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Resumo:
O foco desta pesquisa é a investigação das práticas musicais no
contexto escolar, especificamente nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, onde
desenvolvo minhas atividades profissionais há cerca de uma década. Os diferentes
enfoques dados à Educação Musical na história do ideário educativo brasileiro
demonstram que, predominantemente, a vivência musical em espaços escolares esteve
(e ainda está) muito vinculada a instituições especializadas, como conservatórios e
academias musicais. Entretanto, a ausência de uma abordagem formal nos currículos
não impede que a Música se manifeste no espaço escolar. Intencional ou não, ela é uma
via de expressão cultural e como tal, está presente em todos os níveis de ensino e pode
ser problematizada. Pensar no papel da escola como formadora de hábitos intelectuais
em uma sociedade de consumo é um imperativo já preconizado por Adorno, filósofo
com quem dialogo no corpus teórico desta proposta de pesquisa. Considerando que a
escola é um locus privilegiado para a mediação qualificada entre os sujeitos, torna-se
importante investigar como ela tem trabalhado as manifestações musicais, visto que
“os padrões de nosso sentir são determinados pela nossa época, cultura e,
fundamentalmente, pela arte ali produzida” (Duarte Jr, 2007,p.107).
Nesta perspectiva, investigarei turmas de anos iniciais do Ensino Fundamental
da escola pública em que atuo na cidade de Rio Grande, objetivando discutir como os
gêneros musicais manifestam-se nas relações do convívio entre os alunos.
Considerando o diálogo musical como expressão objetiva da nossa subjetividade, seria
a Educação Musical uma proposta viável para a formação de novos sentidos para
nossa existência?
Introdução
1
Aluna do Programa de Pós Graduação em Educação Ambiental / Mestrado da FURG
1
A investigação de práticas pedagógico-musicais nos anos iniciais do Ensino
Fundamental constitui o foco principal desta proposta de pesquisa por retomar o debate
sobre Educação Musical e formação humana. Com a Lei 9394/96, a Música recupera a
possibilidade de inserção curricular na Educação Básica, mas a vivência musical em
espaços escolares ainda está muito vinculada a instituições especializadas, como
conservatórios2 e academias musicais. A substituição da terminologia genérica
Educação Artística, empregada desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1971
(Lei 5692/71), pode constituir-se em um impulso para uma abordagem mais específica
do fazer musical na escola
Neste diálogo inicial, pergunto: seria a Educação Musical uma proposta viável
para a formação de novos sentidos para nossa existência, na problematização das
condições atuais do ambiente sócio-cultural?
2
Estabelecimentos destinados ao ensino no campo musical, especialmente prática de instrumento,
canto, composição ou regência.
2
Aproximação com o tema
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propriedade dos que dominam sua teoria / conhecimento técnico. Numa sociedade
marcada pelo consumismo desenfreado onde até os bens culturais adquirem status de
mercadoria (ADORNO, 2000), cabe problematizar o diálogo musical como expressão
objetiva da nossa subjetividade.
Contextualização Histórico-Filosófica
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consagrada no ambiente pedagógico desde o início da formação de nosso ideário
educativo. A pura associação a momentos da rotina escolar, ou a utilização em projetos
isolados, acabou destituindo a Música do seu valor em si: de manifestação intimamente
relacionada à comunicação de afetos e ao potencial ético-estético da humanidade.
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que, segundo o autor, “não consegue mais viver empiricamente” (ADORNO, 2000,
p.65).
O autor parte do princípio de que há um fascínio pelo que está na moda e todas
as variantes da banalidade, sendo que a Indústria Cultural 5 encarrega-se de compor a
matriz ideológica para a integração vertical dos consumidores (idem, p.8). Sob uma
aparência de liberdade de escolha, tal como propaga o ideário capitalista, o julgamento
estético associa-se ao reconhecimento de determinado “sucesso”. E o que faz sucesso é
justamente o que é mais reproduzido pelos meios de comunicação.
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Termo cunhado pelos teóricos da Escola de Frankfurt para denominar a conversão de um bem
humano e social (cultura) a mais um campo de exploração econômica (DUARTE, 2003, p. 9).
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A escola e o consumo
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incapacidade de julgamento do indivíduo reificado, que: “(...) tem muito tempo livre e
pouca liberdade, é despolitizado, de temperamento destrutivo e está preparado para
apoiar projetos políticos autoritários, caso isso se lhe pareça como algo inevitável”
(p.34).
Caminhos Metodológicos
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A escolha dos instrumentos ainda está em estudo, saliento que a observação em
sala de aula, aliada às entrevistas com os sujeitos envolvidos neste estudo, serão
imprescindíveis para a contextualização do problema no espaço escolhido.
Referências
____________________. Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo: Paz & Terra, 2007
(4ª ed.).
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2006 (13ª ed.).
KOTHE, Flávio. Benjamin & Adorno: Confrontos. São Paulo: Editora Ática, 1978.
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LOUREIRO, Robson e DELLA FONTE, Sandra. Indústria Cultural e Educação em
Tempos Pós-Modernos. Campinas: Papirus, 2003.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Editora
Cortez, 2006.
TOMÁS, Lia. Ouvir o logos: música e filosofia. São Paulo: Editora Unesp, 2002.
SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? São Paulo : Editora
Cortez, 2008.
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