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Colegio PENSAMENTO CRITICO CHARLES BETTELHEIM Volume 6 DEDALUS - Acervo - FFLCH-GE uta de classes na uniao sovietica mmm 3 21100005 - Ficha Catalogrifica (Preparada pelo Centro de Catalogacdo-na-fonte do SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ) A LUTA DE CLASSES NA os UNIAO SOVIETICA PRIMEIRO PERIODO (1917-1923) tradugdo de iar Cova coo cent eno de ett ao Siig Siva 76-0598 SBD-FFLCH-usP EDITORA PAZ E TERRA Fernando Henrique Cardoso fernando Henriq pare e tas 9 de 1917 tapas percorridas pela Revoluedo Russa 117 revolus dos camponeses pela terra € a nova etapa percor“ida pela revolucio durante 0 verdo de 191 b) A luta revolucioniia dos oper apa proleta 0s pel proxisério ro de \ DITADURA DO PROLETARIADO E AS RELACOES E CLASSES LOGO APOS OS ACONTECIMENTOS DE OUTUBRO Caractertsticas ¢ linitacdes do papel dirigente do partido bolehevista em 1917 ¢ apés a Insurreicio de Outubro 48 formas do poder proletdrio em outubro de 1917 e suas caracteristicas especificas a) O sistema da ditadura do prole © “Poder de Estado” € 4 instalacdo dos érgdos e do gover © Sovnarkom b) 0 VTsIK ¢) As relagdes do VTsIK com o Sovnarkom @) Poder central e poderes locais. ¢} Os aparelhos administrativos do Estado 1) © Exército Vermetho 0 partido bolchevista e seu papel dirigente ‘A luta tedrica pela primazia do marxismo revolucionério iado operiria ¢ camponesa partido bolchevist SEGUNDA PARTE © PODER SOVIETICO E A TRANSFORMACAO, DAS RELACOES DE CLASSE NO PERIODO DE 1917 4 1921 I. A TRANSFORMACAO DAS RELAGOES ENTRE A GUESIA E O PROLETARIADO SOB A DITADURA DO PROLETARIADO Il, A TRANSFORMACAO DAS RELAGOFS DE CLASSE DADES relativas 4 1 vio derrubada do governo jada pela revolugdo em ou- 199-725 | 8 81 82 84 85 88 123 124 130 BI Br 32 ©) © VSNKh e a coordenacdo dos processos de pro 4) A nomeacdo dos diigentes das unidades de producio €-0 problema do diretor tnico i A situacdo da burguesia e da pequena burguesia urbanas no Jim do "comunismo de guerra” 146 a) Eliminagdo das atividades da burguesia privada 146 b) O enfraquecimento da pequena burguesia privada e a sorte da pequena burguesia administrativa 148 149 ¢) O surgimento de uma burguesia estatal 4) Os aparelhos escolares e a consolidagio posterior da burguesia 154 A situagao do proletariado no fim do “comunismo de guerra” 137 a) O enfraquecimento “fisico” do proletariado soviético © sua “desintegragdo” parcial 138 b) O nivel de vida da classe operdria.e o problema dos salirios 158 ©) A luta ideotdgica de classes e a disciplina do trabalho H 4d) A disciplina do trabalho e 0 papel dos sindicatos 6 ¢) O recurso a medidas de coergio sobre os trabalhadores 169 £) O aspecto principal da situagao do proletariado: sua constituigao em classe domintante (2 2) Ditadura do proleta: linha de massa 4 h) Ditadura do proletariado e “fusio” do partido bolchevista com 176 8 elementos de vanguarda da classe operitria A emergéncia de novas relades de producdo socialistas e contunistas 179 A TRANSFORMACAO DAS RELACOES. DE CLASSE NO CAMPO. 186 A especificidade das antigas relagées sociais no campo 189 A revolucao agriria democritica e a esperanca de una revolucdo agréria socialista 195 a) A revoluedo agréria democritica do inverno de 1917 - 1918 195 ») A tentativa de desenvolvimento de um movimento autonome dos camponeses pobres no verio de 1918 197 0 periodo de 1919 ~ 1920 e a orientacdo relativa ao campesinato médio para a construcda do socialismo 201 a) A emergéncia de relacdes socialistas no campo 204 b) A ajuda ao camponés médio 206 ©) O problema das requisicdes 206 A retificacéo da politica camponesa do partido bolchevista © as relacdes de classe no campo no final do "'comunismo de guerra’ no inicio da NEP 210 reivindicagdes do campesinato ¢ o restabelecimento iberdade de trocas’ 2 b) A legislagdo agrari ©) As posicdes econ: eas ciferenci WF 5 P*4 123-145 13a- 22j O poder soviético e a transformacao das relagédes de classe no periodo de 1917 a 1921 Logo apés outubro de 1917, um processo de transformagées revo- lucionérias extremamente complexas entrou em curso, em conseqilén- cia da constituigio do proletariado como class. ante € da luta que continuavam a travar as massas populares dirigidas ou auxiliadas pelo proletariado ¢ seu partido. Como se sabe, as transformagoes ‘ocortidas entdo apresentam duplo carét 10s campos, ‘onde as massas camponesas estdo mobilizadas, e socialista nas cida- des, onde as massas operérias combatem a dominacdo dos ca sobre 0s meios de producdo. Essas transformagdes efetuam-se por eta~ pas ¢ afetam mais ou menos profundamente as diferentes relacSes so- ciais € os elementos que as constituem. Elas provocam modificagdes nas relagdes de classes, ‘Antes de apresentar uma visto do conjunto das principais trans- formagdes que afetaram as relacdes econdmicas e juridic primeiros anos da Revolucdo Russa, deve- Ho das relagdes entre pro fo da ditadura do prol Capitulo I A transformagio das relacdes entre a burguesia e o proletariado sob a ditadura do proletariado ‘A instauragio da ditadura do proletariado revoluciona profunda- mente as relacdes entre as classes e transforma as prOprias classes. Se- undo a observacdo formulada por Lénin no texto ’économie et la po- litique d U'époque de a dictature du proletériat: lasses de wm 36 golpe, As classes permane- tea ditadute do proletariado. A ditadura se tor- cr desaparecerem, Elan no desaparecerto sem ido desaparece sob a ditadura do p ete 3 outa formas ~ As classes permanecem, embora modificadas e modificando suas relagdes, porque as specialmente as relacdes de producdo capitalist mas transformadas pela ditadura do proletariado. No mesmo do entre o capi “vencido mas nao aniquilado”, fraco" nascido mas ainda 0 segundo, Lénin, 0.€, tomo 30, pig. 111 id. pag. 103 A primeira e fundame cia dessas classes relaciona-st desarticulados, substituldos mais ou menos completamente por Ihos e organizacdes ligados as mass proletariado e sua vanguarda, o p: que desempenha dai em diante insformam profundamente as condi- ios de produgdo, que deixam de ser as exigéncias do processo de v ssas exigéncias ndo slo, contudo, madas pelo exercicio da ditadura do pro A razio pela qual a burguesia ¢ 0 proletariado continuam sua luta ‘em novas condigdes & que as relagdes sociais burguesas que fundamen- gto nko seja mais dominado pela processo ndo foi ainda realmente dugdo, os produtores continua do‘trabalho que implien, princi ate, a separagdo entre o trabalho fe as tarefas de direcdo e as de exe- 10 de que os dirigentes do processo de produglo imediata¥6 podem desembenbar seu papel sof o controle iado, das organizagdes operdrias de massa, dos novos apa- ais ¢ do partido proletdrio. A nacionalizagio dos meios de produgdo por um Estado prolet le produ ©. por isso, a socializagdo dos meios de producdo: porém, ela nao se identifica @ wna tal Sabe-se que as “necessérias, independentes (da) vontade dos homens”, os quais esta- igbes no que Marx chama “a producio social de sua Contribution ta eriigue de co ue, Editions Sociales 125 Essas relacBes slo inposas os agentes da produgdo pela estrus +a dos processos d da produgio social ta de classes anterior edo carter que estas impu- jento das forcas produtivas. Em cada época, tais rem sempre sobre bases materiais determinadas) fazem do processo de produgto ¢ da repartigao das forgas de re diversas tarefas “0 apandgio de certos agentes da produ- Go por oposigdo 20s produtores diretox™. ‘A inscriedo material das relagdes de produeto (na divisto do tra- aiiéncia 0 fato de uma classe sobre as ou- No tocante ao cardter capitalista das relagdes de produgdo que existem logo apés a instauragdo do poder proletério, também ele esta evidentemente inscrito na estrutura do processo de’ producio. ‘Assim, instaurando seu poder de classe ¢ nacionalizando dstrias, o'proletariado tem possibilidade ~ mas somente possibilidade volucionarizar o processo real de produgdo e, portant balho e novas forcas produtivas, Na medida que es ainda executada, as antigas relacdes de produgdo ct tem, assim como as formas de representagio e as formas sob as quais surgem essas relagdes. Na medida em que Sone igen peerage minadas, que so ainda recemtes na Russia do jransformagao, sist desthil¢ao-reconstruca’ aE Sono ura com tas € elenientos soclalistas’ ow comunistas. gto” dos elementos capitalistas € na consoTidacdo dos ‘elementos, socialites, cada vez mais dominantes, 4. C1. K, Mara, Le Capital, tomo 8, pig. 254(sublinhado por mim = C. B). 126 i OO peaereee Essa progressdo exige um longo perfodo histérico e corresponde a tuma revolucionarizacio das condigées da produgdo que é 0 resultado de uma /uta de classe prolongada e di 3¢ reproduzir: donde, a reprodugdo de formas como moedu, revo, saldrios, lucro ete., que ndo podem ser “abolidas™ por simples A transformacdo 50 qué pode provocer 0 desa io implica em que a so da agdo coordenada dos trabalhadores que se tornam letivo em escala social. © processo de cons! 1a_das relagdes de produgio é a dnica coletivo & precisamente um processo de ‘tapas ¢ exige a revolucionari ideolégicas: 5, pois 0s diferentes aspectos des- Uns aos outros de maneira com- Enquanto subsstem elementos burgueses nas diferentes rlagdes sociais - até no comunismo ede queesta sea =‘desenvolva os elementos but- ‘os aspectos burgueses dos apare- thos ideolégicos & 3 €, finalmente, restaure 0 ca as formas especificas impostas por aquelas relagdes 50 mente transformadas que a burguesia ndo pode destruir). _ ‘A exprapriagdo da burguesia ndo se mento, porque o desen J gifadura do proletar (que sio modificadas ‘apenas, paral quanto aul istas nas relagdes de produgdo, subsiste tam- idade de fungdes ca © a burguesia pode conti- icada, especialmente no seio dos spurts de Estado; cla assume, entdo, a forma de uma burguesia es- tata 127 Isso tudo pode ser explicitado partindo-se da definiglo que Lénin 44 para as classes sociais em seu texto intitulado La grande ‘initiative, que é a seguinte: “Dé-eeo nome de classes a amplos grupos de homens que se dstinguem elo lugar que ocupam em um sistema historicamente defnida de produ ‘co social, por sun relacko (quase sempre Mada e consagrads por les) com ot meios 6e produgto, por seu papel na organizacto social do trabe- Th portant, pelos modos de obtengdo e a importhncia da parte de rique- ‘as toxins de gue dlapSemn,” hegre odrny or lng lem rae opmagle eget com 01 meios de producto; portant, palo agar oeupado por veus membros e pelo “pa jesempenham na “organizapdo roca do trabalho" "pelos agentes da producto e mente ~ através de uma revolucionarizagdo das gestdo da economia ¢ das unidades de producfo, a directo das trans- formagdes no sistema das forces produtivas, a direcdo dos aparelhos escolares etc. Essas transformagdes sto 0 resultado de lutas revoluciondrias que permitem ao proletariado ser cada vez menos um proletariado, ou se- 5, desaparecendo como proletariado ao apropriar-se de todas as for- 5. Cf, Lenin, 0.€., tomo 29, pig. 425 128 gas sociais de que o modo de produgdo capitalista o havia separado. No decorrer desse processo de transformaco revoluciondria, o con- junto dos “lugares” e dos paptis que correspondiam aos da burguesia é transformado ¢ 08 agentes da produgo eda reproducdo que ocupam cesses lugares ¢ preenchem esses paptis so também cada vez menos ‘uma burguesia, embora continuem capazes de desenvolver préticas $o- ciais burguesas que possam expulsar o proletariado das posigées ji conquistadas. Fa, Todos aqueles que, no sistema da producto e da reprodugto ciais, ocupam um lugar correspondente ao da burguesia e que af de- ivem prdticas socials burguesas a despeito da existincia da dita- dura do proletariado constituem ume burguesia. —- Logo apés a Revolugdo de Outubro ¢ no comeco dos anos 20 na Russia, a burguesia estd macicamente presente nos sparelhos econd- micos do Estado, nos postos de direglo ao nivel das unidades de pro- dugio e da gestBo do conjunto da economia; estd presents também nos aparethos administrativos ¢ escolares. Historicamente, esta situagio de classe da majoria daqueles que se encontram nes ses aparelhos, mas, para além dessa origem, constituem elementos de- ticas burguesas dos ocupantes dos postos de direglo © a ra dos aparelhos do Estado, Essas priticas cesta estrutu- Fa tendem a consolidar as relagdes capitalistas e, portanto, a existéncia de uma burguesia que assume a tpoca, a Revolugio apenas comecou algumas das tarefas da rocialista, Para que @ ‘execugdo dessas tarefas possa prosseguir, deve continuar a apdo revolu- ciondria do proletariado organizado em classe dominante. Isto exige a elaboragdo cecugdo de uma linha ica revoluciondria ¢, portanto, ia de um partido proletério dirigente. jes que se operam logo apds ou- 10 lugar € papel das diferentes classes, é necessirio dis- entre os efeitos do processo revoluciondrio nas cidades e seus efeitos nos campos. Capitulo II A das relagbes de cazoe aos Cdades A transformagdo das relagdes de classe nas cidades resulta, ini- cialmente, da diregdo da luta das massas operérias pelo partido bol- chevista e, em seguida, quando os novos aparelhos estatais slo im- zy formacdo de uw determinada pelo reduzido grau de transformacdo do processo social de produc e reproduco, fato ligado as préprias condicdes da luta de classes, ao grau de urgencia das diferentes tarefas que o proletaria- do deve executar, a maneira pela qual o partido bolchevista anlisa as contradighes ¢ ao tratamento que thes dé etc. que afetam as diferentes classes sociais nesse perio- ‘por isso, somente as pricipais ser examinadas 108 de inicio aquelas que intervém logo apés a instau- poder proletirio, e depois as transformacdes ocorridas nos intes, Segio I As medidas imediatas relativas a industria ¢ a0 comércio No periodo imediatamente posterior instauraclo d Poder yibtico, nem as massas operirias nem o partido bolchevista crgitam do “instaurar 0 socialiamo”. B preciso antes de tudo consolidar o poder Proletério, realizando transformagSes Se bermitam “sanhar tempo” e desenvolvendo um Sgr de )” que poasibilite dar al- guns ma lo. tais fing ie tocialismo sem que tals transformacdes as- tipo de mudanga foi concretizada de nimero de medidas devas relatives k indesiae so comeae” ‘A) AS EXPROPRIACOES _,, Ao mesmo tempo que adota tais medi ‘cide expropriar um certo némero de algum 0 aspecto principal da politica entdo posta em prética, politica socialismo se ndo existem condigées politicas e ideoldgicas necessdrias ‘para que essas nacionalizacées cheguem a uma socializapdo efetiva. Bo que Lénin explica quando escreve: de um desen- Este movimento jé to- ‘wiaya impulso entre fevereiro e outubro de 1917 e o partido bolchevista 0 havia apoiado de modo decidido. ireigilo de Outubro, o partido bol- } « sciaiacto ditere d simples confco pel ato de que ve pode sper tent vaso, opin mat (ve nose pad tcializar Sem ea soma et enteretcegeee ca ¢ polit Camente a burgueta ea combater sua sabotagem. Tratacte de Uma a na luta de classes. produpto execata apenas um niimero limitado de processos de transformiagdo e representa $0- ‘mente um elo no meio de um processo de produed - mente socializado, A sobrevivéncia da inddstis B) © CONTROLE OPERARIO controle operirio & constituldo por um conjunto de medidas destinadas a dar & classe 0 bilidade de cuidar do empre-— 10. Ct. Lenin, 0.€;, tomo 27, pls. 26, radueto corrgida pelo texto rus, 133 © partido bol procura, entio solu coordenagto das A despeito da influéncia politica exercida pelo partido bolchevista jes dos comités de fibr sobre os operirios mais combativos, sua influéneia ideolbgica e sua implantagdo nas unidades de produgio sfo ainda débeis em relacdo 20 ibalho de persuasdo que exige a transformago dos comités de fab ca em érgios de controle operério. Logo depois de transformagdo enfrenta grandes des, agravadas p manifestadas por cert nad esto espontaneamente He Ver limitados os poderes dos comités de fabrica por sua subor instdincia exterior. Aos olhos de muitos trabathadores, 0 estabe- into de um controle mais ou menos centralizado se apresenta como uma espécie de “‘confisco do poder” que eles acabam de arran- répria fabrica. 5 ¢encorajada pelos adversérios da ente pelos mencheviques, que inci- p as organizagdes sin as quale very aluthcta 8 aeTendee iaenoas Bo apds 0 25 de outubro. Os decretos sobre o controle Tes” nas cgtradas de Ter, -— operdrio, es rra deveriam ter sido anunciado: tes da Revolugao de Outubro Lénin havia previsto a necessida- 0; nfo foi isso, porém, o que ocorreu. O II Congresso perdrio em escala nacional e as dificuldades de sua rea- que nenhuma medi por exemplo, em Les bolcheviks garderont-ils le pou- que o II Congresso dos Sovietes sja adotada no sentido de estabelecer o contro- |e operério, Do mesmo modo, enquanto 0 Pravda de 3 de novembro publica um projeto de decreto redigido por Lénin sobre esse cont © texto do decreto ndo imediatamente submetido nem o ser governamentais. Fi 56 a 14 de novembro uma versio revista do projeto de Lani nada pelo VTsIK, sendo, entdo, aprovado com algumas mo 4 Controle operrio da produelo « da distribuigho dos produtos A passagem para o controle operirio ¢ oabandano do tipo de_ s " 7 e-andrquica, para o qual mités de fébrica, chocam-se antes ET ie operdrio estd inserigo no sistema dos sovietes, os co- ‘mit€s OW Os conselhos de fabrica so, assim, submetidos ao controle dé. instlnicias superiores que Tuncionam ao al ‘este respeito, Lénin escreve por exemplo: “A pequens burguesia opdo-se Um dos problemas que essa legislacdo devia resolver era 0 do res- pectivo lugar, na organizagdo do controle operdrio, dos comités de fabrica, de urn lado, ¢ do aparetho sis ‘questo no € — indo”. Veremos posteriormente 0 cl dean expresso ¢ certot ios que Lt 13. sobre exe ponto, 0 tomo 26 dat O.C., plgs. 272-273 134 135 Televante, pois os comités de fébrica emanam diretamente dos traba- dores de cada empresa, enquanto os sindicatos (dos quais ndo par- ipam todos os operérios) tém uma esirutura centralizada, 0 que os ma particularmente aptos a ajudar na instauracio de um controle gual- mente centralzado, mas os faz escapar & inludnca direta da base. © de. creto,resolve o problem destinado aos sindicatos tan ‘confentamento de alguns tral mento de uma espécie de t @.uma fragio dos bolchevi em unidades independentes. A: dos sindicatos no VTsIK,, dec tum modo absolutamente claro e « a fim de que os trabalha- dores de cada empresa ndo tenham a impressio de que esta Ihes per tence." No comego de 3s do decreto de novembro de 1917 so quase reproduzid ragio dos direitos do pov dore explorado”, Esta dec redigida por Lénin e adi para passar ao socialist bra das eIE GE MaTGO-e abril de TOTE, Lénin sallentard novamente ¢ sobretudo em Les tdches immédiates du pou o- viets, que 0 controle das massas visado por ele ¢ diferente daquilo a que tendia a atividade dos comités de fabrica quando procuravam gerit “cada um por si" sua empresa, O controle operirio ~ diz ele - La con- liplicidade dg contrales dis- im controle cuidadoso dos interes- iado € os camponeses pobres . apego a seu ideal, >, tenacidade; (somente entdo) a vitéria da revolugdo social assegurada, 14.0. Lotovak, Le conrble outer (em rt. The bolehe tado de Linn, 0.C., tomo 26, In Comment orgeniser Tmulation, Lenin, 0.¢:, tomo 27, pg. 273, EH ‘OC, tomo 26, pag, 427 136 incontroladas tomadas ao nivel de cada unidade dé se, em principio, sensivelmente reduzidas, Na medida em que essas de- cisdes sdo efetivam : portdncia nacional”), os comités. Em conseqléncia das diferentes Em todas as empresas de ce F esta respons le operdrio, is que se opdem char, que a regulamentagdo do cont ogo de empresa de “importancia {fas oficiais do controle operd organt ee 0, port ~representanter day organtzapdes simdtcats sto Tiais numerosos. 8 decisdes adotadas, as iniciativas rodugo tornam- wsideradas “de im- 3€ responsdveis pe- da disciplina e da fe pesa sobre 0s representan- eitos dos operdrios e empregados designados para exercer 0 con- ‘a tais medidas declaram, em parti- etdrio, os representantes das. jo, em minorig enquanto os Mesmo-usstm transformada.-a eStrutura” gO-COMTTOTe Gperario mostra-se_inc gurar producio“industrial. Ora, a Rusia coordenagio exigida pela grande acha-se numa situaglo em que 0 ¥ mento das cidades ¢ dos campos, ¢ em breve do front, requer jugdo regular ¢, sobretuc produgio. A principal dessas formas € constitulda pelo YSNK, Je fato, nas condigdes surgidas a partir do inicio da guerra civil - em que prevalece a palavra de ordem “Tudo pelo frunt™ -, slo essas formas de coordenagdo ¢ de diregdo que predominam sobre o controle operario’, Este acaba, de algum modo, por se desintegrar, ao mesmo. ada a caréncia de verdadeiros organizadores operétios ue assumam realmente o controle dos problemas, a de organizacdes operirias de base est ligada a re- a debilldade ni ido bolchevista, de fébrica desempenharam tam- "u papel. Finalmente, 0 controle aperdrio, tal como foi concebi- do nos primeiros meses do regime soviético, cai num marasmo dé que jamais desperta; sobre outras bases é que sera a coordenagao da produc&o industrial. ~ C) O VSNKh E A COORDENACAO DOS PROCESSOS DE PRODUCAO Desde 17 de novembro (ou seja, trés dias apés a publicagio do de- ‘reto sobre 0 controle operdrio), jé se menciona a préxima criaglo de um Conselho de Economia N: Essa mengdo aparece no decreto, fo Econdmico ¢ a Comisséo Econémica princi- iados pelo governo provisorio; tais orgdos devem ser substitui- dos por um Conselho de Economia Nacional, Bukharin, encarregado ivos ao novo conselho, redige efetivamente 0 Projeto de decreto cujo texto & publicado a 5 de dezembro”. seiros do governo”, ‘as autoridades eco- The bolshevik revolution, op. clt.. tomo 2, pig. 78. 21. Ch. ELH. Catt, The bolshent revolution, op. cit, tomo 2, pig. 79 6 seg 138 sseguradas a direglo ¢ ‘ndmicas existentes, centrais ¢ locais, inclusive as do Conselho do Con- Operério de Toda a Russia. Duplicam-se, de fato, as fungdes des- imo, que consistem também em assegurar “a organizacio planif- cada da economia nacional”. Além disso, o decreto incprpora 0 con- trole operdrio ao VSNKh (pois estipula que, entré os membros do Consetho Supremo da Economia Na ou os membros do Conselho de Controle Operério de Toda a Russia) colocando-o em po- sigdo subordinada em relagao isposig8es concretas concerentes 4 organizacio do VSNKh ¢ as relagdes que ele deve manter com as unidades de produ- cio slo fortemente marcadas pelas condigées especificas do periodo no decorrer do qual o VSNKh foi etiado. Tals condicdesfavorecem 0 iuncionam Estatal do Planejamento, ou Gosplan. Criado a 22 de fevereiro de 192 (como apéndice da Comisséo de Eletrificagdo de Toda a Russia da & 21 de fevereiro de 1920), 0 Gospl de um pequeno “érgfo tecnico” encarrey tudos com o objetivo de preparar um plano econdr mento. Somente muito mais tarde, em plan di 1 ,u }¥ ‘slo consideravels, pois pode seqiiestrar qualquer e produgio ou do comércio; compete-Ihe ce de todos os érgios econdmicos, bem com: missdrios do Povo, Por deste conselho. ‘© VSNKh compée-se em sua maioria, de represent missariados do Povo, assessorados por peritos escolhidos por sua tes dos Co- tevengfo de Ltnin ao III Congresso dos Soviete, em 26, pig. 477 © 0g, 3. competéncia técnica, e possui uma dupla estrutura: érgdos centrais, ou ‘em principio, a coordenagio Estado; ao mesmo tempo, es das pelo po- irat-Ihes a qualquer momento ganha maior ‘a qual o po- det sovidtico deve lutar para evi ura do prole- tariado, E o que acentua uma resolugdo do I¥-Congresso dos Sovietes de Toda a Rissia (mai contra oeion a SBOMPRRME ES cesiegracto conseybencas hi toricamente inevitéveis de uma guerra devastadora, ...primeiro obstd- ar contra a desintegragdo econdmica, uma resolucdo 0 IV Congresso dos Sovietesinsiste na necessidade de criar na pra em todas as diregdes “organismos fortes e sblidos que cubram distribuigdo dos be Em decorréncia desta resolucd Bukharin ¢ alguns outros ‘cor . Entre os novos dirigentes figuram Miliutin, velho bolchevista, e ‘antigo menchevique partidario da concentracdo indust fa planificacdo. desenvolve um sistema de relagdes ecor do um aspecto do que Lénin chamou segundo ele, os operérios n em que sio os “organizadores das grandes e gigantescas empresas, dos trus- nizadores pertencentes & classe fa que devem ser re- Esta concepedo ¢ defendida claramente por Lénin, em sua obra Les tdches immédiates du pouvoir des sovietes, na qual explica que 0 re- crutamento de “especialistas burgueses” pelo Estado soviético resulta de um “compromisso" assumido com a burguesia e euja amplitude ul- trapassa o que havia sido anteriormente previsto, mas esse compro- :misso € imposto por nio terem os conselhos operétios, 08 sov controle em excala esata, ov pelo me emelhuntes compromiasos ado teriam D) A NOMEACAO DOS DIRIGENTES DAS UNIDADES DE UCAO EO PROBLEMA DO DIRETOR UNICO. kd ‘Uma das primeiras decisoes tomadas pelo VSNKh tem por objetd_ as condigées de gesio das unidades d a5 modalidades d a,_08 diretore ‘lavki sao engenheiros e antigos dirigen aislarion communiste. Recuel des candid pau du gowernement olchevisie, Paris, 1920, expecialmente pégs. 131 « 136 at ‘Sem antecipar demais sobre as lutas ideol6gicas que se desenvol- no seio do partido bolchevista™, ¢ necessério dar breves indica- 10 das posicdes assumidas por alguns dirigentes bol io & nomeagdo dos diretores de fébricas por um organis- tivo central. De fato, o principio de semelhante nomea- no apenas por uma parte dos dirigentes sindicais membros do partido, mas também por aqueles que se intitu- lam “‘comunistas de esquerda’’. Estes, entre os quais se encontra ra 08 “comunistas de esquerda”, Tra 8 afirmados nas Teses de abril, segun- is os funcionérios ndo deveriam receber um salério superior médio do operdrio, ¢ deveriam ser eleitos e destituiveis por jdentemente, que o decreto sobre a dit radigdo com alguns dos. 1918, Lénin volta ao problema da nomeacao dos diretores de empresas « se refere 20 fato de antigos capitalistas serem, as vezes, riomeados para essas fungdes, declarando: Lai CE. sobretudo pag. 368 « sep. 30, Betas serdo analisadas mais youvolr des soviets,O.C., tomo 27, pag. 268. 33, (bid., pig. 257 (sublinhado por mim ~ C.B. martes Revolution Paris, 1973, °O poder soviico conta 2 dregio sos capitalists, no sta, mas en ialistas tecnicos 0 5 les que nos. de part far enguanto “drigenter’ do processo de Producto, pois ndo hi mals winguém que cone Esta citagdo deixa claro que, para Lénii listas-técnicos” para a direglo das em; de poderes considerdveis e recebem bém um aspecto do que ele chama de Posteriormente (de racivile As resolugdes do Bolchevista confirmam essa orientagdo. Nes- te na necessidade “de ter ps igo do Estado, homens habituados & tados de uma experiéncia econdmica e governaments Esses homens, nds s6 podemos recrutar na classe que nos Precedeu, ‘0 IX Congresso determina também que, dai em di 18s de fibrica devem se consagrar, essenciaimente, as. 1918) figuram entre aqueles que mais tentaram “teorizar” sobre as for. mas de organizagao pos nessa época™. Esforcam-se para atribuir um alcance “socialista” geral a medidas que se inscrevern an- tes de tudo em uma conjuntura muito particular. Bukharin vé nessas medidas uma passagem direta ao comunismo, Tentando conciliar posigdes que havia tomado nos meses de marco ¢ abril de 1918, enquanto “comunista de esquerda” sigdes favordveis, O.C, tomo 27, pag. 365. 8.C, tomo 30, pigs. 470-471 a0 as resolugdes adotadas pelo 1X Congresto do PC(D)R na edigto fe Lénin em francs, tomo 25, pag. 616 e sequins MS e se. 143 rar oS aparelhos econdmicos originérios da primeira 3S operdrias. Essa reestruturacdo deve provocar “um recuo de camaradagem e, em certos casos (em uma ou outra em- Esta - diz Bukharin - da classe operdria nem Tepresénta a forra concentrada, da inddstria™. \do que uma vez “resolvido, no essen- © problema da consolidacio da posicdo de classe do proletaria- do”, ndo ha mais necessidade de “dar énfase & transformacdo das rela- posigdes “esquerdistas”, unidade que justifica a caracterizacdo dessas osigdes como sendo, de fat condenou severamente o de Trotski e de Bukharin, es smbro de 1920, publicado sob situation actuelle et les erreurs de Trotski*, no qual salienta que podem 39. CF. Nikolaj Bukharin, Ockonomik der Transformationsperide, Rewehlt Ham- 42, Linin, O.C, tomo 32, pg. 11 ese. 144 surgir contradigdes entre os trabalhadores ¢ os dirigentes das empre- sas. Lénin esclarecera mais tarde que, em certas condigdes, 0 recurso Breve pode ser ju Os mesmos erros ¢ Bukharin reaparecem planos qiinqlenais, sot (que, na controvérsia do inverno de 1920-1921, se opunha contudo, a Trotski ¢ Bukharin ¢ apoiava Lénin). Assim, cada vez mais tomaré corpo um ‘concepgtes que estdo em contradigo com 0 marxismo re- i. Essas concepedes encontram uma de suas formas mais acabadas no Manual de Economia Politica da Academia de Ciéncias da URSS. Bastard apenas mais um passo para chegar as teses revisionis- tas. 43. Lenin, 0.€., tomo 33, pags 44. Em 1936, om seu relatorio 20 lin afirma que as quadros decider gue da Academia das Cidncas da URSS, <6eacordo com 0 terto da edigho ruses ot Ct, Manuel d deonomie ‘em Paris, Editions Socal, rT Capitulo TIL A transformagio das relagdes de classe no campo No periodo de 1917 a 1923, a transformacdo das relagdes de clas- se no campo é também o resultado de um processo revolucionario que assume fundamentalmente um cardter democratico. Esse processo, de- corrente da alianca do proletariado com 0 campesinato, opers-se sob & agdo das massas camponesas, a¢do protegida e consolidada pela dita- dura do proletariado que sustenta a revolugdio democratica ne campo. ‘Uma das primeiras medidas - e das mais importantes - adotadas logo apés a implantacio do poder s € 0 “decreto sobre terra” (ratificado desde 26 de outubro de 1917 pelo II Congresso dos Sovietes toda propriedade privada do solo: ast do Estado e da Igreja sdo postas a disposicdo dos ‘dos sovietes de camponeses. Através dessa medi- da, 0 governo soviético mostra concretamente que € 0 govzrno dos ‘operdrios € camponeses. O Estado soviético demonstr que, ao contrério do Estado anterior, ndo protege os Proprietérios rurais ¢ dos burgueses, mas os expropria de 0, 0 poder soviético encoraja os camponeses & tome terra e a se organizarem para regulamentar as condicdes "a que 0 novo poder néo é 0 das classes explcradoras, ‘40 campo da revolugdo sovittica quais 0 problema da aie imediatamente) € absolutamente vital. A revolugdo proletéria das ci- dades garante, assim, um revigoramento do movimento revoluciond- rio dos camponeses. proprio contetido do “decreto sobre a terra” e dos textos de aplicagdo que o acompanham ¢ 0 seguem ndo corresponde ao progra- ma anterior do partido bolchevista. Ele coincide quase integralmente com um primeiro projeto de decreto elabor ‘Congresso dos Car dominado pelo Partido Soc Aos bolchevistas que protestam cont isposigdes cujo cardter a adogdo, por seu mocratico burgués, nio so imento de grandes icagdo das peque- Lénin responde que essas disposigdes sio “a expressao ita da grande maioria dos camponeses conscientes de do decreto de outubro ~ ¢, em me- 19 de fevereiro de 1918, a chama- é que ele ndo O partido bolchevista é, sem divida, favordvel as formas de explo- ragdo coletiva do solo; porém, espera que os camponeses as adotem a experiéncia. Mais uma ve 8 bol- istas que confiem nos camponeses, a0 declarar 0 discurso ao II Congresso dos Sovietes de Toda a Rissi “Aplicando 0 decteto a p compreenderdo, por si mes ico no sdo simples “ onfiam na experiéncia e no trabalho pa {que ajudardo os camponeses a compreender qual €a sua melhor forma de o social. Elas abrem o caminho para algo mais do que uma simples transferéncia de propriedade juridica: uma revolugdo nas + siio apelos as massas, dos bolchevistas ‘i revolugdo burguees, 3. thd, pig. 269. relagdes de producdo. Eo movimento das massas que, levando em conta as condigdes objetiva determina as novas relacdes de produgdo que em Uma vez que essas novas relagbes edificam-se a partir da destruigéo das relagdes antigas, s6 se pode compreender a natureza do proceso revoluciondrio em curso no campo se se considerar as condigBes con minantes, e que s6 parcialmente foram destruldas no decorrer do periodo de 1917 a 1922. Seco I A especificidade das antigas relagdes sociais no campo desde seus primeiros textos, entre os transformations économiques dans aysanne. A p) tion dite des marchés? ~, etc., consagra-Ihe um de seus pri thos econdmisos - Le développement du capitalisme en R 4. 0 zemstv - adminiatracho local ou provincial da antign Rissa - ern dirigido por urna asemblda cleita pela sobrezse clases poatuidoras, As xtataticas agricola ¢ ‘gririaseram elaboradas pelos funciondrios doe zemspes. 4 discuti-lo nas numerosas polémicas mantidas com os populistas ¢ 0s SR. Lénin mostra que a complexidade das relagdes sociais existentes no campo russo € a pluralidade das formas que af assume o desenvol- vimento capitalista no fim do século XIX e inicio do século XX resul- tam da existéncia de uma camade dindmica de camponeses c que deixaram as antigas comunidades dos povoados ¢ da transforma- ‘edo de alguns grandes proprietérios rurais em capitalistas explorado- res, Mostra também como, no préprio seio das comunidades campone- A existéncia da comunidade camponesa,,do mir, constitui uma das especificidades do campo russo que deram lugar a numerosas ilu- sdes € discussdes, (O mir é uma comunidade que funciona ao nivel do povoado. Ele se apropria das terras dos camponesest ¢ as distribui entre seus upostamente mantém uma versas familias camponesas. A partir do do século XIX, a lei protbe as distribuigées efetuadas com menos de 12 anos de intervalo. A unidade para efeito de distribuigdo ¢ a familia. A drea recebida -ada familia corresponde, em principio, a uma fracdo determinada ra do povoado a que essa familia pertence (sem levar em conta as, ponde wo niimero de pessoas capazes de tral em consideracdo os meios de produgdo & disp tudo a quantidade de animais de pobres (aquelas que nao dispdem de ins- do freqUentemente obrig rendar idas, e seus membros pregam-se como assalariados. Por isso, um punhado de fami domina 0s povoados. ssas desigi fachada “comui parcelado, a cul sim, a0 fato de que por tras da jade fundamental é 0 srabalho is individual, a propriedade pri- vada dos instrumentos de trabalho, especialmente dos animais de tra- do. Assim, como ja observa Marx em 1881, 0 mir se decompée por dentro, pois “o trabalho parcelado & uma fonte de apropriagio pri dda que dé lugar a acumulacdo de bens méveis”, ou seja, a uma di renciagdo social, Esta feta necessariamente o funcionamento da sembléia camponesa que regulamenta 0s “assuntos comuns” e a redi tribuigdo das terras, Pouco a pouco, o mir, originariamente “igualité- rio" torna-se um instrumento de consolidacao e de reprodugo das de- sigualdades econdmicas ¢ sociais, No fim do século XIX e inicio do sé- culo XX, esse desenvolvimento ¢ favorecido pelos proprietarios rurais, ‘408 quais o mir praticamente se subordina, e pelo desenvolvimento ge- ral do capitalismo. s populistas e SR tentam negar essa evolugio, maneira unilateral o prefécio de 1882 & tradugdo rus comunista, em que Marx ¢ Engels escrevem: terpretando de do Manifesto “Se a Revolugto Rusta di o uma revolusdo protettia no ‘completem, entdo # propriedade co- ' ponto de partie para um desen- ‘© gue Marx jé havia dito um ano antes itch. Contudo, nessa carta, Marx salienta a ‘amplitude das forcas internas de decomposigdo do mir, assim como as im do exterior. Em 1881, Marx jd observa que a “comuna esté “quase reduzida a ni ‘Treze anos mais tarde, em 1894, Engels constata que no decorret em 169, sb oUlulo de Friedrich Engl Rust, com posto tanov. Em segundo lug ondéncia de Marx com Vera Zas ie 1861 ¢ os desenvolvimentos correspon Os esos de Engels de 1873 encontrameee em Marx-Engeis Wer 556.567 @ 844-5 022, tomo 18, pigs. 1435. Os de Marr, in bid, tomo 19, page 38 itch, in Oewores, op. ‘Marz-Engels Werke, omo 22, 1963, pig 432, 191 Lénin, mostrando os efeitos do desenvolvimento do capitalismo na Riissia, prolonga, com uma andlise concreta, as observagdes de 10 ao marxismo”) contra as as que acreditam pode munidades camponesas estimulando dive Peito, escreve: os, outras colhidas em autores ‘codon nava realmente como um tanto, provam o contrério. , demonstraram que na provincia de Kalunga, em 1894, a superficie por cabega variava na proporgdo de | a 26 (ou na proporgdo de | a 3 se no levarmos em conta a categoria dos camponeses sem terra) e indi- mais numerosas ~ as dos camponeses ricos (au mentadas, como se sabe, pela prética da adogéo) ~ que dispdem do lias”, embora geral- imbém que aquelas pas- 3" (em conseqUéncia das re- idicam que na verdade nao é ra que apés 30 anos (entre ‘ocorre em relagdo a cerca de 2/5 dos lares que possulam mais de 9 de- ciatinas”. A anilise da diferenciagdo social no campo mostra que o mir no representa um verdac pois assegura a reproducdo de relacdes sociais especificas que & preciso levar em conta para compreender as formas assumidas pela luta de CLT. Sha class, Oxford. 1972, pA. 64, citado por M. Grum- bach numa tee de EPH! Coniurlon eae du development acai eB 2. nov, The theory of peasant economy, Homewood, 1966, pég 67. foram levantades om um distro (Quezd). Uma deciatina = classes no campo russo ¢ depois sovietico, De fato, embora fortemente rminado por contradigdes intemas, o mir subsiste ainda por ocasifo da Revolugio de 1917, ¢ depois dela exerce efeitos nio negligencidveis sobre a mancira funcionamento pos mo a revolugdo se desenrola no campo e sobre 0 ior da NEP. um aparelho politico ¢ ide pesinato a possibilidade de agir de ma’. Apés outubro de 1917, d chevista no campo, est relativa permite aos elementos Ficos do povoado dominar mais facilmente os camponeses pobres ¢ médios, Nao se deve esquecer, na verdade, que, no fim de 1917, 0 par- tido bolchevista possui apenas 203 células camponesas com 4 122 membros, © em 1918 tem 2 304 of nessa época las “camponesas” C eus fetivos (consttuldos, em grande eacala, de funciondrige rors, omo o professores)representam apenas 5% dos efetivos totais do partido. mento de “igu Em resumo, de |. O mir ndo corresponde a um modo de produgao (a uma maneira determinada de produzir): & um aparelho politico de terra que assegura ndo uma cultura coletiva, mas um Em conseqiléncia, cada produtor faz “o que quer" pode sobretudo vender seus produtos e acumula dade que 0 mir impde certas regras a seus membros, mas estas desti- nam-se a facilitar a cultura individual das diferentes parcelas, o que ma cultura col car os seguintes pontos: mituo entre vizinhos. Estas sio, porém. ‘ansformadas pelo desenvolvimento das trocus que leva 10 dos servigos prestados. iparelho politico, néo é evidentemente “*neu- ta de classes que se trava em seu seio e sofre os contragolpes da lui sm escala social. De um mode geral, 0 mir & dominado pelos camponeses mais abastados (muitus vezes eleitos chefes do povoado ou membros dos érgios per- manentes da administragdo), que se servem dessa denominacdo para Perpetuar su sda; isto se faz igualmente sentir no cante & redistribuigdo das terras, a despeito dos “principio: Fios" que supostamente a presidem. Os efeitos relatisamente limitados 122 parecem confirmar los sobre 0 mir mante- verse, mesmo no decorrer desses anos de luta de classes aguda. 193 tro". Ele 0 campo da 3. A existéncia do mir do skhad (assembléia-geral dos campone- ses) assume também a forma de uma comunidade rural, que tende a transformar cada povoado em um pequeno mundo isolado, separado ‘autoridades. A experiéncia his- airiotismo de povoado” trapartida uma profunda indife- terreno onde se desenvolveu a autocracia cz mento “de unificagdo”, rais, Garantindo a “defesa militar” destas, o czarismo estabeleceu en- jor que Ihe permitiu subjugé-las. E,além disso, sig- tivo que a maior parte das revoltas camponesas tenham sido diri- as contra os proprietérios e ndo contra o czar. Até a época imperia- 3,0 czar apresentava-se aos cemponeses como U z 8 proprietdrios rurais; quando eram mobilizados, os camponeses nfo pensavam em luta 0 mir, articulado sobre a familia como unidade de produedo,’contribui para o fortal mento do “individualismo pequeno-burgués”, Esse individualismo, combinado 20 egoismo local engendrado pelo funcionamento do mir, ica a relativa indiferenga que os camponeses demonstraram du- iante das dificuldades esmagadoras rante 0 “comunismo de guerra’ das cidades privadas de 4, Enquanto desigualdades importantes se reproduzem, em escala 8 (que, além disso, $6 dizem crescente, através das formas igué respeito praticamente terra), as q jem também, ao nivel ideoldgico, para reforcar um igualitarismo ¢ um individualismo pe- queno-burgués. Um ¢ outro assumem, assim, dimensdes excepcionais, em detrimento dos préprios interesses dos canponeses; isto conduz sobretudo a um “miniparcelamento” (a fim de que cada camponés ossua um pedaco de terra de cada qualidade), cue obriga alguns cam- poneses a fazer grandes percursos e provoca’a perda de impor extensdes de terra para a cultura, Ele contribuitambém para imobili- zat durante séculos ( mesmo apés a revolugio) os métodos agricolas: é, assim, uma das fontes dos baixos rendimentos ¢ das fomes que atin- gem o campesinato. Nao se pode excluir totalmer do bolchevista houvesse estado }08 campos e soubesse tirar partido do que restava de tradigdes comuritérias no mir, este te- vez podido constituir 0 ponto de partida de uma agricuitura co- letiva, Contudo, se Marx ¢ Engels expressaram dividas a esse respeito no final do século X1X, hé razdes ainda mais namerosas para duvidar ‘que semelhante hipdtese tivesse sido possivel por ocasido da Revolu- ‘Gio de Outubro; o mir sofrera uma decomposi¢io ainda maior, tinha- se tornado uma forma que dissimulava uma reaidade totalmente dife- rente da que apresentava ade de que, se 0 parti- 194 Segdo II A revolugio agraria democritica e a esperanga de uma revolugdo agraria socialista 0 “decreto sobre a terra” co deram um impulso suplement: haviam empreendido por si mesmos durante o ano de 1917 para se sapossirem das terras dos proprietérios rurais. A) A REVOLUCAO AGRARIA DEMOCRATICA DO INVERNO DE 1917-1918 textos posteriores do poder sovi in 8 € nos meses seguintes, os campo- neses - dai em diante apoiados pelo poder sovi sen- uma vasta érea, 40%, de toda a ‘como cultivavel da Rissa’ 8 camponeses retomam também (em geral fa) das terras dos camponeses 8 terras daqueles camponeses ricos que se haviam se- ricos, Trata-se parado do mir logo apés as reformas de 1861 ¢ de 1906. Além disso, io mal conhecidas as areas de que esses camponeses dispdem as vés- eras de outubro, e menos ainda as que Ihes foram retomadas apés vveram entdo pouco efeito. Uma a transformagio revolucio: ‘massas camponesas apoiadas pelo poder sdvi 1919. Nesse momento, de acordo com as es divida muito aproximativas, 96,87, das terras maos dos camponeses que as trabi ‘ir ow fora dele), 0, A revolugdo agréria teve, portanto, 0 ca- rater de uma transformaco democrética, e ndo de uma transformacao socialista, F parte das terras de fora do mir, a proporgdv des camponeses obres di im como as desigualdades sociais, mas subsiste apesar de ferdvel de camponeses pobres nos quais o pa Ichevista tenta apoi inho de 1918, a fim de desenvolver a ibater os camponeses ricos (os kulaks) ica B) A TENTATIVA DE DESENVOLVIMENTO DE UM MOVI- MENTO AUTONOMO DOS CAMPONESES POBRES NO VE- RAO DE 1918 A vontade do partido bolchevista de se apoiar nos campos, prin- cipalmente nos operdrios agricolas e camponeses pobres (0 semiprole- tariado rural), é afirmada em seu programa, assim como lembrada nas Teses de abril. Em junho de 1918, 0 partido bolchevista considera que chegou o momento diretamente pelo soci agréri dem do classes no campo, de fluéncia econdmica e Preparacio da etapa socialist 1 n0 campo as foreas sociais espec do Ihe parece, o poder sovittico proletério deve frentar a desorganizagto econdm forgas sfo antes de tudo as dos c mais imediato no socialismo. No verdo de 1918, a redugdo da producdo agricola assumiu gra- ente no momento em que as forcas brancas € iciam sua ago). O abastecimento das iamente comprometido, pois os camponeses s6 dispdem de reduzidas quantidades de produtos suscetiveis de serem comercali- hes pagar sampo esta inundado de dinheiro"), ¢ eles no tem praticamente nada para comprar nas cida- des. do proletariado, um aliado no scio do qual as diferencas de classe so ainda secundarias e que luta para cumprir suas prOprias ta- refas: a revolugHo agréria democratica. va ao dispor sobre a con: tes camponeses e integrados exclusivamente de camponeses pobres. Esse dispositivo legal engaja oficialmente o partido bolchevista e 0 governo soviético na via de um ‘ratamento diferencial sistemético das diversas classes camponesas. Um texto de 11 de julho de 1918 esclarece que so- ‘mente os camponeses que ndo empregam trabalhadores assalariados ndo 197 tém excedentes de grios disponiveis para a colheita podem fazer parte dos comitts de camponess pobre. A 15 de jul d io pol dos cereais entre os kulaks, reservando part reais™. ¢, portanto, dat'em diante, pos as, as comunas agricolas ¢ as Para Lénin, pelo menos em 191 4 se organizarem ¢ reconhecendo-thes um papel dirigente especifico no campo. No discurso feito a 8 de novembro de 1918 aos delegados dos comi- és de camponeses pobres da regido de Moscou, Lénin declara: ‘0 campo... Ox operkrios levaram ¢ levarto sua re na Tuia contra oe kulaks. No decorer da xplicitos, Lénin ndo condiciona, portanto, a lista das relagdes econdmicas no campo somente (que, diz ele, permanece inevit por toda a Riis de camponeses pobres destinados a se transformarem em seja, em érgios plenamente reconhecidos pelo pod ‘mesmo tempo dé énfase & pastagem ao trabalho colet portanto, & transformacdo socialista das relacdes de Po, mente a transformagdo das relagdes politicas no formagdo dos comitts de carponeses pobres)e&transformacao das re- lacées ideoldgicas que permitirdo & massa dos camponeses passar & cul- tura coletiva da terra. A mesma época - em outubro e novembr A revolugdo proletdria e 0 renegado Kautski, sinato nko &, por- ia no comego do se- gundo semestre de Na realidade, a reparticdo das terras reduziu a proporcto dos ‘camponeses pobres ¢ aumentou a dos camponeses médios. Sobretudo tativa do partido bolchevista de cot poneses pobres é, por conseqléncia, segui particularmente dos intervencionistas acentua-se ¢ torna indispensivel da alianca do proletariado com o conjunto do campes ponesa do {Gncia aos camponeses médios, cujos efetivos aumentaram em conse- qlléncia da revolucfo democrdtica no campo. Segdo II O periodo de 1919-1920 e a orientacdo relativa ao campesinato médio para a constru¢o do socialismo No VIIT Congresso do partido bolchevista (18 a 23 de marco de Lénin chama especialmente a atengao a da atitude em relagto ao camponés médio”. Esse prot iro plano “enquanto os préprios iética ndo estavam assegu- jo de frente, a fim “de trugdo socalista em morizadament, plrando.nos na expelénla do trabalho no campo (0 B= 27, Ct. diacurso de abertura do VITT Congreso, pronunciado a 18 de margo de 1918, ia O.C., tomo 29, pig. 137 © xg fo-omeu CB) ear dra andanenta ae deamon oe com 0 eamponts médio ume allena slide (evbintado ‘cuir « pousbilidade dos dervis ¢ dos erro freqdentes Essas poucas frases slo de uma importancia ‘cam o problema do que se chamou mais tarde de que ease erro, ndo esté desvinculado da manei- Idos os comités de camponeses pobres ¢ do pa- pel que esses comités desempenharam no dominio das requisigbes ¢ do abastecimento, as coletivas de produclo como sendo dirigidas no sentido do socialismo, mesmo se forem impostas de cima, pela ‘coergdo, desde que o Estado da ditadura do proletariado seja o agente dessa transformagto, A comuna agricola ‘comum 36 pode ser sr¢Ho nesse dominio por par- te do governo oporasio ¢ camponts, ¢ ale. o prosbe™, E claro, ao recordar esses principios, io estd preocupado ta é assinalar que itivos ndo pode dar corigem a formas comunistes de Por ocasidio desse congresso, ‘compromisso que consiste em criar exploracdes colet tais pafcelas existem, elas serio um germe de decomposicio das explo- ragdes coletivas. E acrescenta: iar doe ave a titulo individual, a cultivar hortaspriva- provivel que se retornardd pequena exploracki exsiente aleria« pena entho fazer tanto movimento? Valea pena {mplantar uma cooperative stata” No relasério sprsentado a 23 de margo ao VIII Congreso do partido bolchevista, Lénin trata novamente da politica de pulsoriame smponeses médios numa via que eles no esto pronto Insiste longament idéia, que ndo é facilmente admitic E declara: “ (tmtdio do mesmo mode que ve agiu para eamagar a burgueia) seria dar prova de uma tal estupider, tra Um ‘feito tho desasirovo, que somente os provocadores podem agi consciente- ‘mente den maners. Pela violénla nada ve fard agul. A violencia ox r- Ingdo a0 campesinato médio 6 extremamente prejudicial." B, ainda: ‘Devemos basear-ot, acme de tudo, neat verdade de que nlo se po

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