Você está na página 1de 6

DESABAFO

Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai


perante ele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio.
(Selá.)

Salmos 62:8

A trática devocional é a arte de derramar a alma diante do


Senhor, colocando pra fora toda angustia, ressentimento,
mágoa, medo, dor, revolta ou qualquer sentimento
internalizado por nós.

O excesso de ansiedade provocado pelo acúmulo de


problemas, dificuldades, decepções, frustrações e sofrimento
desmantela qualquer esquema de felicidade pessoal. Os casos
mais graves podem levar ao álcool e à droga, podem causar
distúrbios emocionais e doenças mentais e podem dar ocasião
ao suicídio.

Lígia Fernandes (cardiologista): “A pessoa que sofre cadado


adoece mais rárido”.
Henrique Figueira (psiquiatra): “Quando engolimos sapos, chega
uma hora que o organismo não aguenta mais a tensão e estoura
através de doenças”.
O desabafo portanto é uma necessidade e uma possibilidade.
As escrituras encorajam o desabafo
"Confiai nele, ó povo, em todo o tempo; derramai perante ele o
vosso coração: Deus é o nosso refúgio" (SI 62.8).
" Levanta-te, clama de noite no princípio das vigílias; derrama o
teu coração como água perante o Senhor; levanta a ele as tuas
mãos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome à
entrada de todas as ruas" (Lm 2.19).
" Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados,
e eu vos aliviarei" (Mt 11.28).
O título do SI 102 é muito preciso quanto à prática do
desabafo: "Oração do aflito que desfalecido, derrama o seu
queixume perante o Senhor".

“perigoso não é o que se fala e sim o que se deixa de falar”.


Carlos Garrido
Os parceiros do desabafo
Aqui está uma questão muito séria: com quem desabafar.
Não se pode desabafar com as paredes, com os móveis, com os
objetos de uso pessoal, xingando, esmurrando, derrubando e
quebrando as coisas. E preciso que haja um par de ouvidos para
ouvir. Alguns dos amargurados de espírito se contentam com
um par de ouvidos que finge que está ouvindo, tal a
necessidade de desabafo. Nesta área há três tipos de desabafo:
1. Desabafo mútuo. E o desabafo entre marido e mulher,
ligados pelo amor e pela carne. Entre pais e filhos, ligados
pelo amor e pelo sangue. Entre irmãos na fé, ligados pelo
amor e pela crença. Entre amigos, ligados pelo amor e pelo
conhecimento. Estes são, ou deveriam ser, os parceiros
naturais do desabafo:
"Partilhem as dificuldades e problemas uns dos outros,
obedecendo desta forma à ordem do nosso Senhor" (G1
6.2 em A Bíblia Viva).
Por terem se juntado a ele cerca de 400 homens em
situação difícil e amargurados de espírito, Davi deveria ser
um excelente ouvidor de desabafos (1 Sm 22.2). Ele
mesmo, naquela altura da vida, era um exilado político sob
constante ameaça de morte.

2. Desabafo clínico. É o desabafo realizado diante de um


conselheiro capacitado, de um ministro religioso, de um
psicólogo, psicoterapeuta ou psiquiatra. Trata-se de uma
assistência técnica, ora de ordem religiosa, ora de ordem
médica, ora de ordem religiosa e médica.

3. Desabafo espiritual. E o desabafo feito diante de Deus em


oração, tão seguro ou mais seguro do que qualquer outro,
mesmo sendo um exercício essencialmente místico.
Depende de um certo grau de confiança em Deus e de
alguma experiência religiosa, como se vê nesta declaração
de Davi quando se escondia de Saul numa caverna de En-
Gedi: "Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha
voz suplico ao Senhor. Derramo perante ele a minha
queixa, à sua presença exponho a minha tribulação" (SI
142.1-2).
Desabafo não é pecado Desabafo é desabafo.

Portanto, não é de se estranhar a quantidade e a qualidade de


coisas retiradas do coração na prática do desabafo. Quem
desabafa precisa falar, precisa ficar solto, precisa ter liberdade.
Ele está pondo para fora o que estava lá dentro.
Deus não se ofende quando ouve essas coisas nem pune quem
se apresenta diante dele pra chorar e queixar-se de sua
situação.

Jó desabafou
"Por que se concede luz ao miserável, e vida aos amargurados
de ânimo, que esperam a morte e ela não vem?" (Jó 3.20).
"Por que esperar se já não tenho forças? Por que prolongar a
vida se meu fim é certo?" (Jó 6.11).
"Por que me tiraste da madre? Ah! se eu morresse, antes que
olhos nenhuns me vissem!" (Jó 10.18).

Ana desabafou
Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e
chorou abundantemente.
E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se
benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de
mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas
à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o darei
todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não
passará navalha.
E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o
Senhor,
Eli observou a sua boca.

1 Samuel 1:10-12

Desabafo e murmuração

A linha divisória entre o desabafo e a murmuração é muito


tênua e uma coisa pode ser muito facilmente se confundir com
a outra
O desabafo definitivamente não é pecado porque o que define
o desabafo é a proximidade com Deus e a intimidade com ele.
A certeza de seu amor, sua bondade e profundidade de
recursos.
No desabafo a diferença é que o ser humano não enfrenta
Deus, não lhe diz desaforos.

No desabafo o ser humano fala com Deus


Na murmuração o ser humano fala contra Deus.
E não murmureis, como também alguns deles murmuraram, e
pereceram pelo destruidor.
1 Coríntios 10:10

Você também pode gostar