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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GISLENE TAIS BRENNER

PRESERVAÇÃO E RESTAURO URBANO NO ALTO SÃO FRANCISCO:


RESGATE HISTÓRICO DO MOVIMENTO OPERÁRIO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITBA
2016
GISLENE TAIS BRENNER

PRESERVAÇÃO E RESTAURO URBANO NO ALTO SÃO FRANCISCO:


RESGATE HISTÓRICO DO MOVIMENTO OPERÁRIO

Monografia de graduação, apresentado à dis-


ciplina Trabalho de Conclusão de Curso 1 do
curso de Arquitetura e Urbanismo, Departa-
mento Acadêmico de Construção Civíl – DA-
COC – da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná – UTFPR, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Rolando de Lima

Co-orientadora: Profª Drª Simone Aparecida


Polli.

CURITIBA
2016
Dedico este trabalho à memória da
cultura, arte, arquitetura e história do povo, pa-
trimônio intangível que ainda seguimos per-
dendo dia após dia, pelo caráter predominante-
mente elitista das políticas de preservação.
AGRADECIMENTOS

Ao professor Paulo Rolando Lima, pela paciência na orientação е incentivo qυе


tornaram possível а conclusão desta monografia. À professora Simone Polli, que sem-
pre trouxe uma lanterna para mostrar o caminho dessa pesquisa sempre que a luz era
escassa, obrigada pelo apoio, pela compreensão е pela amizade. À professora Cíntia
Negrão Nogueira, pela confiança no propósito desse trabalho desde sua primeira li-
nha, sua contribuição foi ímpar para que ele atingisse os resultados obtidos. Еu posso
dizer qυе а minha formação, inclusive pessoal, não teria sido а mesma sеm а pre-
sença de vocês.
Aos meus amigos, incentivadores desse trabalho, Claudio Ribeiro, que talvez
sem imaginar, foi responsável pelo primeiro broto daquilo que veio а ser esse trabalho
e ao historiador e professor Elton Barz, pela formidável militância em prol da preser-
vação do patrimônio histórico e cultural de Curitiba, nossas conversas durante anos
foram fundamentais para a composição desse trabalho.
E agradeço especialmente a Cicero Martins, companheiro de vida e de luta, e
grande colaborador deste projeto, sua presença significou segurança е certeza de que
não estou sozinha nessa caminhada.
“Obrigado a encontrar formas que enformem sistemas de
exigências sobre as quais não tem poder, obrigado a arti-
cular uma linguagem, como a Arquitetura, que sempre
deve dizer algo diferente de si mesma, (...) o arquiteto está
condenado, pela natureza do seu trabalho, a ser talvez a
única e última figura de humanista da sociedade contem-
porânea”.
Umberto Eco

Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem


como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua es-
colha e sim sob aquelas com que se defrontam direta-
mente, legadas e transmitidas pelo passado”.
Karl Marx
RESUMO
BRENNER, Gislene. Preservação e restauro urbano no Alto São Francisco: Resgate histórico do mo-
vimento operário. 2016. Monografia (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Tecno-
lógica Federal do Paraná. Curitiba, 2016.

Este trabalho visa estudar o contexto urbano derivado do surgimento das primeiras Sociedades Ope-
rárias de Curitiba, no período de 1880-1930, e analisar a influência que tiveram no processo de forma-
ção do Setor Histórico de Curitiba, enquanto importantes espaços de convivência e de organização
livre e autônoma dos trabalhadores da época, na busca e construção de direitos sociais que vieram a
ser garantidos posteriormente com a Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943. A partir deste es-
tudo, identifica-se que a configuração urbana resultante, especialmente as sedes ainda existentes des-
tas Sociedades Operárias, constituem patrimônio histórico e arquitetônico cujo valor precisa ser resga-
tado e destacado como parte do conjunto de fatores importantes da constituição de Curitiba como ca-
pital e da construção da própria biografia do povo curitibano. À luz das inovações que vêm sendo dis-
cutidas e implementadas nos últimos anos, em termos de intervenção urbana em consonância com a
preservação do patrimônio cultural, propõe-se diretrizes não apenas no sentido de promover o resgate
histórico das edificações remanescentes das Sociedades, mas também a sua inclusão no contexto
urbano atual, através da promoção de novos usos alinhados à origem das mesmas enquanto entidades
de apoio mútuo dos trabalhadores, bem como a requalificação do uso do espaço público do entorno,
com vistas à preservação da paisagem cultural urbana constituída no Centro Histórico. Conclui-se que,
para além de tratar apenas de unidades arquitetônicas isoladas, o diálogo entre o Urbanismo e o Pa-
trimônio histórico e cultural permite compreender que um lugar transcende o seu valor histórico com-
provado ou reconhecido oficialmente, e entender que este bem é parte de uma complexa cadeia de
domínios e valores que envolvem os processos de apropriação e de pertencimento da população como
agente principal da história.

Palavras-chave: Sociedades Operárias; Patrimônio Cultural, Restauro Urbano.


ABSTRACT
BRENNER, Gislene. Preservação e restauro urbano no Alto São Francisco: Resgate histórico do mo-
vimento operário. 2016. Monografia (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Tecno-
lógica Federal do Paraná. Curitiba, 2016.

The present study aims to survey the urban context originated from the first Workers’ Societies of Curi-
tiba, in the period of 1880-1930, and analyze the influence they had in the development of the Historical
Sector of Curitiba, as important spaces of free and autonomous organization and interaction of the wor-
kers of the time, in the pursuit and construction of social rights that was later guaranteed with the CLT
in 1943. From this study, it is identified that the resulting urban configuration, especially in the still exis-
tent seats of these Workers’ Societies, form an architectonical and historical heritage which value must
be rescued and highlighted as part of the set of important factors in the constitution of Curitiba as a
capital and the construction of the biography of the people from Curitiba. In light of the innovations that
have been discussed and implemented in recent years, in terms of urban intervention in line with the
preservation of the cultural heritage, it is proposed not only to promote the historical recovery of the
remaining buildings of the Societies, but also to include it in the current urban context, by promoting new
uses aligned to the origin of the Societies, of entities of mutual support to the workers, as well as reha-
bilitation of the use of the surrounding public space, with a view to preserve the urban cultural landscape
formed in the Historical Center. It is concluded that, beyond just dealing with isolated architectonical
units, the dialog between Urbanism and Historical/Cultural Heritage allow us to understand that a place
transcends its historical value officially proven or recognized, and understand that this property is part
of a complex chain of domains and values that involve the processes of appropriation and belonging of
the population as the main agent of history.

Keywords: Worker’s Societies, Cultural Heritage, Urban Renovation.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Centro histórico de Curitiba ....................................................................... 12
Figura 2 - Mapa do Setor Histórico e Curitiba ........................................................... 21
Figura 3- Comparativo de verticalização do Setor Histórico ..................................... 22
Figura 4 - Mapa de calor das Unidades de Interesse de preservação do Município de
Curitiba ...................................................................................................................... 22
Figura 5 - Localização das Unidades de Interesse de preservação do Setor Histórico
de Curitiba ................................................................................................................. 23
Figura 6 - Vida noturna no Largo da Ordem .............................................................. 24
Figura 7 - Mapa Altimétrico da região ....................................................................... 24
Figura 8 - Mapa de vegetação da região ................................................................... 25
Figura 9 - Mapa de setorização da Feira do Largo .................................................... 25
Figura 10 - Belvedere e Ruinas de São Francisco .................................................... 26
Figura 11 - Mapa das Sociedades Operárias do Alto São Francisco ........................ 29
Figura 12 - Centro urbano em 1875 .......................................................................... 30
Figura 13 - Maquete de Curitiba em 1876 ................................................................. 31
Figura 14 - Operários Curitibanos ocupando o Círculo Operário durante a Greve
Geral de 17 em 22 Jul. 1917. .................................................................................... 31
Figura 15 - Operários Curitibanos durante a Greve Geral de 17 em 22 Jul. 1917. ... 32
Figura 16- Sociedade Protetora dos Operários ......................................................... 33
Figura 17 - Sociedade Giuseppe Garibaldi após restauro ......................................... 35
Figura 18 - Sociedade 13 de Maio ............................................................................ 37
Figura 19 - Sociedade Polono Brasileira Tadeusz Kosciuszko ................................. 38
Figura 20 - Sede histórica da Sociedade Morgenau. ................................................ 39
Figura 21 – Sociedade Operária e Beneficente Mercês ............................................ 40
Figura 22 - Sociedade Operária e Beneficente Abranches ....................................... 41
Figura 23 - Sociedade Beneficente dos Operários Batel. .......................................... 42
Figura 24 - Mapa do Distrito de Las Artes ................................................................. 46
Figura 25 - Distritos produtivos de Buenos Aires ...................................................... 47
Figura 26 - Mapa de Obras: Distrito das Artes .......................................................... 48
Figura 27 - Intervenções urbanas no Distrito das Artes ............................................ 49
Figura 28 - Usina del Arte: de edifício abandonado a epicentro cultural ................... 50
Figura 29 - Usina del Arte, antes e depois da intervenção ........................................ 51
Figura 30 - Área de intervenção da Operação Urbana Diagonal Sul ........................ 52
Figura 31 - Abrangência Da OUC Bairros Do Tamanduateí...................................... 53
Figura 32 - Perímetro de intervenção da OUCBT ..................................................... 54
Figura 33 - Divisão em Polos de interesse ................................................................ 55
Figura 34 - Indústrias citadas na OUC Bairros Do Tamanduateí .............................. 56
Figura 35 - Localização do Distrito Criativo de Porto Alegre ..................................... 57
Figura 36 - Elementos que compõem o Polo Cultural ............................................... 58
Figura 37 - Vila Flores – projeto de Joseph Lutzenberger ......................................... 59
Figura 38 - Cervejaria Bopp, projeto de Theo Wiederspahn ..................................... 60
Figura 39 - Residências históricas do Distrito Cultural .............................................. 60
Figura 40 - Diagrama representativo da primeira diretriz .......................................... 63
Figura 41 - Diagrama representativo da segunda diretriz ......................................... 66
Figura 42 - Diagrama representativo da terceira diretriz ........................................... 68
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
2 PATRIMÔNIO CULTURAL ................................................................................ 12
2.1 SOBRE A PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO .................... 13
2.2 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL .............................................................................. 15
3 NOVOS CONCEITOS......................................................................................... 17
3.1 PAISAGEM CULTURAL ..................................................................................... 17
3.2 URBANISMO COMO INSTRUMENTO DE SALVAGUARDA DA PAISAGEM .... 18
4 CONTEXTO URBANO DO CENTRO HISTÓRICO ............................................ 21
4.1 FEIRA DO LARGO ............................................................................................. 25
4.2 PRAÇA DOUTOR JOÃO CÂNDIDO ................................................................... 26
5 CONTEXTO HISTÓRICO DAS SOCIEDADES .................................................. 28
5.1 SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS SOCIEDADES .............................................. 28
5.2 CÍRCULO OPERÁRIO ........................................................................................ 30
5.2.1 Sociedade Operária E Beneficente Protetora Dos Operários ....................... 32
5.2.2 Sociedade Operária E Beneficente Giuseppe Garibaldi ............................... 33
5.2.3 Sociedade Operária E Beneficente 13 De Maio ........................................... 36
5.2.4 Sociedade Polono Brasileira Tadeusz Kosciuszko ....................................... 37
5.3 DIFUSÃO DAS SOCIEDADES OPERÁRIAS ..................................................... 38
5.3.1 Sociedade Operária Beneficente E Recreativa “Vila Morgenau” .................. 39
5.3.2 Sociedade Operária E Beneficente Mercês .................................................. 40
5.3.3 Sociedade Operária E Beneficente Abranches ............................................ 41
5.3.4 Sociedade Beneficente Dos Operários Batel ................................................ 42
6 PANORAMA DO ESTADO DA ARTE................................................................ 44
6.1 DISTRITO DAS ARTES – BUENOS AIRES ....................................................... 45
6.2 ANTIGAS ÁREAS INDUSTRIAIS DE SÃO PAULO ............................................ 51
6.3 DISTRITO CRIATIVO DE PORTO ALEGRE ...................................................... 56
7 DIRETRIZES GERAIS ........................................................................................ 61
7.1 PROMOVER O RESGATE HISTÓRICO DAS SOCIEDADES OPERÁRIAS ...... 62
7.2 NOVOS USOS ALINHADOS À ORIGEM DAS SOCIEDADES ........................... 64
7.3 REQUALIFICAR O USO DO ESPAÇO PÚBLICO E A PAISAGEM CULTURAL 67
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 69
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72
9

1 INTRODUÇÃO

O planejamento urbano tem papel fundamental no processo de preser-


vação e restauro cultural, na medida em que pode identificar os diferentes agentes
históricos de composição espacial de uma cidade. Para além de tratar apenas de uni-
dades arquitetônicas isoladas, o diálogo entre o Urbanismo e o Patrimônio histórico e
cultural permite compreender que um lugar transcende o seu valor histórico compro-
vado ou reconhecido oficialmente. Permite, nesta abordagem, entender que cada bem
– seja uma edificação, seja uma região da cidade, é parte de uma complexa cadeia
de domínios e valores que envolvem os processos de apropriação e de pertencimento
da população como agente principal de sua própria história.
As Sociedades Operárias Beneficentes, como parte de um grande con-
junto de fatores, carregam em sua história parte importante da constituição de Curitiba
como capital e da construção da própria biografia do povo curitibano.
Na década de 1900, o mundo vivia intenso desenvolvimento industrial,
capitaneado especialmente por Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. O Brasil tam-
bém começava a aumentar a sua indústria, desenvolvendo entre outras coisas, a rede
telegráfica, que unia os pontos mais afastados do território aos centros industriais e
intelectuais do mundo. Possuía mais de 20 mil quilômetros de estradas de ferro, na-
vegação costeira e fluvial, serviço postal aperfeiçoado.
Em novembro de 1902, a República se consolidava no Brasil, e mais do
que os equipamentos, técnicas e costumes em transformação pelo capitalismo em
ascensão, o esteio deste processo de desenvolvimento, seus principais promotores
foram as pessoas, os trabalhadores brasileiros e os muitos imigrantes, italianos, es-
panhóis, alemães, ucranianos, poloneses, que aportaram no Sul do Brasil e em Curi-
tiba nesta época.
Com a força de trabalho, estes imigrantes trouxeram também seus hábi-
tos e costumes, sua cultura e arquitetura, e junto com ela os princípios de associati-
vismo e organização coletiva, fosse para a melhoria da qualidade de vida em comum,
fosse para a luta e conquista de direitos sociais e políticos.
Neste contexto, as Sociedades Operárias surgiram com o principal obje-
tivo de auxiliar os trabalhadores em todos os setores, organizando caixas de suporte
financeiro baseadas em mensalidades e em eventos sociais que marcaram a história
da capital. Foi também o local onde o movimento operário organizado teve início, no
10

chamado “Círculo Operário“, hoje Praça Doutor João Cândido, de onde partiram as
ideias e ações que marcaram a força do povo paranaense durante décadas.
Ao propor-se a recuperar a história e o valor arquitetônico e urbanístico
das Sociedades Operárias no contexto urbano de Curitiba, este trabalho parte de uma
Fundamentação Teórica sobre a preservação do patrimônio urbano e cultural, bus-
cando levantar a situação do patrimônio de origem popular – especialmente do patri-
mônio operário no Brasil, assim como levantando conceitos sobre educação patrimo-
nial, e as novas formas de preservação atualmente em discussão no mundo, com
destaque para novos conceitos como o de Paisagem Cultural, e o papel do Urbanismo
enquanto salvaguarda do patrimônio. Desta abordagem, busca-se relacionar as con-
tribuições históricas da Arquitetura e da Restauração com aquelas próprias do Urba-
nismo através de um estudo da maturação do conceito de patrimônio urbano.
Na sequência, apresenta-se um Levantamento histórico, físico e simbó-
lico sobre a ocupação cultural e territorial de Curitiba, principalmente a partir da in-
fluência das Sociedades Operárias na conformação do tecido urbano. Apresentando
o contexto histórico relacionado ao surgimento das primeiras Sociedades, a formação
do Círculo Operário e a difusão destas organizações na cidade de Curitiba, ressalta-
se o papel do movimento operário como parte das experiências sociais plurais que
foram agentes formadoras do centro histórico e de Curitiba como um todo.
Partindo-se de uma compilação de soluções locais, urbanísticas, paisa-
gísticas e de preservação de paisagens culturais urbanas, como os Distritos Criativos
e as experiências de resgate do Patrimônio em cidades como São Paulo, Buenos
Aires e Porto Alegre, a sequência do trabalho apresenta um Panorama do Estado da
Arte relacionado ao tema, elencando intervenções urbanas que, pelo contexto e simi-
laridades em que foram implementadas, guardam identidades importantes com o de-
senvolvimento histórico de Curitiba, e permitem fornecer subsídios para a elaboração
das diretrizes gerais e de uma proposta de resgate do patrimônio histórico relacionado
às Sociedades, apresentadas nos capítulos finais do trabalho.
Considerando que Curitiba passou, ao longo de grande parte do último
século, pela construção de uma imagem de capital pacata, ordeira e livre de antago-
nismos sociais, conclui-se que este processo criou uma omissão histórica, ignorando
o passado ligado aos movimentos sociais surgidos nesta pequena região do centro
histórico. Este trabalho se propõe a resgatar parte desta história quase perdida, dis-
cutindo as relações urbanas e sociais que demarcaram historicamente esta região,
11

enquanto cenário cultural da Capital paranaense, e definindo diretrizes e propostas


dedicadas a promover intervenções urbanísticas que – ao mesmo tempo em que va-
lorizem o patrimônio edificado das Sociedades Operárias, também busquem restituir
os vínculos entre a identidade histórica destas edificações e a dinâmica, valores e
cultura atuais da cidade.
12

2 PATRIMÔNIO CULTURAL

O Patrimônio Cultural é importante para a compreensão da identidade


histórica de uma nação, de uma região ou de uma comunidade é composto de todas
as expressões materiais e espirituais que lhe constituem, incluindo o meio ambiente
natural, para que os seus bens não se desarmonizem ou desequilibrem, e para manter
vivos os usos e costumes populares de uma determinada sociedade.

Figura 1 - Centro histórico de Curitiba

Fonte: Felipe Neves (2016)

Todo o meio ambiente alterado por uma comunidade para atender às


suas necessidades de vivência pode ser compreendido como o patrimônio cultural
deste grupo (Figura 1) e sua preservação é de fundamental importância para a me-
mória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas.

“Entende-se por patrimônio artístico nacional todas as obras de arte pura ou


de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira, pertencentes ao
poder público, a organismos sociais, a particulares nacionais, e a particulares
estrangeiros residentes no Brasil”. Esse conceito, definido por Mario de An-
drade, inédito para a época, modificou toda uma forma de pensar da socie-
dade em relação à importância da preservação histórica nacional. Através de
seu trabalho, ele conseguiu polemizar o tema e dar os primeiros passos para
a conscientização popular. (LEMOS, 1987, p.25)

O escritor, impulsionado pela campanha publicitária intitulada “Contra o


vandalismo e o extermínio”, realizada por Paulo Duarte em 1937, que denunciava o
precário estado dos prédios históricos, conseguiu a aprovação para a surgimento de
13

um novo órgão vinculado a proteção de monumentos nacionais da destruição ocasio-


nada por quaisquer reformas urbanas, sendo assim pioneiro de outras leis de prote-
ção, como a do tombamento que constitui uma das maneiras de preservação mais
amplamente praticada. Mas, ainda segundo o IPHAN, a preservação pode se dar por
uma via distinta, o da conscientização, através de atividades que gerem a percepção
da própria comunidade da necessidade de manutenção, seja da cultura, das obras e
documentos históricos ou da arquitetura, que também pode ser guiado pelo Estado.
Conforme Ruskin (2013), há dois deveres em relação a nossa arquite-
tura nacional, cuja importância é impossível superestimar: o primeiro, tornar a arqui-
tetura atual histórica; e o segundo, preservar como a mais preciosa de todas as he-
ranças, aquela das épocas passadas. Concepção que hoje pode ser renovada e am-
pliada para cada conjunto de bens ou até manifestações culturais reconhecidamente
expressivas.
Estes bens representam um determinado processo cultural que é resul-
tado de uma combinação única da mistura entre condições ambientais e sociais ca-
racterísticas e próprias de cada povo. “O patrimônio é a nossa herança do passado,
com a qual convivemos hoje, e que passamos às gerações futuras. E, através da pre-
servação deste patrimônio, se exerce a cidadania. ” (IPHAN, 2007). Ao se compreen-
der a singularidade deste processo e de suas materializações como definidores da
identidade de um determinado grupo de pessoas compreendemos também a signifi-
cância de preservação da nossa história através da preservação dos lugares onde ela
foi escrita.

2.1 SOBRE A PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO

Uma das principais características de um patrimônio é que o seu reco-


nhecimento e conservação sejam de interesse público, seja pela sua vinculação a
fatos memoráveis da história do lugar e de seu povo, seja pelo seu valor arqueológico,
etnográfico, bibliográfico ou artístico memoráveis. Segundo Rufinoni (2013, p.27),
“para defendermos a preservação de parcelas urbanas culturalmente significativas, é
necessário, inicialmente, que compreendamos com clareza por que tais artefatos nos
são caros e quais os atributos ou valores responsáveis pela sua caracterização cultu-
ral”.
14

A concepção de Patrimônio não existe isolada, mas em relação a algo


que represente um contexto maior, envolvendo parcelas de uma sociedade e tendo a
clareza de qual herança cultural se pretende conservar. Pensar em preservação de
uma herança cultural remete ao surgimento dos patrimônios clássicos que inclina-se
sempre a mostrar a história contada por aqueles que têm interesse nela. Durante toda
a história da humanidade foi assim: a divisão da sociedade, com a proteção de classes
proprietárias e, consequentemente, a exclusão das demais. Assim também, ocorre
com a escolha dos patrimônios históricos, que geralmente exprimiu a cultura daqueles
que “controlam” a sociedade.
O historiador francês Jacques Le Goff discute a memória coletiva na
perspectiva da luta social, onde observa que

...a memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças
sociais pelo poder. Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma
das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que do-
minaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silên-
cios da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da me-
mória coletiva (LE GOFF, 2012, p. 408).

No brasil o cenário foi consoante com esta concepção até final da dé-
cada de 1970, a política de preservação tinha caráter político e elitista, apenas a partir
da década seguinte o conjunto dos movimentos sociais começa a lentamente mudar
esse cenário, E buscando maior democratização do país os segmentos excluídos da
sociedade começam a ter seu espaço e reconhecimento de contribuição para a for-
mação desta. Importantes momentos da história foram sendo, então, descobertos.
Nesse aspirado sentido, o patrimônio cultural passa a ligar-se à

[…] memória social, propiciando a inclusão de bens materiais, como fábricas


e residências operárias, antes impossível no conjunto de bens tombados,
eleitos, até então, por critérios que, no caso das edificações, consideravam
apenas a excepcionalidade material e o valor histórico, este ainda baseado
no que a História registrara a respeito dos grandes personagens e grandes
fatos nacionais (RODRIGUES, 2002).

Observa-se a historicidade da memória nesse processo que reflete, atra-


vés de sua mutabilidade, as relações políticas e valorização que se dá ao passado
pela sociedade. Ainda segundo Rodrigues (2002), a memória social será tão mais
significativa quanto mais representar o que foi vivido pelos diversos segmentos sociais
e quanto mais mobilizar o mundo afetivo dos indivíduos.

Trata-se da capacidade dessa “arte magnificamente humana da arquitetura”


de exprimir o “sofrimento e ira da vida, sua tristeza e seu mistério”; e é a ela
15

que Ruskin se refere em várias de suas passagens sobre as moradas dos


homens bons e a importância da preservação da arquitetura “menor”, que se
identifica com a pequenez honrada das vidas humanas; o que não cabe à
beleza pura. (PINHEIRO apud RUSKIN, 2013, p.26)

Assim, as referências artísticas e culturais que poderiam memorar a


identidade e o passado das classes populares, ficaram completamente desconsidera-
das e apenas recentemente passamos a observar que as noções sobre o espaço ur-
bano, a cultura e o passado, foram ganhando outro aspecto e interferindo na interpre-
tação do que pode ser considerado patrimônio. Tal mudança engloba outras possibi-
lidades que superaram o interesse oficial do Estado e das regras impostas pela cultura
erudita seja no crescente acervo reconhecido de patrimônio imaterial, seja no já legi-
timado conjunto do patrimônio arquitetônico.

2.2 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

A efetivação de um bem ou conjunto de bens patrimoniais só acontece


quando abrange a recriação e ressignificação da memória coletiva no presente. Am-
pliar esse universo é a tarefa central das políticas que tratam da preservação e pro-
dução de patrimônios coletivos e reforça o significado da participação da sociedade
que o produziu reconhecendo a premissa atribuída a Albert Einstein, e repetida pela
sabedoria popular, que nos ensina que “Tudo aquilo que o homem ignora, não existe
para ele. Por isso o universo de cada um, se resume no tamanho de seu saber”, e a
nós, cabe o papel de ampliar esse universo individual para que nele possa ser conso-
lidado o conhecimento do seu passado e que isso sirva de instrumento para entender
seu presente e modificar seu futuro.
Le Goff (2012) apresenta a memória coletiva como “um instrumento e
um objeto de poder”:

[…] a memória coletiva é não somente uma conquista, é também um instru-


mento e um objeto de poder. São as sociedades cuja memória social é, so-
bretudo, oral, ou que estão em vias de constituir uma memória coletiva es-
crita, aquelas que melhor permitem compreender esta luta pela dominação
da recordação e da tradição, esta manifestação da memória (LE GOFF, 2012,
p. 456).

As posições defendidas por Le Goff nos levam a uma profunda reflexão


sobre a questão do domínio da memória como uma luta de classes, com a imposição
de uma memória coletiva que privilegia as classes elitistas em detrimento das demais.
16

Resta-nos investigar quais os interesses forjados por trás dessa seleção de memória
e os silêncios que tais manipulações de memória buscam esconder.
Existe uma estreita relação entre o conhecimento intelectual e o conhe-
cimento afetivo, ou seja, a identificação, no patrimônio, de valores que nos permitam
reconhecê-lo com um bem. Para Marilena Chauí apud PMSP (1992, p. 39), “a memó-
ria, numa sociedade que exclui, domina, oprime, oculta os conflitos e as diferenças
sob ideologias da identidade, é um valor, um direito a conquistar”. Assim o conheci-
mento crítico e a apropriação consciente da comunidade sobre o seu patrimônio são
fundamentais para assegurar seu exercício da memória e da cidadania e para tanto é
necessário um processo de apropriação histórica, aprofundamentos teóricos e práti-
cas educativas num processo permanente e dialético.
Este sistema traduz-se em valorização da cultura brasileira, de forma
múltipla e plural e gera um processo de autoestima em indivíduos e comunidades, que
passam a reconhecer como expressiva a sua própria história. “Nessa perspectiva, dis-
cutir a história dos movimentos sociais no nosso estado é uma grande iniciativa para
reverter essa omissão histórica, desqualificando a construção daquela imagem de Cu-
ritiba ordeira, pacata, moderna e sem antagonismos sociais” (BARZ apud FONSECA
& GALLEB, 1996, p.102) a que somos condicionados a acreditar.
Segundo o IPHAN, a preservação pode se dar por duas vias distintas, o
da conscientização, através de atividades que gerem a percepção da própria comuni-
dade da necessidade de manutenção, seja da cultura, das obras e documentos histó-
ricos ou da arquitetura; ou pelo tombamento, ou seja, a ação direta do Estado.
17

3 NOVOS CONCEITOS

O amadurecimento de novas iniciativas afastou gradualmente a intepre-


tação patrimonial dos espaços museológicos e limitadas a intervenções isoladas e
passa a compreender os espaços territoriais como documento vivo, passível de leitura
do tecido urbano e a atribuição de valor histórico, estético e memorial.

O Iphan tem empreendido importante esforço no sentido de se reposicionar


no quadro nacional, deixando de ser uma instituição taxada de acadêmica,
elitista e burocrática para reassumir um papel proativo na política de preser-
vação do patrimônio cultural. Esta visão vem, assim, ao encontro de um mo-
vimento internacional, onde órgãos como a UNESCO e o ICOMOS já vinham
cunhando entendimentos e trabalhando com conceitos como de paisagem
cultural, itinerários e territórios culturais e espírito dos lugares. (IPHAN, 2011)

Progressivamente tem se buscado em todo pais preencher lacunas na


memória coletiva combinando os bens culturais com os processos econômicos de
maneira equilibrada, promovendo inventários temáticos e territoriais sem refrear o pro-
cesso evolutivo natural de uma civilização, porém considerando fatos históricos e re-
giões geográficas que fizeram a fazem parte da história de construção do país.

3.1 PAISAGEM CULTURAL

Em consonância com essa busca por atualização e modernização o


Iphan instituiu a Portaria 127/2009 que estabeleceu a chancela de Paisagem Cultural
como um novo instrumento de preservação que compreende a Paisagem Cultural Bra-
sileira como “uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo
de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana impri-
miram marcas ou atribuíram valores” (IPHAN, 2011).
Importante observar que Mario de Andrade, na sua proposta inicial ao
recém-criado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, já ante-
cipava alguns conceitos sobre paisagens culturais como "lugares agenciados de forma
definitiva pela indústria popular, como vilarejos lacustres vivos na Amazônia, tal morro
do Rio de Janeiro" (ANDRADE, 1981, apud LEMOS, 1985, p. 45).
Os principais conceitos e ideias referentes a paisagem cultural como re-
corte de todo espaço geográfico alterado pela ação antrópica em uma porção particu-
lar do território nacional tem em comum referências fundamentais a Convenção Rela-
tiva à Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Unesco, aprovada em
18

1972 e a resolução do Comitê do Patrimônio Mundial, de 1992, que reconheceu “as


interações significativas entre o homem e o meio natural” como paisagens culturais.
Para TORELLY (2008), são as paisagens representativas do processo
de relação do homem com o meio, à qual a vida e a ciência humana infundiram marcas
ou conferiram valores que expressão as transformações sofridas pelas atividades hu-
manas resultando num grande número de combinações e oportunidades, aprovei-
tando o caráter dialético e evolutivo que uma paisagem pode exprimir.

Nestes casos, especialmente das paisagens urbanas de caráter metropoli-


tano, que abrigam grandes populações, a existência de coesão social e de
um pacto de gestão, entre os diversos agentes envolvidos, são essenciais
para o êxito da aplicabilidade do instrumento. Seja do ponto de vista da pre-
servação, seja do ponto de vista do desenvolvimento socioeconômico e prin-
cipalmente da explicitação do “espírito do lugar”, dimensão imaterial que ca-
racteriza as manifestações culturais e comportamentos arquetípicos de uma
comunidade. (TORELLY, 2008)

A efetiva instauração da “Paisagem Cultural” como instrumento de pre-


servação faz parte de um esforço mundial promotor de maneiras para repensar e am-
pliar os conceitos e a importância do patrimônio, passando por procedimentos relata-
dos com a tentativa de contribuir para a formação de perfis profissionais reflexivos
sobre a função social da arquitetura da cidade e sensíveis à complexidade do quadro
de carências da vida urbana e de sua aplicabilidade, compreendendo o reconheci-
mento do território como tal pela população e pelos agentes públicos envolvidos, para
a consequente aplicação de políticas públicas que garantam desenvolvimento e regu-
lação convenientes.

3.2 URBANISMO COMO INSTRUMENTO DE SALVAGUARDA DA PAISAGEM

Em geral, as questões relacionadas à cidade foram tratadas com instru-


mentos do Planejamento Urbano, sendo pautadas principalmente por questões de or-
dem prática e sanitárias:

A proliferações de epidemias, o congestionamento das cidades, a inexistên-


cia de regras para o uso dos terrenos e até mesmo o tratamento de detritos
e contaminação dos rios ocupavam o centro dos debates e impulsionavam a
elaboração dos primeiros relatórios sanitários, de propostas legislativas e in-
tervenções práticas sobre o tecido urbano preexistente. (RUFINONI, 2013 p.
77)

Inspiradas no conjunto de reformas promovidos em Paris a partir da dé-


cada de 1950, incontáveis cidades passaram a promover processos similares, nem
19

sempre com a mesma efetividade, mas quase sempre em detrimento da construção


histórica dos centros urbanos desconsiderando uma discussão mais profunda entre
causa e efeito das ações na realidade urbanística local.
O planejamento urbano passa a ter a responsabilidade de combinar tais
ações, necessárias ao desenvolvimento e progresso implacáveis, com a preservação
e restauro urbano e garantir que temas ora solidários, ora antagônicos caminhem na
mesma direção, tarefa que exige a ampliação de estudos urbanos e a transformação
da cidade antiga e o seu contraste com as demandas atuais em objetos de estudo e
investigação passando a interpretar

o conteúdo da urbanística segundo uma concepção que, a partir da insistente


tentativa de coordenar todos os conhecimentos do saber em uma visão geral,
em uma consciência sintética do universal, englobava os aspectos multifor-
mes da vida social, nascendo assim, uma concepção unitária da estrutura da
cidade. (GONSALES, 2005)

Para Lynch (1997), as preocupações dessa dinâmica, sobre a qual os


arquitetos e urbanistas pretendem certo controle através das práticas de planeja-
mento, refletem uma busca pela construção de um ambiente com qualidade estética,
funcionalidade e legibilidade. E ainda que esse tema não seja intrínseco ao habitual
conceito de políticas públicas de necessidade básica ele representa uma síntese dos
problemas que promove a inviabilidade urbana de centros históricos, amplia a desi-
gualdade social através de programas de gentrificação travestidos de promessas de
revitalização e consequentemente viola o direito à cidade e à plena cidadania.
Choay (2001) observa que a contraposição das cidades do passado e
do presente não significarão o desejo de conservação, pelo contrário:

Quer o urbanismo se empenhasse em destruir os conjuntos urbanos antigos,


quer procurasse preservá-los, foi justamente tornando-se obstáculo ao livre
desdobramento de novas modalidades de organização do espaço urbano que
as formações antigas adquiriram sua identidade conceitual (CHOAY, 2001 p.
179)

A contribuição dos códigos contidos nas culturas locais e na sua influên-


cia às realizações urbanísticas moldaram o desenho urbano dos centros históricos, e
o reconhecimento desse complexo conjunto de características é essencial para a for-
mulação de propostas que assegurem a efetivação da chancela de patrimônio, bus-
cando garantir que as áreas de preservação do patrimônio, restauro e planejamento
urbano e territorial deixem de agir como instâncias desvinculadas de forma isolada e
passem a atuar de forma coordenada através de instrumentos integrados garantindo
20

a identidade da paisagem urbana como lugar de referência para notáveis parcelas de


habitantes.
Na arquitetura e urbanismo, a compreensão da paisagem também per-
corre esse processo de construção que envolve o homem e o meio em que ele está
inserido, buscando incluir o ser humano e a cultura local no processo de investigação
urbana para o desenvolvimento do projeto de restauro urbano, promovendo assim
estratégias de planejamento e prática que pode ser a força motriz para se respeitar a
integridade dos centros históricos e demais sistemas culturais onde a paisagem ur-
bana se transforma em um espaço apropriado pelo homem, que o constrói, o usufrui
e o transforma cotidianamente permitindo a inclusão e a proteção do patrimônio a ser
transmitido às gerações futuras.
Nesse cenário, segundo Rufinoni (2013, p. 124), o restauro somava-se
ao urbanismo, na tarefa de investigação e apreensão desse complexo objeto urbano,
denominada por Bonelli de ‘restauro urbano’.

Como conseqüência o restauro, enquanto operação crítica direta ao entendi-


mento e à conservação, investe e compreende em seu próprio campo o in-
teiro ambiente urbano e toda a cidade antiga, transformando-se em ‘restauro
urbano’. E essa transformação é marcada por uma correspondente amplia-
ção de conceitos: se no restauro arquitetônico (que trata obras de arte ou
expressões individuais de linguagem) pela absoluta exigência expressiva que
requer o destacamento da realidade pura daquela existencial, o uso prático e
a função do edifício não podem influenciar sobre o juízo crítico e portanto
determinar o modo do restauro, no restauro urbano (que trata o ambiente ur-
bano) intervém a relação entre figuração e motivo prático, na qual ambos os
termos formam objeto de avaliação. Nos chamados centros históricos, que se
configuram segundo a espontânea atitude da força vital guiada pela coerência
interna, este impulso de vitalidade, compenetrato na forma e fundido nela,
não constitui mais realidade prática, mas vida traduzida em forma e forma
impregnada de vida; e é em tal complexa realidade histórica e sub-histórica
que o restauro deve incidir. (BONELLI, 1963, apud RUFINONI, 2013 p. 124).

Os Centros Históricos têm sido estudados sob essa ótica e protegidos


enquanto estruturas patrimoniais que testemunham a memória coletiva e que configu-
ram a identidade cultural das comunidades, origem do desenvolvimento das caracte-
rísticas de morfologia urbana, do seu edificado e na apropriação do espaço por parte
da população. Neste contexto, o conceito de centro histórico tem uma forte carga sim-
bólica, encarregados de transmitir às novas gerações seu testemunho histórico.
21

4 CONTEXTO URBANO DO CENTRO HISTÓRICO

O Município de Curitiba definiu através de sua Lei de Zoneamento a par-


cela do território considerada como Setor Histórico (Figura 2) regulamentando assim
o uso do solo nessa região especifica do território e forçando os novos projetos e
intervenções a serem avaliados individualmente garante a relação entre a preserva-
ção do patrimônio e a questão urbana, de forma que o desenvolvimento da região seja
compatibilizado com a manutenção do contexto histórico.

Figura 2 - Mapa do Setor Histórico e Curitiba

Fonte: CURITIBA, 2000.

A grande quantidade de novas construções e intervenções sofridas após


essa regulamentação tem atendido as diretrizes estabelecidas no Decreto 185.2000,
que dispõe sobre os critérios de uso e ocupação do solo no setor especial histórico,
como número máximo de pavimentos a ser construído limitado em três ou quatro (Fi-
gura 3), no Subsetor 1 e 2, respectivamente ou o alinhamento predial próximo à rua,
característica comum das primeiras edificações da região. São considerados também
nesse decreto o entorno do bem tombado pelo Estado ou União, demonstrando a
preocupação com a dimensão urbana adquirida pelo patrimônio histórico ao se relaci-
onar com praças e demais edifícios que fazem parte de sua composição.
22

Figura 3- Comparativo de verticalização do Setor Histórico

Fonte: Google Earth, 2016.

A Regional Matriz de Curitiba comporta a maioria dos imóveis caracteri-


zados como Unidades de Interesse de Preservação – UIP, e uma grande parcela de-
les está localizada no Setor Histórico (Figura 4) e (Figura 5), demandando grande
empenho municipal, seja com investimentos diretos, políticas de incentivo ou parce-
rias com a iniciativa privada para a preservação da região.

Figura 4 - Mapa de calor das Unidades de Interesse de preservação do Município de Curitiba

Fonte: Rafael Perich, 2016.


23

Figura 5 - Localização das Unidades de Interesse de preservação do Setor Histórico de Curitiba

Fonte: Rafael Perich, 2016.

Para o Município de Curitiba, “são considerados imóveis de valor cultu-


ral, histórico ou arquitetônico aqueles que fizerem parte da memória histórica ou cul-
tural de Curitiba e contribuírem para a preservação da paisagem urbana tradicional da
cidade. ” (CURITIBA, 1991). Incluindo nesse rol edificações de origem popular, vistas
por grande parcela da população como passível de destruição por seu normal estado
de abandono, e que demonstram potenciais quase inesgotáveis de transformação não
justificando sua destruição, em grande parte dos casos. Estas edificações oferecem
uma grande diversidade de possibilidades prevendo a implementação de novos usos,
geradores de vivacidade e afastando gradativamente a imagem negativa que recor-
rentemente acompanha os centros históricos.
A ampliação no uso é uma forma de manter a comunidade local ligada
as suas origens e o centro histórico, proporcionando um constante processo de revi-
talização, como acontece na região do Largo da Ordem onde diversas edificações
históricas acabam por fazer parte do dia-a-dia da comunidade, seja como centros cul-
turais, bares, restaurantes, lojas, museus e teatros, possibilitando uma vida noturna
bastante agitada (Figura 6) e é amplamente conhecido como bairro boêmio de Curi-
tiba.
24

Figura 6 - Vida noturna no Largo da Ordem

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Além das potencialidades turísticas da região as características físicas


do território como o relevo (Figura 7) e a vegetação (Figura 8) contribuem para a di-
versificação dos espaços. Estes aspectos apoiam a ideia de permanência e valoriza-
ção de elementos e circunstâncias singulares, entendidos como determinantes para a
manutenção da integridade da paisagem e propiciam, por exemplo, a apreciação de
visuais panorâmicas do centro histórico bastante interessantes que podem ser trans-
formadas em uma extensão do espaço concreto.

Figura 7 - Mapa Altimétrico da região

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.


25

Figura 8 - Mapa de vegetação da região

Fonte: Elaborado pela autora sobre imagem aérea, 2016.

4.1 FEIRA DO LARGO

A região abriga durante as manhãs de domingo a maior feira livre do


município, a Feira de Arte e Artesanato do Largo da Ordem, ou apenas Feirinha do
Largo, como é popularmente conhecida, disponibiliza uma grande variedade de pro-
dutos como artesanatos, objetos de decoração, brinquedos, antiguidades, pinturas,
livros e discos usados além de um grande número de artistas que realizam suas apre-
sentações culturais ao público presente no local.

Figura 9 - Mapa de setorização da Feira do Largo

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.


26

Além da grande variedade de produtos expostos ao longo das ruas prin-


cipais, parte da região também é dividida em setores menores, especializados em
alguns tipos de produtos (Figura 9), de maneira em que o frequentador possa passear
sem pressa pelos corredores formados pelas barracas ou encontrar o que procura
rapidamente. Exemplo disso, a região do Largo da Ordem, propriamente dita, desti-
nada a gastronomia, oferecendo uma grande variedade de comidas típicas de várias
regiões, especialmente das etnias que deram origem a formação da cidade, com-
pondo parte do cenário de oito quadras e mais de mil barracas que reúne uma média
de 15 mil pessoas que percorrem o local a cada domingo (GUIA TURISMO CURITIBA.
2016).

4.2 PRAÇA DOUTOR JOÃO CÂNDIDO

A praça, localizada eu um dos pontos mais altos da antiga área urbani-


zada da cidade começou a ser ocupada pela Ordem Franciscana, que iniciou a cons-
trução do seu convento que, apesar de nunca concluída, guarda em suas ruínas (Fi-
gura 10) um importante marco histórico do município, inclusive originando a denomi-
nação da região como Alto São Francisco. Anexo às Ruinas, estão as Arcadas de São
Francisco, um conjunto que abriga pontos comercias e culturais, principalmente gale-
rias de arte e antiquários sob uma cobertura que forma um anfiteatro ao ar livre, e
estabelece um espaço cultural democrático e bastante frequentado da cidade que já
recebeu apresentações de música, dança e teatro.

Figura 10 - Belvedere e Ruinas de São Francisco

Fonte: Washington Takeuchi, 2009.


27

A Praça cedeu espaço novamente em 1915 para a edificação de um


mirante, ou Belvedere (Figura 10), nome escolhido em consonância com o estilo ar-
quitetônico da edificação, o exemplar curitibano do Art Nouveau já serviu como sede
de diversas atividades, como uma emissora de rádio, observatório astronômico e a
sede da União Cívica Feminina Paranaense. Quando essa encerrou suas atividades
no local, ele passou por um longo período de abandono, culminado em uma série de
reclamações da população do entorno (GAZETA DO POVO, 2014). Fatos que moti-
varam o poder público a fazer uma nova série de tentativas de uso até o recente pro-
jeto da Prefeitura Municipal para nova reforma e consequente instalação de um café
no local, acompanhada da revitalização da praça. (GAZETA DO POVO, 2015).
O fato da praça ser uma das duas tombadas pelo Patrimônio Cultural do
estado – a outra é a Praça Eufrásio Correia – não lhe garantiu o direito de um uso
adequado nem da efetiva apropriação da comunidade. Além das precárias condições
impostas pelo abandono e consequente vandalismo dos seus principais atrativos tu-
rísticos, a praça cria uma barreira entre a região revitalizada e bastante utilizada pela
população e a parte mais alta e ainda degradada do centro histórico.
28

5 CONTEXTO HISTÓRICO DAS SOCIEDADES

Na década de 1900, o mundo vivia intenso desenvolvimento industrial,


capitaneado especialmente por Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. O Brasil tam-
bém começava a aumentar a sua indústria, desenvolvendo entre outras coisas, a rede
telegráfica, que unia os pontos mais afastados do território aos centros industriais e
intelectuais do mundo. Possuía mais de 20 mil quilômetros de estradas de ferro, na-
vegação costeira e fluvial, serviço postal aperfeiçoado.
Em novembro de 1902, a República se consolidava no Brasil, e assumia
um governo composto pelo presidente Rodrigues Alves e o vice-presidente Dr. Afonso
Pena (República Café com Leite). O Paraná nessa época era governado pelo Dr. Vi-
cente Machado da Silva Lima e pelo vice-governador João Cândido Ferreira.
Nessa época, a base da economia do Estado era a industrialização do
pinheiro e da erva mate, apesar das crises sucessivas que enfrentava no seu instável
mercado. Em 1902 o mate representava ainda 31% do orçamento do estado. Outros-
sim, a indústria de manufaturas dava seus primeiros passos para o desenvolvimento.
As maiores fábricas do estado eram de fósforos, sabão, velas massas alimentícias e
cerâmica nos arredores da capital.
Mais do que os equipamentos, técnicas e costumes em transformação
pelo capitalismo em ascensão, o esteio deste processo de desenvolvimento, seus
principais promotores foram as pessoas, os trabalhadores brasileiros e os muitos imi-
grantes, italianos, espanhóis, alemães, ucranianos, poloneses, que aportaram no Sul
do Brasil e em Curitiba nesta época. Esta imigração ocorreu primeiramente em função
da demanda e incentivos adotados pelo governo brasileiro com o fim do tráfico inter-
nacional de escravos (1850), sendo ampliado depois pela expansão da economia.
Junto com a força de trabalho, estes imigrantes trouxeram também seus
hábitos e costumes, sua cultura e arquitetura, e junto com ela os princípios de associ-
ativismo e organização coletiva, fosse para a melhoria da qualidade de vida em co-
mum, fosse para a luta e conquista de direitos sociais e políticos.

5.1 SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS SOCIEDADES

Com esse desenvolvimento industrial no Paraná temos o surgimento da


classe operária, que não tarda a começar a se organizar em sociedades beneficentes
29

organizadas civil e juridicamente, algumas de acordo com as profissões que exercem,


pela nacionalidade e outras ainda formadas pelo mesmo local onde residem.
Os fundadores, sempre provenientes da classe operária, mostravam ali
o espirito visionário de seus organizadores, que davam um salto e propiciavam ali
além de benefícios financeiros em momentos difíceis uma vida social e cultural que
integrava e concedia o pertencimento a população local.
As finalidades das sociedades iam muito além do caráter recreativo, an-
gariavam fundos entre os associados e em atividades sociais para fins de pecúlio,
especialmente auxilio doença e auxilio funeral aos seus associados.
Ao contar a trajetória da cada uma delas, também é contada a história
da formação da cidade de Curitiba, sua relevância arquitetônica e cultural é indiscutí-
vel, elas permeiam a história do povo e da cidade, cada curitibano guarda uma história
de relação com as sociedades, com o seu aspecto urbano, social, cultural e histórico.

Figura 11 - Mapa das Sociedades Operárias do Alto São Francisco

Fonte: Elaborado pela Autora

As Sociedades Operárias, que existiram em grande número na capital


paranaense, referem-se à história do povo que, através do Movimento Operário, des-
pontou como ator principal das lutas e das conquistas obtidas pelos trabalhadores a
partir do final do século XIX. As sedes ainda existentes (Figura 11) constituem-se,
portanto, em um patrimônio histórico e arquitetônico cujo valor precisa ser resgatado
e destacado. Entretanto, devido ao formato exclusivo da legislação sobre patrimônio,
muitas delas não são tombadas e algumas padecem no esquecimento e indiferença.
30

Muitas já ruíram, e delas apenas são guardadas as memórias. Felizmente outras tra-
çaram caminhos mais felizes, e comportam uma vida agitada, especialmente dentro
da agenda cultural.

5.2 CÍRCULO OPERÁRIO

Situado já fora dos limites urbanos da cidade1 (Figura 12 e Figura 13),


no entorno de onde hoje está a Praça Doutor João Cândido, o Círculo Operário agru-
pava uma grande quantidade de entidades representativas da classe trabalhadora,
fosse por nacionalidade de origem ou por categoria de trabalho. Essa proximidade
geográfica e de ideais garantiu a força necessária para questionar e ousar mudar a
tendência segregadora do progresso e inclui-las como classe social.

Figura 12 - Centro urbano em 1875

Fonte: Elaborado pela autora com base na descrição do IPPUC, 2016.

1 Segundo descrição do IPPUC, em 1875, oito anos antes do surgimento oficial da primeira sociedade,
o centro urbano era delimitado pelas seguintes ruas: Rua do Saldanha (atual Rua Presidente Carlos
Carlos Cavalcanti), Rua Fontana (atual Rua Presidente Faria), Largo do Moura (atual Praça Santos
Andrade), Rua do Comércio (atual Rua Mal Deodoro), Rua Nova (anterior Rua da Assembléia e atual
Rua Dr Muricy), Largo do Rosário (atual Praça Garibaldi) e Rua da Ordem (atual Rua Mateus Leme).
(PMC, 2012-2013)
31

Figura 13 - Maquete de Curitiba em 1876

Fonte: Foto da Autora da Maquete de Curitiba, parte integrante do

acervo do Museu Paranaense, 2016

Hoje, quem passa pela Sociedade Garibaldi ou pela Sociedade Beneficente


Protetora dos Operários certamente ignora completamente que elas foram
alguns dos palcos de uma guerra (nada surda) para sufocar os trabalhadores,
seus anseios e reivindicações. (CAMARGO, 20013)

Figura 14 - Operários Curitibanos ocupando o Círculo Operário durante a Greve Geral de 17 em 22


Jul. 1917.

Fonte: Acervo da Casa da Memória, Coleção Julia Wanderley

apud FONSECA & GALEB, 1996 p. 103.


32

Desse modo, é pela necessidade de resistir a este modelo de desenvol-


vimento que a massa operária ocupou um espaço de debate e formação significativo.
Tratavam-se de ações engajadas (Figura 14) que se desenvolviam a partir da união e
da organização dos operários. Este discurso, que denunciava o confronto entre as
classes e as relações sociais nas primeiras décadas do século XX, constituía uma
forma de fazer política que tinha nas sociedades um importante espaço para expres-
são das ideias de militantes anarquistas e socialistas, entidades operárias e de mili-
tantes aliados da classe, entre as quais, consideramos importante destacar:

5.2.1 Sociedade Operária e Beneficente Protetora dos Operários

Foi a primeira das sociedades criadas na capital paranaense, já em 1883


tinha o objetivo de amparar e mobilizar os operários. A edificação imponente reforçou
o Alto São Francisco como endereço das lutas do operariado, sendo ponto de partida
de inúmeras passeatas e greves que marcaram a história da cidade. O movimento
organizado teve início entre as paredes idealizadas e construídas pelo pedreiro Bene-
dito Marques, e dela ganhou a cidade, como na greve geral de 17 (Figura 15), a maior
greve que se tem notícia na primeira metade do século XX no Brasil. Esta greve mos-
trou não só a capacidade de organização dos trabalhadores, mas também que uma
greve geral era possível, especialmente em uma época em que as reivindicações tra-
balhistas eram tratadas como caso de polícia esta greve paralisou a força de trabalho
na capital exigindo melhores condições.

Figura 15 - Operários Curitibanos durante a Greve Geral de 17 em 22 Jul. 1917.

Fonte: FONSECA e GALEB, 1996 p. 106.


33

A partir deste momento a classe operária seguiu lentamente acumulando


forças, sem nunca deixar de prestar o auxílio de pecúlio e doença aos trabalhadores
além de manter aulas noturnas para a qualificação dos seus associados.
Foi no final do século XX que o velho prédio encontrou um destino mais
festivo, quando passou de seus bailes familiares para os não tão familiares carnavais
(Figura 16). Mas foi quase por acaso, do lado de fora dos seus disputados salões que
nasceu uma de suas marcas mais particulares, quando num desfile improvisado três
travestis receberam faixas de rainha, 1ª e 2ª princesas. Ali nasceu o “Gala Gay” baile
popular e desfile democrático, que recebia candidatos do Brasil inteiro durante o Car-
naval e que lhe valeu o apelido de "Ópera Rio".

Figura 16- Sociedade Protetora dos Operários

Fonte: Estado do Paraná, 1986

Após um incêndio em 2000, teve sua estrutura e grande parte do seu


acervo destruído e hoje constitui um dos mais frágeis elementos deste estudo. Situado
numa área nobre da cidade, mantém pouco mais que a sua fachada ainda como relato
deste tempo de luta e de glórias de muitas gerações de curitibanos.

5.2.2 Sociedade Operária e Beneficente Giuseppe Garibaldi

A imigração italiana, de forma ordenada, tem início a partir de 1875 no


Paraná, constituindo a princípio algumas colônias no Litoral paranaense, como a Co-
lônia Alexandra, Maria Luiza e Nova Itália, mas sofreram dificuldades de aclimatação
34

com a terra e o clima, e foram gradualmente subindo ao planalto e para regiões mais
ao sul. Em 1882, quando morre na Itália Giuseppe Garibaldi 2 Curitiba já contava com
uma numerosa comunidade italiana, que aspirou construir um monumento à Garibaldi,
o herói dos dois mundos. A iniciativa foi proibida por ordem do império, cuja família
era alvo da luta de Garibaldi na Europa.
Surge então a ideia de construir uma escola ou sociedade que perpetu-
asse o nome do grande líder e ao mesmo tempo atendesse às necessidades dos
colonos, influindo na permanência dos colonos na capital, em lugares que já vinham
ocupando no Pilarzinho, em Santa Felicidade, na Água Verde e outros. A Sociedade
teve grande apoio de figuras influentes da sociedade curitibana, pois todos entendiam
a necessidade da permanência dos imigrantes como fato primordial à política desen-
volvimentista.
O terreno para a construção foi doado pela Câmara Municipal, fora do perímetro ur-
bano e a sede já foi planejada em estilo grandioso, para se tornar uma construção
marcante da colonização italiana no Estado do Paraná. Sua pedra fundamental foi
lançada em julho de 1887 e a construção contou com a participação de todos os as-
sociados, tanto na contribuição financeira como em dias de trabalho. A fachada mo-
numental, projeto do arquiteto João de Mio só foi concluída no ano de 1932 (Figura
17).
A sociedade sempre participou ativamente dos acontecimentos cívico-
sociais de nossa terra. Além do ideal republicano, expresso pela escolha do seu pa-
trono, ela foi filiada à federação Abolicionista do Paraná e comemorou o 13 de maio
com uma grande festa. Colaborou com campanhas durante a 1ª Grande Guerra, fa-
zendo festas em benefício da Cruz Vermelha. Mas foi sem dúvida, em 1906, ao sediar
o I Congresso Operário Paranaense, gerador da Federação Operária Paranaense, o
momento em que a Garibaldi mais contribuiu à classe operária de maneira mais ampla
e expressiva.

2 Giuseppe Garibaldi (Nice, 4 de julho de 1807 - Caprera, 2 de junho de 1882) foi um ídolo para os
italianos e também para os brasileiros pela sua grande influência na Revolução Farroupilha, de 1835,
onde conheceu Ana Ribeiro da Silva, com quem depois se casou, ficando conhecida como Anita Gari-
baldi.
35

Figura 17 - Sociedade Giuseppe Garibaldi após restauro

Fonte: Gazeta do Povo.

Em 1942. Durante a 2ª Guerra, devido ao rompimento entre o Brasil e os


chamados Países do Eixo teve sua sede tomada e depredada depois de uma grande
manifestação popular. Muitos de seus arquivos foram queimados e seus vidros e mó-
veis destruídos. Após essa desordem, a polícia tomou conta da sede, e assim como
as demais sedes de sociedades de origem italianas e alemãs foram ocupadas por
novas entidades. À Garibaldi coube acolher a Liga de Defesa Nacional, o Centro de
Letras do Paraná, o Centro Feminino de Cultura e a Academia Paranaense de Letras,
assumindo o nome de Casa de Olavo Bilac. Mas estas também perderam o direito de
36

utilizar a edificação a partir de 1943 quando ela foi declarada de Utilidade Pública, pois
o Governo do Estado pretendia instalar ali o Tribunal de Justiça do Estado.
Apenas em 62, depois de 20 anos de trabalho junto às autoridades é que
o direito à sede foi devolvido para a Sociedade Garibaldi, depois de construído o Pa-
lácio da Justiça no Centro Cívico. Começou então o árduo trabalho de restauração e
readaptação das finalidades da Sociedade, voltando ainda que tardiamente ao intuito
de prestar auxílio material, cultural, além de atividades recreativas, esportivas e festi-
vas aos seus associados.
Seu tombamento se deu em 1988, pelo Patrimônio Histórico e Artístico
do Paraná, mas isso não lhe garantiu vida segura, durante os primeiros anos da dé-
cada de 90 tiveram início várias campanhas de auxílio ao Palácio Garibaldi, como
agora é conhecido, apelando especialmente aos muitos descendentes de imigrantes
italianos. Em 1993, quando ingressou no rol de Unidade de preservação obteve o
direito de vender seu potencial construtivo, garantindo assim o seu restauro, até hoje
se mantém com recursos próprios, sendo um lugar nobre e requisitado para realização
de eventos.

5.2.3 Sociedade Operária e Beneficente 13 de Maio

A “Sociedade 13 de Maio”, como era denominada na época de sua fun-


dação, teve origem simultânea ao ato de assinatura da Lei Áurea, sancionada no dia
13 de maio de 1888, com a iniciativa dos cidadãos, que tinham em mente edificar um
local, onde poderiam reunir-se e traçar planos sobre as novas possibilidades e desa-
fios relativo à nova maneira de agir, pois a partir de então seriam considerados ho-
mens livres e isso demandava uma atitude coletiva, unificada e forte. A 13 de Maio
(Figura 18) nasceu com a marca da liberdade e da busca por igualdade, da luta dos
que acreditavam que agregar os ex-escravos era a única maneira de ajudá-los.
A sessão de formação, apesar do nome, se deu dez dias antes da data
oficial da abolição, já tida como certa e próxima, onde foi nomeada uma diretoria pro-
visória. Começou a operar ainda com uma sede rusticamente construída, mas já no
local em que se encontra atualmente, na Rua Clotário Portugal, no bairro São Fran-
cisco.
37

Figura 18 - Sociedade 13 de Maio

Fonte: Gazeta do Povo.

Apesar do valor histórico e de ser considerada Unidade de Interesse de


Preservação, a entidade passa por uma série de dificuldades de manutenção do es-
paço, além de um processo pedindo de anistia de dívida pública, referente ao acumu-
lado de impostos com os quais nunca pode arcar.

5.2.4 Sociedade Polono Brasileira Tadeusz Kosciuszko

A comunidade Polonesa de Curitiba, é considerada a maior colônia po-


lonesa do Brasil e também a segunda cidade a abrigar o maior número de Poloneses
e seus descendentes fora da Polônia. Essa numerosa população, empreendeu na ca-
pital significativas mudanças de costumes, modos construtivos, novos ofícios e modo
de viver, deixando sua inquestionável marca na história Curitibana. A Sociedade Ta-
deusz Kosciuszko, cujo nome é uma homenagem a um herói nacional da Polônia,
general e líder da revolta contra o Império Russo, em 1794, congregou seus membros
38

com a intenção de manutenção da cultura do seu país de origem, foi o centro de re-
cepção dos imigrantes além do suporte financeiro mútuo desde sua fundação, em
junho de 1980, cerca de vinte anos depois da chegada dos primeiros imigrantes polo-
neses ao Paraná.

Figura 19 - Sociedade Polono Brasileira Tadeusz Kosciuszko

Fonte: a autora, 2016.

Em 1891, a Sociedade havia fundado uma escolinha primária, para os


filhos de seus associados e dispunha também de uma biblioteca e sala de leitura.
Abrigou o Grupo Folclórico Wisła, que apesar de ter uma estrutura própria dividiu a
sede em harmonia com a Sociedade por muitos anos, já que grande parte de seus
membros eram também ligados ao quadro social da Sociedade.
Incluída em 1994 na lista de imóveis de interesse de preservação, a So-
ciedade pode dispor à venda parte de seu potencial construtivo e deu início ao pro-
cesso de restauro, concluído em maio de 2000 com grandes esforços de seus asso-
ciados.

5.3 DIFUSÃO DAS SOCIEDADES OPERÁRIAS

Não tardou e a necessidade de colaboração mútua reverberou por cada


agrupamento de trabalhadores, fossem esses da indústria ou rurais. As condições
39

minimamente alcançadas pelas sociedades contribuíam para uma estabilidade pro-


porcionada pela associação entre famílias.
Muitos foram os grupos que fundaram suas próprias Sociedades Bene-
ficentes, que congregavam os moradores em ações sociais e festivas. Dentre as que
mais se destacaram, cabe ressaltar:

5.3.1 Sociedade Operária Beneficente e Recreativa “Vila Morgenau”

Fundada em 1918 por imigrantes italianos, o nome “Morgenau” é uma


homenagem a uma família francesa que residia no bairro, inicialmente funcionou em
uma casa de madeira e apenas em 1951 a atual sede foi construída.
Procurando beneficiar os seus associados com um amparo que não era
ideal para a época, mas que buscava amenizar os problemas do operariado a socie-
dade foi fundamental para o desenvolvimento do bairro Cristo Rei que na sua funda-
ção ainda contava com um pequeno número de residências.
Com o clube, nasceu também o primeiro cinema de Curitiba, o “Cine
Morgenau”, a mais antiga casa de espetáculo de Curitiba, que mais tarde, apesar de
manter o nome original, passou a funcionar em lugar mais central.

Figura 20 - Sede histórica da Sociedade Morgenau.

Fonte: Washington Takeuchi, 2013.


40

Relevante também no cenário político da capital, foi nos salões do Clube


que o Senador Souza Naves recebeu suas últimas homenagens, e onde o presidente
Getúlio Vargas acompanhando Manoel Ribas, o interventor do Paraná realizou inspi-
rados discursos, e é ainda, palco de convenções partidárias e reuniões de repercus-
são estadual. Hoje mantém, além da sede histórica (Figura 20) uma sede recreativa
com uma ampla agenda de eventos, atividades e instalações para seu quadro asso-
ciados.

5.3.2 Sociedade Operária e Beneficente Mercês

Nasceu da uma reunião de cerca de 30 famílias do “quarteirão das Mer-


cês” no ano de 1919, funcionando primeiramente em uma casa alugada, e com terreno
doado por um de seus membros ergue sua primeira edificação na Avenida Cruzeiro,
hoje Avenida Manoel Ribas (Figura 21).

Figura 21 – Sociedade Operária e Beneficente Mercês

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Ponto de referência para a sociedade à época, realizava mais de dez


bailes por ano, além de muitas festas ao ar livre. Apesar de continuar funcionando, a
sociedade vendeu a sua sede histórica por não poder arcar com a sua manutenção,
e depois de muitos anos fechada em degradação, devido às dificuldades das negoci-
ações para a restauração, e segundo Hilário Linero, o presidente da Sociedade em
1999, “Havia um projeto acertado com a prefeitura para a desapropriação e transfor-
mação do local em centro cultural do bairro, mas não foi executado nessa gestão”.
Devido ás dificuldades de negociar com o poder público, a sociedade foi vendida para
41

o proprietário dos terrenos do entorno, que em 2000 o novo proprietário investiu em


um amplo trabalho de restauro, e hoje a sede abriga uma instalação bancária.

5.3.3 Sociedade Operária e Beneficente Abranches

Fundada em 1910 por imigrantes de origem polonesa residentes no


bairro Abranches que pretendiam além dos fundos de pecúlio comuns a todas as so-
ciedades estabelecer também um vínculo entre os imigrantes e suas origens, tendo a
princípio um nome na língua pátria “Towarzystwo Polskie Dobrockynne Robotnecze
Krola Wladyslava Jagielly” que em tradução para o português significa Sociedade Po-
lonesa Operária Beneficente Rei Ladislau Jagielo. Já na primeira etapa da sociedade,
os bailes faziam grande sucesso, era onde os colonos podiam dançar suas valsas e
mazurcas.

Figura 22 - Sociedade Operária e Beneficente Abranches

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

A sede atual foi construída e m 1935, e já foi inaugurada com a completa


nacionalização da sociedade, recebendo o nome de Sociedade Operária Beneficente
Abranches (Figura 22). Hoje a Sociedade abriga uma casa de eventos, além de um
42

restaurante que atende durante toda a semana, o que lhe garante uma manutenção
adequada e uma participação cultural ainda relevante aos moradores da cidade.

5.3.4 Sociedade Beneficente dos Operários Batel

Hoje tido como um dos bairros mais nobre de Curitiba, o Batel teve em
sua origem uma grande concentração industrial, trazendo consigo um proeminente
agrupamento de operários que não tardou se organizar em uma sociedade, fundada
em 1905, funcionou em uma primeira edificação feita em madeira até fevereiro de
1932, quando se deu a inauguração da sede que se tornou um dos mais populares
clubes da cidade.
Os seus saraus e matinês de domingo tornaram-se muito reconhecidas
e abrigaram muita gente famosa e personalidades do mundo político estadual e naci-
onal. O “Batelzinho” como era carinhosamente chamado, abrigou a partir da segunda
metade da década de sessenta um dos mais populares bailes de carnaval da cidade.
Mas foi só em 1969 que surgiu a ideia que marcaria definitivamente a sua história, o
concurso das “Bem Boladas”, uma ousadia de seus diretores à época o concurso le-
vou à uma passarela improvisada oito moças escolhidas na noite curitibana, o sucesso
foi imediato e tamanho que o clube passou a contar por muitos anos com uma grande
massa de foliões, muito acima dos padrões da “capital que não pula carnaval”.

Figura 23 - Sociedade Beneficente dos Operários Batel.

Fonte: Novos Operários do Batel, 2014.


43

Depois de muitos anos de sucesso a Operários do Batel fechou suas


portas e passou por uma fase de abandono até sem comprada por uma empresa de
coworking3 que investiu em uma grande obra de restauro (Figura 23), tornando o am-
biente que antes fora idealizado pelos trabalhadores do século passado em um ambi-
ente inovador e característico dos trabalhadores do presente e futuro.

3 Coworking é um termo inglês usado para definir um modelo de trabalho que consiste em um lugar no
qual vários profissionais, de diversas áreas, alugam espaços para desenvolverem os seus trabalhos,
reunindo pessoas que trabalham não necessariamente para a mesma empresa ou na mesma área de
atuação.
44

6 PANORAMA DO ESTADO DA ARTE

Os centros históricos têm passado recentemente a compor uma ressig-


nificação do conceito de patrimônio histórico através o trabalho das organizações de
proteção ao redor do mundo que têm buscado ampliar os seus conceitos territoriais e
culturais de patrimônio. No brasil a criação da chancela de Paisagem Cultural é ainda
uma iniciativa tímida do IPHAN mas já vem influenciando as esferas regionais a inici-
arem pesquisas e definir sistemas próprios para introduzir essa mudança de paradig-
mas em suas estratégias.
O conceito de território cultural tem encontrado no potencial turístico e
econômico uma grande força motriz para sua implementação, buscando garantir o
desenvolvimento local sem desconsiderar as características históricas e compositivas
do local de implementação. Por se tratar de um conjunto de ideias bastante recente,
as iniciativas de implementação concreta ainda se encontram em caráter bastante
experimental e tem buscado na capacitação da comunidade envolvida a organização
para ajudar a ressignificar estes espaços como lugares que traduzem a harmonia en-
tre desenvolvimento e preservação.
Neste capítulo é apresentado um apanhado das preocupações contem-
porâneas sobre os reais benefícios para as comunidades através de exemplos e so-
luções de requalificação urbanística para antigas áreas marcadas por seu caráter in-
dustrial degradado ou defasado e o impacto gerado pela reconversão destes espaços,
que possuem grande infraestrutura urbana e estão localizados próximos a zonas cen-
trais.
O primeiro caso é um exemplo internacional de transformação de um
setor pós-industrial em bairros com usos ligados a áreas especificas do conceito de
economia criativa na cidade de Buenos Aires. O segundo caso trata da arquitetura
industrial da cidade de São Paulo, um dos principais exemplos nacionais da necessi-
dade de transformação urbana através da adoção dos instrumentos urbanísticos de
regulação e transformação do território previstos na legislação brasileira. Concluindo
com o antigo bairro industrial de Porto Alegre que encontrou na criação do Distrito
Criativo De Porto Alegre, um projeto que combina poder público, iniciativa privada e
participação popular em um empreendimento transformador, que busca através da
economia criativa e solidária relacionar harmoniosamente os novos usos com as an-
tigas edificações de uma área degradada do Quarto Distrito da capital gaúcha.
45

Cada uma dessas propostas faz parte de um grande esforço de seus


municípios para a criação de setores especializados em regiões urbanas subutilizadas
ou abandonadas além de possuírem características que as aproximam do objeto de
estudo deste trabalho, seja pela temática abordada, pela área de intervenção ou pela
metodologia de abordagem. Deste modo, a construção deste panorama possibilita a
identificação de diversos conceitos e exemplos que se complementam como subsídios
para as etapas posteriores da pesquisa.

6.1 DISTRITO DAS ARTES – BUENOS AIRES

Valorizar as atividades artísticas como uma atividade econômica e, ao


mesmo tempo, proporcionar um produto turístico que atraísse investimentos privados
à região. Estes foram os objetivos principais atribuídos à criação do Distrito de las
Artes. (CIPPEC, 2013).

“El Distrito de las Artes es un proyecto que surge para promover la inversión
en arte, donde convivan espacios de creación, producción y difusión cultural.
Incluye a las artes visuales, artes escénicas, literatura y música. Asimismo,
pretende revitalizar una zona por años relegada. ” (BUENOS AIRES CIUDAD,
2016)

Dentro da política de criação de Distritos Produtivos empreendida pelo


Governo Autônomo de Buenos Aires, o Distrito de las Artes pretendeu também poten-
cializar a implementação da Lei 2.264, a qual criou o “Regime de Promoção Cultural”,
também conhecida como Ley del Mecenazgo, ou Lei do Mecenato. Nesta intervenção
urbana, o Governo buscou criar instrumentos para impulsionar o desenvolvimento de
infraestrutura artística mediante incentivos para a articulação privada e pública, em
uma região historicamente identificada com a produção de arte e cultura.
O Distrito das Artes compreende o polígono apresentado na Figura 24,
abrangendo os bairros de La Boca e parte de Barracas y San Telmo, na região sul de
Buenos Aires.
46

Figura 24 - Mapa do Distrito de Las Artes

Fonte: Cippec, 2013.

Dentre as expectativas de retorno dos investimentos relacionados à cri-


ação do Distrito, o Governo da cidade prevê benefícios como a geração de 25 mil
postos de trabalho relacionados ao setor artístico, a criação de 20 espaços culturais
de envergadura, e o enraizamento de 180 estabelecimentos do setor artístico, a atra-
ção de uma receita de mais de 16,2 milhões de dólares anuais em turismo, além da
geração de uma infraestrutura turística robusta no Distrito das Artes (BUENOS AIRES
CIUDAD, 2016).
A criação do “Distrito de Las Artes” fez parte de uma política de criação
de distritos produtivos na cidade de Buenos Aires, com o objetivo de identificar e pro-
mover aptidões de regiões distintas da cidade para determinadas atividades econômi-
cas e sociais. A política de distritos começou com a criação, pelo Governo Autônomo,
do Ministério do Desenvolvimento Econômico - MDE, em 2007, a partir do qual o go-
verno municipal passou a dar maior relevância à formulação, projeto e implementação
47

de uma agenda produtiva própria para a Cidade. Em linhas gerais, os distritos foram
pensados com vistas a promover a engajamento de empresas de setores seleciona-
dos em áreas geográficas específicas da cidade, através de incentivos fiscais e de
investimentos públicos na região.
Até 2013, Buenos Aires já havia implementado 5 distritos (Figura 25),
contando com o Distrito das Artes, o Distrito Tecnológico, o Distrito Audiovisual, o Dis-
trito de Design, e o projeto Comuna 8 – C8 (CIPPEC, 2013).

Figura 25 - Distritos produtivos de Buenos Aires

Fonte: Cippec, 2013. Adaptado pela autora.

A implantação do Distrito das Artes foi ancorada em um plano de recu-


peração do espaço público, tendo como símbolo e epicentro a “Usina del Arte”, im-
plantada no prédio histórico da antiga usina que abastecia a região. A partir dela, ga-
lerias e estúdios de arte foram fomentados, na própria Usina instalou-se a primeira
sala sinfônica da Cidade, além de espaços culturais para a realização de diversas
intervenções artísticas na Usina e ao seu redor.
Neste contexto, ampliar a acessibilidade ao Distrito, melhorar as condi-
ções de segurança – através da instalação de um destacamento de polícia metropoli-
tana, e a implantação de uma iluminação pública mais eficiente, além de melhorias
nos equipamentos urbanos para favorecer a realização de passeios culturais e turís-
ticos, foram medidas adotadas pelo projeto de intervenção.
48

A Figura 26 apresenta as principais obras incluídas no projeto de inter-


venção urbana. A Figura 27 ilustra algumas destas intervenções.

Figura 26 - Mapa de Obras: Distrito das Artes

Fonte: Buenos Aires Ciudad, 2015


49

Figura 27 - Intervenções urbanas no Distrito das Artes

Fonte: Buenos Aires Ciudad, 2015

No projeto de implantação do Distrito de las Artes, além das intervenções


urbanas que buscaram revigorar a região como um polo cultural e artístico, destaca-
se como epicentro do Distrito a principal intervenção arquitetônica realizada em sua
implementação: a criação da Usina del Arte.
Localizada no antigo edifício “Don Pedro de Mendoza” - grande usina
termelétrica construída entre 1912-1916 para abastecer a crescente demanda ener-
gética da região portuária e industrial da época, a usina operou por 80 anos até as
privatizações do setor elétrico promovidas no governo Menem. O grandioso edifício,
50

de estilo eclético, que estava abandonado e em ruínas até que a iniciativa do poder
público retomasse articulações para recuperar e revalorizar a região.

Figura 28 - Usina del Arte: de edifício abandonado a epicentro cultural

Fonte: Buenos Aires Ciudad, 2015

Com a reforma e restauração do edifício, a “Usina del Arte” constitui-se


em espaço com mais de 15 mil metros quadrados dedicados à produção e divulgação
de cultura e arte. Na primeira etapa, concluída em julho de 2011, foram inaugurados
o pátio de acesso, o Salón Dorado, e a Sala de Exposiciones. A segunda etapa, inau-
gurada em maio de 2012, disponibilizou a chamada “Sinfónica”, a 1ª sala com capa-
cidade para concertos filarmônicos da cidade de Buenos Aires, com capacidade para
51

1200 espectadores. Outras etapas ainda a serem implantadas preveem salões de ex-
posição para obras de arte, salas de ensaio para 250 artistas e sala de Cámara para
um público de 400 pessoas.

Figura 29 - Usina del Arte, antes e depois da intervenção

Fonte: Buenos Aires Ciudad, 2015

6.2 ANTIGAS ÁREAS INDUSTRIAIS DE SÃO PAULO

A Região Metropolitana de São Paulo abriga um dos maiores adensa-


mentos urbanos do país e seu crescimento pós-industrial vem passando por mudan-
ças em seu perfil produtivo, refletindo na fragmentação das atividades industriais no
território e a desativação das plantas fabris, criando grandes áreas ociosas no tecido
urbano, que acabam constituindo-se em vazios que degradam e formam reservas de
áreas subutilizadas próximas ao Centro, embora bem servidas por infraestrutura.
52

Figura 30 - Área de intervenção da Operação Urbana Diagonal Sul

Fonte: Operação Urbana Diagonal Sul. PMSP, 2006.

A região, que forma um eixo industrial a partir do centro para o ABC (Fi-
gura 30), têm criado um grande número de estudos e projetos buscando a diversidade
de uso em um grupo de soluções para os problemas comuns às grandes metrópoles
pós-industriais. Este conjunto de propostas têm origem nos estudos da Operação Ur-
bana Diagonal Sul, prevista no Plano Diretor Estratégico de 2002 (Lei 14.430/2002)
com desenvolvimento realizado pela antiga Secretaria Municipal de Planejamento, e
hoje ampliado e rebatizado de Operação Urbana Consorciada Bairros do Taman-
duateí (Figura 31), continua avançando na expectativa de transformação desses es-
paços obsoletos em áreas de adensamento, atraindo principalmente a atenção do
mercado imobiliário e impondo o grande desafio do urbanismo contemporâneo: traba-
lhar na cidade existente, em vez de sua substituição ou completa negação, operar nas
áreas abandonadas e utilizar o potencial dos vazios urbanos centrais como contra-
ponto a expansão periférica, proporcionando adensamento populacional e de ativida-
des onde há infraestrutura e localização central sem desqualificar o processo histórico
da região nem a população que a utiliza.

Grande parte do patrimônio industrial ali existente - englobando nessa asser-


ção edifícios fabris, armazéns, galpões, pátios ferroviários, vilas operárias,
residências em série etc. - não está devidamente catalogada e nem sequer é
conhecido convenientemente; numerosos edifícios e conjuntos arquitetônicos
que configuram uma paisagem única sofrem a ação do tempo e da especu-
lação imobiliária que descaracteriza o patrimônio urbano a cada novo empre-
endimento. (RUFINONI, 2013 P. 265)
53

Estas áreas, contudo, configuram-se como grande oportunidade para re-


ver-se a forma pela qual o espaço urbano é construído, permitindo, então, refletir so-
bre propostas que se contrapõem ao atual modelo de desenvolvimento, que deprecia
social, econômica e ambientalmente a cidade.

Figura 31 - Abrangência Da OUC Bairros Do Tamanduateí

Fonte: Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí. PMSP, 2015.

A Prefeitura Municipal de são Paulo tem buscado estratégias que incen-


tivem a manutenção e valorização do patrimônio fabril que não passem necessaria-
mente pela compra ou desapropriação das antigas indústrias, segundo o Secretário
de Desenvolvimento Urbano do município, Fernando de Mello Franco, a prefeitura
“tem pensando em mecanismos, como a transferências do potencial construtivo des-
sas áreas para outros terrenos, que incentivem a doação de certos equipamentos para
a prefeitura” (CORREA. 2015) que pretende disponibiliza-los como equipamentos pú-
blicos para espaços de trabalho compartilhados entre jovens empresários ligadas a
economia criativa e solidária, gerando um ciclo de renovação e preservação do es-
paço. Esta estratégia faz parte da implementação da Operação Urbana Consorciada
Bairros Do Tamanduateí, como o instrumento urbanístico que consiste em um con-
junto de intervenções e medidas coordenadas pelo poder público municipal, com a
participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores priva-
dos a propor uma intervenção de revitalização e requalificação, que visa a devolver
54

espaços que cumpram sua função social, recuperar a continuidade urbana e promover
um desenvolvimento mais sustentável.

O Projeto propõe a utilização da “Operação Urbana Consorciada” como o ins-


trumento urbanístico de viabilização das transformações dessa região e tem
como estratégias: (i) socializar os ganhos de produção na região; (ii) assegu-
rar o direito a moradia digna para quem precisa; (iii) melhorar a mobilidade
urbana; (iv) qualificar a vida urbana dos bairros; (v) Orientar o crescimento da
cidade nas proximidades do transporte público; (vi) reorganizar as dinâmicas
metropolitanas promovendo o desenvolvimento econômico da cidade; (vii) in-
corporar a agenda ambiental ao desenvolvimento da cidade; (viii) fortalecer a
participação popular nas decisões dos rumos da cidade e (ix) preservar o
patrimônio e valorizar as iniciativas culturais. (PMSP, 2015, grifo da au-
tora)

A OUC Bairros do Tamanduateí foi dividida em duas grandes áreas de


intervenção (Figura 32), o perímetro externo compreende à área destinada principal-
mente ao adensamento, enquanto a interna abrange a região de interesse desse es-
tudo, por abrigar grande parte do patrimônio industrial a ser preservado.

O Perímetro de Transformação corresponde à orla ferroviária, área central


do território da Operação Urbana, que poderia receber funções de alcance
metropolitano, pela oferta privilegiada de transporte de alta capacidade: um
Polo Cultural e de Entretenimento, localizado no Setor Mooca; um Polo de
Equipamentos Regionais e Habitação de Interesse Social e um Polo Produ-
tivo e de Negócios a cada lado da ferrovia, ambos no Setor Henry Ford; e um
Polo Logístico, localizado ao sul, no Setor Vila Carioca.

O Perímetro de Renovação abrange as áreas dos demais setores, consoli-


dadas do ponto de vista das atividades existentes e do padrão edificado, des-
tinadas ao adensamento populacional e objeto de ações correspondentes de
qualificação urbana. (PMSP, 2015, grifo da autora)

Figura 32 - Perímetro de intervenção da OUCBT

Fonte: Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí. PMSP, 2015.


55

A região incorporada pelo Perímetro de Renovação foi dividida em três


subáreas estabelecendo os setores de transformação, que compreendem o Polo Lo-
gístico, Produtivo e de Negócios e o Polo Cultural (Figura 33) que concentra a maior
parte dos edifícios industriais de interesse histórico, onde se planeja implementar o
Polo de Economia Criativa, proposta delineada durante a elaboração do Plano Diretor
Estratégico do município e que ganha força posterior por um Plano Urbanístico Espe-
cífico que “aposta que propostas pioneiras – de iniciativas pública e privada – possam
influenciar a futura localização de atividades ligadas à economia criativa e deem nova
utilização aos edifícios de interesse histórico, tombados ou não” (PMSP, 2015)

Figura 33 - Divisão em Polos de interesse

Fonte: Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí. PMSP, 2015. Adaptado pela autora.

As unidades citadas pela Operação Urbana Consorciada Bairros Do Ta-


manduateí no Polo de Economia Criativa (Figura 34) possuem diretrizes específicas
de utilização:

• Os edifícios da antiga Tecelagem Labor (1), indicados para aquisição pela


Municipalidade para finalidades de empreendedorismo criativo;

• As antigas Officinas da Casa Vanorden (2), também indicadas para aquisi-


ção pela Municipalidade para abrigar atividades de suporte ao parque (3) pre-
visto para a área atualmente ocupada pelo Porto de Areia;

• O Moinho Minetti-Gamba (4), na Rua Borges de Figueiredo, onde está pre-


vista a implantação de uma universidade privada;

• A Cervejaria Antarctica (5), objeto de empreendimento privado que pretende


acomodar usos culturais em uma das edificações do conjunto. (PMSP, 2015)
56

Figura 34 - Indústrias citadas na OUC Bairros Do Tamanduateí

Fonte: RUFINONI, 2013. Adaptado pela autora.

O interesse principal para efeito dessa monografia reside na promoção


da transformação de antigas industrias em equipamentos públicos de significado sim-
bólico para a região através do planejamento urbano municipal que reconhece os va-
zios urbanos como potencialidade de transformação e o patrimônio histórico como
indutor de urbanidade, criando mecanismos específicos de incentivos fiscais que po-
dem ser desenvolvidos para deter o declínio da fábrica urbana em antigos territórios
industriais, encorajando transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e
a valorização ambiental.

6.3 DISTRITO CRIATIVO DE PORTO ALEGRE

O Distrito do Polo Criativo de Porto Alegre, ou apenas Distrito C, como


ficou conhecido, configura uma área de transição entre a antiga área industrial e o
centro da capital gaúcha (Figura 35), é parte integrante de um agrupamento de bairros
57

antigos que compõem a região chamada de 4º distrito, o berço da industrialização da


cidade de Porto Alegre.

Figura 35 - Localização do Distrito Criativo de Porto Alegre

Fonte: DISTRITO C, 2016.

A região sofreu com a obsolescência de sua arquitetura fabril como


quase todo bairro industrial antigo, possuindo um grande número de galpões, fábricas,
espaços públicos e moradias abandonadas que encontrou na criatividade inovadora
o caminho para a reconstrução urbana.
Apesar da intenção de requalificação demonstrada no Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre, atualizado em 2011 com es-
tratégias para reestruturação social onde estão previstas áreas especiais de interesse
social, institucional e cultural, além de regularização e produção de habitação de inte-
resse social foi através de um conceito idealizado inicialmente por uma agência de
design social chamada UrbsNova Porto Alegre – Barcelona, cujo trabalho é propor
formas inovadoras de organização às comunidades que tenham impacto social, que
nasce em 2013 o Polo Distrito Cultural, um coletivo com mais de 80 artistas e locais
de economia criativa (Figura 36) (DISTRITO C, 2016).
Segundo seus idealizadores, o Polo Distrito C não é um projeto cultural.
É um projeto de inovação social, motivado pelo impacto econômico social e urbano
de um coletivo de artistas e empreendedores sobre um território da cidade. (DISTRITO
C, 2016)
58

Queremos criar novas formas de relacionamento entre artistas e empreende-


dores de economia criativa e seu entorno social e urbano, melhorando as
suas condições de trabalho, conseguindo maior visibilidade, ampliando a den-
sidade desse tipo de atividade econômica no território, promovendo um am-
biente de inovação e atraindo mais visitantes e novos artistas e empreende-
dores, trazendo, dessa forma, desenvolvimento a uma região da cidade que,
nas últimas décadas, esteve esquecida. (DISTRITO C, 2016)

O projeto é concebido e organizado de maneira inovadora, marcado pelo


protagonismo dos moradores, artistas e comerciantes do local, gerando um forte mo-
vimento de mudança no sentido de requalificação do lugar, que se efetiva a partir do
momento que a comunidade reconhece o espaço como dinâmico de experimentação
social e cultural.

Figura 36 - Elementos que compõem o Polo Cultural

Fonte: DISTRITO C com base em Google Maps, 2016.


O envolvimento de vários setores da sociedade, que possibilitou a cons-
trução de uma rede pessoas e entidades com interesses comuns para o desenvolvi-
mento criativo, foi fundamental para a qualificação do amplo leque de mudanças ge-
radas. A comunidade acadêmica, através de estudos e propostas urbanísticas, bem
como o conjunto de incentivos e fomentos fornecidos pela Prefeitura Municipal, que
em 2013 instituiu Comitê Municipal de Economia Criativa, composto por um grande
número de representantes de diversas instituições responsáveis pela criação do Plano
Municipal de Economia Criativa, em 2014. O Plano mapeou os polos com vocações
específicas que possam ser incentivadas, já identificando o 4º distrito como área com
59

dinâmica própria, razão pela qual abriga o primeiro Polo de Economia Criativa esta-
belecido oficialmente pela prefeitura (PMPA, 2013).
A demanda pelo espaço define a delimitação do perímetro de abrangên-
cia do Distrito Criativo, que segundo seus idealizadores, não é rígido e pode ser alte-
rado conforme o crescimento do projeto e o aparecimento de novos integrantes (DIS-
TRITO C, 2016).
Dentro desse espaço se encontram várias edificações de relevância his-
tórica, que tem sido objeto de estudo e preservação. Para o Distrito C, “o patrimônio
histórico edificado é um bem cultural inestimável e insubstituível para o bairro e para
a cidade”

Existem obras de arquitetura de qualidade no entorno do Distrito Criativo e a


própria arquitetura, ou seja, o design de um prédio, é parte da Economia Cri-
ativa. Além disso, os prédios mais importantes apresentam em suas fachadas
e no seu interior obras de arte de diferentes tipos, como pinturas, murais,
esculturas, vitrais, etc., que também são expressões artísticas ligadas à Eco-
nomia Criativa. (DISTRITO C, 2016)

Figura 37 - Vila Flores – projeto de Joseph Lutzenberger

Fonte: DISTRITO C, 2016.

A preocupação com o patrimônio histórico, a história do bairro, a preser-


vação da peculiaridade do lugar; tudo isso vinculado à economia criativa, fizeram parte
das diretrizes da criação do Distrito Criativo. Alguns dos imóveis inclusive foram visi-
tados nas duas primeiras expedições pelo bairro que deram origem ao projeto. Hoje o
grupo possui uma lista própria de diretrizes de preservação, que varia de passeios
informativos, exposições fotográficas a sugestões de uso dos bens patrimoniais, além
de disponibilizar uma lista de imóveis preservados ou passiveis de preservação para
consulta virtual.
60

Figura 38 - Cervejaria Bopp, projeto de Theo Wiederspahn

Fonte: DISTRITO C, 2016.

Figura 39 - Residências históricas do Distrito Cultural

Fonte: DISTRITO C, 2016.

O Distrito C aposta inclusive em um levantamento das unidades não in-


ventariadas pela prefeitura dos bens de valor arquitetônico, histórico ou afetivo para a
população local e incentivando os moradores e usuários da região a valorizarem seus
antigos imóveis. Além de ações de divulgação e defesa do patrimônio já configurado
como tal pelos meios clássicos.
61

7 DIRETRIZES GERAIS

Neste capítulo serão definidas as diretrizes para a preservação e recu-


peração do patrimônio histórico constituído pelas sociedades operárias, no Centro
Histórico de Curitiba, bem como será apresentado um plano de ação a ser desenvol-
vido na sequência do trabalho.
Como pudemos observar nos capítulos anteriores desta monografia,
quando reconhecemos a relevância da arquitetura de origem popular, podemos pro-
duzir relevantes trabalhos que atendam às necessidades e demandas da sociedade
contemporânea respeitando a construção histórica da nossa sociedade. Verificamos
também que há um grande potencial ainda a ser explorado em centros históricos,
transformando-os em ambientes que conciliem novas relações sociais com a preser-
vação urbana.
Com base nas informações acumuladas nos capítulos anteriores sobre
a preservação do patrimônio e diante da avaliação de outras propostas de transfor-
mação e preservação de áreas urbanas no Brasil e no mundo, foram propostas dire-
trizes preliminares para subsidiar o desenvolvimento do projeto de restauro urbano.
Estas diretrizes têm por finalidade direcionar as ações desenvolvidas na sequência
das atividades deste trabalho e consideram três aspectos primordiais do tema – a
primeira tratada do resgate da memória das sociedades e da sua transmissão as no-
vas gerações, a segunda, considera novas formas de uso, que alinhem as necessida-
des contemporâneas ao passado histórico da primeira Sociedade Operária, e a última
considera a requalificação da Praça João Cândido, como elo de ligação entre as so-
ciedades.
62

7.1 PROMOVER O RESGATE HISTÓRICO DAS SOCIEDADES OPERÁRIAS

Um patrimônio histórico não é um fim em si mesmo, mas guarda relação


direta com o reconhecimento e a identidade das pessoas com o espaço que viven-
ciam. Este reconhecimento nunca é meramente espontâneo, mas sim o resultado de
uma construção também histórica, dialética por natureza. Desta forma, a depender
das relações de poder estabelecidas dentro de uma determinada sociedade, não é
raro que os fatos, organizações, movimentos históricos realizados por certo grupo so-
cial sejam supervalorizados enquanto este grupo seja dominante, enquanto que ações
de igual ou maior relevância, se produzidas por grupos sociais antagônicos, podem
vir a ser sublimadas, apagadas ou absorvidas pelo grupo dominante.
Ao longo deste trabalho ressaltamos a importância do resgate histórico
do patrimônio de origem popular, na medida em que se evidencia que este patrimônio,
importantíssimo para a plena compreensão da formação histórica de nossa socie-
dade, ao longo do tempo têm tido das classes dominantes justamente o fim que se
destina à história produzida pelas classes que lhe são antagônicas. Em uma demo-
cracia em construção, ainda eivada de resquícios autoritários, temos uma parcela fun-
damental de nossa história sendo paulatinamente destruída. Neste contexto, cabe ao
urbanismo a tarefa civilizacional de identificar e resgatar o patrimônio histórico de ori-
gem popular.
Como vimos no capítulo 4, as edificações remanescentes das socieda-
des operárias guardam a rica história de um movimento que foi embrião da organiza-
ção dos trabalhadores brasileiros e dos direitos sociais por eles conquistados, entre o
fim do século XIX e início do século XX.
Assim, demonstra-se como uma diretriz fundamental para este trabalho
o resgate histórico das sociedades operárias, contido nas edificações remanescentes,
mas também nos espaços públicos que compõe o seu entorno, na região antes co-
nhecida como Círculo Operário.
63

Figura 40 - Diagrama representativo da primeira diretriz

Fonte: Elaborado pela autora4, 2016.

4 Totens com realidade aumentada do exemplo ilustrativo foram usados na cidade de Santander. Digital
AV Magazine. 2016.
64

7.2 NOVOS USOS ALINHADOS À ORIGEM DAS SOCIEDADES

No entendimento de que o resgate histórico não se restringe a relatar o


passado, mas passa também por demonstrar a similitude e pertinência entre o espaço
que se busca recuperar e a vida atual da comunidade, entende-se que promover o
resgate histórico das sociedades operárias ganha maior relevância na medida em que
se possa demonstrar que a motivação original destes espaços guarda identidade com
o momento histórico que vivenciamos.
Como já destacamos, as sociedades operárias surgiram como espaços
de convivência e apoio mútuo entre os trabalhadores, naquilo que pode ser caracteri-
zado como princípios da busca por emancipação da classe operária no Brasil. Uniam
seus membros enquanto espaços de recreação, e de auxílio em momentos de dificul-
dade. Serviram tanto à difusão e integração da cultura e arte dos imigrantes aos há-
bitos e costumes dos curitibanos e brasileiros, quanto como espaço de organização e
de luta política.
Os usos destas edificações tinham, sobretudo, o intuito de promover a
melhoria das condições de vida daqueles trabalhadores e trabalhadoras, em um mo-
mento histórico em que a classe operária surgia no Brasil, e galgava seus primeiros
passos em prol da conquista de direitos hoje considerados básicos, como a jornada
de 8 horas, salário mínimo, aposentadoria, descanso semanal remunerado, férias,
previdência social.
As transformações ocorridas no país desde a Era Vargas mudaram ra-
dicalmente o papel, as pautas e a forma de organização dos trabalhadores. A promul-
gação da Consolidação das Leis do Trabalho, na década de 40, o processo de indus-
trialização, assim como a instituição de um modelo de movimento sindical à época
fortemente controlado pelo Estado, em grande medida “esvaziaram” aquele papel ini-
cial das sociedades operárias.
No entanto, há que se destacar que – mesmo sendo outras as pautas, a
busca dos trabalhadores e trabalhadoras por emancipação ainda vai longe, e são di-
versos os movimentos hoje existentes de busca de novas formas de produção e rela-
ções de trabalho que propõe mudanças e a superação do persistente e brutal dese-
quilíbrio de poder nas relações entre capital e trabalho.
65

Neste sentido, o mutualismo – como foram historicamente categorizadas


as ações promovidas pelas sociedades operárias no Brasil, guarda similaridade pro-
funda com alguns destes movimentos, em especial com a iniciativa denominada Eco-
nomia Solidária.
A Economia Solidária pode ser definida em três dimensões: economica-
mente, culturalmente e politicamente, sendo considerado um fenômeno que tem ga-
nhado crescente visibilidade nos últimos tempos. Atualmente, em vários países, sob
diferentes denominações, constata-se o crescimento de iniciativas de produção e de
prestação de serviços sociais e pessoais, organizados com base na livre associação
e nos princípios de cooperação e autogestão.

A Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e tro-


car o que é preciso para viver. É feita por meio de cooperativas, clubes de
troca, redes de cooperação e associações que realizam atividades de comér-
cio justo e consumo solidário, trocas, produção de bens, prestação de servi-
ços e finanças solidárias. (PMC, 2014)

Identifica-se que a constituição de um núcleo de economia solidária em


uma das edificações das antigas sociedades operárias poderá ser um instrumento
importante para promover o diálogo entre a origem das sociedades e as demandas
dos trabalhadores e trabalhadoras de Curitiba neste início de século XXI. Especial-
mente para aqueles relacionados às atividades econômicas que atualmente movimen-
tam a região do Centro histórico e São Francisco, com destaque para os feirantes e
artesãos da Feira do Largo da Ordem, entende-se que a proposta de constituição de
um núcleo de economia solidária que promova o suporte e apoio mútuo entre estes
trabalhadores, fortalecendo e transformando as atividades econômicas por eles en-
gendradas, pode-se constituir em uma importante alavanca para o resgate do patri-
mônio histórico latente nas sociedades operárias. Destaca-se a Sociedade Protetora
dos Operários, associação pioneira e cuja edificação encontra-se hoje mais descarac-
terizada, como ideal para esta iniciativa, considerando inclusive que a mesma passe
a possuir classificação de Unidade de Interesse de Preservação, nos termos da legis-
lação municipal de Curitiba.
Assim, a promoção de novos usos, alinhados com a motivação inicial
dos espaços cuja história busca-se resgatar, garante não apenas a funcionalidade da
edificação, mas também a recuperação de sua identidade histórica.
66

Figura 41 - Diagrama representativo da segunda diretriz

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.


67

7.3 REQUALIFICAR O USO DO ESPAÇO PÚBLICO E A PAISAGEM CULTURAL

O patrimônio edificado sempre guarda relações com o entorno direto,


com o espaço público à volta, em maior ou menor grau, na medida em que faz parte
da paisagem cultural do meio urbano. O resgate pleno do patrimônio histórico de-
manda reconhecer estas relações, destacá-las e requalificá-las tanto quanto possível.
As sociedades operárias, surgidas na então periferia da cidade de Curi-
tiba, foram as primeiras grandes construções erigidas pelos trabalhadores para seu
próprio uso, apartadas pelo zoneamento da época da “área urbana” onde estes mes-
mos trabalhadores erguiam os palacetes e palácios para a elite econômica do Paraná.
Constituíam as Sociedades o denominado “Círculo Operário”, e tinham como epicen-
tro a Praça João Cândido – espaço das mais diversas manifestações da classe ope-
rária curitibana no início do século XX.
Fazer jus a esta história passa por promover a requalificação dos equi-
pamentos e usos do espaço público no entorno das edificações aqui retratadas. As-
sim, destaca-se como diretriz para as etapas posteriores deste trabalho, a combinação
entre o resgate e novos usos das edificações, com sua reintegração ao entorno, so-
mada à requalificação deste próprio entorno.
Por certo, o desenvolvimento da cidade nesta região histórica guarda
inúmeras outras dimensões além daquelas relacionadas às Sociedades em si. Foi
sede administrativa e política da capital nos anos 30, entre tantos momentos históricos
que definiram sua construção, alguns mais destacados que outros, além de uma di-
nâmica própria do uso atual do espaço público – com destaque para a Feira do Largo
da Ordem aos domingos.
Neste contexto, as propostas de intervenção a serem construídas deve-
rão integrar à esta dinâmica existente tanto a demanda de requalificação do entorno,
como forma de destacar na paisagem urbana as edificações remanescentes das so-
ciedades operárias, com especial referência à Praça João Cândido – com a qual con-
fronta-se a pioneira Sociedade Protetora dos Operários, quanto a proposta deverá
captar as demandas da comunidade para as percepções de melhorias necessárias ao
entorno. Dentre tais intervenções, podem demonstrar-se necessárias melhorias na
acessibilidade e mobilidade urbana, integração de espaços e equipamentos públicos,
o estabelecimento de um padrão de intervenção.
68

Aponta-se a possibilidade de constituição de um Distrito Criativo de Cul-


tura e Economia Solidária, como oportunidade de intervenção urbana qualificada e
inovadora da região do antigo Círculo Operário no bairro São Francisco, tendo como
epicentro a Praça João Cândido e a Sociedade Protetora dos Operários como espa-
ços de iniciativa pública, em possível parceria com a sociedade civil organizada e o
setor privado, para o fomento à inovação e desenvolvimento de arranjos produtivos,
cooperativas, espaços de coworking, escolas e estúdios de arte e produção cultural,
entre diversas outras possibilidades.

Figura 42 - Diagrama representativo da terceira diretriz

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.


69

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Centros Históricos têm sido analisados e preservados enquanto es-


truturas patrimoniais que testemunham a memória coletiva e que configuram a origem
do desenvolvimento das características da malha urbana, do seu edificado e da apro-
priação do espaço por parte da população.
Identifica-se, porém, que apesar de os Centros Históricos carregarem
uma forte conotação com a identidade cultural das comunidades, o processo de de-
senvolvimento urbano nem sempre é capaz de promover a devida valorização deste
patrimônio. Não raro, a falta de interesse ou sensibilidade do planejamento urbano à
todas as facetas do patrimônio histórico acabam por levar à desvalorização de rique-
zas culturais importantes para a plena compreensão da formação da cidade.
Como ocorre com o entorno da Praça João Cândido, no antigo Círculo
Operário – descrito neste trabalho, a carência de políticas públicas que reforcem a
preservação do patrimônio ali existente leva à constituição de um conjunto de estru-
turas urbanas abandonadas ou subutilizadas. Estas antigas áreas acabam sendo em
grande parte responsabilizadas pela desvalorização social e econômica do seu en-
torno e mesmo aos domingos, dia de muito movimento devido à feira do Largo da
Ordem, a praça João Cândido continua sendo pouco utilizada, apesar de oferecer um
grande potencial ao uso cotidiano ou como espaço adjacente ao fluxo da feira.
Defender a preservação das Sociedades Operárias consiste antes de
tudo em compreender quais os atributos ou valores responsáveis pela sua formação
cultural, suas contribuições para a caracterização da sociedade curitibana e sua in-
fluência nas realizações que ajudaram a moldar o desenho urbano do Alto São Fran-
cisco, local onde as Sociedades Operárias Beneficentes surgiram.
Muitas das Sociedades sucumbiram ao tempo ou ao descaso; outras
tantas lutam para se manter na história, como a Sociedade Beneficente Protetora dos
Operários (1883), local onde o movimento operário organizado teve início em Curitiba.
Dentre as que se mantém, destaca-se também a Associação Giuseppe Garibaldi, que
congregava os imigrantes italianos e sediou, em 1906, o I Congresso Estadual que
gerou a Federação Operária no Paraná. Tombada em 1988 pelo Patrimônio Histórico
e Artístico do Paraná, a sede desta Associação é hoje dos mais bem conservados
objetos deste estudo.
70

As Sociedades seguem vivas no imaginário da população curitibana,


pois fizeram parte da história de muitas famílias que vivenciaram estes espaços ao
longo das décadas. A preservação desta memória, bem como do patrimônio arquite-
tônico, encontra séria ameaça na ausência de um planejamento urbano que abarque
a história de origem popular. Em favor de uma duvidosa modernização, baseada em
interesses efêmeros de “mercado”, pouco a pouco vai se erodindo a identidade histó-
rica de parte significativa da população. A relativização da memória no senso comum,
segundo o qual o Patrimônio seria composto apenas por residências de personalida-
des famosas ou edifícios de relevância arquitetônica, é questionável no aspecto his-
tórico e devastadora em relação ao patrimônio de origem popular, levando a uma eli-
tização da história.
A partir dessas questões, esse estudo visa reconhecer e resgatar o papel
histórico do Círculo Operário, propor diretrizes do projeto de intervenção urbana – a
ser desenvolvido na Segunda Fase deste trabalho, a requalificação da região do en-
torno da Praça João Cândido e da edificação que sediou a primeira sociedade mutu-
alista de Curitiba, a Sociedade Protetora dos Operários, situada em frente à praça.
Considerando também que a preservação do patrimônio não pode ser uma responsa-
bilidade exclusiva do poder público, as diretrizes do projeto incluem propostas para
estimular o desenvolvimento de parcerias com a comunidade organizada e promover
a educação patrimonial, visando a participação social nas atividades propostas. Desta
forma, busca-se fazer com que a população atendida pela intervenção se identifique
com esse patrimônio, reconhecendo seu valor, que só é legitimado pela forte apropri-
ação comunitária, seja através de ações planejadas ou de modo espontâneo. Para
tanto, a segunda fase deste trabalho buscará identificar demandas que possam con-
tribuir com o propósito aqui apresentado, realizando entrevistas com a comunidade,
particularmente com os comerciantes e artesãos da Feira do Largo, a fim. Também
nesta segunda fase serão avaliadas as diferentes vias de implantação identificadas
nos exemplos das intervenções urbanas apresentadas no Capítulo 6, considerando
as variantes de investimento público, diretamente ou através de isenções e benefícios
fiscais, ou investimento eminentemente privado.
Por fim, avalia-se que – estabelecendo a relação entre o patrimônio edi-
ficado e o cenário de vivências, lutas e conquistas dos trabalhadores curitibanos – o
resgate do Círculo Operário reincorpora à paisagem já estabelecida do Centro Histó-
rico não apenas mais um conjunto de edificações valiosas por sua antiguidade, mas,
71

sobretudo, pelo papel que desempenharam na raiz da constituição da classe operária


de Curitiba e que podem voltar a desempenhar, considerando os instrumentos de de-
senvolvimento e emancipação social que são pilares da economia solidária.
72

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