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Conteúdo:
CONTEÚDO:........................................................................................................... 1
SOBRE O AUTOR:................................................................................................... 3
SOBRE A TRADUTORA:........................................................................................... 3
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
PARTE 1: MENTALIDADE......................................................................................... 4
MOTIVAÇÃO............................................................................................................................. 5
POR QUE VOCÊ ESTÁ APRENDENDO ESTA LÍNGUA?................................................................. 5
A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA..................................................................................... 6
MAS EU VOU COMETER ERROS!............................................................................................... 7
A ATITUDE CERTA..................................................................................................................... 8
NÃO TER NASCIDO COM TALENTO NATURAL.......................................................................... 10
PARTE 2 – PLANO DE AÇÃO................................................................................... 11
MISSÃO.................................................................................................................................. 11
PASSOS NECESSÁRIOS........................................................................................................... 12
MINIOBJETIVOS...................................................................................................................... 13
DEFININDO OS SEUS ALVOS................................................................................................... 13
FAZENDO UM DIÁRIO LINGUÍSTICO........................................................................................ 15
PARTE 3: COMUNICANDO-SE A PARTIR DO PRIMEIRO DIA........................................ 16
QUANDO ESTAREI PRONTO PARA FALAR A LÍNGUA?...................................................................................... 16
UMA LÍNGUA É MAIS DO QUE INPUT E OUTPUT...................................................................... 17
COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL................................................................................................. 18
COMO SE COMUNICAR COM NATIVOS TENDO APRENDIDO MUITO POUCO............................. 20
IMERSÃO EM CASA/ NO PAÍS.................................................................................................. 22
IMERSÃO FALADA................................................................................................................... 24
ENTRANDO NO ESQUEMA DE FALAR IMEDIATAMENTE............................................................ 26
FRUSTRAÇÃO NECESSÁRIA.................................................................................................... 28
HACK PARA ULTRAPASSAR A FALTA DE FAMILIARIDADE COM UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA......28
É IMPORTANTE COMETER ERROS!.......................................................................................... 30
TRIAGEM DE ESTUDOS........................................................................................................... 31
SUPERANDO O PLATÔ............................................................................................................ 32
PARTE 4: FALANDO COM OS NATIVOS.................................................................... 33
É SÓ PEDIR............................................................................................................................ 33
O ASPECTO HUMANO............................................................................................................. 35
TÍMIDO DEMAIS PARA FALAR.................................................................................................. 37
CONECTORES DE CONVERSAÇÃO.......................................................................................... 39
APRENDENDO VÁRIAS LÍNGUAS............................................................................................. 40
PARTE 5: RECURSOS DE APRENDIZADO................................................................. 41
MELHORANDO A MEMÓRIA.................................................................................................... 41
Página 1
ASSOCIAÇÃO DE IMAGENS..................................................................................................... 42
USANDO MÚSICA PARA LEMBRAR FRASES.............................................................................. 45
CRIANDO TEMPO.................................................................................................................... 46
JEITOS GRÁTIS DE ENCONTRAR NATIVOS SEM VIAJAR............................................................ 48
RECURSOS ONLINE................................................................................................................ 50
PARTE 6: PROBLEMAS LINGUÍSTICOS PARTICULARES.............................................. 52
POR QUE É QUE ELES PRECISAM DE GÊNERO?...................................................................... 52
VOCABULÁRIO INSTANTÂNEO................................................................................................ 53
REDUZINDO O SOTAQUE........................................................................................................ 55
ENTREVISTAS...................................................................................................... 55
CONCLUSÃO........................................................................................................ 56
Página 2
SOBRE O AUTOR:
Meu nome é Benny (Brendan) Lewis. Sou um vegetariano de Cavan, Irlanda, e não bebo. Eu me
defino um “technomad” -- um globetrotter em tempo integral e usuário de tecnologia.
Tive muitos outros empregos nos últimos dez anos, incluindo professor de inglês, professor de
matemática, professor de francês e espanhol, fotógrafo, recepcionista de Albergue da Juventude,
guia turístico, gerente de uma loja de ioga, assistente de primeiros socorros, engenheiro eletrônico e
muitos outros. Antes desta tentativa de me sustentar com as vendas deste guia, fui tradutor free-
lance.
O meu objetivo é ganhar o suficiente com as vendas deste guia, e com meu trabalho como
“personal trainer de línguas”, para conseguir viver confortavelmente por 3 meses em Moscou e
outros 3 em Tóquio (infelizmente, as duas capitais mais caras do mundo!) para aprender russo e
japonês. Até lá, vou continuar escolhendo destinos mais baratos para as minhas missões linguísticas
de 3 meses.
Tenho certeza de que o conteúdo deste livro, as suas traduções, as worksheets e as entrevistas
podem ajudar você, pois estas ideias mudaram completamente a minha vida durante a última década
e abriram um mundo imenso de aprendizado de línguas e de comunicação com as pessoas ao redor
do mundo.
Obrigado pela sua compra e divirta-se hackeando a sua língua-alvo!
SOBRE A TRADUTORA:
Leticia [inserir mais 4 sobrenomes] Dáquer é carioca, casada com um italiano, com uma filha de um
ano e meio e morando no interior do Zair... quer dizer, da Itália, desde 2002. Formada em medicina,
nunca trabalhou como médica. Na Itália, trabalhou como secretária em uma empresa que reciclava
cartuchos para impressora, fez um estágio chatíssimo em uma companhia de seguros, vendeu
salame de javali e Brunello di Montalcino em uma loja no centro de Assis, deu muita – MUITA –
aula de inglês e trabalhou como tradutora interna em uma agência, onde conheceu o Brendan. Junto
com várias outras pessoas à beira de um ataque de nervos, abandonou correndo a agência assim que
pôde e foi assim que começou a trabalhar como tradutora freelance. Hospedou muitos couchsurfers
antes da Carolina nascer.
A paixão pelas línguas é coisa antiga, e felizmente ela leva jeito, pois não tem a mínima disciplina
para estudar. Sua maior tristeza é não falar francês, coisa que está prestes a ser corrigida com a
ajuda deste guia. Ela também gosta de viajar, é leitora e comedora compulsiva, gosta de malhar,
mantém um blog e tem um cachorro chamado Legolas.
INTRODUÇÃO
Quando fiz 21 anos, a única língua que eu falava era inglês. Eu tinha estudado alemão e irlandês na
escola, mas minhas notas eram baixas nas duas matérias. Isso significa que eu me considerava
totalmente sem jeito para línguas e simplesmente aceitava que nunca falaria nada além de inglês
pelo resto da vida. Sou formado em engenharia eletrônica.
No entanto, eu me mudei para a Espanha depois de formado e amei tanto a cultura que decidi que
queria conhecê-la melhor entendendo pessoas espanholas de verdade, e não só as que falavam
inglês.
Em seis meses eu tentei muitas coisas para aprender espanhol, na maioria das vezes só de maneira
casual, e quase sempre só usando cursos normais. Depois desse tempo todo eu ainda só conhecia
algumas palavras, frases e regras gramaticais – nada de muito útil. Um dia, decidi me dedicar
realmente ao projeto e tentei algumas abordagens não convencionais que nunca são recomendadas
pela maioria dos cursos.
Foi assim que nasceu o método para hackear línguas!
Tenho certeza de que não sou o único hacker de línguas por aí. Muitos outros antes de mim também
aprenderam línguas rapidamente. Encontrei muitas desssas pessoas nas minhas viagens e aprendi
muito com elas, e esse guia inclui entrevistas com algums dos estudantes de línguas mais
conhecidos da internet para ouvir o que eles têm a dizer sobre abordagens que os ajudaram a
aprender muitas línguas mais rapidamente e com mais eficiência do que os estudantes médios.
Este guia inclui algumas das lições mais importantes que eu aprendi na minha jornada linguística
até hoje. Compartilhando as minhas dificuldades, espero poupar outros estudantes das frustrações
que tive que enfrentar até chegar a este ponto. Muitas pessoas passam anos estudando uma língua
sem jamais conseguir falar nada além do básico, e eu quero ajudá-las.
A minha teoria é que você pode começar a falar a língua imediatamente, e em alguns meses você
poderá falar muito bem se aprender do jeito certo. O conteúdo deste guia inclui algumas das muitas
possibilidades e métodos gratuitos disponíveis para qualquer um que quiser atingir rapidamente o
estágio de ser capaz de conversar com nativos em uma língua estrangeira, tanto no exterior quanto
na sua cidade natal.
A sensação de entender de verdade uma cultura graças à capacidade de falar com pessoas reais desta
cultura está ao alcance de muitas pessoas. Espero que os conselhos nestas páginas (e em áudio)
ajudem você a realizar este sonho!
PARTE 1: MENTALIDADE
Uma jornada de mil quilômetros começa com um único passo, e aprender uma língua é uma
verdadeira viagem!
Você obviamente tomou a decisão mais importante de todas nesta viagem – o compromisso de
aprender. Mas para onde você vai a partir daqui vai depender de muitos fatores.
Já passei por este processo várias vezes na última década, e tomei algumas decisões boas (e
algumas muito ruins) em termos de falar línguas. Aprendi alguma coisa com todas elas, e continuo
aprendendo.
Neste guia, vou descrever com precisão o que foi que me permitiu aprender uma língua nova e
chegar a ser fluente nela em um período muito curto de tempo.
Estou escrevendo este guia como se eu estivesse falando comigo mesmo quando tinha 21 anos;
pouco à vontade com estranhos, inseguro sobre as minhas capacidades de fazer muitas coisas e,
sobretudo, convencido de que jamais falaria uma língua estrangeira.
A minha jornada ao longo dos últimos sete anos tem sido sensacional (e continua sendo), e eu não
mudaria o que eu vivi por nada desse mundo. Mas tudo teria sido muito mais fácil e divertido se eu
tivesse tido acesso às informações deste guia. Eu teria perdido menos tempo também.
Estar aberto para aprender como falar uma língua fluentemente em um curto período de tempo não
é só uma questão de quais materiais de estudo você usa e quanto você aprende, mas é fortemente
influenciado pela sua atitude e motivação.
Para se preparar para dar grandes passos em uma língua, você absolutamente precisa ter a
mentalidade certa. As melhores técnicas de aprendizado do mundo e os cursos mais caros seriam e
vêm sendo desperdiçados com pessoas com a mentalidade errada.
MOTIVAÇÃO
Simplesmente querer aprender uma língua não é suficiente.
Sinto muito, mas praticamente todo mundo gostaria de falar uma língua estrangeira se não desse
tanto trabalho. Na verdade, acho que nunca conheci alguém que não “quisesse” falar outra língua.
Com nada além de um interesse casual, você tem poucas chances de conseguir muito em pouco
tempo. Já encontrei zilhões de expats e de pessoas em programas de estudos de férias de verão que
não conseguem nada de concreto mesmo depois de meses ou anos de exposição a uma língua.
Isso acontece porque elas não precisam aprender. Usam a sua própria língua (por exemplo, inglês)
com todos os seus amigos, com seus namorados ou namoradas, maridos ou mulheres ou filhos, em
todos os seus e-mails, em todos os livros que lêem e em todos os programas de TV e filmes aos
quais assistem (baixados da Internet ou não).
Expats frequentemente não se imergem completamente na língua ou na cultura do outro país, o
motivo pelo qual não aprendem apesar de meses ou anos de exposição. Mas isso é bom para
estudantes de línguas que não vivem em países onde se fala a língua-alvo!
Se expats conseguem criar uma bolha linguística para si mesmos no exterior para conservar a sua
própria língua-mãe, por que o resto de nós não consegue criar bolhas linguísticas para aprender uma
nova língua?
A resposta é simples – você não quer isso o suficiente. Por exemplo, falar espanhol com o seu
namorado ou namorada que vai viajar com você para a América do Sul não é “necessário”, porque é
mais fácil falar a língua com a qual vocês dois estão acostumados. Seria estranho falar outra língua.
Uma das maiores revelações que eu tive em termos de aprender línguas foi esta ideia de mudar o
aspecto de “vontade” para uma necessidade. Como eu fiz isso no mundo real é assunto para mais
tarde. Por enquanto, é importante perceber essa diferença crucial.
Quando você precisa falar uma língua, isso é mais do que só esperar casualmente conseguir falá-la
algum dia. É um desejo genuíno de que essa língua preencha completamente a sua vida, inclusive
chegando a dominá-la. Este nível de investimento não é uma coisa com a qual estudantes casuais
estão acostumados.
RESUMINDO:
Mude a sua mentalidade de querer para precisar
RESUMINDO:
Tenha objetivos práticos a curto prazo com relação à sua língua-alvo.
A ATITUDE CERTA
Durante meus anos de aprendizado de línguas, já encontrei muitos outros estudantes e vi alguns
deles aprenderem muito mais rápido do que eu. E eu, logicamente, aprendi muito com eles.
Infelizmente, muitas pessoas que encontrei aparentemente não estão conseguindo aprender línguas
(se não fosse assim um guia como este não precisaria ser escrito). E quer saber? Eu aprendi muito
com elas também. Aprendi exatamente como você não deve estudar uma língua.
Quer saber o que quase todas essas pessoas têm em comum? Elas se concentram nos aspectos
negativos da língua que estão aprendendo. O copo delas (ou, mais apropriadamente, a língua delas)
está meio vazio em vez de meio cheio.
Sinto muito se parece que estou simplificando demais as coisas, mas eu acredito sinceramente que
essa é uma das maiores diferenças entre estudantes de línguas que conseguem aprender e os que não
conseguem. É importante ser realista, mas os slackers de línguas [os desertores de línguas, NdT] (o
oposto dos hackers de línguas) se concentram nestes detalhes de maneira quase obsessiva.
Desertores de línguas encontram maneiras muito criativas de justificar por que o desafio de
aprender uma língua não é possível para eles. Aparecem com uma lista dos motivos que os
impedem de aprender (ou que impedem você de aprender, se eles forem “generosos” o suficiente
para compartilhar esta negatividade quando ouvirem falar do seu projeto), e quando vêem que
alguém conseguiu o que eles afirmam que é impossível, eles simplesmente dizem que a pessoa é
uma exceção ou um gênio. Isso é pura preguiça.
Quando eles fazem uma lista das diferentes partes de uma língua (os muitos casos das línguas
eslávicas, o gênero nas línguas latinas, os tons nas línguas asiáticas etc), eles sempre vão lembrar a
você o quanto essas coisas são difíceis. E quer saber? Tecnicamente eles têm razão – é realmente
preciso trabalhar duro para aprender estes aspectos com os quais você não tem intimidade, e o copo
realmente está meio vazio. Isso não está errado.
Eles podem continuar e dar evidências que provam como o processo é difícil. Por exemplo, eles
tentaram estudar uma língua na escola por mais de dez anos mas não a falam, de modo que aprender
uma língua rapidamente não é possível. Tecnicamente, eles não estão “errados”.
Mesmo se eles disserem a você que a língua que você está estudando é a “mais difícil do mundo”
eles não estão errados! Toda língua é a mais difícil do mundo se você a encarar dessa forma.
“Difícil” é relativo, como grande ou bonito, e depende do observador.
Mas usar esta lógica maluca e ficar obcecado com a dificulade do processo não vão ajudar você a
conseguir coisa nenhuma. Por isso, é lógico, a minha sugestão é a de que o seu copo esteja meio
cheio. Otimismo e uma atitude positiva são aspectos cruciais do hackeamento de línguas.
Normalmente eu não classifico os aspectos de uma língua como difíceis, eles são simplesmente
diferentes. E como uma língua é minha amiga, eu vou mais além e digo a você que língua ótima ela
é, conforme eu descrevi acima.
Você vai receber “más notícias”, e precisa aprender a filtrar essas coisas para ficar só com os fatos
essenciais, em vez das opiniões sobre o nível de dificuldade.
Por exemplo, quando eu fiquei sabendo que em tcheco existem sete casos, eu poderia ter passado o
maior tempão reclamando desses casos malditos (e já encontrei muitas pessoas que fazem isso). Só
que isso não ajuda nada! Juro a você que nem toda a reclamação do mundo vai ajudar você a falar
fluentemente. É uma pena, porque muitas pessoas são ótimas reclamadoras.
Qualquer coisa que impedir você de progredir deve ser eliminada, e ser pessimista está bem no alto
dessa lista!
No caso do tcheco, eu simplesmente pensei “então tá” e comecei a falar usando os casos errados no
início, mas estudei para melhorar, e procurei por situações-padrão para me ajudar a estudar melhor.
E quer saber? Eu superei a coisa e fui capaz de usar todos os sete casos em conversas com bastante
segurança.
Este é outro motivo pelo qual eu tendo a me concentrar muito pouco na gramática durante os
estágios iniciais. Assusta um pouco ver quantas coisas precisam ser estudadas, então eu pulo
diretamente para a fase de falar (sabendo perfeitamente bem que estou cometendo um monte de
erros), e volto para a gramática mais tarde. Quer saber o que acontece? A gramática deixa de ser um
monstro que precisa ser derrotado e se torna interessante porque eu já estou familiarizado com ela.
Tornar a gramática mais divertida do meu próprio jeito garante que, conforme eu faço progressos,
eu me sinta positivo sobre a coisa toda, o tempo todo. Esta positividade cria um efeito bola de neve
que me dá o impulso necessário para que eu continue a melhorar.
Não importa se você acha que consegue ou não consegue: você tem razão - Henry Ford
PASSOS NECESSÁRIOS
Depois que você já estiver com o seu objetivo final em mente, o melhor modo para criar uma
estratégia é quebrá-lo nas partes necessárias para alcançá-lo.
Veja o objetivo final como uma coisa definitiva. Vai acontecer e ponto final, então trabalhe de trás
para frente para ver os passos lógicos que teriam ajudado você a atingir o objetivo. Livre-se da
ideia de talvez e trabalhe duro para fazer a coisa acontecer.
Usando o exemplo que eu dei agora há pouco, se você quiser entender programas de televisão você
vai ter que garantir que escutar seja o ponto forte da sua missão. Você pode ir direto ao ponto e
começar a assistir a séries de televisão logo no início, criando uma situação do tipo matar ou morrer
(este método vem funcionando com Khatzumoto, nas entrevistas), ou talvez você prefira escutar
material preparado para quem está aprendendo a língua, para tornar o início mais fácil e se
acostumar com um falar mais lento (eu pessoalmente misturo as duas técnicas, o que não significa
absolutamente que este seja o método “melhor”, só que para mim é o mais agradável). Cada uma
destas abordagens tem suas próprias vantagens e razões, mas o que é importante é que você esteja
verdadeiramente dedicado a ela.
Para a abordagem mais “hardcore”, você vai precisar dedicar um pouco de tempo todos os dias para
se expôr à língua o mais que puder, e se certificar de estar fazendo alguma coisa ativamente para
aumentar a sua compreensão. Baixe ou grave os programas de televisão de modo que estejam
sempre prontos para assistir, assim você não vai ter a desculpa de perder um episódio.
Para a abordagem gradual, você tem que ter o seu material preparado e se dedicar mais ainda para
ter certeza de que pode estudá-lo rapidamente. Arquivos de áudio básicos e falados muito
lentamente não ajudam muito a entender diálogos reais e naturais, mas quando a dificuldade é
aumentada gradualmente mas rapidamente eles podem ajudar muito. Você pode reduzir o tempo
total fazendo isso de maneira intensiva (já que o que você está fazendo é mais fácil) de modo que
você possa começar a praticar o seu objetivo final (ver televisão) muito antes do seu prazo.
Este é só um exemplo; qualquer que seja o seu objetivo final, divida-o nos passos necessários para
que você saiba que vai fazer progressos todos os dias.
Quando você tiver um certo tempo reservado todos os dias, você poderá passar para o próximo
passo, os MINIOBJETIVOS.
MINIOBJETIVOS
Um miniobjetivo é um alvo que você pode atingir em uma sessão.
O problema com ter como alvo falar bem algum dia, ou até mesmo daqui a um ano, é que estes
prazos estão distantes demais para serem sentidos como reais, e portanto podem facilmente ser
ignorados. Você precisa de prazos, mesmo que eles só estejam dentro da sua própria cabeça. E os
melhores prazos são os iminentes. É difícil ser mais próximo que HOJE.
Em vez de ter como objetivo um dia ter um vocabulário amplo, aprenda todas as palavras relativas
ao corpo humano (por exemplo) dentro de 30 minutos. O que vem funcionando muito bem para
mim é usar um contador bem visível – quando estou trabalhando no computador, 25% da minha tela
são ocupados pela contagem regressiva digital, com os segundos piscando constantemente para
mim, para eu não esquecer!
Em vez de ter como objetivo eliminar o seu sotaque, trabalhe em como pronunciar o “r” direito
durante os próximos três dias, estudando as posições da língua, repetindo vídeos de prática no
YouTube e pedindo a nativos para corrigir você (pessoalmente ou usando o Skype).
Todas estas partes funcionam juntas para você atingir o seu objetivo final, e são muito possíveis de
atingir se você conseguir dar essa dedicação a curto prazo. É fácil simplesmente dizer que algumas
pessoas são gênios para línguas, quando o que elas fazem na verdade é uma grande quantidade
destas tarefas fáceis. Quando colocados juntos, todos os MINIOBJETIVOS funcionam para chegar
ao objetivo final quando são programados corretamente, mas cada tarefa individualmente é
perfeitamente possível de ser atingida por qualquer um.
Com uma estratégia muito eficiente e dedicação genuína ao projeto, as suas esperanças se tornam
uma missão.
RESUMINDO:
Divida os seus planos mensais/semanais em pedaços menores que podem ser atingidos
imediatamente.
COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL
Quando alguém diz que deveríamos aprender línguas como os bebês, devido ao processo mais
natural envolvido, eu costumo concordar, e a maior parte deste guia promove este tipo de processo.
No entanto, existe uma diferença imensa entre adultos e bebês – adultos já sabem como se
comunicar com os outros. A imensa maioria destes meios de comunicação são internacionais e são
não-verbais.
Você simplesmente não deve subestimar a importância dos métodos de comunicação não-verbal que
você já aprendeu até agora como ajuda para facilitar os estágios iniciais de aprendizado de uma
língua com a qual você não está familiarizado.
Um estudo da UCLA sugere que até 93% da comunicação usada para expressar sentimentos e
atitudes, por exemplo, são determinados por “deixas” não-verbais. Mais especificamente, sete por
cento são determinados pelas palavras usadas, 38% pela qualidade, entonação e volume da voz e
55% por comunicação não-verbal.
É difícil ser tão precisos, mas cerca de sete por cento da comunicação sendo representados pelas
palavras que usamos é muito, muito pouco. É claro que sete por cento às vezes constituem a maioria
da parte essencial da comunicação, mas tenho certeza de que sou tão “fluente” quanto possível nos
outros 93 por centro para garantir que tenho uma vantagem. Esta estatística é específica para a
expressão de sentimentos e atitudes, mas muitos outros aspectos da comunicação em teoria seguem
padrões semelhantes.
Esta vantagem é o segredo para aprender línguas muito mais rapidamente, na minha opinião. É
olhar para além da trajetória até a fluência, e especialmente é ter a capacidade inicial de falar como
simplesmente adquirir vocabulário, gramática e exposição a uma língua. Peço desculpas pelos
floreios (só um minutinho que vou ali abraçar uma árvore... Pronto, voltei!) mas esta vantagem é o
aspecto humano das línguas que é largamente ignorado pela maioria das pessoas, que vêem a coisa
de uma maneira quase robótica, “input x output”.
Isto não significa que eu faço mímica e dancinhas para mostrar o que quero dizer, mas sim que sou
capaz de exprimir o que eu preciso dizer quase sem nunca precisar usar inglês, já no primeiro dia
em que eu tento falar uma língua. Na próxima seção vou dar vários exemplos para ilustrar isso.
Mas primeiro tente imaginar o que eu posso estar querendo dizer com comunicação não-verbal. A
coisa mais óbvia é, é claro, se exprimir com o seu corpo. Você não conhece a palavra que significa
“beber”? Faça o gesto de beber um copo invisível de água ou cerveja. Quer mostrar que você não
gosta de alguma coisa? Faça uma careta e vire o rosto para o outro lado fazendo cara de nojo. Em
particular, este último exemplo é internacional, pois é assim que os bebês normalmente reagem de
maneira instintiva.
Sim, eu sei que existem exemplos de sinais que não são internacionais – mexer a cabeça para cima e
para baixo é o equivalente de fazer não com a cabeça nos Balcãs, o polegar levantado quer dizer o
mesmo que o terceiro dedo levantado em alguns países etc, mas a imensa maioria da comunicação
não-verbal é comum a todas as culturas.
Tenho certeza de que algumas pessoas irão responder me dando uma lista com mais exemplos, mas
esta atitude ainda faz parte da modalidade do copo meio-vazio que eu mencionei na primeira seção.
É claro que há diferenças, mas a grande maioria é igual.
Linguagem corporal, postura, olhares, expressões faciais, gestos, toques (ombros, mãos, tapinhas
nas costas etc), mudar o tom e o volume das palavras que você está dizendo – existem zilhões de
maneiras que podemos usar para nos comunicar que não dependem das palavras que utilizamos.
Um sorriso para quebrar o gelo inicial, um latido para mostrar que você está falando de um
cachorro, a testa franzida e uma expressão de desconforto enquanto aponta para uma parte do corpo
para indicar que está sentindo dor – você não precisa de palavras para nada disso.
Não estou dizendo que estes métodos são flexíveis o suficiente para substituir a comunicação verbal
real, mas é importante notar que você não está começando do zero. Você não é uma caixa esperando
para receber input. Você é um ser humano, já capaz de se comunicar de muitas maneiras, e só
precisa refinar a maneira de fazer isso melhor na cultura ou língua em questão.
Está na hora de dar alguns exemplos!
COMO SE COMUNICAR COM NATIVOS TENDO APRENDIDO MUITO
POUCO
“Tá bom, chega de teoria!”, estou ouvindo você exclamar! Está na hora de mostrar o que eu quero
dizer.
Antes de começar a decorar qualquer coisa, normalmente carrego um frasário no meu bolso durante
as primeiras semanas em um determinado país. Isto permite que eu procure o que quero dizer e
repita para mim mesmo antes de dizer. (“Como eu faço para chegar até... ?”, “Quero um.... por
favor” etc). Vou dar mais detalhes sobre como eu guardo na memória por mais tempo estas frases
pouco familiares na seção Recursos.
Isto não faz parte de input ou output, já que você está basicamente só lendo em voz alta o que o seu
livro diz sem necessariamente entender a estrutura da frase e as palavras principais. Desde que você
ler direito a fonética sugerida ou tiver uma compreensão básica de tons (para línguas não-
europeias), você vai conseguir dizer algo que de alguma maneira lembra o que você quer dizer para
o nativo.
Com um frasário detalhado e um dicionário (ou uma app no seu smartphone), se você procurar a
frase antes de dizê-la, há uma imensa quantidade de coisas que você conseguirá comunicar desta
forma, especialmente se você aceitar o fato de que estará cometendo erros e de que terá que se
limitar a usar algumas poucas palavras isoladas.
É claro que isso não funciona a longo prazo, mas é um dos aspectos principais que permitem que eu
“entre” no clima de falar uma língua imediatamente. Pode ser artificial, mas estou me comunicando
inteiramente usando este “truque”. Eu também procuro palavras ou frases que eu provavelmente
vou ouvir como resposta para garantir que vou entender a resposta que vão me dar. É claro que você
não vai conseguir conversar desta maneira, mas você definitivamente vai conseguir se virar, e isso
já é uma grande coisa para o primeiro dia.
No meu primeiro dia em qualquer país, eu consigo fazer todas as coisas essenciais que quiser
usando um frasário e um dicionário razoavelmente bom para ajudar com as palavras que eu não
encontrar no frasário. Não vou ter frases completas, mas vou conseguir exprimir todas as
informações básicas e cruciais usando estes livros como muletas temporárias. Se você precisar fazer
algumas perguntas, tente memorizar as frases (vou falar mais sobre este assunto mais tarde).
Este exemplo mostra que você pode realmente se comunicar (embora de maneira muito limitada) na
língua sem um input concentrado. O seu input vira output imediatamente. Você pode fazer isso até
um certo nível em muitas línguas, especialmente as línguas mais próximas da sua.
As línguas europeias, que não têm tons distintivos para as palavras, tornam isto supersimples. Você
pode fazer qualquer pergunta imaginável, armado somente com uma transcrição para saber como a
frase deve ser lida em voz alta (que é como a maioria dos frasários funciona). Você não vai soar
elegante e o seu sotaque vai ser bem óbvio, mas você vai estar se comunicando.
Se você não consegue a “perfeição” nem depois de 30 anos de estudos, então por que vai precisar
dela no seu primeiro dia?
Os próximos exemplos mostram a importância do contexto e da extrapolação. Não necessariamente
formas de comunicação, mas aspectos cruciais dos mecanismos que se passam na sua cabeça nos
bastidores da comunicação, independentemente de “quanto” da língua você aprendeu. Pensar só um
pouquinho já me ajudou muitas vezes mais do que aprender tabelas de casos nominativos,
acusativos ou dativos.
No meu primeiro dia em Berlim, ainda lutando para transformar o meu nível de aprendizado escolar
em algo útil, eu queria comprar um chip para o meu iPhone. Eu queria ter certeza de que a rede 3G
estava funcionando antes de sair da loja, de modo que o funcionário me deu instruções sobre como
configurar o telefone.
Esta conversa estava muito além do que a maioria das pessoas estariam dispostas a encarar, no meu
nível. Com certeza o que eu mencionei antes, ou seja, perguntas básicas e respostas básicas, seria o
melhor que eu poderia esperar?
É claro que não! Isto seria ignorar a inteligência básica, adulta que todos nós temos.
Ele disse um monte de palavras que eu simplesmente não entendi e depois falou “... Netzwerk,
Mobiles Datennetzwerk”. Familiarizado com a interface do meu iPhone, estes termos me pareceram
muito parecidos com “...Network, Cellular Data Network” (“Rede, Rede de Dados”), e eu sabia que
para chegar até este menu eu precisava ir para “Settings, General” [Configuração, Geral] antes. Ele
provavelmente tinha dito estas palavras antes, mas não entendê-las não me impediu de fazer o que
ele estava pedindo que eu fizesse.
O objetivo deste exemplo não é mostrar que “Netzwerk” parece com “network”, mas que eu
extrapolei o significado de palavras que eu não entendia me baseando no contexto. É claro,
conhecer o menu do iPhone ajuda, mas a maioria das coisas sobre as quais você fala são coisas com
as quais você está familiarizado de alguma forma. Mesmo se você não reconhecer um vocabulário
específico, muitas vezes a própria situação vai mostrar a você a direção certa. Neste caso, entender
só 20% da informação pode levar você a extrapolar 100% do significado!
Estes são só exemplos curtos – na verdade existem milhares de outros.
Observar a linguagem corporal, por exemplo, me ajudou a me integrar rapidamente em outros
países, e em muitos lugares da Europa (onde a cor da pele não me identifica como estrangeiro), as
pessoas acham que eu sou local por causa das roupas que eu uso, da minha postura, da expressão no
meu rosto, do volume e do tom das palavras que eu digo etc, coisas nas quais muitos outros expats
nunca tentaram se concentrar e que no final das contas sempre os identificam como estrangeiros.
É claro que depois que eu começar a falar mais do que uma ou duas palavras tudo isso muda, mas já
houve casos em que eu cruzava com pessoas no prédio onde estava morando e dizia só bom dia (de
alguma maneira dizendo estas duas palavras sem um sotaque muito óbvio) e essas pessoas
passavam semanas pensando que eu era do mesmo país.
Esta coisa de agir como um local é uma forma de comunicação em si, e termina encorajando a
pessoa a falar comigo na sua própria língua, embora eu a fale muito menos do que elas falam a
minha língua, inglês.
Estas habilidades são mais difíceis de descrever, e vêm simplesmente do fato de prestar mais
atenção às fontes oblíquas de informações em vez de nos concentrar totalmente na compreensão das
palavras propriamente ditas.
Em vez de sugerir que você vá aprender estas coisas, fique feliz de me ouvir dizer que você já as
sabe! Mesmo quando você está falando com outra pessoa no telefone na sua própria língua e a
linha é barulhenta, de baixa qualidade, impedindo que você não entenda algumas partes da
conversa, você consegue ter certeza do que a pessoa está dizendo.
Em particular, isto acontece com palavras “preenchedoras” que não adicionam informações novas,
como tipo, sabe como é, por favor etc. De fato, mais tarde vamos usar estas palavras (veja
Conectores de Conversação). No entanto, se você não ouvir ou entender estas palavras, você não
vai estar perdendo nenhuma informação essencial.
Outra situação que ilustra isso: você já tentou ver um filme ou falar com alguém na sua língua mas
em outro dialeto ou sotaque? Já houve casos em que eu vi filmes americanos ou até mesmo algum
episódio dos Simpsons e me deparei com palavras ou expressões que eu simplesmente ainda não
conhecia.
Você acha que eu apertei a pausa e fui pesquisar o termo, e não continuei a assistir enquanto não
sabia exatamente o que significava? É claro que não – na maioria das vezes eu consegui entender o
significado a partir do contexto. Quando eu fui aos EUA pela primeira vez, ouvi muitas palavras e
expressões novas que eu nunca tinha encontrado antes, mas elas apareciam entre tantas camadas de
contexto que o seu significado era bem óbvio. Eu nunca estudei formalmente nenhuma destas
palavras, mas o contexto me ensinou o suficiente para que eu não tivesse praticamente nenhuma
dificuldade em falar com as pessoas de um outro país.
Na verdade, na minha infância eu aprendi a maior parte do meu vocabulário de inglês a partir do
contexto. De vez em quando havia brincadeiras para aprender os nomes dos animais etc, mas a
imensa maioria da minha língua-mãe foi adquirida a partir do seu uso no contexto em vez de a partir
de uma lista de palavras com as suas definições e explicações.
Neste caso é fácil, pois eu já conheço a língua, mas o mesmo princípio também se aplica a línguas
estrangeiras.
Mais um exemplo: em muitos países, fazendo compras no supermercado e talvez esperando só
ouvir o preço total das minhas compras quando vou pagar, frequentemente me fazem alguma
pergunta que eu não entendo completamente.
Supermercados no mundo inteiro aparentemente têm cartões de descontos, e normalmente eu não os
faço. Mas muitas vezes eles perguntam se você tem o tal cartão, e isso é muito comum em muitos
países. Nos estágios iniciais, no máximo eu entendo “... você tem... cartão...” e percebo, a partir do
tom da frase (que é parecido na maioria das línguas europeias), que se trata de uma pergunta.
Como a situação normalmente não requer que eu tenha nenhum outro cartão (é lógico que não
posso ter um cartão de descontos para idosos, também não se trata de cartão de crédito porque estou
pagando em dinheiro etc), posso praticamente com certeza extrapolar que estão falando do tal
cartão do supermercado. A situação me diz quais palavras estão sendo ditas, mesmo quando eu não
entendo as palavras propriamente ditas.
De modo que, sim, é possível entender mais do que você imagina, e dizer mais do que você pensa,
mesmo que você esteja aprendendo a língua só há poucos dias.
Desta maneira eu posso fazer uma das sugestões mais importantes de todas para aqueles que
querem seriamente fazer progressos rapidamente: imersão – o mais cedo possível e não importando
onde você está, e vou falar disso na próxima sessão.
RESUMINDO: A comunicação se baseia em muitas coisas: linguagem corporal, tom e volume da
voz, extrapolação, dizer palavras ou expressões que você pode não compreender completamente e
contexto. Estas modalidades não-verbais de comunicação podem ajudar você a falar a língua com
nativos mesmo quando você só tiver aprendido um pouquinho dela.
FRUSTRAÇÃO NECESSÁRIA
Não, eu não vou mentir para você. Passar várias horas por dia tentando falar uma língua que você
mal conhece pode ser estressante e muito frustrante.
Sim, isso significa que você vai ter que fazer sacrifícios – encontrar seus compatriotas menos
frequentemente, se sentir frustrado muitas vezes com o seu nível baixo de conhecimento da língua e
irritado porque não consegue dizer as coisas do jeito certo, e às vezes até solitário devido ao fato de
que você temporariamente não consegue se exprimir completamente nem se relacionar direito com
as pessoas como um adulto normal. Você vai ultrapassar essas fases, mas infelizmente você vai ter
que passar por essa frustração para conseguir chegar até o outro lado. Faz parte da viagem.
Mas você pode fazer com que essas coisas tenham menor probabilidade de acontecer fazendo essa
viagem acompanhado. Escreva sobre o processo no seu diário linguístico, pratique com outros
estudantes e compartilhe a sua frustração com eles na língua-alvo. Ver como os outros também
estão lutando vai lembrar a você que o problema não é você, é só um parte natural do processo.
Quase todo mundo vai sentir essa frustração, mas você pode facilitar tudo isso mantendo uma
atitude positiva e se divertindo, e notando os seus progressos. Você pode atravessar esta fase
rapidamente, desde que mantiver constância.
Comprometer-se pouco significa que você pode mesmo ficar preso permanentemente nesta fase
frustrante e ter pouco prazer em se comunicar na língua. Esta é a fase na qual a maioria dos
estudantes termina quando estudam em escolas de línguas etc.
No entanto, um compromisso em tempo integral leva você a atravessar a pior parte desta fase em
poucas semanas. No caso de dedicação em tempo parcial, talvez em dois meses você seja capaz de
passar pelo pior e se sentir mais confortável falando (embora você ainda vá cometer muitos erros e
tenha muitas coisas a melhorar). A perfeição não vai acontecer, mas é possível atingir muito
rapidamente um nível de conforto e familiaridade com a língua. Chegar até esta fase tendo que
encarar um curto período de frustração vale muito a pena em termos das oportunidades que você vai
ter de vivenciar coisas através da língua-alvo pelo resto da vida.
Lembre-se sempre de que esta frustração não é porque você não é inteligente o suficiente, ou
porque a língua é muito difícil; é simplesmente uma coisa que muitas pessoas têm que enfrentar.
Fazendo isso mais intensamente (e, é lógico, usando atitude e técnicas adequadas) você vai
atravessar essa fase mais rapidamente.
Se você estiver se sentindo frustrado com o seu progresso nesse momento, faça o Exercício 4 na
worksheet.
RESUMINDO:
Erros são partes necessárias do aprendizado de uma língua. Não se preocupe com eles – se você
não cometer nenhum erro significa que não está progredindo nada!
TRIAGEM DE ESTUDOS
Existem alguns assuntos de gramática e palavras-chaves do vocabulário que você realmente precisa
aprender, pois ajudam a passar informações essenciais e a evitar ambiguidades, mas isso depende de
cada língua, e se você tentar falar muito você logo vai descobrir especificamente o que está
dificultando a comunicação básica e vai saber que precisa estudar essas coisas imediatamente.
Eu gosto de comparar este nível de prioridade do estudo ao sistema de triagem adotado em
hospitais. Centenas de pessoas chegam aos hospitais para serem tratadas dos mais diferentes
problemas, mas as primeiras a serem atendidas são aquelas que estão em perigo de vida. As pessoas
com só um pouco de dor são mandadas para o final da lista de espera. O motivo por trás desta
atribuição de prioridades é óbvio.
Você precisa aplicar o mesmo princípio quando estiver estudando uma língua. Alguns cursos de boa
qualidade trabalham com essa abordagem e ensinam frases essenciais antes, salpicando um pouco
de gramática aqui e ali. Se você encontrar um curso assim, ele pode ser muito útil (em vez de usar
livros específicos, eu normalmente dou uma olhada no que existe na minha biblioteca local ou na
livraria mais próxima – cada curso tem as suas vantagens e eu não poderia recomendar um deles em
particular).
Embora seja muito mais difícil, você pode fazer isso sozinho, até um certo ponto (a coisa fica mais
fácil com o tempo, especialmente depois que você tiver aprendido algumas línguas; é por isso que
eu hoje em dia aprendo quase que independentemente). O ideal é seguir algum tipo de curso
estruturado (online, usando livros ou até mesmo alguns tipos de cursos tradicionais em sala de
aula), mas seja flexível e pule diretamente para alguma coisa que ajude você agora mesmo. A
maioria dos cursos não precisa ser lida do começo ao fim.
Os exemplos que eu dei acima mostram o que eu quero dizer. Quando você começa a falar
imediatamente, você logo repara nas coisas que você precisa aprender para conseguir se exprimir e
entender da maneira mais básica. Na maioria dos livros de gramática, cursos e listas de
vocabulários, isso significa que você pode pular mais para a frente. Entender tudo não é necessário.
Quando estou estudando vocabulário, por exemplo, se eu encontrar uma palavra equivalente a
“cadarço” eu quase que certamente vou ignorá-la enquanto não atingir o nível intermediário.
Aprender uma palavra que eu tenho pouca probabilidade de usar não vai me dar nenhuma vantagem
imediata. Estudar para o dia em que eu talvez possa vir a precisar deve ir lá para o final da lista de
triagem.
Criar um bom filtro para estes tópicos de estudos e saber quando pular um assunto e voltar mais
tarde é essencial para ser capaz de aprender o que vai ajudar você a falar agora.
Embora eu já tenha definido o que fluência (em geral) significa para mim, existem outros níveis de
ter fluência ou “ritmo” até mesmo em conversas básicas, e quando você encontrar algo que
provavelmente não vai precisar usar tão frequentemente, você precisa aprender a simplesmente
ignorar essa coisa. Nesse momento essas coisas só vão atrasar a sua vida.
Mais uma vez, o lance é não almejar a perfeição. Aceitar que você não tem como saber tudo nos
estágios iniciais vai catapultar você para frente em termos de progresso.
Desde que você se concentre nas coisas essenciais, você vai saber o suficiente para dizer o que quer
dizer nos estágios iniciais. Aprenda expressões de cortesia como por favor e obrigado, pronomes
interrogativos, saudações, coisas básicas que você pode ter que pedir (banheiro, hotel, comida),
verbos básicos de ação (andar, vir, ir, trazer, poder, comer etc) e qualquer outra coisa que você tende
a dizer frequentemente. Você não sabe do que precisa? A melhor maneira de descobrir é tentar
manter uma conversa! Na internet ou com um nativo – não importa o quanto você seja fraco na
língua, tente e você vai saber imediatamente quais são as palavras que você precisa aprender agora.
Essa mesma ideia também pode ser usada para as correções. Conseguir feedback dos nativos, de
estudantes avançados ou professores é vital para garantir que você está indo na direção certa. No
entanto, nos estágios mais iniciais eu não peço muitas correções não-críticas, já que o objetivo na
fase inicial é mais entrar no esquema na língua e não manter uma conversa sem erros.
Uma vez que você chegar ao nível intermediário, você vai precisar convencer o maior número
possível de pessoas a ajudar você, para evitar entrar em um platô de “aceitável” na língua. A
estratégia precisa ser dinâmica com o seu nível de aprendizado. O modo em que você aprende na
sua primeira semana deve ser completamente diferente do modo em que o faz vários meses depois.
RESUMINDO:
Pule os tópicos de gramática ou vocabulário que não forem essenciais para a comunicação no seu
nível atual e aprenda o que você precisa falar sem hesitar muito.
SUPERANDO O PLATÔ
Usando abordagem, estratégia de aprendizado e atitude corretas, você vai progredir muito
rapidamente na língua. Nos estágios iniciais, desde que você estiver motivado você vai conseguir
manter progressos realmente muito bons! No entanto, manter esse ritmo a longo prazo vai ser
difícil! Às vezes perdemos o nosso objetivo final de vista e o nosso nível de entusiasmo pode cair –
se isso acontecer, você atingiu um platô.
A pergunta é – você vai ficar plantado ali feito um dois de paus ou segue adiante para tentar voltar
aos seus níveis de progresso iniciais?
Dependendo do seu estilo de aprendizado e personalidade, a sua abordagem atual pode precisar de
uma chacoalhada se houver algo impedindo que você chegue ao próximo nível. Muitas pessoas
atingem um nível OK, no qual conseguem se virar, e praticamente param ali e nunca melhoram. Até
mesmo pessoas que falam fluentemente, mas que gostariam de reduzir o sotaque ou melhorar o seu
nível de proficiência, nunca vão conseguir se o modo com o que estão tentando não funcionar para
elas.
Neste caso você tem que eliminar os bugs do sistema.
Thomas A. Edison foi entrevistado por um jornal após 800 tentativas falhadas de criar uma
lâmpada que funcionasse. O repórter perguntou:
- Como o senhor se sente depois de ter falhado 800 vezes?
E qual foi a resposta de Edison?
- Eu não falhei 800 vezes. Eu não falhei nenhuma vez. O que eu fiz foi provar com sucesso que
essas 800 maneiras não funcionam. Quando eu tiver eliminado todas as maneiras que não
funcionam, vou encontrar uma que vai funcionar.
Muitos anos depois, após milhares de outras “provas com sucesso”, ele conseguiu encontrar uma
maneira que funciona, e assim iluminou o mundo.
É essa a abordagem que você tem que adotar no seu projeto de aprendizagem de uma língua. Este
guia mostra a você a direção certa, mas você vai acabar descobrindo outras ferramentas e conceitos
que vão ajudar você pessoalmente mais ainda. Se o que você está usando agora não está
funcionando, então talvez esteja na hora de tentar uma nova abordagem. Você não está desistindo do
projeto, mas tem que admitir que este método simplesmente não está dando certo para você.
Graças à minha formação em engenharia e informática, eu tendo a olhar para certos problemas
como parecidos com um programa de computador (quero dizer que a resolução de problemas pode
ser parecida, e não que os seres humanos são parecidos com os programas!). Quando havia um bug
no código que impedia que uma inteira aplicação funcionasse direito, eu identificava o bug, o
eliminava e tentava algo diferente para aquele aspecto. Esta abordagem também tem sido muito
eficaz no aprendizado de línguas.
Qualquer projeto sério deve ser encarado como uma série de passos que você dá até o seu objetivo
final (a curto ou a longo prazo), e se você der de cara com um obstáculo, tente uma coisa
ligeiramente diferente e você vai conseguir contorná-lo. Muitos dos problemas da vida podem ser
vistos dessa maneira analítica, e o aprendizado de línguas certamente é um deles.
Sendo assim, se você já tiver tentado uma abordagem particular até um ponto em que ela
definitivamente não funciona para você, pode ser que a abordagem, e não você, seja o problema.
Quando isso acontece, é hora de tentar algo novo para ver se funciona melhor.
Todo esse guia se baseia nos meus anos de tentativa com várias abordagens diferentes e eliminando
as que simplesmente não me levaram até o meu objetivo no período de tempo que eu tinha
estabelecido.
Na próxima seção, vou compartilhar algumas das descobertas mais importantes que eu fiz para
conseguir falar com nativos. Você deve levar seriamente em consideração tentar o máximo delas
que puder, e então ver se alguma delas não funciona – se for assim, tente outra coisa! O meu
conselho não é a abordagem perfeita para todo mundo no planeta, mas a abordagem de encontrar a
melhor abordagem é uma estratégia em si, e que pode ser útil para todos.
RESUMINDO:
Para sair do seu platô, você precisa se afastar e ver se existe algum aspecto da sua abordagem que
pode ser melhorado. Você vai conseguir encontrar a maneira ideal para você!
Então em vez de passar tempo demais aprendendo frases básicas para dizer quem você é e o que
você faz da vida, depois de passar rapidamente por essa fase eu começo a história de por que estou
aprendendo a língua, e o faço com entusiasmo. Além disso eu também uso conectores de
conversação (conforme descrito abaixo) para ter certeza de que a outra pessoa consegue manter a
parte dela na conversa comigo, mesmo que eu ainda sinta que não posso dizer muito ainda. Todo
mundo gosta de um bom ouvinte!
RESUMINDO:
Para convencer alguém a falar com você na língua dela, é só pedir!
O ASPECTO HUMANO
As diferenças são cruciais aqui. A maioria das pessoas que pensam que é impossível se comunicar
na língua durante os estágios iniciais simplesmente não estão vendo a coisa do ponto de vista social.
Elas vêem a pessoa que está ouvindo você como um teste (talvez parecido com as provas
impessoais que elas fizeram na escola), onde cada erro leva você mais para perto da “nota mínima”
para “passar”.
Os seres humanos não são assim. Não é tanto a quantidade de erros que você comete, mas como
você faz com que as pessoas se sintam. Não ignore este aspecto humano quando estiver falando
uma língua estrangeira!
É por isso que ao contar a história entusiasmada do porquê de você realmente querer manter a
conversa na língua da outra pessoa, você está apelando para a sua natureza humana. Eu conto às
pessoas as minhas missões malucas de 3 meses (para obter um interesse dramático), e já ouvi
pessoas passarem imediatamente a mencionar como estão finalmente descobrindo as suas raízes
pois seus avós falavam a língua, ou como sempre sonharam em conseguir conversar na língua do
país onde se encontram. Todos esses assuntos vão cutucar o interesse emocional do ouvinte e você
vai “ganhá-lo”.
Aprender a compartilhar brevemente esta história para apelar para a natureza humana das pessoas é
mais importante do que aprender a dizer quantos irmãos ou irmãs você tem, ou recitar a sua rotina
diária ou muitas outras coisas que normalmente aprendemos na maioria dos cursos. Correndo o
risco de ser repetitivo, vou dizer de novo: não ignore este aspecto humano quando falar uma língua
estrangeira!
Continuando, vamos falar sobre hesitações.
Em... Hm... Ah... - aqueles momentos estranhos nos quais você está procurando uma palavra que
você sabe que aprendeu mas precisa de mais ou menos cinco segundos para encontrar. Isso vai
acontecer com todos nós. Um ouvinte paciente aguenta firme, mas eu achei uma maneira que
funciona muito bem comigo para contornar esse problema, caso a outra pessoa não aguentar.
O método que eu uso é...
...pausas dramáticas! Definitivamente não é para qualquer um (vai depender da sua personalidade),
mas essas pausas sempre me ajudaram muito a manter a atenção da outra pessoa apesar de precisar
de um momentinho para me lembrar de alguma coisa.
Em vez de dizer “hmm...”, eu posso, por exemplo, botar a minha mão no ombro do meu
interlocutor, olhar nos olhos dele (ou olhar para o horizonte com cara de conteúdo), dar uma
respiração profunda de propósito... e então dizer a coisa que eu estava tentando lembrar.
Como eu transformei essas pausas dramáticas em uma parte natural das minhas conversas básicas
em uma língua estrangeira, durante este tempo na verdade eu estou pensando muita intensamente
para resgatar a palavra que neste momento eu não estou conseguindo lembrar.
Até a conversa mais simples de repente fica mais intrigante com este detalhe.
Por exemplo, se eu precisar de um momento para lembrar como se diz uma palavra importante,
posso dizer “Eu vou ao...” (levanto o indicador analiticamente, dou um passo para trás, respiro
profundamente como se estivesse para revelar o segredo da vida do universo e tudo o mais, olho
para fora da janela na direção da epopeia que me espera) “...supermercado! Você está precisando de
alguma coisa?”.
Se você fizer isso muitas vezes as pessoas vão começar a achar que você é mais estranho do que o
Capitão Jack Sparrow, mas vão ficar muito interessadas em ouvir você continuar e até mesmo curtir
essas pausas dramáticas se você as fizer direito, não exagerar, ou pelo menos misturá-las para serem
diferentes em termos da linguagem corporal envolvida.
Não estou sugerindo que todo mundo faça isso, mas espero que você tenha entendido o que eu
quero dizer. Injetar um pouco de personalidade nas suas conversas significa que até conversas
básicas podem ser bastante interessantes para a outra pessoa. Não é só o que você diz (o seu
estoque de vocabulário), mas como você as diz (a sua personalidade). Este aspecto humano das
conversas básicas é ignorado na maioria dos cursos, que tendem a se concentrar demais nas
informações propriamente ditas, mas é um aspecto crucial das nossas interações diárias em
qualquer língua.
Se você tiver suas próprias ideias sobre como injetar a sua personalidade em conversas básicas,
tente usá-las! Lembre-se de que o que quer que seja que você quer dizer fica mais interessante para
a outra pessoa por motivos que vão além de simplesmente transmitir fatos.
Aplicar regras sociais lógicas às suas conversas básicas ajuda muito. Se você ouvir que a pessoa
tem um interesse em comum com você, fale sobre isso o máximo que puder, em vez de usar frases
irrelevantes que você aprendeu e que você talvez seja capaz de dizer melhor só para impressionar a
outra pessoa com o quanto você aprendeu. Se a pessoa tiver curiosidade sobre alguma coisa em que
você puder ajudar ou informar, diga a ela tudo o que você sabe sobre o assunto!
Quando eu menciono que tenho uma teoria segundo a qual qualquer língua pode ser aprendida em
um nível de fluência em três meses, a outra pessoa de repente fica toda ouvidos, não importa quão
ruim seja o meu nível na língua na qual estou explicando o conceito. Ouvir uma coisa interessante
transcende os níveis de conhecimento de uma língua e motiva a outra pessoa a querer ouvir você e
encorajar o seu progresso.
Você também pode dar à outra pessoa motivações simples para querer ajudar você e a te dar
feedback – se você estiver falando a língua com o(a) seu(sua) companheiro(a), prometa um beijo
por cada correção. Se estiver na night com nativos, diga que o primeiro a corrigir você 20 vezes
ganha uma cerveja.
Quando eles corrigirem você, agradeça sinceramente pela ajuda, sorria e mostre o quanto você
está contente por eles estarem ajudando você a chegar ao seu objetivo de falar bem a língua. Se a
sugestão que a outra pessoa der resultar em um silêncio desconfortável, é provável que essa pessoa
se sinta menos disposta a ajudar você de novo no futuro.
Um sorriso e uma tentativa geral de fazer com que as outras pessoas se sintam mais confortáveis,
usando linguagem corporal positiva, vão levar você muito mais além do que falar perfeitamente
faria. Quando o nativo ouve você em dificuldade, vê que você está se remexendo, hesitando sem
jeito, e de modo geral parecendo não estar gostando deste aspecto da comunicação básica, a
natureza humana da pessoa vai fazer com que ele tente poupar você desta tortura! Ele
provavelmente irá começar a falar em inglês (ou outra língua) com você (se ele souber) porque ele
é uma pessoa legal.
Fale com segurança e tente ter uma postura confiante. Muitos países podem ser mais expressivos
com os seus corpos do que o seu e é importante levar isso em consideração. Qualquer “sem-jeitice”
que você vier a criar é menos devida a erros na sua gramática e mais a como você está
desconfortável se projetando nos outros e fazendo com que eles se sintam da mesma maneira. Por
outro lado, uma atitude positiva também é contagiosa!
O seu objetivo deve ser sempre uma atitude alto-astral e um sorriso sincero – e rir dos seus próprios
erros, se necessário, para deixar a outra pessoa mais à vontade. Estes “catalisadores sociais” são as
coisas que fazem com que conversas básicas sejam muito mais agradáveis e até mesmo possíveis
apesar de você ter um nível bem baixo de conhecimento da língua.
Vou dizer pela terceira vez para que entre realmente na sua cabeça! Não ignore este aspecto humano
quando falar uma língua estrangeira! :)
RESUMINDO:
Transmitir a sua personalidade irá convencer a outra pessoa a querer falar com você muito mais do
que impressionar os outros com a sua gramática perfeita e muito vocabulário. Até mesmo as suas
hesitações quando fala a língua podem se tornar mais interessantes se você injetar um pouco de
personalidade nelas!
TÍMIDO DEMAIS PARA FALAR
Não importa qual língua você está aprendendo, e mesmo com as melhores intenções e estratégias,
um grande obstáculo pode estar impedindo você até mesmo de tentar usar a língua: não se sentir
seguro o suficiente, ou ser tímido demais.
Acho que um dos motivos pelos quais tantos cursos online e em CDs para aprender línguas são tão
populares é porque eles são imunes a este problema. Mesmo que você seja tímido, se estiver
trancado no seu quarto ou ouvindo o seu iPod, você definitivamente não está saindo da sua zona de
conforto, de modo que a maioria das pessoas preferem aprender dessa forma.
Muitos estudantes conseguem fazer progressos dessa maneira, embora mais lentamente do que
poderiam. No entanto, mesmo se você esperar e passar anos estudando, quando chegar a hora de
realmente usar a língua você vai ter que superar essa insegurança, não importa o quanto você já
tiver aprendido.
Conhecer pessoas novas e se comunicar com elas é o objetivo de aprender uma outra língua (a não
ser que você se concentre em literatura/filmes etc), e se você não está pronto para isso, nem mesmo
o potencial de falar a língua “perfeitamente” significa alguma coisa se você for tímido demais até
mesmo para abrir a boca.
Esta é uma outra curva na estrada do aprendizado de línguas que precisa ser superada para chegar
até o outro lado, se você quiser dominar com segurança uma língua estrangeira. Uma crítica que eu
faço aos cursos que se concentram inteiramente em estudo sozinho e nenhuma prática (embora
também sejam úteis) é que eles parecem até acolher a timidez das pessoas.
Vamos ser sinceros – se você se sente tímido, você só está satisfazendo uma profecia que se
autorrealiza. Não vou ser delicado aqui não: sai dessa!
Tenho certa dificuldade em acreditar que as pessoas nascem introvertidas ou extrovertidas. Talvez
existam evidências que sugerem que é assim, mas isso definitivamente não é uma coisa cimentada
para o resto da vida. Algumas pessoas talvez tenham que ralar mais do que outras para conseguir se
misturar mais facilmente às outras, mas essa é uma habilidade que pode ser aprendida, como
qualquer outra. Você pode aprender a cozinhar, você pode aprender uma língua, e você pode
aprender a ser menos tímido.
Isso foi verdade no meu caso – como jovem estudante de engenharia e nerd, quando comecei a
viajar tinha muita dificuldade em fazer amigos por causa deste “fato”; eu dizia a mim mesmo que
era tímido demais para chegar nas pessoas. Como já disse antes, era uma profecia que se
autorrealizava. Eu não abordava ninguém nem me sentia seguro para usar as línguas que sabia
porque eu dizia a mim mesmo que não era capaz. Na verdade não havia nada no mundo que me
impedisse de tentar. A barreira à minha frente tinha sido erguida por mim mesmo.
Uma pessoa cega não consegue simplesmente desejar tanto poder enxergar a ponto de conseguir
fazê-lo, mas a timidez existe principalmente porque você diz a você mesmo que existe. Você pode
superar isso!
Ler blogs e livros inspiracionais pode ajudar, e dou a maior força para que você pesquise maneiras
de se sentir mais confiante com você mesmo. Este guia não tem como propósito entrar nos detalhes
da psicologia da timidez, mas o que você precisa fazer na verdade não é nada complicado.
Você não precisa se preparar, se sentir pronto, esperar o momento certo, pensar exatamente sobre o
que vai dizer etc. Pensar demais é exatamente o que faz com que muitas pessoas tímidas fiquem
fechadas em si mesmas. Assim como não é possível ser capaz de falar uma língua perfeitamente, no
sentido exato da palavra, não é possível ser um extrovertido “perfeito” com uma situação certinha
esperando por você. Você simplesmente tem que mergulhar, ir até os nativos, e começar a falar.
Esta é uma habilidade que eu fui forçado a adquirir nos últimos anos, porque viajando sozinho
preciso ir até as pessoas e me apresentar se quiser fazer amizade. Isto influenciou a minha técnica
de aprendizado de línguas, e quando eu vejo um nativo, simplesmente vou até lá e digo
hola/ciao/salut etc.
Fazer isso com alguém com quem você cruza na rua seria realmente muito estranho, mas falar com
“desconhecidos” na maioria das outras situações na verdade não é tão invasivo. Em festas, as
pessoas esperam que você socialize; quando você compra alguma coisa ou pede comida no
restaurante, você está falando com a pessoa de qualquer jeito, então não custa nada simplesmente
adicionar alguns comentários agradáveis na língua dela. Se não for hora do rush, as pessoas
normalmente vão gostar de um bate-papo rápido (dependendo da cultura). Em muitos eventos
sociais, a maioria das pessoas não tem absolutamente nenhum motivo para não querer falar com
você, especialmente se a sua linguagem corporal e comportamento em geral forem amigáveis.
Em eventos sociais, além de aplicar as técnicas que eu descrevi acima, eu me asseguro de que a
coisa sobre a qual estou falando é ligeiramente mais interessante, e faço isso pulando as
apresentações básicas e começando a conversa no meio. Nesse caso também é preciso se acostumar
a falar com desconhecidos, mas esse método é muito eficaz quando quero manter a atenção de
alguém que acabei de conhecer.
Se eu chegasse em alguém em um evento social e dissesse “Oi, meu nome é Benny. Sou irlandês e
tradutor. Gosto de viajar e de aprender línguas. Qual é o seu nome? O que você faz da vida?”, é
claro, isso parece uma conversa típica e agradável, e logicamente é mais fácil preparar esse “script”
antes – estes tipos de conversa com certeza funcionam bem para as primeiras tentativas.
No entanto, para que a pessoa fique realmente interessada, gosto de começar uma conversa no meio.
Dependendo da situação, isso pode ser feito de muitas maneiras. Quando estou em uma festa, vou
até um desconhecido, faço um brinde (embora eu normalmente só beba suco ou refrigerante) e
pergunto se ele está gostando da música. Se você ou o seu vizinho for novo no prédio ou na rua,
diga oi quando cruza com ele e diga que seria um prazer recebê-lo para um chá, um drinque, um
almoço quando quiser. Isso funciona que é uma maravilha, e depois de uma conversa amigável
sobre assuntos aleatórios a outra pessoa normalmente fica muito mais interessada em ouvir você se
apresentar direito.
O número de exemplos é infinito, e tudo o que você precisa fazer é se aproximar da pessoa e falar.
No início é difícil mesmo, já que você está realmente fora da sua zona de conforto, mas assim como
muitas outras coisas na vida, essa também melhora com a prática! Antes de viajar para o exterior,
acostume-se com o “skydiving social” que é falar com o máximo de desconhecidos que puder na
sua própria cidade.
Comece imediatamente e pratique regularmente com todo mundo (em línguas estrangeiras ou na
sua própria língua), pois aprender como fazer isso vai fazer uma diferença imensa na sua segurança
em falar a língua-alvo.
E agora complete a Worksheet número 5!
CONECTORES DE CONVERSAÇÃO
Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas mesmo quando você está confiante você é limitado
pelas coisas que já aprendeu a dizer. Você pode pensar que nos estágios iniciais você talvez consiga
pedir informações específicas depois que aprender as frases essenciais, mas depois de ouvir a
resposta talvez você não tenha para onde ir se quiser entrar em uma conversa agradável.
Conversas normalmente não são uma série de perguntas de um lado e respostas do outro. Isso seria
um interrogatório! Mas mesmo se você ainda estiver se acostumando à sensação de falar uma língua
e ainda precisar aprender vocabulário de base para conseguir contribuir mais, existe um modo de
manter a conversa fluindo!
O problema com finais abruptos é que eles não convidam a outra pessoa a continuar. “Como está a
sua comida?” “Boa”. “Quantos anos você tem?” “27”. A outra pessoa pode ficar em um momento
desagradável no qual tem que pensar em alguma coisa a dizer, e mesmo assim não deve esperar
nada além de uma resposta simples novamente – mesmo que você expandir a sua resposta, como
sugerido acima, isso ainda não dá muitas opções à outra pessoa.
Mesmo que você ainda estiver aprendendo as coisas básicas, existe um modo de contornar esse
problema! Os conectores de conversação são palavras ou frases que você adiciona à sua conversa e
que não necessariamente transmitem informações, podendo portanto ser usados de maneira flexível
em um grande número de situações.
Usamos estes termos o tempo todo na nossa própria língua. Em inglês, termos como “para dizer a
verdade”, “sabe”, e até mesmo termos de cortesia como “obrigado”, “desculpa” e “por favor” são só
“amaciantes” usados para que uma conversa baseada em troca de informações fique mais educada.
Mas não contribuem em nada à informação propriamente dita, e é por isso que são tão úteis nos
estágios iniciais do aprendizado de uma língua.
Quando você escuta a língua-alvo, você vai ouvir esses termos muitas vezes e muitos deles não
existirão na sua língua-mãe. É importante usá-los o mais frequentemente possível! Isso vai fazer
com que a sua conversa soe muito mais natural do que o uso correto de tópicos gramaticais mais
complicados.
E a melhor parte é que você pode aproveitar esses termos para manter uma conversa mais fluida
mesmo se você ainda não estiver pronto para contribuir muito para a conversa.
Quem me explicou este conceito foi o Anthony, que ilustrou a coisa assim:
Você está em um restaurante e alguém pergunta a você o que você acha da comida. Em uma típica
experiência de quem está aprendendo uma língua, o estudante normalmente ficaria meio nervoso,
acharia a experiência meio assustadora, diria “hmm... boa!” e ficaria torcendo para que ninguém
mais fizesse perguntas desconfortáveis.
Mas se o estudante soubesse usar os conectores de conversação, poderia dizer coisas do tipo:
Obrigado por perguntar. Para dizer a verdade, devo dizer que a comida está boa. Diz aí: o que
você está achando da comida?
Os mesmos conectores de conversação podem ser recombinados de várias maneiras. Mais tarde,
então, a pergunta “De onde você é?” pode ser respondida com: “Para dizer a verdade, eu sou da
Inglaterra. Obrigado por perguntar. Diz aí: de onde você é?”
Na verdade só uma parte muito pequena de cada conversa é realmente sobre o assunto que está
sendo discutido, enquanto que a maior parte é sobre estabelecer intimidade e manter a conversa
fluindo.
Então, em vez de terminar a conversa abruptamente quanto der uma resposta, você na verdade está
passando a bola para a outra pessoa e convidando-a a continuar com a parte dela na conversa.
Este guia inclui um documento em Excel (que também pode ser aberto com Open Office ou Google
Documents, ambos gratuitos) com uma lista de exemplos de conectores de conversação como
concordar/discordar (Cem por cento! Isso é um exagero), abrir um tópico (Boa pergunta),
preenchedores gerais (Cá entre nós, Na verdade), qualificadores (Como você já sabe) e passar
(Falando nisso, Tenho uma história interessante sobre isso). Tente encontrar a tradução destes
termos na sua língua-alvo e aprenda-os para ter algumas palavras extras para manter uma
conversação básica fluindo!
Estes conectores também são maneiras excelentes de substituir aqueles momentos de hesitação
“hm...”. Se você aprender essas frases direito elas vão aparecer na sua cabeça sem que você precise
pensar muito, e você pode usar esses segundos a mais para decidir o que vai dizer depois.
Dever de casa: Abra o documento “Conectores de Conversação” incluído com o guia e tente
preencher o mais que puder com frases na sua língua-alvo (usando dicionários ou pedindo
conselhos a nativos). Aprenda-as e comece a usá-las o mais regularmente que puder!
RESUMINDO: Se você quiser aprender mais de uma língua, espere até falar bem a sua primeira
língua estrangeira antes de passar para a próxima. Para não misturá-las, associe cada palavra ao seu
contexto cultural e ao modo em que um nativo a pronunciaria. E não esqueça que a fase frustrante
vai sempre estar presente, não importa qual língua você começar a estudar!
ASSOCIAÇÃO DE IMAGENS
Então você precisa de uma associação! Um modo excelente de fazer isso é se assegurar de que você
está vendo a palavra no contexto correto, ou seja, como ela é usada na realidade. Isso requer muita
leitura/escuta, muita exposição ainda é necessária, e a memória tende a ser em mão única também
(de novo, língua-alvo para língua-mãe), pois você está lendo ou escutando na língua-alvo e
traduzindo para a sua língua-mãe na sua cabeça. Com a quantidade correta de exposição, logo você
vai parar completamente de traduzir e não vai mais precisar passar pela sua língua-mãe, mas isso
ainda é pouco útil para que você mesmo produza a língua.
Por isso eu uso duas técnicas divertidas quando encontro palavras ou frases novas. Ambas ajudam a
produzir as palavras, o que é muito mais importante do que simplesmente reconhecê-las. É uma
pena, mas as pessoas que aprendem vocabulário de maneira unidirecional tendem a ficar muito
desapontadas quando precisam falar e não conseguem dizer coisas que elas são capazes de
reconhecer.
Essas técnicas são mais agradáveis, e depois que você se acostumar a elas você só vai levar alguns
segundos (ou menos) para aprender cada termo. Por sorte, qualquer técnica de memorização, até
mesmo a repetição chata, pode ajudar a palavra a ser gravada na memória se você a usar algumas
vezes, no contexto certo, em uma conversa natural. Nas primeiras vezes você vai precisar fazer uma
pausa (não se esqueça de fazer com que a pausa seja mais interessante do que um “hmmm...”!) para
se lembrar da associação, mas depois a palavra vai vir naturalmente à sua cabeça e você vai poder
abandonar totalmente a associação. Você simplesmente vai saber a palavra. De modo que essas
estratégias na verdade são maneiras temporárias de levar você mais rapidamente até esse resgate da
palavra.
A primeira, que eu já mencionei no meu blog, é a associação de imagens. Você precisa pegar a
palavra que tem que lembrar e criar uma associação imaginativa com a tradução dentro da sua
cabeça. Essa associação tem sempre que ser criativa, detalhada, engraçada e ridícula, o mais que
você conseguir. Simplesmente imaginar dois objetos interagindo não é suficiente porque é fácil de
esquecer. Quanto mais estranha a história, melhor.
Vou dar um dos meus exemplos preferidos, aplicado à palavra francesa gare que eu mencionei
acima. Essa é a história que eu inventei:
Não existe uma palavra em inglês (pelo menos não que eu saiba) que tenha um som parecido com
“gare”. Então, depois de pensar um pouco, a coisa mais parecida que eu consegui encontrar foi
Garfield, aquele dos quadrinhos (e do desenho e do filme), o gato gordo preguiçoso e sarcástico (e
que fala, é lógico). Também pensei em uma estação de trem específica que eu usei muito quando
estava em Valencia, na Espanha. É importante tornar tudo muito divertido e cheio de detalhes e de
movimento logo no início. Imaginei as pessoas andando rápido pela estação, por baixo da tabelona
com os horários dos trens, na plataforma que eu costumava usar, e passando pela máquina onde eu
costumava comprar os bilhetes. De repente, aparecia um grande gato gordo e laranja, com cores
bem de desenho animado; não um gato amarelo comum, mas o próprio Garfield, com o seu sorriso
marca registrada.
Mas ele não estava simplesmente sentado na estação de trem (porque assim seria fácil de
esquecer). Ele está para perder um trem importante que vai diretamente para Bolonha para uma
competição de comedores de lasanha! Ele está de malas e óculos escuros, pois está saindo de
férias, é claro, e está bufando enquanto corre para um lado e para o outro tentando descobrir de
qual plataforma o trem vai sair. É engraçado pensar que esse gato gordo está precisando correr
pela primeira vez na sua vida. O trem está saindo da plataforma mas ele corre atrás dele, joga a
mala no compartimento de trás, dá um pulo e... consegue subir no trem na hora H!
Com esta imagem, toda vez que eu imagino uma estação de trem eu sempre vou ver essa história
ridícula do Garfield correndo pela estação, o que vai me ajudar a lembrar de dizer “gare”. Vice-
versa, ver “gare” e imediatamente reconhecer a semelhança com Garfield que eu lhe dei significa
que vou ver o Garfield em uma estação de trem. O processo de lembrança leva menos de um
segundo e praticamente não diminui o ritmo de uma conversa que está fluindo bem.
Cada associação que eu faço desse jeito tem muitas informações de fundo para que a história fique
ainda mais dramática e mais difícil de esquecer. Se você ainda não conhecia a palavra gare, aposto
que se eu perguntar a você daqui a algumas semanas como se diz estação de trem em francês você
vai ser capaz de se lembrar da palavra visualizando essa história! E, é claro, se você ler ou ouvir
gare você também vai ser capaz de dizer o que ela significa – a diferença crucial é que nesse caso a
coisa é em mão dupla! Este é um aspecto importante que ajuda muito no caso de conversas, pois
você vai conseguir entender a outra pessoa (assim como no caso do aprendizado por repetição e
através de muita exposição no contexto certo) e também ser capaz de dizer as palavras.
Gosto de fazer isso para o máximo de palavras que puder, então a maior crítica que você
logicamente pode fazer é que isso leva muito tempo e dá trabalho demais para cada palavra, certo?
Você precisou de alguns minutos para ler a história acima, portanto a coisa toda parece ser
ineficiente e pior ainda do que aprender por repetição, se você precisar fazer tudo isso para cada
palavra. Na verdade, eu inventei essa história em poucos segundos – cinco, talvez. Como a sua
mente funciona muito rapidamente, você pode criar histórias incrivelmente detalhadas muito rápido.
Com um pouco de prática você vai conseguir fazer isso quase instantaneamente para qualquer
palavra nova que encontrar.
No começo realmente a coisa requer um pouco de prática – você vai ter que redescobrir os talentos
que tinha quando era criança e tinha muita imaginação. Portanto, no início você pode mesmo
precisar de um minuto inteiro para criar uma história desse tipo, pois vai ter que procurar dentro da
sua cabeça maneiras inteligentes de tornar a história mais interessante, e pode ser que você precise
se concentrar muito também. Mas depois de fazer isso várias vezes, o processo vai ficando mais
rápido e você vai ser capaz de fazer isso sempre que for necessário, inclusive no meio de uma
conversa.
As pessoas sempre me perguntam como eu consigo aprender tanto só a partir de conversação pura
em vez de ficar trancado no quarto estudando a língua – e este é uma das maneiras mais importantes
que eu uso para fazê-lo. Uso o contexto para determinar o significado de uma palavra nova (ou
simplesmente pergunto o significado) quando a escuto pela primeira vez falada por um nativo, e
aplico uma associação inteligente no mesmo momento. Precisei praticar muito para entrar nessa
rotina, mas eu me classifico como uma pessoa com uma memória “natural” ruim (eu nunca consigo
encontrar as minhas chaves! Talvez eu devesse começar a fazer algum tipo de associação de
imagens para lembrar onde elas estão quando as coloco lá...) e mesmo assim consegui, por isso
tenho certeza de que você também consegue!
No final das contas, lembre-se de que essa associação é temporária. Depois que precisei usar uma
palavra duas ou três vezes, ela aparece na minha cabeça imediatamente e eu sei a palavra – não
preciso mais de traduções ou associações; entendo a palavra como tendo o significado que ela
realmente tem, e não preciso passar pelo inglês. Isso certamente ajuda muito a manter o ritmo
natural da conversa.
Outras associações de exemplos que eu já usei (mais relevantes para quem tem inglês como língua-
mãe) incluem:
•Espanhol: playa = praia. Pense em player se achando e cheio de marra chegando em uma praia (eu
pensei em uma praia em Valencia perto de onde eu morava, em vez de uma praia qualquer, para que
a associação ficasse mais forte) de sunga exibindo os músculos e paquerando as meninas. Playa e
(beach) player.
•Tcheco prvni = primeiro. Pegue a palavra e adicione algumas vogais para torná-la pronunciável e
mais familiar; no meu caso, o resultado foi pro van. Imaginei um motorista de van profissional
chegando em primeiro lugar nas Olimpíadas de vans, com um monte de detalhes bobos para que a
história fosse mais fácil de lembrar.
•Tailandês saudação/oi, Sawadee no alfabeto latino. A primeira parte parece muito com a pronúncia
britânica da palavra sour (azedo), de modo que imaginei um turista britânico na ilha de Ko Phi Phi
indo até um café (cheguei a visualizar precisamente qual café, para que a coisa tivesse mais impacto
sobre a minha memória) e pedindo tea (chá) (com a pronúncia parecida com dee) como sendo a
primeira coisa que ele diria a qualquer garçom tailandês que aparecesse. Ele então cospe
dramaticamente o chá em cima do garçom depois de tomar um gole, porque o leite que estava no
chá estava azedo – sour tea (chá azedo) = sawadee, e como essa foi a primeira coisa que ele disse,
essa palavra significa oi. A imagem do turista mal educado cuspindo chá no garçom é tão forte que
a associação aparecia na minha cabeça muito rápido.
Com a prática, aprendi a pensar em uma associação para cada termo novo que encontro, às vezes
mudando a pronúncia levemente ou usando muita imaginação com a associação, conforme você viu
nos exemplos.
Isso pode ser aprendido. Tente fazer isso quando encontrar uma palavra nova que você gostaria de
aprender! É uma ótima maneira de tornar o aprendizado de uma língua mais divertido sem deixar de
ser prático. Quando você tiver aprendido a fazer isso rapidamente, potencialmente você vai ser
capaz de aprender milhares de palavras muito mais rápido.
Se você quiser mais ideias, há muitas sugestões para vocabulário básico em francês, alemão,
italiano, polonês e espanhol em http://www.memorista.com/ - as associações são ainda mais
poderosas quando você mesmo as inventa, usando partes da sua própria vida na associação. A
maioria das associações que eu uso nunca funcionariam com outras pessoas, mas não importa –
torne o processo interessante do seu próprio jeito!
Se quiser tentar, use a Worksheet 6!
CRIANDO TEMPO
Um outro “recurso” à sua disposição é a imensa quantidade de tempo que você não está
aproveitando. Sim, eu sei que você é superocupado – todos nós somos, certo? Trabalho, família,
amigos, hobbies e passatempos, coisas a fazer, compras, banho, faxina, dormir e outras
responsabilidades – é um milagre se tivermos tempo para fazer qualquer outra coisa!
Não importa quem você é, o ocupadíssimo CEO de uma empresa ou um estudante com mil
trabalhos para entregar, existe uma certa quantidade de tempo que você está desperdiçando e que
pode ser aproveitado para melhorar as suas habilidades linguísticas.
A melhor maneira de retomar o controle de imensos segmentos do seu dia para aproveitá-los direito
é eliminar atividades inúteis. Eu já sugeri que ver televisão na sua própria língua provavelmente
não contribui muito para os seus projetos de vida. O que mais você faz regularmente que
simplesmente não contribui para a sua vida de um jeito positivo? Pense sobre essas coisas e
elimine-as da sua rotina diária. Se você fez um dos primeiros exercícios na worksheet sobre o que
você faz todos os dias, talvez tenha notado alguma coisa que você não precisa necessariamente
fazer. Se você disser para você mesmo que está “relaxando”, então pense se essa atividade
realmente faz você relaxar a longo prazo ou se é só uma solução provisória a curto prazo.
Quando você elimina atividades inúteis da sua rotina diária, ganha aquele tempinho extra para as
coisas importantes! O próximo passo é analisar as coisas que você simplesmente tem que fazer, mas
mesmo assim são uma perda de tempo: esperar!
Você espera pelo ônibus/metrô/trem, você espera dentro do ônibus/metrô/trem enquanto vai para o
trabalho ou para a escola, você espera na fila do supermercado, você espera no engarrafamento,
você espera quando toma café no boteco de manhã, você espera a água ferver quando você mesmo
faz seu café em casa, você espera aquele amigo chegar, você espera no consultório do médico ou
dentista, você espera até mesmo intervalos de dez segundos, mais ou menos, em elevadores, no
sinal de trânsito, quando espera alguma coisa carregar no seu computador, quando espera enquanto
alguém responde à campainha depois que você toca etc.
Na maioria dessas situações você provavelmente está sozinho – então, se não puder conversar com
alguém, o que você faz? Olha para o vazio? Lê as propagandas ao seu redor? Gira os polegares?
Aperta o botão de pedestres ou do elevador em frustração porque nada aconteceu ainda? Estes
pequenos segmentos do nosso dia passam voando e não são utilizados, e no final das contas, se
somados, significam uma enorme quantidade de tempo desperdiçado. São situações inevitáveis,
partes natural do seu dia.
Para a maioria das pessoas, estes pequenos segmentos são coisas chatas – por que a outra pessoa
está atrasada? Por que tem tanta gente na minha frente no supermercado? Por que o meu
computador teve que precisar de um reboot logo agora? Esperar frustrados é o que nós acabamos
fazendo, e considerando quanto tempo por dia passamos fazendo isso, esse tipo de coisa acaba
sendo uma fonte de estresse desnecessário!
Na verdade eu fico feliz quando aparecem ocasiões assim! Juro! Se alguém está um pouco atrasado,
ou se erraram o meu pedido no restaurante e eu tenho que esperar até que mandem o prato certo, ou
quando acabei de perder o ônibus e o próximo só passa daqui a 15 minutos, em vez de ficar
reclamando do meu “azar” e adicionando estresse à minha vida ficando zangado durante este
período, eu penso com meus botões: ótimo! Outra oportunidade de estudar vocabulário!
Eu raramento fico sentado em frente à escrivaninha com um marcador “estudando” vocabulário no
sentido tradicional da palavra. Simplesmente “não tenho tempo”, com todas as outras coisas que eu
faço durante o dia. Todo o meu estudo é feito durante essas situações de espera, porque juntas elas
formam uma grande quantidade de tempo (especialmente se você mora em um país no qual o
conceito de pontualidade é mais “flexível”).
Isso significa que a única coisa que você tem que fazer é garantir que o seu material de estudo seja
portátil. A maior parte do meu tempo durante as primeiras semanas em um outro país se concentra
em aprender frases, então levo sempre um pequeno frasário no bolso. Se eu já estiver falando
direito mas precisar me concentrar na gramática (não faça isso nos estágios iniciais!), então talvez
eu leve uma tabela de conjugações ou de regras de preposições dobrada no bolso. Em situações nas
quais é preferível ter alguma coisa para ouvir (por exemplo, no carro), eu levo um curso em CD, ou,
melhor ainda, um podcast, na língua-alvo.
Algumas línguas também têm livros de vocabulário para estudar que separam as palavras em
categorias, tornando-as mais fáceis de estudar de maneira sistemática, embora nas fases iniciais o
dicionário no final do frasário seja pequeno o suficiente para dar aquela sensação de conquista
quando você aprende toda a lista de palavras essenciais que começam com uma letra do alfabeto em
cada seção de estudos.
Você simplesmente pega a folha de papel ou o livro, abre na página certa e memoriza as palavras ou
testa você mesmo com elas até que a espera termine. Ou você liga o seu mp3 player e escuta o
arquivo áudio. Isso pode somar horas de estudo durante o dia, considerando quanto tempo uma
pessoa normal desperdiça!
Venho fazendo isso durante os últimos anos e tem sido muito eficaz! No entanto, também descobri
recentemente um grande melhoramento para essa técnica: Spaced Repetition Software (software de
repetição espaçada).
SRS é um método de apresentação de informação que te dá a informação antes que você a esqueça e
garante que ela fique constantemente fresquinha na sua mente. Você pode instalar uma versão
gratuita deste programa no seu computador usando a aplicação Anki. Uma das entrevistas incluídas
no guia foi feita com Damien Elmes, que desenvolveu esse sistema, e que explica como o SRS pode
ser útil.
Estudar com o computador pode ser muito útil, mas não é o objetivo desta seção – precisamos ser
capazes de estudar por aí! Se você tiver um iPhone/iPod Touch, um aparelho que use Android ou
um Nintendo DS (para usar offline, ou seja, sem precisar da internet para estudar), ou algum outro
dispositivo móvel com acesso à internet (e presumivelmente não caro de usar), você pode usá-lo
para estudar usando o sistema SRS.
Dessa forma você usa essas pequenas janelas de dois minutos, que somadas viram logo um grande
período de tempo, ao mesmo tempo em que usa um sistema de apresentação que decide quais
palavras você precisa aprender baseando-se na sua dificuldade e testa você constantemente. Decidir
aleatoriamente quais palavras estudar em um frasário funciona, mas dessa forma você vai perder
menos tempo ainda, pois não vai ver de novo palavras que definitivamente já conhece, e o programa
vai constantemente perguntar palavras importantes e difíceis que você precisa aprender.
Para usar estes dispositivos, veja o link acima para saber como instalar a aplicação no seu aparelho
(ou acessar a interface online usando um dispositivo com internet), e adicionar “maços” de palavras
publicamente disponíveis ou criar as suas na conta online com a qual você pode estudar.
RECURSOS ONLINE
Embora este guia se concentre mais em falar, também é importante não esquecer os outros aspectos
de uma língua. Para mim o site LingQ é uma ótima maneira grátis de praticar leitura e encontrar
podcasts para ouvir em muitas línguas. É muito user-friendly; leia uma resenha detalhada das
vantagens e desvantagens (e desvantagens que não têm nada a ver com o sistema de leitura) no meu
site.
A parte dos podcasts do LingQ é um ótimo recurso para baixar arquivos de áudio que você pode
ouvir onde quiser. Se não conseguir encontrar o que quer no LingQ, você também pode baixar
podcasts na língua-alvo (não direcionada para estudantes, mas sim para nativos) procurando os sites
de estações de rádio na língua-alvo, procurando online ou entrando no iTunes. Muitos podcasts são
completamente grátis e você vai encontrá-los sobre temos que serão mais interessantes para você
(notícias, novidades de tecnologia etc).
Outro recurso que eu gosto de usar é o Google Image Search em vez de um dicionário. O problema
com dicionários bilingues é que eles requerem que você pense passando pela sua língua-mãe. Isso
sempre vai tornar as coisas mais lentas, quando a situação ideal seria pensar diretamente na língua-
alvo. Idealmente, você vai ver uma imagem do que a palavra representa (logicamente isso funciona
muito melhor com objetos e não com algumas preposições e qualidades abstratas) e associar a
palavra à imagem e não à sua tradução.
Faça uma tentativa! Entre no site do Google na sua língua-alvo (google.es para espanhol, google.fr
para francês etc), clique na opção para mudar a língua (se ainda estiver na sua língua por default) e
faça uma busca clicando no link “imagens” (com o desenho de uma máquina fotográfica), à
esquerda. Se o Google fizer a busca na língua certa você vai obter as imagens certas também.
Este é um método que você deve tentar para tentar manter tudo na sua língua-alvo. Você vai perder
o ritmo da língua se tiver que ficar mudando toda hora.
Você também pode usar a busca básica do Google como corretor gramatical. Para saber se uma
palavra é masculina, feminina (ou neutra), que caso deve ser usado depois de uma certa preposição
etc, eu normalmente uso o Google em vez de ir procurar a regra.
Nesse caso você precisa digitar o termo que está procurando entre aspas. Por exemplo, se você
quiser saber se o certo é commencer faire, commencer à faire ou commencer de faire em francês,
simplesmente faça uma busca para cada expressão. Normalmente as versões erradas dão apenas
alguns resultados (essas palavras podem aparecer juntas em maneiras menos comuns, por exemplo),
mas neste caso você acha 100 vezes mais resultados para a versão com à.
Para saber se coche é masculino ou feminino, você pode usar os dicionários abaixo ou então
simplesmente digitar “coche pequeño” e “coche pequeña” no Google e ver qual dos dois dá um
número incrivelmente maior de resultados.
O próximo passo é checar a ortografia! Você pode usar o corretor ortográfico do Google (Você quis
dizer...), mas isso é muito chato para palavras individuais. Felizmente, o Firefox (e outros browsers)
e o Open Office vêm com excelentes dicionários de línguas estrangeiras que você pode instalar
grátis e acessar com muita facilidade. Até mesmo soluções profissionais e caras como o corretor
ortográfico do Office podem ser muito limitadas com relação a quais línguas você pode usar, de
modo que na verdade a versão grátis é melhor.
Quando eu escrevo uma carta eu uso Open Office e adiciono a opção da língua que eu quero (as
opções disponíveis incluem muitas línguas mais importantes e várias menos comuns também) e
ganho um corretor ortográfico, um thesauros e um corretor de hífens. Ele indica automaticamente
quando você escreveu uma coisa errada enquanto você digita, e sugere uma substituição. Se você
continuar cometendo os mesmos erros, logo vai entender qual é a versão certa! Com o Firefox
também é muito fácil instalar outros dicionários para checar a sua ortografia enquanto você escreve
em formulários, e-mails e até mesmo no chat do Facebook!
Como uso muito os chats para praticar as minhas línguas, instalei o cliente pidgin – é um programa
único que funciona com MSN, o chat do Facebook, Skype, AIM, ICQ, Google Chat e muitos
outros; a melhor coisa, para mim, é que é fácil mudar a língua para você saber instantaneamente se
está digitando algo errado.
Às vezes não é possível fazer uma busca no Google tão facilmente para encontrar a resposta à sua
pergunta e você realmente precisa da ajuda de um nativo. Felizmente, existem sites especificamente
feitos para isso! O Lang 8 serve para mandar pequenos textos que você gostaria que fossem
corrigidos por um nativo. E se você quiser saber como um nativo pronuncia uma certa frase?
Mande-a ao Rhinospike! Ambos são completamente grátis (você precisa se registrar primeiro), e
funcionam mais rapidamente se você mandar as suas próprias correções e gravações às pessoas
interessadas na sua própria língua.
Para ouvir palavras ou grupos de palavras pronunciadas por um nativo, procure pelos termos que
você quer em Forvo.
Às vezes a pergunta que você precisa fazer é um aspecto técnico da língua. Nesse caso você pode
procurar os muitos fóruns online que outros estudantes e nativos usam, e a sua pergunta pode ser
respondida muito rapidamente!
Um dos meus preferidos é o fórum do wordreference.com para explicações sobre uma grande
variedade de línguas. Mas se você fizer uma busca no Google usando o nome da língua e fórum,
basta dar uma olhada rápida para ver o quanto os fóruns são ativos em termos de dar dicas para a tal
língua, se registrar (normalmente completamente grátis) e fazer perguntas; normalmente você vai
receber respostas úteis rapidinho!
E os dicionários online? Estes dependem muito da língua, de modo que é melhor perguntar no
fórum quais dicionários eles recomendam para a língua que você está estudando. Mas certamente
existem muitos dicionários multilíngua que dão ótimas respostas em várias línguas!
Um deles é a Wikipedia, que não é só uma enciclopédia grátis (o que já seria um recurso
importante), mas é uma enciclopédia em centenas de línguas! Existe uma quantidade imensa de
artigos linkados de uma língua para outra, então você pode simplesmente procurar a palavra (na sua
língua-mãe ou na versão da Wikipedia na sua língua-alvo) e dar um scroll para baixo. No lado
esquerdo você vai ver o mesmo artigo em outras línguas!
O Wordreference (o link está lá em cima) é ótimo não só pelo seu fórum, mas também pelo seu
amplo dicionário. O dicionário é grátis por causa dos anúncios chatos na lateral, que podem ser
desativados instalando um plug-in de bloqueio de anúncio no seu browser. Este dicionário
normalmente dá várias traduções diferentes, sugere o contexto e até mesmo conjuga verbos e os
reconhece dentro de termos de busca!
Se você estiver procurando termos mais técnicos, veja os resultados da pesquisa de termos Proz
(usando a opção Kudoz) ou o InterActive Terminology for Europe ou MyMemory para termos
técnicos/legais/médicos e outros mais profissionais e para terminologia muito específica.
Conforme eu já sugeri antes, você deve tentar mudar a língua de todas as suas interfaces (telefone,
jogos, computador) para a língua-alvo. Essa imersão virtual ajuda muito! Alguns programas, como
o Skype, permitem mudar a língua em um instante. Mudar a língua de apresentação do seu browser
também é bem fácil (a não ser no caso do Internet Explorer, que requer um outro download).
Existem plug-ins para mudar a língua no Firefox rapidinho e com o Google Chrome é muito fácil
mudar a interface da língua.
No Mac, a língua do Safari está relacionada à configuração da língua do sistema. Para ver as opções
sobre a mudança da língua de todo o sistema, vá em “System Preferences...” e clique em
“Internacional”.
Mudar a língua default do browser vai automaticamente mudar a língua de muitos sites disponíveis
nessas línguas (muitos sites, como o Google, verificam a língua dos browsers e decidem, baseados
nesta informação, qual língua apresentar ao usuário). Outros sites, como o Facebook, precisam ser
mudados manualmente na parte da configuração, mas isso é muito fácil de fazer (Configurações da
conta -> Línguas).
No Windows, mudar a língua de todo o sistema operativo é um pouco complicado e normalmente o
usuário precisa ter a versão profissional. No entanto, você pode instalar o sistema operacional
Ubuntu e mudar a língua de apresentação em um instante. O Ubuntu é uma versão do Linux que
pode ser instalado em qualquer computador, grátis, e é fácil de se acostumar a usar. Você pode rodá-
lo lado a lado com o Windows, escolhendo um dos dois quando der reboot.
Usar estas técnicas de imersão virtual é um passo importante na direção certa!
VOCABULÁRIO INSTANTÂNEO
Embora você possa usar a associação de imagens e a técnica da música para memorizar vocabulário
e frases, ainda há muito a fazer.
É por isso que é importante saber que você já fala um pouco da língua. Não importa que língua é,
uma das primeiras coisas que você deve fazer é encontrar os cognatos com a sua língua-mãe.
Não importa de qual língua estamos falando – japonês, sueco, tagalog ou português – existem
sempre palavras que você já conhece. Línguas não são ilhas; são influenciadas pela política, pela
tecnologia, pela moda, pela religião, pela história e por muitas outras coisas que nós humanos temos
em comum, internacionalmente.
Quando você começa a estudar uma língua, se procurar estes cognatos você vai começar
imediatamente com centenas de palavras, mesmo em línguas muito distantes.
Por exemplo, em italiano você liga o seu computer, em português (brasileiro) você usa o mouse, em
russo você se conecta à ИнTернеT (transliteração exata de Internet, И=I, н=n e р=r, conseguiu ler
agora?), em japonês você checa o seu E メール (a segunda parte é uma transliteração, “me-ru”,
uma aproximação da pronúncia de “mail”), o nome do programa que você usa para navegar na
rede em turco é Mozilla Firefox, talvez você use “Microsoft Windows” em somali, ou talvez
“Linux” em euskara.
Nomes de marcas e tecnologia podem dar uma enorme ajuda em qualquer país. Quando saio para
comer em qualquer país, se pedir uma Coca-Cola (ou Pepsi) normalmente é isso que me dão. Se
quiser uma pizza, é essa a palavra que vou usar, no mundo inteiro. Claro, talvez você tenha que
pronunciar as palavras de um jeito um pouco diferente, mas tentar pronunciá-las com menos
sotaque (veja a seção a seguir) normalmente ajuda as pessoas a entendê-las.
Se você estiver aprendendo línguas românticas (francês, espanhol, italiano, português etc), você vai
“ganhar” milhares de palavras de graça (se a sua língua-mãe for inglês) devido ao influxo de
palavras francesas durante a conquista da Inglaterra pelos normandos, e vocabulário em latim
graças à ciência e à religião.
Estas palavras tendem a ser usadas em inglês em situações mais formais, de modo que se você
pensar em um sinônimo para a palavra que quer dizer e que na verdade é um modo mais técnico de
dizê-la, pode muito bem ser que este novo termo seja exatamente o mesmo na sua língua-alvo.
Então, se alguém bater na sua porta, você pode dizer come in [entre] ou então enter [NdT: Este
termo não se usa normalmente neste contexto, mas seria perfeitamente compreensível pois o verbo
“to enter” realmente significa “entrar”]. Em francês, se diz entrer; em espanhol, entrar. Se você
quiser dividir o que você pensa sobre alguma coisa com alguém para mostrar o seu ponto de vista,
você também pode compartilhar a sua opinion [opinião] e mostrar à outra pessoa a sua perspective
[perspectiva] (em italiano, opinione; em português, perspectiva) (embora aqui o termo francês
“point de vue” não esteja muito longe do significado certo!). Em vez de mostrar a sua cidade para
alguém, você pode ser o guia dessa pessoa (guide em francês). Aprender vocabulário pode ser
fácil, mas é melhor quando é “simples”!
Também há padrões de terminações particulares de palavras que usamos o tempo todo. Por
exemplo, palavras que terminam em -tion em inglês quase sempre são iguais nas línguas latinas.
Action, nation, precipitation, solution, frustration, tradution, communication, extinction [ação,
nação, precipitação, solução, frustração, tradição, comunicação, extinção] e milhares de outras
palavras com -tion se escrevem exatamente do mesmo jeito em inglês e em francês (embora a
pronúncia mude um pouco) e são bem parecidas em outras línguas também: -ción em espanhol,
-zione em italiano e -ção em português.
Também temos -tude (como em gratitude, magnitude), -sion (explosion, expression) [explosão,
expressão], -ment (encouragement, segment) [encorajamento, segmento], -age (garage, camouflage)
[garagem, camuflagem] e muitas outras.
De vez em quando você vai encontrar falsos amigos, mas esses casos são exceções e você vai
aprendê-los rapidamente. Para ter uma ideia de algumas palavras que se escrevem absolutamente do
mesmo jeito em inglês e francês (e quase sempre quase exatamente do mesmo jeito nas outras
línguas românticas), veja esta lista de 1.700 exemplos em francês.
1.700 não é nada mau para começar, mas na verdade isso vale só para cognatos com nenhuma letra
diferente. Se você for flexível o suficiente para ver com o que a palavra se parece (exemple,
hélicoptère… porto, capitano… astronomía, Saturno etc) esse número pode chegar a dezenas de
milhares de palavras!
REDUZINDO O SOTAQUE
Depois que você já estiver falando uma língua com segurança, e até mesmo enquanto está
melhorando e se aproximando da fase de falar com segurança, você deve tentar reduzir o seu
sotaque estrangeiro. Isso pode fazer com que seja mais fácil entender o que você diz, além do fato
de que seu interlocutor vai se sentir mais à vontade quando falar com você.
Ter um sotaque mais fraco me ajudou dramaticamente a me integrar melhor em outras culturas.
Assim como muitos outros aspectos do aprendizado de uma língua, o sotaque pode ser quebrado em
pedaços menores e analisado.
O seu sotaque é feito de muitos componentes diferentes, como força das palavras, entonação das
frases, ritmo e até mesmo o uso de expressões particulares. Mesmo dentro de uma própria língua,
cada dialeto tem o seu próprio sotaque e as suas próprias peculiaridades.
Nesse caso a melhor coisa que você pode fazer é encontrar um nativo e pedir que corrija os seus
erros, além de corrigir você mesmo repetindo frases em voz alta depois de ouvi-las faladas por um
nativo. Tente ouvir a musicalidade da frase, além das suas pronúncias individuais.
Sons que não existem na sua língua-mãe mas existem em outras línguas podem ser aprendidos.
Você só precisa praticar. Normalmente, o som pode ser explicado em termos da posição da
boca/língua, e talvez você precise encontrar um nativo particularmente paciente (ou simplesmente
pagar) que sente com você por algumas horas até que você elimine traços particulares do sotaque.
Essa é uma das coisas para as quais não existe um atalho rápido, mas que precisa ser praticada. Eu
faço essa prática intensivamente para poder falar corretamente o mais cedo possível!
Se a sua língua-mãe é inglês, um som que você deve começar a praticar imediatamente é o da letra r
(especialmente se você estiver estudando línguas europeias que também têm essa letra). O r do
inglês não tem nada a ver com som do r nas outras línguas, e você vai precisar treinar muito para
pronunciá-lo direito [NdT: Em inglês diz-se “to roll the r”] ou torná-lo gutural.
Veja aqui maneiras de “roll” o r (como em espanhol, português, italiano, nas línguas eslávicas e até
mesmo em algumas línguas não-europeias). Na verdade pense nele mais como um l (inglês) do que
como r.
Outras línguas, como o francês, usam o r mais gutural, de modo que o som vem mais ou menos da
mesma posição da garganta que a letra g. Também neste caso um nativo pode explicar com precisão
como produzir estes sons e dizer quando você conseguir pronunciá-los melhor.
ENTREVISTAS
O Guia para Hackear Línguas vem com várias horas de entrevistas que eu tenho certeza que
você vai gostar! Vou adicionar mais entrevistas nas próximas versões, mas por enquanto você
pode ouvir as conversas com essas pessoas: