Semiologia Médica
Danilo Fernando – Medicina UFRGS
Resumo baseado em anotações de aula e nos livros Propedêutica Médica 11ªEd – Bates,
Semiologia Médica 7ªEd – Porto, Tratado de Semiologia Medica 7ªEd – Swartz, Semiologia
Clínica 1ªEd – Benseñor, Oxford American Handbook of Clinical Examination and Practical Skills,
Exame Clinico 8ª Ed – Porto, Tratado de Semiologia Médica – Rose Mary Lisboa, Medicina In-
terna de Harrison 19ªEd – Dennis L. Kasper, Medicina Interna 23ªEd – Cecil, Doenças Pulmona-
res 6ªEd – Berardinelli, Rotinas em Endocrinologia – Sandra Silveiro, Netters Internal Medicine
2Ed, Netter Collection of Medical Illustrations – Endocrine System, Netter Collection of Medical
Illustrations 2ed – Urinary System, Nefrologia 3ªEd – Rotinas, Diagnóstico e Tratamento, Netter
– Neurologia Essencial, Neuroanatomia Funcional 3ªEd – Ângelo Machado, Netter's Cardiology,
Propedêutica e Semiologia em Cardiologia – Eduardo Machado.
1 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 1
2 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 2
Sumário
Componentes da Anamnese e do Exame Físico ................................................................................................................... 3
Anamnese – Avaliação Abrangente do Adulto ................................................................................................................. 3
Anamnese – Técnicas de Entrevista ................................................................................................................................. 6
Exame Físico ..................................................................................................................................................................... 9
Dermatologia ...................................................................................................................................................................... 14
Noções de Anatomia e Fisiologia ................................................................................................................................... 14
Anamnese e Exame Físico .............................................................................................................................................. 16
Neurologia .......................................................................................................................................................................... 29
Noções de Anatomia e Fisiologia ................................................................................................................................... 29
Avaliação Clínica Neurológica ......................................................................................................................................... 36
Principais Síndromes Neurológicas ................................................................................................................................ 67
Endocrinologia .................................................................................................................................................................... 72
Noções de Anatomia e Fisiologia ................................................................................................................................... 72
Principais Sintomas em Endocrinologia.......................................................................................................................... 73
Principais Doenças Endocrinológicas ............................................................................................................................. 75
Cardiologia ........................................................................................................................................................................ 112
Noções de Anatomia e Fisiologia ................................................................................................................................. 112
Fatores de Risco ........................................................................................................................................................... 118
Principais Sintomas em Cardiologia ............................................................................................................................. 119
Exame Físico Cardíaco .................................................................................................................................................. 126
Principais Doenças Cardíacas ....................................................................................................................................... 148
Pneumologia ..................................................................................................................................................................... 155
Noções de Anatomia e Fisiologia ................................................................................................................................. 155
Fatores de Risco ........................................................................................................................................................... 157
Principais Sintomas em Pneumologia .......................................................................................................................... 158
Exame Físico Pneumológico ......................................................................................................................................... 165
Principais Doenças Pulmonares.................................................................................................................................... 172
Principais Síndromes Pulmonares ................................................................................................................................ 174
Gastroenterologia ............................................................................................................................................................. 179
Noções de Anatomia e Fisiologia ................................................................................................................................. 179
Fatores de Risco ........................................................................................................................................................... 182
Principais Sintomas em Gastroenterologia .................................................................................................................. 183
Exame Físico do Abdome ............................................................................................................................................. 201
Nefrologia ......................................................................................................................................................................... 214
Anatomia e Fisiologia ................................................................................................................................................... 214
Principais Sintomas em Nefrologia ............................................................................................................................... 215
Principais Doenças dos Rins e das Vias Urinárias ......................................................................................................... 217
3 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 3
sinais e sintomas
• Importância diagnóstica: exame físico grau importância
exames complementares
*Importante: entrevista mal conduzida pode levar à diagnósticos, prescrições e exames errados!
*Importante²: se o uso de drogas (lícitas e/ou ilícitas) for importante para a HDA, descreva nela.
5) História familiar:
Caracterizar a idade e o estado de saúde ou da idade e causa de óbito de cada um dos parentes
imediatos, inclusive pais, avós, irmãos, filhos e netos;
Verificar ocorrência de doenças transmissíveis no cônjuge ou em outras pessoas que vivam na
mesma casa (fatores ambientais – doenças infecciosas);
Verificar transmissão de doenças genéticas;
Revisão das seguintes doenças e circunstâncias e registre se existem ou não na família:
- Hipertensão arterial, doença coronariana, níveis elevados de colesterol, AVC, diabetes melito, do-
ença tireoidiana ou renal, artrite, tuberculose, asma ou doença pulmonar, cefaleia, convulsões, do-
ença mental, suicídio, uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, e alergias;
- Históricos de câncer de mama, de ovário, de cólon ou de próstata.
7) Revisão de sistemas:
As perguntas da revisão de sistemas podem desvendar problemas que o paciente não percebeu,
principalmente, em áreas sem relação com a doença atual;
Iniciar a investigação de cada sistema com uma pergunta geral.
- Exemplos de perguntas iniciais: “Como estão seus ouvidos e audição?” “E os pulmões e a respira-
ção?” “Tem algum problema de coração?” “Como anda a digestão?” “E o intestino?” “E a vida afetiva?”
h) Pescoço: surgimento de tumorações no pescoço, aumento de volume dos gânglios, bócio, dor no
pescoço;
i) Mamas: surgimento de nódulos, dor, secreção mamilar, alterações percebidas no autoexame;
j) Cardiovascular: dispneia (dispneia paroxística noturna, ortopneia, dispneia aos esforços), dor re-
troesternal e precordial (descrever características), palpitações;
k) Respiratório: tosse, escarro (cor, quantidade), dispneia, cianose, dor torácica, chiado no peito,
hemoptise, baqueteamento/hipocratismo digital, contato com tuberculose, reação de Mantoux,
último raio-x de tórax;
l) Gastrointestinal: problemas de salivação, alterações do apetite, dor abdominal, pirose, náuseas,
vômitos, hematêmese, frequência de evacuações, alterações do hábito intestinal, constipação, diar-
reia, enterorragia, melena, intolerância alimentar, flatulência, história de hemorroidas, de icterícia
e de hepatite;
m) Urinário: frequência miccional, noctúria, alterações do aspecto da urina, urina turva, hematúria,
colúria, poliúria, oligúria, disúria, polaciúria, enurese, urgência miccional, incontinência, dor lombar,
edema, alterações do jato urinário, história de infecções urinárias e/ou cálculos no passado;
n) Genital:
n1) Homem: secreção uretral ou lesões no pênis, história de doenças venéreas e seu tratamento,
hérnias, dor ou massas testiculares, frequência da atividade sexual, libido, dificuldades sexuais;
n2) Mulher: idade da menarca, ciclos menstruais, quantidade de sangramento fora do período
menstrual e após o coito, data da última menstruação, dismenorreia, número de gestações, nú-
mero de partos, número de abortamentos (espontâneos ou induzidos), complicações das gesta-
ções, métodos contraceptivos usados, sintomas do climatério, idade da menopausa, sangramentos
pós-menopausa, corrimento vaginal, prurido, doenças venéreas e seu tratamento, última revisão
ginecológica, frequência da atividade sexual, libido, dificuldades sexuais.
o) Músculo esquelético: rigidez articular, história de sinais inflamatórios articulares (dor, vermelhi-
dão, edema) se presentes pesquisar caráter migratório, limitação dos movimentos articulares ou da
atividade, dores musculares, câimbras;
p) Vascular periférico: claudicação intermitente, câimbras, veias varicosas, tromboflebites;
q) Neurológico: tonturas, vertigens, desequilíbrio, lipotimia (pré-sincope), alterações da visão, cefa-
leia, náuseas, vômitos em jato, convulsões, paralisias, paresias, alterações da sensibilidade, pareste-
sias, zumbidos, tremores, distúrbios do comportamento, alterações do sensório e da memória;
r) Psiquiátrico: o exame psiquiátrico do paciente é feito durante a entrevista, observando-se as fun-
ções do Ego, a saber:
∟Funções simples: consciência, atenção, memória, orientação, inteligência, linguagem, afeto, pen-
samento, sensopercepção, conação;
∟Funções defensivas: negação, introjeção, projeção, dissociação, repressão;
∟Funções integradoras.
s) Endócrino: bócio, intolerância ao calor ou ao frio, agitação, tremores, sudorese excessiva, histó-
ria de diabetes, sede excessiva (polidipsia), aumento do apetite (polifagia), diurese aumentada (po-
liúria), alteração no tamanho de luva ou sapato;
t) Hematológico: história de anemia, equimoses, hematomas, petéquias, púrpura, sangramentos
anormais (facilidade de sangramentos), passado de transfusões e possíveis reações.
6 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 6
2) Pergunta aberta: permite que o paciente fale sobre a sua condição de modo abrangente;
Uma questão aberta permite ao paciente falar sobre sua história espontaneamente e não pres-
supõe uma resposta específica;
- Pergunta aberta é uma pergunta que não pode ser respondida com "sim" ou "não".
Exemplos de perguntas abertas:
- “Gostaria que o senhor contasse o que está sentindo”;
- “Quero entender bem o que está sentindo. Poderia contar detalhadamente desde o início?”;
- “Quais são os seus sintomas?”, “Poderia explicar melhor os seus sintomas?”;
- “Por que o senhor veio consultar hoje?”.
Não há uma quantidade “x” de perguntas abertas a se fazer, devemos fazer o quantas forem ne-
cessárias para que o paciente nos conte detalhadamente a sua condição;
A maioria dos entrevistadores progride das perguntas gerais (abertas) para as mais específicas
(focadas e fechadas).
3) Silêncio: certo período de silêncio contemplativo do entrevistador que permite que o paciente
reorganize ou até modifique seu pronunciamento;
O silêncio é muito útil com pacientes calados, porém em pacientes prolixos deve-se ter cautela
para que o entrevistador tenha o controle da anamnese;
O entrevistador deve permanecer calado, mantendo contato visual direto e atenção;
- O entrevistador pode inclinar-se para a frente.
5) Reflexão: repetir as últimas palavras do paciente ou perguntar a ele o que acha sobre os sinto-
mas ou sobre a doença (refletir sobre o assunto);
Revela ao paciente que: a) você entendeu o que ele disse;
b) pode clarificar o que foi dito;
c) pode servir para notificar que você não compreendeu o que foi dito.
A reflexão é também apropriada quando o paciente está contando uma história muito longa ou
com excessiva divagação – permite a você reconduzir a entrevista em uma direção produtiva, sem
quebrar a continuidade da mesma;
Os pacientes, quase que invariavelmente, respondem à reflexão de suas palavras, promovendo
elaborações nos pontos que você deseja esclarecer.
- Exemplo:
∟Paciente – "Para lhe falar a verdade, doutor, eu não estou nada bem";
∟Médico – "Não está nada bem?"
9) Apoio: investigar quem pode ajudar o paciente e tentar fornecer alternativas de ajuda;
As observações de apoio promovem um sentimento de segurança na relação médico-paciente;
- Exemplo:
∟Paciente – “Ninguém descobre aonde está o meu câncer!”
∟Médico – “Eu entendo a sua insegurança, mas lhe garanto que estás em um hospital plenamente
apto a encontrar a solução do seu problema!
*Importante: a empatia também engloba aspectos não-verbais, tais como contato visual, identificar
expressões dos músculos faciais, postura (p.e. conversar sob o mesmo nível visual), afeto, tom de
voz e interpretar a linguagem corporal do paciente.
11) Resumo/sumário: os sumários comunicam ao paciente que você está interessado em um en-
tendimento correto dos eventos que o mesmo relata.
Trata-se de técnica de demonstração de várias capacidades: compreensão, entendimento, poder
de síntese, humildade.
- Exemplos: “Deixe eu ver se entendi...”
“Vou tentar resumir o que o Sr. me falou até aqui, me corrija se eu me enganar em alguma coisa”
*Importante: resumos podem ser úteis para entendermos a totalidade do que o paciente está no
relatando, além de proporcionar um meio onde ele pode relembrar de outros dados importantes.
9 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 9
Exame Físico
• Geralmente sucede a anamnese e objetiva a pesquisa de sinais presentes;
• Para obter os dados do exame físico, é preciso utilizar os sentidos – visão, olfato, tato e audição.
As habilidades necessárias ao exame físico são: inspeção, palpação, percussão e ausculta.
“Não basta olhar, há que se ver, não basta ver, há que se analisar,
não basta analisar, há que se compreender, não só uma parte, mas o todo”
a1) Inspiração geral: começa no momento em que se entra em contato com o paciente.
Inclui o nível de consciência, orientação e cuidados pessoais.
- O paciente está bem ou doente?
- Ele está confortável na cama ou parece incomodado?
- Ele está alerta ou sonolento?
- O paciente tem aparência limpa?
- Apesar de o paciente estar doente, ele não tem uma aparência descuidada? Seu cabelo está pen-
teado? Ele rói as unhas? As respostas para essas questões podem fornecer informação útil sobre a
autoestima do paciente e seu estado mental.
a2) Estado nutricional: a maioria dos pacientes com doença crônica não tem sobrepeso; eles são
caquéticos – doenças muito antigas, como câncer, hipertireoidismo ou doença cardíaca, fazem com
que o paciente aparente um estado consumptivo.
O paciente parece magro ou fraco?
O paciente está obeso?
10 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 10
a4) Inspeção regional: a inspeção deve ser realizada por partes, desnudando-se somente a região a
ser examinada, sempre respeitando o pudor do paciente.
O conhecimento das características da superfície corporal, assim como da anatomia topográfica,
permitirá ao estudante reconhecer eventuais anormalidades durante a inspeção.
11 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 11
b) Palpação: uso do toque para determinar as características de uma área do corpo, como elevação
ou depressão da pele, calor, sensibilidade, pulsos, crepitação e tamanho dos órgãos ou massas.
Os dados são obtidos por meio do tato e da pressão;
- O tato fornece impressões sobre a parte mais superficial, e a pressão, sobre as mais profundas.
Deve-se identificar as regiões dolorosas e deixa-las para serem palpadas por último.
*Importante¹: nas abordagens de palpação e percussão, o examinador deve ficar em pé, à direita
do paciente e regular a altura da cama (não esquecer de retornar a cama à posição anterior para
evitar posteriores acidentes e, caso retire a grade de proteção, também retornar à posição inicial).
*Importante²: para exames manuais é fundamental que as unhas estejam bem cuidadas e curtas.
• Olfato como recurso diagnóstico: não tem a mesma importância da inspeção, palpação, percus-
são e ausculta; entretanto, algumas vezes, pode fornecer um indício diagnóstico.
Em determinadas doenças, odores diferentes dos habituais são eliminados em decorrência da
secreção de certas substâncias: hálito da pessoa que ingeriu bebida alcoólica é característico; paci-
entes com cetoacidose diabética eliminam um odor que lembra o de acetona; coma hepático, o há-
lito tem odor fétido; pacientes com uremia, há hálito com cheiro de urina.
Halitose é um odor desagradável que pode ser atribuído a diferentes causas (má higiene bucal,
cáries dentárias, próteses mal adaptadas, afecções periodontais, infecções de vias respiratórias, al-
terações metabólicas e algumas afecções do aparelho digestivo).
• Considerações importantes:
Lembre-se, você é iniciante! Evite interpretar seus achados para o paciente;
- Se o paciente estiver preocupado e/ou curioso com os achados, fale com o professor ou com a
equipe responsável por ele.
Evite sempre demonstrar nojo, alarme ou reações negativas;
Durante o exame físico, abordar o paciente pelo lado direito quando o exame for feito .
13 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 13
Paciente sentado
9) Cabeça escalpo e face;
10) Visão de perto (tabela de Snellen);
11) Escleróticas, conjuntivas e reação pupilar;
12) Nervos Cranianos;
13) Orelhas;
14) Fossas nasais;
15) Boca e orofaringe;
16) Audição;
17) Coluna cervical e ombros;
18) Linfonodos: sublinguais, submaxilares, cervicais anteriores e supraclaviculares;
19) Tireoide;
20) Linfonodos: cervicais posteriores;
21) Parede torácica posterior: inspeção e palpação;
22) Punho-percussão da coluna vertebral e das lojas renais;
23) Palpação do Frêmito tóraco-vocal e percussão da parede posterior do tórax;
24) Ausculta do tórax respiratório;
25) Tórax anterior: mamas e mamilos (considerar se o paciente sente-se confortável com a realização);
26) Linfonodos axilares;
27) Ictus: inspeção, palpação, palpação do tórax anterior: frêmitos e impulsões;
28) Ausculta do precórdio: bulhas, ritmo, sopros e estalidos cardíacos;
29) Exame dos vasos do pescoço: inspecionar veias do pescoço, pulsos carotídeos e ausculta
das carótidas;
Paciente deitado
Dermatologia
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Pele: maior e mais pesado órgão do corpo – ótimo indicador da saúde geral do indivíduo.
Funções: proteção do corpo (mantém a homeostasia), proporciona limites para os líquidos cor-
porais, protege os tecidos subjacentes de microrganismos, de substâncias nocivas e de radiação,
modula a temperatura corporal e sintetiza vitamina D;
Anexos cutâneos: pelos, cabelos, unhas, glândulas sebáceas e sudoríparas.
• Anexos cutâneos:
a) Pelos: protegem as áreas orificiais e os olhos e fazem parte também do aparelho sensorial cutâ-
neo devido a sua rica inervação – os adultos possuem dois tipos de pelo:
Penugem: curto, fino, pouco aparente, sem pigmentação e pouco desenvolvido;
Terminal: mais grosso, espesso, aparente e, em geral, pigmentado.
- Compreende os cabelos, a barba, a pilosidade pubiana e axilar.
15 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 15
d) Glândulas sebáceas: secreção sebácea (células sebáceas e lipídios) é constante e constitui uma
valiosa proteção contra as bactérias e fungos que penetram na pele.
Distribuídas por todo o corpo; as maiores são encontradas na face e na região superior do tronco
(regiões seborreicas) – estão ausentes nas palmas e plantas dos pés;
A produção de sebo depende do tamanho da glândula, o qual é diretamente influenciado pela
secreção de androgênios.
16 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 16
Exame do Cabelo
• O cabelo e o couro cabeludo são avaliados para quaisquer lesões – verifica-se se há alterações na
cor, distribuição, quantidade e na textura.
Alopecia: queda de cabelo de modo difuso, em placas ou total;
- Causas: anemia, envenenamento por metais pesados, hipopituitarismo, doenças nutricionais, do-
enças fúngicas, estresse, quimioterapia, tricotilomania etc.
Rarefação do cabelo ocorre no hipotireoidismo;
Cabelo fino e sedoso é encontrado em pessoas com hipertireoidismo;
Aumento do padrão capilar é visto na doença de Cushing, na síndrome de Stein-Leventhal e em
diversas condições neoplásicas, como tumores das glândulas adrenais e gônadas.
Exame de Unhas
• As unhas podem ser afetadas em diversas condições sistémicas e dermatológicas.
As mudanças nas unhas não são geralmente patognomônicas para uma doença específica.
Exame da Pele
Efeito da Doença de Pele no Paciente
• Doenças de pele desempenham um papel profundo na maneira como o paciente interage social-
mente – se localizada em superfícies de pele visível, doenças de pele de longa duração podem real-
mente interferir com o desenvolvimento emocional e psicológico de um indivíduo;
• A perda da autoestima é comum;
Um adulto com doença de pele geralmente enfrenta limitações de atividade sexual;
Pacientes com erupções ou de pele vermelha, exsudativa, descolorida ou descamando podem
evocar sensações de repulsa tanto com os amigos e a família quanto o próprio médico;
- Em outros momentos, as lesões cutâneas podem levar os outros a olharem fixamente para o paci-
ente, causando mais desconforto.
• Algumas doenças de pele podem estar associadas à dor física extrema ou emocional, que podem
levar à depressão profunda e, ocasionalmente, ao suicídio;
• Ansiedade é um fator natural que frequentemente produz erupções.
O estresse tende a piorar certas doenças de pele, como o eczema – cria um círculo vicioso, por-
que a erupção exacerba a ansiedade;
As erupções são sinais e sintomas comuns de distúrbios psicossomáticos.
a) Coloração: pele normal tem coloração uniforme (exceto nas regiões pudendas e áreas expostas).
Anormalidades de coloração, em geral, são de difícil avaliação em indivíduos de pele negra e po-
dem ser divididas basicamente em:
a1) Palidez: deve ser pesquisada nas regiões palmo-plantares e sempre
correlacionada com a coloração das mucosas corporais.
Pode ser generalizada (anemias, estresse emocional) ou locali-
zada/segmentar (isquemias).
19 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 19
a2) Cianose: coloração azulada da pele (ocorre com a hemoglobina reduzida >5g/dL) – influenciada
por hematócrito, débito cardíaco/perfusão tissular, cor da pele, temperatura corporal.
Pode ser central (baixa saturação arterial de O2), periférica (maior extração de O2, saturação nor-
mal) e diferencial (quando é vista preferencialmente nos membros inferiores ou superiores);
b) Temperatura: deve ser analisada com a face dorsal da mão, e comparando simetricamente cada
segmento examinado.
Aumento generalizado da temperatura: febre e hipertireoidismo;
- Pode haver aumento localizado se houver processos inflamatórios ou celulite.
Diminuição generalizada da temperatura: hipotireoidismo.
d) Textura da pele: corresponde à sensação que temos quando deslizamos a mão levemente sobre
a pele e a encontramos lisa, aveludada, áspera ou com outra qualquer qualidade contextual.
Pele fina: encontrada nos estados de senilidade, na esclerodermia, em regiões recentemente
edemaciadas, no hipertireoidismo etc.
Pele áspera: trabalhadores braçais, indivíduos que mantêm contato prolongado e permanente
com o sol ou ambientes superaquecidos (pescadores, foguistas, etc.), mixedema, dermatoses crôni-
cas, hipotireoidismo etc.
e) Turgor: propriedade que a pele normal tem de, ao ser pinçada entre dois de-
dos, apresentar uma consistência tal que, quando desfeita a manobra, volte rapi-
damente ao lugar anterior, sem deixar pregas residuais.
Normal: quando o examinador tem a sensação de pele suculenta em que, ao ser solta, a prega se
desfaz rapidamente – indica conteúdo normal de água, ou seja, a pele está hidratada;
Diminuído: sensação de pele murcha e observação de lento desfazimento de prega que indica
desidratação – em pessoas idosas é um achado fisiológico.
Lesões Elementares
• Os 6 tipos de lesões elementares da pele são:
1) Alterações de cor;
2) Elevações edematosas;
3) Formações sólidas;
4) Coleções líquidas;
5) Alterações da espessura;
6) Perdas teciduais.
• Anamnese:
Se for encontrada uma lesão, ela deve ser classificada como uma lesão primária ou secundária;
- Lesões primárias: surgem na pele normal – resultam de mudanças anatômicas na epiderme, na
derme ou no tecido subcutâneo;
∟Exemplos: mancha, pápula, nódulo, tumor, vesícula, bolha, pústula etc. (imagens abaixo).
21 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 21
Alterações de Cor
• Mancha/mácula: alterações na cor da pele sem relevo ou depressão.
Mácula: alteração de cor menor que 1cm de diâmetro;
Mancha: alteração de cor maior que 1cm de diâmetro.
- Pigmentares (melânico, pigmentos anormais a pele e pigmentos estranhos);
∟ Acrômica, hipocrômica ou hipercrômica.
∟Vasculares (desaparecem após a compressão) – eritema;
∟Hemorrágicas (não desaparecem após a compressão) – púrpura.
• Eritema: mancha vermelha por vasodilatação que desaparece com digito ou vi-
tropressão – existem vários tipos de manchas eritematosas (variam com a cor, lo-
calização, extensão e evolução).
Exantema: manchas eritematosas disseminadas na pele e de evolução aguda,
que podem apresentar dois tipos (rubeoliforme ou escarlatiniforme):
- Exantema morbiliforme ou rubeoliforme: manchas disseminadas na pele nas
quais entre elas existem áreas de pele normal;
- Exantema escarlatiniforme: pele difusa e uniformemente eritematosa, sem
áreas de pele entremeadas.
Lesões Edematosas
• Urtica: elevação da pele, de cor vermelha ou branca-rósea, de tamanho e for-
mas variáveis, de duração efêmera e muito pruriginosa – ocorre na derme supe-
rior e média.
Formações Sólidas
• Pápula: elevação sólida, palpável e circunscrita da superfície da pele com menos
de 1cm de diâmetro – exemplo: sífilis papulosa.
Quando involuem não deixam cicatrizes.
• Placa: área elevada da pele com mais de 1cm de diâmetro, sendo comumente
formada pela coalescência de pápulas ou outras lesões elementares sólidas, lesão
palpável – exemplo: hanseníase tuberculoide.
Coleções Líquidas
• Vesícula: lesão elevada e circunscrita com até 1cm de diâmetro preenchida por
líquido claro.
O líquido, primitivamente claro (seroso), pode se tornar turvo (purulento) ou
rubro (hemorrágico).
• Bolha ou flictena: elevação preenchida por líquido claro, com mais de 1cm de
diâmetro.
O líquido, primitivamente claro, pode se tornar turvo-amarelado ou rubro, for-
mando-se bolha purulenta ou hemorrágica.
• Pústula: lesão elevada com até 1cm de diâmetro, contendo líquido purulento
em seu interior – é um abscesso superficial.
Alterações de Espessura
• Queratose: aumento da espessura da pele, que se torna dura, inelástica, de su-
perfície áspera e de cor amarelada.
Causado pelo aumento da espessura da camada córnea.
• Cicatriz: lesão lisa, plana, saliente ou deprimida, sem os sulcos, poros e pelos,
móvel, aderente ou retrátil – associa atrofia com fibrose e discromia.
É resultante da reparação de processo destrutivo da pele;
Pode ser atrófica (fina, pregueada, papirácea), críbrica (perfurada por peque-
nos orifícios) ou hipertrófica (nodular, elevada, vascular, com excessiva prolifera-
ção fibrosa, com tendência a regredir).
Perdas Teciduais
• Escamas: massas furfuráceas (pulverulentas) ou micáceas (laminares) que se
desprendem da superfície cutânea – alterações da queratinização.
• Crosta: lesão formada por ressecamento de líquidos orgânicos, podendo ser se-
rosa, sanguínea ou purulenta, que se forma em área de perda tecidual.
Resulta do dessecamento de serosidade (melicérica), pus (purulenta) ou
sangue (hemorrágica), de mistura com restos epiteliais – exemplo: impetigo.
28 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 28
• Escara: porção de tecido cutâneo atingido por necrose e mumificação sem des-
secamento, com dimensões variáveis.
• Sinal de Sampaio: presença de bainha gelatinosa nas raízes dos cabelos, encontrada na
pseudopelada e lúpus eritematoso sistêmico – indica atividade da doença.
Sinal utilizado em alopécias – arranca-se alguns fios de cabelo nas áreas de alopécia, observa-se
a presença de bainha gelatinosa aderida ao bulbo.
Neurologia
Noções de Anatomia e Fisiologia
a2) Hipotálamo: envolvido na coordenação das respostas fisiológicas dos diferentes órgãos → man-
tém a homeostasia.
Funções: controle da atividade visceral, regulação da temperatura, controle emocional, regula-
ção do sono/vigília, regulação da fome/sede, regulação da diurese, regulação do metabolismo, re-
gulação da adeno-hipófise e comportamentos emocionais (p.e. raiva e impulso sexual).
a3) Epitálamo: possui função endócrina (secreção de melatonina) e não-endócrina, onde atua no
sistema límbico (centro de integração de vias aferentes olfatórias, viscerais e somáticas).
*Importante: o hemisfério esquerdo controla funções do lado direito do corpo, assim como o he-
misfério direito controla o lado esquerdo. A exceção é o olfato, que é ipsilateral.
*Curiosidade: para não lesionar a medula espinal, a maioria das punções lombares é realizada nos
interespaços vertebrais de L3–L4 ou L4–L5.
32 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 32
• Nervos cranianos: doze pares de nervos especializados, denominados nervos cranianos, que
emergem da abóbada craniana através dos forames e canais do crânio e se conectam às estruturas
na cabeça e no pescoço.
Origem dos nervos: III a XII originam-se no tronco encefálico.
- NCs I e II são, na verdade, tratos de fibras que emergem do cérebro.
• Vias motoras (eferentes): se estendem desde os neurônios motores superiores, por meio de lon-
gos tratos de substância branca, e fazem sinapse com os neurônios motores inferiores, seguindo
depois para a periferia por meio de estruturas nervosas periféricas – podemos dividir didatica-
mente em vias piramidal (passa pelas pirâmides bulbares) e extrapiramidal (não passa).
Neurônios motores superiores: localizados na faixa motora do córtex cerebral e em vários nú-
cleos do tronco encefálico – possuem axônios que fazem sinapses com núcleos motores no tronco
encefálico (nervos cranianos) e na medula espinal (nervos periféricos);
Neurônios motores inferiores: têm corpos celulares na medula espinal, denominadas células do
corno anterior; seus axônios transmitem impulsos através das raízes anteriores e dos nervos espi-
nais para os nervos periféricos, terminando na junção neuromuscular.
a) Via piramidal:
Trato córtico-espinhal (piramidal): une o córtex cerebral aos neurônios motores da medula.
- A maioria das fibras são motoras somáticas – 90% decussam na região das pirâmides bulbares
(TCE lateral – “motricidade voluntária é cruzada”), 10% não decussa (TCE anterior).
- Medeia o movimento voluntário e faz a integração de movimentos delicados, complicados ou que
exijam destreza;
- Carreiam impulsos que inibem o tônus muscular, ou seja, a discreta tensão mantida pelos múscu-
los normais mesmo quando relaxados – há estimulação/inibição de determinadas ações musculares
Trato córtico-nuclear (bulbar): transmite impulsos aos neurônios motores do tronco encefálico.
- Fazem sinapse no tronco encefálico com os núcleos motores dos nervos cranianos.
34 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 34
b) Via extrapiramidal:
Trato teto-espinhal: responsável pela orientação reflexa da cabeça e manu-
tenção da focalização visual aos estímulos visuais – possui projeção homolateral; Influenciam a mus-
culatura do esque-
Trato vestíbulo-espinhal: atuam no controle do tônus dos músculos exten-
leto axial e a muscu-
sores na manutenção anti-gravitacional da postura – manutenção do equilíbrio;
latura proximal dos
Trato retículo-espinhal (pontino e bulbar): responsável pela postura básica membros.
necessária a execução de movimentos delicados;
Trato rubro-espinhal: controla os músculos distais dos membros, sob o comando de influencias
corticais – possui projeção contralateral.
• Vias sensoriais (aferentes): levam diferentes formas de sensibilidade dos receptores periféricos
ao córtex – as vias exteroceptivas e proprioceptivas são avaliadas no exame neurológico.
Todas as formas de sensibilidade geral estão representadas na medula e formam as grandes vias
aferentes – as sensibilidades especiais têm correspondência com o tronco encefálico (visão, audi-
ção, equilíbrio, gustação e olfato);
Funções da sensibilidade: percepção sensorial, manutenção do estado consciente, controle do
movimentos somáticos, regulação dos órgãos viscerais internos;
Vias aferentes: iniciam na periferia, nos receptores (terminações nervosas sensíveis aos estímu-
los específicos de cada via) e seguem para um nervo espinhal (ou craniano) e um gânglio sensitivo
associado; depois, em direção ao SNC, agrupam-se em feixes (tratos, fascículos, lemniscos) de
acordo com a função; seguem para áreas de projeção corticais e podem ter como destino o cérebro
(sensibilidade consciente) ou o cerebelo (sensibilidade inconsciente).
a) Vias exteroceptivas:
a1) Protopática: responsável pela sensação de dor, temperatura,
tato protopático (grosseiro) e pressão – há decussação à nível
medular e, em seguida, ascensão da aferência pelo trato espino-
talâmico (conforme a imagem ao lado).
Trato espinotalâmico anterior: responsável pelo tato protopá-
tico (grosseiro) e pressão;
Trato espinotalâmico lateral: responsável pela sensação de
dor e temperatura (termoalgesia).
a2) Epicrítica (tato preciso e localizado): localiza e descreve as características táteis de um objeto.
*Importante²: as aferências táteis (protopática e epicrítica) são sobrepostas e têm suas funções du-
plicadas nas vias entre a periferia e o córtex → em caso de lesão em uma via, o tato permanecerá.
b) Vias proprioceptivas:
b1) Consciente: responsável pela sensibilidade vibratória (p.e. estímulos vibratórios de um diapa-
são) e sensibilidade cinético-postural (capacidade de situar partes do corpo ou perceber seu movi-
mento sem auxílio visual).
Reflexos
• Conceitos importantes:
Fuso neuromuscular: capaz de realizar ajustes muito rápidos
quando o músculo é estirado – mantém o comprimento do muscular
em um valor desejado (responsável pelo tônus muscular);
Órgão tendinoso de Golgi: diminui a ativação do músculo quando
forças excepcionalmente grandes são geradas → proteção da integri-
dade muscular.
d) Estupor ou torpor: nível de consciência mais comprometido, paciente desperta por estímulos
fortes (p.e. estímulos dolorosos) e pode apresentar movimentos espontâneos.
- Abordagem: aplique um estímulo álgico – por exemplo, belisque um tendão, friccione o esterno
ou risque um leito ungueal com a ponta aguçada de um lápis (não mais intensos do que isso!).
As respostas verbais são lentas ou até mesmo inexistentes;
O paciente retorna ao estado não reativo quando o estímulo cessa;
Existe mínima conscientização de si mesmo ou do ambiente.
Coerência
• Coerência: característica daquilo que tem lógica e coesão, quando um conjunto de ideias ou fatos
apresenta nexo e uniformidade;
• Incoerência: forma grave de transtorno do pensamento e da linguagem, cujas características prin-
cipais consistem em distorções gramaticais, mudanças inexplicáveis de um tópico para outro e au-
sência de uma conexão lógica entres as partes do discurso.
37 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 37
Orientação
• Orientação: capacidade de estar orientado quanto à própria pessoa, tempo e espaço.
Na pessoa: perguntar o nome do paciente, idade, local de nascimento e o nome dos pais;
No tempo: pergunta-se ao paciente o ano, o mês, o dia do mês, da semana e a estação do ano;
No espaço: pergunta-se o número do andar ou o setor em que se encontra no momento, o
nome do local onde se encontra, a cidade, o estado e o país.
• Desorientação: síndrome frequente em quadros psicorgânicos (sendo denominada confusão
mental ou delirium), mas pode ocorrer em pacientes psicóticos.
Memória
• Memória: capacidade para acumular e reter informações percebidas – relacionada o tempo
transcorrido entre sua aquisição e o momento em que são evocadas.
a) Imediata: informações adquiridas há segundos, minutos.
Abordagem: dizer uma sequência de números ao paciente (em torno de 6–7 números) e pedir
para que ele repita em seguida – também podemos dizer 3 palavras (utilizadas para testar a memó-
ria recente – exemplos: “pente, rua, azul” ou “orangotango, quente, China”) e pedir para que ele
repita em seguida (teste de memória imediata) e memorize para que seja perguntado posterior-
mente (teste de memória recente).
Fala e Linguagem
• Linguagem: qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos
através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais;
Área de Broca: responsável pela expressão da linguagem;
Área de Wernicke: responsável pela formação da linguagem.
• Disfasia: dificuldade de compreender ou de falar em decorrência de disfunção cerebral;
38 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 38
• Avaliação da linguagem:
Fala espontânea:
- Articulação das palavras: observar se as palavras são pronunciadas de modo claro e distinto;
- Fluência: essa característica envolve a velocidade, o fluxo e a melodia da fala, além do conteúdo e
do uso das palavras;
- Parafasias palavras deformadas (“eu escrevo com uma paneta”), erradas (“eu escrevo com um
chapéu”) ou inventadas (“eu escrevo com um cristóbolo”).
Nomeação: pedir ao paciente para dizer nome de objetos comuns (relógio, mesa, caneta);
Repetição: pedir ao paciente para repetir uma frase curta, como "sem nem, mas nem porquê";
Leitura: pedir ao paciente para ler uma passagem curta em voz alta;
Escrita: pedir ao paciente para que escreva uma passagem curta.
• Avaliação da marcha:
Observar a marcha;
- Solicitar que o paciente caminhe pelo aposento ou no corredor, vire e retorne;
- Avaliar postura, o equilíbrio, o balanço dos membros superiores e os movimentos dos membros
inferiores (se o paciente estiver desequilibrado, devemos protege-lo para evitar quedas).
Marcha tandem: caminhar com um pé atrás do outro em linha reta;
- Pode revelar ataxia até então despercebida.
Caminhar na ponta dos pés e depois apoiado nos calcanhares.
- Testes sensíveis, respectivamente, para flexão plantar e dorsiflexão dos calcanhares, assim como
para equilíbrio;
∟Caminhar na ponta dos pés e apoiado nos calcanhares pode revelar fraqueza da musculatura dis-
tal nos membros inferiores;
∟A incapacidade de andar apoiado nos calcanhares é um teste sensível de lesão do TCE.
b) Marcha parkinsoniana: paciente anda como um bloco, enrijecido, sem o movimento au-
tomático dos braços – a cabeça permanece inclinada para a frente, e os passos são miúdos
e rápidos, dando a impressão de que o paciente “corre atrás do seu centro de gravidade” e
vai cair para a frente.
Causa: doença de Parkinson.
c) Marcha cerebelar (marcha do ébrio ou ataxia cerebelar): paciente ziguezagueia como um bê-
bado – marcha insegura, titubeante e de base alargada, com dificuldade exagerada nas viradas.
Paciente não consegue ficar na posição ortostática com os pés juntos, estejam os
olhos fechados ou abertos.
Causa: ataxia cerebelar (incoordenação de movimentos em decorrência de lesões
do cerebelo).
- Existem outros sinais de comprometimento cerebelar, tais como dismetria, nistagmo
e tremor intencional.
40 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 40
d) Marcha escarvante (pé caído): paciente com paralisia do movimento de flexão dorsal do
pé – ao tentar caminhar, toca com a ponta do pé o solo e tropeça – para evitar que isso
aconteça, ele levanta acentuadamente o membro inferior.
Paciente arrasta os pés ou levantam muito os pés, com os joelhos flexionados, e os abai-
xam com uma pancada no solo, parecendo que estão subindo degraus de uma escada.
- Esses pacientes não conseguem caminhar apoiados nos calcanhares.
Causas: lesão de nervo fibular ou ciático ou raiz de L5.
f) Marcha em tesoura: paciente avança cada membro inferior lentamente, e as coxas tendem a
cruzar uma com a outra anteriormente a cada passo – marcha rígida com passos curtos;
Os membros inferiores encontram-se enrijecidos e espásticos e permanecem semifletidos, os
pés se arrastam e as pernas se cruzam uma na frente da outra quando o paciente tenta caminhar;
O paciente parece estar caminhando na água;
Causa: manifestações espásticas da paralisia cerebral.
41 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 41
Equilíbrio Estático
• Prova de Romberg: paciente é colocado em posição ortostática, com os calcanhares unidos e
pontas dos pés separados em 30°, cabeça reta, braços ao longo do corpo na posição anatômica,
olhos fechados (para inibir a visão) por um período de 30–60s sem apoio (deve-se, no entanto,
proteger o paciente para que ele não se machuque caso caia).
É um teste proprioceptivo (observa a capacidade de o paciente de manter a posição ortostática).
Prova de Romberg negativa: ocorre apenas oscilação mínima;
Prova de Romberg positiva: paciente apresenta oscilações do corpo,
com desequilíbrio e forte tendência à queda.
- Tendência para a queda pode ser para qualquer lado e imediatamente
após interromper a visão, indicando lesão das vias de sensibilidade pro-
prioceptiva consciente (como acontece na síndrome cordonal posterior
– lesão dos funículos posteriores [fascículos grácil e cuneiforme]).
∟Na ataxia cerebelar, o paciente terá dificuldades em ficar de pé com
os pés juntos, estejam os olhos abertos ou fechados.
Coordenação Apendicular
• Coordenação: ação dos mecanismos reguladores na execução dos movimentos (por mais simples
que eles sejam) – regulam a direção, velocidade e a medida → econômicos, precisos e harmônicos.
Coordenação adequada traduz o bom funcionamento de, pelo menos, dois setores do sistema
nervoso: o cerebelo (centro coordenador) e a sensibilidade proprioceptiva (informa continuamente
ao centro coordenador as modificações de posição dos vários segmentos corporais);
Ataxia: perda de coordenação motora – pode ser cerebelar, sensorial ou mista.
• Prova índex-nariz: com o membro superior estendido lateralmente, o paciente é solicitado a to-
car a ponta do nariz com o indicador.
42 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 42
• Exame do tônus: realizado com paciente em decúbito dorsal em completo relaxamento muscular.
Inspeção: observar a posição dos membros (em flexão nas hemiplegias) e o contato das massas
musculares com o leito/maca;
Palpação: identificar se os músculos estão flácidos demais (hipotonia), normais, ou hipertônicos;
- Normalmente aumentada nas lesões motoras centrais e diminuída nas periféricas.
Movimentos passivos: realizar movimentos naturais de flexão e ex-
tensão nos membros com o objetivo de procurar por resistência (tônus
aumentado) ou resistência abaixo do normal (tônus diminuído) – tam-
bém procurar se existe ou não exagero no grau de extensibilidade da fi-
bra muscular.
- Exemplo: há diminuição do tônus quando a flexão da perna sobre a
coxa faz com que o calcanhar toque facilmente a região glútea.
Balanço passivo: o examinador, com as suas duas mãos, segura e balança o antebraço do paci-
ente, observando se a mão se movimenta de forma normal, exagerada (na hipotonia) ou diminuída
(na hipertonia) – manobra também pode ser aplicada nos membros inferiores.
Movimentos Involuntários
• Extrapiramidais:
Movimentos atetóticos: mais lentos, sinuosos, frequentemente contí-
nuos, acometendo predominantemente extremidades distais (uni ou bilate-
ralmente), com contorção dos membros, hiperextensão e flexão dos dedos;
- Pode ocorrer simultaneamente à coreia (coreoatetose);
- Causas: anormalidades dos núcleos da base.
Movimentos coreicos: início abrupto, amplos, desordenados, rápidos e arrítmi-
cos – localizados na face ou nos membros;
- Paciente tende a esconder os movimentos anormais segurando os próprios membros;
- Causas: hereditária (coreia de Huntington), febre reumática (coreia de Sydenham).
Movimentos distônicos: lentos, com contrações musculares muito vigorosas, de
longa duração e que podem acometer grupos musculares isolados, um segmento cor-
poral ou grandes extensões corporais.
• Fasciculações: contrações breves, arrítmicas e limitadas a um feixe muscular – pode ser visível
sob a pele ou detectada mais profundamente com eletromiografia.
Em indivíduos normais podem ser espontâneas (ocasional), após exercício (fadiga), tensão, ansi-
edade, uso de café e cigarro;
Causas patológicas: síndrome do neurônio inferior, tétano, tireotoxicose.
b) Tremor postural: ocorre quando existe a manutenção voluntária de uma posição contra a gravi-
dade (testa-se com os braços estendidos em frente ao corpo).
Desaparece quando os músculos estão relaxados;
Tremores essenciais: condição esporádica com movimentos bilaterais,
de alta frequência dos membros superiores que ocorrem com o movi-
mento dos dois membros e a postura sustentada – tremores da cabeça,
da voz e dos membros inferiores também podem ocorrer.
Exame da adução dos dedos: peça ao paciente para segurar seu segundo e ter-
ceiro dedos e apertá-los o mais forte que puder.
- Importante que o examinador faça com as mãos cruzadas para evitar que a mão
do paciente fique levemente pronada;
- Teste de adução dos dedos pelo nervo mediano das raízes C7-T1.
Exame da abdução dos dedos: peça ao paciente para estender a mão com a
palma voltada para baixo e abrir os dedos o máximo que puder – diga para resistir
à sua tentativa de unir os dedos.
- Teste de abdução dos dedos pelo nervo ulnar das raízes C8-T1.
49 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 49
Teste do movimento de pinça: paciente é orientado a realizar uma pinça com o pole-
gar e o indicador enquanto o examinador tenta desfazer a pinça.
- Teste de abdução do polegar pelo nervo mediano das raízes C8-T1.
Exame da abdução do quadril: coloque suas mãos nas margens laterais dos joe-
lhos do paciente. Peça a ele que abra os membros inferiores contra sua resistência.
- Teste de adução dos quadris pelo nervo glúteo superior das raízes L4-S1.
Exame da flexão dorsal do hálux: coloque sua mão sobre a face dorsal do hálux do
paciente – peça a ele para fazer a flexão dorsal do hálux contra sua resistência.
- Teste de flexão dorsal do hálux pelo nervo fibular profundo das raízes L4-S1.
Exame da Flexão Plantar do hálux: coloque sua mão na superfície plantar do hálux
do paciente – peça a ele para fazer a flexão plantar do hálux contra sua resistência.
- Teste de flexão plantar do hálux pelo nervo tibial posterior, das raízes L5 a S2.
50 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 50
Reflexos Miotáticos
• Há uma variação individual na resposta reflexa (somente com experiência o
examinador será capaz de fazer uma avaliação adequada dos reflexos normais);
• Os reflexos são avaliados por meio de uma graduação em escala, que varia de
“zero a 4+ cruzes” (conforme o gráfico ao lado).
• Reflexos da face:
a) Reflexo glabelar: percutir a glabela (região entre a base do nariz e os olhos).
Via do reflexo: nervo intermédio (aferente), nervo facial (eferente).
Resposta: contração bilateral do orbicular do olho com oclusão da rima palpebral;
Alterações: hiperativo nas lesões supranucleares bilateralmente (síndrome par-
kinsoniana, alterações pseudobulbares, quadros demencial).
b) Reflexo orbicular dos lábios: percussão no lábio superior na linha média, pode
ser feito com o martelo de reflexo ou o dedo médio do examinador.
Via do reflexo: nervo trigêmeo (aferente), nervo facial (eferente);
Resposta: contração da musculatura perioral com discreta protrusão dos lábios.
Alterações: normalmente existe discreta ou nenhuma resposta – hiperativo em
lesões cerebrais difusas.
*Observação: mulheres que não são nulíparas podem não apresentar o reflexo de-
vido à distensão dos músculos abdominais durante a gestação.
• Modalidades sensoriais:
Exteroceptivas: tato e pressão, dor, temperatura.
Proprioceptivas: sensibilidade vibratória (palestesia), sensibilidade cinético-postural.
• Avaliação da sensibilidade:
a) Tátil-algésica: avaliação entre hemicorpos (membros inferiores e superiores – no
sentido distal-proximal), nível entre metâmeros e discriminação entre estímulo tátil-
algésico usando agulha.
Tato: pode ser testado com um pedaço de algodão – o estímulo não deve ser sufici-
entemente pesado para produzir pressão sobre os tecidos subcutâneos.
Algesia: estimulação dos pés e mãos com uma agulha, ora com a ponta (estímulo
semi-algésico), ora com a base (estímulo tátil), de modo aleatório e com o indivíduo
com os olhos fechados.
c) Térmica: uso de dois tubos de ensaio ou copos com água quente e fria, ou
até mesmo objetos com diferentes condutâncias térmicas – ou o cabo do
martelo (frio) e cabo de caneta esferográfica de material plástico ('quente').
Membros superiores: dorso das mãos (10x); toque com ambas alternativas
Membros inferiores: dorso dos pés (10x). de modo aleatório
54 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 54
*Importante: antes de iniciar o teste, explique ao paciente o que será realizado – exemplo: “com o
polegar assim (estendido) está para cima e, assim (flexionado) está para baixo.
Sensibilidade – Gnosias
• Gnosia: função que permite a pessoa interpretar estímulos previamente aprendidos que vêm do
exterior (p.e. objetos, pessoas, lugares) através dos órgãos dos sentidos.
• Tipos de gnosias:
Tátil (ou estereognosia): reconhecimento de objetos comuns pelo tato da mão;
Visual: reconhecimento de imagens e objetos pela visão;
Auditiva: reconhecimento de sons familiares;
Somatognosia: reconhecimento das diferentes partes do corpo.
• Tipos de agnosias:
a) Asterognosia (agnosia tátil): incapacidade de reconhecer os objetos pelo tato.
Causas: lesões do córtex parietal contralateral;
Exame: pedimos que o paciente feche os olhos e damos objetos de uso comum (p.e. caneta,
chave, papel) para que ele os identifiquem.
b) Agnosia visual: incapacidade de reconhecer objetos, pessoas, cores e símbolos gráficos, sob o
controle visual e na ausência de déficit significativo da visão.
Paciente pode ver o objeto que lhe é apresentado, mas não identifica seu significado;
É incapaz de nomeá-lo e não se lembra de tê-lo visto antes, porém consegue nomeá-lo ou em-
pregá-lo corretamente quando o examina através de outro canal sensorial, como o tato.
Causa: lesão das áreas corticais de associação do lobo occipital.
Exame: pedimos que o paciente identifique objetos e cores.
c) Agnosia auditiva: incapacidade de reconhecer os distinguir vários sons que tenha ouvido, em-
bora a audição não esteja prejudicada.
Surdez verbal: dificuldade ou impossibilidade de compreensão da palavra e agnosia dos sons.
- Paciente pode não compreender a linguagem verbal, assim como também pode não identificar
sons não-linguísticos (p.e. animais, sinos);
- Fala espontânea, a leitura e a escrita são normais (diagnóstico diferencial de Wernicke);
- Exame: apresenta-se sons comuns (p.e. de animais, chuva etc.) e pedimos para que o paciente os
descrava – também podemos ditar algumas palavras e pedir para que o paciente as transcreva;
- Causa: lesão das áreas secundárias do córtex auditivo do lobo temporal do hemisfério dominante.
Agnosia musical ou amusia: disfunção que compromete o processamento musical, embora tam-
bém possa englobar a memória e o reconhecimento musical.
- Pacientes com incapacidade para reconhecer um determinado tom de uma música ou percebem
inadequadamente as notas de uma melodia conhecida e são geralmente pessoas desinteressadas
por música e que habitualmente argumentam "não perceber nada de música".
- Causa: lesões no hemisfério cerebral direito.
Praxia
• Praxia: caracterizam-se como funções neuropsicológicas complexas que correspondem a sistemas
de movimentos coordenados em função de um resultado ou intenção.
• Principais tipos de práxis:
Praxia ideativa: execução de atos que têm relação com o próprio corpo.
- Solicita-se ao paciente que use/simule o uso de objetos como pente, escova de dente etc.;
- Realização de atos complexos com objetos (p.e. colocar água no copo).
Praxia ideomotora: solicita-se ao paciente executar gestos de significação simbólica tradicional
(p.e. chamar alguém com a mão, gesto de despedida, fazer positivo e negativo com o polegar etc.).
Praxia construtiva: solicita-se ao paciente para desenhar uma casa, uma árvore, uma circunfe-
rência, um quadrado.
• Principais apraxias:
Apraxia ideativa: caracterizada pelo distúrbio da representação mental do ato a ser cumprido e
manifesta-se pela utilização defeituosa dos objetos – agnosia da utilização dos objetos.
- Paciente mostra-se incapaz de executar a sucessão lógica e harmônica dos diferentes gestos que
compõem o ato complexo.
- Causa: lesão do lobo parietal do hemisfério dominante.
Nervos Cranianos
• Observe na tabela abaixo as funções dos nervos cranianos:
*Importante: uma visão de 20/200 significa que a 20 pés (6 metros) de distância a pessoa consegue
ler letras impressas que alguém com visão normal poderia ler a 200 pés (60 metros).
b) Campos visuais: examinam-se os campos visuais do paciente para determinar a localização dos
déficits visuais na via óptica (conforme a imagem abaixo).
Exame: confrontação visual
- Olhos do paciente e examinador na mesma altura;
- Manter a ±60cm de distância;
- Testa-se um olho de cada vez (manter o outro aberto, ta-
pado com a mão);
- Pedir para que o paciente fixe o olhar (nariz, olho ou pál-
pebra inferior do examinador);
- Mostrar um objeto ou dedo do examinador nos 4 campos
de fora para dentro até que o paciente identifique o objeto.
• Causas de anisocoria:
Síndrome de Claude Bernard-Horner: decorre de lesão do simpático cervical (traumatismo, tu-
mor do ápice pulmonar, pós-cirurgia cervical).
- Caracterizada pela tríade: miose, enoftalmia (retração anormal
do olho em relação à órbita – devido à paralisia do músculo de
Müller) e diminuição da fenda palpebral (ptose incompleta);
- Outros achados: reflexo fotomotor preservado, além de vasodila-
tação e anidrose da hemiface ipsilateral à lesão e na conjuntiva.
Nervos Oculomotor (NC III), Troclear (NC IV) e Abducente (NC VI)
• A associação dos nervos cranianos oculomotor, troclear e abducente são responsáveis pela movi-
mentação dos olhos – motricidade ocular extrínseca.
• Avaliação palpebral:
Ptose: paralisia do elevador superior das pálpebras (NC III);
Pseudoptose (ptose incompleta): indivíduo consegue elevar a pálpebra
por esforço voluntário – ocorre na paralisia do simpático.
*Importante: sacadas visuais – são os movimentos oculares rápidos que podem ocorrer de maneira
involuntária (sacada reflexa) ou voluntária – utiliza os NCs III, IV e VI para posicionar a fóvea a um
alvo específico e transmitir a visão (NC II).
- Alterações de sua precisão, ou seja, a incapacidade de acertar no alvo, sugere doença cerebelar
(são as chamadas sacadas hipométricas ou hipermétricas);
- Alterações na velocidade podem resultar de paresias.
61 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 61
*Nistagmos: trata-se de uma oscilação involuntária, ou um tremor, do globo ocular – pode ser rít-
mico ou não-rítmico, pode ser horizontal ou vertical, pendular ou circular.
- Observa-se nistagmo nas doenças cerebelares, especialmente em associação a ataxia da marcha e
disartria (acentuação com a fixação retiniana), nos transtornos vestibulares (diminui com a fixação
retiniana) e na oftalmoplegia internuclear;
- A presença de nistagmo pode ser verificada no exame de movimento dos olhos.
c) Nervo abducente (NC VI): nervo intracraniano mais longo – inerva o músculo reto lateral.
Lesões do NC VI: olho desviado para dentro (estrabismo convergente) – causa mais comum de
diplopia (visão dupla).
Causas: traumatismo cranioencefálico, meningites, DM, aneurisma.
62 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 62
• Neuralgia do trigêmeo (tique doloso): ocorrência de dor angustiante (“em facada”) que dura ape-
nas segundos e é localizada na distribuição das divisões maxilar ou mandibular (mais comuns).
Frequentemente é provocada por movimento, toque, alimentação ou temperaturas frias;
Causas: schwannoma no NC V, compressão por meningioma ou aneurisma, esclerose múltipla.
63 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 63
b) Paralisia facial periférica (paralisia de Bell): lesão nuclear (no núcleo motor do nervo facial) ou
no próprio nervo.
Causas: idiopática, viral, diabetes, trauma do nervo.
Paralisia homolateral à lesão que atinge toda a hemiface.
- Causa incapacidade de enrugar a testa e fechar o olho da região afetada (também resulta em res-
secamento da córnea → danos oculares), além de queda do canto da boca (incapacidade de sorrir).
b) Surdez de percepção/neurossensorial: quando existe uma lesão no ouvido ou nas vias e centros
nervosos → afetam a capacidade de descodificação do som.
Causas: lesões do ouvido interno (traumatismo do nervo coclear, neuroma acústico, meningi-
oma ângulo ponto-cerebelar).
Síndromes Motoras
• As síndromes motoras consistem em:
Alterações do movimento voluntário;
- Síndrome do neurônio motor superior;
- Síndrome do neurônio motor inferior.
Alterações do movimento involuntário;
- Síndromes hipercinéticas;
- Síndrome parkinsoniana.
• Causas principais: poliomielite, esclerose lateral amiotrófica (ELA), amiotrofia espinal progressiva,
siringomielia, polineuropatia periférica, mononeuropatia e neuropatia múltipla.
Diagnóstico diferencial: radiculopatia (acometimento da raiz nervosa por compressão da raiz
nervosa ou inflamação) e lesão do nervo periférico.
• Manifestações clínicas:
Fraqueza muscular devido à paresia (paralisia incompleta ou diminuição da
motricidade) ou plegia (paralisia total) – depende do grau de acometimento;
Redução do trofismo da região afetada → atrofia muscular;
Bloqueio do arco-reflexo miotático → arreflexia ou atonia;
Desaferentação das fibras motoras → fasciculações.
68 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 68
*Importante: a síndrome do neurônio motor superior é caracterizada por paralisia espástica (parali-
sia com hipertonia e hiperreflexia), havendo discreta atrofia muscular.
• Manifestações clínicas:
a) Sinais de supressão (déficits funcionais primários ou sinais negativos): decorrem diretamente à
perda de uma estrutura nervosa.
Paresia ou plegia – ocorre de maneira lateralizada e acomete globalmente os membros (afeta o
movimento voluntário) → perda ou diminuição da motricidade;
Diminuição ou abolição dos reflexos cutâneo-abdominais (definitiva ou transitória);
Atrofia muscular (afeta globalmente o segmento paralisado) devido ao tempo em desuso.
b) Sinais de liberação (efeitos secundários ou sinais positivos): surgem a partir de outras estrutu-
ras, inibidas pelo centro nervoso que foi perdido.
Sincinesias;
Sinal de Babinski;
Liberação de respostas reflexas primitivas;
Hiperreflexia;
Espasticidade (hipertonia).
- Eletiva: tem predomínio nos extensores dos membros inferio-
res e flexores dos membros superiores e atinge globalmente os
músculos → paciente adota posição antigravitacional;
- Elástica: possui retorno à posição inicial de um segmento do corpo (antebraço, por exemplo) no
qual se interrompeu o movimento passivo de extensão;
- Sinal do canivete: possui resistência inicial, porém uma vez vencida esta resistência inicial, o movi-
mento fica fácil, quase espontâneo, até a flexão total do mesmo (conforme a imagem abaixo).
69 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 69
Síndromes Hipercinéticas
• Síndromes hipercinéticas: constituem-se de sinais de liberação → movimentos involuntários
anormais (atetose, distonia, balismo, coreias).
Topografia de lesão: conexão entre o núcleo subtalâmico de Luys e o tálamo.
Síndromes Medulares
• Transecção completa da medula espinal: causa abolição imediata de todos os ti-
pos de sensibilidade (tanto superficial quanto profunda) e da motricidade voluntária
abaixo do nível da lesão.
Síndromes Sensitivas
• Anormalidades sensitivas são classificadas de acordo com a qualidade da alteração e a distribui-
ção da alteração.
a) Qualidade da alteração:
Aumento: hiperalgesia ou hiperestesia;
Redução ou perda: hipoestesia ou anestesia;
Perversão: sensação fantasma, parestesia (sensação percebida na ausência de estímulos), dises-
tesia (má interpretação – p.e. sensação dolorosa quando o estimulo é tátil).
b3) Radiculopatia: lesão de uma única raiz nervosa que resulta em distribuição
da alteração sensitiva em faixas que representam os dermátomos (conforme a
imagem ao lado) – lesão de várias raízes nervosas → multirradiculopatia.
Causa mais comum: compressão por hérnia de disco intervertebral.
- Outras causas (menos comuns): infecções e tumores.
72 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 72
Endocrinologia
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Sistema endócrino: rede integrada de múltiplos órgãos de diferentes origens embriológicas, que
liberam hormônios variando desde pequenos peptídeos até glicoproteínas.
Trabalha com o sistema nervoso para regular as funções fisiológicas (regulação neuroendócrina);
Mantém o balanço normal do organismo (homeostase) em resposta às mudanças ambientais.
• Mecanismo de feedback:
Manutenção relativamente constante de hormônios na circulação (condição fisiológica normal);
- Aumento da concentração hormonal → inibição da produção hormonal;
- Diminuição da concentração hormonal → aumento (estímulo) da produção hormonal.
b) Letargia, fadiga:
Perguntar ao paciente como o cansaço tem afetado as suas atividades diárias;
- O que ele consegue realizar antes de precisar descansar? Isso tem se alterado?
Associações endocrinológicas: diabetes melito não-diagnosticada, síndrome de Cushing, doença
de Addison, hipotireoidismo, hipercalcemia;
Outras associações: considerar depressão e doenças crônicas (p.e. anemia, problemas hepáticos
e renais crônicos, infecções crônicas, cânceres).
c) Hábitos intestinais:
Constipação: comum em hipercalcemia e hipotireoidismo;
Diarreia: pode estar presente em hipertireoidismo e doença de Addison.
e) Sede e polidipsia:
Considerar diabetes melito, diabetes insipido e hipercalcemia.
f) Suor:
Episódios de transpiração aumentada podem ocorrer durantes episódios de hipoglicemia, assim
como no hipertireoidismo e acromegalia.
g) Pigmentação:
Hiperpigmentação: DM, doença de Addison, síndrome de Cushing;
Hipopigmentação: hipopituitarismo (ocorre de maneira generalizada).
i) Distribuição de pelos:
Hirsutismo (excesso de pelos) em mulheres: ovário policístico, síndrome de Cushing, hiperplasia
adrenal congênita, acromegalia e tumores virilizantes (adrenais, ovários);
Perda de pelo axilar e púbico (homens e mulheres): hipogonadismo, insuficiência adrenal.
j) Alterações visuais:
Tumor de hipófise: compressão do quiasma ótico – hemianopsia bitemporal;
Hiperglicemia: visão borrada.
k) Alterações no crescimento:
Baixa estatura: hipopituitarismo, hipotireoidismo, deficiência de hormônio do crescimento, ex-
cesso de esteroides;
Elevada estatura: excesso de hormônio do crescimento, deficiência de gonadotrofina;
Acromegalia (excesso de hormônio do crescimento em adultos): pacientes podem relatar au-
mento no tamanho do calçado, luvas ou até mesmo alterações da aparência facial.
Hipotálamo e Hipófise
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Eixo hipotálamo-hipófise: interface entre o sistema nervoso
central e o sistema endócrino.
Controle da função de várias glândulas endócrinas e de vários
processos fisiológicos;
O sistema nervoso regula o sistema endócrino, e a atividade
endócrina modula o SNC.
• Funções hormonais:
a) GH: crescimento (efeito sobre o metabolismo e a proliferação de cartilagem);
b) PRL: induz e mantem a lactação, reduzindo a função reprodutiva e suprimindo o impulso sexual;
c) ACTH: induz esteroidogênese adrenocortical ao sustentar a proliferação e função das células su-
prarrenais – produção de glicocorticoides;
d1) FSH e LH (♀) – respectivamente:
Regula o desenvolvimento dos folículos ovarianos e estimula a produção ovariana de estrogênio;
Faz a mediação da ovulação e manutenção do corpo lúteo.
d2) FSH e LH (♂) – respectivamente:
Estimula o desenvolvimento dos túbulos seminíferos e regula a espermatogênese;
Induz à síntese e secreção de testosterona pelas células de Leydig.
76 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 76
*Importante: conhecer os eixos hormonais e suas funções no organismo é fundamental para deter-
minarmos distúrbios de hipofunção ou hiperfunção hipofisária.
77 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 77
Neoplasias Hipofisárias
• Neoplasias hipofisárias: geralmente são de evolução lenta.
Manifestações neurológicas por compressão:
- Tonturas, cefaleia, alterações do campo visual (conforme a
imagem ao lado), ptose palpebral e distúrbios de motilidade ocular.
Também podem manifestar distúrbios endocrinológicos (hiper-
função ou hipofunção hipofisária) devido à compressão.
Gigantismo e Acromegalia
• Gigantismo: resulta do aumento da produção de GH antes do fechamento da
cartilagem de crescimento → alta estatura.
Crescimento exagerado, porém harmônico, sem sinais clínicos característicos.
Anamnese:
- Mudanças na aparência – perguntar se há
fotos antigas (verificar mudanças ao longo
do tempo – exemplo: veja as fotos ao lado);
- Cefaleia, diplopia (visão dupla);
- Crescimento das extremidades (mãos, pés);
- Alteração da tonalidade da voz (torna-se mais grave);
- Suor, cansaço, ganho de peso;
- Artralgia, fraqueza, dormência, parestesia;
- Neuropatias de compressão, neuropatia periférica, miopatia;
- Disfunção erétil, dismenorreia (‘cólica menstrual’), galactorreia;
- Presença ou aumento de ronco ao dormir (perguntar se o(a) parceiro(a) notou diferença);
- Poliúria, polidipsia;
- Alteração do número do calçado, luvas.
Exame físico:
- Traços faciais apresentam, em geral, um aspecto grosseiro;
- Face alongada e alargada – prognatismo mandibular/mal oclusão;
- Afastamento dos dentes e espessamento dos lábios;
- Aumento dos seios frontais;
- Dedos grossos (partes moles);
- Pés grandes, com dedos grossos e pele espessada.
79 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 79
Síndromes Hiperprolactinêmicas
• Síndromes hiperprolactinêmicas: ação direta da PRL sobre as mamas e à ini-
bição da produção de FSH, LH, progesterona e testosterona.
Geralmente ocorrem por neoplasias hipofisárias.
- Prolactinoma: tumor secretor mais frequente (dos tumores encontrados
em necropsia [10,9%], cerca de 44% são prolactinomas).
• Quadro clínico:
Homens: hipogonadismo, diminuição da libido, disfunção erétil, inferti-
lidade, ginecomastia, galactorreia, cefaleia, sintomas visuais;
Mulheres: amenorreia, galactorreia (produção de leite por mulheres
que não são puérperas), infertilidade, diminuição de massa óssea, dispa-
reunia (dor e incomodo durante a relação sexual).
• Diagnóstico diferencial:
Medicamentos:
- Antidepressivos, antipsicóticos (risperidona), metoclopramida, opiáceos, bloqueadores H2;
Insuficiência renal crônica;
Doenças hepáticas;
Hipotireoidismo primário;
Doenças da parede do tórax, herpes, manipulação de mamilo.
Deficiência de ACTH:
- Fraqueza/cansaço;
- Tonturas ao levantar;
- Palidez da pele;
- Perda de peso, hipoglicemia.
Deficiência de TSH:
- Diminuição de energia;
- Constipação;
- Pele seca, intolerância ao frio;
- Aumento de peso.
80 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 80
Tireoide
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Glândula tireoide: estrutura única, mediana, situada
na porção anterior do pescoço, na altura da 5ª à 7ª ver-
tebra cervical, possui forma de "H".
Localizada acima da incisura supraesternal;
Istmo da glândula tireoide vai do segundo ao quarto
anéis traqueais, logo abaixo da cartilagem cricoide;
Os lobos laterais dessa glândula curvam-se para
trás, circundando as partes laterais da traqueia e do
esôfago; cada lobo tem aproximadamente entre 4–5cm de comprimento.
*Curiosidade: a capitação de iodo pela tireoide associada à técnica de cintilografia é utilizada para
avaliar visualmente o funcionamento da glândula como um todo e dos nódulos (caso presentes).
Exame Clínico
Anamnese
• Doenças tireoidianas são mais frequentes em mulheres;
• Naturalidade e procedência – verificar se a região é de bócio endêmico;
• Profissão – verificar se há manipulação de materiais com iodo;
• Uso de medicamentos (substâncias iodadas, medicamentos cardiológicos → amiodarona, propra-
nolol, carbonato de lítio).
Exame Físico
• Inspeção:
Inclinar a cabeça do paciente para trás e inspecionar a região abaixo da cartilagem cricoide;
Observar a região da tireoide;
- Tireoide normal não é normalmente visível (exceto em indivíduos muito magros).
Se a glândula estiver aumentada, podemos observar seu movimento quando o paciente realizar
uma deglutição.
*Importante: não confundir adiposidade cervical (não se desloca à deglutição) com bócio (desloca).
83 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 83
*Importante: uma vez que pode haver tontura e síncope devido à congestão venosa, é sugerível
realizar a manobra de Pemberton com o paciente sentado.
• Ausculta da glândula tireoide: se a glândula tireoide estiver aumentada de tamanho, ausculte so-
bre os seus lobos laterais com o estetoscópio, para detectar um sopro, um som semelhante ao so-
pro cardíaco, porém de origem extracardíaca.
84 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 84
Hipertireoidismo
• Hipertireoidismo: síndrome clínica, fisiológica e bioquímica, que surge quando os tecidos ficam
expostos a quantidades excessivas de T3 e T4 devido à supressão do TSH.
Clínico: TSH <0,4mU/L + níveis aumentados de T3 e T4;
Subclínico: TSH <0,4mU/L + níveis normais de T3 e T4.
*Importante: atentar-se aos sintomas tireoidianos, pois alguns são comumente confundidos com
distúrbios da afetividade.
• Exame físico:
Presença de bócio;
Taquicardia de repouso, alterações
na ausculta cardíaca;
Tremor fino;
Pele quente e úmida;
Reflexos vivos e aumentados;
Ginecomastia;
Alterações oculares: exoftalmia,
quemose, edema periorbital → co-
muns na doença de Graves;
Sopro, frêmito, onicólise
(unhas de Plummer)
e mixedema → comuns na doença de
Graves.
85 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 85
Hipotireoidismo
• Hipotireoidismo primário: responsável por aproximadamente 99% dos casos – deficiência na pro-
dução hormonal devido à defeito na tireoide – possui início insidioso.
Causas mais comuns: tireoidite de Hashimoto (70%), pós-cirúrgico ou pós-irradiação, induzido
por drogas (p.e. amiodarona, interferon-α, tionamidas, dopamina, lítio), deficiência de iodo.
• Hipotireoidismo secundário (ou central): deficiência na produção hormonal por falta de estímulo
da tireoide pelo TSH – pode ser congênito ou adquirido.
Causas: tumores hipofisários, metástases, hemorragia, cirurgia, trauma, tumores cerebrais, alte-
rações congênitas, defeitos na liberação de TSH ou TRH.
• Quadro clínico:
Ganho de peso;
Fraqueza, cansaço;
Intolerância ao frio, diminuição da sudorese, pele seca;
Artralgia, mialgia, parestesias (formigamento, dormência);
Rouquidão, voz arrastada;
Desânimo, dificuldade de raciocínio, depressão;
Diminuição de libido;
Constipação (fezes secas e endurecidas – pode evoluir para fecaloma).
• Exame físico:
Obesidade leve;
Movimentos lentos;
Pele e cabelos grossos, secos,
sem brilho e quebradiços;
Pele fria;
Unhas frágeis;
Edema palpebral;
Perda do ⅓ externo sobrancelha (madarose);
Fácies mixedematosa;
Espessamento da língua;
Bradicardia, pulso lento;
Aumento do volume muscular (pseudo-hipertrofia);
Lentidão dos reflexos profundos
(mais evidente no reflexo Aquileu);
Mucosas hipocrômicas (em decorrência da anemia – não é raro).
Bócio
• Bócio: aumento do volume da tireoide (imagens ao lado).
Classificação: difusos, nodulares ou difusos com nódulos.
- Podem ser tóxicos (com hipertireoidismo) ou atóxicos (não-tóxicos);
- Nódulos podem levar à mutação somática do receptor de TSH e le-
varem à produção autônoma de hormônios tireoidianos.
• Quadro clínico:
Tempo de percepção;
Crescimento rápido;
Associação com outros sintomas de hipotireoidismo ou hipertireoidismo;
Sintomas compressivos: disfagia, disfonia, tosse;
História familiar de doenças da tireoide.
• Exame físico:
Delimitação do bócio;
Características: consistência e superfície;
Frêmito ou sopro;
Pesquisa de bócio mergulhante (sinais de Marañón e Pemberton).
• Bócio difuso tóxico (doença de Graves): aumento global da tireoide, acompanhado de sintomato-
logia de hipertireoidismo;
Exame físico: consistência firme, elástica e com superfície lisa – pode haver presença de sopro
sistólico sobre a glândula e frêmito (devido à hipervascularização e hipercinesia cardiovascular).
• Bócio uninodular tóxico (doença de Plummer): nódulo único acompanhado de sinais e sintomas
de hipertireoidismo – normalmente há mutação somática do receptor de TSH;
Exame físico: não há frêmito nem sopro sobre a tireoide.
• Bócio multinodular (tóxico ou atóxico): presença de dois ou mais nódulos na tireoide – são, em
geral, bócios de longa evolução, com consistência variável (firme, elástica ou endurecida).
Exame físico: limites nodulares são imprecisos e podem mergulhar atrás da fúrcula esternal, em
direção ao mediastino → bócio mergulhante.
Tireoidites
• Tireoidite: caracterizadas pela presença de reação inflamatória da glândula tireoide decorrente
de diversas etiologias.
• Tireoidite granulomatosa subaguda (ou viral, ou De Quervain): causada por vírus (p.e. infecções
respiratórias prévias) – tem maior incidência nas mudanças de estações climáticas;
Sintomas: dor local intensa, irradiada para os arcos da mandíbula, acompanhada de febre, mal-
estar geral, astenia e sintomatologia de hipertireoidismo (tireotoxicose).
- Frequentemente a dor é confundida com faringite ou amigdalite.
Câncer da Tireoide
• Câncer da tireoide: é uma neoplasia maligna incomum, sendo
responsável por 1% do total de neoplasias – no entanto, constitui
a neoplasia maligna mais comum do sistema endocrinológico, res-
pondendo por aproximadamente 95% dos casos de carcinomas
desse sistema.
Em geral, apresentam evolução lenta;
5–10% dos nódulos na tireoide tornam-se neoplasias malignas;
Paratireoides
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Glândulas paratireoides: possuem o tamanho de ervilhas e
estão localizadas, normalmente, na borda posterior da glândula
tireoide (polos inferiores e superiores de cada lobo).
Formadas por uma cápsula fibrosa;
Células principais: sintetizam e secretam paratormônio (PTH).
• Manifestações clínicas:
80% dos indivíduos são assintomáticos;
Nefrolitíase (15%) e alterações renais (diminuição da função renal, alteração tubular);
Doença óssea (osteíte fibrosa cística);
- Sintoma: dor óssea;
- Radiografia: presença de tumores marrons, cistos;
- Outros achados: reabsorção sub-perióstea, diminuição da massa mineral óssea (cortical), fraturas.
Manifestações neuromusculares: fraqueza muscular e fadiga;
Manifestações neuropsiquiátricas: depressão, letargia, labilidade emocional, ansiedade, compor-
tamento psicótico e disfunção cognitiva.
89 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 89
Hipoparatireoidismo
• Hipoparatireoidismo: condição clínica caracterizada por secreção ou ação deficiente do PTH.
Presença de cálcio sérico e PTH reduzidos → hipocalcemia;
Causas:
a) Destruição/remoção das paratireoides: pós-cirurgia, autoimune (isolado, combinado), irradiação;
b) Diminuição funcional transitória paratireoides: hipomagnesemia grave;
c) Causas genéticas de alterações da secreção PTH: mutações do gene do PTH;
d) Resistência à ação do PTH:
- Pseudo-hipoparatireoidismo: hipoparatireoidismo com níveis Ca2+ reduzido e PTH normal/elevado;
- Pseudo-pseudo-hipoparatireoidismo: hipoparatireoidismo com níveis de Ca2+ e PTH normais.
• Manifestações clínicas:
Tetania – parestesias em extremidades e região perioral e até espasmos musculares, mialgia, la-
ringospasmo e convulsões;
Hipotensão, bradicardia;
Prolongamento do intervalo QT;
Distúrbios extrapiramidais (parkinsonismo, distúrbios do movimento, demência);
Catarata;
Instabilidade emocional, irritabilidade, ansiedade, depressão;
Pele seca, frágil, áreas de alopecia.
• Exame físico: sinais de Trousseau e Chvostek são de extrema importância no diagnóstico – tradu-
zem irritabilidade neuromuscular por tetania latente devido à hipocalcemia.
Sinal de Trousseau (espasmo corpopodal): em caso de hipocalcemia,
haverá manifestação de “mão de parteiro” – flexão do punho,
extensão das articulações interfalangianas e adução do polegar.
- Manter o manguito insuflado acima de 20mmHg da pressão sistólica
do paciente por 3 minutos.
Sinal de Chvostek: em caso de hipocalcemia, haverá contração da
musculatura da face e do lábio superior no lado em que se fez a percussão.
- Percutir o nervo facial, adiante do pavilhão auditivo.
• Manifestações clínicas:
Baixa estatura;
Face arredondada, pescoço curto;
Obesidade;
Braquidactilia (encurtamento dos 4º e 5º metacarpos);
Calcificações subcutâneas.
90 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 90
Osteomalácia e Raquitismo
• Osteomalácia e raquitismo: doenças da mineralização da matriz óssea.
Deficiência de vitamina D e deficiência de fósforo.
Achados de imagem:
- Descrição de osteopenia;
- Fraturas;
- Vértebras: espinha de peixe – discos alargados e bicôncavos;
- Linhas de Looser – pseudofraturas.
Osteoporose
• Osteoporose: doença inicialmente silenciosa, que se caracteriza pela dimi-
nuição da massa óssea e pela deterioração da microarquitetura do tecido ós-
seo, levando ao aumento da fragilidade óssea e a um maior risco de fraturas.
Doença metabólica óssea mais comum do adulto;
Maior prevalência em mulheres caucasianas e de idade avançada (pós-menopausa).
• Classificação:
1) Osteoporose primária:
Pós-menopáusica: perda de estrógeno, afeta principalmente o osso trabecular,
fraturas de punho e vértebras (compressão);
Senil: diminuição da formação, osso cortical e trabecular, fraturas de quadril e úmero proximal.
2) Osteoporose secundária:
Causas:
- Medicações, doenças reumáticas, insuficiência renal crônica, desnutrição;
- Doenças endócrinas: hipercortisolismo, hipertireoidismo, hipogonadismo, hiperparatireoidismo;
- Neoplasias do sistema hematopoiético: mieloma múltiplo, linfoma/leucemia;
- Doenças gastrintestinais: doenças inflamatórias intestinais, doença celíaca, cirrose biliar primária,
pós-gastrectomia.
• Diagnóstico de osteoporose:
Anamnese:
- Sem sintomas;
- Histórico de fraturas, dor (fraturas);
- Fraturas espontâneas ao mínimo trauma;
- Queixas relacionados à doença de base;
- Medicações em uso.
Exame físico:
- Sem alterações;
- Achados relacionados à doença de base com ou sem deformidades relacionadas;
- Cifose, fratura de fêmur, fratura de Colles (de punho), achatamento de vértebras.
92 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 92
Suprarrenais
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Glândulas suprarrenais (adrenais): localizam-se nos polos superiores dos rins.
Glândula dividida em:
- Córtex: zonas glomerulosa (produção de mineralocorticoides – aldosterona), fasciculada (síntese
de glicocorticoides – cortisol e corticosterona) e reticulada (produção de esteroides sexuais – DHEA,
DHEA-sulfato e androstenediona);
- Medula: secreção de catecolaminas (epinefrina, norepinefrina).
• Funções hormonais:
a) Aldosterona: possui ação renal – regulação do balanço eletrolítico (sódio e potássio);
b) Cortisol: possui efeitos sobre o metabolismo, hemodinâmica, funções imunológicas e SNC;
c) Esteroides sexuais: têm, em sua maioria, ação androgênica.
• Classificação de IS crônica:
Primária: destruição do córtex suprarrenal (chamada doença de Addison);
- Deficiência de cortisol, de aldosterona e de androgênios;
- Causas: autoimune, doenças infecciosas (TB, paracoccidioidomicose, histoplamose, AIDS), tumores
metastáticos, linfoma.
Sinais:
- Emagrecimento;
- Hiperpigmentação (áreas expostas, mucosa
oral, cicatrizes);
- Hipotensão postural;
- Vitiligo.
• Quadro clínico:
Mais comum em mulheres;
Manifestações clínicas mais específicas:
- Fácies pletórica (‘edemaciada’) e em lua-cheia;
∟Denominado “fácies cushingoide” – também
pode haver presença de acnes e hirsutismo.
- Fragilidade capilar e estrias violáceas (abdome,
mamas, nádegas, raiz das coxas e nos quadris);
- Miopatia proximal;
- Giba dorsal;
- Osteopenia, osteoporose.
*Importante: em crianças, ganho de peso com redução da velocidade de crescimento pode sugerir
síndrome de Cushing (ocorre supressão do GH) – manifestações clínicas clássicas podem não estar
evidentes/presentes.
• Diagnóstico diferencial:
Estados hipercortisolêmicos sem SC: intervêm sobre o eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal –
simulam o diagnóstico clínico e/ou laboratorial da síndrome de Cushing.
- Alcoolismo, síndrome dos ovários policísticos, DM descompensado, depressão grave, obesidade
mórbida.
95 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 95
• Causas de HAP:
Aldosteronomas (60%);
- Tumores pequenos <2,0 cm (25% < 1,0 cm), de superfície amarela e usualmente benignos.
Hiperplasia idiopática bilateral (35%);
Hiperplasia idiopática unilateral (2%);
Carcinoma produtor de aldosterona (<1%);
Hiperaldosteronismo familiar (<1%);
Tumor ectópico (ovário, rim) (<0,1%).
• Manifestações clínicas:
Ocorre principalmente entre a 3–6ª década de vida;
Poucos sintomas;
Hipertensão (moderada-grave, refratária ao tratamento);
Fraqueza muscular e cãibras;
Poliúria e polidipsia;
Paralisia periódica, parestesias;
Não há edema.
Feocromocitoma
• Feocromocitoma: rara neoplasia secretora de cate-
colaminas (2–8 casos por milhão/ano) que tem ori-
gem nas células cromafins da medula suprarrenal.
Quando ocorre em tecido extrassuprarrenal (em
gânglios simpáticos) é chamado paraganglioma.
• Manifestações clínicas:
Ocorre, em geral, entre a 3–5ª década de vida;
Tríade clássica do feocromocitoma: cefaleia, sudorese e palpitações;
- Presente em <50% dos pacientes adultos.
Hipertensão arterial – sinal mais comum;
- Normotensos (5–15%);
- Paroxística (30%) → palpitações, palidez, cefaleia, tremor, sudorese
(duração de 15–20min, durante dia – meses).
∟Precipitado por: ansiedade, alterações posturais, aumento da pressão intra-abdominal, medica-
ções (metoclopramida, anestésicos).
- Sustentada (>60%).
Sintomas de hipotensão postural: síncope, pré-síncope;
Outros sintomas: angina, náusea, constipação, fenômeno de Raynaud, livedo Reticularis, eritro-
citose, hiperglicemia, hipercalcemia.
Incidentaloma Suprarrenal
• Incidentaloma: qualquer lesão suprarrenal de diâmetro >1cm, descoberto incidentalmente du-
rante algum exame de imagem que foi realizado para avaliação de patologias não relacionadas à
suprarrenal – pode ser uni ou bilateral.
Adenoma suprarrenal não-funcionante é o tipo de incidentaloma mais comum (85%);
>5cm: risco de malignidade;
Deve ser realizada investigação funcional.
97 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 97
• Funções hormonais:
LH: estimula a síntese e a secreção de testosterona pelas células de Leydig, sendo contrarregu-
lado de maneira inibitória, principalmente por esse androgênio;
FSH: estimula a espermatogênese, sendo contrarregulado inibitoriamente pela inibina, secre-
tada pelas células de Sertoli.
• Puberdade normal:
Início: 9 a 13 anos
(média: 11 anos);
Pelos axilares: 14 anos;
Voz adulta: 15 anos;
Acne: 12,2 anos;
Barba lateral: estágio final;
Crescimento puberal: 28cm;
Estágios da puberdade
(estágios de Tanner).
• Anamnese
- Presença de odor androgênico;
- Acne;
- Mudança de comportamento;
- Ereções noturnas;
- Tamanho dos testículos
(orquidômetro).
98 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 98
Ovários
• Ovários: glândulas em formato de amêndoas, localizadas próximo
às paredes laterais da pelve, com aproximadamente 3cm de
comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura.
Estão situados paralelamente ao útero, posteriormente aos ligamentos
redondo e largo e abaixo das tubas uterinas;
Do nascimento à puberdade, o ovário aumenta progressivamente de tamanho;
- Lenta e constante elevação das gonadotrofinas.
Puberdade: elevação dos níveis de estrogênio (ovariano) – maior estímulo gonadotrófico;
- Rápido crescimento do útero, da vagina, das glândulas sexuais acessórias, da genitália externa, da
pelve e das mamas;
- Acelera o crescimento somático e o fechamento das cartilagens de conjugação.
• Puberdade normal:
Início: 8 a 12 anos;
Menarca: 12 anos;
Pelos axilares: 12 anos;
Crescimento após menarca: 2,5cm (1-7cm);
Crescimento puberal: 25cm;
Estágios da puberdade (estágios de Tanner).
100 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 100
• Manifestações clínicas:
Irregularidades menstruais, amenorreia, oligomenorreia, infertilidade;
Obesidade, resistência à insulina, HAS, hipercolesterolemia;
Acantose nigricans;
Hiperandrogenismo: hirsutismo (escore de Ferriman ≥8), acne, alopecia, voz grave.
Hipogonadismo Masculino
• Hipogonadismo masculino: síndrome clínica que resulta da falência da produção de testosterona
e/ou espermatozoides causada por uma alteração no eixo hipotálamo-hipófise-testículo.
Doenças hipotalâmica-hipofisárias:
- Hemocromatose, síndrome de Kallmann (ausência de hormônio hipofisário);
Doenças do testículo:
- Síndrome de Klinefelter, trauma, orquite viral, drogas, toxinas (fungicidas), doenças sistêmicas.
*Importante: quando a deficiência de testosterona ocorre antes da puberdade, ela se atrasa e é in-
completa; quando ocorre depois, algumas características puberais regridem.
Hipogonadismo Feminino
• Hipogonadismo feminino: síndrome clínica que resulta de doenças do eixo hipotálamo-hipófise e
doenças dos ovários.
Doenças hipotalâmica-hipofisárias:
- Amenorreia hipotalâmica (estresse, exercício extenuante, anorexia), hiperprolactinemia, hipotire-
oidismo, Síndrome de Kallman, traumas, tumores hipofisários.
Doenças dos ovários:
- Disgenesia gonadal (Síndrome de Turner);
- Drogas;
- Toxinas;
- Doenças sistêmicas.
102 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 102
Ginecomastia
• Ginecomastia: condição clínica muito comum, caracteriza-se pela
proliferação do tecido glandular mamário masculino com diâmetro
maior do que 0,5cm de diâmetro, retromamilar.
Ginecomastia fisiológica: possui distribuição etária trimodal,
ocorrendo em recém-nascidos, no período puberal e nos idosos.
• Causas:
Hipogonadismo masculino;
Aumento da produção de estrógeno;
- Tumores de testículos, carcinoma de pulmão, tumor adrenal.
Doença hepática;
Desnutrição;
Hipertireoidismo;
Drogas.
- Testosterona e anabólicos, gonadotrofinas, cetoconazol, espironolactona, anti-andrógenos, blo-
queadores dos canais de cálcio, inibidores ECA, omeprazol, cimetidina.
103 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 103
Metabólicas
Diabetes Melito (DM)
• Diabetes melito: grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos (têm em comum a hiperglicemia);
Pode resultar de defeitos na secreção de insulina, sua ação, ou de ambas as condições.
• Diagnóstico do DM:
Sinais e sintomas sugestivos (anamnese);
Glicose;
Teste de tolerância à glicose oral;
Hemoglobina glicada (HbA1c).
• Quadro clínico:
“4 P’s” → poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso (emagrecimento inexplicável);
Visão turva, redução acuidade visual;
Fraqueza;
Prurido genital → candidíase vaginal, balanopostite;
Disfunção erétil e diminuição da libido;
Complicações agudas (cetoacidose, síndrome hiperosmolar hiperglicêmica) e crônicas (doença
arterial coronariana, AVC, retinopatia, nefropatia, neuropatia, vasculopatia, pé diabético).
• Glicose:
Glicemia de jejum >126 mg/dL;
Glicemia 2h após 75g de glicose via oral > 200mg/dL;
Glicemia ao acaso >200mg/dL + sintomas;
HbA1c (hemoglobina glicada): nível de controle glicêmico dos
últimos 2 a 3 meses (observe a média glicêmica - tabela ao lado).
- Medida padronizada pelo método HPLC;
∟Método não disponível em todos os lugares!
- HbA1c ≥ 6,5% → diagnóstico de diabetes;
- HbA1c ≥ 5,7% → pré-diabetes
Adendo
• Hipoglicemia: estado metabólico caracterizado por níveis de glicose plasmática <50mg/dL.
Principais causas de hipoglicemia em pacientes diabéticos: uso de hipoglicemiantes orais ou de
insulina, em excesso, falta de alimentação e aumento da atividade física.
• Tríade de Whipple (manifestações clínicas sugestivas de hipoglicemia):
- Hipoglicemia;
- Sintomas de hipoglicemia (fadiga intensa, sudorese, mal-estar, taquicardia, sensação de desmaio,
confusão mental, alterações visuais e sinais neurológicos focais e até mesmo convulsões).
- Melhoras dos sintomas após administração de glicose.
104 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 104
• Rastreamento para o DM: critérios para testagem para diabetes em indivíduos adultos assintomá-
ticos – testagem deve ser considerada em todos os adultos com sobrepeso ou obesidade (IMC ≥25
kg/m2) e pelo menos um fator de risco adicional como:
Sedentarismo;
Familiar de primeiro grau com DM;
Pertencentes a populações de risco (latinos, afro-americanos, americanos-asiáticos,
americanos nativos, etc.);
Recém nascidos com >4kg ou diabetes gestacional;
Síndrome dos ovários policísticos;
Hipertensão arterial (>130/80 mmHg ou em uso de medicações anti-hipertensivas);
HDL <35mg/dL e/ou triglicerídeos >250mg/dL;
Pré-diabetes (HbA1c ≥5,7%, glicose de jejum alterada ou tolerância diminuída à glicose);
Outras situações de resistência insulínica (obesidade grave, acantose nigricante);
História de doença cardiovascular.
*Importante: informações como idade no diagnóstico, histórico familiar de DM, peso no diagnós-
tico, emagrecimento no diagnóstico, tempo sem necessidade de insulina e presença de outras do-
enças autoimunes (p.e. vitiligo, LES, AR etc.) ajudam a diferenciar o tipo de DM.
Complicações Crônicas do DM
• Complicações do DM dividem-se em vasculares e não-vasculares.
Complicações vasculares do DM são subdivididas em microvasculares e macrovasculares.
- Microvasculares: retinopatia, neuropatia, nefropatia;
∟Complicações mais específicas do diabetes.
- Macrovasculares: doença arterial coronariana, doença arterial periférica, doença vascular cerebral
∟Complicações semelhantes às de indivíduos não diabéticos, porém ocorrem com maior frequên-
cia nos portadores de diabetes.
Complicações não-vasculares: gastroparesia, infecções, alterações cutâneas, etc.
106 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 106
• Fatores de Risco: hiperglicemia, hipertensão arterial, etnia, dislipidemia, anemia, fumo, fatores
genéticos, fatores dietéticos.
107 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 107
• Rastreamento:
DM1: a partir do 5º ano do diagnóstico; Se a albuminúria for normal,
DM2: realizado no momento do diagnóstico de DM2 – pacientes o rastreamento deverá ser
com DM2 podem ter DM há algum tempo de forma silenciosa. repetido anualmente.
• Diagnóstico diferencial:
DM1: macroalbuminúria na ausência de retinopatia;
DM2: rápido aumento da albuminúria, perda rápida da TFG.
• Fatores de risco:
Duração do DM, hiperglicemia crônica, HAS, dislipidemia, puberdade, gravidez, nefropatia.
• Rastreamento:
DM1: exame oftalmológico completo deve ser realizado entre 3 e 5 anos após o diagnóstico do
DM, não sendo necessário rastreamento antes dos 10 anos de idade;
DM2: primeira avaliação oftalmológica no diagnóstico de DM;
Gestação (DM1 e DM2): avaliação no primeiro trimestre com rigoroso monitoramento trimestral
até um ano após o parto.
• Manifestações clínicas:
Retinopatia diabética não está associada a queixas visuais nos estágios iniciais de DM;
Divisão clínica – RD não proliferativa (RDNP) e RD proliferativa (RDP);
• Avaliação clínica:
DM1: pacientes avaliados após cinco anos de diagnóstico da doença;
DM2: todos os pacientes devem ser avaliados no momento do diagnóstico do DM.
Exame: devem ser avaliados, no mínimo, dois tipos de sensibilidade (tátil, térmica ou dolorosa e
vibratória ou posicional), reflexos tendinosos e força muscular em ambos os membros inferiores.
- Sensibilidade tátil (protopática): teste do monofilamento (avaliar pontos da imagem abaixo).
∟Teste alterado: quando o paciente não perceber o
estímulo do monofilamento em um ou mais pontos,
confirmados em ambas as determinações;
∟Avaliar risco de ulceração, e sua normalidade não descarta
a presença de outras formas de ND.
- Força muscular (dos grupos musculares fibular e tibial anterior): avaliada ao se solicitar ao paci-
ente que caminhe, inicialmente, na ponta dos pés e, a seguir, apoiado apenas nos calcanhares.
∟Fraqueza motora é característica de fases mais avançadas da doença.
109 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 109
• Neuropatia autonômica: conjunto de sinais e sintomas que podem comprometer todo o sistema.
Está associada com aumento de mortalidade, risco aumentado de queda (especialmente em ido-
sos), risco de hipoglicemias assintomáticas e piora da qualidade de vida do paciente.
110 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 110
“Pé Diabético”
• Pé diabético: infecção, ulceração ou destruição dos tecidos profundos associados a anormalida-
des neurológicas e/ou doença vascular periférica nos membros inferiores.
Patogênese: carga biomecânica anormal, limitação da mobilidade das articulações.
• Fatores de risco para úlcera no pé diabético: combinação de dois ou mais fatores de risco é neces-
sária para a formação de úlcera no pé diabético (veja os fatores de risco na tabela abaixo).
Tríade mais comum: neuropatia periférica (insensibilidade), deformidade e trauma.
• Exame físico:
Inspeção: marcha, calçados, pele e anexos, unhas, arco plantar, defor-
midades e espaços interdigitais.
- Presença de calos, rachaduras, deformidades ósseas (cavalgamento dos
dedos, dedos em garra e em martelo, joanete, artropatia de Charcot);
- Atrofia muscular, unhas distróficas;
- Presença de rubor ao declive e palidez à elevação;
- Diminuição de temperatura, unhas distróficas e redução de pelos locais.
*Importante: deve-se realizar inspeção dos pés a cada consulta e orientar o paciente que realize a
inspeção diária em casa (devido à perda de sensibilidade, riscos de infecções e lesões).
Complicações Cardiovasculares
• Principais comorbidades: doença cardiovas-
cular (DCV) – principal causa de mortalidade.
Doença arterial coronariana (DAC), inclu-
indo também doença cerebrovascular, insufi-
ciência cardíaca e doença arterial periférica;
A presença de DM está associada a um
risco 2–5 vezes maior de insuficiência cardí-
aca quando comparado a indivíduos sem DM.
• Fatores de risco:
HAS;
Tabagismo;
LDL colesterol elevado;
HDL colesterol baixo;
Triglicerídeos elevados;
Excreção urinária de albumina elevada;
Mau controle glicêmico.
• DM e aterosclerose:
Se desenvolve mais rapidamente, o estreitamento é mais ex-
tenso e compromete mais vasos – agregação de fatores de risco.
Manifestações clínicas:
- Atípicas: dor precordial tardia e diminuída; náuseas, vômitos, tonturas, confusão, cansaço; dis-
pneia, insuficiência cardíaca esquerda; edema agudo de pulmão;
- Assintomáticos: muitos pacientes com DM não apresentam sintomas de DAC.
112 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 112
Cardiologia
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Coração: órgão oco fibromuscular de formato um pouco cônico,
envolvido pelo saco pericárdico, com uma base (porção mais larga,
dirigida para trás, para cima e para a direita) e um ápice (extremi-
dade pontuda, dirigida para frente, para baixo e para a esquerda),
que ocupa o mediastino médio entre os pulmões e suas coberturas
pleurais, e está apoiado sobre o diafragma.
Encontra-se colocado obliquamente por trás do corpo do es-
terno, das cartilagens costais e costelas adjacentes – ⅔ encontra-se
à esquerda da linha mediana;
Limites do coração: esterno e costelas (superfície anterior), dia-
fragma (superfície inferior), pulmões (borda direita – pulmão di-
reito; borda esquerda – pulmão esquerdo), grandes vasos do cora-
ção, traqueia, esôfago e artéria aorta descendente (limite superior).
Pericárdio: membrana que reveste e protege o coração, além de restringir o coração à sua posi-
ção no mediastino – dividido em pericárdio parietal e visceral.
- Pericárdio parietal: assemelha-se a um saco,
Possui uma pequena quantidade de fluido
repousa sobre o diafragma e se prende a ele;
(líquido pericárdico) que atua como lubrificante
- Pericárdio visceral (epicárdio): membrana fina
→ redução do atrito quando o coração contrai.
e delicada que circunda o coração.
Miocárdio: camada média (mais espessa do coração) composta de músculo estriado cardíaco.
- A espessura da parede do miocárdio é proporcional ao trabalho executado pela câmara cardíaca.
Endocárdio: camada mais interna do coração; camada fina que permite que o sangue corra facil-
mente sobre ela – responsável também pelo revestimento das valvas cardíacas e é continuo com o
revestimento dos vasos sanguíneos que entram e saem do coração.
113 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 113
• Irrigação do coração:
Coração é irrigado pelas artérias coronárias, direita e esquerda (observe a imagem abaixo).
- A drenagem do sangue venoso é feita por numerosas veias, as quais desembocam diretamente
nas câmaras cardíacas ou se unem para formar o seio coronário, tributário do átrio direito.
A artéria coronária direita nutre o ventrículo direito (exceto a porção esquerda da parede ante-
rior), a porção direita da parede posterior do ventrículo esquerdo e parte do septo interventricular;
A artéria coronária esquerda irriga a maior parte do ventrículo esquerdo, parte do ventrículo di-
reito e a maior parte do septo interventricular; ela é preponderante, isto é, destina-se a áreas com-
parativamente maiores que as da coronária direita.
• Inervação do coração:
Inervação extrínseca: provém de nervos situados fora do co-
ração – deriva do sistema nervoso autônomo, isto é, simpático e
parassimpático.
- Simpático: aumento da frequência cardíaca;
∟Fibras chegam ao coração através dos troncos simpáticos e li-
beram noradrenalina no nodo sinusal.
- Parassimpático: diminui a frequência cardíaca.
∟Fibras chegam ao coração através do nervo vago (NC X) e libe-
ram acetilcolina no nodo sinusal.
Inervação intrínseca: células especializadas que se encontram no interior do coração e que não
dependem da inervação extrínseca – são conhecidas como células autoexcitáveis (células marca-
passo) e são responsáveis pelos batimentos contínuos do coração (automatismo).
- Mesmo em um transplante cardíaco, o coração ainda manterá
o automatismo devido à despolarização espontânea das células
marca-passo (inervação intrínseca);
- Células marca-passo: nodo sinoatrial (NSA), nodo atrioventri-
cular (SAV), feixe de His e fibras de Purkinje.
∟Átrio direito possui tecidos nodais (NSA e NAV);
∟O nodo sinoatrial é o marca-passo fisiológico – caso o NSA
pare de funcionar, o NAV assumirá a frequência dos disparos e,
assim, sucessivamente.
114 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 114
• Câmaras cardíacas:
Átrio direito: recebe o sangue venoso através das veias cava
superior, cava inferior e seio coronário;
Valva tricúspide: via pela qual o sangue passa do átrio di-
reito para ventrículo direito;
- Evita o regurgitamento durante as sístoles;
Ventrículo direito: bombeia o sangue para os pulmões;
- Possui musculatura semiesférica;
- Possui maior capacidade de resposta ao aumento de volume
sanguíneo como, por exemplo, ocorre no aumento do retorno
venoso → bomba de volume.
Valva (semilunar) pulmonar: via pela qual o sangue passa
do ventrículo direito para as artérias pulmonares.
- Impede o refluxo das artérias pulmonares para o ventrículo durante a diástole.
Átrio esquerdo: recebe o sangue oxigenado pelos pulmões através de quatro veias pulmonares;
Valva mitral (bicúspide): via pela qual o sangue passa do átrio para o ventrículo esquerdo.
Ventrículo esquerdo: forma o ápice do coração – responsável por bombear sangue para a circu-
lação sistêmica e para as artérias coronárias.
- Possui musculatura esférica;
- Musculatura constritora – desenvolve maior pressão para ejetar o sangue do ventrículo para a cir-
culação sistêmica → bomba de pressão.
Valva (semilunar) aórtica: via pela qual o sangue passa do ventrículo esquerdo para a aorta.
- Impede o refluxo da artéria aórtica para o ventrículo durante a diástole.
116 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 116
• Ciclo cardíaco: registra um único batimento – conjunto de uma sístole e uma diástole.
a) Sístole: período decorrido desde o fechamento das valvas AV (desencadeia a 1ª bulha) até o fe-
chamento das valvas semilunares (desencadeia a 2ª bulha) – dividida em pré-ejeção e ejeção.
Pré-ejeção (contração isovolumétrica): ventrículo encontra-se inicialmente relaxado, onde tem
seu volume aumentado devido ao sangue proveniente do átrio.
- Posteriormente, há contração ventricular devido à excitação do coração (estimulação elétrica),
que resulta no aumento da pressão ventricular;
- As valvas AV se fecham devido à diferença de pressão (ventrículo > átrio) → todas as valvas fecha-
das – não pode haver ejeção de sangue pelo ventrículo (contração isovolumétrica).
∟Fechamento das valvas atrioventriculares produz a 1ª bulha (B1), ou bulha sistólica.
Protodiástole: fase em que o ventrículo persiste ainda contraído, mas o gradiente de pressões
entre ventrículo e artéria desaparece, ou se inverte levemente devido à elevação da pressão arte-
rial pela ejeção do volume sistólico, concomitante ao esvaziamento do ventrículo.
- Ocorre ainda uma pequena ejeção (inércia – energia cinética liberada pela contração ventricular)
que logo se interrompe com o fechamento das valvas semilunares devido à inversão do gradiente
de pressões (artérias > ventrículos).
∟Fechamento das valvas semilunares produz a 2ª bulha (B2), ou bulha diastólica, assim denomi-
nada porque ocorre na fase final da protodiástole (diástole primitiva), praticamente no início da
fase diastólica seguinte.
- Incisura dicrótica: representa o fechamento da valva aórtica no diagrama de Wiggers, no qual pro-
duz um refluxo devido ao aumento da pressão aórtica após o fechamento da valva.
b) Diástole: período entre o fechamento das valvas semilunares (2ª bulha) até o fechamento das
AV (1ª bulha) – dividida em fases relaxamento e enchimento.
Relaxamento isovolumétrico: ocorre o relaxamento das câmaras ventriculares (momento no
qual as 4 valvas encontra-se fechadas) sem variação de volume.
- A pressão ventricular se torna menor que a atrial → abertura das valvas.
Enchimento ventricular: ocorre devido ao relaxamento dos ventrículos e o aumento da pressão
dos átrios (retorno venoso), no qual resulta na abertura das valvas AV.
- Inicialmente o enchimento é rápido (50%) devido ao gradiente de pressão (átrio >>> ventrículo);
∟Normalmente essa fase é silenciosa, porém quando um ventrículo dilatado recebe um volume
de sangue maior do que o normal, gera-se um impacto que dá origem à um som de baixa frequên-
cia chamado de 3ª bulha cardíaca (B3) – pode indicar sobrecarga de volume no ventrículo.
∟Essa bulha acessória também pode estar presente fisiologicamente em indivíduos jovens.
- Posteriormente, devido ao gradiente de pressão, o enchimento torna-se mais lento (30%);
- Contração atrial (enchimento ativo): ocorre devido à despolarização atrial (contração) – preenche
cerca de 20% da capacidade restante ventricular.
∟Pode-se observar um aumento na curva de pressão e volume dos ventrículos;
∟Normalmente essa fase é silenciosa, porém em alguns indivíduos jovens normais e em algumas
situações patológicas, a contração atrial contra um ventrículo com pressão aumentada leva ao cho-
que de um volume de sangue contra as paredes desse ventrículo, gerando um som de baixa fre-
quência chamado de 4ª bulha cardíaca (B4) – pode indicar sobrecarga de pressão do ventrículo.
118 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 118
Fatores de Risco
• Principais fatores que colocam/predispõe os pacientes às doenças cardiovasculares:
e) Hipertensão: fator de risco importante para doença arterial coronariana, assim como a principal
causa de insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral (AVC);
Deve-se perguntar quando foi o diagnóstico, uso de medicamentos e se está sendo monitorada.
g) Diabete Melito (DM): indivíduos apresentam risco aumentado de 3–4 vezes de sofrer evento
cardiovascular e o dobro do risco de morrer deste evento quando comparados à população geral;
Possui fatores de risco que correlacionam-se com doenças cardiovasculares → hiperglicemia, re-
sistência à insulina, HAS, dislipidemia, obesidade etc.;
- Aterosclerose, por exemplo, se desenvolve mais rapidamente e compromete mais vasos.
Deve-se perguntar quando foi o diagnóstico, qual o tipo da diabetes, uso de medicamentos e se
está sendo monitorada.
h) Álcool: há controvérsias sobre a ingesta de bebidas alcoólicas; atualmente, sabe-se que o con-
sumo baixo/moderado pode ter efeito cardioprotetor, por outro lado, o consumo elevado de álcool
tem efeitos negativos no sistema cardiovascular;
Deve-se perguntar se o paciente consume bebidas alcoólicas – quantas vezes por dia, quanti-
dade (copos, garrafas etc.) e o tipo de bebida (cerveja, vinho, vodca, whisky etc.).
i) Histórico familiar: principalmente em parentescos de primeiro grau, adultos que relatam história
familiar de infarto do miocárdio ou angina de peito antes dos 50 anos de idade tem risco quase du-
plicado de infarto do miocárdio.
119 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 119
• Angina:
a) Angina estável: caracteriza-se por apresentar episódios de dor retroesternal em caráter de
aperto, que são desencadeados pelo esforço físico, ou estresse emocional, duram, habitualmente,
2–5 minutos e cessam com o repouso ou com o uso de nitratos sublinguais.
b) Angina instável: caracteriza-se pelo prolongamento da dor retroesternal (pode durar até 20min),
cujo início pode se dar no repouso e demora mais para desaparecer (inclusive com nitrato).
Prognóstico variável quanto a desfechos desfavoráveis (IAM, óbito, recorrência de angina ou ne-
cessidade de revascularização miocárdica).
c) Angina de limiar variável: pode ocorrer na angina instável ou na angina estável por reduções
transitórias na entrega de O2 para o miocárdio devido à vasoconstricção coronária.
Paciente pode manifestar dias bons (p.e. quando são capazes de exercer atividade física) assim
como dias ruins (p.e. quando atividades físicas mínimas podem causar evidência clínica de isquemia
do miocárdio ou angina de repouso).
• Anamnese:
Caracterização da dor: localização, irradiação, qualidade (queimação, aperto, pontada, etc.), in-
tensidade, cronologia, fatores agravantes a atenuantes, sintomas associados;
Dor torácica de origem cardíaca:
- Dor retroesternal (à esquerda ou, mais raramente, à direita da linha esternal);
∟Costuma ser descrita como “aperto”, “opressão”, “peso”, “queimação” e “sufocação”.
- Duração é um aspecto importante:
∟Angina estável: 2–3 minutos em média – raramente ultrapassa 10 minutos;
∟Angina instável: 15–20 minutos em média;
∟Infarto agudo do miocárdio (IAM): >20 minutos (pode chegar à horas).
- Locais de irradiação: pescoço, mandíbula, ombros, região cervical, membros
superiores, região epigástrica, região interescapulovertebral (imagens ao lado).
- Piora com exercício, estresse, relação sexual;
- Alívio com repouso, nitrato sublingual;
- Tosse, dispneia, náuseas, vômitos.
120 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 120
Palpitações
• Palpitação: percepção incômoda que o indivíduo tem de seu batimento cardíaco –
são contrações cardíacas mais fortes e mais intensas, lentas ou rápidas, rítmicas ou
arrítmicas, decorrentes de transtornos do ritmo ou da frequência cardíaca.
Paciente pode relatar como “batimentos mais fortes”, “falhas”, “paradas”, “tre-
mor no coração”, “coração deixando de bater”, “coração que pula na garganta” etc.;
Palpitações nem sempre significam alterações no ritmo cardíaco (arritmia);
- Causas cardíacas: arritmias, insuficiência cardíaca, miocardites, miocardiopatias;
- Causas não-cardíacas: hipertensão arterial, hipertireoidismo, anemia, esforço físico, emoções, sín-
drome do pânico, tóxicas (medicamentos, café, tabaco, drogas ilícitas).
c) Palpitações que acompanham transtornos emocionais: pode ocorrer devido a agressões emoci-
onais sofridas nos primeiros anos de vida (castigo, medo, ameaças) ou nas dificuldades e desajustes
ocorridos na vida adulta, incluindo carência afetiva, desajuste conjugal, problemas econômicos, in-
satisfação sexual.
Costumam ser desencadeadas por agressões emocionais e, muitas vezes, acompanham-se de
sudorese, desmaio, dormências, além de outros distúrbios neurovegetativos.
• Anamnese:
Tempo de ocorrência (Apresenta ataques recorrentes? Com qual frequência?);
Palpitações recentes (início, duração, sensação);
Pedir para o paciente reproduzir a palpitação (p.e. batendo na mesa);
Uso de drogas lícitas (cafeína, álcool, tabaco, energéticos) e ilícitas (cocaína, crack);
Interrupção da palpitação com alguma manobra ou posição;
- Manobras vagais (prender a respiração, deglutir água gelada, provocar vômitos etc.) pode indicar
que o nodo atrioventricular esteja envolvido.
Sensação de palpitações no pescoço;
- Ocorre quando o átrio e ventrículo contraem simultaneamente – provoca refluxo de sangue para a
veia cava superior, causando a sensação de palpitação no pescoço.
Presença de outros sinais cardíacos (dor torácica, dispneia, síncope, fadiga).
122 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 122
Edema
• Edema: representa o acúmulo exagerado de líquido no espaço intersticial extracelular.
Possui diversas etiologias, porém no edema cardíaco a causa base é a insuficiência ventricular
direita por aumento da pressão hidrostática associado à retenção de sódio (devido a ativação do
sistema renina-angiotensina-aldosterona);
- Cursa com outros sinais de insuficiência ventricular direita como ingurgitamento das jugulares,
refluxo hepatojugular e hapatomegalia;
Edema de origem cardíaca: em geral, possui aspecto simétrico (bilateral), mole, indolor e frio –
inicia-se nos pés e tornozelos e ascende, progressivamente, conforme a gravidade da doença, até a
raiz das coxas, abdome (ascite), e pode generalizar-se atingindo membros superiores e face (ana-
sarca) em fases avançadas da doença.
- Edema de caráter vespertino – em razão da gravidade, intensifica-se ao longo do dia – chega a
máxima intensidade no final da tarde (e diminui ou desaparece com o repouso noturno).
Dispneia
• Dispneia: sensação consciente e desagradável (desconfortável) do ato de respirar.
É um dos principais sintomas de doenças cardíacas e pulmonares;
- Em pacientes com lesão cardíaca corresponde à congestão pulmonar.
∟Pode ser resultar de estenose mitral e insuficiência ventricular esquerda.
Apresenta-se de duas maneiras:
- Subjetiva: dificuldade respiratória sentida pelo paciente;
- Objetiva: movimentos respiratórios acelerados (taquipneia) e uso de musculatura acessória da
respiração (esternocleidomastoideo, trapézio, peitoral, serrátil e abdominal).
c) Dispneia paroxística noturna: sono interrompido por dramática sensação de falta de ar, levando-
o a sentar-se no leito, ou mesmo levantar-se.
Pode ocorrer tosse seca, sufocação, pressão torácica, taquicardia, sudorese;
Broncoespasmos podem surgir durante a crise dispneica → “asma cardíaca” (denominação errô-
nea de sibilância devido à provável congestão da mucosa brônquica);
- Insuficiência ventricular esquerda é a causa não-pulmonar que mais provoca sibilância.
Edema agudo do pulmão: pode ocorrer em crises graves de dispneia paroxística noturna.
- Caracterizada por expectoração (branca ou rosada), cianose, respiração ruidosa.
*Importante: devemos perguntar ao paciente se ele acorda a noite devido à falta de ar, assim como
se ele necessita sentar-se para recuperar o folego ou, até mesmo, ir à janela para respirar melhor.
- Também devemos questionar se há outros sintomas associados (tosse, sudorese etc.).
Fraqueza (Astenia)
• Astenia: sensação de fraqueza generalizada – sintoma muito frequente e inespecífico.
Nos cardiopatas decorre de baixo débito cardíaco para o tecido muscular e pode estar presente
isoladamente nas fases iniciais de insuficiência cardíaca;
- Pode ser uma manifestação de cardiopatia isquêmica (equivalente anginoso), especialmente em
idosos e diabéticos, e apresentar uma fadiga intensa súbita ou de início recente.
Também são causas cardíacas: hipotensão arterial, hipopotassemia (pode resultar em câimbras)
ou hipomagnesemia induzida por diuréticos, para efeito de betabloqueadores adrenérgicos.
*Importante: uma anamnese mal conduzida pode confundir dispneia com astenia – é importante
atentar-se ao fato dela estar relacionada à perda ou diminuição da força física.
124 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 124
Síncope
• Síncope: perda súbita da consciência e do tônus postural com recuperação subse-
quente espontânea após alguns minutos.
Ocorre por momentânea perfusão inadequada do tecido cerebral durante redu-
ção rápida do débito cardíaco ou da resistência periférica, e costuma ser referida
pelo paciente ou acompanhante como desmaio.
Pré-síncope (ou lipotimia): refere-se à sensação iminente de síncope (desmaio),
porém a perda completa da consciência e do tônus postural não ocorre.
• Anamnese:
Investigar eventos que precedem o desmaio (irregularidades do ritmo cardíaco, dor anginosa,
auras, paresias, parestesias, incoordenação, vertigem ou movimentos involuntários);
Posição do paciente logo antes do desmaio;
- Hipotensão ortostática: caracteriza-se por acentuada queda tensional quando o paciente se
levanta do leito e adota a posição de pé → acúmulo de sangue nos vasos dos membros inferiores
que levam à diminuição do retorno venoso e, consequentemente, pode desencaderar uma síncope.
∟Outros sintomas: tonturas, turvação visual, fraqueza profunda e síncope.
Investigar a presença de sensação de fraqueza, tonturas, sudorese e palidez – episódio sincopal;
Avaliação do quadro de síncope: (observe a tabela abaixo).
- Posição em que ocorreu a síncope (deitada, sentada ou em ortostatismo?);
- Relação da síncope com a atividade desenvolvida (ocorre no repouso ou aos esforços?);
- Sintomas que antecederam a síncope (náuseas, vômitos, tontura, borramento visual, sensação de
frio, palpitações);
- Manifestações no momento da síncope (palidez cutânea, contrações tônico-clônicas, dor torácica,
palpitações, sudorese, incontinência urinária);
- História pregressa e familiar (história de morte cardíaca súbita na família, doença neurológica
prévia, alterações metabólicas, medicamentos em uso, doença cardíaca prévia).
*Importante¹: síncope de início gradual, precedida por manifestações prodrômicas, sugere uma
etiologia vasovagal. Por outro lado, síncopes cardiológicas costumam ter início abrupto e se
apresentam com maior gravidade.
2) Linhas verticais:
Linha medioesternal;
Linha hemiclavicular;
Linha axilar anterior – divisão entre a face anterior e lateral do tórax;
Linha axilar posterior;
Linha axilar média.
• Localizações no tórax: termos anatômicos gerais usados para identificar achados no tórax
Supraclavicular – acima da clavícula;
Infraclavicular – abaixo da clavícula;
Interescapular – entre as escápulas;
Infraescapular – abaixo das escápulas.
127 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 127
Perfusão Periférica
• Perfusão periférica: determina a presença de débito cardíaco adequado às necessidades metabó-
licas do organismo como oxigênio e nutrientes.
Ventilação inadequada e obstruções vasculares também alteram a perfusão periférica;
Causas de alterações: TVP, oclusão vascular aguda, vasculopatia diabética, choque cardiogênico.
*Importante: devemos avaliar se há estímulos externos que possam agir sobre as variáveis (tempe-
ratura, coloração, grau de enchimento) e que possam levar à interpretações errôneas.
- Contato com água fria ou temperatura ambiente baixa → extremidades frias e presença de cia-
nose devido à vasoconstrição periférica reflexa com objetivo de preservar calor.
Pulsos
Pulsos Arteriais
• Pulso arterial: decorre de alterações da pressão intravascular causada pelas variações pulsáteis
do ciclo cardíaco que se distribuem pelo sistema arterial – corresponde à bulha cardíaca B1.
Embora a onda de pressão movimente-se rapidamente, um retardo palpável entre a contração
ventricular e os pulsos periféricos faz com que os pulsos arteriais nos membros superiores e inferio-
res não sejam adequados para determinar a sequência temporal dos eventos do ciclo cardíaco.
• Caracterização de um pulso:
a) Frequência: número de pulsações por unidade de tempo;
Variação normal: 60–100 pulsações/min;
O número de pulsações periféricas nem sempre
Bradisfigmia (“bradicardia”): <60 pulsações/min; corresponde ao número de batimentos cardíacos.
Taquisfigmia (“taquicardia”): >100 pulsações/min.
Grau Característica
0 Ausente
1 Diminuído
2 Normal
3 Aumentado
4 Célere
a) Artéria radial: palpa-se a região entre a parte lateral do tendão do flexor radial do
carpo e a parte medial do processo estiloide radial.
Pulso usado rotineiramente para avaliar a frequência e o ritmo cardíaco;
- Como está muito distante do coração, não é utilizado para avaliar as ondas pulsáteis.
b) Artéria carótida: melhor local para palpar o volume do pulso e o formato da onda.
Palpa-se a região cervical anterior logo após a linha que passa superior à borda da
cartilagem tireoide e a linha que passa pela borda anterior do esternocleidomastoideo.
Devemos nos atentar para não comprimir ambas as carótidas simultaneamente
→ redução do fluxo sanguíneo para o cérebro, barorreflexo carotídeo (diminui a PA).
c) Artéria femoral: a menos que haja alguma doença ou alteração na aorta ab-
dominal, é um outro possível local para avaliarmos o formato da onda pulsátil.
Palpa-se a região do ponto médio entre o tubérculo púbico e a espinha ilíaca
anterossuperior.
d) Artéria tibial posterior: estão ausentes em ±15% dos indivíduos normais; o sinal
mais sensível de doença arterial periférica oclusiva em pacientes com >60 anos de
idade é a ausência do pulso tibial posterior.
Palpa-se a região logo posteriormente ao maléolo medial, entre o tendão tibial
posterior e o tendão do flexor longo dos dedos.
e) Artéria pediosa: pulso pedioso é mais bem sentido com a dorsiflexão do pé.
Facilmente palpável na fossa entre o tendão do extensor longo dos dedos e o ten-
dão longo do hálux (pode-se solicitar ao paciente para que estenda o hálux).
Pulsos Venosos
• Pulso venoso: corresponde à pressão venosa central, onde o melhor
meio de avaliá-la é pelas pulsações na veia jugular interna direita.
Formado por 3 ondas (a, c, v) e 2 deflexões (x, y);
Um único pulso jugular possui picos duplos.
- Primeiro pico corresponde à onda “a” e ocorre antes de B1;
- Segundo pico corresponde à onda “v” e ocorre próximo à B2.
b) Deflexões:
b1) Deflexão “x”: relaxamento atrial – ocorre con-
comitantemente com a contração cardíaca.
• Turgência jugular:
a) Condição normal: em geral, ocorre quando o paciente encontra-se em decúbito, devido ao au-
mento do retorno venoso.
Posição semissentada, sentada, ortostática → colabamento das jugulares → pulso venoso visível
apenas na raiz do pescoço.
*Importante: o examinador deve estar atento caso haja a presença de uma jugular túrgida, mas
sem pulsações, que na maioria das vezes está relacionada com uma falta de comunicação do átrio
direito com o sistema jugular – pode indicar a formação de trombo dentro da veia cava superior ou
uma compressão extrínseca, como no caso de um tumor mediastinal ou na presença bócio mergu-
lhante no mediastino superior (causa turgência com a elevação dos membros superiores).
• Refluxo hepatojugular: consiste na compressão do hipocôndrio direito do paciente por pelo me-
nos 10–30 segundos, gerando um aumento da turgência ou da coluna de sangue na jugular.
Pressão Arterial
• Pressão arterial: força exercida pelo sangue contra a parede das artérias, por sua força elástica,
sobre o sangue (PA = DC x RPT) – sofre variações contínuas, na dependência da posição do paci-
ente, das atividades e das situações em que ele se encontra.
3) Posicionamento:
O paciente deve estar sentado, com pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado
na cadeira e relaxado;
O braço deve estar na altura do coração, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e as
roupas não devem garrotear o membro;
Medir a PA na posição de pé, após 3 minutos, nos diabéticos, idosos e em outras situações em
que a hipotensão ortostática possa ser frequente ou suspeitada.
9) Determinar a PAS pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar ligeira-
mente a velocidade de deflação;
10) Determinar a PAD no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff);
11) Auscultar cerca de 20–30mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e
depois proceder à deflação rápida e completa;
12) Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a PAD no abafamento dos sons (fase
IV de Korotkoff) e anotar valores da PAS/PAD/zero;
13) Realizar pelo menos duas medições, com intervalo em torno de um minuto – medições adicio-
nais deverão ser realizadas se as duas primeiras forem muito diferentes (caso julgue adequado,
considere a média das medidas);
14) Medir a pressão em ambos os braços na primeira consulta e usar o valor do braço onde foi ob-
tida a maior pressão como referência;
15) Informar o valor de PA obtido para o paciente;
16) Anotar os valores exatos sem “arredondamentos” e o braço em que a PA foi medida.
Ictus cordis
• Ictus cordis: traduz o contato da porção anterior do ventrículo esquerdo com a parede torácica
durante a fase de contração isovolumétrica (pré-sístole).
Ictus cordis é palpável em apenas 25–40% dos adultos sadios em decúbito dorsal e em 50% dos
adultos hígidos em decúbito lateral esquerdo, especialmente os magros;
Única abordagem do exame físico que oferece informações sobre a presença de cardiomegalia.
• Características do ictus:
a) Localização: depende da posição postural do paciente.
Decúbito dorsal: geralmente no 5º espaço intercostal
esquerdo, as vezes no 4º, na linha hemiclavicular;
Decúbito lateral: pode sofrer um deslocamento de cerca de
dois centímetros, lateralmente, em direção à axila.
- Não é a posição ideal para verificar as demais características
do ictus – pode torna-las mais pronunciadas porque aproxima
o coração da parede torácica.
Alterações da localização do ictus: deslocamento lateral
ocorre por cardiomegalia nos casos de insuficiência cardíaca,
miocardiopatia e cardiopatia isquêmica.
136 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 136
d) Duração: para avaliar a duração, ausculte as bulhas cardíacas e, simultaneamente, palpe o ictus
cordis, observando a movimentação do estetoscópio durante o tempo que estiver auscultando.
Ictus normalmente ocupa os dois terços iniciais da sístole e não se mantem até B2;
Alterações da duração do ictus: são as mesmas que as do ictus persistente.
Frêmitos
• Frêmito cardíaco: sensações vibratórias superficiais percebidas sobre a pele
sobrejacente a uma área de turbulência.
A existência de frêmito indica um sopro de grande intensidade;
São mais bem palpados utilizando-se as cabeças dos ossos metacarpianos,
em vez das pontas dos dedos, aplicando-se uma pressão muito suave à pele.
- A sensação provocada pelo frêmito é semelhante à mesma de palpar a laringe durante a fala.
• Características do frêmito:
Localização: utiliza-se como referências as áreas de ausculta;
Situação no ciclo cardíaco: toma-se a pulsação como referência;
Intensidade: dada em cruzes (de 1 [+] a 4 [++++]).
Ausculta Cardíaca
• Posições do paciente durante a ausculta cardíaca:
Posição padrão é o decúbito dorsal;
Paciente sentado ou em posição ortostática, com o tórax ligeiramente inclinado para frente;
- Mais propício para a ausculta dos fenômenos estetoacústicos originados na base do coração.
Decúbito lateral esquerdo: posição mais adequada para auscultar os fenômenos da área mitral.
• Os eventos auscultados no ciclo cardíaco podem ser localizados pelas denominações: holo (todo),
proto (início), meso (meio) ou tele (final) → diastólico ou sistólico.
Focos Cardíacos
• Focos de ausculta cardíaca: correspondem aos locais de melhor acústica
dos sons das valvas (não correspondem as localizações anatômicas!).
Possibilita correlacionar o que está sendo notado em algum ponto pre-
cordial com uma determinada estrutura cardíaca;
A identificação dos espaços intercostais (EIC) é fundamental para a de-
terminação dos focos cardíacos – utiliza-se o ângulo de Louis (imagem ao
lado) como ponto de referência (corresponde ao nível do 2º EIC).
Bulhas Cardíacas
Primeira Bulha Cardíaca (B1)
• Primeira bulha (B1): corresponde à sístole – fechamento das valvas mitral (M1) e tricúspide (T1).
Timbre mais grave do que B2 e de duração ligeiramente maior;
Onomatopeia de B1: “tum”;
Melhor percebida no ápice do coração – focos mitral e tricúspide;
- Às vezes, mas nem sempre, B1 é mais alta do que B2 no ápice;
- B1 costuma ser mais suave do que B2 na base do coração.
B1 coincide com o ictus cordis e com o pulso carotídeo.
b) Bulha hipofonética: ocorre quando B1 está com sua intensidade menor do que o normal – B1
estará mais baixa que B2 no FT e, no FP, B1 estará ausente ou pouco audível.
Causas extracardíacas: dificultam a transmissão dos sons cardíacos para o tórax;
- Aumento do diâmetro anteroposterior do tórax → DPOC;
- Derrame pericárdico → líquido no interior do saco pericárdico atua como uma barreira para a
transmissão dos sons gerados no coração;
- Derrame pleural e pneumotórax de grandes volumes, ambos à esquerda.
Cardíacas: insuficiência cardíaca, síndrome isquêmica, estenose mitral grave (calcificação valvar),
bloqueio AV de 1º grau (intervalo PR longo).
b) Bulha hipofonética ocorre quando B2 está com sua intensidade menor do que o normal.
Causas extracardíacas: mesmas causas que B1 hipofonética;
Cardíacas: falência miocárdica, síndrome Isquêmica aguda, estenose aórtica ou pulmonar (de-
vido a calcificação da valva), insuficiência aórtica ou pulmonar.
- Causam fechamento lento, imobilidade ou fechamento incorreto.
141 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 141
Bulhas Acessórias
• Além de B1 e B2, alguns sons adicionais podem ser auscultados durante o ciclo cardí-
aco, tanto em condições fisiológicas quanto em decorrência de cardiopatias diversas;
• Estão incluídos a terceira (B3) e quarta (B4) bulhas cardíacas → “ritmo de galope”.
A identificação dessas bulhas é importante em virtude de seus significados clínico e
prognóstico.
Sopros Cardíacos
• Sopros: manifestação sonora do turbilhonamento de sangue – em condições normais, a corrente
sanguínea no sistema cardiovascular é laminar e silenciosa.
Principais situações em que o fluxo se encontra turbulento:
- Aumento do fluxo de sangue – exercício físico, anemia, hipertireoidismo, síndrome febril;
- Diminuição da viscosidade sanguínea – anemia;
- Fluxo sanguíneo anterógrado – valvas estenóticas (estenose de valvas AV, estenose valvar, sub-
valvar ou supravalvar de valvas semilunares);
- Vasos dilatados (aumento súbito do calibre do vaso) – defeitos valvares, aneurismas;
- Fluxo sanguíneo regurgitante – local de alta pressão para baixa pressão (defeitos septais, persis-
tência do canal arterial), valva incompetente (insuficiência de valvas AV e semilunares).
c) Localização: localiza-se um sopro na área onde é mais bem audível – utiliza-se os focos cardíacos.
Algumas manobras e mudança de decúbito podem ajudar a delimitar o local do sopro.
d3) Manobra de Rivero-Carvallo: instrui-se o paciente a realizar uma inspiração mais profunda e
longa, porém não deve prender o ar → intensifica o retorno venoso.
Aumento do retorno venoso → intensificação dos sopros e bulhas do lado direito do coração.
e) Timbre, tonalidade, qualidade: relacionado com a velocidade do fluxo e com tipo de defeito cau-
sador do turbilhonamento sanguíneo.
Suave, rude, musical, dissonante, aspirativo, em jato de vapor, granuloso, piante e ruflar.
*Importante: sempre que houver frêmito, o sopro possuirá no mínimo quatro cruzes.
145 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 145
g) Irradiação: deslocar o estetoscópio para outras regiões (axila, pescoço, borda esternal direita,
região interescapular).
Intensidade – quanto mais intenso, maior a área em que será audível;
Direção da corrente sanguínea.
- Sopro da estenose aórtica se irradia para os vasos do pescoço porque o sangue que flui para a
valva aórtica se dirige naquela direção;
- Sopro da insuficiência mitral se propaga predominantemente para a axila porque o AE situa-se
acima e atrás do VE.
Sopros Sistólicos
• São aqueles que coincidem com o pulso (B1);
• Os sopros sistólicos podem ser:
De regurgitação (também chamados de sopros holossistólicos);
De ejeção (também chamados de mesossistólicos).
Sopros de Regurgitação
• Sopro de regurgitação: ocorre quando as valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) estão insu-
ficientes → sangue dos ventrículos regurgita para os átrios.
Também pode ocorrer quando há defeito no septo interventricular →
sangue se dirige do ventrículo esquerdo para o direito.
*Importante: sopro de regurgitação por insuficiência mitral não se altera com a inspiração.
Sopros de Ejeção
• Sopro de ejeção: aparece na sístole ventricular durante o período de ejeção ventricular rápida.
Fluxo torna-se turbulento ao passar pelas valvas aórtica e pulmonar estenosadas;
- Também ocorre na dilatação da aorta e artéria pulmonar e, em situações em que o débito cardí-
aco esteja aumentado, como no hipertireoidismo e na anemia.
Sopro de ejeção se inicia após o fechamento de B1 e atinge sua intensidade máxima na metade
da sístole ventricular, tornando-se suave até desaparecer antes de B2 (fechamento das valvas semi-
lunares), formando um sopro em crescendo-decrescendo (em diamante).
*Importante: observe na tabela abaixo as manobras utilizadas para identificar sopros sistólicos.
Sopros Diastólicos
• São aqueles que não coincidem com o pulso;
• Os sopros diastólicos podem ser:
De regurgitação (chamado também de protodiastólico ou diastólico precoce);
De enchimento ventricular ou diastólico tardio – classificado em mesodiastólico e telediastólico.
Sopro de Regurgitação
• Sopro de regurgitação: ocorre quando as valvas semilunares (aórtica e pulmonar) estão insufici-
entes → sangue das artérias aorta e pulmonar regurgitam para os ventrículos.
Este tipo de sopro inicia logo após a segunda bulha (fechamento das valvas semilunares),
quando já existe uma diferença significativa entre os vasos e os ventrículos;
São sopros de alta frequência (agudos).
b) Insuficiência pulmonar: sopro diastólico de regurgitação, mais bem audível com o paciente sen-
tado, com o tórax inclinado para frente, de maior intensidade no foco pulmonar, com pequena irra-
diação para a borda esquerda do esterno.
• Anamnese:
Investigar a presença de fatores de risco não-modificáveis;
- Anormalidades genéticas, histórico familiar, idade avançada, gênero masculino.
Investigar a presença de fatores de risco modificáveis;
- Dislipidemia, hipertensão, tabagismo, diabetes, sedentarismo.
Presença de dor anginosa e outros sintomas sugestivos de angina (dispneia, dor abdominal);
Irradiação da dor – pescoço, mandíbula, ombros, região cervical, membros superiores, região
epigástrica, região interescapulovertebral;
Sintomas associados (tontura, palidez, sudorese, palpitação, morte súbita).
Causas de dor torácica (tabela – Bates): diagnóstico diferencial de angina de peito e IAM.
149 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 149
150 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 150
Causas: doença arterial coronariana (isquemia, IAM), sobrecarga pressórica crônica (HAS, obstru-
ção valvar), sobrecarga de volume crônica (doença valvar regurgitante, shunts), doença pulmonar
crônica (cor pulmonale), doença de Chagas, hipertireoidismo, diabetes melito.
• Anamnese:
Sinais e sintomas de baixo débito:
- Fadiga, astenia e cansaço aos esforços físicos;
- Alterações do nível de consciência (confusão mental, agitação psicomotora, sonolência, torpor);
- Oligúria, nictúria, entre outros.
Sinais e sintomas congestivos:
- Dispneia de esforço, ortopneia, dispneia paroxística noturna;
- Edema de membros inferiores, hepatomegalia, ascite, edema agudo de pulmão;
- Estase jugular, entre outros.
Sintomas que podem acompanhar a IC:
- Palpitações, tosse, insônia, depressão do humor, tontura, síncope.
151 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 151
• Exame físico: varia de acordo com o grau de compensação, a cronicidade (aguda, crônica) e o en-
volvimento cavitário (IC esquerda, IC direita).
Edema – periférico, pulmonar, ascite e hepatomegalia;
Taquicardia sustentada, arritmias (principalmente fibrilação atrial);
Pulso alternante e de baixa amplitude (parvus e tardus) – indicam IC avançada;
Ictus cordis com desvio e/ou aumento da extensão;
Ritmos de galope;
Sopros sistólicos de regurgitação;
Turgência jugular;
Sinais cardíacos de baixo débito (redução da perfusão periférica e PA baixa);
Sinais de sobrecarga de volume (congestivos);
- Presença de crepitações pulmonares, sibilos ("asma cardíaca "), derrame pleural;
- Estase jugular, hepatomegalia, refluxo hepatojugular, ascite;
- Edema periférico, anasarca.
Sinais de estimulação adrenérgica;
- Taquicardia sustentada em repouso (sinal precoce de atividade adrenérgica aumentada);
- Palidez, extremidades frias e cianose digital – intensa vasoconstrição periférica.
Defeitos Orovalvares
Insuficiência Aórtica
• Insuficiência aórtica (IA): incapacidade de fechamento das valvas aórticas, permitindo o refluxo
de sangue para o ventrículo esquerdo durante a diástole.
Quando grave, pode levar à insuficiência ventricular esquerda;
Principais causas: febre reumática, aterosclerose, endocardite infecciosa, doenças primárias da
valva e dissecção aórtica aguda.
• Anamnese:
Sintomas de insuficiência ventricular esquerda (dispneia, tosse, oligúria, etc.);
Angina de peito.
- Roubo coronariano (efeito de Venturi) → rápida passagem de sangue da aorta para o VE durante a
diástole retira sangue de dentro das coronárias.
• Exame físico:
Inspeção:
- “Dança das artérias”: pulsos carotídeos visíveis pelo alto débito;
- Sinal de Musset: pulsações sistólicas da cabeça;
- Sinal de Mueller: pulsações da úvula durante a sístole;
- Sinal de Minervini: pulsação da base da língua.
Palpação:
- Pulso em martelo d’água (célere);
- Ictus cordis amplo e deslocado para baixo e para a esquerda;
- B3 pode ser palpável; frêmito em borda esternal esquerda.
Ausculta:
- Bulhas cardíacas: B1 normofonética, B2 hipofonética ou ausente,
B3 quando há disfunção de VE;
- Sopro diastólico de regurgitação, de alta frequência (som agudo),
mais bem audível no ponto de Erb com o paciente sentado com o
tórax inclinado para frente; pode ter uma pequena irradiação em di-
reção ao foco aórtico;
∟Prender a respiração após a expiração pode intensificar o sopro,
assim como a manobra de hand grip.
- Pode ocorrer sopro sistólico devido a hiperfluxo na valva aórtica;
- Também é possível que haja o sopro de Austin Flint;
- Também é possível auscultar um sopro ruflar mesodiastólico grave
e suave, resultante do deslocamento da cúspide mitral anterior pelo
sangue regurgitado na insuficiência aórtica agrave, que é melhor au-
dível no FM e diferencia-se da estenose mitral pela ausência de B1
hiperfonética e de estalido de abertura mitral.
153 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 153
Estenose Aórtica
• Estenose aórtica (EA): consiste na redução do orifício da valva
aórtica e em alterações na via de saída do VE.
Pode causar limitação do débito cardíaco e hipertrofia do VE
– primeiro concêntrica (hipertrofia da parede miocárdica) e de-
pois excêntrica (pela dilatação do volume da câmara);
Causas: malformação congênita, febre reumática (acompa-
nhada de lesão mitral) e degeneração senil (deposição de Ca2+).
• Anamnese:
Dispneia aos esforços e intolerância aos exercícios;
- Dispneia paroxística noturna e ortopneia são manifestações tardias dos pacientes com EA.
Síncope (vasodilatação periférica → DC impossibilitado de aumentar durante os esforços);
Angina (insuficiência coronariana);
Insuficiência cardíaca – fase final;
“Tríade da estenose aórtica”: dor precordial e/ou síncope e/ou insuficiência cardíaca.
- Significam um pior prognóstico.
• Exame físico:
Palpação:
- Pulso do tipo parvus tardus;
- Íctus de amplitude aumentada, B4 pode ser visível;
∟Em fase avançada pode se apresentar aumentado e desviado (dilatação do VE);
- Presença de frêmito sistólico em base cardíaca.
Ausculta:
- Bulhas cardíacas: B1 hiperfonética, B2 hipofonética, B4 (hipertro-
fia concêntrica de VE);
- Desdobramento paradoxal de B2;
- Clique de ejeção aórtico – tende a desaparecer com a progressão
da doença;
- Sopro mesossistólico em diamante, melhor audível em FA, irradi-
ando-se para a base dos pescoços e carótidas.
∟Sopro aumenta com as manobras que aumentam o volume sistó-
lico (agachamento) e diminui de intensidade em condições que cur-
sam com redução do fluxo transvalvar (Valsalva e posição ereta).
154 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 154
Insuficiência Mitral
• Insuficiência mitral (IM): consiste no fechamento incompleto da valva mitral com refluxo de san-
gue para o AE durante a sístole ventricular.
Principais causas: febre reumática, prolapso da valva mitral e o IAM.
- Também pode ocorrer por cardiomiopatias dilatadas e miocardioesclerose.
• Anamnese:
Sintomas clássicos de insuficiência ventricular esquerda (dispneia, ortopneia, tosse etc.).
• Exame físico:
Palpação: ictus de amplitude elevada, deslocado para a esquerda
e para baixo, com extensão aumentada, e frêmito sistólico no ápice.
Ausculta:
- Bulhas cardíacas: B1 hipofonética, ausente ou englobado no so-
pro, B2 com desdobramento acentuado e B3;
- Sopro sistólico de regurgitação, de caráter rude e holossistólico,
melhor audível com o paciente em decúbito dorsal, no foco mitral,
irradiando para a axila, aumentando de intensidade com o paciente
em decúbito lateral esquerdo.
∟Sopro intensificado pela manobra de hand grip – não há altera-
ção com a inspiração!
Estenose Mitral
• Estenose mitral (EM): consiste no estreitamento do orifício atrioventri-
cular esquerdo devido ao espessamento e à fibrose das cúspides valvares.
Principal causa: febre reumática.
- Outras causas: doenças autoimunes (LES, AR), disfunção de prótese, di-
latação do anel mitral (quando há dilatação do VE).
• Anamnese:
Dispneia, dispneia paroxística noturna, ortopneia, tosse seca e hemoptise.
• Exame físico:
Inspeção: rubor malar, cianose;
Palpação: frêmito diastólico no ápice cardíaco;
Ausculta: B1 hiperfonética (inicialmente) e hipofonética
(estágios avançados), B2 com desdobramento amplo (P2>A2),
pode haver presença de B3, clique de ejeção sistólico pulmonar
e estalido de abertura mitral.
- Sopro de enchimento ventricular, de baixa frequência, de caráter
ruflar grave em decrescendo, mais bem audível após exercício fí-
sico, no foco mitral, com o paciente em decúbito dorsal, irradiando
para o foco tricúspide e aórtico acessório.
∟Acentua na expiração, no decúbito lateral e após agachamentos.
155 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 155
Pneumologia
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Sistema respiratório: dividido, em geral, em trato respiratório superior (compartimento nasofa-
ringolaríngeo) e trato respiratório inferior (compartimento traqueobrônquico e alveolar).
Funções do sistema respiratório: trocas gasosas, equilíbrio ácido-base, fonação, defesa (sistema
respiratório está em contato direto com o meio externo), reservatório de sangue (circulação pulmo-
nar), controle térmico e metabolismo (enzimas – p.e. ECA).
• Pulmões direito e esquerdo: recobertos, individualmente, por uma delgada membrana, a pleura
visceral, e são encapsulados por outra membrana, chamada de pleura parietal.
A interface dessas duas pleuras permite o deslizamento suave dos pulmões enquanto se expan-
dem no tórax – possuem entre elas um líquido, o líquido pleural.
156 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 156
• Vias aéreas inferiores: consistem na traqueia, nas vias de condução e nos alvéolos.
Principais funções: conduzir o ar e realizar trocas gasosas;
Ramificação das vias aéreas: corresponde as
vias aéreas inferiores, desde a bifurcação da tra-
queia em dois brônquios principais até os alvéolos.
- Zona de condução (0–16 geração): tem início na
traqueia, segue para os brônquios e vai até os
bronquíolos não-respiratórios/terminais;
- Zona de transição (17–19 geração): corresponde
aos bronquíolos respiratórios (possuem poucos al-
véolos, porém já ocorrem as trocas gasosas –
pouco significantes).
- Zona respiratória (20 – 24 geração): constituída
por ductos, sacos alveolares e alvéolos.
b) Músculos da expiração: comumente são a passivos (expiração de repouso) e não há gasto ener-
gético, porém, durante a expiração ativa há gasto energético (situações de fala, canto, exercício,
fase expiratória da tosse ou do espirro e em certos estados patológicos, como a bronquite crônica).
Expiração ativa é realizada pelos músculos intercostais internos e pelo músculos abdominais.
157 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 157
Fatores de Risco
• Principais fatores que colocam/predispõe os pacientes às doenças respiratórias:
a) Tabagismo: possui relação direta com a bronquite, a asma, o enfisema e o carcinoma brônquico.
É necessário indagar do paciente quantos cigarros ele fuma e desde quando,
além de quantos cigarros fuma por dia, interrupções (se sim, por quanto tempo),
tentativas de cessação (tratamentos anteriores, recaídas, sintomas de abstinên-
cia), convivência com outros fumantes e situações que fuma por condicionamento.
Caso tenha deixado de fumar, considerar como não-fumante apenas aqueles
que o fizeram há mais de 15 anos;
Cálculo de carga tabágica: número de maços fumados por dia x tempo em anos.
- Também pode ser feita pelo número de cigarros/20 (1 maço) x tempo em anos;
- A maioria dos portadores de DPOC são ou foram tabagistas com carga tabágica >20 maços/ano.
Cigarro industrializado vs. cigarro artesanal (p.e. palheiro).
- Palheiro é muito mais danoso ao sistema respiratório – 6 palheiros = 1 maço tradicional.
c2) Viagens: perguntar sobre viagens (recentes ou prévias) para áreas em que infecções respirató-
rias são endêmicas – principalmente a respeito de tuberculose.
Tosse
• Tosse: resposta reflexa a estímulos que irritam receptores localizados na laringe, na traqueia ou
nos brônquios calibrosos – estímulos inflamatórios (edema, secreções), mecânicos (poeira, corpo
estranho, diminuição da pressão pleural como nos derrames e atelectasias), químicos (gases irritan-
tes) e térmicos (calor ou frio excessivo).
Sintoma respiratório mais frequente.
*Importante: existem outras regiões com receptores da tosse, isto é, não é um sintoma exclusivo
do trato respiratório) – membrana timpânica, meato auditivo externo, cavidade nasal, seios maxila-
res, pleura, pericárdio, diafragma, esôfago e estômago.
• Investigar:
Frequência;
Intensidade;
Presença ou não de expectoração (seca ou produtiva), relação com o decúbito;
Período do dia em que a intensidade é maior;
Mudança no padrão da tosse;
Sintomas associados (febre, dispneia, sibilos, ortopneia, dor torácica).
Hemoptise
• Hemoptise: expectoração sanguínea que se origina das vias aéreas inferiores.
Presença de escarro com raias de sangue.
• Fisiopatologia:
Circulação brônquica – alta pressão (corresponde à 90% das hemoptises);
- Aumento da circulação sistêmica para corrigir o equilíbrio loco-regional de ventilação-perfusão;
- Corresponde as hemoptises mais volumosas.
Circulação pulmonar – baixa pressão (corresponde à <5% das hemoptises).
- Menos volumosas: espaços alveolares podem acomodar grande volume de sangue.
• Causas:
Infecções, doenças cardiovasculares, neoplasias, vasculites, outros (miscelâneas);
Causas mais comuns: tuberculose (ativa ou sequela), bronquiectasias, bronquite aguda, exacer-
bação de bronquite crônica, pneumonia, câncer de pulmão.
a) Infecções: tuberculose, bronquite aguda, bronquite crônica exacerbada, bronquiectasias, pneu-
monia, outras micobacterioses, abscesso pulmonar, bola fúngica, leptospirose, fibrose cística;
b) Cardiovasculares: insuficiência ventricular esquerda grave, estenose mitral, tromboembolia pul-
monar, endocardite em câmaras direitas, aneurisma da aorta, malformação arteriovenosa, fístula
entre vaso e árvore brônquica;
c) Neoplasias: câncer de pulmão, adenoma brônquico, tumor carcinoide;
d) Vasculites: granulomatose de Wegener, LES, síndrome de Goodpasture, poliangiíte microscópica;
e) Outros (miscelâneas): hemossiderose pulmonar, coagulopatia, corpo estranho, contusão pulmo-
nar, iatrogenia, uso de cocaína, catamenial, trauma de vias aéreas superiores, criptogênica.
• Anamnese:
Diferenciação de hematêmese – presença de náuseas e vômitos, doença hepática;
- Sangue com aspecto de “borra de café” = hematêmese.
Caracterização da quantidade: normalmente é superestimada pelo paciente e pelo médico;
Localização do sangramento;
Episódios prévios de infecção respiratória/pneumonias recorrentes: bronquiectasias, infecções;
Febre, sudorese noturna, perda de peso: tuberculose;
Tabagismo: câncer de pulmão;
Dispneia, dor pleurítica, fatores de risco para trombose venosa: tromboembolismo pulmonar;
Doença cardiovascular: tromboembolismo pulmonar, estenose mitral;
Secreção purulenta associada ao sangramento: abscesso pulmonar;
Uso de anticoagulante oral – causa comum quando a dose está desregulada;
160 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 160
• Exame Físico:
Avaliação de orofaringe e nasofaringe: descartar sangramento de vias aéreas superiores;
Sibilos localizados, estridor: obstrução por neoplasia;
Adenomegalia cervical, supraclavicular ou axilar: neoplasia
Baqueteamento digital: doença supurativa crônica, neoplasia, abscesso pulmonar;
Estertores na ausculta: pneumonia, sangue aspirado;
Exame cardiovascular.
Dispneia
• Dispneia: experiência subjetiva de desconforto respiratório que consiste de sensações qualitativa-
mente distintas, variáveis em sua intensidade.
• Outras classificações:
Ortopneia: dispneia que impede o paciente de ficar deitado e o obriga a sentar-se ou a ficar de
pé para obter algum alívio;
- Surgimento ou agravamento da sensação de dispneia com a adoção da posição horizontal;
- Alívio parcial ou total com elevação da porção superior do tórax (p.e. travesseiros);
- Associado com: insuficiência cardíaca esquerda, congestão pulmonar, também pode ocorrer em
asma, DPOC e doenças neuromusculares.
Trepopneia: dispneia que aparece em determinado decúbito lateral, como acontece nos pacien-
tes com derrame pleural que se deitam sobre o lado são.
Dispneia paroxística noturna: sono interrompido por dramática sensação de falta de ar, le-
vando-o a sentar-se no leito, ou mesmo levantar-se;
- Associado com: insuficiência cardíaca esquerda, agravamento da congestão pulmonar durante o
sono REM, grande estimulação dos nervos simpáticos sobre o sistema cardiovascular.
Platipneia: sensação de dispneia que surge ou se agrava com a adoção da posição ortostática;
- Causas: pericardite; shunts direito-esquerdos;
- Ortodeoxia: queda acentuada da SaO2 com a posição em pé;
- Síndrome hepatopulmonar: dilatações vasculares intrapulmonares que predominam no ⅓ inferior.
• Sibilância: também chamado de chiado ou “chieira” – é como o paciente se refere a um ruído que
ele pode perceber, predominantemente na fase expiratória da respiração, quase sempre acompa-
nhado de dispneia.
Possui timbre elevado e de tom musical (comparado ao “miado de um gato”);
Resulta da redução do calibre da árvore brônquica devido, principalmente, a espasmos;
Principais causas brônquicas e pulmonares: asma, bronquite aguda e crônica, infiltrados eosino-
fílicos, tuberculose brônquica, neoplasias malignas e benignas, embolias pulmonares;
- Sibilância persistente, localizada ou unilateral, pode indicar neoplasia ou corpo estranho.
• Anamnese:
Início: época e hora de instalação;
Modo de instalação: súbita, progressiva;
Duração: desde o início dos sintomas e duração das crises;
Fatores desencadeantes: esforços, exposições ambientais, alterações climáticas;
Número de crises e periodicidade: ao longo do dia, semanas e meses;
Fatores de melhora: medicamentos, repouso, posições assumidas, relação com o decúbito;
Sintomas associados.
• Outras origens de dor torácica: sistema cardiovascular, esôfago, costelas, músculos, pele, cintura
escapular, mamas, nervos torácicos.
• Fisiopatologia:
Dor somática: pele, tecido subcutâneo, ossos, músculos, coluna vertebral;
- Mais localizada e caracterizada;
- Calor, frio, queimação, picada, fisgada.
Dor visceral: estruturas viscerais mais profundas.
- Desconforto, dor imprecisa, oscilações de intensidade – não necessariamente de lesão tecidual,
mas da distensão do envoltório do órgão;
- Parênquima e pleura visceral – não possuem nociceptores;
- Pleura parietal – possui nociceptores.
164 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 164
• Anamnese:
Caracterização da dor: localização, irradiação, qualidade (queimação, aperto, pontada, etc.), in-
tensidade, cronologia, fatores agravantes a atenuantes, sintomas associados;
Solicitar ao paciente para que aponte a localização da dor torácica – atentar-se aos movimentos
realizados por ele enquanto descreve a dor → punho cerrado sobre o esterno sugere angina de
peito; o dedo apontado para uma região de hipersensibilidade na parede torácica sugere dor mus-
culoesquelética; o movimento da mão na direção do pescoço para o epigástrio sugere pirose.
Dor esofágica/gastrointestinal;
- Inicia leve e aumenta com o passar do tempo;
- Associada à disfagia, refluxo;
- Alívio com antiácidos;
- Náuseas, vômitos.
Dissecção aórtica;
- Dor entre as escápulas.
Dor musculoesquelética;
- Inicio vago;
- Piora com mudança de posição corporal, movimentos ou respiração profunda.
Pericardite.
- Alívio com a movimentação do tórax para frente.
Anatomia de Superfície
• Descrição torácica através de linhas verticais e linhas horizontais:
1) Linhas horizontais:
Espaços intercostais
- Ângulo do esterno (ângulo de
Louis): divide o manúbrio do corpo
do esterno – melhor referência para
delimitar o 2º espaço intercostal.
- A extremidade inferior da escápula constitui outra referência óssea útil – ela se encontra, em ge-
ral, ao nível da 7ª costela ou espaço intercostal.
2) Linhas verticais:
Linha medioesternal;
Linha hemiclavicular;
Linha axilar anterior – divisão entre a face anterior e lateral do tórax;
Linha axilar posterior;
Linha axilar média;
Linha vertebral;
Linha escapular – parte do ângulo inferior da escapula.
166 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 166
• Localizações no tórax: termos anatômicos gerais usados para identificar achados no tórax
Supraclavicular – acima da clavícula;
Infraclavicular – abaixo da clavícula;
Interescapular – entre as escápulas;
Infraescapular – abaixo das escápulas;
Bases pulmonares – as partes mais inferiores;
Campos pulmonares superior, médio e inferior.
Inspeção
• A inspeção torácica é dividida em estática e dinâmica.
Inspeção Estática
• Alterações cutâneas, subcutâneas, ósseas, cartilaginosas, articulares;
Cicatrizes, edema, enfisema subcutâneo, atrofia muscular.
• Simetria torácica: verificação de retrações e abaulamentos;
• Formatos torácicos:
Tórax normal (adulto); Tórax em funil (pectus excavatum);
• Exame físico:
Aumento da curvatura da base da unha, formando
um ângulo maior que 180°;
Prega ungueal proximal flutuante;
Falange distal arredondada/bulbosa;
- Índice digital: razão entre os perímetros das falanges
distal e intermediária de um mesmo dedo >1.
Sinal de Schamroth: “janela em diamante” ausente
no hipocratismo digital.
Inspeção Dinâmica
• Frequência respiratória (FR): 14–20/min (normal);
• Ritmo respiratório (RR):
Eupneia: ritmo normal
Hiperpneia: exercício, ansiedade, acidose metabólica, infarto, hipoxia, hipo-
glicemia (coma);
Taquipneia: doença pulmonar restritiva, dor torácica pleurítica, elevação
do diafragma;
Bradipneia: coma diabético, depressão respiratória por medicamentos, au-
mento da pressão intracraniana;
Cheyne-Stokes: crianças e idosos normalmente durante o sono; insuficiên-
cia cardíaca, uremia, depressão respiratória medicamentosa, lesão cerebral;
Kussmaul: respiração profunda, normal, rápida ou lenta, associada à
acidose metabólica;
Biot (atáxica): depressão respiratória, associada à lesão cerebral (bulbo);
Dispneia/respiração suspirosa: suspiros frequentes, hiperventilação.
• Expansibilidade torácica;
• Uso de musculatura acessória (esternocleidomastoideo, trapézio, peitorais, serrátil);
• Respiração paradoxal: abdome se desloca para fora enquanto o tórax se movimenta para dentro
durante a inspiração;
• Tiragem: depressão inspiratória dos espaços intercostais e das regiões supraesternal e
supraclaviculares que ocorre durante toda a inspiração;
• Sinal de Lemos Torres: presença abaulamento expiratório intercostal nas bases pulmonares;
Indica a presença de dificuldade na expansão pulmonar.
• Sinal de Hoover: presente em pacientes portadores de hiperinsuflação pulmonar grave, cujo
diafragma se mantém retificado e rebaixado.
Durante a inspiração, a contração de suas fibras promove, paradoxalmente, a diminuição do
diâmetro látero-lateral do tórax inferior – observa-se na inspiração a retração do terço inferior do
tórax e não a expansão, como seria esperado normalmente.
169 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 169
Palpação
• Pesquisa de áreas de hipersensibilidade;
• Expansibilidade torácica;
Posicionar os polegares no mesmo nível (paralelos à ±10ª costela) com o obje-
tivo de formar uma prega cutânea frouxa (conforme a imagem ao lado) para me-
dir a expansividade torácica durante a inspiração profunda (solicitar ao paciente);
Diminuição da expansibilidade: doença fibrótica crônica do pulmão ou pleura,
derrame pleural, pneumonia lobar, dor pleurítica e obstrução brônquica.
*Importante: o frêmito toracovocal é uma ferramenta de avaliação imprecisa, mas como técnica
exploratória ele orienta a atenção para possíveis anormalidades.
Percussão
• Consiste em produzir vibrações na parede torácica que são transmitidas aos
órgãos e tecidos subjacentes;
• Percuta um dos lados do tórax e, em seguida, o outro na mesma altura –
verificar simetria (ou assimetria) – conforme a imagem ao lado.
Ausculta
• Técnica de exame mais importante para avaliar o fluxo de ar pela árvore traqueobrônquica;
Ajuda a avaliar as condições dos pulmões e do espaço pleural – compreende em:
1) Ouvir os sons gerados pela respiração;
2) Pesquisar ruídos adventícios;
3) Se houver a suspeita de anormalidades, auscultar os sons da
voz falada ou sussurrada do paciente durante sua transmissão
através da parede torácica (broncofonia, egofonia, pectorilóquia)
Principais fatores que interferem a ausculta pulmonar: pelos
corporais no local da ausculta, desobstrução das vias aéreas por meio de nebulização ou da tosse.
• Sons adventícios:
Contínuos (tempo maior, musicais):
- Sibilos: timbre agudo, qualidade estridente – vias aéreas estreitadas, asma, DPOC, bronquite;
∟Sibilância localizada pode indicar tumor ou obstrução por outros meios físicos.
- Roncos: timbre grave, qualidade de ressonar – secreção nas grandes vias aéreas.
Descontínuos (intermitentes, não-musicais, breves):
- Estertores finos (ou crepitantes): suaves, breves, timbre agudo;
∟Minúsculas explosões, quando as pequenas vias aéreas, desinfladas na expiração, abrem-se du-
rante a inspiração – ocorre na doença pulmonar intersticial, fase inicial da ICC, pneumonia.
- Estertores grosseiros: mais intensos, mais graves, menos breves.
∟Bolhas de ar fluem por secreções ou vias respiratórias mal fechadas durante a respiração;
∟Bronquite crônica, asma, bronquiectasias.
• Outros sons:
Estridor: sibilo total ou predominantemente inspiratório – mais intenso no pescoço, audível;
- Causa: obstrução parcial da laringe ou traqueia (tumor, corpo estranho).
Atrito pleural: som rascante que ocorre em ocorre em ambas as fases da respiração;
- Causa: superfícies pleurais inflamadas e com movimentação atrasada – desaparece quando as su-
perfícies inflamadas são separadas por líquido.
Trituração mediastínica (sinal de Hamman): estertores precordiais sincrônicos com o batimento
cardíaco, presentes em decúbito lateral esquerdo.
- Causa: enfisema mediastínico (pneumomediastino).
171 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 171
Asma
• Asma: doença inflamatória crônica das vias aéreas, associada à
hiperresponsividade das vias aéreas inferiores e à limitação vari-
ável ao fluxo aéreo;
Episódios recorrentes de dispneia, sibilância, tosse e aperto
no peito;
Sintomas mais frequentes à noite e pela manhã ao despertar;
- Possui variabilidade dos sintomas;
- Sinais e sintomas podem estar ausentes no período intercrises.
Desencadeados por exposição a alérgenos, fumaça de ci-
garro, cheiros fortes, exercício, fatores emocionais.
• Exame físico:
Inspeção: cianose, tiragem intercostal, taquipneia, taquicardia, confusão mental, dificuldade
para falar e para permanecer em decúbito dorsal;
Palpação: expansibilidade reduzida; FTV reduzido;
Percussão: som claro pulmonar ou hiperressonante;
Ausculta: sibilância (expiratória).
*Importante: crise grave de asma → obstrução importante de vias aéreas → MV diminuído e au-
sência de sibilância!
• Anamnese:
Tosse produtiva, pigarro matinal, dispneia progressiva;
Exacerbação: aumento da dispneia; aumento da tosse e do volume de secreção; secreção puru-
lenta – pelo menos dois sintomas para caracterizar exacerbação.
• Exame físico:
Inspeção: prolongamento do tempo expiratório, aumento do diâmetro AP do tórax, horizontali-
zação do gradil costal, rebaixamento da cúpula diafragmática, respiração com lábios semicerrados,
uso de pontos de ancoragem, cianose.
Palpação: expansibilidade e FTV reduzidos;
Percussão: normal a hiperressonante;
Ausculta: MV diminuído; roncos, sibilos.
173 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 173
Pneumonia
• Pneumonia: infecção aguda do parênquima pulmonar secundária a
microrganismos inoculados.
• Anamnese:
Febre, calafrios, tosse, dispneia, dor torácica;
Tosse seca, produtiva e/ou hemática;
Escarro cor de tijolo/ferruginoso: pneumonia pneumocócica;
Achados apenas sugestivos
Escarro cor de geleia de groselha: pneumonia por Klebsiella.
• Exame físico:
Inspeção: taquipneia, taquicardia, febre, uso de musculatura acessória, cianose, confusão;
Palpação: expansibilidade normal; FTV aumentado;
Percussão: macicez;
Ausculta: som brônquico na região envolvida; estertores teleinspiratórios.
Tromboembolismo Pulmonar
• Tromboembolismo pulmonar (TEP): condição decorrente do material en-
dógeno ou exógeno (constituindo-se em êmbolo) que ganha acesso ao sis-
tema venoso sistêmico e, assim, à circulação pulmonar, com consequências
potencialmente graves determinadas pela natureza do êmbolo, pela carga
embólica, pela resposta vasomotora e pela condição pulmonar subjacente.
Consiste na obstrução aguda da circulação arterial pulmonar por coá-
gulos sanguíneos oriundos da circulação venosa sistêmica, geralmente do
sistema venoso profundo proximal dos membros inferiores (trombose ve-
nosa profunda, TVP – conforme a imagem ao lado);
- TVP é o evento básico e a embolia pulmonar é a sua complicação aguda.
• Anamnese:
Dispneia, dor torácica pleurítica, tosse, hemoptise;
TEP pequena, próxima à pleura: dor pleurítica, tosse e hemoptise;
TEP maciça: síncope, hipotensão, cianose e hipoxemia.
• Exame físico:
Inspeção: taquipneia, taquicardia, cianose;
Palpação: expansibilidade normal; FTV aumentado (infarto pulmonar);
Percussão: macicez (infarto pulmonar);
Ausculta: som brônquico na região envolvida; estertores teleinspiratórios; atrito pleural.
174 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 174
Gripe
• Gripe: doença viral (influenza) sazonal (normalmente ocorre durante o inverno).
Doença de início súbito, tosse é o principal sintoma;
Comprometimento sistêmico: febre, mialgias, cefaleia.
Resfriado
• Resfriado: doença viral (vários vírus – rinovírus [principal], coronavírus, adenovírus, parainflu-
enza, vírus sincicial respiratório) que ocorre durante todo o ano;
Sintomas nasais (coriza e obstrução) causam mais desconforto que as manifestações sistêmicas;
Início insidioso de dor de garganta, seguido de um ou dois dias de coriza, obstrução nasal.
Bronquite Aguda
• Bronquite aguda: inflamação dos brônquios.
Situação clínica muito comum na prática diária;
Causas mais comuns: vírus, Mycoplasma, Chlamydia, B. pertussis;
Tosse com produção de escarro, sintomas de infecção de vias aé-
reas superiores, febre é rara.
Bronquiectasia
• Bronquiectasia: dilatação anormal e irreversível dos brônquios
causada pela destruição dos componentes elástico e muscular de
suas paredes.
É uma doença que normalmente está associada a outras doenças
– doenças congênitas, imunodeficiências, obstruções brônquicas, se-
quelas de inalação, condições reumáticas etc.
• Tipos de bronquiectasias:
Focais: bloqueio luminal (corpo estranho, tumor de crescimento lento), compressão extrínseca
por linfonodomegalia (síndrome do lobo médio), distorção brônquica (após ressecção lobar);
Difusas: doenças sistêmicas;
- Pós-infecciosas (países em desenvolvimento) e fibrose cística (desenvolvidos).
Doença indolente: assintomáticos ou tosse leve – achado radiológico;
Doença supurativa: bronquiectasias “úmidas” – tosse e expectoração crônicas; exacerbações.
- Exame físico: estertores grosseiros, roncos, sibilos.
Doença com hemoptise: bronquiectasias “secas” (pouca tosse e expectoração). Em geral decor-
rentes de TB. Hemoptises recorrentes, em geral de pequeno volume.
175 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 175
Câncer de Pulmão
• Câncer de pulmão: alta mortalidade (sobrevida de 5 anos – 15%);
Diagnóstico em fase avançada → pleura visceral e parênquima sem receptores de dor e dispneia
Sinais e sintomas: crescimento do tumor primário, comprometimento loco-regional, dissemina-
ção à distância e síndromes paraneoplásicas;
Atenção para:
- Mudança no padrão da tosse (meses), hemoptise, sibilância localizada, baqueteamento digital.
Síndromes Paraneoplásicas
Osteoartropatia Hipertrófica Pulmonar
• Orteoartropatia hipertrófica pulmonar: síndrome osteoar-
ticular que se caracteriza por crescimentos e espessamentos
anormais de ossos e de articulações;
• Presença de hipocratismo digital, proliferação periosteal
dos ossos longos, artrite (tornozelo, joelho, punho, cotovelo);
• Dor nas extremidades;
• Dor, rigidez e edema nas articulações acometidas;
• 80% dos casos → carcinoma broncogênico: adenocarcinoma (50%) e epidermoide (40%);
• Em 4–12% dos casos de carcinoma broncogênico.
Síndrome de Pancoast
• Síndrome de Pancoast: tumor localizado no sulco formado pela passa-
gem dos vasos subclávios pela cúpula da pleura e ápices pulmonares.
Ocorre acometimento do plexo braquial, pleura parietal, primeiro e se-
gundo arcos costais e corpos vertebrais adjacentes, primeiro e segundo
nervos torácicos, cadeia simpática paravertebral e gânglio estrelado.
• Sinais e sintomas decorrentes de acometimento do ápice pulmonar (sulco
superior) e estruturas adjacentes por um tumor (maioria das vezes);
• Carcinoma broncogênico – principal neoplasia causadora da síndrome.
• Anamnese:
Dor no ombro e face dorsal do braço no lado acometido;
Dormência no cotovelo e antebraço;
Fraqueza e hipotrofia muscular;
Atrofia de 4º e 5º quirodáctilos.
Síndrome de Claude-Bernard-Horner
• Síndrome de Horner: lesão da via nervosa simpática em qualquer lugar desde
o hipotálamo (glândula localizada no centro do cérebro) até a medula
espinhal, que afeta principalmente os nervos dos olhos, rosto e pescoço.
Tumor acomete o gânglio estrelado – crescimento invade e destrói
o corpo vertebral.
• Achados: miose, enoftalmia (retração anormal do olho em relação à ór-
bita) e diminuição da fenda palpebral (ptose incompleta).
Outros achados: anidrose da hemiface ipsilateral à lesão e na conjuntiva.
176 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 176
Insuficiência Respiratória
• Sistema respiratório não consegue manter os valores da PaO2 e/ou da PaCO2 dentro dos limites
da normalidade – PaO2 <60 mmHg e PaCO2 >50 mmHg.
• Tipo I ou hipoxêmica: déficit na oxigenação (alteração na membrana alvéolo-capilar);
PaO2 bastante reduzida e PaCO2 reduzida ou normal;
Causas: síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), pneumonias, atelectasias, embolia,
edema pulmonar, DPOC exacerbado, asma grave, pneumotórax.
• Tipo II ou hipercápnica: déficit na ventilação.
PaCO2 aumentada e PaO2 reduzida;
Causas: alterações no SNC, alterações neuromusculares, disfunções da parede torácica e pleura,
obstrução das vias aéreas superiores.
Cianose
• Cianose: coloração azulada da pele e mucosas;
Ocorre com hemoglobina reduzida (>5g/dL).
• Na anemia → cianose pode estar ausente (falta de Hb para ser reduzida);
• Na policitemia (produção anormal e acentuada de eritrócitos) → cianose presente
mesmo com SaO2 maiores.
• Tipos de cianose:
a) Periférica: diminuição da saturação venosa da Hb e redução do fluxo sanguíneo aos tecidos.
Causas: insuficiência cardíaca, fenômeno de Raynaud, vasoconstrição pelo frio.
• Exame físico:
Inspeção sob luz natural;
Verificar leito ungueal, extremidades digitais, lábios, lobos da orelha.
*Importante: a avaliação da cianose em pacientes de pele negra exige áreas de observação onde a
pigmentação ocorra (conjuntiva, esclerótica, mucosa oral, língua).
177 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 177
Derrame Pleural
• Derrame pleural: acúmulo anormal de líquido no espaço pleural;
Presença de 0,1–0,2 mL/kg de líquido no espaço pleural;
Renovado continuamente por um balanço de forças entre as pressões
hidrostática e osmótica da microcirculação e do espaço pleural.
• Anamnese:
Dor torácica: pleurítica, acometimento da pleura parietal;
Dispneia: pela limitação dos movimentos pela dor – secundária a grande derrame (limita capaci-
dade de ventilação);
Tosse seca: estímulo dos receptores da tosse, pelo deslocamento das vias aéreas.
• Exame físico:
Inspeção: assimetria do tórax; desvio da traqueia
para o lado oposto a derrame pleural;
Palpação: redução da expansibilidade no lado aco-
metido; redução ou abolição do FTV;
Percussão: macicez ou submacicez;
Ausculta: redução ou ausência do murmúrio vesi-
cular, som brônquico próximo à extremidade supe-
rior de um grande derrame.
Atelectasia
• Atelectasia: colapso das unidades pulmonares mais periféricas, o que
causa redução do volume pulmonar sem que o espaço alveolar seja ocupado
por células ou exsudato.
Se a oclusão situar-se em um brônquio principal, ocorre atelectasia do
pulmão inteiro; se estiver em brônquios lobares ou segmentar, a atelectasia
fica restrita a um lobo ou a um segmento pulmonar.
178 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 178
Causas:
- Obstrutiva: secreção, tumor, corpo estranho;
- Compressiva: tumores, linfonodos;
- Restritiva: postura antálgica (fratura de costela), alterações da parede torácica (escoliose);
- Cicatricial: sequela de cicatrização do parênquima (doença granulomatosa);
- Tensiolítica: SARA, prematuridade – deficiência de surfactante (surfactante reduz a tensão superfi-
cial do alvéolo, impedindo que colabe).
• Anamnese:
Dispneia – sintoma mais comum!
Sintomas dependem:
- Da área de pulmão afetada (tamanho da atelectasia);
- Da função pulmonar prévia;
- Do tempo de instalação da atelectasia.
• Exame físico:
Inspeção: retração; diminuição da expansibilidade,
cianose, deslocamento da traqueia para o lado da lesão;
Palpação: diminuição da expansibilidade, FTV redu-
zido ou abolido;
Percussão: macicez (crônicas); submacicez (agudas);
Ausculta: murmúrio vesicular abolido.
Pneumotórax
• Pneumotórax: presença de ar livre na cavidade pleural.
Dependem da etiologia, do volume do pneumotórax, de doença pulmonar pré-existente e da ca-
pacidade ventilatória do paciente;
Pneumotórax espontâneo primário: ocorre em pacientes sem doença pulmonar evidente;
Pneumotórax espontâneo secundário: ocorre como complicação de doença
pulmonar conhecida (DPOC, tuberculose pulmonar).
• Anamnese:
Dor pleurítica de início súbito/progressiva; Assintomático em 15% dos
Dispneia de início súbito/progressiva, tosse seca. pneumotóraces espontâneos
• Exame físico:
Inspeção: desvio da traqueia para o lado oposto a
de um grande pneumotórax; assimetria do tórax;
Palpação: redução da expansibilidade no lado
acometido; diminuição ou abolição do FTV; enfisema
subcutâneo (pneumomediastino);
Percussão: hiperressonância ou timpanismo;
Ausculta: diminuição ou ausência do murmúrio
vesicular.
179 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 179
Gastroenterologia
Noções de Anatomia e Fisiologia
• Dois grupos de órgãos compõem o sistema digestório (observe a imagem abaixo):
a) Trato gastrointestinal (TGI): tubo contínuo com, aproximadamente, 5–7m de comprimento que
se estende da boca até o anus – composto pela boca, grande parte da faringe, esôfago, estômago,
intestino delgado e intestino grosso.
Boca e orofaringe: responsáveis por triturar o alimento em pequenas porções, lubrificar e iniciar
a digestão de carboidratos e gorduras, além de impulsionar o alimento para o esôfago;
Esôfago: atua como um canal condutor para o estômago;
Estômago: armazena temporariamente o alimento e também inicia a digestão através da mistu-
ra aos produtos de sua secreção (proteases e ácido);
Intestino delgado: continua o processo de digestão, sendo o principal local para a absorção dos
nutrientes;
Intestino grosso: reabsorve fluidos e eletrólitos e também armazena o material fecal antes de
sua expulsão do corpo.
b) Órgãos acessórios da digestão: composto por dentes, língua, glândulas salivares, fígado, vesícula
biliar e pâncreas.
Glândulas salivares: secretam enzimas digestivas (amilase e lipase), atuam na lubrificação do ali-
mento e também protege o organismo através de imunoglobulinas;
Pâncreas: secreta enzimas digestivas no duodeno, além de secretar bicarbonto para neutralizar
o ácido gástrico;
Fígado: secreta a bile, que é estocada na vesícula biliar para posteriormente ser liberada no
duodeno após uma refeição.
- Bile: contém ácidos biliares que desempenham um importante papel na digestão de gorduras.
180 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 180
• Divisão anatômica do abdome: para fins descritivos, o abdome geralmente é dividido em quatro
quadrantes ou em nove regiões (conforme as imagens abaixo);
Em geral, utiliza-se a divisão das nove regiões por tornar mais fácil e mais precisa a localização
dos órgãos na cavidade abdomino-pélvica.
b) Epigástrio: fígado, estômago e piloro, cólon transverso e omento, duodeno e pâncreas, rins e su-
prarrenais, aorta e linfonodos;
c) Hipocôndrio esquerdo: fígado e estômago, flexura esplênica do cólon, baço e cauda do pâncreas,
rim esquerdo, suprarrenal esquerda;
d) Flanco direito (região lombar direita): lobo hepático de Riedel, cólon ascendente, intestino del-
gado, rim direito;
f) Flanco esquerdo (região lombar esquerda): cólon descendente, intestino delgado, rim esquerdo;
g) Fossa ilíaca direita (fossa inguinal direita): ceco, apêndice vermiforme, linfonodos;
h) Suprapúbica (hipogástrio): intestino delgado, flexura sigmoide, bexiga distendida, útero graví-
dico e anexos;
b) Secreção: processo pelo qual as glândulas associadas ao trato gastrointestinal secretam água e
substâncias para dentro do trato;
Células no interior das paredes do TGI e dos órgãos acessórios da digestão secretam um total de,
aproximadamente, 7 litros de água, ácidos, tampões e enzimas no lúmen do TGI;
c) Mistura e propulsão: contração e relaxamento alternados do músculo liso nas paredes do TGI
que misturam o alimento e as secreções, empurrando-os em direção ao ânus;
Essa capacidade do trato gastrointestinal de misturar e mover material ao longo de sua extensão
é denominada motilidade.
e) Absorção: processo pelo qual as moléculas nutrientes são absorvidas pelas células que revestem
o trato gastrointestinal e penetram na corrente sanguínea.
182 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 182
Fatores de Risco
• Principais fatores que colocam/predispõe os pacientes às doenças gastrointestinais:
a) Alimentação: alguns alimentos podem agravar algumas condições pré-existentes
e, até mesmo, aumentar a probabilidade de desenvolver algumas doenças.
Dieta pobre em fibras e rica em gorduras aumentam o risco de câncer colônico;
Alimentos que aumentam a produção ácida do estomago (café, cítricos etc.) exa-
cerbam os sintomas da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e da gastrite;
Intolerância à lactose e ao glúten podem causar cólicas, flatulências e diarreias recorrentes;
Diarreias e vômitos recorrentes podem ser causados por alimentos/água contaminados.
Disfagia
• Disfagia: dificuldade para deglutir em virtude do comprometimento da passagem de alimentos
sólidos ou líquidos da boca até o estômago.
Investigar os tipos de alimentos que provocam os sintomas: sólidos, ou sólidos e líquidos;
Definir a sequência temporal: início do quadro, se é intermitente ou persistente, progressão;
Sinais e sintomas associados à disfagia.
• Disfagia orofaríngea: alimento permanece no todo ou em parte na cavidade bucal após a tenta-
tiva de deglutição – pode haver aspiração para a árvore traqueobrônquica, seguida de tosse, ou re-
gurgitação nasal.
Causas: compressões extrínsecas (bócio, adenomegalia), anel esofágico superior, mixedema,
miastenia gravis, relaxamento incompleto do esfíncter esofágico superior, transtornos que afetam
os músculos faríngeos (AVC, doença do neurônio motor, doenças degenerativas) etc.
• Disfagia esofágica: paciente tem a sensação de parada do bolo alimentar no esôfago – de modo
geral, quando manifesta somente para sólidos indica obstrução mecânica, enquanto a que ocorre
tanto com sólidos quanto para líquidos indica alteração da motilidade esofágica.
Localizada abaixo da incisura supraesternal;
Causas: neoplasias, compressões extrínsecas, refluxo gastroesofágico, distrofia muscular, neuro-
patia do sistema nervoso autônomo, diabetes, alcoolismo, ELA, esofagites etc.
Odinofagia
• Odinofagia: dor durante a deglutição – comumente está associado à disfagia.
Dor localizada atrás do esterno, em queimação e em punhalada, espasmódica ou constritiva;
Sintoma predominante na candidíase de esôfago, esofagite herpética, ulcerações esofágicas por
medicamentos e por radiação, e ingestão de substâncias cáusticas.
Pirose
• Pirose: desconforto ou dor em queimação retroesternal crescente que ocorre, no mínimo, uma
vez por semana, ou mais frequentemente – relatado pelo paciente como “azia” ou “queimação”.
Sintoma altamente sugestivo de doença do refluxo gastroesofágico;
Pirose constante pode ser causada por hérnia hiatal, hipotonia do esfíncter esofá-
gico inferior, hipersecreção e estase gástrica;
Agravada por bebidas alcoólicas ou por alimentos como chocolate, frutas cítricas,
café, cebolas e hortelã-pimenta; ou ainda por mudanças de posição, como inclinar-se
para frente, exercitar-se, levantar pesos ou deitar em decúbito dorsal;
Acompanha-se, às vezes, de regurgitação de um líquido de sabor azedo ou amargo.
Náuseas e Vômitos
• Náusea: sensação de enjoo que leva a uma vontade urgente de vomitar – “sensação
de estômago embrulhado”;
Geralmente ocorre ondas e pode durar de segundos a dias, dependendo da causa.
• Vômito (êmese): expulsão forçada dos conteúdos gástricos (e algumas vezes duodenais) pela
boca – geralmente é precedido por náuseas e por sintomas autonômicos (aumento da salivação,
sudorese, taquicardia, midríase, palidez).
Pode cursar com sangue (hematêmese) ou bile (verde – biliverdina; ou amarela – bilirrubina).
Causas: dividem-se em agudas e crônicas, além de outras causas.
- Agudas: infecções gastrintestinais (gastroenterites virais e bacterianas, hepatite viral), infecção
bacteriana sistêmica, obstrução mecânica do intestino, intoxicação alcoólica, hemorragia aguda no
abdome superior, infecção do trato urinário etc.;
- Crônicas: gravidez (geralmente ocorre no início da manhã), uremia, drogas (narcóticos, digitálicos,
quimioterapia), gastroparesia (DM, esclerodermia, drogas) etc.;
∟Vômitos recorrentes relacionados à ingestão de comida (p.e. >1 hora após a refeição) sugerem
obstrução gastroesofágica ou gastroparesia.
- Outras: úlcera péptica, distúrbios motores (pós-cirúrgico ou disfunções autonômicas), doença he-
patobiliar, alcoolismo, câncer, infarto do miocárdio, litíase renal, infecções, hipertireoidismo etc.
185 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 185
• Anamnese:
Cor do vômito e/ou material regurgitado;
- Coloração amarelada/esverdeada (bile) sugere obstrução intestinal alta;
- Grande quantidade de alimentos ingeridos horas antes sugere estase gástrica.
Volume (especificar → uma colher de chá, duas...uma xícara cheia), cheiro e frequência;
Presença e quantidade de sangue no vômito;
- Vômito de material acastanhado ou preto, com aspecto de “borra de café”, sugere sangue alte-
rado pelo ácido gástrico – hematêmese;
Avaliar se há desidratação ou desequilíbrio eletrolítico decorrentes de vômitos prolongados ou
perda significativa de sangue;
Complicação dos vômitos (p.e. aspiração pulmonar).
Hematêmese
• Hematêmese: vômito com sangue que caracteriza hemorragia digestiva alta, isto é, que se loca-
liza da boca até o ângulo de Treitz (formado na junção entre o duodeno e o jejuno).
Vômito com sangue de coloração acastanhado ou preto, com aspecto de “borra de café”, sugere
sangue alterado pelo ácido gástrico;
Causas: varizes esofágicas ou gástricas, gastrite, úlcera péptica, tumor esofágico ou gástrico, vas-
culite, síndrome de Mallory-Weiss (ou laceração gastroesofágica), distúrbios hemorrágicos etc.
Constipação
• Constipação intestinal (”prisão de ventre”, “intestino preso”): trânsito intestinal
lento e retardado que resulta no comprometimento da expulsão das fezes.
Caracteriza-se como constipação quando ocorre por, no mínimo, 12 semanas nos
últimos 6 meses, com pelo menos duas das condições → menos de três defecações
por semana, 25% ou mais das defecações com esforço ou sensação de defecação
incompleta, fezes “em bolinhas” ou duras, ou necessidade de facilitação manual;
186 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 186
Causas: baixa ingesta de fibras, imobilidade física, doença funcional do intestino, drogas (p.e.
opiáceos, antidepressivos, anticolinérgicos, bloqueadores de canais de cálcio), doenças metabólicas
e endócrinas (p.e. hipotireoidismo, hipercalcemia, hipocalemia, DM, porfiria, feocromocitoma), do-
enças neurológicas (p.e. neuropatia autonômica, lesão de medula espinhal, esclerose múltipla, Par-
kinson), doença anorretal (p.e. fissura anal – causa dor progressiva até que o paciente passe a evi-
tar completamente a defeção), doença de Chagas (megacólon), depressão, demência etc.
*Importante: obstipação – não há eliminação nem de fezes nem de gases → obstrução intestinal.
• Anamnese:
Duração da constipação, dor durante a defecação, sangramento;
Tamanho (calibre) das fezes e consistência – fezes de calibre fino, semelhantes a lápis, ocorrem
na lesão obstrutiva em “anel de guardanapo” do colo sigmoide (carcinoma anal ou de reto distal);
Investigar causas e sintomas associados (p.e. náusea, vômitos, perda de peso etc.).
Tipo Descrição
I Caroços duros e separados, como nozes (difícil de passar)
II Forma de salsicha, mas granuloso
III Como uma salsicha, mas com fissuras em sua superfície
IV Como uma salsicha ou serpente, suave e macio
V Bolhas suaves com bordas nítidas (que passa facilmente)
VI Peças fofas com bordas em pedaços
VII Aquoso, sem partes sólidas, inteiramente líquido
*Importante: o formato das fezes se modifica em várias doenças intestinais como, por exemplo, as
diarreias infecciosas, colites, constipação intestinal, incontinência anal (perda do controle voluntá-
rio na eliminação das fezes e dos gases), síndrome do intestino irritável – sua descrição na anam-
nese pode ser determinante no diagnóstico e acompanhamento dessas doenças associadas a ou-
tras características da evacuação.
188 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 188
Diarreia
• Diarreia: diminuição da consistência das fezes (variam de semi-formadas à liquidas)
e aumento da frequência diária (>3 vezes/dia).
Causa importante de mortalidade em países subdesenvolvidos (desidratação);
Sintoma mais comum nas doenças do intestino delgado.
b) Diarreia secretora: causada por transporte anormal de íons pelas células do epitélio intestinal.
Secreção ativa de íons e água, absorção iônica ou de água diminuída;
Característica: osmolaridade fecal com "gap" osmótico pequeno, e não melhora com jejum.
Causas: infecciosas (principais causas – Vibrio cholerae, Vibrio parahaemolyticus, Escherichia
coli, Staphylococcus aureus, etc.), laxantes, neoplasias que produzem VIP, ressecção intestinal, do-
ença inflamatória intestinal, má absorção de sais biliares, má absorção de ácidos graxos, doenças
associadas a atrofia das vilosidades intestinais, hipertireoidismo etc.
d) Diarreia exsudativa: causada pela ruptura da integridade da mucosa intestinal (p.e. exsudato de
inflamação e/ou ulceração);
Característica: eliminação de muco e sangue nas fezes;
Causas: infecções bacterianas e virais, protozoários, helmintos, doenças inflamatórias intesti-
nais, doença de Crohn, colite isquêmica, neoplasias de cólon e reto.
• Anamnese:
Características da diarreia (volume, frequência e consistência);
- Fezes aquosas frequentes e em grande volume são geralmente do intestino delgado.
Presença de muco, pus (“tipo clara de ovo”) ou sangue nas fezes;
- Geralmente é proveniente do intestino grosso.
Presença de tenesmo (urgência para defecar associado ao esforço contínuo, doloroso e ineficaz
para evacuar) acompanhado por dor, cólicas ou esforço de defecação involuntário;
- Fezes em pequeno volume associadas a tenesmo, diarreia com muco, pus ou sangue ocorrem em
condições inflamatórias retais.
Sintomas associados (febre, dor abdominal, náusea, vômito, perda de peso);
Período do dia em que há diarreia – noturna tem importância patológica;
Presença de fezes gordurosas ou oleosas, espumosas, com odor fétido;
Flutuação das fezes na superfície do vaso sanitário;
Investigação de hábitos alimentares/ingestão de alimentos suspeitos;
Utilização de medicamentos, incluindo fármacos alternativos e, especialmente, antibióticos, via-
gens recentes, padrões dietéticos, e fatores de risco de imunocomprometimento.
Sangramento Retal
• Hematoquezia: eliminação de sangue vivo pelo reto – coloração avermelhada ou acastanhada.
Surge com mais de 1000mL de sangue, em geral, por hemorragia digestiva baixa;
Sangramento pode surgir misturado às fezes, ao redor das fezes, após a evacua-
ção, “pingado no vaso sanitário” ou ser percebido quando realizada a higiene por
meio do papel higiênico;
Causas: tumores de cólon, diverticulite, colite ulcerativa, doença inflamatória in-
testinal, hemorroidas, fissura anal, colite isquêmica etc.
• Anamnese:
Investigar detalhes importantes como o volume e a frequência de eliminação de sangue;
Sangue misturado nas fezes, com raias na superfície das fezes ou somente no papel higiênico;
Mudanças nos hábitos intestinais;
Outras alterações nas fezes como muco, pus ou gordura;
Presença de tenesmo;
Episódios de fezes tipo “piche” e sua frequência;
Sintomas associados como náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, sudorese.
Muco
• Muco nas fezes: secreção clara e viscosa proveniente das membranas mucosas –
contem muco, células epiteliais, leucócitos e vários sais suspensos em água.
Presença de muco nas fezes pode indicar doença inflamatória intestinal, úlcera re-
tal, fistula intestinal, adenoma colônico viloso, síndrome do intestino irritável.
Esteatorreia
• Esteatorreia: aumento da quantidade de gorduras excretadas nas fezes, as quais se
tornam volumosas, amareladas ou acinzentadas, fétidas e, algumas vezes, espumosas.
Em condições normais, elimina-se em torno de 5% do aporte diário total de gordu-
ras – o aumento da ingesta de lipídeos não aumenta a elevação da gordura fecal;
Esteatorreia → indica presença de defeito nos processos de digestão e absorção;
Causas: insuficiência pancreática (pancreatite crônica, fibrose cística), doença celí-
aca, doença inflamatória intestinal, neuropatia visceral (DM), cirrose hepática, colestase,
síndrome de Zollinger-Ellison, gastrectomia, vagotomia etc.
• Anamnese:
Investigar a presença de fezes pálidas, espumosas, fétidas, mal formadas, flutuantes (isto pode
causar dificuldades para dar descarga “>1”) e flatulência (levando a “evacuações explosivas”);
Cólicas periumbilicais, distensão abdominal e flatulência – ação bacteriana no cólon;
Investigar carência de vitaminas (esteatorreia de longa duração) → hiperqueratose cutânea e
cegueira noturna (vitamina A), doença óssea (vitamina D) e distúrbios hemorrágicos (vitamina K).
193 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 193
Icterícia
• Icterícia: coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas consequente à deposi-
ção, nesses locais, de pigmento biliar (bilirrubina), o qual se encontra em níveis elevados no plasma
(hiperbilirrubinemia), quando os valores estão >2mg/dL (valor normal <1mg/dL).
• Formação e metabolismo da bilirrubina: observe o esquema abaixo.
• Fisiopatologia da hiperbilirrubinemia:
a) Hiperbilirrubinemia não-conjugada: há icterícia, mas não colúria ou hipocolia/acolia fecal.
Aumento da produção de bilirrubina: hemólise, eritropoiese ineficaz;
Diminuição da captação hepática/transporte de bilirrubina: drogas, jejum, sepse;
Distúrbio da conjugação da bilirrubina: deficiência hereditária, deficiência adquirida.
• Anamnese:
Coloração da urina quando o paciente adoeceu;
- Coloração castanho-amarelada (escura): nível de bilirrubina conjugada aumen-
tada no sangue – bilirrubina não conjugada não é hidrossolúvel (não é excretada).
Coloração das fezes;
- Quando a excreção de bile pelo intestino é totalmente obstruída, as fezes tor-
nam-se cinzentas ou claras (acolia), sem bile (conforme a imagem ao lado).
Presença de prurido cutâneo sem motivo evidente;
- Prurido indica icterícia colestática ou obstrutiva.
Presença de dor abdominal associada;
- Cólica biliar localizada no hipocôndrio direito – sugere cálculo biliar;
- Dor ou desconforto no hipocôndrio direito – sugere hepatites agudas, tumores e
congestão hepática devido à distensão da cápsula hepática;
- Dor pancreática – sugere pancreatite, tumores pancreáticos que obstruem as vias biliares ou pode
ser uma complicação de obstrução das vias biliares, extra-hepáticas, por cálculos.
Investigação de fatores de risco;
- Transfusões de sangue, histórico anterior de icterícia, uso de medicamentos (p.e. antibióticos,
AINEs, anticoncepcionais orais etc.), drogas intravenosas, tatuagens e piercings corporais, viagens
ao exterior, histórico sexual, histórico familiar de doenças hepáticas, consumo de álcool.
Presença de náuseas e vômitos, perda de apetite e aversão ao tabagismo sugere hepatite viral.
• Exame físico:
Coloração amarelada da pele, escleras e mucosas;
Manifestações de insuficiência hepática: aranhas vasculares, eritema palmar, diminuição dos pe-
los, atrofia testicular, ginecomastia, hálito hepático e encefalopatia hepática associados à icterícia;
Exame do fígado: hepatomegalia dolorosa em hepatites agudas, colangites, tumores, congestão
hepática; fígado nodular em tumores e cirrose; fígado diminuído em hepatite grave e cirrose;
Manifestações de colestase crônica: xantoma, xantelasma, hiperceratose, hipocratismo digital.
195 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 195
Dor Abdominal
• Dor abdominal: sintoma mais importante de doença abdominal.
Pode resultar de irritação da mucosa, espasmos da musculatura lisa, irritação peritoneal, edema
capsular ou estimulação nervosa;
Desconforto abdominal: sensação subjetiva negativa – não é doloroso.
2) Epigástrio: dor epigástrica ocorre por lesões no estômago, vesícula biliar, duodeno, pâncreas, fí-
gado, região distal do esôfago, coração e pulmões.
Causas: úlcera péptica, úlcera perfurada, gastrites, espasmo pilórico, carcinoma gástrico, pancre-
atite crônica ou aguda, colecistite, litíase biliar, perfuração do esôfago na porção inferior, esofagite
química ou bacteriana, infarto do miocárdio, pericardite, ICC ou hérnia epigástrica;
Dor visceral de origem no estômago localiza-se, habitualmente, na região médio-epigástrica;
Acometimento da camada parietal do peritônio por doenças gástricas pode determinar dor ape-
nas no quadrante superior esquerdo do abdome;
Doenças da porção distal do duodeno causam dor na região periumbilical.
197 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 197
3) Hipocôndrio esquerdo: dor ocorre por afecções do baço, flexura esplênica do cólon, lesão do he-
mitórax esquerdo, cauda do pâncreas, doenças neurológicas e musculoesqueléticas.
Causas: tromboembolismo/trombose dos nervos esplênicos, infarto esplênico, abscesso esplê-
nico, esplenomegalia, colite, ruptura de baço, carcinoma de flexura esplênica do cólon, pneumonia,
neuralgia intercostal, hérnia diafragmática, pericardite e angina pectoris;
Dor visceral pancreática caracteriza-se por desconforto abdominal constante, com irradiação
para regiões lombar ou dorsal distal.
4 e 6) Flancos direito e esquerdo (regiões lombares direita e esquerda): dor ocorre por lesão dos
rins, ureteres, cabeça e cauda do pâncreas ou cólon.
Causas: abscessos perirrenal, a pielite, a pielonefrite, abscessos renais, tumor renal, tuberculose
renal, síndrome dolorosa pós-nefrectomia, neuralgia intercostal de um ou mais nervos (T8–T11),
compressão radicular por tumor, doenças vertebrais e herpes-zoster.
5) Região umbilical (mesogástrio): ocorre por lesão do intestino delgado, apêndice, ceco, corpo do
pâncreas, afecções musculoesqueléticas ou neurológicas.
Causas: obstrução intestinal aguda, diverticulite de Meckel, tromboembolismo da artéria mesen-
térica superior, enterocolite, hérnia umbilical, neuralgia intercostal (T9–T11) ou síndrome dolorosa
miofascial;
Dor em cólica na região periumbilical, oriunda do intestino delgado, pode ser desencadeada por
distensão da luz visceral ou por atividade motora excessiva;
A distensão do cólon ascendente e da metade direita do cólon transverso pode resultar em dor
periumbilical e/ou dor suprapúbica.
7) Fossa ilíaca direita (fossa inguinal direita): dor ocorre por lesões do apêndice, intestino delgado,
ceco, rim e ureter direito, tuba uterina direita ou ovário direito, afecções musculoesqueléticas ou
neurológicas.
Causas: apendicite aguda, salpingite crônica, ruptura de folículo ovariano, cólica renal, pielite
aguda, carcinoma do ceco, hérnia inguinal, epididimite aguda e psoíte.
8) Suprapúbica (hipogástrio): dor ocorre devido a lesões da bexiga, genitália interna, doenças intes-
tinais, afecções musculoesqueléticas ou neurológicas.
Causas: cistite aguda, distensão vesical (bexigoma), prostatite, hipertrofia prostática, carcinoma
de bexiga, tumor no retossigmoide, constipação crônica e doenças da genitália feminina;
Distensão da metade esquerda do cólon transverso e do cólon descendente determina dor loca-
lizada na porção mediana infraumbilical e suprapúbica.
9) Fossa ilíaca esquerda (fossa inguinal esquerda): dor ocorre devido a lesões do cólon sigmoide,
trato urinário esquerdo, genitália feminina interna, afecções musculoesqueléticas ou neurológicas.
Causas: salpingite aguda, gravidez ectópica, colite ulcerativa, psoíte, diverticulite, volvo do sig-
moide, intussuscepção intestinal, obstrução intestinal, hérnia inguinal, epididimite, neuropatia seg-
mentar (herpes-zoster, hérnia de disco, tumor medular), neuralgias dos nervos íleo-hipogástrico ou
íleo-inguinal e a síndrome dolorosa miofascial lombar.
198 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 198
• Anamnese:
Momento da ocorrência (cronicidade) e o tipo da dor (aguda ou crônica);
- Dor aguda pode indicar abdome agudo (apendicite, colecistite, diverticulite, úlcera perfurada etc.) ;
- Dor crônica pode indicar doença funcional;
Início da dor, persistência, tempo de duração em um período (dia, semana, mês);
- Dor intermitente durante 12 semanas nos 12 meses anteriores, com alívio à defecação, alteração
na frequência de defecação ou alterações na forma das fezes (pastosas, aquosas, em bolinhas), sem
anormalidades estruturais, constituem manifestações de síndrome do intestino irritável.
Local exato da dor e irradiação;
- Dor que se origina no intestino delgado, em geral, é percebida na região umbilical ou epigástrica;
- Dor epigástrica ocorre na gastrite e na doença por refluxo gastroesofágico (DRGE);
- Dor no quadrante superior direito e na região superior do abdome é comum na colecistite.
Fatores que exacerbam ou aliviam a dor (bebidas, refeições, medicamentos, posição corpórea)
- Dobrar o corpo devido a dor em caráter de cólica pode indicar cálculo renal;
- Pirose pode ser agravada por bebidas alcoólicas ou por alimentos como chocolate, frutas cítricas,
café, cebolas e hortelã-pimenta; ou ainda por mudanças de posição, como inclinar-se para frente,
exercitar-se, levantar pesos ou deitar em decúbito dorsal.
Sintomas associados à dor abdominal (febre, alterações do habito intestinal, perda de apetite)
- Perda de peso – hipovolemia para a dor aguda e caquexia para a dor crônica;
- Febre – processos infecciosos para dor aguda (febre que precede a dor – pielonefrite ou pneumo-
nia; febre após a instalação da dor – apendicite ou perfuração visceral) e neoplasias (principal-
mente linfoma) e doenças não infecciosas para a dor crônica;
199 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 199
- Alterações do hábito intestinal – constipação associa-se à dor abdominal crônica no câncer color-
retal, à dieta sem resíduos e a síndromes pseudo-obstrutivas; diarreia associa-se à dor abdominal
crônica nas síndromes de má absorção e na doença inflamatória intestinal; uma ou outra ou ambas
associam-se à dor abdominal crônica nos distúrbios de humor e nas parasitoses;
∟Dor abdominal de origem peritoneal na fase aguda pode associar-se a náuseas, vômitos, febre,
taquicardia, hipertonia e rigidez abdominal, descompressão brusca dolorosa da parede abdominal e
abolição dos ruídos hidroaéreos.
- Icterícia – afecções do fígado e vias biliares (alterações na pele, fezes e/ou urina);
- Alterações de apetite – possibilita conduzir a outros problemas, tais como indigestão, náuseas, vô-
mitos e anorexia (sintomas que acompanham muitos distúrbios gastrointestinais; todos esses sinto-
mas são encontrados na gravidez, na cetoacidose diabética, na insuficiência suprarrenal, na hiper-
calcemia, uremia, hepatopatias, alterações emocionais, reações adversas à fármacos etc.).
Inspeção
Formatos de Abdome
• Abdome normal/atípico: plano, simétrico e sem aumento ou diminuição do volume abdominal;
• Abdome escavado/retraído: parede abdominal retraída que resulta em diminuição
do encurtamento anteroposterior, assumindo um aspecto côncavo, com os rebordos
costais, as espinhas ilíacas e a sínfise púbica bem visíveis – observado em pacientes
magros, caquéticos ou desidratados;
• Abdome globoso: aumentado globalmente com predomínio do diâmetro antero-
posterior (p.e. gravidez no último trimestre, ascite, obesidade, hepatoesplenomegalia
volumosa, obstrução intestinal, tumores etc.);
• Abdome em ventre de batráquio: estando o paciente em decúbito dorsal, ocorre predomínio do
diâmetro transversal sobre o anteroposterior (p.e. ascite em fase de regressão);
• Abdome em avental: aparece em pessoas muito obesas devido ao acúmulo de tecido adiposo na
parede abdominal, que cai como um avental sobre a raiz das coxas;
• Abdome pendular ou ptótico: tem aspecto de avental, mas, diferentemente deste, resulta de
uma grande fraqueza da musculatura da região inferior do abdome, não necessariamente associ-
ado à obesidade – causa mais comum é a flacidez abdominal do puerpério.
Circulação Colateral
• Circulação colateral: do ponto de vista semiológico, significa a
presença de circuito venoso anormal visível ao exame da pele –
além do tórax e abdome (conforme a imagem ao lado), a circulação
colateral também pode ocorrer na cabeça, pescoço e membros infe-
riores e superiores.
Indica dificuldade ou impedimento do fluxo venoso através dos
troncos venosos → desvio do sangue para as colaterais previamente
existentes, tornando-se um caminho vicariante capaz de contornar
o local ocluído, parcial ou totalmente.
b) Cava inferior: causada por uma obstrução ao nível da cava inferior, o que leva ao
aumento do fluxo venoso em vasos colaterais na parede abdominal em direção as-
cendente.
As veias superficiais podem apresentar-se dilatadas e a drenagem venosa ter di-
reção cefálica (em direção à cabeça);
Causas: neoplasia (invasão direta da veia ou compressão externa pelo tumor),
trombose, cirrose hepática ou esquistossomose, linfadenopatia paravertebral,
aneurisma da aorta etc.
c) Cava superior: causada como a da cava inferior, por uma obstrução ou compres-
são da veia cava superior, levando ao aumento do fluxo em vasos colaterais com di-
reção descendente.
As veias superficiais podem apresentar-se dilatadas e a drenagem venosa ter di-
reção caudal (em direção à pelve);
Causas: compressão extrínseca por neoplasias ou alterações mediastinais.
a) Presença de frêmito e/ou sopro: frêmito, perceptível pelo tato, ou sopro, perceptível pela aus-
culta – a única condição em que se costuma perceber frêmito e/ou sopro é quando há recanaliza-
ção da veia umbilical (síndrome de CruveillierBaumgarten), devido a hipertensão portal.
203 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 203
*Importante: a manobra deve ser repetida 2–3 vezes para não haver dúvida, e, ao terminá-la, o
examinador terá condições de saber em que sentido corre o sangue.
Alterações Dermatológicas
• Icterícia: coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas.
Realizar, de preferência, sob iluminação natural, uma vez que lâmpadas in-
candescentes normalmente mascaram a existência de icterícia;
Hiperbilirrubinemia também pode resultar em prurido generalizado intenso.
• Cicatrizes: denotam processos traumáticos ou cirúrgicos que pode auxiliar na elucidação da histó-
ria médica pregressa caso o paciente esqueça de relatar (veja alguns exemplos na imagem abaixo).
É importante descrevê-las e caracterizá-las quanto sua localização e extensão.
• Abaulamentos abdominais: incluem hérnias ventrais (defeitos na parede abdominal, através dos
quais ocorre a protrusão de tecido) e tumores subcutâneos, como os lipomas.
Hérnias ventrais mais comuns: umbilicais, incisionais e epigástricas (imagens abaixo);
As hérnias e a diástase dos músculos retos do abdome ficam, em geral, mais evidentes quando o
paciente eleva a cabeça e os ombros a partir do decúbito dorsal;
205 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 205
- Diástase dos músculos retos do abdome: separação dos dois músculos retos do abdome, através
da qual o conteúdo abdominal forma uma crista saliente na linha média quando o paciente levanta
a cabeça e os ombros (conforme a imagem abaixo).
∟Observada com frequência em multíparas, em obesos e em pneumopatas crônicos;
∟Não tem repercussões clínicas.
Sinal da irmã Mari José: nódulo umbilical metastático que indica sinal de alerta
para tumoração maligna intra-abdominal.
Tumor metastático que acomete a cicatriz umbilical e pode ser a primeira evi-
dência de neoplasia intra-abdominal disseminada (conforme a imagem ao lado).
Movimentos do Abdome
• Movimentos respiratórios: indivíduos do sexo masculino realizam respiração do tipo toracoabdo-
minal, enquanto os do sexo feminino realizam respiração torácica (importante devido à gravidez).
Processos inflamatórios do peritônio com rigidez da parede abdominal levam à abolição destes
movimentos, o mesmo acontece com os processos dolorosos do abdome superior;
A frequência respiratória está aumentada nos pacientes com peritonite generalizada, hemorra-
gia intra-abdominal ou obstrução intestinal.
Inspeção Dinâmica
• Manobra de Valsava: aumento da pressão intra-abdominal gerado pela manobra permite avaliar
a presença de hérnias, devido ao abaulamento súbito formado nas áreas de herniamento;
• Manobra de Smith Bates: solicita-se ao paciente que contraia a musculatura abdominal; caso
haja desaparecimento da massa visível, indica massa abaixo da parede abdominal; se permanecer
visível e palpável indica que é massa da parede abdominal, enfraquecimento abdominal ou hérnias.
206 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 206
Ausculta
• A ausculta abdominal deve ser sempre realizada antes da percussão ou palpação.
Ausculta avalia a motilidade intestinal (se normal, aumentada ou ausente) e avalia a presença de
sopros arteriais;
Percussão ou palpação do abdome pode alterar a motilidade intestinal e, consequentemente, os
ruídos peristálticos.
*Importante: ausculta venosa – zumbido venoso acima da circulação portal do tipo cabeça de me-
dusa na região umbilical constitui o sinal de CruveillierBaumgarten, que denota hipertensão portal.
Percussão
• Percussão abdominal tem como objetivo demonstrar a presença de distensão gasosa e líquidos
ou massas sólidas, além de avaliar o tamanho do fígado (hepatimetria) e verificar se há aumento
esplênico e áreas dolorosas.
Percussão
Percussão
2) Pesquisa do sinal de percussão esplênica: percute-se na região indicada na imagem abaixo (nor-
malmente timpânica) e pede-se ao paciente para respirar fundo, enquanto o examinador continua
a percutir – presença de macicez pode indicar esplenomegalia.
208 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 208
*Importante¹: DPOC pode superestimar a hepatimetria, uma vez que a macicez hepática pode ser
deslocada para baixo pelo diafragma rebaixado.
*Importante²: distensão do cólon pode ocultar a macicez inferior do fígado, sendo necessário pal-
par para delimitar a borda inferior.
• Investigação de ascite: em pacientes com macicez nos flancos e timpanismo na região umbilical,
deve-se pesquisar se há líquido livre na cavidade abdominal por meio de algumas manobras.
Palpação
• A palpação abdominal é comumente dividida nas seguintes etapas:
Palpação superficial;
Palpação profunda; Paciente deve permanecer em decúbito dorsal durante a palpação.
Palpação do fígado; Sempre inicie a palpação em uma região do abdome o mais distante possível
Palpação do baço; do local da dor, deixando esta região por último.
Palpação do rim.
.
*Importante: caso as mãos estejam geladas, deve-se aquecê-las para evitar que ocorra espasmos
musculares voluntários denominados “defesa”.
• Palpação superficial: utilizada para avaliar dor, áreas de espasmo muscular ou ri-
gidez, herniações, massas e visceromegalias de grande magnitude.
Todos os quadrantes devem ser palpados utilizando toda a palma da mão direita
ou partes proximais dos dedos, mas não a ponta dos dedos – as mãos devem explo-
rar área por área ao invés de deslizarem sobre a parede abdominal;
Em pacientes desconfiados ou sensíveis a cocegas, pode ser útil que a mão do
examinador seja interposta com as mãos do paciente, de modo a facilitar o exame
(conforme a imagem ao lado).
Palpação do Fígado
• O fígado normal apresenta saliência firme e regular, com superfície macia; porém nem sempre é
palpável, assim como a palpação do fígado também não indica necessariamente hepatomegalia;
• As alterações hepáticas envolvem a presença de enrijecimento da superfície, superfície nodulada,
formato rombo (indica hepatomegalia) ou cortante (indica diminuição), sensibilidade algésica à pal-
pação (pode ocorrer devido a insuficiência cardíaca de instalação aguda), presença de massas.
Palpação do Baço
• Em situações normais, o baço é raramente palpado no adulto;
• Baço é, em geral, palpável quando há esplenomegalia.
Palpação do Rim
• Os rins geralmente não são palpáveis nos pacientes adultos – órgão retroperitonial;
• Rim pode ser palpável em condições patológicas como a hidronefrose, rim policístico (geralmente
há aumento bilateral), tumores.
Nefrologia
Anatomia e Fisiologia
• Rim: estrutura par, em forma de feijão, localizada na região retroperi-
tonial (entre T12–L3), onde rim o direito ocupa uma posição cerca de
1,5cm mais baixo que o esquerdo.
Divisão do rim:
- Córtex (externo): responsável pela filtração (corpúsculos renais);
- Medula (interno): capacidade de concentrar urina.
• Ureteres: levam a urina dos rins à bexiga;
• Bexiga: órgão muscular arredondado, localizado na pelve, que serve de
depósito temporário para a urina, continuamente formada pelos rins;
• Uretra: transporta a urina armazenada da bexiga para o meio externo.
• Néfron: formado por um corpúsculo renal e um túbulo (imagem abaixo) que se estende, a partir
desse corpúsculo, até um conjunto de outros túbulos (ducto coletor).
Corpúsculo renal: responsável pela filtração do sangue por meio
do glomérulo (situado entre as arteríolas aferente e eferente);
Túbulo proximal: responsável pela reabsorção total de glicose, ⅔
de H2O e ⅔ de solutos;
Alça de Henle: possui capacidade de concentrar ou diluir urina –
alvo dos diuréticos de alça (p.e. furosemida);
Túbulo distal inicial: alvo dos diuréticos tiazídicos;
Túbulo distal final e ductos coletores: alvo dos diuréticos poupa-
dores de potássio (p.e. amilorida).
Distúrbios Miccionais
• Sintomas miccionais (disúria, polaciúria, urgência):
Disúria: dor ou sensação de queimação durante a micção;
- Estrangúria: dor acentuada no final da micção (geralmente é de origem vesical).
Polaciúria: micções em intervalos anormalmente breves (aumento da frequência);
Urgência: sensação exagerada de urinar.
• Oligúria: eliminação de volume urinário abaixo do qual a carga de resíduos metabólicos não pode
ser excretada – diurese <400mL/24h;
Principais causas: redução do fluxo sanguíneo (desidratação, hemorragia, insuficiência cardíaca)
ou por lesões renais (glomerulonefrite aguda, necrose tubular aguda).
• Retenção urinária: incapacidade de esvaziar a bexiga, apesar de os rins estarem produzindo urina
normalmente e o paciente apresentar desejo de esvaziá-la;
Aguda: sensação de distensão da bexiga, associado à tensão e dor;
Crônica: gradual dilatação da bexiga, queixa de polaciúria, hesitação, gotejamento.
Principais causas: obstrução no nível da uretra ou do colo vesical, como ocorre na estenose ure-
tral, na hipertrofia e nas neoplasias da próstata e na bexiga neurogênica.
• Enurese: micção involuntária, inconsciente, que não deve ser confundida com incontinência (que
por definição é perda, não micção) – fisiológica até os 3 a 4 anos de idade (anormal >4 anos).
216 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 216
Dor e Edema
• Dor lombar (flanco): sintoma bastante frequente e, quando relacionado à doença renal, costuma
ser unilateral, com localização entre a 12ª costela e a crista ilíaca e irradiação para o hipocôndrio ou
em direção ao ligamento inguinal ou região genital, em cólica e sem posição de alivio – pode piorar
com a posição ereta e se agravar no fim do dia.
Principais causas: síndrome nefrótica, glomerulonefrite aguda, nefrite intersticial, pielonefrite
aguda, obstrução urinária.
Doenças Glomerulares
• Diagnóstico diferencial: síndrome nefrítica e síndrome nefrótica (veja a tabela abaixo).
Parâmetros Síndrome nefrítica Síndrome nefrótica
Quadro clínico Edema Edema
Hipertensão Hipoalbuminemia
Hematúria Proteinúria
Exame de urina Hematúria Proteinúria
Cilindros hemáticos Cilindros hialinos
Complemento sérico Baixo Normal
Antecedente estreptocócico Sim Não
Fisiopatologia Hipervolemia Hipovolemia
Recidivas Não Sim
Tratamento Diuréticos Corticosteroides
Síndrome Nefrítica
• Síndrome nefrítica: decorre de processo inflamatório do capilar glomerular.
Disfunção renal de início abrupto, por graus variáveis de hematúria, cilindros hemáticos, edema,
hipertensão arterial, oligúria, proteinúria subnefrótica (<3g/24h), além de piúria.
Síndrome Nefrótica
• Síndrome nefrótica: caracterizada pela presença de proteinúria maciça (>3,5g/24h), edema, hipo-
albuminemia (<3,5g/dL), dislipidemia, além de estado de hipercoagulabilidade (sendo a trombose
venosa a manifestação mais comum) e suscetibilidade a infecções (perda de imunoglobulinas e
componentes do sistema complemento pela urina).
Síndrome encontrada em pacientes com doenças sistêmicas (síndrome nefrótica secundária –
LES, DM, CMV, hepatite, HIV, TORCHS, linfoma) ou em doenças primariamente renais (síndrome
nefrótica primária ou idiopática – lesões mínimas, glomeruloesclerose segmentar e focal, glomeru-
lonefrite membranoproliferativa, nefropatia membranosa);
Sinais e sintomas: edema palpebral/periorbital (matinal), edema de membros inferiores, edema
generalizado (anasarca) em casos mais graves, ascite, derrame pleural.
219 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 219
Litíase Urinária
• Litíase urinária: também denominada doença calculosa renal;
Massa cristalina que se forma nos rins – possui tamanho clinica-
mente detectável (sintomas e diagnóstico de imagem);
Também pode acometer ureter, bexiga e uretra;
Maior prevalência em homens jovens (20–40 anos) e caucasianos.
*Importante: localização da dor varia com o local onde o cálculo está instalado no trato urinário.
• Anamnese:
Investigar histórico de doença pregressa:
- Má absorção intestinal (doença de Crohn, cirurgia bariátrica), gota, hipertensão, DM2,
hiperparatireoidismo primário, obesidade, infecções do trato urinário crônicas ou recorrentes.
• Exame Físico:
Avaliação do peso;
Pressão arterial;
Presença de hipersensibilidade no ângulo
costovertebral (punho percussão lombar);
Ocorrência de edema nos membros inferiores;
Sinais de outras condições sistêmicas.
220 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 220
Uropatia Obstrutiva
• Uropatia obstrutiva (obstrução urinária): interrupção ou diminuição do fluxo normal de urina.
Pode ser congênita ou adquirida, uni ou bilateral, completa ou incompleta;
- Ocorre em qualquer nível do trato urinário (conforme a imagem abaixo).
Principais causas: litíase, neoplasias, cicatrização de infecção, anomalias congênitas;
- Em mulheres: gravidez e câncer uterino;
- Em homens: câncer de próstata.
Há aumento da pressão hidrostática → dilata-
ção da pelve renal e túbulos → hidronefrose;
- Redução do fluxo sanguíneo renal → isquemia
renal → necrose → destruição papilar.
Pode causar danos renais agudos ou crônicos:
- Agudo: injúria renal reversível;
- Crônico: isquemia, dano glomerular e fibrose.
• Manifestações clínicas:
Obstrução aguda:
- Dor (distensão da cápsula);
∟Pode ser acompanhada de náuseas ou vômito.
- Azotemia;
- Oligúria ou anúria.
Obstrução crônica:
- Azotemia;
- Hipertensão
- Poliúria;
- Natriurese.
• Anamnese:
Dificuldade para urinar;
Disúria;
Hematúria – sugere obstrução por cálculos;
Dor no flanco durante a micção – indicativa de refluxo vesicoureteral;
Infecção urinária ou retenção vesical – principal manifestação clínica de obstrução crônica;
Alteração do volume urinário.
• Exame físico:
Palpação:
- Procurar massas palpáveis que possam sugerir a
altura da obstrução no trato urinário;
- Bexiga distendida pode sugerir obstrução;
- Rim palpável sugere existência de obstrução ure-
teral com hidronefrose associada.
221 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 221
Anamnese:
- Investigar histórico de insuficiência cardíaca ou insuficiência hepática;
- Verificar histórico de ingestão e perdas hídricas;
- Investigar uso de medicamentos (inibidores da ECA, inibidores da angiotensina, AINEs → IRA);
- Em pacientes hospitalizados, investigar hipotensão (devido a sepse ou eventos intraoperatórios).
Exame físico:
- Taquicardia, membranas mucosas secas, olhos encovados, alterações da pressão arterial ortostá-
tica, estase jugular, diminuição do turgor da pele → hipovolemia;
- Ausculta pulmonar (evidência de edema pulmonar);
- Extremidades frias, pulso rápido.
b) Insuficiência renal aguda pós-renal: ocorre por meio de obstrução bilateral ou unilateral com
rim único – possui a menor prevalência entre os 3 tipos de IRA.
Somente a desobstrução possibilita o restabelecimento da função do órgão;
Principais causas: litíase, tumores, coágulos, traumatismo urinário, malformações congênitas,
hipertrofia prostática, tumores abdominais e pélvicos, gravidez, bexiga neurogênica.
222 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 222
Manifestações clínicas:
- Obstrução aguda: dor (distensão da cápsula – pode ser acompanhada de náuseas ou vômito), azo-
temia, oligúria ou anúria;
- Obstrução crônica: azotemia, hipertensão, poliúria, natriurese.
Anamnese:
- Dificuldade para urinar, disúria, hematúria (sugere obstrução por cálculos);
- Dor no flanco durante a micção – indicativa de refluxo vesicoureteral;
- Infecção urinária ou retenção vesical – principal manifestação clínica de obstrução crônica;
- Alteração do volume urinário.
Exame físico:
- Procurar massas palpáveis que possam sugerir a altura da obstrução no trato urinário;
- Bexiga distendida pode sugerir obstrução;
- Rim palpável sugere existência de obstrução ureteral com hidronefrose associada.
c) Insuficiência renal aguda intrínseca: lesões recentes ao parênquima renal (glomérulo, túbulo,
interstício ou vasos) em que não há reversão imediata após a remoção da causa inicial.
Principais causas e manifestações clínicas associadas:
- Necrose tubular aguda (NTA): forma mais frequente de IRA intrínseca;
∟Pode ser isquêmica, nefrotóxica (antibióticos, contrastes radiológicos, peçonhas, AINES, bloquea-
dores da ECA) ou por pigmentos (hemoglobinúria, mioglobinúria);
∟Manifestações clínicas: oligúria, náuseas, vômitos, tremores, fasciculações musculares, apatia,
confusão mental, edema periférico, aumento de peso, edema pulmonar, derrame pleural.
- Glomerulonefrites;
∟Manifestações clínicas: oligúria, edema, hipertensão.
Anamnese:
- Investigar insuficiência cardíaca, doença renal prévia, desidratação ou hipovolemia, DM, HAS, hi-
potensão, mieloma múltiplo;
- Procedimentos com contrastes radiológicos, medicamentos (antibióticos, anestésicos, analgésicos,
imunossupressores);
- Manejo de metais pesados e/ou solventes orgânicos;
- Acidentes com animais peçonhentos;
- Uso de drogas ilícitas (cocaína, heroína).
223 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 223
4) Fase de insuficiência renal crônica clínica: sinais e sintomas de uremia (anemia, hipertensão ar-
terial, edema, fraqueza, mal-estar e sintomas digestivos).
5) Fase terminal de insuficiência renal crônica: faixa de função renal na qual os rins perderam o
controle do meio interno – incompatível com a vida.
Paciente intensamente sintomático;
Opções terapêuticas: hemodiálise ou dialise peritoneal, transplante renal.
*Importante: uremia ou síndrome urêmica → conjunto de sinais e sintomas resultantes dos efeitos
tóxicos do acúmulo de toxinas urêmicas no sangue em decorrência da perda de função renal.
(observe na tabela abaixo as manifestações clínicas da síndrome urêmica)
• Quadro clínico:
Fases iniciais: quadro clínico discreto (ou
ausente) e inespecífico.
- Nictúria, oligúria.
- Fadiga, sonolência;
- Anorexia, emagrecimento;
- Náuseas, vômitos;
- Edema, prurido, palidez cutânea.
• Anamnese:
Investigar doenças sistêmicas (DM, HAS, LES) e uso de medicamentos;
- Verificar se há manifestações decorrentes da doença básica.
∟Exemplo: retinopatia diabética precoce no diabético.
Investigar complicações associadas à uremia (sistemas cardiovascular, nervoso central e perifé-
rico, respiratório, hematopoiético, gastrointestinal e endócrino, além de alterações cutâneas, do-
ença óssea renal, alterações esqueléticas e musculares e distúrbios imunológicos – observe algu-
mas complicações na imagem acima).
• Exame físico:
Pressão arterial;
Anormalidades de pele;
Rins policísticos palpáveis;
Diminuição da massa corporal magra;
Edema periférico;
Neurológico alterado: polineuropatia sensorial;
Fundo de olho (DM);
Avaliação do precórdio.
225 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 225
• Classificações:
ITU alta: quando os rins estão envolvidos (pielonefrite);
ITU baixa: bexiga, uretra, próstata, epidídimo;
Complicada: infecção associada a alterações estruturais do trato urinário, imunossupressão ou
infecção urinária na mulher grávida;
Não-complicada: episódios de cistite ou pielonefrite principalmente em mulheres sem fatores
de risco predisponentes à infecção;
Infecção aguda: caso sintomático inicial;
Recaída/recidiva: recorrência de bacteriúria ocasionada pelo mesmo microrganismo (trata-
mento >3 semanas) com urocultura positiva no controle de cura → não erradicação;
Reinfecção: ocorre após cura aparente por nova cepa (diferente).
• Anamnese:
Investigar número de ITUs por ano;
Tratamentos anteriores e duração;
Atividade sexual: frequência e parceiro (há troca de parceiros? são múltiplos?);
Hospitalizações prévias – histórico de instrumentação geniturinária prévia/cateter vesical;
Patologia nefro-urológica prévia.
• Exame físico:
Hipertermia;
Exame abdominal inferior e região suprapúbica/pélvica, punho percussão leve (pielonefrite).
Manifestações clínicas:
- Febre súbita (39–40º);
- Calafrios;
- Náuseas, vômitos;
- Dor no flanco (com irradiação para
a fossa ilíaca e região púbica);
- Prostração, taquicardia e hipotensão
arterial (também podem ocorrer);
- Disúria, polaciúria, urgência e eliminação
de urina turva (pielonefrite + cistite).
b) Pielonefrite crônica: surge geralmente após um episódio inicial de pielonefrite aguda ou cistite.
Predisposição: obstrução urinária, presença de cálculos, hipertrofia prostática, bexiga neurogê-
nica e refluxo vesicouretral.
Manifestações clínicas:
- Polaciúria, dor lombar (sugerem origem no trato urinário);
- Bacteriúria;
- Fraqueza geral, apatia;
- Perda de peso,
- Sintomas associados à uremia;
- Hipertensão arterial.
Quadro clínico:
- Disúria, polaciúria, piúria, urgência;
- Urina turva e fétida;
- Noctúria, hesitação;
- Desconforto e sensação dolorosa na região suprapúbica;
- Hematúria macroscópica;
- Dor lombar (pode indicar compartimento do TGU superior);
- Bacteriúria, corrimento uretral purulento entre micções (uretrite aguda).
Manifestações clínicas:
- Metástases em pulmões, fígado e ossos (25–30% dos casos);
- Hematúria, cólica renal;
- Dor no flanco, massa abdominal palpável;
- Febre alta de longa duração;
- Perda de peso, fadiga;
- Policitemia (produção elevada de eritropoietina).
Manifestações clínicas:
- Massa abdominal palpável;
- Inchaço abdominal;
- Dor abdominal;
- Febre;
- Hematúria;
- Náusea, vômito;
- Constipação, anorexia;
- Hipertensão;
- Mal-estar;
- Anemia.
228 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 228
Manifestações clínicas:
- Dependem da localização e do tamanho da neoplasia;
- Hematúria;
- Dor lombar/em flanco (em caso de obstrução);
- Edema periférico (em caso de obstrução);
- Anorexia, perda de peso e dor óssea (sinais sistêmicos – geralmente es-
tão associados a doença metastática).
Manifestações clínicas:
- Hematúria;
- Irritabilidade vesical;
- Polaciúria, urgência e/ou disúria;
- Enfraquecimento do jato urinário (quando a neoplasia se
localiza no colo vesical);
- Dor/desconforto suprapúbico.
• Exame físico:
Presença de massa abdominal palpável (adenocarcinoma renal, tumor de Wilms);
Pressão arterial elevada (tumor de Wilms);
Bexiga distendida pode sugerir obstrução neoplásica;
Neoplasia vesical raramente é palpável.
229 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 229
• Doença renal policística: distúrbio genético que pode ter caráter dominante ou recessivo.
Ambos os rins são progressivamente afetados.
Anamnese:
- Investigar histórico familiar de doença renal policística;
- Pesquisar por diverticulite (maior incidência em pacientes com doença policística renal);
∟Dor no quadrante inferior esquerdo do abdome que inicia em cólica e pode passar a ser cons-
tante – pode estar associado a febre, constipação, náuseas, vômitos);
- Investigar sintomas associados à uremia (insuficiência renal crônica).
Exame físico:
- Rins palpáveis com superfície nodular;
- Dor/desconforto lombar ou em flancos.
230 Danilo Fernando SEMIOLOGIA MÉDICA Med-UFRGS 230
b) Doença renal policística autossômica recessiva (DRPAR): desordem herdada rara, com dilata-
ções císticas nos ductos coletores – acomete principalmente crianças.
Fatal no primeiro ano de vida (±30% dos neonatos);
- ±50% dos pacientes que sobrevivem ao período neonatal progridem para insuficiência renal crô-
nica terminal na primeira década de vida.
Manifestações clínicas:
- Nefromegalia;
- Hipertensão, hipertensão portal;
- Nefrolitíase, insuficiência renal;
- Sangramento gastrointestinal, ruptura de varizes esofágicas;
- Trombocitopenia;
- Esplenomegalia;
- Colangite, icterícia.