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O presente artigo tem como o objeto apresentar uma proposta de trabalho com as ideias
de alunos sobre o Regime Militar Brasileiro dialogando com autores que trabalham as
questões sobre Narrativas, Memórias e Histórias, partindo da concepção de Narrativa
Histórica de Jörn Rüsen, das concepções de conceito de segunda ordem de Ronaldo
Cardoso Alves e da leitura da utilização das ideias prévias dos alunos de Márcia Teté
Ramos e do conceito de Mediador Cultural de Lana Mara Siman.
Mas o que essa concepção tem a ver com as narrativas históricas dos alunos em
relação ao Regime Militar? E porque é válido trabalhar com narrativas como forma de
subsídio nas aulas de história? retomando novamente GEVARD, Narrar histórias em
aulas de história é uma forma de relatar o passado e, consequentemente, interpretar este
passado e, por isso, as narrativas são um componente significativo do pensamento
histórico e uma ferramenta central no ensino e na aprendizagem em história, podendo
ser considerada como fundamental nessas aulas. (2009, p.67). Isso é complementador
por Ramos em sua leitura de Rüsen sobre o papel dos conhecimentos prévios dos alunos
na aprendizagem história, entendido aqui como aplicável no caso da utilização das
narrativas dos alunos:
Mas o que é narrar? E o que seria uma narrativa histórica? Dentre os vários
conceitos de narrativa e de narrativa histórica, um dos mais relevante é o de Jorn Rüsen
na obra Aprendizagem Histórica: Fundamentos e Paradigmas onde o autor diz que o
ato de narrar é uma conquista vital, sendo uma linguagem elementar e geral da ação
representada pela experiência humana no tempo, isto é, narrar é criar significados e
experiências temporais, tornando-se um fenômeno elementar e geral da organização da
vida cultural, que define o homem como espécie, sendo que essa criação de significados
e experiências no tempo será uma estrutura de um sentido de “História” (2012,p.39) e
Narrar historicamente seria:
Portanto, nessa perspectiva, narrar seria uma forma que os seres humanos tem
para elaborar significados e experiências durante o tempo e o espaço, sendo algo
fundamental em nossa organização cultural.
Nesse ponto, devemos ter em mente que nenhuma narrativa é atemporal ou imparcial,
isto é, as narrativas sofrem influências de suas temporalidades, e também do público em
que ela se destina, a partir desses problema é que a História como ciência, para Rüsen,
se diferencia de outras narrativas históricas:
Além disso devemos ter em mente que não há uma única narrativa histórica,
pelo contrário existem uma multiplicidade de narrativas históricas, e dialogando com
Lowenthal, essas narrativas acabam influenciando nossas ideias cotidianas como nossas
concepções sobre o mesmo passado, trocando em miúdos, O passado nos cerca e nos
preenche; cada cenário; cada declaração; cada declaração; cada ação conserva um
conteúdo residual de tempos pretéritos. Toda consciência atual se funda em percepções
e atitudes do passado. (1998, p.70).
Entretanto, faz necessário fazer uma diferenciação do que seria uma narrativa
histórica e uma memória sobre determinado momento, citando Lowenthal, quanto a
narrativa pode ser comparada e refutada a luz das fontes históricas, isso não se aplica a
memória, pelo seu caráter dúbio e inevitário, ou nas palavras de Lowenthal:
A partir dessas concepções, vem a questão de qual o papel que a escola pode ter
no ensino de conteúdos do Regime Militar a partir das narrativas prévias dos alunos
sobre esse período histórico? Compartilhamos aqui as concepções de Marcos Silvia que
entende a escola como um espaço onde o estado do conhecimento histórico (e de outros
campos de saber) pode ser apresentado de forma reflexiva pelo professor a crianças e
adolescentes. Isso significa que os docentes têm a opção de se relacionarem de forma
crítica com a produção erudita gerada sobre aqueles temas e problemáticas de
conhecimento por outras instâncias de saber, chegando a novas erudições. No caso
específico de História, tal relacionamento passa pelo contato permanente e crítico de
professores e alunos com a Historiografia, é claro, e também com a Memória Social
elaborada no Brasil sobre ditadura e democracia – exemplos aqui abordados: discursos
governamentais e partidários, vozes da Imprensa, produções artísticas (cinema,
literatura e outras linguagens) etc. (SILVA, 2009)
TETÉ RAMOS, Márcia Elisa. O estudante de Ensino Médio nas comunidades virtuais
"eu amo história" e "eu odeio história" e uma questão antiga: para quê serve a
história? Antíteses, vol. 5, núm. 10, julho-dezembro, 2012, pp. 665-689