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GUIA PARA HACKEAR LÍNGUAS

por Benny Lewis

Conteúdo:

GUIA PARA HACKEAR LÍNGUAS............................................................................... 1

CONTEÚDO:........................................................................................................... 1

SOBRE O AUTOR:................................................................................................... 3

SOBRE A TRADUTORA:........................................................................................... 3

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3

PARTE 1: MENTALIDADE......................................................................................... 4
MOTIVAÇÃO............................................................................................................................. 5
POR QUE VOCÊ ESTÁ APRENDENDO ESTA LÍNGUA?................................................................. 5
A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA..................................................................................... 6
MAS EU VOU COMETER ERROS!............................................................................................... 7
A ATITUDE CERTA..................................................................................................................... 8
NÃO TER NASCIDO COM TALENTO NATURAL.......................................................................... 10
PARTE 2 – PLANO DE AÇÃO................................................................................... 11
MISSÃO.................................................................................................................................. 11
PASSOS NECESSÁRIOS........................................................................................................... 12
MINIOBJETIVOS...................................................................................................................... 13
DEFININDO OS SEUS ALVOS................................................................................................... 13
FAZENDO UM DIÁRIO LINGUÍSTICO........................................................................................ 15
PARTE 3: COMUNICANDO-SE A PARTIR DO PRIMEIRO DIA........................................ 16
QUANDO ESTAREI PRONTO PARA FALAR A LÍNGUA?...................................................................................... 16
UMA LÍNGUA É MAIS DO QUE INPUT E OUTPUT...................................................................... 17
COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL................................................................................................. 18
COMO SE COMUNICAR COM NATIVOS TENDO APRENDIDO MUITO POUCO............................. 20
IMERSÃO EM CASA/ NO PAÍS.................................................................................................. 22
IMERSÃO FALADA................................................................................................................... 24
ENTRANDO NO ESQUEMA DE FALAR IMEDIATAMENTE............................................................ 26
FRUSTRAÇÃO NECESSÁRIA.................................................................................................... 28
HACK PARA ULTRAPASSAR A FALTA DE FAMILIARIDADE COM UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA......28
É IMPORTANTE COMETER ERROS!.......................................................................................... 30
TRIAGEM DE ESTUDOS........................................................................................................... 31
SUPERANDO O PLATÔ............................................................................................................ 32
PARTE 4: FALANDO COM OS NATIVOS.................................................................... 33
É SÓ PEDIR............................................................................................................................ 33
O ASPECTO HUMANO............................................................................................................. 35
TÍMIDO DEMAIS PARA FALAR.................................................................................................. 37
CONECTORES DE CONVERSAÇÃO.......................................................................................... 39
APRENDENDO VÁRIAS LÍNGUAS............................................................................................. 40
PARTE 5: RECURSOS DE APRENDIZADO................................................................. 41
MELHORANDO A MEMÓRIA.................................................................................................... 41

Página 1
ASSOCIAÇÃO DE IMAGENS..................................................................................................... 42
USANDO MÚSICA PARA LEMBRAR FRASES.............................................................................. 45
CRIANDO TEMPO.................................................................................................................... 46
JEITOS GRÁTIS DE ENCONTRAR NATIVOS SEM VIAJAR............................................................ 48
RECURSOS ONLINE................................................................................................................ 50
PARTE 6: PROBLEMAS LINGUÍSTICOS PARTICULARES.............................................. 52
POR QUE É QUE ELES PRECISAM DE GÊNERO?...................................................................... 52
VOCABULÁRIO INSTANTÂNEO................................................................................................ 53
REDUZINDO O SOTAQUE........................................................................................................ 55
ENTREVISTAS...................................................................................................... 55

CONCLUSÃO........................................................................................................ 56

Página 2
SOBRE O AUTOR:
Meu nome é Benny (Brendan) Lewis. Sou um vegetariano de Cavan, Irlanda, e não bebo. Eu me
defino um “technomad” -- um globetrotter em tempo integral e usuário de tecnologia.
Tive muitos outros empregos nos últimos dez anos, incluindo professor de inglês, professor de
matemática, professor de francês e espanhol, fotógrafo, recepcionista de Albergue da Juventude,
guia turístico, gerente de uma loja de ioga, assistente de primeiros socorros, engenheiro eletrônico e
muitos outros. Antes desta tentativa de me sustentar com as vendas deste guia, fui tradutor free-
lance.
O meu objetivo é ganhar o suficiente com as vendas deste guia, e com meu trabalho como
“personal trainer de línguas”, para conseguir viver confortavelmente por 3 meses em Moscou e
outros 3 em Tóquio (infelizmente, as duas capitais mais caras do mundo!) para aprender russo e
japonês. Até lá, vou continuar escolhendo destinos mais baratos para as minhas missões linguísticas
de 3 meses.
Tenho certeza de que o conteúdo deste livro, as suas traduções, as worksheets e as entrevistas
podem ajudar você, pois estas ideias mudaram completamente a minha vida durante a última década
e abriram um mundo imenso de aprendizado de línguas e de comunicação com as pessoas ao redor
do mundo.
Obrigado pela sua compra e divirta-se hackeando a sua língua-alvo!

SOBRE A TRADUTORA:
Leticia [inserir mais 4 sobrenomes] Dáquer é carioca, casada com um italiano, com uma filha de um
ano e meio e morando no interior do Zair... quer dizer, da Itália, desde 2002. Formada em medicina,
nunca trabalhou como médica. Na Itália, trabalhou como secretária em uma empresa que reciclava
cartuchos para impressora, fez um estágio chatíssimo em uma companhia de seguros, vendeu
salame de javali e Brunello di Montalcino em uma loja no centro de Assis, deu muita – MUITA –
aula de inglês e trabalhou como tradutora interna em uma agência, onde conheceu o Brendan. Junto
com várias outras pessoas à beira de um ataque de nervos, abandonou correndo a agência assim que
pôde e foi assim que começou a trabalhar como tradutora freelance. Hospedou muitos couchsurfers
antes da Carolina nascer.
A paixão pelas línguas é coisa antiga, e felizmente ela leva jeito, pois não tem a mínima disciplina
para estudar. Sua maior tristeza é não falar francês, coisa que está prestes a ser corrigida com a
ajuda deste guia. Ela também gosta de viajar, é leitora e comedora compulsiva, gosta de malhar,
mantém um blog e tem um cachorro chamado Legolas.

INTRODUÇÃO
Quando fiz 21 anos, a única língua que eu falava era inglês. Eu tinha estudado alemão e irlandês na
escola, mas minhas notas eram baixas nas duas matérias. Isso significa que eu me considerava
totalmente sem jeito para línguas e simplesmente aceitava que nunca falaria nada além de inglês
pelo resto da vida. Sou formado em engenharia eletrônica.
No entanto, eu me mudei para a Espanha depois de formado e amei tanto a cultura que decidi que
queria conhecê-la melhor entendendo pessoas espanholas de verdade, e não só as que falavam
inglês.
Em seis meses eu tentei muitas coisas para aprender espanhol, na maioria das vezes só de maneira
casual, e quase sempre só usando cursos normais. Depois desse tempo todo eu ainda só conhecia
algumas palavras, frases e regras gramaticais – nada de muito útil. Um dia, decidi me dedicar
realmente ao projeto e tentei algumas abordagens não convencionais que nunca são recomendadas
pela maioria dos cursos.
Foi assim que nasceu o método para hackear línguas!
Tenho certeza de que não sou o único hacker de línguas por aí. Muitos outros antes de mim também
aprenderam línguas rapidamente. Encontrei muitas desssas pessoas nas minhas viagens e aprendi
muito com elas, e esse guia inclui entrevistas com algums dos estudantes de línguas mais
conhecidos da internet para ouvir o que eles têm a dizer sobre abordagens que os ajudaram a
aprender muitas línguas mais rapidamente e com mais eficiência do que os estudantes médios.
Este guia inclui algumas das lições mais importantes que eu aprendi na minha jornada linguística
até hoje. Compartilhando as minhas dificuldades, espero poupar outros estudantes das frustrações
que tive que enfrentar até chegar a este ponto. Muitas pessoas passam anos estudando uma língua
sem jamais conseguir falar nada além do básico, e eu quero ajudá-las.
A minha teoria é que você pode começar a falar a língua imediatamente, e em alguns meses você
poderá falar muito bem se aprender do jeito certo. O conteúdo deste guia inclui algumas das muitas
possibilidades e métodos gratuitos disponíveis para qualquer um que quiser atingir rapidamente o
estágio de ser capaz de conversar com nativos em uma língua estrangeira, tanto no exterior quanto
na sua cidade natal.
A sensação de entender de verdade uma cultura graças à capacidade de falar com pessoas reais desta
cultura está ao alcance de muitas pessoas. Espero que os conselhos nestas páginas (e em áudio)
ajudem você a realizar este sonho!

PARTE 1: MENTALIDADE

Uma jornada de mil quilômetros começa com um único passo, e aprender uma língua é uma
verdadeira viagem!
Você obviamente tomou a decisão mais importante de todas nesta viagem – o compromisso de
aprender. Mas para onde você vai a partir daqui vai depender de muitos fatores.
Já passei por este processo várias vezes na última década, e tomei algumas decisões boas (e
algumas muito ruins) em termos de falar línguas. Aprendi alguma coisa com todas elas, e continuo
aprendendo.
Neste guia, vou descrever com precisão o que foi que me permitiu aprender uma língua nova e
chegar a ser fluente nela em um período muito curto de tempo.
Estou escrevendo este guia como se eu estivesse falando comigo mesmo quando tinha 21 anos;
pouco à vontade com estranhos, inseguro sobre as minhas capacidades de fazer muitas coisas e,
sobretudo, convencido de que jamais falaria uma língua estrangeira.
A minha jornada ao longo dos últimos sete anos tem sido sensacional (e continua sendo), e eu não
mudaria o que eu vivi por nada desse mundo. Mas tudo teria sido muito mais fácil e divertido se eu
tivesse tido acesso às informações deste guia. Eu teria perdido menos tempo também.
Estar aberto para aprender como falar uma língua fluentemente em um curto período de tempo não
é só uma questão de quais materiais de estudo você usa e quanto você aprende, mas é fortemente
influenciado pela sua atitude e motivação.
Para se preparar para dar grandes passos em uma língua, você absolutamente precisa ter a
mentalidade certa. As melhores técnicas de aprendizado do mundo e os cursos mais caros seriam e
vêm sendo desperdiçados com pessoas com a mentalidade errada.

MOTIVAÇÃO
Simplesmente querer aprender uma língua não é suficiente.
Sinto muito, mas praticamente todo mundo gostaria de falar uma língua estrangeira se não desse
tanto trabalho. Na verdade, acho que nunca conheci alguém que não “quisesse” falar outra língua.
Com nada além de um interesse casual, você tem poucas chances de conseguir muito em pouco
tempo. Já encontrei zilhões de expats e de pessoas em programas de estudos de férias de verão que
não conseguem nada de concreto mesmo depois de meses ou anos de exposição a uma língua.
Isso acontece porque elas não precisam aprender. Usam a sua própria língua (por exemplo, inglês)
com todos os seus amigos, com seus namorados ou namoradas, maridos ou mulheres ou filhos, em
todos os seus e-mails, em todos os livros que lêem e em todos os programas de TV e filmes aos
quais assistem (baixados da Internet ou não).
Expats frequentemente não se imergem completamente na língua ou na cultura do outro país, o
motivo pelo qual não aprendem apesar de meses ou anos de exposição. Mas isso é bom para
estudantes de línguas que não vivem em países onde se fala a língua-alvo!
Se expats conseguem criar uma bolha linguística para si mesmos no exterior para conservar a sua
própria língua-mãe, por que o resto de nós não consegue criar bolhas linguísticas para aprender uma
nova língua?
A resposta é simples – você não quer isso o suficiente. Por exemplo, falar espanhol com o seu
namorado ou namorada que vai viajar com você para a América do Sul não é “necessário”, porque é
mais fácil falar a língua com a qual vocês dois estão acostumados. Seria estranho falar outra língua.
Uma das maiores revelações que eu tive em termos de aprender línguas foi esta ideia de mudar o
aspecto de “vontade” para uma necessidade. Como eu fiz isso no mundo real é assunto para mais
tarde. Por enquanto, é importante perceber essa diferença crucial.
Quando você precisa falar uma língua, isso é mais do que só esperar casualmente conseguir falá-la
algum dia. É um desejo genuíno de que essa língua preencha completamente a sua vida, inclusive
chegando a dominá-la. Este nível de investimento não é uma coisa com a qual estudantes casuais
estão acostumados.
RESUMINDO:
Mude a sua mentalidade de querer para precisar

POR QUE VOCÊ ESTÁ APRENDENDO ESTA LÍNGUA?


Muitos são os motivos pelos quais uma pessoa pode querer falar uma língua, e estes motivos variam
de pessoa a pessoa.
Talvez você queira descobrir as suas raízes? Você é apaixonado por viagens? Você quer passar em
uma prova? Ou de repente você simplesmente tem muito interesse em línguas e em expandir seus
horizontes.
Estas motivações são excelentes a longo prazo, mas para ser sincero elas não vão ajudar você a
conseguir ser fluente rapidamente.
Cada uma destes motivos é vago e não tem um limite de tempo específico (ou muito distante). Você
pode ter um grande motivo que simplesmente não pode ser quebrado em pedaços possíveis de
atingir, e é isso que torna impossível medir o seu progresso.
É por esse motivo que o meu objetivo final não é o meu objetivo final, por assim dizer
(normalmente o meu objetivo final é a fluência). Em vez disso, eu crio projetos a (muito) curto
prazo que são realistas e que me dão uma sensação de progresso e de realização.
Isto cria pressão e uma necessidade de atingir algo tangível a curto prazo. Esta necessidade
simplesmente não está presente na maioria dos cursos de línguas. Provas e testes são modos
razoavelmente úteis de criar uma necessidade, mas a maioria dos cursos acadêmicos não estão
realmente ligados a um uso real da língua. Ótima gramática e vocabulário não significam que você
vai conseguir se comunicar, e já conheci muitas pessoas que tinham altos níveis acadêmicos em
uma língua que elas ainda não se sentiam preparadas para falar.
Embora o meu objetivo final possa ser algo do tipo “fluente em três meses”, meus objetivos a curto
prazo são coisas como “comprar um chip para celular hoje à tarde”, “aprender palavras relacionadas
à internet para poder assistir a uma palestra na Wikipedia e entender o sentido geral”, ou “ser capaz
de chegar até o meu hotel a partir do aeroporto sem usar inglês”.
Estes objetivos não requerem meses de investimento. São muito específicos e é possível se preparar
para eles em poucas horas até mesmo logo no começo do aprendizado de uma língua, usando as
técnicas que vou explicar mais tarde.
Se você atingir o seu objetivo, não importa se você tropeçar, fizer uma pausa, não entender tudo ou
mesmo frustrar a outra pessoa (coisa que aconteceu comigo só muito raramente, e que vou explicar
como evitar). Você terá atingido o que quis.

RESUMINDO:
Tenha objetivos práticos a curto prazo com relação à sua língua-alvo.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA


Você pode pensar (especialmente se você já seguiu algum curso acadêmico ou até mesmo os mais
modernos cursos com software ou online) que aprender uma língua envolve prevalentemente duas
coisas: gramática e vocabulário. Isso não é verdade.
Na minha opinião, o aspecto mais importante relacionado a ser capaz de falar uma língua é a sua
confiança na sua própria capacidade de usar a língua.
Você pode dar motivos técnicos pelos quais alemão ou chinês ou sueco ou russo ou sei lá qual é a
língua “mais difícil” do mundo, mas isso é uma perda de tempo. Não importa qual língua você está
aprendendo, ela será a língua mais difícil para você se você continuar se concentrando no que a
torna difícil. Ela será sempre tão difícil quanto você acha que ela é.
Já encontrei várias pessoas potencialmente mais “naturalmente” inteligentes do que eu, e no entanto
elas fazem pouco progresso em uma segunda língua porque a única coisa que fazem é uma lista dos
motivos que as impedem de falá-la.
Essas pessoas se concentram constantemente nestes assuntos desagradáveis, de modo que a atitude
delas com relação à língua está completamente errada. Um hacker de línguas faz exatamente o
contrário e se concentra nos pontos positivos já no início.
Para ilustrar isso, imagine:
Vou apresentar você a um amigo meu, mas antes eu vou falar um pouco sobre ele. Digo que ele
detesta crianças, não é confiável, solta gases quando está nervoso e tem uma risada muito irritante.
Tudo isso pode ser verdade, mas seria muito mau da minha parte fazer isso e arruinar a chance dele
de causar uma boa impressão inicial. Também significa que você vai ficar um pouco apreensivo e
talvez não muito interessado em conhecê-lo melhor, já que você já sabe algumas dessas coisas ruins
sobre ele.
E então eu vou para outra pessoa e falo com ela sobre esse mesmo cara – digo que ele trabalha na
NASA, que é muito gentil, tem um ótimo senso de humor, e conta muitas histórias interessantes
sobre as suas viagens pela África trabalhando em obras de beneficiência, todas coisas que também
são verdade. Neste caso, meu amigo seria muito bem recebido e faria sucesso imediatamente. No
final das contas, seus novos amigos acabariam descobrindo algumas das partes desagradáveis da sua
personalidade, mas as aceitariam como parte do pacote que essa pessoa é. Aceitariam esses defeitos
como fazem os amigos.
Por que não podemos fazer a mesma coisa com línguas?
Eu vejo uma língua como um amigo que quero conhecer melhor, em vez de um inimigo que preciso
conquistar. Encontro qualquer desculpa para fazer com que ela saia bem na foto, e defenderei a sua
honra se for insultada. Na última parte deste guia eu dou uma lista dos motivos pelos quais alguns
aspectos das línguas (vocabulário, gênero etc) são fáceis de aprender. Línguas com estas
características são minhas amigas e eu quero que você veja o lado positivo delas.
Por exemplo, se você me disser que francês é muito difícil porque tem palavras masculinas e
femininas [coisa que não existe na língua inglesa, NdT], eu vou dizer que francês é fácil porque tem
uma quantidade imensa de vocabulário parecida com o inglês, e vou responder ao seu argumento
dizendo que as terminações das palavras ajudam muito bem a lembrar o que é masculino e o que é
feminino.
Se você me disser que algumas línguas asiáticas têm regras estranhas de entonação, eu vou dizer
que essas regras não são tão ruins se você olhar para elas especificamente para ver como podem ser
fáceis. E vou continuar dizendo que (na sua maioria) elas não têm casos, gênero de palavras,
conjugações, concordância de adjetivos, ordens de palavras complicadas ou outras características
difíceis que outras línguas possuem.
E nessas outras línguas eu vou dar motivos pelos quais essas características não são tão ruins. O
que quer que seja necessário para retratar a língua na qual eu estiver atualmente interessado como
não tão difícil. Se você tirar onda com o meu amigo pelas costas dele, eu vou defendê-lo como
qualquer bom amigo faria. Se você quer que a sua língua-alvo seja sua amiga, trate-a como uma
amiga.
Esta tem sido uma das maiores razões por trás do meu sucesso em aprender línguas rapidamente, e a
maioria das pessoas que vêem a situação de fora simplesmente presumem que você é mais
inteligente do que elas, porque para você a língua é fácil. Mas essa é uma mudança de mentalidade,
e não de QI.
RESUMINDO:
Pare de pensar sobre como a sua língua-alvo é difícil! Isso não vai levar você a lugar nenhum!
Concentre-se nas coisas positivas!

MAS EU VOU COMETER ERROS!


É claro que os aspectos “difíceis” de uma língua não podem ser ignorados. É por isso que eu sugiro
olhar para eles de maneira diferente e apreciá-los.
No entanto, não importa o quanto você olhe para uma língua, leva tempo para se acostumar a
aspectos que são diferentes na sua própria língua. Isso significa que cometer erros é inevitável.
Se você aceitar isso, então nos estágios iniciais você nem vai ter que se preocupar muito sobre
aprender a parte mais difícil de uma língua. É muito melhor pegar o espírito da coisa, ou seja,
entender o jeito que a língua é usada, do que pegar o espírito da gramática.
Por exemplo, se uma pessoa que está aprendendo inglês ignorasse as diferenças entre sujeito e
objeto e dissesse “Esse telefonema é para eu” (em vez de para “mim”), eu poderia perfeitamente
desculpá-la se ela só estivesse estudando inglês há poucas semanas. Aliás, eu ficaria impressionado
com o fato da pessoa estar dizendo alguma coisa, considerando o pouco tempo investido.
Você deve se concentrar em dizer o que quer dizer e em entender a maior parte do que estão
dizendo para você.
Se o estudante acima tivesse passado meses estudando gramática primeiro e depois de seis meses
soubesse que se diz “mim” em vez de “eu”, ele não teria atingido nada de muito interessante em
termos de comunicação. Ele pode estar falando melhor, mas dizer uma frase incorreta depois de
uma semana de estudo pelo menos significa que ele está se comunicando, apesar do pouco
investimento em termos de tempo.
Afinal de contas, línguas servem para a gente se comunicar! Mesmo que você estiver estudando
para uma prova, se você não entender este tópico a língua vira uma simples lista de regras de
gramática e tabelas de vocabulário. Isso não é uma língua; uma língua é um modo de se comunicar
com as pessoas, e mesmo se você não fizer isso 100% perfeitamente no início, você com certeza vai
conseguir se comunicar.
Então, cometa erros e não se preocupe com eles! Não dá para aprender a andar com segurança sem
tropeçar algumas vezes.
Também é essencial usar os erros como oportunidade de aprender, e não como obstáculos. Eu gosto
de simplesmente “deletar” os erros da minha memória se eu tiver aprendido alguma coisa com eles,
e assim vejo o caminho que deixei para trás como nada além de progresso.
RESUMINDO:
Erros são uma parte natural do processo de aprendizado. Aceite que eles irão acontecer e saiba que
isso não impedirá você de se comunicar.

A ATITUDE CERTA
Durante meus anos de aprendizado de línguas, já encontrei muitos outros estudantes e vi alguns
deles aprenderem muito mais rápido do que eu. E eu, logicamente, aprendi muito com eles.
Infelizmente, muitas pessoas que encontrei aparentemente não estão conseguindo aprender línguas
(se não fosse assim um guia como este não precisaria ser escrito). E quer saber? Eu aprendi muito
com elas também. Aprendi exatamente como você não deve estudar uma língua.
Quer saber o que quase todas essas pessoas têm em comum? Elas se concentram nos aspectos
negativos da língua que estão aprendendo. O copo delas (ou, mais apropriadamente, a língua delas)
está meio vazio em vez de meio cheio.
Sinto muito se parece que estou simplificando demais as coisas, mas eu acredito sinceramente que
essa é uma das maiores diferenças entre estudantes de línguas que conseguem aprender e os que não
conseguem. É importante ser realista, mas os slackers de línguas [os desertores de línguas, NdT] (o
oposto dos hackers de línguas) se concentram nestes detalhes de maneira quase obsessiva.
Desertores de línguas encontram maneiras muito criativas de justificar por que o desafio de
aprender uma língua não é possível para eles. Aparecem com uma lista dos motivos que os
impedem de aprender (ou que impedem você de aprender, se eles forem “generosos” o suficiente
para compartilhar esta negatividade quando ouvirem falar do seu projeto), e quando vêem que
alguém conseguiu o que eles afirmam que é impossível, eles simplesmente dizem que a pessoa é
uma exceção ou um gênio. Isso é pura preguiça.
Quando eles fazem uma lista das diferentes partes de uma língua (os muitos casos das línguas
eslávicas, o gênero nas línguas latinas, os tons nas línguas asiáticas etc), eles sempre vão lembrar a
você o quanto essas coisas são difíceis. E quer saber? Tecnicamente eles têm razão – é realmente
preciso trabalhar duro para aprender estes aspectos com os quais você não tem intimidade, e o copo
realmente está meio vazio. Isso não está errado.
Eles podem continuar e dar evidências que provam como o processo é difícil. Por exemplo, eles
tentaram estudar uma língua na escola por mais de dez anos mas não a falam, de modo que aprender
uma língua rapidamente não é possível. Tecnicamente, eles não estão “errados”.
Mesmo se eles disserem a você que a língua que você está estudando é a “mais difícil do mundo”
eles não estão errados! Toda língua é a mais difícil do mundo se você a encarar dessa forma.
“Difícil” é relativo, como grande ou bonito, e depende do observador.
Mas usar esta lógica maluca e ficar obcecado com a dificulade do processo não vão ajudar você a
conseguir coisa nenhuma. Por isso, é lógico, a minha sugestão é a de que o seu copo esteja meio
cheio. Otimismo e uma atitude positiva são aspectos cruciais do hackeamento de línguas.
Normalmente eu não classifico os aspectos de uma língua como difíceis, eles são simplesmente
diferentes. E como uma língua é minha amiga, eu vou mais além e digo a você que língua ótima ela
é, conforme eu descrevi acima.
Você vai receber “más notícias”, e precisa aprender a filtrar essas coisas para ficar só com os fatos
essenciais, em vez das opiniões sobre o nível de dificuldade.
Por exemplo, quando eu fiquei sabendo que em tcheco existem sete casos, eu poderia ter passado o
maior tempão reclamando desses casos malditos (e já encontrei muitas pessoas que fazem isso). Só
que isso não ajuda nada! Juro a você que nem toda a reclamação do mundo vai ajudar você a falar
fluentemente. É uma pena, porque muitas pessoas são ótimas reclamadoras.
Qualquer coisa que impedir você de progredir deve ser eliminada, e ser pessimista está bem no alto
dessa lista!
No caso do tcheco, eu simplesmente pensei “então tá” e comecei a falar usando os casos errados no
início, mas estudei para melhorar, e procurei por situações-padrão para me ajudar a estudar melhor.
E quer saber? Eu superei a coisa e fui capaz de usar todos os sete casos em conversas com bastante
segurança.
Este é outro motivo pelo qual eu tendo a me concentrar muito pouco na gramática durante os
estágios iniciais. Assusta um pouco ver quantas coisas precisam ser estudadas, então eu pulo
diretamente para a fase de falar (sabendo perfeitamente bem que estou cometendo um monte de
erros), e volto para a gramática mais tarde. Quer saber o que acontece? A gramática deixa de ser um
monstro que precisa ser derrotado e se torna interessante porque eu já estou familiarizado com ela.
Tornar a gramática mais divertida do meu próprio jeito garante que, conforme eu faço progressos,
eu me sinta positivo sobre a coisa toda, o tempo todo. Esta positividade cria um efeito bola de neve
que me dá o impulso necessário para que eu continue a melhorar.
Não importa se você acha que consegue ou não consegue: você tem razão - Henry Ford

NÃO TER NASCIDO COM TALENTO NATURAL


Esta é outra mentalidade muito popular que impede as pessoas de aprender línguas: o fato de que
elas não têm jeito para a coisa, ou que não têm a sorte de ser ricas/inteligentes/livres.
É muito fácil olhar para alguém como eu, ou muitas outras pessoas que conseguiram aprender
línguas estrangeiras, e simplesmente dizer que temos um talento natural ou somos sortudos. Na
verdade, eu também fazia isso, até que passei a realmente tentar aprender uma língua. Hoje em dia
o meu conceito de sorte e talento são muito diferentes.
Você pode falar de genética e vantagens em termos de background, mas no final das contas não
importa qual desculpa você me der, alguém já superou esse problema antes de você e conseguiu
atingir os seus sonhos. A diferença é que essas pessoas tentaram muito, mas muito mesmo, ou então
descobriram maneiras inteligentes de contornar os seus problemas. A maioria dos segredos dessas
pessoas não são tão secretos, você só precisa encontrar a história delas ou descobrir o seu próprio
caminho.
Para ilustrar o que eu estou dizendo, vou contar rapidamente a história verdadeira de uma pessoa
com problemas incríveis mas que mesmo assim conseguiu aprender francês, alemão, grego e latim e
conseguir muitas outras coisas.
Ela nasceu no Alabama, nos EUA, em 1880, e estudou no Radchliffe College, a parte feminina de
Harvard. Naquela época, a maioria das mulheres dificilmente saía da sua cidade natal nem fazia
nada além de casar e ter filhos, e qualquer outra coisa provavelmente teria sido menos comum ainda
no Alabama.
Ela também escreveu um livro que foi traduzido para 25 línguas, conheceu todos os presidentes
americanos do seu tempo e ficou amiga de Alexander Graham Bell e Mark Twain.
Coisa para burro, não? É fácil pensar que ela nasceu com sorte – a maioria das pessoas nunca
conseguiria essas coisas, especialmente uma mulher da sua época. De repente ela simplesmente era
sortuda?
Não exatamente. Ela conseguiu tudo isso e muito mais apesar de ser surda e cega desde os 18
meses, e mal conseguia falar. O nome dela era Helen Keller.
Você consegue imaginar como a vida dela deve ter sido difícil? Eu definitivamente não consigo
nem começar a imaginar. A sua história mostra que em vez de ficar dizendo a si mesma que ela era
uma vítima e comentando toda hora como a vida é injusta, como muitas pessoas teriam feito no
lugar dela, ela viveu uma vida incrível e conseguiu coisas incríveis. Como todos os seres humanos,
ela deve ter tido momentos de fraqueza, mas ela continuou mesmo assim.
Não interessa o que está impedindo você de fazer progressos, você pode superar este obstáculo.
Toda vez que eu tenho dúvidas e penso que um dos meus sonhos é “impossível”, como falar uma
língua estrangeira sobre a qual eu não sei nada ou viajar com muito pouco dinheiro etc, eu penso em
pessoas como ela, que conseguiram muito mais apesar de obstáculos muito mais absurdos, e como
as minhas desculpas são patéticas em comparação. Existem centenas de exemplos, e cada problema
tem uma solução, se você for criativo o suficiente. O problema não é o problema em si, é a pessoa
que o está enfrentando e quanto ela levam a sério o objetivo de superá-lo.
Não importa qual é a sua desculpa: se você se dedicar o suficiente você vai encontrar um jeito de
superá-la.
Tudo isso faz parte da mudança de perspectiva que me ajudou a fazer tanto progresso em termos de
línguas nos últimos anos. Em vez de classificar as pessoas como sortudas ou azaradas, talentosas ou
não, você precisa ver como você pode conseguir as coisas que essas pessoas “sortudas”
conseguiram.
Às vezes as pessoas realmente têm vantagens que facilitam as coisas, mas isso é um problema
delas, não seu. Pois você tem outras vantagens que milhões de outras pessoas não têm. É possível
encontrar o seu próprio caminho para qualquer objetivo, e fluência em uma língua definitivamente é
um deles. Não existem ferraduras da sorte, alinhamento dos astros ou bruxaria nesse caso.
Mais tarde aqui no guia vou dar exemplos de sugestões para contornar problemas típicos, como não
ter tempo suficiente, participar de conversas mesmo sem falar muito etc.
No entanto, se você tiver dúvidas cruéis (é casado(a) com filhos, tem dívidas, tomou bomba em
línguas na escola etc) que na sua opinião vão dificultar as coisas, pense o quanto é provável que
outras pessoas tenham tido os mesmos problemas que você mas conseguiram resolvê-los.
RESUMINDO:
Má sorte, talento ou genes não são boas desculpas para não aprender uma língua. É possível superar
qualquer desafio para atingir o seu objetivo se você ralar o suficiente.

PARTE 2 – PLANO DE AÇÃO


MISSÃO
O meu objetivo final normalmente é fluência, ou às vezes (mais recentemente) reduzir o sotaque.
Mas, para começar, a maioria das pessoas ficaria mais do que feliz em ter como objetivos iniciais
conseguir conversar em um nível básico ou intermediário.
No entanto, não importa qual for o seu objetivo, você precisa de um plano de ação. Em vez de uma
resolução de ano novo, ou, pior ainda, um “eu gostaria” ou “eu espero”, eu tenho missões.
Isso é mais do que simplesmente usar outras palavras; uma missão é um plano de ação urgente para
atingir o seu objetivo, e o processo envolvido é completamente diferente.
Tenho certeza de que você já teve objetivos que tentou alcançar antes – parar de fumar, entrar para
uma academia, parar de ver televisão, usar as escadas em vez do elevador etc. Algumas dessas
resoluções significam uma mudança radical de hábitos e muitas pessoas não percebem o quanto isso
é difícil de manter.
Existem dicas interessantes sobre estudos de 30 dias na entrevista com Scott Young; dê uma olhada
na entrevista para ter uma outra visão sobre como quebrar tarefas aparentemente difíceis em partes
menores e mais fáceis de realizar.
O problema com um objetivo do tipo falar fluentemente em três meses, seis meses, um ano é que é
vago demais e não tem nenhuma estratégia incorporada. Já encontrei muitas pessoas cuja resolução
de ano novo era falar espanhol, francês etc e quase nunca conseguem.
Isso é porque essas pessoas não definiram “falar”, e porque o fim do ano está sempre tão longe que
elas podem continuar deixando o trabalho para “depois”. Mesmo se escolherem um prazo mais
curto, podem continuar não fazendo nada além de dizer a si mesmas que gostariam de falar a
língua.
Você precisa de uma estratégia. Este guia oferece estratégias particulares que funcionaram para
mim, mas um número imenso de estudantes de línguas usaram maneiras diferentes e muito
inteligentes (como os que eu entrevistei). O que todos nós temos em comum não é necessariamente
uma estratégia propriamente dita, mas o fato de que TEMOS estratégias. Todos nós temos um plano
e o seguimos direitinho. Até mesmo alguém com uma estratégia pouco eficiente (e vamos combinar
que nenhuma estratégia é perfeita) consegue muito mais do que alguém com ótimas ideias que
nunca são implementadas.
Se você ler esse guia inteiro e ouvir todas as entrevistas e terminar com uma ideia do que significa
aprender uma língua, vou me sentir como se nada de importante tivesse realmente acontecido. Você
tem que aplicar essas estratégias. Estou falando sério!
Nesse exato momento, faça um programa para os próximos meses e para os objetivos realistas que
você quer atingir na língua que está estudando. Você quer ser capaz de entender a maior parte do
que aparece na televisão dentro de seis meses? Escreva! Quer ser capaz de durar pelo menos 20
segundos em uma conversa com um nativo e continuar a falar com confiança? Escreva!
Eu incluí alguns exercícios nas worksheets deste guia para ajudar você, e este é uma deles. Imprima
a tarefa ou escreva à mão, mas não escreva no seu computador. Ter algo escrito em um papel na sua
escrivaninha ou no seu bolso pode ser um excelente lembrete para manter você concentrado nos
seus objetivos.
Sou totalmente a favor de tecnologia, mas ter alguma coisa no mundo físico faz toda a diferença do
mundo. Aquela folha de papel com a minha lista de objetivos que eu colei com fita adesiva na
minha mesa não vai sair dali, nem mesmo quando eu desligar o meu computador.
Se você ainda não começou a escrever, por que ainda está lendo isso aqui?
A essa altura do campeonato você já deveria ter escrito os seus objetivos! Não estou brincando;
comece agora e adicione coisas ou refine a sua lista se vir alguma coisa interessante neste guia, mas
seja bem claro com relação ao seu objetivo e use o seu plano.
Resumindo:
Nem mesmo as melhores ideias do mundo têm algum valor se não forem implementadas.

PASSOS NECESSÁRIOS
Depois que você já estiver com o seu objetivo final em mente, o melhor modo para criar uma
estratégia é quebrá-lo nas partes necessárias para alcançá-lo.
Veja o objetivo final como uma coisa definitiva. Vai acontecer e ponto final, então trabalhe de trás
para frente para ver os passos lógicos que teriam ajudado você a atingir o objetivo. Livre-se da
ideia de talvez e trabalhe duro para fazer a coisa acontecer.
Usando o exemplo que eu dei agora há pouco, se você quiser entender programas de televisão você
vai ter que garantir que escutar seja o ponto forte da sua missão. Você pode ir direto ao ponto e
começar a assistir a séries de televisão logo no início, criando uma situação do tipo matar ou morrer
(este método vem funcionando com Khatzumoto, nas entrevistas), ou talvez você prefira escutar
material preparado para quem está aprendendo a língua, para tornar o início mais fácil e se
acostumar com um falar mais lento (eu pessoalmente misturo as duas técnicas, o que não significa
absolutamente que este seja o método “melhor”, só que para mim é o mais agradável). Cada uma
destas abordagens tem suas próprias vantagens e razões, mas o que é importante é que você esteja
verdadeiramente dedicado a ela.
Para a abordagem mais “hardcore”, você vai precisar dedicar um pouco de tempo todos os dias para
se expôr à língua o mais que puder, e se certificar de estar fazendo alguma coisa ativamente para
aumentar a sua compreensão. Baixe ou grave os programas de televisão de modo que estejam
sempre prontos para assistir, assim você não vai ter a desculpa de perder um episódio.
Para a abordagem gradual, você tem que ter o seu material preparado e se dedicar mais ainda para
ter certeza de que pode estudá-lo rapidamente. Arquivos de áudio básicos e falados muito
lentamente não ajudam muito a entender diálogos reais e naturais, mas quando a dificuldade é
aumentada gradualmente mas rapidamente eles podem ajudar muito. Você pode reduzir o tempo
total fazendo isso de maneira intensiva (já que o que você está fazendo é mais fácil) de modo que
você possa começar a praticar o seu objetivo final (ver televisão) muito antes do seu prazo.
Este é só um exemplo; qualquer que seja o seu objetivo final, divida-o nos passos necessários para
que você saiba que vai fazer progressos todos os dias.
Quando você tiver um certo tempo reservado todos os dias, você poderá passar para o próximo
passo, os MINIOBJETIVOS.

MINIOBJETIVOS
Um miniobjetivo é um alvo que você pode atingir em uma sessão.
O problema com ter como alvo falar bem algum dia, ou até mesmo daqui a um ano, é que estes
prazos estão distantes demais para serem sentidos como reais, e portanto podem facilmente ser
ignorados. Você precisa de prazos, mesmo que eles só estejam dentro da sua própria cabeça. E os
melhores prazos são os iminentes. É difícil ser mais próximo que HOJE.
Em vez de ter como objetivo um dia ter um vocabulário amplo, aprenda todas as palavras relativas
ao corpo humano (por exemplo) dentro de 30 minutos. O que vem funcionando muito bem para
mim é usar um contador bem visível – quando estou trabalhando no computador, 25% da minha tela
são ocupados pela contagem regressiva digital, com os segundos piscando constantemente para
mim, para eu não esquecer!
Em vez de ter como objetivo eliminar o seu sotaque, trabalhe em como pronunciar o “r” direito
durante os próximos três dias, estudando as posições da língua, repetindo vídeos de prática no
YouTube e pedindo a nativos para corrigir você (pessoalmente ou usando o Skype).
Todas estas partes funcionam juntas para você atingir o seu objetivo final, e são muito possíveis de
atingir se você conseguir dar essa dedicação a curto prazo. É fácil simplesmente dizer que algumas
pessoas são gênios para línguas, quando o que elas fazem na verdade é uma grande quantidade
destas tarefas fáceis. Quando colocados juntos, todos os MINIOBJETIVOS funcionam para chegar
ao objetivo final quando são programados corretamente, mas cada tarefa individualmente é
perfeitamente possível de ser atingida por qualquer um.
Com uma estratégia muito eficiente e dedicação genuína ao projeto, as suas esperanças se tornam
uma missão.
RESUMINDO:
Divida os seus planos mensais/semanais em pedaços menores que podem ser atingidos
imediatamente.

DEFININDO OS SEUS ALVOS


Um dos aspectos mais importantes da sua missão é ser muito específico com relação ao seu
objetivo. Você quer entender o que escuta no rádio? Não é suficiente – diga que você quer entender
pelo menos metade do que está sendo dito e conseguir explicar o que ouviu para alguém depois.
Talvez você quer conseguir se virar durante a sua primeira semana em um país? É um bom alvo,
mas, novamente, é vago demais para ser um objetivo verdadeiro. Seja específico! Você
especificamente quer saber dizer as frases para pedir direções, pedir comida em um restaurante etc,
entender várias respostas, conseguir lembrar de palavras básicas, ou o que quer que seja que você
estiver planejando.
Se você não conseguir descrever o seu alvo em detalhes, ele não é um alvo – não é nada mais do
que uma ideia nebulosa e que não vai ajudar você se você quiser um plano de ação para alcançá-lo.
Ter uma resposta curta é ótimo, mas você precisa saber o que isso significa para você mesmo. Por
exemplo, o meu objetivo tende a ser fluência. Esta é a resposta rápida que eu dou às pessoas. No
entanto, eu tenho uma definição muito específica deste termo para mim mesmo e tento fazer com
que outras pessoas também o façam, pelo menos para elas mesmas.
Se o seu objetivo também for atingir a fluência, você pode cair na armadilha que pega muita gente:
imaginar que fluência é igual a perfeição. Tentar falar perfeitamente é um erro, porque pela própria
natureza do termo você nunca vai conseguir alcançá-la. É desencorajador e não ajuda nada ter um
alvo tão vago e grande que você simplesmente jamais vai atingir.
Então, o que significa fluência para mim? É claro, pessoas diferentes definem esta palavra de
maneiras diferentes. Mas até onde eu sei, fluência não significa falar perfeitamente, falar como um
nativo nem conseguir falar sobre qualquer assunto na sua língua-alvo.
Eu não sou capaz de falar sobre “qualquer assunto” em inglês, então você pode apostar que o meu
objetivo não é falar sobre qualquer assunto em outras línguas. Seria ótimo, mas é pouco realista e
desnecessário. Se um grupo de meninas começar a falar sobre sapatos ou um grupo de arquitetos
conversar sobre edifícios de estilo barroco, ambos os grupos vão usar palavras que eu não conheço
(nomes de marcas e terminologia técnica), e apesar disso eu posso dizer que sou um falante nativo
de inglês. Também admito que se não fosse o corretor gramatical automático, este documento
estaria cheio de erros. Se a perfeição não é possível nem para nativos, por que então seria um alvo
possível para nós, humildes estudantes?
Para mim, “fluente” pode ser dividido em várias partes até chegar em coisas nas quais eu posso
mirar. Começando pela definição oficial (gosto de usar o dicionário Oxford English):
1 falar ou escrever de maneira articulada e natural.
2 (diz-se de uma língua) usada com facilidade e precisão.
Como você pode ver, isso não envolve nenhuma perfeição ou equivalência a falantes nativos.
Usada com facilidade e precisão é algo que nós pobres humanos podemos realmente atingir.
Para ser ainda mais específico, eu considero que estou falando uma língua fluentemente se
conseguir me fazer entender sem cometer muitos erros (mas mesmo assim cometendo erros),
entender quase tudo o que me dizem em uma conversa normal, e seguir falantes nativos que
conversam entre si se não estiverem falando sobre assuntos muito específicos que eu normalmente
não falaria na minha própria língua.
Para mim, fluência é, talvez, 90-95% de “perfeição”, um nível excelente a ser alcançado e do qual
pode-se ter muito orgulho. Estes 5-10% a mais não são necessários para a maioria das pessoas,
especialmente a curto prazo. Meu objetivo é reduzir este percentual o mais que puder a longo prazo,
mas em menos de um ano 90% de perfeição é perfeitamente atingível se você se dedicar o
suficiente.
Se você conseguir se dedicar ao seu projeto linguístico em tempo integral, isso pode ser obtido em
poucos meses.
É por isso que quando você estiver definindo os seus objetivos de aprendizado, você tem que ser o
mais específico possível: número de meses, exatamente o que significa conversação
básica/intermediária/fluente para você, número de segundos durante os quais você pretende ser
capaz de conversar com alguém sem ter que perguntar o significado de uma palavra – não importa
qual for o seu objetivo, defina-o.
Se você simplesmente tentar aprender uma língua sem saber exatamente para onde está indo e no
que deve se concentrar (falar? entender? ler? ter confiança para falar?), vai ser muito difícil chegar
lá. “Falar a língua x bem” não é um objetivo e não possibilita a criação de um plano de ação. Com
um destino na cabeça você pode conseguir traçar um caminho para chegar até lá e se concentrar em
uma boa estratégia para ter certeza de que irá conseguir.
Então qual é o seu verdadeiro objetivo? A Worksheet 2 requer uma definição precisa. Escreva o
máximo que puder!
FAZENDO UM DIÁRIO LINGUÍSTICO
Muito do que eu digo neste guia se baseia em mais de sete anos de aprendizado aplicado de línguas,
mas há algumas coisas que eu aprendi até mesmo no ano passado.
Uma delas é que é muito mais fácil ter sucesso se você mantiver um diário linguístico. Ele vai
servir para documentar o seu progresso em uma língua e compartilhar as suas dificuldades com
outros que estão passando pelos mesmos problemas. Quando você enfrenta a sua jornada sozinho, é
muito mais fácil perder o objetivo de vista e até mesmo a motivação.
“Falar em público” sobre a sua missão vai dar aquele pouquinho de pressão a mais, se você blogar
sobre o assunto. Se muitas pessoas acabarem começando a ler o seu blog, a sua estratégia vai
ganhar uma outra dimensão pois você sempre vai ter alguma coisa nova para postar quando
atualizar o blog.
Repetindo: simplesmente ler este guia e ouvir os arquivos de áudio não vão levar você muito longe
a não ser que você aplique o que foi sugerido. É por isso que vou sugerir novamente que você
comece agora mesmo um diário linguístico (ou seja, um blog). Vá até http://www.wordpress.com ,
clique em “sign up now” para abrir uma conta grátis, pense em um nome interessante para o blog
(baseado nos objetivos linguísticos – este espaço não vai servir para compartilhar vídeos de
gatinhos no YouTube!) e quando entrar na tela principal do painel de controle, depois do log in,
escreva um “post novo” para que o seu post de introdução seja semelhante à resposta que você deu
na worksheet que define o seu objetivo. Tudo isso pode ser feito em alguns minutos.
Se privacidade for um problema para você, então comece um diário escrito ou crie um novo
documento de Word para registrar a sua jornada, mas se comprometa a atualizá-lo de maneira
consistente. O maior problema com este tipo de procedimento, no entanto, é a falta de feedback e de
possível encorajamento, coisas que você consegue com um blog. Para conseguir que mais pessoas
leiam o que você escreve, poste coisas interessantes que você for descobrindo conforme aprende a
sua língua-alvo, e que possam ajudar os outros. Basicamente é isso o que eu venho fazendo para
conseguir que outras pessoas me ajudem com as minhas tarefas difíceis. Se não fosse pelo meu
blog, eu não teria conseguido fazer tantos progressos no ano passado.
Antes do ano passado eu até fiz bom progresso, mas às vezes eu me dedicava menos porque ficava
com preguiça. Agora, quando tenho a tentação de tirar uma semana de férias, eu lembro que a
minha grande atualização mensal está a poucos dias de distância e eu tenho que ter alguma coisa
para mostrar! Também mencionei dificuldades particulares que venho tendo e obtive respostas
fantásticas e vários links para ótimos recursos que fizeram com que eu aprendesse muito mais
rapidamente e com mais eficiência.
O número de leitores não importa. Nas primeiras semanas só umas poucas dúzias de pessoas liam o
meu blog, e já era o suficiente para eu não querer desapontá-las. Como você consegue que outras
pessoas leiam o seu blog? Comente no blog delas. Isto também tem a vantagem de expor você à
história de outras pessoas.
Não se preocupe em “escrever bem” – simplesmente escreva do jeito que você fala. Eu poderia ter
começado o meu blog anos atrás, mas não o fiz porque eu ficava pensando em como a minha nota
baixa em inglês onze anos atrás afetava o jeito com o qual eu me exprimo hoje.
Então, o seu diário linguístico está pronto? Você já escreveu o seu primeiro post? Não? Tudo bem,
eu espero...
...
Ainda estou esperando. Não se preocupe, eu não vou a lugar nenhum! Minimize esta janela ou
coloque o documento impresso de lado e vá para o seu computador, entre no link acima ou em
qualquer outro para começar o seu diário linguístico, e escreva o primeiro post.
Pronto? Ótimo!
Com atitude positiva, um plano de ação e uma plataforma para fazer um diário do seu progresso,
você está completamente pronto para começar.
Chega dessa conversa motivacional. Está na hora de começar a entrar realmente de cabeça na
língua! Na próxima parte vou explicar por que e como você pode falar uma língua a partir do
primeiro dia.

PARTE 3: COMUNICANDO-SE A PARTIR DO PRIMEIRO DIA

Quando estarei pronto para falar a língua?


Muitas das coisas que eu descobri e que estou compartilhando com vocês neste guia na verdade são
simplesmente “bom senso” originário das perspectivas de muitos estudantes de línguas.
Conversando com outros estudantes de línguas experientes (escute as entrevistas com alguns
poliglotas famosos que vêm com o guia para confirmar), vi que algumas das coisas sobre as quais
eu vivo falando, como atitude positiva, certas técnicas de estudo etc, são comuns a muitos
estudantes de línguas eficientes.
No entanto, pode ser que nós discordemos sobre alguns assuntos, e um deles é quando você deve
começar a falar. Outras pessoas obtiveram sucesso ao aprender línguas esperando antes de falar,
mas até onde eu sei a maioria dessas pessoas fizeram progressos mais lentos do que eu faria
justamente por causa disso. Um dos meus entrevistados, Moses McCormick, também teve sucesso
no seu aprendizado falando logo no primeiro dia.
O problema está associado à sensação de sentir pronto. Faz sentido pensar que enquanto você não
tiver um vocabulário básico suficiente e pelo menos uma noção rudimentar da gramática e uma
compreensão mínima das respostas, você simplesmente não vai estar pronto para falar a língua.
Tá bom... mas mesmo quando você tiver tudo isso, ainda vai precisar de um ajuste fino para se
livrar dos erros gramaticais e aprender expressões idiomáticas, gírias e melhorar o seu sotaque.
Então é melhor esperar até que tudo isso esteja presente para que você esteja pronto?
Talvez... Mas aí você ainda não vai ter a capacidade ideal de escrever formalmente e usar as
palavras exatas, e também existem referências culturais como programas de televisão e música que
você ainda não vai conhecer.
Está vendo aonde eu quero chegar? Com a quantidade certa de lógica você nunca vai estar pronto
para falar. A coisa mais triste é que muitas pessoas que eu encontro estão enquadradas nessa
maneira de pensar. Posso honestamente dizer que já encontrei pessoas com um conhecimento muito
maior do que o meu sobre como uma língua em particular funciona, e no entanto eu falo mais e
melhor do que elas.
A ideia de perfeccionismo que eu mencionei antes não ajuda nada porque você nunca vai conseguir
alcançá-la. Você nunca vai estar cem por cento pronto para falar uma língua.
Quando eu pergunto a estes outros estudantes quando exatamente eles estarão prontos, recebo
respostas pouco satisfatórias e muito vagas, do tipo “você vai saber quando estiver”, e eu acho que
isso encoraja as pessoas a esperar mais ainda.
Então, se você ainda não tiver percebido, eu acho que você está pronto para falar a língua A
PARTIR DO PRIMEIRO DIA. É por isso que eu sempre consegui aprender a falar línguas mais
rapidamente – porque eu começo a falá-la mais cedo.
Na minha opinião, isso não é nada além de matemática pura. Se você falar mais, então mesmo
considerando o mesmo período de tempo você vai melhorar as suas capacidades de conversação
mais do que os outros, simplesmente porque você está praticando mais.
Uma crítica contra esta abordagem é a “fossilização” dos erros. Já que você logicamente vai
cometer muitos erros, existe uma preocupação de que você simplesmente nunca venha a
desaprender estes erros e fique falando errado para sempre. Eu acho que isso é uma simplificação
imensa do quanto as pessoas são inteligentes.
Realmente é mais difícil se acostumar a dizer certas partes de uma língua de maneira diferente
quando você está habituado a dizê-las de um certo modo – e esta é a maior vantagem que eu vejo do
método de esperar antes de falar, já que você vai se acostumar a falar corretamente a partir do
primeiro dia em que começar a falar.
Apesar disso, ter maior dificuldade em se livrar destes erros mais do que compensa a velocidade em
que você vai realmente ser capaz de se comunicar.
RESUMINDO:
Livre-se do conceito de “pronto” e comece a falar imediatamente.

UMA LÍNGUA É MAIS DO QUE INPUT E OUTPUT


É muito importante entender que se comunicar é o objetivo de falar uma língua! Não é impressionar
pessoas com a sua tabela de conjugações memorizada, nem usar a palavra certa quando outra
conseguiria mandar a mesma mensagem, não é nem pensar que se expor a uma língua por tempo
suficiente significa que você acabará falando. Se você quiser ser capaz de falar uma língua, então
você precisa se concentrar no motivo pelo qual a língua existe.
Uma língua existe para se comunicar.
Isto leva à seguinte pergunta: como você pode falar se não souber nada?
Existe uma teoria que diz que é possível reduzir qualquer sistema complexo a inputs e outputs – eu
fazia isso o tempo todo quando era engenheiro para ilustrar representações de aparelhos eletrônicos.
Fico surpreso ao ver que algumas pessoas fazem isso com humanos que estão aprendendo línguas.
Aparentemente elas representam o inteiro processo conforme o esquema abaixo, o que para mim é
uma simplificação ridícula da realidade:

1.Pegue um ser humano com zero capacidade de se comunicar na língua estrangeira.


2.Adicione input a este humano sob a forma de vocabulário e gramática, ou então grandes
quantidades de exposição passiva à língua estrangeira, para prepará-lo.
3.Repita o passo 2 por muito tempo (anos ou décadas).
4.“Um dia” este humano será capaz de falar em um um nível satisfatório.
A tentação de acreditar nisso é muito grande, já que para muitas pessoas esta é a maneira sensata de
encarar o aprendizado de uma língua. Você simplesmente não consegue dizer nada se nunca tiver
ouvido antes. Você precisa de input para ser capaz de produzir output. Você não vai conseguir falar
logo no começo porque há tantas coisas que você ainda não aprendeu.
De acordo com essa lógica, se alguém conseguir falar uma língua na primeira semana de
aprendizado, essa pessoa só pode ser um gênio ou ter alguma fórmula mágica para conseguir
adquirir todo o vocabulário e a gramática dos quais ela precisa em uma velocidade surreal.
Eu não tenho a tal fórmula mágica e não sou um gênio. Posso garantir que depois da minha primeira
semana eu ainda não sei uma IMENSA quantidade das coisas cruciais necessárias para falar uma
língua direito. Mesmo assim, eu consegui me comunicar quase inteiramente na tal língua várias
vezes.
É por isso que eu não vejo o sistema conforme a representação acima. Eu não sou uma caixa
esperando a entrada de input para que eu possa produzir output. Não sou simplesmente “humano
sem língua X”, e você também não é.
Você já tem uma vantagem inicial. É impossível começar a aprender uma língua “a partir do zero”.
Às vezes, os motivos pelos quais você consegue se comunicar mais rápido são muito óbvios.
Falantes de inglês reconhecem muitas palavras em muitas outras línguas (coisa que vou explicar
melhor na última parte do guia) e existem semelhanças entre muitas outras línguas.
Foi mais fácil para mim falar italiano logo na minha primeira semana na Itália porque eu já falava
espanhol, que é bem parecido. Foi mais fácil para mim começar a falar alemão porque eu já tinha
estudado um pouco na escola.
No entanto, houve outras ocasiões nas quais eu não tinha absolutamente nenhuma familiaridade
com a língua e mesmo assim fui capaz de me comunicar muito nos estágios iniciais.
Por exemplo, na minha primeira semana em Praga eu consegui fazer quase tudo do que eu precisava
em tcheco, sem nenhum estudo anterior. Depois de umas poucas semanas de estudos “light” de
tailandês, o fim de semana em que eu realmente tentei falar não foi tão ruim e consegui fazer muitas
coisas básicas usando a língua, embora eu só estivesse tentando falar há um ou dois dias. Consegui
fazer isso não me concentrando no que eu não sabia, mas sim (conforme já mencionei na primeira
seção) nas coisas que eu sabia. Antes mesmo de começar eu já tenho muito mais “input” esperando
dentro de mim do que a descrição acima sugere.
Nesta seção eu vou dar várias ideias para mostrar a você que você realmente pode se comunicar
muito eficazmente já na sua primeira semana de aprendizado de uma língua!

COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL
Quando alguém diz que deveríamos aprender línguas como os bebês, devido ao processo mais
natural envolvido, eu costumo concordar, e a maior parte deste guia promove este tipo de processo.
No entanto, existe uma diferença imensa entre adultos e bebês – adultos já sabem como se
comunicar com os outros. A imensa maioria destes meios de comunicação são internacionais e são
não-verbais.
Você simplesmente não deve subestimar a importância dos métodos de comunicação não-verbal que
você já aprendeu até agora como ajuda para facilitar os estágios iniciais de aprendizado de uma
língua com a qual você não está familiarizado.
Um estudo da UCLA sugere que até 93% da comunicação usada para expressar sentimentos e
atitudes, por exemplo, são determinados por “deixas” não-verbais. Mais especificamente, sete por
cento são determinados pelas palavras usadas, 38% pela qualidade, entonação e volume da voz e
55% por comunicação não-verbal.
É difícil ser tão precisos, mas cerca de sete por cento da comunicação sendo representados pelas
palavras que usamos é muito, muito pouco. É claro que sete por cento às vezes constituem a maioria
da parte essencial da comunicação, mas tenho certeza de que sou tão “fluente” quanto possível nos
outros 93 por centro para garantir que tenho uma vantagem. Esta estatística é específica para a
expressão de sentimentos e atitudes, mas muitos outros aspectos da comunicação em teoria seguem
padrões semelhantes.
Esta vantagem é o segredo para aprender línguas muito mais rapidamente, na minha opinião. É
olhar para além da trajetória até a fluência, e especialmente é ter a capacidade inicial de falar como
simplesmente adquirir vocabulário, gramática e exposição a uma língua. Peço desculpas pelos
floreios (só um minutinho que vou ali abraçar uma árvore... Pronto, voltei!) mas esta vantagem é o
aspecto humano das línguas que é largamente ignorado pela maioria das pessoas, que vêem a coisa
de uma maneira quase robótica, “input x output”.
Isto não significa que eu faço mímica e dancinhas para mostrar o que quero dizer, mas sim que sou
capaz de exprimir o que eu preciso dizer quase sem nunca precisar usar inglês, já no primeiro dia
em que eu tento falar uma língua. Na próxima seção vou dar vários exemplos para ilustrar isso.
Mas primeiro tente imaginar o que eu posso estar querendo dizer com comunicação não-verbal. A
coisa mais óbvia é, é claro, se exprimir com o seu corpo. Você não conhece a palavra que significa
“beber”? Faça o gesto de beber um copo invisível de água ou cerveja. Quer mostrar que você não
gosta de alguma coisa? Faça uma careta e vire o rosto para o outro lado fazendo cara de nojo. Em
particular, este último exemplo é internacional, pois é assim que os bebês normalmente reagem de
maneira instintiva.
Sim, eu sei que existem exemplos de sinais que não são internacionais – mexer a cabeça para cima e
para baixo é o equivalente de fazer não com a cabeça nos Balcãs, o polegar levantado quer dizer o
mesmo que o terceiro dedo levantado em alguns países etc, mas a imensa maioria da comunicação
não-verbal é comum a todas as culturas.
Tenho certeza de que algumas pessoas irão responder me dando uma lista com mais exemplos, mas
esta atitude ainda faz parte da modalidade do copo meio-vazio que eu mencionei na primeira seção.
É claro que há diferenças, mas a grande maioria é igual.
Linguagem corporal, postura, olhares, expressões faciais, gestos, toques (ombros, mãos, tapinhas
nas costas etc), mudar o tom e o volume das palavras que você está dizendo – existem zilhões de
maneiras que podemos usar para nos comunicar que não dependem das palavras que utilizamos.
Um sorriso para quebrar o gelo inicial, um latido para mostrar que você está falando de um
cachorro, a testa franzida e uma expressão de desconforto enquanto aponta para uma parte do corpo
para indicar que está sentindo dor – você não precisa de palavras para nada disso.
Não estou dizendo que estes métodos são flexíveis o suficiente para substituir a comunicação verbal
real, mas é importante notar que você não está começando do zero. Você não é uma caixa esperando
para receber input. Você é um ser humano, já capaz de se comunicar de muitas maneiras, e só
precisa refinar a maneira de fazer isso melhor na cultura ou língua em questão.
Está na hora de dar alguns exemplos!
COMO SE COMUNICAR COM NATIVOS TENDO APRENDIDO MUITO
POUCO
“Tá bom, chega de teoria!”, estou ouvindo você exclamar! Está na hora de mostrar o que eu quero
dizer.
Antes de começar a decorar qualquer coisa, normalmente carrego um frasário no meu bolso durante
as primeiras semanas em um determinado país. Isto permite que eu procure o que quero dizer e
repita para mim mesmo antes de dizer. (“Como eu faço para chegar até... ?”, “Quero um.... por
favor” etc). Vou dar mais detalhes sobre como eu guardo na memória por mais tempo estas frases
pouco familiares na seção Recursos.
Isto não faz parte de input ou output, já que você está basicamente só lendo em voz alta o que o seu
livro diz sem necessariamente entender a estrutura da frase e as palavras principais. Desde que você
ler direito a fonética sugerida ou tiver uma compreensão básica de tons (para línguas não-
europeias), você vai conseguir dizer algo que de alguma maneira lembra o que você quer dizer para
o nativo.
Com um frasário detalhado e um dicionário (ou uma app no seu smartphone), se você procurar a
frase antes de dizê-la, há uma imensa quantidade de coisas que você conseguirá comunicar desta
forma, especialmente se você aceitar o fato de que estará cometendo erros e de que terá que se
limitar a usar algumas poucas palavras isoladas.
É claro que isso não funciona a longo prazo, mas é um dos aspectos principais que permitem que eu
“entre” no clima de falar uma língua imediatamente. Pode ser artificial, mas estou me comunicando
inteiramente usando este “truque”. Eu também procuro palavras ou frases que eu provavelmente
vou ouvir como resposta para garantir que vou entender a resposta que vão me dar. É claro que você
não vai conseguir conversar desta maneira, mas você definitivamente vai conseguir se virar, e isso
já é uma grande coisa para o primeiro dia.
No meu primeiro dia em qualquer país, eu consigo fazer todas as coisas essenciais que quiser
usando um frasário e um dicionário razoavelmente bom para ajudar com as palavras que eu não
encontrar no frasário. Não vou ter frases completas, mas vou conseguir exprimir todas as
informações básicas e cruciais usando estes livros como muletas temporárias. Se você precisar fazer
algumas perguntas, tente memorizar as frases (vou falar mais sobre este assunto mais tarde).
Este exemplo mostra que você pode realmente se comunicar (embora de maneira muito limitada) na
língua sem um input concentrado. O seu input vira output imediatamente. Você pode fazer isso até
um certo nível em muitas línguas, especialmente as línguas mais próximas da sua.
As línguas europeias, que não têm tons distintivos para as palavras, tornam isto supersimples. Você
pode fazer qualquer pergunta imaginável, armado somente com uma transcrição para saber como a
frase deve ser lida em voz alta (que é como a maioria dos frasários funciona). Você não vai soar
elegante e o seu sotaque vai ser bem óbvio, mas você vai estar se comunicando.
Se você não consegue a “perfeição” nem depois de 30 anos de estudos, então por que vai precisar
dela no seu primeiro dia?
Os próximos exemplos mostram a importância do contexto e da extrapolação. Não necessariamente
formas de comunicação, mas aspectos cruciais dos mecanismos que se passam na sua cabeça nos
bastidores da comunicação, independentemente de “quanto” da língua você aprendeu. Pensar só um
pouquinho já me ajudou muitas vezes mais do que aprender tabelas de casos nominativos,
acusativos ou dativos.
No meu primeiro dia em Berlim, ainda lutando para transformar o meu nível de aprendizado escolar
em algo útil, eu queria comprar um chip para o meu iPhone. Eu queria ter certeza de que a rede 3G
estava funcionando antes de sair da loja, de modo que o funcionário me deu instruções sobre como
configurar o telefone.
Esta conversa estava muito além do que a maioria das pessoas estariam dispostas a encarar, no meu
nível. Com certeza o que eu mencionei antes, ou seja, perguntas básicas e respostas básicas, seria o
melhor que eu poderia esperar?
É claro que não! Isto seria ignorar a inteligência básica, adulta que todos nós temos.
Ele disse um monte de palavras que eu simplesmente não entendi e depois falou “... Netzwerk,
Mobiles Datennetzwerk”. Familiarizado com a interface do meu iPhone, estes termos me pareceram
muito parecidos com “...Network, Cellular Data Network” (“Rede, Rede de Dados”), e eu sabia que
para chegar até este menu eu precisava ir para “Settings, General” [Configuração, Geral] antes. Ele
provavelmente tinha dito estas palavras antes, mas não entendê-las não me impediu de fazer o que
ele estava pedindo que eu fizesse.
O objetivo deste exemplo não é mostrar que “Netzwerk” parece com “network”, mas que eu
extrapolei o significado de palavras que eu não entendia me baseando no contexto. É claro,
conhecer o menu do iPhone ajuda, mas a maioria das coisas sobre as quais você fala são coisas com
as quais você está familiarizado de alguma forma. Mesmo se você não reconhecer um vocabulário
específico, muitas vezes a própria situação vai mostrar a você a direção certa. Neste caso, entender
só 20% da informação pode levar você a extrapolar 100% do significado!
Estes são só exemplos curtos – na verdade existem milhares de outros.
Observar a linguagem corporal, por exemplo, me ajudou a me integrar rapidamente em outros
países, e em muitos lugares da Europa (onde a cor da pele não me identifica como estrangeiro), as
pessoas acham que eu sou local por causa das roupas que eu uso, da minha postura, da expressão no
meu rosto, do volume e do tom das palavras que eu digo etc, coisas nas quais muitos outros expats
nunca tentaram se concentrar e que no final das contas sempre os identificam como estrangeiros.
É claro que depois que eu começar a falar mais do que uma ou duas palavras tudo isso muda, mas já
houve casos em que eu cruzava com pessoas no prédio onde estava morando e dizia só bom dia (de
alguma maneira dizendo estas duas palavras sem um sotaque muito óbvio) e essas pessoas
passavam semanas pensando que eu era do mesmo país.
Esta coisa de agir como um local é uma forma de comunicação em si, e termina encorajando a
pessoa a falar comigo na sua própria língua, embora eu a fale muito menos do que elas falam a
minha língua, inglês.
Estas habilidades são mais difíceis de descrever, e vêm simplesmente do fato de prestar mais
atenção às fontes oblíquas de informações em vez de nos concentrar totalmente na compreensão das
palavras propriamente ditas.
Em vez de sugerir que você vá aprender estas coisas, fique feliz de me ouvir dizer que você já as
sabe! Mesmo quando você está falando com outra pessoa no telefone na sua própria língua e a
linha é barulhenta, de baixa qualidade, impedindo que você não entenda algumas partes da
conversa, você consegue ter certeza do que a pessoa está dizendo.
Em particular, isto acontece com palavras “preenchedoras” que não adicionam informações novas,
como tipo, sabe como é, por favor etc. De fato, mais tarde vamos usar estas palavras (veja
Conectores de Conversação). No entanto, se você não ouvir ou entender estas palavras, você não
vai estar perdendo nenhuma informação essencial.
Outra situação que ilustra isso: você já tentou ver um filme ou falar com alguém na sua língua mas
em outro dialeto ou sotaque? Já houve casos em que eu vi filmes americanos ou até mesmo algum
episódio dos Simpsons e me deparei com palavras ou expressões que eu simplesmente ainda não
conhecia.
Você acha que eu apertei a pausa e fui pesquisar o termo, e não continuei a assistir enquanto não
sabia exatamente o que significava? É claro que não – na maioria das vezes eu consegui entender o
significado a partir do contexto. Quando eu fui aos EUA pela primeira vez, ouvi muitas palavras e
expressões novas que eu nunca tinha encontrado antes, mas elas apareciam entre tantas camadas de
contexto que o seu significado era bem óbvio. Eu nunca estudei formalmente nenhuma destas
palavras, mas o contexto me ensinou o suficiente para que eu não tivesse praticamente nenhuma
dificuldade em falar com as pessoas de um outro país.
Na verdade, na minha infância eu aprendi a maior parte do meu vocabulário de inglês a partir do
contexto. De vez em quando havia brincadeiras para aprender os nomes dos animais etc, mas a
imensa maioria da minha língua-mãe foi adquirida a partir do seu uso no contexto em vez de a partir
de uma lista de palavras com as suas definições e explicações.
Neste caso é fácil, pois eu já conheço a língua, mas o mesmo princípio também se aplica a línguas
estrangeiras.
Mais um exemplo: em muitos países, fazendo compras no supermercado e talvez esperando só
ouvir o preço total das minhas compras quando vou pagar, frequentemente me fazem alguma
pergunta que eu não entendo completamente.
Supermercados no mundo inteiro aparentemente têm cartões de descontos, e normalmente eu não os
faço. Mas muitas vezes eles perguntam se você tem o tal cartão, e isso é muito comum em muitos
países. Nos estágios iniciais, no máximo eu entendo “... você tem... cartão...” e percebo, a partir do
tom da frase (que é parecido na maioria das línguas europeias), que se trata de uma pergunta.
Como a situação normalmente não requer que eu tenha nenhum outro cartão (é lógico que não
posso ter um cartão de descontos para idosos, também não se trata de cartão de crédito porque estou
pagando em dinheiro etc), posso praticamente com certeza extrapolar que estão falando do tal
cartão do supermercado. A situação me diz quais palavras estão sendo ditas, mesmo quando eu não
entendo as palavras propriamente ditas.
De modo que, sim, é possível entender mais do que você imagina, e dizer mais do que você pensa,
mesmo que você esteja aprendendo a língua só há poucos dias.
Desta maneira eu posso fazer uma das sugestões mais importantes de todas para aqueles que
querem seriamente fazer progressos rapidamente: imersão – o mais cedo possível e não importando
onde você está, e vou falar disso na próxima sessão.
RESUMINDO: A comunicação se baseia em muitas coisas: linguagem corporal, tom e volume da
voz, extrapolação, dizer palavras ou expressões que você pode não compreender completamente e
contexto. Estas modalidades não-verbais de comunicação podem ajudar você a falar a língua com
nativos mesmo quando você só tiver aprendido um pouquinho dela.

IMERSÃO EM CASA/ NO PAÍS


Antes de entrar no assunto imersão, tenho que ressaltar que eu não estou necessariamente falando
de voar para um determinado país. É possível fazer uma imersão dedicada (embora em tempo
parcial) no seu próprio país de origem. A história de Khatzumoto aprendendo japonês em nível
profissional em só um ano e meio e antes mesmo de ir ao Japão (veja as entrevistas) é um dos
muitos exemplos de sucesso deste método.
Eu prefiro pensar em imersão da mesma forma com que penso em fluência. O nível envolvido em
ambas depende especificamente da sua definição, e é melhor pensar em ambas essas coisas
baseando-se nos seus equivalentes metafóricos. Fluência é como um rio que flui. Não
necessariamente (na verdade quase nunca) se trata de água pura, e às vezes ele forma meandros em
torno do relevo em vez de se mover em uma linha reta. Da mesma forma, falar fluentemente não
significa perfeição.
A imersão é a mesma coisa – quando você se imerge em água você pode ficar totalmente imerso e
passar praticamente o dia inteiro embaixo d’água (presumivelmente com aparelhos de mergulho
para respirar) ou você pode se jogar na água, nadar um pouco no fundo e depois subir de novo para
respirar. Você também esteve imerso desse jeito.
Infelizmente, o que muitas pessoas fazem (em termos de línguas) é molhar o pezinho na água,
decidir que está um pouco fria demais e voltar no dia seguinte e repetir a operação. Elas acham que
entrar na água muito lentamente vai ajudar seu corpo a se acostumar melhor.
É só água, você não vai se machucar! Pule logo! Molhar o pé na água não vai ajudar você a nadar, e
estudar um pouquinho de gramática de vez em quando não vai ajudar você a falar de verdade.
Continuando com a metáfora, ir ao país onde se fala a língua simplesmente não é suficiente. Já
cansei de ver expats que moram em outro país há anos e ainda falam pateticamente pouco a língua
local. É como viver em um submarino com ar condicionado e achar que você está tendo a mesma
experiência de um mergulhador. Tecnicamente você está no fundo do mar, mas não está se
molhando nem um pouquinho.
A imersão depende pouco da sua localização geográfica e muito mais do seu nível de dedicação.
Você tem que dedicar o máximo de tempo possível ao seu projeto. Se não fizer assim, você
simplesmente não vai estar se dedicando o suficiente.
Não estou dizendo que você tem que dedicar todo o seu tempo – se não estiver no exterior, você vai
ter que trabalhar, estudar etc (presumivelmente na sua própria língua), e mesmo que estiver no país
onde se fala a língua que você está estudando, pode ser que você tenha que trabalhar em um
emprego no qual você tenha que usar a sua própria língua. Isso não ajuda, mas infelizmente faz
parte do mundo real para a maioria das pessoas.
No entanto, tirando fora o tempo absolutamente necessário na sua própria língua, fazer coisas na
sua própria língua quando você poderia facilmente estar usando a língua que está estudando é uma
perda de tempo. A verdadeira imersão acontece quando você faz o máximo dessas coisas que
conseguir na sua língua-alvo.
Você vê televisão? Ver televisão na sua própria língua normalmente é uma perda de tempo. Você
não aprende nada, e muitas pessoas (incluindo eu) acreditam que assistir à televisão é uma maneira
horrível de passar o seu tempo livre quando há muitas coisas mais produtivas e divertidas que você
poderia estar fazendo. Existem maneiras melhores de se relaxar no final de um dia de trabalho duro.
Pessoas que me dizem que “não têm tempo” para aprender uma língua e logo depois me perguntam
se eu vi o último episódio da série x ou do reality show y precisam de uma boa sacudida para
acordarem, na minha opinião!
No entanto, assistir à televisão na sua língua-alvo torna-se uma atividade útil. Eu pessoalmente não
gosto de ver televisão, mas se você curte, então faça-o na sua língua-alvo. É possível encontrar
versões dubladas dos seus programas de televisão preferidos online, na maioria das línguas. E se
não for possível, abandone esse programa e melhore muito mais a sua imersão assistindo a filmes
ou programas feitos na língua que você quer aprender.
Você gosta de jogar videogames? Entre na configuração do jogo ou do aparelho e mude a língua de
apresentação, se puder.
Você usa muito o computador? Mude toda a interface do sistema operacional, além da língua das
suas contas online como Facebook, para que fiquem na sua língua-alvo (mais detalhes sobre isso na
seção Recursos). Mude a língua default do seu celular, sintonize o rádio online em uma estação na
sua língua-alvo (ou ligue o seu rádio normal se você já estiver no país). Agora você está começando
a sua imersão!
Estas são atividades passivas que você provavelmente faria de qualquer maneira na sua própria
língua. Tudo isso pode ser feito independentemente de estar no país da sua língua-alvo ou em casa.
O próximo passo, é claro, é conversar somente na sua língua-alvo.
RESUMINDO: Você não precisa viajar para fazer imersão em uma língua – você pode começar
fazendo atividades passivas na língua para se forçar a entender mais dela. Vai ser difícil, mas você
só vai aprender a nadar se pular na parte funda da piscina!
IMERSÃO FALADA
Tenho certeza de que a maioria das pessoas que estão lendo este guia já estudaram uma língua
estrangeira na escola por muitos anos, e ainda não a falam! Há muitos motivos pelos quais este pode
ser o resultado final, como por exemplo um currículo fraco, professores desanimados, concentração
excessiva na gramática, estudante entediado etc, mas mesmo com o melhor professor e o melhor
curso, a dedicação envolvida na participação na maioria das abordagens acadêmicas não passa nem
perto do que é realmente necessário.
Os cursos acadêmicos preparam você para provas baseando-se no que eles querem testar, mas isso
ainda não tem nada a ver com o jeito que você realmente usaria a língua nas suas primeiras semanas
em um país. Mesmo conhecendo os tópicos gramaticais mais avançados, as pessoas ainda não
conseguem manter conversas básicas.
A única maneira de aprender a falar rapidamente é começar a conversar imediatamente. Sinto
muito, mas não existem maneiras de contornar isso se você estiver levando a sério o lance de
aprender rapidamente. Para aprender a falar você precisa falar.
Eu senti isso na minha própria pele na Espanha, quando passei seis meses experimentando cursos,
técnicas estranhas de aprendizado, estudando gramática e vocabulário intensamente, assistindo à
televisão – tentei muitas coisas diferentes mas ainda assim era quase completamente incapaz de
falar, e o meu nível de espanhol era terrível apesar de todo esse esforço. A decisão mágica que
mudou tudo para mim foi tentar viver praticamente sem inglês nenhum por um mês.
Deixe-me repetir isso de maneira bem clara, porque é uma das decisões mais importantes que você
vai tomar na sua trajetória para a fluência: PARE DE FALAR A SUA PRÓPRIA LÍNGUA!
O motivo pelo qual muitas pessoas acabam nunca falando a sua língua-alvo é porque elas não
precisam fazê-lo. Realmente não precisam. Aprender um pouco de vocabulário de vez em quando e
fazer exercícios em livros as ajudam a aprender a língua que elas gostariam de falar. Muitas
pessoas gostariam de falar uma língua e simplesmente nunca o fazem.
Quando você se força a entrar em um ambiente de imersão, esta preguiça do tipo claro-que-
gostaria-por-que-não se transforma imediatamente em PRECISO falar a tal língua! Você
realmente precisa, porque tem que aprender mais rápido para ser capaz de falá-la. Esta mudança na
motivação muda a sua velocidade dramaticamente. A melhor maneira de fazer isso é pular logo na
parte funda da piscina.
Já sugeri isso no meu blog e vários leitores tentaram este experimento de um mês e aprenderam
muito com ele. Além das coisas essenciais, como trabalhar e falar com os seus filhos etc, você pode
tentar uma imersão falada. A palavra-chave desta última frase é essenciais. Ir ao barzinho três vezes
por semana com os amigos, por exemplo, não é essencial – você reduziria ou eliminaria estas
atividades se estivesse levando a sério o aprendizado da língua. A diferença entre as pessoas que
conseguem aprender uma língua rapidamente e as que não conseguem é grandemente influenciada
pelo modo como as primeiras são muito mais restritivas quando definem “essenciais” do que as
segundas.
Na Espanha, eu me permitia falar inglês no trabalho porque dava aulas de inglês, e quando ligava
para os meus pais uma vez por semana. Fora estes momentos, cada segundo da minha vida era
vivido em espanhol, embora o meu nível de conhecimento da língua fosse extremamente baixo.
Se você já estiver no país, as oportunidades para fazer isso são ilimitadas. Saia da sua concha (mais
sobre isso mais tarde) e encontre pessoas locais e saia com elas.
Se o seu parceiro também estiver aprendendo a língua, tome a decisão de falar nela várias horas
por dia. Para a maioria das pessoas, uma mudança dramática de 100% talvez seja abrupta demais,
mas com pessoas interessadas em acompanhar você nessa missão você certamente pode começar
com uma ou duas horas por dia e merecer o “recreio” de falar na sua própria língua depois.
Com a atitude certa, você não vai encarar falar a sua língua-mãe como um recreio – você vai estar
se comunicando na sua língua-alvo, gostando da oportunidade de se concentrar nas muitas
dimensões diferentes da comunicação e apreciando a experiência de viver através de uma língua
estrangeira. Esta atitude faz com que as pessoas não precisem voltar à sua língua-mãe para
“relaxar”. Você certamente vai estar usando a sua língua-mãe no trabalho de qualquer maneira,
então quando você for relaxar e ver televisão, faça-o na sua língua-alvo.
O nível de dedicação vai fazer com que você simplesmente viva através da língua (mesmo que só
por uma hora de conversação real não relacionada a estudos passada na internet, por exemplo, se
você ainda não estiver no exterior; mais sobre isso na seção de links mais à frente) e não pense na
sua língua como um modo de relaxar, mas sim como tempo afastado da sua missão. Você tem que
olhar para as coisas de maneira mais agressiva.
Falar a língua o máximo possível, ou, idealmente, o tempo todo, é o que vai fazer com que você
chegue à fluência mais rapidamente. Vou repetir para enfatizar bastante: a decisão de parar de falar
inglês foi o que me transformou de um estudante tipicamente frustrado “sem jeito” para línguas no
poliglota que sou hoje. Foi uma das decisões mais cruciais e influentes que eu já tomei na última
década da minha vida.
Se você tiver um bom “ritmo” de uma língua e de repente se deparar com uma palavra que não
conhece, o que eu sempre faço com nativos é tentar explicar a palavra usando outras que eu já
conheço. Não sabe como dizer óculos? Diga “janelas de olhos” e faça uma mímica de óculos com
as mãos. Não sabe como dizer girafa? Diga animal-pescoço-comprido-da-África. Com um pouco de
imaginação e vocabulário essencial você pode se expressar de muitas maneiras, mesmo sem
conhecer palavras específicas.
Você pode viver a sua vida sem precisar da sua língua nativa. Esta conclusão para mim começou o
efeito bola-de-neve de fazer uma montanha de progressos quando comparado com os seis meses de
meio-que-tentar. Ler isso aqui é ótimo, mas a única maneira de você realmente entender isso é se
imergir falando agora. Nem diga que você está tentando falar, você está simplesmente falando a
língua-alvo. A qualidade do que você está dizendo não influencia este fato.
Se você estiver de partida para o exterior em breve, tome agora a decisão de evitar falantes de
inglês (ou da sua língua-mãe). Sim, evite! Você pode achar isso antissocial, mas é muito mais
antissocial manter uma bolha para proteger você contra ter que falar com a imensa maioria das
pessoas ao seu redor.
Fazer amigos locais, ou pelo menos outros estrangeiros como você que também estão aprendendo a
língua e dispostos a praticar com você, é a melhor maneira de começar.
Para descobrir outras maneiras de fazer imersão em casa ou já no exterior, complete as duas páginas
da Worksheet 3.

ENTRANDO NO ESQUEMA DE FALAR IMEDIATAMENTE


Apesar do que eu acabei de dizer, existe um outro tipo de não-nativo que você não deve
absolutamente evitar, e que pode até ser de grande ajuda, às vezes mais do que os próprios nativos:
outros estudantes não-nativos apaixonados pela língua.
Você pode aprender muito com outros estudantes, então não pense que não ter nativos ao seu redor
agora significa que você não vai conseguir um certo nível de imersão falada. Isso na verdade
elimina um pouco da pressão e permite que vocês se ajudem mutuamente usando somente outros
estudantes. Na verdade isso não é tão útil, já que você não vai se habituar à língua do modo em que
realmente ela é falada, mas para praticar nos estágios iniciais os estudantes podem se ajudar
bastante entre si!
Você vai cometer erros se baseando na sua própria língua de qualquer maneira, usando estruturas
frasais da sua própria língua, preposições erradas (porque na sua língua elas estão certas) etc. Isso é
uma coisa pela qual você vai ter que passar, e como eu digo sempre, não dá para começar com
perfeição.
Sendo assim, já que você vai cometer esses erros influenciado pela sua própria língua de qualquer
maneira, por que não ir um pouco mais além para manter o seu “ritmo” na língua?
Um “truque” que eu gosto de usar quando falo com outros estudantes (ou muito de vez em quando,
e idealmente nunca com nativos de verdade) é falar uma língua híbrida entre a que eu estou
aprendendo e a minha língua-mãe. Os puristas detestam essa ideia, mas eu faço o que quer que for
necessário para entrar no esquema de uma língua. Isso pode ser particularmente útil entre casais,
membros da mesma família e amigos que querem praticar a língua entre si mas se preocupam em
não dizer a palavra certa porque ainda não a aprenderam. Vocês podem falar a língua híbrida uns
com os outros – não é ótimo para falar a sua língua-alvo perfeitamente, ou de maneira prática com
os nativos, mas vai fazer com que você entre naquele esquema necessário para ultrapassar esta
barreira inicial do falar que a maioria das pessoas nunca supera.
Em vez de imaginar a sua língua-alvo e a sua língua-mãe como dois pólos opostos, imagine uma
escala, com o nível nativo puro de cada língua nos dois extremos. Quando você começa, você pode
pensar que está na extremidade errada desta escala, mas como eu já disse antes você já tem uma
vantagem inicial, de modo que digamos que você está em 5% da língua-alvo.
Mesmo que você só souber algumas palavras da língua-alvo, use-as. Nunca diga obrigado na
Espanha para os seus amigos falantes de inglês; diga sempre gracias. Não pergunte aos seus amigos
se eles gostariam de tomar uma cerveja em Praga; convide-os para uma pivo. Na Alemanha, não
diga a alguém “ a gente se vê na sexta”, mas na “Freitag”. Este uso simples de palavras isoladas é
muito fácil e até mesmo o estudante mais preguiçoso conhece estas palavras (especialmente se já
estiver no país).
Isto significa que mesmo quando você absolutamente tiver que estar com falantes de inglês (ou da
sua língua), você pode usar a sua língua-alvo nestes pequenos pedaços. Este é o primeiro passo para
entrar no esquema e apreciar estas palavras como a maneira que você tem de exprimir estes
conceitos, em vez de simples traduções do “jeito certo” da sua língua-mãe.
Estes são os 5-10% da escala.
Você pode passar bem rapidamente para o próximo nível de realmente tentar usar palavras da língua
estrangeira mais ou menos na metade do tempo. Por exemplo, em tcheco eu perguntava a falantes
de inglês “Kde je… a biblioteca?” (“Onde fica”). Na França, se você quiser perguntar ao seu
companheiro se quer ir ao museu, mas só souber dizer ir e museu, use estas palavras! Diga “Quer
aller ao musée?”
Desta forma você vai usar o vocabulário que conhece, e depois que você tentar fazer perguntas
desse jeito algumas vezes você vai entender onde você precisa realmente melhorar. (Neste
exemplo, fazer perguntas e a palavra querer especificamente associada à conjugação com você).
Como o contexto ajuda muito tanto você quando o seu interlocutor, use palavras mais simples para
se comunicar com os nativos. Se eu não conheço a palavra para “traduzir”, por exemplo, mas digo
que “faço um documento em inglês a partir do francês”, eu consegui dizer exatamente o que queria
– você não precisa conhecer todas as palavras. A imaginação para usar o que você já conhece pode
levar você muito longe.
Quando você não diz nada, fica parecendo que a língua é um imenso buraco negro que precisa ser
preenchido. Mas quando você realmente começa a usá-la, existem muitas coisas que você já
consegue fazer, mesmo conhecendo só o básico. Você vai entender os tópicos que precisa aprender
melhor e adaptar os seus estudos de modo a se concentrar mais nestes assuntos e acrescentar um
pouquinho de cada vez.
Estes seriam os 10-50% da escala.
Finalmente, você tem o núcleo da estrutura da qual precisa para falar e ficarão faltando só algumas
palavras específicas. Como eu já disse antes, com nativos você pode dar um jeito e contornar essas
palavras que não conhecem tentando descrevê-las de outras maneiras ou usando sinônimos simples.
Ainda não sabe como se diz furioso? Diga muito zangado. Médico? Use cientista.
No final das contas este é que deve ser o seu objetivo durante esta fase, além de adquirir
vocabulário mais específico que você definitivamente vai querer começar a usar na próxima fase.
A essa altura do campeonato você também pode “roubar” e usar palavras em inglês (ou outras
línguas) de vez em quando, em uma frase quase inteiramente em outra língua, mas tente fazer isso
raramente pois você agora já deve estar na fase de ser capaz de se exprimir muito melhor
inteiramente na língua-alvo, e é melhor não presumir que os nativos irão entender a palavra
estrangeira.
Isto significa que você pode pular do 50% híbrido a 100% língua estrangeira muito rapidamente.
Não vai ser 100% perfeita, mas você pode fazer a transição nesta escala indo até 100% de fala na
língua mais suavemente em vez de abruptamente, se quiser. Você ainda vai ter que trabalhar um
pouco para aperfeiçoar a coisa, adquirindo mais vocabulário específico e melhorando o seu “ritmo”,
mas você vai estar falando inteiramente na língua-alvo!
Como eu já disse, as pessoas fazem isso de qualquer jeito por causa da preguiça, mas eu aceito este
método como modo de se habituar à língua, desde que consciente de que é só uma coisa
temporária. Falar desse jeito não é útil em situações reais com nativos, mas é uma pedra inicial útil.
Em vez de dizer que estou realmente falando a língua, batizo carinhosamente estes híbridos com
seus nomes híbridos. Entre espanhol e inglês você tem Spanglish [NdT: Spanish e English], entre
francês e inglês, Franglais (français, “francês” em francês, e “anglais”, “inglês” em francês),
portunhol para a mistura de português e espanhol, etc. As pessoas não vão criticar você por estar
falando alemão mal quando na verdade você está falando “inglemão” perfeito!
Esta abordagem é ótima para pessoas que estão morando com outras do seu próprio país e que
também estão interessadas em aprender a língua-alvo. Se não estiverem interessadas, convença-as.
Quando se trata da sua missão, qualquer quantidade de tempo passada falando somente na sua
própria língua é um desperdício.
RESUMINDO: Em vez de começar a falar uma língua abruptamente, você pode fazer uma
transição gradual, começando com algumas palavras que você conhece, depois usando a estrutura
da língua estrangeira com algumas da sua própria língua, e no final usando a maioria das estruturas
de uma frase na língua-alvo. O resultado pode ser “imperfeito”, mas você vai entrar no esquema de
que você precisa para se familiarizar com a língua.

FRUSTRAÇÃO NECESSÁRIA
Não, eu não vou mentir para você. Passar várias horas por dia tentando falar uma língua que você
mal conhece pode ser estressante e muito frustrante.
Sim, isso significa que você vai ter que fazer sacrifícios – encontrar seus compatriotas menos
frequentemente, se sentir frustrado muitas vezes com o seu nível baixo de conhecimento da língua e
irritado porque não consegue dizer as coisas do jeito certo, e às vezes até solitário devido ao fato de
que você temporariamente não consegue se exprimir completamente nem se relacionar direito com
as pessoas como um adulto normal. Você vai ultrapassar essas fases, mas infelizmente você vai ter
que passar por essa frustração para conseguir chegar até o outro lado. Faz parte da viagem.
Mas você pode fazer com que essas coisas tenham menor probabilidade de acontecer fazendo essa
viagem acompanhado. Escreva sobre o processo no seu diário linguístico, pratique com outros
estudantes e compartilhe a sua frustração com eles na língua-alvo. Ver como os outros também
estão lutando vai lembrar a você que o problema não é você, é só um parte natural do processo.
Quase todo mundo vai sentir essa frustração, mas você pode facilitar tudo isso mantendo uma
atitude positiva e se divertindo, e notando os seus progressos. Você pode atravessar esta fase
rapidamente, desde que mantiver constância.
Comprometer-se pouco significa que você pode mesmo ficar preso permanentemente nesta fase
frustrante e ter pouco prazer em se comunicar na língua. Esta é a fase na qual a maioria dos
estudantes termina quando estudam em escolas de línguas etc.
No entanto, um compromisso em tempo integral leva você a atravessar a pior parte desta fase em
poucas semanas. No caso de dedicação em tempo parcial, talvez em dois meses você seja capaz de
passar pelo pior e se sentir mais confortável falando (embora você ainda vá cometer muitos erros e
tenha muitas coisas a melhorar). A perfeição não vai acontecer, mas é possível atingir muito
rapidamente um nível de conforto e familiaridade com a língua. Chegar até esta fase tendo que
encarar um curto período de frustração vale muito a pena em termos das oportunidades que você vai
ter de vivenciar coisas através da língua-alvo pelo resto da vida.
Lembre-se sempre de que esta frustração não é porque você não é inteligente o suficiente, ou
porque a língua é muito difícil; é simplesmente uma coisa que muitas pessoas têm que enfrentar.
Fazendo isso mais intensamente (e, é lógico, usando atitude e técnicas adequadas) você vai
atravessar essa fase mais rapidamente.
Se você estiver se sentindo frustrado com o seu progresso nesse momento, faça o Exercício 4 na
worksheet.

HACK PARA ULTRAPASSAR A FALTA DE FAMILIARIDADE COM UMA


LÍNGUA ESTRANGEIRA
Uma imensa parte desta frustração vem mais da falta de familiaridade com o falar uma língua
estrangeira. Não importa o quão “difícil” ela seja – todas as línguas irão apresentar este desafio para
você – é sempre esquisito, no início, chamar um carro de outro nome que não carro. A sensação é a
de estar fazendo alguma coisa errada e você tem que se converter para recriar o barulho que as
palavras fazem. Até mesmo o termo estrangeiro enfatiza o quão estranho tudo isso é.
Esta mudança conceitual é uma grande parte do desafio, ou seja, simplesmente se habituar à
sensação de uma língua estrangeira saindo da sua boca. Quando você junta a isso as numerosas
outras complicações, como vocabulário desconhecido e gramática complicada, é de se esperar que
as pessoas se sintam tão intimidadas pelo processo todo.
O lance é que, uma vez que você tiver aprendido uma língua estrangeira, a segunda e a terceira vão
vir muito mais rapidamente, porque você já vai ter aceitado, na sua mente, que você é capaz de
falar uma língua que não é a sua nativa. Esta mentalidade abre muito a sua cabeça, e funciona como
catalisador para permitir que a língua flua mais suavemente, mesmo quando a língua estrangeira
que você já fala não tem absolutamente nada de parecido com a sua nova língua-alvo.
Provavelmente a maioria das pessoas que estão lendo isso estão preocupadas sobre como conseguir
controlar a sua primeira língua estrangeira. Então por que é que estou falando disso? Bom, e se
você pudesse facilmente transformar esta língua da qual você tanto gosta na sua segunda língua
estrangeira? E se você conseguisse superar rapidamente essa fase estranha de não estar acostumado
a se comunicar em uma língua estrangeira antes mesmo de começar na sua língua-alvo específica?
Existe uma maneira! É uma sugestão pouco convencional, mas preste atenção: dedique duas
semanas inteiramente ao ESPERANTO. O esperanto é uma língua artificial, criada na esperança de
se tornar a segunda língua internacional, papel que hoje é do inglês. Tem usos interessantes para
conhecer pessoas, mas não tenho a menor intenção de promover o seu potencial político e social
aqui no guia. Olhe para ela de um ponto de vista puramente prático para alguém concentrado em
aprender uma outra língua específica.
O esperanto é uma língua muito fácil de aprender pois eliminou praticamente todas as
complicações que você pode imaginar em outras línguas. As palavras não têm gênero, não há
conjugação de verbos, não existem regras fonéticas inconsistentes e não há pronúncias difíceis. Isto
significa que quando você a estuda, praticamente a única coisa com a qual você precisa se
acostumar é falar uma língua diferente.
Isto acontece porque eles praticamente “pularam” a parte difícil de aprender uma segunda língua, e
sendo assim a língua-alvo se torna imediatamente a terceira língua! Já estavam acostumados à
sensação de uma língua, de modo que mesmo quando a próxima língua era definitivamente mais
difícil, eles já tinham superado o componente “se acostumar a uma língua estrangeira”.
A minha sugestão, então, é que você use as técnicas discutidas neste guia para aprender a falar
esperanto por duas semanas. Você provavelmente não vai falar fluentemente após estas duas
semanas, mas vai conseguir conversar com outros falantes (em chats e no Skype online; existem
muitas pessoas prontas a ajudar) se usar uma boa abordagem de aprendizado e praticar
intensamente.
Vai ser frustrante e estranho falar uma língua estrangeira, mas você não vai ter que pensar muito
(você vai reconher um monte de palavras e a gramática é imensamente simplificada). Apesar disso,
você vai ser capaz de exprimir qualquer coisa que puder imaginar na sua própria língua.
Alguns dos links para recursos que eu menciono mais tarde para o aprendizado online e para
encontrar nativos com quem falar podem ajudar com o esperanto, mas um site que é particularmente
útil, com um curso interessante para seguir, é http://lernu.net (o curso é oferecido em muitas línguas
diferentes, e há um dicionário incluído na lateral do site). É claro, é completamente grátis. Já na sua
segunda semana você vai conseguir conversar no Skype em esperanto, e muitas pessoas no chat do
Lernu e nos fóruns vão oferecer ajuda.
Mesmo que você não tiver nenhum interesse em aprender uma língua como o esperanto (eu
pessoalmente acho que só as pessoas que conheço nos encontros organizados regularmente já valem
muito a pena, mas conheço muitas pessoas que não gostam da ideia de dedicar tempo demais a uma
língua com pouca história como o esperanto), se você dedicar só duas semanas a ela de maneira
séria, você VAI ver que essas duas semanas vão te adiantar meses na sua língua-alvo em termos de
segurança e familiaridade para falar uma língua se você conseguir chatar com pessoas em
esperanto.
Depois dessas duas semanas você vai conseguir falar (e escrever/ler/entender) outra língua. É
motivo de orgulho! A partir daí se concentre na sua língua-alvo, sentindo-se mais seguro sabendo
que você consegue falar uma língua estrangeira – isso vai eliminar uma grande parte da dificuldade
de falar qualquer língua.
RESUMINDO:
Um dos aspectos mais difíceis de aprender qualquer língua é simplesmente a falta de familiaridade
com a tentativa de se comunicar em uma língua que não é a sua. Essa é uma grande parte do
trabalho, então por que não se livrar logo dela aprendendo a falar uma língua realmente fácil
primeiro? Assim a sua língua-alvo pode se tornar a sua segunda língua estrangeira.
É IMPORTANTE COMETER ERROS!
Seguindo os conselhos que eu dou neste guia, você certamente vai cometer um monte de erros
quando começar a falar uma língua. Eu certamente não estou oferecendo um modo de evitar erros
tentando “absorver” uma língua antes de tentar usá-la, como muitos cursos sugerem. (Tenho certeza
de que há exemplos de que isso funciona, mas os resultados são lentos demais). Sugerindo que você
fale logo nos estágios iniciais, na verdade estou fazendo com que você se abra para a possibilidade
de cometer uma imensa quantidade de erros.
Isso é uma parte necessária do processo se você quiser progredir rapidamente. Simplesmente é
impossível não cometer erros!
Então, para garantir que você mantenha uma atitude positiva e continue avançando, você tem que
mudar a sua atitude com relação aos erros. Em vez de considerar erros como muros que impedem
você de falar, simplesmente encare-os como curvas na estrada que você tem que seguir se quiser
prosseguir no seu caminho.
O único modo de não cometer nenhum erro é não falar nada. Muitas pessoas tentam esta
abordagem! Tenho certeza de que elas morrem de orgulho de nunca ter cometido nem mesmo um
errinho na língua estrangeira... Só tem esse pequeno detalhe de nunca tentar e não ter nenhuma
capacidade de participar de uma conversa, ou talvez, no máximo, como um observador externo.
Sendo assim, sugiro que você tente realmente aceitar os erros! Quanto mais erros você cometer,
mais você vai estar realmente falando, e, mais importante, se comunicando – e mais perto você vai
estar do seu objetivo de falar bem.
Todas as pessoas que estudaram línguas antes de você cometeram erros. Não importa quem são. Se
eu quisesse contá-los, teria feito dezenas (ou até mesmo centenas) de milhares de erros falando
línguas estrangeiras ao longo dos últimos sete anos. Se eu cometer só um erro em uma língua
estrangeira em um determinado dia, significa que não falei o suficiente.
A minha abordagem, aparentemente contra-intuitiva, é a de tentar cometer o máximo de erros que
puder! É claro, nunca intencionalmente, e sempre tentando estar consciente dos erros. Errar pode
ser um instrumento muito útil para mostrar a você o que precisa ser mais estudado, mas se você
simplesmente soltar o erro sem pensar em como você pode dizer a mesma coisa melhor na próxima
vez, você corre o risco de acabar falando essa língua híbrida permanentemente.
Erros de vocabulário podem ser reduzidos aprendendo mais palavras através da exposição e do
estudo (vou dar exemplos de como fazer isso mais tarde), mas erros de gramática podem se
fossilizar se você tiver preguiça de eliminá-los depois que tiver atingido um nível mais confortável
de fluência.
Ser corrigido nessa fase pode ser muito útil – mais à frente eu vou explicar como eu convenço
nativos a me ouvir e a me ajudar. Entretanto, ser corrigido demais nas fases iniciais não ajuda
muito, a não ser em casos de erros graves. Nos estágios iniciais você precisa mesmo é entrar no
esquema de falar, mesmo que incorretamente.
A coisa importante que você tem que lembrar sobre erros gramaticais é que muitas diferenças de
regras gramaticais servem só para ajeitar a língua e falá-la corretamente. Pode soar estranho
quando você usa o artigo definido do gênero errado, ou erra a ordem dos componentes de uma
frase, mas se você falar de modo claro e com segurança, a outra pessoa vai entender você.
Comunicar-se deve sempre ser o objetivo mais importante.

RESUMINDO:
Erros são partes necessárias do aprendizado de uma língua. Não se preocupe com eles – se você
não cometer nenhum erro significa que não está progredindo nada!

TRIAGEM DE ESTUDOS
Existem alguns assuntos de gramática e palavras-chaves do vocabulário que você realmente precisa
aprender, pois ajudam a passar informações essenciais e a evitar ambiguidades, mas isso depende de
cada língua, e se você tentar falar muito você logo vai descobrir especificamente o que está
dificultando a comunicação básica e vai saber que precisa estudar essas coisas imediatamente.
Eu gosto de comparar este nível de prioridade do estudo ao sistema de triagem adotado em
hospitais. Centenas de pessoas chegam aos hospitais para serem tratadas dos mais diferentes
problemas, mas as primeiras a serem atendidas são aquelas que estão em perigo de vida. As pessoas
com só um pouco de dor são mandadas para o final da lista de espera. O motivo por trás desta
atribuição de prioridades é óbvio.
Você precisa aplicar o mesmo princípio quando estiver estudando uma língua. Alguns cursos de boa
qualidade trabalham com essa abordagem e ensinam frases essenciais antes, salpicando um pouco
de gramática aqui e ali. Se você encontrar um curso assim, ele pode ser muito útil (em vez de usar
livros específicos, eu normalmente dou uma olhada no que existe na minha biblioteca local ou na
livraria mais próxima – cada curso tem as suas vantagens e eu não poderia recomendar um deles em
particular).
Embora seja muito mais difícil, você pode fazer isso sozinho, até um certo ponto (a coisa fica mais
fácil com o tempo, especialmente depois que você tiver aprendido algumas línguas; é por isso que
eu hoje em dia aprendo quase que independentemente). O ideal é seguir algum tipo de curso
estruturado (online, usando livros ou até mesmo alguns tipos de cursos tradicionais em sala de
aula), mas seja flexível e pule diretamente para alguma coisa que ajude você agora mesmo. A
maioria dos cursos não precisa ser lida do começo ao fim.
Os exemplos que eu dei acima mostram o que eu quero dizer. Quando você começa a falar
imediatamente, você logo repara nas coisas que você precisa aprender para conseguir se exprimir e
entender da maneira mais básica. Na maioria dos livros de gramática, cursos e listas de
vocabulários, isso significa que você pode pular mais para a frente. Entender tudo não é necessário.
Quando estou estudando vocabulário, por exemplo, se eu encontrar uma palavra equivalente a
“cadarço” eu quase que certamente vou ignorá-la enquanto não atingir o nível intermediário.
Aprender uma palavra que eu tenho pouca probabilidade de usar não vai me dar nenhuma vantagem
imediata. Estudar para o dia em que eu talvez possa vir a precisar deve ir lá para o final da lista de
triagem.
Criar um bom filtro para estes tópicos de estudos e saber quando pular um assunto e voltar mais
tarde é essencial para ser capaz de aprender o que vai ajudar você a falar agora.
Embora eu já tenha definido o que fluência (em geral) significa para mim, existem outros níveis de
ter fluência ou “ritmo” até mesmo em conversas básicas, e quando você encontrar algo que
provavelmente não vai precisar usar tão frequentemente, você precisa aprender a simplesmente
ignorar essa coisa. Nesse momento essas coisas só vão atrasar a sua vida.
Mais uma vez, o lance é não almejar a perfeição. Aceitar que você não tem como saber tudo nos
estágios iniciais vai catapultar você para frente em termos de progresso.
Desde que você se concentre nas coisas essenciais, você vai saber o suficiente para dizer o que quer
dizer nos estágios iniciais. Aprenda expressões de cortesia como por favor e obrigado, pronomes
interrogativos, saudações, coisas básicas que você pode ter que pedir (banheiro, hotel, comida),
verbos básicos de ação (andar, vir, ir, trazer, poder, comer etc) e qualquer outra coisa que você tende
a dizer frequentemente. Você não sabe do que precisa? A melhor maneira de descobrir é tentar
manter uma conversa! Na internet ou com um nativo – não importa o quanto você seja fraco na
língua, tente e você vai saber imediatamente quais são as palavras que você precisa aprender agora.
Essa mesma ideia também pode ser usada para as correções. Conseguir feedback dos nativos, de
estudantes avançados ou professores é vital para garantir que você está indo na direção certa. No
entanto, nos estágios mais iniciais eu não peço muitas correções não-críticas, já que o objetivo na
fase inicial é mais entrar no esquema na língua e não manter uma conversa sem erros.
Uma vez que você chegar ao nível intermediário, você vai precisar convencer o maior número
possível de pessoas a ajudar você, para evitar entrar em um platô de “aceitável” na língua. A
estratégia precisa ser dinâmica com o seu nível de aprendizado. O modo em que você aprende na
sua primeira semana deve ser completamente diferente do modo em que o faz vários meses depois.

RESUMINDO:
Pule os tópicos de gramática ou vocabulário que não forem essenciais para a comunicação no seu
nível atual e aprenda o que você precisa falar sem hesitar muito.

SUPERANDO O PLATÔ
Usando abordagem, estratégia de aprendizado e atitude corretas, você vai progredir muito
rapidamente na língua. Nos estágios iniciais, desde que você estiver motivado você vai conseguir
manter progressos realmente muito bons! No entanto, manter esse ritmo a longo prazo vai ser
difícil! Às vezes perdemos o nosso objetivo final de vista e o nosso nível de entusiasmo pode cair –
se isso acontecer, você atingiu um platô.
A pergunta é – você vai ficar plantado ali feito um dois de paus ou segue adiante para tentar voltar
aos seus níveis de progresso iniciais?
Dependendo do seu estilo de aprendizado e personalidade, a sua abordagem atual pode precisar de
uma chacoalhada se houver algo impedindo que você chegue ao próximo nível. Muitas pessoas
atingem um nível OK, no qual conseguem se virar, e praticamente param ali e nunca melhoram. Até
mesmo pessoas que falam fluentemente, mas que gostariam de reduzir o sotaque ou melhorar o seu
nível de proficiência, nunca vão conseguir se o modo com o que estão tentando não funcionar para
elas.
Neste caso você tem que eliminar os bugs do sistema.
Thomas A. Edison foi entrevistado por um jornal após 800 tentativas falhadas de criar uma
lâmpada que funcionasse. O repórter perguntou:
- Como o senhor se sente depois de ter falhado 800 vezes?
E qual foi a resposta de Edison?
- Eu não falhei 800 vezes. Eu não falhei nenhuma vez. O que eu fiz foi provar com sucesso que
essas 800 maneiras não funcionam. Quando eu tiver eliminado todas as maneiras que não
funcionam, vou encontrar uma que vai funcionar.
Muitos anos depois, após milhares de outras “provas com sucesso”, ele conseguiu encontrar uma
maneira que funciona, e assim iluminou o mundo.
É essa a abordagem que você tem que adotar no seu projeto de aprendizagem de uma língua. Este
guia mostra a você a direção certa, mas você vai acabar descobrindo outras ferramentas e conceitos
que vão ajudar você pessoalmente mais ainda. Se o que você está usando agora não está
funcionando, então talvez esteja na hora de tentar uma nova abordagem. Você não está desistindo do
projeto, mas tem que admitir que este método simplesmente não está dando certo para você.
Graças à minha formação em engenharia e informática, eu tendo a olhar para certos problemas
como parecidos com um programa de computador (quero dizer que a resolução de problemas pode
ser parecida, e não que os seres humanos são parecidos com os programas!). Quando havia um bug
no código que impedia que uma inteira aplicação funcionasse direito, eu identificava o bug, o
eliminava e tentava algo diferente para aquele aspecto. Esta abordagem também tem sido muito
eficaz no aprendizado de línguas.
Qualquer projeto sério deve ser encarado como uma série de passos que você dá até o seu objetivo
final (a curto ou a longo prazo), e se você der de cara com um obstáculo, tente uma coisa
ligeiramente diferente e você vai conseguir contorná-lo. Muitos dos problemas da vida podem ser
vistos dessa maneira analítica, e o aprendizado de línguas certamente é um deles.
Sendo assim, se você já tiver tentado uma abordagem particular até um ponto em que ela
definitivamente não funciona para você, pode ser que a abordagem, e não você, seja o problema.
Quando isso acontece, é hora de tentar algo novo para ver se funciona melhor.
Todo esse guia se baseia nos meus anos de tentativa com várias abordagens diferentes e eliminando
as que simplesmente não me levaram até o meu objetivo no período de tempo que eu tinha
estabelecido.
Na próxima seção, vou compartilhar algumas das descobertas mais importantes que eu fiz para
conseguir falar com nativos. Você deve levar seriamente em consideração tentar o máximo delas
que puder, e então ver se alguma delas não funciona – se for assim, tente outra coisa! O meu
conselho não é a abordagem perfeita para todo mundo no planeta, mas a abordagem de encontrar a
melhor abordagem é uma estratégia em si, e que pode ser útil para todos.
RESUMINDO:
Para sair do seu platô, você precisa se afastar e ver se existe algum aspecto da sua abordagem que
pode ser melhorado. Você vai conseguir encontrar a maneira ideal para você!

PARTE 4: FALANDO COM OS NATIVOS


É SÓ PEDIR
Uma das maiores críticas que eu já ouvi sobre as minhas sugestões de começar a falar
imediatamente, além da incapacidade do falante de dizer qualquer coisa que seja, é a da impaciência
das pessoas ao ouvir você.
Isso é simplificar demais o modo com o qual as pessoas tratam você. Em praticamente todas as
culturas, as pessoas que eu encontrei e cuja língua despertou em mim um interesse genuíno em
aprendê-la foram extremamente atenciosas e pacientes comigo. Até mesmo no norte da Europa,
onde o nível de inglês das pessoas é consideravelmente mais alto e eu já tinha sido avisado de que
elas me “forçariam” a falar inglês, descobri que se você for convincente o suficiente elas vão ajudar
você.
Para ver como encontrar nativos com quem falar, mesmo que você não possa viajar agora, veja as
dicas na seção Recursos. Mas depois que você os encontrar, mesmo que ainda estiver tropeçando
nos conceitos básicos da língua, você tem como conseguir convencê-los a te ajudar!
Saber como fazer isso é importante tanto no seu país natal como no exterior – no exterior pode ser
surpreendentemente difícil praticar a língua se o estudante usar a abordagem errada. Como eu
sempre digo, já encontrei centenas de expats que vivem no exterior há anos e ainda não falam a
língua local. Isso se deve em parte a métodos de aprendizado ineficientes, mas em grande parte à
sua própria sensação de não ser “capaz” de falar com um nativo ainda.
E, em alguns lugares, as pessoas locais podem não ser tão atenciosas quanto em outros. Se a sua
língua-mãe é o inglês, muitas pessoas vão ser muito simpáticas com você só por causa disso.
Praticar inglês “de graça” em vez de custar muito, como normalmente é o caso, significa que,
infelizmente, muitos expats que falam inglês acabam sendo usados pelos locais, e têm muitos
amigos mas não aprendem praticamente nada da língua local. A melhor maneira de evitar isso é
impedir que isso aconteça desde o começo.
Então como é possível convencer as pessoas a falar com você?
É só pedir.
Sim, é só isso mesmo.
Às vezes as pessoas podem falar com você na sua língua-mãe simplesmente porque acham que
estão fazendo um favor a você, ou presumindo que você não fala nada da língua dela, ou porque
estão no seu país e a sua língua é a língua default. Se você simplesmente disser “Podemos falar na
sua língua? Gostaria muito de praticar!” (diga isso na língua que você quer praticar, logicamente!),
na maioria das vezes as pessoas vão ficar felizes de dizer que sim! Isso funciona comigo
praticamente sempre.
Mesmo que a resposta quase sempre for sim, se você tornar a situação muito desconfortável a
pessoa pode querer mudar para outra língua (se a falar). Tornar a situação desconfortável na verdade
depende muito menos do seu nível de gramática/vocabulário do que da sua personalidade e do seu
comportamento. Se você aplicar a abordagem certa, as pessoas vão querer ouvir você, mesmo que
você fale mal.
Mesmo que o seu nível seja OK, não é muito interessante ouvir alguém falar sobre ela mesma de
maneira titubeante (meu nome é, eu sou de, trabalho com etc). Isso não vai manter o interesse do
interlocutor, e não necessariamente por causa de como você está dizendo as coisas mas porque para
muitas pessoas é chato ouvir alguém recitando uma biografia sem emoção. Eu posso garantir que
não passo as minhas primeiras semanas de tentativa de falar uma língua falando sobre o tempo...

Então em vez de passar tempo demais aprendendo frases básicas para dizer quem você é e o que
você faz da vida, depois de passar rapidamente por essa fase eu começo a história de por que estou
aprendendo a língua, e o faço com entusiasmo. Além disso eu também uso conectores de
conversação (conforme descrito abaixo) para ter certeza de que a outra pessoa consegue manter a
parte dela na conversa comigo, mesmo que eu ainda sinta que não posso dizer muito ainda. Todo
mundo gosta de um bom ouvinte!
RESUMINDO:
Para convencer alguém a falar com você na língua dela, é só pedir!

O ASPECTO HUMANO
As diferenças são cruciais aqui. A maioria das pessoas que pensam que é impossível se comunicar
na língua durante os estágios iniciais simplesmente não estão vendo a coisa do ponto de vista social.
Elas vêem a pessoa que está ouvindo você como um teste (talvez parecido com as provas
impessoais que elas fizeram na escola), onde cada erro leva você mais para perto da “nota mínima”
para “passar”.
Os seres humanos não são assim. Não é tanto a quantidade de erros que você comete, mas como
você faz com que as pessoas se sintam. Não ignore este aspecto humano quando estiver falando
uma língua estrangeira!
É por isso que ao contar a história entusiasmada do porquê de você realmente querer manter a
conversa na língua da outra pessoa, você está apelando para a sua natureza humana. Eu conto às
pessoas as minhas missões malucas de 3 meses (para obter um interesse dramático), e já ouvi
pessoas passarem imediatamente a mencionar como estão finalmente descobrindo as suas raízes
pois seus avós falavam a língua, ou como sempre sonharam em conseguir conversar na língua do
país onde se encontram. Todos esses assuntos vão cutucar o interesse emocional do ouvinte e você
vai “ganhá-lo”.
Aprender a compartilhar brevemente esta história para apelar para a natureza humana das pessoas é
mais importante do que aprender a dizer quantos irmãos ou irmãs você tem, ou recitar a sua rotina
diária ou muitas outras coisas que normalmente aprendemos na maioria dos cursos. Correndo o
risco de ser repetitivo, vou dizer de novo: não ignore este aspecto humano quando falar uma língua
estrangeira!
Continuando, vamos falar sobre hesitações.
Em... Hm... Ah... - aqueles momentos estranhos nos quais você está procurando uma palavra que
você sabe que aprendeu mas precisa de mais ou menos cinco segundos para encontrar. Isso vai
acontecer com todos nós. Um ouvinte paciente aguenta firme, mas eu achei uma maneira que
funciona muito bem comigo para contornar esse problema, caso a outra pessoa não aguentar.
O método que eu uso é...
...pausas dramáticas! Definitivamente não é para qualquer um (vai depender da sua personalidade),
mas essas pausas sempre me ajudaram muito a manter a atenção da outra pessoa apesar de precisar
de um momentinho para me lembrar de alguma coisa.
Em vez de dizer “hmm...”, eu posso, por exemplo, botar a minha mão no ombro do meu
interlocutor, olhar nos olhos dele (ou olhar para o horizonte com cara de conteúdo), dar uma
respiração profunda de propósito... e então dizer a coisa que eu estava tentando lembrar.
Como eu transformei essas pausas dramáticas em uma parte natural das minhas conversas básicas
em uma língua estrangeira, durante este tempo na verdade eu estou pensando muita intensamente
para resgatar a palavra que neste momento eu não estou conseguindo lembrar.
Até a conversa mais simples de repente fica mais intrigante com este detalhe.
Por exemplo, se eu precisar de um momento para lembrar como se diz uma palavra importante,
posso dizer “Eu vou ao...” (levanto o indicador analiticamente, dou um passo para trás, respiro
profundamente como se estivesse para revelar o segredo da vida do universo e tudo o mais, olho
para fora da janela na direção da epopeia que me espera) “...supermercado! Você está precisando de
alguma coisa?”.
Se você fizer isso muitas vezes as pessoas vão começar a achar que você é mais estranho do que o
Capitão Jack Sparrow, mas vão ficar muito interessadas em ouvir você continuar e até mesmo curtir
essas pausas dramáticas se você as fizer direito, não exagerar, ou pelo menos misturá-las para serem
diferentes em termos da linguagem corporal envolvida.
Não estou sugerindo que todo mundo faça isso, mas espero que você tenha entendido o que eu
quero dizer. Injetar um pouco de personalidade nas suas conversas significa que até conversas
básicas podem ser bastante interessantes para a outra pessoa. Não é só o que você diz (o seu
estoque de vocabulário), mas como você as diz (a sua personalidade). Este aspecto humano das
conversas básicas é ignorado na maioria dos cursos, que tendem a se concentrar demais nas
informações propriamente ditas, mas é um aspecto crucial das nossas interações diárias em
qualquer língua.
Se você tiver suas próprias ideias sobre como injetar a sua personalidade em conversas básicas,
tente usá-las! Lembre-se de que o que quer que seja que você quer dizer fica mais interessante para
a outra pessoa por motivos que vão além de simplesmente transmitir fatos.
Aplicar regras sociais lógicas às suas conversas básicas ajuda muito. Se você ouvir que a pessoa
tem um interesse em comum com você, fale sobre isso o máximo que puder, em vez de usar frases
irrelevantes que você aprendeu e que você talvez seja capaz de dizer melhor só para impressionar a
outra pessoa com o quanto você aprendeu. Se a pessoa tiver curiosidade sobre alguma coisa em que
você puder ajudar ou informar, diga a ela tudo o que você sabe sobre o assunto!
Quando eu menciono que tenho uma teoria segundo a qual qualquer língua pode ser aprendida em
um nível de fluência em três meses, a outra pessoa de repente fica toda ouvidos, não importa quão
ruim seja o meu nível na língua na qual estou explicando o conceito. Ouvir uma coisa interessante
transcende os níveis de conhecimento de uma língua e motiva a outra pessoa a querer ouvir você e
encorajar o seu progresso.
Você também pode dar à outra pessoa motivações simples para querer ajudar você e a te dar
feedback – se você estiver falando a língua com o(a) seu(sua) companheiro(a), prometa um beijo
por cada correção. Se estiver na night com nativos, diga que o primeiro a corrigir você 20 vezes
ganha uma cerveja.
Quando eles corrigirem você, agradeça sinceramente pela ajuda, sorria e mostre o quanto você
está contente por eles estarem ajudando você a chegar ao seu objetivo de falar bem a língua. Se a
sugestão que a outra pessoa der resultar em um silêncio desconfortável, é provável que essa pessoa
se sinta menos disposta a ajudar você de novo no futuro.
Um sorriso e uma tentativa geral de fazer com que as outras pessoas se sintam mais confortáveis,
usando linguagem corporal positiva, vão levar você muito mais além do que falar perfeitamente
faria. Quando o nativo ouve você em dificuldade, vê que você está se remexendo, hesitando sem
jeito, e de modo geral parecendo não estar gostando deste aspecto da comunicação básica, a
natureza humana da pessoa vai fazer com que ele tente poupar você desta tortura! Ele
provavelmente irá começar a falar em inglês (ou outra língua) com você (se ele souber) porque ele
é uma pessoa legal.
Fale com segurança e tente ter uma postura confiante. Muitos países podem ser mais expressivos
com os seus corpos do que o seu e é importante levar isso em consideração. Qualquer “sem-jeitice”
que você vier a criar é menos devida a erros na sua gramática e mais a como você está
desconfortável se projetando nos outros e fazendo com que eles se sintam da mesma maneira. Por
outro lado, uma atitude positiva também é contagiosa!
O seu objetivo deve ser sempre uma atitude alto-astral e um sorriso sincero – e rir dos seus próprios
erros, se necessário, para deixar a outra pessoa mais à vontade. Estes “catalisadores sociais” são as
coisas que fazem com que conversas básicas sejam muito mais agradáveis e até mesmo possíveis
apesar de você ter um nível bem baixo de conhecimento da língua.
Vou dizer pela terceira vez para que entre realmente na sua cabeça! Não ignore este aspecto humano
quando falar uma língua estrangeira! :)
RESUMINDO:
Transmitir a sua personalidade irá convencer a outra pessoa a querer falar com você muito mais do
que impressionar os outros com a sua gramática perfeita e muito vocabulário. Até mesmo as suas
hesitações quando fala a língua podem se tornar mais interessantes se você injetar um pouco de
personalidade nelas!
TÍMIDO DEMAIS PARA FALAR
Não importa qual língua você está aprendendo, e mesmo com as melhores intenções e estratégias,
um grande obstáculo pode estar impedindo você até mesmo de tentar usar a língua: não se sentir
seguro o suficiente, ou ser tímido demais.
Acho que um dos motivos pelos quais tantos cursos online e em CDs para aprender línguas são tão
populares é porque eles são imunes a este problema. Mesmo que você seja tímido, se estiver
trancado no seu quarto ou ouvindo o seu iPod, você definitivamente não está saindo da sua zona de
conforto, de modo que a maioria das pessoas preferem aprender dessa forma.
Muitos estudantes conseguem fazer progressos dessa maneira, embora mais lentamente do que
poderiam. No entanto, mesmo se você esperar e passar anos estudando, quando chegar a hora de
realmente usar a língua você vai ter que superar essa insegurança, não importa o quanto você já
tiver aprendido.
Conhecer pessoas novas e se comunicar com elas é o objetivo de aprender uma outra língua (a não
ser que você se concentre em literatura/filmes etc), e se você não está pronto para isso, nem mesmo
o potencial de falar a língua “perfeitamente” significa alguma coisa se você for tímido demais até
mesmo para abrir a boca.
Esta é uma outra curva na estrada do aprendizado de línguas que precisa ser superada para chegar
até o outro lado, se você quiser dominar com segurança uma língua estrangeira. Uma crítica que eu
faço aos cursos que se concentram inteiramente em estudo sozinho e nenhuma prática (embora
também sejam úteis) é que eles parecem até acolher a timidez das pessoas.
Vamos ser sinceros – se você se sente tímido, você só está satisfazendo uma profecia que se
autorrealiza. Não vou ser delicado aqui não: sai dessa!
Tenho certa dificuldade em acreditar que as pessoas nascem introvertidas ou extrovertidas. Talvez
existam evidências que sugerem que é assim, mas isso definitivamente não é uma coisa cimentada
para o resto da vida. Algumas pessoas talvez tenham que ralar mais do que outras para conseguir se
misturar mais facilmente às outras, mas essa é uma habilidade que pode ser aprendida, como
qualquer outra. Você pode aprender a cozinhar, você pode aprender uma língua, e você pode
aprender a ser menos tímido.
Isso foi verdade no meu caso – como jovem estudante de engenharia e nerd, quando comecei a
viajar tinha muita dificuldade em fazer amigos por causa deste “fato”; eu dizia a mim mesmo que
era tímido demais para chegar nas pessoas. Como já disse antes, era uma profecia que se
autorrealizava. Eu não abordava ninguém nem me sentia seguro para usar as línguas que sabia
porque eu dizia a mim mesmo que não era capaz. Na verdade não havia nada no mundo que me
impedisse de tentar. A barreira à minha frente tinha sido erguida por mim mesmo.
Uma pessoa cega não consegue simplesmente desejar tanto poder enxergar a ponto de conseguir
fazê-lo, mas a timidez existe principalmente porque você diz a você mesmo que existe. Você pode
superar isso!
Ler blogs e livros inspiracionais pode ajudar, e dou a maior força para que você pesquise maneiras
de se sentir mais confiante com você mesmo. Este guia não tem como propósito entrar nos detalhes
da psicologia da timidez, mas o que você precisa fazer na verdade não é nada complicado.
Você não precisa se preparar, se sentir pronto, esperar o momento certo, pensar exatamente sobre o
que vai dizer etc. Pensar demais é exatamente o que faz com que muitas pessoas tímidas fiquem
fechadas em si mesmas. Assim como não é possível ser capaz de falar uma língua perfeitamente, no
sentido exato da palavra, não é possível ser um extrovertido “perfeito” com uma situação certinha
esperando por você. Você simplesmente tem que mergulhar, ir até os nativos, e começar a falar.
Esta é uma habilidade que eu fui forçado a adquirir nos últimos anos, porque viajando sozinho
preciso ir até as pessoas e me apresentar se quiser fazer amizade. Isto influenciou a minha técnica
de aprendizado de línguas, e quando eu vejo um nativo, simplesmente vou até lá e digo
hola/ciao/salut etc.
Fazer isso com alguém com quem você cruza na rua seria realmente muito estranho, mas falar com
“desconhecidos” na maioria das outras situações na verdade não é tão invasivo. Em festas, as
pessoas esperam que você socialize; quando você compra alguma coisa ou pede comida no
restaurante, você está falando com a pessoa de qualquer jeito, então não custa nada simplesmente
adicionar alguns comentários agradáveis na língua dela. Se não for hora do rush, as pessoas
normalmente vão gostar de um bate-papo rápido (dependendo da cultura). Em muitos eventos
sociais, a maioria das pessoas não tem absolutamente nenhum motivo para não querer falar com
você, especialmente se a sua linguagem corporal e comportamento em geral forem amigáveis.
Em eventos sociais, além de aplicar as técnicas que eu descrevi acima, eu me asseguro de que a
coisa sobre a qual estou falando é ligeiramente mais interessante, e faço isso pulando as
apresentações básicas e começando a conversa no meio. Nesse caso também é preciso se acostumar
a falar com desconhecidos, mas esse método é muito eficaz quando quero manter a atenção de
alguém que acabei de conhecer.
Se eu chegasse em alguém em um evento social e dissesse “Oi, meu nome é Benny. Sou irlandês e
tradutor. Gosto de viajar e de aprender línguas. Qual é o seu nome? O que você faz da vida?”, é
claro, isso parece uma conversa típica e agradável, e logicamente é mais fácil preparar esse “script”
antes – estes tipos de conversa com certeza funcionam bem para as primeiras tentativas.
No entanto, para que a pessoa fique realmente interessada, gosto de começar uma conversa no meio.
Dependendo da situação, isso pode ser feito de muitas maneiras. Quando estou em uma festa, vou
até um desconhecido, faço um brinde (embora eu normalmente só beba suco ou refrigerante) e
pergunto se ele está gostando da música. Se você ou o seu vizinho for novo no prédio ou na rua,
diga oi quando cruza com ele e diga que seria um prazer recebê-lo para um chá, um drinque, um
almoço quando quiser. Isso funciona que é uma maravilha, e depois de uma conversa amigável
sobre assuntos aleatórios a outra pessoa normalmente fica muito mais interessada em ouvir você se
apresentar direito.
O número de exemplos é infinito, e tudo o que você precisa fazer é se aproximar da pessoa e falar.
No início é difícil mesmo, já que você está realmente fora da sua zona de conforto, mas assim como
muitas outras coisas na vida, essa também melhora com a prática! Antes de viajar para o exterior,
acostume-se com o “skydiving social” que é falar com o máximo de desconhecidos que puder na
sua própria cidade.
Comece imediatamente e pratique regularmente com todo mundo (em línguas estrangeiras ou na
sua própria língua), pois aprender como fazer isso vai fazer uma diferença imensa na sua segurança
em falar a língua-alvo.
E agora complete a Worksheet número 5!

CONECTORES DE CONVERSAÇÃO

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas mesmo quando você está confiante você é limitado
pelas coisas que já aprendeu a dizer. Você pode pensar que nos estágios iniciais você talvez consiga
pedir informações específicas depois que aprender as frases essenciais, mas depois de ouvir a
resposta talvez você não tenha para onde ir se quiser entrar em uma conversa agradável.
Conversas normalmente não são uma série de perguntas de um lado e respostas do outro. Isso seria
um interrogatório! Mas mesmo se você ainda estiver se acostumando à sensação de falar uma língua
e ainda precisar aprender vocabulário de base para conseguir contribuir mais, existe um modo de
manter a conversa fluindo!
O problema com finais abruptos é que eles não convidam a outra pessoa a continuar. “Como está a
sua comida?” “Boa”. “Quantos anos você tem?” “27”. A outra pessoa pode ficar em um momento
desagradável no qual tem que pensar em alguma coisa a dizer, e mesmo assim não deve esperar
nada além de uma resposta simples novamente – mesmo que você expandir a sua resposta, como
sugerido acima, isso ainda não dá muitas opções à outra pessoa.
Mesmo que você ainda estiver aprendendo as coisas básicas, existe um modo de contornar esse
problema! Os conectores de conversação são palavras ou frases que você adiciona à sua conversa e
que não necessariamente transmitem informações, podendo portanto ser usados de maneira flexível
em um grande número de situações.
Usamos estes termos o tempo todo na nossa própria língua. Em inglês, termos como “para dizer a
verdade”, “sabe”, e até mesmo termos de cortesia como “obrigado”, “desculpa” e “por favor” são só
“amaciantes” usados para que uma conversa baseada em troca de informações fique mais educada.
Mas não contribuem em nada à informação propriamente dita, e é por isso que são tão úteis nos
estágios iniciais do aprendizado de uma língua.
Quando você escuta a língua-alvo, você vai ouvir esses termos muitas vezes e muitos deles não
existirão na sua língua-mãe. É importante usá-los o mais frequentemente possível! Isso vai fazer
com que a sua conversa soe muito mais natural do que o uso correto de tópicos gramaticais mais
complicados.
E a melhor parte é que você pode aproveitar esses termos para manter uma conversa mais fluida
mesmo se você ainda não estiver pronto para contribuir muito para a conversa.
Quem me explicou este conceito foi o Anthony, que ilustrou a coisa assim:
Você está em um restaurante e alguém pergunta a você o que você acha da comida. Em uma típica
experiência de quem está aprendendo uma língua, o estudante normalmente ficaria meio nervoso,
acharia a experiência meio assustadora, diria “hmm... boa!” e ficaria torcendo para que ninguém
mais fizesse perguntas desconfortáveis.
Mas se o estudante soubesse usar os conectores de conversação, poderia dizer coisas do tipo:
Obrigado por perguntar. Para dizer a verdade, devo dizer que a comida está boa. Diz aí: o que
você está achando da comida?
Os mesmos conectores de conversação podem ser recombinados de várias maneiras. Mais tarde,
então, a pergunta “De onde você é?” pode ser respondida com: “Para dizer a verdade, eu sou da
Inglaterra. Obrigado por perguntar. Diz aí: de onde você é?”
Na verdade só uma parte muito pequena de cada conversa é realmente sobre o assunto que está
sendo discutido, enquanto que a maior parte é sobre estabelecer intimidade e manter a conversa
fluindo.
Então, em vez de terminar a conversa abruptamente quanto der uma resposta, você na verdade está
passando a bola para a outra pessoa e convidando-a a continuar com a parte dela na conversa.
Este guia inclui um documento em Excel (que também pode ser aberto com Open Office ou Google
Documents, ambos gratuitos) com uma lista de exemplos de conectores de conversação como
concordar/discordar (Cem por cento! Isso é um exagero), abrir um tópico (Boa pergunta),
preenchedores gerais (Cá entre nós, Na verdade), qualificadores (Como você já sabe) e passar
(Falando nisso, Tenho uma história interessante sobre isso). Tente encontrar a tradução destes
termos na sua língua-alvo e aprenda-os para ter algumas palavras extras para manter uma
conversação básica fluindo!
Estes conectores também são maneiras excelentes de substituir aqueles momentos de hesitação
“hm...”. Se você aprender essas frases direito elas vão aparecer na sua cabeça sem que você precise
pensar muito, e você pode usar esses segundos a mais para decidir o que vai dizer depois.
Dever de casa: Abra o documento “Conectores de Conversação” incluído com o guia e tente
preencher o mais que puder com frases na sua língua-alvo (usando dicionários ou pedindo
conselhos a nativos). Aprenda-as e comece a usá-las o mais regularmente que puder!

APRENDENDO VÁRIAS LÍNGUAS


Se o seu primeiro projeto de aprendizado de línguas estiver indo bem, você pode adotar o objetivo
final de aprender mais de uma língua. Vai depender inteiramente da pessoa – a maioria das pessoas
fica mais do que contente com o seu alvo específico e não precisa de outros.
Como eu já disse antes, existe uma grande diferença entre gostaria de e preciso, e a maioria das
pessoas simplesmente não precisa ir adiante com a coisa. Se a sua motivação não for além de querer
pedir seus direitos ou alguma coisa superficial, você vai conseguir muito pouco com relação à sua
próxima língua.
Se o seu objetivo final for realmente se tornar um poliglota, é importante não botar o carro na frente
dos bois e não aprender várias línguas ao mesmo tempo, especialmente se forem parecidas e
especialmente se você ainda não tiver dominado pelo menos uma delas.
Os conselhos dados na seção anterior sobre adquirir a autoconfiança necessária para falar uma
língua primeiro também valem neste caso. Estude esperanto brevemente conforme sugerido, e
insista com a sua língua-alvo até que a fale confortavelmente. Se não estiver habituado a conversar
em uma língua, a próxima vai apresentar muito mais dificuldades do que deveria.
Além disso, se você estiver aprendendo duas línguas ao mesmo tempo, é fácil se confundir e não
lembrar se as palavras que você aprendeu são de uma língua ou da outra. Se você já atingiu o nível
de fluência em uma língua, pode começar com outra! Começar com outra língua antes disso pode
levar você a se embananar nas duas.
Ou seja, se você aprender mais de uma língua, não esqueça a primeira delas! Pratique-a o máximo
que puder, mesmo quando não estiver no país onde ela é falada, usando as sugestões dadas na
próxima seção.
Se você realmente não tiver certeza qual língua escolher (essa é sempre uma ideia ruim! Você deve
sempre ter um motivo emocional ou pessoal para começar a estudar uma língua), tente uma da
mesma família linguística! Você vai ter menos dificuldade para aprender, pois provavelmente já vai
conhecer muitas palavras e regras de gramática em comum com a primeira língua que estudou.
É claro, se você fizer isso vai ter mais chance de misturar as línguas! É por isso que eu uso os
princípios que dei acima, levando as minhas tarefas de aprender múltiplas línguas para outra
dimensão – a humana!
Em vez de ver uma língua como puramente baseada no seu conteúdo, eu a associo à cultura que a
fala e a emulo, incluindo linguagem corporal, postura e expressões faciais. Por exemplo, quando for
falar francês você pode tentar dizer as palavras mais para fora da boca e dar aos seus lábios a forma
necessária para fazer isso. Mas quando falar italiano você pode usar mais a parte superior do corpo
enquanto fala.
Estas duas línguas são muito parecidas, mas eu consegui mantê-las separadas dentro da minha
cabeça aplicando este princípio. Eu simplesmente não consigo me ver falando uma palavra em
francês (por exemplo, voiture) quando estou falando italiano! Simplesmente não funciona – voiture
está associada à língua em todos os aspectos. Eu digo a palavra sendo o mais francês que puder.
Quando em modalidade italiana, para mim é difícil produzir essa palavra por causa da associação e
por causa de como eu sinto a palavra. Com a prática isso fica ainda mais óbvio – você não aprende
só o vocabulário sozinho, mas aprende as palavras no seu contexto e na sua associação mais
humana com a própria cultura.
Este é outro motivo pelo qual eu aconselho as pessoas a desenvolver as suas habilidades linguísticas
enquanto falam a língua de verdade. Aprender vocabulário isoladamente na sua casa ou sala de aula
e nunca utilizá-lo significa que ele vai ficar sem uma associação humana – você pode se lembrar do
seu significado, mas usá-lo no momento certo (mesmo dentro da mesma língua) vai ser muito mais
difícil!
Se falar várias línguas é o seu objetivo final, você vai ter que aceitar que vai passar pela fase
frustrante mencionada no início, de novo. Esta fase vai sempre estar presente. Você vai superá-la
mais rapidamente no futuro, mas ela nunca vai desaparecer, o que causa um outro nível de
frustração. Você já deve ter trabalhado muito duro para conseguir se comunicar em uma língua
estrangeira, e agora tem que voltar à estaca zero, que significa não conseguir se exprimir direito!
Em geral, você vai ter eliminado os bugs da sua abordagem de aprendizado na primeira língua, e
depois de descobrir um método que funciona bem para você, você pode tentar outras línguas no
futuro se quiser!

RESUMINDO: Se você quiser aprender mais de uma língua, espere até falar bem a sua primeira
língua estrangeira antes de passar para a próxima. Para não misturá-las, associe cada palavra ao seu
contexto cultural e ao modo em que um nativo a pronunciaria. E não esqueça que a fase frustrante
vai sempre estar presente, não importa qual língua você começar a estudar!

PARTE 5: RECURSOS DE APRENDIZADO


MELHORANDO A MEMÓRIA
Nesta seção vou fornecer alguns recursos de aprendizado que vão ajudar você a melhorar o seu
nível da língua para que você possa conversar ainda melhor!
Já falei bastante sobre um dos recursos mais importantes na seção anterior: outras pessoas. Mas
antes de entrar no assunto das ferramentas online ou por computador, existe outro instrumento que
pode ser usado em qualquer lugar, sem tecnologia, livros e até mesmo sem outras pessoas: a sua
mente!
Um problema que quase todas as pessoas que estudam línguas têm é lembrar das palavras. Parece
uma missão impossível aprender dezenas ou centenas de milhares de palavras necessárias para falar
uma língua com segurança, especialmente para pessoas que normalmente têm dificuldade em
lembrar os nomes dos outros ou onde botaram as chaves... Outro motivo para preferir deixar essa
coisa de línguas para os gênios com capacidade de memorização extraordinária, certo?
De jeito nenhum! Como eu já disse antes, chamar pessoas que aprendem línguas de gênios é coisa
de preguiçoso; todos os aspectos do processo podem ser reduzidos a pedaços menores e a
capacidade de memorização certamente é um deles, podendo ser dramaticamente melhorada por nós
mortais. O motivo pelo qual você pode pensar que não é capaz de fazer isso é simplesmente porque
o que você vem tentando fazer até agora é extremamente ineficiente e consome uma quantidade
enorme de tempo.
Quanto você encontra uma palavra nova que precisa lembrar, o método mais comum é o da
repetição. Então, por exemplo, você pode encontrar a palavra em francês gare e precisar lembrar
que ela significa “estação de trem”. O que nós fazemos tipicamente é simplesmente repetir isso um
monte de vezes, de novo e de novo, nas nossas cabeças ou em voz alta até finalmente fixar a
palavra. Gare – estação de trem, gare – estação de trem, gare – estação de trem, gare – estação de
trem, gare – estação de trem, gare – estação de trem – dezenas ou centenas de vezes.
Esta é uma péssima ideia. Você não está fazendo nenhuma conexão entre as palavras, está só
esperando que esta repetição grave o significado da palavra na sua mente. Infelizmente, a melhor
maneira de fazer isso funcionar é fazê-lo um monte de vezes, o que requer muito tempo e é
incrivelmente chato. Mais um motivo para não gostar de aprender línguas usando as abordagens
tradicionais...
Mesmo depois de fazer isso por um número imenso de vezes, você tem mais probabilidade de
reconhecer a palavra do que de ser capaz de produzi-la. Este é um dos motivos pelos quais muitas
pessoas que já estudaram uma língua academicamente dizem que a entendem bem, especialmente
quando leem na língua. No entanto, elas simplesmente não se lembram de como dizer estas palavras
na língua em questão. O processo de aprendizado é quase em mão única (língua-alvo para língua-
mãe), e isso não adianta nada para manter conversas.

ASSOCIAÇÃO DE IMAGENS
Então você precisa de uma associação! Um modo excelente de fazer isso é se assegurar de que você
está vendo a palavra no contexto correto, ou seja, como ela é usada na realidade. Isso requer muita
leitura/escuta, muita exposição ainda é necessária, e a memória tende a ser em mão única também
(de novo, língua-alvo para língua-mãe), pois você está lendo ou escutando na língua-alvo e
traduzindo para a sua língua-mãe na sua cabeça. Com a quantidade correta de exposição, logo você
vai parar completamente de traduzir e não vai mais precisar passar pela sua língua-mãe, mas isso
ainda é pouco útil para que você mesmo produza a língua.
Por isso eu uso duas técnicas divertidas quando encontro palavras ou frases novas. Ambas ajudam a
produzir as palavras, o que é muito mais importante do que simplesmente reconhecê-las. É uma
pena, mas as pessoas que aprendem vocabulário de maneira unidirecional tendem a ficar muito
desapontadas quando precisam falar e não conseguem dizer coisas que elas são capazes de
reconhecer.
Essas técnicas são mais agradáveis, e depois que você se acostumar a elas você só vai levar alguns
segundos (ou menos) para aprender cada termo. Por sorte, qualquer técnica de memorização, até
mesmo a repetição chata, pode ajudar a palavra a ser gravada na memória se você a usar algumas
vezes, no contexto certo, em uma conversa natural. Nas primeiras vezes você vai precisar fazer uma
pausa (não se esqueça de fazer com que a pausa seja mais interessante do que um “hmmm...”!) para
se lembrar da associação, mas depois a palavra vai vir naturalmente à sua cabeça e você vai poder
abandonar totalmente a associação. Você simplesmente vai saber a palavra. De modo que essas
estratégias na verdade são maneiras temporárias de levar você mais rapidamente até esse resgate da
palavra.
A primeira, que eu já mencionei no meu blog, é a associação de imagens. Você precisa pegar a
palavra que tem que lembrar e criar uma associação imaginativa com a tradução dentro da sua
cabeça. Essa associação tem sempre que ser criativa, detalhada, engraçada e ridícula, o mais que
você conseguir. Simplesmente imaginar dois objetos interagindo não é suficiente porque é fácil de
esquecer. Quanto mais estranha a história, melhor.
Vou dar um dos meus exemplos preferidos, aplicado à palavra francesa gare que eu mencionei
acima. Essa é a história que eu inventei:
Não existe uma palavra em inglês (pelo menos não que eu saiba) que tenha um som parecido com
“gare”. Então, depois de pensar um pouco, a coisa mais parecida que eu consegui encontrar foi
Garfield, aquele dos quadrinhos (e do desenho e do filme), o gato gordo preguiçoso e sarcástico (e
que fala, é lógico). Também pensei em uma estação de trem específica que eu usei muito quando
estava em Valencia, na Espanha. É importante tornar tudo muito divertido e cheio de detalhes e de
movimento logo no início. Imaginei as pessoas andando rápido pela estação, por baixo da tabelona
com os horários dos trens, na plataforma que eu costumava usar, e passando pela máquina onde eu
costumava comprar os bilhetes. De repente, aparecia um grande gato gordo e laranja, com cores
bem de desenho animado; não um gato amarelo comum, mas o próprio Garfield, com o seu sorriso
marca registrada.
Mas ele não estava simplesmente sentado na estação de trem (porque assim seria fácil de
esquecer). Ele está para perder um trem importante que vai diretamente para Bolonha para uma
competição de comedores de lasanha! Ele está de malas e óculos escuros, pois está saindo de
férias, é claro, e está bufando enquanto corre para um lado e para o outro tentando descobrir de
qual plataforma o trem vai sair. É engraçado pensar que esse gato gordo está precisando correr
pela primeira vez na sua vida. O trem está saindo da plataforma mas ele corre atrás dele, joga a
mala no compartimento de trás, dá um pulo e... consegue subir no trem na hora H!
Com esta imagem, toda vez que eu imagino uma estação de trem eu sempre vou ver essa história
ridícula do Garfield correndo pela estação, o que vai me ajudar a lembrar de dizer “gare”. Vice-
versa, ver “gare” e imediatamente reconhecer a semelhança com Garfield que eu lhe dei significa
que vou ver o Garfield em uma estação de trem. O processo de lembrança leva menos de um
segundo e praticamente não diminui o ritmo de uma conversa que está fluindo bem.
Cada associação que eu faço desse jeito tem muitas informações de fundo para que a história fique
ainda mais dramática e mais difícil de esquecer. Se você ainda não conhecia a palavra gare, aposto
que se eu perguntar a você daqui a algumas semanas como se diz estação de trem em francês você
vai ser capaz de se lembrar da palavra visualizando essa história! E, é claro, se você ler ou ouvir
gare você também vai ser capaz de dizer o que ela significa – a diferença crucial é que nesse caso a
coisa é em mão dupla! Este é um aspecto importante que ajuda muito no caso de conversas, pois
você vai conseguir entender a outra pessoa (assim como no caso do aprendizado por repetição e
através de muita exposição no contexto certo) e também ser capaz de dizer as palavras.
Gosto de fazer isso para o máximo de palavras que puder, então a maior crítica que você
logicamente pode fazer é que isso leva muito tempo e dá trabalho demais para cada palavra, certo?
Você precisou de alguns minutos para ler a história acima, portanto a coisa toda parece ser
ineficiente e pior ainda do que aprender por repetição, se você precisar fazer tudo isso para cada
palavra. Na verdade, eu inventei essa história em poucos segundos – cinco, talvez. Como a sua
mente funciona muito rapidamente, você pode criar histórias incrivelmente detalhadas muito rápido.
Com um pouco de prática você vai conseguir fazer isso quase instantaneamente para qualquer
palavra nova que encontrar.
No começo realmente a coisa requer um pouco de prática – você vai ter que redescobrir os talentos
que tinha quando era criança e tinha muita imaginação. Portanto, no início você pode mesmo
precisar de um minuto inteiro para criar uma história desse tipo, pois vai ter que procurar dentro da
sua cabeça maneiras inteligentes de tornar a história mais interessante, e pode ser que você precise
se concentrar muito também. Mas depois de fazer isso várias vezes, o processo vai ficando mais
rápido e você vai ser capaz de fazer isso sempre que for necessário, inclusive no meio de uma
conversa.
As pessoas sempre me perguntam como eu consigo aprender tanto só a partir de conversação pura
em vez de ficar trancado no quarto estudando a língua – e este é uma das maneiras mais importantes
que eu uso para fazê-lo. Uso o contexto para determinar o significado de uma palavra nova (ou
simplesmente pergunto o significado) quando a escuto pela primeira vez falada por um nativo, e
aplico uma associação inteligente no mesmo momento. Precisei praticar muito para entrar nessa
rotina, mas eu me classifico como uma pessoa com uma memória “natural” ruim (eu nunca consigo
encontrar as minhas chaves! Talvez eu devesse começar a fazer algum tipo de associação de
imagens para lembrar onde elas estão quando as coloco lá...) e mesmo assim consegui, por isso
tenho certeza de que você também consegue!
No final das contas, lembre-se de que essa associação é temporária. Depois que precisei usar uma
palavra duas ou três vezes, ela aparece na minha cabeça imediatamente e eu sei a palavra – não
preciso mais de traduções ou associações; entendo a palavra como tendo o significado que ela
realmente tem, e não preciso passar pelo inglês. Isso certamente ajuda muito a manter o ritmo
natural da conversa.
Outras associações de exemplos que eu já usei (mais relevantes para quem tem inglês como língua-
mãe) incluem:
•Espanhol: playa = praia. Pense em player se achando e cheio de marra chegando em uma praia (eu
pensei em uma praia em Valencia perto de onde eu morava, em vez de uma praia qualquer, para que
a associação ficasse mais forte) de sunga exibindo os músculos e paquerando as meninas. Playa e
(beach) player.
•Tcheco prvni = primeiro. Pegue a palavra e adicione algumas vogais para torná-la pronunciável e
mais familiar; no meu caso, o resultado foi pro van. Imaginei um motorista de van profissional
chegando em primeiro lugar nas Olimpíadas de vans, com um monte de detalhes bobos para que a
história fosse mais fácil de lembrar.
•Tailandês saudação/oi, Sawadee no alfabeto latino. A primeira parte parece muito com a pronúncia
britânica da palavra sour (azedo), de modo que imaginei um turista britânico na ilha de Ko Phi Phi
indo até um café (cheguei a visualizar precisamente qual café, para que a coisa tivesse mais impacto
sobre a minha memória) e pedindo tea (chá) (com a pronúncia parecida com dee) como sendo a
primeira coisa que ele diria a qualquer garçom tailandês que aparecesse. Ele então cospe
dramaticamente o chá em cima do garçom depois de tomar um gole, porque o leite que estava no
chá estava azedo – sour tea (chá azedo) = sawadee, e como essa foi a primeira coisa que ele disse,
essa palavra significa oi. A imagem do turista mal educado cuspindo chá no garçom é tão forte que
a associação aparecia na minha cabeça muito rápido.

Com a prática, aprendi a pensar em uma associação para cada termo novo que encontro, às vezes
mudando a pronúncia levemente ou usando muita imaginação com a associação, conforme você viu
nos exemplos.
Isso pode ser aprendido. Tente fazer isso quando encontrar uma palavra nova que você gostaria de
aprender! É uma ótima maneira de tornar o aprendizado de uma língua mais divertido sem deixar de
ser prático. Quando você tiver aprendido a fazer isso rapidamente, potencialmente você vai ser
capaz de aprender milhares de palavras muito mais rápido.
Se você quiser mais ideias, há muitas sugestões para vocabulário básico em francês, alemão,
italiano, polonês e espanhol em http://www.memorista.com/ - as associações são ainda mais
poderosas quando você mesmo as inventa, usando partes da sua própria vida na associação. A
maioria das associações que eu uso nunca funcionariam com outras pessoas, mas não importa –
torne o processo interessante do seu próprio jeito!
Se quiser tentar, use a Worksheet 6!

USANDO MÚSICA PARA LEMBRAR FRASES


Uma desvantagem do método acima é que ele serve mais para conjuntos muito pequenos de
palavras, normalmente uma ou duas. Depois disso, quando você tentar lembrar de frases inteiras,
vai ficar mais complicado colocá-las juntas.
Posso dizer que um dos recursos que eu gosto de usar, e recomendo às pessoas, para conseguir me
comunicar nos estágios bem iniciais (ou seja, já a partir do primeiro dia) de falar uma língua são os
frasários de viagem. Não são uma boa solução a longo prazo, mas um bom frasário pode ser muito
útil para que você consiga pronunciar frases inteiras e se expressar. Uma alternativa é encontrar um
pequeno grupo de frases básicas online e copiá-las ou importá-las para o seu telefone para estudar.
Os meus preferidos são os da série Lonely Planet, por causa da grande variedade de frases básicas
bastante úteis – infelizmente, eles usam um template bem padrão para todas as línguas, mas mesmo
assim cobrem a maior parte das coisas que você pode precisar dizer. Estes tipos de frasários
oferecem frases inteiras para exprimir conceitos essenciais que você não conseguiria aprender muito
rápido estudando a língua de forma sistemática para entender a gramática subjacente.
Mas como fazer para aprender estas frases? Elas são só estranhas fileiras de pronúncias que podem
não ter nada a ver com a sua língua-mãe. Associações de imagens neste caso têm um certo potencial
– fazer uma corrente de imagens para cada palavra, por exemplo, mas acaba mesmo sendo muito
trabalhoso no início, quando você não está muito preocupado em entender palavras-chaves ainda e
só quer ser capaz de dizer a frase inteira.
Então, a segunda técnica que eu uso é adicionar música às frases que você precisa aprender. Tenha
um pouco de paciência comigo! Não estou sugerindo que você transforme o seu dia em um musical
da Broadway (embora se um dia eu descobrisse que isso torna o aprendizado de línguas mais
prático, não teria dúvidas em sugeri-lo às pessoas, simplesmente porque o mundo ficaria mais
divertido!).
Nesse caso também, a maioria das pessoas usaria a técnica da repetição para gravar essas frases na
cabeça. Eu também faço, mas combino essa técnica com música e com uma associação. As três
abordagens diferentes fazem com que seja muito fácil eu lembrar de uma frase, mesmo quando ela é
muito comprida!
A associação é importante para a primeira palavra ou parte da frase. Mesmo que você não entender
a palavra em si, tente fazer uma associação só com essa primeira parte do conceito que você quer
lembrar. Por exemplo, para lembrar que “Dove si trova il gabinetto?” significa “Onde fica o
banheiro?” em italiano, você pode simplesmente pegar a primeira parte, Dove (pronunciado do-ve)
e pense em um duvet (em inglês, coberta ou edredom, com a pronúncia muito parecida) usado como
papel higiênico de gigante, ou um banheiro feito de colchas etc. Se você considerar a palavra
sozinha isso não vai ajudar muito, porque a palavra “dove” significa “onde”. Mas para lembrar
temporariamente da frase inteira já é um bom começo, e se você usar essa técnica para algumas
frases vai começar a se lembrar naturalmente que essa palavra significa onde sem precisar fazer
associações.
Agora que você já tem a primeira palavra e já consegue se lembrar dela em um instante, é hora de
botar uma música! Não estou falando só de falar musicalmente (nesse exemplo específico, falar do
jeito que os italianos falam), estou dizendo cantar a frase. Pense em uma melodia qualquer – por
exemplo, a musiquinha do Big Ben (antes das badaladas), ou na introdução de uma música que você
goste, e cante a frase usando essa melodia.
Você pode repetir a frase algumas vezes para ajudar a fixá-la na memória, mas vai ser muito mais
divertido quando você a repetir com uma melodia. Além de ser mais divertido, você ganha mais
uma dimensão para uma possível associação para ser usada, se estiver usando uma melodia
específica.
Por exemplo, se eu usasse a melodia do Big Ben nesse caso (é claro que essa melodia também é
usada para outros sinos, mas eu pessoalmente sempre a associo ao Big Ben) do meu exemplo do
gigante, eu imaginaria o Big Ben usado de lado, e não em pé, como o suporte do rolo de papel
higiênico, com um duvet gigante pendurado nele. Como o Big Ben está na associação, eu lembraria
da música e as palavras apareceriam muito mais facilmente na minha cabeça, especialmente se eu
cantasse a frase para mim mesmo algumas vezes. Cante comigo! ♬ Dove si trova...♫ il gabinetto ♪.
Você consegue ouvir a melodia? Na minha cabeça os conjuntos de sílabas “-ve si” e “etto” estão na
mesma nota, de modo que a parte mais conhecida da melodia combina perfeitamente com a frase.
No total pode ser que você não precise de mais de 20-30 segundos para ler a frase, inventar uma
associação e cantá-la para você mesmo algumas vezes. No início vai demorar um pouco mais,
conforme você tenta acostumar a sua cabeça a recriar a amplitude da imaginação que você tinha
quando era criança, mas depois a coisa toda vai acontecer naturalmente! Quando você ficar bem
mais rápido você vai conseguir fazer isso em menos tempo ainda!
É lógico que você não precisa realmente cantar a frase quando chegar a hora de dizê-la para um
nativo, mas durante o tempo que você vai usar para se lembrar dela (o tal período “hmmm...” que
você agora vai substituir por conectores de conversação como “Com licença” ou “Posso fazer uma
pergunta?”, ou então usando linguagem corporal indicando que você está para dizer alguma coisa
etc), você vai “pescar” a associação para a primeira palavra e a musiquinha e cantá-la na sua cabeça
e depois lembrar da frase inteira para poder dizê-la normalmente.
Depois de fazer isso duas ou três vezes, você vai até poder abandonar todas as associações pois a
frase inteira vai aparecer na sua cabeça instantaneamente. A música pode ser uma ajuda imensa no
aprendizado de línguas – eu também tento estudar letras de música e cantar junto, e o vocabulário
que aprendo com elas é muito mais fácil de lembrar para mim por causa disso.

CRIANDO TEMPO
Um outro “recurso” à sua disposição é a imensa quantidade de tempo que você não está
aproveitando. Sim, eu sei que você é superocupado – todos nós somos, certo? Trabalho, família,
amigos, hobbies e passatempos, coisas a fazer, compras, banho, faxina, dormir e outras
responsabilidades – é um milagre se tivermos tempo para fazer qualquer outra coisa!
Não importa quem você é, o ocupadíssimo CEO de uma empresa ou um estudante com mil
trabalhos para entregar, existe uma certa quantidade de tempo que você está desperdiçando e que
pode ser aproveitado para melhorar as suas habilidades linguísticas.
A melhor maneira de retomar o controle de imensos segmentos do seu dia para aproveitá-los direito
é eliminar atividades inúteis. Eu já sugeri que ver televisão na sua própria língua provavelmente
não contribui muito para os seus projetos de vida. O que mais você faz regularmente que
simplesmente não contribui para a sua vida de um jeito positivo? Pense sobre essas coisas e
elimine-as da sua rotina diária. Se você fez um dos primeiros exercícios na worksheet sobre o que
você faz todos os dias, talvez tenha notado alguma coisa que você não precisa necessariamente
fazer. Se você disser para você mesmo que está “relaxando”, então pense se essa atividade
realmente faz você relaxar a longo prazo ou se é só uma solução provisória a curto prazo.
Quando você elimina atividades inúteis da sua rotina diária, ganha aquele tempinho extra para as
coisas importantes! O próximo passo é analisar as coisas que você simplesmente tem que fazer, mas
mesmo assim são uma perda de tempo: esperar!
Você espera pelo ônibus/metrô/trem, você espera dentro do ônibus/metrô/trem enquanto vai para o
trabalho ou para a escola, você espera na fila do supermercado, você espera no engarrafamento,
você espera quando toma café no boteco de manhã, você espera a água ferver quando você mesmo
faz seu café em casa, você espera aquele amigo chegar, você espera no consultório do médico ou
dentista, você espera até mesmo intervalos de dez segundos, mais ou menos, em elevadores, no
sinal de trânsito, quando espera alguma coisa carregar no seu computador, quando espera enquanto
alguém responde à campainha depois que você toca etc.
Na maioria dessas situações você provavelmente está sozinho – então, se não puder conversar com
alguém, o que você faz? Olha para o vazio? Lê as propagandas ao seu redor? Gira os polegares?
Aperta o botão de pedestres ou do elevador em frustração porque nada aconteceu ainda? Estes
pequenos segmentos do nosso dia passam voando e não são utilizados, e no final das contas, se
somados, significam uma enorme quantidade de tempo desperdiçado. São situações inevitáveis,
partes natural do seu dia.
Para a maioria das pessoas, estes pequenos segmentos são coisas chatas – por que a outra pessoa
está atrasada? Por que tem tanta gente na minha frente no supermercado? Por que o meu
computador teve que precisar de um reboot logo agora? Esperar frustrados é o que nós acabamos
fazendo, e considerando quanto tempo por dia passamos fazendo isso, esse tipo de coisa acaba
sendo uma fonte de estresse desnecessário!
Na verdade eu fico feliz quando aparecem ocasiões assim! Juro! Se alguém está um pouco atrasado,
ou se erraram o meu pedido no restaurante e eu tenho que esperar até que mandem o prato certo, ou
quando acabei de perder o ônibus e o próximo só passa daqui a 15 minutos, em vez de ficar
reclamando do meu “azar” e adicionando estresse à minha vida ficando zangado durante este
período, eu penso com meus botões: ótimo! Outra oportunidade de estudar vocabulário!
Eu raramento fico sentado em frente à escrivaninha com um marcador “estudando” vocabulário no
sentido tradicional da palavra. Simplesmente “não tenho tempo”, com todas as outras coisas que eu
faço durante o dia. Todo o meu estudo é feito durante essas situações de espera, porque juntas elas
formam uma grande quantidade de tempo (especialmente se você mora em um país no qual o
conceito de pontualidade é mais “flexível”).
Isso significa que a única coisa que você tem que fazer é garantir que o seu material de estudo seja
portátil. A maior parte do meu tempo durante as primeiras semanas em um outro país se concentra
em aprender frases, então levo sempre um pequeno frasário no bolso. Se eu já estiver falando
direito mas precisar me concentrar na gramática (não faça isso nos estágios iniciais!), então talvez
eu leve uma tabela de conjugações ou de regras de preposições dobrada no bolso. Em situações nas
quais é preferível ter alguma coisa para ouvir (por exemplo, no carro), eu levo um curso em CD, ou,
melhor ainda, um podcast, na língua-alvo.
Algumas línguas também têm livros de vocabulário para estudar que separam as palavras em
categorias, tornando-as mais fáceis de estudar de maneira sistemática, embora nas fases iniciais o
dicionário no final do frasário seja pequeno o suficiente para dar aquela sensação de conquista
quando você aprende toda a lista de palavras essenciais que começam com uma letra do alfabeto em
cada seção de estudos.
Você simplesmente pega a folha de papel ou o livro, abre na página certa e memoriza as palavras ou
testa você mesmo com elas até que a espera termine. Ou você liga o seu mp3 player e escuta o
arquivo áudio. Isso pode somar horas de estudo durante o dia, considerando quanto tempo uma
pessoa normal desperdiça!
Venho fazendo isso durante os últimos anos e tem sido muito eficaz! No entanto, também descobri
recentemente um grande melhoramento para essa técnica: Spaced Repetition Software (software de
repetição espaçada).
SRS é um método de apresentação de informação que te dá a informação antes que você a esqueça e
garante que ela fique constantemente fresquinha na sua mente. Você pode instalar uma versão
gratuita deste programa no seu computador usando a aplicação Anki. Uma das entrevistas incluídas
no guia foi feita com Damien Elmes, que desenvolveu esse sistema, e que explica como o SRS pode
ser útil.
Estudar com o computador pode ser muito útil, mas não é o objetivo desta seção – precisamos ser
capazes de estudar por aí! Se você tiver um iPhone/iPod Touch, um aparelho que use Android ou
um Nintendo DS (para usar offline, ou seja, sem precisar da internet para estudar), ou algum outro
dispositivo móvel com acesso à internet (e presumivelmente não caro de usar), você pode usá-lo
para estudar usando o sistema SRS.
Dessa forma você usa essas pequenas janelas de dois minutos, que somadas viram logo um grande
período de tempo, ao mesmo tempo em que usa um sistema de apresentação que decide quais
palavras você precisa aprender baseando-se na sua dificuldade e testa você constantemente. Decidir
aleatoriamente quais palavras estudar em um frasário funciona, mas dessa forma você vai perder
menos tempo ainda, pois não vai ver de novo palavras que definitivamente já conhece, e o programa
vai constantemente perguntar palavras importantes e difíceis que você precisa aprender.
Para usar estes dispositivos, veja o link acima para saber como instalar a aplicação no seu aparelho
(ou acessar a interface online usando um dispositivo com internet), e adicionar “maços” de palavras
publicamente disponíveis ou criar as suas na conta online com a qual você pode estudar.

JEITOS GRÁTIS DE ENCONTRAR NATIVOS SEM VIAJAR


É claro que vou bater de novo na tecla do melhor recurso de todos – os próprios nativos! Se você já
estiver no país, vai estar cercado deles e vai ter muitas oportunidades de falar! Saia do seu
mundinho e fale com as pessoas sempre que puder!
Mas e se você não puder viajar agora? Será que você deve se concentrar em estudar até que esteja
pronto para praticar “um dia”, quando viajar? Não senhor! Existem milhares de maneiras GRÁTIS
de falar agora mesmo que você provavelmente ainda não tentou!
A primeira maneira são os intercâmbios de línguas. Se você for a uma universidade local e procurar
os quadros de anúncios, talvez encontre algum estudante de intercâmbio que queira melhorar os
conhecimentos na sua própria língua, e consiga entrar em contato com ele.
Mas normalmente o que acontece é que nativos da sua língua-alvo que estiverem no seu próprio
país vão ter muita oportunidade para praticar e provavelmente já falam bem o suficiente a sua
língua, de modo que não vão precisar da sua ajuda para falar. Nesse caso, você pode propor trocar a
prática da língua com outra coisa que você souber ensinar.
Você sabe tocar piano ou violão? Cozinhar? Escrever código de internet? Fazer ioga? Jogar xadrez?
Qualquer que seja o seu talento, existe alguém que quer aprendê-lo, especialmente se você for
muito bom. Mas mesmo que não tiver um nível profissional, as pessoas vão querer aprender com
você... Elas só precisam prometer que vão ensinar a língua a você durante a metade do tempo!
Se for particularmente difícil encontrar nativos no lugar onde você mora, você pode especificar
“fluente” na sua pesquisa, especialmente se estiver começando. Não se esqueça de como falantes
fluentes (não nativos) podem nos ajudar no nosso aprendizado! Às vezes eles podem ser mais úteis
do que os próprios nativos.
Se você estiver em uma cidade grande, consulte os sites de anúncios grátis na Craigslist (veja a lista
na direita para localizar o seu país ou cidade) ou no eBay classifieds (clique em “eBay classifieds
group” no final da página para ver uma lista de países se a sua cidade não estiver na homepage).
Normalmente o lugar certo para encontrar ou criar um anúncio para intercâmbio de línguas é uma
categoria como serviços oferecidos --> aulas e tutoragem, por exemplo. Você também pode usar os
mesmos sites para encontrar aulas particulares muito mais baratas do que em escolas de línguas.
A segunda abordagem (muito menos convencional) para encontrar nativos com os quais falar,
quando você não estiver no país deles, e que eu uso muito frequentemente, é o couchsurfing. Este
site é usado principalmente por jovens viajantes com pouca grana que gostariam de se hospedar
com gente local em vez de ficar em albergues ou hotéis.
Pode parecer tudo muito suspeito, mas o site tem um excelente sistema de referências e de
garantias, de modo que você pode ver se a pessoa é confiável. Já hospedei mais de mil couchsurfers
diferentes do mundo inteiro e nunca tive qualquer problema.
As vantagens para quem viaja são óbvias, mas quem hospeda também pode ganhar muito com essa
experiência! Se você hospedar pessoas que falam a sua língua-alvo (e algumas que não a falam,
para se habituar com o site e ganhar as suas próprias referências), você vai ter na sua casa gente
muito motivada para ajudar você (afinal de contas, você vai estar hospedando grátis) e nem vai ter
que sair de casa para praticar! Tudo o que você precisa ter para oferecer é uma cama a mais, um
colchão, ou às vezes só um espaço no chão [NdT: Tem gente que leva o seu próprio saco de dormir].
Mesmo se o conceito de hospedar alguém seja muito assustador (mas leia o site antes de desprezar a
ideia!), você ainda pode usar o site para encontrar viajantes nos encontros regulares de
Couchsurfing nas grandes cidades. Vá até a página Meetings, além da página Group para a sua
cidade, e veja se há algum encontro acontecendo em breve! Entre os nomes das pessoas que
confirmaram a presença você pode ver se há nativos da língua que você quer praticar. E, é claro,
graças a esse guia você agora já sabe como fazer para convencê-los a ajudar você!
Outro website especificamente feito para o propósito de encontrar pessoas é o meetup.com. Este
site é mais popular em países de língua inglesa, e nas cidades maiores acontecem encontros
regulares para praticar determinadas línguas. São ótimos lugares para encontrar pessoas que estão
tendo as mesmas dificuldades que você, e pode até ser que você encontre algum nativo!
Você pode inclusive ir mais além e ver que em praticamente qualquer site de rede social hoje em
dia é possível ver encontros que podem incluir o tema do aprendizado de línguas. Por exemplo, se
você entrar no Facebook e fizer uma busca pelo nome da sua cidade seguido pelo nome da língua e
depois clicar em “Eventos”, pode ser que alguém já tenha organizado um encontro assim!
Ou então, se você conhecer algum fórum online relevante para a sua cidade, veja o que ele oferece!
Se você não encontrar nenhum encontro de línguas, tome a iniciativa e crie um! Espalhe a notícia e
as pessoas vão aparecer. Você nem precisa da internet, simplesmente pergunte aos seus amigos se
conhecem alguém que fala a sua língua-alvo; de repente você está só a alguns conhecidos de
distância de um intercâmbio linguístico em potencial.
O terceiro modo de praticar uma língua sem precisar viajar é inteiramente online. Você pode não
estar encontrando as pessoas tête-a-tête, mas conversas com vídeo e/ou áudio são quase tão boas
quanto falar pessoalmente. Graças à internet, não importa onde você está no planeta, dá sempre para
encontrar nativos com os quais falar!
Na verdade existem muitos sites que permitam que você faça isso! Alguns exemplos incluem
polyglot language exchange, Chatonic, Babelyou, Sharedtalk, italki, My language exchange,
Lenguajero para espanhol, e vraiment para francês.
Muitas pessoas usam LiveMocha e Busuu para isso também (embora eu não recomende os cursos
nestes sites para aprender a língua, eles têm comunidades imensas de pessoas procurando por
intercâmbios de línguas).
Normalmente estes sites têm partes pagas, mas que são separadas da parte básica de busca. Se você
encontrar um nativo disposto a ajudar você, você só precisa trocar endereços de Skype e começar a
conversar grátis, fora do sistema.
É claro que é difícil conversar com um estranho no início, mas se você fizer isso regularmente essas
pessoas vão virar suas amigas e as coisas vão ficar muito mais fáceis. Embora seja online, este é um
outro modo de pular na parte funda da piscina e se acostumar a conversar. Só assegure-se de que a
outra pessoa está ajudando você tanto quanto você a está ajudando!

RECURSOS ONLINE
Embora este guia se concentre mais em falar, também é importante não esquecer os outros aspectos
de uma língua. Para mim o site LingQ é uma ótima maneira grátis de praticar leitura e encontrar
podcasts para ouvir em muitas línguas. É muito user-friendly; leia uma resenha detalhada das
vantagens e desvantagens (e desvantagens que não têm nada a ver com o sistema de leitura) no meu
site.
A parte dos podcasts do LingQ é um ótimo recurso para baixar arquivos de áudio que você pode
ouvir onde quiser. Se não conseguir encontrar o que quer no LingQ, você também pode baixar
podcasts na língua-alvo (não direcionada para estudantes, mas sim para nativos) procurando os sites
de estações de rádio na língua-alvo, procurando online ou entrando no iTunes. Muitos podcasts são
completamente grátis e você vai encontrá-los sobre temos que serão mais interessantes para você
(notícias, novidades de tecnologia etc).
Outro recurso que eu gosto de usar é o Google Image Search em vez de um dicionário. O problema
com dicionários bilingues é que eles requerem que você pense passando pela sua língua-mãe. Isso
sempre vai tornar as coisas mais lentas, quando a situação ideal seria pensar diretamente na língua-
alvo. Idealmente, você vai ver uma imagem do que a palavra representa (logicamente isso funciona
muito melhor com objetos e não com algumas preposições e qualidades abstratas) e associar a
palavra à imagem e não à sua tradução.
Faça uma tentativa! Entre no site do Google na sua língua-alvo (google.es para espanhol, google.fr
para francês etc), clique na opção para mudar a língua (se ainda estiver na sua língua por default) e
faça uma busca clicando no link “imagens” (com o desenho de uma máquina fotográfica), à
esquerda. Se o Google fizer a busca na língua certa você vai obter as imagens certas também.
Este é um método que você deve tentar para tentar manter tudo na sua língua-alvo. Você vai perder
o ritmo da língua se tiver que ficar mudando toda hora.
Você também pode usar a busca básica do Google como corretor gramatical. Para saber se uma
palavra é masculina, feminina (ou neutra), que caso deve ser usado depois de uma certa preposição
etc, eu normalmente uso o Google em vez de ir procurar a regra.
Nesse caso você precisa digitar o termo que está procurando entre aspas. Por exemplo, se você
quiser saber se o certo é commencer faire, commencer à faire ou commencer de faire em francês,
simplesmente faça uma busca para cada expressão. Normalmente as versões erradas dão apenas
alguns resultados (essas palavras podem aparecer juntas em maneiras menos comuns, por exemplo),
mas neste caso você acha 100 vezes mais resultados para a versão com à.
Para saber se coche é masculino ou feminino, você pode usar os dicionários abaixo ou então
simplesmente digitar “coche pequeño” e “coche pequeña” no Google e ver qual dos dois dá um
número incrivelmente maior de resultados.
O próximo passo é checar a ortografia! Você pode usar o corretor ortográfico do Google (Você quis
dizer...), mas isso é muito chato para palavras individuais. Felizmente, o Firefox (e outros browsers)
e o Open Office vêm com excelentes dicionários de línguas estrangeiras que você pode instalar
grátis e acessar com muita facilidade. Até mesmo soluções profissionais e caras como o corretor
ortográfico do Office podem ser muito limitadas com relação a quais línguas você pode usar, de
modo que na verdade a versão grátis é melhor.
Quando eu escrevo uma carta eu uso Open Office e adiciono a opção da língua que eu quero (as
opções disponíveis incluem muitas línguas mais importantes e várias menos comuns também) e
ganho um corretor ortográfico, um thesauros e um corretor de hífens. Ele indica automaticamente
quando você escreveu uma coisa errada enquanto você digita, e sugere uma substituição. Se você
continuar cometendo os mesmos erros, logo vai entender qual é a versão certa! Com o Firefox
também é muito fácil instalar outros dicionários para checar a sua ortografia enquanto você escreve
em formulários, e-mails e até mesmo no chat do Facebook!
Como uso muito os chats para praticar as minhas línguas, instalei o cliente pidgin – é um programa
único que funciona com MSN, o chat do Facebook, Skype, AIM, ICQ, Google Chat e muitos
outros; a melhor coisa, para mim, é que é fácil mudar a língua para você saber instantaneamente se
está digitando algo errado.
Às vezes não é possível fazer uma busca no Google tão facilmente para encontrar a resposta à sua
pergunta e você realmente precisa da ajuda de um nativo. Felizmente, existem sites especificamente
feitos para isso! O Lang 8 serve para mandar pequenos textos que você gostaria que fossem
corrigidos por um nativo. E se você quiser saber como um nativo pronuncia uma certa frase?
Mande-a ao Rhinospike! Ambos são completamente grátis (você precisa se registrar primeiro), e
funcionam mais rapidamente se você mandar as suas próprias correções e gravações às pessoas
interessadas na sua própria língua.
Para ouvir palavras ou grupos de palavras pronunciadas por um nativo, procure pelos termos que
você quer em Forvo.
Às vezes a pergunta que você precisa fazer é um aspecto técnico da língua. Nesse caso você pode
procurar os muitos fóruns online que outros estudantes e nativos usam, e a sua pergunta pode ser
respondida muito rapidamente!
Um dos meus preferidos é o fórum do wordreference.com para explicações sobre uma grande
variedade de línguas. Mas se você fizer uma busca no Google usando o nome da língua e fórum,
basta dar uma olhada rápida para ver o quanto os fóruns são ativos em termos de dar dicas para a tal
língua, se registrar (normalmente completamente grátis) e fazer perguntas; normalmente você vai
receber respostas úteis rapidinho!
E os dicionários online? Estes dependem muito da língua, de modo que é melhor perguntar no
fórum quais dicionários eles recomendam para a língua que você está estudando. Mas certamente
existem muitos dicionários multilíngua que dão ótimas respostas em várias línguas!
Um deles é a Wikipedia, que não é só uma enciclopédia grátis (o que já seria um recurso
importante), mas é uma enciclopédia em centenas de línguas! Existe uma quantidade imensa de
artigos linkados de uma língua para outra, então você pode simplesmente procurar a palavra (na sua
língua-mãe ou na versão da Wikipedia na sua língua-alvo) e dar um scroll para baixo. No lado
esquerdo você vai ver o mesmo artigo em outras línguas!
O Wordreference (o link está lá em cima) é ótimo não só pelo seu fórum, mas também pelo seu
amplo dicionário. O dicionário é grátis por causa dos anúncios chatos na lateral, que podem ser
desativados instalando um plug-in de bloqueio de anúncio no seu browser. Este dicionário
normalmente dá várias traduções diferentes, sugere o contexto e até mesmo conjuga verbos e os
reconhece dentro de termos de busca!
Se você estiver procurando termos mais técnicos, veja os resultados da pesquisa de termos Proz
(usando a opção Kudoz) ou o InterActive Terminology for Europe ou MyMemory para termos
técnicos/legais/médicos e outros mais profissionais e para terminologia muito específica.
Conforme eu já sugeri antes, você deve tentar mudar a língua de todas as suas interfaces (telefone,
jogos, computador) para a língua-alvo. Essa imersão virtual ajuda muito! Alguns programas, como
o Skype, permitem mudar a língua em um instante. Mudar a língua de apresentação do seu browser
também é bem fácil (a não ser no caso do Internet Explorer, que requer um outro download).
Existem plug-ins para mudar a língua no Firefox rapidinho e com o Google Chrome é muito fácil
mudar a interface da língua.
No Mac, a língua do Safari está relacionada à configuração da língua do sistema. Para ver as opções
sobre a mudança da língua de todo o sistema, vá em “System Preferences...” e clique em
“Internacional”.
Mudar a língua default do browser vai automaticamente mudar a língua de muitos sites disponíveis
nessas línguas (muitos sites, como o Google, verificam a língua dos browsers e decidem, baseados
nesta informação, qual língua apresentar ao usuário). Outros sites, como o Facebook, precisam ser
mudados manualmente na parte da configuração, mas isso é muito fácil de fazer (Configurações da
conta -> Línguas).
No Windows, mudar a língua de todo o sistema operativo é um pouco complicado e normalmente o
usuário precisa ter a versão profissional. No entanto, você pode instalar o sistema operacional
Ubuntu e mudar a língua de apresentação em um instante. O Ubuntu é uma versão do Linux que
pode ser instalado em qualquer computador, grátis, e é fácil de se acostumar a usar. Você pode rodá-
lo lado a lado com o Windows, escolhendo um dos dois quando der reboot.
Usar estas técnicas de imersão virtual é um passo importante na direção certa!

PARTE 6: PROBLEMAS LINGUÍSTICOS PARTICULARES


POR QUE É QUE ELES PRECISAM DE GÊNERO?
Quando você começa a estudar algumas línguas que usam gêneros para os substantivos, a primeira
pergunta que você se faz (pelo menos se você for falante de inglês) é por quê? Aparentemente este
tipo de informação adicional não tem serventia nenhuma em uma língua.
Por que é que a lua é feminino em espanhol e em francês, mas masculino em alemão? Por que a
palavra “masculinidade” na verdade quase sempre é no feminino? Como é possível uma menina ser
neutra em alemão?
Vendo a coisa desse ponto de vista, realmente tudo parece muito confuso! Fica pior ainda se você
pensar que existem mais ou menos um milhão de palavras em cada língua, de modo que aprender o
gênero de cada uma delas dá um trabalho imenso! Se você tivesse que usar as minhas técnicas de
associação de imagens mencionadas acima para cada palavra que você precise lembrar se é
feminina ou masculino (ou neutro), realmente ficaria muito chato!
Os meus professores sempre sugeriam que eu aprendesse por repetição, sempre dizendo a palavra
como o seu artigo definido (der/die/das em alemão) até aprender. Isso ajuda, mas não é eficiente o
suficiente!
Em vez de encarar a coisa como uma quantidade a mais de esforço sem sentido (lembre-se de que a
atitude errada sempre vai atrasar a sua vida!), é mais fácil entender que não são os objetos que têm
um gênero, e sim as palavras. Isso realmente faz uma diferença imensa.
Uma palavra pode facilmente ser masculina ou feminina e isso não ter nada a ver com o gênero
sexual, ou necessariamente com ser uma coisa “de macho” ou “de menina”. São simplesmente
títulos convenientes para diferentes categorias, que poderiam muito bem ser yin e yang ou positivo
e negativo. Se não estiverem associadas a pessoas deste gênero (como pai, irmã, namorada), estas
associações de gênero raramente irão ajudar.
O motivo pelo qual você pode pensar nisso de modo ligeiramente diferente é que uma palavra é
feita de um grupo de letras e que a sua terminação pode ajudar a colocá-la em uma categoria em
particular. A terminação (ou a palavra inteira, quando ela é curta) é quase sempre o que realmente
está influenciando de qual “gênero” ela é.
O gênero dos conceitos por trás destas palavras raramente está relacionado (a não ser que as
próprias terminações sejam semelhantes). Então na verdade você deve estudar as terminações das
palavras para entender como as associações de gênero funcionam. Na maior parte das vezes isso
basta para que você vá na direção certa, e você pode acertar até 90% dos gêneros só passando
algumas horas aprendendo as regras básicas (normalmente disponíveis na maioria das boas
gramáticas).
Por exemplo, palavras para máquinas, e especialmente conceitos (palavras que terminam em -ness
em inglês, como happiness, freedom etc) tendem a ser femininas, não por causa dos conceitos em si,
mas por causa das terminações associadas a elas (-té em francês, -dad em espanhol, -keit em
alemão, -ost em tcheco, -ation/ación/azione etc nas línguas românticas).
Aprender estas terminações na verdade não dá tanto trabalho assim – existem no máximo uma
dúzia, mais ou menos, que normalmente cobrem a grande maioria das palavras, dependendo da
língua.
Se você realmente não souber o gênero, não deixe que isso impeça você de falar! Tente adivinhar, e
normalmente você vai ter 33 ou 50% de chance de acertar. Se errar, eu juro que o mundo não vai
acabar! O falante nativo vai mencionar esse erro, ou você vai aprender direito conforme for
melhorando na língua. A coisa mais importante é dizer alguma coisa e manter a conversa fluindo.

VOCABULÁRIO INSTANTÂNEO
Embora você possa usar a associação de imagens e a técnica da música para memorizar vocabulário
e frases, ainda há muito a fazer.
É por isso que é importante saber que você já fala um pouco da língua. Não importa que língua é,
uma das primeiras coisas que você deve fazer é encontrar os cognatos com a sua língua-mãe.
Não importa de qual língua estamos falando – japonês, sueco, tagalog ou português – existem
sempre palavras que você já conhece. Línguas não são ilhas; são influenciadas pela política, pela
tecnologia, pela moda, pela religião, pela história e por muitas outras coisas que nós humanos temos
em comum, internacionalmente.
Quando você começa a estudar uma língua, se procurar estes cognatos você vai começar
imediatamente com centenas de palavras, mesmo em línguas muito distantes.
Por exemplo, em italiano você liga o seu computer, em português (brasileiro) você usa o mouse, em
russo você se conecta à ИнTернеT (transliteração exata de Internet, И=I, н=n e р=r, conseguiu ler
agora?), em japonês você checa o seu E メール (a segunda parte é uma transliteração, “me-ru”,
uma aproximação da pronúncia de “mail”), o nome do programa que você usa para navegar na
rede em turco é Mozilla Firefox, talvez você use “Microsoft Windows” em somali, ou talvez
“Linux” em euskara.
Nomes de marcas e tecnologia podem dar uma enorme ajuda em qualquer país. Quando saio para
comer em qualquer país, se pedir uma Coca-Cola (ou Pepsi) normalmente é isso que me dão. Se
quiser uma pizza, é essa a palavra que vou usar, no mundo inteiro. Claro, talvez você tenha que
pronunciar as palavras de um jeito um pouco diferente, mas tentar pronunciá-las com menos
sotaque (veja a seção a seguir) normalmente ajuda as pessoas a entendê-las.
Se você estiver aprendendo línguas românticas (francês, espanhol, italiano, português etc), você vai
“ganhar” milhares de palavras de graça (se a sua língua-mãe for inglês) devido ao influxo de
palavras francesas durante a conquista da Inglaterra pelos normandos, e vocabulário em latim
graças à ciência e à religião.
Estas palavras tendem a ser usadas em inglês em situações mais formais, de modo que se você
pensar em um sinônimo para a palavra que quer dizer e que na verdade é um modo mais técnico de
dizê-la, pode muito bem ser que este novo termo seja exatamente o mesmo na sua língua-alvo.
Então, se alguém bater na sua porta, você pode dizer come in [entre] ou então enter [NdT: Este
termo não se usa normalmente neste contexto, mas seria perfeitamente compreensível pois o verbo
“to enter” realmente significa “entrar”]. Em francês, se diz entrer; em espanhol, entrar. Se você
quiser dividir o que você pensa sobre alguma coisa com alguém para mostrar o seu ponto de vista,
você também pode compartilhar a sua opinion [opinião] e mostrar à outra pessoa a sua perspective
[perspectiva] (em italiano, opinione; em português, perspectiva) (embora aqui o termo francês
“point de vue” não esteja muito longe do significado certo!). Em vez de mostrar a sua cidade para
alguém, você pode ser o guia dessa pessoa (guide em francês). Aprender vocabulário pode ser
fácil, mas é melhor quando é “simples”!
Também há padrões de terminações particulares de palavras que usamos o tempo todo. Por
exemplo, palavras que terminam em -tion em inglês quase sempre são iguais nas línguas latinas.
Action, nation, precipitation, solution, frustration, tradution, communication, extinction [ação,
nação, precipitação, solução, frustração, tradição, comunicação, extinção] e milhares de outras
palavras com -tion se escrevem exatamente do mesmo jeito em inglês e em francês (embora a
pronúncia mude um pouco) e são bem parecidas em outras línguas também: -ción em espanhol,
-zione em italiano e -ção em português.
Também temos -tude (como em gratitude, magnitude), -sion (explosion, expression) [explosão,
expressão], -ment (encouragement, segment) [encorajamento, segmento], -age (garage, camouflage)
[garagem, camuflagem] e muitas outras.
De vez em quando você vai encontrar falsos amigos, mas esses casos são exceções e você vai
aprendê-los rapidamente. Para ter uma ideia de algumas palavras que se escrevem absolutamente do
mesmo jeito em inglês e francês (e quase sempre quase exatamente do mesmo jeito nas outras
línguas românticas), veja esta lista de 1.700 exemplos em francês.
1.700 não é nada mau para começar, mas na verdade isso vale só para cognatos com nenhuma letra
diferente. Se você for flexível o suficiente para ver com o que a palavra se parece (exemple,
hélicoptère… porto, capitano… astronomía, Saturno etc) esse número pode chegar a dezenas de
milhares de palavras!

REDUZINDO O SOTAQUE
Depois que você já estiver falando uma língua com segurança, e até mesmo enquanto está
melhorando e se aproximando da fase de falar com segurança, você deve tentar reduzir o seu
sotaque estrangeiro. Isso pode fazer com que seja mais fácil entender o que você diz, além do fato
de que seu interlocutor vai se sentir mais à vontade quando falar com você.
Ter um sotaque mais fraco me ajudou dramaticamente a me integrar melhor em outras culturas.
Assim como muitos outros aspectos do aprendizado de uma língua, o sotaque pode ser quebrado em
pedaços menores e analisado.
O seu sotaque é feito de muitos componentes diferentes, como força das palavras, entonação das
frases, ritmo e até mesmo o uso de expressões particulares. Mesmo dentro de uma própria língua,
cada dialeto tem o seu próprio sotaque e as suas próprias peculiaridades.
Nesse caso a melhor coisa que você pode fazer é encontrar um nativo e pedir que corrija os seus
erros, além de corrigir você mesmo repetindo frases em voz alta depois de ouvi-las faladas por um
nativo. Tente ouvir a musicalidade da frase, além das suas pronúncias individuais.
Sons que não existem na sua língua-mãe mas existem em outras línguas podem ser aprendidos.
Você só precisa praticar. Normalmente, o som pode ser explicado em termos da posição da
boca/língua, e talvez você precise encontrar um nativo particularmente paciente (ou simplesmente
pagar) que sente com você por algumas horas até que você elimine traços particulares do sotaque.
Essa é uma das coisas para as quais não existe um atalho rápido, mas que precisa ser praticada. Eu
faço essa prática intensivamente para poder falar corretamente o mais cedo possível!
Se a sua língua-mãe é inglês, um som que você deve começar a praticar imediatamente é o da letra r
(especialmente se você estiver estudando línguas europeias que também têm essa letra). O r do
inglês não tem nada a ver com som do r nas outras línguas, e você vai precisar treinar muito para
pronunciá-lo direito [NdT: Em inglês diz-se “to roll the r”] ou torná-lo gutural.
Veja aqui maneiras de “roll” o r (como em espanhol, português, italiano, nas línguas eslávicas e até
mesmo em algumas línguas não-europeias). Na verdade pense nele mais como um l (inglês) do que
como r.
Outras línguas, como o francês, usam o r mais gutural, de modo que o som vem mais ou menos da
mesma posição da garganta que a letra g. Também neste caso um nativo pode explicar com precisão
como produzir estes sons e dizer quando você conseguir pronunciá-los melhor.

ENTREVISTAS
O Guia para Hackear Línguas vem com várias horas de entrevistas que eu tenho certeza que
você vai gostar! Vou adicionar mais entrevistas nas próximas versões, mas por enquanto você
pode ouvir as conversas com essas pessoas:

•Khatzumoto de All Japanese All the Time (www.alljapaneseallthetime.com). Khatz aprendeu


japonês suficiente para trabalhar profissionalmente com a língua em um ano e meio, antes de ir ao
Japão. Eu conversei com ele por 42 minutos para saber mais sobre a sua abordagem de imersão que
nem envolve viajar.
•Professor Alexander Arguelles, que vem dedicando toda a sua vida adulta ao estudo de línguas e
sabe ler em um número impressionante de línguas e conversar em muitas outras. Tempo da
entrevista: 43 minutos.
•Moses McCormick (http://www.youtube.com/user/laoshu505000) mora em Columbus, Ohio, nos
EUA, mas fala mais de 40 línguas, incluindo muitas africanas e asiáticas, e aprendeu quase todas
em casa! Nós conversamos por 44 minutos.
•Scott H Young – o meu caso clínico! Ele vem usando muitas das minhas sugestões (conforme
explicadas no blog) durante o seu ano na França, e chegou a um nível impressionante de francês (a
sua primeira língua estrangeira). Na entrevista Scott explica como ele adaptou alguns dos meus
conselhos de acordo com as suas próprias estratégias de aprendizado bem interessantes, e conta
como ele conseguiu implementar as minhas sugestões em um período de tempo realista. Tempo da
entrevista: 29 minutos.
•Damien Elmes – programador da aplicação Anki mencionada neste guia e no blog. Na entrevista
ele explica como o método SRS funciona. Tempo da entrevista: 17 minutos.
CONCLUSÃO
No final das contas, não importa quanto o seu método e as suas ideias forem bons, a melhor coisa
que você pode fazer, de longe, é aprender com os próprios nativos e fazer com que eles te ajudem.
Espero que você tenha gostado deste guia e que você o use somente como ponto de partida para
descobrir muitos outros métodos que talvez funcionem melhor para você.
Se você acha que não dei detalhes suficientes sobre qualquer parte deste guia, avise-me por e-mail
(benny@irishpolyglot.com).
Mesmo que você não tiver nenhuma pergunta, gostaria muito de ouvir o que você achou do Guia
para Hackear Línguas. Se você conhece algum outro método para aprender línguas que acha que eu
devo levar em consideração, avise-me! Estou sempre aberto para aprender novas abordagens
interessantes.
Se você comprou este guia para ajudar com a sua primeira língua estrangeira, então por favor entre
em contato comigo para dizer se já conversou com um nativo muito antes do que você achava que
seria capaz! ;)
Compartilhe as suas opiniões sobre este guia no Facebook e no Twitter! Você pode seguir mais
dicas e aventuras como hacker de línguas no meu blog www.fluentin3months.com e no Twitter
@irishpolyglot
A gente se fala!
- Benny Lewis

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