Você está na página 1de 90

Itoherío l(ant de Lin1a

A POLICIA
D~A CIDADE DO~ RIO DE
e.TANEIRfC)
SEUS DILEMAS E PAJtADOXOS
0308
Traduvao de Otto -"'1iller

2.1:! edi9ao revista

FORENSE
Rio de .Taneiro
1995
Copyright flJ994,.Roberfo Kant de Lima
Tnrdu~·({O de Otro !Hiller

Título origimll:
Legal (j¡ emy a 11 dju dicial prac rice:
pnrndoxcs of police work in Rio de .laneiro city
1" edi~·üo- 1994- Policía !Hilitar do Estado doRio de .laneiro

. Copidesque
Rita Godoy

R ePisiío
D:uniflo Nascimento
e
Ri~a Godoy

Dedicatória

CP-Brasil. Catalogar;:ao-na-fonte
Sindicatu Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Pm-a, prinCJjJa!menfe, Tia Orto e Tia J-ié!Pia,· e il.lnbém parameus
~--------- -----------~------------, fllhos, l?crjae! e Felipe e minJw innc7, Andréa,· Sheyla May.·
l-

Limtl, Roberto K2:1l de.


L 71 p A polícia da ::idade do Río ele Janciro : seus dilemas e paradoxos 1
2. ed. Roberto Kant de Lima; tradur;ao de Ülto Miller.- 2. ed rev.- Río deJa-
Também para Frcdrico A breu e J?obeJ·to Da.Jvf.. rra,·
neiro : Forense, !995.
E para a {(Escola A nfropolúgica de Nifcrói ". em Niterói; e a
164p.
{(Bacardi Schoo! oj A nfropo!ogy ", o¡·iginarian: ?lite de Han·m·d
Tradur;:ao de: Legal theory and judicial practice : paradoxes of police
work in Rio de Janeiro city
Incluí bibliogí·afia.
ISBN 85-309:0385-4

l. Poder de p8lícia- Río de Janeiro (RJ) 2. Políc1a judiciária- Rio


de Janeiro (RJ). 3. Rio de Janeiro (RJ)- Polícia. L Títuio.

95-0691 CDD- 352.20981 53l


CDU- 35274(815.3 1l
- - - - - - - - - - - - - - - - - _---------:·.;;;;;;.
;;;;.;;;:;;;;;;;;;;;:.:;;;;;;;:;;;;;;;~~;:;;.;;:;

Apresenta~fio

Prefúcio

Capítulo T- lntrodu\fiO

- O Par<1doxo Legal Brasileiro 11


- Organizac;ao Judicial Drasileira: Direitos Constitucionais Igunlitimos
Elitisrno Judicial e Práticas Policiais 13
- Irnportáncia das Malhas Legais e Judiciais para o Trabalho de
Campo sobre a Polícia 11 O
- O Universo e a Amostra da Pesquisa /14

Capítulo II- Práticas Processuais Rrasi~eira.s e Polícia


- Princípios Gen1is, Orgrmizac;ao Formal /~:3
- As At ribuic;oes Judic1árias da Polícia Brasileira: Breve Histórico e
Aspectos Gerais /30
- O Inquérito Policial/32

Capítulo Ill- A Polícia doRio de Janeií·o, Obedecendo a Leí: A


Exce~ao que Confirma a Re~:·:ra

- Um Auto de Flagronte /37

Capítulo IV- A Negoci:u;áo da Leí: As :3ases Sociais das Pnitic:l\


e Rcprrsent~tc;óes da Polícia da Cid a de doRio de J aneiro
- O que é urna Ocorú~ncia Policial? /47
-A Polícia da Cidade do R.jo de Janeiro e sua Populac;ao Contra a Lei·
O Caso do Jogo do Bicho /49
- Os Usos da Lei· O Caso da Vadiagem /5'1
- Trabalhador.-::s e ~1arginais: a Identificayfo Histórica do Traballw
com a O:dem Pública /56
~rr1c;Cícs
de Vigiláncia e Procedimentos de ''Reconhccimento'' - C o ne e ito d e P o d e r c1 e P o 1í e ia : O P o d e r D i3 cr ieí o nin i u né1 s At ív ícicl d es
r\ /\uto-Reproduc;~o c~a Ideologia Policial /59 Administrativas e Judiciáriéts /11 CJ
- Usos e Signif1cacios déts Práticas Arbitrais e Punitivas da Policía da
C;1pítulo V- Os Limites d.;t Autonomía Policial: Restri~oes Cidacie doRio de Joneiro 1126
Inter-nas e Externas::~ Atua~fto dn Polícia da Cidade do Hio - Produc;~o e Reproduyiio da Ética Policirli: A Tradiy~O Policial /13~
de Janciro

.1\ Éi ica Policial /65


en p í ( ul o X 1 - A S pe e t oS G e nt i S da
Id e o 1o g ¡a J ll d d i e a B nt Si 1e i nt : A
Yersflo flrasileira dn Tradi\'flo Liberal Anglo-Amrrícan:1
- /\s "Me1lhas" 17 l
- /\ Fiscaliz(lc;:ao Externa /72
-Sistema de Júri e Ideología Legal/!48
Capítulo VI- Técnica de Yigilfincia e Procrdimentos da -As Prittícas Judiciaís como Fator de Dístcnc;:~o da Ideología
Jnvestiga~ao: O Pan~doxo da Polícia Igualitc\riR Constitucional 1155
- Investigando Criminosos e. Vítimas: Definindo e Reconhecendo o llibliografia
''Anormal" /77
- Id ent ifi cando e Punindo: Tortura como Técnica de I nvest igayRO /82 l. Livros e Anigos 1 l ~7
2. Leis, Códigos e Documentos 1162
Capítulo VII- A J\1anipubt~flo dn Lei: A Arma~ño do Processo 3. Out ros Trabalhos do Autor nRo Citados na Bibliografía do Livro 1164
~

- A Contrariedade nos Inqu9ritos da Polícia da Cidade doRio de


Janeiro/89 ·
- Atividndes de Mediac;ao n<1 Policía da Cidade doRio de Janeiro:
Advogados como Mediadores /94

Capítulo VITI- A Polícia doRio de Janeiro Acima da Lci I: As


Práticas de Arhitrag~m da Polícia
- A Polícia Brasileira Atuando como Árbitro: Fundamentos Legais e
Tradicionais /99
- A t ividades Arbitrais da Po~ícia da Cidade do Rio de J aneiro 1lO 1

C~1pítulo IX- A Polícia do Río de Janeiro Acima da Lci II: As


Pn1 ticas Punitivas d~¡ Po licia
- Exposic;ao Pública a o Ridículo: Arquivos e Identifica¡;:ao Policiais 11 13
- Encarceramento como Pw!1ic;:ao /} 16
-Torturo como Punic;ao lll 7
- A Pena de Morte e a Polícia /118

C~tpítulo X- O Conceito Legal de Poder de Polícia e as Práticas


Reais da Polícia no Brasil
PRF F/\ (, ~.

E 0 posit:\'1SI1W ¡espiandcccLJ
EmaizcHio no rélcinnalismo, fortificac!c) pelo empirismo, privi!tt_J,Í;¡¡~;i(­
o él.bsolutisrnn dél es¡;ecinlizcu;:?:n, sobretudc: cevéldo dos esplendido:: s',Ic·
sos pré1gm~ticos que propiciou ~eré! mode:na, ganhou prestígio stdlci("!l'~
parél se tor!lé1l rl t'micC1 C'S)lécie ele cnnhecÍmc~n!o c]assificávc] COlllCJ cienri-
firo A pós o t n u nfo él v él ssa lado r no campo d ·:¡s ci encins n él tu rais, nv<liJ ~~e 1' ¡
da~ ciencias humélnns, engolfando-o irresistivelmentc. Tomando por scgl::
a capacidad e Jwrnélna ele desvendar o ser da:: coisas, arrogou-se él rrerrog;~­
í-
t ivé1 de est Rtu ir certezas de fin it iv~s Por a t Rnt o, basta va seguí r arisc;-1 e tri;: s
regras· restringir o estucic: de cada qua! a áreas estreítamente !irni\<-HL:~ _
anTlélzenar am:·ln quantidade de dados, co];Jidos com inteÍrél neut:·cJiicl<id~
racioci llé1r exclusiv<nnen te de acordo como f: gurino cart esic:mo; submet er ;::;
conclusoes obtidéls a contraprova da experimentéH(RO. Jn)a]ivelmentc che
gar-se-Íé1?! veniíldecient_ífica, tomada como identica 8 venlade ontoló¡r,ic::
PenencÍCi o saber Ros cientistas, cabendo 80S leigos (e o cientista em Illél~c~rir,
estranha 8 suR especié!lizcH;ao leigo eré1), acaso consultados sobre Clt:;tlqli~:
problema, responder: 1gnoro, busc¡uem o especic:¡Jistél Na /vfermnmfose li(
KafkR, o protélgonist(l, ao clescobrir que se :ransformara nttm inseio e C]\:'
]he eré1 ÍmpOSSÍVel élbrir- a pürtR do COl1lOdO em que eS(éW(l erJCe! ¡;¡d,·,
imediatamente decide: preciso chamar um rnédico e um serrolheir·n
A his! óriél dR hllmc:midade é vir-él-ser Acnbou declinando o posÍlÍ\•ÍsJlH'
ganh<mdo a nlcunhR de cientificismo Em movirnento custoso, !enio_ ;,
princípio, depois deslélnchou com gosto. f)e logo repudiado, CJLlclse ;:
unanimidad e, néls ciencic:¡s sociais, adiante pa~~sou o ser post o de CJtuuenll~: ,;¡
até mesmo nas ciencias n8turais: "Ao transr.:ender a dívisao célrte.siclfl<l, ,t
fisica moderna nao só invalidou o iden! cláss;co de umR descri~8o obielivzt
da natureza, mas tRmbém desaf:ou o mito déi ciencia ísenta de vnlores 0:;
modelos c¡ue os cientistas observam na nRturcza estao intÍménnente relétcÍcí
nados com os modelos cie sua mente- com S!~Lls conceitos, pensamen\c~s e
valores. As si lll, os resul t (1 dos científicos CJll ·:: eles obt e m e as R pl ÍCé1 ~:(lc_c;
Contristador é que com bRse em opinioes fiU:as do senso comur:1
:(~c:nulógicas que irwestigmn s¡~r?.o condicionodos por suo estrutur2mcnt2l" 1
adotRm-se as medidos mais importantes, mais graves, mais dramáticas, para
(FritjCJfCe1pra, O pon/o de Jll!'íay·ño). Ademais c.la invinbilidade de se poder 'l
a vida da colet ividade
;·cmtar corn um pesquisndor is·.:nto e desinteresse1cJo, como registro a citnc;~o
;1c:irn<1. ou:ros clcfeitos ncrcsc:ram a este, dentre os qt1ais gnnhRré11T1 relevo: Assim ocorrc com o problemR criminal.
;: ro:tc dosc de esclerose, g·~rado pelo excesso ele especinlizcw~o, o dor Posta a C1Uest2lo: "Como resolvé-lo ?", colhe-se a mesma fórmula (a
c;1:;1po r1 ccrtn tirnnizoc;:i'ío, n<1 rnec.lic.in em que o saber se tron~Jigurn cm poder
intensé1 submissao do tema nO circuito midia-povo levou ao consenso), com
(cf Foucnult). variRc;:ocs de énfase sobre este ou í:lC]Ue]e ponto· ed;tRr leis me1is duras e
igucditárias; for~Rr os juízes a se engc1jar n21 !uta cont1 r1 o crime, ele parcerio
Como costumn ocorrer, entretanto, e1 renc;3o crítica desbordou.
com o Ministério PL1blico, largando de m?.o tecnicai!dades e formalidades
L\':-r:mo-nos das intocáveis !~e:iezas científice1s .. pnra desabar no reinndo
legalísticas, ou simplesmente pe1ssnndo sobre R lei, sempre que por tal vía
u as o p: :1 i 6 es .
Rtendam no "clamor popular" (afinal, vivemos numc-, democracia)~ renovar
Os meios de comuniccic;ao- na frente R televisao, como mRtraquear o sistema prísional, dotando-o de estabelecimento:: que far;am sofrer (de
e1goniC1damente apressado de todos dissertando sobre tudo - propngam maneira R punir e intimidar), impe~am fugas, mante::ham rígida disciplina,
idéias ele sumidades, que dit~m fala~ao sobre assuntos conhecidos de obas tanto quanto ressociRlizem, regeneren1, curem, reeduquem; reorganizar a
e ol?.s, pela rama, quando niuito A expressao campe~ de audiénciR é eu policía, no sentido de se tornRr honesta, eficiente, eCluilibrada, isenta de
<1cho, eu acho, eu acho. A;; pessoas do povo, por seu turno, assumem preconceitos, doce comas pessoas de bern, terrível pnra com os "verdndei-
rosturas, formam convic~6(~s, decidem o que é cerio e errRdo, em funr;ao ros criminosos".
ele elaboro~ao. realizada s~bre os dados capengRs recebidos. A mídia, Nunca, nem aClui, nem em lugar n~nhum, tais alvos ficara1•1 sequer
rccoihendo a rea~ao da maioria da popula~ao, acélta-a democraticamente, próximos de ser e1tingidos. Em Rlglms pnrses, R situayao real mora longe da
;llterando-a é1penas para lhe :wlicar u mas lambiscados de en.1di~ao Acabam
i' ideal; em outros, longíssimo. E assim pennanecer8, enquanto nao se der
prevc.lecendo pontos de vis.ta arrimados em opiniües nascidas do senso ouvidos a cenos chaíos que, em vez de baterem pé1imas pélra a commrn1is
comum. Ao out puf deste p•ocesso marcado pela circulé1íidade, reduz-se e1 opinio, resolvem dissentir, mudando a perspectiva p<!él qual Rquela enfoca o
cíéncia e é1 verdode de hoje ern dia. problema. Propondo, por exemplo, questioname1: os como· a leí pode,
mesmo, ser dura com todo mundo, trntanr;~, as camodas sociais
As opinioes, como di:.:: José Saramago, sao "a expressao aparente- isonomicamente'7 Dispoen1 os juizes cir. cnpacida~: para distinguir, com
mente racionalizr~da do gosto". Ora, de gustihus non es! di.~pufondum.
absoh1tc1 imparcialidade, os cé1sos em que devem ra-\L>tr a lei, de sortea lograr
umajusti~a "boa"7 Sao compossíveis as várias me!é·s propostas Ro sistema
De su a vez, o senso C~)mum jamais empurrou o pro gres so científico,
prisíona!'l Por mais ClUe se submeta a polícia a refo1 :: as, mostra-se factível o
senao (jUe só serviu para obstmí-lo. Por exemplo, ás indagR~oes "que se
rnove, ~ terra ou o sol?", "por que a mac;:a cai para o chao?", "por que o leite anclo de tmnsmudá-la num aparelho higienizado, l: 1po e saudilvel?
azeda?", o senso comum rtdargüía, irritado ou morrendo de rir: Nao se vé Pois sobre esta última proposi~ao versa e presente trabalho de
o sol nascer e rnorrer todo:; os días, enquanto R terra permanece firme sob Robeno Kant de Lima.
nossos pés? E para onde haveria de cRir a rnac;a, para cima? Azeda o Jeite
Orientado pelos referenciais teóricos da anrí- pologia, em que é PhD
porque é da natureza dele', ora essa. Nao surgissem f¡guras esdrúxulas e
por Harvnrd, leva a brocR da pesquisa a verrurnc.; viseiras que permitem
inconvenientes como Galileu, Newton, Pasteur, insatisfeitas comas assunc;:oes
perceber com cn..1a clareza como funciona o organirmo sob exame. Verda-
tomadas como axiomáticas pela gente de senso, a astronomía, a física, a
deira laparatomia exploradora da instituiyao, a panir da C]Ual é possível
medicina estagnariam.
cnnJwcc-:-Jc¡ nas en:: ;1nlws. C~Jn;pru:rJdenclo ror que se comporte: eles.:..¡ ot1
cliH]liCt:i rllrWCÍíí\

DcvcrÍ~lm le: o livro (lS c¡uc se interCSSélrl1 pelo !emél (ütl sej<l, tc\dos
,_y rnCHildnrc; clo l\1o ele Jémr1:o cle~;tes nossos terTlf!OS, pelo menos) 1J~TRC) D l! e: l. (
Pr re i ~; a m l é 1o o:; q lll' e~; u eve m , í~ll él m , debél t e m, di s etl r s a rn, b é1 t e m
e i) nS S l \ '1 ( Cl
\ 1iljl Cl , SO l, ll

Trm C]tiC ¡¿;_le: os CJliC pu~;:;uen1<ligumél resronsabilid<HJe com res¡-..eito


(\0 runcÍCHléll\lt'JllO da políl:Íél, P~Jis, clo contrár·io, persistiremos assistir;:_lo a
éldn\·jo ck. pcllíticZl:-.. equivcKí\cl;:;s, zts vezes élbsurclas, no trR!o do problema

Juro qtle, ele tRo bem escrito, ele tao Inteligente, de t~o informét;,vo,
ci C [ il U C 1él! O , In e 1e e e 1e Í t U 1<l jvj eS ll1 O C] Ll e, p él r é1. Í SS O , S e_j él f1 re CiS O d e S1Í f:: 1r C1 O presente trahalho versa sobre as prátic1s policiétis nn. ciclad e do Ric:
t el e vis~ o, percl end o 1IIllR dessas sn ri en tí ssi mn.s mesas-redondas Oll i rn pé1 g2 ·veí s
de .Janeiro, em 1982, e investiga até que ponto e: polícia obedece ;¡ un;;!
lo/ k sholl's- con fo ¡-¡él veis, se m cJ LJ vi cb, porque d izem n.qu i 1o que a gente está ca t egorizar;ao social por el a mesma claramente exrressa na apl icar;[w
hnbitunclo a escutnr desde semr~re sistemática de seus poderes díscricionários.

Resende, 3 de dq:ernbro de l n9LJ O Paradoxo Legal Brasileiro


A ugusto Thompson
No Brasil, urna ordem constitucional igu:Hitária é aplicada de mnnei:a
hierárquica pelo sistema judiciaL Diferentes tre:tamentos legais sao clispen-
sRdos as mesma_s infrar;oes, dependendo da SÍt'J?.~ao social OU prof!~;sÍcm;~j
do suspeito. Enquant o aguarda m julgamento, e até depois de condennclos
os réus sao submetidos a regimes carcerários di :trentes, mesmo que ten!Jcn;;
cometido crimes da mesma natureza.

Es~c sistema judicial, constituído o tic ialment e por u m conjllnt o


hierarquizado de~ ribunais, atribuiu aPolícia e: vil meras func;:oes auxilie-He~;
e subalternas na ir~struc;ao judiciaL A policía dr~ve exercer suas atribuic;oc:;
judiciáriRs sob a C;strita supervisao do Judiciá;-jo e do Ministério Pt'Jblico,
este um ramo semi-aut6nomo do Poder Exec:ltivo_ A polícia a lei atribuí
também poderes de vigilancia, que consiste na prevenc;:i1o da criminalidacle
No exercício de;sa func;:ao de vigilancia a policia dispoe de poclere:;
d iscricionários. Todavía, na realidad e, a políci~t "contamina" su a at ivi cléld e
judiciária com seus critérios de vigilancia. Conseqiientemente, em clar <!
desobediencia alt:!, a polícia julga casos e pun( Cíiminosos, servindo-se ele
princípios e crité:·ios diferentes dos utilizados Je!o Judiciário.
2 - Jntrodur;ac
lntrodu<;:áo - 3
Por essc motivo ~: polícia é frec¡Cientcmentc acusada de distorcer Cl
A sociedade brRsileirn tem, de maneirn geral, uma no~~o muito vnga
é\lJiicr.c;~o
das Jeis estalu!das e dos princípios e dispositivos constitucíonRis
dEl correlnr;~o existente entre as func;:oes oflciais e extra-of!ciais que 2 PolíciC1
éntretélnto. uma an~lise mais acurado do sistema judicial em sua totalid<Hle
Civil e RConstituic;~o desempenham nos sistemas político e !egRl brasilciros
C\'Ídencie1 ~uc a polícia :epresenta na realidade uma gradar;ao extra-_oficial
ele ¡wtoridade, CJUC serv~ pc.ra complementar o sistema judicial ofictc.l As
Os significados ideológicos ~ue Jhe forcr11 C\tribuídos'' representom o
11

princip?.l nroio institucionRl de um sistemR legcll e JUdicinl elitista A


JF~tÍCélS polici<lis s8c: um complemento clo sistem:· judicial e nao ume1
ideologiajurídicn elitist<1 dú npoio nos rníncípios igu;.ditilrios, mas nn prc1ticé1
vÍOJ?.y~O Otl UlllR clegrac\ac;:~O deJe.
as proflssoes ligadas ~ áreR legnl prnticnm él discrimin?.c;ao por meio das
Realmente, a dctrirpac;ao da lei que se pode observar nas atividndes ;malhnsjudiciais e das priltic<1s policiais. Corno diz um é1dcígio genuinRmente
brasileiro:
poi 1cinis ilustra uma prá[icajudiciária traciicional no Brasil. O nosso si~tcmn
iuclicial oficial oncra tradicionalmente por meio de "nl.alhas", ClUe parttcula-
·;·izam a aplicar;a.o de leis genéricas. Aplicam-se critérios diferentes conf?r- No Brasil todos os pessoos sao iguais. Jv!os hcí sempn.:
me a cxisténcia de relac;oes (as chamadas "malhasll) entre a pessoa envolvtda a!gumas que scro mois iguois do que as ou!ros...
e as cwtoriciades do Judiciário Essas malhasjudiciaisrepresentam, pois, em
u 111 nível mais elevado da categoría oficinl do Judiciário, o equivalente as Embor<1 as desigualdades existRm ta~nbém em outras democracias,
prf1! icas policiais discrjcionárias situadas cm u m nivel inferior - e cxtra- sao os mecanismos brasileiros em particulclr que examinaremos ac¡ui
oflci;.d - cln hierarquia jodicial.
Organiza~ao Judicial Brasileira:
< A e1plica<;:ao hierárquica pelo Judiciário e pela Polícia Civil d_os
principios igualitarios constitucionais provoca significativas conseqü~n~tas Direitos ConstitucÍOJiais Igualitários,
no ámbito da lei e dn tnnsformac;ao socicd no Brasil Quando os brastletros
clesejam introduzir alterac;oes estn1turais políticas e:ega!s de natL~reza mR.Ís
Elitisrno Judicial e Práticas Policiais
profunda, tais alterar;oes sao canalizadas para~ Legtslattvo, que en~ teo~té1 A cornbinac;ao cie princípios constitucionaís igualit8rios e sistema
n Lmica fonte leQítima da lci. Quando se constdera que oS altercH;:oes sRo hi erarqu izad o ci e ju lgarnent o pode ser considera da como u rtl exemp lo ci o
rt1dicais, o povo ~elege uma Assembléia Constituinte, que redige umn nova que os é\ntropólogos brRsileiros chamcun de dilema brasileiro: a existencia
Constituic;ao. Em certí s ocasi6es, quando o sistema político é extrer~ar.ll~n­ paradoxal de uma ideologié1 formal iguR!itária e uma orclem soci<ll
te nutorítário, o próprjo Governo pode outorgar uma nova Con_stttlllc;ao, hiernrquizada (Da M atta, 1979). O RcalorRdo debate pt:Iblico e R rear;8o das
impondo a revisao dos princípios básicos d3 organizac;:ao políttca e dos esferas intelectuais despertados pela ordem dndR em l9S3 a Políciél do
direitos individuais. Estado do fuo de Janeiro pnrR tratnr indiscriminodamente toda a populélyRO
11
como Cidadaos" ilustra muito bem o principal paradoxo a ser resolvido
Todavía, a aplicac;:ao dos princípios constitucionais permanece vmcu-
pelos sistemas legal e judicial brasileííOs: como identificar o abstrato e
lada ao sistema judici~l hierárr¡uico e 1eoria jurídica elitista. Na prática,
a genérico indivíduo que a Constituír;ño teve cm mira numa sociedade que
existe sempre uma pi·ofunda discrepancia entre a aplicac;ao idealmente
ostensivamente atribuí diferentes graus de cidadania 3 diferentes tipos de
eqCtitativa dos principios constitucionais igualitários e a :ealida¿e ~el.etiv~ e indivíduos. 1
elitista da ac;ao judiciaria. As práticas policiais, e nao o ststemaJudtctal, sao
acusndas dessa distorr;ao Reformas constitucionais e controle sobre a A concep¡;:~o hierárquica de cidadania no Brasi! lem sido discutida por antropólopos sociais
brasileiros. particularrnenle em relay~o a formas de violencia na sociedade brasile1ra (Velho.
polícia sao os remédi.os recomendados para o correto funcionamento da
1980; Da Malla. 1982). O processo de gradual reconr.ecimenlo dos díreilos de cidadania para
dernocracia brasileirn os diversos segmentos da sociedade brasileira foi definido como "cidadania regulada" por
Santos (1979).
inlrCJc\c:c:d:.

•\ é1tt:;.;: Cor;:.::it1ri u h;L;ileircl (J9(;C)) ;¡tribui élCJS br;-\sileircs e ele negocia~ao, e o <-lrquivéJmento do proces~o só pode ser rH!lor.:::d:\,. 1:;
c.';t::Jrl~'circ•:; ~~-~sickr:•cs 11\i Flr<~:;i! c1 dircito c'1 \'Ícl<L liberdacle, ~cgurélll\-é: e jlliz em 21_Qtl!lli1S ~:ircrnstilllCÍas espccÍéiÍS
¡ : r ' 1 ¡ 1r :e el ;-¡ e1e ¡v \·él ci e!. F s i r (~ g i s t r a el o tc1 m h é rn q u e 1o el o s s ;:1 o i g u éi i s re r a n t e
J

;1 !t'l .scrr: dis, ,-111lll1ét~:~¡ · rJc :;c'..:Cl, Ul(,~él, proflsS~O, rcliui~o C C\)!lVlCC,'OCS

)l11!i\l,(~~l·; :\le cle\T ptr:l.r! c1 ¡necunceito r8cial


QtJADRO 1- OHC.At"'IZA(~ÁO .Jlll:JCIÁfUA BH.ASlLC!Hi\
.'\ Cnns::ttlic,:;:Jc: esi:•l1clccc, éllérn ciisso, c¡uc toclo ;¡cusaclc gcz<1 clo
ti :: ('. 1t C1 ~\ ;1m p1? ci e fe :, ,~, , is t Cl é, el o d ire it o el e pro v élr li v re m en t e q u e está d en t ro 1 UNIDADE
NÍVEL DO TRIBUN/',UNOME PROFISSIO~~JI,!~:

JURIS::i~:NAL
1

el;¡ k:, JH)(lcrlck é1 de: ;~sl-1 élltlélr e m iguclldéide de condic;oes e de opor1unidn- 1


¡_
1
clc:; C01l1 el i\Cl!Sit\~ilc (i~;UllCJlllÍél deiS pC1r1es), no tocante el rwrtÍcÍpéiC(RO no :v lnstáncia

J'l r1ccs:-;o, inch1sivc · ~CC'J rcnclo n tocios os meios necessários para tal N~o

1---
Stlrremo Tribunal Fc•'-~:;i!

j¡:;-.c;/¡ :·e:¡~: ¡-;·:vilcg.:Hlc; (JLJ tiibunílÍs de excc~:ao O processo penal será Tnllunais Stl[l~rior•.oS
-------4-----------
2' lnst~ncia
e o: 1t rr1 d1t c'ni o Ti1 is p: inc¡¡' 1os roderi a m ser considerados como o equivalen- Estados Tribunal ck Justir;;·
! e, 110 P r;1sil, ;¡o dut' p;ocess o/ /m1' americano Tril>ttnnts l<~gion;tÍs
Comarr?s 1' Instancia ----+-------

/\ Con:;'¡tuíc;~ l este1tui que nao existe pena de morte ou prisao 1' Entránct<> Juízo Sing11l;1r
2• E 11tránci;.
¡1e1 péttlél, IJelll bcmimentcl ~lo país ou confisco de bens, exceto ern casos de 3• Entráncia
Tribllnnl do .lt'tri

g_w:nn m1 revoluy8o Os cicincl8os só podem ser presos em flagrante ou por


o re i e m es e r i t i1 ci a Ru t o r iel <H! e e o m pe t en t e N es t es e as os, 2 d e t en e;: ao d e ve ser
illlccliclli1íllente comunicéldil oojuiz, que libertará o preso se considerar que
;¡ dctcll\'~O foi :iega! As ol!toriciélc!es si'io responsilveis pelo seguran<;a física
U m e);en:;->lo ilustre1r~ o funcioname:nto.do sisiema. Peléllei proccs:;t;;:¡:
C l1Hlrnl dClS peSSOílS del Ícl~1S Oll preSé\S.
brasileira em vigor né1 éroca dél pesquisa, se un cídadao comu1n coJTJet::.s~,:.:
u m e rime, seria provélvclmen te i nd i ci él el o num i nq uéri t o po Ji ci éll c. e;¡:~ e ,
T;, í s el is pe: sil í \;r · s co 1 s ti tu ci oni1i su nivers2li st ?.S e igual it ários sao aplica-
denuncindo pele promulor, torné1ndo-se réu. Se neo;asse. a rcsnorlSéllliiidilc:.
dos 11e 8 rasil de Ll::-:?. ~- 1aneir8 tipic;unente hierárquica_ Oflcialmen1e, o sistema
pelo erime, 0 juiz O COnvrcJarÍa él provar C]lle CTélJTi f21lsas as ai~ga~:oc:; reÍ~(l,S
é o1·ganizé1cio cm di0 rentt~s níveis de ju:-isdic;:f1o, chamaclos instancias, que
contr?.. ele Após é1 instrliC;:~ojudicial, ojuiz pr-Jfe1iri2l a sentenc;:a, ccmclennl>
CClilS1 i! u em d egre1us ~, o gressivu s mr ma sucessi'io de i1 pelayoes. Ex:stemjuízos
singulnres e tr:lJLrn<::'· do _iC1ri na primeirR inst~ncia, 1ribunais regionais na do ou élbso!venclo o réll
sc~uncla inst~nc:ia e ·ibui1RÍs superiores nR terceira instáncia. Esses níveís
Nos casos de crimes intencionais cuntr;1 a vid?,, as rnedidr1s leué'is .')~l·
jliiJsciicionaís s;~o g;·: uais os _iuízos singlllares classificam-se en1 entrancias
mais elaboradas, definínclo-se corno urn sisL~m?. de RCUSi1t;:élo pr u~rc 5 ; 5;:,_,;:
e, jtmtnmenl e coll' , s i ribunnís regionais, subordinam-se ao Tribunal de
(ver Marques, 1963: 56) Arós o inc¡uérito po;icia!, a denúncía rio o;-cmo:u,
Ju:;tic;~ (flmbíto es!<H:· Rl) Estes e os tribunais superiores estao subordinados
e a instrlH;:ao judicial, o juiz poderia pronunciar o rétl. Este ser.ía e:H~c;
ao Supremo Tiibui;<t: Feckr·al (ver Quadm 1 aciiante).
acusa~o pelo libelo do promotor e julgadc: pelo Tribunal do .J~ri, CJ~!D
Téll orgcmizac,:;; 1 híerárquica do Judiciário correlaciona-se com uma podena declará-lo culpndo ou inocente. Do veredicto bem como de
seq(iéncÍél de p:oceS5'1S pení1ÍS progressivos. A acusa<;ao é compulsória em
quRlquer senten<;a de u 111 j u iz pode-se a pel?. r pena a mst anci a super¡ r· :· e
crímes de ac;:ao [lt'iblica N~stes, segunciCl Bleí, nao h8 qunlquerpossibiliciade finalmente para o Supremo Tribunal Federal
lntroduc;:ao - 7
f: - lntrodu9i'lc

!\o contrúrio do si.(temí-1 omericRno, no qUé\! r: RCUSnt;:-8o tem de provar única da lei Tal é o motivo pelo c¡ual as leis oriundas do Legislativo
él culpnbilidélde do réu, nu Brasil é o réu c¡uem tem de provRr, na pr8tica, suC1 re si st cm a "interp:-etat;:oes" - e conseqücnt es a tividades pseudolegis\at ivas -,
irwcéncia A justit;:a é1dr:1itc o priori C]UC o réu é culpado Se, cm_ c¡ualc¡L:er já c¡ue particulRrizam o priori todas as sítuac;oes nas c¡uais dcvem ser
f; 1sc el a at;:-8o peno\, o _juiz puder admitir corno verde:1de a inocencrR _do reu, aplicndas (Merryman, 1969). Num sistema como esse, o Legislativo
a
este node:-á ser absolvidu, me1s medida que a ayau lem prossegurmento, procurR prever todas as peculiaridades que podem envolver os casos em
c:·csc;e n possibiiidélcle de o réu seí culpado Como me declarou um policiéll que R iei ser~1 aplicndR. O resultado da nplicac;:ao da lei, uma vez iniciadas
as medidas legais, deve ser totalmente previsível, já que aos juízes é
du r e1n te u m a ses s ~e el e /J ri
concedida LIIllé1 l:berdade de ac;ao mui!o limitada. Conseqüentemente, os
0/ho, eu n/'o ocredUo que esse coro é inocenfe. Só por poderes díscríciunários permitidos á polícia constituem uma excet;:ao no
711110 cofsa.· ninguém que chego o!J nqui pode ser fofoímenre sistema judicial.
inoccnfe. De,•c e.\for "de,•endo" o!glfmo coisn, cerro?
Entretanto, esse sistema nao pode desculpar abe:iamcntc uma policía
A Rt;:-2o penal pr~gressiva tern relRt;:Ro com umR concept;:Ao lege1l que presumidnmente agirá contra a lei em todos as situac;:oes, isto é, cuja
hicrúc¡uica do sistemR social. QuRnto mRis elevada Rposit;:-8o do réu, menor autonomía seja absoluta. O sistema judicial precisou, enüio, conciliar um8.
ser~ 0 número de instar,tcias a c¡ue tcrá de se submeter, caso receba Rlguma polícia que atua de forma discricionária, chegando até a contrariar disposi-
nCUSr1yRO. Portante, h<í oficialmente urnél aplicRt;:Ro diferente da lei, de tivos constitucio::ais, com uma polícia cujas atividades devem estar sob u
conformiclRde con1 o .\fofus do réu Por exemplo, algurnas dessRs etap~s controle do sistema judicial, como parte, que é, desse sistema. A soluc;ao foi
Qrélduais de acusnc;:ao- quase infmdáveis- serao omitidas no caso de o reu dividir as funt;:6c:- policiais em duas partes: func;:ao ''administrativa", que
;er juíz, promotor, secretário de estado, ministro de Estado, ou se ocu~ar incluí a vigilancia da popula9ao para prevenir a criminalidade, e a·func;ao
nlc:um out ro cargo pol\tico, administrRtivo ou judicial legalmente especdi- judiciária, c¡ue representa u m ramo auxiliaf do sistema judicial de investiga-
Cn~do Mesmo que o c1ime seja comum (sem relRt;:ao com sua ati:'idade yRO crimina!.
oficial), 0 acusado ser.'á julgado diretament e pelo Tribunal de Just 1t;:a do
estado o u pelo Su pren.lo Tribunal FederRL Diz-se que:.-. polícia exerce suas func;:c)es administrativas tomando em
considerR¡;:ao a r. ::mduta criminosa !!potencial" de cada pessoa: é sua
Em contrr.dic;ao com os já an?.lisRdos p:incípios constitucionnis obrigac;ao obsr:~-·~ · atentamente a populac;ao a fim de prevenir a criminalidad e.
i¡_;ualitáríos, esses réus privilegiados terao direito a tratamento especial na Diz-se que em 5l: 1s funt;:-6es judiciárias a polícia leva ern considerac;:ao a
¡;risao du~ante a ayfío penal e, ás vezes, Rté mesmo depois da co~d_cnRc;ao conduta crimino~ real dos indivícluos: sao atividades de apurac;:ao dos
11 11

-~lefinitiva corno ocon!ece com réus detentares da Ordem do Mento, ex- fatos (Costa, J 97'·; Costa, 1982). Ao exercer as func;oes administrativas, a
jurados ~u, mera111en\e, possuidores de diploma ele curso superior ou polícia goza de c.: 1pla liberdade de at;:ao; a o exercer as funyoes judiciárias,
eíevacio sfaflfs socio! mantendo-se eJn; 1rmonía como resto do sistema judicial, a polícia goza de
, A estrutura hie1\árquica da ac;ao penal acima descrita exemplifíca a limitada liberdac~ de ac;ao ou mesmo nenhuma.
concept;:ao elitista qu;~ permeia o siste1~a ~uríd_ic~ bra_si,le_iro. Mas es~a O exercící~: do poder de polícia - poder discricionário, mas nao
concepc;ao contrRdiz \)S princípios constituciOnals Igualttanos_ A. s?lu?a_o arbitrário - torn¿;- ~;e crítico ao por em prática os valores reais do sistema
jurídica brasileira para,essa contrRdic;ao foi conceder poderes discnc¡onan- judicial brasileiro. t\ polícia atua como u m elo intennediário entre o sistemR
os él polícia judicial elitista e hierarc¡uizado e o sistema político igua1itário. A maneira
A tradic;ao jurídica brasileira segue a trRdic;ao da leí romana. lsso peculiar de a polícia exercer suas func;:oes revela seu papel no sistema
significa principalmente que o Legislativo é considerRdo como a font e Judiciário.
lr1tr oduc,:aG

l\ polícT! "ccmtarllÍr!::' .s11;¡s f\1nyoes ele investig<.¡y8o pelas de vigilan- hrias clo Rio ele J;¡neiru T;¡is llléllil;ls foréllll clec¡:;ÍvélS par;¡ rninhi\S pc:sq~~~~;a:~
,¡;· [·¡¡; \'C:l cil' <1f1llléll os !:tJ•)S, a polícj¡:¡ vigi<l <l poptilél\:~o m1rn p1oc~ssc) C]LiC;¡\lranger;¡m <-: polícia, SllélS Rtiviclac!es disc:ic.!onúrias cxtrR-of'ic:i;;::, e::
¡lrc·i:lllÍIJ<ll de .';eJe~:~u Jl<lí<i <t <l]llic<tc;~o desigual cl<l lei. U1re1tamento legai sisienlíl judicial ;¡;:c-mlentt hierélrquiz¡¡cJo
clrs¡llTis;¡cio Vn' clcpenc!er r:c' sfo!us soci¡:¡j ele cncla pesso<l, corno l; o caso d;:¡
l'I!'-;~Cl cspeClí!! r\(1 C\Cr ~~é'i rlS ftl!lyOCS judici~rÍRS, rl poJíci;: nao ntua Descrevcrei mais élcllélnte ?.s carélctcrísticas do sistemajllf-ícl'lco pcr¡;:1
srll;Jiiesillcn!e como él~2CJ\Ic clu ~;istemé1 jllclÍcÍ(lÍ, ídentiílcanclo os féllos e os el is positivo<.: 1e g él í s Cl 1ll' es t n 1tu¡· a rr1 ;¡ <l t í ,.,-,el él el e p o 1i e i él l i'i n e; t:w r! :

c:Jrl:ilro:;cls prl'VÍétmentc ti¡lii.Icctc!liS (previsto:~) pel;¡Jci, tal como estipt~i:l a políci<l é essenci;.:i o c:onilecimento clessa cstndl!r<L pois sc1 éiSSÍlll
lcCl: 1;1 ¡trr íciil:<l llíasilcirc1 Na: ec-:lidélde, 2 polícia '¡preve" os féltos clelittJclsns Jll O S ll C: O rn fl re ende r ll S fl! á 1Í Cé! S p O 1Í C Í R Í S C 1él fl el e S( i fl é1 S el C el Í S t Ole,:~ O C \' j

p r11 m e i u el e s t 1r 1os i\JH'. s 1 e 1:-1t ~ · c-1 s élCJ ut r ~ t e r do e! e 1in Cl t1 e 11 te - os es 1ere ó! i pos, cla lei Fsse conhecimento é necessúio tamb~íl1 pa1 él Cllle se torne c!Ct: d ;:
rlu'; rlll<lrs tr<ltcJ;·emos e111 Ctli'OS cnpítulos mnneira pela Cllli1l o Ci1SO do Brasil c!ifere do:~ sis1emas legais e jtll idicc··
p en a i s ;m g l o -r.m e ri crm o s
Toclavia, encurralada ·::ntre clois critérios formnis C\O cxercer suas
ftln\·oes- a administrativa e,, _judiciúria -, encontrn-se él polícia rermanen- Nos capítulos subseqlientes, o estudo do ::istema for!Yléll clescrevcr-{1 ;¡';
tcmerJte amea<;~ada pelo si~~tf'.:11r1 _Ítlclicir=d. QuCllCluer ayao policiétl pode ser prátÍCélS policinis em si. Descreverei, de início, ~1 ]c.vratura de lllll nclgr ílll((;
cl<tssiflcc-ldél como legal ou i!e~al (ou, pelo menos, como arrélnh;.mdo a leí) que, excepcionalmente, foi efetunda em estritn obediencia illei Mos!Jé\Jt':
O cfeito pr~tico clé!í resultc1ntc é que o sistemél_jlldicial e suél ideologia ficam ern seguida como R polícia negocia, interpreta e.dis:orce él leí, e clescreverci
11
intélclos e i'rurc'S A po!ícÍii é. a responsável final pela Rplicayao desigual da os limites prcíticos internos e externos impostos ús suas atividc!clcs de
lej O sistema legal permanece no controle último do poder de polícia, livre investigay8o. Finalmente, discutirei duas prátir.as policíais Cllle existem e:1:
pa¡-z¡ célracteriz;u a élyao poiiciéll como leg(ll ou corno COrnq;c;:ao da 11 1
'
el ara el esobecl i enci él á 1ei: pr~ ti ca de j ulgament o~ arbit rél mento) e de pu ni y~l ( 1

nplicé!c;ao clemocrática e liberal déi lei Conseqüenternente, a polícia é o bode


A é!presentay~o etnográíic(l será seguida de dois capíiulCJs
e:-:piJtório cin 1deologia _Juríclicn elitista na orciem política teoricamente
ig u ;ll i [ é1r j (1 . interpretativos O primeiro rnostra1á a impropriedade do conceito legcd
brasileiro do poder de políci(l para explicRr a~~ prz11icas policíaís rectis. /\s
Au élplícar c!esigualn1<:< e a leí, a polícia evita, por um lado, que os práticas policiais de julgamento e puniyao constítuem de fnto um sisternn
"criminosos em potenci~ll ',
1
marginais, beneficiem-se dos dispositivos
--;
que se organiza segundo príncípios diferente~~ ciaqueles C]Ue ordeném~. e~
constí tu ci oncl is gu élli tários }', ro u t ro lado, e m cerios casos, especialmente
1 sistemajudiciCJL As atividacles políciRis organiz~nn-se conforme os princípr-
Cllli1!1dO ?.S peSSOélS envo]vií:::~ Jertencem as clélSSeS média OU alta, a polícia, os dn ética policial, urn conjunto cxtra-oficiJl de regras produzicl;;s ~~
ao é1¡Jlicar a lei e Rtunr ele m~::~ ira compatíve! com os dispositivos constitu- reproduzidas pelo processo tradicional de trcm-;rniss8o do conhecímento
ciorlétÍs igualitílrios, rcs1élhrlt ::e a fé dos nfío-marginais nos princípios
el emncrél ti e os i gu ali tá ríos íl r~ • )terna político brasileiro. De fato, Rs práticas Em conclus:'i.G, clíscutirei as característica~ gerais daideologi;¡juríclic;t
po 1ici aís t ornam possível o fll 1 i onamento do sistema pol ít íco, a d espeito de
1'
bn1sileira em compé!rac;:ao e contraste com as 11ráticas policiRis. Tnnlu e:',
SUClS C~mtrac!Í<;:OeS Jegé1ÍS Ín[(; as. malhas judiciárias como a éticR policial funcionam como mecanismo ele
distorc;:ao da aplicat;ao universal da lei.
A naturez;:¡ do temél rle r 1inha pesquisa influí nas estratégias de meu
trabalho de campo e na orga: iznr;:ao ndotada na apresentac;:ao dos dados Existem óbvias comparélt;:6es e contrastes a serem feítos en1re o:
recolhidos. No próxima Sfyac deste capítulo explicarei CJlguns aspectos sistemas legal e judicial brasileiros e outros sist'-~rnas ocídentaís Cont~1do_
gerais cl:ts práticéls proccssu~~is no Brasil e, em seguida, os longos e em decorrencia dos limites impostos a extensa;J deste trabalho e 2 íim ric
complíc~dos en~, endiment os CJlle me permitiram o a ces so as mal has judici- resgué!rdar os pon::)S essenciais dél exposic;;:ío, dr~ixarei as comparr1r;:oes e os
lntroduc;;áo - í1
~e - lntroduc;áo

ce) nt rast es a cargo el o ¡JrÓ p ri o 1ei t or Fi ca r5 o ím rl í citos no texto, que sionais, c¡ue podem 8 qualc¡ucr momento ser acusados de incompetencia
focalizarf1 essencialmentG o sistema brasileirD por ''nem sequer conhecercm a leí".

Por outro lr1do, a maneira f1exível como e> Judiciário e a Polícia


Ixnportancia da,-~ J\:1,dhas Legais e Judiciais para o
intcrpretarn a lei num sistema em que qualquer atitude discricíonária pode
rr r a b a ll HJ d e e a In p o So b re a F o 1í e i a ser taxada de ilcgRl impede um intercambio fácil dessc' profissionais entre
si e coma sociedélde. Consequentemente, os profissionílis da lei respondiClm
O trabalho de ccm:po sisternútico que realizci sobre a Polícia Civil da
minhas perguntas com declarayoes formais, que se a_¡~:stavam a qualquer
c!ciadc do Rio de Janeim desenvolveu-se princÍpéllmente entre fevcreiro e
situRyRO, nunca exprimíndo sua opiniao pessoal. Eles cunsideravam minhas
outubro de 1982 2 . Nessa épocajá se processava no Drasil é1 tronsiy2ío política
índagayoes sobre suas prc'lticas e representélyoes como Jma clara ameaya a
]lr\ra uma sociedacle mais democrático (o que os brasiléiros denominaram de
seu saber profissional e, conseqüentemente, como u m· 1anifesto desafio ao
~ec.lemocratizayao) CertRrncnte isso rnotivou urna atitude mais aberta da
se u poder e posi c;:ao.
Policía e do Judiciário em relayao ao meu trabalho, jú que durante o regime
militflr os cientistas soci;js erflm considerados como estando em oposic;:ao ao De fRto, este é u m impor1ante Rspecto da culturét jurídica brasileira,
....-tofus quo, representncb neste caso pelos sistemas policial e judicial'. Mas claramente admitido por muitos profissionais da lei, meus informantes.
C]uando dei início a o llJCU t rabnlho, no seg1.mdo semestre de 1981, note! .Tuízes, advogados, delegados de políciR e profissionaí~ ·:a leí em geral esta o
i;11cdiatamente que, em\,orR fom1ando grupos distintos, tanto a Polícia como permanentemente ameac;:ados pelo estigma do erro ou pela sirnples ignor~n­
o Judiciário opunham aínda forte reRc;:ao a qualquer interferencia extcrnR cia da lei. O já citado bordao "ele nem sequer conhece a lei" era repetidé1-
Como representcmte da sociedade e da Academia, eu esta va habilitado mente usado como uma ''acusar;ao" para humilhar profissionais que t'inham
a entrevistar as autoridades drl Polícia e do Judiciário, mas n~o conseguía cometido erros técnicos. Contudo, confo!me já mencionei, é impossível
vencer a mural ha de forinalismo a que eles recorriRm pRra evitRr que fossem saber de cor toda a legislay8o brasileirR. A ai~eR<;:a reprec:~nta evidentemente
obseíVados seus compJrtamentos e representac;:oes reRIS. urn meio de competir por um status ou, quando estao em jogo diferentes
subgn.1pos de profissionais dél lei, um meio de neles inc:.Jir ou deles excluir
Tais formalidades resultavam de algumas cara,cterísticas próprias alguém. Essa recusa de revelar infonnar;6es sobre as re: s práticas policiais
do sistema judicial b1·Rsileiro. Por um Indo, a legislac;:ao brnsileira é ejudiciais dificultRva seriamente meu trabc.lho. Nessc .. onto, era evidente
cod iftcada e, como tal, é considera da totalmente "conheci da" pelos que eu precísava de uma apresentayao que garantisse ~~' nha aceitac;:ao pela
profissionais da lei. Entretanto, é mRterialmente impossível a qunlqucr polícia. Essa apresentClyao viabilizou-se de uma maneií ~ ouramente aciden-
~riatura conhecer em ;;ua totalidade o conjunto bastante complexo de leis tat Durante mínha residencia em Harvard ( 1979-1981) ~avei conhecimen-
e códigos, que esta o sen do sempre alterndos por novRs iegisle1<;:6es. Est n to com um brasileiro que era candidato no título de P! ) na Harvard Law
situayao provoca ume1 permClnente Rtitude defensiva da parte dos profis- Schoot Ele ero partí ci pan te e líder de u m gn.1 po e advogados CJ u e
tencionavarn propor importantes reformas no sistemd legal e judicial do
2 A,Banca que avaliou o resumo prévio de minha tese íecomendou um lrabalho ?e campo com a
Policía da cídade do Rio d2 Janeiro como primeiro passo de uma pesqutsa mats ampla sobre o Estado do Rio de Janeiro. O círculo de influenciR e: ·sse grupo incluía
sistema judicial brasileiro, especialmente o sistema de júri. O trabalho de campo ~obre o Tnbunal promotores, advogados, delegados, juízes, bem como ¡;JJíticos pertencen-
do Júri do Rio de J aneiro foi realizado durante os anos de 1983 'e 1984. Ele sera dtscultdo num
tes a partidos de oposiyao ao Governo Feden1l, ocu¡:-ldo por militares.
trabalho ulterior. '
Cienlistas sociais brasile;ros, em decorréncia do longo periodo de Governo militar, loram Posteriormente, na eleic;:ao de novembro de 1982, co 1 a vitória de um 1
considerados, por definic;:ao, como hostis a ordem estabelecida, o que foi motivado pelo .ralo de
muitos deles terem repeltdamente criticado a censura governamental e a tnlerferéncta nas candidato oposicionista parR o Governo do Estado el ) R.io de Janeiro
pesquisas e no ensino aca~Jémico E.m algumas ocasioes, cientist~s sociais e i~telectuats em geral alguns dos líderes desse gn.1po, em conseqllencia do apoio e¡ u e pre~lénam ~
protestaram contra a violac.ao dos direitos humanos cometida pelo Governo mtlt\ar, especialmente
em relay:w a tortura de p:;esos polllicos
oposic;:ao, assumirarn cargos de chefia na nova adminis!rac;:ao estadunl. O
¡:;
-------~ ----

cnl(~r:,<l cpw f'oi meu ccm1<1lo en;! larvard ocupou os cargos dt secretario ele Ern segundo lug;1r, lllll ele n1eus !llili íniÍ!lHlS <11lligos cCllc~:)<l 1
·'

ítrslir1 ~él e ele strpcrinienclcnre cxen:tivc: de: Conselho de Dircíins 11tll1lé1llOS D e pél : t éllll cr11 e1 el e :'\ n t : Cl pu \o gi e1 n o ~ t: " 1 1ee 1n o , t i n 11 a o p él i e l! m 1: 1: : ;t , •
1

el () J · :~ !rH J Cl C¡Cl f( j () C C .J :' l ll~ j ' (1


J
tr;¡haihr.ncio nr. Políci;1 cLJ Estéiclo c!o IZ.1o de' JélrKiro A opor\utlic\é\ck ~:-:.­
ohser\'élr sw1s <ltividrlclc~s e delélS particirM contrilnJÍtJ, muito cspc:cJ;:!:nc·::c
F ~; S e (i el (\ 1he re) 1 ( \ l ! \ u el?. pe S Clll i S (l n ~o fo i S e rn i Tl1 ro rt 2n e: i (\ p(1! é: 1Tl e ll c¡uancio él ¡¡~;1c1 era cc1njunt(] con1 out ros pol1ci<1ÍS, péna clucicl;H irn.!:lll'l ~
!:;;\J;¡]Iw de camp0 Fl:.:: ';ll~'cr~: desde logo a Cltit ponto os clomír1ios legais, ;¡spcctos CÍ<l étic;i poiJc::<il. o tr;¡cJicion<ll "cócl.tgn ele hullí<1'' clcl pcl]¡,·¡;\
¡ll el 1e 1; l i ~; e p ,)1í t i e o :-: d e s: eH l e d u R i o d e .J (1 ne i r u e s t a va m v i n e u 1a el o s e 11 t r e
1 [ clisctlss0es cp1e m;Jn1inhil com meu cnleg;\ (~rlriqtrecer<1l11 sc:hrcm;¡;w1·;
s1. e cp1ao i:llporlillll(·~ s~o éiS malhns dos proíissionais da lei no sistcmél rn in hil s nno t (]~o es so ll re ;: po 1í e i Ci
(·stadual de <1dmínístr<1~'-<k da Justic;:2. Esses profissionais, pela suc1 CJrgc:mi-
lil~~~o políírcél, acélhílléi111 cc:ltrolcmclo e ocup;:mdo os principélis cargos finnlmente, participei de llrn gnrpo de debates que reuni;¡ <Hlvcl~':itl(:
iig<Iclc's ;ws sistemnsjucl:cir.l e policial. Foi uma inec¡uívoca demonstrcw;:w cl;1 e cicrlltstas sociais e ctijo terne1 era e1 organizn,ao poiicinl ejtJdicic!l lj¡n (!,'·
Jrn¡1cn·t ~r1ci?. dessr.s t:1::lhas pc:r z: meu acesso ¡ws sistemas policial e judicial resu]taclos de tais JelJétteS f'01 Lllll ciOCll!llr!I(O co!etJVO C]l!C p!O)lli:~l;::
na ciciacie clo Río ele hneiro modificoc;:6es r:~ticas pélra (1 orgnnizayao ~lolicia! c!o Rio de .irl!ltlí"Cl
Post eri orment e, nuill semi nário int erdi sci pli n;,r corn él r;n[ ici p<Ic;~o e!'
Coma cooperac;:iin ele meu colega dCJ HaíVarcl, fui apresentado a dois r ro e u ra d o r , es se do ell men t o f o i d i seu tido , . e es se s en s aio ~; p r· <1 ti e u ~ l
éiclvogaclos criminnlis!R~ c¡ue se mostraram de grande utiliciade aos meus teóricos forélm incorporéldos élO materiéll de r~1eu trnbalho ele campo
, p ropó,;it os. Ambos p<nt ici pa\'alll do mencionado grupo ''reformista U m 1

er?~ di1·etor cin Divis~o de Pesquis¡:¡ da Ordem dos Advogados do Brasil, N o t ra nse ll r s o el es t e,· ¡-e e e bi 8 éHn iz a de e e o n fi éln ~:a el e m e u s i nf'n r-rn 111 <

Ser;:~o cJo EstRclo do Rio cie Janeiro .L\pós essa apresentar;:~o, ele clecidiu tes, C]Ue, em trocR, solicitnvam freClCientemente esclarecimentos sobre él
;1poinr mii1hé1 pesCluÍsR. Tnl apoio valeu-me o reconhecimento da OAB-RJ significRC(RO de meu trRbalho e sue1 perspectiv2., en~uanto me transmitiétil1 e:
Recen Le mente el e foi norneado secret ário de Po licia Judici úi é1 do Estad o do ClLie podiRm de ~llél experiencia profissione1l O procuréldor me convidmr prn;¡
R i o de Jnnei ro, resronsi;vel pela diret;:ao da Polícia Civil do estado e1ssistir él seus seí:1in~r·I(_)S e conferencins, e eu .'~Iz palestrRs pari1 seus aiL1r1u~
nn Fé1culdade cie ~ir·eito onde ele lecion<1Vél i-\ Ordem dos Advogadcs de,
A outra apresentnc;:~o decisiva foi c. urn renomado criminé1lista, Brasil- Sec;~o cio Es! Cid o doRio de Janeiro- co:-1vidou-me parél debé1ler·met:
professor de direito e p1ocurador do estado. Ele me apresen1ou a juizes, trnbalho con1 ad-vogélclos e juízes. Escrevi ta1·t1bém o prefilcio de um cic.s
promotores, serventu~rios da justic;:a e policiais. O procurador admitía-me livros do procuréldor. Em !roca convidei-o pRr(t fi1zer pnlestr~1 éWS mew
em seu escrítório, oncie eu tinha oportunidade de Rcompanhar seus casos, alunos cie cienciéls socíais Dacio o extremo p~econceito e segreg;w~o c¡m
bem como prlrticipar ele atividades judiciárias. reina entre as ciiversRs clisciplinRs dos setor~sjL:rídico e social no Brasil, íssc
representou uma experiencia interdíscíplínar al:nmente interesséln!e C:om·i
Além de me valer dos ensinarnentos desses informantes, recolhi ciei télrnbém o procurador e seus Rmigos ciél polícÍél pélr3 mínhé1 casa, e cic~s
também dados de outrRs fontes Primeiro, pratir¡uei advocé1cia crimimd retribuíram o convite Pélriilhnmos de amigo.s, ben· como ele c!limentc::;
clunmte dois anos, especialmente com a polícia de Pono Alegre Nessél bebidas e pensamentos Penso ~ue esse interd1mbio foi proveitosc prFé:
épocél ( 1962-1968) eu era estudante de Direito_ Depois, estive muítas vezes todos nós.
pessoalmente envolvido com a polícia, como acontece com grande pone
clos cirladfíos brasileiros Tive também contato coma polícia na c¡ualidade A m él! ha as si m form Ml él no sei o des se gn 1po de p rofíssi o na is el rl Úcél
de advogado em defesa de amigos, pescadores e estudantes no decurso de le g (1 ¡' R Clll 81 t éllll bé m e u e S t (1 V a i n(eg r(l d o' ro j el '.: i mp o rt ane i a e í\ l e i a 1p (j r(1 él
minhn.s é1tividades de pesquisa e ensino na Universidade. escolha da amostra ele mínha pesCluisa Foi essencia! tarnbém )Jlllél estéÜlC-
lntroduyao - i 5
1:1 - ln\roduyáo
Ao ter: po em que o trabalho de cnmpo estava sendo feíto, as
leccr clC\ré1mentc mink1 iclcnt'tclode c\e pesquiSéldor, torncmdo-tllC l'conhcci- SecretariRs ck EstRdo de Seguranya Pública de todo o país eram diriuidas
clo'' como qw1sc un:, membro clo grupo Essc-1 idcntidC1clc, segun.clc: é\ por oficiais de: Exército A Polícia1\1ilitar e a Policía Civil eram subordina-
¡ek 1 u¡ Ci d g ru p 0 e e; s e 0 st u meir c:1 s p r~~ t 1e as so e·1 e1 i s d é1 so e 1e el é1 el e b ré\ s11 e 1ra , das a esses diretores. A PolíeiR Militar, de\ido a sua disciplina militar e
0
~-
0 0
· 'c''O e."cr.·c'1ci.o ele cer\élS téCtiJC{IS de controle SOClnl
tomou-mc vulncrt1vc:1 1 ·"' • organiza~Ro rxplicitnrnente hierárC}uÍca, recebeu a incumbencia exclusiva
JnlormRl de exercer a vigil?.ncié1 da populayao, tendo sido estimulada a empreender
11
uma guerra aberta" contra o crirne e os criminosos Cientistas sociais tem
E ss é\ s t ée 11 i e C\ s visé1V a m pri nei p;1\m en t e .1111 pec\.1 r m·m hé1 P~'t rt .1e.1P0 \~ ~~ 0
salientado as :·ela~oes existentes entre o desenvolvimcnto de um reuime
nuillé1 élCllSé1c;:~o pCtbl;ca pessoRI é\OS membros clo sistem<1 ·!ud~c~nl ~L: cla
capitalista nu: ,)ri tário e as funyoes repressivas a t ribuídas a Poi ícia Mi/litar
·· · AJ,-tn"l
pOitelél. · c1, etl ,r·· ""n 111 1· .:;,oo" deles·, n~o ¡1 odic1. romper os pnnciptos. el leos
"" <l . _
(ver FernRnde:~. 1973, por exemplo).
cLt hospitnlídnde e eh étmízr1de típic21 dos brasile1ros Nessas condtc;:oes, R
t roeR de i nformé1c;:oc:; f oi mu ito f11cil it ;tc\n EstR mi 1;tariz<lc;:ao da vigiiRncia policial causou, entretanto, proble-
p r ex emp10 , 0 del eg nd 0 C] u e me in iei o u nas p rút i.en s poli ei é~Í s e rR mas administ: Jtivos paré\ as duas organiza~oes policiais. O governador
0
Rmiuo do procurr1dur, e eu, tRmbém nmigo deste, "herde1" as r:lRc;:~es. de eleito resolveu parcialmente esses problemas em 1983 criando duas Secre-
él m¡;Rd e que existiR entre os d ois, como é hRbit u Rl no .B rRstl N a ~roxtma
tarias de EstcFio, umR para a Polícía Civil e outra para a Pólícia Militar,
sec,:.Ro diseutirei. C\S eé1racterísticns do universo di\ m111ha pesqutsa e da Secretarios qt;~ forarn encarregadas de, independentemente, fixar o sfo/11_\.
e manter o controle de cada uma das policías. Foram reativadas as
amostra utiíizada Delegacias de Vigilancia da Polícia Civil, que passaram a ser dirigidas por
um delegado nomeado para esse fim, uma antiga reivindicac;:ao do órgao.
'
O l;n ive rso e a A n1 ostra da Pese¡ uisa A Polícia Civil é encarregada, teoricamente, da apurac;:ao preliminar
dos fatos em ca:;os de crirne. Executa também servir;os públicos administra-
A cídRde do Rio de Jnne.tro foí a capital dé1 RepLiblica \rortanto, tivos, principa;;nente no tocante a o fornecimento de atestado sobre o estado
.• · t Fed er"\ Q'C) éil é l 960 ano e m nue R CéipÍ t é11 foi t rnnsfendR pé1 rC\ C\ económico e S·~·cial dos requerentes (atestados de pobreza).
D !Sl rt O •u , " , '! . .
recém-constn.Iídé1 cidnde de BrRsília, que Rssurníu a posiy~o. de D1st rtto
federal. A cidade c:o Río de JRne.lrO, ex-DF, pé1ssou n constttutr uma novR 0 S ÍnC}U c-itOS pol icia ÍS SaO efet U ad OS, port ant O, pela p oJ Ícia Civil.
unídnde federr1tivé1- o Estndo clR Gunnnbé1ré1 (cidé1de-estndo). Em l975.deu- Por ocasíao de sta pesquisa, a popula~ao do Estado do Río de Janeiro
se a fu sRo entre 0 Es!íldo dR GuRnélbnré1 e se u ~izi nho Estado do Rto de eslava em ton"l de 11,5 milhoes de habitantes, e havia l 33 Delegacias de
Lweiro. A eidnde doRio de Janeiro ficou como cRpitr1l Jo novo e aumentndo Polícia no esi. do, que se distribuíarn em tres categorías, co~forme a
popula~ao d(¡ (:, eél em Cllle se situavam. A Regiao J\1etropolítana doRio de
EstC1cio cio Rio de .~Rneiro.
Janeiro (Gra nr_: ! Rio) t in ha urna populac;:ao de 9, 5 milhoes de habitantes e
Nn época de.stR pesquisa a Polícia Civil da cidade do Río de J~ne,iro dispunha de 8(' Delegacias de PolíciR. A cidade do Rio de Janeiro tínha
faz' a par1e da Polícia do Este1do do Río de Janeiro, um ~r~ao eonstttu1d_o urna populac;iL• de 5.000.000 de habitantes e contava com48 delegacills
1
pelR Polícia Civil e Polícin Militar, sobo c~mRn~~ e superv1sao dR Secretan a de primeira ca>~goria-1.
ele Estado de Segulémyo Pública. As Políc1as Mil1tares dos estados, segundo
determiné\ a Const\tuiyRO Federal, s8o teoricRmente encarregadns de preser-
var 01 ·clem jJLJblicn no Rmbito de seus respectivos estados, ~ep.resentando, 4
11 Dados sobre as delegacias baseiam-se em Costa (1979).
nO ] do dos Corpos ele Bombeiros, forc,:Rs e1uxilinres do Exerctto
8
1 r1tr ocJ u ~:a e:
'\ t~c;:rt:ru:<l ,l/IIJéli de clci{l ciciegr1cia 1cqueria um dclegndo titLiiru
,,-iH'ic' cl;1 ~iclcg;¡ci;1) e ltllJ!o:~ dclcgaclos é1djt1ntos (élt!A:ili;.nes do t::ular)
lill;1:J!tlS :1 :~1;-rss:fic:~\:ilCl cLt clcltg;KÍét o e:-.:igisse Delcgacias cie primcir<1
L éi!U~Clfléll:'li1él!J1 qtii!l!(' cicic~!<Hlo:; adjl!ntos No Est8clo do !\io de J;1nciro
( 'crdcr 1, e' !C'gocu¡ le m SIW puí¡Juu o!n:n,~feur Fsfn de lego-
;: lu C\:gc qt:e 1élflill 11s delegi'lclos titulélres como os ndjuntos p~)SSLJéHn
cm(; lronqu;/n l1(jlii, /!1{/o (; reso/J·¡do Jn hose dn com'c'r\(;
;l:¡J)(;IJlíl ck éJclvo_u;HJ(l, llÍ:l~!tJC''ll podcncic), sen: ele, c~Jncorrcr ZlO c;ngo
Nos suh,írhios 1!(7 hr:g{n dt) 1'/Zillhos, i1!J/ e liD (jlfi'IJ!n o cohL'('()
\ ~ e;¡ 1~ 1, '-u 1u 1 s: 111hn 111 1k e; e 1, 1 11:T "s e el e s ti él éllll o riel él el e, el e ve m, se g t: n el o
do 0/t!Fo. A (j/1! o que !cm (; fu!"/o el(' coF:-r; ou de aceS,\(J/"!O.í,
"llétcii~~;¡l; l~r<tsilcr~ ·,ser !rtlt<tcios sempre de ciou!or, tcndu as iniciais Dr
m-;-omhmncnf(), /J;"i,Fn de' hor !sso rudo S(; ncmlfccc por cmnn
~::11nc:cHiélS ;m!c_<.: el-- illJrnc /\iérn de pos.suírem o lÍtulo ele élcivogaclo,
desst: morro oqu/¡¡crro, que é 7rmofáh:'icn de lodu)cs /_á sncm
¡¡;ccis;Jill Cjl!illiílcar :;e tnllll CC1JlCLlrso pCrblico antes de assumirem o CC!rgo de
focmfo.\, !iros, homicidios por cmrso de lf¡l¡ horljrlo de gá.1. ,1\!n
clcic~l<lclo ! _st<lS é1LJtoridacles policirlÍS s~o ché11llélCÜ1s tradicionrllmente de
centro do cid,rde cr¡sfc de rudo, asvrssiJrnfo\ de: fJ!fJsffluf,·;\,
e! e 1ei 1d n :; !'u rq ll e e\: ere em s 11 a élll t o riel (l el e e m no m e ci os ro ci eres J~ 1di ei ú i o
1
;
hn¿.:as de ¡;;osfi!ufos, /Jugos de hor, hngo·, de J''zl!lhw, hngo.\
e E.\cctltivc; s~u j¡;, esticlos de poderes ''cleleg11dos".
defomí/((r, !!fdo
CacJ;¡ Delegnciz1 ele Políci;1 possuÍCl tcmtns equipes judicdnins quantos
dcle:~g<Hlos éldjtJntos O cicieg<lclo adjunto crn o chefe da equipe judiciánn, As del egn ci é1S er-c-1 m i cJ en! i fi Cél d é1 s t a mbém cm fu n\:~o do s!ofu.\ S()C: éí i
formadn de LJm ciett·ti,·~-ins¡Jetor, um cletetive, um escrívi'lo policial, um de seus ustJ~rios Tod;¡s cl;1s se siruam cm zonRs sociéil e economÍcnrnentc
,. gn1pC1 ele irwest ign~~?.o e lllll gr-upo ele opcr8c;?ío Cadélum destes dois gnq-,os heterogeneas, mistur8clas, célrRcterísticas c¡ue, ali<:S, n própria cidéldt posst:i,
cri1 constiiL!Irlo ele d .. is •,wliciais subalternos (?.gentes dn autoriciélde polici- gente pobre e gente r-ica 1110rando na mesma ú-::r1 Tal como sugercn1 as
rli). Como pessonl nu:-:ili;1r h8via télmbém motorist8s, carcereiros e pessocd declaré~yoes Clcimn trémscritns, o tipo de incidente predomimm!e vr.: i;1
ele l'Impezil (_serventes, L1xineiros). téunhém de e1cordo como tipo do locol ondc ocnrTcm. Meus cL·ldus
demonstram que él atitude e a conduta da pc!icia muclé1m clar{lmenic:
Por océlsi~o d(- trcbcllho de C(lmpo, n Polícia Civil do EstCldo doRio conforme os diferentes códigos culturRis dos p;1rticiparl!es dn ocoi-ICrKia
cie J<meiro ! inhél Rl'·Uf11ClS Delegélcias Especializadas, que eram as de policié1L Toclavir~, ;:lgumns cnracterísticas estr1:turC1ís e orgR:liZílCIOrlél:s
Homicidios, Entor:::.cer1tes, Seguranc;:Cl e Proteyao ao l\1enor, Roubos e permanecem (lS mcsmRs Segundo um delegado
Furtos, e DefrRticicl\>·eS A DelegélcÍél de Polícia Política e Soci(ll era outra
delegc1CÍé1 especi8Ji¡::.--R, eJlCélrreg8cla de apurRr crimes ~ seguranc;:n n8cional, No Centro do c;dode e nos Slt!Jirrhios, os policioi.l silo
vinculéldn tnmbén: ;:; Governo Feder8L A Divisao de Capturas, a Polícia mrforidmles, as nnt!hercs dáo "holo "¡;nro eles, os homcus os
-Interes!élcÜJ?,!, n Divi:1o de Controle de Diversoes Públicas e él Divisao de U',\j}(!!lmll Nos hm1Fos neos os ¡}()/icwis w!o frorodos como
Seguran¡;:n de Órg80' e Sistem8s (que controlélVCl a seguranc;:a bancáría e as em¡;rcgudos- como ,\c'n·rdon.:.) p1íhlicos (¡J,'r..' rco/mcn!e somw
empresas pri\'Clci(!S d~ seguréln<;:íi) comrletcwam o corpo ndministrativo do - e usados cmJorme os t!llere,\:\·es dos ;·feos Nt:sses hoinos,
Depar-1 (l!llent o de Pr',:.::ié1 Especializada As DP do Estado doRio de Janeiro lodo nnrndo e: dmr/cw ¡~-urrelu!l!o, !mio r•tundo que J'C!ll (T
esta\:C\Ill sob 2 supcn.•; ;2o do Derélrtarnento de Polícia Metropolitana ou das j}()/ícia q11er se sen'ir de nc)s__ _
Coordene1dorias ele s._guran<;:ri PL1blicé1, conforme a localiza~ao da delegacia
(Costé1, 1979)
Essas palé1vras conflrmnm CJUe os policiRis ti~m gernlmente conscien-
ciél- e s~o ambivalentes c. isso- de c¡ue o poder df: polícíél é ilógico ern setJ
Meu trabéllho d. c-1mpo foi efetuado principalmente em tres delega-
objetivo e em seu exercício,já que se destina e1 clé1r ¡,poi o;:¡ umél ordem soc:Í;.l!,
ci;~s, sitllRdas em rontcs diversos dél cidé1de: Zona Sul, Centro e Zona Non e_
política e economÍCi:l hiernrqllÍZnda, dentro de Ll'll sistemél )err~) n111· lni
í8 - lntrodu¡;:ao lntrodu¡;:ao - í9

1e ó r i e él
e e o 11 s t i t u ei ,.:m éd men t e es tru t u ra do péH n ser u ni versal is té1 e i g u al it 8- diferentes delegncias ()bservei mais de 150 interrogéltórios de suspeitos,
io Muitos el eles nceitnm csse estr1do ele coisns, éllcgrmdo f¡]osoficamentc 2
J u m ig u al nú mero el e :w d ien ei as, rd é m el e u m m en o r nli mero el e out ros
Ílllpossibliiclacle ele 'l1Uté1r é1 perspectivo dn socieclélde m1 do sistemojuclicial procedimentos polici:~is. Efetuei 50 entrevistas forrnélis com políciais e
e legal él respcito cléi :;olícia Eles costurnélm dizcr ([LJC, "afim1l de contéls, todo advogados. Além disso, mRntive centenr1s de conversa~oes informe1is com
mundo é corn.1pto" e "qucm nao tiver pecados c¡ue atire él primeira pedra" os mesmos informélntes, cm situac;:oes sociais as mais variadas
Méls é muito COillLITl eles se sentirem ofendidos por scrcm ''usc1dos" pelas
classes nltns e cons'cleram os ocRsionais presentes ou fovores recebidos das Nn verdad e, grande ¡nrte de meus lllrllS valiosos déldos fornm recolhi-
pélrtes interessadél." como justos tributos por setJS "serviyos" o ex.er·cício dos nessas conversac,:oes informélÍS, Cllle ocorriélm ciurante os plantoes
estruturalrnente di~.torciclo do poder ele políci?, e os riscos Cllle correm no noturnos e nas pélusos LÍe nossas ativiclcldes_ lsso se explica pela é1mbigüidade
clesempenho de sw, profiss~o Evidentemente, 2·s recompensas e o relncio- dn ntividade policial t:m relac;:fio RO sistema jurídico formal Além desta
nnmento pessoal sz:o interpretados de maneira diferente conforme o s/afus ambigl1iciade, as prRl:~:ls formais de investigélyao policiéll no Brasil sao, por
clr1s partes. forya de leí, efetue1da~, em regime sigiloso, como uma garantía do sucesso
do inCluérito_ Em nenhum caso os cidRciaos comuns tomam conhecimento
Rer1lmente, s:--:gundo os policinis, él Polície1 Civil doRio de Janeiro usél dos detéllhes das Rtividéldes policiais.
trRdicionédnlente p.-._~ssoas nRo remuneradas, estranhéls apolícia, para execu-
télr suas télrefns_ Era o cRso dos escrívRes m/ hoc, leigos ClliC elaboravélm os Nestas concliyu;:s, o Rpoio pr~tico e moral que recebi do meu amigo
autos dos processos policiais él pedido do delegado ou autoridncle eCluiva- delegado foi essencial pélrR viabilizar esta pesquisa e definir minhas relélc;:oes
lente, em trocn de cventuais beneíicios ~uc poderiélm resultar de sue1 com os out ros polici(\:s Entretélnto, desse relacionamento amistoso como
~

éltivid8cie-'_ delegRdo resultava as vezes o inconvenient~ de minha identiftcac;:ao com ele,


ClUe tínhR posto superior ao dos outros policiais_ Procurei atenuar essa
Essr1 priltica, ao Cllle pé!rece, continuélvél em vigor entre os policiRis da identificayao tenc!o ,:. cuidado ele nao me envolver ostensivamente em
cid(lde do Rio dehneiro. Isso se renetia, por exemplo, no horário de assuntos internos da(; ~Jegacia, mas em cenos casos nao pude evitar e¡ u e essa
tre1balho dos deletéldos adjuntos e de suas equipes_ Teoricamente, eles identificac;:E1o dificu!ti''3Se um relncionélmento mais estreito com outros
f8zÍ(l!ll ur11 plant~o continuo de 24 horas, seguidns de uma folga de 72 horas. informélntes.
freClllentemente, ¡;~ném, eles trabalhéwam ;11ais do c¡ue isso Ajustiflc(ltiva
of1cial desse tré1bcdho e\cedente era a escassez cr6n!c2l de pessool nas Com freClCJer:·::.<:- minhas atividades de pesquisa eram proibidas_ Por
cielegé1cias_ J\1as n.:í.o se podiél descarte1r, como explicay~o dessas horas exemplo, nao me J-lP::·: litiram fotografar as delegacias, e era solicitado, as
e X t r él S, a e X j S t Cll e} él d e Ll lll él C O Ill fl C t j t;: ~ O Í ll te rn él p O r V él nt ~ g e ll S eX t r· a S vezes, R nao gravar ü· fatos Clue estavam ocorrendo. Contudo, em outras
resultc:mtes do exeicício do poder de políciR ocasioes permitiam-: ~e Rté me incentivRvam a registré1r as ocorrencias,
como foi o caso do au~o de f1agrante Cllle descreverei em célpítulo posterior_
trabaJho de C1111p0 junto as deiegélcÍas foi efetuado de maryO (l
Ü Se me autorizRvRrr r: u nao a assistir a determinada ativiclé1de, isso nao
novembro ele 1982_ Ele consistir1 principé!lmente em minha permanencia nR parecia depender da 1:1tureza da atividade em si_ Dava mais impressao de
úea de ay~o de uma delegacie1 durante um plélntao de 24 horas, acompa- ser um exercício élrbdrário de poder, destinado a me fazer lembrar da
nhcmdo todas as é1tivid2.des desenvolvicias. No decurso desses oito meses de situélc;ao de dependen¡·ia e de subordinac;ao em CJUe me enconlrava díante de
trabalho de campo, par1icipei de cercél de 80 pl?.ntoes de 2Ll horas, em trés meus informantes e de:11onstrar su a desobrigac;:ao de me prestar satisfac;:oes
quanto as suas atitude:;, o que bem revelav(! o tipo de relacionamento que
~ No Brasil, a apropria¡;;i1o privada dos car\6rios lem sido tradicionalmente associada com prálicas eles julgavam mélnter com a socíednde_
de apadrinhamenlo no Sistema Pollllco (Araújo, 1 982)
- --------- - -- - -- -~---- - -- - - - - - - - - - - - -

Dcsck o Jnicrc' rl~· 1 11,~11


lí<lhr:illo de Célmpo os poiíciélis tive~ré!rn C O 11 fo r Ill e _1 él l1l C 11 C 1O ll e 1, C ll e r· él ll ~ Cl S C 111 e~ 11 t e " Í n V e S t Í g é1 d() ', pC l d
,, ,,,,,,, • ,r, C· e e C]llt' ~:1
'''11'1'r''''I'']P ,. ' j'' ", ' , , ,
crd ;!ltrclpc:.ngo 1
e ;¡e j vog<1do Isso talvez c>:pllc¡ue
. po!ícÍél, mas t(lmbé1n c];¡;an¡entc clotitrinnc!o _,\pós 21lgum tempo. C!C'~
:·it<l cclrHltli<: mc:str-cl\'íi!!l-:J;e: ,-clllLl c:-a ;-1 lei e ;¡e; mcsmo tempo él desobe~le­ come\·;.n<lm í1 dizer qt1e eL! iét iinlln "o aspecto" ele policial eu estc1v;¡ l!';í\ildc~
'· :<:111 !Vítllléts \'c:rcs JL!st:flc;-1\'éllli ;¡herí amente essa concluta como fazcndo 1crno sem palctc1 e grc-1Vé!trt, camisél comas n1ang21s él!Tegé1\'.élclétS <!té(!
¡:;¡¡-te cie SliC':S ohrig?l~OCS ¡WilC:ÍilÍS e o t ove 1o e ex i b ia 11 m j e it o es re e ic-ll el e a n d <-Jr e el e h étl c-m ye-n o e o r J1 e e! t i ~,
ceítamente diferÍ;¡ muito do c:.:ibiclo por u m ac<Hlemico hrasileim lssCl e~::
l )¡¡¡ íilii e' c:s pcríc),ir:;.; :; !.CHill2Ís cb pesquisa, a policía ia tambérn me
1
a consec¡lJcncin ele un1 processo consciente e inconsciente ele sociali:DH.~;1,,
''¡w.·;qllis;trlcl.,'' 1\lr-lrltÍrli<llllCJ- long2s e ''nmistosas" conversas, clurame as qt:ando alguém C()llVive C:Oill a f!CllÍcié1, otl viré\ po]Ícia] 011 ficc-1 CO\ltré\ eles
C]lléliS eles 11 1 C~ ÍllC]liÍrÍ;¡¡n l: rc:Íll(jliÍriam piHél dcscobrir minhas intenc;oes A polícia ni1o reconhccc difcren<;:as E::líl torrl<i explícitél mr impi!, ¡(;~ ;:
élc:<HJelllJClS t' ¡;roposito~ pnlít:UlS Frél um processo cujo tom oscilav2 entre existéncia du desvío
o ¡·eservnclo t. o vecr11enr:~ t\ ~ Jllé-\ formalidacie extrema seguian1-se freqüen-
ll:~ 111Í~ll rndlldctdes, llléi~ t.~LJ ¡ ;féiV<l sempre em gu?.rda, enquanto in sencio Descrever·ei no pro:\imo capitulo, ele um ponto ele vist<! foriJL\Í, ;¡_-;
Sllhmcticio (\ r·igomso jiiClCec;<-o cic investigny~O. Ao mesmo tempo, eu era características do sisteme1 processual-pen;:¡l brw;ileiro e tarnbém os disposi-
const:1nte111C:1te ciotJtJ-illéHlo sobre os pontos de vist?. da polície1 quanto aos tivos legais que estruturam ns (]tividndes polic11is no Brasil Esses tll)JÍLCJ:;
srstcmélS iuclrcicl! e le~~21l o 0LIC incluí;:¡ élté mesmo sue1s opinioes sobre a SRO da maior Í111pOI1RnCin rorque VOl! CO!llf!ar~-]os !lOS Cí1j)Í1LllOS SllhSCCJllCil-
socicclacle e;; ctiltlll-<l de: Brc.:.il e doRio de Janeiro tes comas prRticr:s renis eh! policía, que distorr:ern e clesobedecem é1 i~!

Pesqui S(l r él po líe iél o fer(CÍ él as vez es momentos dificei s Por urn lado,
eu tinhél n noy~o. muitc incómod<1, de ser um investigador proflssional
cercn el o el e pcsq u i sa dores profi ssi o na i s que u sava m basicamente os mesmos
métodos que eu Sobrctucic:. eu eslava sentindo na pele o que é ser
'; p ro fi :: s i o n ;:¡l :~ 1e n te " e s t u el a ci :"· p e 1o m e u p r ó r r io o bj e t o d e p es q u i s a T a is
silliétyfles trél.zÍClill-me éllllÍLJde 1 impressao ele estar testernunhanclo a uniao
espt:ri-1 do usn el o poder ron~~ :; métodos de gcréH conhecimento Como um
pol1cial fcz-l!'e leml-nM c!tiid .e uma entrevist·n formal:

Fu im·csfigo 1(}(); ::ssoos, e e/os nc7o pcrcehem que esttio


se ndo 1m ·es/ igodos

Por mrtro ];¡cJo, R puiic:; possui uma iclentidRde ambígua. Ela carrega
lllll evidente "estigmR" dec:.. : ·ente da suspeite1 de corrupc;:ao que lhe é
pCrllíél!lCil!C Ílllpl11é1clél pelo SCL' _Jélpe) estrutural de tornar nexÍvel él aplicac;:ao
ele: lei para proteger o ( oli cini r.. en te) r·ígid o e fechado sistema ju d icia 1 Por
clcfini~·,~o. a polici2 traté! clos é1~>Jectos escusos e "sujos" da sociedade_ Essa
erc1 2 rnz.i'lo d?.s diversas tentRt vRs de me "contaminarem" com sua identi-
ciélcle
PRÁ TlCi\S PROC:ESSUAlS

BRASl LEI RAS E POLÍ ClA

Princípios Gerais, Organiza<;:ao Forn1al

Prop6e-se este capítulo 8 enunciar os princípios gerais dos sistemas


legal, judicial e penal vigentes no Brosil, bem como delinear a moldura legnl
que restringe a atividade policial em fRee desses princ:pios. Tais informa-
c;:oes sao impo1iantes porque fornecem a norma corn él qua] poderao ser
confrontadas as atividades policiais realmente praticc.das. Procurarao os
cRpítulos subseqüentes mostrar como essR concepc;:Ro legal e judicictl da
éltividade policial é insuficiente para justificar as práticRs policiais. Essa
explanRc;:ao gerRI é também necessária para evitar confusRo entre os
sistemasjurídico-penais brasileiro e anglo-americano, 1~ que, formalmente,
R posic;:ao da polícia é completamente diferente em cnd?. ·_¡m desses sistemas.

AtuRlmente, pRra ser considerado legalmente~,-, no crime no Brasil,


um ato- segundo proposic;:ao ele Beccaria de nu!ln poe:.-.1 sine lege- precisa
ser como tal CRrRcterizRdo - "tipificodo" - pelo CócL~ J Peno! Brasileiro. 6
Deste Código const<lm, além disso, as penalidades prc: critas par<i. cEJda um
dos crimes nele definidos.

6
"Nao existe crime sem prévia defini¡;:ao pela lei Nao há 'Jenalidade sern; évia prescri~ao legal·· (art
1",Código Penal). O Cód1go Penal vigenle é tarnbém urn Decreto-Leí -í:- Estado Novo (Decreto-Leí
n" 2 848, de 7 de dezembro de 1940). Es se Código divide-se em duas P2~·es: a primeira, parte geral,
estabelece os principios gerais da Lei Penal brasileira: a segunda, parle ·!Special, tipifica os crirnes
e prescreve as penalidarles (arts. 121 a 359, CódigC' Penal). A pan~ ¡eral do Código Penal loi
reformada posteriormente por legislayao votada pelo =:ongresso Nacio11al (arts_ 1 o a 117, Leí no
7.209, de 11 de julho de 1984). As conlravent;;óes penais sao derinidas ~:>ruma lei federal especial
(Leidas Contravenyoes Penais, Decreto-Leí n° 3688, de 2 de oulubro de 1941, arts. 1 o a 70)
Prailcas Processttc-lts Drastletr2s e hllt:~tr:
------··------
p 21 ssívc\ cie apelrl~:~o J\;r ki (C:ódigu ele Proct:sso PcrwL rllt l )(l), ~~~~.:· ·
.'\ lt~u is!;1~~~u h1 ;:_'.iki¡·¡; q~¡e rcgc e; p; ncesso penal estatuí e~ ¡nincinio
que;: ubrig;-te,:~c, de prucl\::;ir él prc;vél (fr.\o~) :ecé\Ííl sobre aprtrre Citl~-,
cl:l l!v¡c C(;::vc;KÍmcJ1i\l cin !lii/ Segunde juris!as br-élsileiros (ve¡, p ~:x,
clentrncia, 0 jur1 pode orc~cn;:n c.-r-c~ff;cio (por con\;1 proprl<l) q.t;t;qtrv
l(ns;:, 1 CJS~' :2 ·::.:2T:) :: rci\.1icli: )(:gislrl~:~c acintou Ufl! sisterl1i1 é\ltemé\;ivo
dil:g(:nci<l (i 11 ;ín:nc;_-ñes, irwcs\ig<H;oes) C]Ué considere ·IIllportillllC i11::s:~:.:
:lil eL: pr()v:. leg;Jl qt1c \ c1n? se~' sistcm;\ pelo qu<d e .iuiz ter:: é\ libcrdadc
d Cl S p r O Ce el Í lll e 11 (() S _ll ! c\1 Ci é\ 1S
:k ío:·:¡;¡: s:;;¡ dn:ís~iu ÍJ;t:;c~:HLJ c'\clusrv<mwntc em sua própria consciencia
_c..;c~:u1:dc: c1 sis!em;\ l1; <1:-;iic¡rc1 (élns 157 e :18!. 111, Cóciigu ele Prnccsso
De f'orrné\ cunt r2P Íé: r1Cl que ocorre é'l11 relac;;iw ;ws jt:li\l: ',_ ,¡,y,
Jl c1 t<l! 1. e1 Jl:' /. c1 t'VC t 01:1 ;¡ su;-! clecis;J e: <-1 t cndcncl o;¡ o se u pró p 1i oj ulgC\rl 1cn! o)
tcoriulrllCnlc ckc:idem scgLrnclo Slla:; pn~priél" consciencir:s, o jt!Í?. ;~: ','C'.s<
:11ílS J¡mÍtéHL' élCl qtle C(li1Stél des autos A teori;-1 iuríciicc: hré1sileir21 estipulrl
cxp'ticar c.:justit1car SLlél c\(·,::s~o ao profer·ir a s:::ntenc;<l (art :18 L Ill. C:chi'~'
qtlc "o CJliC :;i\o est{; nc:s autns Tii'io cst~ no m:IJH.io" (Acosta, 1974 22) Isto
ele Processo Pen;¡l) S21o ;¡c(~itas, durante n in~;[nl~:¡~o- qwtÍSC]lltr prcl\ et:, ·: ,·
signif1cn Cjtlc rwnhtrrl1r1 ciecis2c judicial pode ser tomad?t sem leven cm
poS Sé1 !1l ill f1u ir ¡ 1(\ el eei S;-i () el o j ll i z T (liS r ro\,(\ S S~ Cl eX(1m eS el e e() r ¡)( ~ :k
ccmsirler[l~:~:; élCJLIÍio que estf1 escrito nas rcspectivr1S pec;<1s dos autos.
el el i t o , i nves 1i g a !V oes e m g cr al (p e ríe i a s ) , e\ e e i é\ ¡·a ~-o es d o ci en u n e 18 d , e;1r!
O p : o e es su pe n;:\1 é se m p re ci i rig i el o por u m j u i z Os p ro e e d i m e nt os fiss~o, cleclarClc,:Oes da vítimél, documentos, i·1dícios e circunst~m:ií-\S
J ti di ci a i s lé~n: a pan ici pél \:Ro obrigc1t ória do acivogaclo de el efesa e do
Teoricélmente, 11~0 e~iste ~lléllcp1er hier:H~LIÍn obrigí-1\Óri;¡ en! re c~s';>
promoto!, este encarrcgr1do ci?. acusa¡;:ao. O promotor é o titular da nc,:ao
rrové1s 1ndícios cie orciem técnico, tRis como reléllos de 1este!llun\J;-¡s
pcr1;1! j)Liblicrt, DLI sej:1, eie se encanega da acusayao nas z,c;:oes penais
com¡;ulsórias O promotor é lcge1lmente clel;nicio pela lei como fiscal cia lei ~elntorios de institutos ele criminolog'rR, n~o cerceiam 21 decis~o do jt1j
e lambém CO'llO ac!vog;-dlo do Estndo. Contuclo_ a \ei faz disiinc;:~o entre inclício e pr!'lVC1 Os inclícios s~o cief'lni~!c::-.
e 0 llHl " él s ei re u nst ~ nei c-1 s e o nh ee i d ?. s e p ro v R .~\ a s Clll e , re 1él ei o n í1 ci ?, s él Cl L1 t e~ .
Os proceciimcntos penais podem referir-se tanto a crimes cuja inves- permitem a conclus?.o de outrR circur.stflnci?," ;:art 219, Código ck Pi o~c~s·
tigay?lo e punic;:8o compe!em ~ nutoriclodc pública- crimes de ac,:ao pLlblica, Pcní11). O termo "p:-ovt1" n?to é formnlmente Le unido pelél leí Diz-sc c,'.l·,' ·
C]tle motivam compulsori<nllente ac;:oes criiTlinaís- c¡unnto a crimes cuja s\sterna est?tbelece él verd<-1cle re(l\, n~o a verc1Clde formrtl.
invcstigac;;:to e~ punic;:ao rcpresenlí-nn mr1téria de ay~O pc.rticular: crimes ele
rlc;ilo privada Em cnso~ c!P eH;:~ o penal compulsóriCJ, cabe a quctlquer cidad~o Télnto 0 inquérito policiRl como o irv1uérito judici31 posstJc:;: e:·
ou autoridacle pública dar iqício aos procedimentos, t8o cedo tome conhe- comum o fato de serem basic21mente pec;:as ·~scritas. Nos autos, so:J1ci11~
cimcnto da existencia de qualquer fato tipicamente criminoso_ Umn vez fl.mcionúios c-nrtorizéldos podem registren suas próprÍRS pé11nvi-í-1S, rl mr:Íoi :<:
inicinda a ély~o pCiblica, somcnle o JlllZ 1em autoridade pé-na ordenar o obedecenclo a fórmule1s l~gnis trCldicíonais. Assírn, RS RL!tor.!dcH.ies poltcin!~:
21rq\livamento clos éHJtos o u iudiciais tracluzem em_iarg~o legéll as declClré\,~oes dos suspeitos, inciicií-1.clu:-:
rét.~s ou testemunh?.s Os esuivaes ou escr·~ventes policiais ou jLIC:.:c:;~.:~-
De u m juiz criminol espera-se C]Ue mostre total irnparcíalidade entre cl evem regi st nn· essC\s de el nrél e;: oes ci ngi nd o- se éW que !hes é di t aci e
?. ncusn~~o e R dcfes(l Entretanto, ele tern de inicien ex-officio (por conta ?. u ¡ r¡d él el~ e o m pe t en t e - o j u i z o u p o l¡e i ?d ~~ ne arre g él el o d R i 11 ves t i
0
própriél) os procedimentus penais sempre C]Ue chegue ao seu conhecímento (art 6°, Código de Processo PenRl) Os escri\'~es gozam de fé pt'Jblicí-: es~
é1 existencia de quolquer ilícito penal. Certos procedimentos, como o inteiramente respons8veis pelR guarda e pres¿:rvély;1o dos autos. Por le:, CJ:;
interrogatório do réu, exibem também algumas características inquisitorií-1ÍS é1Utos do inquéri~o polici21l devem levar as inicíais da autoriclade c¡ue clirig:\:
cRd R U Ill dos (1 tOS dO pro ces so ( élrt. 9, C óci Íg(~ de p roces so p ené11 ), e t O ci CJ:~
Por esse sistema, 1Rnto o juiz como as panes 1em o direito de trazer os é1utos judicia!s s~o seqC¡enciCJlmen~e numerados pelo escriv~o juclicir::
é10S m1tos tu do C\Cluilo Cllle considerem importante para o caso. Quando o juiz
se recu:::?t a admitir a inclus~o de qualquer fato nos cHitos, tal decisao é
26 Prciticas Processuais Brasile~ras e Polic1a Prát1cas Processuais Brasile~ras e Policía - 27

Os illqlléritos semente registr;un ;¡s pró¡mc:1s pal;1Vr-as clos peritos, do N o l3 rasi l, por leí (a rt. 26 l, Código el e Processo Penal), a pa rt ici pa<;:~o
j) lO l1l O t O f O ll el O r\C j V C• g (1 d O cJ e Oe f'e S a, C] ll <1 f H 1O e\ e:-~ faZ elll él J g L1 111 r C 1i1 ( U Oll
do c1cusado nc:; proccdirnentos legais tem sempre de ser 8Ssistida ou
intcrpocm Lliln peti\:~:o. Contudo, mesmo eles, p:lé-1 leí (r.rts. l CJ5 e 212. mediada por u m aclvogado (dircito de ampla defesa) 7 Este direito é\ 21mpla
Código de Pr ocesso Perlí11), s~o obr i~C\dos é1 se dirigir a o juiz qwmdc; el efes<1 signi ftcé1 t ambém que a o acu SéHl o eleve ser permitido incluir nos RLI tos
i r1t e r ro g a m Lllil ¡- é 11 o u :1 s t es t emu nIJ Rs O j uiz re p;¡ ss a as per gu nt 2 s él o r é u o u tudo o que cor:sidere relevante p2ra a instn.t~ao de seu caso. Qualquer
t estemunhas Após a rcsposta, o juiz el ita él O escr iv~u tc:mto 2 pcrgunlil como restri~~o a este direito pode ser cngldda de violo<;:ao a u m clireito garontido

él res ¡1 o s l é\ , lit e ral men t e t rael u z ind o o s el e po imen t o s A inq u iri~ 8o d e s u s p e i- por leí. Tais viol;-1~6es pociern ser nlegacli1s a través de UITJ recurso, que pode
tos, tcstcrlHinhas ou iw.lici;1dos fcita pelc1s élutoricic1clcs policii1is eleve obede- anul eH porci a i u:_r t o t olmen te os pro ce el imen tos legai s S o mente a p rovCl
cer ~s JlleS!llélS fcm11aLdades (art. 6°, Cé1digo de Pi ocesso Penal). produzicla sob ~:resun<;:ao de iguc1ldacle de condiyoes entre Cl defesn e é1
acusR~ao pode ::er considerilda, sem sombra de dúvicla, como prova dos
Diz--se que o ¡;·,terrogéltório do ré~u é "pe::soal", nao podendo o
autos num inqt:r -itojudicial. Portcmto, teoricamente, só esto evidencia pode
i1dvognclo e o promotor dele particip;n (élrt J 8'1. CódiQo de Processo
a poi a r n sen t en 1, 1 do j u iz o u o ver e d i e t o d o .i L. 1ri .
Pem1l) Antes do rnícÍo do interrogntório o juiz - e él polícir. - ndverte o
é1cusaclo de que, por !ci (arts. 185 e l98, Código de Processo PenRl), ele n~o O juiz, em su a senten~a, após identifica: as partes, expoe os argumen-
é abrigado é1 responc!er c\s perguntRs que !he serao feitRs, mas Cllle seu tos dél ncusr1~ao e ciR defesa e indica as razoe~ legais e fatuais que dao npoio
silencio poder~ prejudic~-lo O juiz expoe os termos da RcusR~~o c~ntrR o ao seu convencilllento. A senten<;:R define iguRlmente o artigo ou os art igos
réu e fRz in el élgRt;:oes sJbre seus de1d os pessoél is e se el e te m conheci mento da lei criminal r1plicáveis ao caso. A seguir o juiz absolve ou condena o
cios ÍRtos que estrío em_julgRmento. Perguntél-lhe tarnbém a respeito ele seus acusRdo, justificando sempre sua decís8o íinal (ans. 386 e 387, Código de
éllltecedentes No casode o réu Rlegar inocenciR, o juiz "convídR-0 11 a indicRr Processo Penal). No caso de o réu ser cor~denl1do, oplica as penas e oS
élS provRs que possnmapoiRr essR é1legr1c;~o (art. 188, Código ele Processo medidas de seguran~a prescritas em lei, bem,como fixa o número e a dura<;:~ o
Penal) A qualquer momento C]Ue o juiz nch;n necessúio, poder~ repetir o déls mesmas. N Ro existem no Brélsil penélS o u senten<;:as indeterminadas. s
interrogatório clo réu (Rrt. 196, Código ele Processo Penal).
Ao prestar s~u d::poimento, él testemunha el~ sua pé1lé1vrR de honr2 ele
fi1lar somente a ver-ci;:>de. No caso eJe o juíz perceb~r que ;1 testemunha Exislem algumac, :· cer;:oes legais a este preceito O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil
estabelece que n,-,, ar;:oes penais o réu pode autodefender-se. bastando que o jui.<: o considere apto
mentiu, dever~ C!lCéi!ll!nhar lllll?, CÓpin do falso testemLin!Jo a poiÍCÍél, que para tal (Leí Fe:i::~~: no 4_215. de 27 de abril de 1963, art. 71. §?)_Por outro lado. mesmo que o réu
iniciRr~ Lllll processo de perjCrrio O mesr110, no entretr1nto, n?:o é1contece disponha de um ?~"/Ogado, pode o juiz, em certas circunstancias, decretar defesa inepta ou réu
indeleso Neste ~-- .. J, o juiz suspenderá e adiará o julgamentc, designando outro advogado para a
com o réu, a quem é licito mentir, paré\ se deíender. defesa ( arts. 564, '1, 1, e 497, V, Código de Processo Penal}. No caso de o reu nao ler condir;:oes
financeiras para pc;;.ar o advogado, o juiz nomeia um . A assislencia judicial pública (Assistencia
As testemunhos ;;i'lo ÍnC]uÍridRs nR presen<;:R do réu, mRs se ojuiz RchRr Judiciária) é regui;w1entada pela Lei Federal n" 1.060, de 5 de revereiro de 1950_
que i1 presen~a deste estél innuenciélndo o depoimento, pode ordenén que ele As penas eram e ssificadas no Brasil em dois grupos: confinamento e mulla. A punir;:ao por
conrinarnento erí:!" idida em reclus~o (a mais rigorosa punir;::¡o pm confinamento). detenr;:ao e prisao
permnne~a forC1 ci o recinto do tribu na l. As test emu nhns nest e caso ¡Jrest a- ' l simples. Teoricam::-1te, a reclusao correspondía aos crimes mai5 graves e sujeilava o pr1sioneiro a
r- ~ o se u s el e poi men t os r, él p res en~ a d o é\ d vog Rdo do r éu (a rt . 2 17, Có ci i2 o de uma d1sciplina car::; ·ária mais rigorosa. De conformidade como novo Código Penal (arts_ 33 a 52, Lei

PrGcesso Penai). Após as perguntéls dojuiz, é permitido nO odvogado d~ réu no 7.209, de 1 i de ;::lho de 1984), as penas se classificam agorc; em priva~ao da liberdade (reclusao
e detenr;:ao), privo::_ao de direitos (trabalho comunitário, privar;:<)o temporária de direitos e prisao
e ao promotor f~zeren~ pergunt?..s il testemunha. Estas perguntils devem ser albergue) e multas ::xistem, além dessas, as medidas de seguran~a, que podem complementar as
dirigidéls (10 juiz, que a:~ repassé\r~ a testemunha. o juiz nao pocie recusar as penalidades ou er:!i::1 substitul-las (arts. 96 a 99, Lei n° 7 209, de 1984) As medidas de seguranc;;a
consistem em interr; 1mento em hospital psiquiátrico ou, nao sendo posslvel. confinamento em outro
pergun1Rs, Rmenos ~ur~ as considere destituídéls de qualquer rela<;:ao corno estabelecimento ac~ :¡uado. Podem também limitar-se a tratamenlo compulsório em cllnica psiquiá-
trica aberta (tratame11lo ambulatoria!). Ao conlrário do que ocorre em relar;:ao as penas, cuJa durac;:ao
caso ou Cllle represemem meré\ repeti~ao de perguntas já feítas. TRnto é sempre fixada pelé! juiz, a durar;:ao das medidas de seguram;;a depende de critério psiquiátrico_
quanto possível, deve u juiz reproduzir nos Rulos as expressoes verbais das Portanto, se nao existem penalidades indeterminadas no Brasil, pode haver medidas de seguranr;:a
indeterminadas (Thompson, 1983).
t estemunhas e el o acusado (arts. 212 e 215, Códigc1 de Processo Penal)
~'rát:cas Processuéli~ EHastleirCJs e f:lo!:c:c: -

VélfVí1\ nc1 1\r;: ;rl, ;1.s condi~:ñcs a C]liC í!cam sllhmeridos os réus presos

CJiW ;¡gtlé!rc:;¡¡¡¡ scnlc"t,'él clcflnitiva, ou mcsmo, em cenos cc~sos, í'<pós ;:.:


',:undcrl<lC.:ill fll!l lei; :11 t 20\ CócJ.¡go Processo Pcn;ll), goz<m: el o direitn c'í
rnis?io cs¡wc:icll ClS I'Cl~;stJiclores cJ¡~s C]lléllinc:c¡~:oes: ministros ele FstcHlc:.
~~cwun;:HIOrl~S ele esl:lllos e terTitórios, prefe.itn do DF, .secret~rios eL:
f20VCI IW ele f n· depu; c:tclos fccJcrélÍ.S e SCJlélCIOi e::, cleputéiclc:s estadlié\ÍS C
1

\Trc;Hior es 'llt!Ilic:ipi:i~;_ rnernhr os do Conseliw :"iacíonal cie Ecc>nomi;:.~,


(: i d ;H 1:1 o s i n"cr 1tcJ :; n e, i !v ro cJ o m é r ¡t o , o fl e i a i s d ?, :s f o r \·as A r m <1 el as e el os
(~(>r·pus cie l\umherr-c<~ _¡uízes e rnitgistraclos, qu(tisquer pessoé\S diploméldas
por fz¡ctJ!cltldcs .superic;r ~s el a Rept':lJlicR, ministros religiosos, ministros dos
T r j hllll (] iS d e C C!ll ((¡ S, C \- j ll rélC 1O S e fu nCÍO n ~ r Í O S 1l a él 1i V Cl O ll él fJ O S en 1(l el O S ci a S l (l (r.pelac;:Rc~ él O tr ibl!rlé1l ele segundé! inst~~ncia)
1 e p w ti~: oes f'c ci e r;¡ i s n: 1 es 1 C\ clw1 i s

Qucmto a outr<ls nc;oes pennis, as ciife~en:;:c.s s~o C]Uase scin¡L e


O clircito 8 pris:"l0 especiéll significa CJUC essas pessoas devem ser irrelevantes Né! milioriR dos célsos, os crimes s1o julgélclos, no Brclsii, ele
confinélcins em esté1belf.cimentos milit?.res OLI goznr de certos privílégios em ncordo com os pr oceci iment os mencionados En1 cert RS circu r1s! ~JlCJ ilS,
pris~n comum Télis pr:vilégios especificéldos no Decreto no 3 8 O16, de 5 de
1
entretanto, o Código de Processu Penéll estipula os d1<1mados ritos sumcí.:in~
nutubro ele 195\ inLiliC!ll hor~rios péun visité1s de nrnígos, pc.rentes e ou sumaríssimos, isto é, proccclimentos de cuna ou curtíssima clurnc;:~u T;-1is
cónjuge~ rot1pas especi"i~- comuns, neste célso, e meios de transporte. Essns eas os sao: a) e o n1r;1 ven¡;: oes pe n ni s (Le i no 3 6 8 8 ci e 2 el e o u t u bro el e l C) ¿\ 1 J .

1

'r e1~C1l Í85 foréllll est en eL 1:-:s a os di rigen! es sind i cR is (Leí no 2 860, el e 3 ] ele b) e1 e id en t es de t ráí ego se g u i ci o s de m o rt e (ho rn i:: ídi o e Ll 1pos o í s t o é, 11 ~ : 1
;¡g~~sto de ¡ C))6) e él oilciais da Iv1nrinha j\1ercRnte (Leí n° S 606, de 9 ele
1

intencional) ou de les~o coq;oral (Lei 11° 4.61!. de 2 rle éÜnil ele l9C;5) e
setembro ele \970). No célso de as prisoes locRis n~o oferecerem condi~oes crimes lirrados a drogas (Lei 11° 6 368, de 2 l ele outubro de 1976) t~
)!éll'il él aplicar;:~o dess:-) rrivilégios, pode o juiz permitir que o preso seja
cliferenc;:a~básicn ne·:~tes cosos é a nclmissÉlo de procedimentos "ele cor111 íli i-
confinado em suZJ res:.'~ncia (prisRo domiciliéir, Lei no 5.256, de 6 de abril ed e1d e'' no ÍnC]uéri to po 1ici c11 Cél so hnj a fl ngrR n te, a :nplúa nd o-se, as si m, él n
ele 196 7) Os oficiois i1~ eriores e prnr;:ns dns For<yRs Armadas serao confina- poi icinl no processo. Os pro ced imento s i nd i en :-Jos 1a mbém ene u,-¡ e: rn os
dos, se possível en' estnbelecimentos militRr·es (ari. 296, Código de
1
prélzos habituais e exigem é\presentél((~O oral das .slegac;:oes flnaís da oCLISél-
Processo Pen<1l) c;:ao e da defesa.
Resumincio, s8c~. s ~;eguinles ~s etRpas legais de um processo penal no No Brasil, o jLrlgnrnento pelo jLiri represer~ta umél aplicac;:fío espcc:;d
Dre1sil pClr;l cr imes cui;:: penél sejR reclus?lo (os procedimentos entre paren- desses procedimcntos penRis gerc.is em certos cr.:;os de crimes intencicm~:is
1eses s~o opcionRis). contra a vida. Nesses casos, a sentenc;:n do juiz singular, a o invés de condt';-,;.¡1
0 réu, abriga a C]Ue scja submetido é1 um jt'1ri. Os procedimentos formai.c;
l. (inc¡uéri!o P' ,: :in!, C]tJe se encerrn com u m relatório da preliminares sao, contudo, os rnesrnos, desde as !nvestigélc;:6es polici(lis il'1é
é1tJ;oridZJc!e r )licia!); as exposi~oes finais dos fatos feítas pela acusa<yflo e pela defes2t.
2. rlemmci21 clo ¡ omotor;
Nas sec;:oes seguintes procurnrei delimitar e, ambito legal el a ?.tivídrlclt
) interTogRtório do ré11; policial, o que sen:¡ de fundí-lmentRI importancia ¡~-ar2. a boa comrreensRo e
a correta compara<yao das prc'lt ice1s rolicie1ís no C]llf-' diz respeito él obediencí;:
,¡ (cief'esa prévi;-:), dos preceitos legais
30 - Praticas Proc2ssuais Brasileiras e Políc1a Praticas Processuais f-i·asíleiras E! Policia - 31

As Atribui~c)es Judiciárias da Polícia Brasileira: tem-se rnostroclo de valor meramente teürico /,.nbas as ideologías tem
participRdo das concepc;:oes elitistas dél soci,~dade br¡¡_sileira. 1sso ocorreu, por
Breve IIistórico e Aspectos (;erais exemplo, quanclo os juristas brasilei ros, ern :'u a mnioria, tanto os liberais como
os conservadores, procurararn dar explica~~o do fracasso da instituic;:ao do júri
Trndicionnlmcnte, ao lado de processo 21nteriormente descrito, em no Brasil (Fiory, 1982: 14 1). O argumento comum a os dois grupos é ele que es se
que cabe RO juiz prof2rir C1 sentenc;:a, situam-se C1 instituic;~o dojLJri e a PolíciC\ "fi·ncasso" deve ser ntribuído ao estndo "incivilizado" dn sociedade brasileirR e
No tocante é\0 jLlri, SCLl veredicto se carocteriza por n~o depender de nao é1 problemas JígodOS as ÍnstÍtuíc;oes legr1is
q u a lq u e rj u s tifi e Re;: ~ 1 J, j ~ q u e 1he é pe r mi t i el o cJ eei d ir ex el u sivRmen t e se g u ncJ o
su a consciencia e o~·; ditames do justi~~a Jvíns na verdad e, tRmbém RO jL:ri é A divergencia entre R polícia, de um lado, e a instituic;:ao do jL1ri e os
vedado contrari;n a prova dos autos No caso de o juiz achor que isso magistrados eleitos, de outro, levou, na década de 1870, a um interessante
ocorreu, ter~ o j ulg;Jment o que ser repetido ( art 593, Código de Processo acordo: o sistemR de duplo inquérito Este sisteJll~' consta de um ínquérito
Penal). 1\ corporac;:~o policiCll, por sua vez, cujos integrCln!cs detém o "poder policial prelimimn seguido de u m inc¡uérito judici1l ou instruc;:ao judiciol.
ele polícia", eleve agír de élcorclo com seu próprios métodos, ideologiR e
categorias (Costa, 1982). Em 1889 o Brasil tornou-se República. e a Constitui¡;:ao de 1891
delegou a cada u m dos estodos é1 defíníc;:ao e a orgcniza~ao de suéls próprias
O proccsso penal brasileiro foi regido inicialmente pelas Ordenar;oes práticas processuais penais. Em 1934, entretanto. uma nova Constituic;:ao
Afonsinas (antiga :legisiRc;:flo portuguesR) e, posteriormente, por mitra voltou a centraliznr essas práticas Em 1941 ~dotou-se o Código de
legislac;ao também. portuguesa. Os procedimentos penais portugueses Processo Penal vigente até a realizac;:ao de meu trabalho de campo. Esse
bascavam-se ampla:nente nos a tos da inquisi~~o cano ni ca, segundo os quaís Código confirma o sistema de duplo inquérito instituido em l87Q_
a tortura era muite: usada como meio legítimo de obter provas. Após a
independencia do B.:-Rsil, em 1822, o Código de Processo Penal do Império, Desde a décadR de 1870 o sistema de julgamento feito por juiz tem-se
de 1832, consngrc1u a instituic;:ao do júri como o procedimento penal expandido, a medido que a competenciél do júri te::11 declinado até atingir o
habitual. Nn décRda ele i 8~0, entretRnto, Rlei proce,ssual (e sur. regu!Rmen- estRdo atual: o julgamento pelo júri 9 é realizado ,,,)enas em casos ele crime
tac;ao) retirou do jt..:ri grande parte de sua cCJmpet'encia, extinguindo, por intencional contra a vid o. TaljulgRmento é precedic: , de u m inr¡uérito policial,
exemplo, o j(Iri cie ncus2.yao, cujas func;:6es pc.ssaram a ser atribuirlas ~ que é opcional, e um inquérito judicial obriga!¿': o, do qua\ participam o
poiícia (Fragoso, s.:data). promotor e o advogéldo de ciefesa U m ' corpo de ju; ;.dos", escolhido pelo juiz,
1

constituí um gn.1po seleto e sem1pennanente de"¡' tres"- os juízes leigos.


Por leí, forn¡11 atribuídns tRmbém ~ pol1cÍR func;:oes judicíRis, que
incluíam o encargo de abrigar as pessoas que perturbavam o sossego pt!blico,
1nis como vadios, p~dintes, prostitutas e bebados, 0 assinarem um ''termo de Competencia, de acordo com a teoría legal brasilei~a. é o dill"' J de um juiz, um magistrado, um
tribunal reconhecer um falo como verdade e ordenar o comoc'o::_ mento do réu (Franco. 1956 40):
bem viver". Té1ÍS func;:oes eram exercidas anteriormente pelojuiz de paz, e!eito. é também um ámbito. estabelecido por le1. dentro do quaf umc: jeterminada autoridade exerce o
por voto popular (Código de Processo Penal do Império, art. 12, parRgrri- poder que resulta de sua jurisdic;:~o (Marques, 1963 123). iJr- conformidade com o Código de
0 r.Jrocesso Penal (art. 69). s~o as seguintes as variáveis a seren: ·~onsideradas para definir o poder
·ro 2°; art. 2°, parágrRfo l Regulamento 120, de 31 de dezembro de 1842).
,
de jurisdic;:ao do tribunal: a) a matéria: b) as prerroga!ivas de fun~.:.:o do réu; e) o lugar em que o ilícito
ocorreu; d) a prevenc;:ao (prioridade dada ao tribunal que d!::c. inicio a ac;:ao): e) a conexao e
Nao é sem interesse o fato de que tanto os rnngistrados eleitos como o jl!ri continéncia (conexao entre crimes). Ouanlo él este ultimo, a coi , Jeténcia do júri prevalece sobre a

de acusac;:ao (grondjut)') tenham sido substituidos pela policía no Brasil. Os a


do tribunal que primeiro examinou ac;:ao o júri pode julgar qualr; er outro crime que tenha conexao
com um crime intencional contra a vida (art. 78, 1, Código de Pr~ cesso Penal). Excec;:oes legais a
magistrados eleitos.e a instituiyao do jLiri tem sido vincuíados ao nRcionalismo essa regra sao o latrocinio (assassinato para roubal") e seqOestr.- seguido de morte da vltima, que
sao julgados pelo tribunal origina! A recente proposta de reforma do Código de Processo Penal torna
e as correntes liberais do sistema político brasileiro. Contudo, a distinc;:ño, no
explicitas essas excec;:oes (arl. 563, parágrafo único). Competencia signirica lambém um poder de
Brnsil, entre as idee logias conservadora e liberal em relac;:ao él O sistema judicial legislar;:ao ou interceptar;:tw de órgaos ou instituir;:oes sobre matérias ou circunscric;:oes especificas.
;¡ políc:Íét recebe,? C]llt~l\éi uu r. dcm'¡ncÍél, íl no:ícia de um crÍ!i1C \)~!.

cnt~u_ tltT1 ¡;olici;ti pr:.:scílCJ?• ll!ll uime, é\ políciíl v: i nc; cncé1l~·.o ele sct! zn¡t,);

;1 po\ícic~ ¡,,stcwré; Cl inqt1érito e envia o~ él~l:cs ao JlllZ,

Os ir1C]t1ér-i:
. . el":'l ·' ~~··', ·. ·, . . -
' ' 1,~ 1
. . .
d 1~ s ;lCl e! eti n J el Cl e; e o r , r· •. , • . • . ..
:w p::sso C]\le o:; ¡;r 1 Jic;. 11 ~ e• :-, , . ~ .' llC "' 011 LdCJitOrJos (lniaterrtis).
· ·'·-~l( ... ,S(hCOll10iflC] 1 IISI[C····( ·¡.•. · · .
poiic¡¡¡) como l1~lC! e~ ¡·e-¡ljz·ul J··, J.'.-. )f JdiS llflJ dtC::I éliS) O IilC)llérito LJ gcr élirnellk él S provas n~o s?lo élÍnd<t ·:onclu~;ivas O proJrwtc:r
• _ _ . . . (' )LIIZ i ( rl,, ~ r
.(,,.() C ld1ltf; CJO ;:-. · ·
dtdo.s cin ·, '¡ L,~ ;:,e, OLJ llctO !nCltJJUO nos devo!ve o inquéíitc nO :uiz CCl!Tl él solicití1~:i1o ele :;ovas clíligéncias )HIJiu:¡i~
. . • . 1· ¡.• n d, ve-~_ 1. ne i,lll
lnCJlJer¡(rl ¡uclir·j·¡]
~ ( el o t 0 •. 1 . e: ¡ 1• p
.1rélsileiro,
1 "pnrte cio llltlndn" (' .. , ld- .. ~., s~gllnc o o brocado
1 O Jlliz IllíHCr, urn préll.CI pare• él exectly~O c1Rs dilí(~énci?t5,
•• • l OlllC td 1.rcnresent
1
1 ~r, , · _
Jlcli?. (1 CO!lVCllC!iilCJl(O cJo l.llÍ/' 'd.. .· . , <1 ll.llr .. Ontcc!e lllfOII1liH(éW
. - !'le! plé1l!Cil oc: élti(O j . , .
fiICéllll T'entrcll1hndcs" no rr· ~' ,. ¡. S e() lllC)LJento policié1l
) V'
o juíz cievc)lve os nlltos ;1 políciél~
: . ' 0 e e 5 -~ 0 , 1 o mando su as fe ¡¡ , .. - .. .
r1S demcl!S do proc:osc;o re '·t: , . . ) lélS ll,JJner éH(é10 seqllerlCiélJ
_ . \..,,- ~) es \·Csscm somente ~ 11 • -" _.
yé10 lndepcndente open.r.;os 'ter!élm nurneré1- 6. a polícin proviclcnci<:: as diligencias pedi·las (acareoyoes, c1Vcriguél-
y6es, latidos pericinis, 1nquiriy~o de suspeitos e testemunhas), terminnnclu
por identif!célr, interTogar e Í!lclicíar o autor cio cr:me no ínquéríto. A polícia
A ~cie_speito do sistemn iie provas teoricamen - . . ,.; . .
lllll?.•polemlcl cntr e os ¡·urístas ¡.,.1 ·¡ ,; te !lélO-hJer ctrc¡uJco, hrt informa o nome cia pcssoi1 acusCidCl e é\S RCLJSí1G6es que lhe s~o feítas ZlD
• · • - ~ é-lSI e,ros e Olilrc•s rv f1 · · .
Sobre o Véllor el o inc¡uérito ' ¡· .· 1 • - ' . r-, o ISSIO!lél!S dn areé\ legc!Í
h
Jnstituto ou Servic;:o de cstC1tÍsticél criminRl do e:tRdo; e
· . . · p,> 1U él como prov(l ·\ ¡ 1 ·
JnquerJto polici;1¡ ;;mduz . .. . ' guns Opilléllll c¡ue 0
.. . . . LtllJCclmente mformély~ . . .
111 (hcat1vo· out¡·o~ ··len, , C] · . . o, OLI SCJn, e lllernmente 7. o delegRclo (titul2r cla clclcgRcía em c1jC1 circunscriyao se clcu é:
1
t.:..< 111 ' LW O IVll 1
t ¡· · 1
11)82 -¡g_q¿¡) 1\ 1 ' ~- l r • , '1 ten o po Jera tcm forya de provél (Costé!
' .. '
1 o con éncia o u chefe el él Divis~o Especializad;,) en:. tminha u m relat ório nO ÍtlÍZ
, -~ ~ . e, esté1 JC,CCt que é1 policÍa é encélrr rr' rir; d , · · _ '
e ClJLl!llSté1nc¡ac- rPi·1ciorl':ld').S (l (). f'él t () ( a rt 6 o _t e.:::-c-:.. ,c. e colJgir provas
.J '-· ' ( • (¡ (¡ TT T e' . O Cóc! igo de Pro ces so P ennl brasi leí ro e: oe com pormenores tu eL\:,
Pennl) Hfl o consenso ent· 1 '1 d. . , 1 er:l.lu, odJgo de Processo
. - . , re".nto, e que a pollc. ¡ "' . et a p as fo r m C1 i s do s ing u é r it o s p o lie iC1 i s e j u :: e i Cl i s p a d r 6 es. O in q t 1é ri t n
?. s
Sllper\'IS(JO C10 sistema ¡'udÍcÍ'lr p j . 1 r lél C ev . . Rlllélr sob estnta
- . e,_ o, e¡ CaJeaotJfll t d .d . .
nao os autos do inm,;rito ¡··~. ¡, , -. _r-. L llO or ecl rr se rnclui ou policial que se iniciR co111 n p¡·isao do transgres:... n tem ele ser concluíelo eni
pO k 1 ~~ d O S ci o In g1 ¡ r¡ ( O · d¡ · ¡ ( _ . ,
de Processo Penéli) r . 'l
1 ' '-' p
- -. '-' JU .Clél art. 12, Codigo 1O el i é\ s . S e o su s pe it o li n c1 i e i 2 el o n i1 o es ti ver p :-. so, o p r a z o é d e J O el i ns l1
_ _ /. 01 outr'.J Mlo nao e J .. d , ..
lll cJ C fj !l Í d éllll e ll t e ll O S R CJ 1l. \1 O
r 1 . ·. : . . ~ e r llll t l O é1 p O 11 C 1R ll1 él ll j e r pRrtir clo início dRs investigélc;:oes. No CRSO de.:: autoridade considerni que
. -·l l 501 llCJL!erHopolrcrR! ,. · · .
<lrqtllvamento (Rrt :7 Cr:, ¡· . · ·~o 0 .JLIIZ pode ordenélrtai esse prazo é insuficiente parél coligir os índícios ::1dispensl1veis 8 elabornc;?lo
• . 1 , ~,,e lgCJ ele Processo Penal)
do relatório (art. [0°, Código ele Processo : enal), pode solicitnr u:llíl
prorrognc;i'ío para termine1r ?.S investigac;:.oes
() Inquérito Policial
Ao receber os nutos enviados pelR rolic a, o JUIZ encaminhC~-os 20
'.
promotor, c¡ue pode Rprovar o relatório da cr :toridade policial ou ent8o
Sói1;:¡p¡·esent2t;:~Odéldem·lllcÍRpeloi\1inistéri
'1

. . . , .
é1um processo crim~nR] ~ ~ . . o Pub/reo podedarrn!clo solicitar mais indícíos Nao hnvendo um relr:t >rio policial conclusivo, o
e . ~lll Slln llléllOrJ(l élS él -
1 . d' . . - .
en1ret2n!o, de llfll inc¡uérito Joliríél! ... ' yoes _¡u ICiars sao precedrdas, promotor e o juiz podem Rprovar ou nao a solici·iac;:.ao da polícía para out ras
l ~ , LUJO curso pode ser assirn resumido invest igrH;:6es Por em igua] mente pedir out ras diligencias que con sí derem
3L! - Prá\icas rroces::uaJs Brasileiras e Policia
Prátícas Processuais Brasilenas e Policía - 35

necessúias Finalmcnt·~, Clllanclo julgRr Séllisnltórios os ,ndícios furnccidos flaQrante De conformidélde coma lei constitucional brasileira (art 153,
pclél p o1íe iél, o pí o mo t C'' r ;¡¡u-es en ta él de llLl 11 e iél él o _i u¡¿
pa;8grafo 2°, Emenda Constitucionrtl 11° 1' l96CJ), o Indiciado ou simples
suspeito tem direito a um /wheos cmpus, que é uma petiy~O RO juiz,
C2.so as éHiloridcdes policinis ou é1 ¡nomotorÍ;¡ pL1blic;1 consiclcrem os intentodR por quolc¡uer cidaclRo, solicitando um mandato pnra liberen- 2
i fl el Í CÍ ü S Íll Sll lJ CÍen te S pi\ rél O_PrO SSegll i l1l e ll l O el él a~ Ru, pOde lll prO[! O r i1 O j L1 i Z pessoa considerada como deticln ilegolmeme, ou mesmo paré1 prevenir uma
e' énquivi1mcnto clos éHJ!O.S. E clélcio élOjuiz, ncstc Ci~so concordar Oll!l~O Se iminente deteny~o ilegal de si mesmo ou ele outra pessoa
c1 _¡uiz n~o concordrn COJll o pedido ele ;uquiv(lmento, pode é1pelar pnrn o
P í o ell rr1 el o r G eral el o E s t ael o S o m ente se a ape l(l y~ o d C' j u iz fo r r cj e it nel a, A políciR deve solicitnr ao Instituto Estadun: de lclentific8y8o e
ser·¡'¡ o inquérito policic:d fír1nlmcntc suspenso
EstntísticR a folhR ele antecedentes do indicir!do, que se:·á incluída nos é1Lltos.
EIR deve investigar também a vide1 pregres~)a do indiciado, abrangendo os
A polícia eleve to~llrH providencias (p ex., inicia:_ mR investigat;flo), aspectos individuais, sociaís e familiares, a situcH;ao fmanceira, bem como
s c_J él p o rq u e u m p o !ie i<'.l p res en e i o u u m e rime, s ej a p e · q u e re e e b e u u m a a conduta emocional antes, durante e npós a ocorrencia criminal Out ros
queixr1 ou uma dcm.'mc:a Este é o CRSO, por exemplo, Je a políci2 1omar elementos que a policía considere irnportRntes na avaltayao do caráter e do
conhecimento de indicios ele um possívei crime, tRI como a denLrnciR de um temperamento do indiciado podem ser incluidos nas investigayoes Sempre
élssalto ou o Rchndo ele um céldáver O inCluérito policinl r1ssim iniciado é que possivel, eleve a polícia identificar e c¡ualificar o indiciado, col hendo su as
regulamentado relo Código de Processo Penal (arts. 4c ~ 23). O inc¡uérito impress6es digitais (art. 6°, Código ele Processo Penal).
policial pode também ter início a pedido do juiz ou do promotor.
No caso de o indiciado ser de menor idade, entre 18 e 21 anos, eleve
Durante o inc¡uérito policial, o susreito ou indiciado pode ser assistido a polícia garantir-lhe um curador, c¡ue ¡1tunrá como seu conselheiro e
por urn advogr1do, mas' é1 este é vedado pr1rticipar das atividades policiais. representante (art. 15, Código de Processo Penal).
NRo obs!cmte, o advogndo tern o direito legal de falR• :om seu cliente e
con su 1t a r os él u tos do ir~ e¡ u éri t o, mes m o se est es fore m ~:~si 1osos. 10 Qu ando A policía e1ssegurará o necessário sigilo ao inquérito, protegendo-o da
o inquérito criminol estú ninda cm sua fase policíRI, o in~·icir1do- se existir
curiosidade pública (art. 20, Código de Processo Pe11al)_ A polícin - ou o
olgum, isto é, se a autori'~i for conhecida- só temo direitc C:.~ pedir diligenciRs promotor- pode solicitar ao juiz a incomunicabilidncle do indicinc!o pelo
~policía. TociRVÍR, estris poder2o ser efetivadas ou ni!·.·, dependencia da prazo máximo de tres dias. Mesmo durante esse período, entretanto, goza
élVétlÍRyao da polície1 ou ;dR autoridade judicial o indiciado do direito de comunicnr-se com seu advogado (arL 2 l, Código
de Processo Penal).
Os indiciados cm inquérito policial goznm tRmt: m do dircito de
élpresentnr queixa ao jui;~, c¡uer diretarnente, quer atravé:: le seu advogado, Ao encaminhar os autos no juíz, eleve a polície1 enviar os dé1dos do
no ClLie diz respeito a C];JRICluer coa ya o Cllle julguem est: r sen do exercida in e¡ u éri t o poiicial no Instituto Estad u al de Id en tifí ~a(f~ o e Esta tí st i cn ( art. 2 O,
sobre eles pela polícia. Pnra manter detida uma pessor tem a polícia de parágrafo único, Código de Processo Penal) E vedado a políci2 liberar
comrmicnr, em 24 horas, a o juiz e a o próprio indiciado as r: zoes da dctenyRo qualquer dado sobre os registros criminais do indiciado até que seja
e RS acusny6es que pe~am sobre ele. O juiz decidirá sr man1érn preso o condenado, a menos que já tenha recebido condenayao anterior_
inciiciRdo/suspeito ou r:'ao, mesmo que R detenyao ten'1a sido feíta em

w Lei no 4.215, art 89. JI e 111,


E;tatuto da Ordem dos Advogados do Brasil;? l. 21, parágrafo único,
Os indícios produzidos pelo inCluérito policial abrangem todas as
Código de Processo Penal. As autoridades policiais stlo responsáveis pelo sigilo do inquérilo. Tal informayoes existentes nos autos sobre o alegado fato críminoso e sobre o
sigilo visa ao interesse da sociedade, jaqueé considerado como absolutamente necessário ao bom
termo do inquérito policial. indiciado. Isso incluí os antecedentes (registros criminais) dél vítima, dos
f~rátiC2S
_ _ _ i'ro~""'S .
_ _,_.,-~,~CJ:·: :r··: ·¡ er:. í'lé' .:o '~ ulicléJ
~;s;

----------------------

/\ r l; , 1/\ D C! R 1C! f) E 1A N El !~e :


OnEI!FCFNr!O A LE1: FXCEC (:
, 2Je~_~tmdo ~e c!e~luz el<' :¡lle ficcw dile sobre a estruturélleg<ll da é1t;:~o
pcn d: o ~~ st Cillz-1 _1\ l rl 1CI <ll res t :-i ngc si gni fi c2! ivament e?. éi t ivi el?, de j u di cí ini a el a (__1l1E C C! 1~ Fl R!ví .\ A RE e; F.:\
políci;: <w sittd!-l;¡ em plano •nferio1 na hierarfluÍa judici;.¡] A ~Jen~·mciR do
prcm:oto;: e n~o o i_nquéritc> dé1 polícia, é o C]Lit re(llrnente abre 0 processo
ltJcircJ;ll C;1he é1 ¡;oiiclél Instéil:'rcn inc¡ué1itos sempre c¡ue Llll1éi n¡;;ao Denal se
Inr~Je ilCCt.'ssi1ria mns n~o ¡•odt' p;:n-il-io::; O!l i::rerrcrnpé-los T~)clos os
mdicJos yroduziclo.s pcle1 ¡wiicia devem ser reprocluziclos na instru¡;;ao
juciic:Íéll T <1llléls rcstn<;:oes éiO:; efeitos das investigat;:é5es policiaisjustificam-
~;e ¡_wiii c~-acr~rísiicCl inC]tiisitoria!, isto é, unilateral, tnr¡uesf-like, da a¡;;8o
¡1Cl]JC!él! l.:J;¡ e flOr clefin¡·,,;:;,, n'""',ll.Jn·n - - J · ~ •
•. _ , . .• . ":'"'', ~- • -.. 1 ar e nao pr oc1 uz consec¡uenc1as
clrfmJl l\'(1_:; Os P' 0.\l!llOS .:::::~p;tuios mos:rar~G como a políciéi reage a O ¡ximeií·o mito de pris~D crn flagrante c¡ue pre:;enciei cm mcu trab;t!hu
StJbaJtc~¡¡¡cJ_ncJe dél posicyao era:- !he é arribuíd2 no sistClllél judiciélJ e clS de campo ilt1strou com .srancle clnrez?, essc. tens~o c¡ur exisle entre a otivicléidc
llll1ltil~·oes Impostéis ~ sua libcrdade de él((RO. discricionúia dR políci<~ e stréi R!ua¡;;Ro c¡trando estritamente n1anticicl dentro dos
limites ci(llei. Os rolicinis presentes?. clelegnciéi nflo hes\.tarom em cl2ssificar este
Descrcverei inicit-1lmen!e U!Tl auto de flé!grante efetuéido ern estrita fle1grnnte como inteir-nmente e1tírico, o Cllle foi atribuír,1o, paréi minhéi perplexi-
obecli~n~ia ú lei e, consec¡üe11te:1u;nte, consicierado como ''exce¡Jcional" pelos rinde, RO lélto de ter sido ele concluziclo em estrita obediencÍé-18os preceítoc; lcgais
meus Informantes Em seguid?, compararei as éltividRdes oflciRis e Jeg:ais da O comporir1:-nento clRs p2.11es interessRdas durante e flngrante- incluindo o
policin com élS pr~!ic;Js n2o of-:~ir:ts d?. polícia da cidéide do Río eJe Ja;eiro. éiclvogéiclo e 2 imprensél especiRlizRdC\- comrrovava tnlllbém Clue essél Rulllé\C(~Cl
ni-1o es~C1V2 rle élcordo com élS expectRtivas habitu;.=tis

Como clepois ficou cléiro, o deleg<1do c¡ue con;]uziu o flagrante repre-


sentéiVR·, n?. realidé1c.le, urnR excec;:Ro éiOS padroes pol16ais. Elejc1 tinhR chegC1clo
2 sofrer· restric;:oes e san¡;;oes info:-mnis ele seus ~.upe,..iores por C:rlUSéi ele Stlét
estritéi obeciiencin ~ lei Ademéiis, elt possuía uma pe:-cep~ac: muito 2gud(J ele:
seu péipel n?. sociedade, que ele mesmo classificnvn C)1T1o ele "cao ele cn~:o cio
Estado'l Aiém dessas carRcterísticas, é possível tRmbém c¡ue a minhél presen-
t;:a, Cltuando como uméi vari~vel ainda desconhecida, tenhéi tomado él atuac;:~o
do delegado mé!is ciosa do que costuméiva ser. N?m obstémte, o exemplo
merece ser aqui mencionRdo. Como ocorTe tantas vezes nos trabalhos ele
cnmpo, él exce¡;;flo é t'1til pRra contrastar corn as situnyOes héibÍtuais, propor-
cionando uma perspectiva rnais ampla na cornpreemi-'ío antropológica
38 - A Policía do ~~io de Janeiro Obecjecendo a L e1 A Policía do Rio de Janeiro Obedecendo a Leí 39

A fcic,:~o que o fhgrr1ntc tomou pode também ter sido innuenciade1 Nesse ponto, o RtmosferR da deleg:1cia estRVé1 bastante ngitndCl..
pelo fitto de estar ligado él ocurrencias n~o-habituais corno ficou claro mnis Numerosos policiais civis tinham cntrocio no gabinete do delegado parador
télrde, os r1tos crirni;1osos n~o confirm(lram os cstereótipos consensur1is da uma olhada nos 2ssalt2ntes presos ErR evidente a inten~ao de intímidá-los
pe; l í e iél so b re é1 o rig ~m e é1 motiva yao el os cr imes vi o1en t os . por meio de ofensas e arneac;:as. U m dos assaltantes tinha jogado fora sua
arma durante a perseguit;:ao. O soldndo que o tinha prendido pedia repeti-
Durémlc é1 tr1rde de urn dos meus primeiros plélntoes de 24 horas numn damente 20 delege1do para 11 deixá-lo a sós com ele por algum tempo''. Se o
clelcgoci?., dois indivíduos chegnrélm presos sob élCLIScH;:~o de tentativo eJe delege1d:., permitisse, dizia o soldodo, tínha ceneza de que o elemento ia abrir
élSSé1lto a m~o armr1dr1 U m deles estélvn como brnyO bastcmte ferido, com n o bi e o se J re o C] u e t i nh2 fe i t o e o m él é1 r m 2 .
roupa rasgndél, exibindo sinais de ter sido violentélmente espancado. Eram
é1 e u s a do s el e él t a ccn u m él u x i1iéH d e es e rit ó rio qu e se d irig io é1 u m bnneo
O delegado, élO invés disso, prosseguiu como interrogatório dos dois
próxirno pélré1 depo':itar dinheiro e cheques cla firmé\ ern que trabnlhélva O ladroes, separéldamente, em seu gabinete. Mas ele se aprovcitava da
<1uxilir1r de escritório, aparent<'mdo 50 anos de idade, modestamente vestido, balbúrdi ~: que os policiais faziam lá fora para amedrantar os presos.
11
acabé1ré1 cíe sair ciél ,!rma e caminhavél pelé\ calc;:ada Célrregnndo os valores Ame2c;:a·va deixéu os policíais tOmnrem conta direitinho deles", caso nao
numn sacol2 de su¡-F~rmerc2do quando foi ntacado. Os ladroes arrancarnm- contassem a verdad e. Afirma va que dependía exclusivamente deles apanha-
lhe a saco la da rnao t: snír2m correndo. O homem deu o alarme, e u m soldado rem ou n3o, que ele nao se incomodaría absolutamente, e que isso nem era
dR Polícia MilitRr .iunt2mente com um transF-unte correrRm Rtrás dos problem~ dele.
assnltantes Auxilia:los por umR péltrulha d2 Polícia Militar, conseguirnm
V!:.ivelmente amedrantados pelo iminente risco de tortura fisjca, os
nlcnnyá-los A pntn.dha trouxe, entao, pnra él deleg2cia os ciois ladroes, o
dois, separadamente, confessaram que o captador da firma- até essa altura
trnnseLinte, o nuxíli;-¡r de escritório e o contador dR firma, este nR Clualidode
mantido forado gabinete como mero expectador- era o autor intelectual do
ele representé\nte dn vítimR, jc1 que o proprietc1rio estnvél ausente nR ocasii:io.
assalto. n contador tinha mantido contato com eles através de um amigo
Todo o dinheiro e mnis os cheques fornrn recuperados.
comum. )rientando-os onde, Cluando e a quem assaltar. O resultado do
roubo se ia dividido em tres p2rtcs iguais.
O delegado C·Jme~ou pelo interrogntório clJs dois presos, que foram
o u vi el os sepR rnd orT: en! e. Di sse-lhes que est 2Vél in t rignd o por el es t ere m ,__. delegRdo passou, entao, n interrogar o contador Este negou
e o nse guido d cscobrir e¡ u e dentro cinC] uel R ve! hn e batid R se1co la de su permer- veerner;i:: qualquer pé1rticipRt;:8o no roubo. O delegRdo descobriu, porém,
cc1cl o pocleria hélver d inheiro. Est é\VR intrigado t élmbérn com 2 identid 2de el os seu no:~:, e telefone, escritos com sua própria letra, no cacierninho de
dois l2droes, que mé,ÍS p2reciam tr?.bnlhadores desempreg(ldos, cidadaos da enderec;:c.; de u m dos assaltantes. Descobriu também, pelo interrogéltório do
classe médin be1ixa, ~o que marginais auxiliar '-e escritório, Cllle, contrarinndo s~us hábitos, o contador tinha
subtraíd' uma boa Cluantia de ciinheiro antes de colocá-lo na sacola.
P2r8 justiflcéu sua avnli(lt;:~o sobre os homens, o delegndo veriflcou
r1,.1nis de um2 vez durante o interrog2tór!o C]Ue um deles possuíR um Cé1í1Ro O e ontador admitiu C]Lie era sua a letra do enderec;:o no caderninho,
de crédito em seu tYÓprio nome, C]Ue élcabara de deixar o Exército (assim, mas nao:; 1bia explicar como ele tinha sido escrito ali. A pedido do delegado,
muito provélvelmenle nRo estivera preso recentemente) e que scu pai era encheu u;:1a folha de papel com seu nome e número de telefone. O delegado
proprietário de Ulllél farmácia. O mitro- apen2s um pobre-diabo, segundo estava ce: to de C]Ue o Instituto de Criminalíslica confirmaría Cllle as letras no
o julgC~.mento do deieg2do- era u m gr~flco desernpregacio. Os dois sabiC~.rn caderninl o de enderec;:os e na folha de papel eram da mesma pessoa.
ier e escrever e nao tinham 8ntecedentes crimin2is. Comentando mais tarde esse caso, afírmou o defegado que essa era uma
situat;:ao típica na qua! a polícia podia recorrer a coert;:ao fisica para obter
/¡(}
----~---------- ~ -------
;1 ccmf1ss~o, pois eJA ói1\·ic CJliC o c:ont;Jclor cs1í1Vél envolviclo Segundo ele, nhémclo e pos-se él discordé\! e discutir ccw: o c!,;:lc;aclu quém;o <l ckt<dh(~~;
:1 po/íci;¡ se·, us;¡ 2 torlll' ;.: pM:l ext;élÍi conflssocs Clt!émclo ela _i~ tern ce:·tezé1 técnicCl~, c!os éHHos .<\ rcspclSté·¡ el o delegad u éls criticas fui que ele, cielc:grHit>.
ele que o s·c~speito l~ c~Ji!;;¡cJc: tinlln inici;-Hic SLiél c1rrcÍril cnJrlCl csuiv8o e CjliC, pr1:-tcmto, snbÍ;¡ perfeitílinC:: 1 -
1e o que cst él vél f;.¡¡~_'rHl o
() u ;n 1t o ao el i n h ei r o qu e ele -¡ i n h C1 r et i r étck , o eo 11t e1 el o r ex pli eo u Clll e
c.ss<l ern él suél conclu:a habitur:l quando precis;1va fazer pagcu11entos em TíillJbéil' e; c·sc:¡v~,: il<1fcc.:ii1 muitc imprcss!onadc~ - c:c CC 1 :lll.'ii'.',
dinhciro él f~)rncccdurcs Explicou também que pélrte do dinl1ciro corrcspcmdia sobre issc cltlré1!1te lucLt él lé!rclc- com n pCHtic.~ipn~;\o ~::::urna pessoatk cL~ssc.
;¡c1 se u 1JfCJ ¡1: i o s?. l;\ río, el o q tléll ele precis;wa cm espécie Con forme veremos, méciirl em urn él:;sé1ltn l\t6 p;u;.¡ mim ele cochichcitJ- -.:nO¡uanto eu cléltÍl(lg:<:-
u cielcg<H!c; conferium;¡Í:; ¡;¡;ele e::;s;¡ infom1é1~~o con1 o clono c!o negócio, que frlVé1 os élll\CJs- ;.¡s cliver·séls m?.Ilciras pelr1s C]lléliS o c.or'.iJclor pocleria clek1Hll~' ·
11
inici;Jimenk negotl sc1 csS<l p1 ~tÍGl habitual, mas depois muc!ou ele opiniao se el ns c-1 CLl s él ~~ 3 es " /\ so lll ~: ~ n aq u i é a l e g n ,- u m e r :: lll e i m pus sí ve 1" . l n el <l g m:
e cnnfirmm1 él éllr.ga~:ao do contador Considerando suficientes os f'citos clo proprietúio quc·,l eré1 o Sé1l~1io clo contnclor e Ftco~· espélntélclo é10 ve: Cl 1(.' 1

<lpurélcios. urdenou e: ckleg;¡do c¡t1e todos se dirigisscm 110 CC1rtório cJ;-¡ erf1.m;-¡is elevRdc do que o seu Ficnva repetindo, ">·:io estou entenclcncio"
clelegclCÍél, oncle scrin Jíl\TilciU O nc-JgrRnte
Algum tempo o.ntes, tinhn o contCldor pedi·do ;ermissao ClO dclcgnciCJ
O clelcgndo c¡uis r~~gist rnr primeiro as c!eclarac;:oes das pessoé1s ClUe e fe it o u m n l ig é1 e;:~ o t el e fó ni cc1 pe-na a esposa . F i Ci) u e< aro, en t ~o , qu e e lr1 se
tiilh<llll pélrticipaclo dn pris8o, isto é, o tré1nsetmte e dois policÍélÍS milité1res comunÍcélra com \llli élclvog<Jdo, pois este surgiu nél delegacia Soube logo
Entret;mto, como j~ era 1noite, um dos policiais envolvidosj~ tinhC1 recebido por u m polici<1l que eLJ tnmbém eré-J advoge1do- um colega dele- e amigo do
o r el e m el e 11 íll t e ne nt e pc-n n re gre s s (l r a o Clll él rt el. E m se u l u g a r fi eo u o ci el eQél do Di ri QÍu-se ¡::¡ mi m "de eo legél para eo 1e~a t.: pergunt ou-me como
11

s a r gen t o e o ;n an d nn t e ci C1 p a t ru 1h n, e¡ u e al ego u a o d el e g a do Clll e o so 1d a el o eu él~hClvn Clllt:~,o delegéldo receberi8 umo ofert?t de dinheiro para "élbri!- o
c!ispensélcio erR um recru1a e que seu planU1o tinha terminéldo. Após umél flnQr8nte" do contcH1or, isto é, deix<1-lo forn do él.'Ito de flagrcmte ou MltilélJ
cxaltoclél troc:a de prt!avréls como sélrgento, o delegado gritou C]Ue nnda tinhél o fl~agrétnte ror meio de algum erro nél (lLI(LJa~i=io. Con!·,) eu nao responc!esse,
él ver com él :otine1 militar e c¡uc ele, delegRdo, era a autoridnde encarregada foi conversar com o rlelegacio "etn beneficio de .seu Jiente"_ Mnis tarde o
clo inquérilo delegado conflrmou que o odvogndo, de fato, of.:rc~:.~ra c!inheíro, mas CJLIC
ele tinhél imeclié!tRmente recusr1do CJllé11C]Uer tipo ck ,.:_;.fendimento_ Aconse-
-- E u so u a mr!oridnde O(jll i 1 lhRrR Ro 21dvogRdo conversar como delegado tituiar r.:· manha seguintc, pnis
só ele poderia nRquel8 fRse élulorizar C]URlC]uer rr-:u:..:;. H;:a na situac;:ao
Exigiu energic¡:¡mente él presenc;:a no co.rtório do recrutél (ltle tinha feíto
él pris~o.
Como o eidvognclo néldél conseguisse de po·~iti'.'·."' com essa estratégia_
o.borclou o propríetúio da !oj;.I, C]lJe nessa ocasia.J) inha sido avisnclo dn
- .Jál
ocorrido e tinho chegncio ~ cielegncia O acivogado t:·ntou convence-lo de
O sorgento mando¡¡ chomé1r o recn.It8., e o delegRdo pode come~ar a retiro.r a él.Cllsac;:~o- como se n~o souhesseC]ue se 11 ~ia\·: de u m crime ele i-l~:~o
tomrrr o depoimento dos policiois militRres e do transeunte. pt'iblica, no C]Ual o inCluéríto é obrigatório no Brii,sil ~.lélÍS tarde eu percehi
Clue, no t elefonemé1 C]lle dera para a esposa, o cc·nléF; )f tinha pedido él eLl
Ao instourC1r o inc¡uérito polici?.l, o delegado procedeu desde o início
em estritR observáncia ~ lei. Fez pessoo.lmente as perguntas e ditou tanto 11
Por lei (art 17 da Lei no 7.209, de 1: de ¡ulho de 1984). nao sao passlvds de punic;:ao as ten\a(IVélS
f'stas como as respostas a~) escrivao, que meramente as clatilografava. Este de crrrne que nao possa;o1 ser consumadas. seja por absoluta 1rwdequac;:ao do objeto Este nao era.
se mo~:trava clarRmente irr itacln com o papel passivo C]Ue esta va desempe- absolutamente, o caso 'J que o escrivao eslava provavelmente <;ugerindo era que isso se tor nar·ia
posslvel se os autos fos:sem falseados ("armados").
42 - A Políc1a d:; R1o de Janeiro Obedecendo a l__ ei
A Polícia do Río de Janeírc Obedecendo 2 Leí ... 43
j)é1ré1 telefonar a rrulhcr do proprÍcté\rio, pecJincJo-]]w que providenCÍRSSe O propriet~río poderia fazer sobre os hábitos metódicos de trabalho do
compéHecimento :Jo marido e\ delegaci;1 a fim de :-;uspcnder a acus;~~ao contador, sobre sua personaliclade e seu Célráter.
contra ele, contélchr.

Num breve instante em que o delegado piestava informo~oes R


O proprietilrio, U1lvez innuenci;.Hio pelé\ f-sposa e pelo aclvogado, foi
imprensa, o escrivao sugeriu a o propriet~rio reconhccer o bom t raball~o ~u e
f;1 lé\r e o m o el el eg ~ d o , pe d i nd o -1 he p <H él al i vi <n- a si t u a r,: ~ o d o e o n t é1 d o r
0 e 0 n t a d o r se m p re t i n ha fe i t o, o q u e fl e o u e o n s t élll el o d os clll t os . A ul_t1m R
C: o ll t o u q u e él mu 1he r d es t e e a sw1 p r ó p ria mu 1h e r e r r1m m u i t o éllll ig a s e q u e
afirmativa do proprietário foi transcrita pelo escrivilo com élS segu1ntes
ele costumélva con\'Íd<n- o contador e a família p~trél pnSSíHem fins de serTJRna
pal 8 vras: "eu n(ldél tenho él declélrar contra a condutR funcional, social Otl
cm sw1 casn de Célr;lfW. O fato ele o dinheiro ter s;do recuperado foi tambérn
pessoal do meu contador até a presente ciC~tR"
r.l ego ci o como ma i ¡~ u m Mgu mento n f2l vor de "tsquecer" a par1 i cipa~a o do
conte1dor no crime
O delegado eslava mnnifeslRmente embRrR~éHlo pelo fRto de que
O sargento, C]lle est e1va por per·t o, ouviu essa cor¡versa e cornent o u, e m desde o inicio~ do inc¡uérito todo mundo quería ajudar o contRdor R s~ livn~r
voz baixR -mas n2o tao bRixa que o proprietário nao pudesse ouvir -, que do flagrante. Segundo ele comentou comigo depois de tudo termma~o,
cleviR h;wer um ~'c;:so" entre o contador e o patrao, i::sinuando que os dois sendo ele próprio oriundo de classe social humilde, identificava-se multo
fossem homossexLnis Parél o Sélrgento, o contélclor e!: via ser o "fanchona'', mais com os Olitros dois ladroes - pobres-diabos, como os ch<1n1ava -,
isto é, o p;nceiro ;:u.ivo da dupla. Sornente isso poderiél explicar~ insistencia estando firmemente decidido a impedir qualc¡uer irregulélridade C]lle pudesse
el o pro¡;riet iH-io e m proteger o empregado. O delc~-ado t Rmbém pareci;:¡ redundar no relaxamento da prisao em flagrante do contador Em sua
irritado coma nrgt:menté1yRO do ¡;roprietário e acabou externando-lhe toda opiniao, este era o Rutar intelectunl do crime. Com umR agrílvantt: ao reter
Sllél estr~nhcza C]llllltO 8C]uelé1 atitude. Afina!, o contador tinhR tentRdo para si uma boa parcela do dinheiro antes de enviá-lo. ao ~anco, ele,tenlé~a
ludibriá-lo. lograr os dois cúmplices, além do patrao, pois esse dmhe1ro subtrélido nao
seria repartido no caso de o golpe dar certo.
O proprietúio retrucou afirm~ndo C]ue est~v¡., convencido de C]Ue
clevia hélvcruma outra explica~ao p~ra o acorrido, dñ c-:ual ;:¡inda nao se tinha O delegado pnssou a interrogar os assaltantes U m tinhR 20 anos, e o
el iHl o con ta, e C] u e tu do nao devia pRssor de u m rnr;.i-• nt end id o_ Quél nd o o delegado encaminhou-o a o curRclor, u m advogado que cost ume1va desem-
delegado deu pros.reguimento ao interrogatório .do p;·)prietário, este recu- penl;ar essa func;ao naquela dclegacia. O escrivao prop6s-me pélrR curélclor,
sou-sc a confirmar a declarayao feit21 Rnteriormentc ;- Jr ele e pelo auxiliar mas o delegado alegou c¡ue eu nao estava aii como advog(ldo, mas como
de escritório de que n~o era rotinél de trabalho do u-ntador a retirRda de pesquisador.
ciinheiro dos depósitos com o objetivo de pagar os f; mecedores_
Fui informado posteriormente pelo delegado que em cr1dél deleg8cÍél
O escriv~o ÍR.dotilografando o'interrogRtório de "'.cordo como c¡ue lhe
havia geralmente um ou dois desses advogados, que clesempenhavam
_ciitélVa o delegRdo Durante RpélUSR paré1 o cafezinho, o :::scrivao medisse c¡ue
gratuitamente essa funyao nR expectativa de um futuro cliente O délqueiR
"nunca tinha visto n~da semelhante antes"- Esclarcceu--lle a inda que aqueJas
delegacia era meio desequilibrado psicologicamente, "meio louco". Quéln-
formRlidades sernr;-e forRJll preenchidRs re! os ¡;róp:-~ )S escrivaes. A essa
do elechegou, indagou ao menor se estava tudo bem, teve ~om ele u.ma
altura, erR evidente. que o escrivao estava, por nlgu:~ a razao, claramente
interesse1do em "ar:mar" os autos a favor do contéldor rápida conversa e declarou ao escrivao que o menor nao tmhR sofndo
c¡ualquer coeryao e que estava presta_ndo seu depoimento de livre e
Durante todo o interrogatório do propriet~íio, o escrivao- claramen- espontanea vontade.
te Iné1ncornunodo com ele- sugeríu diversas referencias favoráveis c¡ue o
,. ' 1' · · r · " e: ·g 11 ¡,, o PSC_'.I\';-1(' ,,,.,.l.
Cl(\ f'mí1 clí1S grrHk:;, li élllél llil!lCICJ rlél ¡{',:\lllél ,'C 7 ll .( ' 1 "'· 1 ' ', '"·l.'·
CnJlltrrr"liHlo lrn;-nnimci;: e e: c;tr~ltc: excepcional cic1 case:, ?

lll i vi 1é l2l· o lll e e r;: ;¡ s s e c 11r ;¡ el e: e111 t r () e 2 el e p1-es·'u 11 (.,_
· ·'
C]liC SLJ'1 f''\I"',-!l.!'l
. . '. e 1 , , •
nl."

1· " - - : ' ·
• • ·. • • ..

;¡nprc11s;: unn:~;Irccct: ¡¡ rlt'ic~~;~ci;: Tl() f¡n; eL; t21:ck e tcntcw entrcvistr11 c1 ~o ch~fc d;..1 crncerí1t.;clll ¡.~·:e me explicOt: C]liC \) ccmtacinr tinil<: <lp~·n;¡c_:
CCIIJI;¡clcJJ e :1s \~utros irldÍc:élclus, c¡llese encnntrrlV<Hr: no interior clo car((';;¡c¡ instru¡;;~o ele 2° gré-H~, o C]lll' 11;ic1 ]he cJ¡¡va o clircitu i1 prisi1o cs¡wci;!: 1\'lc:';
O dc!cg:l(!u p; C1ibit: C]tle ~_~:o:: ;-¡:-;s~'ll\ he1uvc rccl;1ill<n;:oes, mas o clelcgr'.clo sen! chlvici<-1, n~c; IllCí'C-'Ciél e c;¡:;tigo de pen:Jrlnecc' ·¡unto dOS preso:; C:Cllliti:!:---
;¡k,, 1 rll! q•1c e\1::."·;¡ élpc;¡;¡~ -.:.lí'lpliilclo é: leí, jit que élté n firn dé! ];nTéllllli! clo
:-\irte· ele: [l;;g:;;;1tc iodrl~ ;::-: pt"SOét:; envolvicLJ.s 1inhé1m ck pcrm2lllccc:
¡:;,J)¡¡cL;" i>;s;¡ ii\\T<lttifé-1 IUilll1JCll: ;ls 2Jh~Wrnin Corno tinh2 comcyí:Hlc; ~s
l i r1. e \ i ~' !l ¡ u i 1~; • 'm i 11 el e t ; <, \> '1 l)Fl e en t í11 u o el o d el e g a d o . Os i n d i e i í:l el os !o r ;1 111
¡¡;¡¡¡c;¡fi;Hin.c.: [j¡;;Jill1e~ile nc :..:adrcz dr1 dele~;¡ci;:, e só cntao n f'e¡-jcJCJ f'ci
) () \ ; J( 1() (l () 1]() ' 1)! t ;¡) p Cl í ll ¡ 1 ; ~ :; ' ;¡ i d (j

i'0n cii;1 sc~ 1 l1Ílii('_ "' i¡n:!:erJ<.;é1 ((íirilno I!n.''OJ publiccHi lli11éi ;~ínl;!sticcl
lw;lcHi<1, cClmplctamente f'r.isél ii respeito clo caso As rela~oes entre o
contétclor e rl fcllni!io do pat:~u fcn8fll explorétclas para .sugerir urna motivnc;:?to
p (1 :; ~; : () Jl í:1 L el e \' i ng élll ~ (l_ q u e e: xp !i Cétr i Cl a r é1 r1 i e i r él y?t o el o e o n t a d() r n o él S S (-\ i ( o
N~ n f,¡ i ptl h! i crH! él u !li?. p: i<l'·ra sequ er sobre a a tuJ ¡;:a o do el el cgad o n?. s
inv~'slignv1cs, nc:;¡ ao mc:1~;¡) scu rwme foi rne¡¡cionéiclo, o que represcntou,
:;em dt-lvicia, um procedimen!o potico comum nél imrrensa.
~

l'vli11lla foto S(!iu no jorn?.l como se eu fosse o éídvogario do contéldoí-


i\ llCllícia n~o eré! verdadeir::r, e o mélis extrélordincí.rio é qlle nlllguern dn
imprcnsR em qualc¡uer momento se dirigiu él mim

duas horas depois, em nosso plantao seguinte, o contador


Setcnt?. e
conl Í!ll!(lV;:l preso O escri,·aa, sorrinclo cínicamente, contou-me ClUe o ndvD-
gílcln do cnn!ador tinhcl reédrnen1e comparecido acleiega.cia namanh2 segui!lte
par0 ~IITlél conversa com o delegarlo titular. J'vl?..s ao invés de solicitélr-lhe él
líbcrlil~~8o do contélclor, pedn1-lhe que o mantivesse preso Explicou c¡ue
es1é1V<1 tenlanclo u1nvcnccí su;l esposa a contratil-lo para fazer a defesa legal
ele moriclo Ele seria pago c:--:1 prest(Jc;oes mensais. recebendo, assim, muito
llli1Ís cliilhei¡-o do c¡ue poder/2. ganh2r se o seu cliente fosse logo liheiiaclo
Nové1mentc o escriv~o rotulc,u o clelegCido éldjunto de excepcionRl, o mRIS
ngoruso' qt1e j~ tÍI1hCl vis~ o en' seus lO anos de policía. Disse-mc ele:

() Donfor oí é dure::.o

Dos tres ladroes, doís forcnll confinéldos no xadrez- por sinal, um dos
pi o res Xéi ci rezes de del egaci~l que f1c¡uei con hecend o O contador perrna n e-
¡.
,.
A NEGOCIACAO DA LEl:
AS BASES SOC:LJ\IS DAS
PRÁ TlCAS E REPRESE1'-JTA~0ES
DA POLÍClA D.A CIDAl)E DO

PJO DE JANEIRO

O que é urna Ocorréncia Policial?

O ¡;:-ocesso judicinl só se iniciR oficialmente no Brasil coma denúncie1


do promotor. Este pode agir por conta própria ou por soiicitac;i1o do juíz,
da políciét, de qualquer autorídade ou mesmo de qualc¡uer cidadao.interes-
sRdo. Em certos casos- os crimes cie a<(ilm pública- Cl cienúncia é compul-
sória Diz-se c¡ue o inc¡uérito judicial busca a verdade "real", nao a verdacle
"forma.!". ::onforme _já mencionei, isso significa que as; partes interessadRs,
élssim COi no o _juiz, podem t rélzer par él os e1utos 1u do o e¡ u e julgarem
imporia¡-;;:..: para alcanc;ar esse objetivo Signiftca também e¡ u e o juiz, para
se u coG \. \.. 1ci mento, nao precisa fl cél r t ol hi do por qu al flll er tipo de hiera re¡ u i a
entre as p· ovas. N~o existem c¡uaisCluer pro·vas excludentes, mas o juiz tem
de tomar -ua decisRo de conformidade comas pravas dos autos, visto c¡ue
''o que n~·) está nos autos nao está no mundo ...

A .1olícia, porianto, na qualidade de elemento auxiliar do sistema


judiciaL \'~ve também iniciar um Ínf1uérito seJTtpre que algum indicio ele
crime iilc :hegue ao conhecimento.

Alé:11 do flagrante, él comunicRc;ao de u m crime pode vir atra\'és de u m


telefonerLl anonimo, de u m aviso por telefonia da própria polícia ou de uma
f1Ueixa apresentada espontaneamente por uma parte interessada. Recebida
a comunicac;ao, deve o deíegéldo adjunto, geralmente (ICOmpanhado por u m
r!ct~·:¡vc, L!iri~·;r-se <1Cl luc;¡J í\jlCllli<lclc· Se nc.cess<~Jic', solicitar~, crJ\?lO, n
documcnt() dLJ:élllk ~:sse período, n?lu ·,)()clenclo iclcnlific<~r-';v
C]llrdqller
U'íl:¡~;ucciJ:H'Illn fi;¡ ¡wríc1:1 (l¡:·;littJ:n ele Cri:lJÍ!iéliís:ic<: clt~ Fst;¡clo) jlétr-il
nem mesmo perf1.11iC' ~¡ p:él¡;:-·:;¡ :>()!ícia
¡, ¡'' \r\ ,
:,¡ ( ' ( . , ' ' , ·
.
.J
JS l \1 ::'. jli C' ·cc.C'~ ;1
J
C'Cl C(;\ ClrlS jJI-CiVrtS
J 1

Esta, igw1inlc.T, 1 l'. f'urlél\'é\-se a esclruecer ílS p;1nes qlle, scg\111clCJ ~~


t l l ( : Cl . S C ~~ l l IH i C' ! 1l t' Í 11 fu l 1ll él r?t 1ll O S )! O J Í C i í-1 i S , S él ll t (1 ri cJ <H J e S S éJ
ie 12 islnc;.ilo civil brclsileirét, s~c' clif'ercntcs os efeitos rlec:orrentcs ck c;¡cL-t \1!1:
( ' ; )Jl (l

l''.'~iiil!'·;¡¡n Cl J!H]lJ~r!IU clq'\ 1 Í' ele se c:or1\'encerern de


JéltCl ;1pontnclCl que u
cl;sses ;1ws ]eQílÍS Do nclll:c ele vista legal, nflo é ínclií'eren!e que os carté"'es ele
CllilSIJ:trl rc¡.¡h·1crJIC CJi:m: dcrenciic: lllliÍto dr1
(1 rcl21stro cla ocClrréncÍíl
créclitn e o~; cl~equcs s;¡nm percitdos Oll roubadns Se, pot·u¡n lcHlo, c.·les í'oru11
\,,·¡:;¡,le Ll:1 ZililOIIcl<Jck poiic¡;\1 von[;-¡cJe ne1n scmprc exercici;: e!n estrita
clcHios como pcrclJclos, poc!er;\ h;1ver argllic;.?.o de negliger~::ia Otl <1té: prc!llcclt-
ol1l·d:~~nr-Ííi ¡\ 1c:i lssn é cli 1ícil cic negar, po: cxcmplo, quarJciCl <1 po\íci<1
tClc;:ao contra seu possu . clor com c1s possíveis clesdobrarne¡jf()S leg;¡Ís,j_{l qtw vil'
CCl;Jvcry~: ;¡vi: illl<1 ele: rl~c~ ,-~g¡~;¡¡ ;1r· o delito colllo ncorrenciC! criminé1l Os
poder<\ ser rcspons(lbilin1clo por ClUélÍSClLier perda:; Olí J<1nos sofnclos pc 1:
¡wi;(·ir:i::, éllcg:lV<lill ClllC Cti!Jl essa é1litucie estavnm "rm1p;wcio pRpcl e
terceiros, CélllSé!dOS rw'!o liSO Íill\evido dos clocume!liOS T Jr outro lílclo, se e:
tí-ílb;J!ho". m;1s p<lreciillll, rlrl rc;liic!nc!c, bem mnis preocttpacios em pocler
documentos forem di:clos po1· roubados, a negligéJv.:ia e .1 prernedíw\:~o ti~()
nJncscnt;¡r um:1 baí:..:él est:!(\stíc?. ele cC~sos nf.'io-resolvidos
rodem ser f2cilmente ~rgüícl(ls Por n?.o infom1<1r ~s pe1rte:-- as cliferenc;as legr1is
anteriormente clescrit(lS, él polícia est?.Vél. defenclenclc seus próprios interesses
Isso ern freC]LJente, p·lr c\emplo, em cRsos de roubo ele documentos.
"estatísticos '', n~o os interesses legais Oll pC1blicos
se 111 f1 ag rí1ll t e N o B rél si i, e o lll o se s el be, en el el estad o t e m L1m í n s ti t u t o d ~
iclt:ntificcií,:?-io. e todos os setiS restdentes tém cie posstiir umn ccntein1 de
tclent1dacie fornecidrl por dse instituto Trli cr1rteiré1. é exÍQÍdCl ..... ) nor
t/ exem1Jio1 '

p•a1 a é1 b í í1 u m a e o n t é1 h nn e{¡ 11C\, p (l ni s (l e a r eh e q u e e t e O i n s t i t u t o Clll e f o rn e e e


essils carteiréls e o mesmo er¡c;:n-rcgélclo da estatística criminal do estado Em
A Polícia da Cidade doRio de Janeiro e sua
muít;1s ocasíoEs - p ex, péHé1 conseguir emprego - as pessor1s tém de populac;.ao contra a leí: o caso do .Togo do Bicho
comprovar a inexisténci;1 clr: registros criminnis em seu nome ((ltestRcio de
bons ;mtececlemes). A percli1 do documento ele identidocle tornR-se, por A decisao policiRI de impor ou nfto impor o cu:~ .JrÍmento da lei n~o
e o nse g n ín t e, u m p ro b1e m él e1e lie a ci o , es pee i nlm en 1e qu a n el o s e 1ev él e m e o nt a pode ser ntribuíclé! exclusivamente él políciR ou ans i:-.~ Tesses particulílrcs
C]UC. essas carteirns roubnclas. ben1 como tCJloes ele cheC1ues e cartoes ele dos po!'!ci?.is. As Rtivicincles d?t polícia tem de ser, ci\~ a\g·-~·na formé!, apoiacl?,s
pela socíedade, mesmo CJURndo n~o o s8o pela lei. O c~-o do jogo do bicho
' '
crc~cl:l o, s~ o ;:¡ l i vn mente n cgoci nrl os nu m meren do negro especi nl iZrHi o
-u ma loterío ropular ele funcinnamento proibído- :se;-\';: á como exemplo de
Jvresmo élssim, nn épocn em que meu trnbalho de cnmpo foi umR solu~ao tíricarT)ente brRsileir?. para essa conrr·Rd~~- lo entre El le'r e u m?
rc;.lJ¡zadn, conslctteí CJlle:1 ''Ítime: erél fortemente deséncol-<ljéldct é1 registren priltic(l socia\ legitirr:cHla peln tre1di'fao ' l

él oc:orréncia como crrmc, c1escic que n~o houvesse flagrr1ntc SeR pessoél
prccisasse ele ll!1ln certicl~o ele C)l:orrencin para substituir tempor21riamente O jogo é ilegRI no Brasil, R menos Cllle sejél exr:;-,réldo pelo governn
os cloc_umentos roubnclos, (1 rolíciél fornecÍél. L!Inél. certid2io ele extravío de N?. érocn de1 rresente resC]uÍsé1 existie1m tres loteriéi~ aclministrade1s pelo
documento. Téll certic!ao, necessáriR pRra requerer novos documentos, Qoverno fe el ere1l (Lot eri a F ed ernl, Lotería Es por¡ iv2. ,_ Loto); além cli sso,
bcm como JléHél iclentiflcnyRO temporilrié1 da vítima, era-lhe f0rnecidR nn ;acia estodo da fecierc1~,?ío explorRVR pelo menos urqa ]n::riR oftciol (Loteríns
hora. No caso de é1 vítÍlllil insistir em registrnr o fato como ocorréncí2 Estaciuais). Nao obstante, o "jogo do bicho" na ii~ ~al, muito ernbo1·;1
policial, Cl certicl8o demor;niR ume1 semélnR, o c¡ue significave1 que o represente no Brasil um2 instituÍ'fRO nacional de grande porularidacie, ClLW
íntere.ssado teriél o incoll1Cl'lo ele voltnr ~ cielegélcia, bem como ficHrÍél sem resisten t od (lS ns ten t<tt iv(ls de proibic;:ao A legislac)ío ( art. 5 l, Leí Execu; iv;1
~O - A 1\le~:JOcia~ao ca Le: A Negociac;:ao da Lei 51
---------------------------------------------
nc] 688, ele 2 ele C'ltllbro de 1C)LJ l, é1rt. 58, Lei Executiva i: 6 259, deJo ele
0 Esscs féltos vieraiTl élgnwar um con.nito j~ existente entre é\S polícias
f'cvcreiro ele 1 C)LJt~) chssifice1 o jogo el u bicho como cont1 iiVCn~i1o pcne1! militnr e civil do Rio de JRneiro. CC1be g~rc-tlmente é1 polícia civil intervir
formalmente junto it sociedi1de C]Uanclo SL'rge a informCir;:ao ele u m possível
Os bn!lC] u ei ros, el o nos das br1 ncc1s (sed e ci as ;ot erii1s i1egé1 is) possu ern crime. Durante nossa pesC]uisa, essé1 informar;:ao, especialmente no caso de
(1Jn¡J]é1S redes de \()ll1é1clores de é1pOStC1S ror tucla eomu'lÍclélde Eles sao flRgrantes, erR tré!zida adelegacia, em geré1l, por soldRcios da políci2 militm.
11
fnmosos 1ambém pele\ suR llgenerosiclC1dc com os pobrcS scndo tc:nnbém , Como já mencionei, as delegRcias de vigil~ncia da polícia civil tínhé1nl sido
p ulJ i i e amen t e re ee, nhee i dos e o mo br nfe it o re s ci e e i ubes el e fu t e b o l e de extintas, e o polícíamento ostensivo, preventivo e/ou repressivo, passou 21
11
es e olas de s él mb a·', o que 1hes e mpres t a p res t íg io j un t o ~~ ~, su as e o rn un iel é1- ser feíto exclusivamente pela polícia milit:1r.
cies J-Iavin, por oc;1sí~o da peSC]UÍSR, u m forte n.lOvimentL· do Comnnclonte
da Policía l\1ilitrn r;(1f(\ aeC1bar como jogo do bicho. Os brnlqueiros, atnwés A pe r da d a fu n y~ o d e vi g i 1Rn e i a f o i m o t i v o el e fr e CJ C1 en t es re e i a m é1 y o es
d;¡ ímprcnsa séría ..lo Rio de Janeiro (Jornal do R,.osi! e r-utros), defcnde- do pessoal da polícia civiL O motivo real de) ressentimento erRa reduc;:~o dR
r;¡¡¡l-sc publicC!meJ~tc C!legando scu p;1pel i:1stitucionol co¡:·o empregadores autonomía da polícin civil para ncgocinr a np!icac;:2o ele ~>un ética Sue1
ele milhares ele bicheiros, seus empregados, numa épc;.:a de depress~o autonomía pé1ra aplicar ou cieixar de aplicar a lei, baseada na capncidRde de
económica interpretar ou nao um fato como crime, ua agora disputada em razao da
superposiyao ele fun<;:oes com a polícia militar. Devido a essa si tua<;:ao,
A despeito disso, o jogo constituí, segundo ~ legisiCit;:~o, urna tornnram-se freqüentes os conflitos entre as cluas corporay6es_ Os policiélis
contré1venc;:f1o pen2!, o que torna ncce'ss~ria umC\ permC1ncr~e- cmbor<l ilegcll militares, por um lado, censurRvam os pcliciais civis por nüo registrarem
- ncgociac;:Ro entre r1 policía e os banc¡ueiros. Té11 negocié1yfio import0va, por corret amente os flagrantes levados a o se u conhecimento. ParR citar u m
11 11
um lado, né1 Ígnor~ncia da polieié1 quC1nlo él atividade ilegéll e, por outro exemplo, eles Cicusavam abertamente a polícia civil de libertar brcheiros
lC1do, nél 'lgratid~o~~ dos banqueiros Por ocC1si~o da pesquisé\, umc-1 contribui- presos em flagrcmte, o c¡ue Rtribuíam a sdborno_
c;:~o em dinheiro eril paga mensRlmente aos delegados, proporcional ao totRl
de a post as n<1 áreR de ci re un 5r:ri y~ o el e CC1 el r1 el el egRci é1. Est ~:.; era m, portan t o, Por outro 1Rdo, os agentes da polícia civil acusavam os Pl\1 ele nao
classificndas inforrnnlmente, pelos delegndos, de ncordo L0!1l o volumc do conhecerem a lei S ust ent avam que el es faziam as pri so es incorret amente,
lucro extrR que podiam rencler_ Havia, mesmo, umR co;·,.pctic;:~o entre os cometendo irregularidades que acRbavélm por levar aanulCiyao legal do ato.
delegad os pe! nS ' (·¡el hores del egC1ci as, as llln is rend n•.:-~ · _ É in t eres san te
1 11

Por exemplo, no mencionado registro de flRgrante, o soldado que tinhCI


no!é-1r que, r. fllll de demonstrnr prestigio e promover-se c~entro cla organi- realmente efetuRclo a prisao foi arbitrariRmente substituído pelo sargento
znc;:i'lo cia polícié1 civil, é1lguns delegr1cios tinharn reformRcJc · s instalac;:oes das Se, por um lado, a policía militar podié1, assim proceclendo, causélr irregu-
c!elegRCÍns usando dinheiro do jogo clo bicho. laridades no registro do flagrante, 8 polícia civil podía também, nao as
corrigindo - propositadamente ou por negligencia -, causar imperfeiyoes
Visando evitM problemas internos decorrentes cio' borno, o delega-
nos autos. Tais irregularidades poderiam, no futuro, ser argüídas pelo JUÍZ,
c!o pressionavR seus colegas e subordinados, encorajar.~'o-os a e1ceitar a a fim de relaxar o flRgrante .
.contribuic;:ao do bicho Essa pressao podia ser cxercida pu: meio de sanc;:oes
administrativas ou funcionRis. Por ocasiao da pesqui::-:1., um cie meus
Atualmente, o jogo do bicho, por odem do Governador, nao é mRis
informantes, que i.Ínha se nege1do a recebcr o dinhei' J do bicho, foi
reprimido no Estado do Rio de Janeiro. Tal estratégia visa cvit8r as
ameCi<;:ado e arbitrélrÍRmente transferido de delegacia p~ a delegCicÍR, Rté
negociay6es particulares di retas entre a políci8 e os banqueíros, o que levéW(l
fmCI 1mente e o ncord 8 re m receber a parte C] u el he correspond ÍR. Essa paree! a
a práticas discricionárias e conseqlientes acus(lc;:oes de corrr1pc;:ao e suborno
era mínima, mas sirnbolizRva sua cumplicidade e funcionavn como garantía
contra a polícia. A lei que classifica o jogo do bicho como contravenr;:ao é,
ele sua lealdCide e silencio.
'------~-------·--
--~--·--------- -------- -

Uma ~a\ /ci- c!o ¡nesmu JJ¡,;cio c¡ueéJlei sec:-1 ncs Estcldns l. inicloc;- ~;cr¡;¡
r·r¡;¡ct;:r:tr·. fcclcré1L n;-1n ¡wclcndu ser éllteríidél ~crn él concorcl~nc:ia cio quast' impossivel ele str c·u111p: 1cL! C:onseq(ICIJtemtnlc.:, ac, <Jg:r co¡¡t;;¡ ét J(.:i
•~ ~:
c(''i('l(H'S(\ ~
• .._ - •
t\i , • : • , '
-.-u . e ~''_·,
:·in'l'''~ P-~·-'·tlllt
( •- \ : i ' a m en ; e I al an el o, a él t .1t u C1 e do G ove m o
: 1
r. 1
esti1 él políciél prescrvélncin a im;¡gc~m idcalizrlclí-1 do SlSlt~lllíl legal /, lci ¡¡;¡(
cl, 1 r·:stcHlo é. cm si. ilegcll, jf1 que ele n~o ten: competencia - m1 cliscricio- é. em si, contestcJcla, e;¡ Legislél\\lra pode sempre ;¡Jcg;lr que: o iogc: ci() bi,·ik:
ll<liic!ncic- soh'e élSSllntos cic lcgisla¡;:flo fecierai Esse fato exp6s o Governo é urna atividade ímora! c. ileg;¡J l )m ta\ sistem;: poclc lcv;11 ~~ plet():·,: d:.-: \ric.,
l ·:stílcJllíJi il íf·eqiJcntes ílClJSí\\:ocs de descumprir a lci. 12 impratic~veis e absu!·clas C]liC éi!l:aioria dél poptilél~-;~CJJJ~O compreenck IJCií
obedece Ideolc')gicr. e poli1icr\rll~'!l\e, é-l polícin é cc·1:;ur;Hiéi pnr n~c
_ l i mét ci él e o nse C] ii ·~ 11 e i él s su e 1;\ 1s d e o r el e m r r 2t i e él e! es s as e o n cltll 21 s
éW ctimpri:llento desSélS leis, e a popul<w~o, por n¿iC1 ohcclcce-lé-!~;, é: u::1~.l:
(_:(lll~;JS(t:rCÍc:rc;:ar O CCticÍSll1() da p0f1U!<lc;:RO bn:sÍ!eÍrél C]llnlll () ~1 possibi-
Clll
rrlclé\ por n?.o se1 f¡c\ c:umpriclorci clél lei O si::tcillé1 ieg;1\ pcr·m;JrWtT
lrdiiCIC ck ClmprllllCllto el;:¡:-: leis no T-irrlsi! C:onformeJ;~l mencionei a trnclir-~w
y
1 •

cié\ leg¡slélc;:~o pemll brasilcira c-1compani1? a traciic;:ao do leu.islo"i'lo civil


)
en t r e t ;-m t o , so b r C1 n e e i ro ;1 s e r í t i e a s
clei:-:;JrJCLl pouco espac;o p<-l!él discrícionalidacle em seu cumpri~;11en:o Com~
()s Usos cL1 Lci: O Caso d:t V;uliagem
¡l<ll tr ck';Srl." c"ncep\·ñe_" lr·~;JJS, é-1 ic1 m:entz: pren:r todos os casos cm c¡ue
ele\ e _se~ CipliCrHin _Pena fz1zcr essí-1 "prcvisao", a Legislatura pr·esume sernpre
Adecis~o de registré-H lllll fato como ocorreriCÍH dependía também el;~
~?ncl1<;:~es culturél!S e lllélte; iais homogéneas e ideais pnra R Rplic2c;:ao da leí
classi!Jcr-H(RO a ClliC ercllli suhmelíclos os indivíduos cnvolviclos como polícia
L-li élJlllcél~~~o, entretanto, •poe em confronto este sistema leu.e1l idealizaclo
Os policié1is SRO conhecidos no Brasil como "tiras,, Essé1 denominélc,:~o pode
c~m ílS verdadeiríls condi\:oes cllllUíéÜS, economicas e sociRis, bem como
ser at r i bu í da 8 su a t nre fa el e t i r él r el e e i re u! él C( ~ o él ~; p es s o Rs p o 1ene i él l 111 e !l : e
com os d :..-:fici c11: es re e u rsu:: m a t eri<lis disponíveis para o curn rrirnento da leí_
perigosas, evitélndo Cllle f1C1uem circulando ociosr.:nente, ou seja, Véldianclo
_ _ O resultnclo é uma pcrm;:J.nente rensao entre o que é 11 legal 11 e precisa ser pelns n.1as (C:ostR, 1 97CJ). U m delegado apresent•m1-me, entretanto, urTJ<l
e:--:1grdo e o que é "possível" ex.igir No caso do jogo do bicho, bem como no explicé1C(8Cl diferente Seg1mdo ele, Cluancio um p81icinl entra em contc1tc1
pr·óxin:o e:--:emplo, cio Vílcli(lgem, a polícia selecioné1 os casos em que a lei pode com outrél pesso?, él -~)rimeiré1 coisR Cll.le ele faz, a1.:tomaticamente, é ,,tirnr,,
ser í-lpl!c(ld~ e os casos em qtie el a n~o deve ser aplicada_ Assim Rgindo, a polícia o individuo, c¡uer ci!zer, clnssifJc8-lo de é1Corcio com critérios polici::is
preserva a 1magem el o sister:1é1 juciicial e lega!, que pem1anece inflexivelmente Explicmr-me dé1 seguinte mélneir·cL
dentro da leí, enqunnto os policié11S esr~o violando ou distorcenclo.
Quondo um p:r-u¡Jo de ¡Jessoos entra no delegocinl oJJ!es de
. Níl pr~tiu1, uma vez que o jogo do bicho é altamente popllléH, íl
Oltl'!-las, liÓ.'> e, ¡quadrmnos coda uma de/o'·. Jsso e' uma coiso
o_brrgac;:~o ele cumprir a lei r:ue o considera cont:-avenc;:ao penal trcmsformél-
jJ! oflssionol. um o corso de pcrdigueiro. A .oós csse primeiro
flé1 uma boa p:1r cela el os h~1bitantes do Rio de Janeiro em de!inC]Cientes -
i11sion!el 1'0/71,'~~- ape!ft>i~:oando a rnwgem da pessoo, //ICTS o
b~lr1ClL~eiros, bichciros, ci_elcg;:¡cios de polícia, agentes policiélis e os .próprios
JJri n1e i !D coisc: e! "!irá-lo". le 17/0S de '·e r se OY sopar os s/To coros
Cldí1Cié1os comuns c¡ue s1mplesmente fr:zem suas apostas Numa entrevista
o u harafosl SI(JOS o u limpns. se as solas es((/o gos!ns 011 Jl{fOI se
cirlda e: um dos mois prestigiosos jorncüs br?.sileiros- o Jornal do Bu1stl-
os colr.;n\ .wroformois 011 il!(ormnis, l!Oi'OS :711 ,·e/hns e de qlfe
u m antigo e famoso hicheirc, tornou explícita este1 situac;:2o verdadeirament~
recido scrofeifns. Ohse!T(!l//OS o cinto pero i'Cf' .)e(; de C0/1/'0 011
pr:culirrr. Uma de suas aflrma~oes ilgurou como título da entrevistR: Somos
de plástico RepmiTnws se o camisa é de /lO/Jl t:us!o 011 Jl{fO.
1o el os cont rélvent ores
Ohsen'omos o rn¡xc!o gernl do pessoa ¡Hnir \'Cr se es!á
olinhado 011 em desrr!!llho, sefez a harho re:·ellfemenlel se e.\!CÍ
12 s·_rmon .~chwarzman (1980) aponla o jogo do bi~hn como um exemplo brasileiro de "crime sem
hem o!imentodo, o estado de scus denle.i. fle¡xrrrrmos ncrs
VJlJmas . que garante a exisléncia de uma indúslriadocnme_ Segundo ele~ somenle a descriminalizas:ao
clessas at1v1d_ades- que 1ncluem. no Brasil. tambémaborto. uso de drogas. etc_- poderia realmente 7tnhn\· nnrn 1'r>r sr' es!r7o hem frn!adrrs e se n 7t!lhn do dedo
A 1--.Jegocia:;:ao da Lei 55
:Jt1 - A Negociaya(; da Le1

mínimo(; moi.\ longo do r¡ue os ou/u7s (11111 háhlfo dos hrcrsilci- rRcl as él 0 ¡ :CI b a] ho í nt el ect u cd :rvr a rgi nR i s s21 o os membro s dns el as ses baixas
UJS de clnsse IHiiWI j}(Trn demo!lsfror que )}(/o ex ere em t¡-aholho que n~o t ,·ab11lham· os vadios e os crimincsos proflssionais.
hur~:ol, o que ,Js rchoi.rono !In lu('urrr¡lfio do socicdode huni-
/eircr ex-cscuf,'isfo). 0/hnmos os m/iw ¡Jour l'CI' se .\cTO cole;n- O empenlw clemonstrmlo pela polícia em fazer cumprir a lei ~R~ia ~\e

acordo com RC(ltegoria social das pessoRs envolvicias, e nao corn a extste~c~a!
.
dos. Ohscn·oliiOS, cnfáo, o mnnciul dn pcssoo .folm·, SilO
cdl!covro, CYJJI.! l'l1'11cio. A jHJs oh \C n 'eH todos essos coisns, inexistencia de atos ilegais, o c¡ue nao se enCJUé1dra na defmi<;:ao legal brRsde1ra
dtngimos o/J_~,.t!llns JH'rgun!o.\ JHI!D obro· iJ!fonnn~.c)c.s. ¡~- o Jo pctpel del policía Tal característica pode ser muitu bem .ilustr!1cla pela
mesmo jJ!'OCC.\:\0 que se uso quondo .\e 1'2 umo mulhcr: n gcnfc c1tl!Cl~~o policial do cumprimcnto da leidas contraveny6cs penats cm cosos ele
(j uer ser he r se c.: coso do, se 1·/ l'e .w:r.tn ho o 11 con 1 ofm ni1i o, se re m VRclÍnQeiL Essnlei federal incluíél (arts. 59 e 60, Decreto-Leí no 3.688, cle_2 de
din!lC'iUJ ()1/1/(l(), Com os J/71/lhcre,'\, rudo /}()!J/C/JI J /(171 policwl. outub~- 0 de 1941) vadiagem e mendicRncÍr\ como contrnven~:oes pena1s. A
E o mesmo ¡;roccs.m. todo mundo "riro" todo muJJdo. pena erar-le 15 a 90 dins de prisao simples. Portanto, teoricamente, uma pessoa
poderia s:·r presa em f1agrante, a menos que pudesse provRr t.er um emprego
A afirmntiva disse delegado ele que "todo mundo tira todo mundo" reQu\ar. ;-,_ maioria das autur1c;6es por comravenc;ao penal, tnstauradas por
nél sociedade brasik~irél sugere origens sociRts para (lS pr8ticas e as fla~grante, realiza-se na delegacia, e sao penni~idas ciesde_ o i_níc.i~ ~c;oes
cn!egorias policie1is A. élnálise dn descri~~o do d¡:lege1do de ''tirar" indiví- bilaterais _coma pnrticipa~ao de advogado. Por 1sso, nas a<;:OeSJUdJcJat: .por
duos mostrél. c¡ue e~.se1 pr~tica constituí basícarnente um processo de contrave:~<;:ao penal- bem como em casos de acidentes de tráfego com vt~ll~n
enque1drar tllllR pess.Ja de ncordo com seu s!nfus social e economico e crimes relélcÍonados com drogas- o inc¡llérito policial ocupa uma pos1c;ao
Dest e ponto de vista, él po lí ci R, ini cialment e, niio se preocu pél com os fatos relevante no processo judicial como um todo.
cm j ogo numo ocorrcilcia, mas coma ident ifi CéH(~O do contexto sociocultural
c¡ue os cerca. A primeira identifico~~o, como !lcentué1 o delegado, é Por ocRsiao da pesquisa, o BrRsil Rtravessava um período de grove
func!é1mentél.l péHé1 orien!nr élS prátícns policiRis e rt maneiré! pela c¡ual ?. !ei depress2n econ6mica. Portanto, essa leí representélva evid.entemente uma
serf1 cumprida- ou n~o. ameac;a ronstante pora a populac;ao. Muitas pessoas nao tmham emprego
ou, C]uar;jo tinham, nao podiam comprová-lo, pois era comum ~ue seu
Ess?. clnssifJcélc;~ío do pLlblico que tem contato y:om a polícia pode ser patrao, ¡--Rra evitar 0 pogamento de im})ostos, deixasse de atual1zar ou
r·epresentadél por um <onfi!llllt/7! que tem doís duplos pólos opostos De u m assinrd- ,~ :Clrteira ele trabalho.
lélclo, os doutores e o':: pés-ínché1dos; de outro Indo, os trabalhadores e os
muginais. Doutor é ·:l tratamento que él sociedade brasileira dispensa as J\:~, s a polícia do Rio de Janeiro só oplicavél essa lei em situot;6es
pessoas de el evado s1a!1rs, possu id o ras geralm ente de di pi o ma de curso especia!~ Uma de\ as era quando identificcwa alguém representando,. segun-
superior. Os pés-inch;.1dos constituem um<l categoría originúin das delcga- do 0 cri t ~ rio policial, u m perigo pot enciRl a sociedad e, mas acont e~'~ fa! t ar
cins do Rio de Jcmeíro, em cujos c~rceres cronicnmente supcrlotados os evidénc 1• 5 suficientes para umél acusayao legal convincente. A prtsao por
presos nao tém espnc;u paré! se deitar, sendo obrigcldOs él dormir por turnos. vadicH~.c·•· ern 0 recurso que a políciél. usava para retirr1r o elemento de
Os.mais frncos passélll'J é1 mélÍor parte do tempo em pé, o c¡ue félz com C]Ue os circul~c;~. ). Téll acusa~ao podin mante-lo preso na delega cía por u m período
pés fiquem inchodos., A expressao é usRdél popu!Rrmente pélrrl designélr maior O(i que se nao houvesse nenhuma acusa<;:ao contra ele.
também pessoa pobre ou um Véldio.
SE::::,LJndo a leí, a polícia deve prender as pessoas classificadas como .¡¡
Os trabalhaclor~s s3o pessoas de clélsse bRixél, exercendo o mais das vadias e1 f.m de retiri1-las das ruas. A policiél pode fazer isso em todos os casos
vczes ntividéldes broc;ais desvRlorizéldas e mal remuneré1dRs quancio compél- em c¡ue a pessoa n?ío tenha como provar c¡ue exerce uma atividade regular
'111
--~--- ----------

Essas lransforrné1yOes estrw;ml J'¡gacl'riS, prO\'él\!d:n~I1ll'. ·,·_ prof\11HL:~


f)¡¡('il: ;¡~(' ¡)[lcJCI CCJI:l''l''\"1'
· · ~ \_l ( 1 i·" . SC'é1
.>_,,'1 cJtl · r11JPT .... 1 Tl;~ t.1V e r u m e¡' l,l !", r,' C' ,, (', eitec<~cCles cía cstnrtlliil poi'ttrca, soci;d e econé\micc• owrri:!<Js no Br así! !1U iá
do século XIX e iníc.lo de; séc~·c~\c X)\ Ness?t épocí\, <l t:cu:H~;ni<l \~·-asikir<t e
1 '' r1 1 1' . ' . 1 • ' ; ' V' . . d ()
- ' ;! : '· 's il' "- 111 eh ;1el n,
,) "_ '"'\·¡tcl;o:;
· - ·
:'sproc.;''lL'('l. ,. · . ~--
~•·
.1 1
i1C) ::•i1Í'rr·· ¡¡cJ'·n·.r. ¡. -·. •r.S-eS((\lé',SCilljJJCeX¡!OSI('
. ',,,¡, l ''---lcli C l)(JC,Cr?, S('! 1 ,_,, "'
C]l,c\IC]Llei lllCllllCrJ(O 1~:-~
. 1 )
•. particularmente_ a cio Estado cin 1\to ele JaneÍIC- t'll"tl!llri1Ve.-sc· cm fíanc"
C'~(
,.,,·.·. , • 1 1 ,_S,J ?,
trnnsi~:ilo clu sistelll<l c<1p\ta\1slé1 \Jc1scaclo né1 escréWicli1o pnr?: e: sistcmc~ cc1pllé\-
1 ':1

. "rl,ldlré'
1 (](' ('()!/(!11/f/(/J' ,·S. "-ln,··
, 1, , , 1 1 .-, r> <;_,, ' Oll.lr,
expostns ;\ · 1 r~o

rJ' ¡ JY"' t ;--

lista hase;.Hio no livrc mt:rcrHICJ ele t;ab;1\ho Fxamim1rv1o rcla~émos c\;1 polícií:
• r. (
•:•' F··l· . " ..·- ".... ' l.(\ es,,w
nw \:. :i'-'lr·o· j •
~...·:¿¡~: ;¡j¡~~l-~ e~~ rl¡,'Jli((Jr.r,•_r~ v.~.::dC ~~1~,
... r . ,, ,.( tl!J ,lJJG, C(1!i' .1: . '\·' ,
, • _"
-.
·, 1
. j
~ r 1 '\ ( ~") 1- ~~ T , . .
... 1 ' , ,,,,~
....
,..
1 ,_
CJ iT1C. CC)IltOll,
_ 1
rJCSSC1é1S cL·lS
, •
,_:_., jHlllU2l1S CCl:llCl SCUS fill'lí·err(lcJ')' do F~stnclc; ele; F.1c; ele .L:neirc: rcf'eiC!J\es ;w período ck \ g~ l? JUJCI, estLtclc:~;
históricos (B:-niHl~o et ctliL l CJS l 2l]-268) mostrmr: C)l!e a necessic!c1clc: de
' • 1 :::; \'"

l'cs:<);!s
.1(1 (l(l\TI
··
clils ci;:<c;ec; >ré ¡:.
11''S!C:J
-.... · (''><·,
.c..-(;
con.rél as CJé\SSes lll<lis barxéts
;¡ (•: 1 \1T1'1''Tl(-~
, .·~·;-
·
. ¡,,e.' o
· t 1 criar ummercc1du de triibé1lhc: ]:\TC !evotr ~~ identitJcnc~ac', por u:'.l lndo, entre·
... t•·é1bnil ". J ~
1.1 .l lrl lllCSlllCl Il~Cl
'- <lité1_
bo<-l orc\e l1 C trnbél\ho e, por Ol1ti'Ci ];¡c\O, c\esorclelll e nao-trC.Üé1lho (0~1SCC]UC.ll­
¡;JCiél:; í:l mostrnr Slirl ur-t 'I·r··¡ •J'c, tr··-,h· JI
' l<tllC c., llL!llCél Clél!ll
l ement e, a 111 arl\11 en~R o de. "segma nya int cm a" e da "! rct nr¡ui Ji liilcle plihlic;l''
_, 1
·' ·~ r.' .. nllrl lO nern
e·-rn' , ~
~·ilJ' C'Cjl:JCrclaclr c:conó·nrc•
- .
, ,. ". • . ' , .1 ¡1•11esas por vaclingern
!l:li1C:;¡¡¡;¡¡]l(_:r;¡
1 ( ¡,.¡, d .'lC
CCJ!ll é' Jnj ,.,.- .... , r".
lllél!ller.
·
OCll'
.
come 1 ~ ' n
1..
(, COilSe, ucnte bom
11 exigiu :rma policía "pr:rfJSs'on<d'' alicer~acla em métCJdos ,. cíe' iflcos"
11 . ,_ e:, r1J,¡"~l!l;1di1lllente jl!CSll'llicla ¡;nj~ nn1¡'c¡., "-· . ¡·'-'· 1(,

Os crítérios utiliinclcs pelé' polícia pnrél decidir se uml1 pFssontinhél Oll


·~·_rabalhadores
. e íVIargin~li·.s.·
- a I e1entifica~ao n?.o 11 potencir1i 11 pé!r<-1 condlllél perigosa eram esser:cirdmente empír.¡cos e:
l i l s t ó r i e;-¡ d o T r ~d' a 1h o e o 111 a ()rdenl Públicll representa va m i1111CIR básica das funr;Ocs poi ici ai s el e "vigi lií nc; a" N a ci el a el e
do Ric ele .1élneiro essas cn\e:f:wrias esteriotipélc\c;s eram L.-;toric2mentc
ry1 ·. e¡.1 VélC ¡·Jilgt~ljl clcillClllSlr<! c1wallle
.. ~.-1 l l]JrC
""~'e, '... nte ~u e, en ti e a populayi\o
C'" '-- - nssociodas ROS conceítos dn criminología do século XIX, cxtn1ídos do qtJe
a policía aclrnit e cuna corre! a iío
n?.o-~rélbé11ho e crime Cl
11
se imc1ginRVR ser lllll<l criminulogia Científicall (Nerler ci e1lii, 1981)
, , . e;; positJ'vCl entre trnbalho e orciem e
Lombrcso e outros nutores oriundos da llescolz~ po~~itiva" clesenvolvcrarn
Jde,~lógicos das policías clil crdacle e el o Estado do·;~i~a~ze~, nos pnn~ipios
· CJLic pc11 ece ter profund· · · <-'<

re~ífies
11
icleiél de indivícluos l'nasciclos f!clro o crime , OL sej?, criminosos n8tos, c¡ue
on.t!!llcntc, ncss;:s 11111 .• , ,· . e, nnelfo. TradiCI-
~ dtJS ::-.Jstemas culturRJS uséldos p 1~ l' .
c]assJÍJCl\-~0 clas ¡v=•srr~'lS t)-:1S.e!?.- se m1 ¡;res un r 3 ci
- . - , pocl iani a1é ser descritos e id en ti fr c<Hl os por su as can ci crí si ic:o ; anill órni eas
jlél!íl (l e,(1 po . - !Ciél
~. , e lliTl él o p o s1~ ;:w
• · • • ..__ • ,) )( • (¡

n eees sa r i a e1l t re el u él s eél t e o Y .. o


>.Ja teorir1legé1l brc.sileira, essn classifJc?tc;:~o é i10r vez.es: · ltuiadn como
. . .
. • .:_-,0: ICl.S SOCIR!S. 1rC1bc:LihacJoreS e .. , . r
ponlc: de VIS!n ')esso·¡s ecc . . mRrgltl?.!S deste
u me1 i.?, ref?, 11 ?,nt ropoló gi ca 1', re\ncionCl.da C\OS mét o el :.)S da ant: ·. pologi a fl siu1
a os delrn~ en tes
. - ' i· · · e· momJcamenre me1rginniizC1d - ·
· ' as sao eq u q1a radas ,(
11 cio século XTX ConseC]Cientemente, taís noc;:oes es;ao ainu<'<. m voga entre
o pessoa! cL-t polícia e do sistem(ljudic'lnl do Eslo<.\o do I<.ic:
vc1lid~ "' - .
A C<llegonC\ "ménginc-lli' tornél-Se
m a n! i mil e m re IR e;: ao Cl o .1 f " : ( ~
(\., . __ n t ¡:¡o , p é1 r él den o m1n a r t a n t o
• ~
sep., delinqCiente , tl·" ¡ _ 18 '_· .Em,o r~argmal clRlei, ou
·
Estudos
e .\ 0 11 ·' SOCJOeconOllliCO Cll' • · -
Durfl;~te met: tr·élhnlho ele Cé1lllpOjunto ~ polícia e nos t:;Junnis cJej,~Ir;.,
. ,LIIké1COS(..randé1oetél]!J 'nS!)
o;·gnnJZélt;:~O el él ¡;olíci?.· do Es'
11 !
1 R' l . ' rl '· J ';/l so,Jre (! est?.va::l sempre inci:1gondo se eu, como antropólogo, esta: 1 fazenclo um
. ~ "... ¡o ev¡.._.encraréllll C]Lie, desde
J
.. t,.Uooo ¡orebne¡·
o século xrx ' '
n

es t u ci o '1l o mb ros i(1 no 1ci e; s cr i mi no sos Di se u t ir- e i est e ?. ss LI n: - e m en pí t ui e: s


t

.. ~ . , o rrocesso oc InclustnaliZély~lO e urbani -


lfllJl<'S co;110 u me di!s príncípais limliclad d zayao neste estado
es a sua forl'a policial a man~rten-
post e: iores.
yilo da "orclem plilllica" O. ,-
legaL grélt;:2s a qua! 'él .¡;o~íor~ eu ness~ edpocé1 lllllé1 clar~ mud;:mc;-<1 dn teor1í1 Esses ester·eótipos estRo intimnmente rel<1cic)nados co¡,¡ o preconcei-
de cor existente no Brasil, ele vi do a o él nt igo sist -~m a econc:-mico bétSCélcl o
__ cu passoL e umr. o"gnmza - .
punH!va ¡'J<na uma flor-r" . ,·,
yn pü.ICiél.
,1 . .
1 Clentlficé11' di
~ .~~~]" d c;;ao re¡;ressJVR
- .
e to
na escr8va tu rél Es se~ concei \os s2lo ge:-ad os por Ul'lél subvnlu, izn~~o eli l i st él
1
(Bíandao et alii ; 981) A . . . - . · ' scip ma ora e profJSSional
- s ¡lnncrpals finalidades d
, , l 1' ..
teoncamente ' a virri!8ncia d (1 popu- l - de qualquer trRballw f:sico, o que é tambérn herciado cla an íga economic
nryao e?. prevena -po r]ICJ2 passélrélm él ser
COS, especiRlmcnte rela ident;~
::::; l' ' . '

- d ·. . CfélO "e OIS!UrbiOS plib!i-


, Jcnc,:;ao e cnminosos em pntencial
5G - A I'-.Jegoc1ac;Ao da l_ei _
A 1\legociac;:áo dr1 Le1 G9

lnasilciré\, bélSCé!Ciél nél t1icrarquia cscrcwista Ncss;, sociedade tradicional os A e fi e ien e ia el es ses p ro ee el ímen t o s poli e iélÍ s p él re e e e 1eva dél , p o 1s as
cscravos negros é c¡uc C\CCLJtéJvRrn c1 tr<lb<JIIw >:-éi~rJ! clé1sses bélixas aceitam implícitamente us rótulos c¡uc !he s~o impostas.
N u ma t e nt 8t iva el e a ss eg u ra r que su a sí tu at;: ao es t ~ le g e1lm e: nt e e m o rd e rn , os
Es ses preco;¡ceitos sao refor yélcius por u;1: conhecimento pseudo- clesempregados- ou simplesmente os pobres- desculpam-se alegondo as
científico CllSÍnRcJona lllélÍO!Írl das fi1et1lclrJdes ele r)íreito, onde él OÍSCÍp]inR eJe desigualdades estruturais do sistema economico e social. Afirmam repeti-
medicina legal forr1r~cc tipologías ''cicntí!Jcas" dos críminosos Deve-se notar damente, quando abordados pela policía:
que esses preconcr:itus cl"1fundem-sc lrngr.mcn\c nc meio policiRl, j~ que os
,\ou ¡;uhn:, mas .vm lurholhodcHl
c1ciegnclos tém ele ser forméldos cm Direito, e muitos agentes ele polícin
fl·eqLJenlé1rélm tamb~m fé1culdc1cles ck Direito Mais cio que isso, té1is precon- Fu n ~o es de Vi g i 1an e in e Pro e e di rn en 1os d r
cci!os s~o lru-gc11llUlte clisseminaclos nos setores educados da populnt;:?ío
"Rcconhccin1ento": A Auto-Rcprodu\~flo da
brr1sileira, pois os c!iplomados em Dír·eíto s~o muito nt1merosos no Brasil.
Ideologia Policial
Uillél das co!tseqtrenciRs prúticas dr1 associ?, ao entre nao-trélbalho e
crime foi él éluto-rcprodut;:ao de um sistemél ideo!ugico que projetou umél A classifica((ao hierúrquica dos cídéldaos brasileiros é lege1lmente
permélnente nmbiglriclc:Jde ou mesr110 umél potencinl acusayao sobre cidadaos enunciada no já mencione1do direito aprisa o especia! ele que goza m no Brasil
desempregados de classe baixa Esse sistemé1 também dividiu a populé1c;ao os portodores de diploma de curso superior_ Entretanto, para a polícia, a
entre os que tinham direito ao nao-tré1bcllho e os c;ue nao tinham (Coelho, equipara((RO das pessoéls de clRsse baixa aos marginais explice1 perfeitélmente
1978). Estél prát.JCél discrimin8dora lllélnifesta-se pela exigencia· seus docu- a auto-reproduc;~o da ideología policial e as teorías sobre criminRlidélde. Por
mentos!, habituR! ·qucmdo R polícia, por quéllq~.er motivo, élbor-da um exemplo, segundo a afirmativa do escrivao no flclgrante descrit~ élnterior-
cidéld~o comum n~1 rue1 As pessor1s de classe bélÍXél·, e1lém cla célrteira de mente, o contador gozava de privilégios,na cadeié1 em troca de presentes que
ídentidé1cle comum, tem de apresenlar provr. de estarem trabalhando pare1 a familia trazia pora o carcereiro e tRmbém porque o contador era "clara-
!lRO serem té'l.xadas ele VRdÍaS. mente" diferente dos out ros mé1rginais presos_

A discussao de outro exemplo já mencionado vai ciemonstrar como


Deve ser élssinalé1do também que a at;:ao poli e tl em casos de Véldie1gem
essas classificac;oes sao socialmente legitimadas, apesar de cstarem ern
pode resultRr llél 'Ttbricat;:aorr de rnélrginais. Come- -:oelho (1980) observa,
evidente desacordo com a ConstituÍC(RO brasileira, que é igunlitúiCJ A fim
élÍ!lclél que (1 proport;:~C ele COllOenéir;:OeS judicÍéHS ~-~ja baixct Clll relat;:RO as
dcnLrncías dos promotores, os casos de vacJiz¡;::~ n resultam em efeitos de atender as reclamar;oes do público contra a violat;:~o sistemútica dos
direitos humanos pela polícia estadual, o governador do Estado doRio de
punitivos reais As cadeiéls nao sepníé1111 as pesso2::: ~ or categorías, de modo
Janeiro emitiu uma ordem especial a ela dirigida, que crwsou escflndalo
que permémecer num xadrez representa boa oportt!::idode para aprender ou
pt'1biico e foi exaustivamente discutida, despertando muita Cl!en~ao da mí día
él pura:- hábitos crirmnosos com outrRs presos. Ent tanto, tornar-se conhe-
do Rio de Janeiro. No entanto, a ordem estabeiecia simplesmente que a
ciclo pela policía é:a pior conseqClencia Em suz1 rr¡"·Ior parte, os indiciados
por vadiagem te m cnt re l 8 e 25 Rnos deidad e, de::~~ jo C1Ue se u cont é1 t o com polícia devia obrigotoriamente tratar Clualquer pessoa de "cidadao''_ Ela
11

e a polícia e críminosos profissionais pode segur;¡ nente ser considerado proibia também o uso dos termos "elemento" e Inarginal'' nos autos dos
como um importante rrprirneiro passo" na cRrrtir8 Jo crime_ 13 inc¡uéritos policiais_

Em um debate público travado ne1 imprensa sérin do Río de Janeiro, bem


13
A forma peculiar do poder de pollcia em casos de vadiaoem reflel<'-se nas eslatlsticas criminais
como em editoriais publicados no prestigioso jomal"liberal" .Jornal do Brasil )

onde a proporr;;ao de r.ondenar;;oes judiciais e baixa em ~ela¡;:ao as denúncias da promoloria. '


(lC(l(i\i ()S ?¡JC!Cls (\ SCl1 LtVCli vine!()'.; ele prop:·iet~rÍCl e e.:o nclvog;tcic:, roí lllllli('
impc1n;mtc ¡;étiit qtrc os p()liciél:s lit\asscir o fhtgr;rntc ele "fclré\ clo cumtrrn''
e cm si el e r;-: s se m CJ el e i e g; lC \ CJ e o m e: lllll i t n ; i g oro se: , urTH "e\ t 1r e z él ''
1
¡ .l;t l'uí ciiscuticlu como as cstíltÍsticcls dn políci(l t,io R1n s~o intcrlcion;t1.
!
i mente cirstorciclélS nns CélSCJS ele rnubos e ftrrto.s scm fl;.¡gr;.mte a políci<:
h
esse~ segmentos elitistas cla opini~o pt'rbli-
>1crltÍilcl\l-'C.íllllfJél!·éicic 1 por desencora¡21 ilS vítr;mts cic registr<trem c1 f;¡to com<1 ocoiTencia crimj¡¡;\!
c~l. ;: polrc:léi re~l_Qill élbert<Jrncnte <1 orclem, ci<mclo início a umél operCJc~o 1 Ollservc:-se fc¡ci\mente t;d distor\jo ta!llhém JJCIS c·.sos clL~ VéHiir1gcm e ele
l i' ¡-t ' 1 '
.' "·' '.~-.e
\' <J ·¡ ] .,¡
e,_
CC' 'lCil ¡·
· ., 1 el, SCJll~''
'j
lé\IIte as.
reR<;.:c)es dos servidores ·
pC1hiicos civis ' ~
¡ iouo dc1 hicho
etc otr_tros j)éliSe.<; élO se opo:ern é: conclic;oes desfnvorilveis de trnbalho é 1 .J ...__,

¡
1
r él clr e 1o n ' 11n Cl. ~ : él s i1e~ m G t 1n 1 s ll b s t i t u t o el Cl s g re ves, Clll e e r e1 m p ro i b i d a 5 c:1,0 s
1
[
Um nutro exemplo vé1i csclnrecer· as conscqlJenc1as rx~t1cas cios
~er vr el u res Ptr t 1Ir ~:os EssR concltr t <1 con si st ia e m t rR bnl har e m est rita obed ¡_
C:'IlClr! ;¡ lOclélS (1\ Jeis e ff'0 1 l'é"llCJl 1 0S eXÍStenteS S;:;-0 t . ~ .
¡ estereóti¡ws n;.:¡ nlllnyi'i.o polici(ll, bem como nwstr·;n o processo ele mJ!o-
. . • ·. ·.::o' · " ' • . • . n é1n t r1s r1s extgenclélS reproclu\,RO das céltegorias e p1·~ticns policinis- n '\~statística" policial. Nct
f
bu_rocrntrcr.s que cerce¡;¡m ;1 rH,.:~o policiéll, C]ue essR operac;ao resultnvé1, na épocél em C]lle él pes[luÍsn eslr¡v;.l em curso, o indiciamento e posterior
prél{JCé\, em élllllhr a élyi'lO ri?. po!ícict, cieixnndo el prÓpria SOCÍedade é1 tarefél condenRyRO ele umR c~.;n!Jeciclél figurt1 da sociednclc célrioca- um cin.rrgi~c:
ele lllélnler n orclem pública 1 plástico- por assassinnto, roubo ~ mi'io armadPt, nrrnmbamento e seqLJestro
r
pmvocoti tlm esc~ndnlo ))Llblico nncional por ocr1si:io c!as investignc;:oes A
..
'
No i~ descrito Cé150 de nagréinte, pociem-se perceber é1lguns OLitros
¡ mídiR comentou exnustivnmcnte o assunto com e1 p~rticipa~:8o de famosos
result<1clos ciC1 lllélneJra estereotipada com c¡ue él polícia vé os criminosos Por 11
criminalistRs" brnsil~iros - policiaís especinliznd;ls, juízes, promotores
e;-; cm P1o, o_ e.sui v~ o n:io podia "compreencier" como uma pessoR e¡ u e públicos, ndvoge1cios t a imprensa especializadR. J. explicnc;:ao consensw1l
~C\n~l~Vcl ~l1é\IS ele cp1e ~~~ero Clipnz ele envolver-se m1m assalto. A irnprensa 1¡
!
pétra n condutci criminosa do cirurgi8o foi insnnidnc;e mental. Já c¡ue ele eré1
L:ml)Cill tc:ntou clescol)flí u:~1a motivnc;:ao pC1ssionol pan1 explicar 0 proce- ¡
1 inteligente, eciucélclo e rico, ni'lo "necessitRva" COT1eter esses crimes po1
¡
cliillcnto clo col1iélclor. Mesmo o proprietRrio ''nRo Jlodia r1creclitm" ClL!e
0
dinheiro Portanto, ni'\o haviél qurllC]uer rnz?:o- n n~:J ser a insé1nicinde- pctr8
cor1lclclor cstivesse envolvido no rouho. ' 1
1 ele cometer tnis crimes. ~~
1
!

.. !Vlas o_ C]Ue se ~fastav,, cla:-amente do nom1RI no flRgrante n3o erR él EssRs opinioes forr.m conftrmé1ciéls pelo meLi mn(er·ial ele pesquisC1s
prClt !Ul do en n~e en1 SI, mas o_ rigor come¡ u e a lei estova sen do aplicada contra Segundo (\ maioriél de meus in!ormantes- RdvngéHlos, rromotores, juízes,
pe~so~1.s C]tre nao eram mélrgi:laÍs A excepcionalid(!de clo episódio pode SfT
élt:JbuJd~ <lO fat? de ni=io corresponder élOS estereótipos policiais no tocnnte c:t 15
A redur;:ao da conduta Cf''minosa e da dissensao polltica para 1nsanidade" é uma interpretactw
crJ_mm~:IJclélde VJoientn ~a os crirninosos Nem o cielegC1do nem 05 polici(!is C]UC comum na teoria legal br:;siletra Essas r:onceoc;;oes legais no B;·3sil sao r:laramenle relacionadas
comas teorias da "psico:cgia das muitidoes". vigentes no sécuk> XIX, desenvolvidas por Le Bon,
[o¡ • uma. olhada · noc:--.presos
él m. délr ~ "''(" - nos'' e omo ¡a d zoes-como
. nr"'conl1eC""'-"'lll --
Tarde e S1ghele Esses autores mencionam a existencia de um certo "tipo" de multidao, a "muliidáo
l11(1rgmC11S. A ngorosa aplicélr;~o ele: lei pelo clelegéldo contra o contcdor, sem críminosa", que nada mats é do que urna abrupta transformac;;~lo de um ajuntamento norma! eJe
pessoas numa multidao Jescontrolada e insana Pa~a esses autores, lumultos oriundos cie
protestos conlra a injuslir;:a social e stluar;:óes económicas adverscs. por exemplo, nao estao su¡eitos
a explicar;:oes soc1oiógicas, mas sao considerados como resultado de condir;:oes psicológicas
H
O conceito hierárquic~ de cidadania na sociedade brasileira tem sido reconhecido e discutido pelo desequilibradas (para e>:emplos, ver Noronha. 1982. v. 1 :225; Oliveira, 1966) A teoría da psicologté<
ctenttstas soct~ts brasJie.Jros Conforme já mencionei, sua conex¡jo com 0 in¡usto tratamento dad: das multidóes foi usada também para expltcar certos movirnentos politices messitlnicos no Brasi,
as cl~sses balxas braslielras pela p~l~ci~ e. peio sistema judicial foi apontada a propósito da
provocados por "coletividades anormais" Esse ponto de vista era tradicionalmente ligado r.
drscussElo dos usos e das formas de vrolenc¡;:;" no Brasil (Da Matta, 1979-1982; Velho.· 1980) a
antropología "rlsica" e medicina legal do século XIX (medicina forense) Exemplos de diferenie.s
versees dessas teorías p~dem ser encontrados em diversos P'>critores, tais como Euclides clo
Cunha, Silvia Romero, Nina Rodrigues.
G2 - A Negocia'yao da Ler. A Negocia<;:áo da Leí 63

po 1ici a is -, a crimina! id él de vi olentr1 res u! 1a del pobrezc1 no a mbien! e urbano, oficialrr·~nte registréldas como tal. A liberJnde da polícia ern tomar decisoes

ondea anomia e a desorganizac;~o social aprofundam o contraste entre o e, conscr¡Lientemente, as ocorréncias p0liciais reais que sao registradas
rico e o pobre '/ivendo ao lado dos ricos nas grandes concentréH(Ües tendem :¡ reforyar seus estereótipos de crimes e criminDsos, fornecendo
urbanas, o pobre !~1rna-se mais conscio de sw1 pobreza, e suas necessidades condi¡;:ocs para a mrto-reproduc;ao da ideología policial (Coelho, 1978;
economicRs crcsc~;m pelo conternple1c;~o dos produtos industrializndos da Thompson, 1982).
civilizac;~o que est8o no comércio, silo ample1mente difundidos pe]¡¡ mídiR e
le1rgamen te ad e¡ uiridos e ostentados pelos ricos. Como as expectativas dos M:nhas observRyoes sugerem que o processo de "conhecimento"
pobres n~o podem ser satisfeitas, eles se tornan1 crimino.sc.s, funancJo o que efetuado pela políciR é, assim, um processo principalmente ele "reconheci-
n~ o pocl e m e o mpr:1 r. e, 1 mento". Esse reconhecimento de tipos criminais é, muitas vezes, desde logo
revelado pela maneirR padronizada de a polícia se dirigir as pessoas r¡ue
Segundo ess.es especialistélS, somente como conseqüéncia de cllguma entram na delegacia:
anormalidade psicológica pode a crímimdidade violenta vir associada Ro
.'>fafus de classe m.:':dia ou alta Portcmto, tal associac;ao nunca poderia ser Ouie e u 111 ''oce mlles? Eu sei que já l'Í l'oce antes ...
explicRda como fei.16meno lego!, sociológico ou político A ''soluc;8oJI para
n criminalidade vi_;Jienta brasileira é, Rssim, económica e nao legal. Os Esta é evidentemente parte do processo policial de socializayao da
proflssíonais da área legal, por este rncíocínio, rejeitélm sistematicamente inforrnayao a fim de exercer seus deveres de vigilancia. Masé também um
qualquer responsa~ilidade- deles e também do sistema judicial e lego!- pelos poderoso instrumento pRra a dívisao ideológica da populayao entre os
problemas relativos as atividacles criminais da sociedade brasileirR. "desconhecidos" da polícia e os conhecidos, fichados, "manjados", r¡ue
alimente. o processo circular de auto-reproduvao da estatística policiéll.
TodélVia, ess~ interpretél~RO quase un8nime connita fortemente COlll Realmente, corno no caso da vadiagem, é} "identificac;ao" pela policía é uma
os resultados de qstudos recentes sobre o conexao da auto-reproduc;ao técnica policial punitiva ern si mesma.
circular entre ideología policial, estatística criminal e estereótípos policiais.
Essos conex6es tém sido objeto, recentemente. de pesquisas e discuss6es
empíricRs e sociológicr1s no Brasil (Coelho, 1978;· Campos, 1980; Olí ven,
1980; Paixao, 19¡~2 a; Thompson, 1982). Esses trabalhos seguem as
tendencias de out res países !1(1 pesqu.1sa empírica e nél análise sociológica 17
U m Rrgumento cornum desses éHilores é o de que as estatísticas policiflis que
colocam na pobreza dns classes bRixas a origem do criminolidade violenta
poclem representen u m indicador aceit~vel pora a ideología policiol, mas sao
inteiramente insuíicientes para explicar a real di:.;tribuic;ao social e os tipos
e índices de crirninnlidRde numo doclR sociedRcie Os ch~unados crimes de
''coluinho branco'' e o grande número de trRnsgress6es criminais que, em
.razao de c!eflnic;oes e interpretac;oes preconceituosas da iei, nao chegam ao
sistemR judicial ilustram Rextensa gama de pr~ticos críminosas que n~o s~o

16
Um exame critico dessas teorias pode ser encontrado em Coelho, 1978 e Paixao, 1982b
17
Resenhas brasileiras .:Jesses estudos feítos no exterior podem ser encontradas em Coelho, 1978
e Paixao, 1982a. EntrE< os mais importantes para este argumento estao Nye, lvan F. el alii, 1958;
Kilase e Cicourel, 196i3, Williams, Jay R e Gold Marlin, 1972; Maynard, Erikson L, 1973
C! S Ll lv~ l TE~
¡;
¡ l! A 1._; T () N () h: t l Jf\ PC! L l C l /\ í :
[
RFSTRl ('~ES 1NTER /\ ~-:
~
~ F EXTF R 1"'-1 / \ ~) /\ /\T l_ J ; \ C.~JÍ\ C)
f
~
n P o Lí e~ 1!\ f) ·/\ e: 1r; A nr L) c1
t R 1C> D E JA N E 1R ()
f
¡
t

f
r A Ética Policial

1 Durante meu trRbolho ele campo junto a políciR notei c¡ue estrl,
i parodoxéllmente, ciesobed eci a de mnneira sist e m~ tic?. a ciiversos preceit os
l legais. A princípiu interprete! c1 f?.to como simple:~ descuido, mas com u
¡ passar do 1empo foi-se to:nanclo cnda vez mais c!Rrc e lógico que esse moclu
el e agir fazia pcni e el e u m conjunto especic.1 de regras e pr~ ti cas, q ll e
identifiquei como a éticn pcllicicd. Segundo esse ponto de vist?., umíl
1 cuidadosa observe1r;ao das pr?.tic2s e categorías us2,d(ls pela polícia en: se\1
dia-a-dia é essencial pé1 ra a boí1 compreensao ci ess~l ética.
1

A "ética policic:ll" servÍé1 de fundnmento pc:ra o exercício de um2


interpreta;:ao autonoma da lei e como tnl imprimí:,¡ á aplicac;:8o dest2 um;¡
característica peculi;n, própria das práticas polici~1is A ética policiRI n?ío
1 era, contudo, homogenenmente definida no n1eio polici!1l Como \lll1 inst;-u-
!
¡ mento dá políci<1, elél él identiííccwa como urr. t~r11po que podin exigi;
1
recompensas simbólicas e moteriC~ís da sociedélde •:m trocR ele seus "servi-
CfOS11 especiais- o exercício de suR éticn Por mitro lado, as diversos ve1soes
1
éticas exislentes no meio policicd identificavam cliferentes subgn1pos C1'-le
1
competiam por recursos cJ;:¡ própria polícia. Esses SLibgmpos erélrn formnclos
por 11 malhas de policiais dispersos e¡ u e se anicuiav;lm dissimuléldRmente nr:
11

defesa de seus príncípios éticos


66 Os Limites c;<J A'.J!onomia Poitctal
Os Limites da Autor,. ·m1a Policial . 67
------------------------~~~~
A ética policial era, portélnto, lllll recur~() pélrrl iclentii!célc;~o ela
. Um?t vez o flagríln\ e regist ré1do e pe:-manece 1do alguém preso, a
reconhecia él polícié1 externamente como um grupo diferencimlo ciiélnte do
aut?ndacle .po~i~ial clispoe de 24 horas para enviar os élutos 110 _juiz e paré\
.sistemn judicial e ele~ sociedmle em gero!, e !é1mbém suél:; diversns versoe:;
notdlccn o mcllcJado. Nfío havendo flagrante, o prazu é de JO clins.
interna:; forneciClm rnec;mismos de diferencÍé1C(~CJ e clélssificRy~o no scio da
pr·óprie1 políci;¡
Dentro do periodo deJO días é1 partir do registro cla ocorréncia policiaL
o delegado encarregndo do inquérito pr-ocluz um reléltório annlisando 0
Pa r él pro ss egu i r e CJ m él i de nt i fr u1 e;~ o e! es s a é t i e él e pé1 r él t o r na r ex pl í ei t o
progr-esso cias investignyoes e encRmin!Ja os nutos ao foro. /\o c!Jeu.Rr-em aí
o uso pcculinr ele c~1tcgorins sociois nél.s pr-~ticé1S policiais, é intcrc:;sante
sfío clistribuíclos a uma ciéls vnras cr-imínais doRio d:' Janeiro c1u; tcnhRn~
comcc;;n com n olLervRc;_:i-'io das interpretnc;oes conflitRntes clessa ética.
comt~etencia sobre o caso A vRra CJlle vai receber os 1utos é es~olhicl 8 por
Esses con fl itos o ri gi 11 aVéllll- se, e m sw1 :n él ior p él ri e, nas fórmulas contrastantes
sorte1o entre todos C]Ue tenhamjurisdiyfío sobre o Rssunt:J no distr·íto. Os autos
uséidéls p;-ua interpret;n a leí, o C]Ue gcrcwa regras distintas nos diferentes
VRO pé1m o cartório nproprindo e fincdmente para os respectivos juiz e
subgrupos policíc1is
promotor. Este encami nhR os Rll tos de vol tR a o juíz, e¡ u e os envía c1 pol ícia por
Teoricélmente, conforme já foi assiné1lRdo, a polícia brélsileirél é as
um prazo de 30, GO ou 90 días- vezes pelo periodc de um ano se 0 c~so
defmidél, pelo sisten1ajudiciol, como él executorR clo primeira- mRs sepnrR- tiver ocorrido no interior-, exigindo diligencias polic!Jis
dél- etélpél na procu;-a hierarCJLIÍZélda da verdnde real ou verdade clos fatos. f
¡ SeR delegaciR local nfío tiver sucesso em su<1·.; clucidac;:oes, muito
Essa cxpress~o, ver~ade dos fatos, é intraduzível pRra o idioma ingles por r
causa da identificw,:ao neste idiomcl entre fRto e verdacle A expressao ¡ embora tenl!n efetundo todas as investigayoes aconselh~veis para 0 caso, a
11
brasiJeira reflete, cbntudo, é1 enfase sobre a perspectÍVR ClliC existe no 11 Corregedorra de PolíciR encaminha os éllltos él delegacía especializada_ Se
sistema legal brasil~iro. 1 nem todas as. etapas regula mentares da invest igar;a o ti verem sido cum pri das
f
pela del~gacra local, os Rutos !he serao devoh:ídos para C]Ue a élpurnc;fío dos
Como num sistema holist ieo e hi erar~
uizad o, a import § ncia re! at iva f fatos seja efetuad?, clo mRneira mnis completa possível, de acordo com as
exigencias do caso.
ele cadn fato, seu gr~iu de verRcidélde nao é dado de prqnto por u m conjunto 1
de "regras de exclu:~ao" (exclusionmy rifles), mas depencle de su a situayao ~­
.1..

na estruturR global dos signiíícRdos e de su a conexa ocom est2. estrutura. Por ¡ Esse sistema de fiscnlizac;:ao demonstíél o qu~::.to a autonomía das
exemplo, no sistem<i brRsiieiro este significado depende ele onde está situada ¡ prátiCRS policiais é limitada, nao só pelo juclícíárin ,- i\.1inistério PLlblico
a origem dos fatos·. na estrutura sociRl elitist8 ou no sistema judicial f como tambérn pelas próprias Rutoridades policíais, 1 ~ presentRdas na oca~
si~.o .pela Corrc.g:cioria de Polícía, um rRmo da Se~: ~truia de Seguranc;:a
hie r~rCJuÍzodo_ Cor\seC]t~ e~tem e.nte, o ~on ceitAo de ve rdndde .ledg.al ..t~rna-se ¡
1 1
re 1cl.llVO e, no CoSO ,JfRSl elfO, 1lefRJT]UlZR O 0
ver 0 é1 0 e O JU JCIRrJO, por PubiiCéL O cartono de cada cielegacia era inspecionc.C:J pela Corregedoría
de Polícia a coda tres meses. A insper;ao (correic;:~o) ,_-onsistia em conferir
exemplo, é mais vúdacle do C]Ue a verdr1cle dR pulícia, e Rssim por diante.
1
i~dos ~s autos. parR verificc.r seR delegncia cumprii.J s etapas necessárias
1

Um tal sistel!la estimula a competic;ao entre élS fontes pelél melhor t (mvest1gac;:ao, 1nterrogntórios etc_) e se os pro.zos est~·; sendo obedecidos_
'verdade. Como naél existe nenhum conjunto pndronizRdo de regras para t
t A correic;:ao faz vira tona uma divisao intern2, '· ue existe latente nél
decidir onde está a verdade, a decisao torn(1-se uma c¡uesU1o de autoridode, ¡:
nao de regra. Por e~emplo, confonnej2 mencionei, as polícias militar e civii estrutura da deíegacia. Segundo urn escrivao, eia v.<oc 8 ern oposic;:ao a
confrontam-se recíprocamente na competiyao pela versao "mais verdéldei- "turma da rua" ( eC] u ipe de invest igac;:ao) e R" t urmR do c. rt ório" (pessoRI dos
ra" clos fatos_ É o caso, por exemplo, de C]Uando umé1 captura deve r autos). De élcord.o .corn ele, se a turma da rua nao efetuar as investigac;:oes,
transformar-se em um flogrante judiciaL ¡- a turma do cartor1o nao pode prosseguir com os intcrrogatórios, 0 que J!

¡
t
f
-------------------------------- ----- ----------------
lcv;n it <l Cun c~;:cdor l<l él "Pi'1<lr ::t':~~<lii\';:rnen1c e ;1té élpliccn s<lnyoes ;¡dminis-
pi1ra trélnsf'onn;.H-se Cll' incp1éritc1 policial A investrgrtc,:~o prclimillr\ ~:!él 1

tr;ltiVélS COllli"é: ()S j!CliÍc)¡¡j_"


contro);¡cJ;¡ cxclllsivarnc!ltc pelll clcieg;.¡c\c;_ pnis c1 jt1i1, e: promotor e ¡:
CorregedorÍéí n~o erc11ll notiiJCéHins de sua e;:isténC!:-1 /\ssirn, as mcclidé:'
. PcH C 1 Cél";~o e! a pesc¡uisé1_ os cscnvaes pareciarn preocupclclos com a
policiíiÍS oheclecir11T1 ~ cxclLrsivi1. o: icJlt<H;~o cJ;¡ políci;: De ncordc' com e:
c:c'r i cr\:ilo pni, die;¡ Fr<: c:ldr<: tíllllbém a dispute: pelo excrcício do poder ní1
arbítrio eJe, clelegm!o, clas podc;Íéllll prosscguir m1 ser símplcsmcntc
_~e e, ''"
c'" 1 co¡c¡·¡
,, 1 r
1
" nt1 1e llll.lllíL-.;
1 '-·'· · · vczes · a lurmél
· d;:¡ nr;:¡ atras;wa de propósito a
cng;1vet nclé\S
1' i Clí'll r;¡ de tes: ;_·rnt 111 has t: s,: spci tos, e a ltlrma do ca rtóri o fi CélVé1 ÍlllflélCÍ e ni e
,- j

¡~<lié\ j11( 1 Ssegtl;', a 11111 de poder cxcrcer suél prórria autoridacle A tensflo,
Outré1 rllélneirz¡ comLIIll de exercer o arbitrio sotnc c-niviclades legais er1:
porlí1nto. 11~0 ~·n¡ heril pelo medo cia correÍyRO, mas por C<'HlSé1 el?. dispute\
o élCnutelamento cin investigac,:2\o preliminu ou el o prc~Jprio ÍllC]Uérito polici('.\
pclu controle clo.s Í11C]Liéritos
No ace1 u t el nnlen t o, o inq \1 éri t o fi Cé\ va t emporél ri a me:1 te st 1spenso, ;1 el ispo-
sic;i1o dn íiutoridade policií1l. Tal procedimento taml:érn n8o é menciomlclc)
1\ dir.;pti::¡ ~s vezcs se élC"]t!ecií1 hastcmte, nrlC]uirinclo cclrnctens!Jcns
ou definido no Código de Processo Penal. Este Código estélt~lÍ, cn:;-etílrllc,
pessoRis_ I_ssG ocorria porque os é1li10S dos inc¡uéritos sao dé1 resronsélbili-
c!Clramente, C]lle só o juiz pode orde11ar o élrC]LIÍvamenlo ele um inc¡uérilCl
cl;tcle l!lcl!vJdual do polici<il encnrregélclo. Os inc¡uéritos tornam-se, élssirn_ ele
policial. Ambas élS prilticr.s - investígélyao preliminar e accJulelélmento
certrl maneira, Sllél "propri~:dade particular". Tcd fato se renete Jlél formé; de
cJestÍnaVé\lll-SC, evÍdent~;mente, é\ Rlarg?.r él areél de Rl(~O do flOcler ele po!ícic-1
11
s e , r efe r i r. a o s i n q u é r i t o s - e 1es s e t o r n a m "m e 11 in qué,.¡ 1o ", "se u ¡n r¡ u é ¡- ¡¡ 0 l Cllém del lei e contrél (l lei, l!Sélndo como _justifJcativa :1 economía de pcq;el e
. Cunsec¡uentc;llcnte, só o:: policiais din~tamente ligados a um cietermÍnéldCl ¡
de trabalho
lllC]LJérito policJnl podem fornecer informac;:oes sobre ele. Portanto eles tém j
el e ser encont; a el os e solicita el os pessoalment e por e¡ u nl c¡uer el ~s partes ¡
A étÍcél policinl nao era deírnícla ou élplicéldn com uniformiclélde dentro
intcressadas" 1 da polícia civil. Diferentes grupos e "malhas 1119 usér.JRITl prilticas distinte1s,
¡
¡
ligadas íi diferentes trwliyoes existentes na políciR cÍo Rio. Essas trRdi~.oes
Por ocr.siao da pesquisa, havia urna prattca institucionalízoda na 1

t dere1m origem a diferentes definic;,oes de "conduta élpropriéidél él ser obede- '

políci(l do ~~o deJ~~eiro ciestinada a evitar C! supervisao cio sistemnjudicinl ¡ cida pelos policiélis em seu reléicionélmento com él populac;,ao. Por exemplo,
e cln corre1yao polJcJnl. Em vez de um inquérito policial, o deleuado nbriél
umél in.ve~ti~a~ao prelimimu, C]lle era designada tarnbém pelas ~1iciais IP,
¡ hélvia uma nítíd? cis~o entre os policínís do ex-Estél'JO do Río de Jélrleii·o e
¡ os do ex-Estéldo dél GL1nn:1bnrél (cidade doRio de hneiro).
c¡ue comcJcliam comas ele Inc¡uérito Policial Essa investignt;:~o preliminar, 1
[

COill o nome de investigac;:ao policial, era admitidél em cé1sos de síndicáncias


Téll distinc;,ao ilustrCl as célrncterísticas panicul?tristas dél éticc1 policin!,
nclrninistrativas que a pc,lícia era solicitada a efetuar em suas ativídRdes ele 1
1
sujeitéls él varie1y6es em func;-,2\o ciéls condit;:oes sob n~· c¡u8is sao exercídas élS
vigi!?tncia pan1 esclRrecer C·Íiciéilmente, por exemplo, B situ8cao economicB
atividéldes rolicíais. Neste célso, as tre1dic;,oes po1iciélís acompanhr.m ;:
,- iv' ' ' " • • 1 ''o', ~ · lí~· 1
70 - Os Lrmilt~s da Aulonomia Poilcia 1 . Os Limites da Autonornra Poilcia! . 71

fosse n1ais bem org;.mizodo e possuísse recurso~ materiais e humemos Na ocas1ao, o pessoal dé1 Polícia Civil comentou a 111 ú sorte clo
superiores, pelo f~l!O de elo ter· sido capitol di\ RepLlblicn. s.argento, ou 'lburríce'l segundo alguns, de leí permitido c¡ue 0 rcpórter
t1rasse. él foto Entreté1nto, ninguérn se lembrou de dizer que os presos n8o
Pora ilustríH esses conf1itos. Llm delegado da polício da cidade doRio n:ere~iam tal trRtamento. Afina! de contas, os políciais nao podiarn mesmo
de Janeiro contou-me um caso que descrevc muito bem suas impressoes dtzer 1sso corn sincer~dade, dado o péssimo trotamento que ciispensovRm
11
estereotipadéls sc:bre o "estii0 profissional dos policiais do antígo Estado a~s p:esos nas ~adelélS _das delegélcias Eles estavam, entretRnto, bem
doRio ele Jnneír·J Segundo o Íllform;.mte. um de scus subordinados veío co~ls.ctos do sent1do soc1al negativo de tnis práticas Isso ilustrr1 como o
trnnsfericlo cl0 arlligo estado para a cidadc do Río de Jnnciro (ex-Estado da O~l!lJao pLlblica é respons~vel pel2 fíxoyRO de límites de concluta da polícia
GuRnRb(lra, rx-6istrito federal). Esse policial tinll?- como referencia8 sua d1ante do pC1blico.
origem- o Rpelid'J de i'pRpR-goiaba" .~ 0 Ele possuía o hábito de levar consigo
um chicote durRnte sw1s tarefRs policiais. O delegadu, meu informante,jú o . ~A~ diferen~es vers6es da ética policial eram identific~veis t 8 mbém pela
tinha Clconselhado v~trias vezes é\ c1bandonar nc¡uelt hábito, Rrgumentando ex1st~nc¡a de. diversos subgrupos no organizayao poiicial. Existía um
que um chicote :é algo que se usa é1penas erTJ ani nais, nRo em homens. estrelt~ relac10namento. entre os delegados e sua cc¡uipe. As relay6es
Adveniu-o tamb·~m de que olé sw1s declanty6es pe~Rnte o juíz poderiam pessoa1s corn_ s_eus ~upenores eram usC~das amiúde para obter privilégios e
tornar-se suspei!r1s se o mogistrado fosse informado dac¡uele seu inusitado vantagens adJclonaJs no exercício profissional e nas atividades particulares.
h~bito. A final de contRs, andRr comum chicote nas ¡r:ROS ~u ando em serviyo
n~o erR RbsolutRI1lente umR conduta 2. ser esperRda r_ie um policial em plena O delegado com quem trabalhei, porexemplo, tinha u m amigo_ Padrinho
cídade doRio de Janeíro. O policial mostrou-se, entretanto, muito relutante ~omo o chama:a- qu~ era diretor da Divisao de Roubos e Furtos, u m post~
cm élbandonar e velho hábito, tendo sido necess;:rio ~ue o delegado o :.mp~~ante na ~llerarqllla da polícia do Río. Por causa disso foi-l he destinéllda umn
RmeRyasse de puníc;:8o Rdministrativa séria- LllllR incomoda transferencia- boa_ delegac1a, onde nao havia grande sobr~corga de trabalho, muito embora
pora convence-lo a abRndonar O chicote. ele nao se submetesse él muitas das práticas policiais ilegais.

Out ro exemplo de principios éticos connitRr . ~s ocorreu quando um As "l\1ai1Jas"


jornal publicou ct foto ele um sargento da Polícin J'..-fitar em atividade nurn
dos morros dél ód Rd e. Essa foto ccwsou u m verd?.~ ~ir o escandalo público. . Já fo_rar:l mencionadas as 'lmalhas'l formadas por policiais c¡ue se
Elé1 mostr(lvct o sRrgento, Uill homem de cor, con~ expressao de orgulho art1culam dJSSllnuladamente para defesa de seus principios éticos. 0 Gover-
estampRda no rc!sto, conduzindo presos diverso::: c'·ltros homens também no do Estado reconheceu a importancia assumida por tais malhas na 11 11

negros Mas como o policial nao dis¡;unha do nCimt::<, necessário de algemas d~fesa da autonomía policial frente as innuencias intemas e externas sobre
- fR t o e¡ u e só foi ex p l iCél do post eri orment e- el e nmar:-. )U u m a corda e m torno a m:erpretac;:ao de como fazer cumprir a leí. Objetivando um controle mais
do pescoyo de cadr1 um dos presos e puxou-G'~ até a viatura policial efet1vo ~o?~e es~as_atividades policiais, taxadas fregüentemente de abusivas
estacionadR na saícia do morro. A foto fez a populay?." se lembrar da maneira ~ela op:.n1ao pu~IJca e pela mídia, tentou o governo neutralizar essas
como os escrC1vos africanos erRm transportados e aleu ao fotógrafo um rnalhas_ , detennma_ndo um rodízio periódico de delegados pelas diversas
premio nélcÍonal de repor1Rgem fotográfico. delegacias,
.
de mane1ra que os delerrados
. o
da cidade do R 1'0 deJa ne1ro
· ram
·
para o mtenor e vice-versa=''.

,,
2
c Papa-goiaba é uma denominar;;¡"¡o popular atribuida aos que nascera··1 no norte do Estado doRio de .. ~~i~lat?.ri? dlet P~ix~~ sobre a pesquisa sociológica empirica (1992a) refere-se também a essas
Janeiro, referindo-se ao centro urbano e industrial localizado nos arredores da cidade de Campos, . as tns ' ucronaJs como parte da hierarquia e organiza;:óes poltciais na cidade de Beio
Horrzonle
famoso por suas indústrias de ar;;úcar e goiaba.
CJs L 1mites da Autorwrni¿ rulicid!

A Fis...:aliza~ao Externa Os ckku.?.clns ?.llti~~CJS especiiil!nente os do ;mtigo EstclclC du rzio_ de:


h ne¡ 1 0 ( 0 rn i1~ ?.m e le: r a su¡¡ el i se o 1 el~ ne i a e o m a íl el mi' 1is t r él~: ao el a P ~! l1 ~:la
Nt1m;1 tcnt<ll!Vi1 CJ.s!ensivé1 ele fi.scaiizar ;:s ativid;tdes poiicJZIIS, um C:ivi\, fc~Í\él por (1\1\0ridades "cxtunns", gerolment_e ~)CJcÍ,nis ,do ~:::.xe¡c:!.c;
¡n ornoto; cr-;1, ;::-; vczc:-;, dc5ignéldc !Jrlfé-l acumpcmhr:n um determinado incplé- enCél!ICUrlCios ele dirigir (1 Secretaria ele Seguran~,(! Puh\',~:<1 ClO r~_s(oC1Cl 'de h.!Cl
ritcJ_ gt:íc-11mcJltc qtJ;mcltJ !J;l\'Íél siispcitéi ele que a apurc1c,:~o dos fé1tcs pocleri? ele J¡mciro Ohedeccndo 2 tecnic<1s llriclic:ion?.is el?. po\1Clí1, eles zcnnt1éi\'é1iTI
e 1e ti~<¡, 1 .-., 17-"-~\'"'n 1 ~,' , "ti\'1
sct irdltJCJlCÍ<Hi~l por in ter c~~~ses ci;1 polícia CHl de pol1ci<1is Tal medida crél
e n·¡· ! •
·,.,1 , ("- 1ro ''"llS ¡-.criores ()bvi<:mente os deleg<1clos
1' · 1 ,_.e· 1 ·1 • •1· . ._. ·" ,, · ,511 · - ,
;Hiol l\cJ;¡ porc¡w: o prc)!TlCl\ . é consider;1clo o f¡sc;¡l da lei, mas se c:hoc;¡v¡¡ CCJlll
el.o nn,t 1 uo L.h) 1e1e , 1 1 ". 0 1,, . ( 111 ,, 11 • '"'" -
- r-, , i'cl , ·c ¡) ¡ c1,- ¡~ o -c 1 c;e rpssenti?.m drl climínui~:21o ele seu_ poc1cr
c1 L1tc1 de o Cóci!_!_-~O ele Processo Pcm1l estipular O¡lle, diferentemente ele out ros e de 5 ~;;.1 ¡11 n11 encÍél, primcn~1 péllél os delegados do mais urbamzéHlC 1 e
ll!JlCYlfl[Jrius_jtJdici;¡Ís, nenil'Jin2 suspeic,:~o pode ser levr:mtncia contra autori- economicélmente desenvc1lv 1do Est<do dél Gué1m1be1r<1 ( cJd<Hle c:o .R1o ele
c!;Hicc: puiicJ;lis Esse precc1to contr2sta com os impedimentos e suspeic,:oes Jnneirn, ex-capiu-Jl d?, Rep( 1hr1cc1) e clepo.Js parél os ofíc--J<Jis do Exerc1to que
que porkm ser !CV<-mtnclos e~Ti cenos ce1sos, de ¡¡cordo como mesmo código, estavi11ll snb 2 direc;:Ro eh Secretc-lria ele Segur(lnc;:a.
qu~¡n~ln se 11 ZJ!;l cic iH;:ocs judiciais bil<ltcrais No tocante aus proc:essos
policiais, R nusé;ncia desses impedimentos legnis se justifícava pelo car8ter U m ex e m p10 t í pi en v ni i!u s t r 11 r o que es t o u di ;~en d o D u ra n t e m eu
"prclimmr1 r" e n ~o clefínit ivn do inc¡uérito polici<1l in e¡ u isit orial (u ni lateral) trabalho de ce1mpo, eu estava cOilversélndo com u:n desses deleg~aclos
an¡ ¡12 0 s e rn se u g ah in e te_ Clll élll rl o o t el ero ne t ili n t o u '::_ 1e a t en d e u e pos-se
/\ pr{¡t ica ele cicsignar un1a pessoa "de forél 11 par(l físcRlizar él polície1 n~o a re;eti;- é1 frase "Si m, do·,:tor, c](lrCJ, doutor como se t~stivesse concordan-
1
',

pct 1 ccia_ eJJl r el;¡ nto, render lJ!;alquer resultado efe! ivo_ Os policiais perrné1- do ~ 0111 quem estnVé1 do out:o lado dél linha. Além de r.1in:.' ~ncontnn:am-sc
n~cié11ll, cm ger;ll, soliclc'lrioc; com seus colegas, e os inquéritos n~o progre- no Qnbinete dois de seu:s 1Jihos e t(lmbém um outro po!JCJ(ll. O de1egr1clo
cJj¡¡¡n Tlwmpson sugere nté que esse recurso era adotado quanclt:J, por cob;iu o fone com umo das m~os e disse bRixinho:
c¡ualquer motivo n2ío confcssado, ?.S ?.utoridacles nao deseje1vam chegar?.
verclacle cm de1 erminndo cnso. As~egurava-se él boa orclem do inc¡uérito, "É 0 Sectetúio" E continuou repetindo o se;_¡ interminável "sim,
mzts sem C]LiillqtJer efeito prático doutor", pondo-se a fctzer caretRs como que exprimindn suR fc1ita de respc;\o
pelo superior_ Levantou-se da c<H1eira e comec;:m~ él ;.md~r "e1:1 torno ~~
Ajft mencionad?. "mílitariza<;5o" da polícia, obtida pela designr!(;:ao de escrivc.ninha. De repente, pe1rR espnnto de todos, apos rcpetl.~ S 1m, senhoj
um ofici8l clo Exército para dirigir a Secretaria Estarluéll ele Segurar1~R mais u m~ vez, col oc o u o fo¡ 1t entre el S pernRs e pos-se e! ex pe! 1r ventOSJ~8.des
f\dJiic1, rep1 esentél télmbém urna tentativa para controlar a polícia A Polícia do intestino, 0 c¡ue provocava fortc ruído. Fez isso (\llé1nté1s vez~s pocJe e
1vfill!cn, comandacln por u111 oficial do Exército, tornou-se cnda vez mais ent~o exp!icou ao Secretilrio, élpcuentemente surpre:,o com os ru_1clos, que
mil.itzlrizmlcl e foi encornjacl? a consideíar sue1 func;:ao devigilancie1 como uma est 8va h?.venclo problemas co 111 ?. ligélt;:8.o O Secreti:río RCéÜJOLI !!derronl-
ve!-clndeirCI gue:Té1 contril n crime e os criminosos_ Foram despendidos
pend o a ch2n::r.da. ',)
télmbém csforc;:os pi1rél introduzir novos modelos de organizac;:?ío nél estm- 1.'

tur?. traclicionnl clCI Polícií~ Civil Em muitos casos, tais modíficac,:oes forr1m o delegado comec;:ou, entRo, él uiticar abenac:ente o surerior:
rejcitnc1CJs pelos delegados :m¡ígos, que pareciClm mais convictos ele c¡ue a
sua ética ern il maís aprooriada para gare1ntir a independencia de sua Esse coro nr!o entende nodo de po!ício e \'em¡ro cimo de mim
conduto Pelo menos urn 1 ivro foi publicado por um desses delegados dnndo ordens, como se eunr!o so11besse o que es!oufozendo.
veteranos el efend en do a "l ccalizac;ao" das at ivi dad es poli ciais. O tí tul o do Eles ntio sc1o daqui, nño sño pn!iciois, mnonhé'i 1·ol!am pro coso
011 pro qunr!el e nós é r¡11e \'C71710S.ficnr nqui ~~onserlrrndo os
livro mostra o objetivo do autor· A Po!ícia do Estado doRio de Janeiro
(¡mlicf(tJI!en!o cil'i/_- \'clac/o e o."S-tcJI.\h·o)- cagados r¡ue ele:) n¡HoJJ/OJ'0//1_

74 - Os Lirnite~. da Autonom:a Poltc:ial . Os Limites da Autonomia Policial 75
-------------------------------
A a t i tu el e e1o d e 1eg e1 el o f o i 1.1 m é\ el e ~ n o n s t r a y ~ o e o n e r e t a el e 1\. multiplicidé1de de versoes utilizRdéls nél apliclyao da ética policial
corporativismo. U pcssor1l dél polícirl 21chr. que só devc ser dirigiclu por rnoc.;:ra o qwmto é1S pr{1ticas relélcionéldas com o exercício dessa ética
policÍélÍS de célrreira Estes tem condi\'Oes de se response1biíize1r por suas 11
d epe:nd e m das "m él! has internas e externas e do relacionament o com o
;¡~()es pernnte os c'oiegns, pois per111<1neeem nél ¡'>olícia dcpois ele exercerem ambiente social. Cénrcgar um chicote llé1S m~os poderío ser tllna técnica ele
ocasion~llmcntc cargo:; de cheflél 0:; policiais podem, Rssim, retribuir né1 vigil~nciH élceitflvel no interior do estRdo, mas inaceitélvel na ciclad e~ amarrar
n1esmarnoeclé1 os él'tOS- bons ou Jllé1l!S- préltic;Jdos por seus colegéls .Mas n~o com cordé1s presos de cor ¡;odia ser lllllé1 prática habitual de humilhac;8o e
poclem f;1zcr o me :;mo com, por e~emplc, os rnilit<1rcs, flcando impossibi- runiy~o de suspeitos, contanto que nao se tornasse pública; diferentes
litaclos ele c~crccr sobre eles essél cspécic de controle socié1l. ''m;:Plasl' dentro dél orgé1llÍZély8o policial cumpetem pela aplicély~O de suél
próp:·ia interpretélyRO dél éticél policinl, mas podem deíxar de lado suéls
A discrirnin<Jy~O entre "policiais de dentro dél ¡;olícia" e ''policiais de dífer:-:nynS quélndo RmeayéldHs por lJillo inspey~O do Poder Judiciário ou do
forCJ da polícia" atillgiCJ os ¡;róprios delegados. Havia dclegéldos que erom Miniqério PL1blico.
"de fora", isto é, portéldores de dipiornél de bélc~lélrel em clireíto que tinhHm
e o nsegu id o norne.:¡y~ o para o cargo mediante concurso pLl bl ico. E hél vi a A semi-autonomin dél políciél dependt=:, portanto, de limitayoes inter-
c!elegndos que eré1m "de dentro", istcl é, policiRís ~ue cursélram él Félculdade nas e externas. A polícia negociél é1 élplicayao de sua ética com o sistema
ele Direíto, obtivel·am seu diploma e se submeteram fínnlmente él concurso judic¡<tl, Rs nutoridRdes do Poder Executivo, Himprensa, os profissionais da
pt'1blico pélrél o cnr go de delegado. área ::~gal, a opiniao pt1blica, as pessoas envolvidas em C]Uaisqller ocorren-
cias e o ambiente sociélllocéll.
ErCJ este o cnso, por exernplo, clo delegado que lnvrou o flHgrante
descrito no Cnpítulo III. Como e leitor deve estar lembrando, ele disse no A existencia de diversas interpretayoes e práticas da ética polici;:ll
escriv~o que l'sabi:.1" o ~u e eslava fazendu por~uej~ tinhél sído escriv~o antes revela tentRtivas de diferentes grupos para legitimar sua identidade e para
ele ser delegado. C "conhecimento" él que eJe se referÍa nao era, obVÍéllllente, exercer seu poder dentro da organizayao policial. O uso da mesma ética
o re!Rtivo ~ lei, mél? o ele como lélvrélr u m éluto de nagrélnte de téll maneira que ident,iiica ess~s grupos como sen do policiais e nao out ra área da orgRnizayao
permitisse a polkia transformar o conhecímento dos "féltos" em prova estao1:al; as d1ferentes verséSes dR ética identifica a competiyao por rocursos
juclici8l. É um eonhecimento déls praxes policiais, urn conhecimento 'lprilti- dent1 \_,. da polícia. Neste sentido, a existencia e funcionamento ele uma
co", ísto é, um C')nhecímento que só se nprende exercendo é\S func;oes Poli~;:· Civil e uma Polícia MilítRr representa uma importante fon!e eJe
policiaís e agindo de ncordo com él ética policiéll. conflí~ JS e competiyoes, especiéllmente no caso de regime mi!JtRr.
1

A identidad(: policial invade outros gnq1us constitutivos do sistema


judicial Hélviél juí:.~.es e promotores ex-policiaí~ ErClrn delegndos ou enUlo
po\icíais que tínham obtído seus diplomas e que, em ambos os Célsos, hnviam
sido aprovéldos cn1 concurso público parn seus respectivos cargos. Tanto os
_po\iciais como seus colegas do judici~rio costurnavnm identifíc~-los como
ex-policiais. lsso sígníflcRva fre~C!entemente que se esperé\ va dessas pessoas
uma moior compreensao déls práticas policiais, bem como mé\Íor conflémya
nos depoimentos dos policiais e nos indícios produzidos pelos inquéritos
policínis PresumiR-se, em suma, que eles compartilhassem dél éticR policial
e élgissem de acordo com ela.
T ( C N ; C-:A S 11 E \/ 1C~ l 1~~\ N C~ l l\ F
PRC)C~fT11-tv1ENTOS I'l/\

1t~ \/ 1~ ~ ~r 1e~ /\ e~ A ~, -¡ :
(l l )/\ R /\ I) C) X O .r; !\ PO I _. Í C l /\

Investigando Criminosos e Yítimas:


De fin indo e Re e o n he e en do o ".Anormal"

;\o exercer simultétnenmen~e cluas func;:oes- vigiifincia e investigac;8o


- ~ue se oriente1m por princípios diferentes e tém sua efíciéncia élVRIÍRda por
r¡HJroes diverSOS, é Jl1UÍtO nntlli(l] c¡ue R poJÍcÍa C\C(!be combÍnRndo ?.S
técnicns ele ambos os procedí mentes Te1l combinnc;ao· (lpres.::ltn, entretnn-
to, ui~la tendencia célrRcterísticn: n sistem~tica Contan,inac;:f, 'das técnice1s
11

de invest igR~:;'lo pel2s técnicas ele vigiiRncí él. E m out rns p<11:~ rre1s, como jil
mencionei, 20 investigar u m caso, ?. políciR ciC1. cidade do ,_ io cie Janeíro
base?va-se ni\s categorías, c¡ue erélill u[iliznclas parél é1 ide:;.tifícnyao dos
supostos nuiores do crinle. Em consec¡üencia, a técnic?, de;,,. estigcH;:ao, ao
invés ele primeiro desco\·1rir os f2tos e ciepois ;,cusar'o su~;:: :ito, primeiro
r dcscohre o sus¡;eito e ciele, ent8o, extre1í os ft1tos
l. Os proceclimentos cl~ssicus cie investigo~i'ío cre1m ~::Jiniclos pelos
polici(lis- e pelos mRnuRis de investign[fi'íO polici;,l- como,,:~. :e ele recolher
indícios e, R r(lrtir dele\ encontrar a verdacie dos :~atos. ':onfonne um
delegRclo me explicou, a investig(l[fi'ío é como um empreenci::nento arque-
ológico É u m processo cie reconstituiyi'ío de fatospass;,dos ar;, compor o
convencimento do juiz, c!e1 mesma me1neira que um t;·abalho arqueológico
reconstituí urn V(lSO ele cer~micn pnrtido, cujos ~--ragme:1tos esUtvam
78 - Técnicas :ie Vigi!áncia 1 écnicas de Vigilancia 79

dispcrsomen\e es!'alhe1clos pelo terreno A L;dica diferen¡yél, segundo ele, era derado pela imprensa e pela maioria dos colegas como o melhor cletetive
11
11
Cl u e él no s s 2 é1 rc_i ;.1 é t e mp o especializado em homicídios existente ne1 época na cidade doRio de Janeiro

N ao o bst e1 1de essa el cfí ni ¡ya c1 fcnme1l d () pro ces so ci e a eh a r a verci ad e Segundo ele, havia tres tipos de homicidios O primeiro é o passional, no
pelé\ rcconstitui~;¡o passo a passo dos fC!tos e de cheg;n a uma conclusao qua! há urna conexao estreita entre o crirninoso e é1 vítima. O segundo é o
ló12ica e10 cabo da·~ investiQa~oes, o S\Icesso cio inquérito poiicial parecin, em latrocínio, cometido como íntuito de roubo O terceiro é e homicidio acidentRI.
ge~;al, depender r~)rtemcn~e da cxis:cncia de uma correla~ao entre os fatos
Desobedecendo a ordern da ciRssifica~ ~o por ele mesmc C1presentC\dé1,
e os estereé)tipos policiais dos suspcitos E~c.;es estereót1pos de criminosos
iniciou a descriyao pelo inquérito de latrocínio Ess?. invcrsao Oé1 ordem
di zi é1 m res pe i t o · e' ) nos t ipos d e e ri mes; b) élfi s 1o eais o nde era m eo me t i d os;
talvez se devesse ao fato de esse tipo de in(¡uérito obedecer a um método
e e) ao estilo dos criminosos- o nwdus operandi, no jargao policial
mais padronizado de investiga¡;:ao. O detetive explicou que é1 invcstiga¡;:~o
de u m latrocínio come¡;:a pela identifica~ao do modus ope!"{nuJi (estilo) e dn
Os critério:~ da vigilancia policie1! s<,o tarnbém responsáveis pela
estrutura do intei rogé1tório policial. Primei'J as testemunhas sao ouvidas. área de a<;ao. As principais fontes de informa~oes sao constituidas pelos
arquivos da se<;ao de informayao da delegacia local e pelos nrqLJivos da
Se nao flcar sntisfeíta, a polícin passa é\ inqui;·iyao das mesmas. A cntegoria
Delegacia de Roubos e Furtos_
iIi t erro gat ó ri o, como j á foi menci onR do, cons¡st e nas pergu n t as que o _j uiz
dirige pessoalme!lte ao réu, procedimento do qua! o advogado de defesa e Para ilustrar como sao os trabalhos de investiga¡;:ao, cito u u m exemplo.
o promotor n~ o pPdem pe1r1 ici pCJ.r É, por1 ant o u m procedimen to i nqu isi torial
Algum tempo atrás, numa n.1a próxima a delegacia em que estilvamos
dirigido contra o réu. U m convite para ir~ de!egacia prestar esclarecimentos
conversando, ils 3 horas da modrllgada, um crioulo am1ado de revólver
na ~ualidade de testemunha eleve ser cu:lSJderado sempre como uma f

abordou um gn.1po de jovens, anunciando t¡?.tar-se de um assalto. O grupo


convocR¡;:ao ambigua. O arbítrio rolicial pode sempre transformar uma
vinha de uma festa dRda por um estudante de economía. Este, c¡ue estélvB
simples testemunha em suspeito. acompanhando seus convidados até o ponto de onibus_ trazia no pulso um
valioso relógio, presente de seu av6. Ninguém do gr11po íeagiu, mas o
Conflrmanr:o autilizR¡;:ao de critério~ e vigilancia policiRI nas inves-
estudante disse ao assaltante que lhe daría todo o dinheiro, mas nao o relógio
tigély6es, os detetivcs gRrantiam que er2_ nuito mais fácil agarrar um
Isso bastou para que o crioulo o mntasse com um tiro Segundo o detetive, o
criminoso se ele fosse um marginal co!""!L:..::ido_ Nao sendo, a tarefa se crime abalou a popula~ao e causou grande "grita" devido éi posi~:ao social das
torne1va bem-méli~:; dificil Por isso, os crité; :.)s para avaliar a eficiencia da pessoas envoJvidas e a relativa seguranya do local do él.SSéllto. 0 detetive nfio
polícia (p. ex., o r;ú mero de prisoes) t enc.lí;," !1 depender dos est ereót i pos
escandia o orgulho por ter sido o escolhido para solucionar o caso.
policiais de crimes e de criminosos- e rep:cduzi-los. Conseqücnternente,
muito rnais cloque "reconstitui~ao" dos fnt'·) eles eram proccdimentos de Salientou que tinha a sua disposi~ao todas as pistas necess~rias· as
11
"rcconheci mento _
características fisicas do criminoso- um crioulo; local do crime- R n_¡a X;
e o tipo da a¡;ao- assalto feito por um Cmicc1 indivíduo
PRra ilustra: como eram feítos os inque: :tos policiais, seria interessante
relatar como um policial ve essél tarefél. Rep:·:-·duzirei, pnra isso, a descri¡;:ao Snhe-se muito hem - disse ele - que em s1m maionú os
de inquéritos policiais feita por um cJetetive. I::_le era perito em investigayoes criminosos que operam nesta área 1'2m do morro Y
de homicidios e já tinha trabalhado na divi::~o especializada nesse tipo de
. crime. Na ocasiau, porém, esta va lotíldo em uma delegacia comum, por causa Ele foi a delegacia IocR! e exRminou os arquivos para ficar conhecendo
de problemas pol,itico-burocráticos que criara com os superiores Era consi- os marginais dac¡uela área. Mostrou-me esses arquivos e me explicou c¡ue
f)(l -r écn1cé1s (H' V!gliancia
------- -------~

fich:--1::; es;;lvéH1l org~mi7éld1:; por orclem al!abéticét clu IlO!llC mt vt!lgn


é\t.;
ClliCili mOirlV? nns ¡q¡;:¡r ( ?lliC,, 1, "S lU.
\'·¡-_;_1-IlilC'S.
• 1
S'_
-
e ]Hl\lvc:ssc tl1Tié\ lésb.tc<-1, pnr
.

¡ '1 \' i íl t ;¡m h é! '1 ill bu n :-; d e ;c1 t e1g r rdl ns Qt : ;:m e1o 1ht~ ¡;e r g un 1e i se r o el o m t 1ndo
1 sxemp]c 1, hclvcric\ ,1 pc;ssibilicir1clcc!c st1:-1 pclr-ceirZl estrii e¡;~Jolvicitt co·m,_n vittl<l;1_
esté\\';\ i1;lC]LICic.c; ;nc¡tiJVOS qtierendo dizcr tod<ls as pcsso;¡s cnvulvidrts c.m n que poclcric-1 rcr:cscntar \.Wi n:ot-!vc; prHé1 o crime .l,n1c,·~rzme!l1e, 1n1ormm\ 0
lllClliC;ri!CJS_ el'_' me oliloll :"~n<LI11<ldo:.: responcictl cscrivilo neste cc1so u Cíimt;1osc ;¡inclél II~Cl tinhn s1c1n clc'scobertn

f?t'lll, n~·m Indo o n:undn, S() os¡JI!nnfrn.í e mmginois () 1 e re e i r e t i p 0 - hcm1 i e í el i o ;-¡ e i el en : al - é o m él i s di fi e i 1 el e so 1u e i c1 11 éll
E:;scs crimcs s~n c.orY:etidos npós mm1 discuss?lo de n-C\ OLI tllll nciclente ele
Cnrresponclcnclo ~ ;-:¡¡arencict clo criminoso, descritc.1 peléis vítimas do tr~nsito_ por exemplo N~o existe qwtlquer vínct:l~ c:1trc o crimii~oso e <1
el s S(ll t o, e ;w se u m o el o ek r1gi r, h<1 v1 a ti-es possívei s suspei tos c¡ u e mor([ va m v¡t ¡ma , 0 q u e t o rn a c¡ u a se i mpo s sí ve\ el e se ob ri r o en m lll o s~! ~ ~ au sen ~ 1a e\. e
rw lllCHTO_ (\;mo lllll ¡~ cstél\'cl preso, ele ¡;rendcLJ os Olitros clo.ls C]tle, nC1QT8.1llC (} cietetÍve !llC inforll10ll C]LIC Jlé1 cJeJegclCIC1 de hOllllC1010S da Cld<1ClC'
s11bme 1ido s t1 se ve ro i n1er 1 o g ;.¡ t <:! rio , neg e1 r(llll t e r m i na n t e me n1e su é1 p a rt i ei- l\.
el 0 ¡0 e1 e .J a n e¡ r 0 hél vi n, n ¡1 0 e i1 si~ o, m a i s de ~ OOO in C]ll é r i t os ;:¡ g u <tr- el ando
p;1 o ll111 cic:c.s, cntrc:¡;¡r¡:~J- cndctctivcmcolhou clcillJneir;¡ siginific;-1tivé-t, solllt;:~o Prove1velmentc só 11111 é1Ci1SO ou Lllllél inesperrcl<l conflss?lo poderlíl
con1o que esperando mi11ha implícita com¡¡reens~o e cumplicicincle -, sob so!ticÍon<1r ;:¡Jguns dcsse~ casos
"per.sué1s::io ac1equélda" (o1: .sejc.1, sob tortur<-1 fisicr.), ncnbou infornlctndo que
tÍilh(] ouviclo c-dguns comenic":rios sobre o crime e flLIE sRhi;:¡ quem podin ser A descric;~o c!o de!etive sobre os inquéritos Rpria minhct sugest~o ele
a
t) (lSSélS.Sino F~-:.rneceu políciCl o nome e o enciere¡;:o do suspeito, fllle, por qlle os en sos cie solu~?lo me1is ft=Icil sRn ctqueles em qlle? políciél co~firme1 se11s
si 11 ;¡] , n ~ o e o r. :> t é1 v él 111 dos M q u i vos, por el e n ll n e él t er es t él el o preso _ própríos estereótiros (1 processo é circulnr .e ;wtc-re¡;.rodutrvo, _com <l
estRtísticR reforc;:í-tndo o~ estereótipos dos cnmrnosJs Jé1 estereot1pé1clos
O deteirve achou e susreito e prendeu-o Apesnr de submetido e1 Quando os criminosos :~3o correspondem ROS estereótipos, .é I_llrlÍs cJ¡fi~¡J
inicnsivn inie:-rogatórío- junto com ''C1deCluaclR persuasBo" -, n~o confes- descobri-los, e a. invest igoc;:ao te111 menos su ces so. ~:;e os crrmmosos nao
SOll. f\·L1:~ as testemunhas e reconheceram, e ele acobou condenaclo pelo juiz foren 1 profissione1is, isto é. "riiRntrC1s mc:¡n_irldos ' , sn .s8o rl!_JC~nh8clos p~r
1

11 ~O cm os cie ¡·eclusao_ RCC1SO A este1tístic<l policinl, por-tanto, ni'ío se benefic18 hc:!lJtlu8lmcn!e c1é1
divers'tdacle que um diferente tipo de ·1dentificac;:ao- ~;or e>.:emplo, um flliC
QIIandc: o homicídiP é pélssional, prosseguiu o cletet ive, R investÍgéit;:Ro produzí-1 urn?. correlél\:~o mnis ele\,.élcl? de crimes e uÍ:llÍnosos violentos das
comcc;:rl com vidél pre~re.ssa cl21 vítima, a fim de se ficRr conhecendo seus
2:
Cb SSeS lll é1.1 S él l t é1 S - Í Orn eCe ¡- Í (l ~ ~
ciefcítos, vicie;;, inimigos, c2sos amorosos, etc O trnbnlho ele investiga¡;:ao
é completamente diferente. mns um pouco mois fácil_ Após ct!gum tempo, () Cóciitio Pennl e o Código de Processo Pené\! brasileiros implicitn-
n iilvestigclc;:ac revelél os motivos e o Cllltor do crime. mentc reforc;:<1~11 e legitimnill R élplicn¡;:ao dr1s técnicn': de vigilancit1 polici;¡l
a invcst 1gac;:ao juciiciáriél_ No mínimo, eles entrRm e1'1 contr-Cidi¡;:8o .com, us
Como e~.:emplo de investig(lc;:3o cie homicíciio passional, out ro policial, o
el¡ sp 0 s¡t ¡v 0 s ¡g u 0 ] i t ú i os e o n st i t \1 ei o n é1 i s e eo m ;1 s p r c1 pos i C( es 1eg n1s t e o r1--
LJm escriv~o, contou-me o caso cie um oficial refom18do cio Exército, eas do i nc¡ u ér-i te _j u el icíúi o
;1s~;;¡ssinad o em seu a par! amento nas proximidades da del egacia A ¡;rimeirn
coisé-l él fnzer foi descobrir qua! erct o caráter da vítima_ Resumindo, o oficial A ciiferencin¡;:ao e\t~ inscrita na Constituic;:fw brc_síleira, fllle estipul<1 11()

er;¡ icloso, méls solteiro, o que n~o é usual_ Seria necessário descobrir seus cé-tpítulo clec!icéido ;.¡os clireitos e garcmtias ind.rvicimtis, por exemplo, que
1
'podres"_ Por exemplo, durante él.S investígac;:oes poder-se-iR descobrir c¡ue él

ví 1 i m a costumava dar festC!S em seu 8.part amento, Cllle "se t nmsform8.vam em


22 As minhas observac;:óes confirmamos ach~dos da p~~~uis~-~-o-cíol~gica emplrica s~bre a eslatl~-
82 - Técnicas d0 Vigdáncia .. Tecnicas de Vigilancia ... 83

e rimes con trn C1 vi dd s~o de cxclusi V(\ co mp et en ci él do _j úri eart ] S:~. pnr~grafo clerado como sinal de ''envolvimento 1' coma polícia, o CJUe reflcte negativa-
l 8, Emendét Constí:tucionol no l) O Código ele Pr-occsso Penal estE! tui c¡ue se mente sobre a reputar;ao da pessoa. Existe também o "código do morro" ou
houver out ros crimes em con ex~ o corn ac¡ueies que esta o sc;J o poder código do silencio - um código da comunídade que ímpeele as pessoas de
jurisdicional do jC1rÍ, todos serao julgr1dos por este (art 78, 1, Código de procuíarem ou aceitarem íntervcnr;ao extcma para resolver seus problemas.
Processo Pené1l). EJ11retnnto, o Código Penai n8o clé1ssifica homicíclío com
ínten~:~o ele roubo (lé1trocínio) e sec¡\icstro seguido de morte da vítimél entre Quem quebra este código é chamada ele alcagliete e ftCC\ "contami-
os crimes contra R vicia (arts 157, par~1gré1fo J, e 159, parcígrafo 3 ). Os crimes nado'' pelr1 pecha de informante da polícia. Segundo u delegado, existiam
contr·n a vid él s~o. somente os crirnes tipiflcé1dos pelos arts. 1 ~ l a 128. tres principais tipos de alcaglietes:
homicidio, e1borto, 'infcmticídio, instig<1yao Ro suicidio e genocí~io. Estes,
portanto, sao os uimes dR alyade1 do jLiri, segundo a lei processue1l O lat rocínio Prime ira, há os que se scnfem ofurídos pelo pol/cioj podcndo
e o SCCJLiestro seguido de morte do vítim2 sao julge1dos por um jllíz singular. ser con-.,·idcrados como \jerdode f¡·o.\ po/¡cfoisfrusfrados. Eles
gosfmn de ficar JIO de!egncía, gosfmn de dar umos \'olfos nas
Pena crimes ::::ontra a vida, portanto, R leí penal brasileiré-1 )rescreve \'Íaturaspoliciois. Orglllhmn-se de esfarem cm confofo coma
procedimentos dispares. O latrocinio e o seCJüestro seguido ele morte da polícia, lf/71{7 prcJl'a de que nao sao morginnis. ,)'egundo, há o
vítímé1, e1mbos crin}es contré1 él vida, n~o s~o considerados como tais. Se cara que é he m compor!odo, mas se fonw de alglllno inane ira
considerarmos c¡ue numerosos homicidios sao cometidos objetiv:1ndo pro- em•o!vido com a po!ícia, e esfa passa a se OjJI'Ol 1Cifal' dele.
veito material, nao h{J CJllaiCJuer razao pnra que o latrocínio e e¡ morte de Finalmenfe, há o sujeifo que quer manler.sua "á!'ea" limpa,
vítima seCJliestré1dé1 seje1m excluídos da competencia do júri por serem como, por exemplo, o ¡)/·esidente de llil!O associo~·ao de 1710/D-
c!e1ssificados comocrimes contra a propriedade e nao contra a vida. Inexiste dores.
também quaiCJuer justificativa para nao se aplicar a regra legalmente
cxplícité1 de que a CJmpetencié1 do jtJri é superior a dos OLitros tribunais. A Raramente a polícia consegue obter, durante os inc¡uéritos, testemu-
LmicR explicilyRO pc1ri1 os tratamentos desiguais estipulodos pela l::i proces- nhos escritos, isto é, pravas judiciárias, o que se deve ao medo que as
sual pRrece residir :w "tipo" de crimínoso que se presume estar cnvolvido pessoas de classe baixa tem da desforra cla polícia e dos marginais. Como
no le1trocínio e no s':c¡liestro: os margine1is, os criminosos violeni.c.s perten- tRmbém os alcagüetes tern medo de alguma vinganc;a pessoal, o recurso c¡ue
cem as classes mn.i~~ bclixas. resta para produzir um elemento válido para acusar;ao do judicicírio é a
conf!ssao. De acordo com o delegado:

A COJ?fis.w1o é tudo para o policio.


1d en ti fi e a n d o e P u n i n d o : To r t u r a e o rn o Té e : 1e a
de Investiga~ao A prática da tortura pela polícia estava também claramente vinculnda
é1Ryao penal brasileira. Segundo o Código de Processo PenRl (art. 197),
Em conscc¡l'J(ncia de sur1s éltividades de vigilanciél, a políciél e- o Rio de para ser aceita como prova, a confissao diante do juiz deve ser compatível
. i
hneiro utiliza amplamente él confissao dos crimit10sos como bas~ de seus com outras evidencias dos autos. O artigo seguinte, nao obstante, estéltui
métodos de investigRr;ao. Segundo o dcpoimento de u m delegado) ís:-o o con-e que o silencio do réu nao implica confissao, mas pode ser considerada como
cm funr;ao do delicRdo relacionamento CJLle existe entre a popu;Jr;¡:j'o e a um dado importante para a tomada de decisao do juiz (art.l98, Código de
polícia As pessoR.s preferem evitar c¡ualCJuer con!Rto com as R,ividades Processo Penal) Embora definindo o inquér!to policiRl como um simples
policiais, pois um simples comparecimento a uma delegacia pode ser consi- produtor de indicios, a jurisprudencia brasileira (Jesus, 1982: 129) esta be! e-
~~

lf
¡; T écnlcCJs ck ViSJilár:ci<i
- - - - - - - - - - - --~-------

Cl'
------ -------------- ··---------·--- ----------------------··--------

cnw l~ !'n:;<-::\ cí tom<l: CCl!ilCI pruv;¡ a cor1físs~io ohticl;1 descle C]lle seja
n
t_>
1!
0 m e s m o d el e g <H i ,_~
CCJii!iJiliÍvr'l co:-: ;¡s ourr-~;.\ prcwé-ls <l~i~_r:'icL!s no:-; cn::c;s ¡: particípc-lC;-~o cic: ccHlléld~:
!;.
el e k g <-Hl o t 1tl! i ;u, 1: es 1 es te:- m os

Nc1 lllC't! l~Jt'v~nciél é!tr-dniÍcli-1 11 coníissao na ac;~o penal


(:rltcrlcler_ ;¡ i
I)e 1Cl!.éiC1C) '
11- 111 ¡-.
t1:. ( /i/!Jo , ,;,, - \'oci' esfá
· me c'l'imJr/n ¡;roh/enw\_
. ,
[J¡;¡silcir;¡ lr;¡; ccJnseqt'lcm:i<IS multo im¡;ort?.ntes pílí(l í-1 pr~nicé1 dos inc¡ué- !·~'s!rl~~ dl::.C'J]{/o (jltL' qum!!lo ¡·on' csrá de sen'l~:o n!llguenljJO(/t'
¡ ilc'c- ¡:cJ!ici;¡¡s _;\ ncccssicl<ldc de clescobrir ;¡ verciade rltra\·és c_l;¡ cnnfiss~o
{ f(J ,- ''/ )(J!r·¡¡'-
1 1',_ n," r/JJnÍfc/(1\
1 ' '' '
C'J'I.' 111170 ¡m/mo!r)nn '.¡:rs¡Jnimns dm
' . ' '

tnrr;;¡--:-;,, :n¡Jur-s{I\'C! pe!<) t;sc: soci;¡J:1Jcnte lcgiti;T:aclo dé', tor~urR come: me/os e nos sn!ns dw jlt;s, 111110 ¡nrni~·c-ro frndici:'!IOI us, uln 170.'
i'~Cil'Cél ck t:l\·C:--tign\:¡jc) __ .-¡ i'/10\.
__ . ·)!len· cnlr,-
L!SC:J'(l\'OS /nen! , 1 ,
¡Ji¡wuc>JJ
0 1 jJ(}({( ¡· fn,-.el nndn.,

.t\ tnr1u¡;; fisicn é cometicl<l, evidentemente, contrél 2 lei e contr;¡?.


Dclec:í-1ciO élciJliiltCJ_ nmrfO!, isso é \'C'J'clOde, Ji/(7_\ ,; \'L!nlndc
clcftlllC(~o !eg;1l l~r-nsilcirc¡ de riireitoshtllnano.s Esta rr~tica estú tao profun-
fnnl h~ím en u: e lli me 11 ;n/m ¡f{io '·oc2 nc!o ''2 'JC'i ¡/nu:w so cm Jnge!IJ,
cl<l!llc:ltc :lrJéli~_r;¡cJ<l nél rotir~é-l c\;1 pcdici;: qtle, c¡uandc esta é impedida ele us~­
neuhumc~ su¡c:rn !In de'i!.'gncrn_
i;l, u frélC<lsso cL-1 inv<:'stigRc_:~Í) é qtlé1Se certo Já mencionei que esse é o ce1so
de Lllll ¡nomo101 que, por éllgtl!lln r?.z~o_ é designado pnra acompanhr~r as
De\eQClcio titulr1L Sun, 1/(f() há drí,·idn dt: c¡ue ¡:~so J \'enlode,
im-cstig;-¡~-c)es Como o prOJr¡()(Or é o físcnl dc.Jei,?. polícin ve-se impedidél
mos ~·nci' sohc, r¡um){/o eu dunno de 11171 Indo do meu
ele w;;n ;¡ tcnttJr;¡ em su?. prC'~;enr;?t Em consec¡Liencia., fracélSSél constante- .
(J'(T\'C:SSC/1'0 (!11 OC.·/U J fltdo mnrm·¡/hom - • esfmr enJ. coso se _ m me,
JilCJlic rl(l csc:J;¡rccÍillCll!O d~J'c; ríl!OS
- . f , . , 1 /(; 0 e¡ u¡ \'e' 1 e¡ ue 11 no es f n
preocupnr com o que csfn oum u. u ( ~ ·_. ' ' '
hm·endo nenhunw _\DC(!J!(Igem_ Jvfns 1'0CL" .\nr~c, qunndo u~
Os Jl o li e i 11 is b r r1 si 1ei ros _j u s t i íí en m abe rt a m en t e o uso el e t o nu ra fí si e R
dunno do emfro Indo do me u tun·essl.!iro, e u pco pen:\Il!Jdo _
Jliilrl ohtcr- infomlél<;:oes 011 el conf!ssao de suspeitos (como era pr~tica
1'0Cé /em cerfezn de que rudo está hem) Porque !llllJ-;IU!J~l esfn
(1'(1Ciiciom1J, por C:\Cll1plo, TI?. <llltÍgrt inquiric;:ao Canonica e !lOS inquéritOS
descohrimlo !Inda, pou¡ue ele nclo deiwr ho!nr lllllglu'!ll 7/0
porttJgtiCSCS)_ No caso do ní1grnnle descrito no C?.pítulo III, nao foi l!Snda
él to¡-~¡¡¡-i-1 flsica, méls forélm empregéld(ls ameélyéls como torturn psicológicél
xodrez, n/io dei.ro horer em ningué/71, ele nc!) c/e¡_ru n~uln. ..
Assim, quondo eu durmo de 11177 !odr~ do tr~r~·:'-\'>'C'IUJ, esfn rudo
Nessc e:-:t'inplo, o delegéldo me esciareceu mais 1arde que o momento
he m, r¡uondo e u durmn dn nu!ro, noo l.'sfn.-
CC!i reto palct a torturél n?.quel~ CClSO serl(l qunndo o contador, apes;:¡r rie todas
élS cvicléilcias cnntrr1 ele, n?o confessnsse sua pnrticipn¡;:~o no cielito A
A meu ver, nt1ciCl pncleriéi ser lltnis ílustrntivo del kns~n e¡ u e se cr,i~ entre
ccmllss~o podei-Íél, ent~o, ser e'\tr?.íci?. éltrélvés da tortura
él obedienc-Ia CJlle él polícin eleve 8 leí e a coflc;:ao que sofre de Stl::t ettc~, n_o
N a descri c;~o el o inquéri t o cie la t rocínio feü a pelos det et ives, foi t - ·1 cJp ciesobecleceT a lei Isso clecorre do fJfli8cioxo que él po _Jeté\
sen ll o lv ' . ~ ' 1 ' LIXIIJ"I
empreg<Jc!a i-l "cicvicicl persu0sao" dos suspeitos pé!ra obter informac;oes_ t - · r-ent'J e' ll"''i-1 ?loéncia ele v¡g!IRnCI2t e tarlli)C.I1llllll fCllllO í1 , n
Llfé-lSí 1 eJrn ellii " , ¡¡¡ -:;; e ,, - . (l lll1l'l
rostcr·iomlente f'oi lnlllbéni !1Sé1Cb, Se!ll exÍtO, para ex:traÍr confiss~O cJo do Juclici~rio A constqüéncin, ¡:a pr8ticCl, é qtte n pol!CI~ s_e to:-n e

Sll spei t o(i ncl i ci ele! o_ cwencia nRo-oficinl de _ju!gnmento e punic;?ío de cert~s e crlmlnosos

De filiO, él COJTelélc;:ao positiv21 entíe a tortura e urna investiga\=aO coroéldél


~~ C 1él rO él t Ort Ll r a e ll Sé1 d él pri ll C1pa m en t e qLl n d o-. n ¡1 es so a en vo vid a rl n,
- • - · 1
(l
1

eJe e>:I(CJ é (~O ÍnstitucÍonaJÍ~élcia que C deJegndO éld_juntO que nao pemlÍ!Ía él investigac;:?.c~ é ciassiftc:1cirl como mRrginCll - delinc¡Lt~:i~te 011 pe~enc~nte el
!Oi-ll!íél 11~ clllrél!lte SCI plé1ntao foi rerreendido pelo delegado tÍttiié-Jr
cieJegnCiél classes inreriores -, nRo possuinclo sfolus socic-11 e econornico e nélo eSlClndo
A ¡·e¡lreens¡¡o bn.seé1Vél-Se 11(1 pr2SllllyRO de que sem tonura nao haviél ex:ito llélS
lrlvest ign<;:ocs, o qLJe nfetaiin s~riamente a eficienci?. d?.l rielegacia_ 23 Note-se que as metáforas e figuras de estilo empregadas nesle diák-go sao um excelente exemrlo
do jargao tradicional dos delegados da pollcia do R1o de Jane1ro
fl6 - Técnicas dE. Vigiláncia . 1 écnicas de Vigilancia ... 87
---------------------------------------------
lig¡¡cia é1 nenilum gr•.1po ~u e possé1 punií os policiRis re! o e1buso de poder Se atuavam sucessivamc 1te no mesmo processo criminnl - uma ocorrencia
é1 pessoa envolvicla for um "doutor" ou se tiver ligcH(~O com algurn grupo muito comum no Ri': de JRneiro -, o segundo promotor, que pedia a
ÍmportnlllC CCJllSlitqído de peSSOélS de cJevncJCJ SfO!liS- flOr exemrlo, quando absolvic;:ño, estava dcsntendendo a lei, que estipula ser obrigatório o
uma pessoa de clas.3e boixa trobalhérparc1 gente imrortélnte nél qualidélde de prosscguimento dél é1<;:~o quRndo a denúncia_j~ ti ver sido feíta pelo J\1inistério
cmpregéldé1, motorista etc. - o policiéli dir~ PL!blico Na prf1tica, es esforyos desses promotores para serem justos e
Jsso oí e' roho, querendo dizer i.<.Jo dá complico~/lo
seguirern estritarnente él leí deixavnm o réu sem punÍyfío. Nestes casos, o
frocasso cJo JucJiciário no cumprímento de sua funryao punitiva reforc;:ava a
Em muÍtns c~cnsioes, quando um policiéli concluí que fez um juízo justificativa policial c.L exercer essn atividade.
errélclo do sro!1rs df uma pessoa, ele se desculpn
O perverso resultado alcanc;:ado pelos promotores- os fiscaís da lei-
0/ho, e!/{ 1/{l() :\nhw quem voce ('!({, CO/l/0 eljlfe' (!I/ /{/ m.ill'illhm·l Vocé ao combaterem a tort'Jra policial era refon;:ar as ativrdades punitivas da
mio fem pinto de dmrfor. polícia Esto se npercd"ia, nestes casos, de que o Judiciúio era ineficaz para
fazer justirya até a no::)ríos críminosos. Achava justif1cRvel "fazer justirya
U ma el as eo nse qC! en ei él s do uso ci e1 t o r1 u ra pe1a po 1í ei a e rél q ue pelas próprias maos" ¡.;uníndo os marginais. Esse tema será estudado mais
criminosos proces~.Rdos negcwam no inquérito judicial as confissoes feítas detalhadamente num capítulo posterior.
no inc¡ u éri t o poi ici;ll El es alega va m e¡ u e fora m ton urad os e o brigad os a
''assinar" inc¡uérito~ (assumir responsnbilidade), ~ue passavam a repudiar
totalmente. Eles f?.ziam distinc;:ao, c¡uando pr~sos, entre os autos que
reconheciam de sua r-esponsabilidade e os que ;.1penas assinaram.

Evidentemen¡ e, nao existe nenlHrmR maneirR _de saber onde está él


verdnde em qunlc¡t¡er desses casos. Por um lado, a policía usa realmente
to.-turR durante os inquéritos, e nao há nenhuma vantagem evidente para os
criminosos proflssionais negarem suR participélc;:8o em mélÍS um crime.
Por1anto, eles podiarn estar faJando él verdacle no r1egarem strél participéltyao
cm um determiné1do crime. Por outro lado, pode-se argumentar c¡ue os
criminosos tém um interesse de ordem geral, ou mesmo pessoal, em
ciesélcreditar um determinado policial ou a políc[a cOiilo um todo e daí sua
negativél poder rerlíesentar uma mentira venenosa.

Uma consec¡L~encia prática do ·uso de tortura como meio ele obter


~onfissoes foi o descrédito em que caiu o inquérito policial no conceito de
alguns rromotores e juízes. Eles élCLJsavam él polícia de nao cumprir
corretamente suéls obriga<;:oes ao n~o produzir provas confí~veis capazes de
levar acondenac;:ao. Defeitos forrnais nas investigayoes e a ausencia de fatos
mais substnncinis d;, c¡ue a confrssao do réu leve1vam cenos promotores a
pedir a absolvic;:ao dos réus. Nesses casos, qtrando diversos promotores
1viANlPUL/~.C>\O Dt'- lTl:

/\ :\ R1ví _A C~A- O t: e; PRO c=Es~; C!

.A. Contra t~ir:dade nos Inquéritos da Polícia da

Cidade doRio de Janeiro

Uma vez iniciado o inquérito policial, as investignyoes eram conduzidas


peln "turma da n.1a e os autos eram lavrados pela "turma do canório", isto
11
,

é, pelos escrivaes policinis. Na definiQao de um ,delegado, o inquérito


policial é:

(..) uma d~fesa do Estado contra tudo e c~ntra todos para


nplfrar n 1'erdnde dosfntos.

Na deflni~ao legal, o inquéríto policial é u m procedimento inquísitorir.l


Isto significa c¡ue o inquérito é conduzido pela aL~toridade policial sem a
péuiicipacf.lo do e1dvogí1do de ciefesa. A funyao ó1 autoridade polícinl é
apurar a verdad e dos fatos e relatá-la ao juiz

Entretanto, c¡uando desempenhando essas f.m;:oes, as autoridndes


policiais e rnesmo os simples policiais, por sua própria canta e risco,
permitem ilegalmente a panicipayao do advogado de defesa. As vezes, a
própria polícia 11 ajeita" os fatos nos autos, de :naneira a favorecer o
90 - A Manipula:;:f,o de Leí A Armac;::ao do Process·) A Manipular;:áo da L ei: A Armar;:áo de Processo - 91

indiciélclo A impon:1nciél dessa condutc1 )Jé1f(l o resultado da fasejudicie1l ele Contudo, essél classificcu;:flo pre!iminElr é muito impon ame, j{¡ CJL!e os
processu é reconhecidé1 pelos advogauos de defesa poli ci a i s s~ o, e m gerél l, él S Lll1Í eas autoridad es ofl ciais presente:; na o casi ao
da ocorréncio policiéli A classif1cnc;:ao feita pel(\ policía ro de ter importRntes
A mrnlipulrW~J da lei pelé1 poiícia é considerada por estél como umR conseqLJéncias no descnrolar do ÍnCluérito judicial Por exemplo, em dois
espécie ele cr-édito 'J seu f2.vor, ClLie pode ser negociado por vantagens casos semelhantes de acidente de tr~nsito com vítimas, po: mi m observr1dos,
concedici(ls pclél SOC!CdRde. Essa manipulcH;:ao era largamente praticc.c.la em nao houve coerencia entre as medidRs policiRis adotadéls em cada u m deles.
casos de contrélvenr;:oes penais, crimes relacionados a drogas e acidentcs de Em am0os os casos doís carros se envolver2m em um ac1dente de tr~nsito
t~·?tnsito com vítimas Como já foi mencionado, o rito sumário desses crirnes Em ambos os casos, um dos carros p<:uou no sinéll luminoso qwmclo o
concecl e ao i nq uéri t o pol ÍcÍél! uma posi c;:ii.o mais reievante no processo judicial acidente ocorreu. PorClue dois delegados tinham diferentes interpretc1c;:oes
JI{¡ casos tnmbém em c¡ue os autos do inquérito podem ser falseados da lei, em um dos cas~s o motorista c¡ue corretamente parou no sinal foi
indiciRdo e no outro nao foi
Conforme já se mencionou na clescric;:ao do auto ele flagrante do
Cr1pítulo IJI, os escrivRes tinham uma cCltegoria- ?. arma<;ao- parR denominar
Mesmo depois do indiciRmento, a polícia pode influenciar o inc¡uérito
o fa!seamento dos éltitos no inquérito policial Literalmente, ''armac;:ao do
judicial. Um escrivao explicou-me como isso podía ser feíto. Em um caso
processo" significa c¡:1e este foi preparado para favorecer o indiciado, o c¡ue
.de atropelarnento no e¡ ual havia mais de u m carro envolví do, nao se contava
pode ser feíto pelo advogado ou pelo próprio policial, especialmente o
com nenhurna testemunha- como se sabe, é muito dificil no Brasil conseguir
escriv8o. No Célso do ilagrante do Capítulo III, porexemplo, o escrivao esta va
a cooperac;:ao de testemunhas voluntilrias. A polícia sabia, entre!anto, c¡uem
sugerindo para defesrl do contador um 'lcrime impossível ".A argumentrlt;ao
havia atingido a vítima primeiro. Sua obrígac;:8o era indicar o motorista
c!o escriv8o junto ao delegado sobre a rnelhor maneira de lavrar os autos do
culpado. Entretanto, já que nRo ha vi a testemu11has oflciais, a polícia pQdié1
nélgrante dernonstrava a rivalidade no exercício do poder de polícia.
negociar com esse motorista para llarmarl' (fa,lsear) os aut8s, a f¡m de poder
concluir que nao era possível determinar clar8mente c¡ual o carro atíngira a
A armélc;:ao do processo é realizada pelos policiais através do poder
vítima ern primeíro lugar. Com isso tornava-se muito provc1vel a absolvic;:ao
c¡ue possuem de interpretar a leí em suas atividades de vigiH1ncia. A polícia
do indiciado.
realmente Rnalísa e clélssi:fica os fatos cr~minosos que !he cabem registrar ou
investigcn. Tecnicarn:~nte, tal classificac;:ao é chamada de "tipificac;:aon Esta A polícia considera essas práticas como identicas ils dos advogados
consiste ern rotular o:) fatos .trazidos a o conhecim~nto da policía como nlgo de defesa nos inquéritos judiciais. Poder-se-ia dizer que a polícia estú
que se ajusta a um tipo legal, isto é, um fato previmente tipificado pela lei introduzindo práticas adversariais num procedimento judicial [nquísitorial
como u m crime. A tipJicac;:ao policial pode ser mudada a qualquer horél pela -o inquérito policial Como ur11 escrivao me disse:
acusac;:Ro. Conforme já mencionei, é a dentmcia do promotor e nao o
inc¡uérito policial que dá inicio ao processo crimincl. Essa possi-bilidade de o papel do ad\•ogado 710 inquJ¡·ffo policial des/nrir e e
bal'alhar tan/o quonfo possh·el as JHO\'OS confra se u clienle.
correc;:ao da tipifícac;:Ro policial mostra uma vez mais, em teoíia, a subordi-
nac;:ao jurídica das técnicas de vigilancia a o inquérito judicial. Cerros juristas
Fazendo um gesto significativo com um brac;:o, como c¡ue sobrélc;:ando
brásileiros chegam a negar o poder da polícia para "tipificar". Afirmam eles
um grande volume, ele me explicou que pelo simples peso dos autos podi8-
que só o promotor detém esse poder:!-t 1 11
se saber se tinham sido ou nao ' armados pelos advogéldos Se fossem
1
grossos e pesados, ' tinha a mao de urn advogado ne!esl' Em taís casos,
:t• Para uma discuss~o elpondo opini()es diferentes sobre esse assunto e demonstrando sua
irnportáncia teórica, ver, por exemplo, Lira Filho, 1962.
explicou o escrivao, ele sabia c¡ue mais cedo ou mais tarde seria abordado
j:
1-
l~
~-
- - - - - - - - - - - i-
- - -- - - - - - - - - - - - -- - - - -
~5

Peruuntí-; "Logu e; c1l'lcle:<e, houve e1lgu


T;:mhc~~l ;¡JgLJn.l: CJgéicllJs com expericncrc-1 ern tribunal ele JLiíi, com
;¡;¡\ ]Jouve aj\.l~l1é1lllt:ll\O ele j!CSSíié\C.: C.Jn torno r7 tJma po:c;~-~o CÍe gente cercm: O
(¡t!un cntrci en¡ ccmtciiC. ':(JS:t!i~l<JV;írll cl;JssJCJu\r os í-lutcs er;¡ "finos" e
,-~~í\lsso~.'· [ l~S cl;n·;-1111 !iWC]tiÍ\·cJc:;¡ prcf'erenci;¡ ;¡es grossos dc)ncle pcHÍJ<I
l \ír-:tli i l<l:cl' C]tlé111t!d<lck ck: cic:llen!os LJteis p;n;-¡ ;1 cicícs;¡ Era óbvi2. ;¡
1
Respustn "Bem_ s¡n;
cnircl;¡ o ¡wsitiv<l entrl' ;, z:mlél~~i'lo e o nLIITlento de oprotl!IlicJ;-¡cJes pélré\ ;:
;:,u;H,:~c clos ;:clvogc:tdus
Perr.::unta "Voce ab<Jndonm: c1 ]nc-11 do élcicientr' p:;·c]~Ic IJC0\1 assus~
~J 1 ' l 1
tnclo con· esse tlllllLiito com cssa pn1 t;:~C' ele gente exe1 (;¡c1<1 ~n~ to;no (o ¡CJCél:
lii11é\ d?:s mZJneiros n:2is ~omuns de élrmélr os éllllos er-Cl conseguir C]lle l_•_: do (\e i c1 elll er)
1

e: JJCJiicí;¡] enc;;¡-regaclo ele proceder 110 inter:-ogRtório - hélbituRimente um ¡:


c.'í'.::·¡v~o imL:nssc él certc' (!¡l!l ck respcstíl z¡s pcrgunU¡s que estc.vnnl sendc Rcsrosta "Sim"
! ' for¡m¡J;¡cJélS J;or exemr,!o, em ~'ill élCiciente eJe tr?.nsito CO!ll vÍtÍ!llélS, O
mmorisu1 tiiliiél fugiclo ;-~r(~:: o í-ltropelamento_ Foi, porérn, ic!entificéldo reruunrn· "Ent8o voce n~o socorreu a v1tm~.1 porque hcwia urna
JIC:SteiicvmeJl:c e indici<HLJ n1.1!11 inC]tiérito DurRnte o interrogéltÓrio, o ~ l ' '!"
multici~o exallad8 no locnl do ncidente e muitos out ros carros tam 1em
escr1v~o o tnCluziu él clí1ei Cll!e tinln fl_¡gido do local do 8cidente porque
íuigoll ~ue ~~u:: vicié1 esta\i} :lc:Ji1il1Ci1íe élmeayélda pelos populares que alise 11S· 11
Respostn: .. 1111 .
l_lélVÍnm <lglon;erélcio O escriv~o sugerill C]tle essas pessoRs C]lle se compri-
111Í<lm em tom~) cia vítim;¡ e do veículo forrnavam umR multidRo exRltRcict e
pcrigosa, cuii-l condute1 er(: imprevisível. O escriv~o me confesou c¡ue se o Este interrogéltórío serie1 e1ssim registrClclo nos :wros·
élcivog{ldCJ n~o f'osse seu n1:1igo, o interrogntório do indiciado trnnscorrería
Per;;unfodo por que o!wndoncm, 1 1·'Ífima no locni do ncide1~fe,
cL1 segu i nt e m;::. neir(l:
0 indiciodo dec/ou)!( que esfm'c -~om medo de. dgumo \'lolen-
cin r¡ue ¡mdesse ser cometido cc;;.tra s1w pessoc pt:ln multidc1o
Pergun!n i'Voce Jl¡gÍLJ do IocR! em C]Ue Rtropelou est2 pessoa'7"
exoirodo que .\e ncunnr!mr 110 !;::;o/ do crciden(e. j".'esse local
hm•ia cm/ros I'CÍcu!os (j!IC ¡;oc/, :-imn /e1·ar a \'Ífimo porn o
Respos:n. "Sim ".
}¡ O.'ljJ Í f O/.

E n~o socorreu él vítímn?"


11
Pe1gunta·
p 0 ¡ic 13 is nR rrnran; rélmbém case'' .Je acident e de transito corn vít i mas
nos ~uais (IS }iélrtes envolvídas chegarr::· a um élCOrdo Segun~ o um poli~i~L
Rcspos:;;: I'N~o''
se 2 rolíci 2 iniciar 0 inC]urrito e n~o hOL!' ertestemunhc.s, nem 1nt~rrogator~o
da vítim 8 nem provas c¡ue apóiem ~: élCLISClt;~o, o píosseguimento Clo
Segunde; o escriv~o, os é1Utos do interrogatórío serÍélm assim redígi-
ÍnC]uérito representRria um8 perdé1 de :~·mpo. A políc!a, segundo ele:
dos

tem de usar se11 tempo cm cr sas nwis sérias, fais como


O ocusodo mlmifiu que, após o aciden!e,fu¡;iu do local se m socorrer ~·
prender mmginoi.\
n 1'ÍI imo f
r:
[
94 - A Manipuia;ao da Lei _c._ Arrnar;;au clo Processo A Manipula<;:ao da Lé A Armac;i3o do Processo - 95

Nas própriélS ralRvras do policial, eis o motivo peio qunl, desde o Qwmto menos relC\~oes as partes interessadns t¡verem nr1 policía, mais
início, cicve ser ex~rciclcJ urT: a.mplc poder disuicionftrio: decisiva se toma e: presenya do advogado nessa aituro de ÍnC]uérito O Rdvogado
atua nao como um élgente JegRl, mas como um medindor entre o acusado- ou
Em todO.)' os cosos e 1/CCC.)'SÓ!'ÍO, Clll/CS de mcri.c.: nodo, fer a vítima - e as autoridéldes policiais. Conseqüentemcntc, é decisivo parR o
cc!'lezo de }tU! existe defo!o umo \'L'l'dcrdeiJ·n oconi:ncio Rdvogado ser amigo OLl conhecido de policiais, escriv~es e delegados
poiic;ni
Por exemplo, urna banca de advogacos criminalistas da c¡ual partícipei
Essc tipo eL· mani¡;ulC1C(RO cJé\ leí deve ser considerc.do corno urna como estagiário, fazendo observayao panicipante, tinha um sócio cspeciRlizR-
npiicac;~o di1 éticcl.policial, e11: oposic;ao a étice1 _,udicial Em ceno sentido a t, do em lidar com casos polícíais. Os OLitros sócios se Rconselh2vam sempre
¡;olícin, no invés di!? cumprir ~:~1as func;oes comu u m delege1do judicial, atua com ele quando tinharn de tratar com a polícia_ Estes sócios costumavam
como u m c1clegRdu ouum agente do indiciado. Ao invés de "achar a verc1ade comentar que ele "conhecia todo mundo m; poiícia' e eu RChRva as vezes C]Ue
1
,

cios fatos", Cl políc;,(\ permite ~ue os autos mostremuma versao que, em sua ele podia conhecer mesmo_ UmC1 de suas principais func;oes era a de servir de
opini~c, ve1i beneficiar o indi·:ie1do. inten11ediário entre as autoridades policiais, os colegas de banca e os clíentes.
TRis priltica~; sao cons¡denH.las pelos policiais como urna decorrencia
11
do tipo de relacionamento que as diferentes cl:.sses de pessoas tem coma E u mesmo atuei como advogado-mediador'· e m urn caso em C]Ue a
lei. Por exemplo, acidentes rle tr8nsito nao podem ser comparados com polícia esta va sen do usada para intimidar alguns pescadores de classe humilde
homicídios na ética policial. Assim-sendo, as medidas legais nao devem ser que viviam a beira-mar nR cidade de Niterói. o caso era claramente uma
r.s mesmRs, e a pessoé1 Rcusada deve ter mais oportunidades para se defender disputa cível sobre limites de terrenos vizinhos. UmR das paries, porém, ao
das acusay6es. invés de moveí ume1 ac;:ao cível para obter urna decis8o sobre o CRSO, deu
queixa a delegacia local. Nesta queixa, o vizinho rico, que nao era pescador,
Atividades de Media~ao na ''
alegou que os pescadores estavam invadindo sua propriedade. De acordo com
Polícia da Cidadc doRio de Janeiro: a legislac;ao brasileirR, isso constituí crime (art. 161, Código Pella!). Entretcm-
Advogados con1o l\1.ccliadores to, também de acordo coma legislac;ao, essa situayao nao podia ser tipificada
como invasao de propriedade, já que os pescadores estavam morando ali por
O estratagema polic:z;: ie introduzír procedimentos éldversaríais nos mais de 40 anos. Portanto, o caso estava fora d<-1 competéncia dc. polícia_
inquéritos policicjs é efetU(\é:o éltravés de uma barganha de presentes e Mesmo assim, esta abriu um inquérito, procedendo ao interrogatorio, iden-
favores entre as partes- poli::. ais, advogodos, acusados, vítima- em que os tificac;ao e indiciamento dos suspeitos- os pescadores e seus familiares_
respectivos starw· social, p;-c~tígío político e vulto da conta bancária sao
essencia1s para obter a dese: tda parcialidade- ou, em cenos casos, para Já que o inquérito policial estava evidentemente tendencioso contra
¡-
garantir a irnparciaJidade- n· S autos do ÍnC]uérito. ~- os pescadores, mínha estratégia foi neutraEzar a ac;ao dR poiícia, recorrendo
ao meu círculo de relac;oes, que incluía promotores e funcionários da
[
É ÍnegáveJ, portRntO, llle, rara mRneJar COm exito R poJÍcÍR, OS ~- Secretaria EstaduRI de Justic;a. Atuei, assim, como um mediador entre os
advogados tem d'e "conhecer' no mínimo alguns policiais e delegados. Esse pescadores, a polícia e o sistema judiciaL
relacionamento implica um ::erto tipo de cumplicidade em infringir/nao
infringir a leí, segundo as C(.: weníencias do momento e de conformidade Conforme cliscutirei em capítulo posterior, este caso ilustra também
com a ética policial: suas co~tumeiras- e discriéionárias- regras. o uso da policía na qualidade de árbitro. Os pescadores, intimidados pela
r
.t1
i'n' ~ i:l ¡.}()clcr;;¡~¡ ((:'¡ r.:nm¡~: !l!lCiilJ \é:il.'í l:lé1lS iegírirnos clireitus Se() CélS()
¡ 1· 1•1 c,1 \. 1e'', :,\r) A cles¡1e!1o clessc\ '"'~~·'·~e ' 1'
." ,,. ,.,; o r'l' hélvia ~ase~ é!l:
,. ---l rr" rr '1l \
':ue os d"''
.• ~;,
.:::' ".S 1

-, 1 ¡
yr
, ,-
, , "''e:·¡•c. Ol• ltúC 1 •..
!r¡·c_c;';l: ,:!tt.:[z;¡cJc ;¡e ¡uiz. c;;t~er;nnu, e!cs tcriam sido mtríto prov;.welmcnte .. ' 1 '; ' )n \ C'\ r j e a1Utl e m ll o 1· n ll u en, o: ,.,'-''' .__ ., ' '
- ' , 1

-~ ~·;-,.
1

neCJI<1ll\ e: cnvo V:LlC · ' no'ícié: Clll


. " l-1,., •ent'''.J''~¡
' . , •• ,,

rli:snlvrcÍClS CJ \ :Z.IililCl ;·ice cs:ct\':1 liS?,JlciO éi po]iCÍé-1 pé1ril Sel! proveito, élO , . -es e n ' ,\
' • ' '" u.-J._,,, O é1dVOQac\o
--' l:. Lz(l, ,, t' t
,
e o n CJt 1t a re Pr · · ·l ( ' " • ' ·
V '

• • , , " ,_, , e m n ¡e qu él n e: o
111\'(;S de~ ic~v;¡r e C<lSCl ;¡ Llilléi \';n;~ CÍ\'ci (n~o criminal), que er·é: o tribun<ll ~. ,;,.,,,
1
.. '•:l¡;rio Tssoé1eontect\:'''' .___x,,¡ '-
be n e í 1e 1o de ;ll g [Jll, • .i e' t. s se , . s"" e• ,, e h r a n e é1 el e u rn
¡) · ' · ,
;¡ p: CJ p : 1¡¡ ci C! p él r ;¡ o e;¡ so ' ' '. ' p.' ('? ¡ ai p 1 i elll
e(llll o no en. u • 0 - ú ' . . .
ll'i' (lC1VCH2é1C10 C]llé! dlll,Aly' . ::::;'
. - t' ., ls·c; (')1
~~ • ' , r 11 1~ \1ietivo proflSSI07lé!t ;mpor clnl"" •· \ ' · ' .
cheque scm funclCl- Oll é1tC2l1~cl. ,,J .. ~)l_;'
' . 1 .,
't l ITI f>''"'n'lo o nCÍVOQí1dCl, e
Os ;¡dvog;tclos con~;¡ .:;·am-se 21:11igus m; conhecídos de trm dado
;1olicr;li qtrélnclo ll~'li ;¡JÍl1crd<Hi'.:> cle;¡horcJ~-Io pnril obter rliguma Vé1nlé1gem para
r O C] U c. '-·' ' . ', . ~ .
,
e ,,r,r¡ntecc·' 1,o fl;;¡QréHJte uesc.1
' ,
'- -ap'·' u o 1 -· que.
.... t e) n')

. fróeassRr em SLiél tentatiVéi Clt: libertar o con.c ,, . '
.
. '-,
r •' ' ' r},. S C ll C: \ j en t e' é1 p al C n -
•· 1P ,,
u

r R pOS . . . ,. ,,. rj a dO tÍ t ll \a;' Cj U e O m?.. n tl V e S S e p. '·S',


sr.'tts ciicr1ks T;; .\ Vélrllél_;.:erls inclut:n1 c:ornuniCé1r-se com eles e consulten os 1 • 1

, · ·. . ~,ir cohr;-:r
illi!Cl~: do inq:rrr·i::; Lc~;¡lrlW:l:t· (;m SSJ, Lei 11° L1_2]5, de 27 de élbri! ele l C)()J),
tementc rnudou ele JCicla e pelliL. ao 'etcg, _
.,
e o envolvesse cleíinitJVé-llTlente
,....,
· c¡uento . Cle Dl..!Qeilcl,
no In .
eL.'",., 11
ClS il C1\'0gílt i OS te;:, Cl el Í reÍ 1O Clc C:OilSll j¡ éF OS éHI t CJS, rnesmo Cjll Cln do S~O SI gi OSOS J )lonorários mé:is elevncios
(<irí ~ll C(',di!-!r' ri rwc:essr' r-:,~nz¡/) l\1¿¡ p:idica, porém, c.lguns delegados nao
pcrmiter11 qur os ;¡dvogaclos C'\é1!11Í!lem os éHitos Tan1bém em ciRr?. contradi-
~~o como que a lc~i esté1belece (art 21, pari1gr<1fo t'mico, Código de Processo
i'enni, nrl. 80, TIL Lei !1° ¿~ 2 l )), os delegados n8o rermi!em as vezes c¡ue os
élclvogélcios corwer·sem com se'us clientes Em muitos desses CélSOS, o iemro
CJIIC~scg;:¡st;¡rÍ<~ e;; ilostiiícléidt CJlle se clesper1nrinno meio policinl impec!em c¡ue
os ncivogc:lclos se qllei\Clll élO juiz ou entrem corn um mRndnto de segurnnc;:n,
c¡ue é o reilléclío legal no Brnsil pé!ra neutralizar o abuso cie poder das
auto¡·idades ndministréltÍvns Nom1almente, o cnso é resolvido de modo
informal pelél meci:<1c;:?io ele um nmigo ou conhecído. Devicio no costumeiro
l!SO cie tor1Lml pnrP1 obter infom1nc;:8o ou confissao, o temro decor:ldo entre
a prísfío e a libert;:¡:::flo do suspcito pode ser decisivo pé!rél o futuro inc¡uérito.
Assim, íleg<limente, os cielegndos m;,mtém os susreítos presos Qunndo o
1
ilCÍvogéldo e:ltrn com tllll hnheas cm¡ms pélra libertélr seu cliente, o juiz !.
CllCé1111inha e5se OCICU11lento a de!eg[!cÍa oncie supoe estélr o suspeito preso 1
L
1-
1
ilegc:limente Se él polícia n?io CJLliser libertélr o suspeito, trnnsfere-o para outra i
clelege1ciél e infonn? <lojuiz que o mencionndo elemento nao se encontré1 preso !
¡
Em algt1ns célsos 2s transferencias s8o feitRs mesmo depois
n(lc¡uelél deleg;:¡cÍél
¡,
de o juiz ter concedido o hahens cmp1ts Se o advogado nRo ti ver contntos

dentro clél policía, rode flcnr muíto dificil libertar seu cliente sem él "coopera-
r;ño" de ;:¡Jgum policial
t

A prodw;:ao de ínc¡uéritos policiélis ciístorcidos eleve-se, evidente-


mente, a interven~jo dos ndvogados J\12s o prímeiro e principal objetivo
dt>ve ser cvítcn o r·~gistro da ocorrencia ou o envolvimento do cliente no
A POLiClA DO RlO DE
J.ANElRO ACIMA DA LEl l:
AS PRÁl.lCAS DE
ARB1TI0\GE1vl D.A POLÍ CIA

A Po l í e i a B r a si le i r a A tu a n d o e o n1 o Á r b i t ro :
Fu n d a rn en tos L e g a i s e T r a el i e i o n a i s

Desde o século XIX as pessoas aq_1sRdas de cietermÍnRdos crimes


eran: submetidas a uma modalidad e especial de julgamento no Bre1sil. U m
desses crimes era a jcí. mencionada vadíagem, hoje classiflcRda como
contrCJvent;:ao pené1l pela legislat;:ao brasi!eíra. O Código Penal Imperial de
J 830 arrolavR tanto rnendid1ncia c¡uanto véldiRgem corno crimes (arts. 295
e 296). O Código Penal Jmperial de 1832 atribuía o julgamento desses
crimes- juntamente com prostituit;:ao e desordem- ao juiz de paz (art. 12,
parágrafos 2 e 7; arts. 121 e 122). Contud o, na reforma processual que
refort;:ou o papel da polícia no sistema judicial, esses crimes pétssaram a ser
julgados pelR polícia (art. 3, parágrafo 4; arts. 11 J e l9J, Regulamento 120,
de 31 de dezembro de 1842). Entretanto, devido a sucessívas reformas
legislativas, a polícia nao possui mais nenhum poder de julgamento.
Os mencionados crimes constituem agora casos de ar;oes penais
compulsórias. Eles devern ser inscritos no sistemR judicial Contudo, a
arbitragem policial parece representar ainda umR atividade tradicional da
polícia brasíleira. Essa prática policial, embora contrariando ostensivamen-
te a leí, tem sido mencionada em pesquisas sociológicas empíricas realizadas
na cidade de Recife.

1-
-e ;.\s veze.s C(ié\ginclc:- ?.S flélrte~ a c\¡,-g;.\rern 2. tllll acordo l'-s decísoes c\él:;
¡¡utoricJ¡.¡cles rolic:Ín!S ncab?Ví~!Tl sem\~:·:oimHi?:c e cumpriclds c.·.omo se fossern
senlen¡;c.s juciiciélis

Provavclmen!e clcv¡clo ac1 s!o/11~ preliill.l!lélr


e éiO c?rúter ni'ío-conclu-
sivJ do set, rclcllélrio de Olivcir-8. nflo ve C]Uíllqucr lógiccl no féltO ele
reSCjlltSé1,
é: políc:Íé\ o'~Figé-1:- r1 CU!ilprir ;.¡ lei ou clesc:nrenhéH o pclp~1 ele ~1rbitro
Iz essé-11 vétncl o r¡u e ehs n~o es! i1 e necessa ri a Jllf' nte vi ncu \;·.el as ~: e\ as se OLl é1.0
.\/olu.s soc1é1l cl?s pél:tes envolvidé!s, :..Je reléltn un: conjtlnto Je céltegorié-ls
policinis usaci~s péHR rotulRr os casos nos quni~ n polícin cL.:sempenha o p;.1pel
cie ~rbitrCJ Essas categorías s~tO desorcle1", ofensa :nornl e ngress;'ío.
Discutire·1 o assunto no f1ne1l ckste capítulo t em capítulos posteriores.

Atividades Arbitrais da Poi1cia da (=idadc do


Rio de Janeiro
e
0eguncio .
e ¡e, se toclos os crimes violentos fossem 8 julgarnento pelo As arbitragens feitc.s pele1 políciél da cidade doRio de Janciro ocorrem
JLIIZ, em estntR. obedienciR ~ leí, o volume de pessoas condenadas e
gern\mente a pedido de uma dns panes interesséldas - ou de ambas. A
e,n~ar~eracias s~n~ lYiate;í~l e politicRmente insuport~vel pc.rc. o sistema Ele
c1tllél<;.:ao comec;:él C]Unndo umn C\utorídélde ¡-.olicíéll é :~o1icítadR R tomar
~d~er~ ~ue R violen::.:;ct IISica, componente do cotidiano das cl2.sses baix?.s
píOvidencias porc¡ue alguérn sejulgé1 lesélciu _-m seus direitos Os conflitos
e é1 C"'...... 11 ~nt V e: t n''el S rl'".--rUlas
Í e: D • J
oess~s
' e asses, desde qtle referentes R élssuntos• '

de interesses p:endem-se n assuntos r¡ue t. nto pode 1ll ser de n2turez.R


pessoa1s cie propr1Pciade
. ~- , eao D'l''"O
! , ·".) , que n.w
;- e· Rceitave 1 nas classes mée.!ta e
crim\nni como dR que a \egislél<;.:RO brasile!:-:-, ::lRssifica ~~omo nao-criminal
. · ·

éllt;:. Q~.~émdo ,a VIol_e~c'i'Cl flsica fliinge estC\s t'Ilt~rr1élS c! 2.sses, n~o se trRt?. rnais
1
~e U.ll c.?.so ue pol1c a , méls llil' cnso pM?. o SistemRj(td.icíal, que procederá
1
(civil). A 8utoride1de policínl convoc8 as par í.• :s interes~:adas a comparecer
a delegé\c'ta e procede 2, Rudíencia ORS mes:::: S.
de Rcorclo com R le:
Segundo Cl fórmula iegétl, él polícía "c0:-vida', as pessoas a prestarem
. Os comiss8rios de Recife- bpm como os del'eg"dos a' o 1R'10 d e Jane1ro
. ...... 'Cl ·
esc]Rrec\men!OS !lél deleg2~Ía. Ü juiz, 80 COi:~- ~rÍO, 0rd~-:na" as peSSOC\S que
11

- efetWlVélln as arbitr?.gens l)Or meio de meo·i.,rCío r confi't ·


JI OS, fJErSUCl 0 tnOO·
compare<;.:am ?!O tribunal O desatendimento 2. notiflcay~8 do juiz traz sérias
r "Yc' 105
·

conseC]L:éncins iegnis, o c¡ue n8o Clcontece co::. o desatendimento RO convite


da políci2 Apesar disso, nrJ seío d?.s clélsses ~obres, Utl} convite do polícia
-¡em tanta forya quonto uma ordem judic; d, provavelmen1e devido a
proxímidade social entre nS pcn1es e?. própri; polícia. J<'R cidade do Río de
1, 'J2 - A PolíCJa dJ Rio de Jan E-: o . A Poiícia do Rio de Janei1 o . i 03

Esscs proceci:mentos- aud1encias policiais- 1em o mesmo nome


cE rito E m cert os cRsos o delegRci o t ornél explícito CJUe nao está mes m o
usa el o nos inC]uéritos judiciais c1vis (audiencias de instrLJC;:8o e julgamento) cumprindo a leí, mas desobedecendo-a
e tcrmimnn geralmente com um acordo entre as partes. Um dos principais
(1:gumentos usados relo delegé1do pélra convencer as partes a chegarem ao A ambígüidélde da situc1y8o representa aparentemente um acordo
Clcorc.lo é a amcaya de serem envolvidos em urn inC]uérito policial. entre a autorídade policial e o povo, "contra" a lei e o srstemajudicial J\1as
se deve levor em conta CJUe o delegado é a lei para a maior parte das pessoas
que vao adelegaciR. Afina! de contas, o doutor delegado "conhece" as leis,
A participay~o em um in~uérito, além de exigir ternpo e trabalho,
ele tern diploma de advogado Porté1nto, é cloro CJUe él popular;ao- e é1 própriR
sugere as partes os riscos e as dec:?_gracJáveis conseqüencias do envolvimento
polícia - nao ve essas otividades como contrárias t\ iei, mas como umo
com a polícia contribuic;~o a leí Poder-se-iR dizer que a arbitragem policial representa
uma atividade tradiciomd e extra-oíicia! c¡ue complemento o sistemajudíci-
As audiencias policié1is precedem sempr::: o registro de quaic¡uer 81. Realmente, essas práticos evidenciélm uma vez mais R existencia de mais
ocorrencia policial ele natureza criminal Os incidentes submetidos aarbitra- do CJLie um due process C?f iml' no sistema judicial brasi\eiro.
gem policial no Río deJaneiro s?.,! rotulados, no jc,rgao policial, de pec¡uenos
furtos, ngressRo, desordem, brig:-1 de família, briga de vizinhos, etc. Após o O caráter sistemático dessas práticas tradicionRis é confirmado pelo
interrogotório das pé1rtes, o policial enCJuadra o caso em um dos rótulos extraordinária similaridade que minhas observayoes - complementadas
mencionados e procura convencer as partes a chegarem a um acordo. pelas explicar;oes dos delegados antes e depoís dos fatos- montem comas
atividades arbitrais da polícia, descrita por Oliveira ( 1982) em Recife. A
Conforme já. foi referido, esses rótulos parecem corresponder aos sessao de arbitragem comeyava coma audiencia das partes, por turnos, uma
C]Lie eram considenHios peio Código de Processo Penal Im;:>erial (década de de cada vez. Segundo o jargao policial, as partes n~o estao ~endo
1830) corno crimes da alyada do juiz de paz e posteriormente (década de "interrogadas", como em um inc¡uéríto, mcts sendo "ouvidas", pois vieram
J 840) da polícía. Eles sao ainda popularmente conhecidos como "casos de
voluntariamente. Esta o todos juntos no gabinete do delegado, e as vezes
polícia", mas, na realidad e, a poLcia .nao está mais legalmente autorizada a este inierrornpe as partes parC\ tornRr ciC\ré1 sué1 autoridade:
decidir sobre eles.
Calem-.\·e! A mtloridadc: or¡ui sou e11.

Reformas prc.c:essuais pE::.,:tis enc¡uadraram o julgamento como fun-


r;~o exclusivR do judiciário e cria, ,.m o sistema de inc¡uérito duplo para todas Ocasionalmente, se uma parte nao se comporta bem por nao deixar
?.S práticc.s ¡xocessuais per.ais. ;. s é1tuais práticas de arbitragem sugerem,
que a outra faJe na sua vez, o delegodo manda que seja retirad(l de seu
entretanto, CJUe as r(formas nao Llrélm eficazes para interromper as tíadící- gabinete. Mois tarde, quando chega R sua vez de falar, ele a mRndél entrar
onais píéÜÍcas policiais de julgc.::::~nto. Contudo, mais_ do que urna extrava- novamente. Quando o delegado achava C]Ue já sabíR do C]Ue se tratRva, C]Ue
gcmte "sobrevivénci:t" dos velk- tempos, essas práticas devem ser enten- já tinha umC\ idéia clara do caso, concedía um prazo para discuss~o. Jsto era
didas como representando urna r·1rte essencial da estrutura legal brasileira urna espécie de "calarse··, conforme as palavras do próprio delege1do. Após
~ tan1bém do atual S:istema judíc~:-d.
algum tempo, ele interrompia a discussao e propunha um acordo:

A polícié1 age nesses cases 'como se" o crime nao fosse, segundo a Se l'Océs nño chegarem a um ocordo. 1•ai serpi01paro lodos ..
legislnr;:ao brasileira, um caso de cu;:ao pública. A rigor, o delegado faz Como esrá ludo be m agora. l'Oir apc:nas anolor se11S nomes e m
cumprir suas decisoaes pela ameac:a de apiicar a lei, instaurando um inqué- meu m·quil'o, mas se vocés nao se comporlarem. na próximo
l'ez abro 11m inr¡uc!rilo contra 1·ocési

.,,
·.;
--·---·----------- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

l.s:;c foi Cl CZL'iCJ, flOJ de llf11(; mu)hc; CJLIC ClJé1íllOll él po!ÍC:ií~


t \Cii1¡i]O,

ilC:;(Jt:e .su;! hols:¡ iÍ¡:iJ;-J F.la suspcité1v;: clc Sllél compé-HliJeir;:¡ de


Sid(' ;(:r:C1.ci;-¡ outr;:~ relt 1t é-\Vil e m
C1cei t ;¡ro acordo l-'.ré! óhvio que rar2 ei;:1 o GISC n:'p!escn:;-;vc:.
l i'1' 1:~
rc¡•;¡r··¡" (' '\l~illl'''; f'nr'\'¡'~1 IC'\"]'i··s
! 1 \._, ( (. • 1 \) ¡ ( ~ . , ci·-·ier')r':'l ,, '¡)~lf''l Ír lar com () clcicQ_Rclc:"
J ' ( l. • ( l (. '-' '.::; (ll._, 1( • • ( 1• ..._
um problc;néi de lwnr<-1 e sin! u.'> sociél! Ent~o, o d.elegRc\c1 t1egou un: pecj~~,y-~'
.'\pc:s d C:\pnsi o clu proh!,:mr.. o clciegélclo élrgtJmentoll Cllle el2ts eran: de papel e c-motou o nome CÍ<I freguesél, seu enoerec;o e e norne Clos p(:t~-
Af!m10u Cji!C 12. n r<!lJC j Tlél g;¡ve1a, , e~ ,., •. e • '
eme Je 111c'l\'l"'l""'l'-(l'IIVC'
<lrn ig él s e CltJ t: 21 s e; i rn ci e vi il r1! ¡w: m a ne e e r A r il rt e 1es a d él a fi ml m 1 q u e n ~ n . guélrCJé1!
' ' "S'-'"··
.J, " -"' --'"

tJliC::il que¡¡ sus:JcÍtét íóssc ;~:c~Sii, qucri8 apené1s seu ciinheiro ele voita e que
fosse inco.mocL-n ?, u.erenle novéHnen:e, ele moveria urn:! ilC(~O con:ra el;;
c!c: i!!ClJTIC!esse ilLJJIC(l JllélÍS ;·éi?er isso Se Sllé-l companheiréi rneciSilV(l de
cii:i!H::ro_ ¡JociuJ pedir er:J¡:Ic.Stc-\do, ITl(tS ilLlfiCé1 rclllbe:n A suspeitil confcs- 1'e)/( ¡¡¡sfmrror u m lll(j/1(;, r!o conlra wJCe, conw, o!iá'l', jó
¡}()cieno csforfn;:.e!ldo
_c.:m: e p1 ornctell cnmpoíléll se bcm no ftJ1uro Eias ;>,gréldecerél::l élO clelegcHio
e se rctir;~r<l!ll ,-i_JlÓS cl;-ls tcre:n snído, o cklegnclo corneniou
Se ~ll1. quena fiCRí Il1(1njélCiél'' peia polícia, e;-a sé nao se portar bem
11

fsso e; IIQ!,IÍC/() de jJiO\(/(/f(O, J)(lO 1//r.!/'CCe 1/l!l l!lqlfiíl'i!o. l /fl!l


de novo Todos ilgre1deceram élO delegado e se ret:ra:am_ Ele me coniou
coso dt' jJi'(jiU'JJo firno e. no fim dos con/os, e!os es!/lo 110 lllRIS tRrde que tinhn "blefado'' nO é-lmeR¡;::Rr a mulher, pe1s n~o hc.v1a nenhun:
1nesmo hm co, rodos /e\'C/111 nmesmo \'Jckr, mnanhii \'OI!mn oqui arquivo nR gavetR.
¡;cdindo ¡;nrn pnrnr o f.'l(jiiC;l'lfo ¡JOrr¡uc_fizermn as j){7zes ...
E u assist ¡ t éliT1bém R out ri1s "e1udiéncias" semeitr(l nt es que se renliza-
Em OLitro illCÍc!en!e, citlé1S mulheres fornm trazidns por umn patnllhél varn especÍC1lmente em casos de C1gressao e desordem_ embri8guez, co~flitos
el él Plvi pél r él f(t lc-tr e m e o m o de !eg él d o O e C1 so fo i ro 1u 1a d o el e él gres s ~ o, vi s t o de bar e brigéis de vizinho.'~·- A penalidad e habitual nesscs casos era de1xar as
c¡ue 2s mulhercs cst;:¡vélill é\OS murros nC\ Céll~é\cla, n~o muito distcmte da panes espere1ndo numa s~tla, forn do gabinete do delegado_ Qu~ndo ~l_as se
clelegé\ci(t O motivo dt1 briga foi ClLJe umn dRs rnulheres era gerente de um acnlm 8vRm, ele mRndov<t chRmá-!as, amear;ava-as com um mlluentc t
s ;-¡ l~o el e cc1 be le i re iro e na o e¡ u is !1 él r, m 1 sej ?. , e o n e e d e r eré d i t o, 2 o u t rél finRl mente .cin va-l hes alguns conse!hos_ Na m a nh?. .~eguint e, no fim do
mulher - tima freguesa éll1tÍgn -, c¡ue c¡ueriél fr<.zer o cabelo. Esta ficou plantao, mnndava-as embora
csper·;mdo cm frente nO sRI~o ?.té o fim do expedien1e Qwmdo él gerente
saiu, a íreguesa recusmla iHélcou-é\. Aquelél re2giu, e C1S duas se pegélré1m Essé1 funr;ao cie (lrbitre1gem que e1 polícia dese~ 1 lpenhava em casos
nt1m2lut¡;¡ c¡ue n~o pé1ré\vnm?tis A mulher que queri;:¡ o crédi(o élleg2vC1. que umto cívis como crimin2is erC1 uma aplicar;ao do poder rie polícía, que, ne:~e
era amigél cia dor:él do séll~iú, que se.mrre tính;:¡ tido crédito !8 e ~ue sempre contexto, eré1 visto pelos polici?.is como algo difert.:n!e de suas tare1c.s
pé1.garél as dividas norrna!s de fozer cumprir 2 leí. Segundo as palavra~ do delegado, a::ws
convencer as rnulheres a chegarem a um acordono C:!SO do furto:
O delegnclo seguiu <1 rotina de sempre e, após l1 audiencÍR e a Céltarse,
decidru i1 fCivor del gerente e ''rroferiu a sentenc;:a" Disse que ningué:lí iem Se 0 promofo¡· eslil'esse nqui, c!l! nrlo poduriafn_-:er o que es!OJI
obrigCI\.~O ue trabalhm fiado e que se(¡ freguesét n~o tinhél dinheiro, que nfio fazcndo ...
fizesse o eélbelo. Afinnl de contas. isso é um2 coisa supérflua, um luxo. Se
CJUCrÍa i1~rU!rl(lf OS Célbe]OS, dr::via aprender, j~ ~Ue nao tÍ11ha OÍnheiro para
As ativiciacies orbitrais da polícir1 seguem principios diferentes claque-
sustentc1r esses h~bítos dispendiosos les do judicíário. Ao solicite1rem n arbitragem da polícic., as part~s, tanto d_as
closses boixas como das elosses média e alt8, est8o pedindo um t1po especial
A ger·ente esclareceu, en tao, c¡ue n~o desej2va ;:¡ prisao da outre1, queria de julgomento. Que1ndo Rmhas as partes penencem?. da~se baixa, a polícin
ilpenlls c¡ue elé1 élp:enclesse é1 SC' comoortRr e n8o reDetisse R Cl.QTess;:¡n 7'vfrJc; ;:1 rerJresenta
t- él mais clnra e concreta. manifestavao da autondade local conhe-
106 - A Policia do ;(Jo de Janeíro ... A Políc1a do R1o de Janeiro . 107

compreensivos quant;) aos seus problemas e él mn:1eire1 ¡;eln quRl resolvcm O rel?.cionnmento entre o JudiciRric' e as classes mais altas era
suas altera;.:oes e solu~ionam seus conf1itos Qwmdo o caso envolve partes clRramente diferente Por umlRdo, do ronto de vista do:; integrantes clessas
de diferentes cnmadas sociais, a polícin é gerolmcnt e chamada pena intimiden classes, o Judici~1rio n~o é urna instituir;8o sut~alterna- os JUÍzes nao sao seus
n classe mais baixa, como no caso dos pescadores que _jú descrevi "empregados", como eles presumem que os roliciRis sejMn. Por out ro lado,
do ponto de vistR do Judiciúio, as clc1sses 2ltas tem concluta ''educada" ,
Este caso, no c¡ual a polícia estava resolvendo uma disruta "cível'' "civilizada". A motivacao das classes altas para infringir a lei é também
como se fosse ume1 tran.sgressao crímínRl, demons1 ro tmnbém c¡ue o desle- supostarnente diferente da motivC\c;:ao das classes mais baixas Diz-se que a
cho desejado nao er;', de naturezn _juciicial, já que n~o se trc1!é1V?. de um criminalidade violenta das clélsses altr.s é passionol, isto é, produzida por
"crime" mas sim de uma ouesUlo nue
, ¡ 'l envolviél umél definir;ao duvidosa de umR ocasional perda da razao. Quando as classes média e alta nao
direitos de propriedé~de É improvável que o Judiciário condenasse os corresnondem a essa imagem estereotipadC\, qunndo seus integrantes nao se
pescéldores_ comp~rtam de acordo comas regras c¡ue cleverÍélm obedecer, o Jud.iciário
torna-se impotente paré1 enunciar soluc;:üesjustas para os casos. I~t~ e o que
Em todo cnso, :t polícia parece dar uma solur;8o diferente da que seria ocorre, por exemplo, em conf1itos de família ou conf1itos entre v¡zmhos no
ambiente de classe média ou alta, em que hoja emprego de violencia.
dada pelo Judiciário, c¡ue se define a si próprio como mais técnico e por isso
considerado como mais autonomo em relar;8o ao meio sociaL Assim, do
Dois exemplos poderao ilustrar este ponto. No primeiro, trés pesso-
ponto de vista das c'::Jasses mais baixas, O Judiciúio nao "entende" SUél
as, duas mulheres e um homem, todos com 20 e tantos anos, vieram 8
conduta. Jsso parece acorrer em várias ocasioes.
delegacia espontRneamente Eram pessoas da classe mé.dia e moravam nas
proximidades da delegacía de um dos subt1rbíos do R1o, onde eu estava
Ao assistír a julgamentos, especialmente pelo júri, tenho ouvido
fazendo meu trabalho de cRmpo na ocasi~o. O delegado, como sempre
muitc.s vezes o advogado de defesa argumenten· que o juiz ou os jurados
acontece, foi o pr1meiro a falar, indagando-lhes do que se tratava. Eles
deviam entender que a conduta criminosa de seu cliente era devida ~. sua
explicaram que eram um irmao, uma inna e urna cunhada e que .moravam
"falta de cultura"_ Advogados de defesa classificavam ami(Jde os réus como
num apartamento que os dois irmaos tinham herdado dos pa1s, ambos
"incivilizados", come- l!animais" e enfatizavam ao jLiri que eles agiam de
falécidos recentemente. As duas nao estavam, entretanto, se dando bem.
acordo com seus próprios códigos, como feras c¡ue eram.
A im1a acusou a cunhada de estar sempre i11entindo para o marido,
Nunca vi ninguém- juiz, promotor, advogcldo ou jurado - reclamar
di st orcend o os fatos, para provocar desavenc;:éls entre os dois. Acusou t ambém
desse argumento A ídeologiajurídica formal nao considera, provavelmen-
a cunhRda de nao ter emprego corno ela tinha. Era urna pregui~:osa, c¡ue r1em
te, c¡ue as clc.sses inferiores sejam constituídas de "anirnais", mas os
as tarefas domésticas queriR fazer. A cunhada alegou, en12ío, c¡ue seu marido
estereótipos comuns em vigor entre os profission8is d8 leí podem perfeita-
tinha direito i1 met:de do élpartarnento e que ela nao podía submeter-se as
mente concebe-los assim. Tais argumentos transité\ m sem criticas e sao, por
ordens d?. irma do marido. Este permanecía calado, mostrando-se extrema-
isso, l:aceitáveis" nas atividadesjurídicas formais, presumivelmente porque
mente perturbodo pelos sentimentos confiitar.tes que o dividiam. A desavenr;a
córrespondem aos. estereótipos aceitos pelos profissionais da lei. Neste
familiar tinha chegado a urn ponto tal que, n8quela noite, as duas tinham
sentido, o status social inferior relativo a um nível inferior de cultura e
chegado as vias de fato. Essa era a razao da vinda a delegacia. 1!
civilizac;ao e o nivel- social mais bai>io de todos corresponde a absoluta ·~

ausencia de cultura. Esses criminosos pertencern a nRtureza, nao a cultura.


O delegado aconselhou as duas mulheres que nao dessem c¡ueixa uma
Discutirei essa ideología em capítulos posteriores.
da outra, pois o que estava havendo era uma bríga de família c¡ue devia ser
J-. t'olícra de R1:- dt:. .laneirc; .
-~--- ---·-- ----- - - - - - - -

1 C ; (; )\ '1 Ci Zi ci C 11: ' Cl dé: 1)j


1
Ó.1 ) ,'· .1 ,·¡
':::n t ou pe:-.stlí1Clt-
' ·,· ¡·1 1·¡
,"¡ 1• Jl '. j
T í'
¡:¡s a se es1or~:;¡rern () l<Fgo ~mbito cie1 <ttivJCÍ.Clclc polic:al, é1brnngenón assunt~!s líiT~lCi ~·:\
p,él! él e_¡ JCJ 11 ~; <t: idgu :1 \él 111 MJei r él el e vrvcrer1: JL rn t c-1:; visto
ClLl e, e1 pnre:1 te mente, coilH ni 1ni 1121 i s, pus:: i bi i; t m 1,·~ p o 1i ci?i cor!l ói na os p' i n;.~ípi es desses di f"t:r~~~>
J

el:~' íJ~:c :r:li1éll1 íecursos J'<HíllilOr·ar sep<FrlChs Recomenclmr c¡uc ?, cunl 1nclél 1es si~:ter~1as ele Juigé¡mentu \:;.¡ legislélc;:ao "civil" hr<1sileirél, o acorde) en:: e
;¡¡ '<:r¡¡;¡ssc Ll:n :.:mprcgo ''f'nr;¡ de c2.sc1" pnra C]LIC as dt12s precisélssen¡ fica¡ élS p8:-tes é semrre possivel, éiO fl?,SSO C]lle n2 legisin¡;2(< "crimina)" O <1COríi~:
Jllrli:!s Cl :nerws !empo possivci e C]\lcmdn cilegasscrn ¡\ Cé\Sél estivessem t~o sé~ é ¡;:::rmiticlo en: c:ircll:lstftllcÍ;\s muito especiais, quc.ncio os interes.c;c:; ~:;;
e él : 1s ;¡ ci él s C] u e 11 ::: 111 t ives s e m ci i s no s1~~ ~ o p a r a hr ig ;.¡¡ jvf a n el 0 \1 e¡ 11 e s e e 0 m n 0 r _ jogo :-.i1o considc:-C\clcs como "particulares" e rü'\o "pút•iiccs'' Este é o c:sc
::1Sse:11 f" pC!IllllÍLI Cjl!C VOit:1SSCJ1l fléHél Cé1Sé1 f1Cli exemplo, cJo_c; Ci"Í!lleS C]L!C cí\Íngcm él "honr;;" fWSSCéi] eJe UI~~ cJett!i1li71é-l:iC~
1
,

indi\,,,hrCJ, isto é, vincuinclos :í ofe11sas rnorais, C!lle <:fetam suc. boa re:-!\lt
. Dcpois c;e o i!nrpn ::-e reiÍiélr, ele rÍtl e m::: clisse C]lle élC]Uei;¡ erél um;¡ \:~o · RiLmÍ<-1, injt'iri;.t. u;fc\I!Ié\\:fio Nestes Célsos ,'. <lyRO pena: depell~k
muit~1 co;mrtl1 nos subt'rd;ios, como o sRo ti1mbém i1s
!1p:c;¡ l1liiZél ele fil!llíliél, inici?,:iva cin parte que sejulg;t c)í'endida Est?. pane pode tnrnbén: i:::e::~;-~'­
h: ig11:; ele vizi11hos Acen!LIOll que ess?.s coisC'ls n~o er?.n-; pélrn ser reso]vidas per ~1 <w~o él qualquer moJnenlo Em cases de a(i1o crimina1 "p~·lb1iu;
fiG' ,i 1i
1
pnic: ¡·c;se pesso;¡! vive _)L!Ti~CJ, co:lhccc-sc hél muito tc.:mpo, COillCl Cl\lélllC;O ClS ÍntereSSCS e '1 Íc;~)(\ S~O COnsiderados ~~C')I\(1 ?.b'Cl.fH!E'Jld(: l<l·i(. í:
J
1
.J ..__ ~

1RmDem SLJé1s respcctiv2s ÍéimÍliélS, e n~o se pode nór um vizinho ou memhro colet;·¡idacie, n2io somente élS pnnes, mas també~r es juízes crimi:l?.!5 ;e::·
clé1 f2miiir1 n?. Céideill só por CélLJS?. de LllllR tnígéllOIR um8 ;:bercie1de de él~~o muito restritR, o que, élli2:; ia foi mencion<~clo

\
Nc segu:1do caso, OCOíTÍdo cm outro delegncÍ?c, esté-l situc.dél nurnél Um de meus nmigos juízes contou-me u m ep~sódio que exempl1fi:i1
1
par-te ¡-icél d. a cid?.cie, ur_11 homcm veio fRiar CO!ll o clelegl1do. Pedía providen- muíto bem as difercn~as entre o julgamemo judic:c:) e a arbitragem poli e:,~.:,
1 ClélS dC1 pol1C1n. no sent1do ele prencier Lll11él mulher ~lle estavél aos berros em ~u e é ·J t emR dest e capítulo Tr(l t Rva-se de u m hom~rr.' ~r3zidc a o tribunal sc;b
1
frc¡1te ao préc!io em c¡ue mornva o íllho de u m ministro de Estnclo O homem (lCLJSélyRO de ter causRcio leso es corporais a uma mulher com quem vivic: AcJ
se 21presentou como o¡-cJen[ln¡;rl do ministro e expiicou C]Ue él mulher era testemunhar, a mulher explicou RO juiz que ela ndc quería mais viver ce:;;:
!
¡
~··
cspoSél ele; filho do ministro, mas era prostituto e eslava. bebada. Tinha nos ?tCJLleie homem e que esie erél o motivo da briga, pois e~e a inda desejava vivt':
i br2c;:ns um filh:J, {lindél bebe, c¡ue tiver?, com o muido. O C:élsi11 est 2 vé1 come; a A mulher c¡uerÍC! npen?..s C]Ue o juiz impedi~:s.e D homem de cntr€n e:l-,
1 sepaíndo, mas eín tentava collslantemente penlll-bRr a vida dele 0 ordenCl.!l- suC1 c.>sél pnrél impor1un?t-la Disse c¡ue o homem n~·o era urna pessoél indig:-;(;
!. c;:c' peciitl i10 delegado C]lle prendesse R mulher e clevolvesse o bebe nO pe1i ou ll! 1 marginnl e por isso n~o c¡ueria ve-lo condenado e metido nu:-:-.a
1
e<lC~(" ... O juiz ponderou e¡ u e nao podia satisfazer o seu desejo. Podeíic. o~;
~ O clelegélclo esclar·ecetr que n~o podio félz.er isso. Poderia no máximo
abso'. é-l o e colocá-lo em liberde1de ou condená-k emandá-lo para e pris2o:
~ ;;¡ eL! s ~
-1 él ek e o r: el u t 8 t u rbu1en t 8 , m2 s r1 ~ o t i nhn au t o r i d a d e pa ra 5e pél r 8-l él d 0
Rcrt:'" en t o u e1 in dR ~u e a~u eln era u m a si t uac;ao difíc!L pois o juiz "civil", q: :e
1;
f1lhn, o que e~?. cia nlc;8ci;1 do juiz Mélndou urnR viotura RO loco! da
julg0 ~asos de familin, também nao poderia fazer nada_ O juiz civil poder:2
,, ocn:·;·óncia, e tlm policinl (mu:\c n mulher?. delegac!a. Após ncnlor8dél
sepéi; -los, mas eles n~o er8m casados, nao hav:a nada a separar. O ~~!:z
Cll se u s s Ro e o m n o r el en é1 ne; :1 , í1 mul he r s él i u e o r re n el o d n d e 1eg él e í r1 e d es 8 p 2 _
~: n2r:-,- -me este epísódio como u m exemplo de suB impotencia para resoh,:..r
t: r~eccu com o fi!ho O delcgéldo n~o fez o menor esfor~o pélr?. dete-la
certr'' ce1sos CJLie lhe célbem julgar Disse-me ele:
¡: L:\pl1cou c¡ue n~o poderie1 lllétilít:r- i1 rn~e e o íilho nn deiegacia, pois esta nRo
ó 1 '
~ í e - A Polícia do F<.io de Jane1ro ... A Policia do Rio de .Janeiro 1 1 1

A inc;tpé!ciJade do Judiciário para resolver certos casos foi também mulher espancada que nao c¡ueria o amante metido na cadeia. N este caso,
o tema de outro episódio de que participei juntamente com um amigo a polícia agiu estritamente dentro da ieí e encaminhou o ca:)o ao juiz,
procurr1dor Tratava-se ele urna mulhcr de classe alta, divorciada do marido, transformando um caso de briga de família em caso _iudicial de lesao
L:m oflcial reformado cJC1 Marinha. Este oficial era muito fortc fisicamente e corporal. O juiz foi inca paz de resolve-lo satisfat oriamente.
n~o quería se scpcuar dn esposé1 Era muito ciurnento, e todas as vczes que
eia <Hranjava um novo namorado ele ficavél logo sabendo e ia á sua casa No caso do ex-mc:nido, ele esta va usando violencia f!sica num conf1ito
élmec:lvá-la, nmeclr untando também, as vezes, o namorado e chegando até él de famíiia. A iei nao tinha "previsto~~ essa situayao porque presumiu que as
·;grccli-lo Ela e a f~1111Íiia levaram-no ao tribunal por conduta turbulenta O classes altas nao resolvem seus conf1itos famili2res pelo uso da violencia
:Jrocurc1dor estélvo atuélndo no caso como assistente de acusavao, o que é Tao pouco a policía poderia fazer alguma coisa, dado o sfaf¡¡s social da
~omum cm casos que tnvolvam a honra de familias de classe alta O réu nao
pessoa envolvida, o que também ocorria no caso da ex-esposa do filho do
compareceu ao julgamento e foi condenado a revelía. O juiz autorizou a ministro de Estado. A arbitragem extra-oftcial dos casos policiais supoe a
~1ueíxosa a procurá-lo no caso de o réu tentar alguma coisa contra ela, pois
cumplicidade voluntária das partes envolvidas, como se pode perceber em
.~le o mandaría entao para a cadeia. Entretanto, o réu tem direito nesses alguns dos casos descritos, mas nao em todos .
c:asos, sen do primário. a requerer a suspensa o da sentenr;a.
Ao arbitrar, está a polícia exercendo uma funyao judiciária nao-
O procurador comentou que este representava um caso típico em que oficial em casos que nao podem ser imparcialmente resolvidos pelo Judi-
;¡iei ni'ío funcionélva. A.penalidade era muito leve, somente alguns meses ele ciário. A idéia de imparcialidade, aqui, parece permear todo o sistema de
detenyao, além de o co11denado ter direito a prisao especial, indo certamente maneira bastante homogénea. A categoría social largamente usada "caso de
;Jara algum estabelec;mento militar. O réu continuaria, provavelmente, polícia" é um rótulo popular para essas ocorrencias.
perseguindo a mulheí e seus namorados, pois nada poderia ser feíto.
Segundo ele, a polícia ~ambém se revelaría impotente, pois o homem era de
' critérios de vigilancia - a
A polícia está usando, entretanto, seus
amília importante e tinha muitos amigos na Marinha. capacidade que ela presume ter para distinguir condutas criminosas
11
potcnciais" de condutas nao-criminosas potenciais. Portanto, as pes-
Fica claro, pmic:n.to, que a lei e su a aplicayao judicial tem determina- soas que procuram a polícia para arbitragem esperam que a polícia seja
. os limites, que podern ser percebidos nas situac;:oes concretas anteriormen- coerente e use seu poder discricionário para arbitrar seus casos
. ~descritas. É evidente também que a po!icia, em suas decisoes, é menos
,_ erceRda pela lei do que o Judiciário. A policía pode coagir no sentido da O sistema arbitral da poiícía impoe o acordo entre as partes, quando o
, ceitRc;:i'ío de u m Rcordo ondeo Judiciário nao pode~ tamoém pode recorrer sistema judicial conseguiría urna completa soluvao pela condemt~ao/ab::,olvi­
:e Rmeayas de violem~ia fisica, o que está longe das possibilidades do
11
yao do réu. Neste sentido, isso confirma a Suspeita estrutural'' que o sistema
udiciário As pessoas procuram a policía para resolver seus conflitos, judicial abriga da COITUp9a0 da polícia e de sua conduta marginal a leí
11 11

,.edindo, portanto, um tipo de soluvi'ío que só pode ser alcanvada pela


·· plicavao de principies nao-judiciais. Isso é válido para todas as classes A arbitragem policial é claramente mais um caso em que o poder de
o¿iais, baixa, média e alta, como demonstram claramente os exemplos polícia permeia as funvoes judiciárias da polícia. Se a polícia recusa
,:itados de briga de fai-nília. formalmente arbitrar esses conf1itos, está obedecendo á lei mas está
abdicando de suas funyoes de vigiláncia, que dao apoío asua autoridade no
Obedecendo a.tradivao da lei romana, a Jegislar;ao brasileira ni'ío seio das classes mais baíxas da populayao; se a policía afirma sua autoridade,
:oncede liberdade de aya o (arbítrio) a os juízes criminais. Com isso, a leí exercendo seus poderes de vigíláncía, está agindo em desobediencia a lei:
impede sua aplicac;:ao nos ·casos nao-previstos. Foi o que aconteceu coma
('t:llll_'
·'' , , . ''''Li --
¡·¡r' (; -~e~ ci ,(' v¡g¡¡z¡¡lc:;t_c.Cvt.',J'I
. . ',.., . 1 ~;cr c:.;erc:icics LLJicamc-:nte sobre os fatm
C:!il~llil0Sns ··,iJn:l~r 1 cíc-1 ::;' ,.,1 .1. . r· · ·
• J '" ' ~OLiiC
1
¡(\(()S Criil1111Cl,;,;_)S reaís Diante rie hto~
('ll''lll'lS."·;··c')l'' , .. ' , c. • . .
' ''' '- •·- ' "·: el
,,, ., , . , ,
llCll!C:lé:
, _ ~- 1 n 1 J r.- ¡.,.
1C:!l1 CIC 'TC"I'lÍJ']¡;Í ~
uS r10. JllC11CI?.riO
·· · · · . COll1C
C élUir
LllJC:t! C(('[;(~\] ''i ' ·•PWjl"1(\
'--.:::J ,.,, · (¡,,
1 i, ·¡'; ,·;, . , • (·Jo'¡.,¡· ·;, -· '~ · ·
' · ' '''SrlllC1C' "''"S
1
,; .llll ,(J(!rirJ ·e ),)\/(¡, l .LJ<..ICiclflO)prélilCélS
e p r: 11e í p: CJ s

' 11 Í V j c."~' 1
" 1 J C..S cr;¡,:·;¡¡~
l\ C~ 1~ví.!\ 1) ;\ LE 1 l1 :
.;\-·S '" 'l \ . t . '
ct;1 )· ·
íJC11CI<l evitnm oenvolvimento forJTnl u'~s
'"1¡·Ja' 'Cl"
1 )( · • ' -, '--
· J' . 1
' • l Cl s! s 1 e m (1 111e 1e; é1 E rn s lllll a, Cl s p r in e í ¡1; ,J s el (l él 1 b j ¡ r éHI. e m r; 0e ¡¡e¡eLa 1
;¡ A S P R A1· 1e: A S P l J l"-~ ll~ l \ i /-\ ~:
.~ CaSOS SRCJ
j
r e\' c.'--"'
j
1' . J 0 -t.: Cc1s.'"s
Ol N' ( " •
']'
cm1
Clllt ? le· nno ser·'"'
n ' ,
¡·,.. , 1' í'liS
, ' . -
- . J "

/---.. ~'
')
1
1
· r··- , • • . ' ' • "' r,l !vé1C1é1.
r,
fl.
- ·...A. I) C') l~l\.__,1,\
1

SCIC,,kJildclos
, • ,
ele c:odorn11CI~;dc .
com os •
critérios i .•. ¡·
) • 0 " 110, 1 1
c· ., • ¡· ·
11 ~; p 1e 1t a m ente (l.

i1¡1.01r1CJO:; pelas ~lnr-les, Ztc]Jnl!iclos ele modo n1o-nfir··1--¡


, .. , ,, ., . e "'ct. pe. o .TLIC1·IC!élr!O
1 ·· · e
·
1

e c1 1 ,m k n k llll p. e s t 0 s ,,1 e¡.¡ , . r· 1 e r1 .1d e 1 ,. • · , . _


1
· ' · , ,1' ns11 e1r 2 e o r~-; n lllll t o el o
! ... -' • ' -

Evidentemente,
· • .
hit se!ll))re •
um custo• '
sor-1·<1
.....
.. :• p"r''
<l "
o e xercJClO d esse
poclcr
. ele ¡')OliCiíl
. -. ¡)oÍc;
-- e· ¡ 111 ·,., -1 ;·,
,,, 'lidie l 1 ·r
e c,Mé\mente l:::oé1! ele uma élt.Jtorid rl Exposi~ao Pública ao Ridículo:
ofi--··¡jP ¡ ,. 0 ae
'--'e .... 2 e1 S<L no m:nrmo, (lfi~'lnhada
i\ r q u i '·'os e Id en ti fi e a e; ao Po 1i e i a i s

. ·' ~policía e apanhadil n~JJn dilema. ou faz cunmrir a lei e abdica de sua
el!Cíl,_ ,)uas trn.d,c,:oes e sun nuroridacie, ou ímpoe a sua ética e afirma sua As C1tividades punirivas da polícia brasileirc-1 for:11cHT1 um conli11uiin: dt
ml(_o;_Jc!ad~, ~llstnrcencio Otl desobedecendo necessé'lriamente a lei. J\.1as pr8t icas que v8o desde ~unas, com finalidad e de puni,~ao o u de investigcH(~C.
í' élr• íe . .: e.., pe fe d Z1 m,.en t e_ e 1eH o Cl u e o dí 1e m a nae o t e ve su"e¡ o rl.g e111 n O S e1.O d a
n
1
até a execuc;ao de sus¡·~eilos e criminosos.
,,oJ.cl,j,, mns_nas iLill\Oes contnlditóriRs ClLie !he s~o <1tríbuídRs pelo s;stema
legnl Cé1 socJeclZlde brRsileir·:t · Uma das punic;oes mais eficientes impostas pela polícia no Brasi!
consiste em submeter as pessoas aos processos de identificac;:ao polici;:\
Conforme já mencionei, por forya da leí, 2 polícia é abrigada a registrar c.
identidade de todas as pessoas indiciad2s em inClué--itos policicús.

Essa prática pode ser omitida quando o indici<1dc já tem su a identid?.-


de definitivamente estabelecida do ponto de vista policiéll É o caso, por
exemplo, ele quando o indiciado é uma persona1id8de pL! blica o u c¡uane.i e
possui um documento de identidade de cuja autenticidacle a polícia n~o
tenha nenhuma dúvida. Portanto, a decisao d2 policía de prosseguir :lé\
identificac;:ao como objetivo de conferir a declarac;:;:¡o do indiciado so~re 2
própria identidade evidencia uma dúvida sobre a icloneidade do índiciack
Embora oficialmente considerada como um<1. formRiidade n1eramente buro-
crática, Rrepercussao social desta prática legRl é extraordinária. A execu¡;-.8.o
dos atos de identificayao policiRl representa uma elap(l importante no
• ~~ - _b, Po licia do r,·¡o de Janeiro ..
A Polici2 do Rio de Janeiro íí:

SÍStCIT1Z! judÍCÍé1] lJrasi~eiro de élCUSRyfiO pi·ogressivél, devido a supOSÍyaO de A aya o penal brasi leira, confom1e já mencionei, nao segue o sistema d;: ·;
que o indiciado podet,-in estar mentindo sobre sun identidnde. Elr1 é pRrticu- cxcluswnwy rules; e tudo pode ser juntado aos autos, inclusive obtidas se:-:1
larmente relevante para a formayao dél opiniao pública sobre a rcputnyao e nlZEío ou mesmo com violay21o dos direitos constitucionaís Daí ~ue o registrJ
a culpabilidade. A imprensa- especicdmente ~u ando o indiciado pertence ¿ de uma pessoa nos arquivos policiais signiflca, na prL\tica, que, em C}ualquer
classe média ou alta - aproveirn Rs formalidades de identificélyao nas processo cm C}Ue el a venha a se envolver, os envolvimentos anteriores- e n~G
reportagens, que poclem incluir fotos do indiciado é10 tirar as irnpress6es apenas as condenay6es - poderao ser incluídos nos Rutos. A folha de
ciigitais ("tocar pínno ., ou "sujnr os dedos", no jarg~o policiéll)_ antecedentes é incluida obrigatoriamente pelo Instituto de IdentifícayRO, e a
vida pregressa do indiciado é investigélda pela polícia e relatada nos auto:;.
Um ex-ministro dn Justiya de um dos governos militares, por exem-
pl o, foi in di ciad o e m um inquéri t o C}LI e invest igava seü envolviment o em De acordo coma leí, a folha de anteceden;- es do réu só pode ser utilizad.=t
operayoes de contrnbando_ O fato de ele ter passado pela ídentificoyao para estabelecer o tipo e a dura ya o da pena em casos de condenay,ao crimim1l.
policial representou, por sisó, uma puniyflo perante é1 opiniao público. Scus Nao obstante, elo é usada, na práticct, durante todo o deconer da a¡yar·.
advogados nao pouparam esforyos - inclusive a proibiyao de a imprensa Quando ela existe, é mencionadR pelo promotor como urna presuny,ao c:'3
fotografar as formalidades legais- para evitar maiores vexames a seu cliente culpa; quando nao existe, o fato é aproveitado pelo advogado de defesa con;:)
- segundo eles, um homem de bem. urna prova da boa conduta do réu, urna presunyao de sua inocénoia_

Terminados os governos militares, diversos empresários foram tam- No caso das classes baixas, entretanto, as conseqüencias sao ainda
bém identificados criP1inalmente, sendo indiciados em inquéritos policiais. mais sérias. Conforme já mencionei ao descrever a fase de investigayao
Ao que eu saiba, ne:1hum deles chegou a ser condenado pelo sistema policial, as delegacias possuem ''arquivos locais" destinados aos marginaís
judicial, mas a enorm:-~ repercussao das formalidades policiais preliminares daquela área. No caso da agressao sofritia pela gerente do salao de
junto a opiniao pública representou, sem dúvida, uma puniyao - embora cabeleireiro, por exemplo, a ameaya feíta pelo delegado de incluir o nome
suave_
da agressora em seu arquivo foi o que a convenceu de aceitar o acordo e
prometer comportar-se no futuro. Na verdade, ele nao registrou o nome r_1:l
No já mencionado caso dos pescadores, a polícia identificou e mulher no arC}uivo, mas a delegacia possuía seu próprio nrquivo, confonJ;-:
indiciou uma velha rn-ulher, mae de um dos pescadores envolvidos. Ela me e detetive me rnostrou ao descrever-me sua investiga¡yao sobre o cas0 e:~,
pediu para ir com ela a delegí1cia, pois se sentía muito amedrantada e latrocínio. O povo, especialmente o das classes baixas, sabe da existenc; 1
humilhada_ Ela foi identificada, e tiraram suas impressoes digitais, embora desses arquivos e os teme; a mulher do caso da agressao esta va visivelmerJ';
ela possuísse carteira de identidade_ No fim do ritual de identifica¡yao ela me amedrantada. A verdad e é que as pessoas tem seus nomes mantidos r: -l
confessou que aquela fora a experiencia mais humiihante que tinha sofrido arquivo, independentemente de sua absolviyao ou condenayao pelo sisten-, l
em toda sua vida.
judicial. Os arquivos políciaís sao, portanto, autónomos e inapagáveis

Mas além dos efeitos psicológicos da identificayao policial, justifica- Dependendo das pessoas e das circunsUincias, a polícia do fuo (_J-~
se plenamente o medc; de ser identificado pela polícia_ Para cor.leyar, após Janeiro pode aplicar outros tipos de puni¡yao baseados na exposiyao é1-r
a identificayao, a pess._;a torna-se ~~fichada pela polícia Um dos resultados
11

ridícuio público_ Por exemplo, quando o alvo da puni¡yao é u m marginal qt;::
práticos disso é que se o indivíduo tiver qualquer outro envolvimento com perturba um morro vendendo 'prote¡yao", cobrando ''pedágio (direito eL~
1 1
'

a polícia, haverá sempre a possibilidade de o primeiro envolvimento ser entrar e sair), violentando rnulheres, etc., a polícia pode obrigar o margín:;~
usado contra ele, corno urna presun¡yao de sua culpabilidade. a vestir-se de mulher e dar algumas voltas pelo morro_ Pode também fixar
A r:olíc:a de F:1c ~'E-: Janeno
---
~ :: 1_~---_!~-~~¡::::é! cin Río ck J?.r1errr' ------------~

--------------
a cirstribtiÍC(Z10 clos pre:-;ns cm cli!c:~entes delegac.l?.S D~í (_-;-- rii:~cícntes ci.:\éi', :1::

mesmíl clcicgacia e. ¡~ssi;l' por ci1r111te

Como essíl s pr~ ¡ i cns s~o c:x t ra-ofí ci c-1i s, envo l''ern b2, :~gcmhas ele f~? \'(i~
E n e a re e r (t r11 e n t o e o n1 o P u n i ~ ~ o res e poclcm ser cfetundr.s tc-imb(::n com objetivos dr~ vi:-,garwa pessoéll P(•¡
exempio, 1nmferenci<1:. de cletentos par?. melhorar Od p::=réH suc-1s conclic;c;c';
, . ~ trso policiéll clo enc?.rcerRmento como técnicR punitivR estc1 muito de "conforto'', designZ~c;2w p<1rC\ diferentes taref<-1.s n;:~ ;-nesmí-l ck\eg¡¡c~i<:_
11 g rH1 e) ?. s fu n\~ (-)e e; ci e vi g i l ~ n eia d2 po l í ei él Co nforme i ?. men ei o ne i so b 0 tínnsferencirl ele presos C'ltrc diferentes deiegacías ou de u m?. pris~CJ p;ir<
toluludc vzldtc-.gcm. él pu1íci(1 prende as pessoé-1S e élS i-:l~Clr11étl1 no xéiclrez ~s outra, tuciu isso pode ser fei:u p;n~;: premiar ot: 1m~Jir c.s deten1os
\'"l o éllll1 e 11.'LC' E
(>S ti e :--'
_~. . ~'--'· ' . e' Ire~(lCntemente USéldi! cJevido 2 discre¡;~n-
~ssi1 rnntiCé!
r . '

cr:J
_ ,. entn::
. o COI1heCimento '-llle . r co r1,d,LlTr:
é1 ¡!olíci?.• ten'• cJ·¡ ~ Cllmlnosn
~· · e¡'e u m Corno todas as penitenci~rias e xadrezes ele r.-Jele~:acia est2\o cr onic~é-1·
rnnrvtdun. e _Sll<:
_ Cé1íJé1CÍcléHie
· de comnrovi1-la
,. .¡·Lldr'c·r.,'rr'len'P
n 1 Se r1;0
n , exts
_ · t.trern
1 ,..__ ... mente" superlotc1dosl', cssas tí ;:Ilsfcrencias represe:~ raro~ ::ma fonte ele poclci
Jli UVitS _¡trdlCJé1!S cuntrR o •Slll!OS!O
t • crr1'111nosc'
' " t'nolr'c··1., no.-l
1 ;, ¡o
(1ue:a· usar o
'(¡ parn n pDlícia Conforme mencionei no caso do flc,grante cio'contnclor,
encc1rcerC\mento né\ delegocin como puni¡yi'lo por urn prRzo !irnitRdo. embora n~o tenclo direito a pns?,o especial, ele gozou je privílégios grc.r;:.é-15
aO seu 8p8rente slofltS socinl e nos presemes C]Ut' a f;,amília trRzÍa pora o
iv A~ ciecidrr sobr~ o tríilnmento a ser· dispensodo aos detentos, 3 polícié1 carcereiro. Os critérios legais de classificac;ao, impcsSC':?J~S e genéricos- m;1s
~le. ' 0 cldr o C]LIC o cnre1ter pu:1rtrvo cio encarcere1mento relRcionél-Se coma imprRticRveis- tra.nsforman1-se extrn-oftcialmente eni uma questao ética e
etJCi1 po~rClnl r\ legislcl((~O•penéll no Brasil recomenda a clé1ssificac;8o e él
personnliz(ldél.
se:JClr~~~o clos cle!~ntos Os dispos_itivos leg8Ís incluem. por exernplo, a
SC¡!i-1!c1r;:.no entl e del!nC]uentes pnmár1os e reincidentes e entre réus condené1- T o r t u r a e o n1 o P un i \ 2 o
d u 5 _e os qll e es (i'l o a gu él rel el nd o j u lg él men t o ; re e o men d él t a. m b é m a e1as si !1-
CR<;:no do~ presc;s e sua dístr~hui¡yao nas celas de acordo com 0 tipo do crirne Além do já discutido pnpel C]Ue desempenha ne: :;:écnica de invest igr.-
el~ que ~i1o -~CL!Séld os o u pelo quéll forarn con el e na dos. Ent retan t o, como c~o a t ort u rR é emprecracln t ?~mbém pela ooiícia doRio óe J aneiro como url'ié1
o~.or r_e, fr~quentemente ne1 lcgislRc;:ao brRsileira, eln pressupoe ac]uÍ condi-
) 1 ::::; ..

maneirR ele punir determin(ldos crimes ou indivijucs Analogamente ao


(.oes lOeétiS j)(ll·;:., su8 (\plic2.\jo, o qt1e na ¡¡r8tíca est?. longe de se. verificar ¡¡rocesso legal de "tipificRc;:8o" dos crimes e descri~2D das penalidades 2.
serem aplicéldas, R polícia rorula os "tipos" de crime·s e criminosos rn;:is
e- _ 1\ ~uperl.ou~r;:.8o ~r~nicél dos xélclrezes das delegncÍélS emule quolquer
provaveis de receberem punic;:~o por torlura ou mo;::te~ EssRs catego1 Íéls
ro ... srbiliC!élde oe él rIJOI!cia ob"'dece: • "~ esses det"'ll 1es, sen d o_ ·mtei!· 21m ente
_ . • ..... • • (1
criminélis n8o existem no Código ele Processo PE-:1al, mas sao usadas pelé:
llllpi·atic<:vel él sepélrnc;:Ro e11tre os pr~esos de élcordo com suRs CélteQoriéts políciR e pela rnídie1 parC\ designar os crimes e. os, ~ndivícluos que s~o
C.OI1lOéllern~oemodrficndc:¡¡arils"'ad"'nu"'rél're"'li·ci~de
• · n ·
• ..__ e c1
"', 1 1 Ll11 C( -él O )· ll d---:1C1
, f1 r. 1 ··a íl· é1 hnbitualmente considerados capRzes de comete-los. }s,s;o ocorre, por exem-
eJe 8 polrctr. '11 ;:1 r:ter ns pessoc.s detidas, il disposic;:ao do justicR- tornR-se plo, na punic;:8o de Cissaltantes, traficantes e estuprad0:res. Nesses cc,sos, é1
rj "ll''' el , f
~ '-, . . . n ~_erLc clo eticC\ po 1Cir"11 e ele seus cntérios ele vigilancia
• , • ]• •. • • ' '
tortura e C\ morte se justificam ele acordo co·:.l e:· ética polic1al, m?.s
trRnsgridem obviamr.nte él leg.tslac;ao brasileira, que n;;:¡¡o preve as penns ele
• ~..A P_olícia._ 8Chnndo impossível _cumprir os criléríos JegRiS, roe em
t'
torturo e de morte
¡~t o ::,e u P' opno sistema cie classifi célt;:ao TradicionRlment e, a pol ícia
(1,IC(l
'·,
C10 ,Rlo ~e -~ane:ro usa, por~ C'<emplo, R designnc;:ao paro tarefas de limpezél,
01 e conlw.crmento de lllll.\h["·;fíelll caciR celc. coletivn como líder dessa celél
í 18 - .A Policía do h1o de JaneiíC ..

A Pena de Morte e a Polícia

Conforme PínLeíro (1962) salientou, apesar de él lcgislél~ao penal


O CONCEITC· LEGAL DE PODER
brasileira nao prever a pena de morte, 2. Polícia Ivfilitar do Estado ele Sao
Paulo enfíentou e n·,atou, numa verdadein1 ac;:2u de guerra contra os DE POLÍC~IA E AS Pl:zÁTICAS
crirnincsos, de janeirc a novembro de 1980, 1 JO pessoas na Gr::mde Sao
REAIS DA POLÍCIA NO BRASIL
Pe1ulo. Segundo a imprensa, o grupamento especial da Polícia Militar de Sao
P(luio (ROTA) foi suspenso e trazido de volta as fun~oes de vígiHincía
Entretanto, depois di5rso, a ROTA matou, só em J985, 584 pessoas (Veja,
26 de marc;:o, 1986: 48).

Mas o pior de '.udo sao os "esquadroes da morte" que existem em


quase todos os estados brasileiros (para o "esquadrao da morte" do Estado Conceito ele Poder de Polícia:
de Sao Pau!o, por exemplo, ver Bicudo, 1977) No Estado doRio de Janeiro
O Poder Discricionário nas Atividades
eles sao chamados de· "Mao Branca". Muito comum também nesse estado
é a contratac;:ao de ;)oliciais ou ex-policiais para fornecer protec;:ao a Administrativas e Judiciárias
comerciantes contra os assaltantes, pr~ncipalmente na Baixada Fluminense,
uma regiao do Grande Rio. Esses grupos parapoliciais sao chamados de Em capítulos anteriores esbocei as práticas discricionárias da p.olícia
''polícia mineira". - da cidade doRio de Janeiro. Devo discutir Hgora como a teoría legal pode
explicar o exercício dos poderes discricionários pelo polício e também
No BrasjJ o exercício do poder de polícia em atividades punitivas - confrontar essa explicac;:ao com as práticas policiais observadas na realida-
incluindo execuc;:oes de marginais- recebe apoio público e notório de alguns de. A teoria legal brasileira explica as práticas policiais discricionárias
.setores do governo, da mídia e da populac;:ao. As práticas punitivas da dizendo que a polícia está exercendo o poder de polícia. Este poder é, assim,
polícia sao consideradas pela popuJa·r;ao e pela mídia como um mal 11
o conceito legal c¡ue interpreta e ieg!tíma as práticas discricionárias da
necessário", teoricam~nte urna justificada ac;:ao da polícia dirigida contra polícia. Contudo, um confronto acurado deste conceito com as pn1ticas
criminosos bem conllecidos que, por alguma razao, atraíram especial policiais reais demonstra que o con~eito legal é inadee]uado para explicar
. atenc;:ao do público ou_ escaparam da punic;:ao judicial. A legitima~ao social muitas das práticas tradícionais. Isso é válido nao só para quando a polícia
ostensiva e o apoio Icgal extra-oficial das atividades punitivas da polícia está exercendo as fun~6es administrativas t judiciárias que !he competem
confirmam a existencia de mais do que um due process of law para o iegalmente, mas também c¡uando a polícia está exercendo suas práticas
julgamento e punic;:ao de crimes e criminosos na sociedade brasileira. extra-oficia[s de arbitragem e punic;:ao.

O conceito legal de poder de polícia. nas atividades _judiciárias é


estruturado pelo sistemo judicial em su a definic;:ao de "inc¡uérito". Como já
vimos em capítulos anteriores, o Código de Processo Penal adota um
sistema de inc¡uérito duplo, ou seja, um inquerito policial, que é seguido por
inquérito judicial (instruc;:ao judicial). Essa praxe constituí urna parte crítica
:!;

•'
e pode111 Dor is~..;o corrigír a C]<léllC]LI~i momento osjulg<:me;:~c)s rolicic.is 1ssc>
inclu i, evi ciem ement e, 21 ''t ipiftcrl \:i'lo poli c·1al el os CT imes, ~)U se_icL a c1assi-
1'

fic8C(~CJ clé1s condu!c.s soci;;is de conformidrlde com a :1pologlrl cnrnma


pre vi R m e '1 t t• es t él be le e i d 8

Em conseqLiencic. dcssc sisten1a cie inquérito du¡;k', vé-se a rwlic::í\


diante cie um paradoxc ao <iplica¡ é\ leí. Por um lncio, os inq;,¡éritos po1icií:Ís
( ) j'''f)"())lf J . ' 1
· '~~e ,' ::nun /lll::.o e e !!Js/n;~x.1o, que lmpor!m'io 1/111 ¡_ - bern como u~, judicia1s- ciestím1m-se a esclarecer a ve;-J.t1de dos fatos,;¡
fur o /ll!i(, no on m;lr ndodc po/icio/ n jJrende¡· cl'iminosos. verd r\d e re;'li, e· J e.d ecend o est ri t nm ente ;w s p roceci iment os. ~egais Segui nd o
íf1'('J'f(T' "T/ • · . ¡· 1 . . ·.
, .. . ,..,rfc, ,¡ !JI!?(C!'!U ít ode (/(1\ C''"J!C''' C' 11/'lf.C'(T/' ( ,,.(' / ct trndic;.Ro dr\ 1"' romanc., o sistemajudici2l brRsileiro n~o cnncedeRojuizou
• . . . ·•" "' · L L., L/7//(JJ 70\
so(' ¡¡;·or;cm~e/ soh o condi\:c7o de que as c/¡sfáncicrs denf¡·o c./e~ 2 rolícin r.mrlr·s poderes ciiscricionários Ro nplicorem a¡~¡ Assin1, o que i:
.\!'1! 11'1' 1 '/(nr·¡cJ u'c 'lf' ·\.. /; ...:--) ·, .r· ·¡
• , . . · • . _ · .1 ·'·.u\ Lf( .'lCJGlli.JUC! e JC!jJ!clwnenfe sl!peui- f!Olicié1 deseo[ e tem de Sé'r fc1tOS )egnis. Descobrin.!o-os, B poiícia ten: de
1 u~. (E:\posic;:no ele l'\'lotJvos, Código ele Processo Pencll, IV) proceder de ac.·.)rdo coma leí Por exemplo, nos caso:> de e-rimes que exígem
RC(RD p{iblica (éiftRO penai compulsória), R polícía te¡t¡ de abrir um inquérito
Seg.ur.lcio estc. E:\~?si<;1o de J\1otivos, o sistema de duplo inc¡uérito, no
• tRo logo o fntc criminoso lhe chegue ao conhecimer:to. ?e1a lei elíí nao tem
1
CfLJé1. polJCié1 procede él l!lStruc?ío ¡Jrovisórin fo¡· o.scoll1.1do e 1ll
<'\ · - nenhum é1 rbí t r: J nesses cr.sos .
.. , :. . r , ''-'· OJ!OS!~"'80RO
.l~IIZ<lclo d.é tJlStruc;:~o (uma Jns'tituic;:~o judicial existente nR EuropR coJ~i,ner.-
tc~lj O _¡u:z¡¡do de Jnstruc2o é um sistema no Clllal clesd . . . . .. Por outr·.J lado, (i polícin usa poderes discrici-JniH·t;-GS, que lhe forc.m
. !·. . _ 1
eoJnJcJoeo¡u¡zq¡_¡e
,, ( • •

procec e (1 lnVeStlgClyoO dos 11lOS A. princí¡;a) razao da preferénCÍél.déld2 C10 concedidos em func;:?to rie seu porier de vigilfmcia. O exerc~c~o desses poderes
~~s~el~1rt.ci~ duplo lllCJuérito fci él enorme extens8o territorial cio Brét;il e ~l~i1 discricion~rÍOS Ímp!ÍCé! L111lé1 nexibilidade na Rplica~}ío cir~ lei. Ü poder de
~1rs,rJULJIC(nCI poplilé1C!Ollctl, r¡t;e torn;:¡va impossível é1 existencia d .. vigil2nciR é exr.rcido dr: confonllidade como julgam~ntc p~oiicial da condllté1
111 \'e S • '" , 1· · . e Lll1l Jll IZ
. .tlsr1llliO CClCl?t cnrne j)OJ todo 0 o-:1ís 0a'entro A, · · ·
¡, 1 •• ":;:, . . , . .. . n . dO t C1r O JU1Zct C1 O cJ e '
1
•• " • • ll ·
1Rtente" do Ínüivíduo, detem1ine1da por condit;:éSes so~iaís e culturais particu-
11

~r:S,¡ L\-CIU sJgniti,'2rJC1 CrJ<H do:s tipos de inc¡uerito crimino l. u m 'JRrR c.s lares. Nesses (':'.SOS o c¡•Je se 10fll(j impor1ante llRO sao· os f:;u~OS presentes, mns
CJ'lctcJec- e J · ¡ · · ~ ,
1 '~ ,; ·;1- . . ,LI~~,élcii~ e e ~.ns!ruc;:2o- e m;~ro par¡:¡ Rs ~re?.s rurais- o in.tluérito
J o futuro crinw Rl latente dns pessoas envolvidas nas sitt~~{.ües ilegais.
rJolrc~?.t E. 11, .)\.,.Q,,,¡cJo luQm· o 1nnuer:!o duplo t 1' )" · ·
• • ~ ~ n 1R em v1sta cr1nr um 8
' ,
1
)

opor,unJcl;.lde pm;:¡ rever él Rtuw-Ro d?.s R'rtor.ci ¡· · · el 1


POiiRnic, o sistema legal cria uma estn.1turR j~ldÍcLar em que a po1ici<1
.,. , (' CFrey?i_ .
l 11
. n Y ' , r Roes PO JCiélJS, . . élndo marn-erll l

:: .·.' , . ~. o el~ ~~18 .CJlier In trencJn emocional que lllttitas vezes envolv;um
" • A • • t..:, '
é surpreenciic.' · e m u m raradoxo: Ci atividRde policial é e r.:iito é definida como
U!ille (T.:..xpOS\Cé\~1 . ele J'vfo!Í\'()C:
. .. , Cr\r!¡'("' nr-> p¡·ocesso
, u 6 u ._, · • r e11 a[, I'·/') . ~.. cievenclo se ~j:·stRr aestn.1turR oficial, legal ejudiciai nfío--discriclonáría Em
suRs atribuir,.:[' ~s administrativas, a polícia precisa ~xe;-c.:er seu arbí;rio em
. _ . _A e;.:p!í~itc.. colo~élc;:8o do inquérito policiRl em posic;:ao inferior a do m8térin de ~- gurRn¡;:a pública, vigiando R popuia¡;;ao, a fim de evitM
lnL1Lie!!IO .Jllcl!Ciél. evJcienci?. uma vez maís a ideo)on- 1·') ¡,;,r·r · d ocorréncias C' iminosas~ em suéls atribui<;:oes jucliciais ai policía auxíiia o
. _.. . . 5 n ""' élJC]l.llCél 8.5
~~lct!JCélS prn~'esstJRr.s penRJS. Conquan!o acimitindo como legnl C1 existencia Judiciúio m1 ::-1vestiga¡;:8o de fatos criminosos reais. uscmtdo o arbitrio, mas
:le trlbunnls espec¡c¡¡sl' pélré1 pessons l'especiRísll o sisterll·~ T~~d· . . . - obedecendo ci spositivos Jeg<lis, a fim de tornar váLdas suas ay6es.
.. r · ' u .• !ClélíJO llélO e•

lllCCHpor-2\ OIICJC1lmente i1S 2livicléldes policínis como L~m~ de SLJas . . ~ .


p ' ,. f : •· • . 1n s 1 a ne 1R s
• • , -- •

:el~ c.O.lltrí1riCl, a ¡¡ol.!Ciél estél por definiyfiO sob LllllR suspeitc. estruturaJ e Em su:-.:- atividades admínistr?ttivas, políci1 pr~1:ísa agir segundo
2t
1n st 1t u e1o na l, dev 1d o é1 su él " j) r 0 x ¡m¡ dí1 de p · . 11
p . . .. , consequente compromet 1mento
. • ..... su?.s próprias c:1tegorias e regras- Rética policial; em su3Jsfuny6esjudiciais,
~rllOC!Onc.l ~Oill os cnmes O p¡·omotor e o juíz s~o mais fríos e mais rncionais 2 polícia precisa élgir de acorcio com as categorías jud~óais e com c. ici
i 22 - O Conceito Le~ al de Poder de Policia ... O Conceito Lega 1 de Poder de Polícia . í23

Cor:SCCJÜC~~ernente, el polícia precisa kr dois sistemas de categorías que Segundo Otitro autor, a polícia é o pode1 de polícia Este poder- um
estruturam e justiflca111 suas atividades. Resulta disso que a polícia está conceito originário da teoria lega! dos Estauos Unidos no século XIX,
atuando se~11pre num _contexto de ambigüidade, onde é sempre possível segundo o autor - pode ser caracterizado por auto-execur;ao, coerty~o,
cometer o erro de élp;icar o sistema "errndo" ele categorias em qualquer arbítrio e compromisso legal. Legalmente, o exercício cb poder de polícia
si:uc1¡yao concreta. nao pode jamais ser completamente vinculado (Costa, l CJ82: 20-28)

Por exernplo, a rnesrnél conduta soci2ll- urna briga a socos, digamos, É difícil entender o que Costa propoe aqLii Parece que, de é:1cordo com
nél qu al u m él das par! es. o u Rmbas, saiam feridas - pode ser codificada pela a teoria jurídica, a policía brasileira exerce atividéldes tanto legalmente
iei como cr::lle (lesoes corporais) e pelas pessoas envolvidas e pela poÍícia vinculadas como legalmente nao-vinculéldas Contudo, segundo a teoría
como n~o ~,endo crin1e, dado o contexto sociocultural em CJUe o fato jurídica brasileira e segundo a lei, o sistema judicial, por deflllir;ao, só
ocorreu. N u m tal sist er;_1a, a polícia n~o podia deixar de estar sob permanente reprime condutas reais que tenham sido previamente tipificadas pela leí
suspeir;~o (; .. n~o desc,obrir a verdade ou de aplicar mal a lei. como crimes. A atividade judicial da polícia deve assim ser exercida sobre
a conduta real e ficar limitada a esclarecer fatos que sao definidos (ti piflcados)
A apl:car;ao do poder díscricionário em situa~oes concretas era como crimes pela lei. A atividade administrativa da polícia deve, porém,
defendida pelos policiaís como representando o legítimo exercício do poder "prevenir" o crime e como tal ser exercida a través de conjecturas a respeito
de polícia. Este é vis~ o pelos policiais como u m dos trar;os distintivos da conduta social dos indivíduos
essenciais d2 sua ati\idac;Je, relativamente a outros agentes executivos
judiciais responsáveis pelo cumprimento das leis. Ao exercerem este poder, Neste sistema, o Judiciário é a autoridade final no esclarecimento dos
segundo o d ~legado: fatos e no estabelecimento da verdad e legal. Confom1e Olive1ra (1982) obse¡va,
de acordo com os juristas brasileiros, soment e p juiz julga e pune, sen do essas
(..)as antm·idodes policiais avaliam O! fatos e agem de fi.mr;oes "repressivas" exclusivas do poder Judiciário (Cretella Junior, 1977, e
COJ?[C.'.;nidade com esta ava!iar;ao. A au/oridade policial tem Noronha, 1982). A polícia nao tem, portanto, C]Ualquer poder jurisdicional
fiherr!:·de de ar;fiD, O juiz nao. (competencia). As fl.myoes administrativas e judiciárias nao sao sequer exercidas
em 'jurisdiyoes", pois os distritos policiais sao chamados oflcialrnente de
As aG:: nar;oes de informante encontram ap~io, pC1.rece, na teoria legal
. ;
11
circunscrir;oesu As circunscrir;oes policiais sao as áreas sobre as CJLiais cada
brasileira, CjL -~define o. poder de polícia como: delegacia ou divisao especializada tem poder para atuar. A competencia
administrativa da polícia restringe-se as áreas específicas sobre as quais el a pode 1 t

poder c;·~jo exercício é necessário para fornecer as


( l atuar. A competencia judiciária da polícia depende do Judiciário. 1 ¡
cm~c.it:;:íes requeridas para a momrtenr;ao da ordem, saúde e
mora!:. 1ade púb/ícas. É o poder de vigilancia, consfifuído Em conseqüencia do sistema de inquérito duplo, estabelece-se ums
peíos-' ecanismc';s restritivos usados pela administrar;ao pú- permanente cornpetir;ao entre a polícia e o Judiciário no tocante ao esclare-
blico p: Ta manle~· o betn-estar social, evitando atividades que cimento dos fatos. A polícia, sob constante suspeita do Judiciário, píecisa
perfil!! ::m o u_ ameacem perturbar os interesses gerais da justificar seu inquérito preliminar e temporário para que o mesmo se transfor- 1~

colefi¡;¡Jade. E 1m1a infe!pretm;:éio teórica que implica poderes me em autos judiciais definitivos. Nessa atuayao a polícia COntamina" sua
11

discric;:Jnários na administrar;ao pública. O alcance do poder atividade judiciária com sua atividade administrativa: a polícia precisa ser
de poíícia é 11111i1o largo e incluí modelos policiais diversos. capaz de transfonnar suas suposiy6es em fatos. Como el a sempre pode falhar
(MagaiUies e Tostes, sem data: 678). nesse intento, segundo os critérios judiciais, há sempre a possibilidade de ser 1:

. 1
O Conceíto Lega: de Pocie: oc ~olicia

t:
"' í1C\t5iiclil de clc::mnéir o:; i"':1tos péiííl poder comprcvc~: suc1s teorías Ela este1
rnnis ceoc o _iuiz recebesse os t-iutos, mais cedo order,;:;-Í<i a 1iberlC1C,:~Cl ck se:·,:
:;crnpre <llllC<l\:;<L\ ele Lltni1 "corngenclá'' _¡uciici2tria bil seu _¡ulgamento cic1s
cunhé1CÍO_ Sob esse rv-e1eXlCJ, CIJereceu-se pare; ir (1() 1nstquto cie Crirr1111(t\í:;;¡;_·,;:
f<ltcls Ccmf(ln:lc tlil-. cscT1v~1o me disse, come que clei'enclcnclo e1 políci;1
apanhar o reln[óric; CJl!e ciescrevia os barris funélclos (resfiu·fn'n) hli-it!(·
!i e )J ngn\_·(70 (!o ¡w 1!un L> sen' ir 1t m 'j)JD rnfe i 1o" no ;u i::. concedic:?. autorizcH;2c, e elt:. compareceu ;w 1r!s1i:~:w, ll18S ;w invc"s c!c
e In _!ro cosso, ti'ln m e no.\ 1en 1o u l . so 1i e i t <1 í e re 1nt ó r i o s C! b re os h <1 :Ti s fl_ ni a dos pe lo e u n ha d o , pe e! i L: e; r (: lil i e) : : e:
sobre o barril vazio !::nado pelo mendigo LevO\l-CJ?: clelegaci<l. incl\iÍ~:~;
,:\ :;uspei o Cllle o J¡¡c]iciúio nutre pela ¡;olícié~ 18.0 é sem conseqCJén- nos m:tc;:: e levml-CS é10 irilHJna!
CI ;:_e; !\ ¡10 lí ci (\e ~st LW 1;1 cli zer que ~)S rllit os pol iciais si'io, ·m arremedo dos autos
Nc_iulgamento, baseacio no relatório do Instituto cie CrimÍllrilísli(~<', ;1
.ilJcirciC11S O mol ;vn desse rcssentimento é C]Ue todas as descobertas feitRs pela
juiz ckc!diu que, cievido ~ Jnsigniíicáncia do ohieto roubacio- um br1r:::
poiíciCl ¡;recisZlll~ ser r·epet ;ciéis cli;mt e do juiz pa12. se Tomar prov2s dos autos.
vazio --e réu devin receber rerc!aojudiciai. A conciusao de JTJell infomlém(e
Isso é visto rlmÍ~Jcie cotllO Llll1él cié1r(1 clemonstrnc;:ao ele C]Ue o sistemajuclicial
era de c¡ue no tribun<d nem o juiz nem o promotc:r tinham lid o o processo
Stlhe:;titllil- OLI 'i1esrno clesconfiél- cle1 execuc;:8o do iri':uérito policial.
Se tivessern, teriam percebiclu é\ trocados reléltórios, pois os nutos poi1ciats
Jv!:1s <1 poiícicl <1rgumentc:l ClLJe suas R<;:6es ''ilegaisll devem-se a deslei- mencio:1c:.vam clélramente o furto ele dois barris ch~.:ios P(lré1 conclllir, e! e me
:\OS clo s1stem2 :udicir1l Segundo um escriv~o da poiicia: cont o u que o funcioná rio civi 1 cio Ministério do Exé!·cit o i;; pro va vcl m en (e
requereí sua readmissao ao servic;:o público, ao p2sso C)lle o mencligc',
(. ) a po!JciU tlesempenha lodos os funr;Des judiciais, possivelmente, seria condemtdo pelo roubo dos 1.-JarTis cheíos
aluondo como jui::. e romhc.'m como promotor. _\das as mflori-
dodes ¡H;!iciois n/ic sáo ou1•idas na hora das punic;oes. A Es1e episódio é impon ante como exemplo decomo él polícÍR re;Jrcst~:~: rl
poi ício.fá:: ludo n !roho/ho, e;!frenla os assoltanles, mTiscn se u reiRcionament o como sistemc-1judicial. Os policía: S afi:n1am fi·eC]iJ ent emer1t e
suo.\ \'idos e e m cinco minutos o jl!i:: obsoh·(' o criminoso -
A policía prende, o juiz so/ter Como se ;;nde cu/¡){rr n
/1/,'t//os \'C'ZL!S SÓ JIOU(Ifl.: C Omigo do ad\'Ogadn 0/fll"ClS VC!ZCS
polfcio de IOJJJar, OS \'C'.ZC!S, a jl!Sfl~·a C!JJJ Slli/S p;·óprios JJ.I(fOS')
jlOUji!C Si(ji!C!' CJ7L',í.!,( 1 i/ O /erOS nllfOS ....

Como se torna claro a pRrtir das def!nic;:oe5 ameriores (Mngnlh?ies e_


P<1r2, i!us:ror esta ac:Js21c;:Eio, o esCíivao cor.i,, .. -me um CélSO Dois
Tostes, sem delta, e Costa, l 082), o poder de pohci~ se justifica princi¡"J<1!
homens, um deles funcion~rio civil do 1vfínistério d.) Exército, estavam
mente na medida da necesside1de de usar meios dí5cricionúios nél 111anul cn-
retinmcio clandestinRmentc ele lllll depósito do Exe: ~ ito barris cheíos de
c;:ao da ordem pública Contudo, esta jusrific~·riva ni'io resiste a umr-:
ó le o e Jo r él m p ' es o 5; e m fh g r R n l e e i nel i e í a d o s por f~- rt o pela p o líe i a. N a
compara¡yao mais acurada entre <1 condtltél real da '"'Jo!íci?. e as atívidc-1des Clllc
mesmz¡ s::mél n<l -:~ coronei comrmdR nt e do depósito iT!:: 1dou a del eQRcia u m
!he sao f1ermitidas p8r leí '
m en digo Clt 1e f ora su r p re e.n d iel u fu rl Rn do u m bar r i. v Rz i o do ; á t jo d D
depósito A polície1 nao c¡uis registrc1r C\ ocorrencie1, "'"so coronel ínsístiu,
A observac;ao e c. descric;ao da conduta policial demonsrram que o
e R pohciR obriL: un1 inCluéJito contrél o mendigo.
poder de polícia é posto em ¡xática de acordo com Lm conjunto de regr?.s que
se mantém em constante tens~o e muitas vezes err flagrante oposic;:8o ~ Jci
O funcior;úio pt'tblico C]LJe fora rreso tinha um c~;nhado na polícia do
Rio. Este policicll procurou Z1 clelegélcÍ8 para pedir 8liL:rtac;:ao do cunhRdo,
Muito menos a condt:ta real da polícia pode ser exp;icacia pelo conceito legal
no C]Ue n~o foi ntenciido pelo fato de o ÍnC]uérito j8 ter sic1 o élberto. Ele pedíu, de poder de polícia_ Tornou-se evidente durante meu trabalho de carnoo (]L1e
o poder de polícia estava senclo exercído em ativic!ades de rotina ClLI~ er~m
ent~o, Ros cole~Rs C]t.Je npre.ssassem o andamento do processo, pois quanto
L:i· para ser eretuadas em estrita obediencia alei cativiclares vinculadas) E:ra o 0 ue
li·
i 26 - O Conceito Lega! de Poder de ?olicia ..
o Conceito Legal de Poder de Policicl ... 127

ocorTia, por exemplc,, quando a políciR executcwa ou registrava atividades muifo lempo depois de os fofos oconcrem. Se ele erra, o
solicitadas ou ordenadas pelo sistema judicial (inter;ogatório de suspeitos, de tri huna! corrige. Se a poi ícia erra, os Jntos se evopormn, nada
indiciados ou de testemunhas), ou registrava autos de flagrante. O poder de restará para o juizfazer.
policía era também e)\.ercido ilegalmente em funr;oe:\-~ meramente administra-
tivas, como no exemp)o já mencionado em que rou 1:os de documentos erarn E Rcrescentou, meio sério, meío zombeteiro:
registrados como perr:las casuais. No exercício de atividades judiciárias que
sao legalmente vinculadas, a polícia usava critérios Rplicáveis a atividades de Ojuiz, vocé sabe, ojuiz está muifo acima de r:r~o,
o juiz
vigilancia, legalmente nao-vinculadas. 1~ está pairando /á no céu. A polício é d~ferenre, a pol1cw re m os
pés no clu1o.
Além dessas p; áticas discrícionárias exercidas no desempenho de
funr;oes legais judiciárías e administrativas, é1 polícia exercia algumas outras
atividades em flagranre desobediencia 2 lei. O conceito jurídico de poder de 1i Em consec¡üencia dessas diferentes posic;:oes em rcla~ao a o~· f~tos ~a
ocorrencia criminal, espera-se oficialmente c¡ue a perspect1va po.1c1.al s.eJ.a
. :E
polícia é definitivame.nte inadequado para explicar as práticas policiais de diferente da perspectiva judicial. Portanto, a o exercer su as func;oes JUdici-
arbitragem e de punic;~ao.
ais, a policía é solicitada a traduzir seu conhecím.ento d?s ~a~os em um~
linguagem que possa ser tida como aceitável pelo SlstemaJud!c!al formal. E
a linguagem dos indícios e das provas.
Usos e Si gni fi e a uos t1 as P r á ti e as A r bit r a i s
Essa operar;ao nao é, entretanto, merament~ lingüístic~ .. ~ L~ma
·e Punitivas da Polícia operaQao entre dois sistemas de classificar;ao, a do sistema de vigllaDCia e
r
da Cidade doRio de Janeiro a do sistema judicial. A trRduryao tem de levarem con:a t~~bém e¡ u~ r:a.o está
1 sendo efetuada entre níveis equivalentes do sistemajudtcml. Os cntenos da
~
As práticas arbifrais e punitivas da polícia estavam claramente relaci- vigilancia sao oficialmente definidos ~om~ ~xclusiv?s da polícia. _Eles s~o
onadas com suas fun\;oes de vigilancia. Para exercer a vigilancia a polícia responsáveis pelo nível inferior que o mqueílto pol1ctal ocupa na h1erarqU1a
1 do sistema judicial.
precisa estar em estreiio contato coma populac;:ao vigiada. Por isso ela tem
urna percepyao muito· íntima do ambiente social. Esta proximidade social f
torna-se responsável pela distinr;ao entre a ética policial e o sistema judicial
¡ A feitura dessa traduc;ao origina alguns problemas práticos para a
F polícia. Conforme já mencionei, a atividade de vi?il~ncia implica~ ~so de
de julgamento. Confo.rme já referi, a Exposir;ao de Motivos do Código de f:
Processo Penal esclarece que esse íntimo envolvimento com o crime pode r critérios policiais para fazer a seler;ao entre os cnmmosos pot~nc1a1s e os
r
cidadaos potencialmente cumpridores da leí. Há urna expectatlVR ger~al de
ser responsável por erros emocionais de avaliar;8o cometidos pela polícia, i
o que a faz correr o risco de precisar ser corrigida mais tarde pelo Judiciário. r
¡,
que, no decorrer de suas atividades de vigilancia, 2 polícia ~revm_a a
;
;,
criminalidade e, mesmo, que na execur;ao das tarefas que nao S~Jam
A polícia está consciente de que seu papel é diferente no sistema. legalmente vinculadas, prenda crírnínosos potenciais. Em conseqlienc1~ da
Como um delegado l"P;~ disse: vigilancia, a polícia e a popular;ao vigiada- particularment.e as classes ba1xas
- nao desenvolvem um relacionamento de confianr;a rec1proca.
A polícia precisa agir enq_uanfo os jatos es/ao ainda
quentes. l'il'os. Se a polícia nao age, osjatos s(.~mem. Ojuiz está Ao efetuar um inquérito, Rpolícia transforma muitas vezes testemunhas
longe dos fatos. Ele vai atuar sobre os autos, sobre papéis, em suspeítos. Uma audiencia pode converter-se em interrogatório. Temerosa !:

t:
''IC.
U Cur1ceito l ega: eJE: ?oc! ~í dt: ~'o\ir.12. ..

. . . p Cl \',
ll ;-o D r 12,
·,,
I': ''\ll''lél''
1! ~ 1
1( 1 , l ' ,
C\ lente C111C a ética püÍlCif11 nao cit:uenck
• '' " • . _
d::: ¡¡cJ:,lCIJO'(:s c:IJt;;¡¡él\~ns cn111 <:1 políclrl, e\ popLii<-1<;?,c: n~ll
(l.
coopeíi::1 voluntariét- J

~ss~nciai.¡ne:.:e ele clisposÍt1vos kgclÍS,jR c¡ue suc. clefJnít;2o t: élpllc;1~:zlc :·,~;u;,


m;~llk !W i:íclllé:ill ílCJiiu:d .\ ¡;clilc::;l e1Kontr;1 ent~n ciiflCtlldi:cie de nrocluzir
• J : ) ' J ~

soh exclus1vr-, responsabiiJci<Hk clé\ polícia.


il1 cl1 e i e' s \' (¡ í 1ele) s p ;.: ;: u se 1 e\ t ' i ¡ i bm1 al /\ p o 1í e i él é e o m p el i e! él é\ v nle r- se el a s

l:Clllfis\(:c:; Jlíli·a ckscill!lCllhc-u ~illí\ lllll~2o judicial /\o chegclrcill o~ mdícios


JlC'iic:ié~J:; ;¡n ::ibun;-t, i:!clLlS!VC ;: c:onfiss~c, pociem ser contes\cldos pelc1 réu, pele
;¡civo!I<Jclo ci(; cl~:resc: e ;:te pele; prÓpíÍCl promotor A polícic-1 é acusach1 ele ob1er
:.e~::: lll:lícíc( llCl: : '~roc1o~~ ile!--;:l!S. principalmente tortl.li-él física

L·>n f't:ny~o c1ess<1 cliscrepAncic! erlt re o r¡ue a polícirl sobe e o C]Lle eli1 ¡;ocle
¡·qov;F ¡:JciJcÍéllme¡;:e, notó:·ios crimir;osos s2\o nbsolvidos pelo s!sterndJUclici-
;-¡] Scl1ciu oflCI:llnl~'.ntc encclrTt'gndn do exercícío ri115 func;:oes de vigil~ncia, a
¡•c,iícv \'[11 se ciclrc':ltélr novRmc:1tc cu:r: esses marginnis Pode, entfto, pr-endé-
los, ton\lr~.-los e iKétbrH mRtílilclo-os .-\o fazer isso, r. polície1 élge contra a lei, t!o morro, 0 caro mofa por causa de :'!171 porco. Mas o
e os ¡¡c¡iicinis podem ser levaclos ;-ws tribunais e acRbnr condeníidos porco 7100 e () n:ofivo principal da hriga. l]ll~ ~:corre e q~e o
/á a c:ora nño pode /e\'Crr unw hojetadn em pubnco, C'le JWO
A policía justificn su as (;~:6es ílegnis alegémdo Cllle este\ convencida de pode .~:mp!esmeufe ir poro cosa opós un~a ogressa~J como esw.
C]tiC iwssLJi o conhecimenlo "¡-ectl'' dos f;-Hos. Ela llestava ali" . l\lluitas vezes A comunidade exige dele umo olitude. E con;o se :+wln·esse um
ccmfessn Cl u e est2 "f?tzenrlo j ust iy;:¡ com 2s própri2s m~ os". No contexto cJ e autoi:lan/e mne!cinndo o conduta das pessoc;.)·_ Se me drlo 1mw
meu tr<Ü1z1lhu ele campo isso signific2 hc1bituRhl1ente C]LIC em cenos casos a bofetada perro da minha caso, ninguem )'ai sabe!-. Mas se e_u
políci;¡ est(lVfl firmemente decidicict 2 nplicar sua étícR de juigar e punir os ,!i\•essc 710 mof'ro efosse ngredido na tem~l!ll!o, rodo mundo 1n
(]CUSilclos, í1CI invés de cieix8r essa tar-efR para o sistem?t judicial, como manda snhe.'·. ¡~ 711170 ques!c1o (le mrtoridade. As 'd!.:::es eles niio s~·
a legisl<H;~o hr2,sileira É comum R policiajustif1car os julgarnentos" (<~dJitrR­ 11
¡•iJJf!<'~··J pessoa/menfe. /.c.,·so é comum aconte~;er com comerCI-
gens) C]lle f2,? ~.legando que eles SRO meihores do Cjlle OS feÍtOS pelo JuoÍcÍárlO, ante:· Eles con:.'-afam um nwtndor profi.<·sio;wf. que nodo ten:
j~ que el21 ntu?t _iunt o Ro mundo e\ o cnme e te m a percepc;~o da ''realidade" dos 0 pe:· .. er, para 11
WfC7l' O ngressor.Jvfas eles té:·n ,defazer ÍSSO, se
Ültc;s Port~:1to, o C1Ue torna o .Tucliciário desconfiado dos "julgnmenros" dn é (j.'ii. :iesejmn continuar ,,¡,•endo ah. ,
polícií! é justamerlte RC]uilo q~:e, do ponto de vist?t policiol, legitimn suas
suposíc;:oes e os :esultodos ele suRs investígCJc;oes. A polícia eCluipora seu A nc: r.ia admite Cllle esses códigos sejam cbedecidos por todas t1S
conhecimcnío especiolizéldo 2\ sun ICie!ltidocle peculiar no sistema judiciol cm118 das·d,, populcH;:~o b;·asileiré1 as C]Uais se ap 1:icam as pr?ltícas policiais de
11
julgamen: _ '' e punic;8.o
Os uitérios policictis ele 'julge1mento" e punic;Eío constítuem renlmen-
te uma ética, um 'código de honra'!; 8 C]Ue todos os policiais sao forc;:ados .A nc:. cía estn.1tura e JUstif¡ca suas represem.ayoes clessas diferenc;:as
o obedecer e a f2~zer obedecer Ro. lidarem com criminosos .T á ilustrei os culturais' r.! ~ssificando os diferentes códigos cult·Jrais: em um arcabouc;o
mecClnismos ele c¡c]esao a estR éticél C\O discutir, no coso do inCluérito, o uso hierárCluicc Seu conceito da diversidad e cultural :ajust~-se a um esquernc.
policinl dn iortu~?.. Já discutí como esta ética confere a políc1a uma uniline8r dt- evolu~RO cultural Como o delegado :11e d1sse:
idcntidade célr8cerística em rele1c;Eío R outros gn_¡pos sociaís em geral e
( .. ) a evo/!f(;élo do lei ''cm junto c?.m a evolur;lio c~a
dentro do sistema judicial em pariicular; j{l demonstrei ClUe diferentes
Jnrmnnidade. lvfas e:-,·se processo nfio é unU:Jrme mr homoge-
·versocs de~te1 ética identifica:n gn1pos que competem entre si dentro da
·é 30 - O Conceilo Lec :Ji de Poder de Poiícia _
O Conceito Legal de Poder de Polícia __ _

JJe:J. No infel'io/- do país, por excmplo, pode ha)l(!F menos experiL1cia "real'' da heterogeneidade cultural da popuiar;:ao nas exigencias
C! :- nes, m os stiofi·eqiicnfemenfe mois bárbarCls. O frodicionol formais e genéricas do sistema judici2tl e legal, a políciél reage usando
uso de armas broncas (facas, efe.) el idencio o estado menos
1
ostensivamente seus próprios ju lgament os sobre essas d iferenr;:as cul turais,
c!k /izado dessas pessoas. Q11ando e las m!gram para o cidade, ist o é, os mesmos fa tos sao diferentemente .ínt erpretad os e m consonancia
!eJ'Cilll se11 frod!ciona! atraso e s1ws onnos.
com o ambiente cultural das pessoas envolvidéls_ Portanto, a identidad e
policial confirma a diferencíar;:ao hi erár(lu !ca característica do sist e mél
Segundo esse delegado, a passagel1l do tempo tem provocado urna Judicial, qualificando su a identidade como diferente- po:ianto, complemen-
evolw;:~o, uma ''civilízadío da criminalidcn1c_ De acOI-do corn ele, os crimi-
11

tRr e nao competitiv2- em rel8r;:ao ao judiciárío_


nosos er~::-¡ menos civilizados no passado do que no presente_ Por exemplo,
cics usavc;:11 nava!ha par:a cometer seus uimes e nas Jutas entre si_ Segundo A ideología policial nao é, entretanto, um fenomeno isolado na
o deiegRdc, R navalhél é um instrumento "b~rbaro'', pois nao somente fere e sociedade brasileira. Pelo contrário, ela é solidamente relacionada a inter-
pretar;:oes similares concernentes adíversidade cultural brasileira encontra-
mata, mas ~roduz ferimcntos e cicatrizes horriveis. O revólver e a pistola sao
muito ma;_: civilizados_ Ele garantiu que quem sai de casa com urna navalha da em outras áreas da sociedade. De fato, representar;:oes evolucionistas e
elitistas da cultura brasileira sao tradicionais na ideología jurídica vigente no
no bolso t:: tá pensando em cometer um crime, em ferir gravemente alguém a
Brasil e repercutem profundamente em sua estrutura social.
qualquer momento_ QLwndo comentei que o revólver era mais eficiente para
mntar do que a navalha, ~le concordou, mas reafirmou sua opiniao a respeito Por exemplo, conforme já mencionei, o principal argumento para a
do cunho ~: 1enos civilizado da naval ha. Parél ele, qualquer uso de arma branca reforma processual pela qua! os juízes e a polícia substituíram o si·stema de
correspondía a um estágio mais primitivo da civilizayao_ júri no século XIX foi o de que a maior parie da popular;:ao brasileira era
11
Íncivilizada" e "atrasada" . As elites polí licas e judiciárias atribuiam o
O raciocínio segu~:do pela polícia na escolha da rnaneira de agir dí ante fracasso do sistema dejúri no Brasil nao aos aspectos formais da instítuir;:ao
de um crime concreto depende desse arcabouyo evolutivo_ Tal ideología é legal, mas ao 11 atraso culturalll da sociedade brasileira. Dizia-se que o
responsáv<~ pela classific;ayao dos fatos de acordo cotn o grau atribuído pela sistema de júri era muit o "avanr;:ad o" para a maior parie da populac;ao
polícia ac; - 6digo cultural dos panicipantes da ocorrentia_ É por isso que brasileira (Flory, 1982)_ Evidentemente, o sistema nao era avanr;:ado demaís
um?t troca ~~socas no mprr~ é classificada de agressao, sujeita a "julgamen- para as elites que se consideravam situadas em um nível cultural muito mais
1o" e pun!r:_;:) pela polícia. Urna troca de socas numa área rica da cidade pode elevado do que o resto da popula9ao. -
ser urna le3;.o corporal, caso para o juiz e o sistema judicial resolverem, em Para citar mais um exemplo, no final do século XIX urna famosa
concordanc a com o qu~~ a polícia considera como padrao cultural "mais proposta de reforma penal estabelecia diferentes graus de responsabílidade
civilizado" ,,as classes altas da sociedade brasileira_ criminal para os diversos segmentos da popular;:ao Ela detenninava,
basicamente, que deveriam ser aplicados diferentes códigos pCilais confor-
A e Jeriencia pqlicial é classificada como suspeita pelo sistema me a origem racial de cada criminoso. Pessoas que tivessem pele negra
judicial, ce;; o nao-defini,:iva_ Contudo, el a representa a base da identidad e seriam equiparadas, em termos de dcsenvolvimento psicológico e intelec-
policiilL A ;-olícía considera que suas representay6es do significado das tual, a crianya de pele branca_ Segundo o autor, nao era justo submeter
diferenyas e: J!turais no seio da populayao que está sob su a vigilancia sao a pessoas de diferentes origens "raciais" - indicadas pela cor da pele - aos
conseqüenc; t de urna "experiencia" policial particular. A polícia encara suas rnesmos padroes de responsabilidade criminal (Rodrigues, 1957).
representa~,~ es como um ponto de vista muito próprio e, conseqüentemen- !_,

l e, sen te-se " única respnnsável por el as_ Quando incapaz de traduzir su a Algurnas dessas idéias tiveram sua origem nos fins do século XIX
grac;as a "antropología física" brasileira e vigoram ainda hoje entre os :.1

; ~~
--------- ----------~-- -----~~- -----
e Cunceilü Lega: dfo 1·\_; .1eí Cle ~'oiicia ----
¡trr i :;:; i:r ;1siiei' e;:-;, espec:;¡i;r:~:;·¡¡ e· es¡Jccializar?.m C11J mec!i-
itC]tlcles r¡t1e se ---- -------------~-------·---

ci¡;;¡ k~'éti
~ i\!tii,!llleilte ~ i1 u:·iot'll !ilCJ?i cl?.s
~ cJ·irer·erlr''JS
y ( ~...
c·Lrt. 1trr-,;s 'tJr''s;ler·,.,,s 10, ;m él 1·1se.; 1· de U11 h;¡ d <~ lll en k rn it· I-1e·t r·,.n pe,1ct" C] tl e.
;¡ ·· e··. M,. r1 v ,') :::oo wl,>'() de
1 :_;:; <:
~
l ' (¡ ¡ . ._ ' (l.' 1 l ( l ..

n:i( e :it(; ·;o!tcLl:lleilie :qJC~¡;;ci;: pci:1 ideolog1ajurídi~R, como era no séc~Jio


'- ..._; ' ' t • • .1

l.,
''
¡ t V ( ¡ .,!l ,J( () .cf,¡f/(\S(l('l(\
''()''T'{)['J(';')I'''¡ )¡l ! · ' .._ '- -'
' '
1
CCC.OilO!ll!CO ClO e \(~JltCc:·l S~,.,, .11\L.n
. 1 ·]' •• :·:ni c\r-
) "' '0'11
·'-'
''evo\
'

SL\. Co:llllcio. cle1 é amdél íi!ZO?.\·elmenle acci121, como demonstr;:clo pele. cuu;¡;¡;
'it - 1" ,,_~,. nS ,...·I·!Cll'"'' S;¡') clr1ssiflcé1dOS
l'-',.(1\ •••. , . COJT10 "incÍvilizéldOs" OU per1eJ1CC:llC:~.

rccdi~:;1n c1o liv;:Jj~ mencro!J?iclu de NinR Rodrigue~ l ' . ', " r¡t
(lO C Ollllll!O Oc\ fin L 1"' ·" , ' ' r ¡··¡.·?'J n 'lClvow¡c\o
:::::e a]Cf!él
-~ C¡UC O c]Íe!lle 11~0 Sélli\(1
11
_ (\ C::.'.:
eslnva ;-,.7en' 1'0 nc".Cl"" eif' é um r1nlll\a
1 Jr1L. , ' 1 e \e nao
1 ,,·- ¡en> ('dl lt u r'1', 'lé1C' ')')"''
1
,.,. 1 . . ,.~
· , 1 '

Ncl rncf;lcic: e!;¡ eciic~c ele. l CJS7 ele /}) !'0\,'CTS hit!IIC!!IOS, ele Nina entender 0 conduta "civiiiznci;\' e os cóciigos legélÍS, ek n;:\o pode se¡
~ ~2 ti e:- . C'
J ( )e: r 1 e ;1 ; e d r á1 i e o el e r11 e clt e i r1él leg n i ci a f?. e t Ji ci él d e d e M e el i e i n él e el a \..._ j • ! n r·1·1· I'li m1] rr,ent t: !CS'¡!OllSR ve\ pe \os seus al C:S
C r 1¡·, S' rJ' <,r-'J(i 'J
1,. \.._,' ( 1 J "-~ 1 1

F n cct id il de cic:: [ ) ir ei t o d él Un 1ver si ci él el e el a B ah i a e t él m b é m el i re t o r do 1\\éili cJlSSO, OSjlli' · ('1'' .. n8o


COi'\~Clrrne¡é1
. ' ,01
e - 1
f . CliSCL!(lCJO,
,.
COJllÍclCr'F''
_' " '~· ~
' · " n:¡{l . :

TnslitLrlo Nin;1 FodrigLJes (rr:strlutc: de criminalistic;:¡ do Este1do da Be1hia) é1 VIO. \c~r.,C.l'


' (\ r1S'.C'1 t" r·onse(jtl"'l:emente n crimin::;1iclc\de VIC)]enta- Seii:!li
¡,,' ( - .... ''· ',.L.' ' '

re¿Jf~rmél <
1
iese de Nina fZot'irigues sobre rl "criminc:did[lde diferente" das unifor 1 ~ 1 emente pré1ticéidas em toclas nS e 1asses soclniS · t.H?..s 1lerré\s . - Eu most:ei .. ,

el 1 \· t' 1 s il s r 21 \: n s , e ll1 f'u n ~ i'l o ci e g r a. u cJ e ci es e nv o lv imen t o int e 1e e tu éll e m oral:


11
q tl e 2 1e· 11- -no "n··c\'<-;
1, : - ~.. ," • , ¡;c•r·
1
, , ''C'"s"o1.
..... ) , 1i1 1 te n~o non~ m!erfer!r en1 c?tsos ele 1 ...... .::: • , • • • •

V j O ¡en e i él fí S j e?, e m b r j g él S de f élll 1Í] i a. E S S e S C él S O S S;:; · l re S O] V l el O S ]! e] [\ 1: O.] _r Cl ;¡

l 'c;o-.'>'c o c/nndnde e finne ::n des/a concluscro dns prime iras corn a Cllll1p1iciciacle cias pníles ou tornam-se urn ¡;:-Jblema qu~ o .h~dJCiéirlo
1
¡ áginos (do /11 'ID de" N in o JCodJ'i¿;ue.s), nssim 1·nliosn hojc, -
ní1otemme1os · de reS'Jlvp·· ........ 1 E, 0 C'1SO '· ,~oor exem¡;lo
, • do ex-mnndo CILI1l1enio •

quon!o Ollír.'Jll.' (..)A crrdnfose do c1•o/u~·áo socio! de 11111 j)0\'0, Oll 03 mlllher c¡ue nRo c¡ueriél c¡ue seu ex-namor(lch fosse parRa cnde!é!
e uiJllin me/hm. o codofnsc dr.' er~oluy'clo dn hummndade, se
cnm,no rmn l'O~'os 011 rrnpologicmn e111 e dist in! as, corre.\¡Hmdc Nos exemplos que dei no cc.pítulo referentt as ~rá:íc:-s. policiais de
111/JU C!'!l7l!Jin/idode puíprin, em lwrmonia e de ncm·do como nrhitragem e puniy;:\o, ficou evidenciodo c¡ue a idfo_log1a Jtlr!dtc,a presume
S.7Dif de se'/ dcscm·oll·imcnto intr.;/eclua/ e mmD!. (Rodrigues, c¡ue rnembros dC\s closses boixas brasi!eirRs .co~uflrc~m-se habltu~h:~nt,e
] 957 7-8) r¡f·r"\i¿S d"ce violencia física para ]Jc¡Uiclé!r o!sputas ou 1 es""
en.rt . e S', n. (l ..., , ,.ver

conflitos. PRra enfrentar esse tipo de conduta, é1 ¡:olícia Rpli~él um co01go


Deve-se acentuélr ~ue o autor clo prefAcio nao é somente professor pelo c¡ual a violenci~1 física substituí a violencia noralll clo Julgamerno e
el e m e d íe in él le g <: ¡ nas Fne ul d ades de D i re i: o e de M e d i e ina, m C\ s t 2 mb ém punÍt;:RO .JUOÍCI8ÍS
cliretor cio instituto de crírninc1listicé1 do estado. Como tcll ele se encontra em
umn posiy?io ele é:utoridarle en1 relny~o élO sistemc.judí:::ínl, '
íntluenciémdo as De fato, é interessé1nte no:ar que trodicion,•·mente ~ tor1ura po·l,iciéll
políticRs Rc!ministrél!Ívé1 ejuclicíal e emitinclo laudos oflcíéllmente VRlidos de so se tem ;omado u m problema público e notório .ra él soc1~dade b:·as¡¡e:nl
exe1mes pericínis sobre as cor1cliyocs dos crímes e dos crirninosos. c¡unncio se tr.ata de toriurc, ele presos políticos Ce:.~o ~ :na1or parte d~st~s
vem oas c,asses 1 •JlJ e' U
xl" e Cllt"n, tmi· J"'a f!sica
< é1 el~::· mfl1g1dél.' como me1o
• (ie
(l (l r¡l
( \. L j

]'vfuito ernhorél é1S interpretélc;:oes rélcistas das origens da hetero- intimiday~o. puniy?:o ou obteny8o de info.rmat;:?, se~~re gerou vJole~lé\

g en e idad e e ul t u r rll bras i 1e i r;:¡ n ?í o re e eb él1ll a poi o u na n ime dos j u r is t as .e. . ensu,~ a pLrblica
. A tortur2 policial c.piicadR cnmmosos comun~· ·· · ¡ -
contempor~neos, reconhece-.se gerc:llmente e¡ u e existe no Brasil preconceiro nfío-políticos- só recentemente tem sido di~cut.JG: .. nao ~m casos Jnc1!Vlf u-
contra pessoas de pele negr[l Tais ressoas sRo ainda consideradas social e R!s, m 3s C}URndo RSSt!me célráter de práticR tnStlfL' :tom~ltzada.
cul tu ralmente i nferi ores. T ll i s preconceí tos en contra m é1 poi o nas teori as
pseuclocienríficas da medicin8 legal e exercem ceítamente influenciR !l(l É claro c¡ue c.s concepyéSes iegélis elitistas .lassificam as dife.renyas
8plicn¡;:?lo indiviciunlizacla da lei pel2 polícia e pelo jucliciário. culturRis. tRnto de ir.Jivíduos como de grupos so,~iais, em um confrm.nrm,
cujos pólos s8o, por um le1do, um estágio cultur;;¡J inciviliza~~'. inf~ílor e
1
: 3!: - O Conceito L_eg;;! de Poder de PolíciCJ O Conceito Legal oe Poder de Polícia ... 135

individuos ou grnpos sao distribuídos nos divcr-: ·)s estÉigios consoante seu completarem recíprocamente Se eles se apresentarem como iguais, deve-
s!of1tseconómico e/ou .soci:aL dio competir entre si

Estas concep¡;:oes iegais apóiam o uso de violencia física como um A existencia das tradicionais prat1cas policiais de arbitragem e
me1o ''natural'' e aceit::tvel de comunicac;ao p(!ra as classes inferiores. punic;ao, diferentes e, mesmo, opostas as do judiciário, levanta a questao de
Tonura e espancamentr) sistemáticos 1ornam-se, a::sim, urna Jinguagem quern é o responsável pela administrayao dessas práticas. Como sao ílegais,
institucional para a única punic;ao eflcaz de algumas camadas incivilizadas nao podem encontrar su a definic;ao, límites e regras de aplicabilidade dentro
cía populélt;:ao Essas camadas sao identificadas, e ~eu.; membros reconheci- do sistema legaL
dos por técnicas policia'.S de vigilancia. Ao justif ::arem o uso da violéncia
c¡uancJo lidam com clas~'eS inferiores da popula~l:o do Rio de Janeiro, os A polícia é, assim, compelida a usar "exclusivamente" sua próprirr
políciais alegam muitas vezes que: et1ca em seu processo de tomar decisoes. Esta circunstáncia - isto é, a
autonomia policial na aplicayao das ar;oes arbitrais e punitivas- deixa para
(.) essa é o únil!;a linguagem (jliC esse ¡-'2ssoa/ é capaz de a polícia a total responsabilidad e pelas suas próprias decisoes Portanto, ao
entender. arbitrar ou punir, a polícia nao atua oficialmente corno um ''apendice" do
sistema judicial. Urna importante conseqüencia é que o sistema judicial nao
Os estereótipos legaís elitistas concernentes aos efeitos das diferen- é oficialmente responsável por essas práticas policiais.
c;as culturais inf1uenciam extra-oficialmente o sístc:najudicial penal. Para as
camadas da populac;ao brasileira consideradas pela ideología como
"incivilizadas", torna-se :1ecessário aplicar métodos especiais de julgamen-
' . r
to Esses métodos fazem parie de um código extra-oficial que deve Produ~ao e Reprodu<;áo da Etica Policial:
eC1UÍVa]er ao "baÍXO nívd de CÍVÍ]Íza¡;:ao'' das pessoas as quais eJe será
e1piicado. Somente este código será adeqvadamen~e entendido por elas. A A Tradi<;ao Policial
maíor parte das práticas ~·oliciais de vigilancia mo:"ra-se adequada para ser
incluí da nesse código. Poder-se-ia dizer que as pí~~ ;cas policiais de arbitra- A exclusiva responsabilídade da polícia pela ética de suas ativídades
gern e punic;ao sao consideradas pelo sistema jud;, al urna aplicar;ao desse sugere. por analogía, formas exclusivas de produyao e reproduyao dessa
código extra-ofl cía l. ética. Em consonancia com sua identidade extra-oficial, essa ética é
produzida e reprozida pelos meios "tradicíonais". Os policiais produzem e
A o aplicar códigos distintos a grupos difere; ,tes da sociedad e brasi- reproduzem sua ética por um sistema de contar histónas, nas quais o
je¡ra, a polícia pratica uma reinterpretayao e ca~:- ~orizar;ao de condutas principal personagem é sempre um de seus "heróis", guardioes míticos e
sociais e seus significados culturais. Neste procc:: o a polícia classiiica a exemplos paradigmáticos da tradir;ao policiaL
populayao vigiada segun el o u m conceito hierárq1 ,;~ J de cultura. A polícia
pross~gue nessa classiiicac;ao consoante crítérío.s ~¡úe ela acredita serem Durante as pausas para o lanche o u para o cafezinho e durante as
;:róprios e que ela sente te1em emergido de sua pró¡ ·ia experiencía policiaL horas vazias dos plantoes noturnos, há sempre casos a serem contados,
E interessante observar oüe a ideo]oQia ~ jurídica ofic- 1l e extra-oficialmente
j '-' ' '
envolvendo policiais famosos ou legendários delegados. O aspecto extra-
apóía a classificac;ao da polícia. A identidade evidc tetnente distinta desta oficial da tradi~ao policial, contudo, explica algumas características espe-
é, contudo, essencial para a diferenciac;ao interr3 do sistema judicial ciais dessas histórias. A polícia salienta sua exclusiva responsabilidad e pela
hierárquico. Os elemento~ da hierarquia devem ser diferentes a fim de se existencia, aplicac;;ao e reprodu(fao da ética policial ao personalizar as
e; Conr:eitc Lega! de r::)der dt- t'ollc:c .

1, : ¡ n : 1;~ ,, e e; s e'; ~:m pl e: s ;1;¡ 1 1 ;:¡ du~ ~\ s si rn , mi ne' 1 é '' a rwl i e~ i él " , mas se rn p1 e urG Desobeck~ccr él esté: éríc;¡ 11~\c é corno clesc)beckce,;- 2 k~ Pe;: e:
c!é·'l'i!IWiéldCi p:liicj;¡i CJliC: ~Jw;t;;~ él él[i]ÍccH,:~O el?. ~~tÍUl JlO]ÍCÍnl ;\ éltÍtUcle CÍD 2 leí é P~'u!icél e gen~riccl, nO passo que a éticr1 é pr;vr.cic::;:: panisu\í\fl.St?. !\~,
pl:::,()JléiUCil: (:' t'.rli!Ctiilli d ¡.í(Í;\lcJC' él SCi seguid? e rep:-c:~cJ~¡z¡cJa jle]c;s histórias po! 1c.i2.is seguem semprc este esquema alguéi.l estR cumnrind,;
p n ¡¡ e i (! i ::
direitinlw Sllí-1 rotinn di~llél De repente fnz algurThi coist1 c¡ue, sen' que:c:r.
provoca a re;w~o ele urn determinado políciéll Issc~ basu: para suscit;1: tlillé~
t im delcgc¡do, disctJtinclu como e Clllnndo aplicnr a éiÍCél poiic[cli pé1ré-l as:i1o poiicié1l e, fmallnente, él punic;:~o do trilnsgressor
jl\llll!. C:CliltCHi :ne O St:~'tlilltC ~~pÍSÓclÍO, que simbollzél é1 f~lbu];¡ f!Cl]ÍcÍa]
CJtlé>ncio ::.:rÍ<lnt.,-:<. ele lllOiélVa no lllOJro Nesse :11esmo morro vivi<t tambén1 l i111é1ci?.s nllmerosr1S lli<.::tc,lric:ls envolvendo ~omc -;1fÍncipc:ll pe:sonít-
lill~ noll:lrÍo Cr!:llÍllOSO, Clll(: err. t1Cl!Sé1dO de muitRS mortes. A rolíciéi e:él, u.em u 11 ve] ho el e\cgndo do Est Cld o do Rio cie Janeíro (o mes m o el a
porc~11;, lf1Ci1péL' cie prenck-lu Em pr1J1:eiro lugRr, enumerou o cleleg<Hio, desrespe tosa conve;-sR telefonicél mantida como secreiilrio de seguran<;<l)
1

pn ¡que crc; í llll' o ssí ve\ í)él r:\ a pol í ci n subir es se morro se m ser pressent idél· obeciect a esse esc¡ucmél H~ muito tempo atrc1s, esse delegado estc-Wél
1() ~~ n e¡ \l e e 12 eh eg nv ;1 , n! g t é :TI el él\ ·él u 21l a :-m e S eg un el o , por C] u e o morro t í nh ;1
1
. . l
p?.ssnncJc pela rua de um?. pe(]uena cidctde do mtenor :.o estado, Tln C]\lé\1
' '

JlllJIUlS Sí1Ícléls, e ern impo~sivel bloC]uear todas elns. Finalmente, porCJUC esse eslava ic:ado, quando encontrou cé1sunlmente urn conhecído. Num tom
m;nginéil ere1 <1penas um entre muítos suspeitos C]lle R políciR tinha de entre policlo e p8temalisté1, trr.tRndo-o de 11 meu filho", perguntou-1he como
invcst ig;n e p r(~ ncl cr, de m o el o ~u e nRo pod iR d ed i e c. r é1 t enc;:Ro exclu sivél é1 el e. es!avé1 pr.ssando O conhecido 1 espondeu C]Ue est::;.ria passando bem se n~c;
Seg un do o d e\ e g;¡ el o, é se. m p re im po ssí ve 1pél r a él p ol íe iél d es ine u m b ir-se d e fosse ur1:é\ dolorosR infecc;:~o ele um de seus dedos a-:) pé, que o estRva
l o el 2 s ;1.s t;n e l;¡ s q u e 1he s ~ e¡ e o n fi a el él s incomodémdo terrivf~lmente. O delegado disse qu.:; semia muito. que toda
cloenyR ¿, urnn má nmícia. O doente disse que o d·~do es!ava doenclo tRnto
Entretélnto, essc exélto criminoso tinha "ido longe demais" e cometí- Clll e el e u.ost aria el e se 1ivrar el el e, gost aria C]Ue o delegado des se Cé1bo do dedo
do um l!grnve equívoco" Ele tinha mC\tado um gato num bélr, cortando-lhe ~cer1Rndo-lhe u m tiro O delegado nao hesitou: pe.gou ~~revólver e acertou
R g<uge1nte1 com Lllllé1 ne1valha Nessa época havin no Río um famoso policiRI
0 dedo cl' 1homem. Este ficou sangrando e apRvor:ido Ao reclamar do ClUe
e¡ u e crrllmico por gEl los. Quondo soube do caso, Rchou que aC]ucle méuginé11 o cleleg:,:·o tinha feíto, este retrucou-lhe que só tinhc: s~;:!ñsfeito a um pedido
tinha 'ricio cllén; dos limites' e fez umjurnmento de prende-lo Concentrou, dele. m:';: era, por1Rnto, o único respor.sável peb o~,orrido_ O delegcHJO
e m ~o, todos os scus esCor·c;:os nesse propósito e Rcabou sen do bem- Íilsis;i~ ,.. Je só.lhe t~nha preste1do um f;wor A mo::íéd dessa histó¡·ia de
sucedid(). O mc1rgin2l foi miHldado pnrR í1 cC\de.ic:.. Muítos ;mos depois, o éldvertt:;- i?. era. se y,-, ce nao ti ver a firme intenc;:ao C1 e ex::,lTÚllÍr a!guma coisa.
el el cgétdo encont ro u o mes m o marginal no mes mo morro El e ti nh2 vi r2ci o nEío a e::.:: élllill policiiil. ¡\ polícia poc1e sempre ;-ea~_'¡, Ót ma.neiréi inesreuld2
homossexuél! e vaQ,Rbuncio. vivendo nn mélior misérie1 Nao restRva nele
C]Lla1c¡uer vestíg1o do Rntigo vRient2o [::,-;¡:¡ históri2 vem conflrrnélr umél vez maís l;ue O¡\dem conhece a ét iu1

policiRI :_ 1 própría polícia. PortRnto, somente ela t~m C(Q)mpleto controle de


Neste cc.so él polícia fez cLJmprir a lei nRo porque era sua obrígac;:~o, su as ac;:c~~~ pois, como na históriR do gato degclado, e!á pode usar seu rocier
ITHlS como pun¡c;:~o, como um f!exemplo" do C]Ue pode acontecer a quem de pol::. para ímpor uma et1ca idiossincrá·tíca. A pnlícia nao respeilé1
desafié\·11~0 apenas a)ei, lllélS também a ética policial, representada élqui pelo eliferenc;,r: eiR a transforma em anormalidacle. Pt1ra st: relaciomn com él
policial com seu amor aos gatos. O C]Ue eimportante nesta história é que o políci2. \-'()Ce precisR aprender sua ética. Percebi iss;n no processo ele
amor aos gatos erR uma pRrticulélridRde pessoal do carc1ter do policial, "doutrir!~: (ao" pelo qual passei durante meu trabalho de campo. Se voce
inteiramente incsperRda segundo os padroes brasiieiros de urn rude agente aprender a ética policial e a eln se mantiver fiel, voce, r:onseqüentemente,
d:1lei Essa cc.rc1cterísticn ressoal e inesperada chRma a atenc;:ao par?, 2 feic;:ao estRril sobo controle da polícía As reRc;:oes policiai~; tonr1:<?.1r-se-ao previsíveis
imrrevi~;ivel e, neste caso, independcnte da éticR po\icinl. para voce Voce compreencierá suas "rRzoes" pw~a c.:gñ::- da ma:1eira como
~ 38 - O Conceito Lr:>gal de Poder de Polícia . O Conceitc Legai de Poder oe Policia ... 139
-----
Elge. :.lÍas se voce nao companilhar de. sw1 é:isa, seja porque a ignora ou A mort e do policial motivou imediéi t amente é~ abertura ele dois
porqt:e deJa discorda, VOCe Se transformará em UIT1;1 ameaya potencial para inCJuéritos policiais O inCJuérito Dfícial foi logo prejud:cado pela habitual
cla. E11 oposiyfío, a polícia tambérn se tornará um perigo potencial para diíiculdade de taís casos· ausencia de testemunhas por medo de vingan¡;:a do
voce. Voce está semp;e sujeito as suas ayoes "éticas'', mesmo que voce seja criminoso. Os empregados da clrogaria alegaram que nada tinham visto por
seu amigo ou conhecido. Como a polícia costuma dizer: estarem nos fundos da loja, tendo apenas ouvido os disparos. Nenhurna pista
foi achada. Mas no inC)uérito nao-oficial aberto pelo g:-upo nao-oficial de
Cuide-se/ Voc(} ntio pode brincar com a poi ícicz. Eia sempre "amigos'' do policial morto; os empregados descreveram em off o criminoso
·-rrmhn.
'-' de tal maneira c¡ue foi possível identificá-lo. Eles prometeram, entao, tomar
"as providéncias adec¡uadas" quanto ao marginal, significando isso aplicar
Ao lidar com a heterogeneidade da sociedade brasileira, em suas a ética policial e nao a lei para puní-lo.
Rí(Ües de vigilancia - ~revisao da conduta criminosa potencial -, precisa a
políci? descodific(!r o:; significados culturais dos fatos que sao trazidos ao Urr: delegado contou-mc que poucos policíais escapam desse
seu CC'1hecimento. Té:is a~;oes de vigilancia constituem o exercício efetivo envolvimento pessoal. Este é o motivo pelo e¡ u al policiais civis ou delegados
da ét ic'l policial, e a pclícia se torna responsável por el as. Portanto, a polícia raramente sao nomeados díretores de prísoes estaduais. Habitualmente,
nao es:á aplicando arionimamente uma lei genérica, ela nao está simples- of1ciais da Polícié1 Militar ou promotores ocupa m esses postos, evitando-se
mente exercendo sua:-; obrigayéSes oficiais, elc. nao está "apenas fazendo o assim c¡ue velhos ressentimentos entre policiais e criminosos condenados
se u tré.balho": a aplic;1yao desta ética depende de u m julgamento ético. perturbem a disciplina da prisa o. Policiais condenados por participa¡;:ao em
esquadroes da mone, por exemplo, recebem privilégios especiais na prisa o,
No processo de tomar deciséSes, quando arbitra e aplica puniyao, ficando isolados do resto dos presos para evitar vinganyas pessoais~ Esse
entra m em jogo vantagens pessoais, interesses particulares, motivos indivi- delegado tinha sido, porém, duas vezes diretor de prisoes de seguran9a
duais e até vinganyas -pessoais. Em conseqüencia, no curso das atividades máxima. Quando !he perguntei se isso nao representava uma contradiyao a
punitivas é inevitável ~_lue a polícia e os criminosos se envolvam um com o sua declara¡;:ao sobre o envolvimento pessoal da polícia com os críminosos,
out ro t'- confundam as·fronteiras teóricas de seus respectivos domínios. Há ele esclareceu:
noja1 ~~,-io policial urna categoría para denominar es1e énvolvimento recípro-
co· "~~··mea ... Q11ando eu csfava !á (como direlor de 11ma pristio),
enconlrei uma porr;éio de gen/e que e u finha.mandado para /á.
:)urante meu ~rabalho de campo, por exémplo, um policial foi Mas eles a.finnavam que nao guardavam nenhum ressen/ imen-
assass:1ado em func;av desse envolvimento pessoaL No exercício de suas to contra mim. Eles reconheciam que eu eslava apenas ctrm-
tarefa~ je policial ele se indispos com ~arginais e com grupos nao-oficiais prindo minha obrigar;éio. Vocé me conhece, já me l'iu fraba-
da pci; :ia. Após algumas broncas mais sérías, ele acabou precisando se lhando. Eu nao torturo nem humilho essa gente, crpena.sap/ico
esconc~ :r tanto dos pollciais como dos marginais_ Anos depois, ele retornou a lei.
a cidac~ e reassumiu seu posto. Casou-se, e aparentemente as broncas
tinhan: tcabado. ContEdo, urna noite, a o fazer compras numa drogaría perto Isso era verdade, mas era verdade também que ele tinha sido
de cas~. foi alvejado e Jnorto. No día do enterro, muitos de seus colegas do severamente censurado por essa maneira de agir. Conforme já mencionei,
grupo ' aa-oficial forarn ao necrotério e escoltaram o carpo ao cemitério a sua estrita obediencia aJei era considerada como prejudicial a eficiencia
com as sirenes ligadas. dos inquéritos na delegacia.
C C>H>ceito l_ egal o e ~- 0' ier CJE:: "olíc1a
-----------------
Mn!S lllllél r:onS~C]llÉ!lCiél éH.ivém das p;·2n icas discrícion~ri;¡s eL~
, ..
f!OIIClél Confom1e freo:: ci<ll-élllle~;:e iiL~stra.do no ~a~o eJe jugo de bichc_ e
1é1rnbém no exemplc! d;1s conclic;:oes im¡¡ratid1veis t~xigícias p(lra 2. méln\l1er--:-
~:8o ele pessoas n?. pris~o, éí legtsl<lllll'él llrasiieira presume conclic;ot:s ide;1is
e homogeneéls él f1m ck controlar e melhor prever a <lplícc:y.2o clc1 lei, coJllCJ
r- j
_ t·o: ;n;.¡ mente, · s1stf·m2 iud1cié1l ohserv~¡ estritél. obediencia i1ClS
j

r~re_L-~!1os lt.~g~H\ sen do os .i· IÍ?e:; ~ ¡:mmotorcs consiclerodos como desrro- Qunndo ess?.s condic,:c\es n~o silo sRtiswi1n.s, n~o é a lei- que
~JcL's de éllTl!tr¡:· e, por const:guÍilk, ele qu(l!quer ¡·esronsabilidélcie pessonl irrealisticcnTlente rres~~mc cssas conclic;:bes icle2::: - c¡ue está recebenclo o
!:::les~ Sllllplcsnll~:Jte, (]pliC(l~11 él iei A rolÍCJ(l é colocél.dn em um nível inferim dest1Í1o A lei é sen;pre "cer\(l'', rois represe:11<\, por def1ni~:ao, urn;1
nZlllltrélrClUlél Jl:ciJc¡;¡J. pcw, ;¡ eln e éltribu;cl 2 ?. 1uw-;:; 0 d · -,~ · express~o de1 "vonl ncl e popul;.n" As pctrt es ele ;i ~lema encarregl1cicls d 21
1• _ . -· . • • • -· y(• e vJgltnnCl?., urnR
1
• • '

(1 p ll e(\ r Cj 0 cJ 1 e e . 1 o 1' ': ' r~ ' ! ., i e1 ., ' ' • " 1 ' . • •


np licélc;au da lei, o J ucJ i ci ~no e él po lí cía, é que s2c e') 1': s id eríld as rcsponsú vci ~.
1 • 1"
• y·. ·· •·•· ""lclu<~•-· J\...liiJUCJC!SJstemr.Jega¡-umaversi-lobrasileir·él
Ci(l
___
tradJ~:::io
• _
clrl lei romnnit- no nuai
"'pi 1'c·,r-;:;c
'1 nyn 1
d"'n ICI
'· 1180
·¡
'"-
- d~.eve Ser
1
pelél ap lice1t;i'ío erra. el él ci a 'borl" 1e1.
~Jsc~J~:lonarrR :. O J;~cl.icicíri~; _colocél_-s~, p_o_nanto, em u m nível "superior"
¡ clatl\·éllllente el pOI! Cié! 11(1 !1Jernf'Clllfé1 jlldlCinl Téll nível corr·es¡)onde ;, T o dél vi él, o du pl o cr i (é r i ó Cl u e o si s t em a lega 1 éH r i bu i 8 a t í vi el ;¡ ek
L ··~ · · nSL!éi
o )~ci~encJa nos pndroes n~o-discricionúios déltrt1di~~ojuríclica br 2 sileiré'. A poli ci cli te m su él se o nseq (¡ enci él s () J u el ici ári o pod ::: ci efender- se porCltl e es l {l-
po ICiél se sentc ofendida ¡for essn posic;:ao inferior em ~ue é colocada se conduzlndo em estrtta obedier1ci(l <1 leí e íiOS set.s pr~ncípios nao-c.Jiscr i-
ílc~ondo que o _slstemRjudiciCll est~ é1prioristic8.mente fazenc!o umjulgamen~ cion~ ri os O sist ernn j u dicinl é a t relélcl o ~ leí. A :)o] ícia nAo. Pon anto, 21s
to mor al negativo de SUR R~?\o Na realidode, a polícia está desempenhRndo pnúicas policiais discricionúias permítem ao siste:11a judicial permanece¡
o p2. pe! -~u e_ ex,t ra -ofi cía! mente é del a esrer{l do, m es m o ~un ncl 0 ?. 1u a e m "inocente" de Cluaisquer pr~tic21s discriminatórias e ;njustas na Rplicé1~?.o ci;1
clesobediencJa a lei.
legislnc;:flo rennl no Brasil

_ As p~c1tic~s policiélis brélsileíras refletem a ideología jurídica brasilcir·él As práticéls discricion~riRs policiais SRO estn:;uradas pela ética policí;:ll
~r-SJS~ema l_egal concebe él e~tn1tura social brasi!eira como hierú~uica, Esta é produzid2. e reproduzicl?, por meio ele processrstradícionalmente usados
c1 0 1 l'
a,,Jbumdo diferentes ~·Q.raus de cidadélnÍ"'n '-' c1.v 1·¡;z"";:;-o
nyn
~ • ·cere'"'·~s
p d
lile Cél!Tlél Cl.S Cléi
1 1
pnrrl a propt1gélc;~o cie informoc;i'i.n A tradic;ao ¡~;. c:ial representa a base clé1
!)op~!lac;:ao A Const it uic;:ao ~~rí1sil eira, ent ret nnto, concede di reí tos oolíticos identiclade rolicial Pnrtnnto, o poder de polícia, : t: sejc., o arbítno poiici;íl,
Igwns a toda ~opulac;:~o. Cnbe ~ polícia a dificil tnrefa de selecionar,c¡uais 2. estigmatizado pelo sistem2 judicial, constituí o r:~ :leo central da identidnde
5
pessoas ~L~e_s_ao ~unlific_acléls pétra goz8r dos direitos constitucionais·, como polici(ll A polícia. transfom1é\ o seu estigma ern su2. icL:!tidade, aceitando o p<:pe!
pessoas c¡vJ!IZ8C:é1s" e c1dad~os completos, e c¡uais as que nao 5 ¡:¡ _ e o rótulo que !he s~o impostas pelo sisremaJudici, . A policía, entao, projeté!
0
os mecnnismos dél estigmC\~ÍzRc;:~o, responsáveis pe.'· sua identidade perCln!e u
~:sn_ fun(:ao dn polície1 nE1o é nem oflcial nem explícita. É umR sistcmajudicinL em cirna de1 poptdnc;~o sob su a vigil~. ·;;ia Os inquéritos policinis
co_ns~q:Jencia p_er~·~ers~ el o exercício de funt;:6es judiciais sob 0 império dos aben os contra as class~s bú'Cas ilusrra esse process0 1i:ssas dasses, por su a vez,
P:Inclpios de VIgilancia. Portanto, a polícia é, oficialmente, a responsável Rceitam o estigmR C]Ll:'1ndo tentam diferenciélr-se e: •s marginaís por meio de
clire~?.. _pel~ corrup¡;ao na Rpliccu;8o dCl lei A semi-autonornia da políciR afim1ativéls do tipo "s':)u pobre mRs sou trabalhado~ 1

bra_sil~lra e uma _garantia da nutonomía dos sistemas legal e judicial e.litistas


e_ h_Ierarqt~Icos d1ante da coí1c;:Ro impostél por uma ideología política iguRii- Os SlStemas legal e judíCÍ(li ntríbuem Limé\ A.mc;:ao ambígua a polící?.
1ana prev1.sta na Constiluic;:~o ~ Essa func;ao oficial gera umél penT1anente ambigüiciélde nas relac;oes entren
i 42 - O Concei\o Leg;,.¡ de Poder de Pdlicia ..

¡)(mular·ao e a pr))¡'c¡·a '1U'l'1to ·


, y '. . el a ap ¡·Jcac;ao
- d 1·
r a e1, -~) que se expressa ern

~od~erosos me_can1smos de_estígmatiza~:ao. Como um efeito perverso desse


jer~omeno, o srstei~a de apl1car;ao da lei dá origem a l1' itudes ambíguas duma
par te da popu_layao ern relayao ás próprias leis. M u itas vezes essas leis ASPECTOS C:JEE.AlS
produzem efe1tos nao desejados. Outras vezes distanciam-se tanto da
DA ll)EOLOGlA
rcaltdade e¡ u e nao chegam a ser cumpridas, daí a classíficar;ao popular de leis
r¡ue ''pegaram" e leis que "nao pegararn" JURÍDICA BRASILEIRA:
.~o capítu_lo_ s.egui.1te discutiremos prirneiramente a maneira pela qua] JA.. VERSAO B1\.ASlLElRA DA
.as p_ra_tt_cas. poiic1a~s oL,edecem aos aspectos gerais da ideología legal ~fl~ D l (:A O Ll BERA L
~~rasllcJ'r' a_. E~- segu1da \:amos comparar e contrasta1 a ética policial com a
__ mal,ha JU_dJcial. O coPJraste pretende explicar p; ~-cessos e mecanismos AN G LO~A lví ERI CANA
ligados a d1f~rente~ efeiLos da iegislayao, produzidos pelas relac;:oes sociais
sobre os_ qua1s a lc1 dev'='- ser aplicada. A discussao proporcionará dados e
perspectivas contrastantes ao material discutido neste trabalho.
As práticas policiais no Brasil nao representa m u m fenomeno isolado,
mas refletem as ideologias política, legal e judicial, bem como o exercício
do poder e a administrayao da justic;:a na sociedade brasileira. Ética policial
e ideología judicial, ao lado da atividade da polícia, sao exemplos de
mecanismos inerentes ao Estado que implementam a lei no Brasil. Confor-
me já mencionei, elas visam, tradicionalmente, aplicar regras processuais
diferentes e principios legais distintos a situ~yoes análogas; dependendo do
contexto social e do sfntus social das pessoas envolvidas, há uma diferente
élplicéu;:ao "correta" da leí a ser observada. A ideología liberal, universalista
e igualitária, torna-se formalmente insuficiente para interpretar as práticas
judiciais e a compreensao dos ideais formais dejustic;:a. Quando esses ideais
sao ocasionalmente alcanyados pelo Judíciilrio ou pela polícia, aceita-se
abertamente que eles estao atingindo nada mais do que urn segmento
limitado da populac;:ao.

A atribuic;ao mais importante da polícia, no sistema, é a de categorizar


as pessoas, distinguir as "feras" dos "doutores ... Contudo, a categorizac;:ao
policial é, na prática, mais complicada do que a mera separar;ao entre
"natureza" e "cultura". As correntes "naturalista" e positivista da ideologia
legal brasileira "naturalizam" ambos os pólos do confi111nrm cultural. Como
numa hierarquia clássica, as diferenyas entre os indivíduos e os gíupos sao
consideradas "naturais", vindas do "berc;:o" . Por forc;e1 de sua posic;:ao de
mediadora, a própria policia ocupa uma posic;:ao "cultural" ambígua.
, '""''"'!" u~d ld.,oionla Srasl\elrí'l
Jli!illll;<;
Asuec t o~ u"''"" ~ ~ _------
icie~JIO~II2: Juriaica 5rcsJierr2
-- . , .. ,- 1 -·- , ~· resrn· rhvcill'. () ÍQUC\]t\llílSr-11(; C ,,
imtiL!ÍclOS CÍélS ci0ll\ílílr1S Í.¡Q\.ll1Cí1S \IJeté\lS, Cllk , l el' . ':' ., , -~~j'[r-><-: ly,,sjJc¡¡;;(:
/\s pr{Jti~:?.5 :l()Lc:i;¡;~ e:: :;isle!llél judicial ele categonznc,:~o cst~o . , , . . ·-- 1 ·\es C'-éllll rccrutm PS entll tlS e 1 '""--', ...
jr1 c\iviC1Ll(1JJSrnc. Pol Otlt 1 0 lctC.Cl, e - ' " ; -" ,, -"·
iig<lCln.s :1 CJen~·:: de C)tle :1:-- \'aic•;es iibera!s iérr: Je ser "acL=q;UHlos" a fím ele . O'--lp'li·¡r'¡(¡<-: '¡lrinci'¡~?.\mcn\c
nn sentid u c\e mnnterem c1 s. JLI,. cstnllUrc~\poLtiC-1,
sc¡,~m apíicCJckc: i: sociec~;;c!t' :•:élsilcir?: A "versao'' bra.silcirz¡ c];.¡s icJéias, e 1 ' ( '- ' -. l- . ' ' ;- ' ' 1 C) 7 (í
11·1~'1
j ..__

e eco nO : '--" 'i1-1C'


A J-;,'-Cl'l-l''
- e" .· ,, · · · c' d;l sociecL-\cle brasdeJré\ ( ·.-1\Cr\CI_ . !J
prfliÍc;-¡s f': cios v(!lcncs Jc¡:2ÍS t' pc)lítico-liberrlis anglo-<lme:icé!nos jc'l foi
s¡ 11'1 e ien ¡ e m en l e d::; e¡ 1¡ i el z: f: es el <íí e e iel a 12. m en e ion e i 1rllll b é m e e o n sen so _ ,, l n ' \ tréldJc8o ele ;:l'l<lJ\~:; 1 con\
· - ~. 1
DeCéttD_oJt¡c\ICIRiiOblé\SilelrotemuJ,1cl or.::::/ ·~ - , --~· ,,
rllcé!nt;:aclo fl\) ';~cLJ)CJ Xl X peic;s ''conservadores" e "libcrais" brasileiros \- . "-1 -,·,-., hio ·wrÍ'!cio co\oninl, víncuL!s eccmornJcos. socrcLS ,
'; e\ite clícbl e¡, (l j' i ' \_ ' • ,, 'j•l' r\'1
conirél ;¡ :l[!l!célh!IJdade do ;,:sternz1 dojC1ri nc Br?.sil (fiory, 108:2) Os liberais c. . , • , ~ , :, e; --]él S S"' S Jll i1l S e 1 e\ aC c. S ' ',
o\íticos uniram JllRQlS(ínCJClS ¡¡onugueses c..- ,_, , • '""· . '\,,, ,,,;.
b:-;¡sileiros dci'-:élVC'!rJI trrms;1mecer é1 tendencia elitista e excludente de seLJ p ' . , , ~ , l a \euis\;¡"aO portuQUeSél pr CJ1,)lSSC l '.. s
r•

sor i e ci él e\ e b ras tl e 1r¡¡, m~ 11 t o e m ) o, e\ e '-' . Y ~ - - , ,-, ·1 Cl .L\


li!)eiéllismo élO concorcl;.¡rerll ClliC, deviJo ao ";:¡trc.so culturé\!" dR sociedacie . '-' ' l Ci7() 1('.",..,\ ConsenLtente!llenre, (l í1dll11111Sl¡ n\-e u_,
, 'S rs,.·hw?r1Z -_; , /J J ' '1
él 11nnc;:(1 \·"' · ' , ' _ , " \i ""e até recenternet:-
br<Isileir:L o sis:~r;-¡a ele jtlíÍ n2u pocleri2 funcionar eficazmente no Brasil , l St Í 'Y a O n e 'l de mOdO t r (!el j Cl O Jl R\ n?. baSe de ll Jll d Jll él 1 (\
r ' ' -~
Ess;¡s <1leg:C1~oes eli!istas sJbre ?, incélpé1cidade cia popuiélt;:~o bréisileirél em Jl-' - . '" - _· r~ r'lv"d"' dos CRrl(:)rios e cie St\a arrec!Hié\~'-íHl
j
r.1
te u!ss,, u -n.--leco·-r¡~--.nronr1eunCtep
' ,, e lJ !'
"" , , - " 1- l, .
to' que
g e r- ;:ll n~ o e o 11 s r 1: u ír C1 lll t 1m fe nom en o i s o lé1 el o E~se célrtórios erRm dí-lelos segundo u m cnterro ele é1pC1c rm lélmen ,
vicej?tv(l no seio do governo (Ar(llljo, 1982)
O liberalismo hrRsikiro rem sido vinculado 2 influencia inglesél no
B¡·asil desde a íncie¡;endencia. Durante as guerras napoleonic<1s, Portugal foi " ,, Rlh1s" nue s8o trí-lc1icioné1-IS entre o J-c¡diciárío e 2 elite bré1_siieirc\,
m ' ''1
t-'l.S r1 !Olil!Ccc; C
um edrado da Ing\atené1_ Ponugal e suas colonias, c¡ue incluíam o Brasil, · . e 5+rRt é o i ~ ¡Yt .- ?t pe r mi ti r e1 pe r mL: t a u e van t Cl gens 1 ~ ..
constttuem umR -' ' -Jo (' -_ · • - - )ecial e I!?
erRm e:.;trernarnente depenclc!ntes d81nglaterra Em 1808, quando Nélpoleao conomicé1S e se pfltenteiam comumente pelos OJ! eitos a pnsno es¡_
inv~diu Portugal_ o reí e Sl!?. corte, ao invés de se renderem ils tropéls de e _ ,, - d ·s inf•élr6es penéltS conso-
,. ' ~ e- . , e\ e t .- R t ?. r;·¡ en t os 1e uí-11 s d I re rene l a os n n ' Y . - _- ,
eXISLel1 In ' " - ~ , Llrast j e ¡·-?.S
1 , eJ'Il''
NZJpolc~o, emigrénam para o BrasiL Quando a corte portuguesa retornou R
r -
-, 1 do ·-éu A classes·rnrenores 1 , ( ,
élnte o s!nfus polll!CO e SOC1c1 d ' ' - ·¡· d As c1"'ssc'~ 11
Portu géll, e m J 820. o fil ho do reí de Portugal "proclamou" a independencia d Jn"JV!IZCl aS
11 · ct.. ,,
11

nsideré1das llnRttJrRlmente eseouca as e - '-' "- . _"'. " -._


do B1Rsil e tornou-se o primeíro imperéldor brasileiro_ A influencié! cultund co . - " . -, . ierRdns corno. dctentoras n(11Lif nlS eL
ltas nor suR ve¿, erom cor.src . --
cla Inglaterra subs:!ruiu, entJo. 2 influencia de Portugal sobre o Brasil, sob Re\ -, l-;:;("J r'rrl!Or!\Oél. Urr. e1evRdo níve\ de eclucH;:ao er2 consJclernc\o C0!1ill
elUCRyc"Rp , ,,, -
o impulso dos crescentes sentimen1os nélcionalistas da jovem ne1~ao. Umn ev-Jdenci?, ele um estágio surerior de cultur¡:;_ e C!Vlttznc;ao
dependencia economÍC(l dr-, Br?..sil parR com a InglélterTa, herdé1dé1 dos
íni eresses í nt ern;:1cionai s, p·:)lí~ icos e economicos portugueses, refor¡;:ou , __¡ "'. , • lo X'v ser formCldo ',~m o·rreito e, conseCliiCil!C-
Ate meclUO~ .~o secu A, - ·- " ~-·~·.
j, té1mbém os vínculos culturais emre o Bre1sil e a Inglaterrét (Féllc2o, l 979), - - '· - • .-r. r;d' _a cu\tu1a (OS "bachareiS - eié1 O :::,f¡¡é1:
mente p?tnicip(lr e:-~ cu\,u¡ (\ JU.' !Cél - - d 'vc1
__j' - ,_ o o'ess.., edtJCR~"8o iiberéll Hoje em CtiCl, 'lualCluer educnc;:no e !11 .
ulStJnt1V ·n · Y d b , ,,ente ,,
Apó.s a independencia, o Brasil opto u por u m sistema de educac;:~o plibiica · - ·r. - socíRl representan o asJcRr 11 • • {\
suppr-ior telll ?. IW':Snlé\ Stgn\ilCRCfé10 ' ' , , ~ · ] 1 r{r
elitisfa. ;\o invés de aplicar ·JS recursos pt'1biicos destinados a educac;:ao no
r

rc)rr~e·'¡<>r;;O "ner·ess~ric." entre educsc;:3o, Rlto gr:\U de mteltgencJa e e _e\ctc_,j~!


sentido do ensino de toda <1 populac;:ao, o govemo apoiou ?. criélc;:ao déls v• "Y" ~ - , d alc¡uer\lllOCe
' ' '' 1 A sor·iodade brnsileirR cleprecta S(·lbremo o Clll t .
::,fa/u.'> sociél - ,~"' · - CltUCllmente, as
Félculdades ele Díreito Estéls tinham, desde sua fimdac;:ao, um encargo bem trab<1lho fisico, tradicionalmente Rssoctado aos. escravos e,
definido. destinavam-se essencialmente a preparar uma burocré1CÍR es¡¡ecializél- , r , 1

el as ses 1111 en ores.


c!R capnz 'de fazer funcionar o país ?.pós a independencia (Falca o, J 979),
- d b RCié1 estélt(l:,
A educClc3o supeí,IOí, em especial no ::eto 2 , urocr . - -
Portanto, os profissionais de direito brasileiros bem como a culturél significa trRdici,oní1lmente um passnporie pnra ~lti~gir urna. melhor ~o,s1c;::o
jurídicél brasi!eira depararam-se com um paradoxo no tocante 8 crinc;:ao dc.s ~ u m nivel mRis elevRdo nr. socied(lcie brasderrR. Porem, a for n,a~,í-10
F;-~culdades de Di:eito a¡¡ós él independencia. Por um lado, eles estRvam
~ 1¡[3 - Aspectos Gerars dé, ldeologia Jurídica Brasileir2
Aspectos Gerais da ldeologia Juridica Brasileira- ··- - i47

g e~ r1e r n1i s tél do s bRe h?. ré i ~: t o rn o u impo ssív el s u él a el np t a ~ ~ o él s re e e n t es


A ~:ogmé1tÍcCl jurídica brasileirr. define os dominios da lei como um
¡r-ansforma~oes técnic?.s, políticRs e econé'm1icé1s do pétiS (Steiner, 197"1)
sistema f8rmal e faz, portnnto, distinc;:ao entre lei e ciéncia social e é1
sociedadP como urn todo_ Umé1 deflniryao formRl da lei, como esta, tern sido
O pro fes sor J\1 <1ybu ry- Lewis ( comu ni Cél e~ o pes so21!) che! rnmJ-me él
consider(lda e1 responsável pela crescente impotencin do judiciário em
ilie11~:~o pélrél !1 semelhém~a existente entre os Dé:lChcnéis e os puh!ic schoo/
resolver os conf1itos no Brasil de ho_ie (F cdcao, 198 1) _
!Joys Toclélvin, éW contr~:-io déls mais RÍ~rnildns Faculdades de Direito
b:-ilsilciras, élS Escolr.s Pú!Jiicas inglesns n~c s~o de fato pC1blicas S~o ContrastRndo com o pnssacio, quando a cultura jurídtca brasileira, de
:i:stituic;:oes pnniculares e ¡:élgas (aliás, hoje em diR, proibitivamente eRras) cunho iib"rnl, fcworecio a elite socin! e economice1 ne1 apliccu;ao dct lei, a teoría
/\ s m C1 í s é1 n t ign s foram fu ncJ odas há sécul os U mR el essas Esco 1as, 1icenci ad a jurídica G:J presente e él organízac?to judiciária revelam crescente impotencia
por He nri C]ll e VI I l , e m l 52 2, al eg Rter sur g i el o el e u m mos t e ir o fu nd Rdo por em mantcr- o sto/u.\· quo Os sistemas legal e judicial tem demonstrado, em su as
St Agostínho no século Yl. No século XIX, segundo o professor MRybury- 11
sucessívas Crises", c.s dificuldades em aplicar a leí e resolver conflitos que
Lcwis, ocorrcu u m grRncle ~;urto de desenvolví mento déls EscoJas 'púbiícas" 1
surgem rFt socieclnde brasileira_ lsso é especialmente verdade nos conf1itos
- sob é1 forma de funclc1ry6es -, quando se reconheceu que a func;:ao dessas
gerados; ,e] as transformac;:oes políticas e eco no micas experimentadas recen-
Escolas era prover o p21ís (~e uma elite bem prepar~da de generalistas, que
temen! e pela sociednde brasileira. Tais transformac;:oes tém agravado as
n~o só fnriam funcionar a so:iedade británica, como télmLém poderinm Rtunr
discrepancias existentes nR distribuic;:ao de poder político e econ6mico na
como ef1cientes proconsulcs para o lmpério.
sociedadc brasileira (FRlcao, 1981; Mach8do, 198!; Santos, 1977)_

Tol como ocorre en> rela~ao aos bach;uéis, tern ·sido atribuída aos O regime militar brasileiro e sua política autorítáría, em vigor entre
sc!wo! hoys a culpa pelo tradicional desprezo britanico pela educa~ao
!964 e 1S85, tem sido acusado de produzir uma c,rganiza~ao de Estado &]Ue
1écnica, e o sistema tem sido acusado, as vezes, de contribuir para o declínio
revelou, paradoxalmente, tendencias particu~aristas e homogeneizantes.
comercia! e científico da Inglaterra. Entretanto, contrariamente ao C]Ue
Ele evitou demonstrac;:oes de descontentamento enguanto praticava siste-
ocorre nesse pélÍS, afamadas Faculd~des de Direito brasileiras sao gréltuitas, mática .__; iscri mi nac;:ao social a favor das elites_ El e encoraja va a
o que confirme: a Rpropriac;:a.o pelas elites dos fundos educ~cionais públicos:
homoge;-.~izaryao da populac;:ao e a o mesmo tempo impu~ha o ponto de vista
cc;mo é muito intensa a competic;:~o pnra rnatrículR nas féiculdades pt'1blicas
de uma ¡~~noria a toda uma populac;:ao (Santos, 1981). E bem plausível que
g:-cltuitas, somente aC]ueles que podem pagar por uma educac;:ao de alta
a incar.r;,:_:;:lade demonstrada pela ideologiajurídica iiberal brasileira de lidar
quaiidade no segundu grau tem condi~oes de entrélr para essas famosas mais adec;-Jad8mente como exercício do poder na sociedade brasileira tenha
f;;¡culd(!cies de Direito gratuitas (e, hoje en: día, também para outras contrib:._:;:_ o para a ocorrencia do regí me militar.
fa e u 1ciad es pL1 bl icas e u niver,-sid ad es).
E::::· foi, pelo menos, u m dos 8rgumentos citados pelos militares ao
A resposta d21 culturn JUrídica brnsileirR
estn crise de identidade foi
él
assumirc: o Govemo Civil, cujos titulares, na época, eram acusados pelos
é1SSClCÍélr OS valores liberais dos bachnréis el dogmática jurídica, L1!11 segmento·· conservadores da elite brasileira e pelos próprios militares de
''nom1ativismo" de inspirac;:ao kelseniana. Segundo esta doutrina jurídica tentarem :-lstituir no Brasil um regime político "socialista" e "antidemocrático".
fo:m;1l ~ as mais conheciclas obras de Kelsen intitulam:-se Natural Lm1}
Todavía,: ma discussao aprofundada desta hipótese exigiria u m debate á parte.
Doctrine ond Lego! Posi!il'ism ( !949) e Pun: Theo1y of Law ( 1967) -, a lei
11
é legítima porque é coerente comuma norma fundamental". Esta doutrinél
Pe; .anto, mesmo sob um regime militar, o Brasil afirm8va oficialmente
1 cm sido considerad21 responsável pela redeflni~ao da identidade dos
defender deais democráticos identificados com a· democracia política dos
proflssionnis da áreR jurídica.
Estados Unidos. A sociedad e brasíleira é uma sociedade do Novo Mundo_ Ex-
.Asnec:\os e''"r CJIS u a ideoioo:<-: ,~ :ricl1c2 [-lrasJielr2

c~.c::l'·o:; ~___. Jirl!i:~<1n\n n¡:r1¡wus consti[t!Cl1l e; g_¡-;;¡¡cJc 11lé\Íori<l ele su;: pcpuL1- Em consec¡(;c-:JlCÍcl dél~ ccl;é1ctuístic8s espeur1is ck scu s;stetll(l c!t- ¡·:·
/-, Ccm:;iJtLJ o \Jr;;:;iil~Í;ií
t cstnJturrld<l scglJJ~cin principios constitucio- r\ ic!eologi<i leg<\1 do" EstéHlo<: Un1dos foi cclp<:z :'e se é!délj)lZi~ "SL!t:css:' :>:
n;lis c!u'; L~t<HlC)'- liilíciCJ'. ;\:~ icicoiogJas politic:;\ cjtJr-iclJcct enClll<ldrcl;ll-se nos t r rl n s ro rm ?. ~: oes p o 1 i e; 1s e e e u r:(! m i ce: s e s ¡s k :n ; ¡ : , z il ; ; ; s v 1e i s s : lli ei e s u e t : r~ 1:t
\':;le-c_" iíhcJélÍs ¡·íél~!lclcln;¡]mente, o Biasil se cieílne como um;; Rept'1blícc1 e modeínc: sociccincie cé1pitr:iist< 1O sistema ele j '¡¡¡ tor:l<l cílcnz o sis~c:~-

llnl!: ClCJ11CHTclCÍi' iiO]ll!l;n íllCiíCS iiber;\ÍS c!~O for:11é1 ci orgar~ÍZ<-l¡;:~o ecOnOJl1Í- 1


jtl:·íciico cie ~~cn1trolc soci2: Flc: iegítime1 ;¡s regr;\s c:t1e devcn: cstrli:tr: ;¡· ;:
G1_ p~lÍÍtJCCl e .sc~L ;;¡l ciCI p<lÍS ~'\)~o obst;.mte, 2 cxJsiéncia cie princí¡;ios diversos concllltil pt'thiicrl socicd Ohje\:oes 2\ ef¡c~ci?. do jt':ri :1os Estéicios li:'~tics
péli? ::s pí-~ticri<; processllais penais ill1strC1 n fr1tn ele c;ue na reétliclade se limit(lm-se a discussc)es sobre il (Fgr:nizélc,:.~o furm<'.! dé: :r:stilt1Í\:2iu lcgcll
ciese;l\'o!vcr<11n :ICJ BrC!sii e nos Estéicios Unicics diferentes tipos ele compreen- p o r ex e m plo , Si m o n s, ; en ) , l< él lv ;¡ n e t a1i i , l C) 7 e ,:
s~o dos itieé-1is lihe1 ;¡is, poplllnres, derTwcr~1ticos e igunlit~rios
/\ iei processue1l br?.siiei:·;¡, ror outro lrlC<1, segutu corremes he::~
No Brnsi:, u1tcgori?.s policia[s de vigilftnci?. complementé1m as rlo diferentes Encarregad2 cie por em pr~tic21 un: :guC~litarismu repL:blic:cmo
Juclici~1rio O sis:ern8 ¡udicié-11 de CCltegori?.s, com su8s diferentes inst~nci2s e constitucionRluniver-sé1lis:?., segundo o Cllléli tocJc¡ .1 populac;?.c serin clefi:;id;¡
seus n!vcisjudici<1is diversos pé!ré1 nplicm nlei a diferentes clé!sses de pessoas, ciescie logo como iguRl, él lei processuRI e R ideokgia juríclicR introdttzÍrélm,
é o complemenw ~·superior" da polícia. OflciC!Imente- élO gradué!: élS pr~tic2.s oflci8i e extra-oficÍélÍ!llente, privilégios e excec,:.oe.::; as rroposic,:.oes consii:t;-
processuais penc1is de élcordo como slnlw do réu- e extrR-oflcialmente- é1CJ cioné1ÍS \1niverse1lmente igué1li\úias A igualcladc universal inicial foi pr·o-
estabelcccr com plicacias "m:-~l hos'' CJUC aumenta m su él cnltonomiél e competen- gressi vélment e 1imi t ncla pelo reconheci mento e élCeJ tayao das di ferenC(éi ~;
ci<l -, e si:;temél .1Lldicinllevi1 a efeito, eJTl Uill nível superior de hier;:lrCJuia, as entre classes e categor-ías
mesmas pr~ticos lltilizaclns p~lé1 políci2l emnível rnnis bé!ixo. A ética policinl e
IJ
as "m<llhas" jucliciais s~o exemplos do mesmo sistema cie transfonllc\(;:ao. A cliscriminac;:Ro no Brr1sd é feitR o posleJAJrí do ponto de viste: cL1
inclusividRde Nos Esté!dos Unidos n discrirnína~fio, inerente nas premíssíls
in iciai s exclusivas de sue1 Cons tí tui ~Ro, é subsec¡ cw:n tement e mod i fi c3ci ;-¡ pcl a
S i ste n1 a d e J ú r i e I el eo I o g i a L eg rll
reéllidélde social pluralista No l3rc.sil, él cntegoria ¡:ovo é u m rótulo genérico
e¡ u e e o nt in u a a se r i n t e r n é1 m e n t e él v 8i i él d o se g u ncL u m a e1a s s ifi e a e,:. Ro 11 í e r?. r-
Nos Estcdos Unidos o sistemn de jt'1rÍ é considerodo, segundo a
CllliCR De ncorcio coma colocé1t;:~o cie caclr. umél eL :;tos categorías (educéicl<l,
ideologi;¡ legCl.!, como um cmjunto unifom1e de proceclimentos, Cllle cons-
inciviLznda, ¡;retos, mulheres, pobres, etc.) no:;; tema, diferentes clire.ltcs
tituí od111' jJl'OCI!~·.\·{~lla\1' Ao sístem<1 clejt'tri é atr-ibuíd?. ume1 func;:8o política
lhe s?.o ex:tr21-oficirli ou orlci;-¡\mente concedici, ·s, como "excec,:.oes" cW
Consider<1-se o jt'1ri respons~vel pele1 cloutriné1c;:?.o da populé1C(~O sobre
enfOCllle gernl e univers<liista Nos Estacios Un~:;-- s, o problema foi inclL:ir
valores clemocr~lticos e legéi!S Diz-se C]Ue o jL!ri fur.cionR como umR llescolél
pública" (O e T OCCl u e vi 11 e, 1 94 5), cuj o si st emn el e justic;:a demonst rR no
27
cic!aclao comum a exceléncia ele seu sistemR político e legé1l. Considera-se· Michei ::oucaull (1 977. 1979 e 1983) fc;z distinc;;ao entre a idl" Jgia clássica cJo poder legal cornc
repressao das condutas cnm1nosas ~eais e o moderno sisL:;~ l de controle social, baseaclo no
c¡ue os vereciictos do jt'1ri kgitirncm~ as decisoes emanad8s do ~'puvoll A controle da condula potencial Ere denomina esse sislema de ne>'' 1alizac;;ao Esta é eletuada através
me1neira pela Clll81 os direitos cie cid8d8ni8 exp?.nclir8m-se sobre toda a de uma ideología de vigilánc1a, ma1s do que de repressao Sé:~. ndo eie. o processo de "normai1
zac;:ao" 1mpl1ca a homogeneizar;:¡:¡o progressiva da conduta ser:::.;! peia doutrinac;;ao da soc1edade
populav8o cios Estados Uniclos renete-se na cornposic;:ao do tribunal do júri como um todo num delerm1nado conJunto de valores Tais vale. _s sao considerados "norma1s". e
a conoula discrepante. diferente, torna-se aulomaticamenlEc ief1nrda como "anorrnal". [.=_sse
1-Jistoricamente_ (1 nmpliDr;8o do direito/obrigélcao de servir como jurado
processo difere da definic;:ao legal class1ca do exerclcio do pod:: somenle pela "repressao", isto f:.
alccm<;ou prime1ro os católicos, depois élS mulheres e finalmente os negros através cJa supressao de>:-. diferenifas /-.. "normalrzac;;éo" é uma e~: 3tégia disciplinar ntlo-repressrva.
A icieolngia ju~íclicél clos EstRdos Unidos incorpora progressivarnente já que nao objetiva sup;1mir. mas sim "reproduzir" conduta "r.:::·mal". Sob este ponlo de vista. él
ideología legal brasileirc produz uma explicita divisao de fun:;;CJ'es o sisiema judiciário reprime, a
minorías, come sujeitos políticos com direito as gcuantias universais da pollc1a exerce vigiláncia Na prática, contudo, rsso nao acorre, pois a policía reprime e o judiciáno
ciclncbnin (HymrH: et éllii, !975) Vlgia Em contraste. a ideologra legal dos Estados Unidos. através do processo de doutrinapo ons
jurados. caracteriza o sistema de júri como uma inslituic;;¡;o de ;wrmahzac;;ao
Aspectos Gerais da Ideología Jurid1ca Brasileira 151
1 5CJ - Aspectos Gerais c1a Ideología Jurídica Brasiieí:-
-------------------
como povu - e assi!11 llal\ilit;1-los él direitos iguai:- - o~ diversos segmentos Assim, poder-se-ia dizer r¡ue a vcrsao brc.sileira do sistema de jL1ri
ci;; popula~iio que n~c cré1m inicié1lmcntc con~ ·deré1dos como tal Na const itu i u m a inst itu íc;:ac democr~ tí ca e popular, u m exempi o 1egnl da
icicc!logia polítÍCé1 e legr1l dos Este1dos Unidos o reccnhccimcnto progressivo democracia brasileira. Uma an~lise r~pidn da organiZélyRD e func:ionamento
dos difc;entcs segmento~ de1 popule1¡y~o como "ciclcHl~I()S"- e e1ssim élptos e1 efet ivo do sistema de júri esclarece suR id eologia legal. É i nt eres:;ant e notar,
se scnléHCill num banco dt:juréldos (católico:;, mulhcrcs, negros, etc)- levou desde logo, o método usado no arrolarnento dos jurados no Brasil Pela leí,
cw r1U!llcnto e inclus~o progressivos das sec;oes dn populac;~o consideradas os jurodos sao arralados a o arbítrio do juiz, isto é, escolhidos pelo juiz entre
como sujeitos cie direitos universnlmente definidos e legalmente aplicáveis. seus amigos e conhecidos ou entre pesso21s apresentaclC\s por estes.
O conccito cie igu;1ldndc significa legnlmentc qut- <~ pessoas diferentes sao
Entretanto, esse arrolarnento segue algumas normas. Examinando a
;¡t:·ibuídos os mcsmos clir~itos (Rae et alii, l 98 l)
lista oficial de jurados dos quatro principais Tribunais de Júri da cidnde do
Rio de Janeiro entre 1977 e !983 (cerca de 7.000 nomes), apurei r¡ue
No I3rnsil, o perspectiva constitucionnl igu~'itár:a republicana levou
variavam muito pouco as prof1ss6es dos jurados. Eles era m principalmente
i\ rcdu~·aoe cxclusilo ofcial e extrn-oflcio.l dos ::egmentos dét popula¡;~o
funcionários públicos, bancários e professores Entrevist n.ndo jurados arro-
inicialmente habilitados a .dircitos iguais. Pessoas cLfer·entes sao habilitadas
Jados durante um ano em dois Tribunais de Júri, descobri que os bancários
él clireitos diferentes O conceito legal de igualdade vigente na democracia
e os professores trabalhavam, em sua me1ioria, em bancos ou escalas do
populnr republicRnR brnsileira é de índole aristocr~~ica 2 ~ 1st o se torna claro
Estado. A maíoria possuía ínstruc;ao superior, e alguns eram bacharéís em
0¡\Jé-mdo examinnmos a organizac;:ao formnl e o fw cionamento real do júri
Díreito. Certo juiz, também professor de uma F acuidade de Díreito, incluíu
Grdsileiro. Ele ilustra muito bem como él ideolog1a iegal estruturou uma
uma vez todos os al unos de urna de su as turmas na list2 oficial de jurados
vers~o elitistél de urna instituic;:ao legal democráticr: e popular, mantendo ao
durante um ano.
mesmo tempo sua ";wrél democré1tica" formal.
Os jurados serviam por mais de u m ano ' e as vezes ntuavam em mais
O sistemél jurídico .·,lo Brosil tem sido sernr·'e considerado como o de u m tribunal no mesmo ano. Examinando as mencionadas listas de jurados
mélis not~vel símbolo dn tendencia democr~ticn da ideología legal brasileira. arroJados, pude apurar r¡ue 4 7°/o del s pessoas inscrever2 m-se a penas uma
Qunndo em l 93 7 a Constituic;:ao outorgadn pelo re~~ime político autoritário vez nos últimos seis anos, 24o/o duas vezes, !7o/o tres vezes, 7°/o r¡uatro
11~0 incluiu o sístemél de jt'1rí como um dos dirc tos constitucionais, os
vezes, 3% cinco vezes, 1,5o/o seis vezes, e 0,5% sete vezes. Além disso, 6°/o
renresentélntes de nossa cultura jurídica, be1~-, .-· .lJno él opiniao pC1blica dos jurados apareceram na lista oficial de dois t ribunais diferentes no mes mo
esclc1 recida, levélnt nré111l veementes objec;:oes I ~se foi considerado como ano, e 3,5% foram arroJados em tres diferentes tribunais no mesmo ano.
LJilla clara afirmac;:ao da ideologia antidemocrí1tic1 o regime, a despeito de

seu élpelo popul~r (Frnnco, 1956: 16-23). Consec¡;> ntemente, em 1938, foi Entrevistando os juízes, descobri que a maior pan e deles possui u m
decret(lclél umél lei disponcio sobre o direito ao juig mento pelo júri e sobre arquivo de "seusjurados", onde sao feítas anota~oes de seus desempenhos
<: o ~-gél ni zR~~o d este; as pr2 ti e as processuais sob: o JL! ri sao estru tu radas
i- antes, durante e depois do julgamento e, as vezes, de su a condutCl social fora
n!nd?. hoje segundo essa lei. do tribunaL Os jurados retribuem es se tratamento "possessivo", referindo-
se a eles corno "meu"juiz_ Entrevistando os jurados, pude perceber também
que eles consideram a fun¡;ao de jurado como algo a que precisa m se adaptar
e r¡ue precisam aprender. M u itas vezes recomendaram fazer minhas pergun-
18
Segundo a dtstinytlo de De Toc:aueville entre os sistemas de júri 2' ericano e inglés. ou julgamento
tas a outros jurados que, por serem veteranos, conheciam melhor os
pelos pares Eles definem o sistema inglés como produto de uma "dPmocracia aristocrática", na qua!
cada um dos pares possui seu próprio status soctal, e o sistema c.~nericano como produto de uma segredos da funyao. Cheguei a conhecer u m jurado que tinha sido arroJado.
"democrac·¡a igualitária", na qual todos os individuos s~o iguais por definis;~o (De Tocqueville,
no mesmo tribunal durante 30 anos seguidos.
19~5:28)
Aspecto~ -~erais cía Ideología 'uridiCCJ 8rasíie1ra

i <
Cls JLI!élci():; icn; ele "p.::r:rlanecer ;~ clisposi\jo do tribum1l" cl\¡r;¡ntc o recusé\dos porque c¡uexem ícuer compras ou rorque tem <-dgum out::
nr<lZC) de LIJJJmc~s c·?.cb vez c¡ue eles se1vem. Pe!?.s célrélcteiísticé\S cio sistemi1 compromrsso? Sé!\ isfé'.ZC! Se o juroclo C]LlC peclit: a exclus~o ror L!lll d()c; se: e
hrc:sik1ro ele jLill os _:ulg;::¡~lentos podem clllrar ck ;.llgumas horas él urna soit~:<Hlcs par;1 aqtJelcjl:lgélillUitO, o acivogc1clo ou o promotor pock cxe[c~:
sen¡;¡:·¡;¡ E::1 virtu~ie el este rc;·íocio obrigatório de disponibiliciade,?. escolhíi seu clireito ele "recusé: peremptéma" (exclus~c clo _jurado sem qualC]t:c.:
j u s t i f1 e c-ll i va ex p l í e i t i1) A el v o gil ci o s e pro m o t ores s 21 o , por é rn, e<H! ! e 1 o se :;
dos il:rílcios rec:: cic rneícr~:ncin sobre os servidores clo Estado, ji1 c¡uc
:;om::!·dc os cofre:; pí1blícos pociem Mea; como pogamento cie empregados
C]Llc-mto é\ este p~occclímento Segundo eies, é necessúio explicar ;:¡os ou\:(:s
Cjllé:' pcr il1i1ilCCCJl~ ~Jll1 mes imciro sern íré1bolh?.r Conseqüentemente, mesmo
¡uracios que SUí-1 i CCl!Sél cJevcu-se C1 lllll pedido do préJ¡¡rio _jtllélclO ¡-
n;¡s g; :1nclcs cidacies, onrle o juiz n~o pode conhecer pessoe1lmente as 500 cr
neceSSÚl?. es se: precn u¡;:2o ¡¡a r?. C] u e ni'io ad nrn m a m~ repu t nc;,~o e\~:
pessoéls, ilproximélcinmente_ c¡ue precisa arrolén. ele estabelece com os "rejeit?.dor " de JUroclos A r ccusa pode ser Í'1terprete1da como falt<-1 ~ie
_jurncJoc; ur~1 relncionénnento de "apacirinhamento"- Funcionúíos pt'lblícos e o n fin n y a n e1 él tu a y~ o do sj u r 2 ci os_ U rn R a ti tu el e na o si m p ?.t i e a ci o (\ d v o g ;d ~'
"peric:11" a o jLllz e¡ u e os arroiem, pois assim gozara o u m més de "férias"_ A o ou do rromotor pode exer-cer innuencÍél sobre o veredicto fméll dos_jur<·dc::o,
cor:t:-itrio ele seu t:ab;1lho noi-lilal nas ¡epani¡;:oes, osjulgamentos nojt:1ri nao scjclllO caso cm qL.!cst~o, seja c;11 outro caso no illesmo tribuna: As recusa~
oconem todos o.s dir.s Alén: disso, todos os meses o tribunal seleciona 21 de jurados só erarn consideréldas legítimas em Cé1sos de homicídio passionaL
jur(lclos, mas (]penas sete par,icipam do júri em cada julgamento_ Os out ros onde a identifica<;:8.o do juréldo com a vítimc-, ou com o criminoso era
14 sao mandados de volt2 p;:ra casa Clté o próximo julgamento considerada pelos JUrodos e Clcivogéldos como lrm motivo razoilvel pnra e:
exercício do direito dil ''recusél peremptória';
' i
E muito gí nndc no Rio de Jnneiro o número de pessoas a serem
- -
¡ulgadas por um dos Tribunais de Júri e c¡ue nao podem arcar com o O julgRmento pelo jC¡¡-i no Br·asil dife¡;e do anglo-americ8no nt:
pagamento de um CJdvogado Cada tribunal tem apenas uml!nico defensor maneira pela C]URl se chegél élO veredicto. No B·:asil os jurados n8o pocle:r:
pt'1blico, sendo impossível, evidentemente, c¡ue ele sozinho possa atuar em comunicar-se entre si Imediatamente élpÓs o término do julgamento, Céi.da
iodos os jlllgnmentos de qucm nao possui advogado Nesses casos o juiz um responde, de .é\cordo com "sua própria conscienci8", aos C]Uesitos
convida un1 advogado pe~nicula; para defender o réu Qratuitamente. Os redigidos pelo jui?. O resulté1do corresponde c1 r1aiqria dos votos (sim/r¡8c)
nclvogndos c:1ceil?.m por dOls motivos principais: ser am8vel com o JUiz e R eRaR um2. d?.s p~rguntos N~o ha c¡ualc¡uer debote entre os jurados Es: e
ganhar experiéncia Os julgamentos pelo júri representam uma fun<;:fío processo e o produto dr. ?.p!icayi'ío RO ¡urr d~1 teoriR dél psicolog!c-1 ci<:s
especinliZílclíl c¡ue nem todo'' os advogados exercem, e os entenJídos no multidoes.
nssunto (IV(l]iam Cjtle cnda advogado cieve Cltuar em pelo menos 500
julgomeiltos nnte::: de poder consicieréir-se perito na especíaiidRde De Clcorcio cm1 aiguns teóricos cio Direit,:J, italiélnos e franceses (ve;-,
por exemplo, Lé I~on, 1952 \66-174: Sighek, 1954: em diversas p2ssa-
Consec¡üentemente, urné'i extensa "molha'' se estabelece entre jurados, gens), o JÚri é uma multid8o na c¡ual poderié\ haver umél "influéncia" ot:
juízes, escri\'aes, promotores e advogados, o e¡ u e envolve uma barganhR de "sugesti'io" de um jursdo pora out ro TRis leórír:os críticam severélmentc o
favores, presentes e outras vantagens. Um advogado contou-me, por si st ern?. de júrí, cuj o resL1l t ~el o do j u lg8 mento e ¡;or el es con si d erél el o, pc•:-
ex:emplo, nue cena vez um seu diente deixou de comparecer ao tribunal no cieflniy8o, inferior, ji! C]Ue o veredicto é fruto, n~.J de umíi mente esclarecida
di a ern que seria julgado; o juiz poderia te-lo mandado prender, mas nao o e treÍnClcia, méls d8 "médiél" das mentes dos jur8::los, sempre inferior é1 mais
fez em fl.mt;:8o ci?. amizade que tinha ao advogado_ Adiou o julgamento, esclorecida deléls.
confitmdo em c¡ue o advogado trariéi o réu na próxima sessao
A culturrtjurídica brasileira, estando ciente de tais "riscos" assumicJe;:_;
O processo de sele<;:ac dos jurados é tambérn influenciado por essa pel8 adot;:ao do sistemR dejúri, proibiu os jurados de se comunicarem entrt:
"m;:!lha"- Jurados me confessararn que muitas vezes eles pedem para ser
":SI. - Aspectos Gerais Ja Ideología .Jurídica Brasiieira
Aspectos Gerais da \deolog1a Jurídica Brasileira ...

si, objctivnndo com isso r:vitar ínnuencin) que pudessem levnr a veredictos
En: c.. ¡sos de réu pobre, c¡ue n~o pode pagar um advogado, esses
.ciesví~-tuados. O isolarnento dos jurados pretende, portémto, preservnr a
RCordos sao bastante frec¡üentes Os advog:lclos que esüio "prestando lllll .
Jsenc;:no de LliTJ e gcnémtir c¡ue o julgamento se b2seie, de fato. nn
Cé1clé1
ccmscic~nciR individuc1l (!'loronha, !96L1; 265) 2'1 •
favor" ao jLLZ n8o dispoem de tempo suficiente para estudar os autos, e um
C\cordo é provavelmente melhor do C]tle uma confrontac;ao coma acusac;ao
Segundo a concepyfio legal el1tista, o rromotor e o advou.ndo de No C]llnlidade de urna "cscola ptlblica" de c1dadania, o sistema
cieJcsa fazer~1 OC~SÍOnalmcn(e élCOrdo, CO!ll él 3firGYélt;:ao extra-oiJcialdo juiz, brasileiro eJe júri evidentemente nao ensina a estrita obediencia a leí,
:Jo sen:1do o e evJtélr que os jurados cheguem él um veredicto. Esse ajuste ni=io esncciéllmP.·;te a lei processual. Pelo contrúrio, ele demonstra claramente
conta as veze.s nem mesmo como consentimento do réu, c¡ue é considerndo co,mo os p;~)cedimentos legais poclem ser distorcidos, coma concordánciR
de lodo ignc:rélnte nos étSSuntos em jogo e, por isso, incapnz de tomar unanime de todos os profíssionélÍS envolvidos. TodRvia, representando o
c¡uolc¡ucr dec1sao em beneficio de seus próprios interesses.
modelo legal, of1cial, para uma instituic,:8o popuiar e democrática, ele ilustra
os princípius elitistas implícitos no modelo legal da democracia brasileira.
Depois de chegarem él u m élcordo sobre o resulta do de u m det enni-
nac.lo caso, o promotor e él defesa apresentam os mesmos argumentos legais As Pr::íticas Judiciais como Fator de Distor<;ao da
c. os mesm~s fa~ os e, por fím, formulélrn ao jL1ri as mesmas reivindicély6es.
Ja que a le1 estipula como obrigatóriR a existencia de defesa e acusayao
e:
I d e o I o g i a I g u a l i t á r i a o n s ti tu e i o n a l
e0c~zes, o juiz pode anuL',r o julgamento e marcar nov:; data para out ro. Se O ex~mplo do júri nao passa de uma das muitRs maneiras pelas quais
~ JUIZ_ nao anulen-, estar?. se acumpliciando e, no mínimo, agindo éW arrepio os dispositivos constitucionais universalistas e igualitários, bem como os
~él .)e¡. Ness~.s casos o~·_jurados simp!esmente ouvem os argumentos princípios políticos, sao dístorcidos pela ideología e pelas práticas_legais e
. coincidentes da élcusa\:ao e da defesa. Ao término do julgélmento, os judiciais. A transformac;ao de igualdade, constitucional em desigualdadc
.Jllrndos nao podem sena o ratificar o acordo prévio, já q~1e os quesitos dizem judicial no Brasil é conseqüencia das tradic;oes e das práticas do Judiciário
rc.speJto aos mesmos fatos. Entretanto, se os jurados resolverem discordar e da po!íci~, elementos essenciais ao sistema penal. As ··malhas" judiciárias
cio é1cord~, eles c.cabam d~cidindo "contrR a prova dos Rulos" e podem ver estratégic;,.; e a ética policial sao RS respons3veis pela aplica<;ao desigual da
seu vered;cto anulado pelo Tribunal deJustip1. Neste caso. o réu terin de se leí. Essa ~: ~licayao - nao-discricionária, portanto meramente formal - vai
s~~me!~r a outr_o julgnrnento. Quando perguntei él um Jdvogado por e¡ u e ele revelar os :-lecanismos "reais", oficiélis (prisao especial e práticas processu-
:lí-lO ped;a perm1ssao ao scu cliente parR firmar acordos como esses eie me
ais especir¡: s) e extra-oficiais (ética policial e as "mal has" judiciárias), da
respondeu: · '
distorc;ac: , a aplicac;ao igualitáriél da lei.
E11 n/io con/o a ele que hou1•e um acon.lo. Ele nc7o
enlenc/eria de jeilo nenhum. E1r sci que eslou.fnzendo o me!hor Cor:~rastando como sísteméllegal anglo-americano, ondeos veredic-
poro e/r;. tos sao lei, 1 elaborat;:ao das leis, no Brasil, é func;ao exclusiva do legislativo.
As relac;oc., entre as "intenc;oes•' da legislatura e os "resultados" da aplícat;:ao
. P~rgunt_ei tambérn é1 um réu, num OLitro caso, o c¡ue ele preferia num da lei s?:0 '.eoricamente predeterminadas. Teoricamente o Judiciário é urn
caso asstm. D1sse ele:
poder indc)endente, ao qual cabe aplicar a lei. Ao J\1inistério Público, ramo
O adl'CJgodo so he me!hor do que e u r¡uo! é a me!hor coiso do Poder _¿xecutivo, cabe fiscalizar a aplicayao da lei_ A polícia, também
o fazer. Eu ne./o L'lllendendo "nado do que es! á ncoll/ecendo ''. parte do ;~xecutivo, é apenas um ramo auxiliar do sistema judicial na
aplicac;:ao da lei. Teoricamente, nenhuma dessas instituic;oes dispoe de
29 poderes di.:)cricionários na aplicac;:Ro dn leí guando os interesses públicos
Já discutí mais extensivamente-estas concep¡;:oes em outro trabalho (Kant de Lima, 1983).
(interesses indisponíveis) estao em jogo nas ac;oes penais compulsórias.
JI ·.r·¡;
),:
1 ";..1
r' ¡ ,.,_,,,'
·:- C!..
., . .. c,;J:ltc;
.• . o'.,~- Ir:t.Cdi1Zé1Cé10
S , ,. - ,
e) e: t el')(' 1ee¡ el o :: [][ ; '~ e: 7: 1 -¡; ,".;
r) t;¡<;(Crll''
, ., . • J ¡ '' · • . 1,
• '' r"''"'J<'fn
I. . ' . '. . ' "'"' ti \.r Cn, t d J D1 eo e
' ' \ lvl?., ¡(;, () !\' lfl!S!Cr!O PulJ]¡cr• ~·" n''.-·,, r; Ft(~
J ; ' " 1
.' . . . . '- .!\COSTA, V-/alter P. {;J'rocesso Peno/. 10 cd.
tci-:-,C ilt:!ll lliW ·; CO"' ¡n'· < • Jvclp'-,JI •.Jcl, .und?amen-
. ,;__ , .d,l Ctf valores A vers1rJ h· ,·· . - . .
'~
. ---·
e•¡ m;¡) clCl sistcrllí1 ele, ... : ; , . 1aSJJeiré1 oa o;g?aniZé-!<;:2c de Janeiro, Eóitora do Autor, 1974.
ji' e t:m oom excmDlo el· · · . . _
I.!~:IJiOCTéltJCZ-1
, . . . • · · .1\J::
¡1cnulM,.~ ¡().t·-:'¡i¡. ,.·, . .r ·
::. 1 '· • (\. l c1 1l c1 Il S ¡ O Pll 0 Ll _ S e
e j·como
j,
uma
-
.mst:tlll<;:ao
.. A C l ;1 AP., Robcrt o A. R. Direiío, Poder e O¡JT·cs.\ií1J
Jr1Sli[lllC~O ~llJ((l'TÍ'¡.c"
.
\
', ., .: . . ... · . pe él CU tUf2jUrJ;!lC?. num?,
¡¡' ' ~- c.\ n, J,ler arcp.liCél e elitista. Sño Paulo, Alfa-Omega, 1980.
¡:.:
o· lLA-,:;:.'"·
S l "· . i \ 'CJ, · · E . eoJ
~x~cutrvo
ARA t'JJ O, Rosa M a ¡·ia Bar boza de. Cartr5río no C'r'il {.
"indercnden~'· ''S" . ~llc ~Lrrario SélO norrncdmeme poderes
¡-,..· · · .-
p (':

esié1t!1Ís (' - l Politíca. Rio de Jan~:iro, Dados, Revista de Ciert


seglllnclo o ,-]~~"-,..IL..él ~Joua\'Jél é1Ideolooí(l]
'
teor;;¡ po]ii;C'\ ~,. f;Oll Jea CJcerta :lO Brasil,
.,eQLJ¡¡( o a JueoloU:Jé1 · ''t' ·
,l . '. cias Sociais, Vol. 2:, n. 1,1982.:87-104.
O~~ S S!Oné'll
. · ... r • - ( .. 1 ,
CO 1ll )J ;:¡ r1 ¡] hCl da S ]J e/ O S ilf
. . d. j . ' • _::, e g C. ' e ?. S m a] ha S',
r1 eJ no SCl O ci e
~
1 · 1 .- . . e::
LJnCh(!réis- cría m u m f; ·ndélm ssas mstlitlly5es - os
. . . " ento consensuéll comum refe nt . l 1 -
e ¡Jrr1 i 1e as es ¡J e e: a ¡ r "' . ;-- . " re¡. · e a ; se o o~ 1as BICUDO, Helio Pereir~L 1\feu De¡wimcnto sobre o Esqundrr!o dn 1\-fortc. \'
5. ,~_)o nao e um Rroumento se . ~ . ~ 1
.
clt Se\.! t e rn él S re l (]r 6 e S - t ,. t .: : : .
V . m lll po rlém e 12. qua n do Se e J
th. ed. Sao Paulo, Pontificia Comissao ck Justiya e Paz de Sflo Pmdtl.
t":.-...15 Sil es entre R leJ e él t D - ..
Brasil A legislRc~o é nnlicnd t
. y r

. d .. s _rans orma<;:oes SOCléllS no


. . n a a raves c.s Ja mencJonad " lh •·- . - - 1977.
e rornacJél efetív?. !JOr UPlJ f><·t . as ma • .CtS _¡ud¡c¡ars
< --e' ruturn constJttlldéi pela
e e'tJ·c., ,.. l A •• •

BRANDAO, Berenice Cavalcante, l.R. MAT'I'OS, e M.A.R. de C:~trvalhc;.


t 1 n poiJCJa,_

A Po/Ícia r a Forr;a Poficial.no Rio de .lr!nciro. Río de .Janeiro, Pl)C,


• As llmalh<1s'l judiciúia~ e él éticél policial constitue , . . .
molé1s propulsorc1S no n-ec· · r ·
• • . 1, • ,mr.)lllo d -
e execu<;:ao da l . E m as auas pnnclpéllS
. 1981.
funciQnam tilmbem como "filtros" JilfR e¡ 111 certo sentido elas
.
soc¡edaclc brasi1ein1. J o cumpnmento ¡gualltélno da leí n?a CA1\1POS, Edmundo. Sobre Sociólogos, Pobreza e Crime. Dados, Rn•I:, ..
de Ciéncias Sociais. Rio de Janeiro, V:r:ll. 23, n. 3, 1980 :37'í-3fU.

CI COUREL, A. Tlte Social Organization /Jf Juvenil e Justicc, N eH' 1'or!<.


J ohn \Vi ley. 1968.
COELHO, Ectmundo Campos. A Crimino/ízar;üo da /lfarginolírlorl(' en
Marginalizar;r7o da Criminalidade. Revista de Administr~~~o Públic:1,
Rio de Janeiro, (2) abr./jun. 1978 :13~:-161.

COSTA, José Armando el a. FundamentrF de Po!ícia Jurliciário. Tcoí in('


Prática. Rio de Janeiro, Forense, 198;;..

COSTA, l\1ilton Lopes da. A Polícia no Estado doRio r!e Jnneiro (¡){)íi:·i¡,-
mento civil: velarlo e ostensivo). Río de '.Janeiro, Edi~áo do Autor, 19~;·;

CRETELA JUNlOR, José. Polícia. Enc.¡clopédia Saraíva, Sáo Paulo


vol. 59, Saraiva, 1977.
·: 5E3 - Bibliograf1a
Bibliografia - í 59

D..-\. MATTA, Roberto. Vo._·é .)'abe com qucm Estcí Fa/ando? In Roberto
JESUS, Damásio E. de. Código de Processo Pe! al Anotado. Sao Paulo,
Da l\1atta, Carnavllis, J\!1alandros e Hercíis. Para urna Sociologin do
Saraiva, 2nd. ed. 1982.
Dilema I3rasileiro. Hio de Janeiro, Zahar, J 979. Jl. 1 ~9-193.
·As l?afzes {!a Violéncirr no lJra:.;i/: Re[le..rr'Jcs de u m Antro-
KANT DE LIMA, Roberto. Por Uma Antropofagia do Direíto, no Brasil.
pólogo ,\'ocia/. In 1\:larin Célía Paolí et aiii. !\. Vi~Jlé.ncia Brasileira. Sño
In Joaquím Falcf10 (org.), Pesquisn Científica e Direito, Recife,
Paulu, Brasiliense, 1982. p. 1 J-44.
Massnngana, Instituto Joaquim N<lbuco e CNPq, 1983. p. 89-116.

DE TOCQUEVJ LLE, Al ex . Dcmocracy in A merica. N1~w York: Alfred


A. Knopf. Vol. l. 1945. KANT DE LIMA, Roberio et alii. Po/leía e J)c;' 1 0Cracia: Controle ,\'ocia! e
Administrarcio da Justi~a. Julitn Lemgrubcr :-org.), A lnstituit;ao Polici-
al. Revista da OAB/RJ, Rio de Janeiro, julha de 1985. p. 279-288.
FA LCÁ O NETO, J oaq11im ele Arr·uda. LmPycrs in J3razii: Jdeals a/1(1
Praxis. lnternationa! Jo~.:rnal ofthe Sociology of Law, London, 1979.
7: 335-375. KIT ASE, J. e CICOUREL, A. A Note on tite C;1scs (~{Offlcial Statistics.
Social Problerns, 1963. 11:2:131-139 .
. Cultura jurídica e democracia: rr.fm·or da dcmocratiza(:ÜO
~· do ju diciúrio. In I3 olivar La m ounier et alii. (eds.), Direít o, Cidadania e
Pm·ticip•H;ao. Sao Paulo: T. A. Queiroz, 1981. p. 3-20. KELSEN, Hans. Natural Lml' Doctrine af1(/ Legal Posiril·ism. General
theory of Law and State. Cambridge, !'vi. A.: Harvard University
FERNANDES, Ileloisa. Po/iticr: e Seguran(·a. For(,'a Pública do Estado Press, 1967.
de Sao Paulo, Fundmnentos Históricos Sociais. S:io Paulo Alfa- . Pure theory of Lmv. Berkeley: University of California
------
Omega, 1973. ' Press. 1949.

FLOR Y, Thomas . .!udge and Jury in Imperial !3razil, 1808-1871. Social LE BON, Gustave. TITe Crmvd. A Study of the Popular Mind. London:
Control and Política! Stal,ility in the New State. Austin and London, Ernest Benn Lirnited, 20eth. rrinting. 1952.
University of Texas Press. 198 I.
LIRA FILHO, Roberto. A Classíflca~·üo das l::_.·arnw~·oes Penais pela
FOUCAUL T, Michel. DisCij,finc and Punish. The llirth of Prison. Autoridadc Policial. In Estudos de Dir·eit0 e _:'rocesso Peual em Home-
N.Y.:Pan!heon Books, !977. nagem a Nelson Hungría, Río de Janeir·o/S2a Paulo: Forense, 1962.
_ _ _ _ _ _ . Thc l!istory (if ScJ,:uality. Volume I: An Introduction. p. 277-301.
London: Allen Lane, 1979.
---'------ . Afterli'Ord. In H. Dreyfus and P. Rabinow, Michel
l\1ACHADO, Mario Brockmamm. Comentúrin:. In Bolívar Lamounier
Foucault: lleyond Structu:·alísm and Hermeneutics. Chicago, The
et alii. Direito, Cidndania e Participa~flo, op. -:it., 1981. p. 21-29.
Univer·sity of Chicago Press, 2nd. ed., 1983. p. 208-252.

FRAGO;SO, Heleno Cláudío. ·.Primeiras Linhas sobre o Direito e o ?roces- MAGALH ..:\.ES, Humberto Piragibe e MALTA, Christóvao Piragibe
so Penal. Rio de Janeiro, ·caderno do Instituto de Ciencias Penais da Tostes. Dicionário Jurídico. Río de Janein.: Edi~oes Trabalhistas,
Faculdade de Direito Cándido Mendes, n/date. 4th ed. n/date.

FRANCO, Ary Azevedo. O Júri e a Constituir;r7o Federal de 19.:/6. Co- MARQUES, José Frederico. O Júri e su a Now1 R.cgulamenta~fío Legal.
0
rnentários il Leí Il 263, de 23 de fevereiro de I 948, Rio de Janeiro: Sao Paulo: Saraiva, 1948. A lnstitui~ao do Júri. S:-io Paulo, Saraiva,
For·ense, 2nd. ed. 1956. vol. I, 1963.
1()() fli1J!Iograí.2
- - - - - -·---------- - - - - · - - - - - - - - - - - - - - -
El i tJI1 o g; a fi<•

t\1A\ :"iAHD, Eric~on L. (:.::•up Jíolmions, Socícconomic ..)'ro:us a!l(/ PAfXi\0. António Llliz. /! Oroonizo~·ao Po!ici~rl numa Area 1\Ict., ., ¡,/iru-
(/l/icio í J)chn r¡ 11 ene¡·_ So rial Fo;-ces, n. 52, 19 73. Sep1: 41-52. nrr.
"'
fhc!os, He\'isf;¡ dt Ciencias Sociais, Ri:J ele Janciro, vol. 25, n. l:
'

6]-~\5.1982 b.
i"\'1 C L LO, ~-·Ll ri<l Chavcs de. l_mt' Dictjonnry. Port11 gu csc-English, . Crimcs e Criminosos em !Jclo ,:1ori¿ontc, 1932-19 78.
Lnghs!t-Portu_!'lfcsc. Hío de Janeiro, Barrister's Ed.1984. T r <1 b al h o <l p res en t a d o <HJ V l En eo n t ro cb As s o ei a yfl o )\ a ei on a 1 de P (J <-
Grl-ldua~·~o e Pesquisa cm Ciencias Sociais, ANPOCS. 19R2a.
i\IEHnYi\·1;\lvT, John H. Th{; Ch·i! rm,·
Trrulirion. ETL. An Introcluctíon
to lhc Lqud Svstems of \:Vestern Europe and L~tin ..i.merica. St~nford,
P I N H E I R O , r a u l o S éT g i o . 1 /¡o 1é n e i a e Cu ! r11 ro. I n B o li va r La nHJun í (T e t
C;lliforni;1: St:mforcllJniversity Press. 1969.
alii. Direito, Cicladania e P<lrticipa~áo, op.,·it. 1982. p. 31-GO. Pol/ci(Í e
Crisc Po!!ticn: O Caso das Pohcias A1ilitor('S. In Maria Céli;-t P~oli ci
¡\100HE, Sally F;dk. LoH' m1t! Sociul Changc: thc semi-autonomus socinl
alii. A Violéncia Brl1sileira, op. cit. 198 J. p. 57-92.
fleíd lt'. nn tljJpropriíuc _,¡;}¡jec: r~i stutzr. In Sally Faik .Moore, Law as
Pr(Jce.s.s. Lonclon: Rotl(!:.·rlge & l·~eg~m Paul L1u. 1978. p. 54-81.
RAE, Douglas and í-d. Er¡uo;;rics. Cmnbridge, hlA.: Harvard University
i\'1 OS CATE L L T, L uigí. Pnli!t-fa dn Reprcssilo. Río de J aneiro, A e hí~mé/
Press. 198!.
~~o ei i. 19 R1.

SANTOS, BorJvcn!ur;¡ de Som.a. The !Jlll' ofthe Opresser!. Law ancl


NEDOER.. Gislcnc, N. NARC e J. L.'.V_ da SILVA. A Polício no Corte e Society Heview, 12 (Fall), 1977. : 5-126.
no Distrito Federal, 1831-1930. Rio deJaneiro, PUC.1982.
SANTOS, \Vancierley Guílherme. Cidadanío e Justipr: a Po/frica ,)'ocia/no
NINA RODRIGUES. A.~
Rq·as Humanas e a Responsnhi/idade Pena/no Ordem !3rasilcira. Río de J aneiro, Cnmptts. J 981.
flrnsil. Salvarlor, LiYnn·ia P1·ogresso, 1957. . RejlcxiJes sohre a Questrio do f iberalismo: u m argumento
prm·isório. In Bolivar Lamounier et nlii. Direito, Cidadania e Pnrtici-
NO RO NI IA, J'Vlílgalhaes. Curso de Direito Processual Penal. Sao Paulo: pacfio, op. cit. 1979. p. 157-190.
Snr~1iv2, 12. ed. 1964.
SCH\\'ARTZ, Stunt·t D. Afagistracy a!l(/ Socici)' in Colonial flrazí!.
NYE, Tv;1n F. and al. Socioeconomic status ami delinquen! behm·ior. Hispanic American 1-Iistorical Review, L, Nov. 1973. : 7 I 5-730.
American Journ~l of Sociology, n. 63, jan. 1958.: 318-389. . So1·ercignty aJ1(/ Society in Colonial !Jrrrzil. The I figh
Cou1·t ofBahin and íts Judges, 1609-1751. Gerke!ey: University of
OLT\1 E1RA, Elir~s de. Crimi•wlogía tfas l'duírh/{Jes (crimes de Rixn e CalifornÍél Pr~:;s. 1970.
Crimcs i\Iul!itudinários)_ S~o Paulo: S:traiva, 2nd. ed. 1966.
SCH\.:VARTZMAN, Simon. [)a Violéncia dos Nossos Días. Dados) Revis-
O LI \'SIRA, Luciano. Direito Processuaí Policial e Direito Penal Oficial: ta de Cienci~s Sociais, Rio de Janeiro, vol. 13, n. 3: 36S-369. 1980.
Rclac;tJcs Jnsuspeitns. Tr!lb:tlho apresentado ao VI Encontro d~
Associa~ao Ní!rion:tl de Pós-GnHlua~ao e _Pesquisa em Ciencias Sociais, STGHELE, Scipio. A !lfultirlrio Criminosn. Ensaio de Psicología Coletiv;L
ANPOCS. 1982. Río de J aneiro; O rganiza~ao Sirn6es. 1954 ..

OL 1\'EN, Ruben Geot-gc. A Violéncia como lvfecanismo de Domin{1(;iio e THOJVTPSO N, Augusto. Que m sao os Crimino.t:os? Río J aneiro: Achíarn~,
:02 - Bibl1ografia
Bibliograf1a "¡oJ ,..

TUCCI, Rogério Lauría. Rc!eJ·{Fncio Proccssua! da Rc.formn Pena!. Revis- 2.2. Documentos
t a ci os Tribu n a i s, a n o 7 2, S e r t. , vol. 57 5, 19 83 : 3 19-3 28 .
1974 - Relatório Anual de 1973, CotTegedoria- Ceral do Ministério
VELHO, Gilberto. Violéncin e Cícludnnía. Dados, Revista de Ciencins Público, S ño P ~lUlo, J ustit ia, vol. 85.
Sociais, Rio de J:meíro, vol. 23, n. 3, 1980 : 361-364.
1975 - Relatório Anual de 1974, Corregedoria- Cera! do Ministé1·io
\VJLLIAMS, ,by Re GOLD, Mnrtin. From ddim¡uent hchm•ior ro Público, Sao Paulo, Justitia, vol. 91.
r~[ficial dclinqucnc¡·. Social Problems, 11. 20, Fnll, 1972: 209-229.

1977 - Relatório Anual de 1975, Corregedorin- Cera! do Ministério


Público, ~ao Paulo, Justitia, vol. 96.
l. LEIS, CÓDIGOS E DOCUMENTOS
1981 - Sinopse Preliminar do Censo Demográfico, IX Recenseamento
2. i. Leis e Códigos Geral do Brasil- 1980, voL 1, Tomo 1, nn l. Rio de Janeiro: IBGE.

1899 - Código de Proccsso Criminal de 18 • Instancia do Impér-io do Brasil


1981 - Sinopse T'reliminar do Censo Demográfico, l X Recenscnmento
(... ). Río de Janeiro: J. Ribeiro dos St1ntos.
Cera! do Brasil- 1980, vol. l, Tomo I, n" 17. Rio de Jnneir·o:
IBGE.
19G 1 - Constitui\OCS do I3Jasil. Sao Paulo: Saraiva, 3. eu.

1982 - Anuário .2statístico do Brasil 1982. Secretaria de Planejamento


1964 (1940) - Código Penn! e Legisla~ño Complementar. (Decreto-Lei
da Presidencia dn República, Funda~ao Instituto Brasileir·o de
11° 2.848, 07 de dezembro de 1940). Rio ele Janeiro:
·-Fo ¡·ense. Geogrnfia e Estntística, voL 43. Rio de Janeiro: FIBGE.

1967 - Constitui~ao do Br~1sil. Belo Horizonte: Livntr·in Cultur·a


ilrasileira 3. REVISTA E JORNAlS

1985 - Folhn de S. Pnulo, 27 de outubro.


1977 ( 1969) - Constitni~ao Federal. Emenda Constitucional n. 1, 17 de
outubro de 1!)69. Porto Alegre: Síntcse.
1986 - Veja, :ZC. 1e marr;o.
1979 ( 1941) - Código de Processo Penal (Pt>creto-Leí no 3.6~9, 03 de
4. r )UTROS TRABALHOS DO AUTOR, NÁO
outubro ele 1941 ). Saraiva, Sflo Paulo, 18. ed.
¡ ~ITADOS NA BIBLIOGRAFIA DO LIVRO
1980 - Códigos Penaís do Urasil: evolu\f!O histórica. José Henrique
1985 - A Antro¡ 'Jlogia da A endemia: Quanr/o os Índios Somos 1\'ós. Petrópolis,
Píerangellí (org.). Bnuru. Silo Paulo: Javoli.
EDUFF: Vozes. Traduzido e adaptfldo p:tra o ingles por David Hess
como r: e Antropolog¡• o.f Acadcmy: JVhcn JVe Are The lndians. In
1983 - Pr·ojetos de Reforma PenaL Brasília: Ministério da Justi~a.
Arie Ri:lp, Linda Laine and Da,·id Hess (eds.), Knowledge ano
Society: Antropology of Science and Technology. Vol. 9:191-222.
1984 - Código Penal. N OV<l Reda~ao da Parte Cera! (Leí n° 7.209' 11 de
julho de 1984). Lei de Execu~ño Penal (Leí no 7.21 o, 11 de julho 1989 - Cultun; 1uridica e Práticas Poficiais: A Tnuli~iio Inquisitoria/no
de 1984). Río de Janeiro: Freitas Bastos. Brasil. P.evista Brasileira de Ciencias Sociais, ANPOCS, Rio de
Janeiro, no 10, voL IV, junho:65-84.
; 0 90 - CnnstituÍ( rio, !Jiu'Í/O', r· tmonos e Procc.\·so Penal Inquisitorial.
(Jucm C'{i!u, Conscnít''.1 Cr\DOS, Rcvistn de Ciencias Sociais_ Hio
ele .1;1Ilciro. vol. JJ, ¡¡_ J:,~'il-<t88.

I 901 - OrdC'm PúMicrt e Ptí/J!íco Desordcm: ¡\Jode/os Processuais de


Controle Social r'!?l umo J)cnpcctil'O Compararla (Jnr¡uérito e .huy
Si'Sfem). A11u;írio ,\ntropoló~íco 88, UnB, Drasílía:21-44.

1 t)CJ2 a
Trorli\'(fO !nr¡uisiroriu! JUJ !Jrosil, do Colónia Re¡Jlíhlica: Da
J)('l'asso rro /!l(¡uáiro Policinl. Religi:lo e SociecL1de, ISER, Río de
J ;¡ n e ir· o, 1() 1 1- 2: 9 4- 1 iJ.

[ :)()3 - l'rrrlor/c ou !Jicnlirn? Unw Pcnpccth·a Comparada do Processo


(nrosif/EU/1)- Revistn de Direito Alternt1tivo, Sflo P~wlo: 2:60-73.

í 99! - e Lii'dA, MngaL Alonso de. Capoeirn e Cidadania:


Negritude e Identidaclr no Brasil Republicano. In Revista de
/. n t ro p o 1o g i ~1 , S ao P.:111 l o , U S P, no 3 4 : I 4 3- 18 2.

Você também pode gostar