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PARECER-PG Nº 240/2020-NAMD
Brasília, 08 de setembro de 2020.
Senhor Procurador-Geral
Em síntese, importa relatar que o Deputado Distrital LEANDRO GRASS e outros 12 (doze) deputados requereram a CRIAÇÃO DE COMISSÃO
PARLAMENTAR DE INQUÉRITO para investigar a regularidade dos atos praticados pelo Poder Executivo do Distrito Federal em decorrência da da pandemia
Covid-19 – CPI DA PANDEMIA - Requerimento n˚ 1.612/2020 (0149408) - Processo SEI n˚ 00001-00022459/2020-98.
O recebimento do requerimento, a criação da comissão temporária e sua instalação restou postergada pelo Sr. Presidente da CLDF até a análise e
parecer, por esta Procuradoria-Geral, do Requerimento nº 1.780/2020 (0192720) do Deputado DELMASSO - Processo SEI n˚ 00001-00029106/2020-19 e do
Memorando nº 16/2020 (0192967) do Deputado Rafael Prudente - Processo SEI n˚ 00001-00029149/2020-02 por trazerem questionamentos a respeito do
cumprimento das normas para a criação de uma CPI.
É o breve relatório.
Com efeito, o Requerimento nº 1.612, 2020, de autoria de vários deputados, não merece ser recebido pelo Sr. Presidente, porquanto não se encontra
preenchido o requisito próprio de admissibilidade, especialmente a demonstração do “fato determinado” para a investigação pela Comissão Parlamentar de
Inquérito da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
De acordo com o §3º do art. 58 da Constituição Federal, e o §3º, inciso II do art. 68 da Lei Orgânica do Distrito Federal, compete aos requerentes
indicar o fato determinado, objeto da investigação parlamentar.
Ademais, o inciso IV, do §3º do art. 68 da Lei Orgânica, com a redação dada pela Emenda à Lei Orgânica nº 97, de 2016, para se adequar à
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para efeito de recebimento do requerimento, que independe de aprovação pelo Plenário, exige o atendimento das
formalidades regimentais.
Na espécie, constata-se que o ora requerimento não se desincumbiu de demonstrar o fato determinado passível de apuração, requisito indispensável
para a criação da CPI.
O requerimento indica a finalidade de investigar a regularidade dos atos praticados pelo Poder Executivo do Distrito Federal, especialmente daqueles que
geram custos ao erário, em decorrência da pandemia da Covid-19 – CPI da Pandemia. O que envolveria, praticamente, todas as contratações de bens e serviços
voltados ao combate da pandemia, em desrespeito ao requisito constitucional.
Aliás, digno de nota que a Justificação do requerimento apresenta fatos diversos, alguns relacionados com o combate da pandemia e outros ligados à
outra temática, como por exemplo, a estocagem de equipamentos há anos na Secretaria de Saúde. Essa simbiose atrairia para a investigação amplo contexto
fático, o que dificulta, inclusive, a verificação das formalidades regimentais.
Desta forma, em exame preliminar, aponta esta Procuradoria-Geral a ausência de indicação do fato determinado para a criação da Comissão Parlamentar
de Inquérito.
O Requerimento nº 1.612/2020, de autoria de vários deputados, requer a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito , com a finalidade de investigar
a regularidade dos atos praticados pelo Poder Executivo do Distrito Federal em decorrência da pandemia Covid-19 – CPI da Pandemia.
O primeiro signatário destacou como justificação do requerimento vários fatos que consideram como graves: o descompasso entre as informações
divulgadas pelo Poder Executivo entre o número de pacientes e a estrutura estatal para o combate à doença; falta de transparência nos gastos e a divergência
entre os órgãos fiscalizadores e o Poder Executivo sobre os planos de abertura das atividades.
Não existe qualquer menção aos requisitos constitucionais necessários à instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito – assinatura do requerimento
de instauração por 1/3 dos membros da Casa, indicação de fato deteminado a ser objeto de apuração e a proteção constitucional dos interesses das minorias
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representadas no parlamento. Tal omissão, contudo, não impediu a presente análise.
De fato, a congnominada CPI da Pandemia resultou do Requerimento nº 1.612/2020 subscrito por treze dos vinte e quatro parlamentares da Câmara
Legislativa do Distrito Federal, representandoquorum superior ao terço previsto nos artigos 58, §3º da Constituição Federal e 68, §3º da Lei Orgânica do Distrito
Federal, para fins de criação de CPI.
Posteriormente, em 1º de setembro, o Sr. Presidente da CLDF, por meio do Memorando nº 16/2020-GP (0192967) – Processo SEI nº 00001-
00029149/2020-02, com base no que dispõe o art. 72, §2º do Regimento Interno da Câmara Legislativa, solicita a esta Procuradoria a análise do Requerimento
nº 1.612/2020, em especial para que seja verificado se o referido requerimento satisfaz os requisitos regimentais para publicação e se o colégio de líderes deve
ser ouvido no caso da instalação, na forma do parágrafo 7º, do mesmo art. 72 do RICLDF.
Em 2 de setembro, às 12:38, em Despacho (0193916) ao Chefe do Núcleo de Assessoramento à Mesa Diretora, o Sr. Procurador-Geral informa que
A fim de garantir irrestrita imparcialidade, além de ordenar a urgência na emissão do parecer técnico, exigiu o Presidente o afastamento do Procurador-Geral
de atuar neste processo, SEI nº 00001-00022459/2020-98, bem como emitir qualquer manifestação juízo de valor a respeito do requerimento nº 1612/2020
(0149408), de autoria de vários deputados.
Diante deste afastamento, solicito – com a máxima urgência – que seja realizada a distribuição a um dos Procuradores Legislativos de carreira lotados
nesse Núcleo, a fim de emitir parecer técnico e analisar se estão preenchidos os requisitos legais previstos no Regimento Interno desta Casa.
Antes da análise do memorando do Sr. Presidente, em 2 de setembro, às 15:58 (0194486), o Requerimento nº 1780/2020 (0192720) – Processo SEI nº
00001-00029106/2020-19, do Sr. Vice-Presidente da CLDF é lido em Plenário e posteriormente encaminhado para parecer desta Procuradoria-Geral com vários
questionamentos referentes ao disposto no Requerimento nº 1.612/2020, : verbis
1. Conforme vasta jurisprudência do egrégio Supremo Tribunal Federal, descritos no MS 30.015-AgR, e o HC 80.867 e a Súmula 208 do Superior Tribunal de
Justiça, a aplicação e o Controle Externo dos recursos da União, ainda que repassados a outros Fundos estaduais, distritais ou municipais, deve se dar pelo
Congresso Nacional, auxiliado pelo Tribunal de Contas da União. Logo, o repasse de recursos feito pela União ao Distrito Federal deve ser objeto de
vigilância, fiscalização e atuação do Controle Externo deste Poder Legislativo Distrital?
2. A apuração de fato determinado apresenta, por si só, matriz constitucional como já reconheceu o Plenário da Suprema Corte (MS 22.494/DF), de modo
que no âmbito de uma CPI, a investigação deve se relacionar a fatos concretos e individualizados. Ressalta-se ainda que a Ordem dos Advogados do Brasil -
Conselho Seccional do Distrito Federal, pelo Ofício 379/2020- SAP, apontou a necessária delimitação do âmbito da investigação, requerendo que seja indicado
objetivamente as balizas limítrofes da apuração. Quais os fatos individualizados que a CPI requerida quer investigar?
3. Sabemos que uma das principais funções do Poder Legislativo é justamente fiscalizar o trabalho desempenhado pelo Poder Executivo e, caso haja a
suspeita de infrações, as CPI’s são necessárias para investigar estes casos. A CPI tem apenas o poder investigatório, ou seja, não pode punir ou entrar
com uma ação criminal contra os acusados. No entanto, após as investigações levantadas pela Comissão, um relatório final e conclusivo pode ser
apresentado ao Ministério Público para que este tome as devidas medidas de punição contra os arguidos, se for o caso. Tendo em vista que o resultado de
uma CPI é acionar o Ministério Público caso haja levantamento de indícios de práticas de crimes é que os fatos relatados no referido requerimento já estão
sendo investigados por inquérito específico presidido brilhantemente pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, a eficácia da CPI ora requerida já
não foi alcançada?
4. Os recursos transferidos pela União para prevenção e combate à pandemia enquadram-se, até o presente momento, nas transferências constitucionais e
legais (fundo a fundo), que não se incorporam como patrimônio dos Estados e Municípios, tendo em vista sua característica peculiar fundo à parte da conta
de edilidade. Esse entendimento é corroborado pelos precedentes do Superior Tribunal de Justiça (AgRg no CC 129.386/RJ) e do Supremo Tribunal Federal
(RE 196982). Assim, a competência de investigação conferida pelo instrumento da CPI, não seria de competência do Congresso Nacional?
Em 4 de setembro, às 12:39 (0196560), o Sr. Procurador-Geral despacha ao Núcleo de Assessoramento à Mesa Diretora e envia o requerimento do
Deputado, Rodrigo Delmasso, a fim de ser juntado ao processo SEI 00001-00029149/2020-02, para ser analisado em conjunto, tendo em vista que as questões
levantadas pelo Deputado se referem ao mesmo objeto do processo.
A Constituição Federal disciplina as CPIs no §3º do artigo 58 e erige, basicamente, três requisitos essenciais de criação e instauração das Comissões
Parlamentares de Inquérito, quais sejam: requerimento de 1/3 dos membros do parlamento, indicação de fato determinado a ser objeto das investigações e
prazo certo. Vejamos:
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos
das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um
terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público,
para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
A Lei Orgânica do Distrito Federal dispõe sobre o tema no §3º do art. 68, que foi alterado para se adequar à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
especialmente o inciso IV, verbis:
§ 3º Às comissões parlamentares de inquérito aplica-se o seguinte: (Parágrafo com a redação da Emenda à Lei Orgânica nº 97, de 2016.)
I – são criadas mediante requerimento:
a) de um terço dos membros da Câmara Legislativa;
b) de iniciativa popular, com o mínimo de subscritores previsto no art. 76;
II – destinam-se à apuração de fato determinado e por prazo certo;
III – têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos em lei e no regimento interno da Câmara Legislativa;
IV – o requerimento, atendidas as formalidades regimentais, independe de aprovação;
V – a instalação de comissão parlamentar de inquérito de iniciativa popular tem precedência sobre as demais e não pode ser inviabilizada em razão de
formalidades regimentais;
VI – suas conclusões, se for o caso, devem ser encaminhadas ao Tribunal de Contas, ao Ministério Público ou à Procuradoria-Geral do Distrito Federal, para
que promovam, conforme o caso, a responsabilidade civil, criminal, administrativa ou tributária do infrator.
O funcionamento das Comissões Parlamentares de Inquérito, espécie do gênero a que pertencem, as Comissões Temporárias, é disciplinado por meio de
preceptivos encontrados no Regimento Interno da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
A criação, a instalação e o funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito está disciplinada no art. 72 do RICLDF. Vejamos, in verbis:
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Art. 72. As comissões parlamentares de inquérito serão criadas pela Câmara Legislativa, mediante requerimento de um terço de seus membros, para
apuração de fato determinado e por prazo certo, e terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos neste
Regimento Interno e na legislação.
§ 1º Considera-se "fato determinado" o acontecimento de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social do
Distrito Federal que estiver devidamente caracterizado no requerimento de constituição da comissão.
§ 2º Recebido o requerimento, o Presidente da Câmara Legislativa mandará publicá-lo, desde que satisfeitos os requisitos regimentais; caso contrário,
devolvê-lo-á ao seu primeiro signatário, cabendo desta decisão recurso ao Plenário, no prazo de cinco dias, ouvida a Comissão de Constituição e Justiça.
§ 3º (Parágrafo revogado pela Resolução nº 227, de 30/5/2007.)
§ 4º O prazo de duração de comissão parlamentar de inquérito será de até cento e oitenta dias corridos, prorrogável pela metade, automaticamente, por
requerimento da maioria de seus membros, dirigido à Mesa Diretora, o qual será lido em Plenário e, em seguida, publicado, interrompendo-se a contagem
desse tempo nos períodos em que não houver sessão legislativa ordinária da Câmara Legislativa.
§ 5º Não se criará comissão parlamentar de inquérito enquanto estiverem funcionando pelo menos duas, salvo mediante requerimento subscrito pela maioria
dos membros da Câmara Legislativa.
§ 6º A provisão de meios, os recursos administrativos, as condições organizacionais e o assessoramento necessários ao bom desempenho da comissão
deverão constar do ato de criação, cabendo à Mesa Diretora adotar, em caráter preferencial, as providências que se fizerem necessárias.
§ 7º As comissões parlamentares de inquérito serão instaladas respeitada a ordem cronológica do protocolo, salvo deliberação diversa do Colégio de Líderes.
(Parágrafo acrescido pela Resolução nº 227, de 30/5/2007.)
Para que fique mais claro, recebido o requerimento de criação de CPI subscrito por um terço dos membros da CLDF ou de iniciativa popular, o Presidente
verificará os requisitos regimentais e determinará a publicação desde que satisfeitos os requisitos regimentais: número mínimo de subscritores (parlamentares ou
eleitores), indicação do fato determinado e prazo certo. Caso contrário, devolverá ao primeiro signatário, que poderá recorrer desta decisão ao Plenário, ouvida a
Comissão de Constituição e Justiça.
Assim, após criada, seja por recebimento do requerimento pelo Presidente ou pelo Plenário, em recurso, a Comissão Parlamentar de Inquérito deverá ser
formada com base nos artigos 60 e 61 do RICLDF, que dispõem sobre a composição das CPIs a partir do quociente de participação partidária
e sobre sua
formação.
Depois de formada, a Comissão deverá ser instalada respeitada a ordem cronológica do protocolo, salvo deliberação diversa do Colégio de Líderes (§7º
do art. 72 do RICLDF).
Fixadas tais premissas, passa-se à análise dos questionamentos encaminhados pelo Sr. Vice-Presidente.
V.1 – Questionamento 1 - qual é o órgão competente para o Controle Externo de recursos da União repassados ao Distrito Federal para o
combate da pandemia COVID-19, se seria a Câmara Legislativa ou o Congresso Nacional?
O Controle Externo do Congresso Nacional está disciplinado no art. 71 da CF que assim dispõe:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I – [...]
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de
que resulte prejuízo ao erário público;
III – [...]
IV – [...]
V – [...]
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
VII – [...]
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas
cabíveis.
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a
respeito.
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo.
§ 4º [...]
(grifei).
O inciso VI do art. 71 é taxativo ao estabelecer a competência do Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, para fiscalizar a
aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município.
Essa fiscalização envolve a contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas (art. 70 da Constituição Federal).
Segundo Fernando Facury Scaff e Luma Cavaleiro de Macedo Scaff, essa fiscalização compreende, verbis:
“Fiscalização contábil diz respeito à análise dos lançamentos dos eventos financeiros ocorridos, podendo classificar ou reclassificar aquilo que tiver sido
lançado pelos órgãos públicos. Apenas a título de exemplo, um gasto que for classificado como “investimento” pode vir a ser reclassificado como “despesa de
consumo” em face desse tipo de controle – pode parecer irrelevante mas, sabendo-se a quantidade de recursos públicos que são vinculados a certas
atividades estatais, p. ex. saúde e educação, este tipo de fiscalização sob os aspectos contábeis adquire superior importância.
Os aspectos financeiros referidos na norma dizem respeito ao controle dos recursos arrecadados pela União, em especial à análise sobre sua destinação –
analisar se eles foram destinados às destinações estabelecidas na Constituição e nas demais normas de regência.
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Controle sobre os aspectos orçamentários implica em dizer que compete ao Congresso Nacional fiscalizar o cumprimento “das normas orçamentárias
previstas na Constituição: Plano Plurianual (art. 165, I, da Constituição), Lei de Diretrizes Orçamentárias (art. 165, II, da CF) e Lei Orçamentária Anual (art.
165, III, da CF), não só no âmbito das despesas, mas também nos âmbitos das receitas e das operações de crédito.
O âmbito operacional implica na análise das atividades desenvolvidas pela Administração Pública. Sua atuação e o desenvolvimento de suas atividades
gerenciais objetivando chegar a uma finalidade de interesse público.
A esfera patrimonial se refere aos bens móveis, imóveis e intangíveis que pertencem ao Poder Público, e sobre os quais o controle externo deve ser exercido.
5. Cada qual desses âmbitos de fiscalização deve analisar a atuação do Poder Público sobre vários aspectos.
Quanto à legalidade, no que diz respeito às prescrições normativas. Isso alcança não apenas o aspecto propriamente legal (atos provindos do Poder
Legislativo, que obedeçam ao trâmite da criação de leis – processo legislativo), mas também aos demais âmbitos infralegais, na cadeia normativa que implica
na obediência aos Decretos, Portarias, Instruções Normativas e outras disposições de alcance diferenciado no que se refere ao âmbito de competência
normativa de cada órgão.
Quanto à legitimidade, possibilita a averiguação das aspirações da sociedade na realização das despesas públicas, seu interesse e priorização.
Quanto à economicidade, que diz respeito ao critério de uso da menor quantidade de recursos públicos para atingir a maior gama de benefícios ou de
beneficiários. Visa averiguar se o gasto público está sendo usado de maneira a permitir que cada unidade de recursos gere o maior benefício possível em
termos de pessoas atingidas ou de benefícios a serem concedidos. Visa averiguar se não há desperdício no uso do dinheiro público.
Entende-se por “subvenção”, no âmbito legal (Lei 4.320/64, art. 12, § 3º) as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio das entidades
beneficiadas, podendo ser “subvenções sociais”, aquelas que se destinam a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade
lucrativa, ou “subvenções econômicas”, as que se destinam a empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril. Assim, o
controle a ser exercido pelo Tribunal de Contas alcança inclusive este âmbito de uso dos recursos públicos.
Por fim, entende-se por “renúncia de receitas” a dispensa legal do pagamento de receitas públicas, sejam tributárias, sejam patrimoniais. Assim, dentro desse
conceito, a isenção de imposto de renda concedida para as empresas que se instalarem em áreas incentivadas, visando o desenvolvimento regional (por
exemplo, com benefícios concedidos pela Sudam ou pela Sudene) estão inseridas neste âmbito fiscalizatório do Tribunal de Contas da União.
6. Estão submetidos ao controle do Tribunal de Contas da União o próprio ente federativo União e as entidades da administração direta e indireta que
compõem a sua estrutura de competência.
A abrangência das pessoas obrigadas a prestar contas é muito grande, pois envolve a qualquer pessoa, física ou jurídica, que, de alguma forma tenha
recebido, utilize, arrecade, gerencie ou seja beneficiário de bens, dinheiros ou valores públicos.”
Trecho de: Mendes, Gilmar Ferreira; Streck, Lenio Luiz; Sarlet, Ingo Wolfgang; Leoncy, Léo Ferreira; Canotilho, J. J. Gomes. “Comentários À Constituição do
Brasil - Série Idp.” iBooks. https://itunes.apple.com/WebObjects/MZStore.woa/wa/viewBook?id=2D8CB3B09796903F393D21169804C3C3. Acesso em:
04/set/2020.
Esse Controle Externo resulta na sustação da execução de atos, a imputação de débitos e multa pelo Tribunal de Contas da União e na sustação de
contratos pelo Congresso Nacional. No caso de recursos federais, o ente federal (Estados e Municípios) está sujeito ao Controle Externo do Congresso Nacional e
do TCU, inclusive quanto à imputação de multa.
Desse modo, a fiscalização pelo Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, de recursos transferidos pela União para a prevenção
e o combate à pandemia da COVID-19, que não se incorporam ao patrimônio do Distrito Federal, é idene de qualquer dúvida ou questionamento.
Os acórdãos citados pelo nobre Vice-Presidente corroboram com o entendimento acima. No MS 30.015-AgR foi reafirmada a tese da competência do TCU
para aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa, as sanções previstas em lei, vide a ementa do acórdão:
EMENTA Agravo regimental em mandado de segurança. Competência do Tribunal de Contas da União. Violação da coisa julgada. Não ocorrência. Agravo
regimental não provido. 1. Ao auxiliar o Congresso Nacional no exercício do controle externo, compete ao Tribunal de Contas da União a relevante missão de
julgar as contas dos administradores e dos demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de
que resulte prejuízo ao erário (art. 71, II, da Constituição Federal). 2. Compete à Corte de Contas da União aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade
de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelece, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao Erário
(art. 71, VIII, da Constituição Federal). 3. A questão referente a existir ou não valores remanescentes a serem pagos pelo Poder Público, bem como
descompasso da decisão da Corte de Contas com a realidade fático-jurídica do contrato de locação celebrado entre a impetrante e o DNER, revela discussão
alheia ao objeto estreito do writ of mandamus, o qual não comporta dilação probatória. 4. Agravo regimental não provido.
(MS 30015 AgR, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 11/12/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-035 DIVULG 21-02-2013 PUBLIC 22-02-
2013). Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?
base=acordaos&sinonimo=true&plural=true&page=1&pageSize=10&queryString=MS%2030015&sort=_score&sortBy=desc. Acesso em: 4/set/2020.
No HC 80.867, o STF decidiu acerca da competência da Justiça Federal para julgar os crimes cometidos na aplicação de recursos repassados pela União
a Estados, Distrito Federal e Municípios. Vide a ementa do acórdão:
EMENTA: "Habeas Corpus". Crime previsto no art. 2º, I do Decreto-lei nº 201/67. Prefeito municipal. Fraude em licitações. Desvio de verbas provenientes do
FUNDEF, do FNDE e do FPM. Art. 71, VI da CF. Sujeição de quaisquer recursos repassados pela União a Estados, Distrito Federal e Municípios à fiscalização
pelo Congresso Nacional, por intermédio do Tribunal de Contas da União. Presença de interesse da União a ser preservado, evidenciando a Competência da
Justiça Federal para processar e julgar os crimes contra esse interesse (art. 109, IV da CF). Havendo concurso de infrações, essa competência também
alcança os outros crimes. Precedentes citados: HHCC nºs 68.399, 74.788 e 78.728. "Habeas corpus" deferido parcialmente.
(HC 80867, Relator(a): ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em 18/12/2001, DJ 12-04-2002 PP-00053 EMENT VOL-02064-03 PP-00531). Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?
base=acordaos&sinonimo=true&plural=true&page=1&pageSize=10&queryString=HC%2080867&sort=_score&sortBy=desc. Acesso em: 04/set/2020.
Por último, o verbete 208 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça é no mesmo sentido de definir a competência da Justiça Federal para julgar prefeito
ou outro administrador público por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal, : verbis
Súmula 208 - Compete a Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
(Súmula 208, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/1998, DJ 03/06/1998). Disponível em: Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp#TIT1TEMA0. Acesso em: 04/set/2020.
Assim, eventuais desvios de recursos da União para o combate da pandemia COVID-19 e repassados ao Distrito Federal estarão sujeitos à fiscalização
pelo Congresso Nacional, por intermédio do Tribunal de Contas da União e, ainda, os responsáveis poderão responder criminalmente perante a Justiça Federal.
Destaco ainda, por oportuno, o entendimento do Supremo Tribunal Federal, num julgamento sui genere, que afastou o Controle Externo do Tribunal de
Contas da União para fiscalizar a TERRACAP apesar de existirem recursos federais em seu capital social, verbis:
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EMENTA: 1. TERRACAP. 2. Determinação de Tomada de Contas Especial pelo Tribunal de Contas da União. Suposta "grilagem" de terras. 3. Ato de
decretação da indisponibilidade dos bens de dirigentes da TERRACAP. 4. Preliminar de decadência rejeitada. 5. Incompetência do TCU para a fiscalização da
TERRACAP. Sociedade de economia mista sob controle acionário de ente da federação distinto da União. 6. Ordem deferida.
(MS 24423, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 10/09/2008, DJe-035 DIVULG 19-02-2009 PUBLIC 20-02-2009 EMENT VOL-02349-05
PP-01060).
A justificativa do voto condutor do acórdão foi o caráter minoritário da União no capital social da companhia de terras do Distrito Federal.
Firmado o entendimento, de que compete o Congresso Nacional, por intermédio do TCU, fiscalizar a aplicação dos recursos da União destinados ao
combate da pandemia, o que se indaga é se tal competência é exclusiva?
No sentido da fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação dos recursos
destinados ao combate da pandemia: sim. Compete exclusivamente ao Congresso Nacional, com o auxílido do TCU. Não poderia o Tribunal de Contas do Distrito
Federal atuar em tal controle externo.
Nesse sentido, o STF declarou inconstitucional dispositivo de lei federal que fixou a competência dos Tribunais de Contas Estaduais e de Câmaras
Municipais para a análise da prestação de contas da aplicação de recursos financeiros oriundos do Fundo Nacional de Assistência Social, repassados aos Estados
e Municípios,verbis:
Ementa: Administrativo. ADI. Fundo Nacional de Assistência Social. Lei n.º 9.604/98. Procedência parcial. 1. É inconstitucional o art. 1º da Lei n.º 9.604/98,
que fixou a competência dos Tribunais de Contas Estaduais e de Câmaras Municipais para análise da prestação de contas da aplicação de recursos financeiros
oriundos do Fundo Nacional de Assistência Social, repassados aos Estados e Municípios. A competência para o controle da prestação de contas da
aplicação de recursos federais é do Tribunal de Contas da União, conforme o art. 70 e incisos da Constituição. 2. O art. 2º da mesma lei, por
sua vez, é compatível com a Constituição. A previsão de repasse automático de recursos do Fundo para Estados e Municípios, ainda que desvinculado da
celebração prévia de convênio, ajuste, acordo ou contrato, não afasta a competência do TCU prevista no art. 71, VI, da Carta. 3. Procedência parcial do
pedido.
(ADI 1934, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 07/02/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-039 DIVULG 25-02-2019 PUBLIC 26-02-
2019). Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?
base=acordaos&sinonimo=true&plural=true&page=1&pageSize=10&queryString=Tribunal%20de%20Contas%20Estadual%20verba%20federal&sort=_score&sortBy=desc.
Acesso em: 04/set/2020. (grifei).
Concluindo, esse entendimento restritivo a atuação do Controle Externo do Câmara Legislativa do Distrito Federal se estende à criação de Comissão
Parlamentar de Inquérito sobre essa temática?
Permissa venia, a Câmara Legislativa não está impedida de criar uma CPI sobre o assunto porque a natureza jurídica da Comissão Parlamentar de
Inquérito é distinta da natureza do Controle Externo.
Como indicado pela doutrina, a finalidade da CPI aponta para a apuração de responsabilidade por fato danoso à Administração Pública, mas também da
atuação do Poder Executivo e seus órgãos em matérias que repercutem na sociedade e ainda ligadas à competência legisferante do órgão legislativo.
No caso específico, de desvios de recursos destinados ao combate da pandemia COVID-19, no âmbito do Distrito Federal, a apuração de tais fatos
poderia ser objeto de uma CPI criada na Câmara Legislativa porque estaria ligada a área de saúde, que impacta a população do DF, e à competência legisferante
da CLDF.
Percebe-se assim, que o objeto e a finalidade de uma CPI são distintos do Controle Externo a cargo do Congresso Nacional, com o auxílio do TCU, ou
mesmo, dos órgãos legislativos estaduais, distrital e municipais com o auxílio do respectivo Tribunal de Contas.
V.3 – Questionamento 3 - existe impedimento jurídico para a criação e a instalação de CPI sobre matéria já investigada por outro órgão?
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O Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento de que a existência de outros procedimentos de investigação criminal não são óbisses para a criação
de CPI em razão de sua autonomia, verbis
:
E M E N T A: MANDADO DE SEGURANÇA – CPI – DELIBERAÇÕES – PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE – CONSEQUENTE IMPOSSIBILIDADE DE
DESCONSTITUIÇÃO DE TAIS RESOLUÇÕES POR SIMPLES ATO MONOCRÁTICO DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS – DOUTRINA –
PRECEDENTES – A FIGURA JURÍDICA DO INDICIADO COMO ADEQUADA E PERTINENTE AO MODELO INSTITUCIONAL DAS COMISSÕES PARLAMENTARES
DE INQUÉRITO – MAGISTÉRIO DA DOUTRINA QUE SE ORIENTA NESSE SENTIDO – AUTONOMIA DO INQUÉRITO PARLAMENTAR EM FACE DOS
PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – DOUTRINA – POSSIBILIDADE DE
ENCAMINHAMENTO DO RELATÓRIO FINAL, COM AS RESPECTIVAS CONCLUSÕES, NÃO SÓ AO MINISTÉRIO PÚBLICO, O QUE TRADUZ EXIGÊNCIA
CONSTITUCIONAL MÍNIMA (CF, ART. 58, § 3º, “IN FINE”), MAS, TAMBÉM, A OUTROS ÓRGÃOS E AUTORIDADES ESTATAIS (LEI Nº 1.579/52, ART. 6º–A,
INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.367/2016), COMO O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL – AUSÊNCIA, NA ESPÉCIE, DE LEGITIMAÇÃO PASSIVA “AD CAUSAM”
DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, POIS, ENQUANTO ÓRGÃO DE SIMPLES ENCAMINHAMENTO DO RELATÓRIO DA CPI ÀS INSTITUIÇÕES E
AOS AGENTES POR ESTA INDICADOS, NÃO DISPÕE DE COMPETÊNCIA PARA NEGAR EFICÁCIA OU PARA DESCONSTITUIR REFERIDA DELIBERAÇÃO
COLEGIADA – A CONDIÇÃO DE MERO EXECUTOR NÃO PERMITE QUALIFICÁ-LO COMO AUTORIDADE COATORA – DOUTRINA – PRECEDENTES –
OCORRÊNCIA, AINDA, DE OUTRA CIRCUNSTÂNCIA APTA A GERAR A INCOGNOSCIBILIDADE DA PRESENTE AÇÃO MANDAMENTAL: EXTINÇÃO DA CPI DE
QUE EMANARAM TAIS DETERMINAÇÕES – CONSEQUENTE AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR – PRECEDENTES – MANDADO DE SEGURANÇA NÃO
CONHECIDO – PARECER DA PROCURADORIA- -GERAL DA REPÚBLICA PELO NÃO PROVIMENTO DO RECURSO – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
(MS 34864 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 05/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-226 DIVULG 23-10-2018 PUBLIC 24-
10-2018). (grifei).
Nesse sentido, a existência de inquérito específico presidido pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios não constitui qualquer vedação legal
ou mesmo jurisprudencial para a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito na CLDF.
Quanto ao questionamento acerca do alcance da eficácia da CPI, este parecerista entende que a resposta transborda sua competência técnica por ser
matéria de interesse e deliberação exclusiva dos senhores Deputados Distritais.
V.4 – Questionamento 4 - se a competência para a investigação por meio de CPI seria do Congresso Nacional, em face da natureza jurídica dos
recursos destinados à prevenção e ao combate da pandemia.
Inicialmente, poderia ser destacado um argumento empírico para afastar a competência do Congresso Nacional, por meio de uma CPI, para investigar os
desvios ocorridos no Distrito Federal: a absoluta impossibilidade material do Congresso Nacional investigar os desvios ocorridos no Distrito Federal, estados-
membros e municípios que receberam recursos federais para a prevenção e o combante da pandemia COVID-19, com a característica peculiar de fundo à parte
da conta da edilidade.
Não obstante esse dado, convém destacar que o âmbito de atuação da CPI pode ser compreendido tanto pelo lado subjetivo, em face das pessoas
passíveis de investigação, como também pelo âmbito da competência legisferante da Casa Legislativa criadora da CPI. Nesse sentido, a anotação ao §3º do art.
58 da CF pelo Supremo Tribunal Federal, verbis
:
Anotação Vinculada - art. 58, §3º da Constituição Federal - "(...) além da função contramajoritária fiscalizatória do Poder Executivo,
reiteradamente assentada por esta Corte, as CPIs figuram como instrumento essencial das atividades parlamentares como um todo, na
medida em que objetivam "reunir dados e informações para o exercício das funções constitucionais conferidas ao Parlamento" (FERRAZ,
Anna Cândida da Cunha. Conflito entre poderes. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p. 174), de forma que viabilizam a atividade parlamentar em sua
plenitude. Em outras palavras, incumbe às Comissões em apreço não apenas as atividades de fiscalização. As CPIs também têm como
horizonte instrumentalizar a atividade legiferante do Parlamento, a avaliação da conveniência de alocação de recursos e de financiamento
de políticas públicas, etc. Nesse cenário, é natural que se confira às CPIs ampla autonomia para o exercício do relevante múnus. (...) Há, portanto, espaço
para que o Parlamento se movimente com certa discricionariedade nos quadrantes das diversas possíveis linhas investigativas a serem traçadas. (...) o
âmbito de atuação da CPI deve ser compreendido não apenas a partir do destinatário subjetivo da apuração, mas, sobretudo, do âmbito material de
investigação à luz das funções essenciais conferidas pela CF ao Congresso Nacional. (...) Como se nota, atos praticados na esfera privada não são imunes à
investigação parlamentar, desde que evidenciada a presença de interesse público potencial em tal proceder. Sendo assim, mais que sustentáculo da
responsabilização civil ou criminal, a apuração empreendida no contexto das CPIs deve guardar relação instrumental com o conjunto das atividades
parlamentares. Ou seja, o que deve ser perquirido, portanto, é a existência potencial de interesse público no objeto de investigação, sob a perspectiva das
competências, no caso concreto, do Senado Federal. (...) Sendo assim, considerando que os fatos apurados têm abrangência nacional, relacionam-se ao
futebol, esporte de inegável predileção nacional (nas palavras de Nelson Rodrigues, "o Brasil é a pátria das chuteiras"), e reconhecendo que o tema está
inserido nas competências legislativas do Congresso Nacional (desporte e lazer como instrumentos de promoção social), não verifico que a investigação
incorra em devassa desprovida de interesse público ou que desborde da competência constitucional das CPIs. (...) Mesmo que se admita que o impetrante
não figure como investigado formal, diante da condição de alto dirigente da CBF [Confederação Brasileira de Futebol], ao que parece, encontra-se em
situação de íntima ligação aos fatos em apuração, de forma que sua focalização como alvo não escapa dos limites do fato que motivou a constituição da
Comissão. Ora, se o objetivo da Comissão é investigar atos praticados pela CBF, é natural, e até inevitável, que a apuração recaia também sobre seus altos
dirigentes, notadamente do impetrante. Além disso, segundo a jurisprudência deste Supremo, a CPI "não está impedida de investigar fatos que se ligam,
intimamente, com o fato principal" (HC 71.231, rel. min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 5-5-1994).<br>[MS 33.751, voto do rel. p/ o ac. min.
Edson Fachin, j. 15-12-2015, 1ª T, DJE de 31-3-2016.]". (grifei).
Em razão dos elementos colhidos durante a atuação da CPI, a Casa Legislativa pode editar novas leis e regulamentos visando melhorar a prática
administrativa, previnir desvios e fraudes, além de endurecer sanções.
Convém ressaltar que o Supremo Tribunal Federal possui uma decisão monocrática de sua Presidência restringindo a atuação de CPI criada por Casa
Legislativa estadual tendo por objeto fatos afetos apenas à União, : verbis
DESPACHO: - Vistos. Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado pela UNIÃO, contra ato do Presidente e da Mesa da Assembléia
Legislativa do Estado da Bahia que, "atendendo a Requerimento de deputados estaduais, instalaram Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar supostas
irregularidades na gestão da CODEBA - Companhia de Docas do Estado da Bahia" (fl. 2), e, em caráter preventivo, contra o Presidente da referida Comissão
Parlamentar de Inquérito "ao qual competirá realizar os atos imanentes ao exercício da investigação a que se pretende, incluindo- se a requisição de
documentos, a colheita de depoimentos, quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico, dentre outros, para que se abstenha de realizá-los" (fl. 3). Diz a
impetrante que "a CPI instaurada pela Assembléia Legislativa do Estado da Bahia não tem competência para fiscalizar ou investigar a
referida Companhia, visto tratar-se de uma sociedade de economia mista federal, acarretando invasão na esfera de competência que a
Constituição da República reservou ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados, ao Congresso Nacional, ao Tribunal de Contas da União, e
à própria CODEBA, e usurpação de seus poderes" (fl. 3). Sustenta, mais, em síntese, o seguinte: a) competência do S.T.F. para julgar o presente
mandamus e adequação da via eleita, tendo em vista "o inequívoco cabimento do mandado de segurança para solver conflitos federativos e a competência
do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar um tal mandamus, nos termos da alínea 'f' do inciso I do art. 102 da Constituição Federal" (fl. 7) ; b)
legitimidade ativa e passiva, porquanto, por se tratar de sociedade de economia mista federal, a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito junto à
Assembléia Legislativa do Estado da Bahia configura inequívoca usurpação de atribuições do Congresso Nacional (art. 49, X, CF), o que legitima a presente
impetração por parte da União. Por outro lado, "em se verificando violação de competência da União por ato praticado pela Assembléia Legislativa do Estado,
e em sendo a mesma representada pelo seu Presidente e por sua Mesa, dúvida não há de que os mesmos são partes passivas do presente mandamus" (fl. 9)
e, quanto ao Presidente da referida C.P.I., torna-se imperioso sua invocação como legitimado passivo, devido à natureza preventiva da presente ação; c)
violação de direito líquido e certo da impetrante, dado que "a instauração da CPI para fiscalizar ou investigar matéria fora do âmbito da competência da
Assembléia Legislativa do Estado da Bahia viola direito líquido e certo do Senado Federal e da Câmara dos Deputados" (fl. 16), bem como "fere também o
direito líquido e certo da própria União Federal de explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão os portos marítimos, fluviais e
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lacustres, como se depreende do dispositivo constitucional inserto no art. 21, XII" (fl. 16); d) necessidade de concessão da medida liminar para evitar lesão
irreparável ao direito da impetrante, uma vez que, "se não suspensos os trabalhos da CPI no seu nascedouro, a tutela mandamental de mérito decerto
restará inutilizada, conquanto já bastante adiantados aqueles trabalhos, quiçá concluídos, de nada valendo a prestação jurisdicional que venha, a final, a
reconhecer a incompetência da Comissão para fiscalizar ou investigar a gestão da CODEBA, eis que já consumada a atuação da Comissão" (fl. 18); e)
existência do periculum in mora, tendo em vista que "a criação e a instalação da CPI têm provocado noticiários negativos na imprensa falada e escrita criando
o cenário de um ambiente tenso e preocupante nos Portos da Bahia, o que vem ensejando a queda da movimentação portuária, notadamente as
exportações, e a conseqüente redução de postos de trabalho" (fl. 19). Ademais, a instalação da referida C.P.I. "também causará prejuízos irreparáveis à
futura privatização do cais de Aratu, que será feita por arrendamento" (fl. 21) Pede, ao final, a concessão de liminar "para o fim de determinar a suspensão
do funcionamento da CPI da CODEBA até o julgamento definitivo do presente mandado de segurança" (fl. 22). Autos conclusos em 10.01.2001. Decido.
Notifiquem-se as autoridades apontadas coatoras do conteúdo da inicial, para que prestem, no prazo legal, as informações que entenderem necessárias ao
julgamento do writ. Com as informações, será apreciado o pedido de liminar. Publique-se. Brasília, 15 de janeiro de 2001. Ministro CARLOS VELLOSO -
Presidente MS 23.866-MC. Relator(a): Min. PRESIDENTE. Julgamento: 15/01/2001. Publicação: 02/02/2001. (grifei).
Em suma, o Controle Externo acerca da aplicação dos recursos federais destinados à prevenção e ao combate da pandemia COVID-19 é de competência
do Congresso Nacional com o auxílio do Tribunal de Contas da União. A existência de outros inquéritos criminais tendo como objeto o desvio de recursos
destinados à pandemia não constitui, por si só, óbisse para a criação de uma CPI. Por fim, a CLDF pode criar CPI para investigar fato determinado relacionado à
pandemia COVID-19 em face de sua competência fiscalizadora e legisferante.
VI.1 – a delimitação do fato a ser investigado: Questionamento 2 do Requerimento 1780/2020 e o exame do requisito pelo Presidente da
Câmara Legislativa, primeira parte do Memorando nº 16/2020-GP
O Regimento Interno da CLDF estabelece a competência do Presidente em receber o requerimento de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito e
apreciá-lo sob os aspectos regimentais e; caso estejam satisfeitos, determinará a publicação, ou devolvê-lo ao seu primeiro signatário (§2º do art. 72 do
RICLDF).
O RICLDF estabelece três requisitos formais para a criação de uma CPI: 1) requerimento subscrito por no mínimo um terço dos membros da CLDF (art.
72, caput); 2) especificação de fato determinado (§1º do art. 72) e 3) o quórum mínimo de um terço de seus membros e qualificado quando estiverem
funcionando pelo menos duas CPI´s (§5º do art. 72).
Presentes tais requisitos, o Presidente da Câmara Legislativa receberá o requerimento dará a publicidade da criação com a publicação no Diário da
Câmara Legislativa – DCL.
Traz o documento a seguinte descrição: “[...] a finalidade de investigar a regularidade dos atos praticados pelo Poder Executivo do Distrito
Federal, especialmente daqueles que geram custos ao erário, em decorrência da pandemia da Covid-19 - CPI da Pandemia”. (grifei).
Tal descrição do fato, salvo melhor juízo, não está dentro das hipóteses que autorizam a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito pelo Poder
Legislativo, porque falta-lhe o requisito de fato determinado.
Investigar a regularidade dos atos do Poder Executivo do Distrito Federal que geraram custos ao erário é extremamente genérico, pois inclui,
praticamente todos os atos relacionados à pandemia, compra de testes, equipamentos, locação de bens e serviços.
Essa indeterminação do objeto é um dos motivos chancelados pelo STF que permitem o arquivamento incial de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
Mesmo que se argumente que o requisito estaria demonstrado na justificação com a menção de alguns fatos passíveis de investigação legislativa, a
redação analisada é genérica e não permite identificar o fato determinado objeto da Comissão Parlamentar de Inquérito a ser criada.
Para ilustrar esse ponto, trago a colação um trecho do Parecer proferido pelo Senador Romero Jucá na COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E
CIDADANIA, sobre Recurso (SF) nº 4, de 2014, do Presidente do Senado Federal, que encaminha notas taquigráficas da decisão proferida pela Presidência do
Senado Federal, na sessão do dia 2 de abril de 2014, sobre as Questões de Ordem formuladas pela Senadora Gleisi Hoffmann e pelo Senador Aloysio Nunes
Ferreira, referentes aos Requerimentos nºs 302 e 303, de 2014, respectivamente, de criação de comissão parlamentar de inquérito, que traz os fundamentos
jurídicos sobre o fato objeto de uma CPI seja determinado, : verbis
[...]. Essa exigência de que o fato objeto da CPI seja determinado decorre de dois fundamentos. O primeiro deles diz respeito à proteção dos direitos
fundamentais dos investigados, uma vez que um inquérito com objeto genérico poderia facilitar o desvio de finalidadee dificultar a ampla
defesa. Mas não se pode perder de vista um segundo objetivo, que é a eficiência da investigação e a economia processual. Com efeito, a admissão
de CPI com objeto genérico seria um desperdício de forças,especialmente porque dificilmente atingiria resultados concretos. [...].
Disponível em: http://legis.senado.leg.br.sf-sistema-sedol2-id-documento-composto-25444.pdf. Acesso em: 4/set/2020. (grifei)
A abertura de inquérito legislativo com objeto genérico pode ensejar o desvio de finalidade e dificultar o direito de ampla defesa dos investigados, além
de violar a eficiência da investigação e a economia processual.
O Supremo Tribunal Federal tem entendimento consolidado no no tema sobre a abertura de CPI sem a indicação do fato determinado a ser apurado,
verbis:
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EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO DO SENADO FEDERAL. PROVIMENTO DE QUESTÃO DE ORDEM, EM GRAU DE RECURSO PARA O
PLENÁRIO, PARA ARQUIVAMENTO DO REQUERIMENTO Nº 198/96, QUE PROPÕE A CRIAÇÃO DA CHAMADA "CPI DOS BANCOS", POR FALTA DE INDICAÇÃO
DO FATO DETERMINADO A SER APURADO (CF, ART. 58, § 3º) E DO LIMITE DAS DESPESAS A SEREM REALIZADAS (RI-SF, ART. 145, § 1º). PRELIMINARES.
INUTILIDADE DA PRESTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL. I - PRELIMINARES. 1ª) Considera-se "ato da Mesa", para efeito de mandado de segurança (CF,
art 102, I, d), o provimento de questão de ordem pelo Plenário, em grau de recurso interposto contra decisão do Presidente do Senado, eis que, neste caso,
o Plenário atua como órgão de 2ª instância das decisões da Mesa Diretora. 2ª) Pedido não conhecido quanto ao fundamento regimental de ofensa ao § 1º do
art. 145 do RI-SF (indicação, no requerimento, do limite das despesas a serem realizadas pela CPI), por se tratar de matéria interna corporis do Poder
Legislativo, não sujeita à apreciação pelo Poder Judiciário. Precedente: MS nº 22.503-3-DF. Pedido que poderia ser conhecido, em parte, nos limites do
fundamento constitucional de ofensa ao art. 58, § 3º, da Constituição (indicação, no requerimento, do fato determinado a ser apurado pela CPI); Tendo o ato
impugnado (provimento de questão de ordem que determina arquivar requerimento que propõe criação de CPI) dois fundamentos suficientes (um
constitucional e outro regimental) e não podendo a prestação da tutela jurisdicional abranger todos eles, constata-se, de plano, a sua absoluta inutilidade, eis
que o ato restaria ileso pelo outro fundamento. Tanto a doutrina como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entendem que não se presta a tutela
jurisdicional, inclusive em mandado de segurança, quando a decisão não traz proveito aos impetrantes. Aplicação do princípio contido na Súmula 283 e no MS
nº 20.498-DF. 2. Mandado de segurança não conhecido.
(MS 22494, Relator(a): MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 19/12/1996, DJ 27-06-1997 PP-30238 EMENT VOL-01875-02 PP-00374).
Em julgamento recente, O Supremo Tribunal Federal manteve sua jurisprudência para reafirmar a necessidade de indicação do fato determinado para a
investigação legislativa e decidiu ser atribuição do Presidente da Câmara dos Deputados aferir o preenchimento dos requisitos atinentes à instauração de CPI.
Nesse sentido a ementa do acórdão:
INQUÉRITO – COMISSÃO PARLAMENTAR – INSTAURAÇÃO. É atribuição do Presidente da Câmara aferir o preenchimento dos requisitos atinentes à
instauração de comissão parlamentar de inquérito. (MS 33521, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 15/05/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-157 DIVULG 23-06-2020 PUBLIC 24-06-2020). (grifei).
O processo julgado pela Suprema Corte (MS 33521) assemelha-se muito com o caso ora em análise, pede-se vênia para transcrever alguns trechos do
relatório e voto do Min. Marco Aurélio:
Ricardo José Magalhães Barros, deputado federal, insurge-se contra ato por meio do qual o Presidente da Câmara dos Deputados indeferiu pedido de
instauração de comissão parlamentar de inquérito destinada a investigar a metodologia de elaboração e divulgação de pesquisas e os reflexos no resultado
das eleições.
Segundo narra, a autoridade dita coatora, ao afastar a caracterização de fato certo a justificar a formalização da comissão, trouxe prejuízo à participação da
minoria parlamentar no processo democrático.
Alega o integral cumprimento dos requisitos descritos no § 3º do artigo 58 da Constituição Federal. Enfatiza a adesão de1/3 dos membros da Casa
Legislativa, a limitação de prazo em conformidade com a previsão do § 3º do artigo 35 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados e a presença de
situação fática devidamente demarcada.
No tocante ao último pressuposto, diz do elevado grau de indeterminação, aduzindo a pouca densidade normativa do §1º do aludido preceito regimental, o
qual, segundo argumenta, confere indesejada discricionariedade decisória ao Presidente da Casa.
Evoca precedentes do Tribunal para ressaltar o caráter essencialmente jurídico da matéria. Afirma que, no requerimento, ficou
delineado o objeto da investigação, de forma a permitir o controle jurisdicional das futuras medidas instrutórias.
Destaca o interesse público, asseverando ter a manipulação de pesquisas eleitorais significativa repercussão no resultado das urnas.
Noticia a existência de tratamento não isonômico porparte do Presidente da Câmara, por haver determinado a publicação de três
requerimentos para criação de comissões parlamentares de inquérito, todas dotadas, consoante assinala, das mesmas características versadas no pleito
cujo seguimento foi obstado.
Sob o ângulo do risco, sustenta a utilização estratégica da previsão do § 4º do artigo 35 do Regimento Interno da Câmarados Deputados, que limita em cinco
a quantidade de comissões parlamentares de inquérito em funcionamento concomitante.
Postulou o implemento de medida acauteladora para determinar-se a sequência do Requerimento nº 01/2015 ou, sucessivamente, o
afastamento da apreciação de pedidos posteriores, de forma a impedir a restrição mencionada. Alfim, requer o deferimento da ordem, nos termos em
que pretendida na impetração.
Considerada a necessidade de fortalecimento da harmonia entre os Poderes, Vossa Excelência determinou a prévia oitivada autoridade apontada como
coatora.
Em informações, o Presidente da Casa Legislativa sublinha a ausência de fato determinado a ensejar a instauraçãode comissão
parlamentar. Cita o artigo 13 do Regimento,dizendo não configurada a ofensa ao direito de minoria parlamentar, em virtude da inclusão
do partido político do qualo impetrante faz parte na maior bancada da Câmara. Frisa aprópria competência para avaliar a presença dos
requisitosnecessários à formalização da investigação, consoante o § 2º doartigo 35 e o § 1º do artigo 137, ambos do regramento interno.
O §1º do art. 72 reforça a regra da devida caracterização do fato no requerimento de constituição. Ausente o requisito da caracterização específica do
fato, os presidentes da Câmara dos Deputados e da Câmara Legislativa possuem a competência para receber o requerimento. Tal competência, segundo o
entendimento do STF não constitui violação do direito da minoria.
Além disso, os regimentos internos da Câmara dos Deputados e da CLDF limitam o número de Comissões Parlamentares de Inquérito aprovadas e
instaladas.
Em face do exposto, constata-se que o requisito constitucional e regimental de indicação de fato determinado para a apuração por meio de CPI não está
presente, competindo ao Presidente da Casa apreciar e decidir nos termos do §2º do art. 72 do RICLDF.
VI.2 – uma vez criada, existe ainda o requisito formal de oitiva do Colégio de Líderes para a instalação da CPI.
No recente julgado sobre a matéria em análise pelo Supremo Tribunal Federal, percebe-se que as Casas Legislativas costumam incluir regras regimentais
que limitam o número de Comissões Parlamentares de Inquérito em funcionamento concomitante. Tais regras visam garantir o pleno funcionamento da Casa
Legislativa, uma vez que o funcionamento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito demanda tremendo esforço administrativo e parlamentar. O primeiro, no
sentido de dotar os integrantes da Comissão de todo o assessoramento necessário para a sequência das diligências, oitivas e os demais atos necessários para a
conclusão dos trabalhos e elaboração do relatório final. O segundo e mais relevante, porque em CPI não existe delegação, todos atos devem ser realizados com
a presença dos membros da comissão, quer titulares ou suplentes.
No caso da Câmara Legislativa, que possui um dos menores quadros de órgão legislativo estadual, esse aspecto funcional ganha maior relevância,
porque as demais comissões permanentes, temporárias e o Plenário continuam funcionando.
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Por isso, a regra que exige a deliberação do Colégio de Líderes para a alteração da ordem cronológica do protocolo para a instalação da CPI deve ser
observada.
VII – Conclusão
Diante do exposto, entende-se que o Requerimento nº 1612/2020 (0149408), de autoria de vários deputados, constante do Processo SEI nº 00001-
00022459/2020-98 não apresenta o fato determinado para a criação da CPI.
Cabe ao Presidente da Câmara Legislativa receber ou não o requerimento com base no §2º do art. 72 do RICLDF e na jurisprudência mais atual do
Supremo Tribunal Federal.
Uma vez recebido, atente-se para as demais regras regimentais para a instalação da CPI, como o §7º do art. 72 do RICLDF.
À consideração superior
SIDRAQUE ANACLETO
Procurador Legislativo
Matrícula n˚ 11.140
OAB/DF n˚ 9.717
Documento assinado eletronicamente por SIDRAQUE DAVID MONTEIRO ANACLETO -
Matr. 11140, Procurador(a) Legislativo, em 08/09/2020, às 09:07, conforme Art. 22,
do Ato do Vice-Presidente n° 08, de 2019, publicado no Diário da Câmara Legislativa do
Distrito Federal nº 214, de 14 de outubro de 2019.
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