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n.1
jan/abril
2007
foto da capa:
Jupiterimages / David Wasserman /
France Presse
Editores
Anna Beatriz de Almeida Waehneldt
Claudia Guimarães
Editoração
Centro de Comunicação Corporativa Senac
Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial
Projeto Gráfico,
Programação Visual e Diagramação Conselho Nacional
Antonio Oliveira Santos
Bárbara Necyk
Presidente
Departamento Nacional
Revisão Sidney Cunha
Fabiano Gonçalves Diretor-Geral
Produção Gráfica
Sandra Regina Fernandes do Amaral
Senac/Departamento Nacional
Av. Ayton Senna 5.555 - Barra da Tijuca
CEP 22775-004 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil
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E-mail da revista: educaambiental@senac.br
Quadrimestral.
Departamento Nacional.
CDD 574.507
O teor da informação – contida num relatório produzido por um painel de mais de 2.000 cientistas, sob a coordena-
ção da ONU – era muito claro: as atividades que emitem gases de efeito estufa estão sendo responsáveis, sim, por
um processo de aquecimento global. Em outras palavras, o ser humano está provocando um fenômeno de conse-
qüências muito graves e que poderia até, a longo prazo, inviabilizar a sobrevivência da própria espécie no planeta.
Independentemente dos cenários traçados – alguns mais otimistas e outros, claramente catastrofistas –, o fato é que,
a partir da divulgação desse relatório, ninguém mais pode ignorar a gravidade do processo de aquecimento global ou
as suas causas. A grande questão é: o que fazer para reduzir o seu ritmo e, na melhor das hipóteses, revertê-lo?
As respostas variam muito, segundo o setor de onde provêm, e vão de soluções técnicas e de natureza estritamen-
te econômica até propostas radicais, de ruptura de paradigma civilizatório, passando por mudanças de natureza
apenas comportamental.
Para o mercado, por exemplo, a negociação de créditos de carbono, prevista no Protocolo de Kioto, é uma das
saídas para atenuar o problema. Partindo do princípio de que o aquecimento global é um fenômeno em escala
mundial – e, portanto, é válida qualquer iniciativa de reduzir a emissão de gases de efeito estufa , não importa onde
seja feita – países e empresas têm investido crescentes somas em projetos que contribuem para esse objetivo.
Este tipo de iniciativa tem sido, porém, criticada por alguns setores ambientalistas, para os quais propostas como esta
não vão ao cerne do problema, pois buscam soluções para as questões ambientais sem romper a lógica do mercado,
dentro da qual a natureza é apenas mais uma mercadoria. Dessa forma, afirmam esses críticos, o mercado de carbono,
como outras iniciativas similares, não coloca em discussão a necessidade urgente de uma mudança no modelo de
sociedade atualmente hegemônico no mundo – por definição, um consumidor voraz e insaciável dos recursos
naturais do planeta. Além disso, alegam, iniciativas como a do mercado de carbono não questionam a utilização
desigual dos recursos naturais do planeta. Por último, lembram que os habitantes dos países ricos não só consomem
muito mais que o das nações em desenvolvimento, como têm um estilo de vida infinitamente mais poluidor.
Seja como for, o mercado de créditos de carbono é uma realidade e, portanto, deve ser melhor conhecido por todos
os que se preocupam com os problemas ambientais globais. E por isso, ele é, juntamente com a questão do
aquecimento global, o tema de Capa desta edição.
Na seção Entrevista, o ambientalista mexicano Enrique Leff analisa as raízes da crise ambiental atual e os desafios
epistemológicos e filosóficos que a humanidade enfrenta para instituir uma nova racionalidade planetária. “A vida
foi transtornada pela lógica do mercado e pelo poder tecnológico, levantando um problema ontológico, epistemo-
lógico e ético sem precedentes”, alerta.
Outro destaque desta edição é a reportagem sobre o Aqüífero Guarani, um gigantesco manancial de água doce
localizado em terras do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Apresentado muitas vezes pela mídia como “o maior
mar subterrâneo de água doce do mundo”, esse reservatório ainda está envolto em mitos e idéias equivocadas.
Mas, como mostra nossa reportagem, um esforço de pesquisa multinacional começa a desvendar seus segredos
e a relacionar as necessidades socioeconômicas e ambientais com as reais potencialidades do reservatório.
Além dessas matérias, você terá a oportunidade de conhecer projetos que conciliam a proteção ao meio ambiente
com a busca por maior qualidade de vida para a população, como o Poema, na Amazônia, os do Centro Escola
Mangue, em Pernambuco, e o Mova Caparaó, no Espírito Santo. Também poderá conhecer a enorme biodiversida-
de do Amapá, que começa finalmente a ser desvendada após uma série de expedições científicas.
40
7
Soluções Sustentáveis
34 Cartas
Cultura Na Amazônia, pobreza e meio
ambiente viram Poema
O cinema como aliado da
educação ambiental Parceria entre os setores público e 13
privado e organizações não-gover-
Cinema e educação ambiental namentais nacionais e estrangeiras
Notas
mobilizam jovens capixabas no dá origem a um projeto que busca
entorno do Parque Nacional do propiciar melhor qualidade de vida
Caparaó, em um festival que usa a aos povos tradicionais da Amazônia,
sétima arte para promover cidadania aliada à preservação do meio
19
e conscientização ambiental ambiente Estante
Senac Nacional
Diretoria de Educação Profissional
Centro de Educação a Distância
Av. Ayrton Senna, 5.555 - Barra da Tijuca
CEP 22775-004 - Rio de Janeiro - RJ
Atendimento ao leitor:
Kátia Kitzinger
Atenção:
as cartas devem trazer o nome e o ende-
reço completo do remetente (no caso de
e-mail, a cidade e o estado).
O ambientalista mexicano Enrique Leff afirma que o Par reverter esse processo, o ambien-
talista engrossa o coro dos que de-
grande desafio socioambiental hoje é romper com a idéia fendem “novas formas de significa-
de um pensamento único e unidimensional, orientado ção do mundo, da vida e da nature-
za”, originando “um mundo onde cai-
rumo a um “progresso sem limites” que vem reduzindo e bam muitos mundos”. Também en-
superexplorando a natureza. fatiza que “a mudança nunca vem de
cima, mas de baixo, quando há uma
autêntica mobilização social”.
Claudia Guimarães
S&EA – Quais são os grandes desafi-
os ambientais do mundo moderno?
Para quem estuda as questões mação Ambiental para a América
ambientais, o nome de Enrique Latina e o Caribe no Pnuma. EL – São muitos: o aquecimento
Leff dispensa apresentações. Dou- global do planeta, o abastecimento
tor em Economia do Desenvolvi- Nesta entrevista exclusiva para a e uso sustentável da água e de to-
mento, o ambientalista mexicano Senac & Educação Ambiental, feita dos os recursos naturais, o desma-
é uma referência nos campos da durante uma de suas viagens ao tamento, a perda de fertilidade das
Epistemologia Ambiental, Ecologia Brasil, Leff analisa as raízes da crise terras e a erosão dos solos, a redu-
Política e Educação Ambiental. ambiental atual e os desafios epis- ção da biodiversidade e da diversi-
Autor de dezenas de livros, publi- temológicos e filosóficos que a hu- dade cultural...
cados em diversos países da Amé- manidade enfrenta para instituir
rica Latina (inclusive no Brasil), uma nova racionalidade planetária. Enfrentar esses desafios implica re-
Europa e Estados Unidos, Leff é “A vida foi transtornada pela lógica verter um processo de degradação
coordenador do Escritório das Na- do mercado e pelo poder tecnoló- socioambiental gerado pelas formas
ções Unidas para o Meio Ambien- gico, levantando um problema on- de conhecimento que construímos
te (Pnuma) no México, e desde tológico, epistemológico e ético sobre a natureza ao longo da Histó-
1986 está à frente da Rede de For- sem precedentes”, alerta. ria, que foram coisificando a nature-
1
Ilya Prigogine: cientista russo (1917-2003), ganhador do Prêmio Nobel de Química de
1977 pelos seus estudos em termodinâmica de processos irreversíveis com a formula-
ção da teoria das estruturas dissipativas.
Ao criar o Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio- Por tudo o que pode vir a acontecer com essa divisão, os
diversidade, o governo federal dividiu o Ibama em dois. O servidores do Ibama se posicionaram contra a implantação
novo Instituto será responsável pela proposição, implan- do novo órgão, chegando a entrar em greve. Eles enten-
tação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das dem que haverá quebra da unicidade da gestão ambiental
unidades de conservação instituídas pela União, enquanto e estão se mobilizando num grande movimento nacional
que o Ibama ficará com a fiscalização e o licenciamento que visa derrubar a MP no Congresso Nacional.
ambiental.
Entretanto, o secretário-executivo do Ministério do Meio
A decisão do governo federal de dividir o Ibama foi recebi- Ambiente, João Paulo Capobianco, discorda da avaliação
da com reserva por organizações ambientalistas e educa- dos servidores do Ibama. Ele declarou que as duas entida-
dores ambientais. A ONG WWF-Brasil, por exemplo, ma- des irão melhorar a gestão ambiental e que as medidas do
nifestou preocupação, devido à falta de informações dis- presidente Lula para a criação do Instituto fortalecerão o
poníveis para a sociedade e pela falta de um debate ante- sistema de gestão ambiental do governo federal. Ainda
rior à decisão. Segundo a WWF-Brasil, a reestruturação do segundo Capobianco o Ibama, por exemplo, será mais efi-
órgão já era algo discutido e desejado pela sociedade há ciente porque terá mais foco.
muito tempo. Porém, é preciso lembrar que esta mudança
foi feita no momento em que o presidente da República, Resta saber, porém como isso acontecerá. Com um orça-
Luiz Inácio Lula da Silva, e a ministra chefe da Casa Civil, mento que já é pequeno, o MMA terá que dividi-lo “ao
Dilma Roussef, acusam o Ibama de ter uma “atitude pouco meio”, para atender aos dois institutos, responsáveis pela
eficiente” em relação aos licenciamentos ambientais das execução da Política Ambiental Federal, sem falar nos re-
hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, em análise no cursos humanos, hoje já insuficientes para atender a um
Instituto. órgão.
As descobertas
Entre as mais de 1,7 mil espécies de
animais e vegetais registradas, os pei-
xes formam o grupo com maior nú-
mero de novas espécies descober-
tas. Entre as 298 espécies cataloga-
das, dez jamais foram descritas pelos
cientistas, uma não havia sido relata-
da no Brasil, e 30 constituem novas Expedições científicas descobriram espécies novas ou que não eram vistas há décadas no Amapá
espécies para o Amapá.
Lima, herpetólogo integrante das ex- biodiversidade riquíssima, mas que
Em crustáceos, os pesquisadores en- pedições. Os pesquisadores deram biodiversidade é esta? As pesquisas
contraram três possíveis novas espé- ênfase aos registros de mamíferos, nos permitem conhecer o que existe
cies, com cinco ocorrências inéditas aves, répteis, anfíbios, crustáceos, e, então, mensurar e planejar mais
para o estado. Entre as aves, de 438 peixes e plantas superiores. “Termi- ações”, afirma Antônio Carlos Farias.
espécies encontradas, aponta-se a namos as expedições muito satisfei- Ele ressalta o pioneirismo do governo
descoberta de uma nova, que perten- tos com os resultados dos trabalhos”, do Amapá, ao propor e incentivar a cri-
ce ao gênero Myrmotherula, e é po- comemora Enrico Bernard. ação do Corredor da Biodiversidade do
pularmente conhecida como Choqui- Estado. “Quando muitas pessoas acre-
nha. A riqueza da biodiversidade das As informações colhidas nas expe- ditam que a conservação ambiental
áreas pesquisadas também é eviden- dições já estão sendo usadas para a tolhe o crescimento econômico, esta-
te nos resultados da herpetofauna – elaboração dos planos de manejo das mos querendo evidenciar o contrário,
répteis e anfíbios. Foram descober- unidades. O plano de manejo, funda- através das medidas em prol do ambi-
tos três novos registros para o país e mental para o funcionamento de qual- ente”, diz. O secretário de Meio Ambi-
mais de 50 para o estado, além de quer área protegida, contém todas as ente destaca ainda que os inventários
oito possíveis novas espécies, obser- informações sobre a unidade de con- são apenas parte do projeto de implan-
vando-se ainda a ocorrência de cinco servação: características, zoneamen- tação do Corredor, que também en-
espécies raras. Os pesquisadores re- to e regras de uso. No Amapá, até globa ações econômicas e sociais en-
gistraram também uma possível es- então quase inexplorado, o avanço é volvendo toda a sociedade.
Tumucumaque é a maior
Unidade de Conserva-
ção do país, com 3,8
milhões de hectares
A Ecologia de Marx
– materialismo e natureza
John Bellamy Foster. Editora História Ambiental no Brasil
Civilização Brasileira, Rio de – pesquisa e ensino
Janeiro, 2005. Paulo Henrique Martinez. Editora
Cortez, São Paulo, 2006.
As transformações socioeconômi-
cas promovidas pelo sistema ca- O autor, professor do Departamen-
pitalista influenciam não apenas to de História da Faculdade de Ciên-
as relações de poder entre traba- cias e Letras da Unesp, ressalta a
lho e organização social, mas afetam a visão acerca da importância das pesquisas e do en-
natureza e o modo de o ser humano se relacionar com sino na área de História para compreender a relação
ela. Para entendermos as origens do pensamento eco- entre desenvolvimento humano, cidadania, educação
lógico atual, o autor propõe pensar a relação ser huma- e sustentabilidade ambiental. A proposta é poder arti-
no/natureza a partir de uma perspectiva histórica con- cular o conhecimento histórico com a realidade atual,
creta, trazendo as reflexões do materialismo histórico a partir da perspectiva do meio ambiente, refletindo a
dialético do filósofo e economista Karl Marx. Ao reto- preocupação dos centros de produção de ensino e de
mar as visões sobre a natureza desenvolvidas entre pesquisa com as atuais demandas da sociedade por
os séculos XVII e XIX, as formas de produção, a aliena- necessárias transformações políticas, culturais e eco-
ção do trabalho e da natureza, bem como o capitalismo nômicas. Martinez aponta como as questões ambien-
agrícola e a teoria da evolução, o autor conclui, de for- tais influenciam diretamente a qualidade de vida do
ma inovadora, que o pensamento de Marx sempre foi cidadão e analisa o papel da escola e da universidade
sistematicamente ecológico. na transformação da realidade, a partir dos limites e
das possibilidades da cidadania e da democracia. In-
Informações: Editora Civilização Brasileira. Tels: (11) formações: Editora Cortez. Tel/Fax: (11) 3611-9616
3286-0802 e (21) 2585-2000 ou www.record.com.br ou www.cortezeditora.com.br
Flores desabrochando na Alemanha, rio do Painel Intergovernamental so- ma Andrew Weaver, um dos autores
estações de esqui fechadas na Suíça bre Mudanças Climáticas (IPCC, na do estudo.
por falta de neve, búlgaros desfrutan- sigla em inglês), cuja primeira parte
do das praias do país – tudo estaria foi divulgada no início de fevereiro O relatório mostra que a concentra-
“em ordem” se não se tratasse do passado. Após seis anos de estudos ção de gás carbônico – o mais impor-
mês de janeiro... Este ano, o inverno e análises, os mais de 2.500 cientis- tante do efeito estufa – na atmosfera
europeu começou com imagens des- tas de mais de 130 países envolvidos subiu de 280 para 379 ppm (partes
concertantes, que reforçaram a “sen- no IPCC concluíram que o drástico por milhão) desde o início da Revolu-
sação geral” de que o clima está mu- aumento no uso de combustíveis fós- ção Industrial, em 1750. “Os aumen-
dando, em todo o planeta. Mas como seis está relacionado à elevação da tos globais na concentração de dióxi-
e por quê? temperatura global. “É o mesmo que do de carbono se devem, sobretudo,
o IPCC vem dizendo há 20 anos, mas ao uso de combustíveis fósseis e a
A resposta – tida como óbvia já por com uma certeza científica muito mudanças no manejo da terra, en-
muitos – veio no mais recente relató- maior”, afirmou o especialista em cli- quanto o aumento de metano e óxi-
alega que as emissões dos veículos apoiou uma declaração conjunta de tas, é uma outra conversa. Quem vi-
afetaram a saúde dos californianos, cientistas e líderes da comunidade ver, verá.
prejudicaram o meio ambiente e ge- evangélica dos Estados Unidos, que
raram custos de milhões de dólares cobraram do presidente Bush, no iní-
ao Estado. cio deste ano, ações concretas para Claudia Guimarães
atenuar o problema do aquecimento
A Califórnia costura também um global. “O meio ambiente não é repu-
acordo para limitar emissões de ga- blicano, democrata, progressista ou
ses que, na prática, marca um rom- conservador, religioso ou laico. Res- Para saber mais:
pimento entre Schwarzenegger e piramos o mesmo ar e bebemos a
Bush. A medida permitirá que as em- mesma água”, enfatizou. Chivian, que Ralatóriod do IPCC:
presas locais (refinarias de petróleo, ganhou o Nobel pelo seu trabalho na www.ipccc.ch
produtores de cimento etc.) com- organização Médicos Internacionais
prem créditos de carbono de em- para a Prevenção da Guerra Nuclear e Relatório Stern:
presas que poluem menos, um me- atualmente é diretor do Centro de Es- h t t p : / / w w w . h m -
canismo adotado pelo Protocolo de tudos da Saúde e do Meio Ambiente t r e a s u r y . g o v . u k /
Kioto (ver matéria. da Universidade de Harvard. independent_reviews/
stern_review_economics_climate_change/
Essas iniciativas batem de frente com Isso para não mencionar a campanha stern_review_report.cfm
a posição do presidente Bush e vêm de sensibilização sobre o problema
volvimento limpo.
O MDL estabelece prol do meio ambiente, já que a natu-
que os créditos de reza não tem fronteiras físicas, e tam-
emissões têm de bém permitem mobilizar recursos dos
vir de projetos en- países ricos que poderiam ajudar co-
tre empresas, refe- munidades carentes e abrir novas
rendados por uma oportunidades de negócios – além,
Autoridade Nacio- evidentemente, de melhorar a ima-
nal Designada e gem da empresa que os realiza.
comprovadamen-
Segundo o ambientalista Fabio Feld-
te executados ou
man, secretário executivo do Fórum
países do Anexo I e já está em pleno em execução. O comprador é uma
Paulista de Mudanças Climáticas, “este
funcionamento na Europa, onde exis- empresa ou instituição num país que
é um mercado novo com a finalidade
tem diversas bolsas de mercado de tem metas de redução a cumprir e o
pública de combater o aquecimento
emissões: uma na Alemanha, outra vendedor é uma empresa de um país
global e, portanto, precisa encontrar
na França, outra para os países escan- em desenvolvimento, que valida sua
um balanço entre exigências neces-
dinavos etc. É bom lembrar que isso iniciativa dentro das normas estabe-
sárias e habilidade empresarial. É difí-
acontece porque, na União Européia, lecidas pela ONU.
cil conseguir esse equilíbrio, mas acho
há uma multa de 40 euros por tonela- O MDL prevê que sejam usadas tec- que, através dos mecanismos de fle-
da de gás carbônico emitida por aque- nologias mais limpas, derivadas do xibilização, é possível chegar ao es-
les setores que não conseguem cum- conceito de desenvolvimento sus- sencial: fazer com que ações que aju-
prir suas metas. Em vez de pagar tão tentável e exige também a adiciona- dem a preservar a vida estejam com-
caro, a maioria das indústrias prefere lidade, ou seja, que se comprove que patíveis com a idéia de ganhar dinhei-
negociar, recorrendo ao mercado de aquele projeto não seria viável se a ro.”
carbono. ele não fossem aportados os recur-
E dinheiro é o que parece não faltar
O segundo mecanismo é o joint sos vindos do MDL. O projeto tem de
nesse mercado. Segundo dados do
implementation, ou seja, imple- ter, pois, uma adicionalidade financeira
Banco Mundial, nos primeiros nove
mentação conjunta. Ele permite que e social, beneficiando as comunida-
meses de 2006, o mercado de carbo-
um país do Anexo I possa financiar a des da região onde se situa e propici-
no movimentou quase 22 bilhões de
implantação de um projeto em outro ando também transferência de tec-
dólares, mais que o dobro do valor al-
país do Anexo I, retirando benefícios nologia dos países desenvolvidos
cançado em 2005. O mercado foi do-
da economia de emissões gerada por para os em desenvolvimento.
minado pelo esquema da União Euro-
estes projetos. A adicionalidade é uma das questões péia (UE), que é visto como modelo
mais controversas sobre o MDL. “É o para um mercado global. Ainda assim,
grande gargalo do Protocolo de Kio- é alvo de críticas por permitir tetos de
MDL: uma proposta to”, afirma Luiz Pinguelli Rosa, secre- emissão generosos demais. “Se o es-
brasileira tário executivo do Fórum Brasileiro de quema da UE não dirigir o investimen-
Mudanças Climáticas. “É preciso pro- to para tecnologias de energia limpa, é
A terceira possibilidade de flexibiliza- var que, sem os recursos do MDL, o apenas um esquema para especula-
ção é o Mecanismo de Desenvolvi- projeto não seria viável, e isso coloca dores de commodities”, apontou Ste-
mento Limpo (MDL). Criado graças a de fora muitas empresas que já estão ve Sawyer, do Greenpeace.
uma proposta de técnicos e cientis- realizando, por si próprias, bons proje-
Nos Estados Unidos, a Bolsa de Chica-
tas brasileiros, é um instrumento tos de redução de gases poluentes.
go também adota princípios do Proto-
previsto no artigo 12 do Protocolo de Isso cria uma certa confusão e esse
Kioto e estabelece que os países de- colo de Kioto, mas não todas as regras
mecanismo vai ter de ser aperfeiçoa-
do MDL, e tem uma metodologia dife-
senvolvidos, caso não consigam ou do para não inibir boas iniciativas”.
rente. O mercado de Chicago é forma-
não desejem cumprir parte de suas
metas de emissão de gases poluen- Os especialistas em finanças conside- do por um grupo de empresas que, de
ram também que os projetos de MDL forma voluntária, assume compromis-
tes até 2012 em seus próprios terri-
têm embutido um alto grau de risco, sos de reduzir suas emissões. Desde
tórios, poderão cumprir parte de suas
metas comprando dos países em de- pois se realizam em países onde é mais o início das negociações da Bolsa de
difícil fiscalizar, e em condições ambi- Chicago, em dezembro de 2003, até o
senvolvimento títulos conhecidos
entais e climáticas que podem variar final de 2005, foram comercializadas
como Certificados de Emissões Re-
duzidas (CERs) ou créditos de carbo- muito ao longo do tempo. A questão três milhões de toneladas de CO2 equi-
é: como garantir a uma empresa que valente. O valor comercializado por
no. São papéis que representam aba-
está comprando hoje CERs, que, no tonelada oscilou de US$ 0,90 até um
timentos verificados de emissões em
países em desenvolvimento. futuro – principalmente depois de máximo de US$ 3,24.
2012, quando termina o prazo final para
No Brasil (ver matéria "Posição pionei-
A idéia surgiu para criar a possibilida- a implantação das resoluções do Pro-
de de financiar projetos em regiões ra"), a Fundação Brasileira para o De-
tocolo de Kioto – eles vão continuar
senvolvimento Sustentável (FBDS)
Ano 16 • n.1 • janeiro/abril de 2007 26 Senac e Educação Ambiental
foi escolhida para selecionar, anali-
sar e apresentar projetos naquela
Bolsa, que podem ser de floresta-
mento e reflorestamento, aproveita-
mento do gás metano gerado em
aterros sanitários, além de iniciativas
ligadas à eficiência energética e a
Desafio
Um mercado tão “suculento” como
esse está criando um conjunto de
oportunidades que vem despertan-
do interesse e cobiça no mundo todo.
Nos países em desenvolvimento, já
começam a surgir, inclusive, empre-
sas voltadas para “pessoas físicas”
que desejam neutralizar as suas
“pegadas ecológicas” – isto é, o im-
pacto ambiental produzido por ativi-
Os vilões do efeito estufa
dades diárias, como a locomoção até
O efeito estufa é o aumento das temperaturas médias no planeta, causado
o trabalho, a compra de produtos
pela emissão de gases poluentes na atmosfera. Funciona como uma es-
descartáveis ou a utilização de água
pécie de “cobertor” que envolve a Terra e mantém parte do calor do sol
e energia.
aprisionado na atmosfera. O problema é que o cobertor está ficando gros-
O mercado funciona da seguinte for- so demais: dos 7 bilhões de toneladas de gás carbônico emitidos anual-
ma: é feito um cálculo das emissões mente por atividades humanas, 3,2 bilhões permanecem na atmosfera.
de carbono produzidas por cada ativi-
Os gases do efeito estufa ocorrem naturalmente na atmosfera e são
dade do cliente e esse impacto ambi-
essenciais para manter a vida na terra. Sem eles, toda a radiação solar
ental é “compensado” com o investi-
que chega ao planeta seria refletida de volta ao espaço e a temperatura
mento em projetos de energia reno-
média global seria gélida. O problema é a aceleração da emissão de tais
vável ou de plantio de árvores em
gases, que provoca o aquecimento global. Alguns desses gases:
países pobres. Figuras do mundo pop
internacional – como o líder do con- • dióxido de carbono (CO2) ou gás carbônico, proveniente da quei-
junto de rock U2, Bono Vox – se orgu- ma de combustíveis fósseis (basicamente petróleo, carvão e gás
lham de utilizar esse mecanismo para natural ) usados em veículos em movimento, na indústria, nas ter-
neutralizar, por exemplo, as emissões moelétricas (que geram energia elétrica com gás natural) e em sis-
de gás carbônico resultantes das suas temas de aquecimento, além das queimadas. Cerca de 200 milhões
constantes viagens de avião. de toneladas de carbono, segundo o Centro Brasileiro para o Desen-
volvimento Industrial (Cebeds), são despejadas anualmente na at-
“O que estas firmas estão fazendo é mosfera. Antes da Revolução Industrial, que começou no século
manter o padrão de consumo das pes- XIX, havia 280 partes por milhão de carbono na atmosfera. Hoje, são
soas, deixando-as com a consciência 370 partes por milhão. As plantas são armazenadoras naturais de
limpa”, critica Steve Rayner, profes- carbono, pois usam o CO2 na fotossíntese para crescer e acabam
sor da Universidade de Oxford e estocando grandes quantidades da molécula de carbono em seus
membro do IPCC. tecidos. Quando a vegetação é cortada ou queimada, esse gás even-
tualmente retorna para a atmosfera, junto com outros gases guarda-
O fato é que o mercado de redução
dos no solo que ela recobria.
nas emissões de carbono tem cres-
cido rapidamente e tomado novas • metano (CH4), gerado na agricultura, pecuária e em aterros sanitá-
formas. Em vez de ignorá-lo, cabe en- rios. Um dado curioso: parte do metano jogado na atmosfera é gerada
tender seus mecanismos, possibili- pelo gado bovino. Todo boi ou vaca emite CH4 naturalmente pela
dades e limites. Para uma questão respiração. Já nas plantações de arroz alagado, o metano é liberado
complexa como esta, há sempre por microorganismos na ausência do oxigênio.
uma resposta simples que, na maio-
ria das vezes, está errada. Ou seja, • óxido nitroso (N2O), gerado por veículos em
não há certezas nem soluções fáceis, movimento e pelos fertilizantes, que decom-
mas podemos afirmar, com seguran- põem o nitrogênio do solo e liberam óxido ni-
ça, que está em andamento um es- troso. Já o plantio direto evita esse processo.
forço planetário para se repensar a
• hidrofluorocarbonos, perfluorocarbonos e
relação do ser humano com a natu-
hexafluoretos de enxofre, resultado de pro-
reza. A grande questão é saber se a
cessos industriais.
Humanidade estará à altura de um
desafio desse porte.
Brasil:
projetadas para o primeiro período de
obtenção de créditos.
posição pioneira
lez Miguez, secretário-executivo da
Comissão Interministerial de Mudança
Global do Clima, esses resultados re-
presentam um avanço, pois, para paí-
ses como a China e a Índia, que usam
muito carvão mineral, é mais fácil dimi-
nuir suas emissões. “Aqui no Brasil, cuja
matriz energética é baseada principal-
mente em energia hidráulica, o custo
de fazer reduções de emissões é mais
caro. Tudo isso mostra o esforço de
nossas empresas e governos: se esta-
mos nos destacando, é porque estamos
mais organizados”, afirma.
Limpo (MDL) – uma das formas previstas no Protocolo Já o setor florestal tem a possibilida-
de de trabalhar com o reflorestamen-
de Kioto para reduzir as emissões de dióxido de carbono –, to de áreas degradadas e recupera-
o Brasil investe cada vez mais em projetos que contribuem ção de matas ciliares, embora, até
para reduzir o processo de aquecimento global. novembro de 2006, ainda não estives-
se em funcionamento nenhum proje-
to florestal aprovado pelo Conselho
Desde a Rio-92, o Brasil vem assumin- Segundo dados divulgados na reunião
Executivo do MDL. “O mercado tem
do posição de crescente destaque na da COP-12, (12a Conferência das Partes
preferência por projetos de grande
discussão e no encaminhamento de da Convenção-Quadro da ONU), reali-
escala, que envolvem a queima de
soluções para as questões ambientais zada em Nairóbi em novembro passa-
combustíveis”, explica Marcelo Ro-
globais. E em relação ao Protocolo de do, dos 1.278 projetos dentro do MDL
cha, pesquisador da Escola Superior
Kioto, especificamente, não foi dife- em todo o mundo, o Brasil era respon-
de Agricultura Luís de Queiroz.
rente: o país é não só o autor da pro- sável por 193 projetos, só perdendo
posta do Mecanismo de Desenvolvi- para a Índia, com 460, e a China, com
mento Limpo (MDL), como um dos 175. Em termos de reduções de emis-
seus principais beneficiários. sões projetadas, em outubro de 2006, Carência de técnicos
o Brasil estava em terceiro lugar, já que, qualificados
na mesma data, era considerado res-
1
Os períodos podem ser, no máximo, de Se as oportunidades são muitas, os
ponsável por reduzir 187 milhões de
dez anos para projetos de tempo fixo ou de
sete anos para projetos renováveis. Os re- toneladas de CO2, o que corresponde a problemas não são menores. “Há fal-
nováveis podem sê-lo por, no máximo, três cerca de 12% do total mundial para o ta de experiência em lidar com re-
períodos de sete anos, totalizando 21 anos. primeiro período previsto de obtenção gulamentação de mercados”, afirma
Nos meios acadêmico e ambientalista, não há quem não Como outros ambientalistas, Carlos
Walter é muito crítico em relação a
se posicione sobre o mercado de carbono. As opiniões iniciativas como a do mercado de
refletem diferentes visões de mundo e sociedade – o que carbono. “A economia mercantilista
enriquece a discussão. Eis alguns depoimentos de baseia-se na matemática, e faz tanta
abstração que se esquece das di-
personalidades significativas da vida pública e do mensões físicas e biológicas das coi-
ambientalismo brasileiros sobre essa questão. sas, não considera as leis da entro-
pia, por exemplo. É como o planta-
Elias Fajardo dor de tomate que
se preocupa em
quanto vai colher e
não se importa de
A análise de tendo que reavaliar nossas colocar muito agro-
reflexões, conceitos e práti-
Carlos Walter
Walter cas. O ambientalismo dos
tóxico na planta-
ção, pois ele mes-
anos 60 e 70 era considera- mo não vai comer
Carlos Walter Porto-Gonçalves é am- do subversivo e desafiante,
bientalista e professor da Universi- o tomate: só vai
pois colocava em xeque a ci- vendê-lo. Cerca de
dade Federal Fluminense. Seu livro vilização industrial. De lá para
A globalização da natureza e a na- 20% da humanida-
cá, vem acontecendo uma de consomem
tureza da globalização (Editora Civi- cooptação e um esvazia-
lização Brasileira) tem um capítulo 85% dos recursos
mento desta visão crítica.”, naturais. Enquanto isto ocorrer, vai
dedicado ao mercado de carbono. Ele aponta.
acrescenta uma visão histórica e crí- se continuar consagrando a visão co-
tica a essa discussão. Para Walter, “o incômodo que nós, lonial, em que países desenvolvidos
ambientalistas, estamos vivendo compram o direito de poluir e ainda
“Nunca se falou tanto em salvar o pla- agora é: se tudo que fizemos não im- acham que estão sendo generosos
neta como nos últimos 30 anos e nun- pediu a devastação, a quem interes- em investir nos subdesenvolvidos”,
ca se devastou tanto. Assim, estamos sa o ambientalismo senão aos pró- conclui.
“Além da programa-
Parcerias unem cultura ção de vídeos ambi-
entais do Caparaó,
e meio ambiente do Brasil e do mun-
do, quem participou
Para tirar do papel esse projeto de cul- do encontro em Pe-
tura e educação ambiental, foi neces- dra Menina também
sário muito mais do que um árduo tra- encontrou oficinas
balho: foi fundamental a parceria firma- para a comunidade,
da entre diferentes setores públicos, folguedos, shows,
em níveis estadual e municipal, além homenagens a figu- Equipe do Mova Caparaó utiliza como locação o próprio
da participação da sociedade civil. ras importantes da ambiente onde vivem, como esta antiga casa de fazenda
Só em uma
comunidade Poema – segundo o dicionário, “com-
beneficiada pelo posição poética de certa extensão”.
Poema, quase 400 Poema – projeto amazônico que se
pessoas partici- traduz pela união dos pobres em fa-
pam da coleta de vor do meio ambiente. Poema – uma
açaí forma de ação conjugada nos fortes
braços dos ribeirinhos e de outros tan-
tos povos da Amazônia que dedicam
seu amor e suas vidas à causa da flo-
resta, por simbiose, causa e conse-
qüência. Poema – cotidiano das mu-
lheres da mata, que se misturam com
árvores e sementes e fazem nascer
novos frutos. Preservação da nature-
za com organização social, geração de
renda e aumento da auto-estima. En-
fim, uma vida mais feliz, num ambi-
ente mais saudável, é a grande vitó-
ria do projeto Pobreza e Meio Ambi-
ente na Amazônia (Poema).
Projetos se
multiplicam
As mulheres têm
participação Uma imensa aliança está escrevendo
expressiva em a história do dia-a-dia do Poema: o
todos os projetos setor público, o privado e as organiza-
ções não-governamentais (ONGs)
Além dessas denúncias, seu livro traz à tona um aspecto pouco conhe-
cido da Amazônia: o fato de que os pequenos agricultores seriam res-
ponsáveis por cerca de um terço da devastação da floresta. Segundo
Osnowski, milhares desses agricultores vêm mantendo uma relação
predadora com a natureza, já que muitos deles vieram de outras regiões
– incentivados por promessas de antigos governos e acreditando numa
vida próspera na Amazônia – e não criaram vínculos com os povos, a
cultura e a história da região.
cultura do Pará como participantes do nidade de Moju, nas beiras do rio ho- papel volta para perto da mata à qual
projeto. Fábrica mais moderna do mônimo, no norte do Pará, já recebeu já pertenceu um dia. A matéria é le-
mundo na construção de artefatos de 100 mil mudas para cultivar. É o início vada para Abaetetuba, onde 16 arte-
fibra de coco e látex, a Poematec é o de uma nova cadeia produtiva criada sãos criam diversos produtos com
ponto final de uma cadeia produtiva pelo Poema. Além do curauá, outras diferentes cores e texturas, como cai-
sustentável no estado do Pará. O ci- matérias-primas são utilizadas tam- xas, agendas, luminárias, biombos e
clo começa na coleta de recursos na- bém na confecção desses produtos. porta-retratos.
turais que, depois, são processados Entre elas, destacam-se vários outros
em oito unidades de beneficiamento tipos de fibras, frutos e raízes. Os papéis são feitos com a mão e o
da casca de coco, todas no estado do coração, a partir de plantas nativas
Pará e todas administradas por coo- Quando a fibra vem de uma comuni- como urucum, mangarataia, verônica,
perativas comunitárias. dade rural amazônica, é recebida em coco forte, muriqui, mucilage e açaí.
uma linda casa histórica do século Tem também miriti, fibras várias, vas-
Em relação ao látex, o processo co- XVII, pertencente à Universidade Fe- soura, capa de palito, coco seco e
meça em uma plantação de seringa deral de Belém. Nesse local, ela é cana. Em respeito ao ciclo da nature-
revitalizada, localizada em um assen- transformada em papel por caboclos za, alguns papéis só são produzidos
tamento de reforma agrária onde são amazônicos, em sua maioria treina- na safra da matéria-prima. Em cada
empregadas mais de 500 pessoas. A dos no Japão por meio da Agência de papel de fibra, registram-se um poe-
partir daí, o material chega na fábrica Cooperação Internacional do Japão ma e um testemunho de amor por um
e é tratado até se transformar no pro- (Jica). mundo mais civilizado.
duto final e ser comercializado na for-
ma de assentos e bancos de automó- Como a própria natureza que se reno- Para conhecer mais o projeto, aces-
veis, substituindo produtos à base de va, quando a fibra se transforma em se: http://www.ufpa.br/poema
petróleo, como a espuma de poliure-
tano. Esses materiais apresentam vá-
rias vantagens em relação aos produ- A confecção de papel e objetos de
tos dos concorrentes, como mais con- arte trouxe uma fonte de renda
forto e a possibilidade de uma poste- para as mulheres da região
rior reciclagem e biodegradação. A
produção atual é de 20 toneladas por
mês, mas a fábrica está preparada para
chegar a 80 toneladas/mês.
Enrique Blanco
Muitos equívocos relacionados ao lo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso envolvidos em estudos e pesquisas
Aqüífero Guarani decorrem da com- e Mato Grosso do Sul. de campo para avaliar as reais possi-
plexidade hidrogeológica dessa reser- bilidades desse recurso natural.
va multinacional de água, definida De acordo com dados da Agência
como Sistema Aqüífero Guarani Nacional de Águas (ANA), o aqüífero O Projeto de Proteção Ambiental e De-
(SAG), que se estende, de forma des- abrange centenas de cidades brasi- senvolvimento Sustentável do Sistema
contínua, por cerca de 1,2 milhão de leiras de médio e grande porte, dis- Aqüífero Guarani (PSAG) é a principal
quilômetros quadrados nos territóri- pondo de um volume aproveitável de iniciativa nesse sentido e desenvolve
os de quatro países: Brasil, Argenti- água 30 vezes superior à demanda da um sistema integrado de informação e
na, Paraguai e Uruguai. O Brasil de- população existente em sua área de gestão com o apoio do Fundo para o
tém 840 mil quilômetros quadrados ocorrência. Diversos órgãos governa- Meio Ambiente do Banco Mundial, da
do megarreservatório divididos pelos mentais e não-governamentais, enti- Organização dos Estados Americanos
seguintes estados: Rio Grande do dades de classe, centros de pesqui- (OEA), dos comitês de bacias hidrográ-
Sul, Santa Catarina, Paraná, São Pau- sa, universidades e institutos estão ficas e de agências de cooperação.
Rosa.
Senra: "A sos e vulcânicos foram sendo sedimentadas, ao longo dos 1,2 milhão de
gestão do quilômetros quadrados do aqüífero. Durante 100 milhões de anos, a
aquífero é constante deposição de solos criou enormes reservatórios formados
local, mas por rochas porosas, compostas de arenito e argila, que absorviam as
também águas das chuvas, dos lagos e dos rios de planícies.
será
integrada" Como o reservatório subterrâneo é um corpo d’água “vivo”, absorve
e movimenta as águas provenientes da superfície, em imensos blo-
gresso da Ciência (SBPC), sobre o cos de rochas argilosas e areníticas, descarrega suas “águas invisí-
tema "Aqüífero Guarani: Oportunida- veis” em rios, nascentes e lagos, e mantém o ciclo das águas em
des e Desafios do Grande Manancial permanente equilíbrio.
do Cone Sul", ainda faltam conheci-
mentos mais detalhados sobre o re-
servatório. O documento afirma que
muitos dos desafios em relação ao das no solo e se movimentam lenta-
de Recursos Hídricos (CNRH), que
aqüífero estão diretamente relaciona- mente em direção às nascentes, lei-
aprovou, em março de 2006, o Pro-
dos à falta de conhecimento das suas tos dos rios, lagos e oceanos (as zo-
grama Nacional de Recursos Hídricos
características hidráulicas e hidrogeo- nas de descarga).
(PNRH), o Sistema Nacional de Ge-
químicas (desafios técnico-científi-
renciamento de Recursos Hídricos e
cos) e da capacidade da sociedade e
o Programa de Águas Subterrâneas.
dos estados de se organizarem para o Uso sustentável
Além dessas medidas, o governo fe-
gerenciamento sustentável dos re-
deral criou, em 2000, a Agência Naci-
cursos do manancial (desafios insti- Passados oito anos de estudo siste-
onal de Águas (ANA), responsável por
tucionais). mático do Aqüífero Guarani, consta-
implementar o PNRH. Todas essas
A conclusão é que a integração entre entidades estão vinculadas ao Con- ta-se que ainda há um longo caminho
a gestão local e o conhecimento ci- selho Nacional de Meio Ambiente a ser percorrido para que sejam defi-
entífico é o modo mais eficiente de (Conama) e ao Ministério do Meio nidos os seus limites, suas caracte-
garantir o aproveitamento racional e Ambiente. Com esses marcos insti- rísticas e seu real potencial. Em virtu-
compartilhado do reservatório. “Atu- tucionais, a água adquiriu o estatuto de da complexidade ambiental e so-
almente, a melhor forma de se discu- de bem público, sendo um direito ina- cioeconômica que envolve todos os
tir o tema dos aqüíferos, em especial lienável e prioritário para a sobrevi- aspectos relacionados ao manancial,
o Guarani, é por meio da participação vência humana. seu uso não pode ser deixado à pró-
da sociedade civil, por meio dos co- pria sorte. Trata-se de um bem públi-
As águas subterrâneas são conside- co e, como tal, deve ser aproveitado
mitês de bacia hidrográfica”, diz An-
radas reservas estratégicas, tanto no de forma sustentável e integrada pe-
dréa Carestiato.
Brasil como no resto mundo, e isso los quatro países que detêm esse re-
Mas, segundo a bióloga, a urgência vem incentivando políticas públicas curso natural em seus subsolos.
no processo de gestão executado voltadas ao seu consumo sustentá-
pelo PSAG deu margem a alguns en- vel, como o Programa de Águas Sub- Ainda há muitas divergências em
ganos. “O projeto teve início sem con- terrâneas, elaborado em 2001, pelo relação à forma como esse bem
vidar a sociedade civil para participar governo federal. O documento pro- deve ser utilizado, mas o certo é que
desde seus primórdios e se transfor- põe diversas medidas de sustentabi- a gestão local do aqüífero reforça a
mou num processo internacional lidade, pois as águas contidas no sub- participação social e garante a so-
complexo na busca de entendimen- solo representam a parcela mais len- berania nacional dessas águas. Da
to entre os quatros países envolvidos. ta do ciclo hidrológico e a principal mesma forma, não se pode ignorar
O Brasil está muito à frente dos ou- reserva de água disponível, pois ocor- que são fundamentais uma maior
tros países em termos de gestão dos rem em volume muito superior ao da divulgação das informações relati-
recursos hídricos, e o projeto deveria superfície. vas ao manancial e um sério traba-
ter valorizado isso”, critica Andréa. lho de educação ambiental nas po-
Dados do IBGE ampliam a importân- pulações do seu entorno. Desse
De fato, o Brasil possui uma comple- cia das “águas invisíveis” pela revela- esforço coletivo – que envolve téc-
xa legislação para controlar e gerir ção de que 90% das lagoas, lagos e nicos, cientistas, lideranças políti-
suas águas subterrâneas e superfici- rios brasileiros são abastecidos por cas, sociais e comunitárias – de-
ais. A Lei das Águas (Lei Federal 9.433 esses reservatórios. Assim, ao con- pende a preservação de um recur-
de 1997) criou diversos organismos trário da opinião comum, as águas so natural tão importante como
institucionais para dar conta dessa gi- subterrâneas não estão paradas, pois este, não só para as atuais como
gantesca tarefa: o Conselho Nacional recebem a carga das chuvas infiltra- para as próximas gerações.