Você está na página 1de 36

Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Capítulo

15
MANEJO DE PRAGAS NO ECOSSISTEMA DE GRÃOS ARMAZENADOS

Lêda Rita D`Antonino Faroni


Juarez de Sousa e Silva

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, maiores produções agrícolas, particularmente de grãos, têm


sido alcançadas como resultado do desenvolvimento e da implementação de técnicas
eficientes de produção e de proteção. No entanto, é essencial que a viabilidade dos grãos
e de outros produtos agrícolas seja solidificada pelo desenvolvimento de práticas
efetivas de armazenagem, a fim de minimizar as perdas pós-colheita. Embora não haja
dados concretos sobre perdas causadas somente por pragas em estruturas modernas e
tradicionais de armazenamento de grãos, estima-se que, em países desenvolvidos, esta
perda seja insignificante, quando comparada com valores superiores a 15% em muitos
países em desenvolvimento, onde contínuas crises econômicas e a deficiente ligação
entre o conhecimento teórico e a aplicação prática são os principais empecilhos para
colocar a perda de alimentos em níveis toleráveis, isto é, abaixo de 5%.
Com o aumento crescente da produção de grãos no Brasil, há necessidade de
haver, também, estruturas de apoio ao sistema pós-colheita, assim como medidas
eficientes de pré-processamento e armazenamento. No que se refere ao armazenamento,
muito tem sido feito no sentido de redução das perdas e conservação adequada dos
produtos agrícolas, pois quaisquer modificações na qualidade ou disponibilidade dos
alimentos são imediatamente acusadas pela população, com sérias repercussões
socioeconômicas.
Como visto em capítulos anteriores, a massa de grãos armazenada é um
ecossistema em que a deterioração é o resultado da interação entre:
a) variáveis físicas (temperatura e umidade da massa de grãos, umidade
relativa do ar intergranular, propriedades físicas da massa de grãos:
porosidade, fluidez, acamamento dos grãos, sorção e propriedades térmicas,
estrutura da unidade armazenadora e suas inter-relações e variáveis
meteorológicas);
b) variáveis químicas (disponibilidade de oxigênio no ar intergranular);
c) variáveis biológicas de fontes internas (longevidade, respiração,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 371


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

maturidade pós-colheita e germinação); e


d) variáveis biológicas de fontes externas (fungos, leveduras, bactérias,
insetos, ácaros, roedores e pássaros).
O grau de deterioração depende da taxa de aumento do efeito destas variáveis,
que, por sua vez, são afetadas pela interação da temperatura e umidade e pela inter-
relação destas variáveis com o produto e com a estrutura do armazém.
Além dos principais fatores de deterioração, serão discutidas, neste capítulo, a
prevenção e as formas de controle das principais pragas encontradas no ecossistema dos
grãos armazenados.

2. PRINCIPAIS FATORES DE DETERIORAÇÃO

2.1. Temperatura da Massa de Grãos


A temperatura inicial dos grãos armazenados, que deve estar igual ou superior à
temperatura do ar atmosférico, deve ser reduzida rapidamente para não permitir a
deterioração dos grãos, pois quando estes estão frios há menor possibilidade de que isto
ocorra. Temperaturas baixas podem compensar os efeitos de maiores teores de umidade
no desenvolvimento de microrganismos, insetos e ácaros que atacam os grãos
armazenados. É por isso que, em climas mais frios, os grãos com umidade superior em
até 1,5 ponto percentual acima da indicada para locais de clima mais quentes podem ser
armazenados com segurança. A Tabela 1 dá uma indicação das condições de
temperatura e umidade relativa para o desenvolvimento de alguns agentes biológicos de
fontes externas.

TABELA 1 - Temperatura e umidade relativa para a sobrevivência e condições ótimas


para o desenvolvimento e multiplicação de insetos, ácaros e fungos

Temperatura ºC Umidade Relativa %


Sobrevivência Ótima (média) Sobrevivência Ótima
Insetos 8 a 41 30 1 a 99 50 a 70
Ácaros 3 a 41 25 42 a 99 70 a 90
Fungos -2 a 55 30 70 a 90 80

A temperatura está entre os fatores que influenciam o processo de respiração dos


grãos. Há aumento de intensidade de respiração, proporcional ao aumento da
temperatura, que fica na dependência do teor de umidade dos grãos. Sob alto índice de
umidade, superior a 14%, a respiração aumenta rapidamente na maioria dos cereais, o
que causa a sua deterioração.
A medida da temperatura é usada como método para se detectar a deterioração
de grãos armazenados. No entanto, devido ao fato de os grãos possuírem baixa
condutividade térmica, a deterioração normalmente inicia-se em focos pequenos e
localizados, podendo afetar a temperatura de apenas uma pequena parte da massa de
grãos. Para detectar a deterioração na fase inicial, a temperatura deve ser medida no
maior número de pontos possíveis ou naqueles locais sujeitos ao acúmulo de pó e
sementes quebradas, próximo da parede e do centro do armazém e na superfície da

372 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

massa; deve-se medir, também, onde há pouca circulação de ar, como nos cantos e entre
os dutos de aeração.

2.2. Umidade
O teor de umidade do grão é uma outra variável que limita o desenvolvimento de
bactéria, actinomicetes, leveduras, fungos, ácaros e insetos, que são os principais
agentes de deterioração dos grãos armazenados. A quantidade de água livre contida em
um cereal logo depois de colhido e durante o armazenamento determina indiretamente,
na maioria dos casos, a qualidade dos grãos. Para um armazenamento seguro, são
importantes os seguintes pontos: teor de umidade abaixo de 13% inibe o crescimento da
maioria dos microrganismos e ácaros; teor de umidade abaixo de 10% limita o
desenvolvimento da maioria dos insetos de grãos armazenados; e teores de umidade na
massa de grãos não são uniformemente distribuídos, variam de estação para estação e de
uma zona climática para outra.

2.3. Estrutura do Armazém e suas Inter-relações


O desenho e a construção de unidades armazenadoras apropriadas são fatores
importantes na manutenção e melhoria da estabilidade da massa de grãos armazenados.
Para uma conservação segura, os grãos devem ser guardados secos, em local fresco, e
protegidos de água e agentes bióticos externos. A escolha do local do armazém, seu
desenho e o material usado em sua construção em grande parte determinam se certos
organismos daninhos, incluindo pássaros e roedores, serão pragas significantes.
Geralmente, exigências estruturais para estocagem de grãos poderão variar de acordo
com o clima, o tipo de colheita e as espécies de pragas dominantes de um país ou área
geográfica. As construções deverão são adequadas para a redução de infestação de
pragas, a fim de minimizarem o calor na parte superior do ambiente e maximizarem a
perda de calor e de umidade do grão para o meio ambiente (vide capítulo 13 –
Estruturas para Armazenagem).

Clique para ver: vídeo 1

2.4. Disponibilidade de Oxigênio


A disponibilidade de oxigênio (ao lado do teor de umidade) é provavelmente o
fator mais importante, pois afeta o crescimento e desenvolvimento de todos os
organismos nocivos, exceto bactérias anaeróbicas. Devido ao fato de que fungos, ácaros
e todos os insetos requerem oxigênio livre para o seu desenvolvimento, os grãos podem
ser armazenados com perda mínima de qualidade, se esta variável for excluída ou
manipulada pela modificação da atmosfera (vide Capítulo 16 - Controle de Pragas por
Atmosferas Controladas).

2.5. Longevidade das Sementes


O período de viabilidade do grão durante o armazenamento pode ser longo ou
curto. As causas da morte da semente são ainda obscuras. Uma hipótese é de que os
grãos morrem devido à degeneração da proteína, que, em geral, é influenciada pela
deterioração do núcleo das células. É geralmente sabido que a vida do grão armazenado

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 373


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

é regulada pelo tipo de grão, pela microflora presente e pela interação entre a
temperatura e umidade.

2.6. Respiração
A propriedade de respiração do grão e da microflora presente é crucial no
entendimento do processo de deterioração do grão. Ambos respiram pelo mesmo
princípio fisiológico. A respiração dos grãos ou grãos quebrados produz energia e
ocorre na presença (aeróbica) ou na ausência de oxigênio (anaeróbica). Na respiração
aeróbica ocorre uma oxidação completa da glicose, produzindo dióxido de carbono,
água e energia (674 kcal), enquanto na anaeróbica a glicose é completamente
decomposta, formando dióxido de carbono, álcool etílico e energia.
Os efeitos diretos da respiração são a perda de peso e o aumento do teor de
umidade do grão, o aumento do nível de dióxido de carbono no ar e o aumento da
temperatura dos grãos. A intensidade da respiração dos grãos e dos fungos determina,
em parte, a taxa e a extensão da deterioração da massa de grãos.
A intensidade do processo respiratório é regulada por um conjunto de variáveis
bióticas e abióticas, como: umidade, temperatura, concentração de gases, aeração,
tamanho e forma do grão e da massa de grãos, da espécie, da variedade, da colheita, da
maturidade pós-colheita e das condições de transporte.

2.7. Maturidade Pós-Colheita


A maturidade pós-colheita é uma das propriedades dos grãos menos entendidas.
Complexas mudanças bioquímicas ocorrem nos dias e nas semanas que se seguem ao
armazenamento de grãos colhidos “frescos”. O período final da síntese química, que se
inicia na maturação principalmente de cereais no campo, pode ser completado com
sucesso somente após o grão ter amadurecido no campo e colhido com o mínimo de
injúrias.
Quando a colheita é realizada na época correta (depois da maturação dos grãos),
é possível melhorar a estabilidade do armazenamento e a manutenção da qualidade do
grão. Durante muitos anos acreditou-se que o trigo recém-colhido não tinha o mesmo
desempenho que o trigo armazenado por um período de muitas semanas ou meses.
Estudos recentes mostraram que a qualidade da farinha de trigo recém-colhido
para a panificação é melhor do que aquela que ficou armazenada por um curto período
de tempo. Subseqüentemente, vê-se que o envelhecimento não melhora o potencial de
panificação e que o armazenamento prolongado pode gerar declínio gradual na
qualidade de panificação ou cozimento.

2.8. Germinação
A germinação é definida como o fenômeno pelo qual, sob condições apropriadas,
o eixo embrionário dá prosseguimento ao seu desenvolvimento, que tinha sido
interrompido por ocasião da maturidade fisiológica. Várias teorias têm sido propostas
para explicar a perda de viabilidade das sementes durante o armazenamento.
Basicamente elas são divididas em dois grupos: um em que a perda da viabilidade é um
fator intrínseco, resultante do metabolismo da semente, e outro em que as causas são
extrínsecas para as sementes e são completadas com microrganismos que vivem em

374 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

associação com a semente. A viabilidade das sementes de cereais é condicionada à


temperatura e umidade do armazenamento. Ela pode ser prolongada com baixos teores
de umidade e temperatura.

2.9. Microrganismos
Os organismos vivos e os componentes de um ambiente inerte interagem para
causar danos aos grãos armazenados. Para efeito de armazenagem, os organismos vivos
podem ser divididos em dois grupos: os consumidores (insetos, pássaros e roedores) e
decompositores (fungos e bactérias). Quando o grão está armazenado, os
decompositores estão normalmente em estado de dormência, e os consumidores (insetos
e roedores) estão ou poderiam estar ausentes. A predominância de uma determinada
espécie desses organismos na massa de grãos fica na dependência de muitos fatores,
destacando-se os fatores climáticos onde os grãos são produzidos e as condições de
armazenagem e da espécie ou variedade vegetal. Para as condições tropicais, os fungos
constituem os principais microrganismos da microflora presente na massa de grãos.

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2

2.9.1. Fungos
São constituídos por delicados filamentos que se ramificam, denominados hifas,
e cujo conjunto é chamado de micélio. O micélio executa as funções vegetativas, e a
função reprodutiva é realizada por órgãos frutíferos, denominados esporos, os quais são
disseminados de diversas maneiras: ventos, chuvas, insetos, ferramentas, utensílios
agrícolas etc.
Em condições favoráveis do meio ambiente, os esporos germinam, produzindo
hifas, as quais invadem os tecidos dos grãos e de seus subprodutos. Os fungos mais
freqüentes são os dos gêneros Aspergillus e Penicillum, os quais produzem ácidos que
decompõem a matéria orgânica (como os produtos armazenados).

2.9.2. Bactérias
São organismos unicelulares, cuja multiplicação se dá simplesmente por divisão
celular. Sem condição de penetrar no tecido intacto do grão, necessitam que haja uma
abertura natural ou ferimentos causados por insetos ou tecidos apodrecidos.

3. DETERIORAÇÃO DOS GRÃOS POR MICRORGANISMOS

A ação dos microrganismos afeta o poder germinativo das sementes, as


qualidades organolépticas, o valor nutritivo e o aproveitamento industrial dos grãos e
seus subprodutos. Alguns são produtores de substâncias extremamente tóxicas
(micotoxinas).
As várias espécies de fungos invadem várias partes das sementes, incluindo o
germe, causando ou contribuindo para redução do poder germinativo.
As matérias graxas (combinação de ácidos graxos e glicerina) são muito
instáveis quando armazenadas em condições desfavoráveis à sua preservação,
provocando rancificação a qual, provém da oxidação ou hidrólise da matéria graxa que

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 375


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

dá origem aos ácidos graxos livres. O teor de ácidos graxos livres constitui índice de
deterioração dos grãos, que é aumentado pelo desenvolvimento de fungos que infestam
a massa de grãos.
Os grãos armazenados têm a sua temperatura elevada se mantidos com elevado
teor de umidade, em razão da alta taxa de respiração dos grãos úmidos e dos
microrganismos associados à massa. Caso o teor de umidade esteja abaixo de 15% b.u.,
o aumento da temperatura é geralmente devido a uma população de insetos. Acima
deste valor, pode ser atribuído quer aos fungos quer aos insetos, ou a ambos. Grandes
aumentos de temperatura, entre 45ºC e 57ºC, são devidos aos fungos, já que a
temperatura de 45ºC é suficiente para matar os insetos (adultos).
O aumento de temperatura acima do nível letal para a maioria dos fungos (55ºC)
pode provocar calor até o ponto de ignição.

3.1. Fatores que Afetam a Atividade dos Microrganismos


Os principais fatores que afetam a atividade dos fungos são: teor de umidade dos
grãos, temperatura, taxa de oxigênio, condições do tegumento dos grãos e impurezas
existentes na massa de grãos armazenada.
Quando a umidade relativa do ar intersticial da massa de grãos alcança 75%, a
maioria dos cereais apresenta teor de umidade entre 14 e 15% (vide capítulo 4 –
Qualidade dos Grãos). Este teor de umidade é suficiente para que os esporos dos fungos
presentes nos grãos germinem e se desenvolvam; com o aumento da temperatura em
níveis superiores a 25ºC, o crescimento dos fungos é acelerado.
Temperaturas muito altas e muito baixas inibem tanto o desenvolvimento dos
fungos quanto o das bactérias.
O tegumento é uma barreira natural contra a infecção dos microrganismos. Os
grãos estragados pelo manuseio ou atacados por insetos são mais sujeitos à ação da
microflora do que os grãos em perfeito estado.
O produto que contém impurezas (fragmentos do próprio produto) e matérias
estranhas (detritos vegetais e corpos estranhos) é portador de maior quantidade de
microrganismos e apresenta condições que intensificam sua deterioração, já que as
matérias estranhas apresentam teores de umidade mais elevados que o produto sob a
mesma condição de armazenagem.

3.2. Controle dos Microrganismos de Grãos Armazenados


Os métodos empregados para evitar a deterioração dos grãos armazenados
consistem em manter o teor de umidade, a temperatura e a taxa de oxigênio em níveis
desfavoráveis ao desenvolvimento da microflora.
A secagem e o resfriamento do produto por meio da aeração são as operações
mais práticas para evitar as condições ótimas para o desenvolvimento de
microrganismos. Adicionalmente, o uso de máquinas de limpeza, objetivando a redução
do teor de impurezas e de matérias estranhas existentes na massa de grãos, é fator
primordial para que as operações de secagem e aeração atinjam seus objetivos.
O período máximo em que se pode armazenar uma massa de grão, sem
prejudicar o tipo comercial do produto pela ação da microflora, depende dos seguintes
fatores: espécie ou variedade dos grãos, teor de umidade e temperatura (veja capítulo 9).

376 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

4. INSETOS DE GRÃOS ARMAZENADOS

A extensão dos danos e das perdas na pós-colheita causados por insetos, nos
grãos e seus derivados (produtos processados), é difícil de quantificar. A perda nos
grãos pode ser considerada de variadas formas: perda de peso, nutricional, da qualidade,
da viabilidade das sementes e outras. Os produtos já processados também estão sujeitos
a perdas, porém o pior dano é a contaminação. Em alguns países, a simples presença de
insetos em produtos processados é causa de rejeição do produto.
A proposta, ou seja, o objetivo deste capítulo, não será discutir o método de
determinação quantitativa das perdas que ocorrem, mas descrever os tipos de danos e
perdas que podem ocorrer direta ou indiretamente como resultado da infestação de
insetos em grãos e seus derivados.

4.1. Danos Diretos em Grãos e Subprodutos

4.1.1. Consumo de grãos pelos insetos


Todos os insetos que infestam os grãos e neles se desenvolvem consomem parte
destes. Espécies que infestam internamente, como o gorgulho-do-milho (Sithophilus
zeamais Motschulsky), o menor broqueador dos grãos (Rhyzopertha dominica (F.)), e
mariposas, alimentam-se largamente do endosperma.
A alimentação das espécies que infestam internamente resulta em um grão com
variável porcentagem de perda em peso. Foi detectado que o gorgulho-do-arroz, S.
oryzae (L.), pode consumir cerca de 30% do peso dos grãos de trigo em que se
desenvolvia. Larvas de R. dominica causaram perda de peso de 9,5%, em média, em
grãos de trigo no período de 20 dias. A perda de peso causada pelos adultos foi de 19,4,
12,0, 9,5 e 6,5% durante a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª semanas, respectivamente, após a emergência
dos adultos. O peso médio acumulado em 60 dias foi, em média, de 56,9%.
O consumo de trigo por espécies que o infestam influencia a classificação do
produto, a aceitabilidade, o processamento e o uso como semente.

4.1.2. Contaminação dos grãos e dos seus subprodutos


A infestação de insetos que contaminam os grãos armazenados se dá em virtude
da presença, em suas fases de desenvolvimento, de insetos vivos e mortos, seus
produtos metabólicos e outros aspectos do seu processo de vida.
Na classificação do produto, a designação “infestada” é determinada com base
no número de insetos vivos na porção da amostra usada para classificação. Os critérios
para grãos usados na alimentação humana são mais restritos que aqueles usados para
alimentação animal. Apesar de ovos, larvas e pupas poderem estar presentes no interior
do grão e não observados na amostra, eles ainda constituem contaminação. Os
processadores de grãos estão preocupados com esta forma de infestação, porque ela
provavelmente será a fonte de contaminação do produto processado. Larvas, pupas e
adultos (vivos ou mortos) no interior do grão são impossíveis de ser removidos
completamente antes do processamento, o que resulta em fragmentos como
contaminantes no produto processado. Para a farinha de trigo, o Food and Drug
Administration – EUA tinha estabelecido um nível de 75 fragmentos por 50 g como

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 377


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

nível de contaminação aceitável. Entretanto, alguns compradores de farinha de trigo têm


estabelecido níveis de rejeição bastante rigorosos, muito abaixo deste valor.
Contaminantes como insetos vivos e fragmentos podem ser determinados por
métodos simples. Já os resíduos metabólicos na forma de excremento/fezes não são
detectados nem quantificados; contudo, a determinação de ácido úrico pode dar uma
indicação do nível de contaminação.
Gorgulhos e larvas de mariposas/traças depositam a maior parte de seus
excrementos no interior do grão, enquanto as larvas de Rhyzopertha empurram a maior
parte do excremento que elas produzem para fora. As larvas da traça da farinha de trigo
e outras traças que infestam grãos deixam um fio sedoso, por onde elas se movem: sobre
a superfície dos grãos, nos produtos processados e nos equipamentos. A quantidade
deste emaranhado de fio é dependente do tamanho e da espécie da população da traça.
Dependendo da extensão e concentração dos emaranhados de fio, além da dificuldade
de fluidez dos produtos processados, a operação de aeração da massa de grãos pode
ficar bastante comprometida.
Em produtos processados, contaminantes que são resultado da infestação externa
de insetos não são facilmente detectados ou removidos. As larvas, quando sofrem
ecdise, deixam uma casca/pele, que pode contaminar os produtos processados. Besouros
na farinha de trigo, quando presentes em grande número, produzem secreções
(quinonas), que têm odor pungente e podem tornar o produto impróprio para o
consumo.

4.2. Danos Indiretos em Grãos e Subprodutos

4.2.1. Aquecimento e outras formas de deterioração


O aquecimento é mais comum na massa de grãos úmidos (acima de 15% b.u.) e
não-usual em grãos secos (até 14% b.u.). Os insetos, entretanto, são capazes de causar
aumentos da temperatura em grãos secos. Fatores que determinam a quantidade de calor
produzido pelos insetos são relacionados com as espécies de insetos, o tamanho da
população, a temperatura e a umidade contida nos grãos.
Insetos, durante seu consumo de grãos, produzem calor como resultado de seus
processos metabólicos. Como o endosperma e as outras partes dos grãos são
consumidos, os insetos produzem dióxido de carbono, água e energia. Quando a
infestação de insetos é muito grande e concentrada, a produção de calor é maior do que
a quantidade que pode ser dissipada pelos grãos, formando-se, no local, o que se chama
de “bolsa” de calor. O calor produzido pelos insetos, além de acelerar a atividade
metabólica destes, gera um ambiente favorável ao seu próprio desenvolvimento, mesmo
que a temperatura externa e aquelas em outras partes da massa de grãos não sejam
favoráveis.
Em situações em que a infestação é detectada com antecedência, a operação de
fumigação resulta na eliminação da fonte de calor e na redução da temperatura. Se não
for detectada precocemente, a infestação pode criar condições de aumento de
temperatura e umidade favoráveis ao desenvolvimento de fungos no local da infestação.
O calor também cria um gradiente de temperatura dentro da massa de grãos, que por sua
vez gera um movimento de ar quente no sentido da superfície, fenômeno chamado de

378 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

migração de umidade (veja capítulo 9 – Aeração de Grãos).

4.2.2. Disseminação de microrganismos na massa de grãos


Insetos e ácaros têm sido envolvidos no transporte de esporos de fungos na
massa de grãos. É sabido que pelo menos os insetos-pragas mais comuns de grãos
armazenados transportam grande carga de inóculos de fungos. Como no
desenvolvimento da população de insetos ocorre aumento da temperatura e de umidade
do grão, criam-se, assim, condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo.
O potencial dos insetos para transmissão de bactérias patogênicas, como
Salmonella, Streptococus e outras, foi bastante estudado, tendo sido verificado que o
gorgulho-do-arroz reteve interna e externamente a Salmonella montevides por pelo
menos cinco semanas e foi capaz de transmitir a bactéria para um trigo não-
contaminado.

4.2.3. Resistência do consumidor a produtos contaminados


Os produtos processados podem, algumas vezes, ser rejeitado com base em um
inseto em uma carga de farinha de trigo ou um inseto em um pacote de cereal. A
rejeição é um meio pelo qual as cadeias de consumidores reagem com a presença de
produtos contaminados no sistema. Se um consumidor compra um produto infestado
e/ou contaminado, ele pode rejeitá-lo e adquirir o produto do concorrente. Em outros
casos, o produto infestado pode ser descartado e o responsável pelo processamento
daquele produto, além da má reputação de seu negócio, fica sujeito a notificação ou
processo, por intermédio de órgãos de defesa do consumidor.

5. ÁCAROS

Dentre as 6.000 espécies conhecidas de ácaros, menos de 30 delas são


conhecidas como praga de grãos armazenados. A classe Arachinidea, com sete famílias,
que se diferenciam pelas características morfológicas, bioecológicas e fisiológicas, é
encontrada em grãos, em grãos armazenados e seus derivados e em moinhos de grãos.
Como pragas de grãos armazenados, somente duas famílias são importantes:
Tyroglyphidae e Glycyphagidae.
Todas as espécies de ácaros têm forma oblonga e medem entre 0,2 e 1 mm. Seu
corpo é dividido em duas partes: cefalotórax e abdômen. No cefalotórax encontram-se a
boca e dois pares de patas. No abdômen estão inseridos dois pares de patas o aparelho
genital e o aparelho excretor. Essas espécies possuem antenas e o seu corpo apresenta
pêlos ou espinhos de todos os tipos e formas.
Os ácaros aparecem quando as condições de estocagem não estão reguladas ou
quando os subprodutos dos grãos não foram cuidadosamente manuseados. Sob
condições normais de armazenagem, os grãos e subprodutos são pouco afetados pelos
ácaros. O valor nutritivo da ração diminui com o aumento da infestação por ácaros,
podendo até causar doenças em animais alimentados com produtos infestados.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 379


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

6. ROEDORES E PÁSSAROS

Além do homem, os roedores (ratos e camundongos) são os mamíferos mais


bem sucedidos e abundantes sobre a terra. Para chegar a esse ponto, os roedores
contaram com a ajuda do homem, que, inadvertidamente, proporcionou condições
favoráveis à sua proliferação e sobrevivência, com alimento e abrigo. Os ratos e
camundongos são considerados comensais, devido ao fato de que eles vivem às custas
do homem, comendo seu alimento, contaminando seus produtos, invadindo suas
moradias, além de serem vetores de doenças como peste bubônica, leptospirose, raiva,
tifo e antavírus.
Os roedores têm como característica principal a presença de fortes dentes
incisivos, com crescimento contínuo, usados para roer. Não possuem dentes caninos ou
pré-molares, e entre os incisivos e molares existe um espaço que lhes permite roer ou
cavar materiais não-alimentares, sem colocá-los na boca.
Alimentos armazenados geralmente estão propensos ao ataque de roedores,
tornando estes mamíferos pragas em várias regiões do mundo. Os produtos vulneráveis
ao ataque de ratos e camundongos são o milho, arroz, sorgo, milheto, cevada, trigo e
seus subprodutos (farinhas e fubás). Apesar de o ataque de roedores em produtos
armazenados ser bastante comum, estimativas de danos ou perdas têm sido pouco
estudadas. As perdas de cereais não ocorrem somente devido à redução de peso, mas
principalmente pela contaminação através de pêlos e dejetos, como fezes e urina, o que
torna os produtos impróprios para o consumo humano e até mesmo, em alguns casos,
para o consumo de outros animais.
Os pássaros são animais altamente especializados entre os vertebrados. São os
únicos animais providos de penas e possuem os pés e bicos adaptados à exploração de
diferentes hábitats e tipos de alimentos. Dessa forma, os pássaros podem viver nos mais
variados ambientes. Estão aptos a nadar, saltar e correr, alimentando-se de peixes,
animais mortos, pequenos organismos como insetos, vegetais, frutos, grãos e sementes.
A importância dos pássaros-pragas de grãos armazenados tem sido evidenciada em
muitos países.
Espécies de pássaros são atraídas inicialmente, quando a cultura ainda se
encontra no campo, através de amadurecimento, secagem e debulha no momento da
colheita. Algumas espécies têm desenvolvido uma estreita relação com fontes
permanentes de cereais e seus subprodutos, tornando-se problemas de pragas em
lavouras e produtos armazenados. Como os ratos, os pássaros são atraídos por porções
de grãos derramados próximos ao local de armazenamento; este descuido pode levar ao
estabelecimento de populações capazes de invadir o ambiente de armazenagem,
causando sérios danos ao sistema de embalagem, com conseqüente contaminação do
produto. Além disso, os pássaros são hospedeiros de piolhos e ácaros, que são
prejudiciais ao homem quando ninhos estão próximos da construção. Os ninhos servem
como abrigo para várias espécies de insetos-pragas de grãos armazenados. As fezes, as
penas e os restos de pássaros mortos em decomposição podem contaminar seriamente os
estoques de alimentos por meio de microrganismos patogênicos, como bactéria e fungos
causadores de doenças como diarréias (salmonelose), histoplasmose e aspergilose.

380 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

7. CONSEQÜÊNCIAS DA ARMAZENAGEM INADEQUADA

O armazenamento de grãos é um dos segmentos da pós-colheita. Armazenar


grãos não significa guardá-los em qualquer lugar. A importância da armazenagem reside
no fato de que o armazenamento adequado dos produtos agropecuários evita perdas e
preserva a qualidade.
Como visto anteriormente e no capítulo 9 - Aeração de Grãos, o produto
armazenado é constantemente submetido a fatores externos, que constituem o ambiente
de armazenamento e que foram classificados como físicos: temperatura e umidade;
químicos: fornecimento de oxigênio; e biológicos: fungos, bactérias, ácaros, insetos,
pássaros e roedores. Controlando-se adequadamente os dois primeiros fatores e
reduzindo a atividade metabólica do grão (respiração) pelo processo de secagem, os
insetos assumem particular importância, em razão de a massa de grãos constituir um
ambiente ideal para o desenvolvimento das pragas. As perdas e alterações causadas
pelos insetos que atacam os grãos armazenados são:
1) Perda de peso ou quantitativa - refere-se às reduções de peso ou de volume
e não retrata adequadamente a degradação nutricional do alimento, nem os
danos indiretos, como os causados por aquecimento da massa de grãos,
disseminação de microrganismos, doenças, danos à estrutura e depósitos da
unidade armazenadora, custos de controle, resíduos tóxicos etc.
2) Desvalorização do produto ou perda qualitativa - caracteriza-se pelas
alterações na qualidade do produto, em razão da diminuição do valor
nutricional. Embora, ocasionalmente, estas mudanças possam resultar em
ganho aparente, em quase todos os casos, entretanto, a infestação por pragas
leva a perda nutricional, desvalorização do produto atacado, diminuição do
grau de higiene do produto pela presença de insetos, excrementos, ovos etc. e
perda da qualidade de panificação da farinha. A natureza e extensão destas
alterações podem ser resumidas em seis fatores: mudanças químicas, teor de
umidade, condução de calor, transformações, consumo e aceitabilidade.
3) Mudanças ou alterações químicas - alguns alimentos, como frutas e
hortaliças, podem, na sua maioria, deteriorar-se em poucos dias, enquanto
outros, como os grãos, sofrem mudanças lentas. Um estudo com trigo, livre
de pragas, armazenado frio e seco por 30 anos, mostrou incrementos nos
ácidos graxos livres e diminuição na qualidade de cozimento e não
apresentou, essencialmente, alterações nos níveis de tiamina (vitamina B1) e
proteína. No entanto, quando as pragas penetram ou quebram o alimento em
pequenos pedaços, elas introduzem microrganismos, além de elevarem os
níveis de temperatura e umidade, que facilitam e aumentam as taxas de
transformações.

Embora algumas alterações químicas sejam inócuas e umas poucas possam até
ser benéficas, a grande maioria representa perdas ou se torna imprópria para a nutrição
humana e animal devido, principalmente, às intoxicações por micotoxinas, às alergias,
aos distúrbios intestinais e a outros problemas graves de saúde, em adição aos efeitos de
uma nutrição deficiente.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 381


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Uma infestação muda de tal forma a composição física e química do alimento


que o conteúdo de água cresce de forma substancial. Na maioria das situações, ocorre
grande diminuição do produto, causando, desse modo, notável redução no valor
nutricional, por unidade de peso. Esta diminuição está associada, principalmente, ao
fato de que a maioria das degradações por pragas torna o alimento mais higroscópico.
Como foi visto, as pragas podem também danificar as embalagens, permitindo a entrada
de umidade. Embora algum aumento volumétrico do produto possa resultar da elevação
do teor de umidade, aumento maior ocorrerá na massa, pois grande parte do peso do
alimento dependerá da quantidade de água absorvida (capítulo 4 – Qualidade dos
Grãos).
Quando as pragas se concentram em uma determinada região da massa de grãos,
o calor gerado pelo processo metabólico do sistema causa aquecimento daquele ponto,
formando a "bolsa de calor". Em razão do baixo coeficiente de condutividade térmica da
massa de grãos, o calor gerado não se propaga rapidamente e cria-se uma corrente
convectiva entre o foco de aquecimento e a superfície dos grãos. Como visto no capítulo
“Aeração de grãos”, se as condições de temperatura da superfície do produto ou do ar
exterior forem suficientemente baixas, pode ocorrer condensação de água e aumento do
teor de umidade da camada fria de grãos, acarretando maior deterioração química e
desenvolvimento de microrganismos, com conseqüente degradação do valor nutricional
do produto.
Alimentos infestados com artrópodes sofrem contínuas diluições, como
resultado da sua presença e de seus excrementos, teias, exoesqueletos resultantes das
metamorfoses e corpos mortos de gerações anteriores. Após longos períodos de
infestação, as diluições geradas por pragas podem se igualar ou até exceder a quantidade
do alimento original existente. Um exemplo disso foi verificado em uma carga de
amendoins descascados e tratados com inseticidas, originária de determinada região da
África. Desenvolveu-se nela uma população de 90.000 a 100.000 insetos vivos por saco,
durante quatro meses de armazenamento. Fezes, exoesqueletos e insetos mortos,
somados ao peso dos próprios insetos, constituíam a maior porção da carga.
Grãos danificados por insetos apresentam, geralmente, baixa percentagem de
germinação. Se usado como semente, deve ser plantado em muito maior quantidade
para dar um bom resultado. Cada larva de S. oryzae, durante o seu crescimento,
metaboliza cerca de 14 mg de um grão de trigo em dióxido de carbono, água, calor e
excrementos. Durante o processo, o inseto consome cerca de dois terços do endosperma
do grão. Em contraste, a R. dominica consome quase todo o grão, deixando apenas a
poeira e a casca. O S. granarius (L.) consome 62,6% do conteúdo calórico do grão de
trigo, sendo cerca de cinco sextos usados no seu metabolismo. Em populações densas,
insetos comem os grãos parcialmente ou até deixarem apenas a casca, pequenos pedaços
de endosperma e um pó fino de fezes. Apesar de ser, no Brasil, um dos problemas
menos estudados no manejo de alimentos armazenados, as alterações no produto são,
até agora, um dos mais significantes.
Em adição aos problemas associados às alterações nutricionais causadas por
insetos nos alimentos, as infestações também causam danos e produzem mudanças
notáveis de cor, textura, sabor e odor. Essas mudanças tornam o alimento impróprio
para a comercialização, resultando em perdas econômicas.

382 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

A avaliação das perdas e/ou das alterações dos grãos armazenados reforça a
importância das pragas. Levantamentos preliminares, feitos em algumas regiões do
Brasil, mostram, ainda hoje, redução de peso em torno de 25% nos grãos atacados por
insetos após oito meses de armazenamento em fazendas.
O valor do grão, para processamento ou consumo, está diretamente relacionado
com o nível de contaminação por insetos. Somente nos Estados Unidos as perdas anuais
causadas por insetos e outros artrópodes têm sido estimadas em aproximadamente cinco
bilhões de dólares, e as perdas causadas por roedores e outros vertebrados, em dois e
meio bilhões. Estas cifras são estimadas, principalmente, em função das mudanças de
peso e/ou volume.

8. PRINCIPAIS INSETOS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Dentre as diferentes ordens em que os insetos são agrupados, apenas nove têm
sido relatadas em associação com os produtos armazenados; os insetos que são
realmente considerados pragas de grãos armazenados pertencem a cinco ordens, sendo
duas destas - Coleoptera (pequenos carunchos ou gorgulhos) e Lepidoptera (mariposas
ou traças) - as de maior importância econômica e social. Os gorgulhos são pequenos e
apresentam o primeiro par de asas muito resistente (élitros), que permite sua
movimentação e sobrevivência em grandes profundidades da massa de grãos, onde os
espaços são reduzidos e o grão está muito comprimido. As traças, em razão de suas asas
membranosas, bem menos resistentes que os élitros, o que as tornam mais frágeis,
restringem-se à superfície da massa de grãos, causando menos prejuízos que os
gorgulhos.
As pragas de grãos armazenados estão adaptadas a uma dieta à base de material
vegetal seco. Muitas delas possuem estruturas características que lhes permitem viver
em condições de baixa disponibilidade de água.
Quanto aos seus hábitos alimentares, os insetos de produtos vegetais
armazenados podem ser classificados em:
1) Insetos primários: são aqueles capazes de romper o grão inteiro e sadio e são
divididos em dois grupos:
Primários internos - são os insetos dotados de mandíbulas desenvolvidas, com
as quais rompem os grãos e se alimentam do seu conteúdo interno (Figura 1).
Completam seu ciclo evolutivo no interior do grão e, além de causarem danos
específicos, abrem caminho para o ataque de outros insetos. Como exemplo de insetos
primários citam-se os gorgulhos dos grãos – Sitophilus zeamais; o caruncho-do-feijão -
Zabrotes subfasciatus (Boheman) e Acanthoscelides obtectus (Say); e as traças-dos-
cereais - Sitotroga cerealella (Olivier) etc.
Primários externos - alimentam-se do grão externamente, podendo, entretanto,
atacar a parte interna. Favorecem o ataque de outras pragas que são incapazes de romper
a película protetora dos grãos (Figura 2). A Plodia interpunctella (Hübner), o menor
broqueador dos grãos, Rhyzopertha dominica e os besourinhos Lasioderma serricorne
(F.) e Tenebroides mauritanicus (L.) são exemplos de insetos primários externos.
2) Insetos secundários: são aqueles que não conseguem romper os grãos
inteiros e se alimentam de grãos previamente danificados pelos insetos primários,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 383


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

acidentalmente quebrados ou trincados (Figura 3). Como exemplo, têm-se os


besourinhos Tribolium castaneum (Herbst), T.confusum (Jaqueline Du Val),
Oryzaephilus surinamensis (L.), Cryptolestes ferrugineus (Stephens) e outros. Além dos
grãos, os insetos secundários infestam, principalmente, seus subprodutos, como
farinhas, farelos, fubás e rações.
3) Insetos associados: são freqüentemente encontrados nos grãos, porém sem
atacá-los. Alimentam-se de detritos e fungos e contribuem para prejudicar o aspecto e a
qualidade do produto armazenado. Além do besouro Tenebrio molitor (L.), pode-se
incluir neste grupo os parasitas, predadores e ácaros, tanto os que produzem danos nos
grãos como os predadores.
Os insetos de grãos e produtos armazenados apresentam algumas características
próprias:
a) Elevado potencial biótico: o grande número de indivíduos obtido em cada
reprodução e o elevado número de gerações em curto período permitem que
poucos indivíduos formem uma população considerável.
b) Infestação cruzada: é a capacidade de infestar o produto nos depósitos e no
campo. Muitas vezes, os grãos colhidos no campo já vêm infestados para o
armazém. Como exemplos, têm-se a traça-dos-cereais - S. cerealella e o
gorgulho - S. zeamais, que infestam o milho no campo; os gorgulhos - S.
oryzae e S. zeamais, que infestam os cachos de arroz no campo; e o
caruncho-do-feijão – A. obtectus, que infesta as vagens do feijão antes da
colheita.
c) Polifagia: é a capacidade que a maioria das pragas dos grãos armazenados
têm para atacar diversos produtos. S. zeamais ocorre em milho, mas
desenvolve-se muito bem em sorgo; R. dominica, que é praga importante de
praticamente todos os cereais, ataca e se reproduz muito bem em sementes
de feijão; e Z. subfasciatus, além do feijão, seu hospedeiro preferido, ataca a
ervilha, a soja e o grão-de-bico.

1 2 3
Figura 1 – Exemplo de insetos primários internos: 1 (Sitophilus zeamais), 2
(Acanthoscelides obtectus) e 3 (Sitotrogta cerealella )

384 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

1 2 3 4
Figura 2 – Exemplos de insetos primários externos: 1 (Plodia interpunctella), 2
(Rhyzopertha dominica), 3 (Lasioderma serricorne) e 4 (Tenebroides
mauritanicus).

1 2 3 4
Figura 3 – Exemplos de insetos secundários: 1 (Tribolium castaneum), 2
(T.confusum), 3 (Oryzaephilus surinamensis) e 4 (Cryptolestes
ferrugineus).

9. PROGRAMA DE CONTROLE

O programa de controle de insetos inicia-se na recepção dos grãos pela unidade


armazenadora e/ou processadora. Além das análises comumente realizadas, que
englobam verificação do teor de umidade, classificação, impurezas, peso hectolítrico
etc. (veja “Classificação de Produtos Agrícolas”), é importante que se faça uma
inspeção do lote, observando-se os seguintes fatores:

Clique para ver: vídeo 1

- índice de infestação por insetos;


- temperatura da massa de grãos;
- presença de fungos; e
- contaminação por roedores e pássaros.

Antes das operações de limpeza, secagem e armazenamento propriamente dito,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 385


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

as instalações e o local da unidade armazenadora deverão ter sido preparados conforme


se segue:
- O primeiro passo é uma limpeza completa e cuidadosa, tanto da parte interna
como externa e, principalmente, dos equipamentos existentes, como moegas, pé de
elevadores, máquinas de limpeza, correias transportadoras, secadores, dutos de aeração
etc. Na parte interna dos armazéns, a limpeza deve ser iniciada na cobertura,
estendendo-se a entradas de ar, lanternins, paredes e janelas laterais, piso e possíveis
frestas existentes; os resíduos retirados deverão ser queimados em locais seguros e
distantes das instalações, visando a eliminação dos insetos em qualquer fase em que se
encontrem, evitando-se, assim, a infestação dos novos produtos que entrarem no
armazém. Após o processo de limpeza, deverá ser feita uma pulverização de toda a parte
interna e externa do armazém e dos equipamentos ali existentes, utilizando-se um
inseticida com bom poder residual e, preferencialmente, com princípio ativo diferente
do inseticida usado na safra anterior.
- O segundo passo refere-se aos grãos propriamente ditos. Serão apresentados os
principais métodos de controle, com ênfase nos métodos corretivos, já que inspeção e
limpeza são consideradas métodos preventivos.

10. CONTROLE DE INSETOS

A eficácia de um método de controle de insetos em grãos armazenados depende


da estimativa precisa da densidade populacional de insetos. A amostragem é um
processo pelo qual se determinam as características de uma população de pragas, como:
densidade ou número de insetos e espécies que ocupam uma área, dispersão ou
agrupamentos de indivíduos no espaço, modificações da taxa de nascimento ou morte,
número relativo de vários estágios dos insetos e alterações do número de insetos ao
longo do tempo. Programas de amostragem devem avaliar também a efetividade das
medidas de controle de insetos. O Manejo Integrado de Pragas reduzirá o uso de
pesticidas, porque as medidas de controle serão usadas somente quando a amostragem
indicar que a densidade de insetos excedeu o limite econômico.
O Manejo Integrado de Pragas é uma metodologia que usa análises de custo-
benefício para a tomada de decisões. Em programas de manejo de pragas, o controle é
economicamente eficiente se o custo de controle for menor que a redução no valor de
mercado, causada pela praga. A alternativa ao Manejo Integrado de Pragas é o uso de
inseticidas em doses regulares, sem determinar se o controle de insetos é necessário. O
desenvolvimento de programas de Manejo Integrado de Pragas em produtos
armazenados tem sido considerado pela indústria de alimentos, tanto para alimentos "in
natura" como para alimentos processados.
O uso de eficientes programas de Manejo Integrado de Pragas passa pelo
desenvolvimento de níveis de danos e níveis de controle. Estes níveis devem ser
estabelecidos para se decidir quando medidas de controle serão economicamente
eficientes. As análises de custo-benefício para o Manejo Integrado de Pragas são
baseadas em dois limites: Nível de Dano Econômico e Nível de Controle ou Ação. O
Nível de Dano Econômico é a densidade de insetos que causa uma redução no valor de
mercado maior que o custo de controle. Quanto ao Nível de Controle, é a densidade de

386 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

insetos no qual o controle deve ser aplicado para evitar que a população alcance o Nível
de Dano Econômico. O Nível de Controle permite retardar a tomada de decisão de
aplicar medidas de controle e permite que seja avaliado o tempo necessário para que as
medidas de controle reduzam a densidade do inseto.
O cálculo do Nível de Dano Econômico é baseado no custo de controle e na
redução no valor de mercado. O cálculo do custo de controle, além do custo de
inseticidas, dos equipamentos de aplicação e da mão-de-obra dos aplicadores, deve
incluir os custos de programas de amostragem, programas de manejo de resistência a
inseticidas e o risco para a saúde humana e para o ambiente. Quanto à redução no valor
de mercado, seu cálculo pode ser baseado na perda de peso da massa de grãos e/ou nas
perdas de qualidade.
Os vários métodos de controle são classificados como: legislativo, físico,
químico e biológico.

10.1. Controle Legislativo


No controle legislativo são incluídas a quarentena e a sanidade. A quarentena
refere-se às proibições ou restrições impostas ao transporte dos grãos armazenados
supostamente infestados por pragas. A sanidade refere-se às medidas de higiene que
devem ser tomadas para diminuir ou eliminar os insetos. Estas medidas envolvem:
colheita em época própria, utilização de equipamentos desinfetados, limpeza cuidadosa
dos grãos e dos depósitos, separação de produtos de safras diferentes e utilização de
armazéns à prova de roedores e pássaros.

10.2. Controle Físico


O controle físico é uma manipulação do meio físico sobre a população de
insetos, diminuindo, eliminando ou reduzindo estas pragas. Embora tenha sido um dos
primeiros métodos empregados para controlar insetos de produtos armazenados, sua
utilização foi deixada de lado com a introdução dos modernos inseticidas artificiais. No
entanto, espera-se que os químicos sintéticos sejam utilizados numa escala cada vez
menor, em razão dos resíduos químicos que afetam o grão, da segurança do trabalhador,
do ambiente e das populações de insetos resistentes aos inseticidas, e que o controle
físico abranja maiores extensões.
Os controles físicos incluem a umidade e a temperatura, o impacto ou ação
mecânica, os envoltórios resistentes à penetração de insetos, os pós-inertes, a irradiação
e a resistência do grão.

10.2.1. Temperatura e Umidade


A umidade e a temperatura são muito importantes no controle de pragas em
grãos armazenados. Para os insetos, a principal fonte de umidade é a umidade inicial do
grão e, em menor escala, a umidade atmosférica e a água metabólica. Desse modo, um
fator importante a ser considerado é o equilíbrio higroscópico estabelecido entre a
umidade atmosférica e a umidade do grão, pois a umidade e a temperatura são fatores
que influenciam a sobrevivência e a reprodução de muitos insetos. O teor crítico de
umidade para reprodução dos insetos é de aproximadamente 9% b.u. À medida que a
umidade do grão ou subproduto aumenta, entre os limites de 12 a 15% b.u., os insetos

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 387


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

se desenvolvem e se reproduzem com maior intensidade. Além desses limites,


predominam os ácaros e os fungos, e, com maior teor de umidade, prevalecem as
bactérias.
A diminuição da temperatura dos produtos, com o propósito de evitar a
deterioração, é intensamente usada em climas temperados, juntamente com aeração com
ar ambiente. Há dois efeitos básicos resultantes da baixa temperatura: a redução da taxa
de desenvolvimento, alimentação e fecundidade dos insetos e a queda de sobreviventes.
A temperatura ótima para a fecundidade e o desenvolvimento dos insetos de
produtos armazenados está entre 25 e 33oC. Sob baixa temperatura, a fecundidade é
reduzida e os insetos desenvolvem-se mais lentamente. Temperaturas entre 13 e 25oC
diminuem o desenvolvimento. Para a maioria dos insetos de produtos armazenados, a
temperatura de 20oC detém o desenvolvimento. Os ácaros em grãos levemente úmidos
somente param de se desenvolver a 2oC. Embora nestas temperaturas não ocorra
desenvolvimento, os insetos e ácaros permanecem vivos por longos períodos e causarão
danos se a temperatura do produto elevar-se.
A fase de desenvolvimento afeta a capacidade do inseto de resistir a baixas
temperaturas. Em muitas espécies, o ovo é o estágio mais susceptível. Para algumas
espécies há trabalhos mostrando que a idade do ovo pode afetar a susceptibilidade. As
larvas são os estágios mais tolerantes. O adulto é o estágio mais resistente.
Temperaturas para os índices máximos de multiplicação são, em geral, 5oC
acima das temperaturas de desenvolvimento. O S. oryzae tem um índice máximo de
desenvolvimento a 29oC e interrompe o seu desenvolvimento a 35oC; do mesmo modo,
as temperaturas para a R. dominica são de 32 e 39oC, respectivamente. A temperatura
mais elevada que causa a mortalidade depende da exposição a essa temperatura, das
espécies, do estágio do desenvolvimento, da aclimatação e da umidade relativa.
A temperatura da massa de grãos é afetada por vários fatores, que podem ser
controlados ou modificados para aumentar a eficiência do controle físico das pragas de
grãos armazenados. Altas temperaturas iniciais de armazenamento ocorrem quando o
grão é colhido sob calor, em dias ensolarados, por exemplo, 5 a 8ºC acima da
temperatura do ar ambiente, ou quando o grão não é resfriado suficientemente depois da
secagem com ar aquecido.
A temperatura dos grãos no armazenamento sem aeração segue as temperaturas
do ar do ambiente externo à massa de grãos. Em razão de a maior parte dos grãos
armazenados ou das sementes de oleaginosas terem baixa condutividade térmica
(menores que as fibras), a temperatura dos grãos estocados muda lentamente. O controle
da temperatura é feito pela aeração (veja capítulo 9 – Aeração de Grãos).

10.2.2. Irradiação
A irradiação de alimentos tem sido muito estudada nos últimos anos. Em muitos
países é tida como operação comercial, sendo mais usada para prevenir brotação de
batatas e cebolas ou infestações microbianas em alimentos e carnes.
Há dois tipos de irradiação: ionizante, com raios gama e irradiação por feixe de
elétrons, e não-ionizante, quando se refere à radiação eletromagnética (ondas de rádio,
ondas infravermelho, luz visível e microondas), que não contêm energia suficiente para
expulsar elétrons das moléculas. A radiação ionizante prejudica os organismos, em

388 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

virtude da produção de íons ou radicais livres, tornando as moléculas altamente reativas.


Além da ionização, as ligações químicas também podem ser quebradas. Radiação gama
com cobalto 60, como fonte de radioatividade, é o método comercial mais comum de
irradiação de alimentos.
Embora baixos níveis de irradiação não produzam toxina nos alimentos tratados,
a irradiação pode reduzir o teor de vitaminas A, C, E, B1 (tiamina) e K. O grau de
redução é dependente do alimento irradiado, da dose e de outros fatores. As doses de
irradiação necessárias para matar insetos também matam sementes, tornando este tipo
de controle inconveniente para malte e cevada ou sementes armazenadas. A qualidade
do pão será afetada se o trigo for irradiado com doses altas de irradiação.

10.2.3. Ação mecânica


São dois os métodos básicos para controlar população de insetos dos produtos
armazenados, utilizando-se formas mecânicas: indireta (manipulação do meio ambiente)
ou direta (manipulação dos insetos). Um método indireto é a limpeza ou redução de
impurezas e matérias estranhas (sementes quebradas, terra, pedras e sementes de ervas
daninhas) e sementes com rachaduras no endosperma. Muitos insetos, como C.
ferruginus, Oryzaephilus sp. e T. castaneum, são classificados como pragas secundárias,
porque requerem uma rachadura na superfície da semente para infestarem os grãos. A
presença de impurezas e matérias estranhas contribui para o aumento da população
destes insetos. Outro método indireto é simplesmente uma boa sanitização, bem como a
remoção de resíduos de alimentos. Os equipamentos e as estruturas de armazenamento
devem ser projetados de modo que a limpeza seja facilitada, não deixando resíduos de
alimentos.
Um método direto de controle é a remoção da população de insetos. Os
equipamentos utilizados para remover impurezas e matérias estranhas devem também
remover insetos que estão fora da semente. No entanto, não removeriam os estágios
imaturos de Sitophilus sp. ou R. dominica.
O método direto mais usado no controle mecânico é o Entoleters, que usa a força
centrífuga para impactar insetos ou sementes contendo insetos. Entoleters são usados
em moinhos, onde são colocados na linha de produção antes de o trigo ser moído.
Grãos infestados com Sitophilus sp. ou R. dominica quebram e são separados daqueles
intactos. A velocidade de impacto pode ser ajustada de tal forma que os insetos sejam
mortos, mas os grãos não-danificados não são quebrados.
Apenas o revolvimento dos grãos pode controlar os insetos de produtos
estocados, pelo esmagamento. Vários pesquisadores têm investigado o efeito de impacto
em grãos infestados. Um estudo mostrou, por exemplo, que, movimentando o milho a
cada duas semanas, as espécies Sitophilus, em 87%, Tribolium, em 75%, e Cryptolestes,
em 89%, podem ser reduzidas. Em outro estudo, foi demonstrado que algumas espécies
eram particularmente susceptíveis aos danos durante o transporte pneumático dos grãos.
Os neonatos de Acanthoscelides obtectus, o inseto comum do feijão, precisam de
um tempo superior a 24 horas para entrarem em um grão de feijão. Para isto, eles
necessitam se espremer contra eles mesmos em feijões vizinhos para penetrar na
semente. A movimentação do feijão a cada oito horas reduz a população de A. obtectus
em 97%, porque a larva neonata não é capaz de realizar totalmente sua entrada no grão.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 389


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

10.2.4. Embalagens
As embalagens são uma barreira física que previne ou impede a infestação por
insetos. No entanto, vários insetos, como L. serricorne, Stegobium paniceum
(Linnaeus), P. interpunctella, C. cautella, Corcyra cephalonica (Stainton) e
Trogoderma variable, têm capacidade para penetrar nas embalagens intactas. Embora R.
dominica também possa penetrar nas embalagens, são raramente encontradas em
embalagens de alimento. Os outros insetos de produtos armazenados (T. castaneum, T.
confusum, C. ferrugineus, C. pusillus, O. mercato e O. surinamensis) necessitam de
uma pequena abertura para entrar nas embalagens.

10.2.5. Pó inerte
As argilas foram usadas como protetores de grãos pelos nativos da América do
Norte e África há milhares de anos. A principal vantagem de um pó inerte é sua não-
toxicidade. Os tipos mais comuns de pó inerte são: terra, terras de diatomáceas e sílica.
A terra de diatomácea, vendida comercialmente no Brasil, é um resíduo silicoso
fossilizado de diatomas, que são plantas aquáticas unicelulares microscópicas, com uma
fina concha formada de sílica opalina (SiO2 + nH2O).
A principal atuação dos pós inertes é que eles promovem uma dessecação dos
insetos, os quais morrem quando perdem 60% de sua água ou cerca de 30% de seu peso
corpóreo total. Além da perda de água, alguns pós absorvem as ceras cuticulares dos
insetos. A terra de diatomácea, além de absorver a cera cuticular, tem efeito abrasivo
sobre a cutícula. Pelo fato de os insetos de grãos armazenados viverem em ambientes
muito secos e com acesso limitado a água livre, a retenção de água é crucial para sua
sobrevivência. Também, uma vez que os insetos são muito pequenos, eles têm grande
área superficial em relação ao peso de seu corpo, apresentando, portanto, maior
problema de retenção de água que os grandes animais. Os insetos protegem-se da
dessecação de vários modos; no entanto, a graxa cuticular, que é destruída pelo pó, é um
dos principais mecanismos para manter o equilíbrio hídrico.
Diversos fatores determinam a eficiência de pós inertes: maior capacidade dos
insetos de obterem água do seu alimento, maior reabsorção de água durante a sua
excreção, menor perda de água através da cutícula, tipo de graxa cuticular ou o quanto
ele se movimenta através dos grãos. Nem toda a mortalidade observada em grãos
tratados com pó inerte pode ser atribuída à dessecação.
Os principais problemas com o uso de pós inertes decorrem do fato de eles
diminuírem a densidade e o escoamento dos grãos. Por ser um pó, é difícil sua
aplicação, e, além do mais, ele é ineficiente em alguns casos. Em razão de os pós inertes
aderirem à superfície dos grãos, aumentando a fricção entre eles, o grão não flui tão
facilmente. Há aumento do ângulo de repouso e da densidade total da massa. A terra de
diatomácea, na proporção de dois quilos por tonelada, causou diminuição de 4,4 quilos
por hectolitro na densidade da massa de milho e de 6,2 kg/hl em trigo. Por ser o
dessecamento um modo de ação, a terra diatomácea não controla insetos em grãos
úmidos tão bem como em grãos secos. Para minimizar o problema de produção de
poeira, aplicações aquosas para tratamento de superfície são usadas, embora isso
diminua a eficiência dos pós inertes. As principais vantagens deste pó é que eles não são
tóxicos para mamíferos e protegem continuamente os grãos dos insetos.

390 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

10.2.6. Resistência dos grãos aos insetos


O controle de insetos por meio de variedades resistentes, embora pareça ser um
método ideal, encontra-se ainda em fase de estudos. Entende-se por variedade resistente
aquela que, devido à constituição de seus genótipos, é menos danificada por um inseto
do que outra, em igualdade de condições.

10.3. Controle Químico


O método de controle químico deve complementar mais do que suplantar outras
medidas, como sanidade, manejo da temperatura e da umidade, uso de instalações
adequadas etc. O controle de insetos com produtos químicos é o mais usado, em razão
das facilidades para aplicação e da maior rapidez de ação, sendo atualmente o método
mais econômico. No entanto, as desvantagens decorrentes do emprego do controle
químico são: o controle não é permanente; há riscos, como explosões, resíduos e
toxicidade, no momento da aplicação; e, ainda, a resistência dos insetos e o custo dos
inseticidas e equipamentos. Há no momento uma tendência em desenvolver produtos
que ofereçam menos riscos, sejam seletivos, biodegradáveis e de efeito prejudicial
mínimo sobre o meio ambiente.
O inseticida ideal é aquele que mata rapidamente as pragas; não causa mal ao
homem ou ao meio ambiente; apresenta uma atividade residual de apenas o necessário;
e que tem um nível aceitável de contaminação. Além disso, não deve ser caro, ser de
fácil manuseio e preparo e produzir odores de proteção.
Há vários modos de ação para diferentes tipos de inseticidas. Diversas espécies
de insetos e estágios de desenvolvimento de cada um respondem diferentemente a um
inseticida específico; por exemplo, os piretróídes são mais tóxicos para os insetos
broqueadores (R. dominica) do que os organofosforados. Alguns insetos, uma vez
estabelecidos, são mais difíceis de ser controlados, pelo fato de se desenvolverem dentro
dos grãos, como, por exemplo, as espécies de Sitophilus.
Normalmente, os inseticidas são utilizados no controle dos insetos de grãos
armazenados, nas modalidades convencionalmente chamadas de pulverização residual,
pulverização protetora, nebulização e fumigação ou expurgo.
Na pulverização residual, o inseticida é pulverizado, interna e externamente, em
paredes, pisos, estrados, tetos, equipamentos existentes dentro do armazém e em volta
da unidade armazenadora (Figura 4). O seu uso objetiva o extermínio dos insetos
abrigados em depressões, vãos e fendas. Esses inseticidas apresentam poder residual, de
tal modo que os insetos que venham a transitar posteriormente no local tratado são
eliminados.
Na pulverização protetora (Figura 5), o inseticida é pulverizado diretamente
sobre a sacaria ou os grãos a granel em esteira transportadora, durante o enchimento do
silo. Para pequenas quantidades de grãos armazenados, pode-se aplicar o inseticida na
forma de pó (polvilhamento). A finalidade desse controle é preventiva e não curativa.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 391


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Figura 4 – Pulverização residual.

Figura 5 – Pulverização protetora de grão durante a carga do silo.

No processo de nebulização, a produção de gotas é obtida com o uso de calor.


Neste caso, obtêm-se gotas com diâmetro menor que 50 micras. O inseticida deve ser
bastante volátil, de modo que, ao ser misturado com óleo mineral ou diesel, produza
uma fumaça com pequenas partículas, com o princípio ativo do inseticida, que
permanece em suspensão durante um tempo mais prolongado. Esse método visa o
combate de insetos voadores, como traças e moscas. Outros insetos diretamente
atingidos pelo inseticida podem ser combatidos. Os equipamentos denominados
termonebulizadores (Figura 6) convertem o inseticida e o óleo em uma densa neblina,
que atinge todas as áreas do armazém.

Figura 6 – Termonebulizador e modo de aplicação.

392 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Na operação de fumigação ou expurgo dos grãos e subprodutos utiliza-se um


inseticida fumigante, isto é, um produto que pouco depois de aplicado, sob
determinadas condições de temperatura e pressão, se transforma em gás letal aos insetos
em ambientes hermeticamente fechados. A fumigação é um processo de eliminação de
todas as fases dos insetos, ovo, larva, pupa e adulto, pela exposição a um gás tóxico ou a
uma mistura de gases. Uma importante propriedade do fumigante é a sua habilidade
para penetrar em materiais como filmes de embalagens e mesmo dentro dos produtos.
Para combater os insetos no centro da massa de grãos, o gás tóxico, dada a sua
capacidade de difusão, atinge a praga. A difusão do gás está relacionada diretamente
com o seu peso molecular e sua densidade.

Clique para ver: vídeo 1

10.3.1. Modos de atuação dos inseticidas

10.3.1.1. Inseticidas de contato


As classes de inseticidas de contato usadas nos produtos armazenados incluem
piretrina sinergizada/piretróides e organofosforados. Os piretróides, além de caros, são
extremamente irritantes para os aplicadores. Os compostos organofosforados são
ótimos, com toxidade e atividade residual adequadas. No Brasil, um pequeno número de
inseticidas de contato é registrado para uso em grãos armazenados. Os inseticidas de
contato, registrados no Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma
Agrária até 1995, os quais são adicionados diretamente aos grãos no início da
armazenagem, são: Pirimifos-methyl (Actellic 500 CE), para trigo, arroz, milho e
cevada; Deltamethrin (K-Obiol 2 P), para milho em espiga com ou sem palha;
Deltamethrin (K-Obiol 25 CE), para milho e trigo; Permethrin (Pounce 384 CE), para
milho a granel; e Fenitrothion (Sumigran 500 CE), para milho, trigo, cevada e feijão.
Dentre as vantagens dos protetores de grãos sobre os fumigantes, pode-se citar:
apresentam persistência prolongada, ou seja, por meses a anos; segurança na aplicação;
menor exigência de equipamentos especializados; prevenção de infestação de pragas; e
maior eficiência em estruturas construídas para estocagem que não podem ser
fumigadas com eficácia. O maior ponto negativo dos protetores são os resíduos que
permanecem no alimento, apesar de eles geralmente degradarem com o tempo de
armazenagem e com o processamento do alimento.
Alguns inseticidas de contato são também empregados no tratamento de gretas e
fendas do material estrutural, como madeira, concreto ou aço utilizados em pisos,
paredes etc., e no tratamento localizado ou geral de sacarias e equipamentos.
Recomenda-se que todo resíduo deve ser removido dos armazéns no final do período de
armazenamento e que tanto o interior quanto o exterior do armazém devem ser
pulverizados algumas semanas antes de enchê-lo. Os tratamentos dos espaços vazios de
armazéns ou dos espaços superiores acima de um produto são feitos ocasionalmente, a
fim de controlar insetos voadores; para isso, utilizam-se Pirimifos-methyl e
Deltamethrin.
Os limites máximos internacionais para resíduos de inseticidas em grão, grão
processado e sementes oleaginosas, que resultam de aplicação na pós-colheita, são

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 393


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde e pela Organização das Nações


Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Em sua maioria, os inseticidas de
contato usados em armazéns são lipofílicos e acumulam-se em áreas de alto teor de
gordura, como no gérmen e farelo dos cereais e no óleo nas sementes oleaginosas.
Os fatores que afetam a absorção do inseticida pelo produto são: tipo de
inseticida, tipo de grão (teor de óleo e tamanho do grão) ou do produto processado e
armazenado, idade do armazém, temperatura e interações. A persistência e translocação
do inseticida diminuem de acordo com o tempo de construção do depósito.
É geralmente recomendado que sementes oleaginosas não sejam armazenadas
em estruturas recentemente tratadas com inseticidas, já que a maioria é lipofílica e
rapidamente absorvida pela semente, a qual é formada de 45% de óleo (colza, linho,
girassol etc.).
A degradação dos inseticidas de contato em grãos armazenados é afetada pelo
teor de umidade e pela temperatura do grão. Altas temperaturas geralmente causam
rápida degradação, mas os produtos químicos são mais tóxicos para insetos a altas
temperaturas, embora alguns piretróides sejam mais tóxicos a temperaturas baixas. A
presença de fungos pode também acelerar a degradação de inseticidas para compostos
não-tóxicos. O tipo de formulação do inseticida geralmente não afeta a taxa de
degradação; entretanto, estas taxas aumentam consideravelmente quando a umidade dos
grãos está em equilíbrio com uma umidade relativa de 70% ou mais.
A atividade residual de muitos inseticidas é acentuadamente diminuída em
superfícies como o concreto, que, em razão da hidrólise, tem pH em torno de 10,5. Na
madeira tratada e no aço permanecem efetivos por longos períodos, por causa do pH
moderado, em torno de 6,0. Isto é importante, pois em graneleiros e armazéns os pisos
são geralmente de concreto.
Nas estruturas dos armazéns, geralmente os insetos têm refúgio (fendas etc.)
para se esconder, mas muitos fatores afetam o comportamento de procura por refúgio.
No entanto, todos os insetos eventualmente morrem, porque eles vagueiam; porém, se
for usado um inseticida de baixa toxicidade ou se ocorrer degradação rápida, isto
resultará em um controle pouco efetivo.
As formulações líquidas, usadas como sprays, incluem concentrados
emulsionáveis (CE), que são diluídos em água, e soluções que são dissolvidas em água
ou óleo.
Formulações secas usadas como spray incluem pós higroscópicos, que
geralmente contêm 50% ou mais de ingredientes ativos e permanecem suspensos em
água, e pós solúveis, que dissolvem em água. Pós que têm ingredientes ativos de
inseticidas carregam partículas secas, como farinha de trigo, argila inerte, talcos ou pós
inorgânicos, ou seja, ácido bórico ou dióxido de silício.

10.3.1.2. Fumigantes
No Brasil, os fumigantes são amplamente empregados e considerados um tipo
especial de pesticida/inseticida. Um conceito que tem sido usado para determinar a
eficácia da maioria dos fumigantes é a concentração x tempo de exposição. Esse
produto é obtido medindo-se a concentração do fumigante durante a fumigação e
multiplicando-se a concentração média pelo tempo de exposição. Se a concentração for

394 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

aumentada, o tempo de exposição pode ser reduzido ou vice-versa. No entanto, o fator


tempo é de fundamental importância, pelo fato de as altas concentrações de fosfina
poderem causar aos insetos uma narcose. Em adição, a fosfina pode não ser absorvida
pelo inseto na proporção direta de sua concentração.
Sob condições práticas, os principais fatores que determinam a concentração do
fumigante depois da aplicação são temperatura, sorção e tempo de exposição do
fumigante, umidade relativa, teor de umidade do produto que está sendo fumigado e
vazamento. Em geral, quanto mais elevada for a temperatura do produto, mais
rapidamente o fumigante matará os insetos. O teor de umidade do produto afetará a
absorção do fumigante e, no caso da fosfina, afetará a reação que libera o gás fosfina.
Em geral, no que se refere ao sucesso da fumigação, o vazamento é o fator de maior
preocupação.
Em qualquer fumigação é necessário manter o gás fumigante em contato com a
praga durante certo tempo, para que ocorra a morte. Se o local estiver mal vedado, o
gás escapará e a fumigação não terá êxito. Isto é verdadeiro quando o envoltório for o
próprio local de armazenamento, saco ou lona impermeabilizada. Outro fator simples,
além da segurança, que também deve ser considerado é a vedação apropriada do
envoltório no qual ocorrerá a fumigação. Mesmo pequenas fendas podem causar falhas,
especialmente quando existem mudanças de pressão entre o interior e exterior do
envoltório, em razão do vento ou do sol que podem atingir o envoltório.
O fumigante mais usado diariamente no controle de insetos dos produtos
armazenados é a fosfina (PH3). O brometo de metila (CH3Br), embora tenha registro
para grãos armazenados, é, atualmente, muito pouco utilizado.
A fosfina é um gás sem cor e insípido, com cheiro de alho ou peixe podre,
quando se apresenta na formulação sólida de fosfeto de alumínio ou fosfeto de
magnésio. Outras propriedades da fosfina são listadas na Tabela 1. Além do baixo peso
molecular e baixo ponto de ebulição, a fosfina é somente 1,2 vez mais pesada que o ar,
o que lhe permite se misturar a este sem o sistema de recirculação. A maior
desvantagem da fosfina é o tempo requerido para eliminar completamente o foco da
população de pragas, que é de três a sete dias.
A ação da fosfina em algumas espécies-alvos ou em alguns insetos roedores
ocorre por causa da interrupção da respiração. Há muitas vantagens em se usar a fosfina
na fumigação. Ela é facilmente aplicada e mistura-se com o ar para a sua melhor
distribuição, penetrando no produto mais rapidamente. Pelo fato de ser molécula
pequena, a fosfina difunde-se rapidamente e, conseqüentemente, a ação com material
fumigado é rápida. Além disso, deixa resíduo mínimo após fumigação e aeração e não
interfere na germinação, podendo ainda ser usada em sementes.
O brometo de metila é um gás pouco colorido e com pouco odor nas
concentrações usadas para fumigação. Em concentrações muito altas, o brometo de
metila tem um odor semelhante ao do clorofórmio. Este gás pode ser usado sem nenhum
risco de explosão, pois não é inflamável. Desde a sua descoberta, em 1932, o brometo
de metila tem sido utilizado na fumigação de objetos e de estruturas.
O modo de ação do brometo de metila em ataque de pragas não é bem
conhecido. Tem sido observado que ele age no sistema nervoso central e que os
sintomas são freqüentemente retardados. Com isso, o procedimento correto é esperar no

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 395


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

mínimo 24 horas depois da aplicação para se obter sucesso na fumigação.


A maior vantagem do brometo de metila está na sua alta toxicidade para as
pragas, na sua capacidade de penetrar nos materiais em diferentes temperaturas e
pressões e no fato de não ser inflamável. Por causa destas propriedades, relativamente
curtos períodos de exposição são necessários para se obter uma fumigação efetiva.
Assim, o brometo de metila pode ser usado quando o tempo é um fator crítico, tal como
quando grandes quantidades de materiais devem ser fumigadas em pouco tempo.
As desvantagens do brometo de metila são as seguintes: é um líquido e pode ser
volatilizado no momento da aplicação; é mais pesado que o ar, mas pode ser recirculado
depois da aplicação; pode deixar resíduos em alimentos após a aeração; e a fumigação
de alguns tipos de materiais pode não ser recomendada, pois reduz a germinação e, por
este motivo, seu uso em sementes pode ser arriscado. Tem sido recentemente reportado
que o brometo de metila pode reagir com o ozônio, contribuindo assim para a
diminuição da camada de ozônio, localizada na parte superior da atmosfera.
O brometo de metila tem sido classificado como um ozônio depressor. O “U.S.
Clean Air Act” (Seção 602) - Ação pelo Ar Puro - e o Protocolo de Montreal da
Convenção de Viena de 1992 ordenam a redução da produção de brometo de metila até
os níveis obtidos em 1991 e a eliminação de toda a produção e uso, incluindo a
fumigação, até o ano 2001.

TABELA 1 - Propriedades do fumigante fosfina

Propriedades Descrição
Fórmula PH3
Peso molecular 34,08
Ponto de ebulição - 87,4ºC
Massa específica (ar=1) 1,214 a 0ºC
Ponto de explosão: muito baixo 1,79% de volume no ar
Odor Pura → Inodora
Em mistura → Alho ou peixe podre
Solubilidade em água (baixa) 26 cc/100ml a 17ºC
Método de obtenção (para Fosfeto de alumínio (AlP) ou fosfeto de
fumigação) magnésio (Mg3P2) em reação com a
umidade do ar
Reação AlP + 3H2O → PH3 ↑ + Al(OH)3
Mg3P2 + 6H2O → 2PH3 ↑ + 3Mg(OH)2
1 mg/L = 0.0718% = 718 ppm
Concentração letal para 2,8 mg/L (2.800 ppm)
mamíferos
Nome alternativo Fosfeto de hidrogênio
Fonte: WHITE e LESSCH (1996).

10.3.2. Operações de fumigação ou expurgo


A fumigação de produtos é feita em duas formas gerais. A primeira é a de
quarentena, na qual o produto, sendo exportado ou importado, deve ser fumigado para

396 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

assegurar que a praga associada a ele não seja transportada para uma área onde a praga
não exista. Estas fumigações, consideradas as mais rigorosas, podem ser realizadas no
país de origem ou no país importador. No controle de quarentena o objetivo é matar
100% da população de pragas. Para alcançar este objetivo, o processo de fumigação é
rigidamente controlado. Fumigação de quarentena geralmente ocorre em câmaras
especialmente construídas e planejadas com determinadas proporções para que as
concentrações de fumigantes e a temperatura do produto possam ser medidas através do
processo de aeração e fumigação. Atenção particular é dada à vedação da câmara, para
que o fumigante possa ser conservado a uma concentração que irá matar os insetos na
temperatura do produto. O processo de aeração é também monitorado de perto,
determinando o tempo após o qual o operador poderá, seguramente, entrar na câmara
para remover o produto tratado.
Um outro tipo de fumigação realizada em produtos é o de controle, que é usado
para matar pragas que podem danificar a carga, diminuindo assim sua vida de
armazenagem. As fumigações de controle são conduzidas em uma variedade de
produtos a granel ou embalados (natural ou processados).
No momento em que a fumigação for planejada, é extremamente importante
formular um plano para realização da operação, por exemplo: preparar a carga para o
tratamento, o qual inclui selamento adequado para fechamento; conduzir a fumigação e,
se possível, medir a concentração de gases; e aerar o produto no final do processo.

Clique para ver: vídeo 1

10.3.2.1. Expurgo de grãos a granel


Para se estabelecer um plano de fumigação para o sistema a granel, é necessário,
primeiramente, conhecer o tipo de unidade armazenadora a ser trabalhada. Cada
unidade apresenta características próprias, seja um silo vertical ou os próprios
graneleiros, cuja capacidade, modalidade de estocagem, condições de hermeticidade,
sistema de movimentação do produto e padrão construtivo vão influenciar na maneira
de aplicação e nas dosagens dos fumigantes.
Geralmente, quando se trabalha com fumigante sólido, a distribuição é feita
durante a operação em que o produto está sendo armazenado. Os tabletes, comprimidos
ou sachês são colocados em intervalos regulares sobre a correia transportadora, durante
o carregamento. Em silos de grande capacidade, geralmente são usados equipamentos
que fazem a dosagem automática dos comprimidos ou tabletes (Figura 7).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 397


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Figura 7 – Aplicação manual e automática para fumigação em silos.

No caso em que as unidades armazenadoras estiverem carregadas, os tabletes ou


comprimidos poderão ser aplicados por meio de sondas, obedecendo-se à seqüência
operacional:
a) Vedar com papel kraft betuminado ou similar os locais de vazamento mais
comuns, como: janela de inspeção (lateral e superior), ventiladores de
aeração, pontos de carga e descarga, respiradores etc.
b) Uniformizar a superfície da massa de grãos, quando possível, de modo a
facilitar a operação de expurgo.
c) Determinar a quantidade de produto existente no silo ou graneleiro e calcular
a dosagem do fumigante.
d) Colocar lençóis plásticos sobre a superfície da massa de grãos (para a
vedação próxima às paredes, utilizar cobras-de-areia).
e) Distribuir o fumigante através das emendas dos lençóis plásticos,
introduzindo a sonda até a profundidade máxima permitida; o acabamento
das emendas dos lençóis deverá ser com velcro, para facilitar o fechamento.
f) Manter o depósito fechado e vedado por um período mínimo de cinco dias.
g) Fazer aplicação de um inseticida residual na superfície da massa de grãos,
após a retirada do lençol plástico.

10.3.2.2. Expurgo de grãos ensacados


Para os grãos ensacados, a operação de expurgo poderá ser feita por meio de
câmaras (móveis ou fixas) ou cobrindo-se as pilhas com lençóis plásticos. Feito em
policloreto de vinila (PVC), com espessura de 0,2 mm, este tipo de plástico oferece,
além da impermeabilidade aos gases, boa resistência ao manuseio. O sistema de
vedação no ponto de contato do lençol com o piso é feito com "cobras-de-areia". Após a
colocação do lençol, deve-se distribuir os comprimidos ou tabletes dentro de caixas que
serão colocadas nas laterais da pilha. O tempo de exposição varia de 96 a 120 horas,
dependendo das condições de temperatura. Após o expurgo, abrir portas e janelas, para
melhor exaustão dos gases.
Para confecção das "cobras-de-areia", cortam-se tiras de pano de 30 cm de
largura por dois metros de comprimento e costuram-se as laterais, formando tubos que
são preenchidos com areia, até a uma altura 25 cm inferior ao comprimento total do

398 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

tubo. Este procedimento visa dar maior flexibilidade à "cobra-de-areia".


Na operação de expurgo de grãos ensacados, obedece-se à seqüência a seguir e
ilustrada pela Figura 8.
a) Verificar a estabilidade da pilha.
b) Inspecionar os lençóis a serem usados na cobertura da pilha, para detectar
possíveis furos;
c) Antes do empilhamento, verificar e retificar possíveis trincas no piso.
d) Colocar o lençol plástico sobre a pilha e distribuí-lo de forma a cobrir todo o
lote a ser fumigado.
e) Fazer a vedação do lençol plástico sobre o piso, pela colocação de "cobras-
de-areia".
f) Calcular a dosagem do fumigante, em função do número de sacos ou do
volume da pilha.
g) Distribuir o fumigante ao redor da pilha e embaixo do lençol plástico.
h) Após duas horas, verificar se existe vazamento do gás; para isso, utiliza-se
papel mata-borrão embebido em solução de nitrato de prata a 10%, que na
presença do gás fosfina reagirá, produzindo manchas escuras (em caso de
vazamento, faz-se novamente a vedação do local).
i) O tempo de exposição deverá ser de pelo menos cinco dias.
j) Proceder à retirada do lençol plástico, sempre observando o sentido do vento.
Tomar o cuidado de abrir todas as portas e janelas, para facilitar a saída de
gases.
k) Fazer uma pulverização protetora em todos os lados e no topo da pilha.

(a) (b)

(c) (d)

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 399


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

(e) e (f) (g)

(h) (i) a (k)

Figura 8 – Seqüência operacional do expurgo de grãos ensacados.

Clique para ver: vídeo 1

10.3.2.3. Expurgo de milho em palha


O armazenamento do milho em palha é uma prática muito usada por pequenos
agricultores em todo o mundo. No Brasil, estima-se que aproximadamente 50% do
milho seja armazenado dessa forma por algum tempo.
Para a operação de expurgo do milho em palha, recomenda-se a seqüência
operacional descrita a seguir:
a) Amontoar uma quantidade conhecida de milho em palha sobre uma área
cimentada ou sobre uma lona plástica.
b) Cobrir o milho com lençol plástico próprio para expurgo ou lona
impermeável ao gás.
c) Vedar com cobras-de-areia, ou outro material que dê boa vedação, a
intercessão do lençol plástico com o piso.
d) Distribuir o fumigante em locais predeterminados, de acordo com as
dosagens pré-calculadas.
e) Deixar o produto exposto ao gás por um período mínimo de cinco dias.
f) Ao armazenar o milho em palha, pulverizar com um inseticida protetor a
superfície de cada camada.

400 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

10.3.4. Resistência aos inseticidas


O uso excessivo dos inseticidas tem resultado no fracasso destes produtos para o
controle efetivo dos insetos em grãos armazenados. São várias as razões do fracasso de
um inseticida. Como exemplo, o insucesso de uma aplicação pode ocorrer quando ele é
aplicado em doses menores do que as indicadas, resultando em exposição dos insetos a
níveis subletais. No entanto, a razão mais provável do fracasso do inseticida é o
surgimento de resistência na população de insetos. Resistência é a habilidade de os
indivíduos de uma mesma espécie resistirem a doses de substâncias tóxicas que
deveriam ser letais para a maioria dos indivíduos em uma população normal.
A extensão do problema da resistência em insetos de produtos armazenados é
séria, devido à dimensão com que cresce. No Brasil foi encontrada resistência de S.
oryzae ao DDT, lindane e malathion. Também foi observada resistência a
organofosforados em S. oryzae, T. castaneum e R. dominica. Nestas três espécies, foi
documentada resistência à fosfina. Resistência a DDT e piretróides foi detectada em seis
raças de S. zeamais, coletadas em quatro estados do Brasil. Utilizando o método de dose
diagnóstico, avaliou-se resistência a malathion, pirimifós-methyl e fenitrothion em S.
oryzae, S. zeamais, R. dominica e T. castaneum. As linhagens dos insetos avaliadas
eram originadas de áreas de armazenamento de grãos e foram coletadas entre 1986 e
1989. A resistência ao malathion foi generalizada em S. oryzae, R. dominica e T.
castaneum. Sitophilus zeamais foi susceptível a todos os três organofosforados. Em
poucas linhagens de S. oryzae, R. dominica e T. castaneum foram encontradas
resistência ao pirimifós-methyl e fenitrothion. Algumas linhagens de T. castaneum
resistentes ao pirimifós-methyl foram também resistentes ao fenitrothion.
À proporção que os insetos vão desenvolvendo resistência a um determinado
inseticida, tornando-o ineficiente, novos produtos deveriam ser utilizados. O uso de
novos inseticidas pode oferecer excelente controle inicial dos insetos, mas, com o
tempo, certas espécies são capazes de desenvolver resistência aos novos produtos,
tornando-os ineficientes. Os piretróides são estáveis nos grãos e, freqüentemente,
protegem por longo período e em baixas doses (menos que 2 ppm). Entretanto, os
insetos podem desenvolver alto nível de resistência aos piretróides.
O melhor modo de retardar a resistência ao inseticida é o manejo integrado de
pragas (MIP). No MIP são utilizados métodos não-químicos em vez de pesticida, só
aplicando-os se a densidade da praga atinge o nível de dano econômico. Os inseticidas
podem ser usados em misturas, rotação, mosaico (algumas áreas tratadas com um
produto e outras com outro), além de outros métodos. Misturas de inseticidas, embora
sejam de alto custo, podem ser a estratégia mais efetiva, porque poucos insetos são
provavelmente resistentes a dois ou mais produtos. No período de aplicação do produto,
o sistema de rotação é melhor que o uso seqüencial, porque os genótipos suscetíveis
têm, geralmente, uma vantagem reprodutiva sobre os genótipos resistentes, na ausência
do inseticida. A freqüência do genótipo suscetível pode aumentar durante o período em
que o inseticida não é usado. O uso de mistura de inseticidas para retardar o
desenvolvimento de resistência nem sempre é melhor que o sistema de rotação.

10.3.5. Resistência aos Fumigantes


Embora o brometo de metila venha sendo usado por, aproximadamente, 60 anos,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 401


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

pouca ou nenhuma resistência foi desenvolvida para este fumigante. Em 1976, a FAO e
a Inspeção Global de Susceptibilidade a Pesticidas demonstraram que somente 4,7% das
famílias testadas mostraram resistência ao brometo de metila, das quais 9,7%
apresentaram resistência à fosfina. Quando a eliminação do brometo de metila vir a ser
uma realidade, a dependência da fosfina deverá certamente crescer. Técnicas de
aplicação deverão ser desenvolvidas, para evitar rigorosos problemas de resistência.
Resistência à fosfina já tem sido demonstrada em várias espécies de pragas de produtos
armazenados. Em muitas pesquisas, visando encontrar uma causa provável para a
resistência, foi concluído que esta resistência ocorreu em razão das repetidas e
ineficientes técnicas de fumigação. Pesquisas para identificar novos fumigantes e novos
métodos e técnica de desinfestação são de grande importância para proteger os produtos
armazenados até chegarem ao consumidor. A atmosfera modificada poderá ser uma
solução parcial para reduzir o número de fumigantes disponíveis, mas, para tal
propósito, pesquisa necessita ser desenvolvida.
Novos métodos de aplicação e de distribuição do fumigante fosfina têm sido
descritos. Por exemplo, a distribuição de fosfina na massa de grãos pode ser melhorada
se a formulação deste fumigante for aplicada com uma pequena quantidade de CO2. O
uso desta técnica permitirá rápida penetração da fosfina em uma grande massa de grãos
sem precisar instalar equipamentos de recirculação dentro do armazém.
Com relação ao meio ambiente, há uma preocupação com os efeitos dos
fumigantes na atmosfera. Como já mencionado, o brometo de metila é considerado um
dos elementos que contribuem para a destruição da camada de ozônio e, atualmente,
tem-se lutado pela sua eliminação. Pesquisas são necessárias para se detectar a
quantidade e, principalmente, para verificar que quantidade de brometo de metila
artificial contribui para a degradação da camada de ozônio na estratosfera.

10.3.6. Atmosfera modificada


A necessidade de reduzir os níveis de infestação de insetos sem o aumento do
uso de inseticidas, sem a possibilidade de intoxicação dos operadores e sem a presença
de resíduos nos alimentos, proporcionando assim menor impacto ambiental, levou à
busca de alternativas para combater os insetos-pragas de grãos armazenados. Uma
alternativa é a adoção de métodos físicos, dentre os quais destaca-se a proteção dos
produtos armazenados por meio de atmosferas modificadas e controladas.
Vários tipos de atmosferas têm sido estudados: alta concentração de CO2 e, ou,
N2 com baixo O2, alta concentração de CO2 com redução de O2, queima de gás (alto
CO2, baixo O2 mais outros gases) e armazenamento hermético. Os métodos de aplicação
normalmente usados são aqueles que produzem mais facilmente e economicamente a
modificação requerida (veja capítulo 16 ).

10.3.7. Resistência à atmosfera modificada


Atmosferas modificadas não estão na mesma posição dos fumigantes em relação
aos danos causados ao ambiente, uma vez que elas são vistas como compostos que
ocorrem naturalmente, provavelmente escapando de um intenso estudo, como ocorre
para os fumigantes. Entretanto, é válido pensar que estes compostos podem ser
perigosos para aplicar como fumigantes. Ambos, dióxido de carbono e nitrogênio, são

402 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

capazes de matar humanos. O primeiro é tóxico e tem valor-limite tolerável de 5% no


ar. Por outro lado, o segundo, embora apresente um nível natural de 78%, pode fazer
com que a pessoa simplesmente adormeça, por causa da redução de oxigênio.
Novas pesquisas sobre fumigantes e atmosferas modificadas deverão ser
diretamente incorporadas em programas de técnicas de manejo integrado de pragas
(MIP), para armazenamento e proteção de produtos de todos os tipos.
O manejo de grãos armazenados é uma tarefa complexa e os inseticidas são
apenas uma das ferramentas disponíveis para minimizar o dano em grãos e evitar perdas
econômicas causadas por insetos. Os produtos químicos devem ser usados em conjunto
com outras práticas de armazenagem num sistema de manejo integrado de pragas. Os
produtos químicos escolhidos serão baseados em pequeno número de produtos
registrados, custos, efetividade contra os insetos-pragas presentes, resistência do
inseticida, condições ambientais, formulação desejada e duração da atividade residual
requerida.
10.4. Controle Biológico
O controle biológico promete ser um importante componente de estratégias do
manejo integrado de pragas para muitos tipos de armazenamento. Agentes de controle
biológico incluem os patógenos, parasitóides e predadores e são distinguidos pelo fato
de serem capazes de reproduzir depois de sua liberação. Vale ressaltar que o controle
biológico deve ser usado somente como profilaxia e não como estratégia de remediação,
podendo ser mais efetivo quando integrado com outras estratégias, como sanitização,
aeração etc.
Um programa de controle biológico para pragas de produtos armazenados requer
cuidadoso planejamento. Não é simplesmente uma matéria viva de parasitóides e
predadores selecionados de uma lista. Muitos dos inimigos naturais são hospedeiros
específicos, podendo-se determinar que espécie de praga está causando o problema.
O controle biológico é mais efetivo quando há uma relação de parasita para cada
hospedeiro, como 1:2. Cada parasita pode atacar inúmeros hospedeiros por dia. A
integração do controle biológico com outro método de controle é muito importante.
Alguns métodos são compatíveis, outros não. Um exemplo de um método perfeito de
controle compatível é o uso de parasitóides mais aeração do trigo. Neste sistema, os
parasitóides são liberados nos grãos cerca de três semanas depois do armazenamento.
Os parasitóides inibem as populações de insetos antes que excedam os níveis de danos
econômicos durante os meses de verão, até que a aeração possa ser usada para resfriar o
grão.
Os inseticidas têm sido tradicionalmente incompatíveis com a aplicação de
controle biológico; algumas vezes eles afetam os parasitóides e predadores mais
severamente que a praga-alvo. Por exemplo, organofosforados, piretróides e carbamatos
foram mais tóxicos para Anisopteromalus calandrae que para Callosobruchus
maculatus. Uma forma de reduzir a incompatibilidade de inseticidas com o controle
biológico é usar formulações de alta “seletividade”, a qual é mais tóxica para pragas que
para os agentes de controle biológico.
Inseticidas microbianos como Bacillus thuringiensis (Bt) são algumas vezes
mais seletivos que componentes sintéticos; no entanto, eles podem adversamente afetar
parasitóides e predadores. Entretanto, se inimigos naturais atacam preferencialmente

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 403


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

hospedeiros que recebem baixas doses ou que são menos suscetíveis a inseticidas ou
patógenos, a compatibilidade pode ser melhorada.
O tipo de produto, o meio ambiente e as condições de armazenamento podem
afetar decisões sobre quando e como muitos agentes de controle biológico podem agir.
A qualidade dos próprios agentes de controle é um assunto sério, porque sua eficácia
pode ser afetada pelas condições durante produção, genética, criação, armazenamento,
preço e condições de manuseio.
Nos Estados Unidos, os agentes de controle biológico já estão legalizados para
uso em muitas situações de armazenamento de alimentos. O Bt é utilizado
comercialmente, e pelo menos um insetário comercial é abastecido de poucas espécies
de parasitóides e predadores apropriados para produtos armazenados. No entanto, para
ser realizado, é preciso que haja um sistema de regulamentação de parasitóides ou
predadores, estabelecendo eficácia, segurança e forma de aplicação, como existe para
inseticidas químicos ou biológicos. No Brasil, a introdução do ácaro Acarophenax
lacunatus como agente de controle biológico de Rhyzopertha dominica ocorreu somente
depois de um estudo completo de sua eficácia como inimigo natural no controle das
populações de sua presa; os autores constataram que A. lacunatus é bastante eficiente no
controle das populações de R. dominica, causando reduções de até 94% das populações
do inseto adulto, e de 99% de ovos e larvas, num período de 45 dias.
A necessidade de uma integração de métodos biológicos, físicos e químicos no
controle de pragas de grãos armazenados já é reconhecida e alguns estudos estão sendo
realizados, principalmente, em condições tropicais. Embora pareça inicialmente de alto
custo, quando uma demanda real dessas novas técnicas for criada, estimulará a produção
comercial de equipamentos e agentes de controle a preços competitivos. A importância
dessas estratégias está no fato de que elas complementam e reduzem os efeitos adversos
inerentes ao controle químico.

11. LITERATURA CONSULTADA

1. BROOKER, D. B.; BAKKER-ARKEMA, F. W.; HALL, C. W. Drying and


storage of grains and oilseeds. Westport: AVI, 1992. 450p.
2. FARONI, L.R.A. Biologia y control del gorgojo de los granos Rhyzopertha
dominica (F.). Universidad Politécnica de Valencia, E.T.S.I.A. Valencia,
Espanha 134p. 1992 (Tesis doutorado).
3. FARONI, L.R.A. Manejo das pragas dos grãos armazenados e sua influência na
qualidade do produto final. Rev. Brasileira de Armazenamento, Viçosa, vol.
17, No 1 e 2, 1992.
4. GUEDES, R.N.C. Manejo integrado para a proteção de grãos armazenados contra
insetos. Rev. Bras. de Armazenamento, Viçosa, Vol. 15 e 16 No. 1 e 2,
1990/91.
5. GUEDES, R.N.C. Detecção e Herança da Resistência ao DDT e a Piretróides
em Sitophilus zeamais Motschulsky (Coleoptera: Curculionidae). Universidade
Federal de Viçosa. 67 p. 1993. (Tese Mestrado)
6. HAGSTRUM, D. W.; FLINN, P. W. Integrated pest management of stored-
grain insects. In: Storage of Cereal Grains and Their Products. American

404 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Association of Cereal Chemists, St. Paul, MN, 1992. p.535-562.


7. HAGSTRUM, D. W.; FLINN, P. W. Integrated pest management. In: Integrated
Management of Insects in Stored Products. New York: Marcel Dekker, Inc.,
1996. p.399-409.
8. JAYAS, D. S. Mathematical modeling of heat, moisture, and gas transfer in
stored-grain ecosystems. In: Stored-Grain Ecosystems. New York: Marcel
dekker, Inc., 1995. p. 527-567
9. JONES, D. F.; THOMPSON, E. G. Integrated pest management for the food
industry. In: Food and Drug Administration Technical Bulletin 4: Ecology and
Management of Food-Industry Pests, 1991. p.551-556.
10. LIMA, J. O. G., SILVA, F. A. P. & FARONI, L. R. A. Insetos de grãos
armazenados. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, Vol.9 No 99, 1983.
11. MATIOLI, A. L. Biologia de Acarophenax lacunatus (Cross & Krantz)
(Prostigmata: Acarophenacidae) e seu potencial de parasitismo sobre
Rhyzopertha dominica (F.) (Coleoptera: Bostrichidae). Universidade Federal
de Viçosa. 73p. 1997. (Tese Mestrado)
12. MELLO, E. J. R. Constatação de resistência ao DDT e lindane em Sitophilus
oryzae (L.) em milho armazenado, na localidade de Capinópolis, MG. In
Reunião Brasileira de Milho, Porto Alegre, PIP, 1970. p. 130-131.
13. MILLS, J. T. Ecologycal aspects of feed-mill operation. In: Stored-Grain
Ecosystems. New York: Marcel Dekker, Inc., 1995. p.677-709.
14. ONSTAD, D. W. Calculation of economic-injury levels and economics thresholds
for pest management. Journal of Economic Entomology. v.80, n.2, 1987.
p.297-303.
15. SARTORI, M.R.; PACHECO, I.A.; VILAR, R.M.G. Resistance to malathion,
pirimifos-methyl and fenitrothion in Coleoptera from stored grains. In
Proceedings, 5th International Working Conference of Stored Product
Protection, INRA/SDPV, Bordeaux, France, 1991. p.1041-1050.
16. SCOTT, H.G. Nutrition changes caused by pests in food. Management of Food
Industry Pests. Arlington, Virginia, 4(35): 463-467. 1991.
17. SEDLACEK, J.D.; WESTON, P.A.; BARNEY, R.J. In: Integrated Management
of Insects in Stored Products. Marcel Dekker. Inc. New York, 1996. p.41 -
70.
18. SINHA, R. N. Interrelations of physical, chemical, and biological variables in
the deterioration of stored grains. In: Grain storage: part of system.
Westport: AVI, 1973. p.15- 47.
19. SUBRAMANYAN, B. e HAGSTRUM, D.W. Sampling. Integrated management
of insects in stored products. Marcel Dekker Inc, New :York, 1996. p.135-
193.
20. SUBRAMANYAN, B. e HAGSTRUM, D.W. Resistance measurement and
management. Integrated management of insects in stored products. Marcel
Dekker Inc, New :York, 1996. p.331-397.
21. SOUTHWOOD, T. R. E. Ecological methods. London: Chapman & Hill, 1980.
300p.
22. WHITE, N.D.G. e LESSCH, J.G. Chemical Control. In: Integrated Management

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 405


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

of Insects in Stored Products. Marcel Dekker, Inc. New York, 1996. p.287-330.
23. WILLIAMS, J. O.; ADESUYI, S. A.; SHEJBAL, J. Susceptibility of the life
stages of Sitophilus zeamais and Trogoderma granarium larvae to nitrogen
atmosphere in minisilos. In: Controlled atmosphere storage of grains.
SHEJBAL, J. (ed.) Amsterdam, Elsevier. 1980. p. 93-100.
24. WINKS, R.G. The effect of phosphine on resistant insects. In: GASGA
SEMINAR ON FUMIGATION TECHNOLOGY IN DEVELOPING
COUNTRIES, Slough, 1986. GASGA Seminar... Slough, TDRI, 1986. p.105-
108.
25. ZETTLER, J.L.; CUPERUS, GW. Pesticide resistance in Tribolium castaneum
(Coleoptera: Tenebrionidae) and Rhyzopertha dominica (Coleoptera:
Bostrichidae) in Wheat. J. Econ. Ent. 83(5):1677-1681. 1990.

406 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Você também pode gostar