporaneidade: questões para a psicanálise

Autor(a): Diego Andres Barrios Díaz - Associação Pró Educação Vivendo e Aprendendo
Título: Inclusão, infância e política: uma perspectiva psicanalítica para a coordenação pedagógica

Autor(a): Julia Anacleto – USP – Universidade de São Paulo


Título: A demanda educativa e as respostas singulares

Autor(a): Juliana Dias Ferreira – USP – Universidade de São Paulo


Título: Leitura estrutural na relação professor-aluno: uma composição possível?

Autor(a): Juliana Viveiros Barbosa Konig dos Santos – UNEB – Universidade do Estado da Bahia
Título: Entre lugar do acompanhamento terapêutico escolar: efeitos da linguagem e giros discursivos

Autor(a): Lígia Pinheiro Paganini - UNIFESP


Título: Formação de professores, psicanálise e inclusão de alunos com entraves psíquicos

Autor(a): Luciana Silva dos Santos – UFF – Universidade Federal Fluminense


Título: O ideal da excelência escolar e a subjetividade do aluno de classes populares em escolas de
alto rendimento

Autor(a): Marcos Venâncio Mendes – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais


Título: Educação Escolar e Segregação: o que dizem os adolescentes sobre isso?

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Autor(a): Maria da Conceição Aparecida Andrade – UFOP – Univ. Federal de Ouro Preto
Título: Educação Inclusiva e alfabetização: um olhar sobre a prática docente nos anos iniciais do
ensino fundamental (1º ao 3º ano)

Autor(a): Munyke Paulo Rodrigues Romano - CasAteliê


Título: A aquisição da leitura e escrita em uma criança ouvinte através de Libras

Autor(a): Nana Corrêa Navarro – USP – Universidade de São Paulo


Título: Reflexões sobre a inclusão escolar: contribuições da Psicanálise para o campo professor-aluno

Autor(a): Telma Antunes Dantas Ferreira – Seeduc RJ


Título: Bullying Escolar versus Psicanálise: uma possibilidade de estudo

Autor(a): Tiago de Moraes Tavares de Lima – Feusp


Título: A inclusão escolar entre o direito, a moralidade e ética

Autor(a): Yudi Esmeralda Pardo Murcia – FaE/UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Título: Caminos en construcción por una educación inclusiva

DESCRIÇÃO E ORGANIZAÇÃO DAS OFICINAS

OFICINA 1 – Auditório 8
"Construindo Redes Internacionais" - Caroline Le Roy e Patrick Geffard (França)
Colocar em trabalho, no seio de redes internacionais, questões educacionais aclaradas pela
psicanálise, no sentido de identificar as maneiras pelas quais essas questões são formuladas
nos vários contextos culturais, institucionais, semânticos e conceituais. Mesmo que sejam
construídas em dimensões transversais, essas questões não são necessariamente designadas
pelos mesmos significantes. Falamos nós sempre a mesma coisa? Como os encontros
internacionais e o registro de alteridade que eles portam ajudam a requalificar os fenômenos
estudados para produzir apreensões singulares e/ou comuns? Alguns aspectos deste debate
serão introduzidos a partir de nossas experiências atuais – Parceria Europeia e criação de
uma rede de 'Educação e Psicanálise' específica – que desejamos dialogar com as
proposições deste Colóquio. A oficina faz parte de uma lógica de fortalecimento dos vínculos
América Latina-Europa e, de maneira mais ampla, do questionamento da presença da
psicanálise no campo da educação e formação.

OFICINA 2 – Auditório 9
"A Psicanálise e a teoria social face à segregação: práticas em espaços escolares e não escolares" -
Pedro Teixeira Castilho
A proposta da oficina será apresentarmos, a partir do pensamento freudiano, os impasses e
avanços em torno do debate envolvendo Sujeito, Política e Cultura. Procuraremos seguir um
itinerário que discuta os elementos críticos e fundantes dos textos sociais e políticos de
Freud. Pretendemos pensar como a Psicanálise constitui o campo transdisciplinar da teoria
social contemporânea influenciada pela Psicanálise. A articulação da Psicanálise, da teoria
política e da social contemporâneas se faz necessária, pois pretendemos investigar os novos
campos de reflexão diante dos impasses da segregação social. Pretendemos compreender as
formas contemporâneas da segregação produzidas pelo afeto do ódio diante da violência às
minorias, extermínio de grupos sociais e racismos. E, ao mesmo tempo, formas de
resistências: movimentos sociais, coletivos, testemunhos e direitos humanos. Pretendemos,

21
também, apresentar práticas de resistências diante do discurso da segregação que levam em
consideração a arte, a política e a educação em espaços escolares e não escolares a partir do
sociodrama e das conversações.

OFICINA 3 – sala 1
"Subjetividades e racismo" - Adelina Malvina Barbosa Nunes e Thalita Rodrigues
A proposta da oficina é promover reflexões acerca da compreensão dos sinais do racismo na
constituição dos sujeitos que vivem em uma sociedade racializada. Partimos da premissa que
a branquitude é uma identidade de um grupo, historicamente situada, que compartilham
aspectos culturais, valores comuns, mas também é um lugar simbólico de poder, tornando
sua “invisibilidade” um mecanismo eficiente de manutenção de posições fixas dos sujeitos na
dialética “Eu e Outro”.

OFICINA 4 – sala 2 (ATENÇÃO: horário excepcional, de 15h30 às 17h30)


"Olhares (im) possíveis: Corpo, vídeo e cidade - produzindo vídeos manifestos" - Arthur Medrado e
Olga Penna
Oficina de experimentação audiovisual. Nessa oficina trabalharemos a partir da noção de
dispositivo e cartografia para produzir vídeos manifestos. Os participantes serão intimados a
participar de 3 dispositivos (ações completamente fechadas, mas que exigem um gesto
criador e um movimento de inventividade) que culminarão em vídeos-manifestos. Essa será
uma experiência corpo-video cidade.

OFICINA 5 - Local: Casa Ateliê


"CineCasa - Corpo em Trânsito: estar entre Psicanálise e Educação pelos meios da diferença" -
Mariana Bento, Munyke Romano, Claudia Itaborahy
Exibição do filme Girl (Lukas Dhont/Bélgica/2019/1h45), seguido de uma roda de conversa
para pensar o corpo e seus diversos trânsitos, a partir de pesquisas, experiências e estudos
da psicanálise sobre transição de gênero e ocupação dos espaços de aprendizagem e convívio
social. Sinopse do filme: Lara é uma jovem menina de quinze anos, seu maior sonho é tornar-
se uma bailarina profissional e, com a ajuda do pai, ela busca uma nova escola de dança para
desenvolver sua técnica. No entanto, a menina encontra dificuldades para adaptar-se aos
movimentos executados nas aulas por conta de sua estrutura óssea e muscular, já que Lara
nasceu no corpo de um menino.

OFICINA 6 – Museu Guignard (ATENÇÃO: horário excepcional, de 15h30 às 17h)


"Cartões de Guignard para Amalita" - Luanna Burgos
A oficina de cartões Amor e Amizade, com ênfase nos Cartões de Guignard para Amalita, será
adaptada para uma oficina acessível, por meio de ferramentas que podem ser utilizadas para
transformar essa oficina em inclusiva. Compreende-se que um dos desafios dos museus está
em tornar esses ambientes culturais acessíveis para todas as pessoas. Não basta a garantia
do direito de acesso aos bens culturais preservados nos museus se não existe acesso
sensorial e cognitivo. Junto com a oficina estará acontecendo a exposição “Cantando a
Pedra” do fotógrafo mineiro Eduardo Tropia. Nesta exposição é explorado o mote
Acessibilidade já!”, a partir da falta de planejamento urbano para a mobilidade na cidade de
Ouro Preto. Segundo Tropia, A cidade tem um problema grave de nivelamento e largura das
pedras dos passeios. Sendo assim, após conversas com Guilherme, Poeta de Ouro Preto que
possui deficiência física foi criada essa exposição.

OFICINA 7 – sala 3
Quem conta uma história expressa uma vitória: os alunos em situação de Inclusão escolar e a
construção do conhecimento por meio da literatura - Martha Goyatá e Rita de Cássia
A proposta dessa oficina é de socializar prática de intervenção pedagógica no contexto da
Sala de Recursos, e de refletir sobre os fenômenos educativos a partir do uso do desenho e
22
da história, tendo como base a literatura infantil. No primeiro momento compartilhar com os
participantes os desenhos e a coletânea de textos construídos na escola, e no segundo
momento, convida-los a repetir essa experiência, a partir de material didático disponível. Os
impasses de aprendizagem, e os deslocamentos subjetivos observados nas crianças e
adolescentes durante as atividades, permitiram uma mediação docente capaz de reconhecer
a voz do sujeito, que, de acordo com os princípios da Psicanálise, é capaz de fazer algo com
sua própria narrativa. Os registros dos alunos exteriorizaram elementos cognitivos e afetivos
em uma linguagem singular, culminando na proposta da escrita de um livro com tema
escolhido pelo grupo. Consideramos vitoriosa essa produção como um saber novo, saber
esse demonstrado pelo grupo na implicação em seu processo de escolarização. Para a
inclusão dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais propõe-se um novo olhar do
professor, que não se detenha apenas nos parâmetros legais e curriculares, mas que possa se
orientar na perspectiva da noção de subjetividade na escola atual.

OFICINA 8 – sala 4
"Oficina ‘Encontro com o desconhecido’" - Maria Eugênia Nabuco e Mônica Rahme
A oficina visa o gesto experimental na invenção de pequenos livros elaborados a partir do
encontro com o desconhecido nas ruas de Ouro Preto. Entrevistas, fotos, desenhos, objetos
colhidos nas ruas irão compor a narrativa. Uma conversação será realizada para pensarmos
as supostas afinidades entre a educação, a psicanálise e a arte na construção de oficinas e
práticas institucionais. Tanto a educação como a psicanálise, tema do Lepsi 2019, são
encontros com o desconhecido e a oficina introduz a arte como uma possível mediação desse
encontro. A arte nos leva ao novo, ao rompimento do estabelecido, ao estilhaçamento das
fronteiras, a recriação do habitual. Caminhos tão necessários a educação e a existência da
psicanálise.

OFICINA 9 – Salão Mariana


"Dança e Diferença" - Anamaria Fernandes
Trata-se de uma vivência de improvisação em dança, aberta a toda e qualquer pessoa, que
celebra a singularidade de cada um e que, ao mesmo tempo, busca construir e produzir um
espaço comum por meio de propostas lúdicas e acessíveis. Nesta abordagem, nós apoiamos
na experiência que oferece o com ao invés do para, uma experiência que nos convida a
percorrer um caminho sensível de escuta, criação e encontro.

OFICINA 10 – sala 5
"O fenômeno da repetição ligada à pulsão de morte em situações de evasão escolar. Estudos de
caso" - Jean-Marie Weber (Luxemburgo)
O fenômeno da repetição aparece sistematicamente entre os alunos evadidos que
participam de uma pesquisa sobre evasão escolar (Universidade de Luxemburgo). A maioria
dos jovens pesquisados, cujo desejo de saber e a relação com a escola estão fortemente em
pane, manifesta dificuldades em subjetivar seus percursos de formação, fechado em uma
monotonia quase mórbida e tomado de repetição de comportamentos, atos e fracassos.
Qual é o motor psíquico dessa repetição que leva esses alunos a recomeçar o mesmo
caminho ano após ano? Como eles estão indo em alguns casos? Graças a uma abordagem
psicanalítica, analisamos as entrevistas biográficas recolhidas. São três entrevistas do tipo
narrativa de uma dezena de jovens que viveram alguma evasão escolar. Descobrimos que,
após várias repetições de fracasso, experiências de vida insatisfatórias, alguns viveram um
evento traumático que marcou uma torção. Assim, simbolizavam esse real traumático por
sua inscrição na cadeia significante, subjetivando-o. Isso parece ter sido possível graças aos
seus fracassos repetitivos que os levaram a assumir uma posição ativa em vez de
simplesmente serem passivamente submetidos ao traumatismo. Por meio desta Oficina,
queremos mostrar que a pulsão de morte pode ser um conceito heurístico que permite
melhor compreender e fazer com a evasão escolar como repetição de um fracasso.
23
Acreditamos que o conceito de pulsão de morte permite significar uma reação destrutiva,
mas visando muitas vezes a cura de algo que está inscrito no corpo e que se descobre através
da repetição de experiências de vida, de sintomas que fazem o sujeito sofrer, como "a
vontade de outra coisa" que "põe em questão tudo o que existe", mas que pode acabar se
descobrindo também como "vontade de criação a partir do nada" (Lacan, 1986, p. 251). Esse
conceito nos permitiu pensar na evasão escolar como uma possível solução última do sujeito
para que ele encontre seu modo de vida. Por fim, o conceito de pulsão de morte traz outra
luz e uma lembrança essencial de que a busca do ser humano pelo prazer é enigmática, e por
vezes paradoxal. A questão que se coloca é como a escola pode acompanhar os jovens na
ruptura desse "círculo vicioso", e refazer o laço e o desenlace com a escola? Quais são as
experiências que detectamos através de nossas entrevistas com alunos e professores? E o
que podemos dizer do ponto de vista psicanalítico?

OFICINA 11 – sala 6
"Psicanalise, instituição, educação e inclusão" - Cristina Abranches
A oficina pretende abordar o tema do atendimento de pessoas com deficiência intelectual e
autismo em uma instituição, desenvolvido por uma equipe composta por diferentes
formações e pautada nas premissas da psicanálise. Contempla a articulação da psicanálise e
o atendimento educacional especializado (AEE) e os preceitos da inclusão escolar e social. A
experiência do CAIS, Centro de Atendimento e Inclusão Social, sua metodologia, produções
dos atendidos e casos clínicos servem como pano de fundo para a oficina.

OFICINA 12 – Teatro Ouro Preto


“O Tratamento Psicanalítico de Crianças autistas: Premissas” - Tânia Ferreira
Abordarei questões relativas aos tipos de autismos; Os impactos do diagnóstico de autismo
sobre a criança e a família; O que os autistas e seus pais nos ensinam sobre os autismos;
Algumas premissas sobre o tratamento psicanalítico de crianças autistas.

OFICINA 13 – Salão Mariana


“Teatro-Conversação como recurso de pesquisa e intervenção na educação” - Libéria Neves
Trata-se de uma proposta de discussão teórica e de vivência de jogos teatrais e conversações
cênicas. Tem-se por objetivo tratar o uso de dispositivos na realização da conversação de
orientação psicanalítica, enquanto metodologia de pesquisa-intervenção em espaços
educativos escolares e não escolares.

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RESUMO DOS TRABALHOS POR AUTOR

Autor(a): Adelina Malvina Barbosa Nunes – UFOP


Coautor(a): Margareth Diniz
Contato: abn.psi@gmail.com, dinizmargareth@gmail.com
Título: Branquitude: as políticas afirmativas e seus limites frente a subjetividade
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este resumo expandido refere-se a uma pesquisa ainda em andamento que investiga os
reflexos e desafios do racismo na carreira docente, tendo como campo de estudo a Universidade
Federal de Ouro Preto- MG. Nossa investigação parte do reconhecimento que existe uma bibliografia
nacional consistente produzida a partir dos aos 50 no país que aponta diferentes dimensões que esse
fenômeno afeta a vida da população negra. Sendo a novidade, no campo dos estudos das relações
raciais, os estudos críticos da branquitude, iniciados no século XXI, que em promove um importante
deslocamento ao interrogar o branco como sujeito de pesquisa. Nosso estudo busca dar contornos
ao racismo no Ensino Superior, a partir desta nova categoria de análise, a branquitude e como os
efeitos dos estudos acerca da branquitude incidem na subjetividade de todos. A branquitude nos
estudos críticos brasileiro é entendida como fluida, que precisa ser compreendido no tempo e
contexto social e histórico em que é observada, como aponta Priscila Silva (2018), compreende
aspectos de “construto ideológico”; “vantagens materiais e simbólicas aos brancos” ; “desigualdade
de distribuição de poder (econômico político e social” e “identidade neutra” (SILVA,2018, p.25-26)
acrescentando às características nacionais a “superioridade estética” (SCHUMAN,2012)
“silenciamento e neutralidade” (BENTO, 2009) “hierarquia” (PIZA,2009) “símbolo de dominação”
(MALOMALO, 2014) “Lugar de poder” (LABORNE, 2014) “colonialismo epistemológico”
(COROSSACZ,2014) “autorreflexão” (CARDOSO, 2010). Afirmar que existe racismo não é simples, pois
se afirmar junto com essa premissa que existe tratamento diferenciado, pois essa é a base desse
sistema. O que nos implica a dizer também que para alguns a cor/raça significa desvantagens para
outro grupo privilégios. E nesse campo de produção simbólica, as universidades durante os séculos
XIX e XXI, contribuíram referendando a existência da superioridade e inferioridade racial, como nos
alerta Gomes (2010). A universidade foi “o principal espaço de divulgação dessas ideias e práticas”,
os construtos e substratos racistas da cultura, que “afetaram não somente o campo da produção
intelectual e a sociedade de um modo geral, mas de maneira específica, a vida e as trajetórias de
crianças, adolescentes, jovens e adultos negros e negras, inclusive, na educação (GOMES, 2010,
p.423) As Políticas Públicas de Ações Afirmativas iniciadas nos anos 2000 inauguram uma ruptura na
hegemonia branca no ensino público federal brasileiro, inaugurando uma nova ordem social, como
defende Gomes (2010) a presença de alunos e alunas não brancos nesse espaço abre caminhos que
“desnaturalizam o cânone e ajudam a desvelar o quanto ele sempre foi racial, androcêntrico,
eurocêntrico, adultocêntrico e classista. (GOMES, 2010; p.434). A incorporação da hierarquia racial
nas políticas públicas de educação nos parece uma tecnologia da branquitude que investe na ciência
como meio de manutenção do lugar simbólico e social de brancos e não brancos, em prol da
preservação de si. Nossas reflexões acerca da branquitude no ensino superior, é orientada pelas
políticas de ações afirmativas na educação que foram desenvolvidas ao longo das duas últimas
décadas, sendo priorizadas as seguintes, Lei de nº10.639/03; Lei nº 12.711/12 e Lei de nº12.990/14,
e que foram escolhidas por estarem ligadas a carreira de docente, uma mais diretamente que outra,
mas que em articulação contribuirão para a materialização de aspectos subjetivos , entendo aqui a
subjetividade como instancia também marcada pela cor. Ao considerarmos a subjetividade como um
25
componente racializado, estamos buscando ampliar as possibilidades de entendimento da ordem do
racismo, desenvolvendo chaves de leitura que podem expandir a compreensão do fenômeno, frente
a sua potente plasticidade.

Autor(a): Adriana de Souza Medeiros Batista - UFMG


Coautor(a): Marcelo Rodrigues Batista
Contato: adriananuclear@yahoo.com.br, mrodriguesbatista@gmail.com
Título: Dicotomia na ação docente: dos propósitos pedagógicos às lutas de classe
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O presente trabalho discute a experiência de atuação da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) através de dois projetos de extensão universitários da Faculdade de Medicina em
parceria com escolas públicas da cidade de Santa Luzia, Minas Gerais. Os projetos tiveram início em
2015, um direcionado à divulgação científica e outro às boas práticas em saúde, no contexto do
EDUCANVISA, programa educativo da Vigilância Sanitária. Nos dois projetos são oferecidos materiais
paradidáticos de ensino, construídos especialmente para eles, com utilização de metodologias ativas
de ensino. A formalização de parceria entre os coordenadores dos projetos e a Secretaria Municipal
de Educação da cidade de Santa Luzia possibilitou acesso direto às escolas, antes captadas através de
contato com seus diretores. Esta mudança na chegada às escolas marcou o processo de adesão às
atividades pelos professores, frente à recomendação da administração direta, representada pela
Secretaria Municipal de Educação. Conflitos de ordem política e de resistência profissional, com
salvaguarda das categorias identitárias reconfiguraram às ações educativas propostas e limitaram o
acesso dos alunos a material paradidático fornecido, além da participação destes em eventos
coletivos. Encontro de capacitação promovido pelos coordenadores do projeto com os professores
criou ambiente de discussão e possibilitou o recebimento direto das impressões dos mesmos frente
às atividades previstas nos projetos. Observou-se como a escola foi utilizada como espaço de
resistência aos projetos e possibilitou contexto para discutir o enfrentamento às políticas públicas e a
necessidade de uma articulação entre os objetivos formais das mesmas e sua composição com vieses
ideológicos, com propósito de convencimento capaz de proporcionar adesão. O discurso dos
professores é analisado com base em Pierre Bourdieu, o funcionamento da escola e sua função de
conservação social. Uma análise pautada na alteração do reconhecimento institucional da UFMG por
um capital cultural legitimado pela luta de classe profissional versus empregador que alterou as
ações da universidade e o sentido objetivo das trocas previstas por uma versão intelectualista do
finalismo das ações propostas.

Autor(a): Adriana Doyle Portugal - CEFET/RJ - Centro Fed. de Ed. Tec. Celso Suckow da Fonseca
Contato: adrianaportugal.cefet@gmail.com
Título: Contribuições da Psicanálise para o Materialismo Histórico: o Sujeito, a ôntica humana e a
vida na polis.
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Este trabalho tem como objetivo central apresentar algumas contribuições da Psicanálise
para a compreensão do Sujeito no interior do Materialismo Histórico e, portanto, para a assim
chamada Ciência da História. Considerando o legado teórico-histórico do Materialismo Histórico na
construção de uma ôntica humana, cujo fundamento encontra-se na categoria de trabalho, o
presente texto vem afirmar a importância da Psicanálise para a ampliação da compreensão teórica
desta ôntica e, como consequência, da dinâmica desta relação na materialidade histórica. Dentro do
Materialismo Histórico, a categoria fundante do Homem é o trabalho: o que desde o início distingue
o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que primeiro tem a colmeia em sua mente antes de
construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado que já estava
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presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um resultado que já
existia idealmente (MARX, 2013, p. 255-256). O Sujeito, aqui, é opus: produz, pela potência humana
criativa e pela transformação da Natureza, o que projeta. A centralidade está nas funções racionais
desta atividade ontológica e universal. Quando a Psicanálise surge no interior do marxismo,
especialmente com as contribuições de “Freud e Lacan” (1964) e “Marx e Freud” (1976) de Louis
Althusser, afirmando-se como ciência particular, cujo objeto é o Inconsciente, iniciava-se um novo
programa científico de unidade destas duas ciências, unidade a partir da qual podemos pensar um
novo Sujeito. A Psicanálise apresenta ao Marxismo este novo Sujeito, o sujeito do Inconsciente. É,
portanto, a partir deste território teórico que este trabalho se situa: na busca de uma retomada da
construção de uma ôntica humana determinada pela relação entre a dinâmica psíquica e a
materialidade histórica. Significa, em primeiro lugar, afirmar a racionalidade humana como função
dentro da dinâmica contraditória entre Ego, Superego e Inconsciente, ou seja, a racionalidade se
organiza como função deste sujeito do Inconsciente, fundando uma nova ôntica, a ôntica do desejo.
O sujeito que projeta a partir das funções racionais é uma instância de um Outro, desejante-
desejado, no interior da dialética psíquica. Quais são as contribuições da formulação deste novo
Sujeito para o Materialismo Histórico? Em primeiro lugar, nos diz sobre a relação de
sobredeterminação que as escolhas humanas mantêm com a dinâmica psíquica, ou seja, as escolhas
do sujeito não são organizadas pela racionalidade humana, mas por sua relação na dinâmica Ego-
Superego-Inconsciente. Em segundo lugar, significa afirmar que as escolhas humanas são
sobredeterminadas, em última instância, pelo Inconsciente, com o qual a consciência mantém uma
relação dialética, ou seja, as relações imaginárias que os sujeitos mantêm entre si não se explicam
pela ideologia, mas, sobretudo, pela relação psíquica que esta dinâmica mantém com a ideologia.
Neste sentido, a organização da polis – espaço onde se reúnem os cidadãos, direta ou indiretamente,
para organizar os assuntos públicos – constitui-se, também, como uma expressão desta relação
dialética, âmbito conflitante e contraditório no qual esta ôntica se organiza materialmente,
escolhendo, decidindo e dialogando sobre seus assuntos comuns e de interesse público.
Considerando a dimensão psicanalítica da polis, a Psicanálise nos indica pistas valiosas a respeito da
natureza psíquica das escolhas políticas. Assim, a hipótese central que orienta este trabalho é a de
que a Psicanálise, ao trazer uma nova ôntica humana através do sujeito do Inconsciente, nos indica a
necessidade de ampliar a compreensão do Sujeito no interior do Materialismo Histórico, construindo
um território científico que contribui para o conhecimento da dinâmica social e política para além de
seu aspecto racional, no sentido de uma Psicanálise da polis, a partir da qual podemos conhecer mais
ampla e profundamente a dinâmica das relações sociais e políticas humanas.

Autor(a): Adriana Pereira Bomfim – UNEB


Contato: dribomfim.uab@gmail.com
Título: Trabalho Docente e Psicanálise: prazer, sofrimento, desejo?
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Este artigo é resultante de uma pesquisa de doutorado e tem como objetivo analisar as
especificidades do trabalho docente, as idealizações inerentes aos espaços educativos e suas
relações, ressaltando os possíveis efeitos entre o ideal e a escola real. Trata-se de uma investigação
de abordagem qualitativa, partindo das contribuições da Psicodinâmica do Trabalho e na interface
Psicanálise-Educação. O referencial teórico foi construído tomando como ponto de partida a
estruturação do trabalho docente. Recorre-se a Dejours (2004) para a compreensão das relações
entre trabalho e as questões da subjetividade. Também utiliza-se Nóvoa (1995) e Cortesão (2002)
que fazem um alerta para uma “crise de identidade docente” que tem sido vivenciada, cujas
principais motivações seriam as condições precárias de trabalho, as fragilidades na formação inicial, a

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ausência de espaços de escuta nas escolas, o processo de idealização dos alunos, a separação entre o
“eu profissional” e o “eu pessoal”, as imensas diferenças entre os alunos presentes nas escolas,
dentre outros fatores. Chama-se a atenção para o sentido mercantilista que a educação tem tomado
na contemporaneidade, ressaltando-se o mal-estar presente nas unidades escolares. Destaca-se que
essa sensação de desprazer tende a aumentar, já que há um imenso fosso entre os desejos,
necessidades e interesses dos alunos e aquilo que é exigido e oferecido pelas escolas. Dejours (2004)
ajuda a compreender que o sofrimento se revela como um ponto de partida na relação de trabalho
(entre o real e o prescrito) e é, justamente, nesta relação que está a dimensão subjetiva. Na
perspectiva da psicanálise, esse processo se dá a partir das pulsões e seus destinos, que também são
estudados neste artigo. Considerando as relações entre sofrimento, angústia, pulsões e seus
destinos, retoma-se a discussão acerca dos laços entre trabalho e subjetividade, situando-os na
contemporaneidade e na lógica capitalista, marcadas pelo questionamento acerca do lugar que é
dado por cada trabalhador/professor à vida no exercício do trabalho. Facas (2013) ajuda a
compreender a lógica que impera nos dias atuais a qual trabalha em prol do sacrifício da
subjetividade em detrimento da produtividade, da competitividade e da rentabilidade. Considera-se,
ainda, relevante entender a relação entre o mal-estar e o desejo do professor de trabalhar, o prazer
que o seu ofício lhe propicia, bem como as situações em que lhe falta motivação para o exercício da
sua função. Retoma-se que a noção de desejo está situada, de acordo com a psicanálise, entre a
necessidade (fisiológica) e a demanda (de amor). Aborda-se, ainda, a questão da escolha profissional
como ponto de diferenciação entre aquele que se entrega ao sofrimento, como algo negativo e
mórbido, levando por vezes à desistência profissional; e aquele que se propõe a conviver com as
fragilidades e limitações da realidade. Finalmente, destaca-se o pensamento de Mrech (2003) para
afirmar que a educação sempre esteve voltada para situações idealizadas, fantasiosas, nas quais a
presença humana foi severamente ignorada. Aponta-se, então, para uma possibilidade de se (re)
significar o ato educativo, no sentido de perceber os diversos processos que envolvem o educativo,
incluindo os relativos à sexualidade, apregoada por Freud (1905) e recorre-se a Lajonquière (1999)
que destaca para a necessidade de o educador renunciar a esse ideal de completude narcísica
imaginária e também à ilusão de que é possível gestar, por obra dos ideais e normas educativas, pelo
menos um adulto do futuro a quem nada falta (p.40); ou seja, ao ideal de completude que paira nos
ambientes escolares.

Autor(a): Adriana Silva Campos Cardoso – UFF – Universidade Federal Fluminense


Coautor(a): Marília Etienne Arreguy
Contato: cardosodri@hotmail.com, mariliaetienne@id.uff.br
Título: Escola e tendencia antissocial pelo prisma da psicanálise winnicottianna
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A educação tem sido um dos campos de muitos debates nos últimos tempos, haja vista o
quadro de violência, “delinquência” juvenil e tendência antissocial que se intensificam
continuamente no universo escolar. Embora Donald Woods Winnicott use o termo “delinquência”, e
este tenha ainda uso corrente mesmo em países ditos desenvolvidos, evitaremos usar esse termo,
dada a sua conotação fortemente pejorativa. Desde a publicação do Estatuto da Criança e do
Adolescente no Brasil, em 1990, por força da influência teórica de correntes progressistas,
convencionou-se optar pela expressão “juventude em conflito com a Lei”, em vez de taxar
peremptoriamente os jovens. Diferentemente de Freud e de Melanie Klein, sem olvidar seus
ensinamentos, mas contestando-os para aprimorá-los, Winnicott formulou suas ideias em torno de
um núcleo central a respeito da natureza humana, contextualizando-a em uma teoria do
amadurecimento pessoal normal. A experiência da deprivação como descrita pelo autor é
igualmente prejudicial para crianças em fase de desenvolvimento, pois podem vir a constituir uma
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defesa antissocial e apresentar problemas básicos que se manifestam de forma previsível. Dentre os
inúmeros conceitos formulados por Winnicott, está o da tendência antissocial que não foi elaborado
para designar uma modalidade de diagnóstico clínico, mas um continuum de comportamentos e
atitudes que em maior ou menor grau, todas as pessoas podem apresentar. Este comportamento se
refere a um sinal de esperança em recuperar a experiência do ambiente suficientemente bom que foi
perdida durante o período de dependência relativa. A criança ou adolescente tem dificuldade no
relacionamento interpessoal e de se submeter a regras de convivência. Porém essas transgressões, o
sadismo e a anti-socialibidade não podem ser atribuídos a uma “essência má ou perversa” da criança,
posto que são uma consequência das falhas sofridas nos primeiros vínculos com o mundo. A
tendência antissocial caracteriza-se por um elemento que compele o ambiente a tornar-se
importante. O paciente, devido a impulsos inconscientes, obriga alguém a encarregar-se de cuidar
dele. A tarefa é a de envolver-se com esse impulso inconsciente do paciente, e o trabalho é o
manejo, tolerância e compreensão (Winnicott, 2000, p.409). Neste sentido, a escola tem um
importante papel social de oferecer a crianças e adolescentes um ambiente suficientemente bom,
capaz de promover uma recuperação significativa uma vez presente a manifestação de atitudes
antissociais. É preciso considerar que uma criança ajustada, que não perdeu a provisão ambiental vai
para o ambiente escolar com o objetivo de aprender e deseja que a escola realmente ensine. O
psicanalista aponta para o fato de que os profissionais de educação envolvidos na administração de
crianças antissociais não são meros professores que acrescentam um conhecimento aqui e outro ali.
Ou seja, em se tratando de crianças e adolescentes com comportamentos antissociais o que se pode
oferecer é uma provisão ambiental no espaço escolar, no intuito de uma recuperação do seu
processo de integração pessoal. Portanto, há um elemento positivo na tendência antissocial que diz
respeito a esperança de encontrar no ambiente o objeto perdido. E isso move o verdadeiro self
destas crianças e jovens: uma tentativa de vida, embora seja evidenciada aos olhos dos adultos que a
cercam e não a compreendem. Em geral o que encontramos na escola contemporânea é a punição, a
retaliação e a exclusão daqueles que apresentam todo e qualquer comportamento antissocial. As
instituições de ensino não dispõem de recursos humanos suficientes para tolerar, dar holding e
manejar as expressões de agressividade de um sujeito, considerando este comportamento apenas
nocivo e ameaçador. Há um desconhecimento sobre o fato de que há uma esperança subjacente à
atuação antissocial invalidando os esforços infantis de manterem-se vivos e serem reconhecidos.

Autor(a): Alana Araujo Corrêa Simões – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo
Contato: alanaacsimoes@gmail.com
Título: Tempo e Subjetividade: Pistas para a construção de uma clínica no contemporâneo
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: O presente trabalho pretende explorar a relação entre tempo e subjetividade na
psicanálise freudiana em primeiro plano. Acreditando de antemão na produção de tempo enquanto
uma ficção que construímos principalmente, em trabalho analítico. Desse modo, entendemos o
tempo enquanto constitutivo e modulador das formações subjetivas. Constitutivo porque é condição
para a emergência do sujeito do inconsciente, e modulador porque é na subjetividade que ocorre o
relançamento de novas formas de temporalidade pelo outro (BIRMAN, 2000). Embora Freud nunca
tenha se comprometido a definir o conceito de tempo, tal conceito e sua relação essencial com a
formação do aparelho psíquico, a subjetividade e o funcionamento inconsciente, aparecem
esparsamente ao longo de sua obra. Em “Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos”
(FREUD, 1893), Freud afirma que a reminiscência é a fonte do sofrimento histérico, e alguns anos
depois, na carta 52 a Fliess (1896), propõe o inconsciente como uma máquina de memória, uma
memória que não se faz presente de uma vez, mas desdobra-se em vários tempos, registrada de
diversas formas, num processo de estratificação. Também a esse inconsciente, sistematizado em “A

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interpretação dos sonhos” (FREUD, 1900), cabe operar a espera de satisfação constituinte do sujeito.
É no artigo metapsicológico “O Inconsciente” (1915) que o estatuto da intemporalidade do
inconsciente emerge diretamente como problemática. Freud afirma que os processos desse sistema
não perecem, não são modificados pelo tempo e não podem ser ordenados cronologicamente.
Coloca-se uma diferenciação entre o tempo do inconsciente e o tempo da consciência. É no texto
“Nota sobre o bloco mágico” (1925) que encontramos outra perspectiva sobre o aparelho psíquico,
em que Freud atribui a descontinuidade do funcionamento perceptivo ao envio e à retirada de
impulsos do inconsciente. Freud entendendo o inconsciente como um sistema com o funcionamento
cerrado coloca a existência de um único tempo psíquico, o Nachträglich, utilizando-o para sugerir o
regime próprio de causalidade e temporalidade do inconsciente. Para Freud é o acontecimento
posterior que desencadeia a produção do sintoma, enquanto a cena traumática não produz efeito
sobre o sujeito. Logo, o acontecimento passado não está em jogo sozinho, mas a conexão entre duas
representações. Se na dimensão consciente o tempo é cronológico, a própria dimensão inconsciente
é produzida pelo tempo. Nessa temporalidade lógica singular, o sentido do passado é dado a partir
do presente. O passado é registrado, passa, mas subsiste enquanto presente, de modo que não
permita uma diferenciação cronológica, apenas os reconhecemos como desiguais. Apesar de possuir
uma lógica própria, as representações inconscientes não estão dadas a priori, o mote dessas
representações está relacionado ao esquema pulsional que inscreve “[...] um vazio em torno do qual
as diversas representações se articulam” (PIMENTA, 2014). É a partir da clínica que Freud percebe
que a enunciação das interpretações e das ligações representacionais não interrompiam uma
repetição geradora de sofrimento. Assim, Freud se depara que as temporalidades do inconsciente,
distante de uma determinação ontológica e de um suposto equilíbrio, mas múltiplas. Notamos que as
formulações freudianas sobre o tempo e a subjetividade nos conduzem a uma prática clínica longe
de uma linha investigativa cronológica, registrado como memória de maneira estática e fiel, para um
tempo descontínuo e não reconciliado. Assim, nos afastamos de uma perspectiva em que o
desenvolvimento subjetivo é dividido em fases, e a interrupção de seu tempo contínuo e
permanente configure atraso ou algum transtorno, para considerar um processo de subjetivação em
que o passado coabita no presente. Com isso, podemos pensar a clínica como uma prática que lida
com temporalidades, sendo que estranhar e promover novos regimes de tempo emerge como uma
pista importante para essa prática no contemporâneo.

Autor(a): Alef Alves Lemos – UNIT – Universidade Tiradentes


Coautor(a): Nanci Miyo Mitsumori, Kauan de Freitas Teixeira
Contato: alef.alves@souunit.com.br, kauanfreitas000@hotmail.com,
nanci.mitsumori@gmail.com
Título: Do autismo ao TEA: as mudanças propostas pelo DSM-5, suas motivações e efeitos sobre os
sujeitos
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A última versão do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o DSM-
5, provocou uma ampliação da categoria diagnóstica do autismo. Essa categoria aparece, agora,
englobada na categoria de TEA (Transtorno do Espectro Autista). O objetivo deste trabalho, de cunho
bibliográfico e qualitativo, foi analisar de que forma esse “transtorno” aparece nas duas últimas
versões do DSM, o DSM-IV-TR e o DSM-5, procurando analisar e refletir sobre os pressupostos
envolvidos nas alterações propostas, bem como as motivações que as impulsionaram. Essas reflexões
foram realizadas a partir do referencial teórico da Psicanálise de Sigmund Freud e de Jacques Lacan,
e de alguns de seus comentadores. Apesar da Psicanálise ter um entendimento sobre o autismo
bastante diverso da perspectiva médica, norteadora dos DSMs, entendemos que essa análise é
importante porque existe uma hegemonia do discurso médico no mundo contemporâneo, fazendo

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com que aquilo que é proposto pelo DSM atravesse a clínica psicanalítica de uma forma ou outra. A
partir dessa pesquisa, foi possível constatar que, entre o DSM-IV-TR e o DSM-5, há uma mudança no
modelo de avaliação clínica: do modelo axial passa-se para o modelo dimensional, o que torna
possível incluir muito mais pessoas, com características clínicas bastante distintas, dentro de uma
mesma categoria diagnóstica. As mudanças no manual mostram não ser apenas do último número
romano (fato que consideramos simbólico), mas de toda uma lógica discursiva que, até então, tinha
como finalidade apenas uma categorização dos transtornos mentais. Essa nova proposta facilitaria,
inclusive, o estabelecimento do diagnóstico por não médicos, como os profissionais da escola, por
exemplo. De acordo com um dos formuladores do DSM-IV-TR, há uma clara associação entre a APA
(American Psychiatric Association), responsável pela elaboração dos DSMs, e, ao que parece, a última
versão do manual tem o objetivo de servir a uma grande indústria neoliberal que se beneficiaria com
uma epidemia diagnóstica que provocaria, por fim, uma epidemia psicofarmacológica. O TEA surge
como mais um reflexo de uma sociedade que adoece para vender a cura e, assim, obter lucro; uma
sociedade que transforma o sujeito em objeto de uma ciência que propõe esgotar, a partir de uma
etiologia neuroquímica, todo o saber sobre autistas e, até mesmo, “neurotípicos”. Os maiores
afetados passam a ser aqueles marcados, desde a infância, com essa “medicalização da existência.

Autor(a): Alessandro Campos Piantino – UNB – Universidade federal de Brasília


Coautor(a): Inês Maria Almeida
Contato: alessandro.piantino@icesp.edu.br, almeida@unb.br
Título: Professor "morto": memória educativa como dispositivo de escuta.
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A ameaça à identidade do professor é o que se discute, por meio de uma justificativa
necessária de formação para o encontro da heterogeneidade do corpo discente o qual surge na
contemporaneidade. Logo, o que se objetiva nessa revisão de literatura não é uma formação do seu
saber, mas esse saber que é ameaçado em detrimento da necessidade de realinhar os laços sociais
do aluno com o professor. Da mesma forma que Sartre coloca o homem entre o seu existir e sua
essência; a psicanálise coloca o sujeito entre o seu possível existir e sua impossível “verdade”
(VANTOLINE, 2018), justificando dizer que o sujeito-professor existe em consonância com a busca
constante de sua “verdade”, e porque impossível de ser alcançada, espera que o aluno seja essa
ponte entre o seu existir e sua “verdade”, ou seja, o caminho para o encontro consigo mesmo. É
possível que o professor idealizado seja objeto de mitificação do aluno. Considerando o
posicionamento do professor como a “lei”, “matá-lo”, como em o “Pai da Horda” passa a ser o desejo
de morte a ser realizado pelo aluno. Nesse sentido, ao mesmo tempo, o professor busca o resgate do
grupo de alunos, uma ilusória aceitação, a fim de ser investido de um poder que deseja, mas que ao
mesmo tempo fomentou a quebra dele por alguém que o constitui. Assim, manter o desejo de
incesto passa a ser um efeito moderador do processo, “instância interditora”, em que Freud (1913)
revela a necessidade dessa instância “visando impedir a satisfação da pulsão no imediato e permitir a
ligação durável e inevitável do desejo e da lei, tanto no indivíduo quanto no corpo social”
(HENRIQUÈS, 1983, p. 35). Já Lajonquière (2010) lembra acerca do que postulou Freud sobre a
transmissão hereditária dos traços mnemônicos recalcados, quando isolou uma experiência ao
assassinato coletivo por parte dos filhos do “pai da horda primitiva”, possibilitando, ao dispositivo
memória educativa, a identificação dessa instância. Surge aí um conflito da modernidade a ser
vivenciado por quem necessita do outro para manter sua condição: o professor. Uma condição
narcísica em que se espera do sujeito uma compreensão das ambivalências oriundas desse processo
e, não necessariamente, os novos professores, em sua formação – seja pelo contexto mercadológico
sobre o qual a categoria está imersa, seja pela própria composição do sujeito – estão preparados
para o reconhecimento dessa indisposição de mal-estar que surge diante de um conflito identitário, a

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partir da perda de um objeto. Sendo possível que este sujeito não administre bem este objeto
perdido, o tenha como prejuízo, e se ressinta diante de um quadro de inércia sobre o qual está
imerso, retirando a condição narcísica do sujeito-professor e o elevando para uma condição de mal-
estar, sob o hipotético contexto de ressentimento.

Autor(a): Aline Martins Disconsi - IFRS – Inst. Fed. de Ed., Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
Coautor(a): Roselene Ricachenevsky Gurski
Contato: amdisconsi@yahoo.com.br, roselenegurski@terra.com.br
Título: Entre o sonho e o despertar, por uma poética da escuta no cotidiano da política de assistência
estudantil
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este estudo trata da experiência de escuta de uma psicóloga em uma instituição de
educação profissional e tecnológica no município de Porto Alegre. Amparada por uma escrita
testemunhal, problematiza a dimensão paradoxal que cerceia as propostas educacionais inclusivas –
a inclusão comporta em si a exclusão. Plaisance (2010) alerta sobre os riscos do emprego irrestrito,
sem referências à história das ideias, do vocábulo inclusão. Isso porque a inclusão pode comportar
variadas acepções sobre o dispositivo de incluir, dentre elas a de manter enclausurados os que se
encontram no interior das estruturas materiais e simbólicas dos ambientes educacionais. Assim, para
o sociólogo francês, faz-se necessária uma permanente análise crítica sobre o conceito de inclusão
em sua intrínseca relação com o seu par conceitual de oposição, nomeado como exclusão. Em outros
termos, para o autor é fundamental esclarecer os sentidos das palavras para então esclarecer os
sentidos das suas ações. Em face desta premissa, revisita-se a construção da política de assistência
estudantil, desviando das certezas que fundamentam os dados quantitativos e/ou técnico-
burocráticos da história e, em outra direção, percorre os rastros, inscritos nas cenas-memória, dos
escritos do inconsciente, através da análise de um sonho. Isto porque, no cotidiano da assistência
estudantil, preponderam imagens de editais, regulamentos, processos, planilhas, números e
documentos. Imagens secas que impedem o desabrochar de desassossegos criativos, de criações
utópicas, instaurando um território do mesmo, de reiteração de circuitos repetitivos, da manutenção
da ordem e da forma estabelecida (Sousa, 2008). Ali, parece não haver espaço para uma poética da
escuta. É como se as políticas sociais, como é o caso da assistência estudantil, fossem instauradas no
território da educação para viabilizar condições mínimas anteriormente recusadas aos sujeitos
excluídos. Entretanto, a ausência de aparato do Estado não cessa de se inscrever; não apenas,
importante assinalarmos, do lado de fora, mas dentro da instituição de ensino. Não por acaso nos
deparamos com uma política educacional inclusiva que parece reproduzir justamente a exclusão que
tenta combater. Deste modo, no desenrolar da discussão, o estudo propõe a escuta das significações
que acompanham a narrativa do sonho produzido pela psicóloga-pesquisadora como paradigma
metodológico da pesquisa. Para tanto, sustenta o entendimento de que o mundo onírico extrapola a
vivência individual e traz elementos da experiência coletiva. Um pouco mais de um século atrás,
Freud ([1912] 2010) já havia alertado para o fato de que, no campo da psicanálise, é justamente a
posição frente ao enigma que conduz o processo de investigação. Sucedido por imagens, Freud
identifica o sonho como rébus – uma escrita em imagens. Imagens essas que não podem ser lidas por
seu valor exclusivo de imagem, mas por meio da longa cadeia de associações que elas suscitam.
Somente o sonhador pode vir a revelá-las. De maneira análoga, Benjamim recorreu à potência do
sonho como testemunho histórico-político. Ou seja, ainda que as imagens oníricas sejam produções
singulares, elas não estão apartadas da realidade em que o sonhador está inserido. Vivido no exílio
da própria consciência, ele é uma experiência intervalar entre o público e o privado, entre o subjetivo
e o coletivo (Dunker, 2017). Nesse sentido, a partir dos desdobramentos oníricos, como dispositivo
de pesquisa-intervenção, o estudo aponta para a necessidade de uma escuta testemunhal no

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cotidiano educacional a fim de que um processo inclusivo desejante esteja presente. Sem ela, sem o
engajamento subjetivo de todos os envolvidos, a educação inclusiva não deixa de ser tão somente
"uma resposta burocrática das instituições às exigências igualmente burocráticas do sistema
gestionário" (Voltolini, 2019, p. 12).

Autor(a): Amanda Araujo Neves – UNB – Universidade Federal de Brasília


Coautor(a): Viviane Legnani
Contato: mandyneves@gmail.com, vivilegnani@gmail.com
Título: Desalienação discursiva como elemento de inclusão da diversidade
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este estudo pretende abordar a relação da escola com os jovens com orientações sexuais e
identidades de gênero fora do padrão heterossexual e cisgênero. O sistema escolar não se mostra
preparado para lidar com tais diferenças, problema que advém, entre outras variáveis, de questões
subjetivas dos professores e de equívocos históricos. A Pesquisa Nacional Sobre o Ambiente
Educacional de 2016 indica que a maior parte dos estudantes fora dos padrões supracitados
afirmaram ter sofrido agressão física e/ou verbal nas escolas. A omissão dos profissionais da
educação e dos colegas também foi revelada, indicando pouca frequência de intervenções para
coibir manifestações violentas contra esses adolescentes. O que leva a escola a atuar de maneira
uniformizadora e violenta? Possivelmente a naturalização de discursos padronizadores dos modos de
existências. Desmistificar essas normatizações não é só significativo do ponto de vista da transmissão
do conhecimento, mas também pode provocar giros subjetivos, de forma tal que os adolescentes
façam seus laços sociais com maior disponibilidade para lidar com as diferenças. A suposta
estabilidade do discurso heterossexual e cisgênero encontra-se cada vez mais frágil, tendo seus mitos
contestados por meio da perspectiva decolonial, que denuncia a colonialidade do poder, ou seja,
aquela que atuou e atua por meio de classificações que inferiorizam determinadas populações e
grupos. Dessa forma, o subalternizado não apenas tem seu discurso desacreditado, como tem sua
voz negada nos registros históricos. Assegurar a circulação das palavras, para cada um como sujeito,
é uma premissa cara à psicanálise. Kehl (2017) afirma que a “psicanálise seria, na medida do possível,
uma prática descolonizadora, em sua tarefa de resgatar o sujeito de sua alienação aos discursos
alienantes do Outro” (p. 18). Para tal é necessário identificar os significantes que determinam cada
um ou cada grupo, desalienando-os através da separação do Outro, isto é, deixando vir à tona sua
inconsistência, dado seu atravessamento pelo real. Pretendemos identificar e apontar neste
trabalho congruências possíveis entre a psicanálise e a decolonialidade, no que tange aos
questionamentos do discurso hetero/cisnormativo, uma vez que criticam o apagamento das
subjetividades desviantes do que se coloca como estandardizado para os desígnios da sexualidade
humana. Subjetivação política nas escolas implica em uma oposição aos silenciamentos e as
invisibilidades. Entende-se que esse processo produz embates constantes em torno do ideário da
igualdade, visando o levantamento dos conflitos. Assim, está ao avesso do que Kilomba (2019)
destaca sobre o comportamento racista do sujeito branco, que busca manter distantes questões
como a violência da colonização e a escravização de povos negros e o próprio racismo, buscando
evitar sentimento de culpa, ansiedade ou vergonha. O mesmo pode ser apontado acerca do
heterossexual e/ou cisgênero diante de pessoas não-heterossexuais e não-cisgêneras. Esse
distanciamento calculado pode provocar um plus no mal-estar social no interior das escolas, as quais,
não se omitindo, podem levantar essas questões, debate-las e media-las. Almejamos trazer
elementos nessa discussão, visando uma outra postura da escola em sua tarefa de transmitir marcas
simbólicos por meio do objeto de conhecimento, de forma a ser mais inclusiva com todos que hoje
ocupam o lugar de desviantes. Entendemos ser possível uma visão crítica que instigue práticas
educativas que favoreçam processos de desalienação discursiva e de subjetivação política, tanto por

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parte dos docentes quanto dos estudantes. Compreendemos, por fim, que a educação não pode
prescindir de seu papel de manutenção do pacto civilizatório e que tamponar a segregação diante
das diferenças é uma forma de esgarçar, mais ainda, o tecido social.

Autor(a): Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda – UFES – Univ. Fed. Espirito Santo
Contato: anamiranda.psi@gmail.com
Título: A supervisão clínica como aposta de transmissão da psicanálise na Universidade
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A questão do ensino da psicanálise nas Universidades surge com Freud em 1919 e segue
viva, após exatos cem anos. A profusão de produções acadêmicas em psicanálise, no ensino,
pesquisa e extensão, na graduação e pós-graduação, bem como estudos psicanalíticos externos à
academia sobre o tema indica sua importância tanto para a psicanálise quanto para a Universidade.
Pensar a psicanálise nas Universidades é parte do trabalho de pensar sua incidência no mundo. Na
“Proposição de 09 de outubro de 1967”, Lacan enfatiza que a psicanálise “em intensão”, isto é, a
clínica da psicanálise, fornece as bases e as diretrizes éticas para seus desdobramentos na cultura.
Ele se refere aqui às Escolas de psicanálise. A relação da clínica com as Escolas é necessária e não
contingente, nas dimensões lógica e ética. A Escola produz uma borda simbólica em torno do real
inapreensível da clínica permitindo a transmissão. Depreende-se do enlaçamento moebiano entre
intensão e extensão que onde quer que a psicanálise se faça presente ela levará potencialmente o
real “na sola dos sapatos”. Assim, cremos poder estender a relação “intensão” e “extensão” a outras
formas da presença da psicanálise além da clínica e das Escolas, como é o caso das Universidades.
Com isso, queremos dizer que quando alguém atravessado por uma formação analítica fala de
psicanálise, há a possibilidade, e não a garantia, de uma transmissão. Isso pode se aplicar até mesmo
às disciplinas teóricas, mas nos referiremos, sobretudo, àquelas atividades acadêmicas nas quais a
clínica se faz presente. A clínica na Universidade é o elemento que consideramos fundamental para a
transmissão, pois o real aí surge. Entretanto, a mera confrontação com a experiência clínica não é,
em si mesma, formadora. A clínica pode levar o aluno, ao se deparar com os pontos cegos de sua
própria constituição subjetiva, a empreender a busca por uma análise e por uma formação, mas
também pode, por exemplo, afastá-lo dos espaços em que a clínica se faça presente, quando lhe é
dada essa opção. Freud (1919 [1918]) indica que a formação do analista pode prescindir totalmente
da Universidade, mas que a inclusão da psicanálise na Universidade permite que o estudante
aprenda algo sobre a psicanálise e algo a partir da psicanálise. Certamente, a Universidade não forma
analistas. Os parâmetros das formações universitária e analítica são totalmente distintos e mesmo
excludentes. Quando o sujeito parte de sua própria divisão, abandona a referência a um saber pré-
estabelecido, ou seja, abandona o conhecimento e pode vir a produzir um saber. É como funciona
uma análise. Assim, a psicanálise é avessa à universalização dos saberes, o que faz Freud afirmar que
a formação do psicanalista se dá, a princípio, na sua própria análise. É nela que ele terá acesso à
lógica do saber inconsciente, à singularidade do sujeito. Portanto, a psicanálise só pode se transmitir
na presença do analista. A clínica supervisionada, um dos dispositivos da formação, não é a análise,
nem na Universidade, nem fora dela, mas pode também ser um campo privilegiado de acesso ao
inconsciente, tanto para o supervisor quanto para o supervisionado. Uma das questões que se
apresentam é que, na relação acadêmica, não se está em posição de recolher os efeitos do real da
experiência clínica sobre o aluno como ocorreria em uma análise. Por outro lado, há uma indubitável
aproximação entre a supervisão na Universidade e na formação do analista. Em ambos os casos,
pode-se estar diante da emergência de um sujeito que, ao tomar a palavra para dizer de sua prática,
experimenta sua divisão. A Universidade pode, portanto, ser um caminho profícuo para que se
enseje a busca de formação, através do contato com a clínica. É o que temos testemunhado. Através
da proposta lacaniana dos quatro discursos e do estudo do dispositivo da supervisão, além do

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exercício dessa prática ao longo de vários anos, pretende-se refletir sobre seus entraves e
possibilidades.

Autor(a): Ana Beatriz Coutinho – LEPSI USP – Universidade de São Paulo


Contato: anabcoutinho@yahoo.com.br
Título: Entrevistas psicanalíticas em escolas e instituições: o que é preciso escutar?
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: A inquietação que move este trabalho originou-se da atuação da psicanalista no bojo da
pesquisa intitulada "Validação e comparação de instrumentos de acompanhamento do
desenvolvimento psíquico à luz da psicanálise", coordenada pela Prof. Maria Cristina Machado
Kupfer, professora titular do IPUSP e fundadora do Lugar de Vida- Centro de Educação Terapêutica. A
referida pesquisa teve como objetivo a construção e discussão de um modelo de “acompanhamento
psicanalítico de crianças em escolas, grupos e instituições, construído com base na teoria
psicanalítica, que busca realizar uma leitura do processo de constituição subjetiva da criança, dando
ênfase à relação da criança com seus pares”, o que se dá fundamentalmente na escola (KUPFER et
al., 2018).
Minha atuação como pesquisadora do LEPSI consistiu na realização de algumas poucas entrevistas
clínicas realizadas com pais e crianças em uma creche paulistana com a finalidade de avaliar
qualitativamente o processo de constituição da criança a partir de alguns eixos balizadores e, ao
final, indicar a presença de um eventual sintoma clínico indicador de funcionamento neurótico,
psicótico ou autístico. A partir de dois casos atendidos, pretendo fazer uma discussão sobre a
diferença entre observação de fenômenos no âmbito escolar e a delimitação de um sintoma a partir
da escuta sob transferência (VORCARO, 2008), destacando a especificidade da clínica com crianças
(Flesler, 2011, 2012). Ademais, analisarei as condições de possibilidade de sustentação da psicanálise
no âmbito de uma pesquisa quantitativa de validação de instrumentos, fazendo deslizar a questão
de: “o que é possível escutar” em uma única entrevista para “o que é necessário escutar” a cada
encontro. A movência deste trabalho entre os significantes “possível” e “necessário” pretende
sublinhar a responsabilidade da psicanálise frente aos efeitos discursivos de sua presença no campo
da educação. Referências Bibliográficas: Flesler, A. (2011). As intervenções do analista na análise de
uma criança. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, n. 40, jan./jun. Kupfer, M. C. M. &
Voltolini, R. (2005). Uso de indicadores em pesquisas de orientação psicanalítica: um debate
conceitual. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. Vol.21, n.3, pp.359-364. ISSN 0102-3772.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722005000300013. Kupfer, M. C., Bernardino, L. M., & Pesaro,
M. E. (2018). Validação do instrumento "Acompanhamento Psicanalítico de Crianças em Escolas,
Grupos e Instituições (APEGI): primeiros resultados. Estilos Da Clínica, 23(3), 558-573.
https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v23i3p558-573. Mannoni, M. (2004). A primeira entrevista
em psicanálise. Rio de Janeiro: Elsevier. Vorcaro, A. (2008). A transferência em avaliações de
crianças: um debate. In: LERNER, R.; KUPFER, M. C. M. (orgs.) Psicanálise com crianças: clínica e
pesquisa. São Paulo: Escuta-FAPESP, 240p.

Autor(a): Ana Carolina Bicca Bragança – UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
Coautor(a): Gabriela Oliveira Guerra, Vitória Rosa Cougo
Contato: ana-carolina.b@hotmail.com, gabrielaoliveiraguerra@gmail.com,
vitoriapsico13@yahoo.com.br
Título: Cidade e Subjetividade: a criação de um dispositivo de escuta na rua
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber

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Resumo: Intencionando pensar nas práticas que atravessam a psicanálise dentro e fora da clínica
que concebemos como tradicional, pretendemos fazer a interface da psicanálise e suas
possibilidades na cidade, levando em consideração o diverso conjunto de trabalhos, áreas e saberes
que suscitam pensar psicanálise e o espaço público urbano, tal como se propõe o eixo cinco deste
evento. Com isto, iniciamos dando notícias de uma construção de um dispositivo clínico-político que
vem tomando forma na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Através da contínua aproximação
da psicanálise com a cultura e a pólis, é notório o crescimento da apropriação, pela psicanálise, dos
espaços que fazem circular a palavra, sejam eles onde e como forem, reconhece-se a importância de
um fazer que opera encontros potentes e criativos, que permitam o enlace e a convergência para
pensar o sujeito e a cidade. O grupo formou-se através do acompanhamento das atividades das
clínicas abertas em São Paulo e Porto Alegre, onde dialogando com as mesmas, viu-se a possibilidade
de formar grupos de estudos e encontros a céu aberto para discutir as vicissitudes de uma clínica de
psicanálise na rua em Santa Maria. Hoje, somos um grupo de cinco Psicólogos, concluindo uma
especialização em Clínica Psicanalítica e compartilhando momentos de troca, grupos de estudos e
supervisão clínica na praça. Trabalhamos como um grupo que é produtor de momentos, momentos
estes que foram nos dando forma e conteúdo para pensar a cidade, nossos instrumentos de
intervenção e convite para que as pessoas que ali passam possam falar, até chegar neste projeto de
estar com o corpo no centro da cidade, criando este dispositivo de escuta. Algo que nos inquieta é o
constante trabalho de pensar o psíquico da e na cidade, a dimensão psíquica do urbano, apostando
na proposta central que é aspirar questões da subjetividade no cenário urbano. Pois a clínica que
conhecemos, agora, opera a céu aberto e sem o pagamento, atributo tão caro para a psicanálise, que
nesta situação encontra-se justamente na quebra da privacidade - por vezes cômoda - que há entre
paredes. Dentre as reflexões e os aportes teóricos e práticos que tem nos guiado, encontramos em
trabalhos de Jorge Broide, Emília Estivalet Broide, Tales Ab’Saber e no livro “Psicanálise nas tramas
da cidade”, organizado por Bernardo Tanis e Magda Khouri, enlaces possíveis para nossa prática, que
teve como referências primeiras a Clínica Aberta Casa do Povo, Clínica Aberta Praça Roosevelt e
Psicanálise na Praça, que acontece na praça da Alfândega em Porto Alegre. É importante que
salientemos que nada há de inovador nesta prática, pois Freud (1918) já colocara que se a Psicanálise
é capaz de fornecer ajuda para quem sofre em sua luta para o atendimento das demandas
civilizatórias, este auxílio também deveria ser acessível a quem não pudesse remunerar um analista
por seu trabalho. Freud defendia a criação de centros psicanalíticos de atendimento público e
gratuito, o que nos leva a outro impasse relacionado para as Clínicas Abertas, que é o seu lugar, que
não pretende de modo algum ocupar espaço de política pública ou retirar quaisquer dever estatal
referente à Saúde Mental, apoiando os avanços que existiram, politicamente, num passado recente
de fortalecimento de políticas públicas. Reiterando que a Clínica Aberta, e Projetos como o
“Psicanálise na Rua”, são um dispositivo que pretende aproximar e apropriar a Psicanálise aos
espaços públicos e as vias de circulação das pessoas, podendo estarmos atentos aos movimentos
cotidianos e experenciando suas tramas intrínsecas, mas que regem a cultura de um lugar, dizendo
sobre ele e sobre os sujeitos. A Clínica de Rua é um encontro criativo com o outro, uma possibilidade
em uma selva de pedra, onde a psicanálise respira e adverte que está viva nos emaranhados da
cidade.

Autor(a): Ana Carolina Ferreyra – FLACSO


Contato: anacaroferreyra@gmail.com
Título: Efectos del psicoanálisis en un dispositivo de formación docente en “Adolescencia y educación
secundaria” - UNGS
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação

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Resumo: En el año 2017 me incorporé desde la materia Adolescencia y educación secundaria
(materia perteneciente al trayecto pedagógico de los profesorados universitarios de la UNGS), a una
investigación en curso, titulada “Variaciones del formato escolar y modalidades del vínculo
educativo: Invenciones destinadas a la inclusión educativa de jóvenes y adolescentes” a partir de lo
que es mi interés personal, a saber: los efectos que un determinado dispositivo (fundado en el
psicoanálisis en diálogo con otras disciplinas) opera sobre la posición subjetiva profesional de lxs
futurxs docentes. Al estar trabajando en una materia que presenta un dispositivo particular de
trabajo, me interesaba muy especialmente poder dar cuenta de los efectos que el mismo generaba
en lxs estudiantes/futurxs docentes, habida cuenta de que entiendo que entre estos efectos está la
posibilidad de muñirse de una concepción particular de sujeto (la que aporta el psicoanálisis) que
necesariamente tendrá consecuencias en los modos en que se posicionarán en la práctica, por lo que
a través de ella se puede aportar a la inclusión educativa, además de dar una posible respuesta a la
preocupación de los docentes por “no haber sido preparados para eso. En esta ocasión, describiré el
dispositivo de intervención que consta de un programa de formación y un dispositivo de “escritura
intervenida”, fundados ambos en las advertencias freudianas respecto de la necesidad de que los
educadores reciban formación psicoanalítica y se sometan ellos mismos a un proceso de análisis,
tomando el dispositivo de escritura intervenida, leído a partir de la conceptualización que en el arte
se realiza sobre el happening como acontecimiento. Presentaré el avance de esta investigación aún
en curso, que lee los efectos que dicho programa produce en los sujetos de la educación, candidatos
a profesores de enseñanza secundaria y superior a partir de algunas viñetas extraídas del salón de
clase y/o de los exámenes finales,pasibles de leerse apelando al concepto de rectificación subjetiva
entre otros, que permiten verificar ciertas hipótesis.

Autor(a): André Luís de Souza Lima – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Contato: andre.lima@ufrgs.br
Título: Educação especial, método psicanalítico e o paradigma indiciário
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Nas escolas comuns, no atendimento educacional especializado e em cursos de formação
para professores(as) emergem relatos que referem um sentimento de angústia, desamparo e, por
vezes, paralisação ante o(a) aluno(a) considerado(a) com deficiência, ou “de inclusão”. Com
frequência, tal sentimento enuncia-se por meio da alegação predominante de despreparo, a qual se
traduz na busca incessante por formação ou, no pior dos casos, na declaração de que não se está
apto, por sua formação inicial, a trabalhar com esses sujeitos. Partimos do reconhecimento desse
mal-estar como experiência que evidencia impasses éticos, políticos e, também, epistemológicos.
Compreendemos que muito da dor, da angústia, da queixa, do sofrimento de estar em sala de aula
com os alunos da inclusão coloca em evidência demandas por uma ação pedagógica naturalista e
reducionista. Segundo esse entendimento, os esforços almejam a adaptação e a normalização,
havendo certeza sobre quem é o público-alvo da educação especial, quais suas possibilidades e
limites educacionais. O impacto dessa forma de conhecer pode ser observado por intermédio da
perspectiva objetivista, da compreensão da deficiência a partir da determinação biologicista ou
psicologicista, bem como das práticas behavioristas, alienantes das posições subjetivas de ser aluno
ou professor. Em razão disso, percebemos a necessidade de aprofundar a pergunta filosófica pela
justificação do conhecimento em educação especial e, concomitante, de reconhecer a resistência
como forma do sujeito-professor/a manter-se ainda presente na cena escolar. A resistência pode
indicar a efetividade de um desejo de escapar da fragmentação, do reducionismo e de ser
reconhecido desde um saber-fazer-com o aluno. Escapar ao reducionismo do pensamento
naturalista, do qual participa o ideal médico, muito preeminente na área, pode passar por outra
forma de construir conhecimento em educação e pelo fortalecimento da figura do professor,

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reafirmando seu protagonismo em assuntos pedagógicos e tomando o espaço educacional como
manifesto na complexidade da vida e da linguagem ordinárias, incluindo suas manifestações ilógicas.
A pesquisa de doutorado em curso faz, portanto, uma aposta na psicanálise — tomada enquanto
campo, ética e estilo investigativo — como alternativa ao modelo epistemológico das ciências
naturais em busca de discutir os fundamentos das formas de conhecimento e modelos de formação.
Nesse sentido, o trabalho de Carlo Ginzburg (1989), no ensaio Sinais: raízes de um paradigma
indiciário, nos oferece uma argumentação que parece potente em relação a essa outra justificativa
epistemológica para um tipo de trabalho que não se fundamenta apenas no conhecimento do
universal, mas considera inferências a partir de indícios (sinais, sintomas). O surgimento da
psicanálise, nesse contexto, corresponderia ao exercício de um modo de investigação com certa
tradição em formas de conhecimento divergentes das ciências naturais e exatas. Ao alinhar, por
aproximação morfológica, mas também documental, o historiador da arte Giovanni Morelli, o
escritor Arthur Conan Doyle e Freud como representantes no uso desse modelo ou paradigma,
evidencia-se a força de um conhecimento que se dá a partir, não de generalizações totalizantes, mas
da observação atenta do pormenor revelador, do evento episódico, do mínimo tomado como
ordinário. São diferentes posições enunciativas que imprimem percursos escolares também diversos,
cifrando destinos distintos para o conhecimento produzido, bem como para alunos, escolas e
professores.

Autor(a): Andréa Garcia da Rocha – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Contato: andreaterapiaartistica@gmail.com
Título: A contribuição da psicanálise para o entendimento das psicoses na adolescência e para a
questão da inclusão escolar do sujeito psicótico
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este trabalho discute a contribuição da psicanálise para o entendimento das psicoses na
adolescência e a questão da inclusão escolar do sujeito psicótico. Para isso, verifica o caso de Lia:
uma adolescente matriculada numa escola estadual do Rio de Janeiro com quadro de psicose e em
atendimento psicológico de abordagem psicanalítica. Descreve alguns fragmentos do caso em
questão e os interpreta à luz da psicanálise, em especial na perspectiva do laço social, do
envolvimento do sujeito psicótico no ambiente escolar a partir das operações simbólicas e
intersubjetivas. A partir do referido caso, visto sob a perspectiva da clínica estrutural psicanalítica, é
possível um diagnóstico diferencial que permita esboçar caminhos de tratamento, a fim de
potencializar reflexos sobre a inclusão escolar desse sujeito psicótico. Enfim, avaliamos a
contribuição desse acompanhamento para o posicionamento de Lia no mundo enquanto sujeito de
linguagem e aliançada a uma subjetividade histórica. A constituição dos sujeitos psicóticos - a partir
do enlace social e das formas próprias de elaboração simbólica, quer delirantes ou fantasistas sobre
o real, que dizem respeito a um sujeito de linguagem que opera sentidos diante do mundo e do
outro - é a tônica principal do presente estudo. Este permite reflexões sobre as práticas subjetivas e
intersubjetivas num território no qual prevalecem discursos “patologizantes” e “normalizantes” que
exacerbam as diferenças pela imposição de padrões homogêneos; e, ainda, sobre as políticas da
medicalização da infância e da adolescência como modo de apaziguamento e embotamento afetivo
do sujeito dito “desajustado” para sua melhor adaptação às expectativas do meio social e escolar.
Com isso, o trabalho aponta para a necessidade da intervenção da psicanálise no campo educacional
de modo a ampliar as noções de sujeito e de singularidade, bem como “desmarginalizar” o sujeito
psicótico, tornando possível a todo sujeito - visto como alteridade - o convívio social e escolar. Lia, 15
anos, estudante do segundo segmento do ensino fundamental, é uma adolescente com
características peculiares que apontam para um quadro de psicose, com episódios de delírio e surto
psicótico. As variações de humor com picos de agressividade e delírios marcam as primeiras crises

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psíquicas do tipo psicótica, com características da passagem ao ato. Corporalmente Lia é avantajada
e esbanja sexualidade própria de moça de sua idade, no entanto, nota-se pouco cuidado e
consciência de si. Esse corpo, sede das pulsões e da libido, se evidencia tanto no jogo da
transferência, quanto no tema ocasional do delírio. A noção de foraclusão do “Nome-do pai”, daquilo
que daria a possibilidade de amarração do real e de laço simbólico, e ainda o modo como Lia vivencia
o Complexo de Édipo e a castração, também são pontos relevantes a serem suscitados. A partir do
caso em tela, uma das contribuições da psicanálise para o entendimento das psicoses na
adolescência consiste na elucidação dos fatores de base desencadeantes. Exemplo disso é a
verificação de intensas crise de identificações, vivenciadas nessa fase, com os fenômenos de rupturas
com o real e fragmentação do eu. As crises apontam para trocas de identificação no nível do eu ou
ideal do eu, no qual o sujeito é convocado a comparecer como sujeito castrado e de desejo frente ao
real, através de uma ordem simbólica, que nomeia e dá sentido, e que às vezes falha. Sob a base
desses fenômenos está a própria estrutura do sujeito, o modo singular de se constituir frente a um
outro e de responder às exigências da realidade.

Autor(a): Andrea Martello – UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro


Contato: deamartello@gmail.com
Título: A socioeducação e a cidade: uma pedagogia do espaço público
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: O objetivo deste trabalho é trazer para o debate a experiência do projeto Em nome do
sujeito desenvolvido no âmbito do convênio entre o curso de Pedagogia da Unirio e o setor de
psicologia da Vara de Execução de Medidas Socioeducativas (VEMSE) do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro; tal projeto, coordenado pela Professora Lucia Perez/Proex-Unirio, foi pensado por
profissionais da educação e da justiça com formação psicanalítica, tendo portanto a psicanálise como
orientador teórico. Nele se aposta na Voz do adolescente como instrumento de apropriação da
realidade vivida e importante na formação subjetiva exigida para a inserção social. Desenvolvido em
conjunto com os Museus da Justiça, Museu Histórico Nacional e Palácio Tiradentes no Rio de Janeiro,
através de seus respectivos setores educativos e culturais, parceiros da VEMSE, o projeto propõem
após a visita mediada aos museus, ou apresentação de esquetes teatrais, trechos de filmes, para
jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, uma roda de conversa onde os jovens podem
trazer suas reflexões acerca do conteúdo apresentado na visita. Aposta-se na apropriação da história
e da dimensão de espaço público através de uma visita in loco à instituições importantes para a
organização social brasileira: a Alerj onde se fazem as leis do Estado, onde algumas vezes os jovens
podem ser recebidos por parlamentares ou por membros de comissões, ressaltando o aspecto da
construção e fiscalização das leis numa democracia; o Museu da Justiça onde tratamos sobre os
temas da justiça, história das leis, direito e ECA; e o Museu Histórico Nacional onde aborda-se
através de objetos históricos os valores em jogo ao longo da formação da sociedade brasileira. O
trabalho com os jovens não visa abordar a natureza de seus delitos, mas promover uma reflexão
acerca do seu lugar social e sobre a significação das leis as quais eles e todos estão submetidos.
Procura-se enfatizar a concepção pública dos espaços visitados. Além dos efeitos sobre os jovens,
alvo de nossas ações, o projeto também permite aos alunos de pedagogia participantes do projeto
refletirem sobre a ação educativa no campo da socioeducação. O fazer pedagógico inclui uma
dimensão de mestria que é bastante candente no estudante de pedagogia. O amor ao saber, o sonho
da construção de uma sociedade potente e o compromisso com ideais civilizatórios de alto valor
fazem parte processo de formação dos pedagogos. Há, no entanto, o desafio de envolver o
socioeducando nessa teia transferencial que faz da educação um caminho salutar e desejável. Os
desafios próprios a qualquer ação pedagógica no que se refere ao estabelecimento da transferência,
do lugar e da suposição de saber ao Outro, tem nesses jovens uma resistência adicional pelo fato de

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já terem passado pelas instituições educacionais. O espaço público dos Museus parece fornecer um
campo simbólico compartilhado por onde a função de escuta desses jovens pode se estabelecer e
com isso restituir minimamente as condições necessárias para a transferência na suposição de uma
realidade comum.

Autor(a): Andressa Mattos Salgado Sampaio – USP – Universidade de São Paulo


Contato: andressa_salgado@usp.br
Título: O que faz um professor? Do imponderável no professar e o seu lugar nos sonhos da nação.
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Palco do último massacre no âmbito escolar no Brasil, uma escola estadual em Suzano-SP,
foi alvo, em março deste ano, de uma violência visceral, que acabou com dez mortos incluindo os
jovens atiradores que se suicidaram. A notícia que abalou o país, entrou para a esteira de uma série
de atos que tem marcado uma onda de violência e descrença contra aquilo que a instituição
simbólica escolar e aqueles que a sustentam representam. Impossível não correlacionar tais fatos
com o momento histórico vivido no Brasil, que tem produzido um contexto educacional inverossímil,
fortemente marcado pela incredulidade. A escola parece não ser mais vista como um lugar de sonho,
e o pesadelo difícil de acordar tem sido um tormento paralisante para muitos, em especial para os
professores. Uma crise na educação é o nome que em geral se dá para tal cenário, que considera a
questão do fracasso escolar como um fenômeno metodológico fruto do que a escola o professor ou
o aluno produz. No entanto, apesar do avanço do tempo e das investidas pedagógicas, os impasses
que configuram a crise se repetem e persistem. Como nos lembra Arendt “Certamente, há aqui mais
que a enigmática questão de saber por que Joãozinho não saber ler” (2016: 222). Muito embora o
campo da formação de professores esteja saturado de pesquisas que advogam diversas teses, algo
em comum quase sempre se repete, a crença de que a parametrização científica e prescritiva da
intervenção do professor ajustada a um suposto desenvolvimento ideal das potencialidades do aluno
é a base para o sucesso da experiência escolar. Comum também é o que tais teses esquecem de
olhar, a implicação da palavra e do sujeito do desejo como condições estruturais do laço educativo,
condições essas que dizem da impossibilidade de se adaptar a intervenção à realidade. Na pressa de
consertar o presente para acertar no futuro, a maioria dos discursos educacionais contemporâneos
parece ignorar o fato de que a crise na educação não é de métodos. Uma crise é uma oportunidade
de investigar uma questão na sua essência já que ela nos obriga a voltar às questões mesmas e exige
respostas novas ou velhas. A história da formação de professores no Brasil está marcada por
incessantes reformas que instalaram uma sucessão de descontinuidades, promoveram a deflação
dos saberes escolares e do estofo da palavra do professor, descentralizaram a ideia de um projeto
nacional de formação de professores, e lançaram nas costas da pessoa particular do professor, e não
dos compromissos públicos do estado, a responsabilidade pelo sonho ou pesadelo escolar. Visto
como uma figura individual, com um encargo egóico pelo ato que ele deve sustentar frente ao seu
aluno, o professor tem recebido o crédito por aquilo que não vai bem na escola. Não obstante, o que
faz um professor não se faz sozinho e nem da mesma forma em todo lugar. O que um professor faz
no seu ofício cotidiano está sustentado por um tecido simbólico que é da ordem do comum e
organizado por um ideal de nação. As condições de produção desse ato, o professar do professor, e o
tecido simbólico onde esse ato ganha lugar, estão estritamente relacionados com o sonho ou
pesadelo que se vive. Certamente, é preciso considerar que há algo da ordem do singular naquilo
que pode surgir como ato no professar, mas isso se dá dentro de um limite, que se constitui no
âmbito do tecido simbólico e que está sustentado por um sonho comum. Fazer articular o que faz um
professor com o que nos move como ideal de nação parece fundamental, e talvez esteja aí o ponto
cego da questão, na insistência em editar e reeditar reformas pedagógicas, não se olha para a
relação entre o tecido simbólico e o que pode surgir como ato educativo, se esquece que a escola é

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tributária de um sonho de nação que funciona como extrato fiel da balança. Em que pese o contexto
situado, nos cabe uma pergunta: Qual sonho de nação que nos anima e quais atos esse sonho
carrega virtualmente?

Autor(a): Ariadne Messalina Batista Meira – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Ângela Maria Resende Vorcaro
Contato: ariadne.messalina@gmail.com
Título: Escutar os autistas: o que suas autobiografias dizem sobre inclusão na educação?
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: As últimas décadas têm assistido a um aumento nos debates sobre inclusão social, pondo
em questão o lugar da diferença na sociedade e mobilizando o poder público a tomar medidas em
relação ao assunto. Inserida na trama civilizatória como parte fundamental desta, a escola é um dos
principais palcos desses debates. O número crescente de diagnósticos de autismo tem fomentado
ainda mais o questionamento sobre o papel social da escola na superação das lógicas excludentes e a
variabilidade de casos dentro do espectro do autismo e de suas severidades têm apontado furos aos
saberes das mais diversas áreas. Somado a esse cenário, vive-se hoje um período permeado pelo
discurso científico hegemônico, que acredita na causalidade mecânica do ser humano, acarretando
na ambição de educa-lo. A psicanálise, na contramão desse discurso, baliza sua prática pela escuta da
singularidade, sustentando que ao operar essa redução a conhecimentos objetivos e standard,
perde-se de vista o sujeito. Tendo em vista as produções autobiográficas que diversos autistas tem
lançado mão, na busca por romper barreiras, não devemos tomar partido por escutá-los? A literatura
autobiográfica de autistas tem revelado a riqueza de seu mundo e enfatizado a impossibilidade de
toma-los todos como iguais. Dentro de cada vivência, falam do que acontece em seu corpo e mente,
e apontam também suas trajetórias escolares. As diferentes datas e localidades de cada
autobiografia não deixam de exprimir as dificuldades enfrentadas nesse percurso, trazendo à tona o
despreparo de instituições e profissionais que atravessaram suas trajetórias. Destacamos no
presente trabalho as narrativas de dois autistas não verbais, que se comunicam por meio da escrita:
Carly Fleischmann e Ido Kedar.
No livro escrito com seu pai, Arthur, são evidenciadas as dificuldades enfrentadas por ela na busca de
entrar na escola regular, após passar por várias instituições especiais. Carly reivindica essa vontade,
deixando clara sua dificuldade de se adequar à modelos e agir como outras crianças, quando seu
corpo é incontrolável. Sustenta que o fato de apresentar agitação corporal não significa que não está
aprendendo e fala que a escola é o lugar para educar mentes jovens, pedindo a ajuda necessária para
preencher sua mente com conhecimento. Ido Kedar, por sua vez, passou por instituições nas quais
aponta o despreparo dos educadores e a falta de aposta nos autistas não verbais, vistos como sem
inteligência. Dirige uma crítica contundente a tomada de decisões dos pais e educadores com base
na performance externa e descreve o descompasso entre uma oferta de educação lenta e sua
aprendizagem rápida, apontando que era como estar na pré-escola. Passa por experiências distintas
em escolas regulares que o levam a escrever severas críticas aos educadores especiais que têm foco
nos problemas de comportamento ao invés das suas habilidades e conquistas, e aponta que há uma
cegueira nesse modo de ver o autismo. Tendo em vista a educação enquanto tarefa impossível,
porém necessária, tem a psicanálise algo a contribuir para pensar o lugar do sujeito autista nas
práticas educativas? Acreditamos que sim. A psicanálise lacaniana se debruça sob a singularidade,
direcionando uma educação esvaziada do saber do mestre para que seja dado espaço e lugar às
invenções do outro. Na contramão do discurso hegemônico, sua orientação conduz a não ceder
diante do que faz furo ao lugar de saber, sendo possivelmente ao sustentar e manejar uma posição
de não-saber, algo tão difícil aos educadores, que se pode implicar o sujeito autista no trabalho,
permitindo sua marca e que ele conduza ao seu possível. Com isso, o presente trabalho objetiva

41
(re)pensar as práticas educativas a partir dos relatos autobiográficos de Ido e Carly, colocando em
foco seus testemunhos e problematizações, à luz da psicanálise lacaniana e da posição de não-saber
enquanto orientação de trabalho possível ao campo educacional.

Autor(a): Ariana Lucero – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo


Contato: luceroariana@yahoo.com.br
Título: O grupo como lugar da diferença
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Este trabalho visa a refletir sobre uma experiência institucional de atendimento em grupo
de três crianças diagnosticadas como autistas. Tal grupo era composto por cinco clínicos em
formação psicanalítica, de modo que havia ao menos um adulto para cada criança, sem que esses
“pares” fossem previamente estabelecidos, sob a aposta de que as próprias crianças pudessem
manifestar algo de uma posição subjetiva na escolha do interventor com quem interagir. Nosso
grupo não pretendeu de antemão que houvesse uma interação ou uma produção coletiva entre as
crianças, pois a psicanálise nos adverte de que essa demanda não pode vir de forma direta por parte
da equipe e nem como objetivo do tratamento, ainda que este seja um efeito possível. Com efeito, a
psicanálise introduz elementos importantes a partir de como entende a constituição do sujeito, a
transferência e a direção do tratamento. Lacan (1958/1998) é bastante preciso ao destacar que
dirigir o tratamento não significa dirigir o paciente. Atento ao lugar que deve ocupar no jogo da
transferência, o analista coloca de fora seus sentimentos e situa-se melhor em sua falta-a-ser do que
em seu ser, marcando uma divergência fundamental entre o exercício da psicanálise e condutas
terapêuticas pautadas na reeducação. É movido pelo seu próprio desejo que se torna possível ao
analista ocupar este lugar dito vazio e que serve suporte para o surgimento do sujeito. Se, no que
tange à clínica com a criança, sobretudo a autista, cabe ao analista se responsabilizar pela
autorização que ele se dá para responder a uma demanda de ajuda, a qual sempre provém de um
outro (sejam os pais, seja a escola), interessa-nos pensar em que se implica o desejo de analistas,
quando trabalham juntos, inseridos em uma instituição, para que, no exercício de sua função,
contemplem as exigências éticas da prática psicanalítica. Acreditamos, em acordo com Di Ciaccia
(2005), que estes analistas se sustentem no Outro desejante, “mesmo que regulado e limitado, não
fazendo qualquer concessão a um transbordamento que se dirigiria rumo a um Outro que gozaria do
sujeito” (p.46). A condição para isso é a de que cada profissional saiba se portar “em nome próprio,
com o próprio estilo, com as próprias capacidades, sabendo pôr em jogo a própria imagem, a própria
presença e a própria ausência, os próprios interesses, a própria relação teatral com a vida, com o
corpo e com o desejo” (p.47). Pôr-se em jogo quer dizer assumir, em primeira pessoa, a
responsabilidade sobre a invenção de modalidades de se tornar parceiro da criança, a fim de que seja
possível “a invenção do encadeamento de um trabalho já iniciado pela própria criança autista, a
partir das manipulações que faz com o próprio corpo e com os objetos que a completam, elevando-
os à dignidade de significantes” (p.45). Constatamos os efeitos desta direção de tratamento também
nas crianças em que suspeitávamos do diagnóstico de autismo, mas que certamente se
enquadravam no critério de graves psicopatologias da infância. O atendimento em grupo não precisa
se prender a um diagnóstico, pois, muitas vezes, a diversidade de crianças contribui para efeitos
constitutivos entre elas. Vimos como essas crianças se ocuparam umas das outras e foram agentes
de rearranjos psíquicos que se puseram a serviço de suas constituições subjetivas. A vivência com os
semelhantes favoreceu a animação libidinal tanto com relação aos objetos quanto com o duplo. Cada
clínico também propiciou intervenções únicas e encontros inesperados, que foram retomados nas
supervisões com surpresa e prazer. Verificamos que o grupo adquire uma singularidade e uma forma
de funcionar que se guia pelos sujeitos em atendimento e pelos interventores. Apostamos, assim, na
possibilidade de desenvolvimento de novas estratégias clínicas, que se distanciam de receitas

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terapêuticas pré-fabricadas e que valorizam um cuidado que considere a diferença, o tempo e o lugar
da palavra.

Autor(a): Aricélia Soares Barros – Professor de Educação Básica


Contato: ARICELIABARROS16@GMAIL.COM
Título: Doutores e outras artes de curar: higiene, educação e lazer no Piauí (1889-1930).
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: O objetivo é analisar os embates do discurso médico com as demais artes de curar no
Piauí, no período de 1889 a 1930. Para estudar a História da saúde local. Usa como ponto de partida
o Relatório de Viagem cientifica dos médicos Arthur Neiva e Belizário Penna em sua passagem pelo
Estado (1912) especialmente nas discussões sobre a modernidade nacional e no que se refere ao
movimento sanitarista, em seu discurso documentário, explicitam escolhas e ênfases adotadas no
caminho narrativo considerando articulação do discurso com meio natural e social. Examinam o uso
dos almanaques de farmácia como textos prescritivos e as outras fontes médicas para pensar a
relação entre médicos pacientes e farmacêuticos e refletir sobre as políticas públicas de saúde em
Teresina. A viagem a que nos referimos foi realizada pelo Instituto Osvaldo Cruz (IOC) para percorrer
o Interior dos pais. O trajeto foi através da Bahia, Pernambuco Piauí e Goiás. O Resultado foi
copilado em documento intitulado: Viagem cientifica pelo norte da Bahia, sudoeste de Pernambuco,
sul do Piauí e de norte a sul de Goiás. a respeito do território geográfico, flora, fauna e hábitos das
populações. Ressaltamos que a publicação do mesmo se deu somente em 1916, e inaugura a partir
de então, um marco no pensamento social brasileiro, ao tratar da situação do interior do País.
Inaugura uma interpretação do sertão vinculado à doença e ao descaso por parte do poder político.
Outras fontes: os discursos no Almanaque da farmácia dos pobres, no livro Remédios fatores de
civilização, do médico Oscar Clarck, nas mensagens e relatórios de governo do executivo e legislativo
piauiense, na revista Litercultura. O recorte temporal é a segunda metade do século XIX, (1889-
1930). As experiências do vivido possibilitam historicizar os embates entre a medicina e as demais
artes de curar artes de curar no Piauí e as táticas de resistências para burlar as normatizações
higiênicas propostas pelo poder público. Pois conforme Foucault “a medicina social urbana não é
verdadeiramente a medicina dos homens, dos corpos e dos organismos, mas uma medicina das
coisas: das coisas: do ar, água, decomposições, fermento uma medicina das condições de vida e do
meio de existência” (1986 p.89), Nesse contexto os Almanaques de farmácia, são essenciais para
educar e disciplinar a população no seu cotidiano além de pensar a relação entre médicos,
farmacêuticos e pacientes. Finalmente argumentamos com Chaillub, que desnaturaliza as práticas
dos cientistas higienistas. Defende que não devem ser vistos como sujeitos a parte do contexto
político, econômico e social onde militam. Costa comprova a relação entre Estado e disciplinarização
dos indivíduos, mas elege os médicos essenciais nesse processo. O mesmo se deu em Teresina.
Houve uma melhora na sua assistência de saúde, passou de um modelo baseado na caridade pública
da Santa Casa de Misericórdia, á dos Postos Sanitários em 1920. Embora, avanço, as formas de
resistência da população, à medicina tradicional, continuaram, através da medicina popular.
Percebemos pela pesquisa embates entre a medicina tradicional e popular. Apesar dos confrontos,
há uma simbiose, se repelem, porém se completam.

Autor(a): Arthur Medrado Soares Araujo – UFF – Universidade Federal Fluminense


Coautor(a) Margareth Diniz
Contato: arthurmedrado@gmail.com, dinizmargareth@gmail.com
Título: Olhares (Im)Possíveis: experiências corpo-imagem-cidade com crianças e jovens da periferia
de Ouro Preto

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Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: Olhares (Im)possíveis é um trabalho de produção teórico/prático que pretende a
elaboração (constante) de uma metodologia de intervenção, por meio de oficinas realizadas em
escolas públicas da região dos Inconfidentes. Este trabalho pretende lançar um olhar sobre os
desdobramentos de uma intervenção através de encontros presenciais com crianças e jovens na/da
periferia de Ouro Preto desde 2017 (inicialmente com a pesquisa de mestrado orientada por
Margareth Diniz e Marta Maia, defendida no Programa de Pós-graduação em educação da UFOP em
2018 e atualmente na pesquisa de doutorado no PPGCine/UFF orientado por Cezar Migliorin). O
objetivo inicial foi o desenvolvimento e a aplicação de uma metodologia audiovisual para a escuta do
indizível, do testemunho. Tal metodologia qualitativa, ancorada no paradigma indiciário de Carlo
Ginzburg (1989), entrevê que os indícios dos dados possam fazer lampejar um “saber-vagalume”, a
partir da luz de Georges Didi-Huberman (2011). O trabalho de ancora na experimentação do vídeo
como proposta de dispositivo processual para a escuta de estudantes é o afastamento da ideia de
produto (filme). A linguagem audiovisual aqui é pretexto para o encontro, para a partilha, mas
também pré-texto para as conversações com os/as estudantes. Nesse sentido, a ideia de dispositivo
(Migliorin, 2016), como aquilo que coloca em crise a articulação entre um comando fechado e ao
mesmo tempo aberto à inventividade, foi apropriada na articulação de três momentos que garantem
a emergência das imagens-sintoma produzidas pelos/as envolvidos/as. Por focar no processo e seus
possíveis laços, o ponto central de sucesso da prática é o espaço de partilha do sensível que se cria
com as crianças. A hipótese é que essa metodologia resgate infâncias perdidas e que seu
desdobramento em 2019: um grupo de cinema que está cuidando da horta escolar, esteja
produzindo contra-monumentos nessa cidade colonial. Olhares (Im)Possíveis é uma experiência
corpo(sintoma)-imagem(linguagem)-cidade(espaço). Apresentarei alguns resultados do trabalho que
indiciam a confirmação das hipóteses e legitimam os processos artísticos com o método clínico como
uma potente estratégia política. Apostamos na escuta como um dispositivo de cuidado e
entendemos o afeto como prática política.

Autor(a): Bárbara de Oliveira – UFOP – Universidade Federal Ouro Preto


Coautor(a): Carla Mercês da Rocha Jatobá Ferreira
Contato: barbaraoliveiraufmg@gmail.com, carlajatobaferreira@gmail.com
Título: Trajetória escolar das juventudes atingidas no contexto do rompimento da barragem de
Fundão, em Mariana (MG).
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O presente trabalho consiste na apresentação do projeto de pesquisa para o mestrado no
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Ouro Preto. O problema a ser
investigado parte de um acontecimento que impactou diretamente a vida de muitos brasileiros. A
tragédia do rompimento da barragem de Fundão em 2015, fez-se crescer a atenção da sociedade no
que se refere aos riscos proporcionados pelas barragens. A pesquisa irá fomentar o debate da
problemática da tragédia de Fundão, a relação com a instituição escolar e as trajetórias dos jovens
estudantes. Nos dois pequenos povoados que foram atingidos no município de Mariana (MG) - Bento
Rodrigues e Paracatu de Baixo – haviam escolas que eram responsáveis pela educação dos
moradores(as). A lama que arrastou todas as histórias de vida, também levou consigo toda estrutura
escolar e distanciou os sonhos daqueles que desejavam uma educação do campo, de qualidade,
pública e segura. Assim, após a tragédia, foram transferidas as escolas dos dois distritos para a
cidade de Mariana, chamadas Escola Municipal Bento Rodrigues e Escola Municipal de Paracatu de
Baixo.
A proposta do projeto é pesquisar os sujeitos que compõem o universo escolar das duas escolas
municipais que foram transferidas, após o rompimento da barragem de Fundão, para a cidade de

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Mariana. Dessa forma, busca-se compreender a seguinte questão: de que forma os jovens
estudantes e as escolas - Escola de Bento e de Paracatu - enfrentam questões de adversidades
produzidas por uma tragédia no contexto sócio-histórico-político-econômico do rompimento da
barragem de Fundão?
Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa a ser realizada é compreender como a tragédia impactou
a vida escolar dos estudantes atingidos. Com especificidade, objetiva-se: identificar as concepções de
pertencimento e identidade dos(as) estudantes atingidos(as); investigar a importância da educação
escolar no contexto dos distritos atingidos; realizar o levantamento de políticas públicas voltadas
para a educação, no que tange a vida dos sujeitos, após o rompimento da barragem de Fundão;
apontar possíveis alterações nas relações desenvolvidas pela comunidade escolar e a população
atingida após o rompimento da barragem de Fundão. Esta pesquisa terá como base a investigação de
cunho qualitativo ao problematizar as trajetórias escolares dos jovens atingidos. Para além da
necessária revisão bibliográfica e análise documental, a investigação propõe utilizar, como
instrumento de coleta de dados, questionário socioeconômico, observação participante e entrevista
semi-estruturada com os sujeitos da pesquisa. A proposta de escuta dos estudantes como sujeitos
centrais da análise parte do interesse em adentrar no universo juvenil, em um espaço de conversas e
diálogos para compreensão de como esses jovens organizam os modos de pensar e de agir, vivem
sua cultura, exercem a sociabilidade e o pertencimento dentro do mundo escolar e, dessa forma,
como interpretam o acontecimento traumático e ressignificam a tragédia em suas vidas. A relação do
jovem com a instituição escolar vivencia novas formas de tensões, na qual intervêm tanto os fatores
externos, quanto os internos à escola, em um processo cada vez mais complexo. Os jovens estão,
cada vez mais, transpondo os seus muros, trazendo suas experiências, conflitos e novos desafios para
o interior das instituições escolares. É nesse sentido que se pontua a relevância da investigação, na
discussão em como a instituição escolar tem se desenvolvido conforme os diversos desafios trazidos
pela modernidade, em específico a inauguração de novos modos de desastres. Acredito que é
possível que essas escolas ultrapassem os muros sociais estabelecidos; compreendo que, com certas
limitações, a escola ainda consegue cumprir seu papel social, fortalecendo o sentimento de
pertencimento e reinventando as formas de socialização, principalmente em contextos de
desigualdades.

Autor(a): Barbara Pinto Pereira Bittar – Sec. Mun. Da Cidade do Rio de Janeiro
Contato: barbarabittar@gmail.com
Título: O que pode a escola frente ao fenômeno da automutilição na adolescência?
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo:
Atuando há mais de 10 anos nas Unidades Escolares do Município do Rio de Janeiro, temos
observado uma elevação no número de demandas para o nosso setor de atuação, que faz parte da
Secretaria Municipal de Educação, de questões envolvendo a prática de automutilação entre os
alunos dessa Rede de Ensino. Diante desse crescente fenômeno tivemos a iniciativa de organizar um
material intitulado ”Automutilação: recomendações para o cuidado de alunos”, destinado aos
Profissionais da Educação, a fim de instrumentalizá-los no manejo dessas situações no que tange ao
cuidado possível a essa questão pela escola. Como organizadoras desse material, produzido por um
setor inserido numa Política Pública de Educação, destinado a outros profissionais que também
compõem e atuam nessa política, pretendemos pensar modos de lidar com a questão da
automutilação entre os jovens, entendida por nós como um fenômeno contemporâneo no que
concerne não só ao modo como os adolescentes hoje lidam com suas angústias e sofrimentos, bem
como um meio de expressão e identificação entre esses jovens. Se tomarmos ainda esse fenômeno
como condutas de riscos na adolescência, como aponta Lacadée (2011) circusncrevendo-os como

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“comportamentos cujo traço comum é a exposição a uma probabilidade considerável de se
machucar ou de morrer; de prejudicar o futuro pessoal ou pôr a saúde em perigo”(p.57), mas que na
verdade são solicitações simbólicas da morte na busca de limites, numa tentativa desajeitada e
dolorosa de se situar no mundo, de ritualizar a passagem à idade adulta e de marcar o momento em
que o agir ultrapassa a dimensão do sentido, podendo ser entendidas como tentativas de existir mais
do que de morrer. A partir dessa lógica o ato de se autoagredir pode ser lida como empuxo a vida e
não a morte. Sendo assim, o que pode então a escola diante desse fenômeno? Afirmamos nas
Recomendações emanadas por esse material, o que Freud nos aponta em “Contribuições para um a
discussão acerca do Suicídio”, que além do conhecimento e saber que a escola deve transmitir ao
aluno, Freud concede a escola o dever de oferecer o desejo de viver, dando aos adolescentes “apoio
e amparo numa época da vida em que as condições de seu desenvolvimento os compelem a afrouxar
seus vínculos com a casa dos pais e com a família” (Freud, 1910, p. 243). Para além da articulação
intersetorial com equipamentos de saúde que alguns casos de violência autoprovocada exigem, é
preciso que a escola esteja aberta a esses alunos, no seu fazer pedagógico cotidiano, podendo
oferecer espaços de expressão e invenção para esses jovens, em atividades que lhe são inerentes,
como espaços culturais, artísticos e representativos. A escola tem seu lugar na possibilidade de
manejo desse fenômeno como instituição onde o aluno constrói alguns de seus principais
referenciais de aprendizagem, afetividade, sociabilidade e confiança.
Este material, “Automutilação: Recomendações para o cuidado de alunos” foi elaborado por muitas
mãos, psicólogos, assistentes sociais e professores com a aposta de ser um dispositivo de amparo e
direção para bussolar professores e profissionais da educação no manejo diário com seus alunos que
deixam aparecer na escola seus sofrimentos numa tentativa paradoxal de pedir ajuda e de expressão
do seu status de sujeito. O material citado encontra-se disponível no endereço eletrônico:
https://docs.wixstatic.comugd/e6172f_58ea1eb456604d71bfe30a495bb6489e.pdf Referências
Bibliográficas: Freud, S. Contribuições para uma discussão acerca do suicídio. In Lições de psicanálise,
Leonardo da Vinci e outros trabalhos. Volume XI, 1910. Rio de Janeiro, Imago, 1996.
Lacadée, P. O Despertar e o Exílio. Ensinamentos psicanalíticos da mais delicada das transições, a
adolescência. Rio de Janeiro, Contra Capa, 2011.

Autor(a): Beatriz Coelho Paz – Sec. Mun. Do Rio de Janeiro


Contato: paz.beatriz@hotmail.com
Título: “Dar voz ao aluno”: sobre os paradoxos do convite à participação e autonomia para crianças e
adolescentes no exercício da educação na/para a diversidade. Ou, sobre a importância de “dar
ouvidos”.
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: "Diferir é compartilhar com alguém que ouça antes de falar."(Edson Passetti). As análises
que pretendemos trazer ao debate encontram-se diretamente vinculadas à trajetória de atuação de
equipes Interdisciplinares composta por psicólogos, assistentes sociais e professores no âmbito da
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, mais especificamente às ações desenvolvidas no
Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (NIAP). Recortamos para a discussão as
práticas voltadas à valorização do protagonismo e autonomia dos estudantes tendo como pano de
fundo a aposta do exercício da participação e do protagonismo infanto-juvenil como via de
construção e exercício de uma educação voltada para a diversidade. Apesar do foco no protagonismo
infanto-juvenil se constituir enquanto diretriz legal no âmbito dos direitos das crianças e dos
adolescentes, a influência de uma certa visão “adultocêntrica” ainda rebate expressivamente nas
práticas sociais e profissionais voltadas a este público dentro do campo educacional. Acrescenta-se a
isso a permanência de traços do nosso passado histórico do ponto de vista legal e conceitual - seja
pela noção de infância, considerada enquanto “um papel em branco”, destituída de vontades e

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desejos próprios - ou por uma ideia tutelada de participação que imperou ao longo das políticas para
a infância no Brasil.
Apesar da importância reconhecida legalmente do olhar para a participação e do protagonismo,
observamos que as práticas ainda se encontram carregadas da visão do jovem, semelhante àquela de
‘outro’ presente desde a filosofia da representação (GALLO, 2008); não como alteridade, dissenso,
mas como representação, conceito, supostamente conhecido e estável. É do lugar de consenso pré
concebido que muitos dos principais projetos e programas que trazem como prerrogativa o
protagonismo estudantil, utilizam como base a ideia de “dar voz aos alunos”. Na contramão desta
visada, traremos reflexões a partir de duas ações desenvolvidas em 2018 e 2019 na SME-RJ, quais
sejam, as ações de mobilização a acompanhamento dos grêmios estudantis e um projeto de pesquisa
intervenção desenvolvido em duas escolas na rede municipal de ensino do Rio de janeiro, com a
utilização do método cartográfico como estratégias para “dar ouvidos” aos estudantes. Pretendemos
aqui questionar coletivamente se as práticas que estamos constituindo contribuem de fato para a
substituição do legado menorista baseado na tutela, para a perspectiva da proteção integral, com
foco em dispositivos de escuta e reverberação da fala dos jovens. Trazer nossas ações para o debate
é um exercício de diálogo junto a outros interlocutores sobre nossa indagação cotidiana de trabalho,
qual seja: nossas práticas podem ser consideradas efetivamente promotoras da liberdade de
reflexão, expressão e criação dos jovens?

Autor(a): Bety Ribeiro Corrêa – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Coautor(a): Luciana Gageiro Coutinho
Contato: bety.rib@gmail.com
Título: O brincar e o conhecer: o lugar do sujeito
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Esta pesquisa, desenvolvida no curso de mestrado do PPGE da UFF, teve como objetivo
estudar a relação entre o brincar e o conhecer e suas implicações para o processo de constituição do
sujeito. A observação do encaminhamento precoce de crianças para o atendimento psicopedagógico
levou-me a contextualizar a pesquisa na etapa de transição entre a Educação Infantil e o Ensino
Fundamental, etapa na qual as crianças vivenciam intensas mudanças no seu processo de
escolarização. Nessa passagem boa parte do espaço/tempo para as atividades lúdicas desaparece e
um outro ritmo se instaura. Entretanto, o desenvolvimento das crianças não se dá de forma linear e
para algumas fazer essa passagem torna-se um desafio por vezes penoso. Contribui para esse
fenômeno o fato de a Educação Infantil vir assumindo práticas de escolarização que antecipam
conteúdos visando preparar a criança para o Ensino Fundamental. Nesse contexto, podemos supor
que a falta ou a presença do espaço do brincar, o qual permite o desenvolvimento da capacidade
simbólica, pode interferir na relação do sujeito com o conhecer. Nosso objetivo foi investigar em que
medida o espaço do brincar, vivenciado na clínica psicopedagógica, pode favorecer a relação das
crianças com o conhecer. A pesquisa está fundamentada nos pressupostos psicanalíticos sobre o
brincar desenvolvidos por Freud (1996), Winnicott (1975), Mannonni (1999). Também integram o
referencial teórico os pressupostos psicopedagógicos sobre a relação entre o brincar e o conhecer
(FERNÁNDEZ, 2001, 2010). Adotamos uma perspectiva psicopedagógica que tem como objeto o
sujeito cognoscente. A metodologia utilizada foi a pesquisa-intervenção associada ao método clínico
que embasa os princípios da pesquisa pela psicanálise. O atendimento de três crianças foi realizado
na clínica social do Instituto Pró-Saber (RJ), entre outubro de 2017 e dezembro de 2018. Um dos
princípios norteadores da intervenção foi a liberdade para as crianças escolherem os objetos que
desejassem usar. Dessa forma pude observar a relação que estabeleceram com o brincar nas sessões
comigo. Foi fundamental que eu estivesse em um estado de brincar com as crianças, um estado
brincante. Foi possível perceber o quanto as crianças aproveitam esse espaço de liberdade e autoria

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que lhes é oferecido, que está ali para ser moldado por elas. A forma de registro utilizada foi um
diário de campo com registro reflexivo de cada sessão. Com base nos registros desenvolvi o estudo
do caso Lúcio, no qual analisei os movimentos na escolha dos brinquedos, buscando compreender
seus possíveis significados. O espaço do brincar permitiu que Lúcio vivenciasse o lugar de sujeito, a
relação comigo e com os colegas de grupo, sua autoria de pensamento, o cultivo de seu saber. Lúcio
foi capaz de fortalecer sua posição subjetiva e de mobilizar seu desejo de aprender, ampliando seus
interesses e perspectivas. O acompanhamento à mãe contribuiu para que mãe e filho pudessem
vivenciar novos modos de se relacionar. Lúcio pôde se mostrar para ela para além dos sintomas, das
queixas, do diagnóstico. Nesse sentido, as contribuições da psicanálise e da psicopedagogia
mostraram-se potentes para a compreensão dos fenômenos de subjetivação envolvidos no brincar e
no conhecer.
Referências bibliográficas: FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando
autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. _______. Psicopedagogia em
psicodrama: morando no brincar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. FREUD, Sigmund. Além do princípio de
prazer. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, vol. XVIII. Rio
de Janeiro: Imago, 1996. MANNONI, Maud. A Criança, sua Doença e os Outros. São Paulo: Via
Lettera, 1999.
WINNICOTT, Donald W. O brincar & a realidade. Rio de Janeiro: Imago,1975.

Autor(a): Bianca Wandepol Azevedo – Secretaria de Estado de Minas Gerais


Coautor(a) Ana Maria Moraes Fontes, Israelita Taise Assis Rodrigues, Eliane Souza da Silva, Fernanda
Anselmo Bassoli
Contato: biancawandepol@gmail.com, afontesjf@uol.com.br, taiserodriguesjf@hotmail.com,
elianeacropole@gmail.com, nanda.bassoli1711@gmail.com
Título: Reflexões em torno de uma oferta de trabalho em um hospital
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Resumo: Nesta comunicação apresentaremos os resultados de uma intervenção
pedagógica em um hospital que atende crianças com câncer. Nosso objetivo era trabalhar os
conteúdos escolares com crianças e adolescentes que interromperam o processo escolar por força
de internações e consultas médicas periódicas, comprometendo assim a aprendizagem dos
conteúdos ensinados na escola. Pensamos numa intervenção na forma de atividades pedagógicas e
lúdicas acompanhadas de uma escuta que levasse em conta o que a psicanálise pôde nos ensinar
sobre o que está implicado na aprendizagem. Ou seja, que as questões da aprendizagem são
embaraços do real, o que coloca o acento no lugar do sujeito e não nos problemas de aprendizagem
que o sujeito possa apresentar. Pois, no que tange às dificuldades de aprendizagem de crianças
acometidas por uma doença que, de alguma forma as incapacite, corremos sempre, o risco de
atribuí-las às limitações que a doença impõe. E, uma tal ênfase colocada sobre a falha, tende a
apagar o lugar do sujeito naquilo que o acomete. Consideramos também o lugar que ocupa o brincar
para a psicanálise. Pudemos observar que, nos momentos de brincadeira, as crianças se mostravam
mais à vontade para dizer sobre seu sofrimento, minimizando a angústia, fosse pela distração ou
mesmo por se encontrarem, como afirma Freud (1926), no controle da situação. O brincar é sinal de
inserção do sujeito na ordem simbólica. Para uma criança acometida pela dor, brincar conduz ao
alívio e ao prazer já que, quando brinca, a criança é o agente de sua própria vida. Se os conflitos, os
traumas, existem, a criança poderá, frente à insatisfação e ao mal-estar, usar a fantasia como modo
de “saber-fazer” com o real. Há um delicado limite que só pode ser sustentado por uma atividade
simbólica veiculada pela realidade da fantasia. Portanto, vale lembrar que, no brincar, a criança sai
da posição passiva e entra em uma posição ativa, de objeto manipulado a sujeito manipulador de seu
próprio brincar, fazendo, assim, muitas vezes, uma passagem do desprazer ao prazer. Foi pensando

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que as crianças teriam outro tipo de laço com a escola e com o saber, devido ao seu processo de
adoecimento, que formulamos o projeto, bem recebido pela instituição. Apesar de sabermos que a
demanda não vinha dos sujeitos e que éramos nós a oferecer uma escuta, acreditávamos na
possibilidade de algo poder aparecer a partir desse encontro inusitado. Ao longo do desenvolvimento
do projeto nos deparamos com situações inesperadas, que subverteram os propósitos iniciais do
trabalho e nos levaram a repensar os caminhos de uma atividade de acompanhamento escolar com
crianças com leucemia. A mais relevante foi tomar conhecimento de que, em função do avanço no
tratamento da leucemia, as crianças não se ausentam muito da escola. Elas pouco vão ao hospital.
Tanto a quimioterapia quanto as outras medicações não obrigam os pacientes a permanecer muito
tempo no hospital. Por isso, as crianças estavam frequentando regularmente a escola e sem maiores
dificuldades. E, em consequência, para a maioria das crianças com quem estivemos, as idas ao
hospital eram rápidas e bastante espaçadas. Apesar de sabermos que a demanda não vinha dos
sujeitos e que éramos nós que oferecíamos uma escuta, acreditávamos na possibilidade de algo
poder aparecer a partir deste encontro inusitado. Segundo Moura e Souza (2007), “para saber os
limites e possibilidades de uma práxis (...) é necessário estar lá”. Ao final do projeto chegamos a mais
perguntas. Por que não houve uma demanda par parte das famílias e dos pacientes? Se é somente a
partir do surgimento de uma demanda que podemos pensar em um trabalho possível para o analista,
a constatação da ausência de demanda revela o que?

Autor(a): Bruna de Sousa Madureira - SPIA/IPUB/UFRJ


Coautor(a) Roberta Corrêa Lanzetta
Contato: BRUNA.MADUREIRA@HOTMAIL.FR, r.lanzetta@hotmail.com
Título: Matar ou morrer: respostas de um adolescente para o desamparo
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O presente trabalho parte da reflexão acerca da escuta de um adolescente atendido em
um espaço ambulatorial público de saúde mental na cidade do Rio de Janeiro durante o ano de 2019
e faz parte da pesquisa Educação para a vida: adolescência, suicídio e vulnerabilidades sociais. Surge
no contexto de um crescente aumento nos índices de suicídio na adolescência, mas também a partir
da constatação quanto ao impacto que a problemática do suicídio na adolescência vem trazendo
para as instituições educativas e de saúde que atendem a essa população. O objetivo é pensar, a
partir de fragmentos clínicos, acerca do sofrimento psíquico que muitos adolescentes atravessam
quando sentem que a sua dor não é percebida e/ou validada pelo meio familiar, escolar e social. Esta
dor psíquica, que pode ser pensada a partir da experiência de desamparo na adolescência (Birman,
2011; Fortes, 2017) muitas vezes expressa-se sob a forma de agressividade, que pode se dirigir para o
mundo externo – através do comportamento hostil como brigas e até mesmo ideias suicidas – o que
prevalece no presente caso, ou para o próprio eu através da melancolia e/ou da automutilação.
Como metodologia de pesquisa, inspiramo-nos no paradigma da pesquisa em psicanálise, pautada
pelos princípios éticos que norteiam a sua clínica, tal como o desejo do analista e a fala sob
transferência (Alberti & Elia, 2000). Bernardo tem 16 anos e chega ao atendimento ambulatorial com
a queixa escolar de que acessa vídeos terroristas no computador da escola e, em vista disso, a escola
acredita que o aluno está planejando fazer algo similar. Simultaneamente a este episódio, Bernardo
se tranca no banheiro da escola dizendo que quer morrer, porque a sua vida é muito ruim e
apresenta crises de ansiedade no retorno das férias escolares. Por isso, entra em contato com os pais
e, simultaneamente, indicam um tratamento psicoterápico para o aluno. Nas sessões, Bernardo se
mantém sempre muito calado e a única forma que parece encontrar para falar de si é através das
músicas que traz para as sessões. porque em suas palavras “entende o que os cantores estão
sentindo, pois sente a mesma coisa. As músicas são de difícil compreensão, seja em virtude da língua,
que não é familiar, como o coreano, seja porque os gritos parecem ensurdecedores. As letras giram

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em torno de situações difíceis nas quais o cantor é compelido a matar ou a morrer para acabar com a
sua dor. Em ambas as situações, parece não haver lugar para a alteridade, já que a relação com o
outro/Outro, é ao mesmo tempo desejada e ameaçadora (Fortes, 2017). Frente à impossibilidade de
o ambiente escolar ou familiar acolher o sofrimento e dar sentido à dor do adolescente, a terapia
parece ser o único espaço que Bernardo tem para falar o que sente através da música. O recurso à
palavra é sempre muito difícil. No transcorrer das sessões, o adolescente fala da vontade que tem de
bater e matar as pessoas. Diz que não tem amigos. A escola parece não ser um lugar de saúde. A casa
igualmente parece não ter espaço para Bernardo, cujo sofrimento ninguém percebe e a letra que
mais repete das canções é: “você nunca vai ganhar essa luta”, sendo esta a luta da vida. A frequente
tendência ao agir (Lesourd, 2004), na clínica com adolescentes hoje expressa as dificuldades em
narrar o sofrimento, configurando-se como um apelo diante dos impasses vivenciados na busca de
novos modos de se inscrever no campo social. Assim, aquilo que do infantil não pôde ser elaborado
retorna com uma nova potência: a do corpo que cresceu e se encontra submetido aos excessos
pulsionais. Os atos, em função dos quais os adolescentes são levados aos serviços de saúde mental,
revelam importantes impasses em seu processo de constituição ainda em curso, remetendo a
diferentes posições em que o sujeito se situa frente ao Outro (Jucá & Vorcaro, 2018).

Autor(a): Camille Apolinario Gavioli


Coautor(a): Sergio D Urquiza, Tiago Corbisier, Carlos F Livieres
Contato: camillegavi@yahoo.com.br
Título: Um tempo de intervenção clínica: sobre o dispositivo de atendimento de curta duração a
jovens graduandos II
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Nossa proposta é partir de uma breve apresentação de um serviço de atenção psíquica de
curta duração oferecido em uma universidade particular paulistana a seus alunos de modo a discutir
as possibilidades e limites desse serviço, bem como seus efeitos. Nossa experiência no programa
completa agora 10 anos. O serviço surge em resposta a uma solicitação de coordenadores de cursos
que não sabiam manejar demandas de alunos relativas ao sofrimento psíquico e suas manifestações
mais ou menos agudas. Entre elas, encontramos a dúvida ou conflito sobre a escolha do curso,
conflitos pessoais, relacionais, familiares e existenciais que ameaçavam a própria integridade ou o
ambiente de aprendizagem na universidade comprometendo até mesmo a capacidade do aluno de
seguir o curso. Em nossa cultura, o mundo universitário funciona como um mediador de passagem
ao mundo adulto e o cotidiano institucional se estabelece a partir da confluência de vários ideais
(pessoais, familiares ou institucionais) nem sempre convergentes, criando tensões subjetivas e
interpessoais. Não raro, em função destas idealizações, aquilo que ameaça os ideais de maior peso
institucional tende a ser rechaçado. O contexto desse ambiente universitário tido como privilegiado é
fértil para a idealização de projetos de vida. Trata-se de uma universidade composta, em sua maioria,
pela elite econômica e social, ainda que haja uma ativa política de bolsas de estudo. Predomina o
discurso meritocrático individualizado, sustentado por recompensas simbólicas e operativas. Nessas
circunstâncias, dificuldades subjetivas que limitam ou postergam os objetivos almejados não tem
lugar. Assim, ter alguma dificuldade tende a ser percebido como falha pessoal. O serviço de
atendimento psicológico surge então com a proposta de cuidar das questões subjetivas dos alunos,
criando a possibilidade de dar lugar ao que costuma ser negado, de ler os sintomas que convocam
cada sujeito a perceber o que escapa ao projeto idealizado. Trata-se de um trabalho de acolhimento
inicial, escuta e encaminhamento, de modo a permitir localizar junto com cada aluno o que está
acontecendo consigo. Para tanto, foram pensados um número limitado de encontros (cerca de 6),
cujo objetivo basicamente é permitir um espaço de reflexão sobre o que está acontecendo e a partir
daí, conforme o caso, propor ações, tais como um encaminhamento para um atendimento dentro ou

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fora do serviço, um rearranjo na situação de estudo ou algum procedimento institucional. O primeiro
contato com o programa se dá via indicação de professores ou coordenadores, ao identificarem
alunos com algum tipo de dificuldade ou o próprio aluno busca diretamente o serviço por meio
eletrônico. Em situações de maior gravidade, por vezes, colegas de um aluno, preocupados com a
situação, fazem o contato inicial. A partir daí, ocorre uma entrevista com o coordenador do
programa ou com uma profissional mulher da equipe e, em seguida, pode se dar o encaminhamento
e aí ou para os analistas da equipe ou diretamente para uma análise fora do programa, conforme o
caso. Quando encaminhados para o atendimento do programa, alguém da equipe recebe o aluno em
seu consultório particular. A equipe, composta por dois psicólogos e um psiquiatra, tem formação
psicanalítica e experiência de trabalho em instituições. Nessa práxis, orientada pela psicanálise e de
curta duração, notamos que estabelecer um espaço de escuta e reflexão, tem tido efeitos
interessantes para os alunos, para a instituição e para a própria equipe, o que pretendemos discutir a
partir de vinhetas clínicas. Outro ponto que buscaremos considerar são os efeitos da possibilidade de
escolher ser recebido por uma mulher desde o contato inicial, condição proposta recentemente em
função de demandas relativas às questões de gênero e seus cuidados, promovidas por alunos e seus
coletivos.

Autor(a): Candice Marques de Lima – UNIFESP


Coautor(a): Lígia Pinheiro Paganini
Contato: candicemarques1@gmail.com, ligiapaganini@gmail.com
Título: Inclusão escolar, formação de professores e contemporaneidade: questões para a psicanálise
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A proposta deste trabalho é pensar a respeito da formação de professores na
contemporaneidade que tem como marca o discurso da educação inclusiva. Tal discurso tem como
premissa a inclusão de todos os alunos na escola regular e, embora esta seja uma proposta que
tenha quase vinte anos de efetivação, ainda se apresenta como o discurso do novo. A implantação da
inclusão implicou um redimensionamento nas escolas regulares, pois, além de sua modificação
quanto às estruturas físicas, conhecida como quebra das barreiras arquitetônicas, houve também a
necessidade de preparar os professores para incluir os alunos com necessidades educacionais
especiais e, dessa forma, criou-se o ideal de formação para o professor inclusivo. No texto “Patología
de época”, Mario Pujó (2006) argumenta que a falta de fixidez e de certezas seriam características
que constituem a expressão sintomática do contemporâneo. Nesse aspecto, o discurso do “novo” da
educação inclusiva aponta exatamente para a incerteza de como trabalhar com os alunos, pois, se
cada um precisa ser “tratado” de uma maneira, como trabalhar com a coletividade, que é o
pressuposto de uma sala de aula? O professor se constitui nesse laço social contemporâneo que
apresenta instabilidade, no qual as respostas de outrora não servem de bússola para as questões
atuais. Assim, a psicanálise delimita a noção de época pela experiência subjetiva (PUJÓ, 2006), que é
“una respuesta singular y elaborada en determinado contexto histórico por la civilización” (p. 62).
Numa época de incertezas, na qual as respostas não servem para as demandas, surgem dois
referenciais que a caracterizam, a ciência e a acumulação de capital. A articulação entre ambos
aponta para o discurso do capitalista, proposto por Lacan como um quinto discurso. Tal discurso
apresenta para o consumidor um objeto de gozo que sutura a divisão do sujeito, o qual cria um
indivíduo, isto é, uma pessoa não dividida, que busca, incessantemente e de maneira insaciável, a
correspondência para o seu desejo. Sabe-se que tal correspondência é imaginária, pois não há
nenhum objeto que dê completude ao sujeito. Isso seria o que explica o aforismo lacaniano “não há
relação sexual”, pois essa relação sujeito-objeto é sempre desigual e incompleta. Entretanto, para o
discurso do capitalista, há uma correspondência que satisfaz o sujeito-consumidor. A se pensar no
caso da formação de professores para a inclusão, percebe-se primeiramente propostas de evidências

51
científicas as quais possibilitariam ao professor saber qual o “problema” de seu aluno, aliadas a
técnicas que seriam suficientes para ensinar a todos. Como a cada momento surge uma síndrome ou
uma especificidade no campo das questões psíquicas e/ou das deficiências, a formação de
professores é interminável, tendo um caráter de formação continuada e permanente. Assim, esse
discurso para o qual não há saída, gera uma legião de profissionais consumidores à espera de uma
solução para suas questões de sala de aula, jogando-os ao mesmo tempo na incerteza de não saber o
que fazer, já que a ciência tem sempre uma descoberta nova a apresentar.

Autor(a): Carina de Mello Souza dos Santos - UFRJ


Contato: carinasantospsi@gmail.com
Título: Reflexões em torno da constituição do sujeito frente a "cientifização" de tratamentos
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Este trabalho trata dos diversos modos de constituição do sujeito e de sua relação com a
alteridade, através do olhar psicanalítico, frente à lógica de atuais tratamentos direcionados aos
sofrimentos e sintomas no âmbito da saúde mental e da educação. O sujeito, sendo um ser de
linguagem inventado a partir do afeto primordial da angústia, advém e inventa modos de tratar o
gozo e de saber-fazer com o real, dado seu surgimento no mundo do significante (Lacan, 2004). No
entanto, alguns cenários científicos de tratamento na contemporaneidade, onde predomina o viés
positivista, tendem a patologizar tal condição inerente ao ser humano. Estes cenários acabam por
ocultar as construções subjetivas, entendidas aqui como os modos em que os sujeitos se posicionam
na linguagem, ao tratar os sofrimentos e sintomas (vias de expressão e sustento) como fatores a
serem expurgados da vida cotidiana. A constante catalogação de novas doenças em manuais
estatísticos internacionais e o desenvolvimento de novos tratamentos farmacológicos e tecnológicos
relativos a fatores considerados, por algum tempo, parte da realidade humana e da dinâmica de uma
sociedade, se contrapõem à percepção da relevância de trabalho com as construções dos sujeitos
aqui mencionadas. Entendemos que tais fatores requerem uma atenção outra. Nesse sentido,
buscamos delinear a constituição do sujeito através da perspectiva psicanalítica de Freud e Lacan
(Freud, 2006; Lacan, 1998) e averiguar, com base nisso, os caminhos que os sujeitos percorrem para
sustentar a relação com sua realidade e com o outro. Ainda, buscamos delinear o lugar da angústia
na literatura refererida, a fim de recuperar seu estatuto e refletir acerca das possibilidades que esta
aponta para um trabalho de elaboração ou suplência a partir de quadros insustentáveis para o
sujeito. Pretende-se contribuir, através deste estudo, com os campos de trabalho na área da saúde
mental, educação e outras que incidam sobre o contato do sujeito com a alteridade, na qual estejam
contidas formas diversas de sofrimento. Esclarecer o lugar da angústia contribui para o refreamento
da criação de novas doenças e ponderações outras acerca de tratamentos hegemônicos para tais.
Essas observações promovem as indagações: de que maneira o sujeito está sendo considerado e
idealizado por via dos tratamentos anteriormente mencionados, a partir do olhar da teoria
psicanalítica? Como é possível ao sujeito relacionar-se com o outro nas atuais conjunturas sociais?
Entende-se como relevante o fomento à investigação dessas questões a fim de tecer considerações
que apreciem de modo suficiente a dimensão significante do sujeito e sua produção de sentidos e
vivências. Destarte, percebemos que o âmbito de intervenções de caráter estritamente quantitativo,
objetivo e biologicista, no olhar para os sofrimentos e sintomas do sujeito, promove uma forclusão
do mesmo. Vislumbramos alguma preocupação destas medidas com a melhora da performance
social em determinados contextos, de forma a amenizar a imprevisibilidade presente nas
construções subjetivas. No entanto, a literatura psicanalítica afirma que tais construções têm algo a
dizer. Os sintomas são sempre singulares e, em geral, apontam para complexidades advindas dos
desdobramentos das relações subjetivas (Lacan, 2001). Dessa maneira, a reflexão acerca da
formação de um laço social mais amplo, que inclua diferentes modos de subjetividade, além de

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possíveis trabalhos com aquele, abre uma nova perspectiva para o sofrimento e cuidado deste.
Freud, S. (2006). Inibições, sintomas e angústia. In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v. XX. Rio de Janeiro: Imago, pp. 95-201. Lacan, J. (2004) O
seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Lacan, J. (2001). O lugar da psicanálise na
medicina. Opção Lacaniana, volume 32, pp. 8-14.
Lacan, J. (1998) A ciência e a verdade. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, pp. 869-893.

Autor(a): Carla Nunes Vieira Tavares – UFU - Universidade Federal de Uberlândia


Contato: carla@sonner.com.br
Título: (Des)acomodando o velho: aprendizagem e identidade
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O processo de envelhecimento biológico e cognitivo assinala à velhice um destino de certo
modo universal, mas ela é, também, uma construção discursiva afetada pela interpelação histórico-
ideológica em jogo nas diversas formas nas quais é representada em certa época e cultura.
Entretanto é preciso lembrar, junto com Beauvoir (1990, p.14), que a velhice é vivida da posição
particular possível a cada sujeito, atravessado pela sua historicidade e subjetividade. As incessantes
empreitadas do sujeito para simbolizar o mundo propiciam o engendramento, a afirmação ou a
ressignificação dos traços que o constituem, sua percepção identitária, sua posição particular no
mundo. Ao mesmo tempo em que se impõe ao sujeito como mais um confronto com o real, o
envelhecimento oportuniza a (des)acomodação de alguns traços que restaram irrepresentados e de
outros cristalizados em sua rede de significantes. Pensando nessa (des)acomodação pressuposta na
velhice foi proposto o projeto de extensão em uma universidade pública em Minas Gerais, o ELITI –
Ensino de Inglês para a Terceira Idade. A ideia era que com base na experiência de aprendizagem de
uma outra ou nova língua, o idoso pudesse atualizar e ressignificar alguns dos traços que compõe sua
constituição identitária, marcada por sentidos associados à improdutividade, deterioração,
incapacidade, isolamento, dentre outros. A aposta do ELITI foi que o encontro-confronto com outras
e novas discursividades sobre si e sobre o mundo mediadas por uma língua estrangeira e essa língua
sendo o inglês, altamente valorizada no cenário atual, desestabilizasse a rede de significantes que
constituía a identidade dos alunos, ensejando outras formas de (se) ver (n)o mundo. A proposta
desta comunicação é discutir algumas das propostas do ELITI e seus possíveis efeitos sobre os alunos
da terceira idade com vistas a indiciar os pontos e/ou manejos nos quais é possível que traços da
constituição identitária dos alunos pudessem ser colocados em suspensão e, possivelmente,
ressignificados, de modo a ensejar uma reconfiguração, ainda que sutil, da particularidade com que o
sujeito ocupa uma posição no mundo. O corpus deste trabalho consiste em notas de campo de
observação de aulas e de conversas com os alunos, alguns planos de unidades didáticas e algumas
produções dos alunos. A análise considerou a historicidade que atravessa o processo de
aprendizagem e seus integrantes, o investimento subjetivo em jogo, e a possível relação
transferencial entre aluno-professor. Apesar de muitos idosos se encontrarem colados à imagem de
desamparo e de perdas e, por isso, terem dificuldade em se deixar enredar no circuito pulsional de
modo desejante, uma das saídas pode ser encontrar outros modos de significar e simbolizar as
perdas. As propostas das unidades analisadas, as notas de campo e a produção dos alunos indiciaram
essa desestabilização subjetiva que uma língua estrangeira pode causar por meio de um convite à
reatualização de traços da memória que possam representar uma ressignificação do presente e uma
abertura para um investimento subjetivo no futuro. A resposta do sujeito sempre será particular e
desconhecida. Porém a análise aponta que o ELITI constituiu uma possibilidade de despertar uma
vontade de (re)criação, constitutiva e estruturante da constituição identitária tão desvalorizada do
idoso. Na dependência da vigência da pulsão e do desejo e do investimento subjetivo do professor e
do aluno, o trabalho no ELITI pode ter promovido o adiamento da conformação com a imagem
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socialmente compartilhada de velho e propiciado aberturas para outras e novas formas de ocupação
da posição de idoso. Referências: BEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

Autor(a): Carla Renata Braga de Souza – UNICAT


Contato: carlarenatabs@gmail.com
Título: Inquietações diante dos efeitos do diagnóstico no tratamento de crianças em sofrimento
psíquico grave
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A criança no cenário contemporâneo passa a ser concebida sob duas perspectivas: 1) a
biológica, marcada pelo crescimento físico, neurológico e cognitivo em processo inicial que,
normalmente, tem seu ápice na puberdade; 2) a psíquica, cujo processo acontece nos primeiros anos
de vida tendo sua validade de funcionamento e organização testada na adolescência. Sob este
panorama há uma indicação de que os diagnósticos de transtornos mentais para crianças não sejam
definitivos, visto que o indivíduo está em processo de mudança e um diagnóstico poderia retirar dele
as possibilidades de se reposicionar diante do que poderia ser visto como uma forma de rearranjo
psíquico em face do cenário que a criança está envolvida. O novo lugar dado à criança como ser
biopsicossocial e sujeito de direitos ocorreu como resultado de uma construção histórica, que
culmina no reconhecimento destas condições e, consequentemente na sua inclusão aos grupos de
vulnerabilidade nas políticas públicas. A partir da psicanálise, foi reconhecido que as crianças podem
também sofrer da mesma forma que os adultos. Isso pode ocorrer sem que os adultos notem, no
entanto, na maioria dos casos é perceptível, a partir das mudanças de comportamento, refletindo
uma comparação entre o ideal e o real ou entre o normal/esperado e o apresentado. O presente
trabalho tem a intenção de discutir a respeito das implicações do diagnóstico médico nos
tratamentos de crianças com transtorno psíquico grave. Este interesse surge a partir das supervisões
realizadas no programa de extensão Clínica, Estética e Política do Cuidado (CEPC) ligado à
Universidade Federal do Ceará (UFC) que tem sua inserção no Sertão Central do Ceará. Este
programa tem por objetivo oferecer escuta psicanalítica a crianças e adolescentes em sofrimento
psíquico grave, bem como seus cuidadores e as instituições que compõem a rede de cuidado desses
sujeitos. No Sertão Central, os atendimentos são realizados na Policlínica de Quixeramobim, que se
caracteriza por ser uma unidade de saúde que oferece atendimento ambulatorial em especialidades
médicas e não médicas. Diante disso, foi definido o fluxo de atendimento advindo de duas portas: o
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e o pediatra da Policlínica. Não raro, as crianças atendidas
pelo CEPC são acompanhadas por profissionais de diversas modalidades, que estão ou não na Rede
de cuidados de Saúde Mental da região. Neste contexto, alguns posicionamentos dos profissionais
médicos na realização de laudos chamaram a atenção dos extensionistas, uma vez que na finalização
do laudo foram encontradas afirmações categóricas que, em um primeiro momento, pareciam
limitar as possibilidades para a constituição dessas crianças, mas apontavam para algo além disso.
Quando os profissionais eram questionados a este respeito, afirmavam que, era desta forma que
conseguiam ter uma maior segurança de que os pais procurariam e manteriam o cuidado
multidisciplinar para seus filhos. Diante de diagnósticos de, especialmente, autismo esta estratégia
de tratamento é utilizada, no entanto passou a levantar inquietações a respeito de como este par
diagnóstico-tratamento se constrói em oposição a uma aposta na criança, mas numa não-aposta
nesses pais.

Autor(a): Carmen Lucia Rodrigues Alves – SME/SP


Contato: alves.carmen@uol.com.br
Título: A Forma(ação) docente na contemporaneidade

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Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Na atualidade, os cursos de formação docente são concebidos como a solução para todos
os males que assolam a educação. No entanto, apesar dos inúmeros e diferentes cursos, o resultado
esperado não se concretiza, pois, as características que embasam os cursos estão fundamentalmente
pautadas pelo princípio compensatório e reparatório da formação. Na época atual, o fracasso escolar
tem sido um dos argumentos, senão o mais relevante, para sustentar a crescente importância
atribuída à formação docente. Esse argumento baseia-se na necessidade de reparar a baixa
qualidade da educação no Brasil e usa como justificativa a ideia de haver uma insuficiência da
formação inicial dos professores, incapaz de atender às necessidades de aprendizagem dos alunos. É
dessa forma que se estabelece a indispensabilidade de melhorar sua competência, tendo a formação
continuada como compensação de algo que falta. Nessa perspectiva, o campo da formação docente
continuada vem sendo reconhecido pelas políticas educacionais como parte importante para o bom
exercício da docência e para a boa qualidade da educação. Essas políticas, desenvolvidas sobretudo a
partir da década de 90, fundamentalmente para a escola pública, concebem o professor como parte
crucial para suas concretizações. Entretanto, se por um lado esse profissional passa a ser colocado no
centro do debate educacional, por outro, sua formação sofre um processo de aceleração,
fragmentação e esvaziamento de conteúdo, lógica que atende a sociedade contemporânea pela
vertente do consumo e que tem como objetivo o tamponamento da falta que é estrutural do ser
humano. Na tentativa de resolver o que supostamente falta para o bom desempenho de sua
atividade cotidiana, o professor é levado a buscar em fontes exteriores, tais como agentes
formadores ou no próprio Estado, a figura de alguém que possua uma espécie de prescrição, que
saiba como proceder e orientá-lo por meio dos mais diversos cursos, palestras e abordagens, ou seja,
um expert. Cria-se uma espécie de subordinação dos que não sabem aos que sabem, como forma de
instrumentalizá-los e tirá-los da condição de desamparo. Essa concepção de formação tem
acarretado um esvaziamento do lugar do professor e de seu saber construído ao longo de sua
experiência cotidiana, pois ele passa a ser visto apenas como um mediador, sem subjetividade. A
compreensão do professor como mero executor de tarefas técnicas não contempla as exigências
implícitas dessa atividade, uma vez que não considera a complexidade e as particularidades
existentes no cotidiano escolar. Os cursos de formação continuada são, então, oferecidos com a
promessa de suprir a defasagem de um “saber-fazer” existente nos professores.
Diante desse quadro, nosso interesse foi encontrar uma experiência no campo da educação pública
com potencial de rompimento com o ideário predominante de formação, que busca compensar a
falta de um saber do professor. Assim, nosso trabalho apresenta uma experiência no campo da
formação de professores, em uma escola pública, no município de São Paulo, na periferia da região
leste dessa cidade, que carrega indicativos de ruptura com o modelo estabelecido de formação por
um especialista. Encontrou-se, no projeto desenvolvido por um grupo de professores, indícios de
uma ruptura ao modelo hegemônico. A pesquisa está fundamentada a partir de estudiosos do campo
da formação docente, como Antônio Nóvoa, Maurice Tardif e Philippe Perrenoud. De forma a indagar
o ideário predominante de formação docente, buscou-se o aporte teórico na psicanálise, a partir de
autores como Sigmund Freud, Jacques Lacan e Rinaldo Voltolini. Concluiu-se que o projeto elaborado
por esses professores levou ao engajamento desses profissionais com sua formação, de modo a se
responsabilizarem como sujeitos de saber para o ato educativo.

Autor(a): Carolina Cardoso Tiussi – UAM – Universidade Anhembi Morumbi


Coautor(a): Fernanda de Sousa e Castro Noya Pinto
Contato: caroltiussi@yahoo.com.br, fernandascnp@gmail.com
Título: Uma leitura do cenário político atual e seus efeitos para a inclusão: a que preço?
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber

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Resumo: O movimento da inclusão no Brasil conquistou avanços importantes nos últimos anos,
tanto em termos legais (Lei Brasileira de Inclusão), como em práticas inclusivas que se consolidaram
na rede de ensino. Escolas públicas e privadas construindo seus projetos, formando equipes e
acolhendo alunos sujeito até então excluídos do sistema regular. Ou seja, um projeto ambicioso,
ancorado na ética democrática e nos direitos humanos, em pleno curso. Porém, o cenário político
brasileiro sofreu rupturas importantes que culminaram na eleição de Jair Bolsonaro com discurso de
ultra-direita, colocando em cheque as ações dos direitos humanos, da ciência e da educação. Depois
de eleito, o atual presidente intensificou seu discurso contra pessoas, grupos e instituições que
discordam dele, questionando a credibilidade de órgãos consagrados a partir de factoides
(questionou os dados do IPEA sobre o aumento do desemprego; a pesquisa do INPE demonstrando
aumento do desmatamento na Amazônia; diz que as escolas querem promover a “ideologia de
gênero” etc.). Seu objetivo parece ser de desmantelar qualquer instituição de referência que não
corrobore com o que quer ou acredita.
Essa mudança discursiva parece ter promovido a perda de referências simbólicas em muitos campos.
Com a inclusão não é diferente. Sem as referências simbólicas que organizam a rede discursiva em
que nos pautamos, ficamos vulneráveis sobre como nos posicionar; especialmente diante das
sensações de abandono e de desespero. Vemos um enfraquecimento das instituições de ensino e
pesquisa, dos movimentos sociais consistentes que lutam por inclusão e das referências que até
então pautavam a implementação desse projeto. Voltam com força discursos já superados que
confundem inclusão com assistencialismo, voluntariado, treinamento de professores. Parecia
superada a ideia de que a inclusão poderia ser feita por pais de crianças com deficiência atuando no
lugar de profissionais, desrespeitando o saber da educação, guiados sobretudo por sentimentos e
com pouco ou nenhum embasamento teórico e prático. Essas iniciativas, que sempre existiram,
agora estão ganhando espaço dentro das escolas e das instituições de formação de professores de
São Paulo. O que estaria provocando essa mudança? Por que estão agora ganhando espaço e
enfrentando pouca ou nenhuma resistência?
Se antes o discurso ideológico pró social era sedutor, hoje, quem está à frente é quem melhor
produzir fake News ou quem puder vender melhor seu produto. Não se trata de ter o melhor
produto e sim de saber como vender qualquer coisa, ainda que sem a menor consistência, como
promessa de que ali haverá uma solução satisfatória para as desilusões vividas. Mas, a que preço?

Autor(a): Caroline Fanizzi - Feusp


Contato: caroline.fanizzi@gmail.com
Título: O professor nos tempos da técnica: a docência entre a ação e a fabricação
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: O presente estudo é parte inicial da pesquisa de Doutorado, em curso, realizada na
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Nota-se que na trama discursiva que hoje
constitui a educação, é reservado lugar prioritário aos discursos que se situam essencialmente na
dimensão técnica e metodológica do ofício. Nesta lógica, o ato educativo e as relações que nele se
estabelecem passam a ser percebidos como passíveis de serem mensurados, previstos e controlados,
a despeito daquilo que inevitavelmente emerge na dimensão concreta de suas práticas e da ação dos
sujeitos neles envolvidos. Regido pela ilusão de adequação e controle, o ensino passa a ser
conduzido a partir de premissas pretendidas como científicas, supostamente capazes de prever e
garantir com precisão o ponto de chegada do aprendiz ao final do processo educativo. Em tal
contexto, no qual a dimensão metodológica parece realizar-se à revelia dos sujeitos que a ela se
interpõem, que lugar restaria ao professor? Sob a hegemonia de discursos que pretendem enredar
tudo aquilo que se passa no educar, lançamo-nos ao questionamento se seria permitido ao professor
ocupar um lugar de enunciação em nome próprio. Na lógica tecnocientífica, a dimensão da

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experiência na função docente é esvaziada, obliterando a figura que aqui propomos chamar de
professor-narrador: um professor a quem revela-se possível transmitir e narrar aquilo que se situa
essencialmente na ordem da experiência e da tradição - entendida enquanto solo comum entre
diferentes gerações; um professor a quem é possível deixar marcas que o singularizam e historicizam
através do ensino. Do aparente não-lugar reservado ao professor e da percepção da educação como
processo semelhante à fabricação de um objeto de uso, decorrem uma série de implicações para o
ato educativo e os sujeitos nele envolvidos. Questionamo-nos neste ponto se estaria o chamado mal-
estar docente – suas queixas, seus adoecimentos, sentimentos de desvalorização e desautorização –
vinculado a este esvaziamento do lugar docente e à sua impossibilidade de enunciação.

Autor(a): Cássio Eduardo Soares Miranda – UFPI – Universidade federal do Piauí


Contato: cassioedu@ufpi.edu.br
Título: O que pode uma psicanálise frente ao abuso sexual contra adolescentes no ambiente escolar
e nas parcerias íntimas?
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A partir da interface entre a psicanálise e a saúde coletiva, busca-se destacar os possíveis
efeitos terapêuticos ao se entrevistar adolescentes que sofreram algum tipo de abuso dessa
natureza, utilizando a Entrevista Clínica de Orientação Psicanalítica (ECOP) na condução de pesquisa-
intervenção com adolescentes escolares. O abuso sexual contra adolescentes é entendido, segundo
a Organização Mundial de Saúde, como problema social e de saúde pública, estando os adolescentes
sujeitos a este tipo de violência em diversas esferas relacionais, inclusive em suas parcerias íntimas.
Como se trata de uma pesquisa realizada na articulação da psicanálise com a saúde coletiva, buscou-
se verificar a taxa de prevalência do abuso sexual entre adolescentes, considerando-se a dimensão
coletiva do fenômeno para, em seguida, verificar o modo singular como cada sujeito responde às
experiências ditas abusivas. A prevalência de vitimização por abuso sexual, nesta pesquisa, foi de
35,9%, tendo sido observada alta prevalência de vitimização sexual por namorado (a) /ex-namorado
(a). Por outro lado, as entrevistas realizadas com as adolescentes serviram como um espaço de fala
no qual foram verificadas desde experiências sutis de violência, a exemplo de carícias e toques
indesejados, até tentativas de manutenção de relação sexual forçada nas relações de namoro,
frequentemente precedidas de experiências anteriores em outras esferas relacionais e sobreposição
de violências. Algumas adolescentes não reconheceram experiências sofridas como sendo eventos
violentos, inclusive apresentando discursos que poderiam ser nomeados como legitimadores de
violência. As ECOP’s permitiram-nos constatar que os efeitos produzidos diferem conforme as
características da violência sofrida, porém sentimentos de medo, culpa, vergonha e isolamento social
foram comuns, bem como comportamentos suicidas e consumo de álcool e outras drogas. De
maneira mais específica, a partir da noção de “clínica dos encontros”, discutimos o caso de uma
jovem que relata experiências de vitimização sexual recente para, a partir dessa situação clínica,
verificar se o dispositivo proposto para a pesquisa pode servir como uma ferramenta que promova
algum efeito terapêutico que reduz o gozo implicado no sintoma do sujeito.

Autor(a): Clarissa Pimentel Portugal - UNB


Contato: clarissapportugal@gmail.com
Título: Reflexões psicanalíticas sobre o processo criativo em sala de aula
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Com base no aporte teórico da psicanálise, a presente pesquisa se propõe a investigar o
processo criativo em sala de aula, especificamente de adolescentes, e a complexidade psíquica que a
envolve. O ponto de partida e ideia central é o trabalho do professor de equilibrar e catalisar uma

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série de instâncias complementares e às vezes antagônicas para a produção artística dentro da
Escola, na qual se considera as relações transferencial e contratransferencial, as estruturas fálicas e
para além delas, juntamente às polaridades superegóicas da Escola e Id dos alunos adolescentes.
Para tal, percebe-se que o processo criativo em sala de aula perpassa pela instauração simultânea da
segurança e da falta, mais que isso, que é seguro lidar com a falta. Com isso, assumir a postura de
Mestre não-todo, ora disfarçado de Todo através das funções paterna e materna, possibilita a
instauração de segurança de que estão amparados por um mestre capaz de orientá-los nesse
processo enquanto se reconhecem como sujeitos inerentemente faltantes. Dessa forma, sob uma
perspectiva socrática do aprendizado através da maiêutica, possibilita-se uma relação transferencial
erótica a favor do aprendizado e da criação. Analisa-se também o próprio fazer artístico, que se
mantém como enigma na medida em que é um processo sublimatório baseado em técnicas e teorias,
mas atravessa pelo vazio inconsciente do feminino arcaico. No entanto, sua expressão em sala de
aula não possui necessariamente uma origem pulsional, e sim uma demanda advinda de outro com
base em conhecimentos teóricos e práticos apreendidos através de outro. Assim, o processo criativo
em sala de aula engloba o conflito de um ato criativo e subjetivo que necessariamente passará por
uma avaliação dentro do sistema de menções do ensino público. Por fim, a dimensão ética da
responsabilidade do professor sobre os alunos prevalece como caminho primordial para
reconhecimento dos alunos como sujeitos e possíveis criadores a fim de que os mesmos se permitam
essa expressão subjetiva em sala de aula.

Autor(a): Cleonice Pereira do Nascimento Bittencourt – UNB


Coautor(a): Inês Maria Almeida, Katilen Machado Vicente Squarisi
Contato: cleonascimentoead@gmail.com, almeida@unb.br, katilensquarisi@gmail.com
Título: Formação de Professores em um curso a distância e as relações dos sujeitos no campo
educativo
Eixo: Formação de Professores em um curso a distância e as relações dos sujeitos no campo
educativo
Resumo: Introdução: O presente trabalho, trata-se de recorte a partir da pesquisa de doutorado em
andamento, realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade de
Brasília, linha de pesquisa Escola, Aprendizagem, Ação Pedagógica e Subjetividade na Educação –
EAPS, tendo como escopo principal apresentar e refletir a experiência de formação de professores
para a Educação Infantil a partir de um curso de extensão oriundo de convênio entre MEC,
Universidade de Brasília e a Rede de Ensino Pública do Distrito Federal, ofertado por meio da
modalidade de educação a distância, e demais contribuições que orientam a prática do professor em
relação a leitura e fortalecimento de vínculo com bebês a partir de suas relações na creche. Do
espaço biográfico ao dispositivo: à experiência de “Recordar, repetir e elaborar." Nesse sentido,
pretendemos apresentarmos repercussões da política pública na formação do educador que atua em
creches com crianças de 0 a 3 anos, bem como, quando nos propomos a pensar as contribuições da
psicanálise a partir da Universidade, em especial, quando sugerimos olhar o ensino e transmissão,
como campo de resistência para pensar as relações que se configuram nos tempos atuais como
“liquidas”. Para Belloni(2001, p.26)a sociedade contemporânea apresenta-se permeada pela
chamada era digital invadindo todos os contextos: social, educacional, político, familiar e de
identidade, exigindo mudanças nos processos de aprender e ensinar de pais e educadores, já que a
escola é reconhecida como reprodutora da cultura de um mundo globalizado. Portanto, percebeu-se
que diante do espaço biográfico de recordação e por meio de um movimento de repetir o passado e
repensar o futuro, foi possibilitado que as professoras elaborassem os sentidos subjetivos da prática
docente juntos aos bebês. Refletindo sobre os vínculos possíveis a partir da realização de
brincadeiras considerando a par professora(o) - bebê. Conclui-se que ao possibilitarmos reflexões e

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análises fundamentadas na articulação Psicanálise e Educação é possível no campo da Universidade
cooperar para que na formação do educador que atua na primeira infância por meio das
possiblidades de pensar a própria prática possa encontrar-se consigo mesma e fortalecer os vínculos
a partir da articulação teoria e pratica. Nesse sentido, podemos inferir que na proposta de formação
continuada a partir da Universidade para além de enquadrar os professores no “furor pedagógico”,
que nos adverte Lajonquière(2001), pensamos que será possível possibilitar aos professores em
formação repensar sua prática, expressar-se via EaD, mediados pelo Ambientes Virtual de
Aprendizagem, e encontros presenciais, por meio da linguagem que estão permeadas por sentidos
de subjetividades, que se desvelam dos laços sociais construídos com seus pares de profissão, e
também ao recordarem, repetirem e elaborarem as relações estabelecidas com seus bebês no
contexto da Educação Infantil. Reviveram a experiência de ser e tornar-se professor de bebês, no
momento da escrita de Memória educativa e compartilhamento nos fóruns, de modo a trazer para
sua formação o pensar a cultura dos bebês que é acessada cotidianamente quando os professores
acessam suas linguagem ao falar, cantar, ler e permitir percebê-los que [...] são também sujeitos da
linguagem e da cultura. Recebem um nome, transformam a vida daqueles que os acolhem, afetam a
realidade em torno deles e são afetados pela vida emocional e social da mãe e da família. (BRASIL,
2016, p. 49) e dos professores da creche.

Autor(a): Cristina Mariel Ronchese


Contato: cristinaronchese@yahoo.com.ar
Título: Entre tendencias a la objetivación y a la subjetivación, se despliega el desafío de las prácticas
docentes en la escuela.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Este trabajo resulta de una investigación que estamos llevando a cabo, en la ciudad de
Rosario, Argentina, un grupo de docentes de la Facultad de Psicología, UNR, denominada “Función
subjetivante de la escuela primaria y de la práctica docente en contextos actuales de vulnerabilidad
psicosocial”. Con la misma, nos hemos propuesto, por un lado, indagar, recuperar y revalorizar
aquellos procesos subjetivantes que se generan a partir del quehacer docente, enmarcados en la
escuela actual. Por otro lado, y en virtud de la importancia que tienen dichos procesos, potenciar y
promover el despliegue de tales prácticas allí donde la escuela se encuentre en un estado de
impotencia instituyente (Duschaztky y Corea, 2009). Plantear la subjetividad como una producción
implica pensar estos procesos como un devenir, siempre en curso, como efecto inacabado que
involucra tanto a sujetos como a grupos, instituciones, y las variables culturales, histórico- políticas
que hacen a la construcción social del sujeto, incribiéndolo en un tiempo y en un espacio particulares
(Bleichmar, 2010). Asistimos a una época de contundentes cambios sociales, económicos y políticos
uyas escenas cotidianas son la exclusión social, la marginalidad y la ruptura de lazos. Se evidencia un
incremento de niños/as y adolescentes en situación de vulnerabilidad social y fragilidad psíquica. La
escuela se enfrenta con el desafío de seguir siendo una institución generadora de lazos en un
contexto de fragmentación social, que viene agudizándose. Percibimos un quiebre de lo que
caracterizó a la escuela moderna, en consonancia con el hecho de que las coordenadas epocales han
cambiado y, por ende, las condiciones de producción de subjetividad son otras. Aun así, pensamos a
la escuela como la institución secundaria privilegiada para la producción de subjetividad. En el marco
de los dispositivos implementados, se ha puesto en evidencia, en los discursos de las/los docentes, el
antagonismo central que atraviesa, al decir de Stolkiner (2001), todas las formas institucionales: la
tensión indialectizable entre tendencia a la “objetivación” y a la “subjetivación”. Cuestión que afecta,
inevitablemente, a las prácticas docentes y a la representación que de los niños y niñas se va
configurando en la escuela.
Con nuestra investigación, nos proponemos construir un espacio de reflexión e intercambio, al
59
respecto, que resulte generador de aportes para la tarea docente cotidiana. Apostando a instalar una
mirada desnaturalizadora del dispositivo escolar, intentamos promover cierta producción colectiva
de conocimiento, a la vez que revalorizar y potenciar las prácticas docentes en donde se da lugar al
surgimiento del sujeto. Inclusive, nos interesa propiciar la construcción de tales prácticas, allí donde
se encuentren con dificultades u obstáculos para ello. Si bien como marco teórico referencial
tomamos el psicoanálisis, el análisis de tal complejidad requiere necesariamente de una
multireferencialidad teórica. La metodología de la investigación es de corte cualitativo, se trata de
una investigación-acción.

Autor(a): Daniele Lima da Silva – UNEB – Universidade federal do estado da Bahia


Coautor(a): Maria de Lourdes Soares Ornellas
Contato: fonodanielelima@gmail.com, danielelima.lima@gmail.com
Título: Escuta (im)possível? Desejo do professor-pesquisador na escola contemporânea
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Introdução. O presente estudo tem como objetivo analisar a (im)possibilidade de escutar o
desejo do professor da escola básica contemporânea no sentido de que o seu saber fazer transborde
as práticas tradicionais de transmissão do conhecimento, consideradas as perspectivas de que esse
profissional ao mesmo tempo que ensine, pesquise. Constitui-se enquanto objeto de estudos
doutorais em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC/ UNEB) em que psicanálise e educação
fazem laço numa aposta de ressignificação da práxis e formação do educador. Nessa investida,
lançamos luz à proposta de uma educação atravessada pelo desejo, que nada mais é do que o
(im)possível de uma educação subjetivamente orientada como uma aposta onde a pesquisa
científica, marca fundante dos atributos acadêmicos, estabeleça bases de permanência e
(trans)formação também na escola básica. Discussão. As redes de sustentação que nos constituem
enquanto sujeitos desejantes estão, cada vez mais, fragilizadas, absortas pela liquidez e
superficialidade que atravessam as relações humanas. É, pois, este dito acesso ao fato de uma
educação “da ordem do impossível”. (FREUD, 1937). Outrossim, as dificuldades evocadas por Freud
não são correlatas às dificuldades do ato educativo ou da pesquisa a ele associada; antes, a derivação
da letra freudiana conduz à observação de que os sujeitos pedagógicos não são uniformizados e
controlados pela palavra, uma vez que esta palavra seja furada.
Nessa guisa, faz-se pertinente o dito de que a educação se faz também do seu avesso. Assim, educar
remete ao (im)possível, uma vez que a falta é constitutiva do sujeito e é justamente ela que o faz
desejar. Quando consideramos os docentes à luz de suas subjetividades, o êxito nunca está
salvaguardado, haja vista que a educação não responde à demanda formativa contemporânea, a
uma educação gestada a partir de fórmulas pré-fabricadas; a educação sobrevive, justamente, da
ambivalência, da pulsão e da singularidade. Ora já seja sabido que a cientificidade por meio do
discurso capitalista, tende à busca da satisfação imediata de um desejo, a proposta de uma educação
que “deixe a desejar” deve levar em conta instâncias simbólicas, de identificação particular as quais,
professor e aluno devem seu desejo. Assim dirá Ornellas (2005, p. 51) que “o sujeito se estrutura na
lógica do sujeito barrado, ou seja, ele é assujeitado pela lei fálica para suportar a angústia de sua
falta” e é a falta que faz desejar. Destarte, este estudo, desafiadoramente, ingressa a possibilidade
de escuta num contexto formativo e de atuação profissional de sorte a melhor conhecer as formas
de manifestação da falta e do desejo na educação a partir da dimensão pulsional que atravessa,
estruturalmente, o professor-sujeito. Percurso metodológico: Considerado o aspecto subjetivo do
objeto em tratamento, optou-se por realizar um estudo qualitativo com uma aproximação ao
método de orientação clínica, cujas elaborações se fazem alicerçadas nos construtos da psicanálise e
educação. Portanto, as discussões delineadas neste trabalho têm por base epistêmica Lacan (2005),
André (2001), Kupfer (1997), Ornellas (2005), dentre outros teóricos cujas elaborações se gravam

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como fundantes à implementação de dispositivos de coleta centrados na escuta e pesquisa de
orientação clínica.
Referências: ANDRÉ, Marli et al. O papel da pesquisa na formação e na prática dos
professores.Campinas, SP: Papirus, 2001. LACAN, Jacques. O seminário 10. A angústia. Rio de Janeiro.
Ed, Zahar, 2005. KUPFER, Maria Cristina. Afetividade e cognição: uma dicotomia em discussão. São
Paulo, USP, 1997. ORNELLAS, Maria de Lourdes Soares. Afetos manifestos na sala de aula. São Paulo:
Ananablume, 2005.

Autor(a): Dayana Coelho Souza - USP


Coautor(a): Filomena Elaine Paiva Assolini
Contato: dayana.coelho@hotmai.com, elainefdoc@ffclrp.usp.br
Título: Os laços de famílias e escola: o que os adolescentes nos dizem?
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Nosso trabalho é um recorte de pesquisa de mestrado em andamento, na área da
educação, pensada à luz da psicanálise em diálogo com a da análise do discurso pecheuxtiana.
Analisamos o discurso de quatro adolescentes, entre treze e quatorze anos, acerca do significante
família de modo a localizar os lugares que os adolescentes colocam a família e escola, no que diz
respeito a endereçamentos e transmissão da cultura. A escuta dos participantes ocorreu por meio de
entrevistas, a partir de roteiro pré-elaborado sobre o tema, com questões abertas baseadas na
literatura pesquisada sobre o assunto e elaboradas de modo que encorajassem os sujeitos a
narrarem as suas histórias familiares e a discorrerem acerca do que pensam sobre a família na
atualidade. As entrevistas foram gravadas e transcritas. Efetuamos escutas flutuantes dos áudios e
leituras flutuantes das transcrições. Selecionamos recortes tendo como critério os objetivos da
pesquisa. Foram efetuadas análises da cadeia significante na qual o sujeito apareceu por meio de
indícios. Até o momento, encontramos que o assujeitamento a uma ordem apareceu nos discursos
dos adolescentes escutados, estando ancorados em um discurso do Outro, apesar de imersos em
uma cultura onde prevalece o discurso do capitalismo. A família, para eles, é o que nos dá uma
referência que podemos ou não utilizar, família também é aquela que escolhemos no decorrer de
nossa vida, que nos ampara e nos ajuda a ressignificar nossas referências. Assim, o lugar da família
como Outro esteve presente nos discursos dos adolescentes escutados, mesmo que para contestá-lo.
Os discursos apresentaram família em redes (ROUDINESCO, 2003), na qual há prevalência de
relações horizontais. São outros modos de se relacionar, mas há interdição presente, apesar do
predomínio da horizontalidade. As subjetivações não foram determinadas a algum tipo de arranjo
familiar específico, e sim em como os adolescentes se posicionaram frente às contingências de suas
famílias, a partir do que foi transmitido para eles. Assim, o trabalho da adolescência de
questionamento do Outro é particular, não havendo uma determinação do sujeito em relação às
suas configurações familiares. Apesar das particularidades, há incidências das questões da época em
seus discursos; uma delas foi a diferença do lugar da mulher na sociedade no sentido de acesso a
mais direitos, o discurso feminista tem se reverberado e entendido como uma marca diferencial
entre as gerações. Quanto ao significante escola, foi articulado às relações fraternas e interpretamos
que, nos discursos dos participantes, a escola ocupou um lugar de referência para as identificações
imaginárias e lugar de amenizar aparecendo como objeto necessário a uma possível completude no
futuro, mas não como uma atividade prazerosa, sublimatória. Sendo assim, no que diz respeito a um
espaço de saber referencial, a escola ocupou lugar utilitarista, assim como Charlot (2014) defende
estar o lugar da atividade intelectual na atualidade. A referida relação com a atividade intelectual
também é própria do discurso capitalista, assim como comentada por Horne (2007), na qual o objeto
não é causa do desejo e sim um excesso que imaginariamente tenta tamponar a falta constituinte.
Finalizamos defendendo que a psicanálise é uma ética que considera nossos furos constituintes de

61
modo a oferecer abertura para subversão, visto que pressupomos que há um sujeito do inconsciente
que ali se impõe à revelia de métodos pedagógicos e de arranjos familiares. Portanto, a psicanálise
nos aponta a importância de escutar os sujeitos envolvidos no processo de educar e considerar seus
questionamentos.

Autor(a): Dayanna Pereira dos Santos - IFG – Inst. Fed. de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Contato: dayannagyn@hotmail.com
Título: Infância, Autismos e estruturação psíquica: uma leitura psicanalítica
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Esta pesquisa investiga o processo de elaboração psíquica do que se denomina comumente
como passagem do infans ao falante, considerada, sob o ponto de vista desta tese, uma operação de
estruturação, em que há um initium subjetivo dependente da função da fala. A análise parte dos
textos iniciais de Freud e da teoria dos nós no final do ensino lacaniano com o intuito de tratar da
estruturação subjetiva e, assim, adentrar nas particularidades dos autismos. Esse exercício
investigativo traz os conceitos de pulsão, traço unário, lalangue, Real, Simbólico e Imaginário com
vistas a explicitar que o organismo do bebê sofre a incidência da marca gerada pelos cuidados
maternos. Nessas condições, para que o infans saia da categoria de puro organismo e se humanize, é
preciso que ele se aliene aos significantes vindos do Outro. A par dessa questão, apresentamos a
estruturação subjetiva suportada pelo trançamento entre Real, Simbólico e Imaginário cuja
incidência de lapsos em sua estruturação é capaz de produzir efeitos como os autismos. Para
investigar essa complexa elaboração, partimos dos seguintes questionamentos: O efeito da fala do
outro sobre o corpo da criança pode resultar em uma fala à deriva? É possível a criança autista estar
na linguagem, mesmo sem a função da fala? Nesse contexto, abordamos a constituição subjetiva sob
a lógica do nó borromeano e da trança RSI, evidenciando a estrutura sincrônica da constituição
subjetiva e a necessidade de um quarto elo para sua amarração. Tendo em vista que os autistas são
reveladores de tais impasses, tecemos algumas considerações acerca do entendimento de que as
falhas do nó apenas serão diferenciadas depois do reparo de seus lapsos com o quarto elo. Tal
proposição enfatiza uma não-fixação da estrutura
psíquica na infância. Defendemos, por fim, que a criança autista está na linguagem,
assujeita-se a ela, mesmo que o significante seja apagado em relação ao signo. Logo, considerando o
aporte conceitual de Vorcaro (2014), o autismo foi tomado, para além das proposições
psicopatológicas, como a maneira pela qual a criança se engendra no mundo da linguagem e como
ela se posiciona na relação com o Outro. Assim, na recusa da criança autista em fazer laço social,
mantendo-se na borda do campo do Outro, há um modo singular de as crianças autistas se
posicionarem frente à linguagem.

Autor(a): Débora Scherer de Escobar – UFRGS


Coautor(a): Simone Bicca Charczuk
Contato: deborae067@gmail.com, sibicca@gmail.com
Título: Atendimento educacional especializado (AEE), agir pedagógico e psicanálise: notas
introdutórias
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: No âmbito do AEE, as práticas pedagógicas possuem, majoritariamente, forte cunho
tecnicista. Michels (2011), ao discutir sobre a política de formação de professores no Brasil,
especificamente àquela voltada à Educação Especial, aponta que “a centralidade das ações dos
professores do atendimento educacional especializado (AEE) permanece nas técnicas e nos recursos

62
especializados” (p. 226). Numa postura investigativa, empenhamos esforços na tentativa de propor
uma torção da ideia de prática para o agir pedagógico, não desconsiderando a prática, mas propondo
um fazer que a transcende. Para tanto, a partir da noção de construção do caso, que nos chega pela
via da psicanálise, propomo-nos pensar o agir, como verbo infinitivo, que remete a portas abertas, à
movimento que busca afrouxar os nós do tecnicismo/cientificismo e dar voz ao sujeito, num esforço
de escutá-lo, de acolhê-lo na cena pedagógica. Como método, a construção do caso tem-se mostrado
potente no desdobramento de nossas hipóteses de trabalho. Uma experiência semelhante, também
balizada pelo método da construção do caso, já foi proposta anteriormente pelo grupo de
pesquisadores do NUPPEC. Tal experiência foi publicada em 2017 no livro Psicanálise, Educação
Especial e Formação de Professores: construções em rasuras, organizado por Vasques e Moschen. O
livro apresenta um trabalho de formação de professores realizado ao longo de três anos, no qual o
processo de leitura e escrita foi tomado como dispositivo principal. O curso de formação desdobrou-
se por meio da escrita dos professores endereçada a leitores (NUPPEC) vigilantes aos modos
singulares com que se apresentavam os impasses da educação de crianças, consideradas com
transtorno global do desenvolvimento. No caso desta pesquisa, o escrito que serviu de base para a
construção do caso foi apresentado como carta aos pesquisadores do NUPPEC. A carta escrita por
uma professora, trouxe a narrativa de uma experiência, sucedida no AEE, numa escola regular de
educação básica com um aluno considerado público alvo da educação especial. Integrantes do
NUPEC, eixo 1, colaboraram como leitores da experiência narrada e nomeada como Caso Mateus.
Mateus é um estudante que coloca em questão as técnicas pedagógicas e convida seus professores a
conhecer outras vias possíveis. Ele tem uma forma singular de ler e de interagir com os materiais que
lhe chegam prontos. Mateus é cego e há um momento de sua escolarização no qual se põe a ler o
braile da direita para à esquerda. Mateus também propõe uma desconstrução dos materiais táteis e
adaptados que lhes são apresentados por sua professora do AEE. Diante das impossibilidades de dar
um segmento ao trabalho pedagógico através do uso das técnicas e dos recursos, a professora
consegue fazer um deslocamento pedagógico através da escuta do estudante e passa a utilizar a via
da desconstrução de objetos para auxiliar o estudante a compreender conceitos em sua vida escolar,
como por exemplo, o conceito de onomatopeia. A escuta é um dos conceitos que pretendemos
destacar como parte do agir pedagógico. A hipótese que tem se sustentado até o momento atual da
investigação é de que esse agir pode incidir na construção de experiências educativas capazes de
permitir a singularização dos processos escolares e de afrouxar os nós do tecnicismo/cientificismo,
dando voz ao sujeito num esforço de escutá-lo e acolhê-lo na cena pedagógica. REFERÊNCIAS:
MICHELS, Maria Helena. O que Há de Novo na Formação de Professores para a Educação Especial?
Educação Especial, Santa Maria, v. 24, n. 40, p. 219-232, maio/ago. 2011. Disponível em:
ttps://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/2668/2440 Acesso em: 17 mai 2019.
VASQUES, C. K.; MOSCHEN, S. Z. (org.). Psicanálise, educação especial e formação de professores:
construções em rasuras [recurso eletrônico] SEAD/UFRGS. – Dados eletrônicos. – 2. ed. – Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2017.

Autor(a): Débora Souza de Santana – UNIB – Universidade Ibirapuera


Coautor(a): Cristina Keiko Inafuku de Merletti
Contato: deh.twi@gmail.com, crisinafuku@yahoo.com.br
Título: Adoecimentos na infância: quando o corpo fala do sofrimento psíquico
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: O presente trabalho pretende apresentar algumas articulações entre a perspectiva
psicanalítica da psicossomática e sua contribuição para o reconhecimento de distintas manifestações
de adoecimento na infância. Parte-se da noção de adoecimento que compreenda outra dimensão do
corpo, para além da orgânica, considerando-o também suporte de um sofrimento psíquico e de um

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mal-estar que necessitará de significações do sujeito e, no caso do infans, fundamentalmente do
outro para a sua compreensão e auxílio. O objetivo central da teoria psicossomática de orientação
psicanalítica é de que o corpo e a mente compõem uma unidade de funcionamento, e as
representações psíquicas exercem um papel indispensável no processo de somatização (LEAL, 2012).
Outros autores também buscaram apresentar os modos como concebem as articulações entre a
mente e o corpo e as influências de um sobre o outro. De acordo com Campos (2010) o corpo como
meio de comunicação e de defesa parece ser o mecanismo básico do fenômeno psicossomático. Para
Zimerman (2001), o processo de somatização é uma das respostas mais comuns do ser humano,
agindo como um mecanismo de defesa e reagindo de modo primitivo ao lidar com um ambiente
hostil ou prejudicial, caso o conflito ou a dor psíquica sejam insuportáveis para a psique (LEAL, 2012).
Para o trabalho que buscaremos desenvolver no presente texto, podemos pensar que, se para o
adulto tal mecanismo possa ser considerado primitivo, para a criança e, mais precisamente para o
infans, parece-nos ser um mecanismo primordial de manifestação psíquica, seu corpo no lugar da
palavra. Pesquisadores na área da medicina têm também constatado que muitas doenças na infância
têm origem desconhecida e podem estar ligadas a fatores emocionais, impulsionando o campo da
Medicina Psicossomática. A asma, principalmente a infantil, é uma doença de etiologia multifatorial
em que há interação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos, ambientais, gestacionais,
socioeconômicos e outros (SILVA; SCHNEIDER; STEIN, 2009). Contudo, sua etiologia específica ainda é
desconhecida, considerando-se a psicogênese da doença assim como o desencadeamento de crises
perante um agravante alergênico típico (PIRES, 1963). Winnicott (1967/71), por sua vez, constatou
que a congestão nasal e para-nasal em crianças podem ser, frequentemente, expressões de estados
de ansiedade. Para ele, esta é uma das maneiras da criança expressar sua raiva, em casos onde não
lhe é permitido demonstrar especialmente estes sentimentos, assim como sua intensidade,
associando-os a estados de congestão nasal. Winnicott (2005) atribui o desenvolvimento emocional
do indivíduo como fator determinante nos problemas psicossomáticos, relacionando-os com
dificuldades no processo de integração e falhas no cuidado parental e ambiental. Para este autor, os
sintomas podem ser interpretados como sendo respostas a certos estados emocionais ou como uma
forma da psique pedir ajuda (LEAL, 2012). No estudo de Roque (2015) foi apontado que o suporte
emocional materno e, provavelmente, dificuldades no exercício da função materna, são fatores
importantes para o agravamento da asma. De acordo com seus dados, a gravidade da asma infantil é
aparentemente influenciada pelo entrecruzamento entre práticas parentais e estilos psicológicos da
criança. Scalco e Donelli (2014) afirmam também que nos fenômenos psicossomáticos não há relação
de causalidade linear de seus desencadeamentos, mas, sim, de um processo dinâmico, que age no
sujeito de acordo com sua capacidade subjetiva de lidar com as adversidades da vida. A
compreensão da complexidade dos quadros de adoecimento em bebês e crianças exige uma
compreensão interdisciplinar, como tem buscado os estudos e pesquisas em Psicossomática
Psicanalítica. Espera-se que esses estudos possam transmitir a importância da relação entre a psique
e o soma em bebês e crianças, possam auxiliar iniciativas em prol do desenvolvimento e da
subjetivação na primeira infância.

Autor(a): Débora Thyara Ferreira – UNOPAR


Contato: deborathyara@yahoo.com.br
Título: Medicalização da educação: o saber médico como resposta ao mal-estar presente no
processo de aprendizagem
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Vemos, a cada dia, crescer o número de crianças que são encaminhadas juntamente com
suas famílias e um relatório da escola para avaliação com profissionais da área da saúde em busca de
um diagnóstico devido, principalmente, às queixas de dificuldades para o aprendizado: falta de

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atenção e agitação em sala de aula. Após estas avaliações profissionais, as crianças são rotuladas na
grande maioria das vezes, com os diagnósticos de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção,
Hiperatividade) , TOD (Transtorno opositivo desafiador) e autismo. A partir disso, acompanhamos
crescer de forma assustadora, o número de crianças de várias faixas etárias sendo medicadas com o
Metilfenidato, também conhecido como Ritalina ou a “droga da obediência”. O Brasil é o segundo
maior consumidor deste medicamento no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. De
acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no Brasil “o consumo do medicamento
metilfenidato, utilizado no tratamento do Transtorno de Déficit de atenção e Hiperatividade (TDAH),
aumentou 75% em crianças com idade de 6 a 16 anos” (ANVISA, 2013). Segundo Ortega et al.: A
fabricação mundial declarada de metilfenidato passou de 2,8 toneladas, em1990, para 19,1
toneladas em 1999, o que representa um aumento de mais de 580%. Este aumento é devido ao uso
do metilfenidato para o tratamento de TDAH, divulgado mais amplamente na década de 1990. No
ano de 2000, esta produção caiu para 16 toneladas. Mesmo com a queda em alguns anos, a
tendência foi de crescimento, chegando a 33,4 toneladas em 2004, 28,8 tonelada em 2005, e quase
38 toneladas produzidas em 2006. Destas 38 toneladas, 34,6 foram produzidas pelos EUA, que são
não somente os maiores fabricantes, mas também os maiores consumidores. A maior parte do que
os EUA produzem é para uso interno. O consumo nos EUA vem crescendo a cada ano, e hoje
representa 82,2% de todo metilfenidato consumido no mundo. (ORTEGA et al., 2010). O problema se
torna ainda mais grave, quando analisamos os efeitos colaterais que a medicação pode provocar nas
crianças que dela fazem uso. De acordo com o laboratório Novartis com relação ao medicamento
Ritalina, o mesmo pode provocar os seguintes efeitos colaterais: “náusea, boca seca, dor abdominal,
vômito, dor de dente, função hepática anormal, erupção cutânea, urticária, febre, queda de cabelo,
sentir-se nervoso e retardo do crescimento durante o uso prolongado em crianças” (NOVARTIS,
2015). Além disso, “essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de
ação da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um narcótico
(GARDENAL, 2013). Assim, tendo em vista os números apontados e a crescente queixa apresentada
principalmente pelas escolas, de que as crianças não aprendem o conteúdo proposto ou possuem
comportamentos agitados que fazem com que as mesmas percam a atenção em sala de aula, um
enigma se instala: por que a medicina com todo o seu aparato medicamentoso tem sido convocada a
responder aos problemas existentes dentro das escolas.

Autor(a): Deibia Sousa Rodrigues Teixeira – SEEDF


Coautor(a): Viviane Legnani
Contato: deibiateixeira@gmail.com, vivilegnani@gmail.com
Título: Lucas, PRESENTE! Por uma inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro do
Autismo que ultrapasse o prescrito nas Políticas Públicas
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A inclusão escolar de crianças com TEA deve visar o bem-estar e o cumprimento de um
direito humano e inquestionável: o de conviver, de participar e de interagir na sociedade de forma
igualitária. Apresentamos como objetivo geral dessa pesquisa a demonstração da ética da Psicanálise
no campo educativo por meio de um processo de inclusão de uma criança autista. Teve-se como
objetivos específicos: analisar o contexto histórico da Educação Especial e a Política de Educação
Inclusiva vigente no País; refletir sobre as consequências de uma inclusão escolar pautada no
discurso de homogeneização do sujeito; analisar a relação entre a psicanálise, a educação e a
inclusão. Do ponto de vista metodológico a construção das informações fez-se com uma abordagem
qualitativa, tendo em vista a necessidade de se considerar a singularidade e a voz dos sujeitos
participantes da pesquisa. Assim, foi realizado um Estudo de Caso de um aluno diagnosticado como
TEA com 12 anos de idade inserido em uma Classe Especial em uma escola pública do Distrito

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Federal. O trabalho foi fundamentado na perspectiva da teoria psicanalítica. Esse aporte teórico
norteou a reflexão referente a possibilidade de aproximação dos campos da psicanálise e educação
inclusiva, mais especificamente no que se refere à importância do campo da ética do sujeito no
processo de inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo. A construção e
análise dos dados demonstrou que independentemente do formato em que inclusão escolar se
apresente dentro do contexto educacional, em classes especiais ou em turmas regulares, a criança
com TEA somente poderá ser beneficiada se for vista como um sujeito que possui um lugar na escola.
A escola, por sua vez, apenas se tornará, verdadeiramente inclusiva, à medida em que se deixar
atravessar por reflexões baseadas no campo da ética do sujeito, na alteridade, responsabilidade e
respeito às diferenças, direitos, limitações e possibilidade de cada sujeito que compõem o dia-a-dia
da escola. A escola tem como função transmitir o conhecimento que é um patrimônio histórico e
cultural de todos nós. Essa função também lhe cabe junto à criança com TEA. Assim, é função da
escola lhe proporcionar a descoberta de um mundo diferente ao que está habituada no seu convívio
familiar, oportunizando experiências de interação com os pares e com a diversidade do espaço
escolar, possibilitando, assim, a construção de laços por meio da sua inserção no campo da
linguagem. Nesse sentido, a escola tem como função primordial, garantir a circulação e a
participação de todos os alunos nos espaços e propostas pedagógicas da instituição, necessitam
considerar a singularidade de cada criança. O caso em questão apontou um processo de inclusão
escolar efetivo. Efetividade que provocou mudanças significativas na criança, a qual antes de
frequentar essa escola, passou por experiências acentuadamente excludentes em outras escolas
públicas da região em que reside. Por se tratar de uma instituição onde circula bem a palavra entre
professores, equipe gestora e demais profissionais, a escola é inclusiva. Apesar da professora do
Estudo de Caso ser uma profissional experiente, engajada no contexto educacional e ter uma postura
ética junto aos alunos com diversas diferenças a pesquisa mostrou, de forma clara, a importância do
coletivo institucional para ocorrer o processo de inclusão escolar das crianças com TEA.

Autor(a): Diêgo Alves Fernandes – FCV – Faculdade Ciências da Vida


Coautor(a): Vanina Costa Dias
Contato: psidiegofernandes@gmail.com, vaninadias@gmail.com
Título: Processos de Identificação em Estudantes Universitários e suas Perspectivas
Filosófico/Políticas
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Este trabalho surge a partir de uma inquietação ante a realidade suscitada nas eleições
estaduais e federais do ano de 2018 no Brasil, que trouxe à tona questões relacionadas as diversas
disputas de narrativas de diferentes alas do campo político, dentre esses os conservadores e
progressistas. Partindo disso, o presente estudo buscou por intermédio de uma revisão teórica e uma
investigação de campo, apresentar quais são os processos de identificação envolvidos na opção de
estudantes universitários conservadores e progressistas por suas perspectivas filosófico/políticas,
indicando que tais fenômenos possuem correlação com os processos subjetivos inconscientes.
Tomando como processo de constituição subjetiva aquele processo que está relacionado com a
concepção de que o campo do sujeito é efeito, em especial, da linguagem e de uma trama de
relações pré-existentes ao nascimento, constituindo o que será o mito fundador de uma história
singular. O sujeito, para a psicanálise, é então aquele que se constitui na relação com o Outro através
da linguagem, sendo determinado pela função simbólica, assim como a posição do sujeito em relação
ao Outro é mediada pelas regras e convenções do registro simbólico (Vallejo & Magalhães, 1991). Em
um diálogo com González-Rey (2003), observamos que esse autor aponta para a noção de
subjetividade como um sistema complexo e plurideterminado, afetado pelos laços sociais que a
constituem, a partir do movimento das relações que caracterizam o desenvolvimento social. Para

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esse autor, a partir dessa constituição subjetiva, o indivíduo terá uma capacidade de superar o
imediato, dirigindo-se a realização de seus próprios projetos. Freud, em sua obra "Psicologia das
massas e análise do eu" (1920-21), nos mostra que todos os processos histórico-sociais, grupais
acontecem no interior do sujeito e que na vida anímica aparece sempre, efetivamente, "o outro".
Dessa forma uma construção do sujeito que é de um lado consciente e do outro inconsciente, abre
uma brecha para trabalharmos os impasses na contemporaneidade em relação a dinâmica das
singularidades psíquicas produzidas num contexto histórico, social e grupal, nesse caso, mais
especificamente, as identificações que marcam as construções subjetivas que levam os sujeitos a
fazerem suas escolhas. É a partir dessa premissa que se deu essa pesquisa que teve como mote as
marcas de identificação presentes em estudantes universitários que se declaram conservadores ou
progressistas para fazerem suas escolhas filosófico/políticas. A pesquisa de natureza qualitativa, foi
realizada através de um estudo de campo e na qual se utilizou como recurso entrevistas
semiestruturadas, contando com a participação de 10 pessoas, sendo 5 do gênero feminino e 5 do
gênero masculino. Os dados coletados foram analisados a partir da Análise do Discurso. Foi possível
elucidar por meio da pesquisa e no diálogo com os conceitos de identificação e subjetivação
propostos pela Psicanálise, quais os processos envolvidos nesse fenômeno, indicando a partir desta,
que as relações de poder, modos de subjetivação e o processo histórico/social presente na vida dos
sujeitos faz com que se produza modos de subjetividade plurais, sem os quais não podemos nos
orientar. Mesmo sendo atravessados por um sujeito do inconsciente não deixamos de ter marcas da
dimensão social uma vez que nos espelhamos nela, como possibilidade de existência, que produz em
cada sujeito um desejo social que orienta a nossa subjetivação, marcada por dimensões simbólicas,
imaginárias e reais. REFERÊNCIAS: FREUD. S. (1920-21). Psicologia das massas e análise do ego, In:
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud SE. Rio de Janeiro: Imago, v. XVII, p. 77-154, 1976.
GONZÁLEZ-REY, Fernando. Sujeito e subjetividade. São Paulo: Thomson, 2003. VALLEJO, A.;
MAGALHÃES, L. C. Lacan: Operadores da leitura. São Paulo: Perspectiva. 1991.

Autor(a): Diego Andres Barrios Díaz - Associação Pró Educação Vivendo e Aprendendo
Coautor(a): Vinícius Armiliato
Contato: dub.diego@gmail.com, vinicius.arm@gmail.com
Título: Inclusão, infância e política: uma perspectiva psicanalítica para a coordenação pedagógica
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Na presente comunicação nos indagamos sobre o que poderia ser entendido como uma
atuação política de coordenação pedagógica no âmbito da inclusão escolar. Para responder a tal
questão, faremos um relato de experiência bem como uma leitura das perspectivas pedagógicas de
uma instituição de Educação Infantil de Brasília-DF, a Associação Pró-Educação Vivendo e
Aprendendo. Tal instituição foi reconhecida em 2017 pelo Ministério da Educação como uma
experiência escolar inovadora, em referência às suas práticas pedagógicas e modelo de gestão. A
partir da experiência dos autores na instituição, apresentaremos elementos desta que impactam
positivamente no processo inclusivo, os quais serão lidos a partir de operadores teóricos da
psicanálise. Entendemos que a psicanálise, ao admitir a singularidade e radicalidade do desejo dos
sujeitos, estabelecendo uma leitura específica dos comportamentos emancipada de um modelo ideal
de natureza humana, pode fazer notar quais os movimentos institucionais que mantém modos de
existência padronizados em detrimento da ações da instituição que valorizem os atos singulares
manifestados pelos sujeitos. No caso da inclusão, nota-se que as crianças com necessidades
educativas especiais fazem notar vários processos de massificação, uma vez que a criança incluída
parece "resistir" às atividades pedagógicas dirigidas ao grupo e à coletividade. Além disso, tais
crianças fazem a equipe pedagógica ter que rever seus modelos de ensino, planos de trabalho e

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sistemas avaliativos que agrupam os indivíduos por idade e aptidões mentais, independentemente
de suas condições psíquicas. Entendemos que a valorização da singularidade, bem como o fomento a
práticas pedagógicas que garantam sua expressão, são estratégias institucionais e de coordenação de
caráter político. Na Vivendo e Aprendendo, a circulação da palavra entre profissionais, família e
coordenação, o trabalho com Projetos Pedagógicos junto às crianças, a construção e desconstrução
incessante de combinados, o dar voz às crianças e a mediação das relações entre elas, mostram-se
como dispositivos que fazem pensar o caso a caso dentro da instituição. Nesse sentido, em sua
dinâmica institucional a pauta inclusiva também ganha escopo político, notadamente quando
problematiza o termo “incluir”, a ideia de normalidade, bem como quando propõe um distinto
entendimento de infância. Entendimento que valoriza não só a capacidade criativa da criança cujo
devir não cessa de apresentar novas formas de existência, mas também seus atos de ruptura e suas
proposições de novas formas de ler o mundo dos adultos. Assim nos parece razoável que à
coordenação cabe dar suporte à equipe pedagógica na ação de acolhimento da radicalidade do
singular apresentada pelas crianças, algo que nos parece ser um ato psicanalítico e ao mesmo tempo
político.

Autor(a): Dieine Mércia de Oliveira – UFRGS


Coautor(a): Roselene Ricachenevsky Gurski
Contato: oliveiradieine@yahoo.com.br, roselenegurski@terra.com.br
Título: Uma experiência de pesquisa com agentes socioeducadores: reflexões sobre a relação
transferencial no trabalho da escuta-flânerie
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Este trabalho reflete parte da experiência de pesquisa que vem ganhando contorno desde
o NUPPEC/UFRGS, com agentes socioeducadores em uma instituição socioeducativa responsável
pela execução de medida de privação de liberdade no RS. A fim de situar o leitor, é importante frisar
que este trabalho já vem sendo tecido pelo grupo, que inicialmente tomou como questão maior
desdobrar a parte metodológica da pesquisa-intervenção com os trabalhadores, na época, realizado
por uma mestranda vinculada ao grupo. Tal metodologia de pesquisa, nomeada de escuta-flânerie,
busca articular a ética psicanalítica aos fundamentos ético-metodológicos do tema do flanêur em
Walter Benjamin (GURSKI, no prelo). Diante disso, apesar da intervenção com os agentes não estar
mais sendo realizada na instituição no momento em que me vinculei ao grupo, a discussão e
teorização dos efeitos dessa experiência seguiam bastante presentes. Foi do encontro com a
dissertação da mestranda, intitulada A construção da Escuta-flânerie uma Pesquisa Psicanalítica com
Agentes Socioeducadores que Atendem Adolescentes em Conflito com a Lei (PIRES, 2018), com seus
diários de experiência, com as reuniões do grupo de pesquisa e seus espaços de estudo, que pude
construir algumas inquietações iniciais. Em uma segunda etapa da pesquisa-extensão o grupo
retomou a escuta-flanerie através do meu projeto de intitulado Reflexões sobre a relação
transferencial no trabalho da escuta-flânerie com agentes socioeducadores. Com a finalidade de
explicitar algumas interrogações, ainda em nível de construção, pretendo pensar o quanto o fazer
psicanalítico na instituição socioeducativa nos convoca a problematizar as questões que surgem no
campo da transferência, onde as fronteiras do enquadre ficam borradas, e a relação transferencial ou
bem traz novos desafios ou, pelo menos, coloca em cena, de modo às vezes mais avassalador do
ponto de vista transferencial; Gurski e Pires (no prelo) discutem que, no consultório, estamos
“protegidos” pelo divã, isto é, pelo setting (GURSKI & PIRES, no prelo), mas no contexto da escuta-
flânerie, outros impasses se apresentam com/no fazer diário da instituição. Diante dessas e outras
colocações, algumas problematizações foram surgindo: desde a escuta-flânerie, o que fazer com a
transferência que nos é endereçada? Como sustentar a posição ético-política do pesquisador em

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psicanálise na instituição? Como manter a alteridade necessária à escuta em contextos que
convocam o gozo e a repetição do traumático? Dar continuidade ao trabalho da escuta-flânerie é
uma tentativa de oferecer condições de abertura de sentidos e de novas significações através da
escuta a esses profissionais que se veem imersos em um cotidiano duro e árido. Importa lembrar que
escutar o sofrimento desses sujeitos é diferente de submergir nos afetos que o contexto produz,
especialmente pela própria precariedade material e simbólica que se apresenta. O horror da
socioeducação tantas vezes narrado pelos próprios meninos e agentes, assusta e impele qualquer
um, analista ou não, à vontade de reparação e/ou salvação dessas pessoas. Estes impasses
transferenciais e outros nos fazem retomar, neste momento, os desafios no trabalho com a escuta-
flânerie no âmbito da socioeducação. REFERÊNCIAS: GURSKI, Rose. Quando a Psicanálise encontra a
Socioeducação: a escuta-flânerie como efeito ético-metodológico. No prelo. GURSKI, Rose; PIRES,
Luísa. A psicanálise na socioeducação: uma metodologia nomeada escuta-flanerie. No prelo. PIRES, L.
P (2018). A Construção da Escuta-flânerie - uma Pesquisa Psicanalítica com Agentes Socioeducadores
que Atendem adolescentes em Conflito com a Lei. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.

Autor(a): Diogo Gomes Novaes – UFU – Universidade Federal de Uberlândia


Contato: diogognovaes@yahoo.com.br
Título: Reflexões sobre a produção de textos no espaço escolar sob a perspectiva da psicanálise
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Uma criança do ensino fundamental recebe uma redação corrigida por seu professor.
Sinais marcam os erros e um número simboliza determinada nota. Entre indiferenças, alegrias e
tristezas, acredito que cenas semelhantes se repetem no cotidiano de grande parte das crianças
brasileiras que possuem acesso à escola. O Brasil, bem como muitos outros países, vivencia uma
forte tendência ao trabalho com a chamada Teoria dos Gêneros, para alguns, adjetivados de textuais,
e para outros, de discursivos. Acredita-se, na fé comum que também se comunga no campo das
teorias, que o “domínio” dos gêneros que circulam em nossa sociedade podem, dentre tantas outras
coisas, impulsionar a autonomia do aluno em diversas esferas sociais. Além da centralidade em torno
do trabalho com os gêneros, o campo do Ensino de Língua Portuguesa também costuma empreender
uma aposta teórica em torno do desenvolvimento de competências linguísticas. Em outros termos,
pelas vias do ensino e aprendizagem, seria possível desenvolver e ampliar competências linguísticas
que, posteriormente, garantiriam a capacidade de aplicação de conteúdos durante a produção
textual de gêneros diversos.
O presente trabalho recorre à psicanálise lacaniana para abordar questões que, tradicionalmente,
são higienizadas nas teorias linguísticas e que não costumam encontrar embasamento em postulados
teóricos vinculados ao campo do Ensino de Língua Portuguesa, exceto quando qualificadas como
erros que costumam atestar o precário ou ausente desenvolvimento de determinadas competências
linguísticas. As atividades de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa, na educação básica, e não
diferente de outros níveis, frequentemente são sustentadas, em termos teóricos, por pressupostos
vinculados a teorias que colocam em centralidade a cognição na complexa relação que envolve,
dentre outros elementos, aluno, professor, ensino, aprendizagem e escrita. Nos interessa, com a
proposição em tela, mostrar a emergência de equívocos de escrita, frequentemente confundidos
com erros, e a possível deflagração de: I – uma relação entre sujeito e escrita que desafia a teoria das
Competências Linguísticas; II - modos de reinvenção em torno de manifestações escritas que, em

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geral, são excluídas ou alvo de penalizações, mas que parecem extremamente positivas para ofertar
aos estudantes a possibilidade de uma relação outra com a própria escrita.

Autor(a): Edissônias Cordeiro Moraes – SEEDF


Contato: edissonias@hotmail.com
Título: A relação da escola com as famílias empobrecidas
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Historicamente as famílias pobres têm sofrido com a exclusão de seus filhos da escola. Na
década de 1980, Maria Helena Souza Patto denunciou os preconceitos sofridos por essas crianças. A
autora mostrou como a teoria da carência cultural era amplamente usada pelos professores para
aportar tais preconceitos. Nosso estudo deriva de uma pesquisa de mestrado em educação realizada
na Universidade de Brasília e é um diálogo com a obra de Patto (1993). Teve como objetivo analisar a
relação entre a escola e os alunos das famílias empobrecidas de uma escola pública do Distrito
Federal. Apoiou-se na estratégia metodológica qualitativa com estudos de caso de duas famílias
participantes da comunidade escolar. Invocamos a teoria psicanalítica para analisar teoricamente
como os aspectos subjetivos da idealização do professor é impeditiva dos processos de inclusão
dessas crianças. A idealização impede um deslocamento da atribuição de culpa às famílias e às
crianças para uma ética no ato educativo. Ética do professor que pode retirá-lo de uma posição de
sofrimento recursivo que atinge todos os envolvidos no contexto escolar. Buscando compreender
essa forma de sofrimento reportamo-nos aos efeitos do ressentimento nas escolas. Kehl (2014)
define o ressentimento como uma constelação afetiva própria do homem contemporâneo em que se
recusa esquecer ou superar uma mágoa acometida contra sua pessoa. Nesse sentido, “o ressentido
não é alguém incapaz de perdoar ou esquecer, mas é um sujeito que quer não se esquecer. Ou seja,
não quer superar o mal que o vitimou”. Por isso, imputa ao outro tudo aquilo que o faz sofrer,
sempre abdicando de sua posição de sujeito e da sua responsabilidade. A recusa em abandonar tal
posição se dá pelos ganhos subjetivos que essa postura pode lhe proporcionar, preservando seu
narcisismo. A título de registro histórico, em tempos de perdas de direitos sociais, não podemos
deixar de mencionar as conquistas alcançadas pelas famílias das camadas empobrecidas nas últimas
décadas. Os investimentos públicos como Bolsa Família, por exemplo, possibilitaram aos estudantes
um período mais longo de permanência na escola. Por outro lado, os professores ao se defrontarem
com os alunos distantes daqueles idealizados nos cursos de formação docente, ainda se mostram
impotentes e se queixam até adoecer não só da falta de compromisso das famílias, como da falta de
apoio dos gestores e da equipe pedagógica. A escola não pode perder de vista sua função social
enquanto instituição pública. A criança como ser social está em contato com diversos contextos e
cabe ao sistema escolar oportunizar situações em que a criança vivencie experiências diferentes
daquelas que têm acesso em família, ou em outro contexto informal. Nesse sentido, ao assumir uma
posição preconceituosa em relação às crianças pobres, colocando-as em um lugar subalterno retira
desses educandos o direito de uma efetiva inclusão social. Por isso, Kupfer (2001) propõe uma
‘clareagem’ no campo educativo para que o professor possa se deslocar dessa angústia. A
psicanálise, por exemplo, em intervenções institucionais ou nos cursos de formação de professores
pode oferecer uma escuta que possibilite ao docente repensar o ideal de educação que lhe foi
passado na formação inicial; além de possibilitar refletir sobre seu ressentimento, angústia e
frustração em relação às crianças e aos adolescentes, em particular frente às crianças das camadas
empobrecidas da população. Referências: KEHL, M. R. Ressentimento. 4. ed. São Paulo: Editora Casa
do Psicólogo, 2014. KUPFER, M. C. Educação para o futuro: psicanálise e educação. 2ª ed. São Paulo:
Escuta, 2001. PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São
Paulo: T. A. Queiroz, 1993.

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Autor(a): Eduardo Gomes de Oliveira - UNIFAA
Coautor(a): Andréa Di Pietro Lewkovitch
Contato: eduardogomes0910@gmail.com, andrea.dipietro@faa.edu.br
Título: A Clínica Psicanalítica em um centro de atendimento ao aluno no ensino superior: efeitos de
inclusão
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: A psicanálise em extensão (LACAN, 1964) ou psicanálise aplicada (MILLER & MILLER, 2003)
em instituições exige sempre uma invenção do lado analista. Não há modelo prévio a ser seguido,
mas uma ética pela qual se orientar. O presente trabalho foi produzido a partir da experiência dos
dois autores da apresentação no Centro de Apoio Pedagógico e Psicológico (CAPP) do Centro
Universitário de Valença (UNIFAA), localizado no sul do estado do Rio de Janeiro. Um dos autores
coordena o CAPP e atua diretamente no atendimento aos estudantes da instituição, enquanto o
segundo exerce a função de supervisor de equipe deste serviço. Temos como objetivo cernir, a partir
de nossa experiência em tal serviço e orientados pela obra de Freud e o ensino de Lacan, o estatuto
desse trabalho no que diz respeito ao acolhimento de sujeitos psicóticos e/ou em grave sofrimento
psíquico. Nossa experiência demonstrou que o atendimento a esses casos produz efeitos de inclusão,
isto é, possibilitou a permanência no ensino superior de sujeitos malgrado sua estrutura psíquica. Os
resultados demonstraram, ainda, que não apenas o trabalho orientado pela psicanálise permitiu que
estes sujeitos dessem continuidade à sua formação, mas que a rotina acadêmica e sua inserção em
uma instituição de ensino podem produzir efeitos de organização e apaziguamento dos sintomas.
Desta forma, acompanhamos nos casos, principalmente nas psicoses, uma função que a instituição
pode produzir colocando o sujeito em trabalho a partir do dispositivo da escuta. Nesta direção, a
instituição, como nos demonstra Veras (2005), “deixa de ter que encarnar um lugar a serviço da
restauração do sentido como exigência terapêutica para ocupar o lugar onde é possível encontrar os
signos para a entrada na matriz do discurso”. Os efeitos de inclusão possibilitados pela escuta
analítica, incluem a instituição como possibilidade de articulação do sujeito em uma malha
discursiva. Neste ponto, o significante aluno situa um sujeito para uma instituição, assim como
aponta para a possibilidade que o sujeito foracluído das modalidades discursivas, aceda a uma
suplência do laço social.

Autor(a): Elen Alves dos Santos – UNB – Universidade de Brasilia


Contato: elenpsi@gmail.com
Título: Adolescência e a pratica da automutilação: pesquisa em escolas públicas do Distrito Federal
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Esse resumo apresenta uma pesquisa de doutorado em andamento realizada com
adolescentes, estudantes de escolas públicas sobre a constituição da prática da automutilação por
adolescentes. Tem como questão norteadora: Como a prática automutilação se constitui para o
adolescente como uma estratégia subjetiva para lidar com o sofrimento? Entende-se que a
adolescência é uma construção própria da modernidade, que de alguma forma, os adolescentes
sozinhos ou em grupos expõem os impasses da sociedade. Pensar a adolescência requer pensar na
sociedade contemporânea (COUTINHO, 2009). Em face disso, de tempos em tempos, a clínica
psicanalítica com adolescentes é permeada de sintomas, que de alguma forma esboçam dos dilemas
do momento social vigente. Na atualidade, são os registros feitos no corpo sob forma de
automutilações, chamados assim, os cortes que são feitos de forma voluntária por adolescentes, que
desponta de forma crescente. Destarte, a automutilação é uma sintomatologia atual do mal-estar
adolescente. Cabe nos perguntarmos, que questões que os adolescentes interpelam ao laço social
partir dos cortes no corpo? O que da atualidade favorece o aparecimento desse sintoma e não

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outro? Parafraseando Ana Costa (2014) é preciso considerar que existem ações do recalcado em
cada momento social, que terão impactos na constituição subjetiva. Na perspectiva psicanalítica
lacaniana, o sujeito se constitui a partir do Outro. O sujeito é anterior ao seu nascimento, devido a
linguagem. O mal-estar que se presentifica a todos diz do esforço para se manter no laço social, em
partes, o sofrimento humano decorre dessa relação. Diante do exposto, abre-se a seguinte
indagação, o que ocorre subjetivamente com adolescentes que se automutilam? Evidentemente, que
não se trata de apresentar respostas padronizadas para essa questão, mas conjeturar se no
momento de reelaboração do corpo púbere, da queda do ideal dos pais, sentiriam alguns
adolescentes, de uma forma mais intensa a ausência de um outro que concedessem esteio ao seu
corpo. Pode-se pressupor que na ausência desses sustentáculos faltassem um lugar em que o
adolescente liberasse sua angústia, e seu retorno fosse investido, perfurando seu corpo. Para Jean
Bergés, o corpo é antes de tudo, um receptáculo. No processo de constituição subjetiva, o corpo é
recoberto por palavras, olhares, e por cuidados permeados pelo Outro. Esse corpo também revela a
linhagem familiar do sujeito, os ditos que são anteriores a seu nascimento. Nesse sentido, esse corpo
deixa de ser uma integração fisiológica e orgânica para exibir em cada postura, gesto corporais
inscrições psíquicas e os traços familiares. Pressupõe-se que que a angústia estaria trazendo à tona o
recalque de registro no corpo, por alguns adolescentes. Conforme corrobora Ana Costa (2014), a
angústia marca o limite da imagem corporal e das identificações, independentemente da forma de
sua manifestação. As automutilações seriam forma de esvaziar a angústia, tal como na sensação de
um ataque de pânico, o que estaria em questão é que a fantasia de morte, na verdade, mostra os
contornos do corpo, em um rebaixamento ao puro corpo, que pode mostrar a necessidade de
reconstituir bordas que apresenta tanto uma relação com a erotização e com a carência de amparo
no Outro. Essas bordas são fundantes para nossa relação com o ambiente, com o outro e com a
realidade. Há o apontamento para uma desesperança para uma redução do corpo, de não sentirem
mais seus corpos serem contornados, de perderem sua imagem diante do espelho, pela falta do
Outro social, que parece se acentuar, considerando a resolução do narcisismo do estágio do espelho,
e a castração na saída do Édipo. Como essa pesquisa encontra-se em andamento, ressalta-se que a
leitura e releitura dos relatos dos adolescentes nas entrevistas está na tentativa de buscar ir além do
que se apresenta cotidianamente no espaço escolar “eu me corto para aliviar minha dor”, dor essa
psíquica.

Autor(a): Emília Naura Santos Bouzada – UFF – Universidade Federal Fluminense


Contato: emiliabouzada@hotmail.com
Título: Adolescências: Formas plurais de ser e estar no mundo
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Esse trabalho tem como objetivo apresentar o conceito de adolescência construído no
início da sociedade moderna, e ao mesmo tempo promover a expansão na compreensão,
entendimento, sobre como o sujeito adolescente é reconhecido atualmente no espaço social,
cultural e educativo. A proposta metodológica utilizada neste trabalho é a de pesquisa bibliográfica,
com o propósito de promover uma interlocução entre os teóricos Paulo Freire e Sigmund Freud, os
aproximando naquilo que é constitutivo ao ser humano, ou seja, a palavra. De acordo com Freire
(2019, p. 28) “A palavra viva é diálogo existencial”, o que sugere que o reconhecimento de mim no
outro e do outro em mim, estabelece a humanização advinda da palavra. Ao promover uma
interlocução entre Paulo Freire e Sigmund Freud, em uma tentativa de transversalização das teorias,
trabalho com a obra de Freire (Pedagogia do Oprimido) e de Freud (Mal-Estar da Civilização), que
sugerem que ambos compartilham a crença no potencial de transformação humana pela palavra,
esta que para Freire promove a libertação das relações de opressão e, para Freud é pela palavra que
o sujeito se apropria da sua própria história. Para Paulo Freire, a “libertação” se dá pela palavra que

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promove à conscientização, a educação crítica, não alienante só poderá acontecer se esta ocorrer em
uma relação dialógica, entre educador-educando. Para Freud a “libertação” ocorre pelo “acesso” ao
inconsciente, colocado em palavras que para ambos poderá transformar a vida de cada sujeito. Para
uma abordagem progressista educacional, como nos apresenta Paulo Freire e uma leitura Freudiana
e Pós-freudiana nos impulsionam a pensar em uma subversão dos conceitos cristalizados, para isso,
traremos Coimbra, Bocco, Nascimento (2005) que nos traz o termo juventude, termo que melhor
corresponde ao potencial dos adolescentes trabalhos em grupo. Daí é preciso promover, e acreditar
na possibilidade de interface entre conhecimentos e saberes, entre Educação-Psicanálise,
Psicanálise- Educação que poderá vir propiciar o entendimento desses sujeitos em suas questões
objetivas e subjetivas, abrindo-se um espaço de escuta à palavra desses sujeitos em questão. Nossos
resultados parciais indicam a partir dos encontros com os grupos de adolescentes da pesquisa, nas
rodas de conversas, a utilização do termo juventude torna-se a melhor forma para apresentá-los em
sua intensidade juvenil, potência criativa, na construção de suas próprias narrativas, sendo assim, já
não cabe o conceito de adolescência, por já não mais defini-los, passam a se apresentar e
representar-se como sujeitos de suas próprias histórias, representados pela força constituinte ao
invés das formas com que se tenta defini-los. O ser humano ao apropriar-se da palavra, de forma
singular e única, nos apresenta sua narrativa. REFERÊNCIAS: ARIÈS, P. Lénfant et la vie familiale sous
l’Ancien Régime. Paris: Plon, 1960. FREUD, Sigmund. Obras Completas Volume 18. O Mal-Estar na
Civilização, Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise e Outros Textos (1930- 1936). São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. CARNEIRO, Cristina; RIBEIRO, Leila Maria Amaral; IPPOLITO, Rita.
Adolescência, Modernidade e a Cultura dos Direitos. Disponível em:
<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5156825> Acesso em: 08 ago.2019. COIMBRA, C.
C.; BOCCO, F.; NASCIMENTO, M. L. Subvertendo o conceito de adolescência. Arquivos Brasileiros de
Psicologia, v. 57, n. 1, p. 2-11, 2005. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v57n1/v57n1a02.pdf> Acesso em: 30 ago.2019 FREIRE, Paulo.
Pedagogia do Oprimido. 67 eds. Rio de Janeiro / São Paulo: Paz e Terra, 2019. ______ Pedagogia da
Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 41ª reimpressão. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
SAGGESE, Edson. Adolescência e Psicose: transformações sociais e os desafios da clínica. Rio de
Janeiro: Companhia das Letras, 2001.

Autor(a): Eric Ferdinando Kanai Passone – UNICID – Universidade da Cidade de São Paulo
Contato: ericpassone@yahoo.com.br
Título: A invisibilidade dos alunos de inclusão: paradoxos de uma política pública de educação
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este trabalho apresenta certo paradoxo à inclusão escolar presente na política de avaliação
educacional da educação básica do estado do Ceará, ente proeminente entre os sistemas estaduais
de ensino do país em termos de indicadores educacionais relacionados à proficiência de alunos das
séries iniciais do ensino fundamental, mas que possui no interior de seu próprio dispositivo de
avaliação externa um mecanismo de regulamentação que deduz do cálculo e da mensuração de
resultados das avaliações externas o desempenho dos alunos com algum tipo de deficiência, vindo a
criar uma espécie de “exclusão interna” ao sistema educacional. A partir da discussão acerca das
políticas de avaliação como mecanismo de gestão educacional (PASSONE, 2014; 2015), no contexto
nacional, e da observação de estudos que apontam à tendência excludente dos dispositivos de
avaliação em larga escala em relação aos alunos com deficiência (VOLTOLINI, 2019; SOUZA, 2019),
aborda-se o dispositivo administrativo previsto na Portaria nº 998 de 2013 cuja norma promove a
exclusão de alunos da educação especial do cálculo dos resultados provenientes das avaliações do
Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece). Constata-se, assim, a
produção da (in)visibilidade de alunos com deficiência no processo de avaliação do sistema de ensino

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do estado do Ceará, enquanto efeito do dispositivo avaliativo atrelado a gestão escolar. A
experiência do Ceará pode ser considerada um exemplo dessa realidade, um dos entes federados
pioneiros na implantação da accountability política que, desde o início dos anos 1990, vem
consolidando a cultura de avaliação e gestão por resultados a fim de obter um maior monitoramento
e controle das políticas educacionais locais. Nos estudos de políticas públicas, no que se refere aos
regimes democráticos, a noção “accountability” implica o dever dos mandatários de “prestar contas”
de suas atividades à sociedade (O’DONNEL, 1998). Concorda-se que a relação entre ética e
accountability nem sempre é óbvia, embora a mesma retrate um movimento de transição às
sociedades democráticas ou novas poliarquias. Porém, no caso brasileiro, quando se trata de
políticas públicas de educação, tal noção ganhou certos contornos empresariais ao ser inscrito como
dispositivo de “responsabilização” (PASSONE, 2014). Como esclarece Agamben, a noção de
dispositivo revela os meios pelos quais o saber e o poder inscrevem-se nas subjetividades, de tal
forma que “todo dispositivo implica um processo de subjetivação, sem o qual o dispositivo não pode
funcionar como dispositivo de governo, mas se reduz a um mero exercício de violência”. Em suma,
uma máquina administrativa, na medida em que o “dispositivo é, antes de tudo, uma máquina que
produz subjetivações e somente enquanto tal é também uma máquina de governo” (AGAMBEN,
2009, p. 46). A partir da compreensão de regulamentação exposta em que se insere a política de
responsabilização escolar representada pelo Prêmio Escola Nota Dez atrelado ao dispositivo de
avaliação, parte-se para o escopo central deste escrito: o paradoxo da inclusão escolar declarada em
termos do discurso político e o tema da (in)visibilidade dos estudantes com deficiência na política de
avaliação de resultados educacionais decorrente da não contabilização dos resultados dos mesmos,
como prerrogativa de que as escolas teriam condições mais justas de concorrerem à premiação
escolar, excluindo-os.

Autor(a): Ernesto Sérgio Bertoldo – UFU – Universidade Federal de Uberlândia


Contato: esbertoldo@gmail.com
Título: O professor-formador no processo de constituição de licenciandos pela escrita acadêmica:
(im)possibilidades de construção de laços sociais.
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A constituição de um universitário no e pelo discurso acadêmico não se faz de forma
automática. Trata-se de um processo complexo que comporta uma demanda para a sua entrada em
uma ordem discursiva outra. Essa ordem exige o exercício de práticas discursivas acadêmicas que só
podem passar a fazer parte do repertório do universitário, caso ele consiga enfrentar a diferença de
outro modo de dizer possível a partir da entrada na ordem do discurso acadêmico. A escrit(ur)a
acadêmica constitui, assim, um dos desafios que o universitário enfrenta para a sua entrada na
ordem do discurso acadêmico. A tarefa, então, que se apresenta a um aluno universitário, em seu
processo de entrada nessa outra ordem discursiva que lhe (im)põe outros modos de dizer, comporta
uma mão de via dupla: por um lado, para que ele se constitua nesses novos modos de dizer, ele,
necessariamente, precisa se submeter às leis que compõem as regras de construção discursiva de
tais modos; por outro lado, precisa encontrar uma maneira de subverter essas regras de tal forma
que a elas não sucumba. Isso porque constitui nosso entendimento que a entrada na ordem do
discurso acadêmico-universitário e, em decorrência, a constituição de um aluno universitário pela via
da escrita acadêmica, deve contemplar uma escrita institucionalizada e, ao mesmo tempo, subjetiva,
de modo a se afastar da mera reprodução; reprodução essa, por vezes, teórica que se encarrega,
sobretudo, de referendar, no espaço acadêmico-universitário, autores que, supostamente, seriam os
portadores das verdades científicas e que, por essa razão, deveriam ser reproduzidos-perpetuados.
Ao contrário disso, uma escrita acadêmica institucionalizada e subjetiva, assim entendida em seu
jogo tensivo constitutivo, pode levar, em decorrência, a uma responsabilidade enunciativa. Tal

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responsabilidade supõe a tomada da palavra a partir das exigências que a assunção à ordem do
discurso acadêmico-universitário demanda. Em sendo assim, problematizar aspectos desse processo
de constituição no e pelo discurso acadêmico que propiciem condições, ou não, para a apropriação
de uma escrit(ur)a acadêmica singular pode contribuir para a entrada de um universitário nesse
processo. Para explicitar e problematizar questões que envolvem o que se postula, aqui, proponho
analisar uma produção escrita de um jovem universitário, licenciando em Língua Inglesa, às voltas
com o processo de apropriação da escrita acadêmica. Sob a perspectiva da Análise de Discurso
pecheutiana, em sua interface com conceitos da psicanálise lacaniana, abordo a trajetória desse
aluno em sua relação com o professor formador, relação que pode ser decisiva em (im)possíveis
construções de laços sociais na e para a formação, concernentes à entrada do universitário na ordem
do discurso acadêmico. A possibilidade de uma escrita acadêmica singular, que proporcione uma
responsabilidade enunciativa no espaço universitário está atravessada, dessa forma, pela figura de
um outro, o professor formador. Configura-se, aí, portanto, um espaço de formação em que os
conflitos e impasses no processo de apropriação da escrita acadêmica podem se evidenciar.

Autor(a): Fabio Malcher Martins de Oliveira - UFRJ


Coautor(a): Letícia Gonçalves Loback Siqueira, Giselle Barbosa Casado da Silva
Contato: fabiomalcher.rj@gmail.com, lobacklet@gmail.com, gisellcasado@gmail.com
Título: Obstáculo epistemológico e resistência: uma homologia possível?
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Essa pesquisa busca explorar uma articulação entre a relação de obstáculo epistemológico
para a produção de conhecimento científico e a de resistência para o tratamento em psicanálise.
Desse modo, empregamos os conceitos elaborados por autores de referência em ambos os campos.
Bachelard, epistemólogo francês, propõe em seu livro “A formação do espírito científico”
(1938/2016) o conceito de obstáculo epistemológico, o qual se refere às adversidades – internas ao
pesquisador – enfrentadas na produção de conhecimento na ciência e na prática educacional. A
problemática científica deve ser posta em termos de obstáculos epistemológicos. Um dos principais
entraves consiste na dificuldade de o pesquisador abdicar de velhos conhecimentos a favor do novo,
o que Bachelard denomina como instinto conservativo. Embora o cientista deseje formular novos
conhecimentos, “chega o momento que o espírito prefere o que confirma seu saber àquilo que o
contradiz, em que gosta mais de respostas do que de perguntas” (BACHELARD, 2016, p. 19).
Paralelamente, Freud, idealizador da psicanálise, investiga com base na clínica a dificuldade
amplamente apresentada por pacientes em dar continuidade ao tratamento, ainda que haja
investimento na análise, denominando esse fenômeno como resistência. Quando o sujeito se depara
com uma ideia incompatível com o que o mesmo sustenta e acredita, inconscientemente ele a
rechaça. Em “As resistências à psicanálise” (1925/2011), Freud declara que no trabalho da ciência
não caberia temor ao novo, visto que os novos achados e as novas teorias seriam sua via de
evolução. Ainda nesse texto, o psicanalista ressalta que as resistências não são meramente
intelectuais, elas são movidas por forças emocionais que são atribuídas tanto às paixões das pessoas
em geral, quanto aos cientistas. Nesse aspecto, podemos observar outra aproximação com
Bachelard, na medida em que o epistemólogo sugere que forças psíquicas atuam no espírito
científico durante a produção de conhecimento, assim formulando a ideia de uma “psicanálise do
conhecimento”. A psicanálise surge a partir de uma posição inédita adotada por Freud diante de algo
que se apresentava como enigmático para a ciência de seu tempo, o sintoma histérico, que não
obedecia à anatomia, não apresentando causalidade orgânica. O ineditismo de sua posição foi sair do
lugar de mestre, de detentor de saber, apostando que seria o próprio sujeito o detentor do saber
acerca de seu sintoma, mesmo que esse saber fosse inconsciente. Seria essa mudança de posição por
parte de Freud uma recusa àquilo que Bachelard localiza como “alma professoral” - a qual representa

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uma forma de pensamento paralisada pelo dogmatismo de seu saber e pela autoridade cômoda dos
êxitos primeiros de sua experiência? Nosso interesse não está nas discussões epistemológicas acerca
do estatuto científico da psicanálise, como já feito por diversos autores, mas em adentrar a
magnitude de uma possível relação da epistemologia com a clínica. Sendo assim, faz-se importante
ressaltar que nosso interesse não é o de sugerir que os conceitos de obstáculo epistemológico e
resistência sejam dois nomes distintos para uma mesma concepção, e sim, pensar o que há de
próximo entre os dois conceitos e até mesmo, o que em potência os distingue. É possível
compreender o embate de moções pulsionais relacionadas à resistência do sujeito de forma
homóloga aos obstáculos epistemológicos que entravam a produção de conhecimento? Quais seriam
as potenciais contribuições para o campo da educação de uma rigorosa exploração desta homologia?

Autor(a): Felícia Maria Pereira dos Santos - UFMG


Coautor(a): Mônica Rahme
Contato: feliciapsic@yahoo.com.br, monicarahme@hotmail.com
Título: Saber e Formação de Professores: uma experiência de mediadores de alunos com deficiência
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Esse trabalho se refere a uma pesquisa de mestrado, em andamento, que tem como
objetivo compreender, a partir do conceito psicanalítico de saber, como se dá a construção de
saberes pelos mediadores de alunos com deficiência e quais seus efeitos para a sua formação
profissional, enquanto futuro professores. O conceito de saber contribui para a discussão do tema
proposto, já que pressupõe que o saber construído nesta experiência da mediação não se passa
apenas pelo conhecimento formal e pelo plano da consciência, mas traz consigo questões que os
sujeitos conseguem elaborar e outras que lhes escapam. Nessa discussão é necessário levar em
consideração a diferenciação entre conhecimento, experiência e saber, na qual o conhecimento se
relaciona ao conhecimento hegemônico, construído social e historicamente; a experiência traz o
conhecimento tácito, produzido pelo sujeito, mas que não está formalizado; e o saber, inconsciente,
presente nos atos e escolhas que o sujeito faz, de modo não nomeado: saber do qual nada se sabe.
Dessa forma, para a psicanálise, a relação de um sujeito com o saber, além de trazer aspectos
objetivos supõe também, aspectos subjetivos, que trazem a marca do inconsciente. Para
compreender a noção de saber para a psicanálise, é importante retomar Freud e as importantes
reflexões a respeito dos possíveis destinos das investigações sexuais infantis e discutir como esse
saber inconsciente está presente no campo do conhecimento. Segundo Freud, quando esse período
de pesquisa sexual infantil chega ao fim, traz três possíveis destinos ao impulso de saber: a inibição
do pensamento, o pensamento neurótico compulsivo ou a sublimação. O sujeito é sempre
impulsionado a buscar respostas que tamponem a falta e que respondam ao que não tem
respondido. No entanto, é necessário estar advertido que esta falta é estrutural, e que nenhum saber
a preencherá totalmente: haverá sempre um resto indecifrável, que continua a mover o sujeito em
busca de saber. Pensando a experiência de formação vivenciada por mediadores de crianças com
deficiência em sala de aula, a realidade construída por eles vai nos interessar para refletir sobre a
formação de professores. A verdade que sua narrativa revela não é a da correspondência com os
fatos, mas aquela que expressa a implicação do sujeito e de seu saber com o que é relatado. É
necessário levar em consideração na formação de professores a dimensão pulsional do saber dos
sujeitos envolvidos, para não se ter como resultado professores perdidos e ressentidos com sua
formação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DINIZ, Margareth. A relação com o saber para a
psicanálise. In: PSICANALISE, EDUCACAO E TRANSMISSAO, n.6, 2006, São Paulo. FREUD, S. (1910).
Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância. In: Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. sob a direção geral de Jayme Salomão. Rio de
Janeiro, Imago, 1996, v. 11, p.53-124. SANTOS, Eloisa Helena; DINIZ, Margareth. O sujeito, o saber e

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as práticas educativas. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, 2003, p. 137-150.
VOLTOLINI, Rinaldo. Psicanálise e formação de professores: antiformação docente. 1.ed. São Paulo:
Zagodoni, 2018.

Autor(a): Felipe Cordeiro Alves – UFMG


Contato: felipepsi@live.com
Título: Fake News e conspiracionismo diante da ciência: Impasses na transmissão e a instanciação do
sujeito
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Objetivo: Abordar as notícias falsas e ondas conspiracionistas enquanto efeitos
decorrentes da expansão e aprofundamento do discurso da ciência na era digital. O chamado
ciberespaço, ambiente das redes sociais, apresenta-se como um campo fundado em representações
matemáticas desprovidas de sentido ou valoração e que desconhecem a atribuição de realidade. A
disseminação do ciberespaço corresponde ao que Lacan denominou em A Ciência e a Verdade de
“expansão da energética da ciência”. Podemos entendê-la como a propagação das operações
exercidas pela ciência no seu fazer sobre a experiência privada dos indivíduos. Essa expansão tem
como saldo o sujeito, resposta à perda da qualidade do mundo e do pensamento (Calazans, 2006).
Movimentos conspiratórios, como o terraplanista, são reações diretas à expansão da energética da
ciência ao proporem um campo de estudo e validação baseado no sentido e intuição. Tais
manifestações habilitam uma caricatura do pensamento científico pré-moderno, associado a teorias
paranoicas que, em seu conjunto, prometem a restauração do conhecimento pleno e verdade
unívoca. Esses movimentos escandalizam as instituições científicas e assombram o campo
educacional, pois obliteram o não-saber, condição fundamental para o desenvolvimento de um
saber-fazer na transmissão. Além disso, os adeptos dessas teorias tornam-se cativos das referências
de autoridade que ofertam a miragem de tudo saber, dificultando a sua interpelação por qualquer
outro tipo de perspectiva ou referência institucional. O fenômeno das notícias falsas também pode
ser entendido como efeito da expansão da ciência através do ciberespaço, na medida em que a
crença nas notícias falsas instancia a divisão do sujeito. As crenças apresentam em sua estrutura
(Spaltung und Verleugnung) uma divisão entre aquilo cuja existência é desejada e o rechaço da
realidade que impõe o reconhecimento de sua inexistência. A estrutura das crenças é evidenciada na
insistência de adesões que o sujeito julga ter descartado, essas situações paradigmáticas são
reduzidas ao “eu sei, mas mesmo assim...” de Octave Manoni. Contudo, não observamos essa
manifestação entre os adeptos de notícias falsas ou conspiracionistas. Novamente estamos diante da
obturação imaginária do não-saber e da castração. Essa imaginarização das crenças, na qual se
reconhece a forma típica de adesão às fake news e teorias conspiratórias, responde pela aquisição
ilusória do saber impossível, manifesto através do suposto acesso àquilo que não poderia ser sabido
a respeito das grandes farsas. Saber o que a NASA oculta na sua sofisticada conspiração ou a
intenção oculta de uma intrincada farsa política são conteúdos fabricados que substituem o saber
faltante e furo no conhecimento. As considerações aqui expostas visam desenvolver uma perspectiva
de abordagem das notícias falsas e conspiracionismo que inclui a ciência e expansão tecnológica na
provocação desses fenômenos. Essa alternativa promete mobilizar categorias analíticas que
aprofundem a compreensão sobre a posição e solução dos sujeitos envolvidos por esses fenômenos
diante de sua época, dissolvendo as atribuições de comportamento bizarro ou loucura
frequentemente dirigidas a esses sujeitos. Bibliografia: Calazans, R. (2006). Psicanálise e ciência.
Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 60(2), 273-283. Lacan, J. (1998) A ciência e a verdade.
Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966. Lacan, J. (1992). O seminário, livro 17: o avesso da
psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1969. Mannoni, O. (1973). Eu sei, mas mesmo assim... In:
Chaves para o Imaginário. Petrópolis: Vozes.

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Autor(a): Fernanda Arantes - Feusp
Contato: fe.arantes@uol.com.br
Título: O lugar do discurso pedagógico na educação inclusiva: percurso, entrecruzamentos e
deslocamentos.
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Muito tem-se discutido sobre o discurso pedagógico hegemônico e a sua “fantasia” ou
“ilusão” de que, para uma educação plena, é necessário que se conheça o aluno integralmente, seu
histórico desde o nascimento, sua natureza íntima, bem como suas necessidades para que se possa,
enfim, exercer o ato de educar. Segundo Silva (2014), nesse contexto parece se impor a ideia de que
existiria uma perfeita adequação entre o suposto conhecimento integral do aluno e a prática
educativa, como se ao conhecer (e, por que não?, apreender) o aluno em sua totalidade, o educador
teria em mãos “o caminho das pedras” para o seu melhor ensinar. Contudo, a experiência escolar e
pedagógica vem dando pistas de que esse ideal, quando posto em prática, mostra-se de solução não
tão simples ou imediata. Parece que quanto mais se tenta conhecer o aluno, mais dúvidas surgem e
menos certezas se tem sobre como ensiná-lo. Esse descompasso torna-se mais evidente quando o
tema recai sobre a educação inclusiva, ou seja, quando a escola se vê envolvida com os processos
educacionais de alunos em situação de inclusão na rede regular de ensino. O presente trabalho, fruto
do projeto de pesquisa de doutorado, sob a orientação do Prof Rinaldo Voltolini, propõe uma
tematização a respeito do lugar do discurso pedagógico na educação inclusiva. Tal proposição,
oriunda de inquietações levantadas a partir de falas de professores que revelam a impossibilidade de
se colocar em prática ações e estratégias inclusivas para seus alunos sem que se tenha um total
conhecimento acerca de suas necessidades especiais, busca recuperar o surgimento do discurso da
educação inclusiva que, apesar de se fazer presente com força de lei no território brasileiro, possui
sua etiologia nos consensos acerca dos direitos humanos e da pessoa com deficiência. O caminho
traçado tenta identificar e refletir sobre os nós discursivos que se formam no campo pedagógico e
que obstacularizam o fazer educativo. A tematização pretende levantar questões sobre o modelo
idealizado, o qual traz a perspectiva de que incluir na escola significa apreender o outro em sua
totalidade, definir seu espaço, suas ações e designar-lhe um nome. O aluno dito "incluído" torna-se,
idealmente, compreensível graças ao aprisionamento de sua singularidade por um discurso
especialista, mas dado ao fracasso do empreendimento ilusório, retorna-se à impossibilidade da
inclusão e, consequentemente, à desvalorização do discurso pedagógico. Levar isso em consideração
é entender que os nós discursivos — da pedagogia e dos especialistas — que se dão no campo
escolar tem uma série de implicações que requerem uma análise cuidadosa, que leve em conta as
contradições intrínsecas do contexto que se pretende discutir.

Autor(a): Flávia Tridapalli Buechler - UNIFEBE - Centro Universitário de Brusque


Contato: flaviatbuechler@gmail.com
Título: Ressonâncias do Discurso da Tecnociência na Clínica com Crianças
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Por meio da psicanálise e sua interface com o campo da educação busca-se discutir o que a
clínica com crianças revela acerca do mal-estar produzido pelos imperativos do discurso da
tecnociência. Para tanto, destaca-se A-Criança ideal que é chancelada pelo saber especializado, a
objetalização da criança-sujeito, a dificuldade de elaboração do luto dA-Criança e a ética
psicanalítica.
A educação comporta em si dois campos distintos: a educação como fato cultural e a pedagogia
como discurso que sustenta uma prática social (VOLTOLINI,2017). O primeiro diz respeito à

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transmissão da Lei e de marcas simbólicas dos mais velhos aos recém-chegados no que se refere à
constituição do humano e suas relações (LAJONQUIÈRE,2010). Já o segundo, diz respeito aos
dispositivos de controle do processo educativo a partir do saber especializado. Destaca-se que,
diferente do segundo campo, o primeiro reconhece o mal-estar estruturante do sujeito e da
civilização (FREUD,1929).
Historicamente, a educação é responsável pela transmissão da Lei que possibilita a vida em conjunto,
bem como, constitui o humano enquanto sujeito de fal(t)a e desejo. Por meio da psicanálise é
possível compreender que todo ato educativo está envolvido por um impossível, visto que a
transmissão e o controle são sempre não-todo. Isso significa que diante do que se pretende fazer na
educação de uma criança os resultados serão sempre insuficientes e imprevisíveis (VOLTOLINI,2011).
O laço social contemporâneo aparece marcado pelo discurso da tecnociência, este define o sujeito
exclusivamente enquanto ser de razão e comportamento, constrói um modelo ideal ao qual todos
devem se referenciar e considera sintomas relacionais somente a partir de soluções técnicas e
biológicas. No que tange ao tempo de infância percebe-se o surgimento dA-Criança, modelo
constituído sobre categorias fictícias, a-históricas e naturalizadas (LAJONQUIÈRE,2010). Acontece que
esta demanda impossível de encarnar A-Criança deixa à margem todas as crianças de carne e osso, o
que dificulta o reconhecimento da criança-sujeito e caracteriza suas manifestações enquanto
desvio/anormal. Desta maneira, a sustentação dA-Criança ideal acaba por impedir que os pais e
outros adultos realizem o luto dA-Criança maravilhosa (LECLAIR,1977). O que se constata no
cotidiano da clínica psicanalítica com crianças é a sensação de paralisia dos pais diante de seus filhos.
Percebe-se que há uma insuportabilidade dos pais em lidar com o estranhamento que a criança
causa quando esta demonstra também ser marcada pelo registro da falta e da incompletude. Isso
que os pais estranham nela aparece em forma de queixa comportamental que, com frequência,
conduz à patologização da criança quando esta não corresponde às expectativas e ideais que lhe são
endereçados.
Neste contexto, percebe-se a importância da ética psicanalítica ao se posicionar contra a
naturalização da criança-sujeito, ao mesmo tempo que possibilita aos adultos a realização do luto
dA-Criança. O que cria condições para que a criança real possa ser familiarizada pelo Outro, e este,
ao se descolar do saber especializado, possa reconhecer o valor do seu saber singular a ser
transmitido. Desta maneira, a morte dA-Criança ideal possibilita que o ato educacional não seja
sentido pelos adultos como impotência. Freud, S. (1996/1929). O mal-estar na civilização. S. Freud,
Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol.
21, 73-148). Rio de Janeiro: Imago. Lajonquière, L. de (2010). Figuras do infantil: a psicanálise na vida
cotidiana com as crianças. Petrópolis, RJ: Vozes. Leclair, S. (1977). Mata-se uma criança - Um estudo
sobre o narcisismo primário e a pulsão de morte. Rio de Janeiro, RJ: Zahar Editores. Voltolini, R.
(2011). Educação e psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. Voltolini, R. (2017). 1 vídeo (20min 31seg).
Psicanálise, educação e transmissão. Publicado no Youtube pelo canal Os Psicanalistas e suas
Análises.

Autor(a): Frizete de Oliveira - UNB


Contato: frizete_de_oliveira@hotmail.com
Título: Sujeito-criança na educação infantil: desafios à formação e atuação docente
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Por ocasião de ingresso no mestrado em Educação pela Universidade de Brasília e tendo
como aporte teórico-metodológico as contribuições da Psicanálise, buscaremos refletir como o
sujeito-criança pode se constituir a partir de experiências vivenciadas na Educação Infantil e possíveis
desafios na formação e atuação docente. Trata-se de uma vivência ocorrida em 2015, com crianças

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na faixa etária de 5 e 6 anos, em uma escola pública do Distrito Federal. A professora observou por
alguns minutos o desenrolar da brincadeira entre duas meninas. Uma delas, com características do
grupo étnico negro (pele, olhos e cabelos pretos e crespos) pegou uma coroa de brinquedo e a
colocou na cabeça, preparando-se para desfilar, dizendo ser uma miss. Imediatamente, foi
interrompida por outra colega de pele, cabelos e olhos claros, que afirmava categoricamente que
não existia “miss preta”. Ao perceber a cena, a professora interveio, também indagando o motivo de
não poder existir “miss preta”. A menina de pele clara, justificou dizendo que “não fica bonito o
batom, o gloss não combina, é feio e não dá pra ver a cor do batom”. Ao utilizarmos a Psicanálise
como metodologia e análise em pesquisa, traçamos uma forma singular de compreender e conceber
a racionalidade humana, a produção de conhecimentos e a própria Ciência. Sigmund Freud (1856-
1939), criador da Psicanálise, buscou apreender e denotar o funcionamento da mente (psique),
descobrindo que há uma força motriz que nos impulsiona à ação (libido) na busca pela satisfação dos
nossos anseios (desejos), como forma de suprirmos a sensação de desamparo existencial que nos
assola desde o nascimento, resultado também, das sinapses ainda abertas, quando bebês. Pontuou
que, na maioria das vezes, não é a consciência ou a lógica cartesiana que dirigem nossas ações. Em
grande parte, agimos por impulsos e desejos inconscientes. Como essa constatação pode impactar o
processo ensino-aprendizagem, a formação e atuação docente? Sob a perspectiva da Psicanálise, nos
tornamos humanos ao sermos inseridos numa cultura e grupo social que nos imprime uma marca,
um desejo. As expectativas criadas por nossos genitores antes mesmo de nosso nascimento nos
influenciam, desde a escolha do nosso nome, as projeções de atividades que iremos exercer no
futuro, aspectos físicos e emocionais dentre outros. Freud (1995) em seus apontamentos “Algumas
reflexões sobre a psicologia escolar”, afirma que as atitudes emocionais dos sujeitos entre si,
exercem grande importância e são referência de comportamentos posteriores que vão sendo
inscritas na psique, numa idade muito precoce. A criança vai construindo seu repertório emocional a
depender dos modelos que lhes forem apresentados, já com seus primeiros cuidadores. Ao sair do
seio familiar, os primeiros contatos aos quais as crianças são submetidas estão nos ambientes de
creches e escolas, sendo os professores seus principais interlocutores e, por vezes, cuidadores e
substitutos das funções materna e paterna. É inegável a importância que nossos professores
exerceram (e talvez ainda exerçam) na constituição do nosso aparato psicológico. Neste sentido,
pontuamos que a ação pedagógica pode desempenhar relevante papel no repertório, ou mesmo em
bloqueios psíquicos em relação aos conhecimentos, conceitos e habilidades a depender das
experiências vivenciadas neste contexto. Desta forma, o processo ensino-aprendizagem é concebido
em seu caráter singular e complexo, multifacetado, construído a partir das interações sociais
compartilhadas e vivenciadas por todos os sujeitos envolvidos nesta relação. A escola, desta forma,
pode intervir duplamente: na subjetividade individual e coletiva, quando este sujeito se submete aos
anseios grupal aos quais se filia. Mais que um apanhado de leis que preconizem o respeito e a
inclusão do sujeito, precisamos refletir sobre como nossas ações impactam o outro em sua
subjetividade. Quais as matrizes e referenciais nos constituem e nos faz sermos o que somos.

Autor(a): Gabriel Luiz de Carvalho - UFOP


Coautor(a): Michele Hidemi Ueno Guimaraes
Contato: gabriel.carvalho1@aluno.ufop.edu.br, micheleueno@usp.br
Título: O processo de evasão no curso de graduação em Física: fatores influenciadores.
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência

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Resumo: Com esse trabalho pretendemos estudar as diversas condutas adotadas por estudantes do
curso de graduação em Física da UFOP, procurando entender, em particular, as motivações e
interesses, conscientes e inconscientes que eles demonstram durante todo o curso, bem como os
motivos que levam os mesmos ao abandono do curso e/ou disciplinas procurando entender como se
dá esse processo e eventualmente, implementar soluções para tais problemas. Para isso, vamos
utilizar alguns conceitos fundamentados na Psicanálise de orientação lacaniana, desenvolvidos
dentro da linha de pesquisa que investiga a utilização da Psicanálise, para entender os problemas de
ensino e aprendizado em Ciências. A utilização de ideias oriundas da Psicanálise na interpretação de
dados relativos ao ensino e aprendizado de Ciências, apesar de ser uma linha de pesquisa
relativamente recente, tem apresentado, desde que foi criada, uma produção regular constituída por
diversas contribuições interessantes. O pressuposto fundamental dessa linha de pesquisa assume
que no processo de aprendizagem de conceitos científicos, mais do que uma mudança estritamente
conceitual, o que está em jogo, fundamentalmente, é uma mudança na relação do aprendiz com o
conhecimento. Ou seja, poderíamos dizer que a aprendizagem, do ponto de vista construtivista, vai
além do estabelecimento de relações significativas: é preciso que haja motivação, ou do ponto de
vista da Psicanálise, desejo de investir no processo. Trata-se, portanto, mais do que construir
significados, de perseguí-los. A metodologia se dará, num primeiro momento, por meio do
levantamento de dados na Seção de Ensino da Universidade Federal de Ouro Preto, sobre os índices
de evasão dos alunos do curso de Física (Bacharelado e Licenciatura). Depois, por meio de entrevistas
com alguns alunos matriculados no curso, em diferentes períodos, serão levantadas possíveis
hipóteses sobre os motivos que os levam à desistência e/ou ao abandono e também sobre a
continuação dos mesmos dentro da Universidade.

Autor(a): Gabriela Oliveira Guerra – UFSM


Coautor(a): Ana Carolina Bicca Bragança, Vitória Rosa Cougo
Contato: gabrielaoliveiraguerra@gmail.com, ana-carolina.b@hotmail.com,
vitoriapsico13@yahoo.com.br
Título: Expressões contemporâneas do mal-estar na universidade: a escrita da experiência como
dispositivo de intervenção clínico-política
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Este trabalho decanta de uma experiência de pesquisa em andamento, fruto das
inquietações produzidas a partir de demandas de atendimento psicológico clínico endereçadas a uma
clínica escola: o mal-estar e o sofrimento psíquico de docentes, técnicos e estudantes universitários.
Em relação a estes últimos, destacam-se vivências de situações de crise, de vulnerabilidades,
exclusão e violências. A problematização acerca das demandas educacionais à clínica, suas
expressões sociais e singularidades deram lugar às reflexões sobre os possíveis enlaces entre a
clínica, a pesquisa e as intervenções nos territórios da educação, sustentadas pela ética da
psicanálise. Elas dizem das condições e de fenômenos sociais do nosso tempo, dos processos e
modos de subjetivação construídos e das estratégias de inscrição no laço social. Nos trazem indícios
das formas de expressão do mal-estar na cultura, junto aos imperativos e ideais sociais que
anunciam, a patologização e a individualização do sofrimento, a estigmatização e as manifestações
da violência em suas mais diversas formas. Ao nos permitirmos um tempo de escutar tais demandas,
podemos fazê-las falar. Fazer a experiência falar, construir um modo de escutá-la a contrapelo, por
uma via avessa à imposta pelo tempo atual, de construção de respostas imediatas, sem tempo de
reflexão. Deseja-se criar uma torção nessas demandas, uma inversão, pela oferta de espaços-tempo
de reflexão, de escuta e de produção escrita, propondo-se falar do que vivem os sujeitos,
compartilhar, registrar e transmitir sua experiência. O percurso ético-metodológico sustenta-se na
proposta de pesquisa em psicanálise construída por Gurski (2008; 2012; 2014), tecida a partir da
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composição do referencial psicanalítico com os escritos de Benjamin acerca do tema da experiência e
da posição do flanêur em Baudelaire. O flâneur pode ser compreendido como um personagem de
resistência poética e política do século XIX, uma espécie de testemunha da desmoralização da
experiência que ocorria por obra do ritmo, inspirado no tempo industrial, questionando a fugacidade
e a vivência do tempo. Outro personagem que se destaca na obra de Walter Benjamin, segundo
Gurski e Strzykalski (2018, p.411) é o catador de restos: “figura que perambulava pelas cidades
modernas em busca daquilo que grande parte da sociedade considerava inútil: lixo, sucata, migalhas,
materiais descartáveis”. Tais figuras assemelham-se pelo ritmo distendido que permite a atenção aos
detalhes, tecendo um outro olhar, atento às manifestações singelas do cotidiano e uma outra
temporalidade na apreensão dos acontecimentos de sua época. O tema da experiência (Erfahrung) é
abordado por Benjamin (1994/1937) em contraponto ao conceito de vivência (Erlebnis), definindo
este último como uma forma de experiência isolada, que não faz laço e não carrega nenhum valor
coletivo. Rosa (2016) situa as práticas clínico-políticas como aquelas que sustentam a criação de
dispositivos clínicos condizentes com a dimensão sociopolítica do sofrimento, que leva em conta as
questões do sujeito enredadas às institucionais, sociais e políticas, em consonância com uma
psicanálise implicada. Nesse sentido, pretende-se construir, a partir da escuta-flânerie, espaços-
tempo de reflexão que permitam a construção de uma narrativa da experiência endereçada ao
outro, pelas vias de expressão na fala ou na escrita. Pela proposta da produção escrita intenciona-se
refletir, no a posteriori, acerca dos efeitos de se colocar a escrever sobre sua experiência, na posição
de testemunha, bem como na de transmissão narrativa ao grupo, na intenção de se dar lugar a
criação, em um espaço de invenção, de construção coletiva de dispositivos de intervenção frente à
problemática situada, a partir das produções referentes ao tema da pesquisa.

Autor(a): Gabriela Pereira da Cunha Lima


Título: Pensando práticas educativas como possibilidades de emergência do singular: a
experiência das Escolas Democráticas
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos de sabe
Resumo: As instituições escolares se constituíram historicamente como dispositivos de
adestramento dos corpos e almas dos sujeitos que as habitaram e habitam. Mecanismos de controle
dos gestos, tempos, espaços e saberes produziram e continuam produzindo um determinado tipo de
sujeito e de sociedade, por meio de processos de subjetivação que, ao contrário de reprimir um
suposto sujeito essencial “sempre aí”, operam como máquinas de produção de subjetividades. “Não
somente uma produção de subjetividade individuada (...), mas uma produção de subjetividade social,
(...) que produz inclusive aquilo que acontece quando sonhamos, quando fantasiamos, quando nos
apaixonamos” (GUATTARI & ROLNIK, 1986, p.16). Dessa forma, dialogando com Michel Foucault e o
sentido atribuído por esse pensador às ideias de disciplina e subjetivação, podemos afirmar que a
escola, enquanto instituição disciplinar que é, mobiliza tecnologias positivas de poder, por meio de
processos de subjetivação (FOUCAULT, 1991) que objetivam a conservação e manutenção da ordem
existente (SAVIANI, 2008). O modelo escolar que conquistou hegemonia se materializa em formas de
organização e funcionamento hierárquicos e disciplinares, com ênfase na transmissão de conteúdos
e na função passiva dos alunos no processo de construção do conhecimento. Nesse paradigma, os
sujeitos devem internalizar determinados códigos de conduta e concepções sobre o que se pode e
deve aprender na escola, construindo um ambiente onde professores e alunos “vão assumindo o
papel que lhes é reservado no modelo escolar, ou seja, acabam tornando-se assimiladores,
repetidores, memorizadores, aplicadores de fórmulas e técnicas” (TACCA & GONZÁLEZ REY, 2008,
p.143). Diante disso, argumentamos que “o que precisa ser modernizado na escola não são suas
condições físicas, seus materiais ou o equipamento. Mais do que isso, ela precisa ser repensada
enquanto modelo” (TACCA & GONZÁLEZ REY, 2008, p.142). Para contribuir, então, com a necessária

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reflexão sobre outros modos de pensar e viver a escola, nosso foco no presente trabalho incidirá
sobre as experiências que burlam o modelo hegemônico, buscando brechas, fissuras, promovendo
desterritorializações no interior mesmo do território (GALLO, 2010). Considerando a diversidade de
experiências contra-hegemônicas existentes, nos dedicaremos de modo mais específico a análise das
chamadas Escolas Democráticas. A história das Escolas Democráticas atravessa todo o século XX e
adentra XXI, tendo instituições escolares que se classificam dessa forma emergido nos cinco
continentes do mundo durante esse período. A partir dos anos 1980, algumas dessas escolas
começam a se organizar em redes internacionais, articulando mais de 500 instituições (AVELLAR &
FERNANDES, 2018). No Brasil, segundo levantamento que fizemos levando em conta as escolas que
participam de redes internacionais bem como aquelas que se autodeclaram dessa forma (ALMEIDA,
2014), existem 22 Escolas Democráticas, distribuídas em 6 estados da federação. No contexto do
presente trabalho, nos interessa saber: de que modo as Escolas Democráticas se diferenciam do
modelo hegemônico no que se refere às concepções de escola e sujeito que mobilizam em seus
fazeres educacionais? Através de pesquisa bibliográfica, análise dos sites, entrevistas, dentre outras
fontes, procuraremos responder à
essa pergunta, fazendo uso das ferramentas conceituais foucaultianas. Dialogamos especialmente
com os conceitos de subjetivação, disciplina e cuidado de si, em busca de possibilidades “de
singularização no interior do próprio sistema escolar, no processo institucional mesmo” (GALLO,
2010. p.241). Se a escola hegemônica vem sendo um espaço de serialização e normalização das
condutas dos sujeitos que as habitam, pretendemos com nossa pesquisa dar visibilidade às
instituições que produzem buracos no espaço estriado do sistema educativo, aproveitando-se de
suas brechas e falhas para produzir escapes e novos sentidos à experiência escolar. Referências:
ALMEIDA, Gabriela. Para onde caminham as escolas? 2014. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília. AVELLAR, Simone Aleixo; FERNANDES,
Cláudia de O. As Escolas Democráticas como possibilidade de construção de uma educação outra.
Revista Aleph, Rio de Janeiro/RJ, n.30, p.9-25, 2018. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da
violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1991. GALLO, Sílvio. Educação: entre a subjetivação e a
singularidade. Revista Educação, Santa Maria/RS, v.35, n.2, p.229-244, 2010. GUATTARI, F; ROLNIK, S.
Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986. SAVIANI, Demerval. Teorias
Pedagógicas contra-hegemônicas no Brasil. Ideação, Foz do Iguaçu/PR, v.10, n.2, p.11-28, 2008.
TACCA, Maria Carmem Vilela Rosa; González Rey, Fernando Luis. Produção de sentido subjetivo: as
singularidades dos alunos no processo de aprender. Psicologia, Ciência e Profissão, Brasília/DF, v.28.
n.1, p.138-161, 2008.

Autor(a): Géssica Alves da Silva


Contato: gessica_alves@id.uff.br
Título: Destinos do agir adolescente na escola: repensando o diálogo com o Conselho Tutelar
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Este trabalho deriva de uma pesquisa de mestrado em andamento no Programa de Pós
Graduação em Educação na Universidade Federal Fluminense. A pesquisa visa problematizar as
demandas que se apresentam ao Conselho Tutelar de Itaboraí II/RJ pela instituição escolar, nas quais
adolescentes são descritos como os “causadores” ou “responsáveis” por conflitos e desordem no
âmbito escolar. Supomos que as demandas de encaminhamento que chegam ao Conselho Tutelar
(CT) por parte da escola são muitas vezes entendidas de forma isolada e individualizada, sem levar
em conta outras esferas nas quais os adolescentes estão inseridos. Ao entrarem em cena questões
que envolvem a vulnerabilidade social e familiar, a escola se sente despreparada para trabalhar com
o que identifica não pertencer ao campo pedagógico. A cultura da medicalização e dos
“especialismos” que tem se disseminado de modo geral, chega também à escola e contribui para

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aumentar ainda mais esse sentimento. Os encaminhamentos das escolas ao Conselho Tutelar, são
feitos predominantemente em virtude de “conflitos”, “agressividade” e “falta de interesse no teor
pedagógico”. São realizados através de notificações ou pareceres solicitando que o adolescente seja
assistido pela instituição e destinado para a rede de apoio, ou seja, para o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centro de
Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi), Núcleo de Atendimento Psicopedagógico da Educação
Municipal (NAPEM) e outros, caso necessário. Gurski e Strzykalski (2018) lançam caminhos que nos
levam a pensar que “dentre as marcas que revelam as nuances do mal-estar contemporâneo [...]
situamos os inúmeros casos envolvendo o protagonismo juvenil em atos infracionais ou o uso de
violência”. (p.74). Dessa forma, assim como pontuam a marginalização juvenil tem se apresentado
em diversos âmbitos, mas em particular na escola, pois é ali em que esses jovens/adolescentes
passam a maior parte do seu tempo e nem sempre se sentem pertencentes ao espaço. Para a
psicanálise, o sujeito se constitui no campo do Outro, e isso é reeditado na adolescência, quando se
dá a passagem da referência ao discurso familiar para os discursos sociais (Lesourd, 2004). Portanto,
tanto a escola quanto a instituição jurídica tomam parte nesse processo, mas muitas vezes não são
capazes de acolher o sujeito que ali se apresenta e comparecem apenas com discursos avaliativos e
práticas burocratizantes de encaminhamentos da questão, que nos remetem ao reenvio das
impotências trabalhado por Zelmanovich (2014). Recorrendo à psicanálise, este projeto busca alargar
a compreensão do mal-estar instalado entre a escola e o conselho tutelar diante dos adolescentes
que não respondem da forma esperada. Na contramão de propostas universalizantes, que visam à
adaptação e ao condicionamento de comportamentos em relação a uma norma, propõe-se aqui
operar uma escuta a fim de verificar a que e a quem esses atos cometidos dentro da escola estão
respondendo, o que poderia modificar o olhar sobre a atuação do psicólogo no Conselho Tutelar e
sobre as práticas desta instituição. A proposta desta pesquisa-intervenção, orientada pelos
pressupostos da psicanálise (Poli, 2005), é acompanhar alguns casos de adolescentes encaminhados
pela escola ao Conselho Tutelar através de entrevistas com o adolescente e os familiares, visitas à
escola e reuniões com a equipe pedagógica. Assim, privilegiaremos um olhar mais ampliado sobre a
questão dos encaminhamentos frequentes da escola ao CT, de forma que todos os envolvidos sejam
ouvidos a respeito dos entraves apresentados. Isso convoca um diálogo entre vários campos do
saber, educação, ciências sociais/ políticas e o campo jurídico.

Autor(a): Helena Niemeyer Teixeira


Coautor(a): Adriana Doyle Portugal, Fernanda Marques da Cunha, Ana Claudia de Almeida Garcia
Contato: helena.niemeyer@gmail.com, adrianaportugal.cefet@gmail.com, anacadv@yahoo.com.br,
nandinhacoga@hotmail.com,
Título: Diálogos e contribuições do Feminismo e da Psicanálise para a compreensão do estatuto da
mulher no contemporâneo: um projeto de estudo coletivo.
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Durante longo percurso na construção da Psicanálise, Freud buscava compreender a
especificidade do desejo feminino, ou seja, perguntava-se sobre a existência de uma constituição
psíquica que fosse especificamente da mulher e buscava conhecê-la. Encontramos uma vasta
literatura a respeito do lugar da mulher na Psicanálise, bem como sua crítica, a partir da gênese desta
formulação em Freud e de seu desdobramento posterior no próprio autor e em sua importante
retomada a partir de sua releitura em Lacan. Freud buscava, assim, Was will das Weib? (“O que quer
a mulher?”). A primeira importante abordagem freudiana foi a conhecida formulação a respeito da
inveja do pênis, a partir do complexo de castração e de seus desdobramentos nos trabalhos que
tratam do complexo de castração e do Édipo feminino e, sobretudo, nos trabalhos especificamente
sobre sexualidade feminina (Freud, 1923, 1924, 1925 e 1931). A partir de então, a ligação pré-edípica

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da menina com a mãe torna-se central para esta elaboração, na medida em que considera o desejo
de ser possuída passivamente como a constituição da mulher em sua condição feminina, de sujeição
ao masculino e ao seu próprio desejo de ser objeto. A retomada desta formulação freudiana por
Lacan será emblemática para um novo desenvolvimento do significado da mulher no interior da
Psicanálise: o não-todo-fálico e suas formas de gozo. A vertente da castração ocupa lugar central,
segundo Lacan, nesta formulação originária de Freud. Daí em diante, a mulher mais-além-do-falo,
este não-todo, passa a ser puro devir. Este não-falo e para além dele constitui-se como vasto campo
de possibilidades.
Por outro lado, o lugar de representação histórica da mulher na Historiografia tradicional tem sido,
historicamente, marginalizado. As análises de estudo conceitual da História, hegemônicas, não
interagem com as questões do feminino. A ética e a metodologia da pesquisa histórica ignoraram a
experiência coletiva de mais da metade da população da humanidade. É um paradoxo entender o
processo pedagógico quando o pensamento educacional na História Brasileira é inflexivelmente
machista e patriarcal. As questões de gênero aparecem, sobretudo, quando a menina aprende sua
identidade sexolinguística para imediatamente renunciar a ela. Por outro lado, as desigualdades
sociais construídas e desconstruídas nos embates do poder, no caso do Feminismo, reforçam os
estereótipos de gênero, constituindo-se como afirmação da supremacia masculina dentro do
território ideológico do binarismo de gênero. Resgatar os estudos de gênero, dentro da tradição de
uma Historiografia Feminista, no sentido de considerar a desconstrução do sexismo, do binarismo de
gênero e da tradição histórica deste legado, consiste em tarefa central para pensar o novo estatuto
da Mulher e do Feminino para o contemporâneo. Neste sentido, este projeto de estudo coletivo – de
mulheres de variadas formações, dores e desconstruções ao longo da vida –, procura buscar, estudar
e pesquisar as contribuições de uma Historiografia Feminista e dos Estudos de Gênero para um
diálogo conceitual com a Psicanálise, no sentido de relacionar a pertinência teórica lacaniana da
dialética falo X não-falo e do significado da objetificação da mulher perante o desejo de ser possuída
pela dinâmica da relação entre falo-poder e pênis-masculino, relação esta de sobredeterminação das
estruturas de poder sociais na sexualidade. Significa dizer que o pênis ocupa o lugar de falo porque o
macho ocupa o lugar de poder nas relações patriarcais, sendo o pênis o seu símbolo na sexualidade.
Isso quer dizer que a fundamentação desta objetificação e sujeição da mulher ao desejo do outro
fálico requer a compreensão das estruturas sociais de poder que incidem sobre a sexualidade.

Autor(a): Ian Menezes de Lacerda - UFRJ


Coautor(a): Kizzy Clare Amiuna, Luiza Savi Drummond
Contato: ianmlacerda@gmail.com, kiamiuna@gmail.com, luizasdrummond@gmail.com
Título: Economia compartilhada, trabalho e imperativo de gozo
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: Em Mal-estar na Civilização, Freud delineia a relação entre civilização (ou cultura, já que ele
despreza a diferença entre os dois) e pulsão como uma relação conflituosa, fonte de mal-estar
(unbehagen). A civilização é construída, em grande medida, sobre a renúncia pulsional, sendo essa a
fonte da “frustração cultural” que domina boa parcela dos vínculos sociais entre os homens, assim
como sua hostilidade para com a cultura. É no mesmo texto que Freud defende uma aversão natural
do homem ao trabalho e nota um espanto ao perceber o quanto essa aversão se opõe aos benefícios
da compulsão à repetição que o homem poderia encontrar na ordem e no trabalho. O trabalho é de
suma importância para a economia libidinal, pois ela prende o homem à realidade, insere-a na
comunidade humana. A possibilidade de que se desloque grande medida de componentes libidinais
(agressivos, narcísicos, eróticos) faz do trabalho uma peça fundamental na utilização de impulsos
pulsionais através da sublimação – algo constantemente exigido pela civilização. O que Freud
descreve é o tempo da biopolítica e da disciplina, época em que o grande “excedente populacional”

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precisava ser disciplinado para a reprodução do Capital. Freud nasceu na era do panoptismo,
ilustração arquitetônica do poder disciplinar, que visa a docilidade dos corpos necessária para o
trabalho industrial típico do século XIX e início do XX. Freud escreve a aversão ao trabalho de sua
época como natural na época do fordismo/taylorismo, na qual o investimento do corpo pelo poder
era rígido e denso e o corpo deveria ser docilizado através do exercício do poder disciplinar. Foucault
já nota que, após a década de 1960, surge não um poder que se exerce por um controle-repressão
(sobre o corpo), mas por controle-estimulação. Byung-Chul Han leva mais adiante tal percepção,
rompendo com o modelo da biopolítica ao propor sua substituição no neoliberalismo (nascido na
década de 1970) pela psicopolítica: o primeiro ainda está dominado pela negatividade, pela
repressão, pelo corpo; o segundo é marcado pela positividade, pela produtividade, visando a alma. A
Ananke que Freud cita como um dos pais da cultura foi substituída pelas necessidades do Capital,
que representa uma nova forma de transcendência – hoje o Capital é efetivamente o grande Outro
que estrutura o campo social. O sujeito neoliberal da psicopolítica é o empresário de si mesmo, ele
padece do ideal de superação de si e da obrigação de ter cada vez mais desempenho. A psicopolítica
funciona com estímulos positivos, não negativos. A partir daí, procuramos retomar o tema do
trabalho pela psicanálise: muitas formas de trabalho precário contemporâneas funcionam tendo
como base o ideal empresarial de si neoliberal. Aplicativos de “carro particular”, de delivery de
compras, comidas, aluguel de apartamentos e outras formas de sharing economy operam
explicitamente a partir do ideal empresarial de si, um novo dispositivo disciplinar que consegue
superar a dicotomia civilização versus pulsão estabelecida por Freud ao possibilitar que a própria
insubordinação polimórfica da pulsão seja incorporada na exploração neoliberal do trabalho. Seja
seu próprio patrão! é a propaganda do Uber que ilustra bem essa nova configuração subjetiva na
qual não há mais um Supereu repressivo, mas o Supereu marcado pelo imperativo do gozo de que
Lacan tanto nos fala.

Autor(a): Iris Ramos Lacava Ferraz - UFRJ


Coautor(a): Andrea Martello
Contato: irislacava@gmail.com, deamartello@gmail.com
Título: Orientação educacional e psicanálise: de um impossível a outro
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Que pode a psicanálise em extensão na sua interlocução com a orientação educacional? De
um lado, o ato educativo que busca normatizar o sujeito em nome de um ideal, convocando-o a uma
série de renúncias às satisfações pulsionais, oferecendo-lhe vias de sublimação e novas
identificações. Do outro, a experiência psicanalítica que, pautada na ética do desejo, visa tomar o
ideal pelo avesso, dando ao sujeito um lugar para o seu desejo pela via da torção do discurso. Tendo
em consideração que a sociedade precisa do ato educativo para sua manutenção civilizatória, cabe-
nos pensar o que seria uma educação usando-se da psicanálise como via discursiva. Consideramos tal
intercâmbio como uma aposta baseada no discurso psicanalítico, em trazer implicações para o ato
educativo - acreditamos na ética da psicanálise, tanto quanto na torção que o discurso psicanalítico
pode provocar em relação ao saber. Como a psicanálise, a educação “é uma práxis e como tal, não
pode cessar de rever seus métodos em função de seus objetivos e jamais rever seus objetivos em
função de seus métodos” (VOLTOLINI, R. 2009). A partir da prática do orientador educacional,
buscamos problematizar a posição discursiva que situa o fracassado escolar sustentado pelo viés
científico, que coloca o aluno numa posição de objeto na sua experiência escolar. Não é novidade
que o cotidiano escolar esteja repleto de exemplos para ilustrar isso: José, diagnosticado com TDAH
aos seis anos, tem no remédio Concerta “a única maneira de mediar” a criança, segundo os pais, pois
é apenas “o organismo biológico que tem problemas”. Porém, nos dias em que o menino não fora
medicado, ele pode expressar notável agressividade dirigida ao outro, e parca submissão às figuras

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de autoridade; problema biológico? Com isso, ressaltamos a questão “de se saber se o discurso
analítico pode gerar uma outra resposta discursiva, ao propor uma prática que vai na contracorrente
do corolário evidente desse tipo de diagnóstico, que é o confinamento da subjetividade ao mais
absoluto silêncio” (SANTIAGO, A.L. 2005). Afinal, a lógica científica de conferir o estatuto de verdade
segundo parâmetros objetiváveis de investigação, tende a foracluir o sujeito de sua dimensão
particular, do caso-a-caso.
Pontuamos com Freud que a educação figura entre os ofícios impossíveis - ao lado de psicanalisar e
governar; o fracasso constitui e até mesmo justifica a prática pedagógica, já que a excelência de uma
metodologia de ensino não exclui o insucesso do que se aprende. O saber-fazer almejado pelas
práticas de ensino convivem, afinal, com a dimensão pulsional do sujeito; ou seja, há sempre uma
porção ineducável com que o educador lida no exercício do seu ofício. Ainda sobre as profissões
impossíveis: “eminentemente marcadas pela presença da palavra, colocariam em evidência sua
função de reguladora do gozo, seja do gozo referente ao próprio corpo, seja do que desse gozo
peculiar estaria presente na relação com o outro” (RAHME, M. 2012). A dimensão do impossível nos
remete a algo que escapa, algo que não se consegue obter. Diante de um aluno que nos convoca ao
não saber, estamos diante de algo que talvez não possa ser respondido nem objetiva, nem
prontamente. Isso nos remete à uma outra cena do cotidiano escolar. Ao falar de um aluno, a
professora faz um apelo: "esse menino precisa de um laudo, ele está prestes a explodir! Precisamos
saber o que ele tem!” O aluno era Paulo, do 2º ano do EF – de modo geral exigente com a qualidade
de suas tarefas, participativo (costumava contribuir com o ambiente de ensino-aprendizagem). À
época, Paulo e a professora atravessavam um período de conflitos entre eles: Paulo exaltou-se pela
primeira vez quando a professora quis tomar dele um desenho cujo tempo de realização havia se
esgotado; ele ficou nervoso, empurrou a mesa, gritou, chorou. O que chegou como afirmação na fala
da professora, torna-se uma importante questão: o que esse menino precisava, era mesmo um
laudo?

Autor(a): Isabela Alessandra Silva Tomaz – UEMG – Universidade do Estado de Minas gerais
Coautor(a): Priscila Aparecida de Sousa
Contato: belatomaz09@yahoo.com.br, priscila-aparecida2012@hotmail.com
Título: Rasuras corporais: Adolescência e automutilação em psicanálise
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O presente trabalho objetiva investigar a problemática da automutilação na adolescência a
partir do conceito de corpo na perspectiva psicanalítica. Atualmente, nota-se que diversas questões
presentes na clínica apontam para uma alta incidência de quadros cuja principal via de expressão são
as marcas corporais (CARDOSO; DEMONTOVA; MAIA, 2016). Sabe-se que a automutilação na
adolescência é um dos enquadres clínicos crescentes e com o qual se depara com frequência nos
atendimentos psicológicos contemporâneos. Diante das experiências realizadas no período de
estágio em psicologia, tornou-se evidente o impacto social do estudo acerca da automutilação neste
período do desenvolvimento ao se observar a quantidade de demanda por atendimento psicológico
do público infanto-juvenil devido à prática do cutting nas instituições de atendimento e paróquias do
centro-oeste mineiro. Os atos de corte na superfície corporal provocam questionamentos sobre os
impactos internos que incidem na relação entre o corpo e o psíquico dos jovens. Neste contexto,
busca-se realizar uma análise da relação do adolescente com as marcas corporais inscritas em seu
corpo tendo como instrumento a pesquisa e levantamento bibliográfico sobre a temática. De acordo
com Le Breton (2010), para o adolescente, o corpo, representa a sua relação com o mundo e nos
espaços em que as palavras falham, o corpo fala para descobrir marcas, e assim, restaurar uma
fronteira em relação ao mundo externo. Assim, pode-se compreender que o corpo é utilizado como
vínculo de expressão, em que a dor é colocada enquanto modo de manifestar o sofrimento daquele

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sujeito. Portanto, torna-se imprescindível para a prática do psicólogo analisar as relações
estabelecidas diante do limite do simbólico inscrito na pele do adolescente a fim de possibilitar uma
escuta diferenciada diante daquilo que se apresenta em forma de “rasura” corporal e tem como
possibilidade coletivizar e singularizar. Para esta investigação deve-se considerar a relação entre este
sujeito e Outro, bem como o endereçamento da mutilação ao olhar deste para enfrentar o desafio da
prática com o público jovem nos diversos contextos em que a psicanálise se insere, deixando que o
que há particular apareça nessa forma de comunicação do adolescente.

Autor(a): Isabela Maciel Cerqueira de Souza – UFES


Coautor(a): Nathalia Sodré Cittadino, Ariana Lucero
Contato: isabela.mcs1@gmail.com, nathaliacittadino@gmail.com, luceroariana@yahoo.com.br
Título: Importância da oposição e do desafio na constituição do sujeito e a epidemia diagnóstica de
TOD
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O Transtorno Opositor Desafiador é uma construção recente nos manuais de
psicopatologia, mas que já tem sido muito usada para diagnosticar crianças em idade escolar.
Aparece no DSM-V na categoria dos “Transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da
conduta”, descritos como “comportamentos que violam os direitos dos outros e/ou colocam o
indivíduo em conflito significativo com normas sociais ou figuras de autoridade (APA, 2014). Estes
transtornos, portanto, não têm como referência central o sofrimento do sujeito, e sim uma série de
sintomas como irritabilidade, recusa a obedecer regras, “índole vingativa”, comportamento
questionador, entre outros. Em nenhum momento são analisadas as causas desses comportamentos
desviantes, o que leva Caponi (2018) a observar que essa maneira de pensar a psicopatologia reforça
uma visão da infância e adolescência como períodos de risco e moldagem de caráter, tendo os
transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta função de previsão e prevenção
(medicamentosa, comportamental) da delinquência e outros comportamentos supostamente
prejudiciais à sociedade. A combinação de terapia farmacológica e manejo comportamental visando
eliminar atitudes vistas como inadequadas por meio de intervenção da/na família, de profissionais da
saúde ou educação, sem maiores preocupações em relação ao contexto da criança ou os possíveis
motivos que possam ter levado aos comportamentos vistos como inadequados retira a possibilidade
de qualquer vínculo terapêutico com o sujeito para a investigação dos sintomas. Pelo contrário, o
DSM indica que os sujeitos diagnosticados com TOD não são dignos de confiança dos profissionais
que os atendem no que diz respeito a sua própria subjetividade. “Geralmente indivíduos com esse
transtorno não se consideram raivosos, opositores ou desafiadores. Em vez disso, costumam
justificar seu comportamento como uma resposta a exigências ou circunstâncias despropositadas”
(APA, 2014). Tal visão demonstra uma intencionalidade no comportamento das crianças que não
condiz com a maneira abrupta com que uma crise de raiva pode aparecer, tampouco com a
dificuldade de muitas crianças tratarem desses assuntos, além de servir ao propósito de calar
possibilidades de elaboração que o sujeito possa ter de seus sintomas. Da perspectiva da psicanálise,
a presença de comportamentos marcados pela agressividade, oposição e desafio em uma criança
podem estar atrelados a uma via importante de diferenciação da mesma, visando um caminho de
distinção entre si e o Outro (LACAN, 1998). Assim, é de suma importância perceber o campo social
enquanto um propulsor de questões para esses pequenos que precisam disputar espaços e criar
estratégias de defesa para se desenvolverem, trazendo o alerta de que a marca agressiva em uma
criança pode estar atuando enquanto indicativo de possibilidades outras diferidas das
patologizantes. Ademais, sabemos desde Freud (1925/2014) que negação e oposição são processos
cruciais para a constituição subjetiva, na medida em que permitem um certo avanço na
independência do pensamento em relação à repressão e aos jogos pulsionais característicos do

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aparelho psíquico. É se servindo da negação que os sujeitos podem falar de si para o outro, “de
maneira a apresentar seu ser sob o modo do não ser” (Hyppolite, 1954 in Lacan, 1998).
Referências: APA. (2014). DSM-5. Porto Alegre, RS: Artmed. Caponi, S. (2018). Dispositivos de
segurança, psiquiatria e prevenção da criminalidade: o TOD e a noção de criança perigosa. Saúde e
Sociedade, v. 27, n. 2, p.298-310. Freud, S. (2014). A negação. SP: Cosac Naify. Lacan, J. (1998).
Escritos. RJ: Zahar.

Autor(a): Ismênia Pinto Coelho - UNB


Contato: ismeniapc@yahoo.com.br
Título: Rap e poesia na adolescência privada de liberdade: Uma proposta de deslocamento da
posição de vida abjeta
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A violência e o fracasso escolar na adolescência tornaram-se foco frequente de
preocupações tanto por parte da sociedade, quanto por parte dos profissionais que educam. Tal
situação intensifica-se particularmente quando se trata de adolescentes em conflito com a lei e em
cumprimento de medida socioeducativa de internação. Rancière (2012) emprega o conceito de
subjetivação política para definir o os embates erráticos com o outro em torno do ideário de
igualdade. Uma vez que, o Estado Moderno pressupõe a igualdade entre os sujeitos, no entanto, na
realidade cotidiana, o adolescente depara-se com a desigualdade. Tal desigualdade é percebida
como uma injustiça nessa ordem simbólica, gerando assim o ressentimento social, contexto capaz de
favorecer a revolta submissa que comparece como sintoma em atos reativos individualistas.
Sabemos que o maior desafio, tanto no ensino regular, quanto na socioeducação, é oferecer uma
formação que atenda às demandas de adaptação dos estudantes à sociedade, mas também,
sobretudo, à problematização do campo social atual. A nossa pesquisa objetiva a compreender como
o Projeto Ressocialização, Autonomia e Protagonismo – RAP tem criado condições para o
desenvolvimento dos processos de subjetivação Política dos alunos em cumprimento de medida
socioeducativa de internação. O projeto é desenvolvido no Núcleo de Ensino da Unidade de
Internação Socioeducativa de Santa Maria - UISM – DF. Ao citar Kupfer (2000, p. 130), em que a
autora questiona: qual o discurso social dominante da educação? Santos e Legnani, apontam que: “é
o de que alunos, independente de seus extratos socioeconômicos, adequem-se e subordinem-se aos
ditames da sociedade de consumo, o que seria visto hoje, como a melhor forma de inclusão social”.
Diante de tal ideal estabelecido, emerge a necessidade de uma prática pedagógica diferenciada, na
qual a arte, mais especificamente, o rap e a poesia podem funcionar como elemento terapêutico e
de produção de subjetivação política do sujeito, que é, em si, sobretudo, a própria terapêutica desse
sujeito. A subjetivação política se contrapõe ao discurso social dominante no campo educacional.
Sentir-se pertencente a uma sociedade e nela efetivamente implicar-se, de maneira a promover
transformações a si e ao meio, é um processo do campo da subjetivação política. Enquanto gênero
musical, o rap é caracterizado por abordar a violência urbana vivenciada no cotidiano das camadas
empobrecidas da sociedade, narrando a segregação racial e social, como também as consequências
dessa condição para o indivíduo e para a coletividade. Por trazer consigo a potência da palavra e a
poesia em narrativas ritmadas, o rap tem o potencial para funcionar como dispositivo capaz de
favorecer a simbolização de experiências traumáticas. Na produção escrita há elaboração, e na
elaboração, a possibilidade de deslizamentos de significações e posições, já que, na circulação da
palavra exercida na voz ativa do sujeito, propicia-se a construção de narrativas capazes de assegurar
novas posições subjetivas frente ao real do trauma.
Segundo Legnani (2015), as instituições escolares não dão a devida atenção aos discursos de

89
segregação que vêm aumentando em todo o mundo. Ao agir assim, descuidam do caráter político
intrínseco à instituição, o que é uma flagrante negligência a esse sintoma social. A escola age como
se o sucesso de cada um dependesse somente do seu empenho individual, sem a implicância das
coordenadas institucionais, sociais e políticas. Tal fato interfere no ato educativo, impossibilitando a
inclusão daquele que comparece como vulnerável. Portanto, escola, não tem cumprido a sua função
social na vida desses sujeitos. Considerando esse fato, para que sejam construídas estratégias de
inclusão, os professores precisam refletir sobre esse vazio que a educação não conseguiu ocupar na
vida dos jovens.

Autor(a): Izabella Paiva Monteiro de Barros – UFPA – Universidade Federal do Pará


Coautor(a): Cristiane Palmeira de Oliveira Barreto
Contato: barrosizabella23@gmail.com, crispalmeira91@gmail.com
Título: Função materna e imagem do corpo: qual a relação do campo da educação com a
constituição psíquica?
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Na empreitada pelas funções consideradas por Freud como impossíveis, tentamos articular
nesse trabalho um enlace entre Psicanálise e Educação no que diz respeito à constituição psíquica e a
educação. O sujeito do desejo não nasce geneticamente determinado e garantido. Ele se constitui.
Assim, podemos dizer que a imagem do corpo, assim como o corpo erógeno, se dá a partir dos
efeitos de uma função simbólica, a saber, a função materna. Surgem a partir da inscrição de marcas
significantes, atribuições simbólicas que vêm do Outro. Tendo essas premissas como norte, esse
trabalho tem como objetivo apresentar a articulação entre corpo e constituição psíquica a partir dos
operadores teórico-clínicos da Psicanálise, mais especificamente das teorias sobre a constituição do
sujeito. De ser de necessidade a sujeito do desejo há um longo percurso, cuja temporalidade lógica é
primordial em contraposição a passagem do tempo cronológico. Para que um ser humano possa vir a
se constituir psiquicamente, os adultos que o cercam deverão exercer para ele “funções essenciais
de humanização” que são as funções materna e paterna. Assim, conforme o exercício destas funções
por esses agentes de humanização e, ainda, de acordo com a resposta do bebê a esse exercício,
reações somáticas podem se manifestar, reações essas que fazem as crianças sofrerem e
expressarem esse sofrimento de variadas maneiras, sendo o corpo o lócus privilegiado para a
manifestação de problemas de desenvolvimento e entraves neste processo de constituição psíquica.
Neste corpo surgem sintomas e fenômenos que aparecem como sinais de mal-estar e sofrimento
psíquico, na primeira infância, decorrentes da maneira como essa pequena criança circula no laço
social. Para além do ambiente familiar, é preciso problematizar a operação, mas especificamente a
manutenção da função materna na escola, e é aqui que apontamos o enlace possível entre
Psicanálise e Educação, tendo em vista que bebês e crianças muito pequenas precisam encontrar no
ambiente escolar, relações particularizadas em que possam ser tomadas como sujeitos únicos, em
constituição e que têm algo a dizer, ou seja, dirigem demandas aos seus cuidadores. Assim, podemos
afirmar que os educadores testemunham o advento do sujeito e, portanto, são participantes da
constituição psíquica do ser. Dessa maneira, é preciso que se tenha espaço para se pensar a
construção do corpo erógeno e da imagem do corpo, tendo em vista inclusive o crescente número de
diagnósticos de psicopatologias da infância, tempo no qual também estão inseridos como figuras
representativas os educadores. Como se torna possível, a partir desse panorama, compreender e
intervir nesse exercício ampliado de uma função cujo propulsor é o desejo? Na teoria lacaniana a
função da mãe é definida como o desejo da mãe. Nesse sentido, como se dá, entre educador e
criança, essa relação com o desejo? Assim como há uma existência dialética entre o desejo materno

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e a constituição do sujeito, haverá no fazer do educador algo que faca correspondência aos
indicadores operantes na função materna? A aposta é positiva, na medida em que o desejo do
professor possa se sustentar a partir da sublimação de sua pulsão com direção à finalidade de uma
realização profissional e, assim, investir falicamente nas crianças que estão aos seus cuidados. Na
medida em que não há laço de filiação e de sexualidade na relação educador e criança, o exercício da
função materna a partir de seu desejo se localizará junto à criança nesse campo de ideais
profissionais. Nesse sentido, a possibilidade de enlace com a psicanálise se encontra na manutenção
da dimensão educativa ao lado da aposta sustentada na suposição de sujeitos em constituição.
Assim, em uma visão positiva de saúde, este pequenino virá a se constituir psiquicamente também
sustentado pelo desejo desse cuidador/educador que se torna essencial.

Autor(a): Jaime Carlos Vidarte Gaspary – UFRS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Coautor(a): Roselene Ricachenevsky Gurski
Contato: jc.vigas2017@gmail.com, roselenegurski@terra.com.br
Título: Curso de vida e trajetória delinquencial: Diálogos possíveis (e impossíveis) no encontro da
psicanálise com diferentes disciplinas em uma pesquisa
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: Este trabalho surge a partir da experiência com o projeto Curso de vida e trajetória
delinquencial: um estudo exploratório dos eventos e narrativas de jovens em situação de
vulnerabilidade, cujo objetivo é estudar o percurso de vida de jovens reincidentes do sistema de
socioeducação em POA durante o ano de 2015, a fim de contribuir com a construção de políticas
públicas neste campo, tratando-se de um trabalho realizado em parceria com professores do curso
de Psicologia e Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No Rio Grande do Sul, a
pesquisa ficou sob responsabilidade do grupo que integro: o Núcleo de Pesquisa em Psicanálise,
Educação e Cultura (NUPPEC - Eixo 3 Psicanálise,Educação, Adolescência e Socioeducação). O Projeto
se divide em duas etapas. Em 2018, realizou-se a 1ª etapa em Porto Alegre, a saber, a coleta e análise
preliminar de 96 Planos Individuais de Atendimento (PIA) através de registro das informações que
serão posteriormente estudadas pela sociologia da UFMG. A 2ª etapa será realizada ao longo de
2019 através de entrevistas individuais com aplicação de um questionário com 30% desta
selecionada amostra de jovens reincidentes. No início de 2019, quando passei a integrar o NUPPEC -
Eixo 3, o grupo já vinha adensando suas discussões metodológicas acerca das potências e impasses
que surgem quando, desde a psicanálise, nos colocamos em diálogo com outros campos e saberes,
tais como o encontro com a sociologia, criminologia, socioeducação, dentre outros. Nas discussões
do grupo, temos pensado que a maneira como se dá a formulação de uma pergunta de pesquisa
interfere diretamente na construção do objeto a ser estudado. Assim, enquanto bolsista-pesquisador
iniciante, inquietou-me alguns pressupostos trazidos no Projeto (desde a sociologia e criminologia)
que se aproximam de um certo não reconhecimento de diferentes modos de vida em cenários
marginais da cidade; assim como construções que davam um tom determinista à vida daqueles em
situação de vulnerabilidade. Sobre os aspectos metodológicos, salientamos que a posição do
bolsista-pesquisador é orientada pela ética psicanalítica (LACAN, 1959-60/1992), isto é, pela não
antecipação à experiência com o campo. Tal premissa significa dizer que o pesquisador psicanalítico
é o primeiro sujeito de sua pesquisa (...) assim ele está também implicado como um participante
importantíssimo na investigação realizada. (IRIBARRY, 2003, pg. 122). Ora, sabendo que cada teórico
parte de premissas historicamente construídas em seu campo, sendo atravessado por implicações
diversas e distintas (portanto, culminando em diferentes paradigmas) o encontro entre dois ou mais
campos acaba por, de uma forma ou outra, produzir efeitos e torções de forma recíproca. Assim, o

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objetivo deste escrito é, justamente, tecer considerações preliminares sobre as possibilidades e
limitações do diálogo/colaboração entre psicanálise e outros campos de saber a partir da experiência
na pesquisa Curso de vida e trajetória delinquencial. Desde essa posição, serão analisados os
seguintes materiais: (a) o projeto de pesquisa, mais especificamente, seus pressupostos e
instrumentos metodológicos; (b) as elaborações surgidas nas reuniões do grupo de pesquisa e nos
momentos de orientação; (c) as construções que decantam do estudo teórico de textos pertinentes à
temática para problematizar o encontro entre os saberes e campos na pesquisa supracitada.

Autor(a): Janaina Klinko – FE


Contato: janaina.klinko@gmail.com
Título: Os movimentos anti-escola e a recusa da pluralidade
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: Inseridos ainda em um contexto nacional de luta pela universalização do ensino e garantia
de acesso à formação escolar para todas as camadas da sociedade, presenciamos atualmente o
adensamento do debate a respeito das práticas de educação domiciliar em nosso país. Tal discussão
produz um movimento paradoxal, uma vez que a domesticação dos processos educacionais parece
drenar forças da obrigatoriedade da escolarização e de sua expansão enquanto política pública.
Tendo em vista essa crescente demanda e adesão por propostas que visam complementar, substituir
ou até mesmo rechaçar a experiência escolar, consideramos pertinente a elucidação de alguns dos
pressupostos implicados no discurso daqueles que defendem tais práticas. Para realizar esta tarefa,
destacaremos alguns trechos de dois documentários sobre a prática da desescolarização: “Ser e vir a
ser” de Clara Bellar e “Fluir: o devir da autopoiese” de Lesly Monrat. Em ambas as produções
audiovisuais são compilados relatos de famílias que optaram por educar seus filhos fora das
instituições escolares e as motivações que sustentaram esta opção. A partir deste material, os
excertos selecionados para a nossa discussão serão classificados de acordo com dois pressupostos
nomeados aqui como (a.) a supervalorização dos interesses privados e (b.) o convívio deve acontecer
entre semelhantes. Nosso objetivo consiste em reunir elementos para pensar, a partir das referidas
narrativas anti-escola, quais princípios sustentam a ideia de uma educação praticada em ambiente
familiar. Neste sentido, os pressupostos destacados indicam o acirramento da oposição e jogo de
forças entre o âmbito público e privado, sendo este último objeto de significativa evidenciação.
Compreendemos que esse encarceramento no universo doméstico possa estar a serviço de uma
alienação e subsequente desresponsabilização frente ao mundo. Além disso, a opção por uma
educação e socialização que aconteça entre semelhantes indica uma atitude fortemente narcísica
por parte dessas famílias que julgam seus micro universos suficientemente satisfatórios. E assim, a
recusa da pluralidade emerge como sintoma de uma sociedade que cada vez mais flerta com o
exercício da intolerância.

Autor(a): Joana Sampaio Primo – USP – Universidade de São Paulo


Coautor(a): Julia Mancilha Carvalho Pedigone, Romy Sigrid Herrera Saenz
Contato: joanaprimo@gmail.com, pedigonejulia@gmail.com, romisita40@usp.br
Título: Por uma metodologia de intervenção na escolarização de crianças imigrantes
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Nosso trabalho pretende problematizar a metodologia que estamos desenvolvendo no
Grupo Veredas: Psicanálise e Imigração para intervenções em escolas que enfrentam problemas na
escolarização de crianças imigrantes de primeira ou segunda geração. Este braço do Veredas surgiu
em meados de 2017, a partir de demandas da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo e,
posteriormente, de uma escola municipal de educação infantil. Há, portanto, uma dupla entrada

92
nesta problemática: a primeira é discussão sobre políticas públicas e a segunda é o acompanhamento
do cotidiano escolar, atravessado por questões que surgem na escolarização de crianças imigrantes.
O acompanhamento do cotidiano escolar é uma tarefa que exige reflexão, uma vez que a inserção de
psicanalistas nessas instituições não é a priori parte do quadro dos profissionais das escolas, além de,
em nosso caso, se tratar de uma demanda específica para intervir numa situação que relacionava
dificuldades em lidar com um estudante e o fato dele ser filho de pais imigrantes. Apesar de ser um
pedido que poderia ter como estratégia de intervenção a realização de um acompanhamento
terapêutico, nosso caminho partia das práticas psicanalíticas clínico-políticas, que, em linhas gerais,
partem do princípio de que a escuta, em contextos de vulnerabilidade social, implica que o
psicanalista, necessariamente, lance mão de estratégias clínicas não convencionais, promovendo
uma psicanálise implicada, pois atenta à complexidade histórica e social de sua formulação (Rosa,
2016). Logo de início a língua se destacou como um fator peculiar desse trabalho, pois é identificada
como o grande gerador de “mal-entendidos”: os professores se queixam de não entender os
estudantes e seus pais, os pais estrangeiros falam que não compreendem os professores, professores
e coordenadores orientam as famílias a falarem somente em português com as crianças.
Sublinhamos que a língua é, também, o sintoma que faz com que as escolas percebam esses alunos
como problema: crianças que não falam nenhuma língua e que são encaminhadas para passarem por
processos psicodiagnósticos, na maioria das vezes, já com suspeita de estarem dentro do Transtorno
do Espectro Autista (TEA). Compondo esse quadro, causou impacto o grande número de crianças e
adolescentes imigrantes ou filhos de imigrantes encaminhados, pelas escolas, para os CAPs da região,
evidenciando o tratamento recebido quando de questões relacionadas à linguagem: invariavelmente,
no caso da pessoa imigrante, dificuldades de aprendizagem ou comunicação são pensadas e tratadas
como transtornos mentais. O obstáculo da língua aparece como sintoma social eminente. Situação
complexa, que apontava acerca dos mal-entendidos da língua e, sobretudo, da condição de
estrangeiro. Dessa forma, propor uma metodologia de intervenção nesta e, posteriormente, em
outras unidades escolares da mesma região que solicitaram o trabalho, precisava levar em conta
esses atravessamentos e, ao mesmo tempo, estar aberta para construir um percurso conjunto com
os profissionais das escolas. Partimos, portanto, das portas de entrada que nos foram dadas pelas
instituições: o acompanhamento de alunos difíceis-imigrantes que mobilizam toda a instituição,
conversas periódicas com a coordenação e conversas periódicas com os professores. Ao longo do
percurso, fomos ocupando os lugares que nos foram demandados para podermos produzir questões
e indagar a demanda por psicólogos. Orientados pela escuta psicanalítica, fomos produzindo este
não-lugar nas escolas, instituições carregadas de signos próprios e de um fazer específico. Tendo
como pressuposto de que o método é um caminho provisório para entender uma determinada
questão, pretendemos discutir, em nossa apresentação, fragmentos de nossas intervenções, com o
objetivo de investigar a metodologia que fomos propondo, esta que sustenta que a escuta
psicanalítica pode mobilizar as instituições escolares para que estas façam enigmas de suas certezas.

Autor(a): Jorge Florentino Botelho – Prefeitura Municipal de Itabira


Coautor(a): Gustavo Alexandre Martins, Jorge Florentino Botelho
Contato: jorgef.botelho@hotmail.com, gustavoalemartins@gmail.com
Título: A escuta clínica na inclusão dos sujeitos
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: A parceria entre os serviços de pedagogia e psicologia escolar em escola pública municipal
fomentou o estudo de um caso de aluno com Síndrome de Asperger (atualmente inserida no
Transtorno do Espectro Autista - TEA). Matriculado na Educação Infantil, atualmente está no 4º ano
do Ensino Fundamental. Como realizar uma inclusão que transcorra sobre a linha tênue entre o
coletivo universalizante escolar, as manifestações típicas do quadro de TEA e as particularidades do

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sujeito para além do diagnóstico? Esta questão perpassa o acompanhamento e são renovadas a cada
momento marcante da escolarização: A resistência da família acerca da hipótese diagnóstica; A
avaliação de forma multidisciplinar, envolvendo Psicologia e Terapia Ocupacional Educacionais, CAPS
Infantil e neurologia; Inserção nos serviços de atendimento educacional especializado, em Sala
Recursos Multifuncional e disponibilização de professora apoio; A troca destas professoras a cada
reinício de ano letivo. O elemento amarração para a condução do trabalho pela pedagogia e a
psicologia é a escuta clínica de orientação psicanalítica. Trata-se de uma aposta feita pelos
profissionais no sentido de acolher as angústias da criança, família e professoras e, ao mesmo tempo,
ofertar espaços de fala e valorização das produções singulares. A escuta clínica institui um espaço em
que o sujeito aprendente, o educador e a família se tornam corresponsáveis pelo processo de
reelaboração do conhecimento, tanto acadêmico quanto de si mesmos. É também um lugar de
angústia, pois, a cada nova elaboração faz-se necessária a desconstrução de um conhecimento antes
instaurado. No caso apresentado, o referido aluno não apresenta entraves em sua estrutura
cognitiva que o impeçam de construir o conhecimento. Por outro lado, grande dificuldade em lidar
com situações de aprendizagem que o levam a questionar o lugar que tem ocupado, além das
vivências corriqueiras do cotidiano escolar que remetem a conflitos pessoais e produz reações
diversas, nem sempre entendidas pelo educador. Os pais demonstraram grande resistência quanto a
hipótese e à avaliação diagnóstica. A escuta, em primeiro lugar, favoreceu que pudessem lidar com
as expectativas criadas em torno da criança e que pareciam ser frustradas com a suspeita sobre o
autismo. A partir de então, o trato com as especificidades da criança no processo ensino-
aprendizagem. Os educadores ocupam um lugar de proporcionar condições ao aluno para que este
possa construir o conhecimento. O educando é um ser social e de desejo e ainda traz alguns conflitos
pessoais, os quais muitas vezes esbarram em políticas institucionais que acabam por agravar estes
conflitos e/ou propiciar outros. Escutar as professoras representa tanto o acolhimento e elaboração
de suas angústias quanto o suporte para que elas mesmas possam oferecer sua escuta ao aluno. O
trabalho das professoras é diário. Como orientá-las quanto ao que fazer ou não em sala? A conhecer
as regularidades e também lidar com a imprevisibilidade o aluno? Escutar essas profissionais é
indispensável. Onde prevaleciam queixas de impotência e demandas de “o que fazer?”, passou-se a
identificar e pontuar as saídas produzidas por elas mesmas. Mesmo sem saber, o que faziam para
chegar a estas saídas era também colocar a escuta a disposição daquele sujeito, a despeito de
qualquer recomendação de manual que já conheciam e que parecia não funcionar. O presente caso,
ainda em evolução, mostra-nos o quanto a parceria entre a pedagogia e a psicologia nas discussões
do caso, bem como nas intervenções, e principalmente na escuta dos sujeitos, é de suma
importância para que o processo de inclusão ocorra de forma eficaz. Para além dos mecanismos
administrativos de acesso e dos pedagógicos de adaptação, é indispensável a inclusão da
subjetividade. Esta que se apresenta nas idiossincrasias, nas queixas, nas resistências, nos
comportamentos disruptivos, pode se manifestar também e, fundamentalmente, pela palavra.
Devemos escutá-la.

Autor(a): Julia Anacleto – USP – Universidade de São Paulo


Contato: julia.anacleto80@gmail.com
Título: A demanda educativa e as respostas singulares
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A psicologia do desenvolvimento faz dos esquemas cognitivos piagetianos uma “trajetória
evolutiva desejável”. Diante da singularidade das respostas das crianças aos problemas cognitivos,
recheados, em sua própria montagem, dessas “expectativas desejáveis”, recorre-se ao parcelamento
do psiquismo em diversos aspectos que, complementarmente, fariam a unidade do sujeito. Esse
fatorialismo psicológico apenas reitera a tentativa de anulação do sujeito através de sua apreensão

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em diversas facetas visando controlar para que os efeitos estejam de acordo com as expectativas.
A insistência das respostas em se desviar das expectativas seja no que diz respeito aos padrões
cognitivos ou emocionais lança a criança no campo das patologias. Os transtornos passam a compor
um novo substantivo do sujeito e aquilo que é efeito de uma rede discursiva é visto como ponto de
partida, levando à ideia de inclusão como respeito às diferenças. Ou seja, as diferenças que se
manifestam no nível da resposta passam a ser tomadas como características intrínsecas. Criam-se,
então, não apenas uma, mas tantas “trajetórias evolutivas desejáveis” quantos transtornos sejam
classificáveis. A ideia de “trajetória evolutiva desejável” decorre de um padrão de desenvolvimento
como ideal que baliza o endereçamento do adulto à criança. De que ideal se trata? O ser humano
emerge como ser de linguagem a partir de sua inscrição no mundo simbólico, pressupondo,
portanto, que haja sobre ele um conjunto de expectativas. Contudo, para que se constitua um sujeito
da enunciação é preciso que se produza a partir dessas expectativas um efeito de diferença. Assim,
nos parece pertinente perguntar, a partir da ideia de “expectativa desejável”: onde localizar o desejo
em causa na expectativa? Para desdobrar essa questão, a dialética estabelecida por Lacan entre
demanda e desejo surge como um caminho possível. Pode-se dizer que a expectativa funciona como
normatividade. Ao estabelecê-la como uma estrutura de linguagem, Lacan sustenta que essa
possibilita, paradoxalmente, a emergência do sujeito como efeito de diferença. Lacan rompe com a
ideia de estrutura como totalidade na medida em que assume o desafio de sustentar o estatuto de
um sujeito da enunciação frente à determinação estrutural de sua existência a partir da ideia de uma
ordem estrutural paradoxal porque centrada numa incompletude, num furo que impede a
totalização da estrutura, seu fechamento. Para isso, concebe tal estrutura como aquela do
significante, em que um significante convoca outro para produzir um efeito de significação. Assim, o
sujeito não pode ser representado por um significante senão para outro e, portanto, ele não pode
ser significado senão ao preço de uma perda, de um resto, aquilo que falta à representação para ser
toda. É precisamente esse resto que retorna como causa do funcionamento estrutural. Quando um
adulto dirige a atenção a uma criança munido de expectativas, de ideais, sustenta uma
normatividade na qual a criança precisará se situar de alguma maneira. Ocorre que, ao se dirigir à
criança visando educa-la – e não apenas observá-la para depreender dessa observação uma suposta
adequação natural da criança às expectativas sobre ela colocadas – o adulto lhe endereça uma
palavra. A palavra é aquela que aponta para o paradoxo estrutural, possibilitando que o sujeito
emerja como diferença na estrutura da linguagem. Assim, o endereçamento da palavra coloca em
operação a dialética da demanda e do desejo. Se, por um lado, educa em nome de um vir-a-ser como
o ideal, por outro lado, na medida em que fala a partir de uma posição discursiva em que há o
reconhecimento do desejo, a expectativa carrega algo de enigmático, algo que aponta para outra
coisa, para a diferença, portanto. É ao desdobrar esse enigma, ao percorrer um certo percurso em
torno da infindável pergunta sobre o que anima aquele que dirige à criança uma demanda educativa,
que a diferença pode surgir como efeito, e não como ponto de partida.

Autor(a): Julia Tassara – UNR


Contato: julia.tassara@gmail.com
Título: Elucidaciones sobre una práctica. La prevención en salud mental como política pública y los
aportes del psicoanálisis
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: El trabajo titulado “Elucidaciones sobre una práctica. La prevención en salud mental como
política pública y los aportes del psicoanálisis” es un ensayo sobre preguntas y reflexiones a partir de
una práctica de prevención en salud mental, específicamente de consumos problemáticos de alcohol
y otras drogas. Esta práctica se enmarca en una política pública llevada adelante por el Gobierno de
la Provincia de Santa Fe, en Argentina, más precisamente por la Secretaría de Juventudes y APRECOD

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(Agencia de prevención del consumo de drogas y tratamiento integral de las adicciones).
El objetivo de este trabajo se enlaza al propósito ético de la elucidación crítica para volver pensables
los haceres de la práctica profesional. La implementación de dos dispositivos: Por un lado talleres
enfocados a la reducción de riesgos y daños asociados al consumo para jóvenes, y por el otro, charlas
de sensibilización sobre la problemática para adultos, fueron produciendo preguntas y poniendo en
tensión los conceptos con los que se venía pensado. Darse el tiempo de ensayar en y con la escritura
sobre lo que se hace nos posibilita la elucidación, verbo que es retomado de la obra de Graciela
Frigerio, quien a su vez lo toma de Cornelius Castoriadis: consiste en pensar lo que se hace y saber lo
que se piensa. Para ir tejiendo y sosteniendo conceptualmente algunos emergentes de la práctica, se
toman referencias teóricas del psicoanálisis con las que problematizar el malestar en la cultura, la
conflictiva intrapsíquica, y el lugar que toma el conflicto en la producción de síntomas. Se toman en
consideración los marcos legales que regulan y dan fundamento a estas prácticas, tanto la Ley N°
26657 de Salud Mental de Argentina, sancionada en el año 2006, como la Ley N° 26934 Plan IACOP
(Plan Integral para el abordaje de los Consumos Problemáticos), del año 2014. Así como algunos
documentos públicos elaborados por el gobierno provincial o nacional, que dan cuenta del
paradigma desde el cual se construye en este caso la política pública. Algunas de las preguntas que
insisten son: ¿Qué son las drogas? ¿Qué son los consumos problemáticos de sustancias? ¿Alcanza
con brindar información para reducir riesgos y daños? ¿Qué es cuidar? ¿Qué prevención es posible?
¿Cuál es la especificidad del oficio del Psicólogo y qué puede aportar el psicoanálisis al trabajo en
estas temáticas? En salud mental, ante la encrucijada del malestar en la cultura, cultura que al
tiempo que nos cercena, también nos cuida y nos protege, entendemos que lo que previene es lo
que hace lazo. Se propone pensar al oficio del Psicólogo como un oficio del lazo. En el campo de la
salud mental es frecuente encontrar más preguntas que respuestas. En este caso se busca sostener
las preguntas como interrogantes, sin dejar de ensayar algunas respuestas, siempre parciales,
siempre incompletas. Respuestas que nos posibilitan construir hipótesis, llevar adelante políticas
públicas para la prevención en salud mental que piensen los problemas en su dimensión de conflicto,
para no quedar entrampados en encerronas, sosteniendo, desde la especificidad del oficio del
psicólogo, la atención al caso a caso, siempre singular.

Autor(a): Juliana Dias Ferreira – USP – Universidade de São Paulo


Coautor(a): Luis Santos
Contato: julianadsfr@gmail.com, loouisantos@gmail.com
Título: Leitura estrutural na relação professor-aluno: uma composição possível?
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A relação professor-aluno é um tema central na discussão de práticas escolares inclusivas.
Na leitura psicanalítica, essa é uma relação transferencial com a qual o aluno poderá enlaçar-se,
tanto para aprender quanto para encontrar um caminho de subjetivação (Kupfer et al., 2017). Diante
da complexidade do processo de escolarização de crianças autistas e psicóticas, esse princípio se
destaca. A forma particular com que se relacionam com o conhecimento e o saber promove rupturas
no campo da razão que sustenta as práticas pedagógicas em geral. Coutinho e Aversa (2005) **
destacam então a importância de uma disponibilidade subjetiva dos educadores para poderem estar
pessoalmente nessas relações, sustentando o enlaçamento desses alunos com o universo escolar.
Com Kupfer et. al (2017), podemos pensar ainda que por essa disponibilidade, eis que vem ao
professor seu saber inconsciente sobre o aluno: uma maneira singular de abordá-lo e de ensiná-lo. O
trabalho como assistente de práticas inclusivas e auxiliar pedagógico em um colégio privado de São
Paulo que está reordenando seu projeto como escola inclusiva nos permite acompanhar
cotidianamente relações professor-aluno dessa natureza. Destacando duas situações de inclusão, no
1o e 4o ano do ensino fundamental, vemos que o enlace desses alunos com o escolar é favorecido

96
não por uma especialização dos professores em práticas pedagógicas inclusivas, mas principalmente
por suas disponibilidades e sensibilidades. Por outro lado, ainda que se valham desse saber
inconsciente, as intervenções cotidianas dos professores nem sempre têm efeito de enlaçamento.
Acompanhamos, inclusive, intervenções que parecem desorganizar esses alunos. Nessas cenas, nos
surge uma questão: uma leitura estrutural da posição dessas crianças na linguagem balizaria o fazer
cotidiano dos educadores? Articulamos nossa questão a partir de duas vinhetas: a) quando um aluno
autista reage a uma demanda do adulto derrubando tudo no chão, sua professora faz a leitura de
que ele só faz o que quer e que se continua a bagunçar a sala quando ela intervém, é para desafiá-la.
Então insiste na intervenção moralizante de que se ele derrubasse, teria que recolher, mas o efeito é
mais bagunça por parte da criança; b) na classe de um aluno psicótico muito rígido com os horários, a
professora pune a turma pela bagunça que estavam fazendo retirando-lhes cinco minutos de recreio,
o que faz com que esse aluno se desorganize no mesmo instante. A professora tenta explicar a ele
um tempo que é variável, mas sua desorganização permanece e ela acaba o deixando ir para o
recreio antes dos colegas. Situações como essas parecem-nos dizer de tentativas de enlaçar, educar,
negociar, punir, etc., que desconsideram que nem todos os alunos assimilam essas relações da
mesma forma, e que alguns sequer as assimilam. Apostamos em um espaço de reflexão a posteriori
das situações cotidianas para promover um olhar para os efeitos das intervenções e inspirar
questionamentos e, assim, outros manejos possíveis. Com isso, poderíamos compor uma parceria de
trabalho com o professor e a instituição para uma leitura estrutural dessas crianças ditas de inclusão
considerando as singularidades que constituem o ser/estar no mundo delas, em uma parceria que
não atravesse a relação professor-aluno e o saber do educador sobre a criança? É a discussão que
pretendemos trazer para este Colóquio, apoiados em uma leitura do livro Psicanálise e formação de
professores: antiformação docente, de Rinaldo Voltolini (2018). *Coutinho, A., & Aversa, P. (2005).
Sobre a experimentação da loucura no campo escolar. In: Colli, F., & Machado Kupfer, M. (Orgs.),
Travessias: Inclusão Escolar ** Machado Kupfer, M., Pesaro, M., Marisa Bernardino, L., Keiko de
Merletti, C., & Voltolini, R. (2017). Princípios orientadores de práticas inclusivas. In: Machado Kupfer,
M., Souza Patto, M., & Voltolini, R. (Orgs.), Práticas inclusivas em escolas transformadoras:
acolhendo o aluno-sujeito.

Autor(a): Juliana Viveiros Barbosa Konig dos Santos – UNEB – Universidade do Estado da Bahia
Coautor(a): Maria de Lourdes Soares Ornellas
Contato: juliana.viveiros.bks@gmail.com, danielelima.lima@gmail.com
Título: Entre lugar do acompanhamento terapêutico escolar: efeitos da linguagem e giros discursivos
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este estudo é fruto de uma pesquisa em andamento num programa de Pós-graduação em
Educação e Contemporaneidade referenciada no enlace da psicanálise e educação, a partir da escuta
de acompanhantes terapêuticos escolares (ATE). Que se mobiliza através das questões: Em que lugar
discursivo se estabelece no livre falar de acompanhantes terapêuticos escolares? Em que trama
“linguageira” o seu fazer se efetua discursivamente na inclusão escolar de crianças com impasses na
sua estruturação subjetiva? Lacan (1992) reconhece o sujeito como efeito do discurso e formula
quatro modos de laço social. Para Gutierra (2003, p.89) “essas estruturas discursivas formalizadas
por Lacan são os quatro modos possíveis de relação com o “resto”, com o impossível de gozo,
resultado do processo de constituição do sujeito”. A psicanálise também se formula como um modo
de laço social que faz efeito no mundo. Fink (1998) indica que “em qualquer práxis e praticamente
em qualquer campo, há discursos diferentes ajustados para momentos diferentes, e em contextos
históricos, sociais, políticos, econômicos e religiosos diferentes” (Fink, 1998 p. 175). A psicanálise na
instituição escolar permite a escuta do singular, na possível superação do ideal adaptador a partir do
acolhimento das questões subjetivas que se efetivam nas relações educativas. O ATE que impulsiona

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o seu fazer em direção ao discurso do analista, também tem uma práxis sob efeito da linguagem.
Este que tem o terapêutico marcado pela psicanálise finca a escuta no mover discursivo entre
domínios distintos, em uma dialética que se estabelece por “giros” sem pontos de “parada”. Nessa
construção é possível indicar que a psicanálise aplicada pelo ATE o coloca em um lugar do entre:
entre o discurso da criança e o discurso escolar, entre a dimensão educativa e terapêutica, em uma
operação discursiva que impõe movimento (Fráguas e Berlinck, 2001). Práxis discursiva que talvez
possa propiciar sobre a escola o que Di Ciaccia (2007) cita como “várias instituições”, em uma
flexibilização na estrutura discursiva escolar em que a singularidade possa ter ancoragem. Por esta
possibilidade discursiva que a escuta ao ATE- Sujeito mobiliza este estudo, em apreender os efeitos
singulares que este sujeito formula ao ocupar o entre lugar, em que a linguagem é tomada como
condição do próprio inconsciente e o inconsciente como condição da própria linguagem (LACAN,
1992). A escuta se dará através de dois dispositivos: a entrevista em vista de apreender as
idiossincrasias e significantes do ATE- Sujeito sobre seu fazer (ORNELLAS, 2011) e a observação
participante em supervisões de orientação psicanalítica a acompanhantes. A análise interpretativa
será realizada pela via da análise psicanalítica do discurso em que “a noção de discurso em Lacan
deve ser compreendida sempre como heterogeneidade, entre fala e língua entre significação e valor,
entre enunciação e enunciado, entre dizer e dito” (Dunker et al 2016 p. 147). Heterogeneidade que
avulta no conceito de discurso, como pista ao se dirigir a escuta do ATE, em sua posição discursiva
que que se efetua entre discursos distintos que estruturam o processo escolar de crianças com
impasses constitutivo. A aposta é a partir da escuta a ATEs e de seus giros discursivos, depreender
novidades no enlace entre a psicanálise e educação a partir de sua práxis.

Autor(a): Kamila Alkmim Nascimento – Policia Militar do Estado de Minas Gerais


Coautor(a) Lilian Simone lobo Beckman
Contato: kamilalkmim@gmail.com, liliciro75@gmail.com
Título: Autismo, mediação escolar, formação docente e família participativa: um olhar voltado para
as políticas públicas quanto à inclusão na educação infantil.
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O presente trabalho norteará questões acerca da Educação Especial e Inclusão no Contexto
Amazônico. Assim, em um primeiro momento, tem por objetivo analisar a inclusão dos alunos
autistas matriculados na Pré-Escola Creche Infante Tiradentes da Polícia Militar do Estado do
Amazonas – PECIT, e por conseguinte, investigar a necessidade de formação dos docentes da
instituição de ensino objeto de estudo, e a consequente intervenção por psicanálise no que tange
aos alunos e profissionais que lidam com a educação especial, especificamente no que se refere ao
tratamento com as crianças que possuem Transtorno de Espectro Autista (TEA), abordando ainda a
importância desta capacitação e o quanto a mesma pode auxiliar no desenvolvimento expressivo
quanto ao aprendizado das crianças.
O trabalho enfatizará também, que a parceria da família é imprescindível no processo
ensino/aprendizagem, devendo fazer escolhas viáveis juntamente com a escola buscando somar a
formação do aluno, além de ser essencial ao auxílio em sala de aula com o docente. Tão importante
quanto à questão da inclusão, é pesquisar como a mesma ocorre para a realização da matrícula de
crianças portadoras de TEA no âmbito da educação infantil, se existem parâmetros e se a legislação
brasileira é verdadeiramente aplicada ao matricular tais alunos; e ainda se a escola recebe o fomento
necessário das políticas públicas previstas, no tocante ao amparo destas crianças. Dentre várias
carências, o tema autismo foi escolhido pelo fato da pesquisadora além de ter formação pedagógica,

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ter atuado como subcomandante/vice-diretora da instituição em questão no período que
compreende o ano de 2015 a 2018, a qual se transforma aqui em objeto de estudo. A pesquisa de
campo será realizada, com base em estudo de caso, através de entrevistas e formulários com alguns
profissionais que lidam diariamente com os alunos autistas neste universo educacional. No âmbito
escolar, a pesquisa será realizada através de um sucinto questionário voltado às crianças que
convivem com algum colega autista, bem como a observação das crianças com autismo em especial,
sobretudo, durante as aulas e no convívio com os demais colegas. Concomitantemente, deve-se
considerar de extrema relevância, saber quais as principais necessidades do professor, inclusive se
estes profissionais e crianças recebem acompanhamento com psicólogos, fins auxiliá-los a elaborar
métodos para suprir dificuldades peculiares a cada um, qualificando o trabalho dos professores e
daqueles que podem um dia, receber em sua turma um aluno com autismo, de forma a orienta-los a
lidar e acolher estas crianças propiciando-lhes o bem estar. E é pensando nessa prática
psicopedagógica dos professores, que a pesquisa tem como limiar, analisar como este profissional
realiza o atendimento à alunos com autismo, evidenciando seus conhecimentos prévios, habilidades,
necessidades e dificuldades. Quanto aos objetivos específicos, buscou-se identificar iniciativas que
demonstram a compreensão da educação inclusiva na PECIT, isto é, se o professor recebe alguma
formação para atuar em classes com alunos com autismo; os métodos e/ou atividades que o
professor utiliza nos dias atuais, levantar dados acerca das principais dificuldades enfrentadas no
cotidiano escolar, e se possuem mediadores disponíveis pelo Estado ou Município, para atuarem
diretamente com tais alunos, facilitando o desempenho em sala de aula, entre o mediador e o
professor no que se refere ao desenvolvimento psicossocial da criança. Diante do exposto, a pesquisa
apresenta fundamentação teórica com base em dados bibliográficos de cunho qualitativo, o qual
apresenta o conceito de autismo, aborda ainda questões acerca da educação inclusiva, apresenta as
leis e diretrizes que surgiram para apoiar o direito de todos ao acesso a uma educação de qualidade,
além de dissertar sobre o papel do professor e mediadores, além dos métodos que possam ser
utilizados em sala de aula.

Autor(a): Katilen Machado Vicente Squarisi – UNB – Universidade de Brasília


Coautor(a) Cleonice Pereira do Nascimento Bittencourt
Contato: katilensquarisi@gmail.com, cleonascimentoead@gmail.com
Título: Memória educativa de professores do PNAIC: uma leitura psicanalítica do mal-estar na
alfabetização
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: O presente trabalho pretende compreender a política pública de formação de professores
proposta pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - PNAIC e seus desdobramentos e
implicações na práxis docente, de modo a permitir uma leitura reflexiva e análise crítica da Proposta
do Governo Federal, lançada em 2012, iniciada em 2013 e reconfigurada em 2017/2018 em razão do
momento político e repercussões inegáveis em órgãos da administração pública como o Ministério
da Educação-MEC. Optou-se pelo delineamento da pesquisa fundamentada na metodologia
qualitativa - com ênfase no estudo bibliográfico e na pesquisa documental para coleta de dados do
programa como concepção de política pública de relevância no Brasil. Os sujeitos de pesquisa serão
professores participantes de ações do PNAIC, utilizando como dispositivo a memória educativa,
entrevistas semiestruturadas e grupos de discussão. O referencial teórico fundamenta-se em
abordagem psicanálise na educação com as contribuições advindas de autores dessa área, cuja
leitura singular do processo educativo subsidia, em especial nossas reflexões e análises resultando
em possibilidades de renovadas compreensões da complexidade dos processos subjetivos na
formação do professor com repercussões em sua atuação, para além das políticas públicas. Por que a

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psicanálise na universidade e na educação hoje? Ensino, transmissão, resistência. Assim também
interrogamos como pensar a formação docente hoje, tema complexo e ao mesmo tempo urgente
que deve suscitar reflexões capazes de gerar conhecimentos de (im)pacto, não apenas no mero
estudo comparativo de avaliações, mas no campo das experiências (re)ignificativas e instigantes. O
processo da alfabetização de alunos nos anos iniciais de escolarização precisa ser acolhido com
responsabilidade, por docentes, gestores das políticas públicas e instituições formadoras como
imperativo ético indispensável à construção de uma educação efetivamente democrática e
socialmente justa (PNAIC,2017). Pensando nesse pressuposto, a presente pesquisa propõe-se
desenvolver uma leitura reflexiva e análise crítica da Proposta do Governo Federal do Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), tendo em vista seus desdobramentos e implicações na
práxis do professor referenciada na teoria psicanalítica.
Algumas políticas públicas surgem buscando melhorar os índices de avaliação obtidos na educação
do país, em especial, nos anos iniciais de escolarização. A grande questão são os entraves estruturais
que disseminam os tão requisitados modelos pedagógicos sem considerar na maioria das vezes a
dimensão da constituição subjetiva docente. Importante ressaltar que compreendemos subjetividade
a partir do “sujeito psíquico freudiano” que constitui o humano: o que nos permite apontar ser o
possível fruto do mal-estar na alfabetização. A perspectiva metodológica será de abordagem
qualitativa, com ancoragem teórica na psicanálise, em especial, advinda dos saberes freudianos.
Considerando a trajetória do PNAIC e sua configuração optamos pela escolha de sete professores
que participaram de lugares diferentes da formação, sendo assim, deverão escrever incialmente sua
memória educativa, complementando-a pela entrevista e grupos de discussão. A partir da análise,
acreditamos ser possível a criação de eixos emergentes para interpretação e discussão dos dados de
investigação da memória do vivido a respeito da alfabetização, processo que refere à infância de
cada um e a experiência formativa do PNAIC, que implica o sujeito em tempos modernos. Com essa
perspectiva, compreendemos que no processo de ressignificação do ser professor, a memória,
histórias de vida, vivências corroboram com a afirmação de Freud (1919/2006), segundo o qual o
estranho é, antes de tudo, algo que se tornou estranho por ter sido antes familiar.

Autor(a): Kauan de Freitas Teixeira – UNIT – Universidade Tiradentes


Coautor(a): Alef Alves Lemos, Nanci Miyo Mitsumori
Contato: kauanfreitas000@hotmail.com, alef.alves@souunit.com.br, nanci.mitsumori@gmail.com
Título: Um estudo de caso clínico sobre o embotamento afetivo: a saúde mental dos professores de
ensino superior
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: O presente artigo apresenta os resultados de um caso clínico atendido em uma clínica -
escola de psicologia. O estudo foi desenvolvido com base no atendimento psicoterápico de um
homem adulto de trinta e dois anos, intitulado Marcos (nome fictício). Ele foi encaminhado à clínica -
escola de uma Universidade da região Nordeste. O mesmo trabalha como professor e pesquisador do
ensino superior. Após seu acolhimento, que é o processo de triagem dentro da clínica - escola, seu
caso foi enquadrado para a psicoterapia individual, com a demanda de exteriorizações de angústia,
solidão e traços depressivos. Foram realizados sete atendimentos, com regularidade semanal, e com
duração de cinquenta minutos cada sessão. Foi utilizado um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) onde está explicado às normas e orientações da clínica. Os instrumentos utilizados
nas sessões foram à psicoterapia breve de orientação analítica, associação livre e atenção flutuante.
Com base nos dados coletados durante as sessões de psicoterapia individual, foi feito uma análise
hipotética e interpretativa sobre o caso, relacionando-o com embotamento afetivo. O embotamento

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afetivo pode estar associado a situações de estresse ou então ao evitamento de memórias
desagradáveis desencadeadas por eventos traumáticos. Neste sentido, o psiquismo funciona como
um mecanismo de defesa da pessoa em resposta à hiperestimulação fisiológica e emocional
vivenciada no decorrer do trauma O caso clínico está estruturado na história de vida de Marcos, nos
atendimentos realizados e na integração e discussão do caso. A análise do caso clínico permitiu
verificar que as manifestações de solidão e angústia estavam associadas a questões de autorização,
sobrecarga do trabalho e reconhecimento do paciente, que colocavam Marcos em um movimento de
fuga das relações interpessoais (exercida pelos amigos, e por parceiras amorosas). Assim, a
representação de amigo em que o terapeuta se manteve durante os atendimentos, e o progresso
com suas afetações, fez com que a diminuição da sintomatologia clínica acontecesse por um tempo.
Até que ponto existe um nível de responsabilidade das instituições de nível superior para com seus
colaboradores? O caso de Marcos seria diferente se o auxílio pedagógico institucional tivesse sido
capaz de rastrear o seu sofrimento? Essas e outras questões foram levantas durante a escrita desse
artigo, que no mais só caberiam possíveis respostas com um trabalho mais aprofundado na dinâmica
institucional.

Autor(a): Kelly Cristina Brandão da Silva – UNICAMP – Universidade de Campinas


Contato: kcbsilva@unicamp.br
Título: Intervenção a tempo e com tempo para a construção de narrativas
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Esse trabalho se propõe a discutir uma proposta de intervenção a tempo com crianças que
apresentam impasses na constituição psíquica e na aquisição de linguagem, implementada no Centro
de Estudos e Pesquisas em Reabilitação “Prof. Dr. Gabriel O. S. Porto”, da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Com a chegada cada vez mais frequente de crianças
com quadros autísticos, foi feita a proposição de um Programa de Treinamento em Serviço para
Profissional da Saúde, intitulado “Intervenção Precoce com Crianças de 0 a 3 anos”.
Apesar das crianças atendidas, frequentemente, serem diagnosticadas com Transtorno do Espectro
Autista (TEA), em consonância com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-V), o presente trabalho prioriza a experiência narrativa, tanto das
crianças, das famílias quanto dos terapeutas. Dessa forma, tentamos evitar o silenciamento familiar e
contingencial diante da supremacia de um diagnóstico generalista. Concordamos com Dunker (2015,
p. 25) quando este ressalta que “a nomeação normativa de um sintoma é terrivelmente redutiva em
relação ao domínio de experiência que ela comprime e generaliza”. Esse trabalho objetiva apresentar
algumas vinhetas clínicas do primeiro caso atendido, o qual suscitou o desejo de implementar o
Programa de Intervenção Precoce, e discutir algumas premissas teóricas que fundamentam o
trabalho. Um dos principais pressupostos refere-se à noção de que a constituição psíquica não está
garantida por condições naturais, visto que depende do estabelecimento de um laço simbólico em
que estão implicados o desejo e as expectativas parentais e as aptidões do bebê ao nascer. Essa falta
de garantia evidencia-se no encontro com uma criança com traços autistas. Aquilo que parece
pretensamente natural e ordinário, torna-se uma tarefa laboriosa e extraordinária no tratamento
dessas crianças. Um trabalho de intervenção a tempo embasado na Psicanálise põe em relevo, em
um tempo distendido, uma série de equações imprescindíveis à constituição do psiquismo e à
aquisição de linguagem. Verly e Freire (2015) salientam que a constituição da criança como falante
está articulada à sua antecipação pelo discurso do outro. Essa premissa é extremamente relevante
no trabalho com crianças com traços autistas. A suposição de sujeito é imprescindível, justamente
diante de uma criança que apresenta um fechamento tão sistemático ao outro. Essa aposta norteou
desde o início o trabalho com Tiago (nome fictício), principalmente no que tange a considerar seus
atos como se fossem endereçados, apesar de sua predileção pelos objetos, em detrimento da

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relação intersubjetiva. Na maior parte do tempo, o prazer era autoengendrado, mas não
compartilhado. A respeito da direção do tratamento, Crespin (2010, p. 163, grifos meus) salienta que,
inicialmente, “trata-se de ir ao encontro da criança utilizando o registro sensorial que a criança por si
mesma privilegia: deambulação, manipulações de objetos, tapinhas ou gritos”. A partir disso, faz-se
necessário introduzir-se nesse espaço, ou seja, “forçar nossa entrada enquanto companheiro de
brincadeiras, aceitando a atividade da criança como se ela nos fosse dirigida”. Após dois anos de
trabalho com Tiago, suas primeiras vocalizações deram lugar a frases. A brincadeira solitária com os
objetos e a constante esquiva ao outro transformaram-se em demanda. Atualmente, coloca seu
desejo em palavras, seja para pedir ajuda para colher uma fruta no pé de pitanga do centro de
atendimento, seja para pedir para ir ao banheiro. Caminha pelos corredores da instituição,
cumprimentando e conversando com algumas pessoas. Diante de crianças que pouco demandam e,
de forma insistente, evitam o encontro com o outro, a escolha pelo trabalho em equipe faz parte da
estratégia terapêutica. Privilegiam-se os encontros entre diferentes crianças, terapeutas e familiares.
Afinal, a diversidade é terapêutica (KUPFER; VOLTOLINI; PINTO, 2010).

Autor(a): Lara Batista Belfi – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo


Contato: larabelfi@gmail.com
Título: A psicose infantil diante da profusão de diagnósticos de autismo.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A predominância da psiquiatria norte-americana sobre as categorizações das
psicopatologias da infância vem colocando o diagnóstico da psicose infantil em vias de
desaparecimento e dando lugar aos diagnósticos de autismo (BERNARDINO, 2010). Em uma
perspectiva sintomatológica e descritiva, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-V) tem substituído os diagnósticos das psicoses infantis por aqueles que compõem o TEA
(Transtorno do Espectro Autista). Entretanto, pela perspectiva psicanalítica lacaniana, há importantes
diferenças entre o autismo e a psicose infantil que justificam a afirmativa da última enquanto um
quadro clínico específico. A leitura médica acerca das psicopatologias da infância, norteada pela
concepção do psiquismo como aquilo correspondente ao funcionamento cerebral, privilegia apenas
os aspectos orgânicos na construção de um diagnóstico. Assim, a classificação das crianças serve para
a facilitar a decodificação dos sintomas e a prescrição medicamentosa. Priorizando o que há de
objetivo no organismo, algumas semelhanças em termos de estereotipias e dificuldades na fala entre
o autismo e a psicose infantil tem constituído fatores suficientes para o agrupamento dessas
denominações no manual global. A psicanálise lacaniana, ao compreender o psiquismo como efeito
da linguagem, dá importância a um diagnóstico que represente o lugar do sujeito criança em relação
ao discurso parental e o seu processo de estruturação subjetiva. Pode-se pensar que o caráter
permeável do psiquismo da criança, pois encontra-se em vias de se estruturar, torna os diagnósticos
não-decididos e suscetíveis a outros encaminhamentos (BERNARDINO, 2010). Nesse sentido, o
diagnóstico tem importância na medida em que serve para orientar uma intervenção clínica que
permita inscrições subjetivas e a ampliação do laço social. Atualmente o diagnóstico do autismo tem
predominado, mas a supressão da psicose infantil na referência mundial de psicopatologias não
significa que essa forma de sofrimento tenha deixado de existir e de chegar às clínicas e instituições
(BERNARDINO, 2010). É importante caracterizar essa organização subjetiva. Pela perspectiva
psicanalítica, quando se trata de uma organização psicótica prevalente, traços autísticos até podem
se fazerem presentes, mas a posição diante do discurso parental é que prevalece (TOUATI, MERCIER
& TOUIL, 2010). Na psicose infantil a criança fica colada ao mandato que ela é o que falta no Outro e
encarnando essa falta, ela preenche o intervalo entre significantes na mesma função de qualquer
significante: remete- se a outro significante. Na solidez em que a cadeia primitiva é apreendida, a
abertura dialética é impedida e o significante representa outro significante, deslizando infinitamente

102
(VORCARO, 1999). Para essas crianças que já possuem dificuldades de se encontrar diante do desejo
do Outro, a exclusão da categoria da psicose infantil vem contribuindo para um não olhar à essa
maneira de sofrimento. Não descartando o diagnóstico psiquiátrico e a prescrição medicamentosa
quando necessária, entendemos que propiciar à criança com psicopatologia grave um lugar de escuta
diferenciada pode possibilitar outro destino ao sujeito (VANOLI & BERNARDINO, 2008). TOUATI, B;
MERCIER, A; TOUIL, L. Autismo, uma pesquisa. Da necessidade de reprecisar o campo do autismo e
aqueles dos TID não autístico. In: Distinção clínica e teórica entre autismo e psicose na infância. São
Paulo: Instituto Langage, 2016. p. 57-87. BERNARDINO, L-F. Mais além do autismo: A psicose infantil
e seu não lugar na atual nosografia psiquiátrica. Psicologia Argumento, [S.l.], v. 28, n. 61, nov. 2017.
VANOLI, E-N; BERNARDINO, L-F. Psicose infantil: uma reflexão sobre a relevância da intervenção
psicanalítica. Estilos clin., São Paulo, v. 13, n. 25, p. 250-267, dez. 2008. VORCARO, A. Da holófrase e
seus destinos. In: Crianças na psicanálise: clínica, instituição, laço social. Rio de Janeiro: Companhia
de Freud, 1999. p. 19-58.

Autor(a): Larissa Costa Beber Scherer – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Cristiana Carneiro
Contato: larissascherer70@gmail.com, cristianacarneiro13@gmail.com
Título: A patologização do mal-estar na escola
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Ao acompanhar professores no contexto escolar frequentemente escutamos sobre alunos
que não se concentram, não tem interesse pelo aprendizado e/ou não aprendem. Tais comentários
evocam o mal-estar produzido. A busca por compreender tais situações seguidamente conduz o
docente a suposições da presença de dificuldades ou transtornos, possivelmente causadores dos
comportamentos destoantes. Esse fenômeno tem resultado em inúmeros encaminhamentos para
especialistas. "Agora fico tranquila já que a M. está sendo acompanhada por fonoaudiólogo"; "Dava
para perceber que o J. tinha algum transtorno"; "O D. tem que ter algum problema... Não consegue
parar sentado e não realiza as atividades". A fim de compreender esse contexto, interrogamos: Qual
a responsabilidade do professor/escola nesse processo? O que tem conduzido os professores a
atribuir o processo educativo aos especialistas? Freud ([1930] 1987) denomina mal-estar na
civilização o ingresso do sujeito no laço social, pois para isso é necessário abrir mão de boa cota da
satisfação das pulsões. Afirma que esse mal-estar é inerente à condição humana. Se transpusermos
essa análise para o campo da educação, poderíamos pensar que essa tensão, entre o pulsional e a
cultura, na maioria das vezes não é bem-vinda, podendo produzir impotência. Na tentativa de ocultar
a desordem pulsional, um dos caminhos conduz o educador aos saberes dos especialistas. Teorias
determinadas por classificações e diagnósticos baseadas no saber médico em que é predominante
“[...] o valor dado ao diagnóstico como identificação, caracterização e descrição da falta que nomeia
a anormalidade, os déficits” (POSSA; NAUJORKS; RIOS, 2012, p. 474). Saberes que desconsideram a
criança como um sujeito em constituição – estados capazes de ser transformados pela experiência
escolar e familiar. Carneiro e Coutinho (2016), neste mesmo sentido, indicam como a medicalização
produz um novo modo de lidar com o fracasso escolar. De acordo com essa perspectiva, crianças
passam a sofrer de “patologias” que justificam a não aprendizagem e a inadequação à escola, onde
os transtornos se proliferam concomitantemente à oferta variada de substâncias químicas para curá-
los. Esta perspectiva surge como possibilidade de aplacar o mal-estar docente. Com isso, o lugar da
doença é reafirmado, confirmando uma trajetória escolar de possíveis fracassos atribuídos à
patologia. A escola permanece alheia ao processo que lhe é próprio: ocupar-se da educação relativa
a todos os alunos. Referências: COUTINHO, Luciana G.; CARNEIRO, Cristiana. Infância, adolescência e
mal-estar na escolarização: interlocuções entre a psicanálise e a educação. Psicol. clin., Rio de
Janeiro, v. 28, n. 2, p. 109-129, 2016. Disponível em

103
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010356652016000200007&lng=pt&n
rm=iso>. Acesso em 28 ago. 2019. FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. XXI.Rio de Janeiro: Imago, 1987
(original de 1930). POSSA, L. B.; NAUJORKS, M. I.; RIOS, G. M. S. Matizes do discurso sobre avaliação
na formação de professores da Educação Especial. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 25, n.
44, p. 465-482, set./dez., 2012. Disponível em http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial. Acesso
em 28 de ago. 2019.

Autor(a): Lenara Spedo Spagnuolo – Psicanalista


Contato: spedolenara@gmail.com
Título: De que saber se trata na formação de professores?
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: No campo da formação de professores fala-se muito a respeito dos conhecimentos
necessários para a docência sem que se suponha uma diferença entre saber e conhecimento. Os
cursos centrados no paradigma técnico ou conceitual-instrumental supõem que o conhecimento
pode ser adquirido do saber cientificamente acumulado. Trata-se do funcionamento do discurso
universitário no qual há um saber universal, prescritivo e replicável. Os encontros de formação de
professores ocorridos no decorrer da pesquisa (FAPESP:2015/10857-1) coordenada pelo professor
Rinaldo Voltolini apresentam uma outra proposta formativa. Grosso modo, o acento é colocado não
no conhecimento instrumental, mas na experiência do professor e na narrativa provocada por ela.
Essa proposta tem como consequência uma aproximação à noção de clínica que supõe flexibilizar o
conhecimento universal em direção a um caso, sempre singular. No presente trabalho, interessa-nos
refletir qual o estatuto do saber docente e, especificamente, como podemos toca-lo em uma
formação de professores. Para tanto, traremos, como paradigma, as entrevistas preliminares de uma
análise sublinhando a modificação na posição do analisante em relação ao saber operada pelo
analista no interior do campo transferencial. Assim como um paciente diante do analista ao contar-
se, o professor ao narrar um caso, mesmo buscando uma objetividade, não se dá conta de sua
implicação subjetiva. Ele está; dividido entre o “conhecimento, universal, no qual ele busca se
referenciar e o saber inconsciente, singular, que o orienta sem que ele o reconheça” (VOLTOLINI,
2018, p.82).
Desde a psicanálise, compreendemos o saber como aquilo que vem no lugar da vacância instintiva,
se construindo na relação com a linguagem e servindo para orientar o sujeito em relação ao objeto
de sua satisfação (sempre parcial). Assim, pode “não haver conhecimento, mas não há não saber. O
que há; é uma relação de não saber com o que se sabe, que é mesmo o que dá nome a ideia de
inconsciente” (VOLTOLINI, 2018, p. 83). Enquanto nas abordagens conceituais-instrumentais trata-se
de positivar o conhecimento, isto é, respondendo ao saber com conhecimentos, a abordagem clínica
visa investigar o saber já existente e que é desconhecido. Como na clínica em que o analisante vem
para falar do que manca, do que faz sintoma, o professor busca a formação para falar do que lhe
perturba em sua experiência. Segundo Voltolini (2018) a direção do trabalho com o professor não é
de solucionar um problema, mas dissolve-lo, o que significa diminuir a alienação (em relação ao
Outro) não aumentar o conhecimento. Quinet (1991), ao abordar as entrevistas preliminares, propõe
que a tarefa do analista nesse momento “é apenas a de relançar o discurso do analisante” (p.18).
Embora o candidato na análise se queixe de seu sintoma e peça para desvencilhar-se de seu
sofrimento, isso não basta para uma entrada em análise, é preciso que “essa queixa se transforme
numa demanda endereçada àquele analista e que o sintoma passe do estatuto de resposta ao
estatuto de questão para o sujeito, para que este seja instigado a decifra-lo” (p.20). É no
estabelecimento da transferência que faz emergir o sujeito suposto saber encarnado pelo analista e
o sintoma é transformado em enigma. Um enigma que convoca ao trabalho. Quando algo do saber

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vacila, há uma abertura para novas interrogações: o que eu tenho a ver com isso do qual me queixo?
Propomos pensar que, assim como ocorre nas entrevistas preliminares, o grupo de formação de
professores pode promover a passagem da queixa às interrogações. Partindo de uma narrativa, o
professor pode questionar-se sobre aquilo que manca em seu saber e que simultaneamente opera
como um saber inconsciente. Seria isso tocar no saber do professor?

Autor(a): Lia Silva Fonteles Serra – USP – Universidade de São Paulo


Contato: liafonteles@gmail.com
Título: Educação e Transmissão de Saber
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: A educação é, pela lógica de sua existência, atividade de transmissão, ainda que na
contemporaneidade as construções humanas encobertem esta lógica. Observamos que ultimamente
as teorias educacionais têm se movimentado no sentido de apagar o componente da transmissão
presente em toda e qualquer educação. Este aspecto é parte de uma ampla revolução cultural em
que o individualismo se impõe como marca primeira e cujos efeitos supõem a aniquilação do sujeito.
Entretanto, a Psicanálise nos mostra que, na educação, está em jogo uma relação intersubjetiva, o
que nos leva a compreender que as teorias educacionais mais difundidas nos últimos anos falham ao
desconsiderar a subjetividade e, portanto, que a educação é fio condutor da transmissão de saber,
que é o que nos faz humanos. Segundo Lacan (1973;1985, p. 130), “o estatuto do saber implica,
como tal, que já há saber e no Outro, e que ele é a prender, a ser tomado. É por isso que ele é feito
de aprender” (LACAN, 1973; 1985, p. 130). Nesse sentido, toda formação de laço social implica uma
busca de saber, o que convém dizer que aprender algo requer a formação de laço. Lollo (2015), em
sua convergência com a teorização lacaniana, captura quatro modalidades da transmissão do saber,
considerando a dimensão do inconsciente. A primeira, ele chama de um saber que é transferido e
pode ser mensurado, que para Lacan (1973; 1985, p. 126) é o que “para de não se escrever”,
proposição na qual ele se refere ao trabalho analítico em relação ao falo: “o Falo - tal como a análise
o aborda como ponto chave, o ponto extremo do que se enuncia, como causa do desejo - a
experiência analítica para de não escrevê-lo”. É, portanto, o que, no direcionamento ao real torna-se
passível se simbolização, é algo que passa, torna-se passível de sentido, porém, é mensurável e não é
todo o saber posto em jogo em numa transmissão, é apenas uma pequena parte dele, a qual não
pode ser transmitida sem a ação das demais modalidades de transmissão (LOLLO, 2015). A segunda é
“um saber que foi transferido, mas que não pode ser mensurado”, correspondendo ao que, para
Lacan, é “o que não cessa de não se escrever”. Nesse caso, é um saber que se encontra no real, mas
é transferível, ainda que não simbolizável. Mesmo sem ser possível mensurá-lo, é perfeitamente
verificável e é o que, segundo Lollo (2015, p. 55), “permite o processo de transferência, sem o qual
não há ensino”. É, portanto, misterioso, mas de extrema importância para que haja transferência,
podemos verificá-lo nas facilidades ou dificuldades que encontramos frente a determinadas
aprendizagens. É causa da qualidade passagem e da criação de novos significantes, e assim da
qualidade da formação (LOLLO, 2015, p. 55). O terceiro é “um saber que não pode ser transferido:
ele está perdido, não chega ao seu destino”, o qual, para ele, na correspondência de Lacan é “o que
cessa de se escrever”, um saber que foi foracluído ou recalcado, bloqueando a máquina da
aprendizagem e da transferência. “Trata-se do trou-matisme, do vazio produzido por uma
sideração”. Esse vazio pode assumir forma de uma repetição, afastando qualquer ação criadora. A
quarta e última é “um saber que não pode ser transmitido, mas que surge do nada, produzido pelo
aluno, por sua pulsão criadora”, correspondente ao que, em Lacan (1973; 1985, p. 127) “não para de
se escrever”: (...) é um furo criador que permite sair do trou-matisme e da sideração, levando o aluno
(e o analisando) a produzir o saber que não se encontra lá; um saber que é produção e, portanto,
atividade singular, e que supostamente deve produzir significantes novos (LOLLO, 2015, p. 61). A

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partir de tais modalidades, podemos compreender que a transmissão de saber é cara à educação,
pois é a partir dela que esta efetivamente pode acontecer. Desse modo, é uma operação
fundamental da vida social, uma vez que é impossível que, no laço social, ela não compareça.

Autor(a): Lia Silva Fonteles Serra – USP – Universidade de São Paulo


Contato: liafonteles@gmail.com
Título: TRANSMITIR X APRENDER: o dilema da educação contemporânea
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: A relação que estabelecemos com a ciência no mundo contemporâneo traz como marca o
consumo, algo que se constitui pelo refinamento da reciprocidade entre ciência e modo de existência
capitalista. É nesse refinamento, portanto, que observamos no discurso científico atual a tomada dos
enunciados científicos sem qualquer vestígio da enunciação que o produziu, ou seja, sem a marca do
humano. Isso inaugura um movimento em que tudo se consome, inclusive a própria relação do
homem com o mundo. s efeitos dessa perda acabam aparecendo fortemente nos estratos
fundadores da sociedade, nos quais a educação opera, uma vez que, em nossa sociedade, ação
política e educação se confundem. Professores e pais, portanto, encontram-se impactados em seu
fazer educativo. Nosso atrelamento ao discurso científico nos põe, enquanto sociedade, carentes de
autoridade, o que faz com que essa noção se perca em todos os patamares sociais. Pais e professores
estão desimplicados de sua preocupação com o curso do mundo, perderam sua segurança na
tradição, na enunciação dos mais antigos, no seu valor enquanto mais experientes. Os enunciados
científicos parecem reger sua relação com os mais jovens. O foco das preocupações com a formação
humana, que sempre existiu, parece agora perder seu sentido. Educar as novas gerações ganha
outros contornos, com ênfase na aprendizagem de conteúdos científicos e produção de objetos de
consumo imediato. É nesse sentido que Arendt (2011) enriquece nossa discussão ao mostrar que há
problemas no curso das coisas quando a educação se encaminha desse modo. Ela nos lembra da sua
natureza pré-política, em que a autoridade independe das mudanças históricas e das condições
políticas, ou seja, pais e professores, pelo fato de serem os representantes do mundo para aqueles
que chegam, devem carregar consigo uma autoridade inquestionável e incondicional. Pela natural
diferença geracional, não podem se recusar a assumir a responsabilidade pelo curso do mundo e
entregá-la aos enunciados anônimos da ciência atual. Para Arendt (2011, p. 245), o problema da
educação no mundo moderno está no fato de, por sua natureza, não poder esta abrir mão nem da
autoridade, nem da tradição e ser obrigada, apesar disso, a caminhar em um mundo que não é
estruturado nem pela autoridade nem tampouco mantido coeso pela tradição. Assim se esboça o
dilema em torno da transmissão no mundo atual, pois esta, tendo a educação enquanto fio
condutor, tem entrado, juntamente com a subjetividade – a partir da qual deve sua existência –, no
rol dos apagamentos veiculados pela incursão do discurso científico na sociedade. A crise na
educação denunciada por Arendt (2011) se deve à pretensão de apagamento da transmissão, o que
retira da educação o seu sentido. Blais, Gauchet e Ottavi (2014, p. 7) situam essa crise atualmente no
dilema da oposição entre o transmitir e o aprender. Estamos passando por uma silenciosa revolução
cultural que começou a operar na década de 70 do século passado e que aponta para a
transformação fundamental que ocorreu na escola com a “substituição de um sistema cultural
centrado no ato da transmissão por um sistema cultural centrado no ato de aprender”. Essa
substituição teria suas bases na conjunção do modelo intelectual darwiniano - lançado em meados
do século XIX -, em associação a um fato social de grande magnitude, resumido na noção de
individualismo. Ou seja, os impactos do evolucionismo na construção das teorias do conhecimento
ganham nova roupagem ao encontrarem plena eficácia em uma sociedade cujo funcionamento
torna-se cada vez mais centrado no indivíduo.

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Autor(a): Libéria Rodrigues Neves – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Coautor(a): Lorena Fernandes e Bárbara Oliveira
Contato: liberianeves@gmail.com
Título: “O saber na cena” Oficina De Jogos Teatrais e Conversações Cênicas
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O que os jovens têm a dizer? E como podem dizer? O presente trabalho refere-se aos
resultados parciais do Projeto de Pesquisa e Extensão desenvolvido junto ao Programa Brota:
Juventude e Cultura, em parceria com a UFMG, o Centro de Referência da Juventude de MG e a
Secretaria Municipal de Educação de BH. O Programa tem como público alvo adolescentes
estudantes das escolas municipais localizadas nas periferias de BH. O Projeto consiste na Oficina de
Jogos Teatrais e Conversações Cênicas, a qual, pela via do Jogo Teatral, aposta na expressão estética
daquilo que possivelmente o sujeito não consegue organizar pela via da palavra endereçada. Os
jogos provocam a coletividade, a concentração e a escuta; o reconhecimento e apropriação do corpo,
que ocupa o espaço denunciando as relações já construídas, cristalizadas, cheias de bloqueios e
sensibilidade; e a criatividade provocada sobretudo pelas propostas de improvisação que, não raro,
culminam em partituras ou cenas que abordam o universo adolescente na relação com o território,
com a sexualidade e com o saber. Não se joga sozinho; portanto, a Oficina fomenta uma troca e uma
negociação com o que vem do outro, além da demarcação simbólica do limite entre os corpos. Nesse
sentido, por vezes um excesso de gozo desdobra-se em um enxame de palavras que encontram
caminho numa resposta melodramática para uma disputa afetiva; ou um gesto tímido acaba por ser
expandido de modo a expressar-se como solução cênica diante do conflito. Pode-se dizer, uma
resposta simbólica aparece como demanda no jogo do real, a partir da comunhão entre o lúdico –
que resgata o brincar como elemento do teatro – e o desafio. Resposta esta que busca recursos no
repertório do imaginário diante do desejo, não só de encenar, mas também falar da encenação
cotidiana em suas vidas. São recorrentes temas como as relações familiares, machismo, feminismo,
homofobia, “situações problemas” na escola, fronteiras entre a diversidade e o respeito. Muitas
vezes denunciando a posição que estes sujeitos ocupam nos ambientes e na sociedade de uma forma
geral, expondo construções feitas a partir do discurso que se tece sobre eles. A primeira experiência
da Oficina teve duração de dois semestres letivos (2018), organizados em dois módulos
independentes, que contaram com a participação de muitos jovens de modo “flutuante” e cerca de
15 específicos que se dedicaram à frequência sistemática aos encontros. Cada encontro, conduzido
por uma estudante de Pedagogia/Teatro, bolsista do Programa de Extensão, e auxiliados por uma
estudante de Pedagogia voluntária, transcorreu ao longo de noventa minutos, dos quais, boa parte
foi utilizada pelos jovens em formato de roda de conversa para dizerem daquilo que, de modo geral,
aparece nos jogos ou nas cenas de forma condensado. Notoriamente, esta conversação acaba por
diminuir o tumulto e separar aquilo que se quer dizer daquilo que se precisa dizer; e o resultado
podemos nomear de Teatro.
Embora os significados e sentidos atribuídos às experiências sejam essencialmente peculiares a cada
sujeito, os sentimentos compartilhados na roda se conectaram na relação com a produção de um
saber no e do grupo. E por outra via, a vivência da linguagem teatral, oferecida pela Oficina,
promoveu o trabalho essencialmente coletivo, a partir do qual cada um acabou por elaborar recursos
para o enfrentamento de suas questões reais e subjetivas. Ao final desse primeiro ciclo, um grupo
que participou da Oficina no módulo do 1º semestre concluiu o trabalho apresentando uma
improvisação cênica para os demais colegas, na qual trataram do autoritarismo docente, do
desinteresse pelas aulas, além de questões referentes à sexualidade e o suicídio. Já os jovens do 2º
módulo concluíram a Oficina em roda de conversa, onde, por meio de algumas palavras, sintetizaram
suas experiências. Dentre elas: “novidade”, “aprendizagem”, “oportunidade”, “escolha”, “fala” e
“escuta”.

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Autor(a): Lígia de Almeida Hernandes – UNIB – Universidade Ibirapuera
Coautor(a): Cristina Keiko Inafuku de Merletti
Contato: ligiadealmeida@hotmail.com, crisinafuku@yahoo.com.br
Título: Morte, luto e testemunho - Let me try again
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre o adoecimento, a morte e o luto na
vertente psicanalítica da psicossomática. As articulações teóricas serão realizadas a partir do
contexto de um caso clínico atendido em enfermaria por equipe multidisciplinar, paciente em estado
terminal e ciente de sua condição. Pretende-se ressaltar os efeitos que a perspectiva da
psicossomática psicanalítica no ambiente hospitalar pode proporcionar ao considerar o sofrimento
psíquico de um sujeito (nesse caso o enfrentamento da morte) em ambiente no qual o adoecimento
é predominantemente considerado na dimensão orgânica de um corpo. Os estudos da
psicossomática tiveram sua origem nas considerações psicanalíticas acerca do corpo mas,
fundamentalmente, das significações que o sujeito constrói sobre o que o acomete. Psique e soma
podem, portanto, reencontrar-se no campo médico e na saúde mental, na medida em que as
significações de um mal-estar e de um sofrimento possam superar a noção de doença situada no
corpo e em suas capacidades funcionais. Freud, médico neurologista de formação, considerou a
importante relação entre a mente e o corpo, propondo o conceito de pulsão para teorizar esta
relação e o trânsito entre eles. A presença do inconsciente freudiano teria como uma de suas
primordiais manifestações as somatizações. O ato inconsciente exerceria, assim, sobre os processos
somáticos, uma ação plástica complexa que o ato consciente nunca alcançaria em sua totalidade.
Maesso (2017) ressalta que, contrariando a concepcão freudiana a respeito do processo psíquico
interno do sujeito diante da perda e da morte – o solitário e narcísico “trabalho do luto” - Allouch
(2004) formula que tal trabalho implica no “sacrifício de um pequeno pedaço de si” e que essa
operação só seria possibilitada por meio de um ato público, que consistiria na realização de um
testemunho sobre o luto e que, para tanto, seria preciso existir um público acolhedor das
manifestação do luto, das expressões de dor e de desespero do enlutado. Esse autor, pautado na
teoria lacaniana, afirma ainda que o tempo do trabalho do luto não poderia ser determinado por um
período cronológico esperado ou determinado por normas sociais impostas (para considera-lo
saudável ou patológico), mas incluiria um tempo lógico, da relação do sujeito em sua dimensão de
linguagem e de endereçamento necessitando, como suporte para esse processo, um grupo, uma
comunidade, um outro interlocutor, aquele que acolha as significações possíveis de seu singular
sofrimento. Os diferentes campos de criação humana tratarão de buscar incessantemente
significações para os enigmas da vida humana, como a morte, seja por meio da religião, evitando-a,
seja por meio da ciência, rejeitando-a ou por meio da arte, contornando-a (LACAN, 1959-60/1997, p.
150-162). O atravessamento do luto, assim como o encontro com a morte, em suas distintas versões
implicaria, por isso, em experiências humanas distintas, a quais exigiriam trabalho e tempo bastante
singulares a cada sujeito para elaborar simbolicamente sua própria dor e sofrimento, tendo no outro
o suporte da escuta e da acolhida para suas significações.

Autor(a): Lígia Pinheiro Paganini - UNIFESP


Coautor(a): Candice Marques de Lima
Contato: ligiapaganini@gmail.com, candicemarques1@gmail.com
Título: Formação de professores, psicanálise e inclusão de alunos com entraves psíquicos
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade

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Resumo: O presente trabalho pretende discutir a formação de professores no campo da psicanálise
e educação. Nesta perspectiva, a inclusão escolar aparece como uma proposta baseada no princípio
de que “a inclusão é para todos e para cada um” (KUPFER, PATTO, VOLTOLINI, 2017), tendo em vista
também que a inclusão sempre será não-toda. Ao longo de quase duas décadas, a educação dita
inclusiva tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões escolares, em especial no que tange à
formação dos professores que nela atuam, já que seriam eles os principais agentes na
implementação das mudanças de base que garantiriam uma educação para além da proposta da
educação especial. Cobrados dentro de uma lógica positivista, os professores se veem envoltos cada
vez mais no chamado “mal-estar docente”, conceito que, baseado nos escritos de Freud sobre o mal-
estar da civilização (FREUD, 1930), remete às diversas questões relacionadas à angústia desse
profissional que se sente constantemente despreparado para lidar com seu próprio ofício. Nos anos
finais do Ensino Fundamental (BNCC, 2017), conhecido também como Ensino Fundamental II, há uma
particularidade que é a figura do professor especialista. Segundo GATTI (2010), parte desta
particularidade está arraigada nas diferenças entre a atuação docente do bacharel com licenciatura
(o professor especialista) e o pedagogo, o que levaria a implicações para a sala de aula. Esse
profissional que leciona um componente curricular específico em um curto período semanal,
considera-se pouco preparado para ensinar e educar crianças dentro do que se convencionou
chamar de alunos em situação de inclusão, levando muitos dos docentes que se enquadram nessa
condição a buscar formações continuadas ou simplesmente se queixar por não terem o que
consideram aparato fundamental para lidar com essas crianças em sala de aula. Baseado no conceito
de alunos com Entraves Estruturais na Constituição Psíquica (KUPFER, PATTO, VOLTOLINI, 2017),
propõe-se considerar alunos com entraves psíquicos todos aqueles que apresentam alguma questão
relacionada à constituição do sujeito, seja dentro das psicoses, autismos ou neuroses. Considerando
esse panorama, uma proposta de formação de professores com olhar psicanalítico vem sendo
realizada com um grupo de professores de Ensino Fundamental II em encontros que ocorrem nos
horários de ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo) em uma escola estadual no município de
Guarulhos. O objetivo desses encontros é produzir efeitos nesse laço entre professor e aluno com
entraves psíquicos, além de possibilitar ao professor condições de manejo por meio do seu saber
inconsciente. No trabalho são discutidos diferentes aspectos implicados no desenvolvimento dessa
proposta de formação continuada de professores.

Autor(a): Ligia Rufine Nolasco – USP – Universidade de São Paulo


Contato: lirufine@gmail.com
Título: Infância (s) no neoliberalismo: o que o brincar nos conta da nossa época?
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Este trabalho contempla algumas discussões levantadas a partir de uma pesquisa de
mestrado que está sendo realizada no programa de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da
USP. O tema desse estudo versa sobre os atravessamentos do neoliberalismo nas concepções de
infância (s) e o brincar, buscando refletir sobre as possíveis implicações no laço social e na
subjetividade dos sujeitos contemporâneos. Para orientar a discussão dessa temática foram
selecionadas algumas vinhetas clínicas, que auxiliam na compreensão e no debate acerca do tema
proposto. Nesse sentido, esse trabalho procura articular psicanálise e sociedade, com ênfase no
brincar, na infância e no neoliberalismo. O interesse em aprofundar este estudo se deu a partir da
experiência da pesquisadora com crianças no ambiente escolar e em outros contextos em que a
tônica do consumo se tornou evidente, do mesmo modo que a crescente valorização do
individualismo, da competitividade e do empreendedorismo nas brincadeiras, nos discursos sobre a
infância, e o crescente valor do brinquedo frente ao brincar. Atrelado a isso, a partir da vivência com
diferentes crianças, essa análise se dedica também a refletir sobre novas formas de brincar na

109
contemporaneidade - as crianças youtubers - que cada vez mais vem ganhando popularidade com a
propagação da internet e das redes sociais. Os “youtubers-mirins”, com o avanço da popularidade
nas redes, passaram a ser patrocinados por empresas de brinquedos para que “brinquem” com
determinados produtos nos vídeos que protagonizam, se tornando um negócio altamente lucrativo e
que nos permite ponderar sobre o lugar da infância no contemporâneo, e ainda, os atravessamentos
do mercado no brincar e no que é ser criança. Este estudo, portanto, discute a importância do
brincar, a partir da psicanálise, na constituição subjetiva, nos processos de sociabilidade e de
apreensão da realidade para problematizar suas consequências, ao ser atravessado pelo consumo e
pelo discurso neoliberal, assim como o papel da criança nesse novo contexto. Para isso, a partir de
diferentes experiências sobre o brincar, essa pesquisa se sustentará na psicanálise e nas teorias
sociais, para refletir sobre o discurso do neoliberalismo e o brincar, e também os ideais de infância
na contemporaneidade, no desafio de articular essas perspectivas.

Autor(a): Lorenna Pinheiro Rocha – UNIFOR – Universidade Federal de Fortaleza


Coautor(a): Maria Celina Peixoto Lima, Débora Passos de Oliveira
Contato: lorennapinheiro@hotmail.com, celina.lima@unifor.br, deborapassosoliveira@gmail.com
Título: Da fotografia como tecnologia à experiência do gesto fotográfico: o fio de uma metodologia
de pesquisa-intervenção no contexto escolar
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Se a educação infantil foi tomando contornos de uma via de inserção das crianças no plano
da cultura, vinculando-se a práticas sociais e culturais, a tônica da educação de jovens, no lugar de
avançar na ampliação deste quadro, parece recair sobre uma formação técnica, voltada para o
mercado de trabalho. Essa pobreza de experiências (BENJAMIN, 1994) ofertada aos jovens parece
trazer como efeito a apatia constatada nas escolas. Desinteresse, baixo rendimento, condutas
associais e altos índices de evasão são alguns dos exemplos que ilustram este cenário. Em situações
mais graves, temos a adesão de um número cada vez maior de jovens a práticas de automutilação e a
tentativas de suicídio. Freud (1910/2006), no texto “Contribuições para uma discussão acerca do
suicídio”, reflete sobre a responsabilidade da escola nos atos cometidos por alunos contra a própria
vida. Motivada por uma onda de suicídios entre jovens, a discussão era se a escola encaminharia os
colegiais ao suicídio. De forma quase premonitória, afirma: “uma escola secundária deve conseguir
mais do que não impelir seus alunos ao suicídio. Ela deve lhes dar o desejo de viver” (p. 243). Mais de
um século depois, nos parece estranha a confrontação com esse destino que assombra a juventude
contemporânea, apesar da existência de um traço positivo que a diferencia das que a precederam:
uma maior liberdade (BADIOU, 2016). No entanto, a liberdade dos jovens de hoje é aproximada, pelo
autor, de uma errância que se alia à paixão pela vida imediata. Uma vida recortada em instantes
efêmeros de jogos e de prazer, retratados em imagens incessantemente compartilhadas no mundo
digital. O imediatismo, a cultura da imagem e a tecnologização da educação imprimem mudanças
irreversíveis na relação do jovem com o saber, interrogando práticas educativas que respondem às
demandas de modernização com propostas que retiram a possibilidade do tête-à-tête (mediação
pela narrativa e encontro humano) em direção a um tête-à-tela. Mas como despertar, pela via da
educação, um desejo de viver, como propunha Freud? A ideia de desenvolvermos um estudo que
toma como foco a educação de jovens surge frente à urgência de adentrarmos esse campo. Nossa
proposta consiste em fazer uma torção que conduza do uso indiscriminado das novas tecnologias na
educação ao resgate de uma verdadeira experiência compartilhada no contexto escolar. Para tanto,
advertidas da força da cultura imagética na atualidade, estamos desenvolvendo uma pesquisa-
intervenção no seio de uma Oficina de Fotografia ofertada a alunos de uma escola de Ensino Médio.
Intitulada “Da imagem ao movimento: restos de um futuro”, a oficina funciona como um espaço de
compartilhamento de experiências a partir do gesto fotográfico. Embora em meio à banalização da

110
cultura da imagem, estejamos passando “de uma técnica relacionada à imagem [...] para uma
tecnologia da imagem, onde o processo é bem mais impessoal” (MIRANDA, 2007, p. 28), produzindo
a degradação da imaginação e a “industrialização da visão”, trabalhamos numa perspectiva que tenta
romper com o imediatismo contemporâneo. A fotografia é tomada como uma narrativa construída e
mediada pela subjetividade do jovem fotógrafo. Nesse sentido, por meio do seu compartilhamento
no encontro com os pares, o gesto fotográfico surge-nos como um resgate da experiência
(BENJAMIN, 1994), que enlaça os jovens na narrativa coletiva construída a partir dos impasses e
travessias por eles empreendidos no cotidiano escolar, podendo produzir novas formas de encontro
com o saber. BADIOU, A. (2016), La vraie vie. Librairie Arthème Fayard. BENJAMIN, W. (1994).
Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense. FREUD, S. (1910).
Contribuições para uma discussão acerca do suicídio. In: Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de S. Freud. V. XI. Rio de Janeiro: Imago, 2006. MIRANDA, L. (2007). A cultura
da imagem e uma nova produção subjetiva. Psicol. clin. 19(1).

Autor(a): Luciana Andrea Ramos - FLACSO


Contato: ramoslu@hotmail.com
Título: A clínica socioeducacional: movimentos na posição profissional a partir da psicanálise
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O presente trabalho procura dar conta dos conceitos de Psicanálise que são tomados por
agentes que trabalham em relação à inclusão educacional quando pensam em um mal-estar de sua
própria prática. Este estudo é baseado em um dispositivo virtual de formação de pós-graduação que
é uma carreira de especialização de dois anos oferecida pelo Programa de Práticas de Psicanálise e
Práticas Socioeducativas da FLACSO Argentina. Esta especialização em Ciências Sociais, com menção
na Psicanálise, procura abordar o mal-estar sócio-educacional atual a partir de um trabalho de
escritura. Durante o primeiro ano, os alunos escrevem uma cena de sua própria prática que tem a
condição de ser enigmática, ou seja, uma cena para a qual o profissional sente que não tem
respostas. Esse primeiro texto é reescrito a partir de quatro slogans diferentes que estão de acordo
com os tempos lógicos de Lacan: VER - ENTENDER - CONCLUIR. O dispositivo de trabalho para a
abordagem de cada caso está enquadrado em um dos pilares em que o Projeto de Psicanálise e
Práticas Socioeducativas é apoiado: a Clínica Socioeducativa, além dos espaços de Formação e
Pesquisa. Eles três elementos mantêm um relacionamento "necessário" entre si, enquanto a
formação é baseada nas pesquisas que emergem da clínica. Ao mesmo tempo, exige que o suporte
teórico seja revisto a cada vez, quando as situações são abordadas sob a lógica que está sendo
construída no "caso a caso". A partir do recorrido pelo Diploma Superior, podemos pensar que a
clínica é o conhecimento que cada profissional constrói a partir de sua prática. No entanto,
descobrimos que as maneiras pelas quais os alunos denominam seu desconforto geralmente são
recorrentes quando pertencem ao mesmo campo de problemas, como a inclusão educacional.
Profissionais cujas funções têm a ver com as tarefas de inclusão, a saber: professores em formação,
acompanhantes pessoais que não ensinam, professores de apoio pedagógico, professores de
psicologia, professores de apoio psicológico, psicólogos orientadores Os professores que transitam
pelo nosso dispositivo de treinamento geralmente nomeiam a dificuldade de trabalhar com outros
atores que trabalham na escola. Eles também denominam o desconforto dessa maneira: "Com esse
garoto, você não pode", "Esse garoto não é para esta escola", "Se eu cuido/ensino um, não posso
cuidar/ensinar outros". Podemos pensar que, no início das aulas, os alunos estão localizados em um
local de queixa e reclamação, sem qualquer explicação, porém ao longo do curso e, a partir das
intervenções em seus escritos dos professores tutor e do material bibliográfico que lhes são
ofertados, os estudantes estão fazendo alguns movimentos no que conceituamos como uma posição
profissional. Mas que materiais, quais conceitos esses agentes costumam usar que trabalham em

111
torno da ordem da inclusão? Quais ferramentas conceituais da psicanálise promovem movimentos
na posição profissional que lhes permite deixar de queixar-se e abrir a construção com os outros?
Vou me concentrar na leitura de três escritos para desenvolver como as ideias dos sintomas, dos
quatro discursos e da transferência pagam pelos movimentos na posição profissional.

Autor(a): Luciana de Carvalho Pieri - UFRJ


Coautor(a): Maria Nogueira Scarambone Zaú
Contato: lulu_pieri@hotmail.com, mariazau15@gmail.com
Título: Uma discussão acerca da prevenção do suicídio: contornos e limites dos campos das políticas
públicas de saúde e da psicanálise
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: O suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos de idade,
segundo dados levantados pela Organização Mundial da Saúde. Diante dos índices crescentes de
casos envolvendo tentativas de suicídios, bem como sua efetivação, o Ministério da Saúde elaborou,
nos últimos anos, inúmeras cartilhas, protocolos e manuais visando orientar profissionais da área da
saúde, jornalistas e a população, na lida com o suicídio. Trata-se do estabelecimento de certas balizas
para a efetivação do cuidado e prevenção do suicídio. Nesse contexto, destaca-se uma série de
fatores de risco e sinais pautados pelos comportamentos, condutas e manifestações verbais. A
implantação de certas diretrizes nas três esferas de gestão, definidas a partir da elaboração de
diversas Portarias (2006-2017), conta com a notificação e acionamento imediato da rede de atenção
e proteção, além de incentivos para o desenvolvimento de projetos direcionados para a prevenção
do suicídio no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Ademais, a parceria do Ministério da
Saúde com o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a produção de materiais que incluem o
planejamento e ações estratégicas para a vigilância, prevenção do suicídio e promoção de saúde no
Brasil foram determinantes para a construção de saberes e práticas de cuidado multidisciplinar.
Diante desse quadro, pretendemos destacar, a partir da psicanálise, algumas considerações de
Sigmund Freud e Jacques Lacan com o objetivo de pensar os limites e possibilidades da clínica
psicanalítica enquanto uma proposta de tratamento orientada por uma ética, uma vez inserida no
campo da saúde e articulada às políticas públicas que operam neste campo. Optamos por resgatar os
conceitos da “passagem ao ato” e de “ato analítico” para discutir a temática do suicídio já que eles
carregam importantes subsídios teóricos para a presente pesquisa. Em paralelo, apontaremos a
expressão “niederkommen lassen” (deixar-se cair) enquanto um correlato essencial da “passagem ao
ato”, tal como propõe Lacan (1962-63) em seu décimo seminário, partindo de uma releitura do caso
clínico freudiano da Jovem Homossexual. Esta pesquisa é um desdobramento dos trabalhos
realizados ao longo da graduação de Formação em Psicologia na Universidade Federal do Rio de
Janeiro e do trabalho de atendimento clínico à pacientes universitários na clínica-escola da UFRJ.

Autor(a): Luciana Silva dos Santos – UFF – Universidade Federal Fluminense


Coautor(a): Marília Etienne Arreguy
Contato: lucinedu@gmail.com, mariliaetienne@id.uff.br
Título: O ideal da excelência escolar e a subjetividade do aluno de classes populares em escolas de
alto rendimento
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O corrente trabalho é parte de pesquisa no âmbito de doutorado em Educação.
Consideramos alguns conceitos da Psicanálise para um olhar sobre os conflitos vividos pelo aluno
diante das demandas idealizadas presentes na escola, de modo a refletir em suas implicações para o
recrusdescimento do ideal do eu dos estudantes de classes populares. Temos por objetivo

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problematizar o ideal da excelência escolar quanto a sua relação com o ideal do eu e supereu, e as
implicações do afastamento entre esses ideais para a história singular do estudante.
Na tentativa de adaptação à escola, o sujeito pode encontrar mais dificuldade ou mais facilidade em
assumir os padrões referentes ao ideal de excelência educacional. Entretanto, nesse caminho de
problematização, questionamo-nos: quais são os alunos que mais sofrem no contexto escolar, devido
às exigências desse espaço? Podemos inferir que a dificuldade em assumir determinados padrões
escolares também passa por questões socioeconômicas, ou seja, os estudantes de classes populares
encontrariam mais obstáculos para essa adaptação? E o que isso pode trazer como consequências
para a aprendizagem? Principalmente, o que isso pode trazer como consequências para a
subjetividade do aluno de classes populares na busca pelo ideal da excelência escolar? E assim, em
que medida os sujeitos que não dialogam com determinados ideais vêm sendo silenciados,
principalmente no interior de escolas de alto rendimento? Como isso se daria? Percebemos uma
expressiva dualidade no sistema educacional brasileiro, com escolas reconhecidas como sendo de
prestígio e escolas à margem dos índices de excelência (apresentando baixos resultados em algumas
avaliações que ainda pesam sobre o destino de muitos alunos, como o IDEB - Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica e o ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio, por exemplo). A
vertente de problematização da excelência escolar poderia seguir vieses de cunho mais geral,
considerando as implicações históricas da dualidade na educação: entre ricos e pobres, como a
excelência escolar foi se definindo? Mas, nossa escolha se situa na busca de olhar singular para a
posição do sujeito desfavorecido nesses espaços destinados ao alto rendimento estudantil. Não
desconsiderando as questões contextuais, buscamos enfocar como o aluno pobre vem produzindo
sua subjetividade diante do ideal da excelência escolar. Neste sentido, entre os esforços de
adaptação à escola ou a resistência aos modelos impostos, interessa-nos ponderar, antes, porque as
“coisas são como são” e o “peso” desse ideal para a formação subjetiva do estudante. E, com esse
questionamento, pensar em possibilidades de desconstrução do ideal de excelência escolar e da
escola. Nesse caminho, o campo psicanalítico permite pensar de maneira aprofundada os processos
de idealização subjetiva envolvidos na produção de uma subjetividade subalternizada. Priorizamos a
vivência desses estudantes, aqueles que podem estar em posição inferiorizada, tendo como hipótese
que estes podem não atender, ou encontrar mais dificuldades com as exigências dos ideais culturais
e normativos que estão presentes em uma instituição de elite, talvez, por se verem distanciados do
conhecimento que ali circula e do modo como se operam, comumente, as práticas pedagógicas
nesses espaços. E, por fim, é inevitável ponderar que, diante das “coisas como são”, - e o sofrimento
psíquico que essas exigências podem gerar àqueles que mais se veem afastados dos ideais almejados
por todos, - como elas poderiam ser transformadas em tentativas de reinvenção? Esta proposta de
interlocução visa, portanto, a compreensão subjetiva das instâncias ideias – eu ideal, ideal do eu e
supereu – no discurso desses jovens em instituições de alto rendimento. Contudo, problematizar o
que seria a excelência escolar tem a ver não somente com tentar expandi-la para todos, mas antes,
com repensar o que pretendemos por educação, conhecimento e, assim, aprendizagem
especificamente escolar.

Autor(a): Luciane Maria Ribeiro da Cruz Santos – PUC Minas


Contato: luciane.rcruz@gmail.com
Título: Contribuições da psicanálise para a circulação da palavra na experiência do Projeto de Leitura
Palavras Livres em um Presídio
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: O Projeto de Leitura Palavras Livres realizado no presídio de Itabira baseia-se na
Recomendação Nº 44 de 26 de novembro de 2013 cuja ementa dispõe sobre atividades educacionais
para remição da pena. A remição pela leitura exige o estudo de obra literária clássica, científica ou

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filosófica com produção de resenha sobre o assunto ao fim de 21 a 30 dias. Neste projeto, o objetivo
se imbrica com a proposta metodológica: promover a circulação da palavra para discutir problemas
humanos estimulados pela leitura e discussão de textos literários. Nas sessões realizam-se rodas de
leitura e discussão de textos literários, iniciando-se pelo contato e vínculo com os participantes para
apresentar as atividades do dia, com variada preparação: discussão temática em torno de uma
situação problema, observação e análise de imagens, discussão de contextos já vividos pelos alunos.
A literatura possibilita diversas formas de abordagem os problemas da alma humana; personagens e
enredos oferecem pontos de identificação sobre os quais os alunos se apoiam para a elaboração das
próprias questões. Reflete-se sobre a sociedade e busca-se uma compreensão ética da vida, junto
com estudo de gênero e recursos estilísticos literários. A liberdade de expor o que se pensa, de ser
confrontado e questionado sobre essa forma de pensar é o aspecto central da metodologia.
Durante as discussões, as ambivalências vêm à tona, os participantes tratam de si, de suas
dificuldades e experiências. É quando a escuta psicanalítica deve alcançar o trato pedagógico, no
lugar de professor. O saber das pessoas é valorizado por ser potencialmente questionável,
possibilitar o contraponto desequilibrante e poder produzir novas formas de perceber a si próprio.
Sendo-se realmente questionado, promove-se o estímulo à fala e a reflexão mais aprofundada sobre
as formas de pensamento. A postura clínica do professor é o que permite lidar com o inusitado
contido na palavra do outro. Uma postura-ação do professor que considere intuição, improvisações,
representações figurativas e formais, tradições normais e desviantes, conflitos epistemológicos,
surpresas, previsões, conteúdos históricos, inovações precisa partir da perspectiva humana,
vulnerável, conflituosa e incerta, apta a acolher a frustração e possibilitar com a reflexão sobre a
ação novas concepções sobre si mesmo, sobre os educandos, sobre o processo de ensinar-aprender.
Ouvir dos educandos suas visões de mundo dota de alteridade uma relação historicamente
impregnada de autoridade, por vezes, de um autoritarismo extrínseco que espolia tanto educando
quanto educador de assenhorear-se dos conteúdos críticos de que ambos dispõem para rever as suas
e as posições dos outros. Propostas reflexivas propiciam compreender que tratamos do infinito ao
nos relacionarmos entre pessoas. Abordagens clínicas podem nos tentar a crer que poderemos
capturar infinitos universos que navegam no contexto-tempo chamado educação, conquanto
confrontem a relação Eu-Outro com a falta e a incompletude. E, professores, SUPORTEMOS isso! Sem
precisar elaborar e reelaborar a perda, suportemos por compreensão de que a falta é intrínseca ao
sujeito de desejo, razão e vontade. Uma forma de substituir o sofrimento gerado na dor da
impotência pela certeza de que a pessoa se transforma na ação educativa. Apesar da dor da certeza
de ser-se impotente para transformar o Outro e ainda assim agir, dialogar, refletir, sentir, construir
uma ponte que liga o Eu ao Outro, não abandonar a existência ou a educação. Aceitar os educandos
do Projeto de Leitura com suas ambiguidades, perceber que a palavra livre, única liberdade a eles é
possível neste momento, nos iguala e nos humaniza numa dimensão em que vibram possibilidades
educativas é dar resistência e firmeza ao eixo que sustenta o incompleto e contínuo processo de
pensar-se, no presente, antes e depois da perda da liberdade; contribuições que a psicanálise traz à
educação.

Autor(a): Luisa Bottiglieri Moscalcoff – Feusp


Contato: luisabott@yahoo.com.br
Título: Autoridade do professor e transmissão, reflexões psicanalíticas acerca dos desafios frente ao
discurso pedagógico contemporâneo
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Essa exposição se propõe a compartilhar reflexões tecidas a partir de minha pesquisa de
mestrado, que está em andamento com a orientação do Prof. Dr. Rinaldo Voltolini. A escuta de pais e
educadores, por vezes revela a condição de fragilidade na qual cai o professor diante de alunos que,

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em suas palavras, parecem excessivamente “sem limites”. Esse cenário nos joga a nos perguntarmos
a respeito do lugar que ocupa o professor para que, em alguns casos, seja tão difícil fazer valer sua
posição de adulto e colocar em marcha uma transmissão que inclui o atravessamento pela castração.
Nossa hipótese é de que se trata de uma dificuldade em autorizar-se a tal ato, de ocupar um lugar de
autoridade frente às crianças em um tempo no qual essa posição é enfraquecida pelo discurso
pedagógico. Em nosso ver, tomando como ponto de partida o que nos diz Hannah Arendt, a
autoridade pode ser entendida como uma posição que se relaciona com aquela de representação do
Outro, sendo uma figura carregada do estofo simbólico necessário para introduzir uma criança no
mundo humano, na vida junto aos outros. Tal posição, pressupõe que o encontro geracional possa
ocorrer diante de uma assimetria fundamental que se sustenta não pelo poder, como faz o
autoritário, mas pelo saber do adulto, que assim pode pilotar uma educação não em nome da
satisfação de seus caprichos, mas em nome do pacto social, do Outro. No entanto, temos motivos
para crer que o discurso pedagógico contemporâneo, legitimamente preocupado em combater o
problemático professor autoritário de outrora, acaba tendo como um sério efeito colateral a
confusão entre autoridade e autoritarismo. Nesse cenário, o medo do professor de ao sustentar seu
lugar de representante da Cultura estar sendo autoritário, pode acabar por desautorizá-lo a fazer sua
função educativa. O estado de confusão no qual, por vezes, parece cair o professor diante das
contradições entre determinadas ideias pedagógicas e o que ele sabe sobre o encontro geracional,
parece ser um bom indicativo da importância dessa reflexão.

Autor(a): Maiara Borlini Vescovi – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo


Contato: maiborlini@hotmail.com
Título: O diagnóstico precoce e as (im)possibilidades no laço mãe-bebê.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Estamos imersos em um complexo processo de patologização da vida, das subjetividades e
dos sujeitos promovido pela dominação combinada de dois discursos, o da ciência e o do capitalismo
(MILLER, 2012). É expressivo o número de crianças que chegam, cada vez mais cedo, aos consultórios
e serviços de saúde mental, com ainda um ou dois anos de idade, diagnosticadas e medicalizadas
após uma única consulta com algum médico-especialista. Ou, até mesmo, “diagnosticadas” pela
própria mãe (des)orientada pelo Dr. Google. Já de saída uma questão se impõe: estamos diante de
um maior adoecimento ou de um crescente movimento de diagnósticos? As dificuldades no laço
mãe-bebê e na primeira infância passam a ser traduzidas em transtornos mentais. Dizem: “meu filho
não fala e não olha, ele é autista”; “meu filho é nervoso, não para quieto, o neuropediatra já deu o
diagnóstico de TOD (transtorno opositor-desafiador)”. Diante do desamparo e da angústia do não-
saber próprios da maternidade muitas mães buscam no discurso médico-científico um lugar para
seus filhos. Nesse processo, o diagnóstico precoce tem adquirido o estatuto de nome próprio
(VORCARO, 1999).
Dessa forma, presenciamos no contemporâneo as graves consequências dessa transformação,
implicando uma problematização com relação à própria concepção do sujeito do desejo e a
substituição dos cuidados maternos pelos cuidados técnicos-especializados e, isso não é, sem
consequências graves para a constituição subjetiva. A clínica psicanalítica com crianças evidencia os
efeitos devastadores dessa transformação uma vez que o sujeito psíquico se constitui no laço com o
grande Outro (LUCERO; VORCARO, 2018). Sendo necessário a presença da mãe, ou de algum outro,
que enderece ao bebê um desejo não anônimo (LACAN, 1969/2003, p. 369) facultando a transmissão
da linguagem e a emergência do sujeito. Portanto, o sujeito do inconsciente se constitui no lugar de
onde é suposto, a partir dos significantes que recebe do Outro. Diante da falência do discurso
materno e a promoção do saber médico-científico à condição de único saber sobre a criança, este
trabalho tem por objetivo pensar os efeitos da nomeação precoce de um transtorno psiquiátrico no

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laço mãe-bebê e na constituição do sujeito. Demarcando o lugar do analista na intervenção precoce
como aquele que vai fazer circular a palavra, possibilitando a produção de outros nomes para o
sujeito. Para sustentar essa discussão à luz da psicanálise irei dialogar com os textos de Lacan, Miller,
Laznik, Vorcaro e Lucero.

Autor(a): Marcella Bueno Brandão Siniscalchi - UFRJ


Coautor(a): Fernando Savi Drummond, Cristiana Carneiro
Contato: marcella.bbs@gmail.com, fsdrummond@gmail.com
Título: Fazendo história: o processo de escrita na elaboração de luto do adolescente
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A elaboração de luto é imprescindível na reorganização psíquica e no processo de
subjetivação do adolescente. Por ser um trabalho fundamental perante as separações e as perdas na
passagem da adolescência, possibilita a abertura de um devir, a construção de um lugar no mundo e
de um sentido na vida. O presente trabalho propõe uma discussão acerca da atual importância da
elaboração de luto na transição para a vida adulta, e tem como tema o processo de luto do
adolescente diante da infância perdida. Objetiva-se, especificamente, tecer uma reflexão sobre as
escritas de ficção enquanto um recurso transicional da elaboração de luto na adolescência. Em
especial, o luto do adolescente em relação às Fanfictions, buscando entender em que medida a
escrita dessas histórias de ficção que são narrativas criadas por fãs baseadas em personagens e
universos já existentes - sejam filmes, livros, séries e bandas, até a vida real - ao “prolongar” ou
“consertar” esses universos que tanto adoram pode estar relacionada com o processo de luto do
adolescente. Nessa perspectiva, com o intuito de investigar como os adolescentes estão vivenciando
o luto da infância nos dias de hoje, produziu-se a oficina de escrita “Fanfic: fazendo história” no
Instituto Apontar, localizado na cidade do Rio de Janeiro. A oficina, realizada de agosto a novembro
de 2018 com dois grupos de adolescentes, visou explorar se as histórias das Fanfics poderiam ser
entendidas como objetos transicionais permitindo aos adolescentes uma elaboração da realidade e o
ensaio do novo, ou se a sua produção traduz a própria impossibilidade de elaboração das perdas da
saída da infância por prolongar a vida dos seus “heróis”, indicando uma dificuldade instransponível
de concretização e realização diante de uma realidade implacável. Assim, a oficina “Fanfic: fazendo
história” foi um dispositivo de pesquisa-intervenção, que consistiu em um trabalho de processo de
escrita ficcional com o objetivo de investigar a relação entre o modo de produção narrativa das
Fanfictions e a elaboração do luto do adolescente. A oficina foi pensada como uma forma de
viabilizar um espaço potencial para a criação de histórias de ficção, a partir do qual as fantasias
inconscientes pudessem ser expressas e, talvez, elaboradas por meio da escrita, junto da
possibilidade de narrar sobre suas adolescências e fazer laço com os outros, ao reconhecê-los, e ser
reconhecido, subjetivamente. Ao longo desse processo, os doze adolescentes com idades variando
entre onze e dezesseis anos, alunos de escolas públicas e bolsistas de escolas particulares que se
dividiram em dois grupos, fizeram uso desse espaço de maneiras absolutamente distintas. Enquanto
os adolescentes do primeiro grupo, nomeado de “Arcanum Color”, estavam preocupados com a
criação da história em si, elaborada coletivamente, e talvez buscando se expressarem por meio dela,
para as meninas do segundo grupo, “As Tagarelas”, seus escritos eram parte secundária dos
encontros, pois queriam mesmo era falar diretamente sobre suas vidas, como pequenos
testemunhos. Estas e outras diferenças foram marcantes e de certa forma responsáveis pela
trajetória de cada grupo. Desse modo, foi perceptível que o primeiro grupo utilizou muito mais o
recurso da escrita de ficção para elaborar suas questões do que o segundo, no qual foi a narrativa
oral de suas vidas que teve um lugar fundamental. A tentativa de compreender como e por que se
deram as diferenças, pode nos ajudar tanto numa aproximação ainda maior dos mecanismos
psíquicos da adolescência, quanto lançar luz sobre o uso da escrita no trabalho com o adolescente.

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Autor(a): Marcelo Fonseca Gomes de Souza - UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Contato: marcelofgsouza@gmail.com
Título: Objetividade e objetalidade: encontros e desencontros entre a psicanálise e a ciência
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Lacan, no Seminário livro 10: a angústia, a partir do discernimento de dois diferentes
termos – a objetividade e a objetalidade – propõe uma interessante discussão a respeito do modo
disjunto como a ciência e a psicanálise refletem sobre a natureza da causalidade. A objetividade, diz
ele, “apenas para reunir estas oposições em formulações rápidas”, pode ser definida como “o termo
supremo do pensamento científico ocidental, o correlato de uma razão pura que, no final das contas,
traduz-se (...) num formalismo lógico” (Lacan 1962-63/2005, p. 236). A objetalidade, por sua vez –
termo promovido para cernir a natureza do objeto a –, é o correlato de um pathos de corte” (Idem,
p. 237). O objetivo do presente trabalho é retomar esta diferenciação a partir da centralidade que a
noção de objeto a assume neste instante da obra lacaniana e percorrê-la por meio do discernimento
referente ao modo como a psicanálise e a ciência operam com as seguintes relações: (a) a causa e a
lei; (b) o saber e a verdade e (c) o real e o simbólico. (a) O objeto a indica a presença de uma lacuna
entre a causa e a lei. Isso porque, por um lado, trata-se de um suporte lógico que aponta para aquilo
que é extraído do corpo devido à intervenção do Outro, tornando-se, por isso, estranho às leis da
biologia. Por outro lado, trata-se, também, do que resta da operação mortificante do significante
sobre as vicissitudes do corpo pulsional, permanecendo, por esse fato mesmo, êxtimo e insubmisso
ao campo de determinação da lei simbólica. O estatuto do objeto como causa é, portanto,
duplamente problemático, haja vista que ele não se deixa subsumir completamente nem pelas leis
da natureza e nem pelas leis da linguagem. (b) Em segundo lugar, o objeto a implica a demarcação de
um limite do saber diante da verdade. Se, para a ciência, a verdade pode ser reduzida à causa formal,
ou seja, à subordinação do empírico à letra matemática, que surge como garantia de sua
universalidade e transmissibilidade; a psicanálise, por sua vez, interessa-se pela verdade na
dimensão da causa material, o que quer dizer que ela se ocupa com os efeitos que o significante
produz na realidade subjetiva. Ora, é próprio ao simbólico, para além de sua força de determinação,
a existência de um vazio de referencialidade para significar o sexual. O objeto a, pensado por Lacan
como o objeto da pulsão, demarca um corte que surge como barreira ou limite à capacidade sintética
do formalismo lógico e que se apresenta, no nosso campo, como uma verdade não redutível ao
universo do saber.
(c) Em terceiro lugar, enfim, o objeto a indica a irredutibilidade do real ao simbólico. Se o desejo da
ciência é produzir uma formalização sem restos do seu objeto, foracluindo de seu domínio o próprio
sujeito de sua experiência; a psicanálise, por seu turno, opera, no conjunto de sua prática clínica,
justamente com este sujeito elidido dos procedimentos científicos. A teoria do objeto a tem, nesse
sentido, um valor operatório central. Por um lado, ela reforça o que já era indicado pela teoria do
significante, a saber: que o sujeito não é causa de si mesmo, dado que ele encontra sua
determinação alhures, ou seja, no campo do Outro. Por outro lado, aponta para uma novidade ainda
mais radical: o suporte daquilo que causa o desejo não pode ser delimitado nem pelo imaginário e
nem pelo simbólico. Ao percorrer com mais minúcia cada uma das relações acima, nosso trabalho
também objetiva expor que a teoria do objeto a convoca à necessidade do psicanalista pensar sobre
o engendramento ético de um dispositivo clínico de tratamento que reconheça a potência de
indeterminação das pulsões e, por conseguinte, permita modificar a natureza da fantasia a partir de
uma transformação de seu sentido. O que, segundo propõe Safatle (2012), nos faria passar da
fantasia como defesa narcísica contra a angústia à fantasia como modo de abertura à experiência de
desidentidade (p. 213).

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Autor(a): Márcio Rimet Nobre – UFMG – Universidade federal de Minas Gerais
Coautor(a): Nádia Laguárdia de Lima
Contato: marcionobre205@hotmail.com, nadia.laguardia@gmail.com
Título: Entre algoritmos e matemas: o sujeito, do desejo ao gozo
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: O percurso da noção de algoritmo desde a concepção do sujeito na psicanálise até seus
efeitos para esse mesmo sujeito já imerso na cultura digital são o foco do presente trabalho.
Articulando uma abordagem psicanalítica com autores de linhagem foucaultiana, investigamos o
novo modo de governamentalidade resultante do algoritmo digital. Interessa-nos refletir sobre os
modos como a subjetividade, seduzida de forma crescente pela cultura hegemônica da informação,
deixa-se enredar pelo discurso que subjaz ao dispositivo algorítmico, ou seja, o discurso capitalista
(Lacan, 1978). Consideramos as consequências desse processo para nossa relação com o saber,
noção inicialmente atrelada por Lacan ao não saber inconsciente, mas que é articulada ao gozo a
partir do Seminário 17 (1992), com a introdução do objeto a na estrutura discursiva. Assim,
estabelecemos três momentos em que a teoria de Jacques Lacan nos instiga a compreender os
efeitos de tal dispositivo para o sujeito imerso na rede virtual: 1º) A teoria do algoritmo da linguagem
inconsciente, que põe em destaque a emergência do sujeito desejante, em sua singularidade,
resultado da relação entre os significantes que pressupõe um movimento dialético com a alteridade;
2º) A proposição do matema dos quatro discursos, em que a estrutura dá lugar ao gozo e traz a
marca da impossibilidade – portanto, do real –, que impede o fechamento de circuito entre os
significantes e garante que o sujeito e o Outro se articulem nas diferentes modalidades do laço
social; 3º) A formulação do discurso capitalista que, ao abolir a impossibilidade, altera a dinâmica do
matema e o status dos significantes, em que o saber aparece sob nova feição – a informação – e o
sujeito é levado a ocupar, de modo ilusório, o posto de agente. Nesse ponto vislumbramos a entrada
em ação do algoritmo digital como decorrência do discurso capitalista, que passa a operar via gozo,
implementando uma lógica de excessos e de personalização (Rouvroy & Berns, 2015). Essa lógica
busca erodir a dimensão desejante do sujeito, ao suplementar o gozo com a informação, trazendo
consequências para a dialética do laço social. Na medida em que o usuário disponibiliza na rede os
dados a serem manejados pelo big data, o retorno lhe vem na forma de produtos, já que ele próprio
fornece ao mestre-mercado o saber-informação sobre si. Nessa operação que o retém na teia da
web, movimentam-se, por um lado, a economia psíquica do usuário e, por outro, a economia do
mercado, inaugurando vasto campo a ser explorado pelo grande capital e pelos controles
governamentais, como antevisto por Gilles Deleuze (1992). Para Rouvroy e Berns (2015), o big data é
a evidência da posição de assujeitamento “do consumidor” ao mercado, sendo a mineração e
transformação de dados em perfis produzidos algoritmicamente o ponto que permite a previsão de
trajetórias e comportamentos individuais e coletivos na rede. Assim, são desprezados os significados
advindos da subjetividade, emancipando os significantes a serem atrelados a outros significados,
estes concernentes ao real que importa à governamentalidade algorítmica, o real digital. Essa visada
difere fundamentalmente da perspectiva lacaniana que, ao isolar o significante, destaca-o como
condição para que o sujeito possa advir, ele próprio, no nível da significação, cujo potencial se realiza
no laço social. Referências: Deleuze, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In:
Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226.
Lacan, J. Discours de Jacques Lacan à l’Université de Milan le 12 mai 1972: Lacan in Italia 1953-1978.
Milan, Italie: Salamandra, 1978, p. 32-55. Lacan, J. O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise
(1969-1970). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. Rouvroy, A.; Berns, T. Governamentalidade
algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação?
Revista Eco Pós, Tecnopolíticas e vigilância, v. 18, n. 2, p. 36- 56, 2015.

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Autor(a): Marcos Venancio Mendes – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Coautor(a): Mônica Rahme
Contato: marcosmendes.psi@hotmail.com, monicarahme@hotmail.com
Título: Educação Escolar e Segregação: o que dizem os adolescentes sobre isso?
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa em desenvolvimento no Mestrado de
Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Universidade Federal de Minas Gerais que tem como
objetivo investigar o processo de segregação de alunos adolescentes nas instituições de ensino. Para
isso, foi feita uma revisão da literatura no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e da Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações a fim de conhecer os estudos que trabalham com esta
temática na interface Psicanálise e Educação. Além disso, este trabalho discute a adolescência e os
dilemas que os sujeitos enfrentam durante a sua passagem para a vida adulta, bem como, a noção de
segregação a partir do viés psicanalítico. Assim sendo, apesar de ser algo constituinte e estruturante
das relações humanas, é preciso chamar atenção para os efeitos que a prática da segregação possui
na vida dos sujeitos, especificamente, no que se refere ao aluno adolescente, uma vez que quanto
mais se caminha para o universal e/ou para o discurso da universalização, introduzido na civilização
pela ciência, mais se segrega as singularidades. No contexto escolar, por exemplo, com a apropriação
do discurso da universalização dentro das escolas, as mesmas reclamam não estarem preparadas
para lidar com a diversidade dos seus alunos, o que tem gerado processos de segregação dentro da
própria instituição. Ou seja, o sujeito que antes era excluído por não ter acesso ao ensino, hoje é
segregado por se caracterizar como um desafio para o processo de ensino-aprendizagem. Ademais,
este discurso universalizante e homogeneizante que atravessa a sociedade e se reproduz no interior
da escola, criando perfis ideais e tentando, cada vez mais, padronizar os sujeitos, pode gerar diversos
efeitos na sua constituição psíquica, uma vez que este se vê em um processo de esvaziamento
subjetivo na medida em que se comporta de acordo com a classificação e categoria que lhe foi dada.
Assim, os estudantes que apresentam alguma particularidade que não se encaixa nesse ideal,
acabam causando incômodo na equipe pedagógica escolar que, por não conseguir lidar com a
diversidade de alunos presentes em seu âmbito, passa a adotar práticas e mecanismos escolares que
têm como efeito o distanciamento do aluno do processo escolar, podendo deixá-los à margem ou
invisibilizar suas questões. Essas práticas são compreendidas, no contexto da presente pesquisa,
como práticas de segregação, decorrentes do discurso científico universal que tenta, a todo custo,
agrupar as pessoas em um modelo homogeneizador, suprimindo suas diferenças. Deste modo,
aquele que se desvia desse modelo é posto à parte, à margem da convivência. Nessa perspectiva, é
fundamental compreender como esses processos são produzidos dentro das instituições de ensino,
indagando sobre a presença-ausência do aluno adolescente dentro desses espaços. A psicanálise
pode intervir nesse contexto, ofertando a circulação da palavra e a escuta aos sujeitos envolvidos no
contexto escolar, para que as suas singularidades possam se inscrever nesse cenário e a escuta
analítica possa funcionar como um dispositivo que nos ajude a captar as entrelinhas do processo de
segregação, como propõe este estudo. FOMENTO: Esta pesquisa tem a concessão de Bolsa pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). REFERÊNCIAS: BOAVENTURA
JR., Márcio; PEREIRA, Marcelo Ricardo. Lá fora...Na rua é diferente – Adolescência, escola e recusa. 1
ed. Curitiba: Appris, 123p, 2015. LACADÉE, P. O despertar e o exílio: ensinamentos psicanalíticos da
mais delicada das transições, a adolescência. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2011. LACAN, J.
Pequeno discurso aos psiquiatras. 1967. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/270116905/Discurso-Aos-Psiquiatras. (Acesso em 03/04/2019).
SOLLER, C. (1998). Sobre a segregação. In L. Bentes, & R. Gomes (Orgs.), O brilho da infelicidade. Rio
de Janeiro: Contra Capa.

119
Autor(a): Maria Creusa Mota – Secretaria de Educação
Contato: creusamota@gmail.com
Título: A importância de espaços de escuta como forma de subjetivação do adolescente
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Introdução - O presente trabalho é um recorte de uma monografia de Psicologia de uma
instituição de ensino particular em Brasília. O tema desenvolvido foi a escuta de adolescentes de
uma escola de ensino médio da rede pública de Brasília. 2- Desenvolvimento - A adolescência para a
Psicanálise é uma fase do desenvolvimento e este se dá através de uma reorganização psíquica onde
o adolescente terá que que se a ver com mudanças físicas, emocionais e relacionais, as quais
provocam muitas inquietações e sofrimento que ele nem sequer consegue nomear, resultando
assim, em grande dor que pode manifestar-se através de atos impulsivos e perigosos, isolamento,
depressão e até suicídio (Nasio, 2011 ; Jerunsalinsk 2010). A adolescência configura-se também como
um processo de luto, onde o adolescente tem que renunciar ao corpo, à identidade infantil e aos pais
da infância, passando por um processo doloroso de maturação e desenvolvimento a fim de tornar-se
um sujeito adulto (Aberastury, 1981). O objetivo do trabalho era desenvolver, dentro da escola, um
espaço de escuta e acolhimento da fala do sujeito adolescente por meio de uma roda de conversa
onde ele pudesse expressar seus sentimentos, inquietações, dúvidas e conflitos relacionais
vivenciados nessa fase tanto dentro como fora da escola. 3- Conclusão - Ao criarmos o espaço onde o
adolescente pôde sentir-se seguro o suficiente para manifestar-se por meio da fala, o dispositivo
tornou-se exitoso lidando com as demandas próprias dessa fase do desenvolvimento marcada por
tantos revezes para os adolescentes, pais e educadores. Dessa forma, concluiu-se que a Psicanálise
pôde contribuir perfeitamente para o campo da educação, uma vez que aquela, ao possibilitar a
liberação de emoções aprisionadas, liberou, por sua vez, espaço para o desejo de aprender,
contribuindo para o campo da educação. Ou seja, é preciso criar espaços de escuta, onde o “avesso”
do adolescente manifeste-se por meio da palavra, a qual, traduz-se na anunciação do próprio sujeito.

Autor(a): Maria da Conceição Aparecida Andrade – UFOP – Univ. Federal de Ouro Preto
Coautor(a): Carla Mercês da Rocha Jatobá Ferreira
Contato: saoandrade30@hotmail.com, carlajatobaferreira@gmail.com
Título: Educação Inclusiva e alfabetização: um olhar sobre a prática docente nos anos iniciais do
ensino fundamental (1º ao 3º ano)
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Considerando que documentos oficiais, tais como: Parecer CNE/CEB nº 11/2010, Base
Nacional Curricular Comum/2018, Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, orientam que todas
as crianças devem concluir os três anos iniciais do ensino fundamental alfabetizadas, surge o
interesse de compreender como tem acontecido esse processo em escolas públicas de uma cidade
de Minas Gerais no que tange ao público-alvo da educação especial inclusiva. Tendo em vista que
essas crianças são matriculadas atualmente nas classes de ensino regular, por meio de garantias
legais. Necessitam, portanto, de uma ação pedagógica própria, individualizada, com adaptações
curriculares, diferentes formas de avaliação (oral, escrita, por meio de observação, trabalhos,
interação com os pares), planejamento flexível, consolidação de plano de desenvolvimento
individual, (PDI), dilação do tempo, etc; e embasada no sujeito, nas suas potencialidades,
habilidades. Porém, observa-se ainda que são variadas as indagações e dúvidas que emergem
quando o professor/professora recebe em sua sala de aula o aluno com necessidades educacionais
especiais. Atuando profissionalmente em escolas públicas, desde 2002, pude inferir que os
profissionais demonstram angústia e impotência, ao receberem esses alunos em situação de
deficiência. Os apoios externos à sala de aula são escassos, as turmas geralmente cheias, o trabalho

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individualizado que deveria acontecer não se concretiza, e em muitos casos crianças vão passando
pelas cadeiras escolares sem se apropriarem da alfabetização e do conhecimento. Não raras vezes
são culpabilizadas junto com suas famílias por não conseguirem avançar. Através do estudo propõe-
se conhecer como vem se concretizando o processo de alfabetização e inclusão de crianças
matriculadas de (1º ao 3º ano) anos iniciais do ensino fundamental em duas escolas públicas (uma da
rede municipal e outra da rede estadual) situadas em uma cidade mineira; analisar como tem
ocorrido o processo de desenvolvimento de novas habilidades por parte das professoras e
professor/professora no que tange à inclusão e como esses profissionais têm se posicionado diante
dessa realidade que está posta nas instituições escolares, por meios de decretos, leis, legislações
diversas de cunho, internacional, federal, estadual e municipal; explicitar como acontece o
desenvolvimento do trabalho pedagógico visando à alfabetização das crianças com necessidades
educacionais especiais, matriculadas nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 3º ano),
observando se as diretrizes que o norteiam são diariamente consultadas; sondar se as crianças com
necessidades educacionais especiais tem sido alfabetizadas nos três anos iniciais do ensino
fundamental, compreendendo as ações e estratégias adotadas para efetivação dessa competência;
elencar os apoios externos à sala de aula que tem sido oferecidos ao professor/professora para
colaborar com o exercício de uma prática docente inclusiva. A pesquisa acontecerá em duas escolas
públicas, será considerada de cunho qualitativo, acontecerá através da realização de uma entrevista
semi-estruturada, análise documental e pesquisa bibliográfica. Serão entrevistados (as) 8 professores
e professoras, sendo (4) da rede pública municipal e (4) da rede pública estadual, que trabalham com
alunos com necessidades educacionais especiais, matriculados nos anos iniciais do ensino
fundamental. Todos os cuidados éticos serão criteriosamente observados.

Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Federal de Minas Gerais
Coautor(a): Maralice de Souza Neves
Contato: mcmpinheiro@yahoo.com.br, maraliceneves@gmail.com
Título: De sem a cem palavras entre o dizer o o dito
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: O desinteresse pela aprendizagem escolar têm levado muitos adolescentes ao abandono
da escola, e está relacionado não apenas a fatores subjetivos, mas também familiares, escolares,
sociais e/ou econômicos, já que a maior parte desses jovens provém de família de baixa renda, mora
na periferia em condições precárias, e encontra-se portanto, em situação de vulnerabilidade social.
Logo, a ruptura com a escola pode significar para eles um risco à exposição e ao envolvimento com
atos infracionais. Nesse sentido entendemos e reiteramos ser necessário um trabalho de construção
e fortalecimento do laço desse adolescente com a escola, a partir da escuta e da investigação dos
fatores que estariam favorecendo o desenlace. Esse é o foco das ações e pesquisas do Programa de
Extensão da UFMG em parceria com a UEMG, BROTA: juventude, educação e cultura, que se propôs
a promover a construção de metodologias de intervenção, apostando sobretudo no saber desses
jovens, e nos recursos de que dispõem para refazer e ressignificar suas escolhas. O programa tem
como eixo teórico a psicanálise, por acreditar que não há uma solução universal para aplacar o mal-
estar que envolve a educação, e propõe também um diálogo com a arte, a educação, a saúde, a
filosofia e a sociologia, numa perspectiva transdisciplinar, articulando ensino, pesquisa e extensão.
Destacaremos nessa apresentação o trabalho desenvolvido pela oficina “Arte s/cem palavras”, que
junto com outras seis integram o programa. Trata-se de um espaço onde os jovens são convidados a
se expressar subjetivamente, valendo-se de diversas formas de linguagem verbal, como meio de se
constituir e se sustentar como sujeito de desejo, ou seja, sujeito do inconsciente como efeito do
significante que o representa para outro significante, apostando na linguagem como um dispositivo
de emergência subjetiva. O objetivo é a valorização das singularidades no contexto coletivo, onde o

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desejo de cada jovem possa ser escutado e sustentado, possibilitando a ele a construção de um
projeto de vida. Sabemos que aposta na escrita como meio de expressão já é corroborada como
parte do cotidiano dos jovens. Assim, um dos nossos objetivos é utilizar as facilidades que a
contemporaneidade oferece, tais como, os diversos meios virtuais- chats em whatsapp, blogs, redes
sociais, ou mesmo os meios tradicionais, como o papel, nos quais a multimodalidade, a
multisemiótica, a escrita híbrida, que mesclam múltiplas formas de linguagem - oral, visual e escrita,
visando a estimular também a produção literária e artística desses jovens. Albuquerque (2019)
ressalta que é na fala endereçada ao outro, numa continuidade intersubjetiva, que se fundamenta o
método psicanalítico (LACAN, 1953). É o Outro que pode nos ensinar o que temos a dizer, é do Outro
que apreendemos aquilo que somos (MILLER, 1988), num esforço contínuo ao longo da vida entre
nossos outros. É da voz do Outro que sabemos o que nos espera, o que será de nós, enfim, o indizível
daquilo que somos (MILLER, 2013). Albuquerque (2019) também afirma, com base em Lacan (1972-
1973), que de todos os efeitos da linguagem, a escrita é aquele efeito que se articula a algo a partir
da letra. A letra é um efeito de discurso que demonstra como a linguagem se aperfeiçoa ao jogar
com a escrita. A escrita escava um vazio, sempre pronto a acolher o gozo, ressalta a autora.
Desejamos apresentar, portanto, os efeitos das significações resultantes do trabalho produzido pelos
participantes do Projeto Arte em s/cem palavras, bem como pelos colaboradores que aí
empenharam seu desejo.

Autor(a): Maria do Carmo de Melo Pinheiro – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Martha Célia Vilaça Goyatá
Contato: mcmpinheiro@yahoo.com.br, mcgoyata@yahoo.com.br
Título: Algumas reflexões sobre a articulação da psicanálise com a adolescência, a educação e as
instituições de ensino.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Sabemos que a educação não deixa de ser afetada pelo contexto de sua época, tanto no
âmbito político, quanto econômico, social e cultural. Lacan (1953/1988) nos adverte que deve
desistir de praticar a psicanálise “quem não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de
sua época. Pois como poderia fazer de seu ser o eixo de tantas vidas, quem nada soubesse da
dialética que o compromete com essas vidas num movimento simbólico (p. 322). Logo não há como
excluir também os educadores desse compromisso, ou seja, desconsiderar o fato de que o sujeito
reflete, por meio de sintomas e demais formações do inconsciente, as forças do campo simbólico
que o atravessa.
A proposta, portanto, é de pensar a educação a partir do contexto contemporâneo, entendendo
evidentemente, que educar nunca foi tarefa fácil, trata-se antes, como diria Freud, de uma tarefa
impossível. Estamos diante de um desafio, precisamos prosseguir e, nesse sentido a psicanálise pode
trazer algumas contribuições relevantes para pensar os impasses inerentes a esse campo, não
propondo “soluções imediatas”, como se de fato elas existissem, mas trazendo sobretudo a oferta de
um espaço de escuta e reflexão, que possam ajudar tanto os professores quanto os alunos a lidar
com o mal-estar presente nas várias formas de laço social, e mais especificamente no ambiente
escolar, nos dias de hoje, como nos interessa investigar. Para Rahme (2014) a função da instituição
seria atualizar para o sujeito, como aluno, exposto a todos os desdobramentos da convivência com o
outro, as medidas e desmedidas do mal-estar presentes no pacto civilizatório. Sendo assim é preciso
considerar a necessidade de se pensar o lugar ocupado pelo professor nas instituições de ensino,
qual a importância conferida a elas, e também procurar entender melhor os modos de subjetivação
por que passam os adolescentes na atualidade. A psicanálise pode sem dúvida contribuir ao abrir
espaço para que se considere os problemas inerentes ao campo do ensino e da aprendizagem, para
além das questões meramente cognitivas e operacionais. Referências bibliográficas: Lacan, J. (1953).

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Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. Em Escritos (pp. 238-324). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998. Rahme, M. M. F. Laço Social e Educação: um estudo sobre os efeitos do encontro
com o outro no contexto escolar. Belo Horizonte, Fino Traço, 2014.

Autor(a): Maria Eugênia Pesaro


Coautor(a): Cristina Keiko Inafuku de Merletti
Contato: meugeniapesaro@gmail.com, crisinafuku@yahoo.com.br
Título: Projeto Escolas Protagonistas: o efeito formativo do encontro entre escolas
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A experiência acumulada com a prática da Educação Terapêutica (Kupfer, 2000, p.83),
entendida como um conjunto de procedimentos terapêutico-educacionais, dirigidos às crianças, a
seus professores e a seus pais e, que visa ao restabelecimento ou à construção da estruturação
psíquica de crianças com entraves estruturais em sua constituição psíquica (entre elas as crianças
autistas e psicóticas), levou o Lugar de Vida a construir parcerias com as escolas no
acompanhamento terapêutico-educacional dessas crianças. As parcerias com as escolas foram, desde
o início, orientadas pela preocupação com a busca constante de fundamentos teóricos capazes de
dar consistência e solidez as práticas escolares com essas crianças, rumo a uma escola para todos, o
que também incitou a uma construção permanente de eixos teóricos capazes de auxiliar o trabalho
dos professores na escolarização das crianças. Apresentaremos as modalidades de parcerias
realizadas para destacar a especificidade da parceria atual, denominada de Projeto Escolas
Protagonistas e a fundamentação de uma nova pergunta: o que uma escola pode fazer por outra?
Desdobramento de uma pergunta anterior: o que uma criança pode fazer por outra? Pergunta
oriunda do trabalho em grupos terapêuticos. (Kupfer, Pinto & Voltolini, 2010). Considera-se que o
Lugar de Vida vem sustentando uma transmissão da psicanálise aos educadores nestas modalidades
de parcerias ao reintroduzir a subjetividade do professor como ferramenta para a construção de suas
práticas pedagógicas, assim como uma leitura do aluno que o considera como um sujeito ao
reconhecer a sua singularidade. Também são incluídos os efeitos subjetivantes dos encontros entre
os pares aluno-aluno e professor-professor e, os efeitos dos encontros entre escolas. A primeira
dessas parcerias, que se mantém até hoje, é a reunião aberta de professores (Pesaro & Castro, 2017),
cuja primeira nomeação foi a de reunião do Grupo Ponte (Colli, 2005). As reuniões se orientam por
alguns fundamentos teórico-clínicos, dentre eles, o instrumento da escuta e a confrontação com o
próprio dizer (Bastos, 2005). Também fundamenta a reunião o eixo teórico A Função do Semelhante,
principalmente no que concerne aos efeitos de identificação entre os pares (Lacan, 2003). Uma outra
parceria, que ocorre em paralelo as reuniões abertas de professores, é o acompanhamento escolar
de cada uma das crianças atendidas no Lugar de Vida. Para o Lugar de Vida, a escola oferece mais do
que a chance da criança com entraves estruturais aprender. A escola é também uma ferramenta
terapêutica ao desregramento psíquico dessas crianças: a escola pode propiciar uma segunda chance
de organização psíquica, seja pela oferta dos conteúdos escolares, dos conhecimentos ou pela sua
própria estrutura institucional organizada por leis que regem as relações entre os humanos. A
experiência com essas parcerias descritas acima, levou-nos a propor um novo projeto de trabalho
com as escolas, denominado Projeto Escolas Protagonistas (Kupfer, Patto & Voltolini, 2017) que está
em sua terceira edição. O Projeto é uma sistematização das diferentes ações com a articulação de
quatro tempos e que foi nomeada de Metodologia do estudo de caso da escola (p.11). Considera-se
que o encontro entre as escolas (uma escola ao escutar a outra) tem produzido efeitos de
desnaturalização de práticas e de estabelecimento de parcerias para o enfrentamento dos impasses
(uma escola reconhece a diferença da outra escola). Sustenta-se assim que os encontros entre as
escolas são orientamos pela lógica e pela posição não-toda (Lacan, 1972-37): trata-se da construção
e da sustentação de uma parceria na qual todos tem o seu saber não-todo sobre a criança, sobre a

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família, sobre a educação que é, ao mesmo tempo, incompleto e que barra o saber do outro. Esta é
uma das possibilidades do que uma escola pode fazer pela outra.

Autor(a): Maria Gabriela Guidugli Pedreira – USP – Universidade de São Paulo


Contato: mg.pedreira@hotmail.com
Título: Transmissão em psicanalise e o professor na sociedade do conhecimento
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: O ensino escolar representa há quase três séculos o principal meio de socialização e
formação nas sociedades modernas. Apesar da docência ser uma das mais antigas ocupações, que
remonta à Grécia Antiga, a atuação do professor contemporâneo deve ser pensada sob perspectivas
muito diferentes daquelas dos gregos de Platão. Nossa sociedade contemporânea, a chamada
sociedade do conhecimento, é marcada pelo uso intensivo e competitivo dos conhecimentos e pela
revolução tecnológica, ou seja, pela rápida velocidade entre a aquisição de um conhecimento e sua
aplicação tecnológica. Nela a informação prevalece sobre o próprio conhecimento. Se até então o
conhecimento era considerado como algo estável e próprio da escola, na sociedade do
conhecimento, o próprio conhecimento não é tido como algo permanente, nem tampouco é
patrimônio da instituição escolar. Nesta perspectiva, vemos surgir dentro dos meios pedagógicos, a
idéia do “professor mediador” ou “professor facilitador”. As discussões que envolvem estes termos,
vem acompanhadas da crença de que o professor não seria mais o detentor do conhecimento, este,
graças à tecnologia, estaria à disposição dos alunos, caberia ao professor “orientar”, “intermediar” e
“incentivar” os alunos no processo de construção de suas próprias aprendizagens. Entendemos que a
noção de “professor facilitador”, vai aos poucos retirando o próprio professor, este alguém singular
portador de um saber e de uma história, da sala de aula, isto é, o professor vai sendo destituído de
seu lugar de agente no ato educativo. Pretendemos neste trabalho problematizar os efeitos sobre o
ensino dessa destituição do professor de seu lugar de agente, utilizando como base para nossa
discussão, a relação que a psicanálise estabelece entre ensino e transmissão. A partir do próprio
testemunho de Freud, em 1914, por conta da comemoração do jubileu da escola onde estudara,
sabemos acerca da importância e do impacto da pessoalidade do professor na vida dos jovens
alunos. Com seu relato, Freud nos indica que há algo no acesso ao conhecimento que se passa no
laço social entre professor e aluno, algo do estilo do professor que lhe escapa e que é da ordem do
inconsciente. A este estilo que se passa na relação transferencial, a psicanálise dá o nome de
transmissão. Ao contrário da psicanálise, a pedagogia finca suas bases na crença de uma
correspondência biunívoca entre o que o professor ensina e o que o aluno aprende, desprezando
com isso qualquer “estilo” do professor e aquilo que pode ser da ordem de uma transmissão. A
transmissão do conhecimento na escola passa pela relação professor aluno e, apesar do ensino
escolar ser condição necessária para que a transmissão ocorra, isso não quer dizer, como acredita o
discurso pedagógico, que estes dois termos sejam sinônimos. O que a psicanálise visa ao adentrar
nas discussões sobre o ensino é enfatizar a importância de se levar em conta o inconsciente no
processo de ensino e aprendizagem. Considerar o inconsciente, significa entender que não se trata
somente de respeitar as marcas de singularidade na produção do aluno, mas também saber que o
professor deixa suas marcas nesta transmissão. Ambos, professor e aluno são ativos nesta relação
com o saber. Falamos da transmissão de um desejo de saber. Só se transmite o desejo de saber
quem o tem. Para além do ensino, mas através dele, em sua transmissão, o professor autoriza o
aluno a adquirir um saber do qual é herdeiro e daquilo que é socialmente compartilhado no mundo.
Toda transmissão, portanto, implica um lugar de filiação e de transmissão simbólica.

Autor(a): Maria Ludmila Antunes de Oliveira Mourão – USP – Universidade de São Paulo

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Contato: m_lud@hotmail.com
Título: Em defesa de uma certa autoridade
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Vejo nos dias de hoje o conceito de autoridade sendo amplamente rechaçado e distorcido,
especialmente no campo da educação, o que me parece não ser sem consequências. Tentarei trilhar
o caminho desse rechaço sob a perspectiva da distinção entre ética e moral: por onde ele passa?
Onde se apóia? Onde está a autoridade hoje? Cabe aqui esclarecermos a diferença então dos termos
autoritarismo e autoridade. O autoritarismo diz respeito a algo arbitrário, caprichoso, tirânico,
reduzido às suas próprias leis, sem a consideração do outro. A autoridade, por sua vez, pode ser
definida no dicionário por “influência ou prestígio; pessoa que tem competência no assunto” (Bueno,
1991). Do latim Auctus, Augere, que significa fazer crescer, aumentar. É interessante ressaltar o
caráter de referência e influência, que parece permear a relação educativa, aqui podendo ser
equiparada à constituição psíquica, onde é preciso que um outro faça uma função, ocupe um lugar,
tome a palavra, se dirija ao sujeito em questão. A autoridade coloca limites, contornos, transmite
valores e normas, introduzindo a ordem simbólica. Assim, a lei limita a liberdade ao mesmo tempo
que é condição para a existência dela. Poder dizer que “não”, é um limite para a angústia, apazigua.
Duplo limite: ao gozo da criança e ao gozo dos pais. Paradoxalmente, acredita-se hoje que é a
autoridade que angustia, o que leva a uma isenção dessa função, desse ato, e, por que não dizer,
dessa responsabilidade de ajudar a criança a suportar o adiamento da satisfação. Assim, limita os
gozos, logo, supõe uma renúncia dos pais e/ou adultos ao seu narcisismo, ou seja, não é qualquer
“não”, é um “não” de difícil enunciação, na medida que inclui uma perda. A autoridade hoje é
discutida de forma reducionista, tomada como autoritarismo e logo excluída. Assim as práticas
pedagógicas apoiadas na coação e persuasão da criança, seja pela via motivacional, pela sedução ou
pelo convencimento não estão no eixo da autoridade. Para Arendt (2009) a autoridade tem a ver
com a responsabilização do mundo pelos adultos, exigindo destes uma tomada de posição frente às
questões do mundo. Chama a atenção para uma transferência dessa autoridade para as crianças no
mundo moderno. À exemplo disso temos hoje a politização da infância. Verticalidade versus
horizontalidade. Sabemos que com a passagem do mundo moderno para o mundo pós-moderno
alterou-se os modos de subjetivação e relações sociais. O enfraquecimento das referências
simbólicas, pela queda da tradição e dos ideais é o que Lacan (2008) nomeou como o “declínio da
imago paterna”. A partir de então o laço social passa a se fazer não mais pela verticalidade das
relações, mas pela horizontalidade, sem hierarquia. Mas o que isso quer dizer? Freud (1913) se
opondo à uma perspectiva desenvolvimentista, que ele mesmo por um tempo sustentou, vai
também estremecer o paradigma adulto-maturidade e criança-imaturidade, porém para revelar que
essa oposição não se dá pela via do desenvolvimento de uma maturidade, mas somente pela via do
efeito do recalque. A maturidade do adulto é colocada em cheque e com isso o paradigma criança-
imaturidade e adulto-maturidade não se sustenta. Se a diferença de um adulto para com uma criança
não se dá pela sua suposta maturidade e, portanto, “superioridade”, estariam estes no mesmo
patamar? Pergunta central desse trabalho. Restaria lugar para a autoridade do adulto? Autoridade
do adulto ou na relação do adulto com uma criança? Hierarquia versus assimetria. O paradigma
adulto/criança não é mais sustentado pelo jogo de forças ou poder próprios da hierarquia, mas tão
somente pela assimetria própria de suas condições. No entanto, essa contraposição à hierarquia
parece ser rapidamente tomada pela ideia de uma simetria entre os sujeitos, respondendo à um
princípio de igualdade: já que não somos inferiores ou superiores, logo, somos iguais. Podemos
localizar o declínio da autoridade na importante confusão ao se tentar superar a hierarquia pela
simetria.

Autor(a): Maria Nogueira Scarambone Zaú – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Contato: mariazau15@gmail.com
Título: Pontos de encontro entre a psicanálise e a ciência: por uma transmissão rigorosa e
democrática
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: A discussão entre os campos da epistemologia e da psicanálise se estende desde o
surgimento deste segundo até os dias atuais. Nesse percurso, vemos inúmeros impasses, junto a
conclusões muitas vezes opostas por parte dos psicanalistas que se propõem a se questionar quanto
a esse tema tão controverso. O corte produzido pela Revolução Científica no século XVII tem como
consequência uma reviravolta determinante na visão de mundo moderna e, em cadeia, na forma de
se relacionar com o saber e a verdade. A exigência de cientificidade se coloca diante dos campos de
conhecimento que se pretendem legítimos e permanece, mesmo que por meio de outras facetas,
ainda hoje como uma questão imprescindível. Freud, ao longo do percurso de fundação e
estabelecimento de seu campo de trabalho, trata de forma profunda a relação da psicanálise com a
ciência. Assim, marca, em 1933, uma aproximação entre esses dois campos em termos de uma
'Weltanschaaung' incompleta e parcial. No decorrer de sua obra, podemos encontrar pistas que
apontam para o esforço de Freud em legitimar a psicanálise como campo de pesquisa e clínica, ao
fundamentar sua teoria a partir de conceitos da biologia - campo científico privilegiado de seu
tempo. Além disso, não à toa, em 1926, discorre acerca da laicidade da psicanálise na tentativa de
localizá-la no âmbito distinto do dogmatismo religioso, bem como do saber médico. A análise, como
Freud aponta, deve ser não apenas leiga, mas laica. Lacan, ainda que sob um novo solo
epistemológico, coloca como imprescindível, durante seu ensino, o diálogo da psicanálise com o
campo científico e, para tanto, apresenta A. Koyré como seu guia. Em 1975, localiza seu campo
teórico como constituído a partir das balizas da topologia, lógica, linguística e antifilosofia. Ao tratar
sobre seu ensino, assinala que o psicanalista deve se inteirar acerca do lugar e das bases que
constituem seu campo de atuação. O presente trabalho busca trazer um recorte acerca da
aproximação entre os campos da psicanálise e da ciência - tomada a partir de autores da
epistemologia com os quais Lacan dialoga, em especial A. Koyré e G. Bachelard. Não é nosso objetivo
aqui discorrer sobre a cientificidade da psicanálise, mas evidenciar a importância de tal diálogo. Em
tempos nos quais o rechaço ao ensino e à pesquisa fundamentados na razão e na lógica se evidencia
em prol da defesa de um saber dogmático e, por que não, autoritário, entendemos ser ainda mais
urgente uma pesquisa que trave um percurso rigoroso na busca pela transmissão e discussão
acadêmica que sejam de fato democráticas.

Autor(a): Maria Sossai Varnier – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Coautor(a): Bruna de Sousa Madureira, Roberta Corrêa Lanzetta, Luciana Gageiro Coutinho
Contato: msvarnier@gmail.com, BRUNA.MADUREIRA@HOTMAIL.FR, r.lanzetta@hotmail.com
Título: O encontro analítico na adolescência
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: O presente trabalho é produto do percurso na Especialização em Psiquiatria e Psicanálise
com Crianças e Adolescentes do SPIA/IPUB-UFRJ, e também faz parte da pesquisa “Educação para a
vida: adolescência, suicídio e vulnerabilidades sociais”. É possível observar um aumento na
quantidade de relatos de casos de adoecimento psíquico na adolescência. A clínica psicanalítica
oferece um espaço onde o adolescente pode chegar da forma como ele se experimenta no mundo,
uma escuta sobre o sentido do sintoma na história e no contexto daquele paciente. Nossa proposta é
pensar como se dá a formação do sintoma na adolescência, quais as especificidades deste processo,
quais os impasses no laço social e seus impactos, articulando-os ao empobrecimento das
experiências educativas e à situação de vulnerabilidade social na qual muitos jovens se encontram.
Pretendemos observar, a partir de um caso clínico, os recursos criados na adolescência para lidar

126
com as dificuldades inerentes do movimento de saída do universo infantil, no processo de
subjetivação que acontece na adolescência, e que pode ser experimentado com muita angústia.
Objetivamos investigar de que forma tais impasses se traduzem psiquicamente e podem se articular
com o ato do suicídio na adolescência.
A metodologia utilizada para realização deste estudo é a de pesquisa em psicanálise, pautada nos
princípios éticos que norteiam a sua clínica, tal como o desejo do analista e a fala sob transferência
(Alberti & Elia, 2000). O material extraído dos casos não terá a função de demonstrar considerações
teóricas, mas sim de levantar reflexões a partir deste. Um caso específico nos chamou muito a
atenção desde o início. Um jovem de 16 anos que chega até o ambulatório através da queixa inicial
familiar de que ele não queria mais ir à escola. Segundo ele, não havia motivos para estar na escola e
não tinha intenção de seguir alguma carreira convencional, visto que desejava seguir um percurso
como jogador profissional de um jogo online. Relata que além de não entender o sentido de
frequentar a escola, estar no ambiente escolar representava grande desconforto e mal-estar para
ele, pois sentia muita dificuldade de conversar, fazer amigos, além de se sentir “diferente e
inapropriado”. A mãe deste jovem demonstrava não tomar a recusa do mesmo em frequentar a
escola como uma questão, muito menos se implicava em dar um encaminhamento a ela. Foi
necessária uma intervenção do Conselho Tutelar junto à escola para que ele retornasse aos estudos
de forma obrigatória. O pai deste jovem se encontrava preso, e aparecia no discurso do adolescente
como uma figura ausente na maior parte de sua história. Com o tempo, e um lento processo de
criação de uma transferência, o paciente pode expor e elaborar algumas questões a respeito das
dificuldades que sentia para falar, se posicionar diante do Outro e construir laços sociais/ afetivos.
Após um ano em atendimento, no contexto de alguns acontecimentos marcantes na vida deste
jovem, o mesmo realizou uma tentativa de suicídio, que resultou em uma internação involuntária. A
adolescência é tomada como reedição edípica e narcísica (Coutinho, 2009), momento de um novo
encontro com o Outro (Alberti, 2004), com efeitos nos modos do sujeito se enlaçar no social. Por
conta disso, há um fundo de desamparo e angústia frente ao excesso pulsional da adolescência,
justamente por conta de uma desestabilização das identificações e das referências fálicas da infância,
que agora tem de ser reconfiguradas e restituídas para servir de base para o sintoma. A análise deste
caso em supervisão abriu a escuta da transferência deste paciente e a elaboração de um primeiro
esboço sobre a relação do paciente com a construção do seu sintoma.

Autor(a): Mariana María de Luján Scrinzi – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Diana Wolkowicz, Julia Tassara, Melina Soledad Molina
Contato: marianascrinzi@hotmail.com, dianawolkowicz@yahoo.com.ar,julia.tassara@gmail.com,
melina.s.molina@gmail.com
Título: El estatuto del lazo social en el autismo. la problemática de la inclusión escolar.
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Sobre la investigación “El estatuto del lazo social en el autismo. Principales planteos
teóricos desde el psicoanálisis”, se expondrá la exploración bibliográfica realizada atendiendo
específicamente a la constitución del sujeto autista donde encontramos el drama del goce
desenganchado del Otro. La inclusión del sujeto autista en la escuela hoy es una problemática muy
actual teniendo en cuenta las últimas estadísticas de los Centros de Prevención y Control de
Enfermedades, Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Estados Unidos, año 2016, indican
que actualmente los Trastornos del Espectro Autista (TEA) se le diagnostica a uno de cada 68 niños,
afectando siempre más a los varones que a las nenas, a razón de cuatro a uno. Hablar de lazo social y
autismo parece un oxímoron, en tanto hay una insondable decisión del ser de rechazo al Otro.
¿Cómo pensar el lazo al Otro si el objeto no puede extraerse, cuando no hay cesión de los objetos
pulsionales, cuando el circuito de la demanda no se pone en juego? En estos casos el objeto está

127
positivizado, tal como se presentifica con el murmullo de la lalengua. Los sujetos autistas inscriben el
significante S1 sólo, como pura inscripción primaria del goce sin encontrar un punto de capitón, no
pudiendo leer esa marca articulada a un saber. La tendencia a la inmutabilidad que el sujeto autista
busca, es un recurso para defenderse de las manifestaciones del Otro. Sin embargo, la casuística
muestra que el lazo del sujeto al Otro se establece y que los psicoanalistas encuentran modos sutiles
de acercamiento, no invasivos, ni amenazantes, posibilitadores de la instalación de una transferencia
amorosa, que permite conmover la defensa construida. De aquí se desprende otra pregunta: ¿Cómo
intervenir en la escuela? ¿Cómo incluir lo que no se incluye? La escuela es el lugar que posibilita que
el lazo social que se construye en el mundo familiar se amplíe y pase de un régimen privado, familiar
a lo público, ¿Cómo hace la escuela, que se caracteriza por ampliar los lazos, cuando acoge a un niño
autista, donde justamente el lazo se ve obstaculizado? Si bien hay leyes que avalan y regulan la
inclusión escolar, estas requieren que nos planteemos en cada caso hasta qué punto es conveniente
la inclusión. Cuáles son los costos y cuáles los beneficios para el sujeto. Es paradójico observar que
hasta hace 10 o 15 años atrás era muy difícil encontrar un lugar en la escuela común para un niño
autista; en la actualidad es necesario interceder para que se pueda hacer otro trayecto educativo.
Esto no tiene que ver específicamente con las leyes que si bien como toda ley son el marco de un
“para todos”, incluyen en ellas mismas la singularidad de “cada caso”. El problema es que la ley entra
en contradicción con algunas resoluciones ministeriales y con la práctica. Sostiene Wolkowicz A. Sin
embargo, encontramos resoluciones que entran en contradicción con el marco legal que contempla
la singularidad de cada caso. Ejemplo de esto es la Resolución 311/16 del Consejo Federal de
Educación que reglamenta la inclusión de niños autistas en las mismas condiciones actuales de la
educación formal previstas para la totalidad de los niños, sin considerar el caso por caso, generando
diversas dificultades para docentes, padres y niños. Estas problemáticas son las que interesan
conversar junto a viñetas clínicas que ilustran el tema propuesto. El objetivo general del proyecto de
investigación es indagar la especificidad del lazo social en el autismo. El diseño metodológico del
proyecto que se presenta recurre al ensayo como procedimiento para ensayar conjeturas vinculadas
por un lado con una toma de posición teórica, pero al mismo tiempo con la experiencia clínica (Kuri,
2001; Adorno, 2003). Al tratarse en psicoanálisis de conceptos con un valor conjetural, la forma de
abordar los problemas del método será acorde a esta toma de posición, recurriendo al ensayo en
tanto forma y procedimiento a la vez.

Autor(a): Mariana Sica - Feusp


Contato: marisica@gmail.com
Título: Pisicanálise entre Pedagogia e Educação
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Não é de hoje que ouvimos, de profissionais que atuam no campo da educação que tal
escola segue determinada “Pedagogia”. Também os pais costumam, muitas vezes, querer conhecer a
pedagogia/metodologia escolar para poderem decidir se matriculam ou não seus filhos. Isso é
patente sobretudo no Brasil, no campo das escolas particulares, donde encontramos aquelas que se
orientam a partir da pedagogia construtivista, Waldorf, etc. Longe de traçar diferenças entre as
pedagogias atuais, nosso texto pretende localizar esse movimento que fez e faz da “pedagogia
escolar” um produto ou bem de consumo, transformando-a por vezes num objeto de valor em si. E,
por outro lado, trazer elementos da psicanálise que criticam esse movimento, apontando suas
consequências e tratam do que é educar e instruir. Os rudimentos de um raciocínio pedagógico
remontam ao século XV, muito atrelada à moral religiosa – desde a Ratio Studiorum - transformando-
se num verdadeiro campo do conhecimento. Graças à sedimentação das bases pedagógicas, hoje o
ensino escolar conta com certa sistematização necessária e substancial para seu funcionamento. A
partir do séc. XIX, porém, a pedagogia irá apoiar-se cada vez mais, ao lado da medicina, da psicologia

128
e de outras disciplinas afins, rumando para uma racionalidade biologista, cujas premissas baseiam-se
na concepção da existência de uma “sabedoria” natural - criando tautologicamente uma
normalidade/normatividade - a ser objetivada através do processo educativo. numa visão ontológica
de Homem Natural. Seja religioso, como antigamente, moral, naturalista ou médico-científico como
hoje, a pedagogia tendeu a ser um campo cujas premissas dependem de um justificacionismo
qualquer (Lajonquière, 2017). Onde todo ato educativo tem de ser justificado e embasado numa
causalidade externa. Na contramão desse pensamento, a psicanálise irá afirmar que a função da
educação está para além de um raciocínio pedagógico – que tem sua importância sobretudo na
escola. Para Freud (1927), para não permanecer criança, o ser humano deve sair ao encontro da vida
hostil. Ele chama a isso: educação para a realidade.
Ideia que é retomada por Mannoni (1973), pois ressalta do processo educativo a possibilidade de um
adulto e uma criança serem confrontados com o impossível inerente à toda educação. Um impossível
que diz, simplesmente, da impossibilidade de traçar, prever ou estabelecer garantias prévias em uma
relação mediada apenas pela palavra. Garantias que muitas pedagogias procuram “vender”, não à
toa dominam o universo privado de ensino. Dessa forma, não se trata aqui de não reconhecer a
importância da pedagogia num ambiente de ensino, porém, coube à psicanálise lembrar os riscos de
tomar toda a educação a partir de premissas naturalistas – que pressupõe o desenvolvimento e a
aprendizagem como um continuum natural, gerando uma aposta por vezes maior nas metodologias
de ensino e menor na palavra/autoridade do educador e no desejo de saber da criança. Impedindo,
por sua vez a dialética do reconhecimento: Reconhecer o desejo no outro e o próprio desejo em
causa no ato educativo. E o que estamos em condição de destacar neste momento trata do fato de
que essa forma de colocar os objetivos educativos/pedagógicos “na frente” da criança - como um
anteparo entre ela e o adulto - obstrui a relação de ambos com o próprio desejo e acabam por
obnubilar uma interrogação ou vontade de saber sobre si mesmo (Lajonquière, 2017), além do
reconhecimento do outro como sujeito de desejo, algo inerente a toda possibilidade educativa
(Kupfer, 2007; Lajonquière 2009).

Autor(a): Marina Belém Lavrador – USP _ Universidade de São Paulo


Coautor(a): Laura Carrasqueira Bechara
Contato: marina.lavrador@gmail.com, lauracbechara@gmail.com
Título: Diagnósticos psiquiátricos selados na primeira infância: efeitos no percurso de subjetivação
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Neste trabalho, discutiremos os impactos que a atribuição de diagnósticos psiquiátricos a
crianças em sua primeira infância pode produzir em seus processos de subjetivação, ao destituírem
as manifestações de cada criança de seus sentidos singulares e o saber dos pais sobre seus filhos. Em
especial, procuraremos debater a profusão de diagnósticos precoces que vem sendo atribuídos, por
diversos profissionais médicos, ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) a crianças entre 1 e 3 anos
de idade. Intenta-se problematizar como tal nomeação pode promover ou agravar entraves no
processo de constituição subjetiva dessas crianças, selando destinos e operando na direção de um
fechamento da produção de novos sentidos às manifestações e sintomas de cada criança em sua
singularidade. Partindo da experiência de clínica psicanalítica institucional da primeira infância
ocorrida no Lugar de Vida Centro de Educação Terapêutica, apresentaremos esta discussão a partir
de dois casos de crianças pequenas (cerca de dois anos e meio) em atendimento em dispositivo de
grupo terapêutico que receberam o diagnóstico de TEA precocemente. Os casos expõem de que
maneira um diagnóstico fechado precoce pode implicar na cristalização da criança também em um
lugar discursivo no qual poderá ser tomada no âmbito familiar e também no âmbito escolar, quando
não fizer frente ou questionamento ao laudo médico recebido. Diante dessa problemática,
discutiremos estratégias de intervenção, a partir da ética da psicanálise, para fazer resistência a esses

129
efeitos iatrogênicos provocados pelo diagnóstico médico, de modo a restituir o saber dos pais sobre
seus filhos e possibilitar um desvelamento de sentidos que permita mudanças de posição da criança,
tais como: escuta psicanalítica mãe-criança, intervenções em momentos de encontro dos pais em
grupo (que aproveitem o que uma mãe ou pai pode fazer pelo outro) e nomeação, em momento de
escuta individual dos pais, de um saber a partir de outra lógica diagnóstica que leve em consideração
o sujeito e sua posição subjetiva. Em relação a esse último aspecto, o uso de instrumentos como o
IRDI (Indicadores de Risco do Desenvolvimento Infantil) (Kupfer e Bernardino, 2018) e o APEGI
(Avaliação Psicanalítica em Escolas, Grupos e Instituições) (Kupfer, Bernardino e Pesaro, 2018), para
apresentar às famílias nosso saber e metodologia de trabalho, tem funcionado como forma possível
de se sustentar uma diagnóstica que marca uma diferença em relação ao diagnóstico psiquiátrico
precoce. Espera-se com este trabalho transmitir a importância de se sustentar com as famílias e com
as escolas uma hipótese diagnóstica aberta, em constante revisão pela equipe de tratamento,
enquanto posicionamento ético para com o sujeito na primeira infância. Referências Bibliográficas:
Kupfer, M. C., Bernardino, L. M., & Pesaro, M. E. (2018). Validação do instrumento
"Acompanhamento Psicanalítico de Crianças em Escolas, Grupos e Instituições (APEGI)". Estilos Da
Clinica, 23(3), 558-573. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v23i3p558-573. Kupfer, M. C. M., &
Bernardino, L. M. F.. (2018). IRDI: um instrumento que leva a psicanálise à polis. Estilos da Clínica,
23(1), 62-82. https://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v23i1p62-82

Autor(a): Marina Bezerra Werneck – UFES – Universidade Federal do Espirito Santo


Contato: marinabwerneck@gmail.com
Título: O lugar do saber na ciência e o discurso do analista: questões acerca da transmissão da
psicanálise na universidade
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Este trabalho busca traçar um paralelo entre psicanálise e ciência, ressaltando as
disparidades entre a universalização do saber proposta pela ciência e o estatuto epistemológico e
clínico que as noções de verdade e saber exercem no campo psicanalítico, trazendo questões acerca
da transmissão da psicanálise. Na lógica da ciência o saber é absoluto, onde a verdade pode ser
conhecida por intermédio da razão, descartando a elaboração singular do pensamento, para libertar
a razão de “qualquer conteúdo que dificulte sua almejada neutralidade” (SGARIONI & D’AGORD,
2013, p. 4). Em contrapartida, Lacan irá fundamentar a psicanálise na “relação existente entre os
registros do sujeito e da verdade, na qual se articularia o inconsciente” (BIRMAN, 2010, p. 196), de
forma que o estatuto do saber na psicanálise se remete à “estrutura do inconsciente, cadeia
significante que lhe supõe um sujeito” (TORRES, 2013, p. 48). Isso faz com que a verdade na
psicanálise também se faça como questão tanto no âmbito epistemológico quanto na experiência
clínica, onde ela é sempre parcial, impossível de ser inteiramente dita (SANADA, 2010). Neste
sentido, Lacan nos aponta a não correspondência entre o discurso analítico e um ensino
(FERNANDES, 2017), o que coloca questões acerca da transmissão da psicanálise nas universidades,
que por sua vez operam sob uma lógica de ensino, formação e produção de conhecimento dentro
dos critérios da ciência. No entanto, a universidade, sobretudo a universidade pública, constitui-se
enquanto como uma aposta política de democratização do conhecimento, conferindo caráter ético à
produção acadêmica, sendo também um espaço onde a psicanálise é amplamente inserida enquanto
saber teórico. Neste ponto, buscamos discutir a proposição lacaniana de que “a psicanálise não se
transmite como qualquer outro saber, que o psicanalista ocupa uma função discursiva mas que não é
a da transmissão de um saber” (LACAN, 1969-70/1992, p.188), dada a possibilidade de apostar na
presença da psicanálise na universidade, ao mesmo tempo em que se sustente que a formação de
um analista não se reduz ao acúmulo de conhecimento mas diz uma implicação clínica. Para discutir
essas questões, este trabalho se propõe a discutir as questões colocadas acerca da transmissão da

130
psicanálise na universidade à luz da teoria dos quatro discursos discutida por Lacan (1969-70/1992)
enquanto modalidades de laço social, localizando diferentes lugares ocupados pelo saber. Enquanto
o discurso científico se a ciência se alinha ao discurso do mestre, cabe ressaltar que o discurso do
analista expõe a impossibilidade que a ciência busca suturar com tentativas incessantes de dar conta
do real (SGARIONI & D’AGORD, 2013), de forma que o discurso do analista virá justamente a
sustentar a falta de sentido instaurada pelo mal-entendido da linguagem, dando lugar à
impossibilidade traçada pelo real. BIRMAN, J. A problemática da verdade na psicanálise e na
genealogia In: Tempo Psicanalítico, Rio de Janeiro, v.42.1, 2010, p.183-202
FERNANDES, A. O ensino e a transmissão da psicanálise. In: Stylus Revista de Psicanálise Rio de
Janeiro no. 34 p.93-102. 2017. LACAN, J. O seminário livro 17: o avesso da psicanálise. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar. (1969-70/1992). SANADA, E. A "verdade" da ciência a partir de uma leitura psicanalítica.
In: Psicologia USP, 2004, 15(1/2), 183-194. SGARIONI, M., D’AGORD, M. Ciência, Verdade e Saber na
Sociedade Moderna: Uma Perspectiva Lacaniana. In: Clínica & Cultura v.II, n.I, jan-jun 2013, p.3-15.
TORRES, R. Do ato psicanalítico ao discurso do analista: estrutura do campo lacaniano. Tese
(Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) –
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 2013 p.2-68

Autor(a): Marina Pereira Vieira Espinoza – UNIVERSO – Universidade Salgado de Oliveira


Coautor(a): Lilia Carreiro Santos
Contato: marinapvieira@gmail.com, liliacarreiro@hotmail.com
Título: Conversas de sala de aula: uma aposta em novos destinos para o sofrimento no corpo
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Para a psicanálise, desde seus primórdios, o corpo foi entendido como espaço privilegiado
da manifestação do mal-estar. Assim as histéricas ensinaram a Freud que seus sintomas não
correspondiam a uma localização anatomopatológica, mas que apontavam para um corpo libidinal,
subvertido pela linguagem. Ensinaram, também, que seus sofrimentos tinham relação com suas
histórias e contextos. Estas premissas, longe de estarem caducas, merecem ser ressaltadas hoje,
tempo em que os padrões ganham cada vez mais espaço e o que é particular, apresenta-se como
ameaçador ou é facilmente patologizado. Para tudo, fórmulas, um remédio que dê conta do que é
humano, da cota de infelicidade que Freud já havia destacado em seu célebre texto sobre o mal-
estar e a cultura (FREUD, 1930). Atualmente, verificamos pautas sintomáticas que cada vez mais
apontam para o corpo de modo diferente ao que Freud nos apresentou. Muitas vezes, não se trata
de uma mensagem a ser decifrada, com um endereçamento ao analista. São sintomas mudos, que
não se remetem ao Outro, mas que apontam para sua dimensão de satisfação pulsional: anorexia,
bulimia, transtornos ansiosos, cortes no corpo. Este último, muito frequentemente encontrado entre
os adolescentes, ganha hoje um caráter endêmico nesta população, com o aumento importante de
relatos, das demandas aos serviços de saúde e motivo de preocupação para a escola e familiares. No
que se refere aos jovens, a psicanálise e outros saberes nos lembram que a adolescência não é um
processo corporal unicamente, a puberdade, mas que o adolescer se refere essencialmente às
questões culturais: momento de definições sexuais, profissionais, familiares. Questões que
apresentam o potencial de desencadear situações desestabilizadoras da economia psíquica. O que
podemos destacar como ponto principal é que os cortes são uma forma de manifestação do mal-
estar sem que, em todos os casos, haja a intenção de acabar com a própria vida. Alguns, inclusive,
destacam que os cortes os ligam à vida, uma maneira de se ver vivo novamente. Essa característica
dos cortes ou autolesões nos provoca a buscar entender qual a relação deste sintoma com o tempo
em que vivemos e, de que maneira, podemos intervir para dar outro destino, menos prejudicial, para
o sofrimento ali representado. As autoras, trabalhadoras do campo da saúde mental e orientadas
pela psicanálise, passaram a se questionar sobre o aumento das demandas de tratamento individual

131
para jovens que se cortam, via familiares e escola. E passaram a se perguntar se todos esses jovens
precisariam, necessariamente, de atendimento individual para poder dar outros destinos para o seu
mal-estar, evitando, principalmente, a medicalização e um início precoce na carreira de “doentes
mentais”. Assim, a direção de trabalho adotada foi voltar-se para o território, sendo a primeira
aposta uma roda de conversa entre a saúde mental e os docentes. No que diz respeito às tentativas
de construção deste trabalho articulado com as escolas, surpreendeu-nos que, apesar dos pedidos
de ajuda à saúde, os representantes das escolas não ocuparam os locais de discussão destinados a
tratar desta problemática. Como uma segunda estratégia, as autoras propuseram uma intervenção
em uma escola, com dois grupos de jovens e também com os professores, separadamente. O que se
desvela desta ação é que há uma fragilidade nos laços que desconecta o sujeito do campo do Outro,
que dificulta que algum saber se produza sobre o sofrimento e que torna insuportável, para alguns,
poder acolher sem necessariamente responder. A proposta de colocar em discurso o sofrimento, de
fazer circular a palavra, reconhecer e legitimar o que jovens e professores trazem como questões,
permite que um saber inédito se construa e inaugure possibilidades para aquilo que se apresentava
insuportável e sem saída para alguns, levando apenas à evitação e mais sofrimento.

Autor(a): Marlene Maria Machado da Silva – UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Contato: marlenemachadosilva2015@gmail.com
Título: "Eu não sei!" É preciso falar do não saber na alfabetização.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Após mais de um século de produções científicas, tentando explicar as possíveis relações
entre o sujeito e sua dificuldade para aprender, ainda persiste um grupo significativo de alunos com
dificuldade na alfabetização. Assim, o objetivo deste trabalho, fruto do doutorado, é apresentar o
que o aluno, como sujeito, tem a dizer sobre sua alfabetização. Analisando as tentativas de respostas
sobre o porquê da não aprendizagem, constata-se vários entrelaçamentos de ideias e intervenções,
de diferentes perspectivas, optando-se pelo entrelaçamento de estudos da Educação e da
Psicanálise, na construção de respostas sobre o porquê de muitos não aprenderem. Escutando
alunos em situação de fracasso na alfabetização e analisando o que tinham a dizer sobre seus
impasses, constatou-se o entrelaçamento do processo de alfabetização e a subjetividade por meio do
nome próprio. Nesse caso, ocorreria a primazia do subjetivo sobre o pedagógico e o aluno, mesmo
tendo a capacidade intelectual preservada, estaria impedido de ter acesso ao conhecimento ou
inibido de apresentar o que já foi capaz de aprender. O nome próprio, como primeiro texto escrito
carrega as marcas de uma língua e de uma cultura e, em suas entrelinhas, a dimensão subjetiva que
compõe a existência do sujeito. Mas qual seria a origem deste entrelaçamento? Escutando crianças
no início da alfabetização, verificamos que elas queriam aprender e não apresentavam qualquer
dificuldade que sugerisse haver algo da ordem de um sintoma (Silva, 2008). Entretanto, “eu não sei”
marcava constantemente suas respostas. Ao serem questionados, não sabiam dizer o que não
sabiam. No decorrer dos encontros, as questões relacionadas aos enigmas do sexual foram surgindo,
enquanto respondiam as atividades de leitura e escrita, corroborando com a afirmação de Freud
sobre “a pulsão de saber é atraída, de maneira insuspeitadamente precoce e inesperadamente
intensa, pelos problemas sexuais, e talvez seja até despertada por eles” (1905, p. 183). Aos 6 anos,
concomitantemente ao momento de descoberta de uma teoria que responda aos enigmas sexuais,
os alunos necessitam compreender a função da escrita. A cada atividade de escrita que tinham que
resolver, o enunciado “não sei” ganhava contornos de curiosidade, pois queriam saber. É neste
momento que, caso não consigam elaborar respostas suficientes, o sintoma poderá se ancorar na
escrita do nome próprio, enquanto o sujeito busca uma resposta para a própria existência. Assim, ao
escutar estas crianças constatou-se que não há impasses com relação ao nome, mas questões que
envolvem a própria constituição do sujeito. Constatou-se que, a resolução de uma atividade escrita,

132
suscita o entrelaçamento de elementos subjetivos e pedagógicos na busca de respostas para suas
dúvidas. Neste processo, alguns alunos precisam que lhes seja possibilitado dizerem suas questões,
bem como talvez necessitem de um adulto que possa esclarecê-las, para que esse entrelaçamento
circule sem a produção de um sintoma. Diferentemente dos entrelaçamentos apresentados acima, o
do pedagógico com subjetivo ocorre como um processo contínuo e natural, sem a primazia de um
sobre o outro, e sem impedir o aluno de avançar em suas elaborações cognitivas e subjetivas, num
movimento como nos sugere a banda Möebius. Apesar de serem dois processos distintos:
alfabetização e sexualidade, em seus dizeres os alunos demonstraram que não há como pensar em
um sem envolver a dimensão do outro. Assim, concluiu-se que não havia um impasse ou problema
para ser diagnosticado sobre a dificuldade de alfabetização destes alunos, mas um processo a ser
(re)conhecido a partir do que eles tinham a dizer. Os alunos ensinaram que não há nada que os
impeça de aprender, mas que, aos seis anos, necessitam de outros saberes, para além da escrita.

Autor(a): Martha Célia Vilaça Goyatá – Secretaria de Estado da Educação


Coautor(a): Rita de Cássia Costa Teixeira, Fábio Henrique Silva
Contato: mcgoyata@yahoo.com.br, Ckassiah@yahoo.com.br, fabiohsilva.86@gmail.com
Título: Outro olhar sobre o sujeito com diagnóstico na escola inclusiva: contribuições da psicanálise
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Este trabalho constitui-se em reflexões sobre a repercussão dos diagnósticos de crianças
com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) no contexto da Educação Infantil, propondo a
seguinte questão: como fazer valer os direitos de aprendizagem desses sujeitos que, submetidos à
ordem médica, dependem de dispositivos externos à instituição escolar para seu engajamento no
processo de educação inclusiva? A partir de observações feitas em uma escola da rede pública
municipal de Belo Horizonte constatou-se um número crescente de crianças com diagnostico de
autismo e uso de medicação. Além das prescrições médicas, o diagnóstico propõe nomeações, que
causam impacto aos docentes e familiares dos alunos, pois eles passam a ser reconhecidos, muito
mais pelo que é dito sobre eles, do que pela forma como eles se apresentam em sua singularidade, e
na aprendizagem envolvida. Segundo Marco Antônio Melo Franco (2014), muitos professores
justificam o não aprender das crianças porque não possuem o laudo ou diagnóstico, e por outro lado
ele se torna um documento precioso para justificar o não fazer pedagógico e as dificuldades dos
profissionais para lidar com as crianças com alguma deficiência. No que se refere à medicação Maria
Aparecida Affonso Moysés (2008) explica que, historicamente, seu uso vem deixando de atender
exclusivamente à cura das doenças e vai sendo reduzido à naturalização, na medida em o objeto de
estudo da medicina passa a se dedicar à normatização da vida. Em se tratando da política
educacional na perspectiva da inclusão, que vêm sendo construída no Brasil nas últimas décadas,
com a intenção de garantir o direito à escolarização dos alunos com NEE (UNESCO,1994), se
considerada apenas como um ideal pedagógico, o fenômeno educativo com as crianças
diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) pode perfazer o disposto nas
legislações, mas sem que nada de educativo aconteça para esses sujeitos.
Nabuco (2010), ao discutir as práticas institucionais que visam a inclusão escolar, salienta que se
produz uma psicopatologia da inclusão, pois a lógica da nomeação dos sujeitos em função de um
ideal de normalidade ocorre muitas vezes em detrimento dos aspectos sintomáticos que dizem
respeito à singularidade da criança, modificando a forma como ela passa a ser vista pelo docente e
pelos pais.
Considera-se que as contribuições da psicanálise podem favorecer outro olhar da família e da
comunidade escolar sobre a organização psíquica desses sujeitos e sua implicação nas
particularidades de suas aprendizagens. Palavras chave: Diagnóstico. Medicação. Inclusão escolar.
Psicanálise. Referências. FRANCO, M. A. M. Das Práticas Discursivas às Práticas Docentes: Significados

133
Produzidos e Produzindo Fazeres Pedagógicos em Situações de Inclusão.IN: RAHME, M.M.F.;
FRANCO, M. A. M.; DULCI, L. M. C. (Orgs). Formação e Políticas Públicas na Educação: tecnologias,
Aprendizagem, Diversidade e Inclusão. Jundiaí/SP, Paco editorial:2014, P.257-279. MOYSÉS, M. A.
A.A; COLLARES, C. A. L. A medicalização na Infância na educação infantil e no ensino fundamental e
as políticas de formação docente. A medicalização do não-aprender-na-escola e a invenção da
infância anormal.31 Reunião Anual da Anped– Sessões especiais – outubro/2008. NABUCO, Maria
Eugênia. Práticas Institucionais e Inclusão Escolar. In: Cadernos de Pesquisa. v.40, n.139, p.63-74,
jan./abr., 2010
UNESCO. Declaração de Salamanca, 1994.

Autor(a): Melina Soledad Molina – UNR


Contato: melina.s.molina@gmail.com
Título: La joven niña entre la incomodidad y el gesto. La revolución, rebelión y subversión en
Psicoanálisis
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: El presente trabajo “La joven niña entre la incomodidad y el gesto. La revolución, rebelión y
subversión en Psicoanálisis”. Es el momento de concluir de una experiencia que comienza a partir de
un momento inaugural en donde convergen por primera vez la articulación del Ministerio de
Educación de la Provincia de Santa Fe con la Facultad de Psicología U.N.R. en un Proyecto:
“Vocación, juventudes y proyecto futuro”. El mismo estuvo enmarcado en la Secretaría de Extensión
Universitaria de la Facultad de Psicología U.N.R y articulado desde la Dirección de Graduados de la
misma Facultad a través del Programa C.A.J (Centro de Actividades Juveniles) dependientes del
Ministerio de Educación de la Provincia de Santa Fe. El proyecto, constaba de talleres coordinados
por Profesionales Psicólogos graduados de la Facultad de Psicología U.N.R y supervisado por un
equipo de Docentes y graduados de la casa. Con el objetivo de propiciar la apertura de un espacio
donde los jóvenes puedan construir herramientas que posibiliten la elaboración de su proyecto de
vida futuro. El discurso del psicoanálisis nos permite situar y reformular categorías teóricas sobre
“vocación”, “incomodidad”, “novela familiar”, “juventud”, “revolución”, “rebelión”, “proyecto
futuro” entre otras. Es desde esos espacios teóricos y desde sus intersticios que intentaré a partir de
una escena, fundante de una experiencia, problematizar y dialectizar algo de este escrito. Donde
acompañar entonces al joven en el proceso de construcción vocacional, no se circunscribe al mero
hecho de brindar información, ya que ellos cuentan con fácil acceso. Pensar y construir dispositivos
de construcción vocacional en la actualidad donde prima tal como plantea Luis Hornstein (2018) lo
efímero, la obsolescencia acelerada. Un modo bursátil de vivir. Es invitar a los sujetos a un espacio en
el cual prime la sensibilidad de la escucha, la singularidad de cada sujeto que llega. Un dispositivo con
objetivos limitados que los convoque a construir un proyecto de vida, deconstruyendo mandatos y
categorías preestablecidas. En el proceso de realizar una elección el sujeto se encuentra ante el
desafío de que las decisiones nunca son certeras, es por ello que el trabajo en construcción
vocacional implicaría acompañar en el proceso mediante el cual el sujeto logra desandar todo
aquello que obstaculiza su elección. “... No se trata de pensar la decisión desde la espontaneidad,
sino que luego de un proceso de elaboración psíquica que incluye el análisis y procesamiento de la
información, el momento de la decisión sobreviene no por consecuencia lógica, calculada, sino como
un acto que irrumpe y sorprende.” (Rascovan, S 2015 p. 21)
El tiempo es una coordenada a considerar en los jóvenes, invitarlos a pensar la construcción de un
proyecto de vida, que requiere un tiempo de espera, reflexión, es invitarlos a pensar y re-pensar las
coordenadas del tiempo, de su espacio- tiempo propio. Entonces ¿Cómo propiciar en el encuentro
con adolescentes, que puedan reconocerse como sujetos deseantes y autores de sus propias
elecciones hacia el futuro? ¿Cómo rebelarse de una buena manera frente a los mandatos del Otro?

134
¿Qué intervenciones posibles en la construcción de proyectos futuros? Estos serán algunos de los
interrogantes que desplegaré para abrir al diálogo entre las categorías teóricas y la praxis.

Autor(a): Milânia Dos Santos Gomez – UVA – Universidade Veiga de Almeida


Contato: milania.gomez@gmail.com
Título: Burnout: precisamos falar sobre o estresse ocupacional do professor!
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: No contexto educacional vê-se um ambiente que desampara, não sustenta e priva
instituições e profissionais de ajuda material e/ou moral, causando sofrimento social, identitário, de
ordem narcísica, que não constrói sentido. Todavia, não há como negar as responsabilidades
assumidas por um Educador na construção de um futuro melhor - para si e seus educandos -
contudo, tais anseios são barrados pela falta de comprometimento do governo e, por vezes, da
sociedade. Ante a incapacidade de atender a tantas demandas, instaura-se a angústia de desamparo
que se manifesta quando se sentem ameaçados pela voracidade do desejo obscuro e desconhecido
do Outro. Nesse entendimento, nosso trabalho tem como proposta discutir, à luz da Psicanálise, o
estresse ocupacional, também conhecido como síndrome de burnout, visando sensibilizar os
envolvidos, bem como, discutir a relevância do amparo através de políticas públicas que possibilitem
qualidade de vida e bem-estar aos professores da rede pública do Estado do Rio de Janeiro. Para um
melhor entendimento desse sofrimento, problematizaremos as mudanças de paradigmas da última
década que levaram a atual conjuntura de inferiorização nítida do professor e a percepção que estes
profissionais - situados em diferentes contextos - têm de si e das questões que circundam esse
cotidiano, na tentativa de compreender o processo de subjetivação desses profissionais e se esse
pode estar interferindo na qualidade de vida desses trabalhadores e, por tanto, corroborando com o
crescente número de licenças médicas e pedidos de exoneração por parte dos professores. Dada a
complexidade do que é Ser Professor nesse contexto, como manter-se saudável perante tantas
adversidades? De acordo com Dejours (2017), “a relação subjetiva com o trabalho desempenha um
papel primordial nos processos envolvidos tanto na construção da saúde quanto nas
descompensações psiquiátricas e psicossomáticas”, por esta razão precisamos falar sobre a
subjetividade do professor, para então, buscar melhorias para esse contexto.

Autor(a): Monica Garrafiel de Carvalho – UFRGS – Univ. Fed. Rio Grande do Sul
Coautor(a): Andrea Gabriela Ferrari
Contato: mgarrafiel@gmail.com, ferrari.ag@hotmail.com
Título: O problema é quando falta gás! Reflexões sobre a interludicidade na escola infantil
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Uma das pesquisas do grupo chamado Núcleo de Estudos em Psicanálise e Infâncias
(NEPIs) tem como campo a escola infantil, em especial as turmas de berçário 1 e 2. Os olhares dos
pesquisadores focam na relação entre educador e bebê e seus ecos na constituição psíquica dos
bebês. No presente trabalho vamos focar a interludicidade - um dos indicadores de
intersubjetividade proposto por Vitor Guerra (2014). Os indicadores de intersubjetividade marcam
um conjunto de interações entre o bebê e o adulto, os quais são constitutivas do mundo simbólico da
criança. A interludicidade destaca a importância da maleabilidade lúdica materna, que toma o estar
junto e os jogos conjuntos com o bebê como capazes de tornar os desejos expostos, de integrar
experiências entre mente e corpo e elaborar vivências angustiantes do bebê. A complexidade
observada na rotina da escola infantil, por vezes paralisou qualquer reflexão sobre a possibilidade de
construções conjuntas entre educador e bebê, mas pensando na importância do adulto na
constituição psíquica da criança e o longo período que os bebês ficam diariamente nesta instituição,

135
se faz necessário este trabalho de articulação entre Educação infantil e Psicanálise. No
acompanhamento semanal à escola, tínhamos a proposta de conversar com as educadoras sobre seu
cotidiano para entender as suas dificuldades e saber suas percepções sobres os bebês, as famílias e a
instituição. A escuta das educadoras foi delineando questões sobre como elas faziam a leitura das
expressões dos bebês e como respondiam aos pedidos deles. Percebemos a não reflexão sobre a
forma de expressão singular dos bebês e o incômodo de não saber decifrar este formato
diferenciado de demonstração de desejos e angústias, que inclui códigos de comunicação não verbal,
ritmo, tom de voz, imitação e as brincadeiras. Estes desencontros nos apontaram alertas de risco
nesta relação, pois é fundamental para a constituição psíquica do bebê que ele possa sentir-se
acompanhado e com suporte para agregar suas experiências.
Neste processo de escuta, a fala de uma educadora chama nossa atenção quando refere sobre um
acontecimento problemático na instituição: “O problema é quando falta gás!”. Nesta frase ela se
referia ao momento que falta gás de cozinha na escola e o almoço atrasa, devido este atraso as
tarefas saem do cronograma esperado e se abre um vazio, e a questão que se instala é o que fazer
com as crianças neste intervalo. Entre tarefas de cuidado com corpo dos bebês e atividades
institucionais, percebemos que para as educadoras o brincar em conjunto com as crianças tomava
um pequeno espaço e alguns dias não ocorreria. A demanda de cumprir atividades pré-estabelecidas
as ocupava demasiadamente e os espaços vazios pouco apareciam. Será que não apareciam pela
quantidade de funções ou por que era difícil aproximar-se do bebê para interagir na linguagem dos
bebês?
Os bebês acompanhados buscavam a interação, pegavam a mão do adulto para mostrar brinquedos,
sentavam no colo para ler histórias e penduravam-se no corpo instalando uma brincadeira. No
entanto, a educadora comunica a dificuldade de usar o espaço vazio, de criar algo que julgue
adequado para promover naquele tempo de interação com os bebês. Qual o gás necessário para o
adulto criar trocas lúdicas na escola infantil?

Autor(a): Munyke Paulo Rodrigues Romano - CasAteliê


Contato: munyke@gmail.com
Título: A aquisição da leitura e escrita em uma criança ouvinte através de Libras
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A proposta deste trabalho delimita como questão principal o uso da Língua Brasileira de
Sinais (Libras) no processo de alfabetização de uma criança ouvinte, com o objetivo de entender o
processo de aquisição das habilidades de leitura e escrita, através de Libras. A ideia da criança, neste
trabalho, articula-se à ideia de sujeito e sua constituição, percorrendo a teoria de inconsciente e
linguagem, na abordagem psicanalítica. A psicanálise foi escolhida como referencial teórico por ser
um campo do saber que sempre se manteve articulado com outros campos como a pedagogia, a
sociologia, a linguística, entre outros. No entanto, pouco se produz no campo da surdez. O caso
apresentado, sob a ótica da psicanálise, permite uma expansão em múltiplas direções para além dos
campos da pedagogia e surdez. Permite pensar em um processo de alfabetização para crianças que,
por algum motivo, se situem fora da oralidade. A psicanálise e a educação são campos que, juntos,
permitem um olhar diferenciado da criança, porque a eleva à categoria de sujeito. Sabemos que
muitos dos problemas/dificuldades de aprendizado estão relacionados às questões subjetivas,
grande parte associada à desorganização psíquica, que, com a devida intervenção, permite que a
criança retome o equilíbrio e prossiga de maneira mais saudável. No campo da educação, este
trabalho permite pensar a relação demanda/desejo e a relação com o Outro, e entrada do sujeito em
uma nova linguagem, de várias maneiras ligadas ao corpo, linguagem associada à "voz que ressoa no
corpo”. Neste ponto, foi-se construindo uma ideia de linguagem interrogando os conceitos de Lacan
sobre Lalíngua. A escolha deste método foi uma tentativa de se fazer uma analogia com a aquisição

136
da matemática, por observar que uma criança bem pequena apreende a ideia de número com as
mãos e, somente mais tarde, os aprende graficamente. Da mesma maneira, a criança realiza
operações matemáticas usando as mãos inicialmente, recurso usado por um longo tempo. Desta
forma, pensou-se em uma forma de alfabetização que começasse inicialmente pelo corpo,
aprendendo as letras, em seguida o processo de formação de sílabas e, finalmente, a construção de
palavras. Só então passaria à apresentação gráfica. Apesar de ter sido realizado com apenas uma
criança, percebeu-se que houve um progresso rápido na capacidade de assimilar o conceito de
método silábico. Como o alfabeto em Libras é bastante simples de ser aprendido por uma criança,
não houve nenhuma dificuldade na reprodução das letras com as mãos. É durante a primeiríssima
infância o momento onde o sujeito se constitui, a partir de uma demanda, sendo essa uma
necessidade que passa pelo significante dirigido ao Outro. Já o desejo, como furo, buraco, vazio é o
que permite a entrada do sujeito na linguagem. Muitas vezes, todo esse processo acontece
concomitantemente à aquisição da escrita, uma linguagem nova, dentre as várias linguagens da
infância.

Autor(a): Munyke Paulo Rodrigues Romano - CasAteliê


Coautor(a): Claudia Itaborahy Ferraz, Mariana Fontoura Terra Bento
Contato: munyke@gmail.com, claudiaitaborahyferraz@gmail.com,
marifontourabento@gmail.com
Título: A linha curva do horizonte: limite do céu aberto
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Neste trabalho apresentamos o estudo de caso de uma criança de cinco anos, autista, que
foi inserida em um grupo de outras crianças de quatro a nove anos. A partir da chegada desta
criança, foi possível pensar um modelo institucional de embasamento psicanalítico, com vias e
recursos para acolher crianças diversas e diferentes, mesmo mantendo-se como um espaço de
cursos livres e não sendo nomeada, apenas, como um espaço formal terapêutico. A partir do
encontro com a formulação de Jacques-Alain Miller, nomeada "pratique à plusieurs", no Brasil
chamada de “prática entre vários” – psicanálise à serviço da terapêutica na instituição, estruturada a
partir de três movimentos principais: o tratamento do Outro, a pluralização dos parceiros e o
remanejamento do saber – fez-se possível o pensamento sobre as formas de intervenção. Por
tratamento do Outro, entende-se o tratamento que visa ao Outro, na tentativa do sujeito psicótico
de esvaziamento deste Outro, trabalho árduo e constante, no qual o sujeito se empenha em realizar,
como condição para que o psicótico possa aceitar “os técnicos” como parceiros. A presença dos
vários permite que o olhar e a voz, signos da presença do Outro, não se tornem tão invasivos como
quando numa situação de atendimento individualizado. Por remanejamento de saber, entendemos
que cada membro da equipe não falará como especialista, mas na posição do que se construiu a
partir do encontro com o sujeito. É isto que representa tal invenção – a questão do saber, ou melhor,
de seu furo, que ocupa lugar central nesta dinâmica. Logo na chegada, a criança se mostrou
interessada nos ambientes, com especial interesse nos lugares com tapetes no chão. No autismo,
várias são as manifestações que visam barrar a invasão insuportável que vem do campo do Outro.
Nesta criança, isso se dava através de movimentos repetitivos pendulares com o corpo, limitada
linguagem oral, ausência ou pouco contato visual e tentativa de manter os objetos em posição
horizontalizada. Importante notar o interesse da criança por objetos frios, como rochas e minerais,
caixas metálicas, que eram imediatamente levados à boca. Houve, ainda, grande interesse
direcionado ao globo terrestre, que era, pela criança, rodado seguidas vezes até o abandono
complete, com a retomada desta atividade no dia seguinte. Com a entrada das crianças no grupo, o
desenvolvimento das atividades começou a ser repensado, apesar de termos tido o entendimento de
que a criança comporia as atividades, independente da sua forma de envolvimento. As atividades

137
que variavam entre brincadeiras, artesanato, culinária e contação de histórias, não se apoiavam em
intervenções pedagógicas. Observou-se alguns períodos em que a criança se manteve, à sua maneira
pouco interativa e afastada, integrada às atividades, próxima às outras crianças. Em vários
momentos, as trocas de olhares eram possíveis, inclusive com algumas palavras de despedida. A
ideia da prática dos vários pareceu, a nós, algo possível também em instituições não formalizadas
como terapêuticas, sendo uma forma de receber crianças autistas/psicóticas nas várias formas de
atividades e cursos livres. Voltando ao título de trabalho e pensando no inconsciente à céu aberto
nas psicoses, pensamos uma comparação com a linha retilínea que pode ser observada no horizonte,
onde sabemos (mas não vemos) que a Terra é uma esfera. O raio extremamente grande da
circunferência da Terra nos ilude e nos faz ver uma linha reta no horizonte. Da mesma maneira,
existe algo no todo que se for olhado apenas a uma pequena distância, dará uma ideia errônea
daquela realidade. É preciso expandir a noção de todo para que o pensamento se curve e a palavra
se flexibilize. Desta forma, à distância, abrindo mão de uma proximidade, o tratamento do Outro se
tornaria mais possível.

Autor(a): Nana Corrêa Navarro – USP – Universidade de São Paulo


Contato: navarro.nanac@gmail.com
Título: Reflexões sobre a inclusão escolar: contribuições da Psicanálise para o campo professor-aluno
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo:
Na trilha dos movimentos sociais de luta pela cidadania e pelo “direito à diferença”, as conquistas
das pessoas com deficiência e em sofrimento psíquico se expressam hoje, no Brasil, primordialmente
na legislação e nas políticas públicas. Este movimento também repercute diretamente na educação e
nas escolas. O Brasil implementou uma série de leis e diretrizes políticas visando a inclusão escolar,
dentre elas a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Brasil,
2008) e a lei 13.146/2015 que delimita o público alvo a quem se destinam tais proposições. O que fez
com que aumentassem significativamente as oportunidades, de crianças com entraves na
constituição psíquica e com deficiências, vivenciarem processos de escolarização. Tal movimento tem
impacto direto no cotidiano escolar, uma vez que, exige novas configurações das escolas e criou- se
uma demanda de formação tanto dos profissionais da educação como da clínica. Estar na escola
oferece novas possibilidades de encontros e sentidos, o que pode provocar um novo posicionamento
da criança que está se constituindo, auxiliando em uma retomada da estruturação psíquica
interrompida ou indefinida o que é extremamente importante se pensarmos em crianças com
entraves na sua constituição psíquica. Esta retomada coloca a escola - entendida como discurso
social - como espaço significativo, pois oferece leis que regem as relações entre os humanos, atribui
sentido às manifestações das crianças, consequentemente, propõe uma ordenação para que seus
alunos possam se apropriar a seu modo. Entre os encontros que a escola possibilita está o de cada
criança com seu professor. Trata- se de um trabalho com o intuito de destacar como o encontro
entre professores e alunos é fundamental no trabalho de inclusão escolar. Procura identificar o que
faz este laço particular entre professor e seu aluno viabilizando às crianças em situação de inclusão
um lugar possível na escola, no seu grupo, nas produções coletivas e nas brincadeiras. Considerando
que um dos grandes desafios do trabalho de inclusão escolar é fazer com que os alunos façam parte
de um coletivo e de suas produções, parece necessário destacar o laço transferencial entre professor
aluno e qual o manejo necessário para possibilitar as condições de pertencimento a um grupo. O
investimento no laço como possibilidade do aluno em situação de inclusão se reposicionar e
facilitador do processo de escolarização de crianças antes à margem das escolas. O objetivo do
trabalho é identificar quais mecanismos psíquicos estão em jogo no campo que se estabelece entre
professor e aluno. O que faz laço? Por qual meio se dá o enlaçamento da criança em situação de

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inclusão nas produções coletivas e pertencimento ao grupo de alunos. As reflexões são feitas a partir
das contribuições da Psicanálise em uma discussão que coloca na cena educativa a noção de sujeito e
sua posição discursiva.

Autor(a): Nana Corrêa Navarro – USP - Universidade de São Paulo


Coautor(a): Júlia Giovedi Arnoldi
Contato: navarro.nanac@gmail.com, juliagiovedi@gmail.com
Título: Formação de professores e psicanálise: desafios da inclusão escolar
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A experiência institucional de uma escola pode ser embasada pela Psicanálise levando a
criação de processos formativos para sua equipe. O Colégio Oswald de Andrade foi fundado por
profissionais que queriam uma escola como alternativa aos modelos vigentes de ensino da década de
70. Uma escola como espaço investigativo, de construção do conhecimento e encontro com a cultura
para todos os seus alunos. A construção de uma escola para todos, onde a diversidade pode ser
considerada um ato pedagógico, nos coloca o desafio de organizar nosso saber em relação às nossas
práticas cotidianas. Desde sua fundação uma preocupação foi incluir crianças tradicionalmente
excluídas das escolas regulares. Tem como proposição política considerar que todos podem aprender
respeitando os ritmos e modos de se relacionar com o saber. É importante ressaltar o caráter
político, lembrando que é no campo da política que o direito universal à educação ganhou lugar, pois
historicamente a escola não foi fundada para atender as diferentes formas de estar na escola e de
aprender. O Colégio Oswald de Andrade procurou, ao longo de sua história, romper com as barreiras
de exclusão colocadas a priori por diagnósticos e deficiências. A partir da história da escola podemos
traçar alguns princípios que norteiam o trabalho desde a fundação até o momento atual, nomeando
as intervenções, novas funções e espaços permanentes de reflexão que foram necessárias nesta
trajetória. Esse trabalho tem como objetivo compartilhar o caminho percorrido pelo Colégio Oswald
de Andrade no trabalho com a diversidade, bem como a reflexão e o trabalho de formação de
professores que derivam dessas inquietações. Será destacada a construção de uma metodologia de
estudos de casos como uma ferramenta embasada pela psicanálise que permite circular saberes,
perguntas, impasses sobre o processo de escolarização dos alunos. A leitura de caso de aluno da
escola acontece coletivamente, todos da escola participam, em um modelo de intervenção grupal -
inspirado na psicanálise - e com função formativa. O dispositivo é instalado permitindo que os atores
envolvidos diretamente (professora, professora auxiliar, professores especialistas, assistente de
práticas inclusivas e coordenador pedagógico) falem sobre o trabalho. Outros profissionais da escola
em um primeiro momento escutam sem fazerem intervenções e depois podem falar contribuindo
para a leitura do caso. O trabalho de fala e escuta possibilita a articulação entre conhecimento e
saber e a compreensão sobre a criança. Um momento fundamental para todos do Colégio no
desenvolvimento de práticas inclusivas.

Autor(a): Natália Fernandes Gonçalves – Centro Universitário Belo Horizonte


Coautor(a): João Henrique de Sousa Santos
Contato: nataliafg96@yahoo.com.br, jhsousasantos@gmail.com
Título: Práticas cotidianas de uma clínica territorial com usuários do serviço de saúde mental
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A reforma psiquiátrica, frente aos modos de tratamento realizados nos hospitais
psiquiátricos e o histórico de objetificação dos pacientes, intenta promover um novo olhar sobre os
usuários dos serviços de saúde mental. A reinserção social promovida pela reforma, em
contraposição à exclusão e enclausuramento na lógica manicomial, tornou-se o orientador de todo

139
processo terapêutico no campo da loucura. Diante disso, o acompanhamento terapêutico (AT) com
psicóticos tem ganhado, no cenário da reforma psiquiátrica brasileira, uma inserção cada vez maior
nos diferentes dispositivos das políticas públicas de saúde mental. Tal prática surge como um fazer
que possibilita novas construções subjetivas que implique uma experiência de inclusão por parte do
usuário do serviço de saúde mental desconstruindo práticas de segregação historicamente
enraizadas nos diversos espaços sociais. Assim, esse trabalho tem como objetivo apresentar um
relato de experiência de estágio como AT no serviço substitutivo de saúde mental, a saber, a
Residência Terapêutica, com o intuito de apontar possibilidades de territorialização da loucura junto
ao usuário do serviço, bem como a prática de AT como um dispositivo clínico facilitador do trabalho
de inserção social. Verifica-se que tal campo traz consigo os desafios promovidos pela reinserção do
louco na lógica comunitária, convocando uma articulação com as demais políticas públicas e setores
privados. A prática desenvolvida no serviço junto ao sujeito morador da residência terapêutica é
orientada pelos pressupostos teóricos da reforma psiquiátrica e psicanálise, com vias a pensar as
políticas de cuidado em saúde mental. Sendo assim, os conceitos de reabilitação psicossocial, clínica
e atenção em saúde mental, em diálogo com a psicanálise, foram importantes para possibilitar um
olhar para a loucura como experiência não limitadora das potencialidades do sujeito. Nesse ponto,
destaca-se as contribuições que a psicanálise pode fornecer rumo a uma clínica que intervém junto
aos mal-estares da cultura, uma vez que, como assinala Viganò, não há como dissociar clínica e
reabilitação. A investigação para sistematização desse trabalho consistiu em revisão bibliográfica e
relato da experiência profissional em uma Residência Terapêutica localizada no município de Belo
Horizonte, que tinha como estratégia de ação promover a reintegração social, com atuação do AT,
estimulando a autonomia dos moradores. A atuação do AT está ancorada nos preceitos que
organizam política e clinicamente o campo da Saúde Mental, articulando as redes assistenciais de
diferentes dispositivos abertos. As práticas desenvolvidas nos serviços substitutivos em saúde mental
produzem um campo bastante específico de produção de subjetividade, pois entende-se que se trata
de um espaço com ênfase na dimensão territorial e de práticas de subjetivação que colocam a
possibilidade de emergência de uma clínica que suporta a rua e o caminhar do louco na cidade,
apesar de suas violentas relações de desigualdade e exclusão. Nessa direção, a experiência
desenvolvida na residência terapêutica aponta que atividades cotidianas (como ir à padaria, fazer
uma compra no sacolão, pagar pelos serviços e conferir se o troco está correto, andar de ônibus e
outras) autorizam a construção do inédito, possibilidades de deslocamentos que lançam alternativas
à institucionalização da loucura com as quais o psicótico à sua maneira, com auxílio do AT, tenta se
haver para estar na vida da melhor maneira que lhe for possível. Ademais, como uma aposta em
diálogo com a psicanálise, a experiencia como AT possibilitou perceber a necessidade de uma escuta
ao dito desse sujeito, bem como uma valorização do seu saber/fazer, acompanhando e acreditando
na capacidade humana de ressurgir e criar.

Autor(a): Pablo Martins Carneiro – Associação Pró Educação Vivendo e Aprendendo


Contato: pabluai@yahoo.com.br
Título: Projetos de trabalho no campo dos desejos: aprendizagem e processos subjetivos
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Este trabalho foi fruto da reflexão sobre a prática educativa, Projetos de Trabalho, como
possível ferramenta para o entrelaçamento entre os objetivos curriculares e os sujeitos desejantes da
educação escolar, a saber: crianças, educadores e demais atores da comunidade escolar. Para tal
reflexão, buscou articular conceitos psicanalíticos de transferência, desejo de saber e desejo de
ensinar com a constituição subjetiva do sujeito para melhor compreender a emergência do sujeito
epistêmico a partir do sujeito de desejo. Tal investigação possibilitou que compreendêssemos os
elementos subjetivos histórico-culturais presentes na relação ensino-aprendizagem, oferecendo a

140
educadores e educadoras a possibilidade de empreender uma escuta e uma posição aberta ao
afloramento dos significantes conscientes e inconscientes, que investem libidinalmente os Projetos
de Trabalho e os tornam a falta-a-ser do setting educativo. O texto não se propõe a eleger os
Projetos de Trabalho como panaceia para uma educação emancipadora, ou como instrumento que
garante a emergência e enredamento dos desejos, mas analisa o seu potencial como pivô das redes
desejantes que compõe a trama educativa. O desejo institucional, com seus objetivos educativos
histórico-culturais e curriculares, enlaçados pelos objetivos de um país e de uma comunidade; o
desejo de educar das famílias; o desejo de ensinar de educadoras e educadores e o desejo de saber
das crianças, nos Projetos de Trabalho, podem se entrelaçar, abrindo um campo para uma polissemia
de significados educativos, potencialmente propício a emergência do novo e de um processo de
ensino-aprendizagem significativo. Ao longo do texto, os conceitos Psicanalíticos, atrelados a
narrativas que ilustram o funcionamento da prática educativa Projetos de Trabalho, buscam elucidar
a posição desejante que cada integrante da escola ocupa, aventando possibilidades de postura,
escuta e intervenção, diante da emergência dos sujeitos desejantes e epistêmicos. Quando investidos
da paixão pela ignorância, pelo não sabido, cada qual em sua posição, coordenadores, famílias,
educadoras e educadores, funcionárias e crianças podem investir libidinalmente a experiência
polissêmica educativa, desejosos pelo surgimento da descoberta, do novo e da aprendizagem.

Autor(a): Patrícia Lavinas Santos – UNIFOR – Universidade Federal de Fortaleza


Coautor(a): Carolina Carrah Colares, Débora Passos de Oliveira, Sarah Cordeiro Oliveira, Thiago de
Cavalcante Alencar Soares, Maria Celina Peixoto Lima
Contato: plavinassantos@gmail.com, carrahcarolina@gmail.com, celina.lima@unifor.br,
deborapassosoliveira@gmail.com, sarah.cord.oliv@gmail.com, thiagoc.jpg@gmail.com
Título: Cem anos de psicanálise: o que há por detrás de tantos anos de pesquisa?
Eixo: Psicanálise, Epistemologia e Ciência
Resumo: Podemos afirmar que a relação da psicanálise com a universidade já é centenária. Afinal, já
estamos a cem anos da publicação do canônico texto freudiano: “Deve-se ensinar Psicanálise na
Universidade? Mas uma pergunta se apresenta: o que poderíamos dizer das produções
universitárias, como teses e dissertações, que levam o nome da psicanálise? Poderíamos afirmar que
o desejo freudiano de junção entre pesquisa e clínica finalmente se apresenta nas universidades? Ou
seja, que as pesquisas que utilizam a psicanálise o fazem a partir de um método que levaria as
produções do inconsciente em seu bojo. Esses questionamentos nos direcionam para uma
investigação necessária. Pensando nessa interseção, nos propomos a investigar a produção
acadêmica de um laboratório de pesquisa sobre psicanálise integrado ao primeiro Programa de Pós-
Graduação (PPG) em Psicologia do Ceará. Pensemos, então, em duas datas comemorativas, cem anos
da publicação do texto de Freud, citado acima, e vinte anos de produções no referido PPG. Portanto,
o que vinte anos de produções acadêmicas testemunham sobre a inclusão da psicanálise na
universidade? Vejamos. É importante notar que mesmo com as problemáticas e questionamentos
sobre a possibilidade da pesquisa em psicanálise no ambiente acadêmico, a presença da psicanálise
nos campos de pesquisa é forte não só na universidade em questão. No Brasil, a difusão da teoria
freudiana aconteceu majoritariamente através da universidade. Além disso, a primeira publicação
sobre psicanálise em língua portuguesa foi escrita pelo cearense Genserico de Souza Pinto, o
trabalho em questão é Da Psicoanalise: a sexualidade nas neuroses”, tese de doutorado em medicina
defendido na Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro. Portanto, a primeira publicação
sobre psicanálise no Brasil foi uma produção acadêmica. A psicanálise manifesta, portanto, uma
crescente presença nos diversos campos de pesquisa acadêmica de maneira abrangente, e não
apenas em grupos de pesquisas da psicologia que, em suas propostas, mantêm relação com a teoria
freudiana. Pesquisadores dos mais diversos campos se utilizam da psicanálise para suas
investigações. No entanto, tal aumento não é acompanhado pelo reconhecimento das agências
141
reguladoras. A psicanálise não se constitui enquanto uma área de pesquisa reconhecida e nem como
subárea da psicologia ou da medicina. Desse modo, é interessante pensarmos que a nossa pesquisa
se direciona, sobretudo, para o entendimento do que poderíamos nomear como o “não lugar da
psicanálise”. Se a psicanálise não se configura nem como área de pesquisa e nem como subárea,
como poderíamos entender a quantidade de pesquisas feitas em seu nome? Talvez possamos, a
partir do que Lacan denomina como recenseamento das produções psicanalíticas, nos indagar se o
“não lugar” é condição de pesquisa para a psicanálise ou se o mesmo é fruto de uma não inserção
dos psicanalistas na lógica de produção que também domina a universidade. Eis um dos pontos a ser
investigado. Um grande vetor de direcionamento do nosso trabalho é a provocação freudiana, feita
no clássico “Psicologia das massas e análise do eu” sobre o lugar da psicanálise nas pesquisas em
geral. Afinal, a psicanálise não poderia perder o seu a priori conceitual, diluindo-se, de uma
determinada forma, nas produções conceituais de campos do saber que lhe são vizinhos. Não é a
partir de uma “nova roupagem”, podendo mesmo significar “mais psicológica” que a psicanálise
encontraria o seu lugar. Pois afinal, como bem nos diria Freud, primeiro, cede-se às palavras, para em
seguida ceder-se às coisas.

Autor(a): Paula Fonseca Regufe – UFF – Universidade Federal Fluminense


Coautor(a): Leila Martins Farias, Luciana Gageiro Coutinho
Contato: paulafregufe@gmail.com, leilacoahin@yahoo.com.br, lugageiro@uol.com.br
Título: Educação para a vida: adolescência, suicídio e vulnerabilidades sociais
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de pesquisa “Educação para a vida:
adolescência, suicídio e vulnerabilidades sociais” em andamento na Universidade Federal
Fluminense. Observou-se nos últimos anos um crescente número de suicídio entre jovens; segundo
os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio representa 1,4% de todas as mortes no
mundo, sendo a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Ele vem
aumentando gradativamente no Brasil e no período entre 2000 e 2016 teve uma alta de 73%, sendo
registrados maior crescimento em jovens e idosos. A partir destes dados, buscamos estudar, na
interface entre Psicanálise e Educação, o crescente do número de suicídios entre os jovens e sua
articulação com o empobrecimento das experiências educativas, levando em consideração os
impasses no laço social e seus impactos na adolescência. Considerando a adolescência como o
momento em que o sujeito busca inserir-se em novos discursos sociais para além do discurso
familiar, o adolescente precisa se deparar com a falta no Outro e a construção de um discurso
próprio. Dessa forma muitas vezes encontra dificuldades em narrar seus sofrimentos, que são
frequentemente expressos através do agir, seja como apelo ao Outro, seja como passagem ao ato, o
que incide nos laços sociais presentes na escola (Lesourd, 2004). Como trabalham Jucá e Vorcaro
(2018), a frequente presença do agir na clínica com adolescentes hoje, expressa as dificuldades em
narrar o sofrimento, configurando-se como um apelo diante dos impasses vivenciados na busca de
novos modos de se inscrever no campo social. Assim, aquilo que do infantil não pôde ser elaborado
retorna com uma nova potência: a do corpo que cresceu e se encontra submetido aos excessos
pulsionais. Segundo observam as autoras, os atos, em função dos quais os adolescentes são levados
aos serviços de saúde mental, revelam impasses importantes em seu processo de constituição (ainda
em curso) e comumente atualizam dificuldades presentes desde a infância no laço com as figuras
parentais revelando diferentes posições em que o sujeito se situa frente ao Outro. A pesquisa é
sustentada pelo recurso metodológico da pesquisa-intervenção, articulada aos pressupostos teóricos
da psicanálise. Objetivamos na pesquisa escutar o sofrimento psíquico dos adolescentes, em diversos
espaços, tomando o desejo do analista (pesquisador) como aquele que instaura a possibilidade de
uma fala na qual o sujeito tenha lugar (Rosa & Domingues, 2010). As atividades de campo consistem

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em: rodas de conversa com estudantes de duas escolas da rede estadual e com estudantes
universitários da UFF; rodas de conversa com professores das duas mesmas escolas; estudo de casos
clínicos de adolescentes em atendimento no Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ. Neste trabalho,
nos deteremos especificamente na primeira etapa da pesquisa de campo nas duas escolas estaduais,
onde foram realizadas atividades em grupo baseadas em uma proposta da FLACSO/UERJ como
disparadoras de conversas a respeito dos laços sociais na escola com as turmas do 9º ano do ensino
fundamental ao 3º ano do ensino médio. A partir da leitura dos diários de campo e da realização de
estudos teóricos sobre psicanálise e adolescência, pretendemos discutir impasses nos modos de
inserção do sujeito adolescente no laço social e como a escola participa disso. Referências
bibliográficas: BRASIL. Ministério da Saúde. Suicídio. Saber, agir, prevenir. Boletim epidemiológico.
Brasília, v. 48, n. 30, 2016. JUCÁ, V. & VORCARO, A. Adolescência em atos e adolescentes em ato na
clínica psicanalítica. Revista Psicologia/USP, volume 29 I número 2, 246-252, 2018. LESOURD, S. A
Construção Adolescente no Laço Social. Petrópolis, Vozes: 2004.
ROSA, Miriam Debieux; DOMINGUES, Eliane. O método na pesquisa psicanalítica de fenômenos
sociais e políticos: a utilização da entrevista e da observação. Psicologia & Sociedade, 22(1), 180-188,
2010.

Autor(a): Paula Fontana Fonseca – Lepsi IP/Feusp


Contato: paulaffonseca@uol.com.br
Título: Uma reflexão psicanalítica acerca da função do brinquedo e do brincar na Educação na Infantil
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo:
O presente trabalho se propõe a pensar sobre a função do brinquedo e do brincar nos tempos atuais
uma vez que a ideia de uma educação brincante vem ganhando força especialmente dentro do
segmento da educação infantil. Refletir sobre o brinquedo é debruçar-se sobre o que a sociedade
escolhe como signo de humanidade, uma vez que eles carregam concepções e valores de uma época.
Se esse assunto tem uma importância sociológica, ele também tem relevo no âmbito subjetivo, uma
vez que entendemos que o brinquedo testemunha um brincar e o brincar é processo de produção de
subjetividade. Ou seja, para um psicanalista o brincar da criança fala da instalação de um sujeito: é a
construção de cada criança face ao que a sociedade e os tempos impõem; uma expressão criativa na
qual, ao mesmo tempo, a criança se apropria do mundo e recria-o. Nessa perspectiva, o autismo
pode ser lido como um paradigma de época, onde haveria uma prevalência do objeto – brinquedo –
sobre a ação humana – nesse caso o brincar. Para aprofundar esse tema traremos fragmentos
clínicos que evidenciam a dimensão mecânica e a previsibilidade que preponderam no gesto autista.
Esse gesto pode ser compreendido como sendo da ordem de um brincar? O que outorga valor ao
brincar enquanto tal? Será que sabemos ser coadjuvantes ao testemunharmos um brincar na
contemporaneidade? Ou estamos deixando isso tudo ao encargo dos brinquedos modernos?
Esse debate nos aproxima das formas como o brincar compartilhado vêm acontecendo na
atualidade, de modo a problematizarmos a função do adulto junto ao brincar da criança: será que o
adulto ainda se coloca em posição de ter algo a transmitir para uma criança e, em nome disso, brinca
com ela? Nossa hipótese é de que o brincar depende de que um outro prestativo o nomeie enquanto
tal e entre no jogo, se ofereça para o bebê ou criança pequena ali onde ele o necessita. Isso expande
a definição de brincar e jogar no universo da primeira infância e tem consequência direta no que a
educação pode propor como função do professor. A proposta de uma educação brincante carrega, a
nosso ver, a necessidade de precisarmos o entendimento acerca do brincar como um dos
fundamentos da práxis educativa com a primeira infância.

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Autor(a): Pedro Cavalcante de Miranda – UNB – Universidade de Brasília
Coautor(a): Inês Maria Almeida
Contato: pedrocavalcantedemiranda@gmail.com, almeida@unb.br
Título: Memória Educativa: da constituição à atuação docente.
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Este trabalho refere-se à pesquisa em andamento no Mestrado em Educação PPGE/UNB
(Universidade de Brasília) na linha de pesquisa: Escola, Aprendizagem, Ação Pedagógica e
Subjetividade na Educação (EAPS) a partir do diálogo entre pensadores da área educacional e
conhecedores do campo psicanalítico com viés na perspectiva da constituição e da atuação docente.
Este estudo terá como objetivo geral: compreender como a constituição subjetiva do professor se
manifesta na atuação docente a partir da escrita da sua memória educativa. Visando investigar
aspectos de idealização desse profissional, entender as dimensões da constituição subjetiva do Ser
Professor a partir da sua prática pedagógica. O aporte teórico utilizado será a Psicanálise com o
intuito de compreender o sujeito-professor a partir da escrita da sua memória educativa. Por tratar
de uma abordagem qualitativa, neste trabalho a pesquisa narrativa será a estratégia utilizada para
conhecer a atuação de dois professores da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal atuantes no
ensino fundamental. A escrita da memória educativa, a observação do trabalho pedagógico, a
entrevista e a sistematização da análise desses dados, obtidos com os professores, serão fundantes
para a problematização do objetivo proposto. RESUMO DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. Para tratar
da constituição do Ser Professor, é importante compreender o seu processo formativo e apresentar
possíveis aspectos que contribuíram para a idealização desse profissional na atualidade.
Na comunidade acadêmico-científica, é válido citar que Tanis (1995), Lajonquiére (1999) e Almeida
(2012) já realizaram estudos sobre a importância da memória na constituição do sujeito. A partir
desses estudos, é possível compreender que a constituição do Ser professor, relaciona as
experiências vividas com a sua atuação profissional, além de entender as frustrações desse ofício e o
mal-estar docente. Diante disso, esta pesquisa vem para retomar este enfoque de estudo, porém
com um olhar sobre a idealização que é construída para esta profissão. Os diversos e diários
questionamentos do “Ser Professor” podem ser frutos de insatisfações; de negações do seu desejo;
de sonhos não conquistados; de habilidades não adquiridas, mas exigidas pelas demandas atuais do
campo docente; de um esforço realizado, mas não recompensado. O professor, ao deparar-se com
tais desafios, pode passar de uma configuração heróica para uma condição de frustração, e,
consequentemente, posicionar-se em um estágio de ressentimento, procurando algo ou alguém para
justificar as mazelas de sua vida. A memória educativa, nesse contexto, será utilizada como
dispositivo de pesquisa para a leitura da dimensão afetiva das experiências vividas pelo professor, a
fim de identificar os condicionantes de suas ações no fazer pedagógico. Nessa perspectiva, a atuação
do professor será o locus primordial de pesquisa, com um olhar em sua condição subjetiva frente às
idealizações construídas em seu trabalho a partir da elaboração da sua memória educativa. Tecendo
como possibilidade a ressignificação de sua atuação; um professor constituído como um sujeito de
desejo, em cujas ações e intenções conscientes desencadeiam do sujeito do inconsciente que
comparece e embaraça as “certezas ditas pedagógicas”. (In) CONCLUSÕES PRELIMINARES. Uma
idealização do Ser professor foi construída historicamente e soa como parâmetro de uma atuação
profissional contínua. Contudo, as vicissitudes da vida reforçam a condição de seres faltantes,
incompletos e em que, mesmo diante de um aparente desejo de alcançar a excelência, a virtude
heroica depara-se com a sua fragilidade existencial. Essas necessidades, aparentemente demandadas
por questões externas, evocam mecanismos oriundos do inconsciente. Assim, aproximar a
Psicanálise do campo educacional trará implicações significativas na constituição do ser e,
consequentemente, na compreensão da escolha e da atuação do professor.

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Autor(a): Pedro Teixeira Castilho - UFMG
Contato: contatocastilho@gmail.com
Título: Os impasses das adolescências na contemporaneidade e os novos sintomas
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: A adolescência é sempre um período da vida que delineia a infância e a adultez. O termo
adolescência, no sentido moderno, foi utilizado pela primeira vez no livro O Emílio de Jean-Jacques
Rousseau que descreve uma serie de estratégias para manter Emilio longe da sexualidade, até que se
forme uma sólida formação moral e racional. A palavra adolescência vem de origem indoeuropeia al,
“nutrir”, “crescer”, que ocorreu uma inflexão “alere” – alescere – aumentar. Surgindo assim o verbo
adolescere – crescer (Ernout, A. & Meillet, A. (1967). Com a psicanálise, entendemos que Sigmund
Freud nunca utilizou o termo adolescência, ele faz referência apenas ao conceito de puberdade.
Em seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade de 1909, Freud escreve seu terceiro ensaio
intitulado: Umgestaltung der pubertat, podendo ser traduzido como: As metamorfoses da
puberdade. Se a Gestalt, palavra do título original, se traduz como forma, podemos dizer que a
puberdade convoca a adolescência a se apresentar como uma “nova forma” no que concerne a
dimensão pulsional. As referências de Freud são o momento de latência das pulsões que se
deslocam para o momento de manifestação da sexualidade. No século XXI, surgem outros
referenciais e modos de subjetivação que são bem distintos. Como podemos compreender, os
fenômenos dos novos modos de subjetivação à luz do declínio das identificações verticais? Se a
psicologia individual é indissociável da psicologia social cabe sabermos os destinos da adolescência
na contemporaneidade. Assim sendo, como poderíamos pensar os adolescentes se levarmos em
consideração o contemporâneo? Na sociedade contemporânea, a pulsão revela ainda mais sua face
mortífera, como modo de gozo presente tanto nos novos sintomas quanto na violência. O declínio da
função paterna e a falência dos ideais na atualidade trazem a tona um sujeito sem responsabilidades
para com seu desejo e o Outro. Torna-se um sujeito tomado pelo imperativo de gozo da civilização
técnico-científica e da política de um mercado globalizado. A família patriarcal que institui a lei e a
moral orientada pela figura paterna não está mais em evidência. Nos tempos atuais, a concepção de
família se pluralizou e novos modelos começaram a aparecer. O pai da tradição e da lei caducaram e
surgiu uma paternidade contratual, negociada e desprovida da assimetria que lhe dava a autoridade,
ainda que a paternidade definida por normas variáveis resulte afinada com as novas disposições das
famílias (LAURENT, 2006). Encontramos, na atualidade, novos laços e ficções familiares: casais
homoparentais, reprodução assistida, barriga de aluguel, família monoparental e famílias
reconstituídas. Com o avanço da ciência e de suas novas parcerias, sobretudo com o capitalismo, a
função paterna perdendo seu lugar de hegemonia e foi sendo reconsiderada. O declínio da função
paterna é um signo de uma época. O que este declínio revela é que não se crê mais no pai. A
descrença é o que se revela na contemporaneidade. Cada vez mais encontramos sujeitos em conflito
com a ordem pública e com a passagem ao ato. O declínio da função paterna traz à tona um sujeito
que não se orienta mais a partir do Nome-do-Pai. Pretendemos fazer uma articulação entre os novos
sintomas: anorexia, bulimia e toxicomania e os novos efeitos de subjetivação na contemporaneidade,
levando em consideração a adolescência como efeito de estrutura e a questão social presente nas
formações dos novos sintomas.

Autor(a): Priscila Nobre David – USP – Universidade de São Paulo


Contato: priscilandavid@gmail.com
Título: Letramento e o trabalho poético de Manoel de Barros: um passeio pela infância da língua
Eixo: Psicanálise, cidade e outros campos do saber
Resumo: Este trabalho tem como objetivo abordar o processo de letramento da criança tomando-o
a partir da teoria psicanalítica. Essa abordagem mostra-se necessária para pensar os impasses e

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dificuldades que a criança encontra frente ao segundo momento deste processo, o qual podemos
chamar de alfabetização. Para tanto, observaremos como alguns elementos presentes na poética
oferecem vias interessantes de enfrentamento dos entraves que se apresentam. Partindo do
referencial psicanalítico, especialmente da noção de letra e conceito de lalangue para o psicanalista
Jacques Lacan, buscaremos nos aprofundar no estudo dos encontros e diferenças entre estes dois
momentos do letramento, no intuito de contemplar a dimensão subjetiva presente no processo de
alfabetização, e abordarmos as dificuldades das crianças no domínio da língua escrita durante o
período de escolarização. Ao pensarmos a língua como uma estrutura aberta e admitirmos a
linguagem como não-toda, deparamo-nos com a problemática que a inserção em um código
alfabético, restrito, e que visa a comunicação e o laço social, pode apresentar ao sujeito desde a
escolarização. Assim, o fazer poético revela sua importância ao apresentar a possibilidade de quebra
da univocidade de sentido. Como possibilidade de demonstração do encontro proposto, traremos
como recorte a obra do poeta matogrossense Manoel de Barros. Em seu artigo denominado A
matéria de poesia em Manoel de Barros, Luiz Henrique Barbosa reflete a respeito do movimento de
despir as palavras até que elas percam sua significação usual, característico do fazer poético de
Manoel de Barros: "Barros irá transformar o signo em matéria bruta, em palavra insignificante, em
restolho. Irá desfiar as imagens das palavras e descascar suas roupagens até que elas possam
alcançar o seu estado inicial, seu estado de antes da significação [...] Como encaminhar tal projeto?
Como se utilizar da linguagem para se aproximar de uma pré-linguagem, de uma assimbolia? É
preciso aprender a errar a língua, a fazer gags com as palavras, a fazer pequenas loucuras para que
possamos ser pegos de surpresa por elas [...] Barros irá modificar o regime dos verbos, mutilar a
sintaxe e encadear significantes que possam promover sentidos ainda não veiculados pela língua"
Para brincar com as palavras, além da metalinguagem, o poeta lança mão de neologismos. Estes
aparecem no texto atribuindo novo sentido a palavras existentes, ou na criação de novos termos,
ausentes no dicionário; ou por meio da subversão das normas gramaticais (por exemplo
transformando substantivos em verbos). Essas ferramentas empregadas por Manoel de Barros em
seus poemas permitem uma renovação lexical, reiterando a idéia de uma recusa da palavra em seu
sentido único. A função poética oferece uma importante contribuição à discussão dos impasses dos
sujeitos frente aos processos de aquisição de leitura e escrita contidos na escolarização, na medida
em que reconhece --a cada verso de sua obra-- o furo de sentido que a palavra comporta. Frente a
aprendizagem (no encontro com o código alfabético), o sujeito esbarra com impossibilidade radical
do sentido pleno, e, ao mesmo tempo, com a potência de significação. Com a poesia é possível
recuperar a brincadeira com a língua, perdida na escolarização, por meio da busca incessante: ora
pelo esvaziamento de sentido das palavras, ora por seu cúmulo. A partir daí, deste saber fazer com a
língua, preserva-se o lugar de invenção, o caráter ficcional do habitar a linguagem. Dessa forma, a
linguagem poética explora a produção de equívocos gerados pelo contato do sujeito com a palavra
escrita. Assim, esta pesquisa aposta na consideração desses aspectos, reconhecendo na experiência
singular de escolarização de cada sujeito a estrutura furada que é o saber. Como escreve Barros em
Uma didática da invenção: Desaprender oito horas por dia ensina os princípios.

Autor(a): Rafaela Amaral Cunha do Nascimento – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Contato: nascmnto.r@gmail.com
Título: Psicose, segregação e educação: impasses e possibilidades frente ao laço social
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Busca-se demonstrar como o trabalho clínico com as psicoses, guiado pelo referencial
psicanalítico, pode contribuir na discussão sobre a inclusão desses sujeitos no campo da educação
regular. Compreende-se que ocorreram mudanças recentes no programa educacional, que apesar
de importantes, geraram novos impasses e questionamentos na transmissão do saber e na inclusão

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de jovens psicóticos nas redes regulares de ensino. Mais especificamente com o movimento de
inclusão escolar, visando as alterações pautadas pelo movimento antimanicomial, percebemos como
pauta uma tentativa de ir contra a segregação na busca da inserção de todos os jovens na rede de
ensino regular, porém, ressalta-se que o significante todos também se apresenta como um
imperativo a ser cumprido, e por muitas vezes acaba não levando em consideração todas condições
subjetivas envolvidas numa tentativa de inclusão. Pensando nessa problemática com o referencial
psicanalítico, temos a partir das contribuições teóricas de Lacan (1967/2003), que no gozo algo se
apresenta na ordem do insuportável, o que traz a questão da segregação como um fator que sempre
se colocará de maneira iminente para cada sujeito na estrutura social. Mais especificamente para o
sujeito psicótico, o significante Nome-do-Pai, que insere a lei simbólica e o desejo ao sujeito
ordenando o gozo, não se inscreve estando foracluído (LACAN, 1955-1956/1985). Como
consequência a operação de castração que não se produz, o psicótico fica no lugar de objeto do gozo
de um Outro invasivo, necessitando de outra baliza que o localize frente à alteridade. Entretanto,
podemos localizar na clínica com as psicoses um trabalho com possibilidades para o laço social onde,
apesar de seus impasses, visualizamos com esses sujeitos à construção de alternativas que trazem a
marca de sua singularidade, realizando um trabalho que permite alguma abertura ao laço social.
Nesse sentido, o presente trabalho busca discutir que apesar da foraclusão do Nome do Pai, o laço
social para a psicose não resulta, necessariamente, em uma impossibilidade, mas sim um trabalho
com impasses e possibilidades, visto que o sujeito pode lançar mão de outros significantes e
invenções como ferramentas próprias de inclusão, permitindo certa abertura ao laço social.
Portanto, busca-se discutir de que maneira é possível pensar a inserção desses jovens dentro do
campo da educação, tendo a clínica como uma ferramenta que possibilite essa articulação.

Autor(a): Ramon Mogollon – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais


Contato: RAMONEDUARDOLARA@OUTLOOK.COM
Título: A transdisciplinaridade na prática. O que supõe uma pesquisa interdisciplinar?
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: O presente capítulo discute o que supõe concretamente um estudo transdisciplinar a partir
da experiência conjunta de pesquisadores das áreas de sociologia, psicologia, psicanálise, literatura,
saúde e direito em torno da pesquisa intitulada: Curso de vida e trajetória delinquencial: um estudo
exploratório dos eventos e narrativas de jovens em situação de vulnerabilidade. A través da
discussão dos diferentes momentos pelos que passou a pesquisa, a disciplinaridade, a
pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, mostra-se as diferentes
decisões e contextos que fizeram a pesquisa percorrer o caminho até a transdisciplinaridade.
Discutem-se os encontros transdisciplinares, os instrumentos utilizados na pesquisa e suas
metodologias, a diversidade de participantes e saberes e, por último, o próprio da psicanálise em
esta pesquisa. Disciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade são
formas de abordagem do conhecimento e representam posturas epistemológicas diferentes, frente
ao mundo atual. De fato, como lemos em O manifesto da transdisciplinaridade, de Nicolescu (1999),
seria extremamente perigoso absolutizar esta distinção. De fato, todas elas supõem uma parte da
engrenagem epistêmica que tentaremos discutir. A diferença desses conceitos tem a ver com o nível,
grau ou capacidade de operacionalizar os saberes. Desde Platão e Aristóteles, e inclusive desde os
pré-socráticos, temos diferentes formas de entender como opera nosso conhecimento. Heráclito
colocava o panta rei como modelo de conhecimento, Platão, no livro A República, nos deleitou com
os quatro níveis de conhecimento da caverna e Aristóteles não deixou de nos surpreender com a
teoria das causas e a lógica. Depois deles, temos grandes nomes como os de Descartes, Spinoza,
Hume, Voltaire Keppler, Galileu, Leibniz, Einstein, Newton, Marx, Freud, Foucault, Arendt. São

147
inumeráveis e com contribuições em distintas áreas do saber que vão da filosofia até a física
quântica, passando pelas artes, a música e a psicologia. Uma coisa é certa: uma grande defasagem
entre as mentalidades dos atores e as necessidades internas de desenvolvimento de um tipo de
sociedade, sempre acompanha a queda de uma civilização. Tudo ocorre como se os conhecimentos e
os saberes que uma civilização não para de acumular não pudessem ser integrados no interior
daqueles que compõem esta civilização. Ora, afinal é o ser humano que se encontra ou deveria se
encontrar no centro de qualquer civilização digna deste nome (NICOLESCU, 1999, p. 14). assim,
vivemos no paradoxo de mais e mais desenvolvimento, em uma civilização cheia de conhecimentos,
mas que continua sem saber, à deriva. Perante esse contexto, surge a possibilidade de integrar os
conhecimentos à procura de um saber. Para integrar os conhecimentos, a proposta da integração das
disciplinas parece a mais acertada, com a finalidade de oferecer um saber mais integral e humano.
Todavia, são diferentes os tipos de integração, que vão desde o estudo de um mesmo tema por
várias disciplinas, o caso da pluridisciplinaridade; até a “transferência de métodos de uma disciplina
para outra” (NICOLESCU, 1999), no caso da interdisciplinaridade. Tentaremos apresentar o que
supõe esse diálogo em uma pesquisa específica sobre trajetórias de adolescentes em conflito com a
lei, do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) em parceria com o Centro de Estudos
de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (CRISP), intitulada: Curso de vida e Trajetória
delinquencial: um estudo exploratório dos eventos e narrativas de jovens em situação de
vulnerabilidade (2017-2019).

Autor(a): Raquel Cabral de Mesquita – Faculdade Pitágoras Divinópolis


Coautor(a): Marcelo Fonseca Gomes de Souza
Contato: raquelcmesquita@hotmail.com, marcelofgsouza@gmail.com
Título: Os destinos atuais da educação sexual escolar no Brasil: uma reflexão a partir da psicanálise
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo refletir, a partir do referencial psicanalítico, sobre
as questões contemporâneas que envolvem o debate caloroso acerca dos destinos da educação
sexual escolar no Brasil. Atualmente, essas discussões têm sido preponderantemente marcadas pelo
recrudescimento moral observado em nossa sociedade e pelo avanço de políticas educacionais que
se pautam na tentativa de censurar o incremento de uma educação inclusiva, pensada a partir da
reflexão e do amparo às questões que envolvem a diversidade sexual e de gênero presentes em
nossa cultura. Tais retrocessos podem ser verificados a partir da materialização de projetos de lei
como o da “Escola sem partido”, do avanço de leis municipais que objetivam combater o que se
nomeia de “ideologia de gênero” e do processo recente de militarização das escolas públicas no país.
César (2009) divisa quatro diferentes etapas históricas relativas à prática da educação sexual nas
escolas brasileiras. A primeira, que data das décadas de 1920 e 1930, estava centrada em dois
interesses prioritários: a formação moral e higiênica do indivíduo e o branqueamento da população.
A segunda, que se inicia no começo da década de 1960, é marcada por um importante movimento de
renovação pedagógica no Brasil e impulsionada pelas lutas globais de emancipação feminina e do
reconhecimento das reivindicações étnico-raciais. A terceira etapa, que atravessou praticamente
todo o período da ditadura, foi caracterizada pelo fortalecimento do regime de controle e
moralização dos costumes e implicou a restrição da educação sexual ao domínio do planejamento
familiar. Em que pese algumas experiências transgressivas, o ensino sobre as questões relativas à
vida sexual foi, nesse tempo, integrado ao saber biológico e passou a se centrar nas curiosidades
relativas à distinção anatômica entre os sexos, ao ciclo reprodutivo e, um pouco mais tardiamente, à
prevenção das DST’s, haja vista o pânico global gerado em torno do aparecimento da AIDS na década
de 1980. A quarta etapa, iniciada a partir do processo de redemocratização do Brasil e consolidada

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com a criação, em 1997, dos PCN, não apenas descolava a educação sexual de um saber estritamente
biológico, como a instituía como um tema curricular transversal. O avanço dos estudos de gênero no
Brasil ao longo das últimas décadas gerou uma amplificação do debate sobre a diversidade sexual
que, para além da pauta feminista, passou também a contemplar as questões relativas às diferentes
expressões de identidade de gênero e de orientação sexual. Embora a educação sexual escolar no
país tenha avançado bastante nesta última fase, o que se constatava era um movimento ainda tímido
e bastante heterogêneo de abordagem e tratamento destas novas questões em nosso território.
Atualmente, temos vivido uma nova fase, marcada, como já foi dito, por uma forte reação
conservadora aos avanços que vinham sendo implementados. Nosso objetivo, com este trabalho,
para além de avaliar a novidade histórica desse período, caracterizada pelo fortalecimento dos
movimentos neopentecostais e por uma verdadeira cruzada política produzida por eles, é,
sobretudo, o de pensar como, a partir da psicanálise lacaniana, é possível interpretar este fenômeno
social e refletir sobre seus efeitos no interior das escolas. Para tanto, partiremos da hipótese de que
a queda do falocentrismo, antes de ser pensada como resultado de uma insuficiência estrutural do
saber para dar conta do que, no domínio do sexual, aparece como impossível, é experimentada, por
certos setores da população, como um momento contingente e histórico que pode e deve
obrigatoriamente ser remediado. Disso resulta, entre outras coisas, o refluxo conservador das atuais
políticas educacionais, que pretendem reestabelecer, a ferro e fogo, uma educação sexual calcada
numa espécie de naturalismo teológico, que, como tal, recusa a confrontação com a diversidade,
com a plasticidade e com a opacidade inerentes ao sexual.

Autor(a): Raquel Muniz Dos Santos Palheta - PROFESS


Coautor(a): Izabella Paiva Monteiro de Barros, Amanda Brasil de Araújo
Contato: raqpalheta@gmail.com, barrosizabella23@gmail.com,
amanda_brasil_araujo@hotmail.com
Título: A contribuição da psicanálise no processo de aprendizagem da criança autista
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este trabalho propõe uma articulação entre psicanálise, educação inclusiva e autismo,
visando a uma reflexão sobre a possível contribuição da ciência psicanalítica na compreensão das
especificidades do caminho do aprender da criança autista, inserida na escola regular. Se justifica
assim, por considerar que as crianças autistas, assim como todas as outras, têm demandas próprias
dirigidas à escola. No entanto, no caso das autistas as referidas demandas costumam denunciar a
formatação da escola tecnicista que ainda está em vigor, mesmo nos dias atuais. Esta proposta
pedagógica conhecida como tradicional, tem sido em muito questionada tendo em vista que muitas
vezes passa a moldar o sujeito escolar, tanto no que se refere a seu comportamento, quanto no
concernente ao que se chama de desempenho acadêmico. No entanto, destacamos que, embora o
aprender possa estar sim associado à formação de hábitos, modos de proceder e agir, a mola
propulsora deste processo, atravessado pela qualidade da relação professor e aluno, é o interesse de
quem aprende, permeado por estágios diferentes de seu desenvolvimento cognitivo e aspectos
sociais, culturais e afetivos próprios. Diante do exposto, fazemos o seguinte questionamento:
poderia a criança autista aprender em uma escola que não compreende o autismo e suas
especificidades? Pensamos ser da ordem do ideal que a escola que se propõe como inclusiva possa
debater as questões específicas que envolvem a criança autista para que o trabalho pedagógico se
torne menos angustiante tanto para o professor quanto para o aluno. Soma-se a isso o fato de que
muitos professores desejam que o aprendizado da criança autista seja igual a de todos os outros
alunos, afinal, a escola, ainda que não intencionalmente, tem a vontade de que todos os alunos
aprendam da mesma forma e ao mesmo tempo. Neste contexto, não se questiona a vontade, mas
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sim como esta acaba por generalizar a forma e o tempo de aprender, processos que são
absolutamente subjetivos e independem de o sujeito que está na escola ser ou não autista, afinal, a
escola é um espaço público, um lugar para todos. Esta premissa ideal implica no envolvimento de
toda comunidade escolar no acolhimento das crianças, sejam casos ditos de inclusão ou não. É neste
ponto em que pensamos que a psicanálise pode dar suporte teórico para articulações práticas,
fazendo um enlaçamento com as teorias pedagógicas. Não na posição de ensinar, mas apostando na
possibilidade de interdisciplina visando a análise de cada caso como único, a partir dos operadores
de escuta e suposição de sujeito ao lado das intervenções pedagógicas adaptadas às suas demandas.
Por fim, vale ressaltar que, ao falarmos sobre autismo estamos no campo da diferença e não da
deficiência, embora ainda se perceba o autismo acoplado a um diagnóstico o que,
consequentemente, atribui um rótulo para este sujeito. As controvérsias em relação ao autismo nos
fizeram assumir uma postura na qual apostamos que a psicanálise deva estar junto com a educação
no sentido de fomentar discussões quanto a forma de aprender da criança com autismo, respeitando
sua forma de estar no laço social, sua forma de compreender a realidade a partir do entendimento
literal próprio do autismo, dentre outras especificidades. Assim, almejamos ampliar as possibilidades
destes sujeitos estarem na escola.

Autor(a): Raquel Salazar Ribeiro e Souza – UFOP


Coautor(a): Margareth Diniz
Contato: salazaraquel@live.com, dinizmargareth@gmail.com
Título: A polissemia do conceito de sujeito e o “sujeito da experiência” nas pesquisas
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Consideramos que o conceito de sujeito é polissêmico. Embora sua inauguração seja a
ciência positivista: “penso, logo sou”, há teorias que interrogam essa lógica, como no caso da teoria
psicanalítica: “penso onde não sou, sou onde não penso”. Freud foi aquele quem primeiro escreveu
sobre a psicanálise, apesar de não enunciar o sujeito do inconsciente (tal feito é atribuído a Lacan),
suas obras remetem a esse sujeito que é constituído na/pela linguagem, a partir de sua relação com
o outro. O sujeito dividido, clivado é marca da psicanálise. E é a partir desse sujeito dividido que
operamos nas pesquisas acadêmicas, não sem polêmicas. Larrosa (2017) nos fala de um sujeito da
experiência. Segundo o autor “O homem é palavra”, o homem se constitui assim em sua relação
com a palavra. É ao fazermos coisas com as palavras que estamos dando sentido ao que somos e ao
que nos acontece. O referido autor ainda nos diz de um sujeito que “é sobretudo um espaço onde
têm lugar os acontecimentos”. Esse sujeito não é o sujeito do julgar, do fazer, do querer, da opinião,
da informação e do trabalho. Esse sujeito pode ser caracterizado por sua passividade, receptividade,
disponibilidade e abertura. É um sujeito derrubado, alcançado, sofredor, padecente e interpelado.
Larossa opõe esse sujeito ao sujeito moderno que é um sujeito que se relaciona com o
acontecimento do ponto de vista da ação. E é no entre essa concepção de sujeito dividido e sujeito
da experiência que opero em minha pesquisa atual, intitulada: Processo artístico como metodologia
para Educação Patrimonial no contexto escolar de Ouro Preto. Por experiência Larossa entende
como sendo aquilo que nos passa, que nos acontece, que nos toca. Ela é “em primeiro lugar um
encontro ou uma relação com algo que se experimenta, que se prova.... A experiência é a passagem
da existência, a passagem de um ser que não tem essência ou razão ou fundamento, mas que
simplesmente “ex-iste” de forma sempre singular, finita, imanente, contingente.” (LARROSA, 2017).
A experiência trata-se uma espécie de mediação entre o conhecimento e a vida humana. A
experiência seria aquilo de singular que fica a partir do acontecimento. Agamben diz que “A
experiência é o lugar onde tocamos os limites de nossa linguagem”. Sendo a experiencia aquilo que
nos acontece com uma certa opacidade, desordem, indecisão, confusão e obscuridade, e que não
depende do nosso saber ou querer. Ela (experiência) também diz respeito aquilo que não sabemos.

150
Existe sempre algo de “não sei o que me acontece” e “não sei o que posso fazer” quando a
experiência está envolvida. Exatamente por esses aspectos não é possível formular a experiência na
linguagem do que já sabemos dizer. A vida, como experiência, é relação: com o mundo, com a
linguagem, com o pensamento, com os outros, com nós mesmos, com o que se diz e o que se pensa,
com o que dizemos e o que pensamos, com o que somos e o que fazemos, com o que já estamos
deixando de ser. (LARROSA, 2017 p. 74). A noção de sujeito é de extrema relevância para nossas
pesquisas, sobretudo as pesquisas que envolvam outros sujeitos. É importante que nós
pesquisadores/as entendamos de qual pressuposto estamos partindo ao lidar com o sujeito nas
pesquisas. O sujeito da experiência com qual tenho operado é, sobretudo, aquele sujeito que afeta e
se deixa ser afetado, é aquele sujeito em que as subjetividades veem à tona e não são ignoradas, é o
sujeito que se permite e é permitido. Referências: DINIZ, Margareth. A polissemia do conceito de
sujeito. Revista do Nete. Vol. 22. 2007. Fae – UFMG. LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre
experiência. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

Autor(a): Roberta Corrêa Lanzetta - IPUB


Coautor(a): Luciana Gageiro Coutinho, Bruna de Sousa Madureira, Maria Sossai Varnier
Contato: r.lanzetta@hotmail.com,lugageiro@uol.com.br, BRUNA.MADUREIRA@HOTMAIL.FR,
msvarnier@gmail.com
Título: A aluna diamante: dos cortes à construção de uma narrativa possível
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: O trabalho surge a partir da escuta de adolescentes em um espaço ambulatorial público de
saúde mental na cidade do Rio de Janeiro e faz parte da pesquisa Educação para a vida: adolescência,
suicídio e vulnerabilidades sociais. Surge no contexto do aumento nos índices de suicídio na
adolescência, já mapeado pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais, mas também a partir da
constatação do impacto que a problemática do suicídio na adolescência vem trazendo para as
instituições educativas e de saúde que atendem essa população. Visa investigar o agir suicida e
outras formas de autoagressões que proliferam entre adolescentes no mundo naquilo que dizem
respeito ao estado do laço social vigente em seu entorno. A metodologia de pesquisa, inspira-se no
paradigma da pesquisa em psicanálise, pautada nos princípios éticos que norteiam a clínica, tal como
o desejo do analista e a fala sob transferência (Alberti & Elia, 2000). O material extraído dos casos
não terá a função de demonstrar considerações teóricas, mas motivará reflexões a partir dele e
produzirá um pensamento sobre o que a pesquisa permitir apreender. Nesse trabalho temos como
objetivo refletir, a partir de fragmentos de um caso clínico, acerca da auto-mutilação como
manifestação de sofrimento psíquico cada vez mais constante nos adolescentes atendidos no
ambulatório. Amanda, uma adolescente de 14 anos, até então vista como a aluna “diamante”, que
significa obter a média geral acima de 9,5 na escola aonde estuda, passa a ser vista na escola como
“a adolescente que se corta”. O aponta(dor), que servia para apontar o lápis da adolescente
enquanto dedicava-se ao estudo e obtinha notas exemplares passa a ter um novo uso, o de inscrever
na pele seu sofrimento. Diante do cenário em que tudo parece ir muito bem, afinal a menina
consome e produz dentro dos moldes produtivistas que a escola exige, os pais não conseguem
validar e nem mesmo perceber o sofrimento da filha, o que gera uma enorme angústia na
adolescente. Surpreendem-se ao saber, pela escola, dos cortes que a filha faz em si. O choque da
mãe é tal que a sua fala para a analista é a de que achava tinha uma “filha perfeita” até descobrir
sobre a automutilação. Diferente da maior parte dos adolescentes, no caso em questão, Amanda não
preenche seu “vazio” com jogos, mas com livros acadêmicos e horários rígidos de estudo. De acordo
autores que se debruçam sobre o estudo da adolescência, como Saggese (2015) e Cesar (2019),
existe um sofrimento inerente ao processo de adolescer. Esse é compreendido como um período de
mudanças, que remete ao desamparo e ao excesso pulsional devido à necessária retificação do

151
circuito pulsional que deve então se dar, o que torna fundamental que esse sujeito tenha um ouvinte
ou um lugar de endereçamento. Segundo Coutinho (2019), a escola e as instituições possuem papel
fundamental na medida que se constituem como espaços potentes para reconfigurar a rede
simbólica durante a adolescência, propiciando novos encontros com o Outro e com os outros.
Entretanto, quando pais e educadores se retiram e renunciam a ocupar esse lugar atualmente
incômodo de referência simbólica, que se intensifica na experiência com os adolescentes, o que
prevalece é a anomia no laço educativo, deixando aberto, o espaço para um discurso social
legitimado pela ciência e pela racionalidade instrumental que estigmatiza, segrega, e/ou vitimiza
crianças e jovens (Rosa & Vicentin, 2013). Com o desenrolar dos atendimentos, é notória a ansiedade
na narrativa de Amanda, que percebe falar muito com a analista e verbaliza que o espaço de análise
é o único momento que tem para falar e ser ouvida durante sua exaustiva semana. A adolescente
demonstra a necessidade de um interlocutor para falar de sua dor e vivencia na arte do encontro
(analítico) a descoberta de um espaço de escuta onde há alguém que aposta nela enquanto sujeito.

Autor(a): Roberta Duarte dos Santos – UFRJ


Coautor(a): Cristiana Carneiro
Contato: bertaduarte4@hotmail.com, cristianacarneiro13@gmail.com
Título: Mal Estar Docente: A Fragilidade da autoridade de professores na atualidade.
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: O presente trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ, fomentada pela CAPES e apoiada pelo NIPIAC (Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência contemporâneas) em
parceria com o Gap(E)Grupo Alteridade, Psicanálise e Educação da Universidade Federal Fluminense.
A partir das contribuições psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939) e de autores
contemporâneos do campo da educação, destaca o lugar em que a angústia (FREUD, 1926/25) se
produz no cotidiano das relações escolares e a fragilidade da autoridade do professor. Através de
rodas de conversa com professores da Educação Básica oferece um lugar de fala e escuta a esses
profissionais, investigando o que tem afetado sua prática de trabalho. Nos dias atuais, exercer o
ofício de professor tornou-se um desafio complexo. Estar na função de educador nos processos
formais de ensino e aprendizagem compreende ter de lidar, cada vez mais, com uma gama de
demandas outras que atravessam a prática docente. Para além da rotina laborativa, o professor,
muitas vezes, é afetado por questões advindas das relações com seus alunos, pares, instituições em
que trabalha, entre outras. Pereira (2017), ao falar sobre o padecimento psíquico dos professores, diz
que é um assunto muito “alardeado”, mas nunca profunda ou suficientemente esclarecido. Em seu
texto, analisa que os professores estão cada vez mais “[...] deprimidos, estressados, esgotados,
angustiados, hipermedicalizados, em pânico ou desistentes” (p.71). À luz da teoria psicanalítica,
Pereira “desce aos detalhes” e considera que as fontes desse mal-estar estão ligadas [...] à inibição
do professor de se colocar à prova, sua coragem moral invertida e o recuo de seu desejo” (ibid, 2017,
pg71). Nessa direção, torna-se fundamental investigar a dimensão daquilo que do sujeito também
comparece no campo profissional. As rodas de conversa com os professores acontecem no Colégio
Iepic, localizado em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Para além de uma oferta de escuta, nossa
proposta é possibilitar um lugar de fala a esses profissionais a fim de que possam refletir e,
principalmente, elaborar o que pode ser feito a partir disso que foi exposto ao grupo. Em “O mal-
estar na civilização” (FREUD, 1930/29 [1996], p. 84-85), Freud aponta que o sofrimento ameaça o
homem por três vias diferentes: 1. O próprio corpo, condenado à decadência; 2. O mundo externo e
3. Os relacionamentos com outros homens. Quanto a esta terceira fonte de sofrimento, muito
relacionada a uma inadequação às regras que regulam os relacionamentos dos seres humanos, o que
se observa é a impossibilidade do reconhecimento de que os contratos sociais estabelecidos não

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trazem proteção e benefício, necessariamente. Constata-se, assim, que a cultura é a responsável por
uma parcela de infelicidade. De fato, para o desenvolvimento da civilização, é necessário que haja
restrições à liberdade dos indivíduos, a civilização impõe sacrifícios ao homem. Assim, é possível
compreender porque é difícil ser totalmente feliz na civilização. Afora as restrições impostas, é
necessária a renúncia à satisfação de pulsões poderosas, como as sexuais e as agressivas (Freud,
1930/29 [1996]), por exemplo. E essa renúncia deixa como resto um sentimento de mal-estar. Nessa
perspectiva, portanto, a psicanálise acredita que é possível ao sujeito se reposicionar diante do
comparecimento do mal-estar. A aposta é que, através da fala, o sujeito ressignifique partes de sua
história a fim de que algo novo possa ser feito na relação com o mundo externo e no laço social com
os outros homens. FREUD, S. (1926/25). Inibições, sintomas e angústia, In: O.C., VXX. Rio de Janeiro:
Imago, 1996. ________. (1930/29) O mal-estar na civilização. In: O.C., V.XXI. Rio de Janeiro: Imago,
1996. PEREIRA, Marcelo R. De que hoje padecem os professores da Ed. Básica? Educ. rev., Curitiba, n.
64, p. 71-87, jun. 2017.

Autor(a): Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly – NEPE


Contato: ecleide@gmail.com
Título: Autismo: doença do milênio ou milênio das doenças?
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Este trabalho advém de uma reflexão: crianças e jovens estão mais adoecidos ou adoecer é
uma expressão da angústia existencial da tardomodernidade? Em tempos de rotulagem desenfreada,
principalmente para as crianças e jovens, o excesso diagnóstico impede que se compreenda, no
tempo da história de cada um, o bem dizer do sintoma e seu sentido. Mais especificamente, este
trabalho busca compreender o que o autismo cumpre disso – da contemporaneidade, das propostas
diagnósticas classificatórias (DSM, CID), das dificuldades contemporâneas dos educadores (pais e
professores) – para ser um quadro tão diagnosticado, investigado e, quiçá, esperado por alguns
como resposta às dificuldades de aprendizagem e à não conquista dos marcos do
neurodesenvolvimento. Em breve formato deste trabalho, trazem-se algumas considerações acerca
das reflexões que a Psicanálise pode acrescentar: o conceito de sujeito, suas possibilidades na
contemporaneidade histórica (de crise das figuras tutelares, mudanças nas apresentações de gênero
e mesmo de subjetivação, em suas formas de educação e ensino) e a influência significativa de
aspectos econômicos nas possibilidades sociais (do Biopoder, de Foucault, ao Necropoder, de
Mbembe, a transição de “vidas contam” para “vidas não contam, descontam” e o custo disso para o
pathos, condição de sofrimento inerente aos humanos, suprimido por técnicas medicamentosas e
práticas ultradiagnósticas de acordo com as classificações de modelo DSM e CID). Finalmente, o
trabalho pensa a situação do autismo, tido como epidemia, conduzida pelo alargamento dos critérios
diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista e pela pressa das avaliações clínicas. As
consequências destes diagnósticos rápidos podem ser deletérias na fase adulta. Outro aspecto
levantado pelo trabalho se refere à alocação do autismo como deficiência no Brasil. Se por um lado,
isso traz o ganho de ser entendido como condição de inclusão, por outro, deixa de encarar os
autistas como passíveis de educação comum – no sentido da sobrevivência (autocuidado e cuidado
dos outros), autonomia e independência. Através da teoria psicanalítica é possível dar lugar ao
sujeito em devir no autismo, escutar seus adultos cuidadores e educadores, considerar o sofrimento
(pathos) subjacente a esta forma de ser e estar com o outro e a implicação do desejo de cada um
diante dos desafios do viver.

Autor(a): Sâmara Gurgel Aguiar – UECE – Universidade Estadual do Ceará


Contato: samara.gurgel@hotmail.com

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Título: O estranho na escolarização de crianças com entraves estruturais na constituição psíquica:
implicações para a formação docente.
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, e as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001), seguindo as orientações da
Declaração de Salamanca (1994), apontam a formação docente como parte fundamental da
efetivação da inclusão escolar. Ambas convergem quanto a um modelo formativo que objetiva a
aquisição técnica e teórica, ficando de fora a dimensão subjetiva do encontro professor-aluno e seus
efeitos para a escolarização, destacada por Freud (1914/2006). Ao associar a figura do mestre à
imago paterna, ele situa a escola como lugar onde se atualizam resquícios de “complexos familiares”
(LACAN, 1938/2003) das crianças. Em função disso, a posição docente opera além do ensino de
conteúdos programáticos. Destarte, há na educação um caráter estruturante, pois, assim como a
psicanálise, ela está referida ao sujeito do desejo e, assim, “[...] educar é colocar em circulação
marcas simbólicas, significantes que possibilitem à criança que os apreende o usufruto de um lugar a
partir do qual o desejo seja possível” (LAJONQUIÈRE, 2010, p.149). Há, ainda, uma relação de
inevitável desigualdade, consequência de uma distância geracional insolúvel entre “pequeno” e
“velho”, o que provoca, neste último, estranheza e, ao mesmo tempo, familiaridade. Para que a
educação não se torne algo “de difícil acontecimento” (p. 214), é fundamental que ao educador seja
viável o desdobramento desse (des)encontro, mas desdobrá-lo não é uma decisão de um todo
consciente e, segundo Millot (1987), o inconsciente dos educadores é mais determinante no
desenrolar do processo educacional que a ação pedagógica planejada. Em se tratando de alunos
inadaptados à escola, soma-se a isso a inquietação gerada denunciarem a incompletude da
instituição. Aqui propomos um recorte específico sobre alunos com entraves estruturais na
constituição psíquica: “[...] crianças em risco de evolução em direção às psicopatologias graves da
infância, tais como as psicoses infantis e o autismo” (KUPFER et al, 2017, p. 17). Para efetuá-lo, nos
valemos das considerações de Freud (1919/2006) sobre o estranhamento quanto às “expressões do
insano”. Essas manifestações soam como automatismos que atuam sob a dinâmica psíquica de quem
assim se apresenta, gerando uma “incerteza intelectual” (FREUD, 1919/2006, p. 239) que por si só
não causa estranhamento. O fenômeno torna-se estranho e gera angústia porque remete à ameaça
de castração e seu caráter indizível acarreta uma apreensão imediata “pelo registro do Imaginário”
(VANIER, 2005, p. 21). O observador é capturado pelo instante de ver e, então, apressa-se em
concluir sem que haja um tempo de compreender (LACAN, 1945/1998). Assim, o trabalho com esses
alunos demanda uma formação que não se limita à lógica conteudista, posto que trata-se de uma
“disponibilidade interna”, da exigência de uma “[...] suspensão das certezas que ampliam na nossa
própria subjetividade a capacidade de vibração” (COUTINHO; AVERSA, 2005, p. 40) em relação ao
que não se conforma às nossas idealizações. Para a psicanálise, o meio pelo qual se faz possível
enxugar essas miragens é a palavra: a partir de um falar-se e escutar-se. É através da linguagem que
se pode superar a angústia e fundamentar-se no tempo dela para que, então, o desejo se constitua
(LACAN, 1962-1963/2005). Entretanto, a burocratização da formação docente sinaliza um
funcionamento institucional que põe as medidas administrativas à frente do progresso de
conhecimentos reais, suplantando as produções subjetivas de seus membros, protegendo-se da
“palavra livre” (MANNONI, 1977). Assim, cabe a pergunta: como, nesse enquadre, docentes
reordenarão, no discurso, o estranhamento causado pelo “(des)encontro” com essas crianças?
Diante da impossibilidade de fazermos uma reforma de enormes proporções (KUPFER, 2000) ou de
reinventarmos a vida (MANNONI, 1977) de imediato, é importante que comecemos pelas
instituições: escutando seus membros.

Autor(a): Sebastião Renato Stefanuto – UNIB – Universidade Ibirapuera

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Coautor(a): Cristina Keiko Inafuku de Merletti
Contato: recste@gmail.com, crisinafuku@yahoo.com.br
Título: O sonho da ciência e o sonho em Freud: o que a teoria psicanalítica pode ensinar a quem
ensina?
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: A partir de seu fundador, a psicanálise poderia ser considerada, em sua origem, uma meta-
medicina, uma meta-religião, uma meta-filosofia? Em que medida a origem da psicanálise com
Freud, em sua busca de cientificidade, inaugurou outro modo de conhecimento sobre o pensamento
humano? Essas serão algumas das questões que nortearão o presente trabalho para refletirmos
sobre a ética que rege as pesquisas atuais sobre o desenvolvimento e os modos de saber dos
sujeitos. Questões que tornar-se pertinentes também ao campo da educação. Freud buscou superar
os saberes científicos da medicina, adquiridos em sua época, desafiando os preceitos de sua criação
religiosa e aproximando-se da fronteira da razão humana, percurso que tantos filósofos percorreram,
mas, encontrando de outro lado, com o irracional e o inconsciente presente na vida mental dos
sujeitos. Talvez seja este mesmo o legado dos estudos psicanalíticos ao adentrar os estudos na
Universidade, a permanência da dúvida e, por isso a criação constante de novas perguntas sobre a
existência e os modos de criação humana. Na Filosofia, de forma genérica, o sonho é comumente
tratado de forma secundária, sem muito valor como objeto de reflexão para pensar o humano e seu
lugar na polis, uma vez que a Filosofia teve como um de seus fundamentos a verificação da
capacidade de pensamento e da razão humana, focadas na consciência do homem. Mesmo nas
ciências, houve alguns ensaios de estudiosos que propunham formas de interpretar e buscar
compreender o fenômeno do sonho, como experiência onírica, assim como seu funcionamento e sua
função na vida humana. Esse foi o caso de Freud, médico neurologista de formação que, partindo da
lógica de pensamento das ciências biológicas de sua época, construiu uma nova trajetória para
marcar uma diferença fundamental em sua forma e método de investigação sobre os sonhos,
inaugurando o método psicanalítico e fazendo descobertas sobre o adoecimento corporal e o
sofrimento interno do sujeito. Em seus estudos sobre a mente humana, Freud descreverá um modo
de compreender seu funcionamento, descrevendo um aparelho psíquico e suas instâncias. As
emoções humanas seriam aquelas que revestiriam, por vezes, os sentidos, e estes, sofrendo os
efeitos de um recobrimento pelo pensamento racional e pelo o que se denomina na
contemporaneidade de cognição. Ao longo dos anos, os pensadores foram desistindo da análise da
psique e do conceito de alma para estudar o fenômeno do sonho e dos estados oníricos como sendo
uma das fontes do mal estar dos homens “... a maioria dos autores seguiu a tendência de reduzir ao
mínimo a participação psíquica da incitação do sonho, visto que é difícil de chegar a ela...” (Freud
1900, p.67). Freud não recuou diante dos estudos sobre a formação dos sonhos e de sua recordação
ou esquecimento, buscando compreender sua função nas fronteiras da medicina. A pesquisa
freudiana sobre os sonhos e sua descoberta dos processos inconscientes pautados no desejo
humano, poderão inspirar modos de conceber a construção de saber no campo da Educação? Em
que medida a transmissão sobre um saber sobre a Psicanálise poderá resgatar no campo educativo a
função do desejo nas relações de ensino e aprendizagem e na relação do educando com a busca do
conhecimento na construção de um saber? Este será o convite o presente trabalho fará ao leitor.

Autor(a): Sérgio Ricardo Bezz – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro


Coautor(a) Andrea Martello
Contato: sergiobezz@gmail.com, deamartello@gmail.com
Título: Uma experiência de transmissão da psicanálise na formação profissional em saúde mental
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental

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Resumo: Em nosso contexto brasileiro atual, constatamos o crescente engajamento das equipes de
saúde mental no campo político-ideológico da reinserção social, a forte valoração de indicativos de
gestão administrativa e a presença hegemônica da terapêutica medicamentosa, dominando e
submetendo a leitura dos tratamentos ao foco dos desajustes comportamentais e a consequente
prescrição de substâncias. Fomos levados a constatar, nesse cenário, um efeito inquietante e
preocupante: a redução do lugar e importância da palavra em transferência para as equipes.
Do encontro de Freud com seu mestre Charcot, e Lacan com seu mestre Clérambault, encontramos o
dispositivo da Apresentação de Pacientes presente em momentos cruciais da história da psicanálise.
Se Freud criou as condições primeiras para a transmissão da nascente psicanálise, Lacan a recebe das
gerações seguintes, a partir de sua sólida formação psiquiátrica, o que o levou a manter no Hospital
de Sainte-Anne, em Paris, a prática de Apresentações de Pacientes. No entanto, transformou este
que foi um clássico procedimento de interrogatório psiquiátrico, pautado na demonstração e
classificação das patologias dos doentes, em um encontro com um analista, no qual a fala do
paciente ganha toda a importância. Lacan sustentava sua função de ensino, de construção
diagnóstica e de direção do tratamento com a equipe do hospital, no entanto, fazia-o com os
conceitos psicanalíticos e com uma atitude nas entrevistas diferente daquela dos psiquiatras até
então. Constituiu-se desse modo como um dispositivo de transmissão da psicanálise em meio
psiquiátrico (CZERMAK, [1980] 2017).
Investigamos a partir da prática de Apresentação de Pacientes, renovada por Lacan, a construção e a
discussão dos casos clínicos conduzida atualmente por psicanalistas no Hospital Psiquiátrico de
Jurujuba, em Niterói-RJ. Analisamos sua relevância como uma via de retomada da disciplina clínica, e
sua função no ensino. Temos o intuito de discutir, avaliar e interrogar seu efeito de transmissão da
ética analítica no contexto da formação profissional em saúde mental. Desenhou-se assim, em nosso
trabalho, um viés de pesquisa de campo através da retomada do dispositivo de discussões clínicas no
Hospital de Jurujuba, incluindo as entrevistas com pacientes. Da posição de pesquisador-
participante, colocou-se em ação o reestabelecimento de um lugar de discussões clínicas, retomando
discussões sobre os tratamentos com a presença de psicanalistas entre os diversos trabalhadores de
saúde mental que se ocupam dos pacientes. Examinamos, desse modo, a experiência da
Apresentação de Pacientes como ocorre atualmente no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba em sua
função de transmissão da psicanálise em ato no campo da saúde mental.

Autor(a): Stéphanie Strzykalski e Silva – UFRGS – Univ. Fed. Do Rio Grande do Sul
Coautor(a): Roselene Ricachenevsky Gurski
Contato: stephanie.strzykalski@hotmail.com, roselenegurski@terra.com.br
Título: Viver pouco como um rei ou muito como um zé?: a violência como um modo de “fazer nome”
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Inserido nas investigações do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura
(NUPPEC/UFRGS), o presente trabalho parte de uma experiência de pesquisa-extensão com jovens
em privação de liberdade. Através do dispositivo que temos nomeado de Rodas de R.A.P. (Gurski &
Strzykalski, 2018a, 2018b), ofertamos aos meninos um espaço de circulação da palavra em
conjugação com narrativas musicais dentro da instituição socioeducativa em que estavam
acautelados. Nas Rodas, passou a nos inquietar falas como: “tem gente que mata pra fazer nome! Aí
tu vai em um lugar e, mesmo sem conhecer ninguém, todo mundo sabe quem tu é, ninguém mexe
contigo”. Eles relatavam ainda que, ao matar os rivais de outras facções, para além de territórios,
drogas e dinheiro, conquistavam fama, autoridade e respeito. Tais narrativas nos fizeram questionar:
o que tem levado esses sujeitos a tentar produzir um nome no laço social majoritariamente pela via
de atos violentos e pela entrada no “mundo do crime”, sobretudo no tráfico? Analisando as altas
taxas de reincidência da socioeducação, sabe-se que muitos jovens saem do período de internação e

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voltam a trabalhar no tráfico. Em uma primeira mirada, tal situação poderia ser explicada
unicamente pelo fato de que se ganha muito melhor na boca de fumo do que na boca do caixa de um
supermercado qualquer. Contudo, temos pensado que essa escolha vai muito além do fator
econômico em si. O que vale mais? O subemprego com horários rígidos, que oferece um parco
salário e pouco ou até mesmo nenhum reconhecimento social, ainda que proporcione certa
segurança... ou investir em fazer carreira no tráfico, sem dúvida uma opção mais arriscada, mas que
garante uma posição de prestígio e poder frente ao olhar do Outro? Nas palavras de Mano Brown, do
grupo Racionais MC’s (2002), esse impasse pode ser traduzido pela interrogação: “viver pouco como
um rei ou muito como um zé?”. Ora, se eles têm “escolhido” ser reis, talvez nos reste interrogar o
que o laço social tem a ver com essa “escolha”. REFERÊNCIAS. Gurski, R. & Strzykalski, S. (2018a). A
escuta psicanalítica de adolescentes em conflito com a lei - que ética pode sustentar esta
intervenção?. Revista Tempo Psicanalítico, 50, 72-98. Gurski, R. & Strzykalski, S. (2018b). A
'Invencionática' na pesquisa em psicanálise com adolescentes em contextos de violência e
vulnerabilidade: narrando uma trajetória de pesquisa. In Tarouquella, K., Conte, S. & Drieu, D.
(Orgs.). Proteção à infância e à adolescência: intervenções clínicas, educativas e socioculturais (pp.
127-139). 1ed. Brasília: Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade. Racionais MC’s. (2002).
Vida loka (parte 2). In: Racionais MC’s. Nada como um dia após o outro dia. Letra disponível em:
https://www.letras.mus.br/racionais-mcs/64917/

Autor(a): Tatiana Studart Rodrigues Marques – UNB – Universidade de Brasília


Coautor(a): Viviane Legnani
Contato: tatystudart@yahoo.com.br, vivilegnani@gmail.com
Título: Inclusão e constituição subjetiva na primeira infância: um outro olhar para a diferença na
Educação Precoce
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Os primeiros anos da criança têm sido vistos por profissionais de diversas áreas como
marcantes para a constituição subjetiva e para o desenvolvimento da inteligência, da linguagem, da
socialização, entre outros aspectos. Verifica-se cada vez mais o surgimento no campo educativo
de demandas por intervenções “preventivas”, “remediativas” e “curativas” na 1ª infância. O
presente trabalho faz uma reflexão acerca das medidas inclusivas no Programa de Educação Precoce
da Secretaria de Educação do DF. Esse programa funciona nos moldes de um atendimento
especializado do ensino especial, porém com interseção com a educação infantil. Trata-se de uma
intervenção diferenciada que busca contribuir no atendimento e na inclusão de bebês e crianças com
deficiência ou desenvolvimento atípico. Nosso objetivo é sustentar que, diante das diferenças em
crianças com 0 a 3 anos de idade que frequentam esse programa, além dos aspectos
relativos ao desenvolvimento humano, a constituição subjetiva também precisa ser
observada. Assim, faz-se necessário pensar em intervenções pedagógicas que não sejam pautadas
unicamente por manuais e indicadores de desenvolvimento. Historicamente pode-se observar
que as subjetividades dos sujeitos com deficiências tendem a ser apagadas. Apagamento que
assume diversas facetas na linha histórica e que hoje mostra-se acentuado por meio do
discurso cientificista. A psicanálise, ao longo de mais de 100 anos, trouxe não poucas contribuições
para que se pudesse resgatar a dimensão do sujeito com diversos tipos de “deficiências”, postulando
dentro do seu campo conceitual, por exemplo, a debilidade, o autismo, a psicose infantil, entre
outros quadros. Assim, trouxe, por consequência, um outro olhar acerca da inclusão no campo
educativo que pode ser útil para o fundamento das práticas pedagógicas. É importante ressaltar que
os professores que atuam no programa de Educação Precoce estão implicados na constituição
subjetiva dos bebês e crianças com deficiência por eles acompanhados, porém poucos
profissionais estão atentos a essa questão. Muitos afirmam não estarem preparados para a

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realidade das deficiências e, por isso, podemos inferir, apoiam-se nos modelos médicos em seu fazer
pedagógico, os quais normalmente são mais disponibilizados em cursos de formação
continuada ofertados a esses docentes pela Secretaria da Educação do DF e tendem a seguir um
padrão normatizador. Como sabemos, o tipo de abordagem teórica e intervenção
pedagógica dela derivada estão intrinsecamente relacionados e marcam o olhar destes educadores
sobre padrões de normalidade/anormalidade e esse olhar não é sem consequências para
as crianças e seu núcleo familiar. A educação precoce é uma modalidade educativa pública, gratuita,
relativamente nova e existente apenas no Distrito Federal e são inegáveis suas contribuições no
processo de inclusão dos alunos na educação infantil. Sua importância nos leva a almejar a
ampliação de pesquisas que possam fortalecer essa ação educativa/inclusiva, como também nos
coloca a tarefa de pensar, sob o prisma da psicanálise, contribuições para esse programa que
possam alcançar as crianças com diversos tipos de diferenças, seus pais e docentes que
nele atuam, para além dos discursos hegemônicos cientificistas e normatizadores sobre
deficiência e inclusão.

Autor(a): Telma Antunes Dantas Ferreira – Seeduc RJ


Coautor(a): Marília Etienne Arreguy
Contato: telmaadf@hotmail.com, mariliaetienne@id.uff.br
Título: Bullying Escolar versus Psicanálise: uma possibilidade de estudo
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este trabalho se constitui numa proposta preliminar visando a construção de uma hipótese
acerca das contribuições da psicanálise no campo educacional para se repensar o fenômeno bullying.
Segundo Pedroza (2010), psicanálise e educação conversam desde que Freud demonstrou seu
interesse pela pedagogia com o intuito de prover uma melhor compreensão dos educadores sobre o
desenvolvimento da criança e do adolescente. Para Lajonquière (2017) a partir da clínica com
crianças _ que se consolidou a partir da instalação da própria psicanálise nas primeiras décadas do
século passado – a psicanálise adentrou no campo da educação. Para o autor, após décadas desta
escuta, iniciou-se os questionamentos sobre a “experiência escolar em si mesma, as organizações
educativas, os votos e anseios pedagógicos adultos, a educação familiar, o exercício do magistério”
(LAJONQUIÈRE, 2017, p. 23). Desde então, pesquisas são realizadas com base psicanalítica para se
compreender questões educacionais que demandam soluções emergentes. Uma das questões,
amplamente discutida na atualidade, que suscita discussões e pleiteia medidas de intervenção, é a
violência escolar. Neste contexto, o bullying, que segundo Bandeira e Hutz (2012, p.36), [...] “é uma
subcategoria do comportamento agressivo que ocorre entre os pares”, emerge como objeto de
estudo de diversas pesquisas em território nacional – pesquisas, em sua maioria, de ideologia psico-
comportamental. O termo bullying, utilizado na década de 1970 por Olweus, serve de norte para
pesquisas em diferentes países (MARAFON, 2013; BRITO, 2014), o que, para Marafon (2014), o
estabelece como verdade incontestável capaz de refletir novas realidades. Arreguy, Torres e
Camporez (2012) consideram que esse termo promove ou conduz a uma leitura ligada a
“naturalização” e “normalização” dos comportamentos. A categorização comportamental, tendência
na literatura sobre o bullying, estabelece o “perfil” dos envolvidos no fenômeno (CAMPOS; JORGE,
2010; CARVALHO; IZBICKI; MELO, 2014; FANTE, 2011; LOPES NETO, 2005; SANTOS et al., 2013; SILVA
ET.AL, 2014). Este perfil é definido por um conjunto de características que classifica e rotula os
sujeitos em: agressores, vítimas ou expectadores. Este estigma de agressor, segundo Ferreira (2018,
p.68): pode trazer consequências para este sujeito, tanto em sua autoimagem quanto em sua
participação no contexto em que vive”. Ao observar a proximidade entre indisciplina e violência, a
autora destaca que é preciso cuidado para não enquadrar os comportamentos discentes em
determinados perfis rígidos, já que assim corre-se o risco de emitir diagnósticos além da realidade.

158
Desta forma, repensar o bullying à luz da psicanálise poderia contribuir para o rompimento com um
olhar estigmatizador e punitivo sobre os sujeitos envolvidos em situações de disputa, rivalidade,
desavenças entre crianças e jovens, e em vez disso, permitir uma escuta sensível a estes alunos, com
vista a superar estes comportamentos.
OBJETIVOS: O objetivo deste estudo é demonstrar a possibilidade da discussão sobre o fenômeno
bullying, a partir da psicanálise. Permitir a reflexão sobre questões como: em que medida, alguns
conceitos psicanalíticos, em especial, a noção de identificação narcísica ou processos identificatórios
poderiam contribuir para ampliar ou desconstruir o conceito de bullying? Ou ainda, como a
psicanálise poderia provocar um rompimento com a perspectiva que rotula e enquadra os sujeitos?
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por ser um fenômeno amplamente discutido na atualidade e produzir
demandas constantes tanto em suas formas de prevenção quanto intervenção, é necessário nos
questionarmos e refletirmos sobre novas alternativas de se pensar a proliferação do discurso sobre o
fenômeno bullying na escola. Visando um projeto de tese, pensamos que a psicanálise pode nos
encaminhar para ampliar o conhecimento sobre as questões que envolvem a agressividade e
rivalidade de adolescentes e jovens nas escolas.

Autor(a): Telma Maria Duarte Rodrigues – UMESP – Universidade Metodista de São Paulo
Contato: telmaduarterodrigues@gmail.com
Título: Homeschooling e Autismo: a família e o fracasso escolar - uma revisão sistemática
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: A legislação brasileira garante a inclusão de pessoas com deficiência em processos
educacionais. Mesmo assim, atualmente é possível observar um aumento das famílias que educam
seus filhos em casa não frequentando a escola, devido as dificuldades vivenciadas no processo de
inclusão da criança no social e na escola. Tal fenômeno teve sua origem nos Estados Unidos e se
tornou um programa conhecido como Homeschooling. Homeschooling é uma denominação para a
educação que ocorre no ambiente privado, podendo ser em casa, com professores contratados ou o
próprio familiar que estabelece uma relação de educador diante do filho. Dados estáticos nos E.U.A
apontam que desde 1999, há um crescimento nesse programa de 850.000 famílias para 4,6 milhões
de famílias. Já no Brasil, estima-se que 7 mil crianças se encontrem inseridas nesse programa pelo
país, embora ainda não regulamentada devido a omissões, lacunas ou interpretações diversas, que
são mais afeitas à experiências educacionais permitidas ou à possibilidade de certificação de estudos
supletivos presentes nas leis educação. Diante dessas considerações, questiona-se a eficácia desse
retorno ao ensino domiciliar para as crianças, especialmente aquelas com diagnóstico de autismo.
Atualmente, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tomou um lugar relevante nas clínicas, escolas e
sociedade, devido a um crescente número de diagnóstico proporcionado pela necessidade
prevenção e intervenção precoce aos indicadores de risco ao TEA, em crianças até os 18 meses. O
TEA é identificado na infância, principalmente antes dos 5 anos de idade e pode permanecer na
adolescência e vida adulta. Os sintomas se apresentam por graus: leve, moderado e grave. É
relevante refletir também acerca dos procedimentos cínicos, uma vez que deve ser considerada a
singularidade desses sujeitos, sua história, forma de estar no mundo, e/ou se deixa ou não enlaçar
pelo outro. Desta forma, o objetivo desse estudo foi descrever e analisar a efetividade do programa
homeschooling para pessoas com TEA sendo que, nesse transtorno, apresenta fenômenos como o
isolamento e a exclusão social. O delineamento utilizado foi a pesquisa qualitativo com revisão
bibliográfica sistemática, adotando-se a estratégia metodológica PRISMA, com levantamento de
artigos nas bases de dados: BVS, Scielo, Periods.Capes e ERIC, relacionando os seguintes descritores:
Transtorno do Espectro Autista (Autism Spectrum Disorders), Homeschool e adaptação (sinônimo de
estratégia). Os resultados indicaram como busca inicial 47 artigos, nas bases de dados referidos. Após
os critérios de exclusão e inclusão, finalizando com quatro artigos, porém um não foi recuperado,

159
sendo analisados para esses estudos 03 artigos. O material analisado apontou que os familiares das
crianças apresentam o homeschooling como uma escolha de vida a partir do fracasso escolar e da
inclusão social, sendo ainda mais acentuada nos casos de crianças com TEA. Esse estudo permitiu
identificar que, além de ser uma escolha dos familiares para a vida das crianças, a estratégia
homeschooling envolve falta de conteúdos e de ações escolares, prejuízo nas relações familiares,
apontando a necessidade de subsídios científicos visando a proposição de políticas públicas nesse
âmbito.

Autor(a): Thales do Rosário de Oliveira – UNB – Universidade de Brasília


Contato: profess.thales@hotmail.com
Título: Psicanálise na formação de professores
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: Existe no ambiente escolar, um mal-estar, refletido na inquietação, frustração ou desânimo
por parte de professores e de estudantes, que tendem a dirigir a culpa, de tal situação, um para o
outro. Enquanto os alunos se queixam de aulas monótonas, grande quantidade de textos e
linguagem complexa; os professores se queixam de alunos pouco comprometidos com a própria
formação, desrespeitosos e com precários conhecimentos propedêuticos. Esse cenário reflete as
dificuldades enfrentadas por escolas da educação básica em todo Brasil. É possível pensar que talvez
esse lugar de autoridade ocupado pelo professor, outrora, estivesse diretamente ligado ao saber.
Sendo assim, com o desenvolvimento das tecnologias de informação, o conhecimento para ser
adquirido prescinde do professor. Com isso, a questão que se põe é: O que fazer diante dessa nova
realidade? Desses novos alunos? De que forma a psicanálise pode contribuir nesse contexto? Como
auxiliar o professor nessa mudança de papel? As transformações que vêm ocorrendo no meio social
provocaram mudanças que têm levado para a sala de aula uma crescente diversidade de alunos, com
diferentes percursos psíquicos, educacionais e sociais, o que resulta numa maior exigência sobre a
prática e as competências docente. Mesmo com todas essas exigências e necessidades de que um
novo modelo de educação surja, a formação do professor continua a mesma, baseada na
racionalidade técnico-instrumental, na qual o docente é inserido no que Paulo Freire chama de
educação ‘bancária’, que consiste em depositar no professor conhecimentos, que, em seguida,
devem ser depositados nos alunos. Almeida e Paulo explicam que essa concepção desconsidera que
o profissional seja uma pessoa, que a identidade profissional não se separa do pessoal. O que se
escuta com certa frequência são as falas de professores recheadas de indignação pela forma como
têm sido tratados pelos alunos, bem como repletas de frustrações e angústias pelo não saber o que
fazer para despertar o interesse e o compromisso dos estudantes. Esses professores demonstram
dificuldades para lidar com esse novo público, bem como esse novo lugar em que estão sendo
postos. Para que consigam lidar com essa nova organização simbólica, o professor precisa de uma
formação que esteja para além do técnico-instrumental. Partindo do saber e da ética da psicanálise.

Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Cristiana Carneiro
Contato: Thaysasantos.1991@gmail.com, cristianacarneiro13@gmail.com
Título: O diagnóstico de autismo: a clínica ampliada e a psicanálise
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O presente trabalho deriva-se das discussões de minha pesquisa de mestrado, que se
originou a partir de uma experiência profissional no âmbito do projeto Brinquedoteca. A
Brinquedoteca era uma iniciativa da Organização Social Viva Rio em parceria com a prefeitura do Rio
de Janeiro e tinha por objetivo o desenvolvimento de crianças em um espaço lúdico, mostrando a

160
importância do brincar. No entanto, embora as crianças autistas não fossem o público alvo do
projeto, a maioria das crianças lá recebidas possuíam esse diagnóstico. Dito isso, com base na
crescente literatura sobre o autismo e na experiência vivida no contexto da brinquedoteca, o
presente trabalho, pensa acerca do aumento de casos diagnosticados como autismo (MAS, 2018),
que chegam para tratamento cada vez mais cedo. Tal movimentação torna-se importante, por
possibilitar uma intervenção precoce, proporcionando assim maiores chances de resultados clínicos.
Diante disso, esta pesquisa se questiona como é realizado o diagnóstico psicanalítico de autismo no
contexto ampliado? Ou seja, fora de um consultório em que a psicanálise se dá em stricto sensu,
como é o caso da brinquedoteca. Existiria algo que pudesse auxiliar o psicanalista nesse fazer?
Poderiam, sob uma possível transferência nos casos de autismo, os eixos teóricos construídos na
pesquisa multicêntrica de indicadores clínicos para o desenvolvimento infantil (IRDI e AP3) servirem
de guias para a realização desses diagnósticos? Além de tais questões, sabemos ainda que para o
analista, para que alguma coisa possa ser realizada com essas crianças é importante supor algo de
uma subjetividade. Mas como sustentar isso teoricamente? Segundo Lacan (1955) a constituição do
sujeito se dá na relação com o Outro. Lacan nos explica que existe uma rede de significantes que vai
preceder a existência de todos os sujeitos, isso significa que a criança nasce imersa em uma história,
onde uma cadeia de gerações irá influenciar em seus desejos inconscientes, que serão passados
através da relação com o Outro. A criança que aceita esses significantes e se aliena, tem a
oportunidade de deixar de ser uma simples massa de carne viva, para se tornar um sujeito da
linguagem. Para Lacan (1964) é na alienação que ocorre o estabelecimento do primeiro significante
(S1). O que acontece no autismo segundo Vorcaro(1999) é que a criança entra na alienação e em
seguida para, não consegue passar ao segundo tempo, no qual o S1 remete ao S2 e esta articulação
forma a cadeia de significantes. Pois no autismo ocorreria o que Lacan (1964) chama de holófrase,
que seria uma solidificação entre o primeiro casal de significantes. Para responder os
questionamentos oriundos desta pesquisa, também foram realizadas seis entrevistas com
psicanalistas que trabalham com o autismo na psicanálise em extensão, sendo três delas com
psicanalistas que se utilizam ou já utilizaram os indicadores em seus percursos e as outras três com
psicanalistas do contexto ampliado que não se utilizam nem do IRDI e nem da AP3. O objetivo destas
entrevistas foi escutar sobre a articulação teórico-prática. Está pesquisa se encontra em fase de
desenvolvimento, por conta disso, a análise das entrevistas ainda não foi concluída. Portanto, ainda
que não possamos falar propriamente em resultados, esperamos através dela possibilitar a
emergência de caminhos alternativos para trabalhar com essas crianças.

Autor(a): Thaysa Silva dos Santos – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Nicole Melo dos Santos Eroles
Contato: Thaysasantos.1991@gmail.com, nicolemse@gmail.com
Título: Grupo de Pais: um trabalho de escuta orientado pela psicanálise
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O Grupo de Pais da oficina “Ponto de encontro” integra o projeto “Circulando e traçando
laços e parcerias: atendimento para jovens autistas e psicóticos - do circuito pulsional ao laço social",
do Programa de Teoria Psicanalítica, do Instituto de Psicologia da UFRJ, financiado pela FAPERJ e
CNPq. O projeto é coordenado pelos professores Fábio Malcher e Ana Beatriz Freire, além de ser
formado por um grupo de trabalho composto por psicanalistas, graduandos e mestrandos em
Psicologia da UFRJ, com parcerias com a Faculdade de Artes cênicas da UNIRIO, os CAPSIs Maurício
de Sousa e CARIM e o CPRJ, na interface com o campo da cultura, da arte e da saúde mental na
perspectiva da intersetorialidade. Atuamos através de um dispositivo clínico ampliado, orientado
pela psicanálise.
Dentre os diferentes dispositivos de atendimento oferecidos pelo projeto encontra-se a oficina

161
“Ponto de Encontro” que tem por finalidade proporcionar um espaço de interação entre os
participantes, no qual as invenções desses jovens possam ser compartilhadas no coletivo, visando à
construção de um laço social. Foi a partir do Ponto de Encontro que o Grupo de Pais foi e está sendo
construído. Com o objetivo de realizar um trabalho com pais dos jovens e adultos frequentadores
“do Ponto”, essa oficina visa possibilitar para esses pais um lugar no qual eles possam emergir como
sujeitos. Embora o trabalho realizado não seja um tratamento analítico stricto sensu, a psicanálise é
o referencial teórico que embasa a escuta no grupo de pais, cujas intervenções ocorrem no campo
transferencial. Durante esses encontros, não raro, notamos no discurso desses pais queixas
relacionadas à intensa rotina que estabelecem para a realização dos cuidados para com seus filhos.
Essa posição de sacrifício exercida pelos cuidadores, além de geradora de queixas - por demandar um
cuidado excessivo de seus filhos -, também os coloca em uma posição que representam tudo para
seus filhos. Dessa maneira, como resultado, por vezes emerge uma dificuldade em delegar
responsabilidades, não existindo, portanto, espaço para se construir outro lugar além daquele que
ocupam. Tal posição, além de ser sentida como excessiva por seus filhos, é também vivida como um
gerador de sofrimento psíquico para esses pais. Nesse sentido, segundo Oliveira (1996), a existência
de um lugar de escuta para esses pais possibilita o esvaziamento dessa função ocupada por eles, na
qual precisam dar conta de tudo. O Grupo de pais proporciona, pois, uma subjetivação e abre espaço
para que eles ocupem outros lugares e para que outras pessoas possam se responsabilizar também
por esse cuidado para com seus filhos. Desse modo, por meio desses encontros, buscamos
proporcionar que a fala circule entre os participantes com o intuito de possibilitar um espaço no qual
eles dividam suas dificuldades, além de perceberem que outros pais passam por questões similares e
que podem existir caminhos outros para suas questões. A partir desses encontros, notamos que a
potência da oficina está justamente no fato de viabilizar algum deslocamento do lugar que até então
ocupavam, dando espaço para a emergência de novos e outros lugares, muitas vezes promovendo
uma retificação na posição dos pais em relação aos filhos. Por se tratar de uma oficina com pouco
mais de um ano de existência, os resultados ainda são preliminares. Contudo, já percebemos que as
adversidades relativas a ser mãe/pai de um filho com diferentes formas de subjetividade, apesar de
ainda ser uma pauta importante para eles durante o encontro, em suas falas, nos últimos meses, as
questões trazidas para o grupo começam a se diversificar.

Autor(a): Tiago de Moraes Tavares de Lima – Feusp


Contato: tiagomtl@gmail.com
Título: A inclusão escolar entre o direito, a moralidade e ética
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: O trabalho tem por objetivo discutir, a partir da ilustração de alguns casos, como a questão
normativa pode incidir na inclusão de alunos na escola. Quando é que a criação de situações de
exceção dentro do funcionamento escolar são justificáveis e benéficas ao aluno e como podemos
compreender melhor as situações em que se tornam contraproducentes em relação ao objetivo
primeiro - a inclusão do aluno na escola? A inclusão escolar opera por meio de definições que dizem
respeito à ordem do direito. Assim, o acolhimento à diferença não consegue ultrapassar, em seu
discurso, uma nova homogeneização que se cria em torno de um grupo. Da mesma forma, a
fronteira entre quem será incluído, colocado no lugar de exceção, e aqueles para quem a Lei se aplica
é uma fronteira com certa mobilidade, mas difícil de dissolver completamente. Assim, podemos dizer
que quando trazemos alunos que estavam segregados da escola para dentro dela, mas os
reconhecemos prioritariamente por serem "alunos de inclusão", cria-se uma nova distinção que
também segrega, mas agora dentro da escola. Nos interessa, porém, na obra de Hannah Arendt, um
outro sentido que a palavra inclusão poderia ter. É que, para a autora, educar é receber e introduzir
novatos em um mundo que existe antes deles. Em termos psicanalíticos, podemos dizer que à

162
criança recém-chegada ao mundo é reservado um lugar simbólico, que lhe permite então ser falada
pela linguagem, sendo determinada pelo discurso e, assim, fazendo laço. Fazendo uma articulação
sobre o que Arendt e Francis Imbert nos dizem sobre a moral e a ética, faremos uma discussão sobre
as práticas sociais que remetem o indivíduo ao universal, e o constituem como mais um entre iguais.
Há uma intersecção aqui, portanto, entre a discussão sobre a inclusão escolar e a função
socializadora da escola em um sentido republicano. Trata-se de definir uma dimensão em que a ação,
ou ato, ganha caráter normativo por estabelecer perante aos outros um juízo compartilhável e que
ganha sentido porque é feito em sociedade. Além disso, junto com Canguilhem, aprofundaremos a
distinção entre a norma moralizante—cujo fim é a manutenção da própria regra—e aquilo que
Imbert qualifica como o terreno da ética. Finalmente, trazendo alguns breves exemplos de casos de
alunos de Fundamental 2, e da maneira como sua escola acolhe suas diferenças, pretendemos
complexificar a discussão e relançar a questão: a inclusão bem-sucedida é aquela em que o aluno
suporta e ganha em liberdade ao se constituir como "só mais um"? Enquanto há casos em que essa
possibilidade esteja tão distante que a questão nem mesmo seja pertinente, há situações em que
esta pergunta pode ser fundamental para guiar a maneira como a escola planeja seu trabalho com
certos alunos.

Autor(a): Vanderlice dos Santos Andrade Sól – UFOP – Univ. Federal Ouro Preto
Contato: vanderlicesolufop@gmail.com
Título: Angústia no discurso docente: problematizando a relação sujeito-língua estrangeira-
identidade
Eixo: Psicanálise, Mal-estar docente e formação
Resumo: O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard desenvolveu um inusitado olhar sobre angústia
na obra “O conceito de Angústia” (KIERKEGAARD, 1968). No existencialismo kierkegaardiano a vida
coloca o sujeito diante das escolhas, e é esse estado em que o sujeito se encontra diante dos
momentos de decisão que é discutido pelo filósofo. A angústia possui as seguintes características: é
inerente a existência humana; está ligada ao nada, ao vazio; é ambígua; é vista como possibilidade de
liberdade e causa no sujeito repulsa e atração ao mesmo tempo. Outros filósofos existencialistas
como Heidegger e Sartre, também discutem o tema da angústia. Heidegger (1998) diferencia a
angústia do sentimento de medo, pois esse possui objeto determinado. E o angustiado não sabe de
fato o que o angustia e nem de onde vem a angústia. Heidegger diz que a angústia vem do estar-no-
mundo, sendo, portanto, uma determinante existencial. Sartre (1987) relaciona a angústia à
responsabilidade do sujeito sobre suas ações e escolhas e dessa relação na qual o sujeito tem a
possibilidade de escolha, nasce a angústia. Nesse sentido, continua significativo e atual trazer à baila
as reflexões sobre a angústia na perspectiva existencialista e articulá-la com os conceitos
psicanalíticos, para problematizar a formação docente (SÓL, 2014). Lembramos que angústia é
considerada um afeto, porque é o que está à deriva (LACAN, 2005). Para Lacan ([1962-1963] 2005) a
angústia é um afeto, não é sentimento. Afeta o corpo. Sendo assim, o angustiado é afetado por esse
enigma, essa falta, ou resto, o objeto a, do qual não sabe de fato o que é e nem de onde vem. A
angústia nasce quando o sujeito se vê diante da responsabilidade sobre suas ações e escolhas,
sempre na relação com o desejo do Outro. Este trabalho se constitui em uma pesquisa que
estabelece a relação intra e interdiscursiva, cuja modalidade seguirá uma abordagem metodológica
que privilegia diferentes possibilidades de interpretação sobre o material discursivo a ser analisado.
A trajetória teórico-metodológica deste estudo está ancorada no atravessamento das perspectivas
discursiva (PÊCHEUX, 1988; ORLANDI, 2005); AUTHIER-REVUZ, 1998 e outros), psicanalítica freudo-
lacaninana (FREUD, [1901] 1996); LACAN, 1998 e outros) e desconstrutivista derridiana (DERRIDA
([1972] 2001, 2004, 2005, 2009). Os participantes foram 07 professoras de Língua Inglesa (LI) da rede
pública de Minas Gerais egressas de um projeto de educação continuada (EC). O corpus foi formado

163
por meio de questionários abertos, entrevistas semiestruturadas, narrativas, filmagens de aulas e
notas de campo. Os gestos de interpretação apontam para a presença dos indícios de angústia no
discurso pedagógico das professoras. O que as professoras localizam e nomeiam ao mesmo tempo é
e não é. “O que aí se joga é da ordem do que o sujeito não “vê”, não sabe, mas num lugar em que
alguma coisa pode aparecer” (COLUCCI, 2006, p. 237). Assim, problematizar a forma como essa
angústia se materializa na sala de aula e na subjetividade do professor pode trazer contribuições para
vários fenômenos que ocorrem na aula de línguas, por exemplo, a recusa e a (in)disciplina. O estudo
permitiu problematizar e compreender as tomadas de posição das professoras, e seus modos de
relacionamento com a EC e em relação ao ensino e aprendizagem de LI. Percebe-se que o imaginário
das professoras é atravessado pelo discurso científico da Linguística Aplicada no que tange a noção
de fluência, bem como pela instabilidade dessa noção. A partir dessa rede de discursos sobre o
professor de LE ideal o professor vai construindo suas representações e (des)construindo sua
identidade. É essa indefinível falta de fluência que instaura um mal-estar e angústia. E é o desejo de
completude que permeia esses dizeres como se fosse possível tudo saber.

Autor(a): Vanessa Cardoso Cezário - Feusp


Contato: van_cezario@yahoo.com.br
Título: A escola como uma instituição sob o desígnio da contemporaneidade
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Em sua raiz etimológica o termo escola vem do grego skholé e do latim schola significando
respectivamente conferência ou discussão e folga, lazer, ócio; sendo assim um lugar e tempo para
estudo de algo interessante. De certa forma, essa instituição estava ligada a um momento de devir,
de não responsabilidade nos assuntos da cidade, de suspensão do mundo do trabalho. Em nosso
tempo a escola está praticamente generalizada, porém sob o imperativo de inovação. Há um dito de
que temos escolas do século XIX, com professores do século XX, para atender a alunos do século XXI.
Por sua falta de afinidade com o mundo atual ela não estaria atendendo à demanda desse e daqueles
que abriga. Ou seja, haveria um descompasso propositivo e temporal de séculos entre a instituição,
os seus agentes e os novatos que ela recebe. Contudo, embora questionada, ela permanece, não
mais como instituição regida pela transmissão de uma tradição, mas tensionada pelas teorias
inovadoras em voga na contemporaneidade. A partir dessas conjecturas intentamos retomar os
implícitos da escola como instituição moderna para fazer um contraponto ao engodo da inovação
especialmente na questão temporal. Diferente da corrida pelo pareamento com as novidades
pedagógicas que parecem carregar em si a certeza do que poderiam formar, entendemos que seria
proveitoso atualizar, no sentido de trazer à tona para fazer funcionar em meio a tantas inovações, a
função formativa da escola que pode ensejar o novo num fio de ligação geracional que contraria o
achatamento somente às referências contemporâneas. Referências Bibliográficas. Arendt, H. A Crise
na Educação. In Entre o Passado e o Futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972. Dufour, D. R. A Arte de
Reduzir As Cabeças. Sobre A Nova Servidão na Sociedade Ultraliberal. Rio De Janeiro: Companhia de
Freud, 2005. Lajonquière, L. Infância e Ilusão (Psico)Pedagógica. Escritos de Psicanálise e Educação.
Petrópolis: Vozes, 1999. Lo Bianco, Anna Carolina; Costa-Moura, Fernanda. Inovação na Ciência,
Inovação na Psicanálise. Ágora (Rio J.), Rio de Janeiro, V. 20, N. 2, P. 491-508, Aug. 2017. Available
From <Http://Www.Scielo.Br/Scielo.Php?Script=Sci_Arttext&Pid=S1516-
14982017000200491&Lng=En&Nrm=Iso>. Access On 08 Sept. 2019.
Http://Dx.Doi.Org/10.1590/1809-44142017002010.

Autor(a): Vanina Costa Dias – FCV – Faculdade Ciências da Vida


Coautor(a): Viviane Marques Alvim Campi Barbosa

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Contato: vaninadias@gmail.com, vialvim@hotmail.com
Título: Psicanálise e educação em tempos de cultura digital: velhos laços, novos tempos.
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: Vivemos sob o domínio da cultura digital. Os recursos digitais têm se mostrado como
ferramentas fundamentais para o compartilhamento de informação e de conhecimento. Esta nova
forma de comunicação possibilita a circulação da informação, aproximando o distante e criando uma
vastidão de possibilidades. No entanto, essa nova gama de possibilidades não é sem impasses e
desafios que se apresentam em diversos âmbitos, dentre eles, o campo da educação.
Os avanços tecnológicos se interpõem às práticas pedagógicas de forma acelerada. As mudanças
decorrentes desses avanços não são as únicas a provocar transformações na cultura escolar. A
aquisição do saber acadêmico, que exige renúncia, esforço e adiamento da satisfação, é
desvalorizada nessa cultura imediatista, que busca o conhecimento transitório, fluido e superficial,
adquirido de forma instantânea pelas tecnologias de comunicação e informação. Observamos o
declínio da figura da autoridade representada pelos governantes, líderes religiosos, pais e
professores. Essa precarização da autoridade acarreta uma maior fragilidade no modelo de adulto e
vemos mestres e pais inseguros de ocupar os seus papéis. Há uma substituição da verticalização pela
horizontalização das relações sociais e do acesso ao conhecimento e uma desvalorização das
instituições sociais tradicionais, como a família, a Igreja, o Estado e a Escola. Nesse novo contexto, a
escola não consegue permanecer no lugar de detentora do conhecimento, que passa a ser buscado
de forma direta através da internet. Os professores se sentem despreparados para lidar com essa
nova configuração das relações sociais, e ao mesmo tempo, pressionados pelas políticas públicas
educacionais a mostrar resultados, a cumprir metas, segundo modelos normatizantes que não
consideram as particularidades regionais e sociais. A prática docente parece distante dos saberes
adquiridos em sua formação, o que gera angústia e um sentimento de serem desvalorizados em sua
profissão. Desrespeitados pelo Estado, pelos alunos e suas famílias, os professores estão, cada vez
mais, desinvestidos e angustiados. Na pesquisa Educação, subjetividade e cultura digital
desenvolvida de forma interdisciplinar por pesquisadores da FAE/UEMG e PPG Psicologia/UFMG nos
perguntamos sobre o lugar da escola na cultura digital. Nessa pesquisa nos debruçamos sobre o lugar
do professor nesse novo contexto educacional. Para tanto, remeter-nos-emos às entrevistas
realizadas com professores da rede pública de Belo Horizonte. Fica evidente nas entrevistas que não
basta a disposição dos recursos, mas as formas de usos das tecnologias por alunos e professores é
que define o potencial das mesmas. As inovações que essas tecnologias trazem para a educação
refletem sobre conceitos fundamentais da educação e em sua reconstrução. Os novos ambientes de
aprendizagem e os ambientes virtuais viabilizados pelos sistemas tecnológicos na rede mundial de
computadores reúnem professores e alunos no ciberespaço e possuem características inéditas,
evidenciando as “potencialidades pedagógicas das tecnologias de informação e comunicação – TIC”
(Almeida, 2010b, p. 5). Além de inserir as TDIC nas escolas, é necessária sua integração com a cultura
digital, ou seja, oportunizar a todos que atuam na escola a participação na cultura digital.
Buscamos compreender, a partir da teoria psicanalítica e das entrevistas realizadas, alguns possíveis
impactos da cultura digital na relação transferencial entre professor e aluno e as relações com o
saber. Referências: Almeida, M. E. B (2010). Integração de currículo e tecnologias: a emergência de
web currículo. Freud, S. (1914/1996). Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar. In Edição
Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 13. Rio de Janeiro: Imago.
Lacan, J. (1960/61) O seminário – livro 8: a transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
Miller, J.A. (1998). Percurso de Lacan: uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Autor(a): Vitória Rosa Cougo – UFSM – Universidade Federal de Santa Maria


Coautor(a): Gabriela Oliveira Guerra, Ana Carolina Bicca Bragança

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Contato: vitoriapsico13@yahoo.com.br, gabrielaoliveiraguerra@gmail.com
ana-carolina.b@hotmail.com
Título: A postura ética do pesquisador em psicanálise frente ao contexto carcerário Brasileiro
Eixo: Pesquisa em Psicanálise
Resumo: Desde os constructos Freudianos, a psicanálise vem produzindo um discurso que tensiona
a relação do sujeito com a cultura de diferentes épocas históricas. As perguntas que a mesma
formula, longe de serem extraordinárias, pretendem desconformar o sujeito com o que lhe é
estranhamente familiar. Acreditando-se na potência de tais questionamentos, compreende-se que as
discussões da psicanálise devem ultrapassar o setting clínico e atravessar as discussões extramuros,
veiculando um método de interpretação da realidade de cunho ético-político (Rosa, 2015). Para
ilustrar tal concepção, este trabalho pretende discorrer, brevemente, acerca de pretensões para uma
pesquisa em psicanálise em uma instituição carcerária, localizada em uma cidade no interior da
região centro-oeste do estado do Rio Grande do Sul. Sabe-se que o contexto carcerário brasileiro
perfaz um cenário de extrema vulnerabilidade, precariedade e seletividade, tornando-se uma
instituição que pouco problematiza as condições em que o crime é criminalizado e penalizado e, da
mesma forma, se abstém de produzir espaços de reflexão e escuta aos sujeitos que por estes espaços
perpassam (Duek- Marques, 2009). Compreendendo que existe uma mortificação do sujeito nestas
instituições, acredita-se que vislumbrar espaços de encontro com os presos aonde eles possam se
expressar de maneira livre, sustentados pela posição ética que o pesquisador em psicanálise se
apoia, podem ancorar uma experiência relacional no presídio que não seja marcada apenas pela via
da violência, julgamento e assujeitamento. Associa-se tais questões às reflexões da filósofa Judith
Butler (2017), a qual compreende a importância de a distinção entre a capacidade do sujeito realizar
uma narrativa e um relato sobre si. Posto que a narrativa propõe uma reflexão ética e o relato indica
um compromisso puramente moral, executado para um outro que se encontra em posição de
julgamento. Desta forma, propor um espaço de escuta e produção de sentido em grupo com sujeitos
marginalizados pelo sistema vigente que resguarde a singularidade de cada sujeito na passagem pelo
cumprimento da pena, propondo uma experiência de espelhamento ético em contraponto à posição
da escuta moralizante, configura-se como uma intervenção subversiva e potente - características
próprias da psicanálise. Assim, o pesquisador que pretende desenvolver uma pesquisa em psicanálise
promove uma ‘abertura de sentidos’, de forma que ao permitir-se percorrer o caminho da pesquisa
com o mínimo de certezas e verdades possíveis irradia condições para que os sujeitos da pesquisa
possam expressar verdades singulares (Rose & Strzykalski, 2018). Esse processo pode viabilizar uma
relação de interdependência entre pesquisador e pesquisado, forjando uma experiência de
implicação e reconhecimento do outro para ambos, processo este que parece encontrar-se
fragilizado nos contextos criminais e prisionais. Assim, conclui-se que esta perspectiva de pesquisa
intervenção, que se apoia na epistemologia psicanalítica, oferece e busca legitimar uma prática no
contexto acadêmico e cientifico que viabiliza reconhecimento e escuta à sujeitos que são
compreendidos, em parte, como responsáveis pela produção do mal-estar no âmbito social,
proporcionando movimentações políticas e culturais.

Autor(a): Welber de Barros Pinheiro – CEC UFSCAR


Coautor(a): Marcelo Ricardo Pereira
Contato: welberbpinheiro@gmail.com, marcelorip@hotmail.com
Título: Espaço de fala com professores em um cursinho popular: contribuições do método de
orientação clínica em Psicanálise
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: Este resumo é um breve relatado de um trabalho de intervenção clínica que está sendo
realizada com um grupo de professores, em um cursinho popular, no interior de São Paulo. Pretendo
demostrar como uma intervenção orientada pela psicanálise tem proporcionado aos professores,
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uma ressignificação ou em termos freudianos, uma perlaboração (Freud, 1914). Começo minha
intervenção participando das reuniões da equipe, e nela, alguns pontos me chamaram a atenção.
Uma preocupação excessiva no cuidado com os alunos, extremo cuidado em não frustrar suas
expectativas e um total desconhecimento do que os alunos atendidos pelo cursinho demandam. O
trabalho de escuta orientado pela psicanálise passou a ocorrer na formação dos professores, e esta
formação, tinha como finalidade, propor um espaço de reflexão sobre educação popular. Porém na
prática este espaço dava lugar a emergências que precisavam ser resolvidas como: cronogramas,
seleção de professores e alunos, bolsas, frequências etc. Para Pereira (2016), o espaço de fala é o
lugar onde o que não se espera pode surgir, e é neste lugar que o grupo tem trabalhado. Os
professores repetem em sala de aula e nas formações, o que eles denunciam em seus discursos, ou
seja, uma educação bancária e precária. Ao se dar conta de tal repetição, o grupo passa a se
perguntar: como um projeto de extensão que, tem a finalidade de ofertar uma educação popular a
estudantes de baixa renda, podem repetir em suas práticas docentes a precariedade da educação
que eles denunciam em seu projeto político-pedagógico? Logo, o tema da evasão se infiltra nas
formações. Este tema também foi muito negligenciado até que o espaço de fala permitiu que ele
tomasse lugar de destaque. Um professor denuncia: bom, mas eu não vejo sentido de todo esse
nosso trabalho, deste esforço todo, de construir uma rede temática de discutir tudo isso se eles
estão indo embora, não só os alunos, mas o os professores também. Começamos com sessenta e
hoje não devemos ter mais de 20 alunos e só temos dois meses de aula, algo está acontecendo.
Numa roda de conversa, alguns alunos pedem a palavra: eu entendo que eles querem que a gente
pense sobre isso tudo que está acontecendo no nosso país, que a gente questione as coisas, mas eles
(professores) estão pegando muito leve com a gente. Outro ponto na fala dos alunos escancara a
precarização que o cursinho vem promovendo como prática de educação popular: bom a gente
entende que eles estão sempre ocupados, que estão aqui fazendo um favor pra gente, mas não dá
pra sair de casa e chagar aqui e a coisa não fluir, tem o passe do ônibus o marmitex… daí a gente
chega no horário e a aula começa as 10:00 e acaba mais cedo. A gente entende que eles não têm
muito tempo, mas nós queremos passar no vestibular.
Numa formação uma professora desabafa: antes eu saia daqui animada, motivada, mas hoje, olha
isso, essas cadeiras vazias. Do que adianta esse tanto de discurso bonito, mas daí o povo não vem,
tem sempre alguém passando mal no sábado (professor). Sinceramente assim não dá. A quanto
tempo estamos tentando tocar essa formação, mas nunca que conseguimos dar continuidade a ela.
Escutando o desalento desta professora eu respondo: nós temos trabalhado muito nas formações,
talvez não com os temas propostos inicialmente, mas vejam de onde partimos e onde estamos hoje.
Temos aqui a possibilidade de inventarmos juntos uma educação popular possível para este lugar,
diferente daquele discurso pronto que o cursinho estava carregando. Temos a oportunidade de fazer
algo com isso e de nos responsabilizar pelo nosso trabalho. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.
66. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2018. FREUD, Sigmund. Lembrar, repetir e perlaborar. 1914. In:
______. Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. p. 151-164.
(Obras incompletas de Sigmund Freud, 6). PEREIRA, Marcelo Ricardo. O nome atual do mal-estar
docente. Belo Horizonte: Fino Traço, 2016.

Autor(a): Wericson Miguel Martins – Prefeitura Municipal de Poços de Caldas


Contato: wericsonmartins@yahoo.com.br
Título: Diagnosticar para cuidar ou cuidar para não (precisar) diagnosticar: o que a Psicanálise tem a
dizer?
Eixo: Psicanálise, corpo e saúde mental
Resumo: Toda forma de sofrimento precisa virar sintoma para ser tratada? É preciso diagnosticar
para poder cuidar, ou cuidar para não precisar diagnosticar? Como os rótulos diagnósticos

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influenciam a prática educacional? Muitas são as questões levantadas por este trabalho. De início, o
aumento alarmante da incidência de diagnósticos, da medicalização e da patologização do cotidiano
ao mesmo tempo em que, frequentemente, são lançados projetos de lei, editais e programas tentam
excluir a Psicanálise dos métodos possíveis de tratamento (e até mesmo a Psicologia das
possibilidades diagnósticas). É cada vez mais comum a substituição dos nomes próprios das crianças
por rótulos diagnósticos (cujo poder tende a ser decisivo e classificatório), modulando; e até mesmo
fixando transtornos mentais, nas instituições escolares (públicas e privadas). O testemunho dos
educadores, na maioria das vezes desesperado e angustiado, pautado no próprio despreparo diante
das (im)possiblidades de entendimento e manejo dos diagnósticos de seus alunos, retratam o
crescente mal-estar docente frente a um corpo inabitado, um corpo cujo sujeito foi despejado de seu
lar para abrigar um novo habitante, definido como um conjunto de sintomas que parecem exigir um
conhecimento aquém dos profissionais da Educação. A imagem corporal está assentada no interjogo
da recepção dos fluxos sensoriais e seu processamento. Nisso, reside o papel maturacional do
sistema nervoso central, mas também as formas como o Outro filtra, modela e modula o ambiente e
seus fluxos, no sentido da habituação; diante da estimulação sensorial que é simultânea, excessiva e
constante, o organismo se faz corpo, situando cada um diante do Outro e do mundo.
Continuamente, o organismo humano recebe informações sensoriais e, para selecionar as que
precisam de resposta, já como corpo, é preciso não prestar atenção em todas, mas conhecê-las
integradas umas às outras, em ideias e categorias. Esta integração sensorial é fundamental ao
funcionamento articulado do psiquismo no corpo e para o ambiente. Na mesma via, a representação
que o Outro tem da criança converge tanto para o investimento quanto para o desempenho de sua
função para com ela; pelos investimentos narcísicos, pelos modelos de identificação que apresenta.
O discurso da ciência, cuja eficácia está pautada na sutura da subjetividade, através da remissão dos
sintomas, é, curiosamente, convidado para dentro da escola como pré-requisito de garantia de
inclusão. Assim, com reflexões pontuais e relatos de experiência da clínica psicanalítica articulada à
proposta bullingeriana, este trabalho versará sobre os efeitos do diagnóstico no campo do Outro, na
constituição psíquica das crianças em risco e em como os resíduos desse embate têm impacto no
corpo, incapaz de organizar, modular e filtrar os diferentes estímulos oriundos de seu entorno. Quais
seriam os efeitos dessa pedagogia dita científica ao lado de uma psicologia aparentemente
adaptativa? O que a Psicanálise tem a dizer?

Autor(a): Yara Porto de Paula Lima – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coautor(a): Luciana Gageiro Coutinho, Cláudia Braga de Andrade
Contato: yaraportolima@yahoo.com.br, yaraportolima@yahoo.com.br, lugageiro@uol.com.br,
claudiabragaandrade@gmail.com
Título: Rodas de conversa: sofrimento psíquico na universidade
Eixo: Psicanálise, Infância, adolescência
Resumo: O presente trabalho é baseado em um projeto de pesquisa em desenvolvimento na
Universidade Federal Fluminense intitulado Educação para a vida: adolescência, suicídio e
vulnerabilidades sociais. Considerando o aumento crescente nos índices de suicídio na adolescência e
a partir da constatação do impacto que essa problemática traz para as instituições educativas e de
saúde, a pesquisa objetiva investigar de que forma tais impasses se traduzem psiquicamente e
podem se articular com uma discussão sobre a participação das instituições educativas nos mesmos
bem como no seu enfrentamento. A partir da demanda da Faculdade de Educação da Universidade
Federal Fluminense (UFF) referente aos conflitos psíquicos vivenciados por parte de seus alunos,
iniciamos a realização de rodas de conversa mensais na universidade, abertas a alunos de todos os
cursos. Este dispositivo foi proposto para investigar o sofrimento psíquico na adolescência
contemporânea (incluindo-se aí o suicídio), para o qual crescem as demandas de atendimentos e

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requer uma escuta atenta aos impasses nos laços sociais através da viabilização de espaços de
endereçamento e de construção de novos possíveis laços. Entendemos o trabalho psíquico dos
adolescentes a partir do paradigma da produção de subjetividades, não como uma fase natural do
desenvolvimento psicológico, mas sim levando-se em conta a relação entre subjetividade e práticas
discursivas como processos de produção recíproca (Birman, 2009). Experiência subjetiva que
remonta aos tempos modernos, a adolescência como um dos tempos da constituição do sujeito em
que há uma reedição edípica e narcísica (Coutinho, 2009), momento de um novo encontro com o
Outro que produzem efeitos nos modos do sujeito se enlaçar no social. Nesse sentido, entendemos
que a escuta de jovens universitários nos permitirá trazer aportes para a discussão sobre o suicídio e
a situação do laço social atual que impacta na adolescência. Em consonância com o paradigma da
pesquisa em psicanálise, considerando que o inconsciente está presente nas variadas manifestações
humanas, culturais e sociais, nossa pesquisa busca instaurar a possibilidade de uma fala na qual o
sujeito tenha lugar, considerando a dimensão política do sofrimento produzido nas e pelas relações
sociais. Para tal, as rodas de conversas se constituem como uma modalidade de intervenção que
apostam na circulação da palavra como condição de inscrição de uma distância capaz de,
paradoxalmente, aproximar e produzir um laço com o outro. Apostando, desta forma, em novas
formas discursivas que possam repensar as bases do pacto social vigente (Rosa, 2016). Através do
dispositivo de rodas de conversa visamos oferecer um espaço de fala/escuta, uma experiência
compartilhada que promova a historicização do sujeito, bem como novas ações no cotidiano
universitário (Andrade; Diniz; Jatobá, 2015). Nesta comunicação, discutiremos os temas evidenciados
nos primeiros encontros de rodas de conversa sobre o sofrimento psíquico. BIRMAN, J. “Juventude e
condição adolescente na contemporaneidade”. In: BOCAYUVA, H. & NUNES, S.A. Juventudes,
subjetivações e violência. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009. ANDRADE, B. C., DINIZ, M, JATOBA, C.
Sou mais juventude: uma experiência política no contexto universitário. In: Juventudes e o mal-estar
na contemporaneidade. Belo Horizonte: Paco Editora, 2015. COUTINHO, Luciana Gageiro.
Adolescência e Errância: Destinos do laço Social Contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Nau, 2009.
ROSA, Miriam Debieux. A Clínica Psicanalítica em Face da Dimensão Sociopolítica do Sofrimento. São
Paulo, Escuta, 2016.

Autor(a): Yudi Esmeralda Pardo Murcia – FaE/UFMG – Univ. Fed. De Minas Gerais
Coautor(a): Mônica Rahme, Marcelo Ricardo Pereira
Contato: pardoyudi@gmail.com, monicarahme@hotmail.com, marcelorip@hotmail.com
Título: Caminos en construcción por una educación inclusiva
Eixo: Psicanálise, Inclusão, diferença e diversidade
Resumo: El presente escrito pretende dialogar sobre la educación inclusiva en la escuela dentro del
aula regular. Pensar en una educación inclusiva, es pensar en el derecho que tienen todos los niños,
niñas y adolescentes, en el sistema educativo, independientemente si tiene o no alguna
discapacidad. Si bien se ha sustentado en en normatividades y actuaciones de organismos
internacionales, es una realidad que sus derechos son vulnerados y por tanto su educación también.
Sin embargo no se puede desconocer el camino que en los últimos años las instituciones educativas
intentan labrar, este trabajo específicamente contará la importancia de las posibilidades que pueden
generar los docente de aula regular desde su convicción, generando ambientes posibles para los
aprendizajes diversos. Abriendo caminos y possibilidades. En ese caminar por la educación inclusiva,
se visualizan las diferentes reformas educativas encaminadas a eliminar las barreras de exclusión
hacia los niños, niñas y jóvenes de la escuela, sin embargo es importante enfatizar que existen un
amplio conjunto de procesos interdependientes que inciden en la escuela desde fuera de ella, como
los procesos de exclusión social que vivencian los diferentes estudiantes en situación de desventaja.
(ECHEITA, 2007). A pesar de ello, se puede cambiar este conjunto de realidades, una de ellas es al

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interior de la escuela, interactuando de la mejor manera posible para reducir la exclusión educativa
en el proceso hacía políticas, culturas y prácticas educativas más inclusivas. (ECHEITA, 2013). Es así
que al interior de la escuela en el aula regular debe ser un lugar donde se creen y recreen actitudes y
comportamientos de inclusión como lo afirma Ferreira (2007), siendo un lugar propio donde el
docente donde inventen y reinventen el vínculo educativo y así crear posibilidades de entretejer sus
marcas en esa oferta educativa. (TIZIO, 2003). Circulando la palabra, posibilidades en ese caminhar.
Es a través de la palabra que se da el surgimiento dialecto donde fluye la participación, disponiendo
diferentes posibilidades en relación al valor colectivo que se da en estos espacios, en logar visualizar
las diferentes miradas y experiencias del saber no sabido, donde se puede reflexionar y tener la
posibilidad de dejar marcas de esa experiencia (GURSKI, 2015). Por lo tanto las ruedas de conversa,
posibilita cambios, nuevas palabras, nuevos posicionamientos generando nuevas formas de
subjetivación, encontrando formas diferentes de concebir y desarrollar su quehacer docente
(PEREIRA, 2012). BIBLIOGRAFÍA: ECHEITA, G Y SANDOVAL, M. Educación inclusiva o educación sin
exclusiones. Revista educación, no. 327, 2002. ECHEITA, G. Inclusión y exclusión educativa. de
nuevo1 “voz y quebranto”. Revista Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación,
v11, n 2, 2013. FERREIRA, M. O enigma da inclusão: das intenções às práticas pedagógicas. Educação
e Pesquisa. São Paulo. Volumen 33. Número 3. 2007. TIZIO, H. La posición de los profesionales en los
aparatos de gestión del síntom. In TIZIO, H (org). Reinventar el vínculo educativo. Gedisa editorial.
España, 2003. GURSKI, R. Psicoanalises, educação especial e formação de profesores: construções em
rasuras. Porto Alegre: Editora Evangraf Ltda, 2015. PEREIRA, A. psicoanálise escuta a educação 10
anos depois. Fino Traço editora. Belo Horizonte, 2012.

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