Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A POLICIA
D~A CIDADE DO~ RIO DE
e.TANEIRfC)
SEUS DILEMAS E PAJtADOXOS
0308
Traduvao de Otto -"'1iller
FORENSE
Rio de .Taneiro
1995
Copyright flJ994,.Roberfo Kant de Lima
Tnrdu~·({O de Otro !Hiller
Título origimll:
Legal (j¡ emy a 11 dju dicial prac rice:
pnrndoxcs of police work in Rio de .laneiro city
1" edi~·üo- 1994- Policía !Hilitar do Estado doRio de .laneiro
. Copidesque
Rita Godoy
R ePisiío
D:uniflo Nascimento
e
Ri~a Godoy
Dedicatória
CP-Brasil. Catalogar;:ao-na-fonte
Sindicatu Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Pm-a, prinCJjJa!menfe, Tia Orto e Tia J-ié!Pia,· e il.lnbém parameus
~--------- -----------~------------, fllhos, l?crjae! e Felipe e minJw innc7, Andréa,· Sheyla May.·
l-
Apresenta~fio
Prefúcio
Capítulo T- lntrodu\fiO
E 0 posit:\'1SI1W ¡espiandcccLJ
EmaizcHio no rélcinnalismo, fortificac!c) pelo empirismo, privi!tt_J,Í;¡¡~;i(
o él.bsolutisrnn dél es¡;ecinlizcu;:?:n, sobretudc: cevéldo dos esplendido:: s',Ic·
sos pré1gm~ticos que propiciou ~eré! mode:na, ganhou prestígio stdlci("!l'~
parél se tor!lé1l rl t'micC1 C'S)lécie ele cnnhecÍmc~n!o c]assificávc] COlllCJ cienri-
firo A pós o t n u nfo él v él ssa lado r no campo d ·:¡s ci encins n él tu rais, nv<liJ ~~e 1' ¡
da~ ciencias humélnns, engolfando-o irresistivelmentc. Tomando por scgl::
a capacidad e Jwrnélna ele desvendar o ser da:: coisas, arrogou-se él rrerrog;~
í-
t ivé1 de est Rtu ir certezas de fin it iv~s Por a t Rnt o, basta va seguí r arisc;-1 e tri;: s
regras· restringir o estucic: de cada qua! a áreas estreítamente !irni\<-HL:~ _
anTlélzenar am:·ln quantidade de dados, co];Jidos com inteÍrél neut:·cJiicl<id~
racioci llé1r exclusiv<nnen te de acordo como f: gurino cart esic:mo; submet er ;::;
conclusoes obtidéls a contraprova da experimentéH(RO. Jn)a]ivelmentc che
gar-se-Íé1?! veniíldecient_ífica, tomada como identica 8 venlade ontoló¡r,ic::
PenencÍCi o saber Ros cientistas, cabendo 80S leigos (e o cientista em Illél~c~rir,
estranha 8 suR especié!lizcH;ao leigo eré1), acaso consultados sobre Clt:;tlqli~:
problema, responder: 1gnoro, busc¡uem o especic:¡Jistél Na /vfermnmfose li(
KafkR, o protélgonist(l, ao clescobrir que se :ransformara nttm inseio e C]\:'
]he eré1 ÍmpOSSÍVel élbrir- a pürtR do COl1lOdO em que eS(éW(l erJCe! ¡;¡d,·,
imediatamente decide: preciso chamar um rnédico e um serrolheir·n
A his! óriél dR hllmc:midade é vir-él-ser Acnbou declinando o posÍlÍ\•ÍsJlH'
ganh<mdo a nlcunhR de cientificismo Em movirnento custoso, !enio_ ;,
princípio, depois deslélnchou com gosto. f)e logo repudiado, CJLlclse ;:
unanimidad e, néls ciencic:¡s sociais, adiante pa~~sou o ser post o de CJtuuenll~: ,;¡
até mesmo nas ciencias n8turais: "Ao transr.:ender a dívisao célrte.siclfl<l, ,t
fisica moderna nao só invalidou o iden! cláss;co de umR descri~8o obielivzt
da natureza, mas tRmbém desaf:ou o mito déi ciencia ísenta de vnlores 0:;
modelos c¡ue os cientistas observam na nRturcza estao intÍménnente relétcÍcí
nados com os modelos cie sua mente- com S!~Lls conceitos, pensamen\c~s e
valores. As si lll, os resul t (1 dos científicos CJll ·:: eles obt e m e as R pl ÍCé1 ~:(lc_c;
Contristador é que com bRse em opinioes fiU:as do senso comur:1
:(~c:nulógicas que irwestigmn s¡~r?.o condicionodos por suo estrutur2mcnt2l" 1
adotRm-se as medidos mais importantes, mais graves, mais dramáticas, para
(FritjCJfCe1pra, O pon/o de Jll!'íay·ño). Ademais c.la invinbilidade de se poder 'l
a vida da colet ividade
;·cmtar corn um pesquisndor is·.:nto e desinteresse1cJo, como registro a citnc;~o
;1c:irn<1. ou:ros clcfeitos ncrcsc:ram a este, dentre os qt1ais gnnhRré11T1 relevo: Assim ocorrc com o problemR criminal.
;: ro:tc dosc de esclerose, g·~rado pelo excesso ele especinlizcw~o, o dor Posta a C1Uest2lo: "Como resolvé-lo ?", colhe-se a mesma fórmula (a
c;1:;1po r1 ccrtn tirnnizoc;:i'ío, n<1 rnec.lic.in em que o saber se tron~Jigurn cm poder
intensé1 submissao do tema nO circuito midia-povo levou ao consenso), com
(cf Foucnult). variRc;:ocs de énfase sobre este ou í:lC]Ue]e ponto· ed;tRr leis me1is duras e
igucditárias; for~Rr os juízes a se engc1jar n21 !uta cont1 r1 o crime, ele parcerio
Como costumn ocorrer, entretanto, e1 renc;3o crítica desbordou.
com o Ministério PL1blico, largando de m?.o tecnicai!dades e formalidades
L\':-r:mo-nos das intocáveis !~e:iezas científice1s .. pnra desabar no reinndo
legalísticas, ou simplesmente pe1ssnndo sobre R lei, sempre que por tal vía
u as o p: :1 i 6 es .
Rtendam no "clamor popular" (afinal, vivemos numc-, democracia)~ renovar
Os meios de comuniccic;ao- na frente R televisao, como mRtraquear o sistema prísional, dotando-o de estabelecimento:: que far;am sofrer (de
e1goniC1damente apressado de todos dissertando sobre tudo - propngam maneira R punir e intimidar), impe~am fugas, mante::ham rígida disciplina,
idéias ele sumidades, que dit~m fala~ao sobre assuntos conhecidos de obas tanto quanto ressociRlizem, regeneren1, curem, reeduquem; reorganizar a
e ol?.s, pela rama, quando niuito A expressao campe~ de audiénciR é eu policía, no sentido de se tornRr honesta, eficiente, eCluilibrada, isenta de
<1cho, eu acho, eu acho. A;; pessoas do povo, por seu turno, assumem preconceitos, doce comas pessoas de bern, terrível pnra com os "verdndei-
rosturas, formam convic~6(~s, decidem o que é cerio e errRdo, em funr;ao ros criminosos".
ele elaboro~ao. realizada s~bre os dados capengRs recebidos. A mídia, Nunca, nem aClui, nem em lugar n~nhum, tais alvos ficara1•1 sequer
rccoihendo a rea~ao da maioria da popula~ao, acélta-a democraticamente, próximos de ser e1tingidos. Em Rlglms pnrses, R situayao real mora longe da
;llterando-a é1penas para lhe :wlicar u mas lambiscados de en.1di~ao Acabam
i' ideal; em outros, longíssimo. E assim pennanecer8, enquanto nao se der
prevc.lecendo pontos de vis.ta arrimados em opiniües nascidas do senso ouvidos a cenos chaíos que, em vez de baterem pé1imas pélra a commrn1is
comum. Ao out puf deste p•ocesso marcado pela circulé1íidade, reduz-se e1 opinio, resolvem dissentir, mudando a perspectiva p<!él qual Rquela enfoca o
cíéncia e é1 verdode de hoje ern dia. problema. Propondo, por exemplo, questioname1: os como· a leí pode,
mesmo, ser dura com todo mundo, trntanr;~, as camodas sociais
As opinioes, como di:.:: José Saramago, sao "a expressao aparente- isonomicamente'7 Dispoen1 os juizes cir. cnpacida~: para distinguir, com
mente racionalizr~da do gosto". Ora, de gustihus non es! di.~pufondum.
absoh1tc1 imparcialidade, os cé1sos em que devem ra-\L>tr a lei, de sortea lograr
umajusti~a "boa"7 Sao compossíveis as várias me!é·s propostas Ro sistema
De su a vez, o senso C~)mum jamais empurrou o pro gres so científico,
prisíona!'l Por mais ClUe se submeta a polícia a refo1 :: as, mostra-se factível o
senao (jUe só serviu para obstmí-lo. Por exemplo, ás indagR~oes "que se
rnove, ~ terra ou o sol?", "por que a mac;:a cai para o chao?", "por que o leite anclo de tmnsmudá-la num aparelho higienizado, l: 1po e saudilvel?
azeda?", o senso comum rtdargüía, irritado ou morrendo de rir: Nao se vé Pois sobre esta última proposi~ao versa e presente trabalho de
o sol nascer e rnorrer todo:; os días, enquanto R terra permanece firme sob Robeno Kant de Lima.
nossos pés? E para onde haveria de cRir a rnac;a, para cima? Azeda o Jeite
Orientado pelos referenciais teóricos da anrí- pologia, em que é PhD
porque é da natureza dele', ora essa. Nao surgissem f¡guras esdrúxulas e
por Harvnrd, leva a brocR da pesquisa a verrurnc.; viseiras que permitem
inconvenientes como Galileu, Newton, Pasteur, insatisfeitas comas assunc;:oes
perceber com cn..1a clareza como funciona o organirmo sob exame. Verda-
tomadas como axiomáticas pela gente de senso, a astronomía, a física, a
deira laparatomia exploradora da instituiyao, a panir da C]Ual é possível
medicina estagnariam.
cnnJwcc-:-Jc¡ nas en:: ;1nlws. C~Jn;pru:rJdenclo ror que se comporte: eles.:..¡ ot1
cliH]liCt:i rllrWCÍíí\
DcvcrÍ~lm le: o livro (lS c¡uc se interCSSélrl1 pelo !emél (ütl sej<l, tc\dos
,_y rnCHildnrc; clo l\1o ele Jémr1:o cle~;tes nossos terTlf!OS, pelo menos) 1J~TRC) D l! e: l. (
Pr re i ~; a m l é 1o o:; q lll' e~; u eve m , í~ll él m , debél t e m, di s etl r s a rn, b é1 t e m
e i) nS S l \ '1 ( Cl
\ 1iljl Cl , SO l, ll
Juro qtle, ele tRo bem escrito, ele tao Inteligente, de t~o informét;,vo,
ci C [ il U C 1él! O , In e 1e e e 1e Í t U 1<l jvj eS ll1 O C] Ll e, p él r é1. Í SS O , S e_j él f1 re CiS O d e S1Í f:: 1r C1 O presente trahalho versa sobre as prátic1s policiétis nn. ciclad e do Ric:
t el e vis~ o, percl end o 1IIllR dessas sn ri en tí ssi mn.s mesas-redondas Oll i rn pé1 g2 ·veí s
de .Janeiro, em 1982, e investiga até que ponto e: polícia obedece ;¡ un;;!
lo/ k sholl's- con fo ¡-¡él veis, se m cJ LJ vi cb, porque d izem n.qu i 1o que a gente está ca t egorizar;ao social por el a mesma claramente exrressa na apl icar;[w
hnbitunclo a escutnr desde semr~re sistemática de seus poderes díscricionários.
•\ é1tt:;.;: Cor;:.::it1ri u h;L;ileircl (J9(;C)) ;¡tribui élCJS br;-\sileircs e ele negocia~ao, e o <-lrquivéJmento do proces~o só pode ser rH!lor.:::d:\,. 1:;
c.';t::Jrl~'circ•:; ~~-~sickr:•cs 11\i Flr<~:;i! c1 dircito c'1 \'Ícl<L liberdacle, ~cgurélll\-é: e jlliz em 21_Qtl!lli1S ~:ircrnstilllCÍas espccÍéiÍS
¡ : r ' 1 ¡ 1r :e el ;-¡ e1e ¡v \·él ci e!. F s i r (~ g i s t r a el o tc1 m h é rn q u e 1o el o s s ;:1 o i g u éi i s re r a n t e
J
;1 !t'l .scrr: dis, ,-111lll1ét~:~¡ · rJc :;c'..:Cl, Ul(,~él, proflsS~O, rcliui~o C C\)!lVlCC,'OCS
JURIS::i~:NAL
1
J'l r1ccs:-;o, inch1sivc · ~CC'J rcnclo n tocios os meios necessários para tal N~o
1---
Stlrremo Tribunal Fc•'-~:;i!
j¡:;-.c;/¡ :·e:¡~: ¡-;·:vilcg.:Hlc; (JLJ tiibunílÍs de excc~:ao O processo penal será Tnllunais Stl[l~rior•.oS
-------4-----------
2' lnst~ncia
e o: 1t rr1 d1t c'ni o Ti1 is p: inc¡¡' 1os roderi a m ser considerados como o equivalen- Estados Tribunal ck Justir;;·
! e, 110 P r;1sil, ;¡o dut' p;ocess o/ /m1' americano Tril>ttnnts l<~gion;tÍs
Comarr?s 1' Instancia ----+-------
/\ Con:;'¡tuíc;~ l este1tui que nao existe pena de morte ou prisao 1' Entránct<> Juízo Sing11l;1r
2• E 11tránci;.
¡1e1 péttlél, IJelll bcmimentcl ~lo país ou confisco de bens, exceto ern casos de 3• Entráncia
Tribllnnl do .lt'tri
!\o contrúrio do si.(temí-1 omericRno, no qUé\! r: RCUSnt;:-8o tem de provar única da lei Tal é o motivo pelo c¡ual as leis oriundas do Legislativo
él culpnbilidélde do réu, nu Brasil é o réu c¡uem tem de provRr, na pr8tica, suC1 re si st cm a "interp:-etat;:oes" - e conseqücnt es a tividades pseudolegis\at ivas -,
irwcéncia A justit;:a é1dr:1itc o priori C]UC o réu é culpado Se, cm_ c¡ualc¡L:er já c¡ue particulRrizam o priori todas as sítuac;oes nas c¡uais dcvem ser
f; 1sc el a at;:-8o peno\, o _juiz puder admitir corno verde:1de a inocencrR _do reu, aplicndas (Merryman, 1969). Num sistema como esse, o Legislativo
a
este node:-á ser absolvidu, me1s medida que a ayau lem prossegurmento, procurR prever todas as peculiaridades que podem envolver os casos em
c:·csc;e n possibiiidélcle de o réu seí culpado Como me declarou um policiéll que R iei ser~1 aplicndR. O resultado da nplicac;:ao da lei, uma vez iniciadas
as medidas legais, deve ser totalmente previsível, já que aos juízes é
du r e1n te u m a ses s ~e el e /J ri
concedida LIIllé1 l:berdade de ac;ao mui!o limitada. Conseqüentemente, os
0/ho, eu n/'o ocredUo que esse coro é inocenfe. Só por poderes díscríciunários permitidos á polícia constituem uma excet;:ao no
711110 cofsa.· ninguém que chego o!J nqui pode ser fofoímenre sistema judicial.
inoccnfe. De,•c e.\for "de,•endo" o!glfmo coisn, cerro?
Entretanto, esse sistema nao pode desculpar abe:iamcntc uma policía
A Rt;:-2o penal pr~gressiva tern relRt;:Ro com umR concept;:Ao lege1l que presumidnmente agirá contra a lei em todos as situac;:oes, isto é, cuja
hicrúc¡uica do sistemR social. QuRnto mRis elevada Rposit;:-8o do réu, menor autonomía seja absoluta. O sistema judicial precisou, enüio, conciliar um8.
ser~ 0 número de instar,tcias a c¡ue tcrá de se submeter, caso receba Rlguma polícia que atua de forma discricionária, chegando até a contrariar disposi-
nCUSr1yRO. Portante, h<í oficialmente urnél aplicRt;:Ro diferente da lei, de tivos constitucio::ais, com uma polícia cujas atividades devem estar sob u
conformiclRde con1 o .\fofus do réu Por exemplo, algurnas dessRs etap~s controle do sistema judicial, como parte, que é, desse sistema. A soluc;ao foi
Qrélduais de acusnc;:ao- quase infmdáveis- serao omitidas no caso de o reu dividir as funt;:6c:- policiais em duas partes: func;:ao ''administrativa", que
;er juíz, promotor, secretário de estado, ministro de Estado, ou se ocu~ar incluí a vigilancia da popula9ao para prevenir a criminalidade, e a·func;ao
nlc:um out ro cargo pol\tico, administrRtivo ou judicial legalmente especdi- judiciária, c¡ue representa u m ramo auxiliaf do sistema judicial de investiga-
Cn~do Mesmo que o c1ime seja comum (sem relRt;:ao com sua ati:'idade yRO crimina!.
oficial), 0 acusado ser.'á julgado diretament e pelo Tribunal de Just 1t;:a do
estado o u pelo Su pren.lo Tribunal FederRL Diz-se que:.-. polícia exerce suas func;:c)es administrativas tomando em
considerR¡;:ao a r. ::mduta criminosa !!potencial" de cada pessoa: é sua
Em contrr.dic;ao com os já an?.lisRdos p:incípios constitucionnis obrigac;ao obsr:~-·~ · atentamente a populac;ao a fim de prevenir a criminalidad e.
i¡_;ualitáríos, esses réus privilegiados terao direito a tratamento especial na Diz-se que em 5l: 1s funt;:-6es judiciárias a polícia leva ern considerac;:ao a
¡;risao du~ante a ayfío penal e, ás vezes, Rté mesmo depois da co~d_cnRc;ao conduta crimino~ real dos indivícluos: sao atividades de apurac;:ao dos
11 11
-~lefinitiva corno ocon!ece com réus detentares da Ordem do Mento, ex- fatos (Costa, J 97'·; Costa, 1982). Ao exercer as func;oes administrativas, a
jurados ~u, mera111en\e, possuidores de diploma ele curso superior ou polícia goza de c.: 1pla liberdade de at;:ao; a o exercer as funyoes judiciárias,
eíevacio sfaflfs socio! mantendo-se eJn; 1rmonía como resto do sistema judicial, a polícia goza de
, A estrutura hie1\árquica da ac;ao penal acima descrita exemplifíca a limitada liberdac~ de ac;ao ou mesmo nenhuma.
concept;:ao elitista qu;~ permeia o siste1~a ~uríd_ic~ bra_si,le_iro. Mas es~a O exercící~: do poder de polícia - poder discricionário, mas nao
concepc;ao contrRdiz \)S princípios constituciOnals Igualttanos_ A. s?lu?a_o arbitrário - torn¿;- ~;e crítico ao por em prática os valores reais do sistema
jurídica brasileira para,essa contrRdic;ao foi conceder poderes discnc¡onan- judicial brasileiro. t\ polícia atua como u m elo intennediário entre o sistemR
os él polícia judicial elitista e hierarc¡uizado e o sistema político igua1itário. A maneira
A tradic;ao jurídica brasileira segue a trRdic;ao da leí romana. lsso peculiar de a polícia exercer suas func;:oes revela seu papel no sistema
significa principalmente que o Legislativo é considerRdo como a font e Judiciário.
lr1tr oduc,:aG
l\ polícT! "ccmtarllÍr!::' .s11;¡s f\1nyoes ele investig<.¡y8o pelas de vigilan- hrias clo Rio ele J;¡neiru T;¡is llléllil;ls foréllll clec¡:;ÍvélS par;¡ rninhi\S pc:sq~~~~;a:~
,¡;· [·¡¡; \'C:l cil' <1f1llléll os !:tJ•)S, a polícj¡:¡ vigi<l <l poptilél\:~o m1rn p1oc~ssc) C]LiC;¡\lranger;¡m <-: polícia, SllélS Rtiviclac!es disc:ic.!onúrias cxtrR-of'ic:i;;::, e::
¡lrc·i:lllÍIJ<ll de .';eJe~:~u Jl<lí<i <t <l]llic<tc;~o desigual cl<l lei. U1re1tamento legai sisienlíl judicial ;¡;:c-mlentt hierélrquiz¡¡cJo
clrs¡llTis;¡cio Vn' clcpenc!er r:c' sfo!us soci¡:¡j ele cncla pesso<l, corno l; o caso d;:¡
l'I!'-;~Cl cspeClí!! r\(1 C\Cr ~~é'i rlS ftl!lyOCS judici~rÍRS, rl poJíci;: nao ntua Descrevcrei mais élcllélnte ?.s carélctcrísticas do sistemajllf-ícl'lco pcr¡;:1
srll;Jiiesillcn!e como él~2CJ\Ic clu ~;istemé1 jllclÍcÍ(lÍ, ídentiílcanclo os féllos e os el is positivo<.: 1e g él í s Cl 1ll' es t n 1tu¡· a rr1 ;¡ <l t í ,.,-,el él el e p o 1i e i él l i'i n e; t:w r! :
c:Jrl:ilro:;cls prl'VÍétmentc ti¡lii.Icctc!liS (previsto:~) pel;¡Jci, tal como estipt~i:l a políci<l é essenci;.:i o c:onilecimento clessa cstndl!r<L pois sc1 éiSSÍlll
lcCl: 1;1 ¡trr íciil:<l llíasilcirc1 Na: ec-:lidélde, 2 polícia '¡preve" os féltos clelittJclsns Jll O S ll C: O rn fl re ende r ll S fl! á 1Í Cé! S p O 1Í C Í R Í S C 1él fl el e S( i fl é1 S el C el Í S t Ole,:~ O C \' j
p r11 m e i u el e s t 1r 1os i\JH'. s 1 e 1:-1t ~ · c-1 s élCJ ut r ~ t e r do e! e 1in Cl t1 e 11 te - os es 1ere ó! i pos, cla lei Fsse conhecimento é necessúio tamb~íl1 pa1 él Cllle se torne c!Ct: d ;:
rlu'; rlll<lrs tr<ltcJ;·emos e111 Ctli'OS cnpítulos mnneira pela Cllli1l o Ci1SO do Brasil c!ifere do:~ sis1emas legais e jtll idicc··
p en a i s ;m g l o -r.m e ri crm o s
Toclavia, encurralada ·::ntre clois critérios formnis C\O cxercer suas
ftln\·oes- a administrativa e,, _judiciúria -, encontrn-se él polícia rermanen- Nos capítulos subseqlientes, o estudo do ::istema for!Yléll clescrevcr-{1 ;¡';
tcmerJte amea<;~ada pelo si~~tf'.:11r1 _Ítlclicir=d. QuCllCluer ayao policiétl pode ser prátÍCélS policinis em si. Descreverei, de início, ~1 ]c.vratura de lllll nclgr ílll((;
cl<tssiflcc-ldél como legal ou i!e~al (ou, pelo menos, como arrélnh;.mdo a leí) que, excepcionalmente, foi efetunda em estritn obediencia illei Mos!Jé\Jt':
O cfeito pr~tico clé!í resultc1ntc é que o sistemél_jlldicial e suél ideologia ficam ern seguida como R polícia negocia, interpreta e.dis:orce él leí, e clescreverci
11
intélclos e i'rurc'S A po!ícÍii é. a responsável final pela Rplicayao desigual da os limites prcíticos internos e externos impostos ús suas atividc!clcs de
lej O sistema legal permanece no controle último do poder de polícia, livre investigay8o. Finalmente, discutirei duas prátir.as policíais Cllle existem e:1:
pa¡-z¡ célracteriz;u a élyao poiiciéll como leg(ll ou corno COrnq;c;:ao da 11 1
'
el ara el esobecl i enci él á 1ei: pr~ ti ca de j ulgament o~ arbit rél mento) e de pu ni y~l ( 1
ce) nt rast es a cargo el o ¡JrÓ p ri o 1ei t or Fi ca r5 o ím rl í citos no texto, que sionais, c¡ue podem 8 qualc¡ucr momento ser acusados de incompetencia
focalizarf1 essencialmentG o sistema brasileirD por ''nem sequer conhecercm a leí".
cnl(~r:,<l cpw f'oi meu ccm1<1lo en;! larvard ocupou os cargos dt secretario ele Ern segundo lug;1r, lllll ele n1eus !llili íniÍ!lHlS <11lligos cCllc~:)<l 1
·'
ítrslir1 ~él e ele strpcrinienclcnre cxen:tivc: de: Conselho de Dircíins 11tll1lé1llOS D e pél : t éllll cr11 e1 el e :'\ n t : Cl pu \o gi e1 n o ~ t: " 1 1ee 1n o , t i n 11 a o p él i e l! m 1: 1: : ;t , •
1
er?~ di1·etor cin Divis~o de Pesquis¡:¡ da Ordem dos Advogados do Brasil, N o t ra nse ll r s o el es t e,· ¡-e e e bi 8 éHn iz a de e e o n fi éln ~:a el e m e u s i nf'n r-rn 111 <
Ser;:~o cJo EstRclo do Rio cie Janeiro .L\pós essa apresentar;:~o, ele clecidiu tes, C]Ue, em trocR, solicitnvam freClCientemente esclarecimentos sobre él
;1poinr mii1hé1 pesCluÍsR. Tnl apoio valeu-me o reconhecimento da OAB-RJ significRC(RO de meu trRbalho e sue1 perspectiv2., en~uanto me transmitiétil1 e:
Recen Le mente el e foi norneado secret ário de Po licia Judici úi é1 do Estad o do ClLie podiRm de ~llél experiencia profissione1l O procuréldor me convidmr prn;¡
R i o de Jnnei ro, resronsi;vel pela diret;:ao da Polícia Civil do estado e1ssistir él seus seí:1in~r·I(_)S e conferencins, e eu .'~Iz palestrRs pari1 seus aiL1r1u~
nn Fé1culdade cie ~ir·eito onde ele lecion<1Vél i-\ Ordem dos Advogadcs de,
A outra apresentnc;:~o decisiva foi c. urn renomado criminé1lista, Brasil- Sec;~o cio Es! Cid o doRio de Janeiro- co:-1vidou-me parél debé1ler·met:
professor de direito e p1ocurador do estado. Ele me apresen1ou a juizes, trnbalho con1 ad-vogélclos e juízes. Escrevi ta1·t1bém o prefilcio de um cic.s
promotores, serventu~rios da justic;:a e policiais. O procurador admitía-me livros do procuréldor. Em !roca convidei-o pRr(t fi1zer pnlestr~1 éWS mew
em seu escrítório, oncie eu tinha oportunidade de Rcompanhar seus casos, alunos cie cienciéls socíais Dacio o extremo p~econceito e segreg;w~o c¡m
bem como prlrticipar ele atividades judiciárias. reina entre as ciiversRs clisciplinRs dos setor~sjL:rídico e social no Brasil, íssc
representou uma experiencia interdíscíplínar al:nmente interesséln!e C:om·i
Além de me valer dos ensinarnentos desses informantes, recolhi ciei télrnbém o procurador e seus Rmigos ciél polícÍél pélr3 mínhé1 casa, e cic~s
também dados de outrRs fontes Primeiro, pratir¡uei advocé1cia crimimd retribuíram o convite Pélriilhnmos de amigo.s, ben· como ele c!limentc::;
clunmte dois anos, especialmente com a polícia de Pono Alegre Nessél bebidas e pensamentos Penso ~ue esse interd1mbio foi proveitosc prFé:
épocél ( 1962-1968) eu era estudante de Direito_ Depois, estive muítas vezes todos nós.
pessoalmente envolvido com a polícia, como acontece com grande pone
clos cirladfíos brasileiros Tive também contato coma polícia na c¡ualidade A m él! ha as si m form Ml él no sei o des se gn 1po de p rofíssi o na is el rl Úcél
de advogado em defesa de amigos, pescadores e estudantes no decurso de le g (1 ¡' R Clll 81 t éllll bé m e u e S t (1 V a i n(eg r(l d o' ro j el '.: i mp o rt ane i a e í\ l e i a 1p (j r(1 él
minhn.s é1tividades de pesquisa e ensino na Universidade. escolha da amostra ele mínha pesCluisa Foi essencia! tarnbém )Jlllél estéÜlC-
lntroduyao - i 5
1:1 - ln\roduyáo
Ao ter: po em que o trabalho de cnmpo estava sendo feíto, as
leccr clC\ré1mentc mink1 iclcnt'tclode c\e pesquiSéldor, torncmdo-tllC l'conhcci- SecretariRs ck EstRdo de Seguranya Pública de todo o país eram diriuidas
clo'' como qw1sc un:, membro clo grupo Essc-1 idcntidC1clc, segun.clc: é\ por oficiais de: Exército A Polícia1\1ilitar e a Policía Civil eram subordina-
¡ek 1 u¡ Ci d g ru p 0 e e; s e 0 st u meir c:1 s p r~~ t 1e as so e·1 e1 i s d é1 so e 1e el é1 el e b ré\ s11 e 1ra , das a esses diretores. A PolíeiR Militar, de\ido a sua disciplina militar e
0
~-
0 0
· 'c''O e."cr.·c'1ci.o ele cer\élS téCtiJC{IS de controle SOClnl
tomou-mc vulncrt1vc:1 1 ·"' • organiza~Ro rxplicitnrnente hierárC}uÍca, recebeu a incumbencia exclusiva
JnlormRl de exercer a vigil?.ncié1 da populayao, tendo sido estimulada a empreender
11
uma guerra aberta" contra o crirne e os criminosos Cientistas sociais tem
E ss é\ s t ée 11 i e C\ s visé1V a m pri nei p;1\m en t e .1111 pec\.1 r m·m hé1 P~'t rt .1e.1P0 \~ ~~ 0
salientado as :·ela~oes existentes entre o desenvolvimcnto de um reuime
nuillé1 élCllSé1c;:~o pCtbl;ca pessoRI é\OS membros clo sistem<1 ·!ud~c~nl ~L: cla
capitalista nu: ,)ri tário e as funyoes repressivas a t ribuídas a Poi ícia Mi/litar
·· · AJ,-tn"l
pOitelél. · c1, etl ,r·· ""n 111 1· .:;,oo" deles·, n~o ¡1 odic1. romper os pnnciptos. el leos
"" <l . _
(ver FernRnde:~. 1973, por exemplo).
cLt hospitnlídnde e eh étmízr1de típic21 dos brasile1ros Nessas condtc;:oes, R
t roeR de i nformé1c;:oc:; f oi mu ito f11cil it ;tc\n EstR mi 1;tariz<lc;:ao da vigiiRncia policial causou, entretanto, proble-
p r ex emp10 , 0 del eg nd 0 C] u e me in iei o u nas p rút i.en s poli ei é~Í s e rR mas administ: Jtivos paré\ as duas organiza~oes policiais. O governador
0
Rmiuo do procurr1dur, e eu, tRmbém nmigo deste, "herde1" as r:lRc;:~es. de eleito resolveu parcialmente esses problemas em 1983 criando duas Secre-
él m¡;Rd e que existiR entre os d ois, como é hRbit u Rl no .B rRstl N a ~roxtma
tarias de EstcFio, umR para a Polícía Civil e outra para a Pólícia Militar,
sec,:.Ro diseutirei. C\S eé1racterísticns do universo di\ m111ha pesqutsa e da Secretarios qt;~ forarn encarregadas de, independentemente, fixar o sfo/11_\.
e manter o controle de cada uma das policías. Foram reativadas as
amostra utiíizada Delegacias de Vigilancia da Polícia Civil, que passaram a ser dirigidas por
um delegado nomeado para esse fim, uma antiga reivindicac;:ao do órgao.
'
O l;n ive rso e a A n1 ostra da Pese¡ uisa A Polícia Civil é encarregada, teoricamente, da apurac;:ao preliminar
dos fatos em ca:;os de crirne. Executa também servir;os públicos administra-
A cídRde do Rio de Jnne.tro foí a capital dé1 RepLiblica \rortanto, tivos, principa;;nente no tocante a o fornecimento de atestado sobre o estado
.• · t Fed er"\ Q'C) éil é l 960 ano e m nue R CéipÍ t é11 foi t rnnsfendR pé1 rC\ C\ económico e S·~·cial dos requerentes (atestados de pobreza).
D !Sl rt O •u , " , '! . .
recém-constn.Iídé1 cidnde de BrRsília, que Rssurníu a posiy~o. de D1st rtto
federal. A cidade c:o Río de JRne.lrO, ex-DF, pé1ssou n constttutr uma novR 0 S ÍnC}U c-itOS pol icia ÍS SaO efet U ad OS, port ant O, pela p oJ Ícia Civil.
unídnde federr1tivé1- o Estndo clR Gunnnbé1ré1 (cidé1de-estndo). Em l975.deu- Por ocasíao de sta pesquisa, a popula~ao do Estado do Río de Janeiro
se a fu sRo entre 0 Es!íldo dR GuRnélbnré1 e se u ~izi nho Estado do Rto de eslava em ton"l de 11,5 milhoes de habitantes, e havia l 33 Delegacias de
Lweiro. A eidnde doRio de Janeiro ficou como cRpitr1l Jo novo e aumentndo Polícia no esi. do, que se distribuíarn em tres categorías, co~forme a
popula~ao d(¡ (:, eél em Cllle se situavam. A Regiao J\1etropolítana doRio de
EstC1cio cio Rio de .~Rneiro.
Janeiro (Gra nr_: ! Rio) t in ha urna populac;:ao de 9, 5 milhoes de habitantes e
Nn época de.stR pesquisa a Polícia Civil da cidade do Río de J~ne,iro dispunha de 8(' Delegacias de PolíciR. A cidade do Rio de Janeiro tínha
faz' a par1e da Polícia do Este1do do Río de Janeiro, um ~r~ao eonstttu1d_o urna populac;iL• de 5.000.000 de habitantes e contava com48 delegacills
1
pelR Polícia Civil e Polícin Militar, sobo c~mRn~~ e superv1sao dR Secretan a de primeira ca>~goria-1.
ele Estado de Segulémyo Pública. As Políc1as Mil1tares dos estados, segundo
determiné\ a Const\tuiyRO Federal, s8o teoricRmente encarregadns de preser-
var 01 ·clem jJLJblicn no Rmbito de seus respectivos estados, ~ep.resentando, 4
11 Dados sobre as delegacias baseiam-se em Costa (1979).
nO ] do dos Corpos ele Bombeiros, forc,:Rs e1uxilinres do Exerctto
8
1 r1tr ocJ u ~:a e:
'\ t~c;:rt:ru:<l ,l/IIJéli de clci{l ciciegr1cia 1cqueria um dclegndo titLiiru
,,-iH'ic' cl;1 ~iclcg;¡ci;1) e ltllJ!o:~ dclcgaclos é1djt1ntos (élt!A:ili;.nes do t::ular)
lill;1:J!tlS :1 :~1;-rss:fic:~\:ilCl cLt clcltg;KÍét o e:-.:igisse Delcgacias cie primcir<1
L éi!U~Clfléll:'li1él!J1 qtii!l!(' cicic~!<Hlo:; adjl!ntos No Est8clo do !\io de J;1nciro
( 'crdcr 1, e' !C'gocu¡ le m SIW puí¡Juu o!n:n,~feur Fsfn de lego-
;: lu C\:gc qt:e 1élflill 11s delegi'lclos titulélres como os ndjuntos p~)SSLJéHn
cm(; lronqu;/n l1(jlii, /!1{/o (; reso/J·¡do Jn hose dn com'c'r\(;
;l:¡J)(;IJlíl ck éJclvo_u;HJ(l, llÍ:l~!tJC''ll podcncic), sen: ele, c~Jncorrcr ZlO c;ngo
Nos suh,írhios 1!(7 hr:g{n dt) 1'/Zillhos, i1!J/ e liD (jlfi'IJ!n o cohL'('()
\ ~ e;¡ 1~ 1, '-u 1u 1 s: 111hn 111 1k e; e 1, 1 11:T "s e el e s ti él éllll o riel él el e, el e ve m, se g t: n el o
do 0/t!Fo. A (j/1! o que !cm (; fu!"/o el(' coF:-r; ou de aceS,\(J/"!O.í,
"llétcii~~;¡l; l~r<tsilcr~ ·,ser !rtlt<tcios sempre de ciou!or, tcndu as iniciais Dr
m-;-omhmncnf(), /J;"i,Fn de' hor !sso rudo S(; ncmlfccc por cmnn
~::11nc:cHiélS ;m!c_<.: el-- illJrnc /\iérn de pos.suírem o lÍtulo ele élcivogaclo,
desst: morro oqu/¡¡crro, que é 7rmofáh:'icn de lodu)cs /_á sncm
¡¡;ccis;Jill Cjl!illiílcar :;e tnllll CC1JlCLlrso pCrblico antes de assumirem o CC!rgo de
focmfo.\, !iros, homicidios por cmrso de lf¡l¡ horljrlo de gá.1. ,1\!n
clcic~l<lclo ! _st<lS é1LJtoridacles policirlÍS s~o ché11llélCÜ1s tradicionrllmente de
centro do cid,rde cr¡sfc de rudo, asvrssiJrnfo\ de: fJ!fJsffluf,·;\,
e! e 1ei 1d n :; !'u rq ll e e\: ere em s 11 a élll t o riel (l el e e m no m e ci os ro ci eres J~ 1di ei ú i o
1
;
hn¿.:as de ¡;;osfi!ufos, /Jugos de hor, hngo·, de J''zl!lhw, hngo.\
e E.\cctltivc; s~u j¡;, esticlos de poderes ''cleleg11dos".
defomí/((r, !!fdo
CacJ;¡ Delegnciz1 ele Políci;1 possuÍCl tcmtns equipes judicdnins quantos
dcle:~g<Hlos éldjtJntos O cicieg<lclo adjunto crn o chefe da equipe judiciánn, As del egn ci é1S er-c-1 m i cJ en! i fi Cél d é1 s t a mbém cm fu n\:~o do s!ofu.\ S()C: éí i
formadn de LJm ciett·ti,·~-ins¡Jetor, um cletetive, um escrívi'lo policial, um de seus ustJ~rios Tod;¡s cl;1s se siruam cm zonRs sociéil e economÍcnrnentc
,. gn1pC1 ele irwest ign~~?.o e lllll gr-upo ele opcr8c;?ío Cadélum destes dois gnq-,os heterogeneas, mistur8clas, célrRcterísticas c¡ue, ali<:S, n própria cidéldt posst:i,
cri1 constiiL!Irlo ele d .. is •,wliciais subalternos (?.gentes dn autoriciélde polici- gente pobre e gente r-ica 1110rando na mesma ú-::r1 Tal como sugercn1 as
rli). Como pessonl nu:-:ili;1r h8via télmbém motorist8s, carcereiros e pessocd declaré~yoes Clcimn trémscritns, o tipo de incidente predomimm!e vr.: i;1
ele l'Impezil (_serventes, L1xineiros). téunhém de e1cordo como tipo do locol ondc ocnrTcm. Meus cL·ldus
demonstram que él atitude e a conduta da pc!icia muclé1m clar{lmenic:
Por océlsi~o d(- trcbcllho de C(lmpo, n Polícia Civil do EstCldo doRio conforme os diferentes códigos culturRis dos p;1rticiparl!es dn ocoi-ICrKia
cie J<meiro ! inhél Rl'·Uf11ClS Delegélcias Especializadas, que eram as de policié1L Toclavir~, ;:lgumns cnracterísticas estr1:turC1ís e orgR:liZílCIOrlél:s
Homicidios, Entor:::.cer1tes, Seguranc;:Cl e Proteyao ao l\1enor, Roubos e permanecem (lS mcsmRs Segundo um delegado
Furtos, e DefrRticicl\>·eS A DelegélcÍél de Polícia Política e Soci(ll era outra
delegc1CÍé1 especi8Ji¡::.--R, eJlCélrreg8cla de apurRr crimes ~ seguranc;:n n8cional, No Centro do c;dode e nos Slt!Jirrhios, os policioi.l silo
vinculéldn tnmbén: ;:; Governo Feder8L A Divisao de Capturas, a Polícia mrforidmles, as nnt!hercs dáo "holo "¡;nro eles, os homcus os
-Interes!élcÜJ?,!, n Divi:1o de Controle de Diversoes Públicas e él Divisao de U',\j}(!!lmll Nos hm1Fos neos os ¡}()/icwis w!o frorodos como
Seguran¡;:n de Órg80' e Sistem8s (que controlélVCl a seguranc;:a bancáría e as em¡;rcgudos- como ,\c'n·rdon.:.) p1íhlicos (¡J,'r..' rco/mcn!e somw
empresas pri\'Clci(!S d~ seguréln<;:íi) comrletcwam o corpo ndministrativo do - e usados cmJorme os t!llere,\:\·es dos ;·feos Nt:sses hoinos,
Depar-1 (l!llent o de Pr',:.::ié1 Especializada As DP do Estado doRio de Janeiro lodo nnrndo e: dmr/cw ¡~-urrelu!l!o, !mio r•tundo que J'C!ll (T
esta\:C\Ill sob 2 supcn.•; ;2o do Derélrtarnento de Polícia Metropolitana ou das j}()/ícia q11er se sen'ir de nc)s__ _
Coordene1dorias ele s._guran<;:ri PL1blicé1, conforme a localiza~ao da delegacia
(Costé1, 1979)
Essas palé1vras conflrmnm CJUe os policiRis ti~m gernlmente conscien-
ciél- e s~o ambivalentes c. isso- de c¡ue o poder df: polícíél é ilógico ern setJ
Meu trabéllho d. c-1mpo foi efetuado principalmente em tres delega-
objetivo e em seu exercício,já que se destina e1 clé1r ¡,poi o;:¡ umél ordem soc:Í;.l!,
ci;~s, sitllRdas em rontcs diversos dél cidé1de: Zona Sul, Centro e Zona Non e_
política e economÍCi:l hiernrqllÍZnda, dentro de Ll'll sistemél )err~) n111· lni
í8 - lntrodu¡;:ao lntrodu¡;:ao - í9
1e ó r i e él
e e o 11 s t i t u ei ,.:m éd men t e es tru t u ra do péH n ser u ni versal is té1 e i g u al it 8- diferentes delegncias ()bservei mais de 150 interrogéltórios de suspeitos,
io Muitos el eles nceitnm csse estr1do ele coisns, éllcgrmdo f¡]osoficamentc 2
J u m ig u al nú mero el e :w d ien ei as, rd é m el e u m m en o r nli mero el e out ros
Ílllpossibliiclacle ele 'l1Uté1r é1 perspectivo dn socieclélde m1 do sistemojuclicial procedimentos polici:~is. Efetuei 50 entrevistas forrnélis com políciais e
e legal él respcito cléi :;olícia Eles costurnélm dizcr ([LJC, "afim1l de contéls, todo advogados. Além disso, mRntive centenr1s de conversa~oes informe1is com
mundo é corn.1pto" e "qucm nao tiver pecados c¡ue atire él primeira pedra" os mesmos informélntes, cm situac;:oes sociais as mais variadas
Méls é muito COillLITl eles se sentirem ofendidos por scrcm ''usc1dos" pelas
classes nltns e cons'cleram os ocRsionais presentes ou fovores recebidos das Nn verdad e, grande ¡nrte de meus lllrllS valiosos déldos fornm recolhi-
pélrtes interessadél." como justos tributos por setJS "serviyos" o ex.er·cício dos nessas conversac,:oes informélÍS, Cllle ocorriélm ciurante os plantoes
estruturalrnente di~.torciclo do poder ele políci?, e os riscos Cllle correm no noturnos e nas pélusos LÍe nossas ativiclcldes_ lsso se explica pela é1mbigüidade
clesempenho de sw, profiss~o Evidentemente, 2·s recompensas e o relncio- dn ntividade policial t:m relac;:fio RO sistema jurídico formal Além desta
nnmento pessoal sz:o interpretados de maneira diferente conforme o s/afus ambigl1iciade, as prRl:~:ls formais de investigélyao policiéll no Brasil sao, por
clr1s partes. forya de leí, efetue1da~, em regime sigiloso, como uma garantía do sucesso
do inCluérito_ Em nenhum caso os cidRciaos comuns tomam conhecimento
Rer1lmente, s:--:gundo os policinis, él Polície1 Civil doRio de Janeiro usél dos detéllhes das Rtividéldes policiais.
trRdicionédnlente p.-._~ssoas nRo remuneradas, estranhéls apolícia, para execu-
télr suas télrefns_ Era o cRso dos escrívRes m/ hoc, leigos ClliC elaboravélm os Nestas concliyu;:s, o Rpoio pr~tico e moral que recebi do meu amigo
autos dos processos policiais él pedido do delegado ou autoridncle eCluiva- delegado foi essencial pélrR viabilizar esta pesquisa e definir minhas relélc;:oes
lente, em trocn de cventuais beneíicios ~uc poderiélm resultar de sue1 com os out ros polici(\:s Entretélnto, desse relacionamento amistoso como
~
Pesqui S(l r él po líe iél o fer(CÍ él as vez es momentos dificei s Por urn lado,
eu tinhél n noy~o. muitc incómod<1, de ser um investigador proflssional
cercn el o el e pcsq u i sa dores profi ssi o na i s que u sava m basicamente os mesmos
métodos que eu Sobrctucic:. eu eslava sentindo na pele o que é ser
'; p ro fi :: s i o n ;:¡l :~ 1e n te " e s t u el a ci :"· p e 1o m e u p r ó r r io o bj e t o d e p es q u i s a T a is
silliétyfles trél.zÍClill-me éllllÍLJde 1 impressao ele estar testernunhanclo a uniao
espt:ri-1 do usn el o poder ron~~ :; métodos de gcréH conhecimento Como um
pol1cial fcz-l!'e leml-nM c!tiid .e uma entrevist·n formal:
Por mrtro ];¡cJo, R puiic:; possui uma iclentidRde ambígua. Ela carrega
lllll evidente "estigmR" dec:.. : ·ente da suspeite1 de corrupc;:ao que lhe é
pCrllíél!lCil!C Ílllpl11é1clél pelo SCL' _Jélpe) estrutural de tornar nexÍvel él aplicac;:ao
ele: lei para proteger o ( oli cini r.. en te) r·ígid o e fechado sistema ju d icia 1 Por
clcfini~·,~o. a polici2 traté! clos é1~>Jectos escusos e "sujos" da sociedade_ Essa
erc1 2 rnz.i'lo d?.s diversas tentRt vRs de me "contaminarem" com sua identi-
ciélcle
PRÁ TlCi\S PROC:ESSUAlS
6
"Nao existe crime sem prévia defini¡;:ao pela lei Nao há 'Jenalidade sern; évia prescri~ao legal·· (art
1",Código Penal). O Cód1go Penal vigenle é tarnbém urn Decreto-Leí -í:- Estado Novo (Decreto-Leí
n" 2 848, de 7 de dezembro de 1940). Es se Código divide-se em duas P2~·es: a primeira, parte geral,
estabelece os principios gerais da Lei Penal brasileira: a segunda, parle ·!Special, tipifica os crirnes
e prescreve as penalidarles (arts. 121 a 359, CódigC' Penal). A pan~ ¡eral do Código Penal loi
reformada posteriormente por legislayao votada pelo =:ongresso Nacio11al (arts_ 1 o a 117, Leí no
7.209, de 11 de julho de 1984). As conlravent;;óes penais sao derinidas ~:>ruma lei federal especial
(Leidas Contravenyoes Penais, Decreto-Leí n° 3688, de 2 de oulubro de 1941, arts. 1 o a 70)
Prailcas Processttc-lts Drastletr2s e hllt:~tr:
------··------
p 21 ssívc\ cie apelrl~:~o J\;r ki (C:ódigu ele Proct:sso PcrwL rllt l )(l), ~~~~.:· ·
.'\ lt~u is!;1~~~u h1 ;:_'.iki¡·¡; q~¡e rcgc e; p; ncesso penal estatuí e~ ¡nincinio
que;: ubrig;-te,:~c, de prucl\::;ir él prc;vél (fr.\o~) :ecé\Ííl sobre aprtrre Citl~-,
cl:l l!v¡c C(;::vc;KÍmcJ1i\l cin !lii/ Segunde juris!as br-élsileiros (ve¡, p ~:x,
clentrncia, 0 jur1 pode orc~cn;:n c.-r-c~ff;cio (por con\;1 proprl<l) q.t;t;qtrv
l(ns;:, 1 CJS~' :2 ·::.:2T:) :: rci\.1icli: )(:gislrl~:~c acintou Ufl! sisterl1i1 é\ltemé\;ivo
dil:g(:nci<l (i 11 ;ín:nc;_-ñes, irwcs\ig<H;oes) C]Ué considere ·IIllportillllC i11::s:~:.:
:lil eL: pr()v:. leg;Jl qt1c \ c1n? se~' sistcm;\ pelo qu<d e .iuiz ter:: é\ libcrdadc
d Cl S p r O Ce el Í lll e 11 (() S _ll ! c\1 Ci é\ 1S
:k ío:·:¡;¡: s:;;¡ dn:ís~iu ÍJ;t:;c~:HLJ c'\clusrv<mwntc em sua própria consciencia
_c..;c~:u1:dc: c1 sis!em;\ l1; <1:-;iic¡rc1 (élns 157 e :18!. 111, Cóciigu ele Prnccsso
De f'orrné\ cunt r2P Íé: r1Cl que ocorre é'l11 relac;;iw ;ws jt:li\l: ',_ ,¡,y,
Jl c1 t<l! 1. e1 Jl:' /. c1 t'VC t 01:1 ;¡ su;-! clecis;J e: <-1 t cndcncl o;¡ o se u pró p 1i oj ulgC\rl 1cn! o)
tcoriulrllCnlc ckc:idem scgLrnclo Slla:; pn~priél" consciencir:s, o jt!Í?. ;~: ','C'.s<
:11ílS J¡mÍtéHL' élCl qtle C(li1Stél des autos A teori;-1 iuríciicc: hré1sileir21 estipulrl
cxp'ticar c.:justit1car SLlél c\(·,::s~o ao profer·ir a s:::ntenc;<l (art :18 L Ill. C:chi'~'
qtlc "o CJliC :;i\o est{; nc:s autns Tii'io cst~ no m:IJH.io" (Acosta, 1974 22) Isto
ele Processo Pen;¡l) S21o ;¡c(~itas, durante n in~;[nl~:¡~o- qwtÍSC]lltr prcl\ et:, ·: ,·
signif1cn Cjtlc rwnhtrrl1r1 ciecis2c judicial pode ser tomad?t sem leven cm
poS Sé1 !1l ill f1u ir ¡ 1(\ el eei S;-i () el o j ll i z T (liS r ro\,(\ S S~ Cl eX(1m eS el e e() r ¡)( ~ :k
ccmsirler[l~:~:; élCJLIÍio que estf1 escrito nas rcspectivr1S pec;<1s dos autos.
el el i t o , i nves 1i g a !V oes e m g cr al (p e ríe i a s ) , e\ e e i é\ ¡·a ~-o es d o ci en u n e 18 d , e;1r!
O p : o e es su pe n;:\1 é se m p re ci i rig i el o por u m j u i z Os p ro e e d i m e nt os fiss~o, cleclarClc,:Oes da vítimél, documentos, i·1dícios e circunst~m:ií-\S
J ti di ci a i s lé~n: a pan ici pél \:Ro obrigc1t ória do acivogaclo de el efesa e do
Teoricélmente, 11~0 e~iste ~lléllcp1er hier:H~LIÍn obrigí-1\Óri;¡ en! re c~s';>
promoto!, este encarrcgr1do ci?. acusa¡;:ao. O promotor é o titular da nc,:ao
rrové1s 1ndícios cie orciem técnico, tRis como reléllos de 1este!llun\J;-¡s
pcr1;1! j)Liblicrt, DLI sej:1, eie se encanega da acusayao nas z,c;:oes penais
com¡;ulsórias O promotor é lcge1lmente clel;nicio pela lei como fiscal cia lei ~elntorios de institutos ele criminolog'rR, n~o cerceiam 21 decis~o do jt1j
e lambém CO'llO ac!vog;-dlo do Estndo. Contuclo_ a \ei faz disiinc;:~o entre inclício e pr!'lVC1 Os inclícios s~o cief'lni~!c::-.
e 0 llHl " él s ei re u nst ~ nei c-1 s e o nh ee i d ?. s e p ro v R .~\ a s Clll e , re 1él ei o n í1 ci ?, s él Cl L1 t e~ .
Os proceciimcntos penais podem referir-se tanto a crimes cuja inves- permitem a conclus?.o de outrR circur.stflnci?," ;:art 219, Código ck Pi o~c~s·
tigay?lo e punic;:8o compe!em ~ nutoriclodc pública- crimes de ac,:ao pLlblica, Pcní11). O termo "p:-ovt1" n?to é formnlmente Le unido pelél leí Diz-sc c,'.l·,' ·
C]tle motivam compulsori<nllente ac;:oes criiTlinaís- c¡unnto a crimes cuja s\sterna est?tbelece él verd<-1cle re(l\, n~o a verc1Clde formrtl.
invcstigac;;:to e~ punic;:ao rcpresenlí-nn mr1téria de ay~O pc.rticular: crimes ele
rlc;ilo privada Em cnso~ c!P eH;:~ o penal compulsóriCJ, cabe a quctlquer cidad~o Télnto 0 inquérito policiRl como o irv1uérito judici31 posstJc:;: e:·
ou autoridacle pública dar iqício aos procedimentos, t8o cedo tome conhe- comum o fato de serem basic21mente pec;:as ·~scritas. Nos autos, so:J1ci11~
cimcnto da existencia de qualquer fato tipicamente criminoso_ Umn vez fl.mcionúios c-nrtorizéldos podem registren suas próprÍRS pé11nvi-í-1S, rl mr:Íoi :<:
inicinda a ély~o pCiblica, somcnle o JlllZ 1em autoridade pé-na ordenar o obedecenclo a fórmule1s l~gnis trCldicíonais. Assírn, RS RL!tor.!dcH.ies poltcin!~:
21rq\livamento clos éHJtos o u iudiciais tracluzem em_iarg~o legéll as declClré\,~oes dos suspeitos, inciicií-1.clu:-:
rét.~s ou testemunh?.s Os esuivaes ou escr·~ventes policiais ou jLIC:.:c:;~.:~-
De u m juiz criminol espera-se C]Ue mostre total irnparcíalidade entre cl evem regi st nn· essC\s de el nrél e;: oes ci ngi nd o- se éW que !hes é di t aci e
?. ncusn~~o e R dcfes(l Entretanto, ele tern de inicien ex-officio (por conta ?. u ¡ r¡d él el~ e o m pe t en t e - o j u i z o u p o l¡e i ?d ~~ ne arre g él el o d R i 11 ves t i
0
própriél) os procedimentus penais sempre C]Ue chegue ao seu conhecímento (art 6°, Código de Processo PenRl) Os escri\'~es gozam de fé pt'Jblicí-: es~
é1 existencia de quolquer ilícito penal. Certos procedimentos, como o inteiramente respons8veis pelR guarda e pres¿:rvély;1o dos autos. Por le:, CJ:;
interrogatório do réu, exibem também algumas características inquisitorií-1ÍS é1Utos do inquéri~o polici21l devem levar as inicíais da autoriclade c¡ue clirig:\:
cRd R U Ill dos (1 tOS dO pro ces so ( élrt. 9, C óci Íg(~ de p roces so p ené11 ), e t O ci CJ:~
Por esse sistema, 1Rnto o juiz como as panes 1em o direito de trazer os é1utos judicia!s s~o seqC¡enciCJlmen~e numerados pelo escriv~o juclicir::
é10S m1tos tu do C\Cluilo Cllle considerem importante para o caso. Quando o juiz
se recu:::?t a admitir a inclus~o de qualquer fato nos cHitos, tal decisao é
26 Prciticas Processuais Brasile~ras e Polic1a Prát1cas Processuais Brasile~ras e Policía - 27
Os illqlléritos semente registr;un ;¡s pró¡mc:1s pal;1Vr-as clos peritos, do N o l3 rasi l, por leí (a rt. 26 l, Código el e Processo Penal), a pa rt ici pa<;:~o
j) lO l1l O t O f O ll el O r\C j V C• g (1 d O cJ e Oe f'e S a, C] ll <1 f H 1O e\ e:-~ faZ elll él J g L1 111 r C 1i1 ( U Oll
do c1cusado nc:; proccdirnentos legais tem sempre de ser 8Ssistida ou
intcrpocm Lliln peti\:~:o. Contudo, mesmo eles, p:lé-1 leí (r.rts. l CJ5 e 212. mediada por u m aclvogado (dircito de ampla defesa) 7 Este direito é\ 21mpla
Código de Pr ocesso Perlí11), s~o obr i~C\dos é1 se dirigir a o juiz qwmdc; el efes<1 signi ftcé1 t ambém que a o acu SéHl o eleve ser permitido incluir nos RLI tos
i r1t e r ro g a m Lllil ¡- é 11 o u :1 s t es t emu nIJ Rs O j uiz re p;¡ ss a as per gu nt 2 s él o r é u o u tudo o que cor:sidere relevante p2ra a instn.t~ao de seu caso. Qualquer
t estemunhas Após a rcsposta, o juiz el ita él O escr iv~u tc:mto 2 pcrgunlil como restri~~o a este direito pode ser cngldda de violo<;:ao a u m clireito garontido
él res ¡1 o s l é\ , lit e ral men t e t rael u z ind o o s el e po imen t o s A inq u iri~ 8o d e s u s p e i- por leí. Tais viol;-1~6es pociern ser nlegacli1s a través de UITJ recurso, que pode
tos, tcstcrlHinhas ou iw.lici;1dos fcita pelc1s élutoricic1clcs policii1is eleve obede- anul eH porci a i u:_r t o t olmen te os pro ce el imen tos legai s S o mente a p rovCl
cer ~s JlleS!llélS fcm11aLdades (art. 6°, Cé1digo de Pi ocesso Penal). produzicla sob ~:resun<;:ao de iguc1ldacle de condiyoes entre Cl defesn e é1
acusR~ao pode ::er considerilda, sem sombra de dúvicla, como prova dos
Diz--se que o ¡;·,terrogéltório do ré~u é "pe::soal", nao podendo o
autos num inqt:r -itojudicial. Portcmto, teoricamente, só esto evidencia pode
i1dvognclo e o promotor dele particip;n (élrt J 8'1. CódiQo de Processo
a poi a r n sen t en 1, 1 do j u iz o u o ver e d i e t o d o .i L. 1ri .
Pem1l) Antes do rnícÍo do interrogntório o juiz - e él polícir. - ndverte o
é1cusaclo de que, por !ci (arts. 185 e l98, Código de Processo PenRl), ele n~o O juiz, em su a senten~a, após identifica: as partes, expoe os argumen-
é abrigado é1 responc!er c\s perguntRs que !he serao feitRs, mas Cllle seu tos dél ncusr1~ao e ciR defesa e indica as razoe~ legais e fatuais que dao npoio
silencio poder~ prejudic~-lo O juiz expoe os termos da RcusR~~o c~ntrR o ao seu convencilllento. A senten<;:R define iguRlmente o artigo ou os art igos
réu e fRz in el élgRt;:oes sJbre seus de1d os pessoél is e se el e te m conheci mento da lei criminal r1plicáveis ao caso. A seguir o juiz absolve ou condena o
cios ÍRtos que estrío em_julgRmento. Perguntél-lhe tarnbém a respeito ele seus acusRdo, justificando sempre sua decís8o íinal (ans. 386 e 387, Código de
éllltecedentes No casode o réu Rlegar inocenciR, o juiz "convídR-0 11 a indicRr Processo Penal). No caso de o réu ser cor~denl1do, oplica as penas e oS
élS provRs que possnmapoiRr essR é1legr1c;~o (art. 188, Código ele Processo medidas de seguran~a prescritas em lei, bem,como fixa o número e a dura<;:~ o
Penal) A qualquer momento C]Ue o juiz nch;n necessúio, poder~ repetir o déls mesmas. N Ro existem no Brélsil penélS o u senten<;:as indeterminadas. s
interrogatório clo réu (Rrt. 196, Código ele Processo Penal).
Ao prestar s~u d::poimento, él testemunha el~ sua pé1lé1vrR de honr2 ele
fi1lar somente a ver-ci;:>de. No caso eJe o juíz perceb~r que ;1 testemunha Exislem algumac, :· cer;:oes legais a este preceito O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil
estabelece que n,-,, ar;:oes penais o réu pode autodefender-se. bastando que o jui.<: o considere apto
mentiu, dever~ C!lCéi!ll!nhar lllll?, CÓpin do falso testemLin!Jo a poiÍCÍél, que para tal (Leí Fe:i::~~: no 4_215. de 27 de abril de 1963, art. 71. §?)_Por outro lado. mesmo que o réu
iniciRr~ Lllll processo de perjCrrio O mesr110, no entretr1nto, n?:o é1contece disponha de um ?~"/Ogado, pode o juiz, em certas circunstancias, decretar defesa inepta ou réu
indeleso Neste ~-- .. J, o juiz suspenderá e adiará o julgamentc, designando outro advogado para a
com o réu, a quem é licito mentir, paré\ se deíender. defesa ( arts. 564, '1, 1, e 497, V, Código de Processo Penal}. No caso de o reu nao ler condir;:oes
financeiras para pc;;.ar o advogado, o juiz nomeia um . A assislencia judicial pública (Assistencia
As testemunhos ;;i'lo ÍnC]uÍridRs nR presen<;:R do réu, mRs se ojuiz RchRr Judiciária) é regui;w1entada pela Lei Federal n" 1.060, de 5 de revereiro de 1950_
que i1 presen~a deste estél innuenciélndo o depoimento, pode ordenén que ele As penas eram e ssificadas no Brasil em dois grupos: confinamento e mulla. A punir;:ao por
conrinarnento erí:!" idida em reclus~o (a mais rigorosa punir;::¡o pm confinamento). detenr;:ao e prisao
permnne~a forC1 ci o recinto do tribu na l. As test emu nhns nest e caso ¡Jrest a- ' l simples. Teoricam::-1te, a reclusao correspondía aos crimes mai5 graves e sujeilava o pr1sioneiro a
r- ~ o se u s el e poi men t os r, él p res en~ a d o é\ d vog Rdo do r éu (a rt . 2 17, Có ci i2 o de uma d1sciplina car::; ·ária mais rigorosa. De conformidade como novo Código Penal (arts_ 33 a 52, Lei
PrGcesso Penai). Após as perguntéls dojuiz, é permitido nO odvogado d~ réu no 7.209, de 1 i de ;::lho de 1984), as penas se classificam agorc; em priva~ao da liberdade (reclusao
e detenr;:ao), privo::_ao de direitos (trabalho comunitário, privar;:<)o temporária de direitos e prisao
e ao promotor f~zeren~ pergunt?..s il testemunha. Estas perguntils devem ser albergue) e multas ::xistem, além dessas, as medidas de seguran~a, que podem complementar as
dirigidéls (10 juiz, que a:~ repassé\r~ a testemunha. o juiz nao pocie recusar as penalidades ou er:!i::1 substitul-las (arts. 96 a 99, Lei n° 7 209, de 1984) As medidas de seguranc;;a
consistem em interr; 1mento em hospital psiquiátrico ou, nao sendo posslvel. confinamento em outro
pergun1Rs, Rmenos ~ur~ as considere destituídéls de qualquer rela<;:ao corno estabelecimento ac~ :¡uado. Podem também limitar-se a tratamenlo compulsório em cllnica psiquiá-
trica aberta (tratame11lo ambulatoria!). Ao conlrário do que ocorre em relar;:ao as penas, cuJa durac;:ao
caso ou Cllle represemem meré\ repeti~ao de perguntas já feítas. TRnto é sempre fixada pelé! juiz, a durar;:ao das medidas de seguram;;a depende de critério psiquiátrico_
quanto possível, deve u juiz reproduzir nos Rulos as expressoes verbais das Portanto, se nao existem penalidades indeterminadas no Brasil, pode haver medidas de seguranr;:a
indeterminadas (Thompson, 1983).
t estemunhas e el o acusado (arts. 212 e 215, Códigc1 de Processo Penal)
~'rát:cas Processuéli~ EHastleirCJs e f:lo!:c:c: -
VélfVí1\ nc1 1\r;: ;rl, ;1.s condi~:ñcs a C]liC í!cam sllhmeridos os réus presos
'r e1~C1l Í85 foréllll est en eL 1:-:s a os di rigen! es sind i cR is (Leí no 2 860, el e 3 ] ele b) e1 e id en t es de t ráí ego se g u i ci o s de m o rt e (ho rn i:: ídi o e Ll 1pos o í s t o é, 11 ~ : 1
;¡g~~sto de ¡ C))6) e él oilciais da Iv1nrinha j\1ercRnte (Leí n° S 606, de 9 ele
1
intencional) ou de les~o coq;oral (Lei 11° 4.61!. de 2 rle éÜnil ele l9C;5) e
setembro ele \970). No célso de as prisoes locRis n~o oferecerem condi~oes crimes lirrados a drogas (Lei 11° 6 368, de 2 l ele outubro de 1976) t~
)!éll'il él aplicar;:~o dess:-) rrivilégios, pode o juiz permitir que o preso seja
cliferenc;:a~básicn ne·:~tes cosos é a nclmissÉlo de procedimentos "ele cor111 íli i-
confinado em suZJ res:.'~ncia (prisRo domiciliéir, Lei no 5.256, de 6 de abril ed e1d e'' no ÍnC]uéri to po 1ici c11 Cél so hnj a fl ngrR n te, a :nplúa nd o-se, as si m, él n
ele 196 7) Os oficiois i1~ eriores e prnr;:ns dns For<yRs Armadas serao confina- poi icinl no processo. Os pro ced imento s i nd i en :-Jos 1a mbém ene u,-¡ e: rn os
dos, se possível en' estnbelecimentos militRr·es (ari. 296, Código de
1
prélzos habituais e exigem é\presentél((~O oral das .slegac;:oes flnaís da oCLISél-
Processo Pen<1l) c;:ao e da defesa.
Resumincio, s8c~. s ~;eguinles ~s etRpas legais de um processo penal no No Brasil, o jLrlgnrnento pelo jLiri represer~ta umél aplicac;:fío espcc:;d
Dre1sil pClr;l cr imes cui;:: penél sejR reclus?lo (os procedimentos entre paren- desses procedimcntos penRis gerc.is em certos cr.:;os de crimes intencicm~:is
1eses s~o opcionRis). contra a vida. Nesses casos, a sentenc;:n do juiz singular, a o invés de condt';-,;.¡1
0 réu, abriga a C]Ue scja submetido é1 um jt'1ri. Os procedimentos formai.c;
l. (inc¡uéri!o P' ,: :in!, C]tJe se encerrn com u m relatório da preliminares sao, contudo, os rnesrnos, desde as !nvestigélc;:6es polici(lis il'1é
é1tJ;oridZJc!e r )licia!); as exposi~oes finais dos fatos feítas pela acusa<yflo e pela defes2t.
2. rlemmci21 clo ¡ omotor;
Nas sec;:oes seguintes procurnrei delimitar e, ambito legal el a ?.tivídrlclt
) interTogRtório do ré11; policial, o que sen:¡ de fundí-lmentRI importancia ¡~-ar2. a boa comrreensRo e
a correta compara<yao das prc'lt ice1s rolicie1ís no C]llf-' diz respeito él obediencí;:
,¡ (cief'esa prévi;-:), dos preceitos legais
30 - Praticas Proc2ssuais Brasileiras e Políc1a Praticas Processuais f-i·asíleiras E! Policia - 31
As Atribui~c)es Judiciárias da Polícia Brasileira: tem-se rnostroclo de valor meramente teürico /,.nbas as ideologías tem
participRdo das concepc;:oes elitistas dél soci,~dade br¡¡_sileira. 1sso ocorreu, por
Breve IIistórico e Aspectos (;erais exemplo, quanclo os juristas brasilei ros, ern :'u a mnioria, tanto os liberais como
os conservadores, procurararn dar explica~~o do fracasso da instituic;:ao do júri
Trndicionnlmcnte, ao lado de processo 21nteriormente descrito, em no Brasil (Fiory, 1982: 14 1). O argumento comum a os dois grupos é ele que es se
que cabe RO juiz prof2rir C1 sentenc;:a, situam-se C1 instituic;~o dojLJri e a PolíciC\ "fi·ncasso" deve ser ntribuído ao estndo "incivilizado" dn sociedade brasileirR e
No tocante é\0 jLlri, SCLl veredicto se carocteriza por n~o depender de nao é1 problemas JígodOS as ÍnstÍtuíc;oes legr1is
q u a lq u e rj u s tifi e Re;: ~ 1 J, j ~ q u e 1he é pe r mi t i el o cJ eei d ir ex el u sivRmen t e se g u ncJ o
su a consciencia e o~·; ditames do justi~~a Jvíns na verdad e, tRmbém RO jL:ri é A divergencia entre R polícia, de um lado, e a instituic;:ao do jL1ri e os
vedado contrari;n a prova dos autos No caso de o juiz achor que isso magistrados eleitos, de outro, levou, na década de 1870, a um interessante
ocorreu, ter~ o j ulg;Jment o que ser repetido ( art 593, Código de Processo acordo: o sistemR de duplo inquérito Este sisteJll~' consta de um ínquérito
Penal). 1\ corporac;:~o policiCll, por sua vez, cujos integrCln!cs detém o "poder policial prelimimn seguido de u m inc¡uérito judici1l ou instruc;:ao judiciol.
ele polícia", eleve agír de élcorclo com seu próprios métodos, ideologiR e
categorias (Costa, 1982). Em 1889 o Brasil tornou-se República. e a Constitui¡;:ao de 1891
delegou a cada u m dos estodos é1 defíníc;:ao e a orgcniza~ao de suéls próprias
O proccsso penal brasileiro foi regido inicialmente pelas Ordenar;oes práticas processuais penais. Em 1934, entretanto. uma nova Constituic;:ao
Afonsinas (antiga :legisiRc;:flo portuguesR) e, posteriormente, por mitra voltou a centraliznr essas práticas Em 1941 ~dotou-se o Código de
legislac;ao também. portuguesa. Os procedimentos penais portugueses Processo Penal vigente até a realizac;:ao de meu trabalho de campo. Esse
bascavam-se ampla:nente nos a tos da inquisi~~o cano ni ca, segundo os quaís Código confirma o sistema de duplo inquérito instituido em l87Q_
a tortura era muite: usada como meio legítimo de obter provas. Após a
independencia do B.:-Rsil, em 1822, o Código de Processo Penal do Império, Desde a décadR de 1870 o sistema de julgamento feito por juiz tem-se
de 1832, consngrc1u a instituic;:ao do júri como o procedimento penal expandido, a medido que a competenciél do júri te::11 declinado até atingir o
habitual. Nn décRda ele i 8~0, entretRnto, Rlei proce,ssual (e sur. regu!Rmen- estRdo atual: o julgamento pelo júri 9 é realizado ,,,)enas em casos ele crime
tac;ao) retirou do jt..:ri grande parte de sua cCJmpet'encia, extinguindo, por intencional contra a vid o. TaljulgRmento é precedic: , de u m inr¡uérito policial,
exemplo, o j(Iri cie ncus2.yao, cujas func;:6es pc.ssaram a ser atribuirlas ~ que é opcional, e um inquérito judicial obriga!¿': o, do qua\ participam o
poiícia (Fragoso, s.:data). promotor e o advogéldo de ciefesa U m ' corpo de ju; ;.dos", escolhido pelo juiz,
1
cnt~u_ tltT1 ¡;olici;ti pr:.:scílCJ?• ll!ll uime, é\ políciíl v: i nc; cncé1l~·.o ele sct! zn¡t,);
Os ir1C]t1ér-i:
. . el":'l ·' ~~··', ·. ·, . . -
' ' 1,~ 1
. . .
d 1~ s ;lCl e! eti n J el Cl e; e o r , r· •. , • . • . ..
:w p::sso C]\le o:; ¡;r 1 Jic;. 11 ~ e• :-, , . ~ .' llC "' 011 LdCJitOrJos (lniaterrtis).
· ·'·-~l( ... ,S(hCOll10iflC] 1 IISI[C····( ·¡.•. · · .
poiic¡¡¡) como l1~lC! e~ ¡·e-¡ljz·ul J··, J.'.-. )f JdiS llflJ dtC::I éliS) O IilC)llérito LJ gcr élirnellk él S provas n~o s?lo élÍnd<t ·:onclu~;ivas O proJrwtc:r
• _ _ . . . (' )LIIZ i ( rl,, ~ r
.(,,.() C ld1ltf; CJO ;:-. · ·
dtdo.s cin ·, '¡ L,~ ;:,e, OLJ llctO !nCltJJUO nos devo!ve o inquéíitc nO :uiz CCl!Tl él solicití1~:i1o ele :;ovas clíligéncias )HIJiu:¡i~
. . • . 1· ¡.• n d, ve-~_ 1. ne i,lll
lnCJlJer¡(rl ¡uclir·j·¡]
~ ( el o t 0 •. 1 . e: ¡ 1• p
.1rélsileiro,
1 "pnrte cio llltlndn" (' .. , ld- .. ~., s~gllnc o o brocado
1 O Jlliz IllíHCr, urn préll.CI pare• él exectly~O c1Rs dilí(~énci?t5,
•• • l OlllC td 1.rcnresent
1
1 ~r, , · _
Jlcli?. (1 CO!lVCllC!iilCJl(O cJo l.llÍ/' 'd.. .· . , <1 ll.llr .. Ontcc!e lllfOII1liH(éW
. - !'le! plé1l!Cil oc: élti(O j . , .
fiICéllll T'entrcll1hndcs" no rr· ~' ,. ¡. S e() lllC)LJento policié1l
) V'
o juíz cievc)lve os nlltos ;1 políciél~
: . ' 0 e e 5 -~ 0 , 1 o mando su as fe ¡¡ , .. - .. .
r1S demcl!S do proc:osc;o re '·t: , . . ) lélS ll,JJner éH(é10 seqllerlCiélJ
_ . \..,,- ~) es \·Csscm somente ~ 11 • -" _.
yé10 lndepcndente open.r.;os 'ter!élm nurneré1- 6. a polícin proviclcnci<:: as diligencias pedi·las (acareoyoes, c1Vcriguél-
y6es, latidos pericinis, 1nquiriy~o de suspeitos e testemunhas), terminnnclu
por identif!célr, interTogar e Í!lclicíar o autor cio cr:me no ínquéríto. A polícia
A ~cie_speito do sistemn iie provas teoricamen - . . ,.; . .
lllll?.•polemlcl cntr e os ¡·urístas ¡.,.1 ·¡ ,; te !lélO-hJer ctrc¡uJco, hrt informa o nome cia pcssoi1 acusCidCl e é\S RCLJSí1G6es que lhe s~o feítas ZlD
• · • - ~ é-lSI e,ros e Olilrc•s rv f1 · · .
Sobre o Véllor el o inc¡uérito ' ¡· .· 1 • - ' . r-, o ISSIO!lél!S dn areé\ legc!Í
h
Jnstituto ou Servic;:o de cstC1tÍsticél criminRl do e:tRdo; e
· . . · p,> 1U él como prov(l ·\ ¡ 1 ·
JnquerJto polici;1¡ ;;mduz . .. . ' guns Opilléllll c¡ue 0
.. . . . LtllJCclmente mformély~ . . .
111 (hcat1vo· out¡·o~ ··len, , C] · . . o, OLI SCJn, e lllernmente 7. o delegRclo (titul2r cla clclcgRcía em c1jC1 circunscriyao se clcu é:
1
t.:..< 111 ' LW O IVll 1
t ¡· · 1
11)82 -¡g_q¿¡) 1\ 1 ' ~- l r • , '1 ten o po Jera tcm forya de provél (Costé!
' .. '
1 o con éncia o u chefe el él Divis~o Especializad;,) en:. tminha u m relat ório nO ÍtlÍZ
, -~ ~ . e, esté1 JC,CCt que é1 policÍa é encélrr rr' rir; d , · · _ '
e ClJLl!llSté1nc¡ac- rPi·1ciorl':ld').S (l (). f'él t () ( a rt 6 o _t e.:::-c-:.. ,c. e colJgir provas
.J '-· ' ( • (¡ (¡ TT T e' . O Cóc! igo de Pro ces so P ennl brasi leí ro e: oe com pormenores tu eL\:,
Pennl) Hfl o consenso ent· 1 '1 d. . , 1 er:l.lu, odJgo de Processo
. - . , re".nto, e que a pollc. ¡ "' . et a p as fo r m C1 i s do s ing u é r it o s p o lie iC1 i s e j u :: e i Cl i s p a d r 6 es. O in q t 1é ri t n
?. s
Sllper\'IS(JO C10 sistema ¡'udÍcÍ'lr p j . 1 r lél C ev . . Rlllélr sob estnta
- . e,_ o, e¡ CaJeaotJfll t d .d . .
nao os autos do inm,;rito ¡··~. ¡, , -. _r-. L llO or ecl rr se rnclui ou policial que se iniciR co111 n p¡·isao do transgres:... n tem ele ser concluíelo eni
pO k 1 ~~ d O S ci o In g1 ¡ r¡ ( O · d¡ · ¡ ( _ . ,
de Processo Penéli) r . 'l
1 ' '-' p
- -. '-' JU .Clél art. 12, Codigo 1O el i é\ s . S e o su s pe it o li n c1 i e i 2 el o n i1 o es ti ver p :-. so, o p r a z o é d e J O el i ns l1
_ _ /. 01 outr'.J Mlo nao e J .. d , ..
lll cJ C fj !l Í d éllll e ll t e ll O S R CJ 1l. \1 O
r 1 . ·. : . . ~ e r llll t l O é1 p O 11 C 1R ll1 él ll j e r pRrtir clo início dRs investigélc;:oes. No CRSO de.:: autoridade considerni que
. -·l l 501 llCJL!erHopolrcrR! ,. · · .
<lrqtllvamento (Rrt :7 Cr:, ¡· . · ·~o 0 .JLIIZ pode ordenélrtai esse prazo é insuficiente parél coligir os índícios ::1dispensl1veis 8 elabornc;?lo
• . 1 , ~,,e lgCJ ele Processo Penal)
do relatório (art. [0°, Código ele Processo : enal), pode solicitnr u:llíl
prorrognc;i'ío para termine1r ?.S investigac;:.oes
() Inquérito Policial
Ao receber os nutos enviados pelR rolic a, o JUIZ encaminhC~-os 20
'.
promotor, c¡ue pode Rprovar o relatório da cr :toridade policial ou ent8o
Sói1;:¡p¡·esent2t;:~Odéldem·lllcÍRpeloi\1inistéri
'1
. . . , .
é1um processo crim~nR] ~ ~ . . o Pub/reo podedarrn!clo solicitar mais indícíos Nao hnvendo um relr:t >rio policial conclusivo, o
e . ~lll Slln llléllOrJ(l élS él -
1 . d' . . - .
en1ret2n!o, de llfll inc¡uérito Joliríél! ... ' yoes _¡u ICiars sao precedrdas, promotor e o juiz podem Rprovar ou nao a solici·iac;:.ao da polícía para out ras
l ~ , LUJO curso pode ser assirn resumido invest igrH;:6es Por em igua] mente pedir out ras diligencias que con sí derem
3L! - Prá\icas rroces::uaJs Brasileiras e Policia
Prátícas Processuais Brasilenas e Policía - 35
necessúias Finalmcnt·~, Clllanclo julgRr Séllisnltórios os ,ndícios furnccidos flaQrante De conformidélde coma lei constitucional brasileira (art 153,
pclél p o1íe iél, o pí o mo t C'' r ;¡¡u-es en ta él de llLl 11 e iél él o _i u¡¿
pa;8grafo 2°, Emenda Constitucionrtl 11° 1' l96CJ), o Indiciado ou simples
suspeito tem direito a um /wheos cmpus, que é uma petiy~O RO juiz,
C2.so as éHiloridcdes policinis ou é1 ¡nomotorÍ;¡ pL1blic;1 consiclcrem os intentodR por quolc¡uer cidaclRo, solicitando um mandato pnra liberen- 2
i fl el Í CÍ ü S Íll Sll lJ CÍen te S pi\ rél O_PrO SSegll i l1l e ll l O el él a~ Ru, pOde lll prO[! O r i1 O j L1 i Z pessoa considerada como deticln ilegolmeme, ou mesmo paré1 prevenir uma
e' énquivi1mcnto clos éHJ!O.S. E clélcio élOjuiz, ncstc Ci~so concordar Oll!l~O Se iminente deteny~o ilegal de si mesmo ou ele outra pessoa
c1 _¡uiz n~o concordrn COJll o pedido ele ;uquiv(lmento, pode é1pelar pnrn o
P í o ell rr1 el o r G eral el o E s t ael o S o m ente se a ape l(l y~ o d C' j u iz fo r r cj e it nel a, A políciR deve solicitnr ao Instituto Estadun: de lclentific8y8o e
ser·¡'¡ o inquérito policic:d fír1nlmcntc suspenso
EstntísticR a folhR ele antecedentes do indicir!do, que se:·á incluída nos é1Lltos.
EIR deve investigar também a vide1 pregres~)a do indiciado, abrangendo os
A polícia eleve to~llrH providencias (p ex., inicia:_ mR investigat;flo), aspectos individuais, sociaís e familiares, a situcH;ao fmanceira, bem como
s c_J él p o rq u e u m p o !ie i<'.l p res en e i o u u m e rime, s ej a p e · q u e re e e b e u u m a a conduta emocional antes, durante e npós a ocorrencia criminal Out ros
queixr1 ou uma dcm.'mc:a Este é o CRSO, por exemplo, Je a políci2 1omar elementos que a policía considere irnportRntes na avaltayao do caráter e do
conhecimento de indicios ele um possívei crime, tRI como a denLrnciR de um temperamento do indiciado podem ser incluidos nas investigayoes Sempre
élssalto ou o Rchndo ele um céldáver O inCluérito policinl r1ssim iniciado é que possivel, eleve a polícia identificar e c¡ualificar o indiciado, col hendo su as
regulamentado relo Código de Processo Penal (arts. 4c ~ 23). O inc¡uérito impress6es digitais (art. 6°, Código ele Processo Penal).
policial pode também ter início a pedido do juiz ou do promotor.
No caso de o indiciado ser de menor idade, entre 18 e 21 anos, eleve
Durante o inc¡uérito policial, o susreito ou indiciado pode ser assistido a polícia garantir-lhe um curador, c¡ue ¡1tunrá como seu conselheiro e
por urn advogr1do, mas' é1 este é vedado pr1rticipar das atividades policiais. representante (art. 15, Código de Processo Penal).
NRo obs!cmte, o advogndo tern o direito legal de falR• :om seu cliente e
con su 1t a r os él u tos do ir~ e¡ u éri t o, mes m o se est es fore m ~:~si 1osos. 10 Qu ando A policía e1ssegurará o necessário sigilo ao inquérito, protegendo-o da
o inquérito criminol estú ninda cm sua fase policíRI, o in~·icir1do- se existir
curiosidade pública (art. 20, Código de Processo Pe11al)_ A polícin - ou o
olgum, isto é, se a autori'~i for conhecida- só temo direitc C:.~ pedir diligenciRs promotor- pode solicitar ao juiz a incomunicabilidncle do indicinc!o pelo
~policía. TociRVÍR, estris poder2o ser efetivadas ou ni!·.·, dependencia da prazo máximo de tres dias. Mesmo durante esse período, entretanto, goza
élVétlÍRyao da polície1 ou ;dR autoridade judicial o indiciado do direito de comunicnr-se com seu advogado (arL 2 l, Código
de Processo Penal).
Os indiciados cm inquérito policial goznm tRmt: m do dircito de
élpresentnr queixa ao jui;~, c¡uer diretarnente, quer atravé:: le seu advogado, Ao encaminhar os autos no juíz, eleve a polície1 enviar os dé1dos do
no ClLie diz respeito a C];JRICluer coa ya o Cllle julguem est: r sen do exercida in e¡ u éri t o poiicial no Instituto Estad u al de Id en tifí ~a(f~ o e Esta tí st i cn ( art. 2 O,
sobre eles pela polícia. Pnra manter detida uma pessor tem a polícia de parágrafo único, Código de Processo Penal) E vedado a políci2 liberar
comrmicnr, em 24 horas, a o juiz e a o próprio indiciado as r: zoes da dctenyRo qualquer dado sobre os registros criminais do indiciado até que seja
e RS acusny6es que pe~am sobre ele. O juiz decidirá sr man1érn preso o condenado, a menos que já tenha recebido condenayao anterior_
inciiciRdo/suspeito ou r:'ao, mesmo que R detenyao ten'1a sido feíta em
----------------------
A fcic,:~o que o fhgrr1ntc tomou pode também ter sido innuenciade1 Nesse ponto, o RtmosferR da deleg:1cia estRVé1 bastante ngitndCl..
pelo fitto de estar ligado él ocurrencias n~o-habituais corno ficou claro mnis Numerosos policiais civis tinham cntrocio no gabinete do delegado parador
télrde, os r1tos crirni;1osos n~o confirm(lram os cstereótipos consensur1is da uma olhada nos 2ssalt2ntes presos ErR evidente a inten~ao de intímidá-los
pe; l í e iél so b re é1 o rig ~m e é1 motiva yao el os cr imes vi o1en t os . por meio de ofensas e arneac;:as. U m dos assaltantes tinha jogado fora sua
arma durante a perseguit;:ao. O soldndo que o tinha prendido pedia repeti-
Durémlc é1 tr1rde de urn dos meus primeiros plélntoes de 24 horas numn damente 20 delege1do para 11 deixá-lo a sós com ele por algum tempo''. Se o
clelcgoci?., dois indivíduos chegnrélm presos sob élCLIScH;:~o de tentativo eJe delege1d:., permitisse, dizia o soldodo, tínha ceneza de que o elemento ia abrir
élSSé1lto a m~o armr1dr1 U m deles estélvn como brnyO bastcmte ferido, com n o bi e o se J re o C] u e t i nh2 fe i t o e o m él é1 r m 2 .
roupa rasgndél, exibindo sinais de ter sido violentélmente espancado. Eram
é1 e u s a do s el e él t a ccn u m él u x i1iéH d e es e rit ó rio qu e se d irig io é1 u m bnneo
O delegado, élO invés disso, prosseguiu como interrogatório dos dois
próxirno pélré1 depo':itar dinheiro e cheques cla firmé\ ern que trabnlhélva O ladroes, separéldamente, em seu gabinete. Mas ele se aprovcitava da
<1uxilir1r de escritório, aparent<'mdo 50 anos de idade, modestamente vestido, balbúrdi ~: que os policiais faziam lá fora para amedrantar os presos.
11
acabé1ré1 cíe sair ciél ,!rma e caminhavél pelé\ calc;:ada Célrregnndo os valores Ame2c;:a·va deixéu os policíais tOmnrem conta direitinho deles", caso nao
numn sacol2 de su¡-F~rmerc2do quando foi ntacado. Os ladroes arrancarnm- contassem a verdad e. Afirma va que dependía exclusivamente deles apanha-
lhe a saco la da rnao t: snír2m correndo. O homem deu o alarme, e u m soldado rem ou n3o, que ele nao se incomodaría absolutamente, e que isso nem era
dR Polícia MilitRr .iunt2mente com um transF-unte correrRm Rtrás dos problem~ dele.
assnltantes Auxilia:los por umR péltrulha d2 Polícia Militar, conseguirnm
V!:.ivelmente amedrantados pelo iminente risco de tortura fisjca, os
nlcnnyá-los A pntn.dha trouxe, entao, pnra él deleg2cia os ciois ladroes, o
dois, separadamente, confessaram que o captador da firma- até essa altura
trnnseLinte, o nuxíli;-¡r de escritório e o contador dR firma, este nR Clualidode
mantido forado gabinete como mero expectador- era o autor intelectual do
ele representé\nte dn vítimR, jc1 que o proprietc1rio estnvél ausente nR ocasii:io.
assalto. n contador tinha mantido contato com eles através de um amigo
Todo o dinheiro e mnis os cheques fornrn recuperados.
comum. )rientando-os onde, Cluando e a quem assaltar. O resultado do
roubo se ia dividido em tres p2rtcs iguais.
O delegado C·Jme~ou pelo interrogntório clJs dois presos, que foram
o u vi el os sepR rnd orT: en! e. Di sse-lhes que est 2Vél in t rignd o por el es t ere m ,__. delegRdo passou, entao, n interrogar o contador Este negou
e o nse guido d cscobrir e¡ u e dentro cinC] uel R ve! hn e batid R se1co la de su permer- veerner;i:: qualquer pé1rticipRt;:8o no roubo. O delegRdo descobriu, porém,
cc1cl o pocleria hélver d inheiro. Est é\VR intrigado t élmbérn com 2 identid 2de el os seu no:~:, e telefone, escritos com sua própria letra, no cacierninho de
dois l2droes, que mé,ÍS p2reciam tr?.bnlhadores desempreg(ldos, cidadaos da enderec;:c.; de u m dos assaltantes. Descobriu também, pelo interrogéltório do
classe médin be1ixa, ~o que marginais auxiliar '-e escritório, Cllle, contrarinndo s~us hábitos, o contador tinha
subtraíd' uma boa Cluantia de ciinheiro antes de colocá-lo na sacola.
P2r8 justiflcéu sua avnli(lt;:~o sobre os homens, o delegndo veriflcou
r1,.1nis de um2 vez durante o interrog2tór!o C]Ue um deles possuíR um Cé1í1Ro O e ontador admitiu C]Lie era sua a letra do enderec;:o no caderninho,
de crédito em seu tYÓprio nome, C]Ue élcabara de deixar o Exército (assim, mas nao:; 1bia explicar como ele tinha sido escrito ali. A pedido do delegado,
muito provélvelmenle nRo estivera preso recentemente) e que scu pai era encheu u;:1a folha de papel com seu nome e número de telefone. O delegado
proprietário de Ulllél farmácia. O mitro- apen2s um pobre-diabo, segundo estava ce: to de C]Ue o Instituto de Criminalíslica confirmaría Cllle as letras no
o julgC~.mento do deieg2do- era u m gr~flco desernpregacio. Os dois sabiC~.rn caderninl o de enderec;:os e na folha de papel eram da mesma pessoa.
ier e escrever e nao tinham 8ntecedentes crimin2is. Comentando mais tarde esse caso, afírmou o defegado que essa era uma
situat;:ao típica na qua! a polícia podia recorrer a coert;:ao fisica para obter
/¡(}
----~---------- ~ -------
;1 ccmf1ss~o, pois eJA ói1\·ic CJliC o c:ont;Jclor cs1í1Vél envolviclo Segundo ele, nhémclo e pos-se él discordé\! e discutir ccw: o c!,;:lc;aclu quém;o <l ckt<dh(~~;
:1 po/íci;¡ se·, us;¡ 2 torlll' ;.: pM:l ext;élÍi conflssocs Clt!émclo ela _i~ tern ce:·tezé1 técnicCl~, c!os éHHos .<\ rcspclSté·¡ el o delegad u éls criticas fui que ele, cielc:grHit>.
ele que o s·c~speito l~ c~Ji!;;¡cJc: tinlln inici;-Hic SLiél c1rrcÍril cnJrlCl csuiv8o e CjliC, pr1:-tcmto, snbÍ;¡ perfeitílinC:: 1 -
1e o que cst él vél f;.¡¡~_'rHl o
() u ;n 1t o ao el i n h ei r o qu e ele -¡ i n h C1 r et i r étck , o eo 11t e1 el o r ex pli eo u Clll e
c.ss<l ern él suél conclu:a habitur:l quando precis;1va fazer pagcu11entos em TíillJbéil' e; c·sc:¡v~,: il<1fcc.:ii1 muitc imprcss!onadc~ - c:c CC 1 :lll.'ii'.',
dinhciro él f~)rncccdurcs Explicou também que pélrte do dinl1ciro corrcspcmdia sobre issc cltlré1!1te lucLt él lé!rclc- com n pCHtic.~ipn~;\o ~::::urna pessoatk cL~ssc.
;¡c1 se u 1JfCJ ¡1: i o s?. l;\ río, el o q tléll ele precis;wa cm espécie Con forme veremos, méciirl em urn él:;sé1ltn l\t6 p;u;.¡ mim ele cochichcitJ- -.:nO¡uanto eu cléltÍl(lg:<:-
u cielcg<H!c; conferium;¡Í:; ¡;¡;ele e::;s;¡ infom1é1~~o con1 o clono c!o negócio, que frlVé1 os élll\CJs- ;.¡s cliver·séls m?.Ilciras pelr1s C]lléliS o c.or'.iJclor pocleria clek1Hll~' ·
11
inici;Jimenk negotl sc1 csS<l p1 ~tÍGl habitual, mas depois muc!ou ele opiniao se el ns c-1 CLl s él ~~ 3 es " /\ so lll ~: ~ n aq u i é a l e g n ,- u m e r :: lll e i m pus sí ve 1" . l n el <l g m:
e cnnfirmm1 él éllr.ga~:ao do contador Considerando suficientes os f'citos clo proprietúio quc·,l eré1 o Sé1l~1io clo contnclor e Ftco~· espélntélclo é10 ve: Cl 1(.' 1
<lpurélcios. urdenou e: ckleg;¡do c¡t1e todos se dirigisscm 110 CC1rtório cJ;-¡ erf1.m;-¡is elevRdc do que o seu Ficnva repetindo, ">·:io estou entenclcncio"
clelegclCÍél, oncle scrin Jíl\TilciU O nc-JgrRnte
Algum tempo o.ntes, tinhn o contCldor pedi·do ;ermissao ClO dclcgnciCJ
O clelcgndo c¡uis r~~gist rnr primeiro as c!eclarac;:oes das pessoé1s ClUe e fe it o u m n l ig é1 e;:~ o t el e fó ni cc1 pe-na a esposa . F i Ci) u e< aro, en t ~o , qu e e lr1 se
tiilh<llll pélrticipaclo dn pris8o, isto é, o tré1nsetmte e dois policÍélÍS milité1res comunÍcélra com \llli élclvog<Jdo, pois este surgiu nél delegacia Soube logo
Entret;mto, como j~ era 1noite, um dos policiais envolvidosj~ tinhC1 recebido por u m polici<1l que eLJ tnmbém eré-J advoge1do- um colega dele- e amigo do
o r el e m el e 11 íll t e ne nt e pc-n n re gre s s (l r a o Clll él rt el. E m se u l u g a r fi eo u o ci el eQél do Di ri QÍu-se ¡::¡ mi m "de eo legél para eo 1e~a t.: pergunt ou-me como
11
s a r gen t o e o ;n an d nn t e ci C1 p a t ru 1h n, e¡ u e al ego u a o d el e g a do Clll e o so 1d a el o eu él~hClvn Clllt:~,o delegéldo receberi8 umo ofert?t de dinheiro para "élbri!- o
c!ispensélcio erR um recru1a e que seu planU1o tinha terminéldo. Após umél flnQr8nte" do contcH1or, isto é, deix<1-lo forn do él.'Ito de flagrcmte ou MltilélJ
cxaltoclél troc:a de prt!avréls como sélrgento, o delegado gritou C]Ue nnda tinhél o fl~agrétnte ror meio de algum erro nél (lLI(LJa~i=io. Con!·,) eu nao responc!esse,
él ver com él :otine1 militar e c¡uc ele, delegRdo, era a autoridnde encarregada foi conversar com o rlelegacio "etn beneficio de .seu Jiente"_ Mnis tarde o
clo inquérilo delegado conflrmou que o odvogndo, de fato, of.:rc~:.~ra c!inheíro, mas CJLIC
ele tinhél imeclié!tRmente recusr1do CJllé11C]Uer tipo ck ,.:_;.fendimento_ Aconse-
-- E u so u a mr!oridnde O(jll i 1 lhRrR Ro 21dvogRdo conversar como delegado tituiar r.:· manha seguintc, pnis
só ele poderia nRquel8 fRse élulorizar C]URlC]uer rr-:u:..:;. H;:a na situac;:ao
Exigiu energic¡:¡mente él presenc;:a no co.rtório do recrutél (ltle tinha feíto
él pris~o.
Como o eidvognclo néldél conseguisse de po·~iti'.'·."' com essa estratégia_
o.borclou o propríetúio da !oj;.I, C]lJe nessa ocasia.J) inha sido avisnclo dn
- .Jál
ocorrido e tinho chegncio ~ cielegncia O acivogado t:·ntou convence-lo de
O sorgento mando¡¡ chomé1r o recn.It8., e o delegRdo pode come~ar a retiro.r a él.Cllsac;:~o- como se n~o souhesseC]ue se 11 ~ia\·: de u m crime ele i-l~:~o
tomrrr o depoimento dos policiois militRres e do transeunte. pt'iblica, no C]Ual o inCluéríto é obrigatório no Brii,sil ~.lélÍS tarde eu percehi
Clue, no t elefonemé1 C]lle dera para a esposa, o cc·nléF; )f tinha pedido él eLl
Ao instourC1r o inc¡uérito polici?.l, o delegado procedeu desde o início
em estritR observáncia ~ lei. Fez pessoo.lmente as perguntas e ditou tanto 11
Por lei (art 17 da Lei no 7.209, de 1: de ¡ulho de 1984). nao sao passlvds de punic;:ao as ten\a(IVélS
f'stas como as respostas a~) escrivao, que meramente as clatilografava. Este de crrrne que nao possa;o1 ser consumadas. seja por absoluta 1rwdequac;:ao do objeto Este nao era.
se mo~:trava clarRmente irr itacln com o papel passivo C]Ue esta va desempe- absolutamente, o caso 'J que o escrivao eslava provavelmente <;ugerindo era que isso se tor nar·ia
posslvel se os autos fos:sem falseados ("armados").
42 - A Políc1a d:; R1o de Janeiro Obedecendo a l__ ei
A Polícia do Río de Janeírc Obedecendo 2 Leí ... 43
j)é1ré1 telefonar a rrulhcr do proprÍcté\rio, pecJincJo-]]w que providenCÍRSSe O propriet~río poderia fazer sobre os hábitos metódicos de trabalho do
compéHecimento :Jo marido e\ delegaci;1 a fim de :-;uspcnder a acus;~~ao contador, sobre sua personaliclade e seu Célráter.
contra ele, contélchr.
;¡nprc11s;: unn:~;Irccct: ¡¡ rlt'ic~~;~ci;: Tl() f¡n; eL; t21:ck e tcntcw entrcvistr11 c1 ~o ch~fc d;..1 crncerí1t.;clll ¡.~·:e me explicOt: C]liC \) ccmtacinr tinil<: <lp~·n;¡c_:
CCIIJI;¡clcJJ e :1s \~utros irldÍc:élclus, c¡llese encnntrrlV<Hr: no interior clo car((';;¡c¡ instru¡;;~o ele 2° gré-H~, o C]lll' 11;ic1 ]he cJ¡¡va o clircitu i1 prisi1o cs¡wci;!: 1\'lc:';
O dc!cg:l(!u p; C1ibit: C]tle ~_~:o:: ;-¡:-;s~'ll\ he1uvc rccl;1ill<n;:oes, mas o clelcgr'.clo sen! chlvici<-1, n~c; IllCí'C-'Ciél e c;¡:;tigo de pen:Jrlnecc' ·¡unto dOS preso:; C:Cllliti:!:---
;¡k,, 1 rll! q•1c e\1::."·;¡ élpc;¡;¡~ -.:.lí'lpliilclo é: leí, jit que élté n firn dé! ];nTéllllli! clo
:-\irte· ele: [l;;g:;;;1tc iodrl~ ;::-: pt"SOét:; envolvicLJ.s 1inhé1m ck pcrm2lllccc:
¡:;,J)¡¡cL;" i>;s;¡ ii\\T<lttifé-1 IUilll1JCll: ;ls 2Jh~Wrnin Corno tinh2 comcyí:Hlc; ~s
l i r1. e \ i ~' !l ¡ u i 1~; • 'm i 11 el e t ; <, \> '1 l)Fl e en t í11 u o el o d el e g a d o . Os i n d i e i í:l el os !o r ;1 111
¡¡;¡¡¡c;¡fi;Hin.c.: [j¡;;Jill1e~ile nc :..:adrcz dr1 dele~;¡ci;:, e só cntao n f'e¡-jcJCJ f'ci
) () \ ; J( 1() (l () 1]() ' 1)! t ;¡) p Cl í ll ¡ 1 ; ~ :; ' ;¡ i d (j
i'0n cii;1 sc~ 1 l1Ílii('_ "' i¡n:!:erJ<.;é1 ((íirilno I!n.''OJ publiccHi lli11éi ;~ínl;!sticcl
lw;lcHi<1, cClmplctamente f'r.isél ii respeito clo caso As rela~oes entre o
contétclor e rl fcllni!io do pat:~u fcn8fll explorétclas para .sugerir urna motivnc;:?to
p (1 :; ~; : () Jl í:1 L el e \' i ng élll ~ (l_ q u e e: xp !i Cétr i Cl a r é1 r1 i e i r él y?t o el o e o n t a d() r n o él S S (-\ i ( o
N~ n f,¡ i ptl h! i crH! él u !li?. p: i<l'·ra sequ er sobre a a tuJ ¡;:a o do el el cgad o n?. s
inv~'slignv1cs, nc:;¡ ao mc:1~;¡) scu rwme foi rne¡¡cionéiclo, o que represcntou,
:;em dt-lvicia, um procedimen!o potico comum nél imrrensa.
~
() Donfor oí é dure::.o
Dos tres ladroes, doís forcnll confinéldos no xadrez- por sinal, um dos
pi o res Xéi ci rezes de del egaci~l que f1c¡uei con hecend o O contador perrna n e-
¡.
,.
A NEGOCIACAO DA LEl:
AS BASES SOC:LJ\IS DAS
PRÁ TlCAS E REPRESE1'-JTA~0ES
DA POLÍClA D.A CIDAl)E DO
PJO DE JANEIRO
él oc:orréncia como crrmc, c1escic que n~o houvesse flagrr1ntc SeR pessoél
prccisasse ele ll!1ln certicl~o ele C)l:orrencin para substituir tempor21riamente O jogo é ilegRI no Brasil, R menos Cllle sejél exr:;-,réldo pelo governn
os cloc_umentos roubnclos, (1 rolíciél fornecÍél. L!Inél. certid2io ele extravío de N?. érocn de1 rresente resC]uÍsé1 existie1m tres loteriéi~ aclministrade1s pelo
documento. Téll certic!ao, necessáriR pRra requerer novos documentos, Qoverno fe el ere1l (Lot eri a F ed ernl, Lotería Es por¡ iv2. ,_ Loto); além cli sso,
bcm como JléHél iclentiflcnyRO temporilrié1 da vítima, era-lhe f0rnecidR nn ;acia estodo da fecierc1~,?ío explorRVR pelo menos urqa ]n::riR oftciol (Loteríns
hora. No caso de é1 vítÍlllil insistir em registrnr o fato como ocorréncí2 Estaciuais). Nao obstante, o "jogo do bicho" na ii~ ~al, muito ernbo1·;1
policial, Cl certicl8o demor;niR ume1 semélnR, o c¡ue significave1 que o represente no Brasil um2 instituÍ'fRO nacional de grande porularidacie, ClLW
íntere.ssado teriél o incoll1Cl'lo ele voltnr ~ cielegélcia, bem como ficHrÍél sem resisten t od (lS ns ten t<tt iv(ls de proibic;:ao A legislac)ío ( art. 5 l, Leí Execu; iv;1
~O - A 1\le~:JOcia~ao ca Le: A Negociac;:ao da Lei 51
---------------------------------------------
nc] 688, ele 2 ele C'ltllbro de 1C)LJ l, é1rt. 58, Lei Executiva i: 6 259, deJo ele
0 Esscs féltos vieraiTl élgnwar um con.nito j~ existente entre é\S polícias
f'cvcreiro ele 1 C)LJt~) chssifice1 o jogo el u bicho como cont1 iiVCn~i1o pcne1! militnr e civil do Rio de JRneiro. CC1be g~rc-tlmente é1 polícia civil intervir
formalmente junto it sociedi1de C]Uanclo SL'rge a informCir;:ao ele u m possível
Os bn!lC] u ei ros, el o nos das br1 ncc1s (sed e ci as ;ot erii1s i1egé1 is) possu ern crime. Durante nossa pesC]uisa, essé1 informar;:ao, especialmente no caso de
(1Jn¡J]é1S redes de \()ll1é1clores de é1pOStC1S ror tucla eomu'lÍclélde Eles sao flRgrantes, erR tré!zida adelegacia, em geré1l, por soldRcios da políci2 militm.
11
fnmosos 1ambém pele\ suR llgenerosiclC1dc com os pobrcS scndo tc:nnbém , Como já mencionei, as delegRcias de vigil~ncia da polícia civil tínhé1nl sido
p ulJ i i e amen t e re ee, nhee i dos e o mo br nfe it o re s ci e e i ubes el e fu t e b o l e de extintas, e o polícíamento ostensivo, preventivo e/ou repressivo, passou 21
11
es e olas de s él mb a·', o que 1hes e mpres t a p res t íg io j un t o ~~ ~, su as e o rn un iel é1- ser feíto exclusivamente pela polícia milit:1r.
cies J-Iavin, por oc;1sí~o da peSC]UÍSR, u m forte n.lOvimentL· do Comnnclonte
da Policía l\1ilitrn r;(1f(\ aeC1bar como jogo do bicho. Os brnlqueiros, atnwés A pe r da d a fu n y~ o d e vi g i 1Rn e i a f o i m o t i v o el e fr e CJ C1 en t es re e i a m é1 y o es
d;¡ ímprcnsa séría ..lo Rio de Janeiro (Jornal do R,.osi! e r-utros), defcnde- do pessoal da polícia civiL O motivo real de) ressentimento erRa reduc;:~o dR
r;¡¡¡l-sc publicC!meJ~tc C!legando scu p;1pel i:1stitucionol co¡:·o empregadores autonomía da polícin civil para ncgocinr a np!icac;:2o ele ~>un ética Sue1
ele milhares ele bicheiros, seus empregados, numa épc;.:a de depress~o autonomía pé1ra aplicar ou cieixar de aplicar a lei, baseada na capncidRde de
económica interpretar ou nao um fato como crime, ua agora disputada em razao da
superposiyao ele fun<;:oes com a polícia militar. Devido a essa si tua<;:ao,
A despeito disso, o jogo constituí, segundo ~ legisiCit;:~o, urna tornnram-se freqüentes os conflitos entre as cluas corporay6es_ Os policiélis
contré1venc;:f1o pen2!, o que torna ncce'ss~ria umC\ permC1ncr~e- cmbor<l ilegcll militares, por um lado, censurRvam os pcliciais civis por nüo registrarem
- ncgociac;:Ro entre r1 policía e os banc¡ueiros. Té11 negocié1yfio import0va, por corret amente os flagrantes levados a o se u conhecimento. ParR citar u m
11 11
um lado, né1 Ígnor~ncia da polieié1 quC1nlo él atividade ilegéll e, por outro exemplo, eles Cicusavam abertamente a polícia civil de libertar brcheiros
lC1do, nél 'lgratid~o~~ dos banqueiros Por ocC1si~o da pesquisé\, umc-1 contribui- presos em flagrcmte, o c¡ue Rtribuíam a sdborno_
c;:~o em dinheiro eril paga mensRlmente aos delegados, proporcional ao totRl
de a post as n<1 áreR de ci re un 5r:ri y~ o el e CC1 el r1 el el egRci é1. Est ~:.; era m, portan t o, Por outro 1Rdo, os agentes da polícia civil acusavam os Pl\1 ele nao
classificndas inforrnnlmente, pelos delegndos, de ncordo L0!1l o volumc do conhecerem a lei S ust ent avam que el es faziam as pri so es incorret amente,
lucro extrR que podiam rencler_ Havia, mesmo, umR co;·,.pctic;:~o entre os cometendo irregularidades que acRbavélm por levar aanulCiyao legal do ato.
delegad os pe! nS ' (·¡el hores del egC1ci as, as llln is rend n•.:-~ · _ É in t eres san te
1 11
Uma ~a\ /ci- c!o ¡nesmu JJ¡,;cio c¡ueéJlei sec:-1 ncs Estcldns l. inicloc;- ~;cr¡;¡
r·r¡;¡ct;:r:tr·. fcclcré1L n;-1n ¡wclcndu ser éllteríidél ~crn él concorcl~nc:ia cio quast' impossivel ele str c·u111p: 1cL! C:onseq(ICIJtemtnlc.:, ac, <Jg:r co¡¡t;;¡ ét J(.:i
•~ ~:
c(''i('l(H'S(\ ~
• .._ - •
t\i , • : • , '
-.-u . e ~''_·,
:·in'l'''~ P-~·-'·tlllt
( •- \ : i ' a m en ; e I al an el o, a él t .1t u C1 e do G ove m o
: 1
r. 1
esti1 él políciél prescrvélncin a im;¡gc~m idcalizrlclí-1 do SlSlt~lllíl legal /, lci ¡¡;¡(
cl, 1 r·:stcHlo é. cm si. ilegcll, jf1 que ele n~o ten: competencia - m1 cliscricio- é. em si, contestcJcla, e;¡ Legislél\\lra pode sempre ;¡Jcg;lr que: o iogc: ci() bi,·ik:
ll<liic!ncic- soh'e élSSllntos cic lcgisla¡;:flo fecierai Esse fato exp6s o Governo é urna atividade ímora! c. ileg;¡J l )m ta\ sistem;: poclc lcv;11 ~~ plet():·,: d:.-: \ric.,
l ·:stílcJllíJi il íf·eqiJcntes ílClJSí\\:ocs de descumprir a lci. 12 impratic~veis e absu!·clas C]liC éi!l:aioria dél poptilél~-;~CJJJ~O compreenck IJCií
obedece Ideolc')gicr. e poli1icr\rll~'!l\e, é-l polícin é cc·1:;ur;Hiéi pnr n~c
_ l i mét ci él e o nse C] ii ·~ 11 e i él s su e 1;\ 1s d e o r el e m r r 2t i e él e! es s as e o n cltll 21 s
éW ctimpri:llento desSélS leis, e a popul<w~o, por n¿iC1 ohcclcce-lé-!~;, é: u::1~.l:
(_:(lll~;JS(t:rCÍc:rc;:ar O CCticÍSll1() da p0f1U!<lc;:RO bn:sÍ!eÍrél C]llnlll () ~1 possibi-
Clll
rrlclé\ por n?.o se1 f¡c\ c:umpriclorci clél lei O si::tcillé1 ieg;1\ pcr·m;JrWtT
lrdiiCIC ck ClmprllllCllto el;:¡:-: leis no T-irrlsi! C:onformeJ;~l mencionei a trnclir-~w
y
1 •
mínimo(; moi.\ longo do r¡ue os ou/u7s (11111 háhlfo dos hrcrsilci- rRcl as él 0 ¡ :CI b a] ho í nt el ect u cd :rvr a rgi nR i s s21 o os membro s dns el as ses baixas
UJS de clnsse IHiiWI j}(Trn demo!lsfror que )}(/o ex ere em t¡-aholho que n~o t ,·ab11lham· os vadios e os crimincsos proflssionais.
hur~:ol, o que ,Js rchoi.rono !In lu('urrr¡lfio do socicdode huni-
/eircr ex-cscuf,'isfo). 0/hnmos os m/iw ¡Jour l'CI' se .\cTO cole;n- O empenlw clemonstrmlo pela polícia em fazer cumprir a lei ~R~ia ~\e
•
acordo com RC(ltegoria social das pessoRs envolvicias, e nao corn a extste~c~a!
.
dos. Ohscn·oliiOS, cnfáo, o mnnciul dn pcssoo .folm·, SilO
cdl!covro, CYJJI.! l'l1'11cio. A jHJs oh \C n 'eH todos essos coisns, inexistencia de atos ilegais, o c¡ue nao se enCJUé1dra na defmi<;:ao legal brRsde1ra
dtngimos o/J_~,.t!llns JH'rgun!o.\ JHI!D obro· iJ!fonnn~.c)c.s. ¡~- o Jo pctpel del policía Tal característica pode ser muitu bem .ilustr!1cla pela
mesmo jJ!'OCC.\:\0 que se uso quondo .\e 1'2 umo mulhcr: n gcnfc c1tl!Cl~~o policial do cumprimcnto da leidas contraveny6cs penats cm cosos ele
(j uer ser he r se c.: coso do, se 1·/ l'e .w:r.tn ho o 11 con 1 ofm ni1i o, se re m VRclÍnQeiL Essnlei federal incluíél (arts. 59 e 60, Decreto-Leí no 3.688, cle_2 de
din!lC'iUJ ()1/1/(l(), Com os J/71/lhcre,'\, rudo /}()!J/C/JI J /(171 policwl. outub~- 0 de 1941) vadiagem e mendicRncÍr\ como contrnven~:oes pena1s. A
E o mesmo ¡;roccs.m. todo mundo "riro" todo muJJdo. pena erar-le 15 a 90 dins de prisao simples. Portanto, teoricamente, uma pessoa
poderia s:·r presa em f1agrante, a menos que pudesse provRr t.er um emprego
A afirmntiva disse delegado ele que "todo mundo tira todo mundo" reQu\ar. ;-,_ maioria das autur1c;6es por comravenc;ao penal, tnstauradas por
nél sociedade brasik~irél sugere origens sociRts para (lS pr8ticas e as fla~grante, realiza-se na delegacia, e sao penni~idas ciesde_ o i_níc.i~ ~c;oes
cn!egorias policie1is A. élnálise dn descri~~o do d¡:lege1do de ''tirar" indiví- bilaterais _coma pnrticipa~ao de advogado. Por 1sso, nas a<;:OeSJUdJcJat: .por
duos mostrél. c¡ue e~.se1 pr~tica constituí basícarnente um processo de contrave:~<;:ao penal- bem como em casos de acidentes de tráfego com vt~ll~n
enque1drar tllllR pess.Ja de ncordo com seu s!nfus social e economico e crimes relélcÍonados com drogas- o inc¡llérito policial ocupa uma pos1c;ao
Dest e ponto de vista, él po lí ci R, ini cialment e, niio se preocu pél com os fatos relevante no processo judicial como um todo.
cm j ogo numo ocorrcilcia, mas coma ident ifi CéH(~O do contexto sociocultural
c¡ue os cerca. A primeira identifico~~o, como !lcentué1 o delegado, é Por ocRsiao da pesquisa, o BrRsil Rtravessava um período de grove
func!é1mentél.l péHé1 orien!nr élS prátícns policiRis e rt maneiré! pela c¡ual ?. !ei depress2n econ6mica. Portanto, essa leí representélva evid.entemente uma
serf1 cumprida- ou n~o. ameac;a ronstante pora a populac;ao. Muitas pessoas nao tmham emprego
ou, C]uar;jo tinham, nao podiam comprová-lo, pois era comum ~ue seu
Ess?. clnssifJcélc;~ío do pLlblico que tem contato y:om a polícia pode ser patrao, ¡--Rra evitar 0 pogamento de im})ostos, deixasse de atual1zar ou
r·epresentadél por um <onfi!llllt/7! que tem doís duplos pólos opostos De u m assinrd- ,~ :Clrteira ele trabalho.
lélclo, os doutores e o':: pés-ínché1dos; de outro Indo, os trabalhadores e os
muginais. Doutor é ·:l tratamento que él sociedade brasileira dispensa as J\:~, s a polícia do Rio de Janeiro só oplicavél essa lei em situot;6es
pessoas de el evado s1a!1rs, possu id o ras geralm ente de di pi o ma de curso especia!~ Uma de\ as era quando identificcwa alguém representando,. segun-
superior. Os pés-inch;.1dos constituem um<l categoría originúin das delcga- do 0 cri t ~ rio policial, u m perigo pot enciRl a sociedad e, mas acont e~'~ fa! t ar
cins do Rio de Jcmeíro, em cujos c~rceres cronicnmente supcrlotados os evidénc 1• 5 suficientes para umél acusayao legal convincente. A prtsao por
presos nao tém espnc;u paré! se deitar, sendo obrigcldOs él dormir por turnos. vadicH~.c·•· ern 0 recurso que a políciél. usava para retirr1r o elemento de
Os.mais frncos passélll'J é1 mélÍor parte do tempo em pé, o c¡ue félz com C]Ue os circul~c;~. ). Téll acusa~ao podin mante-lo preso na delega cía por u m período
pés fiquem inchodos., A expressao é usRdél popu!Rrmente pélrrl designélr maior O(i que se nao houvesse nenhuma acusa<;:ao contra ele.
também pessoa pobre ou um Véldio.
SE::::,LJndo a leí, a polícia deve prender as pessoas classificadas como .¡¡
Os trabalhaclor~s s3o pessoas de clélsse bRixél, exercendo o mais das vadias e1 f.m de retiri1-las das ruas. A policiél pode fazer isso em todos os casos
vczes ntividéldes broc;ais desvRlorizéldas e mal remuneré1dRs quancio compél- em c¡ue a pessoa n?ío tenha como provar c¡ue exerce uma atividade regular
'111
--~--- ----------
. "rl,ldlré'
1 (](' ('()!/(!11/f/(/J' ,·S. "-ln,··
, 1, , , 1 1 .-, r> <;_,, ' Oll.lr,
expostns ;\ · 1 r~o
<·
rJ' ¡ JY"' t ;--
lista hase;.Hio no livrc mt:rcrHICJ ele t;ab;1\ho Fxamim1rv1o rcla~émos c\;1 polícií:
• r. (
•:•' F··l· . " ..·- ".... ' l.(\ es,,w
nw \:. :i'-'lr·o· j •
~...·:¿¡~: ;¡j¡~~l-~ e~~ rl¡,'Jli((Jr.r,•_r~ v.~.::dC ~~1~,
... r . ,, ,.( tl!J ,lJJG, C(1!i' .1: . '\·' ,
, • _"
-.
·, 1
. j
~ r 1 '\ ( ~") 1- ~~ T , . .
... 1 ' , ,,,,~
....
,..
1 ,_
CJ iT1C. CC)IltOll,
_ 1
rJCSSC1é1S cL·lS
, •
,_:_., jHlllU2l1S CCl:llCl SCUS fill'lí·err(lcJ')' do F~stnclc; ele; F.1c; ele .L:neirc: rcf'eiC!J\es ;w período ck \ g~ l? JUJCI, estLtclc:~;
históricos (B:-niHl~o et ctliL l CJS l 2l]-268) mostrmr: C)l!e a necessic!c1clc: de
' • 1 :::; \'"
l'cs:<);!s
.1(1 (l(l\TI
··
clils ci;:<c;ec; >ré ¡:.
11''S!C:J
-.... · (''><·,
.c..-(;
con.rél as CJé\SSes lll<lis barxéts
;¡ (•: 1 \1T1'1''Tl(-~
, .·~·;-
·
. ¡,,e.' o
· t 1 criar ummercc1du de triibé1lhc: ]:\TC !evotr ~~ identitJcnc~ac', por u:'.l lndo, entre·
... t•·é1bnil ". J ~
1.1 .l lrl lllCSlllCl Il~Cl
'- <lité1_
bo<-l orc\e l1 C trnbél\ho e, por Ol1ti'Ci ];¡c\O, c\esorclelll e nao-trC.Üé1lho (0~1SCC]UC.ll
¡;JCiél:; í:l mostrnr Slirl ur-t 'I·r··¡ •J'c, tr··-,h· JI
' l<tllC c., llL!llCél Clél!ll
l ement e, a 111 arl\11 en~R o de. "segma nya int cm a" e da "! rct nr¡ui Ji liilcle plihlic;l''
_, 1
·' ·~ r.' .. nllrl lO nern
e·-rn' , ~
~·ilJ' C'Cjl:JCrclaclr c:conó·nrc•
- .
, ,. ". • . ' , .1 ¡1•11esas por vaclingern
!l:li1C:;¡¡¡;¡¡]l(_:r;¡
1 ( ¡,.¡, d .'lC
CCJ!ll é' Jnj ,.,.- .... , r".
lllél!ller.
·
OCll'
.
come 1 ~ ' n
1..
(, COilSe, ucnte bom
11 exigiu :rma policía "pr:rfJSs'on<d'' alicer~acla em métCJdos ,. cíe' iflcos"
11 . ,_ e:, r1J,¡"~l!l;1di1lllente jl!CSll'llicla ¡;nj~ nn1¡'c¡., "-· . ¡·'-'· 1(,
re~ífies
11
icleiél de indivícluos l'nasciclos f!clro o crime , OL sej?, criminosos n8tos, c¡ue
on.t!!llcntc, ncss;:s 11111 .• , ,· . e, nnelfo. TradiCI-
~ dtJS ::-.Jstemas culturRJS uséldos p 1~ l' .
c]assJÍJCl\-~0 clas ¡v=•srr~'lS t)-:1S.e!?.- se m1 ¡;res un r 3 ci
- . - , pocl iani a1é ser descritos e id en ti fr c<Hl os por su as can ci crí si ic:o ; anill órni eas
jlél!íl (l e,(1 po . - !Ciél
~. , e lliTl él o p o s1~ ;:w
• · • • ..__ • ,) )( • (¡
lnasilciré\, bélSCé!Ciél nél t1icrarquia cscrcwista Ncss;, sociedade tradicional os A e fi e ien e ia el es ses p ro ee el ímen t o s poli e iélÍ s p él re e e e 1eva dél , p o 1s as
cscravos negros é c¡uc C\CCLJtéJvRrn c1 tr<lb<JIIw >:-éi~rJ! clé1sses bélixas aceitam implícitamente us rótulos c¡uc !he s~o impostas.
N u ma t e nt 8t iva el e a ss eg u ra r que su a sí tu at;: ao es t ~ le g e1lm e: nt e e m o rd e rn , os
Es ses preco;¡ceitos sao refor yélcius por u;1: conhecimento pseudo- clesempregados- ou simplesmente os pobres- desculpam-se alegondo as
científico CllSÍnRcJona lllélÍO!Írl das fi1et1lclrJdes ele r)íreito, onde él OÍSCÍp]inR eJe desigualdades estruturais do sistema economico e social. Afirmam repeti-
medicina legal forr1r~cc tipologías ''cicntí!Jcas" dos críminosos Deve-se notar damente, quando abordados pela policía:
que esses preconcr:itus cl"1fundem-sc lrngr.mcn\c nc meio policiRl, j~ que os
,\ou ¡;uhn:, mas .vm lurholhodcHl
c1ciegnclos tém ele ser forméldos cm Direito, e muitos agentes ele polícin
fl·eqLJenlé1rélm tamb~m fé1culdc1cles ck Direito Mais cio que isso, té1is precon- Fu n ~o es de Vi g i 1an e in e Pro e e di rn en 1os d r
cci!os s~o lru-gc11llUlte clisseminaclos nos setores educados da populnt;:?ío
"Rcconhccin1ento": A Auto-Rcprodu\~flo da
brr1sileira, pois os c!iplomados em Dír·eíto s~o muito nt1merosos no Brasil.
Ideologia Policial
Uillél das co!tseqtrenciRs prúticas dr1 associ?, ao entre nao-trélbalho e
crime foi él éluto-rcprodut;:ao de um sistemél ideo!ugico que projetou umél A classifica((ao hierúrquica dos cídéldaos brasileiros é lege1lmente
permélnente nmbiglriclc:Jde ou mesr110 umél potencinl acusayao sobre cidadaos enunciada no já mencione1do direito aprisa o especia! ele que goza m no Brasil
desempregados de classe baixa Esse sistemé1 também dividiu a populé1c;ao os portodores de diploma de curso superior_ Entretanto, para a polícia, a
entre os que tinham direito ao nao-tré1bcllho e os c;ue nao tinham (Coelho, equipara((RO das pessoéls de clRsse baixa aos marginais explice1 perfeitélmente
1978). Estél prát.JCél discrimin8dora lllélnifesta-se pela exigencia· seus docu- a auto-reproduc;~o da ideología policial e as teorías sobre criminRlidélde. Por
mentos!, habituR! ·qucmdo R polícia, por quéllq~.er motivo, élbor-da um exemplo, segundo a afirmativa do escrivao no flclgrante descrit~ élnterior-
cidéld~o comum n~1 rue1 As pessor1s de classe bélÍXél·, e1lém cla célrteira de mente, o contador gozava de privilégios,na cadeié1 em troca de presentes que
ídentidé1cle comum, tem de apresenlar provr. de estarem trabalhando pare1 a familia trazia pora o carcereiro e tRmbém porque o contador era "clara-
!lRO serem té'l.xadas ele VRdÍaS. mente" diferente dos out ros mé1rginais presos_
e a polícia e críminosos profissionais pode segur;¡ nente ser considerado proibia também o uso dos termos "elemento" e Inarginal'' nos autos dos
como um importante rrprirneiro passo" na cRrrtir8 Jo crime_ 13 inc¡uéritos policiais_
¡
1
r él clr e 1o n ' 11n Cl. ~ : él s i1e~ m G t 1n 1 s ll b s t i t u t o el Cl s g re ves, Clll e e r e1 m p ro i b i d a 5 c:1,0 s
1
[
Um nutro exemplo vé1i csclnrecer· as conscqlJenc1as rx~t1cas cios
~er vr el u res Ptr t 1Ir ~:os EssR concltr t <1 con si st ia e m t rR bnl har e m est rita obed ¡_
C:'IlClr! ;¡ lOclélS (1\ Jeis e ff'0 1 l'é"llCJl 1 0S eXÍStenteS S;:;-0 t . ~ .
¡ estereóti¡ws n;.:¡ nlllnyi'i.o polici(ll, bem como nwstr·;n o processo ele mJ!o-
. . • ·. ·.::o' · " ' • . • . n é1n t r1s r1s extgenclélS reproclu\,RO das céltegorias e p1·~ticns policinis- n '\~statística" policial. Nct
f
bu_rocrntrcr.s que cerce¡;¡m ;1 rH,.:~o policiéll, C]ue essR operac;ao resultnvé1, na épocél em C]lle él pes[luÍsn eslr¡v;.l em curso, o indiciamento e posterior
prél{JCé\, em élllllhr a élyi'lO ri?. po!ícict, cieixnndo el prÓpria SOCÍedade é1 tarefél condenRyRO ele umR c~.;n!Jeciclél figurt1 da sociednclc célrioca- um cin.rrgi~c:
ele lllélnler n orclem pública 1 plástico- por assassinnto, roubo ~ mi'io armadPt, nrrnmbamento e seqLJestro
r
pmvocoti tlm esc~ndnlo ))Llblico nncional por ocr1si:io c!as investignc;:oes A
..
'
No i~ descrito Cé150 de nagréinte, pociem-se perceber é1lguns OLitros
¡ mídiR comentou exnustivnmcnte o assunto com e1 p~rticipa~:8o de famosos
result<1clos ciC1 lllélneJra estereotipada com c¡ue él polícia vé os criminosos Por 11
criminalistRs" brnsil~iros - policiaís especinliznd;ls, juízes, promotores
e;-; cm P1o, o_ e.sui v~ o n:io podia "compreencier" como uma pessoR e¡ u e públicos, ndvoge1cios t a imprensa especializadR. J. explicnc;:ao consensw1l
~C\n~l~Vcl ~l1é\IS ele cp1e ~~~ero Clipnz ele envolver-se m1m assalto. A irnprensa 1¡
!
pétra n condutci criminosa do cirurgi8o foi insnnidnc;e mental. Já c¡ue ele eré1
L:ml)Cill tc:ntou clescol)flí u:~1a motivnc;:ao pC1ssionol pan1 explicar 0 proce- ¡
1 inteligente, eciucélclo e rico, ni'lo "necessitRva" COT1eter esses crimes po1
¡
cliillcnto clo col1iélclor. Mesmo o proprietRrio ''nRo Jlodia r1creclitm" ClL!e
0
dinheiro Portanto, ni'\o haviél qurllC]uer rnz?:o- n n~:J ser a insé1nicinde- pctr8
cor1lclclor cstivesse envolvido no rouho. ' 1
1 ele cometer tnis crimes. ~~
1
!
.. !Vlas o_ C]Ue se ~fastav,, cla:-amente do nom1RI no flRgrante n3o erR él EssRs opinioes forr.m conftrmé1ciéls pelo meLi mn(er·ial ele pesquisC1s
prClt !Ul do en n~e en1 SI, mas o_ rigor come¡ u e a lei estova sen do aplicada contra Segundo (\ maioriél de meus in!ormantes- RdvngéHlos, rromotores, juízes,
pe~so~1.s C]tre nao eram mélrgi:laÍs A excepcionalid(!de clo episódio pode SfT
élt:JbuJd~ <lO fat? de ni=io corresponder élOS estereótipos policiais no tocnnte c:t 15
A redur;:ao da conduta Cf''minosa e da dissensao polltica para 1nsanidade" é uma interpretactw
crJ_mm~:IJclélde VJoientn ~a os crirninosos Nem o cielegC1do nem 05 polici(!is C]UC comum na teoria legal br:;siletra Essas r:onceoc;;oes legais no B;·3sil sao r:laramenle relacionadas
comas teorias da "psico:cgia das muitidoes". vigentes no sécuk> XIX, desenvolvidas por Le Bon,
[o¡ • uma. olhada · noc:--.presos
él m. délr ~ "''(" - nos'' e omo ¡a d zoes-como
. nr"'conl1eC""'-"'lll --
Tarde e S1ghele Esses autores mencionam a existencia de um certo "tipo" de multidao, a "muliidáo
l11(1rgmC11S. A ngorosa aplicélr;~o ele: lei pelo clelegéldo contra o contcdor, sem críminosa", que nada mats é do que urna abrupta transformac;;~lo de um ajuntamento norma! eJe
pessoas numa multidao Jescontrolada e insana Pa~a esses autores, lumultos oriundos cie
protestos conlra a injuslir;:a social e stluar;:óes económicas adverscs. por exemplo, nao estao su¡eitos
a explicar;:oes soc1oiógicas, mas sao considerados como resultado de condir;:oes psicológicas
H
O conceito hierárquic~ de cidadania na sociedade brasileira tem sido reconhecido e discutido pelo desequilibradas (para e>:emplos, ver Noronha. 1982. v. 1 :225; Oliveira, 1966) A teoría da psicologté<
ctenttstas soct~ts brasJie.Jros Conforme já mencionei, sua conex¡jo com 0 in¡usto tratamento dad: das multidóes foi usada também para expltcar certos movirnentos politices messitlnicos no Brasi,
as cl~sses balxas braslielras pela p~l~ci~ e. peio sistema judicial foi apontada a propósito da
provocados por "coletividades anormais" Esse ponto de vista era tradicionalmente ligado r.
drscussElo dos usos e das formas de vrolenc¡;:;" no Brasil (Da Matta, 1979-1982; Velho.· 1980) a
antropología "rlsica" e medicina legal do século XIX (medicina forense) Exemplos de diferenie.s
versees dessas teorías p~dem ser encontrados em diversos P'>critores, tais como Euclides clo
Cunha, Silvia Romero, Nina Rodrigues.
G2 - A Negocia'yao da Ler. A Negocia<;:áo da Leí 63
po 1ici a is -, a crimina! id él de vi olentr1 res u! 1a del pobrezc1 no a mbien! e urbano, oficialrr·~nte registréldas como tal. A liberJnde da polícia ern tomar decisoes
ondea anomia e a desorganizac;~o social aprofundam o contraste entre o e, conscr¡Lientemente, as ocorréncias p0liciais reais que sao registradas
rico e o pobre '/ivendo ao lado dos ricos nas grandes concentréH(Ües tendem :¡ reforyar seus estereótipos de crimes e criminDsos, fornecendo
urbanas, o pobre !~1rna-se mais conscio de sw1 pobreza, e suas necessidades condi¡;:ocs para a mrto-reproduc;ao da ideología policial (Coelho, 1978;
economicRs crcsc~;m pelo conternple1c;~o dos produtos industrializndos da Thompson, 1982).
civilizac;~o que est8o no comércio, silo ample1mente difundidos pe]¡¡ mídiR e
le1rgamen te ad e¡ uiridos e ostentados pelos ricos. Como as expectativas dos M:nhas observRyoes sugerem que o processo de "conhecimento"
pobres n~o podem ser satisfeitas, eles se tornan1 crimino.sc.s, funancJo o que efetuado pela políciR é, assim, um processo principalmente ele "reconheci-
n~ o pocl e m e o mpr:1 r. e, 1 mento". Esse reconhecimento de tipos criminais é, muitas vezes, desde logo
revelado pela maneirR padronizada de a polícia se dirigir as pessoas r¡ue
Segundo ess.es especialistélS, somente como conseqüéncia de cllguma entram na delegacia:
anormalidade psicológica pode a crímimdidade violenta vir associada Ro
.'>fafus de classe m.:':dia ou alta Portcmto, tal associac;ao nunca poderia ser Ouie e u 111 ''oce mlles? Eu sei que já l'Í l'oce antes ...
explicRda como fei.16meno lego!, sociológico ou político A ''soluc;8oJI para
n criminalidade vi_;Jienta brasileira é, Rssim, económica e nao legal. Os Esta é evidentemente parte do processo policial de socializayao da
proflssíonais da área legal, por este rncíocínio, rejeitélm sistematicamente inforrnayao a fim de exercer seus deveres de vigilancia. Masé também um
qualquer responsa~ilidade- deles e também do sistema judicial e lego!- pelos poderoso instrumento pRra a dívisao ideológica da populayao entre os
problemas relativos as atividacles criminais da sociedade brasileirR. "desconhecidos" da polícia e os conhecidos, fichados, "manjados", r¡ue
alimente. o processo circular de auto-reproduvao da estatística policiéll.
TodélVia, ess~ interpretél~RO quase un8nime connita fortemente COlll Realmente, corno no caso da vadiagem, é} "identificac;ao" pela policía é uma
os resultados de qstudos recentes sobre o conexao da auto-reproduc;ao técnica policial punitiva ern si mesma.
circular entre ideología policial, estatística criminal e estereótípos policiais.
Essos conex6es tém sido objeto, recentemente. de pesquisas e discuss6es
empíricRs e sociológicr1s no Brasil (Coelho, 1978;· Campos, 1980; Olí ven,
1980; Paixao, 19¡~2 a; Thompson, 1982). Esses trabalhos seguem as
tendencias de out res países !1(1 pesqu.1sa empírica e nél análise sociológica 17
U m Rrgumento cornum desses éHilores é o de que as estatísticas policiflis que
colocam na pobreza dns classes bRixas a origem do criminolidade violenta
poclem representen u m indicador aceit~vel pora a ideología policiol, mas sao
inteiramente insuíicientes para explicar a real di:.;tribuic;ao social e os tipos
e índices de crirninnlidRde numo doclR sociedRcie Os ch~unados crimes de
''coluinho branco'' e o grande número de trRnsgress6es criminais que, em
.razao de c!eflnic;oes e interpretac;oes preconceituosas da iei, nao chegam ao
sistemR judicial ilustram Rextensa gama de pr~ticos críminosas que n~o s~o
16
Um exame critico dessas teorias pode ser encontrado em Coelho, 1978 e Paixao, 1982b
17
Resenhas brasileiras .:Jesses estudos feítos no exterior podem ser encontradas em Coelho, 1978
e Paixao, 1982a. EntrE< os mais importantes para este argumento estao Nye, lvan F. el alii, 1958;
Kilase e Cicourel, 196i3, Williams, Jay R e Gold Marlin, 1972; Maynard, Erikson L, 1973
C! S Ll lv~ l TE~
¡;
¡ l! A 1._; T () N () h: t l Jf\ PC! L l C l /\ í :
[
RFSTRl ('~ES 1NTER /\ ~-:
~
~ F EXTF R 1"'-1 / \ ~) /\ /\T l_ J ; \ C.~JÍ\ C)
f
~
n P o Lí e~ 1!\ f) ·/\ e: 1r; A nr L) c1
t R 1C> D E JA N E 1R ()
f
¡
t
f
r A Ética Policial
1 Durante meu trRbolho ele campo junto a políciR notei c¡ue estrl,
i parodoxéllmente, ciesobed eci a de mnneira sist e m~ tic?. a ciiversos preceit os
l legais. A princípiu interprete! c1 f?.to como simple:~ descuido, mas com u
¡ passar do 1empo foi-se to:nanclo cnda vez mais c!Rrc e lógico que esse moclu
el e agir fazia pcni e el e u m conjunto especic.1 de regras e pr~ ti cas, q ll e
identifiquei como a éticn pcllicicd. Segundo esse ponto de vist?., umíl
1 cuidadosa observe1r;ao das pr?.tic2s e categorías us2,d(ls pela polícia en: se\1
dia-a-dia é essencial pé1 ra a boí1 compreensao ci ess~l ética.
1
na estruturR global dos signiíícRdos e de su a conexa ocom est2. estrutura. Por ¡ Esse sistema de fiscnlizac;:ao demonstíél o qu~::.to a autonomía das
exemplo, no sistem<i brRsiieiro este significado depende ele onde está situada ¡ prátiCRS policiais é limitada, nao só pelo juclícíárin ,- i\.1inistério PLlblico
a origem dos fatos·. na estrutura sociRl elitist8 ou no sistema judicial f como tambérn pelas próprias Rutoridades policíais, 1 ~ presentRdas na oca~
si~.o .pela Corrc.g:cioria de Polícía, um rRmo da Se~: ~truia de Seguranc;:a
hie r~rCJuÍzodo_ Cor\seC]t~ e~tem e.nte, o ~on ceitAo de ve rdndde .ledg.al ..t~rna-se ¡
1 1
re 1cl.llVO e, no CoSO ,JfRSl elfO, 1lefRJT]UlZR O 0
ver 0 é1 0 e O JU JCIRrJO, por PubiiCéL O cartono de cada cielegacia era inspecionc.C:J pela Corregedoría
de Polícia a coda tres meses. A insper;ao (correic;:~o) ,_-onsistia em conferir
exemplo, é mais vúdacle do C]Ue a verdr1cle dR pulícia, e Rssim por diante.
1
i~dos ~s autos. parR verificc.r seR delegncia cumprii.J s etapas necessárias
1
Um tal sistel!la estimula a competic;ao entre élS fontes pelél melhor t (mvest1gac;:ao, 1nterrogntórios etc_) e se os pro.zos est~·; sendo obedecidos_
'verdade. Como naél existe nenhum conjunto pndronizRdo de regras para t
t A correic;:ao faz vira tona uma divisao intern2, '· ue existe latente nél
decidir onde está a verdade, a decisao torn(1-se uma c¡uesU1o de autoridode, ¡:
nao de regra. Por e~emplo, confonnej2 mencionei, as polícias militar e civii estrutura da deíegacia. Segundo urn escrivao, eia v.<oc 8 ern oposic;:ao a
confrontam-se recíprocamente na competiyao pela versao "mais verdéldei- "turma da rua" ( eC] u ipe de invest igac;:ao) e R" t urmR do c. rt ório" (pessoRI dos
ra" clos fatos_ É o caso, por exemplo, de C]Uando umé1 captura deve r autos). De élcord.o .corn ele, se a turma da rua nao efetuar as investigac;:oes,
transformar-se em um flogrante judiciaL ¡- a turma do cartor1o nao pode prosseguir com os intcrrogatórios, 0 que J!
¡
t
f
-------------------------------- ----- ----------------
lcv;n it <l Cun c~;:cdor l<l él "Pi'1<lr ::t':~~<lii\';:rnen1c e ;1té élpliccn s<lnyoes ;¡dminis-
pi1ra trélnsf'onn;.H-se Cll' incp1éritc1 policial A investrgrtc,:~o prclimillr\ ~:!él 1
¡~<lié\ j11( 1 Ssegtl;', a 11111 de poder cxcrcer suél prórria autoridacle A tensflo,
Outré1 rllélneirz¡ comLIIll de exercer o arbitrio sotnc c-niviclades legais er1:
porlí1nto. 11~0 ~·n¡ heril pelo medo cia correÍyRO, mas por C<'HlSé1 el?. dispute\
o élCnutelamento cin investigac,:2\o preliminu ou el o prc~Jprio ÍllC]Uérito polici('.\
pclu controle clo.s Í11C]Liéritos
No ace1 u t el nnlen t o, o inq \1 éri t o fi Cé\ va t emporél ri a me:1 te st 1spenso, ;1 el ispo-
sic;i1o dn íiutoridade policií1l. Tal procedimento taml:érn n8o é menciomlclc)
1\ dir.;pti::¡ ~s vezcs se élC"]t!ecií1 hastcmte, nrlC]uirinclo cclrnctens!Jcns
ou definido no Código de Processo Penal. Este Código estélt~lÍ, cn:;-etílrllc,
pessoRis_ I_ssG ocorria porque os é1li10S dos inc¡uéritos sao dé1 resronsélbili-
c!Clramente, C]lle só o juiz pode orde11ar o élrC]LIÍvamenlo ele um inc¡uérilCl
cl;tcle l!lcl!vJdual do polici<il encnrregélclo. Os inc¡uéritos tornam-se, élssirn_ ele
policial. Ambas élS prilticr.s - investígélyao preliminar e accJulelélmento
certrl maneira, Sllél "propri~:dade particular". Tcd fato se renete Jlél formé; de
cJestÍnaVé\lll-SC, evÍdent~;mente, é\ Rlarg?.r él areél de Rl(~O do flOcler ele po!ícic-1
11
s e , r efe r i r. a o s i n q u é r i t o s - e 1es s e t o r n a m "m e 11 in qué,.¡ 1o ", "se u ¡n r¡ u é ¡- ¡¡ 0 l Cllém del lei e contrél (l lei, l!Sélndo como _justifJcativa :1 economía de pcq;el e
. Cunsec¡uentc;llcnte, só o:: policiais din~tamente ligados a um cietermÍnéldCl ¡
de trabalho
lllC]LJérito policJnl podem fornecer informac;:oes sobre ele. Portanto eles tém j
el e ser encont; a el os e solicita el os pessoalment e por e¡ u nl c¡uer el ~s partes ¡
A étÍcél policinl nao era deírnícla ou élplicéldn com uniformiclélde dentro
intcressadas" 1 da polícia civil. Diferentes grupos e "malhas 1119 usér.JRITl prilticas distinte1s,
¡
¡
ligadas íi diferentes trwliyoes existentes na políciR cÍo Rio. Essas trRdi~.oes
Por ocr.siao da pesquisa, havia urna prattca institucionalízoda na 1
políci(l do ~~o deJ~~eiro ciestinada a evitar C! supervisao cio sistemnjudicinl ¡ cida pelos policiélis em seu reléicionélmento com él populac;,ao. Por exemplo,
e cln corre1yao polJcJnl. Em vez de um inquérito policial, o deleuado nbriél
umél in.ve~ti~a~ao prelimimu, C]lle era designada tarnbém pelas ~1iciais IP,
¡ hélvia uma nítíd? cis~o entre os policínís do ex-Estél'JO do Río de Jélrleii·o e
¡ os do ex-Estéldo dél GL1nn:1bnrél (cidade doRio de hneiro).
c¡ue comcJcliam comas ele Inc¡uérito Policial Essa investignt;:~o preliminar, 1
[
fosse n1ais bem org;.mizodo e possuísse recurso~ materiais e humemos Na ocas1ao, o pessoal dé1 Polícia Civil comentou a 111 ú sorte clo
superiores, pelo f~l!O de elo ter· sido capitol di\ RepLlblicn. s.argento, ou 'lburríce'l segundo alguns, de leí permitido c¡ue 0 rcpórter
t1rasse. él foto Entreté1nto, ninguérn se lembrou de dizer que os presos n8o
Pora ilustríH esses conf1itos. Llm delegado da polício da cidade doRio n:ere~iam tal trRtamento. Afina! de contas, os políciais nao podiarn mesmo
de Janeiro contou-me um caso que descrevc muito bem suas impressoes dtzer 1sso corn sincer~dade, dado o péssimo trotamento que ciispensovRm
11
estereotipadéls sc:bre o "estii0 profissional dos policiais do antígo Estado a~s p:esos nas ~adelélS _das delegélcias Eles estavam, entretRnto, bem
doRio ele Jnneír·J Segundo o Íllform;.mte. um de scus subordinados veío co~ls.ctos do sent1do soc1al negativo de tnis práticas Isso ilustrr1 como o
trnnsfericlo cl0 arlligo estado para a cidadc do Río de Jnnciro (ex-Estado da O~l!lJao pLlblica é respons~vel pel2 fíxoyRO de límites de concluta da polícia
GuRnRb(lra, rx-6istrito federal). Esse policial tinll?- como referencia8 sua d1ante do pC1blico.
origem- o Rpelid'J de i'pRpR-goiaba" .~ 0 Ele possuía o hábito de levar consigo
um chicote durRnte sw1s tarefRs policiais. O delegadu, meu informante,jú o . ~A~ diferen~es vers6es da ética policial eram identific~veis t 8 mbém pela
tinha Clconselhado v~trias vezes é\ c1bandonar nc¡uelt hábito, Rrgumentando ex1st~nc¡a de. diversos subgrupos no organizayao poiicial. Existía um
que um chicote :é algo que se usa é1penas erTJ ani nais, nRo em homens. estrelt~ relac10namento. entre os delegados e sua cc¡uipe. As relay6es
Adveniu-o tamb·~m de que olé sw1s declanty6es pe~Rnte o juíz poderiam pessoa1s corn_ s_eus ~upenores eram usC~das amiúde para obter privilégios e
tornar-se suspei!r1s se o mogistrado fosse informado dac¡uele seu inusitado vantagens adJclonaJs no exercício profissional e nas atividades particulares.
h~bito. A final de contRs, andRr comum chicote nas ¡r:ROS ~u ando em serviyo
n~o erR RbsolutRI1lente umR conduta 2. ser esperRda r_ie um policial em plena O delegado com quem trabalhei, porexemplo, tinha u m amigo_ Padrinho
cídade doRio de Janeíro. O policial mostrou-se, entretanto, muito relutante ~omo o chama:a- qu~ era diretor da Divisao de Roubos e Furtos, u m post~
cm élbandonar e velho hábito, tendo sido necess;:rio ~ue o delegado o :.mp~~ante na ~llerarqllla da polícia do Río. Por causa disso foi-l he destinéllda umn
RmeRyasse de puníc;:8o Rdministrativa séria- LllllR incomoda transferencia- boa_ delegac1a, onde nao havia grande sobr~corga de trabalho, muito embora
pora convence-lo a abRndonar O chicote. ele nao se submetesse él muitas das práticas policiais ilegais.
negros Mas como o policial nao dis¡;unha do nCimt::<, necessário de algemas d~fesa da autonomía policial frente as innuencias intemas e externas sobre
- fR t o e¡ u e só foi ex p l iCél do post eri orment e- el e nmar:-. )U u m a corda e m torno a m:erpretac;:ao de como fazer cumprir a leí. Objetivando um controle mais
do pescoyo de cadr1 um dos presos e puxou-G'~ até a viatura policial efet1vo ~o?~e es~as_atividades policiais, taxadas fregüentemente de abusivas
estacionadR na saícia do morro. A foto fez a populay?." se lembrar da maneira ~ela op:.n1ao pu~IJca e pela mídia, tentou o governo neutralizar essas
como os escrC1vos africanos erRm transportados e aleu ao fotógrafo um rnalhas_ , detennma_ndo um rodízio periódico de delegados pelas diversas
premio nélcÍonal de repor1Rgem fotográfico. delegacias,
.
de mane1ra que os delerrados
. o
da cidade do R 1'0 deJa ne1ro
· ram
·
para o mtenor e vice-versa=''.
,,
2
c Papa-goiaba é uma denominar;;¡"¡o popular atribuida aos que nascera··1 no norte do Estado doRio de .. ~~i~lat?.ri? dlet P~ix~~ sobre a pesquisa sociológica empirica (1992a) refere-se também a essas
Janeiro, referindo-se ao centro urbano e industrial localizado nos arredores da cidade de Campos, . as tns ' ucronaJs como parte da hierarquia e organiza;:óes poltciais na cidade de Beio
Horrzonle
famoso por suas indústrias de ar;;úcar e goiaba.
CJs L 1mites da Autorwrni¿ rulicid!
pct 1 ccia_ eJJl r el;¡ nto, render lJ!;alquer resultado efe! ivo_ Os policiais perrné1- do ~ 0111 quem estnVé1 do out:o lado dél linha. Além de r.1in:.' ~ncontnn:am-sc
n~cié11ll, cm ger;ll, soliclc'lrioc; com seus colegas, e os inquéritos n~o progre- no Qnbinete dois de seu:s 1Jihos e t(lmbém um outro po!JCJ(ll. O de1egr1clo
cJj¡¡¡n Tlwmpson sugere nté que esse recurso era adotado quanclt:J, por cob;iu o fone com umo das m~os e disse bRixinho:
c¡ualquer motivo n2ío confcssado, ?.S ?.utoridacles nao deseje1vam chegar?.
verclacle cm de1 erminndo cnso. As~egurava-se él boa orclem do inc¡uérito, "É 0 Sectetúio" E continuou repetindo o se;_¡ interminável "sim,
mzts sem C]LiillqtJer efeito prático doutor", pondo-se a fctzer caretRs como que exprimindn suR fc1ita de respc;\o
pelo superior_ Levantou-se da c<H1eira e comec;:m~ él ;.md~r "e1:1 torno ~~
Ajft mencionad?. "mílitariza<;5o" da polícia, obtida pela designr!(;:ao de escrivc.ninha. De repente, pe1rR espnnto de todos, apos rcpetl.~ S 1m, senhoj
um ofici8l clo Exército para dirigir a Secretaria Estarluéll ele Segurar1~R mais u m~ vez, col oc o u o fo¡ 1t entre el S pernRs e pos-se e! ex pe! 1r ventOSJ~8.des
f\dJiic1, rep1 esentél télmbém urna tentativa para controlar a polícia A Polícia do intestino, 0 c¡ue provocava fortc ruído. Fez isso (\llé1nté1s vez~s pocJe e
1vfill!cn, comandacln por u111 oficial do Exército, tornou-se cnda vez mais ent~o exp!icou ao Secretilrio, élpcuentemente surpre:,o com os ru_1clos, que
mil.itzlrizmlcl e foi encornjacl? a consideíar sue1 func;:ao devigilancie1 como uma est 8va h?.venclo problemas co 111 ?. ligélt;:8.o O Secreti:río RCéÜJOLI !!derronl-
ve!-clndeirCI gue:Té1 contril n crime e os criminosos_ Foram despendidos
pend o a ch2n::r.da. ',)
télmbém csforc;:os pi1rél introduzir novos modelos de organizac;:?ío nél estm- 1.'
tur?. traclicionnl clCI Polícií~ Civil Em muitos casos, tais modíficac,:oes forr1m o delegado comec;:ou, entRo, él uiticar abenac:ente o surerior:
rejcitnc1CJs pelos delegados :m¡ígos, que pareciClm mais convictos ele c¡ue a
sua ética ern il maís aprooriada para gare1ntir a independencia de sua Esse coro nr!o entende nodo de po!ício e \'em¡ro cimo de mim
conduto Pelo menos urn 1 ivro foi publicado por um desses delegados dnndo ordens, como se eunr!o so11besse o que es!oufozendo.
veteranos el efend en do a "l ccalizac;ao" das at ivi dad es poli ciais. O tí tul o do Eles ntio sc1o daqui, nño sño pn!iciois, mnonhé'i 1·ol!am pro coso
011 pro qunr!el e nós é r¡11e \'C71710S.ficnr nqui ~~onserlrrndo os
livro mostra o objetivo do autor· A Po!ícia do Estado doRio de Janeiro
(¡mlicf(tJI!en!o cil'i/_- \'clac/o e o."S-tcJI.\h·o)- cagados r¡ue ele:) n¡HoJJ/OJ'0//1_
.¡
74 - Os Lirnite~. da Autonom:a Poltc:ial . Os Limites da Autonomia Policial 75
-------------------------------
A a t i tu el e e1o d e 1eg e1 el o f o i 1.1 m é\ el e ~ n o n s t r a y ~ o e o n e r e t a el e 1\. multiplicidé1de de versoes utilizRdéls nél apliclyao da ética policial
corporativismo. U pcssor1l dél polícirl 21chr. que só devc ser dirigiclu por rnoc.;:ra o qwmto é1S pr{1ticas relélcionéldas com o exercício dessa ética
policÍélÍS de célrreira Estes tem condi\'Oes de se response1biíize1r por suas 11
d epe:nd e m das "m él! has internas e externas e do relacionament o com o
;¡~()es pernnte os c'oiegns, pois per111<1neeem nél ¡'>olícia dcpois ele exercerem ambiente social. Cénrcgar um chicote llé1S m~os poderío ser tllna técnica ele
ocasion~llmcntc cargo:; de cheflél 0:; policiais podem, Rssim, retribuir né1 vigil~nciH élceitflvel no interior do estRdo, mas inaceitélvel na ciclad e~ amarrar
n1esmarnoeclé1 os él'tOS- bons ou Jllé1l!S- préltic;Jdos por seus colegéls .Mas n~o com cordé1s presos de cor ¡;odia ser lllllé1 prática habitual de humilhac;8o e
poclem f;1zcr o me :;mo com, por e~emplc, os rnilit<1rcs, flcando impossibi- runiy~o de suspeitos, contanto que nao se tornasse pública; diferentes
litaclos ele c~crccr sobre eles essél cspécic de controle socié1l. ''m;:Plasl' dentro dél orgé1llÍZély8o policial cumpetem pela aplicély~O de suél
próp:·ia interpretélyRO dél éticél policinl, mas podem deíxar de lado suéls
A discrirnin<Jy~O entre "policiais de dentro dél ¡;olícia" e ''policiais de dífer:-:nynS quélndo RmeayéldHs por lJillo inspey~O do Poder Judiciário ou do
forCJ da polícia" atillgiCJ os ¡;róprios delegados. Havia dclegéldos que erom Miniqério PL1blico.
"de fora", isto é, portéldores de dipiornél de bélc~lélrel em clireíto que tinhHm
e o nsegu id o norne.:¡y~ o para o cargo mediante concurso pLl bl ico. E hél vi a A semi-autonomin dél políciél dependt=:, portanto, de limitayoes inter-
c!elegndos que eré1m "de dentro", istcl é, policiRís ~ue cursélram él Félculdade nas e externas. A polícia negociél é1 élplicayao de sua ética com o sistema
ele Direíto, obtivel·am seu diploma e se submeteram fínnlmente él concurso judic¡<tl, Rs nutoridRdes do Poder Executivo, Himprensa, os profissionais da
pt'1blico pélrél o cnr go de delegado. área ::~gal, a opiniao pt1blica, as pessoas envolvidas em C]Uaisqller ocorren-
cias e o ambiente sociélllocéll.
ErCJ este o cnso, por exernplo, clo delegado que lnvrou o flHgrante
descrito no Cnpítulo III. Como e leitor deve estar lembrando, ele disse no A existencia de diversas interpretayoes e práticas da ética polici;:ll
escriv~o que l'sabi:.1" o ~u e eslava fazendu por~uej~ tinhél sído escriv~o antes revela tentRtivas de diferentes grupos para legitimar sua identidade e para
ele ser delegado. C "conhecimento" él que eJe se referÍa nao era, obVÍéllllente, exercer seu poder dentro da organizayao policial. O uso da mesma ética
o re!Rtivo ~ lei, mél? o ele como lélvrélr u m éluto de nagrélnte de téll maneira que ident,iiica ess~s grupos como sen do policiais e nao out ra área da orgRnizayao
permitisse a polkia transformar o conhecímento dos "féltos" em prova estao1:al; as d1ferentes verséSes dR ética identifica a competiyao por rocursos
juclici8l. É um eonhecimento déls praxes policiais, urn conhecimento 'lprilti- dent1 \_,. da polícia. Neste sentido, a existencia e funcionamento ele uma
co", ísto é, um C')nhecímento que só se nprende exercendo é\S func;oes Poli~;:· Civil e uma Polícia MilítRr representa uma importante fon!e eJe
policiaís e agindo de ncordo com él ética policiéll. conflí~ JS e competiyoes, especiéllmente no caso de regime mi!JtRr.
1
1t~ \/ 1~ ~ ~r 1e~ /\ e~ A ~, -¡ :
(l l )/\ R /\ I) C) X O .r; !\ PO I _. Í C l /\
de invest igR~:;'lo pel2s técnicas ele vigiiRncí él. E m out rns p<11:~ rre1s, como jil
mencionei, 20 investigar u m caso, ?. políciR ciC1. cidade do ,_ io cie Janeíro
base?va-se ni\s categorías, c¡ue erélill u[iliznclas parél é1 ide:;.tifícnyao dos
supostos nuiores do crinle. Em consec¡üencia, a técnic?, de;,,. estigcH;:ao, ao
invés ele primeiro desco\·1rir os f2tos e ciepois ;,cusar'o su~;:: :ito, primeiro
r dcscohre o sus¡;eito e ciele, ent8o, extre1í os ft1tos
l. Os proceclimentos cl~ssicus cie investigo~i'ío cre1m ~::Jiniclos pelos
polici(lis- e pelos mRnuRis de investign[fi'íO polici;,l- como,,:~. :e ele recolher
indícios e, R r(lrtir dele\ encontrar a verdacie dos :~atos. ':onfonne um
delegRclo me explicou, a investig(l[fi'ío é como um empreenci::nento arque-
ológico É u m processo cie reconstituiyi'ío de fatospass;,dos ar;, compor o
convencimento do juiz, c!e1 mesma me1neira que um t;·abalho arqueológico
reconstituí urn V(lSO ele cer~micn pnrtido, cujos ~--ragme:1tos esUtvam
78 - Técnicas :ie Vigi!áncia 1 écnicas de Vigilancia 79
dispcrsomen\e es!'alhe1clos pelo terreno A L;dica diferen¡yél, segundo ele, era derado pela imprensa e pela maioria dos colegas como o melhor cletetive
11
11
Cl u e él no s s 2 é1 rc_i ;.1 é t e mp o especializado em homicídios existente ne1 época na cidade doRio de Janeiro
N ao o bst e1 1de essa el cfí ni ¡ya c1 fcnme1l d () pro ces so ci e a eh a r a verci ad e Segundo ele, havia tres tipos de homicidios O primeiro é o passional, no
pelé\ rcconstitui~;¡o passo a passo dos fC!tos e de cheg;n a uma conclusao qua! há urna conexao estreita entre o crirninoso e é1 vítima. O segundo é o
ló12ica e10 cabo da·~ investiQa~oes, o S\Icesso cio inquérito poiicial parecin, em latrocínio, cometido como íntuito de roubo O terceiro é e homicidio acidentRI.
ge~;al, depender r~)rtemcn~e da cxis:cncia de uma correla~ao entre os fatos
Desobedecendo a ordern da ciRssifica~ ~o por ele mesmc C1presentC\dé1,
e os estereé)tipos policiais dos suspcitos E~c.;es estereót1pos de criminosos
iniciou a descriyao pelo inquérito de latrocínio Ess?. invcrsao Oé1 ordem
di zi é1 m res pe i t o · e' ) nos t ipos d e e ri mes; b) élfi s 1o eais o nde era m eo me t i d os;
talvez se devesse ao fato de esse tipo de in(¡uérito obedecer a um método
e e) ao estilo dos criminosos- o nwdus operandi, no jargao policial
mais padronizado de investiga¡;:ao. O detetive explicou que é1 invcstiga¡;:~o
de u m latrocínio come¡;:a pela identifica~ao do modus ope!"{nuJi (estilo) e dn
Os critério:~ da vigilancia policie1! s<,o tarnbém responsáveis pela
estrutura do intei rogé1tório policial. Primei'J as testemunhas sao ouvidas. área de a<;ao. As principais fontes de informa~oes sao constituidas pelos
arquivos da se<;ao de informayao da delegacia local e pelos nrqLJivos da
Se nao flcar sntisfeíta, a polícin passa é\ inqui;·iyao das mesmas. A cntegoria
Delegacia de Roubos e Furtos_
iIi t erro gat ó ri o, como j á foi menci onR do, cons¡st e nas pergu n t as que o _j uiz
dirige pessoalme!lte ao réu, procedimento do qua! o advogado de defesa e Para ilustrar como sao os trabalhos de investiga¡;:ao, cito u u m exemplo.
o promotor n~ o pPdem pe1r1 ici pCJ.r É, por1 ant o u m procedimen to i nqu isi torial
Algum tempo atrás, numa n.1a próxima a delegacia em que estilvamos
dirigido contra o réu. U m convite para ir~ de!egacia prestar esclarecimentos
conversando, ils 3 horas da modrllgada, um crioulo am1ado de revólver
na ~ualidade de testemunha eleve ser cu:lSJderado sempre como uma f
¡ '1 \' i íl t ;¡m h é! '1 ill bu n :-; d e ;c1 t e1g r rdl ns Qt : ;:m e1o 1ht~ ¡;e r g un 1e i se r o el o m t 1ndo
1 sxemp]c 1, hclvcric\ ,1 pc;ssibilicir1clcc!c st1:-1 pclr-ceirZl estrii e¡;~Jolvicitt co·m,_n vittl<l;1_
esté\\';\ i1;lC]LICic.c; ;nc¡tiJVOS qtierendo dizcr tod<ls as pcsso;¡s cnvulvidrts c.m n que poclcric-1 rcr:cscntar \.Wi n:ot-!vc; prHé1 o crime .l,n1c,·~rzme!l1e, 1n1ormm\ 0
lllClliC;ri!CJS_ el'_' me oliloll :"~n<LI11<ldo:.: responcictl cscrivilo neste cc1so u Cíimt;1osc ;¡inclél II~Cl tinhn s1c1n clc'scobertn
f?t'lll, n~·m Indo o n:undn, S() os¡JI!nnfrn.í e mmginois () 1 e re e i r e t i p 0 - hcm1 i e í el i o ;-¡ e i el en : al - é o m él i s di fi e i 1 el e so 1u e i c1 11 éll
E:;scs crimcs s~n c.orY:etidos npós mm1 discuss?lo de n-C\ OLI tllll nciclente ele
Cnrresponclcnclo ~ ;-:¡¡arencict clo criminoso, descritc.1 peléis vítimas do tr~nsito_ por exemplo N~o existe qwtlquer vínct:l~ c:1trc o crimii~oso e <1
el s S(ll t o, e ;w se u m o el o ek r1gi r, h<1 v1 a ti-es possívei s suspei tos c¡ u e mor([ va m v¡t ¡ma , 0 q u e t o rn a c¡ u a se i mpo s sí ve\ el e se ob ri r o en m lll o s~! ~ ~ au sen ~ 1a e\. e
rw lllCHTO_ (\;mo lllll ¡~ cstél\'cl preso, ele ¡;rendcLJ os Olitros clo.ls C]tle, nC1QT8.1llC (} cietetÍve !llC inforll10ll C]LIC Jlé1 cJeJegclCIC1 de hOllllC1010S da Cld<1ClC'
s11bme 1ido s t1 se ve ro i n1er 1 o g ;.¡ t <:! rio , neg e1 r(llll t e r m i na n t e me n1e su é1 p a rt i ei- l\.
el 0 ¡0 e1 e .J a n e¡ r 0 hél vi n, n ¡1 0 e i1 si~ o, m a i s de ~ OOO in C]ll é r i t os ;:¡ g u <tr- el ando
p;1 o ll111 cic:c.s, cntrc:¡;¡r¡:~J- cndctctivcmcolhou clcillJneir;¡ siginific;-1tivé-t, solllt;:~o Prove1velmentc só 11111 é1Ci1SO ou Lllllél inesperrcl<l conflss?lo poderlíl
con1o que esperando mi11ha implícita com¡¡reens~o e cumplicicincle -, sob so!ticÍon<1r ;:¡Jguns dcsse~ casos
"per.sué1s::io ac1equélda" (o1: .sejc.1, sob tortur<-1 fisicr.), ncnbou infornlctndo que
tÍilh(] ouviclo c-dguns comenic":rios sobre o crime e flLIE sRhi;:¡ quem podin ser A descric;~o c!o de!etive sobre os inquéritos Rpria minhct sugest~o ele
a
t) (lSSélS.Sino F~-:.rneceu políciCl o nome e o enciere¡;:o do suspeito, fllle, por qlle os en sos cie solu~?lo me1is ft=Icil sRn ctqueles em qlle? políciél co~firme1 se11s
si 11 ;¡] , n ~ o e o r. :> t é1 v él 111 dos M q u i vos, por el e n ll n e él t er es t él el o preso _ própríos estereótiros (1 processo é circulnr .e ;wtc-re¡;.rodutrvo, _com <l
estRtísticR reforc;:í-tndo o~ estereótipos dos cnmrnosJs Jé1 estereot1pé1clos
O deteirve achou e susreito e prendeu-o Apesnr de submetido e1 Quando os criminosos :~3o correspondem ROS estereótipos, .é I_llrlÍs cJ¡fi~¡J
inicnsivn inie:-rogatórío- junto com ''C1deCluaclR persuasBo" -, n~o confes- descobri-los, e a. invest igoc;:ao te111 menos su ces so. ~:;e os crrmmosos nao
SOll. f\·L1:~ as testemunhas e reconheceram, e ele acobou condenaclo pelo juiz foren 1 profissione1is, isto é. "riiRntrC1s mc:¡n_irldos ' , sn .s8o rl!_JC~nh8clos p~r
1
11 ~O cm os cie ¡·eclusao_ RCC1SO A este1tístic<l policinl, por-tanto, ni'ío se benefic18 hc:!lJtlu8lmcn!e c1é1
divers'tdacle que um diferente tipo de ·1dentificac;:ao- ~;or e>.:emplo, um flliC
QIIandc: o homicídiP é pélssional, prosseguiu o cletet ive, R investÍgéit;:Ro produzí-1 urn?. correlél\:~o mnis ele\,.élcl? de crimes e uÍ:llÍnosos violentos das
comcc;:rl com vidél pre~re.ssa cl21 vítima, a fim de se ficRr conhecendo seus
2:
Cb SSeS lll é1.1 S él l t é1 S - Í Orn eCe ¡- Í (l ~ ~
ciefcítos, vicie;;, inimigos, c2sos amorosos, etc O trnbnlho ele investiga¡;:ao
é completamente diferente. mns um pouco mois fácil_ Após ct!gum tempo, () Cóciitio Pennl e o Código de Processo Pené\! brasileiros implicitn-
n iilvestigclc;:ac revelél os motivos e o Cllltor do crime. mentc reforc;:<1~11 e legitimnill R élplicn¡;:ao dr1s técnicn': de vigilancit1 polici;¡l
a invcst 1gac;:ao juciiciáriél_ No mínimo, eles entrRm e1'1 contr-Cidi¡;:8o .com, us
Como e~.:emplo de investig(lc;:3o cie homicíciio passional, out ro policial, o
el¡ sp 0 s¡t ¡v 0 s ¡g u 0 ] i t ú i os e o n st i t \1 ei o n é1 i s e eo m ;1 s p r c1 pos i C( es 1eg n1s t e o r1--
LJm escriv~o, contou-me o caso cie um oficial refom18do cio Exército, eas do i nc¡ u ér-i te _j u el icíúi o
;1s~;;¡ssinad o em seu a par! amento nas proximidades da del egacia A ¡;rimeirn
coisé-l él fnzer foi descobrir qua! erct o caráter da vítima_ Resumindo, o oficial A ciiferencin¡;:ao e\t~ inscrita na Constituic;:fw brc_síleira, fllle estipul<1 11()
er;¡ icloso, méls solteiro, o que n~o é usual_ Seria necessário descobrir seus cé-tpítulo clec!icéido ;.¡os clireitos e garcmtias ind.rvicimtis, por exemplo, que
1
'podres"_ Por exemplo, durante él.S investígac;:oes poder-se-iR descobrir c¡ue él
e rimes con trn C1 vi dd s~o de cxclusi V(\ co mp et en ci él do _j úri eart ] S:~. pnr~grafo clerado como sinal de ''envolvimento 1' coma polícia, o CJUe reflcte negativa-
l 8, Emendét Constí:tucionol no l) O Código ele Pr-occsso Penal estE! tui c¡ue se mente sobre a reputar;ao da pessoa. Existe também o "código do morro" ou
houver out ros crimes em con ex~ o corn ac¡ueies que esta o sc;J o poder código do silencio - um código da comunídade que ímpeele as pessoas de
jurisdicional do jC1rÍ, todos serao julgr1dos por este (art 78, 1, Código de procuíarem ou aceitarem íntervcnr;ao extcma para resolver seus problemas.
Processo Pené1l). EJ11retnnto, o Código Penai n8o clé1ssifica homicíclío com
ínten~:~o ele roubo (lé1trocínio) e sec¡\icstro seguido de morte da vítimél entre Quem quebra este código é chamada ele alcagliete e ftCC\ "contami-
os crimes contra R vicia (arts 157, par~1gré1fo J, e 159, parcígrafo 3 ). Os crimes nado'' pelr1 pecha de informante da polícia. Segundo u delegado, existiam
contr·n a vid él s~o. somente os crirnes tipiflcé1dos pelos arts. 1 ~ l a 128. tres principais tipos de alcaglietes:
homicidio, e1borto, 'infcmticídio, instig<1yao Ro suicidio e genocí~io. Estes,
portanto, sao os uimes dR alyade1 do jLiri, segundo a lei processue1l O lat rocínio Prime ira, há os que se scnfem ofurídos pelo pol/cioj podcndo
e o SCCJLiestro seguido de morte do vítim2 sao julge1dos por um jllíz singular. ser con-.,·idcrados como \jerdode f¡·o.\ po/¡cfoisfrusfrados. Eles
gosfmn de ficar JIO de!egncía, gosfmn de dar umos \'olfos nas
Pena crimes ::::ontra a vida, portanto, R leí penal brasileiré-1 )rescreve \'Íaturaspoliciois. Orglllhmn-se de esfarem cm confofo coma
procedimentos dispares. O latrocinio e o seCJüestro seguido ele morte da polícia, lf/71{7 prcJl'a de que nao sao morginnis. ,)'egundo, há o
vítímé1, e1mbos crin}es contré1 él vida, n~o s~o considerados como tais. Se cara que é he m compor!odo, mas se fonw de alglllno inane ira
considerarmos c¡ue numerosos homicidios sao cometidos objetiv:1ndo pro- em•o!vido com a po!ícia, e esfa passa a se OjJI'Ol 1Cifal' dele.
veito material, nao h{J CJllaiCJuer razao pnra que o latrocínio e e¡ morte de Finalmenfe, há o sujeifo que quer manler.sua "á!'ea" limpa,
vítima seCJliestré1dé1 seje1m excluídos da competencia do júri por serem como, por exemplo, o ¡)/·esidente de llil!O associo~·ao de 1710/D-
c!e1ssificados comocrimes contra a propriedade e nao contra a vida. Inexiste dores.
também quaiCJuer justificativa para nao se aplicar a regra legalmente
cxplícité1 de que a CJmpetencié1 do jtJri é superior a dos OLitros tribunais. A Raramente a polícia consegue obter, durante os inc¡uéritos, testemu-
LmicR explicilyRO pc1ri1 os tratamentos desiguais estipulodos pela l::i proces- nhos escritos, isto é, pravas judiciárias, o que se deve ao medo que as
sual pRrece residir :w "tipo" de crimínoso que se presume estar cnvolvido pessoas de classe baixa tem da desforra cla polícia e dos marginais. Como
no le1trocínio e no s':c¡liestro: os margine1is, os criminosos violeni.c.s perten- tRmbém os alcagüetes tern medo de alguma vinganc;a pessoal, o recurso c¡ue
cem as classes mn.i~~ bclixas. resta para produzir um elemento válido para acusar;ao do judicicírio é a
conf!ssao. De acordo com o delegado:
lf
¡; T écnlcCJs ck ViSJilár:ci<i
- - - - - - - - - - - --~-------
Cl'
------ -------------- ··---------·--- ----------------------··--------
cnw l~ !'n:;<-::\ cí tom<l: CCl!ilCI pruv;¡ a cor1físs~io ohticl;1 descle C]lle seja
n
t_>
1!
0 m e s m o d el e g <H i ,_~
CCJii!iJiliÍvr'l co:-: ;¡s ourr-~;.\ prcwé-ls <l~i~_r:'icL!s no:-; cn::c;s ¡: particípc-lC;-~o cic: ccHlléld~:
!;.
el e k g <-Hl o t 1tl! i ;u, 1: es 1 es te:- m os
tnrr;;¡--:-;,, :n¡Jur-s{I\'C! pe!<) t;sc: soci;¡J:1Jcnte lcgiti;T:aclo dé', tor~urR come: me/os e nos sn!ns dw jlt;s, 111110 ¡nrni~·c-ro frndici:'!IOI us, uln 170.'
i'~Cil'Cél ck t:l\·C:--tign\:¡jc) __ .-¡ i'/10\.
__ . ·)!len· cnlr,-
L!SC:J'(l\'OS /nen! , 1 ,
¡Ji¡wuc>JJ
0 1 jJ(}({( ¡· fn,-.el nndn.,
Sll spei t o(i ncl i ci ele! o_ cwencia nRo-oficinl de _ju!gnmento e punic;?ío de cert~s e crlmlnosos
eJe e>:I(CJ é (~O ÍnstitucÍonaJÍ~élcia que C deJegndO éld_juntO que nao pemlÍ!Ía él investigac;:?.c~ é ciassiftc:1cirl como mRrginCll - delinc¡Lt~:i~te 011 pe~enc~nte el
!Oi-ll!íél 11~ clllrél!lte SCI plé1ntao foi rerreendido pelo delegado tÍttiié-Jr
cieJegnCiél classes inreriores -, nRo possuinclo sfolus socic-11 e econornico e nélo eSlClndo
A ¡·e¡lreens¡¡o bn.seé1Vél-Se 11(1 pr2SllllyRO de que sem tonura nao haviél ex:ito llélS
lrlvest ign<;:ocs, o qLJe nfetaiin s~riamente a eficienci?. d?.l rielegacia_ 23 Note-se que as metáforas e figuras de estilo empregadas nesle diák-go sao um excelente exemrlo
do jargao tradicional dos delegados da pollcia do R1o de Jane1ro
fl6 - Técnicas dE. Vigiláncia . 1 écnicas de Vigilancia ... 87
---------------------------------------------
lig¡¡cia é1 nenilum gr•.1po ~u e possé1 punií os policiRis re! o e1buso de poder Se atuavam sucessivamc 1te no mesmo processo criminnl - uma ocorrencia
é1 pessoa envolvicla for um "doutor" ou se tiver ligcH(~O com algurn grupo muito comum no Ri': de JRneiro -, o segundo promotor, que pedia a
ÍmportnlllC CCJllSlitqído de peSSOélS de cJevncJCJ SfO!liS- flOr exemrlo, quando absolvic;:ño, estava dcsntendendo a lei, que estipula ser obrigatório o
uma pessoa de clas.3e boixa trobalhérparc1 gente imrortélnte nél qualidélde de prosscguimento dél é1<;:~o quRndo a denúncia_j~ ti ver sido feíta pelo J\1inistério
cmpregéldé1, motorista etc. - o policiéli dir~ PL!blico Na prf1tica, es esforyos desses promotores para serem justos e
Jsso oí e' roho, querendo dizer i.<.Jo dá complico~/lo
seguirern estritarnente él leí deixavnm o réu sem punÍyfío. Nestes casos, o
frocasso cJo JucJiciário no cumprímento de sua funryao punitiva reforc;:ava a
Em muÍtns c~cnsioes, quando um policiéli concluí que fez um juízo justificativa policial c.L exercer essn atividade.
errélclo do sro!1rs df uma pessoa, ele se desculpn
O perverso resultado alcanc;:ado pelos promotores- os fiscaís da lei-
0/ho, e!/{ 1/{l() :\nhw quem voce ('!({, CO/l/0 eljlfe' (!I/ /{/ m.ill'illhm·l Vocé ao combaterem a tort'Jra policial era refon;:ar as ativrdades punitivas da
mio fem pinto de dmrfor. polícia Esto se npercd"ia, nestes casos, de que o Judiciúio era ineficaz para
fazer justirya até a no::)ríos críminosos. Achava justif1cRvel "fazer justirya
U ma el as eo nse qC! en ei él s do uso ci e1 t o r1 u ra pe1a po 1í ei a e rél q ue pelas próprias maos" ¡.;uníndo os marginais. Esse tema será estudado mais
criminosos proces~.Rdos negcwam no inquérito judicial as confissoes feítas detalhadamente num capítulo posterior.
no inc¡ u éri t o poi ici;ll El es alega va m e¡ u e fora m ton urad os e o brigad os a
''assinar" inc¡uérito~ (assumir responsnbilidade), ~ue passavam a repudiar
totalmente. Eles f?.ziam distinc;:ao, c¡uando pr~sos, entre os autos que
reconheciam de sua r-esponsabilidade e os que ;.1penas assinaram.
indiciélclo A impon:1nciél dessa condutc1 )Jé1f(l o resultado da fasejudicie1l ele Contudo, essél classificcu;:flo pre!iminElr é muito impon ame, j{¡ CJL!e os
processu é reconhecidé1 pelos advogauos de defesa poli ci a i s s~ o, e m gerél l, él S Lll1Í eas autoridad es ofl ciais presente:; na o casi ao
da ocorréncio policiéli A classif1cnc;:ao feita pel(\ policía ro de ter importRntes
A mrnlipulrW~J da lei pelé1 poiícia é considerada por estél como umR conseqLJéncias no descnrolar do ÍnCluérito judicial Por exemplo, em dois
espécie ele cr-édito 'J seu f2.vor, ClLie pode ser negociado por vantagens casos semelhantes de acidente de tr~nsito com vítimas, po: mi m observr1dos,
concedici(ls pclél SOC!CdRde. Essa manipulcH;:ao era largamente praticc.c.la em nao houve coerencia entre as medidRs policiRis adotadéls em cada u m deles.
casos de contrélvenr;:oes penais, crimes relacionados a drogas e acidentcs de Em am0os os casos doís carros se envolver2m em um ac1dente de tr~nsito
t~·?tnsito com vítimas Como já foi mencionado, o rito sumário desses crirnes Em ambos os casos, um dos carros p<:uou no sinéll luminoso qwmclo o
concecl e ao i nq uéri t o pol ÍcÍél! uma posi c;:ii.o mais reievante no processo judicial acidente ocorreu. PorClue dois delegados tinham diferentes interpretc1c;:oes
JI{¡ casos tnmbém em c¡ue os autos do inquérito podem ser falseados da lei, em um dos cas~s o motorista c¡ue corretamente parou no sinal foi
indiciRdo e no outro nao foi
Conforme já se mencionou na clescric;:ao do auto ele flagrante do
Cr1pítulo IJI, os escrivRes tinham uma cCltegoria- ?. arma<;ao- parR denominar
Mesmo depois do indiciRmento, a polícia pode influenciar o inc¡uérito
o fa!seamento dos éltitos no inquérito policial Literalmente, ''armac;:ao do
judicial. Um escrivao explicou-me como isso podía ser feíto. Em um caso
processo" significa c¡:1e este foi preparado para favorecer o indiciado, o c¡ue
.de atropelarnento no e¡ ual havia mais de u m carro envolví do, nao se contava
pode ser feíto pelo advogado ou pelo próprio policial, especialmente o
com nenhurna testemunha- como se sabe, é muito dificil no Brasil conseguir
escriv8o. No Célso do ilagrante do Capítulo III, porexemplo, o escrivao esta va
a cooperac;:ao de testemunhas voluntilrias. A polícia sabia, entre!anto, c¡uem
sugerindo para defesrl do contador um 'lcrime impossível ".A argumentrlt;ao
havia atingido a vítima primeiro. Sua obrígac;:8o era indicar o motorista
c!o escriv8o junto ao delegado sobre a rnelhor maneira de lavrar os autos do
culpado. Entretanto, já que nRo ha vi a testemu11has oflciais, a polícia pQdié1
nélgrante dernonstrava a rivalidade no exercício do poder de polícia.
negociar com esse motorista para llarmarl' (fa,lsear) os aut8s, a f¡m de poder
concluir que nao era possível determinar clar8mente c¡ual o carro atíngira a
A armélc;:ao do processo é realizada pelos policiais através do poder
vítima ern primeíro lugar. Com isso tornava-se muito provc1vel a absolvic;:ao
c¡ue possuem de interpretar a leí em suas atividades de vigiH1ncia. A polícia
do indiciado.
realmente Rnalísa e clélssi:fica os fatos cr~minosos que !he cabem registrar ou
investigcn. Tecnicarn:~nte, tal classificac;:ao é chamada de "tipificac;:aon Esta A polícia considera essas práticas como identicas ils dos advogados
consiste ern rotular o:) fatos .trazidos a o conhecim~nto da policía como nlgo de defesa nos inquéritos judiciais. Poder-se-ia dizer que a polícia estú
que se ajusta a um tipo legal, isto é, um fato previmente tipificado pela lei introduzindo práticas adversariais num procedimento judicial [nquísitorial
como u m crime. A tipJicac;:ao policial pode ser mudada a qualquer horél pela -o inquérito policial Como ur11 escrivao me disse:
acusac;:Ro. Conforme já mencionei, é a dentmcia do promotor e nao o
inc¡uérito policial que dá inicio ao processo crimincl. Essa possi-bilidade de o papel do ad\•ogado 710 inquJ¡·ffo policial des/nrir e e
bal'alhar tan/o quonfo possh·el as JHO\'OS confra se u clienle.
correc;:ao da tipifícac;:Ro policial mostra uma vez mais, em teoíia, a subordi-
nac;:ao jurídica das técnicas de vigilancia a o inquérito judicial. Cerros juristas
Fazendo um gesto significativo com um brac;:o, como c¡ue sobrélc;:ando
brásileiros chegam a negar o poder da polícia para "tipificar". Afirmam eles
um grande volume, ele me explicou que pelo simples peso dos autos podi8-
que só o promotor detém esse poder:!-t 1 11
se saber se tinham sido ou nao ' armados pelos advogéldos Se fossem
1
grossos e pesados, ' tinha a mao de urn advogado ne!esl' Em taís casos,
:t• Para uma discuss~o elpondo opini()es diferentes sobre esse assunto e demonstrando sua
irnportáncia teórica, ver, por exemplo, Lira Filho, 1962.
explicou o escrivao, ele sabia c¡ue mais cedo ou mais tarde seria abordado
j:
1-
l~
~-
- - - - - - - - - - - i-
- - -- - - - - - - - - - - - -- - - - -
~5
Nas própriélS ralRvras do policial, eis o motivo peio qunl, desde o Qwmto menos relC\~oes as partes interessadns t¡verem nr1 policía, mais
início, cicve ser ex~rciclcJ urT: a.mplc poder disuicionftrio: decisiva se toma e: presenya do advogado nessa aituro de ÍnC]uérito O Rdvogado
atua nao como um élgente JegRl, mas como um medindor entre o acusado- ou
Em todO.)' os cosos e 1/CCC.)'SÓ!'ÍO, Clll/CS de mcri.c.: nodo, fer a vítima - e as autoridéldes policiais. Conseqüentemcntc, é decisivo parR o
cc!'lezo de }tU! existe defo!o umo \'L'l'dcrdeiJ·n oconi:ncio Rdvogado ser amigo OLl conhecido de policiais, escriv~es e delegados
poiic;ni
Por exemplo, urna banca de advogacos criminalistas da c¡ual partícipei
Essc tipo eL· mani¡;ulC1C(RO cJé\ leí deve ser considerc.do corno urna como estagiário, fazendo observayao panicipante, tinha um sócio cspeciRlizR-
npiicac;~o di1 éticcl.policial, e11: oposic;ao a étice1 _,udicial Em ceno sentido a t, do em lidar com casos polícíais. Os OLitros sócios se Rconselh2vam sempre
¡;olícin, no invés di!? cumprir ~:~1as func;oes comu u m delege1do judicial, atua com ele quando tinharn de tratar com a polícia_ Estes sócios costumavam
como u m c1clegRdu ouum agente do indiciado. Ao invés de "achar a verc1ade comentar que ele "conhecia todo mundo m; poiícia' e eu RChRva as vezes C]Ue
1
,
cios fatos", Cl políc;,(\ permite ~ue os autos mostremuma versao que, em sua ele podia conhecer mesmo_ UmC1 de suas principais func;oes era a de servir de
opini~c, ve1i beneficiar o indi·:ie1do. inten11ediário entre as autoridades policiais, os colegas de banca e os clíentes.
TRis priltica~; sao cons¡denH.las pelos policiais como urna decorrencia
11
do tipo de relacionamento que as diferentes cl:.sses de pessoas tem coma E u mesmo atuei como advogado-mediador'· e m urn caso em C]Ue a
lei. Por exemplo, acidentes rle tr8nsito nao podem ser comparados com polícia esta va sen do usada para intimidar alguns pescadores de classe humilde
homicídios na ética policial. Assim-sendo, as medidas legais nao devem ser que viviam a beira-mar nR cidade de Niterói. o caso era claramente uma
r.s mesmRs, e a pessoé1 Rcusada deve ter mais oportunidades para se defender disputa cível sobre limites de terrenos vizinhos. UmR das paries, porém, ao
das acusay6es. invés de moveí ume1 ac;:ao cível para obter urna decis8o sobre o CRSO, deu
queixa a delegacia local. Nesta queixa, o vizinho rico, que nao era pescador,
Atividades de Media~ao na ''
alegou que os pescadores estavam invadindo sua propriedade. De acordo com
Polícia da Cidadc doRio de Janeiro: a legislac;ao brasileirR, isso constituí crime (art. 161, Código Pella!). Entretcm-
Advogados con1o l\1.ccliadores to, também de acordo coma legislac;ao, essa situayao nao podia ser tipificada
como invasao de propriedade, já que os pescadores estavam morando ali por
O estratagema polic:z;: ie introduzír procedimentos éldversaríais nos mais de 40 anos. Portanto, o caso estava fora d<-1 competéncia dc. polícia_
inquéritos policicjs é efetU(\é:o éltravés de uma barganha de presentes e Mesmo assim, esta abriu um inquérito, procedendo ao interrogatorio, iden-
favores entre as partes- poli::. ais, advogodos, acusados, vítima- em que os tificac;ao e indiciamento dos suspeitos- os pescadores e seus familiares_
respectivos starw· social, p;-c~tígío político e vulto da conta bancária sao
essencia1s para obter a dese: tda parcialidade- ou, em cenos casos, para Já que o inquérito policial estava evidentemente tendencioso contra
¡-
garantir a irnparciaJidade- n· S autos do ÍnC]uérito. ~- os pescadores, mínha estratégia foi neutraEzar a ac;ao dR poiícia, recorrendo
ao meu círculo de relac;oes, que incluía promotores e funcionários da
[
É ÍnegáveJ, portRntO, llle, rara mRneJar COm exito R poJÍcÍR, OS ~- Secretaria EstaduRI de Justic;a. Atuei, assim, como um mediador entre os
advogados tem d'e "conhecer' no mínimo alguns policiais e delegados. Esse pescadores, a polícia e o sistema judiciaL
relacionamento implica um ::erto tipo de cumplicidade em infringir/nao
infringir a leí, segundo as C(.: weníencias do momento e de conformidade Conforme cliscutirei em capítulo posterior, este caso ilustra também
com a ética policial: suas co~tumeiras- e discriéionárias- regras. o uso da policía na qualidade de árbitro. Os pescadores, intimidados pela
r
.t1
i'n' ~ i:l ¡.}()clcr;;¡~¡ ((:'¡ r.:nm¡~: !l!lCiilJ \é:il.'í l:lé1lS iegírirnos clireitus Se() CélS()
¡ 1· 1•1 c,1 \. 1e'', :,\r) A cles¡1e!1o clessc\ '"'~~·'·~e ' 1'
." ,,. ,.,; o r'l' hélvia ~ase~ é!l:
,. ---l rr" rr '1l \
':ue os d"''
.• ~;,
.:::' ".S 1
-, 1 ¡
yr
, ,-
, , "''e:·¡•c. Ol• ltúC 1 •..
!r¡·c_c;';l: ,:!tt.:[z;¡cJc ;¡e ¡uiz. c;;t~er;nnu, e!cs tcriam sido mtríto prov;.welmcnte .. ' 1 '; ' )n \ C'\ r j e a1Utl e m ll o 1· n ll u en, o: ,.,'-''' .__ ., ' '
- ' , 1
-~ ~·;-,.
1
rli:snlvrcÍClS CJ \ :Z.IililCl ;·ice cs:ct\':1 liS?,JlciO éi po]iCÍé-1 pé1ril Sel! proveito, élO , . -es e n ' ,\
' • ' '" u.-J._,,, O é1dVOQac\o
--' l:. Lz(l, ,, t' t
,
e o n CJt 1t a re Pr · · ·l ( ' " • ' ·
V '
• • , , " ,_, , e m n ¡e qu él n e: o
111\'(;S de~ ic~v;¡r e C<lSCl ;¡ Llilléi \';n;~ CÍ\'ci (n~o criminal), que er·é: o tribun<ll ~. ,;,.,,,
1
.. '•:l¡;rio Tssoé1eontect\:'''' .___x,,¡ '-
be n e í 1e 1o de ;ll g [Jll, • .i e' t. s se , . s"" e• ,, e h r a n e é1 el e u rn
¡) · ' · ,
;¡ p: CJ p : 1¡¡ ci C! p él r ;¡ o e;¡ so ' ' '. ' p.' ('? ¡ ai p 1 i elll
e(llll o no en. u • 0 - ú ' . . .
ll'i' (lC1VCH2é1C10 C]llé! dlll,Aly' . ::::;'
. - t' ., ls·c; (')1
~~ • ' , r 11 1~ \1ietivo proflSSI07lé!t ;mpor clnl"" •· \ ' · ' .
cheque scm funclCl- Oll é1tC2l1~cl. ,,J .. ~)l_;'
' . 1 .,
't l ITI f>''"'n'lo o nCÍVOQí1dCl, e
Os ;¡dvog;tclos con~;¡ .:;·am-se 21:11igus m; conhecídos de trm dado
;1olicr;li qtrélnclo ll~'li ;¡JÍl1crd<Hi'.:> cle;¡horcJ~-Io pnril obter rliguma Vé1nlé1gem para
r O C] U c. '-·' ' . ', . ~ .
,
e ,,r,r¡ntecc·' 1,o fl;;¡QréHJte uesc.1
' ,
'- -ap'·' u o 1 -· que.
.... t e) n')
•
. fróeassRr em SLiél tentatiVéi Clt: libertar o con.c ,, . '
.
. '-,
r •' ' ' r},. S C ll C: \ j en t e' é1 p al C n -
•· 1P ,,
u
, · ·. . ~,ir cohr;-:r
illi!Cl~: do inq:rrr·i::; Lc~;¡lrlW:l:t· (;m SSJ, Lei 11° L1_2]5, de 27 de élbri! ele l C)()J),
tementc rnudou ele JCicla e pelliL. ao 'etcg, _
.,
e o envolvesse cleíinitJVé-llTlente
,....,
· c¡uento . Cle Dl..!Qeilcl,
no In .
eL.'",., 11
ClS il C1\'0gílt i OS te;:, Cl el Í reÍ 1O Clc C:OilSll j¡ éF OS éHI t CJS, rnesmo Cjll Cln do S~O SI gi OSOS J )lonorários mé:is elevncios
(<irí ~ll C(',di!-!r' ri rwc:essr' r-:,~nz¡/) l\1¿¡ p:idica, porém, c.lguns delegados nao
pcrmiter11 qur os ;¡dvogaclos C'\é1!11Í!lem os éHitos Tan1bém em ciRr?. contradi-
~~o como que a lc~i esté1belece (art 21, pari1gr<1fo t'mico, Código de Processo
i'enni, nrl. 80, TIL Lei !1° ¿~ 2 l )), os delegados n8o rermi!em as vezes c¡ue os
élclvogélcios corwer·sem com se'us clientes Em muitos desses CélSOS, o iemro
CJIIC~scg;:¡st;¡rÍ<~ e;; ilostiiícléidt CJlle se clesper1nrinno meio policinl impec!em c¡ue
os ncivogc:lclos se qllei\Clll élO juiz ou entrem corn um mRndnto de segurnnc;:n,
c¡ue é o reilléclío legal no Brnsil pé!ra neutralizar o abuso cie poder das
auto¡·idades ndministréltÍvns Nom1almente, o cnso é resolvido de modo
informal pelél meci:<1c;:?io ele um nmigo ou conhecído. Devicio no costumeiro
l!SO cie tor1Lml pnrP1 obter infom1nc;:8o ou confissao, o temro decor:ldo entre
a prísfío e a libert;:¡:::flo do suspcito pode ser decisivo pé!rél o futuro inc¡uérito.
Assim, íleg<limente, os cielegndos m;,mtém os susreítos presos Qunndo o
1
ilCÍvogéldo e:ltrn com tllll hnheas cm¡ms pélra libertélr seu cliente, o juiz !.
CllCé1111inha e5se OCICU11lento a de!eg[!cÍa oncie supoe estélr o suspeito preso 1
L
1-
1
ilegc:limente Se él polícia n?io CJLliser libertélr o suspeito, trnnsfere-o para outra i
clelege1ciél e infonn? <lojuiz que o mencionndo elemento nao se encontré1 preso !
¡
Em algt1ns célsos 2s transferencias s8o feitRs mesmo depois
n(lc¡uelél deleg;:¡cÍél
¡,
de o juiz ter concedido o hahens cmp1ts Se o advogado nRo ti ver contntos
'·
dentro clél policía, rode flcnr muíto dificil libertar seu cliente sem él "coopera-
r;ño" de ;:¡Jgum policial
t
A Po l í e i a B r a si le i r a A tu a n d o e o n1 o Á r b i t ro :
Fu n d a rn en tos L e g a i s e T r a el i e i o n a i s
1-
-e ;.\s veze.s C(ié\ginclc:- ?.S flélrte~ a c\¡,-g;.\rern 2. tllll acordo l'-s decísoes c\él:;
¡¡utoricJ¡.¡cles rolic:Ín!S ncab?Ví~!Tl sem\~:·:oimHi?:c e cumpriclds c.·.omo se fossern
senlen¡;c.s juciiciélis
éllt;:. Q~.~émdo ,a VIol_e~c'i'Cl flsica fliinge estC\s t'Ilt~rr1élS c! 2.sses, n~o se trRt?. rnais
1
~e U.ll c.?.so ue pol1c a , méls llil' cnso pM?. o SistemRj(td.icíal, que procederá
1
(civil). A 8utoride1de policínl convoc8 as par í.• :s interes~:adas a comparecer
a delegé\c'ta e procede 2, Rudíencia ORS mes:::: S.
de Rcorclo com R le:
Segundo Cl fórmula iegétl, él polícía "c0:-vida', as pessoas a prestarem
. Os comiss8rios de Recife- bpm como os del'eg"dos a' o 1R'10 d e Jane1ro
. ...... 'Cl ·
esc]Rrec\men!OS !lél deleg2~Ía. Ü juiz, 80 COi:~- ~rÍO, 0rd~-:na" as peSSOC\S que
11
A polícié1 age nesses cases 'como se" o crime nao fosse, segundo a Se l'Océs nño chegarem a um ocordo. 1•ai serpi01paro lodos ..
legislnr;:ao brasileira, um caso de cu;:ao pública. A rigor, o delegado faz Como esrá ludo be m agora. l'Oir apc:nas anolor se11S nomes e m
cumprir suas decisoaes pela ameac:a de apiicar a lei, instaurando um inqué- meu m·quil'o, mas se vocés nao se comporlarem. na próximo
l'ez abro 11m inr¡uc!rilo contra 1·ocési
.,,
·.;
--·---·----------- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
tJliC::il que¡¡ sus:JcÍtét íóssc ;~:c~Sii, qucri8 apené1s seu ciinheiro ele voita e que
fosse inco.mocL-n ?, u.erenle novéHnen:e, ele moveria urn:! ilC(~O con:ra el;;
c!c: i!!ClJTIC!esse ilLJJIC(l JllélÍS ;·éi?er isso Se Sllé-l companheiréi rneciSilV(l de
cii:i!H::ro_ ¡JociuJ pedir er:J¡:Ic.Stc-\do, ITl(tS ilLlfiCé1 rclllbe:n A suspeitil confcs- 1'e)/( ¡¡¡sfmrror u m lll(j/1(;, r!o conlra wJCe, conw, o!iá'l', jó
¡}()cieno csforfn;:.e!ldo
_c.:m: e p1 ornctell cnmpoíléll se bcm no ftJ1uro Eias ;>,gréldecerél::l élO clelegcHio
e se rctir;~r<l!ll ,-i_JlÓS cl;-ls tcre:n snído, o cklegnclo corneniou
Se ~ll1. quena fiCRí Il1(1njélCiél'' peia polícia, e;-a sé nao se portar bem
11
compreensivos quant;) aos seus problemas e él mn:1eire1 ¡;eln quRl resolvcm O rel?.cionnmento entre o JudiciRric' e as classes mais altas era
suas altera;.:oes e solu~ionam seus conf1itos Qwmdo o caso envolve partes clRramente diferente Por umlRdo, do ronto de vista do:; integrantes clessas
de diferentes cnmadas sociais, a polícin é gerolmcnt e chamada pena intimiden classes, o Judici~1rio n~o é urna instituir;8o sut~alterna- os JUÍzes nao sao seus
n classe mais baixa, como no caso dos pescadores que _jú descrevi "empregados", como eles presumem que os roliciRis sejMn. Por out ro lado,
do ponto de vistR do Judiciúio, as clc1sses 2ltas tem concluta ''educada" ,
Este caso, no c¡ual a polícia estava resolvendo uma disruta "cível'' "civilizada". A motivacao das classes altas para infringir a lei é também
como se fosse ume1 tran.sgressao crímínRl, demons1 ro tmnbém c¡ue o desle- supostarnente diferente da motivC\c;:ao das classes mais baixas Diz-se que a
cho desejado nao er;', de naturezn _juciicial, já que n~o se trc1!é1V?. de um criminalidade violenta das clélsses altr.s é passionol, isto é, produzida por
"crime" mas sim de uma ouesUlo nue
, ¡ 'l envolviél umél definir;ao duvidosa de umR ocasional perda da razao. Quando as classes média e alta nao
direitos de propriedé~de É improvável que o Judiciário condenasse os corresnondem a essa imagem estereotipadC\, qunndo seus integrantes nao se
pescéldores_ comp~rtam de acordo comas regras c¡ue cleverÍélm obedecer, o Jud.iciário
torna-se impotente paré1 enunciar soluc;:üesjustas para os casos. I~t~ e o que
Em todo cnso, :t polícia parece dar uma solur;8o diferente da que seria ocorre, por exemplo, em conf1itos de família ou conf1itos entre v¡zmhos no
ambiente de classe média ou alta, em que hoja emprego de violencia.
dada pelo Judiciário, c¡ue se define a si próprio como mais técnico e por isso
considerado como mais autonomo em relar;8o ao meio sociaL Assim, do
Dois exemplos poderao ilustrar este ponto. No primeiro, trés pesso-
ponto de vista das c'::Jasses mais baixas, O Judiciúio nao "entende" SUél
as, duas mulheres e um homem, todos com 20 e tantos anos, vieram 8
conduta. Jsso parece acorrer em várias ocasioes.
delegacia espontRneamente Eram pessoas da classe mé.dia e moravam nas
proximidades da delegacía de um dos subt1rbíos do R1o, onde eu estava
Ao assistír a julgamentos, especialmente pelo júri, tenho ouvido
fazendo meu trabalho de cRmpo na ocasi~o. O delegado, como sempre
muitc.s vezes o advogado de defesa argumenten· que o juiz ou os jurados
acontece, foi o pr1meiro a falar, indagando-lhes do que se tratava. Eles
deviam entender que a conduta criminosa de seu cliente era devida ~. sua
explicaram que eram um irmao, uma inna e urna cunhada e que .moravam
"falta de cultura"_ Advogados de defesa classificavam ami(Jde os réus como
num apartamento que os dois irmaos tinham herdado dos pa1s, ambos
"incivilizados", come- l!animais" e enfatizavam ao jLiri que eles agiam de
falécidos recentemente. As duas nao estavam, entretanto, se dando bem.
acordo com seus próprios códigos, como feras c¡ue eram.
A im1a acusou a cunhada de estar sempre i11entindo para o marido,
Nunca vi ninguém- juiz, promotor, advogcldo ou jurado - reclamar
di st orcend o os fatos, para provocar desavenc;:éls entre os dois. Acusou t ambém
desse argumento A ídeologiajurídica formal nao considera, provavelmen-
a cunhRda de nao ter emprego corno ela tinha. Era urna pregui~:osa, c¡ue r1em
te, c¡ue as clc.sses inferiores sejam constituídas de "anirnais", mas os
as tarefas domésticas queriR fazer. A cunhada alegou, en12ío, c¡ue seu marido
estereótipos comuns em vigor entre os profission8is d8 leí podem perfeita-
tinha direito i1 met:de do élpartarnento e que ela nao podía submeter-se as
mente concebe-los assim. Tais argumentos transité\ m sem criticas e sao, por
ordens d?. irma do marido. Este permanecía calado, mostrando-se extrema-
isso, l:aceitáveis" nas atividadesjurídicas formais, presumivelmente porque
mente perturbodo pelos sentimentos confiitar.tes que o dividiam. A desavenr;a
córrespondem aos. estereótipos aceitos pelos profissionais da lei. Neste
familiar tinha chegado a urn ponto tal que, n8quela noite, as duas tinham
sentido, o status social inferior relativo a um nível inferior de cultura e
chegado as vias de fato. Essa era a razao da vinda a delegacia. 1!
civilizac;ao e o nivel- social mais bai>io de todos corresponde a absoluta ·~
el:~' íJ~:c :r:li1éll1 íecursos J'<HíllilOr·ar sep<FrlChs Recomenclmr c¡uc ?, cunl 1nclél 1es si~:ter~1as ele Juigé¡mentu \:;.¡ legislélc;:ao "civil" hr<1sileirél, o acorde) en:: e
;¡¡ '<:r¡¡;¡ssc Ll:n :.:mprcgo ''f'nr;¡ de c2.sc1" pnra C]LIC as dt12s precisélssen¡ fica¡ élS p8:-tes é semrre possivel, éiO fl?,SSO C]lle n2 legisin¡;2(< "crimina)" O <1COríi~:
Jllrli:!s Cl :nerws !empo possivci e C]\lcmdn cilegasscrn ¡\ Cé\Sél estivessem t~o sé~ é ¡;:::rmiticlo en: c:ircll:lstftllcÍ;\s muito especiais, quc.ncio os interes.c;c:; ~:;;
e él : 1s ;¡ ci él s C] u e 11 ::: 111 t ives s e m ci i s no s1~~ ~ o p a r a hr ig ;.¡¡ jvf a n el 0 \1 e¡ 11 e s e e 0 m n 0 r _ jogo :-.i1o considc:-C\clcs como "particulares" e rü'\o "pút•iiccs'' Este é o c:sc
::1Sse:11 f" pC!IllllÍLI Cjl!C VOit:1SSCJ1l fléHél Cé1Sé1 f1Cli exemplo, cJo_c; Ci"Í!lleS C]L!C cí\Íngcm él "honr;;" fWSSCéi] eJe UI~~ cJett!i1li71é-l:iC~
1
,
indi\,,,hrCJ, isto é, vincuinclos :í ofe11sas rnorais, C!lle <:fetam suc. boa re:-!\lt
. Dcpois c;e o i!nrpn ::-e reiÍiélr, ele rÍtl e m::: clisse C]lle élC]Uei;¡ erél um;¡ \:~o · RiLmÍ<-1, injt'iri;.t. u;fc\I!Ié\\:fio Nestes Célsos ,'. <lyRO pena: depell~k
muit~1 co;mrtl1 nos subt'rd;ios, como o sRo ti1mbém i1s
!1p:c;¡ l1liiZél ele fil!llíliél, inici?,:iva cin parte que sejulg;t c)í'endida Est?. pane pode tnrnbén: i:::e::~;-~'
h: ig11:; ele vizi11hos Acen!LIOll que ess?.s coisC'ls n~o er?.n-; pélrn ser reso]vidas per ~1 <w~o él qualquer moJnenlo Em cases de a(i1o crimina1 "p~·lb1iu;
fiG' ,i 1i
1
pnic: ¡·c;se pesso;¡! vive _)L!Ti~CJ, co:lhccc-sc hél muito tc.:mpo, COillCl Cl\lélllC;O ClS ÍntereSSCS e '1 Íc;~)(\ S~O COnsiderados ~~C')I\(1 ?.b'Cl.fH!E'Jld(: l<l·i(. í:
J
1
.J ..__ ~
1RmDem SLJé1s respcctiv2s ÍéimÍliélS, e n~o se pode nór um vizinho ou memhro colet;·¡idacie, n2io somente élS pnnes, mas també~r es juízes crimi:l?.!5 ;e::·
clé1 f2miiir1 n?. Céideill só por CélLJS?. de LllllR tnígéllOIR um8 ;:bercie1de de él~~o muito restritR, o que, élli2:; ia foi mencion<~clo
\
Nc segu:1do caso, OCOíTÍdo cm outro delegncÍ?c, esté-l situc.dél nurnél Um de meus nmigos juízes contou-me u m ep~sódio que exempl1fi:i1
1
par-te ¡-icél d. a cid?.cie, ur_11 homcm veio fRiar CO!ll o clelegl1do. Pedía providen- muíto bem as difercn~as entre o julgamemo judic:c:) e a arbitragem poli e:,~.:,
1 ClélS dC1 pol1C1n. no sent1do ele prencier Lll11él mulher ~lle estavél aos berros em ~u e é ·J t emR dest e capítulo Tr(l t Rva-se de u m hom~rr.' ~r3zidc a o tribunal sc;b
1
frc¡1te ao préc!io em c¡ue mornva o íllho de u m ministro de Estnclo O homem (lCLJSélyRO de ter causRcio leso es corporais a uma mulher com quem vivic: AcJ
se 21presentou como o¡-cJen[ln¡;rl do ministro e expiicou C]Ue él mulher era testemunhar, a mulher explicou RO juiz que ela ndc quería mais viver ce:;;:
!
¡
~··
cspoSél ele; filho do ministro, mas era prostituto e eslava. bebada. Tinha nos ?tCJLleie homem e que esie erél o motivo da briga, pois e~e a inda desejava vivt':
i br2c;:ns um filh:J, {lindél bebe, c¡ue tiver?, com o muido. O C:élsi11 est 2 vé1 come; a A mulher c¡uerÍC! npen?..s C]Ue o juiz impedi~:s.e D homem de cntr€n e:l-,
1 sepaíndo, mas eín tentava collslantemente penlll-bRr a vida dele 0 ordenCl.!l- suC1 c.>sél pnrél impor1un?t-la Disse c¡ue o homem n~·o era urna pessoél indig:-;(;
!. c;:c' peciitl i10 delegado C]lle prendesse R mulher e clevolvesse o bebe nO pe1i ou ll! 1 marginnl e por isso n~o c¡ueria ve-lo condenado e metido nu:-:-.a
1
e<lC~(" ... O juiz ponderou e¡ u e nao podia satisfazer o seu desejo. Podeíic. o~;
~ O clelegélclo esclar·ecetr que n~o podio félz.er isso. Poderia no máximo
abso'. é-l o e colocá-lo em liberde1de ou condená-k emandá-lo para e pris2o:
~ ;;¡ eL! s ~
-1 él ek e o r: el u t 8 t u rbu1en t 8 , m2 s r1 ~ o t i nhn au t o r i d a d e pa ra 5e pél r 8-l él d 0
Rcrt:'" en t o u e1 in dR ~u e a~u eln era u m a si t uac;ao difíc!L pois o juiz "civil", q: :e
1;
f1lhn, o que e~?. cia nlc;8ci;1 do juiz Mélndou urnR viotura RO loco! da
julg0 ~asos de familin, também nao poderia fazer nada_ O juiz civil poder:2
,, ocn:·;·óncia, e tlm policinl (mu:\c n mulher?. delegac!a. Após ncnlor8dél
sepéi; -los, mas eles n~o er8m casados, nao hav:a nada a separar. O ~~!:z
Cll se u s s Ro e o m n o r el en é1 ne; :1 , í1 mul he r s él i u e o r re n el o d n d e 1eg él e í r1 e d es 8 p 2 _
~: n2r:-,- -me este epísódio como u m exemplo de suB impotencia para resoh,:..r
t: r~eccu com o fi!ho O delcgéldo n~o fez o menor esfor~o pélr?. dete-la
certr'' ce1sos CJLie lhe célbem julgar Disse-me ele:
¡: L:\pl1cou c¡ue n~o poderie1 lllétilít:r- i1 rn~e e o íilho nn deiegacia, pois esta nRo
ó 1 '
~ í e - A Polícia do F<.io de Jane1ro ... A Policia do Rio de .Janeiro 1 1 1
A inc;tpé!ciJade do Judiciário para resolver certos casos foi também mulher espancada que nao c¡ueria o amante metido na cadeia. N este caso,
o tema de outro episódio de que participei juntamente com um amigo a polícia agiu estritamente dentro da ieí e encaminhou o ca:)o ao juiz,
procurr1dor Tratava-se ele urna mulhcr de classe alta, divorciada do marido, transformando um caso de briga de família em caso _iudicial de lesao
L:m oflcial reformado cJC1 Marinha. Este oficial era muito fortc fisicamente e corporal. O juiz foi inca paz de resolve-lo satisfat oriamente.
n~o quería se scpcuar dn esposé1 Era muito ciurnento, e todas as vczes que
eia <Hranjava um novo namorado ele ficavél logo sabendo e ia á sua casa No caso do ex-mc:nido, ele esta va usando violencia f!sica num conf1ito
élmec:lvá-la, nmeclr untando também, as vezes, o namorado e chegando até él de famíiia. A iei nao tinha "previsto~~ essa situayao porque presumiu que as
·;grccli-lo Ela e a f~1111Íiia levaram-no ao tribunal por conduta turbulenta O classes altas nao resolvem seus conf1itos famili2res pelo uso da violencia
:Jrocurc1dor estélvo atuélndo no caso como assistente de acusavao, o que é Tao pouco a policía poderia fazer alguma coisa, dado o sfaf¡¡s social da
~omum cm casos que tnvolvam a honra de familias de classe alta O réu nao
pessoa envolvida, o que também ocorria no caso da ex-esposa do filho do
compareceu ao julgamento e foi condenado a revelía. O juiz autorizou a ministro de Estado. A arbitragem extra-oftcial dos casos policiais supoe a
~1ueíxosa a procurá-lo no caso de o réu tentar alguma coisa contra ela, pois
cumplicidade voluntária das partes envolvidas, como se pode perceber em
.~le o mandaría entao para a cadeia. Entretanto, o réu tem direito nesses alguns dos casos descritos, mas nao em todos .
c:asos, sen do primário. a requerer a suspensa o da sentenr;a.
Ao arbitrar, está a polícia exercendo uma funyao judiciária nao-
O procurador comentou que este representava um caso típico em que oficial em casos que nao podem ser imparcialmente resolvidos pelo Judi-
;¡iei ni'ío funcionélva. A.penalidade era muito leve, somente alguns meses ele ciário. A idéia de imparcialidade, aqui, parece permear todo o sistema de
detenyao, além de o co11denado ter direito a prisao especial, indo certamente maneira bastante homogénea. A categoría social largamente usada "caso de
;Jara algum estabelec;mento militar. O réu continuaria, provavelmente, polícia" é um rótulo popular para essas ocorrencias.
perseguindo a mulheí e seus namorados, pois nada poderia ser feíto.
Segundo ele, a polícia ~ambém se revelaría impotente, pois o homem era de
' critérios de vigilancia - a
A polícia está usando, entretanto, seus
amília importante e tinha muitos amigos na Marinha. capacidade que ela presume ter para distinguir condutas criminosas
11
potcnciais" de condutas nao-criminosas potenciais. Portanto, as pes-
Fica claro, pmic:n.to, que a lei e su a aplicayao judicial tem determina- soas que procuram a polícia para arbitragem esperam que a polícia seja
. os limites, que podern ser percebidos nas situac;:oes concretas anteriormen- coerente e use seu poder discricionário para arbitrar seus casos
. ~descritas. É evidente também que a po!icia, em suas decisoes, é menos
,_ erceRda pela lei do que o Judiciário. A policía pode coagir no sentido da O sistema arbitral da poiícía impoe o acordo entre as partes, quando o
, ceitRc;:i'ío de u m Rcordo ondeo Judiciário nao pode~ tamoém pode recorrer sistema judicial conseguiría urna completa soluvao pela condemt~ao/ab::,olvi
:e Rmeayas de violem~ia fisica, o que está longe das possibilidades do
11
yao do réu. Neste sentido, isso confirma a Suspeita estrutural'' que o sistema
udiciário As pessoas procuram a policía para resolver seus conflitos, judicial abriga da COITUp9a0 da polícia e de sua conduta marginal a leí
11 11
' 11 Í V j c."~' 1
" 1 J C..S cr;¡,:·;¡¡~
l\ C~ 1~ví.!\ 1) ;\ LE 1 l1 :
.;\-·S '" 'l \ . t . '
ct;1 )· ·
íJC11CI<l evitnm oenvolvimento forJTnl u'~s
'"1¡·Ja' 'Cl"
1 )( · • ' -, '--
· J' . 1
' • l Cl s! s 1 e m (1 111e 1e; é1 E rn s lllll a, Cl s p r in e í ¡1; ,J s el (l él 1 b j ¡ r éHI. e m r; 0e ¡¡e¡eLa 1
;¡ A S P R A1· 1e: A S P l J l"-~ ll~ l \ i /-\ ~:
.~ CaSOS SRCJ
j
r e\' c.'--"'
j
1' . J 0 -t.: Cc1s.'"s
Ol N' ( " •
']'
cm1
Clllt ? le· nno ser·'"'
n ' ,
¡·,.. , 1' í'liS
, ' . -
- . J "
/---.. ~'
')
1
1
· r··- , • • . ' ' • "' r,l !vé1C1é1.
r,
fl.
- ·...A. I) C') l~l\.__,1,\
1
SCIC,,kJildclos
, • ,
ele c:odorn11CI~;dc .
com os •
critérios i .•. ¡·
) • 0 " 110, 1 1
c· ., • ¡· ·
11 ~; p 1e 1t a m ente (l.
Evidentemente,
· • .
hit se!ll))re •
um custo• '
sor-1·<1
.....
.. :• p"r''
<l "
o e xercJClO d esse
poclcr
. ele ¡')OliCiíl
. -. ¡)oÍc;
-- e· ¡ 111 ·,., -1 ;·,
,,, 'lidie l 1 ·r
e c,Mé\mente l:::oé1! ele uma élt.Jtorid rl Exposi~ao Pública ao Ridículo:
ofi--··¡jP ¡ ,. 0 ae
'--'e .... 2 e1 S<L no m:nrmo, (lfi~'lnhada
i\ r q u i '·'os e Id en ti fi e a e; ao Po 1i e i a i s
. ·' ~policía e apanhadil n~JJn dilema. ou faz cunmrir a lei e abdica de sua
el!Cíl,_ ,)uas trn.d,c,:oes e sun nuroridacie, ou ímpoe a sua ética e afirma sua As C1tividades punirivas da polícia brasileirc-1 for:11cHT1 um conli11uiin: dt
ml(_o;_Jc!ad~, ~llstnrcencio Otl desobedecendo necessé'lriamente a lei. J\.1as pr8t icas que v8o desde ~unas, com finalidad e de puni,~ao o u de investigcH(~C.
í' élr• íe . .: e.., pe fe d Z1 m,.en t e_ e 1eH o Cl u e o dí 1e m a nae o t e ve su"e¡ o rl.g e111 n O S e1.O d a
n
1
até a execuc;ao de sus¡·~eilos e criminosos.
,,oJ.cl,j,, mns_nas iLill\Oes contnlditóriRs ClLie !he s~o <1tríbuídRs pelo s;stema
legnl Cé1 socJeclZlde brRsileir·:t · Uma das punic;oes mais eficientes impostas pela polícia no Brasi!
consiste em submeter as pessoas aos processos de identificac;:ao polici;:\
Conforme já mencionei, por forya da leí, 2 polícia é abrigada a registrar c.
identidade de todas as pessoas indiciad2s em inClué--itos policicús.
SÍStCIT1Z! judÍCÍé1] lJrasi~eiro de élCUSRyfiO pi·ogressivél, devido a supOSÍyaO de A aya o penal brasi leira, confom1e já mencionei, nao segue o sistema d;: ·;
que o indiciado podet,-in estar mentindo sobre sun identidnde. Elr1 é pRrticu- cxcluswnwy rules; e tudo pode ser juntado aos autos, inclusive obtidas se:-:1
larmente relevante para a formayao dél opiniao pública sobre a rcputnyao e nlZEío ou mesmo com violay21o dos direitos constitucionaís Daí ~ue o registrJ
a culpabilidade. A imprensa- especicdmente ~u ando o indiciado pertence ¿ de uma pessoa nos arquivos policiais signiflca, na prL\tica, que, em C}ualquer
classe média ou alta - aproveirn Rs formalidades de identificélyao nas processo cm C}Ue el a venha a se envolver, os envolvimentos anteriores- e n~G
reportagens, que poclem incluir fotos do indiciado é10 tirar as irnpress6es apenas as condenay6es - poderao ser incluídos nos Rutos. A folha de
ciigitais ("tocar pínno ., ou "sujnr os dedos", no jarg~o policiéll)_ antecedentes é incluida obrigatoriamente pelo Instituto de IdentifícayRO, e a
vida pregressa do indiciado é investigélda pela polícia e relatada nos auto:;.
Um ex-ministro dn Justiya de um dos governos militares, por exem-
pl o, foi in di ciad o e m um inquéri t o C}LI e invest igava seü envolviment o em De acordo coma leí, a folha de anteceden;- es do réu só pode ser utilizad.=t
operayoes de contrnbando_ O fato de ele ter passado pela ídentificoyao para estabelecer o tipo e a dura ya o da pena em casos de condenay,ao crimim1l.
policial representou, por sisó, uma puniyflo perante é1 opiniao público. Scus Nao obstante, elo é usada, na práticct, durante todo o deconer da a¡yar·.
advogados nao pouparam esforyos - inclusive a proibiyao de a imprensa Quando ela existe, é mencionadR pelo promotor como urna presuny,ao c:'3
fotografar as formalidades legais- para evitar maiores vexames a seu cliente culpa; quando nao existe, o fato é aproveitado pelo advogado de defesa con;:)
- segundo eles, um homem de bem. urna prova da boa conduta do réu, urna presunyao de sua inocénoia_
Terminados os governos militares, diversos empresários foram tam- No caso das classes baixas, entretanto, as conseqüencias sao ainda
bém identificados criP1inalmente, sendo indiciados em inquéritos policiais. mais sérias. Conforme já mencionei ao descrever a fase de investigayao
Ao que eu saiba, ne:1hum deles chegou a ser condenado pelo sistema policial, as delegacias possuem ''arquivos locais" destinados aos marginaís
judicial, mas a enorm:-~ repercussao das formalidades policiais preliminares daquela área. No caso da agressao sofritia pela gerente do salao de
junto a opiniao pública representou, sem dúvida, uma puniyao - embora cabeleireiro, por exemplo, a ameaya feíta pelo delegado de incluir o nome
suave_
da agressora em seu arquivo foi o que a convenceu de aceitar o acordo e
prometer comportar-se no futuro. Na verdade, ele nao registrou o nome r_1:l
No já mencionado caso dos pescadores, a polícia identificou e mulher no arC}uivo, mas a delegacia possuía seu próprio nrquivo, confonJ;-:
indiciou uma velha rn-ulher, mae de um dos pescadores envolvidos. Ela me e detetive me rnostrou ao descrever-me sua investiga¡yao sobre o cas0 e:~,
pediu para ir com ela a delegí1cia, pois se sentía muito amedrantada e latrocínio. O povo, especialmente o das classes baixas, sabe da existenc; 1
humilhada_ Ela foi identificada, e tiraram suas impressoes digitais, embora desses arquivos e os teme; a mulher do caso da agressao esta va visivelmerJ';
ela possuísse carteira de identidade_ No fim do ritual de identifica¡yao ela me amedrantada. A verdad e é que as pessoas tem seus nomes mantidos r: -l
confessou que aquela fora a experiencia mais humiihante que tinha sofrido arquivo, independentemente de sua absolviyao ou condenayao pelo sisten-, l
em toda sua vida.
judicial. Os arquivos políciaís sao, portanto, autónomos e inapagáveis
Mas além dos efeitos psicológicos da identificayao policial, justifica- Dependendo das pessoas e das circunsUincias, a polícia do fuo (_J-~
se plenamente o medc; de ser identificado pela polícia_ Para cor.leyar, após Janeiro pode aplicar outros tipos de puni¡yao baseados na exposiyao é1-r
a identificayao, a pess._;a torna-se ~~fichada pela polícia Um dos resultados
11
•
ridícuio público_ Por exemplo, quando o alvo da puni¡yao é u m marginal qt;::
práticos disso é que se o indivíduo tiver qualquer outro envolvimento com perturba um morro vendendo 'prote¡yao", cobrando ''pedágio (direito eL~
1 1
'
a polícia, haverá sempre a possibilidade de o primeiro envolvimento ser entrar e sair), violentando rnulheres, etc., a polícia pode obrigar o margín:;~
usado contra ele, corno urna presun¡yao de sua culpabilidade. a vestir-se de mulher e dar algumas voltas pelo morro_ Pode também fixar
A r:olíc:a de F:1c ~'E-: Janeno
---
~ :: 1_~---_!~-~~¡::::é! cin Río ck J?.r1errr' ------------~
--------------
a cirstribtiÍC(Z10 clos pre:-;ns cm cli!c:~entes delegac.l?.S D~í (_-;-- rii:~cícntes ci.:\éi', :1::
Como essíl s pr~ ¡ i cns s~o c:x t ra-ofí ci c-1i s, envo l''ern b2, :~gcmhas ele f~? \'(i~
E n e a re e r (t r11 e n t o e o n1 o P u n i ~ ~ o res e poclcm ser cfetundr.s tc-imb(::n com objetivos dr~ vi:-,garwa pessoéll P(•¡
exempio, 1nmferenci<1:. de cletentos par?. melhorar Od p::=réH suc-1s conclic;c;c';
, . ~ trso policiéll clo enc?.rcerRmento como técnicR punitivR estc1 muito de "conforto'', designZ~c;2w p<1rC\ diferentes taref<-1.s n;:~ ;-nesmí-l ck\eg¡¡c~i<:_
11 g rH1 e) ?. s fu n\~ (-)e e; ci e vi g i l ~ n eia d2 po l í ei él Co nforme i ?. men ei o ne i so b 0 tínnsferencirl ele presos C'ltrc diferentes deiegacías ou de u m?. pris~CJ p;ir<
toluludc vzldtc-.gcm. él pu1íci(1 prende as pessoé-1S e élS i-:l~Clr11étl1 no xéiclrez ~s outra, tuciu isso pode ser fei:u p;n~;: premiar ot: 1m~Jir c.s deten1os
\'"l o éllll1 e 11.'LC' E
(>S ti e :--'
_~. . ~'--'· ' . e' Ire~(lCntemente USéldi! cJevido 2 discre¡;~n-
~ssi1 rnntiCé!
r . '
cr:J
_ ,. entn::
. o COI1heCimento '-llle . r co r1,d,LlTr:
é1 ¡!olíci?.• ten'• cJ·¡ ~ Cllmlnosn
~· · e¡'e u m Corno todas as penitenci~rias e xadrezes ele r.-Jele~:acia est2\o cr onic~é-1·
rnnrvtdun. e _Sll<:
_ Cé1íJé1CÍcléHie
· de comnrovi1-la
,. .¡·Lldr'c·r.,'rr'len'P
n 1 Se r1;0
n , exts
_ · t.trern
1 ,..__ ... mente" superlotc1dosl', cssas tí ;:Ilsfcrencias represe:~ raro~ ::ma fonte ele poclci
Jli UVitS _¡trdlCJé1!S cuntrR o •Slll!OS!O
t • crr1'111nosc'
' " t'nolr'c··1., no.-l
1 ;, ¡o
(1ue:a· usar o
'(¡ parn n pDlícia Conforme mencionei no caso do flc,grante cio'contnclor,
encc1rcerC\mento né\ delegocin como puni¡yi'lo por urn prRzo !irnitRdo. embora n~o tenclo direito a pns?,o especial, ele gozou je privílégios grc.r;:.é-15
aO seu 8p8rente slofltS socinl e nos presemes C]Ut' a f;,amília trRzÍa pora o
iv A~ ciecidrr sobr~ o tríilnmento a ser· dispensodo aos detentos, 3 polícié1 carcereiro. Os critérios legais de classificac;ao, impcsSC':?J~S e genéricos- m;1s
~le. ' 0 cldr o C]LIC o cnre1ter pu:1rtrvo cio encarcere1mento relRcionél-Se coma imprRticRveis- tra.nsforman1-se extrn-oftcialmente eni uma questao ética e
etJCi1 po~rClnl r\ legislcl((~O•penéll no Brasil recomenda a clé1ssificac;8o e él
personnliz(ldél.
se:JClr~~~o clos cle!~ntos Os dispos_itivos leg8Ís incluem. por exernplo, a
SC¡!i-1!c1r;:.no entl e del!nC]uentes pnmár1os e reincidentes e entre réus condené1- T o r t u r a e o n1 o P un i \ 2 o
d u 5 _e os qll e es (i'l o a gu él rel el nd o j u lg él men t o ; re e o men d él t a. m b é m a e1as si !1-
CR<;:no do~ presc;s e sua dístr~hui¡yao nas celas de acordo com 0 tipo do crirne Além do já discutido pnpel C]Ue desempenha ne: :;:écnica de invest igr.-
el~ que ~i1o -~CL!Séld os o u pelo quéll forarn con el e na dos. Ent retan t o, como c~o a t ort u rR é emprecracln t ?~mbém pela ooiícia doRio óe J aneiro como url'ié1
o~.or r_e, fr~quentemente ne1 lcgislRc;:ao brRsileira, eln pressupoe ac]uÍ condi-
) 1 ::::; ..
•'
e pode111 Dor is~..;o corrigír a C]<léllC]LI~i momento osjulg<:me;:~c)s rolicic.is 1ssc>
inclu i, evi ciem ement e, 21 ''t ipiftcrl \:i'lo poli c·1al el os CT imes, ~)U se_icL a c1assi-
1'
procec e (1 lnVeStlgClyoO dos 11lOS A. princí¡;a) razao da preferénCÍél.déld2 C10 concedidos em func;:?to rie seu porier de vigilfmcia. O exerc~c~o desses poderes
~~s~el~1rt.ci~ duplo lllCJuérito fci él enorme extens8o territorial cio Brét;il e ~l~i1 discricion~rÍOS Ímp!ÍCé! L111lé1 nexibilidade na Rplica~}ío cir~ lei. Ü poder de
~1rs,rJULJIC(nCI poplilé1C!Ollctl, r¡t;e torn;:¡va impossível é1 existencia d .. vigil2nciR é exr.rcido dr: confonllidade como julgam~ntc p~oiicial da condllté1
111 \'e S • '" , 1· · . e Lll1l Jll IZ
. .tlsr1llliO CClCl?t cnrne j)OJ todo 0 o-:1ís 0a'entro A, · · ·
¡, 1 •• ":;:, . . , . .. . n . dO t C1r O JU1Zct C1 O cJ e '
1
•• " • • ll ·
1Rtente" do Ínüivíduo, detem1ine1da por condit;:éSes so~iaís e culturais particu-
11
~r:S,¡ L\-CIU sJgniti,'2rJC1 CrJ<H do:s tipos de inc¡uerito crimino l. u m 'JRrR c.s lares. Nesses (':'.SOS o c¡•Je se 10fll(j impor1ante llRO sao· os f:;u~OS presentes, mns
CJ'lctcJec- e J · ¡ · · ~ ,
1 '~ ,; ·;1- . . ,LI~~,élcii~ e e ~.ns!ruc;:2o- e m;~ro par¡:¡ Rs ~re?.s rurais- o in.tluérito
J o futuro crinw Rl latente dns pessoas envolvidas nas sitt~~{.ües ilegais.
rJolrc~?.t E. 11, .)\.,.Q,,,¡cJo luQm· o 1nnuer:!o duplo t 1' )" · ·
• • ~ ~ n 1R em v1sta cr1nr um 8
' ,
1
)
:: .·.' , . ~. o el~ ~~18 .CJlier In trencJn emocional que lllttitas vezes envolv;um
" • A • • t..:, '
é surpreenciic.' · e m u m raradoxo: Ci atividRde policial é e r.:iito é definida como
U!ille (T.:..xpOS\Cé\~1 . ele J'vfo!Í\'()C:
. .. , Cr\r!¡'("' nr-> p¡·ocesso
, u 6 u ._, · • r e11 a[, I'·/') . ~.. cievenclo se ~j:·stRr aestn.1turR oficial, legal ejudiciai nfío--discriclonáría Em
suRs atribuir,.:[' ~s administrativas, a polícia precisa ~xe;-c.:er seu arbí;rio em
. _ . _A e;.:p!í~itc.. colo~élc;:8o do inquérito policiRl em posic;:ao inferior a do m8térin de ~- gurRn¡;:a pública, vigiando R popuia¡;;ao, a fim de evitM
lnL1Lie!!IO .Jllcl!Ciél. evJcienci?. uma vez maís a ideo)on- 1·') ¡,;,r·r · d ocorréncias C' iminosas~ em suéls atribui<;:oes jucliciais ai policía auxíiia o
. _.. . . 5 n ""' élJC]l.llCél 8.5
~~lct!JCélS prn~'esstJRr.s penRJS. Conquan!o acimitindo como legnl C1 existencia Judiciúio m1 ::-1vestiga¡;:8o de fatos criminosos reais. uscmtdo o arbitrio, mas
:le trlbunnls espec¡c¡¡sl' pélré1 pessons l'especiRísll o sisterll·~ T~~d· . . . - obedecendo ci spositivos Jeg<lis, a fim de tornar váLdas suas ay6es.
.. r · ' u .• !ClélíJO llélO e•
:el~ c.O.lltrí1riCl, a ¡¡ol.!Ciél estél por definiyfiO sob LllllR suspeitc. estruturaJ e Em su:-.:- atividades admínistr?ttivas, políci1 pr~1:ísa agir segundo
2t
1n st 1t u e1o na l, dev 1d o é1 su él " j) r 0 x ¡m¡ dí1 de p · . 11
p . . .. , consequente compromet 1mento
. • ..... su?.s próprias c:1tegorias e regras- Rética policial; em su3Jsfuny6esjudiciais,
~rllOC!Onc.l ~Oill os cnmes O p¡·omotor e o juíz s~o mais fríos e mais rncionais 2 polícia precisa élgir de acorcio com as categorías jud~óais e com c. ici
i 22 - O Conceito Le~ al de Poder de Policia ... O Conceito Lega 1 de Poder de Polícia . í23
Cor:SCCJÜC~~ernente, el polícia precisa kr dois sistemas de categorías que Segundo Otitro autor, a polícia é o pode1 de polícia Este poder- um
estruturam e justiflca111 suas atividades. Resulta disso que a polícia está conceito originário da teoria lega! dos Estauos Unidos no século XIX,
atuando se~11pre num _contexto de ambigüidade, onde é sempre possível segundo o autor - pode ser caracterizado por auto-execur;ao, coerty~o,
cometer o erro de élp;icar o sistema "errndo" ele categorias em qualquer arbítrio e compromisso legal. Legalmente, o exercício cb poder de polícia
si:uc1¡yao concreta. nao pode jamais ser completamente vinculado (Costa, l CJ82: 20-28)
Por exernplo, a rnesrnél conduta soci2ll- urna briga a socos, digamos, É difícil entender o que Costa propoe aqLii Parece que, de é:1cordo com
nél qu al u m él das par! es. o u Rmbas, saiam feridas - pode ser codificada pela a teoria jurídica, a policía brasileira exerce atividéldes tanto legalmente
iei como cr::lle (lesoes corporais) e pelas pessoas envolvidas e pela poÍícia vinculadas como legalmente nao-vinculéldas Contudo, segundo a teoría
como n~o ~,endo crin1e, dado o contexto sociocultural em CJUe o fato jurídica brasileira e segundo a lei, o sistema judicial, por deflllir;ao, só
ocorreu. N u m tal sist er;_1a, a polícia n~o podia deixar de estar sob permanente reprime condutas reais que tenham sido previamente tipificadas pela leí
suspeir;~o (; .. n~o desc,obrir a verdade ou de aplicar mal a lei. como crimes. A atividade judicial da polícia deve assim ser exercida sobre
a conduta real e ficar limitada a esclarecer fatos que sao definidos (ti piflcados)
A apl:car;ao do poder díscricionário em situa~oes concretas era como crimes pela lei. A atividade administrativa da polícia deve, porém,
defendida pelos policiaís como representando o legítimo exercício do poder "prevenir" o crime e como tal ser exercida a través de conjecturas a respeito
de polícia. Este é vis~ o pelos policiais como u m dos trar;os distintivos da conduta social dos indivíduos
essenciais d2 sua ati\idac;Je, relativamente a outros agentes executivos
judiciais responsáveis pelo cumprimento das leis. Ao exercerem este poder, Neste sistema, o Judiciário é a autoridade final no esclarecimento dos
segundo o d ~legado: fatos e no estabelecimento da verdad e legal. Confom1e Olive1ra (1982) obse¡va,
de acordo com os juristas brasileiros, soment e p juiz julga e pune, sen do essas
(..)as antm·idodes policiais avaliam O! fatos e agem de fi.mr;oes "repressivas" exclusivas do poder Judiciário (Cretella Junior, 1977, e
COJ?[C.'.;nidade com esta ava!iar;ao. A au/oridade policial tem Noronha, 1982). A polícia nao tem, portanto, C]Ualquer poder jurisdicional
fiherr!:·de de ar;fiD, O juiz nao. (competencia). As fl.myoes administrativas e judiciárias nao sao sequer exercidas
em 'jurisdiyoes", pois os distritos policiais sao chamados oflcialrnente de
As aG:: nar;oes de informante encontram ap~io, pC1.rece, na teoria legal
. ;
11
circunscrir;oesu As circunscrir;oes policiais sao as áreas sobre as CJLiais cada
brasileira, CjL -~define o. poder de polícia como: delegacia ou divisao especializada tem poder para atuar. A competencia
administrativa da polícia restringe-se as áreas específicas sobre as quais el a pode 1 t
colefi¡;¡Jade. E 1m1a infe!pretm;:éio teórica que implica poderes me em autos judiciais definitivos. Nessa atuayao a polícia COntamina" sua
11
discric;:Jnários na administrar;ao pública. O alcance do poder atividade judiciária com sua atividade administrativa: a polícia precisa ser
de poíícia é 11111i1o largo e incluí modelos policiais diversos. capaz de transfonnar suas suposiy6es em fatos. Como el a sempre pode falhar
(MagaiUies e Tostes, sem data: 678). nesse intento, segundo os critérios judiciais, há sempre a possibilidade de ser 1:
. 1
O Conceíto Lega: de Pocie: oc ~olicia
t:
"' í1C\t5iiclil de clc::mnéir o:; i"':1tos péiííl poder comprcvc~: suc1s teorías Ela este1
rnnis ceoc o _iuiz recebesse os t-iutos, mais cedo order,;:;-Í<i a 1iberlC1C,:~Cl ck se:·,:
:;crnpre <llllC<l\:;<L\ ele Lltni1 "corngenclá'' _¡uciici2tria bil seu _¡ulgamento cic1s
cunhé1CÍO_ Sob esse rv-e1eXlCJ, CIJereceu-se pare; ir (1() 1nstquto cie Crirr1111(t\í:;;¡;_·,;:
f<ltcls Ccmf(ln:lc tlil-. cscT1v~1o me disse, come que clei'enclcnclo e1 políci;1
apanhar o reln[óric; CJl!e ciescrevia os barris funélclos (resfiu·fn'n) hli-it!(·
!i e )J ngn\_·(70 (!o ¡w 1!un L> sen' ir 1t m 'j)JD rnfe i 1o" no ;u i::. concedic:?. autorizcH;2c, e elt:. compareceu ;w 1r!s1i:~:w, ll18S ;w invc"s c!c
e In _!ro cosso, ti'ln m e no.\ 1en 1o u l . so 1i e i t <1 í e re 1nt ó r i o s C! b re os h <1 :Ti s fl_ ni a dos pe lo e u n ha d o , pe e! i L: e; r (: lil i e) : : e:
sobre o barril vazio !::nado pelo mendigo LevO\l-CJ?: clelegaci<l. incl\iÍ~:~;
,:\ :;uspei o Cllle o J¡¡c]iciúio nutre pela ¡;olícié~ 18.0 é sem conseqCJén- nos m:tc;:: e levml-CS é10 irilHJna!
CI ;:_e; !\ ¡10 lí ci (\e ~st LW 1;1 cli zer que ~)S rllit os pol iciais si'io, ·m arremedo dos autos
Nc_iulgamento, baseacio no relatório do Instituto cie CrimÍllrilísli(~<', ;1
.ilJcirciC11S O mol ;vn desse rcssentimento é C]Ue todas as descobertas feitRs pela
juiz ckc!diu que, cievido ~ Jnsigniíicáncia do ohieto roubacio- um br1r:::
poiíciCl ¡;recisZlll~ ser r·epet ;ciéis cli;mt e do juiz pa12. se Tomar prov2s dos autos.
vazio --e réu devin receber rerc!aojudiciai. A conciusao de JTJell infomlém(e
Isso é visto rlmÍ~Jcie cotllO Llll1él cié1r(1 clemonstrnc;:ao ele C]Ue o sistemajuclicial
era de c¡ue no tribun<d nem o juiz nem o promotc:r tinham lid o o processo
Stlhe:;titllil- OLI 'i1esrno clesconfiél- cle1 execuc;:8o do iri':uérito policial.
Se tivessern, teriam percebiclu é\ trocados reléltórios, pois os nutos poi1ciats
Jv!:1s <1 poiícicl <1rgumentc:l ClLJe suas R<;:6es ''ilegaisll devem-se a deslei- mencio:1c:.vam clélramente o furto ele dois barris ch~.:ios P(lré1 conclllir, e! e me
:\OS clo s1stem2 :udicir1l Segundo um escriv~o da poiicia: cont o u que o funcioná rio civi 1 cio Ministério do Exé!·cit o i;; pro va vcl m en (e
requereí sua readmissao ao servic;:o público, ao p2sso C)lle o mencligc',
(. ) a po!JciU tlesempenha lodos os funr;Des judiciais, possivelmente, seria condemtdo pelo roubo dos 1.-JarTis cheíos
aluondo como jui::. e romhc.'m como promotor. _\das as mflori-
dodes ¡H;!iciois n/ic sáo ou1•idas na hora das punic;oes. A Es1e episódio é impon ante como exemplo decomo él polícÍR re;Jrcst~:~: rl
poi ício.fá:: ludo n !roho/ho, e;!frenla os assoltanles, mTiscn se u reiRcionament o como sistemc-1judicial. Os policía: S afi:n1am fi·eC]iJ ent emer1t e
suo.\ \'idos e e m cinco minutos o jl!i:: obsoh·(' o criminoso -
A policía prende, o juiz so/ter Como se ;;nde cu/¡){rr n
/1/,'t//os \'C'ZL!S SÓ JIOU(Ifl.: C Omigo do ad\'Ogadn 0/fll"ClS VC!ZCS
polfcio de IOJJJar, OS \'C'.ZC!S, a jl!Sfl~·a C!JJJ Slli/S p;·óprios JJ.I(fOS')
jlOUji!C Si(ji!C!' CJ7L',í.!,( 1 i/ O /erOS nllfOS ....
ocorTia, por exemplc,, quando a políciR executcwa ou registrava atividades muifo lempo depois de os fofos oconcrem. Se ele erra, o
solicitadas ou ordenadas pelo sistema judicial (inter;ogatório de suspeitos, de tri huna! corrige. Se a poi ícia erra, os Jntos se evopormn, nada
indiciados ou de testemunhas), ou registrava autos de flagrante. O poder de restará para o juizfazer.
policía era também e)\.ercido ilegalmente em funr;oe:\-~ meramente administra-
tivas, como no exemp)o já mencionado em que rou 1:os de documentos erarn E Rcrescentou, meio sério, meío zombeteiro:
registrados como perr:las casuais. No exercício de atividades judiciárias que
sao legalmente vinculadas, a polícia usava critérios Rplicáveis a atividades de Ojuiz, vocé sabe, ojuiz está muifo acima de r:r~o,
o juiz
vigilancia, legalmente nao-vinculadas. 1~ está pairando /á no céu. A polício é d~ferenre, a pol1cw re m os
pés no clu1o.
Além dessas p; áticas discrícionárias exercidas no desempenho de
funr;oes legais judiciárías e administrativas, é1 polícia exercia algumas outras
atividades em flagranre desobediencia 2 lei. O conceito jurídico de poder de 1i Em consec¡üencia dessas diferentes posic;:oes em rcla~ao a o~· f~tos ~a
ocorrencia criminal, espera-se oficialmente c¡ue a perspect1va po.1c1.al s.eJ.a
. :E
polícia é definitivame.nte inadequado para explicar as práticas policiais de diferente da perspectiva judicial. Portanto, a o exercer su as func;oes JUdici-
arbitragem e de punic;~ao.
ais, a policía é solicitada a traduzir seu conhecím.ento d?s ~a~os em um~
linguagem que possa ser tida como aceitável pelo SlstemaJud!c!al formal. E
a linguagem dos indícios e das provas.
Usos e Si gni fi e a uos t1 as P r á ti e as A r bit r a i s
Essa operar;ao nao é, entretanto, merament~ lingüístic~ .. ~ L~ma
·e Punitivas da Polícia operaQao entre dois sistemas de classificar;ao, a do sistema de vigllaDCia e
r
da Cidade doRio de Janeiro a do sistema judicial. A trRduryao tem de levarem con:a t~~bém e¡ u~ r:a.o está
1 sendo efetuada entre níveis equivalentes do sistemajudtcml. Os cntenos da
~
As práticas arbifrais e punitivas da polícia estavam claramente relaci- vigilancia sao oficialmente definidos ~om~ ~xclusiv?s da polícia. _Eles s~o
onadas com suas fun\;oes de vigilancia. Para exercer a vigilancia a polícia responsáveis pelo nível inferior que o mqueílto pol1ctal ocupa na h1erarqU1a
1 do sistema judicial.
precisa estar em estreiio contato coma populac;:ao vigiada. Por isso ela tem
urna percepyao muito· íntima do ambiente social. Esta proximidade social f
torna-se responsável pela distinr;ao entre a ética policial e o sistema judicial
¡ A feitura dessa traduc;ao origina alguns problemas práticos para a
F polícia. Conforme já mencionei, a atividade de vi?il~ncia implica~ ~so de
de julgamento. Confo.rme já referi, a Exposir;ao de Motivos do Código de f:
Processo Penal esclarece que esse íntimo envolvimento com o crime pode r critérios policiais para fazer a seler;ao entre os cnmmosos pot~nc1a1s e os
r
cidadaos potencialmente cumpridores da leí. Há urna expectatlVR ger~al de
ser responsável por erros emocionais de avaliar;8o cometidos pela polícia, i
o que a faz correr o risco de precisar ser corrigida mais tarde pelo Judiciário. r
¡,
que, no decorrer de suas atividades de vigilancia, 2 polícia ~revm_a a
;
;,
criminalidade e, mesmo, que na execur;ao das tarefas que nao S~Jam
A polícia está consciente de que seu papel é diferente no sistema. legalmente vinculadas, prenda crírnínosos potenciais. Em conseqlienc1~ da
Como um delegado l"P;~ disse: vigilancia, a polícia e a popular;ao vigiada- particularment.e as classes ba1xas
- nao desenvolvem um relacionamento de confianr;a rec1proca.
A polícia precisa agir enq_uanfo os jatos es/ao ainda
quentes. l'il'os. Se a polícia nao age, osjatos s(.~mem. Ojuiz está Ao efetuar um inquérito, Rpolícia transforma muitas vezes testemunhas
longe dos fatos. Ele vai atuar sobre os autos, sobre papéis, em suspeítos. Uma audiencia pode converter-se em interrogatório. Temerosa !:
t:
''IC.
U Cur1ceito l ega: eJE: ?oc! ~í dt: ~'o\ir.12. ..
. . . p Cl \',
ll ;-o D r 12,
·,,
I': ''\ll''lél''
1! ~ 1
1( 1 , l ' ,
C\ lente C111C a ética püÍlCif11 nao cit:uenck
• '' " • . _
d::: ¡¡cJ:,lCIJO'(:s c:IJt;;¡¡él\~ns cn111 <:1 políclrl, e\ popLii<-1<;?,c: n~ll
(l.
coopeíi::1 voluntariét- J
L·>n f't:ny~o c1ess<1 cliscrepAncic! erlt re o r¡ue a polícirl sobe e o C]Lle eli1 ¡;ocle
¡·qov;F ¡:JciJcÍéllme¡;:e, notó:·ios crimir;osos s2\o nbsolvidos pelo s!sterndJUclici-
;-¡] Scl1ciu oflCI:llnl~'.ntc encclrTt'gndn do exercícío ri115 func;:oes de vigil~ncia, a
¡•c,iícv \'[11 se ciclrc':ltélr novRmc:1tc cu:r: esses marginnis Pode, entfto, pr-endé-
los, ton\lr~.-los e iKétbrH mRtílilclo-os .-\o fazer isso, r. polície1 élge contra a lei, t!o morro, 0 caro mofa por causa de :'!171 porco. Mas o
e os ¡¡c¡iicinis podem ser levaclos ;-ws tribunais e acRbnr condeníidos porco 7100 e () n:ofivo principal da hriga. l]ll~ ~:corre e q~e o
/á a c:ora nño pode /e\'Crr unw hojetadn em pubnco, C'le JWO
A policía justificn su as (;~:6es ílegnis alegémdo Cllle este\ convencida de pode .~:mp!esmeufe ir poro cosa opós un~a ogressa~J como esw.
C]tiC iwssLJi o conhecimenlo "¡-ectl'' dos f;-Hos. Ela llestava ali" . l\lluitas vezes A comunidade exige dele umo olitude. E con;o se :+wln·esse um
ccmfessn Cl u e est2 "f?tzenrlo j ust iy;:¡ com 2s própri2s m~ os". No contexto cJ e autoi:lan/e mne!cinndo o conduta das pessoc;.)·_ Se me drlo 1mw
meu tr<Ü1z1lhu ele campo isso signific2 hc1bituRhl1ente C]LIC em cenos casos a bofetada perro da minha caso, ninguem )'ai sabe!-. Mas se e_u
políci;¡ est(lVfl firmemente decidicict 2 nplicar sua étícR de juigar e punir os ,!i\•essc 710 mof'ro efosse ngredido na tem~l!ll!o, rodo mundo 1n
(]CUSilclos, í1CI invés de cieix8r essa tar-efR para o sistem?t judicial, como manda snhe.'·. ¡~ 711170 ques!c1o (le mrtoridade. As 'd!.:::es eles niio s~·
a legisl<H;~o hr2,sileira É comum R policiajustif1car os julgarnentos" (<~dJitrR 11
¡•iJJf!<'~··J pessoa/menfe. /.c.,·so é comum aconte~;er com comerCI-
gens) C]lle f2,? ~.legando que eles SRO meihores do Cjlle OS feÍtOS pelo JuoÍcÍárlO, ante:· Eles con:.'-afam um nwtndor profi.<·sio;wf. que nodo ten:
j~ que el21 ntu?t _iunt o Ro mundo e\ o cnme e te m a percepc;~o da ''realidade" dos 0 pe:· .. er, para 11
WfC7l' O ngressor.Jvfas eles té:·n ,defazer ÍSSO, se
Ültc;s Port~:1to, o C1Ue torna o .Tucliciário desconfiado dos "julgnmenros" dn é (j.'ii. :iesejmn continuar ,,¡,•endo ah. ,
polícií! é justamerlte RC]uilo q~:e, do ponto de vist?t policiol, legitimn suas
suposíc;:oes e os :esultodos ele suRs investígCJc;oes. A polícia eCluipora seu A nc: r.ia admite Cllle esses códigos sejam cbedecidos por todas t1S
conhecimcnío especiolizéldo 2\ sun ICie!ltidocle peculiar no sistema judiciol cm118 das·d,, populcH;:~o b;·asileiré1 as C]Uais se ap 1:icam as pr?ltícas policiais de
11
julgamen: _ '' e punic;8.o
Os uitérios policictis ele 'julge1mento" e punic;Eío constítuem renlmen-
te uma ética, um 'código de honra'!; 8 C]Ue todos os policiais sao forc;:ados .A nc:. cía estn.1tura e JUstif¡ca suas represem.ayoes clessas diferenc;:as
o obedecer e a f2~zer obedecer Ro. lidarem com criminosos .T á ilustrei os culturais' r.! ~ssificando os diferentes códigos cult·Jrais: em um arcabouc;o
mecClnismos ele c¡c]esao a estR éticél C\O discutir, no coso do inCluérito, o uso hierárCluicc Seu conceito da diversidad e cultural :ajust~-se a um esquernc.
policinl dn iortu~?.. Já discutí como esta ética confere a políc1a uma uniline8r dt- evolu~RO cultural Como o delegado :11e d1sse:
idcntidade célr8cerística em rele1c;Eío R outros gn_¡pos sociaís em geral e
( .. ) a evo/!f(;élo do lei ''cm junto c?.m a evolur;lio c~a
dentro do sistema judicial em pariicular; j{l demonstrei ClUe diferentes
Jnrmnnidade. lvfas e:-,·se processo nfio é unU:Jrme mr homoge-
·versocs de~te1 ética identifica:n gn1pos que competem entre si dentro da
·é 30 - O Conceilo Lec :Ji de Poder de Poiícia _
O Conceito Legal de Poder de Polícia __ _
JJe:J. No infel'io/- do país, por excmplo, pode ha)l(!F menos experiL1cia "real'' da heterogeneidade cultural da popuiar;:ao nas exigencias
C! :- nes, m os stiofi·eqiicnfemenfe mois bárbarCls. O frodicionol formais e genéricas do sistema judici2tl e legal, a políciél reage usando
uso de armas broncas (facas, efe.) el idencio o estado menos
1
ostensivamente seus próprios ju lgament os sobre essas d iferenr;:as cul turais,
c!k /izado dessas pessoas. Q11ando e las m!gram para o cidade, ist o é, os mesmos fa tos sao diferentemente .ínt erpretad os e m consonancia
!eJ'Cilll se11 frod!ciona! atraso e s1ws onnos.
com o ambiente cultural das pessoas envolvidéls_ Portanto, a identidad e
policial confirma a diferencíar;:ao hi erár(lu !ca característica do sist e mél
Segundo esse delegado, a passagel1l do tempo tem provocado urna Judicial, qualificando su a identidade como diferente- po:ianto, complemen-
evolw;:~o, uma ''civilízadío da criminalidcn1c_ De acOI-do corn ele, os crimi-
11
l e, sen te-se " única respnnsável por el as_ Quando incapaz de traduzir su a Algurnas dessas idéias tiveram sua origem nos fins do século XIX
grac;as a "antropología física" brasileira e vigoram ainda hoje entre os :.1
; ~~
--------- ----------~-- -----~~- -----
e Cunceilü Lega: dfo 1·\_; .1eí Cle ~'oiicia ----
¡trr i :;:; i:r ;1siiei' e;:-;, espec:;¡i;r:~:;·¡¡ e· es¡Jccializar?.m C11J mec!i-
itC]tlcles r¡t1e se ---- -------------~-------·---
ci¡;;¡ k~'éti
~ i\!tii,!llleilte ~ i1 u:·iot'll !ilCJ?i cl?.s
~ cJ·irer·erlr''JS
y ( ~...
c·Lrt. 1trr-,;s 'tJr''s;ler·,.,,s 10, ;m él 1·1se.; 1· de U11 h;¡ d <~ lll en k rn it· I-1e·t r·,.n pe,1ct" C] tl e.
;¡ ·· e··. M,. r1 v ,') :::oo wl,>'() de
1 :_;:; <:
~
l ' (¡ ¡ . ._ ' (l.' 1 l ( l ..
l.,
''
¡ t V ( ¡ .,!l ,J( () .cf,¡f/(\S(l('l(\
''()''T'{)['J(';')I'''¡ )¡l ! · ' .._ '- -'
' '
1
CCC.OilO!ll!CO ClO e \(~JltCc:·l S~,.,, .11\L.n
. 1 ·]' •• :·:ni c\r-
) "' '0'11
·'-'
''evo\
'
SL\. Co:llllcio. cle1 é amdél íi!ZO?.\·elmenle acci121, como demonstr;:clo pele. cuu;¡;¡;
'it - 1" ,,_~,. nS ,...·I·!Cll'"'' S;¡') clr1ssiflcé1dOS
l'-',.(1\ •••. , . COJT10 "incÍvilizéldOs" OU per1eJ1CC:llC:~.
rccdi~:;1n c1o liv;:Jj~ mencro!J?iclu de NinR Rodrigue~ l ' . ', " r¡t
(lO C Ollllll!O Oc\ fin L 1"' ·" , ' ' r ¡··¡.·?'J n 'lClvow¡c\o
:::::e a]Cf!él
-~ C¡UC O c]Íe!lle 11~0 Sélli\(1
11
_ (\ C::.'.:
eslnva ;-,.7en' 1'0 nc".Cl"" eif' é um r1nlll\a
1 Jr1L. , ' 1 e \e nao
1 ,,·- ¡en> ('dl lt u r'1', 'lé1C' ')')"''
1
,.,. 1 . . ,.~
· , 1 '
Ncl rncf;lcic: e!;¡ eciic~c ele. l CJS7 ele /}) !'0\,'CTS hit!IIC!!IOS, ele Nina entender 0 conduta "civiiiznci;\' e os cóciigos legélÍS, ek n;:\o pode se¡
~ ~2 ti e:- . C'
J ( )e: r 1 e ;1 ; e d r á1 i e o el e r11 e clt e i r1él leg n i ci a f?. e t Ji ci él d e d e M e el i e i n él e el a \..._ j • ! n r·1·1· I'li m1] rr,ent t: !CS'¡!OllSR ve\ pe \os seus al C:S
C r 1¡·, S' rJ' <,r-'J(i 'J
1,. \.._,' ( 1 J "-~ 1 1
re¿Jf~rmél <
1
iese de Nina fZot'irigues sobre rl "criminc:did[lde diferente" das unifor 1 ~ 1 emente pré1ticéidas em toclas nS e 1asses soclniS · t.H?..s 1lerré\s . - Eu most:ei .. ,
l 'c;o-.'>'c o c/nndnde e finne ::n des/a concluscro dns prime iras corn a Cllll1p1iciciacle cias pníles ou tornam-se urn ¡;:-Jblema qu~ o .h~dJCiéirlo
1
¡ áginos (do /11 'ID de" N in o JCodJ'i¿;ue.s), nssim 1·nliosn hojc, -
ní1otemme1os · de reS'Jlvp·· ........ 1 E, 0 C'1SO '· ,~oor exem¡;lo
, • do ex-mnndo CILI1l1enio •
quon!o Ollír.'Jll.' (..)A crrdnfose do c1•o/u~·áo socio! de 11111 j)0\'0, Oll 03 mlllher c¡ue nRo c¡ueriél c¡ue seu ex-namor(lch fosse parRa cnde!é!
e uiJllin me/hm. o codofnsc dr.' er~oluy'clo dn hummndade, se
cnm,no rmn l'O~'os 011 rrnpologicmn e111 e dist in! as, corre.\¡Hmdc Nos exemplos que dei no cc.pítulo referentt as ~rá:íc:-s. policiais de
111/JU C!'!l7l!Jin/idode puíprin, em lwrmonia e de ncm·do como nrhitragem e puniy;:\o, ficou evidenciodo c¡ue a idfo_log1a Jtlr!dtc,a presume
S.7Dif de se'/ dcscm·oll·imcnto intr.;/eclua/ e mmD!. (Rodrigues, c¡ue rnembros dC\s closses boixas brasi!eirRs .co~uflrc~m-se habltu~h:~nt,e
] 957 7-8) r¡f·r"\i¿S d"ce violencia física para ]Jc¡Uiclé!r o!sputas ou 1 es""
en.rt . e S', n. (l ..., , ,.ver
]'vfuito ernhorél é1S interpretélc;:oes rélcistas das origens da hetero- intimiday~o. puniy?:o ou obteny8o de info.rmat;:?, se~~re gerou vJole~lé\
g en e idad e e ul t u r rll bras i 1e i r;:¡ n ?í o re e eb él1ll a poi o u na n ime dos j u r is t as .e. . ensu,~ a pLrblica
. A tortur2 policial c.piicadR cnmmosos comun~· ·· · ¡ -
contempor~neos, reconhece-.se gerc:llmente e¡ u e existe no Brasil preconceiro nfío-políticos- só recentemente tem sido di~cut.JG: .. nao ~m casos Jnc1!Vlf u-
contra pessoas de pele negr[l Tais ressoas sRo ainda consideradas social e R!s, m 3s C}URndo RSSt!me célráter de práticR tnStlfL' :tom~ltzada.
cul tu ralmente i nferi ores. T ll i s preconceí tos en contra m é1 poi o nas teori as
pseuclocienríficas da medicin8 legal e exercem ceítamente influenciR !l(l É claro c¡ue c.s concepyéSes iegélis elitistas .lassificam as dife.renyas
8plicn¡;:?lo indiviciunlizacla da lei pel2 polícia e pelo jucliciário. culturRis. tRnto de ir.Jivíduos como de grupos so,~iais, em um confrm.nrm,
cujos pólos s8o, por um le1do, um estágio cultur;;¡J inciviliza~~'. inf~ílor e
1
: 3!: - O Conceito L_eg;;! de Poder de PolíciCJ O Conceito Legal oe Poder de Polícia ... 135
individuos ou grnpos sao distribuídos nos divcr-: ·)s estÉigios consoante seu completarem recíprocamente Se eles se apresentarem como iguais, deve-
s!of1tseconómico e/ou .soci:aL dio competir entre si
Estas concep¡;:oes iegais apóiam o uso de violencia física como um A existencia das tradicionais prat1cas policiais de arbitragem e
me1o ''natural'' e aceit::tvel de comunicac;ao p(!ra as classes inferiores. punic;ao, diferentes e, mesmo, opostas as do judiciário, levanta a questao de
Tonura e espancamentr) sistemáticos 1ornam-se, a::sim, urna Jinguagem quern é o responsável pela administrayao dessas práticas. Como sao ílegais,
institucional para a única punic;ao eflcaz de algumas camadas incivilizadas nao podem encontrar su a definic;ao, límites e regras de aplicabilidade dentro
cía populélt;:ao Essas camadas sao identificadas, e ~eu.; membros reconheci- do sistema legaL
dos por técnicas policia'.S de vigilancia. Ao justif ::arem o uso da violéncia
c¡uancJo lidam com clas~'eS inferiores da popula~l:o do Rio de Janeiro, os A polícia é, assim, compelida a usar "exclusivamente" sua próprirr
políciais alegam muitas vezes que: et1ca em seu processo de tomar decisoes. Esta circunstáncia - isto é, a
autonomia policial na aplicayao das ar;oes arbitrais e punitivas- deixa para
(.) essa é o únil!;a linguagem (jliC esse ¡-'2ssoa/ é capaz de a polícia a total responsabilidad e pelas suas próprias decisoes Portanto, ao
entender. arbitrar ou punir, a polícia nao atua oficialmente corno um ''apendice" do
sistema judicial. Urna importante conseqüencia é que o sistema judicial nao
Os estereótipos legaís elitistas concernentes aos efeitos das diferen- é oficialmente responsável por essas práticas policiais.
c;as culturais inf1uenciam extra-oficialmente o sístc:najudicial penal. Para as
camadas da populac;ao brasileira consideradas pela ideología como
"incivilizadas", torna-se :1ecessário aplicar métodos especiais de julgamen-
' . r
to Esses métodos fazem parie de um código extra-oficial que deve Produ~ao e Reprodu<;áo da Etica Policial:
eC1UÍVa]er ao "baÍXO nívd de CÍVÍ]Íza¡;:ao'' das pessoas as quais eJe será
e1piicado. Somente este código será adeqvadamen~e entendido por elas. A A Tradi<;ao Policial
maíor parte das práticas ~·oliciais de vigilancia mo:"ra-se adequada para ser
incluí da nesse código. Poder-se-ia dizer que as pí~~ ;cas policiais de arbitra- A exclusiva responsabilídade da polícia pela ética de suas ativídades
gern e punic;ao sao consideradas pelo sistema jud;, al urna aplicar;ao desse sugere. por analogía, formas exclusivas de produyao e reproduyao dessa
código extra-ofl cía l. ética. Em consonancia com sua identidade extra-oficial, essa ética é
produzida e reprozida pelos meios "tradicíonais". Os policiais produzem e
A o aplicar códigos distintos a grupos difere; ,tes da sociedad e brasi- reproduzem sua ética por um sistema de contar histónas, nas quais o
je¡ra, a polícia pratica uma reinterpretayao e ca~:- ~orizar;ao de condutas principal personagem é sempre um de seus "heróis", guardioes míticos e
sociais e seus significados culturais. Neste procc:: o a polícia classiiica a exemplos paradigmáticos da tradir;ao policiaL
populayao vigiada segun el o u m conceito hierárq1 ,;~ J de cultura. A polícia
pross~gue nessa classiiicac;ao consoante crítérío.s ~¡úe ela acredita serem Durante as pausas para o lanche o u para o cafezinho e durante as
;:róprios e que ela sente te1em emergido de sua pró¡ ·ia experiencía policiaL horas vazias dos plantoes noturnos, há sempre casos a serem contados,
E interessante observar oüe a ideo]oQia ~ jurídica ofic- 1l e extra-oficialmente
j '-' ' '
envolvendo policiais famosos ou legendários delegados. O aspecto extra-
apóía a classificac;ao da polícia. A identidade evidc tetnente distinta desta oficial da tradi~ao policial, contudo, explica algumas características espe-
é, contudo, essencial para a diferenciac;ao interr3 do sistema judicial ciais dessas histórias. A polícia salienta sua exclusiva responsabilidad e pela
hierárquico. Os elemento~ da hierarquia devem ser diferentes a fim de se existencia, aplicac;;ao e reprodu(fao da ética policial ao personalizar as
e; Conr:eitc Lega! de r::)der dt- t'ollc:c .
1, : ¡ n : 1;~ ,, e e; s e'; ~:m pl e: s ;1;¡ 1 1 ;:¡ du~ ~\ s si rn , mi ne' 1 é '' a rwl i e~ i él " , mas se rn p1 e urG Desobeck~ccr él esté: éríc;¡ 11~\c é corno clesc)beckce,;- 2 k~ Pe;: e:
c!é·'l'i!IWiéldCi p:liicj;¡i CJliC: ~Jw;t;;~ él él[i]ÍccH,:~O el?. ~~tÍUl JlO]ÍCÍnl ;\ éltÍtUcle CÍD 2 leí é P~'u!icél e gen~riccl, nO passo que a éticr1 é pr;vr.cic::;:: panisu\í\fl.St?. !\~,
pl:::,()JléiUCil: (:' t'.rli!Ctiilli d ¡.í(Í;\lcJC' él SCi seguid? e rep:-c:~cJ~¡z¡cJa jle]c;s histórias po! 1c.i2.is seguem semprc este esquema alguéi.l estR cumnrind,;
p n ¡¡ e i (! i ::
direitinlw Sllí-1 rotinn di~llél De repente fnz algurThi coist1 c¡ue, sen' que:c:r.
provoca a re;w~o ele urn determinado políciéll Issc~ basu: para suscit;1: tlillé~
t im delcgc¡do, disctJtinclu como e Clllnndo aplicnr a éiÍCél poiic[cli pé1ré-l as:i1o poiicié1l e, fmallnente, él punic;:~o do trilnsgressor
jl\llll!. C:CliltCHi :ne O St:~'tlilltC ~~pÍSÓclÍO, que simbollzél é1 f~lbu];¡ f!Cl]ÍcÍa]
CJtlé>ncio ::.:rÍ<lnt.,-:<. ele lllOiélVa no lllOJro Nesse :11esmo morro vivi<t tambén1 l i111é1ci?.s nllmerosr1S lli<.::tc,lric:ls envolvendo ~omc -;1fÍncipc:ll pe:sonít-
lill~ noll:lrÍo Cr!:llÍllOSO, Clll(: err. t1Cl!Sé1dO de muitRS mortes. A rolíciéi e:él, u.em u 11 ve] ho el e\cgndo do Est Cld o do Rio cie Janeíro (o mes m o el a
porc~11;, lf1Ci1péL' cie prenck-lu Em pr1J1:eiro lugRr, enumerou o cleleg<Hio, desrespe tosa conve;-sR telefonicél mantida como secreiilrio de seguran<;<l)
1
pn ¡que crc; í llll' o ssí ve\ í)él r:\ a pol í ci n subir es se morro se m ser pressent idél· obeciect a esse esc¡ucmél H~ muito tempo atrc1s, esse delegado estc-Wél
1() ~~ n e¡ \l e e 12 eh eg nv ;1 , n! g t é :TI el él\ ·él u 21l a :-m e S eg un el o , por C] u e o morro t í nh ;1
1
. . l
p?.ssnncJc pela rua de um?. pe(]uena cidctde do mtenor :.o estado, Tln C]\lé\1
' '
JlllJIUlS Sí1Ícléls, e ern impo~sivel bloC]uear todas elns. Finalmente, porCJUC esse eslava ic:ado, quando encontrou cé1sunlmente urn conhecído. Num tom
m;nginéil ere1 <1penas um entre muítos suspeitos C]lle R políciR tinha de entre policlo e p8temalisté1, trr.tRndo-o de 11 meu filho", perguntou-1he como
invcst ig;n e p r(~ ncl cr, de m o el o ~u e nRo pod iR d ed i e c. r é1 t enc;:Ro exclu sivél é1 el e. es!avé1 pr.ssando O conhecido 1 espondeu C]Ue est::;.ria passando bem se n~c;
Seg un do o d e\ e g;¡ el o, é se. m p re im po ssí ve 1pél r a él p ol íe iél d es ine u m b ir-se d e fosse ur1:é\ dolorosR infecc;:~o ele um de seus dedos a-:) pé, que o estRva
l o el 2 s ;1.s t;n e l;¡ s q u e 1he s ~ e¡ e o n fi a el él s incomodémdo terrivf~lmente. O delegado disse qu.:; semia muito. que toda
cloenyR ¿, urnn má nmícia. O doente disse que o d·~do es!ava doenclo tRnto
Entretélnto, essc exélto criminoso tinha "ido longe demais" e cometí- Clll e el e u.ost aria el e se 1ivrar el el e, gost aria C]Ue o delegado des se Cé1bo do dedo
do um l!grnve equívoco" Ele tinha mC\tado um gato num bélr, cortando-lhe ~cer1Rndo-lhe u m tiro O delegado nao hesitou: pe.gou ~~revólver e acertou
R g<uge1nte1 com Lllllé1 ne1valha Nessa época havin no Río um famoso policiRI
0 dedo cl' 1homem. Este ficou sangrando e apRvor:ido Ao reclamar do ClUe
e¡ u e crrllmico por gEl los. Quondo soube do caso, Rchou que aC]ucle méuginé11 o cleleg:,:·o tinha feíto, este retrucou-lhe que só tinhc: s~;:!ñsfeito a um pedido
tinha 'ricio cllén; dos limites' e fez umjurnmento de prende-lo Concentrou, dele. m:';: era, por1Rnto, o único respor.sável peb o~,orrido_ O delegcHJO
e m ~o, todos os scus esCor·c;:os nesse propósito e Rcabou sen do bem- Íilsis;i~ ,.. Je só.lhe t~nha preste1do um f;wor A mo::íéd dessa histó¡·ia de
sucedid(). O mc1rgin2l foi miHldado pnrR í1 cC\de.ic:.. Muítos ;mos depois, o éldvertt:;- i?. era. se y,-, ce nao ti ver a firme intenc;:ao C1 e ex::,lTÚllÍr a!guma coisa.
el el cgétdo encont ro u o mes m o marginal no mes mo morro El e ti nh2 vi r2ci o nEío a e::.:: élllill policiiil. ¡\ polícia poc1e sempre ;-ea~_'¡, Ót ma.neiréi inesreuld2
homossexuél! e vaQ,Rbuncio. vivendo nn mélior misérie1 Nao restRva nele
C]Lla1c¡uer vestíg1o do Rntigo vRient2o [::,-;¡:¡ históri2 vem conflrrnélr umél vez maís l;ue O¡\dem conhece a ét iu1
r~re_L-~!1os lt.~g~H\ sen do os .i· IÍ?e:; ~ ¡:mmotorcs consiclerodos como desrro- Qunndo ess?.s condic,:c\es n~o silo sRtiswi1n.s, n~o é a lei- que
~JcL's de éllTl!tr¡:· e, por const:guÍilk, ele qu(l!quer ¡·esronsabilidélcie pessonl irrealisticcnTlente rres~~mc cssas conclic;:bes icle2::: - c¡ue está recebenclo o
!:::les~ Sllllplcsnll~:Jte, (]pliC(l~11 él iei A rolÍCJ(l é colocél.dn em um nível inferim dest1Í1o A lei é sen;pre "cer\(l'', rois represe:11<\, por def1ni~:ao, urn;1
nZlllltrélrClUlél Jl:ciJc¡;¡J. pcw, ;¡ eln e éltribu;cl 2 ?. 1uw-;:; 0 d · -,~ · express~o de1 "vonl ncl e popul;.n" As pctrt es ele ;i ~lema encarregl1cicls d 21
1• _ . -· . • • • -· y(• e vJgltnnCl?., urnR
1
• • '
_ As p~c1tic~s policiélis brélsileíras refletem a ideología jurídica brasilcir·él As práticéls discricion~riRs policiais SRO estn:;uradas pela ética policí;:ll
~r-SJS~ema l_egal concebe él e~tn1tura social brasi!eira como hierú~uica, Esta é produzid2. e reproduzicl?, por meio ele processrstradícionalmente usados
c1 0 1 l'
a,,Jbumdo diferentes ~·Q.raus de cidadélnÍ"'n '-' c1.v 1·¡;z"";:;-o
nyn
~ • ·cere'"'·~s
p d
lile Cél!Tlél Cl.S Cléi
1 1
pnrrl a propt1gélc;~o cie informoc;i'i.n A tradic;ao ¡~;. c:ial representa a base clé1
!)op~!lac;:ao A Const it uic;:ao ~~rí1sil eira, ent ret nnto, concede di reí tos oolíticos identiclade rolicial Pnrtnnto, o poder de polícia, : t: sejc., o arbítno poiici;íl,
Igwns a toda ~opulac;:~o. Cnbe ~ polícia a dificil tnrefa de selecionar,c¡uais 2. estigmatizado pelo sistem2 judicial, constituí o r:~ :leo central da identidnde
5
pessoas ~L~e_s_ao ~unlific_acléls pétra goz8r dos direitos constitucionais·, como polici(ll A polícia. transfom1é\ o seu estigma ern su2. icL:!tidade, aceitando o p<:pe!
pessoas c¡vJ!IZ8C:é1s" e c1dad~os completos, e c¡uais as que nao 5 ¡:¡ _ e o rótulo que !he s~o impostas pelo sisremaJudici, . A policía, entao, projeté!
0
os mecnnismos dél estigmC\~ÍzRc;:~o, responsáveis pe.'· sua identidade perCln!e u
~:sn_ fun(:ao dn polície1 nE1o é nem oflcial nem explícita. É umR sistcmajudicinL em cirna de1 poptdnc;~o sob su a vigil~. ·;;ia Os inquéritos policinis
co_ns~q:Jencia p_er~·~ers~ el o exercício de funt;:6es judiciais sob 0 império dos aben os contra as class~s bú'Cas ilusrra esse process0 1i:ssas dasses, por su a vez,
P:Inclpios de VIgilancia. Portanto, a polícia é, oficialmente, a responsável Rceitam o estigmR C]Ll:'1ndo tentam diferenciélr-se e: •s marginaís por meio de
clire~?.. _pel~ corrup¡;ao na Rpliccu;8o dCl lei A semi-autonornia da políciR afim1ativéls do tipo "s':)u pobre mRs sou trabalhado~ 1
•
Tol como ocorre en> rela~ao aos bach;uéis, tern ·sido atribuída aos O regime militar brasileiro e sua política autorítáría, em vigor entre
sc!wo! hoys a culpa pelo tradicional desprezo britanico pela educa~ao
!964 e 1S85, tem sido acusado de produzir uma c,rganiza~ao de Estado &]Ue
1écnica, e o sistema tem sido acusado, as vezes, de contribuir para o declínio
revelou, paradoxalmente, tendencias particu~aristas e homogeneizantes.
comercia! e científico da Inglaterra. Entretanto, contrariamente ao C]Ue
Ele evitou demonstrac;:oes de descontentamento enguanto praticava siste-
ocorre nesse pélÍS, afamadas Faculd~des de Direito brasileiras sao gréltuitas, mática .__; iscri mi nac;:ao social a favor das elites_ El e encoraja va a
o que confirme: a Rpropriac;:a.o pelas elites dos fundos educ~cionais públicos:
homoge;-.~izaryao da populac;:ao e a o mesmo tempo impu~ha o ponto de vista
cc;mo é muito intensa a competic;:~o pnra rnatrículR nas féiculdades pt'1blicas
de uma ¡~~noria a toda uma populac;:ao (Santos, 1981). E bem plausível que
g:-cltuitas, somente aC]ueles que podem pagar por uma educac;:ao de alta
a incar.r;,:_:;:lade demonstrada pela ideologiajurídica iiberal brasileira de lidar
quaiidade no segundu grau tem condi~oes de entrélr para essas famosas mais adec;-Jad8mente como exercício do poder na sociedade brasileira tenha
f;;¡culd(!cies de Direito gratuitas (e, hoje en: día, também para outras contrib:._:;:_ o para a ocorrencia do regí me militar.
fa e u 1ciad es pL1 bl icas e u niver,-sid ad es).
E::::· foi, pelo menos, u m dos 8rgumentos citados pelos militares ao
A resposta d21 culturn JUrídica brnsileirR
estn crise de identidade foi
él
assumirc: o Govemo Civil, cujos titulares, na época, eram acusados pelos
é1SSClCÍélr OS valores liberais dos bachnréis el dogmática jurídica, L1!11 segmento·· conservadores da elite brasileira e pelos próprios militares de
''nom1ativismo" de inspirac;:ao kelseniana. Segundo esta doutrina jurídica tentarem :-lstituir no Brasil um regime político "socialista" e "antidemocrático".
fo:m;1l ~ as mais conheciclas obras de Kelsen intitulam:-se Natural Lm1}
Todavía,: ma discussao aprofundada desta hipótese exigiria u m debate á parte.
Doctrine ond Lego! Posi!il'ism ( !949) e Pun: Theo1y of Law ( 1967) -, a lei
11
é legítima porque é coerente comuma norma fundamental". Esta doutrinél
Pe; .anto, mesmo sob um regime militar, o Brasil afirm8va oficialmente
1 cm sido considerad21 responsável pela redeflni~ao da identidade dos
defender deais democráticos identificados com a· democracia política dos
proflssionnis da áreR jurídica.
Estados Unidos. A sociedad e brasíleira é uma sociedade do Novo Mundo_ Ex-
.Asnec:\os e''"r CJIS u a ideoioo:<-: ,~ :ricl1c2 [-lrasJielr2
c~.c::l'·o:; ~___. Jirl!i:~<1n\n n¡:r1¡wus consti[t!Cl1l e; g_¡-;;¡¡cJc 11lé\Íori<l ele su;: pcpuL1- Em consec¡(;c-:JlCÍcl dél~ ccl;é1ctuístic8s espeur1is ck scu s;stetll(l c!t- ¡·:·
/-, Ccm:;iJtLJ o \Jr;;:;iil~Í;ií
t cstnJturrld<l scglJJ~cin principios constitucio- r\ ic!eologi<i leg<\1 do" EstéHlo<: Un1dos foi cclp<:z :'e se é!délj)lZi~ "SL!t:css:' :>:
n;lis c!u'; L~t<HlC)'- liilíciCJ'. ;\:~ icicoiogJas politic:;\ cjtJr-iclJcct enClll<ldrcl;ll-se nos t r rl n s ro rm ?. ~: oes p o 1 i e; 1s e e e u r:(! m i ce: s e s ¡s k :n ; ¡ : , z il ; ; ; s v 1e i s s : lli ei e s u e t : r~ 1:t
\':;le-c_" iíhcJélÍs ¡·íél~!lclcln;¡]mente, o Biasil se cieílne como um;; Rept'1blícc1 e modeínc: sociccincie cé1pitr:iist< 1O sistema ele j '¡¡¡ tor:l<l cílcnz o sis~c:~-
•
seu élpelo popul~r (Frnnco, 1956: 16-23). Consec¡;> ntemente, em 1938, foi Entrevistando os juízes, descobri que a maior pan e deles possui u m
decret(lclél umél lei disponcio sobre o direito ao juig mento pelo júri e sobre arquivo de "seusjurados", onde sao feítas anota~oes de seus desempenhos
<: o ~-gél ni zR~~o d este; as pr2 ti e as processuais sob: o JL! ri sao estru tu radas
i- antes, durante e depois do julgamento e, as vezes, de su a condutCl social fora
n!nd?. hoje segundo essa lei. do tribunaL Os jurados retribuem es se tratamento "possessivo", referindo-
se a eles corno "meu"juiz_ Entrevistando os jurados, pude perceber também
que eles consideram a fun¡;ao de jurado como algo a que precisa m se adaptar
e r¡ue precisam aprender. M u itas vezes recomendaram fazer minhas pergun-
18
Segundo a dtstinytlo de De Toc:aueville entre os sistemas de júri 2' ericano e inglés. ou julgamento
tas a outros jurados que, por serem veteranos, conheciam melhor os
pelos pares Eles definem o sistema inglés como produto de uma "dPmocracia aristocrática", na qua!
cada um dos pares possui seu próprio status soctal, e o sistema c.~nericano como produto de uma segredos da funyao. Cheguei a conhecer u m jurado que tinha sido arroJado.
"democrac·¡a igualitária", na qual todos os individuos s~o iguais por definis;~o (De Tocqueville,
no mesmo tribunal durante 30 anos seguidos.
19~5:28)
Aspecto~ -~erais cía Ideología 'uridiCCJ 8rasíie1ra
i <
Cls JLI!élci():; icn; ele "p.::r:rlanecer ;~ clisposi\jo do tribum1l" cl\¡r;¡ntc o recusé\dos porque c¡uexem ícuer compras ou rorque tem <-dgum out::
nr<lZC) de LIJJJmc~s c·?.cb vez c¡ue eles se1vem. Pe!?.s célrélcteiísticé\S cio sistemi1 compromrsso? Sé!\ isfé'.ZC! Se o juroclo C]LlC peclit: a exclus~o ror L!lll d()c; se: e
hrc:sik1ro ele jLill os _:ulg;::¡~lentos podem clllrar ck ;.llgumas horas él urna soit~:<Hlcs par;1 aqtJelcjl:lgélillUitO, o acivogc1clo ou o promotor pock cxe[c~:
sen¡;¡:·¡;¡ E::1 virtu~ie el este rc;·íocio obrigatório de disponibiliciade,?. escolhíi seu clireito ele "recusé: peremptéma" (exclus~c clo _jurado sem qualC]t:c.:
j u s t i f1 e c-ll i va ex p l í e i t i1) A el v o gil ci o s e pro m o t ores s 21 o , por é rn, e<H! ! e 1 o se :;
dos il:rílcios rec:: cic rneícr~:ncin sobre os servidores clo Estado, ji1 c¡uc
:;om::!·dc os cofre:; pí1blícos pociem Mea; como pogamento cie empregados
C]Llc-mto é\ este p~occclímento Segundo eies, é necessúio explicar ;:¡os ou\:(:s
Cjllé:' pcr il1i1ilCCCJl~ ~Jll1 mes imciro sern íré1bolh?.r Conseqüentemente, mesmo
¡uracios que SUí-1 i CCl!Sél cJevcu-se C1 lllll pedido do préJ¡¡rio _jtllélclO ¡-
n;¡s g; :1nclcs cidacies, onrle o juiz n~o pode conhecer pessoe1lmente as 500 cr
neceSSÚl?. es se: precn u¡;:2o ¡¡a r?. C] u e ni'io ad nrn m a m~ repu t nc;,~o e\~:
pessoéls, ilproximélcinmente_ c¡ue precisa arrolén. ele estabelece com os "rejeit?.dor " de JUroclos A r ccusa pode ser Í'1terprete1da como falt<-1 ~ie
_jurncJoc; ur~1 relncionénnento de "apacirinhamento"- Funcionúíos pt'lblícos e o n fin n y a n e1 él tu a y~ o do sj u r 2 ci os_ U rn R a ti tu el e na o si m p ?.t i e a ci o (\ d v o g ;d ~'
"peric:11" a o jLllz e¡ u e os arroiem, pois assim gozara o u m més de "férias"_ A o ou do rromotor pode exer-cer innuencÍél sobre o veredicto fméll dos_jur<·dc::o,
cor:t:-itrio ele seu t:ab;1lho noi-lilal nas ¡epani¡;:oes, osjulgamentos nojt:1ri nao scjclllO caso cm qL.!cst~o, seja c;11 outro caso no illesmo tribuna: As recusa~
oconem todos o.s dir.s Alén: disso, todos os meses o tribunal seleciona 21 de jurados só erarn consideréldas legítimas em Cé1sos de homicídio passionaL
jur(lclos, mas (]penas sete par,icipam do júri em cada julgamento_ Os out ros onde a identifica<;:8.o do juréldo com a vítimc-, ou com o criminoso era
14 sao mandados de volt2 p;:ra casa Clté o próximo julgamento considerada pelos JUrodos e Clcivogéldos como lrm motivo razoilvel pnra e:
exercício do direito dil ''recusél peremptória';
' i
E muito gí nndc no Rio de Jnneiro o número de pessoas a serem
- -
¡ulgadas por um dos Tribunais de Júri e c¡ue nao podem arcar com o O julgRmento pelo jC¡¡-i no Br·asil dife¡;e do anglo-americ8no nt:
pagamento de um CJdvogado Cada tribunal tem apenas uml!nico defensor maneira pela C]URl se chegél élO veredicto. No B·:asil os jurados n8o pocle:r:
pt'1blico, sendo impossível, evidentemente, c¡ue ele sozinho possa atuar em comunicar-se entre si Imediatamente élpÓs o término do julgamento, Céi.da
iodos os jlllgnmentos de qucm nao possui advogado Nesses casos o juiz um responde, de .é\cordo com "sua própria conscienci8", aos C]Uesitos
convida un1 advogado pe~nicula; para defender o réu Qratuitamente. Os redigidos pelo jui?. O resulté1do corresponde c1 r1aiqria dos votos (sim/r¡8c)
nclvogndos c:1ceil?.m por dOls motivos principais: ser am8vel com o JUiz e R eRaR um2. d?.s p~rguntos N~o ha c¡ualc¡uer debote entre os jurados Es: e
ganhar experiéncia Os julgamentos pelo júri representam uma fun<;:fío processo e o produto dr. ?.p!icayi'ío RO ¡urr d~1 teoriR dél psicolog!c-1 ci<:s
especinliZílclíl c¡ue nem todo'' os advogados exercem, e os entenJídos no multidoes.
nssunto (IV(l]iam Cjtle cnda advogado cieve Cltuar em pelo menos 500
julgomeiltos nnte::: de poder consicieréir-se perito na especíaiidRde De Clcorcio cm1 aiguns teóricos cio Direit,:J, italiélnos e franceses (ve;-,
por exemplo, Lé I~on, 1952 \66-174: Sighek, 1954: em diversas p2ssa-
Consec¡üentemente, urné'i extensa "molha'' se estabelece entre jurados, gens), o JÚri é uma multid8o na c¡ual poderié\ haver umél "influéncia" ot:
juízes, escri\'aes, promotores e advogados, o e¡ u e envolve uma barganhR de "sugesti'io" de um jursdo pora out ro TRis leórír:os críticam severélmentc o
favores, presentes e outras vantagens. Um advogado contou-me, por si st ern?. de júrí, cuj o resL1l t ~el o do j u lg8 mento e ¡;or el es con si d erél el o, pc•:-
ex:emplo, nue cena vez um seu diente deixou de comparecer ao tribunal no cieflniy8o, inferior, ji! C]Ue o veredicto é fruto, n~.J de umíi mente esclarecida
di a ern que seria julgado; o juiz poderia te-lo mandado prender, mas nao o e treÍnClcia, méls d8 "médiél" das mentes dos jur8::los, sempre inferior é1 mais
fez em fl.mt;:8o ci?. amizade que tinha ao advogado_ Adiou o julgamento, esclorecida deléls.
confitmdo em c¡ue o advogado trariéi o réu na próxima sessao
A culturrtjurídica brasileira, estando ciente de tais "riscos" assumicJe;:_;
O processo de sele<;:ac dos jurados é tambérn influenciado por essa pel8 adot;:ao do sistemR dejúri, proibiu os jurados de se comunicarem entrt:
"m;:!lha"- Jurados me confessararn que muitas vezes eles pedem para ser
":SI. - Aspectos Gerais Ja Ideología .Jurídica Brasiieira
Aspectos Gerais da \deolog1a Jurídica Brasileira ...
si, objctivnndo com isso r:vitar ínnuencin) que pudessem levnr a veredictos
En: c.. ¡sos de réu pobre, c¡ue n~o pode pagar um advogado, esses
.ciesví~-tuados. O isolarnento dos jurados pretende, portémto, preservnr a
RCordos sao bastante frec¡üentes Os advog:lclos que esüio "prestando lllll .
Jsenc;:no de LliTJ e gcnémtir c¡ue o julgamento se b2seie, de fato. nn
Cé1clé1
ccmscic~nciR individuc1l (!'loronha, !96L1; 265) 2'1 •
favor" ao jLLZ n8o dispoem de tempo suficiente para estudar os autos, e um
C\cordo é provavelmente melhor do C]tle uma confrontac;ao coma acusac;ao
Segundo a concepyfio legal el1tista, o rromotor e o advou.ndo de No C]llnlidade de urna "cscola ptlblica" de c1dadania, o sistema
cieJcsa fazer~1 OC~SÍOnalmcn(e élCOrdo, CO!ll él 3firGYélt;:ao extra-oiJcialdo juiz, brasileiro eJe júri evidentemente nao ensina a estrita obediencia a leí,
:Jo sen:1do o e evJtélr que os jurados cheguem él um veredicto. Esse ajuste ni=io esncciéllmP.·;te a lei processual. Pelo contrúrio, ele demonstra claramente
conta as veze.s nem mesmo como consentimento do réu, c¡ue é considerndo co,mo os p;~)cedimentos legais poclem ser distorcidos, coma concordánciR
de lodo ignc:rélnte nos étSSuntos em jogo e, por isso, incapnz de tomar unanime de todos os profíssionélÍS envolvidos. TodRvia, representando o
c¡uolc¡ucr dec1sao em beneficio de seus próprios interesses.
modelo legal, of1cial, para uma instituic,:8o popuiar e democrática, ele ilustra
os princípius elitistas implícitos no modelo legal da democracia brasileira.
Depois de chegarem él u m élcordo sobre o resulta do de u m det enni-
nac.lo caso, o promotor e él defesa apresentam os mesmos argumentos legais As Pr::íticas Judiciais como Fator de Distor<;ao da
c. os mesm~s fa~ os e, por fím, formulélrn ao jL1ri as mesmas reivindicély6es.
Ja que a le1 estipula como obrigatóriR a existencia de defesa e acusayao
e:
I d e o I o g i a I g u a l i t á r i a o n s ti tu e i o n a l
e0c~zes, o juiz pode anuL',r o julgamento e marcar nov:; data para out ro. Se O ex~mplo do júri nao passa de uma das muitRs maneiras pelas quais
~ JUIZ_ nao anulen-, estar?. se acumpliciando e, no mínimo, agindo éW arrepio os dispositivos constitucionais universalistas e igualitários, bem como os
~él .)e¡. Ness~.s casos o~·_jurados simp!esmente ouvem os argumentos princípios políticos, sao dístorcidos pela ideología e pelas práticas_legais e
. coincidentes da élcusa\:ao e da defesa. Ao término do julgélmento, os judiciais. A transformac;ao de igualdade, constitucional em desigualdadc
.Jllrndos nao podem sena o ratificar o acordo prévio, já q~1e os quesitos dizem judicial no Brasil é conseqüencia das tradic;oes e das práticas do Judiciário
rc.speJto aos mesmos fatos. Entretanto, se os jurados resolverem discordar e da po!íci~, elementos essenciais ao sistema penal. As ··malhas" judiciárias
cio é1cord~, eles c.cabam d~cidindo "contrR a prova dos Rulos" e podem ver estratégic;,.; e a ética policial sao RS respons3veis pela aplica<;ao desigual da
seu vered;cto anulado pelo Tribunal deJustip1. Neste caso. o réu terin de se leí. Essa ~: ~licayao - nao-discricionária, portanto meramente formal - vai
s~~me!~r a outr_o julgnrnento. Quando perguntei él um Jdvogado por e¡ u e ele revelar os :-lecanismos "reais", oficiélis (prisao especial e práticas processu-
:lí-lO ped;a perm1ssao ao scu cliente parR firmar acordos como esses eie me
ais especir¡: s) e extra-oficiais (ética policial e as "mal has" judiciárias), da
respondeu: · '
distorc;ac: , a aplicac;ao igualitáriél da lei.
E11 n/io con/o a ele que hou1•e um acon.lo. Ele nc7o
enlenc/eria de jeilo nenhum. E1r sci que eslou.fnzendo o me!hor Cor:~rastando como sísteméllegal anglo-americano, ondeos veredic-
poro e/r;. tos sao lei, 1 elaborat;:ao das leis, no Brasil, é func;ao exclusiva do legislativo.
As relac;oc., entre as "intenc;oes•' da legislatura e os "resultados" da aplícat;:ao
. P~rgunt_ei tambérn é1 um réu, num OLitro caso, o c¡ue ele preferia num da lei s?:0 '.eoricamente predeterminadas. Teoricamente o Judiciário é urn
caso asstm. D1sse ele:
poder indc)endente, ao qual cabe aplicar a lei. Ao J\1inistério Público, ramo
O adl'CJgodo so he me!hor do que e u r¡uo! é a me!hor coiso do Poder _¿xecutivo, cabe fiscalizar a aplicayao da lei_ A polícia, também
o fazer. Eu ne./o L'lllendendo "nado do que es! á ncoll/ecendo ''. parte do ;~xecutivo, é apenas um ramo auxiliar do sistema judicial na
aplicac;:ao da lei. Teoricamente, nenhuma dessas instituic;oes dispoe de
29 poderes di.:)cricionários na aplicac;:Ro dn leí guando os interesses públicos
Já discutí mais extensivamente-estas concep¡;:oes em outro trabalho (Kant de Lima, 1983).
(interesses indisponíveis) estao em jogo nas ac;oes penais compulsórias.
JI ·.r·¡;
),:
1 ";..1
r' ¡ ,.,_,,,'
·:- C!..
., . .. c,;J:ltc;
.• . o'.,~- Ir:t.Cdi1Zé1Cé10
S , ,. - ,
e) e: t el')(' 1ee¡ el o :: [][ ; '~ e: 7: 1 -¡; ,".;
r) t;¡<;(Crll''
, ., . • J ¡ '' · • . 1,
• '' r"''"'J<'fn
I. . ' . '. . ' "'"' ti \.r Cn, t d J D1 eo e
' ' \ lvl?., ¡(;, () !\' lfl!S!Cr!O PulJ]¡cr• ~·" n''.-·,, r; Ft(~
J ; ' " 1
.' . . . . '- .!\COSTA, V-/alter P. {;J'rocesso Peno/. 10 cd.
tci-:-,C ilt:!ll lliW ·; CO"' ¡n'· < • Jvclp'-,JI •.Jcl, .und?amen-
. ,;__ , .d,l Ctf valores A vers1rJ h· ,·· . - . .
'~
. ---·
e•¡ m;¡) clCl sistcrllí1 ele, ... : ; , . 1aSJJeiré1 oa o;g?aniZé-!<;:2c de Janeiro, Eóitora do Autor, 1974.
ji' e t:m oom excmDlo el· · · . . _
I.!~:IJiOCTéltJCZ-1
, . . . • · · .1\J::
¡1cnulM,.~ ¡().t·-:'¡i¡. ,.·, . .r ·
::. 1 '· • (\. l c1 1l c1 Il S ¡ O Pll 0 Ll _ S e
e j·como
j,
uma
-
.mst:tlll<;:ao
.. A C l ;1 AP., Robcrt o A. R. Direiío, Poder e O¡JT·cs.\ií1J
Jr1Sli[lllC~O ~llJ((l'TÍ'¡.c"
.
\
', ., .: . . ... · . pe él CU tUf2jUrJ;!lC?. num?,
¡¡' ' ~- c.\ n, J,ler arcp.liCél e elitista. Sño Paulo, Alfa-Omega, 1980.
¡:.:
o· lLA-,:;:.'"·
S l "· . i \ 'CJ, · · E . eoJ
~x~cutrvo
ARA t'JJ O, Rosa M a ¡·ia Bar boza de. Cartr5río no C'r'il {.
"indercnden~'· ''S" . ~llc ~Lrrario SélO norrncdmeme poderes
¡-,..· · · .-
p (':
COSTA, l\1ilton Lopes da. A Polícia no Estado doRio r!e Jnneiro (¡){)íi:·i¡,-
mento civil: velarlo e ostensivo). Río de '.Janeiro, Edi~áo do Autor, 19~;·;
D..-\. MATTA, Roberto. Vo._·é .)'abe com qucm Estcí Fa/ando? In Roberto
JESUS, Damásio E. de. Código de Processo Pe! al Anotado. Sao Paulo,
Da l\1atta, Carnavllis, J\!1alandros e Hercíis. Para urna Sociologin do
Saraiva, 2nd. ed. 1982.
Dilema I3rasileiro. Hio de Janeiro, Zahar, J 979. Jl. 1 ~9-193.
·As l?afzes {!a Violéncirr no lJra:.;i/: Re[le..rr'Jcs de u m Antro-
KANT DE LIMA, Roberto. Por Uma Antropofagia do Direíto, no Brasil.
pólogo ,\'ocia/. In 1\:larin Célía Paolí et aiii. !\. Vi~Jlé.ncia Brasileira. Sño
In Joaquím Falcf10 (org.), Pesquisn Científica e Direito, Recife,
Paulu, Brasiliense, 1982. p. 1 J-44.
Massnngana, Instituto Joaquim N<lbuco e CNPq, 1983. p. 89-116.
FLOR Y, Thomas . .!udge and Jury in Imperial !3razil, 1808-1871. Social LE BON, Gustave. TITe Crmvd. A Study of the Popular Mind. London:
Control and Política! Stal,ility in the New State. Austin and London, Ernest Benn Lirnited, 20eth. rrinting. 1952.
University of Texas Press. 198 I.
LIRA FILHO, Roberto. A Classíflca~·üo das l::_.·arnw~·oes Penais pela
FOUCAUL T, Michel. DisCij,finc and Punish. The llirth of Prison. Autoridadc Policial. In Estudos de Dir·eit0 e _:'rocesso Peual em Home-
N.Y.:Pan!heon Books, !977. nagem a Nelson Hungría, Río de Janeir·o/S2a Paulo: Forense, 1962.
_ _ _ _ _ _ . Thc l!istory (if ScJ,:uality. Volume I: An Introduction. p. 277-301.
London: Allen Lane, 1979.
---'------ . Afterli'Ord. In H. Dreyfus and P. Rabinow, Michel
l\1ACHADO, Mario Brockmamm. Comentúrin:. In Bolívar Lamounier
Foucault: lleyond Structu:·alísm and Hermeneutics. Chicago, The
et alii. Direito, Cidndania e Participa~flo, op. -:it., 1981. p. 21-29.
Univer·sity of Chicago Press, 2nd. ed., 1983. p. 208-252.
FRAGO;SO, Heleno Cláudío. ·.Primeiras Linhas sobre o Direito e o ?roces- MAGALH ..:\.ES, Humberto Piragibe e MALTA, Christóvao Piragibe
so Penal. Rio de Janeiro, ·caderno do Instituto de Ciencias Penais da Tostes. Dicionário Jurídico. Río de Janein.: Edi~oes Trabalhistas,
Faculdade de Direito Cándido Mendes, n/date. 4th ed. n/date.
FRANCO, Ary Azevedo. O Júri e a Constituir;r7o Federal de 19.:/6. Co- MARQUES, José Frederico. O Júri e su a Now1 R.cgulamenta~fío Legal.
0
rnentários il Leí Il 263, de 23 de fevereiro de I 948, Rio de Janeiro: Sao Paulo: Saraiva, 1948. A lnstitui~ao do Júri. S:-io Paulo, Saraiva,
For·ense, 2nd. ed. 1956. vol. I, 1963.
1()() fli1J!Iograí.2
- - - - - -·---------- - - - - · - - - - - - - - - - - - - - -
El i tJI1 o g; a fi<•
t\1A\ :"iAHD, Eric~on L. (:.::•up Jíolmions, Socícconomic ..)'ro:us a!l(/ PAfXi\0. António Llliz. /! Oroonizo~·ao Po!ici~rl numa Area 1\Ict., ., ¡,/iru-
(/l/icio í J)chn r¡ 11 ene¡·_ So rial Fo;-ces, n. 52, 19 73. Sep1: 41-52. nrr.
"'
fhc!os, He\'isf;¡ dt Ciencias Sociais, Ri:J ele Janciro, vol. 25, n. l:
'
6]-~\5.1982 b.
i"\'1 C L LO, ~-·Ll ri<l Chavcs de. l_mt' Dictjonnry. Port11 gu csc-English, . Crimcs e Criminosos em !Jclo ,:1ori¿ontc, 1932-19 78.
Lnghs!t-Portu_!'lfcsc. Hío de Janeiro, Barrister's Ed.1984. T r <1 b al h o <l p res en t a d o <HJ V l En eo n t ro cb As s o ei a yfl o )\ a ei on a 1 de P (J <-
Grl-ldua~·~o e Pesquisa cm Ciencias Sociais, ANPOCS. 19R2a.
i\IEHnYi\·1;\lvT, John H. Th{; Ch·i! rm,·
Trrulirion. ETL. An Introcluctíon
to lhc Lqud Svstems of \:Vestern Europe and L~tin ..i.merica. St~nford,
P I N H E I R O , r a u l o S éT g i o . 1 /¡o 1é n e i a e Cu ! r11 ro. I n B o li va r La nHJun í (T e t
C;lliforni;1: St:mforcllJniversity Press. 1969.
alii. Direito, Cicladania e P<lrticipa~áo, op.,·it. 1982. p. 31-GO. Pol/ci(Í e
Crisc Po!!ticn: O Caso das Pohcias A1ilitor('S. In Maria Céli;-t P~oli ci
¡\100HE, Sally F;dk. LoH' m1t! Sociul Changc: thc semi-autonomus socinl
alii. A Violéncia Brl1sileira, op. cit. 198 J. p. 57-92.
fleíd lt'. nn tljJpropriíuc _,¡;}¡jec: r~i stutzr. In Sally Faik .Moore, Law as
Pr(Jce.s.s. Lonclon: Rotl(!:.·rlge & l·~eg~m Paul L1u. 1978. p. 54-81.
RAE, Douglas and í-d. Er¡uo;;rics. Cmnbridge, hlA.: Harvard University
i\'1 OS CATE L L T, L uigí. Pnli!t-fa dn Reprcssilo. Río de J aneiro, A e hí~mé/
Press. 198!.
~~o ei i. 19 R1.
OL 1\'EN, Ruben Geot-gc. A Violéncia como lvfecanismo de Domin{1(;iio e THOJVTPSO N, Augusto. Que m sao os Crimino.t:os? Río J aneiro: Achíarn~,
:02 - Bibl1ografia
Bibliograf1a "¡oJ ,..
TUCCI, Rogério Lauría. Rc!eJ·{Fncio Proccssua! da Rc.formn Pena!. Revis- 2.2. Documentos
t a ci os Tribu n a i s, a n o 7 2, S e r t. , vol. 57 5, 19 83 : 3 19-3 28 .
1974 - Relatório Anual de 1973, CotTegedoria- Ceral do Ministério
VELHO, Gilberto. Violéncin e Cícludnnía. Dados, Revista de Ciencins Público, S ño P ~lUlo, J ustit ia, vol. 85.
Sociais, Rio de J:meíro, vol. 23, n. 3, 1980 : 361-364.
1975 - Relatório Anual de 1974, Corregedoria- Cera! do Ministé1·io
\VJLLIAMS, ,by Re GOLD, Mnrtin. From ddim¡uent hchm•ior ro Público, Sao Paulo, Justitia, vol. 91.
r~[ficial dclinqucnc¡·. Social Problems, 11. 20, Fnll, 1972: 209-229.
1 t)CJ2 a
Trorli\'(fO !nr¡uisiroriu! JUJ !Jrosil, do Colónia Re¡Jlíhlica: Da
J)('l'asso rro /!l(¡uáiro Policinl. Religi:lo e SociecL1de, ISER, Río de
J ;¡ n e ir· o, 1() 1 1- 2: 9 4- 1 iJ.