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16/04/2018 HISTÓRIAS

CAUSOS DE JUNDIAHY
Salve, Jundiaí formosa, cidade feita de rosas, saudades vou levar...(Lamartine Babo)

JUNDIAHY, 400 ANOS

veja também LARGOS

Os povos indígenas que habitavam as colinas entre os rios


Jundiaí, Guapeva e do Mato, depois de milhares de anos de
isolamento continental, foram atingidos pela primeira
globalização em 1615, data em que o brasão oficial indica como
fundação da vila de Jundiahy, reconhecida meio século depois
pela Coroa Portuguesa. A superação dos oceanos,
empreendida pelos ibéricos no século anterior, criava uma
nova raça mestiça que falava uma língua geral misturada com
o idioma nativo (chamada nheengatu) que formou o nome do
lugar em alusão aos bagres jundiás, abundantes nessas águas.

Mas a ordem era claramente colonial, como mostravam as


primeiras referências com o Largo do Pelourinho e o Largo da
Matriz. Na economia, o desenvolvimento era precário porque
a colônia brasileira estava integrada naquela globalização do
açúcar concentrada no Nordeste (e também no Caribe)
integrando-se com a África no aspecto da mão de obra
compulsória.

A escravidão, intensificada no sudeste do país apenas com a


descoberta de ouro e pedras preciosas nas montanhas das
Geraes, era mantida a ferro e fogo como mostra um pagamento
aprovado pela Câmara de Jundiahy em 1754 para um capitão
do mato vindo da vila de São Paulo com sua tropa para acabar
com um quilombo criado nas paragens de Ytupeva, incluindo a
exibição das cabeças de seus líderes em estacas na antiga
estrada real.

Ao mesmo tempo, o aumento de impostos cobrados em nome


da reconstrução de Lisboa após um terremoto, a partir de 1757,
na passagem pela vila das caravanas de comércio ou de
mineração no posto fiscal que deu origem ao nome de Barreira,
ilustra a germinação de motivos do movimento republicano

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que trinta anos depois resultaria na repressão da chamada


Inconfidência.

No chamado “mato grosso de Jundiahy”, que inicialmente


envolvia todas as matas existentes da vila até a divisa do rio
Grande (no extremo oeste do atual estado de São Paulo),
outras vilas foram surgindo a partir do avanço das caravanas
que geralmente passavam pela posteriormente chamada Ponte
de Campinas.

Mas a decadência da mineração deixou amplos vazios


ocupados por posseiros na criação da chamada “cultura
caipira” que envolvia não apenas a economia não-financeira
das trocas de produtos (como ovos, frutas, bebidas caseiras,
linguiças, tecidos e muitos outros) como também a
organização social que resolvia as grandes lidas com
“mutirões” e os encontros comunitários de gente dispersa nas
festas dos chamados “bairros rurais”. O centro urbano era
apenas uma referência principal, muitas vezes vazio a não ser
nas ocasiões especiais.

A economia do café, na virada dos anos 1800, levou a uma


nova concentração de terras em latifúndios que tornaram os
grandes fazendeiros uma parte central da elite governante
depois da independência, como ocorreu com Antonio de
Queiroz Telles, tornado Barão de Jundiaí em uma fase onde
recebeu por duas vezes o imperador Dom Pedro II em seu
casarão (Solar).

Marcada pelas antigas estradas coloniais para São Paulo, para


Pirapora e Santana do Parnaíba, para São João de Atibaia, para
São Carlos (depois Campinas) e para as Minas Geraes, a agora
cidade de Jundiahy tornou-se um ponto estratégico para as
novas ferrovias estimuladas pela Inglaterra para a exportação
do estimulante de cafeína para seus operários. Os trilhos,
inicialmente consumindo florestas inteiras em suas caldeiras,
ligaram a partir de 1867 a cidade de Jundiahy a Santos, ao
Interior Paulista, a Bragança ou a Ytu.

Com apenas uma parte dos escravos africanos libertos para a


função e com uma forte resistência dos “caipiras” (mesmo
expulsos de suas posses por títulos fabricados por grileiros) a
trabalhos de horários fixos, a demanda da ferrovia e depois
das primeiras indústrias como as têxteis buscou mão de obra
excedente da Europa, em especial dos italianos, para a nova
fase. Envolvidas em todas essas iniciativas, as elites de
Jundiahy dividiram-se entre a lealdade ao Império e a adesão à
República para manter o status quo.

Mas, ao mesmo tempo, esse novo caldo cultural levou a um


novo momento de participação social nos rumos da cidade
com a organização da comunidade negra (1897), o surgimento
de escolas públicas (1897), a pioneira greve operária do país
(1906), a consolidação do ludopédio ou “foot ball” (1909), e
também de hospitais, bibliotecas, cinemas, teatros, bandas de
música. E até da eletricidade que substituiria os lampiões
urbanos a gás e os hortos de eucalipto pensados como solução
para o desmatamento dos trens.

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Com essa globalização embasada no café, que teria sua


decadência apenas a partir da crise de 1929, Jundiahy
expandiria a ocupação de suas colinas centrais também com
indústrias e vilas de trabalhadores, formando um cotidiano
bem mais urbano do que nos séculos anteriores.

Mas ainda em 1932 as tropas mineiras que chegaram à cidade


no conflito constitucionalista foram recebidas pacificamente
com prendas oferecidas em chácaras situadas na ladeira atrás
do Cemitério Nossa Senhora do Desterro (este, de 1878, não
oculta o fato de ossadas de sepultamentos anteriores estarem
espalhadas por toda a região central).

Já durante o longo governo de Getúlio Vargas, em 1934, a área


interfluvial do centro de Jundiahy mostra uma nova
identidade com a grande repercussão da sua primeira Festa da
Uva, projetando uma imagem de desenvolvimento tanto
agrícola como industrial a todo o país. Mais tarde, em 1945, a
participação de moradores da cidade na Segunda Guerra
Mundial traz anseios de mais democracia para o cotidiano
(algo que já deveria ter sido cogitado pelos subalternos
enviados para a Guerra do Paraguai, no século anterior, mas
em contexto ainda escravista).

Entra em cena nesse período da redemocratização um novo


tipo de planejamento urbano, que antecipa a chegada das
rodovias com um parque especialmente dedicado à festa e um
ginásio esportivo em concreto armado nas áreas do entorno
que fariam a ligação com a nova autoestrada estadual. E
também os primeiros laivos da consciência ecológica com o
início das desapropriações na serra e os avanços no
fornecimento de água tratada.

Em 1964, quando um golpe civil-militar derruba o governo


eleito de esquerda no país, o centro de Jundiahy contava com
um quartel do Exército (e outro já havia se mudado para uma
área próxima no entorno). Diversos líderes sindicais ou mesmo
pessoas com contatos censurados por motivos profissionais são
afastados e, em alguns casos, exilados.

Mas o centro histórico das colinas entre rios, a essa altura


também transformado em um polo de comércio regional,
segue marcando sua expansão para as várzeas desses rios (que
a engenharia já havia “retificado”, ou seja, tornado retos sobre
suas antigas curvas naturais) com novos “caipiras” do interior
chegando para a massa operária. E também criando grandes
momentos públicos. Um deles aconteceu em 1978, quando
algumas milhares de pessoas mobilizadas bem antes da
internet se reuniram no Largo Santa Cruz para uma passeata
musical até as montanhas pela proteção da Serra do Japi, que
foi alcançada poucos anos depois.

Se a globalização entrou na crise do petróleo de 1982, esse


centro ignorou o contexto ao viver a sua primavera da
redemocratização e da revolução comportamental naquele
momento. Com uma cultura que ainda mantinha resquícios do
“ó” que substituía localmente o cumprimento de “oi” de
outros lugares, a vida nesses anos teve uma explosão de feiras
culturais, de espetáculos inesquecíveis, de debates
apaixonados e de encontros e reencontros possíveis ainda a um

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centro urbano formado pelas colinas entre rios de sua área


histórica e por seu entorno formado pelos bairros secundários
mais antigos.

Na década de 1990, o legado dos séculos parecia estar


arrefecendo com a mudança de sede do governo municipal e
também de focos comerciais, culturais e econômicos para fora
desse centro histórico entre rios. Depois de terem resistido por
incontáveis anos, referências como casinhas de bandeirantes na
rua do Meio (atual Senador Fonseca) ou a chamada Casa do
Sal na travessa do Pelourinho (atual Engenheiro Monlevade)
haviam desaparecido.

Entretanto, os movimentos pelo equilíbrio já haviam começado


mais de vinte anos antes com as medidas que “salvaram” da
demolição as referências ainda presentes como o Teatro
Polytheama, o Solar do Barão e muitas outras. E iniciativas
coletivas ou particulares da comunidade nesse sentido
continuaram em andamento.

No século XXI, tornou-se visível o efeito benéfico do “anel de


proteção” criado a partir de propostas das décadas de 1950 e
1960 para esse centro histórico entre rios, que usou as antigas
matas ciliares para as avenidas marginais do rio Jundiaí, do
córrego do Mato e, neste caso, pela avenida José do Patrocínio
(tendo a área central completada rua Atílio Vianelo e pela rua
Dora Franco).

Mas a globalização também continuou presente, como na


integração de Jundiahy na macrometrópole paulista que torna-
se um dos centros econômicos globais e provoca uma corrida
imobiliária que ameaça a diversidade sociocultural e
arquitetônica do centro histórico e de seus ainda numerosos
núcleos residenciais.

O potencial turístico, comercial, gastronômico e cultural, ao


lado dos aspectos históricos e populares, continua inspirando
um lugar fascinante. Continuam ainda nessa área os seus
largos, as suas ladeiras, as suas pequenas vilas, as suas praças
e muitas de suas atrações que fazem parte da memória
jundiaiense e os altos e baixos da sua história e de cada um de
nós.

E agora com os desafios da valorização dos pedestres, da


acessibilidade universal, do combate à pressão dos
automóveis, das transformações cuidadosas, da inclusão
social, da conservação da paisagem e do estímulo a formas
criativas da economia. São muitos, mas também o são aqueles
corações que torcem para Jundiahy, esse centro histórico entre
rios da moderna Jundiaí, entrar bem nos seus próximos 400
anos.

A ONDA TUPI

Jundiahy é um termo de origem no tronco linguístico tupi - que formou


muitos idiomas no período pré-colombiano, ou seja, antes da invasão de
Pindorama pelos portugueses e outros europeus. Dessa maneira, Jundiahy é
tanto o centro interfluvial histórico como o próprio nome da bacia
hidrográfica. Traduzido para a língua portuguesa é Rio dos Jundiás. Uma das
primeiras referências locais da vila, depois da capela apontada
tradicionalmente como o marco zero, foi o pelourinho no lugar chamado
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posteriormente de largo do Quartel. Mas vestígios de cemitérios indígenas no
largo do Fórum, apontados na década de 1980 pelo pesquisador voluntário
Francisco de Matheo (Kiko), indicavam que já existia uma ocupação anterior
da área por povos nativos.

Neste detalhe do brasão municipal dá para notar um índio mais alto que as árvores (usado
como símbolo na campanha pelo tombamento da Serra do Japi em 1981) e um rio repleto de
jundiás abaixo da fortificação colonial. São duas coisas que não devem ficar fora de um papo
sobre o centro histórico interfluvial.

A ONDA PORTUGUESA

O belo livro de Júlia Fernandes Heimann, confirma que a origem de Jundiahy


é complicada mesmo. "Não foi fundada; surgiu de um povoamento
espontâneo, oriundo da caça aos índios pelos bandeirantes para o trabalho
escravo".

Em linguagem simples, ela aborda nessa parte também as teorias diferentes


sobre esse povoamento: historiadores que dizem que o início data do ano de
1615, outros que se deu em 1639 e ainda há quem afirme que aconteceu em
1650, dez anos após Portugal ter se libertado da coroa da Espanha. E cita que
o primeiro historiador a tratar do surgimento de Jundiahy foi Pedro Taques,
mas seus originais desapareceram no terremoto que atingiu Lisboa em 1755.
Outros nomes lembrados são de pesquisadores locais como Alceu de Toledo
Pontes, Mário Mazzuia e Geraldo Tomanik, entre outros.

O livro foi publicadoo pela editoral In House,

A ONDA AFRICANA
Menos de cem anos depois do surgimento da vila colonial sobre as anteriores
terras indígenas (o pesquisador amador Francisco de Matheo encontrou
vestígios de cemitério indígena na área do largo da Catedral ao largo São
Bento, na década de 1980) as fazendas e o trato de cavalos já começavam a
utilizar o trabalho de imigrantes africanos, traficados pelo regime econômico
do trabalho escravo. No século XVIII essa população já era bastante
expressiva.

Vida e Morte do Escravo na Jundiaí Setecentista - Uma comunicação de pesquisa no quarto


encontro "Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional" (realizado em maio de 2009 na
Universidade Federal do Paraná, em Curitiba), mostra um olhar da vida local em 1771 e 1775
por Valter Joaquim Lusvardi Júnior, bolsista de história no Centro Universitário Nossa Senhora
do Patrocínio, de Itu. Em pesquisas feitas no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí ele mostra
que existe muito material esperando por novos estudos, como a história do século XVIII. Ele
notou que a Câmara de Jundiahy ordenou a limpeza da cidade para a páscoa de 1771, ficando os
senhores encarregados de orientar seus escravos e os "forros" (negros livres) encarregados da
praça da Matriz, na prática colocados ao lado dos escravos. Em setembro, ordenou o conserto da
ponte Yguapeva, que ligava Jundiahy a São Paulo, com o custo repartido entre moradores. Não
sabemos se é a antecessora da Ponte Torta. O fato é que o custo era o tempo de trabalho dos
escravos. Por outro lado, casamentos nesse período mostram que existiam relacionamentos entre
afrobrasileiros de diversos senhores diferentes (incluindo padrinhos de outros), implicando em
uma rede de relacionamentos regionais e até com gentes das Minas Gerais. Finalmente, o
pequeno estudo indica de em cinco anos foram registradas as mortes de mais de 150
afrobrasileiros, indicando uma população surpreendente naquela época. Clique no título para
abrir o documento completo.

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Passada a fase mais intensa das tropas de animais, em 1870 o historiador


Manual Eufrásio de Azevedo Marques descreveu o local "como sendo um
povoado ainda muito simples, situado a noroeste da capital, sobre uma
extensa e aprazível colina", como registrou a historiadora Elizabeth Filippini
no site Ecco. Tinha uma população de 7.805 habitantes voltados mais para a
agricultura . Plantavam-se principalmente o café, a cana, os cereias e o
algodão de boa qualidade, "sendo este último de reconhecida superioridade
aos de muitos lugares da província".

Deu no New York Times (abril de 2011)

Por estes dias, encontrei uma antiga citação a Jundiaí no jornal dessa
bela cidade norte-americana. O fato aconteceu porque, de vez em quando,
busco coisas com o nome clássico da nossa cidade, que uso em um espaço
eletrônico para identificar a importância do centro histórico interfluvial entre os
rios Jundiaí, Guapeva e do Mato, que delimitam a maior parte da vida “urbana”
entre 1650 e 2000.

Pois o artigo do NYT, mantido com os caracteres tipográficos de época, era de 9


de agosto de 1883. E o título era “The last of the civilized countries in which
slavery exists”. Em tradução livre, o último dos países civilizados onde a
escravidão existe. Não há o nome do autor, apenas o registro de que era
correspondente do jornal inglês “London Times” e que escrevia de Jundiahy, em
São Paulo.

Dá o que pensar. O artigo lembra que o Brasil atingiu o maior número de


escravos entre todos os países ditos civilizados (vale lembrar que a data do
texto ocorre menos de vinte anos após o fim da guerra civil entre norte e sul dos
Estados Unidos) e que desde 1531 os conquistadores portugueses iniciaram a
escravidão com os aborígenes nativos chamados no texto de caboclos.

Os navios vindos da África, onde muitos brasileiros atuavam nos postos de troca
de escravos com os reis locais no litoral foram proibidos pelo governo
independente de Dom Pedro 1º em 1830. Como ocorre até hoje, a ilegalidade
não suspende atividades que são lucrativas ao ponto de um navio ou uma carga
humana perdidos não ameaçarem o lucro do negócio.

Somente em 1871, quando o governo imperial já era de Dom Pedro 2º, a


campanha abolicionista urbana e a resistência dos quilombos rurais obteve a lei
da liberdade para todos os filhos nascidos de escravos (o “ventre livre”), mas
quando chegassem a 21 anos de idade. Lembremos que o texto está sendo
escrito em Jundiahy em pleno calor da campanha pela abolição, que viria seis
anos depois, junto com a imigração italiana liderada em São Paulo por nomes
dessa então pequena cidade.

Também é notado que nessa época o tráfico de escravos passou a ser interno,
com a mão de obra ociosa na decadência do açúcar no Nordeste sendo vendida
para a afluência do café no Sudeste. Uma outra lei, rejeitada por alguns anos
nas assembleias provinciais (estaduais) dominadas pelos grandes fazendeiros,
passou a cobrar taxas desse comércio de pessoas no valor correspondente a
150 a 200 libras esterlinas, que obviamente eram dribladas com subfaturamento.
A proporção se invertera e os filhos de escravos que fizeram fortunas ao norte
encontraram a liberdade (sem compensações) no sul abolicionista e
republicano, embora ainda escravocrata. Faz pensar.

O livro publicado pela Prefeitura Municipal de Jundiaí em 2002, com uma versão resumida do
estudo arqueológico de Walter Morales Fagundes, antropólogo que pesquisOU junto ao Museu
de Arqueologia e Etnologia da USP, é encontrado na Prefeitura e em sebos e bibliotecas mas
não está disponível para download gratuito na internet...

A ONDA FERROVIÁRIA

O ainda pequeno mas extenso povoado já contava com a extremidade da


primeira estrada de ferro, construída em 1867 pelos ingleses da São Paulo
Railway entre Jundiahy e o porto de Santos em uma economia voltada para a
exportação do café, com acesso ao centro histórico realizado através de
bondes pela chamada Ponte Torta.

A maior transformação aconteceu em 1872, quando liderada por fazendeiros

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foi inaugurada a Companhia Paulista de Estradas de Ferro para a ligação com
o interior da província. O uso do trabalho assalariado pelas ferrovias, embora
sem dias de folga ou jornadas limitadas, levou muitos trabalhadores escravos
para a alforria antes da Abolição e permitiu o surgimento do clube negro mais
antigo em atividade no estado de São Paulo. Além de uma série de marcas em
Jundiahy - o futebol, o gabinete de leitura, o clube recreativo, a banda, a
cooperativa, a escola técnica, etc. - a Companhia Paulista tornou-se em
meados do século XX, segundo alguns analistas, uma das primeiras ferrovias
em qualidade do mundo ocidental. Durou exatamente 100 anos até sua
estatização pelo governo paulista em 1971.

A origem da Previdência - Alguns anos mais tarde, em 1906, uma das primeiras greves
operárias do país deixou dois mortos no largo do Fórum e também repressões em fábricas do
pólo têxtil da Vila Arens, surgidas perto da estação, e também de estudantes da Faculdade de
Direito do Largo São Francisco da atual USP (na capital, que fez manifestações de apoio a
Jundiahy). O movimento aconteceu contra um desconto de 30% dos salários para uma caixa de
pensão e por condições básicas de trabalho. Posteriormente, o deputado e fazendeiro local Eloy
Chaves formulou a primeira lei da Previdência em 1923. Se você quiser saber como esse
episódio repercute no futuro da Previdência, dê uma olhada na fala de Antonio Galdino nas
NOTAS.

Jornal O Estado de São Paulo, 17/09/1909


(Jundiahy) - Foram recebidas hontem, durante o dia, na estação da
Companhia Paulista nesta cidade, 71.178 saccas de café, sendo 63.731
despachadas para Santos e 7.447 para S. Paulo. (pág. 4 col. 1)

Jundiahy estava na República

Na manhã de 17 de abril de 1873 uma locomotiva fumegante partiu da estação


da São Paulo Railway, em Jundiaí, ao som de fogos de artifício e banda de
música para inaugurar a estrada de ferro Ituana (mais tarde conhecida como
Sorocabana). A viagem também foi usada como senha para a famosa
Convenção Republicana de Itu, colocando a cidade no mapa da mudança de
governo do século 19.

Essa história é contada pelo pesquisador Geraldo Barbosa Tomanik, então


diretor do Museu Histórico e Cultural, no livreto “O Ideal Jundiaiense no
Movimento Republicano”, publicado no centenário do regime em 1989 pela
Secretaria de Cultura.

De acordo com o autor, a convenção foi realizada em Itu na residência de João


Tibiriçá Piratininga, justamente o sogro de Antonio de Queiroz Telles, o
Conde do Parnaíba, que era filho do monarquista Barão de Jundiaí. Mas não
era um movimento apenas de fazendeiros, que dominavam a política da
época. O manifesto republicano havia sido lançado em 1870 por Américo
Braziliense de Almeida Mello e seus núcleos já se espalhavam por várias
cidades, tendo Francisco de Paula Cruz como representante de Jundiaí na
comissão estadual.

A importância da cidade já era, digamos, logística. Além da extremidade da


ferrovia criada em 1865 em parceria de Irineu Evangelista de Souza, o Barão
de Mauá, com os ingleses para escoamento do café, estava se tornando o mais
importante entroncamento de transportes do estado. Apesar de republicano,
Queiroz Telles chegaria a presidente da província ainda no Império, em 1886,
e implantaria os núcleos de imigração italiana.

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Tomanik narra que os participantes “brancos” da convenção reuniram
recursos para pagar a libertação de uma escrava que surgiu na porta do evento.
Em 1874 já estava organizado o PRP (Partido Republicano Paulista) que
desencadeou a mudança. No ano seguinte, uma nova visita do imperador Dom
Pedro 2º a Jundiaí, ao contrário de1847, enfrentou resistência na Câmara
Municipal aos gastos necessários por parte dos vereadores Cruz e Joaquim
Feliciano de Godoy. Na visita, ele hospedou-se no atual Solar do Barão. O
imperador ainda faria nova visita em 1886.

Em 17 de novembro de 1889, a ata da sessão da Câmara Municipal registrava


a presença dos vereadores João Batista Gomes de Siqueira, Luiz Estevão de
Siqueira, Joaquim Pereira Guimarães e José Martins Guimarães no juramento
do governo provisório da cidade, formado pelo coronel Joaquim de Siqueira
de Moraes, Antonio Hypollito de Medeiros e Luiz Antonio de Oliveira Cruz.
Na época, a cidade tinha a estimativa de 15 mil habitantes.

"Nas formas de governo baseadas na desigualdade, o Estado ou a coisa


pública (res publica, em latim) não é senão o patrimônio de um só ou de um
pequeno número, porque não existem cidadãos. A grandeza da concepção
republicana é que a coisa pública é o patrimônio de todos os membros do
corpo social, não se conhecendo outra autoridade senão a vontade geral
livremente expressa. Os seus princípios fundamentais são o interesse da
Pátria, a igualdade legal, a justiça e o direito", escreveu Tomanik.

(publicado no jornal BOM DIA em 15/11/10. O texto original foi publicado


em parceria com o editor deste site)

A ONDA ITALIANA
Com a proibição do governo imperial de Pedro II para a vinda de
afroamericanos dos Estados Unidos, dentro de algumas teses racistas da
época, os empresários rurais e os políticos da economia do café criaram o
projeto de colonização italiana que teve seu marco inicial em 1887 com o
projeto do Núcleo Colonial Barão de Jundiahy, no caminho da estrada de
Atibaia (que deixava o centro interfluvial na atual região da Vila Graf e
ladeira Torres Neves).

Além de influências anarquistas no movimento operário e novas contribuições


culturais e culinárias, os italianos causaram uma mudança nos padrões das
fazendas coloniais para pequenas propriedades rurais. Um grande número
delas surgiu, no século XX, na região da estrada para Jarinu com bons
recursos naturais na bacia do Jundiahy-Mirim como avanço do núcleo
colonial anterior do século XIX. Curiosamente, essa área também ilustra
mitos populares sobre um quilombo que teria também existido naquela área.

O grande salto da influência econômica dos italianos no século XX ocorreu


com a mutação que criou a variedade de uvas Niagara Rosada, ocorrida em
1933 na região do Traviú, um ramal da estrada que saía da Ponte de
Campinas, na propriedade do depois comendador Antonio Carbonari. No ano
seguinte, a primeira Festa da Uva aconteceu no antigo mercadão que
atualmente abriga o Centro das Artes, no largo do Fórum, com um público
inesperado que lotou os trens e chegou a dormir em barracas por Jundiahy
pela lotação dos quartos existentes.

Entre os grandes grupos de migrantes que chegaram a Jundiahy nesses tempos


mais recentes (árabes, japoneses, espanhóis, alemães, portugueses e
brasileiros vindos do interior paulista e outros estados) os italianos deixaram
uma marca empresarial, fundiária e política que muitas vezes pode se
confundir com a própria identidade histórica mais ampla.

O livro de Eduardo Carlos Pereira, no Circolo Italiano, destaca tecnologias trazidas pelos
migrantes

A ONDA INDUSTRIAL

Da segunda metade do século XIX, no regime imperial, até o quase final do


século XX no regime republicano, o centro histórico interfluvial e parte de seu
entorno era marcado por indústrias e pelas vilas operárias criadas para seus
funcionários, os moradores ainda de forte sotaque interiorano e também os
negros libertos por pressão dos ingleses ainda antes da Abolição. Entre as
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empresas dessa área podem ser citadas a Companhia Paulista e a Fábrica de
Fósforos Latorre (no largo Paulista) , a Tecelagem São Jorge (na ladeira São
Jorge), a Vigorelli do Brasil (na Bela Vista), a Adega Traldi (no largo São
Bento), a Fleischmann & Royal (no largo Liberdade) e a Correias Universal
(na Ponte de Campinas), além da Argos marcando a outra margem do rio
Guapeva e da Pozzani Cerâmicas na outra margem do rio Jundiaí. Somente
esta e a Universal continua ativas, sendo as outras transformadas nos atuais
Complexo Municipal da Companhia Paulista (incluindo FATEC), Faculdades
Pitágoras, Extra Perto, um prédio demolido, o Supermercado Russi, um
prédio desocupado e um conjunto de serviços públicos. As vilas operárias
surgiram na Ladeira Municipal, na Bela Vista e em pequenos conjuntos por
todo o centro, como na ladeira Municipal, na várzea do Guapeva e no início
da ladeira Cavalcanti.

Também nessa fase surgiram a primeira empresa de abastecimento de água,


que deu origem ao DAE (uma de suas centrais ainda impressiona no prédio
atual do velório, no alto da ladeira Municipal) e as primeiras empresas de
energia elétrica (hoje ocupada pelo Museu da Energia, no largo Monte
Castelo) e de telefonia (com fachada ainda mantida por loja de cosméticos, na
região do largo da Catedral).

O livro, da Editora Komedi, registra a ocupação humana com uma visão ambiental.

A ONDA DAS AVENIDAS NOS RIACHOS

O planejamento urbano ganhou força no final da década de 1950, quando o


prefeito e arquiteto Vasco Venchiarutti viabilizou o viaduto São João Batista
sobre a estação central da Paulista, na ladeira Torres Neves, e defendeu
princípios de zoneamento já usados na construção de Brasília, inclusive
iniciando a reserva biológica da Serra do Japi e pedindo para os prefeitos que
viessem depois continuarem a iniciativa até formar um parque público.

Pouco mais tarde, o fundador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da


USP, Ariosto Mila, trouxe estudantes e debates sobre o tema para a cidade
(incluindo a construção do prédio principal da Câmara Municipal, que antes
funcionava onde atualmente está a Nossa Caixa, entre os largos do Fórum e da
Catedral).

Mas foi em 1969, depois do desmembramento dos últimos municípios da


atual região de Jundiaí, que o prefeito Pedro Fávaro colocou os então jovens
Araken Martinho e Antonio Panizza para montarem o primeiro Plano Diretor
Físico Territorial. Com a prioridade de automóveis lançada pelo governo
Juscelino Kubitscheck as indústrias ganharam também um distrito especial
(no entorno da Ponte de Campinas, do outro lado da nova rodovia) e o trânsito
futuro ganhou avenidas sobre várzeas dos riachos. Isso pode ter evitado a
destruição de ruas antigas, mas criou desafios que estão mais detalhados na
parte de MEIO AMBIENTE

A ONDA LOGÍSTICA

Uma característica que a imposição dos costumes rodoviárias não mudou foi a
localização de Jundiahy, uma geografia histórica que começa nas trilhas
indígenas e depois pelo seu uso por tropas de animais, estradas e rodovias ou
também nas estradas de ferro que formaram cidades na região e no interior.
Veja as referências a partir do centro interfluvial.

Ao norte, a Barreira tinha a ponte para a estrada de Itatiba (rumo ao sul de Minas Gerais) onde
surgiram bairros como Jundiaí-Mirim e os rurais Rio Acima e Mato Dentro.

A noroeste, a Ponte de Campinas obviamente tem esse nome pela estrada rumo ao interior que
passa pelas atuais Louveira e Vinhedo e onde surgiram bairros como Hortolândia e os rurais
Engordadouro (e mais além os núcleos italianos como o Traviú), Corrupira e Fernandes.

A oeste, o largo da Bandeira (antigo largo do Rocio) marca o início da rua do Retiro no rumo de

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Itu e Sorocaba e que passa pelas atuais Itupeva e Cabreúva, onde surgiram bairros como o
Retiro, o Aeroporto, o Eloy Chaves e o rural Medeiros.

Ao sul, o largo da Saúde marca o início da estrada de Bom Jesus de Pirapora pela Serra do Japi,
onde surgiram bairros como Vianelo, Vila Rami, Vila Comercial e o rural Santa Clara.

A sudeste, antes pela Ponte Torta, a região da ladeira Cavalcanti ou do largo Monte Castelo
indicam a estrada de São Paulo ligando a cidade com a capital e o porto de Santos onde foram
surgindo bairros como a Vila Arens, a Vila Progresso e os rurais Santa Gertrudes e Castanho.
Também pelas regiões da ladeira Cavalcanti e da várzea do Guapeva, a antiga estrada da Várzea
conectava o bairro têxtil e ferroviário da Vila Arens com os atuais municípios de Várzea
Paulista e Campo Limpo Paulista ao longo da bacia.

A leste, a antiga ponte São João Batista ligava o centro histórico com os acessos para Jarinu,
Atibaia e Bragança (e também com essa outra bacia). Foi onde surgiram núcleos italianos no
final do século XIX como a Colônia e os rurais Caxambu, Toca, Roseira e Ivoturucaia.

Itu Campinas Itatiba/Minas

Pirapora São Paulo

A ONDA INTERIORANA

Entre as décadas de 1950 e 1970, no maior êxodo rural da história brasileira


(com mais de 30 milhões de pessoas, cerca de um terço da população do país,
saindo das áreas rurais para as cidades médias e grandes), a região de
Jundiahy cresceu e depois dividiu-se em outros municípios. Grande parte dos
migrantes vieram do interior de estados como São Paulo, Paraná e Minas
Gerais e também de outras regiões do país. Em alguns aspectos essa fase
reforçou aspectos ligados com os costumes do campo como as modas de
viola, a criação de passarinhos, a manutenção de cavalos e até um certo
sotaque local. Nesse sentido também o centro interfluvial, especialmente sua
parte mais antiga e elevada, era uma referência para os moradores dos bairros
do entorno. "Vou na cidade" era durante muitos anos a forma de anunciar que
se iria ao centro, local por excelência do comércio, da cultura e das tradições.

Sim, Jundiahy produziu cinema. Em 1959, o filme era sobre um rapaz pensa ter matado o filho
de um típico coronel do interior em faroeste onde tem ainda que lidar com dois amores. Em
nossa seção audiovisual no You Tube estão agrupados diversos tipos de registros locais feitos
por oiu sobre jundiahyanos mas também curta-metragens. Veja em VÍDEOS

Não conseguiu enxergar? Navegue por Jundiahy de 1908 em


http://www.igc.sp.gov.br/ahjundiai.htm

A ONDA ESVAZIANTE

Na última década do século XX o centro histórico passou por uma mudança


(literal) política, econômica e cultural. A elite econômica se organiza em
torno da ascensão do PSDB para um ciclo municipal de vinte anos (1992-
2012) - ou trinta anos, se o ponto de partida estiver na eleição de André
Benassi em 1982. No começo da década de 1990 a criação do Paço Municipal
reduz as manifestações populares da antiga sede, no eixo central formado pela
antiga Câmara e pela antiga Cadeia Pública. Ao mesmo tempo, estimularam o
surgimento de "shopping centers" no entorno de Jundiahy, assim como novos
complexos de lazer. A Câmara Municipal permaneceu na região, mas
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acabando com as sessões noturnas. O Plano Diretor exigia um grande recuo


de novas construções nas ruas centrais, como uma previsão da inevitabilidade
das demolições. A política local parecia passar da era das manifestações para
a era das articulações.

A ONDA DO RENASCIMENTO

O século XXI, que alguns estudiosos dizem ter causado a revalorização das
identidades locais diante da globalização, também trouxe novidades para o
centro histórico interfluvial. O processo de perdas vinha sendo denunciado
desde os anos de 1970, como as casas do período dos bandeirantes nas ruas
Senador Fonseca e Zacarias de Góes, a célebre "casa do sal", na esquina das
ruas do Rosário e Monlevade ou o belíssimo casarão que abrigava o Lar
Anália Franco, na ladeira Siqueira. Mas chegou a um ponto traumático para a
memória da comunidade em 2008, com a demolição da lanchonete e
restaurante A Paulicéia pouco tempo depois das celebrações do seu
centenário.

Pela comunidade, manifestações já haviam evitado em 2001 o risco de


privatização das oficinas da Companhia Paulista. Outras manifestações em
formato musical ajudaram a garantir a proteção das árvores do largo da
Bandeira em 2004. E novas manifestações impediram o fechamento da escola
Conde do Parnaíba, no largo do Fórum, e a canalização fechada do córrego do
Mato, um dos limites naturais da área, em 2008.

Então a Prefeitura, que havia revisado o Plano Diretor em 2004 e


implementou logos depois desses acontecimentos, em 2008, o projeto "Acerte
o Centro" - que devolveu vida para belas fachadas remanescentes (ainda em
trecho limitado entre os largos do Fórum e Monte Castelo denominado
"polígono histórico"). Essa intervenção pública, inicialmente tensa, teve a
adesão da comunidade e a contribuição de iniciativas individuais e
institucionais cada vez mais numerosas.

Pelo lado governamental os espaços públicos do centro interfluvial também


vinham aumentando. Na década de 1970, a manutenção dos antigos Solar do
Barão, Mercado Municipal, Teatro Polytheama e Escola Estadual Siqueira de
Moraes foi iniciada no governo Pedro Fávaro (os atuais Museu Histórico,
Centro das Artes, Teatro e Centro Jundiaiense de Cultura). Na década de 1990
houve a desapropriação da antiga Fábrica Têxtil Argos no governo Walmor
Barbosa Martins (o atual Complexo Argos) e a restauração do Polytheama e o
surgimento do Museu da Energia no governo André Benassi, seguidos no
início do século XXI pela desapropriação das Oficinas da Companhia Paulista
no governo Miguel Haddad (atual Faculdade de Tecnologia e Museu
Ferroviário) e a restauração da antiga escola Siqueira no governo Ary Fossen.

O antigo quartel, onde muitos jundiaienses foram interrogados durante a


ditadura militar, acabou demolido e privatizado. Mas lugares simbólicos como
a Ponte Torta ou a antiga Estação da Companhia Paulista seguem deteriorados
mas passíveis de recuperação. E a tendência envolve muitos estudantes,
moradores, empresários, arquitetos, comerciantes e cidadãos, pelo carinho
com que seguem cuidando ou restaurando prédios históricos e manifestações
da cultura de Jundiahy.

Isso também pede um cuidado atento com o centro, com o entorno e até
mesmo com toda a região, numa fase em que as pressões ocorrem no processo

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chamado por alguns de "megalopolitano", sobre os setores imobiliário e
industrial, no que pode ser chamada de "onda paulistana".

ANEXO: SAÚDE TAMBÉM TEM HISTÓRIA

Os detalhes mostrados acima, do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo


criado em 1902 e da antiga Fratellanza Italiana criada por volta de 1890,
podem enganar a vista porque ambos foram muito descaracterizados nos
últimos anos. Ambos estão no largo das Rosas, que apesar dessas e outras
referências não foram incluídos no "polígono histórico" definido pela
Prefeitura em 2008 no projeto público Acerte o Centro, reconhecido como
ação positiva contra a constante ameaça de destruição de Jundiahy.

O hospital criado pela ordem católica dos vicentinos surgiu cinco anos depois
da fundação do clube de cultura negra 28 de Setembro e quatro anos antes das
primeiras escolas públicas, a Siqueira de Morais e a Conde do Parnaíba. E
salvou milhares de vidas nesses 107 anos. Mas seus avanços médicos (neste
ano foi inaugurado um novo equipamento de radioterapia, depois de lutas com
apoio tanto de gente do PSDB, como o ex-prefeito Ary Fossen, como do PT,
como a vereadora Marilena Negro) talvez não foram acompanhados à altura
pelos cuidados na engenharia pública.

A casa de saúde, criada pela auto-organização dos imigrantes italianos do


final do século XIX em sociedades de socorro mútuo, surgiu como Fratellanza
Italiana e foi obrigada a mudar de nome para Casa de Saúde Dr. Domingos
Anastácio durante a segunda guerra mundial. Sua história está em uma
exposição organizada por João Borin que está no acervo do Museu Histórico e
Cultural. As reformas empreendidas pela Unimed Jundiaí também mudaram
partes do prédio antes de ser novamente municipalizado para o futuro hospital
regional.

O assunto já foi colocado para discussão no Conselho Municipal de Saúde,


segundo o conselheiro e radialista Agostinho Moretti - um dos colaboradores
da fase hip hop da 105 FM e da Difusora AM. "Acho que a Prefeitura ainda
não sabe aproveitar as possibilidades dos conselhos".

Embora a rua da Saúde que inspire o largo de mesmo nome de nosso mapa de
Jundiahy esteja ligada a um antigo posto desse tipo no começo da antiga
estrada de Pirapora, o núcleo mais antigo a merecer atenção imediata da
comunidade está no largo das Rosas. Ali a história enfrenta desafios
ambientais (como a proliferação de pombas vindas com os imigrantes
europeus ou os microorganismos típicos de prédios antigos) que pedem um
trabalho integrado de biólogos, historiadores e sanitaristas à altura de
Jundiahy. Afinal, história ou saúde não existem sem a outra.

Veja também
MUSEU DE RUA e MEIO AMBIENTE

Veja também
ARTE COTIDIANA e AGENDA ESPECIAL

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Se quiser uma visão "oficial" da cidade em 2005, relembre aqui a REVISTA
DOS 350 ANOS

Se quiser imagens de "antes e depois", visite o projeto memória do Jornal de


Jundiaí em http://www.portaljj.com.br/memoria.asp

FOLCLORE

O Pintor de Jundiaí
(domínio público)

Tim, tim, tim


Quem bate aí?
Sou eu minha senhora
O pintor de Jundiahy
Pode entrar e se sentar
Conforme as pinturas
Nós iremos conversar

Lá em cima
Quero tudo bem pintado
Só para as mocinhas
Do sapato envernizado

Lá embaixo
Quero um pé de bananeira
Só para alegrar o coração
Da cozinheira

No portão
Quero sete cachorrões
Só para assustar
A cara feira dos ladrões

Tim, tim, tim


Já deu seis horas
Adeus, minha senhora
O pintor já vai embora.

FELIZ 1918
O ano termina tendo demonstrado a impressionante da
força do movimento operário anarquista na greve geral do
país (mais concentrada em São Paulo), duramente
reprimida pelo governo da Velha República. O que só
enfraqueceria esse movimento e abriria caminho para o
centralismo comunista posterior.

Como havia ocorrido na década anterior em 1906, com a


primeira greve operária brasileira na antiga cidade de
Jundiahy, o movimento descentralizado do
anarcosindicalismo mostrou neste ano a luta pela redução
da jornada de trabalho de 12 horas diárias, pela criação de
folgas semanais e contra o abuso do trabalho infantil.
Teve até duas vítimas fatais.

Mas de qual ano estamos falando mesmo? Ah, verdade, é


2017. Isso foi cem anos atrás, em 1917. Hoje tudo isso foi
resolvido...

P.S.

De qualquer maneira, o prefeito naquele ano passou a ser


Paula Penteado, que depois foi homenageado com a
mudança do nome da colonial Rua Torta. Cada coisa lá da
minha terra... confundi até o século, kkk

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