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XVII ENCONTRO
DIVERSIDADE MUSICAL E COMPROMISSO SOCIAL
NACIONAL SÃO PAULO, 08 A 11 DE OUTUBRO DE 2008
O PAPEL DA EDUCAÇÃO MUSICAL
DA ABEM FECHAR 1
Introdução
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O presente projeto de pesquisa está sob orientação da profa. Dra. Luciana Del Ben.
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instituição que, além de oferecer várias atividades musicais, atraía muitos interessados pelos
seus cursos. Esses fatos me levaram a refletir sobre como havia sido desenvolvido o ensino e
a aprendizagem de música naquela época e sobre quem eram seus professores e alunos.
Nesta pesquisa tomo o Conservatório de Música Joaquim Franco como uma instituição,
conceito que deve ser esclarecido. Garay (1998) entende as instituições, especialmente as
educativas, como “formações sociais e culturais complexas em sua multiplicidade de
instâncias, dimensões e registros” (p. 111). As instituições educativas exercerem influências
na formação de um indivíduo, em relação à construção de valores e modos de pensar e agir,
pois, elas ocupam:
um lugar principalíssimo, por seu sentido de matriz e matrizante dos modelos de pensar; ou não
pensar; e por sua capacidade de instaurar a cognição e a busca da verdade e, sobretudo, de abrir
suas fronteiras instalando um lugar para interrogar-se, questionar-se a si mesma (GARAY,
1998, p. 133; grifo no original).
Para Nóvoa (1995), “as instituições escolares adquirem uma dimensão própria,
enquanto espaço organizacional onde também se tomam importantes decisões educativas,
curriculares e pedagógicas” (p. 15; grifo no original). Nesse sentido, segundo Kraemer
(2000),
Metodologia
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Para Alberti (2005), a História Oral serve a diferentes áreas do conhecimento, como a
história, a antropologia e as ciências sociais, ou seja, ela não pertence mais a uma do que a
outra. Diante dessa realidade, ela define História Oral como sendo:
2 Como o termo História Oral é usado ora com letras minúsculas, ora com letras maiúsculas, entre os autores
dessa área de estudo, optei pelo uso de letras maiúsculas quando me referir a ela como método.
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Para a coleta de dados, utilizo a técnica de entrevista temática, pois é, segundo Alberti
(2005), adequada:
para o caso de temas que têm estatuto relativamente definido na trajetória de vida dos
depoentes, como, por exemplo, um período determinado cronologicamente, uma função
desempenhada ou o envolvimento e a experiência em acontecimentos ou conjunturas
específicos. Nesses casos, o tema pode ser de alguma forma ‘extraído’ da trajetória de vida mais
ampla e tornar-se centro e objeto das entrevistas. (p. 38).
Além das fontes orais, utilizo ainda fontes escritas e iconográficas, com a finalidade de
formar um material de apoio para a pesquisa e para a construção e realização de entrevistas.
Neste estudo, considero como fontes escritas todos os documentos que poderão contribuir
para a obtenção de informações referentes ao ensino e à aprendizagem de música
desenvolvidos no Conservatório de Música Joaquim Franco, bem como fontes que indiquem
atividades e repertórios trabalhados nos concertos oferecidos ao público, na época evocada
por este estudo.
As fontes iconográficas, por sua vez, servem de recurso propulsor de lembranças sobre
o tema em questão, especialmente no momento da realização das entrevistas, pois têm gerado
a possibilidade se manter um diálogo vivo e enriquecedor que ajuda no processo de gravação
do depoimento oral.
Para a seleção de depoentes, me apoio em Delgado (2006), que aponta para uma das
possibilidades de seleção de depoentes, que pode ser a de associar o público alvo à “imagem
de um tronco com múltiplos galhos. Ou seja, pessoas-chave são nucleares e servem como
referências para seleção dos demais entrevistados”. É comum, também, “selecionar-se um
depoente através de informações consideradas relevantes, que foram obtidas no decorrer da
pesquisa documental” (p.25).
Assim, estão sendo selecionados, como depoentes em potencial, aqueles que, de alguma
forma, atuaram no Conservatório de Música Joaquim Franco, como professores, alunos,
equipes diretivas ou administrativas, entre os anos de 1965 e 1987. Esclareço, ainda, que o
termo depoente é utilizado sem a distinção de masculino e feminino neste estudo.
Resultados iniciais
primeira entrevista, realizada com o mastro Nelson Eddy de Menezes, um dos professores que
atuaram no Conservatório.
Entre os resultados apresentados nessa entrevista, destaco o repertório desenvolvido por
esse Conservatório. Segundo o maestro Nelson Eddy, procurava-se trabalhar com músicas
eruditas estrangeiras, especialmente as do período barroco, e músicas brasileiras, folclóricas e
populares. O maestro informou que sua preocupação era a de procurar um repertório que
valorizasse as músicas brasileiras, e, ainda, que os alunos compreendessem que algumas delas
eram derivadas de compositores como Bach, Beethoven, entre outros. No entanto, segundo o
maestro, isso, muitas vezes, não agradava os alunos, principalmente do Coral Universitário, e
explica:
Nelson Eddy: Muitas vezes não agradava, porque as pessoas queriam as músicas que arrancam
aplausos. E... eu queria... “Olha, gente, aplausos não enchem a barriga de ninguém, não enchem
barriga. Vamos fazer música pensando na formação do público, incluindo um repertório assim”
(Nelson Eddy, E1, p.5).
Tu sabes que todo modelo usado nos Conservatórios naquela época vinha do Rio de janeiro, da
Escola Nacional do Rio de Janeiro, a Escola Nacional de Música. Então, quem tinha experiência
nesses assuntos, trazia a sua contribuição. Era sempre do Rio de Janeiro. E, aos pouquinhos, a
gente... aos pouquinhos, a gente foi tentando modificar, com a experiência da Bahia, em
Salvador, com Koellreutter, e com todas aquelas pessoas que mudaram ali, a Bahia. [...] E,
assim, a gente ia fazendo mudanças no programa, ia construindo um currículo diferente, por
exemplo, a teoria e solfejo passaram a ser estruturação musical, o nome era estruturação
musical, não era mais teoria e solfejo. Então, era assim, eram experiências vindas de fora
(Nelson Eddy, E1, p. 15).
instrumentistas, formar profissionais, e até mesmo professores para fazerem parte, no futuro,
do corpo docente.
Conclusão
Referências
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes. Usos e abusos da História Oral. 2. ed.
Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1998.
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Horizonte: Autêntica, 2006.
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do Rio Grande do Sul, 1993.
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THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Trad. Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de
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