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Aula teórica 6 – Diabetes mellitus – Epidemiologia e diagnóstico

Importância atual:

1. Elevada incidência e prevalência


2. Elevada frequência de complicações (tratamento inadequado ou ausência de diagnóstico)
3. Grande impacto econômico e social

Classificação etiológica:

1. DM tipo 1: doença autoimune que gera dano nas células β pancreáticas


2. DM tipo 2: resistência insulínica na periferia, corresponde a 80-90% dos casos,
frequentemente está associada a obesidade, aumenta com o envelhecimento e possui
componentes hereditários importantes
3. Outros tipos específicos (secundários): diversas causas
4. DM gestacional

Epidemiologia:

1. 8,8% da população mundial possui diabetes


2. A tendência é que ocorra um aumento da incidência global de diabetes em 51% até 2045
3. A previsão é um aumento de 55% da incidência para a América do Sul
4. 79% dos casos de diabetes estão concentrados em países em desenvolvimento (fatores
socioeconômicos afetam diretamente a epidemiologia do DM)
5. 87% das mortes relacionadas ao diabetes ocorrem em países de baixa e média renda
6. Apenas 35% das despesas em saúde relacionadas ao diabetes são gastas nesse países
7. 4 em cada 5 adultos com diagnóstico de diabetes vive em países de baixa e média renda
8. Um percentual significativo da população com disglicemia não sabe que tem a doença por
falta de acesso ao serviço de saúde
9. O Brasil é o 4º país em número de pessoas acometidas pela doença

Causas do aumento da prevalência de DM2:

1. Urbanização e industrialização
2. Maior sedentarismo
3. Aumento da frequência de excesso de peso
4. Aumento da esperança de vida da população
5. Maior sobrevida dos pacientes com diabetes

Aumento da incidência de DM1:

1. Em SP, na população mais jovem < 14 anos aumentou 3,1% ao ano nos últimos 30 anos.
Aumento bruto absoluto de 2,5 vezes. Fatores ambientais (?)

Mortalidade associada ao DM:

1. Dados mundiais indicam um óbito relacionado ao diabetes a cada 8 segundos


2. Responsável por 10,7% da mortalidade mundial por todas as causas (maior do que a soma
de mortes causadas por HIV/AIDS, tuberculose e malária juntas)
3. Indivíduos com mais de 60 anos possuem maior risco de mortalidade
4. No Brasil, mesmo indivíduos mais jovens possuem uma alta taxa de mortalidade, que
começa a ser bastante significativa já a partir dos 40 anos de idade
5. A resistência insulínica possui relação direta com dano aterosclerótico ao endotélio, o que
contribui para a ocorrência de eventos cardiovasculares
6. Mais de 2/3 das pessoas com DM2 e mais de 65 anos de idade morrem por doença
cardiovascular

Complicações crônicas do diabetes:

1. Macroangiopatia → Doença cardiovascular, doença cerebrovascular, doença vascular


periférica
2. Microangiopatia → Retinopatia, nefropatia → Amaurose, insuficiência renal
3. Neuropatia → Alteração da sensibilidade dos pés → Pé diabético → Gangrena →
Amputação

Importância socioeconômica no Brasil:

1. Quarta causa de internação hospitalar no Brasil


2. Contribui para outras enfermidades: IAM, IC, AVC, HAS, etc
3. Responsável por 30% das internações, em UTI, de pacientes com dor precordial
4. Principal causa de amputação de membros inferiores (nossos números chegam a ser
próximos dos de países em guerra com mina terrestre)
5. Principal causa de cegueira adquirida
6. Cerca de 26% dos pacientes sob diálise tem diabetes

Definição de diabetes mellitus

1. Grupo de desordens metabólicas caracterizadas pela presença de hiperglicemia


2. Estas desordens resultam de um estado de falência na secreção e/ou na ação da insulina

Diagnóstico clínico:

1. Sintomas:
a. Assintomático: doença silenciosa, muitos pacientes serão assintomáticos e só
aparecerão no consultório quando já estiverem manifestando as complicações
crônicas
b. Sintomas clássicos: poliúria, polidipsia, polifagia, excesso de peso, perda de peso
(catabolismo, insulinopenia, diurese osmótica), dores em membros inferiores
c. Sintomas gerais: visão turva, feridas que não cicatrizam, parestesias de membros
inferiores, fadiga, infecções de repetição, vulvovaginite (investigar diabetes em caso
de candidíase de repetição)
2. Rastreamento:
a. Todas as pessoas acima de 45 anos
b. Pessoas menores de 45 anos com IMC maior que 25 e um dos seguintes fatores de
risco adicionais: sedentarismo, parente de primeiro grau com DM, mãe de bebê
macrossômico, história de diabetes gestacional, HAS, doença cardiovascular, HDL <
35, TGL > 250, síndrome de ovários policísticos, história de glicemia em jejum
alterada ou intolerância a glicose, acantose nigricans, uso de corticoides, diuréticos
tiazídicos e antipsicóticos
i. Se o exame der normal o paciente precisa ser reavaliado a cada 3 anos; se for
no limite superior, deve ser reavaliado a cada 3 ou 6 meses
3. Critérios diagnósticos:
a. Glicemia de 8 a 12 horas de jejum
i. Menor que 100: normal
ii. Entre 100 e 125: glicemia de jejum alterada
iii. Maior que 125: diabetes mellitus
b. Glicemia de 2 horas após 75 g de glicose (teste oral de tolerância à glicose)
i. Menor que 140: normal
ii. Entre 140 e 199: intolerância à glicose
iii. Maior que 200: Diabetes mellitus
1. Recomendado para pacientes com alto risco, mas glicemia em jejum
normal
c. Hemoglobina glicada (HbA1c)
i. Informações gerais:
1. Reflete o controle glicêmico de 90 a 120 dias (50% do último mês),
devendo ser dosada a cada 3 meses
2. Esse teste não requer jejum, possui menor variabilidade e boa
correlação com risco macro e microvascular. As desvantagens são o
custo, disponibilidade limitada em certas regiões, pode apresentar
falsos resultados se houver fatores confundidores e não é validada na
gestação
ii. Fatores confundidores:
1. Diminuição falsa:
a. Diminuem falsamente os níveis de HbA1c pessoas que tem
anemia hemolítica ou estados hemorrágicos (diminuição do
tempo de vida útil das hemácias
b. Vitamina C acima de 20 g/dia e vitamina E em altas doses
inibem a glicação da hemoglobina
c. Hemoglobinopatias podem diminuir ou aumentar a HbA1c
2. Aumento falso:
a. Hipertrigliceridemia grave acima de 2000 mg/dL
b. Hiperbilirrubinemia acima de 50 mg/dL
c. Alcoolismo crônico
d. Ingestão crônica de salicilatos
e. Anemia ferropriva
f. Fenobarbital
g. Insuficiência renal
h. Hemoglobinopatias
iii. Diagnóstico:
1. Em pacientes que não possuem fatores confundidores, a HbA1c maior
que 6,5% confirma o diagnóstico de DM (o teste deve ser feito
utilizando HPLC)
2. HbA1c entre 5,7 e 6,4% aumenta o risco de desenvolver DM

Critérios gerais para diagnóstico do diabetes:

1. HbA1c > 6,5% (o teste deve ser feito utilizando HPLC)


2. Glicemia de jejum > 126 (jejum de 8 horas)
3. Glicemia de 2 horas pós-sobrecarga > 200 durante teste oral de tolerância à glicose (75 g de
glicose)
4. Sintomas clássicos de hiperglicemia ou crise hiperglicêmica e uma glicemia ao acaso maior
que 200

O diagnóstico de DM deve sempre ser confirmado pela repetição do teste em outro dia, a menos que haja
hiperglicemia inequívoca com descompensação metabólica aguda ou sintomas óbvios de DM.

Categorias de risco aumentado para diabetes (pré-diabéticos):

1. Glicemia de jejum entre 100 e 125


2. Glicemia de 2 horas pós-sobrecarga entre 140 e 199
3. HbA1c entre 5,7 e 6,4%

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