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O IPTU ECOLÓGICO E A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE: uma

abordagem prática no município de Betim

THE ECOLOGICAL MUNICIPAL PROPERTY TAX AND A SOCIAL FUNCTION OF


THE PROPERTY: a practical approach in the municipality of Betim

A análise da Constituição de 1988, em seu art. 5º, XXII, bem como a disposição
contida no inciso XXIII do mesmo artigo, assevera que a propriedade atenderá sua
função social. Portanto, em razão do texto Constitucional, tem-se como
indissociáveis o direito de propriedade e a obrigação de atendimento da sua função
social que aquele direito custeia. Trata-se o primeiro de um direito e o segundo de
uma garantia fundamental. De posse dessas informações, cumpre refletir acerca de
alternativas praticáveis pelo Poder Público para fomentar e viabilizar referida
garantia. No extenso rol das garantias constitucionais emerge também garantias
outras, como a sustentabilidade ambiental. A preocupação com o meio-ambiente
sustentável é, sem dúvida, uma das agendas globais, justificando-se, pois, o
desenvolvimento do presente trabalho. A par dessas premissas, o recorte analítico
que ora se pretende investigar tem como matriz disposições contidas na Lei nº 6223,
de 23 de agosto de 2017, que dispõe sobre o programa de incentivo à implantação
de medidas de sustentabilidade ambiental, denominado (Imposto Predial Territorial
Urbano) “IPTU ecológico”, no município de Betim, em face da garantia constitucional
da função social da propriedade, introduzida anteriormente. O objetivo principal será
compreender em que medida esse diploma legal provoca efeitos concretos na
comunidade local, apresentando, além do arcabouço teórico da extrafiscalidade e
função social da propriedade, se casos práticos por meio das iniciativas de caráter
sustentável foram implantadas e como essas ações se refletem na cidade. Ainda de
acordo a tais finalidades, se procurará obter e quantificar o percentual de adesão
dos proprietários de imóveis urbanos ao programa estabelecido no texto legal. A
função social não é um elemento do direito à propriedade, mas estabelece uma
obrigação para quem exerce tal direito. Portanto, o direito em questão é garantido ao
titular com liberdade para usar, gozar, dispor, reivindicar de sua propriedade,
estando essa liberdade condicionada ao dever de atender a função social. Logo, a
função social da propriedade não exclui ou altera o direito a propriedade de seu
titular, mas mostra-se como um ônus ao proprietário. Sendo assim, cabe o titular da
propriedade destinar-lhe função social, usando-a de forma que atenda aos seus
anseios individuais, mas também aos interesses da coletividade. Corroborando
essa perspectiva. A propriedade pode ser dividida em pública, privada e também em
urbana ou rural. Tal distinção mostra-se extremamente importante para entender
qual será o regime jurídico aplicável a cada uma delas, sendo todos aplicados em
consonância com a Constituição. A Constituição de 1988 trouxe uma especial
preocupação com o meio ambiente, trazendo regras e princípios que tentam efetivar
a proteção ao equilíbrio ecológico através de políticas urbanas para propriedades
situadas no meio urbano. Assim, não há que se falar em bem estar social e
qualidade de vida, sem que exista uma real proteção ao meio ambiente. Nesse
contexto, o art. 182 vem regular a política de desenvolvimento urbano, procurando
garantir o bem-estar social. O parágrafo 4º do mesmo artigo traz a possibilidade do
Poder Público exigir do proprietário urbano que promova seu adequado
aproveitamento, incluindo a preservação do meio ambiente e a adequada utilização
de seus recursos naturais. Percebe-se que para que a função social da propriedade
seja cumprida de forma sustentável é necessário cumprir as ordenações expressas
no Plano Diretor da cidade. A seu turno, este desiderato requer efetiva preocupação
com o meio-ambiente e o uso responsável de seus recursos. Com dito
anteriormente, o direito a propriedade é condicionado ao seu adequado
aproveitamento, ou seja, à função social. Prover efetiva função social à propriedade
equivalerá a reconhecer e tratar das questões ambientais nela envolvidas. Logo,
para que o proprietário cumpra a função social de seu bem de forma sustentável, ele
deve cumprir os comandos previstos na Constituição – e do Plano Diretor, como
manda a própria CF/88 – de forma sustentável, preocupando-se com o meio
ambiente e com o uso racional de seus recursos. A compreensão da extrafiscalidade
no seu caráter excepcional em face do sistema de tributação regular é fundamental,
visto que leva-se em consideração fatos e valores não tradicionalmente relacionados
à justiça fiscal (comutativa, distributiva ou setorial) e, portanto, dissociados do
simples parâmetro que só leva em conta a magnitude da renda. Dentro dessa
perspectiva, o valor finalístico da extrafiscalidade que o legislador incute na lei
tributária, portanto, deve atender às necessidades na condução da economia, para o
autor têm-se ainda que a extrafiscalidade pode figurar no sentido da correção de
situações sociais indesejadas ou mesmo possibilidade de fomento a certas
atividades ou ramo de atividades de acordo com os preceitos constitucionais. Nesse
a função meramente arrecadatória da tributação assume papel secundário, dando
espaço à extrafiscalidade, terreno fértil para a produção de medidas de indução
econômica. A partir da ótica da preservação ambiental tanto da atual quanto das
futuras gerações, esta poderá se realizar por meio da extrafiscalidade, possuindo,
em suma, caráter essencialmente preventivo dentro do direito ambiental,
beneficiando àqueles que percebem a importância da defesa do meio ambiente.
Finalmente, quando se analisa os impactos da referida renúncia fiscal (total ou
parcial), não há que se falar que há prejuízo do Poder Público, visto que, o que se
tem em longo prazo é a não realização de despesas seja para recuperação ou
manutenção de espaços já abarcados por medidas. O programa batizado de "IPTU
Ecológico" foi elaborado pela administração de Betim, que resultou na Lei Municipal
nº 6223, publicada no Órgão Oficial do Município de 23 de agosto de 2017, sendo
coordenado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (SEMMAD). O Programa IPTU Ecológico, tem o objetivo de fomentar
medidas que preservem, protejam e recuperem o meio ambiente, ofertando, em
contrapartida, benefício tributário ao contribuinte (Art.1º). Para a concessão do
benefício, o contribuinte deverá ter implantado no imóvel, práticas relacionadas a
sistema de energia elétrica solar fotovoltaica, sistema de aquecimento solar de água
e/ou ainda sistema de captação e reuso de água de chuva, sendo que para cada
uma dessas medidas obtém-se um percentual de desconto no IPTU em determinado
período de tempo. Após um ano de vigência do referido dispositivo, o número de
adesões ao programa ainda é pequeno, ante ao total de contribuintes do município.
Os dados foram disponibilizados pela Secretaria Municipal de Finanças,
Planejamento e Gestão e dispostos no gráfico abaixo, sendo que o total de
contribuintes do município é igual a 137.056, destes, 22 solicitaram o benefício
(dados atualizados em 22 de Setembro de 2018). Pensar o direito de propriedade,
insculpido na Constituição da República, para além de um direito exclusivamente individual é
fundamental no atual momento da sociedade. Assim, a função social que se incute nesse
direito é justamente um sinal claro de mudança paradigmática e defesa de direitos difusos, em
especial o direito ambiental e a busca por equilíbrio ecológico. Logo, para que o
proprietário cumpra a função social de seu bem de forma sustentável, ele deve
cumprir os comandos previstos na Constituição – e do Plano Diretor, como manda a
própria CF/88 – de forma sustentável, preocupando-se com o meio ambiente e com
o uso racional de seus recursos. Nesse contexto, surge oportunamente a
extrafiscalidade, em especial o IPTU ecológico, programa adotado na cidade de
Betim e que de maneira tímida já possui adesões. Incentivar práticas
ecologicamente corretas e sustentáveis, sem dúvidas, coloca o município em
consonância com uma nova ordem global de uso dos recursos naturais. A análise
dos dados disponibilizados pela administração do município revelou que apenas
0,0160% dos contribuintes possuem o benefício, o que exigirá por parte da prefeitura
e demais órgãos correlatos, ações concretas para a divulgação e promoção desse
dispositivo, alcançando assim os objetivos propostos.

Palavras-chave: Extrafiscalidade; Função Social; Propriedade


Key-words: Extrafiscality; Social Function; Property

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