Para iniciar este tópico devemos introduzir o filósofo e matemático René Descartes (1596-1650)
que é um dos pensadores mais influentes da humanidade, pois o método criado por ele é a base da ciência
moderna.
Descartes inaugurou a epistemologia com a obra Discurso do Método, que produziu uma revolução
na filosofia e na ciência: a verdade não mais como privilégio de poucos (iniciados, membros de ordens
secretas). O homem, utilizando-se da razão e do método, pode chegar à verdade. Opôs-se a noção
de síntese, pois para Descartes, conhecer implicava uma etapa inicial de decompor o problema em
pequenas partes mais simples. Conhecer reduziria o objeto a seus componentes elementares.
Posteriormente, pela ordenação do pensamento a partir desses elementos mais simples chega-se ao
conhecimento mais complexo.
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Epistemologia
FILOS
2 Estudo crítico das premissas, das conclusões e dos métodos dos diferentes ramos do
conhecimento científico, das teorias e das práticas; teoria da ciência (Michaelis - Dicionário Brasileiro da
Língua Portuguesa)
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A lógica cartesiana, isto é, o estudo das partes de um fenômeno foi responsável pelo
desenvolvimento da ciência baseada na noção de especialidade (ALMEIDA FILHO, 2007). De acordo com
essa perspectiva a compreensão de um fenômeno ocorre por meio do estudo de suas partes e todos os
fenômenos podem e devem ser fragmentados, decompostos e reduzidos em suas menores partes. Além
de dividir cada problema em partes mínimas, os conhecimentos devem ser ordenados do mais simples ao
mais complexo. A analítica cartesiana subsidiou a maior parte dos avanços científicos e tecnológicos da
sociedade industrial (ALMEIDA FILHO, 2007) e caracterizou o conhecimento, fragmentando-o em
especialidades e subespecialidades.
René Descartes
A lógica cartesiana, apesar de ter sido responsável por grandes avanços científicos e tecnológicos,
e ainda ter lugar na atualidade, mostrou-se limitada com o passar do tempo, pois o exame cuidadoso dos
problemas necessita de uma abordagem mais complexa envolvendo várias disciplinas (ALMEIDA FILHO,
2007) o que levou ao surgimento de diferentes níveis de interação entre as várias disciplinas: a
multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.
Multidisciplinaridade
Implica em um conjunto de disciplinas que tratam de uma dada questão sem que os profissionais
envolvidos em cada uma delas estabeleçam conexões entre eles (ALMEIDA FILHO, 2007). No processo de
trabalho, os pesquisadores ou técnicos atuam de forma isolada, cada um realizando suas tarefas
separadamente, sob a perspectiva da sua disciplina, sem que haja integração entre as diferentes áreas.
Estudiosos de diferentes disciplinas, por exemplo, química, sociologia, e lingüística geram conhecimentos
sem que haja qualquer cooperação entre essas disciplinas (MAX-NEEF, 2005). As disciplinas não interagem
e consequentemente não são modificadas ou enriquecidas pelo outro saber. A solução de um problema
só exige informações retiradas de outras áreas do conhecimento.
Multidisciplinaridade: Existe uma temática comum. Não existe relação nem cooperação entre as
disciplinas
Pluridisciplinaridade
Está preocupada com o estudo do objeto de uma só e mesma disciplina por várias disciplinas
simultaneamente (IRRIBARY, 2003). A pluridisciplinaridade parte do princípio de que cada disciplina
contribui com informações da sua área de conhecimento, sem considerar que existe uma interação entre
elas. (MENEZES, SANTOS, 2001). Por exemplo, na pluridisciplinaridade a psicologia educacional é uma
disciplina da Psicologia (MENEZES; SANTOS, 2001). Outro exemplo pode ser a combinação da física e da
química. O estudo de uma delas reforça a compreensão da outra, mas não há interação entre elas (MAX-
NEEF, 2005).
Pluridisciplinaridade: Existe uma temática comum. Existe uma relação entre as disciplinas
Interdisciplinaridade
Diz respeito a interação entre diferentes disciplinas de temática comum, cujas relações são
definidas a partir de um nível hierárquico superior ocupado por uma delas, que integra e coordena o
campo disciplinar (ALMEIDA-FILHO, 2007). É um modelo de interação complexo, pois pressupõe troca de
experiências, conceitos, métodos, comunicação, discussão, articulação profunda e reciprocidade entre
disciplinas e áreas do conhecimento, estabelecendo uma integração do conhecimento.
Interdisciplinaridade: Existe cooperação e diálogo entre as disciplinas. Existe uma ação coordenada
Transdisciplinaridade
Nos anos 1990 a transdisciplinaridade reapareceu como uma tentativa para solucionar os novos e
complexos problemas globais tais como as mudanças climáticas, sustentabilidade, políticas sociais,
educação e artes (BERNSTEIN, 2015).
Equipe multidisciplinar
Uma equipe multiprofissional é uma equipe composta por profissionais de diferentes disciplinas
que trabalham de forma independente atendendo o mesmo paciente. Não há uma integração ou troca
de conhecimento entre eles.
Por exemplo, em um hospital, vários profissionais estão reunidos, mas trabalham isoladamente. O
paciente passa por uma contagem de linfócitos, em seguida é atendido pelo oncologista e, finalmente,
dirige-se à sala de quimioterapia. Neste caso não há contato entre os profissionais envolvidos no
atendimento: o bioquímico da contagem de linfócitos, o médico oncologista e a enfermeira que cuida da
quimioterapia não estão articulados entre si de modo que apareçam relações entre as disciplinas
(IRIBARRY, 2003).
Equipe pluridiscipinar
É uma equipe composta por profissionais de diferentes disciplinas de áreas compatíveis, o que já
sugere a possibilidade de relação entre elas. Há uma cooperação entre os profissionais, mas não de forma
organizada e não há coordenação. A pluridisciplinaridade parte do princípio de que cada disciplina
contribui com informações da sua área de conhecimento, sem considerar que existe uma interação entre
elas.
Exemplo: Um paciente procura atendimento psiquiátrico e, após receber orientação e prescrição
psicofarmacológica, é encaminhado, pelo próprio psiquiatra, a um psicólogo para um trabalho de
psicoterapia. Os profissionais cooperam, mas não se articulam necessariamente de maneira coordenada.
(IRIBARRY, 2003).
Equipe interdisciplinar
Por exemplo: Uma equipe para atendimento ambulatorial de gestantes adolescentes de baixa
renda. A equipe é formada por um médico pediatra, um médico psiquiatra, um psicólogo, um assistente
social, uma psicopedagoga, uma enfermeira e uma secretária. Cada área mencionada agrega ainda
estudantes que realizam estágio no ambulatório.
No entanto, o que prevalece é o saber médico, cabendo a coordenação e a tomada de decisão aos
profissionais da área médica, que dirigem e orientam a equipe em seu trabalho (IRIBARRY, 2003).
Equipe transdisciplinar
A equipe que funciona segundo uma dinâmica transdisciplinar tem sua coordenação assegurada
por referência a uma finalidade comum. Cria-se um campo novo com autonomia teórica e metodológica
com tendência à horizontalização das relações de poder com relação às disciplinas que o compõe.
(ALMEIDA FILHO, 2007).
Pode-se tomar como exemplo uma equipe que recebe pacientes com problemas mentais. Esta
equipe, muito provavelmente, reunirá profissionais como psicólogos, psiquiatras, enfermeiros,
assistentes sociais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, neurologistas, clínicos gerais, etc. Quando o paciente
chega para uma avaliação todos irão assisti-lo e buscarão formular um diagnóstico acerca do caso. Para
que esse diagnóstico seja dado em situação de transdisciplinaridade não basta apenas que cada
profissional opine a partir de sua área e, finalmente, um tratamento seja indicado. Para que a
configuração transdisciplinar seja alcançada é preciso que esses profissionais, fundamentalmente,
estejam reciprocamente situados em sua área de origem e na área de cada um dos colegas (IRIBARRY,
2003).
Referências
ALMEIDA FILHO, Naumar Monteiro de. Multi-Pluri/Meta-Inter/Transdisciplinaridade: Novas
Estratégias ou Velhos Impasses do Paradigma da Complexidade. In: BASTOS, Antonio Virgilio Bittencout;
DOURADO, Nádia Maria (Org.).Psicologia: novas direções no diálogo com outros campos do saber. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. p. 27-72.
BERNSTEIN, Jay Hillel. Transdisciplinarity: A Review of Its Origins, Development, and Current
Issues.Journal Of Research Practice, Canada, v. 1, n. 11, p.1-20, 2015. Disponível em:
<http://jrp.icaap.org/index.php/jrp/article/view/510/412>. Acesso em: 29 set. 2016.
GALVAN, Gabriela Bruno. Equipes de saúde: o desafio da integração disciplinar. Rev. SBPH, Rio de
Janeiro, v. 10, n. 2, p. 53-61, dez. 2007. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
08582007000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 18 set. 2016.
Questões
03 - Uma equipe que trabalha com pessoas com problemas mentais, em que todos os profissionais
da equipe se reúnem, em prol deles, em que há avaliação conjunta, em que todos os profissionais assistem
esses pacientes, estão cientes do diagnóstico e estão situados em sua área de origem e na área de seu
colega. A que tipo de equipe nos referimos? ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
o Multidisciplinar
o Pluridisciplinar
o Interdisciplinar
o Transdisciplinar