Capituto 1
TODOS OS DIREITOS SAO POSITIVOS
Em Roe vs. Wade, a Suprema Corte declarou que a Constituigao norte-
americana protege o diteito das mulheres ao aborto’. Alguns anos depois,
surgiu! uma complicagao: sera que a Constituigo também manda que o era
rio pablico pague um aborto paraa mulher que nao tem condigdes de fazé-lo
por conta propria? Manda que o Estado cubra os custos dos abortos nao
terapéuticos caso ja esteja também subsidiando partos? Em Maher vs. Roe,
a Corte concluiu que a Constituigao nao exige nada disso’. A negacdo da
cobertura pelo Medicaid, segundo os juizes, “nao poe obsticulo algum —
absoluto ou relativo ~ & possibilidade de que a gestante faca um aborto" [ss0
porque “a mulher indigente que deseja fazer um aborto nao softe desvanta-
gem alguma em consequéncia da decisio do Estado de custear partos’, pois
0 Estado nio ¢ responsivel de maneira alguma pelo estado de peniiria em
que ela se encontra. Segundo a Corte, a recusa de aprovar uma tal lei por
parte de uma assembleia legislativa estacual, embora possa na prtica acar-
retar que uma indigente nao possa fazer aborto, nao viola de maneira algu-
mao “direito” de escolha dessa mulher.
Para conciliar sua decisio em Roe com sua decisio em Maher, a Corte
tragou uma distingao crucial. Disse que “hé uma diferenca basica entre a
interferéncia direta do Estado no sentido de dificultar uma atividade prote-
gidae 0 fato de o Estado encorajar uma alternativa’ Ao que parece, a Cons
tituigdo, sem fugir de maneira alguma a coeréncia, pode proibir 0 Estado de
se intrometer e, depois, permitir que ele negue seu apoio. A Corte prosse-
guiu: a mulher é protegida constitucionalmente contr determinadas restri-
‘gees impostas pelos érgios do Estadio: no entanto, sta liberdade de escolha
1 s10US,113 0973)
2 4S2US. 464 (1977).26 ocusTO Dos piREIrOS
‘nao acarteta “o direito constitucional a recursos financeitos que Ihe permi-
‘tam ter acesso a toda a gama de escolhas protegidas” A protegdo contra um
‘Onus é uma coisa; o direito a um beneficio € outra. E, com efeito, essa dis-
tingdo entre uma liberdade e um subsidio parece perfeitamente intuitiva,
‘Mas seré logica? Quais seriam seus fundamentos?
Por trs da distincao aduzida pela Corte jaz uma premissa ticita: aimu-
hnidade & a¢do proibitiva do Estado nio envolve nenhum dieito a recursos
Snanceiros. Os tedricos que concordam com essa premissa vem os direitos
onstitucionais como escudos cuja tinica funcio é proteger os individuos
‘ulneravels contra a prisio arbitréria, quaisquer intrusdes na liberdade de