Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Esse trabalho tem como propósito apresentar três categorias para análises das
obras de arte. É importante evidenciar que as obras são tratadas, aqui, como
complexos sígnicos, representantes de um ideal estético subjacente a toda e
qualquer criação artística. Para esse fim, a semiótica peirceana –
especialmente a fenomenologia – aparece como fundamento teórico para a
proposição de tais categorias. Em linhas gerais essas categorias se configuram
como suporte conceitual para o entendimento do processo de composição da
obra de arte que, por sua vez, está submetida às relações de experiência
estética nos instantes em que venha a ser fruída, seja pelo próprio artista, pelo
público ou pela crítica.
Fenomenologia peirceana
Antes de apresentar as categorias que iluminam esse trabalho, faz-se necessário dar uma
exposição da relação de engendramento das categorias fenomenológicas de Peirce, uma vez que toda
fundamentação teórica desse artigo está apoiada nesses conceitos. A fenomenologia é toda a base de
fundamentação para a ciência semiótica peirceana. É a partir das categorias fenomenológicas que o
filósofo aponta a forma como o signo (elemento de representação dos fenômenos que a semiótica estuda)
irá ser analisado e estruturado. As partes integrantes do signo, assim como a relação entre os diversos
signos numa composição, está fundada nessas categorias, a fenomenologia. Apresentamos de forma
diagramática essas três categorias.
Peirce explica que todo fenômeno tem sua ocorrência erigida de uma relação
entre três partes integrantes, três categorias fenomenológicas que trabalham
concomitante e ininterruptamente. São elas: a primeiridade, a secundidade e
a terceiridade. A primeiridade é a categoria que rege as qualidades de
sensação, a presentidade, a espontaneidade, a potencialidade do fenômeno que
se analisa. A secundidade se identifica com as idéias de ação-reação, de
conflito, de materialização, de resistência, de atualidade, etc. Já a categoria da
terceiridade está aliada às características de generalidade, continuidade,
representação, propósito, mediação, infinidade e genuinidade do signo.
As três categorias fenomenológicas são onipresentes em qualquer relação e
aparecem de forma engendrada, ou seja são concomitantes, se relacionam
conjuntamente. No entanto, o signo só é materializável enquanto elemento
predominante em sua secundidade e só se torna genuíno em sua terceiridade,
ou seja, só ele é representado em terceiridade. Apesar disto, os signos podem
se apresentar em predominância de alguma das três categorias, o que acaba
conferindo ao signo uma identidade com atributos próximos aqueles
governados pela categoria em destaque.
A proposta de Laurentiz
Além do insight, Laurentiz aponta outras duas etapas – que estão engendradas
segundo a relação fenomenológica de Peirce – do olhar para a produção
artística. A segunda delas é a materialização da obra. Ora, se existiu
um insight, uma nova forma de se apresentar a arte, tal forma só será possível
se essa nova proposição se viabilizar num suporte. Ou seja, a materialização é
a fase teste do insight, é a formalização da proposição, o teste da hipótese, é
onde a arte deixa de ser um processo especulativo e passa a ser uma forma
criativa. “Após inferências puramente hipotéticas que caracterizam essa fase
do pensamento do artista, ele procura conduzi-lo para a materialização de
uma obra. (Laurentiz, 1991, p. 60).
2 - Categorias de análise
1. seleção
hipoicônica
2. singularidade
3. poética
onde: a seleção hipoicônica se
refere à primeiridade
a singularidade se refere à
secundidade
a poética se refere à
terceiridade
Seleção Hipoicônica
Esses signos estéticos são, por sua vez, ícones degenerados e se apresentam
materializados como hipoícones. Tais elementos dependem, no entanto, de
uma escolha minunciosa (tanto da materialização do ideal em signos estéticos
– hipoícones –, quanto do nível de abertura fruitiva oferecida), que está
condicionada às possibilidades repertoriais do autor, do experienciador e da
expressão artística, à qual a obra de arte pretende se enquadrar. Este é um
processo seletivo, que aqui categorizamos
como seleção hipoicônica. A seleção hipoicônica é a primeira das três
categorias de análise das obras que serão apresentadas. Essa categoria está
fundamentada na relação entre o repertório que o autor dispõe para viabilizar a
composição artística e o seu ideal estético. Essa relação se materializa através
da seleção de alguns elementos com propriedades de manifestar qualidades de
sensação (hipoícones) no momento da experiência estética.
Singularidade da obra
Poética
Temos, por tanto, três requisitos de análise e conformação das obras de arte.
Esses três requisitos de conformação e análise artística não são visualizáveis
livremente, ao contrário, só podemos apreende-los em sua totalidade, ou seja,
na medida em que eles se articulam para caracterizar a obra, enquanto tal. É
importante salientar que essas categorias estão engendradas do modo da
relação das categorias fenomenológicas de Peirce. Então, a seleção
hipoicônica é um primeiro que oferece pressupostos para a singularização de
uma obra que, por sua vez está adaptada ao programa poético da obra. Sendo
assim, essas três categorias não podem ser aplicadas como casos isolados, mas
de modo integrado na análise da composição (obra) na qual se aplica. Não
podemos falar isoladamente da composição hipoicônica, da singularidade ou
poética da obra separadamente, pois elas dialogam concomitante e
ininterruptamente. Por isso, essas categorias não são modelos de
enquadramento de um tipo de obra, mas um suporte para se discutir a
composição artística a partir da experiência estética com a mesma.
Referências